Post on 07-Apr-2016
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Pesquisa, seleção, layout e criação: José Feldman Revisão: Dorothy Jansson Moretti e Therezinha Dieguez Brisolla
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Uma Trova de Maringá/PR
A. A. de Assis
Na minha idade avançada,
ser sensato é insensatez...
– Agora ou é tudo ou nada:
sou feliz ou perco a vez!
Uma Trova de Pindamonhangaba/SP
José Valdez de Castro Moura
Senhor, me deste um presente,
o meu berço nordestino:
- meu passado que é presente
tão presente em meu destino!
Um Poema da Bahia
Castro Alves
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA
A Duas Flores
São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez no mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.
Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.
Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.
Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!
Uma Trova Humorística de São Paulo/SP
Therezinha Dieguez Brisolla
Ao operar seu nariz
perdeu um olho, o Batista.
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Vem outro louco e, então, diz
que o pagamento era... a vista!
Uma Glosa de Fortaleza/CE
Nemésio Prata
Glosando Jorge Murad (RJ)
Mote:
O beco é tão estreitinho,
lá onde mora o Janjão,
que da janela o vizinho cumprimenta dando a mão!
Glosa:
O beco é tão estreitinho,
que Janjão, sempre, ao cruzar,
de manhã, com seu vizinho,
tem que nele se esfregar!
Tem um beco tão estreito
lá onde mora o Janjão,
que ninguém passa direito
sem levar um esfregão!
Janjão curte estar sozinho,
mas o beco é tão estreito
que da janela o vizinho
vê tudo. Quem vai dar jeito?
Pense num beco estreitinho,
este, onde mora o Janjão;
que, ao sair, o seu vizinho
cumprimenta dando a mão!
Um Poema da Bahia
Castro Alves
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA
A Luís
(no dia de seu natalício)
A imaginação, com o vôo ousado, aspira a principio à eternidade...
Depois um pequeno espaço basta em breve
para os destroços de nossas esperanças iludidas! .. Goethe
Como um perfume de longínquas plagas
Traz o vento da pátria ao peregrino,
Ó meu amigo! que saudade infinda
Tu me trazes dos tempos de menino!
É o ledo enxame de sutis abelhas
Que vem lembrar à flor o mel d'aurora...
Acres perfumes de uma idade ardente
Quando o lábio sorri... mas nunca chora!
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Que tempos idos! que esperanças louras! Que cismas de poesia e de futuro! Nas páginas do triste Lamartine
Quanto sonho de amor pousava puro! ..
E tu falavas de um amor celeste,
De um anjo, que depois se fez esposa...
— Moça, que troca os risos de criança
Pelo meigo cismar de mãe formosa.
Oh! meu amigo! neste doce instante
o vento do passado em mim suspira,
E minh'alma estremece de alegria,
Como ao beijo da noite geme a lira.
Tu paraste na tenda, ó peregrino! Eu vou seguindo do deserto a trilha;
Pois bem... que a lira do poeta errante
Seja a bênção do lar e da família.
Uma Trova Popular
Autor Anônimo
Ó alegria do mundo
por onde é que tens andado?
Tenho corrido mil terras,
e não te tenho encontrado...
Uma Trova Hispânica da Espanha
Maria Oreto M. Sanches
Quimérica juventud,
pájaro alado de sueños! Tuya es la excelsa virtud,
conquistadora de empeños.
Um Poema da Bahia
Castro Alves
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA
A meu irmão Guilherme de Castro Alves
Na Cordilheira altíssima dos Andes
Os Chimborazos solitários, grandes
Ardem naquelas hibernais regiões.
Ruge embalde e fumega a solfatara...
É dos lábios sangrentos da cratera
Que a avalanche vacila aos furacões.
A escória rubra com os geleiros brancos
Misturados resvalam pelo francos
Dos ombros friorentos do vulcão...
..............................................................
Assim, Poeta, é tua vida imensa,
Cerca-te o gelo, a morte, a indiferença...
E são larvas lá dentro o coração.
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Trovadores que deixaram Saudades
Hermoclydes Siqueira Franco
Niterói/RJ (1929 – 2012) Nova Friburgo/RJ
A vagar pela cidade,
Desde os tempos de menino,
Procuro a felicidade
Que mora além do destino!…
Uma Trova de Natal/RN
Heder Rubens Silveira e Souza
Numa garrafa vazia,
entregue ao mar, confidente,
um retrato reunia
seu passado ao meu presente...
Um Poema da Bahia
Castro Alves
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA
A Volta da Primavera
Aime, et tu renaítras; fais-toi fleur pour éclore,
Après avoir souffert, il faut souffrir encore; Il faut aimer sans cesse, après avoir aimé.
A. DE MUSSET
AI! Não maldigas minha fronte pálida,
E o peito gasto ao referver de amores.
Vegetam louros — na caveira esquálida
E a sepultura se reveste em flores.
Bem sei que um dia o vendaval da sorte
Do mar lançou-me na gelada areia.
Serei... que importa? o D. Juan da morte
Dá-me o teu seio — e tu serás Haidéia!
