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3 Empreendedorismo:
conceitos e princípios
Sandra R.H. Mariano
Verônica Feder Mayer
62 :: Criatividade e Atitude Empreendedora :: Sandra R.H. Mariano / Verônica Feder Mayer Aula 3 – Empreendedorismo: conceitos e princípios :: 63
Metas Apresentar os diferentes conceitos de empreendedorismo e mostrar a
distribuição da capacidade empreendedora entre países, destacando a
posição do Brasil no ranking de empreendedorismo no mundo.
Objetivos Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. Conceituar o termo empreendedorismo nos contextos
econômico, psicológico, sociológico e da administração.
2. Conhecer a capacidade empreendedora dos países.
3. Situar o Brasil no contexto mundial do empreendedorismo.
Guia da Aula
1. Conceituando empreendedorismo 2. O empreendedorismo no mundo
1.1. A visão dos economistas
1.2. Visão da Psicologia e da Sociologia
1.3. Visão da Administração
2.1. Visão geral sobre a Pesquisa GEM
2.2. Ranking de empreendedorismo
2.3. Empreendedorismo no Brasil
2.4. Motivações para empreender
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Rwanda Flowers
Beatrice Gakuba é uma mulher de 51 anos, da etnia tutsi, nascida
em um longínquo país africano chamado Ruanda. Talvez você não
lembre, mas milhares de pessoas desta etnia foram massacradas, em
1994, pelos hutus, em uma luta sangrenta em que, “em pouco mais de
três meses, morreram cerca de 800 mil pessoas, entre elas uma boa parte
da família de Beatrice”, segundo Clovis Rossi, que considera este evento
um dos mais terríveis genocídios da Humanidade.
Na época do massacre, Beatrice atuava como funcionária do Unicef
(Fundo das Nações Unidas para a Infância) em atividades de ajuda
humanitária em países pobres. Sua formação acadêmica na área de
humanidades e o domínio de idiomas, como inglês, francês e mesmo português, a
habilitaram a trabalhar em países como Angola, por exemplo. Com o passar do tempo,
ela foi amadurecendo a decisão de voltar para sua terra natal. E, assim, depois de 20 anos
trabalhando para as Nações Unidas (ONU), Beatrice voltou para Ruanda, confirmando o
ditado popular que diz que “o bom filho à casa torna”.
Ao retornar, ela adquiriu a Rwanda Flowers, uma pequena floricultura quase falida, e
transformou-a em uma empresa exportadora de rosas para a Holanda, que absorve 90%
da sua produção. Duzentas mulheres trabalham na sua empresa. Beatrice iniciou um
programa de treinamento sobre plantios para exportação para 40 jovens sobreviventes
do genocídio e/ou órfãos de portadores do vírus da Aids, uma epidemia na África.
Hutus
O mais numeroso dos três grupos étnicos presentes em Ruanda e no Burundi. Do ponto de vista da língua e da cultura, não se distingue do segundo grupo étnico mais numeroso daqueles países, os tutsis.
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Ao ser perguntada se havia se arrependido de ter trocado uma carreira de
executiva na ONU pela de microempresária em Ruanda, ela respondeu: “Não,
nunca. Sei que lá (em Ruanda) eu posso fazer a diferença”.
Fonte: Adapatação realizada pelas autoras do artigo “De flores a Rolex”, de Clovis Rossi, publicado no jornal Folha de S. Paulo, em 10 de outubro de 2007.
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1. Conceituando empreendedorismo
O que há de empreendedorismo na história de Beatrice? Esta é uma boa
pergunta para começarmos a nossa aula. Será que não seria mais cômodo
para ela continuar trabalhando na ONU, aposentar-se e desfrutar de uma
velhice tranqüila em algum país desenvolvido? Ou mesmo, atendendo ao
chamado interior para voltar à sua terra, por que será que ela resolveu “tirar
do buraco” uma empresa falida? Por que se esforçar para recuperar uma
empresa em vez de continuar ajudando as pessoas necessitadas em ações
sociais e humanitárias?
Bem, nesta aula, procuraremos responder a estas perguntas, e nossa
resposta estará fortemente relacionada com o empreendedorismo.
