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AS RELAÇÕES DE FRONTEIRA NA PAMPA BONAERENSE (SÉC. XVIII)
JULIANA APARECIDA CAMILO DA SILVA
Mestranda em História – UNISINOS jcamilo36@yahoo.com.br
Este artigo se propõe a analisar as relações de fronteira na campanha
bonaerense no século XVIII. Esta região costuma ser definida no Setecentos como uma
área marginal, pobre e dilatada no vastíssimo império espanhol. Ela é caracterizada em
sua maioria pela “pampa”, a vasta planície herbácea situada entre a costa atlântica até a
cordilheira dos Andes e entre o rio Salado – que é o limite sul do Grande Chaco –, e o
rio Colorado, limite norte da Patagônia.
Podemos assegurar que esta área era, no Setencentos, uma "fronteira" pois ela
delimitava o “território espanhol” do espaço indigena. De acordo com Florencia Roulet
(2006), o termo "fronteira" a partir da terceira década do século XVIII, possuía duas
dimensões subentendidas: uma militar, que se forma neste momento pelo aumento nos
conflitos e outra política. Dessa forma, por uma perpectiva era um espaço-tempo de luta
contra um inimigo hostil, e por outra, era um território que estava fora da jurisdição da
Coroa espanhola, isto é, onde os indígenas mantinham-se independentes.
Por outro lado, não se utilizava na época, o termo "fronteira" para marcar a
separação entre as distintas colonias ibéricas, mas sim a noção menos ofensiva de
"limite", até mesmo para demarcar as possessões territoriais de espanhóis e portugueses,
em 1750, no Tratado de Madri. Quando se mencionava uma "fronteira" era sempre para
reportar o cenário de luta contra o índio.
Dessa maneira, a região da pampa-patagônia e seus habitantes constituíam esta
"fronteira" à conquistar. Pois, este local estava fora da autoridade do governo colonial
espanhol, visto que, a colonização européia não alcançava estes espaços que
permaneciam controlados pelos grupos indígenas.
O conceito de fronteira que é central ao nosso trabalho, ingressou na
historiografia a partir da tese percursora de Frederick Jackson Turner em finais do
século XIX, segundo a qual a fronteria era o amplo espaço de terras livres à disposição
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dos americanos para serem apropriadas. Sua teoria focava-se no avanço dos colonos
sobre as terras “baldias” do oeste dos Estados Unidos, movimento que seria
fundamental no processo de construção da democracia e na formação da identidade
nacional americana.
Na América Latina este conceito foi aplicado em análises relacionadas o
processo de expansão territorial dos estados, de cunho político e militar, ligadas a idéia
de progresso da nação. Entretanto, desde a década de 1980, nos EUA, uma nova
corrente historiográfica rompeu com o modelo proposto por Turner, a New Western
History, formada por um grupo de historiadores que rechaçavam a tese do americano.
Essa teoria contrariou o termo “fronteira” de Turner por suas conotações nacionalistas e
muitas vezes racistas.
Além disso, diferentemente do progresso inerente à visão turneriana, a NWH,
demonstra que muitos intentos ao oeste americano foram fracassados, além de destacar
que as terras do Oeste não eram “livres”, estando ocupadas por grupos indígenas.
Assim, essa nova corrente destacava o lado obscuro da expansão para o oeste. No que
tange à historiografia latino-americana, os estudos mais recentes também passaram a
destacar o elemento de violência para com as populações nativas contido nos processos
fronteiriços.
Desse modo, foi a partir da década de 80 que os estudos sobre o novo conceito
de fronteira avançaram. Além disso, mais contemporaneamente, o indígena é exposto
como sujeito ativo da história e esta nova perspectiva, foca na investigação dos
processos de transformações dessas sociedades.
Atualmente a fronteira é definida como um local de intersecções, uma zona
onde não existe somente confronto, um espaço de inteiração no qual acontecem
variados contatos. Ali se desenvolve um grande repertório de intercâmbios culturais.
Lejos de la noción turneriana de la frontera como límite de separación existe
actualmente un consenso historiográfico en definir a las regiones fronterizas
como lugares de encuentro de culturas. Se desprende, de esa idea central, que
estos espacios se caracterizan por su multiculturalidad pudiendo detectarse
prácticas mestizas que recogen elementos culturales de muy diverso origen.
