UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
AS BRINCADEIRAS ANTIGAS, TRADICIONAIS E DE RUA COMO
AGENTES FACILITADORES DO DESENVOLVIMENTO
PSICOMOTOR
Por: Wanderley de Castro Silva
Orientador
Prof. Celso Sanchez
Prof.ª Fátima Alves
Rio de Janeiro
2007
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
AS BRINCADEIRAS ANTIGAS, TRADICIONAIS E DE RUA COMO
AGENTES FACILITADORES DO DESENVOLVIMENTO
PSICOMOTOR
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como requisito parcial para obtenção do grau
de especialista em Psicomotricidade.
Por: . Wanderley de Castro Silva
3
AGRADECIMENTOS
...aos amigos presentes e distantes...
4
DEDICATÓRIA
...dedica-se aos pais e obviamente a minha
eterna pequena...
5
RESUMO
Com o passar dos anos, em virtude de uma série de fatores econômicos,
políticos e sociais, as crianças, principalmente, as da classe social mais elevada,
perderam a essência do brincar. Atrela-se a esta situação, a enorme tecnologia
existente na atualidade.
Junta-se a isso, a grande maioria dos profissionais de Educação Física, que
preza somente pelos desportos e pelos grandes jogos nas suas aulas, visando
sempre o resultado.
Essa pesquisa mostra a importância da brincadeira para a criança, seja ela
tradicional, antiga e de rua, realizada tanto nas ruas ou praças como também nas
escolas, nas aulas de Educação Física e aplicadas pelos professores.
O resgate dessas brincadeiras, aqui citadas, e a sua correta aplicação, irão
levar a criança a um desenvolvimento mais completo, uma vez que existem várias
valências psicomotoras envolvidas nas mesmas. Isso sem contar que a criança vai
estar todo o tempo vivenciando o lúdico e exercitando a sua criatividade.
O cunho social também está envolvido todo o tempo, pois na maioria das
vezes, essas atividades são em grupos o que facilita a socialização e a realização
de novas amizades.
6
METODOLOGIA
Os dados coletados na prática, a vivência da prática escolar e os diversos
autores lidos e estudados, fazem com que essa pesquisa seja bibliográfica.
Desta forma, no primeiro capítulo será introduzido o assunto, expondo a
situação problema e criando algumas questões. No capítulo dois, haverá o resgate
das brincadeiras antigas, tradicionais e de rua, mostrando suas regras, os
aspectos psicomotores trabalhados nas mesmas, fazendo uma análise crítica das
brincadeiras apresentadas. Assim, não pode passar despercebida a Escola
Parque, por colocar os seus alunos da 1ª série do Ensino Fundamental, como
objeto de estudo.
Por fim, no último capítulo encontra-se a conclusão de todos os temas
abordados.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - A Importância do Brincar 09
CAPÍTULO II - As Valências Psicomotoras 14
CAPÍTULO III – As Brincadeiras de Rua 20
CONCLUSÃO 24
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 29
ÍNDICE 31
FOLHA DE AVALIAÇÃO 32
8
INTRODUÇÃO
A evolução tecnológica dos brinquedos eletrônicos, as transformações
político-sociais, acompanhada da urbanização da cidade do Rio de Janeiro,
alertou para um problema na área da Educação Física.
Em algumas áreas da cidade, como comunidades carentes, morros e
favelas, as crianças são mais livres para brincar nas ruas. Nas áreas mais
desenvolvidas, onde o poder aquisitivo é maior, os pais podem não deixar seus
filhos brincarem nas ruas, pois não há espaço nem segurança.
Percebeu-se uma modificação na forma de brincar dessas crianças. Em
décadas passadas, elas brincavam nas ruas, em vilas ou no quintal de casa, sem
medo da violência. Hoje, brincam dentro de casa com computadores, videogames
e brinquedos eletrônicos, que não estimulam a criatividade além de não utilizar o
movimento corporal.
Com o desenvolvimento motor das crianças, inclusive através da
psicomotricidade, será mostrada a importância das brincadeiras tradicionais,
antigas e de rua, na construção corporal da criança.