Para ser grande, sê inteiro
Nada teu exagera ou exclui
Sê todo em cada coisa
Põe quanto és no mínimo que fazes
Assim em cada lago a lua toda brilha,
porque alta vive. Fernando Pessoa, sob o pseudônimo de Ricardo Reis
O dicionário Aurélio da Língua Portuguesa define a palavra “empreender”
como a ação de praticar, de pôr em execução. Origina-se do latim
imprehendere. Já o termo “empreendedorismo” parece ter sido originado da
livre tradução da palavra da língua inglesa entrepreneurship.
Empreender nos remete à expressão “fazer a coisa acontecer”. Quem
empreende está utilizando todas as suas capacidades para realizar alguma
coisa que tenha valor para a sociedade. Uma sociedade que possui muitos
empreendedores, que estão realizando coisas, está em um movimento de
geração de riqueza. Por outro lado, uma nação com poucos empreendedores
tem uma capacidade muito limitada de produzir bens e serviços para atender
às suas necessidades.
O ato de empreender e “ser” empreendedor ganhou importância para
a economia nos séculos XVIII e XIX. Para os economistas de então, uma
das razões eram o impulso e a força dos empreendedores que moviam as
empresas para frente.
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Somente no século XX, o empreendedorismo tornou-se um tema de
interesse acadêmico e passou a ser estudado de maneira sistemática.
Interessaram-se pelo tema os economistas que viam na capacidade
empreendedora a mola que impulsionava a economia no sentido de
promover as inovações. Os psicólogos e sociólogos também se interessaram
em estudar o empreendedorismo, buscando encontrar as razões
psicológicas que levam determinadas pessoas a ter comportamentos
empreendedores e compreender como o ambiente social poderia promover
a prática e a execução de ações empreendedoras. Por último, os estudiosos
da Administração passaram a se interessar pelo tema, à medida que a
capacidade de realizar, de forma inovadora, novos projetos tornou-se um
elemento essencial para a sobrevivência das empresas.
Para o professor brasileiro Fernando Dolabela, um dos percussores do
ensino de empreendedorismo no Brasil,
há muitas definições do termo empreendedor, principalmente
porque são propostas por pesquisadores de diferentes campos,
que utilizam os princípios de suas próprias áreas de interesse
para construir o conceito. (...) os economistas, associaram
o empreendedor à inovação, e os comportamentalistas,
que enfatizam aspectos atitudinais, com a criatividade e a
intuição.
Desta forma, apresentaremos a seguir definições que contemplam estas
diferentes visões sobre o empreendedorismo.
1.1. A visão dos economistas
Os economistas foram os pioneiros neste campo de conhecimento,
enfatizando, em seus estudos, os riscos que o empreendedor assume para
realizar suas idéias, o papel que desempenha enquanto inovador, a análise
do ambiente econômico e o mercado que cerca o empreendedor.
Os primeiros estudiosos da economia, como Richard Cantillon, no
século XVIII, e o francês Jean Baptiste Say, no século XIX, reconheciam
a importância dos empreendedores para o sistema produtivo. Para eles, os
empreendedores possuíam as habilidades para detectar oportunidades a
cada mudança no contexto do mercado, bem como para assumir os riscos
de um empreendimento. Por isto, tinham um papel importante para o
desenvolvimento econômico.
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Segundo Say,
o empreendedor é o intermediário entre todas as classes de
produtores e entre estes e os consumidores. Administra a tarefa
de produção e constitui o centro de várias relações. Aproveita-se
do que os outros sabem e do que ignoram, bem como de
todas as vantagens acidentais da produção. É por isso que é
nessa categoria de produtores, quando os acontecimentos
favorecem suas habilidades, que se adquirem quase todas as
grandes fortunas.
Richard Cantillon foi um dos primeiros a diferenciar o empreendedor do
capitalista. Mais recentemente, Robert Young excluiu da sua classificação
de empreendedor capitalistas e investidores de risco. Para Young, não há
empreendedorismo no ato de investir em um novo empreendimento, assim
como não há empreendedorismo no investimento em uma carteira de ações
na bolsa de valores ou numa caderneta de poupança. Os sócios capitalistas
são investidores que trocam riscos pela expectativa de remuneração mais
elevada sobre o capital investido.
