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FEAD – FACULDADE DE ESTUDOS DE ADMINISTRAÇÃOMESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
Jurema Suely de Araújo Nery Ribeiro
LOGÍSTICA REVERSA NAS OPERAÇÕES DE REMANUFATURA: estudo de caso da atividade de
planejamento e controle da produção
Belo Horizonte 2008
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Belo Horizonte FEAD 2008
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
Profissional em Administração da FEAD, como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre em
Administração.
Área de Concentração: Gestão Estratégica das
Organizações.
Orientadora: Profª. Dra. Silvana Prata Camargos
Jurema Suely de Araújo Nery Ribeiro
LOGÍSTICA REVERSA NAS OPERAÇÕES DE REMANUFATURA: estudo de caso da atividade de
planejamento e controle da produção
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A Deus, porque a cada momento da minha vida me ilumina e
me dá forças para continuar sempre.
Aos meus amados pais, Henrique Nery e Dilva, pelo exemplo,
dedicação e educação recebida.
Ao meu marido e grande amor, Alfredo, pela confiança,
dedicação e apoio incondicional em todos os momentos.
Aos meus queridos filhos Matheus e Bruna, por compreender
os momentos de ausência e pelo amor e carinho.
3
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelas maravilhas que sempre me concedeu.
Aos meus pais, Henrique Nery e Dilva, meu marido Alfredo e meus filhos Matheus e
Bruna que são a razão do meu viver e que comigo percorreram toda esta jornada
mostrando que tudo vale a pena. Não cabe agradecer, e sim, dividir esta conquista.
Notadamente, à minha orientadora, professora Silvana Prata Camargos, pelo apoio
incondicional até o final e por me ajudar a encontrar as respostas e a crescer em
cada etapa da realização deste trabalho.
Ao professor Jersone Tasso Moreira Silva, pelo valioso suporte ao trabalho, mas,
principalmente, por sua amizade.
À professora Georgina Alves Vieira da Silva, pelas sugestões sempre admiráveis.
A todos os professores, pelos ensinamentos e dedicação.
À Faculdade Pitágoras, pela fonte de inspiração acadêmica e pelo apoio financeiro
na realização deste curso.
À Jabil Circuit do Brasil, pelo apoio financeiro na realização deste curso.
Aos colegas Daniella Francisca, Leonardo Andrade, Joe Sangalli, Cristiano Pinho,
pela amizade e inúmeros trabalhos compartilhados.
Aos amigos José Pedro, Mônica, Jacqueline, Hercylio, Eberton e Rômulo, que
sempre acreditaram e me apoiaram ao longo desta jornada.
Em especial, aos amigos Carlo Costa, Alexandre Machado e Renata Pellucce, que
sempre estiveram presentes quando necessitei, pela amizade e incentivo.
Aos anônimos respondentes, cuja contribuição proporcionou a conclusão deste
trabalho.
A todos, que, de alguma forma, contribuíram para esta realização.
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"Não se move nem a folha seca de uma árvore, que não seja pela vontade de Deus."
Antigo Testamento
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RESUMO
Abordou-se nesta pesquisa a aplicação da logística reversa no processo de remanufatura em uma empresa multinacional do setor eletroeletrônico. A partir do estudo de caso e da pesquisa bibliográfica, construiu-se uma avaliação crítica sobre os aspectos técnicos e operacionais que precisam ser equacionados para realização da atividade de planejamento e controle da produção em uma divisão de remanufatura. Foi adotado como método de pesquisa o estudo de caso. As informações e pontos críticos que foram levantados através de entrevistas e análise documental indicaram que a atividade de remanufatura, ao introduzir a utilização de peças usadas no processo de fabricação, acrescentou um grau de complexidade em relação à atividade de manufatura convencional, em razão, principalmente, da incerteza da uniformidade dos índices de aproveitamento de partes e peças. Essa imprecisão afetou todo o processo do Planejamento e Controle da Produção, incorrendo em grande número de variáveis que precisavam ser gerenciadas. Nesse contexto, foram apresentados, além das medidas estratégicas adotadas pela empresa estudada, outros importantes aspectos para que a atividade de Planejamento e Controle da Produção reduzisse as interferências de variáveis e fosse equacionada como: revisão dos parâmetros das políticas de fator de uso e fator de segurança adotados; implantação de tecnologias de informação específicas para realização da atividade de remanufatura e sistematização de um procedimento para melhoria dos processos de previsão de demanda. Adicionalmente, foram relacionadas também algumas recomendações para otimização dos processos de logística reversa, bem como de remanufatura. Palavras-chave: logística reversa, planejamento e controle da produção, remanufatura, setor eletroeletrônico.
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ABSTRACT
This research dealt with the application of reverse logistics in the process of remanufacturing in a multinational company of eletroelectronic sector. It has built up, from case study and the literature research, a critical evaluation on the technical and operational aspects that need to be solved to carry out the activity of planning and control of production in a division of remanufacturing. The case study was adopted as a method of research. The information and critical points that have been obtained through interviews and documentary analysis indicated that the remanufacturing activity, by introducing the use of used parts in the process of manufacturing, added a degree of complexity in relation to the activity of conventional manufacturing because of the uncertainty of uniformity of the rates of reused parts and pieces that affected the whole process of planning and control of production in incurring a large number of variables that needed to be managed. In this context, were presented, in addition to the strategies adopted by the company studied, other important aspects with the purpose that the planning activity and control of production reduce the interference of variables and be managed such as review of parameters on the policies regarding factor of use and factor of safety adopted; deployment of technologies of specific information for achieving the activity of remanufacturing and systematization of a procedure with the purpose to improve the processes of forecasting of demand. Additionally, some recommendations also were related for optimizing the processes of both reverse logistics and remanufacturing. Keywords: reverse logistics, planning and control of production, remanufacturing, eletroelectronic sector.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Atividades típicas do processo logístico reverso............................... 24
Figura 2 Relação entre condições essenciais e os fatores necessários e
modificadores do processo de logística reversa ............................... 25
Figura 3 Canais de distribuição diretos e reversos ......................................... 27
Figura 4 Categoria de retorno de pós-venda .................................................. 28
Figura 5 Fontes de consumo e destino ........................................................... 31
Figura 6 Representação esquemática dos processos logísticos direto e
reverso .............................................................................................. 32
Figura 7 Modelo conceitual do MRP/MRP II ................................................... 43
Figura 8 Integração entre fluxo direto e reverso.............................................. 46
Figura 9 Interligação das empresas participantes do processo de logística
reversa e respectivas responsabilidades, neste estudo de caso ...... 59
Figura 10 Fluxograma do processo de remanufatura de cartucho da
empresa estudada ............................................................................ 64
Figura 11 Esquema sintético do processo do PCP........................................... 68
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Fatores condicionantes e modificadores dos canais reversos.......... 26
Quadro 2 Classificação dos retornos dos produtos .......................................... 28
Quadro 3 Motivos principais de retorno ............................................................ 29
Quadro 4 Classificação dos produtos de pós-consumo em função do estado
de vida e origem ............................................................................... 30
Quadro 5 Motivos estratégicos para adoção da logística reversa .................... 34
Quadro 6 Fatores críticos para a eficiência da logística reversa ...................... 35
Quadro 7 Principais áreas do PRM .................................................................. 38
Quadro 8 Resumo de opções de recuperação de produtos ............................. 39
Quadro 9 Técnicas e modelos de gestão de estoque....................................... 45
Quadro 10 Identificação dos entrevistados......................................................... 50
Quadro 11 Relacionamentos entre teoria e questões da entrevista ................... 52
Quadro 12 Agrupamento de perguntas por tema ............................................... 58
Quadro 13 Etapas da remanufatura de cartucho na empresa Alfa..................... 64
Quadro 14 Informações adotadas por Alfa, necessárias ao processamento
do MRP............................................................................................. 70
Quadro 15 Estratégias para facilitar a operacionalização do PCP ..................... 72
Quadro 16 Aspectos que interferem no desempenho da atividade de
remanufatura de cartucho................................................................. 76
Quadro 17 Processos e variáveis controlados pelo PCP no caso estudado ...... 77
Quadro 18 Sistematização de procedimento da atividade de previsão de
demanda para a empresa estudada ................................................. 78
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ABRECI Associação Brasileira de Recondicionadores de Cartuchos para
Impressoras
CLM Council of Logistics Management
CSI Cadeia de Suprimentos Integral
EPR Extend Product Responsibility
ERP Enterprise Resource Planning
JIT Just-in-Time
MRP Materials Requirement Planning
MRP II Manufacturing Resources Planning
ONGs Organizações não-governamentais
OPT Optimized Production Technology
PCP Planejamento e Controle da Produção
PPCP Planejamento, Programação e Controle da Produção
PRM Product Recovery Management
SOX Lei Sarbanes-Oxley
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................12
1.1 Objetivos ............................................................................................................14
1.1.1 Objetivo geral ...................................................................................................14
1.1.2 Objetivos específicos .......................................................................................14
1.2 Justificativa........................................................................................................14
2 MARCO TEÓRICO ................................................................................................17
2.1 A atividade de logística reversa .......................................................................17
2.1.1 Contextualização da logística reversa ..............................................................21
2.1.2 Canais de distribuição reversos .......................................................................23
2.1.2.1 Canais de distribuição reversos pós-venda...................................................27
2.1.2.2 Canais de distribuição reversos pós-consumo ..............................................29
2.1.3 O ciclo de vida dos produtos e a logística reversa ...........................................31
2.1.4 Motivos estratégicos para adoção da logística reversa ....................................33
2.1.5 Fatores críticos para a eficiência do processo de logística reversa .................35
2.2 A atividade de remanufatura ............................................................................36
2.2.1 Contextualização da remanufatura...................................................................37
2.2.2 Caracterização do processo de remanufatura..................................................39
2.3 A atividade de planejamento e controle da produção....................................41
2.3.1 Contextualização das atividades do planejamento e controle da produção .....42
2.3.2 Caracterização dos sistemas de planejamento e controle da produção ..........43
2.3.3 A gestão dos estoques e o planejamento e controle da produção ...................44
2.3.4 Planejamento da produção com reutilização de produtos ou materiais ...........46
3 METODOLOGIA ....................................................................................................48
3.1 Abordagens quanto forma, fins e meios .........................................................48
3.2 Unidade de análise, população e amostra ......................................................50
3.3 Técnicas de coleta e análise de dados............................................................50
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4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS.......................................................56
4.1 Apresentação da empresa estudada ...............................................................56
4.2 Estruturação e análise das informações coletadas .......................................57
4.2.1 Logística reversa dos cartuchos .......................................................................58
4.2.2 Remanufatura de cartuchos .............................................................................61
4.2.3 Planejamento e controle da produção da atividade de remanufatura ..............67
5 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................74
REFERÊNCIAS.........................................................................................................80
APÊNDICE A - ROTEIRO DA ENTREVISTA ...........................................................85
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1 INTRODUÇÃO
O homem tem se apropriado, ao longo de sua história, dos recursos naturais como
fonte de matéria-prima ou energia, sem medir as conseqüências dessa interferência.
O mesmo ocorre com os rejeitos produzidos pelas atividades humanas e seu
impacto sobre o meio ambiente, ocasionando situações irreversíveis de
contaminação e degradação, tanto no meio urbano quanto no rural. A globalização,
por sua vez, quebrou barreiras alfandegárias e de acesso à informação, tornando
cada vez mais necessária a adaptação de antigos e a criação de novos conceitos e
técnicas gerenciais. Todos esses fatores, somados ao avanço de conceitos e
legislações ambientais, induzem as empresas a rever seus processos produtivos e
de negócios.
Uma das soluções encontradas para suportar essas mudanças foi a utilização da
logística empresarial, que, para Ballou (1993), tem a missão de disponibilizar o
produto ou o serviço certo, no lugar correto, no tempo adequado e nas condições
desejadas pelos clientes, contribuindo, dessa forma, para a melhoria do nível de
serviço da empresa e aumentando sua lucratividade. A logística trata do
planejamento e da administração do fluxo de bens, serviços e informações na cadeia
de suprimentos de uma empresa e, atualmente, é vista como fator essencial para o
alcance da competitividade.
A logística empresarial, conforme Ballou (1993), pode ser dividida em logística de
suprimentos, logística de distribuição e, por fim, a logística reversa – escopo do
presente trabalho –, cuja demanda tem aumentado consideravelmente no ambiente
empresarial.
Essa necessidade se dá em decorrência do alto volume da disponibilização de
novas tecnologias, a oferta crescente de novos produtos, mudanças de padrões de
comportamento dos consumidores e maior exigência de diferenciação dos produtos
e serviços, fatores estes que induzem a um crescimento inevitável da
descartabilidade no pós-consumo e do retorno no pós-venda.
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A logística reversa, mesmo representando um pequeno percentual do montante
movimentado na logística direta, tem sua devida importância e pode agregar valores
econômicos, legais, ecológicos, de imagem corporativa, entre outros, para a
empresa que a adota. Atua utilizando a política de disposição dos materiais e
produtos no seu pós-uso ou pós-venda, para que estes não sejam descartados de
forma indesejável e desordenada na natureza. A logística reversa busca, sempre
com a visão da cadeia, a redução de resíduos na fonte, a reciclagem, a substituição,
a reutilização de materiais, a reforma e a remanufatura, desde o ponto de consumo
até o ponto de origem (LACERDA, 2002).
Assim, pode-se observar que a logística reversa possibilita que a atividade de
remanufatura de produtos ocorra e atue como opção para as organizações no
mundo competitivo. Williams e Shu (2000) enfatiza que a remanufatura oferece
significativos benefícios ambientais, na medida em que reutiliza a energia e os
esforços despendidos no processo de manufatura original, e evita que resíduos
sólidos sejam enterrados ou incinerados. O nível atual de consumo dos recursos
naturais justifica a utilização crescente da remanufatura de produtos. Porém, a
atividade remanufatura, ao introduzir a utilização de peças usadas no processo de
fabricação, acrescenta um grau de complexidade em relação ao setor de manufatura
convencional.
Nesse contexto, este trabalho tem como questão de pesquisa: "Quais aspectos
operacionais e técnicos devem ser equacionados para a execução da atividade de
planejamento e controle da produção em uma divisão de remanufatura?"
Na busca de respostas, realizou-se um levantamento teórico a respeito do tema e,
adicionalmente, um estudo de caso sobre as práticas da reversibilidade logística e
as atividades de planejamento e controle da produção para atividade de
remanufatura com uma empresa do setor eletroeletrônico no Estado de Minas
Gerais.
A escolha dessa empresa deveu-se ao fato de se tratar de uma organização que já
adotava a logística reversa na unidade brasileira e começou a atuar desde junho de
2007 na atividade de remanufatura, entendendo essa prática como importante
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ferramenta estratégica de construção de diferencial competitivo.
1.1 Objetivos 1.1.1 Objetivo geral
Este trabalho propõe-se a investigar os aspectos operacionais e técnicos
necessários para a execução da atividade de planejamento e controle da produção
na divisão de remanufatura em uma empresa do setor eletroeletrônico.
1.1.2 Objetivos específicos
Para se alcançar o objetivo geral, fez-se necessário atingir os seguintes objetivos
específicos:
mapear os processos de: planejamento, programação e controle da produção;
remanufatura e logística reversa;
estabelecer, dentro do fluxo logístico, o ciclo reverso do material a ser
remanufaturado;
identificar os aspectos operacionais e técnicos necessários para estruturação,
planejamento e controle da produção da atividade de remanufatura.
1.2 Justificativa O aumento da descartabilidade e a obsolescência crescente dos produtos
observados nestas duas últimas décadas têm-se refletido em mudanças das
estratégias dentro das próprias organizações e, principalmente, em toda a cadeia
operacional.
Essas alterações podem ser observadas através da redução do prazo do
desenvolvimento do produto e sua distribuição no mercado, bem como seu retorno
ao meio de origem pela adoção de sistemas inovadores que possibilitam maior
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velocidade do fluxo logístico tradicional e reverso.
A logística reversa, afirma Leite (2003), valendo-se de sistemas operacionais
diferentes em cada categoria de fluxos reversos, procura tornar possível o retorno
dos bens ou de seus materiais constituintes ao ciclo produtivo e/ou de negócios.
Essa estratégia agrega valor econômico, ecológico e legal por meio da reutilização,
reciclagem, reuso, remanufatura e, em última instância, a disposição final.
A logística reversa entra nas empresas fazendo parte das operações de
gerenciamento que compõem o fluxo reverso conhecido por administração da
recuperação de produtos. Nessa atividade de recuperação de produtos está inserido
o processo de manufatura inversa ou remanufatura, entre outros.
