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Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

Mestrado Desporto para Crianças e Jovens

Treino Desportivo

A importância da observação e conhecimento do adversário

no futebol de formação

Um estudo sobre os escalões de sub17 e sub19

Projeto de investigação

João Araújo Mestrado Desporto para Crianças e Jovens

João Pedro Colaço Araújo 2

Índice

ÍNDICE ......................................................................................................................................... 2

ENQUADRAMENTO ................................................................................................................. 4

PROBLEMA DO ESTUDO ....................................................................................................... 7

MOTIVAÇÃO .............................................................................................................................. 9

ESTRUTURA DO ESTUDO .................................................................................................. 10

OBJETIVOS.............................................................................................................................. 11

Objetivos específicos do estudo ........................................................................................................... 11

Instrumentos e procedimentos ............................................................................................................ 11

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: ................................................................................................ 12

A observação no futebol ...................................................................................................................... 12

Scouting ............................................................................................................................................... 13

Análise de jogo .................................................................................................................................... 14

O treinador .......................................................................................................................................... 16

Elementos a ter em conta pelo treinador: ............................................................................................. 17

Características ........................................................................................................................................ 17

Qualidades do treinador ........................................................................................................................ 18

Filosofia do Treinador de jovens ............................................................................................................ 18

CONSIDERAÇÕES ÉTICAS ACERCA DA REALIZAÇÃO DO ESTUDO ....................... 20

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 21

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Enquadramento

No futebol atual, as equipas procuram melhorar o seu rendimento desportivo através de

múltiplos fatores que vão desde as ideias do treinador à qualidade dos seus jogadores.

Para que o rendimento de uma equipa atinga um patamar competitivo superior terá que

haver sempre interação entre a metodologia de treino e aquilo que se pretende no jogo,

os princípios e os momentos, ou seja a afirmação da própria estratégia da equipa.

Castelo (s/d) refere que o modelo de jogo parte de uma ideia ou conceção que se baseia

em construções simbólicas, através das quais, e simultaneamente:

Se define um projeto de ação individual (missões táticas específicas) e coletiva

(projeto coletivo de jogo);

Se promove ferramentas operacionais específicas que permitem direcionar os

efeitos do processo de treino e avaliar a interação treino/competição, em função

da sua eficácia, através da análise diagnóstica e prognóstica dos jogos efetuados.

Nesta perspetiva, o modelo de jogo, de treino e de análise são interdependentes, fazendo

parte integrante de um processo único e especializado de preparação dos jogadores e das

equipas, para concretizar elevados níveis de rendimento desportivo.

Face ao nível competitivo cada vez mais alto e equilibrado, há uma maior necessidade

de conhecer o adversário, analisá-lo, anular a sua estratégia e, desta forma, surpreende-

lo dentro de campo. A observação e análise ao adversário permite ao treinador

preparar/adaptar o seu microciclo de treino para o jogo, baseando-se na interpretação da

informação recolhida, isto é, permite-lhe estabelecer a relação entre observação,

preparação e aplicação.

O conhecimento dos jogadores da equipa adversária deve estar em perfeita sintonia com

o conhecimento acerca do jogo de futebol, daí que, para Mombaerts (1991), o treinador

de futebol ou um outro qualquer investigador na área do futebol tem o dever de ir

aprofundando constantemente o seu conhecimento acerca do jogo. Acrescenta-se, ainda,

a necessidade de conhecer em detalhe o jogo e tudo o que o circunda.

Atualmente, a observação e análise de jogo estão cada vez mais na “moda” em vários

domínios e funções. Assim, como por necessidades específicas das modalidades

desportivas surgiram os preparadores físicos e treinadores de guarda – redes, atualmente

regista-se o aparecimento/afirmação dos analistas/observadores do jogo de futebol

(Ribeiro,2009). Estes especialistas têm funções próprias e, quer integrem a equipa

técnica ou não, têm implicação direta na chegada de informação útil ao treinador e aos

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jogadores. Tal informação tem um impacto direto no modo de preparação das equipas

(Carling, Williamse Reilly, 2005).

