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Associação entre os Principais Assuntos de Auditoria e os Resultados
das Empresas Listadas na IBRX 100
Natanael Silva Camargo UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
Fernanda Fernandes Rodrigues UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
Camila Araujo Machado
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
Resumo
Para o IFAC (2016), o Novo Relatório do Auditor representa uma das maiores alterações nos
relatórios da auditoria em décadas e um desses avanços se refere ao item Principais Assuntos
de Auditora (PAA), pois dá ao auditor mais flexibilidade de expor assuntos julgados como os
mais relevantes. Esta pesquisa analisa os PAAs das entidades que compuseram o índice IBRX
100 nos exercícios de 2016 e 2017 e verifica se há relação entre estes e o resultado do
exercício. Realizou-se análise de conteúdo e identificou-se 26 categorias de PAAs, sendo os
assuntos mais abordados: Impairment de Ativos, Passivos Contingentes, Receita e Tributos.
Identificou-se, nos dois anos, uma média de 3,65 e 3,50 assuntos por relatório, quando
apurado prejuízo, e de 3,32 e 3,21 assuntos, no caso de lucro. Foram realizados testes por
meio de estatística descritiva e análise de homogeneidade (Homals) e se observa que não
houve associação a alguma categoria específica de PAAs publicados e o resultado, embora
haja associação entre alguns PAAs nas empresas que obtiveram lucro. Entretanto, verificou-se
que, em média, os relatórios do auditor nos exercícios que apresentaram prejuízo são maiores
em quantidade de assuntos divulgados e no quantitativo de palavras expostas neles, quando
comparados aos relatórios dos exercícios que obtiveram lucros.
Palavras-chave: Auditoria independente; Novo Relatório; Principais Assuntos de Auditoria.
Método de Pesquisa: Met 1
Área do Conhecimento da Pesquisa: AT 8 – Contabilidade e Sociedade
1 INTRODUÇÃO
A transparência na informação tem se tornado condição de fundamental importância
no funcionamento dos mercados internacionais, exigindo medidas, normas e regras que
tenham como finalidade garantir que a informação contábil chegue ao usuário de maneira
adequada (Santos & Grateron, 2003). Isso ocorre, pois, mesmo com os efeitos da crise
internacional e da inconstância no crescimento do país, o Brasil tem recebido um grande fluxo
de investimentos estrangeiros no decorrer dos últimos anos. Por esse motivo, esses
investidores necessitam de sólidas garantias institucionais e econômicas na execução das
operações financeiras (Silva Filho, 2014).
Dantas et. al. (2011) afirmam que a auditoria é um instrumento importante para prover
a confiança necessária das informações contábeis aos usuários, principalmente aos
interessados nos mercados de capitais. Essa importância será mais concreta quanto maior for a
qualidade dos trabalhos feitos pelos auditores, garantindo que as informações contábeis que
forem divulgadas sejam adequadas, precisas e completas. Nesse movimento, atingindo todas
as empresas de capital aberto, o Novo Relatório do Auditor (NRA) foi desenvolvido para se
valer da importância do juízo profissional para se chegar a uma visão sobre a verdade e
equidade das demonstrações contábeis (FRC, 2016).
Boolaky e Omoteso (2016) observam que a utilização de normas internacionais de
auditoria externa que melhorem a qualidade das informações contábeis é de suma importância
ao mercado de capitais. Caso o uso dessas informações não seja efetivo, na medida em que os
investidores não consigam fazer a correta avaliação em seus investimentos, podem-se gerar
perdas e, consequentemente, crises financeiras. O próprio NRA inicialmente provém, em
parte, da necessidade de aumentar a confiança das demonstrações após a crise do Subprime
em 2008 (FRC, 2016).
Nesse contexto, consolidou-se necessário que os auditores migrassem para um
relatório aprimorado, que fornecesse informações claras, objetivas e mais efetivas sobre suas
abordagens e julgamentos, pois se percebe que as que são fornecidas nem sempre apresentam
as características qualitativas da informação, especialmente quanto à sua fidedignidade e
relevância (Dechow Ge & Schrand, 2010).
Provenientes desse movimento, na busca do aprimoramento do conteúdo das
informações emitidas pelos auditores aos usuários, em 2015, o International Federation of
Accountants (IFAC) revisou as International Standards on Auditing (ISA), com o objetivo de
otimizar a compreensibilidade do relatório do auditor. Ante a isso, tais mudanças
influenciaram o cenário contábil nacional, que, em consonância com a harmonização das
normas de auditoria internacional, tem novas diretrizes originárias das alterações normativas
para os períodos que se encerram em 31 de dezembro de 2016 e posteriores.
Tais diretrizes são oriundas das traduções das normas emitidas pela IFAC, compondo
o denominado Novo Relatório do Auditor (NRA). Seis normas fazem parte de sua
composição inicial, cada uma delas com o prefixo de Norma Brasileira de Contabilidade
Técnica Aplicada à Auditoria (NBC TA) (CFC, 2016). Destas mudanças no relatório do
auditor, apenas uma não se trata de uma nova redação para a norma já publicada: a
denominada NBC TA 701 - Comunicação dos Principais Assuntos de Auditoria no Relatório
do Auditor Independente. Para o IFAC (2016), o Novo Relatório do Auditor representa uma
das maiores alterações nos relatórios da auditoria em décadas. A sua significância, em grande
parte, está em propiciar mais liberdade na elaboração do relatório aos auditores, pois a
inserção do item Principais Assuntos de Auditora (PAA) proporciona ao profissional auditor
espaço dedicado à escrita dos assuntos julgados como os mais relevantes durante os trabalhos
de auditoria.
