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8/6/2019 B-075 Joao Osvaldo Rodrigues Nunes
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ESTUDO GEOGRFICO DOS DEPSITOS TECNOGNICOS NOS
CONJUNTOS HABITACIONAIS JARDIM HUMBERTO SALVADOR E
AUGUSTO DE PAULA NA CIDADE DE PRESIDENTE PRUDENTE, SO
PAULO, BRASIL.
Joo Osvaldo Rodrigues Nunes (joaosvaldo@fct.unesp.br), professor doutor doDepartamento de Geografia;
rika Cristina Nesta Silva (erikacnsdreamer@yahoo.com.br), mestranda doprograma de Ps-Graduao em Geografia;
Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho FCT/UNESP;Presidente Prudente, So Paulo, Brasil.
Resumo
Os depsitos tecnognicos so formados em decorrncia da ao humana.
Surgem a partir de transformaes nas caractersticas da superfcie terrestre,atravs de remobilizaes e incrementos de materiais manufaturados. O
interesse da Geografia surge do objetivo principal de analisar a paisagem
considerando seus aspectos naturais e sociais. No caso estudado, relaciona -se
s transformaes ocasionadas pelo uso e ocupao do solo nos Conjuntos
Habitacionais Jardim Humberto Salvador e Augusto de Paula, da cidade de
Presidente Prudente, So Paulo, Brasil. Os procedimentos metodolgicos
utilizados foram: reconstituio do histrico de ocupao local, mapeamentos
de uso e ocupao do solo, trabalhos de campo para observao da paisagem(ocupao, cobertura vegetal, morfologia do relevo, proc essos relacionados ao
escoamento superficial das guas, e outros); coleta de materiais sedimentares
de origem tecnognica e anlise em laboratrio das caractersticas
granulomtricas. Conclui-se, que existe uma relao intrnseca entre a
formao dos depsitos tecnognicos, com a densidade de construes e
impermeabilizao do solo. Este fato fica registrado nos testemunhos coletados
em campo e nas formaes de feies de relevo antrpicas, decorrentes das
modificaes histricas ocasionadas pela ao humana nas formas do relevo,principalmente com a retirada da cobertura vegetal. Este o caso do
assoreamento dos crregos e afluentes prximo aos Conjuntos Habitacionais e
adjacncias.
Palavras-chaves: Geografia, depsitos tecnognicos, paisagem, PresidentePrudente.
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INTRODUO
A ao humana na superfcie terrestre tem causado transformaes
significativas nas paisagens. O que antes poderia ser considerado como meionatural, hoje reproduz as caractersticas da sociedade que o ocupa e utiliza
para seu desenvolvimento econmico. Um exemplo disto a transformao na
paisagem de um local ao ser ocupado pelo uso urbano.
Neste processo de transformao da paisagem, a intensidade de
atuao das sociedades atuais, ocasionam a formao dos depsitos
tecnognicos.
De forma geral, estes depsitos podem ser caracterizados como
exclusivamente formados pela ao humana, direta e indireta. Uma de suas
principais caractersticas, refere-se a composio textural de mistura de
materiais manufaturados, como materiais de construo, resduos slidos
domsticos, entre outros, com solos de origem natural.
De acordo com a ao que lhe deu origem ou com o material
componente, os depsitos tecnognicos podem ser classificados de diversas
formas. Conforme mencionado por Peloggia (1998), ao citar Fanning & Fanning
(1989), classificam-se de acordo com o material constituinte:
1- Materiais rbicos (do ingls urbic): tratam -se de detritosurbanos, materiais terrosos que contm artefatosmanufaturados pelo homem moderno, freqentemente emfragmentos, como tijolos, vidro, concreto, asfalto, pregos,plstico, metais diversos, pedra britada, cinzas e outros,provenientes por exemplo de detritos de demolio de edifcios.2- Materiais grbicos (do ingls garbage): so depsi tos dematerial detrtico com lixo orgnico, de origem humana e que,apesar de conterem artefatos em quantidades muito menoresque a dos materiais rbicos, so suficientemente ricos emmatria orgnica para geram metano em condiesanaerbicas.
