Considerada uma das forjadoras do desenho pós-moderno, JANE JACOBS (1916-2006), em Morte e vida das...
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Considerada uma das forjadoras do desenho
pós-moderno, JANE JACOBS (1916-2006), em seu livro Morte e vida das
grandes cidades americanas (1961),
desenvolveu uma série de críticas ao urbanismo
moderno, especialmente ao zonning, que
revolucionaram o pensar sobre a cidade.
Criticando os trabalhos de renovação urbana empreendidos nos EUA a partir dos anos 40,
especialmente por ROBERT MOSES (1888-1981) , Jacobs denunciava seu alto grau elitista, alienante
e segregador de grande parte da população.
MosesState Park
Hell Gate & Triborough BridgesNYC-Queens
Ela identificou no cotidiano das metrópoles
as razões de sua violência, sujeira e
abandono – frutos do esquematismo dos modos
de vida moderna que os planejadores previam em seus modelos ideais –; e observou uma vida rica e densa de significados no caos e microcosmos dos
bairros populares.
Ela concluiu que o grau de URBANIDADE de uma cidade ou bairro dependia intrinsecamente do grau
de VITALIDADE ali presente, o que podia ser observado na diversidade
funcional, na alta concentração, na
valorização de ruas e esquinas, e na
multiplicidade de tipos de edificações, estilos e
usos combinados.
Jane Jacobs(1916-2006)
Jacobs defendia a COMPLEXIDADE URBANA, que deveria ser buscada através de planos e projetos
que reconhecessem as ações e situações capazes de gerar ou destruir a vitalidade de uma cidade,
inaugurando um enfoque button-up (“de baixo para cima”), predominante no PÓS-MODERNISMO.
Jane Jacobs(1916-2006)
Urbanismo pós-moderno
As várias mudanças ocorridas nas ciências, nas artes e nas sociedades na segunda
metade do século passado fizeram nascer o conceito da PÓS-MODERNIDADE, cunhado
especialmente pela filosofia desde os anos 70.
Definiu-se como PÓS-MODERNA a condição sócio-cultural e estética do estágio recente do capitalismo pós-industrial, onde a tecnociência
aplicada à comunicação vem manipular a sociedade pela saturação de informações, diversões e serviços (Era do Consumo).
No que se refere às teorias urbanas, os principais forjadores do pensamento pós-moderno foram:
Jean-François Lyotard (1924-98)
Jean Baudrillard (1929-)
Fredric Jameson (1934-)
David Harvey (1935-)
Perry Anderson
(1940-)J. Baudrillard (1929-)
P. Anderson (1940-)
J.F. Lyotard (1924-98)
F. Jameson
(1934-)
Reagindo ao estabelecimento de um
modelo universal –moderno –, o qual se pretendia unitário e
integrador, em todos os níveis, do plano estético ao sócio-político, os pós-modernos colocaram-se
dispostos a ressaltar diferenças.
The Language of post-modern
Architecture (1977)
Charles Jencks (1939-)
Robert Venturi (1925-)Learning from Las Vegas(1972)
A DIVERSIDADE SOCIOCULTURAL, antes sufocada pela padronização totalitarista capaz de
conduzir a produção e nortear o consumo de massa, tornou-se o elemento fundante de uma
nova dinâmica espacial, propondo também uma nova constituição do urbano.
Robert A. M. Stern (1939-)
National StorytellingCenter
Disney Vacation ClubTokyoMaihama
ResortHotel
Há uma (re)aproximação entre a cultura popular e a erudita, buscando-se
uma reintegração à cotidianidade dos
indivíduos e concretizando uma
relação de simultânea influência entre o
produtor cultural e a população em geral,
materializada através dos meios de informação e
comunicação de massa.
Charles Moore (1925-93)
Piazza d’Italia(1975/8, Nova Orleans, EUA)
Kresge College UC(1972/3, Sta. Cruz Cal.)
Em 1976, o anglo-austríaco CHRISTOPHER W.
ALEXANDER (1936-) e seus colegas do Center for
Environmental Structure, da Universidade da Califórnia,
publicaram A pattern language (Uma linguagem padrão), em que defendiam que as pessoas poderiam projetar e construir para si suas próprias casas, ruas e
comunidades.
Christopher W. Alexander(1936-)
Chamando a atenção para a construção popular,
Alexander identificou 235 “padrões” (patterns), que ocorriam repetidamente e
possibilitam uma infinidade de combinações,
as quais deveriam ser usadas como base para a criação arquitetônica, o
que transformava os arquitetos em mais gerenciadores que
criadores de formas.
O valor do trabalho de Alexander está no fato de ter comprovado a grande
COMPLEXIDADE das relações humanas que se
produzem na cidade, criticando o esquematismo
moderno; e por deduzir uma série de fórmulas fundadas nas próprias
necessidades individuais ou culturais da população.
Christopher W. Alexander(1936-)
Subúrbionorte-americano
Por sua vez, DAVID HARVEY (1953-)
procurou explicar a forma urbana através de dois fatores: o processo
de acumulação do capital e a luta de classes,
identificando a ERA PÓS-MODERNA como aquela
caracterizada pela celebração da diferença,
da efemeridade, da moda, do espetáculo e da mercantilização das
formas culturais.
David Harvey(1953-)
Diante do mundo efêmero e transitório, de ritmo de vida alucinado, intensifica-se, para Harvey, a
atitude blasée e o bloqueio dos estímulos sensoriais já enunciados por Simmel, assim como a especialização míope, a reversão a imagens de um passado perdido e a excessiva simplificação.