Pousa esta mão — nos meus cabelos úmidos!...
Ensina à brisa ondulações suaves! Dá-me um abrigo nos teus seios túmidos!
Fala!... que eu ouço o pipilar das aves!
Já viste às vezes, quando o sol de maio
Inunda o vale, o matagal e a veiga?
Murmura a relva: "Que suave raio!"
Responde o ramo: "Como a luz é meiga!"
E, ao doce influxo do clarão do dia,
O junco exausto, que cedera à enchente,
Levanta a fronte da lagoa fria...
Mergulha a fronte na lagoa ardente ..
Se a natureza apaixonada acorda
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Ao quente afago do celeste amante,
Diz!... Quando em fogo o teu olhar transborda,
Não vês minh'alma reviver ovante?
É que teu riso me penetra n'alma —
Como a harmonia de uma orquestra santa —
É que teu riso tanta dor acalma...
Tanta descrença!... Tanta angústia!... Tanta!
Que eu digo ao ver tua celeste fronte,
"O céu consola toda dor que existe.
Deus fez a neve — para o negro monte! Deus fez a virgem — para o bardo triste!‖
Uma Trova de Rio Novo/MG
Eugênia Maria Rodrigues
Sinto que chegas... me abraças...
porém tu finges... sem dó...
e a Saudade brinda as taças
do vinho que eu bebo só...
Um Haicai de Manaus/AM
Zemaria Pinto
(as mãos da amada)
conduzem a fala
na luz rubra da manhã
- papoulas ao vento
Um Poema da Bahia
Castro Alves
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA
Adormecida
Ses longs cheveux épars Ia couvrent tout entière. La croix de son collier repose dans sa main,
Comme pour témoigner qu'elle a fait sa prière, Et qu'elle va Ia faire en s'éveillant demain.
(A. de Musset)
Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.
'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.
De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos — beijá-la.
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Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...
Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!
E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
Pra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...
Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
"Ó flor! - tu és a virgem das campinas! "Virgem! - tu és a flor de minha vida!..."
Uma Trova de Porto/Portugal
Emilia Peñalba de A. Esteves
No meu reino de ilusão
tu és o rei, és o dono!...
E eu sou, em teu coração,
uma rainha... sem um trono!
Um Poema da Bahia
Castro Alves
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA
Dedicatória
A pomba d'aliança o voo espraia
Na superfície azul do mar imenso,
Rente... rente da espuma já desmaia
Medindo a curva do horizonte extenso...
Mas um disco se avista ao longe... A praia
Rasga nitente o nevoeiro denso!...
Ó pouso! ó monte! ó ramo de oliveira!
Ninho amigo da pomba forasteira! ...
Assim, meu pobre livro as asas larga
Neste oceano sem fim, sombrio, eterno...
O mar atira-lhe a saliva amarga,
O céu lhe atira o temporal de inverno. . .
O triste verga à tão pesada carga! Quem abre ao triste um coração paterno?...
É tão bom ter por árvore — uns carinhos! É tão bom de uns afetos — fazer ninhos!
Pobre órfão! Vagando nos espaços
Embalde às solidões mandas um grito!
Que importa? De uma cruz ao longe os braços
Vejo abrirem-se ao mísero precito...
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Os túmulos dos teus dão-te regaços!
Ama-te a sombra do salgueiro aflito...
Vai, pois, meu livro! e como louro agreste
Traz-me no bico um ramo de... cipreste!
Uma Trova de Coimbra/Portugal
Ernesto Lopes Nunes
O reino que o mundo almeja
terá sempre este defeito:
- a um só trono que se veja,
reclamam mil o direito!
Uma Glosa do Rio de Janeiro/RJ
Gilson Faustino Maia
Glosando Renato Alves (RJ)
Mote:
Quem não tem medo da morte,
quem nunca faz nada em vão,
quem, antes de tudo é um forte...
Este é o homem do sertão!
Glosa:
Quem não tem medo da morte,
querendo ir ao além,
sem dinheiro, mas com sorte,
vai de carona no ―trem‖.
Quem só quer levar vantagem,
quem nunca faz nada em vão,
quem só pensa em vadiagem,
não serve para o Sertão.
.
De ninguém tem um suporte,
vai seguindo a sua estrada.
Quem, antes de tudo é um forte...
Só teme a Deus e mais nada.
Desce da fronte o suor,
mas diz em sua oração:
- Amanhã será melhor!
Este é o homem do sertão!
Um Poema da Bahia
Castro Alves
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA
O crepúsculo sertanejo
A tarde morria! Nas águas barrentas
As sombras das margens deitavam-se longas;
Na esguia atalaia das árvores secas
Ouvia-se um triste chorar de arapongas.
A tarde morria! Dos ramos, das lascas,
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Das pedras, do líquen, das heras, dos cardos,
As trevas rasteiras com o ventre por terra
Saíam, quais negros, cruéis leopardos.
A tarde morria! Mais funda nas águas
Lavava-se a galha do escuro ingazeiro...
Ao fresco arrepio dos ventos cortantes
Em músico estalo rangia o coqueiro.
Sussurro profundo! Marulho gigante!
