Post on 26-Dec-2014
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Os LusíadasOs LusíadasOs LusíadasOs Lusíadas Luís Vaz de Camões
Dado que vamos estudar uma obra do século XVI, convém esclarecer os conceitos de
Renascimento, Humanismo e Classicismo.
I- RE�ASCIME�TO, HUMA�ISMO E CLASSICISMO (pág. 114/115)
1- Renascimento
� Iniciou-se em Itália em meados do séc. XIV e espalhou-se na Europa nos séc. XV e XVI;
� Movimento cultural baseado no conhecimento e na imitação dos clássicos (latinos e gregos);
� Nova concepção do Homem encarado na sua integralidade;
� Não constitui uma ruptura em relação à literatura anterior, mas uma busca de conciliação entre dois modelos;
� Defende-se o Antropocentrismo (o Homem conhece-se a si próprio: é Sujeito e Objecto do Saber), em oposição ao Teocentrismo da Idade Média (Deus visto como centro do Universo).
2- Humanismo
� Conceito ligado ao Renascimento que consiste na descoberta e revalorização das obras culturais da Antiguidade Clássica;
� Concepção do Homem como ser integral e harmonioso de corpo e de espírito.
� Humanismo Português
� Enriquecido através da experiência dos Descobrimentos;
� Comprova as teorias humanísticas.
3- Classicismo
� Época literária que abrange os séc. XVI e XVII e XVIII, isto é, os períodos do Renascimento, Barroco e Neoclassicismo;
� Imitação dos antigos com uma nova orientação de espírito (clareza, sobriedade, harmonia e equilíbrio).
� Classicismo Português
� Aspectos novos resultantes da expansão ultramarina (enriquecimento dos motivos ornamentais: exóticos e marinhos).
4- Principais inovações do Renascimento Literário
� Introdução do decassílabo como metro poético;
� Introdução de novas formas estróficas;
� Introdução de formas clássicas, tais como a tragédia, a comédia, a epopeia, entre outras.
II- OS LUSÍADAS: TIPOS DE I�SPIRAÇÃO E FO�TES (pág. 115/116)
“Os Lusíadas” podem considerar-se como a obra literária que melhor sintetiza o Renascimento dentro
da literatura portuguesa: além do seu interesse literário, apresenta um interesse documental e humano
representativo de uma época.
1- Tipos de inspiração
� Inspiração patriótica: orgulho nacional e amor à pátria;
� Inspiração clássica: estrutura clássica do poema e intervenção da mitologia;
� Inspiração cristã: presença do pensamento cristão e do ideal de expansão da Fé (espírito de Cruzada);
� Inspiração medieval: referência a episódios da história da Idade Média e recriação do ambiente cavaleiresco;
� Inspiração renascentista: busca de um novo ideal estético e humano e curiosidade em relação aos povos recém-descobertos e aos seus costumes;
� Inspiração exótica: busca do efeito estético e ornamental baseado nos aspectos da paisagem, fauna e flora exóticas e marítimas;
� Inspiração científica: curiosidade perante as novidades científicas baseadas nas experiências vividas e interesse pelos fenómenos naturais.
2- Fontes de “Os Lusíadas”
A- Fontes literárias
Sendo a epopeia um género clássico, baseia-se, quanto ao plano e estrutura, nas epopeias greco-
-latinas e segue o exemplo das epopeias modernas.
� Epopeias antigas: “Ilíada” e “Odisseia” de Homero e “Eneida” de Virgílio;
� Epopeias modernas: “A Divina Comédia” de Dante, entre outras.
B- Fontes históricas
Luís de Camões baseou-se em fontes históricas para a narração do descobrimento e
estabelecimento dos Portugueses na Índia e para a narração da parte anterior aos Descobrimentos.
III- AS IDEIAS DO RE�ASCIME�TO, DO CLASSICISMO E DO HUMA�ISMO EM “OS LUSÍADAS” (pág. 116/117)
1- Universalismo do poema
� será divulgado por toda a parte;
2- Experimentalismo
� saber livresco dos antigos em oposição à experiência dos rudes marinheiros;
3- Classicismo
� carácter erudito/culto do poema, baseado nas epopeias de Homero e de Virgílio.