New urbanism
Em fins da década de 1970, as críticas pós-modernas ao esquematismo modernista
fizeram nascer a corrente do URBANISMO NEOTRADICIONALISTA ou New Urbanism,
inspirada por Jacobs e Alexander entre outros.
Tal tendência contemporânea apresentou uma nova abordagem sobre a criação e a remodelação das comunidades norte-
americanas, enfatizando o resgate de formas e configurações tradicionais (convencionalismo).
Tendo como seus maiores expoentes ANDRÉS M.
DUANY (1949-) e ELIZABETH PLATER-ZYBERK (1953-), os
neotradicionalistas defendiam a requalificação e
revalorização de áreas urbanas, ressaltando antigos
conceitos antes menosprezados pelo
modernismo: comunidade, lugar, história, memória, uso misto e qualidade ambiental.
Andrés M. Duany (1949-) &Elizabeth Plater-Zyberk (1953-)
New Town of Kentlands(1985/8, Flórida EUA)
Diziam que se havia suprimido os valores
individuais, culturais e históricos; padronizado as formas de habitação e os equipamentos urbanos,
com conseqüente perda de identidade; priorizado o
sistema viário em detrimento da escala
humana; e promovido a descontinuidade visual
devido ao predomínio de áreas verdes.
Scott Merrill &Georg Pastor
Windsor Town Center(1985/9, Flórida EUA)
Logo, os urbanistas pós-modernos tentam
retomar alguns princípios de projeto antes abandonados,
tais como: a simetria, o uso de eixos, o
decorativismo, o hedonismo, a ênfase
no conforto ambiental e a inspiração estética
na história e na memória coletiva.
Robert A. M. Stern (1939-)
Celebration Disney Housing
(1975/7, Flórida EUA)
Andrés M. Duany (1949-) &
Elizabeth Plater-Zyberk (1953-)
New Town of Seaside
(1979/81, Flórida EUA)
Proliferando-se a partir dos anos 80 nos EUA, os trabalhos do NEW URBANISM espalhou-se por todo mundo até hoje, fundamentando-se principalmente em:
Criação de “realidades” agradáveis (fuga dos problemas urbanos)
Reconstituição de ambientes do passado (uso de estilos múltiplos, multifuncionalidade e grande variabilidade ambiental)
Proliferação de comunidades fechadas criadas em pequena escala (privatização urbana)
Ênfase em questões como segurança, conforto e tranqüilidade (sociabilidade vigiada)
Desenvolvimento de modos de controle e segregação social (território da exclusão)
A partir de então, especialmente na década
de 1990, foi possível observar novos fenômenos
ocorrendo no espaço público, o qual passou a sofrer um processo de privatização, ao mesmo
tempo em que ocorreu uma espécie de “publicização”
do espaço privado, isto devido ao desenvolvimento
de novas sociabilidades urbanas.
John Portman (1924-)
Hyatt Regence Hotel(1973/5, S. Francisco Cal.
EUA)
Westin Bonaventure Hotel(1977/80, L. Angeles Cal. EUA)
Denomina-se DISNEIFICAÇÃOo processo de criação de
lugares cenográficos através de temas arquitetônicos
deslocados de seus locais geográficos originais, aos
moldes dos parques temáticos do Walt Disney World.
Cria-se uma “paisagem de sonho”, cujo consumo visual
somente é possível àqueles que detém o poder econômico e os
meios de acessibilidade. Universal City Walking(1988, Los Angeles, Cal. EUA)Jon Jerde
Tal fenômeno caracteriza-se por:
Criação artificial de um clima de perfeição e normalidade;
Supressão de todos e quaisquer elementos negativos ou indesejáveis coletiva (problemas sociais, políticos ou religiosos);
Programação de atividades consumistas e de valorização do prazer (hedonismo)
Reprodução de “mundos ideais” (hiper-realidades fechadas)
Court Circle Mall
(1990/3, Ohio City EUA)
Conclusão
No último quartel do século passado, o
despertar histórico e ecológico fez com que
surgissem novas preocupações diante do fenômeno urbano, estas materializadas a partir do nascimento do DESENHO
URBANO e de novas metodologias de estudo
e análise da cidade contemporânea.
O URBANISMO PÓS-MODERNO passou a questionar todos os
dogmas do modernismo e, baseado em posturas neotradicionalistas, veio
priorizar posturas individualistas,
segregacionais e confirmadoras do atual
modelo de sistema socioeconômico predominante no
mundo.McAdenville (1986, North Caroline, EUA)
Seth Harrys & Ass.
Beach Color Center (1990, Flórida EUA)
Os efeitos mais nítidos dessa nova concepção urbanística que inicia o século XXI são:
Progressiva degradação dos espaços públicos centrais (ruas, praças e centros históricos) pela diminuição de investimentos públicos;
Proliferação de programas de revitalização e/ou ressurreição de espaços centrais, através da parceria entre público e privado;
Expulsão e/ou segregação sócio-econômica dos moradores originais principalmente devido à exploração fundiária desses novos locais;
Disseminação de áreas e condomínios fechados devido à crescente eutanásia espacial(obsolescência provocada ou induzida de locais).
Bibliografia
CULLEN, G. Paisagem urbana. Lisboa: Edições 70, Col. Arquitetura & Urbanismo, n. 1, 1996. 208p.
ELLIN, N. Postmodern urbanism. Oxford: Blackwell Publishers Ltd., 1996.
JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. 2a. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 516p.
KOHLSDORF, M. E. Breve histórico do espaço urbano como campo disciplinar. In: FARRET, R. L. et al. (Org.). O espaço da cidade: contribuição à análise urbana. São Paulo: Projeto, 1985. p.15-72.
LYNCH, K. R. A imagem da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1997. 227p.