(RATTO, 2005, p 180)
Dessa maneira, a fronteira é um limite tão próximo e ao mesmo tempo tão
desigual, que isola e agrega, de domínios permeáveis, uma localidade híbrida, ou ainda,
uma "zona de contato" (Pratt, 1999) onde ambientes sociais de culturas heterôgeneas se
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descobrem, se colidem, se enlaçam.
es un espacio de soberanías imbricadas formado por varias fronteras y sus
hinterlands en el seno del cual distintos grupos - sociopolítica, económica y
culturalmente diversos- entran en relaciones relativamente estables en un
contexto colonial de luchas entre poderes imperiales y a través de las cuales
se producen efectos de etnificación, normalización y territorilización y se
desancadenan procesos imprevistos de etnogénesis y mestizaje. (BOCARRA,
2005, p.12)
Isto posto, entendemos a fronteira bonaerense no século XVIII como um
espaço e um processo em que proporciona uma ampla interpenetração entre indígenas
e espanhóis, circulação e intercâmbio de idéias, pessoas e bens. Por conseguinte, essa
região não demarcava uma completa dicotomia entre brancos e índios, e sim, um
espaço de transição, em que se produzia uma mistura de práticas sociais e culturais que
conformavam espaços de mestiçagem.
Os crioulos, indígenas bonaerenses e as relações fronteiriças:
A colonização na região de Buenos Aires até meados do século XVIII dependia
administrativamente do Vice-Reinado do Peru1. Uma vez que, esse era o território mais
dinâmico da América Espanhola no período, com sua capital em Lima, a cidade de
Potosí era o grande centro mineiro americano que dependia deste Vice-Reinado. No
início do século XVII, essa atividade tornou Potosí uma das cidades mais povoadas do
mundo, com 150.000 habitantes. Este grande mercado minerador provocou uma
importante organização de transporte e aumento da circulação de mercadoriais de
diferentes zonas, como os produtos cerais do Chile, os tecidos de Tucumán, as mulas de
Córdoba entre outros.
Até meados do Setecentos Buenos Aires era, apesar do porto, uma cidade pouco
importante, contando com um número aproximado de 7.000 habitantes. Deste total,
1.000 eram membros da guarnição militar. O porto de Buenos Aires era encarregado de
transportar a produção das minas de Potosí. Apesar das interdições que sofria para o
comércio atlântico, era grande a movimentação econômica gerada pelo porto, o que
provocou o surgimento de uma elite local, que se vinculou com esse polo mineiro
mediante o exercício de um ativo comércio legal e ilegal. O crescimento inicial da
cidade-porto se vínculou a este comércio e ao assentamento de um forte de guarnição
1 Apenas em 1776 será criado o Vice Reinado do Rio da Prata, com capital em Buenos Aires.
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que cumpria funções de defesa. Nas terras vizinhas à cidade, surgiram as primeiras
chácaras e estâncias destinadas a suprir as necessidades básicas da população, sendo que
a economia do espaço rural, em especial das estâncias criadoras de gado, constituiria o
segmento mais visível da riqueza da região.
Todavia, as populações indigenas habitantes da região, conhecidos como pampas
e serranos2, não possuíam assentamentos fixos, por isso, são chamados de nômades e
caçadores e coletores, terminologias que atualmente especialistas costumam não
empregar. Pois, atualmente esta modalidade de ocupação do espaço possui uma
conotação mais complexa e é apontada como uma habilidade que busca aprimorar as
possibilidades econômicas possíveis. Compreende assim, os circuitos comerciais, as
alianças matrimoniais e políticas, os encontros interétnicos, e não somente a caça e
coleta. Antes da chegada européia, para estas populações, o guanaco, o cervo e o
‘nandu’ eram as únicas presas grandes disponíveis para caça. Já das espécies vegetais,
aproveitavam-se as gramíneas, a madeira mole e os juncos como alimento e matéria
prima para confeccionar tinturas.
Com a chegada da colonização espanhola, novas espécies se juntaram a flora e a
fauna autóctones da região austral. Dessa forma, tanto o gado vacum, quanto cavalar foi
introduzido por espanhóis em tempos da primeira ocupação. Os cavalos haviam
chegado a Buenos Aires em 1537 e, em 1580, já se encontravam até o estreito de
Magalhães. A adoção destes animais pelos indígenas trouxe inúmeras transformações às
suas sociedades. Sobretudo o gado cavalar, provocou mudanças no cotidiano dos
pampas e serranos, ainda que, estes indígenas não desdenhassem bois, cabras e ovelhas,
o gado cavalar era o mais considerado.
En estas llanuras imensas vaguean tropas, y manadas prodigiosas de cavallos,
y yeguas, que llaman Baguales, Cimarronas, ó lo que es mismo silvestres, y
cerriles. No sera facil dar à comprehender su multitud, á quien no la há visto. Baste decir, que por mas de trecientas leguas Norte à Sud, y mas de doscientas
2 Denominação espanhola para diversas parcialidades nativas da campanha bonaerense. Estas nomenclaturas referiam-se genericamente aos grupos nativos pela sua localização geográfica. Ou seja, os
pampas eram habitantes da campanha e os serranos da serra. Entretanto, sabemos que os indígenas não se
reconheciam desta maneira, e que estas “etiquetas” servem aos objetivos dos europeus: conhecer,
classificar, controlar. Nos vários documentos analisados, contudo, não existe consenso, tanto entre as
fontes jesuíticas, quantos entre as civis, sobre tais nomenclaturas, que variam conforme o observador.
