Post on 03-Aug-2015
Deficiência Múltipla e Surdo cegueira
Introdução
A inclusão de alunos com múltiplas deficiências e surdocegueira no sistema comum de ensino requer não apenas a aceitação da diversidade humana, mas implica em transformação significativa de atitude e posturas, principalmente em relação a prática pedagógica, a modificação do sistema de ensino e a organização das escolas para que se ajustem as especificidades de todos os educandos.
Essa é uma ação a ser construída coletivamente, pois participar do processo educativo, no mesmo espaço com os demais alunos, requer, na maioria das vezes, apoio e recursos especiais que já são legalmente garantidos aos alunos com necessidades com educacionais especiais, mas que na prática ainda não estão disponibilizados na escola.
Esse é o grande desafio que se impõe a todos que estão envolvidos com a educação, para que juntos possamos atender as verdadeiras necessidades desses alunos, e assim, construir uma escola e uma comunidade mais inclusiva.
Definição
A Pessoa com Deficiência Múltipla
São consideradas pessoas com deficiência múltipla aquelas que “têm mais de uma deficiência associada. É uma condição heterogênea que identifica diferentes grupos de pessoas, revelando associações diversas de deficiências que afetam mais ou menos intensamente, o funcionamento individual e o relacionamento social” (MEC/SEESP,2002).
“Existência concomitante de duas ou mais deficiências cuja combinação dá origem a necessidades educativas únicas e permanentes”. (Definição Americana).
A deficiência múltipla pode ser a deficiência auditiva ou a deficiência visual associada a outras deficiências (intelectual e/ou física), como também a distúrbios que causam atraso no desenvolvimento educacional, vocacional, social e emocional, dificultando a sua autonomia. As características específicas apresentadas pelas pessoas com deficiência múltipla lançam desafios à escola e aos profissionais que com elas trabalham no que diz respeito a elaboração de situações de aprendizagem a serem desenvolvidas para que sejam alcançados resultados positivos ao longo do processo de inclusão.
A Pessoa com Surdocegueira
Surdocegueira é uma condição que apresenta outras dificuldades que vão além daquelas causadas pela cegueira e pela surdez. É uma deficiência única que apresenta a perda visão e da audição de tal forma que a combinação das duas deficiências
impossibilita o uso dos sentidos a distância, cria necessidades especiais de comunicação e causa extrema dificuldade na conquista e compreensão do mundo que o cerca.
Não é uma criança cega que não pode ouvir, ou uma surda que não consegue ver. É uma criança com privações multissensoriais, a quem foi efetivamente negado o uso simultâneo dos dois sentidos distais.
Necessidades Específicas das Pessoas com Deficiência Múltipla e Surdocegueira
O corpo é realidade mais imediata do ser humano. A partir e por meio dele, o homem descobre o mundo e si mesmo. Portanto, favorecer o desenvolvimento corporal da pessoa com surdocegueira e deficiência múltipla é de extrema importância. Para que a pessoa possa se auto perceber e perceber o mundo exterior, devemos buscar a sua verticalidade, o equilíbrio postural, a articulação e a harmonização de seus movimentos; o aperfeiçoamento das coordenações viso motora, motora global e fina; e o desenvolvimento da força muscular.
As pessoas com surdocegueira e com deficiência múltipla, que não apresentam graves problemas motores, precisam aprender a usar as duas mãos. Isso para servir como tentativa de minorar as eventuais estereotipias motoras e pela necessidade do uso de ambas para o desenvolvimento de um sistema estruturado de comunicação.
Devido às dificuldades fonoarticulatórias, motoras ou mesmo neurológicas, é comum nessas pessoas algum tipo de limitação na comunicação e no processamento e elaboração das informações recolhidas do seu entorno. Isso pode resultar em prejuízos no processo de simbolização das experiências vividas, por acarretar carência de sentido para as mesmas.
Prioritariamente deve-se, portanto, disponibilizar recursos para favorecer a aquisição da linguagem estruturada no registro simbólico, tanto verbal quanto em outros registros, como o gestual, por exemplo.
Tipos de Deficiência Múltipla
Surdez com deficiência intelectual;
Surdez com distúrbios neurológicos, emocionais e de conduta ;
Surdez com deficiência física;
Baixa visão com deficiência intelectual;
Baixa visão com distúrbios neurológicos, emocionais, de conduta e de linguagem;
Baixa visão com deficiência física;
Cegueira com deficiência física;
Cegueira com deficiência intelectual;
Cegueira com distúrbios neurológicos, emocionais de conduta e de linguagem.
Tipos de Surdocegueira
Cegueira congênita e surdez adquirida;
Surdez congênita e cegueira adquirida;
Cegueira e surdez congênita;
Cegueira e surdez adquirida;
Baixa visão com surdez congênita ou adquirida.
