Post on 29-Jun-2020
Júnia Cleize Gomes Pereira e Telma Borges
FLORA1: Grande sertão: veredas é uma narrativa em que o fazendeiro Riobaldo, um
sertanejo que detém o poder da fala, conta a um Senhor da cidade, este que está sempre
lhe ouvindo, mas nunca lhe responde, o passado do jagunço Riobaldo-Tatarana e a sua
grande travessia no sertão das gerais. Essa travessia nos chama a atenção para o fato de
que o sertão presente nesse romance de Guimarães Rosa não é apenas um cenário
natural em que se desenrolam as ações, mas o sertão como um ator central que faz com
que as ações aconteçam.
Rosa descreve esse sertão cheio de plantas, bichos, rios, veredas, lugares,
minerais etc., e com isso, percebemos a paixão de um Rosa naturalista e dono de uma
maneira singular e poética de retratar a natureza, diferentemente das classificações
estáticas e secas empregadas pela biologia. Em seu livro Ser-tão Natureza: a natureza
em Guimarães Rosa, Mônica Meyer sustenta a ideia de que essa natureza rosiana não se
confirma somente como um caminho ou uma paisagem, mas como elemento que
constitui o homem. Vejamos:
A presença marcante e constante da natureza e das viagens na obra rosiana
indica, intuitivamente, que tanto a natureza como a viagem têm um
significado que ultrapassa a dimensão espacial de paisagem natural e de
deslocamento geográfico. O valor metafísico emerge através de situações em
que há entrelaçamento entre personagem e natureza. Nada é descrito
gratuitamente, como composição e enfeite. (MEYER, 2008, p. 203).
É sabido que Guimarães Rosa era um viajante e que essa experiência marcou
profundamente sua vida artística, pessoal, intelectual e profissional. Mas seus interesses
pela natureza e pelas viagens começaram ainda quando criança, pois já na sua cidade
Natal, Cordisburgo, no sertão de Minas Gerais, ele tinha contato com o mundo natural e
com vários viajantes que passavam por lá. No artigo “Paisagens do morro: recados de
Rosa”, presente no livro Ser Tao João, Fábio Borges da Silva e Claudinei Lourenço
fazem referência sobre essa familiaridade de Rosa com a natureza:
(...) já na infância, Guimarães Rosa desenvolveu uma forma muito singular
de observação da natureza: recebeu contribuições das ciências naturais (como
a geografia), das artes, do pensamento mítico religioso e da cultura popular
local. A abordagem da natureza em sua literatura é uma síntese produzida no
1Autoria: Júnia Cleize Gomes Pereira(adaptado de monografia defendida em 2014 na Universidade
Estadual de Montes Claros).
encontro entre essas várias formas de pensamento e de conhecimento acerca
da realidade que o circulava. (LOURENÇO; SILVA, 2012, p. 86).
O conhecimento advém de viagens, do contato com novas culturas, mas também
ouvindo histórias de pessoas que quase nunca saem de suas terras e, assim, conhecem
muito bem suas tradições e a cultura popular local. Rosa começou a alimentar seu
conhecimento na sua terra, onde seu pai, Florduardo Pinto Rosa, tinha um comércio,
conhecido como “Venda de seu Fulô”, onde ouvia causos de várias pessoas que por ali
passavam e contavam suas estórias. Os causos, as lendas e os mitos que passam de
pessoa a pessoa são a fonte que faz surgirem os narradores, assim como Guimarães
Rosa.
Ainda em sua infância, Joãozito, apelido com o qual era tratado, costumava
“andar pelos matos armando arapucas para depois soltar os passarinhos apanhados e
colecionar plantas e insetos organizados à moda dos bestiários do início da ciência e do
naturalismo” (GUIMARÃES apudLOURENÇO; SILVA, 2012, p. 86).
Podemos dizer que a natureza do sertão que nos é apresentada nas páginas de
Grande sertão: veredas é resultado dessas observações, das viagens, anotações e
vivências de Guimarães Rosa. As viagens pelo sertão mineiro, realizadas por ele, foram
duas, e sobre elas discorre ainda Fábio Borges da Silva e Claudinei Lourenço:
Pelo interior de Minas Gerais deixou registro de apenas duas viagens, uma
em 1947, chamada “Grande Excursão a Minas” e outra em 1952, denominada
“A Boiada de 52”. Essa última, realizada entre os dias 19 e 29 de maio,
produziu um acervo com mais de 60 cadernos de notas, observações,
descrições, croquis, cantigas populares, coleção de nomes e verbetes locais –
muitos ainda não dicionarizados – e que deram substância à feitura de seu
intento literário. (LOURENÇO; SILVA 2012, p. 87).
Vimos então que de fato Rosa fez viagens e sabemos que quem viaja sempre tem
muito a contar, a narrar. O resultado dessas andanças, em especial “A Boiada de 52”, foi
a extensa narrativa de Grande Sertão: veredas,que surgiu quatro anos mais tarde, em
1956. Prova disso são os vários detalhes registrados nos seus cadernos de anotações
encontrados depois no romance, entre eles temos alguns vegetais como a flor casa-
comigo, os pequizeiros, os cágados, o pau-d’óleo, maracanãs, entre outros.
Rosa colocou o sertão dentro desses caderninhos de anotações e se abastecia dos
seus dados e também das correspondências que trocava, inclusive com o seu pai,
Florduardo, que lhe dava informações, contava casos, noticiava e comentava, atendendo
aos pedidos do filho diplomata que, residindo fora do Brasil, pedia ao pai alguns
assuntos que lhe interessava:
Por exemplo: Descrição de uma pescaria à rêde. Como era aquilo, da
extraordinária abundância de mandis, em determinadas épocas, e como e por
que acontecia. Coisas a respeito da fundação de Cordisburgo, e dos primeiros
tempos do arraial etc. (ROSA, apud MEYER, 2008, p. 59).
Esse tipo de correspondência era frequente entre eles. Joãozito solicitava ao pai
que fosse “recordando e alinhando lembranças interessantes de coisas vistas e ouvidas
na roça – caçadas, etc. – que possam servir de elementos para outro livro, que vou
preparar” (ROSA, apud MEYER, 2008, p. 59). As respostas do pai certamente ficariam
em seu acervo particular para posteriormente serem usadas em seus livros, mostrando
assim a importância que Florduardo teve em sua escrita e o quanto o influenciou.
Podemos dizer que com essas e tantas outras informações que teve, Rosa se
adentrou a fundo no sertão e isso fez com que conhecesse os detalhes desse cenário e o
transformasse em ficção. Segundo Mônica Meyer, no livro A Boiada:
Ao se tornar parte integrante da narrativa, as anotações são recriadas, tecidas
na sua estrutura e na sua trama, passando a adquirir nova função e sentido
dentro dela. Com base na observação atenta a realidade, o material coletado –
anotações sobre a fauna e a flora, costumes, falas – tudo é reaproveitado,
reelaborado e recomposto, reatualizando-se no espaço ficcional. (MEYER,
2011, p. 193).
Tomando nota do seu conhecimento sobre o assunto, percebemos que Guimarães
Rosa preocupa-se em traduzir uma multiplicidade de sensações que nos permitem
imaginar a diversidade do mundo sertanejo e sentir aquele mundo natural. Podemos ver
as belas tardes, os cantos dos pássaros, a cor e o cheiro das flores, o gosto e o tempero
da comida dos sertanejos; enfim, “a cor, o som, o gosto e o cheiro dos Gerais exalam do
texto”, como acentua Mônica Meyer. (MEYER, 2011, p. 205).
Entre essas tantas faces do sertão retratado por Rosa, vamos nos adentrar na
flora, que está representada em Grande sertão: veredas pelas espécies típicas do
cerrado, bioma cuja cor predominante, segundo Rosa, é a amarela, de modo que “o
amarelo traduz a paixão de Guimarães Rosa pelo cerrado, declarada durante o discurso
de posse na Academia Brasileira de Letras: “Eu gosto do amarelo.” (ROSA, apud
MEYER, 2011, p. 209).
Nas suas anotações, Rosa descreve as plantas sempre colocando características
ora das folhas, ora das flores, ora dos caules, ora das hastes, tempo de floração,
frutificação, não deixando de destacar o amarelo: “Capim e juncos (finos) com
florzinhas amarelas balançando nas pontas das longuinhas hastes. Tudo de amarelim”
(ROSA, 2011, p. 137).
É perceptível na obra de Rosa uma natureza viva, que está sempre em
movimento: no trecho citado percebemos isso ao “ver” as “florzinhas amarelas
balançando”; sentimos também um movimento poético em Grande sertão: veredas ao
ver naquele dia “desdobrado” a “papeagem do buritizal, que lequelequêia” (ROSA,
2001, p. 63); a cor do vento quando este bate nas palmas dos buritis todos, quando é
ameaço de tempestade: “O vento é verde”. (ROSA, 2001, p. 306).
É posta nas páginas do romance uma natureza belimbeleza, que leva o leitor a
adentrar-se pelo sertão, a envolver-se e mesmo a perceber a integração do autor com
essa natureza. No uso de diminutivos como “florzinhas” e “amarelim” fica evidente essa
afetividade e intimidade de Rosa com a natureza. Na passagem a seguir, presente no
livro O Brasil de Rosa de Luiz Roncari, Gilberto Freyre faz referência a Sergio Buarque
de Holanda, este que faz observações acerca do diminutivo, considerando ser uma
tendência brasileira e que nos faz aproximar dos objetos. Vejamos:
O desejo de estabelecer intimidade que o ensaísta Sérgio Buarque de Holanda
considera tão característico brasileiro, e ao qual associa aquele pendor, tão
nosso, para o emprego dos diminutivos – que serve, diz ele, para
“familiarizarmos com os objetos” (FREYRE, apudRONCARI, 2004, p. 35).
Em Grande sertão: veredas, a coloração das flores, como no exemplo acima,
“florzinhas amarelas”, além de ser um elemento importante de percepção do mundo
sertanejo, é também comparado à beleza, à mulher que Riobaldo ama. É o que se
observa no trecho:
Ao crer, que soubesse mais do que eu mesmo o que eu produzia no coração,
o encoberto e o esquecido. Nhorinhá – florzinha amarela do chão, que diz: –
Eu sou bonita!... E tudo neste mundo podia ser beleza, mas Diadorim
escolhia era o ódio. (ROSA, 2001, p. 393).
Mas no cerrado temos várias outras cores que pintam a vegetação e estão
presentes nas espécies típicas, como os capins, ervas, arbustos e árvores que são
empregados na alimentação, na medicina, em jardins e em outras serventias. Algumas
das aproximadamente 180 espécies encontradas no romance ganham certo destaque
como o buriti, o mais citado no relato que, como outras, ganhou o mundo nas páginas de
Guimarães Rosa.
A paisagem do sertão vai sendo construída e caracterizada pela natureza e,
consequentemente, por sua vegetação. Além da constante presença desses vegetais no
cenário, eles possuem suas simbologias no romance e têm sua importância para o
desenvolvimento da narrativa. Segundo Mônica Meyer, “em Grande Sertão: Veredas
pode-se dizer que a natureza não se apresenta como um palco, cenário ou moldura onde
se desenrola a ação, mas está dentro de cada personagem e cada um faz sua natureza”
(MEYER, 2008, p. 25). A autora discorre sobre o mesmo assunto em A Boiada “(...) o
sertão é incorporado e o que aparentemente era externo, o entorno, ganha morada em
cada um dos personagens que aprendem a ler o mundo para lerem a si próprios”.
(MEYER, 2011, p. 204).
Assim, partimos do pressuposto de que a vegetação não se apresenta somente
como um plano de fundo onde acontecem as ações em Grande sertão: veredas, ela
também tece a trama da vida do ex-jagunço Riobaldo, personagem principal, e delineia
a singularidade da vegetação do sertão e sua relação com o “homem humano”.
As árvores, as flores e os frutos compõem o romance juntamente com suas cores,
cheiros e sabores. Além disso, Rosa realça seus nomes populares, uma maneira de
catalogar o saber do povo sertanejo. Esses vegetais revelam o potencial da flora na
alimentação, na medicina, no fornecimento de madeira e em outras formas de manejo
que favorecem as populações locais. São destacados na obra o pequi, o jatobá, a
macaúba, a imburana, o pau d’óleo, o tamboril, o agrião, a mangaba, a mandioca, o
maracujá-do-mato, o joazeiro, o olho-de-boi, a peroba, o cajueiro, a faveira, a
gameleira, a mangabeira, o murici, o ingazeiro, o pau-pombo, o capim-capivara, o
buriti, o angico, o barbatimão, entre tantos outros2.
Em Grande sertão: veredas os pequizeiros, por exemplo, além de caracterizarem
a vegetação típica do Cerrado, são mencionados por Riobaldo em suas serventias como
fonte de alimento, o uso da sua madeira, o uso no comércio local e também como
marcador de tempo, pela sua floração. Vejamos alguns trechos do romance em que o
narrador cita o pequi e seus diferentes desempenhos práticos na vida do sertanejo:
2Veja em anexo o levantamento da flora de Grande sertão: veredas.
O Garanço se regalava com os pequis, relando devagar nos dentes aquela
polpa amarela enjoada. Aceitei não, daquilo não provo: por demais distraído
que sou, sempre receei dar nos espinhos, craváveis em língua. (ROSA, 2001,
p. 200).
De como, no prazo duma hora só, careci de ir me vendo escorando rifle e
alvejando, em quentes, em beira de mato e campo, em virada de espigão,
descendo e subindo ramal de ladeirinhas pequenas, e atrás de cerca, debaixo
de cocho, trepado em jatobá e pequizeiro, deitado no azul duma laje grande, e
rolando no bagaço doce de cana, e rebentando por dentro de uma casa.
(ROSA, 2001, p. 246).
Ao analisar passagens sobre o pequi, verificamos que Rosa caracteriza o fruto
destacando sua cor e seu consumo; como uma espécie de esconderijo e instrumento que
auxilia na guerra; o uso do licor no comércio, ou seja, como fonte de renda; o consumo
da bebida pelos jagunços e uma espécie de divertimento.
Além disso, a vegetação é usada no romance para estabelecer a passagem de
tempo, isso se dá pela sua floração e pela sua frutificação. A fenologia do pequi, do
algodão, do milho, da cana, por exemplo, têm seu tempo natural, acontecem em uma
determinada época do ano.
Assim, para dizer da passagem do tempo e de sua relação com o deslocamento
dos soldados no espaço do confronto, o narrador opta por fazê-la se desenrolar na frente
do leitor por meio de uma descrição que atribui ao tempo a materialidade da natureza
em seu processo contínuo de renovação: as roças crescem, os animais reproduzem, as
flores viram brotos, depois frutos que caem, como o pequi que, maduro, cai no chão
sinalizando o fim de um ciclo – o da reprodução – e o início de outro – o do consumo,
momento no qual a natureza, pródiga que é, se oferece ao homem como sustento. Do
mesmo modo, relaciona determinadas épocas do ano com a floração, frutificação e a
predominância de determinada vegetação:
Aí foi em fevereiro ou janeiro, no tempo do pendão do milho. Trêsmente: que
com o capitão-do-campo de prateadas pontas, viçoso no cerrado; o anis
enfeitando suas moitas; e com florzinhas as dejaniras. Aquele capim-
marmelada é muito restível, redobra logo na brotação, tão verde-mar, filho do
menor chuvisco. De qualquer pano de mato, de de-entre quase cada encostar
de duas folhas, saíam em giro as todas as cores de borboletas. Como não se
viu, aqui se vê. (ROSA, 2001, p. 43-44).
Compadre meu Quelemém é um homem fora de projetos. O senhor vá lá, na
Jijujã. Vai agora, mês de junho. A estrela d’alvasai às três horas, madrugada
boa gelada. É tempo da cana. (ROSA, 2001, p. 74).
No tempo de maio, quando o algodão lãla. Tudo o branquinho. Algodão é o
que ele mais planta, de todas as modernas qualidades: o rasga-letras, bibol, e
mussulim. (ROSA, 2001, p. 623).
Escolhida a natureza para fazer o leitor visualizar o transcurso do tempo, o
narrador opta por fazer este não ser apenas informação do mês, da vegetação em
destaque, mas o ser poeticamente informado desse tempo, este que não é tecnicamente,
mas naturalmente mensurado. Rosa, naturalista que era, não estava interessado em
transmitir o “puro em si” do tempo e da natureza como se fossem informação ou uma
espécie de relatório. Segundo Walter Benjamin, no texto “O narrador: considerações
sobre a obra de Nikolai Leskov”, “a narrativa (...) mergulha a coisa na vida do narrador
para em seguida retirá-la dele. Assim se imprime na narrativa a marca do narrador,
como a mão do oleiro na argila do vaso” (BENJAMIN, 1994, p. 205). Pode-se dizer
então que essa “coisa” que cita Benjamim é a natureza na vida de Rosa/Riobaldo, e em
Grande sertão: veredas, que é, nesse caso, “o vaso”, ele coloca sua “marca”, ou seja,
sua maneira de narrar poeticamente.
A natureza de Rosa vai além de ser um objeto de pesquisa, de serventia, de
utilidade e de exploração. Ele não se preocupa tão somente em conhecer os seres em si,
em nomeá-los corretamente e transpor para o papel. Rosa faz com que a natureza seja
um sujeito animado, que tenha vida própria; uma natureza que avisa quando vai chover,
que tem palmeiras que brincam com o vento, buritis que aconselham os personagens.
Aqui, a natureza não é submissa ao homem, os acontecimentos se relacionam
com os cursos da natureza. Assim, percebe-se em Grande sertão: veredas uma
harmonia do homem com o seu universo, do homem com a natureza, do homem com o
sertão.
Portanto, vimos que no romance não podemos rotular a natureza unicamente
como um meio ou palco no qual acontece o espetáculo. Ela é um conjunto maior que
agrega todos os seres e coisas. Rosa nos descreve os vegetais, os animais, os rios, os
minerais, a terra, o céu e todas as “quisquilhas” naturais.
A flora e sua relação com as personagens
A literatura pode servir de peça etnográfica para espelhar uma sociedade e
também nos mostrar como se dão as relações do homem com a natureza. Há uma
integração que é visível, principalmente nas áreas afastadas e isoladas dos ambientes
urbanos, pois geralmente nesses ambientes a vegetação é utilizada para ornamentação e
consumo, uma natureza artificial. No romance, que se passa no sertão, é perceptível
uma relação de extrema intimidade com o ambiente natural, longe da industrialização,
da lei e da ordem. A verdade é que a “(...) cidade acaba com o sertão. Acaba?” (ROSA,
2001, p. 183).
O natural não se aparta dos sertanejos, não só pela capacidade de usufruir, de
extrair, de usar e de utilizar. A natureza do sertão convive com seus personagens, sendo
construída de modo que o mundo natural se funda na realidade humana, fazendo com
que a identidade de cada um seja o resultado de uma relação mútua.
Exemplo dessa relação são os nomes das personagens, a começar pelo narrador-
protagonista Riobaldo, cujo nome significa “rio de planície de leito raso, sem muito
rumo e traçados definidos” (RONCARI, 2004, p. 83). Em sua narrativa ele chega a se
comparar a um rio: “Consegui o pensar direito: penso como um rio tanto anda: que as
árvores da beirada mal nem vejo... Quem me entende?” (ROSA, 2001, p. 359).
Seu nome, ligado a esse elemento da natureza, se faz justo durante toda a
narrativa, uma vez que os acontecimentos mais importantes em sua vida acontecem
também nos rios. Exemplo disso é o episódio em que Riobaldo tem seu primeiro
encontro com Diadorim, no Rio São Francisco, sobre o qual ele diz: “O São Francisco
partiu minha vida em duas partes.” (ROSA, 2001, p. 325).
Não só os rios têm relação com seus personagens, Rosa faz uso das flores, além
de comparar a beleza, para nomear suas personagens, como exemplo Rosa’uarda e
Miosótis, moças que moravam no Curralinho, cidade onde Riobaldo foi enviado por seu
padrinho Selorico Mendes para aprender a ler. Riobaldo se lembra dessas mocinhas
dizendo que pensava que elas tinham sido suas namoradas, o que nos leva a crer que
não são quaisquer moças, mas sim moças que tiveram certa importância na sua
juventude:
Alemão Vupes ali, e eu recordei lembrança daquelas mocinhas – a Miosótis e
a Rosa’uarda – as que, no Curralinho, eu pensava que tinham sido as minhas
namoradas. (ROSA, 2001, p. 87).
Curralinho era lugar muito bom, de vida contentada. Com os rapazinhos de
minha idade, arranjei companheirice. Passei lá esses anos, não separei
saudade nenhuma, nem com o passado não somava. Aí, namorei falso, asnaz,
ah essas meninas por nomes de flores. A não ser a Rosa’uarda – moça feita,
mais velha do que eu, filha de negociante forte, seo Assis Wababa, dono da
venda O Primeiro Barateiro da Primavera de São José – ela era estranja,
turca, eles todos turcos, armazém grande, casa grande, seo Assis Wababa de
tudo comerciava. (ROSA, 2001, p. 130 – grifo nosso).
Nesta última passagem do romance, Riobaldo descreve a moça Rosa’uarda que,
apesar de morar no Curralinho, era estrangeira, turca. Seu pai, dono de venda, gostava
de Riobaldo e o chamava para almoçar; eles tinham uma boa relação, por isso, o
jagunço relata que estimou “seo Assis Wababa, a mulher dele, dona Abadia, e até os
meninos, irmãozinhos de Rosa’uarda”. Mesmo sendo estrangeiros e falando uns com os
outros numa língua diferente, Riobaldo afirma que Rosa’uarda também gostava dele:
Assim mesmo afirmo que a Rosa’uarda gostou de mim, me ensinou as
primeiras bandalheiras, e as completas, que juntos fizemos, no fundo do
quintal, num esconso, fiz com muito anseio e deleite. Sempre me dizia uns
carinhos turcos, e me chamava de: – “Meus olhos.” Mas os dela era que
brilhavam exaltados, e extraordinários pretos, duma formosura mesmo
singular. Toda vida gostei demais de estrangeiro. (ROSA, 2001, p. 131).
Riobaldo gostava dessa moça estrangeira, mas ao se questionar se a amava, ele
negava, pois era um gostar diferente e que não permitia se “firmar”, ou seja, ter um
compromisso mais sério. Ela ficou marcada em sua vida pelo fato de iniciá-lo na vida
sexual, como nos mostra a passagem acima.
Depois que conheceu Rosa’uarda, Riobaldo conheceu a filha do senhor Dodó
Meireles, chamada Miosótis, moça que também tinha sido sua namorada. Ele afirma
que “não gostava daquela Miosótis, ela era uma bobinha, no São Gregório nunca tinha
pensado nela; gostava era de Rosa’uarda”. (ROSA, 2001, p. 139).
Sabemos que os namoros com essas “meninas por nomes de flores” (ROSA,
2001, p. 130) não se efetivaram de fato, tendo em vista que namoro, segundo o
dicionário Aurélio é uma “relação de interesse amoroso recíproco” (FERREIRA, 2001,
p. 513); Riobaldo gostava de Rosa’uarda, não a amava. Gostar é um sentimento
diferente de amar. Entretanto, ao saber do noivado da primeira com um turco, ele ficou
triste, porém aliviado, pois, segundo ele: “aquele amor não seria mesmo para mim,
pelos motivos pessoais.” (ROSA, 2001, p. 140).
Apesar de negar ser amor, ele gostava de Rosa’uarda; se pegava pensando
naquela moça linda, assim como uma rosa, flor que compõe seu nome: “Rasa’uarda”.
Esta, da família das Rosáceas, é cultivada em todos os lugares do mundo pela beleza e
perfume de suas flores.
