Análise: Está olhando por quê?

Post on 06-Jul-2015

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PDF da página E3 do jornal "O Estado de S. Paulo", com análise do Prof. Luiz Alberto de Farias, presidente da ABRP-SP, sobre o polêmico relacionamento do treinador Dunga, da Seleção Brasileira, com a Imprensa brasileira.

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● Carlos Alberto Parreira, técni-co da África do Sul, elogiou a efi-ciência da seleção brasileira edisse que o time está jogando“como se estivesse treinando”,ontem, em sua última coletivaantes de enfrentar a França. Tam-bém elogiou Dunga e os atletas.“O time todo tem muita qualida-de e experiência. Os jogadoresestão tão confortáveis em campoque parecem estar treinando”,afirmou. O técnico disse aindaque gostou do que viu na vitória

por 3 a 1 contra a Costa do Mar-fim, no domingo.

Falando na “condição de torce-dor do Brasil”, o técnico do tetraem 1994 e da campanha fracas-sada em 2006 disse que o quefaz a diferença para a seleção ésua eficiência no ataque. “O timetem condições de chegar àfrente sem pisar no ace-lerador. Quan-do cria cincooportunida-des, aproveitatrês. Temos essavantagem e issopode ser o dife-rencial do Bra-sil”, avaliou./ JAMIL CHADE

Jamil ChadeLuiz Antônio PrósperiENVIADOS ESPECIAISJOHANNESBURGO

A Fifa deve se pronunciar aindahoje sobre os incidentes comDunga e a imprensa após a vitó-ria (3 a 1) do Brasil contra Costado Marfim, no domingo. O trei-nador pode ser punido com mul-ta ou receber simples advertên-cia pelos xingamentos ao árbitrofrancês Stephane Lannoy, queapitou o jogo, ao atacante Drog-ba e ao comentarista Alex Esco-bar, da TV Globo.

Hoje a entidade também deci-de quantos jogos Kaká será sus-penso por ter sido expulso napartida diante dos marfinenses.A expectativa é de fique fora ape-nas do confronto com Portugal,na sexta-feira, em Durban.

Até o fim da noite de ontemem Johannesburgo, a Fifa anali-sava que medidas deveriam sertomadas no caso Dunga. A deci-são será anunciada por meio decomunicado oficial. O treinadorcorre o risco de ser punido emartigo do Código Disciplinar daFifa, que prevê suspensão oumulta por “ofensas aos árbitrose profissionais envolvidos noevento esportivo”.

Há poucos meses, o técnico daArgentina, Diego Maradona, foipunido com a suspensão de doismeses e multa de US$ 25 mil portambém ofender jornalistas nu-ma entrevista coletiva depois deconquistar a classificação para aCopa. “Que chupem todos e quecontinuem chupando”, disseaos jornalistas.

A Fifa tem em suas regras umartigo de seu código disciplinarque pune comportamentos quesejam considerados ofensivos.Ontem, a entidade confirmouque avaliaria o incidente de Dun-ga, assistindo a fitas de vídeo doepisódio. Também ontem, o Es-tado não obteve resposta sobrequal foi a conclusão.

Antes da Copa, porém, a Fifainstruiu seus árbitros a punir ouso de palavrões pelos jogado-res em campo. Wayne Rooney,esquentadinho atacante inglês,foi alertado por sua federação deque teria de evitá-los.

Editorial da Globo. Imagens datelevisão captaram os xingamen-tos de Dunga a Lannoy após avitória do Brasil. E também aoatacante Drogba, da Costa doMarfim. Outro momento de irri-tação do treinador foi na entre-vista coletiva. Desferiu pala-vrões contra o jornalista Alex Es-

cobar, da TV Globo, no SoccerCity, 15 minutos depois do finaldo jogo.

O incidente provocou edito-rial da TV Globo, no Fantástico,domingo, lido pelo apresenta-dor Tadeu Schmidt. O Estadoapurou ontem que o editorial é apalavra oficial e final da RedeGlobo sobre o caso.