Classificação da Surdocegueira Segundo a Intensidade da Perda
Surdocegueira total;
Surdez profunda com resíduo visual;
Surdez moderada ou leve com cegueira;
Surdez moderada com resíduo visual;
Perdas leves tanto auditivas quanto visuais.
Classificação da Surdocegueira Segundo a Época de Aquisição
Surdocego pré-lingüístico: aquele que apresenta surdocegueira congênita ou surdez antes da aquisição da linguagem e posterior à cegueira.
Surdocego pós-lingüístico: aquele que adquiriu a surdocegueira após a linguagem ou cego com posterior surdez.
Causas e Fatores de Risco Comuns
Várias podem ser as causas que envolvem a deficiência múltipla e a surdocegueira, como de ordem sensorial, de ordem motora e de ordem linguística. Podendo ocorrer nos períodos pré-natal,peri-natal e pós-natal.
Pré-natal:
Epidemias de doenças como: rubéola, sarampo e meningite materna;
Infecções hospitalares;
Falta de saneamento básico;
Doenças venéreas;
Toxoplasmose;
Uso de drogas;
Tabagismo;
Álcool;
Desnutrição e anemia materna;
Gravidez de risco;
Casamentos consanguíneos;
Fator RH.
Peri-natal:
Anóxia;
Icterícia;
Parto traumático;
Prematuridade;
Pós-natal:
Epidemias de doenças como: rubéola, sarampo e meningite;
Acidentes, Traumatismos e Envenenamento;
Medicação teratogênica;
Lesões ou traumas adquiridos até os três anos de idade.
Causas e Fatores de Risco Específicos
Deficiência Múltipla Surdocegueira
Hidro e Microcefalia;
Hipotireoidismo;
Síndrome da Rubéola Congênita;
Síndrome de Rett.
Otite média crônica;
Síndrome de West;
Glaucoma;
Síndrome de Usher.
Características
Pode apresentar movimentos estereotipados e repetitivos;
Aprende as habilidades mais lentamente;
Demonstra não saber as funções dos objetos ou brinquedos, usando de maneira inadequada;
Tende a esquecer das habilidades que não são praticadas;
Necessita de instruções organizadas e sistematizadas;
Pode não reagir a sons;
Pode rir e chorar sem causa aparente;
Tropeça muito e bate em móveis, objetos etc;
Gosta de ficar em locais com luminosidade;
Pode apresentar distúrbio do sono;
Pode apresentar resistência a contato físico;
Apresenta necessidade de ter alguém que possa mediar seu contato com o meio que o rodeia.
Em muitos casos, devido as suas características, alguns são considerados autistas, porém apresentam diferenças significativas quando estimulados: evoluem sensorialmente, estabelecem código de comunicação que se tornam comuns entre emissor e receptor proporcionando sua autonomia e independência.
Exames para ter um diagnóstico correto
Exames laboratoriais;
Avaliações genéticas;
Exames médicos (neurológico, visão, audição e físico);
Diagnóstico diferencial.
Tratamento
Acompanhamento Médico: Pediatria, Neuropediatria, Oftalmologia, Ortopedia, Fisiatria;
Acompanhamento com equipe de reabilitação: Terapia Ocupacional, Fisioterapia, Fonoaudiologia;
Acompanhamento de Psicologia
Acompanhamento de Odontologia Especializada
Prevenção da ocorrência de deficiências O que é possível fazer para prevenir a ocorrência de deficiências Antes de engravidar:
Vacine-se contra a rubéola. (Na gravidez ela afeta o bebê em formação, causando malformações, como cegueira, deficiência auditiva, etc.) ;
Procure um serviço de aconselhamento genético (principalmente quando houver casos de deficiência ou casamentos consanguíneos na família);
Faça exames para detectar doenças e verificar seu tipo sanguíneo e a presença do fator RH.
Durante a gravidez:
Consulte um médico obstetra mensalmente; Faça exames de controle; Só tome os remédios que o médico lhe receitar; Faça controle de pressão alta, diabetes e infecções; Faça uma alimentação saudável e balanceada; Não se exponha ao raios-X ou outros tipos de radiação; Evite o cigarro e as bebidas alcoólicas; Evite contato com portadores de doenças infecciosas.
Depois do nascimento:
Exija que sejam feitos testes preventivos em seu bebê, como o APGAR, por exemplo;
Tenha cuidados adequados com o bebê, proporcionando amparo afetivo e ambiente propício para seu desenvolvimento.
