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PJ<GU Centro de Estudos de Ginero
IFCH UNICAMP
MULHER E TRAilALHO ESTRUTURA OCUPACIONAL FEMININA NO RIO GRANDE DO SUL -1920-1970
LORENA HOLZMANN DA SILVA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA AO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA E CIENCIA POL!TICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. AGOSTO DE 1977.
Aos professores Mercedes Maria Loguércio Cánepa e
João Guilherme Corr§a de Souza, colegas do Departamento de
Ci~cias Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul;
quisa;
dor,
À Maria Isabel Herz da Jornada, Auxiliar de Pes-
À Professora Dalva da Rosa Dupuy;
À Vera LÚcia Amaral Garcia;
Em especial ao Professor _Enio Silveira, Orienta-
Meus Agradecimentos.
!NDIC~
IN TROJJUÇÃO 1. O Tema •••••••••••.••.••••.••.•••••.••••••.•.•..•.•..• 5
2. O Trabalho Feminino Remunerado •••••.•••••••••••..•••• 7
I PARTE 1. Estrutura Ocupacional e Desenvolvimento ••.•••••.•...• lg 2. A Força de Trabalho no Conjunto da População no Rio
Grande do Sul e no Brasil ••••.....••..••....•••.••..• 2l 3. A Participação da Mulher na Força de Trabalho no Rio
Grande do Sul e no Brasil ••.••••.••.•••••.•.••••.•..• 25 4. Distribuição da Força de Trabalho nos Setores da Eco
nomia no Rio Grande do Sul e no Brasil ••..••.•.•.•••• 27 5. Participação da Mulher na 1'1orça de Trabalho por Seto
res, no Rio Grande do Sul e no Brasil •.••••..••..•••• Jl
II PARTE 1. Transformações na Bstrutura Ocupacional e ·rrabalho F~
mini no •••.•••.•.•...••••.••.•...••..••.•...•••••••.•• 35 2. Crescimento da Força de Trabalho, por Sexo, no Rio
Grande do Sul 2.1. Período 1920-1940 ••.•••••.•.•.•.•.••.••••..••••. 38 2.2. Período 1940-1950 •.•.•.••.....•..•.............• 38 2.3. Período 1950-1970 •••••••.•..••.......•.••...•... 40
3~. A Força de Trabalho da Mulher nos Setores da Economia
do Rio Grande do Sul 3.1. O setor Primá.rio •.......•.•••.......•...••...••• 41
3.2. O Setor Secundário ••......••.........••••.•..... 56
3,3. O Setor Terciário .......•...........•...•..•.... 73
3.3.1. Serviços de Produção ••................... 8o
3.3.2. Serviços de Consumo Individual •.••.••..•• 81 3.3.3. Serviços de Consumo Coletivo •..•••••.•..• 83
III PARTE 1. Transformações da Economia Riograndense e de sua Es-
trutu..ra Ocupacional •.•••...•...••.............•... ··· 87
2. Conclusões ••••......••.•.•......••.••.•.••.••••.•. · .• 92
BIBLIOGRAFIA
INTRODUÇÃO
1. O Tema
Este trabalho tem por objetivo verificar as transfor
mações da estrutura ocupacional no Rio Grande do Sul, em
especial a feminina, no período de 1920 a 1970, bem como avaliar o significado da presença crescente da mulher na
população ativa.
A escolha deste tema se deve fundamentalmente a dois motivos: o primeiro é que o desempenho, pela mulher, de ta refas antes exclusivamente masculinas, algumas de signifi
cativo prestÍgio e padrão de remuneração, é tomado como i~ dicador de ascensão social e emancipação econômica da mu
lher. Embora este processo esteja realmente ocorrendo, seu verdadeiro significado não pode ser apreendido pela consi
deração parcial que a presença de uma parcela de mulheres
em posiçÕes de destaque na estrutura ocupacional expressa, mas sim pela consideração do conjunto da população femini
na ocupada e sua forma de inserção na estrutura ocupacional, notadamente sua distribuição setorial, detalhada in
ternamente. Somente desta forma, é possível captar os as
pectos qualitativos do trabalho feminino num dado contex
to.
O segundo motivo diz respeito à importância que atri
buímos ao centrar os objetivos de estudos desta natureza no Rio Grande do Sul, de modo geral ainda pouco explorado.
Em relação à sua força de trabalho, por exemplo, pouco se
sabe além de dados gerais de origem censi tária ou resul tan tes de alguns estudos setoriais, onde a discriminação dos
trabalhadores por sexo, nem sempre é levada em conta.
Assim, os objetivos deste estudo combinam a busca da
especificidade do trabalho feminino no Rio Grande do Sul, com a definição das grandes linhas que marcam as transformações nele ocorridas no período aqui abordado.
Sobre o aspecto específico da força de trabalho, os dados que servem de suporte à sua abordagem são essencial-
, o~;n "' 1 o7n.
6
Os dados de 1960 tiveram de ser excluídos porq_ue sua pouca elaboração., e mesmo, em alguns casos, inexistência, torna
va inviável sua adequação às desagregações feitas com os
dados dos demais anos.
O tratamento desses dados sobre a força de trabalho foi feito em dois níveis distintos: no primeiro, procurouse comparar a estrutura ocupacional do Rio Grande do Sul
com a do Brasil, a fim de captar eventuais diferenças entre ambas;. neste nível, limitamo-nos quase que exclusiva
mente a considerar. a distribuição setorial da população ocupada nos dois universos, bem como as taxas de particip~ ção feminina no conjunto da economia e em cada setor e suas modií'icações. Assim, neste nível, o grau de desagregação dos dados é bastante pequeno.
No segundo nível, tratamos exclusivamente da estrutu
ra ocupacional no Estado, dissecando, dentro de cada se
tor, o comportamento da mão de obra feminina.
Embora nosso interesse particular se refira à estrutu
ra ocupacional feminina, recorremos constantemente à verificação das modificações ocorridas na estrutura ocupacio
nal geral - isto é, referida ao conjunto da população ocu pada, sem discriminação de sexo - e na masculina, o que v!_
abiliza a apreensão dos aspectos particulares do emprego
da mão de obra feminina, num contexto onde também se modifica a utilização da mão de obra masculina e do conjunto
da população ativa.
Deparamo-nos, na fase de análise dos dados, com certas questões que não poderiam ser resolvidas no momento, dada a reorientação que exigiria em relação aos objetivos
inicialmente propostos. O esclarecimento dessasquestões i~
plicaria na busca de dados específicos sobre uma determina
da região - como, por exemplo, os relativos à utilização da mão de obra feminina numa área agrícola onde a mecaniz~
ção tem sido grandemente incrementada, como veremos ao lon go do trabalho - ou setor, ou mesmo de certos ramos de ati
vidades de um setor, o que, como mencionamos acima, exigi
ria a reorientação da proposta inicial do trabalho. Estas
7
questões permanecem em aberto, sugerindo hipóteses de tra
balhos mais detalhados e limitados a determinadas áreas do Estado e/ou' setores de sua economia.
Antes porém, de iniciarmos a análise sobre a estrutura ocupacional, no Brasil e no Rio Grande do Sul, fazem-se
necessárias algumas considerações a respeito dos elementos que caracterizam a força de tre.balho no contexto estudado e suas implicações particulares sobre o trabalho feminino.
t o que faremos a seguir.
2. O Trabalho Feminino Remunerado
A divisão social do trabalho que atribuía às mulhe
res as tarefas desempenhadas no ~mbito doméstico e liga
das à satisfação das necessidades ~~is imediatas do gru
po familiar, e aos homens, as desempenhadas fora do lar e
voltadas para a obtenção dos recursos externos necessári
os à manutenção de sua família, foi profundamente altera
da com o advento da industrialização.
O longo processo de desintegração da sociedade feudal foi simultâneo ao processo de expropriação dos meios
de produção dos trabalhadores - os instrumentos de traba-lho e a posse da terra -, condição necessária à ção do modo de produção capitalista, fundado no
implanta
trabalho
assalariado, isto é, numa categoria. de trabalhadores que
conta apenas com sua força de trabalho para garantir sua
subsistência. Segundo Marx,
(l)
11Entendemos por capacidad o fuerza de tra
bajo, el conjunto de las condiciones fisi
cas y espirituales que se dan en la corporeidad, en la personalidad viviente. de un
hombre, y q_ue éste pane en acción_ al produ
zir valores de uso de qualquier clase 11 (1).
Assim entendida, a força de trabalho é um valor de
MARX, Karl. "El Capital". México, Fondo de Cultura Económica, 1946, quinta reimpresión, I, pag. 121.
8
-uso, posta em açao para produzir bens materiais.
Quando a força de trabalho passa a ser assalariada,
assume um caráter de mercadoria, ou seja, valor de troca.
Isto pressupõe a existªncia de uma categoria de indivíduos que disponha de meios - dinheiro - para adquirir a força
de trabalho e utilizá-la como valor de uso: esta categoria
é a dos capitalistas. A força de trabalho se constitui en
tão, em um valor de troca, enquanto mercadoria vendida ao
capitalista, e em valor de uso quando consumida por este no processo de trabalho. Este processo de consumo da força de trabalho pelo capitalista, apresenta dois fendmenos característicos:
"El obrero trabaja bajo el control del capi talista, a quien su trabajo pertenece( •.• ). Fero hay algo más, y es que el producto es propriedad del capitalista y no del productor directo, es decir, del obrero"(2).
e para que o capitalista possa encontrar no mercado a mer
cadaria, força de trabalho, é imprescindivel a concorrên
cia de diversas condiçÕes, pois "El cambio de mercancias no implica de suyo
más relaciones de dependencia que las que se desprenden de su propio carácter. Arrancando de esta premisa, la fuerza de trabajo sólo puede aparecer en el mercado, como una
mercancía, siempre y cuando que sea ofrecida y vendida como una mercancía por su pr~
pio poseedor, es decir, por la persona a . .
quien pertenece. Para que este, su poseedor,
pueda venderla como una mercancía, es nece
sario que disponga do ella, es decir, q_ue
sea libre propietario de su capacidad de
trabajo, de su persona. El poseedor de la fuerza de trabajo y el poseedor del dinero
(2) Idem, pag, 137.
9
se enfrentan en el mercado y contratan de i
gual a igual como poseedores de mercancías, sin máB distinción ni diferencia que la que
uno es comprador y el otro vendedor: ambos son, portanto, personas jurÍdicamente iguales. Para que esta relación se mantenga a
lo largo del tiempo es pues necesario que
el duello de la fuerza de trabajo sólo la
venda por cierto tiempo, pues si la vende
en bloque y para siempre, lo que hace e s
venderse a sí mismo, convertirse de libre en esclavo, de poseedor de una mercancía en mercancía. Es necesario que el dueno de la fuerza de trabajo, considerada como persa
na, se comporte constantemente respecto a
su fuerza de trabajo como respecto a algo
que le pertenece y Que es, portanto, su mer cancía, y el Único camino para conseguirlo
es que sólo la ponga a disposición del com
prador y sólo la ceda a éste para su consu
mo pasajeramente, por un determinado tiempo, sin renunciar por tanto, a su propriedad, aunque ceda a otro su disfrute.
La segunda condición esencial que ha de dar se para que el poseedor de dinero encuentre
en el mercado la fuerza de trabajo como una
mercancía, es que su poseedor, no pudiendo
vender mercancías en que su trabajo se mate
rialice, se vea obligado a vender como una
mercancía su propia fuerza de trabajo, ide~
tificada con su propia corporeidad viva.
( ••• ) Para convertir el dinero en capital, el poseedor de dinero tiene pues, que enco~ trarse en el mercado, entre las mercancías,
con el obrero libre; libre en un doble sentido, pues de una parte ha de poder dispo
ner libremente de su fuerza de trabajo como de su propia mercancia y, de otra parte, no
lO
ha de tener otras mercancías que ofrecer en ventai ha de hallarse, pues, suelto, escote
ro y libre de todos los objetos necesari os
para realizar por cuenta propia su fuerza
de trabajo.
( ••• )Fero, hay algo indiscutib1e, y es ~ue
la naturaleza no produce, de una parte, po
seedores de dinero o de mercancías, y de o
tra simples poseedores de sus fuerzas persa
nales de trabajo. Este estado de cosas no
es, evidentemente, obra de la história natu ral, ni es tampoco un estado de cosas soci
al común a todas las épocas de la história.
Es, indudablemente, el fruto de un desarro
llo histórico precedente, el producto de
una larga serie de transformaciones económi
cas, de la destrucción de toda una série de
formaciones mas antiguas en el campo de la producción social"(3).
Este conjunto de características da força de trabalho diz respeito, portanto, a una sociedade onde as relações
capitalistas de produção são dominantes(4), e sua conside-
( 3) (4)
Idem, pags. 121, 122 e 123. Veja-se riiartha Harnecker, 11 Conceptos Elementales del Materialismo Histórico 11
, :Buenos Aires, Sigla Veinteuno, 1971:
"E1 concepto de MODO DE PRODUCCI<lN se refiere a un objeto abstracto, a una totalidad social pura, 'ideal' en la que la producción de bienes materiales se efectúa en forma homogénea. Pero en la mayor parte de las sociedades históricamente determinadas la producción de bienes n~teriales no se efectúa de una manera homogénea. En la misma sociedad se puede encontrar diferen tes tipos de relaciones de producción (pags. 143 e 144).
( ••• ) estas diversas relaciones de producción que coexisten en una sociedad histáricamente determinada no lo hacen en forma anárquica ni aisladas una de otras; una de ellas ocupa una situación dominante, imp~ niendo a las demás sus propias leyes de funcionamiento (pai>• 144).
{ ••• ) Por lo tanto, en la mayor parte de las sociedades históricamente determinadas nos encontramos con la existencia de varias relaciones de producción. ?ero
ll
~
raçao no âmbito deste trabalho, se reveste de importância
na medida em que abre caminho para a compreensão dos aspec
tos particulares da constituição da força de trabalho femi nina como mercadoria.
Este processo atinge sua plenitude quando a produção
fabril se sobrepõe definitivamente à manufatura. Isto po~
que, nesta, o processo de trabalho fundava-se ainda predo
minantemente no trabalho manual (embora as relações de pr~
dução capitalista já estivessem inteiramente configuradas)
cujos requisitos de força física, habilidade, segurança no
manejo das ferramentas de trabalho eram mais comumente en
contrados nos trabalhadores masculinos, já afeitos ao tra
balho manual, que continuava caracterizando o processo de
trabalho na manufatura.
Embora o emprego da mao de obra feminina, na produção
manufatureira, possa ser registrado desde seus primÓrdios,
sua utilização em larga escala encontrava sérios obstácu
los, na sua pouca qualificação e na inferioridade de sua
força física. Devido a estes fatores, o trabalho da mulher
era mais comum em manufaturas cuja natureza se identifica
va com as tarefas tradicionais desempenhadas pela mulher
no lar, como manufaturas de fiação, tecelagem, confecção
en esta diversidad existe siernpre una relación de producci6n que es dominante y cuyas leyes de funcionamien to tienen una influencia decisiva sobre las demás. -
De lo expuesto anteriormente se deduce que la dominación de un tipo determinado de relaciones de producción no hace desaparecer en forma automática todas las otras relaciones de producción; éstas pueden seguir existiendo, aunque modificadas y subordinadas a las relaciones de producción dominantes.
Podemos afirmar, por ejemplo, que desde la época de la conquista los países de América Latina han estado sometidos al sistema ca~italista mundial, en un comien zo bajo la forma de capit~lismo comercial y luego a través de relacio~es de producción propiamente capitalistas (en la mayor parte de ellos)~ pera afirmar que este sistema capitalista mundial domina no significa negar que existían y que todavia existen, en forma muy difundida, relaciones precapitalistas de producción: relaciones de producción aue se acercan a las de la co munidad primitiva en alguÜos lugares aislados, relacio nes semiserviles en muchas zonas campesinas y una difÜ sión bastante gr~nde de la pequena producción artesa= ..,,.,-, nf...,~~ 1 /IC::'
12
de rendas, fitas, artigos de palha, etc.
Quando a produção industrial assume caráter fabri~ i~ to é, passa a utilizar predominantemente a máquina-ferra
menta, a habilidade, a destreza e a força física do traba
lhador, tornarwn-se dispensáveis. ~ a partir de então, que
a mão de obra feminina - e também a infantil - pode ser am
plamen te empregada. Segundo Marx, 11 La maquinaria al hacer inutil la fuerza
del músculo, permite emplear obreros sin fu erza muscular o sin un desarrollo fisico com
pleto, que posean, en cambio, una gran fle
xibilidad en sus miembros 11 .(5)
Estas transformações no processo de trabalho se dão
num momento em que a expansão industrial é muito grande -
e correspondem também à necessidade de incremento rápido
do montante de bens produzidos, a fim de responder a uma
demanda em rápido crescimento - requerendo volume crescen
te de trabalhadores.
O caráter de mercadoria da força de trabalho impÕe va
riações em seu preço, segundo os mecanismos de oferta e
procura, fazendo-o oscilar acima ou abaixo de seu valor(6). Quando a oferta de força de trabalho é superabundante, seu preço tende a cair abaixo de seu valor, assim como tende a
elevar-se acima deste quando sua procura supera a oferta. Essa circunstância é, no entanto, temporária, já que o do
mínio do capital, sobre a técnica, possibilita-lhe recor
rer à inovação tecnológica, essencialmente poupadorade mão
de obra, sempre que a elevação do preço da força de traba
lho ameaça os níveis de acumulação do capital.
(5) (6)
N~nx, op. cit., pag. 323. O valor de toda mercadoria é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário para sua produção. Quan do a mercadoria é a força de trabalho, seu valor é de= terminado pelo tempo de trabalho socialmente necessário para prover seu possuidor dos meios de vida caEa zes de garantir sua subsistência, logo, a reproduçao da força de trabalho. O preço da força de trabalho é expresso pelo salário pago pela sua utilização.
13
Assim, de acordo com as circunstáncias, pode o capital optar ou por wna expansão quantitativa, isto é, pela u
tilização de força de trabalho, mantendo a base técnica da
produção ou inovando esta. Quando a opção pela expansão
quantitativa é mais favorável para o capital, tende a se
ampliar a utilização da força de trabalho feminina.
A este interesse especÍfico do capital corresponde um
aumento das dificuldades da família trabalhadora, cujo ní-
vel de vida tende a baixar, devido ,iu:Jtrunente à ção da força de trabalho. O recurso utilizado no
depreciallmbi to da
família trabalhndora é empregar rr~is de uma força de traba
lho para garantir aquele nível, o que significa o emprego da mulher e também, possivelmente, dos filhos.(?)
Esta possibilidade de opção do capital, associada à dominação que exerce sobre o trabalho no processo de pro
dução, e que decorre do monopólio sobre os meios de prodti
ção, garante-lhe condiçÕes de explor~ção da força de traba
lho, as quais são reforçadas pela situação política dominante da classe capitalista, cujo controle do aparato jurí
dica-institucional lhe possibilita regulamentar as relaçõ
es sociais, de acordo com seus interesses particulares.
Vê-se então que a combinação de umn série de fatores
- desde a relação entre oferta e procura de trabalho, que
pode ser, de certo modo controlada pelo capital, detentor do poder de decisão sobre a inovação técnica no processo
(7) Este procedimento não ~ exclusivo das primeiras etapas do desenvolvimento capitalista, mas parece estar presente em qualquer etapa, sempre que a organização da classe operária é insuficiente para lhe assegurar um relativo poder de barganha na luta pela elevação dos níveis de salário. Em "São Paulo, 1975 - Crescimento e Pobreza 11
, Cândido Procópio Ferreira de Camargo et alli, S. P.t EdiçÕes Loyola, 1976, pag. 67, fica demonstrado que, a queda nos salários reais dos trabalhadores de São Paulo, entre 1958 e 1969, corresponde um aumento do número de me~bros da famÍlia que passam a exercer alguma atividade remunerada. O mesmo dado é citado por Francisco de Oliveira "A Economia Brasileira: Crítica à Razão Dualista 11
, Estudos CEBHAP 2, 1972, pag. 56. A fonte dos dados ~ a mesma: DT!~BSE.
14
produtivo, até a existência de rnecanismos jurídico-insti tu
cionais como, por exemplo, a proibição de organização dos
trabalhadores - viabiliza ao capital grandes oportunidades de exploração da força de trabalho.
:!!: dentro deste marco que configura
lho em relação ao capital, que a mulher a posição do traba abandona, ou me-
lhor, é compelida a abandonar suas tarefas domésticas tra
dicionais, passando a integrar-se em uma atividade produti va fora do lar.
As condições específicas em que se dá esta integração
relacionam-se a intermediação de fatores culturais que a
torna mais desvantajosa para a mulher do que para o traba
lhador masculino.
A esses fatores culturais associam-se condiçÕes reais específicas da população feminina trabalhadora.
Especifiquemos:
A longa vig~ncia de uma posição subalterna da mulher
no seio da família e da sociedade, submetida à autoridade e dependência de um membro masculino do grupo familiar, sua
pouca ou nenhuma preparação para outras atividades além da
quelas desempenhadas no âmbito doméstico, que exigiam pou ca ou nenhuma criatividade, conduziu a que fosse considera
do "natural", "inerente à condição fernín in a", o que era fru
to de uma longa tradição cultural, segundo a qual a posiçao da mulher, seus papéis familiares e sociais eram marca
dos pela submissão e inferioridade em relação aos masculi-
nos.
A conservação desses valores foi sobretudo oportuna
para o capital, que deles se valeu para super-explorar a mulher, a cuja pretensa inferioridade 11 natural" deveriacor
responder, naturalmente, salários inferiores.