Nas pesquisas realizadas pelo FRC (2016), Ibracon (2017) e por Marques e Souza
(2017) foram evidenciados que, em grande parte, os PAA’s relativos a estimativas impactam
diretamente os resultados dos exercícios. Conforme Santos (2008), o conteúdo do resultado
contábil é composto, de maneira significativa, pelo conjunto das informações de seus
componentes e essa comunicação vai além da mera obediência às normas vigentes,
manifestando-se como respostas às necessidades dos indivíduos que com ela interagem.
Portanto, torna-se justificável analisar a relação do resultado do exercício aos PAA’s
levantados pelo auditor, já que a própria NBC TA 701 tem como alcance tornar o relatório do
auditor mais informacional, auxiliando o usuário a compreender assuntos que, conforme o
julgamento do auditor, foram de maior importância nas demonstrações contábeis.
Todas as alterações do NRA, especialmente esta última norma, tem causado
inquietude às partes envolvidas, especialmente aos auditores, as entidades e aos investidores.
No caso dos auditores e entidades, houve o aumento de sua responsabilidade e transparência.
Já os demais usuários da informação, principalmente os investidores, em virtude desses
relatórios impactarem suas decisões, buscam saber se as publicações têm significância e
qualidade ao atenderem os preceitos das normas. Diante desse contexto, este estudo visa
responder à seguinte questão-problema: Qual a relação entre os Principais Assuntos de
Auditoria (PAA’s) e o resultado apurado pelas entidades que compõem o IBRX 100?
Para tanto, como objetivo geral, procurou-se verificar se há relação dos PAA’s das
empresas que compõem o IBRX 100 e seus resultados. Para isso, como objetivos específicos
foram necessárias as seguintes etapas: (1) Identificar e segregar os relatórios e exercícios que
apresentaram prejuízo dos que obtiveram lucros; (2) Verificar quais os temas de PAA’s foram
apresentados pelo auditor; (3) Averiguar se os assuntos e sua ocorrência são diferentes em
relação aos resultados apurados.
Levando em consideração que as mudanças propostas pelas novas normas ocorreram
em 2016 e que pouco se conhece sobre os conteúdos dos PAA’s que foram divulgados no
Brasil, este estudo contribui para avaliar essa normatização, observando a qualidade da
informação apresentada e sua associação com os resultados das empresas.
O trabalho encontra-se dividido em quatro capítulos, além desta introdução. O
primeiro se trata do referencial teórico, subdividido em três partes: a relevância da auditoria
no mercado financeiro; os Principais Assuntos de Auditoria no Novo Relatório do Auditor; e
os estudos relacionados com o tema proposto por essa pesquisa. No segundo capítulo, a
metodologia da pesquisa, a amostra e a coleta de dados são apresentados. Já a análise dos
resultados é realizada na terceira parte. A quarta e última trata-se das considerações finais e
recomendações de estudos posteriores.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A Relevância da Auditoria no Mercado Financeiro
Para o Report of the Commitee on Basic Auditing Concepts of the American
Accounting Association (apud Boyton; Johnson & Kell, 2002), a auditoria é definida como o
processo sistemático para obter e avaliar objetivamente as evidências sobre as afirmações dos
procedimentos feitos e dos eventos econômicos, para a avaliação do grau de correspondência
entre as afirmações e os critérios estabelecidos, e também para comunicar os resultados aos
usuários interessados.
De acordo com Dutra, Alberton e Van Bellen (2007), a auditoria não cumpre somente
um papel legal. Para esses autores, um dos motivos para a existência da auditoria
independente é fornecer credibilidade e confiança na consistência e comparabilidade das
informações entre as diversas entidades componentes do mercado. Para Santana et al. (2014),
a auditoria atua de forma significativa sobre os aspectos econômico e social, na sua função de
averiguar e emitir opinião sobre as demonstrações contábeis publicadas pelas entidades. Além
de ser benéfica aos investidores, a auditoria também beneficia as entidades, segundo Dantas e
Medeiros (2015). Uma auditoria de qualidade é ferramenta fundamental para o bom
desempenho dos mercados financeiros e de capitais, pois ela contribui para desenvolver um
ambiente de negócios de confiança e de credibilidade para as entidades.
A respeito da associação da auditoria ao mercado de capitais, Santos e Grateron (2003,
p.1) afirmam que “a atividade profissional do auditor independente tem ajudado a impulsionar
o desenvolvimento dos mercados, além de contribuir para o estabelecimento da ordem
socioeconômica mundial”. Conforme Andrezo (2002), o mercado financeiro e de capitais
constitui-se no conjunto de agentes e instrumentos que fornecem alternativas à aplicação e a
captação de recursos financeiros. Além disso, a atuação da auditoria é considerada importante
sobre a diminuição de possíveis conflitos de interesses entre diferentes classes de usuários,
possibilitando a diminuição da complexidade, dos riscos de distorções e também dos erros nas
demonstrações contábeis.
Sabe-se que ambientes como o das empresas de capital aberto é propício para conflitos
de agência, visto que os interesses dos administradores e proprietários podem não ser
coincidentes ou ser muitas vezes conflitantes, sendo que a divulgação de informações
contábeis se torna um instrumento que pode ajudar a minimizar esse conflito, podendo gerar
maior confiança na relação entre agente-principal. De acordo com Zagonov, Pettinicchio e
Salganik-Shoshan (2017), a auditoria fornece um meio eficaz para alinhar os objetivos de
administradores e partes interessadas, facilitando a resolução do conflito agente-principal
retratado na teoria da agência. Assim sendo, uma maior qualidade de auditoria é primordial
para que os investidores tenham credibilidade nas informações financeiras da empresa. Por
outro lado, segundo esses autores, o papel dos auditores como agente dos acionistas aumenta
as preocupações acerca da independência e objetividade da atuação do profissional.