Talvez um — silêncio!... Talvez uma — orquestra...
Da folha, do cálix, das asas, do inseto...
Do átomo — à estrela... do verme — à floresta!...
As garças metiam o bico vermelho
Por baixo das asas, — da brisa ao açoite —;
E a terra na vaga de azul do infinito
Cobria a cabeça co'as penas da noite!
Somente por vezes, dos jungles das bordas
Dos golfos enormes, daquela paragem,
Erguia a cabeça surpreso, inquieto,
Coberto de limos — um touro selvagem.
Então as marrecas, em torno boiando,
O vôo encurvavam medrosas, à toa...
E o tímido bando pedindo outras praias
Passava gritando por sobre a canoa!…
Um Haicai de João Pessoa/PB
Saulo Mendonça
Não me comoveu
A morte daquela noite.
O galo cantou
Uma Trova de São Paulo/SP
Domitilla Borges Beltrame
Numa página, a saudade;
no verso – não tem escolha –
quase sempre a mocidade
faz parte da mesma folha!...
Um Poema da Bahia
Castro Alves
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA
O "Adeus" de Teresa
A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus
E amamos juntos E depois na sala
"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala
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E ela, corando, murmurou-me: "adeus."
Uma noite entreabriu-se um reposteiro. . .
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus
Era eu Era a pálida Teresa! "Adeus" lhe disse conservando-a presa
E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!"
Passaram tempos sec'los de delírio
Prazeres divinais gozos do Empíreo
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse - "Voltarei! descansa!. . . "
Ela, chorando mais que uma criança,
Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"
Quando voltei era o palácio em festa!
E a voz d'Ela e de um homem lá na orquesta
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei! Ela me olhou branca surpresa! Foi a última vez que eu vi Teresa!
E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"
Recordando Velhas Canções
Uirapuru
(toada, 1963)
Jacobina e Murilo Latini
Uirapuru, Uirapuru
Seresteiro, cantador de meu sertão
Uirapuru, Uirapuru
Ele canta as mágoas do meu coração
A mata inteira fica muda ao teu cantar
tudo se cala para ouvir tua canção
Que vai ao céu numa sentida melodia
Vai a Deus em forma triste de oração
Uirapuru, Uirapuru
Seresteiro, cantador de meu sertão
Uirapuru, Uirapuru
Ele canta as mágoas do meu coração
Se Deus ouvisse o que te sai do coração
Entenderia o que é dor tua canção
E dos teus olhos tanto pranto rolaria
Que daria para salvar o meu sertão
Uirapuru, Uirapuru
Seresteiro, cantador de meu sertão
Uirapuru, Uirapuru
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Ele canta as mágoas do meu coração
Uma Trova de São Paulo/SP
Héron Patrício
A saudade é uma andorinha
em teimosa migração:
vem do Passado... e se aninha
nos beirais do coração.
Um Poema da Bahia
Castro Alves
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA
O Coração
O coração é o colibri dourado
Das veigas puras do jardim do céu.
Um — tem o mel da granadilha agreste,
Bebe os perfumes, que a bonina deu.
O outro — voa em mais virentes balsas,
Pousa de um riso na rubente flor.
Vive do mel — a que se chama — crenças —,
Vive do aroma — que se diz — amor. —
Um Haicai de Salvador/BA
Oldegar Franco Vieira
(1915-2006)
Um Filósofo
Um velho coqueiro
– interrogativamente –
mira-se no brejo.
Uma Trova do Rio de Janeiro/RJ
Edmar Japiassú Maia
A despedida foi breve
e o nosso adeus sem afrontas...
Mas a saudade se atreve
a vir cobrar velhas contas!
Um Poema da Bahia
Castro Alves
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA
Último Fantasma
Quem és tu, quem és tu, vulto gracioso,
Que te elevas da noite na orvalhada?
Tens a face nas sombras mergulhada...
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Sobre as névoas te libras vaporoso...
Baixas do céu num voo harmonioso!...
Quem és tu, bela e branca desposada?
Da laranjeira em flor a flor nevada
Cerca-te a fronte, ó ser misterioso!...
Onde nos vimos nós?... És doutra esfera?
És o ser que eu busquei do sul ao norte...
Por quem meu peito em sonhos desespera?...
Quem és tu? Quem és tu? — És minha sorte! És talvez o ideal que est'alma espera!
És a glória talvez! Talvez a morte!...
Hinos de Cidades Brasileiras
Itaboraí/RJ
Pedra Bonita,
foi assim que te chamaram
Certa vez em Guarani
Terra bendita,
é assim que hoje
te chamo minha Itaboraí
Tens uma porta aberta para o mar
És a janela do nosso país
Quem vem de longe aprende a te amar
Quem nasce aqui é a tua raíz
Com a argila do teu solo
O calor do teu colo
E o suor do teu povo
Vamos seguir com firmeza
E ajudar com certeza
A construir um mundo novo
És um eterno poema
Que tem como tema a felicidade
Escrito pelo criador,
que te transformou nesta bela cidade (Bis)
Teus laranjais,
teus imortais
A tua história é um hino de amor
És a própria paz,
porque sempre estás
nas mãos de nosso senhor (Bis)
Itaboraí, Itaboraí!
