Post on 11-Nov-2018
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA
DAYSE MORAES OLIVEIRA
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A LOGÍSTICA REVERSA DO PET NO
BRASIL
LORENA
2014
DAYSE MORAES OLIVEIRA
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A LOGÍSTICA REVERSA DO PET
NO BRASIL
Monografia apresentada à Escola de
Engenharia de Lorena - Universidade de São
Paulo como requisito parcial para conclusão
da Graduação do curso de Engenharia
Industrial Química.
Orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Carvalho
Pereira
LORENA
2014
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO Serviço de Biblioteca Escola de Engenharia de Lorena
Oliveira, Dayse Moraes
Desafios e oportunidades para a logística reversa do pet no Brasil/ Dayse
Moraes Oliveira. - Lorena, 2014.
67f.
Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão do Curso de
Graduação de Engenharia Industrial Química - Escola de Engenharia de Lorena
da Universidade de São Paulo.
Orientador: Marco Antonio Carvalho Pereira
1. Reciclagem de resíduos urbanos 2. Embalagens (Reciclagem) 3.
Sustentabilidade 4. Logística I. Pereira, Marco Antonio Carvalho (Orientador)
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter-me dado o sonho de ingressar na USP e por ter-me
capacitado para realiza-lo.
Ao meu marido, Lucas, por todo apoio, pelos conselhos, pela
compreensão e por proporcionar-me alegria e força. Também agradeço aos
seus pais, Luiz Carlos e Valéria Cristina, pelo apoio nessa realização.
Aos meus pais, Jabes e Ester, pela dedicação, compreensão e por todo
apoio em meu trajeto, sempre confiantes no meu sucesso. Ao meu irmão
Wesley, pelas palavras de encorajamento e todo apoio.
Às minhas amigas da EEL, por sempre estarem dispostas a ajudar e por
terem contribuído para o meu desenvolvimento profissional e pessoal; em
especial à Angela, Barbara, Luana, Luiza, Priscila e Amanda.
Ao Prof. Dr. Marco Antônio, por toda ajuda, pela inspiração profissional e
pela disposição e paciência ao orientar-me durante o desenvolvimento desse
trabalho.
RESUMO
OLIVEIRA, D. M. Desafios e oportunidades para a logística reversa do PET
no Brasil. 2014. 43 p. Monografia de conclusão de curso – Escola de
Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2014.
A disposição dos resíduos sólidos tem sido muito discutida nos dias atuais.
Uma alternativa à disposição final de muitos resíduos sólidos é a reutilização
desses materiais pós-consumo na produção de novos produtos. O PET
(politereftalato de etileno) é um material largamente utilizado na indústria de
bebidas em todo o mundo. Esse material possui a vantagem de ser 100%
reciclável, tornando sua reciclagem uma alternativa para a disposição desse
material pós-consumo. Com consumidores cada vez mais exigentes, a
estruturação da logística reversa para este material representa vantagens
econômicas e competitivas. O Brasil ganha destaque mundial na reciclagem
desse material, com os índices crescentes ano após ano. Neste trabalho foi
feita uma pesquisa documental com o objetivo de fazer uma análise da
logística reversa do PET no Brasil, identificando desafios e apresentando
oportunidades. Com isso, foi concluído que os desafios se resumem em uma
responsabilidade compartilhada entre poder público, empresas e a população
sobre a logística reversa do PET, que são: (i) Implantação da coleta seletiva
em todos os municípios. (ii) Conscientização da população sobre a destinação
correta do PET, que deve ser feita em ação conjunta pelas empresas e poder
público. (iii) Incorporação dos catadores informais às cooperativas e
fornecimento de treinamentos e melhores condições de trabalho feito pelo
poder público e as empresas. Também foram identificadas oportunidades para
a logística reversa do PET no Brasil: (i) Geração de empregos aos catadores,
com melhores condições de trabalho. (ii) Aumento dos incentivos às
cooperativas e empresas que realizam a reciclagem. (iii) Economia de PET
virgem por parte das empresas. (iv) Aumento da imagem coorporativa das
empresas. (v) Aumento da perspectiva do mercado para o PET PCR grau
alimentício.
Palavras-chave: logística reversa, PET, reciclagem, canais reversos.
ABSTRACT
OLIVEIRA, D. M. Challenges and opportunities for reverse logistics of PET in
Brazil. 2014. 42 p. Course Conclusion Monograph – School Engineering of
Lorena, University of São Paulo, Lorena, 2014.
The disposal of solid waste has been much discussed nowadays. As an
alternative to disposal of many solid waste is to reuse these post-consumer
materials in the production of new products. PET (polyethylene terephthalate) is a
material widely used in the beverage industry worldwide. This material has the
advantage of being 100% recyclable, making recycling an alternative to the
provision of such post-consumer material. With increasingly demanding
consumers, the structure of reverse logistics for this material is economic and
competitive advantages. The highlight Brazil wins world in recycling of PET, with
increasing rates year after year. This work was done documentary research in
order to make an analysis of the reverse logistics of PET in Brazil, identifying
challenges and presenting opportunities. This work concluded that the challenges
can be summarized as a shared responsibility between public authorities,
businesses and the public about the reverse logistics of PET, which are: (i)
Implementation of selective collection in all municipalities. (ii) Awareness of the
population about the proper disposal of PET which must be taken in joint action by
companies and public power. (iii) Incorporation of informal waste pickers
cooperatives and providing training and better working conditions made by the
public authorities and companies. Opportunities for reverse logistics of PET in
Brazil were also identified: (i) Employment generation to scavengers with better
working conditions. (ii) Increased incentives to cooperatives and companies that
perform recycling. (iii) Economics of virgin PET by firms. (iv) Increased corporate
image by firms. (v) Increased market outlook for food grade PCR PET.
