Post on 23-Jul-2020
ASSOCIAÇÃO DA FACULDADE DE TERCEIRA IDADE (AFATI): UM LÓCUS CONTRIBUTIVO PARA A FORMAÇÃO DO EDUCADOR SOCIAL
NO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNESPAR/UV
Suzelene de Fátima Xavier Jaretz1
Rosana Beatriz Ansai2
Resumo: A partir do que defende a Pedagogia Social e do cenário da garantia dos direitos sociais e inclusão da população idosa no interior da Universidade, é que o curso de Pedagogia da UNESPAR/UV encontra na Associação da Faculdade de Terceira Idade (AFATI) um campo profícuo de formação do educador social que atende uma demanda da sociedade da população de idosos via inserção desta população em atividades produtivas. A pesquisa de cunho exploratório, teórica bibliográfica e apoiada em pesquisa de campo, objetiva evidenciar como um projeto de extensão universitária que oferece atendimento e garantia dos direitos sociais da população idosa no interior da universidade pode ser um lócus contributivo da formação do educador social sob os fundamentos da Pedagogia Social no curso de Pedagogia da UNESPAR/UV. O estudo não tem a pretenção de se posisionar estritamente no campo da Pedagogia como sendo um elo exclusivo de formação da Pedagogia Social, e tampouco tencionou designar o curso como um modo operante de formação de educadores. Porém podemos firmar a AFATI como sendo um registro de práxis educativa exemplar de vivências educativas e formativas de educadores sociais, uma área de atuação profissional em franca expansão. Palavras-chave: Curso de Pedagogia. Pedagogia Social. Educador Social. Projeto de Extensão. Idosos. 1 Graduanda do 3º ano vespertino do curso de Pedagogia pela Universidade Estadual do Paraná campus União da Vitória. Bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID/CAPES) do Projeto Mão Amiga do curso de Pedagogia da UNESPAR/UV. E-mail: suzejaretz@hotmail.com 2 Rosana Beatriz Ansai, Mestre em Educação, Professora do Colegiado de Pedagogia da Universidade Estadual do Paraná, campus de União da Vitória (UNESPAR/UV), Coordenadora do Projeto de Extensão “Espaço da Mamãe Universitária” e coordenadora do subprojeto Mão Amiga CAPES/PIBID, vinculado ao curso de Pedagogia; Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação: Teoria e Prática (GEPE). E-mail: ansairosana@yahoo.com.br
1 INTRODUÇÃO
O curso de Pedagogia está cada vez mais empenhado em promover discussões
visando a inserção em sua proposta curricular de um portal voltado para a formação de
educadores sociais.
Neste sentido, o estudo aqui apresentado, reveste-se de importância por
elaborar uma proposta de interlocução voltada à formação do educador social no curso
de Pedagogia, via projeto de extensão universitária, sob o marco teórico da Pedagogia
Social.
Neste tocante, ressaltamos que muito embora exista a função de educador
social, ainda não há um campo ou área específica de formação, fato que leva o curso de
Pedagogia a postular este papel. Assim, nos fundamentamos em Paula (2017, p.11),
quando explicita que Nas últimas duas décadas no Brasil, alguns docentes dos cursos de formação de professores têm se preocupado em inserir nas disciplinas, nos projetos de extensão, nos projetos de pesquisa e nos grupos de pesquisa as discussões e os referenciais teóricos da Educação Popular, da Educação Social e Pedagogia Social. A proposta é sensibilizar os alunos sobre esses diferentes campos e possibilitar aos futuros profissionais, subsídios para que possam atuar como educadores sociais em diferentes contextos.