As rosas têm sido parte dos gestos simbólicos de romance e amizade desde
tempos imemoriais. Suas cores são as mais variadas: branca, rosa, amarela e vermelha, a
mais famosa e comum quando amantes presenteiam suas namoradas, simbolizando o
amor, o afeto. Entre tanta abundância e cores, elas também existem em várias espécies,
como a “Rosa da Turquia” (BRAGA, 1976, p. 433), cujo nome científico é Rosa
damascenae nome popular Rosa Turca. Assim como a personagem Rosa’uarda é de
origem turca, essa espécie não é típica do sertão; é de origem búlgara, turca e francesa.
Guimarães Rosa era considerado um dos mestres em inventar palavras, além de
ter criado neologismos, utilizava regionalismos e arcaísmos (palavras já ultrapassadas)
em suas obras. O nome “Rosa’uarda” não é muito comum, pois é uma de suas criações.
Na formação de seu nome, além de “Rosa”, que constitui a base, temos o sufixo
“uarda”; então, Rosa’uarda. Essa composição pode ser em homenagem a uma pessoa
muito especial na vida e nos escritos de Guimarães, seu pai, Florduardo, cujo nome, em
parte, carrega a designação do substantivo comum flor (base) e o sufixo “uardo”. Esses
dois nomes são formados por um radical + sufixo + vogal temática. Margarida Basílio
salienta que do ponto de vista morfológico, “a base de uma construção é
tradicionalmente chamada de “radical”” (BASILIO, 1991, p. 14). Esse radical,
geralmente é seguido de uma “vogal temática”, que é uma vogal que difere o gênero da
palavra. Vejamos: Rosa’uarda = Rosa + ’uard + a e Florduardo = Flor + duard + o.
É perceptível uma estrutura idêntica nesses substantivos, já que são compostos por
flores (radical) + uard (sufixo) + a/o (vogal temática).
“Rosa” nos remete ao substantivo “flor”, este que, além de compor o nome de
Florduardo, compõe também seu sobrenome: Florduardo Pinto Rosa, conhecido como o
seu Fulô da venda. Geralmente, em regiões afastadas das cidades grandes, é comum
ouvirmos a pronúncia “fulô”, no lugar de “flor”, que é uma variante.
Interessante que o pai da personagem Rosa’uarda também era comerciante,
assim como o pai de Guimarães Rosa, o que não é mera coincidência. Sobre essa
semelhança entre os nomes desses personagens, discorre a Professora Ivana Rebello em
sua tese de doutorado Poética de atrito: pedras, jogo e movimento no Grande sertão:
A semelhança dos nomes, Florduardo e Rosa‘uarda, não pode vir ao
estudioso como coisa fortuita ou acidental. Nela se representa uma
característica do processo de criação lexicográfica do autor, que cortava e
colava termos e sílabas, sempre em busca de novos vocábulos e outras
significações para a sua escrita. O nome da menina turca também se constitui
uma espécie de homenagem de Rosa ao seu pai. (REBELLO, 2011, p. 40).
Guimarães Rosa se interessava e se preocupava em nomear com precisão tudo o
que era significativo para ele, inclusive os nomes das personagens. Para uma boa análise
dessas personagens não devemos ficar presos ao texto. Ivana Rebello nos diz que “não
se pode ler Guimarães Rosa por meio de um único livro; toda a sua escrita está prenhe
de si mesmo e do seu inovador projeto de literatura, ainda que tal aspecto incorra em
certo risco de leitura (...)” (REBELLO, 2011, p. 40). Sobre esse aspecto, manifesta-se
Ana Maria Machado no livro Recado do Nome:
O nome próprio em um texto de Proust ou o de Guimarães Rosa é, portanto,
uma palavra poética, um signo espesso e rico que escapa sempre aos limites
de cada sintagma, enviando ao conjunto do texto, e mesmo para além do
texto. (MACHADO, 2003, p. 44 – grifo nosso).
O nome de Rosa’uarda tem um significado que vai além da história contada, é
uma homenagem a uma figura que não está presente no texto. Mas porque essa
homenagem? Rosa e Florduardo tinham uma relação de cumplicidade, prova disso são
as trocas de cartas. Mostramos anteriormente alguns trechos de suas correspondências
com as quais ele fornecia dados e estórias que iriam servir para os futuros livros do
filho. É possível que em Grande sertão: veredas Rosa tenha usado informações que o
pai lhe fornecia, e, como homenagem, ter colocado um nome que remete ao pai em uma
mocinha em quem Riobaldo sempre pensava; de quem guardava saudades e lembranças:
“A Rosa’uarda. Me alembrei dela; todas as minhas lembranças eu queria comigo.”
(ROSA, 2001, p. 327).
Miosótis é também o nome popular de uma flor que, cientificamente, é
designada por Myosotisalpestris; conhecida ainda como Não-me-esqueças e Não-te-
esqueças-de-mim. Os nomes populares da flor podem ser explicados por algumas lendas
como a de Deus, que nomeou a florzinha porque ela não conseguia recordar do seu
próprio nome. Há também a lenda de Adão, que ainda no Éden, ao dar nomes às plantas
do referido Jardim, não viu a pequena flor azul; mais tarde, percorrendo o jardim para
saber se os nomes tinham sido aceitos, chamou-as pelo nome; mas se esqueceu de uma
pequena florzinha e, para compensar e nunca mais esquecê-la, deu-lhe o nome de “Não-
te-esqueças-de-mim”. Há, ainda, a lenda alemã conta que um cavalheiro foi pegar, no
rio, a flor para sua amada e ao se afogar, gritava para ela: “não-me-esqueças”. Também
temos a lenda das Lágrimas da Virgem Maria, o Miosótis no Nazismo, entre outras3.
3Lágrimas da Virgem Maria é uma lenda cristã e popular que nos conta que as flores dessa planta teriam
ficado da cor azul quando a Virgem Maria lhes derramou lágrimas por cima. Conta-se que a flor Miosótis
– não me esqueças,também foi utilizada como emblema secreto da Maçonaria, para que os maçons
pudessem se identificar, sem chamar a atenção dos nazistas, durante as perseguições às lojas maçônicas
na Alemanha.
Apesar de se referir a Miosótis como bobinha e dizer que não gostava dela,
Riobaldo nunca se esquece de mencioná-la, sempre está se lembrando dela, assim como
o nome popular da flor; porém, não da mesma maneira que se lembra de Rosa’uarda.
Isso fica perceptível até pelos pronomes. Vejamos:
Mesmo parava tempos no pensar numa mulher achada: Nhorinhá, a minha
moça Rosa’uarda, aquela mocinha Miosótis. Mas o mundo falava, e em
mim tonto sonho se desmanchando, que se esfiapa com o subir do sol, feito
neblina noruega movente no frio de agosto. (ROSA, 2001, p. 332-333 –
grifos nossos).
De acordo com a Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, de Domingos
Paschoal Cegalla, “os pronomes são palavras que substituem os substantivos ou os
determinam, indicando a pessoa do discurso” (CEGALLA, 2010, p. 179). No trecho
acima temos dois tipos de pronomes: o possessivo “minha” e o demonstrativo “aquela”.
O primeiro, segundo Cegalla, “refere-se às pessoas do discurso, atribuindo-lhes a posse
de alguma coisa” (CEGALLA, 2010, p. 182); já o segundo, “indica o lugar, a posição
ou a identidade dos seres, relativamente às pessoas do discurso” (CEGALLA, 2010, p.
183).
Quando se refere à Rosa’uarda, Riobaldo usa o pronome possessivo “minha”,
conferindo-lhe posse, já que ele fala da moça em seu discurso como se ela fosse sua.
Diferente disso, no momento em que se refere a Miosótis, ele faz uso do pronome
demonstrativo “aquela”, indicando assim certo distanciamento em relação a essa, pois
ela não é uma pessoa que ele tem guardado junto de si como Rosa’uarda.
Então chegamos à conclusão de que Rosa’uarda era especial, moça de família e
que chegou a ser comparada por Riobaldo com Otacília, mulher que conheceu na
Fazenda Santa Catarina e com quem se casou:
Conheci que Otacília era moça direta e opiniosa, sensata, mas de muita ação.
Ela não tinha irmão nem irmã. Sor Amadeu chefiava largo: grandes gados
sem léguas de alqueires. Otacília não estava noiva de ninguém. E ia gostar de
mim? De moça-de-família eu pouco entendesse. Aser, a Rosa’uarda? Assim
igual eu Otacília não queria querer; salvante assente que da Rosa’uarda nunca
me lembrei com desprezo: não vê, não cuspo no prato em que o bom já comi.
(ROSA, 2001, p. 209).
Riobaldo conheceu essas mulheres em diferentes fases de sua vida; uma mais
moço, mas da qual nunca esquecera e a outra quando já era Jagunço. Outra diferença se
deve ao fato de que Rosa’uarda estava noiva e Otacília não. Otacília e Rosa’uarda eram
moças de família, com pais ricos, criadas para se casarem, uma com nome de flor, a
outra associada às flores, ou seja, suas características pessoais são relacionadas às
características das plantas, conforme mostraremos.
Na cultura popular sertaneja, retratada no romance, as casas de fazenda onde
havia moças boas para se casarem, plantavam uma flor, cujo nome científico não existe
e cujo significado desliza em função dos diferentes sentidos que lhe são atribuídos por
três personagens, mas pertencentes a um mesmo valor semântico. Segundo Riobaldo, é
uma “flor figurada” (ROSA, 2001, p. 206), justamente para que os homens possam
perguntar para as moças o nome da flor.
Nos textos das cadernetas de Guimarães Rosa achamos registrada, circulada de
azul e colorida de lápis preto, essa flor com um nome e as suas características: “A flor –
(pareceu-me caeté) – chamada casa-comigo. É branca, parece um lírio. E é muito
perfumosa” (B2, p. 17). É atribuída a essa flor, casa-comigo, características de outras
plantas: o caeté e o lírio, porém, não se conhece com certeza o nome de tal espécie
perfumosa, e isso faz com que sua identidade seja curiosa; assim, acabam por indagar
seu nome:
Mas, na beira da alpendrada, tinha um canteirozinho de jardim, com escolha
de poucas flores. Das que sobressaíam, era uma flor branca – que fosse caeté,
pensei, e parecia um lírio – alteada e muito perfumosa. E essa flor é figurada,
o senhor sabe? Morada em que tem moças, plantam dela em porta da casa-de-
fazenda. De propósito plantam, para resposta e pergunta. Eu nem sabia.
Indaguei o nome da flor. (ROSA, 2001, p. 206).
Esse registro aparece logo após anotações de características de uma fazenda, esta
que tem o mesmo nome da fazenda em que reside Otacília:
A Fazenda Santa Catarina fica perto (junto do) céu – um céu azul pintural –
de Pisa ou Siena – com nuvens que não se removem (...) entre os currais e o
céu. Há apenas um limpo gramado e uma restinga de cerrado, de onde
descem borboletas brancas, que passam entre as réguas da cêrca.
Fogo-pagou = sempre! (Boiada 2, p. 17).
De maneira muito parecida com o que o autor Guimarães Rosa registrou em suas
anotações em Boiada 2, Riobaldo narra para o Senhor da cidade como era a fazenda de
Otacília, antes da pergunta e da conversa sobre a flor:
O que lembro, tenho. Venho vindo, de velhas alegrias. A Fazenda Santa
Catarina era perto do céu – um céu azul no repintado, com as nuvens que não
se removem. A gente estava em maio. Quero bem a esses maios, o sol bom, o
frio de saúde, as flores no campo, os finos ventos maiozinhos. A frente da
fazenda, num tombado, respeitava para o espigão, para o céu. Entre os currais
e o céu, tinha só um gramado limpo e uma restinga de cerrado, de donde
descem borboletas brancas, que passam entre as réguas da cerca. Ali, a gente
não vê o virar das horas. E a fogo-apagou sempre cantava, sempre. Para mim,
até hoje, o canto da fogo-apagou tem um cheiro de folhas de assapeixe.
(ROSA, 2001, p. 204-205).
Percebemos com essas comparações de notas de viagem e de trechos do
romance que Rosa usou de seu conhecimento e de sua experiência no sertão para
descrever a flor perfumada, o ambiente e até mesmo o tempo que rodeava os
personagens. É notório, tanto nas anotações vivenciadas pelo autor quanto na narração
das vivências de Riobaldo, o encantamento com o lugar, a descrição singular da
natureza que constituía as fazendas de Santa Catarina e no romance, lugar onde vivia
uma moça “risonha e descritiva de bonita” (ROSA, 2001, p. 205).
Otacília, “mimo de alecrim” (ROSA, 2001, p. 205), como qualificou Riobaldo,
mais uma vez comparada a uma planta, era, como todas as moças: mansa, branca e
delicada, mas “Otacília era mais” (ROSA, 2001, p. 206). Em todas as casas onde havia
moças boas para casar, em frente havia uma flor misteriosa que, motivo de pergunta,
exigia uma resposta. Como vimos no romance, Riobaldo, sem saber, indagou o nome da
flor:
– “Casa-comigo...” – Otacília baixinho me atendeu. E, no dizer, tirou de
mim os olhos; mas o tiritozinho de sua voz eu guardei e recebi, porque era
de sentimento. Ou não era? Daquele curto lisim de dúvidas foi que minou
meu maisquerer. E o nome da flor era o dito, tal, se chamava – mas para os
namorados respondido somente. (ROSA, 2001, p. 206).
Essa “flor do amor” (ROSA, 2001, p. 206), como é chamada por Riobaldo, tem
uma pluralidade de significados; é uma “flor figurada” (ROSA, 2001, p. 206). Isso
ocorre pelo fato de uma mesma flor ganhar diferentes nomes ao relacioná-la com
diferentes mulheres. Ao pensar em Nhorinhá, sua “pimenta-branca” (ROSA, 2001, p.
206), prostituta com quem Riobaldo se envolve, a flor recebe a alcunha de “Dorme-
comigo”:
Consoante, outras, as mulheres livres, dadas, respondem: – “Dorme-
comigo...” Assim era que devia de haver de ter de me dizer aquela linda
moça Nhorinhá, filha de Ana Duzuza, nos Gerais confins; e que também
gostou de mim e eu dela gostei. Ah, a flor do amor tem muitos nomes.
Nhorinhá prostituta, pimenta-branca, boca cheirosa, o bafo de menino
pequeno. Confusa é a vida da gente; como esse rio meu Urucúia vai se levar
no mar.(ROSA, 2001, p. 206).
Luiz Roncari, ao caracterizar Nhorinhá, faz uma comparação com frutas de beira
de estrada, frutas sem dono, assim como a prostituta:
Ela é uma daquelas prostitutas doadoras do amor sexual e sensível, sempre
acessível ao alcance de todos, como as frutas sem dono das beiras de estrada:
“Nhorinhá – florzinha amarela no chão, que diz: – Eu sou bonita!...” e
“Nhorinhá, gosto bom ficado em meus olhos e minha boca” (ROSA, 1963, p.
356 e 96). (RONCARI, 2007, p. 127).
Ao dialogar com Otacília sobre a “flor do amor” (ROSA, 2001, p. 206),
Riobaldo chama Diadorim, este que estava distante da conversa; como se tivesse que lhe
dar satisfação, o jagunço explica que estavam falando sobre a plantinha. Nesse dia
“remarcado”, Riobaldo viu que Otacília não gostava de Diadorim e este tinha ciúme
dele com qualquer mulher:
E Diadorim reparou e perguntou também que flor era essa, qual sendo? –
perguntou inocente. – “Ela se chama é liroliro...” – Otacília respondeu. O
que informou, altaneira disse, vi que ela não gostava de Diadorim. Digo ao
senhor que alegria que me deu. Ela não gostava de Diadorim – e ele tão
bonito moço, tão esmerado e prezável. Aquilo, para mim, semelhava um
milagre. Não gostava? Nos olhos dela o que vi foi asco, antipatias, quando
em olhar eles dois não se encontraram. E Diadorim? Me fez medo. Ele
estava com meia raiva. O que é dose de ódio – que vai buscar outros ódios.
Diadorim era mais do ódio do que do amor? Me lembro, lembro dele nessa
hora, nesse dia, tão remarcado. Como foi que não tive um pressentimento?
(ROSA, 2001, p. 206-207).
Portanto, vimos que dentro da narrativa essa flor tem vários nomes, pois ao
indagar sobre sua espécie temos diferentes respostas. A flor tem o nome de casa-comigo
para Otacília, dorme-comigo para Nhorinhá e Liroliro quando Diadorim pergunta a
Otacília o nome da planta.
Riobaldo, em sua trajetória de jagunço, experimentou diferentes situações
amorosas; cada um desses amores teve importância particular em sua vida e por cada
uma dessas mulheres nutriu um tipo de sentimento diferenciado. Tal como os gregos,
por exemplo, que fazem três tipos de distinção de amor, usavam a palavra de acordo
com o tipo de amor a que se referiam: Ágape é um amor sentimental, fraternal e
espiritual, podemos relacioná-lo ao amor de Otacília; Eros se refere ao amor sexual,
carnal e que relacionamos a Nhorinhá; por fim, temos o Philos, que é um amor
vinculado à amizade e que pode ser relacionado a Diadorim e, nesse caso, também a um
amor impossível.
Otacilía sente por Riobaldo um amor sentimental; é ela quem oferece a ele
estabilidade, fidelidade e afeto constante. Por tais motivos é que é relacionada à flor
casa-comigo. Diferente de Otacília, Nhorinhá é o amor carnal como prostituta,
representa o amor físico e é com ela que Riobaldo vive momentos de profunda
satisfação, por isso é relacionada à flor dorme-comigo. O último de seus amores,
Diadorim, é quem representa para ele um amor inexplicável e impossível, proibido. Um
amor que se apossa do jagunço como um feitiço, um encanto que o perseguiu ao longo
de sua travessia. Esse é um amor travestido de amizade, relativo ao nome da flor,
quando denominada liroliro. Essas três denominações, referindo-se a três tipos de
pessoas, à namorada, à prostituta e ao amigo-jagunço, simbolizam no romance os
diferentes discursos sobre o amor.
Além dessas relações baseadas nos significados das palavras, analisaremos
visualmente as estruturas das palavras relacionando-as aos seus respectivos
significados. Reparem que casa-comigo tem letras iguais no começo de cada palavra,
dorme-comigo tem letras diferentes no começo das palavras, ambas formam uma
locução, cujos vocábulos se unem por meio do hífen. Liroliro é diferente, é uma palavra
dobrada, repetida, espelhada: Diadorim, nome a que liroliro se refere, tem a partícula
“Di” que remete a dualidade, dois, duplo.
Podemos associar que em casa-comigo há um casamento entre as palavras, por
meio da letra “c” que se repete no início de cada uma. Na segunda palavra – dorme-
comigo – não há essa combinação, por isso pode remeter a uma relação passageira e,
por fim e ironicamente, a palavra liroliro, sem hífen, com identidade absoluta entre os
vocábulos que a forma, é a expressão metafórica de relação interdita.
Num ambiente tão masculino como o sertão, onde a força, a brutalidade, a
valentia e a coragem são impostas, parece ser o signo do feminino e dessas mulheres
com nomes de flores, entretanto, que fazem com que o homem-jagunço se mova e seja
levado a realizar suas travessias.
O sertão, apesar de ser um lugar árido, onde guerreiam os fortes, também revela
veredas, lugares agradáveis, compostos por muitas águas e carregados de buritis. Nessa
narrativa, o amor protagonizado por Riobaldo e Diadorim pode ser comparado às
veredas, e nelas quem é o buriti é Diadorim: “meus buritizais levados de verdes...”
(ROSA, 2001, p. 614). Mas essas veredas, reino dos buritizais, são ambíguas; podem ter
aparência enganosa, assim como Diadorim. Vereda, além de ser um lugar ameno,
aprazível e que encanta, pode ser ao mesmo tempo um lugar perigoso, traiçoeiro e
movediço.
Nesse cenário de tantos rios, animais e flores, ganha destaque o buriti. Nessa
história composta por vários e diferentes amores, quem marca a vida de Riobaldo para
sempre é Diadorim. Então, podemos perceber o entrelace da natureza e seus
personagens em Grande sertão: veredas, e uma leitura atenta não pode, de maneira
alguma, dispensar sua análise.
“Buriti, buriti meu...: a pluralidade de significados do buriti em Grande Sertão:
veredas”
A palmeira buriti (Mauritia flexuosa) é, de longe, o vegetal mais citado em
Grande sertão: veredas, cerca de 60 vezes; tem como nomes populares: buriti, carandá-
guaçu, carandaé-guaçu, miriti, muriti, palmeira-buriti, palmeira-dos-brejos. O buriti é
utilizado para as mais diversas finalidades pelo povo do sertão; dele se obtém abrigo,
alimento e até mesmo transporte.
Já no título do romance em questão, temos a palavra “veredas”, que é uma
formação típica da região do cerrado. Ao longo dos brejos ou locais encharcados,
forma-se um “caminho” de palmeiras buritis, que só sobrevivem nesse tipo de terreno e
que se destacam na paisagem. Sendo assim, verificamos imediatamente a importância
dessa formação de vegetação no romance e, consequentemente, da palmeira buriti.
Nas veredas sempre há buritis; e onde existe buriti há um percurso de água.
Como diz Riobaldo, “o buriti é das margens” (ROSA, 2001, p. 393), “não se aparta das
águas – carece um espelho” (ROSA, 2001, p. 325). Analisando tais passagens nota-se
uma associação do buriti com a água e com o espelho, elementos que refletem imagens
e que nos fazem lembrar outras histórias.
A literatura está repleta de espelhos, exemplo disso é a história antiga de Narciso
que, ao olhar sua própria imagem na água se apaixonou e foi consumido por seu reflexo
no lago. A rainha da Branca de Neve tinha um espelho mágico, em que perguntava:
“Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?”. Ao fazer tal
questionamento, a rainha vê o espelho não só como um objeto que reflete sua imagem,
mas também como um “ser” que lhe dá respostas; e temos Alice, que viajava para o
outro lado através de um espelho.
Há espelho plano, espelho côncavo e convexo, espelho d’água, espelho da
literatura, etc. A verdade é que “o espelho, são muitos” (ROSA, 1972, p. 71), como
acentua Guimarães Rosa em seu conto “O Espelho”. Eles possuem várias maneiras de
refletir e recriar imagens, histórias e identidades, isso os torna fascinantes. Em seu livro
Sobre os Espelhos e outros ensaios, Humberto Eco atribui a esse objeto especular a
singularidade de inspirar a literatura em geral:
O fato de a imagem especular ser, entre os casos de duplicatas, o mais
singular, e exibir características de unicidade, sem dúvida explica porque os
espelhos têm inspirado tanta literatura. (ECO, 1989, p. 20).
Espelho (do latim speculum) significa observar, indagar e questionar, podendo
simbolizar a sabedoria e o conhecimento. Ele exerce, desde sempre, grande fascínio
sobre o espírito humano, pois gera um espaço de ambiguidade: a imagem que reflete é
simultaneamente idêntica (ainda que invertida) e ilusória.
Sobre essa fenomenologia do espelho, Umberto Eco defende que “os espelhos
não se invertem” (ECO, 1989, p. 13). Vejamos:
Tal opinião (de que o espelho ponha a direita no lugar da esquerda e vice-
versa) é tão arraigada que alguém até insinuou que os espelhos têm essa
propriedade, a de trocar a direita pela esquerda, mas não alto pelo baixo. O
espelho reflete a direita exatamente onde está a direita, e a esquerda
exatamente onde está a esquerda. É o observador (ingênuo, mesmo quando
físico por profissão) que, por identificação, imagina ser o homem dentro do
espelho, e olhando-se percebe que usa, por exemplo, o relógio no pulso
direito. O fato é que o usaria se ele, o observador, fosse aquele que está
dentro do espelho. Quem, ao contrário, evita comportar-se como Alice e não
entra no espelho, não sofre essa ilusão. (ECO, 1989, p. 13).
Olhando por essa visão de Umberto Eco, podemos dizer que Riobado foi
ingênuo, pois não se atreveu a se adentrar pela imagem de Diadorim. Ele sofreu a ilusão
da espelharia, acreditando que Reinaldo fosse, de fato, um homem.
