TítuloOriginal :HarryPotterandtheOrderofthePhoenix
TraduzidodoinglêsporLiaWyler
Todososdirei tosreservados;nenhumapartedestapublicaçãopodeserreproduzidaoutransmitidaporquaisquermeios,sejaeletrônico,mecânico,fotocópiaououtrosmeios,semapréviapermissãodaedi tora
Estaediçãodigi tal foi primeiramentepublicadaporPottermoreLimitedem2013
Primeirapublicaçãoempapel impressonoBrasi l em2003porEditoraRoccoLtda.
Direi tosAutorais©J .K.Rowling2003
Direi tosReservados©Direi tosparaal ínguaportugesareservadoscomexclusividadeparaoBrasi l àEditoraRoccoLtda.,2003
IlustraçõesporMaryGrandPré©2003porWarnerBros.
HarryPottercharacters,namesandrelatedindiciaaretrademarksofand©WarnerBros.Ent.
Odirei tomoral daautorafoi reconhecido
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Comparti lhadoporBaixe l ivros .org
deJ.K.Rowling
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personagens,lugares,criaturaseobjetosencontradosnomundoqueelacriou.
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ANeil,JessicaeDavid,quetransformamomeu
mundoemmagia
Conteúdo
—CAPÍTULOUM——CAPÍTULODOIS——CAPÍTULOTRÊS—
—CAPÍTULOQUATRO——CAPÍTULOCINCO——CAPÍTULOSEIS——CAPÍTULOSETE——CAPÍTULOOITO——CAPÍTULONOVE——CAPÍTULODEZ——CAPÍTULOONZE——CAPÍTULODOZE——CAPÍTULOTREZE—
—CAPÍTULOCATORZE——CAPÍTULOQUINZE—
—CAPÍTULODEZESSEIS——CAPÍTULODEZESSETE——CAPÍTULODEZOITO——CAPÍTULODEZENOVE—
—CAPÍTULOVINTE——CAPÍTULOVINTEEUM——CAPÍTULOVINTEEDOIS——CAPÍTULOVINTEETRÊS—
—CAPÍTULOVINTEEQUATRO——CAPÍTULOVINTEECINCO——CAPÍTULOVINTEESEIS——CAPÍTULOVINTEESETE——CAPÍTULOVINTEEOITO——CAPÍTULOVINTEENOVE—
—CAPÍTULOTRINTA——CAPÍTULOTRINTAEUM——CAPÍTULOTRINTAEDOIS——CAPÍTULOTRINTAETRÊS—
—CAPÍTULOTRINTAEQUATRO—
—CAPÍTULOTRINTAECINCO——CAPÍTULOTRINTAESEIS——CAPÍTULOTRINTAESETE——CAPÍTULOTRINTAEOITO—
—CAPÍTULOUM—Dudadementado
OdiadeverãomaisquentedoanoestavachegandoaofimeumsilênciomodorrentopairavasobreoscasarõesquadradosdaruadosAlfeneiros.Oscarros,emgeralreluzentes,estavamempoeiradosnasentradasdasgaragens,eosgramados,quetinhamsidoverde-esmeralda,estavamressequidoseamarelos–porqueousodemangueirasforaproibidoduranteaestiagem.Privadosdasatividadesdelavarcarrosecortargramados,oshabitantesdaruadosAlfeneiroshaviamserecolhidoàsombradesuas casas frescas, as janelas escancaradas na esperança de atrair uma brisa inexistente. A únicapessoado ladode foraeraumadolescentedeitadodecostasemumcanteirode floresà frentedonúmeroquatro.Eraumgarotomagricela,decabelospretos,aaparênciamacilentaemeiodoentiadealguémque
cresceumuitoempoucotempo.Suasjeansestavamrotasesujas,acamisetalargaedesbotada,eassolasdos tênis se soltavamdapartedecima.AaparênciadeHarryPotternãoo recomendavaaosvizinhos,queeramdo tipoqueachavaquedeviahaverumapunição legalpara sujeira edesleixo,mascomoeleseesconderaatrásdeumarepolhudahortênsia,estanoiteeleestavainvisívelaosquepassavam.De fato, a únicamaneira de localizá-lo era se o tioVálter ou a tia Petúniametessem acabeçapelajaneladasaladeestareolhassemdiretamenteparaocanteiroembaixo.Notodo,Harryachavaquedeviareceberparabénspelaideiadeseesconderali.Nãoestava,talvez,
muitoconfortável,deitadonaterraquenteedura,mas,poroutrolado,ninguémestavaolhandoparaele, rangendo os dentes tão alto que o impedia de ouvir o noticiário, nem disparando perguntasincômodas,comoaconteceratodasasvezesemquetentousesentarnasaladeestarparavertelevisãocomostios.Quase como se tais pensamentos tivessem entrado pela janela aberta, repentinamente Válter
Dursley,otiodeHarry,falou:–Fico contente de ver que o garoto parou de semeter aqui. Por falar nisso, onde será que ele
anda?–Nãosei–respondeutiaPetúnia,desinteressada.–Aquiemcasanãoestá.Otiogrunhiu.–Assistir ao noticiário... – comentou com severidade. –Gostaria de saber o que é que ele está
realmente aprontando.Como se umgaroto normal se interessasse por noticiário;Duda não tem amínima ideia do que está acontecendo; duvido que saiba quem é o primeiro-ministro! Em todo ocaso,nãohánadasobregentedalaiadelenonossonoticiário...–Válter,psiu!–alertoutiaPetúnia.–Ajanelaestáaberta!–Ah...é...desculpe,querida.OsDursley se calaram.Harry ouviu o anúncio de um cereal com frutas para o café damanhã
enquanto observava a Sra. Figg, uma velhota gagá que adorava gatos emorava ali no bairro, naalameda dasGlicínias, que ia passando vagarosamente.Ela franzia a testa e resmungava baixinho.Harryficoumuitofelizdeestarescondidoatrásdoarbusto,porqueultimamenteavelhotaderaparaconvidá-loparatomarchátodasasvezesqueoencontravanarua.ElaacabaradeviraraesquinaedesaparecerdevistaquandoavozdotioVáltertornouasoarpelajanelaaberta.
–ODudocavaitomarcháfora?–Na casa dosPolkiss – respondeu tia Petúnia com carinho. –Ele tem tantos amiguinhos, é tão
popular...Harrymalconseguiuabafaroriso.OsDursleyeramespantosamenteburrosquandosetratavado
filho.EngoliamtodasasmentirascapengasdeDudadequeestavatomandochácomalguémdaturmaa cada noite das férias.Harry sabia perfeitamente bemque o primo não estivera tomando chá emparte alguma; ele e sua turma passavam as noites vandalizando o parque infantil, fumando nasesquinaseatirandopedrasnoscarrosecriançasquepassavam.Harryosviraduranteseuspasseiosnoturnos por LittleWhinging; ele próprio passara a maioria das noites das férias perambulandopelasruas,recolhendojornaisdaslixeirasemseutrajeto.Osprimeirosacordesdamúsicaqueanunciavaotelejornaldassetehoraschegaramaosouvidos
deHarryeseuestômagorevirou.Talvezaquelanoite–depoisdeummêsdeespera–fosseanoite.“Umnúmerorecordedeturistasimpedidosdeprosseguirviagemlotaosaeroportosnessasegunda
semanadegrevedoscarregadoresespanhóis...”–Se fosse eu,mandava essa gente dormir a sesta pelo resto da vida – rosnou tioVáltermal o
locutorterminaraafrase,masnãofezdiferença:doladodefora,nocanteiro,oestômagodogarotopareceu se descontrair. Se tivesse acontecido alguma coisa, com certeza seria a primeira notícia;morteedestruiçãoerammaisimportantesdoqueturistasretidosemaeroportos.Eledeixouescaparumlongoelentosuspiroecontemplouocéumuitoazul.Todososdiasdeste
verão tinham sido amesma coisa: a tensão, a expectativa, o alívio temporário, emais uma vez atensãocrescente...esempre,acadadiacommaior insistência,apergunta:porquenadaaconteceraainda?Ogarotocontinuouaouvir, casohouvesseumpequeno indíciocujo significadoos trouxasnão
tivessempercebido–umdesaparecimento inexplicado, talvez,oualgumacidenteestranho...mas,àgrevedoscarregadoresdebagagem,seguiram-senotíciassobreasecanoSudeste(–Esperoqueovizinhoestejaescutando!–berroutioVálter.–Eleesuamaniadeligarosirrigadoresdojardimàstrêsdamanhã!),depoisanotíciadeumhelicópteroquequaseseacidentaraemumcamponoSurrey,odivórciodeumafamosaatrizdeseufamosomarido(–Comoseestivéssemosinteressadosemseuscasossórdidos–fungoutiaPetúnia,queacompanharaocasoobsessivamenteemtodasasrevistasemqueconseguiupôrasmãosossudas).Harry fechou os olhos para se proteger do céu noturno, agora cintilante, enquanto o locutor
continuava:“... e finalmente, Quito, o periquito australiano, encontrou um jeito novo de se refrescar neste
verão.Quito,quemoraemFiveFeathers,emBarnsley,aprendeuaesquiarnaágua!MaryDorkinstemoutrasinformações.”Harryabriuosolhos.Setinhamchegadoaperiquitosqueesquiam,éporquenãohaviamaisnada
que valesse a pena ouvir. Virou-se cuidadosamente de barriga e se ergueu sobre os joelhos ecotovelos,preparando-separaengatinharparalongedajanela.Andaraunscincocentímetrosquandováriascoisasaconteceramemrápidasucessão.Umestaloaltoeressonantequebrouosilênciocomoumestampido;umgatosaiudesabaladode
baixodeumcarroestacionadoedesapareceudevista;umgrito,umpalavrãoemvozaltaeoruídode louça se espatifando ecoou na sala de estar dosDursley, e, como se fosse o sinal que estiveraaguardando,Harrysepôsdepécomumsaltoaomesmotempoquepuxouumafinavarinhadocósda jeans, como se desembainhasse uma espada – mas antes que pudesse erguer completamente ocorpo,bateucomococurutonajanelaabertadosDursley.ObarulhoresultantefeztiaPetúniadarumberroaindamaior.O garoto teve a sensação de que havia rachado a cabeça aomeio.As lágrimas escorrendo dos
olhos, ele cambaleou, tentando focalizar a rua para descobrir a origem do barulho, mas malconseguira se endireitar quando duas enormes mãos purpúreas saíram pela janela aberta e oagarrarampelopescoço.–Guarde...isso!–rosnoutioVálternoouvidodele.–Agora...!Antes...que...alguém...veja!– Tire... as... mãos... de... cima... de mim! – ofegou Harry. Durante alguns segundos os dois
pelejaram. O garoto puxando os dedos do tio, grossos como salsichas, com a mão esquerda,enquantomantinhaavarinhaerguidacomadireita;então,quandoadornacabeçadeHarrydeumaisum latejo particularmente forte, tio Válter soltou um grito e largou o sobrinho como se tivesserecebido um choque elétrico. Uma força invisível parecia ter emanado do garoto, tornandoimpossívelsegurá-lo.Ofegante,Harrycambaleouporcimadopédehortênsia,ergueu-seeolhouatodavolta.Nãohavia
sinaldocausadordoforteestampido,mashaviamuitosrostosespiandodeváriasjanelasvizinhas.Ogarotoenfioudepressaavarinhanocósdajeansetentoufazerumacarainocente.– Bela noite! – exclamou tio Válter, acenando para a senhora do número sete, defronte, que o
observava atentamente por trás das cortinas. –A senhora ouviu o estouro do escape de um carroagorahápouco?Petúniaeeulevamosumgrandesusto.Elecontinuouasorrirdaqueleseujeitohorrívelemaníacoatétodososvizinhoscuriososterem
desaparecido das várias janelas, então o sorriso virou um esgar de fúria e ele mandou Harry seaproximaroutravez.Ogarotodeuunspassosà frente, tomandoocuidadodeparar aumadistânciaemqueasmãos
estendidasdotionãopudessemrecomeçaraesganá-lo.–Quediabosvocêestápretendendocomisso,moleque?–perguntoutioVáltercomavozrouca
tremendodefúria.–Pretendendocomissooquê?–perguntouHarrycomfrieza.Nãoparavadeolharparaaesquerda
eadireitadarua,naesperançadeverquemproduziraoestampido.–Fazerumbarulhodessescomosefosseumtirodepartidadoladodeforadanossa...–Nãofuieuquefizobarulho–respondeuogarotocomfirmeza.A caramagra e cavalar de tia Petúnia apareceu agora ao lado da cara larga e vermelha do tio
Válter.Estavalívida.–Porquevocêestavaescondidoembaixodanossajanela?– É... é, uma boa pergunta, Petúnia.Que é que você estava fazendo embaixo da nossa janela,
moleque?–Ouvindoonoticiário–respondeuHarry,conformado.Otioeatiatrocaramolharesindignados.–Ouvindoonoticiário!Denovo?–Bom,équeelemudatodosodias,entende?–respondeuogaroto.–Não se faça de engraçadinho comigo,moleque! Quero saber que é que você anda realmente
tramando...enãomerespondaoutravezcomessahistóriadequeestavaouvindoonoticiário!Vocêsabemuitobemquegentedasualaia...–Cuidado,Válter!–cochichoutiaPetúnia,eomaridobaixoutantoavozqueHarrymalconseguiu
ouvi-lo.–...quegentedasualaianãosainonossonoticiário!–Ésóissoqueosenhorsabe–respondeuHarry.OsDursleyoencararamporalgunssegundos,entãoatiafalou:–Vocêéummentirozinhosórdido.Queéqueaquelas...–eaíelatambémbaixouavoz,eHarry
precisoufazerleituralabialparaentenderapalavraseguinte–...corujasandamfazendoquenãolhetrazemnotícias?
–Ah-ah!–exclamoutioVáltercomumsussurrotriunfante.–Agorasaidessa,moleque!Comosenãosoubéssemosquevocêrecebetodasassuasnotíciasporaquelesbichospestilentos!Harryhesitouuminstante.Custou-lhealgumesforçodizeraverdadedestavez,emboraostiosnão
pudessemsabercomosesentiamalemfazê-lo.–Ascorujas...nãoestãometrazendonotícias–respondeucomavozinexpressiva.–Nãoacredito–faloutiaPetúnianamesmahora.–Nemeu–disseomarido,enfático.–Sabemosquevocêestátramandoalgumacoisaestranha–retorquiutiaPetúnia.–Nãosomosburros,sabe–disseotio.–Bom,issoénovidadeparamim–retrucouHarry,quecomeçavaaseenraivecer,eantesqueos
Dursleypudessemchamá-lodevolta,ogarotolhesdeuascostas,atravessouafrentedacasa,pulouporcimadamuretadojardimecomeçouasubirarua.Agoraeleestavaemapurosesabiadisso.Teriadeenfrentarostiosmaistardeepagaropreçoda
grosseria,masissonãoopreocupavamuitonomomento;tinhaassuntosmaisurgentesnacabeça.Harrytinhacertezadequeoestampidoforaproduzidoporalguémaparatandooudesaparatando.
EraexatamenteosomqueDobby,oelfodoméstico,faziaquandodesaparecianoar.SeráqueDobbyandavaporali,naruadosAlfeneiros?Seráqueoelfooestavaseguindonaqueleinstante?Quandolhe ocorreu este pensamento, ele se virou para examinar a rua, mas ela parecia completamentedesertaeogarototinhacertezadequeDobbynãoeracapazdeficarinvisível.Harrycontinuouaandar,semprestarmuitaatençãoaocaminhoqueestavaseguindo,porquenos
últimos temposbatiaessas ruascom tanta frequênciaque seuspéso levavamautomaticamenteaoslugares preferidos. A cadameia dúzia de passos, olhava por cima do ombro. Algum sermágicoestivera por perto quando ele estava deitado entre as begônias moribundas de tia Petúnia, tinhacerteza.Porquenãofalaracomele,porquenãofizeracontato,porqueestavaseescondendoagora?Então,quandosuafrustraçãoatingiuoauge,suacertezafoiseesvaindo.Talveznãotivessesidoumruídomágico,afinal.Talvezestivessetãodesesperadoparadetectaro
menor sinaldecontatodomundoaquepertenciaque simplesmente reagiaexageradamentea sonsmuitocomuns.Seráquepodiatercertezadequenãoforaosomdealgumacoisaquebrandonacasadovizinho?Harry teve a sensação surda de que seu estômago despencava e, antes que percebesse, a
desesperançaqueoatormentaraoverãointeirotornouaseapoderardele.Amanhã o despertador o acordaria às cinco da madrugada para ele poder pagar à coruja que
entregava oProfetaDiário –mas fazia sentido continuar a recebê-lo? Ultimamente Harry apenascorria os olhos pela primeira página e logo atirava o jornal para o lado; quando os idiotas queeditavam o Profeta finalmente percebessem que Voldemort voltara dariam a notícia em grandesmanchetes,eerasóissoqueinteressavaaHarry.Se tivesse sorte, chegariam também corujas com cartas dos seus melhores amigos, Rony e
Hermione,emboratodaaesperançaquealimentaradequeessascartaslhetrouxessemnotíciashaviamuitotinhasidoriscadadomapa.NãopodemosdizermuitacoisasobreVocê-Sabe-Quem,éóbvio...Nosrecomendaramparanãodizer
nada importante para o caso de nossas cartas se extraviarem... Estamosmuito ocupados,mas nãopossolhedardetalhes...Temmuitacoisaacontecendo,contaremosquandoagentesevir...Masquando é que iam se ver?Ninguémpareciamuito preocupado emmarcar datas.Hermione
escreveraumLogo iremosnosvernocartãoque lhemandaradeaniversário,masquandoeraesselogo?Peloquededuziadasvagasinsinuaçõesnascartasdosamigos,HermioneeRonyestavamnomesmolugar,presumivelmentenacasadospaisdeRony.MalconseguiasuportaraideiadosdoissedivertindonaTocaenquantoeleficavaencalhadonaruadosAlfeneiros.Defato,ficaratãozangado
comosamigosquejogarafora,semabrir,asduascaixasdebombonsdaDedosdemelquehaviamlhe mandado de presente de aniversário. Arrependera-se depois ao ver a salada murcha que tiaPetúniaprepararaparaojantardaquelanoite.EcomoqueRonyeHermioneestavamocupados?Porqueele,Harry,nãoestavaocupado?Nãose
mostraracapazdedarcontademuitomaisdoqueosamigos?Seráquetinhamseesquecidodoquefizera?NãoforaelequeentraranocemitérioeviramataremCedrico,edepoisforaamarradoaumalápidedesepulturaequasemorreratambém?Nãopensenisso,Harrydisseasimesmocomseveridade,pelamilésimaveznaqueleverão.Jáera
bemruimnãopararderevisitarocemitérioempesadelos,semficarremoendoacenanosmomentosdevigíliatambém.Ele virou a esquina e entrou no largo dasMagnólias; nomeio do caminho, passou a travessa
estreitaquemargeavaagaragemondeviraopadrinhopelaprimeiravez.Sirius,pelomenos,pareciacompreender o que ele estava sentindo.Admitamos que as cartas do padrinho eram tão vazias denotíciasinteressantesquantoasdeRonyeHermione,masaomenoscontinhampalavrasdealertaeconsoloemlugardeinsinuaçõestorturantes:seicomodeveserfrustranteparavocê...Nãosemetaemconfusõesetudodarácerto...Tenhacuidadoenãofaçanadasempensar...Bom,pensouHarry, aoatravessaro largodasMagnóliaspara tomara ruademesmonomeem
direção ao parque, onde já estava escurecendo, de um modo geral atendera à recomendação dopadrinho.PelomenosresistiraàtentaçãodeamarraramalanavassouraepartirsozinhoparaaToca.AchavaquesecomportaramuitobemconsiderandosuagranderaivaefrustraçãoporestarhátantotempoencalhadonaruadosAlfeneiros,reduzidoaseesconderemcanteirosnaesperançadeouviralguma coisa que pudesse indicar o que Lorde Voldemort andava fazendo. Contudo, era bemexasperanteseraconselhadoanãoseprecipitarporalguémquecumpriradozeanosnaprisãodosbruxos, Azkaban, fugira, tentara cometer o homicídio pelo qual fora condenado injustamente esumiranomundomontadoemumhipogriforoubado.Harrysaltouporcimadoportãofechadodoparqueesaiuandandopelogramadoressequido.O
lugarestava tãovazioquantoasruasvizinhas.Quandochegouaosbalanços, largou-seemumqueDuda e os amigos ainda não tinham conseguido quebrar, passou o braço pela corrente e ficouolhando, desanimado, para o chão. Não poderia voltar a se esconder no canteiro dos Dursley.Amanhã,teriadeinventarumnovojeitodeouvironoticiário.Entrementes,nãohavianadaporqueesperar,excetomaisumanoiteinquietaeperturbada,porque,mesmoquandoescapavadospesadelossobre Cedrico, tinha sonhos intranquilos sobre longos corredores escuros, todos sem saída outerminandoemportastrancadas,queelesupunhaestaremligadosàmesmasensaçãodeestarpresoem uma armadilha que experimentava quando acordado. Com frequência, a velha cicatriz em suatesta formigava desconfortavelmente, mas ele não se enganava que Rony ou Hermione ou Siriusainda achassem issomuito interessante.Nopassado, a dor na cicatriz o avisavade queVoldemortestavarecobrandoforças,mas,agoraqueobruxovoltara,ostrêsprovavelmentelembrariamaelequeessairritaçãorotineiraeraesperada...nãohaviacomoquesepreocupar...nãoeranovidade...A injustiçadisso tudocrescia tantoemseupeitoque lhedavavontadedegritarde fúria.Senão
fosse por ele, ninguém saberia queVoldemort voltara! E sua recompensa era ficar encalhado emLittleWhingingquatrosemanasinteiras,completamenteisoladodomundodamagia,reduzidoaseacocorar entre begônias secas para poder ouvir notícias de periquitos australianos que sabiamesquiar!ComoDumbledorepodia tê-loesquecidocomtanta facilidade?PorqueRonyeHermionetinhamse reunido semconvidálo?Porquanto tempomais esperavamqueele aturasseSirius a lhedizer para ficar quieto e se comportar; ou resistisse à tentação de escrever para aquela droga doProfetaDiário informandoqueVoldemortvoltara?Essespensamentos indignadosgiravamemsuacabeça,esuasentranhassecontorciamderaiva,enquantoanoiteabafadaeveludosacaíaàsuavolta,
oar se impregnava como cheiroquentedegrama seca, e oúnico somque seouvia erao roncoabafadodotráfegonaruaalémdasgradesdoparque.Elenãosabiaquanto tempoficarasentadonobalançoquandoosomdevozes interrompeuseus
devaneios e o fez erguer osolhos.Os lampiõesdas ruasnos arredoresprojetavamumaclaridadenevoentasuficientementeforteparadelinearumgrupodepessoasquevinhamatravessandooparque.Uma delas cantava alto umamúsica grosseira. Os outros riam. Ouvia-se o teque-teque suave dasbicicletascarasqueelesempurravam.Harry sabia quem eram.O vulto à frente de todos era, sem dúvida, o seu primoDudaDursley
refazendoolentocaminhoparacasa,acompanhadoporsuaganguefiel.Dudaestavamaiscorpulentoquenunca,masumanodedietarigorosaeadescobertadeumnovo
talento haviam produzido uma grandemudança em seu físico.Como o tioVálter comentava comquemquisesseouvir,Duda recentemente se tornaracampeãodepeso-pesado júniornoTorneiodeBoxeInterescolardaRegiãoSudeste.O“nobreesporte”,comootiocostumavadizer,deixaraDudaaindamaisformidáveldoquepareceraaHarrynostemposdoensinofundamental,quandoserviradesacodepancadasparaoprimo.Ogaroto jánão sentiaomenormedodeDuda,mas continuavaaachar que o fato de ele ter aprendido a socar com mais força e precisão não era motivo paracomemorações.Acriançadadobairro tinhapavordele–umpavoraindamaiordoquesentiapor“aquelegarotoPotter”,sobreoqualhaviamsidoavisadosdequeeraumdelinquentedapiorespécieefrequentavaoCentroSt.BrutusparaMeninosIrrecuperáveis.Harryobservouosvultosescurosqueatravessavamogramadoeficouimaginandoquemteriam
andado surrando aquela noite. Olhe para o lado, foi o pensamento que lhe passou pela cabeçaenquantoosobservava.Vamos...olheparaolado...estousentadoaquisozinho...venhaexperimentar...SeosamigosdeDudaovissemsentadoali,comcertezatraçariamumaretaatéele,eoquefariao
primo então? Não iria querer fazer papel feio na frente da gangue, mas sentiria muito medo dedesafiarHarry...seriarealmentedivertidoobservarodilemadeDuda,provocá-lo,observaroprimoimpotenteparareagir...eseumdosoutrostentasseacertá-lo,estariapreparado–tinhasuavarinha.Queexperimentassem...adorariaextravasarumpoucodesuafrustraçãoemgarotosquenopassadotinhaminfernizadosuavida.Maselesnãoseviraram,nãooviram,jáestavamquasenasgrades.Harrydominouoimpulsode
chamá-los...procurarbriganãoeramuito inteligente...nãodeviausarmagia...estariasearriscandooutravezaserexpulso.As vozes dos companheiros de Duda foram morrendo, eles tinham desaparecido de vista, em
direçãoàruadasMagnólias.Pronto, Sirius, pensou Harry, desanimado. Nada de precipitações. Não me meti em encrencas.
Exatamenteocontráriodoquevocêfez.Ele se levantoue seespreguiçou.TiaPetúniae tioVálterpareciampensarqueahoraqueDuda
chegasseeraahoracertaparasevoltarparacasa,equalquerminutodepoisdissoeratardedemais.OtioameaçaratrancarHarrynobarracodeferramentasseeletornasseachegardepoisdeDuda,porisso,reprimindoumbocejo,eaindamal-humorado,ogarotosaiuemdireçãoaoportãodoparque.AruadasMagnólias,comoadosAlfeneiros,eracheiadegrandescasasquadradascomgramados
perfeitamente cuidados, todasdepropriedadedehomensgrandes equadradosqueguiavamcarrosmuitolimpos,iguaisaosdotioVálter.HarrypreferiaobairrodeLittleWhingingànoite,quandoasjanelasprotegidasporcortinasformavamretalhosdecoresvivasnoescuro,eelenãocorriaoriscodeouvircomentárioscensurandosuaaparência“delinquente”quandopassavapelosdonosdascasas.Caminhou depressa, por isso, nametade da rua dasMagnólias tornou a avistar a turma deDuda;estavam se despedindo na entrada do largo das Magnólias. Harry se abrigou sob a copa de umlilaseiroeesperou.
–...guinchoufeitoumporco,nãofoi?–iadizendoMalcolm,arrancandorisosdoscolegas.–Umbomganchodedireita,Dudão–elogiouPedro.–Mesmahoraamanhã?–perguntouDuda.–Láemcasa,meuspaisvãosair–respondeuGórdon.–Então,atélá–concordouDuda.–Tchau,Duda.–Agentesevê,Dudão!Harry esperou o resto dos garotos continuar, antes de recomeçar a andar. Quando as vozes
desapareceramnadistância,eleentroudenovonolargodasMagnóliase,apressandoopasso,nãotardouachegaraumadistânciaemqueoprimo,quecaminhavadescansadamente,desafinandoumacanção,pudesseouvi-lo.–Ei,Dudão!Dudasevirou.–Ah–resmungou.–Évocê.–Então,háquantotempovocêéoDudão?–perguntouHarry.–Nãochateia–rosnouoprimodando-lheascostas.–Nomelegal–comentouHarry,rindoeacompanhandoopassodoprimo.–Masparamimvocê
sempreseráoDudiquinho.–Já falei,NÃOCHATEIA!– repetiuDuda,cujasmãos,quemaispareciampresuntos, tinhamse
fechado.–Osgarotosnãosabemqueéassimqueamamãetechama?–Calaessaboca.–Vocênãodizaelaparacalaraboca.Entãopossousar“Fofinho”e“Duduzinho”?Dudanãorespondeu.Oesforçoparanãobaternoprimopareceuexigirtodooseuautodomínio.–Entãoqueméquevocêsandaramespancandoestanoite?–indagouHarry,parandodesorrir.–
Outrogarotodedezanos?SeiqueacertaramoMarcoEvansanteontem...–Eleestavapedindo–rosnouDuda.–Ah,é?–Elemedesacatou.–Ah,foi?Dissequevocêpareciaumporcoqueaprendeuaandarnaspatastraseiras?Porqueisso
nãoédesacatar,Duda,issoéverdade.UmmúsculocomeçouatremernoqueixodeDuda.Harrysentiuumaenormesatisfaçãodeverque
estavaenfurecendooprimo; teveasensaçãodequebombeavaaprópriafrustraçãoparadentrodoprimo,aúnicaválvuladeescapequetinha.OsdoisviraramnatravessaestreitaondeHarryviraSiriuspelaprimeiravez,umatalhoentreo
largodasMagnóliaseaalamedadasGlicínias.Estavadesertaemuitomaisescuradoqueasduasruasqueligava,porquenãotinhalampiões.Ospassosdosprimosficaramabafadosentreasparedesdeumagaragem,aumlado,eumacercaalta,dooutro.–Vocêseachaumgrandehomemcarregandoessacoisa,nãoé?–disseDudadepoisdealguns
segundos.–Quecoisa?–Essa...essacoisaquevocêlevaescondida.Harrytornouarir.–Nãoéquevocênãoétãoburroquantoparece,Duda?Masachoquesefossenãoseriacapazde
andarefalaraomesmotempo.Harrypuxouavarinha.Viuqueoprimoaolhavadeesguelha.–Vocênãotempermissão–disseDudanamesmahora.–Seiquenãotem.Seriaexpulsodaquela
escolafajutaquevocêfrequenta.–Comoéquevocêsabequeasregrasnãomudaram,Dudão?–Nãomudaram–disseoprimo,emboranãoparecessetotalmenteseguro.Harryriubaixinho.–Vocênãotempeitoparameenfrentarsemessacoisa,nãoé?–rosnouDuda.–Evocêprecisadequatroamigosàssuascostasparaatacarumgarotodedezanos.Sabeaquele
títulodeboxequevocêviveexibindo?Queidadetinhaoseuadversário?Sete?Oito?– Para sua informação, ele tinha dezesseis anos e ficou desacordado vinte minutos depois que
acabeicomele,eeraduasvezesmaispesadodoquevocê.Esperasóeucontaraopapaiquevocêpuxouessacoisa...–Vai correr para o papai agora, é?Será que oDudinha campeãodopapai ficou commedoda
varinhadoHarrymalvado?–Vocênãoétãovalenteànoite,nãoé?–caçoouDuda.–Estamosdenoite,Dudiquinho.Écomoagentechamaquandoficaescuroassim.–Estoufalandoquandovocêestádeitado–vociferouDuda.Pararadeandar.Harryparoutambém,encarandooprimo.Dopoucoqueconseguiaverdorosto
largodeDuda,elepareciaestranhamentetriunfante.–Comoassim,nãosouvalentequandoestoudeitado?–perguntouHarryinteiramentepasmo.–Do
queéquevocêachaquetenhomedo,dostravesseirosoudeoutracoisaassim?–Euouvivocêànoitepassada–disseDudasemfôlego.–Falandoduranteosono.Gemendo.– Como assim? – repetiu Harry, mas com uma sensação de frio e afundamento no estômago.
Tornaraavisitarocemitérioemsonhos,nanoiteanterior.Dudasoltouumagargalhadarouca,depoisfezumavozdefalseteelamúria.–NãomatemCedrico!NãomatemCedrico!QueméCedrico...seunamorado?–Eu... você estámentindo – contestouHarrymaquinalmente.Mas sua boca secara. Sabia que o
primonãoestavamentindo;dequeoutraformapoderiasaberonomedeCedrico?–Papai!Meajude,papai!Elevaimematar,papai!Buuuu!–Calaaboca–disseHarryemvozbaixa.–Calaaboca,Duda,estouteavisando!–Vemmeajudar,papai!Mamãe,vemmeajudar!ElematouCedrico!Papai,meajude!Elevai...
Nãoapontaessacoisapramim!Dudarecuoucontraaparededatravessa.Harryestavaapontandoavarinhadiretamenteparaoseu
coração.Elesentiacatorzeanosdeódioaoprimopalpitarememsuasveias–oquenãodariaparaatacá-lo agora, enfeitiçá-lo de tal jeito queDuda precisaria rastejar até em casa como um inseto,mudo,antenasbrotandodesuacabeça...–Nuncamaisvolteafalarnisso–rosnouHarry.–Estámeentendendo?–Aponteessacoisaparaoutrolado!–Euperguntei,vocêmeentendeu?–Aponteissoparaoutrolado!–VOCÊMEENTENDEU?–AFASTEESSACOISADE...Dudasoltouumaexclamaçãoestranhaetremida,comoseotivessemmergulhadoemáguagelada.Algumacoisaaconteceraànoite.Oazulanileestreladodocéunoturnoderepenteficounegroe
sem luz – as estrelas, a lua, os lampiões enevoados em cada extremo da travessa haviamdesaparecido.Oroncodistantedoscarroseomurmúriodasárvoreshaviamdesaparecido.Atepidezdanoitede repente se transformouemum friocortante.Osgarotos seviramenvolvidosporumaescuridãosilenciosa, impenetrávele total,comoseamãodeumgigante tivesseatiradoummantogeladoeespessosobreatravessa,cegando-os.
PorumafraçãodesegundoHarrypensouquetivessefeitoalgumamágicainvoluntária,apesardeestarresistindoomáximoquepodia–emseguidaoseuraciocínioemparelhoucomosseussentidos–elenãotinhapoderparaapagarasestrelas.Virou,então,acabeçaparacáeparalá, tentandoveralgumacoisa,masastrevascobriamseusolhoscomoumvéusempeso.AvozaterrorizadadeDudaespocounosouvidosdeHarry.–Q-queéquevocêestáf-fazendo?P-paracomisso!–Nãoestoufazendonada!Calaabocaeficaparado!–Nãoestouv-vendonada!F-fiqueicego!Eu...–Eufaleiparavocêcalaraboca!Harryparou, imóvel, virandoos olhos enceguecidospara a direita e a esquerda.O frio era tão
intensoqueeletremiadacabeçaaospés;arrepiosbrotaramemseusbraçoseospelosdesuanucaficaramempé–eleabriuosolhosomaisquepôde,arregalando-osparatodososlados,semver.Eraimpossível...elesnãopodiamestarali...nãoemLittleWhinging...Harryapurouosouvidos...
pôdeouvi-losantesdevê-los.–Voucontaraopapai!–choramingouDuda.–C-cadêvocê?Q-queéquevocêestáf-fa...?–Quercalaraboca?–sibilouHarry.–Estoutentandoesc...Masemudeceu.Acabaradeouvirexatamenteoqueestiverareceando.Havia alguma coisa na travessa além deles, alguma coisa que respirava em arquejos roucos e
secos.Harrysentiuumpavorterríveleinstantâneoparadoalinanoitegélida.–P-paracomisso.Paradefazerisso!Vousocarvocê,juroquevou!–Duda,cala...PAM.Um punho fez contato com o lado da cabeça de Harry, erguendo-o do chão. Luzinhas brancas
cintilaramdiantedosseusolhos.Pelasegundavezemumahora,elesentiuacabeçaracharaomeio;nomomentoseguinte,estatelou-senochãoeavarinhavooudesuamão.–Seulesado!–berrouHarry,osolhosmarejandodedor,aomesmotempoquetentavalevantar
apoiado nas mãos e nos joelhos, apalpando freneticamente a escuridão. Ele ouviu Duda tentar seafastar,baternacercadatravessa,tropeçar.–DUDA,VOLTAAQUI!VOCÊESTÁCORRENDODIRETOPARAACOISA!Ouviu-seumguinchohorríveleospassosdeDudapararam.NomesmoinstanteHarrysentiuum
frioparalisanteàscostasquesópodiasignificarumacoisa.Ehaviamaisdeuma.– DUDA, FIQUE DE BOCA FECHADA! FAÇA O QUE QUISER, MAS FIQUE DE BOCA
FECHADA!Varinha! –murmurouHarry, nervoso, suasmãos saltandopelo chão comoaranhas. –Ondeestá...varinha...depressa...lumus!Ordenouofeitiçoautomaticamente,desesperadoporumaluzqueoajudasseemsuaprocura–e,
para seu alívio e descrença, a luz acendeu a centímetros de suamão direita – a ponta da varinhaacendeu.Harryagarrou-a,ficouempéesevirou.Seuestômagodeuvoltas.Umvultoaltaneiro,encapuzado,deslizavaemsuadireção, flutuandosobreosolo, sempésnem
rostovisíveissobasvestes,sugandoanoiteàmedidaqueseaproximava.Cambaleandoparatrás,ogarotoergueuavarinha.–Expectopatronum!Umfiapodefumaçaprateadadisparoudapontadavarinhaeodementadorretardouopasso,maso
feitiço não funcionara direito; tropeçando nos próprios pés, Harry recuou mais, à medida que odementadoravançavaparaeleeopânicoanuviavaseucérebro–concentre...Umpardemãoscinza,sarnentaseviscosasseestendeuparaele.Umruídocrescenteinvadiuseus
ouvidos.
–Expectopatronum!Suavozsoouabafadaedistante.Outrofiapodefumaçaprateadamaistênuequeoanteriorsaiuda
varinha–nãoconseguiumaisdoqueisso,nãoconseguiurealizarofeitiço.Harryouviuumarisadaemsuamente,umarisadadesagradáveleaguda...sentiuocheiropodredo
dementador,umfrioletalencheuseuspulmões,afogando-o–pense...algumacoisaalegre...Masnãohaviafelicidadenele...osdedosenregeladosdodementadorcomeçaramaseaproximar
desuagarganta–arisadaagudatornou-secadavezmaisaltaeumavozfalouemsuamente:“Curve-separaamorte,Harry...talvezelasejaindolor...eunãosaberiadizer...Nuncamorri...”ElenuncareveriaRonyeHermione...Eosrostosdosamigossurgiramcomnitidezemsuamenteenquantoelelutavapararespirar.–EXPECTOPATRONUM!Um enorme veado de prata irrompeu da ponta de sua varinha; a galhada do animal atingiu o
dementadornapartedocorpoemquedeveriaestarocoração;odementadorfoiatiradopara trás,imponderávelcomoaescuridão,equandooveadoavançoueleseprecipitouparalonge,comoummorcego,derrotado.– PORAQUI! – gritouHarry para o veado.Dandomeia-volta, ele saiu correndo pela travessa,
segurandonoaltoavarinhaacesa.–DUDA?DUDA!Harry deu apenas uns dez passos e já os alcançou: Duda estava enroscado no chão, os braços
cruzadossobreorosto.Umsegundodementadoragachava-separaele,agarrandoseuspulsoscomasmãosescorregadias, forçando-asasesepararemlentamente,quasecarinhosamente,aproximandoacabeçaencapuzadadorostodeDudacomosefossebeijá-lo.–PEGAELE!–berrouHarry,e,comumruídodeforçaevelocidade,oveadoprateadoqueele
conjurarapassouagalope.AcarasemolhosdodementadorestavaamenosdetrêscentímetrosdeDudaquandoagalhadadeprataoatingiu;elefoiatiradoparaoare,comoseucompanheiro,saiuvoando e foi absorvido pela escuridão; o veado se dirigiu a meio galope para um extremo datravessaesedissolveuemumanévoaargentina.Aluz,asestrelaseoslampiõesrecobraramvida.Umabrisamornavarreuatravessa.Asárvores
farfalharampelosjardinsdosarredoreseoruídoabafadodoscarrosnolargodasMagnóliasencheumaisumavezoar.Harry ficou muito quieto, todos os seus sentidos vibrando, procurando absorver o retorno à
normalidade.Passadouminstante,elepercebeuquesuacamisetaestavagrudadaaocorpo;eleestavaalagadodesuor.Nãoconseguiaacreditarnoqueacabaradeacontecer.Dementadoresali,emLittleWhinging.Dudacontinuavaenroscadonochão,choramingandoetremendo.Harryseabaixouparaverseo
primoestavaemcondiçõesdese levantar,masneste instanteouviualguémcorrendoasuascostas.Instintivamente, ele tornou a erguer a varinha e girou nos calcanhares para enfrentar o recém-chegado.ASra.Figg,avelhotagagá,suavizinha,apareceuofegante.Seuscabelosgrisalhosescapavampor
baixodaredequeusava,doseupulsopendiaumasacadecomprasdefiometálicoeseuscalcanharessobravamparaforanaspantufasdetecidoxadrez.Harryprocurouesconderrapidamenteavarinha,mas...–Nãoguardeisso,meninoidiota!–gritouela,esganiçada.–Esehouvermaisdelesporaqui?Ah,
euvoumataroMundungoFletcher!
