Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, aula 101-101 r

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Figuras de estilo (manual, pp. 349-351)As que surgem no exercício:

Anáfora | Hipérbato | Aliteração | Animismo | Alegoria | Eufemismo | Gradação |

Antítese | Hipálage | Hipérbole | Comparação | Disfemismo | Ironia | Lítotes

| Metáfora | Personificação | Pleonasmo | Metonímia | Sinédoque | Paradoxo (ou Oxímoro) | Sinestesia |

Perífrase (ou Circunlóquio) | Imagem

a) metáfora e hipérbole

Tentei uma brecha naquela impenetrável muralha de palavras, já cansada de andar para cá e para lá no corredor, enquanto a minha mãe, da sala perguntava, pela 756.ª vez, quem era.

Alice Vieira, Chocolate à Chuva.

septingentésimo quinquagésimo sexto

b) personificação

Bastava a ponta dos meus dedos sobre a mesa, e logo o coração da mesa respondia, batendo pausadamente ao ritmo do meu.

Alice Vieira, Chocolate à Chuva. 

c) metáfora e animismo

Na primavera o solfaz o ninhono beiral da minha casa.

Francisco Duarte Mangas; João Pedro Mêsseder, «Ave», Breviário do Sol.

d) comparação e metáfora

São como um cristal, as palavras. Algumas, um punhal, um incêndio. Outras,orvalho apenas.

Eugénio de Andrade, «As Palavras», Antologia Breve.

e) aliteração

[...] aquela menina casadoira, que mora junto ao largo, vem à varanda ver a Lua.

Manuel da Fonseca, «Noite de Verão», Obra Poética.

 

f) antítese

Perdido num sonho: o sol, o deserto...Na linha dos olhos — tão longe, tão perto — ondula... a miragem?

Francisco Duarte Mangas; João Pedro Mêsseder, «Ave», Breviário do Sol.

g) hipérbato

Já descoberto tínhamos diante,Lá no novo Hemisfério, nova estrela,

Luís de Camões, Os Lusíadas. 

h) anáfora

Viva a Mademoiselle! Viva a minha precetora! Viva o papá que mandou a outra ir embora! Viva! Viva!

Augusto Gil, Gente de Palmo e Meio. 

i) eufemismo

Fidalgo: — Esta barca onde vai ora, que assi está apercebida? Diabo: — Vai pera a ilha perdida e há-de partir logo ess’ora.

Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno.

j) gradação

Não há ninguém mais rico no mundo. Sou riquíssimo. Sou podre de rico. Cheiro mal de rico.

José Gomes Ferreira, Aventuras de João sem Medo.

 

k) hipálage

Batizei quase todos os poemas que escrevi. Certo dia, coloquei-os pela ordem alfabética dos títulos e deixei-os sobre a mesa a repousar, cansados de tanto trabalho com as palavras.

João Pedro Mêsseder, De Que Cor é o Desejo?

«Carlinhos, arreganhando para Eusebiozinho um lábio feroz»,

o adjectivo «feroz» reporta-se, no fundo, a Carlinhos, mas, gramaticalmente, serve de atributo a «lábio».

• cigarro pensativo• cigarro lânguido• sobrancelhas meditativas• lábios devotos• mão pacificadora• sedas impúdicas• braço concupiscente• braços pasmados• sala séria de tons castos• leito de ferro virginal

• as tias, fazendo as suas meias sonolentas [vs. meias, sonolentas]

• lenta humidade das paredes fatais do Ramalhete

• chá respeitoso• o peixe austero• as lojas loquazes dos barbeiros• saias ligeiras e ilegítimas• raspar espavorido dos fósforos

l) imagem

Que medonho sítio!

Irene Lisboa, Uma Mão Cheia de Nada e Outra de Coisa Nenhuma.

 

A imagem dá forma visual à representação das ideias. Engloba figuras como a comparação, a metáfora, a metonímia.

m) ironia

— Senhor João Sem Medo: cá o meco chama-se Zé Porco... Este meu sócio é o Chico Calado, mudo de nascença... E aquele tem a alcunha de «Louro» porque passa a vida a beberricar pelas tabernas, onde improvisa cada versalhada de se lhe tirar o chapéu.