No conto “O espelho”, Guimarães Rosa alerta que a visão pode não ser
confiável: “os olhos, por enquanto, são a porta do engano; duvide deles, dos seus, não
de mim” (ROSA, 1972, p. 72). Interessante que Riobaldo fala sempre dos olhos de
Diadorim, olhos verdes, assim como a natureza e assim como o buriti. Esses olhos
foram porta de engano, pois, como já mencionado, em toda sua trajetória de jagunço,
Riobaldo acreditava estar apaixonado por uma pessoa do mesmo sexo, por uma imagem
idêntica. Porém, quando Diadorim morre, Riobaldo descobre que ele era mulher,
portanto era uma imagem invertida; assim como o espelho, ilusória. Vejamos uma
passagem que se refere à morte de Diadorim:
Aquela Mulher não era má, de todo. Pelas lágrimas fortes que esquentavam
meu rosto e salgavam minha boca, mas que já frias já rolavam. Diadorim,
Diadorim, oh, ah, meus-buritizais levados de verdes... Buriti, do ouro da
flor... E subiram as escadas com ele, em cima de mesa foi posto. (ROSA,
2001, p. 614).
Após sua morte e diante da tristeza que sentia Riobaldo, este lamenta: “Namorei
uma palmeira na quadra do entardecer...” (ROSA, 2001, p. 617). Sobre o
desenvolvimento dessa palmeira buriti, Luiz Roncari pontua no livro O Brasil de Rosa
que “o buriti não só faz um movimento ascendente, ele estabelece um vínculo entre as
duas esferas, a terrestre e a celeste, de modo a tornar uma no espelho da outra e
poderem refletir mutuamente suas belezas”. (RONCARI, 2004, p. 191).
Desse modo, podemos pensar que, após sua morte, Diadorim, o buriti de
Riobaldo, faz uma “troca” de esferas, pois troca o azul das águas das veredas pelo azul
celeste. Deixa de se espelhar nas águas que lhe conferem dualidade, para se tornar
singular em sua vida.
O nome popular “buriti” é do gênero masculino, porém seu nome científico
mauritia flexuosa é do gênero feminino. Tais nomes podem ser relacionados ao
percurso de jagunço macho vivido por Reinaldo/Diadorim em todo o romance, mas que
na verdade era uma mulher, Deodorina.
No livro Guimarães Rosa e a Psicanálise, Tânia Rivera nos lembra do filósofo
Aristóteles, este que nos afirma na obra Poética que “a metáfora é o transporte
(metaphorà) para uma coisa do nome da outra. Essa outra coisa deve, contudo, manter
com a primeira uma relação de analogia.” (RIVERA, 2005, p. 24). Ou seja, metáfora é
uma figura de linguagem em que há o emprego de uma palavra ou uma expressão, num
sentido que não é muito comum, numa relação de semelhança entre dois termos.
No trecho de Grande sertão: veredas fica claro essa metáfora usada por Rosa,
Diadorim transfere sua identidade para a imagem do buriti: “meus-buritizais” (ROSA,
2001, p. 614). A comparação entre palmeira e humano não é muito comum, porém, no
romance, esses dois elementos são relacionados devido às características similares. O
buriti, além de verde, como os olhos de Diadorim, pode ser um símbolo fálico, se
pensarmos na semelhança da palmeira com o órgão sexual masculino. Essa palmeira
refletida na água nos faz pensar nos personagens Riobaldo e Diadorim, inicialmente do
mesmo sexo, pois a palmeira refletida na água é símbolo do igual, porém, invertido,
uma imagem que engana. E enganou Riobaldo, como vimos, pois em toda sua trajetória
achou que fosse um amor entre homens e isso o perturbou:
Mas ponho minha fiança: homem muito homem que fui, e homem por
mulheres! – nunca tive inclinação pra aos vícios desencontrados. Repilo o
que, o sem preceito. Então – o senhor me perguntará – o que era aquilo? Ah,
lei ladra, o poder da vida. Direitinho declaro o que, durando todo tempo,
sempre mais, às vezes menos, comigo se passou. Aquela mandante amizade.
Eu não pensava em adiação nenhuma, de pior propósito. Mas eu gostava
dele, dia mais dia, mais gostava. Diga o senhor: como um feitiço? Isso. Feito
coisafeita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a cara
e estar tristonho, e eu perdia meu sossego. Era ele estar por longe, e eu só
nele pensava. E eu mesmo não entendia então o que aquilo era? Sei que sim.
Mas não. E eu mesmo entender não queria. Acho que. Aquela meiguice,
desigual que ele sabia esconder o mais de sempre. E em mim a vontade de
chegar todo próximo, quase uma ânsia de sentir o cheiro do corpo dele, dos
braços, que às vezes adivinhei insensatamente – tentação dessa eu espairecia,
aí rijo comigo renegava. Muitos momentos. (ROSA, 2001, p. 162-163).
Além da associação do buriti com Diadorim, podemos relacionar o buriti ao
saber, como um conselheiro de Riobaldo:
Pergunto coisas ao buriti; e o que ele responde é: coragem minha. Buriti quer
todo azul, e não se aparta de sua água – carece de espelho. Mestre não é
quem sempre ensina, mas quem de repente aprende. (ROSA, 2001, p. 325-
326).
Temos nessa passagem, em que Riobaldo está saindo da Bahia e voltando para
Minas, o personagem perguntando coisas ao buriti, como se procurasse respostas para
suas dúvidas, assim como a madrasta da história da Branca de Neve, que também faz
indagações ao seu espelho e obtém respostas.
O buriti, que é sempre acompanhado por um percurso de água que lhe serve de
espelho (este que significa questionar), é também comparado a um mestre, no qual ele
busca conhecimento e acaba aprendendo. Vimos que o buriti responde que Riobaldo
precisa ter coragem, nos fazendo lembrar da passagem em que ele diz que sua coragem
era “variável”, e que quando quer ter coragem basta olhar no espelho:
Eu cá não madruguei em ser corajoso; isto é: coragem em mim era variável.
Ah, naqueles tempos eu não sabia, hoje é que sei: que, para a gente se
transformar em ruim ou em valentão, ah basta se olhar um minutinho no
espelho – caprichando de fazer cara de valentia; ou cara de ruindade! (ROSA,
2001, p. 62).
Outro aspecto que nos intrigou, lembrando que esse aspecto é visual, foi o fato
de que sempre, ao mencionar a palavra “espelho” e muitas vezes “água”, que também
produz reflexo, Rosa utiliza de um sinal gráfico, uma espécie de travessão, que faz com
que as frases tenham “dois lados”: “no espelho – caprichando de fazer cara de valentia”
(ROSA, 1972, p. 62); “não se aparta de sua água – carece um espelho” (ROSA, 1972, p.
71); “Buriti – água azulada” (ROSA, 1972, p. 135); “Mesmo eu – que, o senhor já viu,
reviro retentiva com espelho cem-dobro de lumes” (ROSA, 1972, p. 359); “o buriti é
das margens ele cai seus cocos na vereda – as águas levam – em beiras...” (ROSA,
1972, p. 393).
Ao ler o texto “O Espelho”, de Rosa, percebemos também o uso desse sinal
gráfico ao introduzir o texto: “O senhor, por exemplo, que sabe e que estuda, suponho
nem tenha ideia do que seja na verdade – um espelho?” (ROSA, 1972, p. 71). Como
nada é gratuito na literatura rosiana, podemos pensar que assim como o espelho tem
uma dualidade, essas frases em questão estão visualmente partidas, contendo dois lados.
A espelharia em Grande sertão: veredas não aparece somente nas frases que têm
a palavra espelho ou água, mas há algumas frases que têm palavras espelhadas: “nas
frescas beiras da lagoa – ah, a papeagem no buritizal, que lequelequeia” (ROSA, 2001,
p. 63); “um buriti – tetéia enorme” (ROSA, 2001, p. 333); “buriti – verde que afina e
esveste, belimbeleza” (ROSA, 2001, p. 61). Nessa última passagem, por exemplo, o
travessão aparece depois da palavra “buriti” e logo depois vem a frase adjetivando-o,
contendo a palavra “belimbeleza”. Reparem que é um neologismo criado por Rosa;
podemos até nos atrever a dizer que é o belo em beleza.
O duplo está contido em vários elementos da narrativa, sendo, dessa forma, um
artefato usado por Rosa, inclusive na forma de Grande sertão: veredas. Essa assertiva
pode causar estranhamento, pois sabemos que o romance não é dividido por capítulos,
porém,podemos dizer que é dividido em partes. Em sua tese A Forma do Meio: livro e
narração na obra de João Guimarães Rosa, Clara Maria Abreu Rowland coloca em
questão a partição de tal narrativa:
No meio de Grande Sertão: Veredas, abrindo a sequência central, o leitor
encontra uma interrupção: a narrativa suspende-se para se comentar,
solicitando a sua estrutura e ameaçando dissolvê-la, ao mesmo tempo que
dela constitui a primeira imagem global. Não estamos longe, nessa pausa, das
funções que encontrámos até agora nos índices e nas parábases: o meio faz-se
mapa do livro, descreve-se e interpreta-se, faz-se ponto de suspensão e
articulação entre partes. (ROWLAND, 2009, p. 247).
Na “interrupção” que cita a autora, temos uma imagem geral da narrativa; além
disso, ela serve para articulação, ou seja, uma travessia para a segunda parte. Nessa
“suspensão” Riobaldo ameaça ao seu ouvinte de “pôr ponto” em seu contar, porém,
segundo ele, falta algo:
Só sim? Ah, meu senhor, mas o que eu acho é que o senhor já sabe mesmo
tudo – que tudo lhe fiei. Aqui eu podia pôr ponto. Para tirar o final, para
conhecer o resto que falta, o que lhe basta, que menos mais, é pôr atenção no
que contei, remexer vivo o que vim dizendo. Porque não narrei nada à-toa: só
apontação principal, ao que crer posso. Não esperdiço palavras. Macaco meu
veste roupa. O senhor pense, o senhor ache. O senhor ponha enredo. Vai
assim, vem outro café, se pita um bom cigarro. Do jeito é que retorço meus
dias: repensando. (...) Não é só no escuro que a gente percebe a luzinha
dividida? (ROSA, 2001, p. 324-325).
Tal citação fica mais ou menos no meio do livro; a edição aqui trabalhada é
composta por 624 páginas e a passagem que marca o meio fica entre a página 324-325.
Nesse trecho o autor coloca uma pausa em sua narrativa, criando assim uma
possibilidade de referência e, desta forma, “ela orienta, embora inconscientemente, a
atenção do leitor” (ROSENFIELD, apudROWLAND, 2009, p. 249).
Na última frase, “não é só no escuro que a gente percebe a luzinha dividida?”
(ROSA, 2001, p. 325), percebemos de fato a intencionalidade do autor em dividir com o
parágrafo (a luzinha) a sua narrativa interminável (o escuro). Essa intenção fica ainda
mais evidente através de frases posteriores ao fragmento; elas reforçam a ideia de
repartição, meio, metade: “Travessia. Deus no meio” (ROSA, 2001, p. 325); “Aqui é
Minas; lá já é Bahia?” (ROSA, 2001, p. 325); “Minha vida teve meio-do-caminho?”
(ROSA, 2001, p. 325); “O São Francisco partiu minha vida em duas partes” (ROSA,
2001, p. 326).
Nessa divisão, Riobaldo afirma ter contado tudo ao Senhor, porém, falta algo e,
para isso, ele faz um breve apanhado de tudo o que já “fiou”, contou, uma maneira de
relembrar tudo que foi dito para poder prosseguir. “Vale dizer que temos um romance
completo, inteiro, terminado (...). Se o leitor não mais quisesse continuar a leitura, já
teria obtido todos os dados da ação, além de todos os seus símbolos e temas centrais”
(SPERBER, apudROWLAND, 2009, p. 257). Após a pausa, teremos uma repetição de
tudo o que contou, segundo Maria Clara Rowland “o livro dobra-se sobre si mesmo,
aqui, a partir do meio: construindo duas metades em espelho, como assinala a retomada
de eventos-chave da primeira para a segunda parte”. (ROWLAND, 2009, p. 258).
Esse meio é, como temos visto, uma figura recorrente em Rosa. Não podemos
deixar de lembrar o conto que se encontra no meio do livro Primeiras Estórias.Há o
mesmo número de contos antes e depois de “O Espelho”, sendo este uma espécie de
espelho de “sua própria escrita”, como corrobora Ivana Rebello em seu artigo
“Transverberar o embuço: uma leitura do conto “O Espelho”, de Guimarães Rosa”.
A duplicidade e o espelhamento presentes no romance rosiano ganham ainda,
certa complexidade, se pensarmos na figura do “Senhor” que sempre ouve Riobaldo,
mas que nunca lhe responde, não ganhando voz na narrativa. Dessa forma, opondo-se à
longa fala do narrador está o silêncio do ouvinte. “O senhor sabe o que o silêncio é?”
indaga Riobaldo ao seu interlocutor, “É a gente mesmo, demais.”. Apesar de não ganhar
voz, conhecemos algumas características que são atribuídas ao “Senhor” e que são
semelhantes às de Guimarães Rosa; ambos são doutores, instruídos, costumam ouvir
histórias e anotar em caderneta etc. Clara Maria Rowland, em A Forma do Meio,
discorre ainda, sobre a estrutura narrativa de Grande sertão: veredas:
(...) o modo de apresentação desta estrutura é mais complexo, por estarmos
dentro de um episódio que encaixa a narrativa numa dupla moldura. Este
episódio destaca-se, no quadro de Grande Sertão: Veredas, por oferecer uma
estranha duplicação da figura do interlocutor; em nenhum outro momento do
romance a sobreposição de planos é tão evidente. Riobaldo narra a um “moço
de fora”, de “alta instrução” um caso que já contou a outro “moço de fora”,
incluindo no texto a resposta deste, quando a resposta do interlocutor em
cena permanece ausente (é a própria definição do diálogo oculto rosiano).
(ROWLAND, 2009, p. 55).
Sobre essa “estranha duplicação” provocada pelo interlocutor e seu silêncio nos
diz Ivana Rebello em seu artigo “Transverberar o embuço: uma leitura do conto “O
Espelho”, de Guimarães Rosa”:
Esse anônimo e imperativo escutador de estórias, chamado sempre de
Senhor, exerce, em seu excesso de silêncios, um excesso de “a gente
mesmo”, uma multiplicação de possibilidades de escuta, escrita e sujeitos.
Talvez seja esse um caminho para se ler o narrador rosiano: esse excesso de
falas e silêncios que provoca estranhamento, que faz com que o contador de
estórias deixe de coincidir consigo mesmo, com que comece a se ver sempre
como um outro ou outros. (REBELLO, [s.d], p. 1).
O “excesso de silêncio” do interlocutor, seu anonimato e suas características
similares as de Rosa nos abrem para a possibilidade de pensar que Riobaldo dialoga
com Guimarães Rosa e, assim, temos um reflexo do autor em sua obra. Rowland cita
em seu livro Ettore Finazzi-Agró, que menciona a posição dupla de Rosa. Vejamos:
De fato, em Grande Sertão, na figura do interlocutor silencioso é fácil
entrever a figura do autor, isto é, de quem fala através da voz silenciosa do
outro – “o senhor, assisado e instruído” do romance – é, no fundo, o próprio
Guimarães Rosa, lá testemunha impassível do drama, incapaz de salvar
Riobaldo das suas dúvidas, incapaz de dar uma resposta definitiva às suas
perguntas, ao seu terrível “enigma”; (...) O escritor, em suma, coloca-se mais
uma vez numa posição dúbia ou ubíqua, ele se localiza ainda no “álibi” ou na
heterotopia, sendo ao mesmo tempo quem conta e quem se conta, quem fala e
quem escuta, e tornando-se, por isso, o carnífice e a vítima – o carrasco
imaginário de si mesmo. (FINAZZI-AGRÓ, apudROWLAND, 2009, p. 118).
Porém, tomamos conhecimento que o silêncio, dito “a gente mesmo”, nos abre
uma série de possibilidades de leitura; podendo ser também nós, os leitores, como
corrobora Clara Rowland:
Complexa duplicação, se pensarmos também no modo como Grande Sertão:
veredas prepara uma identificação entre a figura do interlocutor e o leitor,
que deste modo se vê, ao mesmo tempo, reflectido e distanciado.
(ROWLAND, 2009, p. 55).
Portanto, o uso da figura do interlocutor de Riobaldo, pode ser tanto o próprio
escritor quanto nós, leitores, que nos vemos refletidos na figura do “Senhor”, sempre
ouvindo o tecer da vida de Riobaldo. Assim, fica perceptível o quanto é explorada a
duplicidade e o espelhamento em Grande sertão: veredas.
Vemos e agora voltemos. Além da relação do buriti com Diadorim, do buriti
como elemento fálico, do buriti como conselheiro de Riobaldo e do buriti comparado a
um espelho, símbolo de igualdade entre personagens, temos a palmeira buriti
relacionada também à saudade.
A “Canção do exílio” é um poema de Gonçalves Dias cuja temática é própria da
primeira fase do Romantismo brasileiro. Em sua mescla de nostalgia e nacionalismo, o
tema do exílio, da saudade da terra natal prestava-se à intenção de criar símbolos
poéticos que funcionassem ao mesmo tempo como símbolos nacionais. Gonçalves Dias
compôs o poema cinco anos depois de partir para Portugal e criou insígnias na literatura
brasileira como a palmeira e o sabiá que, segundo Ivana Rebello, em Papagaio conta
história, “se tornaram signos emblemáticos da pátria e de sua identidade literária”.
(REBELLO, 2010, p. 17). Vejamos:
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
(...)
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá. (DIAS, 2003, p. 19).
Esse poema foi reconstruído e renovado inúmeras vezes na história da literatura
brasileira, fazendo com que ele seja sempre atual e sirva como referência. Na maioria
das reconstruções há características da terra natal, da natureza, de pássaros e de árvores,
como a palmeira. Em Grande sertão: veredas não é diferente, Riobaldo usa da palmeira
buriti para falar de saudade, quando está longe de seus Gerais:
Me deu saudade de algum buritizal, na ida duma vereda em capim tem-te que
verde, termo da chapada. Saudades, dessas que respondem ao vento; saudade
dos Gerais. O senhor vê: o remôo do vento nas palmas dos buritis todos,
quando é ameaço de tempestade. Alguém esquece isso? O vento é verde. Aí,
no intervalo, o senhor pega o silêncio põe no colo. Eu sou donde eu nasci.
(ROSA, 2001, p. 306 – grifo nosso).
Outro momento saudoso é quando o jagunço está no Liso do Sussuarão, lugar
que descreve não ter sombra, nem água e nem capim; ao andar nesse “martílio” sente
saudade de Otacília:
Moça que dava amor por mim, existia nas Serras dos Gerais – Buritis Altos,
cabeceira de vereda – na Fazenda Santa Catarina. Me airei nela, como a
diguice duma música, outra água eu provava. Otacília, ela queria viver ou
morrer comigo – que a gente se casasse. Saudade se susteve curta. (ROSA,
2001, p. 67-68 – grifo nosso).
Antes, chamamos atenção para o fato de que o buriti sempre é acompanhado por
um percurso de água, notemos que nessas duas últimas citações tal palmeira é “cercada”
por águas. Na primeira, temos o vento remoendo as palmas dos buritis ameaçando que
vem tempestade, água agitada. Aqui, a palmeira é uma espécie de aviso de chuva forte.
Já na segunda citação, temos um lugar chamado “Buriris Altos” que fica na cabeceira de
uma vereda; porém Riobaldo está longe desse lugar, daí então a expressão “outra água
eu provava”. Dessa forma, temos o buriti e a água como sinônimos de lugares e são,
definitivamente, elementos associados.
Vejamos que Otacília, moça de quem ele sentiu saudade, estava nas serras dos
Gerais, mais precisamente nos Buritis Altos, mire e veja, o nome é composto pela
palmeira Buriti: “Conforme contei ao senhor, quando Otacília comecei a conhecer, nas
serras dos Gerais, Buritis Altos, nascente de vereda, Fazenda Santa Catarina” (ROSA,
2001, p. 145). Otacília era “para ser dona de tantos territórios agrícolas e adadas
pastagens, com tantas vertentes de veredas, formosura dos buritizais” (ROSA, 2001, p.
268). Nesse local onde reside Otacília há muitas veredas e buritis, inclusive no nome.
Esse estado de “exílio” em que se encontrava Riobaldo fez com que ele
retomasse o poema de Gonçalves Dias em que o poeta tem a saudade de sua terra natal
como tema. Sobre tal assertiva nos diz Maria Zilda Cury et al. no livro
Intertextualidades: teoria e prática, que “a retomada de um texto por outro(s), em
qualquer literatura, inclusive brasileira, é, de qualquer forma, uma constante. A “Canção
do exílio” de Gonçalves Dias, por exemplo, já foi parafraseada e/ou parodiada em
épocas diversas.” (CURY et al., 1995, p. 22).
Tania Franco Carvalhal também discorre sobre o assunto em Literatura
Comparada nos mostrando que “a repetição (de um texto por outro, de um fragmento
em um texto, etc.) nunca é inocente.” (CARVALHAL, 2004, p. 53). Além disso, ela
acrescenta que
toda repetição está carregada de uma intencionalidade certa: quer dar
continuidade ou quer modificar, quer subverter, enfim, quer atuar com
relação ao texto antecessor. A verdade é que a repetição, quando acontece,
sacode a poeira do texto anterior, atualiza-o, renova-o e (por que não dizê-
lo?) o re-inventa. (CARVALHAL, 2004, p. 54).
Vejamos o trecho em que Riobaldo retoma a estrofe gonçalvina com a temática
da saudade:
Buriti, minha palmeira,
lá na vereda de lá
casinha da banda esquerda,
olhos de onda do mar... (ROSA, 2001, p. 68).
Esse “Buriti” mencionado é a palmeira de Riobaldo, que remete a duas
mulheres: no terceiro verso faz menção a Otacília, pois é ela quem tem sua casa-fazenda
situada nos Buritis Altos, “casinha da banda esquerda”; e no último verso, “olhos de
onda do mar”, refere-se a Diadorim, como ele acrescenta logo após recitar tal poema:
“Mas os olhos verdes sendo os de Diadorim. Meu amor de prata e meu amor de ouro.”
(ROSA, 2001, p. 68). Como já foi citado, Diadorim tinha olhos que atraíam Riobaldo;
eram verdes, assim como a palmeira buriti. Desde o primeiro encontro, o que lhe
chamou a atenção foram justamente os olhos, e eles o perseguiram durante toda a trama:
Notei que a canoa se equilibrava mal, balançando no estado do rio. O menino
tinha me dado a mão para descer o barranco. Era uma mão bonita, macia e
quente, agora eu estava vergonhoso, perturbado. O vacilo da canoa me dava
um aumentante receio. Olhei: aqueles esmerados esmartes olhos, botados
verdes, de folhudas pestanas, luziam um efeito de calma, que até me
repassasse. Eu não sabia nadar. (ROSA, 2001, p. 119-120).
Era o Menino! O Menino, senhor sim, aquele do porto do de-Janeiro, daquilo
que lhe contei, o que atravessou o rio comigo, numa bamba canoa, toda a
vida. E ele se chegou, eu do banco me levantei. Os olhos verdes, semelhantes
grandes, o lembrável das compridas pestanas, a boca melhor bonita, o nariz
fino, afiladinho. (ROSA, 2001, p. 154).
Não só o tema da saudade é comum nos textos rosiano e gonçalvino, mas
também os olhos verdes são um ponto comum na escrita desses poetas. Em outro poema
de Gonçalves Dias, “Olhos verdes”, temos um eu-lírico exaltando um par de olhos
verdes que conheceu; depois disso, nunca mais foi o mesmo. O poema tem como
epígrafe versos de Camões, que também foi amante dos olhos verdes e sobre eles muito
poetizou. Essa epígrafe é chamada de mote, cujo uso “é uma prática tradicional em
literatura, estabelecendo o diálogo entre poetas às vezes separados por séculos” (CURY,
et al., 1995, p. 27). Seguem algumas estrofes:
Eles verdes são,
E têm por usança
Na cor esperança
E nas obras não.