—CAPÍTULODOIS—Umarevoadadecorujas
–Quê?–exclamouHarrysementender.–Elesaiu–respondeuaSra.Figg,torcendoasmãos.–Saiuparaveralguémapropósitodeuma
remessadecaldeirõesquecaiudagarupadeumavassoura!Eudissequeoesfolariavivoseelefosse,eagoravejaoqueaconteceu!Dementadores!FoiumasorteeuterpostooSr.Tibblesnocaso!Masnãotemostempoparaficarparados!Corraagora,vocêtemdevoltarparacasa!Ah,aconfusãoqueissovaiprovocar!Euvoumataraquelehomem!Arevelaçãodequesuavizinhagagácommaniadegatossabiaoqueeramdementadoresfoiquase
umchoquetãograndeparaHarryquantoencontrardoisdelesnatravessa.–Asenhoraébruxa?–Nãoconsegui ser, eMundungo sabemuitobemdisso, entãocomoéqueeu iapoder ajudar a
espantarosdementadores?Eledeixouvocêcompletamentedescobertoeeuoavisei...–EssetalMundungoandoumeseguindo?Espereaí...foiele!Desaparatounafrentedaminhacasa!– Issomesmo,maspor sorteeu tinhamandadooSr.Tibbles ficardebaixodeumcarro, sópor
precaução,eeleveiomeavisar,masquandochegueivocêjátinhasaídodecasa...eagora...ah,queéque o Dumbledore vai dizer? Você! – gritou ela para Duda, ainda inerte no chão da travessa. –Levantaessabundagordadochão,andalogo!–AsenhoraconheceDumbledore?–perguntouHarryolhandofixamenteparaavelhota.– Claro que conheçoDumbledore, quem não conheceDumbledore?Mas vamos logo. Não vou
poderajudarvocêseelesvoltarem.Eununcaconseguitransfigurarnemumsaquinhodechá.Elaseabaixou,agarrouobraçomaciçodeDudacomasmãosenrugadasepuxou.–Levanta,seumontedecarneinútil,levanta!MasDudaounãopodia ounãoqueria semexer.Continuouno chão, trêmulo, de cara pálida, a
bocahermeticamentefechada.–Eufaçoisso.–HarryagarrouDudapelobraçoepuxou.Comenormeesforço,conseguiupô-lo
depé.Dudapareciaprestesadesmaiar.Seusolhosmiúdosgiravamnasórbitaseosuorgotejavaemseurosto;nomomentoemqueHarryolargou,elebalançouprecariamente.–Andadepressa!–disseaSra.Figg,nervosa.OgarotopassouumdosbraçosmaciçosdeDudaporcimadosprópriosombrosearrastou-oem
direçãoàrua,ligeiramentecurvadosobopeso.ASra.Figgacompanhou-oscompassosvacilantes,espiando,ansiosa,pelaesquina.–Mantenhaavarinhapreparada– recomendouaHarryaoentraremnaalamedadasGlicínias.–
Não se preocupe com o Estatuto de Sigilo agora, de qualquer jeito vai haver uma confusão dosdiabos,eémelhorsermosenforcadosporcausadeumdragãodoqueporumovo.EaindafalamdaRestrição àPrática deMagiaporMenores... eraexatamente disso que oDumbledore tinhamedo...Queéaquiloalinofimdarua?Ah,ésóoSr.Prentice...nãoguardeasuavarinha,menino,quantasvezesjálhedissequenãosirvoparanada?NãoerafácilempunharavarinhacomfirmezaeaomesmotempoarrastarDuda.Harrydeuuma
cotovelada impaciente nas costelas do primo, mas ele parecia ter perdido toda a vontade de se
movimentarsozinho.EstavaderreadonoombrodeHarry,arrastandoospésenormespelochão.–Porqueasenhoranãomecontouqueeraquasebruxa,Sra.Figg?–perguntouHarry,ofegando
comoesforçodecontinuarandando.–Todasaquelasvezesquefuiàsuacasa...porqueasenhoranãofalounada?–OrdensdoDumbledore.Eraparaeuficardeolhoemvocê,massemdizernada,vocêeramuito
criança.Desculpe ter sido tão chata,Harry,mas osDursley nunca o teriam deixadome visitar seachassem que você estava se divertindo. Não foi fácil, sabe... mas, minha nossa! – exclamou elatragicamente,torcendoasmãos–,quandoDumbledoresouber...comoéqueoMundungopôdesair,devia ter ficadode serviçoatéameia-noite...ondeéqueele semeteu?Comoéquevoucontar aoDumbledoreoqueaconteceu?Nãoseiaparatar.–Eutenhoumacoruja,possolheemprestar.–Harrygemeu,receandoquesuacolunasepartisse
sobopesodoprimo.–Harry,vocênãoentende!Dumbledorevaiprecisaragiromaisrápidopossível,oMinistériotem
meiosprópriosdedetectarmágicasrealizadaspormenores,elesjásabem,podeescreveroqueestoudizendo.–Maseuestavame livrandodosdementadores, tinhadeusarmagia:comcertezaestariammais
preocupadosseosdementadoresestivessemandandopelaalamedadasGlicínias.– Ah, querido, eu gostaria que fosse assim, mas receio... MUNDUNGO FLETCHER, EU VOU
MATARVOCÊ!Ouviu-seumgrandeestalo,eumfortecheirodebebidamisturadoaodefumocurtidoimpregnou
o ar quando umhomematarracado, com a barba por fazer, e vestindo um casaco esfarrapado, sematerializoudiantedogrupo.Tinhapernascurtasearqueadas,cabelosruivosedesgrenhados,olhosempapuçadosevermelhosquelhedavamaaparênciatristedeumcãodecaçarlebres.Traziatambémnas mãos um embrulho prateado que Harry reconheceu na mesma hora como uma Capa daInvisibilidade.–Algumanovidade,Figgy?–perguntoueleolhandodavelhotaparaHarryedesteparaDuda.–
Queaconteceucomasuavigilânciasecreta?–Voulhemostraravigilânciasecreta!–exclamouaSra.Figg.–Dementadores, seu ladrãozinho
imprestávelegolpista!–Dementadores?–repetiuMundungo,horrorizado.–Dementadores,aqui?– Aqui, seu monte inútil de bosta de morcego, aqui! – gritou ela. – Dementadores atacando o
garotonoseuturnodeserviço!–Pombas–praguejouMundungobaixinho,olhandodaSra.FiggparaHarryedevoltaàmulher.–
Pombas,eu...–Evocêàsoltapelomundocomprandocaldeirõesroubados!Eunãolhedisseparanãoir?Não
disse?–Eu...bem...–Mundungopareciaprofundamenteconstrangido.–Eraumótimonegócio,entende...ASra.Figgergueuobraçoemquetraziapenduradaumasacametálica,deuimpulsoemeteu-ana
caraenopescoçodobruxo;ajulgarpelobarulhoqueasacafez,estavacheiadecomidadegato.–Ai...paracomisso...paracomisso,suavelhacaduca!AlguémvaiterdecontaraoDumbledore!–E...vai...mesmo!–berrouaSra.Figg,batendocomasacadecomidadegatoemtodasaspartes
docorpodeMundungoaoseualcance.–E...é...melhor...que...seja...você...epodecontaraele...por...que...não...estava...aqui...para...ajudar!– Não precisa se descabelar! – disseMundungo, erguendo os braços para proteger a cabeça e
encolhendoocorpo.–Euvou,euvou!E,comoutroestaloforte,eledesapareceu.–EsperoqueoDumbledoremateele!–exclamouaSra.Figg,furiosa.–Agoravamos,Harry,que
équevocêestáesperando?Harrydecidiunãogastaro fôlegoque lhe restavaparaexplicarquemal conseguiaandar sobo
pesodeDuda.Puxouoprimosemi-inconscientemaisparacimaeprosseguiucambaleando.–Voulevarvocêatéaporta–disseaSra.Figg,quandoentraramnaruadosAlfeneiros.–Parao
caso de haver mais deles por aí... ah, minha nossa, que catástrofe... e você precisou enfrentá-lossozinho...eDumbledoredissequetínhamosdeimpedi-lodefazermágicasa todocusto...bem,nãoadiantachorarapoçãoderramada...agoraogatoestásoltonomeiodosdiabretes.–Então–ofegouHarry–Dumbledore...mandou...gentemeseguir?–Éclaro–respondeuavelhota,impaciente.–Vocêesperavaqueodeixasseandarporaísozinho
depoisdoqueaconteceuemjunho?MeuDeus,garoto,medisseramquevocêerainteligente...certo...agora entre em casa e não saia mais – recomendou ela, quando chegaram ao número quatro. –Imaginoquenãovaidemorarmuitoparaalguémentraremcontatocomvocê.–Queéqueasenhoravaifazer?–perguntouHarrydepressa.–Voudiretoparacasa–respondeuavelhota,correndooolharpelaruaeestremecendo.–Preciso
aguardarmaisinstruções.Nãosaiadecasa.Boa-noite.–Nãová,fiquemaisumpouco.Euquerosaber...MasaSra.Figgjásefora,apressada,aspantufasbatendocontraoscalcanhares,asacaretinindo.– Espere! – gritou o garoto. Tinhamil perguntas para fazer a quem estivesse em contato com
Dumbledore; mas em segundos a velhota foi engolida pela escuridão. Contrariado, ele tornou aajeitarDudasobreosombrosecontinuou,lentaepenosamente,emdireçãoàentradadecasa.Aluzdohallestavaacesa.Harrytornouaguardaravarinhanocósdasjeans,tocouacampainhae
observou a silhueta de tia Petúnia ir crescendo, estranhamente distorcida pelo vidro ondulado daporta.–Duzinho!Atéqueenfim,eujáestavaficandomuito...muito...Duzinho,queéquevocêtem?HarryolhoudeesguelhaparaDudaesaiudebaixodelebema tempo.Oprimooscilouporum
momento no mesmo lugar, o rosto verde-pálido... então abriu a boca e vomitou no capacho daentrada.–DUZINHO!Duzinho!,queéquevocêtem?Válter?VÁLTER!OtiodeHarryacorreudasaladeestar,gingandoocorpopesado,bigodãodemorsasacudindo
paracáeparalácomosemprefaziaquandoestavaagitado.Válterapressou-seaajudarPetúniaamanobrarofilhodejoelhosbambospeloportal,aomesmo
tempoqueevitavapisarnapoçadevômito.–Eleestápassandomal,Válter!–Quefoi,filho?Queaconteceu?ASra.Polkisslheserviualgumacoisaexóticaparaochá?–Porqueéquevocêestátodosujo,querido?Andoudeitandonochão?–Espereaí:vocênãofoiassaltado,foi,filho?TiaPetúniagritou:–Chameapolícia,Válter!Chameapolícia!Duzinho, querido, fale comamamãe!Que foi que
fizeramcomvocê?Durante todo esse alvoroço, ninguém pareceu ter reparado em Harry, o que lhe convinha
perfeitamente.ConseguiudeslizarpelaportapoucoantesdotioVálterbatê-lae,enquantoosDursleyavançavamatropeladamentepelocorredordacozinha,Harryprosseguiu,cautelosoeemsilêncio,emdireçãoàescada.–Quemfezisso,filho?Digaosnomes.Vamospegá-los,nãosepreocupe.–Psiu!Eleestátentandofalaralgumacoisa,Válter!Quefoi,Duzinho?Contepramamãe!OpédeHarryestavanoprimeirodegraudaescadaquandoDudarecuperouavoz.–Ele.
Harrycongelou,opénaescada,orostocontraído,preparando-separaaexplosão.–MOLEQUE!VENHAJÁAQUI!Comumasensaçãoemquesemisturavamomedoearaiva,Harrytirouopédaescadaesevirou
paraacompanharosDursley.Acozinhaescrupulosamentelimpatinhaumbrilhoirrealdepoisdaescuridãodarua.TiaPetúnia
levouDudaparaumacadeira;elecontinuavaverdeesuado.TioVálterparoudiantedoescorredordepratoseencarouHarrycomseusolhosmiúdosapertados.–Quefoiquevocêfezcomomeufilho?–perguntoucomumrosnadoameaçador.–Nada–respondeuogaroto,sabendoperfeitamentebemqueotionãoacreditaria.–Quefoiqueelefezcomvocê,Duzinho?–indagouPetúniacomavoztrêmula,agoralimpandoo
vômito da frente do blusão de couro do filho. – Foi... foi você-sabe-o-quê, querido? Ele usou... acoisadele?Lentaetremulamente,Dudaconcordoucomacabeça.– Não usei! – disse Harry com rispidez, enquanto tia Petúnia deixava escapar um guincho e o
maridoerguiaospunhos.–Eunãofiznadacomele,nãofuieu,foi...Mas, naquele exatomomento, uma coruja-das-torres adentrou a janela da cozinha. Passando de
raspãoporcimadacabeçadotioVálter,aavevooupelacozinha,largouaospésdeHarryumgrandeenvelope de pergaminho que trazia no bico, fez uma volta graciosa, as pontas das asas apenasroçandootopodageladeira,e,emseguida,tornouasairparaojardim.–CORUJAS!–urroutioVálter,agrossaveiaemsuatêmporapulsandodecóleraaobaterajanela
dacozinha.–CORUJASOUTRAVEZ!NÃOVOUMAISPERMITIRCORUJASEMMINHACASA!MasHarryjáestavaabrindooenvelopeepuxandoacartaquehaviadentro,seucoraçãopalpitava
comforçacomoseestivessenopomodeadão.
PrezadoSr.Potter,ChegouaonossoconhecimentoqueV.SªexecutouoFeitiçodoPatronoàsvinteeumahorasevinteetrêsminutosdehojeemumaáreahabitadaportrouxaseempresençadeumdeles.AgravidadedessaviolaçãodoDecretodeRestriçãoàPráticadeMagiaporMenoresacarretará
suaexpulsãodaEscoladeMagiaeBruxariadeHogwarts.RepresentantesdoMinistérioirãoprocurá-loemsuaresidêncianospróximosdiasparadestruirsuavarinha.ComoV.SªjárecebeuumavisooficialporumainfraçãoanterioràSeção13doEstatutodeSigilo
emMagiadaConfederaçãoInternacionaldeBruxos,lamentamosinformarquedeverácompareceraumaaudiênciadisciplinarnoMinistériodaMagiaàsnovehorasdodiadozedeagosto.Fazemosvotosqueestejabem,Atenciosamente,MafaldaHopkirkSeçãodeControledoUsoIndevidodeMagiaMinistériodaMagia
Harryleuacartainteiraduasvezes.Tinhaapenasumavagaconsciênciadequeostioscontinuavamfalando.Emsuacabeça,tudoficoucongeladoeinsensível.Umúnicofatopenetrarasuaconsciênciacomoumdardoparalisante.ForaexpulsodeHogwarts.Tudoterminara.Nuncamaispoderiavoltar.EleergueuosolhosparaosDursley.Otio,decarapúrpura,gritavacomospunhosaindaerguidos.
AtiapassaraosbraçosemtornodeDuda,quevoltaraavomitar.O cérebro temporariamente estupidificado de Harry pareceu despertar. Representantes do
Ministérioirãoprocurá-loemsuaresidêncianospróximosdiasparadestruirsuavarinha.Sóhaviaumasolução.Teriade fugir–agora.Paraonde, elenão sabia,masestavacertodeumacoisa: em
Hogwartsouforadaescola,precisavadavarinha.Emumestadodequasedevaneio,puxouavarinhaevirou-separasairdacozinha.–Aonde é que você pensa que vai? – berrou o tioVálter.Comoo garoto não respondesse, ele
avançou decidido pela cozinha para bloquear a saída para o corredor. –Ainda não terminei comvocê,moleque!–Saidomeucaminho–disseHarrycomavozcontrolada.–Vocêvaificaraquieexplicarporqueomeufilho...–Seosenhornãosairdomeucaminhovoulhelançarumfeitiço–ameaçouHarry,erguendoa
varinha.– Não pense queme engana com essa conversa – vociferou o tio. – Eu sei que você não tem
permissãodeusarmagiaforadaquelehospícioquechamadeescola!–Ohospícioacabademeexpulsar.Por issopossofazeroquebementender.Osenhor temtrês
segundos.Um...dois...Umforteestampidoecoounacozinha.TiaPetúniagritou.TioVálterberroueseabaixou,epela
terceiraveznaquelanoiteHarryficouprocurandoafontedeumruídoquenãofizera.Localizou-aimediatamente:umacorujadas-igrejas,tontaearrepiada,estavapousadadoladodeforadopeitorildacozinha,poisacabaradecolidircomajanelafechada.Sem se importar com o berro angustiado do tio, “CORUJAS!”, Harry atravessou correndo o
aposento e escancarou a janela. A ave esticou a perna, à qual estava preso um pequeno rolo depergaminho,sacudiuaspenaselevantouvooassimqueHarrydesprendeuacarta.Asmãostrêmulas,ogarotodesenrolouestasegundamensagem,escritaapressadamente,atintapretameioborrada.
Harry,Dumbledore acabou de chegar aoMinistério e está tentando resolver o problema. NÃO DEIXE ACASADOSSEUSTIOS.NÃOFAÇAMAISNENHUMAMÁGICA.NÃOENTREGUESUAVARINHA.ArthurWeasley
Dumbledore estava tentando resolver o problema... que significava isso? Que poder tinhaDumbledore para se sobrepor ao Ministério da Magia? Havia talvez uma chance de voltar aHogwarts?UmbrotinhodeesperançacomeçouanascernopeitodeHarry,masquaseimediatamentefoisufocadopelopânico–comoiriasenegaraentregaravarinhasemusaramagia?Teriadeduelarcomos representantesdoMinistérioe, se fizesse isso, teria sortedenãoacabar emAzkaban, issosemfalarnaexpulsão.Seuspensamentosvoavam...poderia tentarfugiresearriscarasercapturadopeloMinistérioou
ficarparadoeesperarqueoencontrassemali.Sentia-semuitomaistentadopelaprimeirahipótese,massabiaqueoSr.Weasleyqueriaoseubem...e,afinaldecontas,Dumbledore já resolveraantesproblemasmuitopiores.–Tudobem–disseHarry–,mudeideideia,vouficar.Largou-seentãoàmesadacozinhaeencarouDudaeatia.OsDursleypareciamsurpresoscomsua
repentinamudançadeideia.Atiaolhoudesesperadaparaomarido.AveianatêmporadotioVálterpulsavamaisquenunca.–Dequemsãotodasessascorujas?–rosnouele.– A primeira era do Ministério da Magia, comunicando minha expulsão – explicou Harry
calmamente.Apuravaosouvidosparaosruídosláfora,tentandoidentificarseosrepresentantesdoMinistérioestariamchegando,eeramaisfácilemaissilenciosoresponderàsperguntasdotiodoquefazê-loseenfurecereberrar.–AsegundafoidopaidomeuamigoRony,quetrabalhanoMinistério.–MinistériodaMagia?–berrouotio.–Gentedesualaianogoverno?Ah,issoexplicatudo,tudo
mesmo,nãoadmiraqueopaísestejaindoparaobrejo.ComoHarrynãoreagiu,otioolhou-ozangadoebufou:–Eporqueéquevocêfoiexpulso?–Porqueuseiamagia.–Ah-ah!–rugiuotio,dandoummurroemcimadageladeira,queseabriu;várioslanchinhosde
baixacaloriadeDudacaírameseespatifaramnochão.–Entãovocêadmite!QuefoiquevocêfezcomoDuda?–Nada–falouHarryumpoucomenoscalmo.–Nãofuieu...–Foi–murmurouDuda inesperadamentee,namesmahora,ospais fizeramacenosparaHarry
calaraboca,curvando-separaofilho.–Vamos,filho–dissetioVálter–,quefoiqueelefez?–Digapragente,querido–sussurroutiaPetúnia.–Apontouavarinhaparamim–balbuciouogaroto.–Foi,fizissosim,masnãoausei...–Harrycomeçouadizeraborrecido,mas...–CALEABOCA!–berraramostiosemuníssono.–Continue,filho–repetiuotioVálter,suabigodeiraesvoaçandofuriosamente.–Tudoficouescuro–disseDuda,estremecendo.–Tudoescuro.Entãoeuouv-vi...coisas.Dentro
daminhac-cabeça.TioVáltere tiaPetúniaseentreolharamcheiosdehorror.Seacoisadequemenosgostavamna
vidaeraamagia–seguidadepertoporvizinhosqueburlavammaisdoqueelesaproibiçãodeusarmangueiras–,gentequeouviavozesdecididamenteficavaentreasdezúltimas.ObviamenteacharamqueDudaestavaperdendoojuízo.–Quetipodecoisasvocêouviu,fofinho?–sussurroutiaPetúnia,orostomuitopálidoelágrimas
nosolhos.MasDudapareciaincapazderesponder.Estremeceudenovoesacudiusuaenormecabeçalourae,
apesar da sensação entorpecida de pavor que se instalara emHarry desde a chegada da primeiracoruja, ele sentiu uma certa curiosidade. Os dementadores faziam a pessoa reviver os pioresmomentosdavida.Queéqueomal-acostumado,mimado,implicanteDudaforaobrigadoaouvir?–Comofoiquevocêcaiu,filho?–perguntoutioVálter,emumtomcalmoeanormal,otomque
seadotariaàcabeceiradealguémmuitodoente.–T-tropecei–gaguejouDuda.–Eaí...Ele apontou para o peito maciço. Harry compreendeu que o primo estava revivendo o frio
pegajosoqueinvadiraseuspulmõesquandoaesperançaeafelicidadeforamarrancadasdele.–Horrível–comentoucomavozrouca.–Frio.Realmentefrio.– Tudo bem – disse o pai, esforçando-se para falar com calma, enquanto suamulher, ansiosa,
levavaamãoàtestadeDudaparasentirsuatemperatura.–Queaconteceuentão,Duda?–Senti...senti...senti...comose...comose...–Comosejamaisfossevoltaraserfeliz–completouHarrysememoção.–Foi–sussurrouoprimo,aindatremendo.–Então!–disse tioVálter,avozrecuperandoseucompletoesonorovolume,endireitando-se.–
Você lançouum feitiçomaluconomeu filhoparaqueeleouvissevozese acreditassequeestava...condenadoaserinfelizououtracoisadogênero,foiissoquefez?–Quantas vezes vouprecisar repetir? – disseHarry, a voz e a raiva aumentando. –Não fui eu!
Foramdoisdementadores!–Doisoquê?...quetoliceéessa?–De-men-ta-do-res–disseogarotolentaeclaramente.–Dois.–Equediabosãodementadores?
–Sãoosguardasdaprisãodosbruxos,Azkaban–dissetiaPetúnia.Doissegundosderetumbantesilêncioseguiram-seaessaspalavrasantesquetiaPetúnialevassea
mão à boca como se tivesse deixado escapar um palavrão. Tio Válter arregalou os olhos para amulher.OcérebrodeHarryrodopiou.ASra.Figgeraumacoisa–masatiaPetúnia?–Comoéquevocêsabedisso?–perguntou-lheomarido,perplexo.TiaPetúniapareceumuitoespantadaconsigomesma.Olhouparaomaridonumpedidomudode
desculpas,depoisbaixouumpouquinhoamãomostrandoseusdentescavalares.–Ouvi...aquelerapazhorrível...contandoaelasobreosguardas...hámuitosanos–respondeusem
jeito.– Se a senhora está se referindo àminhamãe e aomeu pai, por que não diz o nome deles? –
protestouHarryemvozalta,masatianãolhedeuatenção.Pareciaextremamenteembaraçada.Harryficouaturdido.Excetoporumdesabafohámuitosanos,duranteoquala tiagritaraquea
mãe dele era anormal, o garoto nunca a ouvira mencionar a irmã. Espantava-se que ela tivesseguardadodurantetantotempoessapequenainformaçãosobreomundodamagia,quandoemgeralconcentravatodasassuasenergiasemfingirqueelenãoexistia.TioVálterabriuaboca,tornouafechá-la,depois,aparentementeseesforçandoparaselembrarde
comofalar,abriu-aumaterceiravezedisse,rouco:– Então... então... eles... hum... eles... hum... eles realmente existem, esses... hum... esses tais de
dementisouláoquesejam?TiaPetúniaconcordoucomumacenodecabeça.Válter olhou damulher para o filho e dele para o sobrinho, como se esperasse alguém gritar
“Primeirodeabril!”.Mascomoninguémgritou,ele tornouaabriraboca,mas foi-lhepoupadootrabalhodeencontrarpalavraspelachegadadaterceiracorujadanoite.Elaentroucomavelocidadedeumbólideemplumadopela janelaaindaabertaepousoucomestardalhaçonamesadacozinha,fazendoostrêsDursleypularemdesusto.Harrypuxouumsegundoenvelopedeaspectooficialdobicodacorujaeabriu-o,enquantoaavearrancavadevoltaànoite.–Chega... pombas... dessascorujas – resmungouo tio distraído, dirigindose decidido à janela e
fechando-acomviolência.
PrezadoSr.Potter,Em aditamento a nossa carta enviada há aproximadamente vinte e dois minutos, o Ministério daMagia revisou a decisão de destruir a sua varinha imediatamente. V. Sª poderá conservá-la até aaudiência disciplinarmarcada para o dia doze de agosto, ocasião em que tomaremos uma decisãooficial.ApósdiscutiroassuntocomodiretordaEscoladeMagiaeBruxariadeHogwarts,oMinistério
concordou que a questão de sua expulsão será igualmente decidida na mesma oportunidade. V. Sªdeverá,portanto,considerar-sesuspensodaescolaatéotérminodasinvestigações.Comosnossosmelhoresvotos,Atenciosamente,MafaldaHopkirkSeçãodeControledoUsoIndevidodeMagiaMinistériodaMagia
Harryleuestacartadoprincípioaofimtrêsvezesseguidas.Oapertodeinfelicidadeemseupeitodiminuiuumpouquinhoao saberquenãoestavadefinitivamente expulso, emboraos seus temoresnãoestivessemdemodoalgumextintos.Tudoparecia estardependendodessa tal audiênciadodiadozedeagosto.
–Eentão?–perguntouotioVálter,chamandoosobrinhodevoltaàcozinha.–Eagora?Elesocondenaramaalgumacoisa?Gentedesualaiatemsentençademorte?–perguntouesperançoso.–Tenhodecompareceraumaaudiência–respondeuHarry.–Elávocêvaireceberasentença?–Imaginoquesim.–Entãoaindatenhoesperanças–comentouotioperversamente.–Bom,sejáacabou–disseHarryselevantando.Estavadoidoparaseisolar,pensar,talvezmandar
cartasaRony,HermioneeSirius.–NÃO,ÉCLAROQUENÃOACABEI,POMBAS!–berrouotio.–SENTESEOUTRAVEZ!–Eagoraéoquê?–perguntouHarryimpaciente.–DUDA!–vociferouotio.–Querosaberexatamenteoqueaconteceucomomeufilho!–ÓTIMO!–berrouHarry,eeratantaaraivaquecentelhasvermelhasedouradasdispararamda
ponta da varinha que ainda segurava na mão. Os três Dursley se encolheram, parecendoaterrorizados.–DudaeeuíamospelatravessaentreolargodasMagnóliaseaalamedadasGlicínias– contou Harry depressa, procurando não se zangar. – Duda achou que podia se fazer deengraçadinho comigo, saquei a minha varinha, mas não a usei. Então apareceram doisdementadores...–MasoqueSÃOdementoides?–perguntouotio,agressivo.–QueéqueelesFAZEM?–Eujádisse:chupamafelicidadequeapessoatrazdentrodelae,setêmumachance,lhedãoum
beijo...–Dãoumbeijo?–repetiuotio,comosolhossaltandoligeiramente.–Dãoumbeijo?–Écomosedizquandoelessugamaalmadeumapessoapelaboca.TiaPetúniadeixouescaparumgritinho.–AalmadeDuda?Elesnãotiraram...eleaindatemaalma...Elaagarrouofilhopelosombrosesacudiu-o,comosequisesseverificarseaindaconseguiaouvir
obarulhodaalmachocalhandodentrodele.– É claro que não tiraram a alma dele, a senhora veria se tivessem feito isso – disse Harry,
exasperado.–Vocêosafugentou,nãofoi,filho?–faloutioVáltermuitoalto,passandoaimpressãodealguém
quelutavaparatrazeraconversadevoltaaumplanoquepudesseentender.–Meteu-lhesdoissocosseguidos,nãofoi?–Nãosepodemeterdoissocosseguidosemumdementador–disseHarrycerrandoosdentes.–Entãoporqueéqueelecontinuanormal?–esbravejouotioVálter.–Porqueéquenãoficou
completamenteoco?–PorqueeuuseioPatrono...VUUUUUUM.Comumestrépito,umbaterdeasaseumachuvafinadepoeira,umaquartacoruja
precipitou-sedachaminédacozinha.–PELOAMORDEDEUS!–rugiutioVálter,arrancandograndeschumaçosdepelosdobigode,
coisaquenãoocompeliamafazerhaviamuitotempo.–NÃOQUEROCORUJASAQUIDENTRO,NÃOVOUTOLERARISSO,JÁDISSE!MasHarryjáestavasoltandoumrolodepergaminhodapernadacoruja.Estavatãoconvencidode
queacarta sópodia serdeDumbledore, explicando tudo–osdementadores, aSra.Figg,oqueoMinistérioiafazer,comoele,Dumbledore,pretendiaresolvertudo–quepelaprimeiraveznavidaficou desapontado ao reconhecer a letra de Sirius. Ignorando o sermão do tio sobre as corujas eapertando os olhos para se proteger de uma segunda nuvem de poeira quando esta última corujatornouasubirpelachaminé,Harryleuamensagemdopadrinho.
Arthuracaboudenoscontaroqueaconteceu.Façaoquequiser,masnãosaiamaisdecasa.
Harryachouamensagemtãoinsuficientedepoisdetudoqueaconteceraaquelanoitequevirouopergaminho,procurandoorestodamensagem,masnãohaviamaisnada.Eagora sua irritação recomeçavaa crescer.Seráqueninguém ia dizer “muito bem”por ele ter
afugentadosozinhodoisdementadores?TantooSr.WeasleyquantoSiriusestavamagindocomoseeletivessesecomportadomaleestavamguardandoabroncaatésecertificaremdosestragosqueelefizera.– ...Uma vorreada, quero dizer, uma revoada de corujas entrando e saindo daminha casa.Não
queroisso,moleque,nãoquero...–Nãopossoimpedirascorujasdevirem–retrucouHarrycomrispidez,amarrotandoacartade
Sirius.– Quero saber a verdade sobre o que aconteceu hoje à noite! – gritou o tio. – Se foram os
demendoresqueatacaramDuda,comoéentãoquevocêfoiexpulso?Vocêmesmoadmitiuquefezvocê-sabe-o-quê!Harry inspirouprofundamenteparasecontrolar.Suacabeçaestavacomeçandoadoeroutravez.
Maisdoquetudonomundo,elequeriasairdacozinhaeficarlongedosDursley.–ExecuteioFeitiçodoPatronoparamelivrardosdementadores–respondeu,fazendoforçapara
manteracalma.–Éaúnicacoisaquefuncionacontraeles.–Masoqueéqueosdementoidesestavam fazendo emLittleWhinging?–perguntou tioVálter
indignado.–Nãoseilheresponder–disseomeninodesgostoso.–Nãofaçoideia.Sua cabeça agora latejava à luz neon. Sua raiva ia desaparecendo. Sentiase vazio, exausto. Os
Dursleytinhamosolhosfixosnele.–Évocê–disseotiocomfirmeza.–Temalgumacoisaavercomvocê,moleque,euseiquetem.
Porqueoutrarazãoapareceriamaqui?Porqueoutrarazãoestariamnaquelatravessa?Vocêdeveseroúnico...oúnico...–Evidentementeelenãoconseguiaseforçaradizerapalavra“bruxo”.–Oúnicovocê-sabe-o-quêemumraiodequilômetros.–Eunãoseiporqueelesestavamaqui.Mas,aoouviraspalavrasdotio,océrebroexaustodeHarryvoltoulentamenteaentraremação.
Por que os dementadores tinham vindo a Little Whinging? Como poderia ser coincidência quetivessemchegadoàtravessaemqueHarryestava?Alguémosteriamandado?OMinistériodaMagiateria perdido o controle sobre os dementadores? Eles teriam abandonadoAzkaban e se juntado aVoldemort,comoDumbledorepreviraquefariam?–Essesdemembradosguardamumaprisãodegenteesquisita?–perguntouotioVálter,seguindo
penosamenteoraciocíniodeHarry.–Guardam.Seaomenossuacabeçaparassededoer,seaomenoselepudessesimplesmentesairdacozinhaeir
paraoseuquartoescuroepensar...–Ahh!Elesvieramprendervocê!–disseotio,comoartriunfantedeumhomemquechegaauma
conclusãoincontestável.–Éisso,nãoé,moleque?Vocêéumfugitivodajustiça!–Claroquenãosou–respondeuHarry,sacudindoacabeçacomosequisesseespantarumamosca,
oraciocínioagoraemplenofuncionamento.–Entãoporquê...?–Eledevetermandadoosdementadores–disseomeninoemvozbaixa,maisparasiprópriodo
queparaotio.–Quefoiquevocêdisse?Quemdevetermandadoosdementadores?
–LordeVoldemort.Ele registrou vagamente como era estranho que os Dursley, que faziam caretas e estrilavam
quandoouviampalavras como “bruxo”, “magia” ou “varinha”, pudessemouvir o nomedo bruxomaisdiabólicodetodosostempossemomínimotremor.– Lorde... espere aí – disse tio Válter, o rosto contraído, uma expressão de lento entendimento
aparecendoemseusolhinhossuínos.–Jáouviessenome...nãofoiesseque...–Matoumeuspais,foi–respondeuHarry.–Maselejásefoi–dissetioVálterimpaciente,semamenorindicaçãodequeamortedospaisde
Harrypudesseserumassuntodoloroso.–Aquelegigantefalou.Elesefoi.–Elevoltou–explicouogaroto,triste.Era estranho estar parado ali na cozinha cirurgicamente limpa da tia Petúnia, ao lado de uma
geladeiradeúltimotipoeumaenormetelade televisão,conversandocalmamentecomotiosobreLordeVoldemort.AchegadadosdementadoresaLittleWhingingpareciaterrompidoograndemuroinvisívelqueseparavaomundoimplacavelmentenãomágicodaruadosAlfeneiroseomundoalém.AsduasvidasdeHarrydealgumaformahaviamsefundidoetudoviraradecabeçaparabaixo;osDursleyestavampedindodetalhes sobreomundomágico, e aSra.FiggconheciaDumbledore;osdementadoresestavamcirculandoporLittleWhinging,eeletalveznuncamaisvoltasseaHogwarts.Suacabeçalatejoucommaisforça,doendoaindamais.–Voltou?–sussurroutiaPetúnia.ElaolhouparaHarrycomonuncaofizeraantes.E,derepente,pelaprimeiraveznavida,Harry
pôdeapreciarinteiramenteofatodequePetúniaerairmãdesuamãe.Elenãosabiadizerporqueistoo atingia com tanta forçanestemomento.Só sabiaquenãoera aúnicapessoanaquele aposento asuspeitaroquepoderiasignificaravoltadeLordeVoldemort.TiaPetúniajamaisoolharaassimnavida.Seusgrandesolhosclaros(tãodiferentesdosdairmã)nãoestavamapertadosdecontrariedadenemderaiva,estavamarregaladosecheiosdemedo.Ofingimentoinabalávelquemantiveraatéali–dequenãohaviamagiaenenhumoutromundoalémdaquelequehabitavacomomarido–pareciaterruído.–Voltou–respondeu,dirigindo-seagoraàtia.–Fazummêsquevoltou.Euovi.Asmãosdelaprocuraramosombroscompactosdofilhosoboblusãodecouroeosapertaram.– Espere aí – disse o tio, olhando da mulher para o sobrinho e mais uma vez para ela,
aparentementeaturdidoeconfusopelacompreensãosemprecedentesqueparecia ternascidoentreeles.–Espereaí.VocêestádizendoqueessetalLordVoldasquantasvoltou?–É.–Oquematouseuspais?–É.–Eagoraestámandandodementadoresatrásdevocê?–Éoqueparece.–Entendo–disseotio,olhandodePetúniaparaHarryepuxandoascalçasparacima.Pareciaestar
inchando, seuenorme rostopúrpuracomeçouadilatardiantedosolhosdo sobrinho.–Entãoestádecidido–disse,a frentedacamisaseesticandoàmedidaqueele inchava–,podesairdestacasa,moleque!–Quê?!–exclamouHarry.–Vocêmeouviu:SAIA!–berrouotio,eatétiaPetúniaeDudapularam.–FORA!FORA!Eudevia
terfeitoissohámuitotempo!Ascorujastratamestacasacomosefosseumasilo,opudimexplode,metadedasala ficadestruída,Dudacria rabo,Guidabalançapelo tetoe temFordAngliavoando...FORA!FORA!Acabouparavocê!Vocêagorapertenceaopassado!Nãovaicontinuaraquisetemummalucocaçandovocê,nãovaipôremperigoavidadaminhamulheredomeufilho,nãovaicriar
problemasparanós.Sevaiseguiromesmocaminhoqueaquelesinúteisdosseuspais,terminamosAQUI!Harryficoupregadonochão.AscartasdoMinistério,doSr.WeasleyedeSiriusamarrotadasem
suamão.Façaoquequiser,masnãosaiadecasaoutravez.NÃOSAIADACASADOSSEUSTIOS.–Vocêmeouviu!–dissetioVálter,curvando-separaosobrinhoeaproximandotantooenorme
rostopúrpuraqueHarrychegouasentirgotasdesalivabaterememseurosto.–Agoraváandando!Hámeiahoravocêestavamuitoansiosoparairembora!Poisestoubematrásdevocê!Saiaenuncamaisvolteapisarasoleiradestacasa!Nãoseiporqueaceitamosvocê,paracomeçar.Guidatinharazão,vocêdeveriateridoparaumorfanato.Tivemosocoraçãomoledemaisparaonossoprópriobem,pensamosquepodíamosarrancaressacoisadedentrodevocê,quepodíamostransformá-loemumgarotonormal,masvocêestavabichadodesdeocomeço,eparamimchegou...corujas!Aquintacorujaentroutãovertiginosamentepelachaminéquebateunochãoesoltouumpioforte
antesdevoltaraoar.Harryergueuamãoparaagarraracartaemumenvelopevermelho,masaavepassouporcimadeleevoouatétiaPetúnia,quedeixouescaparumberroeseabaixouprotegendoorostocomosbraços.Acorujasoltouoenvelopenacabeçadela,fezacurvaetornouavoardiretoparaachaminé.Harrycorreuparaapanharacarta,masPetúniachegouprimeiro.–Asenhorapodeabrir,sequiser,masdequalquermaneiraeuvououviroqueacartadiz.Éum
berrador.–Largueisso,Petúnia!–rugiuotio.–Nãotoque,podeserperigoso.–Estáendereçadaamim–disseelacomavoztrêmula.–Estáendereçadaamim,Válter,olhe!Sra.
PetúniaDursley,ruadosAlfeneiros,NúmeroQuatro,Cozinha...Elaprendeuarespiração,horrorizada.Oenvelopevermelhocomeçaraafumegar.–Abre!–apressou-aHarry.–Acabalogocomisso!Oenvelopevaiseabrirmesmo.–Não.AmãodetiaPetúniatremia.Elaolhavaaesmopelacozinhacomoseprocurasseumasaídapara
fugir,mastardedemais–oenvelopepegoufogo.Comumgrito,tiaPetúnialargou-onochão.Umavozhorrívelsaiudacartaemchamaseecooupeloaposentofechado.–Lembre-sedaúltima,Petúnia.Petúniapareceuqueiadesmaiar.AfundounacadeiraaoladodeDuda,orostonasmãos.Acartase
consumiusilenciosamenteesórestaramcinzas.–Quefoiisso?–perguntoutioVálterrouco.–Quê...eunão...Petúnia?TiaPetúnianãorespondeu,Dudaolhouabobadoparaamãe,boquiaberto.Osilênciopareciasubir
emespirais.Harryobservouatia,atônito,suacabeçalatejandotantoquepareciaqueiaexplodir.–Petúnia,querida?–chamoutioVáltertimidamente.–Petúnia?Elaergueuacabeça.Aindatremia.Engoliuemseco.–Ogaroto...ogarototerádeficar,Válter–disseelacomavozfraca.–Q-quê?–Elefica–dissePetúniasemolharparaHarry.Pôs-sedepé.–Ele...mas,Petúnia...–Senósoatirarmosnarua,osvizinhosvãofalar.–Depressaelafoirecuperandoosseusmodos
secos emeio ríspidos, embora continuassemuito pálida. –Vão fazer perguntas embaraçosas, vãoquerersaberquefimlevou.Teremosdeficarcomele.TioVáltercomeçouamurcharcomoumpneuvelho.–Mas,Petúnia,querida...Petúnianãolhedeuatenção.Virou-separaHarry.–Vocêvaificarnoseuquarto–disse.–Nãopodesairdecasa.Agoravásedeitar.
