Post on 16-Jan-2015
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Lacan e a Psicanálise:interlocuções com a contemporaneidade
Tema : Seminário 2 (O eu na teoria de Freud e na técnica da
psicanálise): o imaginário e sua consistência
Coordenação Alexandre Simões ALEXANDRE
SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
O seminário 2 (17/11/1954 a 29/06/1955) introduz
uma forte tematização do Imaginário
Ele é difundido em nosso país em meados dos anos 80 (mais exatamente, em 1985)
A década de 80 e uma parte dos anos 90 serão marcados não só por uma exploração do Simbólico, mas por uma
forte discussão sobre o lugar do Imaginário na Psicanálise
eu outro
desde onde o eu se torna possível
desde onde o outro se torna possível
Imaginário
• alteridade• alteridade
• alteridade• alteridade
eu outro
desde onde o outro se
torna possível
desde onde o eu se torna
possível
“A noção do eu foi elaborada no decurso de séculos, tanto pelos chamados filósofos, e com os quais não tememos
comprometermos aqui, quanto pela consciência
comum. Em suma, há uma certa concepção pré-
analítica do eu - vamos chamá-la assim por convenção, a fim de
orientarmo-nos - que exerce sua atração sobre
aquilo que a teoria de Freud introduziu de radicalmente
novo no que se refere a esta função.” ( p. 9)
Esta reconstrução do lugar do eu na análise (já deflagrada no
Seminário 1, desenvolvido um ano antes)
pode ser acompanhada em outros momentos de Lacan,
próximos ao ano do Seminário 2:‘A coisa freudiana ou o sentido do retorno a Freud em Psicanálise’ (de
1956, tendo como matriz uma conferencia realizada em Viena, em
1955)‘Observações sobre o relatório de
Daniel Lagache: Psicanálise e estrutura da personalidade’ (elaborado a partir de 1958 e concluído em 1960)
‘A Psicanálise verdadeira, e a falsa’ (roteiro da exposição para um
congresso em Barcelona, em 1958)
Para melhor situarmos a importância da temática sobre o Imaginário em Lacan, é válido visualizarmos mais uma vez o circuito de algumas
periodizações de seu itinerário:
Primeira proposta:
Jacques-Alain Miller, em torno
de 1982:
Terceira proposta
Jacques-Alain Miller, em 1986-
87
Segunda proposta:
Jean-Claude Milner, em seu
livro A obra clara, em 1996
Estas periodizações tem algumas especificidades:
Primeira proposta de Miller
• Recorre a um critério
histórico, apontando para um
desdobramento teórico;
• Divisão tripla do percurso de
Lacan: Imaginário,
Simbólico, Real
Terceira proposta de Miller
• Recorre a um critério clínico (axiomas que
funda a experiência
clínica);
• Duplicidade de planos em
Lacan: Primeira Clínica de
Lacan, Segunda Clínica de Lacan
Segunda proposta de Milner
• Recorre a um critério
epistemológico, uma vez que o que conta para
Milner é a posição de Lacan frente a
uma teoria da ciência;
• Bipartição do percurso: Primeiro
Classicismo e Segundo
Classicismo
O eu, o outro e a alteridade funcionarão como pontos
de amarração de um amplo
tecido: o tecido do duplo
• alteridade• alteridade
• alteridade• alteridade
desde onde o eu se torna
possíveloutro
desde onde o outro se
torna possível
eu
• alteridade• alteridade
• alteridade• alteridade
desde onde o eu se torna
possíveloutro
desde onde o outro se
torna possível
eu
Como falamos há pouco:
O eu, o outro e a alteridade funcionarão
como pontos de amarração de um amplo tecido
Toda esta dimensão de alteridade que será construída por Lacan, a partir de suas reflexões
sobre o Imaginário
Tem como um ponto (haverá outros...) de passagem
fundamental: o grande Outro:
• Lugar;• Tesouro dos significantes;• Condição de possibilidade requerida pelo estado
de desamparo inicial;• Ethos do desejo;• Outra cena;
Este tecido é estirado em várias direções que tem como denominador comum a experiência do ex-cêntrico na análise. Vejamos, na sequência, algumas fórmulas que
buscam operacionalizar este ex-cêntrico:
A) “o desejo do homem é o desejo do outro” (fórmula já exposta desde o Seminário 1, vide pp. 172, 205)
B) “o inconsciente é o discurso do outro” (Seminário 2, p. 176)
As duas fórmulas
anteriores devem ser lidas
tanto no genitivo subjetivo quanto no objetivo:
Caso a) desejo pelo outro, desejo de ser desejado
pelo outro e, sobretudo, desejo pelo que o outro deseja, isto é,
saber do desejo/orientar-se quanto ao desejo estando no lugar
do outro.
Caso b) inconsciente é um discurso anunciado
acerca do outro que há em mim;
inconsciente é um discurso produzido desde o lugar do
outro
Devemos acrescentar aqui uma articulação do
Seminário 2 com o Seminário 1 de Jacques
Lacan:
“... O desejo do homem é o desejo do outro.” (Seminário 1, p. 172)
“O desejo é apreendido inicialmente no outro, e da maneira mais confusa” (Seminário 1, p. 172)
Ainda sobre o lugar do
ex-cêntrico que vai sendo elaborado
por Lacan no Seminário 2:
C) Desencontro entre Je e Moi:
“O inconsciente escapa totalmente a este círculo de certezas no qual o homem se reconhece como um eu [moi]. É fora deste campo que existe algo que tem todos os direitos de se expressar por eu [Je] e que demonstra este direito pelo fato de vir à luz expressando-se a título de eu [Je]. Justamente aquilo que é o mais não-reconhecido no campo do eu [moi] que na análise se chega a formular como sendo eu [Je] propriamente dito.” (p. 15)
Excentricidade do sujeitoquanto ao eu (cf. pp. 63, 80, 150)
“Com Freud faz irrupção uma nova perspectiva que revoluciona o estudo da subjetividade e que mostra
justamente que o sujeito não se confunde com o indivíduo.” (p. 16)
“... é algo diferente de um organismo que se adapta.” (p. 16)
Um efeito prático bastante significativo oriundo das elaborações
de Lacan sobre o Imaginário:
• A experiência do falar de si se amplia sobremaneira;
• Lidar com a singularidade não implica em uma prática calcada na
introspecção;• Falar do outro comporta falar de si;
• Ao falar de si, falo de um outro;
Prosseguiremos no próximo encontro com o tema
Seminário 3 (As psicoses): subjetivação e Nome-do-pai
Até lá!
Acesso a este conteúdo:www.alexandresimoes.com.br
ALEXANDRE SIMÕES
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