(Camões)
São uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos de verde-mar,
Quando o tempo vai bonança;
Uns olhos cor de esperança
Uns olhos por que morri;
Que, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Como duas esmeraldas,
Iguais na forma e na cor,
Têm luz mais branda e mais forte.
Diz uma - vida, outra - morte;
Uma - loucura, outra - amor.
Mas, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
São verdes da cor do prado,
Exprimem qualquer paixão,
Tão facilmente se inflamam,
Tão meigamente derramam
Fogo e luz do coração;
Mas, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi! (...) (DIAS, 1980, p. 49-51).
Segundo Antônio Henriques Leal, amigo e primeiro biógrafo do Poeta brasileiro,
esses versos foram inspirados em uma moça do Rio de Janeiro, com quem o Poeta teve
um ligeiro namoro, assim como Riobaldo que namorou uma palmeira, conforme
citamos. Nota-se que a moça de olhos verdes de quem o eu-lírico fala, também possui
características parecidas com as que Riobaldo atribui a Diadorim: “Uns olhos de verde-
mar” (DIAS, 1980, p. 49) X “olhos de onda do mar...” (ROSA, 2001, p. 68); “Como
duas esmeraldas/ Iguais na forma e na cor” (DIAS, 1980, p. 50) X “aqueles esmerados
esmartes olhos, botados verdes” (ROSA, 2001, p. 119-120); “São verdes da cor do
prado/ (...) Tão meigamente derramam” (DIAS, 1980, p. 50) X “nos meigos olhos dele”
(ROSA, 2001, p. 62). Outro ponto a destacar é a mudança que essas mulheres de olhos
verdes causaram na vida tanto de Gonçalves quanto na de Riobaldo, pois a partir do
momento em que conheceu Diadorim, sua visão da natureza e do mundo que o
cercavam foi modificada.
No material disponível no IEB, Instituto de Estudos Brasileiros, da Universidade
de São Paulo, encontramos entre os livros que pertenceram a Guimarães Rosa, Obras
Completas de Luís Vaz de Camões e Lírica de Camões. Nesses livros são marcadas, de
caneta azul, páginas que possuem redondilhas e sonetos e em que aparecem “olhos
verdes”, inclusive o poema do qual Gonçalves Dias retira o mote. Chamou-nos a
atenção uma nota de rodapé, grifada e realçada por Rosa, de Hernâni Cidade, na qual ele
discorre sobre a predileção dos olhos verdes aos azuis: “nesta preferência dos olhos
verdes aos olhos azuis, objeto do mesmo culto que os cabelos de oiro, que o
petrarquismo4 pusera em moda, põe o poeta, como mais de uma vez sucede, a realidade
acima da convenção.” (CIDADE, in: CAMÕES, 1946, p. 3). Observe a estrofe em que
Camões evidencia tal preferência:
4Movimento literário em que a beleza da mulher era posta na combinação de cabelos loiros, pele branca e
olhos azuis. Em Camões, Gonçalves Dias e Guimarães Rosa é confrontada essa tradição literária, pois são
os olhos verdes colocados em destaque.
Ouro e azul é a milhor
cor por que a gente se perde;
mas, a graça desse verde
tira a graça a toda a cor.
Fica agora sendo a flor
a cor que nos olhos tendes,
porque são vossos … e verdes! (CAMÕES, 1946, p. 3).
Camões também usa de outra adjetivação para os olhos: “Com vossos olhos
Gonçalves/ Senhora, cativo tendes/ Este meu coração Mendes” (CAMÕES, 1946, p.
67). Não se sabe o porquê dessa caracterização de “Gonçalves”, mas Hernâni Cidade,
mais uma vez, nos lembra que não é a primeira vez que se usa um substantivo próprio
para adjetivar os olhos. Vejamos:
Ficará ainda desta vez sem solução o enigma destas qualificações: olhos
Gonçalves e coração Mendes. (...) Já foi lembrado que na Alemanha houve a
designação de olhos Bismarck, como no Pôrto a de olhos de henriques... A
filóloga ilustre D. Carolina Michaelis viu na palavra Gonçalves o trocadilho
com salves (com saudações) (...). (CIDADE, in: CAMÕES, 1946, p. 67).
Essa nota também é destacada e sublinhada por Guimarães Rosa, ficando
evidente seu interesse pelas adjetivações dos olhos, este que ganha em Camões a
característica de Gonçalves, “com saudações”. E por que não pensarmos nessa
expressão como “olhos com saudades”? O fato é que estudando esse material do IEB,
verificamos a influência de Camões tanto para Rosa quanto para Gonçalves Dias, este
que teve seu primeiro sobrenome registrado na poesia camoniana.
Além da adjetivação dos olhos, elemento comum entre tais poemas, chamamos
atenção ainda para uma das estrofes do poema “Olhos Verdes”:
Como se lê num espelho
Pude ler nos olhos seus!
Os olhos mostram a alma,
Que as ondas postas em calma
Também refletem os céus;
Mas, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi! (DIAS, 1980, p. 49-51).
Os três primeiros versos podem ser traduzidos pela expressão popular “os olhos
são espelho d’alma”. Anteriormente discutimos a espelharia da palmeira buriti nas
águas e sua imagem comparada a Diadorim, este (a) que possui olhos que foram a porta
de engano de Riobaldo e comparado às ondas do mar. Mais uma vez, nos deparamos
com semelhanças entre os escritos de Dias e de Rosa.
Voltemos a “canção do exílio” rosiana, na qual os pequenos versos possuem
uma “musicalidade” que é sugerida pelo ritmo e pelas rimas, o que é também muito
semelhante com os versos de Gonçalves Dias. Vejamos a escanção realizada nas
seguintes estrofes:
7 Mi/nha/ te/rra /tem/ pal/mei/ras A
7 On/de/ can/ta o/ sa/bi/á B
7As/ a/ves/ que a/qui/ gor/jei/am C
7Não/ gor/jei/am/ co/mo/ lá B (DIAS, 2003, p. 19).
7Bu/ri/ti,/ mi/nha/pal/mei/ra, A
7Lá/ na/ve/re/da/ de/ lá B
7Ca/si/nha/ da/ban/da es/quer/da, A
7O/lhos/ de/ on/da/ do/ mar B (ROSA, 2001, p. 68).
O número de sílabas em cada verso é o mesmo, a sonoridade idêntica, com
predominância do som vocálico /a/. Gonçalves Dias usa a palmeira como símbolo da
terra, colocando a beleza da terra brasileira, o “lá”, em plano superior ao das terras
europeias. Riobaldo também coloca a beleza do Sertão e dos Gerais em destaque,
usando também o “lá” para referir-se ao lugar e para colocar em evidência seu
distanciamento em relação a ele.
Já que estamos discorrendo sobre o buriti e a espelharia, podemos dizer então
que os versos de Riobaldo/Rosa são um reflexo “idêntico” dos versos Gonçalvinos,
visto que, Grande sertão: veredas é uma narrativa visivelmente poética. Não podemos
deixar de pensar que, assim como Gonçalves Dias escreveu “Canção do exílio” para
exaltar sua terra, Riobaldo escreveu uns versos para destacar suas veredas e Guimarães
Rosa também escreveu uma obra, na qual a poesia predomina, para discorrer sobre seu
sertão, o sertão das Gerais e universalizá-lo.
Atrevemo-nos dizer então que o buriti em Grande sertão: veredas é também um
símbolo de regionalismo, pois assim como na canção gonçalvina o sabiá e a palmeira
são símbolos ligados à noção de brasilidade, para Riobaldo, a palmeira buriti está
sempre relacionada às veredas; já para Guimarães Rosa, o buriti, vegetal mais citado no
romance, é símbolo de um Brasil que o próprio Brasil desconhece: o sertão.
Portanto, fica perceptível a pluralidade da palmeira buriti em Grande sertão:
veredas, visto que ela vai ganhando significados que vão além da designação comum
pertinente à flora. Tal palmeira é usada, como toda a natureza em Rosa, para construir e
caracterizar o cenário, compor os cerrados, as veredas, mas também se relaciona
afetivamente com os personagens, com o sertão e com os gerais.
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ANEXO 1 – A flora em Grande sertão: veredas
A
VEGETAL DESCRIÇÃO PÁGINAS
DE GS:V
PASSAGEM EM
GS:V
Abóbora
Nome científico: Cucurbita moschata
Nomes populares: abóbora, jerimum,
jerimum.
Planta de caule herbáceo rastejante,
provido de gavinhas e raízes adventícias.
Apresenta folhas cordiformes, de
coloração verde-escura e com áreas
prateadas. Podem ser consumidas verdes
ou maduras. Flores de tamanho
relativamente grande e coloração amarelo-
vivo. As abóboras são consumidas sob a
forma de doces e em diversos pratos
salgados.
Planta de ciclo anual
288. “Um Gu, certo
papa-abóbora,
beiradeiro, tarraco
mas da cara
comprida”.
(ROSA, 2001, p.
288).
Abobrinha
Nome científico: Cucurbita pepo
Nomes populares: Abobrinha, jerimum-
mirim, courgette ou curgete.
É um fruto que se costuma colher ainda
verde. Os dois tipos de abobrinha mais
comum são: a abobrinha tipo menina, que
tem o fruto com pescoço e a tipo italiana,
com o fruto alongado sem pescoço. As
cores vão do verde bem claro, quase
branco, até verde médio com faixas de cor
verde mais escuro. Os frutos são muito
sensíveis e se machucam com facilidade,
apodrecendo rapidamente nas partes
machucadas. Suas flores são amareladas.
Utiliza-se nos mais variados pratos
culinários.
No Norte, no Nordeste e em grande parte
das regiões Sudeste e Centro-Oeste, não
importa a época do ano para começar o
cultivo da abobrinha. Por sua vez, nos
estados do Sul, onde o frio é mais intenso
no inverno, o plantio vai bem a partir de
agosto.
130. “O que apreciei –
carne moída com
semente de trigo,
outros guisados,
recheio bom em
abobrinha ou em
folha de uva, e
aquela moda de
azedar o quiabo –
supimpas
iguarias.” (ROSA,
2001, p. 130).
Abobora-
d’agua
Nome científico: Benincasa hispida
Nomes populares: Abóbora-d'água,
cabaceiro-amargoso, cuieira.
É uma planta da família cucurbitácea, de
haste rastejante, frequentemente com
gavinhas de sustentação, que reúne cerca
184. “A saudade
minha maior era
de uma
comidinha
guisada: um
frango com
de 750 espécies entre as quais várias
domesticadas e de grande importância para
o homem tais como abóbora, melão,
melancia, bucha, cabaça (cuia), abobrinha,
pepino, etc. Quando seca, é largamente
utilizada por comunidades tradicionais
brasileiras. A exemplo de cuias, recipientes
e até instrumentos. Esse fruto, cuja polpa
amarga é usado também como laxante.
A maioria das plantas desta família são
anuais, ou seja, morrem depois de se
reproduzirem.
quiabo e abóbora-
d’água e caldo,
um refogado de
caruru com ofa de
angu.” (ROSA,
2001, p. 184).
Abóbora
moranga
Nome científico: Cucurbita máxima,
Duschene, Dicotyledonae ou
Cucurbitaceae.
Nomes Populares: abóbora, abóbora
moranga.
Planta rasteira com folhas arredondadas
verdes, sem manchas; o pedúnculo do fruto
é esponjoso, cilíndrico e não se abre ao
atingir o fruto. As folhas são semelhantes
às da abóbora rasteira. A polpa do fruto é
rica em vitaminas e sais minerais de fácil
digestão; é usada no preparo de doces,
sopas, refogados, suflês, nhoques, pães,
bolos, purês, sorvetes etc. Crua, ralada,
constitui saladas leves e saborosas. As
sementes são riquíssimas em ferro podem
ser consumidas como aperitivo. Já as flores
podem ser servidas à milanesa ou rechear
omeletes. Também se usa sementes sem
pele misturadas a mel para combate a
vermes e desarranjos intestinais.
Planta-se na estação chuvosa e seus frutos
devem ser colhidos bem maduros.
88, 299. “Angu e couve,
abóbora-moranga
cozida, torresmos,
e em toda
fogueira assavam
mantas de
carnes.” (ROSA,
2001, p. 299).
Aderno-
preto
Nome científico: Astronium graveolens
Nomes Populares: Guarita (PR), gibatão
(ES), aderno (ES), pau-ferro (RS),
gonçaço-alves.
O aderno-preto contém o tronco liso,
folhas compostas flores amareladas. A
Madeira serve para acabamentos internos
de construção civil, para obras externas
como dormentes, postes, cruzetas,
carrocerias, móveis, etc.
Floresce em agosto-setembro com a planta
despida de suas folhas. Os frutos
amadurecem em outubro-novembro.
322. “E o folha-larga,
o aderno-preto, o
pau-de-sangue; o
pau-paraíba,
sombroso. O
Urucuia, suas
abas. E vi meus
Gerais!” (ROSA,
2001, p. 322).
Agrião Nome científico: Spilanthes Acmella
Nomes Populares: Agrião, Pimenta d’água
45, 46, 46. “E estávamos
conversando,
(PE), Agrião do Brasil (BA), Agrião do
Pará e Jambu (RJ).
Erva de hastes tenras e angulosas. Folhas
opostas, longo-peliculosas, ovadas, agudas,
espessas. Flores amarelo-pálidas, em
pequenos capítulos globosos ou cônicos,
terminais ou axilares. Aquênio pequeno,
cilado nas margens. A hortaliça é uma
excelente opção para enriquecer saladas e
estimular o apetite. Também faz bem para
o fígado, é diurético e recomendado para
diabéticos.
É uma erva anual.
perto do rego –
bicame de velha
fazenda, onde o
agrião dá flor.”
(ROSA, 2001, p.
45).
Alecrim
Nome científico: Rosmarinus officinalis
Erva de caule quadrangular, aromática,
sempre verde. Folhas estreitas e de
margens enroladas. As flores são pequenas
e azul-pálidas; são também estimulantes e
abortivas. O pó das folhas é cicatrizante.
Os ramos perfumam e evitam traças nas
roupas. É também usado na medicina e na
perfumaria.
157, 184,
205, 249,
330.
“Três croas e uma
ilha. Mas uma
delas três, maior,
também sendo
meio ilha: isto é,
ilha de terra, na
parte de baixo,
com grandes
pedras e árvores,
e suja de matinho,
capim, o alecrim
viçoso
remolhando suas
folhagens nágua e
o bunda-denegro
verde vivente; e
croa, só de areia,
na parte de cima.”
(ROSA, 2001, p.
157).
Algodão
Nome científico: Gossypium
O algodão é uma fibra branca obtida dos
frutos de algumas espécies da família
Malvaceae. As fibras sempre contêm
pequenas sementes negras e triangulares
que precisam ser extraídas antes do
processamento das mesmas. As sementes
são aproveitadas na obtenção de um óleo
comestível. O línter, penugem fortemente
presa às sementes, é utilizado para encher
colchões, travesseiros, almofadas e para
fazer fios de alguns tipos de tapetes. O
línter também usado na produção de
celulose, de variadíssima aplicação na
indústria têxtil, na indústria de verniz e
outras. É ainda matéria básica da
elaboração do algodão absorvente, bem
136, 141,
157, 183,
201, 342,
347, 389.
“Porque, num
desastre de
instante, eu tinha
pegado a pensar –
o que resolvia
minha situação
era trabalhar para
ele, se viajar
vendendo
ferramentas por
aí, descaroçador
de algodão.”
(ROSA, 2001, p.
141).
como do algodão para fins cirúrgicos. Na
indústria bélica, é empregado na
preparação de pólvora, pois dele se obtêm
explosivos.
O algodoeiro é uma planta de clima
quente, que não suporta o frio. O período
vegetativo varia de cinco a sete meses,
conforme a quantidade de calor recebida, e
exige verões longos, quentes e bastante
úmidos.
Almêcega
Nome científico: Protium heptaphyllum
Nomes populares: Almecegueira, breu-
branco-verdadeiro, almecegueira-cheirosa,
almecegueira-de-cheiro, almecegueira-
vermelha, almecegueiro-bravo, almesca,
almíscar, manguinha. Folhas aromáticas,
flores avermelhadas, frutos vermelhos,
com uma ou duas sementes envoltas por
arilo carnoso e adocicado. A Madeira serve
para a construção civil, assoalhos,
carpintarias e marcenaria. Proporciona
sombra e pode ser utilizada em área urbana
e rural. Os pássaros adoram seus frutos
adocicados.
Floresce durante agosto-setembro. Frutos
amadurecem em novembro-dezembro.
220, 221. “Deitamos. Eu
estava atrás duma
árvore, uma
almêcega.”
(ROSA, 2001, p.
220).
Amendoim
Nome científico: Arachis hypogaea
Nomes populares: amendoí, amendoís,
mandobi, mandubi, mendubi,
menduí,minuim, mindubi, lenae e
duckworth.
A planta do amendoim é uma erva, com
um caule pequeno e folhas trifolioladas,
com abundante indumento, raiz aprumada,
medindo entre 30–50 cm (1-1,5 pés) de
altura. As flores são pequenas, amareladas
e, depois de fecundadas, inclinam-se para o
solo e a noz desenvolve-se
subterraneamente. O amendoim tem uma
grande importância econômica,
principalmente na indústria alimentar.
Algumas variedades têm uma grande
quantidade de lípidos e têm sido utilizadas
para a fabricação de óleo de cozinha. São
também utilizados na produção de
sanduíches, doces e produtos de
panificação. Em várias regiões de África, o
amendoim é moído para cozinhar vários
pratos da culinária local. Suas cascas são
aproveitadas na fabricação de plástico,
235. “Eu, na Nhanva,
ensinando lição a
ele, ditado e
leitura, as contas
de juros; depois,
de noite, na sala
grande, na mesa
grande, se comia
canjica temperada
com leite, queijo,
coco-da-baía,
amendoim,
açúcar, canela e
manteiga-de-
vaca.” (ROSA,
2001, p. 235).
gesso, abrasivos, e combustível.
Plantas mantidas na estação outono-
inverno produzem mais flores do que as da
estação primavera-verão.
Anduzinho
Nome científico: Cajanus cajan
Nomes populares: andu, ervilha-de-pombo,
anduzeiro, guandeiro, guando, feijão-
guandu e feijão-cuandu.
Uma leguminosa arbustiva com folhas
alternadas trifolioladas; folíolos largos e
ovais (oblonco-elípticos), folíolo terminal
peciolado, enquanto que os laterais são
sésseis e flores amarelas.
Os seus feijões são utilizados na
alimentação humana; a sua forragem
também é bastante apreciada pelos animais
e apresenta, na fase de florescimento,
teores que variam de 10 a 16 por cento de
proteína bruta.
Época de floração em abril e produção de
grãos em junho.
227. “O dia tinha
clareado saído: eu
todo podendo
descrever o
Montesclarense,
atrás dum toro de
pau e moitas de
anduzinho.”
(ROSA, 2001, p.
227).
Angico
Nome científico: Anadenanthera
macrocarpa
Nomes populares: angico, angico-do-
cerrado, angico-cascudo, angico-preto,
angico-do-campo, Arapiraca, curupaí,
angico-cascudo.
Seus ramos podem apresentar espinhos,
flores amarelo-esbranquiçadas, fruto
legume deiscente, achatado, de superfície
áspera e cor marrom. A Madeira serve pra
construção civil e naval, uso em
marcenaria e carpintaria. Floresce todos os
anos o que torna ornamental p praças e
arques. Tem rápido crescimento. É usado
na medicina popular para curar feridas e
para curtumes. Da casca retira-se corante
para tinturaria.
Floresce em setembro-novembro com a
planta quase sem folhas. Os frutos
(vargens) amadurecem em agosto-
setembro.
39, 337. “A pois: um dia,
num curtume, a
faquinha minha
que eu tinha caiu
dentro dum
tanque, só caldo
de casca de curtir,
barbatimão,
angico, lá sei.”
(ROSA, 2001, p.
39).
Araçá
Nome científico: Psidium firmum
Nomes populares: araçá, goiabinha, araçá
do campo, araçá-mirim, araçá pomba.
Folhas opostas, simples, curto-pecioladas.
Flores com cerca de 1,2cm de
comprimento, curto a longo-pediceladas.
Fruto verde-amarelado quando maduro,
globuloso, meso e endocarpo carnoso. É
61. “Dali eu via
aquele
movimento: os
homens,
enxergados
tamanhinho de
meninos, numa
alegria, feito
planta melífera e fornece fruto comestível
e saboroso. As folhas são usadas na
medicina popular como chá, são usadas
para combater a diarréia.
Floração: agosto-setembro.
Frutificação: outubro-dezembro.
nuvem de abelhas
em flor de araçá
(...)”. (ROSA,
2001, p. 61).
Araçá-
branco
Nome científico: Psidium albidum
Nomes populares: araçá-branco, araçá-
cotão, araçá do campo.
Arbusto de pequeno porte. Folhas miúdas,
pecioladas, elíticas e branco-tomentosas.
Flores alvas, aromáticas, solitárias, em
pendúculos axilares.
223. “Eu tinha fechado
os olhos. O cheiro
dum araçá-branco
formava bolas.
Quietei.”
(ROSA, 2001, p.
223).
Araçá-de-
pomba
Nome popular dado ao araçá (Psidium
firmum).
225. “Eu ainda mudei
distância de uns
passos: aproveitei
tapação duma
árvore de boa
grossura – um
araçá-de-pomba,
fechado.” (ROSA,
2001, p. 225).
Arapavaca 330. “Para extraviar as
mutucas, a gente
queimava folhas
de
arapavaca.”
(ROSA, 2001, p.
330).
Araticum
Nome científico: Annona coriácea
Nomes populares: araticum, marôlo,
araticum-liso, marolinho, araticum-do-
campo, araticum-dos-grandes, cabeça-de-
negro, pinha-do-cerrado.
Tronco com casca rugosa e fina, flores
amarelas e solitárias. Frutos verdes e
bacáceos. Sua madeira empregada na
confecção de objetos leves. Árvore usada p
paisagismo e tem queda dos frutos na
maduração. Frutos comestíveis, tanto ao
natural como suco, tem uma polpa doce e
amarelada. Combate diarreia e induz a
menstruação. Lento crescimento.
Floresce durante novembro-janeiro. Frutos
amadurecem no período de novembro-
dezembro.
388, 483. “Curralinho, me
ver – na verdade,
também, ele
aproveitava para
tratar de vender
bois e mais outros
negócios – e
trazia para mim
caixetas de doce
de buriti ou de
araticum,
requeijão e
marmeladas.”
(ROSA, 2001, p.
388).
Arnica-do-
campo
Nome científico: Lychnophora ericoides
Nomes populares: arnica, candeira,
candieiro, pau-candeia, arnica-do-campo.
Arbusto hermafrodita; folhas alternadas,
337. “Uns
recomendavam
arnica-do-campo,
outros
simples; flores com 1cm de comprimento;
fruto castanho turbinado. É uma planta
ornamental, a casca é tanífera, as folhas e
flores são aromáticas. Como uso
medicinal, a planta é usada externamente
em machucados e contusões.
Floração: dezembro-janeiro ou junho-
outubro. Frutificação: maio-junho ou ao
redor de outubro. Depende do ano e do
ambiente.
aconselhavam
emplastro de
bálsamo, com isso
rente se sarava.”
(ROSA, 2001, p.
337).
Aroeira-
brava
Nome científico: Myracrodruon
urundeuva
Nomes populares: urundeúva, aroeira,
aroeira-do-sertão, aroeira-do-campo,
aroeira-da-serra, urindeúva, arindeúva,
arendiúva, aroeira-preta, aroeira-brava.
Tronco áspero e cinza. Flores amareladas e
frutos aquênios com as sépalas
persistentes. Sua madeira serve para
fabricação de postes, mourões, esteiros,
estacas, dormentes, tacos, ripas, etc.
