O LATIM VULGAR: CONCEITO, CARACTERÍSTICAS E · PDF fileTEMA DA AULA: O latim vulgar:...

Post on 07-Feb-2018

275 views 4 download

Transcript of O LATIM VULGAR: CONCEITO, CARACTERÍSTICAS E · PDF fileTEMA DA AULA: O latim vulgar:...

O LATIM VULGAR:

CONCEITO, CARACTERÍSTICAS E

FONTES DE ESTUDO

Profª. Liliane Barreiros

lilianebarreiros@hotmail.com

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANADEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES

COLEGIADO DE LETRAS

TEMA DA AULA:

O latim vulgar:

conceito, características e fontes de estudo

TEXTO (01) – O latim vulgar e o latim literário no

primeiro milênio. In: ILARI, Rodolfo. Lingüística

românica. São Paulo: Ática, 2001, p. 57-64.

Profª. Liliane Lemos Santana Barreiros

• Pré-histórico – primeiros habitantes do Lácio;

• Proto-histórico – primeiros documentos da língua;

• Arcaico – utilizada entre o século III a.C. e início do

I a.C. (antigos textos literários);

• Clássico – século I a.C., forma linguística refinada e

elaborada <Sermo Urbanus>, observada nas grandes

obras da prosa e da poesia latina (destacou-se os

fenômenos gramaticais do idioma);

Profª. Liliane Lemos Santana Barreiros

Evolução do Latim

• Vulgar – língua falada pelo povo <Sermo Vulgaris>,

da qual procedem as língua românicas, entre as quais

se tem o PORTUGUÊS.

• Pós-Clássico – observado nas obras literárias

compostas entre os séculos I e V d.C.

Profª. Liliane Lemos Santana Barreiros

Evolução do Latim

Latim Clássico versus Latim Vulgar

A grande diferença entre as duas variedades

do latim não é cronológica (o latim vulgar não

sucede ao latim clássico), nem ligada à escrita,

senão social.

Uma extremamente estável, a outra inova

constantemente.

Profª. Liliane Lemos Santana Barreiros

• Sociedade fechada, conservadora, aristocrática

PATRÍCIOS

• Aberta a todas as influências PLEBEUS/

ESCRAVOS

Profª. Liliane Lemos Santana Barreiros

Latim Clássico versus Latim Vulgar

As duas variedades refletem duas culturas que

conviveram em Roma.

Variedades do Latim

Latim escrito e latim falado

As línguas românicas são uma

continuação do latim.

A questão é: de que latim?

Latim escrito e latim falado

Essa continuação é ininterrupta e não abrupta,

repentina, tendo se desenvolvido em um longo e

contínuo processo de transformação linguística.

O latim, modesto dialeto usado na fundação

de Roma, ocupava uma área bastante limitada do

Lácio, rodeado de dialetos itálicos e pelo etrusco.

Somente depois se fixa como língua literária,

com o aspecto que deram os grandes escritores da

época republicana.

Áreas marginais conservam

características mais arcaicas

O latim é uma língua que apresenta

importantes fenômenos de conservação, em

relação ao sistema do indo-europeu.

Por exemplo: o sistema de declinação

Como acontece em todo lugar, a língua

falada comumente se diferenciava da língua

escrita (e, sobretudo, daquela escrita com

pretensões artísticas) em maior ou menor grau, de

acordo com a época e as classes sociais.

O latim e suas fontes de estudo...

O latim passa a ser conhecido, mais

sistematicamente, a partir do século III

a.C.; antes disso, as inscrições encontradas

são muito esporádicas.

Cícero

O próprio Cícero (106

a.C. a 43 a.C. ) usa, em

algumas de suas cartas

familiares não destinadas à

publicação, um estilo

consideravelmente diferente

daquele que é usado em seus

discursos ou obras

filosóficas e retóricas.

Urbanitas versus rusticitas

O latim falado continha

certamente um maior número

de diferenças regionais e

sociais em virtude da

uniformização provocada pela

unificação política e cultural.

Cícero e Quintiliano fazem

uma distinção entre a urbanitas

(da urbe) romana e a rusticitas

(variedade corrompida) ou

rustica vox.