Toda a tradição de submissão e inferioridade da mulher se expressa então nas relaçõeo de trabalho. Deste mo
do, 11Não f6ra a reação ção da mão de obra
societária ' a substitui masculina pela feminina,
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ga escala e com nítidas vantagens, a força de trabalho da mulher, quer no período de
constituição de u.nw. economia capitalista,
quer em sua fase de desenvolvimento. A pe
quena capacidade reivindicatória da mulher
fá-la comportar-se mais ou menos passivame~
te nas relações de trabalho, impedindo-a de
assumir posiçÕes estratégicas que poderiam
melhorar sua posição de barganha no mercado de trabalho" ( 8).
À estas considerações de natureza sacio-cultural e e
conômica, podem se acrescentar outras, mais diretamente re
lacionadas às condições objetivas da mulher trabalhadora.
Segundo André Máday(9), entre estas condições, considera-
das como causas da inferioridade dos salários
que tanto pode ser observada pela comparação
femininos -
dos mesmos
com o de trabalhadores masculinos nos mesmos níveis de ocu
pação como comparando as médias salariais de homens e mu
lheres - podem-se enumerar: o caráter suplementar do salá
rio da mulher no orçamento doméstico, o que a leva a acei
tar salários inferiores aos pagos aos homens para o desem
penha das mesmas tarefas; oferta superabundante de traba
lhadoras em lagurnas poucas ocupações que a instrução (pouca) e a tradição tornam acessíveis às mulheres; trabalhos exercidos como 11 passatempo 11 (10); insu.ficiência de aprendi
zagem e/ou educação preparatórias (dada pela educação sem nenhuma preocupação profissionalizante ministrada às mulh~ res (poucas) que tinham acesso a ela; incapacidade jurídi
ca da mulher; existência do preconceito da inferioridade
da mulher, do qual deriva a inferioridade também de seu
(8) SAFFIOTI, Heleieth. "A Mulher na Sociedade de Classes: Mito e Realidade '1 • S. P. , Livraria Quatro Artes F.di tora, 1969, pag. 250.
(9) l\'IÃ])AY, André. 11 Le Droits des Femmes au Travail 11, Gene
ve, Atar S/A., 1905, pag. 121 e seguinte. (10) Deste caso deve ser excluída a trF!be.1badora Ue lf,aü~
baixa qualificação, que trabalha para garantir sua subsistªncia e/ou auxiliar no orçamento familiar. Pa ra esta, o trabalho não é um passatempo, mas uma necessidade.
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trabalho; entraves à liberdade social da mulher; a débil
organização das trabalhadoras; submissão, ausência de pre
tensões (o trabalho da mulher raramente é desempenhado co
mo uma "carreira") e ignorância e finalmente, condiçÕes na turais como força física, doenças periódicas, maternidade
(ll).
Vé'-se, então, que o processo de constituição da força de trabalho feminina como mercadoria, é marcado desde sua
origem por uma depreciação maior do que a relativa à força
de tr~balho masculina. Esta diferença nao apresenta uma
tendência a ser superada com o avanço do capitalismo e to
da sua ideologia de igualdade. Nos Estados Unidos, em 1935,
os salários pagos às mulheres em alguns ramos industriais
eram expressivamente inferiores aos pagos aos homens: 28% na indústria téxtil de algodao, 36% na indústria de calça
dos; no Japão, em 1957, 11 0s salários femininos representa
vam 41,4% dos masculinos 11 (12) e mesmo mais recentemente,um
informe do governo de Israel acusava umn diferença de 40%
entre os salários masculinos e femininos(l3).
Este quadro traçado refere-ze, essencialmente, a uma
determinada categoria de mulheres cujas condiçÕes de vida
obrigaram-na a vender sua força de trabalho para garantir
sua manutenção. Porém, esta categoria nRo é o conjunto da
população feminina: este inclui outras categorias, cuja p~
sição privilegiada na estrutura econélmica, desobriga-as da
necessidade de trabalhar para sobreviver. Para estas mulh~ res, aquela divisão do trabalho a que nos referimos ante
riormente, continuou, (e em alv1mas circunstâncias conti
nua ainda) a vigorar, embora progressos tenham ocorrido no
(11) Algumas dessas condições, já fora:n em parte ou totalmente superadas. Sua consideração ó válida, no entan to, pela ênfase dada nos condicionantes sócio-cultu= rais, que superam as determinações de natureza bioló~ica como causa da inferioridade dos salários pagos as mulheres. Na época em que foi escrito o livro, esta posição foi importJnte como tentativa de desmisti ficar a 11 inferioridade natural" da mulher como trabalhador.
(12) Citado por SAl•'FIOTI, op. cit., pag. 69. (13) Correio do Povo, 08/12/1976.
17
sentido de uma certa abertura à participação feminina na
produção social. Em alguns casos, o exercício de uma ocupa ção remunerada passou a significar para a mulher, uma chan
ce de emancipação. De certo modo, esta expectativa corresponde a algumas possibilidades reais, desde que o nível de
escolaridade e preparação profissional seja suficiente para permitir à mulher o exercício de uma profissão de relativo prestígio e remuneração. Como, no entanto, o acesso à educação e à formação profissional é limitado e seus rec~ sos desigualmente distribuÍdos, aquela possibilidade de emancipação pelo trabalho é também limitada a uma · minoria
de mulheres. Mesmo nestas circunstâncias, é bastante evidente a preservação de uma divisão social do trabalho entre os sexos, com conotações novas, expressas pelo surgi
l mente de categorias ocupacionais essencialmente femininas, tanto entre aquelas decorrentes da diversificação econ6mi
ca - como datilógrafas, estenógra f as, bibliotecárias, assistentes sociais, fisioterapeutas, opera dores de raio X, etc. - como ocupações mais tradiciona is, como o ensino e a enfermagem, cuja expansão se deu utilizando largamente o trabalho feminino.
Há, ainda, uma outra categoria de mulheres, sem nenhu
ma qualificação que lhes possibilite aspirar à independén
cia econômica pelo exercício de uma atividade bem remunera da, e que nem mesmo conseguem um lugar no conjunto das relações de produção dominantes, sobrevivendo à margem deste
- ou integradas a relações subordinadas do modo de produção capitalista. Este contingente de mulheres faz parte do
potencial de força de trabalho que o sis tema é incapaz de
absorver, dado sua impossibilidade de realizar o pleno emprego, mas que se mantém como uma reserva de mão de obra, a ser utilizada pelo capital, s egundo suas necessidades de
acumulação.
Segundo estas considerações, a análise detalhada da
estrutura ocupacional em seus aspectos quantitativos e qua litativos possibilita uma avaliação do significado do trabalho feminino num dado contexto e de sua efetivação como canal de ascensão e autonomia econ6mica (o que é válido, sobretudo, no caso da mulher, para quem o exercício de uma
18
ocupaçao nao é "socialmente compulsório").
A busca daquela significado no contexto específico do
Rio Grande do Sul, se constitui no objetivo central deste
trabalho e é obtido pela análise detalhada da presença fe
minina nos setores de sua econowia, possibilitando uma in
terpretação qualitativa do processo de integraçáo da mu
lher gaúcha à estrutura ocupacional,
I PARTE
1. Estrutura Ocupacional e Desenvolvimento
A estrutura ocupacional de uma dada sociedade é indicador importante do grau de de s envolvimento de suas forças produtivas e de sua diversificação econômica, na medida em que evidencia a forma de utilização e a distribuição de sua força de trabalho pelos setores da economia.
O processo de desenvolvimento econômico acarreta, em relação à estrutura ocupacional, profundas modificações em
seu perfil, decorrentes da diversificação de seu sistema
produtivo e da especialização crescente das atividades, r~ queridas por aquele processo. Deste modo, un~ estrutura ocupacional que concentra grande proporção da força de trabalho no setor Primário, expressa a vigência de um sistema produtivo fundado principalmente na atividade agrícola,com evidente utilização de mão de obra extensiva e baixa prod~ tividade no setor. Nestas circunstâncias, o setor de servi ços pode registrar níveis de expressão variada no conjunto da economia e como alocador de força de trabalho, segundo a natureza das atividades primárias. Quando estas comportam um setor importante voltado para o mercado externo, o setor Terciário tende a ass1unir uma certa expressão, derivada do desenvolvimento das atividades ligadas à comercialização, financiamento, escoamento da produção, etc.
A magnitude do setor Terciário como alocador de força de trabalho está também vinculada à extensão que o processo de migração rural/urbano assume num determinado contexto, principalmente nos países em desenvolvimento, onde é patente o papel que aquele setor desempenha na integração
de grandes contingentes de trabalhadores de origem rural à economia urbana(l4).
Dentro deste quadro, as atividades de transformação tendem a ter pouca expressão econômica, caracterizando-se como predominantemente artesanais, voltada para a satisfação das necessidades de uma população local, de baixo nível aquisitivo e baixo padrão de consumo.
(14) Também o setor industrial tem papel importante no pr~
20
Na medida em que a industrializa~:ão passa a desempe
nhar um papel de importáncia crescente no sistema produti vo, mudanças significativas registram-se em todos ' os n~-
veis da vida social, manifestando-se trunbém no perfil da estrutura ocupacional.
A diversificação da produção passa a requerer a dive~ sificação e ampliação dos serviços, ocasionando o aumento
da força de trabalho neste setor. Não se pode abandonar,
no entanto, a perspectiva do caráter heterogêneo que o setor de serviços conserva, e em muitas circunstáncias até
amplia. Por ora, deixaremos de lado este aspecto, retoman
do-o quando analisarmos especificamente o setor Terciário, na II Parte deste trabalho.
A inte,;sidade das modificações na estrutura ocupacj_o
nal derivadas do processo de industrialização está direta
mente vinculada à intensidade do impacto que este processo
provoca no conjunto da economia e ao padrão tecnológico
que caracteriza o mesmo, pois, na medida em que a ativida
de industrial assume papel relevante no sistema econômico,
os demais setores tendem, mesmo que parcialmente, a se be
neficiar com seus efeitos. E, de acordo com aquele padrão
tecnolÓgico, o montante de força de trabalho ocupada no se tor Secundário tende a concentrar proporções variáveis do
conjunto da força de trabalho.
Especifiquemos melhor.
Quanto à primeira questão - o impacto da industriali
zação e seus efeitos no conjunto da economia , podemos a-
cesso de absorção de mão de obra de origem rural. Na medida, entretanto, em que a industrialização dos paÍses em desenvolvimento se dá dentro dos padrões tec nológicos dos países desenvolvidos, isto é, utiliza= ção predominante do capital constante sobre o capital variável, mesmo a grande expansão do setor industrial não expressa uma grande capacidade de absorção de for ça de trabalho. ~ nos ramos inferiores e menos quali= ficados do setor Terciário, que parte da população mi grante vai buscar condiçÕes de sobreviver no meio ur= bano.
21
firmar que sua penetração no setor Primário pode signifi
car uma diminuição na força de trabalho relativa nele ocu
pada, dada pela inovação de sua base tecnolÓgica. Isto po
de ocorrer mesmo no caso de expansão das atividades primá rias, com aumento no total de ocupados no setor.
No setor Terciário, o impacto da industrialização po
de se fazer sentir na criação de novas ocupações, que aten dam às necessidades decorrentes das modificaçÕes no siste
ma produtivo.
Em relação à segunda questão - padrão tecnolÓgico -
ela vai definir a capacidade de absorção de mão de obra pe
lo setor industrial, pois na medida em que sua expansao se
caracterizar pela utilização de uma tecnologia sofistica
da, poupadora de mão de obra, a absorção deste fator vai
se dar com intensidade muito menor do que a própria expan
são do setor. Isto pode significar que o processo de indus
trialização pode modificar as proporçÕes de mão de obra
nos setores Primário e Terciário, mantendo estável a proporção de ocupados no setor Secundário, o que é perfeitamente possível, mesmo com o aumento absoluto da população
ativa.
Estes fatores assumem dimensões específicas em cada caso particular e sua consideração será retomada neste tra balho, a medida que seu desenvolvimento o exigir.
2. A Força de Trabalho ~ Conjunto da População
no Rio Grande do Sul e no Brasil
Entendemos aqui o conceito força de trabalho(l5) como o con
junto de indivíduos efetivamente ocupados em alguma ativi
dade, remunerada ou não. Não se trata, portanto, da popul~ ção "em condições 11 de desempenhar wna atividade, ou seja,
da potencialidade de trabalho existente num deterillinado con
texto, mas daquela parcela da população que, em dado mome~
(15) Força de trabalho pode ser entendida ta~bém conforme registro da nota l. Os dois conceitos nao se confundem, porém e sua distinção fica patente no contexto do trabalho.
22
to, se encontra realmente exercendo qualquer tipo de ativi dade.
Nos dados censitários que utilizamos neste trabalho, a base para o cálculo da população ativa é constituída pela população com 10 anos e mais(l6). Assim, sempre que nos referirmos à população ocupada, isto é, à força de lho, estaremos tratando do conjunto da população anos e mais, que exerce algwna ocupação.
traba-com 10
Segundo estes critérios, comparando-se os dados do Rio Grande do Sul e do Brasil, registrados na tabelal, verificamos que as taxas de ocupação nas duas populações são muito semelhantes, modificando-se na mesma direção: com pro porções praticamente idênticas em 1920 (Rio Grande do Sul: 30.1%; Brasil: 30.0%), aumentam em 1940 (Rio Grande do Sul: 51.3%; Brasil: 50.8%), declinando levemente nos dois mome~ tos censitários posteriores (1950- Rio Grande do Sul, .••.
47.4%; Brasil: 46.7%; 1970- Rio Grande do Sul: 46.3%; Era sil: 44.9%). Estes dados mostram que, embora as taxas de ocupação no Rio Grande do Sul e no Brasil sejam bastante semelhantes, apresentando variações no mesmo sentido, as ta xas no Rio Grande do Sul são mais elevadas que no Brasil, podendo-se detectar uma leve tendência a aumentar a diferença existente entre as duas populações, que era de 0.1 pontos percentuais em 1920, passando para 1.4 em 1970.
(16)
TABELA 1 FORÇA DE TRABALHO TOTAL E POR SEXO,
SOBRE O TOTAL DA POPULAÇÃO COM 10 ANOS E MAIS RIO GRANDE DO SUL E BRASIL - 1920/1970
RS BR M F T M F T
7.8 I
1920 51.9 30.1 :52.0 7.7 30.0 1940 81.8 21.1 51.3 :82.8 19.2 50.8 1950 79.2 16.0 47.4 :8o.6 13.5 46.7 1970 70.5 25.6 46.3 :71.8 18.5 44.9 Fonte IBGE, Censos Demográficos.
Em 1920, a proporção da população ativa é s~bre o total da popula~ão, o que ~mplica çao das taxas de ocupaçao em relaçao aos censos posteriores.
calculada em diminui dados dos
23
Quanto à força de trabalho exclusivamente masculina, observamos que sua proporção sobre o conjunto da população
masculina de 10 anos e mais, é muito mais elevada que a r~ lativa ao conjunto da força de trabalho, mas apresenta as
mesmas variações que esta, isto é, wn aumento entre 1920 e
1940 (passando de 51.9% para 81.8% no Rio Grande do Sul e de 52. O% para 82.8% no Brasil), declinando gradativamente nos anos censitários posteriores (Rio Grande do Sul: 79.2%
em 1950; 70.5% em 1970; no Brasil: 80.6 em 1950 e 71.8 em 1970). Este movimento ocorre tanto no Rio Grande do Sul co
mo no Brasil, sendo que neste, é sempre um pouco mais ele
vada que naquele. Ao contrário do que se observa em rela
ção ao conjunto da força de trabalho, não há uma tendência
aparente no sentido de aumentar a diferença entre Rio Gra~
de do Sul e Brasil, no que diz respeito às taxas de ocupa
çao masculina.
Considerando-se a força de trabalho feminina, dentro do quadro comparativo com a masculina e a total, observa
mos duas condições específicas:
la.) as taxas de ocupação feminina sao muito inferia-
ires às da ocupação masculina e total, o que corresponde ao padrão das sociedades ocidentais. O aspecto particular, em \I
relação ao Rio Grande do Sul e Brasil, é que, enquanto as ~taxas de ocupação masculina e da população, em geral, de-
.} clinam a partir de 1940, a feminina se eleva de um para ou ~ tro momento censitário. O relativo declínio, ocorrido em
~ 1950, se deve provavelmente aos critérios do censo daquele "· ~ ano, que levaram a subestimar a ocupação feminina. Tomando
se este dado como válido, podemos supor que a taxa de ocupaçao feminina em 1950 no Rio Grande do Sul e no Brasil,
seria efetivamente superior aos 16.0/o e 13.5% registrados,
dando continuidade a um processo ascendente na ocupação fe
minina.
A intensidade deste processo está registrada na Jrabe-
la 2, que
da força consta das taxas de crescimento das populações e
de trabalho masculina e feminina. Verifica-se
pelo exame da Tabela, ~ue exceto no período 1940-1950, o crescimento da população feminina ocupada foi sempre muito
24
superior ao da masculina, bem como superior ao crescimento
do conjunto da população total feminina e masculina, incr~
menta ora mais elevado no Rio Grande do Sul (período 1920-
1940), ora mais elevado no Brasil (período 1950-1970).
TABELA 2
TAXAS m: CRi,SCH12:NTO .DA POTUMÇÃO TOTAJ,
E DA 1-)0PULAÇÃO OCU1)ADA, POH SEIW
RIO GRANDh lJO SUL h BRASIL - 1920/1970 %
PER!ODO: PFT i PFO 1 PMT 1 Pl.!O PFT PFO j i I I ~ f
, RS I
20-40 l53.25l191-76i50.82i65.55i35-74il39.04 40-50 l25.95i -3-78i25.09i21.8li26.36: -8.92 50-70 ;60.691135-92;59-36;47.84:79.79;146.65
R 1 PIIT PMO I ' :33.47i48.8g l25.56:2l.87 ;67.51;60.49
J!,onte dos dados brutos: IBGr~ - Censos Demográficos.
Pode-se verificar que, enquanto as taxas de crescime~
to da população masculina e feminina são bastante semelha~
tes (menos em 1950-70, no Brasil, quanto o incremento da população feminina total é 12.28 pontos percentuais supe
rior às da população masculina total), a diferença signifi cativa ocorre em termos de incremento da força de trabalho
entre a população masculina e feminina, o que vai se refl~
tir nas taxas de participação, como veremos adiante.
2a.) Retomando-se o exame da ~rabela 1, observamos ctue
a partir de 1920, quando as taxas de ocupação das popula
çôes femininas no Rio Grande do Sul e no Brasil eram prati
camente as mesmas (sendo a do Rio Grande do Sul apenas 0.1
ponto percentual superior à do Tirnsil), o incremento do tra V
balho feminino no .!iio Grande do Sul passa a se dar num rit
mo mais acelerado ctue no Brasil (veja-se Tabela 2), do ctue resulta uma tendência a aumentar a diferença nas taxas de
ocupação feminina no Rio Grande do Sul e no Brasil, ~UeiBS
sa de 1.9 pontos percentuais em 1940, para 2.5 em 1950 e
7.1 em 1970.
A constatação de q_ue, no Hio Grande do Sul o processo V L
de integraçáo da mulher na força de trabalho tem sido mais intenso do que no Brasil no período 1920-1970, impóe uma série de perguntas relacionadas às causas da diferenciação do processo nas duas populações - como diferenças nos ní-
; ----~~~~;~ P~T.~ttura etária, composição rural/urba
25
na da populaçao, padrões culturais que favorecem/obstaculi zam o ingresso da mulher na força de trabalho, bem como a própria estrutura económica, etc. que deixamos em abe~
to, já que as respostas àquelas perguntas requerem a consi deração das diferenças regionais existentes no Brasil, que sabemos, são muito grandes.
O mesmo se dá em relação à comparação entre Rio Gran
de do Sul e Brasil quanto à participação feminina e ao pe~
fil ocupacional, que analisamos a seguir, sem entretanto tentar uma explicação, o que exigiria uma considerável ampliação dos objetivos deste trabalho e que levassem em con ta todas as diferenças regionais existentes termos de níveis educacionais, distribuição
da população, tipos de atividades econômicas explorá-las, padrões culturais, etc.
no Brasil, em
rural/urbana e formas de
Por ora, contentamo-nos com aquela constatação, nao nos detendo na busca de suas causas, que julgamos possam ser encontradas entre os aspectos enumerados acimae
3. Participação da Mulher ~ Força ~ Trabalho no Rio Grande do Sul e no Brasil
O exame da Tabela 3 nos permite verificar a crescente
participação da mulher no conjunto da força de trabalho, que só não apresenta uma linha ascendente continuada devi
do à diminuição ocorrida em 1950(17). A crescente partici pação feminina, na força de trabalho, ocorre tanto no Bra
sil como no Rio Grande do Sul. ~Has, no Rio Grande do Sul,
este processo é mais acelerado, o que pode ser explicado
pelas taxas superiores de incremento da força de trabalho
no Estado, conforme registro da Tabela 2.
Partindo de taxas de participação quase iguais em
1920 (quando 12.9% da força de trabalho no Rio Grande do Sul e 12.7% no Brasil era constituída de mulheres), a di-
(17) Este descanso registrado em 1950 é encontrado em qua se todos os níveis em que os dados são tratados, po= dendo-se considerá-lo como decorrente_do ~ introd~ \~ zido pelo Censo daquele ano, em relaçao ao trabalho feminino, a que já nos referimos anteriormente.
26
ferença vai gradativamente aumentando no sentido de uma
participação maior da mulher no nio Grande do Sul, que al-llJ cança, em 1970, 3.8 pontos percentuais acima da taxade par
ticipação da mulher no conjunto da força de trabalho brasi
leira. Esta diferença significattva se expressa na proporção de mulheres naquele conjunto: no Hio Grande do Sul, em 1970, em cada quatro pessoas ocupadas, uma era mulher; no Brasil, a relação era 5:1, aproximadamente.