Percebe-se que a atividade de remanufatura, ao introduzir a utilização de peças
usadas no processo de fabricação, acrescenta um grau de complexidade em relação
à atividade de manufatura convencional. Assim, buscou-se, neste trabalho,
investigar os aspectos operacionais e técnicos necessários para a execução da
atividade de planejamento e controle da produção na divisão de remanufatura em
uma empresa do setor eletroeletrônico. Para tal, realizou-se um levantamento teórico
a respeito do tema e, adicionalmente, um estudo de caso sobre as práticas da
reversibilidade logística e as atividades de planejamento e controle da produção
para atividade de remanufatura em uma empresa do setor eletroeletrônico no Estado
de Minas Gerais.
Quanto à contribuição para a organização, este trabalho justifica-se pela premente
necessidade dessa empresa em equacionar a atividade de planejamento e controle
da produção do processo de remanufatura ante os desafios de uma competição
cada vez mais globalizada – seja quanto à redução de custos, seja em relação à
proteção do meio ambiente.
Em relação à contribuição para a academia, permitiu-se o reconhecimento da
importância da atividade de planejamento, programação e controle da produção.
Além disso, deduziu-se que cuidados especiais para a realização do processo de
remanufatura suportada pela logística reversa constituem-se importante ferramenta
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de aumento de competitividade e de consolidação de imagem corporativa, quando
inseridos na estratégia empresarial.
A contribuição deste estudo para a pesquisadora passa pela ampliação da
oportunidade de interpretar os dados obtidos à luz da teoria: o equacionamento das
atividades de planejamento, programação e controle da produção e de remanufatura
na busca da maior eficiência na utilização dos recursos organizacionais existentes; e
a verificação da relação sinérgica entre a atividade de remanufatura e logística
reversa, em que se destaca a possibilidade de desenvolvimento econômico
sustentável com a redução do impacto sobre o meio ambiente.
Procurou-se, por intermédio deste estudo, apresentar contribuições significativas
para o mercado ao se investigarem os ajustes necessários às atividades de
planejamento e controle da produção para realização do processo de remanufatura
e logística reversa como uma combinação de eficiência econômica com respeito ao
meio ambiente. Para tal, enfatizou-se o uso de ferramentas necessárias para
produzir maior eficiência na utilização dos recursos organizacionais existentes. Não
se projetou esgotar todas as possibilidades de análise, porém, propiciou-se inspirar
novas perspectivas, uma vez que a logística reversa, de certo modo, pode ser
considerada uma resposta a essa exaustão da sociedade, preocupada com os
recursos de que ainda dispõe, conforme Silva (2002) em interpretação da posição de
Beck (1997):
O conceito de sociedade de risco designa um estágio de modernidade em que começam a tomar corpo as ameaças produzidas pela sociedade industrial, levando à necessidade de autolimitação do desenvolvimento e à redeterminação dos padrões de responsabilidade, segurança e controle. As sociedades modernas são confrontadas com as bases e os limites do seu próprio modelo, o que provoca transformações em três áreas de referência: os recursos da natureza e da cultura; o relacionamento da sociedade com as ameaças e os problemas produzidos por ela; as fontes de significado coletivas e específicas de grupo. A sociedade enfrenta nas três esferas o sofrimento provocado pela exaustão, desintegração e desencantamento. (SILVA, 2002, p.166).
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2 MARCO TEÓRICO 2.1 A atividade de logística reversa A abertura de mercados ao comércio internacional, a migração de capitais, a
uniformização e a expansão tecnológica, o avanço do comércio eletrônico e a
expansão dos meios de comunicação conduzem a uma constante mudança nos
hábitos, conceitos e procedimentos das instituições.
Nesse universo de crescentes exigências em termos de produtividade e de
qualidade do serviço oferecido aos clientes, as organizações passaram a se
preocupar mais com a qualidade do fluxo de bens dentro do processo produtivo,
com o objetivo de atender bem ao cliente e, conseqüentemente, fidelizá-lo.
Para que isso ocorresse, houve a necessidade de que as empresas mudassem suas
estratégias, acelerando o desenvolvimento e a aplicação de novas técnicas de
logística que criassem condições para a sua sobrevivência e, principalmente, para
seu avanço nas posições de mercado.
Essas técnicas vão ao encontro da necessidade de gerenciar, de forma integrada,
todas as atividades envolvidas no fluxo produtivo. Desde a obtenção de matérias-
primas até a distribuição de produtos acabados, passando pela fabricação e
armazenagem como forma de se alcançar uma vantagem competitiva.
A logística e o gerenciamento da cadeia de suprimentos (Supply Chain
Management) hoje representam um grande desafio e uma grande oportunidade para
muitas empresas (CHOPRA e MEINDL, 2003). Nos últimos anos, a logística vem
apresentando uma evolução constante, sendo hoje um dos elementos-chave na
estratégia competitiva das empresas. No início, era confundida com o transporte e a
armazenagem de produtos. Hoje, é o ponto nevrálgico da cadeia produtiva
integrada, atuando em estreita consonância com o moderno Gerenciamento da
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Cadeia de Suprimentos (NOVAES, 2001).
Porém, atualmente, somente a logística direta não basta para conquistar e fidelizar o
mercado consumidor. Verifica-se uma mudança na visão de consumo nas
sociedades modernas, que tem se preocupado cada vez mais com as questões que
tratam do gerenciamento de sobras de produto, de produtos defeituosos, do destino
do produto após o término do seu ciclo de vida ou utilização, bem como das
embalagens utilizadas para o seu transporte ou armazenagem, enfim, aspectos
relacionados ao equilíbrio ambiental.
O conjunto de atividades daí decorrentes denomina-se logística reversa, que surge
para atender a essa nova demanda da sociedade. Ela inicia seu processo ao
término da atividade logística direta, fechando o ciclo logístico total.
De fato, a logística reversa está se tornando parte relevante do Gerenciamento da
Cadeia de Suprimentos; muitas empresas que, até há pouco tempo, não lhe davam
a devida importância, estão revendo essa postura (GIUNTINI e ANDEL, 1995). Há
que se destacar, concomitantemente a essa necessidade competitiva da logística
reversa, a contribuição dessa estratégia para a sustentabilidade social das
empresas, cuja reputação implica em aumento ou diminuição de sua competitividade
– uma vez que mercados mais maduros exigem observância da preservação
ambiental, sem a qual a empresa perde negócios e pontuação nas Bolsas de
Valores. Assim, tal logística tem um componente técnico (modo de operação), um
componente social (sustentabilidade) e um componente ambiental (preservação dos
recursos naturais).
Importa, nesse momento, identificar de modo sintético a evolução de definições da
logística reversa.
Segundo o Council of Logistics Management (CLM):
Logística reversa engloba práticas de gerenciamento de logística e atividades envolvidas na redução, gerência e disposição de resíduos. Inclui distribuição reversa, que é o processo pelo qual uma companhia coleta seus produtos usados, danificados, vencidos ou as embalagens de seus consumidores finais (apud KOPICKI, BERG e LEGG, 1993, p. 2).
19
Pode-se analisar a logística reversa sob dois pontos de vista: da perspectiva da
logística como negócio, que se refere ao papel da logística quanto ao retorno de
produtos, a redução de uso de matéria-prima virgem, o uso da reciclagem, a
substituição de materiais, o reuso de materiais, a disposição de resíduos, o
recondicionamento, o reparo e o remanufaturamento de produtos; e da perspectiva
da logística como engenharia, que se pauta pelo gerenciamento dos processos
acima e é como um modelo sistemático de negócios que aplica as melhores
metodologias de engenharia e administração conhecidas para fechar, com
lucratividade, o ciclo em uma cadeia de suprimentos (STOCK, 1998).
Os autores Rogers e Tibben-Lembke definem o termo logística reversa como sendo:
O processo de planejamento, implementação e controle da eficiência, do custo efetivo do fluxo de matérias-primas, estoques de processo, produtos acabados e as respectivas informações, desde o ponto de consumo até o ponto de origem, com o propósito de recapturar valor ou destinar à própria disposição. (ROGERS E TIBBEN-LEMBKE, 1998, p.2).
Para Dornier, Ernest, Fender e Kouvelis (2000), a logística reversa implica um
processo de integração funcional, melhorando a gestão dos fluxos de materiais e
informações. As responsabilidades da gestão das operações e logística atuam na
coordenação dos fluxos físicos relacionados à produção, distribuição ou serviços
pós-vendas e se expandem englobando funções adicionais, como pesquisa,
desenvolvimento e marketing no projeto e gestão dos fluxos.
Bowersox e Closs (2001) apresentam, por sua vez, a idéia de "apoio ao ciclo de
vida" como um dos objetivos operacionais da logística moderna, referindo-se ao
prolongamento da logística além do fluxo direto dos materiais e a necessidade de
considerar os fluxos reversos de produtos em geral.
Em uma nova alusão ao tema, Leite define a logística reversa como:
A área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando valores de diversas naturezas econômico, ecológico, legal, logístico de imagem corporativa, entre outros. (LEITE, 2003, p.16).
20
Assim, a logística reversa trata mais do que dos canais reversos de distribuição
utilizados no retorno dos produtos do consumidor ao fabricante, seja para reparo,
substituição ou remanufatura. A logística reversa se ocupa também do planejamento
e das atividades ligadas à redução, gerenciamento e disposição de resíduos.
Kopicki, Berg e Legg (1993) citam que a obtenção de materiais reciclados ou
produtos que tenham partes recicladas pode ser um enorme desafio para a maioria
das indústrias. Quando os produtos alcançam o final de suas vidas, são devolvidos
pelos usuários finais para o canal reverso. Esses produtos podem ser reformados
para reutilização, utilizados no processo de remanufatura ou, então, seus
componentes e materiais podem ser utilizados em projetos de produtos que aceitem
materiais reciclados tão bem quanto materiais novos (KULWIEC, 2002). A logística
reversa passa a ser o elo que fecha o ciclo da cadeia de suprimentos, participando
da integração das áreas da organização envolvidas com o produto, tais como
pesquisa e desenvolvimento de produtos e embalagens, marketing, compras,
produção etc.
A partir da adoção das normas ISO 14000, que tratam da implantação de sistemas
de gestão ambiental, o endurecimento das leis de proteção ao meio ambiente e a
tomada de consciência por parte das empresas quanto à sua responsabilidade
social e do desenvolvimento sustentado, torna-se imperativo que sejam tomadas
ações objetivas de proteção ao meio ambiente. Para isso, práticas como redução na
fonte, reutilização de materiais, reciclagem e disposição de resíduos têm seu
sucesso baseado na implementação de programas de logística reversa estruturados
adequadamente para cada família de produtos. Lambert, Stock e Vantine (1999)
ressaltam que:
A logística reversa considera que tópicos como redução/conservação da fonte, reciclagem, substituição e descarte são questões importantes que fazem a interface com as atividades logísticas de compras e suprimentos, tráfego e transporte, armazenagem e estocagem e embalagem. (LAMBERT; STOCK e VANTINE, 1999, p. 750).
Nos últimos anos, a legislação ambiental tem encorajado várias empresas a decidir
pela implementação de políticas de logística reversa para seus produtos e
embalagens, por causa da necessidade de diferenciação entre serviços oferecidos
(devido à crescente competição no mercado) e as políticas de continuamente cortar
21
custos (MORITZ; BEULLENS; BLOEMHOF-RUWAARD e VAN WASSENHOVE,
2001).
Um planejamento de logística reversa envolve praticamente os mesmos elementos
de um plano logístico convencional: nível de serviço, armazenagem, transporte, nível
de estoques, fluxo de materiais e sistema de informações (KRIKKE, 1998). Já as
diferenças entre os sistemas de logística com fluxo normal e a logística reversa são
quatro, de acordo com Krikke (1998):
1. Na logística reversa existe uma combinação entre puxar e empurrar os produtos
pela cadeia de suprimentos;
2. Os fluxos tradicionais de logística são basicamente divergentes, enquanto que os
fluxos reversos podem ser fortemente convergentes e divergentes ao mesmo
tempo;
3. Os fluxos de retorno seguem um diagrama de processamento predefinido, no
qual produtos descartados são transformados em produtos secundários,
componentes e materiais. No fluxo normal, essa transformação acontece em uma
unidade de produção, que serve como fornecedora da rede;
4. Na logística reversa, os processos de transformação tendem a ser incorporados
na rede de distribuição, cobrindo todo o processo de produção, da oferta
(descarte) à demanda (reutilização).
Ao se definir pelos materiais a serem utilizados, ainda na fase inicial de P&D, a
possível reciclagem deve ser considerada. O estabelecimento de postos de coleta
permite aos produtos retornarem ao ponto de origem ou aos locais de descarte
apropriados. O sistema de logística reversa pode ser ou não o mesmo utilizado na
logística normal. Para Krikke (1998), o normal é que dois sistemas distintos sejam
planejados, em razão das divergências inerentes aos dois processos e comentadas
acima.
2.1.1 Contextualização da logística reversa
A logística reversa pode ser uma ferramenta relevante para implantar programas de
produção e consumo sustentáveis. Tem como objetivo eliminar a poluição e o
22
desperdício associados a materiais de embalagens, assim como proporcionar um
maior incentivo à substituição de materiais que poluem o meio ambiente, à
reutilização e à reciclagem de produtos. Por exemplo, se o setor responsável
desenvolver critérios de avaliação, ficará mais fácil recuperar peças, componentes,
materiais e embalagens reutilizáveis e reciclá-los. Esse conceito é denominado
logística reversa para a sustentabilidade, esclarece Barbieri e Dias (2002).
A logística reversa não precisa necessariamente ser realizada pela empresa que
produz, e sim, recolhida através de empresas que reprocessam o material
descartável. Em muitos casos, fabricantes se associam para prepararem sua própria
rede para coleta e reprocessamento. Fabricantes, armazéns e varejistas descartam
grande quantidade de materiais.
Os recicladores apreciam tais fontes concentradas e relativamente limpas
(comparadas à classificação e limpeza de resíduos de alimentos). Como resultado, o
material descartado no processo logístico possui um grande potencial de reutilização
e/ou reciclagem. Da mesma forma, a compra de produtos feitos de materiais
reciclados encoraja o crescimento deste mercado e viabiliza toda a infra-estrutura
necessária.
A tendência da reciclagem e da reutilização de material descartável traz, em médio
prazo, grandes benefícios ambientais, bem como, redução do custo da matéria-
prima utilizada, podendo até propiciar preços mais acessíveis ao consumidor final.
No Brasil, ainda não se tem a logística reversa consolidada como um canal logístico
próprio, delimitado nas funções e características. Isso se deve à pouca afinidade das
empresas nacionais em lidar com as oportunidades que surgem a cada dia em
função da competitividade dos mercados.
A aplicação da logística reversa em situações onde as mercadorias estão com altos
níveis de estoque, com defeitos, vencidas ou fora de linha representa uma grande
oportunidade de negócio (VIEIRA, 2002). Mesmo que a oportunidade se apresente,
o empresário raciocina em termos de uma situação onde será executado um projeto
de organização de perdas, pois serão alocados recursos para gerenciar uma
23
realidade plena de restrições ao sucesso de seu negócio principal. Na visão dos
departamentos envolvidos nas atividades da logística de retorno, eles acabam sendo
obrigados a deixar de fazer a atividade principal para cuidar de problemas relativos
aos retornos de artigos de clientes (VIEIRA, 2002), o que demonstra a inexistência
de delimitação clara das funções necessárias à execução da atividade de logística
reversa.
Menezes (1996) defende que o equacionamento do binômio desenvolvimento
urbano/meio ambiente resulta do estabelecimento de uma estrutura jurídico-
institucional, capaz de compatibilizar os interesses conflitantes entre os agentes
econômicos, sociais, culturais e políticos que atuam na cidade. Da mesma forma, um
alinhamento entre os processos de gestão empresarial e mercadológica com os de
gestão ambiental.
Assim, a logística reversa exerce um protagonismo social que vai além das
operações industriais e comerciais.
2.1.2 Canais de distribuição reversos
O processo de logística reversa gera materiais reaproveitados que retornam ao
processo tradicional de suprimento, produção e distribuição. Esse processo é
geralmente composto por um conjunto de atividades, esclarecem Rogers e Tibben-
Lembke (1998), que uma empresa realiza para coletar, separar, embalar e expedir
itens usados, danificados ou obsoletos dos pontos de consumo até os locais de
reprocessamento, revenda ou de descarte. Existem variantes com relação ao tipo de
reprocessamento que os materiais podem ter, dependendo das condições em que estes
entram no sistema de logística reversa, conforme se verifica na FIG. 1:
Retornar ao fornecedor: quando existirem acordos nesse sentido;
Revender: se ainda estiverem em condições adequadas de comercialização;
Recondicionar: desde que haja justificativa econômica;
Reciclar: se não houver possibilidade de recuperação;
Descarte: quando não existe possibilidade de reaproveitamento.
24
<
Segundo Rogers e Tibben-Lembke (1998), todas essas alternativas, exceto as de
descarte, geram materiais reaproveitados, que novamente entram no sistema
logístico direto. Alguns dos processos de descarte final, como, por exemplo,
incineração de madeira, exigem o serviço de empresa credenciada. Isso, além de
demandar tempo na contratação de tal empresa, gera custo adicional no processo.