Uma Trova de Felgueiras/Portugal
Arlindo Brito
És rainha. És soberana.
Porque só, por teu anelo,
a nossa humilde choupana
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tem nobreza dum castelo.
Um Poema da Bahia
Castro Alves
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA
O Fantasma e a Canção
Orgulho! desce os olhos dos céus
sobre ti mesmo, e vê como os nomes
mais poderosos vão se refugiar numa canção. BYRON.
— Quem bate? — "A noite é sombria!"
— Quem bate? — "É rijo o tufão! ..
Não ouvis? a ventania
Ladra à lua como um cão."
— Quem bate? — "0 nome qu'importa?
Chamo-me dor... abre a porta! Chamo-me frio... abre o lar!
Dá-me pão... chamo-me fome! Necessidade é o meu nome!"
— Mendigo! podes passar!
"Mulher, se eu falar, prometes
A porta abrir-me?" — Talvez.
— "Olha... Nas cãs deste velho
Verás fanados lauréis.
Há no meu crânio enrugado
O fundo sulco traçado
Pela c'roa imperial.
Foragido, errante espectro,
Meu cajado — já foi cetro! Meus trapos — manto real!"
— Senhor, minha casa é pobre...
Ide bater a um solar!
— "De lá venho... O Rei-fantasma
Baniram do próprio lar.
Nas largas escadarias,
Nas vetustas galerias,
Os pajens e as cortesãs
Cantavam! ... Reinava a orgia! ..
Festa! Festa! E ninguém via
O Rei coberto de cãs!"
— Fantasmas! Aos grandes, que tombam,
É palácio o mausoléu! — "Silêncio! De longe eu venho...
Também meu túmulo morreu.
O séc’lo — traça que medra
Nos livros feitos de pedra —
Rói o mármore, cruel.
O tempo — Átila terrível Quebra co'a pata invisível
Sarcófago e capitel.
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"Desgraça então para o espectro,
Quer seja Homero ou Solon,
Se, medindo a treva imensa
Vai bater ao Panteon...
o motim — Nero profano —
No ventre da cova insano
Mergulha os dedos cruéis.
Da guerra nos paroxismos
Se abismam mesmo os abismos
E o Morto morre outra vez!
"Então, nas sombras infindas,
S'esbarram em confusão
Os fantasmas sem abrigo
Nem no espaço, nem no chão...
As almas angustiadas,
Como águias desaninhadas,
Gemendo voam no ar.
E enchem de vagos lamentos
As vagas negras dos ventos,
Os ventos do negro marl
"Bati a todas as portas
Nem uma só me acolheu!..."
— "Entra! —: Uma voz argentina
Dentro do lar respondeu.
— "Entra, pois! Sombra exilada,
Entra! O verso — é uma pousada
Aos reis que perdidos vão.
A estrofe — é a púrpura extrema,
Último trono — é o poema! Último asilo — a Canção!...‖
Uma Grinalda de Trovas de Itanhaém
Filemon F. Martins
Mulher
Segue uma estrada florida
quem, na verdade, tiver
a glória de ter, na vida,
um coração de mulher!
**************
Quero seguir meu destino
com minha cabeça erguida,
quem ama o bem, imagino,
segue uma estrada florida.
Segue uma estrada florida,
quem é da paz e requer
a esperança protegida,
quem, na verdade, tiver.
Quem, na verdade, tiver
uma paixão desmedida,
felicidade é mister
a glória de ter, na vida.
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A glória de ter, na vida,
um amor minha alma quer,
numa paixão incontida
um coração de mulher!
A caminho do infinito,
prossigo a minha viagem...
Levo o que é de mais bonito:
O nosso amor na bagagem!
A chama já consumia
a casa do seu Arlindo,
quando psiu... ele dizia:
" Minha sogra está dormindo"!...
A minha sogra eu veria,
não importa em que planeta,
se pudesse, todo dia...
Claro, por uma luneta!!!
Amor, estranha magia,
do coração e da mente.
Com toda sua alquimia,
nos faz um adolescente.
À noite, em frente á TV,
a vovó e o manto dela...
Ela dorme e nada vê,
o manto assiste à novela...
A paz que tanto nos falta,
deixando a vida feroz,
é uma criança peralta,
oculta dentro de nós!
A vida é um fogo de palha
e o tempo se mostra algoz,
mais parece uma fornalha
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onde a palha... somos nós! …
"Bate" a inspiração na gente...
Verso nenhum se aquieta,
quando Deus, onipotente,
nos permite ser poeta!
Deixa o que passou "de lado",
a vida é um ensinamento...
Pois lamentar o passado
é correr atrás do vento!...
Dentre as forças deste mundo,
procurando paz, eu vim,
encontrá-la aqui no fundo,
de onde crio a força em mim.
De político do “avesso”,
a gente já tem calombo...
pois, quando ele dá tropeço,
é o povo que leva o tombo!!!
E o velhinho gritou: “Opa!...”
Depois de tanta procura...
no prato de sua sopa,
encontrou a dentadura.