O papel dos profissionais de Educação Física, ou melhor, do
psicomotricista, é propiciar atividades variadas, se preocupando com a ludicidade
e a criatividade, orientando pais e alunos para tal importância no desenvolvimento
motor da criança.
9
CAPÍTULO I
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR
A crescente urbanização na cidade do Rio de Janeiro está reduzindo cada
vez mais áreas públicas de lazer. As crianças pouco brincam nas ruas, praças e
parques como brincavam nas décadas passadas, podendo trazer conseqüências
nos objetivos das brincadeiras vivenciadas por elas e nos resultados que elas
podem trazer.
Os pais, com medo da violência e dos perigos das ruas, limitam o espaço
de seus filhos, ajudando a formar um público cativo da televisão. Devido à falta de
espaço, motivação e orientação para brincadeiras tradicionais, antigas e de rua,
ou seja, em grupos e práticas criativas, a criança passa a ser influenciada pela
mídia, tornando-se consumidora passiva de diversão e não produtora dela.
Na indústria, tivemos a substituição da atividade humana pela máquina e
agora estamos vendo a substituição das brincadeiras tradicionais pelos
brinquedos eletrônicos. Conforme Bruhns (1989), a sociedade pós-industrial
substitui o raciocínio humano pelos poderes eletrônicos da computação.
Nestes brinquedos eletrônicos retira-se a possibilidade da criança criar a
brincadeira, pois estes já vêm prontos, pré-programados. A criança ocupa uma
posição passiva, apenas de usuária e consumidora. Não se pode intervir ou mudar
a lógica do jogo, ou seja, não resta outra saída a não ser acatar esta lógica e
brincar sempre da mesma forma.
10
A importância das brincadeiras das décadas passadas está no seu caráter
lúdico e criativo. Para um pleno desenvolvimento infantil é necessário que a
criança seja estimulada a explorar as mais variadas formas de movimentação,
despertando assim todas suas potencialidades. É através da brincadeira que a
criança interage com o mundo e se insere na sociedade, ajudando a construir sua
personalidade e estimulando seu pensamento, sua criatividade, além de ter uma
completa formação nas áreas cognitiva e psicomotora.
Dentro deste contexto existe o questionamento a substituição das
brincadeiras de décadas passadas pelos jogos e brinquedos eletrônicos.
Será que toda essa evolução tecnológica juntamente com as questões
sócio-econômicas não está prejudicando o desenvolvimento motor das crianças?
De que forma o profissional de Educação Física pode contribuir com o
desenvolvimento motor da criança, utilizando-se do aspecto lúdico da brincadeira?
Por que as brincadeiras antigas, tradicionais e de rua são importantes para
o desenvolvimento psicomotor da criança?
Ao ouvirmos nossos pais dizerem: “No meu tempo as coisas eram bem
diferentes, as brincadeiras eram mais sadias”, sabemos que eles se referem
principalmente às brincadeiras tradicionais e antigas que eram praticadas nas
ruas.
Nas classes sociais com maior poder aquisitivo, as brincadeiras quase que
se limitam aos jogos e brinquedos eletrônicos. Desta forma, a criança não vivência
o lúdico (ou o vivencia de outra forma) podendo esquecer como são interessantes
11
as brincadeiras que utilizam o movimento, perdendo assim a oportunidade de ter
seu desenvolvimento motor pleno.
Segundo Vayer e Toulouse (1985), é o agir que permite a criança expressar
o desejo inconsciente, atualizar suas potencialidades e apreender o mundo que a
rodeia.
Porém, nas classes sociais cujo poder econômico não permite o acesso a
essa tecnologia, as crianças ainda brincam de forma livre, explorando mais as
diversas formas de movimentação do corpo. Com isso pode-se observar um
melhor desenvolvimento motor destas crianças, fazendo com que elas se
sobressaiam em todos os aspectos motores.
Desta forma, o jogo tem, portanto uma profunda repercussão emocional e
uma grande carga expressiva e compromete totalmente a criança, para Le Boulch
(1987).
