Post on 13-May-2018
Arquitetura Vernacular
Antonio Castelnou
Introdução
Na História da Arquitetura, a maioria do que se construiu não foi feita por profissionais, mas por pessoas comuns que, guiadas pela TRADIÇÃO
POPULAR, tiveram o mesmo impulso estético que os especialistas que realizaram a arquitetura oficial.
Todos esses ambientes foram projetados e executados de modo que atendessem as decisões e as escolhas humanas à sua maneira específica de
fazer as coisas, conforme circunstâncias e recursos disponíveis naquele determinado tempo e espaço.
Essa arquitetura que é
exercida por pessoas que
constroem sem o fardo da
solenidade oficial recebe o
nome de ARQUITETURA
VERNACULAR, uma
arquitetura sem arquitetos,
cujo resultado possui valor,
mesmo sem ter sido regida
pelos cânones ditos
“civilizados” ou acadêmicos.
Etimologicamente, o termo
VERNÁCULO provém de vernae,
que, na Roma antiga, correspondia
a tudo que se relacionava aos servos
nascidos em casa ou dos escravos
que se faziam nas guerras.
Com o tempo, a palavra passou a
ser usada para designar tudo aquilo
que é próprio de um país ou uma
nação, sem estrangeirismos.
Denomina-se VERNÁCULA a língua vulgar, a que
se contrapõe à língua culta ou poética. Assim, a
arquitetura vernacular refere-se a uma arquitetura
prática e caseira, não heróica, facilmente tachada de
arcaica e excluída do universo de atuação presente.
Entretanto, a arquitetura vernácula
corresponde à representação factual de uma técnica construtiva e uma ideologia geral de
determinada cultura, relacionando-se sempre
à tradição local e à sabedoria popular; e ligando-se, de certo
modo, ao FOLCLORE (folk + lore).
O interesse por esse tipo de arquitetura – dita produto da arte popular – é relativamente recente,
aparecendo em finais do século XIX, quando gravuras japonesas e esculturas africanas começaram a despertar a atenção dos críticos e artistas europeus.
Na segunda metade do século passado, com o PÓS-MODERNISMO e, através dele, a busca de
identidade cultural, de contextualização histórica e de economia energética, fizeram com que a arquitetura
vernacular passasse a ser melhor estudada e admirada pela academia ou escolas de nível superior.
Vernáculo versus Erudito
Considera-se como o
contraposto do vernáculo
a ARQUITETURA
ERUDITA, aquela que
obedece as normas e padrões
estabelecidos nas Escolas de
Belas-Artes ou de
Arquitetura, onde participa o
arquiteto profissional; ou
ainda, outra pessoa ligada ao
sistema oficial de construção.
Esta arquitetura dita OFICIAL corresponde a uma
prática solene, emanada pelo poder (autoridade legal)
e realizada por arquitetos e engenheiros diplomados.
Percebe-se que a história
oficial da arquitetura
privilegia sempre obras
gigantescas ou singulares,
considerando boa somente
a arquitetura erudita,
contrapondo-a à vernácula,
que é raramente registrada
nas enciclopédias,
tornando-as mutuamente
exclusivas.
Porém, é importante ressaltar que esses dois modos
de operação para a produção arquitetônica – o erudito
e o vernacular – são antagônicos, mas não são
excludentes: eles se complementam mutuamente.
Na verdade, percebe-se que não há uma arquitetura
vernácula ou oficial puras, mas sim casos opostos em
que o distanciamento é tal que um modo de produção
da arquitetura predomina quase totalmente sobre o
outro, mas sem excluí-lo por completo.
Classificação
A expressão ARQUITETURA
VERNACULAR não consegue abranger em
seu significado todas as proposições que existem
referentes a esta produção, devido à grande
complexidade dos fenômenos por ela
desencadeados.
Diferentes segmentos sociais – em diversos espaços
bioclimáticos, políticos, econômicos, sociais,
culturais e históricos – são classificados para não
permitir uma definição generalista; válida
independente de local, tempo e sistema construtivo.