TAllBLA 3 PARTICIPAÇÃO DA MULHER NA ''ORÇA DE TRAllALHO
RIO GRANDE DO SUL E BHASIL - 1920/1g70
' s I ANO ' l 'AllSOLU'rü ~ ABSOLUTO ~ I '
84.545 ' 1.171.178 1920 12.9 ' 12.7 ' 1940 246.675 20.6 ' 2.799.630 19.0 ' 1950 2}7.555 l7 .o ' 2.499.612 14.6 ' 1970 560.460 24.7 ' 6.165.447 20.9 '
Ponte: TRGE, Censos Demográficos.
Associando estas observações àc expostas no TÍtulo 1,
verificamos QUe: a) no Rio Grr.1nde do Sul, a taxa de ocupaçao feminina W
é superior à do Brasil; b) a participação feminina na força de trabalho é mai
ar no Rio Gronde do Sul que no Brasil;
c) tanto no Rio Grande do Sul como no Brasil, as duas
dimensões do trabalho da mulher acima consideradas, a~re
sentam uma tendência crescente, porém,
d) no Rio Gr:::.nde do Sul, esta tendênc}a é mais acentu
ada, distanciando-o das proporções alcançadas no Brasil.
Poderíamos supor que a proporção maior de mulheres no
Rio Grande do Sul, ou uma diferença na estrutura etária das
duas populações femininas, q_ue definisse a pro-porção maior
de mulheres em idade produtiva no Rio Grande do Sul que no Brasil, pudesse explicar as diferenças nas taxas de ocupação e participação. No entanto, wn exame detalhado das du
as dimensões, nas duas populações, não evidencia qualquer diferença significativa entre elas: a proporção de mulheres é a mesma em ambas, e as variações quanto à composição
?7
por sexo em cada faixa etár·ia, que oao Gempro pequenas, o
correr igualmente nas duas populações. Apenas na faixa dos
70 anos e mais, desde 1920, no Hio Grande do Sul e no Drasil, a população feminina é proporcionalmente maior que a
masculina. ?.·ías este dado não é signi fie ativo em te1·mos de
força de trabalho.
4. Distribuição da Fo-rça de 'T'rabnlho
nos Setores da T•;conomia
no Rio Grrmde do ~ul e no Brasil
A análise comparativa das Tabelas 4 e 5 viabiliza apreender as modificações na estrutura ocupacional no Rio
Grande do Sul e no Brasil, ast>im como as verificadas no con
junto da população masculina e dn fer:ünina, se-parad2men te,
e que podem ser asoim sintetizadas:
I. no conjunto da fort;a de tro.haJho:
a) diminuição na ocu·pação relativa no setor -?rimá
rio, q_ue até 1940 era maior no nr-a;1il que no Rio Grande do
Sul. Após registrar a mesma proporçao em 1950, a ocup3çao
relativa no setor, no Hio Grande do Sul se mantém pouco
acima da registrada no Brasil. Er:1 1970, tanto no 13rasil co
mo no Rio Gr2nde do Sul, a maioria da forçri de trabalho,
ocupada até então na agricul turrr, pas::>a a ser urbana.
b) a ocupação relativa no setor Secundário aumenta
ao longo do período, sendo, a partir de 1940, levemente su
perior no Brasil.
c) a ocupaçao relativa no 1l'erciário aumenta, sendo
mais elevada no Rio Grande do Sul que no nr~sil.
II. Em relação à força de trabalho masculina:
ar sua ocupação relativo., no setor PriDár'Lo, é sem
pre mais elevada que a verificada no conjunto da população
ocupada.
b) a pro-porçao de ocupados no setor Primário, no
Brasil, é superior à do Rio Grande do ~lul até 1970, quando
praticamente se equivalem, apresentando, o Rio Grande do
Sul, 0.3 pontos percentuais a mais que o llrasil; c) em 1970, a maioria da população masculina ocu
pada, no Rio Grande do Sul e no _Bra.::dl, ainda era rural.
TABELA 4
DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO OCUPADA, POR SEXO, NOS SETORES DA ECONOMIA
RIO GRANDE DO SUL - 1920-1970
SETORES : _______ ~129~2~0~------t'------~1~9~4~0--------+'-------1~9~5~0~------+'------~9~7~0 t 1 , !
lM F T1M F T1M F TlM F T ' 55. 7
ll. 7 -
ll. 7 16.6
6.0
36 28
28 32
2
.3 61.9 l65.1 58.4 63.7 ;63.9 40.8 60.0 /50.9 31.4 46.0
.5 13.9 110.6 4.3 9,3 113.4 9.1 12.7 :19.9 8.3 17.1 - - : 1.8 10.6 3.6 : 2.9 7.6 3.7 : 2.5 4.6 3.0 .5 13.9 :12.4 14.9 12.9 :16.3 16.7 16.4 122.4 12.9 20.1 .4 18.6 ll9.5 26.3 20.9 \19.2 42.2 23.1 l25.2 54.7 32.5
8 5.6 : 3.0 0.4 2.5 : 0.6 0.3 0.5 : 1.5 1.0 1.4
Fonte: IBGE- Censos Demográficos.
"' co
TABELA 5
DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO OCUPADA, POR SEXO, NOS SETORES DA ECONOMIA
BRASIL - 1920/70
' 1920 ' 1940 ' 1950 ' 1970 SETORES ' ' ' ' ' ' ' ' ' l'1 F T ' l'1 F T ' M F T ' M F ' ' ' ' Primário ' 71. 8 51. 9 69.3 : 7 o. 4 46.8 6 5. 9 : 6 5. 2 30.3 60.0 :50. 6 20. 4 ' Sec. I ' 10.4 36.7 13.7 : 10. 3 10.7 10.4 il4.0 15.8 14.2 : 2 o. 5 10.4 ' Sec. II ' - - - ' 2. o 13.9 4.2 ' 2.3 9. 7 3.4 ' 2. 2 8.2 ' ' ' ' Sec. I + II ' 10.4 36.7 13.7 :12. 3 24.5 14. 6 :16.3 25.5 17.6 i 2 2 • 7 18.6 ' Terciário ' 13.2 7.4 12.5 ~16.5 28.2 18.8 il8.5 44.2 22.3 :24.4 58.4 ' Fonte: IBGE - Censos Demográficos.
T
44.3 18.3
3 • 5 21.8 31. 5
"' '"'
30
d) a ocupaçao relativa no setor Secundário aumcm
tou durante o período 1920-1970. ~té 1940, ela era mffis ele
vada no Rio Grande do Sul; em 1950, a proporção de ocupados no setor é a mesma no Rio Grande do Sul e no 11rasil e,
em 1970, é -pouco maior no Ilrasil que no Rio Grande do Sul.
e) também no Terciário a tendência é de aumentar
a ocupaçao relativa; esta é, no entnnto, mais elevada no
Hio Grande do Sul ~ue no Brasil.
' ' O que se verifica então é que as mesmas linhas tenden "'
ciais registradas, no conjunto dn. força de trabalho, ocor
rem também em rclaçiio à força de trabalho masculina.
O mesmo não se verifica em relnção 3.
III. Força de trabalho feminina
a) em 1970, a maior ocupação relativa encontra- "'
se no setor TerciRrio, mais elevadn no nrasil que no Rio
Grande do Sul.
b) a ocupação relativa no T'r"i.G"lário dimtnui crn.da
tivamente no Brasil. No Rio Grar:de do ~u.l, a-pós uma eleva
ção entre 1920/1940, declina nos anos posteriores. 1las é, desde 1940, bastante mais elevada q1;e a verificada no nra
sil, demonstrando o papel mais destacado do trabalho agrí- \\
cola da mulher no ~io GranUe do Sul.
c) no setor Secundário, tende a diminuir n ocup~
çao relativa de mulheres, q_ue é ini~erior no Hio Gro.ncle do
Sul, ao longo de todo período, i1 constatada no Bro.sil.
Vemos, então, que às tendênc.i.as que marcam as I:todifi
cações da estrutura ocupacional geral, no Rio Grande do
Sul e no Brasil, correspondem tendências f3imilares na es
trutura ocupacional masculina, o que nao ocorre em relação
à feminina, onde, à diminuição nn ocupnç<io rel:J. ti v a nos se
tores Primário e Secundário, corresponde uma elevaçS.o no
Terciário, e QUe, eno,uanto o trabalhador nmsculino ainda é
predominantemente rural, a mulher é, não r..~ó uma trabalhado
ra predominantemente urbana, maa de maneira evidente, urna V trabalhadora do setor rrerciário.
Estas modificações na estruturA. ocupacional, tem to no
TI.io Grande do Sul como no Rrn::.i l, exoreasam a transição da
31
economia, de uma base essencialmc;nte agrária para uma base
urbano-industrial. Embora este processo seja bastante desi
gual no conjunto do espaço brn.siJeiro, sua grande intensi
dade em algumas regiÕes modificou substancialmente os da
dos gerais do país. Este, em con;junto, apresenta taxas ma
is elevadas de empreGo urbano do que o 1Uo Grande do Sul,
onde, embora também enteja ocorrendo aquela transição, tem
ainda no setor l)rimário, a base ele sua economiu(l8).
Observaraos também que as tendências das modificaçÕes
do perfil ocupacional masculino coinciden com as ocorridas
no conjunto da população ocupada, enquanto o feminino registra uma sing1llarid.s..de, no sentido de uma maior in tensi
dade no processo de constituiçilo de uma força de trRbalho
predominantemente urbana.
5. Partic,ipação da "tlállher na li1orça de Trabalho,
~ Setores, no Rio Grande do Sul ~~Brasil
Já observamos, pela análise da Tabela 3, QUe a pe-rticipação da mulher na força de trabalho teve um expressivo
aumento no período 1920-1970, tanto no T~rasil, como no Rio
Grande do Sul, tendo sido, no entanto, maior no Rio Grande
do Sul.
Examinando-se aquela parttci-pação em cada setor, re
gistrada na Tabela 6, verificamos que somente no 'rerciário I/
ela aumentou continuamente, sendo quaGe sempre - exceto em
1940 - maior no Tiio Grande do Sul que no Brasil.
Este processo corres-pende a um numento muito expre.ssi
vo no total de mulheres ocu-padas no setor, como registram
os dados da Tabela 7.
No setor Secundário, é nítida u ter.dência a declinar
a participação feminina, apesar do constem te crescimento
do número de mulheres nele ocupadas, no Brasil e no Rio
(18) Em 1970, o setor agrícola -participava com 30.3% da ren da gerada no Estado, enqu:=mto o setor industrial par= ticipava com 18.7%, conforme :FUndação de Economia e Estatística, 11 25 Anos de i~conomia Gaúcha 11
, volume I, Porto Alegre, 1976, pag. 30.
32
TABELA 6
PAllTICIPAÇÃO DA !::ULíH:n NA l'OHÇA Dlé 'l'Jli,DAU!O, POR SET08c:S
RIO GRA'lm; DO SUL E ll!li\SIL - 1920/70
SETOR ANO HS BH
' Primário ' 1920 7.6 ' 9-5 ' ' ' 40 18.9 ' 13.5 ' ' ' 50 11.6 ' 7-4 ' ' ' 70 16.8 ' 9.6 ' ' ' ' Secundário: 20 26.4 ' 34.0 ' ' 40 23.8 ' 31.8 ' ' ' 50 17-3 ' 21.1 ' ' ' 70 15.8 ' 17.8 ' ' ' ' Terciário ' 20 22.4 ' 7.6 ' ' ' 40 ?6.0 ' 28.6 ' ' ' 50 )1. 2 ' 29.0 ' ' ' 70 41.6 ' 38.7 ~--
Fonte: IBGE, Censo::; Dcmo{~rfÍficos
TAJmLA 7
TO'V,L m.; T'ifUL1-C:RE~1 OCU1'ADM.! NO T:•:nGIÁRIO
ANO
1920 1940 1950 1970
RB
27.369 64.884
100.392 306.834
1920/70
BH
87.05 6 790-957
1.103. 976 3. 596.977
Fonte: IBGE, Cer.sos DemogrÁ.fico;::;
TAJ3l';I"A 8
TOTAJ~ DI·: f,JUJ.Hl.;HBS OCUTlt1llA:i HO SE'l'ürt SJ~CUND~rno
RIO GHA"TDl;: DO SUI1 1': :mASII. - 19~0/70
ANO
1920 1940 1950 1970
HS 24.080 36.706 39.603 72.090
llil 429.684 686.723 636.566
1.148. 898 Fonte: 113GB, Cen1:>os Demográficos
33
Grande do Sul, como se pode observn.r na 'rabela 8.
Isto significa Que o incremento da força de trabalho
masculina no Secundário foi muito .super:i.or à feminina, im
plicando num declínio da p8.rtici-pação desta força de traba
lho no setor.
Embora registr~:.nc1o a mesma tendência à diminuição, a
participação feminina no setor Secundário sem-pre foi mais
elevada no Brasil Que no Rio Grr:mde do Sul.
Quanto à partici-pação da mulher no setor Primário, nao
se pode definir com clareza uma determinada tendência, de
vido às alterações sofridas em cadR momento censitário. A.s
modificações ocorridas no Brasil e no Hio Grande do Sul sao
semelhantes, embora as taxas no Rto Grande do Sul, com ex
clusão do ano de 1920, são sempre bastante mais elevadas
que no Brasil. Estas modificações rer_~istram entre 1920 e
1940 uma elevação da pnrticipação feminina no setor, xuito
mais expressiva no lho Grande do Su1; entre lS40 e 1g50,
ocorre uma diminuição daquela participação, QUe se eleva
novamente em 1970, embora sem atingir as taxa o rer;istradas
em 1940. ~ neste ano que, tanto no Bro.cil como no lüo Gran
de do Sul, a participação da força de trabalho feminina no
setor alcança taxas mais elevadas, que corres1)onde, no Bra
sil, ao momento em ClUe o total de mulheres ocupadas no Pri
mário é maior. No Rio Grande do Sul, avesar da maior parti
cipação feminina no setor ocorrer em 1940, é em 1970 que o
número aDsoluto de mulheres ocupad8.s na 8.grioultura é mai
or, como se vê na Tabela g.
rrABl:<;I,A 9
TOTATj DE J.t1UH-rf',t{?,S OCUTJ\DAS HO ~;~TOf? ?HIJ\1ATFO
HIO GlV\.i<TDJ~ "DO SUT1 J~ 1=1!~.1\~JTI~ - 1920/70
A'lO RS BR
1920 30.690 607.781 1940 144.022 1.310.625 1950 g6.g25 758.336 ~1~97~0~--~1~7~5~·~96~6~~~1~·~257.659 Fonte: ITIGE, Censos De!ttográí'icos
A análise das Tabelas 6, 7, 8 e 9, demonstra então
ti
34
a) embora a participação dn mulher no conjunto da for
ça de trabalho tenha aumentado no período 1920/1970, este
processo não se dá de modo semelhante em todos os setores
da economia;
b) a elevação da taxa de ~nrticipação da mulher no
conjunto da economia se deve, basicamente,
participação no setor 'l'erciário;
' a sua crescente
c) no setor Secundário, apesar do aumento do número
de mulheres ocupadas, a pr::..rticipação feminina tem declina-
do;
d) no Primário, verificam-::;e variações, tanto no núme r o absoluto como na participação das mulheres no setor, di
ficultando a apreensao de tendências;
e) estas observações são válidas para o Rio Grande do
Sul e o Brasil, mantidas as diferenças nas taxas, já regi~ tradas acima.
l. Transformações ~ Estrutura Ocupacional e o Trabalho l<'emínino
A verificação da natureza das transformações ocorridas na estrutura ocupacional do Tiio Grande do Sul, e parti
cularmente da feminina, exige que se retome a abordageiJ. fei
ta na I 1'arte e que se aprofunde seu tratamento, para que
possamos obter um conhecimento mais completo da q_uestão.
Vimos na I rarte que às modificaçÕes da estrutura ocu
pacional do conjunto da força de trabalho, correspondem mo
dificações semelhantes na estrutura ocu-pacional masculina,
não ocorrendo o mesmo em relaç~o à eotrutura ocupacional
feminina.
À primeira vista, -pode parecer que esta desfruta de
uma certa autonomia em relação aos fatores que condicionam
as modificações no perfil ocupacional masculino e do conjunto da população ocupada. Poderia parecer, então, que a
possibilidade da mulher se integrar à força de trabalho em geral e em alguns setores da estrutura ocu-pacional, em pa.E_
ticular, estaria condicionada pe1o sistewa de valor12s vigentes, segundo o crual aquela -posr~ibilidade seria definida concretamente. Deste modo, a presença da mulhor em catego-rias ocupacionais antes tidas como exclusiva ou
temente masculinas, decorreria do relaxamento ou
de preconceitos e tabus que impunham à mulher o
exclusivo das tarefas desempenhadas no âmbito
-predominaE_ abandono
' . exerclClO
doméstico,
ou a~uando mui to de alb'llrnas ocupações entendidas como pro
longamento d13.s funções 11naturais 11 da mulher.
A consideração desses fatores não pode ser com-pleta
mente descartada, já que tern uma certa expressão, de sit,mi
ficado variável, na maioria das sociedade[} humanas, que a
tribuem a cada sexo um conjunto de papéis na divisão soci
al do trabalho. Não se pode, no entanto, dar a esta dimen são um caráter absoluto. A história recente das nociedades modernas demonstra q_ue os obstáculos culturais ao exercí
cio profissional da mulher não são intransponiveis.
_; __ .,,.__~ ,'!..., mnlhp-r e o do conjunto da força de tra
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balho, assim como a magnitude da divisi:io social do trf'l.ba
lho, estão vinculados a determinações que ultrapassruu as
dimensões exclusivamente culturais c que se definem pelo
grau de desenvolvimento das forças -produtivas e pelas r ela -çoes de produção de uma dada sociedade.
No modo de produção capitalista, a determinaçao essen -' cial do fator trabalho e seu CRráter de mercadoria. "Para o
capital, o trabalho vale pelo quG é capaz de produzir em
sobretrabalho, isto é, em lucro TJA.ra o capital que o empr~
ga. No entanto, o potencial de sobretrA.balho que cada tra
balhador é capaz de vroduzir é intermediado por fatores re
ais, - como força física, nível de qualificação, habilida
de - ou supostos - sexo, idade, nacionalidade -, considera
dos individual ou coletivamente e que, num siGtema de produ
çao automatizada, onde a força físicA. tende a se tornar
desnecessária e a quulificaçRo asswrre característican no
vas, deixam de ter atuação real. f.fln.G aqueles supostos con
tinuam a ter vali-'i[ide subjetiva, flturmdo como fator discri
rninatório da remuneração da força de trabalho. ~ oportuno
destacar que a manutenção daqueles supostoA tem seu -papel
nas condições objetivas do sistema, garantindo ao capital
a superexploração da força de trabalho de certas categori
as de trabalhadores, tidas cor.to cle qualidade inferior. En
tre estes incluem-se as mulheres.
Desta forma, dentro do sistema, combinam-se de modo
ou seja,
definem a
as
variável, o::; objetivos econômicos dominantes,
busca do lucro, com os -padrÕes culturais que
condições de aceitaçilo/recusa da utiliz;ação
la da força de trabaJ..ho femi"f'ina.
em larga esca-
Quando se torna necessário aos fins de acumulação do
capital, a.~tpliar a utilização de força de trabalho, os obs
táculos culturais e insti tucj_onnü~ que diflcul tflm o tra.ba
lho da mulher tendem a ser su-pcrndos. O inverso também po
de ocorrer, na medido em que umn oferta superabundante de
trabalho pode ameaçar o equilÍbrio relativo do sistema.
Nestes casos, a atuação de mecanismos visando a intensifi
car/superar aqueles obstáculos, desem-penha -papel importa~.
37
Um exen:plo desta afirmação pode ser encontrado em al
gumas economias européias, durante a Última guerra e logo
após seu término. A mobilização de grandes contingentes da
população masculina produtiva obrigou o sistema a utilizar a força de trabalho feminina em larga escala, criando con
dições favoráveis àquela utilização, como criação de ore ches, regime de trabalho em tempo parcial, etc. Terminado o conflito, os soldados desmobilizadoG retornam à vida ci
vil e encontram seus lugares ocuQados por mulheres. Dado o padrão cultural dominante de que o homem deve ter priorida
de ao emprego, em caso de super-oferta de trabalho, era
preciso afastar as mulheres, garantindo o retorno ao traba
lho dos soldados desmobilizados. Desencadeou-se então, uma
intensa campanha visando o retorno da mulher ao lar e ao desempenho exclusivo de suas funções !!sagradas!! e "natu
rais" de mãe, esposa e guardiã dos valores familiares.
Este exemplo evidencia o caráter de reserva da força de trabalho feminina, à disposiçÃo das necessidades do ca
pital, constituindo-se como o contingente mais vulnerável
daquela reserva.
Vemos, então, que a estrutura ocupacional, como fenà
meno essencialmente econdmico que é, nilo deixa de agregar fatores de outra natureza, que atuam no sentido de lhe dar
uma configuração específica, expressao da combinação de
elementos econômicos, sociais e cult1rrais num determinado
momento.
A partir dessan considerações, se evidencia a necessi
dade de abordar as modificações da estrutura ocupacional
feminina referida ao contexto social e econômico no qual
se insere.
~ a partir dessa perspectiva que nos propomos exami
nar as transformações da estrutura ocu-pacional feminina no
Rio Grande do Sul.
Antes, porém, examinaremos, os as:pectos exclusivamente ~uantitativos do crescimento da força de trabalho e da população total, masculinas e femininas, referidos apenas
ao conjunto da economia.
38
Os mesmos aspectos, em cada setor, serão retomados lo
go após, quando procuramos explicar suas transformações quantitativas, referidas às modificações do contexto econô mico riograndense.
2. Crescimento da Força de 11rabalho, Por Sexo,
no Rio Grande do Sul
2.1. Período 1920-1940
Em 1920, a força de trabalho no Rio Grande do Sul com punha-se de 657.478 pessoas, das ~uais 84.545 eram mulhe
res, o que significava apenas 12.9% daquela força de traba lho.