Keywords: reverse logistic, PET, recycling, reverse channels.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Representação dos processos logísticos direto e reverso...................14
Figura 2 – Canais de distribuição diretos e reversos.............................................16
Figura 3 – Mudanças com a Lei de Resíduos........................................................22
Figura 4 – Ciclo fechado........................................................................................29
Figura 5 – Cadeia em circuito fechado: “caminhos” e “descaminhos” das
embalagens PET no Brasil.....................................................................................30
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Consumo de PET no Brasil...........................................................18
Gráfico 2 – Evolução do índice de reciclagem do PET..........................................19
Gráfico 3 – Taxas de recuperação de PET............................................................20
Gráfico 4 – Consumo de energia na produção do PET...................................20
Gráfico 5 – Como é adquirido o PET para reciclagem no Brasil............................25
Gráfico 6 – Usos finais para o PET reciclado em 2012...................................27
Gráfico 7 – Aplicações do PET reciclado no Japão em 2007................................27
Gráfico 8 – Número de cidades brasileiras com coleta seletiva de resíduos.........34
Gráfico 9 – As aplicações do PET com melhores perspectivas de crescimento...38
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Recicladores contados por estado.......................................................26
LISTA DE SIGLAS
PET – Politereftalato de Etileno
PET PCR – PET pós-consumo reciclado
ABIPET – Associação Brasileira da Indústria do PET
CEMPRE – Compromisso Empresarial para Reciclagem
PNRS – Politica Nacional de Resíduos Sólidos
PEV – Ponto de Entrega Voluntária
IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................12
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..............................................................................14
2.1. Logística Reversa............................................................................................14
2.1.1. Canais de Distribuição Reversos.................................................................15
2.1.2. Ciclos Reversos............................................................................................16
2.1.3. A Importância da Logística Reversa.............................................................17
2.2. O PET..............................................................................................................18
2.2.1. A Reciclagem do PET..................................................................................19
2.2.2. Legislação no Brasil e no mundo.................................................................21
2.2.3. Etapas da Reciclagem do PET....................................................................23
2.2.4. Reciclagem Bottle to Bottle..........................................................................27
2.3. A Logística Reversa do PET...........................................................................29
3. METODOLOGIA................................................................................................32
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.........................................................................33
4.1. DESAFIOS......................................................................................................33
4.2. OPORTUNIDADES.........................................................................................36
5. CONCLUSÃO....................................................................................................40
REFERÊNCIAS.....................................................................................................41
12
1. INTRODUÇÃO
Atualmente existe uma grande preocupação com a disposição dos resíduos
sólidos urbanos e industriais gerados, devido aos problemas ambientais
associados. Parte dos resíduos sólidos é de difícil degradação, como os materiais
plásticos, por isso a preocupação com esse assunto tem estimulado a busca de
soluções para reduzir seus impactos ao meio ambiente.
O PET (politereftalato de etileno) é um polímero produzido em larga escala
no Brasil e no mundo, onde sua principal utilização está no setor de
embalagens para a indústria de bebidas. A incineração e a disposição em
lixões e aterros são muito questionadas, pois o PET é um material de difícil
degradação no meio ambiente, causando grandes impactos ambientais.
A logística reversa é uma maneira de fazer com que se diminua
significativamente os impactos causados pela disposição dos resíduos. Tornando
viável a reutilização destes como matéria-prima na produção de novos produtos,
passando assim a ser vista também como uma oportunidade de negócio.
As corporações têm crescente interesse na logística reversa, pois através
desse fluxo reverso de materiais, pode-se obter economia de matéria-prima, como
a resina virgem, além da obtenção de outras vantagens, como a imagem que
empresa terá ao mostrar seu interesse pelas questões ambientais.
O PET tem uma grande vantagem que favorece sua reutilização, isso se
deve ao fato dele poder ser totalmente reciclado. No Brasil o PET pós-consumo
é utilizado na produção de muitos outros produtos, principalmente na indústria
têxtil. O PET-PCR grau alimentício (PET pós-consumo reciclado grau alimentício)
recentemente começou a ser utilizado na fabricação de embalagens alimentícias
no Brasil, principalmente na indústria de bebidas, e apesar de existirem muitas
discussões sobre o assunto, as tecnologias empregadas já são exploradas há
mais de 20 anos em outros países.
No Brasil existe a logística reversa do alumínio como um bom exemplo de
eficiência e consolidação dos canais reversos. No caso do PET, ainda não existe
uma eficiência como a do alumínio, porém observa-se um crescimento dos
índices de reciclagem ano a ano do PET, colocando o Brasil em destaque nessa
questão (ABIPET,2013). Existem ainda expectativas positivas com a recém-
aprovada a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) em julho de 2010, que
13
trada das responsabilidades sobre o sistema logístico reverso dos resíduos
sólidos.
O objetivo desse trabalho é fazer uma análise da logística reversa do PET no
Brasil, identificando desafios e apresentando oportunidades.
Na primeira parte deste trabalho é feita uma pesquisa documental sobre a
estrutura da logística reversa do PET no Brasil, trazendo índices recentes sobre a
reciclagem do PET no país e comparações com outros países. Essa pesquisa tem
como objetivo delinear a logística reversa do PET no Brasil, caracterizando todos
os pontos de sua estrutura e identificando quais são os atores que a influenciam.
Nesse estudo ainda são discutidas as praticas e possibilidades para um maior
alcance dos índices de reciclagem do PET e uma maior eficiência desse
processo. Deu-se ênfase ao retorno no fluxo reverso principalmente das garrafas
PET, que são utilizadas na indústria de bebidas, por representar a maior parte das
aplicações do PET virgem atualmente.
14
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. Logística Reversa
A logística reversa é um tema muito discutido na literatura atual, porém
são encontradas maneiras diferentes de se definir a logística reversa.
Leite (2002) define a logística reversa como
[...] a área da logística empresarial que planeja, controla o
fluxo e as informações logísticas correspondentes do retorno
dos bens de pós-venda e pós-consumo ao ciclo de negócios ou
ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição
reversos, agregando-lhes valores de diversas naturezas:
econômico, de prestação de serviços, ecológico, legal,
logístico, de imagem corporativa, dentre outros.