Sob esta alegação, uma nova ótica de formação se descortina para o curso de
Pedagogia da Universidade Estadual do Paraná, Campus de União da Vitória, tendo por
perspectiva sensibilizar acadêmicos sobre um campo de atuação profissional em um
contexto não escolar, possibilitando subsídios teóricos práticos para que possam atuar
como educadores sociais em diferentes contextos, dentre estes a Associação da
Faculdade Aberta da Terceira Idade (AFATI), o projeto extensionista Sempre é Tempo
de Saber; alfabetização digital e tecnológica e o Projeto Extensionista Mamãe
Universitária (PEMU), enfim todos projetos socioeducativos, articulados à inclusão
social e contundente ao âmbito institucional do curso de Pedagogia.
A pesquisa tenciona apresentar a interface que se pode estabelecer entre a
formação do educador social a partir de um campo profícuo como é um projeto de
extensão universitária que atende um grupo de idosos no interior do campus da
UNESPAR, em União da Vitória/PR, desde a década de 90, do século passado.
Salientamos que a preocupação com o acolhimento e oferecimento de
atividades educacionais em um contexto não escolar de idosos é igualmente recente em
nossa sociedade. O projeto estudado para a realização dessa pesquisa é a Associação da
Faculdade de Terceira Idade - AFATI, criado pelo curso de Pedagogia da Universidade
Estadual do Paraná campus de União da Vitória - PR. O referido projeto funciona como
um curso de extensão para pessoas da terceira idade, oriundas da comunidade de União
da Vitória, congregando alunos regulares ou já diplomados, assim como sócios
honorários, colaboradores e beneméritos.
A pesquisa de cunho exploratório, com contorno teórico bibliográfico, e
apoiada em pesquisa de campo, tem por objetivo evidenciar como um projeto de
extensão universitária, que oferece atendimento e garantia dos direitos sociais da
população idosa no interior da universidade, pode ser um lócus contributivo da
formação do educador social sob os fundamentos da Pedagogia Social no curso de
Pedagogia da UNESPAR/UV.
Assim, o presente artigo primeiramente apresenta um contexto que abarca os
constructos teóricos da Pedagogia Social, a estrutura de atendimento de um grupo de
idosos no interior da Universidade via AFATI e na continuidade, apresenta os
resultados de uma pesquisa de campo do tipo exploratória que visa desvelar quem são e
o que pensam os participantes deste projeto.
2 CONTEXTO TEÓRICO-PRÁTICO DA PEDAGOGIA SOCIAL E DA ESTRUTURA DE ATENDIMENTO DA ASSOCIAÇÃO DA FACULDADE DE TERCEIRA IDADE – AFATI
A Pedagogia Social é vista como uma ciência voltada para a inserção de
pessoas que de alguma forma estão à margem da sociedade. Antes de surgir o termo
Pedagogia Social, essas ações eram comumente chamadas de projetos sociais, sempre
coordenados por educadores sociais, pessoas que nem sempre com formação, mas que
aprenderam o ofício do educador social em sua prática cotidiana, a partir de trabalhos
voluntários para ajudar a melhorar de alguma forma o meio em que viviam, ou seja, a
sociedade. Eram ações que dependiam mais da boa vontade de alguém, do que do seu
conhecimento acadêmico. Neste tocante, Ujiie e Ansai (2017, p.158) ponderam que
“[...] a Pedagogia Social tem uma ação compromissada e comprometida com a
formação pessoal e social, com o desenvolvimento individual e coletivo humano”.
Para Mészáros (2005 apud PEREIRA 2011, p. 49), a Pedagogia Social busca a
“reconstrução de uma cidadania possível, mesmo no sistema capitalista, embora fosse
necessário defender uma cidadania fora desse sistema”, já que ele gera a exclusão social
de pessoas e grupos, determinando a marginalização de pessoas e indivíduos de geração
em geração, como é o caso de meninos de rua que têm seus pais, avós e parentes
vivendo historicamente nas mesmas condições.