Em 1940~ o número de mulheres, exercendo
dade, é de 246.675, elevando para 20.6% sua
na força de trabalho.
alguma ativi
participação
O aumento de 162.130 mulheres, na força de trabalho
no período, significou um Índice de crescimento de 191.8% (Tabela lO), que pode ser considerado bastante alto, prin
cipalmente se compararmos com o relativo à força de traba
lho masculina, que foi de 65.6%. Este grande incremento na
força de trabalho feminina é sobremodo expressivo, quando se verifica que o crescimento da população feminina total
foi de 53.3/o, pouco superior ao da população masculina to
tal: 50.8%.
V€-se, então, que no período ocorreu um processo de absorção de força de trabslho, superior ao do crescimento
da população e que aquele procesno teve umalltensidade mai or em relação à força de trabalho feminina, que quase tri
plicou, enquanto a masculina não chegou a dobrar.
2.2. Período 1940-1950
Em 1950, a população ocupada eleva-se para 1.393.149
pessoas, aumento, que é devido, exclusivamente, ao incremento da força de trabalho masculina, já que a feminina so
freu um declínio de 3.7%. Este duplo movimento- aumento, no número de homens ocupados, e diminuição no de mulheres
- implicou numa queda da participação femininR nA ~n~~~ ~o
/
39
TABELA 10 INDICE DE CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO OCUPADA,
POR SEXO E POR SETORES , NO RIO GRANDE DO SUL - 1920-1970
SE TOR
Conj. da Econ.
Primário
Sec. I
Sec. II
Sec. I + Sec. II
Terciário
PER10DO POP. POP. TOTAL FEM.
1920-40 40-50 50-70 20-40 40-50 50-70
81.8 191.8 16.6 -3.7 62.9 135.9 87.1 369.3 9.8 -32.7
25.0 81.5 20-40 21.0 -56.2 40-50 59.5 104.8 50-70 119.4 114.3 20-40 40-50 50-70 20-40 40-50 50-70
19.2 31.0 68.6 48.1
129.3 20-40 104.0 40-50 29.0 50-70 129.3
-31.2 43.2 52.4 7.9
82.0 137.1
54.7 205.6
POP. MASC.
69.6 21.8 47.9 64.1 19.7 17.6 48.6 54.7
120.1
95.1 24.4 74.4 60.7
102.9 94.5 20.0 94.7
Fonte: Cálculos baseados nos Censos Demográficos, IBGE.
TABELA 11 INDICE DE CRES CIMENTO DA POPULAÇÃO TOTAL, POR SEXO
RIO GRANDE DO SUL - 1920-1970
PER10DO 1920-40
40-50 50-70
POP. TOTAL 52.1 25.4 60.0
POP . FEM. 53.3 26.0 60.7
POP. MASC . 50.8 25.1 59.4
Fonte: Cálculos baseados nos Censos Demográ ficos, IBGE.
TABELA 12 POPULAÇÃO O~JPADA POR SEXO,
NO RIO GRANDE DO SUL - 1920-1970
1920 1940 1950 1970
HOMENS
572.933 948.509
1.155.594 1.708.475
MULHERES 84.545
246.675 237.555 560.460
TOTAL 657.478
1.195.184 1.393.149 2.268.935
Fonte: IBGE, Censos Demográficos
40
trabalho para 17.0%.
Neste período, o incremento da força de trabalho masculina re gis t ra um Índice de 2l .R~ , inferior ao incremento da população masculina total, que foi de 25.1%.
Também o Índice ue crescimento do total da força de
trabalho (16.6%) foi inferior ao crescimento total da popu
lação, cujo Índice foi de 25.4% no período.
2.3. Período 1950-1970
Em 1970, a população ocupada totaliza 2.268.935 pessoas, das quais 560.460 são mulheres, representando 24.7% da força de trabalho, o que é um expressivo aumento em relação aos 17.0% registrados em 1950.
O incremento da força de trabalho feminina no período foi de 135.9%, muito superior, portanto, ao crescimento da população feminina total, que foi de 60.7%. Encontramos aqui o mesmo fendmeno ocorrido no período de 1920-1940, em bora com menor intensidade .
Quanto à força de trabalho masculina, registra um Índice de crescimento (47.8%) muito in f erior ao da f orça de trabalho feminina e inferior também ao Índice de crescimen to da população masculina total, que foi de 59.4%, mantendo a mesma relação do período anterior.
Estes dados evidenciam a importância que adquire, em termos quantitativos, o incremento da força . de trabalho fe minina, que, dada sua superioridade sobre o crescimento da
população feminina total, eleva as taxas de ocupação desta população, enquanto as relativas à população masculina
declinam ao longo do período, como se observa na Tabela 1.
A intensidade do incremento da força de trabalho femi nina- muito superior à masculina, exceto no período 1940-1950 - eleva também a participação da mulher no conjunto da população ocupada (Tabela 3).
O significado dessas consta tações, essencialmente quan titativas, será buscado na análise setorial da economia riograndense e, posteriormente, de seu conjunto, afim de se apreenderem as determinações parti culares que, no seu contexto, dão uma configuração específi ca à sua estrutura
41
ocupacional, em especial, a feminina.
3. A Força de Trabalho da Mulher nos Setores da Economia do Rio Grande do Sul
J.l. O Setor Primário
Em 1920, este setor empregava 406.898 pessoas, que re
presentavam 61.9% da força de trabalho.
A concentração da população ocupada neste setor expressa sua import~ncia na economia do Estado, definida pe
la sua posição na divisão inter-regional do trabalho no ní vel nacional.
Na Última década do século XIX, um surto de industria
lização se verifica em todo o país, surto esse que
" ••• resulta da abolição da escravatura, <la
imigração em massa de europeus, da tarifa mais acentuadamente protecionista adotada
em 1890 e das í'acilidades de crédito (tendo
em vista aliviar a situação dos ex-donos de
escravos) então vieentes. Fundam-se indÚstrias pelo país todo, mas particularmente
em cidades que contavam com mercado regio
nal para produtos industriais" (19).
Este surto atinge também o Rio Grande do Sul que, ju~
tamente com são Paulo e Rio de Janeiro, contavam já com um mercado regional para aqueles produtos, o que, segundo o
mesmo autor, se constitui em 11 pré-requisitos essenciais ( • •• ) para o aparecimento de indústrias em proporções signi
fica ti v as" ( 20) •
A indústria existente no Rio Grande do Sul, até entã~
era ainda incipiente e se orientava para o mercado regia-
nal, o mesmo caracterizando a indústria no eixo
Paulo.
Rio-São
Na medida em que se constitui um mercado nacional pa-
(19) STITGER, l)aul. "Desenvolvimento Econômico e Urbana", S. P., Editora Nacional, 1974, pag.
(20) TnPm n<:>rY" 1'7C.
Evolução 171.
42
ra produtos industriais, declina a importância do Bio Gran
de do Sul na produção industrial nacional, que erade 14,9%
em 1907, passando para 11.0~ em 1920, enquanto, no mesmo
período, a participação de São Taulo se eleva de 16.5% para 31.5%(21). A constituição de um mercado nacional para
produtos industriais(22) se dá, portanto, com a concentra
ção daquela produção em São Paulo, e que passa a definir
mais intensamente o caráter da divisão inter-regional do
trabalho. Nesta divisão, cabe ao Rio Grande do Sul o papel
de exportador de produtos primários - que vao abastecer o
mercado do centro do país, tanto de sua população urbana
quanto da rural, especializada na produção do café, cuja
produção de subsistência, embora existente, não era sufici
ente para abastecer aquele mercado(23) - e importador de
manufaturados. Mesmo admitindo-se o crescimento das ativi
dades industriais no Estado, estas passrun cada vez mais a
sofrer a competição da indústria do centro do país, e dada a depend€ncia das condiçÕes econômicas do Rio Grande do
Sul em relação ao mercado nacional, é na expansão da agricultura que se encontram as possibilide,des de desenvolvimento do Estado, definindo sua 11 vocação agrícola".
Dentro deste quadro, se explica a grande concentração de força de trabalho no setor Primário no Estado em 1920, equivalente também à verificadA. no país (Tabela 5), então
ainda de características "essencialmente agrícolas".
A concentração de força de trabalho no setor Primário
em 1920 no Rio Grande do Sul, contava, então, com uma pe
quena participação da mulher: apenas 7 .6'fa, que representa
va 36.3% da força de trabalho fGminina, sendo o setor on
(21) (22)
(23)
Citado por ~HNGER, op. cit., pag. 177. Esta constituição se dá, predominantemente, no período de 1910/1920, que coincide com a I Guerra ~.1undial, quando se inicia ou se intensifica (cf. SIHGER, op. cit., pag. 181) o processo de substituição de importações, de intensidade crescente nas décadas poste riores, processo que se dá sob a hegemonia da indús= tria paulista. BANCO NACIONAL DO COM~RCIO S/A. "O !lio Grande do Sul'\ Estudos Banmércio, P. Alegre, s/ed., 1967, pag. 9 e 10 e SINGER, op. cit., pag. 169.
43
de a ocupaçao relativa desta era maior.
Em 1940, a população ocup;..:d.q no Primário eleva-se pa
ra 761.355 pessoas, expressando um incremento de 87.1% em
relação a 1920, que não implica, no entanto, nwna modifica ção expressiva quanto à ocupação relativa no setor, que se
eleva dos 61.9% registrado em 1920 para 63.7/'o, um aumento
portanto de 1.8 pontos percentuais.
O incremento de 64.1% da força de trabalho masculina no setor, também não altera de modo significativo, sua ocu pação relativa, que decresce 0.6 pontos percentuais em relação a 1920.
Em relação, no entanto, à força de trabalho feminina, ocorrem modificações profundao: seu incremento em relação
a 1920 é de 369.3%, elevando para 18.9% sua participação no setor, que passa a ocupar 58. 47b da força de trabalho f e
minina, uma elevação, portanto, de 22.1 pontos percentuais.
Este período de 20 anos é marcado por profundas modi
ficações no cenário nacional: ele é permeado pela crise mun
dial de 1929 e pela Revolução de 1930, cuja combinação im
pÕe e favorece, simultaneamente, a reorientação da econo
mia brasileira. Intensifica-se o procecso de substituição
de importações, sob a hegemonia de São Paulo, que em 1938 já concentrava 43.27~ da produção industrial nacional(24). Este processo é favorecido pelas transformações polÍticas
decorrentes da Revolução de 1930(25), que'marca o fimda he
gemonia agrário-exportadora e o início da predominância da
estrutura produtiva de base urbano-industrial 11 (26), base
de sustentação econômica da nova estrutura política decor
rente daquele movimento. Embora a indúntria passe a ser o
setor-chave, a agricultura continua a ter um papel impor
tante na dinâmica do sistema, onde passa a desempenhar no
va e importante função:
(24) (25)
(26)
SINGSR, op. cit., pag. 177. Veja-se Boris Fausto, "A Devolução de 1930n, S. Paulo, Editora Erasiliense, 1972. OLIVEIRA.t. Francisco de. 11 A Sconomia Brasileira: Críti ca à Razao Dualista 11
, 1972, Estudos CEBRAP 2, pag. 97
44
11 De um lado, por seu sub-setor dos produtos de exportação, ela dc=ve suprir as necessida
des de bens de capital e intermediários de
produção externa, antes de simplesmente se~ vir para o pagamento dos bens de consumo;
desse modo, a necessidade de mant€-la viva é evidente por si mesma. ( .•• ) De outro la
do, por seu sub-setor de produtos destina
dos ao consQ~O interno, a agricultura deve
suprir as necessidades das massas urbanas,
de forma a não elevar o custo de alimentação principalmente e secundariamente o cus
to das matérias-primas, e não obstaculizar
portanto, o processo de acumu1ação urbanoindustrial" ( 27).
A especialização do subsetor primário-exportador se rna.'1
tém e se expande, incorporando novas áreas e refaze:-1do a
divisao inter-regional do trabalho. Neste processo, cabe ao Rio Grande do Sul o papel de fornecedor de produtos pri
mários, principalmente alimentares para o mercado naciona~
principalmente do centro, empenhado no esforço industrial
e na especialização agrícola(28). Acentua-se a "vocação agrícola" do Rio Grande do Sul, o que não implica q_ue seu
setor industrial não tenha continuado a se expandir, mas sim que
"embora o Rio Grande do Sul tenha sido wn
dos centros originais da indústria brasilei
ra, ele é cada vez mais marginalizado deste
processo"(29).
O caráter econômico predominante de fornecedor de pro
dutos primários para o mercado nacional, intensifica a ati
vidade agrícola no Estado, que se dá, basicamente, pela ex
pansão da área ocupada, pelos estabelecimentos agrícolas,
(27) OLIVEIHA, Francisco. Op. cit., pags. 15 e 16. (28) Esta constituía-se quase que exclusivamente no café,
mas, posteriormente também se diversifica, cuidando do cultivo da cana-de-açúcar, do algodao, etc.
(29) SINGER, op. c i t., pag, 183.
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que se eleva de 9.555.693ha em 1920, para 14.537.565ha em 1940.
Ora, a agricultura no Rio Grande do Sul se desenvolve predominantemente em médias e pequenas propriedades, nas áreas ocupadas pelos imigrantes europeus a partir da terceira década do século XIX . Nestas áreas, o trabalho tem um caráter familiar dominante, integrando todos os membros capacitados da família às atividades de produção, sendoele vada a taxa de participação feminina naquelas atividades.
Nas áreas onde se estabeleceu a criação de gado, que, juntamente com a agricultura se constituiu no fundamento~ con8mico da formação histórica riograndense, as caracterí~ ticas diferem: nas grandes propriedades é escassa a utilização de força de trabalho - devido à própria natureza da atividade, a que se agrega o caráter extensivo de sua exploração -, que tende a ser predominantemente assalariada. Devido à própria natureza da atividade econ6mica dominante, é muito baixa a utilização da força de trabalho femini na, como veremos adiante.
A grande expansao da área ocupada por estabelecimentos de menos de lOOha, que se eleva de 3.303.518ha em 1920 para 5.286.83lha em 1940, onde tem expressão maior a utili zação da força de trabalho feininina, deve explicar o grande incremento de sua utilização no setor Primário naquele período.
Provavelmente, as condições favoráveis para os produtos agrícolas do Rio Grande do Sul no mercado nacional nao beneficiaram todo o conjunto da agricultura do Estado no período, pois já então o processo de minifundiarização em algumas áreas era evidente, principalmente nas áreas coloniais mais antigas.
Este processo implica numa diminuição gradativa nos níveis de produtividade, diminuindo em conseqü~ncia a produção de excedentes comercializáveis, o que impossibilita
introduzir melhoramentos técnicos capazes de elevar aquela produtividade. Dada a própria estrutura de propriedade, o recurso anteriormente utilizado de rotaçao de terras tam
bém se torna inviável. Em fases anteriores, estes proble-
46
mas de certo modo eram resolvidos pela expansao da frontei
ra agrícola, para onde se dirigiam os excedentes populaciE_
nais das áreas em decadência. Este processo já é visível
nas Últimas décadas do século passado(30). No entanto, por
volta de 1940 já hav-iam se esG'otado as possibilidades de
expansão dentro do próprio Estado, inaugurando-se a fase
de imigração de agricultores riograndenses para outras uni
dades da Federação, de fluxos crescentes a partir de en
tão.
A decad€ncia de certas áreas agrícolas se expressa p~
lo retorno à condição de subsistência - característica das
primeiras fases da colonizaçà:o - sendo responsável pelaele
vação da utilização do trabalho da mulher.
Deste modo, a expansão agrícola, dada pela crescente V
demanda de produtos primários no mercado nacional, combina
da com a decadência das áreas agrícolas mais
ter sido fator decisivo na elevação da força
antigas, deve
de trabalho
no setor no Estado e principalmente da força de trabalho
feminina.
As flutuações em torno da pecuária, outra importante
atividade econômica do Estado, têm papel secundário dentro
dos propósitos deste trabalho, devido a pouca expressão em
termos de utilização de força de trabalho. Retomaremos sua
consideraçâo ao tratarmos do setor Secundário, cujos .subs~
teres de alimentação, couros e peles, estão estreitamente
vinculados à produção primária do Estado, que lhe fornece
matéria-prima, incluindo-se nela os produtos da pecuária,
gerados no próprio Estado.
Em 1950, o total de ocupados no Primário se eleva pa
ra 835.827 pessoas, o que expressa um crescimento de ape-'
nas 9.8% na força de trabalho ocupada rlo sc~or em relação
a 1940. Este crescimento é devido exclufd.Va.mente ao incre
mento da força de trabalho masculina (19.7%). pois a femi
nina sofreu um decréscimo de 32.7'}~, fazendo baixar para
(30) ROCHE, Jean. "A Colonização Alemã e o Sul", P. Alegre, Editora Globo, 1969.
Rio Grande do
47
11 .. 6% sua participação no setor, implicando também numa
queda da ocupação relativa da mulher neste setor, que bai
xa para 40.8%, uma diminuição, portanto, de 17.6 pontos peE centuais, mui to superior à masculinR., que foi de apenas
1.2 pontos percentuais.
A verdadeira dimensao do descanso da ocupação feminina, no setor Primário em 19_50, não pode ser perfeitamente
avaliada, devido aos critérios do Censo, que levaram a su
bestimar a força de trabalho da mulher, pois esta foi con-
\\ siderada inativa, sempre que combinasse o desempenho de
uma atividade econômica com os afazeres domésticos, toman
do-se, então, o desempenho desses como sua atividade prin
cipal, o que a excluía da população ocupada. Como é na
agricultura que mais facilmente se combina o desempenho de
tarefas domésticas com uma atividade econ6mica qualquer,
foi este o setor onde o desvio parece ter sido maior, pois
foi o único onde o incremento da força de trabalho feminina registrou um Índice negativo.
Em 1950, a força de trabalho feminina no Rio Grande do Sul já era predominantemente urbana, cujo caráter se in
tensifica nas duas décadas se@1intes. F.nquanto isto, embo
ra ocorra uma diminuição na ocupação relativa da força de
trabalho masculina no primário 1 este ainda concentra a mai
oria daquela força de trabalho.
No período 1940-1950, se definem as grandes linhas do
processo de desenvolvimento nacional posterior e,
dele, a posição do Rio Grande do Sul. dentro
Durante o período da II Guerra Mundial e logo apÓs mu
término, se intensifica o processo de industrialização, DQ
tadamente em são Paulo, aprofundando mais a divisao inter
regional do trabalho entre aquele Estado e o resto do pa
ís. Neste processo, o Rio GrRnde do Sul é desfavorecido,
pois sua condição anterior de relativa hegemonia no forne
cimento de produtos alimentares e de matérias primas para
as regiÕes em processo de industrialização mais avançada, é destruída pela expansão da f'ronteirn agrícola nacional, incorporaLdo novas áreas utilizadas, tanto para a agricul-
48
tura voltada para o setor externo, quanto para o suprimento das populações urbanas em expansao nas áreas de indus
trialização acelerada.
As desvantagens para o Rio Grande do Sul se devem a
duas condiçÕes principais: uma delas relacionada à maior
proximidade aos mercados consumidores, das novas áreas incorporadas ao subsetor de mercado interno, resultando em
menores custos de transporte para aqueles produtos, do que
os relativos aos produtos oriundos do Rio Grande do Sul.Es
tes perdem, então, para aqueles, em termos de competitividade de preços.
A outra condição, de significado mais importante, de
corre das possibilidades de desenvolvimento da economia do
Estado, vinculadas ao processo de desenvolvimento naciona~ . ' que Ja vimos, estimula, internamente, uma de~~nda cresceu
te por produ tos alimentares e I111-J. térias primas. Dada a im
portância que, dentro do processo, tem a produção primária
do Rio Grande do Sul e dado o esgotamento das possibilida
des de expansão do setor pela incorporação de novas terras no Estado, seu desenvolvimento, mantendo o caráter de sua
vinculação à economia nacional, só poderia se viabilizar,
incrementando-se a produção pela utilização de novas práti
c as e técnicas,
rio. Ora, o que significa, caiJitalizar o setor Primá
11 Eem entendido, a transformação de um siste
ma extensivo para intensivo não foi, e nem
é suscetível de ser inplantada a curto pra
zo: apenas passava a vislumbrar-se uma ten
dência. Entretanto, é justamente essa tendência que vem de proporcionar problemas ao
principal setor dn economia sul-rio-granden
se. À medida que se fazem esforços para ca
pitalizar o setor Primário - lOGO, passando ao sistema intensivo - aparecem custos mais elevadas de produção. Ocorre, porém, que as áreas brasileiras, com terras de grande fer tilidade, que estão somente agora sendo in
corpo:.:adas ao sistema produtivo do País -
49
Goiás, Mato Grosso e parte do Paraná-, nes
sa situação, estão entrando numa fase de pr~
dução extensiva e, como tal, pelo mesmo ra
ciocÍnio, oferecendo cuetos de produçãomais
baixos do que os do Rio Grande do Sul. Como
conseqü€ncia diAto, a economia sul-rio-gran
dense passa a enfrentar a concorr§ncia de
novos fornecedores do mercado nacional. Demais, sua produção passava a ser, em certo
sentido, marginal, isto é, reserva do merca
do nacional, pelo menos em certos casos" ( 31).
Estas características, que, como já vimos, t€m suas
origens antes da década de 50, se intensificam a partir da
queles anos, configurando a posição do Rio Grandedo Sul no
conjunto da economia brasileira em transformação(32).