«Sim, senhor... — pensou João Sem Medo. — Linda coleção!»

José Gomes Ferreira, Aventuras de João sem Medo.

 n) metonímia — Não acredito — disse Gil. — Você não tem fibra para ensinar a esgadanhar um bocado de Liszt a essas monas filhas de tubarões da finança e medíocres cortesãs.

Agustina Bessa-Luís, Contos Impopulares.

continente / conteúdo («bebemos uns copos»)

autor / obra(«ouvi Mozart»)

parte / todo(«as velas navegavam»)

espaço / instituição («uma diretiva de Belém»)

• a) relação entre a parte e o todo (ex.: “cabeça” em “cem cabeças de gado”);

• b) entre a matéria e seu objeto (ex.: “ouro” quando empregado como “dinheiro”);

• c) entre um ser e o seu princípio ativo (ex.: “alma” em “cidade de cem mil almas”);

• d) entre o agente e o resultado (ex.: “mão” como “escrita” em “é da mão de Eça”);

• e) entre um ser e alguns de seus traços físicos (ex.: “respeitemos as cãs”, isto é, “os idosos”);

• f) entre a causa e o efeito ou entre o produtor e o objeto produzido (ex.: “um Picasso”, isto é, “um quadro de Picasso”);

• g) entre o continente e seu conteúdo (ex.: “beber um copo”, isto é, o conteúdo de um copo);

• h) entre o tempo ou o lugar e os seres que se acham no tempo ou lugar (ex.: a posteridade, isto é, as pessoas do futuro; a nação, isto é, os componentes de uma nação;

• i) entre o abstrato e o concreto (ex.: “o amor tudo vence”, isto é, as pessoas que amam);

• j) entre o signo e a coisa que ele significa (a coroa, isto é, o rei).

o) paradoxo (oxímoro)

E erguendo a cabeça do bordado explicou-se melhor:

— Quando Deus quer, até os cegos veem.

Carlos de Oliveira, Uma Abelha na Chuva.

p) perífrase (antonomásia) e metonímia

Cessem do sábio Grego [= Ulisses] e do Troiano [= Eneias] As navegações grandes que fizeram; Cale-se de Alexandre e de Trajano A fama das vitórias que tiveram; Que eu canto o peito ilustre Lusitano [= o valor português],

Luís de Camões, Os Lusíadas. 

Antonomásia — figura de retórica que consiste em designar um indivíduo por um nome comum ou pelo nome da espécie a que pertence: Eneias é muitas vezes referido como o Troiano e a alguém que não conhece as boas maneiras chama-se Bárbaro. Ao designarem-se os grandes escritores por Homero ou os mulherengos por Casanova realiza-se o processo inverso: substitui-se um nome comum por um nome próprio. Nesta variante, a antonomásia assemelha-se a uma outra figura de retórica: a perífrase. Estas substituições visam, essencialmente, embelezar o texto ou evitar a repetição. […]Perífrase —

q) pleonasmo

Meio-diaO Sol tem os seus Caprichos: não gosta Que o olhem Olhos nos olhos.

Francisco Duarte Mangas; João Pedro Mêsseder, Breviário do Sol.

 

r) sinédoque

Que, da ocidental praia lusitana [parte (praia) pelo todo (Portugal)]

Luís de Camões, Os Lusíadas. 

s) sinestesia

Era um céu alto, sem resposta, cor de frio.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Contos Exemplares.

 

t) alegoria

Uma árvore tem raízes, tem tronco, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem flores, tem frutos. Assim há-de ser o sermão: há-de ter raízes fortes e sólidas, porque há-de ser fundado no Evangelho; há-de ter um tronco, porque há-de ter um só assunto e tratar uma só matéria; deste tronco hão-de nascer diversos ramos, que são diversos discursos, mas nascidos da mesma matéria e continuados nela.

Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes.

A alegoria representa de modo figurado um conceito ou abstração. É uma metáfora continuada.

 u) disfemismo

Enquanto os vermes iam roendo esses cadáveres amarrados pelos grilhões da morte.

Alexandre Herculano, Eurico, o Presbítero.  