O economista austríaco Joseph Schumpeter é, sem dúvida, o principal
representante da visão econômica do empreendedorismo, pois ele atribui ao
empreendedor o papel de destruidor criativo ou construtivo, dependendo
do ponto de vista. É ele, com sua imaginação e capacidade de realização, que
destrói processos, padrões de produção, fontes de mercadoria e até mesmo
indústrias antigas e os substitui por outros de maior eficácia e produtividade.
A ação dos empreendedores provoca grande impacto na economia, ao
mesmo tempo em que gera progresso e desenvolvimento.
Schumpeter identificou cinco tipos básicos de inovação que são
propostos por mentes empreendedoras:
1. Introdução de um novo bem – ou seja, um bem com que os consumidores
ainda não estejam familiarizados – ou de uma nova qualidade de um bem.
Por exemplo: a internet, o telefone celular, entre outros.
2. Introdução de um novo método de produção, ou seja, um método que ainda
não tenha sido testado pela experiência no ramo próprio da indústria de
transformação que, de modo algum, precisa ser baseada numa descoberta
cientificamente nova, e pode consistir também em nova maneira de manejar,
comercialmente, uma mercadoria. Por exemplo: a produção de automóveis,
Capitalistas
São os detentores do capital, que financiam o
empreendimento.
Investidores de risco
São capitalistas que investem em empresas
iniciantes ou start-up, tornando-se sócios das
empresas e correndo o risco do negócio
juntamente com os empreendedores.
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utilizando uma linha de produção que se move, enquanto os trabalhadores
permanecem parados em seus postos de trabalho.
3. Exploração de um novo mercado, ou seja, de um mercado em que o ramo
particular da indústria de transformação do país em questão ainda não
tenha entrado, quer esse mercado tenha existido anteriormente ou não.
Por exemplo: a implantação das primeiras fábricas de automóveis no Brasil,
nos anos 1950, exploraram pela primeira vez o mercado brasileiro.
4. Conquista de uma fonte de oferta de matérias-primas ou de bens semima-
nufaturados, mais uma vez independentemente do fato de essa fonte já
existir ou ter que ser criada. Por exemplo: Hoje, a cerâmica é um material
utilizado pela indústria de eletricidade, depois que se descobriu a sua elevada
capacidade de conduzir impulsos elétricos, a chamada supercondutividade.
Antes, este material só era empregado na produção de objetos de barro, tijolos
etc.
5. Estabelecimento de uma nova organização de qualquer indústria, como a
criação de uma posição de monopólio ou a fragmentação de uma posição
de monopólio.
Schumpeter separa, ainda, a figura do empreendedor daquela do
administrador, apontando que um empreendedor, após apresentar e
desenvolver uma inovação, deixa de “estar” empreendendo quando se torna
o administrador de sua empresa.
É bem verdade que essa visão, à luz de estudos mais recentes – que
apontam que pode haver empreendedorismo dentro de uma empresa (intra-
empreendedorismo) – precisa ser considerada com cuidado. Trataremos
deste tema mais à frente.
1.2. Visão da Psicologia e da Sociologia
A corrente da Psicologia composta pelos comportamentalistas, por sua
vez, voltou sua atenção para o estudo do indivíduo empreendedor, de seus
aspectos atitudinais e das ações, hábitos e atividades que o caracterizavam. No
fim dos anos 60, David McClelland, um renomado psicólogo da Universidade
de Harvard, conduziu pesquisas na área de empreendedorismo, identificando
um forte elemento psicológico que caracterizava os empreendedores bem-
sucedidos: a “motivação por realizações” ou um “impulso para aprimoramentos”.
Isso resultou em uma abordagem do empreendedorismo como um conjunto
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de comportamentos e práticas que podem ser observadas e adquiridas. A
abordagem comportamentalista do empreendedorismo sugere que tais
comportamentos e práticas podem ser significativamente fortalecidos nos
indivíduos por meio de treinamento.