Árvore que perde as folhas durante o
inverno, além da possibilidade de causar
reações alérgicas a pessoas sensíveis que
entrem em contato com a planta.
Floresce em junho-julho, despida de sua
folhagem. Frutos com maturação
setembro-outubro.
191. “Guardei os
olhos, meio
momento, na
beleza dele,
guapo tão aposto
– surgido sempre
com o jaleco, que
ele tirava nunca, e
com as calças de
vaqueiro, em
couro de veado
macho, curtido
com aroeira-brava
e campestre.”
(ROSA, 2001, p.
191).
Arroz
Nome científico: Oryza sativa
Planta de raízes grossas e fibrosas, com
colmos simples, eretos, glabos, herbáceos,
fistulosos, com colmos simples. Folhas
invaginantes, compridas, lineares, planas,
pontudas, verde-claras, com as margens
escabrosas, munidas de estípulas longas e
denteadas. Flores hermafroditas com
estames vermelhos, em panícula terminal,
comprida, porém estreita. É uma planta da
família das gramíneas que alimenta mais
da metade da população humana do
mundo. É a terceira maior cultura
cerealífera do mundo, apenas ultrapassada
pelas de milho e trigo. É rico em hidratos
de carbono.
Planta com cultivo anual.
118, 118,
118, 119,
120, 234,
255, 283,
317, 326,
353, 430,
431, 432,
448, 506.
“Querem é trovão
em outubro e a
tulha cheia de
arroz.” (ROSA,
2001, p. 118).
B
Bambu
Nome científico: Bambusa
Nomes populares: Bambu, Taboca Grande
(AM), Taquaruçu (AM), Taboca.
Bambu é o nome que se dá às plantas da
sub-família Bambusoideae, uma da família
das gramíneas (Poaceae ou Gramineae).
Essa sub-família se subdivide em duas
tribos, a Bambuseae (os bambus chamados
de lenhosos) e a Olyrae (os bambus
chamados herbáceos). O bambu possui
caules lenhificados utilizados na fabricação
de diversos objetos como instrumentos
musicais, móveis, cestos e até na
construção civil, onde é utilizado em
construções de edifícios à prova de
terremotos. Também é possível produzir a
partir desta gramínea, a fibra de bambu.
Uma matéria vegetal assim como o
algodão ou o linho, o bambu tem em seu
favor alguns trunfos suplementares.
61, 61, 62,
88, 123,
232.
“O senhor
imagine: parecia
que não se
mealhava nada,
mas ele pegava
uma coisa aqui,
outra coisinha ali,
outra acolá - uma
moranga, uns
ovos, grelos de
bambu, umas
ervas – e, depois,
quando se topava
com uma casa
mais melhorzinha,
ele encomendava
pago um jantar ou
almoço, pratos
diversos, farto
real, ele mesmo
ensinava o guisar,
tudo virava
iguarias!”(ROSA,
2001, p. 118).
Banana Fruto da bananeira. É de cor verde, quando
imatura, chegando a amarela ou vermelha,
quando madura. Seu formato é alongado,
podendo, contudo, variar muito na sua
forma a depender das variedades de
cultivo. Essa variação também acontece
com a polpa, que pode ser mole ou dura,
ou ainda com incrustações meio duras,
bem como de sabor mais doce ou mais
acre. Não possui sementes. Depois de
cortada, a banana escurece-se muito
rapidamente, devido à oxidação (pela
presença da polifenoloxidase) em contato
com o ar. É consumida in natura e usada
na culinária.
310, 352. “Vendiam licor de
banana e de
pequi, muito
forte, geléia de
mocotó, fumo
bom, marmelada,
toucinho.”(ROSA
, 2001, p. 310).
Bananeira Pertence à família das Musáceas e do
gênero Musa. A bananeira caracteriza-se
por um caule suculento cujo tronco (um
pseudo-caule) é formado pelas bainhas
superpostas das suas folhas. Estas são
grandes, de coloração verde-clara,
brilhantes e de forma, em geral, oblonga
ou elíptica. O fruto, conhecido como
banana, é, na verdade, uma pseudo-baga.
168, 445. “Medo?
Bananeira treme
de todo lado. Mas
eu tirei de dentro
de meu tremor as
espantosas
palavras. Eu fosse
um homem novo
em folha.”
(ROSA, 2001, p.
310).
Barbati-
mão
Nome científico: Stryphnodendron
coriaceum
Nomes populares: Barbatimão-verdadeiro,
barba-de-timão, casca-da-virgindade ou
barbatimão.
É uma espécie de planta pertencente à
família Fabaceae. É uma árvore pequena,
hermafrodita, decídua, de tronco tortuoso.
Sua casca é rugosa, espessa e de cor
escura. As folhas são alternadas,
compostas bipinadas com cerca de cinco a
oito pares de pinas. Seus frutos são vagens
grossas, carnosas de cor castanho-claras
com muita semente de cor parda. As cascas
do caule tem ação adstringente e anti-
séptica, sendo usadas na forma de decocto,
por via oral, em casos de blenorreia,
hemorragias, úlceras e uretrites;
externamente pode ser usada no tratamento
de feridas ulcerosas e pele oleosa. Por sua
propriedade adstringente e estíptica, a
planta é conhecida como "casca da
virgindade" ou “casca da mocidade” sendo
seu chá muito procurado e usado por
prostitutas.
A floração é em setembro.
39. “A pois: um dia,
num curtume, a
faquinha minha
que eu tinha caiu
dentro dum
tanque, só caldo
de casca de curtir,
barbatimão,
angico, lá sei.”
(ROSA, 2001, p.
39).
Batata
Nome científico: Solanum tuberosum
Nomes populares: Batata, batata-inglesa,
batatinha, escorva papa, ou semilha.
É uma planta perene da família das
solanáceas. A planta adulta geralmente tem
entre sessenta a cem centímetros de altura,
possui flores e frutos e produz um
tubérculo comestível rico em amido, um
carboidrato. É muito utilizada na culinária
em saladas, acompanhamento de carnes
(frango, peixe e boi), purês e frita.
As batatas semeiam-se em abril. Dois
meses e meio depois começam a florir e
em setembro faz-se o arranque.
184. “Por tudo, eram
fogueiras de se
cozinhar, fumaça
de alecrim, panela
em gancho de
mariquita, e
cheiro bom de
carne no espeto,
torrada se
assando, e batatas
e mandiocas,
sempre quentes
no soborralho.”
(ROSA, 2001, p.
184).
Bate-caixa
Nome científico: Salvertia convallariodora
Nomes populares: Colher-de-vaqueiro,
bananeira-do-campo (MG), folha-larga
(GO, PI), Gonçalo-alves (PA), moliana,
pau-de-arara, pau-de-colher-de-vaqueiro,
bate-caixa.
Flores de pétalas brancas, zigomorfas,
dispostas em panículas apicais. Fruto
496. “Aprazia escutar
o
ventinho do
chapadão, com o
suave rumor que
assopra e faz, nas
folhas do bate-
caixa.”
cápsula lenhosa, com sementes paleáceas
aladas. A madeira é empregada na
carpintaria, confecção de caixotaria,
brinquedos etc. Flores usadas no
paisagismo e frutos procurados por
animais.
Floresce nos meses abril-junho e os frutos
amadurecem em agosto-setembro.
(ROSA, 2001, p.
496).
Breu-
branco
Nome científico: Protium hepytaphyllum
Nomes populares: breu, breu-branco, breu-
mescla, almecega-brava, almecega-
verdadeira, breu-branco-verdadeiro (AM),
almesca, manguinha.
Árvore com folhas aromáticas, flores
avermelhadas e frutos do tipo nuculânio,
deiscentes, elipsoides, vermelhos, com
uma ou duas sementes envoltas por arilo
carnoso e adocicados. A madeira é
apropriada para construção civil,
assoalhos, carpintaria e marcenaria. A
árvore proporciona boa sombra e é
utilizada na arborização urbana e rural.
Seus frutos são procurados por animais
para alimentação.
Floresce durante os meses de agosto-
setembro e os frutos amadurecem em
novembro-dezembro.
439. “Ao perto d’água,
piorava aquele
desleixo de frio.
Abracei com uma
árvore, um pé de
breu-branco.”
(ROSA, 2001, p.
439).
Bunda-de-
negro
Nome científico: Thumbergia Alata
Nomes populares: cipó-africano, jasmim-
sombra, bunda-de-negro, maria-sem-
vergonha, jasmim-da-itália, bunda-de-
mulata, amarelinha.
É uma planta da família das acantáceas. A
planta possui um caule volúvel, folhas
pecioladas sagitadas e flores amarelas
gamopétalas com tubo petalino de cor
marrom. Cada flor é acompanhada por
duas brácteas verdes. Planta decorativa.
Floração anual.
157. “Mas uma delas
três, maior,
também sendo
meio ilha: isto é,
ilha de terra, na
parte de
baixo,com
grandes pedras e
árvores, e suja de
matinho, capim, o
alecrim viçoso
remolhando suas
folhagens nágua e
o bunda-de-negro
verde vivente; e
croa, só de areia,
na parte de cima.”
(ROSA, 2001, p.
157).
Buriti Nome científico: Mauritia flexuosa
Nomes populares: buriti, carandá-guaçu,
carandaé-guaçu, miriti, muriti, palmeira-
buriti, palmeira-dos-brejos.
24, 47, 47,
47, 61, 61,
62, 63, 68,
71, 73, 86,
“Pergunto coisas
ao buriti; e o que
ele responde é:
coragem minha.
O buriti é uma das mais singulares
palmeiras do Brasil. O buriti é uma espécie
abundante no Cerrado e um indicativo
infalível da existência de água na região.
Os buritis emolduram as veredas, riachos e
cachoeiras, são inseridos nos brejos e
nascentes. A relação com a água não é à
toa. Ao caírem nos riachos, os frutos de
seus generosos cachos são transportados
pela água, ajudando a dispersar a espécie
em toda a região. Consumido
tradicionalmente ao natural, o fruto do
buriti também pode ser transformado em
doces, sucos, picolé, licor, vinho,
sobremesas de paladar peculiar e ração de
animais, que colaboram para disseminar as
sementes. A palmeira também fornece
palmito saboroso, fécula, seiva e madeira.
Os buritis embelezam a paisagem do
Cerrado e são fonte de inspiração para a
literatura, a poesia, a música e as artes
visuais.
96, 96,
103, 104,
111, 118,
131, 135,
156, 173,
173, 204,
208, 208,
213, 306,
306, 322,
323, 324,
324, 325,
325, 329,
333, 333,
335, 342,
352, 370,
388, 392,
393, 393,
395, 398,
400, 403,
417, 417,
438, 451,
464, 481,
483, 614.
Buriti quer todo
azul, e não se
aparta de sua água
– carece de
espelho. Mestre
não é quem
sempre ensina,
mas quem de
repente aprende.”
(ROSA, 2001, p.
325-326).
Buritirana
Nome científico: Mauritiella aculeata
Nomes populares: buritirana, buriti-mirim.
Palmeira muito elegante e vistosa,
formadora de touceiras, com folhas em
forma de leque, destaca-se pela belíssima
coloração branco-azulada da bainha e dos
pecíolos. Espécie dioica, portanto para a
produção de frutos são necessários
exemplares masculinos e femininos. É
extremamente ornamental, oferece amplas
aplicações paisagísticas. Os frutos, de
forma análoga à de seu parente buriti
(Mauritia flexuosa), são utilizados para o
preparo de uma bebida muito apreciada em
sua região de origem.
47. “Com medo de
mãe-cobra, se vê
muito bicho
retardar
ponderado, paz de
hora de poder
água beber, esses
escondidos atrás
das touceiras de
buritirana.”
(ROSA, 2001, p.
47).
Bogari
Nome científico: Jasminum Volubile
O bogari é um arbusto muito perfumado e
decorativo. As folhas são verde escura,
ovaladas, com sulcos um tanto marcados e
são dispostas ao longo de ramos
compridos. As flores brancas exalam um
forte perfume, adquirem tonalidades
rosadas com o tempo e podem ser simples,
semi-dobradas ou dobradas. Embora seja
arbustiva, pode ser conduzida como
trepadeira, devido aos extensos ramos,
cobrindo assim suportes como colunas,
393. “Estou vendo
vocês dois juntos,
tão juntos,
prendido nos
cabelos dela um
botão de bogari.”
(ROSA, 2001, p.
393).
grades e arcos. Utilizado na ornamentação.
Floresce nos meses mais quentes do ano,
mas pode florescer no inverno se mantida
em estufa.
C
Cabaça
Nome científico: Lagenaria vulgaris
Nomes populares: Cabaça, porongo,
porungo.
É a designação comum dos frutos de
plantas da família das cucurbitáceas e a
uma da família das bignoniáceas. As
plantas são chamadas de cabaceira,
porongueiro, cabaceiro e, na Amazônia, de
jamaru. É utilizada na produção de
artesanato, porta-objetos, brinquedos,
bonecas, cuia de chimarrão. Os frutos
verdes de sabor muito amargo são
utilizados na culinária do interior do
Brasil.
460. “Tive de repente
fé naqueles
desgraçados, com
suas desvalidas
armas de toda
antiguidade, e
cabaças na
bandola, e panelas
de pólvora escura
e fedor de fumaça
ceguenta.”
(ROSA, 2001, p.
460).
Caeté
Nome científico:Heliconia velloziana
Nomes populares: Caeté, Bananeirinha,
Caetê, Helicônia, Helicônia-vermelha,
erva-conteira.
As folhas são lisas, largas, grandes com
pecíolo longo. As inflorescências formadas
no verão são eretas, com brácteas maiores
na base e menores no ápice. As brácteas
podem ser de coloração vermelho vivo ou
laranja, com flores amarelas.
Utilizado na ornamentação.
206. “Das que
sobressaíam, era
uma flor branca –
que fosse caeté,
pensei, e parecia
um lírio – alteada
e muito
perfumosa. E essa
flor é figurada, o
senhor sabe?”
(ROSA, 2001, p.
206).
Café
Nome científico:Coffea arabica
O cafeeiro é um arbusto da família
Rubiaceae e do gênero Coffea L. Destas,
se colhem os frutos, o café, com os quais
se prepara a bebida estimulante conhecida
também como café. A princípio o fruto é
verde, depois adquire colocaração
vermelha quando amadurece e, por fim,
quando seco, torna-se preto.
311, 319,
325, 334,
353, 411,
440, 450,
486, 496,
496, 508.
“Aí o senhor via
os companheiros,
um por um,
prazidos, em beira
do café.”(ROSA,
2001, p. 334).
Caju Nome científico: Anacardium occidentale 319. “Milho crescia em
O caju se constitui de duas partes: o fruto
propriamente dito, que é a castanha; e seu
pedúnculo floral, o pseudofruto, um corpo
piriforme, amarelo, rosado ou vermelho.
Do caju preparam-se sucos, mel, doces,
passas e rapaduras. Dele também são
fabricadas bebidas não alcoólicas, como a
cajuína. De suas fibras (resíduo/bagaço) é
feita a "carne de caju".
Frutificação janeiro a fevereiro.
roças, sabiá deu
cria, gameleira
pingou frutinhas,
o pequi
amadurecia no
pequizeiro e a cair
no chão, veio
veranico, pitanga
e caju nos
campos.” (ROSA,
2001, p. 319).
Cajueiro e
Cajueiro-
anão
Nome científico: Anacardium occidentale
É uma planta da família Anacardiaceae
originária da região nordeste do Brasil,
com arquitetura de copa tortuosa e de
diferentes portes. Na natureza existem dois
tipos: o comum (ou gigante) e o anão. O
tipo comum pode atingir entre 5 e 12
metros de altura, mas em condições muito
propícias pode chegar a 20 metros. O tipo
anão possui altura média de 4 metros.
Além do fruto, o caju, a casca da árvore é
também utilizada como adstringente e
tônico.
Floresce a partir de junho e prolonga-se até
novembro. Os frutos amadurecem nos
meses se setembro a janeiro.
212, 476,
483, 483.
“Quando a lua
subisse mais, as
estrelas se
sumiam para
dentro, e até as
seriemas podiam
se atontar de
gritar. Ao que
fiquei bom tempo
encostado no
cajueiro da beira
do curral.”
(ROSA, 2001, p.
212).
Cana
Nome científico: Saccharum
É uma planta da família Poaceae,
representada pelo milho, sorgo, arroz e
muitas outras gramas. As principais
características dessa família são a forma da
inflorescência (espiga), o crescimento do
caule em colmos, e as folhas com lâminas
de sílica em suas bordas e bainha aberta. A
planta é a principal matéria-prima para a
fabricação do açúcar e álcool (etanol).
157, 183,
246, 309,
432.
“Vai agora, mês
de junho. A
estrelad’alva
sai às três horas,
madrugada boa
gelada. É tempo
da cana.” (ROSA,
2001, p. 157).
Canaranas
Nome científico: Zingiberaceae
Nomes populares: caatinga, cana branca,
canarana.
Seus ramos são longos, ligeiramente
tortuosos e pouco ramificados. As folhas
são espiraladas, de coloração verde-escura
muito brilhante, tendo no lado inferior
nervuras centrais mais claras. As
inflorescências são terminais, tendo
brácteas de coloração vermelha ou verde.
As flores podem ser rosas, brancas ou
vermelhas. Esta planta é reproduzida por
divisão da touceira ou estacas. Este vegetal
121. “E se deu que o
remador encostou
quase a canoa nas
canaranas, e se
curvou, queria
quebrar um galho
de maracujá-do-
mato.” (ROSA,
2001, p. 121).
é plantado para fins medicinais ou
decorativos.
Canela A canela é a especiaria obtida da parte
interna da casca do tronco da caneleira
(Cinnamomum zeylanicum). É muito
utilizada na culinária como condimento e
aromatizante e na preparação de certos
tipos de chocolate e licores. Na medicina,
empregada como os óleos destilados e são
conhecidos por 'curar' resfriados. O sabor e
aroma intensos vêm do aldeído cinâmico
ou cinamaldeído.
235. “Eu, na Nhanva,
ensinando lição a
ele,
ditado e leitura, as
contas de juros;
depois, de noite,
na sala grande, na
mesa grande, se
comia canjica
temperada com
leite,queijo, coco-
da-baía,
amendoim,
açúcar, canela e
manteiga-
devaca.” (ROSA,
2001, p. 235).
Canela-de-
ema
Nome científico: Vellozia squamata
São arbustos que ocorrem nas regiões de
cerrados dos estados da Bahia, Goiás,
Mato Grosso, Minas Gerais, Mato Grosso
do Sul, Distrito Federal e São Paulo.
Possuem caule ereto, poucas ramificações.
Têm flores de várias cores, como roxas,
brancas, róseas, amarelas e alaranjadas.
Suas folhas são usadas como forrageiras
para o gado. Sua floração ocorre de maio á
junho.
48. “Arrancávamos
canela-de-ema,
para acender
fogueira.”
(ROSA, 2001, p.
48).
Capa-rosa-
do-judeu
Nome científico:Miconia rigidiuscula
Nomes populares: Capa-rosa, capa-rosa-
do-judeu.
435. “Ainda melhor era
a
capa-rosa –
porque no chão
bem debaixo dela
é que o Careca
dança, e por isso
ali fica um círculo
de terra limpa, em
que não cresce
nem um fio de
capim; e que por
isso de capa-rosa-
do-judeu nome
toma.”(ROSA,
2001, p. 435).
Capim
agrestes
Nome científico: Imperata Brasiliensis
Nomes populares: agreste, jucapé, sapé,
massapé.
A flor é um cacho constituído por
387. “Saber as
revezadas do
capim? Ah, então,
que foram:
pequenas espigas reunidas, que se
desprendem e voam, espalhando as suas
sementes por todos os recentos. O seu
aspecto quando novo é agradável, devido
ao belo verde de suas folhas novas, mas,
quando adulto ele perde lentamente a sua
bela cor, cedendo lugar ao amarelo
avermelhado de suas folhas apresentando o
aspecto de um vasto lençol de palha. É
usado para cobrir choupanas (casas de
sapé), palhoças, ranchos e para cama de
animais. Das suas folhas, extrai-se celulose
que se presta para o fabrico de papel
ordinário. Também possui propriedades
medicinais.
Floresce no outono e primavera.
mimoso, sempre-
verde, marmelada,
agrestes e grama-
de-burro...”
(ROSA, 2001, p.
387).
Capim-
capivara
Nome científico:Echinochloa crusgalli
Planta de ciclo anual, entouceirada,
herbácea, porte ereto, de 50-90 cm de
altura. Folhas com bordos levemente
serreados, de 15-30 cm de comprimento.
Lígula ausente e reprodução por sementes.
123. “Estava pitando.
Acabou de pitar,
apanhava talos de
capim-capivara, e
mastigava; tinha
gosto de milho-
verde, é dele que
a capivara come.”
(ROSA, 2001, p.
123).
Capim-
grama
63. “Os cavalos ainda
pastavam um
pouco,
do capim-grama,
que tapava os pés
deles.” (ROSA,
2001, p. 63).
Capim
grama-de-
burro
Nome científico:Cynodon dactylon
Nomes populares: grama-das-botica,
grama-fina, grama-rasteira, graminha-seda,
graminha-fina, erva-das-bermudas.
Planta perene, ereta ou ascendente,
rizomatosa e estolonífera. Os colmos são
cilíndricos, finos, lisos e glabros, verdes ou
com pigmentação purpurescente.
Inicialmente ascendentes, assumem
postura ereta após a floração. Apresentam
algumas folhas. Utilizável em pastejo ou
fenação, na formação de gramados, em
barrancos e em taludes de canais é usada
para cobertura do solo.
387. “Saber as
revezadas do
capim? Ah, então,
que foram:
mimoso, sempre-
verde, marmelada,
agrestes e grama-
de-burro...”
(ROSA, 2001, p.
387).
Capim
marmelada
Nome científico: Brachiaria Plantaginea
Nomes populares: grama-paulista, milhã-
branca, papuã.
44, 387. “Aquele capim-
marmelada é
muito restível,
Colmos cilíndricos, compridos,
geniculados, ascendentes ou decumbentes,
entre-nós e nós glabros, com enraizamento
nos nós em contato com o solo, verde-
claro sem pigmentação arroxeada. Folhas
estriadas, verde-pálidas ou alvas.
redobra logo na
brotação, tão
verde-mar, filho
do menor
chuvisco.”
(ROSA, 2001, p.
44).
Capim
mimoso
Nome científico: Axonopus purpusii
O capim-mimoso é uma gramínea perene
que ocorre principalmente em manchas de
solos arenosos. Sendo altamente palatável,
constitui uma das principais espécies
componentes da dieta de bovinos, equinos
e grandes herbívoros silvestres.
387. “Saber as
revezadas do
capim? Ah, então,
que foram:
mimoso, sempre-
verde, marmelada,
agrestes e grama-
de-burro...”
(ROSA, 2001, p.
387).
Capim-
pubo
123. “Aonde o menino
queria ir?
Sofismei, mas fui
andando, fomos,
na vargem, no
meio avermelhado
do capim-pubo.”
(ROSA, 2001, p.
123)
Capim-
redondo
Nome científico: Trachypogon
Polymorphus
Nomes populares: arroz-do-campo.
63. “Os urubus em
vasto
espaceavam. Se
acabou o capinzal
de capim-redondo
e paspalho, e paus
espinhosos, que
mesmo as moitas
daquele de
prateados
feixes, capins
assins.”(ROSA,
2001, p. 63)
Capim
sempre-
verde
Nome científico:Poa Nemoralis
Capim-sempre-verde é o nome popular de
uma planta da família das Poáceas.
387. “Saber as
revezadas do
capim? Ah, então,
que foram:
mimoso, sempre-
verde, marmelada,
agrestes e grama-
de-burro...”
(ROSA, 2001, p.
387).
Capim 89. “Viemos pelo
verdeado Urucuia. Meu rio
de amor é o
Urucuia.
Ochapadão – onde
tanto boi berra.