Semelhanças entre a “Odisseia” e “Os Lusíadas”
� Viagem marítima;
� Oposição deuses / homens;
� Vitória dos homens sobre os deuses;
� O herói tem conhecimento do futuro;
� O amor como recompensa no regresso da viagem;
� Existência da Proposição e da Invocação;
� Início da narração “in media res” (no meio da viagem);
� Presença de deuses adjuvantes e oponentes que interferem na acção (Vénus e Marte são os deuses protectores dos Portugueses, Baco e Neptuno são os deuses que os perseguem);
� O herói assume o papel de narrador numa parte significativa do poema;
� Existência de profecias que anunciam o futuro do herói.
IV- O HERÓI
No poema, não encontramos o retrato de um herói concreto, mas um modelo de heroísmo. Vasco da
Gama é um herói sem força, depende das decisões dos deuses, que usam a sua capacidade de intervenção
quando esta se torna necessária.
Estamos perante um herói colectivo, o Povo Português. Assim, os heróis de “Os Lusíadas” serão os
portugueses que se imortalizaram em actos heróicos. O assunto que Camões se propõe cantar está bem
patente na terceira estrofe do canto I: o peito ilustre Lusitano.
Ao longo do poema, vai contar-nos a história de Portugal, usando como pretexto a viagem de Vasco
da Gama para a Índia.
V- O PROJECTO DE CAMÕES – OS LUSÍADAS (pág. 118/119)
� Poema que conta a viagem do descobrimento do caminho marítimo para a Índia;
� A narrativa inicia-se no meio da viagem “in media res”;
� Os episódios anteriores à viagem são narrados por Vasco da Gama ao rei de Melinde, durante uma pausa na viagem;
� Nesse discurso, Vasco da Gama narra a História de Portugal por ordem cronológica, desde Viriato até D. Manuel;
� Mais tarde, Paulo da Gama também apresenta episódios e personagens da história passada de Portugal;
� Os acontecimentos futuros, gloriosos ou trágicos, são contados por personagens divinas (Júpiter, Vénus e uma sereia);
� Os homens não têm que lutar contra os deuses, que se manifestam sob a forma de fenómenos naturais, humanos ou sonhos;
� separação do mundo maravilhoso e do mundo histórico para afirmar a verdade histórica do seu poema.
� No final, os homens e os deuses encontram-se numa ilha encantada que Vénus preparou e povoou de belas ninfas, levando-a ao encontro dos heróis.
VI- O GÉ�ERO ÉPICO ou EPOPEIA (pág. 188)
O género épico remonta à Antiguidade Clássica, grega e latina, tendo como exemplos universais a
“Odisseia” e a “Ilíada”, do poeta grego Homero, e a “Eneida”, do poeta latino Virgílio. Trata-se de um
género narrativo, em verso, destinado a celebrar feitos grandiosos de um herói ou heróis fora do comum,
reais ou lendários, em estilo elevado. Tem, pois, um fundo histórico, embora não se trate de narrativas
históricas.
O género épico é um género narrativo, o que exige na sua estrutura a presença de uma acção ou
enredo, desempenhada por personagens, num determinado tempo e espaço. Possui uma estrutura própria,
cujos principais aspectos são:
� a existência de uma Proposição em que o autor apresenta a matéria do seu poema;
� a existência de uma Invocação às Musas ou outras divindades e entidades míticas protectoras, das artes;
� uma Dedicatória (facultativa);
� uma �arração “in media res”, ou seja, em que a acção não é narrada pela ordem cronológica dos acontecimentos, mas se inicia já no decurso dos mesmos acontecimentos, sendo a parte inicial narrada posteriormente, num processo de retrospectiva, ou analepse, pelo próprio herói;
� a inclusão de Profecias;
� a presença da mitologia greco-latina, contracenando heróis mitológicos e heróis humanos;
� a unidade de acção (os factos devem ter uma ligação entre si);
� a inclusão de episódios, de pequenas narrativas reais ou imaginárias, que servem para embelezar e enriquecer a acção;
� a intervenção do poeta com breves considerações pessoais.
