Post on 05-Mar-2021
Farmácia Castro Carneiro
Jorge Manuel Pires Neri
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página II
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto
Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas
Relatório de Estágio Profissionalizante
Farmácia Castro Carneiro
6 de Janeiro de 2015 a 16 de Maio 2015
Jorge Manuel Pires Neri
Orientador: Dra. Maria Armanda Castro Carneiro
Tutor: Prof. Doutora Helena Vasconcelos
Setembro de 2015
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página III
Declaração de Integridade
Eu, _______________________________________________, abaixo assinado, nº
__________, aluno do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de
Farmácia da Universidade do Porto, declaro ter actuado com absoluta integridade na
elaboração deste documento.
Nesse sentido, confirmo que NÃO incorri em plágio (acto pelo qual um indivíduo, mesmo
por omissão, assume a autoria de um determinado trabalho intelectual ou partes dele).
Mais declaro que todas as frases que retirei de trabalhos anteriores pertencentes a outros
autores foram referenciadas ou redigidas com novas palavras, tendo neste caso colocado
a citação da fonte bibliográfica.
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, ____ de __________________ de
______
Assinatura: ______________________________________
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página IV
Agradecimentos
Os quatro meses de estágio que me foram propostos e que realizei com o maior
gosto não podiam ter sido um sucesso sem a ajuda e a colaboração de diversas pessoas.
A elas deixo agora o meu agradecimento:
Em primeiro lugar, à Dra. Maria Armanda, minha orientadora de estágio, pela
simpatia e forma como me recebeu e a oportunidade que me proporcionou, que sem dúvida
foi marcante e será uma mais-valia para o meu futuro. Agradeço também toda a confiança
depositada no meu trabalho assim como os incentivos que me deu durante estes quatro
mêses.
À Dra. Raquel Conceição por todos os conhecimentos transmitidos e saberes
partilhados. Agradeço também o laço de amizade que se criou e a disponibilidade
apresentada para clarificar todas as dúvidas que me apareceram ao longo do estágio.
A todos os profissionais da Farmácia Castro Carneiro, nomeadamente, o Rui, o
Paulo, a Carla, o Miguel, o Nuno, a Bárbara, o Sérgio, a Sílvia, o Filipe e a Dona Alice por
todos os momentos partilhados, conhecimentos transmitidos e carácter pessoais e
profissionais únicos. Estes vão de certeza perdurar e serão fundamentais para a minha
vida profissional.
À minha colega de estágio Ana Paula Mota, por ter sido insuperável, uma grande
companheira e uma ainda maior amiga, sempre disposta a ajudar e a colaborar. Os
ensinamentos e palavras foram únicos.
Aos professores e funcionários da Faculdade de Farmácia da Universidade do
Porto agradeço todos os momentos partilhados e conhecimentos que certamente serão
fundamentais.
Aos meus amigos, um enorme obrigado por terem tornado estes incríveis cinco
anos. Os momentos inesquecíveis, pessoas inconfundíveis e as palavras sentidas
certamente irão perdurar.
À minha Tia e Madrinha, por ser como uma segunda mãe estar sempre disponível
independentemente da situação.
Ao meu irmão por ser um autêntico “companheiro de guerra” durante estes 20 anos
em partilha. O meu amigo e companheiro de sempre.
À minha namorada, Sara, por ter sido um pilar de segurança, um autêntico porto-
seguro da minha vida e que sem ela, hoje, certamente não seria metade da pessoa que
hoje sou. Agradeço o amor, carinho e amizade que nunca deixaram que faltasse e todos
os conselhos e momentos vividos.
À minha Mãe pelo amor e carinho com que me criou, os sacrifícios que passou e a
oportunidade que me proporcionou. Ao meu pai, que partiu cedo demais, mas com certeza
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página V
estará em algum lado a olhar por mim. Sem hesitação alguma, dedico esta conclusão de
etapa da vida a eles, pois não poderia ser de outra forma.
“O sonho pertence àqueles que mais acreditam nele, e durante mais tempo.”
A todos vós, um sincero Muito Obrigado!
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página VI
Resumo
O Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas sustenta um ensinamento
teórico e prático no âmbito laboratorial durante quatro anos e meio. Como etapa final é
proporcionado aos alunos uma experiencia profissional na unidade curricular de Estágio.
Este contacto com a realidade laboral vem completar a teoria até então adquirida e
cimentar a formação académica do estudante, preparando-o para o futuro. Durante o
período de estágio, o estudante deve aprender a rentabilizar o conteúdo teórico que
adquiriu e tentar aplicá-lo junto das populações.
Este relatório surge, agora, após quatro meses de estágio curricular na Farmácia
Castro Carneiro, sendo dividido em duas partes: A – onde está caracterizada a farmácia
em si e os seus processos laborais; B – espaço para o desenvolvimento das iniciativas na
mesma. Neste relatório é dado ênfase às doenças cérebro-cardiovasculares, uma vez que
se trata de um tema muito delicado e comum na nossa sociedade, é fundamental o alerta
e sensibilização da população para o mesmo. Não obstante, é feita ainda referência à onda
emergente de medicamentos que tem sido responsável, muitas vezes, por situações de
risco e perigo, sendo fundamental para os profissionais de uma farmácia alertar para os
riscos e perigos da mesma. E como o perfil do farmacêutico deve pautar-se por estudar a
farmacoterapia específica dos doentes, por fim, neste relatório, é apresentado um curto e
simples caso de estudo entre os diversos casos que suscitaram durante estes quatro
meses.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página VII
Índice
Declaração de Integridade ............................................................................................ III
Agradecimentos ............................................................................................................. IV
Resumo .......................................................................................................................... VI
Índice ............................................................................................................................. VII
Índice de Tabelas ........................................................................................................... IX
Lista de Abreviaturas ..................................................................................................... X
Introdução ....................................................................................................................... 1
1. Parte A - Farmácia Castro Carneiro ....................................................................... 1
1.1 Localização Geográfica e enquadramento Socioeconómico .................................. 1
1.2 Horário do funcionamento ...................................................................................... 2
1.3 Recursos Humanos ................................................................................................ 2
1.4 Espaço exterior e interior ........................................................................................ 2
1.2.1 Espaço exterior ................................................................................................. 2
1.2.2 Espaço Interior .................................................................................................. 3
2. Gestão e administração da Farmácia ........................................................................ 5
2.1 Encomendas .......................................................................................................... 6
2.1.1 Fornecedores e realização das encomendas .................................................... 6
2.1.2 Receção e Conferência de encomendas ........................................................... 6
2.2 Devoluções ............................................................................................................ 8
2.3 Armazenamento ..................................................................................................... 9
2.4 Controlo dos prazos de validade ............................................................................ 9
2.5 Informação ........................................................................................................... 10
3. Dispensa de produtos .............................................................................................. 10
3.1 Dispensa de Medicamentos ................................................................................. 10
3.1.1 Medicamentos Sujeitos a Receita Médica ....................................................... 10
3.1.2 Compra, Armazenamento e Dispensa de Estupefacientes e Psicotrópicos ..... 14
3.1.3 Receituário ...................................................................................................... 15
3.2 Medicamentos Não sujeitos a Receita Médica ..................................................... 15
3.4 Outros produtos de saúde .................................................................................... 16
3.4.1 Medicamentos de uso veterinário .................................................................... 16
3.4.2 Medicamentos manipulados ............................................................................ 16
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página VIII
4 . Serviços farmacêuticos disponíveis ...................................................................... 17
4.1 Determinação de parâmetros bioquímicos e fisiológicos .................................... 17
4.2 Consulta de Nutrição .......................................................................................... 18
4.3. ValorMED e recolha de radiografias .................................................................. 18
4.4. Prospeção de serviços ...................................................................................... 18
5. A importância do relacionamento com colegas, utentes e outros profissionais . 19
6. Marketing e Publicidade ........................................................................................... 19
7. Outras atividades ...................................................................................................... 20
Parte B - Casos de Estudo ........................................................................................... 21
1. Campanha de sensibilização sobre as Doenças Cérebro-cardiovasculares:
Hipertensão, Acidente Vascular Cerebral e Enfarte do Miocárdio. ........................... 21
1.1 Objetivos .............................................................................................................. 21
1.2 Introdução ............................................................................................................ 21
1.3 Epidemiologia geral .............................................................................................. 22
1.4 Fatores de risco e prevenção ............................................................................... 22
1.4.1 Fatores de risco não modificáveis: Idade, género e história familiar ................ 23
1.4.2 Obesidade....................................................................................................... 23
1.4.3 Hipertensão ..................................................................................................... 24
1.4.4 Inatividade física ............................................................................................. 24
1.4.5 Diabetes Mellitus ............................................................................................. 25
1.4.5 Lípidos ............................................................................................................ 25
1.4.6 Fatores inflamatórios e Trombóticos ............................................................... 26
1.4.6 Tabaco e álcool ............................................................................................... 26
1.4.7 Dieta ............................................................................................................... 27
1.5 Hipertensão .......................................................................................................... 27
1.5.1 Pressão arterial: fisiologia ............................................................................... 28
1.5.2 Alterações fisiopatológicas .............................................................................. 28
1.5.3 Tipos de hipertensão ....................................................................................... 30
1.5.4 Avaliação e Classificação ................................................................................ 30
1.5.5 Diagnóstico ..................................................................................................... 30
1.5.6 Tratamento farmacológico ............................................................................... 31
1.5.7 Tratamento não farmacológico e Aconselhamento Farmacêutico ................... 32
1.6 Aterosclerose no AVC e no Enfarte agudo do Miocárdio ..................................... 33
1.7 Acidente Vascular Cerebral ................................................................................. 34
1.7.1 Fisiopatologia .................................................................................................. 34
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página IX
1.7.2 Sintomas ......................................................................................................... 34
1.7.3 Diagnóstico ..................................................................................................... 35
1.7.4 Tratamento Farmacológico ............................................................................. 35
1.7.5 Tratamento Não Farmacológico e Aconselhamento Farmacêutico ................. 36
1.8 Enfarte Agudo do Miocárdio ................................................................................. 37
1.8.1 Fisiopatologia .................................................................................................. 38
1.8.2 Sintomas ......................................................................................................... 38
1.8.3 Classificação ................................................................................................... 38
1.8.4 Biomarcadores ................................................................................................ 39
1.8.5 Diagnóstico ..................................................................................................... 40
1.8.6 Tratamento Farmacológico ............................................................................. 40
1.8.7 Tratamento Não Farmacológico e Aconselhamento Farmacêutico ................. 41
Caso 2 – Riscos da automedicação ............................................................................ 42
2.1 Definição .............................................................................................................. 42
2.2.Objetivo ................................................................................................................ 43
2.3 Automedicação como mecanismo social .............................................................. 43
2.4 Farmacoeconomia ................................................................................................ 44
2.5 Riscos da automedicação e o Farmacêutico ........................................................ 44
2.6 Emergência .......................................................................................................... 45
Caso clínico “Sintomas de hipotiroidismo?” ............................................................. 45
Considerações finais .................................................................................................... 46
Bibliografia .................................................................................................................... 47
Anexos........................................................................................................................... 58
Índice de Tabelas
Tabela 1 Calendarização das atividades desenvolvidas na farmácia comunitária ............. 1
Tabela 2 Classificação dos tipos de hipertensão ............................................................ 30
Tabela 3 Redução da pressão arterial obtida em diferentes atitudes .............................. 32
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página X
Lista de Abreviaturas
ANF - Associação Nacional das Farmácias
ATI - Angiotensina I
ATII - Angiotensina II
AVC - Acidente Vascular Cerebral
BPFC- Boas Práticas para Farmácia Comunitária
BRA - Bloqueador do Recetor de angiotensina
CCF - Centro de Conferência de Faturas
CNP - Código Nacional Português
DCCV - Doenças Cérebro-Cardiovasculares
DCI - Denominação Comum Internacional
DL - Decreto-lei
ECA - Enzima conversora de angiotensina
FCC - Farmácia Castro Carneiro
HDLc - High density Lipoprotein Cholesterol
IECA - Inibidor da enzima conversora de angiotensina.
IRS - Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Singulares
IVA - Imposto de valor acrescentado
LDLc - Low density Lipoprotein Cholesterol
MIF - Medida da Independência Funcional
MM - Medicamento manipulado
MNSRM - Medicamento não sujeito a receita médica
MSRM - Medicamento sujeito a receita médica
Nº - Número
PVF - Preço de venda à farmácia
PVP - Preço de venda ao público
RM - Receita Médica
SNS - Sistema Nacional de Saúde
TnC - Troponina C
TnI - Troponina I
TnT -Troponina T
ValorMED - Sociedade Gestora de Resíduos de Embalagens e Medicamentos
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 1
Atividades desenvolvidas no Estágio Curricular
Introdução
O estágio curricular do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas institui-se
como o primeiro contacto com a realidade profissional, tornando-se assim uma peça única
e fundamental no desenvolvimento dos jovens farmacêuticos. Para além do mais, o que
até agora estava limitado à teoria dos livros e das aulas pode, finalmente, ser aplicado num
contexto prático e social, acrescentando-se a esta a responsabilidade das ações pelo
estudante praticadas o que permite um crescimento íntegro como farmacêutico.
A necessidade da farmacovigilância e dos cuidados farmacêuticos permitem que a
farmácia desempenhe um papel essencial junto das populações. Por vezes o acesso aos
serviços de saúde primários torna-se complicado, pelos mais diversos motivos, e por isso
a atenção das populações fica voltada para a farmácia à porta de casa. De facto, e citando
o guia de Boas Práticas para a Farmácia Comunitária (BPFC): “Grandes alterações no
enquadramento legislativo da farmácia ocorreram recentemente em Portugal. Contudo a
farmácia continua a ser, claramente, considerada como um estabelecimento de saúde e
de interesse público que deve assegurar a continuidade dos cuidados prestados aos
doentes.”
As atividades realizadas durante o meu estágio estão sumarizadas na Tabela 1:
Tabela 1 Calendarização das atividades desenvolvidas na farmácia comunitária
1. Parte A - Farmácia Castro Carneiro
1.1 Localização Geográfica e enquadramento Socioeconómico
A Farmácia Castro Carneiro localiza-se, desde o dia 30 de Outubro de 2004, na
Avenida dos Descobrimentos, nº 459, Vila Nova de Gaia, loja 1 no centro comercial
“GaiaShopping”, porém, a sua existência data de 1973 na Rua Padre Cruz no centro da
cidade do Porto.
Devido à sua localização, a farmácia presta serviço a uma população muito
heterogénea sendo a sua maioria ser população idosa. Estando no interior de um grande
espaço comercial seria de esperar uma rotatividade significativa nos clientes, porém, a
Armazém e encomendas
Conferência de Receituário
Controlo prazo de validades
Atendimento ao público Manipulados
Determinação de parâmetros bioquímicos
Caso 1 – Campanha de sensibilização para as Doenças Cérebro-Cardiovasculares
Caso 2 – Auto medicação
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 2
verdade é que isso não acontece e a FCC apresenta um grupo de clientes, muitos deles
idosos, permitindo um acompanhamento farmacoterapêutico de maior qualidade e uma
avaliação da sua saúde de uma forma mais eficaz, o que por sua vez permite que a própria
equipa de profissionais criar laços de intimidade essenciais com estes clientes assíduos,
contribuindo para a fidelização dos mesmos. A FCC acaba por disponibilizar os seus
serviços a um outro leque de clientes/utentes com perfis sociais e económicos muito
variados, tornando-se um desafio diário e uma mais-valia à equipa profissional da mesa,
assegurando-se assim uma diversidade de experiências e situações que contribuem em
muito para a melhoria do atendimento e aconselhamento farmacêutico.
1.2 Horário do funcionamento
A FCC tem um horário em consenso com o centro comercial onde está inserida, e
assim sendo: De segunda-feira a Sábado: 9h as 23h. Aos Domingos: 9h as 20h. Durante
o ano apenas tem três dias de encerramento: o dia 1 de janeiro (Dia de Ano Novo),
Domingo de Páscoa e dia 25 de dezembro (Dia de Natal).
De 20 em 20 dias a FCC realiza um serviço noturno estando aberta em regime
permanente, realizando o seu serviço não no espaço comum dos restantes dias mas no
Postigo de Atendimento. (Anexo I)
1.3 Recursos Humanos
Para o bom funcionamento de qualquer atividade profissional é fundamental uma
equipa coordenada e adequadas às necessidades da mesma. Segundo o decreto-lei (DL)
nº 307/2007 de 31 de agosto, os recursos humanos de uma farmácia podem ser compostos
por dois quadros: o quadro farmacêutico, composto pela Drª Maria Armanda, como Diretora
Técnica e a Drª Raquel Conceição como Farmacêutica Adjunta e o quadro não
farmacêutico: distribuído por técnicos de diagnóstico e terapêutica (Filipe Carneiro, Rui
Pinto, Paulo Silva e Carla Cabral) e Técnico Auxiliar de Ação Farmacêutico (Nuno Cunha,
Sérgio Borges e Sílvia Antunes). A FCC conta ainda com o trabalho de José Miguel Silva,
tendo a seu cargo a gestão e contabilidade diárias e uma auxiliar de limpeza, Alice Peito.
Bárbara Baldaia, esteticista, colaborou até finais de abril [1], [2].
1.4 Espaço exterior e interior
No que diz respeito ao aspeto da FCC, esta respeita as orientações escritas no guia
de Boas Práticas de Farmácia Comunitária, assim como o que é descrito no DL nº 307/2007
de 31 de agosto onde são regulamentados os espaços da farmácia comunitária [2].
1.2.1 Espaço exterior
Exteriormente a FCC apresenta um aspeto moderno e profissional e que foge um
pouco ao costume das farmácias convencionais, uma vez que estando inserido no interior
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 3
de uma grande superfície comercial tem de respeitar igualmente as normas desse mesmo
espaço. No exterior, encontram-se de forma visível as informações revelantes, necessárias
aos utilizadores da farmácia e exigidas pela lei: Horário de atendimento, identificação do
diretor técnico e uma lista de farmácias de serviço que tem de ser atualizada diariamente
[1]. Apresenta duas grandes montras que permitem a visualização do interior do espaço
de atendimento e que são alteradas consoante as necessidades (Anexo I).
As boas práticas de farmácia comunitária, assim como o DL 307/2007, de 31 de
agosto salvaguardam ainda a necessidade de bons acessos a todos os seus utilizadores,
e estando a FCC num centro comercial não existem quaisquer problemas no que diz
respeito a estacionamento ou acesso para indivíduos com deficiências motoras [2].
1.2.2 Espaço Interior
O espaço interior da FCC está homologado com todas as valências descritas nas
Boas Práticas de Farmácia Comunitária, e aprovadas pela Deliberação n.º 1502/2014, de
3 de julho, que predispõe a existência de uma série de compartimentos divisórios desde
área total mínima de 95 m2, sala de atendimento, laboratório, armazém, instalações
sanitárias e gabinete de atendimento ao público [3], [4].
Estando divido por dois pisos, o espaço da FCC engloba diversos locais de trabalho
que se inter-relacionam. O piso 0 abrange a área de atendimento ao público contando com
6 balcões de atendimento, dois gabinetes: um gabinete de apoio ao utente e outro de Boas
Práticas. Ainda no piso 0 encontra-se a antecâmara de receção das encomendas durante
o dia com uma porta para o exterior. Por fim no piso 0 fica ainda o Laboratório onde são
elaborados os medicamentos manipulados e uma casa de banho e uma saleta de arrumos.
No piso 1 encontra-se a área de conferência de encomendas, assim como o local
de aprovisionamento que está equipado com um robot. Ainda no piso 1 existe o escritório,
copa (cozinha), área de descanso com a segunda casa de banho e a área de vestiários
[1], [2].
1.2.2.1 Área de atendimento ao público
É nesta área que por excelência se pratica o ato farmacêutico. É o local de contato
e comunicação com o doente sendo portanto fundamental no papel da farmácia. A FCC
apresenta a sua área de atendimento como um espaço calmo, atraente, bem iluminado e
ventilado, profissional e muito convidativo. Todas as características asseguram uma
adequada comunicação entre os profissionais de saúde da farmácia e os utentes.
Esta área está equipada com 6 balcões encontrando-se separados em três grupos:
1 e 2 do lado esquerdo, o 3 no centro e o 4, 5 e 6 no lado direito. Cada balcão apresenta o
leitor de código de barras e um computador acoplado ao sistema informático (SI) da
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 4
farmácia, assim como uma impressora de receitas e talões (Anexo I). A existência desta
separação física permite um atendimento mais isolado e privado [1].
1.2.2.2 Gabinetes de atendimento personalizado
Como já anteriormente foi referido, os gabinetes de atendimento personalizado
estão presentes nas farmácias portuguesas. A FCC proporciona aos utentes dois
gabinetes com estas características. Estão identificados pelas sinalizações nas portas de
ambas divisões. Estes gabinetes não têm as mesmas funções. O gabinete de boas práticas
está devidamente equipado com um computador, acoplado ao SI da farmácia. Está
igualmente equipado com material necessário para a medição da glicemia,
colesterolinémia e triglicerídeos. Por outro lado, o gabinete de atendimento ao utente,
surge como um espaço usado para outro tipo de fins, para além de poder ser feito o
aconselhamento privado tal como no gabinete de boas práticas aqui não é possível realizar
testes bioquímicos, porém é usado para serviços de Estética. Em situações esporádicas é
usado também para ações de formação e reuniões com delegados de informação médica.
1.2.2.3 Zona de receção e zona de conferência de encomendas
A zona de receção de encomendas encontra-se no piso 0 e tem uma porta de
acesso ao exterior do edifício por onde se faz a entrada das mesmas. A política de gestão
do “GaiaShopping” impede passagem de mercadorias pela zona interna ou pela frente das
lojas, assim é essencial que haja uma abertura para o exterior do edifício para permitir a
receção das encomendas durante o dia. Esta zona dispõe de um elevador para facilitar o
transporte desde a zona de receção até a zona da conferência das encomendas no
segundo piso. Esta última dispõe de dois computadores que estão integrados no sistema
informático da FCC.
1.2.2.4 Laboratório
Estando inserido no piso 0, o laboratório da FCC serve de apoio para a manipulação
de medicamentos, armazenamento de matérias-primas, do material necessário para as
preparações e também de uma balança analítica. Apresenta igualmente uma bancada de
trabalho no qual são feitas as manipulações em causa e de um misturador automático com
diversas velocidades, usado para o processo de homogeneização das preparações semi-
sólidas. Está também equipado com um computador integrado no SI da mesma. Neste
espaço estão também armazenadas as fichas de preparação usadas, assim como o
formulário galénico português e a Farmacopeia Portuguesa IX.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 5
2. Gestão e administração da Farmácia
A gestão e administração de uma farmácia é um tema que cada vez mais tem vindo
a ser posto em causa nas mais diversas farmácias espalhadas pelo nosso país. Uma boa
farmácia torna-se o espelho de uma boa gestão, tornando as decisões desta vertente
fundamentais para a sobrevivência ou para o sucesso da mesma. A Drª Raquel Conceição
e Filipe Carneiro são os profissionais responsáveis pela gestão dos stocks da FCC,
delineando os stocks máximos mínimos consoante a época sazonal, elaborando
encomendas e identificando potenciais negócios favoráveis a mesma e mínimos consoante
a época sazonal.
As farmácias hoje em dia optam por estratégias de contenção e em muitas é dada
preferência às reservas do cliente, deixando de parte o stock mínimo de sobrevivência. Os
casos de rotura de stock no mercado nacional, são comuns e podem, em situações
terminadas situa comprometer a venda. Muitas vezes a inviabilização da dispensa de um
medicamento pode prejudicar gravemente a farmácia, impedindo que por exemplo uma
receita seja aviada e por outro lado o cliente fica por vezes insatisfeito. Precisamente neste
âmbito cada vez mais é fundamental que a farmácia disponha de ferramentas avançadas
para permitir o controlo e gestão dos produtos, garantindo assim que os casos de rotura
ocorram o mais esporadicamente possível. Um dos exemplos destas ferramentas trata-se
do sistema informático, que no caso da FCC é o PHC Advance® da Logitools®. Neste
sistema encontra-se integrado tudo o que abrange a farmácia, desde a conferência de
encomendas até à dispensa do medicamento. Este software está integrado com o próprio
sistema de armazenamento robótico da FCC. Apesar de tudo, este sistema é bastante
intuitivo, e como tal em poucos dias, consegui facilmente perceber a dinâmica do mesmo,
o que me permitiu encaixar no ritmo de trabalho da FCC mais rapidamente. No sistema
informático é também delineado o plano de aquisição de produtos (Anexo II). O historial
comercial dos mesmos fica registado, podendo ser consultado em qualquer computador
da FCC. Cada profissional dispõe de um utilizador e de uma senha pessoal para o acesso
ao sistema informático, porém existem certas funções que são exclusivas do farmacêutico
e outras que apenas certos profissionais dentro da FCC podem realizar. Durante o meu
estágio utilizei o software descrito todos os dias desde a conferência de encomendas até
ao atendimento ao público.
A gestão da equipa profissional também é fulcral para o bom funcionamento da
farmácia. Os horários são feitos por turnos e os profissionais trabalham de forma
intercalada garantindo a funcionalidade da farmácia em todas as suas horas de abertura
ao público.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 6
2.1 Encomendas
Muita da gestão estratégica de uma empresa passa por operações que não são
expostas ao público ou consumidores. É muito importante garantir a manutenção de um
produto ao consumidor mas sempre da forma mais vantajosa, e a farmácia não foge à
regra. A rotação dos produtos é o ponto-chave da sua gestão: “produtos mais vendidos
devem mais encomendados”, ou seja, os produtos devem ser organizados de acordo com
a sua prestação nas vendas (sistema ABC em que A representa os produtos com maior
participação nas vendas da farmácia e o C serão os que prestam menor participação),
contudo há que ter atenção ao grau de imprescindibilidade de um produto, ou seja, até
pode nem ter grande influência nas vendas mas é fundamental tê-lo em stock.
2.1.1 Fornecedores e realização das encomendas
De forma a se obterem os produtos desejados normalmente as farmácias contam
com as cadeias de distribuição de medicamentos ou também designados de fornecedores
ou armazenistas. A FCC conta com a atividade de distribuição da OCP Portugal, sendo o
principal armazenista que a fornece na sua atividade diária. Este armazenista realiza três
entregas diárias, permitindo ajustar mais convenientemente as necessidades dos doentes
e da própria gestão da farmácia, tornando-se útil em situações de stocks esgotados e
pedidos pontuais. As encomendas a este fornecedor são feitas quer por telefone quer pelo
sistema informático da farmácia. Para além da OCP, outros armazenistas tais como a
Empifarma e a Coprofar são usados para situações mais específicas. Quando é necessário
são ainda feitas encomendas diretamente aos laboratórios.
Periodicamente, os delegados dos diferentes laboratórios dirigem-se à FCC para
apresentar e negociar os seus produtos. Normalmente a encomenda aos laboratórios e
delegados pode trazer bonificações ou outros benefícios muito vantajosos. Estas
vantagens são mais discretas no caso dos distribuidores. É importante referir que uma
farmácia bem gerida pode tirar bom partido destas bonificações. O momento da compra
dos produtos pode tornar ser muito importante, no sentido que é possível fazer, por
exemplo, compra de produtos sazonais como os “anti-gripais” não sujeitos a receita médica
fora da sua “época” e conseguir benefícios mais significativos do que se fossem obtidos
nas alturas do ano de maior procura.
2.1.2 Receção e Conferência de encomendas
Apesar de muitas vezes negligenciado, a receção e conferência de encomendas é
o ponto de partida do trabalho da farmácia. Os produtos, uma vez entregues devem ser
conferidos e registados no sistema, e o rigor e exatidão deste processo é fulcral. Muitos
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 7
dos erros de stock podem e devem ser evitados se a conferência de encomendas for feita
de uma forma correta.
A OCP Portugal realiza as suas entregas através dos contentores ou também
chamadas “banheiras” devidamente seladas. São acompanhadas por uma fatura em
duplicado, onde estão descritas as quantidades aviadas, os produtos que se encontravam
esgotados, assim como o Código Nacional Português (CNP) que os acompanha, imposto
de valor acrescentado (IVA), Preço de Venda à Farmácia (PVF) entre outras informações
(Anexo III). Existem casos em que são usadas guias de transporte. As guias de transporte
são documentos que são necessárias em situações específicas tais como uma devolução
de um produto a farmácia.
No que diz respeito ao transporte, existem dois tipos de contentores: os normais
que no caso da OCP são verdes e os contentores de produtos que têm de ser conservados
em condições específicas como é o caso dos produtos que necessitam de temperaturas
baixas. Estes são azuis e normalmente vêm revestidos com esferovite. No seu interior têm
4 placas de gelo, permitindo alguma conservação. Por questões de segurança destes
produtos, sempre que se recebem encomendas devemos ter em atenção aos seus
contentores e colocá-los o mais rapidamente num local apropriado. Por outro lado, o
armazenista exige que nos casos em que é necessário efetuar uma devolução deste tipo
de produtos, seja necessário realizar uma marcação para garantir o estado de conservação
dos mesmos.
Os produtos irão ser introduzidos no sistema através dos computadores na zona de
conferência de encomendas. Alguns produtos entram diretamente no sistema robótico e
posteriormente são conferidos no SI outros são lidos através do leitor ótico de códigos de
barras ou então manualmente através da inserção do CNP. Deve-se ter atenção que a
leitura do código tem de ser efetuada exclusivamente pelo CNP. Caso sejam produtos com
o código de barras convencional é possível virem acompanhados do CNP escrito em
numerário. O CNP pode eventualmente apresentar a sigla ANF antes deste.