Harrynãosemexeu.–Dequemeraoberrador?–Nãofaçaperguntas–retorquiuasperamenteatia.–Asenhoratemcontatocomosbruxos?–Eudisseparavocêirsedeitar!–Quequeriadizeroberrador?Lembre-sedaúltimaoquê?–Vásedeitar!–Como...?–VOCÊOUVIUOQUESUATIAFALOU,AGORAVÁSEDEITAR!
—CAPÍTULOTRÊS—Aguardaavançada
AabeideseratacadopordementadoresepodereiserexpulsodeHogwarts.Querosaberoqueestáacontecendoequandovousairdaqui.Harrycopiouessaspalavrasemtrêsfolhasdepergaminhoseparadas,noinstanteemquechegouà
escrivaninhadeseuquartoàsescuras.EndereçouaprimeiraaSirius,asegundaaRonyeaterceiraaHermione.Suacoruja,Edwiges,estavaforacaçando;agaiolasobreaescrivaninhaestavavazia.Ogaroto ficou andando para lá e para cá esperando a ave voltar, a cabeça latejando, o cérebroacelerado demais para adormecer, mesmo que seus olhos ardessem e coçassem de cansaço. SuascostasdoíampeloesforçodecarregarDudaparacasa,eosdoisgalosemsuacabeça,ondeajanelaeoprimohaviambatido,estavamlatejandocommuitaintensidade.Eleandavaparaafrenteeparatrás,roídoderaivaefrustração,rilhandoosdentesefechandoos
punhos,lançandoolharesfuriososparaocéuvazio,excetopelasestrelas,todasasvezesquepassavapelajanela.Osdementadoresenviadosparaapanhá-lo,aSra.FiggeMundungoFletcherseguindo-oemsegredo,depoisasuspensãodeHogwartseaaudiênciadoMinistériodaMagia–eaindaassimninguémlhecontavaoqueestavaacontecendo.Eoquê,oquequeriadizeraqueleberrador?Quevozhorríveleraaquelaqueecoou,deformatão
ameaçadora,pelacozinha?Porqueelecontinuavapresoaliseminformações?Porquetodosoestavamtratandocomouma
criançamalcomportada?Nãofaçamaismágicas,nãosaiadecasa...Deuumpontapénomalãodaescolaaopassar,mas,emvezdealiviararaiva,eleficoupior,pois
agorasentiaumadoragudanodedão,parasomaràsoutrasnorestodocorpo.Ao passar mancando pela janela, Edwiges entrou farfalhando suavemente as asas, como um
fantasminha.–Jánãoerasemtempo!–rosnouHarry,quandoaavepousoucomlevezaemcimadagaiola.–
Podelargarissoaí,tenhotrabalhoparavocê!Os grandes olhos redondos e âmbar da coruja omiraram, comuma expressão de censura, por
cimadosapomortoquetraziaaobico.–Vemcá–disse-lheodono,apanhandoostrêsrolinhosdepergaminhoeumacorreiadecouro
para amarrá-los à perna escamosa da ave. – Leve estas mensagens diretamente a Sirius, Rony eHermioneenãovolteaquisemrespostaslongasecompletas.Seforpreciso,nãoparededarbicadasnelesatéescreveremrespostasdetamanhodecente.Entendeu?Edwigessoltouumpioabafado,seubicoaindacheiodesapo.–Entãovaiandando–falouHarry.Ela partiu imediatamente.Nomomento emque se foi,Harry se atirouna cama sem se despir e
ficouolhandoparaoteto.Alémdetodososoutrossentimentosinfelizes,eleagorasentiaremorsoportersidotãorabugentocomEdwiges;eraaúnicaamigaquetinhanonúmeroquatrodaruadosAlfeneiros.MaseleacompensariaquandovoltassecomrespostasdeSirius,RonyeHermione.Seus amigos com certeza iriam responder depressa; não podiam ignorar um ataque de
dementadores. Ele provavelmente acordaria no dia seguinte e encontraria três grossas cartas
recheadas de solidariedade e planos para sua imediata remoção para A Toca. E com essa ideiareconfortante,osonoovenceu,sufocandooutrospensamentos.
MasEdwigesnãoregressounamanhãseguinte.Harrypassouodianoquarto,saindoapenasparairaobanheiro.Trêsvezesnaqueledia,tiaPetúniaempurroucomidaparadentrodoquartopelaabaquetioVálter instalara três verões passados. Todas as vezes queHarry a ouvia se aproximar, tentavainterrogá-la sobre o berrador, mas teria sido melhor interrogar a maçaneta, porque não obtinharesposta alguma. Afora isso, os Dursley se mantiveram bem longe do seu quarto. Harry não viasentidoemimporaelessuacompanhia;maisumabriganãoresolverianada,exceto,talvez,deixá-lotãoaborrecidoqueacabariaapelandoparaamagiaproibida.As coisas continuaram nesse ritmo durante três dias inteiros.Harry sentia-se invadido por uma
energiaexcessivaqueoimpediadeseconcentraremqualquercoisa,momentosemquecaminhavapeloquarto furiosocom todoomundo,pordeixarem-no remoendo seusproblemas sozinho; essaenergiasealternavacomumaletargiatãoabsolutaqueeracapazdeficardeitadonacamaumahorainteira,olhandoatordoadoparaoteto,sofrendosódepensar,apavorado,naaudiêncianoMinistério.Eseocondenassem?Eseelefosseexpulsoesuavarinhapartidaaomeio?Queiriafazer,aonde
iria? Não poderia voltar a viver o tempo todo com os Dursley, não agora que conhecia o outromundo,aqueleaoqualpertencia.SeráquepoderiairmorarcomSirius,comoopadrinhooferecerahaviaumano,antesdeserforçadoafugirdoMinistério?SeráquedariampermissãoaHarryparamorarsozinho,sendoaindamenordeidade?Ouseráquedecidiriamporeleolocalaondeir?SeráquesuainfraçãodoEstatutoInternacionaldeSigiloforasuficientementegraveparamandá-loaumacela emAzkaban? Sempre que tal pensamento lhe ocorria,Harry invariavelmente se levantava dacamaerecomeçavaacaminhar.Naquarta noite depois dapartidadeEdwiges, o garoto estavadeitado emumade suas fasesde
apatia, mirando o teto, a mente exausta e vazia, quando seu tio entrou no quarto. Harry viroulentamenteacabeçaeolhouparaele.Válterestavausandoseumelhorternoetinhaumaexpressãodeenormepresunção.–Vamossair–anunciou.–Comodisse?–Nós,istoé,suatia,Dudaeeu,vamossair.–Ótimo–respondeuHarryinexpressivamente,voltandoamiraroteto.–Vocênãodeverásairdoseuquartoenquantoestivermosfora.–O.k.–Vocênãodeveráligaratelevisão,nemosom,nemnadaquenospertence.–Certo.–Vocênãodeverároubarcomidadageladeira.–O.k.–Voutrancarsuaporta.–Podetrancar.Tio Válter encarou Harry, abertamente desconfiado dessa falta de oposição, em seguida saiu
pisandoforteefechouaportaaopassar.Harryouviuachavegirarnafechaduraeospassosdotiodescerempesadamenteaescada.Algunsminutosdepois,ouviuasportasdocarrobaterem,oruídodeummotoreosominconfundíveldeumcarrodeixandorapidamenteaentradadagaragem.Harry ficou indiferente à saída dos Dursley. Tanto fazia os tios estarem ou não em casa. Não
conseguia sequer dirigir suas energias para se levantar e acender a luz. O quarto ia escurecendodepressa,maselecontinuavadeitado,apurandoosouvidosparaescutarosruídosdanoitepelajanelaquemantinhaotempotodoaberta,esperandoomomentoabençoadoemqueEdwigesvoltaria.
Acasavaziarangiaporinteiro.Oscanosdeáguagargarejavam.Harrypermaneceunessaespéciedeestupor,sempensaremnada,imersoeminfelicidade.Então,comtodaaclareza,eleouviuumestrondoláembaixo,nacozinha.Sentou-seimediatamente,escutandocomatenção.OsDursleynãopoderiamtervoltado,eracedo
demais,e,detodoojeito,elenãoouvirabarulhodecarro.Fez-sesilêncioporalgunssegundos,emseguidavozes.Ladrões, pensou, deslizando para fora da cama e ficando empé –mas, uma fração de segundo
depois, lhe ocorreu que ladrões falariam em voz baixa, e quem estava andando pela cozinhacertamentenãoestavapreocupadocomisso.Ele apanhou a varinha sobre a mesa de cabeceira e ficou de frente para a porta do quarto,
escutandocomamáximaatenção.Nomomento seguinte,Harry se sobressaltouaoouvirum forteestaloeversuaportaseescancarar.Ogaroto ficouparado, imóvel, olhandoatravésdaporta abertaparaopatamar escuro, fazendo
forçaparaouvir,masnãohouvenenhumoutro som.Elehesitouum instante, depois saiu rápida esilenciosamentedoquartoefoiatéaescada.Seu coração parecia ter disparadopara a garganta.Havia gente parada nohall escuro embaixo,
cujassilhuetasaluzdaruarecortavaaoentrarpelovidrodaporta;oitoounovepessoas,todas,atéondeHarryconseguiaver,olhandoparacima.–Baixeavarinha,garoto,antesquevocêarranqueosolhosdealguém–disseumavozbaixae
rouca.OcoraçãodeHarrybateudescontrolado.Reconheciaaquelavoz,masnãobaixouavarinha.–ProfessorMoody?–perguntouhesitante.–Nãoseibemquantoa“Professor”–rosnouavoz–,nuncachegueiaensinarmuitotempo,nãoé
mesmo?Vematéaqui,queremosvervocêdireito.Harrybaixouligeiramenteavarinha,masnãoafrouxouamão,nemsemexeu.Tinhamuitoboas
razõesparadesconfiar.RecentementepassaranovemesesemcompanhiadealguémqueachavaqueeraOlho-TontoMoodyeacaboudescobrindoquenãoeraele,masumimpostor,queaindaporcimatentaramatá-loantesdeserdesmascarado.Mas,antesquepudessedecidiroquefazer,umasegundavoz,ligeiramenterouca,flutuouatéoaltodaescada.–Tudobem,Harry.Viemosbuscarvocê.Ocoraçãodogarotodeuumsalto.Reconheceuaquelavoztambém,emboranãoaouvissehavia
maisdeumano.–ProfessorLupin?!–exclamouincrédulo.–Éosenhor?–Porqueestamostodosparadosnoescuro–disseumaterceiravozcompletamentedesconhecida,
deumamulher.–Lumus.A ponta de uma varinha acendeu, iluminando o hall com luzmágica.Harry piscou.As pessoas
embaixo estavam amontoadas ao pé da escada, olhando-o com atenção, algumas até esticando opescoçoparavê-lomelhor.RemoLupineraquemestavamaispróximodeHarry.Emboraaindajovem,Lupinpareciacansado
ebemdoente; tinhamaiscabelosbrancosdoquequandoogarotosedespediradele,e suasvestesestavammais remendadasegastasquenunca.Aindaassim,eleolhavaparaHarrycomumgrandesorriso,queogarototentouretribuirapesardoseuestadodechoque.–Ahhh,eleéigualzinhoaoqueeuimaginei–disseabruxaqueseguravanoaltoavarinhaacesa.
Parecia a mais jovem do grupo; tinha um rosto pálido em feitio de coração, olhos escuros ecintilantesecabeloscurtoseespetados,roxoberrante.–Eaí,beleza,Harry!–É,vejooquequisdizer,Remo–disseumbruxonegroecarecaparadonocírculomaisexterno
dogrupo;tinhaumavozgraveelentaeusavaumúnicobrincodeouronaorelha–,eleéacarado
Tiago.–Excetopelosolhos–disseavozasmáticadeumbruxodecabelosprateadosmaisaofundo.–
SãoosolhosdeLílian.Olho-TontoMoody, que possuía longos cabelos grisalhos e um nariz a que faltava um pedaço,
observavaHarry,desconfiado,apertandoosolhosdíspares.Umeramuitopequeno,escuroearisco,ooutro,grande,redondo,azulelétrico–oolhomágicoquepodiaveratravésdeparedes,portasedanucadopróprioMoody.–Você temcertezaqueéele,Lupin?Seriaumagrossamancadase levássemosumComensalda
Morte fazendo-se passar por Harry. Devíamos perguntar a ele alguma coisa que só o verdadeiroPottersaiba.Anãoserquealguémtenhatrazidoumpoucodesorodaverdade.–Harry...queformaassumeoseuPatrono?–perguntouLupin.–Deveado–respondeuHarry,nervoso.–Éelemesmo,Olho-Tonto–confirmouLupin.Muito consciente de que todos continuavam de olhos fixos nele, Harry desceu as escadas,
guardandoavarinhanobolsotraseirodasjeansenquantodescia.–Nãoguardeavarinhaaí,garoto!–berrouMoody.–Esepegarfogo?Bruxosmaissabidosque
vocêjáperderamasnádegas,sabe!–Queméquevocêouviudizerqueperdeuanádega?–perguntouinteressadaabruxadecabelos
roxos.–Nãosepreocupecomisso,evocêguardeavarinhalongedobolsotraseiro!–vociferouOlho-
Tonto.–Medidasdesegurançaelementaresparaousodavarinha,ninguémsepreocupamaiscomelas.–Esaiumancandoparaacozinha.–Eestouvendovocê–disse,irritado,quandoamulhergirouosolhosparaoteto.LupinestendeuamãoeapertouadeHarry.–Comoéquevocêtemandado?–perguntou,examinandoHarryatentamente.–Ó-ótimo...Harrymal podia acreditar que aquilo estivessemesmo acontecendo.Quatro semanas sem nada,
nemomenorindíciodeumplanopararemovê-lodaruadosAlfeneirose,derepente,umbandodebruxosinesperadosemsuacasacomoseissojáestivessecombinadoháséculos.Ogarotocorreuosolhos pelas pessoas que rodeavam Lupin; todos continuavam a observá-lo com avidez. Sentia-semuitoconscientedequenãopenteavaoscabeloshaviaquatrodias.–Eu...vocêsestãorealmentecomsortequeosDursleytenhamsaído...–murmurou.–Sortenada!–disseamulherdecabelos roxos.–Fuieuqueos tireidocaminho.Mandeiuma
carta pelo correio dos trouxas dizendo que estavam entre os finalistas do Concurso doGramadoMais Bem Cuidado da Grã-Bretanha. Eles estão a caminho da festa de entrega do prêmio nestemomento...oupensamqueestão.HarryteveumavisãopassageiradacaradotioVálterquandodescobrissequenãohaviaconcurso
algum.–Vamosembora,nãovamos?–perguntouele.–Logo?–Quaseimediatamente–disseLupin–,vamossóaguardarosinalverde.–Aondevamos?ParaAToca?–perguntouHarry,esperançoso.– Não, não para A Toca – respondeu Lupin, conduzindo Harry para a cozinha; o grupinho de
bruxos os acompanhou, ainda examinando o garoto, cheios de curiosidade. – Arriscado demais.Montamosoquartel-generalemumlugardifícildeencontrar.Levoualgumtempo...Olho-TontoMoodyagoraestavasentadoàmesadacozinha,tomandogolesdeumfrascodebolso,
seuolhomágicogiravaemtodasasdireções,apreciandoosmuitosaparelhosqueosDursleyusavamparapoupartrabalho.
–EsteéoAlastorMoody,Harry–continuouLupin,apontandoparaobruxo.–É, eu sei – respondeuHarry pouco à vontade.Dava uma sensação esquisita ser apresentado a
alguémqueeleachavaqueconheciahaviaumano.–EessaéNinfadora...–NãomechamedeNinfadora–pediuajovembruxacomumarrepio–,souTonks.–NinfadoraTonks,queprefereserconhecidaapenaspelosobrenome–concluiuLupin.–VocêtambémiriapreferirseatontadasuamãetivesselhedadoonomedeNinfadora–murmu
rouTonks.–EesseéQuimShacklebolt–disseeleindicandoobruxonegroealto,quefezumareverência.–
ElifasDoge.–Obruxodevozasmáticafezumacenocomacabeça.–DédaloDiggle...–Jánosencontramosantes–esganiçou-seoexcitávelDiggle,deixandocairacartolaroxa.–EmelinaVance.–Umabruxadearimponenteacenouacabeçacobertaporumxaleverde-água.–
EstúrgioPodmore.–Umbruxodequeixoquadradoechapéucordepalhadeuumapiscadela.–EHéstiaJones.–Pertodatorradeira,umabruxa,defacescoradasecabelosnegros,deuumadeusinho.Harry cumprimentou com um aceno de cabeça cada bruxo, à medida que foram apresentados.
Desejouqueolhassemparaoutracoisaoupessoaquenãofosseele;eracomoserepentinamenteotivessemfeitosubiraumpalco.Ficouimaginandotambémporquehaviatantosbruxospresentes.– Um número surpreendente de pessoas se apresentaram como voluntárias para vir buscá-lo –
disse Lupin, como se tivesse lido os pensamentos de Harry; os cantos de sua boca mexeramligeiramente.–Ah,foi,quantomaismelhor–disseMoodysombriamente.–Somosasuaguarda,Potter.–Estamos sóesperandoo sinaldequepodemospartir semperigo–disseLupin, espiandopela
janeladacozinha.–Temosunsquinzeminutos.–Muitolimpos,nãosão,essestrouxas?–comentouabruxachamadaTonks,quecorriaosolhos
pelacozinhacomgrande interesse.–Meupainasceu trouxaeéumvelhoporcalhão.Suponhoqueistovariecomoaconteceentreosbruxos?– Hum... é – respondeu Harry. – Escute... – começou virando-se para Lupin – que é que está
acontecendo,nãorecebiumapalavradeninguém,queéqueoVol...?Vários bruxos soltaram estranhos assobios; Dédalo Diggle deixou cair a cartola outra vez e
Moodyvociferou:–Cale-se.–Quê!–exclamouHarry.–Nãovamos falarnada aqui, é arriscadodemais–disseMoodyvirandooolhonormalparao
garoto.Seuolhomágicocontinuava focalizandoo teto.–Pombas – acrescentou zangado, levandoumadasmãosaoolhomágico.–Nãoparadeprender:desdequeaqueledesgraçadoousou.E com um ruído grosseiro de arroto, bem parecido com o que se ouve quando se puxa um
desentupidordepia,eletirouoolho.–Olho-Tonto,vocêsabequeissoénojento,nãosabe?–falouTonksemtomdeconversa.–Mearranjeumcopod’água,porfavor,Harry–pediuMoody.O garoto foi até a lavadora de louça, apanhou um copo limpo e encheu-o de água da torneira,
aindaseguidopelosolharesdosbruxos.Essaincansávelobservaçãoestavacomeçandoairritá-lo.–Saúde–saudouMoody,quandoHarrylheentregouocopo.Obruxopôsdentrooolhomágicoe
empurrou-o com o dedo para cima e para baixo; o olho girou em volta do copo, encarando osbruxos,umaum.–Queroterumavisibilidadedetrezentosesessentagrausnaviagemdevolta.–Comovamoschegar...aesselugaraqueagenteestáindo?–perguntouHarry.–Vassouras–disseLupin.–Éoúnicojeito.Vocêéjovemdemaisparaaparatar,elesdevemestar
vigiandoarededeFluevainoscustarmaisdoqueanossavidamontarumachavedeportalsem
autorização.–Remocontouquevocêéumbompiloto–disseQuimShackleboltcomsuavozressonante.–Éexcelente–confirmouLupin,consultandoorelógio.–Emtodoocaso,émelhorvocêirfazer
amala,Harry,queremosestarprontosparapartirquandorecebermososinal.–Vouajudá-lo–ofereceu-seTonks,animada.ElaacompanhouHarrydevoltaaohallesubiuaescada,olhandoparatudocommuitacuriosidade
einteresse.–Quelugarengraçado–comentou.–Éumpoucolimpodemais,entendeoquequerodizer?Um
pouco estranho. Ah, agora está melhor – acrescentou quando entraram no quarto de Harry eacenderamaluz.Oquartodogarotoeracertamentemuitomaisdesarrumadoqueorestodacasa.Confinadonele
haviaquatrodias,demuitomauhumor,Harrynãosederaotrabalhodearrumá-lo.Amaioriadoslivrosquepossuíaestavamespalhadospelochão,ondeeletentarasedistraircomcadaumdeleseosjogaraparaolado;agaioladeEdwigesprecisavaserlimpa,eestavacomeçandoafeder;eseumalãoestava aberto, deixando àmostra umamistura confusa de roupas de trouxa e vestes de bruxo quehaviamtransbordadoportodoochãoàvolta.Harrycomeçouarecolheroslivroseaatirá-losapressadamentenomalão.Tonksparoudiantedo
armárioparaolharcriticamenteaprópriaimagemnoespelhodoladointernodaporta.–Sabe, achoque roxonão é bemaminha cor – comentou, pensativa, puxandoumamechados
cabelosespetados.–Vocênãoachaquemedáumarmeiodoentio?–Hum–começouHarry,espiandoabruxaporcimadoseulivroOstimesdequadriboldaGrã-
BretanhaedaIrlanda.–É, dá – concluiu definitivamente Tonks. Ela apertou os olhos em uma expressão preocupada,
como se estivesse tentando se lembrar de alguma coisa.Um segundo depois, seus cabelos tinhammudadopararosa-chiclete.–Comoéquevocêfazisso?–perguntouHarry,boquiaberto,quandoelareabriuosolhos.–Soumetamorfomaga–respondeuela,voltandoaolharparaoespelhoevirandoacabeçapara
poderverocabelodetodososlados.–Oquesignificaquepossomudarminhaaparênciaàvontade–acrescentouaoveraexpressãointrigadadeHarrynoespelhoàssuascostas.–Nasciassim.RecebiaasmelhoresnotasemEsconderijoseDisfarcesduranteotreinamentoparaauror,semnemprecisarestudar,foimuitolegal.–Vocêéauror?–perguntouHarry,impressionado.Sercaçadordebruxosdastrevaseraaúnica
carreiraemqueelepensaraseguirquandoterminasseHogwarts.–Sou–confirmouTonks,comorgulho.–Quimtambémé,masémaisgraduadoqueeu.Eusóme
formeiháumano.QuaseleveibombaemVigilânciaeRastreamento.Soumuitotrapalhona,vocêmeouviuquebraraquelepratoquandochegamosláembaixo?– Pode-se aprender a ser metamorfomago? – perguntou Harry, se erguendo e esquecendo
completamentequeestavafazendoamala.Tonksdeuumarisadinhaabafada.–Apostoquevocêatégostariadeesconderessacicatriz,àsvezes,hein?Seusolhosfocalizaramacicatrizemformaderaionatestadogaroto.–Gostaria–murmurouHarryvirandoascostas.Nãogostavadegenteolhandoparaacicatriz.–Bom,achoquevocêvaiterdeaprenderpelométododifícil.Osmetamorfomagossãorealmente
raros,agentenascecomodom,nãooadquire.Amaioriadosbruxosprecisadeumavarinhaoudepoçõesparamudaraaparência.Mastemosdeirandando,Harry,devíamosestarfazendoasmalas–acrescentouela,sesentindoculpadaaoverificarabagunçaquehavianochão.–Ah...é–concordouogaroto,catandomaisalgunslivros.
–Nãosejaburro,vaisermuitomaisrápidoseeu...Fazermalas!–exclamouabruxa,agitandoavarinhacomummovimentolongoeamploqueabarcouochão.Livros,roupas,telescópioebalança,tudolevantouvooeseprecipitourápidaedesordenadamente
paradentrodomalão.–Nãoficoumuitoarrumado–disseTonks,seaproximandodomalãoeespiandoaconfusãoali
dentro.–Minhamãetemumjeitoparafazerascoisasentraremarrumadinhas...eatéconseguequeasmeias se enrolem sozinhas... mas nunca aprendi como é que ela faz... é uma espécie de sacudidarápidacomavarinha.–Elaexperimentouesperançosa.UmadasmeiasdeHarrycomeçouaseondular lentamente,mas tornouaseachataremcimada
montoeiraexistente.–Ah,deixapralá–disseTonks,fechandoatampadomalão–,pelomenosestátudodentro.Issoaí
estápedindoumalimpezinha,também.–ElaapontouparaagaioladeEdwiges.–Limpar.–Penasetiticasdesapareceram.–Bom,agoraestáumpouquinhomelhor–nuncapegueiojeitodessesfeitiçosdomésticos.Certo...estátudoaí?Caldeirão?Vassoura?Uau!UmaFirebolt?Os olhos da bruxa se arregalaram ao pousar sobre a vassoura namão direita deHarry. Era o
orgulhoeaalegriadogaroto,umpresentedeSirius,umavassouradecategoriainternacional.–EeuaindavoonumaComet260–comentouTonks,cominveja.–Ah,deixapralá...avarinha
continuanobolsodajeans?Asduasnádegascontinuaminteiras?O.k.,vamos.Locomotormalão.OmalãodeHarry ergueu-se alguns centímetrosdochão.Segurandoavarinha como se fosse a
batutadeummaestro,Tonksfezoobjetoatravessaroquartoesairpelaportaàfrentedeles,agaioladeEdwigesnamãoesquerda.Harrydesceuaescadaatrásdabruxalevandosuavassoura.Devoltaàcozinha,Moodyrecolocaraoolho,quegiravatãorápidodepoisdelimpoqueHarryse
sentiu enjoado só de olhar. Quim Shacklebolt e Estúrgio Podmore examinavam omicro-ondas eHéstia Jones dava risadas com um descascador de batatas que encontrara ao examinar as gavetas.LupinestavaendereçandoumacartaaosDursley.–Excelente–exclamouaoverTonkseHarryentrarem.–Temosmaisoumenosumminuto,acho.
Talvezfossebomirmosparaojardimeaguardarmosprontos.Harry,deixeiumacartaavisandoaosseustiosparanãosepreocuparem...–Elesnãovãosepreocupar–respondeuHarry.–...quevocênãocorreperigo...–Assimelesvãoficardeprimidos.–...equevocêosveránopróximoverão.–Preciso?Lupinsorriu,masnãorespondeu.– Venha aqui, garoto – disse Moody com rispidez, acenando com a varinha para Harry se
aproximar.–Precisodesiludirvocê.–Osenhorprecisaoquê?–perguntouogaroto,nervoso.– Feitiço daDesilusão – explicouMoody erguendo a varinha. –Lupin disse que você tem uma
Capa da Invisibilidade, mas ela não vai cobri-lo o tempo todo que estiver voando; o feitiço vaidisfarçarvocêmelhor.Agora...ObruxodeuumapancadafortenococurutodeHarryeeleteveacuriosasensaçãodequeMoody
acabaradequebrarumovoali;umfiletegeladopareceuescorrerpeloseucorpoapartirdopontoemqueavarinhabatera.–Bembom,Olho-Tonto–disseTonksemtomdeadmiração,olhandoparaacinturadeHarry.O garoto baixou os olhos para seu corpo, ou melhor, para o que fora seu corpo, porque não
pareciamais o dele.Não estava invisível;mas simplesmente assumira a cor e a textura exatas doeletrodomésticoàssuascostas.Elepareciatersetransformadoemumcamaleãohumano.
–Vamos–disseMoody,destrancandoaportadosfundoscomavarinha.TodossaíramparaobelogramadodojardimdetioVálter.–Noiteclara–resmungouMoody,seuolhomágicoesquadrinhandoocéu.–Teriasidomelhorse
houvesse umas nuvens.Certo, você... – falou o bruxo paraHarry com rispidez –, vamos voar emformaçãocerrada.Tonksiráàsuafrente,mantenha-secoladoàcaudadela.Lupinvaicobrirvocêporbaixo. Eu vou atrás. O resto ficará circulando em volta. Não saiam da formação para nada,entenderam?Seumdenósformorto...–Eissopodeacontecer?–perguntouHarryapreensivo,masMoodynãolhedeuatenção.– ... os outros continuarão voando, não parem, não dispersem. Se nos eliminarem e você
sobreviver,Harry,háumaguardarecuadadeprontidãoparaassumir,continueavoarparaoesteeelairásereuniravocê.–Pare de ser tão animador,Olho-Tonto, ele vai pensar que não estamos levando isto a sério –
disse Tonks, enquanto prendia o malão de Harry e a gaiola de Edwiges aos arreios que traziapenduradosàvassoura.–Estousócontandoaogarotoqualéoplano–rosnouMoody.–Nossamissãoéentregá-loileso
nasede,esemorrermosnatentativa...–Ninguémvaimorrer–disseQuimShackleboltcomsuavozgraveecalmante.–Montemasvassouras,esseéoprimeirosinal!–comandouLupin,apontandoparaocéu.Noalto,aumagrandedistância,umachuvadefaíscasvermelhasbrilharaentreasestrelas.Harry
identificou-as imediatamentecomofaíscasproduzidasporumavarinha.Passouapernadireitaporcima da Firebolt, segurou com firmeza a empunhadura e sentiu-a vibrar muito de leve, como seestivessetãoansiosaquantoeleparaganharnovamenteosares.– Segundo sinal, vamos! – disse Lupin em voz alta ao ver mais faíscas, desta vez verdes,
explodiremlánoalto.Harry deu um forte impulso. O ar fresco da noite passava veloz por seus cabelos enquanto os
jardins cuidados da rua dosAlfeneiros iam ficando para trás, reduzidos a uma colcha de retalhosverde-escurosepretos, e todosospensamentos sobrea audiêncianoMinistériodesapareceramdesua mente como se uma lufada de vento os tivesse varrido dali. Ele teve a sensação de que seucoração iaexplodirdeprazer;estavavoandooutravez,voandopara longeda ruadosAlfeneiros,comopassara imaginandooverão inteiro, estavavoltandoparacasa...porunspoucosegloriososminutos,todososseusproblemaspareceramirrecuandoatédesaparecer,insignificantesnovastocéuestrelado.–Tudoàesquerda,tudoàesquerda,temumtrouxaolhandoparaocéu!–gritouMoodyàscostas
de Harry. Tonks deu uma guinada e o garoto a acompanhou, observando o malão balançarviolentamentesobavassouradabruxa.–Precisamosganharmaisaltura...subammaisquatrocentosmetros!Comofrioeavelocidadedasubida,osolhosdeHarryseencheramdeágua;elenãoconseguia
vernadanosolo,excetoosminúsculospontinhosdeluzqueeramosfaróisdoscarroseoslampiões.Duas luzinhas talvez pertencessem ao carro do tio Válter... neste momento, os Dursley estariamvoltando para a casa vazia, enfurecidos por causa do concurso inexistente... e Harry soltou umagargalhadasódepensarnacena,emborasuavozfosseabafadapelaagitaçãodasvestesdosbruxos,o rangidodascorreiasqueprendiamomalãoeagaiola,eo ruídodoventoaopassaremgrandevelocidadeporseusouvidos.Elenãosesentiavivoassimfaziaummês,nemtãofeliz.–Rumarparaosul!–gritouOlho-Tonto.–Cidadeàfrente!Elesviraramparaadireitaafimdeevitarsobrevoaracintilanteteiadeluzesláembaixo.– Rumar para sudeste e continuar subindo, há umas nuvens baixas à frente que podem nos
esconder!–gritouMoody.
–Nãovamosentraremnuvens!–gritouTonkszangada.–Vamosnosencharcar,Olho-Tonto!Harryficoualiviadodeouvi-lareclamar;suasmãosestavamficandodormentesnaempunhadura
davassoura.Desejouterselembradodevestirumcasaco;estavacomeçandoatremerdefrio.Elesalteravamocursoa intervalos, segundoas instruçõesdeOlho-Tonto.Harryconservavaos
olhossemicerradosparaseprotegerdoventogeladoquecomeçavaafazersuasorelhasarderem;sóselembravadesentirtantofrioassimmontandoumavassouraumavez,navida,duranteumapartidadequadribolcontraLufa-Lufa,noterceiroanodeescola,queserealizaradebaixodeumtemporal.Aguardavoavaaoredordele,continuamente,comogigantescasavesderapina.Harryperdeuanoçãode tempo. Ficou imaginando quantosminutos fazia que estavam voando, parecia nomínimo umahora.–Dobrarparasudeste!–berrouMoody.–Queremosevitaraestrada!Harryagoraestavatãocongeladoquepensou,saudoso,noaconchegosecodointeriordoscarros
que passavam lá embaixo, depois, ainda mais saudoso, numa viagem de Flu; talvez fossedesconfortável ficar rodopiando por lareiras, mas pelo menos nas chamas era quentinho... Quimrodeou-oemummergulho,acarecaeobrincoreluzindoaoluar...agoraEmelinaVanceapareceuàsua direita, a varinha na mão, a cabeça virando para a esquerda e a direita... depois ela tambémmergulhouporcimadeleefoisubstituídaporEstúrgioPodmore...–Devíamosretrocederumpouco,paranoscertificardequenãoestamossendoseguidos!–gritou
Moody.–VOCÊ FICOUDOIDO,OLHO-TONTO? – berrou Tonks à frente. – Estamos congelados nas
vassouras!Secontinuarmosanosdesviarda rota, sóvamoschegarna semanaquevem!Alémdomais,jáestamosquasechegando!–Horadeiniciaradescida!–ouviu-seavozdeLupin.–SigaTonks,Harry!Ogarotoseguiuabruxaemummergulho.Estavamrumandoparaamaiorcoleçãodeluzesque
ele já vira, uma vasta massa irregular que se entrecruzava, onde brilhavam linhas e redesentremeadasporespaçosmuitonegros.Continuaramvoandocadavezmaisbaixo,atéHarrypoderdistinguir os faróis de cada carro, os lampiões, as chaminés e as antenas de televisão. Ele queriamuitochegaraochão,emborativessecertezadequealguémprecisariadescongelá-lodavassoura.–Aquivamosnós!–avisouTonks,ealgunssegundosdepoiselapousou.Harrytocouosolologoemseguidaedesmontouemumtrechodegramaalta,nocentrodeuma
pequena praça. Tonks já estava desafivelando omalão. Tiritando de frio, o garoto olhou para oslados.Aoseuredor,asfachadasdascasascobertasdefuligemnãopareciamconvidativas;algumastinhamjanelasquebradasquerefletiamopacamentealuzdoslampiões,apinturaestavadescascandoemmuitasdasportasehaviamontesdelixonaentradadascasas.–Ondeestamos?–perguntouHarry,masLupindissebaixinho:–Emuminstante.Moodyvasculhavasuacapa,asmãosrecurvadasinsensíveisdefrio.– Achei – murmurou, erguendo bem no alto um objeto que parecia um isqueiro de prata e
acionando-o.Aluzdolampiãomaispróximoapagou;elenãoparoudeacionaroisqueiroatétodasaslâmpadas
da praça estarem apagadas, restando apenas a luz de uma janela, protegida por cortinas, e a luacrescentenocéu.–Pedi-oemprestadoaDumbledore–grunhiuMoody,embolsandooapagueiro.–Istocuidaráde
qualquertrouxaqueestejaespiandopelajanela,entende?Agoravamoslogo.Ele tomouHarry pelo braço e o conduziu para longe do gramado, atravessou a rua e subiu a
calçada;LupineTonksoseguiram,carregandoomalãodogaroto,orestantedaguarda,empunhavasuasvarinhas,flanqueandoosquatro.
Deumajaneladoprimeiroandarpróxima,vinhaumsomabafadodemúsica.Umcheiroacredelixopodredesprendia-sedeumapilhadesacasestufadasdelixologoàentradadoportãoquebrado.–Tome–murmurouMoody,empurrandoumpedaçodepergaminhoemdireçãoàmãodesiludida
deHarry,eaproximousuavarinhaacesaparailuminaroqueestavaescrito.–Leiadepressaedecore.Harryolhouparaopedaçodepergaminho.Acaligrafiafinalheeravagamentefamiliar.Eleleu:AsededaOrdemdaFênixencontra-senolargoGrimmauld,númerodoze,Londres.
—CAPÍTULOQUATRO—LargoGrimmauld,númerodoze
–QueéaOrdemda...?–começouHarry.–Aquinão,garoto!–disseMoodycomaspereza.–Espereatéchegarmosládentro!–E,puxando
o pedaço de pergaminho damão de Harry, ateou fogo nele com a ponta da varinha. Enquanto amensagemsecrispavaemchamaseflutuavalentamenteatéochão,Harrytornouaexaminarascasas.Estavam parados diante do número onze; ele olhou para a esquerda e viu o número dez; para adireita,noentanto,onúmeroeratreze.–Masonde...?–Pensenoquevocêacaboudeler–disseLupinemvozbaixa.Harry pensou e, mal chegara à menção do número doze da praça, uma porta escalavrada se
materializouentreosnúmerosonze e treze, e a ela se seguiramparedes sujas e janelasopacasdefuligem.Eracomoseumacasaextrativesseseinflado,empurrandoassuasvizinhasparaoslados.Harry boquiabriu-se.Amúsica no número onze continuava a tocar com força.Aparentemente, ostrouxasqueestavamalidentronãohaviampercebidonada.–Vamos,Harry–rosnouMoody,empurrando-opelascostas.O garoto subiu os degraus de pedra gastos, olhando fixamente para a porta que acabara de
aparecer.Atintapretaestavadesbotadaecheiadearranhões.Amaçanetadeprata tinhaaformadeumaserpenteenroscada.Nãohaviaburacodefechaduranemcaixadecorreio.Lupinpuxouavarinhaedeuumabatidanaporta.Harryouviuumasucessãoderuídosmetálicos
quelembravamcorrentesretinindo.Aportaabriurangendo.–Entredepressa,Harry–cochichouLupin–,masnãoseafastenemtoqueemnada.O garoto cruzou a soleira da porta emergulhou na escuridão quase absoluta do hall. Sentiu o
cheiroadocicadodedecomposição,poeira eumidade;o localdavaa impressãode serumprédiocondenado.Ele espioupor cimadoombroeviuosoutros se enfileiraremàs suas costas,LupineTonkstrazendoomalãoeagaioladeEdwiges.Moodyestavaparadonoúltimodegrau,devolvendoasbolasdeluzqueoapagueiroroubaradoslampiões;elasvoaramdevoltaàslâmpadaseapraçabrilhoumomentaneamente com uma claridade laranja, antes deMoody entrar coxeando na casa efecharaportadafrente,demodoqueaescuridãonohallsetornoucompleta.–Agora...ElebateuavarinhacomforçanacabeçadeHarry;ogarotodestavezteveasensaçãodequeuma
coisaquenteescorriaporsuacolunaepercebeuqueoFeitiçodaDesilusãosedesmanchara.–Agorafiquemquietos,todos,enquantoprovidencioumpoucodeluzaqui–sussurrouMoody.OsmurmúriosdosoutrosestavamdandoaHarryumaestranhasensaçãodeagouro;eracomose
tivessem acabado de entrar na casa de ummoribundo. Ele ouviu um assobio suave e em seguidacandeeiros antiquados, a gás, ganharam vida ao longo das paredes, lançando uma luz tênue ebruxuleantesobreopapeldescascadoeotapetepuídodeumcorredorlongoesombrio,emcujotetorefulgiaumlustrecobertodeteiasdearanhae,nasparedes,quadrostortoseescurecidospelotempo.Harryouviuumacoisacorrerpelorodapé.Olustreeoscastiçaissobreumamesadesengonçadaalipertotinhamaformadeserpentes.