Dessa forma, o gerenciamento desse processo deve, necessariamente, ter um
projeto que liga o design do produto à estratégia da empresa, para a correta
inserção no mercado almejado. Esse fato favorecerá a definição e execução da
logística reversa de forma inteligente e lucrativa.
Demonstra-se, na FIG. 2, a relação entre as condições essenciais e os fatores
necessários e modificadores atuantes no processo de logística reversa.
FIGURA 1 - Atividades típicas do processo logístico reverso Fonte: Adaptado de LACERDA, 2002, p.478.
25
Leite (1999c) esclarece que as condições essenciais e os fatores necessários
garantem interesses empresariais satisfatórios para a organização da cadeia
reversa. Os fatores modificadores são aqueles que alteram as condições de
mercado, nas diversas etapas reversas, favorecendo o estabelecimento de novas
condições de equilíbrio, havendo dois pontos modificadores básicos da logística
reversa: o primeiro, de origem ecológica, com manifestações dos mais diversos
setores da sociedade (ONGs, associações, cidadãos, consumidores); e o segundo,
de origem governamental, que se apresenta nas mais diferentes formas (normas,
legislação, incentivos fiscais ou outros benefícios). Esses fatores influenciam
algumas condições do fluxo dos materiais, alterando a forma como os produtos
retornam ao mercado.
Portanto, para a realização de projetos de Cadeia de Distribuição Reversa (Reverse
Supply Chain), Leite (1999b) destaca no QUADRO 1 os principais fatores que
condicionam a necessidade de tornar possível esse fluxo, assim como aqueles que
podem modificar a estrutura e a organização desses canais reversos.
CONDIÇÕES ESSENCIAIS
•RENTABILIDADE EM TODAS AS FASES REVERSAS
• ECONOMIA DE ESCALA
• MERCADO DE DESTINO AOS PRODUTOS RETORNADOS
Pós-consumo
REINTEGRAÇÃO
AO CICLO
PODUTIVO
Novo produto FATORES NECESSÁRIOS ECONÔMICOS TECNOLÓGICOS LOGÍSTICOS
FATORES MODIFICADORES ECOLÓGICOS LEGISLATIVOS
FIGURA 2 - Relação entre condições essenciais e os fatores necessários e modificadores do processo de logística reversa Fonte: Adaptado de LEITE, 1999c.
26
QUADRO 1
Fatores condicionantes e modificadores dos canais reversos
Fatores Descrição
Custos Ainda não bem definidos e de difícil avaliação;
Oferta Oferta de materiais reciclados, permitindo a continuidade industrial necessária;
Qualidade Adequada ao processo industrial e constante para garantir rendimentos operacionais economicamente competitivos;
Tecnologia
A tecnologia e o teor de determinada matéria-prima podem variar em função do produto de pós-consumo utilizado, redundando em custos diferentes e orientando o mercado de pós-consumo para aquele que se apresente mais conveniente;
Logística
A característica logística das matérias de pós-consumo, e em particular a transportabilidade dos mesmos, revela-se de enorme importância na estruturação e eficiência dos canais reversos;
Mercado É necessário que haja quantitativa e qualitativamente mercado para os produtos fabricados com materiais reciclados;
Ecologia Processos industriais e novos comportamentos passam a exigir novas posições estratégicas das empresas sobre o impacto de seus produtos;
Governo Legislação, subsídios que afetam o interesse nos materiais reciclados;
Responsabilidade Social
Valorização social e possibilidade de produção e consumo de produtos ecologicamente corretos.
Fonte: Adaptado de LEITE, 1999b.
Leite (1999b) ressalta, ainda, que as tarefas da logística reversa incluem processar a
mercadoria retornada por razões como dano, não-conformidade ou mesmo de um
defeito, sazonalidade, reposição, recall ou excesso de inventário; reciclar materiais
de embalagem e reusar contêineres; recondicionar, remanufaturar e reformar
produtos; dar disposição a equipamentos obsoletos; tratar materiais perigosos; e
permitir a recuperação de ativos.
Quanto aos segmentos ou situações da logística reversa, conforme a FIG. 3,
destacam-se a logística reversa de pós-venda e a logística reversa de pós-consumo.
27
2.1.2.1 Canais de distribuição reversos pós-venda
A logística reversa de pós-venda se caracteriza pelo retorno de produtos com pouco
ou nenhum uso que apresentaram problemas de responsabilidade do fabricante ou
distribuidor ou, ainda, por insatisfação do consumidor com os produtos (Rogers e
Tibben-Lembke, 1998).
Seu objetivo estratégico é o de agregar valor a um produto logístico que é devolvido
por razões comerciais ou legais (legislação ambiental), erros nos processamentos
dos pedidos, garantias dadas pelo fabricante, defeitos ou falhas de funcionamento
no produto, avarias no transporte, entre outros motivos. Esse fluxo de retorno se
estabelecerá entre os diversos elos da cadeia de distribuição direta, conforme FIG.
4, dependendo do objetivo estratégico ou motivo de seu retorno (LEITE, 2003).
FIGURA 3 - Canais de distribuição diretos e reversos Fonte: LEITE, 2003, p.5.
28
A logística reversa de pós-venda deve planejar, operar e controlar o fluxo de retorno
dos produtos de pós-venda por motivos agrupados nas classificações (CALDWELL
(1999); ROGERS e TIBBEN-LEMBKE (1999); LEITE (2003) e STOCK (1998),
conforme QUADRO 2:
QUADRO 2 Classificações dos retornos dos produtos
Classificações Descrição
Garantia/Qualidade
Aquelas nas quais os produtos apresentam defeitos de fabricação ou de funcionamento, avarias no produto ou na embalagem, etc. Estes produtos poderão ser submetidos a consertos ou reformas que os permitam retornar ao mercado primário, ou a mercados diferenciados que se denominam secundários, agregando-lhes valor comercial novamente.
Comerciais
Destaca-se a categoria de estoques, que serão retornados ao ciclo de negócios pela redistribuição em outros canais de venda.
Com relação às razões legais, incluem-se os retornos oriundos as obrigações ambientais atuais relativas à disposição final de materiais de risco ao "meio ambiente", como baterias de celulares, pneus, refratários cromo-magnesianos, pilhas diversas, etc.
Substituição de componentes
Decorre da substituição de componentes de bens duráveis e semiduráveis em manutenções e consertos ao longo de sua vida útil e que são remanufaturados, quando tecnicamente possível, e retornam ao mercado primário ou secundário, ou são enviados à reciclagem ou para um destino final, na impossibilidade de reaproveitamento.
Fonte: Adaptado de CADWELL (1999); ROGERS; TIBBEN-LEMBKE (1999); LEITE (2003) e STOCK (1998).
FIGURA 4 - Categoria de retorno de pós-venda Fonte: LEITE, 2003, p. 211.
29
Os principais exemplos de motivos que originam retorno dos bens de pós-venda,
genericamente chamados de problemas de garantia ou qualidade e a problemas
comerciais, se resumem no QUADRO 3, a seguir.
QUADRO 3 Motivos principais de retorno
Retornos comerciais Exemplos de motivos de retorno
Retornos não contratuais Erros de expedição do pedido, erros na recepção
Retornos comerciais contratuais Retorno de produtos em consignação
Retorno de ajuste de estoque de canal Excesso de estoque no canal, baixa rotação do estoque, introdução de novos produtos, moda ou sazonalidade
Retornos por garantia
Qualidade Garantia, defeituosos, danificados
Validade do produto Expiração da validade
Fim de vida Expiração da utilidade
Recall Manutenção, reconhecimento de produto do mercado Fonte: Adaptado de CADWELL (1999); ROGERS; TIBBEN-LEMBKE (1999); LEITE (2003); STOCK (1998). 2.1.2.2 Canais de distribuição reversos pós-consumo
O canal de distribuição reverso de pós-consumo se caracteriza por produtos
oriundos de descarte após uso e que podem ser reaproveitados de alguma forma e,
somente em último caso, descartados (Rogers e Tibben-Lembke, 1998).
Seu objetivo estratégico é o de agregar valor a um produto logístico constituído por
bens inservíveis ao proprietário original, ou que ainda possuam condições de
utilização por produtos descartados devido ao fato de terem atingido o fim de vida
útil e por resíduos industriais. Esses produtos de pós-consumo poderão se originar
de bens duráveis ou descartáveis por canais reversos de reuso, desmanche e
reciclagem até a destinação final. A logística reversa de pós-consumo deverá,
segundo Leite (2003), planejar, operar e controlar o fluxo de retorno dos produtos de
pós-consumo ou de seus materiais constituintes, classificados em função de seu
estado de vida e origem como mostra QUADRO 4.
30
QUADRO 4 Classificação dos produtos de pós-consumo em função do estado de vida e origem
Classificação Descrição
Condições de uso
Referem-se às atividades em que os bens durável e semidurável apresentam interesse de reutilização, sendo sua vida útil estendida adentrando no canal reverso de 'reutilização' em mercado de segunda mão, até atingir o "fim de vida útil";
Fim de vida útil
A logística reversa poderá atuar em duas áreas:
Bens duráveis: estes entrarão no canal reverso de desmontagem e reciclagem industrial; sendo desmontados na área de 'desmanche', seus componentes poderão ser aproveitados ou remanufaturados, retornando ao mercado secundário ou à própria indústria que o reutilizará, sendo uma parcela destinada ao canal reverso de reciclagem.
Bens descartáveis: havendo condições logísticas, tecnológicas e econômicas, os produtos são retornados por meio do canal reverso de "reciclagem industrial", onde os materiais constituintes são reaproveitados e se constituirão em matérias-primas secundárias, que retornam ao ciclo produtivo pelo mercado correspondente, ou no caso de não haver as condições acima mencionadas, serão enviados para o 'destino final' como aterros sanitários, lixões e incineração com recuperação energética.
Resíduos industriais
Para este segmento, a logística reversa está em uma fase de abertura ao entendimento e consolidação dos negócios. Tudo como resultante das pressões exercidas pelas leis ambientais, pelas exigências do comércio internacional e a conscientização da sociedade.
Fonte: Adaptado de LEITE, 2003.
Observando-se a logística de pós-venda e pós-consumo, nota-se, com relação aos
custos envolvidos, conforme Lambert, Stock e Vantine (1999), a prática de:
reutilização de embalagens, que geralmente agrega alguns custos adicionais
decorrentes da classificação, administração e transporte de retorno, mas que, por
outro lado, pode implicar a redução dos custos de aquisição de embalagens;
utilização da reciclagem que reduz os custos de coleta e processamento,
permitindo um avanço no mercado de produtos reciclados.
produtos refabricados, ou, de outra forma, convertidos em novos, mais uma vez o
valor irá ser menor do que os dos produzidos pela primeira vez; entretanto, seu
valor será substancialmente maior do que o dos produtos que são vendidos para
refugo ou reciclagem. Ex.: computadores cujas peças são caras vão para
desmanche e são reaproveitadas em outros computadores, voltando ao mercado
como novos.
Segundo Leite (1999c), a crescente descartabilidade dos produtos tende a tornar
mais expressiva a atuação da logística reversa, tanto no setor de pós-venda como
31
no de pós-consumo. Tecnologia, marketing, logística e outras áreas empresariais,
por meio da redução de ciclo de vida de produção, geram necessidades de aumento
de velocidade operacional, de um lado, e provocam exaustão acelerada dos meios
tradicionais de destinos dos produtos de pós-consumo, de outro lado.
2.1.3 O ciclo de vida dos produtos e a logística reversa
Leite (1999a) ressalta que a redução do ciclo de vida dos produtos se deve à
inclusão de novos materiais, à obsolescência planejada, à grande variedade de
novos lançamentos, à busca de redução de custos de distribuição, à redução de
custos de embalagens e ao elevado custo relativo dos serviços de reparos e
manutenção. Um efeito negativo da redução é o excesso de bens e materiais
descartados, contribuindo para o esgotamento mais acelerado dos meios
tradicionais de disposição final destes materiais, ou seja, os aterros sanitários
seguros e a incineração. A situação leva ao aumento das formas de disposição final
considerada insegura, por acarretarem poluição ambiental, conforme se observa no
esquema da FIG. 5 proposto por Fuller e Allen (1995).
O conceito de ciclo de vida é mais amplo que o de logística reversa e pode ser
constatado, conforme Lacerda (2002), sob diversos pontos de vista:
FIGURA 5 - Fontes de consumo e destino Fonte: Adaptado de FULLER e ALLEN, 1995.
32
Logístico: a vida de um produto não termina com sua entrega ao cliente.
Produtos que se tornam obsoletos, danificados, ou que não funcionam, devem
retornar ao seu ponto de origem para serem adequadamente descartados,
reparados ou reaproveitados.
Financeiro: além dos custos de compra de matéria-prima, de produção, de
armazenagem e estocagem, o ciclo de vida de um produto inclui também outros
custos, relacionados a todo o gerenciamento do seu fluxo reverso.
Ambiental: esta é uma forma de avaliar qual o impacto de um produto sobre o
meio ambiente, durante toda a sua vida.
Tibben-Lembke (2002) e De Brito e Dekker (2002), ao falarem sobre o ciclo de vida
do produto e a logística reversa, relatam a importância de, ainda na fase de
desenvolvimento do produto, ser levado em consideração como se dará o descarte
ou o reaproveitamento de peças e partes ao final da vida do produto.
Essa abordagem sistêmica é fundamental, explica Lacerda (2002), para planejar a
utilização dos recursos logísticos de forma a contemplar todas as etapas do ciclo de
vida dos produtos. A FIG. 6 mostra uma representação esquemática dos processos
logístico direto e reverso.
FIGURA 6 - Representação esquemática dos processos logísticos direto e reverso Fonte: LACERDA, 2002, p. 47.
33
Em termos logísticos, "quando se adiciona o sistema de logística reversa ao fluxo de
saída de mercadorias, tem-se uma Cadeia de Suprimentos Integral". (KRIKKE, 1998,
p. 1). A Cadeia de Suprimentos Integral (CSI) baseia-se no conceito de ciclo de vida
do produto. Durante seu ciclo de vida, o produto percorre a sua cadeia de
suprimentos normal. O que é acrescentado na CSI são as etapas de descarte,
recuperação e reaplicação, permitindo a reentrada do fluxo de material na cadeia de
suprimentos (KRIKKE, 1998).
2.1.4 Motivos estratégicos para adoção da logística reversa
A obsolescência e a descartabilidade crescentes dos produtos observadas nesta
última década têm-se refletido em alterações das estratégias dentro das próprias
organizações e, principalmente, em todos os elos de sua rede operacional. Essas
alterações se traduzem por aumento de "velocidade de resposta" desde a
concepção do projeto do produto até a sua colocação no mercado, pela adoção de
sistemas de alta "flexibilidade operacional" que permitam, além da velocidade do
fluxo logístico, a capacidade de adaptação constante às exigências do cliente. Há
ainda adoção de "responsabilidade ambiental" em relação aos seus produtos após o
consumo, identificado como "EPR" (Extend Product Responsibility), a chamada
"Extensão de Responsabilidade ao Produto". Explica-se, dessa forma, a crescente
implementação da logística reversa em empresas líderes do mercado em diversos
setores, constituindo-se parte integrante de suas estratégias empresariais.
A base de uma vantagem é a diferença entre uma empresa e seus concorrentes.
Nesse sentido, a estratégia é "a busca deliberada de um plano de ação para
desenvolver e ajustar a vantagem competitiva de uma empresa" (HENDERSON,
1998, p. 5). Uma empresa deve criar e sustentar uma vantagem competitiva para
que, através da elaboração e implementação de uma estratégia, ela consiga atingir
uma posição favorável na indústria.
A diferenciação dos serviços em logística é uma forma de oferecer uma vantagem
competitiva diante dos concorrentes, por proporcionar mais valor ao cliente. A
logística contribui para o sucesso das organizações não somente por propiciar a
entrega precisa de produtos, mas também por promover suporte após sua venda ou
34
consumo. Utilizada estrategicamente, a logística reversa pode fornecer
oportunidades, conforme quadro 5, que, muitas vezes, interagem entre si visando
sempre a um incremento nas vantagens estratégicas.
QUADRO 5
Motivos estratégicos para adoção da logística reversa
Motivos Descrição
Adequação às questões ambientais
A logística reversa pode minimizar o impacto ambiental, não só dos resíduos oriundos das etapas de produção e do pós-consumo, mas dos impactos ao longo do ciclo de vida dos produtos. Desta forma, valor é agregado aos produtos e podem-se projetar as empresas em mercados mais exigentes, através da legislação ambiental, que força as empresas a retornarem seus produtos à origem e cuidar do tratamento necessário e a crescente conscientização ambiental dos consumidores (REVLOG, 2006)
Redução de custo
As iniciativas relacionadas à logística reversa têm trazido consideráveis retornos financeiros para as empresas, seja na economia com a utilização de embalagens retornáveis ou com o reaproveitamento de materiais para produção. (LACERDA, 2002).