No ato de conferir uma encomenda devemos ter em atenção aos seguintes aspetos:
produtos aviados, verificando sempre se a fatura lhes corresponde; quantidades; preço
unitário e preço total, já que o valor final da fatura deverá corresponder à soma das bases
mais o IVA. Por outro lado, é importante ter em conta sempre o aspeto externo das
embalagens, tentando verificar alguma anomalia nas mesmas, assim como as etiquetas
de preço, de maneira a detetar variações que podem passar despercebidas e por fim o
prazo de validade. Uma vez terminada a conferência no SI (Anexo IV), é impresso um
documento e arquivado juntamente com as faturas enviadas pelo armazenista para
posterior confirmação e possíveis correções no final do mês. Existem ainda outras
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 8
particularidades: as reservas. A FCC possibilita um serviço de reservas, pagas ou não,
mediante a existência do medicamento em questão no armazenista. Caso seja emitida uma
reserva e esta seja paga, o stock virtual irá ficar negativo, uma vez que foi pago um
medicamento que não existia no momento. Este ponto é importante para a conferência de
encomendas, uma vez que dever-se-á ter atenção aos medicamentos assinalados a
vermelho, significando que estão reservados para um doente. No momento em que o
medicamento entra no SI, o stock é reposto ficando a 0 e o utente apenas o tem de levantar.
Dever-se-á ter atenção aos produtos de venda livre ou Medicamentos não sujeitos
a receita médica (MNSRM). Ao estarem inseridos nesta categoria apenas apresentam um
teto máximo de comercialização, estando a farmácia livre para poder ajustar a margem.
No caso da FCC, a margem é ajustada aplicando ao preço de venda a farmácia um fator
de multiplicação, que depende se o IVA é 6% ou 23% que acaba por incluir o PVF, o IVA
e a margem de lucro. Durante a conferência de encomendas, podemos sugerir que o
sistema informático aplique a margem automaticamente, já previamente programada.
Porém devido à localização da FCC, a presença de concorrência muito próxima exige que
certos produtos tenham margens de lucro mais apertadas, de maneira a tentar garantir a
competitividade para com esses locais.
O meu estágio iniciou-se pela receção e conferência de encomendas o que me
permitiu iniciar a familiarização com os medicamentos, nomeadamente aspeto, cores e
tamanhos que durante o atendimento ao público se revelou muito importante já que os
utentes muitas vezes recorriam a estas caraterísticas para identificar os laboratórios ou
mesmo os princípios ativos.
2.2 Devoluções
Sempre que for detetada uma anomalia na embalagem, troca de produto entre
outras situações é necessário proceder a uma devolução. No SI, é possível proceder à
elaboração de uma nota de devolução, na qual deverão ser especificados os motivos de
devolução, assim como o produto em causa a devolver. Igualmente é feita uma reclamação
por telefone para o fornecedor que apresentará um número correspondente. Este tem de
estar implícito na nota de devolução. A nota de devolução surge como um triplicado onde
duas cópias são levadas pelo fornecedor e a outra é arquivada.
Existem situações em que o fornecedor não aceita a devolução, pelo que o produto
tem de retornar ao stock da farmácia para ser posteriormente incluído nas perdas, uma vez
que não é possível a sua comercialização.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 9
2.3 Armazenamento
O armazenamento da maioria das embalagens é feito pelo sistema robótico
impregnando na farmácia. Apresenta capacidade para mais de onze mil embalagens e foi
uma inovação que veio substituir o sistema de gavetas anteriormente usado. Este sistema
tem dois braços independentes entre si é capaz de armazenar e dispensar medicamentos
ao mesmo tempo. O método de armazenamento é aleatório, tendo em conta apenas o
tamanho das embalagens. O sistema é isolado do exterior sendo operado a partir de dois
monitores que presentes na área de conferencia de encomendas. (Anexo I)
Porém existem algumas exceções no armazenamento. Quer no piso 1 como no
piso 0, existem algumas prateleiras que são usadas para armazenar produtos que não
podem ser colocados no robot como por exemplo os xaropes (risco de quebra) ou produtos
de ortopedia pois têm grandes dimensões. Assim a FCC apresenta no piso 1 prateleiras
para armazenamento de produtos com grande capacidade de escoamento, ampolas de
vidro e embalagens de grandes dimensões. Ainda no piso 1 são armazenados os
emplastros transdérmicos, água oxigenada entre outros produtos. No piso 0, na zona de
receção de encomendas são armazenados os produtos de uso externo. Na retaguarda da
zona de atendimento existem também algumas prateleiras para o armazenamento de
xaropes, assim como um frigorífico para produtos como insulinas, colírios e outros produtos
que requerem condições de conservação específicas. O frigorífico tem a temperatura e
ambiente próprios que são controlados diariamente. Na área de atendimento ao público
estão armazenados e expostos nos lineares vários produtos de dermocosmética de
diversos laboratórios, assim como suplementos alimentares e produtos capilares. Na
montra direita existe um espaço exclusivo aos produtos de ortopedia de grandes
dimensões.
2.4 Controlo dos prazos de validade
O processo de controlo do prazo de validade dos produtos da farmácia é crucial por
dois motivos particulares: garantir a comercialização do produto e ao mesmo tempo, caso
seja necessário, tentar substituir o produto junto do fornecedor se possível. O controlo dos
prazos é feito em duas alturas distintas: durante a receção das encomendas e por outro
lado mensalmente, sendo que ambos têm a intervenção do sistema informático. Sempre
que um produto entra na FCC, a sua validade é tida em conta, corrigindo-se sempre que
for necessário. Para além do mais, mensalmente é emitida uma lista com os MNSRM cujo
prazo de validade está a acabar dentro de 6 meses.
No caso dos produtos armazenados dentro do sistema robótico, a sua maioria
MSRM é possível pedir pelo ecrã de controlo a remoção de produtos com determinadas
características e entre elas encontram-se os produtos cujo prazo expira dentro de 3 meses.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 10
A devolução destes produtos normalmente tende a ser algo mais simples do que os
restantes. Durante o meu estágio tive a oportunidade de realizar o controlo dos prazos de
validade mensalmente, tarefa que para além de contribuir para a qualidade da gestão dos
stocks foi importante para começar a reconhecer os locais onde os produtos eram
guardados.
2.5 Informação
Sempre que surgiam dúvidas ou questões sobre determinados medicamentos que
necessitassem de uma pesquisa, no imediato, profissionais da FCC recorriam ao uso da
internet para consultar os sítios mais indicados: site do INFARMED: (www.infarmed.pt), o
o site da Food and Drugs Administration (www.fda.gov). Por outro lado, o Prontuário
Farmacêutico era outra fonte de informação muito útil, muitas vezes usada para discutir
questões colocadas pelas Farmacêuticas. Sempre que era possível, recorria-se à
informação disponibilizada pelos Delegados de Informação Médica. Durante o estágio,
houve situações em que necessitei de recorrer à informação disponibilizada nestes
panfletos, principalmente nos produtos de higiene oral tal como Bexident®.
3. Dispensa de produtos
3.1 Dispensa de Medicamentos
Os medicamentos apresentam um estatuto salvaguardado na lei portuguesa e são
divididos em MSRM e MNSRM. O medicamento tem objetivo prevenir ou curar, através da
alteração de processos ou mecanismos metabólicos do organismo.
3.1.1 Medicamentos Sujeitos a Receita Médica
Fazem parte desta categoria todos os medicamentos que “possam constituir um
risco para a saúde do doente, direta ou indiretamente, mesmo quando usados para o fim
a que se destinam, caso sejam utilizados sem vigilância médica;” [5]. Este tipo de
medicamentos é de venda exclusiva nas farmácias e obrigatoriamente tem de ser
apresentada uma receita de um prescritor. Os MSRM apresentam um PVP já pré
estabelecido, que não pode ser alterado nas farmácias.
3.1.1.1 Receita médica
A receita médica (RM) é um documento essencial na dispensa de MSRM. De facto,
é necessária a sua presença para a se proceder a dispensa da medicação em causa já
que se trata de um “documento através do qual são prescritos, por um médico ou, nos
casos previstos em legislação especial, por um médico dentista ou por um odontologista,
um ou mais medicamentos determinados” [5].
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 11
A prescrição por Denominação Comum Internacional (DCI) passou a ser obrigatória
a partir de 2012, centralizando-se a atenção na escolha farmacológica, o que contribuiu
para um maior uso racional do medicamento. A prescrição por nome comercial só pode ser
feita nos casos em que não há medicamentos similares, não há medicamentos genéricos
com comparticipação ou mediante uma justificação entre três possíveis: a) medicamentos
com margem ou índice terapêutico estreito que devem constar na lista da Autoridade
Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P. (INFARMED); b) Suspeita,
comunicada ao INFARMED de intolerância a um medicamento com a mesma substancia
ativa; e por fim c) Medicamento destinado a assegurar a continuidade de um tratamento
com duração estimada superior a 28 dias. É salvaguardada a mediação do profissional de
saúde que dispensa, ou seja caso a prescrição não apresente a justificação devida ou
esteja mesmo ausente, a dispensa será feita como se DCI se tratasse. No caso dos
MNSRM, a prescrição já pode incluir o nome comercial. No que refere a esta situação,
muitas vezes questionava o utente se pretendia mesmo o medicamento em questão ou se
procurava outras alternativas, quer por razões económicas quer por outras razões [6].
Cada receita apenas pode ter quatro medicamentos diferentes e no máximo quatro
embalagens, mas cada medicamento só pode ter duas embalagens prescritas, exceto caso
seja dose unitária que neste caso pode ter até 4 por medicamento. Sempre que a RM de
um medicamento comparticipado não apresente as dimensões da embalagem em causa,
o Farmacêutico por lei deve dispensar a embalagem com menor quantidade [6].
Atualmente a prescrição de medicamentos é feita de forma eletrónica, contribuindo
para a segurança do sistema e dos doentes e facilita a comunicação entre os diferentes
profissionais de saúde. Para além da prescrição eletrónica existe ainda a prescrição
manual cuja utilização vai proceder até à sua desmaterialização. Esta é possível em quatro
situações: em caso de Falência informática; Inadaptação do prescritor; Prescrição no
domicílio; Até 40 receitas/mês. Da experiencia que obtive consigo concluir que a prescrição
eletrónica se revelou uma mais-valia na relação medico-farmacêutico-doente. A atenção
para este último é muito maior, uma vez que a leitura é extremamente mais fácil, permitindo
que o farmacêutico se concentre mais em quem mais precisa [6].
3.1.1.2 Ato da dispensa
A dispensa do medicamento começa pela validação da RM, isto é, no momento em
que o farmacêutico recebe a receita deverá verificar a sua constituição, identificando todos
os componentes essenciais desta desde o código de barras que terá de ser inserido no SI
(Anexo V), até aos pormenores como o máximo que o doente paga por medicamento ou a
data de validade. O farmacêutico deve então prontamente verificar a situação do doente
ou da pessoa que deseja levantar os medicamentos e informá-lo dos genéricos disponíveis
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 12
para a prescrição em questão referindo o mais barato (Por lei, a farmácia é obrigada a ter
em stock três medicamentos com a mesma substância ativa, forma farmacêutica e
dosagem, de entre os que correspondam aos cinco preços mais baixos de cada grupo
homogéneo). Dever-se-á ter em atenção ao regime de comparticipação, e caso seja
necessário solicitar o documento identificativo do regime em questão. No final da venda é
feita a impressão da receita e da declaração de receção dos medicamentos no verso da
receita que será assinada pelo utente e pelo farmacêutico, carimbada e datada. É também
impressa a fatura que tem de ser carimbada e assinada para ser validada. Este aspeto
sofreu uma alteração no início do ano fiscal. Até 2014, para fins de validade fiscal e de
despesas de saúde no Imposto sobre o rendimento das Pessoas Singulares (IRS), apenas
era necessário o nome da pessoa. A partir de 1 de janeiro de 2015 é necessário que a
fatura seja emitida com o nome e o número de contribuinte.
No caso do stock de um determinado medicamento se encontrar a zero a FCC
possibilita um serviço de reservas, pagas ou não, mediante a existência do medicamento
em questão no armazenista. Caso seja emitida uma reserva e esta seja paga, o stock
virtual irá ficar negativo, uma vez que foi pago um medicamento que não existia no
momento. Este ponto é importante para a conferência de encomendas, uma vez que dever-
se-á ter atenção aos medicamentos assinalados a vermelho, significando que estão
reservados para um doente. No momento em que o medicamento entra no SI, o stock é
reposto ficando a 0 e o utente apenas o tem de levantar.
É durante o ato da dispensa o farmacêutico deve proceder ao aconselhamento.
Este procedimento deve ser sempre o mais personalizado possível e adequar-se a cada
situação. Deverão ser fornecidas informações sobre a posologia do medicamento, método
de tratamento, outras informações como medidas terapêuticas não farmacológicas entre
outras. No meu estágio na FCC tive inúmeras oportunidades para realizar o atendimento
ao público, porém consegui desde muito cedo observar os profissionais da mesma a fazê-
lo. Sempre que realizei a dispensa de MSRM houve sempre apoio por aparte de toda a
equipa.
3.1.1.3 Comparticipações
O sistema de comparticipações do Sistema Nacional de Saúde (SNS) foi aprovado
pelo DL 48-A/2010, de 13 de Maio. A comparticipação dos medicamentos surge sempre
condicionada pelo seu valor terapêutico e pela sua vantagem económica. A
comparticipação assegurada pelo estado pressupõe a divisão em escalões. Os escalões
são Escalão A cujos medicamentos são comparticipados em 90%, Escalão B, 69%,
Escalão C, 37%, e Escalão D,15%. Estes escalões caraterizam grupos terapêuticos de
medicamentos que estão salvaguardados na Lei Portuguesa. A título de exemplo, os
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 13
medicamentos antineoplásicos vendidos nas farmácias estão incluídos no escalão A
enquanto os medicamentos do Aparelho Cardiovascular já se encontram no escalão B. A
lista dos medicamentos pertencentes a cada grupo são fixados em portarias. O valor
máximo de comparticipação é determinado pelo sistema de preços de referência e é
aplicado aos medicamentos dos grupos homogéneos. Cada um destes grupos é
constituído por medicamentos com a mesma composição qualitativa e quantitativa em
substâncias ativas, forma farmacêutica, dosagem e via de administração, no qual se inclua
pelo menos um medicamento genérico existente no mercado. O Preço de Referência
corresponde à média dos 5 preços mais baixos dos medicamentos que integram cada
grupo homogéneo. Até ao vigésimo dia do último mês de cada trimestre civil o INFARMED
publica a lista dos grupos homogéneos [7], [8].
Durante o meu estágio tornou-se essencial compreender o sistema de
comparticipações e rapidamente conseguir identificar o regime ou o subsistema de
comparticipação.
Para além destas situações existem ainda sistemas de complementaridade cujo
objetivo acaba por reduzir ainda mais o custo do medicamento para o doente, ou seja,
acrescem ao valor comparticipado pelo estado. Dentro destes destaca-se por exemplo
SAMS, EDP-SAVIDA, MEDIS-CTT que dizem respeito a acordos com a entidade patronal
e por outro lado podem existir seguros de saúde como o da Multicare ou da Fidelidade
Seguros. Como o nome indica, existe a complementaridade do SNS, ou seja, a receita é
igual e o utente tem de exibir o cartão de identificação para usufruir da comparticipação,
pelo que é necessário tirar uma fotocópia da receita onde deve constar o cartão em causa
(a RM original vai para o SNS enquanto que a cópia segue para a entidade responsável
pela complementaridade) [8].
3.1.1.4 Comparticipação de medicamentos – regime especial
Paralelamente ao regime normal de comparticipação, a lei portuguesa estabelece
o regime especial que prevê um aumento na percentagem de comparticipação em função
do beneficiário (pensionistas com baixos rendimentos) ou nos casos de determinadas
patologias. Muitas destas resultam em condições determinantes na vida dos utentes e a
respetiva medicação é considerada imprescindível para a sobrevivência. Nestes casos, a
lei portuguesa dita que o Estado salvaguarda todos os encargos com os mesmos
medicamentos. Os medicamentos destas patologias não estão todos disponíveis na
farmácia de oficina, existem diversos que são de dispensa exclusiva hospitalar. O site do
INFARMED disponibiliza uma Tabela detalhada sobre as patologias e a percentagem de
comparticipação correspondente (Anexo VI) [7-9].
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 14
As RM de pensionistas abrangidos por este regime devem apresentar a sigla “R” e
receitas de utentes abrangidos por um regime especial de comparticipação de
medicamentos em função de patologia com a sigla “O”.
A que tem maior visibilidade no ato do atendimento ao publico é a Diabetes, pelo
que o software disponibiliza um mecanismo facilitado para realizar as respetivas
comparticipações, porém é importante realçar doença de Alzheimer e a artrite reumatoide.
3.1.2 Compra, Armazenamento e Dispensa de Estupefacientes e
Psicotrópicos
Devido aos efeitos no sistema nervoso central, possibilidade de provocar
toxicodependência ou serem usados para fins ilícitos como tráfico ilegal ou contrabando,
os psicotrópicos e os estupefacientes acabam por estar ao abrigo de leis exclusivas que
exigem cuidados acrescidos durante todo o seu processamento. O DL nº 15/93 de 22 de
janeiro estabelece esses mesmos cuidados para além de salvaguardar o regime jurídico
aplicável ao seu tráfego e consumo. A compra por parte da farmácia é feita de igual forma
como para os restantes produtos. Porém, no momento da receção e juntamente com as
faturas, existe um documento alusivo a estes produtos, contendo um código específico
(Anexo VII). Este documento surge em duplicado e deve ser assinado e carimbado pelo
Diretor técnico, sendo arquivado na Farmácia durante três anos, Aquando da dispensa
devem ser obtidos os seguintes dados: do médico: o nome e morada, o nº de inscrição na
Ordem dos Médicos, data e a assinatura; enquanto do doente: nome, morada, sexo, idade,
Número de Identificação Civil e por fim por parte da pessoa que processe ao levantamento
da medicação é igualmente necessário o nome, morada, sexo idade e número de
identificação civil. Por lei, apenas o Farmacêutico, ou o substituto em caso de impedimento,
pode aviar receitas com psicotrópicos ou estupefacientes. A RM, tal como já referido
anteriormente, deverá ser identificada pela sigla RE – receita especial (Anexo VIII) e
apenas pode apresentar o medicamento em questão. Cada receita só pode ter o
medicamento classificado como psicotrópico ou estupefaciente. No ato da venda para além
de ser necessário fotocopia-la, são também emitidos documentos que terão de ser
armazenados na farmácia durante um período de três anos. A receita original no que diz
respeito à comparticipação tem o tratamento semelhante das restantes, pelo que segue
para o Centro de Conferência de Faturas. O farmacêutico deve ainda até ao 8º dia do mês
seguinte elaborar um relatório onde irão constar todos os fármacos deste tipo dispensados
assim como segundo a lei um duplicado de cada receita, e deve enviar esse mesmo
documento para o INFARMED [10-12].
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 15
3.1.3 Receituário
Mensalmente é necessário proceder à conferência do receituário. Este
procedimento tem como fim obter a percentagem de comparticipação corresponde ao
Estado e os procedimentos estão salvaguardados na Portaria nº 193/2011. Quando as RM
são processadas pelo SI, cada uma recebe um número e um lote. Cada lote é composto
por 30 receitas. Os lotes apresentam códigos que que têm diferentes características, como
por exemplo o lote 10 corresponde às receitas normais e o 15 aos pensionistas (Anexo IX).
Ao longo do mês, os profissionais da FCC tentam manter estes lotes organizados,
facilitando o processo anteriormente referido. É enviado até ao 10º dia de cada mês para
o Centro de Conferência de Facturas (CCF), que está sobre a alçada da Administração
Central do Sistema de Saúde (ACSS): as RM, a Relação resumo de lotes, os Verbetes de
identificação de lotes e a factura mensal dos medicamentos vendidos. No que diz respeito
à fatura mensal, são enviadas a ACSS quatro cópias. Esta entidade reenvia à farmácia
duas cópias carimbadas: uma para arquivo e outra para a Associação Nacional de
Farmácias (ANF), entidade que no caso da FCC colabora no caso das
complementaridades [13], [14].
Com a implementação da RM eletrónica, conceito e procedimento que não tive
oportunidade de constatar, o sistema passará a ficar integrado nacionalmente e a
conferência de receituário passa a ser evidentemente mais simples.
3.2 Medicamentos Não sujeitos a Receita Médica
Segundo a lei portuguesa, consideram-se MNSRM todos aqueles que não
cumpram os requisitos necessários para serem considerados MSRM. Estes medicamentos
devem ser usados em situações menores, muitas vezes auto limitadas e devido a isso
contêm indicações para situações de automedicação salvaguardada na lei. No que diz
respeito à comparticipação e salvo algumas exceções, os MNSRM não são
comparticipados. O INFARMED, além do mais, disponibiliza através do seu website uma
lista atualizada diariamente dos MNSRM. [1]
Muitas vezes durante um aconselhamento, o Farmacêutico pode ver-se na situação
de indicar um medicamento desta classificação, e, para tal, é fundamental garantir a
segurança do doente. Por outro lado as medidas não farmacológicas nunca devem ser
negligenciadas. Durante o meu estágio foram diversas as vezes que esta situação
aconteceu. Nestes casos alertava sempre para o facto de as situações para as quais
seriam usados certos MNSRM deveriam ser de curta duração. Sempre que surgisse algo
anormal, os doentes deveriam recorrer ao médico. Na verdade, muitas pessoas escolhem
a Farmácia com a finalidade de procurar um aconselhamento profissional, evitando os
centros de saúde ou hospitais com grandes filas de espera. O farmacêutico, como é óbvio,
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 16
não é o profissional perito em diagnóstico e portanto deve ter sempre uma abordagem
cuidadosa em todos estes casos: procurar saber o tempo de duração dos sintomas, a
causa dos mesmos, se são situações repetitivas. Tudo isto para poder fazer a escolha mais
acertada que por vezes é apenas uma indicação para uma ida ao médico. É importante
referir que existem situações em que o doente pede um medicamento por iniciativa própria.
Esta tendência advém muitas vezes de opiniões externas ou publicidade alusiva. O
farmacêutico deve perante isso averiguar qualquer malefício que o medicamento possa
provocar ao utente em questão, tentando adquirir informação para conseguir aconselhar
da melhor maneira possível. Na FCC assisti igualmente à mudança da sazonalidade dos
produtos, durante os primeiros três meses, muitas pessoas procuravam alívio dos sintomas
gripais procurando inclusivamente medicamentos com publicidade televisiva como o
Cêgripe® (Janssen-Cilag®) ou Strepfen® para alívio da dor de garganta (Reckitt Benckiser
Healthcare®). Já em abril começou a existir uma maior afluência para os cremes, assim
como anti-histamínicos [5].
3.3 Outros produtos de saúde
3.3.1 Medicamentos de uso veterinário
O DL n.º 184/97, de 26 de Julho [15] salvaguarda o regime jurídico dos
medicamentos veterinários onde é descrito que o medicamento veterinário é todo o
medicamento destinado aos animais. O farmacêutico também tem aqui um papel
importante já que muitas vezes as pessoas dirigem-se diretamente à farmácia antes de
consultar o médico veterinário. Na FCC os medicamentos veterinários mais procurados
são as pílulas contracetivas e os desparasitantes.
3.3.2 Medicamentos manipulados
Segundo o Estatuto do medicamento: “Considera-se medicamento manipulado
qualquer fórmula magistral ou preparado oficinal preparado e dispensado sob a
responsabilidade de um farmacêutico.” Os medicamentos manipulados (MM) são regidos
por leis próprias e por um guia de boas práticas a observar na preparação de
medicamentos manipulados em farmácia de oficina e hospitalar, salvaguardada pela
Portaria n.º 594/2004, de 2 de Junho. Devido ao baixo afluxo de medicamentos
manipulados requisitados pelos utentes, a FCC celebrou no passado acordos com outros
fornecedores de MM. O preço de venda ao público [16], [17] é calculado pela forma
presente no decreto-lei: fórmula: (Valor dos honorários + Valor das matérias-primas + Valor
dos materiais de embalagem) x 1,3, acrescido o valor do IVA à taxa em vigor (Anexo X).
Na FCC, são manipulados os medicamentos considerados mais simples e cuja
rotatividade justificam as matérias-primas. No decorrer do meu estágio, tive a oportunidade
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 17
de realizar algumas manipulações É essencial ter em atenção aos lotes e a todas as
validades assim como verificar as condições em que as matérias-primas estão. Os lotes
devem ser corretamente registados na ficha de preparação. Por outro lado, devem-se ter
em atenção as características de cada um dos componentes para evitar ao máximo perdas
desnecessárias que se convertem em prejuízo para a própria farmácia. O passo seguinte
é rotular a embalagem (Anexo XI). Nesta deverão constar as seguintes informações: nome
e morada da farmácia, o nome do diretor técnico, a data da preparação, a fórmula do
manipulado com as respetivas quantidades de substâncias ativas usadas, o prazo de
validade, o número de registo e o preço. Sempre que for necessário: agitar antes de usar
ou nos casos devidos: uso externo ou uso veterinário. O cálculo do preço está descrito na
Portaria nº. 769/2004, de 1 de Julho que é elaborado através do auxílio de uma folha de
cálculo. Durante o meu estágio tive oportunidade de realizar um manipulado, estando a
ficha de preparação em Anexo XII [17].
4 . Serviços farmacêuticos disponíveis
Devido à crescente procura de algo mais do que o atendimento e aconselhamento
farmacêutico dentro de uma farmácia, estes espaços estão cada vez mais a optar por
oferecer aos utentes novos serviços. Desta forma, conseguem proporcionar-lhes um
espaço polivalente, permitindo que a farmácia se torne cada vez mais num local de
disponibilização de serviços de saúde.
Os serviços a disponibilizar por uma farmácia estão salvaguardados na Portaria n.º
1429/2007, de 2 de novembro. A FCC apesar de tudo consegue proporcionar alguns
serviços dos quais destaco: análises bioquímicas, e consultas de nutrição por um
profissional da área de duas em duas semanas com marcação prévia [18].
4.1 Determinação de parâmetros bioquímicos e fisiológicos
A FCC apresenta no gabinete de boas práticas todo o material essencial para a
determinação de simples parâmetros bioquímicos (colesterol total, Triglicerídeos e
Glicémia), assim como parâmetros fisiológicos (Pressão arterial). Durante o período de
estágio diversas foram as oportunidades para fazer as dadas medições. Sempre que o
fazia, zelava pelo bem-estar da pessoa procurando ter conversas confortáveis para permitir
o melhor ambiente possível. Seguidamente às medições procurava esclarecer duvidas que
os doentes pudessem ter e essencialmente alertava para as terapias não farmacológicas
que poderiam realizar de maneira a contribuir para a melhoria da sua qualidade de vida. O
farmacêutico deve ter uma atitude formativa e informativa, devendo tentar obter
informações sobre o estilo de vida e alimentação.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 18
4.2 Consulta de Nutrição
A FCC disponibiliza de duas em duas semanas os serviços de uma nutricionista
através de consultas previamente marcadas. Normalmente, às quartas-feiras, é
disponibilizado o gabinete de boas práticas para a Nutricionista como local de trabalho para
as suas consultas. Nestas consultas é feita uma análise à alimentação e hábitos de vida
da pessoa que solicitar a consulta, e, de acordo com os resultados que a nutricionista achar
mais conveniente é feito um aconselhamento alimentar sobre a situação em causa
4.3. ValorMED e recolha de radiografias
A ValorMED é o Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens e de
Medicamentos fora de prazo de validade ou fora de uso, após consumo, e contribui desta
forma para uma causa ambiental e de saúde, garantindo a eliminação das embalagens
fora das suas condições normais. O programa desenvolvido por esta sociedade conta
ainda com a ajuda da Indústria farmacêutica assim como dos distribuidores e da população.
A sociedade em causa distribui os contentores às empresas de distribuição de
medicamentos que os fornecem as farmácias. Desta forma, a OCP no caso da FCC é o
intermediário. A FCC faz também a recolha de radiografias sem valor de diagnóstico ou
com mais de cinco anos. A FCC não tem o contentor ValorMED exposto na sua área de
atendimento, mas as pessoas sentem-se sensibilizadas e muitas vezes perguntam se é
possível deixar medicamentos estragados ou fora de prazo. No momento de troca do
contentor, um dos impressos fica na farmácia (Anexo XIII)
4.4. Prospeção de serviços
No âmbito da oferta de serviços, procurei junto dos responsáveis da FCC ter uma
atitude ativa, já que pode ser a chave para o crescimento da própria farmácia. Elaborei,
então, um curto questionário sobre quais os serviços que os utentes gostariam de ver a
FCC disponibilizar. Era um questionário simples, anónimo e muito rápido de elaborar, já
que o cliente apenas teria de colocar uma cruz nos serviços desejados. (Anexo XIV) Este
curto inquérito foi disponibilizado nos balcões de atendimento e continha uma série de
serviços plausíveis a serem introduzidos e no verso apresentava muito brevemente o intuito
e o objetivo destes serviços. Para além de novos, incluiu também serviços já
disponibilizados o que permitiu retirar conclusões sobre a capacidade da farmácia em
publicitar-se. Foram respondidos 64 inquéritos de um total de 80 impressos. Destes
conclui-se que os serviços mais procurados pelos utentes da FCC seriam as consultas de
nutrição e alimentação desportiva e coração saudável. Estes resultados podem ser
justificados pelo facto da existência de um ginásio com uma média de frequentadores muito
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 19
significativa e por outro lado a existência do Hospital Privado da Trofa nas imediações do
GaiaShopping.
5. A importância do relacionamento com colegas, utentes
e outros profissionais
Apesar do impacto que a profissão farmacêutica tem na saúde das populações, a
verdade é que sendo a farmácia um estabelecimento comercial, esta é dependente dos
seus utentes e portanto, a apresentação ao público é fundamental. Por outro lado, a forma
como os seus profissionais se relacionam com a população que servem pode torna-se
numa plataforma de segurança para a própria farmácia. Os utentes dão muita importância
a forma como são atendidos e recebidos na farmácia. Quando se sentem confortáveis e
com confiança muitos deles acabam por desenvolver conversas com temas fora do âmbito
da farmácia em si. A verdade é que tais momentos permitem uma maior “fidelização” do
cliente. O cliente como gosta do serviço, vai voltar ao mesmo local. Uma grande parte da
população idosa que usufrui dos serviços da FCC tem uma relação próxima com os
profissionais desta. Ao longo dos anos, foram construídas pontes de comunicação que
facilitam não só o trabalho do farmacêutico como os problemas aos doentes. De facto,
inclusivamente, consegui desenvolver com alguns utentes esta ligação e assim, apercebi-
me da importância da mesma para a farmácia. Acima de tudo, o farmacêutico não pode
estar sempre a espera que chegue o cliente conhecido. Deve, por isso, optar por uma
postura natura tentando comunicar o mais abertamente possível, adaptando-se sempre ao
seu utente. Por outro lado deve-se sempre salvaguarda a privacidade do doente em
questão. O código deontológico da Ordem dos Farmacêuticos chama igualmente a atenção
para a questão ética da profissão farmacêutica assim como o dever de sigilo perante o
doente.