Pesquisas realizadas durante cinco anos por duas empresas norte-
americanas de consultoria em administração – Management Systems
International (MSI) e McBer & Company – para a United States Agency for
International Development (USAID) indicaram que existem dez competências
pessoais empreendedoras (CPEs) freqüentemente demonstradas por
empreendedores bem-sucedidos em diversos países pesquisados. As
dez competências pessoais empreendedoras (CPEs) são identificadas por
McClelland:
1. Busca de oportunidades e iniciativa
2. Persistência
3. Aceitação de riscos
4. Exigência de eficiência e qualidade
5. Comprometimento com o trabalho
6. Estabelecimento de metas
7. Busca de informações
8. Monitoramento e planejamento sistemático
9. Persuasão e rede de contatos
10. Independência e autoconfiança
Nas próximas aulas, exploraremos cada uma dessas atitudes empreen-
dedoras.
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1. Será que Marco Polo, o navegador genovês que fez o contato do
Ocidente com a China, foi empreendedor? Ou será que a atitute
empreendedora só se fez presente com a Revolução Industrial?
ATIVIDADE
1.3. Visão da Administração
Sob o ponto de vista da administração, o empreendedorismo é visto
como a capacidade de realizar mudanças e mover-se em relação ao novo.
O professor Peter Drucker, um importante professor e pesquisador na
área de Administração, defi niu o empreendedor como um
rerum novarum cupides – ansioso por coisas novas, o qual
sempre está buscando a mudança, reage a ela e a explora
como sendo uma oportunidade. Cria valores novos e diferentes,
e satisfações novas e diferentes, convertendo um material em
um recurso ou combinando recursos existentes em uma nova e
mais produtiva confi guração, mesmo que para isso seja preciso
recorrer à violação de regras elementares e bem conhecidas.
Resposta Comentada
Acho que você deve ter imaginado Marco Polo a caminho da China, na sua
embarcação que em nada se parece com o moderno barco Parati, aquela
fantástica obra de engenharia naval e tecnologia de navegação que o navegador
brasileiro Amir Klink utiliza. Considerando a visão econômica, poderíamos
afi rmar que o grande navegador Marco Polo assumiu o risco de navegar mares
distantes e desconhecidos em busca das novidades que seriam comercializadas
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na sua volta, em um comportamento tipicamente empreendedor. Com isto,
percebemos que a atitude empreendedora é um comportamento humano
presente em todos os tempos. A diferença é que, na Revolução Industrial, a
energia empreendedora esteve concentrada especialmente na produção de bens
e serviços.
2. O empreendedorismo no mundo
Considerando que a capacidade empreendedora de um país é determi-
nante para o seu desenvolvimento, é natural que os estudiosos do
empreendedorismo quisessem medir quão empreendedores são os países.
Neste sentido, duas importantes instituições que estudam este assunto
– a Babson College, localizada nos arredores de Boston, nos EUA, e a London
Business School, localizada em Londres, na Inglaterra, decidiram criar, em
1999, um projeto chamado GEM – Global Entrepreneurship Monitor –, com
o objetivo de explorar e compreender o fenômeno do empreendedorismo e
o seu papel no processo de desenvolvimento e crescimento econômico dos
países. Para isto, foram desenvolvidos instrumentos que permitissem medir a
atividade empreendedora dos diversos países pesquisados.
O GEM apresenta duas definições para empreendedorismo:
• “Qualquer tentativa de criação de um novo negócio ou novo empreen-
dimento como, por exemplo, uma atividade autônoma, uma nova empresa
ou a expansão de um empreendimento existente, por um indivíduo,
grupos de indivíduos ou por empresas já estabelecidas”.
• “Qualquer indivíduo ou grupos de indivíduos que tentam criar um novo
negócio ou novo empreendimento como, por exemplo, uma atividade
autônoma ou uma nova empresa”.
Observa-se, portanto, que o conceito de empreendedorismo, para o GEM,
é bastante amplo. Ele não vincula a ação empreendedora a uma inovação.