Ainda sobre a importância do brincar, Alves, coloca da seguinte forma:
“O movimento permite à criança explorar o mundo exterior
através de experiências concretas sobre as quais são
construídas as noções básicas para o desenvolvimento
intelectual. É importante que a criança viva o concreto”
(ALVES, 2003, p.23).
Esse concreto seria qualquer tipo de brincadeira.
12
Viso contribuir para uma reflexão por parte dos profissionais da área de
Educação Física, principalmente professores e psicomotricistas que atuam em
escolas particulares. De acordo com Conceição (2000), é importante que o
professor saiba conceituar cada valência psicomotora, e saiba trabalhar, através
de brincadeiras, jogos recreativos, exercícios e brinquedo cantado.
Este estudo tem como objetivos levantar uma série de brincadeiras antigas,
tradicionais e de rua, mostrar que as mesmas ainda são atuais e que através do
brincar, as crianças obtêm um desenvolvimento motor mais completo, mostrando
a importância do resgate do “brincar na rua” como antigamente.
Desta forma, uma análise das atividades apresentadas será feita,
mostrando a importância das valências psicomotoras envolvidas nas mesmas.
Muitos profissionais, para facilitar seu trabalho e conseguir objetivos
imediatos, preferem induzir, orientar ou facilitar a brincadeira, ao invés de deixar a
criança brincar espontaneamente, isso quando a deixam brincar. Chamamos de
brincadeira espontânea quando a criança está apenas na presença de outras
crianças e dos brinquedos, e o adulto, interfere apenas se for solicitado ou se uma
criança estiver atrapalhando a brincadeira do grupo maior, pois muitas vezes, este
é o único momento em que a criança pode exercer sua liberdade e criatividade
durante o brincar.
Assim, através das brincadeiras tradicionais, antigas e de rua ocorre um
desenvolvimento integral da criança, pois essas atividades englobam todos os
aspectos psicomotores.
13
O estudo irá abranger os alunos da 1ª série do ensino Fundamental I, da
cidade do Rio de Janeiro, de uma escola particular de nível sócio-econômico
elevado, a Escola Parque, onde os alunos em determinado bimestre tiveram como
conteúdo as brincadeiras tradicionais, antigas e de rua.
Os dados coletados na prática e os diversos autores estudados, fazem com
que essa pesquisa seja tanto bibliográfica como de atuação de campo.
14
CAPÍTULO II
AS VALÊNCIAS PSICOMOTORAS
Ao imaginarmos uma criança, quase que imediatamente, pensamos nela
brincando, jogando e aprendendo. Enfim, pensamos na criança se divertindo, pois
esta é ou deveria ser a realidade de sua infância.
Muitos acreditam que os termos jogo e brincadeira sejam sinônimos. Mas
estes que em uma primeira análise são de simples definição, escondem
significados complexos. A primeira definição que podemos encontrar no dicionário
é:
Brincadeira: "1. Ação de brincar. 2. Brinquedo 3. Festa familiar. 4. Baile
improvisado. 5. Zombaria".
Jogo: "1. Brincadeira, divertimento, folguedo. 2. Passatempo. 3. Cada uma
das partes em que se divide um certame”.
A mesma linha de raciocínio é seguida por Bruhns que diz: que:
ҬDefine jogo como uma atividade desinteressada (mesmo
que durante o jogo seja encarada com seriedade), que
proporciona prazer (mesmo que no jogo surjam sentimentos
desagradáveis que anulam o prazer), desorganizada, de
caráter espontâneo e que liberta a criança de conflitos”
(BRUHNS, 1996, p.65).
15
Este último critério é muito difundido pela psicanálise. Segundo ela, a
criança domina seus objetos, supondo que é proprietária dos destinos da vida,
transformando passividade em atividade. Desta forma a criança expõe seus
conflitos inconscientes.
Quando a autora diz que jogo é uma atividade desorganizada, é
compreensível, pois para um observador, toda a agitação, movimentação e
empolgação do jogo podem levar a impressão de uma confusão.
O jogo e a brincadeira são diferentes, mas podem se tornar a mesma coisa
dependendo de quem organiza a atividade. Um professor de educação física, por
exemplo, propõem uma atividade denominando-a de brincadeira. Porém impõe
regras e espera alcançar um determinado objetivo. Ele está na verdade
comandando um jogo.
