Lá fora

Post on 12-Jul-2016

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Lá fora

Um menino caminha sonhando um sonho que o acompanha sorrindoNão um sonho de mais tarde quando eu for adultonãoum sonho de agora mesmo divertido próximo e vivoE o menino escorrega e cai e o sonho se quebra e o menino se afasta mancando deixando no passeio uma pequena poça de sangueChega então o velho colonizador que todo mundo chama de ComandanteImóevel diante da peça ostensivamente vituperaÓ sanguesangue de criançasangue perdidoe inulitmente espalhadosó deverias correr chegada a tua horae para a salvação do ImpérioMas o sangue do Comandante se chateiaseu sangue azedodesbotado ressecado aposentado nas casernasEpassando regularmente pela via hierárquica arterial esclerosada e tricolorizadalhe dá uma gastura na boca antes de se deteriorardefinitivamenteA terra gira brutalmente e a quina do passeio onde permanece ainda a pequena poça de sangue chega

exatamente à altura da cabeça do comandanteUm senhor que sem dúvida é alguém aparece logo com umas placas de vidro e por sua vez se agacha

no passeio mas muito delicadamenteUm pouco mais tarde diante de um público escolhido a dedo demosntra anfiteatralmente a eterna

beleza da raça que permite a um velho militar com sessenta e nove anos entregar a sua alma a Deus só derramando um pouco de sangue em tudo por tudo semelhante e isso demonstrado cientificamente ao de uma criança

Então num inesquecível e calouroso arroubo de legítimo orgulho contraditório todo o mundo comovido sorrindo chorando se abraçando aplaudinso se levanta de pé como um só homem cantando "Allons enfants"

E o rapaz do laboratório como um só homem ele também um homem só ficou sentadoO rapaz que ali fora porque não tinha nada pra fazerImediatamente e unanimemente apontam-no com o dedo e metralham-no com o olharDesculpem-me tirava uma sonecaa guerra acho essa conversa de um tédio mortalespero que me compreendamMas não se incomodemcontinuem com a funçãovamos vamosvamos rapazes marchaique um sangue impuro regue os vossos campos férteis e que as vossas trombetas de Jericó pela mesma e grande ocasião derrubem a muralha do somPerdoem-me finalmente por ter atrapalhado inocentemente essas grandes efusões de sangueE ele é posto pra fora ignomiosamenteLá foraapesar da guerra e da morte se lembrarem da sua melhor lembrançalá fora e assim todos os diasele core para os braços da amadaPara eleo sangue é sempreo ardente amante da vida

Assim como verdadeiramente existe um barril de vinho tinto na despensa de luaAssim como verdadeiramente existe uma garrafa de áfua fresca na calçada do solAssim como verdadeiramente existe uma fanfarra de peixes em cada vaga no mar

Assim como verdadeiramentea moça inquieta e de pé diante do calendário

espera sem nada dizer o sangue que demora.