Certamente, a variedade de latim que etruscos

e itálicos receberam não era a mesma recebida

pelos gauleses e povos mais distantes; assim, o

sermo vulgaris devia já ter, no ser cerne,

algumas diferenças dialetais que mais tarde

iam se desenvolver nas diferentes línguas

românicas.

A tradição literária começa em Roma no

século III a.C. com o aparecimento dos primeiros

escritores: Lívio Andronico, Cneu Névio, Enio.

Antes, que havia era simples inscrições de nulo

valor literário. O período de ouro do latim clássico

é representado pela época de Cícero e de Augusto.

É então que aparecem os grandes artistas da prosa

e do verso, que levam a Língua ao seu maior

esplendor.

Sabemos, entretanto, que o latim clássico da

época de ouro sofreu, especialmente no que tange a

sintaxe, uma lenta e profunda transformação,

afastando-se cada vez mais da língua falada e

permanecendo sempre mais ligado a alguns

esquemas e modelos.

Afinal, o que é o latim vulgar?

– Não se trata, segundo Tagliavini, do latim falado pelas

classes mais baixas da população, os jovens do cordel, os

gladiadores, os escravos, as prostitutas, mas sim da língua

falada por todas as classes sociais, com infinitos

refinamentos.

– Assim, entende-se que nunca existiu um latim vulgar

único, como muitas vezes alguns livros parecem sugerir.

FONTES DO

LATIM VULGAR

FONTES DO LATIM

VULGAR

I) Autores latinos quando usavam expressões de

língua falada ou popular.

Isso se dava não só pelo gênero cômico, pelo

uso de diálogos, mas também porque alguns

dos modelos que depois iam ser tomados com

rigos ainda não tinham sido fixados.

Exemplo: comédias de Plauto.

• Também Petrônio, no seu Satyricon, faz uso, por

meio de seus personagens, de termos pelbeus,

vulgares.

Desde os primeiros séculos, começou a se

formar um latim cristão, que não somente trazia

influências gregas e orientais, como também

tinha a intenção direta de propagar as palavras do

Senhor, a difusão da nova religião e, tendo

nascido em meios sobretudo populares,

representava uma língua mais próxima da falada

do que a dos autores pagãos que lhes eram

contemporâneos.

– Ex: Santo Agostinho

FONTES DO LATIM

VULGAR

Além desses escritos, textos de autores de

pouca escolaridade, a quem o empenho

gramatical e estilístico para escrever um latim

'correto' não era capaz de evitar vulgarismos

gramaticais e lexicais.

FONTES DO LATIM

VULGAR

Vale a pena observar que não existe nenhum

texto exclusivamente vulgar, ou seja, escrito

voluntariamente em um sermus vulgaris, mas sim

que se encontram traços mais ou menos tomados

como reflexos do latim vulgar.

Esses traços podem ser copiados

intencionalmente, usados por falta de termos

técnicos no latim clássico (como é o caso de

alguns tratados de medicina popular, etc.), para

melhor inteligibilidade dos leitores ou ainda pela

deficiência escolar do autor em textos.

FONTES DO LATIM

VULGAR

II) Os Gramáticos Latinos

Com relação aos gramáticos latinos, a fonte

se encontra especialmente onde se viam os meios

de se evitar formas não padrão ou onde se

assinalavam os 'erros' mais comuns do uso

cotidiano.

FONTES DO LATIM

VULGAR

III) Os lexicógrafos

Nas obras lexicográficas, especialmente na

de Isidoro de Sevilha, não só estão explicadas

palavras arcaicas ou raras, como também os

vulgarismos.

Entre os glossários, tem particular interesse,

do ponto de vista romanístico, o chamado

Appendix Probi, escrito provavelmente em Roma,

no século II d.C.

FONTES DO LATIM

VULGAR

Apêndix Probi

É o terceiro dos cinco

apêndices adicionados por um

autor anônimo na gramática

latina Instituta Artium. A

própria gramática foi atribuída

a ao gramático Valerius Probus,

que viveu no primeiro século.

No apêndice, várias entradas

são referências a lugares ou

realidades do Norte de África, o

que levou muitos pesquisadores

a acreditar que o autor era de

origem africana.

Ainda sobre o Appendix Probi

É óbvio que se o autor julgava oportuno fazer com

aquelas palavras uma lista era porque estavam bastante

difundidas.