A observação, qualquer que fosse o tempo, modo, duração e níveis de realização em que

aconteceu, constituiu sempre um meio de que o homem se serviu na sua busca infinita

de conhecer o real, de descobrir o meio, de conhecer-se a si próprio (Proença, 1982). É

através do processo de observação que o Homem recolhe os mais variados tipos de

informação e estímulos que lhe possibilitam a constante interação com o meio

envolvente (Sarmento 2005). Segundo Paula Brito (1998), o homem sempre observou o

decorrer dos acontecimentos, os fenómenos naturais, o comportamento dos outros

humanos e dos animais. A observação como técnica utilizada na metodologia científica

só começou a surgir nos finais do século XIX e de forma tímida. A observação

desenvolveu-se a partir dos anos 70 nas ciências humanas e em particular em educação,

mas foi necessário o reconhecimento da impossibilidade do método experimental em

estudos e situações naturais, sem os alterar e sem alterar os comportamentos.

O treinador tem que ter um conhecimento profundo acerca da sua própria equipa e da

forma como a equipa técnica atua perante os seus atletas, conhecimento que só pode ser

obtido através da observação dos seus treinos. Se não te conheces nem conheces o

adversário sucumbirás em cada batalha, Sun Tzu (s/d).

Pelo apresentado anteriormente, é necessário aprofundar o conhecimento sobre a

observação, além da sua definição e caracterização aprofundar os seus vários tipos.

Garganta (1996) refere que o estudo dos jogadores e das equipas tem vindo a constituir-

se como um argumento de crescente importância nos processos de preparação

desportiva. Neste caso, refere-se ao estudo dos jogadores e das equipas como dizendo

respeito à Análise do jogo.

Antes da observação propriamente dita, deve preceder-se à recolhe de informação.

(Castelo 1996:396) define a recolha de dados como “ a primeira etapa de planificação

estratégica através da qual o treinador compila as informações necessárias para

conhecer e caracterizar a equipa adversária bem como os elementos que a constituem”.

A recolha da informação deve ter em conta que quantas mais oportunidades de observar

um jogador ou uma equipa, maior será a consistência da informação (Rocha,1996).

Devido à escassez de tempo, e por vezes meios, os treinadores realizam apenas uma

observação da equipa adversária (Comas,1991).

Teodurescu (1984) e Castelo (1994 e 1996) referem as seguintes fontes de informação:

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Observação indireta: análise em vídeo e registo das principais particularidades

da equipa adversária (quando possível);

Observações diretas por parte do treinador, adjuntos ou observadores;

Comentários de imprensa desportiva;

Registos do próprio treinador, sobre o desempenho das equipas adversárias em

jogos anteriores (jogo transmitido pela televisão, jogo da 1ª volta, jogo da época

anterior, etc.);

Recolha de informações através de jogadores da própria equipa que já tenham

jogado ou que residam na área geográfica da equipa a observar.

Ramos e Festa (2004) afirmam que para além dos relatórios, a informação pode também

ser tratada para vídeo, DVD ou através de programas informáticos, permitindo aos

treinadores ter acesso a uma família de instrumentos que lhe permitam conhecer e

mostrar aos atletas a informação sobre o adversário.

Para Castelo (1996) a Análise do jogo revela-se muito importante para a preparação do

jogo contra uma determinada equipa, considerando Oliveira Silva (2006) que o grau de

informação que um treinador pode retirar desta é enorme.

Palavras-chave: Futebol/ Observação/ Análise de jogo/ Jovens atletas

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Problema do estudo

Sabendo da importância atual que a observação e análise do jogo assumem no futebol

profissional/ sénior, este estudo pretende ver respondidas algumas questões acerca do

tema. Devido á pouca contribuição científica e dúvidas acerca desta realidade existente,

nomeadamente em Portugal, este estudo tem como objetivo verificar se o

conhecimento do adversário por via da observação e análise de jogo se justifica no

futebol de formação nomeadamente nos escalões de sub17 e sub19:

Altera-se a forma de jogar?