Os profissionais da FCC foram extremamente importantes para o desenrolar da
minha aprendizagem. Graças a eles consegui perceber a importância de uma relação
profissional-utente para o sucesso da farmácia comunitária.
6. Marketing e Publicidade
As farmácias portuguesas apresentam uma serie de mais vaias no que diz respeito
a publicidade e a disposição dos seus produtos. Certas marcas ou laboratórios, de acordo
com os contratos celebrados podem exigir que os seus produtos sejam colocados em
locais mais apelativos do que outros, como por exemplo, os locais imediatamente atrás dos
balcões de atendimento ou então em montras. Durante o período em que estive na FCC
foi-me explicado que as montras e os locais de exposição têm diferentes funções e
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 20
relevâncias, podendo a sua elaboração estar inteiramente da responsabilidade do
laboratório (Anexo I) até outros casos em que apenas se colocava imagens alusivas. Zonas
ao nível dos olhos ou em áreas mais iluminadas podem ser igualmente exigidas pelos
laboratórios. Devido à localização da FCC, existe uma concorrência bastante desnivelada,
e desde logo se destaca a Well’s® imediatamente em frente. Os utentes muitas vezes
pediam o aconselhamento profissional na FCC e dirigiam-se ao Hipermercado para ir obter
os mesmos produtos, mas de forma mais barata.
No decorrer do meu estágio várias foram as oportunidades para aprender nas
diversas formações a que assisti. Estas formações eram elaboradas pelos delegados de
informação na própria farmácia ou formações exteriores através de inscrição prévia tal
como as formações ISDIN® ou PharmaNord®. O âmbito destas ações é dar a conhecer aos
farmacêuticos e aos demais profissionais de saúde novos produtos ou então rever alguns
conceitos sobre determinadas matérias, mas sempre focando nos produtos oferecidos pela
marca.
7. Outras atividades
Campanha dia do Pai
No dia 19 de março de 2014, no âmbito do dia do pai, a FCC desenvolveu uma
campanha de descontos nos produtos masculinos na ordem dos 15%. Para esta campanha
elaborei um simples panfleto publicitário para exposição na montra e que se encontra em
Anexo (Anexo XV).
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 21
Parte B - Casos de Estudo
1. Campanha de sensibilização sobre as Doenças
Cérebro-cardiovasculares: Hipertensão, Acidente
Vascular Cerebral e Enfarte do Miocárdio.
A FCC serve um perfil de utentes com as mais variadas doenças, porém as que
mais se destacam são, evidentemente, as cérebro-cardiovasculares. Por ser um tema
muito delicado sugeri o desenvolvimento de uma campanha junto desta mesma população
composta por um conjunto de panfletos ilustrativos do tema. Várias poderiam ser as
doenças a abordar, porém restringi-me àquelas que me pareciam mais conhecidas da
população e que de certa maneira as mais intriga.
1.1 Objetivos
Os objetivos deste projeto passaram por alertar a população sobre o acidente
vascular cerebral (AVC), a hipertensão e o enfarte agudo do miocárdio (EAM) abordando
as características e sintomas mais típicos, etiologia e terapias não farmacológicas,
destacando, sempre que possível, a importância do esforço pessoal do doente na
resolução do problema. Foi também dado ênfase à sua prevalência assim como à
perigosidade das mesmas. A campanha serviria, de igual forma, para alertar a população
para os fatores de risco assim como uma breve explicação da farmacoterapia de cada
doença. Esta campanha teve início em março e prolongou-se até ao final do meu estágio.
1.2 Introdução
As doenças cérebro-cardiovasculares (DCCV) constituem-se como autênticos
flagelos nas sociedades modernas. A alimentação desequilibrada associada a uma vida
de sedentarismo são duas das principais atitudes de risco que podem desencadear estes
problemas, porém, a verdade, é que existe muito mais do que isto.
As DCCV são um conjunto de doenças do coração e dos vasos sanguíneos,
incluindo os cerebrais e apresentam um largo conjunto de fatores de risco e complicações
associadas, sendo que o que mais se destaca é a aterosclerose. Este grupo de doenças
pode ser divido de acordo com os ambientes e órgãos em que se desenvolvem as lesões:
doença cardíaca coronária, cerebrovascular, arterial periférica, doença cardíaca reumática
e malformações congénitas [19]. As duas doenças cardiovasculares que mais se destacam
acabam por ser o EAM e o AVC [20].
A OMS estima que até 2030, 23 milhões de pessoas morram anualmente devido a
doenças cardiovasculares. E ao mesmo tempo, a mesma organização defende que as
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 22
doenças cardiovasculares podem ser prevenidas com mudanças do comportamento das
pessoas em relação aos fatores de risco [21].
1.3 Epidemiologia geral
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte a nível mundial,
seguidas das doenças neoplásicas e das infeções respiratórias. Estima-se que estas sejam
responsáveis por cerca de 29,6% das mortes no mundo todo. Em 2012, 17,5 milhões de
pessoas perderam a vida devido às doenças cardiovasculares, sendo que 7,4 seriam
devido a doenças coronárias e 6,7 devido ao AVC [22].
Em Portugal, a Direção Geral de Saúde no seu relatório refente a 2014 continua a
apontar as doenças do aparelho circulatório como as principais causas de morte da
população, conseguindo chegar aos 30,4% dos óbitos (Anexo XVI), seguidas dos tumores
neoplásicos e das doenças do foro respiratório. Também é dado destaque a outras
doenças mais específicas: o enfarte agudo do miocárdio e o acidente vascular cerebral.
Tal como é possível observar no Anexo XVII, Portugal tem a segunda taxa de mortalidade
devido a DCCV mais elevada da europa, contudo as estatísticas apontam para uma
tendência redutora no número de óbitos devido a Doenças cerebrovasculares ou
isquémicas cardíacas (Anexo XVIII). Apesar disso em 2012, 13020 pessoas foram vítimas
fatais do AVC e 4348 do EAM [23].
1.4 Fatores de risco e prevenção
Os fatores de risco de uma doença dividem-se em dois tipos: modificáveis como os
hábitos de vida ou não modificáveis como a idade ou o género. A prevenção de uma
doença ou de uma anomalia é caracterizada pela altura em que estas atitudes são
tomadas. Se é tomada uma atitude antes de a doença estar instalada, então trata-se de
prevenção primária, como por exemplo, o exercício físico regular para evitar a obesidade.
Por outro lado, quando a doença está instalada, as atitudes passam a ser incluídas na
prevenção secundária: aspirina diária para evitar a agregação plaquetária ou formação de
oclusões. As DCCV estão interligadas e os seus fatores de risco também. De facto, a
importância da prevenção e limitação dos fatores de risco contribui para uma redução muito
significativa do número de vítimas, e o farmacêutico tem um papel muito importante nesse
sentido. As doenças cardiovasculares apresentam fatores de risco major, ou seja, fatores
cuja redução ou eliminação diminui significativamente o risco associado: Diabetes mellitus,
Hipertensão, Dislipidemias, Tabagismo e Obesidade. Em Anexo (Anexo XIX) encontra-se
uma Tabela contendo os principais fatores de risco major para as doenças
cardiovasculares [24].
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 23
1.4.1 Fatores de risco não modificáveis: Idade, género e história familiar
Os fatores de risco não modificáveis apenas servem como alerta para a situação e
não propriamente como algo contra o qual se possa lutar. A verdade é que quando se
pensa em DCCV, associa-se logo a pessoas de idade com problemas crónicos, muitas
vezes, polimedicadas. A idade está também associada a uma diminuição significativa dos
processos fisiológicos do organismo, podendo dar origem a um diverso número de
condições de saúde adversas e doenças [25], [26]. Por outro lado, com o avançar dos anos
aumenta a exposição a quaisquer outros fatores de risco inerentes. Inclusivamente, o teste
SCORE, desenvolvido por Anderson et al., que através de uma série de fatores de risco
como o sexo, idade, tabagismo, colesterol e hipertensão permite estimar o risco de uma
pessoa em 10 anos ter um evento cardiovascular fatal ou não, coloca os jovens como o
grupo de menor risco (Anexo XX) [27], [28]. A guideline europeia para a prevenção das
doenças cardiovasculares considera que a idade e o género masculino são fatores
propensos a este tipo de doenças
A história familiar é um fator de risco independente. Considera-se que as pessoas
que tenham um histórico familiar em primeiro grau de DCCV ou morte devido a estas,
acabam por ter um risco acrescido caso esses familiares sejam homens com menos de 55
anos ou mulheres com menos de 65. De facto, esta premissa é sustentada por diversos
estudos desenvolvidos nas últimas décadas tais como: INTERHEART, Framingham,
Physician's Health, entre muitos outros, considerando que este fator aumenta em 40 a 60%
o risco de desenvolver DCCV.
1.4.2 Obesidade
A obesidade é considerada uma doença do século XXI e tem aumentado
significativamente entre a população adulta e infantil. O Índice de Massa Corporal (peso
em quilograma/ (altura em metros) 2, normalmente designado por IMC, classifica como
excesso de peso valores compreendidos entre 25 a 29.9 kg/m2 e obesidade como todos
os valores superiores s 30kg/m2. Este índice é conhecido pela comunidade, porém é
importante ter outros em mente como o Gordura Corporal ou Perímetro Abdominal. De
facto, deve-se evitar ao máximo o aumento de peso caso o homem tenha mais de 94
centímetro de perímetro abdominal ou 80 centímetros no caso das senhoras. Pessoas com
excesso de peso apresentam ainda o metabolismo e o equilíbrio dos lípidos alterado:
verifica-se um aumento da Low density Lipoprotein Cholesterol (LDLc), triglicerídeos e uma
diminuição dos High Density Lipoprotein Cholesterol (HDLc) [27].
É importante dar destaque as características endócrinas que a gordura abdominal
tem, nomeadamente através da adipocinas e outras moléculas associadas. A gordura intra-
abdominal potencia a resistência à insulina e aumenta outros fatores de risco tais como
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 24
hipertensão ou aterosclerose. Por fim, o objetivo da campanha passava também por alertar
para a apneia do sono que está muito relacionada com a obesidade e fomenta problemas
tais como disfunções ventriculares e arritmias que contribuem em muito para a mortalidade
[25].
1.4.3 Hipertensão
A hipertensão para além de ser uma doença é também considerada um dos fatores
de risco mais significativos no que toca a doenças cardiovasculares, já que os doentes
estão mais suscetíveis a outros eventos [29]. Um estudo de corte em 1,25 milhões de
pessoas com 30 anos ou mais sem DCCV, incluindo 20% dos quais tinham uma
hipertensão controlada concluiu que dos doentes com hipertensão tinham um risco de
desenvolver uma doença cardiovascular de 63.3% comparando com risco de 46,1%
relativamente aos não hipertensos [30]. A hipertensão é responsável por 54% dos AVC e
47% dos eventos isquémicos cardíacos [31]. Muitas vezes este problema encontra-se
associado a outros fatores de risco para DCV como diabetes ou dislipidemia. Apesar de
tudo continua a ser o mais previsível e apresenta bons indícios de reversibilidade.
A pressão arterial caracteriza-se por diversos fatores e o estudo Farmingham
delineou a importância destes no que diz respeito a previsão do risco de DCCV. Em
doentes com menos de 50 anos, a pressão diastólica é o principal fator a ter em conta,
porem dos 50 aos 59 os três tipos referidos são fundamentais para avaliar o risco. Por fim
acima dos 60 anos, a pressão de pulso torna-se o principal fator [32].
É fundamental alertar a população para os riscos inerentes. Durante o decorrer do
estágio verifiquei que as pessoas medicadas limitavam a sua terapia ao medicamento que
estavam a fazer segundo ordens do médico, evitando alterar o seu estilo de vida.
1.4.4 Inatividade física
O sedentarismo e a reduzida atividade física são outros fatores de risco
modificáveis. A OMS aponta para que 60% da população mundial não tenha atividade física
suficiente. Este comportamento é potenciador de outros fatores de risco como obesidade
ou dislipidemias, sendo por isso ainda mais preocupante. A falta de exercício físico é
responsável por aumentar o risco de EAM em 12% e o risco de AVC em 29% [33], [34].
A atividade física melhora um vasto conjunto de fatores tais como o HDLc, pressão
arterial, perda de peso, e resistência a insulina entre outros. E inclusivamente no trabalho
torna-se importante tentar realizar exercício físico. Pessoas com níveis de atividade física
moderadas, nestas situações, apresentam um risco mais reduzido [35]. Porém,
infelizmente, na Europa, a obesidade está a crescer muito significativamente, e para além
do mais, muitos são os doentes que não conseguem atingir os objetivos pretendidos,
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 25
revelando um sério problema de saúde pública [36]. O farmacêutico deve ter um caráter
preponderante no âmbito deste fator de risco. Deve dar alguns conselhos simples de
melhoria da condição física, começando por alertar para os benefícios inerentes. Contudo
deve-se ter sempre em atenção às pessoas que não realizam qualquer exercício físico de
forma regular. O início da prática de exercício físico deve ser ponderado e por etapas.
Existe um risco acrescido de EAM em pessoas que começam exercícios físicos muito
vigorosos sem qualquer preparação prévia. Esta prática deve evoluir durante o tempo até
se adaptar a pessoa. Nesta altura, obviamente, o exercício físico regular irá diminuir o risco
de DCCV [37]. Durante o estágio muitas vezes deparei-me com pessoas que não faziam
qualquer exercício físico. De facto, o exercício deve ser praticado de forma regular durante
30 a 60 minutos, pelo menos quatro vezes por semana [38].
1.4.5 Diabetes Mellitus
A Diabetes é uma doença de proporções mundiais e um fator de risco major em
para as DCV. A hiperglicemia, resistência à insulina ou hiperinsulinemia são responsáveis
por induzir ou aumentar problemas macrovasculares como a aterosclerose ou
microvasculares como neuropatias ou nefropatias. As pessoas com diabetes têm uma
prevalência de 77%-87% de hipertensão, 74%-81% de elevação do LDLc e 66%-67% de
obesidade, sendo, de facto, uma condição extremamente preocupante. As partículas de
LDLc podem à semelhança da hemoglobina, ser glicosiladas, caraterística que aumenta o
tempo de semi-vida destas partículas e o seu efeito nefasto [39]. O estudo INTERHEART
demonstrou que a diabetes está presente em 10% da população suscetível a um EAM. A
prevenção dos problemas cérebro cardiovasculares é feita da mesma maneira que as
pessoas sem diabetes, com exceção obviamente do controlo glicémico [25].
1.4.5 Lípidos
A forma como a alimentação influencia as doenças cardiovasculares não se revela
apenas no peso corporal como também toda a composição dos fluidos e do organismo,
dos quais os lípidos têm uma grande relevância. Os lípidos sanguíneos, normalmente
associados a lipoproteínas têm uma grande relevância na doença aterosclerótica,
excetuando o HDLc, que, de facto, tem a atividade oposta. A evidência que a redução do
LDLc no plasma contribui para a redução do risco cardiovascular é inequívoca e diversos
estudos epidemiológicos já o provaram. De uma maneira geral, pessoas com o colesterol
total acima de 190 mg/dL e cujo LDLc está acima de 115 mg/dL devem iniciar terapia
farmacológica para atingir valores ideais. Este pressuposto é ainda mais evidente em
pessoas de alto risco (com outros fatores associados). A redução do colesterol tem um
impacto enorme na qualidade de vida das pessoas, e o facto de essa redução corresponde
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 26
a uma relação dose resposta no que toca aos fármacos, ajuda muito mais no incentivo a
uma mudança dos hábitos de vida. Uma meta analise demonstrou que por cada 1.0 mmol/L
de LDL que era diminuído no sangue, existia uma redução de 20 a 25% na mortalidade
associada a doenças cardiovasculares [40].
O farmacêutico deve estar sempre atento às dislipidemias, uma vez que muitas
destas complicações tendem a ser hereditárias. A importância destas é de tal forma
enorme que o estudo INTERHEART concluiu que contribuíam com um aumento em 49%
do risco de sofrer um EAM [41].
1.4.6 Fatores inflamatórios e Trombóticos
Este grupo de moléculas tem sido cada vez mais estudada, sendo dividas em
inflamatórios como a proteína C reativa ou o fibrinogénio e trombóticos. No que diz respeito
à proteína C reativa, a sua presença é indicativa de fenómenos de inflamação, que
associados ao fibrinogénio podem perspetivar a existência de placas ateroscleróticas ao
longo dos vasos sanguíneos, revelando um risco para doenças cardiovasculares [42].
No que toca aos fatores trombóticos destacam-se a homocisteina e a fosfolipase
A2. A homocisteina apesar de se considerar um fator independente pode facilmente ser
comuflado por outras caraterísticas como doenças renais ou estilo de vida. Tratamentos
com vitamina B demonstraram ser uteis na sua redução [43].
1.4.6 Tabaco e álcool
O tabaco é um fator risco major no que toca a doenças cardiovasculares. O seu
consumo é um hábito comum europeu e as pessoas que fumam comportam um risco
SCORE que duplica em relação àquelas isentas deste hábito. Este risco é associado a um
efeito dose-resposta, e assim sendo, quanto mais pior [44]. Um estudo com mais de 10000
doentes com os diâmetros das artérias carótidas diminuídas concluiu que o tabaco estava
associado a 50% da progressão desse problema comparativamente ao mesmo problema
nos não fumadores. Nos sujeitos apenas expostos ao fumo do tabaco revelou-se um
aumento de 20% [45]. O risco de DCCV em homens e mulheres que fumam 20 cigarros
por dia comparando com os que não fumam é três vezes a seis vezes maior,
respetivamente.
O mecanismo pelo qual o tabaco afeta a aterosclerose pode passar,
eventualmente, por indução de radicais livres. Por outro lado, o tabaco ativa o sistema
simpático levando a um aumento do ritmo cardíaco, da pressão arterial e da vasoconstrição
coronária [46]. Porém, o tabaco entre outros malefícios potencia os efeitos da aterosclerose
ao ativar o estado protrombótico pela inibição do facto ativador do plasminogénio [47].
Reduz as propriedades elásticas dos vasos sanguíneos, além de potenciar o fibrinogénio
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 27
e aumentar os níveis de proteína C reativa. Por fim, é importante dar ênfase ao monóxido
de carbono que tem capacidade de se ligar ao grupo Heme da hemoglobina, impedindo a
normal oxigenação dos tecidos.
No que diz respeito ao álcool, a verdade é que vários estudos de corte demonstram
que o álcool em proporções pequenas ou moderadas tem um efeito protetor para as
doenças coronárias, em comparação com as pessoas que não bebem ou bebem demais
[48]. Os efeitos do consumo do álcool devem ser controlados e equilibrados com outros
problemas de saúde inerentes aos doentes como cancro ou cirrose hepática. De uma
maneira geral o álcool consegue ter efeito protetor por exemplo no AVC ou prejudicial como
na hipertensão.
1.4.7 Dieta
A dieta e os alimentos ingeridos são uma das formas mais simples que as pessoas
têm em começar a precaver-se das DCCV. De facto, o INTERHEART demonstrou que 14%
da população abrangida pelo estudo não incluía frutas e vegetais na sua alimentação,
sendo que estes dois últimos produtos têm demonstradas provas inequívocas da sua
utilidade na prevenção cardiovascular [35].
O consumo de carnes vermelhas e o descuido no peixe ou nos vegetais contribuem
fortemente como os principais erros na alimentação. A alimentação preferencial deve
seguir a dieta DASH, rica em frutas e vegetais, e baixa em gorduras. Esta dieta tem o nome
do estudo que a desenvolveu, Dietary Approaches to Stop Hypertension (DASH).
Apesar de o longo dos últimos anos ter sido associado um risco acrescido das
gorduras saturadas nas doenças cardiovasculares, a verdade é que o debate permanece
na comunidade científica. No ano transato, uma meta análise de 76 ensaios contando com
650000 participantes concluiu que não existem evidências que apoiem a maioria das
guidelines internacionais sobre o tema em causa, defendendo ainda que o risco
cardiovascular é independente do tipo de gordura ingerida [49]. No que toca as fibras, estas
estão associadas a uma redução do risco de DCCV. Por fim, nota ainda para o consumo
de café e descafeinado que tem um efeito neutro nas doenças cardiovasculares [50].
1.5 Hipertensão
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), trata-se de uma condição
adversa do sistema cardiovascular caracterizada por um aumento significativo da pressão
arterial de forma persistente. De cada vez que o coração bombeia o sangue para o corpo,
os vasos sanguíneos, por diversas razões, oferecem resistência à sua passagem, pelo que
a pressão necessária para garantir o normal funcionamento do sistema é, nestes casos,
sucessivamente maior [21], [51], [52]. O relatório da OMS refere a hipertensão como o fator
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 28
responsável pela morte de 9,4 milhões de pessoas todos os anos, correspondendo a 45%
das mortes relacionadas com doenças de coração, onde África lidera os continentes em
termos de prevalência, estando a Europa imediatamente a seguir. Em Portugal é estimada
uma prevalência de 42%, sendo mais comum em homens do que em mulheres. A zona do
Alentejo a mais fatigada por este problema [51], [53-55].
1.5.1 Pressão arterial: fisiologia
Por definição, a pressão sanguínea arterial é um fenómeno caracterizado pela
resistência oferecida ao ventrículo esquerdo do coração quando este bombeia o sangue
para a artéria aorta. Durante o mecanismo da impulsão do sangue, a pressão vai aumentar
até chegar a um máximo ao qual se dá o nome de pressão sitólica. Pouco após este pico
de pressão observa-se o nó ou incisura dicrótica que corresponde ao fecho da válvula
semilunar, seguido de um ligeiro aumento antes da pressão arterial chegar aos seus
mínimos a qual se caracteriza por pressão arterial diastólica. À medida que o sangue se
afasta do coração, a pressão vai diminuindo progressivamente (Anexo XXI) [56].
A diferença entre a pressão arterial sistólica e a diastólica dá origem a pressão
arterial de pulso, ou seja a amplitude dessa diferença. É importante não confundir com
pulsação arterial, um conceito diferente que se refere ao conjunto de ciclos de relaxamento
e constrição dos vasos sanguíneos e pode ser examinado em vários locais do corpo, sendo
muito útil em casos de emergência [56], [57].
Os doentes hipertensos de uma maneira geral apresentam a resistência vascular
periférica aumentada. Por sua vez o volume de sangue bombeado pelo ventrículo
esquerdo (stroke volume) vai sendo progressivamente menor. Nestes estados é também
comum uma redução da compilance quer arterial quer venosa. O resultado final acaba por
ser um aumento do esforço do coração para um volume de sangue progressivamente
menor [56], [57]. Em contraste pode ocorrer uma perda de sangue que vai desencadear
igualmente uma resposta de contra regulação que termina num aumento da pressão
arterial para equilibrar a diminuição de volume (Anexo XXII).
A hipertensão, normalmente, aparenta estar relacionada com a diminuição do
lúmen intersticial dos vasos sanguíneos, o que aponta para a já referida aterosclerose,
associada a estilos de vida pouco saudáveis [56].
1.5.2 Alterações fisiopatológicas
O coração e os vasos sanguíneos estão sujeitos, na hipertensão, a alterações
hemodinâmicas que vão desencadear consequências estruturais. As células cardíacas e
vasculares são expostas a uma tensão que se traduz num stress na parede em que essas
células estão inseridas. Para aliviar esse stress existem duas opções: ou se aumenta a
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 29
espessura da parede como contra efeito ou se aumenta o volume da câmara. Desta forma,
o processo que tem por nome remodelação cardíaca é estabelecido pelas alterações na
estrutura destes tecidos devido a modificações hemodinâmicas ou hormonais. Apesar de
o coração ter a capacidade de responder aos estímulos quer através da hipertrofia quer
através da atrofia, normalmente a remodelação está associada à primeira possibilidade.
Esta hipertrofia caracteriza-se por aumento da massa dos cardiomiócitos isoladamente ou
em conjunto e muitas vezes acarreta alterações bioquímicas [57]. Existem 3 processos
possíveis de hipertrofia dentro da remodelação cardíaca: Hipertrofia concêntrica,
excêntrica ou mista [58]. Por outro lado podemos caracterizar estes processos de acordo
com a origem: patológicas, por exemplo devido à hipertensão, ou então fisiológicas. De
qualquer forma, estes processos são frequentemente associados a um aumento da massa
muscular [59]. Para além das células em necrose e processos fibróticos que ocorrem em
paralelo com a remodelação, estes tecidos, normalmente, apresentam alterações
bioquímicas muito significativas. Por fim, o processo misto, normalmente, ocorre após uma
isquemia cardíaca [58]. A importância das alterações fisiopatológicas no coração tem sido
debatida na comunidade científica, porém atualmente existe uma evidência: o uso de
terapia anti-hipertensora melhora significativamente o risco associado à hipertensão
consegue diminuir ou atrasar as alterações cardíacas a que o coração estaria sujeito.[60]
Por outro lado, as artérias são mais suscetíveis as alterações hemodinâmicas e por
consequente à própria remodelação. Mecanismos como por exemplo a aterosclerose ou a
sensibilidade ao sódio são mais significativos nestes tecidos. Ao contrário da remodelação
cardíaca, o conceito de remodelação vascular tem vindo a ser constantemente revisto. A
remodelação vascular foi proposta em 1985 por Janice M. Pfeffer onde só eram
consideradas as alterações ao diâmetro do lúmen do vaso sanguíneo. O longo dos anos a
comunidade científica tem considerado outras alterações, o que permitiu o aparecimento
de conceitos como a remodelação eutrófica, caracterizada por uma alteração (bioquímica
e celular) nas paredes dos vasos sem alteração das funções, ou então a remodelação
hipertrófica caso haja apenas um aumento do material que constitui o vaso. Por fim, se
houver uma diminuição deste mesmo material, assiste-se a uma hipotrofia. Estes dois
últimos conceitos podem ser acompanhados por comprometimento das funções
vasculares. Se forem consideradas apenas as modificações no diâmetro do lúmen do vaso
pode-se falar em remodelação externa (aumento do diâmetro) ou remodelação interna
(diminuição do diâmetro). Nos doentes hipertensos, o processo mais comum é uma
remodelação interna eutrófica. Porém nos diabéticos hipertensos, o problema ainda está
em discussão, observando-se remodelações muito díspares na população. As alterações
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 30
vasculares contribuem para os problemas nos órgãos inerentes à hipertensão assim como
os problemas na microcirculação [61].
1.5.3 Tipos de hipertensão
A hipertensão é um fenómeno que pode ser subdivido em diferentes tipos. A
pressão arterial primária, que corresponde a 90% dos casos e não apresenta uma razão
concreta da sua existência, isto, é não tem a sua origem noutras doenças tal como a
hipertensão secundária tem. Porém julga-se que um largo número de fatores genéticos
estão inerentes ao seu aparecimento. Por exemplo, nos casos em que aparenta ser
hereditária, normalmente existem distúrbios nos sistemas fisiológicos envolventes como o
sistema renina angiotensina, ou em distúrbios genéticos renais [56]. A hipertensão primária
era designada essencial já que existia a necessidade de fazer circular o sangue com uma
determinada pressão para conseguir ultrapassar vasos sanguíneos com impedimentos
como placas ateroscleróticas. Assim era “essencial” esta pressão, porém essa
denominação caiu em desuso e hoje em dia usa-se Hipertensão Primária e Secundária. A
Hipertensão Secundária pode ter origem em diversas doenças como doenças renais,
apneia do sono, aldosteronismo primário, doenças renais crónicas, doenças da tiroide
entre outros [42], [43].
1.5.4 Avaliação e Classificação
De acordo com o valor da pressão arterial podemos classificar a hipertensão. Desta
forma, e seguindo a Sociedade Portuguesa da Hipertensão apresenta-se a Tabela 2 que
esquematiza essa mesma avaliação [62]:
Tabela 2 Classificação dos tipos de hipertensão
1.5.5 Diagnóstico
O diagnóstico é feito através da análise aos valores de tensão arterial obtidos.
Porém, o risco da pessoa acaba por ser ponderado não só com estes valores mas também
com uma avaliação dos danos noutros órgãos. Contudo, não basta apenas uma medição
da pressão arterial para diagnosticar hipertensão. A normal monitorização de uma pessoa
saudável requer medições em espaços de tempo com intervalos substanciais. A task force
Tipo Pressão sistólica Pressão diastólica
Óptima <120 <80
Normal 120-129 80-84
Normal Alta 130-139 85-89
Hipertensão, fase 1 140-159 90-99
Hipertensão, fase 2 160-179 100-109
Hipertensão, fase 3 >180 >110
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 31
norte americana para o controlo da hipertensão admite que todas as pessoas que tenham
a pressão arterial normal devem fazer um controlo a cada dois anos, enquanto os pré-
hipertensos devem fazê-lo anualmente [63]. Contudo, a Quality and Outcomes Framework
britânica aponta para a verificação a cada 9 meses.
A OMS aconselha o uso de aparelhos eletrónicos que possibilitem medição manual,
sendo de evitar outras alternativas tais como equipamentos com mercúrio. Para se efetuar
o diagnóstico, a pessoa deve medir a sua tensão arterial em dois momentos do dia, duas
vezes separadas por um minuto entre si. Normalmente é feito ao longo de 5 dias. Porém é
necessário realçar situações que podem complicar a análise do doente. O efeito “Bata-
Branca” ou mesmo a Hipertensão camuflada são algumas delas. O primeiro caracteriza-se
por uma elevação da tensão arterial apenas no consultório e a pessoa no seu dia-a-dia tem
a pressão arterial normal. Não se sabe muito bem qual é a prevalência deste síndrome
mas os indícios apontam para 25% a 45% das medições das pressões arteriais elevadas
[64].