Para Novaes (2007), “A Logística Reversa cuida dos fluxos de materiais
que se iniciam nos pontos de consumo dos produtos e terminam nos pontos
de origens, com o objetivo de recapturar valor ou de disposição final”.
Pode-se concluir, de maneira simplificada, que a logística reversa estuda
os fluxos reversos dos produtos ou materiais, ou seja, os fluxos contrários ao
da cadeia direta, visando agregar valor de diversas naturezas. Na Figura 1 é
ilustrado o funcionamento do processo logístico reverso de maneira
simplificada.
Figura 1 - Representação dos processos logísticos direto e reverso. Fonte: Adaptado de
LACERDA (2002).
15
2.1.1. Canais de Distribuição Reversos
Na logística empresarial existe o estudo dos canais de distribuição, que
trata das etapas pelas quais os produtos ou materiais passam até chegarem
ao consumidor final. Na logística reversa existe também o estudo dos canais,
conhecidos como canais reversos, que tratam das etapas que os produtos ou
materiais passam no caminho reverso.
Uma parcela dos materiais que constituem os produtos retorna ao ciclo
produtivo ou de negócios através de etapas, formas e meios, fazendo com que
esses materiais readquiram valor em mercados secundários pelo reuso ou
reciclagem de seus materiais constituintes (LEITE, 2006).
Leite (2006) define dois canais reversos: o canal reverso do pós-venda e o
canal reverso do pós-consumo. O canal reverso do pós-venda trata do retorno
dos produtos e materiais após a venda, aqueles que não passaram pelo seu
uso original, geralmente motivado por problemas relacionados à qualidade. O
canal reverso do pós-consumo, trata do retorno dos bens e materiais após seu
uso original. Quando esses produtos seguem o fluxo reverso, podem seguir
caminhos reversos distintos. Estes canais reversos do pós-consumo são os
canais reversos do reuso, desmanche e reciclagem. Na Figura 2 está
apresentado um esquema que representa a os fluxos pelos canais diretos e
reversos.
16
Figura 2 - Canais de distribuição diretos e reversos. Fonte: (LEITE, 2006).
2.1.2. Ciclos Reversos
Os produtos pós-consumo, em certo momento poderão ter parte dos seus
materiais constituintes reciclados e inseridos novamente no ciclo produtivo,
podendo ser reutilizados para produzir um produto novo, similar ao produto
original, ou pode dar origem a um novo produto. Em função desta diferença
podemos classificar dois tipos de ciclos reversos de retorno ao ciclo produtivo: o
ciclo aberto e o ciclo fechado (LEITE, 2000).
Os canais de distribuição estão em ciclo aberto quando é feita a utilização do
produto ou material reciclado na produção de um produto novo diferente do
produto de origem. Os canais de distribuição estão em ciclo fechado quando a
reciclagem do produto ou material é utilizado na fabricação de um produto similar
ao de origem (LEITE, 2000).
17
2.1.3. A Importância da Logística Reversa
Em um cenário competitivo, a busca por satisfazer as exigências e
expectativas de mercado faz parte de quaisquer organizações. A ausência de
melhorias pode ser muito prejudicial ao sustento das organizações. Assim, a
logística reversa mostra-se como uma melhoria dos serviços ao cliente,
caracterizando uma vantagem competitiva. Brito et al. (2003) ressalta que o
gerenciamento dos canais reversos feito de forma correta pode proporcionar
serviços diferenciados e visíveis aos olhos dos clientes, sendo utilizada
também como fonte de informação sobre as expectativas e os hábitos dos
clientes.
A importância da logística reversa se justifica através de razões
econômicas, governamentais e sociais. Através da logística reversa, as
empresas buscam não só a vantagem da economia de matéria-prima, mas
também buscam benefícios competitivos, como a conquista dos clientes.
Segundo Souza, Gomes e Silva (2011) os clientes e o mercado estão cada
vez mais exigentes devido as constantes mudanças que ocorrem no mundo
empresarial, as organizações se deparam com a necessidade de reestrutura e
reengenharia de seus processos, principalmente quanto à obediência das leis
ambientais, obrigando os fabricantes a se responsabilizarem pelos seus
produtos, desde a transformação do produto até ao retorno deste ao ciclo
produtivo.
O reaproveitamento dos produtos e materiais pode representar retornos no
âmbito econômico e de imagem corporativa ou governamental, pois a
população pode se identificar com as organizações que mostram
responsabilidade ambiental. Nesse contexto tem crescido a preocupação com
a necessidade de implantação de canais reversos, que pode ser justificada
para atender o cumprimento de uma legislação ambiental ou como uma
prática sustentável.
Souza, Gomes e Silva (2011) afirmam que a logística reversa é vista, nos
dias atuais, como uma ferramenta de redução de impactos ambientais para as
organizações, levando em consideração que muitos produtos que antigamente
eram descartados, hoje são revitalizados visando sua reutilização, que pode ser
feita pela própria empresa, agregando valor ao próprio produto ou então a partir
18
deste, podem criar um novo produto. As empresas também podem recuperar o
bem pós-consumo, mantendo pontos de coletas, com a finalidade de recuperar o
investimento, negociando diretamente com mercados secundários, ou seja,
empresas que geram emprego e renda com reciclagem e sucata. Com estas
atitudes, as organizações recapturam ativos financeiros e econômicos, além de
minimizar os impactos ambientais.
2.2. O PET
O PET (politereftalato de etileno) é um material termoplástico e possui
ótimas propriedades, entre elas: resistência mecânica, não produz resíduos
tóxicos, barreira a gases, brilho, transparência e é 100% reciclável. Pelo fato
do PET ter ótimas propriedades ele é utilizado em larga escala principalmente
para embalagens de bebidas carbonatadas como refrigerantes, água, entre
outros (ABIPET, 2014).