3- Materiais esplicos (do ingls spoil): materiais escavados eredepositados por operaes de terraplanagem em minas acu aberto, rodovias ou outras obras civis. Incluiramos aquitambm os depsitos de assoreamento induzidos pela erosoacelerada. Seja como for, os materiais contm muito poucaquantidade de artefatos, sendo assim identificados pelaexpresso geomrfica no natural, ou ainda porpeculiaridades texturais e estruturais em seu perfil.4- Materiais dragados: materiais terrosos provenientes dadragagem de cursos dgua e comumente depositados em
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diques em cotas topogrficas superiores s da plancie aluvial(PELOGGIA, 1998, p.74).
Outro exemplo a classificao que considera o processo que origin ara
os depsitos. De acordo com Peloggia (1998) apud Chemekov (1983), existem
trs tipos principais de depsitos tecnognicos: os construdos (corpos derejeito e aterros), os induzidos (resultantes de assoreamento) e os modificados
(depsitos naturais alterados tecnogenicamente por efluentes, adubos e
outros).
As classificaes dos depsitos para os estudos com a ptica
geogrfica, surgem como um ponto de partida. No caso deste trabalho, o
objetivo principal est na interpretao da gnese de formao dos depsitos e
sua composio tecnognica, a partir das relaes histricas entre sociedade-
natureza estabelecida na rea de estudo.
Desta forma, os depsitos tecnognicos surgem como o resultado
concreto da relao sociedade-natureza, que no caso estudado, apresenta
diversas facetas relacionadas, tanto a uma ao local, responsvel pela
formao dos depsitos, quanto a uma tendncia geral, onde o ser humano ao
transformar as paisagens, pouca ateno tem dado as estudo da dinmica dos
aspectos naturais, resultando muitas vezes no surgimento de srios problemas
socioambientais.
PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
O histrico de ocupao do Extremo Oeste do Estado de So Paulo,
onde se localiza a cidade de Presidente Prudente (Figura 1), possui muitos
traos em comum, que podem ser apontados como um dos principais
contribuintes na formao dos depsitos tecnognicos. Com relao a
morfoescultura, o Extremo Oeste Paulista pertence ao Planalto Ocidental
Paulista, com rea aproximada de 126 mil km2 (OLIVEIRA E BRANNSTROM,
2004).
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Figura 1: Localizao do municpio de Presidente Prudente no Estado de SoPaulo, Brasil.
Segundo Oliveira e Brannstrom (2004),
Em cerca de 50 anos a regio praticamente perdeu um doscomponentes primitivos do meio ambiente natural: o meiobitico, alterando profundamente o balano hdrico. Asconseqentes eroses provocaram o assoreamento dos fundos
dos vales, formando depsitos denominados tecnognicos que,atualmente, passam por um processo de re -entalhe revelandosuas camadas que contm, da mesma forma que nasformaes geolgicas, elementos indicativos da histria destaprimeira fase de ocupao (OLIVEIRA E BRANNSTROM,2004, P.1)
Como pde ser observado em trabalhos de campo, a cidade de
Presidente Prudente-SP apresenta estes mesmos elementos de ocupao, em
que as sociedades historicamente no se preocuparam com a preservao e
conservao dos recursos naturais. A escolha da rea dos Conjuntos Habitacionais Jardim Humberto
Salvador e Augusto de Paula ocorreu devido a verificao de uma acentuada
transformao da paisagem relacionada com os tipos de ocupao que
ocorreram no local.