É neste cenário que se discute o risco moral multiagente, que busca analisar as
interações entre o proprietário da empresa, o administrador e o auditor. Conforme Lee e Gu
(1998), o risco moral pode surgir porque o auditor pode aceitar um pagamento do agente
monitorado para ocultar informações desvantajosas ou deturpá-las. Em um ambiente em que
há competição por contratos de auditoria, problemas como o "low balling”, que se refere à
cobrança de taxas abaixo do custo marginal de uma auditoria, têm sido questionados quanto
ao seu potencial de prejudicar a independência do auditor.
De acordo com Castro, Peleia e Silva (2015), a necessidade de troca de auditoria é um
dos fatores nos quais as empresas buscam as firmas com melhores preços e condições. Nesse
sentido, as firmas tenderiam a baixar os valores iniciais, com o objetivo de captar o cliente,
mas posteriormente ocorreria o gradual reajuste no preço. Embora os autores destaquem que a
prática do low balling seja condenada pelo Conselho Federal de Contabilidade, por quebra do
código de ética (NBC P1), é possível verificar que tal conduta ocorre no Brasil. O caso do
leilão de preços para serviços de auditoria do Banco do Brasil, em 2010, é um exemplo desta
prática. Por se tratar de uma empresa com maior concentração de capital público, três
empresas de auditoria apresentaram propostas iniciais para a execução dos serviços de
auditoria: a KPMG, R$ 19,6 milhões; a PWC, R$ 12,5 milhões; e a Ernst & Young, R$ 6,0
milhões. Com mais de 100 lances, a KPMG venceu a disputa, com um preço contratual final
de R$ 95 mil (Torres, 2010). Para fins de comparação, no ano anterior, o valor do contrato
também executado pela KPMG foi de R$ 6,5 milhões; para o ano de 2017, o Formulário de
Referência informa que foram pagos R$ 11.846.543,15 nos contratos de prestação de serviços
de auditoria externa.
Segundo Dantas (2012), a contribuição do auditor para a credibilidade da informação
financeira depende da qualidade do trabalho e que esta não é um aspecto diretamente
verificável por agentes externos. De acordo com Zagonov, Pettinicchio e Salganik-Shoshan
(2017), como é pouco provável que os acionistas minoritários consigam avaliar a qualidade
do processo de auditoria, devido ao seu escasso conhecimento dos procedimentos de auditoria
e incentivos, eles avaliam a confiabilidade das opiniões e recomendações dos auditores com
base em proxies indiretas de qualidade e reputação de auditoria, como o porte e o nome da
empresa de auditoria. Entretanto, Dantas (2012) verificou que não há proxies consensuais que
avaliem a qualidade da auditoria e, em seu estudo, o autor desenvolveu um modelo utilizando
proxies baseadas em modelos de gerenciamento de resultados, visto que tal prática é uma
medida amplamente utilizada como referência para a qualidade de auditoria. Isto porque, se o
gestor manipula os resultados para esconder uma informação desfavorável e o auditor não
identifica essa manipulação, então os relatórios financeiros não são úteis, por não fornecer
avisos sobre problemas da empresa. Assim, haveria uma tendência de os auditores reforçarem
os esforços buscando identificar evidências de risco de manipulação das informações
contábeis e, com isso, aumentariam o preço cobrado pelos seus serviços, para mitigar o risco
de litigância e de perda reputacional. O autor conclui em sua pesquisa, porém, que a hipótese
de que há relações positivas entre a qualidade das auditorias e os trabalhos realizados pelas
big four não foram confirmadas.
2.2 Os Principais Assuntos de Auditoria no Novo Relatório do Auditor
Segundo o Financial Reporting Council (FRC) (2016), a crise financeira de 2008
colaborou para a necessidade de aumentar a confiabilidade nos relatórios financeiros e na
auditoria. Para conseguir alcançar esse objetivo, havia a necessidade de que os auditores
seguissem padrões de aprimoramento. Tais padrões deveriam resultar na apresentação de mais
informações sobre os seus julgamentos e as abordagens que utilizaram para chegar às suas
conclusões, aumentando o exercício do julgamento profissional para opinar sobre as
demonstrações contábeis. Caminhando nesse sentido, em 2012, o FRC alterou as Normas de
Auditoria e o Código de Governança Corporativa do Reino Unido, para que se melhorasse o
relatório anual das empresas e para que os Comitês de Auditoria fizessem um relatório formal
sobre as suas atividades nos relatórios anuais. Tais mudanças foram propositais para
incentivar os auditores a inovarem na abordagem de seus relatórios, a fim de disponibilizarem
aos investidores e demais interessados sua compreensão sobre a entidade, baseando-se nos
seus trabalhos realizados.
De forma precursora, o FRC (2016), em sua publicação intitulada Extended Auditor’s
Reports - A Further Review of Experience, observou o conteúdo do PAA de cerca de 80% das
maiores empresas listadas no Reino Unido. Para isso, analisaram os assuntos dos PAA dos
relatórios do auditor, sendo 153 relatórios no exercício de 2013 e 278 em 2014. Os assuntos
mais abordados nos PAAs do Reino Unido, nos anos de 2013 e 2014 foram Impairment de
Outros Ativos, Tributos e Impairment do Goodwill.