O PET foi desenvolvido em 1941 pelos químicos ingleses Whinfield e
Dickson. Mas as garrafas produzidas com este polímero só começaram a ser
fabricadas na década de 70, após cuidadosa revisão dos aspectos de segurança
e meio ambiente (CEMPRE, 2013).
De acordo com o Panorama de Mercado 2013, publicado pela ABIPET
(Associação Brasileira da Indústria do PET), a utilização do PET tem
aumentado a cada ano e possui valores estimados para esse ano de 2014 e
2016, com grandes aumentos em função dos eventos Copa do Mundo 2014 e
Olimpíadas Rio 2016 como pode ser observado no Gráfico 1.
Gráfico 1 - Consumo de PET no Brasil, (* - significa Valores estimados).
Fonte: Adaptado de ABIPET (2014).
19
2.2.1. A Reciclagem do PET
O PET quando descartado em aterros leva um longo período de tempo
para decompor-se e isso diminui a vida útil dos aterros. O problema do
descarte do PET se agrava com o grande volume que é descartado em ruas,
rios, entre outros.
Segundo a ABIPET o Brasil é o segundo país que mais recicla PET sobre
o consumo PET virgem, ficando atrás apenas do Japão. No Gráfico 2 estão
apresentados os índices de consumo de PET e as porcentagens de
reciclagem em 19 anos, segundo o 9º Censo da Reciclagem de PET no Brasil
divulgado pela ABIPET.
Gráfico 2 – Evolução do Índice de Reciclagem do PET. Fonte: adaptado ABIPET (2014).
O Gráfico 3 mostra o percentual de PET reciclado sobre o consumo virgem,
de acordo com o 6º Censo da Reciclagem de PET no Brasil.
20
Gráfico 3 – Taxas de recuperação de PET.
Fonte: ABIPET (2010).
Como pode ser observado no Gráfico 3, o Brasil tem a taxa maior que as
taxas da Europa e dos Estados Unidos, e inferior apenas ao Japão.
A reciclagem do PET além de amenizar os problemas ambientais ligados
ao seu descarte inadequado, também é estimulada por fatores sociais como a
geração de empregos e fatores econômicos como a economia de energia, pois
a produção da matéria-prima virgem consome muito mais energia que o
consumo do PET reciclado. O Gráfico 4 mostra a diferença entre o consumo
de energia na produção de PET virgem e reciclado.
Gráfico 4 - Consumo de energia na produção do PET.
Fonte: ABIPET, APME (2005).
21
2.2.2. Legislação no Brasil e no mundo
Na União Europeia, foram estabelecidas por lei metas detalhadas de
recuperação e reciclagem para o setor de embalagens (Diretiva 94/62/EC). Estas
leis atribuem responsabilidades às empresas e aos demais integrantes da cadeia
reversa.
Para Gonçalves-Dias (2006) o Japão ganha destaque na reciclagem de
materiais no mundo e isso se deve ao fato de existir escassez de espaço e de
recursos naturais, caracterizando-se, no entanto, por uma baixa intervenção
governamental. De acordo com Relatório (2013), no Japão existe uma lei de
reciclagem para cada tipo de produto (embalagens, eletrodomésticos,
automóveis, construção civil, alimentos, e microeletrônicos domésticos), além
disso, governos municipais e locais se responsabilizam totalmente e aumentam
as responsabilidades dos fabricantes para o tratamento desses materiais.
No Brasil, em 2010 foi aprovada a Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS). Segundo Cempre (2013) a legislação prevê a responsabilidade
compartilhada entre governo, empresas e população na questão dos resíduos
urbanos. Essa legislação determinou que os lixões devem ser fechados até 2014
e que os aterros sanitários deverão ser utilizados apenas para descarte de
materiais que não podem ser reciclados. A logística reversa, ou seja, a coleta e o
retorno de materiais à indústria após o consumo passou a ser obrigatória para
alguns setores.
A responsabilidade compartilhada pela logística reversa envolvendo os
fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e o poder
público é tema central da PNRS, que inova nessa questão, colocando o Brasil ao
lado de países como os da União Europeia e o Japão (FARIA, 2012).
Podem-se observar na Figura 3 quais são as principais mudanças com a
PNRS, que abrangem o poder público, as empresas, os catadores e a população.
2.2.3. Etapas da Reciclagem do PET
Guelbert et al. (2007) citam que segundo a ABIPET o processo de
reciclagem do PET pode ser mecânico, energético ou químico. Dentre os três,
o mais utilizado é o mecânico por se tratar de um processo mais barato. O
processo mecânico pode ser dividido em três etapas: (1) recuperação, (2)
revalorização e (3) transformação.
2.2.3.1. Recuperação
A recuperação do PET começa pela coleta. No cenário brasileiro, essa pode
acontecer por mecanismos diferentes, como a coleta seletiva, a coleta dirigida e a
coleta informal.
A coleta seletiva é aquela onde a população separa o lixo reciclável em suas
residências e posteriormente é recolhido porta a porta, geralmente é executada
pelo município, por cooperativas ou empresas particulares.
A coleta dirigida é acontece quando a população local, por própria inciativa,
faz a separação do material reciclável e entrega esses materiais em pontos de
coleta ou aguardam uma data pré-definida para a coleta domiciliar. Esse tipo de
coleta é uma alternativa para municípios que não possuem a coleta seletiva
(SANTOS; OLIVEIRA, 2012). No Brasil um ponto de entrega voluntaria também é
chamado de PEV (Ponto de Entrega Voluntária). Os PEVs podem ser
encontrados em locais estabelecidos por cooperativas, empresas, ou prefeituras.
Os PEVs também podem estar dentro de estabelecimentos, como
supermercados.
Segundo Abipet (2014) a coleta dirigida pode acontecer através de
cooperativas de catadores, onde não existem relações trabalhistas, através de
comerciantes de recicláveis, onde as empresas que se encarregam de
arregimentar um número de trabalhadores encarregados de coletar os materiais e
através de entidades de assistência social, ou através da combinação dessas
formas.