Na despedida, o teu lenço
deixou o meu com “revolta”!
Nem viu, num adeus intenso...
que o meu...acenava: Volta!!!
Nossos olhares ousados,
já perceberam que são
dois desejos conjugados
num “ jogo de sedução”!…
O amargor da despedida
de alguém que amamos demais,
é ter o sabor na vida
do “gosto de nunca mais”!…
O "bebum" vai ao velório
e abraça a "booooa” comadre,
dando um pesar vexatório:
"Me solta, que eu sou o Padre!!!”
O chão do quarto molhado...
A sogra pagou o mico
após seu grito abafado:
" Meu Deus! Errei o penico"!!!
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O destino escreve a escolha
do amor de nós dois assim:
Páginas da mesma folha...
Tu... de costas para mim!…
O silêncio traz a paz
do universo e se engrandece,
com amor que o homem faz
do silêncio sua prece!
O teatro é fantasia,
mas, às vezes, como tal,
ninguém o diferencia
da nossa vida real...
O vento faz serenata
e o mar se põe a cantar
versos, em ondas de prata,
de uma poesia... ao luar…
Partiste... E a nossa amizade
no infinito se enternece...
Tu me mandas a saudade,
eu te mando a minha prece!…
Político que faz "rolo",
bem ou mal ele se arranja,
pois no meio do seu "bolo",
tem recheio de "laranja"!!!
Pra aquela visita chata,
o que me deixa mais louco,
é ouvir a frase insensata:
"Já vai? Fica mais um pouco"!...
Pra que a filha não se “perca”,
meu vizinho fica alerta...
De que vale “fazer cerca”
pra quem tem porteira aberta?!
Sobre a parreira, o luar
no sereno te retrata…
E os teus olhos a brilhar:
“Duas uvas”… cor de prata…
Ter “gandula bonitinha”,
rebolando, só piora...
O jogo quase não tinha:
- por tantas bolas pra fora! ...
Teu abraço me agasalha
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com carinho tão profundo...
sinto em volta uma muralha,
separando-nos do mundo!…
Teu “jogo de amor” peralta,
por ciúme, nos devora:
- tu cobraste a minha falta,
batendo o “pênalti” fora! …
Um amor que já floresce,
escondido, não se assume.
É uma flor que nem parece...
Mas que exala seu perfume!
Um casal tão agitado
no sofá de namorico,
parecia ter tomado
um banho de pó-de-mico!...
Vive a "página da vida"
nem que seja a "solavanco"!...
Pior é quem na "partida",
carimba a página: "Em branco"!
Olympio S. Coutinho (Histórias
da trova) Capítulo II – (5a. Parte, final) Meus Irmãos, os Trovadores e Capítulo III – (1a. Parte) Trovadores cantam a força da imprensa
Ainda em 1966, sempre entusiasmado com o movimento, editei uma segunda edição do ―Festival de Trovas‖, com capa azul, com muitas das 101 trovas da primeira edição e outras novas. Na abertura, como prefácio, o artigo escrito pelo JG em 1961 sobre minhas trovas e, no final do livro, trechos de outros artigos publicados e cartas recebidas falando da primeira edição do livro. E parei por aí: envolvido com a minha nova vida de repórter de jornal e com as aventuras do exercício da profissão, então romântica, deixei de frequentar a Academia e não procurei a seção mineira da UBT para inscrever-me. Acreditei também que o movimento trovadoresco havia arrefecido e deixei de fazer trovas regularmente.
Só em 2008, ao tomar conhecimento de que o movimento estava mais vivo que nunca, principalmente depois de conhecer o
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falandodetrova, voltei a participar dos concursos, tornei-me associado da UBT e, desde então, ando beliscando umas premiações, mas tenho viajado pouco para voltar a conviver com ―meus irmãos, os trovadores‖ e reviver, com outros, aqueles bons tempos de confraternização e congraçamento.
Capítulo III – Trovadores cantam a força da imprensa
Trovadores de várias partes do país estiveram recentemente em Belo Horizonte para receber prêmios (troféus, medalhas e diplomas) conquistados no XXI Concurso Nacional/Internacional de Trovas ―Cidade de Belo Horizonte‖, promovido pela União Brasileira dos Trovadores - seção de Minas Gerais, que teve como tema, no âmbito nacional/internacional, a palavra ―imprensa‖. Vejam bem: XXI Concurso, o que significa que há 21 anos Belo Horizonte promove anualmente um concurso de trovas. Nova Friburgo, a chamada ―Suiça Brasileira‖ promoveu este ano o seu 51ºJogos Florais, realizados anualmente desde 1960, também sem nenhuma interrupção. Em todo o Brasil, realizam-se anualmente cerca de 50 concursos de trovas, aos quais concorrem milhares de poetas e trovadores brasileiros e brasileiras.