Casas em
enxaimel Blumenau SC
Deste modo, visando o seu estudo científico, classifica-
se a ARQUITETURA VERNÁCULA em:
Arquitetura Primitiva
Arquitetura Regional,
Iletrada ou Anônima
Arquitetura Colonial
Arquitetura Espontânea
Arquitetura Popular
Igloo
Arquitetura primitiva
É aquela geralmente derivada de intelectos
considerados rudimentares e simples, como os
de indígenas ou selvagens, em comunidades onde não existe uma divisão social
de trabalho: a mesma pessoa que vai morar é quem constrói sua casa.
Choças
HABITAÇÃO PALEOLÍTICA
ossos
peles
ramos
Consiste nos trabalhos
executados por uma
comunidade e consumidos
por ela mesma, segundo a
somatória de conhecimentos
disponíveis, transmitidos por
gerações; e a partir de recursos
que o próprio meio oferece
(gelo, palha, pele animal, ossos
e galhos de árvores).
Dogons (Aldeia Banani, Mali)
Aldeia perto de Tahoa (Níger, África)
IGLU (Do esquimó idglo, casa): Habitação polar em forma de cúpula,
construída com blocos de neve compacta,
encaixados em espiral, e vidros de gelo.
TUAREG: Habitação em forma de tenda dos árabes
nômades do deserto (tuaregues ou bérgeres),
que vivem no Saara, (Argélia,Mali ou Níger).
TEEPEE: Tenda cônica dos índios
norte-americanos, feita de galhos
cruzados e recoberta com pele de bisão.
DOGON: Habitação primitiva dos habitantes de Mali , na África (dogons) , feita em taipa e palha.
A
A
B
C
C D
E
ALDEIA
A – Depósito
B – Crianças e animais
CASA (DOGON)
C – Depósito
D – Cama suspensa
E – Cozinha
Casa
9-10m
6-7 m
YURTES: Casas cilíndricas dos povos mongóis , da Sibéria e Ásia central, feitas de feltro (pano que não é fiado, mas
fabricado com lã de carneiro e pêlo de camelo amassado com os pés), fixado em treliçado de
madeira e preso por correias de couro ou de crina de cavalo.
1 Porta 18 Consolo p/imagens
2 Percurso do hóspede 19 Leito p/hóspedes
3 Animais recém-nascidos 21 Armário p/trajes
4 Pastores do chefe
5 Artesanato 22 Baú p/cobertores
6 Depósito 23 Leito p/chefe e
7 Familiares anciãos esposa
8 Espaço para filhas 24 Bancada p/chefe
9 Tulha ou estufa (Suha) 26 Bancada para a
10 Combustível mulher do chefe
11 Espaço para filhos 27 Depósito
12 Vestiário de familiares 28 Artesanato
29 Chaminé
13 /25 Mesas 30 Bancada para
14 Lugar para objetos pastores
15 Mesa p/hóspedes 31 Recipiente para
16/20 Bancada p/hóspedes água (Odre)
17 Pequeno móvel p/imagens
YURTE
a) Zona Meridional (pastores)
b) Zona Ocidental (familiares)
c) Zona Setentrional (hóspedes)
d) Zona Oriental (líderes da família)
PALAFITAS: Habitações proto-
históricas, geralmente lacustres, sustentadas por estacas e encontradas em regiões quentes e úmidas,
como nas ilhas da Oceania, África e Brasil.
Ganvie, sul de Benin (África)
Amazonas
(Brasil)
Habitação Taberma (Togo, África)
Musgus (Chade,
África)
Habitação Hausa (Zaria, Nigéria, África)
Aldeias Asiáticas Bangladesh
Tailândia,
Malásia
Bengal,
Índia
OCAS (Do Tupi oka): Cabanas ou choças de índios brasileiros, feitas
geralmente de palha presa em trama ou
de barro.
Habitações indígenas