Ouviram-sepassosapressadoseamãedeRony,aSra.Weasley,surgiuporumaportaaofundodocorredor.Exibiaumgrandesorrisodeboas-vindasaoviraoencontrodeles,emboraHarryreparassequeestavamaismagraepálidadoquedaúltimavezqueavira.–Ah,Harry,quebomvervocê!–sussurrouela,puxando-oparaumabraçodepartircostelasantes
deafastá-loeexaminá-locomumolharcrítico.– Você está parecendomeio doente; está precisando de boa alimentação,mas acho que terá de
esperarumpoucopelojantar.ElasevoltouparaobandodebruxosatrásdeHarryecochichoupressurosa:–Eleacaboudechegar,areuniãocomeçou.Os bruxos demonstraram interesse e excitação e forampassando porHarry emdireção à porta
pela qual a Sra.Weasley acabara de sair. O garoto fez menção de acompanhar Lupin, mas ela odeteve.–Não,Harry,areuniãoésóparamembrosdaOrdem.RonyeHermioneestãoláemcima,você
pode esperar com eles até a reunião terminar, depois jantaremos. E fale baixo no corredor –acrescentouelaapressada.–Porquê?–Nãoquerodespertarninguém.–Queéqueasenhora...–Euexplicodepois,agoratenhodecorrer.Precisoparticipardareunião...sóvoulhemostraronde
vaidormir.Levandoodedoaoslábios,elaoconduziupéantepéaolongodaparedecobertaporaltascortinas
comidasportraças,atrásdasquaisHarrysupôsquehouvesseoutraporta,e,depoisdecontornarumenormeporta-guarda-chuvasquepareciatersidofeitocompernadetrasgo,elescomeçaramasubirumaescadaescuraemquehaviacabeçasencolhidasemontadassobreplacasnaparedelateral.Umexamemaisatentorevelouaogarotoqueascabeçaspertenciamaelfosdomésticos.Todostinhamomesmonarigão.OespantodeHarrycresciaacadapasso.Queéqueelesestavamfazendoemumacasaqueparecia
pertenceraomaistenebrosobruxodastrevas?–Sra.Weasley,porquê...?–RonyeHermionelheexplicarãotudo,querido,eurealmentetenhodecorrer–explicouaSra.
Weasleydistraída.–Chegamos...–tinhamalcançadoosegundopatamar–asuaéaportadadireita.Chamovocêquandoterminar.Etornouadescerasescadas,apressada.Harryatravessouopatamarencardido,girouamaçanetaemformadecabeçadeserpenteeabriua
porta.Deuumabreveolhadanoquartosombriodetetoaltoemquehaviaduascamas;entãoouviuum
alvoroçoseguidodeumgritomaisalto,esuavisãofoicompletamenteobscurecidaporumagrandequantidadedecabelosmuitoespessos.Hermioneseatirarasobreeleemumgrandeabraçoquequaseoderrubounochão,aomesmotempoqueaminúsculacorujadeRony,Pichitinho,voavaexcitada,descrevendocírculoscontínuosporsuascabeças.–HARRY!Rony,eleestáaqui,Harryestáaqui!Nãoouvimosvocêchegar!Ah,comoéquevocê
vai?Estábom?Ficoufuriosocomagente?Apostoqueficou,eusei,asnossascartasnãoserviamparanada...masagentenãopodiacontarnada.Dumbledorenosfezjurarquenãocontaríamos,ah,temos tanta coisa para lhe contar e você tem coisas para nos contar: os dementadores! Quandosoubemos... e aquela audiência no Ministério... é um absurdo, procurei tudo nos livros, eles nãopodemexpulsarvocê,simplesmentenãopodem,temumacláusulanoDecretodeRestriçãoàPráticadeMagiaporMenoresprevendosituaçõesemqueháriscodevida...
–Deixa ele respirar,Mione – disseRony, fechando a porta às costas do amigo.Ele parecia tercrescidovárioscentímetrosduranteomêsdeseparação, tornara-semaisaltoemaisdesengonçadodoquenunca,emboraonarizcomprido,oscabelosruivoseassardascontinuassemiguais.Ainda sorridente, Hermione soltou Harry, mas, antes que pudesse falar, ouviu-se um farfalhar
suaveealgumacoisabrancasaiuvoandodoaltodoarmárioescuroepousougentilmentenoombrodeHarry.–Edwiges!AcorujamuitobrancaabriuefechouobicoemordiscoucomcarinhoaorelhadeHarry,enquanto
eleacariciavasuaspenas.–Elaestevemuitonervosa–contouRony.–Quasematouagentedetantabicadaquandotrouxe
suasúltimascartas.Vêsó...Emostrou aHarry o dedo indicador direito comum corte quase cicatrizado,mas visivelmente
profundo.–Ahhhhh.Desculpepelocorte,maseuqueriarespostas,entende...–Enósqueríamosdar,cara–respondeuRony.–Hermioneestavaumafera,nãoparavadedizer
quevocêiafazerumaburriceseficassesozinho,semsaídaesemnotícias,masDumbledorenosfez...–...jurarquenãocontariam–completouHarry.–É,aMionejámedisseisso.Apequenachamaqueseacenderaemseupeitoaoverosdoismaioresamigosseapagou,euma
coisageladainundouabocadoseuestômago.Derepente–depoisdeansiaromêsinteiroparaverosdois–elesentiuquepreferiaqueRonyeHermioneodeixassemsozinho.Houve um silêncio tenso em que Harry acariciou Edwiges mecanicamente, sem olhar para os
amigos.–Pelovistoelepensouqueeramelhor–disseHermioneofegante.–Dumbledore,querodizer.–Certo– respondeuHarry.Reparouqueasmãosdaamiga, também, tinhammarcasdobicode
Edwiges,edescobriuquenãosentiaamenorpena.–Achoqueelepensouquevocêestavamaissegurocomostrouxas–começouRony.– Ah, é? – retrucou Harry, erguendo as sobrancelhas. – Algum de vocês foi atacado por
dementadoresesteverão?–Bem,não...masfoiporissoqueelemandougentedaOrdemdaFênixseguirvocêotempotodo...Harrysentiuumenormechoquecomosetivessepuladoumdegrau,semquerer,nadescidadeuma
escada.Entãotodoomundosabiaqueeleestavasendoseguido,menosele.–Nãodeumuitocerto,nãofoi?–disseHarry,fazendoopossívelparamanteravozneutra.–No
final,tivedemevirarsozinho,nãofoi?–Eleestavamuitozangado–justificouHermione,numtomdeassombro.–Dumbledore.Nóso
vimos.QuandodescobriuqueMundungotinhasaídoantesdeterminaroturnodeserviço.Davaatémedo.–Muitobem,ficosatisfeitoqueeletenhasaído–respondeuHarrycomfrieza.–Senãotivesse,eu
nãoprecisariausaramagiaeDumbledoreprovavelmenteteriamelargadonaruadosAlfeneirosoverãotodo.– Você não está... não está preocupado com a audiência do Ministério da Magia? – perguntou
Hermionebaixinho.–Não–mentiuHarryemtomdedesafio.Eafastou-sedelesolhandoparaoslados,comEdwiges
aninhadasatisfeitaemseuombro,masestequartonãoiamelhorarseuhumor.Eraescuroeúmido.Uma tira lisa de lona em uma moldura enfeitada era a única coisa que interrompia a nudez dasparedesdescascadas,e,aopassarpeloobjeto,Harrypensouterouvidoalguém,queestavaescondido,darumarisadinha.– Então por que é queDumbledore estava tão ansioso parame deixar no escuro? – perguntou
Harry,aindatentandoparecerdisplicente.–Vocês...sederamotrabalhodeperguntar?Ele ergueu os olhos em tempo de ver a expressão do olhar que os dois trocaram e que o fez
perceberqueestava reagindoexatamentedo jeitoqueosamigos temiam.Oquenãomelhorouemnadaoseumauhumor.–DissemosaDumbledorequequeríamosinformarvocêdoqueestavaacontecendo–disseRony.
–Dissemos,cara.Maseleandarealmenteocupado,sóovimosduasvezesdesdequeviemosparacáesemprecompressa,sónosfezjurarquenãocontaríamosnadaquetivesseimportânciaquandolheescrevêssemos,dissequeascorujaspoderiamserinterceptadas.–Aindaassim,elepoderiamemanter informado,sequisesse–disseHarry, impaciente.–Vocês
nãovãomedizerqueelenãoconheceoutrosmeiosdemandarmensagenssemcorujas.HermioneolhouparaRonyedisse:–Penseinissotambém.Maselenãoqueriaquevocêsoubessedenada.–Vaivereleachaquenãomereçoconfiança–disseHarry,observandoorostodosamigos.–Nãosejaburro–disseRony,parecendomuitodesapontado.–Ouquenãoseicuidardemimmesmo.–Claroquenãopensaisso!–disseHermione,ansiosa.–EntãocomoéqueeutenhodeficarnacasadosDursley,enquantovocêsdoisvêmparticiparde
tudoqueestáacontecendoaqui?–perguntouHarry,aspalavrascascateandonumatropelo,avozseelevandoacadapalavra.–Comoéquepermitemavocêsdoissaberemdetudoqueestáacontecendo?–Nãosabemos!–interrompeu-oRony.–Mamãenãodeixaagenteseaproximardasreuniões,diz
quesomosmuitocrianças...Masantesquepercebesse,Harryestavagritando.–ENTÃOVOCÊSNÃOTÊMPARTICIPADODASREUNIÕES,GRANDECOISA!ESTIVERAM
AQUI O TEMPO TODO, NÃO FOI? ESTIVERAM JUNTOS O TEMPO TODO! AGORA, EU,FIQUEI ENCALHADONA RUA DOS ALFENEIROS OMÊS INTEIRO! E JÁ RESOLVIMUITOMAIS DO QUE VOCÊS JAMAIS CONSEGUIRAM E DUMBLEDORE SABE DISSO; QUEMSALVOUAPEDRAFILOSOFAL?QUEMSELIVROUDORIDDLE?QUEMSALVOUAPELEDEVOCÊSDOSDEMENTADORES?Cada pensamento amargurado e cheio de rancor queHarry tivera no últimomês foi saindo de
dentrodele:suafrustraçãocomafaltadenotícias,amágoadequetodostinhamestadojuntossemele,suafúriaporestarsendoseguidoeninguémlheinformar–todosossentimentosdequesentiaumacertavergonhaextravasaram.Edwigesassustou-secomagritariaetornouavoarparacimadoarmário;Pichitinho,alarmado,soltouváriospiosevoouaindamaisdepressaaoredordascabeçasdosgarotos.– QUEM FOI QUE TEVE DE PASSAR POR DRAGÕES E ESFINGES E OUTRAS COISAS
REPUGNANTESNOANO PASSADO?QUEMVIUELE VOLTAR?QUEMTEVEDE ESCAPARDELE?EU!Rony ficou parado ali, com o queixo meio caído, visivelmente chocado, e sem saber o que
responder,enquantoHermionepareciaàbeiradaslágrimas.–MASPORQUEEUDEVERIASABEROQUEESTÁACONTECENDO?PORQUEALGUÉM
SEDARIAOTRABALHODEMEDIZEROQUEANDOUACONTECENDO?–Harry,nósqueríamoslhedizer,nósrealmentequeríamos–começouHermione.–NÃOPODEMTERQUERIDOTANTOASSIM,PODEM,OUTERIAMMEMANDADOUMA
CORUJA,MASDUMBLEDOREFEZVOCÊSJURAREM...–Fezmesmo...– DURANTE QUATRO SEMANAS EU FIQUEI ENTALADO NA RUA DOS ALFENEIROS,
PESCANDO JORNAIS NAS LIXEIRAS PARA TENTAR DESCOBRIR O QUE ESTAVA
ACONTECENDO...–Nósqueríamos...– SUPONHO QUE VOCÊS TÊM SE DIVERTIDO PARA VALER, NÃO TÊM, ESCONDIDOS
AQUIJUNTOS...–Não,sinceramente...–Harry,nósrealmentesentimosmuito!–disseHermionedesesperada,seusolhosagoracintilantes
delágrimas.–Vocêtemabsolutarazão,Harry...sefossecomigoeuficariafuriosa!Harry amarrou a cara para os dois, ainda respirando fundo, depois tornou a dar as costas aos
amigoseaandarparaláeparacá.Edwigespioutristementedecimadoarmário.Houveumalongapausa,interrompidaapenaspelorangidofúnebredastábuasdosoalhosobospésdogaroto.–Quelugaréesseafinal?–perguntouderepenteaRonyeHermione.–AsededaOrdemdaFênix–respondeuRonynahora.–AlguémvaisedarotrabalhodemedizeroqueessaOrdem...?–Éumasociedade secreta–disseHermionedepressa.–Dumbledoreéo responsável, fundoua
Ordem.SãoaspessoasquelutaramcontraVocê-Sabe-Quemdaúltimavez.–Quemfazpartedela?–perguntouHarry,parandoderepentecomasmãosnosbolsos.–Bastantegente...–Jáconhecemosumasvinte–disseRony–,masachamosquetemmais.Harryolhouzangadoparaosamigos.–Então?–indagou,olhandodeumparaoutro.–Hum–disseRony.–Entãooquê?–Voldemort!–falouHarryfurioso,eosdoiscontraíramasfeições.–Queestáacontecendo?Queé
queeleestáarmando?Ondeéqueestá?Queéqueestamosfazendoparaimpedir?–Jáfalamos,aOrdemnãodeixaagenteassistiràsreuniões–respondeuHermione,nervosa.–Por
issonãosabemososdetalhes...mastemosumaideiageral–acrescentoudepressa,vendoaexpressãonorostodeHarry.–FredeJorgeinventaramOrelhasExtensíveis,entende–contouRony.–Realmenteúteis.–Extensíveis...?–Orelhas,é.Sóquetivemosdeparardeusá-lasnosúltimosdiasporquemamãedescobriueficou
danada.FredeJorgetiveramdeesconderoestoqueparaimpedirmamãedejogartudonolixo.Masusamosbastante as orelhas antes de ela perceber o que estava rolando.Sabemosque temgente daOrdemseguindoComensaisdaMorteconhecidos,marcandoeles,sabe...–OutrosestãotrabalhandopararecrutarmaisgenteparaaOrdem...–acrescentouHermione.–Eoutrostantosestãomontandoguardaaalguémoualgumacoisa–disseRony.–Estãosempre
falandoemserviçodeguarda.–Nãopoderiatersidoamim,poderia?–perguntouHarrysarcasticamente.–Ah,é!–exclamouRonyfazendocaradequemcomeçavaacompreender.Harrydeuumarisadinhadesdenhosa.Erecomeçouadarvoltasnoquarto,olhandoparatodolado
menosparaRonyeHermione.–Então, que é quevocês dois têm feito se nãopodemassistir às reuniões?Vocês disseramque
estiveramocupados.– Estivemos – respondeuHermione depressa. – Estivemos descontaminando a casa, passou um
tempãovaziaemuitacoisaestranhaproliferandoporaqui.Conseguimoslimparacozinha,amaioriadosquartoseachoquevamoscuidardasaladevisitasama...ARRRE!Comdoisfortescraques,FredeJorge,osirmãosmaisvelhosdeRony,sematerializaramnomeio
doquarto.PichitinhopiouaindamaisbaratinadodoquenuncaedisparouparasejuntaraEdwigesemcimadoarmário.
–Parem com isso! – disse Hermione sem entusiasmo aos gêmeos, que eram tão intensamenteruivosquantoRony,emboramaisforteseumpoucomaisbaixos.–Olá,Harry–saudou-oJorge,sorridente.–Pensamosterouvidosuavozsuave.–Nãoqueremosquereprimasuaraiva,Harry,botetudoparafora–disseFred,tambémsorrindo.
–Vaivertemalguémacemquilômetrosdedistânciaqueaindanãoteouviu.–Entãovocêsdoispassaramnostestesdeaparatação?–perguntouHarrymal-humorado.–Comlouvor–respondeuFred,queestavasegurandoalgumacoisaquepareciaumpedaçomuito
compridodebarbantecordecarne.–Vocêsteriamlevadosóunstrintasegundosparadescerpelasescadas–disseRony.–Tempoégaleão,maninho–disseFred.–Emtodoocaso,Harry,vocêestáinterferindocoma
recepção. Orelhas Extensíveis – acrescentou em resposta às sobrancelhas erguidas de Harry, emostrou o barbante, deixando agora visível que o objeto se alongava em direção ao patamar. –Estamostentandoouviroqueestãofalandoláembaixo.–Vocêvaiprecisartercuidado–disseRony,olhandoparaaOrelha.–Semamãetornaravermais
umadessas...–Valeorisco,éumareuniãoimportante–justificouFred.Aportaseabriueapareceuumalongajubadecabelosruivos.–Ah,olá,Harry!–cumprimentouanimadaairmãmaisnovadeRony,Gina.–Penseiquetivesse
ouvidosuavoz.Virando-separaFredeJorge,informou:–PodeesquecerasOrelhas,elalançouumFeitiçodaImperturbabilidadenaportadacozinha.–Comoéquevocêsabe?–indagouJorge,desapontado.–Tonksmeensinoucomodescobrir.Agenteatiraumacoisacontraaportaeseacoisanãobateé
porque a porta foi “imperturbada”. Atirei umas bombas de bosta do alto da escada e elassimplesmentevoaramdevolta,entãonãotemcomoasOrelhasExtensíveisentraremporbaixo.Fredsoltouumsuspiroprofundo.–Quepena.EurealmentegostariadedescobriroqueéqueoSnapeestáfazendo.–Snape!–exclamouHarryimediatamente.–Eleestáaqui?–Tá–confirmouJorge,fechandocuidadosamenteaportaesesentandoemumadascamas;Frede
Ginaoacompanharam.–Fazendoumrelatório.Ultrassecreto.–Babaca–disseFred,sópordizer.–Eleagoraestádonossolado–disseHermione,desaprovandooamigo.Ronyriu.–Masvaicontinuarsendobabaca.Ojeitocomqueolhaparaagentequandonosencontra.–Guitambémnãogostadele–disseGina,comoseissodecidisseaquestão.Harrynãotinhamuitacertezasesuaraivahaviadiminuído;massuasededeinformaçõescomeçou
asuplantaroimpulsodecontinuargritando.Largou-senacamaemfrenteaosoutros.–Guiestáaqui?–perguntou.–PenseiqueestivessetrabalhandonoEgito.–ElesecandidatouaumafunçãoburocráticaparapodervoltarparacasaetrabalharnaOrdem–
disseFred.–Dizquesentefaltadastumbas–deuumarisadinha–,mastemsuascompensações.–Comoassim?–VocêselembradaFleurDelacour?–perguntouJorge.–ElaarranjouumempregonoGringotes
paraaperrfeiçoarroiinglês...–EoGuiestádandomuitasaulasparticularesaela–caçoouFred.–CarlinhostambémentrounaOrdem–disseJorge–,mascontinuanaRomênia.Dumbledorequer
atrair o maior número possível de bruxos estrangeiros, por isso Carlinhos está tentando fazercontatosnosdiasdefolga.
–O Percy não podia fazer isso? – perguntouHarry.Na última notícia que recebera, o terceiroirmão Weasley estava trabalhando no Departamento de Cooperação Internacional em Magia, noMinistériodaMagia.Ao ouvirem as palavras de Harry, os Weasley e Hermione trocaram olhares carregados de
significação.–Digaoquequiser,masnãomencioneoPercynafrentedamamãeedopapai–disseRonycoma
voztensa.–Porquenão?–Porquetodasasvezesqueouvemonomedele,papaiquebraoqueestiversegurandoemamãe
começaachorar–explicouFred.–Temsidohorrível–comentouGinacomtristeza.– Acho que podemos passar sem ele – disse Jorge, com uma expressão de ameaça nada
característica.–Queaconteceu?–perguntouHarry.–Percyepapaibrigaram–contouFred.–Nuncavipapaibrigarcomalguémdaquele jeito.Em
geralémamãequeberra.–Foinaprimeirasemanadefériasquandoterminouotrimestre–disseRony.–Íamosentrarpara
aOrdem.Percychegouecontouquetinhasidopromovido.–Vocêtábrincando–admirou-seHarry.Emborasoubessemuitobemqueeleeraextremamenteambicioso,Harrytinhaaimpressãodeque
Percy não fizera grande sucesso em seu primeiro emprego noMinistério daMagia. Cometera ograndedeslizedenãoperceberqueochefeestavasendocontroladoporLordeVoldemort(nãoqueoMinistériotivesseacreditado–todospensaramqueoSr.Crouchenlouquecera).– Pois é, todos ficamos surpresos – continuou Jorge –, Percy tinha se metido em grandes
confusõesporcausadeCrouch,houveatéuminquéritoetudo.AconclusãofoiquePercydeviaterpercebidoqueCrouchnãoestavabatendobemeinformadoaoseusuperior.MasvocêconhecePercy,Crouchotinhadeixadonachefia,eelenãoiareclamar.–Entãocomofoiqueganhouapromoção?–Éexatamenteoquenosperguntamos–disseRony,quepareciamuitoansiosoparasustentaruma
conversanormal,agoraqueHarrypararadegritar.–Percyvoltouparacasarealmentesatisfeitocomelemesmo...aindamaissatisfeitodoqueonormal,seéquedáparaimaginar...edisseaopapaiquetinhamlheoferecidoumcargonogabinetedopróprioFudge.UmcargorealmentebomparaalguémquetinhaterminadoHogwartsfaziasóumano:assistentejúniordoministro.Achoqueesperavaquepapaificasseimpressionado.–Sóquepapainãoficou–disseFredsério.–Porquenão?–indagouHarry.–Bom, parece queFudge tinha percorrido oMinistério enfurecido para se certificar de que os
funcionáriosnãotivessemcontatocomDumbledore–disseJorge.–NoMinistério, o nome deDumbledore virou lixo, ultimamente, entende – esclareceu Fred. –
TodospensamqueeleestásócriandoproblemasquandodizqueVocê-Sabe-Quemvoltou.–Papai falouqueFudgedeixoumuito claro que qualquer umque estivessemancomunado com
Dumbledorepodiadesocuparaescrivaninha–disseJorge.–OproblemaéqueFudgesuspeitadepapai,sabequeéamigodeDumbledore,esempreachou
papaimeioexcêntricoporcausadaobsessãoqueeletempelostrouxas.–MasqueéqueissotemavercomoPercy?–perguntouHarry,confuso.–Vouchegarlá.PapaidesconfiaqueFudgesóquerPercynogabinete,porquequerusaromano
paraespionarafamília...eDumbledore.
Harrysoltouumassobio.–ApostocomoPercyadorou.Ronydeuumarisadameiorouca.–Eleperdeucompletamenteacabeça.Disse...bem,umaporçãodecoisashorríveis.Dissequeestá
enfrentando a péssima reputação do papai desde que entrou no Ministério e que papai não temambiçãoequeéporissoquesemprefomos,sabe,sempretivemospoucodinheiro,querodizer...–Quê?–disseHarry,incrédulo,aomesmotempoqueGinabufavafeitoumgatoenraivecido.–Eusei–disseRonyemvozbaixa.–Eficoupior.Dissequepapaieraumidiotadeandarcom
Dumbledore, queDumbledore ia semeter emuma baita encrenca e papai ia cair junto, e que ele,Percy,sabiaaquemdeviaserleal,eeraaoMinistério.EsemamãeepapaiiamtrairoMinistério,iriaseempenharparaque todoomundosoubessequeelenãopertenciamaisànossafamília.Efezasmalasnamesmanoiteefoiembora.AgoraestámorandoaquiemLondres.Harrysoltouumpalavrãobaixinho.DosirmãosdeRony,Percyeraoqueelemenosgostava,mas
nuncaimaginaraquepudessedizeressascoisasaoSr.Weasley.–Mamãeestádanadadavida–disseRony.–Sabe,chora,essascoisas.VeioaLondresparatentar
falarcomPercy,maselebateuaportanacaradela.Nãoseicomoelefazquandoencontrapapainotrabalho:achoquefingequenãovê.–MasPercydeve saberqueVoldemortvoltou–disseHarry lentamente.–Elenãoéburro,deve
saberquesuamãeeseupainãoarriscariamtudosemprovas.–É,bom,oseunometambémentrounabriga–disseRony,lançandoaHarryumolharfurtivo.–
Percy disse que a única prova que havia era a sua palavra e... não sei... ele achava que não erasuficiente.– Percy leva o Profeta Diário a sério – comentou Hermione, mordaz, com o que os outros
concordaram.– Do que é que vocês estão falando? – perguntou Harry, passando os olhos por todos. Eles o
observavamcautelosos.–VocênãotemrecebidooProfetaDiário?–perguntouHermionenervosa.–Tenho.–Vocênãotemlidotodasasnotícias?–perguntouHermioneaindamaisansiosa.–Nãodaprimeiraàúltimapágina–respondeuHarrynadefensiva.–Sehouvessealgumanotícia
sobreVoldemortsairiaemmanchete,não?Osamigossecontraíramaoouvironome.Hermionecontinuoudepressa:–Vocêprecisaria lerdaprimeiraàúltimapáginaparaperceber,maseles,bom,elesmencionam
seunomealgumasvezesporsemana.–Maseunãovi...–Seandoulendosóaprimeirapágina,nãoiriaver–disseHermione,sacudindoacabeça.–Não
estoufalandodenotíciagrande.Elesincluemseunomeaquieali,comosevocêfosseapiadadavez.–Comoas...?–Naverdadeébemmaldoso–disseHermioneprocurandomanteravozcalma.–Estãousandosó
omaterialqueaRitapublicou.–MaselanãoestámaisescrevendoparaoProfeta,está?– Ah, não, ela tem cumprido a promessa que fez: não que tivesse outra opção – acrescentou
Hermionesatisfeita.–Maslançouasbasesparaoqueestãotentandofazeragora.–Equeéoquê?–perguntouHarry,impaciente.–O.k., você sabeque ela escreveuquevocê estava caindopor aí, se queixandoque sua cicatriz
estavadoendoetudoomais?–Sei–respondeuHarry,quetãocedonãoiriaesquecerasnotíciasdeRitaSkeetersobreele.
–Bom,estãopintandovocêcomoumapessoafantasiosaesedentadeatenção,queachaqueéumgrande herói trágico ou qualquer coisa assim – contouHermione,muito depressa, como se fossemenosdesagradávelparaoamigosaberdessesfatosemmenostempo.–Elesnãoparamdeincluircomentários irônicos sobre você. Se aparece uma históriamirabolante, escrevemmais oumenosassim:“UmahistóriadignadeHarryPotter”,esealguémtemumacidenteestranhooucoisaparecidadizem:“Vamosfazervotosparaqueelenãofiquecomumacicatriznatestaouvãonospedirparavenerá-lo”...–Eunãoqueroqueninguémmevenere...–começouHarryindignado.– Eu sei que não – disse Hermione depressa, parecendo assustada. – Eu sei, Harry. Mas você
percebe o que eles estão fazendo? Querem transformar você em uma pessoa em que ninguémacredita.Fudgeestáportrásdetudo,apostooquevocêquiser.Elesqueremqueobruxodaruapenseque você não passa de umgaroto burro, que émeio engraçado e conta histórias ridículas porqueadoraserfamosoequercontinuarsendo.–Eunãopedi...eunãoquis...Voldemortmatoumeuspais!–protestouHarry,cuspindoaspalavras.
–Fiqueifamosoporqueeleassassinouminhafamília,masnãoconseguiumematar!Quemquerserfamosoporumacoisadessas?Seráquenãopensamqueeupreferiaquenunca...–Nóssabemos,Harry–disseGinacomsinceridade.– E, é claro que não publicaram nem uma palavra sobre o ataque dos dementadores a você –
acrescentou Hermione. – Alguém mandou abafar o caso. Teria sido uma história e tanto,dementadores escapam ao controle do governo. Nem ao menos noticiaram que você violou oEstatutoInternacionaldoSigiloemMagia.Pensamosquenoticiariam,porquecombinavacomasuaimagem de exibicionista idiota. Achamos que estão aguardando você ser expulso, então vãorealmente botar pra quebrar, quero dizer, se você for expulso, é óbvio – apressou-seHermione aacrescentar.–Narealidade,nãodeveráser,nãoseoMinistériorespeitarasprópriasleis,nãohácasocontravocê.EstavamdevoltaàaudiênciaeHarrynãoqueriapensarnoassunto.Fezforçaparamudaroutravez
orumodaconversa,masfoipoupadodoesforçopeloruídodepassosquesubiamaescada.–Ah,ah.FreddeuumpuxãonaOrelhaExtensível;ouviu-seoutroestaloforte,eeleeJorgedesapareceram.
Segundosdepois,aSra.Weasleyapareceuàportadoquarto.–Areuniãoterminou,podemdescerparajantaragora.Todoomundoestádoidoparavervocê,
Harry.EquemfoiquelargoutodasaquelasBombasdeBostanaportadacozinha?–OBichento–respondeuGinasemcorar.–Eleadorabrincarcombombas.–Ah–disseaSra.Weasley–,penseique talvez fosseoMonstro,eleestásempre fazendoessas
coisasestranhas.Agoranãoseesqueçamdefalarbaixonocorredor.Gina,suasmãosestãoimundas,queéquevocêandoufazendo?Porfavor,válavá-lasantesdejantar.Ginafezcaretaparaosoutroseacompanhouamãenasaídadoquarto,deixandoHarrysozinho
comRony e Hermione. Os dois o observaram com apreensão, como se receassem que ele fosserecomeçar a gritar agora que todos já tinham ido embora. A visão dos amigos olhando-o tãonervososfezHarrysesentirumpoucoenvergonhado.–Olhem...–murmurou,masRonysacudiuacabeçaeHermionedissebaixinho:–Nós sabíamos que você ia ficar zangado,Harry, não culpamos você, sério,mas você tem de
compreender,nósrealmentetentamosconvenceroDumbledore...–É,eusei–respondeuogaroto,impaciente.Ele procurou um assunto que não envolvesse o diretor da escola, porque só de pensar em
Dumbledoresuasentranhasrecomeçavamaqueimarderaiva.–QueméMonstro?–perguntou.
–Oelfodomésticoquemoraaqui–respondeuRony.–Doidodepedra.Nuncaconhecinenhumigual.Hermionefranziuatesta.–Elenãoédoidodepedra,Rony.–Aambiçãodavidadeleéteracabeçacortadaemontadaemumaplacacomofizeramcomamãe
dele–argumentouRonyirritado.–Issoénormal,Mione?–Bem...bem,elenãotemculpadeserumpouquinhoesquisito.RonygirouosolhosparaHarry.–HermioneaindanãodesistiudoFALE.–NãoéFALE!–retrucouHermioneindignada.–ÉFundodeApoioàLiberaçãodosElfos.Eeu
nãosouaúnica,DumbledoretambémdizquedevemostratarbemoMonstro.–Sei,sei–disseRony.–Vamos,estoumortodefome.Elefoioprimeiroasairdoquartoealcançaropatamar,masantesquepudessemdesceraescada...–Calmaaí!–sussurrouRony,esticandoumbraçoparaimpedirHarryeHermionedecontinuarem.
–Elesaindaestãonohall,quemsabeagenteconsegueouviralgumacoisa.Os três espiaram com cautela por cima do balaústre. O corredor sombrio lá embaixo estava
apinhadodebruxasebruxos,inclusiveosdaguardadeHarry.Cochichavamexcitados.Bemnomeiodo grupo, Harry viu os cabelos escuros e oleosos e o nariz adunco do menos querido dos seusprofessoresemHogwarts,oProf.Snape.Ogarotoestavamuito interessadoemsaberoqueSnapeestavafazendonaOrdemdaFênix...UmfiodebarbantecordecarnedesceubemdiantedosolhosdeHarry.Erguendoacabeça,eleviu
Fred e Jorge no patamar acima, baixando cuidadosamente a Orelha Extensível em direção àaglomeração sombria de bruxos. No instante seguinte, porém, todos começaram a se encaminharparaaportadeentradaedesapareceramdevista.–Droga–HarryouviuFredmurmurar,recolhendoaOrelhaExtensível.Ostrêsouviramaportadeentradaabrireemseguidafechar.–Snapenãocomeaquinunca–informouRonyaHarryemvozbaixa.–GraçasaDeus.Vamos.–Enãoseesqueçadefalaremvozbaixanocorredor,Harry–cochichouHermione.Ao passarem pela fileira de cabeças de elfos domésticos na parede, eles viram Lupin, a Sra.
WeasleyeTonksàentrada,lacrandomagicamenteasmuitasfechadurasetrancasdaportadepoisqueosoutrossaíram.–Vamos comer na cozinha – sussurrou a Sra.Weasley, indo ao encontro dos garotos ao pé da
escada.–Harry,querido,sevocêatravessaremsilêncioocorredor,éaquelaportaali.TRABUM!–Tonks!–exclamouaSra.Weasleyexasperada,virando-separaolharàssuascostas.–Medesculpe!– lamentouTonks,quecaíraestateladanochão.–Éadrogadesseporta-guarda-
chuvas,éasegundavezquetropeçonele...MasofimdafrasedeTonksfoiabafadaporumguinchomedonhodefurarosouvidosecongelar
osangue.Ascortinasdeveludoroídasdetraças,pelasquaisHarrypassaramaiscedo,tinhamseaberto,mas
nãohaviaportaalgumaatrás.Duranteumafraçãodesegundo,ogarotopensouqueestavaespiandoporumajanela,umajanelaemquehaviaumavelhadetoucapretaquenãoparavadeberrarcomoseestivesse sendo torturada – então ele compreendeu que era simplesmente um retrato em tamanhonatural,dosmaisrealistasedosmaisincômodosquejáviranavida.A velha estava babando, seus olhos giravam nas órbitas, a pele amarelada do rosto esticava-se
inteiramenteenquantogritava;e,por todaaextensãodocorredor,osdemaisquadrosacordaramecomeçaramaberrar,também,atalpontoqueHarrychegouaapertarosolhosetamparosouvidos
paranãoescutar.Lupin e a Sra. Weasley correram para tentar fechar a cortina que ocultava a velha, mas não
conseguiam e ela guinchava com mais vontade, brandindo as mãos em garras como se quisesseestraçalharosrostosdeles.– Ralé! Escória! Filhos da sordidez e da maldade! Mestiços, mutantes, monstros, sumam deste
lugar!Comoseatrevemamacularacasadosmeusantepassados...Tonksnãoparavadepedirdesculpas,repondoapesadapernadetrasgonaposiçãooriginal;aSra.
Weasleydesistiudastentativasparafecharascortinasecorriadeumapontaaoutradocorredorcomavarinhaempunho,lançandoumFeitiçoEstuporanteemcadaquadro;umhomemdelongoscabelosnegrossaiucomviolênciadeumaportadefronteaHarry.–Caleaboca,suabruxahorrorosa,CALEABOCA!–berrouele,agarrandoacortinaqueaSra.
Weasleyabandonara.Avelhaempalideceu.–Vocêêêêêê! – urrou ela, os olhos saltando das órbitas ao ver o homem. –Traidor do próprio
sangue,abominação,vergonhadaminhacarne!–Eu...mandei... calar... a...BOCA!– rugiuohomem, e, comumestupendoesforço, ele eLupin
conseguiramfazerascortinasfecharem.Osguinchosdavelhamorreramesobreveioumsilêncioressonante.Umpoucoofeganteeafastandodosolhososlongoscabelosnegros,opadrinhodeHarry,Sirius,
voltou-separaolhá-lo.–Olá,Harry–dissemuitosério.–Vejoqueacaboudeconhecerminhamãe.
—CAPÍTULOCINCO—AOrdemdaFênix
–Sua...?–É,minhavelhaequeridamamãe–confirmouSirius.–Fazummêsqueestamostentandotirá-la
daí, mas achamos que ela pôs um Feitiço Adesivo Permanente atrás do quadro. Vamos descer,depressa,antesqueosoutrosacordemnovamente.–Masoqueéqueumretratodesuamãeestáfazendoaqui?–perguntouHarry,espantado,quando
passaramporumaportadocorredorquedavaacessoaumaescada,acompanhadosdepertopelosdemais.–Ninguémlhecontou?Estaeraacasadosmeuspais.MassouoúltimoBlackvivo,porissoela
agoraéminha.EuaofereciaDumbledoreparausarcomosede:achoquefoiaúnicacoisaútilquepudefazeratéomomento.Harry, que esperara uma recepção mais calorosa, reparou que a voz de Sirius parecia dura e
amargurada.Eleacompanhouopadrinhoe,aofimdaescada,passaramporumaportaqueseabriaparaacozinhadoporão.Nãoeramenossombriadoqueocorredoracima,umaposentocavernosocomparedesdepedra
bruta.Quasetodaailuminaçãovinhadeumgrandefogãoaofundo.Fumaçadecachimbopairavanoar como a névoa escura sobre um campo de batalha, e nela avultavam as formas ameaçadoras detachos e panelas penduradas no teto escuro.Muitas cadeiras tinham sido amontoadas no aposentopara a reunião e no meio havia uma longa mesa de madeira, coalhada de rolos de pergaminho,cálices,garrafasdevinhovaziasealgoquepareciaumapilhadetrapos.OSr.Weasleyeseufilhomaisvelho,Gui,estavamconversandoemvozbaixacomascabeçasjuntasaumapontadamesa.ASra.Weasleypigarreou.Omarido,umhomemmagro,óculoscomarosdetartarugaecabelos
ruivosquecomeçavamaralear,olhouparaosladoseimediatamenteselevantou.–Harry!–exclamouoSr.Weasley,apressando-seacumprimentarogaroto,cujasmãosapertou
comforça.–Quebomvervocê.Porcimadoombrodele,HarryviuGui,queaindausavacabelos longospresosemumrabode
cavalo,enrolarasfolhasdepergaminhodeixadassobreamesa.–Boa viagem,Harry? – perguntouGui, tentando recolher doze pergaminhos de uma só vez. –
EntãoOlho-TontonãoobrigouvocêsapassarpelaGroenlândia?–Elebemque tentou– respondeuTonks, se aproximandoparaajudarGui, e, logoemseguida,
virandoumavelaemcimadoúltimorolo.–Ahnão...medesculpe...–Aqui,querido–disseaSra.Weasley,exasperada,consertandoopergaminhocomumacenoda
varinha.No lampejode luzproduzidopelo feitiço,Harryvislumbroualgoquepareciaaplantadeumaconstrução.A Sra. Weasley o viu olhar. Recolheu com violência a planta da mesa e meteu-a nos braços
sobrecarregadosdeGui.–Essascoisasdeveriamserretiradasassimqueterminamasreuniões–dissecomrispidez,antes
desedirigiremgrandespassadasaumarmárioantigodeondecomeçouaretirarpratosdejantar.Guipuxouaprópriavarinhaemurmurou“Evanesco!”,aoqueosrolosdesapareceram.
–Sente-se,Harry–disseSirius.–VocêjáconheceMundungo,não?A coisa que Harry pensara ser uma pilha de trapos soltou um ronco prolongado, em seguida
acordoucomumestremeção.– Alguém falou meu nome? – resmungouMundungo sonolento. – Concordo com Sirius... – E
ergueuamãoencardidanoarcomoseestivessevotando,aspálpebraspesadaseosolhosvermelhosforadefoco.Ginaabafouumasrisadinhas.–Areuniãoterminou,Dunga–avisouSirius,enquantotodosseacomodavamaoredordamesa.–
Harrychegou.–Hein?– disseMundungo, espiandomalignamente por entre os cabelos ruivos embaraçados. –
Nãoéquechegoumesmo!Caramba...vocêestábem,Arry?–Estou.Mundungo apalpou os bolsos, nervoso, ainda olhando paraHarry, e puxou um cachimbo preto
recobertoporumacamadadesujeira.Meteu-onaboca,acendeuapontacomavarinhaechupou-olongamente.Enormesnuvensredondasdefumaçaesverdeadaoenvolveramemsegundos.–Estoudevendodesculpasavocê–grunhiuumavoznomeiodanuvemdefumaçafedorenta.– Pela última vez, Mundungo – chamou a Sra. Weasley –, por favor, não fume essa coisa na
cozinha,principalmenteantesdecomermos!–Ah!–exclamouobruxo.–Certo.Desculpe,Molly.Anuvemde fumaçadesapareceunoqueMundungo repôsocachimbonobolso,masumcheiro
acredemeiasqueimadaspermaneceunoar.–Esevocêsquiseremcomerantesdameia-noite,vouprecisardeajuda–anunciouaSra.Weasley
atodosnacozinha.–Não,vocêpodeficarondeestá,Harryquerido,fezumaviagemmuitolonga.–Emquepossoajudar,Molly?–perguntouTonks,adiantando-seentusiasmada.ASra.Weasleyhesitou,parecendoapreensiva.–Hum...não,tudobem,Tonks,vocêtambémprecisadescansar,jáfezosuficientehoje.–Não, não, quero ajudar! – insistiu a bruxa, animada, derrubando uma cadeira ao se precipitar
paraoarmário,noqualGinaapanhavatalheres.Logo, uma coleção de facas estava cortando carne e hortaliças sozinhas, supervisadas pela Sra.