Dessa forma, conscientes dos riscos implicados em assumir uma ou outra destas denominações,
seguiremos aqui o critério de nos valer da terminologia que apareceu com mais freqüência na
documentação trabalhada.
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de Oriente á Poniente, estan las campañas inundadas de tales cavallos, como si
fuera uma hacienda, ó Estancia poblada unicamente de ganado. Los
caminantes en sus viages, sino las espantan con diligencia, y abren camino
con trabajo, corren riesgo de quedar á pie; porque corren como una exhalacion
en grandes manadas, y arrebatan las Cavallarias del Carruage. (SANCHEZ
LABRADOR [1772] 1910, p. 33)
Além da carne, aproveitava-se ainda o couro, as crinas, os tendões e os ossos
dos animais abatidos. “De esta gran multitud de animales proveen los índios dichos de
comida, vestido, y casa, ó habitassem. Para el alimento sale uno, ó mas índios, armado,
de sus Bolas, y Lazo en seguimiento de los Baguales” (SANCHEZ LABRADOR
[1772] 1910, p.34). A utilização do cavalo possibilitou uma mobilidade enorme, além
de facilidade de caça de animais, aumento populacional e resistência às pressões
coloniais. Além disso, um crescimento nos malones (incursões indígenas a estâncias ou
povoados) para descontentamento dos espanhóis.
Os indigenas da região se tornaram guerreiros habilidosos, pois os cavalos
facilitaram os deslocamentos e a formação de pequenos grupos familiares em povos
maiores, através dos contatos com outras parcialidades e alianças. Dessa maneira, os
líderes nativos começaram a comandar forças mais numerosas que no passado.
Ademais, os cavalos e o gado bovino lhes proporcionaram uma fonte estável de
proteínas e essa dieta enriquecida provavelmente resultou em um crescimento
demográfico.
Ell caballo, como se ha destacado con frecuencia,fue quizá o mais importante
y los indigenas modificaran muchos aspectosde su vida y su culturapara adaptarlas a actividade ecuestre. El caballo teve amplia aceptacíon entre los
indigenas que pronto-quizáya comienzos do século XVII.-lograran su
completo dominio y lo utilizaban con habilidad e destreza. Los equinos
ampliaram la posibilidad de despaziamentos y de carga, modificaran as
formas de obtener el alimento permitiendo la realização de grandes cacerías-
las "boleadas" en las que la boleadora y la lanza reemplazaram el arco y la
flecha, dificiles de usar desde un caballo a galope. (MANDRINI, 2002, p. 17)
As redes comerciais se intensificaram não apenas na direção índio/índio, mas
também índio espanhol. Houve assim, a criação de uma rede de transações transandinas.
Assim para o comércio entre etnias temos como exemplo, os pampas que em troca de
cavalos ou peles, obtinham, ponchos, índias jovens e licores dos serranos ou puelches.
Quando algun puelche llega con el licor, que foi à comprar á los españoles no
le vende sino de esta manera:al llegar dá el aviso del genero, que conduce, y
al punto toda la gente como enxambre dee mosquitos se junta, llenando unos el toldo, que sirve de taberna, y otros quedandose á fuera, esperando que les
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den lugar para entrar en aquella hermita de baco, El dono del aguardiente
llena un calabazo, que decimos Mate , y porongo, mas ó menos grande segun
la cantidad, que há trahido bebida, (y aveces trahen barriles)Lleno el Mate,
que sirve de medida, se le presenta al principal Cacique, diciendole; recibe
este Aguardiente, y dame aquel poncho, aquell caballo, ó aquella manta etc. (SANCHEZ LABRADOR, [1772] 1910 p. 41)
É neste contexto que, a incorporação do cavalo provocou mudanças nas
tecnologias tradicionais, no consumo para subsistência, na territorialidade e na vida
social dos grupos. De acordo com Silvia Ratto, essas transformacões são sinônimos da
mestiçagem cultura:
[…] mestizaje no fue solo biológico sino que se extendió a todo tipo de
contacto en los que el préstamo y la mezcla de rasgos culturales fueron una
parte intrínseca. El mestizaje, planteado de esta manera, refleja la necesidad
que tenían los contemporáneos para “inventar” a diario modos de coexistencia
y soluciones para sobrevivir. (2005 p.182.)