Diferenciação da imagem corporativa
Muitas empresas estão utilizando logística reversa estrategicamente e se posicionando como empresa cidadã, contribuindo com a comunidade e ajudando as pessoas menos favorecidas. Com isso, as empresas conseguem um aumento do valor da marca e muitas vezes de seus produtos também. (CARDOSO e ASSI, 2005).
Interesses competitivos
Uma forma de ganho de vantagem competitiva ante os concorrentes é a garantia de políticas liberais de retorno de produtos que fidelizam os clientes. Dessa forma, empresas que possuem um processo de logística reversa bem gerido tendem a se sobressair no mercado, uma vez que podem atender aos seus clientes de forma melhor e diferenciada do que seus concorrentes (ROGERS e TIBBEN-LEMBKE, 1999).
Limpeza do canal de distribuição
A devolução ou descarte ocorre bastante tempo após a venda e por canais diversos. Rogers e Tibben-Lembke (1999) propõem a utilização de centros especializados apenas para gerenciar os retornos ao canal, já que as características de retorno, por serem distintas do fluxo normal, requerem um sistema de controle bem diferente.
Elevação do nível de serviço oferecido ao cliente
A elevação no nível de serviço deve ser no sentido de desenvolver uma vantagem competitiva sustentável para as empresas, através da efetividade para gerenciamento de custos. "Efetividade significa o sábio uso de recursos para obter qualidade, flexibilidade, serviço, entrega, processamento, etc. – em aditamento ao crescimento das vendas e da fatia de mercado" (SAKURAI, 1997).
Fonte: Elaborado pela autora, 2008.
Apesar de muitas empresas saberem da importância que o fluxo reverso tem, a
maioria delas tem dificuldades ou desinteresse em implementar o gerenciamento da
logística reversa. A falta de sistemas informatizados que se integrem ao sistema
35
existente de logística tradicional (CALDWELL, 1999), a dificuldade em medir o
impacto dos retornos de produtos e/ou materiais, com o conseqüente
desconhecimento da necessidade de controlá-lo (ROGERS; TIBBEN-LEMBKE,
1999), o fato de que o fluxo reverso não representa receitas, mas custos e como tal
recebem pouca ou nenhuma prioridade nas empresas, são algumas das razões
apontadas para a não implementação da logística reversa nas empresas.
2.1.5 Fatores críticos para a eficiência do processo de logística reversa
Lacerda (2002) esclarece que, dependendo de como o processo de logística reversa
é planejado e controlado, terá uma maior ou menor eficiência e ressalta que as
práticas mais avançadas de logística reversa só poderão ser implementadas se
houver o desenvolvimento de relações colaborativas entre as organizações
envolvidas na logística. No QUADRO 6, descrevem-se alguns dos fatores
identificados como sendo críticos e que contribuem de forma positiva para o
desempenho do sistema de logística reversa:
QUADRO 6
Fatores críticos para a eficiência da logística reversa (Continua)
Fatores Críticos Descrição
Bons controles de entrada A identificação correta do estado dos materiais que retornam é essencial para que estes possam seguir o fluxo reverso correto ou mesmo impedir que materiais que não devam entrar no fluxo o façam.
Processos padronizados e mapeados
Ter processos corretamente mapeados e procedimentos formalizados é condição fundamental para se obter controle e conseguir melhorias.
Tempo de ciclo reduzido Tempo de ciclo se refere ao tempo entre a identificação da necessidade de reciclagem, disposição ou retorno de produtos e seu efetivo processamento.
Sistemas de informação
A capacidade de rastreamento de retornos, medição dos tempos de ciclo e medição do desempenho de fornecedores permitem obter informação crucial para negociação, melhoria de desempenho e identificação de abusos dos consumidores no retorno de produtos.
Construir ou mesmo adquirir estes sistemas de informação é um grande desafio, pois precisam ser capazes de lidar com o nível de variações e flexibilidade exigido pelo processo de logística reversa.
Rede logística planejada É necessária a definição de uma infra-estrutura logística adequada para lidar com os fluxos de entrada de materiais usados e fluxos de saída de materiais processados.
36
QUADRO 6
Fatores críticos para a eficiência da logística reversa (Conclusão)
Fatores Críticos Descrição
Relações colaborativas entre clientes e fornecedores
No contexto dos fluxos reversos que existem entre varejistas e indústrias, onde ocorrem devoluções causadas por produtos danificados, surgem questões relacionadas ao nível de confiança entre as partes envolvidas.
Fonte: Adaptado de LACERDA (2002). 2.2 A atividade de remanufatura A prática de remanufatura é antiga, tendo sido criada com a existência da
manufatura, pois quando ocorriam imperfeições no processo primário de manufatura,
surgiam as necessidades de retrabalhos. Antigamente não ocorria outra forma
específica de reaproveitar o produto, durante o seu processo normal de produção, e,
sim, num produto que já havia sido utilizado anteriormente (pós-consumo), dando
uma sobrevida, por meio do processo de remanufatura.
Atualmente o perfil do novo consumidor é de responsabilidade para com o meio
ambiente, pois tem consciência dos danos que dejetos podem causar em um futuro
próximo. Essa preocupação reflete nas empresas que se preocupam com a logística
reversa gerando procedimentos claros e específicos para gerenciar o retorno dos
produtos, como foi visto anteriormente. Nesse contexto, a remanufatura de produtos
surge como opção para as organizações no mundo competitivo, estimulando a
durabilidade, reduzindo custos e principalmente minimizando o impacto ambiental. A
indústria de remanufatura encontra-se atualmente em franca expansão. O nível atual
de consumo dos recursos naturais justifica essa utilização crescente da
remanufatura de produtos. Segundo Rogers e Tibben-Lemble (1998), antes de se
determinar que um produto esteja completamente sem condições de utilização e ser
enviado para reciclagem, muitas empresas estão adotando a prática da
remanufatura.
A remanufatura, também conhecida como manufatura ambiental ou manufatura
inversa, pode ser considerada uma aproximação do sistema de manufatura, que
37
inclui, não apenas o retorno dos componentes do produto ou o próprio produto,
como também sua reciclagem, que passam para outra cadeia produtiva onde irão
cumprir distintivas funções, ajudando na minimização dos resíduos de produtos
(CZAJA, 2003).
É importante que se levem em consideração, esclarece Czaja (2003), assuntos
estratégicos em relação ao sistema de manufatura inversa:
determinar a estratégia de recuperação (envolvendo grau de otimização das
opções de desmontagem);
recuperação e disposição final de produtos ou dos seus componentes e centros
de coleta profissionais (direcionados para fornecer materiais a novos produtos);
determinação do projeto (geográfico) da logística reversa.
Percebe-se uma crescente preocupação com a preservação dos recursos
ambientais e com a busca de certificações. Encontram-se diversos estudos e teorias
que tratam de produtividade, logística empresarial e qualidade na produção baseada
em matérias-primas primárias ou virgens, mas ainda há pouca literatura que trate a
respeito do processo produtivo de remanufatura.
2.2.1 Contextualização da remanufatura
Com o aumento do ambiente competitivo e o desenvolvimento de novas legislações
ambientais, os números de produtos que deverão ser retornados para a manufatura
deverão aumentar drasticamente. Isto propiciou o desenvolvimento na Europa e
Estados Unidos do chamado Product Recovery Management (PRM). Define-se PRM
como:
O gerenciamento de todos os produtos, componentes e materiais usados e descartados pelos quais uma empresa fabricante é responsável legalmente, contratualmente ou por qualquer outra maneira (THIERRY et al.1 apud KRIKKE: 1998, p. 9).
1 THIERRY, M. et al. Strategic issues in Product Recovery Management. California Management Review, v. 37, n. 2, p. 114-35, 1995.
38
O gerenciamento para recuperação do produto ocorre onde existe a necessidade de
uma nova forma de gerenciar e recuperar componentes, produtos ou materiais, que
estejam integrados ao desenvolvimento de novos produtos, processos, serviços ou
reprojetos de produtos, onde o cliente também pode ser considerado como um
fornecedor.
Descrevem-se as seis áreas principais do PRM (THIERRY et al. (1995) apud
KRIKKE: 1998) no QUADRO7.
QUADRO 7
Principais áreas do PRM
Áreas Descrição
Tecnologia Atividades contempladas: desenho do produto, tecnologia de recuperação e adaptação de processos primários;
Marketing Criação de boas condições de mercado para quem está descartando o produto e para os mercados secundários;
Informação Diz respeito à previsão de oferta e demanda, assim como à adaptação dos sistemas de informação nas empresas;
Organização Distribui as tarefas operacionais aos vários membros de acordo com sua posição na cadeia de suprimentos e estratégias de negócios;
Finanças Inclui o financiamento das atividades da cadeia e a avaliação dos fluxos de retorno;
Logística Reversa e Administração de
Operações
Significam todas as operações relacionadas com a reutilização de produtos e materiais e sua organização.
Fonte: Adaptado de THIERRY et al. (1995) apud KRIKKE, 1998.
Seguindo a definição realizada por Thierry et al. (1995), elaboram-se cinco
categorias de remanufatura e renovação: reparo, renovação, remanufatura,
canibalização e reciclagem. As três primeiras categorias possuem graus de esforços
diferentes para recuperação do produto. O reparo necessita de menor esforço e a
remanufatura de maior.
Krikke (1998) estabelece cinco níveis em que os produtos retornados podem ser
recuperados: nível de produto, módulo, partes, recuperação seletiva de partes e
material. Entende-se como reciclagem a recuperação ao nível de material, sendo
este o nível mais baixo. Enumeram-se assim os níveis em que estes produtos
39
podem ser recuperados: nível de produto, módulo, partes e material. Descreve-se no
QUADRO 8 as opções de recuperação.
QUADRO 8
Resumo de opções de recuperação de produtos
Opções de PRM
Nível de Desmontagem
Exigências de Qualidade Produto Resultante
Reparo Produto Restaurar o produto para pleno funcionamento
Renovação Módulo Inspecionar e atualizar módulos críticos
Algumas partes reparadas ou substituídas
Remanufatura Parte Inspecionar e atualizar todos os módulos/partes
Módulos/partes usados e novos em novo produto
Canibalização Recuperação seletiva de
partes
Depende do uso em outras opções de PRM
Algumas partes reutilizadas, outras descartadas ou para
reciclagem
Reciclagem Material Depende do uso em remanufatura
Materiais utilizados em novos produtos
Fonte: Adaptado de KRIKKE, 1998, p. 35.
Assim, entende-se que a logística reversa entra nas empresas fazendo parte das
operações de gerenciamento que compõem o fluxo reverso conhecido por PRM –
Product Recovery Management, ou administração da recuperação de produtos.
Constata-se que o objetivo da PRM é a recuperação, tanto quanto possível, de valor
econômico e ecológico dos produtos, componentes e materiais. Vê-se que algumas
de suas atividades são, em parte, similares àquelas que ocorrem no caso de
devoluções internas de itens defeituosos em virtude de processos de produção não
confiáveis. PRM lida com uma série de problemas administrativos, entre os quais se
encontra a logística reversa.
2.2.2 Caracterização do processo de remanufatura
Duas características do processo de remanufatura distinguem-no de forma essencial
do processo convencional de manufatura: complexidade do processo de controle de
fornecimento de materiais para atendimento à produção e dificuldade no
estabelecimento da garantia da qualidade de peças remanufaturadas (COSTA
FILHO, COELHO JUNIOR e COSTA, 2006). A primeira dessas características, a
40
complexidade do controle de materiais, resulta da variabilidade do percentual de
aproveitamento de peças usadas. A segunda dessas características, a dificuldade
de garantia da qualidade de peças remanufaturadas, está associada ao caráter
subjetivo da atividade de inspeção de peças usadas. Estabelecer os pontos de
inspeção e critérios objetivos de seleção de peças boas são fatores críticos de um
processo de remanufatura, esclarecem Costa Filho, Coelho Júnior e Costa (2006).
No planejamento tradicional, esclarecem Corrêa, Gianesi e Caon (1997), os produtos
possuem uma lista técnica contendo a estrutura de componentes e a ficha de
processos de fabricação. Com base nessas informações, aliadas a uma previsão de
vendas mensais, por meio da utilização de um sistema informatizado Enterprise
Resource Planning (ERP), confronta-se a posição dos estoques de produtos
acabados e de componentes, recursos fabris, humanos e financeiros, onde se
verifica a necessidade de materiais e de recursos para o cumprimento da previsão
de vendas. Após análise criteriosa, efetuam-se os ajustes necessários em função
dos recursos disponíveis, elaborando-se, então, um plano de produção.
No caso de remanufatura, opera-se em cenário de muitas incertezas. A começar
pelas previsões de vendas que, assim como na produção tradicional, dificilmente
consegue-se vender exatamente o que é previsto inicialmente. Além disso, para se
iniciar a execução do plano de produção na remanufatura, torna-se necessário
captar produtos no mercado de venda de sucatas, onde se buscam produtos que já
tenham chegado ao final do ciclo de vida, pois estes seriam as principais matérias-
primas de novo processo produtivo. Assim, é importante enumerarem-se algumas
características dos problemas com a remanufatura (CZAJA, 2003; COSTA FILHO;
COELHO JÚNIOR e COSTA, 2006):
incerteza do tempo e quantidade do retorno;
incerteza em relação à qualidade dos produtos devolvidos e componentes
recuperados;
dificuldade de compartilhamento de recursos na integração de manufatura e
remanufatura;
falta de acuracidade no controle de inventário;
incompatibilidade do balanço de retorno com a demanda de mercado;
fragilidade do projeto para desmontagem;
41
dificuldade para planejar produção e controlar materiais;
compatibilidade de materiais requeridos pelos novos produtos ou reprojeto de
produtos;
deficiência de centros de coleta e estocabilidade para o planejamento da
produção;
falta de sistemas informatizados adequados;
dificuldade da medição de custos de recuperação.
2.3 A atividade de planejamento e controle da produção
Há muitos conceitos que pretendem explicar no que consiste o planejamento e
controle da produção (PCP). Em razão de sua abrangência e diversidade de
funções, não é tarefa simples utilizar-se de apenas um conceito que possa expressar
seu verdadeiro sentido.
Russomano (1995) diz que o PCP consiste no conjunto de funções necessárias para
coordenar o processo de produção, de forma a se ter os produtos produzidos nas
quantidades e prazos certos. Como se pode notar com esse enfoque, o PCP
preocupa-se fundamentalmente com quantidades e prazos, além de possuir a
faculdade de coordenar o processo de produção.
Em termos de abrangência, o PCP pode se dedicar a aspectos relativos a decisões
de longo, médio ou curto prazo (TUBINO, 1997). A expressão planejamento liga-se a
fatores de maior abrangência, tais como: definição de políticas de contratação de
pessoal, aquisição de máquinas, ampliação das instalações, etc. Já programação
refere-se a fatores de médio e, principalmente, de curto prazo, tais como
programação da operação de máquinas. Assim sendo, alguns autores usam a
expressão PPCP, que contempla o planejamento, programação e controle da
produção (BRITO; PAROLIN, 1996).
Adotar-se-á, neste estudo, a expressão PCP, por ser a mais frequentemente usada.
Para que ele possa exercer seu papel da melhor forma, notadamente o de
42
coordenação, o PCP deve ser permanentemente suprido de informações das áreas
mais diretamente ligadas ao sistema produtivo, tais como vendas, compras,
manutenção, engenharia de métodos e processos, engenharia do produto,
produção, entre outras. Essas áreas também recebem informações do PCP, para
que possam melhor desempenhar suas atividades (TUBINO, 1997).
Aumenta-se o grau de complexidade do PCP à medida que o sistema se afasta da
produção contínua e passa a possuir características de produção repetitiva,
principalmente em lotes e por projeto, explica Tubino (1997).
Os horizontes de planejamento podem variar bastante em função da situação, mas
Corrêa, Gianesi e Caon (1997) consideram que esses horizontes podem ser, para o
longo prazo, de um ano ou mais; no médio prazo, alguns meses; e de curto prazo,
de apenas um ou alguns dias.
2.3.1 Contextualização das atividades do planejamento e controle da produção
Para Tubino (1997), são atividades típicas do PCP:
planejamento estratégico da produção: em que é definida a estratégia de
produção a ser adotada e que deverá estar compatível com o planejamento
estratégico da corporação, bem como em sintonia com os planejamentos
estratégicos de marketing e finanças. No planejamento estratégico da produção é
definido o plano de produção que é estabelecido em função do plano de vendas
da empresa. O PCP deverá participar da definição da estratégia de produção;
planejamento-mestre da produção: que define as quantidades de produtos que
deverão ser produzidas em cada período;
programação da produção: que determina a emissão de ordens de compra, de
fabricação e montagem;
acompanhamento da produção: que consiste na verificação se a execução
está de acordo como planejado.