Daí, os gerais,
com o capim
verdeado. Ali é
que vaqueiro
brama, com suas
boiadas
espatifadas.”
(ROSA, 2001, p.
89).
Capitão-
do-campo
44. “Tresmente: que
com o capitão-do-
campo de
prateadas pontas,
viçoso no cerrado;
o anis enfeitando
suas moitas; e
com florzinhas as
dejaniras.”
(ROSA, 2001, p.
44).
Capitão-
da-sala
Nome científico:Asclepias Curassavica
Nomes populares: erva-de-paina, erva-
leiteira, algodãozinho-do-campo, dona-
joana, mata-olho, oficial-da-sala,
cavalheiro-da-sala.
Flores bonitas, numerosas, com pétalas
vermelhas e petaloides alaranjados, em
umbelas de pedúnculos compridos.
Folículo glabro, estreito, pardacento-
enegrecido, com numerosas sementes
coroadas por um tapete de pelos sedosos.
Usada como purgativa, vermífuga,
antiasmática e bernicida.
71. “E era bonito, no
correr do baixo
campo, as flores
do capitão-da-
sala-todas
vermelhas e
alaranjadas,
rebrilhando
estremecidas, de
reflexo.” (ROSA,
2001, p. 71).
Caraíba
Nome científico: Cordia calocephala
C. insignis
Nomes populares: Carobeira, Caraúba do
Campo, Para-Tudo.
Árvore de casca tuberosa que produz
pequenas flores amareladas com os lábios
inferiores estriados em vermelho. É tida
como indicação segura de solo fértil. Sua
madeira possui excelentes qualidades para
várias aplicações.
392, 480. “Nós estávamos
na beira do
cerrado, cimo
donde a ladeirinha
do resfriado
principia; a gente
parava debaixo
dum paratudo –
pau como diz o
goiano, que é a
caraíba mesma –
árvore que
respondia à
saudade de suas
irmãs dela,
crescidas em
lontão, nas boas
beiras do Urucuia
(ROSA, 2001, p.
392).
Caraíba-
de-flor-
rôxa
“E descemos num pojo, num ponto sem
praia, onde essas altas árvores – a caraíba-
de-flor-roxa, tão urucuiana.” (ROSA,
2001, 322).
322, 324. “E descemos num
pojo, num ponto
sem praia, onde
essas altas árvores
– a caraíba-de-
flor–roxa, tão
urucuiana.”
(ROSA, 2001, p.
322).
Carambola A carambola é o fruto da caramboleira
(Averrhoa carambola), uma árvore
ornamental de pequeno porte, da família
das Oxalidaceae. Possui flores brancas e
purpúreas. É largamente usada como
planta de arborização de jardins e quintais.
178. “É de ver que,
mesmo do jeito,
não bobeei um
ceitil: o Advindo
me lecionava o
rumo medido da
vantagem, e eu
encurvava o
corpo, amolecia
barriga e taqueava
o meu chofre,
querendo aquilo
no verde – : era o
justo repique –
umas carambolas
de todos estalos,
retruque e
recompletas, com
recuanço, ladeio
perfeito, efeito
produzido e
reproduzido; por
fim, eu me
reprazia mais
escutando
rebrilhar o
concôco daquelas
bolas umas nas
outras,
deslizadas...”
(ROSA, 2001, p.
178).
Caruru Nome científico: Amaranthus 184. “A saudade minha
Nomes populares:bredo Caruru é a
designação comum a certas plantas do
gênero Amaranthus, da família das
amarantáceas, algumas de folhas
comestíveis, bastante utilizada em
culinária. A maioria delas é invasora de
plantações.
maior era de uma
comidinha
guisada: um
frango com
quiabo e abóbora-
d’água e caldo,
um refogado de
caruru com ofa de
angu.” (ROSA,
2001, p. 184).
Casa-
comigo
Em todas as casas onde havia moças boas
para casar, em frente havia uma flor
misteriosa, semelhante a um lírio. Essa flor
recebeu vários nomes de acordo com a
mulher que Riobaldo a relacionava. Ao
perguntar o nome da flor, para Otacília ele
teve a resposta de “casa-comigo”.
206 “Casa-comigo...”
– Otacília
baixinho me
atendeu. E, no
dizer, tirou de
mim os olhos;
mas o tiritozinho
de sua voz eu
guardei e recebi,
porque era de
sentimento”.
(ROSA, 2001, p.
206).
Cavalheiro-
da-sala
Nome popular de uma planta. O mesmo
que capitão-da-sala.
“E era bonito, no
correr do baixo
campo, as flores
do capitão-da-
sala-todas
vermelhas e
alaranjadas,
rebrilhando
estremecidas, de
reflexo. – “É o
cavalheiro- da-
sala...” –
Diadorim falou,
entusiasmado.
Mas o Alaripe,
perto de nós,
sacudiu a cabeça.
– “Em minha
terra, o nome
dessa” – ele disse
“é dona-joana...
Mas o leite dela é
venenoso...”
(ROSA, 2001, p.
72).
Cedro
Nome científico: Cedrela odorata
Nomes populares: Cedro cheiroso, cedro
122. “Me deu uma
tontura. O ódio
rosa. Árvore de porte nobre e casca
fendida e rugosa. Folhas alternas e
pinadas. Flores curto-pediceladas, branca-
centas, inteiros e glabros. Sua madeira é
rica de vasos cheios de matérias resinosas.
que eu quis: ah,
tantas canoas no
porto, boas canoas
boiantes, de
faveira ou
tamboril, de
imburana,
vinhático ou
cedro, e a gente
tinha escolhido
aquela...” (ROSA,
2001, p. 122).
Cera de
palmeiral
484. “Essa tropa, que
passara por nós,
dias antes, rumava
para o
Abaeté, com
carga de fumo,
mantas de
borracha, couros
de onça e de
lontra e cera de
palmeiral, pouca
coisa.” (ROSA,
2001, p. 484).
Cocos do
buritizal
Fruto da palmeira buriti. Além de rico em
vitamina A, B e C, ainda fornece cálcio,
ferro e proteínas. Consumido
tradicionalmente ao natural, o fruto do
buriti também pode ser transformado em
doces, sucos, picolé, licor, vinho,
sobremesas de paladar peculiar e ração de
animais.
330. “Assim que
fevereiro é o mês
mindinho: mas é
quando todos os
cocos do buritizal
maduram, e no
céu, quando estia,
a gente acha
reunidas as todas
estrelas do ano
todo. Mesmas
vezes eu
ria.”(ROSA,
2001, p. 330).
Coco Nome científico: Cocos nucifera
Nomes populares: Coco , coco-da-praia,
coco-da-índia, coco-da-bahia.
O coco é o fruto produzido pelo coqueiro e
contém componentes que beneficiam o
organismo humano. É um fruto oval-
arredondado, carnoso, de casca fibrosa,
endocarpo duro, de semente esbranquiçada
e suculenta utilizada na alimentação
juntamente com a água que se encontra
dentro da semente. A água de coco é muito
352. “Cabeça de um se
bolou,
redondante, feito
um coco, por
cima da palha de
buriti que cobria
uma casa de
vaqueiro.”
(ROSA, 2001, p.
352).
saborosa. Pode ser empregada como
diurético, por ser inofensiva e rica em sais
de potássio.O coco realça o sabor dos
alimentos, sendo excelente no preparo de
bebidas, pratos doces e salgados,
substituindo com vantagem nozes e
amêndoas nos diferentes tipos de receitas.
Seu período de safra vai de janeiro a julho,
e, em casos especiais, a setembro.
Coco-da-
bahia
Espécie de coco. 235. “Eu, na Nhanva,
ensinando lição a
ele,
ditado e leitura, as
contas de juros;
depois, de noite,
na sala grande, na
mesa grande, se
comia canjica
temperada com
leite, queijo, coco-
da-baía,
amendoim,
açúcar, canela e
manteiga-
devaca.” (ROSA,
2001, p. 235).
Coco de
macaúba
Fruto da palmeira macaúba (Acrocomia
aculeata). Dele se extrai óleo, é utilizado
na produção de sabão em barra, shampoo,
desinfetante e cosméticos; serve também
de alimento para animais.
310. “Diadorim
mandou comprar
um quilo grande
de sabão de coco
de macaúba, para
sé lavar corpo.”
(ROSA, 2001, p.
310).
Congonha Denominação genérica dada à várias
árvores de diversas famílias botânicas,
cujas folhas servem para fazer chás. É
também chamado de mate, erveira, erva-
verdadeira, etc.
235. “– “Fofo faço, e
em prazo, siô
Baldo: acabar
para uma vez
com essa cambada
canalha de
jagunços!” – ele
referia, com
rompante e festa
no dizer, bebendo
seu coité de chá-
decongonha, que
de tão quente
pelava.” (ROSA,
2001, p. 325).
Copos-de- Nome científico: Zantedeschia aethiopica 326. “E em Otacília eu
leite
Planta com folhas grandes, espádice
cilíndrica e amarela e espata branca. É
originária da África do Sul, comum onde
quer que exista água. É usada como
ornamental em outras zonas de clima
temperado, devido às suas flores grandes e
à facilidade com que se cultiva. É tóxica,
devido à presença de oxalato de cálcio e
possivelmente uma espécie invasora. Ela é
muito vendida em floriculturas, e
apreciada em jardins.
sempre muito
pensei: tanto que
eu via as
Baronesas
amarasmeando no
rio em vidro –
jericó, e os lírios
todos, os lírios-
do-brejo – copos-
de-leite, lágrimas-
de-moça, são-
josés.” (ROSA,
2001, p. 326).
Coqueiros Nome científico: Cocos nucifera
Palmeira com caule sem ramificação
marcado por vários anéis que são cicatrizes
das folhas caídas. Seu porte é elegante,
ligeiramente curvado em virtude da ação
dos ventos. As folhas penadas formam
uma copa elegante. As flores, brancas e
carnudas, se agrupam em um cacho,
constituído de flores masculinas e
femininas. O fruto, o coco, é constituído
por uma casca dura, uma polpa de cor
branca, carnuda e adocicada e em seu
interior se encontra água.
310, 398. “Bateu o primeiro
toró de chuva.
Cortamos paus,
folhagem de
coqueiros,
aumentamos o
rancho.”(ROSA,
2001, p. 310).
Couve
Nome científico: Brassica oleracea
Esta hortaliça tem folhas grandes e
carnudas, possui inúmeras formas obtidas
e fixadas por uma longa cultura.É uma
planta muito utilizada como verdura na
cozinha, para sopas e conservas, entre
outros acompanhamentos, como a couve à
mineira.
299. “Daí, estávamos
todos pegando o
que comer, que
eram essas
grandes
abundâncias.
Angu e couve,
abóbora-moranga
cozida, torresmos,
e em toda
fogueira assavam
mantas de
carnes.” (ROSA,
2001, p. 299).
D
Dorme-
comigo
Ao pensar em Nhorinhá, a prostituta com
quem Riobaldo se envolve, a flor que se
parece um Lírio, recebe a alcunha de
“Dorme-comigo”.
206. “Consoante,
outras, as
mulheres livres,
dadas,
respondem: –
“Dorme-
comigo...” Assim
era que devia de
haver de ter de
me dizer aquela
linda moça
Nhorinhá, filha de
Ana Duzuza, nos
Gerais confins; e
que também
gostou de mim e
eu dela gostei.”
(ROSA, 2001, p.
206).
Dona-joana Dona-joana é o nome vulgar de uma
planta, o mesmo que capitão-da-sala.
72. “E era bonito, no
correr do baixo
campo, as flores
do capitão-da-
sala-todas
vermelhas e
alaranjadas,
rebrilhando
estremecidas, de
reflexo. – “É o
cavalheiro- da-
sala...” –
Diadorim falou,
entusiasmado.
Mas o Alaripe,
perto de nós,
sacudiu a cabeça.
– “Em minha
terra, o nome
dessa” – ele disse
“é dona-joana...
Mas o leite dela é
venenoso...”
(ROSA, 2001, p.
72).
Duro-do-
brejo
Nome científico: Andropogon Lithophilus
Nomes populares: Capim-duro-do-brejo,
duro-do-brejo.
Duro-do-brejo é o nome popular de uma
planta da família das Poáceas.
395. “Mas o ao em
redor, em grandes
pastos, era o
capim melhor
milagroso – que o
que deixava de
ser provisório rico
era o meloso de
muito óleo, a não
ver uns fios de
santa-luzia azul, e
do duro-do-brejo,
nas baixadas, e,
nos altos com
pedregal, o
jasmim-da-
serra.”(ROSA,
2001, p. 395).
E
Embaúba Embaúba é a designação comum de várias
espécies de árvores, principalmente do
gênero Cecropia.
Nomes populares: Embaúva, imbaúba,
imbaúva, umbaúba, umbaúva, ambaúba,
embaíba, imbaíba e torém.
As embaúbas são árvores leves, pouco
exigentes quanto a solo e muito comuns
em áreas desmatadas em recuperação.
Possuem frutos atrativos a várias espécies
de aves. São capazes de se dispersarem
rapidamente. Como possuem caule e ramos
ocos, vivem em simbiose com formigas.
210. “Vindo na
vertente, tinha o
quintal, e o mato,
com o garrulho de
grandes
maracanãs
pousadas numa
embaúba, enorme,
e nas mangueiras,
que o sol
dourejava.”
(ROSA, 2001, p.
210).
Embira Abrange plantas pertencentes a diversas
famílias, notadamente às Anonáceas, cujo
córtex fornece fibra ou embira, para
simplesmente amarrar ou ser aproveitada
na cordoaria.
91. “Mas primeiro
enfeitaram as
foices, urdindo
com cordões de
embira e várias
flores.” (ROSA,
2001, p. 91).
Erva-boa 337, 337. “Aí Raimundo Lê
garantiu cura com
erva-boa. Mas
onde
era que erva-boa
se ia achar?”
(ROSA, 2001, p.
210).
Erva-dôce
Nome científico:Pimpinella Anisum
Nomes populares: Anis
Planta herbácea africana, de folhas
fendidas e flores alvas em amplas umbelas.
Frutos condimentares, estimulantes,
carminativos. Utilizada na culinária e na
perfumaria.
252. “O Paspe, que
cozinhava,
cozinhou para
mim os chás: o de
macela, o de erva-
doce, o de losna.”
(ROSA, 2001, p.
352).
F
Fava Nome científico: Vicia faba
A fava é uma planta da família das
leguminosas. Folhas papirinadas, vagens
grandes, carnudas, com sementes
achatadas, castanho-claras, roxas ou
verdes. As vargens tenras constituem
excelente alimento.
249. “Gostei de favas
do mato, muito
murici, quixaba e
jaca.” (ROSA,
2001, p. 249).
Faveira Nome comum às Leguminosas
papolionóideas.
Nome popular: faveira, faveiro.
Árvore de pequeno porte, com flores
violáceos. O lenho é pesado, pardo-
amarelo. Presta-se para construção. (Esta
espécie descrita é a Vatairea macrocarpa)
122, 476,
476.
“Me deu uma
tontura. O ódio
que eu quis: ah,
tantas canoas no
porto, boas
canoas boiantes,
de faveira ou
tamboril, de
imburana,
vinhático ou
cedro, e a gente
tinha escolhido
aquela...” (ROSA,
2001, p. 352).
Feijão
Nome científico:Phaseolus vulgaris
Feijão é um nome comum para uma grande
variedade de sementes de plantas de alguns
gêneros da família Fabaceae. Proporciona
nutrientes essenciais como proteínas, ferro,
cálcio, vitaminas (principalmente do
complexo B), carboidratos e fibras. A
combinação de arroz com feijão é típica da
culinária do Brasil.
234, 283,
317, 353,
431, 464.
“E, mesmo, nas
más horas é que
vem bom
consolo: para o
Jio tinha tocado,
de antevéspera, o
Braz, nessa
antecedência em
dois jumentos ele
tinha trazido
mantimento de
feijão e arroz, e
toucinho para
torresmos, e
pratos e panela, se
cozinhou um
jantar.”
(ROSA, 2001, p.
234).
Feijão
bravo
Denominação comum às espécies nativas
dos gêneros Phaseolus, Vigna e
Centrosema, da família das Leguminosas
Papilionóideas.
120. “No alto, eram
muitas
flores,
subitamente
vermelhas, de
olho-de-boi e de
outrastrepadeiras,
e as roxas, do
mucunã, que é um
feijão bravo;
porque se estava
no mês de maio,
digo – tempo de
comprar arroz,
quem não pôde
plantar.”
(ROSA, 2001, p.
120).
Feijão-da-
seca
430. “Daí, assim ia
sendo que,
mesmo sem
sentir, o próprio
Zé Bebelo se via
principiando a ter
de falar com ele
em todas as pestes
de gado, e nas
boas leiras de
vazante, no
feijão-da- seca e
nos arrozais
cacheando, em
que os
passarinhos de
Deus viram em a
má praga.”
(ROSA, 2001, p.
430).
Flor de
joaninha-
silva
431. “Daí, feito flor de
joaninha-silva em
muito sol, do
meio-dia para a
tarde, virava era
azul.” (ROSA,
2001, p. 431).
Folha de
uva
Folha da videira (Vitis sp.), uma planta da
família das Vitaceae.
130. “O que apreciei –
carne moída com
semente de trigo,
outros guisados,
recheio bom em
abobrinha ou em
folha de uva, e
aquela moda de
azedar o quiabo –
supimpas
iguarias.” (ROSA,
2001, p. 130).
Folha-larga 322. “E o folha-larga,
o aderno-preto, o
pau-de-sangue; o
pau-paraíba,
sombroso. O
Urucuia, suas
abas. E vi meus
Gerais!” (ROSA,
2001, p. 322).
Fumo
Nome científico:Nicotina Tabacum
Planta com caule ereto e folhas grandes. O
caule e as folhas secretam substância
pegajosa, de cheiro forte. As flores são
afuniladas, rosas, unidas em penículas.
179, 179,
432, 483,
484.
“Andando que
sentados, jogando
jogos, ferrando
queda de braço,
assoando o nariz,
mascando fumo
forte e cuspindo
longe, e pitando,
picando ou
dedilhando fumo
no covo da mão,
com muita
demora; o mais,
sempre no
proseio.” (ROSA,
2001, p. 352).
G
Gameleira
Nome científico:Ficus doliaria
Árvore ereta, de porte vultoso, casca
espessa e dura. Suas folhas são alternas,
corídeas, ovais e verde-escuras. Madeira
utilizada para a confecção de gamelas e
objetos domésticos.
117, 160,
319.
“Tinha também
umas duas ou três
gameleiras, de
outrora, tanto
recordo.” (ROSA,
2001, p. 117).
Gravatá Nome científico:Bromelia Karatas 129, 255, “Mais tarde, me
Nomes populares: Caraguatá, caravatá,
caroá, caroatá, caruatá, croata, caruatá-de-
pau, coroá, coroatá, coroá-verdadeiro,
craguatá, crauaçu, crauatá, crautá, cravatá,
croá, curauá, curuá, curuatá, erva-do-
gentio, gragoatá e erva-piteira.
Planta vivaz, herbácea, quase acaule.
Folhar ensiformes, verdes, vermelhas na
base do caule. As flores de cálice branco e
pétalas roxas. Das folhas se retira fibra
sedosa para cordas, tapetes, mantas etc.
266, 319. deu até um facão
enterçado, que
tinha mandado
forjar para
próprio, quase do
tamanho de
espada e em
formato de folha
de gravata.”
(ROSA, 2001, p.
129).
Graviá 65. “Depois, se
repraçava um
entranço de vice-
versa, com
espinhos e
restolho de
graviá, de áspera
raça, verde-preto
cor de cobra.
Caminho não se
havendo.”
(ROSA, 2001, p.
65).
Goiabeira
Nome científico: Psidium guajava
Nomes populares: araçá-guaçu, araçaíba,
araçá-das-almas, araçá-mirim, araçauaçu,
araçá-goiaba, goiaba, goiabeira-branca,
goiabeira-vermelha, guaiaba, guaiava,
guava, guiaba, mepera e pereira.
Pequena árvore frutífera tropical de tronco
tortuoso, casca lisa descamante tanífera.
As folhas obovadas e cartáceas. Flores
pequenas, brancas, solitárias, formadas na
primavera. Os frutos são bagas verdes ou
amarelas de casca rugosa, com polpa
suculenta doce-acidulada aromática,
branca, rósea, avermelhada ou arroxeada,
com muitos "caroços" (sementes).
Amadurecem no verão.
201. “E o Elisiano
caprichava de
cortar e descascar
um ramo reto de
goiabeira, ele que
assava a carne
mais gostosa, as
beiras tostadas, a
gordura chiando
cheio.” (ROSA,
2001, p. 201).
Guapira
Nome científico: Guapira Pernambucensis
Nomes populares: joão-moleza, guapira
Guapira é o nome popular de um arbusto
da família das Nictagináceas que cresce em
moitas.
398. “No entrar numa
guapira, se
redobrou o
achado daquelas
ramas verdes, que
não obedecemos.”
(ROSA, 2001, p.
398).
H
I
Imburana
Nome científico: Bursera leptophloeos
Árvore coberta de espinhos. Folhas opostas
e pinadas. Flores em cachos. Fruto
comestível quando maduro. Imburana
significa imbu falso.
Fruto comestível, extração de óleo
medicinal, chá da casca tônico e
cicatrizante. As primeiras flores aparecem
no fim da estação seca (de novembro a
janeiro), em ramos ainda desfolhados, mas
acompanha o início da nova folhagem na
estação chuvosa. Os frutos amadurecem de
4 a 5 meses depois.
122. “Me deu uma
tontura. O ódio
que eu quis: ah,
tantas canoas no
porto, boas
canoas boiantes,
de faveira ou
tamboril, de
imburana,
vinhático ou
cedro, e a gente
tinha escolhido
aquela...” (ROSA,
2001, p. 122).
Ingazeiro O(a) ingá, também chamado(a)
ingazeiro(a), é uma árvore do gênero Inga,
da subfamília Mimosoideae, da família
Fabaceae. "Ingá" também designa o fruto
da árvore: uma longa vagem que contêm
sementes envolvidas por uma polpa muitas
vezes comestível. É muito comum nas
margens de rios e lagos, sendo muito
procurado pela fauna e pelo homem por
suas sementes envolvidas por polpa branca
e adocicada.
O ingazeiro costuma apresentar floração
mais de uma vez por ano.
304. “Atravessei um
ribeirão verde,
com os
umbuzeiros e
ingazeiros
debruçados – e ali
era vau de gado.”
(ROSA, 2001, p.
304).
J
Jaca
Nome científico: Artocarpus integrifolia
A jaca é o fruto da jaqueira, árvore tropical
com até 20m de altura. Flores caulinares.
A fruta nasce no tronco e nos galhos
inferiores da jaqueira e são formados por
gomos, sendo que cada um contém uma
grande semente recoberta por uma polpa
cremosa. Apresenta cor amarelada e
superfície áspera, quando madura. Pode ser
consumida in natura, cozida, na preparação
de doces e geleias caseiras. As sementes,
sem pele e cozidas também podem ser
consumidas como tira-gosto.
250. “Gostei de favas
do mato, muito
murici, quixaba e
jaca.” (ROSA,
2001, p. 250).
Jaribaras 398. “Uns galhos de
árvores colocados
–
ramalhos e
jaribaras – forma
de sinal: para não
se passar.”
(ROSA, 2001, p.
398).
Jasmim-
da-serra
Nome científico: Elionorus Bilinguis
Nomes populares: Capim-jasmim-da-serra,
jasmim-da-serra.
Jasmim-da-serra é o nome popular de uma
planta da família das Poáceas.
395. “Mas o ao em
redor, em grandes
pastos, era o
capim melhor
milagroso – que o
que deixava de
ser provisório rico
era o meloso de
muito óleo, a não
ver uns fios de
santa-luzia azul, e
do duro-do-brejo,
nas baixadas, e,
nos altos com
pedregal, o
jasmim-da-serra.”
(ROSA, 2001, p.