A simples criação de um empreendimento é suficiente para caracterizar o
empreendedorismo. Além disso, ao incluir como conseqüência do empreen-
dedorismo a expansão de empresa existente e, ao incluir, também, como
agente do empreendedorismo a empresa já estabelecida, o GEM inclui o intra-
empreendedorismo, ou seja, o empreendedorismo dentro das corporações,
como parte da conceituação de empreendedorismo. O conceito de intra-
empreendedorismo será detalhado em uma das próximas aulas.
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2.1. Visão geral sobre a Pesquisa GEM
A Pesquisa GEM (Global Entrepreneurship Monitor) tem como objetivo
principal estimar a quantidade de indivíduos envolvidos em atividade empre-
endedora em um determinado momento do tempo. Seus formuladores
visavam avaliar de forma abrangente o papel do empreendedorismo como
propulsor do crescimento econômico. A principal unidade de medida relativa
ao empreende-dorismo é a TEA ou Taxa de Empreendedores Iniciais, que é
a porcentagem da população que está ativamente envolvida na criação de
novos empreendimentos ou à frente de empreendimentos com até 42 meses
de existência.
A pesquisa fornece informações confiáveis sobre a atividade empreen-
dedora no Brasil e nos demais 41 países pesquisados anualmente. Os 42
países participantes do ciclo 2006 da Pesquisa GEM reúnem pouco mais de
2/3 da população mundial, ou 4,6 bilhões de pessoas. O universo da pesquisa
é formado pelos adultos, pessoas entre 18 e 64 anos, totalizando 2,7 bilhões
de pessoas.
O GEM divide os países pesquisados em dois grupos, segundo o PIB per
capita (considerado pela paridade do poder de compra):
a. Países de renda média: PIB per capita inferior a US$20,000.00.
b. Países de renda alta: PIB per capita superior a US$20,000.00.
Tabela 3.1: Países pesquisados no GEM 2006, por grupos de renda
Países de renda média Países de renda alta
Países 2006 PIB (PPP) per capita Países 2006 PIB (PPP)
per capita
Índia 3.546 Eslovênia 23.071
Jamaica 4.474 Grécia 24.422
Indonésia 4.552 Espanha 28.345
Filipinas 4.956 Cingapura 29.310
Peru 6.299 Itália 29.705
China 8.005 França 31.219
Colômbia 8.212 Suécia 31.475
Turquia 8.663 Reino Unido 31.545
Brasil 8.855 Alemanha 31.610
Tailândia 9.032 Holanda 31.776
México 10.544 Japão 31.924
Uruguai 10.609 Bélgica 32.609
Rússia 11.912 Austrália 32.739
Malásia 12.895 Finlândia 32.850
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Croácia 12.899 Canadá 35.166
Chile 12.933 Dinamarca 35.920
África do Sul 13.685 Islândia 37.643
Letônia 13.997 Estados Unidos 43.356
Argentina 14.211 Irlanda 44.192
Hungria 17.995 Noruega 44.593
República Tcheca 19.435 Emirados Árabes 53.448
N = 21 N = 21
Média PIB (PPP) per capita, em dólar = 10,367
Média PIB (PPP) per capita, em dólar = 34,139
Fonte: World Economic Outlook Database (julho 2006), http://www.imf.org
Os dados que subsidiam as pesquisas foram coletados a partir de amostras
da população adulta, especialistas em empreendedorismo e, ainda, em
estudos e outros dados disponíveis nos países pesquisados.
2.2. Ranking de empreendedorismo
O Gráfico 3.1 apresenta a TEA dos 42 países pesquisados. Lidera o
ranking o Peru, onde a atividade empreendedora inicial em 2006 foi de
40,2 por cento. Há grande participação feminina (49% da atividade total)
em atividades empreendedoras. Os peruanos são muito criativos e, quando
enfrentam adversidades, rapidamente se envolvem em qualquer atividade
empreendedora para sobreviver, pois não podem esperar apoio do governo
para ajudá-los a conseguir empregos ou qualquer tipo de pensão.
Gráfico 3.1: Taxa de empreendedorismo em países selecionados
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Os relatórios anuais da pesquisa GEM estão disponíveis no site www.gembrasil.org.br. Consulte os relatório e aprofunde os seus conhecimentos sobre o tema.