Ademais, dentro desta fronteira o gado cavalar possibilitou outros contatos
interétnicos. Temos como exemplo disto, as inúmeras incursões a pampa pelos aucas3
ou araucanos. Esse grupo, na maioria das vezes, cruzava o lado oriental dos Andes na
busca pelas manadas de gado selvagem. Porém, eles não ultrapassavam a fronteira para
derrotar um inimigo, pelo contrário, na maioria das vezes eles se aliavam aos índios
locais para comerciar e intercambiar, principalmente seus ponchos a troca de gado.
Dessa maneira, alguns destes araucanos realizavam suas incursões e retornavam
com suas manadas, outros cruzavam o lado argentino dos Andes e não voltavam a seus
territórios. Através da pampa Argentina, ao sul do caminho que ia de Buenos Aires a
Mendonza, os araucanos entraram em terras que os espanhóis nunca haviam penetrado.
Ao final do século XVIII, não existia nenhuma outra capital do vice-reinado que
estivera tão cercada de terras de índios fora da sua jurisdição como Buenos Aires.
Estas incursões aucas do Setecentos são conhecidas como processo de
“araucanização dos pampas”, ou seja, transmissão de traços culturais de um grupo, os
do lado ocidental da cordilheira, para o outro, os da pampa patagônia. Entretanto, a
palavra sugere que esta troca se deu em um único sentido, isto é, araucano sobre a
pampa. Porém, os araucanos também receberam influência dos pampas e serranos.
Temos como exemplo desta via de mão dupla à adoção feita pelos araucanos dos
3 Esse mesmo grupo também é chamado de Mapuche (gente da terra em sua língua) por etnógrafos atuais.
Estes mapuches do século XVIII chamavam-se de “reche” no reino do Chile, segundo investigações de
Bocarra (1998).
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toldos, ou tendas portáteis, típicas dos índios pampeanos. Estas eram feitas de couro de
animais, assim como, as botas de montaria, feitas de pele da perna do cavalo, e ainda
os aucas empregaram ao seu vocabulário muitas palavras pampas.
Da mesma maneira, os pampas e serranos apadrinharam muitos aspectos da vida
araucana como: os tecidos, as crenças religiosas, o trabalho com metal, a cria de
animais, a agricultura, mas, principalmente o idioma. Todos estes aspectos
influenciaram profundamente na sua vida social e econômica. Essa “araucanização” se
deu de forma gradual e se estabeleceu através de diferentes migrações, entre os quais
podemos mencionar a intensificação das relações de intercâmbio, principalmente pelo
gado cavalar e o estabelecimento, a partir de então, de redes de parentesco.
Outro aspecto relevante na transformação da cultura desses indígenas foi o
comércio com os ocidentais, pois, muitos destes grupos estabeleceram negociações
mercantis com os hispano-crioulos. Porém, outros preferiram o uso da força e cometer
ataques aos espanhóis. Os nativos comerciantes não barganhavam apenas o gado
cavalar, mas também couros, plumas e especialmente ponchos, com os espanhóis, e
estes em troca negociavam, erva, tabaco, açúcar, aguardente, vinho, cereais, armas,
instrumentos de ferrro, adornos, vestimentos europeus entre outros.
Encontramos nos Bandos de (1742-1753) referente ao ano de 1742 a seguinte
situação:
El quanto me hallo informado que muchas personas, que tienen sus tendas y
pulperias en esta ciudad vendendo alos índios pampas quando vayan a ella
vino y aguardente y armas y que esto es en perjuicio por las malas concequencias que de ello sultan en ces exercício de ambas Reage tades y
para que tan prejudicial abri se cuite y castigue alos que cohijier Hordeno y
Mando que ningun rel por tendero, ni ose a persona de qualquier estado,
calidad y condicion que sea venda, ni de en cambio ce otra cos vino,
aguardente, ni armas, ni qual tampoco lo lleben a vender fuera. (BANDOS
1742-1743, f. 14)
Como percebemos na documentação trabalhada existiram vários circuitos
comerciais entre espanhóis e os índios pampeanos. Muitos destes novos bens adquiridos
ganharam um enorme valor simbólico. O cavalo se incorporou aos costumes e
cerimônias indígenas, os licores e aguardientes europeus substituiram muitas vezes as
bebidas nativas, certos vestimentos espanhóis (como chápeus e casacos) e as espadas
alcançaram um grande valor como elementos de prestígio entre os índios.
No entanto, esse processo teve consequências muito mais relevantes do que a
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simples incorporação de novos bens. A utilização dos mesmos por parte dos nativos
cresceu aceleradamente, tornando esses elementos essenciais na vida cotidiana, gerando
uma crescente demanda destes itens. Como resultado de tudo isso, uma grande rede de
circulação começou a ligar as diferentes regiões do território indígena e, este vinculando
com as áreas controladas pelos europeus, acentuando a dependência mútua de grupos
indígenas diversos e sociedade colonial. Esta situação estimulou os índios a produção
de bens estimados pelos cristãos,e o gado foi fundamental para manter a rede de
intercâmbios.
