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Deficiência Múltipla e Surdo cegueira Introdução A inclusão de alunos com múltiplas deficiências e surdocegueira no sistema comum de ensino requer não apenas a aceitação da diversidade humana, mas implica em transformação significativa de atitude e posturas, principalmente em relação a prática pedagógica, a modificação do sistema de ensino e a organização das escolas para que se ajustem as especificidades de todos os educandos. Essa é uma ação a ser construída coletivamente, pois participar do processo educativo, no mesmo espaço com os demais alunos, requer, na maioria das vezes, apoio e recursos especiais que já são legalmente garantidos aos alunos com necessidades com educacionais especiais, mas que na prática ainda não estão disponibilizados na escola. Esse é o grande desafio que se impõe a todos que estão envolvidos com a educação, para que juntos possamos atender as verdadeiras necessidades desses alunos, e assim, construir uma escola e uma comunidade mais inclusiva. Definição A Pessoa com Deficiência Múltipla São consideradas pessoas com deficiência múltipla aquelas que “têm mais de uma deficiência associada. É uma condição heterogênea que identifica diferentes grupos de pessoas, revelando associações diversas de deficiências que afetam mais ou menos intensamente, o funcionamento individual e o relacionamento social” (MEC/SEESP,2002). “Existência concomitante de duas ou mais deficiências cuja combinação dá origem a necessidades educativas únicas e permanentes”. (Definição Americana).

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Deficiência Múltipla e Surdo cegueira

Introdução

A inclusão de alunos com múltiplas deficiências e surdocegueira no sistema comum de ensino requer não apenas a aceitação da diversidade humana, mas implica em transformação significativa de atitude e posturas, principalmente em relação a prática pedagógica, a modificação do sistema de ensino e a organização das escolas para que se ajustem as especificidades de todos os educandos.

Essa é uma ação a ser construída coletivamente, pois participar do processo educativo, no mesmo espaço com os demais alunos, requer, na maioria das vezes, apoio e recursos especiais que já são legalmente garantidos aos alunos com necessidades com educacionais especiais, mas que na prática ainda não estão disponibilizados na escola.

Esse é o grande desafio que se impõe a todos que estão envolvidos com a educação, para que juntos possamos atender as verdadeiras necessidades desses alunos, e assim, construir uma escola e uma comunidade mais inclusiva.

Definição

A Pessoa com Deficiência Múltipla

São consideradas pessoas com deficiência múltipla aquelas que “têm mais de uma deficiência associada. É uma condição heterogênea que identifica diferentes grupos de pessoas, revelando associações diversas de deficiências que afetam mais ou menos intensamente, o funcionamento individual e o relacionamento social” (MEC/SEESP,2002).

“Existência concomitante de duas ou mais deficiências cuja combinação dá origem a necessidades educativas únicas e permanentes”. (Definição Americana).

A deficiência múltipla pode ser a deficiência auditiva ou a deficiência visual associada a outras deficiências (intelectual e/ou física), como também a distúrbios que causam atraso no desenvolvimento educacional, vocacional, social e emocional, dificultando a sua autonomia. As características específicas apresentadas pelas pessoas com deficiência múltipla lançam desafios à escola e aos profissionais que com elas trabalham no que diz respeito a elaboração de situações de aprendizagem a serem desenvolvidas para que sejam alcançados resultados positivos ao longo do processo de inclusão.

A Pessoa com Surdocegueira

Surdocegueira é uma condição que apresenta outras dificuldades que vão além daquelas causadas pela cegueira e pela surdez. É uma deficiência única que apresenta a perda visão e da audição de tal forma que a combinação das duas deficiências

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impossibilita o uso dos sentidos a distância, cria necessidades especiais de comunicação e causa extrema dificuldade na conquista e compreensão do mundo que o cerca.

Não é uma criança cega que não pode ouvir, ou uma surda que não consegue ver. É uma criança com privações multissensoriais, a quem foi efetivamente negado o uso simultâneo dos dois sentidos distais.