A coleta informal é feita por catadores. Os catadores são pessoas que
buscam materiais recicláveis que podem ser vendidos. Essa busca por materiais
recicláveis pode ocorrer em locais diversos, como restaurantes, padarias e
24
mercados ou em locais como lixões e aterros. Esses catadores, também podem
compor cooperativas de reciclagem e serem beneficiados pela coleta dirigida.
O Brasil tem uma característica peculiar, que é a coleta informal,
representada pelos catadores. Esse tipo de coleta é a responsável por colocar o
país entre os maiores recicladores mundiais (SANTOS; AGNELLI; MANRICH,
2004). A atividade desses catadores foi responsável pelos altos índices de
reciclagem das latas de alumínio no país. Segundo o CEMPRE, em 2011 o índice
de reciclagem de latas de alumínio no Brasil foi de 98,3%, sendo o maior índice
do mundo. Em 2004 esse índice já era o maior do mundo com 95,7% (CEMPRE,
2014).
No Brasil, existem 800 mil catadores, estando cerca de 30 mil organizados em
cooperativas. Em 2012, elas foram responsáveis pela coleta de 18% dos resíduos
separados para reciclagem no Brasil, ficando o restante a cargo dos atacadistas
de materiais recicláveis, que muitas vezes incorporam catadores autônomos
como mão de obra (CEMPRE, 2013).
A seleção e compactação das embalagens de PET podem ocorrer nas
cooperativas, centros de triagem ou nas empresas que comercializam a sucata.
Na etapa de seleção, o PET é segregado dos demais, e de acordo com Cempre
(2013) esse PET é geralmente separado por cor, conteúdo (refrigerante, água,
óleo comestível etc) e origem (coleta seletiva, lixões etc). Esta separação do PET
é fundamental, pois pode ocorrer à contaminação do PET inviabilizando o reuso.
Na etapa de compactação as embalagens PET são prensadas a fim de
diminuir o volume para facilitar o transporte e formar fardos para serem
comercializados.
2.2.3.2. Revalorização
A etapa de revalorização acontece nas empresas recicladoras, nessa etapa
ocorre a moagem e lavagem do PET. Posteriormente o PET é transformado em
flocos (flake) ou grãos (pellets). É apresentado no Gráfico 5 como é adquirido o
PET para a reciclagem no Brasil.
25
Gráfico 5 – Forma de compra do PET Reciclado em 2011.
Fonte: ABIPET (2012).
Segundo Gonçalves-Dias e Teodósio (2006) existem empresas de
revalorização que fornecem o flake para empresas que beneficiam o flake em
grãos e para empresas transformadoras. A maioria das empresas são
especializadas na produção de flake. De acordo com o 3º Censo de Reciclagem
do PET realizado pela Noûs Consulting e publicado pela ABIPET em 2007, a
maioria das empresas recicladoras no Brasil estão nas regiões Sul e Sudeste,
como pode ser observado na Tabela 1.
26
Estado Recicladores
AM 2
BA 4
CE 5
ES 6
GO 8
MG 12
MS 1
MT 2
PB 2
PE 5
PI 2
PR 11
RJ 15
RN 2
RS 18
SC 17
SP 63
Total 175
Tabela 1 – Recicladores contados por estado.
Fonte: adaptado ABIPET (2007).
2.2.3.3. Transformação
Na etapa de transformação a matéria-prima é efetivamente usada na
fabricação de outros produtos. Segundo os dados da ABIPET, o PET
reciclado, além de ser muito utilizado como matéria-prima na produção têxtil, é
utilizado na produção de peças automotivas, equipamentos eletrônicos, tubos,
conexões, cordas, vassouras, plásticos de engenharia, entre outros (ABIPET,
2014).
De acordo com o 9º censo realizado pela ABIPET, a aplicação do PET
reciclado se divide em uma variedade de usos finais, principalmente na
indústria têxtil, isso está ilustrado no Gráfico 6. (ABIPET, 2013)
27
Gráfico 6 – Usos finais para o PET reciclado em 2012.
Fonte: ABIPET (2013).
No caso do Japão, que é o país com o maior índice de reciclagem de PET,
a maior parte do PET reciclado vai para a exportação, principalmente para
países asiáticos, onde é efetivamente feito a reciclagem. No Gráfico 7 é
ilustrado as aplicações do PET recuperado pelo Japão.
Gráfico 7 – Aplicações do PET reciclado no Japão em 2007.
Fonte: ABIPET, The Council for PET Bottle Recycling (2008).
2.2.4. Reciclagem Bottle to Bottle
As garrafas PET podem ainda serem recicladas e transformadas em outras
garrafas, este processo é conhecido como bottle to bottle. No sistema de
reciclagem Bottle to Bottle as garrafas de PET depois de serem selecionadas, são
28
moídas e passam por um processo de lavagem intensa, onde são retirados todos
os resíduos que podem ser contaminantes. Nessa tecnologia, a reciclagem
compreende vários sistemas de operações, que envolvem as etapas de trituração,
lavagem, filtragem e secagem, resultando na renovação das características e
propriedades do PET, dando ao material a característica de um material novo
(GONTIJO; DIAS; WERNER, 2010).
Welle (2011) fez um estudo sobre uma revisão de vinte anos do progresso
mundial do processo de reciclagem bottle to bottle. Segundo esse estudo
durante muito tempo, a reciclagem bottle to bottle de materiais de embalagem
de PET pós-consumo não era possível, devido à falta de conhecimento acerca
da contaminação de polímeros de embalagens durante o primeiro uso. Além
disso, as eficiências de descontaminação dos processos de reciclagem eram,
na maioria dos casos, desconhecidos. Hoje, a reciclagem com processos de
descontaminação sofisticados, os chamados processos de reciclagem de
Super Clean, estão disponíveis para o PET, esses processos são capazes de
descontaminar o PET pós-consumo a níveis de concentração de materiais de
PET virgem.