Por outro lado, no Brasil, começa um movimento para que os educadores
sociais possam vir a ser reconhecidos como pedagogos sociais. Segundo informa Paula
(2017, p.11 ), A Pedagogia Social no Brasil começou a ter expressividade a partir do final da década de 90. Existem diferentes grupos cadastrados no CNPq que buscam estudar essa temática. No Brasil, dentre os principais estudos e livros da área destacam-se: Graciani (1997, 2014), Souza Neto, Silva e Moura (2009), e, Guimaraes, Padilha e Silva (2014). Para Otto (2009), um dos estudiosos das origens da Pedagogia Social no mundo as características da Pedagogia Social no Brasil estão voltadas para a promoção e o funcionamento social da pessoa: a inclusão, a participação, a identidade e a competência social como membros da sociedade.
A partir do que defende a Pedagogia Social e do cenário da garantia dos
direitos sociais e inclusão da população idosa no interior da Universidade, é que o curso
de Pedagogia da UNESPAR/UV encontra na Associação da Faculdade de Terceira
Idade (AFATI), um locus contributivo para a formação do educador social.
A AFATI vem atender uma demanda da sociedade da população de idosos via
inserção em atividades produtivas reconfortantes e esperançosas para os manter ativos
tanto intelectualmente como física e emocionalmente. Como advoga Oliveira (2013, p.
2934),
Nas últimas décadas acentua-se o envelhecimento da população, sendo considerada uma tendência mundial [...] Este novo desenho demográfico influencia a estrutura social, política e econômica da sociedade. Surge a necessidade de políticas públicas e ações que se voltem para o atendimento das demandas básicas [...] visando a melhoria das condições de vida, garantia dos direitos elementares e o empoderamento do idoso, por meio da educação pautada na Pedagogia Social.
Sicuro e Breyer (1990, p. 12) apontam que um dos maiores erros da educação
em relação à velhice é não se preocupar com a última fase da vida e isso reflete em
todos os setores da sociedade. Entendemos, então, que é preciso olhar pelas pessoas
idosas da nossa sociedade como um ser capaz de realizar novas ou mesmo antigas
tarefas, desde que se sintam motivados para tal. Segundo Oliveira (2013, p. 2934),
[...] por meio de processos educativos não-formais, pautados na Pedagogia Social, os idosos possuem novas alternativas de atividades [...] O
compromisso com os idosos e a velhice deve ser assumido por toda a sociedade, visto que a longevidade é um fenômeno real.
Sob esse viés, situamos a AFATI no mapa do contexto formativo do curso de
Pedagogia da UNESPAR/UV, uma vez que este projeto gera um lócus contributivo
tanto para a inclusão dos idosos na universidade como também com elo para a formação
do educador social. Dessa forma nos fundamentamos em Oliveira (2013, p. 2935)
quando ensina que
[...] as Universidades Abertas para a Terceira Idade surgem como possibilidade de inserção do idoso num espaço educacional não-formal, que visa a integração social, aquisição de conhecimentos, elevação da auto-estima, valorização pessoal, conhecimento dos direitos e deveres e exercício pleno da cidadania. Destaca-se ainda, a não formalidade do currículo, que se organiza de maneira mais interativa, caracterizando a pedagogia social.
Nesse contexto Fenalti e Scwartz (2003, p.132) esclarecem que no âmbito
educacional, as Universidades abertas à Terceira Idade (UNATI) têm favorecido a
implementação de recursos auxiliares, procurando suprir a escassez de projetos sociais e
educacionais mais densos e abrangentes para esta faixa etária.
Ainda segundo Oliveira (2013, p. 2938), os idosos estão hoje em relevância na
sociedade, na mídia e na busca de políticas públicas. Tornaram-se objeto de estudos e
pesquisas científicas, em uma tentativa de superar o enaltecimento da juventude em
detrimento da velhice com também a exclusão velada desta população. Nesse contexto,
a AFATI propicia aos seus frequentadores diversas atividades promovendo saúde, bem
estar físico e psicológico aos idosos, e sob o viés da Pedagogia Social, estas ações se
revestem de importância teórico-prática para a formação do educador social no interior
do curso de Pedagogia da UNESPAR/UV.