395).
Jatobá
Nome científico: Hymenaea courbaril
Nomes populares: Jatobá da mata, jataí,
jutaí e pão-de-ló-de-mico.
Árvore desenvolvida, muito esgalhada e
frondosa. Folhas compostas de 2 folículos
de tamanho mediano e flores
esbranquiçadas ou avermelhadas. Madeira
246. “De como, no
prazo duma hora
só, careci de ir me
vendo escorando
rifle e alvejando,
em quentes, em
de cerne avermelhado ou castanho escuro,
dura e pesada. O fruto é um legume
indeiscente, de casca bastante dura. Cada
legume costuma ter 3 sementes e é
preenchido por uma massa
verde/amarelada, comestível. A madeira é
empregada na construção civil em vigas,
caibros, ripas e acabamentos internos. A
polpa do legume é comestível e muito
nutritiva. É usada como alimento também
pela fauna.
beira de mato e
campo, em virada
de espigão,
descendo e
subindo ramal de
ladeirinhas
pequenas, e atrás
de cerca, debaixo
de cocho, trepado
em jatobá e
pequizeiro,
deitado no azul
duma laje grande,
e rolando no
bagaço doce de
cana, e
rebentando por
dentro de uma
casa.”(ROSA,
2001, p. 245-246)
Jenipapei-
ro
Nome científico: Genipa americana
É uma árvore de grande porte,
semidecídua. Copas estreitas, piramidal e
irregular, quando jovem. Nos adultos,
torna-se arredondada. Fuste reto, com
ritidoma áspera, de cor castanha. Folhas
simples, opostas, glabras. Flores grandes,
com corola branca-amarelada. O fruto é
uma baga globosa, com polpa adocicada,
aromática. Quando maduros, apresentam
casca enrugada, coriácea e de cor parda. As
sementes são achatadas, duras e pequenas,
no meio da polpa. Sua casca tem uso
medicinal e seu fruto, o jenipapo, é
comestível e utilizado na produção de tinta
preta, doces e licores.
476. “E também, com
o tardio da noite,
veio a hora de se
desapear da mesa,
e eu teimei em
rejeitar oferta de
cama em catre em
quarto ou sala,
mas fui fora,
caçar o meio da
minha gente; por
sinal que armei
rede por entre
cajueiro e
jenipapeiro, perto
dos currais, e,
para o segundo
sono, mudei de
rearmar, de
faveira para
faveira, lá para
dentro duma
cerca.” (ROSA,
2001, p. 476)
Jericó 326. “E em Otacília eu
sempre muito
pensei; tanto que
eu via as
baronesas
amarasmeando no
rio em vidro –
jericó, e os lírios
todos, os lírios-
do-brejo – copos-
de-leite, lágrimas-
de-moça, são-
josés. (ROSA,
2001, p. 326).
Joazeiro
Nome científico: Ziziphus joazeiro
Nomes populares: Joá, laranjeira-de-
vaqueiro, juá-fruta, juá e juá-espinho.
Suas folhas assemelham-se às folhas de
canela, exceto pelo tom verde mais claro e
consistência mais membranácea. Suas
flores são pequenas, de cor creme, dando
origem a frutos esféricos, também
pequenos, de cor amarelada, doces, com
uma semente em seu interior. Seus frutos,
do tamanho de uma cereja, são comestíveis
e utilizados para fazer geleias, além de
possuírem uma casca rica em saponina
(usada para fazer sabão e produtos de
limpeza para os dentes). São também
utilizados na alimentação do gado na época
seca.
O extrato do juazeiro, o juá, é empregado
na indústria farmacêutica.
93. “– “Tua sombra
me espinha,
joazeiro!”
(ROSA, 2001, p.
93).
Junco Nome comum a diversas Ciperáceas. Essas
plantas possuem caules cilíndricos com
três fileiras de folhas, e suas flores miúdas
são esverdeadas ou castanhas. A pequena
vagem contém muitas sementes escuras,
que parecem poeira. O junco comum é
uma planta verde-escura e flexível, que
cresce com frequência nos caminhos
úmidos e nos gramados. Os juncos são
utilizados para tecer cestos, esteiras e
assentos de cadeira.
47. “Ou outra – lagoa
que nem não abre
o olho, de tanto
junco.” (ROSA,
2001, p. 398).
L
Lágrimas-
de-moça
326. “E em Otacília eu
sempre muito
pensei: tanto que
eu via as
Baronesas
amarasmeando no
rio em vidro –
jericó, e os lírios
todos, os lírios-
do-brejo – copos-
de-leite, lágrimas-
de-moça, são-
josés.” (ROSA,
2001, p. 326).
Laranjeira
Nome científico:Citrus × sinensis
É uma árvore de pequeno porte, tronco de
casca acinzentada, muito ramificada de
copa densa com forma arredondada. As
folhas são ovais, de textura coriácea, borda
lisa, cor verde intenso, exalando perfume
quando esmagadas. As flores são
pequenas, brancas e perfumadas. O fruto é
globoso, mais arredondado conforme a
variedade. A polpa é aquosa com a cor
amarela ou alaranjada, conforme a
variedade e estágio de maturação.
Frutifica praticamente ao longo do ano,
mais intenso de abril a setembro.
474. “O quanto fiz
perguntas. Aceitei
o
chá de laranjeira,
com que sempre
dei bem, numa
tigela grande,
com capricho
desenhada.”
(ROSA, 2001, p.
474).
Limão
Nome científico:Citrus Limon
Fruto do limoeiro, árvore pequena, muito
ramificada, de caule e ramos castanho-
claros. Os que têm cor amarela ou
amarelo-esverdeada são cultivados,
sobretudo, pelo sumo, embora a polpa e a
casca também se utilizem em culinária. Os
limões contêm uma grande quantidade de
ácido cítrico, o que lhes confere um gosto
ácido.
393, 550. “(...) em riscos,
zunindo como
enchiam o ar,
caintes então,
porque a lei delas
é essa, como
porque o corpo
traseiro pesa tão
bojudo, ovado,
bichão maduro,
elas não
agüentam o arco
de voar, iam
semeando palmos
de chão, de preto
em acobreadas, e
tudo mesmo
cheirava à
natureza delas,
cheiro cujo que de
limão ruivo que
se assasse na
chapa.” (ROSA,
2001, p. 550).
Lírio Nomes de diversas plantas de alto valor
decorativo, conhecidas também por
Açucena, Copo de leite, Iris etc.
206, 326. “Das que
sobressaíam, era
uma flor branca –
que fosse caeté,
pensei, e parecia
um lírio – alteada
e muito
perfumosa.”
(ROSA, 2001, p.
206).
Lírios-do-
brejo
Espécie de lírio. 326. “E em Otacília eu
sempre muito
pensei: tanto que
eu via as
Baronesas
amarasmeando no
rio em vidro –
jericó, e os lírios
todos, os lírios-
do-brejo – copos-
de-leite, lágrimas-
de-moça, são-
josés.” (ROSA,
2001, p. 326).
Liroliro A flor que se parece um lírio tem a alcunha
de “liroliro” quando Diadorim pergunta
Otacília o nome da planta.
207. “E Diadorim
reparou e
perguntou
também que flor
era essa, qual
sendo? –
perguntou
inocente. – “Ela
se chama é
liroliro...” –
Otacília
respondeu.”
(ROSA, 2001, p.
206).
Losna
Nome científico: Artemisia Absinthium
Planta vivaz, glauca, ramificada. As folhas
são prateado-sedosas e as flores amarelas
em pequenos capítulos racemoso-
paniculados. Ela é muito aromática, de
252. “O Paspe, que
cozinhava,
cozinhou para
mim os chás: o de
macela, o de erva-
gosto amargo especial, produz, por
destilação, óleo verde e volátil, chás, base
do licor conhecido por absinto.
doce, o de losna.”
(ROSA, 2001, p.
252).
M
Macaúba,
Coqueiros
Macaúba
Nome científico:Acrocomia Aculeata
Tipo de palmeira que produz um coco de
pequeno porte muito apreciado.
Suas folhas, em algumas regiões, são
utilizadas como forrageiras aos animais,
nos períodos de seca. Também são
utilizadas na obtenção de fibras destinadas
à produção de linhas, cordas, redes, cestos,
balaios e chapéus.
O período da inflorescência da macaúba
depende da região e clima onde se
encontra, em Minas Gerais geralmente
inicia no mês de outubro a dezembro.
65, 164,
174, 310,
482.
“Em horas,
andávamos pelos
matos, vendo o
fim do sol nas
palmas dos tantos
coqueiros
macaúbas, e
caçando, cortando
palmito etirando
mel da abelha-
depoucas-flores,
que arma sua cera
cor-de-rosa.”
(ROSA, 2001, p.
252).
Macela
Nome científico:Achyrocline satureioides
Nomes populares: macela-do-campo,
macelinha, macela de travesseiro,
carrapichinho-de-agulha, camomila
nacional.
É um arbusto perene que atinge cerca de
um metro de altura e que na região sul
costuma florescer no mês de março. As
flores são amarelas, com cerca de um
centímetro de diâmetro, florescendo em
pequenos cachos. As folhas são finas e de
cor verde-claro, meio acinzentada, que se
destaca do restante da vegetação do campo.
Na cosmética, a macela também atua como
um bom clareador natural para os cabelos
de tons castanho claro à louro.
252. “O Paspe, que
cozinhava,
cozinhou para
mim os chás: o de
macela, o de erva-
doce, o de losna.”
(ROSA, 2001, p.
252).
Manacá
Nome científico:Brunfelsia uniflora
Nome popular de uma árvore da família
das Solanáceas, originária do Brasil, que
ocorre em áreas da mata atlântica e de
cerrado. Seu fruto é deiscente, com
sementes muito pequenas e sua
disseminação é anemocórica. Flores de
coloração branca, rosa ou arroxeada.
55. “– Por mim, pode
cheirar que
chegue o manacá:
não vou!”
(ROSA, 2001, p.
252).
Mandioca Nomes populares: aipim, castelinha,
macaxeira, mandioca-doce, mandioca-
mansa, maniva, maniveira, pão-de-pobre,
aiapuã, caiabana ou nomes que designam
apenas a raiz, como caarina.
Mandioca é o nome pelo qual é conhecida
a espécie comestível e mais largamente
difundida do gênero Manihot, composto
por diversas variedades de raízes tuberosas
comestíveis. O nome dado ao caule do pé
de mandioca é maniva, o qual, cortado em
pedaços, é usado no plantio. Da mandioca
se faz farinha e se usa em diversos pratos.
27, 184,
249, 339,
412, 463.
“Por tudo, eram
fogueiras de se
cozinhar, fumaça
de alecrim, panela
em gancho de
mariquita, e
cheiro bom de
carne no espeto,
torrada se
assando, e batatas
e mandiocas,
sempre quentes
no soborralho.”
(ROSA, 2001, p.
184).
Mandioca-
brava
Espécie de mandioca que contém o
venenoso ácido cianídrico.
27, 27, 71. “Melhor, se
arrepare: pois,
num chão, e com
igual formato de
ramos e folhas,
não dá a
mandioca mansa,
que se come
comum, e a
mandioca-brava,
que mata? Agora,
o senhor já viu
uma estranhez?”
(ROSA, 2001, p.
252).
Marimbús 417, 451. “Essas veredas
eram duas, uma
perto da outra; e
logo depois,
alargadas,
formavam um
tristonho brejão,
tão fechado de
moitas de plantas,
tão apodrecido
que em escuro:
marimbus que
não davam
salvação.”
(ROSA, 2001, p.
417).
Manga A manga é o fruto da mangueira
(Mangifera indica L.). É uma fruta do tipo
drupa, de coloração variada: amarelo,
laranja e vermelha, sendo mais roseada no
lado que sofre insolação direta e mais
amarelada ou esverdeada no lado que
recebe insolação indireta. Normalmente,
quando a fruta ainda não está madura, sua
cor é verde, mas isso depende do cultivo.
A polpa é suculenta e muito saborosa, mas
em alguns casos são fibrosas, doces,
encerrando uma única semente grande no
centro. As mangas são usadas na
alimentação das mais variadas formas, mas
é mais consumida ao natural.
77.
“Até, lá era
favorável de
defender que os
cavalos se
espairassem – por
ter manga natural,
onde se encostar,
e currais falsos,
de pegar gado
brabeza.” (ROSA,
2001, p. 77).
Mangaba Mangaba é o fruto da mangabeira
(Hancornia speciosa), também chamada
de mangaba-ovo. É comestível e utilizado
na fabricação de sucos, sorvetes, doces e
bebida vinhosa.
49, 63. “Ah, a mangaba
boa só se colhe já
caída no chão, de
baixo...
Nhorinhá.”
(ROSA, 2001, p.
49).
Mangabei-
ras
Nome científico: Hancornia speciosa
A mangabeira é uma árvore que pode
atingir os sete metros de altura,
pertencendo à família das apocináceas. Seu
látex é usado para fazer uma borracha de
cor rosada. Sua madeira é de cor
avermelhada, com folhas em formato
elíptico e flores grandes. Seu fruto é a
mangaba.
50, 63. “Ah, o Tabuleiro?
Senhor então
conhece? Não,
esse ocupa é
desde a Vereda-
da-Vaca-Preta até
Córrego Catolé,
cá embaixo, e de
em desde a
nascença do
Peruaçu até o rio
Cochá, que tira da
Várzea da Ema.
Depois dos
cerradões das
mangabeiras...”
(ROSA, 2001, p.
50).
Manguei-
ras
Nome científico: Mangifera indica
Árvore frutífera da família Anacardiaceae.
Suas folhas são alternadas, agudas,
estreitas na base e verde-escuras. Suas
flores são pequenas, verdes e numerosas. O
fruto é chamado de manga e possui uma só
semente (caroço).
210. “Vindo na
vertente, tinha o
quintal, e o mato,
com o garrulho de
grandes
maracanãs
pousadas numa
embaúba, enorme,
e nas mangueiras,
que o sol
dourejava.”
(ROSA, 2001, p.
210).
Maracujá-
do-mato
Nome científico: Passiflora Cincinatta
A espécie maracujá do mato é uma
trepadeira e necessita de apoio de algum
arbusto no qual agarra-se, enroscando suas
gavinhas. As folhas desta espécie de
maracujazeiro são inteiras com os bordos
levemente serrados. As Flores são grandes,
vistosas, de coloração vermelha ou roxa.
Os frutos têm formato ovóide, baga
amarelada e muito ácida. O maracujá do
mato é utilizado in natura e em sucos.
121. “E se deu que o
remador encostou
quase a canoa nas
canaranas, e se
curvou, queria
quebrar um galho
de maracujá-do-
mato.” (ROSA,
2001, p. 121).
Mariana 468. “As mulheres, na
boca do forno
fumaçando,
mexiam com
feixes verdes de
mariana e
vassourinha e
carregavam as
latas pretas de
assar biscoitos.”
(ROSA, 2001, p.
468).
Marmelo-
do-mato
Nome científico: Casearia
Cambessedesia
Nomes populares: Pau-de-vaca
pau-de-carga.
Marmeleiro-do-mato é o nome de uma
árvore da família das Salicáceas. Apesar de
seu nome poder sugerir o seu fruto, o
marmelo-do-mato, não é comestível.
161. “Dependurou o
espelho num
galho de
marmelo-do-
mato, acertou seu
cabelo, que já
estava cortado
baixo.” (ROSA,
2001, p. 161).
Mate
Nome científico: Ilex paraguariensis
Nomes populares: erva-mate, mate ou
congonha.
É uma árvore da família das
aquifoliáceas.Tem caule cinza e folhas
ovais. O fruto é pequeno, verde ou
vermelho-arroxeado. As folhas da erva-
mate são aproveitadas na culinária e é
muito consumida como chá quente ou
gelado.
209. “Depois, o Fafafa,
numa venda,
perguntou se não
tinham chá de
mate seco,
comercial; e um
homem tirou
instantâneo nosso
retrato.” (ROSA,
2001, p. 209).
Mato-
caapuão
133. “E mandou que
eu fosse guiar
aquela gente, até
aonde o poço do
Cambaubal, num
fechado, mato-
caapuão.”
(ROSA, 2001, p.
133).
Milho,
milho-
verde
Nome científico: Zea mays
Nomes populares: abati, auati, avati.
O milho é um conhecido cereal, cultivado
em grande parte do mundo. As folhas da
planta á alternadas, ásperas e verde-
escuras. A espiga, onde contém os grãos de
milho, é revestida por palha. É utilizado
na alimentação humana na forma de grãos
secos ou verdes. O milho verde pode ser
consumido simplesmente cozido ou assado
ou ainda na forma de curau, de suco e
também como ingrediente na fabricação de
bolos, biscoitos, sorvetes, pamonhas e de
outros alimentos.
44, 123,
245, 283,
319, 341,
431, 432.
“Aí foi em
fevereiro ou
janeiro, no tempo
do pendão do
milho.” (ROSA,
2001, p. 252).
Miosótis
Nome científico: Myosotis alpestris
Nomes populares: Não-me-Esqueças, Não-
te-Esqueças-de-Mim, Não Me Olvides.
Erva de caule ereto, com folhas delicadas e
lindas flores de pétalas azul-claras, em
cachos pequenos. É encontrada
frequentemente nos jardins. No romance,
Guimarães Rosa nomeia uma das
namoradas de Riobaldo de “Miosótis”.
139, 139,
139, 143,
409.
“Alemão Vupes
ali, e eu recordei
lembrança
daquelas
mocinhas – a
Miosótis e a
Rosa‟uarda – as
que, no
Curralinho, eu
pensava que
tinham sido as
minhas
namoradas.”
(ROSA, 2001, p.
87).
Mucunã
Nome científico: Dioclea grandiflora
Nomes populares: Mucunã de Caroço
Planta volúvel, muito robusta, alçando-se
sobre as grandes árvores. Folhas trifoliadas
e flores violáceo-claras, vistosas e
dispostas em racemos. Tem legume
grande. Das sementes faz-se farinha
comestível.
120. “No alto, eram
muitas
flores,
subitamente
vermelhas, de
olho-de-boi e de
outras
trepadeiras, e as
roxas, do mucunã,
que é um feijão
bravo; porque se
estava no mês de
maio, digo –
tempo de comprar
arroz, quem não
pôde plantar.”
(ROSA, 2001, p.
120).
Murici
Nome científico: Byrsonima crassifolia
Arbusto ou árvore pequena. Suas folhas
são opostas, verde-escuras e cobertas por
um pelo sedoso por cima e por baixo.
Flores amarelas em racemos. O fruto
possui uma massa carnosa amarelada. É
consumido in natura e usado na culinária.
249. “Os uns iam torar
palmito, colher
mandioca em
mandiocalzinho
sem dono, dono
tinha fugido
longe. Gostei de
favas do mato,
muito murici,
quixaba e jaca.”
(ROSA, 2001, p.
249).
N
O
Olho-de-
boi
Nome popular dado à flor da espécie
Leucanthemum vulgare.
Conhecida também como bem-me-quer,
bonina, margarida, margarita, margarita-
maior, malmequer, malmequer-maior,
malmequer-bravo, olho-de-boi. As pétalas
das margaridas são alargadas e delgadas,
rodeando botão central que é dourado ou
amarelo. As suas folhas são ovais e seus
caules compridos e delgados, podendo
chegar a um metro de altura. Muitas flores
que são parecidas receberam o mesmo
nome, porém, as mais populares entre elas
são as margaridas brancas e as margaridas
amarelas.
120. “No alto, eram
muitas
flores,
subitamente
vermelhas, de
olho-de-boi e de
outras trepadeiras,
e as roxas, do
mucunã, que é um
feijão bravo;
porque se estava
no mês de maio,
digo – tempo de
comprar arroz,
quem não pôde
plantar.” (ROSA,
2001, p. 120).
Ouricurí
Nome científico: Cocos coronata
Nomes populares: Nicurí, licuri, aricuri,
uricuri.
Possui folhas pinatífidas, de folículos
azulados e dispostos nos dois sentidos.
Fruto drupáceo, com escamas na base,
amarelo quando maduro, pequeno, ovoide,
polpa carnosa e um caroço com amêndoa
branca. Drupa comestível e a amêndoa
contém óleo alimentar, análogo ao do
coqueiro.
164. “De manhã, o rio
alto branco, de
neblim; e o
ouricuri retorce as
palmas. Só um
bom tocado de
viola é que podia
remir a vivez de
tudo
aquilo.”(ROSA,
2001, p. 164).
P
Palha Palha consiste num subproduto vegetal de
algumas gramíneas, sobretudo cereais que,
após desidratadas, são usadas em indústria
ou como forragem animal. A palha pode
ter diversos usos, desde o artesanato até
como combustível.
402. “De dia em dia,
ele emagrecia,
amofinava o
modo, tinha
dores, e em fim
encaveirou, duma
cor amarela de
palha de milho
velho; dava
pena.” (ROSA,
2001, p. 402).
Palmeiras Palmeira é o nome comum das plantas da
família Arecaceae, anteriormente
conhecida como Palmae ou Palmaceae.
Pertencem a esta família plantas muito
conhecidas, como o coqueiro e a tamareira,
abrangendo cerca de 205 gêneros e 2.500
28,
42,68,78,9
6, 451.
“Me agradou que
perto da casa dele
tinha um
açudinho, entre as
palmeiras, com
traíras, pra-almas
espécies. Se distribuem pelo mundo todo,
mas estão centralizadas nas regiões
tropicais e subtropicais. As palmeiras são
plantas perenes, arborescentes, tipicamente
com um caule cilíndrico não ramificado do
tipo estipe, atingindo grandes alturas. As
folhas são pinadas ou palmadas, com
pecíolos longos, em geral com bainha
abarcante, inteira e larga, às vezes com
espinhos. As flores são numerosas e
pequenas.A seiva de algumas espécies de é
tradicionalmente fermentada para produzir
o vinho de palma. São consumidos os
frutos e da palmeira também se extrai o
palmito.
de enormes,
desenormes, ao
real, que
receberam fama;
o Aleixo dava de
comer a elas, em
horas justas, elas
se acostumaram a
se assim das
locas, para
papar,
semelhavam ser
peixes
ensinados.”
(ROSA, 2001, p.
28).
Palmito O palmito é um alimento obtido da região
próxima ao meristema apical, do interior
das folhas de determinadas espécies de
palmeiras (ou popularmente, o "miolo" da
palmeira). Trata-se de um cilindro branco
contendo os primórdios foliares e
vasculares, ainda macios e pouco fibrosos.
Os palmitos são conservados em salmoura
e consumidos frios acompanhando saladas
ou cozidos em diversas receitas.
164, 249,
252, 338.
“Em horas,
andávamos pelos
matos, vendo o
fim do sol nas
palmas dos tantos
coqueiros
macaúbas, e
caçando, cortando
palmito e tirando
mel da abelha-
depoucas-flores,
que arma sua cera
cor-de-rosa.”
(ROSA, 2001, p.
252).
Papirí 483. “E era noite de
luar, essa mulher
assistindo num
pobre rancho.
Nem rancho, só
um papirí à-toa.
Eu fui.”(ROSA,
2001, p. 483).
Paratudo
Nome científico: Tabebuia aurea
Nomes populares: craibeira, caraiberia,
caroba-do-campo, cinco-em-rama, cinco-
folhas-do-campo, ipê-amarelo-craibeira,
ipê-amarelo-do-cerrado, pau-d'arco.
A paratudo é uma árvore não-pioneira
pertencente ao gênero Tabebuia (dos ipês e
pau-d'arcos). O nome popular "paratudo"
deve-se ao fato de que os pantaneiros do
Brasil mascam a casca como remédio para
problemas no estômago, vermes, diabetes,
392, 394. “Assim foi que
foi. Até que
vieram uns
companheiros,
com João
Concliz, Sidurino
e João Vaqueiro,
que
ajuntaram lenhas
e armaram um
fogo bem debaixo
inflamações e febres. Seu tronco é tortuoso
com casca grossa. As folhas compostas de
folíolos, glabras e subcoriáceas. O fruto
contém cápsula cilíndrica deiscente.