Segundo Welle (2011) embora existam muitas tecnologias diferentes
disponíveis para esse processo, são tipicamente utilizados os seguintes
processos de descontaminação desse polímero:
Tratamento com alta temperatura;
Tratamento com vácuo ou gás inerte;
Tratamento da superfície com substâncias não nocivas.
A primeira aprovação para o uso do PET pós-consumo para uso em
embalagens de alimentos foi em 1991 nos EUA (WELLE, 2011). No Brasil, a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em março de 2008, aprovou
um regulamento técnico para o uso do PET pós consumo reciclado grau
alimentício (PET-PCR grau alimentício) (ANVISA, 2014).
No Brasil algumas empresas como a Coca-Cola e a Ambev já começaram a
investir na tecnologia. Em 2012 foi lançada pela Ambev a primeira garrafa PET
100% reciclada do Brasil. Segundo o relatório anual de 2012 da Ambev a
empresa reduziu 1,3 milhão de quilos de material de embalagem e colocou 50
milhões de garrafas PET 100% reciclada no mercado (AMBEV 2014).
29
2.3. A Logística Reversa do PET
A utilização do PET pós-consumo na produção de novas embalagens
alimentícias caracteriza do ciclo reverso fechado para o PET. Esse ciclo fechado
é ilustrado na Figura 4.
Figura 4 – Ciclo fechado.
Fonte: GONTIJO, DIAS , WERNER (2010).
Gonçalves-Dias e Teodósio (2006) descrevem “caminhos” e “descaminhos”
para a cadeia reversa do PET. Na Figura 5 é ilustrada a cadeia do PET em
circuito fechado.
30
Figura 5 - Cadeia em circuito fechado: “caminhos” e “descaminhos” das embalagens PET no
Brasil. Fonte: GONÇALVES-DIAS, TEODÓSIO (2006).
Uma das principais dificuldades com a coleta de PET está relacionada com a
separação e a contaminação do PET, podendo ocorrer por outros tipos de
polímeros, cola e sujeira. Outra dificuldade se encontra na presença de
atravessadores, também conhecidos como sucateiros. Os sucateiros dificultam o
aumento da qualidade do processo produtivo, pois comprometem a qualidade e
confiabilidade de entrega da coleta, colocando obstáculos para a
profissionalização dos catadores e contribuindo para a precarização da força de
trabalho dos mesmos (GONSALVES-DIAS; TEODOSIO, 2006).
31
As empresas que utilizam o PET reciclado conseguem obter vantagens
competitivas em relação aos seus concorrentes, mesmo sem incentivos fiscais e
sem a coleta seletiva disponível a todos os municípios. Essas vantagens podem
ser obtidas através da redução de custos da produção mesmo quando a empresa
não faz a logística reversa e compra o PET reciclado diretamente de empresas
recicladoras, logo se efetuassem as outras etapas do ciclo logístico reverso,
haveria ainda maior redução de custos (SANTOS; OLIVEIRA, 2012).
O estudo de Gonçalves-Dias (2006) aponta que apesar do volume do PET
reciclado ter aumentado, existem alguns desafios para serem superados e estão
relacionados com a regulação da cadeia reversa e a interação de todos que
interferem nela, além da inovação tecnológica e gerencial. Também foi apontada
a necessidade de melhorar a informação da população, acarretando na mudança
de comportamento da sociedade, fazendo com que a população também
compartilhe a responsabilidade pela cadeia reversa, eliminando o desperdício na
concepção e contribuindo para o aumento da reciclagem.
A população precisa ser conscientizada sobre a importância da separação
dos materiais para a reciclagem. Esses materiais devem ser disponibilizados em
locais acessíveis e em quantidades adequadas para que sejam recolhidos de
maneira que viabilize a logística reversa (SANTOS; OLIVEIRA, 2012).
32
3. METODOLOGIA
A metodologia adotada neste trabalho foi a de pesquisa documental, onde da
mesma forma que a pesquisa bibliográfica ela pode ser feita a partir de material já
elaborado, disponível na literatura acadêmica como artigos, dissertações e teses;
mas o material consultado também compreende outros tipos de fontes
cientificamente autenticas como revistas, boletins, relatórios, órgãos, entidades
entre outros.
A pesquisa deste trabalho teve como base fontes de dados nacionais e
internacionais na literatura acadêmica, essas fontes são: artigos, livros,
monografias e dissertações. A pesquisa também utilizou outros tipos de fontes
nacionais e internacionais, são eles: órgãos públicos e privados, boletins,
relatórios, revistas e na mídia em geral, onde foram obtidos dados quantitativos,
como índices e projeções.
O intuito dessa pesquisa foi apresentar a logística reversa do PET no Brasil,
abrangendo sua estrutura, organização, e o que interfere na cadeia reversa, como
a legislação, interesses privados e incentivos fiscais. Também foi apresentada a
situação das aplicações do PET reciclado no Brasil e feita uma comparação com
o Japão, onde se tem o maior índice de reciclagem do PET. Nessa pesquisa
também foi feita uma comparação da estrutura da cadeia Brasil com outros
países, levantando-se situações características do Brasil, como a ação de
catadores.
Com os dados levantados na etapa de revisão bibliográfica tem-se o intuito de
analisar e discutir as práticas e possibilidades para a logística reversa do PET no
Brasil, a fim de concluir quais são os desafios e oportunidades para uma melhor
efetividade da logística reversa do PET no Brasil.
33
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com Gonçalves-Dias e Teodósio (2006), os atores que agem sobre
a logística reversa do PET são muitos, estando entre eles o poder público e as
empresas, mas para que ocorra um aumento da escala dessa logística reversa
eles devem trabalhar em conjunto. Esse aumento depende também de
investimentos em varias etapas, como na coleta seletiva e no mercado do PET
reciclado.