Com relação à estrutura didático-administrativa, a Associação da Faculdade de
Terceira Idade (AFATI) da UNESPAR/UV mantém em sua coordenação e no
desenvolvimento das suas atividades uma professora mestra em educação. Dessa forma,
ousamos dizer que esse projeto é um exemplo a ser seguido e reconhecido por toda a
sociedade. Atualmente, o projeto funciona sob a responsabilidade da Agente
Universitária e prof.ª Elizabete de Fátima dos Santos Gomes Empinotti, a qual possui
Mestrado em Educação. O projeto tem por objetivos:
Integrar e ampliar a participação do idoso, promovendo o desenvolvimento do ser humano em sua totalidade, trabalhando os aspectos psicológicos, sociais, físicos, cognitivos e artísticos, num processo de educação
permanente, preparando o adulto para conviver com a sociedade moderna, proporcionando oportunidades de inclusão social. Proporcionar à comunidade idosa um espaço de educação, atualização, produção e disseminação do conhecimento por meio da interação com os diversos Colegiados da Instituição (Ciências Biológicas, Filosofia, Geografia, História, Letras, Matemática, Pedagogia e Química). Resgatar a dignidade e cidadania elevando a auto-estima do idoso por meio de sua valorização como pessoa humana e producente. Dessa forma, estrutura-se em quatro grandes eixos: 1. Cultura e arte, 2. Esporte e lazer, 3. Saúde e nutrição e qualidade de vida, e, 4. Direito e cidadania. Nestes eixos são oferecidas disciplinas contando com a participação voluntária dos diversos colegiados da Instituição e profissionais da comunidade local e regional. (PORTAL DA UNESPAR/UV, 2017)
Criado em 1992, pela saudosa professora do curso de Pedagogia da
UNESPAR/UV, Neli de Oliveira Sicuro, humanista rogeriana, o projeto é pioneiro na
universidade para a inclusão de idosos em seu interior. Atende cerca de cinquenta
idosos no ano letivo de 2017, contanto com o auxílio de dois bolsistas do Programa
Institucional de Bolsas de Extensão. A AFATI estrutura-se a partir de uma ação
extensionista de inclusão social e educação permanente de idosos. Possui cunho teórico-
prático e como público-alvo os idosos das cidades Gêmeas do Iguaçu, União da
Vitória/PR e Porto União/SC. Promovendo encontros semanais às quartas-feiras, no
turno vespertino, contam com o apoio na condução dos encontros de diferentes
profissionais em suas áreas específicas, tendo como foco articulador as necessidades do
grupo de idosos, previamente programadas pela coordenação.
Ao se estruturar, a AFATI com base no oferecimento de ações educativas em
um contexto não educacional para idosos no interior da Universidade, nos
fundamentamos em Herédia (2006, p. 126), quando afirma que “a educação é um
processo contínuo e permanente que dá ao ser humano o sentido da vida, pela
possibilidade que estabelece na medida em que promove maior compreensão sobre o
mundo”. Reafirmamos esse pensamento com base em Oliveira (2013, p.2947) quando
afirma que Com a inserção do idoso na comunidade universitária, a integração entre gerações ocorre necessariamente, fomentando debates sobre as questões que envolvam essa faixa etária, analisando preconceitos e discriminações ora sustentados socialmente e que se apresentam sem fundamentação científica. O próprio idoso, ao se conscientizar de seu espaço na sociedade, terá de si mesmo uma visão mais otimista, considerando-se produtivo, útil, capaz de muito ainda colaborar para a sociedade na qual está inserido.
Dentro desse contexto, a AFATI funciona como um porto seguro, onde os
idosos das cidades Gêmeas do Iguaçu encontram não apenas atividades prazerosas e
esclarecedoras, como também se reintegram enquanto cidadãos na sociedade,
desenvolvendo atividades voltadas para o interesse deles e com a garantia de serem
respeitados, ouvidos, podendo realizar atividades que lhes tragam conhecimento, bem
estar e alegria, junto às pessoas que se tornam amigas queridas. Diante desse exemplo,
compreendemos que é possível praticar os propósitos da Pedagogia Social.