Weasley,enquantoelamexiaumcaldeirãopenduradosobreaschamaseosdemaisapanhavam,nadespensa,pratos,maiscálicesecomida.HarryfoideixadoàmesacomSiriuseMundungo,queaindapiscavaosolhospesarososparaogaroto.–ViuavelhaFiggdepoisdaqueledia?–perguntou.–Não–disseHarry–,nãoavimais.–Entendo,eunãoteriasaído–disseMundungo,curvando-separaafrente,comumtomdesúplica
navoz–,mastiveumaoportunidadeparafazerumnegócio...Harry sentiu uma coisa roçar em seus joelhos e se assustou, mas era só o Bichento, o gato
amarelo,depernasarqueadas,deHermione,quecontornouaspernasdogaroto,ronronando,eemseguidasaltouparaocolodeSiriuse seenroscou.Obruxo,distraído,coçouatrásdasorelhasdogato,aomesmotempoqueseviravaaindasérioparaoafilhado.–Asfériasforamboasatéagora?–Não,umadroga–disseHarry.Pelaprimeiravez,asombradeumsorrisoperpassouorostodeSirius.–Eunãoseidoquevocêestásequeixando.–Que?!–exclamouHarry,incrédulo.–Pessoalmente,eu teria recebidocomprazerumataquededementadores.Uma lutamortalpela
minhaalmateriaquebradoessamonotonianumaboa.Vocêachaqueseuverãofoi ruim,maspelo
menosvocêpôdesair,esticaraspernas,semeterembrigas...eufiqueitrancadoaquiomêsinteiro.–Comoassim?–perguntouHarry,franzindoatesta.–PorqueoMinistériodaMagiacontinuamecaçando,eVoldemort,aestaaltura,jásabequesou
umanimago.Rabichoterácontadoaele,portantoomeudisfarceacabou.NãohámuitoqueeupossafazerpelaOrdemdaFênix...oupelomenoséoquepensaDumbledore.Havia alguma coisa no tom ligeiramente inexpressivo com que Sirius disse o nome de
Dumbledorequedeixoutransparecerqueeletambémnãoestavamuitofelizcomodiretor.Ogarotosentiuumarepentinaafeiçãopelopadrinho.–Pelomenosvocêacompanhouoqueestavaacontecendo–disse,àguisadeconsolo.– Ah, com certeza – respondeu Sirius sarcasticamente. – Escutando os relatórios de Snape,
aturandoasironiasdeledequeestáláforaarriscandoavidaenquantoeuestouaquisentadonobem-bom...meperguntandocomovaialimpeza...–Quelimpeza?–perguntouHarry.–Estouprocurandodeixar a casaemcondiçõesde serhabitadaporhumanos–explicouSirius,
abarcandocomumgestoacozinhasombria.–Ninguémmoraaquihádezanos,oupelomenosdesdequeminhaqueridamãefaleceu,anãoserqueseconteovelhoelfodomésticoqueaservia,equejáperdeuojuízohámuitotempo:nãolimpanadaháanos.–Sirius–interrompeu-oMundungo,quenãopareciaterprestadoatençãoalgumaàconversa,mas
estiveraexaminandoumcálicevazio.–Istoépratamaciça,cara?–É–respondeuSirius,avaliandoocálicecomaversão.–Amelhorpratalavradaporduendesno
séculoXV,gravadacomobrasãodafamíliaBlack.–Masissosai–murmurouMundungo,polindoobrasãocomopunhodocasaco.–Fred...Jorge...NÃO,ÉSÓPARACARREGARASCOISAS!–gritouaSra.Weasley.Harry,SiriuseMundungoolharamparaosladose,emumafraçãodesegundo,mergulharampara
longedamesa.FredeJorgetinhamenfeitiçadoumcaldeirãodeensopado,umajarradeferrocomcervejaamanteigadaeumapesadatábuadecortar, inclusivecomafaca,fazendotudovoarpeloarem direção à mesa. O caldeirão deslizou por toda a extensão da mesa e parou quase na ponta,deixandoumalongaqueimaduranegraemsuasuperfície;a jarracaiucomestrépito,espalhandooconteúdopelacozinha;afacadepãoescorregoudatábuaeaterrissou,depontaparabaixo,agitando-seameaçadoramente,nopontoexatoemqueamãodeSiriusestiveramomentosantes.–PELOAMORDEDEUS!–bradouaSra.Weasley.–NÃOHAVIAAMENORNECESSIDADE...
PARAMIMJÁCHEGA...SÓPORQUEAGORAVOCÊSTÊMPERMISSÃOPARAUSARMAGIA,NÃOPRECISAMPUXARAVARINHAPARATUDO!–Sóestamostentandoeconomizartempo!–respondeuFred,correndoaarrancarafacadepãoda
mesa.–Desculpe,cara–disseaSirius–,nãotive...HarryeSirius riram;Mundungo,quecaírapara trás, se levantouxingando;Bichento soltouum
silvoraivosoedisparouparabaixodoarmário,deondeseusgrandesolhosamarelosbrilharamnoescuro.–Meninos–disseoSr.Weasley, repondoocaldeirãonocentrodamesa–, suamãe tem razão,
espera-sequevocêsdemonstremresponsabilidade,agoraquesãomaioresdeidade...–Nenhumdosseusirmãoscriouessetipodeproblema!–ralhouaSra.Weasleycomosgêmeos,
batendo uma nova jarra de cerveja amanteigada na mesa com tanta força que quase derramou amesmaquantidadedolíquidoqueosgarotos.–Guinãosentianecessidadedeaparataracadametro!Carlinhosnãoenfeitiçavatudoquevia!Percy...Elaparouderepente,paratomarfôlego,elançouumolharassustadoaomarido,cujaexpressão
enrijecerarepentinamente.–Vamoscomer–disseGuidepressa.
–Estácomumacaraótima,Molly–disseLupin,servindoumaconchadoensopadoemumpratoepassando-oaela,sentadaàsuafrentenamesa.Durantealgunsminutosfez-sesilêncio,quebradoapenaspeloruídodospratos,talheresecadeiras
àmedidaqueaspessoasseacomodavamparacomer.EntãoaSra.WeasleysedirigiuaSirius.–Estouquerendolhefalarhádias,temalgumacoisapresanaescrivaninhadasaladevisitas,não
para de chocalhar e vibrar. É claro que pode ser apenas um bicho-papão, mas pensei que talvezdevêssemospediraAlastorparadarumaespiadaantesdesoltarmosoquequerqueseja.–Comoquiser–respondeuSirius,indiferente.–Ascortinasdelátambémestãocheiasdefadasmordentes–continuouaSra.Weasley.–Pensei
queagentetalvezpudessetentarresolveroproblemaamanhã.–Estouansiosoparacomeçar–disseSirius.Harrypercebeuosarcasmonavozdopadrinho,mas
ficouemdúvidasetodosohaviampercebido.Em frente a Harry, Tonks divertia Hermione e Gina transformando o próprio nariz entre uma
garfada e outra. Contraindo os olhos com a mesma expressão de dor que revelara no quarto deHarry,onarizdabruxa inchou, formandoumaespéciedeprotuberânciaalongadaque lembravaonariz do Snape, encolheu e se arredondou como um champignon e em seguida produziu umaquantidade de pelos em cada narina. Aparentemente aquilo era uma diversão rotineira à hora darefeição, porque Hermione e Gina logo estavam pedindo que fizesse os narizes de que maisgostavam.–Fazaquelequepareceumfocinhodeporco,Tonks.Tonks obedeceu, e Harry, erguendo os olhos, teve a momentânea impressão de que a versão
femininadeDudaestavasorrindoparaeledoladoopostodamesa.OSr.Weasley,GuieLupinmantinhamumaanimadadiscussãosobreduendes.–Elesaindanãoestãorevelandonada–diziaGui.–Nãochegueiàconclusãoseacreditamounão
queeleretornou.Claroquetalvezprefiramnãotomarpartido.Ficardefora.– Tenho certeza de que eles nunca se aliariam a Você-Sabe-Quem – falou o Sr. Weasley,
balançando a cabeça. – Eles também sofreram perdas; lembra aquela família de duendes que eleassassinoudaoutravez,pertodeNottingham?–Achoquetudodependedoqueofereceremaosduendes–comentouLupin.–Enãoestoufalando
deouro.Seofereceremaliberdadequevimosnegandoaelesháséculos,ficarãotentados.VocêaindanãotevesortecomoRagnok,Gui?–Eleestásesentindomuitoantibruxonomomento–respondeuGui.–Nãoparoudeesbravejar
sobreaquelahistóriadoBagman,achaqueoMinistérioabafouocaso,osduendesnuncareceberamoouroprometido,sabe...UmaondaderisadasnapartecentraldamesaabafouaspalavrasfinaisdeGui.Osgêmeos,Ronye
Mundungoestavamrolandoderir.– ... e então– engasgou-seMundungo, as lágrimas escorrendopelo rosto–, e então, se dápara
acreditar, ele olha paramim, e diz: “Me diz aqui,Dunga, onde foi que você arranjou todos essessapos?Porqueum filhodamãe foi e afanouosmeus.”E eudigo: “Afanouos seus sapos, cara, eagora?Entãovocêvaiquerermais alguns?”E sequiseremacreditar, rapazes, oburrodogárgulatornouacomprardemimtodosossaposquetinhamsidodeleporumpreçomuitomaisaltodoquepagoudaprimeiravez.–Achoquenãoprecisamoscontinuarouvindoosseusnegócios,Mundungo–disseaSra.Weasley
rispidamente,enquantoRonycaíadebruçadosobreamesadetantorir.– Desculpe,Molly – disseMundungo na mesma hora, enxugando as lágrimas e piscando para
Harry.–Mas,sabe,paracomeçaroWilltinhaafanadoossaposdoVerruga,porissoeunãoestavarealmentefazendonadaerrado.
–Não seionde foiquevocêaprendeuoqueé certo e errado,Mundungo,maspelo jeito andouperdendoalgumasaulasfundamentais–disseaSra.Weasleycomfrieza.Frede Jorgeenfiaramacaranoscálicesdecervejaamanteigada; Jorgeestavacomsoluço.Por
algumarazão,aSra.WeasleylançouumolharmuitofeioaSiriusantesdeselevantarparabuscarumgrandepudimderuibarbo.Harryvirou-separaopadrinho.–MollydesaprovaoMundungo–murmurouSirius.–EntãocomoéqueelefazpartedaOrdem?–perguntouHarrynomesmotom.–Eleéútil–murmurouSirius.–Conhecetodososvigaristas–bem,éclaroquesim,jáqueéum
deles.MasétambémmuitolealaDumbledore,quecertavezoajudouasairdeumapuro.CompensateralguémcomoDungaporperto,eleouvecoisasquenãoouvimos.MasMollyachaqueconvidá-loparajantarjáéirlongedemais.Nãooperdoouporabandonaroserviçoemvezdeseguirvocê.Três porções de pudim de ruibarbo depois, e a cintura das jeans de Harry começou a apertar
demais(oquenãoerapoucacoisa,poisasjeanstinhampertencidoaDuda).Quandoelefinalmentedescansouacolher,tinhahavidoumapausanaconversageralàmesa.OSr.Weasleyserecostaranacadeira,parecendorelaxadoesatisfeito;Tonksbocejavaabertamente,onarizagoranofeitionormal;eGina,queatraíraBichentoparaforadovãodoarmário,estavasentadanochãodepernascruzadas,atirandorolhasdecervejaparaogatoirbuscar.–Achoqueestáchegandoahoradedormir–disseaSra.Weasleybocejando.–Ainda não,Molly – pediu Sirius, afastando o prato para olharHarry de frente. – Sabe, estou
surpresocomvocê.PenseiqueaprimeiracoisaquefariaaochegareraperguntarsobreoVoldemort.A atmosfera na salamudou com a rapidez queHarry associava à chegada de dementadores. Se
segundos antes estava sonolenta e descontraída, agora ficara alerta e até tensa.Correu umarrepiopelamesaàmençãodonomedeVoldemort.Lupin,queiatomarumgoledevinho,baixouocálicelentamente,comardepreocupação.–Perguntei!–exclamouHarry,indignado.–PergunteiaRonyeHermione,maselesdisseramque
nãopodíamosparticipardaOrdem,então...–Etêmtodaarazão–disseaSra.Weasley.–Vocêssãomuitojovens.Abruxa se empertigouna cadeira, asmãos fechadas sobreos braços, semomenor vestígiode
sono.– Desde quando alguém precisa pertencer à Ordem da Fênix para fazer perguntas? – indagou
Sirius. –Harry ficoupresonaquela casade trouxasummês inteiro.Temodireitode saberoqueandouacontecendo...–Calmaaí!–interrompeu-oJorge,emvozalta.–PorqueéqueoHarryreceberespostasàsperguntasdele?–protestouFredaborrecido.–Fazummêsquetentamostirarinformaçõesdevocêenãoconseguimosabsolutamentenada!–
disseJorge.–Vocêéjovemdemais,nãopertenceàOrdem–disseFred,comumavozesganiçadaquelembrava
estranhamenteadamãe.–EHarrynãoénemmaiordeidade!– Não tenho culpa se ninguém lhe contou nada que a Ordem tem feito – respondeu Sirius
calmamente.–Issoéumadecisãodosseuspais.Poroutrolado,oHarry...–NãocabeavocêdecidiroqueébomparaoHarry!–retrucouaSra.Weasleycomaspereza.A
expressãoemseurosto,normalmentebondoso,pareciaperigosa.–SuponhoqueaindaselembredoqueDumbledoredisse?–Queparte?–perguntouSiriuseducadamente,mascomoardeumhomemquesepreparapara
umabriga.– A parte em que disse para não contar a Harry mais do que ele precisa saber – disse a Sra.
Weasley,sublinhandoasduasúltimaspalavras.
As cabeças de Rony, Hermione, Fred e Jorge giravam de Sirius para a Sra.Weasley como seestivessemacompanhandoumapartidadetênis.Ginaestavaajoelhadaemmeioaumapilhaderolhasdecerveja,observandoaconversacomabocaentreaberta.OsolhosdeLupinestavampregadosemSirius.–Nãotenhointençãodecontarmaisdoqueeleprecisasaber,Molly.Mascomofoielequemviu
Voldemortvoltar–maisumavezhouveumestremecimento coletivo ao somdaquelenome– temmaisdireitodoqueamaioriade...–ElenãopertenceàOrdemdaFênix!–contrapôsaSra.Weasley.–Temapenasquinzeanose...–EjátevedeenfrentartantoquantoamaioriadosparticipantesdaOrdememaisdoquealguns.–Ninguémestánegandooqueelefez!–disseaSra.Weasleyerguendoavoz,ospunhostremendo
nosbraçosdacadeira.–Masainda...–Elenãoémaiscriança!–retrucouSirius,impaciente.–Tampoucoéadulto!–disseaSra.Weasley,acorafluindoàssuasfaces.–ElenãoéTiago,Sirius!–Seiperfeitamentequemeleé,obrigado,Molly–retrucouSiriuscomfrieza.–Nãotenhomuitacerteza!Àsvezes,pelojeitocomquefaladelepassaaimpressãodequepensa
terrecuperadoseumelhoramigo!–Equeéquehádeerradonisso?–perguntouHarry.–Oquehádeerrado,Harry,équevocênãoéoseupai,pormaisquesepareçacomele!–dissea
Sra.Weasley,osolhosaindafixosemSirius.–Vocêaindaestánaescola,eosadultosresponsáveisporvocênãodeveriamesquecerisso!–Estádizendoquesouumpadrinhoirresponsável?–perguntouSirius,alteandoavoz.– Estou querendo dizer que é conhecido por agir impulsivamente, Sirius, razão pela qual
Dumbledoreestásemprelembrandoavocêparaficaremcasae...–VamosdeixarasinstruçõesquerecebideDumbledoreforadaconversa,querfazerofavor?–
disseSiriusquasegritando.–Arthur!–chamouaSra.Weasley,zangando-secomomarido.–Arthur,venhameapoiar!OSr.Weasleynãofalouimediatamente.Tirouosóculoselimpou-osdevagarnasvestes,semolhar
paraaesposa.Sódepoisqueosrecolocounorosto,começouaresponder.–Dumbledoresabequehouveumamudançadeposição,Molly.EleaceitaqueHarrytenhadeser
informado,atécertoponto,agoraqueestáhospedadoaquinasede.–Sei,masháumadiferençaentreissoeconvidá-loaperguntaroquequiser!–Pormim–disseLupinemvozbaixa,sóentãoafastandooolhardeSirius,aomesmotempoque
a Sra.Weasley se virava para ele, na esperança de ter finalmente conseguido um aliado –, achomelhorqueHarryconheça,pornossointermédio,osfatos,nãotodos,Molly,masoquadrogeral,emvezdeouvirumaversãotruncadapelabocade...outros.Sua expressão era suave,masHarry teve certeza de queLupin, pelomenos, sabia que algumas
OrelhasExtensíveishaviamsobrevividoaoexpurgodaSra.Weasley.–Bom–começouela,dandoumlongosuspiroeolhandoaoredoràprocuradeumapoioquenão
veio–,bom... estouvendoquevouperder.Masvoudizer sóumacoisa:Dumbledoredeve ter tidosuasrazõesparanãoquererqueHarrysoubessedemais,efalandocomoalguémquequeromelhorparaHarry...–Elenãoéseufilho–disseSiriusemvozbaixa.–Écomosefosse–respondeuelaferozmente.–Quemmaiseletem?–Temamim!–Tem–concordouaSra.Weasley,crispandoaboca–,oproblemaéquefoibastantedifícilpara
vocêcuidardeleenquantoestevetrancafiadoemAzkaban,nãofoi?Siriuscomeçouaseerguerdacadeira.
– Molly, você não é a única pessoa nesta mesa que se importa com o Harry – disse Lupinsecamente.–Sirius,sente-se.O lábio inferior da Sra.Weasley estava tremendo. Sirius tornou a se sentar lentamente em sua
cadeira,orostobranco.–AchoquedevíamosdeixarHarrydaraopiniãodelesobreoassunto–continuouLupin–,elejá
temidadeparadecidirsozinho.–Euquerosaberoqueestáacontecendo–disseogarotoimediatamente.ElenãoolhouparaaSra.Weasley.Comovera-sequandoaouviudizerqueeracomosefosseseu
filho,mas também estava impaciente com seusmimos exagerados. Sirius tinha razão, elenão eracriança.–Muitobem–disseaSra.Weasleycomavozfalhando.–Gina...Rony...Hermione...Fred...Jorge...
querovocêsforadestacozinha,agora.–Houveumtumultoinstantâneo.–Somosmaioresdeidade!–berraramFredeJorgejuntos.–SeHarrypode,porqueeunãoposso?–gritouRony.–Mamãe,euqueroouvir!–choramingouGina.– NÃO! – bradou a Sra. Weasley, pondo-se de pé, os olhos demasiado brilhantes. – Proíbo
terminantemente...–Molly,vocênãopodeimpedirFredeJorge–disseoSr.Weasley,cansado.–Elessãomaioresde
idade.–Aindasãoestudantes.–Masagorasãolegalmenteadultos–disseoSr.Weasley,comamesmavozcansada.ASra.Weasleyficouescarlate.–Eu...ah,estábem,então,FredeJorgepodemficar,masRony...–Dequalquer jeitoHarryvai contar amimeaHermione tudoquedisserem!– falouogaroto,
zangado.–Nãovai...nãovai?–acrescentou,inseguro,procurandoosolhosdeHarry.Porumafraçãodesegundo,Harryconsiderouapossibilidadede responderaRonyquenão lhe
contariaumaúnicapalavra,queiriafazê-loexperimentaroqueéserdeixadonoescuroparaverseerabom.Masoimpulsomaldosodesapareceuquandoseencararam.–Claroquevou–confirmouHarry.RonyeHermioneabriramlargossorrisos.–Ótimo!–gritouaSra.Weasley.–Ótimo!Gina...CAMA!Ginanãofoiemsilêncio.Todosaouviramzangandoebrigandocomamãenasubidadasescadas
e,quandoalcançaramocorredor,osgritosdefurarostímpanosdaSra.Blackvieramsesomaraoalvoroço.Lupincorreuparaoquadropararestauraracalma.Somentedepoisquevoltou,fechouaportadacozinhaeretomouseulugaràmesa,foiqueSiriusfalou.–Muitobem,Harry...queéquevocêquersaber?Ogarotoinspirouprofundamenteefezaperguntaqueoobcecaradurantetodoomêsanterior.– Onde está o Voldemort? – perguntou, não fazendo caso dos renovados arrepios e caretas à
menção daquele nome. – Que é que ele está fazendo? Estive tentando assistir ao noticiário dostrouxas,enãohouvenadaqueparecessecoisadele,nemmortesestranhasnemnada.– É que ainda não ocorreram mortes estranhas – respondeu Sirius –, pelo menos até onde
sabemos...esabemosmuitacoisa.–Pelomenosmaisdoqueelepensaquesabemos–acrescentouLupin.–Porqueéqueparoudematargente?–perguntouHarry.ElesabiaqueVoldemortmataramaisde
umavezsónoanoanterior.–Porquenãoquerchamaratenção–respondeuSirius.–Seriaarriscado.Oretornonãofoibem
comoeleesperava,entende.Eleestragoutudo.
–Oumelhor,vocêestragoutudo–disseLupin,comumsorrisodesatisfação.–Como?–perguntouHarry,perplexo.–Vocênãodeviatersobrevivido!–disseSirius.–NinguémalémdosComensaisdaMortedevia
saberqueelehaviaretornado.Masvocêsobreviveuparacontar.–EaúltimapessoaqueelequeriaquefossealertadadoretornoeraDumbledore–disseLupin.–E
vocêgarantiuqueeleficassesabendoimediatamente.–Ecomofoiqueissoajudou?–perguntouHarry.–Vocêestábrincando?–perguntouGuiincrédulo.–DumbledoreéaúnicapessoadequemVocê-
Sabe-Quemjátevemedonavida!–Graçasavocê,DumbledorepôdereconvocaraOrdemdaFênixumahoradepoisdoretornode
Voldemort–disseSirius.– Então é isso que aOrdem esteve fazendo? – perguntou o garoto, olhando as pessoas ao seu
redor.–TrabalhandocomomáximoempenhoparagarantirqueVoldemortnãopossaconcretizarseus
planos–disseSirius.–Comoéquevocêssabemquaissãoosplanosdele?–perguntouHarrydepressa.–Dumbledoreteveumaideiaastuciosa–disseLupin–,easideiasastuciosasdeDumbledoreem
geralseprovamverdadeiras.–EntãoqueéqueDumbledoreimaginaqueeleestejaplanejando?–Bom,paracomeçar,Voldemortquerreoganizaroexército–explicouSirius.–Nopassado,ele
teveefetivosenormessobseucomando:bruxasebruxosqueintimidououenfeitiçouparasegui-lo,osfiéisComensaisdaMorte,umagrandevariedadedecriaturasdastrevas.Vocêoouviuplanejandorecrutarosgigantes;bom,esteéapenasumdosgruposqueelequeraliciar.ComcertezaelenãovaitentarassumiroMinistériodaMagiacommeiadúziadeComensaisdaMorte.–Entãovocêsestãotentandoimpedi-loderecrutarmaisseguidores?–Estamosnosesforçandoomáximo–disseLupin.–Como?–Bom, o principal é tentar convencer omaior número possível de pessoas de queVocê-Sabe-
Quemrealmenteretornou,deixá-lasnadefensiva–disseGui.–Masestásendocomplicado.–Porquê?–PorcausadaatitudedoMinistério–esclareceuTonks.–VocêviuCornélioFudgedepoisque
Você-Sabe-Quem retornou,Harry.Muito bem, ele nãomudou de posição.Continua a se recusar aacreditarquesejaverdade.–Mas por quê? – perguntouHarry desesperado. – Por que é que ele está sendo tão burro? Se
Dumbledore...–Ah,vocêacaboudepôrodedonaferida–disseoSr.Weasleycomumsorrisoentredivertidoe
aborrecido.–Dumbledore.–Fudgetemmedodele,entende–acrescentouTonkscomtristeza.–MedodeDumbledore?–repetiuHarryincrédulo.– Medo do que está pretendendo – disse o Sr. Weasley. – Fudge pensa que Dumbledore está
conspirandoparaderrubá-lo.AchaqueDumbledorequerserministrodaMagia.–MasDumbledorenãoquer...–Claroquenãoquer – confirmouoSr.Weasley. – Jamais quis o cargodeministro, aindaque
muitagentequisessequeeleoassumissequandoEmíliaBagnoldseaposentou.MasfoiFudgequemassumiuopoder,eele jamaisesqueceu todooapoiodopovoaDumbledore,aindaqueele jamaistivessesecandidatadoaocargo.– No fundo, Fudge sabe que Dumbledore é muitomais esperto que ele, um bruxomuitomais
poderoso,enoiníciodomandatoFudgeestavasemprepedindoajudaeconselhosaDumbledore–falouLupin.–MasparecequeFudgegostoudopoderesetornoumuitomaisconfiante.Adoraserministro daMagia e conseguiu se convencer de que é o mais inteligente e que Dumbledore estácriandoconfusãosimplesmenteporcriar.– Como é que ele pode pensar uma coisa dessas? – perguntouHarry indignado. – Como pode
pensarqueDumbledorevásimplesmenteinventartudoisso...queeuváinventartudoisso?–PorqueaceitarqueVoldemortretornousignificariaterproblemasqueoMinistérionãoprecisa
enfrentarháquasecatorzeanos–disseSiriusamargurado.–Fudgesimplementenãoquerencararaverdade.ÉmuitomaiscômodoseconvencerdequeDumbledoreestámentindoparadesestabilizá-lo.–Você está entendendoo problema?– disseLupin. –Enquanto oMinistério insistir que nãohá
nada a temer da parte de Voldemort, é muito difícil convencer as pessoas de que ele retornou,principalmente se elas, para começar, não querem acreditar nisso. E mais, o Ministério estáconfiandoemqueoProfetaDiárionãonoticieoquechamadecampanhadeboatosdeDumbledoree,assimsendo,amaiorpartedacomunidadebruxanãotemamenorconsciênciadequealgumacoisatenhaacontecido,ecomistosetornaumalvofácilparaosComensaisdaMorte,seestiveremusandoaMaldiçãoImperius.–Mas vocês estão contando às pessoas, não estão? – perguntou Harry, olhando para todos ao
redor:oSr.Weasley,Sirius,Gui,Mundungo,LupineTonks.–Vocêsestãoinformandoatodosqueeleretornou?Todosriramamarelo.–Bom,comotodosachamquesouumloucohomicidaquemataporatacado,eoMinistérioestá
oferecendo uma recompensa de dez mil galeões pela minha cabeça, não dá para eu sair à rua ecomeçaradistribuirpanfletos,dá?–comentouSiriusinquieto.–Eeunãosouumconvidadomuitopopularnamaiorpartedanossacomunidade–disseLupin.–
Éumriscoocupacionalserlobisomem.– Tonks e Arthur perderiam o emprego noMinistério se começassem a dar com a língua nos
dentes–disseSirius–,eémuito importanteparanós terespiõesnoMinistério,porquevocêpodeapostarqueVoldemortostem.–Mesmoassim,conseguimosconvenceralgumaspessoas–disseoSr.Weasley.–ATonksaqui,
por exemplo: eramuito jovem para participar daOrdem da Fênix da outra vez, e é uma enormevantagemcontarcomauroresdonossolado;QuimShacklebolttambémtemsidorealmentevalioso.ÉoresponsávelpelacaçaaoSirius,entãoteminformadoaoMinistérioqueSiriusestánoTibet.– Mas se nenhum de vocês está divulgando a notícia de que Voldemort retornou... – começou
Harry.–Quemdissequenenhumdenósestádivulgandoasnotícias?–falouSirius.–Porqueéquevocê
achaqueDumbledoreestátãoencrencado?–Comoassim?–perguntouHarry.– Estão tentando desacreditá-lo – explicou Lupin. – Você não viu o Profeta Diário da semana
passada?NoticiaramqueaConfederaçãoInternacionaldeBruxosvotouadispensadeledadiretoriaporqueestáficandovelhoeincapaz,masnãoéverdade;votaramafavordadispensadeleosbruxosfuncionáriosdoMinistériodepoisqueelefezumdiscursoanunciandooretornodeVoldemort.Eleperdeu o cargo de bruxo-presidente daSupremaCorte dosBruxos, e estão falando emcassar suacomendadeprimeiraclassedaOrdemdeMerlim.–MasDumbledoredizquenãose importacomoqueestão fazendo,desdequenão tiremoseu
retratodobaralhodesaposdechocolate–disseGuirindo.–Nãoécasopara risos–censurouseupaicomrispidez.–SecontinuaradesafiaroMinistério
abertamente, ele pode acabar em Azkaban, e a última coisa que queremos é ver Dumbledore
trancafiado.EnquantoVocê-Sabe-QuemsouberqueDumbledoreestálivreebeminformadodoqueeleestáfazendo,agirácomcautela.SeDumbledoreestiverforadocaminho...bom,Você-Sabe-Quemteráocampolivre.–MasseVoldemortestivertentandorecrutarmaisComensaisdaMorte,logovazaráanotíciade
queretornou,nãoémesmo?–perguntouHarrydesesperado.–Voldemortnãovaiatéàcasadaspessoasebatenaporta,Harry–ponderouSirius.–Eleprepara
arapucas, enfeitiça e chantageia. Tem muita prática de agir em segredo. Em todo o caso, reunirseguidoreséapenasumadascoisasemqueestáinteressado.Eletambémtemoutrosplanos,planosquepodepôremaçãodiscretamente,e,porora,temseconcentradoneles.– Que é que ele está querendo conseguir além dos seguidores? – perguntou Harry depressa.
Pareceu-lhetervistoSiriuseLupintrocaremumbrevíssimoolharantesdoseupadrinhoresponder.–Coisasqueelesópodeobternasurdina.ComoHarrycontinuasseafazercaradeintrigado,Siriusexplicou:–Comoarmas.Umacoisaquenãotinhadaúltimavez.–Quandoerapoderoso?–É.–Quetipodearmas?–perguntouHarry.–CoisapiordoqueaAvadaKedavra...?–Agorachega!ASra.Weasleyfaloudassombrasaumladodaporta.Harrynãonotarasuachegadadepoisque
foradeixarGinanoandardecima.Tinhaosbraçoscruzadosepareciafuriosa.–Agoravãodormir.Todosvocês–acrescentou,olhandoparaFred,Jorge,RonyeHermione.–Vocênãopodemandarnagente...–começouFred.–Então olhe – rosnou aSra.Weasley.Tremia ligeiramente ao encarar Sirius. –Você já deu ao
Harrymuitainformação.Maisumpoucoeserámelhorconvencê-loaentrarnaOrdemdaFênixdevez.–Porquenão?–perguntouHarrydepressa.–EntroparaaOrdem,queroentrar,querolutar.–Não.NãofoiaSra.Weasleyquemfaloudestavez,masLupin.– A Ordem é formada apenas por bruxos de maior idade – explicou ele. – Bruxos que já
terminaramaescola–acrescentou,quandoFredeJorgeabriramaboca.–Háperigosemjogodequevocêsnãotêmamenorideia,nenhumdevocês...AchoqueMollytemrazão,Sirius.Jácontamososuficiente.Sirius começou a sacudir os ombros,mas nãodiscutiu.ASra.Weasley acenou autoritariamente
para os filhos e Hermione. Um a um, eles se levantaram, e Harry, reconhecendo a derrota, osacompanhou.
—CAPÍTULOSEIS—AmuiantigaenobrecasadosBlack
ASra.Weasleyacompanhou-osaoandardecimadecaraamarrada.–Todosdiretoparaacama,nadadeconversas–dissequandoalcançaramoprimeiropatamar–,
vamosterumdiacheioamanhã.ImaginoqueGinaestejadormindo–acrescentouparaHermione–,portanto,tratedenãoacordá-la.–Dormindo,claro–disseFrednummurmúrio,depoisqueHermionedesejouatodosboa-noitee
elesjásubiamparaosegundoandar.–QueroservermeseaGinanãoestiveracordadaesperandoHermioneparacontartudoquefoiditoláembaixo...–Muitobem,Rony,Harry–disseaSra.Weasleynosegundopatamar,apontandoparaoquartodos
garotos.–Paraacamaosdois.–Noite–disseramHarryeRonyaosgêmeos.–Durmambem–despediu-seFredcomumapiscadela.ASra.WeasleyesperouHarrypassarefechouaportacomumabatidaseca.Oquartoparecia,seé
que isto erapossível, aindamaisúmido, frio, desagradável e sombriodoqueparecera àprimeiravista. O quadro vazio na parede agora respirava lenta e profundamente, como se seu ocupanteinvisível estivesse adormecido. Harry vestiu o pijama, tirou os óculos e entrou na cama gelada,enquanto Rony atirava petiscos às corujas no alto do armário para acalmar Edwiges e Píchi, queestavamfazendoumestardalhaçoesacudiamasasas,inquietas.– Não podemos soltá-las toda noite para caçar – explicou Rony, vestindo o pijamamarrom. –
Dumbledorenãoquermuitascorujasvoandopelolargo,achaquevaiparecersuspeito.Ah,sim...iameesquecendo.Elefoiatéaportaetrancou-a.–Paraqueestáfazendoisso?–Monstro–respondeuRonyapagandoaluz.–Nanoitequecheguei,eleentroupeloquartoàstrês
damanhã.Confieemmim,vocênãovaiquereracordaredardecaracomeleandandopeloquarto.Emtodoocaso...–Ronyentrounacama,ajeitou-sesobascobertaseseviroudefrenteparaencararHarrynoescuro;Harryviaocontornodoamigoàclaridadedoluarquesefiltravapelajanelasuja–queéquevocêachou?HarrynãoprecisouperguntaroqueoamigoRonyqueriasaber.–Bom,nãonoscontarammuitacoisaquenãopudéssemosteradivinhadosozinhos,nãoémesmo?
– comentou, repassandomentalmente tudo que fora discutido na cozinha. –Quero dizer, só o querealmentenosdisseramfoiqueaOrdemestátentandoimpediraspessoasdesereuniremaVol...Ronyprendeubruscamentearespiração.– ...demort – disseHarry com firmeza. –Quando équevocêvai começar a usar onomedele?
SiriuseLupinusam.Ronyfingiunãoterouvidoocomentário.–É,vocêtemrazão,jásabíamosquasetudoquenoscontaram,usandoasOrelhasExtensíveis.A
únicanovidadefoi...Craque.
–AI!–Falebaixo,Rony,oumamãevoltajá,jáaqui.–Vocêsdoisaparataramemcimadosmeusjoelhos!–Ah,bom,équeémaisdifícilnoescuro.Harry percebeu os vultos de Fred e Jorge saltando da cama de Rony. As molas gemeram e o
colchãodeHarryafundoualgunscentímetrosquandoJorgesesentounospésdacama.–Então,jáchegaramlá?–perguntouJorgeansioso.–NaarmaqueSiriusmencionou?–disseHarry.–Deixouescapar,émaisprovável–disseFredcomprazer,agorasentadoaoladodeRony.–Não
escutamosnadasobreissocomasOrelhas,nãofoi?–Queéquevocêsachamqueé?–perguntouHarry.–Podeserqualquercoisa–respondeuFred.–MasnãopodehavernadapiordoqueaMaldiçãoAvadaKedavra,pode?–perguntouRony.–
Queéquepodeserpiordoqueamorte?–Talvezsejaalgumacoisaquepodematarmuitagentedeumavez–sugeriuJorge.–Talvezsejaalgummodobemdolorosodematargente–disseRony,assustado.–Ele já tem aMaldiçãoCruciatus para causar dor – disseHarry – e não precisa de nadamais
eficiente.Fez-seumapausaeogarotopercebeuqueosoutros,comoele,estavamimaginandooshorrores
queatalarmapoderiaperpetrar.–Entãoqueméquevocêsachamquejátemaarma?–perguntouJorge.–Esperoquesejaonossolado–disseRony,comavozligeiramentenervosa.–Sefor,provavelmenteestásobaguardadeDumbledore–disseFred.–Onde?–perguntouRonydepressa.–Hogwarts?–Apostoquesim–arriscouJorge.–FoiondeeleescondeuaPedraFilosofal.–Masaarmavaiserbemmaiorqueapedra!–disseRony.–Nãovejoporquê–retrucouFred.–É,tamanhonãoégarantiadepotência–disseJorge.–OlhesóaGina.–Comoassim?–perguntouHarry.–Elanuncalançouemvocêaazaraçãoqueusapararebaterbicho-papão?–Psss!–fezFred,semierguendo-sedacama.–Ouçam!Todossecalaram.Haviapassossubindoaescada.–Mamãe – disse Jorge e, semmais demora, ouviu-se um forte craque eHarry sentiu um peso
sumirdospésdesuacama.Segundosdepois,osgarotosouviramastábuasdosoalhorangeremdolado de fora da porta; sem disfarces, a Sra. Weasley estava escutando à porta para verificar seconversavam.EdwigesePíchipiaramtristemente.Astábuastornaramarangereosdoismeninosaouviramsubirmaisumandar,paraverificarFredeJorge.–Elanãoconfianadinhanagente,sabe–lamentouRony.Harryestavacertodequenãoconseguiriaadormecer;anoiteforatãocheiadeinformaçõessobre
asquaisrefletirqueelenãoduvidavadequeiriapassarhorasacordadotentandodigeri-las.QueriacontinuaraconversarcomRony,masaSra.Weasleyfezasescadasrangeremnadescida,edepoisdela Harry ouviu distintamente outros virem subindo... na realidade, criaturas de muitas pernasgalopavam para cima e para baixo do lado externo da porta, e Hagrid, o professor de Trato dasCriaturasMágicas, ia dizendo “Umas lindezas, não são? Este semestre vamos estudar armas...”, eHarryviuqueascriaturastinhamcanhõesemlugardecabeçaseestavammanobrandoparaenfrentá-lo...eleseabaixou...Apróximacoisadequeteveconsciênciafoiqueestavaenroladocomoumabola,aquecidosobas
cobertas,eavozfortedeJorgeenchiaoquarto.–Mamãefalouparavocêsse levantarem,queocafédamanhãestánacozinha,equedepoisela
precisadetodosnósnasaladevisitas,temumnúmeromuitomaiordefadasmordentesdoqueelaimaginou,equeencontrouumninhodepufososmortosembaixodosofá.Meiahoradepois,HarryeRony,quesevestirametomaramcafé,apressados,chegaramàsalade
visitasnoprimeiroandar,umaposentocompridodetetoalto,comparedesverde-olivacobertasportapeçariassujas.Otapetesoltavanuvenzinhasdepoeiracadavezquealguémpisavanele,easlongascortinas de veludo verde-musgo zumbiam como se nelas houvesse enxames de abelhas invisíveis.Gina,FredeJorgeestavamagrupados,todoscomcarasestranhas,poisusavamumpanoamarradosobreonarizeaboca.Cadaumdelesseguravaumgarrafãodelíquidopretocomumesguichonobocal.–Protejamorostoeapanhemumborrifador–disseaSra.WeasleyaHarryeRonynoinstanteem
queosviu,apontandoparamaisdoisgarrafõescheiosdeumlíquidopreto,emcimadeumamesadepernas finas.–ÉFadicida.Nuncaviuma infestação tão séria:que seráqueoelfodomésticodestacasaandoufazendonosúltimosdezanos...OrostodeHermioneestavasemiocultoporumatoalha,masHarrynotouperfeitamenteoolharde
censuraqueelalançouàSra.Weasley.–OMonstroestámuitovelhoeprovavelmentenãopôde...–VocêficariasurpresacomoqueoMonstropodefazerquandoquer,Hermione–disseSirius,que
acabaradeentrarnasalatrazendoumasacaensanguentadaquepareciaconterratosmortos.–Estivealimentando oBicuço – acrescentou em resposta ao olhar indagador deHarry. –Guardo-o lá emcimanoquartodaminhamãe.Emtodoocaso...essaescrivaninha...Elelargouasacaderatosemumapoltrona,depoissecurvouparaexaminaroarmáriotrancado,o
qualHarryreparavapelaprimeiravezqueestavavibrando.–Bom,Molly,tenhocertezadequeissoéumbicho-papão–disseSirius,espiandopeloburacoda
fechadura–,mastalvezfossebomoOlho-Tontodarumaespiadaantesqueosoltemos:conhecendominhamãe,podesercoisamuitopior.–Vocêtemrazão,Sirius–disseaSra.Weasley.Ambossefalavamemumtomintencionalmenteleveeeducado,quedeixoumuitoclaroaHarry
quenenhumdosdoisesqueceraodesentendimentodanoiteanterior.Uma campainha forte e ressonante tocou no térreo, seguida imediatamente pela cacofonia de
berros e guinchos que na noite anterior haviam sido provocados por Tonks ao derrubar o porta-guarda-chuvas.– Vivo dizendo a eles para não tocarem a campainha! – exclamou Sirius exasperado e saiu
correndodasala.Ouviram-nodescercomestrondoasescadas,aomesmotempoqueosguinchosdaSra.Blackecoavammaisumavezportodaacasa.“Símbolosdadesonra,mestiçossórdidos,traidoresdoprópriosangue,filhosdaimundície...”–Porfavor,fecheaporta,Harry–pediuaSra.Weasley.Harry demorouomáximoque ousoupara fechar a porta da sala de visitas; queria ouvir o que
estava acontecendo lá embaixo. Sirius obviamente conseguira fechar as cortinas que cobriam oretrato damãe, porque ela parara de berrar. O garoto ouviu os passos do padrinho no corredor,depoisotinidodacorrentedaportadeentradae,porfim,avozgravequeelereconheceupertenceraQuimShacklebolt:–Héstiaacaboudemesubstituir,acapadeMoodyficoucomela,maseugostariadedeixarum
relatórioparaoDumbledore...SentindooolhardaSra.Weasleyemsuanuca,Harry,penalizado,fechoucuidadosamenteaporta
dasalaetornouasejuntaraogrupodelimpeza.