E é dentro deste quadro que verificaremos as transfor
maçoes da força de trabalho ocupada no setor Primário, no
período de 1950 a 1970.
da
Neste período, se efetiva o processo de
força de trabalho, que em 1950 ainda era
urbanização
predominante-
mente rural, comportando 60.0% da população ativa: em 1970,
a ocupação relativa no r-;etor PrirnárJo Llccre:;ce para 46 .O%. Esta diminuição pode ser atribuída às mudanças estruturais
ocorridas na economia riograndense, onde o setor Secundário passa a crescer mais rapidanente que os demais, acampa nhando o fenômeno de industrialização da sociedade brasi
leira. O ritmo daquelas mudanças é, no entanto, menos acen V
tuado no Rio Grande do Sul que no Drasil ( 33).
Acrescente-se a estas mudanças estruturais, a intensi
ficação do procesGo de migração rural-urbana, que contri
bui decisivamente para o grande incremento das populações
(31) (32)
(33)
BANCO NACIONAL DO COliJÉRCIO S/A., op. cit., pag. 56. Estas considerações dizem respeito às atividades primárias. O papel da indústria no 'Rio Grande do Sul no conjunto da economia nacional será ahordado quando tra tarmos do setor Secundário. -Fundação de Economia e Estatística, 11 25 Anos de Econo mia Gaúcha", vol. l, P. Alegre, 1976.
50
urbanas e, em conseqü€ncia, também do incremento das ocupa
ções urbanas. Oportunamente, retomaremos e aprofundaremos estes aspectos demográfico-ocupacionais.
Dadas as condiçÕes apontadas acinw., explica-se a dimi
nuição da ocupação relativa no setor Primário. Este conti
nua, no entanto, a absorver força de trabalho e com maior v intensidade, força de trabalho feminina, que registra um v
Índice de incremento de 81.5%, entre 1950 e 1970, enquanto o incremento da força de trabalho masculina, no setor, no
mesmo período, foi de 17 .6%. Em conseqtl.ência, a participa
ção da mulher no setor se eleva ~ara 16.8%. Entretanto, o incremento mui to maior da força de trabalho feminina nos ou
tros setores faz diminuir consideravelmente sua ocupaçao
relativa no .Primário, que baixa, em 1970, 1)ara 31.4%.
Vimos até aqui, entiio, que ao processo de capitalização da agricultura (fundamentalmente baseado na mecaniza
ção) - e uma posição de crescente importância da indústria
na economia riograndense -, corresponde um decréscimo da
ocupação relativa no setor Primário, mais intenso em rela
çao à força de trabalho feminina. Vimos também que no perí
odo 1950-70, qunndo o processo de mecanização se intensifi
ca, o incremento da força de trabalho femininano setor .Pri
mário é muito superior à masculina. Ora, em relação a es
tas observações, algumas questões devem ser colocadas: a) o trabalho da mulher na agricultura está, via de
regra, vinculado à exist€ncia de pequenas propriedades, de
exploração de caráter familiar, que se mantém, em geral,
em nível de subsistência;
b) a mecanização é sempre poupadora de mao de
implicando numa diminuição relativa na utilização do
trabalho. Neste processo, a mão de obra feminina é a
meira a ser atingida.
obra,
fator pri-
Como se explicar então que, paralelamente à mecaniza
ção, o incremento da í'orça de trabalho feminina tenha sido superior à masculina? Poderíamos supor que dois processos paralelos estariam ocorrendo na agricultura do Rio Grande do Sul: de um lado, a mecanização de certas áreas, com diminuição da força de trabalho ocupada. nrincj_n~lmPnt:P ~ -f'n
51
minina; de outro, o retorno à subsistência de outras áreas, perfeitamente distintas das primeiras, onde a utiliza V çao da força de trabalho fe minina seria elevada.
Deste modo, a mecani zação em algumas áreas e o padrão
dominante de subsistência, em outras, explicaria, em nível \~
estadual, a ocorrência paralela e em termos globais, contraditórias, dos dois processos.
as
Para confirmar esta suposição, nos propomos verificar condiçÕes de crescimento da força de trabalho e sua com
posição por sexo, numa região onde foi intenso o
de mecanização agrícola entre 1950 e 1970(34), processo
dado pelo numero de tratores existentes: 17 em 1950, elevando-se para 3.995 em 1970. Pelo exame da Tabela 13, pode-se verifi car a evolução da utilização da força de trabalho na região: em 1950, das 165.741 pessoas ocupadas na agricultura , 38.3% eram mulheres. Nos 20 anos seguintes, houve um aume~ to de 85.6% na força de trabalho, que se elevou para •••• 307.679 pessoas, das qua is 39.7% eram mulheres. Estes da- \ dos demonstram um incremento de 92,3% na força de trabalho \ feminina e de 81.5% na masculina.
(34)
TABELA 13 PESSOAL OCUPADO NA AGRICULTURA NUIVIA ÁREA DO
RIO ANo 1950
1970
GRAJ'T DE DO TOTAL
165.741
307.679
SUL - 1950370 HOME'Ns
102.250 (61.6%) 185.559 (60.3%)
MULHERES 63.490
(38.3%) 122.115 (39.7%)
% DE AUMENTO NO PER!ODO 85.6 81.5 92.3
Fonte: Censo Agrícola, 1950, 1970
Esta área era formada, em 1950, pelos municÍpios de Erechim, Getúlio Vargas, Marcelino Ramos, Iraí, Santa Rosa e Três Passos. Em 1970, passa a ser formada por 50 municípios, devido ao processo de fracionamen to administrativo ocorrido naquela região do Estado7 A área considerada em 1970 não corresponde exatamente à de 1950, devido à dificuldade de sua reconstrução original, porque os novos municípios formados no período, em geral integraram áreas de dois ou mais municÍpios mais antigos, alguns dos qua is não integrantes do conjunto considerado em 1950. ~ dados tê~ portanto, um caráter aproximativo.
52
A mecanização neste caso, não provocou uma diminuição
na utilização do fator trabalho, assim como não provocou
uma diminuição absoluta ou relativa na utilização da mao
de obra feminina.
Estas observações nos levam a formular a hipótese de V
que: l) a mecanização na região considerada, associada a
wna especialização das lavouras orientadas para um mercado
em expansão, incorporou áreas antes não aproveitadas para a cultura, possibilitando, mesn:o a par da mecanização, wna
maior absorção de mão de obra; 2) paralela a urna agricul tu
ra capitalizada, se mantém e/ou se desenvolve um setor de
subsist€ncia, que absorve, continuamente, mão de obra femi
nina.
Assim, nossa suposição inicial de que o processo de
mecanização da agricultura e o de aboorção de mão de obra
feminina no setor, estivessem separados no espaço, deve ser~ descartada, asrüm como se evidencia que, dentro do sistema
produtivo do ~stado, o processo de especialização agrícola comporta a manutenção de um setor de subsistência.
Cabe ainda considerar os aspectos relativos à ocupa
ção da força de trabalho feminina asGociarlos com a estrutu
ra fundiária do Estado.
O exame da Tabela 14 evidencia as transformaçÕes des
ta estrutura, as quais podem ser assim sintetizadas: 1) au:nento do número de pequenas e médias proprieda
des (- de lOOha) e da área por elas ocupadas, mas diminui
çao do tamanho médio daquelas propriedades; 2) redução do número de propriedades maiores de 1.000
ha, que aumentam, entretanto, a área ocu:;:mda e o tmnanho
médio, por propriedade;
3) as propriedades, entre 100 e l.OOOha, aumer:taram
em número e em área ocupada, diminuindo seu tamanho médio.
Estes dados evidenciam duas tendênciaG paralelas: uma H de concentração de propriedade, apontada no item 2); outra,
de fracionamento de propriedades ;já pequenas.
Que implicações tem este duplo processo em relação à utilização da força de trabalho feminina no setor Primário
TABELA l4
ESTRUTURA FUNDIÁRIA NO RIO GRANDE DO SUL - 1920-1970
TAMANHO DA PROPRIEDADE ' NUMERO DE ESTABELECIMENTOS ' ' (h a) ' 19 20 1940 1950 1970 ' I. Menos de 10 ' 37.457 47.724 177.519 ' (16 .23%) (15.64%) (34.65%)
I I. 10 - menos de 100 ' 104.529 155.420 211.274 301.059 ' (83.62%) (72.13%) (73.68%) (58.76%) ' III. 100 - menos de 1.000 ' 15.982 23.315 24.147 29.827 ' (13.58%) (10.10%) (8.42%) (5.82%)
IV. 1.000 -menos de 10.000 ' 3.385 3. 4 79 3.535 3.215 ' "' (2.70%) Cl.SO%) (1.23%) (0.52%) w ' V. Mais de lO.COO ' 94 41 51 19 ' ' VI. Ser.1 declaração ' - lG 2 653 ' ' Total ' 124.990 230.722 286.733 512.303 ' (100%) (lO O%) (lOO%) (100%)
(Continua)
TAM. DA
I.
II.
III.
IV.
v.
VI. Total
TABELA 14 (Continuação)
ESTRUTURA FUNDIÁRIA NO RIO GRANDE DO SUL - 1920-1970 T
PROPR.l ÁREA OCUPADA (ha) i ÁREA MÉDIA DOS ESTABELECIMENTOS (ha)
1 1920 1940 1950 1970 : 1920 ' ' ' ' ' ' :3.303.518 ; (34.57%) ' ~5.345.961 : (55.94%)
799.712 (8.26%)
' 209.976 266.340 853.462 : (1.44%) (1.29%) (3. 58%) :
5.076.855 (34.90%)
6.845.385 (47.08%)
2.241.219 (15.47%)
6.033.114 (29.33%)
7.003.470 (33.88%)
6.946.042 (33.60%)
7.699.620 (32.34%)
8.371.286 (35.16%)
6.530.864 (27.43%)
' ' ' ' ' '
31.60
: 314.80
' ' ' : 236.25 ' ' '
1940 1950 1970
5. 6 o 5. 58 4.80
30.50 2 8. 55 25.57
293.60 290.03 280.66
644.21 1.964.93 2.030.74 ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' '
106.502 (l.ll%)
164.026 (1.12%)
421.449 (2.03%)
351.947 (1.47%)
11.133.00 4.000.63 8.263.70 18.523.52
' ' 104
' :9.555.693 14.537.565 20.670.415 23.807.179 I
l (100%) (100%) (lDD%) (lOO%) ' • Fonte: IBGE - Censos Agrlco1as.
V1 ....
55
A resposta para esta pergunta pode ser buscada, consi
derando a sua proporção em duas áreas perfeitamente distin tas quanto à estrutura fundiária: escolhemos a Ii'ronteira
que, além de se caracterizar como região de grande propriE_
dade, tem na pecuária sua atividade econômica predominante; e um conjunto de municípios representativos da região
colonial, de características semelhnntes, isto é, de ativi
dade econômipa basicamente agrícola, desenvolvida em pequ~
nas propriedades e onde é claro o processo de intensificação do minifÚndio.
TABEM 15
COMPOSIÇÃO POR SEXO DA POPUJ,AÇÀO OCUPADA ~lO SETOR PHiii!ÁRIO
NA FRONT~IHA E PAHTE DA RSGUO COLONIAl,
HIO GHANDE DO SUL - 1950/70
!lEGIÃO ANO PESSOAL OCUPADO oi ,, MULHERES ( l{) • Fronteira 1950 53.547 1.4 • o. 72 •
1970 63.444 2.0 • 0.72 ' ' Zona Colonial 1950 119.427 13.2 Jl6.2 1970 140.709 25.9 '20.6
Fonte: IBGE - Censos Demográficos (*) Percentual sobre o total de mulheres ocupadas no setor
Primário, no Estado.
Na Tabela 15, podem-se observar as diferenças
as duas regiÕes, em relação à participação feminina
de trabalho do setor, bem como sua proporçao no
entre
na for total ça
de mulheres ocupadas no Primário, no conjunto do Estado. A
participação mais elevada e em ascensão, da mulher na zona colonial, assim como sua expressiva e também ascendente pro
porção no conjunto da força de trabalho feminina ocupada
no setor Primário no Estado, evidenciam a relação existen- ~
te entre o incremento daquela força de trabalho e a multi
plicação do minifúndio, no Rio Grande do Sul.
Acrescentando-se a estas observações a de que, em •••
1970, 85.4% das mulheres ocupadas na agricultura no Rio Gran de do Sul eram membros não remunerados da famÍlia - entre
os homens a proporção era de 2~.~ -, pode-se chegar a al-
gumas conclusões sobre as condições de integração ou de
manéncia da mulher no setor primário: o desempenho de atividade econômica não Rim1ii'i!":R 11mR nnRRihiliih::u'lP rlP
per uma ,,,_ \]
56
tonomia ou ascensao social. A condição de subordinação da mulher permanece, já que seu trabalho, em geral, não é retribuído por um salário, mantendo-a economicamente dependente do chefe da família.
Dadas as condições sociais e econômicas das áreas on Y de é maior a utilização da força de trabalho feminina, de características predominantemente de pequena propriedade e de baixa produtividade, a participação da mulher nas tarefas agrícolas não se apresenta como uma opção mas como um imperativo, de fundamental importância para garantir a manutenção do grupo familiar e o baixo custo de reprodução da força de trabalho. Este aspecto é importante, no conju~ to da economia, pois permite manter baixos os preços de d~ terminados produtos agrícolas, em cuja produção se utiliza predominantemente o fator trabalho, de baixo custo.
Deste modo, pode se verificar que as transformações ocorridas na agricultura do Rio Grande do Sul, no período
de 1920 a 1970, não implicaram em modificações qualitativas nas condições de trabalho da mulher no setor.
3.2. O Setor Secundário
A indústria no Rio Grande do Sul nasceu diretamente vinculada à transformação dos produtos oriundos de seu setor Primário. Primeiramente, na região sul do Estado, vin culada à expansão da atividade pecuária, cujos produtos, o couro e principalmente a carne, transformada em charque, tinham larga aceitação no mercado interno e externo - Anti lhas -, sendo importante componente alimentar das popula
çoes escravas.
As possibilidades de expansao desta atividade estavam, no entanto, condicionadas pela expansão ou retração da indústria do charque na região do Prata, que competia com o produto riograndense tanto no mercado interno quanto
no externo(35).
Posteriormente, na medida em que os imigrantes euro-
(35) As condições que definiam o caráter desta compet:ção estão em CARDOSO, F. H. "Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional". S. P., Dif. Européia do Livro. :962.
57
peus estabelecidos na Encosta da Serra gmícha, superaram
o período de subsistência(36), começam a se desenvolver p~ quenas indústrias de transformação de produtos agropecuári
os exportáveis. 11No perÍodo em que as colônias desenvolvem
produção de subsistência com venda de exce-dente, surge em cada ~Da
artesanato que se dedica delas um próspero
à satisfação das
necessidades locais de seus habitantes: fer
reiros, serralheiros, pedreiros, carpintei
ros, marceneiros; olarias e fábricas de to néis; tecelÕes e alfaiates; oficinas de fabricação de charretes, barcos, moinhos de
farinha e moendas de cana, etc.
Com o desenvolvimento da agricultura comer
cial, os colonos passam a possuir capacida
de aquisitiva externa, sob a forma de recur
sos monetários. O escambo cede lugar à com
pra e venda e a economia das colônias se mo netariza, na medida que ela se liga ao mer
cado nacional. A mais importante co~seqü€~
cia disto, do ponto de vista que nos interessa aqui, é que o colono pode, a partir dêste momento, adquirir produtos manufatura dos do exterior. Estes produtos penetraram
prontamente nas colônias e, em curto período aniquilaram o artesanato local 11
( 37).
Verifica-se, então, que apÓs um relativo desenvolvimento do artesanato, este é destruído peln importação de
(36)
/J'7\
A evolução economlca da região colonial e seu processo de expansão geográfica, registra a passagem por f~ ses bastante distintas: na primeira, os colonos dedicam-se ao desmatamento e a uma agricultura de subsis tência; na segunda, o alL."'TI.ento da produção posstbilita a comercialização de um excedente; na terceira, surgem culturas especializadas, que possibilitam a arnpli ação do comércio local das colônias e o estabelecimen to de relaçÕes comerciais com o mercado nacional. A partir deste momento, verifica-se o desenvolvimento de agro-indústrias. ~ThTr!li'"R n-n ,....;+_ T'l~D'. lhR_
58
manufaturados que vêm suprir as necessidades das colônias.
No entanto, as condiçÕes favoráveis à industrialização que surgem, a partir da última década do século XIX( 38)
1
favorecem também o Rio Grande do Sul, que passa a produzir
localmente os artigos antes impo:::-tndos do exterior. Este
processo de substituição de importaçÕes de artigos manufa
turados, tanto no Rio Grande do Su::.. como no Brasil, não im
plica, no entanto, na formação de um significativo parque industrial. As atividades de trHnsformação se desenvolvem
predominantemente em pequenos estabelecimentos, cujo con
junto não tem ainda peso expressiva no sistema produtivo.
Posteriormente, em conseqü€ncia das transformações i~
ternacionais decorrentes das duas Grandes Guerras e da cri
se de 1929, o processo de substituição de importações na
economia nacional adQuire expressão crescente. Este prece~
se redefine, no conjunto daquela economia, a divisào inter regional do trabalho, que tem também sua expressao no con
junto das atividades industriais.
O centro dinámico do sistema industrial vai rapidamen
te diversificando sua produção, passando a produzir bens
de consumo duráveis e de capital. A indústria no Rio Gran
de do Sul, embora também cresça, o faz em ritmo muito inf~ rior ao verificado no país, principalmente no eixo Rio·-São
Paulo. E se mantém, ainda, estreitamente vinculada a seu
setor Primário. Ainda em 1967, "cerca de 2/3 de seus componentes -sao indús trias de transformação de matérias primas
oriundas da agricultura e da pecuária 11 ( 39).
Mais recentemente, pode-se observnr uma reorientação
da indústria riograndense, onde alguns ramos 11 dinâmicos 11
(principalmente Metalurgia, Química e Plásticos) têm-se ex
pandido mais que determinados ramos 11 tradicionais 11, em es
pecial o de alimentos.
Estas transformações estB.o vinculadas ao processo de expansão industrial nacional bem como às suas peculiarida-
(38) CondiçÕes já apontadas anteriormente, c f. Nota 19. (1g) BANCO NAr.TONAT. nn r<nM'd!Pr<Tn c! /A
59
des. Até 1950, aproximadamente, o processo de industriali
zação brasileira estava voltado para a produção de bens de consumo imediato.
11 Ao fim da década de cinqüenta, esgotada a
fase dinâmica do modelo de substituição de
importações, a industrialização brasileira
passou a dar ênfase à produção de bens durá
veis. A viabilidade deste modelo achava-se
apoiada na continuada concentração da renda
em favor de segmentos restritos de altos sa lários e rendimentos do capital contra os
salários de base. A produção de bens alimen
tares passou a representar, assim, unicamen
te um custo para o processo de acumulação
dominante, ou seja, o custo de reposição da
força de trabalho. Em outras palavras, com
o congelamento dos salários de base, não só
foi natural, como essencial, que esse tipo de indústria contraísse a taxa de acumula
ção interna, já que esta tinha que ser com
patível com a estreita margem de realiza
çao, ou seja, de demanda efetiva, que lhe era imposta. Tal situação, especialmente asfixi
ante para as indústrias de alimentação, não
deixa, por outro lado, de se colocar como
sendo válida também para a grande
das indústrias tradicionais 11 ( 40).
maioria
Esta situação reflete-se na evolução da estrutura da
produção industrial do Estado entre 1950 e 1970, conforme
se pode observar na Tabela a seguir:
(40) Fundação de Economia e Economia Gaúcha". rorto 30.
Estatística. Alegre, 1976,
11 25 Anos de vol. 4, _pag.
60
TABEI,A 16
PRI!!CIPAIS GENEROS DA INDllS1'RIA DE TRANSFORMAÇÃO
RIO GRANDE DO SUL - 1949/70
(IMPORTfl:NCIA PERCENTUAl, DO VALOR BRUTO DA PRODUÇÃO)
GENEROS
Prod. Alimentares Química MetalÚrgica Vest., Calç., Art. Tecidos Bebidas Mecânica Madeira Couros, Peles e Similares
SUBTOTAL
Outras
TOTAL
' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' •
1040 J J 1970
47.94 31.31 4.79 13.71 5.21 8.75 7.11 7.24 5.60 4.J7 1.30 4-94 7.07 3.50 3.58 3-45
82.60 77.27
17.40 22.73
100.00 100.00
Fonte: FJ<~E, 11 25 Anos de Economia GaÚcha", vol. 4, pag. 34.
Eleva-se a pal"'ticipação das indÚstrias 11dinâmicas" (Quí
mica, Metalúrgica e IVfecânica) na produção industrial, dimi
nuindo a de determinados ramos 11 tradicionais", principalmente o de Produtos Alimentares. Mas a estrutura industri
al do Zstndo ainda está, em 1970, predominantemente vincu
lada ao setor Primário. O conjunto de ramos 11 tradicionais 11
dependentes das matérias primas do setor agro-pastoril, re
presentam 55.53% da produção industrial do Sstado.
Estas considerações, embora de caráter muito geral,
nos permitem traçar as grandes linhas da evolução do setor
no Estado, dentro do qual verificaremos as mudanças da ocu
pação da força de trabalho feminina.
O secundário foi até aqui tratado como um setor indiferenciado, integrado pelo conjunto das atividades indus
triais de transformação. A diferenciação interna do setor em atividades industriais (Secundário I) e serviços de re
paração (Secundário II), proposta e utilizada por Paul Sin
ger(41), é de grande utilidade na abordagem da força de
(41) SINGER, Paul, 11 Força de Trabalho e Emprego no Brasil: 1920-1969, Cadernos CEBRAP 3 e Sll!GER, P. e MADEIRA, Pelícia, "Estrutura do :Empreeo e Trabalho Feminino no Brasil - 1920/70 11
, S. 1\, Cadernos CimTtAP 11. lQ7 1..