Jogo é uma atividade que tem regras pré-estabelecidas, tem um objetivo a
ser alcançado. É uma atividade planejada, pois já se sabe o que pode acontecer,
precisa de um espaço delimitado, de um parceiro ou grupo. O jogo não deixa a
imaginação fluir, as regras não podem ser quebradas. Brincadeira é uma atividade
lúdica, sem regras fixas, sem delimitação de tempo e espaço, podendo usar um
mundo imaginário, o das crianças. Elas ficam livres para criarem suas próprias
brincadeiras e brinquedos. Não precisa necessariamente de parceiro. A criança
brinca pelo simples prazer que a brincadeira lhe propicia, apesar de surgir conflitos
algumas vezes. Ninguém precisa ensinar uma criança a brincar, pois já esta no
seu instinto.
16
Independente as criança brincar ou jogar, ela vai estar, desenvolvendo suas
valências psicomotoras.
Para Oliveira (1997), ao olharmos nossos alunos, brincando no recreio,
vemos cada um deles movendo-se, agitando-se ou parados. O que se torna visível
para nós são seus corpos¨.
Assim, o movimentar-se, o mexer-se, faz com que a criança desenvolva seu
lado psicomotor em suas diversas áreas, que são:
Esquema corporal, para Conceição (2000) é reconhecer e controlar o seu
próprio corpo, passando a ter consciência dele e de suas possibilidades;
Imagem corporal, segundo Alves (2003), são os sentimentos do indivíduo
em relação à estrutura de seu corpo e relaciona-los com os objetos situados no
espaço.
Lateralidade – é a propensão que o ser humano possui de utilizar
preferencialmente mais um lado do corpo que o outro, segundo Oliveira (1997).
Ritmo, para Conceição (2000), é a forma de se deslocar no espaço
obedecendo a uma determinada seqüência de sons ou músicas. Para Oliveira
(1997), é ainda por intermédio do ritmo que se tem no futuro uma boa orientação
espaço temporal,
Equilíbrio, ainda para Conceição (2000), caracteriza-se com a forma de
permanecer estático ou em movimento sobre uma ou mais bases do corpo. Pode
ser estático, dinâmico ou recuperado.
17
Velocidade – trabalhar a velocidade de deslocamento na execução dos
exercícios, para Conceição (2000).
Força – utilizar a força na utilização de algum exercício segundo Oliveira
(1997).
Coordenação Motora Global – para Alves (2003), significa a consciência do
corpo para a execução e o controle de movimentos precisos que vão ser
executados.
Coordenação Motora Fina – coordenação segmentar, utilizando as mãos;
Coordenação Motora Ampla – entre os grandes grupamentos musculares e
Coordenação Motora Óculo – Manual – habilidade de coordenar a visão
com os movimentos do corpo.
Estrutura Temporal – Movimentar o corpo dentro de um espaço
determinado, em função do tempo, em relação a um sistema de referência,
segundo Oliveira (1997).
Estruturação Espacial – para Conceição (2000), relaciona-se ao espaço que
os movimentos do corpo pode percorrer e ocupar. É o deslocamento do corpo
respeitando todos os espaços.
Tônus – Controle Muscular – estado permanente de relativa tensão mesmo
no repouso do músculo, Oliveira (1997).
É notório que hoje, as crianças têm menos espaço para brincar. Com a
urbanização, houve uma diminuição das áreas de lazer. No lugar das casas (onde
a criança brincava no quintal), das vilas e praças (onde a criança brincava na rua)
18
foram construídos prédios, limitando as brincadeiras nos playgrounds (quando o
prédio o tem). Quem não tem um playground para brincar, dificilmente pode
brincar na rua, pois os pais, com medo da violência e dos outros perigos, não
deixam seus filhos saírem de casa.