VII- OS LUSÍADAS – A EPOPEIA DESEJADA (pág. 119)
Sendo a epopeia considerada no Renascimento como a expressão mais alta da poesia, Portugal, como
tantos outros países europeus, ansiava pelo poema épico que prestigiasse a literatura nacional.
A partir do século XV, começam a surgir alguns poemas de conteúdo histórico sem grande relevância
literária. Entretanto, grandes nomes da nossa literatura, como Garcia de Resende ou António Ferreira,
alertavam para a necessidade de se cultivar o género épico, estimulando outros poetas à criação da epopeia
de Portugal.
Portugal tinha, de facto, no século XVI, as condições ideais para a criação de um grande poema épico.
As viagens de descoberta de caminhos marítimos, os perigos desconhecidos, o heroísmo dos
navegantes prestavam-se à comparação com as viagens marítimas da “Eneida” e da “Odisseia”.
Além disso, a importância dos Descobrimentos, para além do interesse nacional, revestia-se de um
carácter universal.
O orgulho nacional estimulava a celebração dos feitos portugueses. À própria corte interessava a
apresentação da política de expansão ultramarina como forma de dilatação da Fé cristã, para contrariar a
ideia de que a verdadeira motivação dessa política fosse meramente comercial.
Fazer renascer a epopeia nos moldes clássicos e glorificar os feitos recentes da História de Portugal
poderão ter sido factores determinantes para que Luís de Camões se lançasse a escrever “Os Lusíadas”, a
epopeia desejada.
Luís Vaz de CamõesLuís Vaz de CamõesLuís Vaz de CamõesLuís Vaz de Camões –––– Vida e Obra Vida e Obra Vida e Obra Vida e Obra ––––
1- BIOGRAFIA � Camões terá nascido em Lisboa, por volta de 1524 ou 1525;
� Frequentou a Corte, o que lhe teria possibilitado o acesso a estudos superiores em Coimbra, facto não confirmado. No entanto, está documentado em toda a obra, nomeadamente em “Os Lusíadas”, o saber erudito do poeta;
� Passou dezassete anos no Oriente;
� Teve uma vida amorosa agitada e, por isso, foi expulso da Corte;
� Combateu, como militar, no Norte de África, onde ficou cego do olho direito (1547-1548);
� Passou vários meses na prisão em Lisboa (1552);
� Entre 1553 e 1558, esteve na Índia, onde participou em expedições militares, e em Macau, tendo aí desempenhado cargos públicos de natureza administrativa;
� Durante a sua estadia no Oriente, foi vítima de um naufrágio e conseguiu salvar o manuscrito das suas obras;
� Entre 1567 e 1569, esteve em Moçambique;
� Em 1570, regressa a Portugal, na miséria, mas com o texto da sua epopeia quase pronto para ser editado;
� Foi recebido pelo Rei, D. Sebastião, a quem leu “Os Lusíadas” e dedicou o seu poema. A obra foi publicada em 1572;
� Recebeu, na sequência do seu trabalho, uma pensão anual, dada pelo Rei, o que não o impediu de viver na miséria;
� A partir de 1570, não se sabe mais nada da sua biografia, salvo o facto de ter sido invejado pela grandeza da sua obra;
� Camões terá morrido em 1579 ou 1580, ficando as despesas a cargo de um nobre da altura, que mandou colocar na sua sepultura a seguinte inscrição: «Aqui jaz Luís de Camões, príncipe dos poetas do seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente e assim morreu.»
De tudo o que é possível apurar-se sobre a existência deste poeta, importa salientar aquilo que deixou
reflexos na sua obra:
� a cultura a que pôde ter acesso;
� o facto de ter sido militar, o que poderá justificar a importância que deu ao valor militar;
� o facto de ter conhecido a rota seguida por Vasco da Gama e todo o Oriente;
� a importância da sua “longa experiência” humana;
� a referência a temas e metros tradicionais típicos da poesia palaciana, sobretudo na obra lírica, justificável pelo seu contacto com a Corte.
2- OBRA Para além do real valor e genialidade da sua obra lírica e do seu teatro, Camões foi o criador da única
epopeia conseguida depois de Homero e Virgílio, “Os Lusíadas”.