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Ambos os conjuntos habitacionais apresentam caractersticas de
elevado adensamento de construes por m 2 e intensa impermeabilizao do
solo, ocasionando aumento do escoamento superficial com arraste de materiais
tecnognicos no sentido dos fundos de vales. Alm disso, no processo de
construo dos conjuntos residenciais, no foram respeitadas ascaractersticas do relevo local, ocorrendo diversos cortes em barrancos e
processos de terraplanagem. Estes dados foram observados no trabalho de
Pedro (2008), e pode ser visualizado na carta geomorfolgica (Figura 2), em
que a maior parte das residncias encontra-se localizadas no compartimento
das vertentes, em reas com predomnio de declividades mdias a elevadas
(Figura 3) e no nos topos suavemente ondulados das colinas.
em
em bero
Figura 2: Carta Geomorfolgica do Conjunto Habitacional Jardim HumbertoSalvador e Augusto de Paula. Fonte: Pedro (2008).
Toda a rea sofreu alteraes, inclusive no que se refere retirada da
cobertura vegetal e degradao dos cursos dgua, onde, segundo Pedro
(2008) ocorreu o soterramento de diversas nascentes.
Diante deste quadro, buscou-se entender a relao entre os aspectos do
uso e ocupao e a formao de depsitos tecnognicos.
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Num primeiro momento, ocorreu o reconhecimento em campo de
problemas ambientais presentes na rea. Conforme observado (Figura 5), na
rea ocorreu deposio de resduos slidos domsticos e entulhos em grande
parte ao longo da Avenida Manoel Romeu Caires do Conjunto Habitacional
Augusto de Paula, limite da rea que foi percorrida no primeiro trabalho decampo, principalmente em pontos onde h formao de feies erosivas
(sulcos lineares e ravinas). Outro fator importante observado durante o trabalh o
de campo foi o assoreamento do curso dgua presente no local (Figura 6). De
acordo com documentos cartogrficos verificados antes do trabalho de campo,
no local deveria haver um curso dgua. Entretanto, o mesmo aparece em setor
a jusante do canal de escoamento devido a processos de assoreamento.
Figura 5: Materiais rbico e grbico depositados ao lado da Avenida ManoelRomeu Caires, ltimo arruamento do Conjunto Habitacional Augusto de Paula.
Fotos: Trabalho de campo- outubro de 2008.
Figura 6: Fotos da plancie aluvial do afluente do Crrego da Ona assoreadapelos sedimentos tecnognicos oriundos da atuao antrpica nas reas amontante. Fotos: Trabalho de campo- outubro de 2008.
Observando a Carta de Uso e Ocupao (Figura 7), identifica-se o grau
de alterao que a cobertura vegetal sofreu associado a expanso inadequada
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das as ani adas set es nde deveriam ser mantidas as rea de
Preservao Permanente APP , rinci almente no entorno de nascentes e
corposdgua igura .
igura : arta de uso e ocupao e cobertura vegetal do onjuntoabitacional ardim umberto Salvadore Augustode Paula.
igura : elimitaoda reade Preservao Permanente, considerandooscursos dgua ue aparecem na base planoaltimtrica georreferenciada daPrefeiturade Presidente Prudente -SP, Brasil.onteda imagemde fundo: oogle Eart , .
Aps todos estes reconhecimentos, foram escolhidos trs pontos de
coletadedepsito tecnognico . A coleta seguiudemontantea jusante, uma
ocorrendoprximaaoarruamento, easduas ltimasdentrodaplanciealuvial.
procedimentoadotadoparaacoletadosdepsitos tecnognicos, foi a
penetrao no solo de um tubo de PV de seis polegadas igura . Para
melhor visuali aododepsitoa ser coletadoem subsuperfcie, as coletas
ocorreram em taludes de processos erosivos, sendo o ltimo locali ado as
margensdocursodgua.
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Figura 9: Procedimento de coleta dos depsitos tecnognicos. Foto: Trabalhode campo- fevereiro de 2009.
O reconhecimento dos depsitos tecnognicos nos trs pontos
escolhidos ocorreu devido a fatores como reconhecimento da alterao porao humana na rea circundante, e a presena de camadas de sedimentao
tecnognica, com a presena de materiais manufaturados em algumas
camadas do primeiro e do terceiro depsito, como resqucios de tijolos (Figura
10).
Figura 10: Primeiro, segundo e terceiro depsitos tecnognicos identificados ecoletados em campo. Foto: Trabalho de campo 2009.