Para a classe média e alta, o brincar na rua tem uma conotação negativa
pois o termo “brincadeira de rua” assemelha-se com “criança de rua”, que lembra
marginalidade, vagabundagem, etc. E isso dificulta ainda mais o acesso para as
crianças, ainda mais nos grandes condomínios residenciais . Quando realizam
algum tipo de atividade física ou recreativa, geralmente o fazem nas escolinhas
desportivas, ou seja, atividades dirigidas. Segundo Desoubeau (ano), a nossa
perspectiva pessoal é a de dar sempre à criança o poder de seu próprio
desenvolvimento. O papel do educador será, então, o de acompanhar a criança
nas suas explorações, olhar, estimular e motivar.
Esses fatores, dentre outros, ajudaram a gerar um público cativo da
televisão e de jogos eletrônicos. A criança passa a ser consumidora passiva de
informação e diversão, pois não foi ela quem criou a brincadeira. Torna-se apenas
usuária de um produto já pronto, não produzindo cultura nem utilizando sua
criatividade. A criança é um dos maiores alvos da publicidade, pois além de
adquirir os produtos feitos para ela, cria um hábito familiar de consumo.
O que nós, profissionais de educação física, devemos criar é justamente a
estrutura para as brincadeiras. Devemos construir um ambiente que estimule a
brincadeira, pois cada vez mais as crianças estão ficando sem espaço para
brincar.
19
Temos que tomar cuidado para não furtar o lúdico da criança. Não podemos
tirar dela esse poder, de criar e recriar brincadeiras e jogos. Ou seja, não se pode
negar a criatividade do ser humano.
É no brincar que o adulto ou a criança, cria e deixa fluir sua capacidade e
liberdade de criação.
Não podemos separar desenvolvimento motor da brincadeira, pois
brincando a criança está em movimento.
Com todos estes aspectos que mostram a importância das brincadeiras que
utilizam o movimento do corpo para as crianças, nos preocupamos em resgatar
estas brincadeiras praticadas nas décadas passadas para os dias de hoje. Com
isso estaríamos estimulando seu corpo no brincar, estimulando assim seu
desenvolvimento motor pleno.
20
CAPÍTULO III
AS BRINCADEIRAS DE RUA
Nesse contexto, foi realizado um trabalho de pesquisa de resgate das
brincadeiras antigas, tradicionais e de rua com os alunos da 1ª série, nas aulas de
Educação Física da Escola Parque, onde foram desenvolvidas habilidades
motoras, a socialização, a integração e o aprendizado das regras.
O projeto contou com as seguintes etapas: levantamentos das brincadeiras
e a escolha do registro e da prática.
Os alunos escolheram atividades diversas como piques, atividades com uso
de material e sem o uso do mesmo.
A seguir, algumas dessas atividades serão listadas e suas regras
explicadas. Junto das mesmas, mostrarmos também as valências psicomotoras
nelas envolvidas.
Pique Esconde – Regra: Escolha um pegador. O pegador conta até 30
enquanto os outros se escondem. Quando o pegador acabar de contar, ele
procura os outros que estão escondidos. Para uma pessoa se salvar tem que ir ao
lugar que o pegador contou e falar pique 1,2,3 e depois falar seu nome. O último
tem que bater pique 1,2,3 salve todos para que todos sejam salvos. O primeiro
que for pego vai ser o pegador na próxima rodada.
VALÊNCIAS PSICOMOTORAS – coordenação motora global, estrutura
corporal, estruturação espacial, velocidade, equilíbrio e força.
Pique Pega – Regra: Uma pessoa é o pegador e os outros estão correndo.
Quando o pegador pega a pessoa, essa pessoa vira o pegador.
21
VALÊNCIAS PSICOMOTORAS – esquema corporal, imagem
corporal, velocidade, equilíbrio, lateralidade e coordenação motora global.
Pique Corrente – Regra: Está com uma pessoa. Se essa pessoa pegar
alguém, quem for pego dará a mão para o pegador e pegará junto, de mãos
dadas, formando uma corrente. O último a ser pego é o vencedor.
VALÊNCIAS PSICOMOTORAS – lateralidade, equilíbrio, velocidade, força,
tônus, coordenação motora global, estruturação espacial.
Cabra- Cega – Regra: Uma criança é vendada e é rodada dez vezes. Ela
terá que usar seus sentidos: tato e audição para pegar alguma criança. A criança
que for pega, será o novo pegado. O novo pegador terá que colocar a venda nos
olhos.