Alteram-se as dinâmicas e objetivos do Microciclo (Princípios e sub princípios)?

Treina-se em função do adversário?

Que importância dá o treinador à observação?

Que importância dá o treinador ao conhecimento do adversário?

Esse conhecimento é transmitido aos atletas?

Crawford (1980), citado por Proença (1982), refere que “quando são usadas técnicas

sistemáticas e objetivas de obsessão (…) o treinador está mais apto a tomar decisões

relativas às alterações comportamentais desejadas” A observação permite também

aceder ao domínio dos factos e enriquecer o campo informativo dotando o feedback da

necessária qualidade.

É importante referir que para uma coerente e correta análise os propósitos da

observação terão que estar definidos (Grosgeorge et al. 1991). Além disso, a informação

recolhida e analisada deve-se focar os aspetos fundamentais do jogo, os diferentes

momentos do jogo, e assim possibilitar a intervenção dos técnicos de forma útil

(Fidalgo, 2003).

Com a análise dos dados é possível descortinar e realçar as fraquezas da equipa

adversária. O plano estratégico ou tático elaborado deve então aproveitar as limitações

do adversário e atingi-las nas zonas onde lhes provoca mais danos. Deve-se também

tentar contrariar as suas virtudes ou habilidades. O plano de jogo deverá ser aplicado

nos treinos, as estratégias serão aplicadas nos treinos contra situações idênticas às do

jogo, analisando a sua eficácia e remodelando sempre que os resultados não forem

esperados (Gomelski, 1990 e Comas,1991).

A análise do jogo de Futebol, entendida como um estudo do jogo a partir da observação

da atividade dos jogadores e das equipas, tem vindo ao longo dos tempos, a constituir

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um argumento de crescente importância nos processos de preparação desportiva

(Garganta,1996).

Dispondo hoje em dia de uma vasta gama de meios e métodos aperfeiçoados ao longo

dos anos, os treinadores procuram aceder á informação veiculada através da análise jogo

e nela procuram benefícios para aumentarem os conhecimentos acerca do jogo e

melhorarem a qualidade de prestação das equipas (Garganta, 2000).

“ O treinador e o investigador procuram aumentar os conhecimentos acerca do jogo,

melhora a qualidade de prestação desportiva dos jogadores e da equipa, ou seja,

elevar o rendimento, elevar a eficácia, elevar a competência”. (Garganta, 2000).

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Motivação

O principal fator que conduziu à escolha deste tema foi o facto de o autor desempenhar,

simultaneamente, funções de observador/analista de jogo em futebol sénior e de

treinador no futebol de formação. Conhecedor das funções de observador e analista de

jogo em futebol sénior, com este estudo o autor pretende saber se nas diferentes equipas

de sub17 e sub19 há ou não esse investimento por parte do Clube/Treinador em utilizar

a observação e análise como sendo um fractal do modelo de jogo da equipa, a

observação integrada a nível micro no universo macro (equipa). Perante todas as

dúvidas existentes e a constatação de falta de informação, torna este projeto acerca da

observação e conhecimento do adversário no futebol de formação bastante pertinente a

sua elaboração.

O segundo argumento que confere pertinência ao projeto proposto é o facto de a

contribuição científica neste domínio ser ainda reduzida, sobretudo em Portugal.

Por fim, e igualmente importante, o papel do analista de jogo tem assumido importância

crescente, sobretudo no futebol sénior. Importa aferir os reais benefícios da existência

desta função no futebol de formação também.