A comparação da logística reversa do PET no Brasil com os países da Europa
permite observar que eles possuem regulamentações já consolidadas e bem
definidas quanto a disposição de resíduos sólidos. Essas regulamentações
atribuem responsabilidades ao poder público, as empresas, a população e outros
atores da cadeia reversa (JURAS, 2005).
No Brasil, a responsabilidade compartilhada pela logística reversa está
prevista pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), mas para que essa
responsabilidade compartilhada realmente traga grandes impactos sobre a
logística reversa do PET, existem alguns desafios a serem superados e com sua
implantação surgem oportunidades para todos que interferem na cadeia reversa.
4.1. DESAFIOS
4.1.1. Implantação da coleta seletiva em todos os municípios
Com a PNRS, uma mudança que trará impactos na logística reversa do PET
é a organização das coletas seletivas de recicláveis por parte dos municípios.
Os centros urbanos são os locais onde se concentram o maior consumo de
embalagens, logo a coleta seletiva é de extrema importância na logística reversa
do PET. Em 2010 haviam somente 443 municípios com coleta seletiva, e houve
um crescimento expressivo, pois em 2012 já eram 766 municípios. A perspectiva
é que este número continue aumentando em função da PNRS.
34
Gráfico 8 - Número de Cidades Brasileiras com Coleta Seletiva de Resíduos.
Fonte: Adaptado de ABIPET (2013).
Segundo Auri Marçon presidente da ABIPET em entrevista a revista Exame
(VIALLI, 2012), o problema da reciclagem do PET é a falta de coleta seletiva, o
que faz com que, em algumas épocas do ano, as recicladoras tenham ociosidade
de até 30%.
A erradicação dos lixões, que deverá acorrer até agosto de 2014, e a
proibição da disposição de materiais recicláveis nos aterros sanitários são
medidas que vão trazer impactos positivos sobre a implantação da coleta seletiva
nos municípios.
4.1.2. Conscientização da população sobre a destinação correta do
PET
A população tem seu papel importante como na cadeia reversa do PET. A
população afeta diretamente na coleta seletiva, pois é através da separação dos
resíduos nas residências que se torna possível a realização da coleta, a fim de
que seja dada a destinação correta a esses resíduos recicláveis. Atualmente, a
separação dos resíduos não é expressiva na maior parte do país, isso ocorre por
falta de campanhas educativas e atendimento de coleta seletiva, que às vezes é
inexistente ou mesmo ineficiente.
O Japão é um ótimo exemplo de boa conscientização da população, o nível
de informação que a população recebe acerca da separação do lixo é muito
eficiente. Isso se reflete nas altas taxas de reciclagem do PET. No Japão as
pessoas recebem todas as orientações necessárias para o descarte do lixo
35
através das prefeituras e do governo, muitas vezes feitas por cartilhas explicativas
e através de mídias em geral. No Japão existem regras para a população separar
e descartar cada tipo de resíduo sólido e o descumprimento dessas regras pode
gerar multas. No caso de garrafas PET deve-se retirar o rótulo e a tampa, lavar a
embalagem, amassar e colocar em sacos transparentes que contenham somente
PET.
Ao descartar corretamente os resíduos, a população japonesa contribui para o
aumento da produtividade da reciclagem evitando a contaminação por sujeira e
outros tipos de resíduos e facilitando a etapa de triagem.
A PNRS prevê a realização de campanhas educativas para a população. Para
apoiar a PNRS, em 2011, através dos ministérios do Meio Ambiente e do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome o governo federal lançou a campanha
“Separe o Lixo e Acerte na Lata”. Essa campanha tem como objetivo informar a
população brasileira acerca do reaproveitamento dos resíduos sólidos,
incentivando uma mudança de comportamento em relação à coleta seletiva.
(MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2014).
4.1.3. Incorporação dos catadores informais às cooperativas.
No Brasil existe a peculiaridade da coleta ser feita por catadores. Esse tipo de
coleta tornou-se importante para o alcance de resultados de reciclagem no país,
como a do alumínio e a do próprio PET, contribuindo para um destaque mundial.
Segundo Cempre (2013) no Brasil, existem cerca de 800 mil catadores,
dentre estes, aproximadamente 30 mil fazem parte de cooperativas. As
cooperativas foram responsáveis por separar 18% dos materiais que foram para a
reciclagem no Brasil em 2012, enquanto que o restante ficou por conta de
atacadistas de materiais recicláveis, que muitas vezes empregam catadores.
Ainda existe predominância da informalidade, porém com a PNRS há
expectativa quanto o apoio aos catadores, principalmente nos incentivos para
fazer com que os catadores informais filiem-se às cooperativas. Esses incentivos
deverão vir por parte de parcerias com prefeituras e empresas.
Atualmente os catadores informais estão sujeitos a vender o material
recolhido aos chamados “sucateiros”. Os sucateiros muitas vezes fazem um pré-
beneficiamento do material e o revende às recicladoras, cooperativas, ou centros
36
de triagem. Essa “revenda” faz com que os catadores recebam uma menor
remuneração pelo material recolhido (GONÇALVES-DIAS, 2006). Gonçalves-dias
e Teodósio (2006) concluíram que os sucateiros atrapalham a qualidade e a
confiabilidade da coleta, dificultando a profissionalização dos catadores.
4.2. OPORTUNIDADES
4.2.1. Geração de empregos aos catadores
Com a aprovação da PNRS, os municípios passaram a ter a responsabilidade
de traçar um plano de gestão integrada, buscando a inclusão dos catadores.
Também é de responsabilidade das prefeituras melhorar as condições de trabalho
dos catadores a fim de incentivar a participação desses trabalhadores nas
cooperativas (FARIA, 2012).
Como resultado desse apoio aos catadores, espera-se melhores condições
de trabalho para essa classe de trabalhadores e aumento da renda dos
trabalhadores através de incentivos. Também se espera que a renda dos
catadores aumente através do aumento da produtividade que será estimulada
pela qualificação através de treinamentos. Atualmente uma das dificuldades
quanto à reciclagem do PET é na própria triagem que é feita após a coleta, por
isso existe uma importância nos treinamentos a fim de aumentar a qualidade e a
quantidade do PET que é reciclado.