3 A AFATI COMO UM LÓCUS CONTRIBUTIVO DE FORMAÇÃO DO EDUCADOR SOCIAL: QUEM SÃO E O QUE PENSAM OS IDOSOS PARTICIPANTES
A pesquisa de campo teve por objetivo desvelar quem são e o que pensam os
idosos que frequentam a AFATI e sobre sua participação no projeto. A população dos
respondentes consistiu nos cinquenta idosos que frequentam o grupo AFATI-
UNESPAR/UV, no ano letivo de 2017, com idade a partir de sessenta anos, sendo que
todos os idosos consentiram em participar da presente pesquisa.
O instrumento de coleta de dados selecionado foi um questionário do tipo
misto contendo dez perguntas fechadas e quatro perguntas abertas, validado por pré
teste. Os dados quantitativos foram dispostos estatisticamente em gráficos, sendo que as
questões abertas foram categorizadas após a participação dos respondentes na pesquisa.
As primeiras questões desvelaram o perfil dos respondentes que se desenhou
da seguinte forma: 82% dos participantes são mulheres e 28% dos participantes tem
idade acima de oitenta anos.
Apesar de possuírem em sua maioria famílias numerosas impressionou-nos o
fato de 59% dos respondentes morarem sós, e informarem que assim mantém sua
autonomia e independência, mesmo numa idade mais avançada.
A seguir, apresentamos os dados da distribuição da faixa etária e das pessoas
nas quais os respondentes dividem o teto.
Fonte: Dados da Pesquisa/2017
Fonte: Dados da Pesquisa/2017
Os dados da pesquisa também revelaram que 74% dos respondentes se
declararam viúvos, sendo que cerca de 65% possuem entre um e três filhos e 40% dos
respondentes informam possuir mais de sete netos. Com relação ao estado civil, 74%
informam que são viúvos, 11% casados e 4% divorciados.
Mais de 50% dos participantes da AFATI estão inseridos no grupo há mais de
sete anos e informaram que sequer cogitam a possibilidade de deixar de frequentá-lo.
O fato de apenas 10% possuírem escolaridade em nível superior e a grande
maioria, pouco mais de 11% possuir apenas o Ensino Fundamental, chamou-nos a
atenção, como se apresenta no Gráfico 3, a seguir:
Fonte: Dados da Pesquisa/2017
Com relação à ocupação profissional antes da aposentadoria, o perfil que se
desenhou a partir dos dados sistematizados é o que se observa na Tabela 1, ou seja, a
predominância de uma classe de trabalhadores aposentados oriundas do Terceiro Setor.
Tabela 1: Profissão dos respondentes participantes da AFATI
PROFISSÃO NÚMERO DE RESPONDENTES COMERCIÁRIO 07 DONA DE CASA 05
PROFESSOR 03 COSTUREIRA 02
ARTESÃO 01 ASSISTENTE SOCIAL 01 DIRETOR DE ESCOLA 01
FUNCIONÁRIO PÚBLICO 01 PINTOR PAISAGISTA 01 SERVENTE ESCOLAR 01
TÉCNICO EM ENFERMAGEM 01 TÉCNICO EM CONTABILIDADE 01
NÃO RESPONDEU 03 Fonte: Dados da Pesquisa/2017
Uma questão aberta do questionário coletou dados acerca dos motivos que
levou cada respondente a frequentar a AFATI, sendo que no Quadro A se apresentam os
relatos mais significativos que indicam
QUADRO A: Relatos dos respondentes sobre os motivos que os levaram a frequentar a AFATI
RESPONDENTE RELATO
nº 16 “Comecei a frequentar a AFATI para ter mais comunicação com pessoas mais o menos da minha idade que pensam igual e por motivo de falecimento de familiares”.
nº 20 “Por depressão”. nº 21 “Para manter a memória ativa e até procurar uma companheira”. nº 27 “Para não ficar na ociosidade, ter uma atividade a mais,
continuar com a socialização de outras pessoas e também ser útil em algo para a AFATI”.
nº 11 “Para adquirir conhecimentos e amizades”. nº 24 “Para estar integrada com amigos”. nº 34 “ A solidão”.