ASra.Weasley curvou-se para consultar a página sobre as fadasmordentes noGuia de pragasdomésticasdeGilderoyLockhart,abertosobreosofá.– Certo,meninos, vocês precisam ter cuidado, porque as fadasmordentesmordem e os dentes
delassãovenenosos.Tenhoumvidrodeantídotoaqui,masprefeririaqueninguémprecisasseusá-lo.Ela endireitou o corpo, tomou posição bem diante das cortinas e fez sinal para os garotos
avançarem.–Quandoeumandar,comecemaborrifarimediatamente.Elasvãovoarpracimadenós,imagino,
massegundoasinstruçõesdoFadicida,umaboaesguichadapodeparalisá-las.Quandoistoacontecerésóatirá-lasnestebalde.ASra.Weasleysaiucuidadosamentedalinhadefogodosgarotoseergueuoprópriogarrafão.–Muitobem...agora!Harryestavaborrifandohaviaalgunssegundosquandoumafadamordenteadultasaiuvoandoda
dobradacortina,vibrandoasasasreluzentescomoasdeumbesouro,osdentinhosafiadosàmostra,o corpo coberto de espessos pelos pretos e os quatro punhosmiúdos apertados com fúria.HarryacertouoFadicidaemcheionacaradafada.Elaparounoarecaiusobreotapetepuídoquecobriaochão,comumbaquesurpreendentementeforte.Harryrecolheu-aeatirou-anobalde.–Fred,queéquevocêestáfazendo?–perguntouaSra.Weasleycomaspereza.–Borrifelogoe
jogueessacoisafora.Harrysevirouparaolhar.Fredseguravaentreoindicadoreopolegarumafadaquesedebatia.–Certo–respondeuFredanimado,borrifandodepressaacaradafadaparafazê-ladesmaiar,mas,
noinstanteemqueaSra.Weasleyvirouascostas,eleaenfiounobolsocomumapiscadela.–QueremostestarovenenodasfadasmordentesparaonossokitMata-Aula–murmurouJorge
paraHarry.Borrifandocomperícia, e aomesmo tempo,duas fadasquevoavamparao seunariz,Harry se
aproximoudeJorgeecochichoupelocantodaboca:–QueéumkitMata-Aula?– Um kit com docinhos para deixar o aluno doente – sussurrou Jorge, mantendo um olho
preocupadonascostasdaSra.Weasley.–Nãoédoenteparavaler,entenda,sóosuficienteparaocarasairdasaladeaulanahoraquequiser.Fredeeuestivemosfazendoexperiênciasnessasférias.Sãodemastigaretêmextremidadesdecoresdiferentes.SeocaracomeametadelaranjadaVomitilha,elevomita.Nahoraemqueforlevadodepressaparaaalahospitalar,eleengoleametaderoxa...–...que“restauraoseubem-estarelhepermitecurtiraatividadequeescolherduranteaquelahora
que, do contrário, seria ocupada por um tédio inútil”. Pelomenos é como estamos anunciando –cochichouFred, quehavia se aproximadopara fugir da linhadevisãodaSra.Weasley e agora iavarrendo algumas fadas dispersas e guardando-as no bolso. –Mas ainda é preciso um pouco depesquisa. No momento, os nossos provadores ainda têm achado meio difícil parar de vomitar otemposuficienteparacomeraparteroxa.–Provadores?–Nós – explicou Fred. –Nós nos revezamos. Jorge provou as FantasiasDebilitantes, nós dois
experimentamosoNugáSangraNariz...–Mamãepensouqueagentetivesseandadoduelando–disseJorge.–ALojadeLogroseBrincadeirasaindaestávalendo,então?–murmurouHarry,fingindoajustar
oesguichodoborrifador.–Bom,aindanãotivemoschancedearranjarumlocal–disseFred,baixandoaindamaisavoz,
enquantoaSra.Weasleyenxugavaa testacomaecharpeparavoltaraoataque–,por issoestamosoperandonabasederemessaspostais,porenquanto.PusemosanúnciosnoProfetaDiárionasemanapassada.
–Tudograçasavocê,cara–disseJorge.–Masnãosepreocupe...mamãenãotemamenorideia.ElanãolêmaisoProfetaDiárioporqueandacontandomentirassobrevocêeDumbledore.Harryriu.ObrigaraosgêmeosWeasleyaaceitaremoseuprêmiodemilgaleõespelavitóriano
TorneioTribruxo,paraajudá-losa realizaraambiçãodeabriruma lojade logrosebrincadeiras,mas continuava satisfeito que a Sra.Weasley não soubesse de sua contribuição para incentivar osplanosdosgêmeos.Elaachavaquedirigirumalojadelogrosebrincadeirasnãoeraumacarreiradignaparaosdoisfilhos.Adesfadizaçãodascortinasocupouamaiorpartedamanhã.Jápassavademeio-diaquandoaSra.
Weasley finalmente tiroua echarpeque aprotegia, deixou-se cair emumapoltrona comasmolasafundadasederepentelevantou-seoutravez,soltandoumgritodenojo,poissesentaraemcimadasacaderatosmortos.Ascortinashaviamparadodezumbir;pendiammoleseúmidascomointensoborrifamento.Nobaldeaospésdeles,jaziamamontoadasasfadasmordentesparalisadas,aoladodeumabaciacomseusovosnegros;Bichentoagoraos farejavaeFrede Jorge lançavamolharesdecobiça.–Achoquevamoscuidardaquelesdepoisdoalmoço.–ASra.Weasleyapontouparaosarmários
de portas de vidro empoeiradas a cada lado do console da lareira.Estavamabarrotados comumaestranha variedade de objetos: uma coleção de adagas enferrujadas, garras, uma pele de cobraenrolada,algumascaixasdeprataoxidadacominscriçõesemlínguasqueHarrynãoreconheceue,omais desagradável de todos, uma garrafa de cristal lapidado com uma grande opala engastada narolha,contendooqueHarrytinhacertezaqueerasangue.Acampainhabarulhentadaportatornouasoar.TodosolharamparaaSra.Weasley.–Fiquemaqui–disseelacomfirmeza,agarrandoasacaderatosnahoraemquerecomeçavamos
gritosdaSra.Blacknoandardebaixo.–Voutrazerunssanduíches.Saiudasala,fechandocuidadosamenteaportaaopassar.Namesmahora,todosacorreramàjanela
paraespiaraentrada.Viramococurutodealguémdecabelosruivosemalcuidadoseumapilhadecaldeirõesprecariamenteequilibrados.–Mundungo!–exclamouHermione.–Paraqueseráqueeletrouxetodosaquelescaldeirões?–Provavelmenteestáprocurandoumlugarseguroparaguardá-los–disseHarry.–Nãoeraisso
queestavafazendonanoiteemquedeviaestarmeseguindo?Apanhandocaldeirõessuspeitos?–É,vocêtemrazão!–disseFred,quandoaportadeentradafoiaberta;Mundungoentroucomo
carregamentodecaldeirõesedesapareceudevista.–Caramba,mamãenãovaigostardisso...EleeJorgeforamatéaportaepararamparaescutar.OsberrosdaSra.Blackhaviamparado.– Mundungo está conversando com o Sirius e o Quim – murmurou Fred, franzindo a testa
concentrado. – Não consigo ouvir direito... Vocês acham que podíamos arriscar as OrelhasExtensíveis?–Talvezvalhaapena–disseJorge.–Eupodiairescondidoatéláemcimaeapanharumpar...MasnaqueleexatomomentoouviramtalexplosãosonoranotérreoqueasOrelhasExtensíveisse
tornaram dispensáveis. Todos puderam ouvir exatamente o que a Sra.Weasley estava berrando aplenospulmões.–NÃOESTAMOSOPERANDOUMESCONDERIJOPARAOBJETOSROUBADOS!–Adoroouvirmamãegritandocomosoutros–disseFred,comumsorrisodesatisfaçãonorosto,
abrindoumafrestanaportaparapermitirqueavozdaSra.Weasleyentrassemelhorpelasala–,émuitobomparavariar!– ... COMPLETAMENTE IRRESPONSÁVEL, COMO SE NÃO TIVÉSSE-MOS O BASTANTE
PARANOSPREOCUPARSEMVOCÊTRAZERCALDEIRÕESROUBADOSPARADENTRODACASA...–Osidiotasestãodeixandoelaganharimpulso–comentouJorge,sacudindoacabeça.–Épreciso
cortarlogoopapodela,senãovaiseenchendodevaporenãoparamais.Eandadoidaparaterumachance de desancar oMundungo, desde que ele saiu escondidoquandodevia estar seguindovocê,Harry...elávaiamãedoSiriusoutravez.AvozdaSra.Weasleyfoiabafadapelosnovosguinchosegritosdosretratosnocorredor.Jorgefezmençãodefecharaportaparaabafarobarulho,mas,antesquepudessefazê-lo,umelfo
domésticoesgueirou-separadentro.Excetopelo trapo imundoamarradocomouma tanganosquadris, ele estavacompletamentenu.
Pareciamuitovelho.Suapeledavaaimpressãodesermaiordoqueocorpoe,emborafossecareca,comotodososelfosdomésticos,umaboaquantidadedepelosbrancossaíadesuasorelhasenormescomo as de ummorcego.Seus olhos injetados eramde umcinzento aquoso e seu nariz, bulboso,grandeemeiotrombudo.OelfonãoprestouamenoratençãoemHarrynemnosdemais.Agindocomosenãopudessevê-
los, avançou arrastando os pés, o corpo curvado, mas lenta e decididamente, para o fundo doaposento,resmungandobaixinhonumavozroucaesonoracomoadeumarã-touro.– ... cheira a esgoto e ainda por cima criminoso, mas ela não é melhor, traidora perversa do
próprio sangue com esses pirralhos que emporcalham a casa daminha senhora, ah,minha pobresenhora,seelasoubesse,sesoubessearaléquedeixaramentraremsuacasa,queéqueeladiriaaovelhoMonstro,ah,quevergonha,sangues-ruinselobisomensetraidoreseladrões,coitadodovelhoMonstro,queéqueelepodefazer...–Olá,Monstro–disseFredemvozmuitoalta,fechandoaportacomumestalo.O elfo doméstico ficou imóvel, parou de resmungar, e encenou um sobressalto muito forte e
poucoconvincente.–Monstronãoviuojovemsenhor–disse,virando-seefazendoumareverênciaparaFred.Ainda
comosolhosnotapete,acrescentou,emtomperfeitamenteaudível:–Éumpirralhodesagradáveletraidordoprópriosangue,sim.–Desculpe?–disseJorge.–Nãoentendiessaúltimaparte.–Monstro não disse nada – repetiu o elfo, comuma segunda reverência, e acrescentou emum
claromurmúrio:–Eaquitemososgêmeos,ferinhasdesnaturadasquesão.Harry não sabia se ria ou não. O elfo se endireitou, olhando-os malignamente e, pelo jeito,
convencidodequeosgarotosnãopodiamouvi-locontinuararesmungar.–...eolhemaSangueruim,paradaali insolente,ah,seaminhasenhorasoubesse,ah,comoiria
chorar, e tem um garoto novo,Monstro não sabe o nome dele.Que é que ele está fazendo aqui?Monstronãosabe...–EsteéoHarry,Monstro–disseHermione,hesitante.–HarryPotter.Os olhos claros deMonstro se arregalarame ele resmungoumais depressa emais furioso que
nunca.–ASangueruimestáfalandocomMonstrocomosefosseminhaamiga,seasenhoradeMonstro
ovisseemtalcompanhia,ah,oqueiriadizer...– Não chame Hermione de Sangue ruim! – disseram ao mesmo tempo Rony e Gina, muito
zangados.–Nãotemimportância–sussurrouagarota–,elenãobatebemdacabeça,nãosabeoqueestá...– Não se engane, Hermione, ele sabe exatamente o que está dizendo – falou Fred, encarando
Monstrocomgrandeaversão.Monstrocontinuavaresmungando,comosolhosfixosemHarry.–Éverdade?EsseéoHarryPotter?Monstroestávendoacicatriz,deveserverdade,foiogaroto
quedeteveoLordedasTrevas,Monstroqueriasabercomofoiqueelefez...–Enãoqueremostodos,Monstro?–falouFred.
–Afinalqueéquevocêestáquerendo?–perguntouJorge.OsenormesolhosdeMonstrovoltaram-sedepressaparaJorge.–Monstroestálimpando–respondeu,fugindoàpergunta.–Dámesmoparaacreditar!–disseumavozatrásdeHarry.Siriusvoltara;daporta,olhavaaborrecidoparaoelfo.Obarulhonocorredordiminuíra;talveza
Sra.WeasleyeMundungo tivessemtransferidoadiscussãoparaacozinha.AoverSirius,Monstromergulhouemumareverênciaridiculamenteprofundaqueachatouoseunariztrombudonochão.–Fiqueempédireito–disseSiriusimpaciente.–Agora,queéquevocêestáaprontando?–Monstroestálimpando–repetiuoelfo.–MonstroviveparaserviranobrecasadosBlack...–Queestáficandocadadiamaispreta,estáimunda.–Meusenhorsempregostoudebrincar–disseMonstro,curvando-seoutravez,econtinuandoa
murmurar:–Osenhorsemprefoiumporcomaueingratoquepartiuocoraçãodesuamãe...–Minhamãenãotinhacoração,Monstro–retorquiuSirius.–Sobreviviadepurorancor.Monstrotornouasecurvarefalou:–Oqueosenhordisser–resmungoufuriosamente.–Osenhornãoédignodelimparalamadas
botas de sua mãe, ah, minha pobre senhora, que diria se visse Monstro servindo esse filho, queodiavatanto,quedesapontamentotevecomele...–Pergunteioqueestavaaprontando–falouSiriuscomavozcortante.–Todasasvezesquevocê
aparecefingindoqueestálimpando,escondealgumacoisanoseuquartoparanãopodermosjogá-lafora.–Monstronunca tirarianadado seu lugarna casado senhor–disseo elfo, e entãomurmurou
depressa:–AsenhorajamaisperdoariaMonstroseatapeçariafossejogadafora,fazseteséculosqueestá na família,Monstro precisa salvá-la,Monstro não vai deixar que o senhor e os traidores doprópriosangueeseuspirralhosadestruam...–Acheiquetalvezfosseisso–respondeuSirius,lançandoumolhardesdenhosoàparedeoposta.–
Ela deve ter posto mais um Feitiço Adesivo Permanente atrás da peça, não duvido nada, mas sehouverumjeitocomcertezavoumelivrardela.Agora,váembora,Monstro.AparentementeMonstronãoousavadesobedeceraumaordemdireta,contudooolharquelançou
aopassarporSiriusarrastandoospéseradomaisprofundodesprezo,eelesaiuresmungandosemparar.–...voltadeAzkabandandoordensaMonstro,ah,minhapobresenhora,quediriasevisseacasa
agora,habitadaporumaralé, tesourosatiradosnolixo,minhasenhora jurouqueelenãoeramaisseufilho,maselevoltou,dizemquetambéméassassino...–Continuearesmungarevouvirarmesmoassassino!–disseSiriusirritado,batendoaportana
caradoelfo.–Sirius,elenãoestácomojuízoperfeito–Hermionedefendeu-o.–Achoquenãotemconsciência
dequepodemosouvi-lo.–Elepassoutempodemaissozinho–disseSirius–,recebendoordensmalucasdoretratodeminha
mãeesemtercomquemfalar,massemprefoisafado...–Esevocêolibertasse–sugeriuHermioneesperançosa–,quemsabe...–Nãopodemoslibertá-lo,elesabedemaissobreaOrdem–disseSiriussecamente.–Dequalquer
modo,ochoqueomataria.Proponhaaeleiremboradessacasa,evejaareação.Sirius atravessou a sala até onde estava pendurada a tapeçaria que Monstro tentara proteger,
ocupandotodaaparede.Harryeosoutrososeguiram.A tapeçaria parecia imensamente velha; desbotada e, pelo aspecto, as fadasmordentes a haviam
roído em alguns pontos. Mesmo assim, o fio de ouro com que fora bordada conservava brilhosuficienteparamostrarumaenormeárvoregenealógicaqueremontava(atéondeHarrypôdever)à
IdadeMédia.Bemnoaltodatapeçaria,lia-seemgrandesletras:
AMuiAntigaeNobreCasadosBlack“Toujourspur”
–Vocênãoestáaí!–admirou-seHarry,depoisdeexaminaraparteinferiordaárvore.–Costumavaestaraqui–respondeuSirius,apontandoparaumburaquinhoredondoecarbonizado
na tapeçaria,que lembravaumaqueimaduradecigarro.–Minhameigaequeridamãemedetonoudepoisquefugidecasa...Monstrogostamuitoderesmungaressahistória.–Vocêfugiudecasa?–Quandotinhaunsdezesseisanos.Jáestavacheio.–Aondevocêfoi?–perguntouHarry,mirandoopadrinho.–Paraacasadoseupai–respondeuSirius.–Seusavósforammuitocompreensivos;meioqueme
adotaramcomoumsegundofilho.É,euacampavanacasadoseupaiduranteasfériasescolares,equando fizdezessete anosmontei casaprópria.Meu tioAlfardomedeixaraumbomdinheiro, eletambémfoiremovidodatapeçaria,provavelmenteporessarazão,emtodoocaso,apartirdaícuideidemimmesmo.Maseuerasemprebem-vindonacasadosPotterparaoalmoçodedomingo.–Mas...porquevocê...?–Saídecasa?–Siriussorriucomamarguraepassouosdedospeloscabeloslongosemaltratados.
– Porque odiava todos eles:meus pais, com amania de sangue puro, convencidos de que ser umBlacktornavaapessoapraticamenterégia...meuirmãoidiota,frouxosuficienteparaacreditarneles...olheeleali.Siriusenfiouumdedobemnabasedaárvore,indicando“RéguloBlack”.Umadatadefalecimento
(háunsquinzeanos)seguia-seàdonascimento.– Ele era mais novo e um filho muito melhor do que eu, meus pais não se cansavam de me
lembrar.–Maselemorreu–disseHarry.–Morreu.Umidiota...juntou-seaosComensaisdaMorte.–Vocêestábrincando!–Oravamos,Harry,você jánãoviuosuficientenestacasaparasaberque tipodebruxoseraa
minhafamília?–disseSiriusirritado.–Eleseram...osseuspais,ComensaisdaMortetambém?–Não,não,maspodeacreditar,elesachavamqueVoldemortestavacerto,eramtotalmenteafavor
de purificar a raça bruxa, de nos livrar dos nascidos trouxas e entregar o comando aos puros-sangues.Enãoestavamsozinhos,haviamuitagenteantesdeVoldemortmostrarsuaverdadeiracaraque acreditava nele... se acovardaram quando viram a que extremos ele estava disposto a ir paraassumiropoder.MasapostoquemeuspaisachavamqueRéguloeraoperfeitoheroizinhoquandosealistoulogonocomeço.–Elefoimortoporumauror?–perguntouHarrytentandoadivinhar.–Oh, não. Ele foimorto porVoldemort.Ou por ordens deVoldemort, o que émais provável;
duvidoqueRégulo tenhase tornadobastante importanteparasermortoporVoldemortempessoa.Peloquedescobridepoisdesuamorte,eleacompanhouomovimentoatécertoponto,entãoentrouempânicocomoquelhepediamparafazeretentourecuar.Bem,ninguémsimplesmenteentregaumpedidodedemissãoaVoldemort.Éumserviçoparaavidatoda.– Almoço – anunciou a voz da Sra. Weasley. Ela vinha empunhando a varinha bem no alto,
equilibrandonapontaumaenormebandejacarregadadesanduíchesebolos.Estavacomacaramuitovermelha e ainda parecia zangada. Os outros se aproximaram, ansiosos para comer, mas Harry
continuouemcompanhiadeSirius,quesecurvouparaatapeçaria.–Fazanosquenãoolhoisso.VejaoFineusNigellus,meutetravô...odiretormenosqueridoque
Hogwarts já teve... e Araminta Melíflua... prima de minha mãe... tentou aprovar à força uma leiministerial que tornava legal a caça aos trouxas... e a querida tia Eladora... deu início à tradiçãofamiliardedecapitaroselfosdomésticosquandoficavamvelhosdemaisparacarregarasbandejasdechá... é claro que sempre que a família gerava alguém razoavelmente decente, ele era repudiado.EstouvendoqueTonksnãoestáaqui.Talvez sejapor issoqueMonstronão recebeordensdela: aobrigaçãodeleéatenderatudoquealguémdafamíliapedir...–VocêeTonks,sãoparentes?–perguntouHarrysurpreso.–Ah, claro, amãe dela,Andrômeda, eraminha prima favorita – disse, examinando a tapeçaria
comcuidado.–Não,Andrômedatambémnãoestáaqui,olhe...Eapontouparamaisumaqueimadurazinharedondaentredoisnomes,BelatrizeNarcisa.– As irmãs de Andrômeda continuam aí porque fizeram casamentos belos e respeitáveis com
puros-sangues,masAndrômedasecasoucomTedTonks,quenasceutrouxa,então...Sirius encenou detonar a tapeçaria com a varinha e riu amargamente.Harry, porém, não achou
graça; estavaocupadodemais examinandoosnomesàdireitadaqueimaduradeAndrômeda.UmalinhadupladeouroligavaonomedeNarcisaBlackcomLúcioMalfoyeumaúnicalinhaverticalquesaíadosseusnomesaonomedeDraco.–VocêéparentedosMalfoy!–Asfamíliasdesanguepurosãotodasentrelaçadas–declarouSirius.–Sealguémdeixarosfilhos
e filhas casaremapenas compuros-sangues, a escolha ficamuito reduzida; sobrammuito poucos.MollyeeusomosprimosporcasamentoeArthurparecequeéumprimoemsegundograu.Masnãoadianta procurá-los aqui: se um dia houve uma família de traidores do próprio sangue foram osWeasley.MasHarryagoraestavalendoonomeàesquerdadaqueimaduradeAndrômeda:BelatrizBlack,
queeraligadaporumalinhaduplaaRodolfoLestrange.–Lestrange...–disseHarryemvozalta.Onomedespertaraalgumacoisaemsuamemória;eleo
conheciade algum lugar,masporum instantenão conseguiu lembrar deonde, embora tenha tidoumasensaçãoestranhaesorrateiranofundodoestômago.–EstãoemAzkaban–disseSiriusbrevemente.Harrymirou-ocomcuriosidade.– Belatriz e o marido Rodolfo foram junto com Bartô Crouch júnior – esclareceu Sirius, no
mesmotombrusco.–OirmãodeRodolfo,Rabastan,também.EntãoHarryselembrou.ViraBelatriznaPenseiradeDumbledore,oestranhoobjetoemqueera
possívelguardarpensamentose lembranças:umamulheraltaemorenadepálpebrascaídas,queselevantara no julgamento e declarara sua lealdade inabalável a Lorde Voldemort, o orgulho quesentiraemprocurá-lodepoisdesuaquedaesuaconvicçãodequeumdiaseria recompensadaporessalealdade.–Vocênuncadissequeelaerasua...–Fazdiferença seéminhaprima?– retrucouSirius.–Noquemediz respeito,nenhumdelesé
minhafamília.Eelamenosdetodos.Nãoavejodesdequetinhasuaidade,anãoserqueseconteavisãoderelancequandochegouaAzkaban.Vocêachaquetenhoorgulhodeterumaparentacomoela?–Desculpe–disseHarrydepressa.–Eunãoquis...fiqueisurpreso,foisó...–Não fazmal,nãoprecisasedesculpar–disseopadrinhonummurmúrio.Afastou-seentãoda
tapeçaria, asmãos enterradas nos bolsos. –Não gosto de ter voltado – disse olhando pela sala. –Nuncapenseiquevoltariaaficarpresonestacasa.
Harryentendeuperfeitamente.Sabiacomo iria se sentirquandocrescesseeachasseque tinha selivradodacasadosDursleyparasempreeprecisassevoltaravivernaruadosAlfeneirosnúmeroquatro.– Naturalmente é perfeita para uma sede – continuou Sirius. – Meu pai instalou nela todas as
medidasdesegurançaconhecidasnabruxidade,quandomorávamosaqui.Nãoélocalizável,porissoos trouxas nunca podem aparecer para visitar, como se algum dia tivessem querido fazer isso, eagoraqueDumbledoreacrescentounovasmedidasdeproteção,seriadifícilencontrarumacasamaisseguranomundo.DumbledoreéoFieldoSegredodaOrdem,sabe,ninguémpodeencontrarasedeanãoserqueeledigapessoalmentecomofazer;aquelebilhetequeMoodylhemostrou,ontemànoite,eradeDumbledore...–Siriusdeuumarisadinhacurta.–Semeuspaisvissemparaqueestáservindoacasadelesagora...bom,oquadrodaminhamãejápodedaravocêsumaideia...Eleamarrouacaraporummomento,emseguidasuspirou.–Eunãomeimportariasepudesseaomenossairdevezemquandoparafazeralgumacoisaútil.
Já perguntei aDumbledore se posso acompanhar você à audiência, como cachorro, é claro, parapoderlhedaralgumapoiomoral,queéquevocêacha?Harry sentiuo estômagodespencar e atravessar o tapete empoeirado.Nãopensavana audiência
desdeo jantardanoiteanterior; comaexcitaçãodeestaroutravezcomaspessoasdequemmaisgostava, de receber informações sobre tudo que estava acontecendo, a audiência fugiracompletamentedesualembrança.AoouviraspalavrasdeSirius,porém,asensaçãoesmagadoradepavortornouainvadi-lo.OlhouparaHermioneeosWeasley,todosdevorandosanduíches,epensouoquesentiriasevoltassemaHogwartssemele.– Não se preocupe – disse Sirius. Harry levantou a cabeça e percebeu que Sirius estivera
observando-o.–Tenhocertezadequevão inocentá-lo,decididamenteháalgumacoisanoEstatutoInternacionaldeSigiloemMagiaqueprevêousodamagiaparasalvaraprópriavida.–Maseseelesmeexpulsarem?–perguntouHarryemvozbaixa.–Possovoltarparacáemorar
comvocê?Siriussorriucomtristeza.–Veremos.–Eumesentiriamuitomelhorsobreaaudiênciasesoubessequenãoprecisariavoltarparaacasa
dosDursley–Harrypressionouopadrinho.–Ládeveserbemruimparavocêpreferirestelugar–disseopadrinhosombriamente.–Andemlogo,vocêsdois,ounãovaisobrarcomida–chamouaSra.Weasley.Siriusdeumaisumgrandesuspiro,lançouumolharmal-humoradoàtapeçaria,entãoeleeHarry
foramsejuntaraosoutros.Ogarotofezopossívelparanãopensarnaaudiência,enquantoesvaziavamosarmáriosdeportas
de vidro naquela tarde. Felizmente para ele, era uma tarefa que exigia concentração, porque umgrandenúmerodeobjetosalidentropareciamuito relutanteemdeixarasprateleirasempoeiradas.Siriusaguentouumamordidasériadeumacaixaderapédeprata;empoucossegundossuamãosecobriradeumacrostadesagradávelquelembravaumagrossaluvamarrom.– Tudo bem – falou, examinando amão com interesse antes de lhe dar um toque de varinha e
restaurarapeleaonormal–,deveterpódefurafruncoaídentro.Atirou a caixano saco emque estavamdepositandoos escombrosdos armários; poucodepois,
HarryviuJorgeenrolaramãocomtodoocuidadoeesconderacaixanobolso, jácheiodefadasmordentes.Elesencontraramuminstrumentodepratadeaparênciadesagradável,algosemelhanteaumapinça
demuitaspernas,quesubiucomoumaaranhapelobraçodeHarrye,quandoogarotoquisapanhá-la,tentou furar sua pele. Sirius agarrou-a e a esmagou com um livro pesado intitulado A nobreza
natural: uma genealogia dos bruxos. Havia uma caixa musical que emitiu uma toada tilintanteligeiramente sinistra quando lhe deram corda, e eles logo descobriram que estavam ficandocuriosamente fracos e sonolentos, até que Gina teve o bom-senso de bater a tampa da caixa; umcamafeupesadoqueninguémconseguiuabrir;váriosselosantigose,emumacaixacobertadepó,umaOrdemdeMerlim,primeiraclasse,queforaconcedidaaoavôdeSiriuspor“serviçosprestadosaoMinistério”.–Oquesignificaquedeveterdoadoaelesumcarregamentodeouro–disseSiriuscomdesprezo,
atirandoamedalhanosacodelixo.VáriasvezesMonstroentroutimidamentenasalaetentoucontrabandearalgumacoisasobatanga,
murmurandomaldições terríveis sempre que alguém o surpreendia no ato.Quando Sirius tirou àforçadamãodeleumgrandeaneldeourocomobrasãodosBlack,Monstrochegouadebulharsenumchoro furiosoeabandonoua sala soluçandobaixinhoexingandoSiriusdenomesqueHarrynuncaouvira.–Pertenceuaomeupai–disseSiriusatirandooanelnosaco.–Monstronãoeratãodedicadoaele
quantoàminhamãe,masaindaassimeuoapanheiabraçandoumacalçavelhadomeupainasemanapassada.
ASra.Weasleyosfeztrabalharmuitopesadoduranteosdiasseguintes.Asaladevisitaslevoutrêsdiasparaserdescontaminada.Porfim,asúnicascoisasindesejáveisquerestaramforamatapeçariacom a árvore da família Black, que resistiu a todas as tentativas de baixá-la da parede, e aescrivaninhadesconjuntada.Moodyaindanãoapareceranasede,parasecertificaremdoquehavialádentro.Elespassaramdasaladevisitasparaumasaladejantarnoandartérreo,ondeencontraramaranhas
dotamanhodepiresescondidasnoarmário(Ronysaiudasalaapressadoparafazerumaxícaradecháesóvoltouumahoraemeiadepois).Semamenorcerimônia,Siriusatirouaporcelanacomobrasão e o lema dos Black no saco, e deu omesmo destino a uma coleção de velhas fotos commoldurasdeprataoxidadas, cujosocupantes soltaramguinchosagudosquandoosvidros sobreasfotossepartiram.Snapetalvezsereferisseaotrabalhodelescomo“umalimpeza”,mas,naopiniãodeHarry,ofatoé
que estavam travando uma guerra com a casa que resistia bravamente, ajudada e acobertada porMonstro.Oelfodomésticonãoparavadeaparecerquandoestavamtodosreunidos,seusresmungoscadavezmaisofensivosquandotentavaretiraroquepudessedossacosdelixo.Siriuschegouatéaameaçá-locomroupas,masMonstrofixou-ocomumolharlacrimosoedisse:“Osenhordevefazeroquedesejar”,antesdeseafastarresmungandomuitoalto,“masosenhornãovaimandarMonstroembora,não,porqueMonstrosabeoqueestãotramando,ah,sesabe,eleestáconspirandocontraoLordedasTrevas,ah,sim,comessessangues-ruinsetraidoresegentalha...”AoqueSirius,nãose importandocomosprotestosdeHermione,agarrouMonstropela tangae
atirou-oparaforadasala.Acampainhadaportatocavaváriasvezespordia,oqueeraadeixaparaamãedeSiriuscomeçara
berrar, e para Harry e os outros tentarem entreouvir o que dizia o visitante, embora poucodescobrissemnosbrevesrelancesefragmentosdeconversaqueconseguiamcaptar,antesqueaSra.Weasleyoschamassedevoltaaotrabalho.Snapeentravaesaíadacasacommaisfrequência,embora,para alívio de Harry, os dois nunca se encontrassem cara a cara; o garoto também avistou aprofessora de Transfiguração McGonagall, com uma aparência muito estranha usando vestido ecasacode trouxa,epelo jeitomuitoatarefadaparasedemorar.Porvezes,noentanto,osvisitantesficavamparaajudar.Tonksse reuniuaosgarotosparauma tardememorável,emqueencontraramum velho vampiro homicida escondido em um banheiro do segundo andar, e Lupin, que estava
morandonacasacomSirius,massaíaporlongosperíodospararealizarmisteriososmandadosparaaOrdem,ajudou-osaconsertarumrelógiodecarrilhãoquedesenvolveraodesagradávelhábitodeatirar parafusos pesados em quem passava. Mundungo se redimiu um pouco aos olhos da Sra.WeasleyaosalvarRonydeumacoleçãoantigadevestespúrpuraquetentaramestrangulá-lo,quandoelequisremovê-lasdoguarda-roupa.Emboraaindadormissemal,eaindativessesonhoscomcorredoreseportastrancadasquefaziam
sua cicatriz formigar, Harry estava conseguindo se divertir pela primeira vez naquele verão.Enquantotrabalhava,estavafeliz;quandoaatividadediminuía,porém,eelebaixavaaguardaousedeitavaexaustonacama,observandosombrasdifusascorrerempeloteto,opensamentonaiminenteaudiência noMinistério voltava a assediá-lo.Omedo agulhava suas entranhas, quando se punha aimaginar o que ia acontecer com ele se fosse expulso. A ideia era tão terrível que não ousavaverbalizá-la,nemmesmoparaRonyeHermione,eemboraHarryosvissecochichandoelançandoolharesansiososemsuadireção,osamigosseguiamoseuexemploenãoamencionavam.Àsvezes,elenãoconseguiaimpedirsuaimaginaçãodeproduzirumfuncionáriodoMinistériosemrostoquequebrava sua varinha e o mandava retornar à casa dos Dursley... mas ele não queria ir. Estavadecidido.VoltariaaolargoGrimmauldparamorarcomSirius.HarryteveasensaçãodequeengoliraumtijoloquandoaSra.Weasleysevirouparaeleduranteo
jantardequarta-feiraedisseemvozbaixa:– Passei as suas melhores roupas para amanhã, Harry, e quero que lave o cabelo hoje à noite
também.Umaprimeiraimpressãoboapodefazermilagres.Rony, Hermione, Fred, Jorge e Gina, todos pararam de conversar e olharam para ele. Harry
concordoucomacabeçae tentoucontinuaracomeracosteletadeporco,mas suaboca ficara tãosecaquenãoconseguiumastigar.–Comoéqueeuvouatélá?–perguntouàSra.Weasley,tentandonãodemonstrarpreocupação.–Arthur vai levar você para o trabalho – respondeu com gentileza a Sra.Weasley, que sorriu,
procurandoanimarHarrydefronteaelanamesa.–Vocêpodeesperarnaminhasalaatéahoradaaudiência–disseoSr.Weasley.HarryolhouparaSirius,mas,antesquepudessefazerapergunta,aSra.Weasleyarespondeu.–OProf.DumbledoreachaquenãoéumaboaideiaoSiriusircomvocê,edevodizerque...–...achoqueeletemtodarazão–respondeuSiriusentreosdentes.ASra.Weasleycontraiuoslábios.–QuandofoiqueDumbledorelhedisseisso?–perguntouHarry,encarandoSirius.–Eleveioànoitepassada,quandovocêjáestavadeitado–disseaSra.Weasley.Sirius furouumabatatacomogarfo,pensativo.Harrybaixouosolhosparaopróprioprato.O
pensamento de queDumbledore estivera na casa, na véspera da audiência, e não pedira para falarcomelefezcomqueogarotosesentisseaindapior,seéqueistoerapossível.
—CAPÍTULOSETE—OMinistériodaMagia
Harry acordou às cinco emeia namanhã seguinte tão brusca e definitivamente como se alguémtivesse gritado em seu ouvido. Por alguns instantes, continuou deitado e imóvel, enquanto aperspectivadeumaaudiênciadisciplinar invadia cadapartículado seu cérebro, depois, incapazdesuportar,elepulouforadacamaepôsosóculos.ASra.Weasleyarrumarasuasjeansrecém-lavadase sua camiseta aos pés da cama. Harry vestiu-se depressa. O retrato vazio na parede deu umarisadinhadebochada.Rony estava esparramado na cama, com a boca escancarada, dormindo profundamente. Nem
sequersemexeuquandoHarrycruzouoquarto,saiuparaopatamarefechouaportasuavementeaopassar.TentandonãopensarnapróximavezqueveriaRony,quandotalvezjánãofossemcolegasdeHogwarts, o garoto desceu silenciosamente a escada, passou pelas cabeças dos antepassados doMonstroesedirigiuàcozinha.Tinhaesperadoencontrá-lavazia,masquandochegouàportaouviuumressoarsuavedevozesno
outrolado.Abriu-aeviuoSr.eaSra.Weasley,Sirius,LupineTonkssentadosali,quasecomoseestivessemàsuaespera.Todosestavaminteiramentevestidos,excetoaSra.Weasley,quetrajavaumroupãodeacolchoadoroxo.Elaselevantounomomentoemqueoviuentrar.–Cafédamanhã–disseaomesmotempoquepuxavaavarinhaecorriaparaofogão.–B-b-dia,Harry–bocejouTonks.Estamanhãseuscabelosestavamamarelosecrespos.–Dormiu
bem?–Dormi–disseHarry.–P-p-passeianoiteacordada–informouabruxa,dandomaisumbocejodeestremecer.–Venhase
sentar...Elapuxouumacadeiraeaofazerissoderrubouaqueestavaaolado.–Queéquevocêquer,Harry?–perguntouaSra.Weasley.–Mingau?Bolinhos?Arenque?Ovos
combacon?Torrada?–Só...sótorrada,obrigado.LupinolhouparaHarryeemseguidaperguntouaTonks:–QueéquevocêestavadizendosobreoScrimgeour?– Ah... sim... bem, precisamos ter um pouco mais de cuidado, ele tem feito a Quim e a mim
perguntasengraçadas...Harry se sentiu vagamente grato por não ter de participar da conversa. Suas entranhas se
contorciam.ASra.Weasleycolocouumastorradascomgeleiaàfrentedele;tentoucomer,maseracomomastigar tapete. A bruxa se sentou a seu lado e começou a mexer em sua camiseta, pôs aetiquetaparadentroealisouosvincosnosombros.EledesejouqueaSra.Weasleynãofizesseisso.– ... e terei de dizer ao Dumbledore que não posso fazer o turno da noite amanhã, estou
simplesmentecansadad-d-demais–concluiuTonksdandonovamenteumimensobocejo.–Eu cubro o seu turno – ofereceu-se oSr.Weasley. –Estou bem, de qualquermodo tenho um
relatórioparaterminar...Elenãoestavausandovestesdebruxo,mascalçasderiscadegizeumvelhoblusãodeaviador.
Virou-sedeTonksparaHarry.–Comoéquevocêestásesentindo?Harryencolheuosombros.– Vai terminar logo – disse o bruxo encorajando-o. – Dentro de algumas horas você estará
inocentado.Harrynãorespondeu.–Aaudiênciaénomeuandar,nasaladaAméliaBones.ÉachefedoDepartamentodeExecução
dasLeisdaMagia,eéquemvaiinterrogá-lo.–AméliaBonesélegal,Harry–disseTonks,séria.–Éjusta,evaiescutartudoquevocêtivera
dizer.Harryconcordoucomacabeça,aindaincapazdepensaremalgumacoisaparadizer.–Nãopercaacalma–disseSirius,derepente.–Sejaeducadoeseatenhaaosfatos.Harrytornouaacenarcomacabeça.–Aleiestádoseulado–disseLupinemvozbaixa.–Atébruxosmenoresdeidadepodemusar
magiaemsituaçõesemqueháriscodevida.Alguma coisamuito fria escorreu pela nuca deHarry, fazendo-o pensar por ummomento que
alguémestivesse lançandoneleumFeitiçodaDesilusão.EntãopercebeuqueaSra.Weasleyestavaatacandoseuscabeloscomumpentemolhado.Elapressionoucomforçanoaltodacabeça.–Elesnãobaixamnunca?–perguntoudesesperada.Harryfezquenão.OSr.Weasleyverificouorelógioeolhouparaogaroto.–Acho que temos de ir agora. Estamos um pouco adiantados,mas acho que serámelhor você
esperarnoMinistériodoqueaqui.–O.k.–disseHarryautomaticamente,largandoatorradaeselevantando.–Vaidartudocerto–disseTonks,dando-lheumapalmadinhanobraço.–Boasorte–desejouLupin.–Tenhocertezadequetudocorrerábem.–Esenãocorrer–disseSiriusmuitosério–,podedeixarquecuidodaAméliaBonesparavocê...Harrydeuumsorrisinho.ASra.Weasleyabraçou-o.–Estamostodosfazendofiga.–Certo–disseogaroto.–Então,atémaistarde.Ele acompanhou o Sr. Weasley até o térreo e ao longo do corredor, ouviu a mãe de Sirius
resmungarduranteoseusonoatrásdascortinas.OSr.Weasleydestrancouaportaeelessaíramparaamadrugadafriaecinzenta.– O senhor normalmente não vai para o trabalho a pé, vai? – perguntou Harry, enquanto
caminhavamapressadospelolargo.– Não, em geral aparato, mas obviamente você não pode, e acho que é melhor chegarmos de
maneirainteiramentenãomágica...passaumaimpressãomelhor,jáquevocêestásendodisciplinadopor...OSr.Weasleymanteveamãodentrodoblusãoenquantocaminhavam.Harrysabiaqueseguravaa
varinha. As ruas decadentes estavam quase desertas, mas quando chegaram à pequena edesconfortável estação do metrô já a encontraram repleta de passageiros madrugadores. Comosempre acontecia quando se via muito próximo dos trouxas em seus afazeres cotidianos, o Sr.Weasleymalconseguiacontrolaroseuentusiasmo.– É simplesmente fabuloso – sussurrou, indicando as máquinas de vender bilhetes. –
Fantasticamenteengenhosas.–Elasnãoestãofuncionando–disseHarry,apontandoparaumcartaz.–É,masmesmoassim...–disseobruxosorrindo,carinhoso,paraasmáquinas.