«Bater as botas»

«Vestir o sobretudo de madeira»

v) lítotes Eu não posso senão ser [= Só sou] desta terra em que nasci.

Jorge de Sena, «Quem A Tem».  

A lítotes atenua o significado de uma afirmação, negando o contrário do que se pretende afirmar.

«a sua perspetiva não é disparatada» [= a sua perspetiva é correta]

w) hipérbole e comparação

O céu tremeu, e Apolo, de torvado, Um pouco de luz perdeu, como enfiado.

Luís de Camões, Os Lusíadas.

TPC — Lê o que vou pôr em Gaveta de Nuvens sobre figuras de estilo.

Localizar um recurso estilístico e comentar a sua expressividade

• Metáfora (explicar a analogia e mostrar como é curiosa a transposição para outro contexto).

• Comparação (idem; mostrar como o termo da comparação é inusitado)

• Repetição, anáfora, uso repetido e expressivo de determinado sinal de pontuação.

• Paralelismo.

• Polissíndeto.• Longa enumeração (assindética ou

não).• Gradação.• Hipérbole.• Antítese, Paradoxo, Oxímoro (destacar

o contraste conseguido, e efeito de oposição e agregação).

• Adjetivação inesperada, expressiva.• Personificação.• Ironia.

Designar e localizar a figura, transcrevendo.

Referir em que consiste o processo estilístico (em que é que se rompeu a norma) e o efeito que assim se obtém.

Noções úteis antes de ouvir o primeiro capítulo do «Sermão de Santo António»:

•Este sermão do Padre António Vieira foi proferido em 1654 (século XVII), a 13 de junho (dia de Santo António), em São Luís do Maranhão (Brasil), numa igreja que não ficava longe da praia (Capela do Senhor Bom Jesus dos Navegantes)

• Santo António (de Pádua e de Lisboa) viveu entre 1191[ou 95?] e 13-6-1231 (século XIII).

• Conta-se que Santo António teria pregado a peixes, quando os homens não lhe ligavam (e o perseguiam), na cidade de Rimini [< Arimino] (Itália).

• Século XIII — Santo António. (Segundo a lenda, pregou aos peixes, em Rimini.)

[mais de 400 anos]

• Século XVII — Padre António Vieira. (Profere sermão em que alude àquele milagre de Santo António — a 13 de junho, dia de Santo António.)

[361 anos]

• Século XXI — Alunos do 11.º #.ª. (Estudam o «Sermão de Santo António [aos peixes]» do Padre António Vieira — todos contentes.)

• Este cap. I corresponde ao «exórdio», a introdução.

• Cap. I — Introdução (Exórdio)

• Caps. II-V — Desenvolvimento (Exposição; Confirmação)

. Cap. VI — Conclusão (Peroração)

Se fizermos um paralelo com a epopeia:

ProposiçãoInvocaçãoDedicatóriaNarração

•A citação latina «Vós estis sal terrae» corresponde ao chamado «conceito predicável» (interpretação fantástica de um passo da Bíblia, com base em associações de ideias, que vai servir para estruturar a argumentação).

• Estratégia esperável ao longo de todo o sermão — mas especialmente no exórdio — é a captatio benevolentiae.

• Todo o sermão assenta numa alegoria: vai-se pregar a peixes.

• O sal preserva, evita a podridão dos alimentos.

1.1. As duas partes do Sermão presentes

no excerto apresentado são o Exórdio (exposição do plano a desenvolver e das ideias a defender), que parte do conceito predicável «Vós sois o sal da terra», em que se destaca a referência às obrigações do sal, a indicação das virtudes dos peixes e a crítica aos homens e a Invocação (pedido de auxílio divino).

1.2.1. A terceira parte do Sermão de Santo

António aos Peixes é a Confirmação (subdividida em Exposição e Confirmação) com a exposição do tema, das ideias e seu desenvolvimento, que engloba a argumentação e a crítica aos comportamentos, a cen sura à prepotência dos grandes, a crítica à vaidade dos homens e a censura aos ambiciosos, aos hipócritas e aos traidores.