Explicativo
Empreendedorismo no Peru
A possibilidade de um Acordo de Comércio Livre com os Estados Unidos e outros países levou à promoção do empreendedorismo. Universidades, ONGs, empresas privadas,
instituições financeiras, instituições públicas e a mídia vêm organizando uma série de fóruns, conferências, cursos e outras atividades para estimular empreendimentos nascentes.
Fonte: Relatório GEM (2006).Fo
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12.3. Empreendedorismo no Brasil
A Taxa de Empreendedores Iniciais (TEA) no Brasil, em 2006, foi de 11,7%,
mantendo-se praticamente inalterada em relação ao ano anterior, de 11,3%,
quadro que, em linhas gerais, vem se repetindo desde 2001. De cada 100 brasi-
leiros adultos, aproximadamente 11 estão desenvolvendo alguma atividade
empreendedora. A estabilidade da TEA sugere que a dinâmica brasileira de criação
de negócios tem características estruturais, influenciadas pela macro e micro
economia do país, sua política e cultura. Modificar este status quo é necessário
para ampliar o empreendedorismo, especialmente o empreendedorismo por
oportunidade. Espera-se que, com a implementação de mudanças importantes,
como a nova Lei Geral da Micro e Pequena Empresa (em vigor desde julho de
2007, cujo objetivo central é facilitar a abertura de novos negócios), o ambiente de
negócios no país melhore, atraindo novos empreendedores.
A pesquisa identificou o fenômeno empreendedor entre o conjunto dos
brasileiros adultos. A principal medida utilizada é a proporção de brasileiros
envolvidos na condução de negócios. Para chegar-se a ela, em 2006, os
pesquisadores entrevistaram dois mil indivíduos, entre 18 e 64 anos, de
todas as regiões brasileiras, selecio-nados aleatoriamente. Na comparação
com outros países, o Brasil está posicionado em 10º lugar.
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Explicativo
Principais conclusões do GEM
O estudo confirmou algumas suposições e desafiou crenças preestabelecidas sobre a relação dos brasileiros com os negócios. Confirmou-se, por exemplo, o fato de
termos um povo altamente empreendedor, quer pela identificação de oportunidades quer pela necessidade de sobreviver, mas que enfrenta variadas barreiras políticas e econômicas para abrir seus negócios. Assim, o GEM permite confrontar o senso comum de que haveria, na cultura brasileira, uma forte desvalorização do empreendedorismo e dos empreendedores.
De modo distinto, os brasileiros valorizam os negócios e aqueles que os lideram. E, não menos importante, as rodadas anuais da pesquisa mostram que fatores pontuais da conjuntura socioeconômica afetam, com maior ou menor intensidade, a dinâmica empreendedora de diversas formas.
Fonte: GEM Brasil (2006).
14,21%13,52% 12,89%
13,48%
11,30%11,65%
25 %
0
2001 2002 2003 2004 2005 2006
Gráfico 3.2: Evolução da Taxa de Empreendedores Iniciais (TE) no Brasil – 2001 a 2006
Fonte: Pesquisa (2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006).
2.4. Motivações para empreender
Muitas pessoas se surpreendem com o resultado desta pesquisa, que
aponta que 1 em cada 10 brasileiros está empreendendo a criação de um
negócio próprio nos últimos 42 meses. Será mesmo que há tanto brasileiro
assim abrindo seu próprio negócio?
É importante esclarecer que, desde a primeira vez que esta pesquisa
foi realizada, um aspecto curioso chamava a atenção dos pesquisadores:
a existência de um amplo contingente de pessoas que trabalhavam como
autônomas no setor informal da economia, principalmente nos países em
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Figura 3.1: O vendedor de chapéus é um exemplo de empreendedor.
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5
desenvolvimento – são camelôs, manicures, ambulantes e outros que cuidam
do seu próprio negócio, mas o fazem por não conseguirem um emprego
com carteira assinada. Pessoas nesta situação são chamadas empreendedores
por necessidade.