1.5.6 Tratamento farmacológico
A fim de corrigir a hipertensão, deve-se inibir ou reduzir os mecanismos
responsáveis pela sua elevação ou então pode-se sempre diminuir o volume de água no
corpo, isto é, diminuindo por isso o volume do próprio sangue com o uso de diuréticos.
Outra linha terapêutica acaba por ser a intervenção no sistema nervoso autónomo ao
administrar bloqueadores dos recetores β do coração. Dentro dos diferentes grupos de
antihipertensores existentes, os diuréticos, os inibidores da enzima conversora da
angiotensina (IECAs), os antagonistas dos recetores da angiotensina, os bloqueadores da
entrada do cálcio e os bloqueadores beta são considerados antihipertensores de 1ª linha
[38]. A norma orientadora da DGS para o tratamento da hipertensão arterial [38] afirma que
a terapia farmacológica deve iniciar-se com: um diurético tiazídico como a hidroclorotiazida
ou a indapamida; Como segunda opção destaca os IECAS (como o ramipril) ou o
Bloqueador do Receptor da Angiotensina (BRA) como o Losartan; Pode ser ainda usado
um bloqueador da entrada de cálcio. Para fins de potenciar os efeitos terapêuticos a norma
aponta ainda para a possibilidade da conjugação do IECA com um BRA, porém deve ser
feita em situações específicas como inadaptação a prescrição ou resistência. As
associações são também usadas nas situações que existe um risco mais acrescido. Destas
associações destacam-se diurético ou um bloqueador da entrada de cálcio juntamente
com um BRA ou IECA [38],[65]. Os bloqueadores β não são usados para o tratamento
inicial da hipertensão, mas sim para casos de insuficiência cardíaca ou doença coronária.
Por fim, é importante referir alguns casos específicos: pessoas com diabetes não podem
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 32
fazer diuréticos sob risco de desidratação, aconselhando-se um IECA ou um antagonista
do sistema renina angiotensina.
1.5.7 Tratamento não farmacológico e Aconselhamento Farmacêutico
No que diz respeito à terapia não farmacológica, esta acaba por ter de ser sempre
implementada e devidamente encorajada. De facto, a terapia não farmacológica pode levar
a resultados excecionais e é função do farmacêutico como agente de saúde aconselhar os
doentes neste tipo de situações. Destacam-se alterações tais como reduzir o consumo de
sal, aumentar o exercício físico, reduzir o consumo de álcool, adotar uma dieta saudável e
perder peso. Estas 5 alterações são fulcrais para o sucesso de uma terapia anti hipertensa.
Durante o desenvolvimento do tema na farmácia, tentei dar enfase a estas 5 medidas
associando-lhes um valor de impacto [66]. O Eight Report of the Joint National Committee
on prevention, detection, evaluation, and treatment of high BP (JNC-8) aponta algumas
alterações, destacadas na Tabela 3:
Tabela 3 Redução da pressão arterial obtida em diferentes atitudes
Redução na pressão arterial
Redução do consumo de sal 2,8 a 8 mmHg
Dieta DASH 8 a 14 mmHg
Exercício Físico 4 a 9 mmHg
Redução do consumo de álcool 2 a 4mmHg
Perda de peso 5 a 20 mmHg
. Sempre que me deparava com doentes hipertensos em terapia tentava incentivar
os mesmos a optar por medidas não farmacológicas. Muitas vezes verifiquei que esses
doentes não tinham quaisquer conhecimentos sobre os benefícios destas terapias e
limitavam-se a cumprir o mínimo ou seja a tomar o antihipertensor prescrito e a reduzir o
sal. Os doentes mais “recentes” são os mais suscetíveis a estes conselhos e ao mesmo
tempo conhecem melhor os efeitos nefastos da sua condição de saúde [25]. A perda de
peso e a redução do consumo de sal são duas atitudes que melhoram significativamente
o risco associado à hipertensão. É importante dar incentivo a uma vida saudável, tentar
induzir o doente a alterar os seus estilos de vida e reforçar a ideia de que mesmo difícil é
possível. E por outro lado, torna-se fundamental que o doente compreenda a importância
do tratamento [67], já que um doente informado vai respeitar melhor a terapia do que um
doente mal informado.
O farmacêutico pode e deve ainda ajudar ao controlo periódico da hipertensão. Na
vertente farmacológica em si, é dever deste profissional alertar para os efeitos secundários
que possam eventualmente surgir. Depende, como é óbvio do tipo de fármaco usado, da
sua classe e da própria tolerância pessoal. Entre os efeitos secundários destacam-se os
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 33
mais comuns, ou seja a hipotensão postural e impotência. Ainda se destaca a diurese no
caso dos anti hipertensores do grupo dos diuréticos tiazídicos (HTZ) e o cansaço assim
como a sensação dos pés frios no caso dos bloqueadores beta [68]. Por outro lado dever-
se-á alertar para a duração do tratamento que obviamente será prolongado.
Na vertente da campanha desenvolvi um panfleto (Anexo XXIII) com algumas
informações sobre a doença em si, para além de conselhos não farmacológicos. Este
panfleto foi o mais bem-sucedido do grupo, revelando grande interesse por parte dos
doentes. Foram impressos 30 panfletos, dos quais não restou nenhum, e muitas vezes era
questionado sobre a possibilidade de elaborar mais panfletos e de outros temas. As
pessoas abordavam os profissionais da FCC referindo que desconheciam o enorme
impacto das terapias não farmacológicas e pediam outros conselhos para além dos
referidos.
1.6 Aterosclerose no AVC e no Enfarte agudo do Miocárdio
Quer o AVC quer o EAM estão, na sua maioria das vezes, associados a um
processo que, normalmente, apresenta um bloqueio lipídico de um vaso sanguíneo,
tornando-se importante entender o mecanismo do mesmo. A verdade é que devido à
postura das sociedades em relação ao modo de vida e à alimentação, pode-se dizer que
os eventos ateroscleróticos iniciam-se mesmo logo na adolescência [69], [70]. A
aterosclerose é um processo multifatorial que afeta os vasos sanguíneos do sistema
cardiovascular. Tem início com uma disfunção endotelial associada a um
comprometimento dos fatores anti-trombóticos e fatores vasodilatadores essenciais à
manutenção dos vasos sanguíneos, assim como da adesão de moléculas ricas em lípidos
(efeito em cascata). Estas moléculas podem, também, ser alvos de processos oxidativos.
De facto, estes processos são responsáveis não só por permitir a deposição das moléculas
como é o caso da oxidação do LDLc, mas também vão dar origem ao aumento, por
exemplo, dos radicais lives que têm um papel nocivo (o ião hipoclorito pode por exemplo
modificar o HDLc, diminuindo significativamente a sua capacidade de transporte de
colesterol). Estes lípidos vão induzir a proliferação de moléculas quimiotáticas que com o
auxílio das moléculas de adesão, permitem o depósito de células inflamatórias como
macrófagos e linfócitos, que por sua vez aumentam o efeito quimiotático e ao mesmo
tempo que tentam eliminar os lípidos, acabam por os acumular (foam cells). O colagénio
presente nessas camadas vai dar firmeza às placas que se vão formando. Porém, o
conteúdo em lípidos destas placas vai variando e aquelas que apresentam um núcleo rico
em lípidos vão ter um risco acrescido de causar uma lesão ao sofrer uma rotura e produzir
um trombo desencadeando um processo inflamatório [70]. Caso a formação destes
trombos seja constante estamos perante uma doença trombótica ou tromoembólica tem
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 34
como principais consequências o AVC e o EAM. O resultado de uma lesão na placa de
ateroma pode ser: cicatrização, aumentando de tamanho mas não o suficiente para
produzir uma oclusão e neste caso a lesão vai acumular as células necrosadas, e
posteriormente a placa continua a aumentar de tamanho, ou desencadear processo
inflamatório de tal ordem que bloqueia completamente o vaso sanguíneo constituindo um
risco de vida concreto. Em Anexo (Anexo XXIV) encontra-se uma Figura que ilustra artérias
coronárias com dois tipos de lesão aterosclerótica. Pode-se identificar dois tipos de
patologias dentro da formação de um trombo de acordo com a localização do mesmo:
arterial ou venoso. O primeiro constituído por fibrina geralmente está associado a
aterosclerose. O trombo venoso já tem fisiopatologias mais distintas podendo
inclusivamente movimentar-se e dar origem a outras complicações [71].
1.7 Acidente Vascular Cerebral
1.7.1 Fisiopatologia
Considerada uma das mais devastadoras consequências quer da hipertensão quer
da aterosclerose, o acidente vascular cerebral (AVC), mais conhecido por AVC, é uma
condição patológica caracterizada por uma isquemia cerebral. Quando isto acontece, o
cérebro não recebe oxigénio na zona afetada e as células entram em hipoxia, acabando
por iniciar processos de necrose. É possível dividir o AVC em três tipos de acordo com a
sua fisiopatologia e com o tempo de duração. Assim, temos AVC hemorrágico, AVC
isquémico e Ataque isquémico transiente. O AVC isquémico ocorre quando o vaso
sanguíneo fica bloqueado e o sangue não consegue fluir, e corresponde a 90% dos AVC.
Muitas vezes, este tipo de AVC ocorre devido a placas ateroscleróticas que entram em
processo de rotura e induzem inflamação. Este processo quando ocorre no cérebro é
também conhecido por lipo-hialinose, cuja hipertensão é fator predisponente.
Normalmente, este tipo de AVC ocorre em vasos sanguíneos com tarefas de irrigação nas
zonas mais internas do cérebro como a gânglios basais ou o tálamo. O AVC hemorrágico,
tal como o nome indica é originado a partir de uma hemorragia, ou seja um vaso sanguíneo
já fragilizado sofre uma rotura. Normalmente são vasos com problemas anteriores como
aneurismas e malformações. Finalmente, o ataque isquémico transiente tem a mesma
fisiopatologia do AVC isquémico porém prolonga-se por um espaço de tempo curto, sendo
também designado por “mini-avc”, porém a sua distinção tem sido colocada um pouco de
lado nos últimos anos já que as medidas de prevenção para ambos os tipos [72], [73].
1.7.2 Sintomas
A associação norte americana do AVC aponta para um acrónimo “FAST” que
identifica 4 rápidas atitudes a verificar e a ter. São elas o desvio facial, falecia muscular
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 35
num membro superior, dificuldade no discurso e por fim pedir ajuda a equipas de
emergência médica. E a sociedade em geral associa muito esse tal desvio a um problema
relacionado com o AVC. Mas para além dos sintomas referidos deve-se ter em atenção
que a falência muscular pode ocorrer para além da face, na perna ou mesmo num lado
inteiro do corpo. É importante identificar eventuais perdas bruscas de alguma capacidade
como a visão, tato ou mesmo a capacidade para entender o discurso das outras pessoas.
Perda de equilíbrio, vómitos, febre e dor de cabeça severa com perda de consciência
[74],[75].
1.7.3 Diagnóstico
O diagnóstico do AVC não se resume apenas aos sintomas que a pessoa pode
apresentar. É importante efetuar uma Tomografia Computorizada que através de uma série
de raios-X permite saber a localização exata do problema. É possível também efetuar-se
uma ressonância magnética, que também consegue descrever imagens de órgãos e no
caso do AVC, localizá-lo. O teste aos ultrassons das artérias caróticas também auxilia na
produção de uma imagem através de ultrassons, identificando possíveis falhas. Porventura
poderão ser efetuados outros testes como eletrocardiograma ou análises sanguíneas para
análise médica [76], [77].
1.7.4 Tratamento Farmacológico
Os eventos Trombóticos podem ser tratados recorrendo a três tipos de fármacos:
anticoagulantes, anti-agregantes plaquetários e fármacos fibrinolíticos [71].
No que diz respeito aos antiagregantes plaquetários, o ácido acetilsalicílico é o
fármaco de escolha em profilaxia do tromboembolismo arterial ou doença cardiovascular
de longa duração, já que inibe mais de 95% da síntese de tromboxano X2, um potente
vasoconstritor que atua como mediador da coagulação. O clopidogrel, que faz parte das
tienopiridinas está indicado na prevenção de acidentes trombóticos assim como na
prevenção do AVC isquémico, para além de ser o fármaco usado quando se verifica
resistência à aspirina. O dipiridamol é um vasodilatador que interfere com a função
plaquetar pelo aumento da concentração celular de adenosina monofosato cíclico (AMPc)
por inibição das fosfodiesterases. Não tem qualquer benefício por si mesmo, mas
associado à varfarina usa-se na profilaxia da doença tromboembólica em doentes com
próteses valvulares. Em Portugal, preparações de libertação modificada têm sido
autorizadas para a prevenção secundária de AVC isquémico e de acidentes isquémicos
transitórios. Os anticoagulantes são expressivamente mais usados no tratamento de
trombos venosos, porém deve ser dado destaque aos usados em profilaxia de AVC:
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 36
rivaroxabano (inibidor directo do factor X), Sulodexida composto heparinóide com diversos
locais de ação, Varfarina como antivitaminico K entre outros [71], [78].
Durante o AVC, uma zona cerebral passa a ficar sem oxigénio criando-se uma zona
de isquemia cerebral. A essa zona dá-se o nome de centro de isquemia e a principal
medida a ser tomada é uma reperfusão sanguínea da zona afetada. Assim sendo, e como
90% dos AVC são causados pelo bloqueio do fornecimento de oxigénio, através de um
trombo, a terapia inicial será a trombólise através de agentes trombolíticos como o
alteplase (ativador tecidular do plasminogénio, destrói a rede de fibrina formada). Tem de
ser administrado até 6 horas após um acidente cerebral oclusivo em doentes selecionados
por angiografia e os seus efeitos reduzem a mortalidade ou a dependência. Apesar de
tudo, os agentes trombolíticos estão mais indicados para a terapia do enfarte agudo do
miocárdio e embolia pulmonar que não requeira intervenção cirúrgica.
Para além de terapia fibrinolítica de emergência existem terapias que recorrem a
meios mecânicos para destruição do trombo. Porventura, a terapia do AVC pode também
ser acompanhada de heparina e varfarina [77-79].
Apesar de esta ser a terapia convencional, facilmente é possível compreender que
tirando a terapia fibrinolítica, a verdade é que não existe muito mais terapia imediata para
além desta, e mesmo assim o rácio risco benefício deve ser ponderado. Na verdade, a
terapia com alteplase comporta riscos de outras hemorragias intracranianas. É
exclusivamente usada para situações em que a pressão arterial do doente é superior a
185/110 e tem obrigatoriamente de descer.
1.7.5 Tratamento Não Farmacológico e Aconselhamento Farmacêutico
O tratamento não farmacológico do AVC baseia-se num conjunto de atitudes que a
pessoa pode ter quer antes como doente de risco quer depois. De facto, as terapias não
farmacológicas do AVC não são muito diferentes das demais terapias para evitar as DCV,
isto é, intervenções a nível do estilo de vida e dar preferência a atitudes saudáveis.
No que toca à reabilitação pós-AVC esta é salvaguardada pela norma nº 054/2011,
onde é dado ênfase à medicina física e a reabilitação.
O AVC pode ter efeitos devastadores a nível de sequelas e a forma como os
profissionais de saúde intervêm é fundamental para que o doente consiga melhorar. É aqui
que o farmacêutico pode ter o papel mais ativo, alertando a população e contribuindo para
a melhoria do estado de saúde. A reabilitação pós AVC depende sempre do doente: deve-
se identificar os objetivos, estabelecer um plano e fundamentar a ajuda. A DGS aponta
para a necessidade de ser evidenciado o grau de severidade do AVC baseando-se para
tal nas consequências por estas provocadas. Existem para tal escalas estandardizadas
usadas pelos médicos: índice de Barthel e/ou escala de Medida da Independência
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 37
Funcional (MIF) (Anexo XXV) que permitem igualmente estabelecer o plano terapêutico a
seguir. Assim existe: Ligeiro (MIF > 80; Barthel > 90) Moderado (80 > MIF > 40; 90 > Barthel
> 55) e, por fim, grave (MIF < 40; Barthel < 55). Estes níveis podem sugerir o local de
tratamento, já que no AVC ligeiro o doente é encaminhado, preferencialmente, para
tratamento hospitalar ambulatório ou centro de reabilitação da área da residência e no AVC
moderado já existe indicação para internamento hospitalar especializado [80].
Na Farmácia, o profissional de saúde deve alertar para os riscos de uma falha na
terapia e incentivar a mudanças de estilo de vida se assim for o caso. Normalmente, os
doentes de AVC são sempre acompanhados pelo cuidador e é nesta pessoa que se pode
também focar o interesse do farmacêutico: deve recolher informação sobre a forma de vida
do doente, autonomia e independência, e chamar a atenção para eventuais situações que
possam ser alteradas. Muitas vezes os cuidadores tendem a sobrestimar os doentes e a
realizar as tarefas por eles. O farmacêutico deve chamar a atenção de que a terapia não
farmacológica pode passar por incentivos à recuperação e permitir que o doente tende
realizar as tarefas por si mesmo. O incentivo aos objetivos é fundamental. Porém, de facto,
o farmacêutico não é o terapeuta, logo o aconselhamento deve também não se estender a
outras áreas de menor compreensão. Assim sendo devem ser fornecidos aos doentes
outras ajudas como indicações de associações ou estabelecimentos de terapia ajduvante
[73].
Na FCC notei que as pessoas que procuravam a “aspirina diária” eram muitas vezes
pessoas obesas e portanto, em risco acrescido para um evento cardiovascular. Poucas
eram as que tinham cuidado com a alimentação e não tinham atenção a quaisquer outros
fatores de risco, razões que me incentivaram ao alerta destas doenças e do AVC em
particular. Com esta finalidade, foi então, elaborado um panfleto informativo,
disponibilizado em Anexo (Anexo XXVI). Novamente foram impressos outros 30
exemplares, sendo que a procura se limitou mais a pessoas mais velhas, muitas vezes
com fatores de risco associados. Curiosamente muitas vezes procuravam saber mais
sobre mecanismos de ação dos fármacos em si, revelando estarem muito à vontade nas
terapias não farmacológicas.
1.8 Enfarte Agudo do Miocárdio
O Enfarte Agudo do Miocárdio faz parte de um conjunto de consequências da
Doença Coronária, que é a principal causa de morte a nível global. [27] A morte por EAM
ou a isquemia cardíaca tem diminuído nas últimas décadas, porém, na Europa e na Ásia,
4 milhões de pessoas morrem anualmente devido a doenças coronárias [22].
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 38
1.8.1 Fisiopatologia
À semelhança do AVC, o EAM é um evento clínico consequente a uma isquemia
prolongada, porém neste caso nos cardiomiócitos [81]. A morte destas células não ocorre
num momento exato. O tempo estende-se até aos 20 minutos. Porém para ser detetada
quer macroscopicamente quer microscopicamente numa situação post-mortem serão
necessárias 2 a 4 horas [81].
Quando ocorre o bloqueio de uma artéria coronária, o fornecimento de sangue fica
comprometido. Geralmente, observa-se um enfarte agudo do miocárdio com elevação do
segmento ST (correspondente ao tempo isoelétrico que estabelece a despolarização dos
ventrículos) quando a formação do trombo é rápida e promove a oclusão total do vaso
sanguíneo, surgindo então a elevação em causa. A sua progressão leva à elevação da
curva Q no Eletrocardiograma. De facto, o enfarte agudo do miocárdio ou uma isquemia
cardíaca podem ser representados por alterações nos seguimentos: PR, o complexo QRS,
a onda T e por fim o já referido seguemento ST [82]. Quando a oclusão não é total, estamos
perante um Enfarte Agudo do Miocárdio sem elevação ST (Anexo XXVII), que muitas vezes
se trata de uma Angina Instável.
1.8.2 Sintomas
Os sintomas dos diferentes tipos de isquemia cardíaca na qual se insere o EAM
são, apesar de tudo, semelhantes entre si, já que em todos eles ocorre um desequilíbrio
entre o fornecimento de oxigénio e o tecido [81]. Os sintomas tratam-se assim do resultado
desta perda de oxigénio que pode traduzir-se em dor localizada, ou combinações de dores
no peito, epigástricas e ocasionalmente irradia para o braço, associada a uma contante
perda de ar. Geralmente o desconforto tem uma duração superior a 20 minutos [82].
1.8.3 Classificação
O enfarte agudo do miocárdio tem uma classificação que pode ser um pouco
complexa e foge ao âmbito deste relatório, porém é importante distinguir e nomear os
diferentes tipos: Espontâneo, associado ao bloqueio de uma artéria que irriga o coração
devido a problemas como aterosclerose. Ocorre uma ulceração e uma quimiotaxia que
pode não se limitar a um simples local mas a vários impedindo a circulação sanguínea; O
Secundário, associado a uma maior necessidade de oxigénio por parte do coração, que
não é correspondida. Muitas vezes associado a doenças tais como Disfunção Coronária
endotelial ou taqui/bradicardias; Tipo 3 normalmente fulminante, é associado a sintomas
de enfarte mas os biomarcadores no sangue não estão elevados. Tipo 4 e tipo 5: Associado
a problemas preliminares com a vascularização. O tipo 4 divide-se em a) associado a uma
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 39
intervenção percutânea e o tipo b) formação de um trombo. O tipo 5 é tipo de enfarte cujos
valore dos biomarcadores são mais elevados [81].
1.8.4 Biomarcadores
Os marcadores biológicos ou também designados por biomarcadores são
moléculas que caracterizam determinados processos ou mecanismos biológicos, e entre
outras utilidades podem ser adjuvantes no diagnóstico de determinadas doenças. O
biomarcador de EAM ideal deve ter um aumento plasmático significativo e em poucas horas
de forma a facilitar a sua leitura [83]. A sociedade Americana de Bioquímica Clínica definiu
que o diagnóstico de enfarte agudo do miocárdio deve ser baseado em pelo menos dois
biomarcadores: um nas primeiras 6 horas após os sintomas e outro muito mais sensível e
específico para o dano do miocárdio cujo pico plasmático ocorra 6 a 9 horas após os
sintomas e permaneça elevado durante alguns dias [84].
Antigamente, eram usadas enzimas tais como a aspartato aminotransferase ou a
Lactato Desidrogenase (LDH) que tendencialmente foram substituídas pela creatina cinase
(CK). Apesar de serem sensíveis para os casos de morte celular, a verdade é que não
eram específicas para o dano do coração. No que toca a enzimas, atualmente usa-se a
CK, mas a sua isoforma cardíaca (CK-MB). As restantes isoformas da CK estão no cérebro
(CK-BB) ou no músculo esquelético (CK-MM). A CK-MB tem o seu aumento ao fim de 4-6
horas apos as dores no peito, chegando ao pico plasmático entre as 12 e as 24 horas.
Porém, os seus valores voltam ao normal ao fim de poucas horas. Em mais de 65% dos
doentes que sofrem EAM é possível observar um aumento da CK-MB.
Por outro lado, o diagnóstico pode ser feito recorrendo a proteínas cardíacas. A
mioglobina, troponinas cardíacas ou filamentos de miosina cardíacos são as proteínas com
mais relevância neste aspeto. A mioglobina é uma proteína que se liga ao oxigénio e faz
parte do grupo Heme estando presente na musculatura cardíaca e esquelética. É muito útil
para determinações precoces de dano tecidular, porém peca por especificidade, pelo que
não é possível, através do doseamento, saber exatamente se se trata de dano tecido
cardíaco ou muscular esquelético. Durante muitos anos, o doseamento da CK-MB
juntamente com a mioglobina foi usado de forma a conseguir uma forma de diagnóstico
especifica e em menos tempo [83]. Entre 1 a 4 horas é possível observar o seu aumento
plasmático, porém esta proteína aumenta em todas as vítimas de EAM. Todavia, os seus
níveis começam a voltar ao normal logo ao final de 18-24 horas [84].
Por fim, existem as troponinas cardíacas. Nas últimas duas décadas, o doseamento
sérico das troponinas cardíacas tem sido o principal biomarcador de morte de
cardiomiócitos As troponinas cardíacas, troponina T (TnT), Troponina I (TnI) e Troponina
C (TnC) são responsáveis por fazer a ligação com o cálcio e regular a contração muscular.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 40
Quando ocorre dano tecidular, estas proteínas são libertadas para a corrente sanguínea.
O seu aumento sanguíneo é concomitante com o aumento da CK-MB, porém ao invés
desta ultima que pode ser encontrada mesmo em pessoas saudáveis que, por exemplo,
pratiquem desporto de alta intensidade, as troponinas cardíacas são encontradas em caso
de dano cardíaco. A quantidade de Troponina (TnI principalmente) que é libertada para o
sangue é tal forma elevada faz dela um marcador eficaz, tornando-se fundamental em
doentes que por exemplo não procuram ajuda médica durante 2 ou 3 dias. A verdade é
que estas proteínas permanecem elevadas durante 7 a 10 dias [83], [84].
1.8.5 Diagnóstico
Quanto mais rapidamente o doente reconhecer os seus sintomas melhor. De facto,
o diagnóstico do enfarte agudo do miocárdio normalmente é feito através das análises aos
biomarcadores, eletrocardiograma e imagiologia, porém torna-se importante no âmbito do
caso de estudo apelar à necessidade das pessoas não esconderem os problemas. A
verdade é que os sintomas não são específicos do problema em causa. As pessoas
queixam-se de dores no peito ou no braço, atribuindo-lhes muitas vezes origens erráticas,
por exemplo, osteoarticulares ou mesmo gastrointestinais. De facto, existem exemplos de
pessoas que conseguem aliviar a dor através de antiácidos. É, portanto, essencial que o
doente tenha autoconsciência e peça ajuda médica no imediato. Os médicos tentam
sempre perceber se a dor persiste há mais de 20 minutos ou mais e sem responder à
nitroglicerina. É importante realizar o eletrocardiograma cardíaco o mais rápido possível
para despistar se o enfarte tem elevação ST ou não e se representa um risco de vida
severo ao potenciar arritmias [27], [85].
1.8.6 Tratamento Farmacológico
Uma vez diagnosticado o EAM é essencial começar com a terapia de emergência.
Esta terapia tem como objetivos o alívio da dor, controlar as alterações hemodinâmicas e
a anormalidades da circulação, e em certos casos iniciar a terapia de reperfusão com
intervenção percutânea coronária ou fibrinólise. A guideline europeia para o tratamento do
EAM dá igualmente enfase aos tempos intervalo entre o início dos sintomas graves e a
chegada da assistência que podem ser um obstáculo uma vez que os primeiros momentos
são fundamentais para o desenrolar dos tratamentos. De facto, se a reperfusão coronária
invasiva for delineada como o tratamento ideal de emergência então o tempo entre o
primeiro contacto com o médico até que este é administrado não deve ser maior que 90
minutos. Em emergência, para alivio das dores são usados analgésicos opioides, cujos
efeitos secundários como náusea ou vómitos acabam por ser tratados com anti eméticos
[25].
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 41
Em caso de falência cardíaca, hipoxia ou problemas respiratórios, o oxigénio pode
ser solução [27]. Porém este processo deve ser ponderado: em 2013 um estudo avaliou o
resultado de quatro ensaios com 430 doentes presumivelmente com EAM divididos em
dois grupos um com suplementação com oxigénio ou outro sem. Esta revisão concluiu que
não existia nenhuma redução significativa da mortalidade [86]. Por fim, nos doentes muito
nervosos, que se apercebem do risco da situação que estão inerentes pode eventualmente
ser fornecido um ansiolítico.
Numa fase posterior, é fornecida outro tipo de medicação: terapia com
antiagregantes plaquetários como a aspirina de forma a reduzir o risco de trombose
coronária. Em terapia de reperfusão também é fornecida esta medicação. Terapia com
agentes anticoagulantes é útil, mas a sua escolha não é simples. De facto, muitos estudos
nesta área acabam por se contradizer e não apontam nenhuma solução em concreto,
evidenciando sempre que é fundamental uma escolha de acordo com a terapia geral que
é feita. A heparina em grandes doses intravenosas demonstrou uma baixa utilidade, para
além das hemorragias provocadas. Outra opção trata-se de nitratos sendo útil para os
pacientes com dores muito persistentes. Os bloqueadores beta são usados em todos os
doentes com EAM com elevação ST com a exceção daqueles nos quais está
contraindicado, assim como a terapia com Estatinas [27],[87].
Por fim, destacam-se ainda outros grupos farmacológicos tais como antagonistas
do cálcio, antagonistas da aldosterona, entre outros
1.8.7 Tratamento Não Farmacológico e Aconselhamento Farmacêutico
O tratamento não farmacológico de um EAM deve passar pela consciencialização
do doente em relação à sua doença. O farmacêutico deve alertar para a duração do
tratamento do problema no seu âmbito fisiopatológico que será 5 a 6 semanas mas é
fundamental garantir que o doente altera o seu estilo de vida: parar imediatamente de
fumar, se necessário recorrendo a produtos farmacêuticos como tratamento de
substituição da nicotina. Assegurar uma boa alimentação equilibrada e não esquecer a
medicação prescrita em nenhuma altura. A verdade é que muitas vezes a circulação e o
transporte do sangue pode ficar comprometido. Deve ainda ser destacado o “paradoxo do
fumador”, isto é, fumadores que foram vítimas de EAM e necessitaram de terapia de
reperfusão têm prognósticos melhores do que os não fumadores. O Estudo International
Tissue Plasminogen Activator/Streptokinase Mortality que envolveu 2366 não fumadores,
2244 ex-fumadores e 3659 fumadores ativos concluiu que os não fumadores comparados
com os outros dois grupos tinham maior tendência para revelar complicações hospitalares
tais como AVC ou Hemorragias, assim como uma maior mortalidade em 6 meses do que
os fumadores ativos [88]. Contudo a verdade é que isto parte-se com dois fatores
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 42
essenciais: primeiro o hematócrito dos fumadores é maior, e a verdade é que os grupos
fumadores normalmente são pessoas com menos fatores de risco associados, uma vez
que normalmente este grupo tem uma idade menor do que os não fumadores. Como parte
da campanha de sensibilização encontra-se em Anexo o panfleto desenvolvido (Anexo
XXVIII). Os doentes que se interessavam por este panfleto, procuravam junto dos
profissionais da FCC detalhes mais específicos sobre as terapias não farmacológicas.