Eles compraram os bilhetes de um guarda sonolento (Harry cuidou da transação, porque o Sr.Weasley não eramuito esperto quando lidava com dinheiro dos trouxas), e cincominutos depoisestavamembarcandonotremsubterrâneoquesaiusacolejandoemdireçãoaocentrodeLondres.OSr.Weasleynãoparavadeverificaretornaraverificar,ansioso,omapadometrôacimadajanela.–Maisquatroparadas,Harry...Faltamtrêsparadasagora...Duas,Harry...DesceramemumaestaçãonocoraçãodeLondres,eforamcarregadosdotremporumaondade
homens e mulheres, de ternos e terninhos, segurando suas maletas. Subiram a escada rolante,passarampelostorniquetes(oSr.Weasleyficouencantadoaoverseubilheteserengolidopelafendade introdução) e saíram finalmente em uma rua larga, ladeada de edifícios imponentes, em que otráfegojáeraintenso.–Ondeestamos?–perguntouoSr.Weasley,perdido,e,poruminstanteemqueseucoraçãoparou,
Harrypensouque tivessemdescidona estação errada, apesar das contínuas consultas dobruxo aomapa;masumsegundodepoisoSr.Weasleyexclamou:–Ah,sim...poraqui,Harry.–Eseguiramporumarualateral.–Desculpe–disse–,masnuncavenhodemetrô,etudoparecediferentequandoseolhadaperspectivadostrouxas.Aliás,eununcauseiaentradadoMinistérioparavisitantesantes.Quantomaisandavam,menoresemenosimponentesosedifíciossetornavam,atéquefinalmente
chegaram a uma rua em que havia vários prédios de escritórios de mau aspecto, um bar e umacaçambatransbordandolixo.HarryesperaraumlocalmaisatraenteparaoMinistériodaMagia.–Chegamos–disseoSr.Weasleyanimado,apontandoparaumavelhacabinetelefônicavermelha,
em que faltavam vários vidros nos caixilhos e que fora instalada em frente a uma parede todagrafitada.–Primeirovocê,Harry.OSr.Weasleyabriuaportadacabine.Harryentrou, imaginandooqueseriaaquilo.Obruxoapertou-seao ladodelee fechouaporta.
Quasenãodeu;Harryficouentaladocontraoaparelhodetelefonequependiatortodaparede,comosealgumvândalo tivesse tentadoarrancá-lo.OSr.Weasleyesticouobraçoà frentedeHarryparaapanharofone.–Sr.Weasley,achoqueissotambémnãodeveestarfuncionando.–Não,não,tenhocertezadequeestáperfeito–respondeu,segurandoofonenoaltoeespiandoo
disco.–Vejamos...seis...–discouele–dois...quatro...emaisumquatro...emaisumdois...Quandoodiscovoltousuavementeàposiçãoinicial,ouviu-seumavoztranquilademulher,dentro
dacabine,nãonofonequeoSr.Weasleysegurava,masumavozaltaeclaracomosehouvesseumamulherinvisívelaliaoladodeles.–Bem-vindosaoMinistériodaMagia.Porfavor,informemseusnomeseoobjetivodavisita.– Hum... – começou o Sr. Weasley, visivelmente inseguro se devia ou não falar com o fone.
Decidiu-seporencostaroouvidonobocal:–ArthurWeasley,SeçãodeControledoMauUsodosArtefatos dosTrouxas, estou acompanhandoHarryPotter, que foi convidado a comparecer a umaaudiênciadisciplinar...–Obrigada–disseavoztranquilademulher.–Visitante,porfavor,apanheocracháeprenda-oao
peitodesuasvestes.–Ouviu-seumcliqueeumrumorejo,eHarryviualgumacoisasairpelaranhurademetalporondenormalmentesaemasmoedasexcedentes.Apanhou-a:eraumquadradoprateadoemqueseliaHarryPotter,AudiênciaDisciplinar.Prendeu-aaopeitodacamiseta,eavozfemininatornouafalar.–VisitanteaoMinistério,osenhordevesesubmeteraumarevistaeapresentarsuavarinha,para
registro,àmesadasegurança,localizadaaofundodoÁtrio.Opisodacabine telefônicaestremeceueelescomeçaramaafundar lentamente.Harryobservou
comapreensãoacalçadairsubindopelasvidraçasdacabinee,porfim,aescuridãosefecharsobresuas cabeças. Então não conseguiu ver mais nada; ouviu apenas um ruído abafado de trituração,
enquanto a cabine continuava a entrar pela terra. Decorrido mais ou menos um minuto, emboraparecesseaHarrymuitomais,umaclaridadedouradabanhoulheospésefoiseampliando,subindopeloseucorpoatébateremcheionorostoeeleprecisoupiscarparaosolhosnãolacrimejarem.–OMinistériodaMagiadesejaaosenhorumdiamuitoagradável–disseavozfeminina.A porta da cabine telefônica se escancarou e o Sr.Weasley saiu, acompanhado porHarry, cujo
queixocaíra.Estavamparadosaumextremodeumsaguãomuitolongoesuntuoso,comumsoalhodemadeiraescuroeextremamentepolido.Otetoazul-pavãoeraentalhadocomsímbolosdouradosquesemoviamesealternavamcomoumenormequadrocelestedeavisos.Asparedesdecadaladoeram forradas de painéis de madeira escura e lustrosa, e nelas havia, engastadas, muitas lareirasdouradas.Aintervalosdesegundos,bruxosebruxasemergiamdeumadaslareirasàesquerdacomumsuaveruídodedeslocamentodear.Naparededadireita,iamseformandodiantedecadalareirapequenasfilasdegentequeaguardavaomomentodapartida.No meio do saguão havia uma fonte. Um grupo de estátuas de ouro, maiores que o tamanho
natural,estavamdispostasnocentrodeumespelhodeáguacircular.Amaisaltaeradeumbruxodeaparênciaaristocrática,comavarinhaapontandoparaoar.Agrupadosaseuredor,haviaumabelabruxa,umcentauro,umduendeeumelfodoméstico.Ostrêsúltimosolhavamcomadoraçãoparaocasaldebruxos.Daspontasdesuasvarinhas,saíamjorrosdeáguacintilante,bemcomodapontadaflechadocentauro,dapontadochapéudoduendeedecadaorelhadoelfodoméstico,detalmodoqueosilvoeotilintardaáguaquecaíasemisturavamaospopesecraquesdosbruxosaparatandoeao ressoar dos passos de centenas de outros, a maioria com a cara de poucos amigos de quemacabaradeacordar,dirigindo-seaumafileiradeportõesdouradosnofundodosaguão.–Poraqui–disseoSr.Weasley.ElessejuntaramàmultidãoecontinuaramacaminharentreosfuncionáriosdoMinistério,alguns
dosquaiscarregavampilhasinstáveisdepergaminhos,outros,maletassurradas;e,outrosaindaliamoProfetaDiárioenquantoandavam.Aopassarempela fonte,Harryviusiclesdeprataenuquesdebronzebrilhandonofundodaágua.Umpequenocartazaoladodafonteinformava:
TODOODINHEIRORECOLHIDONAFONTEDOSIRMÃOSMÁGICOSSERÁDOADOAOHOSPITALST.MUNGUSPARADOENÇASEACIDENTESMÁGICOS
“SeeunãoforexpulsodeHogwarts,voujogardezgaleõesaí”,Harryseapanhoupensandocomdesespero.–Aqui,Harry–disseoSr.Weasley,eelessesepararamdofluxodefuncionáriosdoMinistério
que se encaminhavam para as portas douradas. Sentado a uma mesa à esquerda, sob a placaSegurança,umbruxomalbarbeadodevestesazul-pavãoparoudeleroseuProfetaDiárioeergueuacabeçaquandoosdoisseaproximaram.–Estouacompanhandoumvisitante–disseoSr.Weasley,indicandoogaroto.–Venhaatéaqui–disseobruxocomvozentediada.Harryseaproximoueobruxoergueuumalongavaradourada,finaeflexívelcomoumaantenade
carro,ecorreu-apelocorpodogaroto,dealtoabaixo,defrenteecostas.–Varinha–grunhiuosegurançaparaHarry,baixandooinstrumentodouradoeestendendoamão.Harry apanhou a varinha.O bruxo largou-a em cima de um estranho instrumento de latão, que
lembravaumabalançadeumúnicoprato.Acoisacomeçouavibrar.Umatirafinadepergaminhofoisaindoinstantaneamentedeumaranhuranabase.Obruxodestacou-aeleuoqueestavaescrito.–Vinteeoitocentímetros,cernedepenadefênix,emusoháquatroanos.Correto?–Correto–respondeuHarrynervoso.–Ficocomela–disseobruxo,enfiandoatiradepergaminhoemumpequenoespetodelatão.–
Euadevolvodepois–acrescentou,apontandoavarinhaparaogaroto.–Obrigado.–Ummomento–disselentamenteobruxo.SeusolhoscorreramdocracháprateadodevisitantenopeitodeHarryparasuatesta.– Obrigado, Érico – disse o Sr. Weasley com firmeza e, segurando o garoto pelos ombros,
afastaram-se da mesa e reingressaram na torrente de bruxos e bruxas que cruzavam o portãodourado.Meioempurradopelamultidão,HarryacompanhouoSr.Weasley,atravessouoportãoesaiuem
um saguão menor, onde havia no mínimo vinte elevadores por trás de grades douradasornamentadas.Osdoissejuntaramàspessoasparadasdiantedeumdoselevadores.Perto,haviaumbruxo corpulento e barbudo segurando uma grande caixa de papelão que emitia um ruído deraspagem.–Tudobem,Arthur?–perguntouobruxo,cumprimentando-ocomumacenodecabeça.–Queéquevocêtrazaí,Beto?–quissaberoSr.Weasleyolhandoparaacaixa.–Nãotemosmuitacerteza–respondeuobruxomuitosério.–Achávamosqueeraumagalinha-
do-brejo comumaté ela começar a soltar fogopelas fossasnasais.Agora estámeparecendoumasériaviolaçãodaProibiçãodeCriarAnimaisExperimentalmente.Comumabarulheiradeferragens,umelevadordesceudiantedeles;agradedouradaserecolheu,
HarryeoSr.Weasleyentraramnoelevadorcomosdemais, eogaroto seviuesmagadocontraaparededosfundos.Váriosbruxosebruxasoolharamcomcuriosidade;eleencaravaosprópriospése alisava a franja para evitar encontrar o olhar das pessoas. As grades tornaram a fechar comestrondo e o elevador subiu lentamente, as correntes se entrechocando, enquanto a mesma voztranquilademulherqueHarryouviranacabinetelefônicatornavaafalar:“Nívelsete,DepartamentodeJogoseEsportesMágicos,que incluiaSededasLigasBritânicae
IrlandesadeQuadribol,oClubedeBexigaOficialeaSeçãodePatentesAbsurdas.”Asportasdoelevadorseabriram.Harrydeuumaolhadarápidanocorredordeaspectosujo,onde
haviavárioscartazesdetimesdequadribolpregadostortosnasparedes.Umdosbruxosnoelevador,que carregava uma braçada de vassouras, desvencilhou-se com dificuldade e desapareceu pelocorredor. As portas se fecharam, o elevador retomou sua subida acidentada e a voz femininaanunciou:“Nível seis, Departamento de TransportesMágicos, que inclui a Autoridade da Rede de Flu, o
Controle de Aferição de Vassouras, a Seção de Chaves de Portais e o Centro de Testes deAparatação.”Mais uma vez as portas do elevador se abriram e quatro ou cinco bruxos desembarcaram; ao
mesmo tempo, vários aviõezinhosdepapel entraramvoandono elevador.Harry ficouolhandoosaviões planarem preguiçosamente acima de sua cabeça; eram violeta-claro, e ele leu as palavrasMinistériodaMagiaestampadasnobordodasasas.–Sãoapenasmemorandosinterdepartamentais–murmurouoSr.Weasley.–Costumávamosusar
corujas,masasujeiraerainacreditável...excrementoscaindosobreasescrivaninhas...Quando recomeçaram a subir, os memorandos ficaram flutuando em torno da lâmpada do
elevador.“Nívelcinco,DepartamentodeCooperaçãoInternacionalemMagia, incorporandooOrganismo
dePadrõesdeComércioMágicoInternacional,oEscritórioInternacionaldeDireitoemMagiaeaConfederaçãoInternacionaldeBruxos,sedebritânica.”Quandoasportasseabriram,doismemorandossaíramvoandoaomesmotempoquemaisbruxos
e bruxas desembarcavam, mas outros tantos memorandos entraram voando, de modo que a luzpiscouelampejoucomomovimentodosaviõezinhosaoseuredor.
“Nívelquatro,DepartamentoparaRegulamentaçãoeControledasCriaturasMágicas,queincluiasDivisõesdasFeras,SereseEspíritos,SeçãodeLigaçãocomosDuendes,EscritóriodeOrientaçãosobrePragas.”–Licença–pediuobruxoque levavaagalinhaventa-fogo, e saiudoelevador seguidoporum
pequenobandodememorandos.Asportasfecharammaisumavezcomestrépito.“Níveltrês,DepartamentodeAcidenteseCatástrofesMágicas,incluindooEsquadrãodeReversão
deMágicasAcidentais,CentraldeObliviaçãoeComissãodeJustificativasDignasdeTrouxas.”Todos desembarcaram do elevador nesse andar, exceto o Sr.Weasley, Harry e uma bruxa que
estava lendo um pergaminho tão longo que arrastava pelo chão. Os memorandos restantescontinuaram a flutuar em torno da lâmpada, e o elevador continuou sua agitada subida, então asportasabrirameavozanunciou:“Níveldois,DepartamentodeExecuçãodasLeisdaMagia,queincluiaSeçãodeControledoUso
IndevidodaMagia,oQuartel-GeneraldosAuroreseosServiçosAdministrativosdaSupremaCortedosBruxos.”–Éconosco,Harry–disseoSr.Weasley,eelesacompanharamabruxaporumcorredorladeado
deportas.–Minhasalaédooutroladodoandar.–Sr.Weasley–perguntouHarry,aopassaremporumajanelapelaqualentravaosol–,nósnão
estamosmaisembaixodaterra?–Estamos.Asjanelassãoencantadas.AManutençãoMágicadecidetodoodiaqualéotempoque
vaifazer.Tivemosdoismesesdefuracões,daúltimavezqueestivemosreivindicandoumaumentodesalário...Évirandoaqui,Harry.Dobraram um canto, passaram por pesadas portas de carvalho e saíram em uma área aberta
subdivididaemcubículos,quefervilhavadeconversaserisos.Osmemorandosentravamesaíamdoscubículos como foguetes em miniatura. Um letreiro torto no cubículo mais próximo informava:Quartel-GeneraldosAurores.Harryespioudisfarçadamentepelaportaaopassar.Osauroreshaviamcobertoasparedesdeseus
cubículos com tudo que se pode imaginar, desde retratos de bruxos procurados e fotos de suasfamíliasapôsteresdosseustimesdequadribolpreferidoseartigosdoProfetaDiário.Umhomemdevestesvermelhas,comumrabodecavalomaiscompridoqueodoGui,estavasentadocomasbotasemcimadaescrivaninha,ditandoumrelatórioparasuapena.Umpoucoadiante,umabruxacomumavendasobreumdosolhosconversavaporcimadadivisóriadoseucubículocomQuimShacklebolt.– ‘Dia, Weasley – cumprimentou Quim, descontraído, quando o bruxo se aproximou. – Ando
querendofalarcomvocê,temumsegundo?–Tenho,serealmenteforumsegundo–disseoSr.Weasley.–Estouumpoucoapressado.Falavamcomosemalseconhecessem,equandoHarryabriuabocaparacumprimentarQuim,o
Sr.Weasleylhedeuumapiscadela.ElesacompanharamQuimatéoúltimocubículodocorredor.Harry teve um ligeiro choque; piscando para ele de todas as direções, havia o rosto de Sirius.
Recortesdejornalevelhasfotos–atéaquelaemqueeleapareciacomopadrinhodocasamentodosPotter–forravamasparedes.OúnicoespaçoemquenãohaviaSiriusestavaocupadoporummapa-múndiemquebrilhavamalfinetesvermelhoscomopedraspreciosas.–Tome–disseQuimbruscamenteaoSr.Weasley,enfiandoumrolodepergaminhoemsuamão.–
Preciso do máximo de informação possível sobre veículos voadores dos trouxas avistados nosúltimosdozemeses.RecebemosinformaçãodequeBlacktalvezcontinueusandosuavelhamoto.QuimdeuaHarryumaenormepiscadelaeacrescentouemumsussurro:–Dêessarevistaaele,talvezacheinteressante.–Então,retomandootomnormal:–Enãodemore
muito,Weasley,oatrasonorelatóriosobreaspernasdefogoparalisouasnossasinvestigaçõesporummês.
–Sevocêtivesselidoomeurelatóriosaberiaqueotermoéarmasdefogo–disseoSr.Weasleytranquilo. – E receio que terá de esperar pelas informações sobre motocicletas; estamosocupadíssimos nomomento. – Baixou a voz: – Se você conseguir sair antes das sete,Molly estápreparandoalmôndegas.E,fazendosinalaHarry,deixaramocubículo,passaramporoutrasportasdecarvalho,saíramem
outro corredor, viraram à direita para um corredor mal iluminado e ainda assim visivelmenteencardido,queterminavaemumaparede-cega,mashaviaumaportaentreabertaàesquerdadeixandoà mostra o interior de um armário de vassouras, e uma porta à direita com uma placa de latãooxidadocomosdizeres:MauUsodosArtefatosdosTrouxas.AsalaescuraesujadoSr.Weasleyparecialigeiramentemenorqueoarmáriodevassouras.Duas
escrivaninhastinhamsidoapertadasaliemalhaviaespaçoparacontorná-las,porcausadosarquivosabarrotados que ocupavam as paredes, com pilhas de pastas por cima.O pouco espaço de parededisponível testemunhavaasobsessõesdoSr.Weasley:váriospôsteresdecarros, inclusiveodeummotordesmontado;duasilustraçõesdecaixasdecorreioquepareciamtersidorecortadasdelivrosparacriançastrouxas;eumdiagramamostrandocomopôrfioemtomada.Por cima de sua apinhada caixa de entrada, havia uma velha torradeira que soluçava em tom
desconsoladoeumpardeluvasdecouroquegiravadoisdedosvazios.AoladodacaixahaviaumafotodafamíliaWeasley.HarryreparouqueaparentementePercyabandonaraafoto.–Nãotemosjanela–desculpou-seoSr.Weasley,despindooblusãodeaviadorependurando-ono
espaldardesuacadeira.–Pedimos,maspelovistoelesachamquenãoprecisamosdeuma.Sente-se,Harry,parecequePerkinsaindanãochegou.Harry apertou-se na cadeira ao lado da mesa de Perkins, enquanto o Sr. Weasley folheava
rapidamenteomaçodepergaminhosqueQuimShackleboltlheentregara.– Ah – comentou sorrindo, ao puxar do meio um exemplar da revistaO Pasquim –, sim... –
Folheou-a.–Sim,eletemrazão,comcertezaSiriusvaiacharmuitoengraçado...Ah,meuDeus,queéissoagora?Ummemorandoacabaradedispararpelaportaabertaepousaremcimadatorradeirasoluçante.O
Sr.Weasleyabriu-oeleuemvozalta:“Recebemos informações de um terceiro vaso sanitário regurgitando em banheiro público em
BethnalGreen,queirainvestigarimediatamente.”–Istoestáficandoridículo...–Umvasosanitárioqueregurgita?–Brincadeirasdegaiatosantitrouxas–disseoSr.Weasley, franzindoa testa.–Tivemosdoisna
semanapassada,umemWimbledon,umemElephantandCastle.Ostrouxasacionamadescargaeemvez das coisas desaparecerem... bem, você pode imaginar. Os coitados ficam chamando os...encadores,achoqueéonomequedão...sabe,oshomensqueconsertamcanosecoisasdogênero.–Encanadores?–Exatamente,maséclaroqueelesnãosabemcomoexplicar.Sóesperoqueagenteconsigapegar
quemandafazendoisso.–Osauroreséquevãopegá-los?–Ah,não,istoébanaldemaisparaaurores,seráumapatrulhanormalparaExecuçãodasLeisda
Magia...ah,Harry,esseéoPerkins.Um velho bruxo, encurvado e tímido, de cabelos brancos e fofos, acabara de entrar na sala,
ofegante.–Ah,Arthur!–exclamoudesesperado,semolharparaHarry.–Quebom,eunãosabiaoqueseria
melhor,seesperarounãoaquiporvocê.Acabeidedespacharumacorujaparasuacasa,maséóbvioquevocêjátinhasaído:chegouumamensagemurgenteháunsdezminutos...
–Jásei,dovasosanitárioqueregurgita–disseoSr.Weasley.–Não,nãoéovasosanitário,éaaudiênciadomeninoPotter...mudaramadataeolocal...agora
vaicomeçaràsoitohorasevaisernovelhoDécimoTribunal...–Novelho...masmedisseram...pelasbarbasdeMerlim!OSr.Weasleyconsultouorelógio,deixouescaparumgritoepuloudesuacadeira.–Depressa,Harry,devíamosterchegadoláhácincominutos!PerkinsseachatoucontraosarquivosparadeixaroSr.WeasleysaircorrendodasalacomHarry
emseuscalcanhares.–Porqueéqueelesmudaramahora?–perguntouHarrysemfôlego,aopassaremdesabalados
pelassalasdosaurores;aspessoasseesticavameparavamparaolharacorreriadosdois.HarryteveasensaçãodequedeixaraasentranhasnamesadePerkins.– Não faço a menor ideia, mas foi bom termos chegado aqui tão cedo, se você perdesse a
audiência,teriasidoumacatástrofe.O Sr.Weasley parou derrapando diante dos elevadores e apertou com impaciência o botão de
descida.–ANDALOGO!O elevador apareceu sacudindo e eles entraram depressa. Todas as vezes que paravam, o Sr.
Weasleyxingavafuriosamenteesocavaobotãodenúmeronove.–Essestribunaisnãosãousadosháanos–disseoSr.Weasleyzangado.–Nãopossoimaginarpor
quevãofazeraaudiênciaaquiembaixo...anãoserque...masnão...Umabruxagorducha,carregandoumcálicefumegante,entrounoelevadornessemomentoeoSr.
Weasleysecalou.“OÁtrio”,disseatranquilavozdemulher,easgradesdouradasseabriram,permitindoaHarry
umvislumbredistantedas estátuasdeourona fonte.Abruxa saiu eumbruxodepelemacilenta eexpressãomuitopesarosaasubstituiu.–‘Dia,Arthur–disseele,emtomsepulcral,quandooelevadorcomeçouadescer.–Nãoésempre
queovejoaquiembaixo.–Negóciosurgentes,Bode–respondeuoSr.Weasley,quesebalançavaparaafrenteeparatrás
noscalcanhares,lançandoaHarryolharesansiosos.–Ah,sim–disseBode,examinandoogarotosempestanejar.–Éclaro.NãorestavaaHarryquasenenhumaemoçãoparagastarcomBode,masaqueleolharfixonãoo
fezsesentirmaisconfortável.“DepartamentodeMistérios”,disseavozdemulhersempressaesemnadaacrescentar.–Anda,Harry–disseoSr.Weasley,quandoasportasdoelevadorseabriramcomestrépito,eeles
saíramapressadosporumcorredorqueeramuitodiferentedosoutrosacima.Asparedeseramnuas;não havia janelas nemportas, exceto uma preta e lisa no finzinho do corredor.Harry pensou quefossementrar,masemlugardissooSr.Weasleyoagarroupelobraçoeoarrastouparaaesquerda,ondehaviaumaaberturaparaumaescada.–Aquiembaixo,aquiembaixo–ofegouele,dandoduaspassadasdecadavez.–Oelevadornem
desceatéaí...porquevãofazeraaudiênciaaíembaixo,eu...Chegaramaoúltimodegraueentrarampormaisumcorredor,muitosemelhanteaoquelevavaà
masmorradeSnape,emHogwarts,comparedesdepedrabrutaetochasemsuportes.Asportaspelasquaispassavamaquieramdemadeiramaciça,comtrancasefechaduras.–Décimo...Tribunal...acho...estamosquase...sim.O Sr.Weasley parou cambaleante em frente a uma porta escura e encardida, com uma enorme
fechaduradeferro,eencostou-seàparede,comprimindoapontadaquesentianopeito.–Continue–ofegouele,apontandoaportacomopolegar.–Entreaí.
–Osenhornão...nãovemcom...?–Não,não,nãoépermitido.Boasorte!OcoraçãodeHarrybateuviolentamentecontraoseupomodeadão.Eleengoliucomforça,girou
amaçanetadeferrodapesadaportaeentrounotribunal.
—CAPÍTULOOITO—Aaudiência
Harrysufocouumgrito;nãoconseguiuseconter.Agrandemasmorraemqueentraraparecia-lheterrivelmentefamiliar.Nãosomenteaviraantes,masestiveraaliantes.EraolugarquevisitaracomaPenseiradeDumbledore,olugaremqueassistiraaoLestrangeseremcondenadosàprisãoperpétuaemAzkaban.Asparedeseramdepedraescura,fracamenteiluminadasporarchotes.Haviaarquibancadasvazias
decadaladodele,mas,àfrente,asmaisaltasestavamocupadaspormuitosvultosescuros.Tinhamestado conversando, mas quando a pesada porta se fechou à entrada de Harry fez-se um silêncioagourento.Umavozmasculinacortanteecooupelotribunal.–Osenhorestáatrasado.–Sintomuito–disseHarrynervoso–,eunãosabiaqueahoradaaudiênciatinhasidomudada.–IstonãoéculpadaSupremaCortedosBruxos–disseavoz.–Despachamosumacorujaparao
senhorestamanhã.Sente-senoseulugar.O olhar de Harry recaiu sobre a cadeira no centro da sala, cujos braços eram equipados com
correntes.Viraaquelascorrentesganharemvidaeprenderemquemalisentasse.Seuspassosecoaramfortementequandoavançoupelochãodepedra.Nomomentoemquesesentou,poucoàvontade,naborda da cadeira, as correntes retiniram ameaçadoras,mas não o prenderam. Sentindo-se bastantemal,eleolhouparaaspessoassentadasnobancoacima.Havia umas cinquenta, até onde sua vista alcançava, usavam vestes cor de ameixa com umW
bordado em fio de prata do lado esquerdodopeito, e olhavampara ele comar de superioridade,algumascomexpressõesbemausteras,outras,francamentecuriosas.Bemnomeiodaprimeira fila sentava-seCornélioFudge,oministrodaMagia.Eraumhomem
corpulento que costumava usar um chapéu-coco verde-limão, embora hoje o tivesse dispensado;dispensara, também,aquele sorrisode indulgênciaquenopassadousaraao falarcomHarry.Umabruxa de ossos largos, queixo quadrado, cabelos grisalhosmuito curtos, sentava-se à esquerda deFudge;usavaummonóculo eparecia assustadora.Do ladodireitodoministro, haviaoutrabruxa,masestavasentadatãoatrásnobancoqueseurostoficavanasombra.– Muito bem – disse Fudge. – O acusado tendo finalmente chegado, podemos começar. – Os
senhoresestãoprontos?–perguntouaosdemaisbruxos.–Estamos,simsenhor–respondeuumavozansiosaqueHarryconhecia.OirmãodeRony,Percy,
estava sentado em uma das extremidades do banco da frente. Harry olhou para Percy, esperandoalgumsinaldereconhecimento,masnãorecebeunenhum.Osolhosdorapaz,portrásdosóculosdearosdetartaruga,estavamfixosemumpergaminho,eseguravaumapenaàmão.– Audiência disciplinar do dia doze de agosto – anunciou Fudge com voz ressonante, e Percy
começouimediatamenteaanotar–paraapurarviolaçõesaoDecretodeRestriçãoàPráticadeMagiaporMenoreseaoEstatutoInternacionaldeSigilocometidasporHarryTiagoPotter,residentenaruadosAlfeneiros,númeroquatro,LittleWhinging,Surrey.“Inquiridores: Cornélio Oswaldo Fudge, ministro da Magia; Amélia Susana Bones, chefe do
Departamento de Execução das Leis daMagia; Dolores Joana Umbridge, subsecretária sênior doministro.Escribadacorte,PercyInácioWeasley...”–Testemunhadedefesa,AlvoPercivalWulfricoBrianDumbledore–disseumavozbaixaatrásde
Harryeelevirouacabeçatãorápidoqueestalouopescoço.Dumbledorevinhaentrandoserenamentepelasalausandovestes longasazul-petróleoeexibindo
umaexpressãoperfeitamentecalma.Suasbarbaslongasebrancaseseuscabelosrefulgiramàluzdosarchotes,quandoeleemparelhoucomHarryeergueuosolhosparaFudgeatravésdosseusoclinhosdemeia-lua,pousadosbemnomeiodonarizmuitotorto.Os membros da Suprema Corte dos Bruxos murmuraram. Todos os olhares se concentraram
agora em Dumbledore. Alguns pareciam aborrecidos, outros ligeiramente receosos; duas bruxasidosasnoúltimobanco,noentanto,ergueramamãoelheacenaramasboas-vindas.Ao ver Dumbledore, uma intensa emoção despertou no peito de Harry, um sentimento de
fortalecidaesperançamuito semelhanteàqueocantoda fênix lhepropiciara.ElequeriachamaraatençãodeDumbledore,masodiretornãoestavaolhandoparaoseulado;continuavacomosolhoserguidosparaoobviamenteconstrangidoFudge.–Ah!–exclamouFudge,quepareciacompletamentedesconcertado.–Dumbledore.Então,você...
hum...recebeuanossa...mensagemqueahorae...olocaldaaudiênciaforammudados?–Não chegou a tempo – respondeuDumbledore animado. – Porém, graças a um feliz engano
chegueiaoMinistériotrêshorasmaiscedo,porissonãohouveprejuízo.– Ah... bem... suponho que iremos precisar de mais uma cadeira... eu...Weasley, será que você
poderia...?–Nãosepreocupe,nãosepreocupe–disseDumbledoregentilmente;puxouentãoavarinha,fez
umbreve aceno, e uma confortável poltrona de chintz apareceu ao lado deHarry.Dumbledore sesentou,juntouaspontasdoslongosdedoseficouolhandoFudgeporcimadelescomumaexpressãodeeducadointeresse.Osbruxosdacortecontinuaramamurmurareaseinquietar;somentequandoFudgeretomouapalavraéqueelesseaquietaram.–Sim–repetiuFudge,folheandosuasanotações.–Bom,então.Portanto.Asacusações.Sim.Eleretirouumpergaminhodapilhaàsuafrente,inspiroulongamenteeleu:–Asacusaçõessãoasseguintes:“Queeleintencionalmente,deliberadamenteecomplenaconsciênciadailegalidadedosseusatos,
já tendo recebido anteriormente um aviso doMinistério daMagia, por escrito, por uma acusaçãosemelhante, executou o Feitiço do Patrono em uma área habitada por trouxas, na presença de umtrouxa,nodiadoisdeagostoàsnovehorasevinteetrêsminutos,oqueconstituiumaviolaçãoaoparágrafoCdoDecretodeRestriçãoàPráticadeMagiaporMenores,de1875,etambémàSeção13doEstatutodeSigilodaConfederaçãoInternacionaldosBruxos.“OsenhoréHarryTiagoPotter,daruadosAlfeneiros,númeroquatro,LittleWhinging,Surrey?”,
perguntouFudge,lançandoaHarryumolharpenetranteporcimadopergaminho.–Sim,senhor–respondeuHarry.–OsenhorrecebeuumavisooficialdoMinistérioporterfeitousoilegaldemagiahátrêsanos,
nãofoi?–Sim,senhor,mas...–EaindaassimconjurouumPatrononanoitedodiadoisdeagosto?–perguntouFudge.–Sim,senhor,mas...–Sabendoquenãotempermissãoparausarmagiaforadaescolaenquantoformenordedezessete
anos?–Sim,senhor,mas...–Sabendoqueseencontravaemumaáreapovoadaportrouxas?
–Sim,senhor,mas...–Inteiramenteconscientedequeestavamuitopróximodeumtrouxanaquelemomento?–Sim,senhor–disseHarryzangado–,massóuseimagiaporqueestávamos...Abruxademonóculointerrompeu-ocomumavoztrovejante:–VocêproduziuumPatronointeiramentedesenvolvido?–Sim,senhora,porque...–UmPatronocorpóreo?–Um...oquê?–perguntouHarry.–O seu Patrono tinha uma forma claramente definida?Quero dizer, eramais do que vapor ou
fumaça?–Sim,senhora–disseHarry,sentindo-seaomesmotempoimpacienteelevementedesesperado.–
Éumveado,semprefoiumveado.–Sempre?–trovejouMadameBones.–VocêjáhaviaproduzidoumPatronoantes?–Sim,senhora.Venhofazendoissoháumano.–Eosenhortemquinzeanos?–Sim,senhora,e...–Osenhoraprendeuissonaescola?–Sim,senhora,oProf.LupinmeensinouaproduzirumPatrononoterceiroano,porcausado...–Impressionante–disseMadameBones,olhando-ocomaltivez–,umPatronoverdadeironasua
idade...realmenteimpressionante.Alguns bruxos e bruxas ao redor dela recomeçaram a murmurar; alguns faziam sinais de
concordância,outrosfranziamatestaesacudiamacabeça.–Aquestãonãoéatéquepontoamágicaéimpressionante–lembrouFudgenumtomrabugento.–
Defato,quantomaisimpressionantefor,pioré,pensoeu,umavezqueorapazrealizouoPatronobemàvistadeumtrouxa!Osquetinhamfranzidoatestahaviapoucoagoramurmuravamsuaconcordância,masfoiavisão
dovirtuosoediscretoacenodecabeçadePercyquecompeliuHarryafalar.–Fizissoporcausadosdementadores!–disseemvozalta,antesquealguémpudesseinterrompê-
lo.Harry esperava que houvesse mais murmúrios, mas o silêncio que sobreveio pareceu-lhe de
algumaformamaisdensoqueantes.–Dementadores?–exclamouMadameBonespassadoummomento,suasespessassobrancelhasse
erguendoatéomonóculoparecerqueiacair.–Quequerdizercomisso,garoto?– Quero dizer que havia dois dementadores na travessa, e que eles atacaram a mim e ao meu
primo!–Ah – disse Fudgemais uma vez, olhando osmembros da corte a toda volta com um sorriso
antipático, como se os convidasse a compartir com ele o gracejo. – Sim. Sei. Pensei ter ouvidoalgumacoisaassim.–DementadoresemLittleWhinging?–exclamouMadameBonesextremamentesurpresa.–Não
estouentendendo...– Não está, Amélia? – respondeu Fudge, ainda sorrindo. – Deixe-me explicar. O garoto andou
pensandoedecidiuquedementadoresdariamrealmenteumabelareportagemdecapa.Trouxasnãopodem ver dementadores, não é mesmo garoto? Muito conveniente, muito conveniente... então éapenasasuapalavraenenhumatestemunha...–Eunãoestoumentindo–disseHarryemvozalta,abafandomaisumsurtodemurmúriosentreos
membrosdacorte.–Haviadois,vindosdeladosopostosdatravessa,tudoficouescuroefrio,emeuprimosentiuapresençadeleseprocuroufugir...
–Basta,basta!–disseFudge, comumaexpressãodegrande superioridadeno rosto.–Lamentointerromperoquecertamenteseriaumahistóriamuitobemensaiada...Dumbledorepigarreou.Osmembrosdacortetornaramafazersilêncio.–Na realidade, temos uma testemunha da presença dos dementadores naquela travessa, alémde
DudleyDursley,querodizer.A cara gorda de Fudge pareceu murchar, como se alguém a tivesse esvaziado. Ele encarou
Dumbledoreporalgunsmomentos,dandoaimpressãodealguémqueprocurasecontrolar,edisse:–Receioquenãotenhamostempoparaouvirmaislorotas,Dumbledore.Querocuidardessecaso
semdelongas.–Possoestarerrado–disseDumbledoreagradavelmente–,mastenhocertezadeque,pelaCarta
deDireitos da SupremaCorte dosBruxos, o acusado tem direito a apresentar testemunhas para adefesa do seu caso, não?Não é essa a diretriz doDepartamento de Execução das Leis daMagia,MadameBones?–continuouele,dirigindo-seàbruxademonóculo.–Éverdade.Inteiramenteverdade.–Ah,muitobem,muitobem–retrucouFudge.–Ondeestáessapessoa?–Trouxe-acomigo–disseDumbledore.–Estáaliforaàporta.Devo...?– Não...Weasley, vá você – disse Fudge com rispidez a Percy, que se levantou imediatamente,
desceu correndo os degraus de pedra da bancada dos juízes e passou na mesma velocidade porDumbledoreeHarrysemolharparaeles.Ummomentodepois, voltou acompanhadopelaSra.Figg.Elaparecia apavorada emais caduca
quenunca.Harrydesejouqueavelhotativesseselembradodetrocaraspantufas.Dumbledoreselevantouecedeusuapoltronaàrecém-chegada,conjurandooutraparasimesmo.– Nome completo? – perguntou Fudge em voz alta, depois que a Sra. Figg se encarrapitou,
nervosa,nabordadapoltrona.–ArabelaDoraFigg–respondeuabruxa,comavoztrêmula.–Equeméasenhoraexatamente?–perguntouFudge,comumavozarroganteecheiadetédio.–SouresidenteemLittleWhinging,próximoàcasaondemoraHarryPotter.–NãotemosregistrodenenhumabruxaoubruxoresidindoemLittleWhinging,anãoserHarry
Potter–disseMadameBones imediatamente.–A situaçãoali sempre foi acompanhadacommuitaatenção,emvistados...emvistadosacontecimentospassados.–Souumabruxaabortada–disseaSra.Figg.–Nestecaso,asenhoranãoteriaumregistromeu,
teria?– Uma bruxa abortada, eh? – comentou Fudge, olhando-a, desconfiado. – Verificaremos isso.
Deixeas informações sobre seuspaiscomomeuassistenteWeasley.Em tempo,bruxosabortadossãocapazesdeverdementadores?–perguntou,olhandoparaosbruxossentadosdeumladoeoutrodobanco.–Claroquepodemos!–disseaSra.Figgindignada.Fudgetornouaolharabruxa,comassobrancelhaserguidas.–Muitobem–dissecomsuperioridade.–Qualéasuahistória?– Eu tinha saído para comprar comida para gatos na loja da esquina, no fim da alameda das
Glicínias,porvoltadasnovehoras,nanoitededoisdeagosto–tagarelouaSra.Figgsempestanejar,como se tivessedecoradooque estavadizendo–, entãoouviumaperturbaçãona travessa entreolargo dasMagnólias e a alameda das Glicínias. Quandome aproximei da entrada da travessa, vidementadorescorrendo...–Correndo?–perguntouMadameBonesrispidamente.–Dementadoresnãocorrem,deslizam.–Foiissoquequisdizer–corrigiuaSra.Figgrapidamente,manchasrosadassurgindoemsuas
bochechasmurchas.–Deslizandopelatravessaemdireçãoaoquemepareceramdoisgarotos.
