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Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 Isabel Freire Comentário Conferência MEDIACIÓN INTERCULTURAL: TEORÍA, MÉTODO Y PRÁCTICA EN LA EXPERIENCIA DE UN EQUIPO UNIVERSITARIO: 1993-2007 COMENTÁRIO FREIRE, Isabel Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa A conferência que o professor Carlos Gimenez Romero, da Universidade Autónoma de Madrid, acaba de proferir tem a feliz particularidade de cruzar o saber académico (sustentado em percursos de investigação/reflexão/acção), uma intensa e já longa experiência com equipas de mediadores e com diferenciados campos de intervenção social e, por fim, uma verdadeira paixão pelos valores humanos da convivência e da cidadania. O trabalho sistemático realizado pelas equipas de mediadores interculturais, a par de uma formação contextualizada na intervenção, sob a liderança do professor Gimenez assenta, como vimos, em opções teórico-conceptuais bem definidas. Partindo dos modelos clássicos de mediação, - o modelo de negociação assistida, vulgarmente designado de Harvard, o modelo circular-narrativo (Sara Coob) e o modelo transformativo (Bush e Folger), reconhece nitidamente uma maior adequação e utilidade ao modelo transformativo na mediação intercultural. Como escrevia num artigo publicado em 2001, enquanto que no modelo de mediação de Harvard “se separam as pessoas do problema” e “nos centramos nos interesses”, pelo contrário, “no pensamento de Bush e Folger, a relação – e a sua transformação - é a chave, e esta ideia essencial converte-o, entre outras coisas, num referente muito útil na mediação intercultural”. Quaisquer que sejam as relações entre grupos, comunidades, sujeitos, instituições, que suscitem a mediação, “todas essas relações são melhoráveis, estão necessitadas de transformação”. A valorização do conflito como factor de desenvolvimento pessoal e social, sublinha o potencial transformador da mediação, através da revalorização e do reconhecimento das pessoas, dos grupos e das comunidades, o que, como afirma Carlos Gimenez, “é em si próprio estimulante em contextos multiculturais”. Sem cair em ecletismo, nas suas próprias palavras, valorizar o uso de uma “metodologia integradora”, sintetizando as ênfases respectivas no acordo, na

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Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008

Isabel Freire Comentário Conferência

MEDIACIÓN INTERCULTURAL: TEORÍA, MÉTODO Y PRÁCTICA EN LA

EXPERIENCIA DE UN EQUIPO UNIVERSITARIO: 1993-2007

COMENTÁRIO FREIRE, Isabel

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa

A conferência que o professor Carlos Gimenez Romero, da Universidade

Autónoma de Madrid, acaba de proferir tem a feliz particularidade de cruzar o saber

académico (sustentado em percursos de investigação/reflexão/acção), uma intensa e já

longa experiência com equipas de mediadores e com diferenciados campos de

intervenção social e, por fim, uma verdadeira paixão pelos valores humanos da

convivência e da cidadania.

O trabalho sistemático realizado pelas equipas de mediadores interculturais, a

par de uma formação contextualizada na intervenção, sob a liderança do professor

Gimenez assenta, como vimos, em opções teórico-conceptuais bem definidas. Partindo

dos modelos clássicos de mediação, - o modelo de negociação assistida, vulgarmente

designado de Harvard, o modelo circular-narrativo (Sara Coob) e o modelo

transformativo (Bush e Folger), reconhece nitidamente uma maior adequação e

utilidade ao modelo transformativo na mediação intercultural. Como escrevia num

artigo publicado em 2001, enquanto que no modelo de mediação de Harvard “se

separam as pessoas do problema” e “nos centramos nos interesses”, pelo contrário, “no

pensamento de Bush e Folger, a relação – e a sua transformação - é a chave, e esta ideia

essencial converte-o, entre outras coisas, num referente muito útil na mediação

intercultural”. Quaisquer que sejam as relações entre grupos, comunidades, sujeitos,

instituições, que suscitem a mediação, “todas essas relações são melhoráveis, estão

necessitadas de transformação”.

A valorização do conflito como factor de desenvolvimento pessoal e social,

sublinha o potencial transformador da mediação, através da revalorização e do

reconhecimento das pessoas, dos grupos e das comunidades, o que, como afirma

Carlos Gimenez, “é em si próprio estimulante em contextos multiculturais”. Sem cair

em ecletismo, nas suas próprias palavras, valorizar o uso de uma “metodologia

integradora”, sintetizando as ênfases respectivas no acordo, na

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Isabel Freire Comentário Conferência

transformação/melhoria das relações e na comunicação, permite a utilização de um

amplo repertório de técnicas.

Ainda, na trajectória de construção de uma metodologia própria da mediação

intercultural, Gimenez (2002) propõe, como vimos, o que designa de uma

“metodologia multifactorial”, ao identificar e caracterizar 3 ordens de factores, -

pessoais, situacionais e culturais, implicados e mutuamente inter-relacionados nos

processos de mediação, e ao sublinhar as “conexões complexas e subtis entre

Personalidade, Situação e Cultura que o mediador deve descobrir, com elas estar

familiarizado e cada nova acção de mediação deve ser fonte de aprendizagem neste

particular”.

Este aspecto leva-nos a uma dimensão do trabalho de Carlos Gimenez aqui

realçada – a da formação dos mediadores. A função do mediador é demasiado

complexa e arriscada, requer uma actualização permanente do seu modo de agir e de

pensar sobre os outros e sobre si próprio, o que exige não só uma sólida formação

inicial, como um formação permanente e enraizada nos próprios contextos e práticas

de formação. Nesse sentido, como vimos, a formação de equipas de reflexão e

acompanhamento, de equipas de co-mediação são factores não só de desenvolvimento

profissional dos mediadores, como de aumento do potencial de intervenção no terreno.

Penso ter sido muito importante para o aprofundamento, neste Colóquio, da

problemática da mediação, a conferência que acabamos de ouvir. Trouxe-nos uma

experiência sólida de mediação social, que sendo alargada a muitos campos tem uma

forte componente educativa, se entendermos educação como a acção humana que se

orienta para a transformação e a realização do homem e das sociedades. Porém, as

experiências de mediação intercultural do SEMSI são também nalguns casos

conduzidas em campos mais formais de educação, nomeadamente em contextos

escolares com “multiculturalidade significativa”. Arrisco dizer que neste campo a

experiência do SEMSI será muito diversa das experiências de mediação em contexto

escolar em Portugal. No SEMSI os mediadores trabalham em equipas alargadas, sob

uma coordenação e acompanhamento sistemático, podendo desenvolver a sua acção

em múltiplas áreas sociais e não exclusivamente na escolar, enquanto que em Portugal

os mediadores são “colocados” numa escola e trabalham muitas vezes de forma algo

isolada.

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Isabel Freire Comentário Conferência

Neste sentido, gostaria de o questionar, professor Carlos Gimenez, sobre a

opinião que tem acerca da integração de um “profissional” de mediação no ãmbito

escolar.

Quais lhe parecem ser as vantagens e as desvantagens dessa integração?

Como vê o exercício da mediação pelos professores e pelos alunos? Enfim,

como vê a integração da mediação nas escolas?

Gostaria ainda que nos falasse um pouco sobre a mediação como ferramenta de

prevenção, uma vez que geralmente a associamos ao conflito.