61
trabalho feminina nele ocupada, porque comporta a veri.fic~
ção das transformações qualitativas ocorridas no setor e o
comportamento da utilização daquela força de trabalho, d:ante daquelas transformações.
nNuma situação em que grande parte das a ti vidades secundárias e terciárias são desen
volvidas por métodos artesanais, a distinção entre indústrias de transformação e ser viços de reparação e conservação não tem
muito significado. As mesmas unidades (ofi
cinas geralmente) exercem ambos os tipos de atividade. Quando a produtividade é baixa,
produzir um bem, seja um terno, um parde S.ê:_
patos ou uma máquina requer uma tal quantidade de trabalho social que vale a pena de
dicar somas significativan de trabalho a
conservá~lo, repará-lo, remodelá-lo, etc.
Aliás, ambas as operações - a da produção e
a da reparação (que não passa de uma "re
produção11) - são realizadas com os mesmos
métodos. Quando, porém, a produção passa a
ser realizada cada vez mais com técnicas 'in dustriais propriamente ditas, a quantidade
de trabalho social requerida pela produção de cada unidade diminui abruptamente, sendo
cada vez menos racional inverter grandes so mas de trabalho em serviços de reparaçac e
conservaçao, principalmen·1~e porque estes co!:_l_
tinuam sendo realizados com técnicas artesa
nais, já que não se pode padronizá-los (ca
da objeto a ser reparado é um caso em si).
Passa a ser mais barato repor um objeto Es
tragado por outro novo, do que repará-lo.
A distinção, portanto, entre transformação e serviços de
indústria de
reparaçao etc. passa a fazer sentido quando a primeira é totalmente fabril e os Últimos se restringem aos objetos de mais valor (automóveis,
62
aparelhos elétricos e eletrônicos, etc .) 11 ( 42 ).
Em outras palavras, o processo de industrialização im
plica em modificações, no que diz respeito às atividades
de reparaçao, assim como acentua a distinção entre estas e as atividades industriais.
Em 1920, não é possível distinguir os dois tipos de
atividades; em 1940 pode-se já desagregar os serviços de
reparação de artigos domésticos e de uso pessoal e a parQr
de 1950, também os de reparação de máquinas e veículos,
Antes de examinar as modificações dentro de cada sub
setor, vamos verificar o comportamento da força de traba
lho feminina no conjunto do Secundário. Esta se eleva con V tinuamente (Tabela 8), porém com índices inferiores aos do
incremento da força de trabalho masculina (Tabela 10), o que implica na diminuição da partici~ação feminina no con
junto de ocupados no setor (Tabela 6).
Retomando o exame da Tabela 1, pode-se observar a di
minuição da ocupação relativa da força de trabalho femini
na no conjunto do setor, enquanto se eleva a ocupação rela
tiva dos homens e do conjunto de ocupados. A intersecção
dessas duas tcnd~ncias se dá ern 1950, quando a ocupação r~
lativa no setor - da força de trabalho masculina, feminina e total - é em torno de 16%. Antes de 1950, a ocupação fe
minina relativa foi superior à masculina e à total; a par
tir daquela data, a feminina passa a ser significativrnnen
te inferior às outras duas.
V€-se, então, que o processo de expansa.o do setor Se
cundário no Estado se dá, absorvendo preferencialmente for
ça de trabalho masculina.
No Secundário I, entre 1920 e 1940 se verifica uma
queda brusca na ocupação relativa, sobretudo em relação à força de trabalho feminina. Esta queda, em termos gerais,
pode ser atribuída à desagregação das atividades de repar~ çao, das atividades industriais, pois considerando-se o se
(42) SINGER, Caderno CEBRAP n~ 3, pag. 47 e 48.
v
63
tor em conjunto, observa-se que, _para a. ocupaçao relativE'.
masculina e total~ não houve alteraçõeu siv1ificativas. E~
tas foram, no entanto, de grande expressão no caso da força de trabalho feminina, que diwinuiu sua ocupação relati
va no conjunto do setor de 28.5;~ para 14.9%, e no Secundá
rio I, de 28.5% para 4.3%. Este dado indica que provavel mente, em 1920, grande parte das mulheres ocupadas no Se
cundário, vinculavam-se aos serviços de reparação. A pa~
tir de 1940, a ocupação relativa no Secundário I vai se elevando, sobretudo a masculina, que era, naquele ano de
10.6)0, aumentando para 13.4% em 1950 e 19.9% em 1970. A fe minina, embora se eleve, mantém-se muito abaixo da masculi
na. As atividades industriais se expandem, então, agregando preferencialmente, força de trabalho masculina, que fa zem declinar a participação feminina no suhsetor, princi
palm~nte entre 1920 e 1940 (26.4%- 9.5%), elevando-se al
guns pontos (2.8) em 1950 e tornando a baixar em 1970, co mo se pode observar na Tabela abaixo.
TABELA l7
PAllTICIPAÇ][O DA I1ITJU!Wl
~TA i•'ORÇA DE 'l'RABALHO OCUPAJJA 'lO s:·:CUJTDAHIO
RIO GRAfTlJE DO SUJ, - 20/70
RA!JIOS DO SECUNDÁ!UO 20 I. Ind. Extr. Mineral
Ind. Transfor~ação 37.9 Ind. Construçao serv. Ind. Uti1. Publ. Abast./Me1h. Urbanos
II. Serv. Rep. Art. Dom. Serv. Rep. Art. Uso Pessoal Serv. Rep. Maq./Veíc.
Secundário I 26.4 Secundário II
40 50 2.6 0.4
12.3 17.4 0.5 0.6 2.1 2.3 4.J 4.4 2.3 0.8
75 .J 64.6 1.0
9.5 12.3 60.0 34.7
Fonte dos dados brutos: IBGE, Censos Dernográficos.
70 0.6
18.4 0.7 3.8 3.6
74.0 0.7
12.0 38.0
No Secundário II, a ocupação relativa se mantém mais
ou menos a mesma, com leve tendência à dj_minuição. No en
tanto, é acentuada a queda da ocupação relativa femi~ina
que diminui de 10.6% em 1940 para 7.6% em 1950 e 4.6,0 em 1970, enquanto a masculina se eleva de 1.8% em 1940 para 2.9% em 1950, diminuindo para 2.5% em 1970.
64
TABr:LA 18 DISTRICUIÇÃU l!A liiÃO DE OB!iA l'<:i'.IIili'iA OCUr-A:DA
HOS RAJ\JOS DO SECUNDÁRIO I E II RIO GR.AN DE DO SUL - 20/70
RAMOS DO SECUNDÁRIO 20 40 50 70 I. Ind. E:x:tr. Mineral 1.4 0.4 0.2
Ind. Transformação 100 96.8 97.2 96.0 Ind. Construção 0.9 1.1 1.8 Serv. Ind. Util. Publ. O.) 0.3 1.3 Abast./Melh. urb. 0.6 l.O 0.7
I I. Serv. Rep. Art. Dom. 0.8 0.4 Serv. Rep. Art. Uso Pessoal 99.2 g8.7 99.1 Serv. Rep. Maq. Veio. 0.9 o.g
Secundário I 100 28.7 54.6 64.3 Secundário II 71.2 45.4 J5.7 Fonte dos dados brutos: IBGE, Censos Demográficos.
Como se distribui a força de trabalho feminina, entre os subsetores do Secundário e dentro de cada um deles? o e:x:ame da Tabela 18 pode responder-nos esta pergunta. No S~ cundário I, o ramo da Indústria de Transformação ocupa a quase totalidade das mulheres vinculadas a este subsetor.
No Secundário II, o ramo de Serviços de Reparação de artigos de Uso Pessoal emprega a quase totalidade das mulheres ocupadas no subsetor. O que se observa no conjunto da força de trabalho feminina ocupada no Secundário é que sua o
cupação relativa no subaetor I, tende a aumentar, em detri menta, portanto, de sua diminuição no subsetor II. Isto se deve a que, quando os serviços de reparação de artigos de uso doméstico e de uso pessoal são os únicos registrados
(1940), (concentrando estes últimos a maioria dos ocupados, essencialmente mulheres), neles se concentra a maioria das V mulheres ocupadas no Setor (71.2%), os restantes 28.7% oc~ panda-se das atividades industriais. ~ms, na medida em que
o Secundário II se amplia e passa a incluir serviços de r~ paração de máquinas e veículos, que tem exigéncias maiores
de qualificação de mão de obra, característica agregadaaos serviços de reparação de artigos domésticos, decresce a ocu
pagão relativa da mulher neste subsetor, elevando-se conse
qdentemente, no subsetor I.
Este mesmo processo de exclusão dR ~n~nn ~~
65
TABELA 19
PESSOAL OCUPADO E PARTICIPAÇÃO DA MULHER
NA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO
NO RIO GRANDE DO SUL - 19 20/70 ('•)
RAMOS
Mecânica/Metal.
Material Elétrico
Mat. Transporte
Min. nao Metálicos
Borracha
Fumo
Papel/Papelão
Mobiliário
Madeira
Couros/Peles
QuÍmica/Farmac.
Prod. Mat. Plást.
Deriv. Petr./Carvão
Textil
Vest ./Calçados
Alim./Bebidas
E di t. /Gráf.
Outras
Total
1920 1940
9.523 14.133 (l. 9)
l. 06 8
3.220 (l. 7)
l. 5 72
l. 697 (o . 4)
5.662 (4.2)
188 1.808 (17.3)
2.207 5.145 (45.60 (50.3)
33.110 6.253 (68.0) (31.1)
!!,357 39.507 (4.7) (9.6)
2. 4 29 (11.7l
1950
11.742 ( 8 .1 )
10.570 (4.8)
759 (32.7)
2.954 (47.8)
l. 9 57 ( 24. o)
9. o 25 ( 6 . o)
14. 27 3 ( 2. o)
5.390 (12.8)
3.941 (19.8)
7. 74 o (55.5)
11. 7 3 o (28.7)
34.030 (14.9)
3. 86 8 (15.1)
(4.6) (10.0) (27.3)
63.529 82.926 120.789 (37.9) (12.3) (17.4)
19 70
45.376 (7.2)
3.850 (31.1)
4. 29 7 (I! . 4)
14 ,1-J-06 ( 4 . 9)
l. 941 (14. 9)
5.324 ( 44.5)
3.874 (24.6)
16.370 ( 5 .1)
15.695 ( 2 . 7)
7.573 (11.7)
7.393 ( 19.2)
995 (21.0)
2. 8 6 5 ( 3 . 4 )
8.114 (51.2)
37.130 (44.9)
50.836 (15.6)
7.366 (17.3)
(2,S.3)
238.114 (18.4)
Fonte: IBGE - Censos Demográficos. ( 1'~-) Os dados entre parêntesis referem-se ã participação fe
minina.
66
:feminina do Secundário II pode ser verificado na Tabela 17: a participação feminina neste subsetor declinou acentuada
mente, entre 1940 e 1950, (baixando de 60.0% para 34.7%), elevando-se alguns pontos em 1970 (38.0%).
No Secundário II, a força nece vinculada às ocupações de
de trabalho feminina perma- \\ mais baixa qualificação, não
se beneficiando das novas ocupações que a diversificação ~ condmica propicia. Dentro do subsetor, a criação destas nQ
vaa ocupações vai possibilitar um melhor posicionamento na estrutura ocupacional, apenas à força de trabalho masculina, na medida em que se eleva também seu nível de qualifi -caçao.
Cabe ainda a verificação do que ocorreu no Secundário
I, ou melhor, no subsetor da Indústria de transformação, já que nos demais a presença da mulher é insignificante.
O exame da Tabela 19 permite verificar a evolução da
estrutura de emprego industrial no Estado, entre 1920 e ..
1970. Pode-se observar a import~ncia que tinha, no inicio
do perÍodo, o ramo de Vestuário/Calçados, concentrando mais da metade dos trabalhadores industriais, secundado pelo
ramo l~ecánica/I>Ietalúrgica, com 14.9% da força de trabalho industrial, distribuindo-se seu restante por alguns outros poucos ramos. Em 1940, a estrutura industrial é ainda pouco diversificada, passando o ramo de Alimentação/Bebidas a ocupar o maior número de trubalhadores industriais, condi
ção que mantém até 1970. O ramo Mecánica/Metalúrgica, exc~ to em 1950, continua a ser o segundo em absorver mão de
obra. Em 1950, já se nota uma maior diversificação da estrutura industrial, que se intensifica em 1970. Entretan
to, ainda são os ramos de Vestuário/Calçados e ProdutosAli
mentares/Bebidas que concentram grandes contingentesda for ça de trabalho industrial. O ramo Mecánica/Metalurgia continua a ser o segundo em absorção de mão de obra, passando a se destacar, em 1970, também o de Mobiliário, .Madeira e
Minerais não Metálicos.
A :força de trabalho masculina se distribui pelos ramos industriais de modo análogo ao conjunto da força de trabalho, concentrando-se. Am lO?A
TABELA 20 POPULAÇÃO OCUPADA, POR SEXO, NOS DIFERENTES RAMOS DA INDÚSTRIA DE TRANSFORY~ÇÃO
RIO GRANDE DO SUL - 1920/70 (%)
RAMOS DE ATIVIDADE NA INDo DE TRANSFORMACÃO
Metalúrsica/Mecân~ca _ Mat. Eletr./Comun1caçoes Mat. de Transporte Minerais TI Metálicos Borracha Fumo Papel/Papelão Mobiliário Madeira Couros /Peles Prod./Quím./Farm./Méd. Prod. Mat. Plâst. Deriv. Petr./Carvão Textil Vestuário/Calçado Prod. Aliment./Bebidas/ ~lco6is,inclusive 6leos Editorial/Grâfica Serv. Ind. Util. Publ. Jutras
r o tal
1920
2 3 o 2
2 o 6
7 o 7 3 o 8 4ol Oo4
2 o 9 2 5o 8
lO ol
4.1 15.3
lO O (41.111)
POPo MASCULINA % 1940 1950
18o7
7 o 3
2 o o
3.4 5o 8
4 8 o1 2 o 9 2 o1 9 o 7
100 (74o27l)
l0o4
9 o 7 o o 5 1.5 1o4 8o2
13o5 4 o 6 3 o o
3 o 3 8ol
28o0 3 . 2 2 o 5 2o0
100 (lD3o443)
~ar.te dos dados brulos; IBGE, Censos Demográficos
1970
20o3 1.3 2o0 E o 6 O oS 1.4 1.4 7 o 5 7.4 3 o 2 2 o 9 Oo4 1.3 1.9 9 o 9
20.5 2 o 9 6 o 6 1.7
100 (207o332)
1920
Oo23
Oo03
4ol8 93o45
Üo85
l. 25
100 (24o089)
POP o FEMININA % 1940 1950
2 o 7
2 o 3
3 ol
25o2 l9o0
3 6 o 8 2 o 8 o o 3 7 o 8
100 Cl0o249)
4o7
2o5 1.2 7 o o 2o5 2 o 7 1.4 305 3o9
2lo5 16 o 8
25 o 3 2 o 9 o o 3 3 o 9
100 (20o025)
1970
7o3 2 o 7 Oo4 1.5 o o 6 5 o 3 2ol 1.8 o o 9 2o0 3 o 2 Oo5 o o 2 9. 2
37o0
1807 2. 8 l.2 2 o 6
100 (45o080)
"' ....,
68
Calçados e Mecânica/Metalurgia. A partir de 1940 a primazia do ramo Vestuário/Calçados é substituída pelo ramo de produtos Alimentares/Bebidas, que embora de modo decrescen te, continua, até 1970, a ser o ramo que ocupa maior proporção dos trabalhadores industriais.
Quanto à força de trabalho feminina ocupada na indús tria, sua concentração varia em torno de tr~s ramos: o de
Vestuário/Calçados, que concentra em 1920 quase todas as ~ mulheres empregadas na indústria; o Têxtil e o de Alimentos/Bebidas, que juntamente com o de Vestuário/Calçados, ~ cupa em 1940 e 1950, respectivamente 81.0% e 63.6% das tr~ balhadoras industriais. Em 1950, a indústria do Fumo surge como o ramo que, fora do conjunto apontado acima, ocupa a maior proporção de força de trabalho industrial feminina:
7.0%.
Em 1970, continuam os ramos de Vestuário/Calçados, principalmente, e o de Alimentos/Bebidas a ser os maiores
absorvedores da mão de obra feminina, tendo diminuído consideravelmente o do ramo Têxtil. t de se notar que, a pa~ tir de 1940, o ramo Mecânica/Metalurgia ocupa proporçoes crescentes da força de trabalho feminina industrial, que supera em 1970, o ramo do Fumo.
A concentração da força de trabalho em determinados ramos pode ser tomada como um indicador de certa validade da estrutura industrial. As conclusões a que possibilita chegar têm, entretanto, um caráter parcial. ~ preciso considerar a contribuição de cada ramo no valor total da produção industrial. A abordagern conjunta das duas variáveis torna viável também a verificação de quais os ramos onde é mais elevada a produtividade do trabalho. A Tabela 21 registra estes dados. Pelo seu exame, pode-se observar que os ramos de produtividade mais elevada, dada pela diferença positiva entre sua contribuição para o valor total da
produção industrial e a proporção de força de trabalho industrial empregada, são os ramos Químico, Alimentação/Bebi das e Fumo, tanto em 1950 quanto em 1970. Nos demais, de certa expressão na indústria riograndense, a proporção de força de trabalho ocupada é superior à participação no va
lor total da produção industrial.
TABELA 21
VALOR DA PRODUÇÃO, FORÇA DE TRABALHO OCUPADA E PARTICIPAÇÃO FEMININA NOS PRINCIPAIS RAMOS INDUSTRIAIS
RIO GRANDE DO SUL - 1950/70
RAMOS VALOR DA PROD. % (•') :FORÇA TRAB. OCUP. % ('""') :PART. FEMININA ' '
1 1949 1970 i 1950 1970 ~ 1950
Mecânica/MetalÚrgica \ 5.51 13.69 i 9.72 14.85 l Química \ 4.79 13.71 l 3.26 3.10 ; Vestuário/Calçados ; 7.11 7. 25 l 9. 71 15.59 l Alim./Bebidas ; 53.54 35.68 \ 28.17 21.34 : Mobiliário \ 1. 54 2. O 9 \ 7. 4 7 6. 8 7 : Madeira : 7.07 3.50 : 11.81 6.59 : Textil ; 4.40 3.10 i 6.40 3.40 1 Minerais ií Metálicos : 2.76 2.37 I 8.75 6.05 : Fumo l 4 . 1 7 2 . 56 l 2 . 4 4 2 . 2 3 I
Fontes: (}':) FEE. n25 Anos de Economia GaÚcha 11 • Vol. 4 C }'n':) IBGE - Censos Demográficos.
8 .1 19.8 28. 7 14.9
6 . o 2.0
55.5 4.8
47.8
c,,) 1970
7. 2 19.2 44.9 16.6
5.1 2. 7
51. 2 4. 9
44.5
0\ co
70
Em relação à participação feminina, pode-se verificar
que ela é expressiva em alguns poucos ramos, que por sua y vez não t€m posição de destaque na estrutura industrial do
Estado: Téxtil, Fumo e Vestuário/Calçados, onde também, El exceção do Fumo, a ocupação relativa da força de trabalho industrial é superior à contribuição do ramo no valor da
produção, denunciando a baixa produtividade da mão de obra.
Apenas no ramo de Alimentação/Bebidas, de produtividade ~
is elevada, a participação feminina sofreu uma pequena el~
vação, mantendo-se, mesmo assim, abaixo dos 20%. O ramo de Vestuário/Calçados, onde, entre 1950 e 1970 foi significativo o aumento da participação feminina, elevando-se de .•
28.7% para 44.9%, é um ramo de baixa produtividade da mao de obra e de posição secundária na estrutura industrial.
Seu melhor posicionamento nesta estrutura, representado p~
la pequena elevação de 7.11% para 7.25% no valor da produção, se fez acompanhar de um significativo aumento da uti
lização de mão de obra - que se eleva de 9.71% para 15.59% da força de trabalho, o que implica em queda de sua produ tividade -. E esta mão de obra é, sobretudo, feminina.
Estes dados, comparados com a média salarial dos dis-
tintos ramos industriais, podeill nos dizer alguma coisamais sobre o trabalho da mulher na indústria. Wa Tabela 22 P es
tão registradas aquelas médias, podendo-se verificar que os ramos onde elas são mais baixas coincidem, de certo mo
do, com os ramos onde se concentra a força de trabalho fe
minina e onde sua participação é mais elevada. A exceção é o ramo do Fumo, o segundo colocado em linha descendente em
média salarial e que já vimos, conta com uma elevada parti
cipação feminina. Dada, no entanto, sua inexpressiva posição como absorvedor de mão de obra, esta exceção tem pouca
importância para o conjunto das mulheres ocupadas na indús
tria.
A relação se torna mais clara, quando se considera o ramo de Vestuário/Calçados: em 1970, nele se concentra •••
37.0% das mulheres trabalhando na indústria, participando com 44-9% da força de trabalho do ramo, que é o de mais baixas médias salariais em novembro de 1972.
TABELA 22 Ni:t;DIA SALARIAl, NA INDÚSTRIA DT! TRANSPORJ,:AÇÃO
RIO GRANDE DO SUL - "fOV./72
RAMO TI!DUSTRIAL Metalúrgica Mecânica Niat. Eletr./Com. T€xtil Vest./Calç./Arter. Tec. Min. ii Met. Mat. Transp. Papel/Papelão Borracha Química Perf. SabÕes/Velas Prod. Mat. Plást. Prod. Alim. Bebidas Fumo
(Cr!t)
SALÁRIO lVIlcNSAL JVJlDIO 670.21 720-32 642.85 468.98 404.64 566.88 729.23 441.63 537.)8
1.128.78 617.71 595.58 474.79 688.41 730.42
Fonte: IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiatica - DEICOM. "Indústria de Transformação" - Pesquisa Mensal - jan./nov. 72.