Já Russomano (1995) lista as seguintes atividades do PCP: gestão dos estoques;
emissão de ordens de produção; programação das ordens de fabricação;
43
acompanhamento da produção.
2.3.2 Caracterização dos sistemas de planejamento e controle da produção
Elaboram-se os Sistemas de PCP, geralmente, com fundamento em um dos três
métodos de administração da produção mais conhecidos (CORRÊA, GINAESI e
CAON, 1997):
a) Manufacturing Resources Planning – Planejamento dos Recursos da
Manufatura – MRP II
Baseia-se a lógica do MRP II no conceito de cálculo de necessidades, uma
técnica de gestão que permite o cálculo das quantidades e dos momentos em
que são necessários os recursos de manufatura (materiais, pessoas,
equipamentos, etc.), para que se cumpram os programas de entrega de
produtos com um mínimo de formação de estoques. Assim, o sistema MRP II
(Manufacturing Resources Planning – Planejamento dos Recursos da
Manufatura) é a evolução natural da lógica do sistema MRP (Materials
Requirement Planning – Planejamento das Necessidades de Materiais), com a
extensão do conceito de cálculo das necessidades ao planejamento dos demais
recursos de manufatura e não mais apenas dos recursos materiais. A FIG. 7
ilustra o modelo da integração dos dois componentes.
FIGURA 7 - Modelo conceitual do MRP/MRP II Fonte: Adaptado de Corrêa e Gianesi, 1999.
44
b) Just-in-Time – JIT
O JIT enfatiza o "conceito zero", que significa a realização dos objetivos de
eliminação de defeitos, filas, inventários e avarias (KUMAR &
PANNEERSELVAM, 2007).
Segundo Christopher (2002), o JIT se baseia na simples idéia de que nenhuma
atividade deve acontecer enquanto não houver necessidade para ela. Dessa
forma, nenhum produto dever ser feito e nenhum componente deve ser pedido
enquanto não houver necessidade.
Slack, Chambers, Harland e Jonhnston (2006) enfatizam que a filosofia do JIT
difere de outras abordagens de aprimoramento de desempenho de empresas
em virtude de três razões principais: a eliminação de desperdícios, o
envolvimento dos funcionários na produção e o esforço de aprimoramento
contínuo.
c) Optimized Production Technology – Tecnologia de Otimização da Produção
(OPT)
Pode-se apresentar a OPT como uma abordagem de gestão da produção
orientada por gargalos produtivos e baseada em uma técnica de programação
da produção que utiliza software específico.
Conforme Corrêa e Gianessi (1993), a OPT propõe que o PCP seja orientado
pelos gargalos da produção, sobre os quais a demanda imposta é maior que a
sua capacidade de processamento. Os recursos anteriores aos gargalos são
"puxados" (programação para trás) e os recursos posteriores são "empurrados"
(programação para a frente) de acordo com as saídas dos gargalos.
Parte-se da premissa principal da OPT, segundo Goldratt e Cox (1988), de que a
meta de qualquer organização é o lucro e, baseando-se nesse conceito, propõe-
se uma metodologia racionalizadora do sistema produtivo. Dentro desse
enfoque, a manufatura contribui de três maneiras distintas para o atendimento
dessa meta: agilizando o ciclo de materiais, reduzindo os estoques e reduzindo
as despesas operacionais.
Originam-se esses métodos, por sua vez, das três principais filosofias ou linhas de
pensamento da Administração da Produção, conforme Corrêa, Gianesi e Caon
(1997): Filosofia Tradicional (que deu origem ao MRP II), Sistema Toyota de
45
Produção (que deu origem ao JIT) e Teoria das Restrições (que deu origem à OPT).
2.3.3 A gestão dos estoques e o planejamento e controle da produção
Para a gestão dos estoques, conforme Tubino (1997), as empresas dispõem de uma
série de técnicas e modelos, tais como demonstrado no QUADRO 9.
QUADRO 9
Técnicas e modelos de gestão de estoque
Técnicas e modelos
Descrição
Classificação ABC de materiais
A classificação ABC é uma forma de priorizar a ênfase de controle nos materiais, conforme Zaccarelli (1979):
Itens classe A: devem ser controlados com maior cuidado, já que possuem maior valor e representam um pequeno percentual da quantidade de itens;
Itens classe B: são intermediários entre os das duas classes, merecendo, assim, um tratamento também intermediário ao que é destinado aos das classes A e C;
Itens classe C: devem ser controlados com menos rigor, já que são de menor importância e representam a maioria, possuindo, assim, um elevado custo de controle.
Lote econômico de compra e de fabricação
O modelo do lote econômico de compra define, matematicamente, a quantidade do pedido de material que minimiza os custos totais de estocagem, custos esses que são representados pelo custo de pedir e o custo de manter (CORRÊA e GIANESI, 1993). As considerações feitas para o lote econômico de compras também são válidas para o lote econômico de fabricação, com algumas adaptações.
Ponto de ressuprimento
A cada entrada e saída do material no estoque é registrado e apurado o saldo correspondente, que, quando atingir o ponto de ressuprimento previamente calculado, indicará a necessidade de emissão de uma ordem de reposição do material, segundo Russomano (1995).
Inventário periódico A períodos fixos de tempo é feita uma verificação no estoque e são repostos os materiais com necessidade de complementação, conforme Russomano (1995).
MRP – Material Requirements
Planning
Com o MRP, a partir da estrutura do produto (árvore do produto), detalhado em seus diversos níveis de composição, e conhecendo-se a demanda do produto final, é feito o cálculo de todas as necessidades de semi-acabados, componentes e matérias-primas. Em função das datas necessárias para a entrega dos produtos e dos tempos de processamento das ordens, o sistema MRP determina as épocas em que estas ordens, de compra ou de fabricação, devem ser colocadas, objetivando assim reduzir o nível dos estoques, de acordo com Corrêa, Gianesi e Caon (1997).
Fonte: Elaborado pela autora, 2008.
Uma decisão que deve ser tomada quando da definição da política de estoques da
empresa refere-se ao uso dos estoques de segurança ou estoque mínimo, que
46
representa a quantidade de material que deve ser mantida de reserva para atender a
possíveis aumentos de demanda e/ou atrasos nos prazos de entrega. O
dimensionamento deve ser bem calculado em razão de seus reflexos na elevação do
nível dos estoques e seu conseqüente reflexo nos custos, esclarece Tubino (1997).
Deve-se ressaltar que o não-atendimento ao cliente terá reflexos inclusive na
imagem da empresa e de sua marca.
2.3.4 Planejamento da produção com reutilização de produtos ou materiais
Outro grande ponto na logística reversa trata do planejamento da produção. A forma
de reuso do material retornado ditará o grau de adequação das formas de
planejamento tradicional com o problema em questão.
Mostra-se na FIG. 8 que, no caso de reuso, praticamente não há processo de
produção empregado. Nesses casos, geralmente ocorre uma limpeza ou um mínimo
de reparo no material. Como citou-se anteriormente, isso se aplica à reutilização de
material de manuseio, embalagens etc. Os principais processos empregados nesse
tipo de reutilização são: coleta, distribuição e controle de estoque.
Tratando-se da reciclagem, existe a necessidade de realização de um novo
processo de produção. Produtos retornados transformam-se em matéria-prima
novamente. A dificuldade não está no planejamento da produção propriamente dito,
e sim na tecnologia aplicada para a conversão dos materiais em matérias-primas
(FLEISCHMANN; BLOEMHOF-RUWAARD; DEKKER; VAN DER LAAN; VAN
FIGURA 8 - Integração entre fluxo direto e reverso Fonte: Adaptado de FLEISCHMANN et al., 1997.
47
NUNEN e VAN WASSENHOVE, 1997). Como se mostrará no estudo de caso, do
ponto de vista gerencial o planejamento das operações de remanufatura se
assemelha muito ao planejamento convencional. Mas a questão torna-se mais
complexa quando é necessária etapa de desmontagem antes da remanufatura.
O processo mais complexo é, de muito maior proporção, a remanufatura. O reparo
individual de componentes de cada produto retornado, a coordenação de inúmeras
atividades na desmontagem faz com que seja um trabalho altamente sofisticado.
Dependendo da situação do produto, a remanufatura tem o objetivo de tornar o
produto novo. Para isso, os testes em peças sobressalentes deverão ser rigorosos.
Diferentemente do processo de produção tradicional, não existirá uma seqüência
exata das funções. Essa seqüência se dará de acordo com o estado em que o
produto retornado se encontra, o que torna o processo muito mais complexo
(FLEISCHMANN et al., 1997).
A partir das contribuições teóricas apresentadas, a pesquisa teve como objetivo a
investigação dos aspectos operacionais e técnicos necessários para execução da
atividade de planejamento e controle da produção na divisão de remanufatura em
uma empresa do setor eletroeletrônico.
48
3 METODOLOGIA
As abordagens de pesquisa caracterizam como será realizado um processo de
investigação com respeito a um problema e, também, identificam os métodos e tipos
de pesquisa mais adequados para a situação de interesse. Essas abordagens
dependem da natureza do problema, da sua formulação, da teoria existente, do
referencial teórico-cultural e do grau de proximidade do pesquisador com o objeto de
estudo (BERTO e NAKANO, 1998).
3.1 Abordagens quanto forma, fins e meios
Quanto à forma de abordagem do problema em estudo, este trabalho afigurou-se
uma pesquisa qualitativa, uma vez que, em linhas gerais, esta detecta a presença ou
não de algum fenômeno, sem se importar com sua magnitude ou intensidade. De
acordo com Roesch (1996), esse tipo de pesquisa se baseia na interpretação dos
fenômenos e na atribuição de significados, levando em conta que existe uma relação
dinâmica entre a realidade e o pesquisador. Consideram-se como focos principais de
abordagem o processo e o seu significado. Assim, de acordo com Richardson
(1999), a pesquisa qualitativa difere da quantitativa à medida que não emprega um
instrumental estatístico como base do processo de análise do problema, mas faz
uma compreensão detalhada dos significados e características situacionais. Os
métodos qualitativos e quantitativos não são excludentes, embora difiram quanto à
forma e à ênfase (NEVES, 1996).
Pretendeu-se, com este trabalho, tomar contato com a realidade, proporcionar a
familiarização com o problema e desenvolver conhecimentos sobre o objeto em
estudo para explicitá-lo melhor, atendendo aos requisitos que incluem: o aumento do
conhecimento do pesquisador sobre o fenômeno que deseja investigar,
esclarecimento de conceitos e o estabelecimento de prioridades para futuras
pesquisas, assim sendo enquadrado quanto aos fins na categoria de pesquisa
49
exploratória. Segundo Gil (1999), essas pesquisas têm por objetivo a familiarização
com o problema, desenvolvendo, esclarecendo, modificando conceitos e idéias,
visando torná-lo mais explícito ou estabelecer hipóteses que possam ser
pesquisadas posteriormente. É o tipo de pesquisa que apresenta menor rigidez no
planejamento, possibilitando a consideração dos mais variados aspectos relativos ao
fato estudado, e são desenvolvidas, principalmente, para proporcionar uma visão
geral acerca de determinado fato.
Quanto aos meios, enquadra-se essa pesquisa no método de estudo de caso, por
ser uma investigação em profundidade e em uma única empresa. Tal fato
proporciona condições de reunir detalhes e contribuir para que se obtenha um
conhecimento amplo do objeto em estudo, que é o processo de remanufatura
suportado pela logística reversa em uma empresa do setor eletroeletrônico. Gil
(1999) esclarece que o estudo de caso caracteriza-se pelo estudo exaustivo e
profundo de um ou alguns poucos objetos, de maneira que forneça um
conhecimento amplo e detalhado do problema investigado. Uma vantagem consiste
em estimular novas descobertas, pois devido à falta de rigidez no seu planejamento,
o pesquisador é induzido a ficar mais atento a qualquer novo elemento. Como
muitas das vezes essas novas descobertas se tornam mais importantes que a
solução do problema inicial, o método torna-se recomendado para estudos
exploratórios. Outra vantagem é a simplicidade nos procedimentos de coleta e
análise de dados em relação a outros métodos. É importante lembrar que apesar de
o estudo de caso ter procedimentos relativamente simples, pode exigir do
pesquisador uma maior capacitação em relação a outros métodos.
Não se pretendeu neste estudo produzir citações definitivas sobre o assunto; as
evidências que porventura forem apresentadas servirão tão-somente como fonte
de reflexão para pesquisas futuras. Triviños (1987) afirma que no estudo de caso
os resultados são válidos só para o caso que se estuda, fornecendo o conhecimento
aprofundado de uma realidade delimitada. Os resultados atingidos poderão, no
entanto, permitir e formular hipóteses para o encaminhamento de outras pesquisas.
50
3.2 Unidade de análise, população e amostra
A unidade de análise define o escopo do que está sendo analisado e estabelece
limites nos dados a serem coletados e analisados. Nesta pesquisa a unidade de
análise foi uma empresa do setor eletroeletrônico.
Com relação à população-alvo, Malhotra define como sendo "a coleção de
elementos ou objetos que possuem a informação procurada pelo pesquisador e
sobre os quais devem ser feitas inferências" (MALHOTRA, 2001, p. 302). Dessa
forma, a população-alvo da presente pesquisa se constituiu de profissionais da alta
gerência da empresa estudada que participaram da implantação do processo de
remanufatura.
No que diz respeito à amostra, escolheram-se, para participar das entrevistas,
profissionais da alta gerência das áreas de Vendas, Engenharia, PCP, Compras,
Qualidade, Produção e Planejamento que participaram da implantação do processo
de remanufatura. A identificação desses entrevistados encontra-se no QUADRO 10.
QUADRO 10
Identificação dos entrevistados
Identificação dos
entrevistados
Formação Cargo Tempo na empresa
Tempo no cargo
E1 Engenharia Elétrica Coordenador de Vendas 9 anos 4 anos
E2 Engenharia mecânica Engenheiro de Projeto 5 anos 5 anos
E3 Administração Analista de PCP 4 anos 4 anos
E4 Comércio Exterior Analista de Compras 4 anos 3 anos
E5 Administração Analista da Qualidade 3 anos 3 anos
E6 Administração Programador de Produção 3 anos 3 anos
E7 Comercio Exterior Analista de Logística 4 anos 3 anos
Fonte: Elaborado pela autora, 2008.
Observando-se as informações de cargo e tempo no cargo, percebe-se tratar de
pessoas que trabalhavam na empresa havia mais de três anos. Tal informação
51
reforça a adequação dos entrevistados ao objeto da pesquisa, uma vez que
comprova a atuação na empresa desde o início da implantação do processo de
remanufatura.
3.3 Técnicas de coleta e análise de dados Neste trabalho, a investigação dos aspectos operacionais e técnicos necessários
para a execução da atividade de planejamento e controle da produção na divisão de
remanufatura baseou-se na percepção das pessoas entrevistadas e envolvidas
no processo, somada à interpretação de fatos isolados.
Para tal, fez-se necessário o uso das técnicas de coleta de dados primárias:
entrevista semi-estruturada, por se tratar de uma amostra não probabilística, e
intensa interatividade com o objeto de pesquisa contemplando a utilização conjunta
de observação direta da realidade e lógica indutiva, descrevendo-se a situação do
contexto real em que se efetuava a investigação.
A entrevista semi-estruturada permite ao entrevistado, conforme Selltiz; Jahoda;
Deutsch e; Cook (1967), discorrer sobre o tema sugerido sem que se fixem, a priori,
determinadas respostas ou condições; existe oportunidade de se ter maior
flexibilidade na obtenção das informações; pode-se observar o entrevistado e a
situação na qual está respondendo; tem-se a possibilidade de observar o
comportamento não-verbal para serem avaliadas as respostas do entrevistado,
verificando-se afirmações contraditórias; pode-se controlar a ordem das questões a
ser inquiridas; possibilita-se gravar as respostas do entrevistado; estima-se maior
probabilidade de todas as questões serem respondidas.
Selltiz et al. (1967) esclarecem ainda que a função do entrevistador é centrar a
atenção em determinados acontecimentos e em seus efeitos, pois ele sabe,
antecipadamente, quais aspectos de um assunto deseja abranger. Na entrevista
devem-se enfocar as experiências subjetivas das pessoas envolvidas, de tal modo
que se obtenham as análises da situação.
52
De acordo com Malhotra (2001), a diversidade de experiências possibilita descobrir
motivações, crenças, atitudes e sensações subjacentes sobre um tópico, uma visão
ampla do tema e diferentes pontos de vista sobre o problema.
Nesse sentido, Gil (1999) aponta que a entrevista semi-estruturada é guiada por
uma relação de questões de interesse, tal como um roteiro, que o investigador vai
explorando ao longo de seu desenvolvimento. Triviños (1987) contribui com o tema
quando afirma que a entrevista semi-estruturada parte de alguns questionamentos
básicos, apoiados por teorias que interessam à pesquisa, e que, logo após, surgem
outras interrogativas na medida em que se recebem as respostas dos informantes.