Antes que meus caros colegas jornalistas desistam da leitura, não seduzidos pelo tema, deixem-me explicar porque estou escrevendo este ―artigo‖: tenho 72 anos e sou jornalista desde 1967 (formado pela então Faculdade de Filosofia da Universidade de Minas Gerais (hoje UFMG). Andei fazendo trovas entre os 17 e 21 anos, ainda em Ubá, onde nasci, mas depois o jornalismo tomou conta e passei pela Última Hora (bons tempos os de antes de 1964), Folha de Minas, O Diário, Diário de Minas e Estado de Minas (onde entrei em 1967 e sai em 2003). Criei, depois, um jornal de bairro (Jornal Sion, que continua circulando) e, em 2004, passei alguns meses na redação de O Tempo, estagiando, numa volta ao passado.
A trova (quatro versos setissílabos rimando o primeiro com o terceiro e o segundo com o quarto) e é uma das mais antigas manifestações poéticas, sendo considerada até hoje a forma mais popular da poesia, devido, principalmente, ao fato de ser de fácil memorização.
Durante séculos, foi usada, inclusive, como meio de comunicação entre governantes e deles com seus familiares, em longas cartas, sendo utilizada também para noticiar fatos e descrever acontecimentos.
No Brasil, a partir da década de 60, ganhou impulso através de trovadores como Luiz Otávio
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(pseudônimo do dentista Gilson de Castro) e J. G. de Araújo Jorge, este, na época, um fenômeno na edição e venda de livros de poesia, principalmente para os então românticos adolescentes.
Foram eles que, ao lado de outros ‖pioneiros‖, deram um grande impulso à trova, primeiro fortalecendo o Grêmio Brasileiro dos Trovadores (que tinha sede em Salvador, na Bahia) e, mais tarde, criando a União Brasileira de Trovadores –que se mantém até hoje com seções em praticamente todos os Estados brasileiros e sub-seções em centenas de municípios. Os concursos de trovas (ou Jogos Florais) se multiplicaram pelo País e a edição de livros de trovas e/ou antologias com participação de vários trovadores ganhou dimensão nacional, com o apoio de editoras como Vecchi, Freitas Bastos, Minerva e outras, enquanto a imprensa escrita e falada focalizava a trova em colunas (por exemplo, Porta de Livraria, de Antônio Olinto, no O Globo); e em programas de rádio (Luiz de Carvalho, Rádio Globo), entre outros veículos de divulgação.
Hoje, os concursos de trovas, que servem para disseminar o gênero e também para revelar novos trovadores, se espalham por todo o País, sendo os principais, além de Friburgo e Belo Horizonte, os de São Paulo (SP), Natal (RN), Curitiba (PR), Niterói (RJ), Bandeirantes (PR), Maringá (PR), Balneário
Camboriú (SC) e Guaxupé (MG), entre muitos outros. E multiplicam-se também os sites sobre o movimento, destacando-se entre eles o www.falandodetrova.com.br, criado e mantido pelo poeta e trovador José Ouverney e seu filho, José Ouverney Júnior, de Pindamonhangaba (SP).
continua…
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Chuveirão Biográfico do Poeta
Antônio Frederico de Castro Alves nasceu na
fazenda Cabaceiras, antiga freguesia de Muritiba, perto da
vila de Curralinho, hoje cidade Castro Alves, no Estado da Bahia, a 14 de março de 1847. Era filho do médico Antônio
José Alves, mais tarde professor na Faculdade de Medicina de Salvador e Clélia Brasília Castro.
Sua mãe faleceu em 1859.
O pai se casou pela segunda vez em 1862 com a viúva Maria Rosário Guimarães. Temendo que seu filho fosse acometido pelo Mal do Século, Antônio José embarca, no dia
seguinte ao do seu casamento, o poeta e seu irmão Antônio José para o Recife.
Em 1863, submeteu-se à prova de admissão para o ingresso na Faculdade de Direito do Recife mas foi reprovado.
Neste ano, a atriz portuguesa Eugénia Câmara se apresentou no Teatro Santa Isabel. Influência decisiva em
sua vida exerceria a atriz, vinda ao Brasil com Furtado Coelho.
Em maio, Castro Alves publicou no primeiro número de
A Primavera seu primeiro poema contra a escravidão: A canção do africano.
Em 62 escrevera o poema "A Destruição de Jerusalém",
em 63 "Pesadelo", "Meu Segredo", já inspirado pela atriz Eugênia Câmara, "Cansaço", "Noite de Amor" e outros.
A tuberculose se manifestou e em 1863 teve uma primeira hemoptise.
No Recife seria tribuno e poeta sempre requisitado nas
sessões públicas da Faculdade, nas sociedades estudantis, na plateia dos teatros, incitado desde logo pelos aplausos e ovações, que começava a receber.
Viaja para a Bahia, só retornando ao Recife em março de
1865, acompanhado por Fagundes Varela. Recitou O Sábio na Faculdade de Direito e se ligou a
uma moça desconhecida, Idalina. Alistou-se no Batalhão Acadêmico de Voluntários para a
Guerra do Paraguai.
Em dezembro, voltou com Fagundes Varela a Salvador. Seu pai morreu no ano seguinte, janeiro de 1866.
Castro Alves voltou ao Recife, matriculando-se no segundo ano da faculdade. Nessa ocasião, fundou com Rui Barbosa e outros amigos uma sociedade abolicionista.