A partir destas constatações, é possível traçar as
grandes linhas que caracterizam a presença da mulher no se ter Secundário no Hio Grande do Sul.
A expansão deste setor se deu absorvendo preferencial (j mente mão de obra masculina, embora seja inegável o cresci menta, em termos absolutos, do total de mulheres integradas às atividades secundárias. A intensidade deste cres
cimento foi, no entanto, inferior à da integração da força de trabalho masculina, resultando uma queda progressiva da
participação da mulher no conjunto do Secundário.
A análise do processo de absorção da mão de obra da
mulher nos subsetores do Secundário, demonstra que: - em relação ao Secundário II, na medida em que cs ser
viços de reparação se diferenciam - decorrente de um processo de diversificação economico e sofisticação dos pa
drÕes de consumo de alguns estratos da população - pass~
do a exigir maior qualificação da mão de obra utilizada, diminui a proporção de mulheres neles ocupadas. A presença da mulher no subsetor, se deve sobretudo à permanência e expansão de uma categoria de servicos flp -n .............
- ---' A
72
de qualificação. Aquela presença no entanto tende a decli
nar no conjunto do pessoal ocupado no ~ecundário II, porque a expansão desses serviços de baixa qualificação, que
abriga predominantemente mão de obra feminina, se dá menos
intensamente que a expansão dos serviços de reparaçao de
máquinas e veículos e artigos de uso d.oméstico, cujos re
quisitos de qualificação de mao de obra são maiores, e ocu
paro quase exclusivamente trabalhadores masculinos:
- em relação ao Secundário I, a utilização da força fj de trabalho, embora não seja expressiva, se dá nos ramos
industriais onde é mais baixa a produtividade da mão de o
bra e mais baixos os salários médios(43), o que vem demon~
trar as condições desvantajosas em que a força de trabalho
feminina se engaja às atividades industriais.
Isto nos permite supor que o trabalho da mulher na in
dústria corresponde a uma necessidade derivada da queda
dos salários reais, obrigando a família operária a empregar mais de um de seus membros para garantir seu padrão de
subsistência. Apesar disto, não podemos deixar de reconhe
cer que o trabalho industrial poJe representar, para a mu
lher, significativa melhora, em referência, por exemplo,
ao trabalho na agricu1tura ou mesmo a determinadas ocupaçoes do Terciário, já que lhe garante um emprego estável,
(43) A concentração e a maior participação da força de tra /1 balho feminina nos ramos industriais de níveis de remuneração inferiores, não se dá porque eles sejamruais capazes, pela natureza das tarefas que comportam, pelos próprios níveis salariais inferiores ou por qualquer outra razão, d3 absorver mão de obra feminina. A relação pode ser inversa: a presença maciça de mulheres num dado setor de atividades pude contribuir deci sivamente para a depreciação dos salários, pelo fatO de que elas content~-se com salários inferiores, o que é devido, principalmente, a sua condição de força de trabalho complementar no grupo familiar. Entretanto, é também possível, que a mulher passe a ocupar de terminadas posições abandonadas ~elos homens, devidO aos baixos salários. Na com:petiçao :pelas melhores posições, a mulher tende quase sempre a perder, tendo então de se contentar com as posições inferiores. Isto é comum principalmente nas ocupações de baixa e mé dia ~ualificação.
73
remuneração fixa, beneficios da previdéncia social, eleva--çao de status, etc.
3.3. O Setor Terciário
Entre as modificações duma estrutura ocupacional, decorrentes do processo de desenvolvimento econômico, uma das mais marcantes é o aumento da ocupação relativa no setor Terciário, e, conseqüentemente, sua diminuição nos derLJis
setores. Isto se deve, de um lado, pelo aumento generaliz~ do dos níveis de produtividade na agricultura e na indústria, que podem, então se expandir, incorporando menores
contingentes relativos de força de trabalho. Por outro lado, o processo de desenvolvimento cria uma demanda cresce~
te por serviços complementares à produção, distribuição e circulação de mercadorias, serviços administrativos, bancá
rios, financeiros, assim como por serviços sociais, como educação e saúde, em conseq~éncia de uma elevação dos pa
drões de vida da população e de suas necessidades e aspir~ ções, decorrentes das próprias transformaçóee provocadas
pelo desenvolvimento. O Terciário, dada a diversificaçao e ampliação dos serviços que comporta, tende a se transformar no setor de maior absorção de força de trabalho.
Estas considerações dizem respeito, particularmente,
às sociedades desenvolvidas, onde a indústria se impôst já há longo tempo, como setor-chave e dominante da economia e
cujos benefícios foram, de certo modo, distribuídos entre
a população. À elevação geral das condições de vida corre~ pende um processo permanente de demandas por serviços so
ciais, que se ampliam, absorvendo continuamente força de
trabalho.
Nos países de industriali~ação recente, algumas es~e
cificidades são facilmente observadas em relação às trans
formações na estrutura ocupacional. Uma das característi
cas especificas diz respeito, justamente, ao setor Terci
ário, dada pela sua grande heterogeneidade interna, que com porta tanto os serviços de especialização crescente decor
rentes do próprio processo de diversificação ~nômic~ qua~ +,. "" m.,.n,+o,.,ni:in t> ~+.ti R PYnf:ln~An P. rliversificacão de inúme
74
ras categorias de serviços pouco especializados, que utili zam extensivamente mão de obra de pouca ou nenhuma qualifi cação. Esta condição é favorecida pelo grande afluxo às ci dades, de populações oriundas do meio rural, que encontram nestes serviços - bem como nos setores industriais de pouca exigência de qualificação da força de trabalho, cano por exemplo, a construção civil - as maiores possibilidades de integração na economia urbana.
Este fenômeno, de "inchação" do Terciário, passou a ser entendido como importante obstáculo à expansão global da economia, já que só consome excedente, não contribuindo para a criação da riqueza social.
Segundo a interpretação, ou melhor, a hipótese de Francisco de Oliveira sobre o setor Terciá.rio, seu papel dentro do processo de desenvolvimento brasileiro é outro, não se constituindo em obstáculo àquela expansão, mas
"faz parte do modo de acumulação adequado à expansão do sistema capitalista no Brasil; não se está em presença de nenhuma 'inchação', nem de nenhum segmento marginal da ec,2_ nomia. ( ••• ) o crescimento industrial teve que se produzir sobre uma base de acumulação capitalística razoavelmente pobre( ••• ).
( ••• )No processo de sua expansão, (industrial) sem contar com magnitudes prévias de acumulação capitalística, o crescimento industrial forçosamente teria que centrar so bre a empresa industrial toda a virtualida- · de da acumulação propriamente capitalista.
( ••• )com a continuidade da expansão industrial, esta vai compatibilizar-se com a au sência de acumulação capitalística prévia, que financiasse a implantação dos serviços, lançando mão dos recursos de mão de obra, reproduzindo nas cidades um tipo de crescimento horizontal, extensivo, de baixíssimos coeficientes de capitalização, em que a fun ção de produção sustenta-se basicrunente · na
75
abund~ncia de mão de obra.
( ••• ) A intensidade do crescimento induatri al ( ••• )não permitirá uma intensa e simul
tânea capitalização nos serviços, sob pena de, esses concorrerem com a indústria pr~
priamente dita pelos escassos fundos dispo
capi níveis para a acumulação propriamente
talística. Tal contradição é resolvida menão capi talístico do :Je diante o crescimento
tor Terciário"(44).
A expansão do Terciário se dá então deste modo, mantendo importantes contingentes de sua força de trabalho ex
aluídos das relações de produção dominantes, mas integrando-se ao modo de produção capitalista de forma subordinada
ou subsidiária.
Pela análise interna do setor Terciário se poderá ava liar a verdadeira dimensão de seu caráter subsidiário ern relação às relações capitalistas dominantes.
Antes, porém, algumas observações sobre o papel do s~ tor na absorção da força de trabalho, cujos dados estão re
gistrados na Tabela 4: sua ocupação relativa era de 18.6% em 1920, elevando-se continuamente até atingir 32.5% em •.
1970. Esta elevação, conjuntamente com a ocorrida no setor Secundário, se dá devido a uma diminuição na ocupação rela
tiva do setor Primário que, como já vimos anteriormente,
era de 46.0% em 1970, quando em 1920 era de 61.9%. As mesmas mudanças ocorrem no conjunto da população masculina ocupada - apenas com menor intensidade - que mantém ainda
em 1970, seu caráter rural, embora em constante declínio.
As transformações mais acentuadas se dão em relação à força de trabalho feminina, que já em 1950 é majoritariamente urbana. Este caráter se deve exclusivamente ao aumen to da ocupação relativa no setor 'ferciária, já que no Se~~
cundário ela decresce no período.
O crescimento constante e em proporçoes mais elevadas
(44) OLIVEIRA, Francisco de, op. cit., pa~s. 27. 28 ~ ?o_
76
(Tabela 10) do número de mulheres ocupadas no Terciário,
conduz a um aumento continuo nas taxas de participação feminina no- setor, que se eleva de 22.4/~ em 1920 para 26.0%
em 1940, 31.2% em 1950 e 41.6% em 1970, demonstrando ser o Único setor onde esta participação tende a aumentar simultaneamente com a elevação da ocupação relativa feminina. o significado dessas tendéncias pode ser apreendido pela aná lise das transformações internas do setor, decorrente da
desagregação dos serviços em(45): I - Serviços de Produção, complementares à produção
de bens materiais, bem como a sua distribuição, neles se
incluindo o Comércio, Transportes, Comunicações e Armazena gem;
II - Serviços de Consumo Individual, que atendem dire
ta e individualmente às necessidades do consumidor: Servi
ços Pessoais, Profissões Liberais, Trabalho Doméstico;
III - Serviços de Consumo Coletivo, que atendem coletivamente às necessidades do consumidor: Serviços Governa mentais, Justiça, Saúde, Educação, Previd€ncia Social.
Esta desagregação dos Serviços é extremamente vantaj~
sa, já que viabiliza levar-se em conta sua heterogeneidade
interna; logo, o significado qualitativo da mão de obra ne les ocupada.
Pelo exame da Tabela 23, observa-se um declínio da ocu pação relativa do total da força de trabalho do Terciário, nos Serviços de Produção. Ora, são estes serviços os mais
estreitamente vinculados com a expansão das atividades ec2
nômicas decorrentes do processo de desenvolvimento, deman
dando mais força de trabalho, na medida em que este proce~
so se intensifica. A diminuição na ocupação relativa des-
ses serviços, no conjunto do Terciário, deve
paralelamente a uma expansão da demanda dos
expressar, -
demais servi
ços, principalmente os de Consumo Coletivo, onde a ocupa
ção relativa se eleva - não uma diminuição de seu papel no conjunto da economia, mas muito mais provavelmente uma ele
(45) Conforme SINGER, Paul e MADSIRA, ''elicia, op. cit.
TABELA 23
DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO OCUPADA, POR SEXO, NOS RAMOS DO TERCIÁRIO
RIO GRANDE DO SUL- 1920/70
Serv. de Produção
Serv. Cons. Individual
Serv. Cons. Coletivo
Outros
,-------------------------.,--------- -------- T
: 1920 : 1940 : 1950 : I I I I
l H M T:H ~ TlH M Tl ,----------------- -- ' . --- -------,-. ----- - - -, : 68.3 6.3 52.9: 67.9 9.4 so.s: 69.3 13.1 49.8l I 1 I I
: 15.6 80.9 31.8: 16.5 69.4 32.0l 14.6 60.6 30.6l I t I 1
: 16.1 12.8 15.3 1 15.5 21.4 17.2l 15.9 26.0 19.4l I I I I
' ' 1 - - - ~-- _-: ______ - - __ i_ Ü, 2 Ü • 3 -~2:
Fonte dos dados brutos: IBGE- Censos Demográficos.
H
66.5
16.8
16.6
1970
M T
15.42 43.7
49.1 31.2
34.5 24.6
o. 9 0.5
vação da produtividade do trabalho, devida à introdução de
métodos e técnicas mais racionais. A ocupação relativa da
força de trabalho masculina nos Serviços de Produçãooo man
tém razoavelmente constante entre 1920 e 1970, registran
do pequenas variações inferiores a 3 pontos percentuais, e~
quanto a ocupação relativa feminina se eleva continuamen
te, passando de 6. 3% em 1920 para 15.4% em 1970. leste processo pode traduzir uma melhoria nas condições de emprego
das mulheres ocupadas no Terciário, dadas as exigéncias de melhores niveis de qualificação requeridas pelos Serviços
de Produção. Esta conclusão não deixa, contudo, de ser pr~ matura, e até certo ponto questionável, já que a categoria
Comércio, por exemplo, que integra os Serviços de Produ
ção, comporta uma grande variação de atividades e tipos de
comércio, que inclui desde grandes estabelecimentos espe
cializados, até pequenas lojas, feiras, comércio ambulan
te, de distintos padrões de qualificação da mão de obra,
salários, prestígio social, etc.
Nos Serviços de Consumo Individual, a ocupaçao relati
va da força de trabalho total e da masculina se mantém sem
grandes variações (a total em torno de 31% e a masculina
de 15, 16%) enquanto a feminina declina continuamente, bai
xando de 80.9% em 1920 para 49.1% em 1970.
Nos Serviços de Consumo Coletivo, a ocupação relativa
masculina se mantém mais ou menos constante, variando en
tre o mínimo de 15.5% em 1940 e o máximo de 16.6% em 1970, enquanto a ocupação relativa do conjunto da força de traba
lho do setor, assim como a da feminina se eleva, muito mais
intensamente esta do que aquela.
Se levarmos em conta apenas a força de trabalho masc~
lina ocupada no setor, vemos que não se verificam modifica
çoes substanciais na sua distribuição pelas diferentes ca
tegorias de serviços: são os Serviços de Produção que ao longo do período ocupam a proporção mais expressiva (+ de 60%) dos homens presentes no Terciário, distribuindo-se o
restante igualmente entre os Serviços de Consumo.
Quanto à força de trabalho feminina, é nos Seviços de
79
que no entanto, declina consideravelmente entre 1920 e 1970, baixando de 80.9% para 49.1%, distribuindo-se o saldo entre os Serviços de Produção e os de Consumo Coletivo, que tendem então a elevar a ocupação relativa de mulheres.
A consideração das modificações, no conjunto da população ocupada no setor, evidencia a expansão que tiveram os Serviços de Consumo Coletivo como absorvedor de força de trabalho, enquanto esta capacidade se retraiu nos Servi ços de Produção e se manteve mais ou menos constante nos Serviços de Consumo Coletivo.
Deve-sa esta dinâmica à crescente demanda por serviços sociais, ampliando sua capacidade de absorver mão de obra, combinada com a provável elevação da produtividade nos Serviços de Produção, provocando uma retração na sua capacidade relativa de absorção de força de trabalho, enquanto nos Serviços de Consumo Individual, aquela capacid~ de se mantém inalterada.
~
Vejamos, a seguir, como se modifica a ocupaçao relati va da força de trabalho feminina dentro de cada categoria de Serviços. Antes, porém, convém ressaltar que, em todas elas, assim como em cada ramo que comportam, a participação feminina aumenta ao longo do período 1920-1970, confor me o registrado na Tabela 24.
TABELA 24 PARTICIPAÇÃO DA MULHER NOS RAlviOS DO TERCIÁRIO
RIO GRMTDE DO SUL - 1920/70
RAMOS I. Serviços de Produção
Comércio Trans./Comunic.
II. Serviços Cons. Ind. Serv. Pessoais Domest. Remun. Prof. Liberais
III. Serviços Cons. Colet. Adm./Justiça Educação Saúde
Total
(%) I
!1920
t 2.9 : 3-5 I 1.8 I I
:63.1 I -I
:82.1 :16.9 I
:20.7 I 4.4 I
:59.5 I I I
:27.369
I
' 5.4 I ~ 7.3 ' 2.3
9.1 12.3
3-7
I 15.8 20.7 4.8
I
:63.5 68.5 70.3 :19.2 23.5 30.9 180.8 94.6 97.5 117.7 22.6 23.9 l36.1 46.4 62.6 1 7.0 10.0 21.6 :72.6 77.4 82.6 155.4 I 72.7 I 72.7 I I I ,64.884rl00.392t306.834
Fonte dos dados brutos: IBGE- Censos Demográficos .
80
3.3.1. Serviços de Produção
' O grande aumento no numero de ocupados nestes servi-ços, que se eleva de 58.410 em 1920 para 299.296 em 1970, não faz mais do que expressar sua importância crescente no
conjunto da economia, cuja expansão impõe continuamente a ampliação das atividades comerciais e dos transportes e co municações.
A ampliação desses serviços se dá com considerável ab
sorção de força de trabalho feminina, fazendo-os perder o caráter quase exclusivamente masculino que tinham em 1920: no Comércio, a participação feminina era de apenas 3.5%, sendo mais baixa ainda nos Transportes/Comunicações: 1.8%.
Estes continuam a ser ainda, em 1970, reduto essencialmente masculino, contando com apenas 4.8~ de mulheres. Já no
Comércio a participação feminina se eleva com mais intensi dade, alcançando 20.7% em 1970.
~ a categoria Comércio, dentro doa Serviços de Produ
çao, a de maior ocupação relativa de força de trabalho fe minina, tendendo a crescer em detrimento dos Comunicações, como se pode observar na Tabela
Transportes/ 25.
TABELA 25 DISTRIBUIÇÃO DA F. T. F, !IOS SERVIÇOS DE PRODUÇÃO
RIO GR&~DE DO SUL - 1920/1970
' SERVIÇOS i 20 Comércio :so.5 Transp./Comunic.ll9.5
(%)
i 40
'
i 50 ' 70 ' l90.7 ! 9.3
Total : 1.723l 6.087ll3.123l47.205
Fonte: IBGE - Censos Demográficos.
A perda do caráter essencialmente masculino dos Serviços de Produção, em especial o Comércio, pode represe~ tar para as muiheres possibilidade de melhores condições
de integração à forç~ de trabalho. Entretanto, dada a natureza heterog~nea desses serviços, esta suposição tem apenas uma validade relativa. ~ indiscutível, no entanto,
que a grande expansão do sistema bancário, a multiplica-
81
-çao de grandes e sofisticados estabelecimentos comerciais
que ocupam principalmente mão de obra feminina, tem repr~ sentado uma possibilidade de melhor posicionamento da mu
lher na estrutura ocupacional.
O verdadeiro significado desse processo, no entanto, só pode ser dimensionado, através de um estudo aprofunda
do do subsetor, que seja capaz de captar todas as particu
laridades nele existentes, expondo em detalhes as condições do trabalho da mulher no seu interior.
3.3.2. Serviços de Consumo Individual
Desde 1920, estes serviços ocupam principalmente ~
lberes, cuja participação tende a aumentar até 1970. Isto se deve sobretudo à inclusão, nestes serviços, do Doméstico Remunerado. Na Tabela 26 pode-se verificar, a pred~
minância destes na ocupação relativa, que em 1920 era de 92.2~, sendo o restante ocupado nas ProfissÕes Liberais.
Em 1940, com a inclusão dos Serviços Pessoais, a ocupação relativa nas Profissões Liberais decresce em 5.8 pontos percentuais, enquanto os Serviços Domésticos sofrem apenas uma pequena diminuição. A partir de então, verifica
se uma diminuição gradativa desses, aumentando a ocupação relativa nos Serviços Pessoais e nas Profissões Liberais.
TABJ<;LA 26 DISTRIBUIÇAO DA FORÇA DE TRABALHO FEMININA OCUPAilA
NOS SERVIÇOS DE CONSUMO ll!DUSTRIAL RIO GRANDE DO SUL - 20/70
SEHVIÇOS 1920 ' 1940 1950 1970 I Serv. Pess. ,
' 6.2 : 9.9 13.3 ' ' Dom. Rem. l92.2 l91.8 . :87. 6 83.4
Prof. Lib. : 7. 8 ' 2.0 ' 2.5 3·3 ' ' ' ' ' ' Total j22.151 j44.901 j60.7~4jl50.453
Fonte: IBGE - Censos Demográficos.
A inclusao, nos Serviços de Consumo Individual, das
Profissões Liberais ~, dos Serviços Domésticos - os dois
pontos extremos no padrão de qualificação da força de tra balho - e a importância de cada um no processo de absor-
82
çao da força de trabalho feminina, evidencia o caráter qua
litativo daquele processo e as duas dimensões de que se r~
veste. De um lado, a elevada ocupação relativa nos Servi
ços Domésticos, demonstra o alto grau de marginalização da mulher das atividades produtivas - já que aqueles serviços
não contribuem diretamente para a produção da riqueza social - e o grande potencial de trabalho que o sistema é in capaz de absorver produtivamente. Assim, parte considerá
vel da força de trabalho urbana, principalmente feminina -congregando empregadas domésticas, ocupados em serviços de
reparação, etc. - se mantém subordinada às relações de pr.Q_ dução dominantes, constituindo-se em expressiva reserva de mão de obra e de importante fator de sustentação das suas condições particulares de expansão.
De outro lado, o expressivo aumento do número de mu
lheres ocupadas nas Profissóes Liberais e sua participação
crescente nestes serviços, indica uma elevação nos padrÕes
de qualificação da força de trabalho feminina que não pode
ser ignorada. No entanto, a importância deste processo não pode ser super-estimada, pois diz respeito a uma proporção
muito pequena do conjunto de mulheres ocupadas no Terciá
rio, e registrando, além de tudo, um declínio na ocupaçao
relativa.
não se pode negar, no entanto, que este dado expressa uma tendência, muito tímida, é verdade, de ascensão da mulher às ocupações mais categorizadas, expressando uma ele
vação geral nos padrÕes de escolarização, da qual se bene
ficiam também as mulheres.