Muitas vezes deparava-me com pessoas assustadas com o risco e queriam alterar o estilo
de vida. Em suma, poder-se-á dizer que este panfleto foi aquele que conseguiu “alterar
mais” o estilo de vida. Algumas semanas após a implementação da campanha diversas
pessoas referiam que já tinham começado a seguir os conselhos e a alterar as rotinas
diárias.
Caso 2 – Riscos da automedicação
Este segundo caso de estudo desenvolvido durante o meu estágio seguia agora o
objetivo de alertar a população para o risco dos medicamentos e incentivar a procura de
ajuda. A principal ideologia assentava na seguinte premissa: “Saber o nome, não é o
mesmo que conhecer o medicamento”. Assim sendo foi essencial estabelecer um contacto
com as pessoas que passou pela elaboração de um panfleto de alerta sobre o mesmo
tema (Anexo XXIX). Tal como os casos anteriores, foram impressos 30 panfletos. Tendo
este um impacto diferente do esperado uma vez que os doentes comentavam com os
profissionais situações de risco que presenciavam em casa, junto de familiares ou amigos.
Muitas pessoas alertavam para a necessidade da farmácia ser o principal meio de luta
contra este problema.
2.1 Definição
A automedicação baseia-se na utilização de MNSRM, para aliviar algumas queixas
de saúde simples e sem gravidade. Esta prática está prevista na lei portuguesa e
inclusivamente existe um conjunto de situações passiveis de automedicação. Em 1998, a
OMS e a Federação Internacional da Farmácia definem-na como a prática através da qual
um individuo seleciona e usa medicamentos para tratar sintomas e problemas de saúde
simples, que são reconhecidos por ele próprio. Estas duas organizações incluem a auto
medicação dentro das práticas do self-care, ato de cuidar de si próprio [89].
Diversas são as situações em que as pessoas recorrem aos medicamentos para
aliviar sintomas desagradáveis ou indesejáveis, usando para tal a conhecimento próprio,
muitas vezes fundamentado em sofismas urbanos sem ponderação científica e
possivelmente com erros graves, ou então recorrendo à publicidade do quotidiano ou
amigos/familiares. São estas situações para as quais os profissionais de saúde devem
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 43
estar alertados e sendo a farmácia, muitas vezes, um local primário de saúde, é importante
dar realce à necessidade de cuidados com os medicamentos sejam eles quais forem.
Durante o meu estágio senti diversas vezes a necessidade de alertar a população para
situações em que eram requisitados os mais diversos medicamentos, muitas vezes MSRM,
cujo fundamento para o uso estaria errado [90].
2.2.Objetivo
Como já referido durante o meu estágio tive diversas vezes de alertar para
situações menos saudáveis e baseadas na automedicação. Este problema tinha uma
dimensão significativa o que me levou a elaborar um panfleto de forma a alertar a
população para os aspetos deste tópico de saúde por vezes olvidado.
2.3 Automedicação como mecanismo social
Especialistas afirmam que este fenómeno é característico de países desenvolvidos.
Cada vez mais os consumidores modernos tentam garantir um papel ativo na sua saúde,
controlando a farmacoterapia que fazem. A verdade é que ao tentar alterar uma condição
simples, sem o apoio profissional correto pode-se desenvolver um problema sério. Os
bloqueadores do recetor H2 da histamina, ou os corticosteroides tópicos, antifúngicos e
contraceção oral são alguns dos medicamentos mais abusados nestes casos.
Especialistas da área defendem que este comportamento se deve ao seguinte juízo: “não
é necessário um médico ou um farmacêutico e eu consigo tratar de mim próprio sozinho”.
Por outro lado existem razões tais como a compaixão pelos familiares, ou a desconfiança
perante os cuidados de saúde ou mesmo publicidade que induzem tais atitudes. Sylvie
Fainzang defende que a busca de medicamentos sem aconselhamento insurge-se devido
principalmente a prescrições prévias, internet e publicidade, o que pressupõe que um
individuo que escolhe um caminho farmacológico autónomo raramente se encontra
sozinho, sendo a ajuda externa essencial. Por outro lado, muitos países apresentam a
saúde como um bem essencial muito dispendioso, pelo que existe uma maior facilidade no
acesso aos medicamentos em geral (não são tão comparticipados), o que contribui
largamente para o seu consumo. Além do mais, as falhas nas restrições em certos países
menos desenvolvidos, acaba por permitir que e medicamentos como os antibióticos
acabam por infelizmente entrar nestas contas. Em Portugal, a publicidade física nas
farmácias ou a publicidade televisiva e radiofónica encontra-se legislada, além de que os
MSRM estão proibidos de ser publicitados, porém na Internet já se revela o oposto:
informação contraditória, pouco regulamentada e agressiva está disponível a todos [91].
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 44
2.4 Farmacoeconomia
Muitas das situações de automedicação caracterizam-se por abusos de MNSRM.
Em 2014, o mercado de MNSRM representou 211,60 milhões de euros dentro dos 2,439
milhões de euros correspondentes ao mercado total de medicamentos em Portugal. E a
tendência de crescimento é enorme [92]. 2008 foi o primeiro ano em que as vendas
mundiais de MNSRM foram maiores do que os MSRM [90], [93]. Os fatores económicos
têm impacto grande neste assunto: desde serviços de saúde muito dispendiosos, maiores
conhecimentos na área, entre outros. Porém, apesar de todas as contra indicações que
esta prática pode ter, a verdade é que acaba por promover uma diminuição dos custos
associados aos Sistemas de Saúde. Aliás, a viragem de opinião em relação a este assunto,
como o sucedido na Roche® ou a Pfizer ®, que abandonaram esta área do medicamento
para voltar a entrar no início da década, revela a importância económica deste grupo de
medicamentos. Ao mesmo tempo outras empresas que nunca tinham saído do mercado
como a Bayer® ou a Novartis®, apresentam novos projetos e investimentos [90].
Muitas entidades reguladoras alteram anualmente as suas listas de medicamentos
que podem ser vendidos livremente. Este processo que toma o nome de “Rx‑to‑Over‑the
‑Counter Switch” tem por base certos princípios, tais como: o medicamento deve estar há
muito tempo no mercado e a sua monitorização e previsão de efeitos deve estar bem
documentada. Porém, os mecanismos de controlo não são mundiais, revelando sérios
problemas nos países subdesenvolvidos. De facto, certos medicamentos que nos países
desenvolvidos são sujeitos a receita, nestes países são de venda livre [94].
2.5 Riscos da automedicação e o Farmacêutico
Muitas vezes, durante o estágio, deparei-me com situações nas quais as pessoas
alegavam conhecimentos sobre os medicamentos, conhecimentos esses errados que
poderiam levar complicações derivadas da medicação e os riscos são inúmeros
começando logo pelos efeitos secundários que cada princípio ativo pode apresentar: desde
cefaleias, náuseas, vómito, agressão estomacal, até problemas anafiláticos graves ou
renais. Apesar de tudo, o aumento das resistências e as sobredosagens são os dois
principais riscos/desvantagens, principalmente nos antibióticos e nos analgésicos
respetivamente. Deve ser dado ênfase ao cuidado que os doentes devem ter em ler
atentamente todas as indicações, evitar confundir os medicamentos, detalhar os
medicamentos em casa, elaborar escalas de organização, entre outros mecanismos de
ajuda. Sempre que se faz um aconselhamento deve-se medir os riscos e os benefícios
caso haja um medicamento envolvido. Deve pautar-se por educar o doente, desenvolver
um aconselhamento terapêutico e revelar toda a informação essencial. Muitos pacientes
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 45
não estão a par das suas doenças, não por falta de informação de outros profissionais mas
porque se olvidam das mesmas informações. Um doente mal informado rapidamente pode
cometer erros [94]. Por outro lado, é fundamental verificar se a pessoa em questão realiza
a terapia adequadamente. Sempre que um farmacêutico se deparar com um doente de um
grupo mais suscetível, então os riscos associados a uma má utilização dos medicamentos
multiplicam-se. Estas pessoas incluem, grávidas e senhoras a amamentar, recém-nascidos
e crianças em geral e portadores de doenças crónicas como diabetes e idosos. Para melhor
ajudar os profissionais a orientarem a sua busca de informações a fim de conseguirem o
melhor resultado possível, a Ordem dos farmacêuticos apresenta diversas publicações
nesse sentido. As indicações terapêuticas fornecem auxílio nesse sentido, revelando um
fluxograma com dicas essenciais nesse assunto [93], [95], [96].
2.6 Emergência
É importante também por outro lado estar atento a todos os sinais e sintomas de
uma pessoa. Na eventualidade de uma pessoa apresentar sinais de intoxicação ou
envenenamento dever-se-á contactar o Centro de Informação Anti-Venenos. Os
medicamentos são os principais agentes responsáveis pelas intoxicações nos adultos, dos
quais se destacam os ansiolíticos e antidepressivos, apesar de serem os analgésicos e os
anti-inflamatórios os medicamentos mais vendidos fora das farmácias. A maior parte
destas intoxicações é acidental e ocorre em casa. Uma das possíveis causas destas
intoxicações poderá eventualmente ser sobredosagens dos princípios ativos ou
automedicação irresponsável [97].
Caso clínico “Sintomas de hipotiroidismo?”
“Senhora ao telefone questiona a farmácia sobre a situação do Olcadil® (Cloxazolam)
devido aos lotes que tinham sido retirados do mercado. Reporta ainda ter tomado alguns
comprimidos que não surtiram efeitos, referindo que voltou a ter os “sonhos e a agitação
anteriores”. Mais indica que tem feito terapia com Eutirox® (Lexotiroxina) ”
A senhora foi aconselhada a ir ao médico e seria posteriormente contactada.
O hipotiroidismo consiste numa patologia com origem glândula tiroidea
caracterizado por sintomas e sinais que variam de acordo com a lesão, mas normalmente
incluem fadiga, intolerância ao frio, ganho de peso, obstipação, pele seca, mialgias e
irregularidades menstruais [98]. Isto deve-se a diminuição das hormonas tiroideias que
levam a uma desaceleração do metabolismo. O hipotiroidismo normalmente é primário,
correspondendo a problemas auto imunes ou resultado de terapias à glândula como a
tiroidectomia, que levam a uma diminuição dos níveis de tiroxina e à elevação da hormona
estimulante da tiroide (TSH) O tratamento para este problema normalmente é feito por
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 46
recompensa hormonal com tiroxina sintética (T4) que vai dar origem in vivo a triiodotironina,
hormona mais ativa. Contudo é necessário ter em atenção ao risco associado aos
fármacos. Quando a dose não se ajusta corretamente, o doente com hipotiroidismo começa
a revelar sinais de hipertiroidismo. De facto, a insónia e a agitação são sinais deste último
problema [99]. Quando questionada sobre o médico, a resposta foi: “Já não vou ao médico
há uns largos meses. Não tenho tido problemas”
O caso de estudo trata-se então de uma suspeita de uma sobredosagem de
levotiroxina que porventura poderá estar a ser responsável pelos sintomas característicos
de um hipertiroidismo numa fase muito precoce. Este tipo de situações apesar de raras
podem ocorrer [100]. As pessoas que estão em terapia com hormonas tiroideias devem ter
sempre em atenção se têm os seguintes sintomas de fácil evidência apresentados em
Anexo XXX. Possivelmente e não excluindo outras hipóteses, o médico tinha aferido os
sintomas como normais, não revendo a terapia feita pela senhora, e de forma a evitar a
agitação e as insónias prescreveu cloxazolam cujas indicações terapêuticas presentes no
Resumo das Características do Medicamento são perturbações emocionais, dentro delas
a ansiedade, assim como perturbações no sono [101], sintomas que a senhora descreveu.
Com estes dados a senhora foi aconselhada a ir à farmácia onde foi explicada a situação
detalhadamente e aconselhada a ir ao médico, levando consigo um relatório da farmácia
sobre a mesma situação. Infelizmente, não existiu qualquer contacto da referida doente
com a farmácia durante o restante decorrer do meu estágio ficando o caso de estudo sem
uma conclusão concreta.
Considerações finais
O estágio curricular em ciências farmacêuticas, na vertente de farmácia comunitária
constituiu-se como o primeiro contacto com a realidade profissional. Durante os quatro
meses que pude colaborar e aprender com a FCC e a sua equipa, apercebi-me da
importância do farmacêutico não só no apoio direto ao doente, mas também na
necessidade moderna de gerir corretamente uma farmácia. Os temas desenvolvidos
permitiram aprofundar e solidificar conhecimentos, e ao mesmo tempo, alertar para
atitudes de risco que devem ser desencorajadas
Concluo, desta forma, que o estágio curricular na FCC foi sem dúvida uma mais-
valia. Desafios diários, responsabilidades exigidas e necessidade de adaptação foram
pilares que surgiram neste tempo. A aprendizagem, apesar de tudo, é contínua e deve ser
sempre estimulada independentemente do futuro profissional. Na farmácia comunitária a
materialização do saber em aconselhamento e cuidados farmacêuticos é um dever do
farmacêutico, e uma utilidade social que todos podemos usufruir.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 47
Bibliografia
[1] Boas Práticas Farmacêuticas para a farmácia comunitária (BPF), 3ª edição: Ordem
dos Farmacêuticos. 2009.
[2] Decreto-Lei n.º 307/2007, de 31 de agosto: Regime jurídico das farmácias de oficina.
[3] Deliberação no 2473/2007, de 28 de novembro: Aprova os regulamentos sobre áreas
mínimas das farmácias de oficina e sobre os requisitos de funcionamento dos postos
farmacêuticos móveis.
[4] Deliberação nº 1502/2014, de 3 de julho: Regulamentação das áreas mínimas das
farmácias, de acordo com n.os 4 e 5 do artigo 29.º e do artigo 57.º-A do Decreto-Lei
n.º 307/2007, de 31 de agosto, na sua redação atual.
[5] Decreto-Lei n.o 176/2006, de 30 de agosto: O estatuto do Medicamento.
[6] Portaria n.o 137-A/2012, de 11 de maio: Estabelece o regime jurídico a que
obedecem as regras de prescrição de medicamentos, os modelos de receita médica
e as condições de dispensa de medicamentos, bem como define as obrigações de
informação a prestar aos utentes
[7] Decreto-Lei n.o 48-A/2010, de 13 de maio: Aprova o regime geral das
comparticipações do Estado no preço dos medicamentos, altera as regras a que
obedece a avaliação prévia de medicamentos para aquisição pelos hospitais do
Serviço Nacional de Saúde
[8] Ministério da Saúde: Comparticipação de medicamentos - Portal da Saúde.
Acessível em:
http://www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/informacoes+uteis/medicamentos/co
mparticipacaomedicamentos.htm [acedido em 15 de abril de 2015]
[9] Infarmed: Dispensa em Farmácia Oficina. Acessível em:
http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/MEDICAMENTOS_USO_HU
MANO/AVALIACAO_ECONOMICA_E_COMPARTICIPACAO/MEDICAMENTOS_U
SO_AMBULATORIO/MEDICAMENTOS_COMPARTICIPADOS/Dispensa_exclusiva
_em_Farmacia_Oficina [Acedido em 14 de janeiro de 2015].
[10] Infarmed, “Normas relativas à dispensa de medicamentos e produtos de saúde,”
Acessível em:
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 48
http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/MAIS_NOVIDADES/Normas_
Prescricao_20121220_vFinal.pdf [acedido em 20 de janeiro de 2015].
[11] Decreto-lei no 15/93, de 22 de janeiro: Regime jurídico do tráfico e consumo de
estupefacientes e psicotrópicos.
[12] Decreto Regulamentar no 61/94, de 12 de outubro: Controlo do mercado lícito de
estupefacientes e substâncias psicotrópicas.
[13] Portaria nº 193/2011, de 13 de maio: Regula o procedimento de pagamento da
comparticipação do Estado no preço de venda ao público dos medicamentos
dispensados a beneficiários do Serviço Nacional de Saúde que não estejam
abrangidos por nenhum subsistema ou que beneficiem de comparticipação em
regime de complementaridade.
[14] Administração Central do Sistema de Saúde (2014) Manual de Relacionamento das
Farmácias com o Centro de Conferência de Facturas do SNS. 1ª Edição.
[15] Decreto-Lei nº 184/97, de 26 de julho: Regime jurídico dos medicamentos de uso
veterinário farmacológicos.
[16] Portaria nº 769/2004, de 1 de julho: Estabelece que o cálculo do preço de venda ao
público dos medicamentos manipulados por parte das farmácias é efectuado com
base no valor dos honorários da preparação, no valor das matérias-primas e no valor
dos materiais de embalagem.
[17] Decreto-Lei nº 95/2004, de 22 de abril: Regula a prescrição e preparação de
medicamentos manipulados.
[18] Portaria n.o 1429/2007, de 2 de novembro: Define os serviços farmacêuticos que
podem ser prestados pelas farmácias.
[19] Direção Geral de Saúde. Norma 020/2011: Hipertensão Arterial: definição e
classificação. Acessível em https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-
circulares-normativas/norma-n-0202011-de-28092011-atualizada-a-19032013-
jpg.aspx [acedido em 28 de fevereiro de 2015]
[20] American Heart Association, “What is Cardiovascular Disease? Acessível em:
http://www.heart.org/HEARTORG/Caregiver/Resources/WhatisCardiovascularDisea
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 49
se/What-is-Cardiovascular-Disease_UCM_301852_Article.jsp [acedido em 30 de
março de 2015].
[21] World Health Organization, “A global brief on Hypertension", 2013. Acessível em:
http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/79059/1/WHO_DCO_WHD_2013.2_eng.pdf
?ua=1 [acedido em 30 de março de 2015]
[22] M. Nichols, N. Townsend, P. Scarborough, e M. Rayner (2013) Cardiovascular
disease in Europe: Epidemiological update. European Heart Journal; 34:3028–3034.
[23] Doenças Cérebro-Cardiovasculares em números – 2014. Edição de 2014: Direção
Geral de Saúde
[24] James P A, Oparil S, Carter BL, Cushman WC, Dennison-Himmelfarb C, Handler J,
et al (2014). 2014 Evidence-Based Guideline for the Management of High Blood
Pressure in Adults. Journal of American Medical Association; 311:507
[25] Eckel R H, Jakicic J M, Ard J D, De Jesus J M, Houston Miller N, Hubbard V S, et al
(2014) 2013 AHA/ACC guideline on lifestyle management to reduce cardiovascular
risk: A report of the American college of cardiology/American heart association task
force on practice guidelines. Journal of the American College of Cardiology; 63:2960–
2984
[26] Kernan W N, Ovbiagele B, Black H R, Bravata D M, Chimowitz M I, Ezekowitz M D,
et al (2014). Guidelines for the prevention of stroke in patients with stroke and
transient ischemic attack: A guideline for healthcare professionals from the American
Heart Association/American Stroke Association; Stroke; 45: 2160-2236
[27] Steg PG, James SK, Atar D, Badano LP, Lundqvist CB, Borger M, et al (2012). ESC
Guidelines for the management of acute myocardial infarction in patients presenting
with ST-segment elevation. European Heart Journal; 33:2569–2619.
[28] Charchar F, Bloomer L, Barnes T, Cowley M, Nelson C, Wang Y, et al (2012).
Inheritance of coronary artery disease in men: an analysis of the role of the Y
chromosome. Lancet; 379:915-922.
[29] Perk J, De Backer G, Gohlke H, Graham I, Reiner Z, Verschuren M, et al (2012).
European Guidelines on cardiovascular disease prevention in clinical practice
(version 2012): The Fifth Joint Task Force of the European Society of Cardiology and
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 50
Other Societies on Cardiovascular Disease Prevention in Clinical Practice. European
Heart Journal; 33:1635–1701
[30] Rapsomaniki E, Timmis A, George J, Pujades-Rodriguez M, Shah AD, Denaxas S, et
al (2014), Blood pressure and incidence of twelve cardiovascular diseases: Lifetime
risks, healthy life-years lost, and age-specific associations in 1·25 million people.
Lancet; 383:1899–1911.
[31] Lawes CM, Vander Hoorn, e Rodgers A, (2008). Global burden of blood-pressure-
related disease. Lancet; 371:1513–1518.
[32] Franklin SS, Larson MG, Khan SA, Wong ND, Leip EP, Kannel WB, et al (2001). Does
the relation of blood pressure to coronary heart disease risk change with aging? The
Framingham Heart Study. Circulation; 103:1245–1249.
[33] Sherzai AZ e Elkind MSV (2015). Advances in stroke prevention. Annals of the New
York Academy of Sciences; 1338:1–15.
[34] O’Donnell MJ, Denis X, Liu L, Zhang H, Chin SL, Rao-Melacini P, et al (2010). Risk
factors for ischaemic and intracerebral haemorrhagic stroke in 22 countries (the
INTERSTROKE study): A case-control study. Lancet; 376: 112–123.
[35] C. Held, R. Iqbal, S. A. Lear, A. Rosengren, S. Islam, J. Mathew, et al (2012). Physical
activity levels, ownership of goods promoting sedentary behaviour and risk of
myocardial infarction: Results of the INTERHEART study. European Heart Journal;
33: 452–466.
[36] K. Kotseva K, D. Wood D, G. De Backer G, D. De Bacquer D, K. Pyörälä K, e Keil U
(2009). EUROASPIRE III: a survey on the lifestyle, risk factors and use of
cardioprotective drug therapies in coronary patients from 22 European countries.
European Journal of Cardiovascular Prevention and Rehabilitation; 16: 121–137
[37] Yu S, Patterson CC, e Yarnell JWG (2008) Is vigorous physical activity
contraindicated in subjects with coronary heart disease? Evidence from the Caerphilly
study. European Heart Journal; 29: 602–608.
[38] Direção Geral de Saúde. Norma 026/2011: Abordagem Terapêutica da Hipertensão
Arterial. Acessível em: https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 51
normativas/norma-n-0262011-de-29092011-atualizada-a-19032013-jpg.aspx
[acedido em 28 de março de 2015]
[39] Dokken BB (2008). The Pathophysiology of Cardiovascular Disease and Diabetes:
Beyond Blood Pressure and Lipids. Diabetes Spectrum; 21: 160–165
[40] Cholesterol Treatment Trialists’ (CTT) Collaboration, Baigent C, Blackwell
L, Emberson J, Holland LE, Reith C et al (2010). Efficacy and safety of more intensive
lowering of LDL cholesterol: A meta-analysis of data from 170 000 participants in 26
randomised trials. Lancet; 376: 1670–1681
[41] Sipahi I, Swaminathan A, Natesan V, Debanne SM, Simon DI, e Fang JC,(2012).
Effect of antihypertensive therapy on incident stroke in cohorts with prehypertensive
blood pressure levels: A meta-analysis of randomized controlled trials Stroke: 434:
32–440.
[42] Kaptoge S, White IR, Thompson, Wood aW, Lewington S, Lowe GDO et al (2007).
Associations of plasma fibrinogen levels with established cardiovascular disease risk
factors, inflammatory markers, and other characteristics: Individual participant meta-
analysis of 154,211 adults in 31 prospective studies. Amercian Journal of
Epidemiology; 166: 867–879.
[43] Clarke R, Halsey J, Lewington S, Lonn E, Armitage J, Manson JE, et al (2010).
Effects of lowering homocysteine levels with B vitamins on cardiovascular disease,
cancer, and cause-specific mortality: Meta-analysis of 8 randomized trials involving
37 485 individuals. Archives of Internal Medicine; 170: 1622.
[44] Prescott E, Scharling H, Osler M, e Schnohr P (2002). Importance of light smoking
and inhalation habits on risk of myocardial infarction and all cause mortality. A 22 year
follow up of 12 149 men and women in The Copenhagen City Heart Study. Journal of
Epidemiology. Community Health; 56: 702–706.
[45] Howard G, Wagenknecht LE, Burke GL, Diez-Roux A, Evans GW, et al (1998)
Cigarette smoking and progression of atherosclerosis: The Atherosclerosis Risk in
Communities (ARIC) Study. Journal of the American Medical Association; 279: 119–
124.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 52
[46] Cryer PE, Haymond MW, Santiago JV, e Shah SD (1975). Norepinephrine and
epinephrine release and adrenergic mediation of smoking-associated hemodynamic
and metabolic events. New England Journal of Medicine; 295: 573–577.
[47] Newby DE, Wright RA, Labinjoh C, Ludlam CA, Fox KA, Boon NA et al (1999).
Endothelial dysfunction, impaired endogenous fibrinolysis, and cigarette smoking: a
mechanism for arterial thrombosis and myocardial infarction. Circulation; 99: 1411–
1415.
[48] O’Keefe JH, Bybee KA, e Lavie CJ (2007) Alcohol and Cardiovascular Health. The
Razor-Sharp Double-Edged Sword. Journal of the American College of Cardiology;
50: 1009–1014.
[49] Chowdhury R, Warnakula S, Kunutsor S, Crowe F, Ward HA, Johnson L, et al (2014).
Association of dietary, circulating, and supplement fatty acids with coronary risk: A
systematic review and meta-analysis. Annals of Internal Medicine; 160: 398–406.
[50] A. Floegel A, Pischon T, Bergmann MM, Teucher B, Kaaks R e Boeing H (2012)
Coffee consumption and risk of chronic disease in the European Prospective
Investigation into Cancer and Nutrition (EPIC)-Germany study. American Journal of
Clinical Nutrition; 95: 901–908.
[51] World Health Organization, “Q&As on hypertension,” Acessível em:
http://www.who.int/features/qa/82/en/ [acedido em 30 de março de 2015].
[52] Ministério da Saúde “Hipertensão arterial,” 2014. Acessível em:
http://www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/enciclopedia+da+saude/ministeriosau
de/doencas/doencas+do+aparelho+circulatorio/hipertensao+arterial.htm. [acedido
em 30 de março de 2015].
[53] A. Tailakh A, Evangelista LS, Mentes JC, Pike Na, Phillips LR e Morisky DE (2014)
Hypertension prevalence, awareness, and control in Arab countries: A systematic
review. Nursing & Health Sciences; 16: 126–30.
[54] Ikeda N, Sapienza D, Guerrero R, Aekplakorn W, Naghavi M, Mokdad AH et al (2014).
Control of hypertension with medication: a comparative analysis of national surveys
in 20 countries. Bulletin of the World Health Organization; 92: 10–19C.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 53
[55] Macedo ME, Lima MJ, Silva AO, Alcantara P, Ramalhinho V e Carmona J (2007).
Prevalência, Conhecimento, Tratamento e Controlo da Hipertensão em Portugal.
Estudo PAP. Revista Portuguesa de Cardiologia; 26: 21–39.
[56] Richard E. Klabunde, Cardiovascular Physiology Concepts, 2a edição. Baltimore:
Lippincott Williams & Wilkins
[57] Mayet J e Hughes A (2003) Cardiac and vascular pathophysiology in hypertension.
Heart; 89: 1104–1109.
[58] Ganau A, Devereux RB, Roman MJ, Simone G, Pickering TG, Saba PS (1992)
Patterns of left ventricular hypertrophy and geometric remodeling in essential
hypertension. Journal of the American College of Cardiology; 19: 1550–1558.
[59] Hill JÁ, Olson EN (2008). Cardiac plasticity. New England Journal of Medicine; 358:
1370–1380.
[60] Groenning BA, Nilsson JC, Sondergaard L, Fritz-Hansen T, Larsson HB, e
Hildebrandt PR (2000). Antiremodeling effects on the left ventricle during beta-
blockade with metoprolol in the treatment of chronic heart failure. Journal of the
American College of Cardiology; 36: 2072-2080.
[61] Renna NF, De Las Heras N, e Miatello RM (2013) Pathophysiology of vascular
remodeling in hypertension. International Journal of Hypertension; 2013: 1-7
[62] Sociedade Portuguesa de Hipertensão, “Conheça melhor a hipertensão arterial.”
Acessível em:
http://www.sphta.org.pt/pt/informacao_publico_conheca_melhor_hta.asp?id=1
[acedido em 5 de abril de 2015].
[63] Ned Calonge N, Petitti DB, DeWitt TG, Gordis L, Gregory KD, Harris R, et al ( 2007).
Screening for high blood pressure: U.S. Preventive Services Task Force reaffirmation
recommendation statement. Annals of Internal Medicine; 147: 783–786.
[64] Chrysant SG, (2000). Treatment of White Coat Hypertension. Current Hypertension
Reports; 2: 412-417
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 54
[65] Prontuário Terapêutico: 3.4. Anti-hipertensores. Acessível em:
https://www.infarmed.pt/prontuario/frameprimeiracapitulos.html [Acedido em 14 de
julho de 2015].
[66] Wexler R e Aukerman G (2006). Nonpharmacologic strategies for managing
hypertension. American Family Physician; 73: 1953–1958.
[67] Royal College of Physicians (2011). National Clinical Guideline Centre. Hypertension:
The Clinical Management of Primary Hypertension in Adults: Update of Clinical
Guidelines 18 and 34. NICE Clinical Guidelines, Londres
[68] West R e Isom M (2014). Management of patients with hypertension: general practice
and community pharmacy working together. British Journal of General Practice; 64:
477–478.
[69] Muir KW (2002). Inflammation, blood pressure, and stroke: An opportunity to target
primary prevention?. Stroke; 33: 2732–2733.
[70] Badimón L, Vilahur G e Padró T (2009). Lipoproteins, platelets and atherothrombosis.
Revista Española de Cardiología; 62: 1161–1178.
[71] Rang HP e Dale M (2012), Rand and Dale's Pharmacology, Rio de Janeiro
(Tradução), Elsevier Ltd
[72] American Stroke Association: "Types of Stroke" Acessível em::
http://www.strokeassociation.org/STROKEORG/AboutStroke/TypesofStroke/Types-of-
Stroke_UCM_308531_SubHomePage.jsp [acedido em 11 de abril de 2015].
[73] Langhorne P, Bernhardt J, e Kwakkel G (2011). Stroke rehabilitation. Lancet;
377:1693–1702, 2011.