Em 1866, tornou-se amante de Eugénia Câmara. Teve fase de intensa produção literária e a do seu
apostolado por duas grandes causas: uma, social e moral, a
da abolição da escravatura; outra, a república, aspiração política dos liberais mais exaltados.
Data de 1866 o término de seu drama Gonzaga ou a Revolução de Minas, representado na Bahia e depois em São Paulo, no qual conseguiu consagrar as duas grandes
causas de sua vocação. Parte para Salvador, acompanhado de Eugênia. Na
estreia de Gonzaga, dia 7 de setembro, no Teatro São João, foi coroado e conduzido em triunfo.
Em janeiro de 1868, embarcou com Eugênia Câmara
para o Rio de Janeiro, sendo recebido por José de Alencar e visitado por Machado de Assis. A imprensa publica troca de cartas entre ambos, com grandes elogios ao poeta. Em
março, viajou com Eugênia para São Paulo. Decidira ali - na Faculdade de Direito de São Paulo - continuar seus estudos,
e se matriculou no terceiro ano. Continuou principalmente a produção intensa dos seus
poemas líricos e heroicos, publicados nos jornais ou
recitados nas festas literárias, que produziam a maior e mais arrebatadora repercussão.
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Basta lembrar os nomes de Fagundes Varela, Ruy
Barbosa, Joaquim Nabuco, Afonso Pena, Rodrigues Alves, Bias Fortes, Martim Cabral, Salvador de Mendonça, e tantos
outros, que lhe assistiram aos triunfos e não lhe disputaram a primazia.
É que ele, na linguagem divina que é a poesia, lhes dizia
a magnificência de versos que até então ninguém dissera, numa voz que nunca se ouvira, como afirmou Constâncio
Alves. Possuía uma voz dessas que fazem pensar no glorioso arauto de Agamenon, imortalizado por Homero, Taltibios, semelhante aos deuses pela voz…, como disse Rui Barbosa.
Pregava o advento de uma "era nova", segundo Euclides da Cunha.
Em 7 de setembro de 1868 fez a apresentação pública de
Tragédia no mar, que depois ganharia o nome de O Navio Negreiro.
Disse Joaquim Nabuco: “Quem visse Castro Alves em um desses momentos em que se inebriava de aplausos, vestido de preto para dar à fisionomia um reflexo de tristeza, com a fronte contraída como se o pensamento a oprimisse, com os olhos que ele tinha profundos e luminosos fixos em um ponto do espaço, com os lábios ligeiramente contraídos de desdém ou descerrados por um sorriso de triunfo, reconheceria logo o homem que ele era: uma inteligência aberta às nobres ideias, um coração ferido que se procurava esquecer na vertigem da glória.”
No dia 25 de outubro, foi reapresentada sua peça Gonzaga no Teatro São José, musicada pelo compositor mineiro, então residente em São Paulo, Emílio do Lago.
Desfaz-se em agosto de 1868 sua ligação com Eugênia Câmara.
Castro Alves foi aprovado nos exames da Faculdade de
Direito e em novembro - tragédia de grandes consequências.
Tuberculoso, aventara uma estadia na cidade de Caetité,
onde moravam seus tios e morrera o avô materno (o Major Silva Castro, herói da Independência da Bahia), dois
grandes amigos (Otaviano Xavier Cotrim e Plínio de Lima), de clima salutar. Mas, antes, ainda em São Paulo, na tarde de 11 de novembro, resolveu realizar uma caçada na várzea
do Brás e feriu o pé com um tiro. Disso resultou longa enfermidade, cirurgias, chegando ao Rio de Janeiro no
começo de 1869, para salvar a vida, mas com o martírio de uma amputação. Em março de 1869, matriculou-se no quarto ano do curso jurídico, mas em maio, tendo piorado
seu estado, decidiu viajar para o Rio de Janeiro, onde amputaram seu membro inferior esquerdo sem qualquer anestesia.
No dia 31 de outubro, assistiu a uma representação de Eugénia Câmara, no Teatro Fênix Dramática. Ali a viu por
última vez, pois a 25 de novembro decidiu partir para Salvador. Mutilado, estava obrigado a procurar o consolo da família e os bons ares do sertão.
Em fevereiro de 1870 seguiu para Curralinho para melhorar a tuberculose que se agravara, viveu na fazenda
Santa Isabel, em Itaberaba. Em setembro, voltou para Salvador. Ainda leria, em
outubro, A cachoeira de Paulo Afonso para um grupo de
amigos, e lançou Espumas flutuantes. Mas pouco durou. Sua última aparição em público foi em 10 de fevereiro de
1871 numa récita beneficente. Morreu em Salvador, Bahia,
em 6 de julho de 1871. Seus escritos póstumos incluem apenas um volume de
versos: A Cachoeira de Paulo Afonso (1876), Os Escravos (1883) e, mais tarde, Hinos do Equador (1921).
É patrono da cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras.