Portanto, as intensas relações estabelecidas nesta fronteira tanto entre etnias,
quanto entre índios e espanhóis, transformaram as sociedades indígenas da pampa-
patagônia. Como vimos, os novos bens incorporados a estas sociedades como: gado
cavalar, o ferro, as armas, o tabaco, açúcar, vestimentas, as novas dinâmicas de relações
e a enorme movimentação desses grupos possibilitaram novas configurações sociais,
econômicas e culturais.
A conflitividade na fronteira bonaerense:
Durante os séculos XVI e XVII se produziu na campanha bonaerense uma enorme
proliferação de gado vacum e cavalar. Este foi aproveitado tanto por espanhóis, quanto
por nativos. Tal abundância gerou um destrutivo sistema denominado “vacaria”, o qual
consistiu na caça ao gado selvagem que habitava as cercanias de povoados na época. A
exploração desmedida levada a cabo por povoadores de Buenos Aires através do
sistema mencionado acima, assim como, as entradas realizadas por vizinhos de outras
províncias e a captura praticada por índios, provocaram no início do século XVIII a
escassez do “gado cimarrone".
Essa situação provocou um imenso prejuízo tanto para os espanhóis quanto para
os índios. Primeiramente a diminuição e logo depois a desaparição deste gado,
obrigando setores que até então o haviam aproveitado, a modificar seus modelos de
atividade econômica. Os hispano-crioulos buscaram a solução para este problema
concentrando o gado em regiões onde seu cuidado era mais acessível. Este cenário
ocasionou o desenvolvimento das estâncias coloniais.
Ao mesmo tempo em que a dinâmica interna da sociedade bonaerense provocada
por esta situação, uma nova orientação metropolitana transformaria a política imperial
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para com as fronteiras, eram as chamadas “reformas bourbônicas”. Efetivamente, a nova
dinastia do reino da Espanha, os Bourbons, introduziram uma série de modificações na
organização colonial. As reformas bourbônicas, podem ser consideradas como a
“segunda conquista dos territórios americanos” (DEL VALLE, 2009, p.38) sendo que
elas visavam, tanto o avanço das fronteiras coloniais espanholas, quanto a garantia
desses locais, seja contra potenciais inimigos de países estrangeiros, ou ainda contra as
populações indígenas que permaneciam fora da do controle espanhol.
O aumento da demanda de animais juntamente com crescimento estancieiro, e
a nova política bourbônica, impulsionaram a cidade e seus habitantes a voltar os
olhares para o território e os recursos que se encontravam ao sul, ou seja, o território
indígena. Da mesma maneira, os indígenas premidos pela extinção do gado começaram
a praticar suas incursões ao território espanhol com mais frequência por meio da prática
de “malones”.
Assim, apesar das relações relativamente pacíficas até então, foi em meados do
XVIII que a conflictividade aumentou em grandes proporções. Notamos essa situação
nesse trecho da carta anua de Lozano:
Enemigos de la ley e de Cristo, eran también enemigos de los españoles por
más que tuvieran relaciones con ellos al perecer amistosas. Parecían
amistosas pero rompían con suma facilidad a cauda de la inconstancia propia
de los indios. Al principio del gobierno del Sr. Miguel Salcedo, que entró a
gobernar em 1734, cometieron los Pampas varios insultos robando violentamente los ganados cristianos que vivían en los pueblos vecinos a
ciudad. Ordenó entonces Salcedo que se apresaran a algunos indios, pero no
pudiendo probar que foran ellos los culpables, se les puso en liberdad.
Opinaron los bárbaros que sus derechos habían sido heridos y que debían ir a
la guerra. Al efecto convocaron a una enorme multidud de indios y todos
ellos cayeron sobre a estancia del Francisco Cubas Díaz y le arrebataron todo
su ganado. ( [1735-1743]1994, p.585.)
Segundo a narrativa do padre seria nesta conjuntura que se iniciou o período de
hostilidade entre o mundo indígena e o espanhol. Os “malones” muitas vezes buscavam
evitar o combate aberto. Cada malón tinha seus objetivos específicos, e era muito mais
que um simples saque. A lógica dos malones necessariamente não significava se opor a
negociações. Pelo contrário, os malones eram também um modo de forçar as
negociações, instrumentar represálias por violações de pactos, ou ainda renegociar
condições. Além disso, eles aconteciam não apenas pela busca do gado, mas também a
procura de roupas, armamentos e, frequentemente, de cativos, incluindo mulheres e
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crianças.