Os informantes podem ser submetidos a várias entrevistas para que se obtenha o
máximo de informações e para se avaliar as mudanças das respostas em momentos
diferentes.
Realizaram-se as entrevistas, pessoalmente, em janeiro e fevereiro de 2008, e estas
tiveram duração de 60 a 80 minutos. As perguntas para a entrevista encontram-se
no QUADRO 11 e se agruparam por temas correlatos com o intuito de correlacioná-
las à teoria utilizada. Após a realização das entrevistas, se fizeram as transcrições e
análises em conjunto, visando ao agrupamento das idéias e dos comentários mais
freqüentes.
QUADRO 11
Relacionamentos entre teoria e questões da entrevista (Continua)
Teoria Questões
1. Qual é o relacionamento da logística reversa com a cadeia de suprimentos?
Contextualização da logística reversa
Motivos estratégicos para adoção da logística reversa 2. Quais as vantagens e desvantagens dessa relação?
3. Com relação ao abastecimento de matéria-prima, discorrer:
a. Que volume de produção é feito diante da necessidade da logística reversa?
Fatores críticos para a eficiência do processo de logística reversa
b. Existe risco de falta de abastecimento?
53
QUADRO 11
Relacionamentos entre teoria e questões da entrevista (Continua)
4. Como ocorre o processo de logística reversa com relação:
a. Identificação das necessidades de reposição de partes e peças.
b. Política de recolhimento de partes e peças.
c. Política de retorno de partes e peças.
d. Quais são as dificuldades encontradas na execução da logística reversa (qualidade, disponibilidade)?
O ciclo de vida dos produtos e a logística reversa
Canais de distribuição reversos pós-consumo
Fatores críticos para a eficiência do processo de logística reversa
e. Existem cuidados especiais que devem ser observados na execução da logística reversa? Quais são?
5. Com relação ao processo de produção X processo de remanufatura, discorrer sobre:
a. Diferenças entre processo de produção tradicional e o processo de remanufatura.
b. Quais são as adequações necessárias ao processo de produção tradicional para execução do processo de remanufatura?
c. Para a realização do processo operacional da atividade de remanufatura existem medidas/atividades especiais a serem adotadas (procedimentos, controles)? Quais são?
6. Com relação ao processo de remanufatura discorrer sobre:
a. Pré-requisito técnico para execução da atividade de remanufatura.
b. Pré-requisito operacional para execução da atividade de remanufatura.
c. Quais interferências o processo de remanufatura pode oferecer ao índice de produtividade?
d. Quais interferências o processo de remanufatura pode oferecer ao índice de refugos?
A atividade de remanufatura
Caracterização do processo de remanufatura
e. Existem sistema informatizado para realização da atividade de remanufatura (planejamento, execução e controle)?
7. Referente ao PCP, discorrer: Contextualização das atividades
do PCP a. Quais são as diferenças entre a atividade de planejamento e controle da produção para produção tradicional e para remanufatura?
8. Marque qual é o modelo usado de planejamento e explique o motivo:
a. para estoque sob encomenda ambos outro
A atividade de PCP
A gestão dos estoques e o PCP
b. Motivo:
54
QUADRO 11
Relacionamentos entre teoria e questões da entrevista (Conclusão)
9. Sobre o plano de produção, discorrer:
a. Periodicidade do plano.
b. Intervalo entre alterações do plano.
c. Análise das alterações do plano.
d. Procedimentos para ajustes do plano.
e. Motivos das alterações do plano.
f. Análise da capacidade produtiva para cumprimento do plano.
A atividade de PCP
Contextualização das atividades do PCP
g. Análise de materiais necessários para cumprimento do plano.
10. Sobre o Sistema (MRP, JIT, Kanban) de planejamento de produção tradicional x Planejamento para Remanufatura:
a. Diferenças entre sistema planejamento de produção tradicional x planejamento para remanufatura.
Planejamento da produção com reutilização de produtos ou materiais
b. Quais são as adequações necessárias ao sistema de planejamento tradicional para execução do processo de remanufatura?
11. Sobre o sistema informatizado de planejamento e controle:
a. Diferenças entre sistema informatizado de planejamento de produção tradicional x planejamento para remanufatura.
Caracterização dos sistemas de planejamento e controle da produção
Caracterização do processo de remanufatura
b. Quais são as adequações necessárias ao sistema de planejamento tradicional para execução do processo de remanufatura?
12. Sobre o processo de aquisição de matéria-prima para produção tradicional x produção para remanufatura: Caracterização do processo de
remanufatura
A gestão dos estoques e o PCP a. Em quais aspectos diferem no processo de aquisição de matéria-prima para processo tradicional x processo remanufatura?
Fatores críticos para a eficiência do processo de logística reversa
A atividade de remanufatura
13. Quais são os fatores de sucesso que podem ser atribuídos ao processo de remanufatura suportado pela logística reversa?
Fonte: Elaborado pela autora, 2008.
Com relação aos dados secundários, utilizou-se a técnica de análise documental,
que possibilitou a obtenção de diversas informações preliminares sobre a atividade
em estudo. Essa técnica revelou-se fundamental para a etapa de análise das
entrevistas, ajudando a interpretar as informações coletadas, bem como tornou-se o
guia das observações realizadas.
55
Segundo Yin (2001), a análise dos dados propriamente dita consiste na etapa mais
difícil e exigente da pesquisa qualitativa, porque as estratégias e técnicas de análise
apresentam uma diversidade muito grande e ainda não foram definidas de maneira
clara. É importante na pesquisa qualitativa que, a partir dos dados colhidos,
obtenha-se um conjunto de informações que permita dar sentido àquilo que se está
estudando, convencendo o leitor da pertinência e veracidade da análise. Mas a
pesquisa qualitativa é particularmente complexa porque está, em geral, baseada em
palavras e textos, e não em números. Pela sua natureza, as palavras são mais
densas que os números, porque possuem vários sentidos, dando margem à
multiplicidade de interpretações e, em geral, são recolhidas em grandes
quantidades. Conseqüentemente, elas são mais difíceis de manipular e utilizar.
Nesta pesquisa, estruturaram-se os dados em uma base analítica organizada em
categorias conforme temas abordados no estudo, permitindo o encadeamento lógico
das informações utilizadas e auxiliando na descoberta de sentido e significados. Esta
base de dados baseou-se em anotações, informações obtidas nas entrevistas e
interpretação de dados, bem como análise de documentos.
O modelo de análise adotado para este trabalho detém-se na elaboração de
explicações, esclarece Yin (2001), uma vez que se pretende: aumentar o
conhecimento sobre o fenômeno que se deseja investigar, esclarecer conceitos e
estabelecer prioridades para futuras pesquisas. Permite-se, com este modelo de
análise, relacionar os fatos obtidos ao fenômeno estudado e interpretar os dados à
luz da teoria.
56
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Neste capítulo apresentam-se as informações colhidas nas entrevistas realizadas e
nos de documentos da empresa estudada. Cabe ressaltar que este estudo se deu
em uma amostra intencional e não probabilística de dados das áreas de Compras,
Produção, Qualidade, Logística, Planejamento e Controle da Produção, Engenharia
e Vendas.
Na primeira etapa no tratamento dos dados apresentaram-se algumas informações
importantes para contextualização da pesquisa por meio da apresentação do estudo
de caso. Em seguida, realizou-se a estruturação e análise das informações
coletadas.
4.1 Apresentação da empresa estudada
A empresa é fabricante mundial de soluções em produtos eletroeletrônicos e, neste
estudo, identificar-se-á como Empresa Alfa. Fundada na década de 1960, Alfa atua
globalmente em aproximadamente 20 países e possui mais de 75.000 funcionários,
faturando anualmente cerca de US$ 12,3 bilhões. No Brasil, a empresa é composta
por três plantas. A planta estudada localiza-se no Estado de Minas Gerais
empregando aproximadamente 2.000 funcionários (dados obtidos do site da
empresa em março de 2008). A unidade de Minas Gerais possui uma carteira de
nove clientes. Apenas um deles, que será nomeado Empresa Sigma, apresenta,
além da atividade de fabricação, a necessidade de realização da atividade de
remanufatura.
Realizou-se o presente estudo de caso em uma organização que já adotava a
logística reversa na unidade brasileira e começou a atuar desde junho de 2007 na
atividade de remanufatura, entendendo esta prática como uma importante
ferramenta estratégica de construção do seu diferencial competitivo.
57
Desde a decisão de se implantar o processo de remanufatura até a efetiva
implantação propriamente dita, utilizando os conceitos remanufatura suportados pela
logística reversa, decorreu-se um período de seis meses.
Analisando-se a memória técnica do processo de remanufatura, pode-se verificar
que:
A empresa Sigma, preocupada com a aplicação da lei SOX (lei americana
Sarbanes-Oxley de 2002, que criou mecanismos de auditoria e segurança para
as empresas) procurou enquadrar a atividade de remanufatura dentro do
contexto solicitado pela SOX, realizando a adequação dos controles internos da
organização. Para isso é necessário analisar, modificar, implantar e assegurar
uma cultura de controles a fim de assegurar a confiabilidade das informações,
eliminar processos redundantes, gerar a confiabilidade de sistemas e aplicações,
manter a segurança das informações, garantir veracidade de dados de saída.
Enfim, estabelecer um monitoramento contínuo e rápido alinhado às regras
contidas na SOX e apresentar a transparência das áreas fiscais e de
controladoria das organizações traçando um paralelo com as prestações de
contas, salienta Peck, 2006.
Alfa observou o cenário que estava se delineando, bem como sua expertise em
logística reversa, e reuniu um grupo multifuncional, onde pessoas com ampla
experiência em processos de Engenharia, Compras, Planejamento, Vendas,
Qualidade, Logística e Produção elaboraram um processo específico para
implantação da atividade de remanufatura.
4.2 Estruturação e análise das informações coletadas
As perguntas que foram utilizadas nas entrevistas apresentam-se agrupadas, no
QUADRO 12, de acordo com alguns temas a que se referem.
58
QUADRO 12
Agrupamento de perguntas por tema
Perguntas Tema
1 a 4 Logística reversa dos cartuchos
5 e 6; 12 e 13 Remanufatura de cartuchos
7 a 11 Planejamento e controle da produção da atividade de remanufatura Fonte: Elaborado pela autora, 2008.
Inicialmente, realizou-se um mapeamento dos processos construídos por meio das
respostas obtidas nas entrevistas e com análise documental. Paralelamente,
realizaram-se as análises respectivas em confronto com a revisão da literatura feita
anteriormente.
Trabalhou-se o primeiro tema focado sobre todo o ciclo de logística reversa dos
cartuchos. Em seguida, realizou-se o mapeamento abrangente do processo de
remanufatura de cartucho. Para finalizar, um detalhamento das atividades de PCP
dentro do contexto de remanufatura de cartucho.
4.2.1 Logística reversa dos cartuchos
Os entrevistados defendem haver relação direta entre a logística reversa e a cadeia
de suprimentos por meio da realimentação de informações e materiais, a fim de
otimizar a utilização dos mesmos, bem como do relacionamento direto no meio
ambiente. As vantagens desta relação seriam a racionalização dos recursos e os
impactos positivos no meio ambiente – indo ao encontro da definição de logística
reversa apresentada por Dornier et al. (2000).
Notou-se, também, que a matéria-prima da logística reversa é o cartucho de toner
vazio, sendo que as demais matérias-primas são adquiridas no mercado
internacional, em sua grande maioria, ou adquiridas no mercado nacional por um
processo de suprimento convencional. A representatividade das matérias-primas
importadas corresponde a 95% do volume total, resultando em longos tempos de
ressuprimento. Assim, evidencia-se a necessidade de uma previsão de vendas sem
grandes distorções, além da necessidade de se trabalhar com horizonte de
59
planejamento de longo prazo.
Pode-se, então, inferir que o canal de distribuição reverso adotado pela empresa
estudada é o de pós-consumo, conforme definido anteriormente por Leite (2003) –
uma vez que equaciona e operacionaliza o retorno de cartuchos já utilizados pelo
mercado consumidor para transformá-los em produtos refabricados. Dessa forma,
todo o volume de produção fica restrito ao retorno do cartucho que depende da
disponibilização deste pelo mercado consumidor, bem como de um processo de
coleta e disposição do cartucho por modelos, salienta E4.
A atividade de logística reversa, por ser uma atividade integrada, é realizada pela
composição de três empresas de acordo com a FIG. 9:
Apreendeu-se, de acordo com informações dos entrevistados, que a Empresa Sigma
acredita que a proteção do meio ambiente é mais do que um bom negócio: é algo
FIGURA 9 - Interligação das empresas participantes do processo de logística reversa e respectivas responsabilidades, neste estudo de caso Fonte: Elaborado pela autora, 2008.
Operador logístico
Empresa Sigma
Empresa Alfa
• Criação e acompanhamento da política de incentivo do retorno de cartucho;
• Informação da previsão de vendas • Contratação e acompanhamento do
operador logístico; • Contratação e acompanhamento do
remanufaturador; • Venda do cartucho remanufaturado ao
mercado consumidor;
• Realização da atividade de remanufatura
• Operacionalização do processo de logística reversa
60
absolutamente necessário. Apoiada nesse princípio, desenvolveu um programa para
coleta de cartuchos, onde destaca seu compromisso ecológico, recolhendo
cartuchos de toner (usados) para proteção do meio ambiente.
Inscrevendo-se no programa, a Empresa Sigma retira, através do operador logístico
contratado, os cartuchos de toner usados em qualquer lugar do Brasil (mínimo de
três cartuchos), sem nenhum custo de transporte e com o compromisso de que os
resíduos terão um fim adequado, sem agredir o meio ambiente. O programa tem a
finalidade de conscientizar os clientes dos impactos ambientais que um cartucho
pode causar no planeta, caso seja descartado no lixo. Tal programa possui ainda
benefício para os clientes (válido apenas para pessoas jurídicas e que não possuam
contrato com a Empresa Sigma/parceiro), onde, para cada cartucho de toner
devolvido o cliente recebe um determinado valor (que varia de acordo com o modelo
devolvido). Os valores acumulados serão emitidos sempre ao final de cada trimestre,
contabilizadas todas as devoluções feitas naquele período, as quais poderão ser
conferidas no site. Com os valores acumulados em mãos, uma espécie de cheque
personalizado, os clientes poderão dirigir-se a qualquer revenda ou distribuidor
autorizado da Empresa Sigma participante do programa e utilizar esse "cheque" para
comprar produtos Sigma.
No que diz respeito às dificuldades encontradas na execução da logística reversa,
pode-se notar um consenso entre os entrevistados: a qualidade duvidosa do
cartucho retornado e as incertezas da quantidade a ser disponibilizada por modelo,
que interferem diretamente no volume a ser remanufaturado e, por conseqüência, no
atendimento do volume solicitado pelo mercado. Na opinião de E5, o sucesso do
processo de logística reversa do cartucho ocorre através da definição eficaz das
políticas de recolhimento e de retorno do cartucho de toner vazio, onde tais políticas
atuam, respectivamente, na organização da cadeia para coleta e na disposição por
modelo e quantidade.
As pressões do mercado, exercidas por consumidores que demandam processos
com custos mais baixos e menores impactos ao meio ambiente, aliadas às questões
legais relacionadas aos aspectos ambientais mais desafiantes, levam as empresas a
assumirem responsabilidades sobre a completa gestão do ciclo de vida de seus
61
produtos, segundo Barbieri e Dias (2002). Assim, inserem-se fatores motivadores
observados no estudo realizado, como:
o setor de remanufatura apresenta grandes oportunidades de lucratividade, indo
ao encontro do conceito de aumento de rentabilidade de Rogers e Tibben-
Lembke (1999) apud Grisi et al (2003);
necessidade de maior flexibilidade e agilidade no atendimento das variações do
mercado, impostas pelo mercado consumidor;
vantagem competitiva, por meio da redução de custo proporcionada pela
remanufatura, propiciando um aumento do nível de serviço aos clientes;
legislação, assegurando o completo atendimento aos requisitos legais na esfera
ambiental;
a verificação de um cenário que apresenta uma demanda em constante
crescimento, acompanhando o crescimento da quantidade de impressoras
comercializadas no País, conforme dito anteriormente por Lacerda (2002).
eliminação do estoque próprio de cartuchos vazios, resultado de uma direta
redução de ativos e dos custos associados à manutenção dos estoques,
conseguido através da utilização da figura do operador logístico;
racionalização de atividades internas, transferindo-as a um operador logístico
altamente especializado e com grande experiência em logística reversa.
Portanto, diante do contexto apresentado, confirma-se a atuação da logística reversa
como fonte de infindáveis benefícios, tanto para empresa Alfa quanto para Sigma.