Papel do professor especializado ou de apoio
Favorecer e mediar as relações no programa de intervenção precoce. Acolher as necessidades, interesses, prioridades e desejos da criança, familiares e
Creche; Realizar avaliação funcional do desenvolvimento em inter e transdisciplinaridade e
intercâmbio com outros profissionais da comunidade; Analisar no meio (casa – família – escola – comunidade), as possibilidades reais, as
potenciais e as necessidades do aluno. Elaborar, em conjunto com os demais profissionais envolvidos, o programa de
intervenção precoce; Apoiar e ajudar a família a lidar com a criança (cuidados básicos, alimentação, higiene); Realizar visita domiciliar, quando necessário, para inclusão da criança na família e
Comunidade; Ajudar, apoiar, avaliar e acompanhar o projeto de inclusão nos centros de educação
Infantil;
Participar, em conjunto com a família e demais profissionais envolvidos, da elaboraçãodo plano de desenvolvimento educacional, de forma que contemplem as necessidadesespecíficas e educacionais especiais;
Favorecer o desenvolvimento de competências na família e comunidade para aresolução de problemas no cotidiano;
Apoiar a criação de rede de apoio comunitário.
Necessidades Educacionais da Criança com Deficiência Múltipla
Posicionamento e manejo apropriado: além de prevenir dores e complicações posturais, o adequado posicionamento do aluno permitirá que possa ver ouvir, alcançar os objetos e movimentar-se em todas as atividades;
Métodos apropriados de comunicação: comunicação é a necessidade básica de todo ser humano e é muito mais crítico para aqueles indivíduos que por dificuldades motoras ou sensoriais não conseguem expressar o que querem como fome, sede, ou sentimentos. Todas as formas possíveis de comunicação devem ser implementadas, segundo as necessidades da criança;
Oportunidades de escolha: ensinar o aluno a fazer escolhas, para diminuir o grau de dependência;
Estimulação constante, de pessoas que se comuniquem de forma adequada e que proporcionem situações de interação;
Planejamento de toda aprendizagem, inclusive aspectos simples e básicos de sua vida diária;
Interação em ambientes naturais, incluindo pessoas e objetos; Oportunidades de aprendizagem centradas em experiência de vida real; Organização e estruturação do ambiente.
Necessidades Educacionais da Criança com Surdocegueira
Evitar o toque de muitas pessoas; Utilizar a técnica “mão sobre a mão e mão sob a mão”, desenvolvendo assim
uma comunicação não-verbal, confiança e segurança, utilizando o movimento do aluno;
Estruturar o planejamento com atividades funcionais para o aluno; Não infantilizar, partir de sua idade cronológica; Respeitar o tempo de aceitação; Utilizar as habilidades que o aluno apresente; Preparar um ambiente que estabeleça um lugar com limites espaciais, lugares
muito amplos pode causar alteração de comportamento.
Para o desenvolvimento de habilidades comunicativas não-verbais, existem procedimentos e meios que não podemos desconsiderar, que são contínuos e graduais, como:
Indicações táteis/cinestésicas; Sinais vocais/visuais; Gestos naturais; Sinais vocais;
Sinais físicos (movimento do corpo); Objetos reais; Objetos representativos; Fotografias de objetos; Desenhos de objetos; Ilustrações coloridas; Palavras impressas ou em Braille; Língua de sinais; Tecnologia assistiva.
Sempre analisando e observando qual a necessidade do aluno, esse tipo de trabalho deve ser pensado pela equipe escolar, família e aluno.
Qual é o objetivo da comunicação para esses alunos?
É proporcionar a oportunidade de formarem uma idéia do mundo que os rodeia, pois poucos discriminam a si e ao ambiente. É também oportunizar para que se desenvolvam num mundo consistente, sentindo segurança, porque vivem momento a momento.
O adulto é que irá estruturar este mundo que está sendo apresentado, ele deve organizá-lo pensando em lugar, tempo e pessoas. Na verdade, é adulto que precisa e deve entrar no mundo do aluno, dando novo significado a objetos e pessoas em um mundo de ação, processo e conhecimento.
Conclusão
Quando conhecemos um aluno com múltipla deficiência ou surdocegueira, mergulhamos em muitas indagações e nos sentimos incapazes de realizar algo que possa auxiliá-lo. Deparar-nos com esses novos desafios nos faz enfrentar os medos e as resistências, quebrar paradigmas e práticas, redefinir nosso mundo para auxiliar na do mundo do outro. O professor interessado em incluir, acolhe o aluno que lhe chega como pessoa real e única, tenha ele ou não deficiência.
Com o movimento da inclusão, todas as crianças com algum tipo de deficiência, mesmo nas alterações mais severas de desenvolvimento, passam a ter direito o mais cedo possível aos serviços educacionais disponíveis. É primordial encorajar e proporcionar a independência e a autonomia do aluno vê-lo como alguém que pode aprender.
O grande desafio que se impõe aos centros de educação no Brasil hoje se constitui na transformação da cultura pedagógica. Isso requer a compreensão das possibilidades de desenvolvimento e aprendizagem, e a identificação dos talentos, necessidades e limites de todas as crianças, considerando suas diferenças e os mecanismos funcionais de cada uma, conhecendo seus interesses, desejos e experiências vividas e principalmente tendo a família como grande parceiro nessa caminhada.