Segundo o IFAC (2016), em setembro de 2014, o International Auditing and
Assurance Standards Board (IAASB) aprovou as alterações no relatório do auditor, fruto de
discussões anteriores e lançaram, no início de 2015, seu conjunto de novas normas para o
relatório de auditoria, as chamadas Internacional Standards on Auditing (ISA). Tais normas
foram resultado de pesquisa acadêmica internacional realizada conjuntamente sobre as
percepções dos usuários a respeito do padrão de relatório do auditor.
No Brasil, o Novo Relatório do Auditor é composto inicialmente por seis normas
provenientes das traduções das ISA, feitas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e
Instituto de Auditores Independentes (Ibracon).
Quadro 1: Normas publicadas pela IFAC e suas traduções conforme CFC e Ibracon ISA
260
Communication with Those Charged
with Governance
NBC TA
260 (R2)
Comunicação com os Responsáveis pela
Governança
ISA
570
Going Concern NBC TA
570
Continuidade Operacional
ISA
700
Forming an Opinion and Reporting on
Financial Statements
NBC TA
700
Formação da Opinião e Emissão do
Relatório do Auditor Independente sobre
as Demonstrações Contábeis
ISA
701
Communicating Key Audit Matters in
the Independent Auditor’s Report
NBC TA
701
Comunicação dos Principais Assuntos de
Auditoria no Relatório do Auditor
Independente
ISA
705
Modifications to the Opinion in the
Independent Auditor's Report
NBC TA
705
Modificações na Opinião do Auditor
Independente
ISA
706
Emphasis of Matter Paragraphs and
Other Matter Paragraphs in the
Independent Auditor's Report
NBC TA
706
Parágrafos de Ênfase e Parágrafos de
Outros Assuntos no Relatório do Auditor
Independente
Fonte: elaborado pelos autores
As normas que compõem o Novo Relatório do Auditor tratam de nova redação para
norma já existente, exceto a NBC TA 701 – Comunicação dos Principais Assuntos de
Auditoria (PAA) no Relatório do Auditor Independente, que tem caráter inédito.
Diferentemente das demais normas, esta última é requerida com obrigatoriedade para
entidades listadas, não impedindo que as entidades não listadas a utilizem voluntariamente.
De acordo com a NBC TA 701 (2016), os principais assuntos de auditoria são determinados
pelo auditor, com base nas áreas avaliadas com maior risco de distorção relevante ou riscos,
áreas complexas e que envolvem julgamento significativo da administração. Além destes,
envolvem fatos derivados de consequências na auditoria de transações que ocorreram no
período, que são significativos para os profissionais auditores e que precisam ser comunicados
aos usuários das demonstrações contábeis.
Existem ainda outras orientações da norma sobre a atuação do auditor nas definições
dos assuntos. Não se deve usá-lo em casos que a lei ou regulamento proíba a divulgação
pública do assunto, ou ainda quando as consequências negativas da publicação superem os
benefícios da comunicação para o interesse público. Também quando o assunto der origem à
opinião modificada, ou houver condições ou incertezas relevantes sobre a continuidade
operacional da entidade, o auditor somente deve incluir na seção de PAA uma referência à
seção "Base para Opinião" ou a seção "Continuidade Operacional", respectivamente.
O auditor pode recomendar que a entidade divulgue informações complementares que
julgar necessário, pois na descrição individual do PAA ele deve se limitar a informações do
contexto da auditoria, que não ultrapassem a responsabilidade do auditor, evitando repassar
informações ainda não publicadas pela entidade, as denominadas informações originais.
2.3 Estudos relacionados
Christensen, Glover e Wolfe (2014) verificaram como 141 investidores não
profissionais graduados em escolas de negócios dos Estados Unidos reagem em suas análises
de dados financeiros para o investimento em ações, ao receberem os PAAs publicados nos
relatórios de auditoria. Concluíram que são mais propensos a mudarem de decisão os
investidores que tiveram acesso ao parágrafo de PAA, se comparado aos investidores que
receberam um relatório padrão do auditor, ou o mesmo PAA contido no relatório da
administração. Também observaram que é menor o impacto nas decisões quando, após o
PAA, há um parágrafo que explique os motivos de sua comunicação.
Sirois, Bedard e Bera (2017) examinaram se a adição dos principais assuntos
levantados pela auditoria influenciou na obtenção de informações durante a leitura dos
usuários. Para a amostra 98 alunos de licenciatura de contabilidade de uma universidade
canadense foram divididos em quatro grupos e cada grupo recebeu relatórios de auditoria
diferentes, porém referentes às mesmas demonstrações contábeis. Concluíram que os PAAs
direcionam a atenção dos usuários para as informações das demonstrações contábeis
relacionadas aos assuntos levantados pelo auditor e que foi dedicada relativamente maior
atenção a estes. Também observaram que vários PAAs publicados em um só relatório
reduzem a atenção do usuário a outras partes das demonstrações contábeis.
Antes mesmo da implementação das mudanças no relatório do auditor independente
no Brasil, Oliveira (2015) analisou a estrutura do novo relatório do auditor. Para isso, através
de pesquisa indutiva, a autora analisou em países que já praticavam as mudanças no relatório,
como Reino Unido e Holanda, e os comparou com a estrutura vigente no Brasil conforme a
então NBC TA 700, ainda sem a sua recente alteração. A pesquisadora concluiu que o poder
comunicativo do auditor aumentou consideravelmente, se comparado ao modelo que era no
momento utilizado no Brasil.