VALÊNCIAS PSICOMOTORAS – esquema corporal, imagem corporal,
lateralidade, equilíbrio, coordenação motora global, estrutura temporal e
estruturação espacial.
Pular Corda – Regra: Você pega uma corda para pular. Duas pessoas ficam
segurando a corda nas pontas e rodam a corda para os outros pularem. A pessoa
que está segurando a corda, depois irá pular. A pessoa que está pulando irá
segurar a corda depois. Quando uma pessoa erra, ela irá para o final da fila e é a
vez do outro. Existe uma música para cantar enquanto alguém está pulando.
VALÊNCIAS PSICOMOTORAS – equilíbrio, força, ritmo, imagem corporal
e coordenação motora global.
Amarelinha – Regra: Primeiro desenhar no chão a amarelinha com giz e
cada participante pegará uma pedra. O jogo começa jogando a pedra no número
um e cada participante não poderá pisar no número onde está a pedra. Se ele
22
pisar terá que voltar até o início. Se o participante conseguir pular a amarelinha
inteira, pegando a pedra no número da vez, ele começará o número seguinte. Vai
assim até completar todos os números.
VALÊNCIAS PSICOMOTORAS – equilíbrio, esquema corporal,
coordenação motora global, estrutura temporal e tônus.
Cinco Marias – Regra: Nós temos que fazer duplas, pegar cinco pedras
pequenas e sentarmos. Jogamos uma pedra para cima e seguramos. Jogamos
novamente a pedra para cima e tentamos segurar, com a mesma mão, outra
pedra que está no chão. Enquanto conseguimos segurar as pedras continuamos a
jogar. Se não conseguimos, é a vez do outro.
VALÊNCIAS PSICOMOTORAS – coordenação motora global, coordenação
motora óculo-manual e tônus.
Soltar Pipa – Regra: Nós temos que ter uma pipa e pegar uma latinha
reciclada. Arrumar a linha na latinha e depois amarrar na pipa. Fazemos uma
rabiola com linha e tiras de papel e amarramos na pipa. Temos que correr
segurando a latinha com a linha amarrada e tem que ter vento forte para a pipa
voar. Depois que a pipa estiver no alto é só fazer os movimentos com a pipa para
a mesma fazer as manobras.
VALÊNCIAS PSICOMOTORAS – coordenação motora óculo-manual,
coordenação motora global, estruturação espacial e ritmo.
Batatinha Frita 1,2,3 – Regra: Uma pessoa fica virada de costas para o
grupo. Ela diz... ¨Batatinha Frita 1,2,3¨! Enquanto ela fala, os outros correm e
quando ela para de falar, todos viram uma estátua. Quem se mexer volta ao início.
Quem chegar primeiro é o vencedor.
23
VALÊNCIAS PSICOMOTORAS – esquema corporal, imagem corporal,
equilíbrio, velocidade, coordenação motora global, estruturação espacial e tônus.
Pular Carniça – Regra: Um amigo abaixa e o outro pula por cima do amigo
e assim por diante. Então a dupla que chegar em primeiro lugar irá vencer a
corrida.
VALÊNCIAS PSICOMOTORAS – força, equilíbrio, velocidade, tônus,
esquema corporal e coordenação motora global.
Adoleta – Regra: Uma roda bem grande. Todos sentados e com a palma da
mão em cima da mão do colega do lado. Existe uma música: adoleta, le peti, peti
póla, nescafé com chocotale, adoleta. Puxa o rabo do tatu, quem saiu foi tu, puxa
o rabo da cutia, quem sai foi sua tia. Conta até 10. Um bate na mão do amigo do
lado, cantando, quem levar a última mãozada, sai.
VALÊNCIAS PSICOMOTORAS – ritmo, coordenação motora fina e tônus.
Gato e Rato – Regra: Fazemos uma roda bem grande e um amigo fica
dentro dela. Todos ficam em pé na roda. Um fica fora da roda tentando entrar.
Então, se o amigo que está fora da roda entrar, o amigo que está dentro tem que
sair. Assis, o amigo que está dentro é o rato e o que está fora é o gato. O gato tem
que pegar o rato.