Seus frutos amadurecem entre setembro e
outubro e suas flores abrem em agosto e
setembro.
do
paratudo.”(ROSA
, 2001, p. 392).
Parnaíbas 226. “Só logo no
primeiro
entremear com os
bebelos, nós
quatro havíamos
de restar mortos,
cosidos nas
parnaíbas.”
(ROSA, 2001, p.
226).
Pau-
cardoso
Nome científico:Alsophia armata
É o nome popular de uma planta da família
das Ciateáceas. Feto arborescente, com o
aspecto de uma palmeira. Ele cresce a
sombra das matas úmidas e é encontrado à
beira dos cursos d’água.
435. “E escolher onde
ficar. O que tinha
de ser melhor
debaixo dum pau-
Cardoso – que na
campina é verde e
preto fortemente,
e de ramos muito
voantes,
conforme o
senhor sabe,
como nenhuma
outra árvore
nomeada.”
(ROSA, 2001, p.
435).
Pau-dôce
Nome científico:Glycoxylon Huberi
Nomes populares: paracuuba doce e
paracuuba de leite.
Grande árvore de frutos comestíveis, casca
de sabor adocicado, da família das
sapotáceas.
496. “Sentei, na
sombra dum pau-
doce, fiquei
ouvindo os gabos
que os em redor
de mim me
dessem, como
arras de
procedimentos
maiores.” (ROSA,
2001, p. 496).
Pau-d’óleo
Nomes populares: copaíba, copaibeira,
pau-de-óleo e óleo-de-copaíba.
Pau-d’óleo é o nome popular do gênero
Copaifera Linn. A madeira é vermelha e
usada em marcenaria. As flores são
brancas com manchas rosa. O fruto é uma
117, 122. “– “Esta é das que
afundam inteiras.
É canoa de
peroba. Canoa de
peroba e de
pau-d’óleo não
vagem drupácea contendo uma semente. O
Pau-de-óleo é uma referência ao óleo
extraído de seu caule. Esse óleo tem uso
terapêutico e medicinal.
sobrenadam...”
(ROSA, 2001, p.
122).
Pau-de-
fogo
Nome científico:Maclura tinctoria
Nomes populares: Taiúva, amora branca,
tatajuva, tatajiba, moreira, jataíba, tatané,
pau amarelo, pau de fogo.
Espécie pioneira cheia de espinhos e todas
as partes da planta exsudam látex amarelo.
Madeira moderadamente pesada, dura,
flexível, com alta resistência ao ataque de
fungos e cupins, com diferença visível
entre cerne e alburno. Sua madeira é
excelente para obras externas, para a
construção civil etc. A árvore fornece
ótima sombra e, como planta pioneira, é
produtora de frutos apreciados por
pássaros.
128. “Nisto que na
extrema de cada
fazenda some e
surge um
camarada, de
sentinela, que
sobraça o pau-de-
fogo e vigia feito
onça que come
carcaça.” (ROSA,
2001, p. 128).
Pau-
paraíba
Nome científico: Simaruba versicolor
Nomes populares: Paraíba, Pau paraíba.
Árvore de porte regular e elegante, de
casca esbranquiçada e meio esponjosa. As
folhas são alternadas, compostas, com
folíolos luzentes na página superior. As
flores são verdes em cachos pequenos. Sua
madeira é branca, porosa e leve; é utilizada
na caixotaria e tamancos.
322. “E o folha-larga,
o aderno-preto, o
pau-de-sangue; o
pau-paraíba,
sombroso. O
Urucuia, suas
abas. E vi meus
Gerais!” (ROSA,
2001, p. 322).
Pau-pombo
Nome científico:Tapirira guianensis
Árvore de porte elegante. Suas folhas são
vermelhas quando novas e seus tamanhos
são variáveis. As flores são pequenas e
alvacentas. Fruto drupáceo e pequeno. As
folhas novas e as inflorescências são
cobertas de pubescência ferruginosa. A
madeira é usada na carpintaria.
123. “(...) ele falou
para o
canoeiro, que
seguiu de cumprir
aquela autoridade,
desde que
amarrou a
corrente num pau-
pombo.” (ROSA,
2001, p. 123).
Pau-de-
sangue
Nome científico: Pterocarpus violaceus
Árvore de porte mediano, com flores
amarelas, maculadas de violáceo e vargem
redonda, espessa e suberosa. A madeira é
de cerne branqueado e mole.
322. “E o folha-larga,
o aderno-preto, o
pau-de-sangue; o
pau-paraíba,
sombroso. O
Urucuia, suas
abas. E vi meus
Gerais!” (ROSA,
2001, p. 322).
Pau-de-
vaca
Nome científico:Casearia
Cambessedesia
Nomes populares: marmeleiro-do-mato,
440. “Ao alembrável,
ainda avistei uma
meleira de
pau-de-carga, pau-de-vaca.
Marmeleiro-do-mato é o nome de uma
árvore da família das Salicáceas. Apesar de
seu nome poder sugerir o seu fruto, o
marmelo-do-mato, não é comestível.
abelha aratim, no
baixo do pau-de-
vaca, o mel
sumoso se
escorria como
uma mina d’água,
pelo chão, no
meio das folhas
secas e
verdes.”(ROSA,
2001, p. 440).
Pequi Nomes populares: Pequi, Piqui, Piquiá-
bravo, Amêndoa-de-espinho, Grão-pequiá,
Pequiá-pedra, Pequerim, Suari, Piquiá,
amêndoa-de-espinho.
O pequi é fruto do pequizeiro da família
Caryocaraceae. Dele é extraído um azeite
denominado azeite de pequi. São também
consumidos cozidos, puros ou juntamente
com arroz e frango. Seu caroço é dotado de
muitos espinhos, e há necessidade de
muito cuidado ao roer o fruto, evitando
cravar nele os dentes, o que pode causar
sérios ferimentos nas gengivas e no palato.
O sabor e o aroma dos frutos são muito
marcantes e peculiares. Pode ser
conservado tanto em essência quanto em
conserva.Frutificação:novembro a
fevereiro.
199, 200,
310, 319.
“O Garanço se
regalava com os
pequis, relando
devagar nos
dentes aquela
polpa amarela
enjoada. Aceitei
não, daquilo não
provo: por demais
distraído que sou,
sempre receei dar
nos espinhos,
craváveis em
língua.” (ROSA,
2001, p. 200).
Pequizeiro
Nome científico: Caryocar brasiliense
É uma árvore nativa do cerrado brasileiro,
cujo fruto é o pequi. Seu tronco é tortuoso;
folhas compostas triolifoliadas; as flores
são amareladas; a madeira é pesada, macia,
resistente e boa durabilidade material. Ela
é boa para xilografia, construção civil e
naval. Seus frutos são comestíveis e usados
na culinária.
Floresce de setembro a novembro e os
frutos iniciam a maturação em novembro
até fevereiro.
246, 270,
319, 388.
“Montamos e
sumimos por
aqueles campos,
essa estrada, esses
pequizeiros.”(RO
SA, 2001, p. 270).
Pêra–do-
campo
Nome científico:Eugenia Klotzchiana
Nomes populares:Pêra, pêra-do-campo,
cabacinha-do-campo, pereira-do-campo.
Pera-do-campo é o nome popular de uma
planta da família das Mirtáceas. Trata-se
de um arbusto que cresce nas áreas de
cerrado. Seu fruto é relativamente grande,
em forma de pera (daí seu nome popular),
coberto com pelos finíssimos. Quando
49. “Então eu entrei,
tomei um café
coado por mão de
mulher, tomei
refresco,
limonada de pêra-
do-campo.”
(ROSA, 2001, p.
49).
maduro, o fruto apresenta casca fina e
polpa mole com certa adstringência.
Podem ser usadas para doce em compota e
geleia. Os frutos maduros possuem
coloração amarelo-esverdeada e são
coletados de outubro a dezembro.
Peroba Nomes populares: Peroba, paroba, parova,
perobeira, perova e peroveira.
É a designação vulgar de várias espécies
de árvores, conhecidas pela sua madeira de
qualidade, da família Apocináceas do
gênero Aspidosperma.
122, 122. “– “Esta é das que
afundam inteiras.
É canoa de
peroba. Canoa de
peroba e de
pau-d’óleo não
sobrenadam...”
(ROSA, 2001, p.
122).
Pimenta
branca
Extraída do mesmo fruto da pimenta-do-
reino, mas menos aromática. As espigas
são colhidas quando os frutos apresentam a
coloração amarelada ou vermelha. É
utilizada em pratos que não permitam
ingredientes que alterem a sua cor, como o
molho branco; na conserva de legumes
utilize-a em grãos. Em molhos picantes e
temperos para a carne de coelho e frango
use-a moída.
206. “Nhorinhá
prostituta,
pimenta-branca,
boca cheirosa, o
bafo de
meninopequeno.”
(ROSA, 2001, p.
206).
Pindaibal 311. “Os urubus
espaceavam,
quando o céu
empoeirado.
Pousavam no
pindaibal do
brejo.” (ROSA,
2001, p. 311).
Pitanga A pitanga é o fruto da pitangueira
(Eugenia uniflora L.), dicotiledônea da
família Myrtaceae. Tem a forma de drupa
globosa e carnosa, com as cores vermelha
(a mais comum), amarela ou preta. Na
mesma árvore, o fruto poderá ter desde as
cores verde, amarelo e alaranjado até a cor
vermelho intenso de acordo com o grau de
maturação.
319. “Milho crescia
em roças, sabiá
deu cria,
gameleira pingou
frutinhas, o pequi
amadurecia no
pequizeiro e a cair
no chão, veio
veranico,
pitanga e caju nos
campos.” (ROSA,
2001, p. 319).
Q
Quiabo
Nome científico: Hibiscus esculentus
Arbusto anual, ereto, pouco ramificado. As
folhas são longamente pecioladas e largas.
As flores são grandes, solitárias e
amarelas. Os frutos são verdes e são muito
usados na culinária.
130, 184. “O que apreciei –
carne moída com
semente de trigo,
outros guisados,
recheio bom em
abobrinha ou em
folha de uva, e
aquela moda de
azedar o quiabo –
supimpas
iguarias.”(ROSA,
2001, p. 130).
Quixaba
Nome científico: Brumelia sertorum
Árvore armada de fortes espinhos, tendo as
pontas dos galhos pendentes e espinhosos.
Folhas alternadas, simples e inteiras.
Flores perfumadas e pequenas. Frutos
comestíveis. Sua madeira serve para
construção civil, marcenaria e torno.
249. “Gostei de favas
do mato, muito
murici, quixaba e
jaca.” (ROSA,
2001, p. 249).
R
Ramalho 398. “Uns galhos de
árvores colocados
– ramalhos e
jaribaras – forma
de sinal: para não
se passar.”
(ROSA, 2001, p.
398).
Rosa’uarda Nome composto por “rosa”, esta, da
família das Rosáceas, é cultivada em todos
os lugares do mundo pela beleza e perfume
de suas flores. Rosa’uarda é o nome que
uma das namoradas de Riobaldo recebe no
romance.
130, 189,
209, 209,
327, 409.
“A Rosa‟uarda.
Me alembrei dela;
todas as minhas
lembranças eu
queria comigo.”
(ROSA, 2001, p.
327).
Roseira
As roseiras (Rosa) são plantas muito
conhecidas e possuem flores, as rosas. São
plantas possuidoras de espinhos, tem
folhas bem verdes e flores de cores
variadas.
117, 600. “Sobre o que, se
riu, me
apresentando: o
que era, no fofo
da terra, debaixo
duma roseira, um
gatinho preto-e-
branco, dormindo
seu completo
sossego, fosse
surdo,
refestelado: ele
estava até de
mãos
postas...”(ROSA,
2001, p. 327).
S
Sabugo Parte interna do milho onde os grãos ficam
anexados.
45, 342,
453.
“Diadorim
acendeu um
foguinho, eu fui
buscar sabugos.”
(ROSA, 2001, p.
45).
Sapê
Branbão
323. “Assim pois foi,
como conforme,
que avançamos
rompidas
marchas,
duramente no
varo das
chapadas,
calcando o sapê
brabão ou areias
de cor em
cimento
formadas, e
cruzando
somente com
gado transeunte
ou com algum boi
sozinho
caminhador.”
(ROSA, 2001, p.
323).
São-josés 326. “E em Otacília eu
sempre muito
pensei: tanto que
eu via as
Baronesas
amarasmeando no
rio em vidro –
jericó, e os lírios
todos, os lírios-
do-brejo – copos-
de-leite, lágrimas-
de-moça, são-
josés.” (ROSA,
2001, p. 326).
Santa-luzia 395. “Mas o ao em
redor, em grandes
pastos, era o
capim melhor
milagroso – que o
que deixava de
ser provisório rico
era o meloso de
muito óleo, a não
ver uns fios de
santa-luzia azul, e
do duro-do-brejo,
nas baixadas, e,
nos altos
com pedregal, o
jasmim-da-
serra.”(ROSA,
2001, p. 395).
Sapé brabo 63. “Aquilo, vindo
aos poucos, dava
um peso extrato,
o mundo se
envelhecendo, no
descampante.
Acabou o sapé
brabo do
chapadão.”
(ROSA, 2001, p.
63).
Sassafrás
Nome científico: Ocotea odorifera
Nome popular: Canela-sassafrás ou
sassafrás.
É nativo de florestas e capões; parente da
canela, do louro e da imbuia. A Canela
Sassafrás é utilizada para extração de óleo
sassafrás, construção de móveis e
construções em geral. A cor das flores é
amarela e tem floração em dezembro-
janeiro. Frutificação em maio-junho.
47. “Mas o sassafrás
dá mato,
guardando o
poço; o que cheira
um bom perfume.
Jacaré grita, uma,
duas, as três
vezes, rouco
roncado.”
(ROSA, 2001, p.
47).
Semente de
trigo
O trigo (Triticum) é uma gramínea
cultivada em todo o mundo. Globalmente,
é a segunda maior cultura de cereais, a
seguir ao milho; a terceira é o arroz. A
semente de trigo é um alimento básico
usado para fazer farinha e, com esta, o pão,
na alimentação dos animais domésticos e
como ingrediente no fabrico de cerveja.
130. “O que apreciei –
carne moída com
semente de trigo,
outros guisados,
recheio bom em
abobrinha ou em
folha de uva, e
aquela moda de
azedar o quiabo –
supimpas
iguarias.” (ROSA,
2001, p. 130).
T
Tamarindo
Tamarindo é um fruto do tamarindeiro
(Tamarindus indica). O tronco divide-se
em numerosos ramos curvados, formando
copa densa e ornamental; as folhas são
compostas e sensíveis; flores
hermafroditas amarelas ou levemente
avermelhadas que se reúnem em pequenos
cachos axilares. O tamarindo é uma vagem
alongada com 5 a 15 cm. de comprimento,
com casca pardo-escura, lenhosa e
quebradiça. A polpa do fruto é usada no
preparo de doces, bolos, sorvetes, xaropes,
bebidas, licores, refrescos, sucos
concentrados e ainda como tempero para
arroz, carne, peixe e outros alimentos.
42. “Cigarras dão
bando. Debaixo
de um tamarindo
sombroso...”
(ROSA, 2001, p.
42).
Tamboril
Nome científico: Enterolobium maximum
Nomes populares: Fava-bolacha, fava-
orelha-de-negro, fava-tamboril, faveira-
grande, monjobo, timbaúba, orelha-de-
negro.
É uma árvore de origem brasileira,
frondosa, sem cheiro, de cerne marrom-
claro a cinza-rosado. As inflorescências
surgem na primavera com flores brancas.
Os frutos que se seguem são vagens e
recurvadas em formato de rim ou de
orelha, o que rendeu a esta espécie
diversos nomes populares. Eles surgem
verdes e se tornam pretos em junho e
julho, quando amadurecem. Ao contrário
das madeiras-de-lei, possui baixa
durabilidade ao ataque de fungos, cupins e
insetos de madeira seca. Apesar disso, é
muito utilizada na fabricação de móveis e
brinquedos, pois é de fácil manejo e
acabamento.
122. “Me deu uma
tontura. O ódio
que eu quis: ah,
tantas canoas no
porto, boas
canoas boiantes,
de faveira ou
tamboril, de
imburana,
vinhático ou
cedro, e a gente
tinha escolhido
aquela...”(ROSA,
2001, p. 122).
Trepadeiras Plantas que crescem apoiando-se sobre
outras ou sobre qualquer superfície.
120. “No alto, eram
muitas
flores,
subitamente
vermelhas, de
olho-de-boi e de
outras
trepadeiras, e as
roxas, do mucunã,
que é um feijão
bravo; porque se
estava no mês de
maio, digo –
tempo de comprar
arroz, quem não
pôde plantar.”
(ROSA, 2001, p.
120).
U
Umburana
Nome científico: Amburana claudi
Nomes populares:ambaúrana, amburana,
amburana de cheiro, umburana, umburana
lisa, umburana macho, umburana
vermelha, umburana de cheiro.
É uma árvore brasileira presente no
cerrado e caatinga. Sua casca externa
apresenta cor variável, amarela
avermelhada e vermelha pardacenta. As
flores são pequenas, perfumadas,
agrupadas em racimos axilares e tem a
coloração amarela.O fruto é semi
cilíndrico, preto, coriáceo e contém uma
semente. A árvore é empregada na
fabricação de móveis, na construção civil
e na indústria farmacêutica etc. Seu nome
vem do tupi-guarani (umbu= o que faz
brotar água + rana= parecido, semelhante)
e quer dizer parecido com o umbu.
354. “Assim essas
cachaças – a vinte-
e-seis cheirosa –
tomando gosto e
cor queimada, nas
grandes dornas de
umburana.”(ROSA,
2001, p. 354).
Urumbeba
Nome científico:Opuntia Vulgaris
Nome popular: Urumbeba-
juba,Arumbeba amarela, Urumbeba do
frio, Palmatória de flora amarela e Palma
do Sul.
O nome Urumbeba vem do tupi guarani e
significa “Folha com espinho que dá
alimento” e o adjetivo “juba” quer dizer
“Fruta de cor amarela”. Os espinhos são
esbranquiçados e, quando jovens, são
avermelhados. As flores surgem nos
bordos ou na superfície plana dos
artículos formando pericarpo. Antes de
abrir os botões tem coloração
422. “A ser, o fígado,
que me doía; mas
não me certifiquei:
apalpar lugar de
meu corpo, por
doença, me dava
um desalento pior.
Raimundo Lê
cozinhou para mim
um chá de
urumbeba.”
(ROSA, 2001, p.
442).
avermelhada, após a abertura da flor se
pode ver as pétalas amarelas. O Fruto é
piriforme (forma de pêra) com base
comprida, estreita e larga no ápice.
Frutifica de fevereiro a setembro.
Umbuzeiro
Nome científico: Spondias tuberosa
Umbuzeiro ou Imbuzeiro é uma árvore de
pequeno porte originária dos chapadões
semi-áridos do Nordeste brasileiro, que se
destaca por sombra e aconchego. Nos
tempos do Brasil Colônia era chamado de
ambu, imbu, ombu, corruptelas da palavra
tupi-guarani "y-mb-u", que significava
"árvore-que-dá-de-beber". Dada a
importância de suas raízes, foi chamada
"árvore sagrada do Sertão" por Euclides
da Cunha. Sua raiz conserva água e
produz uma batata, que em época de
grande estiagem, é utilizada como
alimento. O Umbuzeiro vive mais ou
menos 100 anos, e é um símbolo de
resistência. Suas folhas, de grande valor
alimentício, com gosto "azedinho",
também são usadas como alimento pelos
seres humanos. O fruto do umbuzeiro é
denominado umbu.
282, 304,
354.
“Isso é crime?
Perdeu, rachou
feito umbuzeiro
que boi
comeu por
metade...”(ROSA,
2001, p. 282).
V
Vara-de-
ferrão
79. “A verdade que
diga,
eu bem defronte de
mim se portava,
mesmo segurava
uma vara-de-ferrão,
considerei nele
certo propósito, de
despique
gandaiado.”(ROSA,
2001, p. 79).
Vara de
Maria-
preta
Nome científico: Solanum americanum
Nomes populares: maria-pretinha,
caraxixá, araxixu,erva-de-bicho, erva-de-
mocó, erva-moura, guaraquinha, pimenta,
pimenta-de-cachorro, pimenta-de-galinha,
pimenta-de-rato.
É conhecida como uma planta daninha na
agricultura em todo o país, no entanto em
25. “Em ocasião,
conversei com um
rapaz seminarista,
muito condizente,
conferindo no livro
de rezas e revestido
de paramenta, com
uma vara de maria-
outras épocas já foi usada como verdura
escaldada e seus frutos consumidos como
geleia. As folhas cruas e os frutos verdes
são, no entanto, venenosos por causa da
sua presença dos glicoalcalóides, que uma
vez hidrolisados no intestino produzem
alcaminas, que as quais absorvidas pelo
organismo produzem sintomas de
depressão no sistema nervoso central.
preta na mão –
proseou que ia
adjutorar o padre,
para extraírem o
Cujo, do corpo vivo
de uma velha, na
Cachoeira-dos-
Bois, ele ia com o
vigário do Campo-
Redondo... Me
concebo.”(ROSA,
2001, p. 25).
Vinhático
Nome científico: Platymenia foliolosa
Nomes populares: Vinhático, vinhático da
mata, vinhático rajado, vinhático amarelo,
pau de candeia,vinhático-do-campo.
Árvore com tronco bastante áspero e
descamante. Sua madeira é leve, dura,
fácil de trabalhar, de longa durabilidade
natural e diferença nítida entre cerne e
alburno. É própria para mobiliário de
luxo, lâmina faqueadas decorativas,
painéis, para construção civil como
acabamentos internos, rodapés, molduras,
forros, tacos e tábuas para assoalho. A
árvore é exuberante bastante ornamental,
podendo ser empregada com sucesso no
paisagismo em geral.
122. “Me deu uma
tontura. O ódio que
eu quis: ah, tantas
canoas no porto,
boas canoas
boiantes, de faveira
ou tamboril, de
imburana, vinhático
ou cedro, e a gente
tinha escolhido
aquela...” (ROSA,
2001, p. 122).
X
Xuxús*
Fruto do chuchuzeiro. Ele é suculento e
tem forma alongada, cor branco-creme,
verde-claro ou verde-escuro, liso ou
enrugado, com ou sem espinhos, varia de
espécie para espécie. Com chuchu
preparam-se suflês, pudins salgados ou
simplesmente cozidos e temperados a
gosto. É também usado para dar ponto a
alguns pratos salgados e doces de goiaba e
marmelo (por sua pectina).
600, 600. “Assim
rastejávamos. E
pouco faltava
para o quintal do
sobrado: só uma
cerca miúda, com
um xuxuzeiro
dependurado com
xuxús grandes;
eram uns xuxús
enormes.”
(ROSA, 2001, p.
600).
Xuxuzeiro*
O chuchuzeiro é uma planta trepadeira que
pode produzir por vários anos; possui
ramas longas onde apresentam gavinhas
para sustentação no lugar onde trepa; das
600. “Assim
rastejávamos. E
pouco faltava
para o quintal do
ramas saem folhas numerosas com formato
de coração. As flores são amareladas e
separadas em femininas e masculinas,
distintas na mesma planta; a fecundação da
flor é totalmente dependente da
polinização de abelhas silvestes. O chuchu,
é suculento com forma alongada, cor
branco-creme, verde-claro ou verde-
escuro, liso ou enrugado, com ou sem
espinhos, depende de sua espécie.
sobrado: só uma
cerca miúda, com
um xuxuzeiro
dependurado com
xuxús grandes;
eram uns xuxús
enormes.”
(ROSA, 2001, p.
600).
W
Y
Z
*OBS: Sabemos que na língua portuguesa as palavras “chuchu” e “chuchuzeiro” são
escritas com “ch”, porém, em Grande sertão: veredas, Guimarães Rosa escreve com
“x”.