Exemplo de glossa: auris non oricla

No lugar do clássico auris, se usava o diminutivo

auricula, mas em uma forma vulgar que reduzia au a oe suprimia a postônica da proparoxítona (oricla).

Dessa forma oricla, vêm todas as formas românicas:

orecchia, oreille, oreja, orelha, ureche.

IV) Inscrições

Servem mais aos romanistas aquelas de caráter

privado do que as de caráter oficial.

Como as inscrições, salvo raríssimos casos,

permanecem no local onde foram escritas, o

estudo de suas particularidades linguísticas nos

permite fazer uma ideia do latim regional da

Gália, Dácia, Ibéria, etc.

– Exemplo: Grafismos nos muros de Pompéia.

FONTES DO LATIM

VULGAR

Pompéia

Esta pequena cidade, aos pés do vulcão Vesúvio,

foi coberta por uma grande erupção na noite de 24 de

agosto de 79 d.C., juntamente com suas vizinhas

Herculano, Stabia e Oplontis. Em poucas horas, lavas,

cinzas e gases venenosos cobriram e mataram milhares

de pessoas. Soterradas por metros de materiais

vulcânicos, estas cidades guardaram consigo detalhes

da vida cotidiana de seus habitantes e de sua riqueza

cultural. Somente em 1748, com o achado de uma

inscrição, a cidade de Pompéia foi redescoberta e,

gradativamente, as suas preciosidades têm sido

reveladas pelos vestígios ali guardados.

Nas escavações realizadas em Pompéia, têm

sido encontradas muitas inscrições, das quais há

que se distinguir dois tipos:

As monumentais, que são escritas com letras

capitais, esculpidas em monumentos, tumbas

funerárias, edifícios públicos, entre outros; e

As comuns, que são escritas com letras cursivas,

feitas com pincel ou estiletes, em livros ou

paredes, para registros de fatos do cotidiano.

Destas inscrições comuns, chama-nos a

atenção a grande quantidade encontrada em muros,

paredes de casas, edifícios e tabernas, ou seja,

praticamente em todos os espaços disponíveis das

paredes de Pompéia. Destas, cerca dez mil estão

catalogadas no Corpus inscriptionum latinarum.

As intervenções nas paredes provêm de

inúmeros e diversos grupos populares da cidade

tais como agricultores, comerciários, artesãos,

gladiadores, criadores de animais,soldados, entre

outros, o que pode ser visto em uma significativa

gama de grafites, embora a maior parte seja

anônima.

Nestas inscrições, as pessoas expressavam

suas opiniões sobre os mais variados assuntos

como os seus desejos e aspirações; amores

conquistados e perdidos; apoio e críticas à

políticos, ao imperador; mensagens a amigos;

trechos de obras literárias; opinião sobre bordéis;

cálculos aritméticos; letras do alfabeto e lutas

gladiatoriais.

Inscrição pedestal do

Relógio de Sol Pompéia

V) As grafias dos manuscritos

Erros dos copistas ou as falsas reconstruções

devidas a hiperurbanismo.

Manifestam, em menor grau do que as inscrições,

fontes do latim vulgar.

FONTES DO LATIM

VULGAR

VI) As notas tironianas

Representavam o

primeiro sistema taquigráfico

romano. Idealizado por

Tulio Tirón.

As notas e manuscritos em

notas tironianas têm um

caráter essencialmente

popular.

FONTES DO LATIM

VULGAR

VII) Os diplomas

Ainda que redigidos em latim tardio, pelas

formas gráficas que apresentavam,

demonstravam a consolidação de certas

inovações nos diversos países românicos.

– Por exemplo, nos diplomas da Itália

FONTES DO LATIM

VULGAR

VIII) As palavras latinas passadas a línguas não

românicas

As palavras frutos de empréstimos de regiões

vizinhas muitas vezes conservaram uma forma

arcaica mais próxima do latim, ou seja, menos

modificadas, do que até mesmo palavras

encontradas em línguas românicas.

FONTES DO LATIM

VULGAR

XIX) A gramática

comparada e o léxico

das línguas românicas

A fonte mais segura

e sistemática que temos

hoje do latim vulgar é o

resultado das

comparações feitas entre

as diferentes línguas

românicas.

FONTES DO LATIM

VULGAR