Necessidades Específicas das Pessoas com Deficiência Múltipla e Surdocegueira

O corpo é realidade mais imediata do ser humano. A partir e por meio dele, o homem descobre o mundo e si mesmo. Portanto, favorecer o desenvolvimento corporal da pessoa com surdocegueira e deficiência múltipla é de extrema importância. Para que a pessoa possa se auto perceber e perceber o mundo exterior, devemos buscar a sua verticalidade, o equilíbrio postural, a articulação e a harmonização de seus movimentos; o aperfeiçoamento das coordenações viso motora, motora global e fina; e o desenvolvimento da força muscular.

As pessoas com surdocegueira e com deficiência múltipla, que não apresentam graves problemas motores, precisam aprender a usar as duas mãos. Isso para servir como tentativa de minorar as eventuais estereotipias motoras e pela necessidade do uso de ambas para o desenvolvimento de um sistema estruturado de comunicação.

Devido às dificuldades fonoarticulatórias, motoras ou mesmo neurológicas, é comum nessas pessoas algum tipo de limitação na comunicação e no processamento e elaboração das informações recolhidas do seu entorno. Isso pode resultar em prejuízos no processo de simbolização das experiências vividas, por acarretar carência de sentido para as mesmas.

Prioritariamente deve-se, portanto, disponibilizar recursos para favorecer a aquisição da linguagem estruturada no registro simbólico, tanto verbal quanto em outros registros, como o gestual, por exemplo.

Tipos de Deficiência Múltipla

Surdez com deficiência intelectual;

Surdez com distúrbios neurológicos, emocionais e de conduta ;

Surdez com deficiência física;

Baixa visão com deficiência intelectual;

Baixa visão com distúrbios neurológicos, emocionais, de conduta e de linguagem;

Baixa visão com deficiência física;

Cegueira com deficiência física;

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Cegueira com deficiência intelectual;

Cegueira com distúrbios neurológicos, emocionais de conduta e de linguagem.

Tipos de Surdocegueira

Cegueira congênita e surdez adquirida;

Surdez congênita e cegueira adquirida;

Cegueira e surdez congênita;

Cegueira e surdez adquirida;

Baixa visão com surdez congênita ou adquirida.

Classificação da Surdocegueira Segundo a Intensidade da Perda

Surdocegueira total;

Surdez profunda com resíduo visual;

Surdez moderada ou leve com cegueira;

Surdez moderada com resíduo visual;

Perdas leves tanto auditivas quanto visuais.

Classificação da Surdocegueira Segundo a Época de Aquisição

Surdocego pré-lingüístico: aquele que apresenta surdocegueira congênita ou surdez antes da aquisição da linguagem e posterior à cegueira.

Surdocego pós-lingüístico: aquele que adquiriu a surdocegueira após a linguagem ou cego com posterior surdez.

Causas e Fatores de Risco Comuns

Várias podem ser as causas que envolvem a deficiência múltipla e a surdocegueira, como de ordem sensorial, de ordem motora e de ordem linguística. Podendo ocorrer nos períodos pré-natal,peri-natal e pós-natal.

Pré-natal:

Epidemias de doenças como: rubéola, sarampo e meningite materna;

Infecções hospitalares;

Falta de saneamento básico;

Doenças venéreas;

Toxoplasmose;

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Uso de drogas;

Tabagismo;

Álcool;

Desnutrição e anemia materna;

Gravidez de risco;

Casamentos consanguíneos;

Fator RH.

Peri-natal:

Anóxia;

Icterícia;

Parto traumático;

Prematuridade;

Pós-natal:

Epidemias de doenças como: rubéola, sarampo e meningite;

Acidentes, Traumatismos e Envenenamento;

Medicação teratogênica;

Lesões ou traumas adquiridos até os três anos de idade.

Causas e Fatores de Risco Específicos

Deficiência Múltipla Surdocegueira

Hidro e Microcefalia;

Hipotireoidismo;

Síndrome da Rubéola Congênita;

Síndrome de Rett.

