Cachaca bebida nacional

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CORREIO BRAZILIENSEBrasília, domingo, 31 de março de 2013

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Ouça o choro Paraty eassista ao making of do CD.

Disco de violonistamineiro faz umaviagem pelas regiõesdo país produtoras decachaça e propõe umatrilha sonora datradicional bebida

»GABRIEL DE SÁ

A“marvada pinga” é o que atrapalhaa veterana Inezita Barroso, comoela costuma cantar.Toquinho eVi-nicius, durante as tardes em Ita-

poã, estavam sempre acompanhados deuma cachaça de rolha para “argumentar”.Já o João, de Erasmo Carlos, bebeu todo odestilado da cidade e acabou comendo“confete, serpentina e a fantasia”. Décadasmais tarde, a turma do Pato Fu decidiu to-mar pinga, “mesmo já sabendo o que iadar no fim”. Cachaça, parati, pinga… Sãoincontáveis os nomes dados à bebida-símbolo do país. E são maiores ainda as re-ferências à aguardente de cana-de-açúcarna música popular brasileira. O violonistamineiro Alessandro Corrêa, radicado emBrasília há nove anos, resolveu adentrar orol dos que homenagearam a branquinhae dedicou um disco inteiro a ela.

Só que Corrêa não quis apenas citar acachaça e os efeitos inebriantes dela. Eletraçou um peculiar paralelo entre o des-tilado e algumas manifestações cultu-rais do país para compor Bebida nacio-nal, CD com 12 faixas instrumentais queserá lançado esta semana. O músico de33 anos não é o que se pode chamar decachaceiro convicto: aprecia o líquidocom moderação. O mergulho dele poresse universo surgiu a partir de um re-trato dos mais tradicionais pontos pro-dutores de pinga artesanal do país, feitopela rede Mapa da Cachaça, formadapor apreciadores da bebida. “Eles fize-ram um roteiro de alambiques centená-rios e eu pensei nos gêneros musicaisque poderiam se enquadrar nessas re-giões”, explica. “Minha intenção é de queo ouvinte viaje por esses lugares.”

Corrêa descobriu, por exemplo, que,no norte de Minas Gerais, na região deSalinas, 17 municípios formam um dosprincipais polos produtores do país. Sur-giu daí Travessia dos Gerais, uma composi-ção inspirada no clássico Grande sertão:Ve-redas, de Guimarães Rosa, e um tributo àviola caipira. E é assim que acontece emBebida nacional: para cada local, uma ma-nifestação musical. O disco tem sambas

à Dorival Caymmi, bem baianos, e ou-tros de pegada mais carioca, na linha dopessoal do Estácio de Sá. Milongas gaú-chas, frevos pernambucanos e marchi-nhas de carnaval também compõem omosaico (leia quadro sobre as músicas).“O ideal é que o disco seja ouvido acom-panhado de uma cachaça artesanal dequalidade”, brinca Corrêa, “mas pode serapreciado a qualquer hora”.

Bebida nacional traz, além das compo-sições de Alessandro (uma em parceriacom Celso Araújo), duas músicas do vio-leiro Roberto Corrêa (não há nenhum pa-rentesco entre eles, apesar de serem mi-neiros) e uma do acordeonista baiano Jú-nior Ferreira. Mazurca do viajor, de Ro-berto, também bebe na fonte de Guima-rães Rosa — mais precisamente no perso-nagem Grivo, do conto “Cara-de-bronze”.A história de andanças do vaqueiro pelosinteriores do país dialoga com o conceitodo disco de transitar por lugares distintos.Outra do violeiro é Queluzindo, em refe-rência à cidade mineira de Queluz, atualConselheiro Lafaiete, conhecida pela fa-bricação de violas no século 19.