O governo colonial intimidado por tal situação adotou a política de confiar aos
missionários à pacificação dos índios. Apesar da permissão que a Companhia de Jesus
tinha desde 1684 para praticar a atividade missionária na região, foi somente neste
contexto conflitoso, em 1740 que a primeira missão, Nuestra Señora de la Concepcion
de los Pampas foi instituída.
As missões austrais4:
A primeira redução constituída no território ao sul de Buenos Aires foi Nuestra
Señora de la Concepcion de los Pampas. Os jesuítas Manuel Querini e Matías Strobel,
que já haviam trabalhado em reduções guaranis, foram orientados a dar início à
edificação do pueblo. O padre Querini foi o responsável por agenciar todos os
mantimentos necessários para a subsistência da missão. De tal modo, os vizinhos da
cidade de Buenos Aires contribuíram com donativos, e ainda “Juntaronse setecientos
pesos, ó escudos em plata, y mil cabezas de ganado, entre bacas, cavallos, y obejas."
(SANCHEZ lABRADOR, [1772] 1910, p.84)
Concepcion de los Pampas era destinada aos índios chamados genericamente
pelos hispano-crioulos de pampas e instalada muito próxima da cidade,
aproximadamente a 150 km. Sua fundação ocorreu no dia 26 de maio 1740, quando os
jesuítas, chegando ao local escolhido, hastearam uma cruz e celebraram a primeira
missa. Ela contava com um grupo aproximado de 300 pessoas incluindo alguns
soldados destinados pelo governador para proteger a redução, os caciques fundadores
eram: Lorenzo Massiel, Don Pedron Mílan e um cacique serrano Don Yahatí.
Desde seus primórdios os trabalhos dos padres jesuítas na redução mostraram-se
dificultosos e surgem incertezas sobre a sustentação da missão. Cresciam as
reclamações dos jesuítas sobre os nativos. O que mais atormentava os padres era: o
vício da embriaguez dos índios, a instabilidade, e a pouca disposição para o trabalho.
Sabemos que esses julgamentos são baseados em uma perspectiva eurocêntrica. Dessa
maneira, toda essa sentença delimitada pelos padres deve ser interpretada como um
método de construção da alteridade.
4 Estas reduções tiveram várias denominações, como: missões autrais, missões bonaerenses, missões
pampeanas, missões de pampas e serranos.
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Logo, é recorrente na documentação trabalhada presença das dificuldades como:
“Para mas aficionarlos al rezo, y cosas espirituales, les regalaban con algunas cosillas,
que ellos estimaban: a los chicos ganaban com golosinas, pasas, vizcocho &c. ”
(SANCHEZ LABRADOR, [1772] 1910, p.89.) Em outro momento notamos também a
forma pela qual os pampas trabalhavam na redução:
[...] quando se les caia el techo de la casa, le componian, peró pagandoles o
Misionero o trabajo, y mateniendoles de Yerba del Paraguay, y tabaco; de
outro modo ni trabajaban para si mismos, ni para bien de si Pueblo. Sucedio
algunas veces que los misioneros cuidaban de tal quel indio enfermo, hasta
guisarle comida, llevando ela à su casa; convalecia este indios, y le pedia el
misionero que le ayudasse à hazer alguna cosa de poco afan, como era
mudar un saco lleno de grano à outro lugar, y el indio ingrato, respondia, que
le ayudaria, si le daba la paga. Pudiera referir muchos casos a este
semejantes, que manifestasen el animo abjeto, y interessado de los Pampas.
(SANCHEZ LABRADOR, [1772] 1910, p.91)
Nesses trechos vimos que os padres usavam da estratégia de “regalar” os
índios, tanto para o trabalho na redução e até mesmo para rezar. Essa prática também
era usada pelos hispano-crioulos em negociações com os nativos. De acordo com
Weber (2003), esse recurso aparecia com freqüência no século XVIII, pois os
“regalos” se tornaram gestos obrigatórios para manter as alianças e a amizade entre as
sociedades nativas e os espanhóis. No caso das missões eles eram imprescindíveis para
o bom andamento da mesma, pois muitas vezes os índios levantavam seus toldos e se
retiravam da redução caso não houvesse os mantimentos por eles estimados.
O que devemos ponderar é o quanto esses indígenas apreciavam estes bens
espanhóis para usar a missão como subterfúgio, porém sem se sujeitar a sedentarização
definitiva. Pois, sabemos que por conta dos contatos durante os séculos anteriores com
os hispano-crioulos esses grupos nativos da pampa - patagônia haviam se
reconfigurado, e a incorporação de recursos espanhóis teve consequências
fundamentais na vida cotidiana desses povos. Assim, percebemos que a redução era
uma via de fácil acesso para objetos tão apreciados por estes indios, além do mais, em
uma momento de relações hostis entre eles e os espanhóis.