Aqueles que abrem um negócio porque vêem uma oportunidade de
explorar uma atividade com sucesso são os chamados empreendedores
por oportunidade. Neste caso, o indivíduo escolhe trilhar o caminho do
empreendedorismo, abrindo o seu próprio negócio, mesmo que informal.
Possivelmente, você, que está fazendo este curso, será um empreendedor
por oportunidade, pois está se preparando para abrir um negócio próprio
algum dia.
Para identificar estes dois tipos de motivação, a pesquisa GEM categoriza
os empreendimentos segundo duas orientações: as oportunidades
percebidas e a necessidade produzida pela falta de uma alternativa
satisfatória de trabalho e renda.
O fato é que, nos países de renda média e nos países pobres, a busca
da sobrevivência econômica combinada à relativa precariedade dos
sistemas de seguridade e assistência social obriga enormes contingentes
de trabalhadores a empreender para buscar sua sobrevivência material.
Por isto, o empreendedorismo por necessidade é mais comum nestes países.
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ATIVIDADESATIVIDADES
2. Manuel é um conhecido encanador de um condomínio da Zona Sul do Rio
de Janeiro. O prédio a que ele atende possui 102 apartamentos e, como
foi construído no ano de 1973, há sempre um vazamento acontecendo.
Toda vez que alguém está com problema de encanamento, chama o seu
Manuel. Certo dia, o síndico travou o seguinte diálogo com o encanador:
8,5%7,5% 6,8% 7,0% 6,0% 6,0%
5,6%5,3%6,2%5,5%5,8%5,7%
2001 2002 2003 2004 2005 20060
25%
Fonte: Pesquisa de campo – GEM Brasil (2001, 2002, 2003, 2004, 2005 e 2006).
Oportunidade Necessidade
Nos países de alta renda, o empreendedorismo por oportunidade é o mais
comum; a média do empreendedorismo por oportunidade é de 8,9% contra
3,3% do empreendedorismo por necessidade.
O Brasil é um país de renda média. Aqui o empreendedorismo por
oportunidade vem se mantendo na casa dos 6%, o que coloca o país
na 20ª posição do ranking. O empreendedorismo por necessidade não
variou signifi cativamente ao longo do tempo e passando de 5,3%, em
2005, para 5,6%, em 2006, conforme apresentado na fi gura a seguir. No
ranking, o Brasil passou de 4º para 6º colocado no mundo, se considerado o
empreendedorismo por oportunidade. Ou seja, no Brasil, para cada indivíduo
que empreende por oportunidade existe outro que o faz por necessidade.
Em todos os países pesquisados, os empreendedores iniciais motivados
por oportunidade são maioria.
Gráfi co 3.3: Evolução da Taxa de Empreendedorismo por Motivação no Brasil de 2001 a 2006
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Pergunta: Por que Manuel não aceitou a oferta de emprego? Ele não
era um empreendedor por necessidade?
Resposta Comentada
Manuel, apesar de ser autônomo, possui clientes e um serviço especializado.
Ele já desenvolveu uma maneira de trabalhar de forma independente. Ele não
é um encanador autônomo por falta de escolha, pois, se o fosse, teria aceitado
imediatamente o convite e passaria a ter a segurança do emprego com carteira
assinada. O fato é que Manuel enxergou no seu trabalho uma oportunidade
de emprego mais atraente do que um emprego fixo. Portanto, Manuel é um
empreendedor autônomo que está explorando com competência o mercado de
serviços de encanamento. Ele escolheu esta atividade, apesar de ter tido uma
oferta de emprego. Logo, ele está empreendendo porque viu uma oportunidade,
e não pela falta de escolha. Manuel é um empreendedor por oportunidade.
3. Considerando os conceitos apresentados nesta aula, como você
classifica a escolha feita por Beatrice, a proprietária da Rwanda
Flores?
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Multimídia
Pesquise no site www.casosdesucesso.sebrae.com.br histórias de brasileiros que mudaram sua realidade a partir do empreendedorismo.