Costa, Freire e Araújo (2017) buscou analisar as informações contidas na seção de
Principais Assuntos de Auditoria. Para isso, foram apresentados e analisados os PAAs de 15
empresas participantes do setor da Construção Civil e listadas no segmento do Novo Mercado
da BM&FBOVESPA. Como resultado, excetuando os relatórios que continham a seção com
mesma redação de outra, a maior parte das empresas de auditoria fizeram a comunicação de
acordo com a norma, porém mantendo uma postura conservadora ao considerar os assuntos,
pois os riscos divulgados, em grande parte, já eram considerados pelas firmas de auditoria em
outras partes do relatório.
Marques e Souza (2017) identificaram e analisaram os principais assuntos de
auditoria que foram reportados nos relatórios dos auditores das empresas que compuseram o
Ibovespa. Os autores analisaram 49 empresas, que totalizaram 177 PAAs. Como resultado, os
autores evidenciaram em torno de 3,49 assuntos por empresa, sendo Recuperabilidade dos
Ativos (16%), Contingências (15%), Reconhecimento de Receitas (13%) e Projeção de
Resultados Futuros para a Realização de Ativos (10%) os mais referenciados. Quanto à
comunicação de continuidade, apenas duas empresas apresentaram esta informação, que já era
relatada em outras partes do conjunto completo das demonstrações financeiras.
Souza, Alberton e Borba (2017) examinaram o grau de complexidade do Novo
Relatório da Auditoria. Para tanto, avaliaram se os relatórios apresentaram maior clareza,
precisão e objetividade, em comparação aos padrões anteriores, e se as características das
firmas de auditoria alteraram a inteligibilidade do NRA. Foram analisados 149 relatórios
pertencentes a diferentes níveis de governança. Como resultado, os autores mostraram que os
padrões normativos não atendem os princípios linguísticos, mantendo-se incompreensível
para diversos usuários, por exigir alto nível educacional. Complementarmente a isto, as
empresas de auditoria apresentam relatórios classificados como muito difíceis de ler.
Ainda são poucos os estudos publicados que contemplam o Novo Relatório do
Auditor Independente (NRA) no Brasil. Isso é compreensível, pois sua obrigatoriedade é
requerida para as demonstrações a partir de 31 de dezembro de 2016. Nesse sentido, o Ibracon
realizou um estudo que analisou a seção dos PAAs apresentados nos relatórios, com o
objetivo de obter um diagnóstico dos assuntos levantados como os de maior importância pelos
auditores. Para tanto, analisaram o conteúdo de 546 companhias abertas que arquivaram os
relatórios dos auditores na CVM no primeiro trimestre de 2017. Foram identificados 1.349
PAAs, média de 2,43 por companhia, indicando 23 tipos diferentes de principais assuntos
relatados. Aqueles mais relatados foram os relativos ao valor recuperável de ativos não
financeiros – Impairment, constante em 32% dos relatórios; e em segundo lugar o
Reconhecimento da Receita, em 29% dos relatórios (Ibracon, 2017).
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Para a composição da amostra inicial da pesquisa foram selecionadas as empresas
que compuseram o índice Brasil 100 (IBrX 100) da B3 nas datas de 31 de dezembro de 2016
e 2017. A amostra intencional e não probabilística utilizou-se do IBrX, pois ele apresenta as
entidades com os cem ativos de maior negociabilidade e representatividade do mercado de
ações brasileiro (B3, 2017). Este índice leva em consideração a liquidez das ações, além de
ponderar a carteira pelo valor de mercado, o que, por exemplo, evita inconsistências no valor
das ações, caso algum problema operacional faça sua liquidez subir (Rocha, 2011).
Das 100 ações mais negociadas que representam o índice, chegou-se a 96 entidades.
Foram excluídas quatro ações: Bradesco, Eletrobrás, Lojas Americanas e Petrobras, visto que
estas empresas possuem ações preferenciais e ordinárias, e apresentam um único relatório dos
auditores para as duas classes de ações. Também foi excluída da amostra a empresa São
Martinho de 2016, pois seu exercício encerrou-se antes da obrigatoriedade do uso do NRA.
Do total das 191 Demonstrações de Resultado do Exercício referentes às empresas
selecionadas, constatou-se a incidência de 33 demonstrações cujo resultado apresentava
prejuízo e 158 com lucros.
Os dados relativos aos relatórios dos auditores foram catalogados através da análise de
conteúdo, a partir dos assuntos apontados como PAA. Assim, categorizou-se os PAAs em 26
categorias distintas, conforme a similaridade dos temas levantados pelos auditores. Os
assuntos foram analisados por estatística descritiva e também representados em mapas
perceptuais, onde os dados foram examinados através da análise de homogeneidade (Homals).
A análise de homogeneidade é uma técnica que investiga a relação de
interdependência entre variáveis qualitativas, onde gera-se mapas perceptuais que oferecem
uma noção de proximidade destas variáveis não métricas (Favero et al, 2009). A ferramenta
empregada nas análises foram os software Microsoft Excel e Statistical Package for Social
Sciences - SPSS® versão 22. Além das análises estatísticas, foram observadas: (1) a
quantidade de palavras por relatório e (2) qual a firma era a responsável pela auditoria em
cada um dos exercícios analisados.
4 ANÁLISE DE RESULTADOS
Em termos gerais, considerando as empresas que obtiveram lucros ou prejuízo,
verificou-se que, das 96 entidades analisadas, nos dois anos foram totalizados 191 relatórios e
634 PAAs. A média de PAA por relatório é de 3,32 com desvio-padrão de 1,23. Todas as
empresas apresentaram ao menos um PAA, com destaque de maior quantidade para o Itaú
Unibanco (Setor Financeiro), JBS (Consumo Não-Cíclico) e Bradesco (Setor Financeiro) no
exercício de 2016 cada um com sete PAAs em cada relatório. Já com menor quantidade foram
identificadas Hering (Consumo Cíclico) e Wiz S.A. (Setor Financeiro) em 2017 e Taesa
(Setor de Utilidade Pública) em 2016 e 2017 apresentando apenas um assunto cada. A maioria
das empresas apresentou entre dois e quatro PAAs.