Fonte: Dados da Pesquisa/2017
Observa-se, por meio dos relatos apresentados no Quadro “A”, que a
predominância sobre os motivos que levam os idosos a participar da AFATI está
diretamente relacionado ao fato de buscarem não se sentirem sós, afoitos por encontrar
alguém para conversar, que os entenda ou simplesmente que os ouçam. Neste contexto,
o depoimento de Klair (1982) apud Sicuro e Breyer (1990, p. 23-24) é revelador quando
relata que
Você mesmo não sabe o que é ser idoso. A mim resta pouco a fazer. Tudo o que realizei em tempo passado afundou. Minhas mãos trêmulas ainda conseguem descascar algumas batatas. Faço a contragosto, mas quero mostrar que sou útil. Não compreendo rápido mais o que me dizem. Tornei-me uma criança adulta.
Evienciamos que na sociedade de modo geral, o idoso quando se aposenta logo
pensa ter chegado ao fim da sua vida, ficando muitas vezes exposto a doenças como
depressão ou mesmo tristeza profunda como revela o relato n.º 20 apresentado no
Quadro “A”. Normalmente, isso ocorre pela falta de alguma atividade rotineira ou
mesmo do “fazer” parte de um grupo. Nos apoiamos em Sicuro e Breyer (1990, p. 45),
quando apontam que
A sociedade deve procurar definir a posição da pessoa idosa, buscando integrá-la da melhor maneira possível. Evitar sua exclusão de uma vida normal, fazendo parte da dinâmica da sociedade. O que não se pode é deixar a pessoa, ainda viva, à margem da própria vida.
Na correria diária de todos nós, torna-se cada dia mais difícil perceber a
fragilidade e as necessidades dos idosos, que parecem tornar-se invisíveis para alguns
membros da sociedade e da família. Assim, é preciso reafirmar que são capazes e que
podem ser incluídos na sociedade, sendo que nesse contexto a AFATI oferece aos
idosos oportunidades inclusivas para se auto afirmarem e para se conscientizarem dos
seus limites e potencialidades. Em encontro a esse pensamento nos embasamos em
Oliveira (2013, p. 2938) quando revela que
Os idosos cada vez mais, diante desta transformação demográfica, se conscientizam da própria posição e papel que ocupam na sociedade, recusando-se a ficarem restritos em ambientes sem grande participação social, ou sem estímulos para se desenvolverem, ou serem lembrados com limitações ou perdas, ao contrário, reclamam e reivindicam maior reconhecimento social, atuam em diferentes espaços públicos e virtuais, com o intuito de conseguirem maior visibilidade e decorrente dela, mais atenção e reflexões sobre a velhice, mais políticas públicas com ações práticas, superação de preconceitos, maior valorização e respeito.
De posse desse pensamento, podemos entender melhor os motivos dos idosos
por procurarem a AFATI, um espaço onde encontram pessoas amigas e desenvolvem
atividades que são agradáveis, proveitosas e principalmente amorosas no que tange à
promoção da qualidade de vida de uma população excluída e marginalizada pela
sociedade capitalista hodierna.
Outra questão aberta da pesquisa, nos ajuda a compreender melhor esse fato,
pois teve como objetivo coletar dados acerca das atividades preferidas dos respondentes
que são propostas pela coordenação da AFATI nos encontros semanais durante todo o
ano letivo. A tabela 2 apresenta as atividades que foram apontadas como mais
relevantes pelos idosos respondentes frequentadores da AFATI sendo que as palestras
que abordam temas de cultura geral, promoção da qualidade de vida, da auto estima, de
saúde mental e física, entre outras são as preferidas, seguidas da opção por atividades
físicas e as viagens culturais.