Percebe-se ainda que é também uma atividade de suma importância para a
sociedade em geral, uma vez que possibilita a agregação de valor de alguma
natureza, pelo retorno dos bens ao ciclo de negócios ou produtivo. Faz-se
necessário, então, para manutenção dos resultados apresentados e até conquista
de outros, que o processo de logística reversa seja aperfeiçoado continuamente,
chegando a um nível de qualificação e capacitação que alavanque de forma
considerável os negócios de Alfa e Sigma.
62
4.2.2 Remanufatura de cartuchos
Para melhor caracterização da atividade de remanufatura, faz-se importante
conceituação de alguns termos como:
a) Cartucho de toner: Segundo informações publicadas no site da Associação
Brasileira de Recondicionadores de Cartuchos para Impressoras (ABRECI), os
cartuchos de toner podem apresentar as seguintes definições:
Cartucho novo: É todo cartucho fabricado com cem por cento (100%) de
peças novas e sem uso anterior. Cartucho remanufaturado: É todo aquele que é desmontado para avaliação
e substituição das peças que apresentam desgastes significativos que
comprometem a qualidade de impressão.
Cartucho recarregado: É todo aquele em que é agregado toner novo sem
avaliação e ou substituição de peças.
b) Cartucho remanufaturado: É um cartucho que passou pelo processo de
recarga e reciclagem. Os cartuchos vazios, pó de toner e seus componentes são
as matérias-primas básicas da remanufatura. Um cartucho de toner que não
estiver em condição de uso poderá ser remanufaturado completamente, de forma
a voltar a funcionar.
Muitas vezes confunde-se a palavra remanufatura com recondicionamento. No
entanto, o processo utilizado mostra-se bastante diferente. O cartucho perde a sua
identidade, posto que, sofre um processo de desmontagem total para tornar utilizável
um cartucho de impressão cuja carga esgotou-se. Não consiste apenas de recarga,
mas verdadeiramente de remanufatura, constituindo-se de uma série de etapas que
não podem ser negligenciadas.
Demonstra-se na FIG. 10 o fluxo do processo de remanufatura de cartuchos que
poderá ou não apresentar uma seqüência exata das atividades. Isso dependerá do
estado em que o cartucho retornado se encontrar, podendo tornar o fluxo mais
complexo, em conformidade ao que foi exposto por Fleischmann et al. (1997) no
marco teórico.
63
Início
Sinalização de demanda
Pré-seleção de cartuchos vazios
Recolhimento de cartuchos
vazios
Solicitação do cartucho vazio
Recebimento do cartucho
remanufaturado
Recebimento do cartucho vazio
Envio do cartucho vazio
Inspeção do cartucho vazio
Estocagem
Faturamento
Desentupimento / limpeza de interna e
externa
Avaliação e substituição de peças
Recarga
Remontagem
Testes funcionais
Embalagem
Produto acabado
Peças usadas
Reciclagem / disposição final
de resíduos
Centro de resíduos
Peças novas
Abertura do cartucho e desmontagem das
peças
Operador Logístico Empresa Alfa Empresa Sigma
Fim
Venda de cartucho remanufaturado
FIGURA 10 - Fluxograma do processo de remanufatura de cartucho da empresa estudada Fonte: Elaborada pela autora, 2008.
64
O fluxo apresentado na FIG. 10 é aparentemente bastante simples, porém, a
operacionalização dos processos é complexa, haja vista a variedade de materiais
oriundos da reciclagem e o grau de desgaste dos mesmos, que apresenta grande
variabilidade de um para o outro. A atividade de remanufatura de cartuchos constitui-
se de uma série de etapas que não podem ser ignoradas. No QUADRO 13,
detalharam-se essas etapas
QUADRO 13
Etapas da remanufatura de cartucho na empresa Alfa (Continua)
Etapa Descrição da atividade Observações Responsável
Recolhimento dos cartuchos
Coleta em todo o território nacional.
Através de política que incentiva retorno ao operador
logístico.
Operador Logístico
Pré-seleção dos cartuchos
Retirada de resíduos;
Remoção preliminar de cartuchos com defeitos grosseiros.
Limpeza e inspeção visual grosseira evitando que os
cartuchos usados sem condição de remanufatura permaneçam
no processo.
Operador Logístico
Envio do cartucho
Separação por modelo e quantidade.
Ocorre após solicitação do remanufaturador.
Operador Logístico
Recebimento do cartucho vazio
Inspeção física e fiscal.
Empresa Alfa
Estocagem do cartucho vazio
Estocagem de forma correta e em local adequado.
Identificação por modelos e quantidades.
Empresa Alfa
Inspeção do cartucho vazio
Verificação da integridade dos componentes eletrônicos e cabeças de impressão.
Inspeção fina.
Empresa Alfa
Abertura do cartucho e
desmontagem das peças
Desmontagem em componentes ou subconjuntos;
Separação dos componentes com condições de recuperação daqueles que serão descartados definitivamente.
Os materiais descartados são encaminhados para o centro de
resíduos.
Os componentes a serem recuperados são segregados nos respectivos setores da
remanufatura.
Empresa Alfa
Desentupimento e limpeza interna
e externa
Limpeza de resíduos de pó de toner antigo, de contatos e de peças.
Esta atividade evita o confronto entre o toner novo e o antigo.
Empresa Alfa
65
QUADRO 13
Etapas da remanufatura de cartucho na empresa Alfa (Conclusão)
Avaliação e substituição de
peças
Aproveitamento de carcaças plásticas e partes mecânicas;
Substituição dos elementos desgastados ou deteriorados por outros novos, de qualidade igual ou superior aos originais.
As partes e peças danificadas e que não poderão ser utilizadas
são enviadas para descarte.
Empresa Alfa
Recarga
Ato ou operação de colocar pó de toner no cartucho sendo também conhecido como envase;
Processamento automático.
A atividade de recarga é
apenas um dos passos da remanufatura.
Empresa Alfa
Remontagem
Montagem final composta por: pré-montagem dos subconjuntos e montagem final.
Origem das peças: estoque de peças usadas ou de peças
novas.
Empresa Alfa
Inspeção de processo
Análise do padrão de qualidade.
Ocorre em todas as fases do processo
Empresa Alfa
Testes funcionais
Testes de impressão individual, ajustes e controle de qualidade.
Garantem um cartucho com a qualidade e capacidade similares ao do original.
Empresa Alfa
Embalagem final e estocagem
Identificação do cartucho com etiqueta de remanufaturado e cobrindo a etiqueta original;
Embalagem em caixa ou saco também com os dizeres remanufaturado;
Estocagem de forma correta.
A caixa de embalagem deve
conter as indicações de fornecedor e validade sendo
distinguível do produto original.
Empresa Alfa
Faturamento dos cartuchos
remanufaturados
Venda e envio.
Conforme solicitação de Sigma.
Empresa Alfa
Recolhimento de resíduos e
descarte final Separação, recolhimento
e envio.
Os resíduos são segregados durante todo o processo
produtivo;
Cada tipo de resíduo é descartado em aterros
sanitários ou é incinerado.
Operador logístico
Fonte: Elaborado pela autora, 2008.
66
No que diz respeito ao processo de produção por remanufatura, E2 comenta sobre
as diferenças existentes entre o processo de produção convencional e o processo de
remanufatura e relata que a principal diferença está na definição do fator de uso das
partes e peças que compõem o cartucho de toner. "Na remanufatura existe uma
dificuldade de se precisar quais devem ser as partes e peças a serem substituídas,
uma vez que estimativas de reaproveitamento podem falhar", salienta.
Não é possível prever quantas vezes pode-se reutilizar um cartucho médio trazido
por um fornecedor ou cliente normal. Na empresa estudada, acredita-se em uma
média de três remanufaturas, mas o histórico de cada cartucho é sempre
desconhecido: quando foi produzido originalmente, quantas páginas foram por ele
impressas, de que forma foi estocado, qual o estado da impressora em que foi
utilizado, entre outras variáveis que se somam ao modelo de cartucho para
determinar a sua vida útil.
Para realização da atividade de remanufatura alguns aspectos que afetam a vida útil
do cartucho devem ser observados, posto que, podem interferir diretamente nos
índices de produtividade e refugo, de acordo com E3, como:
o número de vezes em que um cartucho foi remanufaturado;
a forma de manuseio do cartucho pelo mercado consumidor;
as condições de transporte e armazenagem do cartucho usado.
Os cartuchos com vida útil esgotada são descartados para remanufatura, mas
poderão ter valor comercial para o remanufaturador, pois podem suprir algumas
peças em boas condições que serão úteis para a reciclagem de outros cartuchos
similares.
Outra questão observada nos documentos analisados diz respeito às adequações ao
processo produtivo que foram necessárias para execução do processo de
remanufatura de cartucho, como:
criação de procedimentos específicos;
intensificação de treinamento da mão-de-obra direta;
67
maior detalhamento dos processos produtivos;
monitoração constante de dados de reaproveitamento de partes e peças;
realização de contagem de estoque com freqüência reduzida;
Os entrevistados apresentaram alguns benefícios advindos do processo de
remanufatura de cartucho, como:
permitem obter economias na ordem de 35% devidas principalmente ao
reaproveitamento de partes e peças;
a cada quinze cartuchos permitem economizar o valor de uma impressora, bem
como, evitar o gasto de 5 litros de petróleo na fabricação de um cartucho novo
(dependendo do modelo);
não danificam as máquinas posto que são os próprios cartuchos de fabricantes
originais que recebem nova carga e novas peças e imprimem a mesma ou até
maior quantidade de páginas que o cartucho original.
Outros fatores de sucesso que podem ser atribuídos ao processo de remanufatura
suportado pela logística reversa apontados por E1 foram: redução drástica de
rejeitos disponibilizados aleatoriamente no meio ambiente e disseminação da cultura
de reaproveitamento. Ressaltam-se tais benefícios, percebidos no marco teórico, por
Lambert, Stock e Vantine (1999) e Barbieri e Dias (2002).
4.2.3 Planejamento e controle da produção da atividade de remanufatura
A área de Planejamento, Programação e Controle de Produção (PCP) inicia as suas
atividades através da previsão de demanda enviada pelo cliente Sigma. Para
resposta da viabilidade de atendimento dessa solicitação, o PCP utiliza os seguintes
recursos: software MRP – que calcula o que deve ser comprado e o que deve ser
produzido, conforme salientado por Corrêa, Gianesi e Caon (1997) –, e informações
de capacidade de produção.
Os resultados obtidos pelo PCP após a realização do processo de análise podem
ser:
68
Se a solicitação de vendas for factível: compras e produção são planejadas;
Se a solicitação de vendas for inviável: o cliente recebe o retorno sobre a
impossibilidade de atendimento de sua solicitação e é apresentada ao cliente
uma nova proposta. Inicia-se, assim, um novo ciclo de análises.
Observou-se que a previsão de demanda informada por Sigma, da parte de todos os
entrevistados, é, na maioria das vezes, impossível de ser atendida, em razão da
indisponibilidade do cartucho usado no operador logístico ou erro de projeção
trimestral de volume por modelo, informado anteriormente.
Representa-se esquematicamente esse processo na FIG. 11.
O PCP, conforme dito no marco teórico por Tubino (1997), deve ser
permanentemente suprido de informações das áreas de Vendas, Compras,
Manutenção, Engenharia, Produção, entre outras. Essas áreas também recebem
informações do PCP, para que possam melhor desempenhar suas atividades.
Estatísticas Dados Reais Custos
B C
A - Parâmetros - Estrutura do produto
0
10
20
30
40
50
Semana 1 Semana 2 Semana 4 Semana 5
hs
UtilizadaDisponível
Capacidade Análise Bruta
- Pedidos pendentes - Estoques
ProduçãoPlanejada
Produção
Capacidade Análise
Detalhada
Previsãode Vendas
ComprasPlanejadas
ComprasVendasReais
PCP MRP
FIGURA 11 - Esquema sintético do processo do PCP Fonte: Elaborado pela autora, 2008.
69
Alfa utiliza o sistema SAP como ferramenta de gestão integrada, que é voltado para
o modelo tradicional de manufatura, e por isso não contempla as particularidades
que o processo de remanufatura exige, necessitando assim de uma ferramenta mais
adequada para o controle físico do chão de fábrica.
Ao se utilizar o sistema Materials Requirement Planning – MRP que permite calcular
quantidades e tipos de materiais necessários a cada momento do processo (SLACK,
2002), depara-se com a necessidade de utilização das informações advindas das
estruturas do produto. Estas estruturas partem da premissa de uma porcentagem
média de reaproveitamento de componentes e/ou matéria-prima e o sistema acaba
gerando uma necessidade de materiais que, na maioria das vezes, não corresponde
à real necessidade, pois se baseia em estoques incorretos, uma vez que a baixa dos
estoques de componentes e/ou matéria-prima é realizada conforme a estrutura do
produto, cujo consumo físico nem sempre corresponde ao estruturado, na empresa
estudada.
Portanto, torna-se imprescindível que todos os dados contidos no software MRP
estejam devidamente parametrizados e aferidos. Cabe, neste momento, salientar-se
a importância da correta parametrização e periódica aferição das informações
carregadas no software MRP. Observaram-se algumas informações necessárias ao
processamento do MRP, também chamadas de inputs, nos documentos analisados
e posteriormente sintetizados no QUADRO 14.
70
QUADRO 14
Informações adotadas por Alfa necessárias ao processamento do MRP
Informação Caracterização Responsável Observações
Previsão de vendas
Informação periódica. Empresa Sigma
Apresenta distorções de quantidade por modelo.
Parâmetros diversos
Registros que caracterizam uma variável;
Cada área de atuação tem responsabilidade de aferir parâmetros específicos no MRP.
PCP, Compras, Qualidade, Logística e Engenharia
Exemplo de parâmetros adotados por Alfa: Lote econômico de compras e
produção; Classificação ABC de materiais; Fator de refugo; Tempo de ressuprimento; Tempo de produção.
Estrutura do produto
A exata definição do fator de uso é dificultada pela qualidade duvidosa do cartucho usados e das partes/peças a serem aproveitadas.
Engenharia de produto
A incorreta definição do fator de uso pode determinar possível excesso ou falta de estoque.
Estoques de matéria-prima e
produtos em processo
Estoque em poder do operador logístico: cartucho usado (matéria-prima principal);
Estoque próprio: demais matérias-primas e produtos em processo.
Almoxarifado, Operador logístico
A aferição dos estoques ocorre através de inventários cíclicos definidos por parâmetros pré-estabelecidos.
Pedidos pendentes de compras
Pedidos de compra que ainda não foram entregues pelo fornecedor.
Compras
O acompanhamento periódico de pedidos pendentes possibilita o conhecimento real da situação e adoção de medidas preventivas.
Fonte: Elaborado pela autora, 2008.
Verificaram-se algumas informações importantes sobre operacionalização do plano
de produção para a remanufatura, salientadas por E3:
Modelo de planejamento: existe a adoção tanto do modelo de planejamento
para estoque como sob encomenda. Entretanto, o modelo mais utilizado é o sob
encomenda. O modelo para estoque é adotado somente quando existem
recursos materiais e produtivos disponíveis, objetivando assim o aproveitamento
desses recursos e, por conseqüência, a otimização do processo produtivo.
Periodicidade do plano: realiza-se uma programação mensal que é confirmada
a cada semana;
Intervalo entre as alterações do plano: adota-se uma programação semanal
71
congelada, ou seja, firme, onde não é permitido que sejam feitas alterações;
Motivos de alteração do plano: problemas mecânicos, problemas com
acuracidade do estoque e solicitação do cliente.
Constatou-se que uma das principais dificuldades para realização da atividade de
planejamento e controle da produção, por informação de E7, é a incerteza da
uniformidade dos índices de aproveitamento do volume total de cartuchos vazios e
de partes e peças, ou seja, o item a ser remanufaturado (matéria-prima principal)
tem uma qualidade variável, podendo demandar menor ou maior volume de
componentes a ser remanufaturados ou substituídos, bem como de recursos de
mão-de-obra, equipamentos, ferramental e componentes novos para a substituição
dos descartados, confirmando-se as observações realizadas por Costa Filho, Coelho
Júnior e Costa (2006) no referencial teórico.
Uma questão compartilhada pelos entrevistados se refere aos sistemas operacionais
utilizados. Colocam-nos como inadequados, posto que, são adaptados originalmente
dos processos de produção tradicionais e não de produtos remanufaturados,
podendo ter como conseqüência alguns desvios. Assim, o fator de uso utilizados nas
estruturas dos produtos é cadastrado através de médias. Operando com sistemas
informatizados (SAP, ERP, MRP), dificilmente se atingirá uma boa acuracidade nos
estoques, uma vez que o consumo dos materiais é variável em função do estado do
lote de peças que está sendo processado, podendo haver uma variação dos
recursos fabris em relação ao planejado.