Otite média crônica;

Síndrome de West;

Glaucoma;

Síndrome de Usher.

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Características

Pode apresentar movimentos estereotipados e repetitivos;

Aprende as habilidades mais lentamente;

Demonstra não saber as funções dos objetos ou brinquedos, usando de maneira inadequada;

Tende a esquecer das habilidades que não são praticadas;

Necessita de instruções organizadas e sistematizadas;

Pode não reagir a sons;

Pode rir e chorar sem causa aparente;

Tropeça muito e bate em móveis, objetos etc;

Gosta de ficar em locais com luminosidade;

Pode apresentar distúrbio do sono;

Pode apresentar resistência a contato físico;

Apresenta necessidade de ter alguém que possa mediar seu contato com o meio que o rodeia.

Em muitos casos, devido as suas características, alguns são considerados autistas, porém apresentam diferenças significativas quando estimulados: evoluem sensorialmente, estabelecem código de comunicação que se tornam comuns entre emissor e receptor proporcionando sua autonomia e independência.

Exames para ter um diagnóstico correto

Exames laboratoriais;

Avaliações genéticas;

Exames médicos (neurológico, visão, audição e físico);

Diagnóstico diferencial.

Tratamento

Acompanhamento Médico: Pediatria, Neuropediatria, Oftalmologia, Ortopedia, Fisiatria;

Acompanhamento com equipe de reabilitação: Terapia Ocupacional, Fisioterapia, Fonoaudiologia;

Acompanhamento de Psicologia

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Acompanhamento de Odontologia Especializada

Prevenção da ocorrência de deficiências O que é possível fazer para prevenir a ocorrência de deficiências Antes de engravidar:

Vacine-se contra a rubéola. (Na gravidez ela afeta o bebê em formação, causando malformações, como cegueira, deficiência auditiva, etc.) ;

Procure um serviço de aconselhamento genético (principalmente quando houver casos de deficiência ou casamentos consanguíneos na família);

Faça exames para detectar doenças e verificar seu tipo sanguíneo e a presença do fator RH.

Durante a gravidez:

Consulte um médico obstetra mensalmente; Faça exames de controle; Só tome os remédios que o médico lhe receitar; Faça controle de pressão alta, diabetes e infecções; Faça uma alimentação saudável e balanceada; Não se exponha ao raios-X ou outros tipos de radiação; Evite o cigarro e as bebidas alcoólicas; Evite contato com portadores de doenças infecciosas.

Depois do nascimento:

Exija que sejam feitos testes preventivos em seu bebê, como o APGAR, por exemplo;

Tenha cuidados adequados com o bebê, proporcionando amparo afetivo e ambiente propício para seu desenvolvimento.

Papel do professor especializado ou de apoio

Favorecer e mediar as relações no programa de intervenção precoce. Acolher as necessidades, interesses, prioridades e desejos da criança, familiares e

Creche; Realizar avaliação funcional do desenvolvimento em inter e transdisciplinaridade e

intercâmbio com outros profissionais da comunidade; Analisar no meio (casa – família – escola – comunidade), as possibilidades reais, as

potenciais e as necessidades do aluno. Elaborar, em conjunto com os demais profissionais envolvidos, o programa de

intervenção precoce; Apoiar e ajudar a família a lidar com a criança (cuidados básicos, alimentação, higiene); Realizar visita domiciliar, quando necessário, para inclusão da criança na família e

Comunidade; Ajudar, apoiar, avaliar e acompanhar o projeto de inclusão nos centros de educação

Infantil;

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Participar, em conjunto com a família e demais profissionais envolvidos, da elaboraçãodo plano de desenvolvimento educacional, de forma que contemplem as necessidadesespecíficas e educacionais especiais;

Favorecer o desenvolvimento de competências na família e comunidade para aresolução de problemas no cotidiano;

Apoiar a criação de rede de apoio comunitário.