O Padre António Vieira indicou, no início do Cap. II, que dividia o desenvolvimento do seu sermão em duas partes. Assim, temos dois diferentes momentos de exposição e dois diferentes momentos de confirmação:

— no primeiro momento de exposição (Cap. II), destaca os louvores dos peixes em geral, seguindo-se a respetiva confirmação, no Cap. III, com os louvores em particular (peixe de Tobias, rémora, torpedo e quatro-olhos);— o segundo momento de exposição surge no Cap. IV, ao falar da repreensão dos vícios em geral, seguindo-se a respetiva confirmação, no Cap. V, com as repreensões em particular (roncadores, pegadores, voadores e polvo).

1.3. A quarta parte do Sermão é a

Peroração, uma conclusão que utiliza um desfecho forte para impressionar o auditório, uma última advertência aos peixes e a descrição de si próprio como pecador. O sermão termina com um hino de louvor a Deus.

O autor pregou este sermão — todo ele alegórico — três dias antes de embarcar, clandestinamente, para a metrópole, com o objetivo de encontrar solução para o problema dos índios, em consequência dos factos a que se alude no «Sermão da Sexagésima» (volume 1 dos Sermões).

Como se deduz da alegoria em que assenta o texto, no «Sermão de Santo António aos Peixes» o orador abordou todos os pontos do programa que, ainda que impopular, considerava ser o mais adequado, em termos espirituais e práticos, à colónia.

Vós sois o sal da terra (Mateus, 5,13).

[linhas 1-12]Cristo diz serem os pregadores o

sal da terra. Tal como o sal preserva (os alimentos), os pregadores deviam impedir a podridão/corrupção. Mas, se há tantos pregadores, como se justifica que haja tanta corrupção?

Várias hipóteses (e bifurcadas): ou os pregadores não pregam a verdade ou os ouvintes não a querem; ou os pregadores não fazem o que defendem/dizem e os seus ouvintes preferem imitá-los nas práticas/ações e não nas palavras; ou os pregadores pensam mais neles do que em Cristo ou os ouvintes, em vez de seguirem os preceitos da religião, preferem reger-se pela sua vontade/propensão imediata.

[ll. 13-22]Então, o que se há de fazer aos

pregadores, que não evitam a corrupção, e aos ouvintes, que não se deixam influenciar/catequizar? Como disse Cristo, se os pregadores não cumprem bem, pelas palavras ou pelos atos, o melhor será espezinhá-los e fazer-lhes cócegas.

[ll. 23-40]E que se há de fazer aos

ouvintes? Santo António, perante um público que não lhe ligava, abandonou-o e foi pregar aos bocados de salmão em pratos de sushi.

[ll. 41-52]Retomando o ‘conceito predicável’: Santo António foi até mais do que «sal da terra», foi também «sal do mar», já que pregou a peixes. Mas o autor não quer relatar o que se passou com Santo António, antes acha que nos dias dos santos — lembremos: era dia 13 de junho, dia de Santo António — se deve é imitá-los.

[ll. 53-57]Por isso, o orador, o Padre António

Vieira, vai também pregar aos peixes; para tanto, invoca Maria Albertina, cuja etimologia, supostamente, se ligaria ao mar (na verdade, esta etimologia é falsa).

Cap. I — Introdução (Exórdio)

Caps. II-V — Desenvolvimento

Louvores, em geral IILouvores, em particular IIIRepreensões, em geral IVRepreensões, em particular V

Cap. VI — Conclusão (Peroração)

Propositio (= proposição, ‘apresentação do assunto’)

«Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes?» e os dois parágrafos seguintes (ll. 1-24)

Divisio (= divisão, ‘clarificação do assunto’)

«dividirei, peixes, o vosso sermão em […]» (l. 21) até «vícios» (l. 23)

cap. I terminara com uma invocação a Maria

«espero que não me falta com a costuma-da graça» (l. 57)

[Ainda sobre o «Sermão»:]

Exuberância do período barroco, refletida no estilo oratório do PAV (certo ludismo estilístico):

os paralelismos, as enumerações, as anáforas,os quiasmos, as perguntas retóricas, as antíteses, as citações bíblicas,…

Púlpito = palco

O contexto (afinal, um sermão é um texto que pretende ser didático): Sermão de Santo António aos Peixes tem mensagem acerca da situação dos índios no Maranhão (exploração pelos europeus)