Em campoforam identificadas todas as camada de sedimentao, comas respectivas coletas de materiais para posterior realizao de anlises
granulomtricas e fracionamento da areia no Laboratrio de Sedimentologia e
Anlise de Solos da FCT/UNESP, Campus de Presidente Prudente-SP. Para a
realizao das anlises texturais foi adaptada a metodologia da EMBRAPA
(1997).
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CONCLUSES
Este trabalho resultou numa monografia de concluso do curso de
bacharelado em Geografia, na qual foram alcanadas algumas concluses.
Primeiro, possuindo como referncia os trabalhos de Oliveira (1990 e1994), confirmou-se para o caso aqui exposto a relao entre a formao de
feies erosivas e os depsitos tecnognicos no meio urbano. Isso se deve aos
processos de uso e ocupao, onde ocorre a impermeabilizao do solo e o
consequente aumento do escoamento superficial, as modificaes nas
caractersticas originais do relevo e da cobertura vegetal.
Ao se instalar uma nova dinmica hdrica, ocorre nestes casos, o
aumento de processos erosivos, onde ocorreu a deposio de materiais
manufaturados utilizados, em grande quantidade no meio urbano, de formainadequada. Esta deposio pode ocorrer de forma direta e indireta, sendo esta
ltima propiciada pelo escoamento superficial acentuado. Com o passar do
tempo, conforme menciona Oliveira (1990), pode ocorrer um retrabalhamento
dos depsitos tecnognicos j consolidados, onde se instala um processo
erosivo no corpo do depsito, ocasionando a retirada de mate riais e o acmulo
dos mesmos em reas a jusante, contribuindo para a formao de um novo
depsito. Isto foi verificado no segundo depsito coletado, onde o processo
erosivo instalado tem contribudo para a retirada de materiais e o acmulo na
rea do terceiro depsito.
Quanto anlise granulomtrica realizada, observou -se que, de acordo
com o Diagrama Triangular proposto pelo U.S.D.A., o primeiro depsito
apresentou camadas com as texturas Areia e Franco Arenosa, o segundo
apresentou as texturas Franco Arenosa, Areia e Areia Franca, e o terceiro, com
maior nmero de camadas e diversidade de materiais constituintes, apresentou
texturas Franco Arenosa, Areia, Areia Franca e Franco Argilo Arenosa.
As camadas com maior quantidade de areia, no caso do primeir o
depsito, apresentaram materiais manufaturados rbicos (materiais de
construo). Esta concluso tem relao com o exposto por Oliveira (1990)
para as camadas arenosas.
O segundo depsito, que possuiu como referncia uma feio erosiva,
no apresentou materiais manufaturados. Os sedimentos depositados so
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oriundos de processo de terraplanagem nos setores a montante. Em recente
trabalho de campo, verificou -se que as feies erosivas tm aumentado na
rea. Isto demonstra que o processo de degradao da re a tende a aumentar,
devido a falta de projetos de recuperao da cobertura vegetal e de medidas
de conteno dos processos erosivos.No terceiro depsito, onde se identificou trechos com afloramento do
aqufero suspenso no canal fluvial, apresentou materiais provenientes tanto dos
processos de uso e ocupao das reas a montante (terraplanagem, aumento
do escoamento superficial e consequente arraste de fragmentos de materiais
manufaturados), quanto dos processos erosivos identificados no segundo
depsito tecnognico. Estas observaes podem ser apontadas para justificar
a diversidade de camadas e de materiais componentes deste ltimo depsito
analisado.Conclui-se, portanto, que a relao existente entre a dinmica da
sociedade e a dinmica da natureza ocorre de diferentes formas, seja atravs
de transformaes diretas ou indiretas na paisagem. Um dos resultados destas
relaes so os depsitos tecnognicos, que no caso da rea estudada, o
resultado da dinmica natural local e das aes humanas impostas ao
ambiente.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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Site consultado:
, Disponvel em:
http://www.santiago.pro.br/mapas/brasil/brasil_mudo2.jpg. Acesso em :
08/03/2011.