VALÊNCIAS PSICOMOTORAS – esquema corporal, imagem corporal,
lateralidade, equilíbrio, força, coordenação motora global, estruturação espacial.
24
CONCLUSÃO
A proposta do presente trabalho é alertar os profissionais de Educação
Física para este problema, reforçando a importância do resgate das brincadeiras
de décadas passadas. Nessas épocas ainda não tínhamos tanta urbanização e
violência nas ruas, e nossas crianças podiam brincar livremente sem dar muita
preocupação as seus pais. Não tínhamos também tanta evolução tecnológica de
brinquedos, alimentados ainda mais pela mídia que tanto “viciam” as crianças de
maior poder aquisitivo hoje em dia.
A realidade é que existe um paradoxo, que mostra, além da desigualdade
social, que a forma de diversão e de passar o tempo dessas crianças são bem
diferentes.
De um lado, crianças que são de classes sociais mais baixas, que passam
a maior parte de seu dia, nas ruas, "soltas", brincando com sucata ou com
brinquedos velhos e utilizam as brincadeiras antigas e tradicionais, porém não têm
nenhum tipo de acompanhamento pedagógico ou de algum tipo de profissional.
Do outro lado, a classe elitizada, cercada por muros altos e com muitos
brinquedos eletrônicos, que por temerem a violência, não deixam seus filhos,
brincarem na rua e os mesmos se desenvolvem com ¨controles na mão¨. Estes
com menos agilidade, velocidade e coordenação do que as crianças mais
humildes que não tem brinquedos eletrônicos, ou seja, suas brincadeiras são nas
ruas, correndo e pulando, etc. Esses estudam em escolas particulares de níveis
25
elevados e seus professores de Educação Física não os estimulam através da
criatividade e do lúdico.
Assim, através das brincadeiras e do desenvolvimento que as mesmas
atingem, proponho a aplicação e a prática de atividades que resgatem as
brincadeiras de rua, utilizando muito o movimento corporal e levando-as para
dentro dos clubes e escolas, principalmente as particulares, que são freqüentadas
por crianças das classes média e alta.
Na maioria das escolas, principalmente nas mais tradicionais, as aulas de
Educação Física priorizam muito a prática do esporte coletivo ou, simplesmente, a
ginástica. Esquecendo-se da ludicidade e do prazer que são essenciais para a
evolução motora ou, podemos dizer, o “desenvolvimento motor pleno” dessas
crianças. Esta ludicidade funciona como uma espécie de motivação, pois uma
atividade será muito melhor executada se feita por livre e espontânea vontade, de
forma prazerosa, e não pela chamada “livre e espontânea pressão” imposta pelos
professores.
Essas atividades devem começar desde a Educação Infantil para que,
quando as crianças chegarem ao Ensino Fundamental, elas já estarem
preparadas e capazes de criar, explorar e vivenciar outras atividades que não
sejam o futebol ou o queimado, por exemplo. Se acostumarmos os alunos a fazer
somente o que o professor manda, ao deixarmos estes livres, muitos se sentirão
“perdidos” sem ter uma tarefa pré-determinada a cumprir.
Os professores têm o dever de mostrar a importância da prática de outras
atividades para o desenvolvimento da criança. Procurando informá-la que para
26
jogar bem seu futebol ou queimado, ela também precisa se desenvolver em outros
aspectos motores. Fazendo com que ela experimente seu corpo de diferentes
formas com atividades variadas, criando, recriando brincadeiras e inventando
jogos.
Muitos autores como Brougene (1996), lutam para resgatar jogos e
brinquedos cantados da década de 60 que se perderam hoje em dia “como
conseqüência dos processos de urbanização e de industrialização” (p.59). Estes
jogos e brinquedos desempenham um papel importante na identidade cultural.
Sua re-inserção nas escolas seria um forte elemento de apoio a uma Educação
Física que quer se opor ao modelo de desportivização imposto na sociedade como
única forma válida de referência lúdico-motora das crianças.