4.1 Principais Assuntos Divulgados nos Relatórios de Auditoria
A quantidade de assuntos contidos em um relatório de auditoria torna-se relevante,
pois, segundo Sirois, Bedard e Bera (2017), quando os usuários são expostos a um relatório
com vários PAAs, eles dedicam menos atenção às partes das demonstrações financeiras que
não estejam citadas como principais assuntos. Ao longo da análise, ao realizar a classificação
dos PAAs por temas e leitura dos relatórios, chegou-se a 26 categorias, organizadas de modo
a facilitar a compreensão. Todas elas são exibidas na Tabela 1, elencados em ordem
decrescente de frequência observadas nos relatórios.
Tabela 1: Classificação por categoria de PAA em 2016 e 2017
Fonte: elaborada pelos autores
A partir da Tabela 1, observa-se que os quatro assuntos mais abordados nos PAAs
foram: Impairment de Ativos, Passivos Contingentes, Receita e Tributos. Corroboram com os
estudos de FRC (2016) e do Ibracon (2017), com exceção de passivos contingentes. Em
relação aos tipos de PAAS levantados nos exercícios que apresentaram prejuízo, foram
identificadas 18 categorias das 26 levantadas; para os relacionados a lucros, ocorreram todas
as 26 categorias.
4.1.2 Principais Assuntos nos exercícios com prejuízo
As empresas que apresentaram prejuízo no exercício de 2016 foram separadas, as
quais compuseram 17 relatórios com 62 PAAs no exercício de 2016. A Figura 1 demonstra
que a maioria das empresas apresentaram quantidade entre 3 e 4 PAAs. A média de PAAs
neste caso é de 3,65 por relatório. Nesse contexto, destaca-se a empresa Mafrig (Consumo não
Cíclico), no exercício de 2016, com a maior quantidade de PAAs publicados, totalizando seis.
Já com menor quantidade, foram identificadas Aliansce (Financeiro e Outros), Rumo S.A.
(Bens Industriais) e Randon SA (Bens Industriais) apresentando dois assuntos cada.
Lucro Prejuízo Lucro Prejuízo
Impairment de Ativos ImpAtiv 48 11 52 9 120 18,9%
Passivos Contingentes PassCont 43 10 45 9 107 16,9%
Receita Receita 42 6 39 6 93 14,7%
Tributos Trib 15 15 22 8 60 9,5%
Itens mensurados Valor Justo VlrJusto 12 3 14 2 31 4,9%
Instrumentos Financeiros InstFin 9 1 8 3 21 3,3%
Intangível Intang 8 2 7 3 20 3,2%
Ativo e Passivo Financeiro (Concessão) AtPasFin 9 0 8 2 19 3,0%
Tecnologia da Informação TI 9 0 10 0 19 3,0%
Benefícios a Empregados BenefEmp 8 1 8 1 18 2,8%
Riscos ligados a Fraudes/Processos RiscFrProc 5 6 2 5 18 2,8%
Outros Outros 9 0 5 3 17 2,7%
PECLD PECLD 10 1 6 0 17 2,7%
Aquisição de Empresas AquisEmp 4 0 9 0 13 2,1%
Participações Societárias PartSoc 5 0 5 0 10 1,6%
Transações com partes relacionadas TransPartRelac 3 2 4 0 9 1,4%
Provisões Técnicas ProvTecn 4 0 4 0 8 1,3%
Continuidade Operacional ContOperac 3 1 2 0 6 0,9%
Reorganização Societária ReorgSoc 2 2 0 2 6 0,9%
Endividamento (Covenants) Covenant 2 0 2 1 5 0,8%
Estoques Estoque 2 0 1 2 5 0,8%
Subvenção Governamental SubvGov 3 0 1 0 4 0,6%
Estimativas Realização de Ativos EstimRealAt 1 0 1 0 2 0,3%
Imobilizado Imob 1 0 1 0 2 0,3%
Pagamento Baseado em Ações Pgtobasações 1 0 1 0 2 0,3%
Reapresentação Reapres 1 1 0 0 2 0,3%
259 62 257 56
634 100%
Totais %
Total Geral
Categoria de PAA2016 2017
Legenda
Subtotal
Para o exercício de 2017, referente aos prejuízos, analisou-se 16 relatórios com 56
PAAs. A média de PAAs neste caso foi de 3,50. Nesse contexto, destaca-se a empresa
Eletropaulo (Utilidade Pública), com a maior quantidade de PAAs publicados, totalizando
cinco. Já com menor quantidade foram identificadas Cyrela (Consumo Cíclico) e Itausa (Setor
Financeiro) apresentando dois assuntos cada. A Figura 1 demonstra que a maioria das
empresas apresentaram quantidade entre 3 e 4 PAAs no período analisado.
Figura 1: Distribuição de frequência de PAA nos exercícios com prejuízo em 2016 e 2017
Fonte: elaborada pelos autores
4.1.3 Principais Assuntos nos exercícios com lucros
As menores divulgações de assuntos ocorreram nas empresas que obtiveram lucros.