AlcunhasvariadasAssovio de cobra. Esse é um dos apeli-

dos pelo qual a cachaça é conhecida emPernambuco, e é também o nome dobaião de Júnior Ferreira que está no dis-co. A faixa, inspirada nas quadrilhas enos arrasta-pés no Nordeste, é um tribu-to a Luiz Gonzaga. Os nomes de algumasdas músicas trazem um panorama inte-ressante das múltiplas denominações re-gionais da bebida país afora. Várias delasforam colhidas no Dicionário de sinôni-mos de cachaça e algumas designaçõespara bebidas alcoólicas, do pesquisador epoeta cearense Jesus Barros Boquady.

Há mesmo razão para que a cachaçaseja festejada como símbolo nacional.Ela, que teve seu consumo proibido noséculo 17 e foi motivo de revolta, tem,hoje, 1,2 bilhão de litros produzidos porano no Brasil. São mais de 40 mil marcasda marvada (ou seria bendita?), que, ex-portada para cerca de 60 países, é o ter-ceiro destilado mais consumido no mun-do. É assunto encerrado que cachaçanão é água. Mas, com tanto volume, ficaevidente que a bebida é uma fonte ines-gotável para a cultura popular.D

ANAD

Ade

BO

ABEBIDA

NACIONALDisco de AlessandroCorrêa. Independente,

12 faixas. Preço:R$ 15. À venda na página

do Facebook(/CDBebidaNacional), naloja Kingdom Camisetas

(107 Norte) e pelotelefone 8194-3536, apartir de quinta-feira.

Quem curtir a página dodisco na rede social até14 de abril concorre a

um kit com CD, camisetae uma cachaça artesanal

de Salinas (MG).

AlessandroCorrêa:música instrumental

refinada

1,2BILHÃO

Total de litros decachaça

produzidosanualmentenoBrasil

700Número de apelidos

que a bebidatem pelo país

»»Para ouvirdegustando

CCoonnffiirraa ttrreecchhooss ddaa ppeessqquuiissaa qquueeiimmppuullssiioonnoouu aass ccoommppoossiiççõõeessddee AAlleessssaannddrroo CCoorrrrêêaa

»Dendezeiro (Faz-xodó)Homenagem de Corrêa e CelsoAraújo ao estilo inconfundívelde Dorival Caymmi, a faixaalude à relação entre acachaça e o azeite de dendê,usados juntos em oferendas.Faz-xodó é um dos apelidosbaianos da marvada. Noestado, segundo dados da Rededa Cachaça, as cidades deSanto Amaro da Purificação eMedeiros Neto têm tradição nafabricação do destilado.

» Já começaEste nome aparece no dicionáriode Jesus Barros Boquady comosinônimo de cachaça no RioGrande do Sul, onde também éconhecida como canha. O termobatiza umamilonga de Corrêa,tradicional no estado, cujasprincipais cidades produtorasestão entre o Vale dos Sinos e oplanalto da Serra Gaúcha,além de Bento Gonçalves,Harmonia e Maquiné.

»Comdois dedos degramática

Mistura de samba tradicional(do Estácio de Sá) com sambade partido alto, o título da faixafaz menção a “dois dedos degramática”, um jeito carioca dese referir à bebida. De acordocom o Mapa da Cachaça, é naparte fluminense do Vale doParaíba que estão o maiornúmero de produtoresartesanais de pinga no estado.

»ParatyNeste chorinho, Corrêa faz umtributo a uma das alcunhasmais conhecidas da bebida etambém à cidade fluminenseque, por ser uma importantefabricante dela, acabou lhedando mais um apelido. Paraty,ao lado de Angra dos Reis faz,formam a Microrregião da Baíada Ilha Grande, tradicionalprodutora de cachaça.

»AnimadeiraAmarcha carnavalesca firmou-se como gêneromusical típico daclassemédia carioca a partir dadécada de 1920, e logo espalhou-se pelas foliasmomescas Brasilafora, principalmente nas festasde salão. Animadeira, claro, é umdos vários nomes da branquinha.

Cristiano

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