A CBF não se pronunciou, on-tem, sobre o destempero de Dun-ga e possíveis punições. RicardoTeixeira, presidente da CBF, eRodrigo Paiva, diretor de comu-nicação, se reuniram no fim datarde, mas a pauta teria sido ape-nas a Copa do Mundo de 2014 enão as recentes polêmicas do

treinador. Patrocinadores daseleção também não se

pronunciaram, mas háum certo desconforto

das empresas com asrecentes atitudes dotreinador.

Dunga coman-dou treinamento dotime reserva, on-

tem, em Johannes-burgo, e parecia estar

tranquilo.

1938 foi o anoem que Leônidas da Silvamarcou um gol descalço,apenas de meia

5/6/1938Brasil 6Polônia 5

Leônidas da Silva fez um golcom o pé descalço, enquantosua chuteira era consertada

30/7/1966Inglaterra 4Alemanha 2

O chute de Hurst foina trave e no chão,mas o juiz deu o gol

22/6/1986Argentina 2Inglaterra 1

Maradona fez, com a ‘mãode Deus’, um dos gols maispolêmicos das Copas

Irregularidades vãodesde o gol sem chuteirade Leônidas, em 38, atéo marcado por Maradonacom a mão em 86

CURIOSIDADE

O que leva uma pessoa a indispor-secom alguém? Muitos podem ser osfatores. Normalmente o que não seimagina é que o sucesso possa ser

responsável por esse tipo de situação. Ao con-trário. Pessoas que conseguem estar em lugardedestaqueequetêmresultadospositivosden-tro do que poderiam desejar (ou acima disso)também podem desconstruir sua imagem peladificuldade de estabelecer relações adequadas.

Mas como sair-se bem diante da pressão, doestresse que atropela todos em tempos de glo-balizaçãoedeinformaçãonavelocidadedopen-samento? Talvez a experiência e o treinamentopara determinados momentos possam fazercom que alguém se saia melhor dizendo ou fa-zendo algo que não gostaria que se tornassepúblico. Ainda que não seja exatamente esse oditado, pode-se dizer que quem está na frentedas câmeras pode se queimar. Ainda mais seessas câmeras estiverem em meio a uma coleti-va de imprensa. Estar preparado para falar coma imprensa pode ser um dos grandes pesadelosdos que não estão acostumados a isso, e, an-teontem, Dunga mostrou que experiência e su-cesso não bastam. É preciso ter equilíbrio.

Ofuteboltemespaçogarantidonamídia,ain-da mais em tempos de Copa. Entrevistas dejogadores são famosas pelos chavões, pelas fra-sescélebresquenadaacrescentam.Quandoen-contramosalguémqueconseguesereficiente–o não-convocado Ronaldo, como inegávelexemplo–, issoacabapordestoar.Nossocoachtem mostrado quanto se pode irritar a quemestá, em princípio, de seu lado, como se podenegar informações a quem, por princípio, a elastem direito. O que faltaria a ele? Acredito queuma boa dose de orientação e bom senso, afi-nal,coerência, segundoele, é seu sobrenome. Evale lembrar que quando alguém está em posi-ção de representação, deixa de falar (agir) so-mente por si, passa a gerar significado para osque representa: e dá-lhe CBF a administrar cri-ses, como se não bastasse o futebol!

✽ É PROFESSOR DE COMUNICAÇÃO DA USP E

DA CÁSPER LÍBERO

“Foi minha culpa não ter adotadoa maneira correta de atuar”

Robson MorelliENVIADO ESPECIALJOHANNESBURGO

O lance no qual Luís Fabiano do-mina a bola duas vezes com o bra-ço antes de marcar o segundo goldo Brasil na vitória por 3 a 1 sobrea Costa do Marfim, jogo válidopela segunda rodada do Grupo Gda Copa do Mundo da África do

Sul, foi apenas mais um em umalista de equívocos cometidos pe-los juízes ao longo da históriadas Copas do Mundo.