Cabe ressaltar que, para Kachelmeier, Schmidt e Valentine (2017), mesmo que os auditores
tomem medidas adicionais para chegarem a um padrão de segurança razoável, os usuários
podem interpretar a divulgação como um aviso, diminuindo assim a confiança nas áreas
relatadas. Nesse sentido, o fato da empresa obter lucro não exime o auditor de julgar
necessária a divulgação de algum assunto específico referente a determinado fato ou
circunstância relacionada à empresa.
No exercício de 2016, relativos aos lucros, foram verificados 78 relatórios com
ocorrência de 259 PAAs. Conforme a Figura 2, em média, são publicados 3,32 PAAs por
relatório e a maioria das empresas apresentaram quantidade entre 2 e 3. Destaque para as
entidades com maiores quantidades de PAAs publicados: Bradesco (Setor Financeiro),
ItaúUnibanco (Setor Financeiro) e JBS (Consumo Não-Cíclico), todas estas com sete PAAs
em 2016. Participam do grupo de menor quantidade as entidades: Wiz S.A. (Setor Financeiro)
e Taesa (Utilidade Pública) apresentando um assunto cada.
Em 2017, foram observados 80 relatórios de empresas com lucros sendo identificados
257 PAAs. Em média são publicados 3,21 PAAs e a maioria das empresas apresentaram
quantidade entre 2 e 3 PAAs por relatório, conforme Figura 2. Destaque para as entidades
com maiores quantidades PAAs publicados: Banco do Brasil (Setor Financeiro), Bradesco
(Setor Financeiro), ItaúUnibanco (Setor Financeiro), JBS (Consumo Não-Cíclico) e Santander
(Setor Financeiro), todas estas com seis PAAs cada uma. Participam do grupo de menor
quantidade as entidades: Hering (Consumo Cíclico) e Taesa (Utilidade Pública) apresentando
um assunto cada.
Figura 2: Distribuição de frequência de PAA nos exercícios com lucro em 2016 e 2017
Fonte: elaborada pelos autores
4.2 Relação entre as categorias de Principais Assuntos
A análise de homogeneidade foi feita para averiguar a relação das categorias de
PAAs com os resultados apurados no período pelas empresas. Os dados qualitativos
categorizados quando localizados em pontos próximos do gráfico apresentam relação mais
forte que categorias separadas por maiores distâncias (Favero et al., 2009).
Figura 3: Mapa Perceptual das categorias relacionadas ao resultado em 2016
Fonte: elaborada pelos autores
Em 2016, a partir da Figura 3, observou-se que a categoria Provisões Técnicas,
encontra-se fortemente associada aos resultados do período que apresentam lucros, com um
total de quatro assuntos. Desta categoria, 75% dos PAAs levantados são relativos a entidades
componentes do Setor Financeiro e Outros, e seus temas são sobre passivos de Provisão
Técnica de Seguros e Previdência. Os outros 25% são relativos ao Setor de Saúde sobre
estimativas de sinistralidade em seus contratos. Também associada aos lucros, a categoria
Aquisições de Empresas, com quatro assuntos, tem como composição 50% de entidades
participantes do Setor Financeiro e Outros, 25% do Setor de Tecnologia da Informação e 25%
do Setor de Utilidade Pública. Os assuntos levantados tratam sobre aquisições de empresas do
mesmo ramo de atividade gerando uma maior participação de mercado. Os 313 assuntos
restantes de 2016 não estão relacionados especificamente a um resultado apurado do
exercício, pois, conforme o Mapa Perceptual, observa-se a associação tanto nos relatórios com
lucros quanto relatórios com prejuízos.
Figura 4: Mapa Perceptual das categorias relacionadas ao resultado em 2017
Fonte: elaborada pelos autores
Para o exercício de 2017, a partir do Mapa Perceptual da Figura 4, foi verificada a associação
de maior número de PAAs e os resultados do exercício que alcançaram lucros comparado ao
ano de 2016. Em 2017, observou-se como resultados que a categoria de Tecnologia da
Informação (TI) compõe-se de dez assuntos. Esses PAAs são provenientes em 60% do Setor
Financeiro e Outros, 20% do Setor de Saúde, 10% do Setor de Utilidade Pública e 10% do
Setor de Telecomunicações. Esses assuntos foram levantados pelas auditorias em razão dos
riscos inerentes aos processos e controles dos sistemas de tecnologia no decorrer dos negócios
das entidades.
Na categoria de PECLD foram totalizados seis assuntos. Destes, 66,67% provenientes do
Setor Financeiro e Outros, 16,67% de Bens Industriais e 16,67% de Utilidade Pública. Dentre
os assuntos levantados como PAA há o cálculo da PECLD, pois este exigiu elevado nível de
julgamento da entidade, levando em consideração premissas e fatores internos e externos.
Na categoria de Transações com partes relacionadas (TransPartRelac) há quatro assuntos. Sua
composição trata-se de 50% no Setor de Consumo Cíclico, 25% Financeiro e Outros e 25%
Bens Industriais. Este item é relatado como PAA devido ao grande volume e as várias
naturezas das transações com as partes relacionadas as quais, uma vez divulgadas, podem
minimizar o conflito de interesses entre acionistas minoritários e majoritários. Ainda, permite
que sejam conhecidas as decisões de negócio da companhia e seus efeitos refletidos nas
demonstrações contábeis.
Para a categoria de Provisões Técnicas (ProvTecn), também relacionada aos resultados do
período que apresentam lucros, apresenta o total de quatro assuntos levantados. Mantendo a
mesma proporção de 2016, com 75% dos assuntos provenientes de entidades componentes do
Setor Financeiro e Outros, apresentam como temas passivos de Provisão Técnica de Seguros e
Previdência. Já os demais 25% são relacionados ao Setor de Saúde o qual trata a respeito das
estimativas de sinistralidade para contratos de serviços.