Tabela 2: Atividades Preferidas pelos Idosos promovidas pela AFATI
ATIVIDADES FREQUENCIA Palestras 17
Ginástica Sênior 10 Viagens 06
Todas as atividades 06
Passeios 05 Brincadeiras 03
Fonte: Dados da Pesquisa/2017
Outras atividades foram elencadas pelos respondentes como sendo a que mais
gostam, sendo elas: a dança, música, joguinhos, documentários, atividades manuais,
atividades artísticas-culturais se caracterizaram como prediletas dos idosos ao
frequentar a AFATI. Nos chamou atenção o relato de um dos respondentes quando nos
informou que: ”As palestras são o melhor conhecimento pra mim já que não tive estudo
e agora a gente fica sabendo conhecendo muitas coisas nos esclarecendo melhor” (sic).
Nesse depoimento, constatamos a importância de se oferecer espaços não escolares
voltados para a educação e atendimento às necessidades dos idosos. Neste fulcro,
fundamentamos-nos em Oliveira (2013, 2934), quando esclarece que
Por meio de processos educativos não-formais, pautados na Pedagogia Social, os idosos possuem novas alternativas de atividades [...] O compromisso com os idosos e a velhice deve ser assumido por toda a sociedade, visto que a longevidade é um fenômeno real.
Partindo desse pressuposto, apresentamos uma questão aberta no qual
buscamos pesquisar o que mudou na vida dos idosos respondentes após a frequência nos
encontros semanais da AFATI. O quadro B apresenta os relatos mais interessantes e
contundentes.
Quadro B: Relato dos respondents sobre a contribuição da AFATI para a promoção de
mudanças na sua vida
RESPONDENTE RELATO nº 01 “Mudou meu grupo de amigos(as) em fim eu sou fã dessa AFATI!!!
Conheci muitas pessoas interessantes”. nº 03 “Tudo mudou. A gente passa a ter mais conhecimento nas relações com
os colegas, a conviver em grupos”. nº 04 “Estou mais alegre e disposta comigo e com os demais”. nº 05 “Felicidade total”. nº 06 “Ajudou a melhor compreender a velhice e o preconceito etário existente
na sociedade contra essa parte da população”. nº 13 “Não tive mais depressão e estou mais feliz”. nº 14 “Muitas coisas principalmente amizades é muito importante ter amigos
nos enriquece fortalece nosso coração nos faz um pouquinho melhor”. nº 20 “O ânimo”.
Fonte: Dados da Pesquisa/201
Os relatos acima são a demosntração da necessidade em se qualificar
educadores sociais para atuarem nestes contextos de forma sistematizada e eficaz.
Assim, o curso de Pedagogia encontra um locus colaborativo de formação destes
profissionais via AFATI rumo à promoção da qualidade de vida dos idosos.
Este projeto é uma ferramenta para a inclusão de idosos no meio social, em
especial na comunidade acadêmica. Assim, na construção teórico prática da interface
entre a Pedagogia Social, a formação do educador social, o curso de Pedagogia da
UNESPAR/UV e a AFATI, constatamos a melhora da autoestima e das relações
interpessoais e afetivas. Ressaltamos que nada disto seria possível sem a qualificação da
coordenadora no curso de Pedagogia, o que enaltece este projeto como um locus
contributivo de formação profissional docente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao se propor apresentar a Associação da Faculdade de Terceira Idade -
AFATI, um projeto de extensão universitária que atende uma fatia da população idosa
no interior da universidade como sendo um lócus contributivo para a formação do
educador social sob os fundamentos da Pedagogia Social no curso de Pedagogia da
UNESPAR/UV, esperamos ter exemplificado como podemos encontrar elos formativos
na área da Pedagogia Social.