Outro fator crítico apresentado por E6 se refere ao fato de que a definição da
quantidade a ser programada para produção não está vinculada somente ao pedido
do cliente, mas também à disponibilização dos cartuchos vazios pelo mercado
consumidor. Não é possível prever os modelos que serão disponibilizados e muito
menos se precisar volumes. A incerteza da disponibilização de cartuchos vazios pelo
mercado pode ser de ordens qualitativas e quantitativas, reforçando a necessidade
de uma análise detalhada e abrangente pelo planejador, pois o cartucho pode estar
disponível, mas em condições que inviabilizariam sua remanufatura.
Observou-se outra questão nos documentos analisados que interfere diretamente na
72
execução da atividade de PCP: a importância da unicidade da informação entre os
saldos de estoque físico e sistêmico. A acuracidade dos estoques, na percepção de
E1, é fator de vital importância para a execução da atividade de remanufatura e –
comenta ainda – é uma meta perseguida constantemente pela organização
estudada.
Observa-se, por intermédio do relato dos entrevistados e da descrição dos
processos até então mapeados, que o PCP da empresa Alfa, ao planejar produtos
remanufaturados, trabalha em um cenário incerto, indo ao encontro do que foi
definido por Czaja (2003) e Costa Filho, Coelho Júnior e Costa (2006) no marco
teórico. A empresa Alfa desenvolve algumas estratégias para atenuar a intensidade
das variáveis que interferem na operacionalização da atividade de PCP, visando
facilitar o processo operacional realizado, conforme QUADRO 15.
QUADRO 15
Estratégias para facilitar a operacionalização do PCP
Aspectos a serem gerenciados Medidas
Quantidade de cartuchos vazios existentes no operador logístico nem sempre correspondem ao volume necessário solicitado pelo cliente.
Realização da programação mensal de vendas, por Sigma, baseada na informação prévia de estoque de cartuchos em poder do operador logístico.
Índices de aproveitamento do volume total de cartuchos vazios e de partes e peças não apresentam uniformidade.
Implantação de um processo de inspeção e seleção mais criterioso a ser realizado pelo operador logístico.
Substituição repentina de partes e peças devido a problemas de qualidade perceptíveis apenas durante o processo de remanufatura.
Sistemas operacionais inadequados ao processo de remanufatura.
Adoção de uma política de revisão periódica do fator de uso, pela área de engenharia do produto, permitindo uma adequação à situação real.
Ressuprimento urgente de matéria-prima onde: 95% das matérias-primas utilizadas no processo de remanufatura são importadas e possuem um prazo de ressuprimento de em média sessenta dias.
Utilização de uma política de fator de segurança para aqueles itens que apresentam um maior % de perda no processo e também um tempo de ressuprimento maior;
Adoção, pela área de compras, de uma política dedicada para gerenciamento de compras dos itens importados e com maior ressuprimento.
Acuracidade do estoque. Implantação de uma política de inventários
cíclicos com uma menor periodicidade nos estoques: de matéria-prima e em processo.
Fonte: Elaborado pela autora, 2008.
73
Conclui-se que todas essas questões apontadas não só tornam complexas as
análises que precisam ser realizadas pelo PCP como também interferem na
execução da atividade de forma geral, pois o número de variáveis é grande e difícil
de ser controlado, apesar das medidas estratégicas que estão sendo adotadas.
74
5 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através deste trabalho, procurou-se mostrar a logística reversa voltada à
recuperação de materiais. O processo de logística reversa caracterizou-se como
sendo de pós-consumo, com foco na reutilização por meio da atividade de
remanufatura, cujos elementos direcionadores foram questões econômicas e de
responsabilidade ambiental. Assim, a atividade de remanufatura e logística reversa,
que se resumem à combinação de eficiência econômica com respeito ao meio
ambiente, passam pela busca da maior eficiência na utilização dos recursos de um
sistema econômico.
A atividade de logística reversa, por ser uma atividade integrada, realiza-se, neste
estudo de caso, pela composição de três empresas: empresa Alfa, responsável pelo
processo de remanufatura; operador logístico, responsável pela operacionalização
de todo o processo de logística reversa; e empresa Sigma, responsável pela criação
e acompanhamento da política de incentivo do retorno de cartucho, informação da
demanda de vendas e contratação e acompanhamento do operador logístico e do
remanufaturador.
A política de incentivo ao recolhimento de cartucho usado reduz substancialmente o
custo do processo de remanufatura. Essa afirmação se apóia no fato de que os
cartuchos usados devolvidos oferecem oportunidades para recuperação do valor,
bem como economias de custo em potencial, agregando valor à atividade de
remanufatura e possibilitando a revalorização ecológica.
Diante de todo esse contexto, torna-se preponderante para o sucesso do processo
de logística reversa que o ele seja aperfeiçoado continuamente, chegando a um
nível de qualificação e capacitação que alavanquem de forma considerável os
negócios de Alfa e Sigma, e que permitam o desempenho desta atividade com maior
agilidade e flexibilidade.
75
Adicionalmente, as informações coletadas e analisadas na pesquisa indicam que
para a realização da atividade de remanufatura, a empresa Alfa precisou adequar os
processos de manufatura já existentes na organização à nova atividade de
remanufatura por meio de uma série de ações como: criação de procedimentos
específicos; intensificação de treinamento da mão-de-obra direta; maior
detalhamento dos processos produtivos; monitoração constante de dados de
reaproveitamento de partes e peças e realização de contagem de estoque com
freqüência reduzida. Porém, observaram-se outros aspectos relevantes, no estudo
realizado, que precisam ser levados em consideração, pois interferem na vida útil do
cartucho e também diretamente à atividade de remanufatura, posto que, afetam o
índice de refugo e produtividade.
Apresentam-se, no QUADRO 16, algumas sugestões baseadas em análise do
mapeamento do processo de manufatura e síntese das análises apresentadas no
capítulo anterior, visando reduzir as interferências no desempenho da atividade de
remanufatura.
76
QUADRO 16
Aspectos que interferem no desempenho da atividade de remanufatura de cartucho
Aspectos Interferências no processo Sugestões Benefícios
Informação do número de
vezes que um cartucho foi
remanufaturado
Redução do índice de produtividade;
Recebimento de cartuchos sem condição de uso;
Informações irreais do número de cartuchos em condição de uso.
Criação de procedimento para controle e
identificação do número de remanufaturas já realizadas em um
cartucho.
Construção de base de dados histórica;
Otimização da atividade de inspeção visual grosseira dos cartuchos usados;
Obtenção da quantidade real de cartucho usado em condições de uso.
Forma de manuseio do cartucho pelo
mercado consumidor;
Criação de programa de educação de
consumidores e demais elos dos canais reversos.
Agregação de valor ao longo da cadeia de remanufatura;
Redução de custos do processo.
Condições de transporte e
armazenagem
Redução da vida útil do cartucho;
Aumento do índice de refugo;
Redução do índice de produtividade.
Desenvolvimento de caixas reaproveitáveis de transporte para cartuchos
usados.
Garantia de perfeitas condições de transporte e manuseio;
Agilização dos processos de: conferência, inspeção, separação, estocagem e envio de cartuchos;
Redução de custos com embalagens.
Fonte: Elaborado pela autora, 2008.
Com relação à questão de pesquisa sobre equacionamento dos aspectos técnicos e
operacionais necessários para execução da atividade de PCP, pode-se inferir, diante
do estudo realizado, que o grau de complexidade para execução da atividade de
remanufatura é maior em relação à atividade de manufatura convencional, devido ao
maior número de variáveis que devem ser controladas, interferindo diretamente na
execução da atividade de PCP.
Detectou-se que o principal ofensor se refere à incerteza da uniformidade dos
índices de aproveitamento da quantidade total de cartuchos usados, ou seja, o item
a ser remanufaturado (matéria-prima principal) tem uma qualidade duvidosa,
podendo demandar menor ou maior volume de componentes a ser remanufaturados
ou substituídos, bem como de recursos de mão-de-obra, equipamentos, ferramental
e componentes novos para a substituição dos descartados.
77
Conclui-se que a incerteza da uniformidade dos índices de aproveitamento de
cartuchos usados afeta todo o processo do PCP, uma vez que acrescenta no
processo de remanufatura um grande número de variáveis inexistentes no processo
de manufatura convencional. No QUADRO 17, faz-se uma síntese dos processos e
variáveis controladas pelo PCP.
QUADRO 17
Processos e variáveis controlados pelo PCP no caso estudado
Aspectos a serem gerenciados
Processo afetado
Variável Medidas já adotadas por Sigma
Falta de uniformidade
nos índices de aproveitamento de cartuchos usados.
Análise da previsão de
vendas
Mensuração da quantidade real de cartuchos remanufaturados que poderão ser atendidos.
Implantação de um
processo criterioso de inspeção e seleção.
Substituição repentina de partes/peças na
produção.
Identificação eficaz da qualidade de partes e peças.
Informação irreal do
fator de uso adotado.
Planejamento, programação e controle diário da produção
Inadequação dos sistemas operacionais adotados.
Adoção de uma política de revisão periódica do fator de uso.
Necessidade de
compra urgente de matéria-prima.
Utilização de uma política de fator de segurança;
Adoção de política especial de ressuprimento.
Falta de acuracidade
do estoque.
Planejamento mensal e diário da produção e programação de compras
Revisão periódica das programações mensais e diárias;
Antecipação/postergação de entregas de matéria-prima.
Implantação de uma política de inventários cíclicos com uma menor periodicidade.
Fonte: Elaborado pela autora, 2008.
Inferiu-se que outra importante questão para auxiliar no equacionamento dos
aspectos técnicos e operacionais do PCP consiste na estruturação da empresa
estudada através da implantação de tecnologias de informação desenvolvida
especificamente para realização da atividade de remanufatura.
Verifica-se que os sistemas informatizados adotados por Alfa são próprios para o
processo de manufatura convencional, não agregando as peculiaridades
78
características do processo de remanufatura. A adoção de sistemas customizados
para remanufatura contemplaria as diversidades exigidas pela atividade,
possibilitando: redução dos estoques, atendimento dos prazos solicitados,
otimização da atividade de PCP e, por conseqüência, obtenção de resultados
satisfatórios do indicador de vendas perdidas.
Apresenta-se como importante, ainda, a melhoria dos processos de previsão de
demanda. De acordo com o estudo realizado, a previsão de demanda é informada
por Sigma e, na maioria das vezes, não é factível, em conseqüência da
indisponibilidade do cartucho no operador logístico.
Diante desse contexto, apresenta-se, no QUADRO 18, uma sugestão para
sistematização de procedimento para atividade de previsão de demanda para
obtenção de uma operacionalização do PCP mais eficaz.
QUADRO 18
Sistematização de procedimento da atividade de previsão de demanda para
empresa estudada.
Ordem Atividade
Descrição da atividade Resultado esperado Responsável
1
Criar política de controle para venda de
impressoras objetivando:
Obtenção das informações: localização do cliente, quantidade, modelo, previsão de troca de cartucho;
Formação de um banco de dados histórico para orientar o recolhimento dos cartuchos usados.
Empresa Sigma
2
Realizar planejamento de vendas trimestral baseado na previsão de obtenção
de cartuchos usados.
Realização de suprimento adequado da matérias-primas com longo tempo de ressuprimento.
Empresa
Sigma
3
Realizar planejamento de vendas mensal baseado
no planejamento trimestral.
Realização da previsão de demanda mais factível.
Empresa
Sigma
4 Intensificar a coleta de cartucho.
Aumento do volume de cartuchos recolhidos.
Operador logístico
5 Realizar atividade de inspeção grossa com mais
critério.
Obtenção de informação real do volume de cartuchos usados em condição de aproveitamento.
Operador logístico
Fonte: Elaborado pela autora, 2008.
79
Ressalte-se que as sugestões realizadas nesta conclusão só foram possíveis graças
à realização do mapeamento das atividades de logística reversa, remanufatura e
PCP, demonstrado no capítulo anterior, onde também foram apresentados fatores
motivadores e dificultadores para realização de respectivas atividades – fato que
permitiu ampla contextualização do assunto, auxiliando tanto no atendimento da
questão de pesquisa como nas recomendações realizadas.
O pequeno espaço de tempo entre a implantação da atividade de remanufatura e a
realização desta pesquisa, bem como a ausência de mensuração de custos
envolvidos com a atividade de remanufatura, pela empresa estudada, foram
aspectos limitadores deste trabalho.
Finalmente, é importante destacar, como contribuição da pesquisa, além das
medidas estratégias adotadas por Alfa, contextualizadas no capítulo de análise de
resultados, outros importantes aspectos que precisam ser gerenciados para que a
atividade de PCP seja equacionada, como: revisão dos parâmetros das políticas de
fator de uso e fator de segurança adotados; implantação de tecnologias de
informação específicas para realização da atividade de remanufatura e
sistematização de um procedimento para melhoria dos processos de previsão de
demanda.
Este estudo versa sobre a otimização da atividade de PCP para realização do
processo de remanufatura suportado pela logística reversa e pode ser utilizado como
orientador não somente para indústrias do setor eletroeletrônico, mas também para
outros tipos de indústrias. Adicionalmente, vale sugerir alguns desdobramentos
deste estudo, como:
verificação do impacto da remanufatura na redução dos custos totais da cadeia
de suprimentos;
análise da atividade de remanufatura diante das exigências da SOX;
identificação do benefício financeiro da utilização de prestadores de serviço
logístico nas atividades da logística reversa;
levantamento de sistemas computacionais que suportem a atividade de PCP e
80
remanufatura;
análise da viabilidade financeira da aplicação de sistemas de informação
especializados para as atividades de PCP e de remanufatura;
reavaliação futura dos aspectos abordados neste estudo;
81
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86
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ENTREVISTADOS
A entrevista seguirá este roteiro de perguntas apenas como referência, podendo ser
ajustada de acordo com as repostas do entrevistado.
I. Informações gerais sobre o entrevistado:
Nome: ____________________________________________________________
Função: ___________________________________________________________
Formação: _________________________________________________________
Contato telefônico: ___________________________________________________
E-mail: ____________________________________________________________
II. Perguntas 1. Qual é o relacionamento da logística reversa com a cadeia de suprimentos?
2. Quais as vantagens e desvantagens dessa relação?
3. Com relação ao abastecimento de matéria-prima, discorrer:
a. O volume de produção que é feito diante da necessidade da logística reversa.
b. Existe risco de falta de abastecimento?
4. Como ocorre o processo de logística reversa com relação:
a. Identificação das necessidades de reposição de partes e peças.
b. Política de recolhimento de partes e peças.
c. Política de retorno de partes e peças.
d. Quais são as dificuldades encontradas na execução da logística reversa
(qualidade, disponibilidade)?
e. Existem cuidados especiais que devem ser observados na execução da
logística reversa? Quais são?
87
5. Com relação ao processo de produção X processo de remanufatura, discorrer
sobre:
a. As diferenças entre processo de produção tradicional e o processo de
remanufatura.
b. Quais são as adequações necessárias ao processo de produção tradicional
para execução do processo de remanufatura?
c. Para a realização do processo operacional da atividade de remanufatura
existem medidas/atividades especiais a serem adotadas (procedimentos,
controles)? Quais são?
6. Com relação ao processo de remanufatura, discorrer sobre:
a. Pré-requisito técnico para execução da atividade de remanufatura.
b. Pré-requisito operacional para execução da atividade de remanufatura.
c. Quais interferências o processo de remanufatura pode oferecer ao índice de
produtividade?
d. Quais interferências o processo de remanufatura pode oferecer ao índice de
refugos?
e. Existe sistema informatizado para realização da atividade de remanufatura
(planejamento, execução e controle)?
7. Referente ao PCP, discorrer:
a. Quais são as diferenças entre a atividade de planejamento e controle da
produção para produção tradicional e para remanufatura?
8. Marque qual é o modelo usado de planejamento e explique o motivo:
a. para estoque sob encomenda ambos outro
b. Motivo:
9. Sobre o plano de produção, discorrer:
a. Periodicidade do plano.
b. Intervalo entre alterações do plano.
c. Análise das alterações do plano.
d. Procedimentos para ajustes do plano.
e. Motivos das alterações do plano.
f. Análise da capacidade produtiva para cumprimento do plano.
88
g. Análise de materiais necessários para cumprimento do plano.
10. Sobre o Sistema (MRP, JIT, Kanban) de planejamento de produção tradicional X
planejamento para remanufatura:
a. Diferenças entre sistema de planejamento de produção tradicional X
planejamento para remanufatura.
b. Quais são as adequações necessárias ao sistema de planejamento tradicional
para execução do processo de remanufatura?
11. Sobre o sistema informatizado de planejamento e controle:
a. Diferenças entre sistema informatizado de planejamento de produção
tradicional X planejamento para remanufatura.
b. Quais são as adequações necessárias ao sistema de planejamento tradicional
para execução do processo de remanufatura?
12. Sobre o processo de aquisição de matéria-prima para produção tradicional X
producão para remanufatura.
a. Em quais aspectos diferem no processo de aquisição de matéria-prima para
processo tradicional X processo remanufatura.
13. Quais são os fatores de sucesso que podem ser atribuídos ao processo de
remanufatura suportado pela logística reversa?
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