Post on 06-Feb-2018
Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008
Isabel Freire Comentário Conferência
MEDIACIÓN INTERCULTURAL: TEORÍA, MÉTODO Y PRÁCTICA EN LA
EXPERIENCIA DE UN EQUIPO UNIVERSITARIO: 1993-2007
COMENTÁRIO FREIRE, Isabel
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa
A conferência que o professor Carlos Gimenez Romero, da Universidade
Autónoma de Madrid, acaba de proferir tem a feliz particularidade de cruzar o saber
académico (sustentado em percursos de investigação/reflexão/acção), uma intensa e já
longa experiência com equipas de mediadores e com diferenciados campos de
intervenção social e, por fim, uma verdadeira paixão pelos valores humanos da
convivência e da cidadania.
O trabalho sistemático realizado pelas equipas de mediadores interculturais, a
par de uma formação contextualizada na intervenção, sob a liderança do professor
Gimenez assenta, como vimos, em opções teórico-conceptuais bem definidas. Partindo
dos modelos clássicos de mediação, - o modelo de negociação assistida, vulgarmente
designado de Harvard, o modelo circular-narrativo (Sara Coob) e o modelo
transformativo (Bush e Folger), reconhece nitidamente uma maior adequação e
utilidade ao modelo transformativo na mediação intercultural. Como escrevia num
artigo publicado em 2001, enquanto que no modelo de mediação de Harvard “se
separam as pessoas do problema” e “nos centramos nos interesses”, pelo contrário, “no
pensamento de Bush e Folger, a relação – e a sua transformação - é a chave, e esta ideia
essencial converte-o, entre outras coisas, num referente muito útil na mediação
intercultural”. Quaisquer que sejam as relações entre grupos, comunidades, sujeitos,
instituições, que suscitem a mediação, “todas essas relações são melhoráveis, estão
necessitadas de transformação”.
A valorização do conflito como factor de desenvolvimento pessoal e social,
sublinha o potencial transformador da mediação, através da revalorização e do
reconhecimento das pessoas, dos grupos e das comunidades, o que, como afirma
Carlos Gimenez, “é em si próprio estimulante em contextos multiculturais”. Sem cair
em ecletismo, nas suas próprias palavras, valorizar o uso de uma “metodologia
integradora”, sintetizando as ênfases respectivas no acordo, na
Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008
Isabel Freire Comentário Conferência
transformação/melhoria das relações e na comunicação, permite a utilização de um
amplo repertório de técnicas.
Ainda, na trajectória de construção de uma metodologia própria da mediação
intercultural, Gimenez (2002) propõe, como vimos, o que designa de uma
“metodologia multifactorial”, ao identificar e caracterizar 3 ordens de factores, -
pessoais, situacionais e culturais, implicados e mutuamente inter-relacionados nos
processos de mediação, e ao sublinhar as “conexões complexas e subtis entre
Personalidade, Situação e Cultura que o mediador deve descobrir, com elas estar
familiarizado e cada nova acção de mediação deve ser fonte de aprendizagem neste
particular”.
Este aspecto leva-nos a uma dimensão do trabalho de Carlos Gimenez aqui
realçada – a da formação dos mediadores. A função do mediador é demasiado
complexa e arriscada, requer uma actualização permanente do seu modo de agir e de
pensar sobre os outros e sobre si próprio, o que exige não só uma sólida formação
inicial, como um formação permanente e enraizada nos próprios contextos e práticas
de formação. Nesse sentido, como vimos, a formação de equipas de reflexão e
acompanhamento, de equipas de co-mediação são factores não só de desenvolvimento
profissional dos mediadores, como de aumento do potencial de intervenção no terreno.
Penso ter sido muito importante para o aprofundamento, neste Colóquio, da
problemática da mediação, a conferência que acabamos de ouvir. Trouxe-nos uma
experiência sólida de mediação social, que sendo alargada a muitos campos tem uma
forte componente educativa, se entendermos educação como a acção humana que se
orienta para a transformação e a realização do homem e das sociedades. Porém, as
experiências de mediação intercultural do SEMSI são também nalguns casos
conduzidas em campos mais formais de educação, nomeadamente em contextos
escolares com “multiculturalidade significativa”. Arrisco dizer que neste campo a
experiência do SEMSI será muito diversa das experiências de mediação em contexto
escolar em Portugal. No SEMSI os mediadores trabalham em equipas alargadas, sob
uma coordenação e acompanhamento sistemático, podendo desenvolver a sua acção
em múltiplas áreas sociais e não exclusivamente na escolar, enquanto que em Portugal
os mediadores são “colocados” numa escola e trabalham muitas vezes de forma algo
isolada.
Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008
Isabel Freire Comentário Conferência
Neste sentido, gostaria de o questionar, professor Carlos Gimenez, sobre a
opinião que tem acerca da integração de um “profissional” de mediação no ãmbito
escolar.
Quais lhe parecem ser as vantagens e as desvantagens dessa integração?
Como vê o exercício da mediação pelos professores e pelos alunos? Enfim,
como vê a integração da mediação nas escolas?
Gostaria ainda que nos falasse um pouco sobre a mediação como ferramenta de
prevenção, uma vez que geralmente a associamos ao conflito.