Resposta Comentada
Ela também escolheu empreender. É uma empreendedora por oportunidade. Ela
aproveitou uma oportunidade, vislumbrou a possibilidade de ter lucro, gerar emprego
e criar riqueza com a produção de flores, para ela, seus funcionários e seu país. Precisou
assumir os riscos inerentes ao negócio e seguir em frente para construir uma empresa
de sucesso. O caso de Beatrice é um exemplo de iniciativa que vários pesquisadores
sugerem como medida de redução da pobreza no mundo. Desenvolver a capacidade
das pessoas para empreender é um dos caminhos a trilhar. Por isto, um dos mais
antigos estudiosos do empreendedorismo, o professor Jefrey Timmons, afirma que:
“O empreendedorismo é uma revolução silenciosa que será, para o século 21, mais do
que a Revolução Industrial foi para o século 20”.
Assim também pensa o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e
Pequena Empresa) ao afirmar que:
O empreendedorismo não é privilégio da iniciativa privada, o
empreendedorismo é a atitude de um povo. Sérgio Moreira, ex-presidente do Sebrae, 2002, apud de Ruiz.
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Retomando...
Talvez você ainda não tenha ouvido falar do Grameen Bank. Este
banco é diferente de todos os outros que conhecemos no Brasil. Ele
é especializado em emprestar dinheiro para pessoas de baixa renda, um sistema que fi cou
conhecido como microcrédito. O professor bengalês Muhammad Yunus pensava como
poderia ajudar a reduzir a pobreza em Bangladesh e imaginou que se as pessoas tivessem
capital para investir em algo que soubessem fazer, poderiam produzir e gerar sua própria
venda. Esta iniciativa mudou a vida de muitas pessoas e tornou-se uma experiência única
como desenvolver lugares pobres, por meio do desenvolvimento e fi nanciamento da
capacidade empreendedora das pessoas. O banco opera como uma empresa privada
auto-sustentável e gerou lucros em quase todos os anos de sua operação, exceto no ano
de sua fundação e em 1991 e 1992. O Grameen Bank ganhou o Prêmio Nobel da Paz do
ano de 2006, juntamente com seu fundador.
Certifi que-se de que você é capaz de:
• Defi nir o termo empreendedorismo a partir da visão econômica.
• Defi nir o termo empreendedorismo a partir da abordagem comportamental.
• Comparar a Taxa de Empreendedores Iniciais (TEA) do Brasil com a de outros países
estudados pela pesquisa GEM.
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Referências
BARBOSA, Fernando Mauro Buleo. Empreendedorismo no Brasil: um estudo sobre
os empreendedores brasileiros e suas características. 2006. Trabalho de Conclusão
de Curso (Especialização em MBA Gestão de Negócios) – IBMEC, 2006.
GEM BRASIL. Disponível em: < http://www.gembrasil.org.br> Acesso em : 10 dez.
2007.
ROSSI, Clóvis. De flores e Rolex. Jornal Folha de S. Paulo. São Paulo, 10 out.2007.
SACHS, Jeffrey. A cura da pobreza. Revista Veja. São Paulo, 6 abr. 2005. Entrevista
à revista Veja; Edição 1899.
FILION, L. J. Diferenças entre sistemas gerenciais de empreendedores e operadores
de pequenos negócios. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 39, n.
4, out./dez. p. 6-20. 1999.
PAIVA JUNIOR, Fernando Gomes de; CORDEIRO, Adriana Tenório. Empreende-
dorismo e o Espírito Empreendedor: uma análise da evolução dos estudos na
produção acadêmica brasileira. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS
PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO (ENANPAD) , 26., 2002,
Rio de Janeiro. Anais ... Rio de Janeiro: ANPAD, 2002.
PESQUISA de campo : 2001 á 2006. GEM Brasil. Disponível em: < http://www.gem
brasil.org.br> Acesso em : 10 dez. 2007.
URIARTE, Luiz Ricardo. Identificação do perfil intraempreendedor. Florianópolis, SC:
UFSC, 2000. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Engenharia de Produção da UFSC.
SEBRAE. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br>. Acesso em: 2 mar. 2005.
MUELLER , Marcos et al. Empreendedorismo no Brasil - 2006. Curitiba: IBQP, 2007.
228 p. Disponível em: <www.gembrasil.org.br>. Acesso em: 10 dez. 2007.