[74] American Stroke Association: “Spot a stroke,” Acessível:
http://www.strokeassociation.org/STROKEORG/WarningSigns/Stroke-Warning-
Signs-and-Symptoms_UCM_308528_SubHomePage.jsp [acedido em 4 de maio de
2015].
[75] WebMed, Beckerman FJ, “Understanding Stroke -- Symptoms.” Acessível em:
http://www.webmd.com/stroke/guide/stroke-diagnosis-tests [acedido em 4 de julho
de 2015].
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 55
[76] National Heart Blood and Lung Institute “How Is a Stroke Diagnosed?" Acessível em:
http://www.nhlbi.nih.gov/health/health-topics/topics/stroke/diagnosis [acedido em 4
de maio de 2015].
[77] Ramee SR e White CJ (2014). Acute Stroke Intervention. Current Problems in
Cardiology; 39: 59–76.
[78] Prontuário Terapêutico: 4.3.2. Fibrinolíticos (ou trombolíticos). Acessível em
https://www.infarmed.pt/prontuario/frameprimeiracapitulos.html.[acedido em: 4 de
julho de 2015].
[79] Royal College of Physicians (2008) National Clinical Guideline for Diagnosis and
Initial Management of Acute Stroke and Transient Ischaemic Attack (TIA). NICE
Clinical Guidelines, Londres
[80] Direção Geral de Saúde Norma 054/2011: Acidente Vascular Cerebral: Prescrição
de Medicina Física e de Reabilitação. Acessível em: https://www.dgs.pt/directrizes-
da-dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n-0542011-de-27122011-jpg.aspx
[acedido em 15 de maio de 2015
[81] Thygesen K, Alpert JS, Jaffe AS, Simoons ML, Chaitman BR,. White HD, et al (2012).
Third Universal Definition of Myocardial Infarction. Journal of the American College of
Cardiologyl; 60: 1581–1598.
[82] Longo DL, Jameson JL, Fauci AS, Hauser SL e Loscalzo J, Harrison’s Principles Of
Internal Medicine, 18th ed. The McGraw-Hill Companies, 2012.
[83] Rains MG, Laney Ca, Bailey AL e Campbell CL (2014). Biomarkers of acute
myocardial infarction in the elderly: Troponin and beyond. Journal of Clinical
Interventions in Aging; 9: 1081–1090.
[84] Bishop M, Fody E, e Schoeff L, Clinical Chemistry, 6th ed. Filadelfia: Lippincott
Williams & Wilkins, 2010.
[85] MedScape, Zafari AM, “Myocardial Infarction Differential Diagnoses,” Acessível em
http://emedicine.medscape.com/article/155919-differential [acedido em 9 de julho de
2015].
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 56
[86] Burls A, Cabello JB, Emparanza JI, Bayliss S e Quinn T (2011). Oxygen therapy for
acute myocardial infarction: a systematic review and meta-analysis. Emergency
Medicine Journal; 28: 917–923.
[87] Pasquié J, Scavée C, Bordachar P, Clémenty J, e Haïssaguerre M (2004). Intensive
versus Moderate Lipid Lowering with Statins after Acute Coronary Syndromes. New
Englang Journal of Medicine; 350:2373–2383.
[88] Barbash GI, White HD, Modan M, Diaz R, Hampton JR, Heikkila J et al (1993).
Significance of smoking in patients receiving thrombolytic therapy for acute
myocardial infarction. Experience gleaned from the International Tissue Plasminogen
Activator/Streptokinase Mortality Trial. Circulation;87:53–58.
[89] Infarmed, “Saiba mais sobre automedicação,” Acessível em:
https://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/PUBLICACOES/TEMATICO
S/SAIBA_MAIS_SOBRE/SAIBA_MAIS_ARQUIVO/29_Automedica%E7%E3o.pdf.
[acedido em 5 de abril de 2015]
[90] Tisman A "The Rising Tide of OTC in Europe: Trends, Challenges and New Potential
in a Rapidly Evolving Market,” Acessível em. Available:
http://www.imshealth.com/deployedfiles/imshealth/Global/Content/Healthcare/Health
care%20Solutions/Consumers/The_Rising_Tide_Of_OTC_Europe.pdf [acedido em
22 de julho de 2015].
[91] Fainzang S (2014). Managing Medicinal Risks in Self-Medication. Drug Safety;
37:333–342
[92] Association Européenne des Spécialités Pharmaceutiques Grand Public: “Market
data - Total pharmaceutical market.” Acessível em: http://www.aesgp.eu/facts-
figures/market-data/total/ [acedido em 13 de julho de 2015].
[93] R. M. Antunes Nogueira, “Análise da Automedicação em Portugal e seus
Intervenientes,” ISCTE Business School, 2011.
[94] Bennadi D, (2013). Self-medication: A current challenge. Journal of Basic and Clinical
Pharmacy; 5:19–23.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 57
[95] Grupo de Boas Práticas de Farmácia "Linhas de orientação de Indicação
Farmacêutica" Acessível online em http://ofporto.org/upload/documentos/354791-
Ind_Farmaceutica.pdf [acedido em 14 de abril de 2015]
[96] Gupta S e Gupta P, (2014). Prevalence of Self medication : A Review. Journal of
Management Sciences and Technology; 2:35–40.
[97] “Estisticas do Centro de informação Anti Venenos,” 2015. Acessível em:
http://www.inem.pt/stats/stats.asp?stat=41 [acedido em 11 de abril de 2015].
[98] Laine C, (2009). Hypothyroidism. Annals of Internal Medicine; 151:ITC6-1
[99] Stern RA, Robinson B, Thorner AR, Arruda JE, Prohaska ML e Prange AJ (1996). A
survey study of neuropsychiatric complaints in patients with Graves’ disease. Journal
of Neuropsychiatry & Clinical Neurosciences; 8: 181–185.
[100] Jha S, Waghdhare S, Reddi R, e Bhattacharya P, (2012). Thyroid Storm Due to
Inappropriate Administration of a Compounded Thyroid Hormone Preparation
Successfully Treated with Plasmapheresis. Thyroid; 22:1283-1286
[101] Resumo das características do medicamento - Olcadil. Acessível em:
http://www.infarmed.pt/infomed/download_ficheiro.php?med_id=6378&tipo_doc=rc
m [acedido em: 15 de junho de 2015].
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 58
Anexos
Anexo I
Aspeto da Farmácia Castro Carneiro
Aspeto lateral da Farmácia
Aspeto interior da farmácia: sistema de senhas e montra de material ortopédico
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 59
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 60
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 61
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 62
Anexo II
Encomenda ao fornecedor, aspeto do Software
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 63
Anexo III
Fatura enviada pela OCP juntamente da encomenda
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 64
Anexo IV
Conferência de encomendas
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 65
Anexo V
Esquema explicativo da identificação de uma Receita Médica
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 66
Anexo VI
Regime especial de comparticipação. Dispensa exclusiva em Farmácia de Oficina.
Fonte:
http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/MEDICAMENTOS_USO_HU
MANO/AVALIACAO_ECONOMICA_E_COMPARTICIPACAO/MEDICAMENTOS_U
SO_AMBULATORIO/MEDICAMENTOS_COMPARTICIPADOS
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 67
Anexo VII
Fatura de Benzodiazepinas
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 68
Anexo VIII
Receita especial
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 69
Anexo IX
Fonte: - Manual de Relacionamento das Farmácias com o Centro de Conferência de Faturas do SNS, Novembro 2011, disponível online em: https://www.ccf.min-saude.pt/portal/page/portal/publico/DownloadPublicacoes/ManuaisdeRelacionamento Acedido a 17/6/2015
Códigos dos lotes e respetivas referências
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 70
Anexo X
Ficha de preço de um medicamento manipulado
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 71
Anexo XI
Rótulo de um medicamento manipulado
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 72
Anexo XII
Ficha de preparação de um medicamento manipulado
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 73
Anexo XIII
Documento identificativo do contentor ValorMED
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 74
Anexo XIV
Frente do Questionário sobre os serviços
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 75
Verso do questionário sobre os serviços
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 76
Anexo XV
Publicidade elaborada alusiva ao dia do Pai
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 77
Anexo XVI
Fonte: Doenças Cérebro-Cardiovasculares em números – 2014. Edição de 2014:
Direção Geral de Saúde
Percentagens de óbitos devidas às principais causas de morte desde 1988 até 2012
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 78
Anexo XVII
Fonte: Doenças Cérebro-Cardiovasculares em números – 2014. Edição de 2014:
Direção Geral de Saúde
Comparação das taxas de mortalidade padronizadas por Doenças Cérebro-
cardiovasculares (DCV), em alguns países Europeus
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 79
Anexo XVIII
Fonte: Doenças Cérebro-Cardiovasculares em números – 2014. Edição de 2014: Direção Geral de Saúde
Gráficos representativos da evolução do número de óbitos devido a Doenças isquémicas
do coração e a doenças cerebrovasculares
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 80
Anexo XIX
Fatores de Risco Major para as doenças cardiovasculares
Adaptado de: The Seventh Report of the Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood pressure. The JNC 7 report. JAMA 2003; 289:2560
Fatores de risco Major
Hipertensão
Tabaco
Obesidade
Inatividade Física
Dislipidemias
Diabetes Mellitus
Microalbuminúria
Idade>55 anos em homens >65 anos em mulheres
Historia familiar de outras doenças cardiovasculares
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 81
Anexo XX
Tabela SCORE usada em países com baixo risco de Doença Cardiovascular
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 82
Anexo XXI
Pressão média
Pressão sistólica
Pressão diastólica
Incisura dicrótica
Curva dicrótica
Pressão arterial sentida pela artéria aorta. Figura adaptada de Richard E. Klabunde,
Cardiovascular Physiology Concepts, 2a edição. Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins,
2012.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 83
Anexo XXII
Esquema adaptado de Eric P. Widmaier, Hershel Raff, and Kevin T. Strang,
Vander’s Human Phisiology - The Mechanisms of Body Function, 13th ed. Nova Iorque,
Estados Unidos da América: McGraw-Hil, 2014. Pag. 413
Diminuição da pressão arterial
Diminuição da estimulação dos baroreceptores
Diminuição da invervação parassimpática no coração
Aumento da invervação simpática no coração
Aumento do ritmo cardíaco
Aumento da invervação simpática nas veias
Aumento da constrição das veias
Aumento da invervação
simpática nas arteriolas
Aumento do volume final diastolico
Aumento do volume de sangue
Aumento da resistência periférica
Aumento da
pressão arterial
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 84
Anexo XXIII
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 85
Anexo XXIV
Fonte: Adaptado de Badimón L, Vilahur G e Padró T (2009). Lipoproteins, platelets and
atherothrombosis. Revista Española de Cardiología; 62: 1161–1178.
Figura histológica comparativa da aterosclerose em duas artérias coronárias: Na figura A
está presente uma lesão complexa com tecido necrosado (N) associado a uma camada
fibrosa (F). A Figura B remete para uma lesão que onde já houve rotura mas cicatrizou
ficando o trombo (T).
F N T
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 86
Anexo XXV
Continuação do Anexo XXV
Escala de Barthel
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 87
Escala de Medida de Independência Funcional
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 88
Anexo XXVI
Panfleto Informativo desenvolvido no âmbito da campanha de Doenças Cerebro-
Cardiovasculares
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 89
Anexo XXVII
Fonte: Adaptado de Longo DL, Jameson JL, Fauci AS, Hauser SL e Loscalzo J, Harrison’s
Principles Of Internal Medicine, 18th ed. The McGraw-Hill Companies, 2012.
.
Aspeto da oclusão de uma artéria carótida. À da esquerda trata-se
de um bloqueio sem elevação ST, e à direita com elevação ST
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 90
Anexo XXVIII
Panfleto Informativo sobre o Enfarte agudo do Miocárdio desenvolvido no âmbito da
campanha de Doenças Cérebro-Cardiovasculares
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 91
Anexo XXIX
Panfleto informativo desenvolvido no âmbito da auto-medicação
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 92
Anexo XXX
Sintomas de fácil evidência do Hipertiroidismo
Sintomas de fácil evidência do Hipotiroidismo
Sintomas do Hipertiroidismo
Ansiedade, irritabilidade, e problemas de
sono
Fraqueza corporal, especialmente nos
braços ou pernas ao levantar produtos
Tremores
Suor
Arritmias
Sensação de cansaço
Perda de peso
Sintomas do Hipotiroidismo
Sentimento de falta de energia
Facilmente constiapado
Cabelo quebradiço e fraco
Obstipação
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Comunitária
Jorge Neri Página 93
Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE Hospital de S. Pedro – Vila Real
Jorge Manuel Pires Neri
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página I
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas
Relatório de Estágio Profissionalizante
Serviços Farmacêuticos da Unidade Hospitalar de Vila Real
Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE
18 de Maio a 10 de Julho de 2015
Jorge Manuel Pires Neri Orientadora: Dra. Almerinda Alves __________________________________
Julho de 2015
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página II
Declaração de Integridade
Eu, _______________________________________________, abaixo assinado,
nº __________, aluno do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, declaro ter actuado com
absoluta integridade na elaboração deste documento.
Nesse sentido, confirmo que NÃO incorri em plágio (acto pelo qual um indivíduo,
mesmo por omissão, assume a autoria de um determinado trabalho intelectual ou
partes dele). Mais declaro que todas as frases que retirei de trabalhos anteriores
pertencentes a outros autores foram referenciadas ou redigidas com novas
palavras, tendo neste caso colocado a citação da fonte bibliográfica.
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, ____ de __________________
de ______
Assinatura: ______________________________________
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página III
Agradecimentos
Findo o período de estágio nos Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar de
Trás-os-Montes e Alto Douro, sinto uma enorme realização pessoal e um sentimento de
até agora que o dever está cumprido. Este sentimento não poderia ter sido atingido
obviamente sem a ajuda de todas as pessoas que o tornaram possível.
Dirijo, agora, um agradecimento especial:
Em primeiro lugar, à Drª Almerinda Alves, pela oportunidade que me concedeu em
realizar o estágio nos Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar de Trás os Montes e
Alto Douro, local especial para mim pois para além de me ter dado a oportunidade de
realizá-lo em casa, faço-o num local que me diz muito. Agradeço a incansável paciência e
disponibilidade para me transmitir os conhecimentos científicos e técnicos necessários de
uma farmácia hospitalar e da responsabilidade de um Farmacêutico nesta posição, assim
como a sua prontidão para esclarecer quaisquer dúvidas que existissem.
Em segundo lugar, a todas as Farmacêuticas dos Serviços Farmacêuticos pela
simpatia e acompanhamento no processo de transmissão de conhecimentos da Drª
Almerinda. São, verdadeiramente, uma equipa extraordinária.
Aos Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica, agradeço a disponibilidade de
entreajuda com que sempre se pautaram.
Aos técnicos Operacionais, agradeço a amizade e simpatia com que me sempre
trataram, nunca hesitando em ajudar quando precisei, assim como ambiente saudável que
proporcionam.
Às administrativas, um agradecimento pelas explicações e brincadeiras
proporcionadas, demonstrando que a alegria pode ter sempre lugar no trabalho.
Aos professores e funcionários da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto
agradeço todos os momentos partilhados e conhecimentos que certamente serão
fundamentais.
Aos meus amigos, um enorme obrigado por terem tornado estes incríveis cinco
anos. Os momentos inesquecíveis, pessoas inconfundíveis e as palavras sentidas
certamente irão perdurar.
À minha Tia e Madrinha, por ser como uma segunda mãe estar sempre disponível
independentemente da situação.
Ao meu irmão por ser um autêntico “companheiro de guerra” durante estes 20 anos
em partilha. O meu amigo e companheiro de sempre.
À minha namorada, Sara, por ter sido um pilar de segurança, um autêntico porto-
seguro da minha vida e que sem ela, hoje, certamente não seria metade da pessoa que
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página IV
hoje sou. Agradeço o amor, carinho e amizade que nunca deixaram que faltasse e todos
os conselhos e momentos vividos.
À minha Mãe pelo amor e carinho com que me criou, os sacrifícios que passou e a
oportunidade que me proporcionou. Ao meu pai, que partiu cedo demais, mas com certeza
estará em algum lado a olhar por mim. Sem hesitação alguma, dedico esta conclusão de
etapa da vida a eles, pois não poderia ser de outra forma.
“O sonho pertence àqueles que mais acreditam nele, e durante mais tempo.”
A todos vós, um sincero Muito Obrigado!
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página V
Resumo
O farmacêutico apesar de ser um profissional multifacetado e poder exercer
diversas funções nos mais variados ramos desde a química analítica até a toxicologia, a
verdade é que continua a ser um profissional da sociedade e como tal a sua presença nos
hospitais e farmácia é fundamental.
O Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas complementa a realização de
um Estágio Curricular, parte dele obrigatoriamente em Farmácia Comunitária, porém,
existe também a possibilidade da realização de um estágio em Farmácia Hospitalar. Tendo
a noção de que esta vertente é extremamente importante para a sociedade e fundamental
no funcionamento de qualquer Unidade Hospitalar, segurei a oportunidade de realizá-la
nos Serviços Farmacêuticos da Unidade Hospitalar de Vila Real, Hospital de S. Pedro, que
por sua vez se encontra inserida no Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Dessa experiência, resulta o seguinte relatório cujos objetivos passam pela descrição
detalhada dos mesmos, dando ênfase ao trabalho do Farmacêutico e às experiências por
mim vividas durante os dois meses em que presenciei o seu funcionamento. Foi um período
enriquecedor, de aprendizagem e de exigência, de onde resultou o esclarecimento sobre
uma vertente com a qual temos pouco contacto durante o curso e que revela uma
componente cientifica impressionante que muitas vezes passa despercebida.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página VI
Índice
Declaração de Integridade ............................................................................................. II
Agradecimentos ..............................................................................................................III
Resumo ........................................................................................................................... V
Índice .............................................................................................................................. VI
Abreviaturas ................................................................................................................. VIII
1. Introdução ................................................................................................................ 1
2. Centro Hospitalar de Trás-Os-Montes e Alto Douro .............................................. 1
2.1 Serviços Farmacêuticos ........................................................................................... 1
2.2 Sistema de Gestão Hospitalar de Armazém e Farmácia .......................................... 2
3. Código Hospitalar Nacional do Medicamento ........................................................ 3
4. Ciclo dos Medicamentos e Produtos Farmacêuticos ............................................ 3
4.1 Escolha e aquisição ................................................................................................. 3
4.2 Receção e conferência de encomendas ................................................................... 5
4.3 Armazenamento ....................................................................................................... 6
4.3.1 Armazenagem de medicação de alto risco ........................................................ 6
4.4 Preparação de medicamentos .................................................................................. 7
4.4.1 Preparação de Formas Farmacêuticas Não Estéreis ........................................ 7
4.4.2 Reembalagem e Rotulagem ............................................................................. 7
4.4.3 Medicamentos Manipulados.............................................................................. 8
4.4.4 Preparações Estéreis ou citostáticas individualizadas ...................................... 9
4.4.5 Nutrição Parentérica ........................................................................................11
4.5 Distribuição dos medicamentos .............................................................................. 12
4.5.1 Dispensa de medicamentos .............................................................................12
4.5.2 Dispensa em ambulatório ................................................................................12
4.5.3 Distribuição Individual Diária em Dose Unitária (DIDDU) .................................14
4.5.4 Distribuição Clássica e Reposição de Stocks por Níveis ..................................15
4.5.5 Distribuição Individualizada ..............................................................................17
4.6 Ensaios Clínicos ..................................................................................................... 18
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página VII
5. Erros na Medicação e o seu registo ......................................................................20
6. Emergência Hospitalar e os Serviços Farmacêuticos ..........................................21
7. Pedidos de Informação e Centro de Informação do Medicamento .....................22
8. Farmacovigilância e Farmacocinética ...................................................................23
9. Outras atividades ....................................................................................................23
Formação: diagnóstico e tratamento da urticária .......................................................... 23
Visita ao serviço de Nefrologia ..................................................................................... 23
10. Conclusão ...............................................................................................................25
11. Bibliografia ..............................................................................................................26
12. Anexos .....................................................................................................................28
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página VIII
Abreviaturas
AO - Assistente Operacional
AT - Assistente Técnico
CA - Conselho de Administração
CFL-SB - Camara de Fluxo Laminar de Segurança Biológica
CHTMAD - Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro
DCI - Denominação Comum Internacional
DIDDU - Distribuição Individual Diária em Dose Unitária
DL - Decreto-Lei
DT - Diretora Técnica
FEFO - First Expired, First Out
FHNM - Formulário Hospitalar Nacional de Medicamentos
FIFO - First in, First Out
GHAF - Gestão Hospitalar de Armazém e Farmácia
INCM - Imprensa Nacional - Casa da Moeda
INFARMED - Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento, I.P.
JCI - Joint Comission International
Nº - Número
RCM - Resumo das Características do Medicamento
SF - Serviços Farmacêuticos
SNS - Sistema Nacional de Saúde
TDT - Técnico de Diagnóstico e Terapêutica
UCPC - Unidade Centralizada de Preparação de Citostáticos
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 1
1. Introdução
A farmácia hospitalar, ou os serviços farmacêuticos do mesmo, são o ponto de partida
dos medicamentos dentro de um hospital. A verdade é que a sua existência é fundamental
para assegurar a manutenção dos cuidados de saúde ao disponibilizar medicamentos e
outros produtos farmacêuticos necessários aos doentes. A manutenção de stocks e a
gestão necessária tornam esta atividade um desafio autêntico e a sua implementação na
minha formação académica foi vista por mim como essencial.
2. Centro Hospitalar de Trás-Os-Montes e Alto Douro
O Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD) é constituído por cinco
unidades hospitalares que prestam serviço a uma população com 300 000 pessoas
espalhadas pelo nordeste do nosso país. Essas unidades são: o Hospital de S. Pedro, em
Vila Real, onde está localizada a sede social, o Hospital D. Luiz I, no Peso da Régua, o
Hospital Distrital de Chaves, em Chaves, o Hospital de Proximidade de Lamego, e, por fim,
a Unidade de Cuidados Paliativos em Vila Pouca de Aguiar [1].
O Conselho de Administração (CA) sendo o órgão máximo do CHTMAD está
responsável por todas as atividades do Hospital, incluindo obviamente as atividades dos
Serviços Farmacêuticos (SF), e conta com a atividade de dez comissões de entre as quais
se encontra a Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT), para além de um Conselho
Consultivo, Auditor Interno e um Fiscal único [1].
2.1 Serviços Farmacêuticos
Os serviços farmacêuticos de um Hospital vão para além de uma farmácia como
algo físico que armazena e distribui medicamentos. Na verdade, o Decreto-Lei (DL) número
(nº) 44 204, de 2 de Fevereiro de 1962 define Farmácia Hospitalar como sendo um conjunto
de atividades farmacêuticas desenvolvidas num meio hospitalar de forma a colaborar com
os serviços no mesmo, dando destaque também à investigação científica e ao ensino. Os
SF do CHTMAD, como Farmácia Hospitalar, têm o dever de: selecionar e adquirir
medicamentos, produtos farmacêuticos e dispositivos médicos; aprovisionar, armazenar e
distribui-los; produzir medicamentos se necessário; analisar as matérias-primas e produtos
acabados; colaborar com protocolos terapêuticos, entre outras funções. Destacam-se
ainda a utilidade como Farmácia Clinica, a farmacocinética, farmacovigilância e por fim,
Centro de informação sobre medicamentos [1-3].
Apesar de subordinados ao CA, a verdade é que os SF apresentam autonomia
técnica e cientifica no que toca à sua atividade. O seu serviço baseia-se em assegurar a
terapêutica medicamentosa aos doentes, a qualidade e eficácia dos mesmos, tendo
sempre em vista o custo benefício dos mesmos [2], [3]. Os SF são sempre assegurados
por um Farmacêutico Hospitalar.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 2
O corpo profissional dos SF do CHTMAD é constituído por 39 colaboradores dos
quais 13 Farmacêuticos, 12 Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica (TDT), 6 Assistentes
Técnicos (AT) e 9 Assistentes Operacionais (AO). O seu horário de funcionamento é das
8:30 as 18:00, dias úteis, existindo sempre um Farmacêutico de prevenção nos dias uteis
desde as 18:00 até às 24:00, e aos fins-de-semana e feriados das 9:00 até as 24:00 [1].
Fisicamente, os SF da unidade de Vila Real encontra-se no primeiro piso do Edifício
Geral. Apresentam uma área composta em divisões essenciais: Gabinetes e sala de
Reuniões, Área de Ambulatório, Área de Distribuição, Laboratório e zona de re-
embalamento, Armazém e Zona de Receção de Encomendas e Armazém de injetáveis de
grande volume. Todas as áreas, excetuando esta última, são intercomunicáveis e
apresentam uma zona de acesso ao exterior a poucos metros, zona essa que facilita o
transporte das mercadorias que chegam à zona de receção. Encontram-se também
próximos de zonas de circulação vertical essencial para o seu funcionamento [3].
Para fins de controlo de qualidade e de forma a se obter uma contínua melhoria dos
serviços do hospital, o CA do CHTMAD determinou a implementação de um Sistema de
Controlo de Qualidade segundo os requisitos da norma ISO 9001:2008. Paralelamente a
este sistema, existe, permanentemente, um manual da qualidade onde constam as normas
que devem ser respeitadas. Para além do mais, o CHTMAD já esteve acreditado pela Joint
Comission International, um importante órgão internacional de acreditação da qualidade
dos serviços de saúde e, como tal, também existe um manual de normas que foi elaborado
para a acreditação que se continua a seguir [1].
2.2 Sistema de Gestão Hospitalar de Armazém e Farmácia
No CHTMAD o sistema informático usado para a gestão do circuito do medicamento
é o GHAF: Gestão Hospitalar de Armazém e Farmácia. É um sistema multifacetado que
permite a organização na mesma plataforma de todas as atividades dos SF. Neste mesmo
sistema são elaboradas as encomendas, validadas as prescrições e feita a manutenção de
stock. Cada farmacêutica, TDT ou AT tem um utilizador de acesso e uma password e o
sistema funciona em rede, conjugando todas as atividades em tempo real.
Durante o meu estágio, tive oportunidade de operar diversas vezes com este
sistema. O método de trabalho no GHAF não me foi explicado todo de uma vez, pois pode
ser um pouco complexo, já que opera simultaneamente com diversos serviços, sendo ao
inicio um pouco confuso. Utilizei-o várias vezes a fim de conseguir entender a base do
mesmo através de atividades tais como: debitar medicação dispensada em ambulatório ou
em distribuição individualizada, validar a medicação prescrita e registo de revertências.
Para controlo do sistema informático, o CHTMAD possui um gabinete de informática
responsável pela manutenção do mesmo.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 3
3. Código Hospitalar Nacional do Medicamento
A fim de melhor se identificar e categorizar os medicamentos, a Autoridade Nacional
do Medicamento e Produtos de Saúde (INFARMED) desenvolveu um sistema de
codificação a todos os medicamentos com autorização no mercado, autorização de
utilização especial, autorização de utilização excecional e autorização de importação
paralela. Este código permite um controlo mais apertado dos medicamentos, já que apenas
circulam pelas instituições do Sistema Nacional de Saúde (SNS), além de que é da
obrigação destas relatar os consumos. Tais compromissos vieram facilitar todos os
processos inerentes aos medicamentos [4].
4. Ciclo dos Medicamentos e Produtos Farmacêuticos
4.1 Escolha e aquisição
A Escolha dos produtos que entram nos SF é da responsabilidade da Diretora dos
mesmos, recorrendo sempre ao Formulário Hospitalar Nacional de Medicamentos (FHNM),
devendo estar permanentemente em consulta e o seu uso é obrigatório [2], [3].
O CHTMAD tem as suas compras centralizadas no sistema de aprovisionamento
que trabalha em cooperação com os Serviços Farmacêuticos. Atualmente, os
medicamentos são adquiridos diretamente destes últimos serviços, situação que
antigamente passava obrigatoriamente pelo sistema de aprovisionamento. O Farmacêutico
Hospitalar deve, então, tentar obter os medicamentos de melhor qualidade, tendo sempre
em vista o custo mais baixo possível.
O Ministério da Saúde a fim de organizar as compras a nível nacional elabora um
catálogo dos Serviços Partilhados, onde constam os medicamentos que devem ser
adquiridos pelos Hospitais Portugueses. Obviamente, este catálogo tem por base o FHNM
e todas as instituições e serviços integrados no SNS utilizam este Catálogo.
A primeira etapa para obter medicamentos é o processo de compra, mecanismo
essencial para esse fim. Posto isto, deve-se escolher a forma como se vai obter, que no
caso do CHTMAD podem ser os seguintes processos: Concurso Geral, Concurso Público
Centralizado, Ajuste Direto ou Concurso Limitado por prévia qualificação. O concurso geral
recorre ao catálogo já anteriormente referido mas quando o produto não existe neste
documento (por exemplo a Resina Permutora de Iões) e não existe nenhum concurso
prévio, procede-se ao Ajuste Direto. Este processo de compra tem de ser obrigatoriamente
justificado. Os demais métodos de obtenção de produtos requerem uma comissão de
escolha constituída por um júri.
Dentro de cada concurso, pode haver um ou mais fornecedores. Contudo, de
acordo com a utilidade, necessidade, custo benefício ou outras mais-valias, o DT faz a sua
escolha. Periodicamente, os Delegados de Informação Médica descolocam-se aos SF do
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 4
CHTMAD a fim de dar a conhecer os seus produtos ou prestar quaisquer esclarecimentos
ou simplesmente acompanhar os seus produtos de uma forma mais próxima.
Os SF do CHTMAD têm as suas compras centralizadas na unidade de Vila Real,
porém, isto é feito de forma agilizar o processo em si. De facto, a Diretora dos SF do
CHTMAD e as responsáveis pelos SF da Unidade de Lamego e pela Unidade de Chaves
estão encarregues do processo. Cada uma das farmacêuticas, com base nos consumos,
pontos de encomenda, necessidades e urgências elaboram uma lista comum com os
produtos que são necessários. É sempre tida em conta informação dos colaboradores dos
SF que todos os dias apontam as faltas que detetarem. Por outro lado, existem disponíveis
no sistema informático pontos de alerta, assim como notas de encomenda automáticas,
apesar de atualmente não serem usadas. Em Vila Real, a Diretora dos SF analisa as listas
comuns elaboradas por cada unidade e define o que pode ser transferido internamente. Os
TDT com uma lista de apoio estão encarregues de agrupar e acondicionar os
medicamentos a serem transferidos e seguidamente é elaborada a guia de transferência.