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Estrutura do estudo

O projeto a desenvolver integrará as seguintes componentes:

Enquadramento e definição do problema;

Revisão ao Estado da Arte;

Recolha e Análise de Dados com recurso a observação, inquéritos e entrevistas;

Análise do Caso de Estudo;

Conclusões e perspetivas de trabalho futuro.

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Objetivos

Objetivos específicos do estudo

O presente projeto de estudo tem como objetivo central verificar a importância da

observação e conhecimento do adversário no futebol de formação, nomeadamente nos

escalões de sub17 e sub19. É para o autor aliciante conhecer essa realidade, se há ou não

essa preocupação em conhecer o adversário e se há, de que forma ela é transmitida aos

atletas.

Instrumentos e procedimentos

Neste projeto pretende-se observar equipas de sub17 e sub19 que participem em

campeonatos nacionais dos respetivos escalões. Em cada equipa será feita uma

observação diária aos treinos (semana de trabalho) e respetivo jogo, com auxilio a

filmagens diárias e com aproximação ao treinador e respetivo grupo de trabalho.

Para complementar o estudo serão realizados questionários aos jogadores, uma análise

no final da semana de trabalho ao jogador, com o intuito de perceber a relação entre o

que o treinador pretendeu e o que ele assimilou / entendeu em relação ao adversário.

A cada equipa será feita uma entrevista aberta aos respetivos treinadores para o

questionarmos acerca deste tema, da importância que atribuem ao conhecimento do

adversário e de que forma preparam as suas equipas em função disso.

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Revisão Bibliográfica:

A observação no futebol

A observação desenvolveu-se a partir dos anos 70 nas ciências humanas e em particular

na educação, mas foi necessário o reconhecimento da impossibilidade do método

experimental e situações naturais, sem as alterar e sem alterar os comportamentos.

Paula Brito (1998), refere a observação direta e sistemática. Direta, uma vez que é

realizada no momento em que decorre a ação e na presença dos intervenientes e

sistemática porque utiliza métodos e técnicas rigorosas para observar as limitações da

situação e a subjetividade dos observadores.

Noas anos oitenta, procurou-se identificar os padrões de jogo patenteados parlas

equipas. Surgem estudos vocacionados para a atividade futebolística com base em

indicadores táticos e técnicos.

A caracterização da estrutura da atividade e a análise do conteúdo do jogo de futebol

tem vindo a revelar uma importância e influência crescentes na estruturação e na

organização do treino da modalidade (Korcek, 1981; citado por Garganta, 2000),

revelando importância para os investigadores e treinadores, na medida que ambos estão

interessados em perceber o tipo de ações que se associam à eficácia das equipas, um

com o intuito de aumentar os conhecimentos acerca do conteúdo do jogo e da lógica, o

outro com o objetivo de modelar as situações de treino na procura da eficácia

competitiva (Garganta, 2000).

A maioria dos autores referenciados menciona três dimensões (física, técnica e tática),

como as dimensões de observação. Moutinho (1993) mostra-nos uma visão

substancialmente mais completa, manifestando quatro dimensões (tática, energética,

motora e psicológica). A dimensão psicológica é um aspeto considerado fundamental e

que é completamente negligenciado pelos autores que apresentam três dimensões.

Assim são dimensões a ser observadas:

Dimensão Motora, estão englobados os indicadores das características de jogo

e os elementos da técnica.

Dimensão Psicológica, tem como objetivo descrever e caracterizar o perfil

psicológico dos jogadores de uma equipa em situação de jogo. As intervenções

realizadas nesta dimensão deverão ser desenvolvidas por especialista, em virtude

do seu caráter clínico.

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Dimensão tática, está associado a todo um conjunto de raciocínios e operações

mentais lógicas, que permitem interpretar corretamente as situações de jogo e

escolher as soluções mais adequadas (Alves, 1995). O jogo enquanto confronto

entre duas equipas entidades antagónicas, emerge do entrelaçamento das ações

desenvolvidas por jogadores, equipas. A maior ou menor adequação de uma

determinada ação decorre do contexto que a suscita, decorre de lógicas

intimamente ligadas à forma como os jogadores apreendem as linhas de força de

jogo e ao nível de conhecimento tático que os mesmos denotam (Garganta,

2000).