4.2.2. Aumento dos incentivos às cooperativas e empresas que
reciclam o PET
Até a recém-aprovada PNRS, no Brasil não existia regulamentação especifica
sobre o investimento por parte das corporações na administração dos resíduos. A
Alemanha é um exemplo de um país da Europa que tem uma regulamentação
especifica para as empresas. Segundo Juras (2005) na Alemanha as normas
sobre esses resíduos (embalagens) obrigam os fabricantes e distribuidores a
aceitar a devolução de vasilhames e embalagens e a conduzi-los a uma
recuperação material independente do sistema público de eliminação de resíduos.
37
A PNRS prevê responsabilidades para as empresas que fabricam produtos
comercializados em embalagens, as empresas que fabricam as embalagens e
aos distribuidores e comerciantes. Entre essas responsabilidades está a garantia
do retorno das embalagens pelo sistema de logística reversa.
Para as empresas fabricantes e importadores de produtos comercializados
em embalagens em ação conjunta ou individual deverão fazer investimentos em
cooperativas, disponibilizar PEVs (Pontos de Entrega Voluntária) e a divulgação
de informações de como a população deve proceder para dar a destinação
correta à embalagem pós-consumo.
4.2.3. Economia de PET virgem por parte das empresas
Para as empresas fabricantes de produtos que utilizam o PET de alguma
forma, o investimento na logística reversa é uma forma de economizar com a
matéria-prima virgem e substituir pelo PET pós-consumo.
Segundo Cempre (2013) ao enterrar o lixo que poderia ser reciclado, o país
perde a cada ano cerca de R$ 8 bilhões.
Entre esse lixo que poderia ser reciclado está o PET, que sai do fluxo logístico
reverso e acaba indo para lixões, aterros sanitários e outros locais como ruas,
lagos e rios. A PNRS prevê o fechamento dos lixões até agosto de 2014, e nos
aterros sanitários não deverão conter resíduos recicláveis.
De acordo com Haiguert (2009) um ponto que dificulta a logística reversa do
PET, fazendo com que diminua vantagem de utilizar o PET reciclado é o fato do
PET pós-consumo ser sobretaxado pelo IPI (Imposto sobre Produtos
Industrializados), o que não acontece com o PET virgem.
Apesar do IPI ter sido apontado como uma dificuldade, o decreto nº 7.619, de
21 de novembro de 2011, regulamenta a concessão de descontos no IPI para
aquisição de resíduos sólidos que deverão ser adquiridos em cooperativas de
catadores. No caso do PET esse desconto será de 50%.
4.2.4. Melhoria da imagem coorporativa das empresas
A velocidade do progresso das tecnologias e do lançamento de novos
produtos entra em contraste com as consequências causadas por estes ao meio
38
ambiente. Isso traz uma preocupação cada vez maior por parte das empresas, já
que a sociedade está cada vez mais consciente e exigindo novos
comportamentos por parte das empresas (GONTIJO, DIAS e WERNER, 2013).
Por esse motivo, o investimento na logística reversa por parte das empresas traz
benefícios de melhoria de imagem, além de aumentar a competitividade do
negócio frente às novas exigências do mercado consumidor.
4.2.5. Aumento da perspectiva do mercado para o PET PCR grau
alimentício
A ABIPET publicou em 2013 o 9º Censo da Reciclagem de PET no Brasil.
Esse estudo foi realizado através de entrevistas com cerca de 400 empresas
identificadas nos elos da cadeia, são eles: recicladores e aplicadores. No Gráfico
9 são apresentadas as aplicações do PET com melhores perspectivas de
crescimento segundo esse censo.
Gráfico 9 - As aplicações do PET com melhores perspectivas de crescimento em 2012. Fonte: ABIPET (2013).
Apesar desses números expressivos para o crescimento da aplicação do PET
reciclado na fabricação de embalagens alimentícias, existem duvidas sobre seu
impacto na cadeia reversa do PET.
39
A primeira empresa a produzir a embalagem com PET 100% reciclado foi a
AMBEV, que tem como meta, em 2013, substituir 20% das embalagens PET de 2
litros da bebida Guaraná Antarctica para embalagens 100% recicláveis, porém
para o volume de PET que é consumido hoje no país, esse número ainda não é
expressivo. A direção da Ambev afirma que a estratégia de criar uma nova
demanda para o PET pós-consumo vai ajudar a elevar o preço desse material no
mercado e estimular a coleta (VIALLI, 2012).
40
5. CONCLUSÃO
Este trabalho apresentou os desafios e oportunidades para uma melhor
efetividade da logística reversa do PET no Brasil.
Em suma, os desafios para a logística reversa do PET se resumem em uma
responsabilidade compartilhada entre poder público, empresas e a população
sobre a logística reversa do PET. Essa responsabilidade compartilhada é o tema
central da recém-aprovada PNRS, comparando com a realidade atual do Brasil,
levantou-se desafios que devem ser superados para que seja alcançado esse
objetivo, são eles:
i. Implantação da coleta seletiva em todos os municípios;
ii. Conscientização da população sobre a destinação correta do PET, que
deve ser feita em ação conjunta pelas empresas e poder público;
iii. Incorporação dos catadores informais às cooperativas e fornecimento
de treinamentos e melhores condições de trabalho, que deve ser feito
pelo poder público e as empresas.
Este trabalho também apresentou oportunidades para a cadeia reversa do
PET, que são:
i. Geração de empregos aos catadores, com melhores condições de
trabalho;
ii. Aumento dos incentivos às cooperativas e empresas que realizam a
reciclagem;
iii. Economia de PET virgem por parte das empresas;
iv. Aumento da imagem coorporativa das empresas;
v. Aumento da perspectiva do mercado para o PET PCR grau alimentício.
41
REFERÊNCIAS
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