Também demonstramos como a universidade, ao buscar incluir e garantir os
direitos de populações excluídas, tais como as dos idosos via projetos, está atendendo as
demandas da modernidade ao apresentar um serviço público e gratuito interligado às
demandas desta população ao mesmo tempo em que firma o seu compromisso social.
O estudo não tem a pretenção de se posisionar estritamente no campo da
Pedagogia como sendo um elo exclusivo de formação da Pedagogia Social e tampouco
tencionou designar o curso como um modo operante de formação de educadores. Porém
podemos firmar a AFATI como sendo um registro de práxis educativa exemplar de
vivências educativas e formativas de educadores sociais, uma área de atuação
profissional em franca expansão.
Referências
FENALTI, Rita de Cássia de Souza; SCWARTZ, Gisele Maria. Universidade Aberta à Terceira Idade e a perspectiva de ressignificação do lazer. IN: Rev. Paul. Educ. Fís., São Paulo, 17 (2): 131-41, jul./dez. 2003. Disponível em <http://citrus.uspnet .usp.br/eef/uploads/arquivo/v17%20n2%20artigo5.pdf> Acesso em 23/08/2016. HERÉDIA, V. B. M. A família, a educação e o envelhecimento humano: desafios para a sociedade. In: CASARA, M. B.; CORTELLETTI, I. A.; BOTH, A. Educação e envelhecimento humano. Caxias do Sul: EDUCS, 2006. p. 109-132. OLIVEIRA, Rita de Cássia da Silva. Pedagogia social: a universidade aberta como espaço de efetivação dos processos educativos para o empoderamento do idoso. In: ANAIS…XI Congresso Nacional de Educação. EDUCERE. Curitiba, 2013. Disponível em <http://educere.bruc.com.br/anais/p1/trabalhos.html?q=pedagogia+social>. Acesso em 20/ 09/ 2016. SICURO, Neli de O.; M., BREYER, Edith Vogt. O precioso tempo da velhice. Fundação Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória – PR.. Porto União– SC: UNIPORTO, 1990. COLEÇÃO VALE DO IGUAÇU N.59 PAULA, Ercília Maria Angeli Teixeira de. Pedagogia Social e Educação Social: análises das convergências e divergências teóricas dessas áreas. IN: Revista Ensino e Pesquisa. v.15, n. 2 2017. p. 8-29, Suplemento. Acessível em http://periodicos.unespar.edu.br/index.php/ensino epesquisa/issue/view/107/showToc. Acesso em 02/08/2017. PEREIRA, Antonio. CURRÍCULO E FORMAÇÃO DE EDUCADORES SOCIAIS NA PEDAGOGIA SOCIAL: RELATO DE UMA PESQUISA-FORMAÇÃO. In: ANAIS...XI Congresso Nacional de Educação.. EDUCERE. Curitiba, 2013. Disponível em <http://educere.bruc.com.br/anais/p1/trabalhos.html?q=pedagogia+social> Acesso em 20/09/2016. PEREIRA, A. A educação-pedagogia no cárcere no contexto da pedagogia social: definições conceituais e epistemológicas. Revista de Educação Popular, Uberlândia, v. 10, p. 38-55, jan./dez., 2011. PORTAL DA UNESPAR/UV. Disponível em http://www.fafiuv.br. Acesso em 20/02/2017. UJIIE, Nájela Tavares; ANSAI, Rosana Beatriz. Projeto Espaço da Mamãe Universitária: espaço-tempo de Educação da Primeira Infância, lócus de Ação Socioeducativa e Pedagogia Social. IN: Revista Ensino e Pesquisa. v.15, n. 2 2017. p. 8-29, Suplemento. Acessível em http://periodicos.unespar.edu.br/index.php/ensino epesquisa/issue/view/107/showToc. Acesso em 03/08/2017.