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O trabalho de resgate e preservação de suas obras foi
fruto da dedicação do antigo colega e amigo Ruy Barbosa e fruto da campanha abolicionista, que tomou corpo a partir
de 1881. Posteriormente, Afrânio Peixoto, ex-presidente da Academia, reuniu em dois volumes toda a produção do poeta, bem como escritos diversos (sob os títulos de
"Relíquias" e "Correspondência"). O aspecto social da poesia de Castro Alves, em poemas
como "O Navio Negreiro" e "Vozes d'África", ambos publicados no livro Os Escravos, foi um dos motivos principais para a sua popularização. Nesse sentido, autores
como Mário de Andrade, no modernismo, dedicaram-lhe inúmeros ensaios.
Numa das obras mais belas da literatura de nosso
continente, "Canto Geral", do poeta chileno Pablo Neruda, é dedicado um poema a Castro Alves. O poeta condoreiro é
lembrado por Neruda como aquele que, ao mesmo tempo em que cantou às flores, às águas, à formosura da mulher amada, fez com que sua voz batesse "em portas até então
fechadas para que, combatendo, a liberdade entrasse". Portanto, termina o poeta chileno, "tua voz uniu-se à eterna
e alta voz dos homens. Cantaste bem. Cantaste como se deve cantar". Como dá para perceber, Neruda reverencia Castro Alves por ter cantado àqueles que não tinham voz: os
escravos. O poema chama-se "Castro Alves do Brasil". Castro Alves já foi retratado como personagem no
cinema e na televisão, no filme Vendaval Maravilhoso (1949)
e Castro Alves - Retrato Falado do Poeta (1999). Características Literárias
A obra de Castro Alves, tendo como relevância a sua poesia, difere muito da obra indianista de Gonçalves Dias ou do ultra-romantismo de Álvares de Azevedo. A temática do
amor, por exemplo, deixa de ser idealizada para se tornar mais real, carnal e concreta. A mulher perde a já tão gasta
imagem de musa desejada, impossível e distante para se
tornar mais acessível, fruto de lembranças amorosas, ou mais acessível às paixões e desejos do poeta. A morte não é
mais uma fuga e sim um temível e amargo obstáculo às realizações e sonhos. A depressão e melancolia estão presentes, mas perdem espaço para a exaltação da
natureza, sempre grandiosa e em harmonia com os estados de espírito do poeta. A referência às grandes aves,
principalmente à águia e ao condor (símbolo da terceira geração romântica: a condoreira), é constante, expressando a liberdade, as alturas que a sua poesia pode atingir.
Mas o forte da poesia de Castro Alves está na crítica social, inspirada principalmente pelo poeta francês Victor Hugo. Sua poesia perde a maior parte do caráter evasivo e
distante da realidade tipicamente românticos para ganhar uma voz mais participante dentro da sociedade. O caráter
crítico de sua obra, principalmente ligado às causas da abolição, rendeu-lhe o título de "Poeta dos escravos." Isso é notório no longo poema "O navio negreiro" [ver Antologia],
onde há a denúncia das péssimas condições com que os negros escravos eram transportados. Embora tenha sido um
escritor do Romantismo, suas poesias, na verdade, já continham os primeiros indícios da transição do Romantismo exacerbado e depressivo para o Realismo
crítico, que já contava com sua força máxima na Europa. Ao livro "Os Escravos" pertenceriam "Vozes d'África" e "O
Navio Negreiro", os dois poemas em que o poeta atingiu a
maior altura de seu estro. O primeiro é uma soberba apóstrofe do continente escravizado, a implorar justiça de
Deus. O que indignava o poeta era ver que o Novo Mundo, "talhado para as grandezas, pra crescer, criar, subir", a América, que conquistara a liberdade com formidável
heroísmo, se manchava no mesmo crime da Europa.
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No "O Navio Negreiro" evocava o poeta os sofrimentos
dos negros na travessia da África para o Brasil. Sabe-se que os infelizes vinham amontoados no porão e só subiam ao
convés uma vez ao dia para o exercício higiênico, a dança forçada sob o chicote dos capatazes.
Em Castro Alves cumpre distinguir o lírico amoroso, que
se exprimia quase sempre sem ênfase e às vezes com exemplar simplicidade, como no formoso quadro do poema
"Adormecida", o poeta descritivo, pintando com admirável verdade e poesia a nossa paisagem, tal em "O Crepúsculo Sertanejo", cumpre distingui-lo do épico social desmedindo-
se em violentas antíteses, em retumbantes onomatopeias. A este último aspecto há que levar em conta a intenção pragmática dos seus cantos, escritos para serem
declamados na praça pública, em teatros ou grandes salas —, verdadeiros discursos de poeta-tribuno. E há que
reconhecer nele, mau grado os excessos e o mau-gosto
ocasional, a maior força verbal e a inspiração mais generosa
de toda a poesia brasileira. (Manuel Bandeira)
Obras
Poesia
Espumas Flutuantes, 1870
A Cachoeira de Paulo Afonso, 1873
Os Escravos, 1883
Hinos do Equador, em edição de suas Obras Completas (1921)
Tragédia no Mar
O Navio Negreiro, 1869
Teatro
Gonzaga ou a Revolução de Minas, 1875
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