Necessidades Educacionais da Criança com Deficiência Múltipla

Posicionamento e manejo apropriado: além de prevenir dores e complicações posturais, o adequado posicionamento do aluno permitirá que possa ver ouvir, alcançar os objetos e movimentar-se em todas as atividades;

Métodos apropriados de comunicação: comunicação é a necessidade básica de todo ser humano e é muito mais crítico para aqueles indivíduos que por dificuldades motoras ou sensoriais não conseguem expressar o que querem como fome, sede, ou sentimentos. Todas as formas possíveis de comunicação devem ser implementadas, segundo as necessidades da criança;

Oportunidades de escolha: ensinar o aluno a fazer escolhas, para diminuir o grau de dependência;

Estimulação constante, de pessoas que se comuniquem de forma adequada e que proporcionem situações de interação;

Planejamento de toda aprendizagem, inclusive aspectos simples e básicos de sua vida diária;

Interação em ambientes naturais, incluindo pessoas e objetos; Oportunidades de aprendizagem centradas em experiência de vida real; Organização e estruturação do ambiente.

Necessidades Educacionais da Criança com Surdocegueira

Evitar o toque de muitas pessoas; Utilizar a técnica “mão sobre a mão e mão sob a mão”, desenvolvendo assim

uma comunicação não-verbal, confiança e segurança, utilizando o movimento do aluno;

Estruturar o planejamento com atividades funcionais para o aluno; Não infantilizar, partir de sua idade cronológica; Respeitar o tempo de aceitação; Utilizar as habilidades que o aluno apresente; Preparar um ambiente que estabeleça um lugar com limites espaciais, lugares

muito amplos pode causar alteração de comportamento.

Para o desenvolvimento de habilidades comunicativas não-verbais, existem procedimentos e meios que não podemos desconsiderar, que são contínuos e graduais, como:

Indicações táteis/cinestésicas; Sinais vocais/visuais; Gestos naturais; Sinais vocais;

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Sinais físicos (movimento do corpo); Objetos reais; Objetos representativos; Fotografias de objetos; Desenhos de objetos; Ilustrações coloridas; Palavras impressas ou em Braille; Língua de sinais; Tecnologia assistiva.

Sempre analisando e observando qual a necessidade do aluno, esse tipo de trabalho deve ser pensado pela equipe escolar, família e aluno.

Qual é o objetivo da comunicação para esses alunos?

É proporcionar a oportunidade de formarem uma idéia do mundo que os rodeia, pois poucos discriminam a si e ao ambiente. É também oportunizar para que se desenvolvam num mundo consistente, sentindo segurança, porque vivem momento a momento.

O adulto é que irá estruturar este mundo que está sendo apresentado, ele deve organizá-lo pensando em lugar, tempo e pessoas. Na verdade, é adulto que precisa e deve entrar no mundo do aluno, dando novo significado a objetos e pessoas em um mundo de ação, processo e conhecimento.

Conclusão

Quando conhecemos um aluno com múltipla deficiência ou surdocegueira, mergulhamos em muitas indagações e nos sentimos incapazes de realizar algo que possa auxiliá-lo. Deparar-nos com esses novos desafios nos faz enfrentar os medos e as resistências, quebrar paradigmas e práticas, redefinir nosso mundo para auxiliar na do mundo do outro. O professor interessado em incluir, acolhe o aluno que lhe chega como pessoa real e única, tenha ele ou não deficiência.

Com o movimento da inclusão, todas as crianças com algum tipo de deficiência, mesmo nas alterações mais severas de desenvolvimento, passam a ter direito o mais cedo possível aos serviços educacionais disponíveis. É primordial encorajar e proporcionar a independência e a autonomia do aluno vê-lo como alguém que pode aprender.

O grande desafio que se impõe aos centros de educação no Brasil hoje se constitui na transformação da cultura pedagógica. Isso requer a compreensão das possibilidades de desenvolvimento e aprendizagem, e a identificação dos talentos, necessidades e limites de todas as crianças, considerando suas diferenças e os mecanismos funcionais de cada uma, conhecendo seus interesses, desejos e experiências vividas e principalmente tendo a família como grande parceiro nessa caminhada.

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