Mesmo sem tocar na bola, sãomuitos os casos em que a arbitra-gem deu uma “mãozinha” paraalgumas equipes. No caso deLuís Fabiano, a conivência foi dofrancês Stephane Lannoy, quenão observou os toques do brasi-leiro – primeiro com o braço es-querdo, na disputa com o zaguei-ro marfinense, depois com o di-reito para ajeitar a bola.

Não observou? Cena curiosafoi registrada na sequência e dei-xou muita gente com a pulgaatrás da orelha. Quando voltava

para o campo brasileiro, a fim depermitir o reinício do jogo, LuísFabiano corria ao lado de Lan-noy. O árbitro virou para o brasi-leiro e, com gestos claros, per-guntava se o jogador havia usadoo braço. Sem o menor constrangi-mento, o atacante apontava para

o peito. “Disse para ele que ‘no’”,divertiu-se Luís Fabiano após apartida, aliviado após livrar-sedo incômodo jejum de gols que operseguia desde a apresentaçãoem Curitiba. “O primeiro toquefoi sem querer, então pode. O se-gundo foi a mão santa.”

História antiga. Alguns errosda arbitragem chamaram mais aatenção, ora por envolverematletas brasileiros, ora por se-rem decisivos. Em 1938, o craqueLeônidas da Silva marcou três ve-zes na vitória por 6 a 5 sobre aPolônia. Em um dos gols, estavasem o par de chuteiras, que tira-ra para que fosse consertado,

pois “abrira o bico” e não haviasobressalente. Aliás, foi o lama-çal que impediu o árbitro de no-tar a violação à regra.

Em 1966, a Inglaterra organi-zou e venceu o Mundial. Mas ogol de Hurst, o terceiro dos ingle-ses na final diante da Alemanha,provoca discussões até hoje. Abola bateu no travessão e caiu so-bre a linha do gol.

Em outro lance polêmico queentrou para a história, a Inglater-ra foi vítima. Na Copa de 1986,no México, a Argentina venceupor 2 a 1 e foi à semifinal. DiegoMaradona marcou os dois, umdeles com mão, que ficou conhe-cido como “La mano de Dios”.

MALÍCIA

faltas

Kim Jong-hun, técnico da Coreia do Norte,assumindo a responsabilidade pela derrota histórica

Gol de Luís Fabiano entra para a lista de polêmicas

foram cometidaspela Coreia do Nor-

te, mesmo diante do vexa-me de perder por 7 a 0

3

Parreira: ‘Brasiljoga como seestivesse treinando’

✽ Análise: Luiz Alberto de Farias

Fifa estuda punir Dunga por ‘ofensas’JEWEL SAMAD/AFP

GRUPO

GReservas à portuguesa

WILTON JUNIOR/AEANTONIO LACERDA/EFEFABRICE COFFRINI/AFP

JONNE RORIZ/AE

● ConselhoLuiz Felipe Sco-lari mandourecado a Dungasobre sua rela-ção com a im-prensa: “Nãoadianta um ba-ter aqui, o outroali. Então, va-mos nos aturare, quando a Co-pa terminar, ummanda o outropara o inferno.”

JONNE RORIZ

“O 1º toque foi semquerer, então pode.O segundo foi amão santa”

“Ele (o árbitro)me perguntouse eu tinha tocadoa bola como braço.Eu disse ‘no’”

Triste show

Está olhando por quê?

Hostilidades contraarbitragem e imprensapodem custar suspensão,multa ou advertência,prevê código da entidade

GOLS IRREGULARESNA HISTÓRIA DOSMUNDIAIS

Os suplentes da seleçãocanarinho fizeram 7 a 1sobre o sub-19 do timeThe Birds. Detalhe: de virada

LUÍS FABIANO

Inédito. Atacante brasileiro diz que primeiro toque foi involuntário, mas reconhece que o segundo foi intencional; depois do lance, juiz pergunta a Luís Fabiano se ele não tocou a mão na bola

A primeira partida de Copatransmitida ao vivo na Coreiado Norte foi justamente os7 a 0 para Portugal

Atacante brasileiro

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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 22 DE JUNHO DE 2010 E3