Na observação, termos que ter em conta o que é observar “olhar com atenção, examinar

com estudo”, observador “aquele que segue com atenção, que observa os fenómenos,

os acontecimentos” (Paula Brito, 1998).

Proença (1982), define a observação, citando Kohn (1974) e Landshare (1979), como

“a constatação dos fenómenos sem vontade de os modificar, com o objetivo de aceder

ao seu domínio, ou, mais simplesmente o registo sem reação”.

O futebol enquanto atividade desportiva apresenta um conjunto de indivíduos em

interação mútua com relações e interpelações coerentes e consequentes, com objetivos e

funções específicas definidas.

Nos últimos anos tem-se verificado uma crescente aproximação competitiva entre os

atletas e/ou as equipas, na sequência de uma uniformidade na seleção dos jogadores, nos

processos de treino e na preparação das competições (Sampaio, 1997).

Com os jovens, a observação, o registo, a análise e aplicação dos dados recolhidos

deverão ter como objetivo contribuir para a formação integral do atleta, ou seja, o

Scouting

Scouting

O scouting deve visar através de recomendações pedagógicas (a nível do “quando” e do

“como”) o enriquecimento individual e coletivo dos jovens em termos técnicos, táticos e

condicionais.

O termo scouting é definido pelos dicionários (Harland, 1990), como um ato de explorar

ou de fazer um reconhecimento. Analisando a bibliografia disponível, foi possível

encontrar algumas definições de scouting, onde é evidente uma concordância

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terminológica entre os autores, expressa na necessidade de se observarem as equipas

contrárias no sentido de complementar o trabalho de preparação das competições.

Gomelski (1984) informa-nos das etapas e objetivos que deseja ver cumpridos na

execução do Scouting:

Tentar chegar ao máximo de conhecimentos sobre os adversários (observação

atenta);

Definir a forma de utilizar a debilidade dos adversários (reunião de preparação);

Efetuar o plano de jogo (retificações táticas, substituições, ritmo de jogo);

Martins (2000) revela-nos os objetivos específicos do Scouting:

Caracterizar o Adversário;

Apoiar o treino;

Avaliar o trabalho desenvolvido;

Avaliar o rendimento da equipa;

Análise de jogo

A análise de jogo tem-se afirmado como instrumento indispensável na avaliação e

conhecimentos das varáveis estruturais e funcionais do rendimento em futebol. É pois

de extrema importância, a pesquisa de um saber mais profundo da modalidade para uma

melhor intervenção técnico – pedagógica do treinador. “ A análise do jogo deve assentar

na determinação da estrutura do rendimento, dos fatores chave, e respetiva

hierarquização” Oliveira (1992).

A investigação em ciências do desporto no âmbito dos jogos desportivos coletivos

(JDC), deverá ter a competição (jogo), como verdadeiro objeto de estudo, de modo a

recolher a informação rigorosa, objetiva e válida, expressa em termos qualitativos, do

seu conteúdo (Castelo,1996 e Oliveira,1992).

A caracterização da análise do jogo quanto ao tipo revela as vertentes:1

Análise dos resultados – Comparação entre vencedores e vencidos. Estudo da

evolução dos resultados no jogo ou competição, das classificações obtidas em

competição e sua evolução;

1 Direção de Análise do Jogo de Acordo com os tipos de Análise considerados (adaptado de Oliveira,

1992).