Todos os dias, um motorista de cada unidade tem a função de se deslocar entre os
hospitais e realizar o transporte de medicamentos e produtos necessários.
Caso seja necessária uma nota de encomenda, a Diretora elabora a lista dos
produtos e insere-os no sistema informático, onde o AT posteriormente vai proceder à sua
encomenda. Após ser feita a encomenda podem ser impressos dois documentos: guia de
entrada e encomenda a fornecedor. A primeira é impressa para verificação e validação no
momento de descarga do produto. Já o segundo documento é enviado por e-mail
diretamente pelo GHAF para o fornecedor. No entanto, as benzodiazepinas, psicotrópicos
e estupefacientes obedecem de leis próprias. A sua encomenda está sujeita à elaboração
de um documento presente no Anexo VII da Portaria n.º 981/98, de 8 de Junho (Anexo I).
Este documento deve acompanhar o original da nota de encomenda e ser enviado para o
fornecedor através do correio [5].
Nas situações em que é necessário obter um medicamento não incluído na agenda
do FHNM, é necessária uma avaliação por uma comissão própria. A CFT, da qual faz parte
integrante a Diretora dos SF, é um órgão de gestão de medicamentos, tendo entre diversas
responsabilidades a avaliação da utilização de medicamentos de acordo com as
necessidades dos doentes e a possibilidades do CHTMAD. Sempre que exista uma
situação como a anteriormente referida, compete à CFT a sua avaliação. Esta comissão
recebe os pedidos de introdução solicitados ou validados por um diretor de serviço que
considere pertinente a sua utilização. Baseando-se em critérios farmacoterapêuticos e
económicos, a CFT emite um parecer sobre a aprovação ou não do produto em causa.
Posteriormente, o pedido é homologado à ata da CFT e segue para o CA para autorizar a
compra do medicamento em questão.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 5
O Despacho n.º 2061-C/2013, de 1 de fevereiro de 2013 promoveu a criação da
Comissão Nacional de Farmácia e Terapêutica (CNFT) que é responsável pela elaboração
do FHNM [6]. Para além disso, é da sua responsabilidade analisar a utilização de
medicamentos não abrangidos pelo Formulário Nacional de Medicamentos, através dos
relatórios enviados pelas Comissões Farmácia e Terapêutica dos Hospitais do Serviço
Nacional de Saúde e das Administrações Regionais de Saúde. Caso o medicamento não
faça parte dos grupos terapêuticos já discutidos na CNFT, então, a análise é apenas feita
localmente [1], [7].
4.2 Receção e conferência de encomendas
A receção e conferência de encomendas é feita em três etapas distintas. Uma vez
chegados ao armazém da farmácia, torna-se essencial realizar a receção assim como a
conferência dos produtos em si. Esta função pertence aos AO e/ou TDT que estão no local
de receção. A acompanhar a encomenda devem existir pelo menos um de dois
documentos: a guia de remessa ou a fatura e os profissionais nesta secção estão
encarregues de verificar os produtos que acabam de chegar, com o auxílio destes
documentos enviados pelo fornecedor. Se estiver correto é feita a sua conferência. Neste
passo, devem ser avaliadas as unidades, lotes, datas de validade, assim como as
condições especiais de transporte: baixas temperaturas, medicamentos frágeis,
medicamentos tóxicos e inflamáveis. Se forem os casos deverão ser verificados outros
documentos tais como certificados de libertação de lote, exigidos por exemplo para
hemoderivados, e vacinas, certificados de controlo de matérias-primas, entre outros
documentos. Caso existam não conformidades, é necessário recorrer a um impresso
próprio para enviar para o fornecedor. De acordo com as normas de qualidade,
semestralmente é necessário proceder à classificação dos fornecedores baseada de não
conformidades e serviço prestado. As não conformidades são classificadas em menores
ou maiores. No final, as guias de remessa ou faturas devem ser datadas e assinadas, para
posteriormente serem inseridas no stock pelo AT [1], [10].
As caixas que se apresentarem lacradas têm obrigatoriamente de ser conferidas
por um farmacêutico, já que se podem tratar de psicotrópicos, estupefacientes ou
benzodiazepinas.
Para além do mais, é necessário ter em conta medicamentos citostáticos que
devem vir separados dos restantes, para além de ter rotulado na embalagem “citotóxico” e
devem ser transportados em malas específicas até à Unidade Centralizada de Preparação
de Citotóxicos [8].
A conferência de hemoderivados exige ainda a presença dos boletins de análise e
certificados de libertação do lote aprovados pelo INFARMED, que ficam arquivados com a
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 6
cópia da respetiva fatura, uma vez que o original tem que ir para aprovação. Estes
certificados de libertação são fundamentais para que estes medicamentos sejam
distribuídos. Todos os medicamentos que necessitem de boletins de libertação de lote para
o seu uso têm de ser conferidos por farmacêuticos.
4.3 Armazenamento
Uma vez conferidos é necessário proceder ao armazenamento dos produtos nos
seus respetivos lugares. A maioria dos medicamentos são armazenados no armazém geral
que conta com estantes móveis onde os produtos são armazenados por ordem alfabética.
O armazenamento no Kardex® tem como função auxiliar o processo de distribuição unitária
que será abordada mais a frente. De facto, os Kardex® são sistemas mistos, tendo função
quer de armazém quer de dispensa.
4.3.1 Armazenagem de medicação de alto risco
Medicamentos e reagentes que necessitem de refrigeração, citotóxicos,
estupefacientes, psicotrópicos e benzodiazepinas, gases medicinais e produtos
inflamáveis são considerados de alto risco devido às suas caraterísticas e como tal
requerem uma armazenagem específica [9].
Em primeiro lugar é essencial ter atenção à qualidade dos mesmos, uma vez que
dependendo desta podem ter diferentes locais de armazenamento. As benzodiazepinas,
estupefacientes, hemoderivados, medicamentos para a Hepatite C e Medicamentos de
ensaios clínicos estão armazenados numa sala específica. Cada um tem um armário com
fechadura à exceção dos estupefacientes e psicotrópicos que estão armazenados num
cofre.
Os Medicamentos que requerem refrigeração são armazenados em dois
frigoríficos.
Os Produtos inflamáveis têm uma sala própria para armazenagem, munida com
armários anti-fogo e bacias de retenção assim como uma porta antifogo que deve estar
sempre fechada.
O controlo das condições de conservação, nomeadamente temperatura e humidade
é feito com o auxílio do Sirius Stockage® que através de sondas consegue fazer o registo
destes parâmetros várias vezes ao dia Estas sondas encontram-se dispersas nos locais
de armazenamento, incluindo frigoríficos armazéns. Este sistema tem associado um
mecanismo de alarme para a central de segurança que posteriormente fornece informação
caso alguma condição esteja fora do normal.
No caso das soluções de eletrólitos concentrados o armazenamento deve estar
restringido a zonas específicas, não sendo misturadas com os demais medicamentos ou
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 7
soluções comuns. É importante notar que todos devem ter um rótulo com a inscrição “Deve
ser Diluído”, que caso não esteja presente é feito o registo da não conformidade como erro
de medicação [9].
O armazenamento dos produtos é feito tendo em conta os sistema Fist Expired First
Out (FEFO) ou seja, o medicamento que está próximo do fim da validade é o primeiro a
sair ou First in First out (FIFO), ou seja o produto que veio primeiro é o primeiro a sair. De
qualquer forma, mensalmente é feito um levantamento dos produtos cujo prazo de validade
termina em três meses e é feita a sua substituição ou reorganização pelos serviços de
acordo com as necessidades destes. É importante ter em conta estes prazos de validade
de forma a articular as necessidades consoante as diferentes Unidades Hospitalares.
Muitas vezes as farmacêuticas analisam-nos e tentam reorganizar os produtos cujo fim do
prazo está próximo e coloca-los em Unidades que os necessitem em maior quantidade de
forma a evitar o seu desperdício. Durante o meu estágio apercebi-me da importância deste
fator e rapidamente consegui compreender as necessidades dos diferentes serviços,
conjugando-a com a racionalização do medicamento e gestão de validades. Verifiquei que
quando necessário também se realiza a troca de medicamentos com fornecedores e outras
unidades hospitalares [10].
4.4 Preparação de medicamentos
Este procedimento tem por objetivo preparar medicamentos, nomeadamente
fracionamento de unidades, reembalagem e rotulagem dos mesmos. Estes procedimentos
são destinados essencialmente a doses individuais ou específicas (pediatria),
reembalagem de doses unitárias sólidas, Preparações assépticas (desinfetantes) e
preparações estéreis ou citostáticas individualizadas. Estas preparações são
regulamentadas pelos DL nº 90/2004, nº 95/2004 e pela portaria nº 594/2004 que aprova
as “Boas Práticas Boas Práticas a Observar na Preparação de Medicamentos Manipulados
em Farmácia de Oficina e Hospitalar” [10], [11].
Porém é importante referir que, com a exceção da preparação de citostáticos, cada
vez menos se recorre a este tipo de operações, dada a grande oferta que existe no
mercado farmacêutico.
4.4.1 Preparação de Formas Farmacêuticas Não Estéreis
Fazem parte destas formas farmacêuticas todos os processos de reembalagem e
rotulagem, assim como preparação de doses individuais ou específicas ou medicamentos
manipulados.
4.4.2 Reembalagem e rotulagem
Este procedimento é essencial nas fases que o sucedem, ou seja, na distribuição
quer unitária quer clássica quer na reposição por níveis. Por vezes é necessário ter
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 8
dosagens específicas ou formas individualizadas nos diferentes serviços, recorrendo-se
caso se necessite à reembalagem ou rotulação. Uma das vantagens destes processos
passa por facilitar o trabalho de armazenamento e posterior distribuição e os próprios
cuidados de saúde, diretamente com os doentes. O sistema contribui também para a
diminuição do risco de contaminação ou erros na administração. Acima de tudo, a
racionalização do medicamento é a mais-valia que salta à vista neste processo.
A reembalagem de medicamentos sólidos orais é feita numa área específica para
o efeito, separada fisicamente das restantes. Estas instalações permitem então o
reembalamento das formas farmacêuticas em doses unitárias, quando o fornecedor não
dispõe de tal capacidade. O equipamento é acoplado a um sistema informático no qual se
insere todas as informações necessárias: dose, forma farmacêutica, validade,
denominação comum internacional (DCI), laboratório. O procedimento é realizado pelo
TDT, supervisionado sempre pelo Farmacêutico [10].
É importante verificar sempre o estado de limpeza dos tabuleiros e da bancada,
recorrendo para tal a Álcool a 70% (V/V).
Da função do farmacêutico faz igualmente parte a análise ao prazo de validade do
medicamento e aqui existem dois momentos distintos: caso não seja removido do invólucro
do blister, o prazo, obviamente, é o mesmo que o seu fornecedor indica, pois não houve
exposição a fatores externos. Porém, caso seja fracionado, e uma vez que tal procedimento
exige a sua remoção do seu acondicionamento original, os medicamentos vão ficar
expostos a fatores ambientais não controlados, pelo que o prazo de validade será alterado.
Deve-se procurar estabilidades sobre o mesmo, ajustando se necessário. Caso não exista,
o prazo de validade novo a ser inserido não deve ultrapassar: a) 25% do tempo restante
entre a data de reembalamento e o prazo de validade do fabricante (por exemplo, se faltar
um ano para final da validade original, ao fracionar o medicamento, a validade nova não
poderá superar os 3 meses); b) um período de 6 meses desde a data que é reembalado
(Por exemplo, se faltarem 2 anos e 4 meses até ao final, 25% seria 7 meses, logo
considera-se 6). No fim, o Farmacêutico verifica a qualidade do medicamento reembalado,
verificando se existem não conformidades ou erros de embalamento assim como o rótulo
em si [10].
Durante o meu estágio tive a oportunidade de realizar um reembalamento de
Dexametasona, 4mg, cápsula para o serviço de Oncologia. Por outro lado, quase todos os
dias contactei com estas formas farmacêuticas uma vez que são necessários em muitos
serviços, sendo diversas vezes requisitados pelos Pyxis®.
4.4.3 Medicamentos Manipulados
Imediatamente antes da área do reembalamento encontra-se o laboratório, local
onde é feita a manipulação dos medicamentos. Este processo é feito quase exclusivamente
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 9
para prescrições médicas prévias, pelo que o primeiro passo deste processo passa pela
verificação da prescrição médica a fim de assegurar a sua segurança no que diz respeito
as doses ou incompatibilidades. O farmacêutico ou o TDT é responsável pelo processo e
como tal é da sua responsabilidade assegurar a correta técnica de preparação, assim como
os cálculos que são necessários para a sua elaboração e a ficha de preparação de
medicamentos manipulados [10].
Antes de iniciar a técnica propriamente dita, é necessário assegurar a limpeza da
área de trabalho, assim como a presença de todas as matérias-primas, corretamente
rotuladas e em ótimo estado de utilização bem como os materiais e equipamentos
necessários, incluindo recipientes de conservação da forma farmacêutica final e respetivo
rótulo. Este deve conter o nome do local de produção e o Diretor dos SF assim como a
nomenclatura habitual como nome do medicamento, forma farmacêutica, dosagem,
quantidade dispensada, prazo de validade, nome do doente (se possível) entre outras
informações [10].
O produto final, para além de satisfazer as necessidades da prescrição deve
igualmente estar de acordo com as exigências da monografia galénica da forma
farmacêutica que está inserida na Farmacopeia Portuguesa [11].
Obviamente, por fim, devem ser selecionadas as embalagens que cumpram os
requisitos da forma farmacêutica final assim como outras condições especiais de
conservação como opacidade à luz entre outras.
Nos SF do CHTMAD, apesar de tudo, poucos são os medicamentos manipulados.
As requisições normalmente limitam-se a suspensões ou soluções tais como a suspensão
IPO (tratamento da mucosite, que contém nistatina (antifúngico), lidocaína 2% (anestésico)
e bicarbonato de sódio 1,4% (corretor de pH)) ou, caso seja uma requisição mais
específica, os SF recorrem a uma Farmácia Comunitária nas imediações, com a qual se
estabeleceu um protocolo.
4.4.4 Preparações estéreis ou citostáticas individualizadas
O fabrico de preparações estéreis é fundamental no funcionamento de certas
unidades Hospitalares No caso do CHTMAD, a Unidade Centralizada de Preparação de
Citostáticos (UCPC) que realiza o apoio à Unidade de Oncologia prepara a medicação para
o Hospital de Dia e para o Internamento desta mesma Unidade. Desde o dia 15 ao dia 27
de junho, tive a oportunidade de visitar esta unidade e presenciar toda a atividade que os
SF aqui disponibilizam.
A preparação de medicamentos estéreis requer cuidados especiais e condições
controladas para minimizar a contaminação microbiológica e a presença de pirogénios.
Para tal é necessária uma sala limpa que se caracteriza por um espaço concebido para a
realização de processos e técnicas em ambientes assépticos, onde são controlados fatores
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 10
como temperatura, humidade e pressão. As salas são classificadas de acordo com as
técnicas que nelas são realizadas, que no caso da preparação de produtos citostáticos
para fins terapêuticos é exigida a classe A. Esta sala está equipada com todo o material
necessário para a preparação dos medicamentos referidos, sendo estes realizados numa
Camara de Fluxo Laminar de Segurança Biológica (CFL-SB) de classe II tipo B munida de
um filtro HEPA (High Efficiancy Particle Air Filter) que tem a capacidade de reter 99,97%
das partículas com mais de 0,3 μm de diâmetro. A CFL-SB deve estar ligada 24 horas por
dia de forma a evitar o aparecimento de aerossóis. O acesso a esta camara respeita o
Manual de Farmácia Hospitalar, já que possui uma antecâmara de passagem obrigatória
para pessoas, onde estão armazenados os materiais de proteção essenciais. A UCPC tem
o seu próprio controlo microbiológico, feito semanalmente. Este controlo complementa não
só as superfícies dos materiais como o próprio meio ambiente e o controlo do pessoal. De
maneira a assegurar a desinfeção e higiene exigidas, diariamente é feita uma limpeza geral
a todas as superfícies da sala limpa que possam interferir com a qualidade dos
medicamentos aí preparados. Esta limpeza é feita com álcool a 70% [3], [8], [10].
Durante a preparação em si, a transferência dos materiais era feita através de uma
janela de dupla porta com espaço necessário para essa dita transferência. Igualmente se
destaca o duplo encravamento, essencial para manter a pressão negativa dentro da sala
limpa [10].
Na sala limpa, operam dois TDT supervisionados por um farmacêutico que se
encontra no seu exterior. A preparação dos citostáticos exige a presença de uma
prescrição médica detalhada, onde está incluído todo o ciclo de quimioterapia do doente,
assim como outros fármacos adjuvantes no tratamento tais como anti-inflamatórios ou anti-
eméticos. É da responsabilidade do farmacêutico receber o mesmo protocolo e analisá-lo
e validá-lo. Durante esta análise, dever-se-á ter em atenção aos cálculos necessários para
corretamente detalhar as diluições ou reconstituições necessárias dos medicamentos à
sua área corporal. Caso seja detetada algum erro de prescrição ou dose fora do comum,
deve-se contactar o médico em causa. Estes cálculos são essenciais para a elaboração do
rótulo do citostático. Seguidamente são registados os lotes e os volumes dos fármacos
utilizados. O farmacêutico procede então ao envio do material necessário ao procedimento
por parte dos TDT, nomeadamente: citostático e reconstituinte (este último se necessário);
Sistema de administração; Diluente; Rótulo de identificação. No interior da sala, o TDT de
apoio ao TDT operador, confirma os cálculos e o material enviado adicionando outros se
necessário como agulhas, sistemas anti-gotagem (Spikes) ou seringas. Procede-se a
preparação do medicamento, cujas medições necessárias são sempre duplamente
verificadas. Os TDT verificam sempre a existência de partículas suspensas ou colorações.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 11
Certas preparações devem ter colorações específicas como por exemplo os soros que
contêm Doxorrubicina (vermelho) [8], [10].
O TDT confirma através da janela com o farmacêutico o nome do medicamento,
volumes e qualidade da preparação. O involucro de transporte de citostáticos deve
apresentar além do rótulo do medicamento, um colante com a inscrição: “produto
citotóxico”. O transporte fora da UCPC é feito dentro de malas identificadas com produtos
citotóxicos e o sinal de “Biohazard”. Acompanhando as malas de transporte, existe o livro
de registo de citostáticos que compreende as identificações dos doentes e os
medicamentos citostáticos usados na terapia. O farmacêutico aquando da chegada do
protocolo faz-se o registo no livro que posteriormente é rubricado pelo enfermeiro no
momento da receção [10], [12].
Sempre que existe alguma não conformidade, deve ser registada. Caso exista a
possibilidade de reutilização noutro doente, apenas se sinaliza a mesma opção na folha de
registos, sendo obviamente rotulada de novo na Sala Limpa. Porém caso não seja possível,
é preenchida a folha de registo de inutilizações, evidenciando o nome do citostático e o
volume [8], [12].
No que diz respeito aos resíduos existem dois contentores diferentes: um contentor
pequeno amarelo que depois de devidamente desinfetado entra na CFL-SB e serve de
apoio ao operador e ainda dentro da sala limpa um contentor maior onde são descartados
os lixos remanescentes dos invólucros dos materiais de apoio. Ambos serão
posteriormente incinerados. Nota ainda importante para o facto de qualquer citostático que
seja interrompido durante a administração será incinerado sem possibilidade de
reutilização [10]
No que diz respeito as acidentes, também existe um impresso próprio (Anexo II)
que dá destaque sempre ao medicamento responsável pelo mesmo, assim como o aspeto
da lesão por este provocada, e as primeiras medidas de socorro tomadas [8].
Nota final para a rotatividade do serviço aqui realizado: os TDT operam dentro da
sala limpa durante um máximo de 2 horas. A troca entre os profissionais é feita
semanalmente. No que toca aos farmacêuticos, estes trocam mensalmente, se bem que
durante os períodos de férias, a rotatividade é de dois em dois meses.
4.4.5 Nutrição Parentérica
Hoje em dia, a indústria farmacêutica apresenta um leque de opções muito vasto,
pelo que não se torna necessário preparar as misturas para fins de nutrição parentérica.
Por outro lado, o conjunto de doentes que recorrem a estas misturas, no CHTMAD, é muito
reduzido, o que não justifica o investimento necessário. Durante o estágio foi explicado que
este tipo de nutrição até poderia ter interesse para o serviço de neonatologia, porém os
utentes deste serviço são normalmente encaminhados para o Centro Hospitalar de S. João
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 12
no Porto, com o qual o CHTMAD estabeleceu um protocolo de cooperação. Em casos que
seja mesmo necessário, situações que são muto excecioneis, estas preparações são
fornecidas por esse mesmo hospital.
4.5 Distribuição dos medicamentos
A distribuição é uma das atividades mais visíveis da farmácia hospitalar no meio em
que está inserida. É fundamental uma boa distribuição para o funcionamento das unidades
e para assegurar os cuidados de saúde aos doentes.
A distribuição de medicamentos a nível hospitalar, segundo as Boas Práticas em
Farmácia Hospitalar do Colégio da Especialidade da Ordem dos Farmacêuticos divide-se
em três tipos: 1) A distribuição a doentes em regime de internamento (Sistema de
Reposição de Stocks Nivelados, ou reposição por níveis, Sistema de Distribuição Individual
Diária em Dose Unitária); 2) Distribuição em regime de ambulatório; 3) Distribuição
Individualizada; 4) A distribuição de medicamentos sujeitos a legislação especial,
(estupefacientes, psicotrópicos, benzodiazepinas, hemoderivados e medicamentos de
ensaio clínico).
4.5.1 Dispensa de medicamentos
A dispensa de medicamentos por parte dos SF tem requisitos que devem ser
respeitados. O primeiro passo trata-se da prescrição médica, feita online, no sistema
informático do Hospital, em DCI e deverá ser impressa, assinada e colocada no Processo
Clínico do Doente, ficando a prescrição verbal exclusiva a situações de emergência ou no
Bloco Operatório. Os medicamentos só serão dispensados após validação do
farmacêutico.
4.5.2 Dispensa em ambulatório
A dispensa de medicamentos em farmácia de ambulatório é regida por leis próprias
que determinam entre outras particularidades, os limites e os medicamentos a dispensar.
Cada vez mais se assiste a um aumento dos doentes cujo tratamento pode ser feito a partir
de casa, num ambiente familiar, representando poupanças nos Hospitais e no SNS,
redução do risco de contrair doenças inerentes ao internamento [3].
A dispensa dos medicamentos pelos SF através do ambulatório é 100% gratuita
para o utente e podem englobar medicamentos mais comuns como medicamentos de
dispensa exclusiva em Farmácia Hospitalar. Estes são salvaguardados pela lei, sendo
apresentados em Anexo (Anexo III). Porém, existem situações em que os doentes por via
de efeitos secundários graves ou não adesão à terapêutica têm de ser internados [13].
A farmácia de ambulatório dos SF do CHTMAD tem, tal como sugerido no manual
de farmácia hospitalar, uma entrada exterior para os doentes e está próxima de circulação
vertical. A sala de dispensa é separada da sala de espera e das restantes divisões dos SF,
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 13
o que acaba por contribuir para a confidencialidade e privacidade do doente. Existem dois
postos de trabalho cada um equipado com um computador com acesso ao GHAF. As
farmacêuticas trabalham em regime de turnos sucessivos. A sala de dispensa em
ambulatório é apoiada por armários de armazenamento e dois frigoríficos.
Os doentes dirigem-se a este local com a prescrição do médico de um determinado
serviço, consulta, Hospital de dia ou até mesmo em casos de alta mas que necessitem de
medicação como a nefrologia, sendo que a dispensa é da completa responsabilidade do
farmacêutico que deve numa primeira instância identificar o doente, o médico em causa e
a instituição. Posteriormente verifica-se a conformidade da receita. Casos específicos de
doentes renais ou transplantados, a receita só pode ser prescrita por nefrologistas e é
necessário referenciar os respetivos despachos relativos aos medicamentos. Para além
disso, caso exista, deve ser referenciada legislação de suporte para a dispensa entre
outras considerações.
Uma vez verificadas estas informações deve-se ter atenção ao perfil
farmacoterapêutico: início ou continuação da terapia, eventuais alterações as dosagens ou
porventura interações medicamentosas não verificadas. Através da análise da data da
próxima consulta é possível prever com exatidão o número de unidades que o utente vai
necessitar. A Circular Normativa N.º 01/CD/2012 por definição estabelece que as
quantidades a ceder para tratamento de doenças crónicas deverão ser cedidos para um
período de 30 dias. Normalmente são dispensados medicamentos até a proxima consulta,
não ultrapassando os 60 dias. Existem situações excecionais, devidamente autorizadas
pelo CA, cuja dispensa é feita para um período de tempo mais alargado. Normalmente,
estas situações são reservadas para pessoas deslocalizadas do CHTMAD e com meios de
transporte muito limitados, ou eventuais saídas do país. É importante garantir que o doente
reconhece a medicação e não tem quaisquer duvidas sobre a mesma. Na primeira vez que
é levantada a medicação, esta deverá ser feita pelo próprio utente, sendo garantido por
parte dos SF o ensinamento da posologia correta e que o doente reconhece todos os
medicamentos. Posteriormente, pode ser outra pessoa, um cuidador por exemplo, a
levantar a medicação, devendo sempre disponibilizar a sua identificação [10], [13].
O farmacêutico regista na receita e na guia de tratamento do doente as quantidades
dispensadas, datando-a e assinando. O DL nº 13/2009 e o despacho nº 10302/2009
exigem igualmente, que sejam registados também o lote e a data de validade sempre que
se tratarem de medicamentos biológicos ou medicamentos cedidos para tratamento pós-
operatório de cirurgia em ambulatório. Sempre que possível deve ser fornecida a
medicação dentro da cartonagem original contendo o folheto informativo [10], [14].
Na informação prestada ao doente dever-se-á ter em atenção o grau de
compreensão do mesmo, adaptando sempre que possível a informação científica a cada
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 14
pessoa. De entre as informações prestadas deve constar: via e forma de administração;
condições de armazenamento; Informações técnicas pertinentes; quantidade total de
unidades; custo da terapia; próximo ato de dispensa/consulta. Finalmente, a receita é
assinada pelo doente ou cuidador e pelo farmacêutico. Posteriormente é realizado o
tratamento administrativo das receitas, sendo necessário debitar no stock as quantidades
dispensadas. A receita é arquivada em pastas que estão organizadas por serviços e por
ordem alfabética.
Logo que cheguei ao SF pude presenciar a dispensa em Regime de Ambulatório.
Tive a oportunidade de participar na organização administrativa das receitas, assim como
no auxílio das farmacêuticas quer com as unidades a dispensar quer com o
aconselhamento farmacêutico. É importante referir que existem, de facto, pessoas das
mais diversas faixas etárias e perfis sociais pelo que o farmacêutico deve ser sempre
ponderado no momento de contacto com o doente.
4.5.3 Distribuição Individual Diária em Dose Unitária (DIDDU)
Este processo de distribuição caracteriza-se pela distribuição diária da medicação
prescrita a cada doente por um período de 24 horas, 48 horas em caso de feriado ou 72
horas quando é feita à sexta feita (para sábado, domingo e segunda-feira). Desta forma, é
garantida que toda a medicação prescrita pelos médicos chega ao serviço. Normalmente,
a Unidose é distribuída entre as 15 e as 17 horas do dia. No quotidiano, os profissionais
dos SF referem-no como Unidose. Este tipo de distribuição engloba o médico, o
farmacêutico, o enfermeiro e o TDT [10].
Este tipo de distribuição tem por base, como sempre, a prescrição médica. Esta
deverá ser feita no GHAF, online, para facilitar todo o processo. O médico insere no
processo clínico do doente em causa a informação da terapia: principio ativo, a via de
administração, doses. Mais se adianta que deverá ser incluído o diagnóstico do doente,
assim como alergias ou interações medicamentosas e justificações clínicas quando
aplicáveis. É neste ponto que o farmacêutico entra em funções. A validação da prescrição
deverá ser feita com atenção especial. Através do FHNM, Resumo das Características do
Medicamento e Prontuário Terapêutico, o farmacêutico verifica a dose, a frequência e vias
de administrações e duração do tratamento. São verificadas também quaisquer
duplicações, contraindicações ou doses incorretas. Medicação que exija um maior controlo
como benzodiazepinas, estupefacientes e psicotrópicos ou medicação usada também em
SOS não são distribuídos na Unidose, pelo que devem ser corretamente assinalados. Uma
vez validada a prescrição é elaborado o perfil farmacoterapêutico do doente que será
enviado para o Kardex®. Através dele, os TDT conseguem colocar a medicação validada
pelo farmacêutico e prescrita pelo médico no sistema de malas de transporte de medicação
acopladas com gavetas individuais identificadas pelo nome e pelo número do processo
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 15
clínico. Estas malas são preparadas por serviços. No auxílio desta preparação, os SF do
CHTMAD estão equipados com dois sistemas Kardex® já referidos. Toda a medicação que
não caiba nas gavetas individuais é enviada separadamente mas sempre identificada. No
caso da medicação que necessite de frio, esta é colocada dentro do frigorífico, mas numa
prateleira à parte, também identificada. Quando alguma medicação não existe no Kardex®
é emitido o mapa de incidências. Nesta situação devem-se recorrer às gavetas de apoio
aos Kardex®. Por outro lado, pode acontecer que não existam os medicamentos em causa
nos SF e então é gerado um Alerta da Farmácia que é enviado na gaveta do doente.