Marcelinno, critica a escola, dizendo:
“Que ela não informa os indivíduos, mas sim os deforma,
tornando-os todos iguais, reproduzindo um modelo pré-
estabelecido. Acredita que a escola tradicional, furtou o
lúdico, pois, o jogo serviu para a socialização da criança,
ensinando-lhes regras e disciplinando-as. As aulas de
Educação Física tinham o objetivo de gastar as energias das
crianças para que elas chegassem cansadas em sala de
aula. Desta forma, parece que as aulas de Educação Física
não eram em sala de aula, que não era um local de
aprendizado para elas” (MARCELLINO, 1996, p.32).
27
O fato de o educador, para LAPIERRE & AUCOUTURIER (1988), não se
manifestar, ou manifestar-se no mínimo, em suas intervenções ao nível de
instrução permite todas as identificações por parte das crianças.
O professor deve somente dar as instruções ou regras iniciais e deixar com
que os alunos brinquem e descubram da melhor forma que acharem devendo
interceder somente quando necessário e não tirar a iniciativa e criatividade das
crianças, intervindo a todo instante.
Bem trabalhadas e praticadas as brincadeiras antigas, tradicionais e de rua,
mesmo sem as crianças perceberem, estão possibilitando o total desenvolvimento
psicomotor das mesmas, pois essas atividades englobam todas as valências
psicomotoras necessárias para que esse desenvolvimento seja de forma integral,
sem contar com o cunho social que as atividades citadas envolvem, pois a criança
está durante todo o tempo da brincadeira se relacionando, integrando e se
socializando.
Muitas vezes, o único espaço que as crianças de classe média-alta têm
para explorarem seu corpo é nas aulas de Educação Física, na escola, ou em
clubes. Por isso a preocupação com a qualidade das aulas.
Toda esta responsabilidade não é somente da escola. O professor ou
coordenador deve transmitir aos pais a importância da prática dessas atividades
fora da escola. Abordar o assunto através de palestras ou reuniões com os pais e
organizar passeios extracurriculares, a fim de colocar em prática o que foi
discutido.
28
Espero ter contribuído para o futuro da Educação Física mostrando uma
visão mais ampla das atividades infantis. Alertando os demais profissionais e pais
para esta prática, visando um melhor desenvolvimento motor das crianças,
principalmente as de maior poder aquisitivo.
29
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Alves, Fátima. Psicomotricidade: corpo, ação e emoção. Rio de Janeiro: WAK,
2003.
BOULCH LE. Educação Psicomotora. A Psicocinética na Idade Escolar. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1987.
Bruhns, Heloísa Turini. Conversando com o Corpo. São Paulo: Editora Papirus,
1996.
Brougene, Gilles. Brinquedo e Cultura. Porto Alegre: Artmed, 1996.
Desobeau, Françoise. I SEMINÁRIIO MINEIRO DE TERAPIA PSICOMOTORA.
Minas Gerais: (ano).
Conceição, Ricardo Batista. Ginástica Escolar. Rio de Janeiro: SPRINT, 2000.
LAPIERRE & AUCOUTURIER. A Simbologia do Movimento. Psicmotricidade e
Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988.
MARCELLINO, Nelson Carvalho. Lazer e Recreação. São Paulo: Editora Papirus,
1996.
Oliveira, Gislene de Campos. Psicomotricidade: Educação e Reeducação num
Enfoque Psicopedagógico. Rio de Janeiro: Vozes, 1997.
30
VOUYER & TOULOUSE. Linguagem Corporal. Porto Alegra: Artes Médicas, 1985.
1ª Série – Alunos Escola Parque. Brincando com o Passado. Rio de Janeiro: 2006.
31
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR 9
CAPÍTULO II
AS VALÊNCIAS PSICOMOTORAS 14
CAPÍTULO III
AS BRINCADEIRAS DE RUA 20
CONCLUSÃO 24
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 29
ÍNDICE 31
32
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes - Projeto A Vez do Mestre
Título da Monografia: As Brincadeiras Antigas, Tradicionais e de Rua, como
Agentes Facilitadores do Desenvolvimento Psicomotor.
Autor: Wanderley de Castro Silva
Data da entrega: 27/01/2007
Avaliado por: Conceito:
33