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Análise das prestações – Estudo dos fatores de rendimento (capacidades

motoras, características funcionais que determinam as capacidades motoras,

técnica, tática, qualidades psicológicas);

Análise da carga - Estudos das repercussões fisiológicas e psicológicas em

competição. Determinação da carga máxima de competição e também o estudo

das cargas de competição em crianças e jovens;

Análise das condições de competição – Estudo dos materiais utilizados na

competição bem como os seus locais para competir (infraestruturas e

equipamentos);

Análise dos comportamentos – Estudo das estratégias utilizadas em

competição, decisões e ações técnico – táticas.

Para além do que foi referido acima, Garganta (2000) descreve-nos que atualmente que

os investigadores procuram analisar os jogos em três eixos:

Análise centrada no jogador: esta modalidade de análise tem sido utilizada,

quer para elaborar perfis, decorrentes de estudos de caso (Luhtanem e Valovirta,

1996; Safont-Tria et al., 1996; citado por Garganta, 2000), quer para comparar

perfis de jogadores com atribuições táticas semelhantes ou distintas (Winker,

1984; Gréhaine, 1998; Geish e Reichelt, 1993; Godik e Popov, 1993; Kawai et

al. 1994, Bezerra, 1995).

Análise centrada nas ações ofensivas: Este tipo de análise tem incidido, sobretudo, na

dimensão quantitativa dos comportamentos.

Análise centrada no jogo: Esta análise tem possibilitado o estudo dos

designados padrões de jogo, a partir de regularidades comportamentais

evidenciados pelos jogadores, no quadro das ações coletivas. Neste âmbito, os

analistas têm procurado coligir e confrontar dados relativos às sequências

ofensivas de jogo, no sentido de tipificarem as ações que mais se associam à

eficácia dos jogadores e das equipas (Garganta, 1996).

As ações técnicos – táticas deixam de ser o único elemento de análise passando a ser

consideradas outras unidades de observação, tais como as células base da estrutura de

organização do jogo, e os aspetos de contexto tal como, tempo, número, espaço,

resultado de jogo, oposição, conceitos determinantes no jogo. (Grehaigne (1992),

Garganta (1997), citado por Maçãs (1997).

Considera-se então duas dimensões da atividade técnico – tática:

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Análise Quantitativa: preocupa-se com a enumeração dos acontecimentos

(ações de jogo) que ocorrem ao longo dos jogos, tendo por base um conjunto de

comportamentos pré-determinados e que na sua maioria são baseados em ações

de natureza técnica e/ou tática. Por exemplo o estudo das ações técnico – táticas

individuais e coletivas do jogo, número e duração de ações ofensivas, tempo de

posse de bola.

Análise Qualitativa: centra-se na compreensão global dos fenómenos, através

de uma capacidade interpretativa dos dados provenientes da realidade em caus,

sem os descontextualizar. Foca-se mais na compreensão e descrição das ações

das equipas.

Garganta (1997), relata a evolução das investigações direcionadas para a análise

qualitativa com base na construção de sistemas elaborados através de categorias:

A organização do jogo a partir das características das sequências de ações

(unidades táticas) da equipa;

Os processos (sequências) que conduzem a determinados produtos

(finalização, golo);

As situações que originando ou não golo, provoquem problemas no balanço

ataque/defesa.

As quantidades da qualidade das ações de jogo.

O treinador

Neste capítulo aborda-se o treinador e o seu papel enquanto líder do grupo, é necessário

conhecer os diferentes tipos de treinador, bem como as suas diferentes formas de atuar

perante o grupo.

Neste projeto pretende-se acompanhar o dia-a-dia de treinos de diferentes treinadores,

eles que serão fundamentais no estudo pretendido, daí a necessidade de apresentar

diferentes estilos, características e diferentes formas de agir do treinador perante os seus

atletas.

O treinador de futebol, neste caso de mais especifico treinadores da formação, serão

alvo de estudo relativamente à importância que atribuem ao conhecimento sobre o

adversário, e na forma que transmitem essas informações às respetivas equipas.