Este processo de ascensão da mulher, que expressa in
discutivelmente, uma conscientização da necessidade de me
lhorar a qualificação da força de trabalho para competir
em condições menos desvantajosas na conquista pelas ocup~
çóes melhor situadas na estrutura de empregos, que é favorecido pela expansão do ensino, e que se apresenta corr:.o uma
real possibilidade de emancipação econ6mica da mulher - es te processo encerra, no entanto, uma contradição: o exercí cio de uma profissão de prestígio e elevados salários, que ~~~em1re a alaumas mulheres a conauista de uma emanciuacão.
83
pelo menos relativa, só é possível, dentro do atual quadro institucional da sociedaâe brasileira, mantendo atadas às
atividades domésticas, agora remuneradas, um grande conti~
gente de mulheres, sobretudo devido à inexistência de ins
tituições e serviços que transfiram para a produção social as tarefas tradicionalmente desempenhadas, em caráteT pri
vado e individual, no âmbito doméstico. Assim, as possibilidades de emancipação pelo trulJe.llw, sobretudo paru u mu
lher casada e com filhos, só se efetiva pela sua substitui
ção, dentro do lar, por uma outra força de trabalho a
doméstica remunerada - que tem, no conjunto da população feminina ocupada, um expressivo significado.
3.3.3. Serviços de Consumo Coletivo
Em 1920, apenas 20.7% do pessoal ocupado nestes servi ços era constituído de mulheres. Esta participação vai, no
entanto, aumentando vertiginosamente ao longo do período 9
tornando-se majoritária em 1970, quando atinge 62.6%. Den tro de cada categoria que integra estes serviços, eleva-se
continuamente a participação feminina, que, nos Serviços
de Educação e Saúde, desde 1940 é superior à masculina.
TABELA 27 DISTRIBUIÇÃO DA MÃO DE OBRA FEMININA
NOS SERVIÇOS DE CONSUMO COLETIVO
RIO GRANDE DO SUL - 20/70
SERVIÇOS
Administr./Just. Educação SaÚde Outros
1920 15.1 84.9
1940 ' 1950 ' ' 9-4 ' 8.7 ' 67.9 :65.8
17.3 :18.3 5.4 ' 7.2
' '
1970 9.0
71.2 14.6
5.2
Total 3-495 :13.667 :26.043 105.594 Fonte: IBGE- Censos Demográficos.
Examinando-se a distribuição interna das mulheres ocupadas nestes serviços (Tabela 27), pode-se ver a importância que tem a Educação no emprego relativo, importância que não dominui diante das variações ocorridas.
Dada a import~ncia que tém, os Serviços de Educação,
84
tanto no conjunto dos Serviços de Consumo Coletivo, quanto no conjunto do Terciário, procuramos verificar a relação
entre ocupação feminina e masculina nos diversos níveis da
queles serviços. Pode-se observar então uma relação negati va entre a participação feminina e a elevação naqueles ní
veis: em 1973, 78.1% dos professores primários eram mulheres; no 2~ grau esta participação diminui para 54.4í~ e no
corpo docente de nível superior, apenas 26 .. 9% são mulheres (46). Estas proporções já representam, no entanto, alguma
elevação em relação a momentos anteriores. Em 1963, a par
ticipação da mulher no ensino superior era de apenas 13.3%
(47) e no secundário, em 1966, 52.0%(48).
Mesmo considerando-se estas desigualdades, o emprego
da mulher nos Serviços de Consumo Coletivo, tem um impor
tante significado qualitativo. Devido a sua relativa homo
geneidade interna em termos de níveis de qualificação, com
binada com a necessária ruptura com os papéis típicos de
seu sexo - característica comum também a outras ocupações,
onde, porém, nem sempre se combinam os requisitos de quali ficação de mão de obra presentes nestes Serviços -
11 ••• (d) o emprego feminino nos serviços de
Consumo Coletivo representa, portanto? a me dida, se não a Única, a mais importante, da
integração da mulher na atividade produtiva social com todas suas conseqü€ncias econômi
cas e sociais''(49).
Achamos necessário incluir nesta perspectiva, também
outras ocupações, de iguais implicações, como as Profis
sões Liberais e o emprego em certas categorias dos Serviços de Comércio e Transporte/Comunicações.
O real significado dos aspectos qualitativos da inser
çao da força de trabalho feminina no Terciário, e de certo
modo, no conjunto da economia - já que este setor comporta
(46) (47)
1m lllEC, "Estatísticas da Educação Nacional: 1971/73"· IVIEC, 11 Sinopse do Ensino Superior no Rio Grande do Sul - 1963/64". SEE - "Sinopse Estatística do Ensino Secundári0 11
, 1966. SINGER e ~UWEIRA, op. cit. Caderno CEBRAP nS 13, pag. 51.
Comércio Transp. /Comun. Doméstico Remuner. Educação SaÚde Adm./Justiça Prof. Liberais Serv. Pess./Outros
Total
TABELA 28
DISTRIBUIÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO NO TERCIÁRIO, POR SEXO
RIO GRANDE DO SUL - 1920/70 (%)
: 1920 : 1940 l 1950 : 1 1 I I
lH Ml H H l H M l ,-----------,----------·-~-- -----------~
: 40.7 5.1 : 35.4 7.9 : 35.6 11.1 : : 19.0 1.2 : 22.1 1.5 : 23.5 2.0 l : 4.7 74.6 : 5.3 63.5 : 1.4 53.0 : : 2.1 10.8 : 1.9 14.3 : 2.3 17.1 : : - - : 1.0 3.6 : 0.8 4.7 : : 9.0 0.7 : 9.2 1.9 : 9.2 2.3 ~ : 8.9 6.3 : 2.3 1.4 : 2.3 1.5 : : 15.6 1.3 : 22.8 5.9 : 24-.9 8.3 : t I I I
l 94.921 27.369l 184.600 64.884 : 221.502 100.392 :
Fonte: IBGE- Censos Demográficos.
1970
H H
3 8 .l 13.9 2 o . 3 1.4 o. 7 40.9 3. 7 24.5 1.3 5. o 8 . o 3 .1 3. 6 1.6 Oo
24. 3 9. 6 "' 431.323 306.834
86
a maioria das mulheres ocupadas -, pode ser detectado pela análise da Tabela 28, que permite também uma comparaçaocam a força de trabalho masculina ocupada no Setor. Em 1970, é ainda a categoria de Serviços Domésticos a de maior ocupação relativa de mulheres, embora registre uma diminuição nos 50 anos incluídos neste estudo, em favor, principalme~ te de seu aumento nos Serviços de Educação e, em menor pr~ porção, no Comércio. Nas Profissões Liberais, ~ós uma bru~ ca diminuição entre 1920-40, pode-se notar uma leve tendé!!_ cia a aumentar a ocupação relativa das mulheres integradas no Terciário, tendência também observada em relação aos Serviços de Saúde, Administração/Justiça e Serviços Pessoais/Outros.
Vemos, então, que algumas perspectivas mais veis estao se abrindo para a mulher, no mercado lho urbano, devido à ampliação da capacidade de
favoráde trabaabsorver
mao de obra, em decorrência de uma demanda crescente por
serviços diversos, assim como pela criação de novas ocupações derivadas do processo de diversificação econômica. E~ tas perspectivas não deixam de ter, no entanto, um caráter limitado, pois se abrem apenas a algumas categorias de mulheres, cujas condições sociais e econom1cas prévias lhes asseguram condições de adquirir um determinado nívelde qu~ lificação da força de trabalho que lhes viabilize conquistar posições melhores na estrutura ocupacional.
Em termos gerais, no entanto, uma expressiva parcela das mulheres ocupadas no Terciário, está ainda excluídadas relações de produção mais desenvolvidas.
Parte significativa da f orça de trabalho feminina s e integra na estrutura ocupacional, .vincul ada a relações de produção subsidiárias, quer se ja na agricultura, quer no Secundário - principalmente no s níveis menos qualificados dos Serviços de Reparação - ou nos diversos serviços do Terciário. Isto não significa que esta força de trabalho esteja marginalizada ··do processo de produção da riqueza so
cial; significa que tem, dentro dele, um papel subsidiário, não por isso secundário, já que este é fundamental p~ ra a expansao e a reprodução das relações de produção capi
talistas, que configuram o conjunto da sociedade brasilei-ra.
III PARTE
1. As Transformações da Economia Riograndense
~ de ~ Estrutura Ocupacional
Já vimos que a expansão econômica do Rio Grande do
Sul se dá, vinculada à expansão da economia nacional, qua~
do esta passa a ter no café seu principal produto de expor
tação. A especialização agrícola do centro do país, centr~ da neste produto, diminui a capacidade relativa do seu se
tor de mercado interno, incapacitando-o de atender às ne
cessidades das populações ocupadas na cafeicultura e das populações urbanas em crescimento.
O Rio Grande do Sul passa a ser o principal fornecedor de bens primários para a economia do centro, significando este processo sua definitiva integração na economia nacional, na condição de exportador de produtos primários
e importador de manufaturados.
Simultaneamente à grande expansão agrícola9 se desen
volvem atividades de transformação de matérias primas cri undas da agricultura e da pecuária, definindo a grande vi~
culação da incipiente indústria riograndense ao seu setor primário. O mercado para estes manufaturados é essenci~
te regional, o que caracteriza todos os núcleos industriais que surgem no país, a partir da Última década do sécu
lo XIX, e que se desenvolvem basicamente 11 em função direta do tamanho da população e do nível de renda per capita de
cada região"(50).
A existªncia dessas condições no Rio Grande do Sul
tornou viável uma relativa expansão das atividades industriais~ sem papel significativo nq conjunto da economia~
que continuava a se apoiar, basicamente 9 na agricultura e
na :pecuáriao
O setor primário continua a ser a base da economia riograndense 9 mesmo quando o :processo industrial se expan-
(50) OLIVEIRA, Francisco, REICHSTUL, Henri-Pbilippe -danças na divisão inter-regional do trabalho no sil", Estudos CEERAP n~ 4, 1973, pag. 148.
88
de consideravelmente no conjunto da economia brasileira • devido à diminuição de sua capacidade de importar, dada p~ las transformações no mercado internacional, decorrentes da I Guerra e da crise mundial do final dos anos 20.
Aquele processo redefine a divisà:o inter-regional do
trabalho no país, que intensifica o papel do Rio Grande do
sul como fornecedor de alimentos e matérias primas para os mercados do centro.
Esta posição no conjunto da economia brasileira nao implica, porém, na eliminação do setor industrial no Estado; este continua a crescer, mas em ritmo menos acelerado
que a indústria nacional, principalmente a de São Paulo.
O crescimento da produção agrícola tinha sido possível, até então, pela incorporação de novas terras. A par
tir de 1940, entretanto, este processo se torna inviável
devido ao esgotamento da fronteira agrícola. Inicia-se, e~
tão, o processo de transferência de agricultores gaúchos para outras unidades da Federação, processo que significa
uma expansão da fronteira agrícola em nível nacional. A in
corporação dessas áreas ao setor de mercado interno impli
ca em desvantagens para os produtos agrícolas do Rio Gran
de do Sul, em termos de competitividade de preços, que se deve a fatores já mencionados anteriormente.
Internamente, as condições do Estado se configuram do seguinte modo: o setor agrícola, estruturado predominantemente em pequenas e médias propriedades, defronta-se com di
ficuldades crescentes para elevar sua produtividade, devido ao esgotamento do solo e da incapacidade financeira pa
ra investir na sua recuperaçao.
Estes fatores se devem, de um lado, às práticas agrí
colas tradicionais - principalmente a rotação de terras,
sem qualquer processo que vise reparar seu desgaste - e ' a prÓpria estrutura fundiária da área, que dificulta uma ac~
mulação de capital que torne viável elevar a produtividade
pela utilização de técnicas de recuperação das terras, adu
bação, sementes selecionadas, maquinaria, etc.
89
mercado interno, em condiçOes mais Grande do Sul, acentua mais ainda a
lação deste.
favoráveis que
incapacidade de o Rio
acumu-
Associe-se a estes fatores o significativo incremento
demográfico e teremos definida a queda dos rendimentos per
capita da população agrícola, beQ como um significativo in
cremento da população relativa sobrante.
Ao deslocamento dos excedentes populacionais para ou
tras áreas agrícolas do país, se dá, paralelamente, a inau
guração de um processo cada vez roais intenso, de deslocamentos de populações rurais para as áreas urbanas. Este pr.c2, cesso inclui também populações rurais das áreas de latifún
dia, onde a atividade principal é a pecuária. Devido à pró pria natureza
ter extensivo desta atividade, - a que se associa ' o cara-de sua exploraçRo no Rio Grande do Sul - as
exigências de mão de obra são mínimas. Dados o pouco dina
mismo e a quase inexistência de diversificação econômi
ca nas áreas de pecuária, mesnto admitindo-se a expansao
desta atividade, não se cria uma demanda por força de tra
balho correspondente ao incremento populacional. Os exce
dentes demográficos relativos que deste modo se produzem,
tendem a emigrar para outras áreas, onde, efetiva ou supostamente, existe demanda por t~orça de trabalho. As áreas
urbanas, principalmente aquelas onde passam a se concentrar
as atividades industriais, asswuem posição privilegiada co
mo pelos de atração daquelec excedentes.
Vê-se, assim, que a estrutura de propriedade rural,
combinando latifÚndio-minifúndio, associada à expansão da
atividade industrial em alg~ms áreas, é responsável pelo
movimento interno da população gaúcha, cujo sentido ruralurbano, tem um importante significado, que se expressa nas
modificações na relação entre população rural e urbana, co mo se pode observar na Tabela n~ 29.
Deste modo, às transformações na estrutura econômica,
correspondem modificações na distribuição rural/urbana da população e na estrutura ocupacional. }~ste conjunto de
transformações pode ser assim sintetizado: maior expansão
go
TABeLA 29 POPULAÇÃO HURilL il URBANA NO RIO GHANDE DO SUL
1940-1970
POPULAÇÃO 1240 1950 1970 Rural 68.8 ' 65.8 46.6 ' Urbana 31.2 ' 34.2 53.4 ' Total 3.320.689 ' 14.164.821 6.664.891 Fonte: IBGE - Censos Demográficos
agricultura(51); crescimento maior da população urbana, de vide sobretudo ao €xodo rural; urbanização da estrutura o
cupacional, derivada da combinação dos outros dois prece~
soa. Recorrendo-se à Tabela 30, pode-se concluir que as t~ xas de desocupação nos meios urbanos devem ter aumentado,
principalmente no período 1950-70, devido ao crescimento
mais acentuado da população urbana em relação ao crescime~
to da força de trabalho urbana. No meio rural, o proces
so deve ter sido inverso, já que sua população cresceu a ta
xas inferiores à da força de trabalho.
Este processo é muito mais intenso em relação à de trabalho rural feminina, que cresceu 81.5 entre
1970, enquanto a populaçâo rural feminina cresceu
12.2% no período.
força 1950-
apenas
As taxas de ocupação da populaçao feminina urbana-
ao contrário da masculina - devem ter-se
incremento da força de trabalho urbana
170.7%, enQuanto o aumento da populaçao foi de 147.8% entre 1950-70.
elevado,
feminina feminina
já que o
foi de urbana
Este grande crescimento da força de trabalho feminina no meio urbano se deve, sobretudo, à sua integraçãono Ter
ciário, nas condições já analisadas na II Parte deste tra
balho.
(51) A :partir, principalmente, da década de 50. Veja-se YBB ., 25 Anos de Economia Gaúcha n, volume I.
PERÍODO
1920-40
1940-50 1 950-70
TABELA 30
CRESCIMENTO DA POPULAÇAO E DA FORÇA DE TRABALHO URBANA/RURAL
RIO GRA~IDE DO SUL - 1920/70 %
POPULAÇÀO URBANA : POPULAÇÀO RURAL :~oRÇA DE TRAB. URBANA :roRÇA ' ' '
1 M F TlH F TlH F T \M
: - - - : - - - l 86.2 97,4 88.9 : 64.1 I I r I
: 35.5 39.3 37.5 : 20.6 19.3 20.0 : 35.9 37,8 36.3 : 19.7 I I r I
\152.1 147.8 149.9 : 14.6 12.2 13.5 : 98.5 170.7 116.9 : 17.6
Fonte dos dados brutos: IBGE- Censos Demográficcs.
DE TRAB. RURAL
F T
359.3 87.1
-32.7 9 . 8
81.5 2 5. o U)
f-'
92
2. Conclusões
Cabe, a partir deste ponto, retomar as grandes linhas que configuram o processo de desenvolvimento no Rio Grande do Sul, a fim de situar, dentro dele, o papel da força de trabalho feminina.
O aprofundacento das vinculações da economia riogran
dense com o mercado nacional, não mais através somente de seu setor Primário, mas incluindo também as atividades in
dustriais, se dá, aprofundando as relações capitalistas em todos os níveis da economia. A constituição de wna econo
mia nacional onde aquelas relações passam a configurar, de
modo cada vez mais intenso, o modo de produção, correspon de igual processo na economia riograndense.
À constituição de uma ordem capitalista não implica,
no entanto, que em todos os níveis do sistema produtivo vi
gorem relaçôes de produçao capitalistas. E possível e em determinadas circunstâncias, oportuno para o conjunto
sistema, que em certos setores se mantenham relações do -na o
capitalistas, integrando-se ao sistema produtivo, subsidi
ariamente.
No Rio Grande do Sul, a manutenção dessas relações de produção subordinadas poden1 ser facilmente detectadas(52), assim como a importância que nelas tem, a participação da força de trabalho feminina. Esta se integra à população pro dutiva, predominante nas brechas mantidas pelas relações
de produção dominantes. No setor Primário, esta integração
se dá, predominantemente, nas áreas de subsistência, ou
nos intersticios da agricultura comercial especializada, de
relações capitalistas em franca expansão; no Secundário~
nos Serviços de Reparação de menor exigência de qualifica
çao da mão de obra, que sci.o desempenhados, em geral, auto
nomamente; no setor Terciário, nas ocupações menos categorizadas, de características similares às dos Serviços de
(52) Veja-se sua vig&ncia na área do fumo no Rio Grande do Sul, est1~ei tamente vinculada a ura dos ramos mais mono polizados da indústria gaúcha, cf. LIEDKE, Elida Rubi ni - 11 Capi talismo e Camponeses'', 1977, mime o.
93
Reparação.
Pode-se concluir, portanto, que as circunstâncias em
que se dá a integração da mulher na estrutura produtiva do Estado, não lhe garantem possibilidades muito grandes de
ascenção social e emancipação econélmica, derivadas, sobre··
tudo, da sua vinculação a setores econômicos subsidiários, que são, em conjunto, subordinados aos interesses dos seta
res capitalísticos, dos quais estes se valem para garantir
as condições de sua reprodução nas condições atuais do desenvolvimento brasileiro.
Mesmo quando a integração da força de trabalho femini
na se dá sob relações de produção capitalistas, ela seca
racteriza por nítidas desvantagens em relação à força de trabalho masculina, concentrando-se em ramos industriais onde os salários são mais baixos, ou em serviços de menor
prestígio e também de menores padrÕes de remuneração, como
vimos, por exemplo, em relação aos Serviços de Educação.
A análise da estrutura ocupacional feminina do Rio Gmn
de do Sul evidenciou, contudo, uma participação em ascenção da mulher nas ocupações de mais alto prestígio sacia~
como, por exemplo nas Profissões Liberais, o que expressa indiscutivelmente, uma elevação nos níveis de escolaridade feminina, equiparados, de certo modo aos masculinos. Isto
traduz, indiscutivelmente, uma tomada de consciência das
mulheres, da importância do preparo profissional, únicomei
o capaz de lhes garantir, em determinadas circunstâncias,
condiçÕes de igualdade com os homens, na competição pelas
melhores ocupações.
Esta constatação tem, entretanto, uma validade limita
da, já que diz respeito a uma pequena parcela de mulheres,
para quem o exercício de uma ocupação pode significar, ef§o
tivamente, possibilidades de emancipação social e econômi
ca.
Para a grande maioria de mulheres, entretanto, dentro
do atual quadro da sociedade brasileira e também da rio--grandense, o desempenho de uma ocupaçao fora do lar nao tem este caráter: ele se impÕe coMo uma necessidade para o
94
grupo familiar, a fim de aumentar seus rendimentos.
A grande concentração de mulheres em categorias ocupa
cionais inferiores evidencia esta necessidade, já que a
grande maioria das mulheres que trabalham, o fazem em troca de baixos salários ou mesmo, como no caso do trabalho agrícola, sem nenhuma remuneração.
O processo de integração da força de trabalho femini
na à população ativa, traduz, então, de certo modo, o prQ
cesso de aviltamento da força de trabalho -principalmente
das categorias mais baixas de trabalhadores decorrente
da queda dos salários reais, intensificada principalmente
nas duas últimas décadas em conseqü$ncia do caráter concen
tracionista e excludente do ''modelo 11 de CEsenvolvimento bra
sileiro.
As condiçÕes de inserção da força de trabalho femini
na na estrutura ocupacional evidenciam também que ela não se constituiu ainda plenamente como uma mercadoria. Pois,
como demonstram os resultados da análise feita ao longo do
trabalho, é pouca sua participação nos setores já plenamen
te constituídos em moldes capitalistas.
bVidencia-se, deste modo, a pouca expressão que tem a
utilização da força de trabalho feminina no desenvolvimen
to de uma economia capitalista no Rio Grande do Sul, e que
deriva da combinação de fatores econômicos - cuja incapaci
dade de realizar o pleno emprego necessita manter fora do
sistema produtivo, expressivos contingentes de força de
trabalho- e culturais.
Zntre estes, de importância significativa dentro de
um sistema ao qu~l é inerente aquela incapacidade, deve-se
destacar a n~nutenção de concepçõeS tradicionais dos pa
péis da mulher, que lhe reservam as tarefas a serem desem
_pt:'nhndau no àmbi to doméstico c dostinadas a satisfazer as
necessidades internas do grupo familiar.
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