Durante o tempo em que está a ser preparada a unidose, podem eventualmente existir
alterações nos serviços: altas, mudanças de camas, prescrições revistas e alteradas. É da
responsabilidade do Farmacêutico estar atento a tais mudanças e deve proceder a
elaboração do mapa de diferenças para a sua correção. Cada farmacêutica está
responsável por diversos serviços, devendo validar a medicação do mesmo [10].
Para controlo interno da qualidade, é feita uma conferência da Unidose com um
elemento da enfermagem tendo por base obviamente o perfil farmacoterapautico. Esta
conferência deve constar no registo mensal de conferência conjunta. A conferência
conjunta não é feita diariamente em todos os serviços. Esta conferência é feita por
amostragem. Se forem detetadas anomalias ou não conformidades, estas deverão ser
corrigidas imediatamente e registadas [10].
Quando a medicação não é utilizada, esta deve ser devolvida aos SF e aqui
verificada. Verifica-se o estado de conservação, anomalias visíveis e a data de validade.
As revertências da medicação podem ser feitas de duas formas: por doente, que é
a forma mais correta ou por serviço. Durante o meu estágio tive oportunidade de elaborar
o registo das revertências, participando por isso na conferencia e verificação da medicação,
assim como no registo no GHAF. Este passo é extremamente importante na medida que
contribui para a manutenção dos stocks da farmácia, e ao mesmo tempo evita desperdícios
[10].
4.5.4 Distribuição Clássica e Reposição de Stocks por Níveis
A Distribuição clássica ou tradicional é complementar ao sistema de Unidose, mas
antigamente era o sistema mais usual. Deve ser feito um pedido aos SF pelo enfermeiro
chefe, que é rececionado pelo farmacêutico. O farmacêutico ou o TDT procede à
preparação da medicação, que no caso dos soros pode ser feito pelos AO, supervisionados
pelos TDT. O AT no fim, faz a atualização informática do stock. Após a preparação, o AO
realiza o transporte do pedido para o serviço onde a requisição é verificada e rubricada e
devolvida à farmácia.
A distribuição clássica tem sido cada vez mais substituída pela reposição por níveis
através do sistema Pyxis®, pois representa uma desvantagem no que diz respeito ao rigor
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 16
do controlo dos stocks. Ainda assim, nos serviços onde não existe este sistema Pyxis®,
esta distribuição é ainda usada e engloba essencialmente produtos como injetáveis de
grandes volumes, pomadas e cremes de uso geral, soluções desinfetantes, solventes entre
outros produtos [10].
Cada serviço tem um stock de medicamentos que assegura a manutenção da
distribuição dos medicamentos complementarmente às unidoses. Quando, por alguma
razão, é necessária medicação e por exemplo os SF já encerraram ou a houve alguma
alteração na prescrição, facilmente os profissionais de saúde nos diferentes serviços
podem recorrer a este stock armazenado nos diferentes níveis. O CHTMAD conta com a
preciosa ajuda do sistema Pyxis Medstation 3500® que se baseia num conjunto de armários
informatizados, semiautomáticos de armazenamento de medicamentos. Estes sistemas
estão dispersos pelos serviços que se consideram mais uteis tais como urgência ou
unidades de cuidados intensivos. Nos Pyxis® encontra-se um conjunto de medicamentos
estabelecidos previamente pelo enfermeiro chefe, médico responsável pelo serviço e
farmacêutico atendendo às necessidades do serviço em si, estabelecendo-se máximos e
mínimos ideais para cada medicamento. O controlo dos armários é feito através de um
painel e um Software integrado no sistema. Todos os medicamentos fazem parte do stock
físico da farmácia até ao momento em que o profissional de saúde recorre à sua remoção
do Pyxis®. Para fins de controlo global está existe uma consola geral de controlo de todo o
sistema que está nos SF, e é através desta que as farmacêuticas conseguem fazer a
gestão dos medicamentos nos armários, elaborando relatórios de necessidades (Anexo IV)
ou procurando medicamentos. Estes relatórios são avaliados numa base diária pelas
farmacêuticas de forma a conseguir garantir o stock dos serviços. Os armários têm
diferentes compartimentos que representam diferentes níveis de segurança, desde
gavetas com divisórias, gavetas com cubies (recipientes em forma cubica que têm uma
placa de abertura), ou gavetas de dispensa unitária. Medicamentos com maior necessidade
de controlo são inseridos nas gavetas de dispensa unitária como os estupefacientes e as
benzodiazepinas de uma maneira geral estão inseridas nos cubies [10].
No Hospital de Vila Real a reposição por níveis é feita pelas farmacêuticas sendo
da sua responsabilidade ter atenção aos stocks dentro dos armários. O processo de
reposição é feito no local, sendo necessária verificar a validade do produto em causa, de
forma a garantir o cumprimento do sistema FEFO. Durante o meu estágio, diversas foram
as situações em que tive oportunidade de analisar os relatórios emitidos pela consola a fim
de reposição do armário em questão, preparar a medicação e de igualmente acompanhar
as farmacêuticas na reposição.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 17
4.5.5 Distribuição Individualizada
A distribuição individualizada é um tipo de distribuição exigida para medicamentos
que requerem um controlo mais apertado, sendo realizada para os Estupefacientes e
Psicotrópicos, Benzodiazepinas (nos serviços em que não existem Pyxis®),
Hemoderivados, Estimulantes da Hematopoiese e material de penso.
Conforme o tipo de medicação é exigido um modelo específico de
prescrição/distribuição: Modelo nº 1804 (hemoderivados), modelo nº 1509
(Estupefacientes e Psicotrópicos) ambos da INCM, Justificação Extra-Formulário (Anexo
V), ou ainda o modelo de requisição de material de penso (Anexo VI)
Estupefacientes e psicotrópicos
A Lei Portuguesa salvaguarda no DL n.º 15/93 de 22 de janeiro todas as substâncias
consideradas estupefacientes e psicotrópicas. A lei prevê um controlo bastante apertado
desta medicação uma vez que é suscetível de causar dependência forte assim como
efeitos secundários muito significativos ou mesmo tráfico e para fins ilícitos. A sua utilização
segundo a Portaria n.º 981/98, de 8 de junho requerem o registo do modelo n.º 1509 num
livro de requisições (Anexo VII). Este livro de requisições é de venda exclusiva da Imprensa
Nacional – Casa da Moeda (INCM).
Sempre que um serviço necessite de um medicamento com esta classificação pode
recorrer a duas situações: se tiver um armário Pyxis®, neste poderão estar armazenados
os medicamentos em questão. Para fins legais, os armários Pyxis® contendo este tipo de
medicamentos apresentam uma autorização do INFARMED. Têm um stock definido,
normalmente controlado em gavetas com segurança mais apertada. A medicação é
imediatamente associada ao doente e o preenchimento do modelo não é exigido. Porém
casos em que não existe Pyxis®, o médico prescritor deve preencher o modelo e enviá-lo
aos SF. No modelo constam informações sobre o medicamento, forma farmacêutica,
dosagem, quantidades, assim como o doente e o seu processo clínico. O modelo é
preenchido em duplicado e assinado pelos requisitantes e pela Diretora dos SF, ficando o
original arquivado em pastas específicas
A transferência de estupefacientes e psicotrópicos entre as diferentes unidades do
CHTMAD requer igualmente o modelo em questão.
Os estupefacientes e psicotrópicos têm um cofre de armazenamento situado numa
sala separada do armazém habitual. A este cofre só têm acesso as farmacêuticas.
Estimulantes da Hematopoiese
A distribuição destes medicamentos é feita de acordo com uma calendarização. O
AO do serviço de nefrologia transporta a lista de doentes em diálise que vão recorrer a
estimulantes da hematopoiese. O farmacêutico recebe a prescrição, valida-a e dispensa,
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 18
com o cuidado de cautelosamente acondicionar os medicamentos, uma vez que as
eritropoietinas têm de permanecer a baixa temperatura. É feito o registo da validade e do
lote distribuído e as embalagens são identificadas com colantes dos doentes para a
enfermagem proceder a validação e dispensa da medicação. Tive oportunidade de por
diversas vezes participar nesta distribuição.
Hemoderivados
Estes medicamentos são constituídos por proteínas plasmáticas de interesse
terapêutico que não se podem sintetizar por métodos convencionais, pelo que são obtidos
de plasma de dadores humanos sãos, através de um processo tecnológico adequado de
fracionamento e purificação, sendo os principais: albumina, imunoglobulinas (vacina anti-
tetânica, contra a hepatite B, contra a varicela, contra o antigénio D, contra o
citomegalovírus e contra o tétano) e fatores da coagulação (Fator VII, Fator VIII, Fator IX,
além dos complexos protrombínicos). Estes medicamentos são acompanhados do
certificado de libertação de lote que é emitido pelo laboratório do INFARMED [15].
Para fins de controlo do medicamento, a sua utilização requer o impresso modelo
nº1804 (Anexo VIII)
Medicamentos Extra-Formulário
Por fim, a distribuição individualizada é também feita no caso dos medicamentos
que são extra formulário. Estes medicamentos requerem, tal como já referido de um
impresso e são sempre sujeitos a apreciação da CFT e se necessário da CNFT. Ao serem
dispensados desta forma ficam sujeitos a um registo, mas neste caso é necessária uma
justificação clinica do mesmo.
4.6 Ensaios Clínicos
No dia 23 de Junho deslocámo-nos ao gabinete do centro de investigação do
CHTMAD para assistir a uma explicação teórica dos ensaios clínicos. Esta sessão foi
apresentada pela Drª Lucília Penteado, colaboradora da empresa BlueClinical que é
responsável pela prospeção de novos ensaios clínicos em diversos hospitais portugueses.
A sessão durou cerca de duas horas na qual foram revelados algumas particularidades
destes procedimentos.
O DL nº 21/2014 de 16 de abril salvaguarda tudo o que diz respeito aos ensaios
clínicos e serviu principalmente para compilar uma série de documentos que tinham as
informações dispersas. Para além desta lei, deve também ser dado destaque às boas
práticas clínicas incluídas na International Conference on Harmonisation. Os
medicamentos passam por diversas fases: fase pré-clínica (Testes em Animais), Ensaios
Clínicos: Fase I: é avaliada a segurança e tolerabilidade do novo medicamento, sendo o
seu âmbito a Toxicologia e Farmacologia Clínica - 20 a 80 pessoas saudáveis; Fase II: é
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 19
avaliada a eficácia terapêutica. É investigação Clínica Preliminar da Eficácia Terapêutica -
100 a 300 doentes; Fase III: Segurança, eficácia e benefício terapêutico. Avaliação
Terapêutica em larga escala - 1000 a 3000 participantes (Farmacoepidemiologia
Experimental); Fase IV: Vigilância Pós-Marketing - Realizados após a obtenção da
Autorização de Introdução no Mercado.
Nos casos dos medicamentos do Vírus da Imunodeficiência Humana, Hepatite C e
medicamentos oncológicos não existem fases I dos ensaios clínicos devido aos efeitos
secundários muito intensos.
O INFARMED é a autoridade competente nesta matéria, sendo este organismo
responsável pela supervisão dos ensaios clínicos, enquanto que a Comissão de Ética para
a Investigação Clínica é responsável por definir os princípios de boas práticas clínicas e
orientações científicas pertinentes aos mesmos.
O processo burocrático que existe antes de se por em prática o ensaio clinico
demora usualmente 4 a 5 meses, passando por diversas fases, necessitando de ser
autorizado do CA. A lei que surgiu o ano passado veio regularizar os limites de tempo para
resposta das entidades competentes. Na visita que foi realizada ao centro de investigação
foi dado muito enfase à necessidade do processo pré ensaio ser mais simplificado, uma
vez que era muitas vezes limitante, ficando o ensaio parado durante 1 ano ou mais
perdendo por vezes interesse ou significado clínico. Hoje em dia, a lei é mais clara nesse
sentido, perspetivando-se uma melhoria no que toca ao número e à qualidade dos ensaios
clínicos em território nacional. De facto, é essencial a elaboração da brochura do
investigador no qual devem contar: informação da empresa que quer realizar o ensaio
assim como o representante responsável, finalidade, objetivos e metodologia do processo,
a população e por fim outras informações que possam ser consideradas relevantes. [16]
Cada ensaio tem um médico supervisor responsável, que deve ser especialista na
área clínica a que os medicamentos experimentais dizem respeito. Igualmente, da parte da
farmácia hospitalar deve existir um farmacêutico responsável pelo ensaio clínico. A
comissão de ética competente é a entidade responsável pela monitorização dos ensaios
clínicos.
Após a apreciação do Ensaio Clínico ocorre a receção e conferência do
Medicamento Experimental. Nos SF é rececionado esse mesmo medicamento em causa
e a informação do promotor, sendo necessário proceder ao preenchimento de uma norma
associada. Aquando da receção, feita pelo farmacêutico responsável, devem ser
verificadas quantidades, lotes, prazos de validade, acondicionamento, e número de
randomização quando aplicável. O medicamento para além disto deve ter uma pasta de
arquivo própria na qual devem ser arquivados os documentos referentes. Por outro lado,
durante o armazenamento, deve ser preenchida a ficha do ensaio clinico [10].
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 20
É da responsabilidade do promotor indicar os procedimentos clínicos e forma de
dispensa do medicamento. Muitas vezes estes procedimentos são confidenciais e o acesso
à documentação e aos medicamentos é reservado de forma a manter em segredo
informações relevantes do processo. O promotor deve enviar o modelo de registo, no qual
ficaram escritos as dispensas efetuadas além de informações como o doente em causa, o
medicamento, ou o número de randomizações entre outras informações. Na visita ao
centro de investigação foi feita uma alusão sobre a maneira como estes protocolos
confidenciais são feitos [10] ,[17].
Para o doente entrar no ensaio clinico este deve ser proposto pelo médico e
posteriormente é feita uma entrevista investigador, em que lhe devem ser explicados, de
modo completo e em linguagem adequada à sua capacidade de compreensão, os
objetivos, os riscos e os inconvenientes do estudo clínico, bem como as condições em que
este é realizado. Para participar o doente deve proceder à assinatura do consentimento
informado. A qualquer altura é possível desistir e sair do ensaio, não havendo nenhum tipo
de compromisso, nem nenhum tipo de comprometimento do tratamento. As normas dos
SF do CHTMAD alertam para a necessidade de ser respeitada a dignidade das pessoas,
o consentimento livre informado, a boa vontade e o voluntariado assim como a privacidade
e a confidencialidade quer do processo quer dos doentes. Devido a necessidade do registo
processual, os doentes acabam por ter um seguimento maior do que outros. Exames
clínicos, consultas, verificação de efeitos secundários são mais frequentes e deverão ser
sempre registados para futura consulta. O investigador tem a obrigação de em 24 horas
informar o promotor todas as reações e acontecimentos adversos graves, do qual deve
resultar um posterior relatório. Para além disto, a lei que aprova a investigação clinica
delineou a necessidade de existir um Registo Nacional de Estudos Clínicos, uma
plataforma online na qual são registados todos os ensaios clínicos para fomentar a
intercomunicação entre os diferentes grupos de investigação [10], [17].
Durante a sessão de explicação foi também dado enfase à utilidade económica dos
ensaios clínicos para o SNS. De facto, a lei salvaguarda que todas as despesas devem
estar a cargo do promotor do ensaio, resultando numa mais-valia para os encargos do
Hospital em si.
5. Erros na Medicação e o seu registo
Os erros na medicação encontram-se igualmente abrangidos pelas normas dos SF.
Na verdade, sempre que estes ocorrem, é necessário proceder ao seu registo, de forma a
permitir uma avaliação e garantir uma melhoria continua quer dos SF como dos
profissionais envolvidos. Considera-se Erro de Medicação qualquer ocorrência evitável
capaz de causar ou induzir uso inapropriado, ou prejudicar o doente. Estas ocorrências
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 21
podem estar relacionadas com diversas situações e classificam-se em A (quando as
situações podem causar erro, por exemplo, na rotulagem), B (quando o erro ocorreu mas
não chegou ao doente) ou C (quando efetivamente chegou ao doente) [18].
Sempre que existe um erro na medicação este deve ser reportado por qualquer
profissional de saúde e registado em impresso próprio (Anexo IX).
Além do registo é necessário averiguar as circunstancias e de acordo com estas
tomar as devidas medidas. Caso o erro seja do tipo C deve ser imediatamente comunicado
ao médico responsável pelo serviço em que o doente está inserido e verificar a situação
clinica, enviando-se um relatório ao gestor do erro da medicação para este avaliar e caso
seja necessário, adequar as medidas imediatas necessárias [18].
Mensalmente o gestor do erro envia o relatório de Erros de Medicação à CFT, assim
como ao gabinete da qualidade e aos diretores e enfermeiros chefe dos serviços. Se o erro
não chegar ao doente, apenas é elaborado um impresso pelo profissional que o detetou,
ficando assim registado. [18].
No meu estágio consegui perceber desde cedo a importância da validação da
medicação de forma atenta uma vez que é neste momento que podem existir os erros em
questão. Presenciei igualmente o preenchimento do Registo de Erros de Medicação,
aquando da deteção de um erro de prescrição no GHAF.
6. Emergência Hospitalar e os Serviços Farmacêuticos
Os SF do CHTMAD, através dos Carros de Emergência, providência a medicação
de fácil acesso durante 24 horas por dia a qualquer pessoa em situação de emergência. O
carro em questão trata-se na verdade de uma estrutura física móvel onde se encontra um
conjunto de equipamentos, fármacos e outros materiais para reanimação cardio-
respiratória. Na 1ª gaveta de todos os carros de emergência, cuja composição está inscrita
nas normas do CHTMAD [19], existem fármacos de primeira linha em situações de
emergência orientandos por cores para uma reação mais instintiva. Os carros de
emergência têm procedimentos de manutenção e verificação, como por exemplo testar o
desfibrilhador semanalmente (desligado), ou verificar diariamente a pressão na garrafa de
oxigénio, porém, mensalmente devem ser verificadas as validades dos carros de
emergência. Este procedimento deve ser feito tendo em conta as necessidades do carro
de emergência e a gestão dos stocks deve ser feita com particular atenção. Devem constar
validades alargadas de forma a garantir a durabilidade. Se forem detetadas validades
próximas do fim, as farmacêuticas deslocam-se a estes carros para trocar a medicação,
encaminhando-a para serviços que a necessitem ou que tenham alta rotatividade dos
mesmos [19].
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 22
Durante o estágio tive oportunidade de avaliar as validades dos fármacos de alguns
carros de emergência e acompanhar as farmacêuticas na substituição dos mesmos quando
foi necessário.
7. Pedidos de Informação e Centro de Informação do
Medicamento
Os SF dos hospitais têm a responsabilidade de fornecer informação sobre os
medicamentos que gerem. Esta informação pode ser requisitada quer a utentes quer a
outros profissionais de saúde. A complexidade e as inovações no setor dos medicamentos
e da farmacologia levou à necessidade da criação de Centros de Informação do
Medicamento (CIM) dentro dos SF [3]. Este centro de informação, que em termos clássicos
corresponderia a uma biblioteca contendo informação escrita, deve hoje em dia ser
representado por outros mecanismos para procurar informação, nomeadamente internet e
bases de dados.
Os SF devem proceder, através do seu CIM, à disponibilização de informação de
forma passiva ou ativa. No primeiro caso refere-se às situações pontuais em que se tentam
fornecer respostas a questões colocadas pelos profissionais de saúde. O pedido chega
aos SF ficando registado num modelo próprio, podendo a requisição ser feita por telefone,
pessoalmente ou escrito. Numa primeira fase verifica-se se o pedido é novo ou se já existe
a informação no banco de dados. Mas caso seja o primeiro pedido, é feita uma pesquisa
bibliográfica usando fontes tais como o Infomed ou o Prontuário Terapêutico e caso seja
ainda necessário poder-se-á usar outras fontes, entre elas estudos académicos ou
informação presente em Guidelines das diferentes organizações. No caso da informação
ativa, esta deve ser proporcionada por iniciativa do CIM, tal como realização de seminários,
elaboração de folhetos informativos, estre outros métodos [10], [20].
Durante o meu estágio foi-me pedido que elaborasse uma resposta a um pedido de
informação: “Qual é o tempo de intervalo que deve existir entre a vacinação contra a
varicela e o tratamento com fingolimod?”. Este último fármaco é usado para o tratamento
da esclerose múltipla com exacerbação-remissão muito ativa. De forma a resolver esta
questão recorri ao Infomed que direcionou para o Resumo das Características do
Medicamento (RCM) presente no site da Agência Europeia do Medicamento. Neste
documento, encontra-se a informação explícita sobre o caso, remetendo para que as
pessoas que não tenham sido vacinadas ou que nunca se obteve qualquer registo clínico
da varicela (ou seja, anticorpos para a varicela negativo) devam realizar um ciclo de
vacinação completo antes da administração do fingolimod. Assim, posto isto, após a
vacinação dever-se-á esperar cerca de um mês para o efeito seja completo [21].
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 23
8. Farmacovigilância e Farmacocinética
Apesar dos medicamentos passarem estudos rigorosos que comprovam que o a
sua segurança e eficácia aceitáveis, a verdade é que existem sempre situações não
previstas e que se provam importantíssimas para o medicamento.
Em Portugal, o Sistema Nacional de Farmacovigilância foi criado em 1992, pelo
Despacho Normativo nº 107/92, de 27 de Junho, sendo atualmente regulamentado pelo
DL n.º 242/2002 de 5 de Novembro. A atualização deste sistema deve ter a colaboração
de todos os profissionais de saúde, indicando as suspeitas de reações adversas dos
diferentes medicamentos em causa [22]. Nos hospitais deve existir uma recolha e registo
adequado dos efeitos adversos para serem posteriormente enviadas. O INFARMED
através do portalRAM permite que qualquer pessoa consiga realizar uma notificação de um
efeito secundário grave ou não esperado de um medicamento.
As notificações dos medicamentos devem apresentar informações consideradas
mínimas: descrição da reação adversa; identificação do medicamento que terá dado
origem à reação adversa; informação sobre a pessoa que sofreu a reação adversa; os seus
contactos, enquanto notificador da reação adversa.
Os serviços de farmacocinética são realizados nos Serviços de Análises Clínicas,
sob vigilância de um médico da especialidade. A farmacocinética normalmente é feita para
certos antibióticos e outros medicamentos como modificadores do sistema imunitário.
9. Outras atividades
Formação: diagnóstico e tratamento da urticária
No dia 26 de maio, foi realizada uma ação de formação teórica sobre o diagnóstico
e o tratamento da urticária recorrendo a anticorpos monoclonais. Esta formação ficou a
cargo de profissionais da Novartis®. A urticária caracteriza-se por um prurido intenso em
várias zonas do corpo, cujo tratamento passa por anti-histamínicos de 2ª geração. Nesta
formação foi evidenciada a necessidade de controlar a proliferação de mastócitos como
meio de tratamento usando para tal o omalizumab em meio hospitalar: agrega-se as
imunoglobulinas tipo E produzidas pelos mastócitos, inibindo a ligação destes últimos.
Outros tratamentos tais como ciclosporina A, corticosteroides ou Montelucaste revelaram
pouca utilidade em comparação com o omalizumab.
A ação de formação a cargo de uma empresa farmacêutica foi realizada na sala de
reuniões.
Visita ao serviço de Nefrologia
No dia 9 de julho foi sugerida uma visita ao serviço de nefrologia. A visita, orientada
pelo Enfermeiro José Faceira que se disponibilizou a elaborar uma explicação teórica
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 24
transmitida oralmente sobre o funcionamento da unidade, assim como os mecanismos
básicos de hemodiálise. Nesta visita foi explicado que a hemodiálise se tratava de um
mecanismo de mimetização mecânica e artificial do rim para doentes com insuficiência
renal. A unidade de Vila Real recebe em dias não sucessivos num regime de dois turnos,
manhã e tarde, os seus doentes. Os SF do CHTMAD contribuem para esta unidade com
medicamentos estimulantes da hematopoiese tal como já referido anteriormente neste
relatório entre outros medicamentos. Foi ainda dado destaque à diálise peritoneal,
tratamento domiciliário, por exemplo durante a noite, porém apenas para os doentes que
consigam compreender bem o mecanismo e o tratamento. É um método mais cómodo, já
que a pessoa não se tem de deslocar à unidade hospitalar para realizar o tratamento.
Normalmente, pessoas ativas profissionalmente são os principais candidatos à diálise
peritoneal. Por fim, foi explicado o mecanismo de purificação da água que recorre a
diversos filtros (de areia e outros de carvão ativado), assim a osmose inversa, de forma a
garantir que a água que está a circular nos instrumentos de diálise é pura em termos
bacteriológicos e em termos iónicos.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 25
10. Conclusão
A formação do farmacêutico é caracterizada pela multidisciplinaridade que a
incrementa, sendo composta quer por ciências quer básicas quer farmacêuticas. Na
verdade, o longo e teórico percurso ao longo dos cinco anos do Mestrado Integrado em
Ciências Farmacêuticas foram postas em prática nestes meses que complementam o
estágio curricular.
A Farmácia Hospitalar e a especialidade de farmacêutico hospitalar revelaram-se
um desafio enorme, demonstrando que o farmacêutico tem um papel ativo nos hospitais e
para além do mais os seus conhecimentos são fundamentais para enfrentar as
adversidades que o próprio hospital pode apresentar. Doenças muito diversas e mais
complicadas do que as que chegam a farmácia comunitária, a junção da atividade de
imensos profissionais e necessidade da racionalização e gestão do medicamento foram
alguns dos principais obstáculos que agora consigo facilmente identificar. Assim como na
farmácia comunitária, aqui o farmacêutico volta a ser um gestor e estratega na
racionalização do medicamento contribuindo sempre para o bem social e comum.
O Estágio Curricular nos Serviços Farmacêuticos de Vila Real, onde acabei o meu
estágio foram um verdadeiro abrir de horizontes, e que em muito contribuíram para a minha
formação como farmacêutico e certamente serão uteis no futuro profissional.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 26
11. Bibliografia
[1] Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro "Acerca da Instituição". Acessível
em: http://www.chtmad.min-saude.pt/. [acedido em 25 de julho de 2015]
[2] Decreto-Lei nº 44 204, de 2 de Fevereiro de 1962: Regulamento geral da Farmácia
Hospitalar
[3] Conselho Executivo da Farmácia Hospitalar (2005). Manual da Farmácia Hospitalar.
Gráfica Maiadouro;
[4] Portaria n.º 155/2007, de 31 de Janeiro: Cria o Código Hospitalar Nacional do
Medicamento (CHNM).
[5] Portaria n.º 981/98, de 8 de Junho: Execução das medidas de controlo de
estupefacientes e psicotrópicos.
[6] Despacho n.º 2061-C/2013, de 1 de fevereiro de 2013: Cria a Comissão Nacional de
Farmácia e Terapêutica e estabelece as suas competências e composição
[7] Deliberação n.º 690/2013, de 7 de fevereiro: Aprova o Regulamento de
Funcionamento da Comissão Nacional de Farmácia e Terapêutica
[8] Grupo MMU do CHTMAD, MMU nº 064 Manuseamento de Cistostáticos, Abril de
2010 in Manual JCI
[9] Grupo MMU do CHTMAD, MMU nº 057: "Armazenamento de medicamentos e
preparação de concentrados de eletrolitos" in Manual JCI
[10] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE.
Manual da Qualidade dos Serviços Farmacêuticos. Atualizado a última vez a
27/11/2014.
[11] Portaria n.º 594/2004, de 2 de Junho: Aprova as boas práticas a observar na
preparação de medicamentos.
[12] Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE.
Manual de Procedimentos de Citostáticos. 2014.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 27
[13] Grupo MMU do CHTMAD, MMU nº 020 "Dispensa de medicamentos a utentes em
Regime Ambulatório" in Manual JCI
[14] Decreto-Lei nº 13/2009: Estabelece as condições e os requisitos para dispensa de
medicamentos para tratamento no período pós-operatório de situações de cirurgia
de ambulatório.
[15] Boletim do CIM. Medicamentos derivados do Plasma Humano. s.l. : Revista Ordem
dos Farmacêuticos, 2013.
[16] Grupo MMU do CHTMAD, MMU nº 070 "Investigação e Ensaios Clínicos" in Manual
JCI
[17] Decreto-Lei n.º 21/2014, de 16 de abril: Aprova a Lei da Investigação Clínica.
[18] Grupo MMU do CHTMAD, MMU nº 014: "Registo e Análise de Erros de Medicação"
in Manual JCI
[19] Grupo MMU do CHTMAD, MMU nº 079: "Emergencia Médica Intra-hospitalar" in
Manual JCI
[20] Conselho do Colégio da Especialidade em Farmácia Hospitalar (1999). Boas Práticas
de Farmácia Hospitalar. Ordem dos Farmacêuticos, Lisboa;
[21] Resumo das Características do Medicamento GILENYA (Fingolimod). Novartis®.
Acessível em: http://www.ema.europa.eu/docs/pt_PT/document_library/EPAR_-
_Summary_for_the_public/human/002202/WC500104530.pdf [acedido em 4 de julho
de 2015]
[22] PortalRAM. Acessível em:
https://extranet.infarmed.pt/page.seram.frontoffice.seramhomepage [acedido em 4
de julho de 2015].
[23] Ministério da Saúde, Programa do Medicamento Hospitalar, Março de 2007.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 28
12. Anexos
Anexo I
Impresso para a requisição de Estupefacientes, Psicotrópicos e Benzodiazepinas
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 29
Anexo II
Impresso para registo de erros na medicação
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 30
Anexo III
Medicamentos de dispensa exclusiva em Farmácia Hospitalar
Continua na página seguinte
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 31
Anexo III: continuação
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 32
Anexo IV
Relatório elaborado para Reposição do Pyxis® do Serviço de Medicina A
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 33
Anexo V
Justificação Extra-Formulário
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 34
Anexo VI
Modelo Interno para requisição de Material de Penso
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 35
Anexo VII
Impresso modelo para a utilização de Estupefacientes, Psicotrópicos e Benzodiazepinas
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 36
Anexo VIII
Modelo nº1804 referente à utilização de medicamentos Hemoderivados
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 37
Anexo IX
Impresso de registo de acidentes na UCPC
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 38
Relatório de Estágio Profissionalizante em Farmácia Hospitalar
Jorge Neri Página 1