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Elementos a ter em conta pelo treinador:

A quem se dirige o treino;

A idade dos jogadores;

O nível técnico da equipa;

O seu passado e experiência;

O nível de competência em que se insere a intervenção do treinador

Profissional;

1. Recreacional;

2. Amadores;

3. Jovens;

4. Jovens em formação profissional;

Características

Deve:

Ser uma pessoa aberta e arguta.

Ter um profundo conhecimento do jogo;

Ter um profundo conhecimento do treino e seus processos;

Possuir uma cultura geral e específica;

Ter uma intervenção formativa junto dos jogadores;

Ser um líder;

Ser capaz de transmitir um ambiente de confiança e respeito mútuo.

Garganta (s/d) refere que o envolvimento emocional do treinador, facilita algumas

coisas na observação casuística, mas pode dificultar muitas outras, ao nível da

observação sistemática do jogo e do treino.

Segundo Bill Beswick, (2006), o Treinador de Excelência é aquele que:

Começa com o fim em mente e escolhe bem os meios;

Excelente observador, traz sempre algo de novo;

Compromisso, caráter, atitude positiva;

Apaixonado, mas controlado, otimista/realista;

Bom contador de histórias, curioso e estudioso da modalidade;

Faz bem as coisas simples. Pequenos detalhes ganham grandes jogos;

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Assume as derrotas e dá as vitórias aos jogadores;

Faz-se rodear de bons assistentes e mentores (coaching/mentoring);

“Work not longer, but smarter”.

Qualidades do treinador

Saber muito de técnica e tática é apenas uma condição necessária mas não suficiente

para se ser bom Treinador.

Ser bom Treinador é um conjunto de pequenas coisas e comportamentos que vão sendo

aprendidas através da experiência e treinadas através duma formação adequada.

Um bom Treinador, não tem que ter sempre resposta e situações para tudo. Ninguém,

seja em que domínio científico for, tem resposta para tudo. O Treinador eficaz é aquele

que está aberto a todas as opções possíveis de forma a responder apropriadamente nas

diferentes situações e problemas com que se confronta a competição. Ao reconhecer que

não sabe tudo ou não conhece tudo, o treinador está a ser verdadeiramente humano

Nem sempre a disciplina férrea constitui sinónimo de coesão de equipa. Não são os

conflitos e os desacordos que podem destruir as relações mas antes a incapacidade ou

não de saber lidar com eles de forma positiva e encorajadora.

Promover nos Treinadores uma maior consciência acerca dos seus próprios

comportamentos. É necessário que os treinadores promovam depois dos treinos e

competições a avaliação e auto - registos dos seus próprios comportamentos e atitudes.

Só assim poderão melhorar e modificar os seus padrões de comportamentos

Filosofia do Treinador de jovens

Ganhar não é tudo, nem é o mais importante;

Deve-se ensinar aos jovens que o êxito consiste em lutar ao máximo para conseguir a

vitória;

Formular objetivos de rendimento por oposição aos objetivos de resultado;

Estabelecer objetivos difíceis e desafiadores mas realista;

Procurar sempre a formulação de objetivos positivo;

O valor pessoal de um atleta não é determinado pelos resultados do que fez, mas por

aquilo que é;

A avaliação contínua é fundamental;

Deixar lugar ao espaço ou tempo para o “divertimento” nos treino;

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Evitar as instruções de forma hostil ou primitiva mas sempre encorajadora;

Nem sempre o fracasso é sinónimo de derrota como o êxito é sinónimo de vitória;

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Considerações Éticas acerca da Realização do Estudo

De forma a tornar este estudo plenamente seguro e eticamente correto, pretende-se

salvaguardar várias condições de confidencialidade, tais como autorizações parentais a

respeito das filmagens aos atletas durante os treinos e jogos e respetiva autorização nos

inquéritos aos mesmos. Autorização aos clubes pela utilização das instalações bem

como a autorização das filmagens.

Se assim o pretenderem as entrevistas serão sigilosas aos treinadores.

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Referências Bibliográficas

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