Na categoria Aquisições de Empresas (AquisEmp), ao todo foram identificados nove assuntos
pulverizados em 55,56% no Setor de Consumo Cíclico, 11,11% em Tecnologia da
Informação, 11,11% Consumo não Cíclico, 11,11% Financeiro e Outros e 11,11% em
Utilidade Pública. Todos eles tratam de aquisições no mesmo ramo de negócio da empresa.
4.3 Quantidade de palavras contidas na seção principais assuntos por relatório
Complementarmente, verificou-se que a quantidade de palavras contidas na seção do
relatório destinadas aos principais assuntos, foram em média, maiores nas entidades que
apresentaram prejuízo em relação as que obtiveram lucros no exercício, com 1.262 e 1.105
palavras respectivamente. A quantidade de palavras trata-se de uma medida relevante, pois o
aumento da comunicabilidade do relatório do auditor (OLIVEIRA, 2015) permite a ele
flexibilidade na redação e com efeito mais palavras e sentenças são descritas, as quais podem,
em parte serem usadas como explicação da resolução do assunto. Nesse sentido, de acordo
com Cristensen, Glover e Wolf (2014), a explicação por parte do auditor de como resolveu o
assunto, logo após informá-lo, reduz a probabilidade de reação do usuário.
Também foram averiguadas as médias de palavras por firmas de auditoria,
apresentadas na Figura 5. Tais médias são relativas aos 33 relatórios provenientes das
empresas com prejuízo, destes: 3 foram auditados pela BDO; 5 pela Deloitte(DTT); 3 pela
Ernst & Young (EY); 2 pela Grant Thornton (GT); 15 pela KPMG e 5 pela
PriceWaterhouseCoopers (PWC). Para as empresas com lucros foram observados: 8 relatórios
auditados pela BDO; 22 pela Deloitte (DTT); 41 pela Ernst & Young (EY); 2 pela Grant
Thornton (GT); 53 pela KPMG e 32 pela PriceWaterhouseCoopers (PWC).
Figura 5: Quantidade média de palavras na seção dos PAA por firmas auditoras
Fonte: elaborada pelos autores
De acordo com a Figura 5, observou-se que a EY foi a firma de auditoria que
apresentou maior volume de PAAs (média de 1.462 palavras) nas empresas que apresentaram
prejuízos, seguida pela Grant Thornton (com 1.397). Já para as empresas com lucros, a firma
Grant Thornton (com 1.253) foi a que mais apresentou PAAs, seguida pela EY. É possível
inferir que estas firmas apresentaram maior cautela em discutir as informações apresentadas
no novo relatório de auditoria.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O poder de comunicação no relatório do auditor aumentou consideravelmente em
comparação ao modelo anteriormente usado no Brasil (Oliveira, 2015), fruto de uma
movimentação internacional para o aumento da confiança nas demonstrações contábeis (FRC,
2016). Considerando que essas mudanças entraram em vigor no Brasil recentemente, este
estudo buscou colaborar para a literatura ao avaliar essa normatização por meio da análise da
frequência dos tipos de assuntos relatados nos PAAs e suas associações com o resultado das
empresas.
Como objetivo de pesquisa foram verificados os PAAs apresentados nos relatórios de
auditoria das entidades que compuseram o índice IBRX 100 nos exercícios de 2016 e 2017 e a
sua associação aos resultados do exercício obtidos por estas empresas. Os dados foram
analisados por meio de estatística descritiva e análise de homogeneidade (HOMALS). Para
isso, foram segregados os relatórios do auditor relativos aos períodos onde ocorreram prejuízo
dos que obtiveram lucros, nos exercícios de 2016 e 2017. Como resultados da estatística
descritiva, constatou-se que de um total de 26 categorias de PAA, todas elas ocorreram nos
relatórios relativos aos resultados com lucros, porém somente 18 relatórios estavam
relacionados ao prejuízo. Os assuntos mais abordados nos PAAs foram Impairment de Ativos,
Passivos Contingentes, Receita e Tributos. Em 2016 e 2017 foram levantados em média 3,65
e 3,50 assuntos por relatório, respectivamente, quando apurado prejuízo. Já quando obtiveram
lucros as entidades, respectivamente em 2016 e 2017 receberam média de 3,32 e 3,21
assuntos.
Também, constatou-se que em média os relatórios do auditor nos exercícios que
apresentaram prejuízo são maiores em quantidade de assuntos divulgados e no quantitativo de
palavras expostas neles, quando os comparamos aos relatórios dos exercícios que obtiveram
lucros. Com base na análise de Homals, verificou-se a associação entre algumas categorias de
PAAs e os relatórios das empresas que obtiveram lucros. Em 2016 e 2017 foram Provisões
Técnicas e Aquisições de Empresas e no exercício de 2017 Tecnologia da Informação,
PECLD e Transações com partes relacionadas.
Como limitação deste estudo destaca-se, que a amostra contou com 158 relatórios
associados à resultados com lucros e somente 33 relacionados à prejuízos. Além disso, a
respeito deste estudo ser exploratório, é possível que a amostra venha a ser expandida no
decorrer dos próximos exercícios. Para sugestões de pesquisas futuras, sugere-se aumentar a
amostra, utilizar para análise outras variáveis relacionadas ao desempenho da empresa,
replicar o estudo sob outras técnicas estatísticas na análise dos dados; e comparar o espaço
utilizado pelo auditor para a comunicação do assunto ao espaço dedicado ao tratamento que
ele dá ao assunto.
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