A outra redução foi constituida em novembro de 1746 próxima da atual cidade
de Mar del Plata e denominada “Nuestra Señora del Pilar”. Ela foi conduzida pelos
padres Jose Cardiel e Thomas Falkner e remetida aos índios serranos. Os caciques
fundadores foran Marique e Chuyan Tuya que juntaram-se ao "pueblo" com 24 toldos
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de indios. Entretanto, já no inicio da redução é notável seu insucesso. A ocupação do
pueblo não foi permanente, e os grupos entravam e saiam da missão, assim como em
Concepción, utilizando-a para receber provisões, realizar atividades comerciais,
intercâmbio de cativos, acesso a informação e logo retornavam aos seus territórios.
Permanecieron en este lugar todo el tiempo, que duro la Yerba del Paraguay,
el tabaco, y otros generos, que ellos apetecen, y compran á trueque de
plumeros de plumas de Abestruces, ponchos, pieles de lobo marino, y riendas
de caballos. Faltó la provisión á los Misioneros á mediado de febrero de 1748
y todos los indios levantaron sus toldos, dejando solos á los padres con unos
quantos jornaleros guaranis, y otros trahidos de Buenos Ayres. Por el mes de
abril receberon los misioneros otra provisión, y bolvio otra vez el cacique
Chuyan Tuya con solos nueve toldos. Duro su estabilidad 4 meses. Hasta que vio, que ya no tenian que dar los misioneros. (SANCHEZ LABRADOR,
[1772] 1910, p.102)
A perspectiva do padre mostra o modo como os índios entendiam a redução, ou
seja, como mais um de seus acampamentos. Dessa maneira, a movimentação só se
detinha quando na entrega diária de provisões e na disponibilidade de fazer a troca de
ponchos, ou peles de tigre com algum pulpero, para obter aguardente, armas e outros
bens. Essa prática que se apresenta em ambas as reduções pode ser observada como
uma forma de adaptação dos indígenas, pois eles adequaram á redução com seus modos
de vida anteriores. Observamos isto tanto nas suas consecutivas idas e vindas, quanto à
negação desses povos em adotar formas sedentárias de trabalho.
A última redução implementada na região foi chamada de “Nuestra Senõra de
los Desamparados”, o padre Lorenzo Balda foi nomeado em meados de 1750 para o
trabalho e o povoado foi destinado aos índios chamados de patagones.
O padre Strobel ficou responsável em arrecadar donativos para a nova missão.
Um dos moradores que havia falecido em Buenos Aires deixou para o padre uma
quantia de três mil pesos, com a condição que pusessem o nome da nova redução sob
proteção de Maria Santíssima. Escolheram os padres então Nuestra Señora de los
Desamparados. Com a arrecadação generosa o padre comprou vacas, cavalos,
ferramentas e contratou peões, porque sabia que não poderia obrigar seus catecúmenos
ao trabalho.
No entanto, esta foi a primeira missão a ser destituída. Sua destruição aconteceu
no dia 24 de fevereiro de 1751. Segundo Sanchez-Labrador, a ruína da missão começou
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no mês de agosto 1750 através dos planos do cacique Cangapol, o Bravo5. Durante todo
o período que se estabeleceram as três missões austrais os missionários negociaram a
paz com este cacique, como nos demonstra o jesuíta.
Esmeraronse em su regalo, dandole sombrero com galones, bacilinas de laton,
bayetas, sempiterna, y outras dadivas, cuya aquisicion costaba mucho aá los
misioneros, peró que daban por bien empleado à trueque de ganar para
Christo un hombre, cuya conversión sin duda conduciria à la de todos os
infieles que temian.Bien servido y rico à su modo el Cacique Bravo, se despidio de los misioneros, al parecer contento, y satisfecho, peró sin
voluntad de admitir em sus tierras à los misioneros. (SANCHEZ
LABRADOR, [1772] 1910, p. 131)
Observamos no trecho acima a estratégia dos missionários para ganhar a
confiança e o apoio de Cangapol através dos regalos. Porém, apesar de aparentemente
contente e aceitar os presentes, o cacique não desistiu hostilidades. Para o padre
Sanchez Labrador, Bravo não gostava da presença dos missionários, porque os jesuítas
estariam conquistando seus “vassalos”. Além disso, aponta o jesuíta que Cangapol não
aceitava a invasão das missões em suas terras, por isso resolveu destruir com os
pueblos.
Entretanto, consideramos que o cacique Bravo, aceitou o convívio com as
reduções enquanto lhe foi conveniente. Sabemos que a extinção do gado selvagem
agravava as relações entre espanhóis e índios, e no decorrer do século XVIII a situação
piorou drasticamente. Também entendemos que os próprios ataques eram uma forma de
impor negociações, pois durante o período de convivência nos pueblos os padres
presenteavam Cangapol, para conseguir alianças e manter as reduções pampeanas. Por
outro lado, as hostilidades deste líder também impunham novos acordos, ou seja, os
ataques eram a maneira de demonstrar aos espanhóis seu descontentamento.
Apesar das negociações, o cacique Cangapol armou um grande estratagema
contra as reduções e concomitantemente a vilarejos e estâncias espanholas aos arredores
5 Este cacique foi uma figura crucial na história das missões austrais. Em 1737 alguns espanhóis sob
comando do governador Miguel de Salcedo atacam índios da parcialidade “pampa”, que segundo os hispano-crioulos, haviam assaltado seus povoados. Como consequência, Cangapol decide revidar com
ofensivas aos arredores de Buenos Aires, levando gado e cativos para as suas “tolderias”. A resposta
indígena também conhecerá represálias e a violência se espalha. Nestas circunstâncias, de acordo como
os padres Lozano (1735-1743), Falkner (1774) e Sanchez-Labrador (1772), alguns caciques pampeanos,
presos entre o temor do ataque dos cristãos e seus próprios conflitos interétnicos, procuram as
autoridades espanholas pedindo reduções. As missões são estabelecidas, mas durante todo o seu trâmite
os jesuítas negociam com este cacique que os ameaça em troca de “regalos”. Entretanto, apesar das
tentativas de paz Cangapol destrói duas das missões pampeanas.
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de Buenos Aires Primeiramente Bravo e seu grupo atacaram os espanhóis, e neste
conflito morreram muitos índios e hispano-crioulos. Em seguida, avançou para a
destruição de Nuestra Señora de los Desamparados.
Como consequência da ruína De Los Desamparados, Nuestra Senõra Del Pilar
foi abandonada pelos rumores de invação de Cangapol, e os índios remanejados para
Concepcion. Entretanto esta última também foi desocupada logo em seguida. Assim,
podemos considerar o fracasso dos povos anteriores, juntamente com os ataques aos
povoados a causa da desconfiança dos próprios hispano-crioulos contra as missões. O
resultado foi uma solicitação do governador Andonaegui com provas através de
testemunhos para o rei da Espanha a fim de desmantelá-la. Por conseguinte, a redução
foi extinta em 13 de fevereiro de 1753.
Considerações Finais:
Como observamos, nos Setecentos várias parcialidades indígenas da campanha
bonaerense não haviam se submetido ao controle colonial espanhol. Dessa maneira, essa
região tornou-se uma “fronteira”, pois ela separava o território da sociedade "branca" da
área indígena. Como destacamos, este "limite" não propiciava espaço apenas para
confrontação, muitas vezes esse local concedeu a ocorrência, também, de uma enorme
intersecção de bens materiais e simbólicos.
Vimos que, embora não sujeitados aos “cristãos”, os índios adoraram muitos
elementos de sua cultura material. Assim, pelo decurso dos séculos de contato nesta
"fronteira" os nativos se transformaram. A utilização de recursos europeus
especialmente do gado cavalar modificou-os profundamente. Além disso, percebemos
um mundo indigena dinâmico, comportando uma diversidade de relacionamentos, que
possibilitaram inúmeras trocas culturais de ambos os lados da cordilheira. Por isso,
podemos considerar esta região, mais que uma "fronteira" e sim “complexo
fronteiriço”, ou seja:
es un espacio de soberanías imbricadas formado por varias fronteras y sus
hinterlands en el seno del cual distintos grupos - sociopolítica, económica y
culturalmente diversos- entran en relaciones relativamente estables en un
contexto colonial de luchas entre poderes imperiales y a través de las cuales
se producen efectos de etnificación, normalización y territorilización y se
desancadenan procesos imprevistos de etnogénesis y mestizaje. (BOCARRA,
2005, p.12)
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Entretanto, apesar das iniciativas jesuíticas, vimos que a ações missionárias na
fronteira pampeana foram frustradas.Estas reduções constituíram em um núcleo de
troca de conhecimentos e aprendizagem, processos que se desenvolvendo-se justamente
no local que serviria como meio de dominação da sociedade opositora, de inculcação de
valores ocidentais.
Enfim, este "complexo fronteiriço" demonstrou um mundo indigena em
atividade, e que estes índios não foram vítimas impotentes dos processos históricos,
muitas vezes, foram protagonistas de suas próprias histórias, escolhendo, conciliando,
reestruturando, articulando suas opções de acordo com seus interesses e a conjuntura
por eles vividas.
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Traducción de Carlos Leonhardt, S.J. Buenos Aires, 1928. Transcrición 1994 Instituto
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puelches-patagones. Buenos Aires: Imprenta de Coxi Hermanos, 1910.
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