–Queaparênciatinham?–perguntouMadameBones,apertandoosolhosdemodoqueocontornodomonóculodesapareceusobsuacarne.–Bem,umerabemgrandeeooutroumtantomagricela.–Não,não–disseMadameBonesimpaciente.–Osdementadores.Descreva-os.–Ah – disse a Sra. Figg, o rubor subindo-lhe agora pelo pescoço. – Eram grandes.Grandes e
usavamcapas.Harry sentiu um afundamento horrível no estômago.Oque quer que aSra. Figg pudesse dizer,
passavaaeleaimpressãodequeomáximoqueelaviraforaumdesenhodeumdementador,eumdesenhonãoerasuficienteparatransmitiraverdadesobreessesseres:omodofantasmagóricocomque se deslocavam, flutuando alguns centímetros acima do chão; ou o cheiro de podridão queexalavam;ouaquelehorrívelsomdematracaquefaziamquandosugavamoaràsuavolta...Na segunda fila, umbruxoatarracado, comumbigodãopreto, aproximou-separa cochichar ao
ouvidodesuavizinha,umabruxadecabelosmuitocrespos.Elariueconcordoucomacabeça.– Grandes e usavam capas – repetiuMadame Bones tranquilamente, enquanto Fudge dava uma
risadinhadesdenhosa.–Entendo.Maisalgumacoisa?–Sim,senhora–disseaSra.Figg.–Sentiapresençadeles.Tudoficoufrioeeraumanoitebem
quentedeverão,vejabem.Esenti...comosetodaafelicidadetivessedesaparecidodomundo...emelembrei...decoisasmedonhas...Avozdabruxatremeueemudeceu.Osolhos deMadameBones se arregalaram ligeiramente.Harry viu asmarcas vermelhas sob a
sobrancelha,ondeomonóculocomprimiraseurosto.–Quefoiqueosdementadoresfizeram?–perguntouMadameBones,eHarrysentiuumainfusão
deesperança.–Elesavançaramsobreosgarotos–disseaSra.Figg,avozmaisforteeconfianteagora,orubor
seesvaindodorosto.–Umdelescaíra.Ooutroestavarecuando,tentandorepelirodementador.EraHarry. Por duas vezes, ele tentou,mas só produziu umvaporzinho prateado.Na terceira tentativa,produziu um Patrono, que investiu contra o primeiro dementador e depois, encorajado por ele,afugentouosegundodecimadoprimo.Eisso...issofoioqueaconteceu–encerrouaSra.Figg,deformapoucoconclusiva.ASra.Bonesmirou a Sra. Figg em silêncio. Fudge não olhava para ela agora,mexia nos seus
documentos.Finalmente,ergueuacabeçaedisse,umtantoagressivamente:–Foiissoqueasenhoraviu?–Foiissoqueaconteceu–repetiuaSra.Figg.–Muitobem–disseFudge.–Podeseretirar.A Sra. Figg lançou um olhar medroso de Fudge para Dumbledore, depois se levantou e saiu
arrastandoaspantufas.Harryouviuaportafechardepoisqueabruxapassou.–Nãofoiumatestemunhamuitoconvincente–disseFudgecomaltivez.–Ah,nãosei–disseaSra.Bonescomsuavozdetrovão.–Elacertamentedescreveuosefeitosde
um ataque de dementadores com muita precisão. E não posso imaginar por que diria que elesestiveramlásenãotivessemestado.–Dementadoresperambulandoporumsubúrbiodetrouxassimplesmenteencontramumbruxopor
acaso?–caçoouFudge.–Asprobabilidadesdistoacontecerdevemsermuito,muitoremotas.NemmesmoBagmanteriaapostado...–Ah,nãoachoquealgumdenósacreditequeosdementadoresestiveram láporcoincidência–
disseDumbledoreemumtomdevozleve.AbruxasentadaàdireitadeFudge,comorostonasombra,mexeu-seligeiramente,masosdemais
ficarammuitoquietosesilenciosos.
–Equeéquevocêquerdizercomisso?–perguntouFudgecomavozgélida.–Querodizerqueforammandadosatélá–disseDumbledore.–Creio que teríamosum registro se alguém tivessemandadodois dementadores passearemem
LittleWhinging!–vociferouFudge.–Não,seultimamenteosdementadoresandaremrecebendoordensdealguémquenãooministro
daMagia–disseDumbledorecalmamente.–Jálhedeiaminhaopiniãosobreesteassunto,Cornélio.– Já deu, sim – disse Fudge a contragosto –, e não tenho razão alguma para acreditar que sua
opiniãovalhaalgumacoisa,Dumbledore.OsdementadorespermanecememseuspostosemAzkabaneestãofazendotudoqueosmandamosfazer.–Então–respondeuDumbledore,emvozbaixa,masmuitoclara–,precisamosindagarporque
alguémnoMinistérioteriamandadodoisdementadoresàquelatravessanodiadoisdeagosto.Nosilêncioabsolutoquerecebeusuaspalavras,abruxaàdireitadeFudgeseinclinouparaafrente
demodoqueHarryaviupelaprimeiravez.Achou-aigualzinhaaumgrandesapoclaro.Erabaixaegorda,tinhaumacaralargaeflácida,o
pescoçoeraquase tão inexistentequantoodotioVáltereaboca,frouxa.Osolhoseramenormes,redondoseligeiramentesaltados.Atémesmoolacinhodeveludopretoencarrapitadonoaltodeseuscabeloscurtosecresposfezogarotoimaginarummoscãoqueelaestivesseprestesaapanharcomsualínguacompridaepegajosa.– O presidente reconhece Dolores Joana Umbridge, subsecretária sênior do ministro – disse
Fudge.Abruxafalounumavozaguda,aflautadaeinfantil,queespantouHarry;esperaraqueelacoaxasse.– Tenho certeza de que devo ter compreendidomal o que o senhor disse, Prof. Dumbledore –
começou ela com um sorriso afetado que deixou frios os seus olhos enormes e redondos. –Quetoliceaminha.MasmepareceuporumátimoqueosenhorestavasugerindoqueoministrodaMagiativesseordenadooataquecontraessegaroto!EladeuumarisadaargentinaquefezospelosnanucadeHarryficaremempé.Algunsmembros
dacorteacompanharamarisadadabruxa.Nãopoderiaterficadomaisclaroqueamaiorianãoachouamenorgraça.–Se forverdadequeosdementadoresestão recebendoordenssomentedoministrodaMagia,e
igualmenteverdadequedoisdementadoresatacaramHarryeseuprimoháumasemana,entãoserialógico concluir que alguém no Ministério pode ter ordenado os ataques – disse Dumbledorepolidamente. – É claro que esses dementadores em particular poderiam estar fora do controle doMinistério.–Nãohádementadores forado controledoMinistério! – retrucouFudge rispidamente, ficando
cordetomate.Dumbledorefezumapequenareverênciacomacabeça.– Então oministro certamente irámandar instaurar um inquérito para determinar por que dois
dementadoresestavamtãolongedeAzkabaneporqueatacaramsemautorização.–Não cabe a você decidir o que oMinistério daMagia faz ou deixa de fazer, Dumbledore! –
retrucouFudge,agoraexibindonorostoumtomdemagentaqueteriasidooorgulhodotioVálter.– Claro que não – disse Dumbledore suavemente. – Eu estava apenas expressando a minha
confiançadequeesteassuntonãodeixarádeserinvestigado.E olhou paraMadameBones, que reajustou omonóculo e o encarou, franzindo ligeiramente a
testa.– Eu gostaria de lembrar a todos que o comportamento desses dementadores, se não foram
realmente imaginados por este garoto, não são o tema desta audiência! – disse Fudge. – EstamosreunidosaquiparaexaminarasviolaçõesaoDecretodeRestriçãoàPráticadeMagiaporMenores
cometidasporHarryPotter!– Naturalmente que estamos – disse Dumbledore –, mas a presença de dementadores naquela
travessaémuito relevante.ACláusulaSetedodecretoprevêqueamagiapodeserusadadiantedetrouxas em circunstâncias excepcionais, e, na medida em que essas circunstâncias excepcionaisincluemsituaçõesqueameaçamavidadosprópriosbruxosoudequaisqueroutrosbruxosoutrouxaspresentesnaocasiãoemque...–ConhecemosaCláusulaSete,muitoobrigado!–vociferouFudge.–Naturalmentequeconhece–disseDumbledorecortesmente.–Entãoconcordamosqueofatode
Harry ter usado o Feitiço doPatrono se enquadra precisamente nas circunstâncias especiais que acláusuladescreve?–Seéquehaviadementadores,oqueduvido.–Vocêouviuatestemunhaocular–interrompeuDumbledore.–Seaindaduvidadaveracidadedo
depoimentodela,torneachamá-la,torneainterrogá-la,tenhocertezadequeelanãofariaobjeção.–Eu...isso...não...–atrapalhou-seFudge,mexendonosdocumentosàsuafrente.–Éque...quero
terminarcomissohoje,Dumbledore!–Masnaturalmentevocênãoseimportariadeouvirmuitasvezesumdepoimento,seaalternativa
fossetomarumadecisãoinjusta–ponderouDumbledore.–Decisão injusta, uma ova! – disse Fudge aos berros. –Você algum dia se deu ao trabalho de
contaronúmerodehistóriasfantasiosasqueessegarotoinventa,Dumbledore,quandotentaencobrirseuflagrantemauusodamagiaforadaescola?SuponhoquetenhaesquecidooFeitiçodaLevitaçãoqueeleusouhátrêsanos...–Nãofuieu,foiumelfodoméstico!–disseHarry.– ESTÁ VENDO? – rugiu Fudge, fazendo um gesto largo em direção a Harry. – Um elfo
doméstico!Numacasadetrouxas!Francamente.– O elfo doméstico em questão está presentemente no serviço da Escola de Hogwarts – disse
Dumbledore.–Possoconvocá-loaquiinstantaneamenteparadepor,sevocêquiser.–Eu...não...eunãotenhotempoparaouvirelfosdomésticos!Emtodoocaso,estanãofoiaúnica...
eletransformouatiaemumbalãodegás,oratenhapaciência!–Fudgeberrava,socandoamesadojuizevirandoumtinteiro.– E você bondosamente não fez acusações naquela ocasião, aceitando, suponho, quemesmo os
melhores bruxos nem sempre podem controlar as emoções – disse Dumbledore calmamente,enquantoFudgetentavalimparatintadesuasanotações.–Enemaomenoscomeceiafalardoqueeleaprontanaescola.– Mas como o Ministério não tem autoridade para punir os alunos de Hogwarts por faltas
cometidas na escola, o comportamento de Harry naquela instituição não é relevante para estaaudiência–disseDumbledore,educadamentecomosempre,masagoracomumtoquedefriezaemsuaspalavras.–Oh-ho!–exclamouFudge.–Nãoédenossacompetênciaoqueelefaznaescola,eh?Éoque
vocêpensa.–OMinistérionãotemopoderdeexpulsaralunosdeHogwarts,Cornélio,comolembreiavocê
nanoitededoisdeagosto–disseDumbledore.–Tampoucotemodireitodeconfiscarvarinhasatéque as acusações tenham sido comprovadas; tal como lembrei a você na mesma noite. Na suaadmirável pressa de garantir o respeito à lei, você parece, inadvertidamente tenho certeza, teresquecidoalgumasleis.–Asleispodemsermudadas–respondeuFudgecomferocidade.–Claroquepodem–disseDumbledore,inclinandoacabeça.–E,semdúvida,parecequevocêestá
fazendomuitasmudanças,Cornélio.Porque,naspoucassemanasdesdequefuiconvidadoadeixara
SupremaCortedosBruxos,jásetornounormalpromoverumjulgamentocriminalparatratardeumsimplescasodemagiapraticadapormenor!Algunsbruxossentadosmaisparaoaltosemexeramemseuslugares,manifestandodesconforto.
Fudgeassumiuumtomligeiramentemais intensodemarrom-arroxeado.Abruxaquepareciaumasapaàsuadireita,noentanto,apenasolhouparaDumbledore,seurostovaziodeexpressão.–Até onde sei – continuouDumbledore –, ainda não está emvigor lei algumadefinindo que a
tarefa desta corte é punir Harry a cada ato de magia que ele já realiza. Ele foi acusado de umaviolaçãoespecíficaeapresentousuadefesa.Tudooqueeleeeupodemosfazeragoraéaguardaroseuveredicto.Dumbledore tornou a juntar as pontas dos dedos e se calou. Fudge encarou-o com um olhar
penetrante obviamente exasperado. Harry olhou de esguelha para Dumbledore, procurandoreafirmação;não tinhamuitacertezaseoseudiretor fizerabememdizeràcorteque jáestavanahora de seus membros tomarem uma decisão. Mais uma vez, porém, Dumbledore pareceu nãoperceberatentativadeHarrydechamarasuaatenção.Continuouviradoparaosbancosacima,ondetodososmembrosdacorteseocupavamemurgentesconsultasemvozbaixa.Harry ficou admirando os próprios pés. Seu coração, que parecia ter inchado desmedidamente,
batia com força sob as costelas.Esperara que a audiência fossedemorarmais doque aquilo.Nãoestavanemumpoucosegurodequetivessecausadoumaboaimpressão.Nãodisserarealmentemuitacoisa. Devia ter detalhadomelhor a questão dos dementadores, como ele caíra, como ele eDudaquasetinhamsidobeijados...Duas vezes ele olhou para Fudge e abriu a boca para falar, mas seu coração inchado agora
comprimia as passagens de ar e, nas duas vezes, ele apenas inspirou profundamente e voltou aadmirarossapatos.Entãoosmurmúrioscessaram.Harryqueriaolharparaosjuízeslánoalto,masdescobriuqueera,
realmente,muito,masmuitomaisfácilcontinuaraestudaroscordõesdosseussapatos.–Osquesãoafavordeinocentaroacusadodetodasasimputações?–soouavoztrovejantede
MadameBones.Harryergueuacabeçacomummovimentorápido.Haviamãoserguidas,muitas...maisdametade!
Respirandomuito rápido,ele tentoucontar,masantesqueconseguisse terminar,MadameBones jádizia:–Eosquesãoafavordacondenação?Fudgeergueuamão;omesmofizerammeiadúziadebruxos,inclusiveobruxobigodudo,abruxa
àsuadireitaeaoutradecabelosmuitocresposnasegundafila.Fudgecorreuosolhospelacorte,comcaradequetinhaalgumacoisaentaladanagarganta,então
baixouamão.Inspirouduasvezesprofundamenteedisse,comavozdistorcidapelaraivareprimida:–Muitobem,muitobem...inocentedetodasasimputações.–Excelente–disseDumbledorecomenergia,pondo-sedepé,tirandoavarinhaefazendoasduas
poltronasdechintzdesaparecerem.–Bom,tenhodeirandando.Bom-diaparatodos.EsemolharnemumavezparaHarry,eleseretiroucomrapidezeimponênciadamasmorra.
—CAPÍTULONOVE—AstribulaçõesdaSra.Weasley
A inesperadapartidadeDumbledorepegouHarrycompletamentedesurpresa.Ogarotocontinuousentadonacadeiraequipadacomcorrentes,debatendo-secomosseussentimentos,quemesclavamchoqueealívio.Osjuízesforamselevantando,conversandoentresi,recolhendoseusdocumentoseguardando-os.Harryficouempé.Ninguémpareciaestarlheprestandoamínimaatenção,anãoserabruxabufonídeaàdireitadeFudge,queagorapassaraacontemplá-loemvezdeaDumbledore.Semlhefazercaso,ogarototentouchamaraatençãodeFudgeoudeMadameBones,querendoperguntarse estavadispensado,masFudgepareciamuitodecidido anão ligar paraHarry, eMadameBonesestavaocupadacomsuamaleta,entãoeledeualgunspassoshesitantesemdireçãoàsaídae,aoverqueninguémomandavavoltar,começouaandarbemdepressa.Deu os últimos passos quase correndo, abriu a porta com violência e quase colidiu com o Sr.
Weasley,queestavaparadoali,comorostopálidoeapreensivo.–Dumbledorenãodisse...–Inocente–disseHarrypuxandoaportaatrásdesi–,detodasasacusações!Abrindoumlargosorriso,oSr.Weasleyagarrou-opelosombros.–Harry,émaravilhoso!Bom,éclaroqueelesnãopoderiamterconsideradovocêculpado,não
comasprovasquetinham,mas,mesmoassim,nãopossofingirquenãomesenti...MasoSr.Weasleyparoudefalar,porqueaportadotribunalseabriu.Osjuízescomeçaramasair.–Pelas barbas deMerlim! – exclamou, admirado, puxandoHarry de lado para deixar os juízes
passarem.–Vocêfoijulgadoporumtribunalcompleto?–Achoquesim–disseHarryemvozbaixa.UmoudoisbruxoscumprimentaramHarry,comacabeça,aopassarealguns,inclusiveMadame
Bones, disseram “Bom-dia, Arthur”, mas a maioria desviou o olhar. Cornélio Fudge e a bruxabufonídeaforamquaseosúltimosadeixaramasmorra.FudgeagiucomoseoSr.WeasleyeHarryfizessem parte da parede, mas outra vez a bruxa, ao passar, encarou o garoto quase como se oavaliasse.OúltimoasairfoiPercy.AexemplodeFudge,eleignoroucompletamenteopaieHarry;passoudireto,sobraçandoumgranderolodepergaminhoeumpunhadodepenassobressalentes,ascostasempertigadaseonarizempinado.As linhasao redordabocadoSr.Weasleysecontraíramligeiramente,maselenãodeunenhumaoutramostradetervistoseuterceirofilho.–Vou levá-lo direto para casa, assim, vocêpode contar aos outros as boas notícias – disse ele,
fazendo sinal a Harry para prosseguirem no momento em que os calcanhares de Percydesapareceram na escada para o nível nove. – Vou acompanhá-lo, a caminho daquele banheiropúblicoemBethnalGreen.Vamos...– Então, que é que o senhor vai ter de fazer com relação àquele banheiro? – perguntouHarry,
sorrindo.De repente tudo lhe parecia cinco vezesmais engraçado do que o normal. Começava apenetrarnasuacabeçaaideiadequeforainocentado,iavoltaraHogwarts.–Ah,éumantifeitiçobastantesimples–disseoSr.Weasleyaosubiremasescadas–,masnãoé
tantooproblemadeconsertaroestrago,émaisaatitudequeestáportrásdessevandalismo.Algunsbruxospodemacharengraçadoarmararapucasparatrouxas,masissoéumamanifestaçãodealgo
maisprofundoeperverso,enaminhaopinião...Obruxonãocontinuouafrase.Tinhamacabadodechegaraocorredordonívelnove,eCornélio
Fudge estavaparado aumapequenadistância, conversando emvozbaixa comumhomemaltodecabeloslouroselisos,eumrostopontudoepálido.Osegundohomemsevirouaosomdospassosdosrecém-chegados.Tambéminterrompeuoque
iadizendo,seusfriosolhoscinzentosseestreitaramesefixaramnorostodeHarry.–Ora,ora,ora...oPotterPatrono–exclamouLúcioMalfoycomfrieza.Harrysesentiusemfôlego,comosetivesseacabadodepenetraremumacoisasólida.Aúltimavez
queviraaquelesolhoscinzentosefriosforapelasfendasdocapuzdeumComensaldaMorte,eaúltimavezqueouvira a vozdaquelehomemele fazia caçoadas emumcemitério escuro enquantoLordeVoldemorto torturava.HarrynãoconseguiaacreditarqueLúcioMalfoy tivessecoragemdeencará-lo;nãoconseguiaacreditarqueestivessealinoMinistériodaMagia,ouqueCornélioFudgeestivesseconversandocomele,poisHarrycontaraaoministrohaviapoucassemanasqueMalfoyeraumComensaldaMorte.–Oministroestavajustamentemecontandoasortequevocêteve,Potter–disseoSr.Malfoycom
sua voz arrastada. – É surpreendente como você consegue se livrar de apertos tão extremos... naverdade,pareceatéumofídio.OSr.WeasleyapertouoombrodeHarry,alertando-o.–É–disseHarry–,soubomemfugas.LúcioMalfoyergueuosolhosparaorostodoSr.Weasley.–EArthurWeasleytambém!Queéquevocêestáfazendoaqui,Arthur?–Trabalhoaqui–respondeuelesecamente.–Nãoaqui, com certeza? – admirou-se o Sr.Malfoy, erguendo as sobrancelhas e olhando em
direçãoàporta,porcimadoombrodoSr.Weasley.–Penseiquesuasalafossenosegundoandar...vocênãofazalgumacoisaqueenvolvefurtarartefatosdetrouxaseenfeitiçá-los?–Não–retorquiuoSr.Weasley,osdedosagorafurandooombrodeHarry.–Masoqueéqueosenhorestáfazendoaqui,afinal?–perguntouHarryaLúcioMalfoy.–Acho que osmeus assuntos particulares com oministro não são da sua conta, Potter – disse
Malfoyalisandoafrentedasvestes.Harryouviudistintamenteotilintarsuavecomoodeumbolsocheiodeouro.–Francamente,sóporquevocêéogarotofavoritodeDumbledore,nãodeveesperaramesmaindulgênciadosdemais...vamosàsuasala,então,ministro?–Certamente–respondeuFudge,dandoascostasparaHarryeoSr.Weasley.–Poraqui,Lúcio.Elesseafastaramjuntos,falandoemvozbaixa.OSr.WeasleynãosoltouoombrodeHarryatéque
osbruxostivessementradonoelevador.–Por que é que ele não estava esperando à porta do escritório deFudge, se tinhamnegócios a
resolver?–explodiuHarryfurioso.–Queéqueeleestavafazendoaquiembaixo?–Tentando entrar no tribunal sem ser visto, se querminha opinião – respondeu o Sr.Weasley,
parecendoextremamente agitadoe espiandopor cimadoombrocomosequisesse se certificardequeninguémoouvia.–Tentandodescobrirsevocêtinhaounãosidoexpulso.VoudeixarumbilheteparaDumbledorequandopassarmosemcasa;eleprecisasaberqueMalfoyesteveconversandocomFudgeoutravez.–Quenegóciosparticulareselespodemteratratar?–Ouro, imagino– respondeuoSr.Weasley, zangado. –Malfoyhá anos faz doações generosas
paratodotipodecoisa...ajuda-oatravaramizadecomaspessoascertas...depoispodepedirfavores...atrasarleisquenãoquerquesejamaprovadas...ah,eleémuitobemrelacionado,esseLúcioMalfoy.Oelevadorchegou;estavavazio,excetoporumbandodememorandosqueesvoaçaramemvolta
dacabeçadoSr.WeasleyquandoeleapertouobotãoparaoÁtrioeasportassefecharam.Afastou-
os,irritado.–Sr.Weasley–disseHarrylentamente–,seFudgeestáseencontrandocomComensaisdaMorte
comoMalfoy,seestáconversandocomelesasós,comovamossabersenãolançaramaMaldiçãoImperiussobreoministro?–Nãopenseque issonão tenhanosocorrido,Harry–disseoSr.Weasleyemvozbaixa.–Mas
Dumbledore acha que, no momento, Fudge está agindo por conta própria, o que, como dizDumbledore,nãoémuitoconsolo.Émelhornãofalarmosmaisnisso,porenquanto.As portas se abriram e eles desembarcaram no Átrio quase deserto. Érico, o bruxo-segurança,
estava outra vez escondido atrás doProfetaDiário. Já haviam passado direto pela fonte de ouroquandoHarryselembrou.–Espere...–pediuaoSr.Weasleye,tirandoabolsadedinheirodobolso,voltouàfonte.Ergueuos
olhosparaorostobonitodobruxo,mas,assimdeperto,Harryachou-ofracoetolo.Osorrisodabruxa era insosso como o de uma candidata amiss, e, pelo que o garoto conhecia de duendes ecentauros, era pouco provável que fossem surpreendidos olhando tão idiotamente para um serhumano.Somenteaatitudedeabjetoservilismodoelfodomésticolhepareceuconvincente.Sorrindo,aopensarnoqueHermionediriasevisseaestátuadoelfo,Harryvirouabolsadedinheirodebocaparabaixoedespejounãoapenasdezgaleões,mastodooseuconteúdonafonte.
–Eusabia!–berrouRony,dandosocosnoar.–Vocêsempreconseguesesafar!– Eles tinham de inocentar você – disse Hermione, que parecera que ia desmaiar de ansiedade
quandoHarry entrou na cozinha, e agora levava amão trêmula aos olhos –, não tinhamum casocontravocê,nenhum.–Masvocês todosparecembemaliviados, considerandoque já sabiamque eu iame livrar das
acusações–disseHarrysorrindo.ASra.Weasleyenxugouorostonoavental,eFred,JorgeeGinaexecutaramumaespéciededança
deguerra,cantando:“Eleconseguiu,eleconseguiu,eleconseguiu...”–Chega!Sosseguem!–gritouoSr.Weasley,emborasorrisse.–Escuteaqui,Sirius,LúcioMalfoy
estavanoMinistério.–Quê?–exclamouSiriusríspido.“Eleconseguiu,eleconseguiu,eleconseguiu...”–Quietos,vocês três!NósovimosconversandocomFudgenonívelnove,depois foramjuntos
paraasaladeFudge.Dumbledoreprecisasaberdisso.–Comcerteza.Vamoscontaraele,nãosepreocupe.– Bem, é melhor eu ir andando, tem um vaso sanitário vomitando em Bethnal Green à minha
espera.Molly, vou chegar tarde, precisarei cobrir a ausência deTonks,mas oQuim talvez venhajantar...“Eleconseguiu,eleconseguiu,eleconseguiu...”–Agorachega...Fred...Jorge...Gina–disseaSra.Weasley,quandoomaridodeixouacozinha.–
Harry,querido,venhasesentar,almocealgumacoisa,vocêquasenãocomeunocafédamanhã.Rony e Hermione se sentaram à frente do amigo, parecendomais felizes do que nos dias que
sucederam à chegada dele ao largoGrimmauld, e o alívio eufórico queHarry sentira, um poucoafetadopeloencontrocomLúcioMalfoy,tornouacrescer.Acasasombriapareciaderepentemaiscalorosaemaishospitaleira;atéMonstropareceumenosfeioquandometeuseunariztrombudonacozinhaparainvestigararazãodetodoaquelebarulho.–ÉclaroqueumavezqueDumbledoreapareceuemsuadefesa,nãohavia jeitodecondenarem
você–disseRony,feliz,agoraservindoenormescolheradasdepurêdebatatasnospratosdetodos.
–É,elevirouacorteameufavor–disseHarry.Achou,porém,queiaparecermuitaingratidão,para não dizer infantilidade, comentar: “Mas eu gostaria que ele tivesse falado comigo. Ou pelomenosolhadoparamim.”Aopensarnisso,suacicatrizardeucomtantaintensidadequeelelevoudepressaamãoàtesta.–Quefoi?–perguntouHermione,assustada.–Cicatriz–murmurouHarry.–Masnãoénada...aconteceotempotodoagora...Nenhumdosoutrosrepararaemnada;todosagoraseserviameseregozijavamqueHarrytivesse
escapado por um triz; Fred, Jorge e Gina ainda cantavam, Hermione demonstrava uma certaansiedade,mas,antesquepudessedizeralgumacoisa,Ronyfaloualegremente:–ApostocomoDumbledorevaiaparecerhojeànoiteparafestejarcomagente,sabe?–Não acho que ele vá poder, Rony – disse a Sra.Weasley, pousando uma enorme travessa de
galinhaassadaàfrentedeHarry.–Eleestárealmentemuitoocupadonomomento.“ELECONSEGUIU,ELECONSEGUIU,ELECONSEGUIU...”–CALEMABOCA!–berrouaSra.Weasley.
Nos dias que se seguiram Harry não pôde deixar de reparar que havia uma pessoa no largoGrimmauld,númerodoze,quenãopareciamuitofelizcomasuavoltaaHogwarts.Siriusencenaraumagrandedemonstraçãode felicidade logoque recebeuanotícia,apertouamãodeHarryedeugrandes sorrisos como todos os outros.Mas, não demoroumuito, foi ficandomais triste emaiscarrancudodoqueantes,falandomenoscomaspessoas,atémesmocomHarry,epassandocadavezmaistempotrancadonoquartodamãe,comBicuço.–Paredesesentirculpado!–disseHermionecomseveridade,depoisqueHarrydesabafouseus
sentimentoscomelaeRony,enquantofaxinavamumarmáriomofadonoterceiroandar,algunsdiasmais tarde. – O seu lugar é emHogwarts, e Sirius sabe disso. Naminha opinião, ele está sendoegoísta.– Você está sendo um pouco dura, Hermione – disse Rony, franzindo a testa enquanto tentava
retirarumpoucodomofoagarradoemseudedo–,vocênãogostariadeficarpresanestacasasemtercompanhia.–Elevaitermuitacompanhia!–disseHermione.–AquiéasededaOrdemdaFênix,nãoé?Eleé
queandoualimentandoesperançasdequeHarryviessemoraraqui.–Nãoachoquesejaverdade–disseHarry,torcendoopanodelimpeza.–Elenãoquismedaruma
respostadiretaquandopergunteisepodia.–Elenãoqueriaeraaumentaraindamaisasesperançasdele–respondeuHermionesensatamente.
– E é provável que se sentisse um pouco culpado, porque acho que em parte estava realmentedesejandoquevocêfosseexpulso.Entãoosdoisseriammarginalizadosjuntos.–Ah,para com isso!– exclamaramHarryeRonyaomesmo tempo,masHermionemeramente
encolheuosombros.–Comoquiserem.MasàsvezesachoqueamãedeRonyestácerta,eSiriusseconfunde,semsaber
sevocêévocêmesmoouseupai,Harry.–Entãovocêachaqueeleestámeiobiruta?–indagouHarry,inflamado.–Não,sóachoquepassoumuitotemposozinho–respondeuHermionecomsimplicidade.Nestepontodaconversa,aSra.Weasleyentrounoquartoportrásdosmeninos.–Aindanãoacabaram?–perguntou,metendoacabeçanoarmário.– Pensei que a senhora estivesse aqui paramandar a gente fazer uma pausa! – disseRony com
amargura.–Sabequantomofonóslimpamosdesdequechegamosaqui?–VocêsestavamtãodispostosaajudaraOrdem–respondeuaSra.Weasley–,quetalfazerema
suaparte,deixandoasededecenteparapodermosvivernela?
–Estoumesentindoumelfodoméstico–resmungouRony.–Bem,agoraquevocêconheceavidahorrívelqueeles levam,quemsabevaiquererparticipar
maisativamentedoFALE!–disseHermioneesperançosa,quandoaSra.Weasley saiueosdeixoucontinuar. –Sabe, talveznão fossemá ideiamostrar às pessoasohorror que éviver limpando ascoisas,poderíamospromoveropatrocíniodeumafaxinadasalacomunaldaGrifinória,emquetodaarendarevertesseparaoFALE;issoampliariaaconsciênciaeosfundosdomovimento.–Voupatrocinar éo seu silêncioa respeitodoFALE– resmungouRony irritado,mas somente
Harrypôdeouvi-lo.
Harry viu-se devaneando cada vez mais sobre Hogwarts à medida que o fim das férias seaproximava;malpodiaesperarparareverHagrid,jogarquadriboleatéandarpelashortasacaminhodaestufadeHerbologia;jáseriaumafestaetantodeixaressacasapoeirentaemofada,ondemetadedos armários continuava trancada e Monstro chiava desaforos, escondido nas sombras quandoalguémpassava, emboraHarry tivesseo cuidadodenão comentar nadadissoondeSiriuspudesseouvi-lo.Ofatoeraquemorarnasededomovimentoanti-Voldemortnãoeranemdelongeinteressanteou
excitantecomoHarryteriaesperadoquefosseantesdeexperimentar.EmboraosmembrosdaOrdementrassemesaíssemregularmente,porvezesficassemparacomer,eoutrasvezesgastassemapenasunsminutinhosconversandoaoscochichos,aSra.WeasleytomavaprovidênciasparaqueHarryeosoutrosestivessembemlongeparanãoouvir(fossecomosouvidosdesarmados,fossearmadoscomasOrelhasExtensíveis)eninguém,nemmesmoSirius,pareciaacharqueHarryprecisassesabernadaalémdoquejáouvirananoitedachegada.Noúltimodia de férias,Harry estava retirando a titica deEdwiges do topo do armário quando
Ronyentrounoquartotrazendounsenvelopes.–Chegaramaslistasdematerial–anunciou,atirandoumdosenvelopesparaHarry,queestavaem
cimadeumacadeira.– Já não era sem tempo, pensei que tivessemesquecido, emgeralmandamas listasmuitomais
cedo...Harryvarreuaúltimatiticaparadentrodeumsacodelixoeatirou-o,porcimadacabeçadeRony,
nalixeiraaumcanto,queoengoliuesoltouumsonoroarroto.Abriuentãosuacarta.Continhaduasfolhas de pergaminho: uma era o aviso habitual de que o trimestre começaria em primeiro desetembro;aoutralistavaoslivrosdequeiriaprecisarduranteoanoletivo.– Somente dois livros novos – comentou ele passando os olhos na lista. –O livro padrão de
feitiços,5a.série,deMirandaGoshawk,eTeoriadadefesaemmagia,deWilbertoSlinkhard.Craque.Fred e Jorge aparataram bem ao seu lado. O garoto agora já estava tão acostumado com esse
hábitodosgêmeosquenemaomenoscaiudacadeira.–Estávamos justamente imaginandoquem teria escolhido o livro deSlinkhard – disseFred em
tomdeconversa.–PorqueistosignificaqueDumbledorearranjouumnovoprofessordeDefesaContraasArtesdas
Trevas–disseJorge.–Ejánãoerasemtempo–comentouFred.–Comoassim?–perguntouHarry,saltandodacadeiraparaoladodeles.–Bom,ouvimos,comasOrelhas,mamãeepapaiconversandoháumassemanas–explicouFreda
Harry–,e,peloquediziam,Dumbledoreestavatendomuitadificuldadedeencontraralguémparaocargoesteano.–O que não é nenhuma surpresa, quando a gente se lembra do que aconteceu com os últimos
quatro–disseJorge.–Umfoidespedido,ummorreu,umteveamemóriaapagadaeumpassounovemesestrancado
emummalão–disseHarry,contandonosdedos.–É,dáparaentenderoquevocêquerdizer.–Queéquehácomvocê,Rony?–indagouFred.Rony não respondeu. Harry virou a cabeça. Seu amigo estava muito quieto, com a boca meio
aberta,olhandoparaacartadeHogwarts.–Qualéoproblema?–perguntouFredimpaciente,dandoavoltaparaespiaropergaminhopor
cimadoombrodoirmão.AbocadeFredescancarou-setambém.–Monitor?!–exclamou,olhandoincréduloparaacarta.–Monitor?Jorgedeuumpuloàfrente,puxouacartadamãodeRonyevirou-adecabeçaparabaixo.Harry
viuumacoisavermelhaedouradacairnapalmadamãodeJorge.–Nempensar–disseJorgeemvozbaixa.–Houveumengano–disseFred,arrebatandoacartadamãodeRonyesegurando-acontraaluz,
comoseprocurasseamarca-d’água.–NinguémcomojuízoperfeitonomeariaRonymonitor.Ascabeçasdosgêmeosseviraramaomesmotempo,ejuntosencararamHarry.– Achamos que só poderia ser você! – disse Fred num tom que sugeria que Harry os havia
enganado.–AchamosqueDumbledoreteriadeescolhervocê!–exclamouJorgeindignado.–DepoisdevenceroTribruxoetudoomais–disseFred.–Suponhoquetodaessahistóriadeloucuradevetercontadopontoscontraele–comentouJorge
paraFred.–É–concordouFredlentamente.–É,vocêcrioumuitaconfusão,cara.Bem,pelomenosumde
vocêsentendeuasprioridadesdelescorretamente.E, aproximando-se de Harry, deu-lhe uma palmada nas costas, aomesmo tempo que lançava a
Ronyumolharfulminante.–Monitor...Roniquinho,oMonitor.– Ah, mamãe vai dar náuseas – gemeu Jorge, atirando o distintivo de volta a Rony como se
quisesseevitarcontaminação.Rony,queaindanãodisseraumapalavra,apanhouodistintivo,contemplou-oporummomento,
entãoestendeu-o,calado,paraHarry,comosepedisseumaconfirmaçãodequeeraautêntico.Harryorecebeu.Haviaumgrande“M”sobrepostoaoleãodeGrifinória.ViraumdistintivoexatamenteigualnopeitodePercyemseuprimeirodiadeHogwarts.Aportaseabriucomestrondo.Hermioneentroucorrendonoquarto,asbochechasvermelhaseos
cabelosesvoaçando.Traziaumenvelopenamão.–Você...vocêrecebeu...?ElaviuodistintivonamãodeHarryesoltouumgritoagudo.–Eusabia!–exclamou,excitada,brandindoacartanamão.–Eutambém,Harry,eutambém!–Não–apressou-seHarryadizer,devolvendoodistintivoaRony.–FoioRonyenãoeu.–É...oquê?–Ronyéomonitorenãoeu–explicouHarry.–Rony?–admirou-seHermione,dequeixocaído.–Mas...vocêtemcerteza?Querodizer...AgarotaficoumuitovermelhaquandoRonysevirouparaelacomumaexpressãodedesafiono
rosto.–Éomeunomequeestánacarta.–Eu...–começouHermionetotalmenteperplexa.–Eu...bem...uau!Parabéns,Rony.Érealmente...–Inesperado–concluiuJorge,confirmandocomacabeça.
–Não–disseHermione, ficandomaisvermelhaquenunca–,não,nãoéque...Ronyfezmontesde...elerealmente...AportaàscostasdosgarotosseabriuumpoucomaiseaSra.Weasleyentroudemarchaaréno
quarto,trazendoumapilhadevestesrecém-lavadas.– Gina me disse que as listas de material afinal chegaram – disse ela, vendo todos aqueles
envelopes ao se dirigir à cama onde começou a separar as vestes em duas pilhas. – Se vocêsmeentregaremaslistas,ireiatéoBecoDiagonalhojeàtardeecomprareitudo,enquantovocêsfazemasmalas.Rony, terei de comprarmais pijamas para você, estes estão nomínimo quinze centímetrosmaiscurtosdoquedeveriam.Nãoconsigoacreditarcomovocêestácrescendotãodepressa...quecorvocêgostaria?–Comprevermelhoedouradoparacombinarcomodistintivo–disseJorge,rindo.– Combinar com o quê? – perguntou a Sra. Weasley, distraída, enrolando um par de meias
castanho-avermelhadasedepositando-asnapilhadeRony.–Odistintivo dele – repetiuFred, comar dequemquer acabar depressa comapior parte. –O
novo,beloereluzentedistintivodemonitordele.ApreocupaçãocomospijamasimpediuqueaSra.Weasleyentendesseimediatamenteaspalavras
deFred.–Dele...mas...Rony,vocênãoé...?Ronymostrouodistintivo.ASra.WeasleysoltouumgritoagudoigualaodeHermione.–Eunãoacredito!Eunãoacredito!Ah,Rony,quemaravilha!Monitor!Comotodosnafamília!–QueéqueFredeeusomos,filhosdovizinho?–perguntouJorgeindignado,enquantoamãeo
empurravaparaoladoeabriaosbraçosparaapertarofilhomaisnovo.–Esperesóatéoseupaisaber!Rony,estoutãoorgulhosadevocê,quenotíciamaravilhosa,você
podeacabarmonitor-chefecomoGuiePercy,esseéoprimeiropasso.Ah,quecoisaparaacontecernomeiodetodaessapreocupação,estouencantada,ah,Roninho...FredeJorgeestavamfingindograndesânsiasdevômitoàscostasdamãe,masaSra.Weasleynem
reparou:osbraçosapertadosemtornodopescoçodeRony,elaobeijavapor todoorosto,quesetornaravermelhomaisintensodoqueodistintivo.–Mamãe...não...mamãe,secontrola...–murmuravaele,tentandoafastá-la.Elaosoltou,edisseofegante:–Bom,entãooquevaiser?DemosaPercyumacoruja,masnaturalmentevocêjátemuma.–Q-queéquevocêquerdizer?–perguntouogaroto,comcaradequemnãoousaacreditarnoque
estáouvindo.–Vocêtemdeganharumarecompensaporisso!–disseaSra.Weasleycarinhosamente.–Quetal
umbeloconjuntodevestesarigor?–Jácompramosissoparaele–disseFredcomamargura,parecendosinceramentearrependidode
suagenerosidade.–Ouumcaldeirãonovo,ovelhocaldeirãodeCarlinhosestátodoenferrujado,ouumratonovo,
vocêsempregostoudoPerebas...–Mamãe–pediuRonyesperançoso–,possoganharumavassouranova?ASra.Weasleypareceuligeiramentedesapontada;vassouraseramcaras.– Não precisa ser uma realmente boa! – Rony se apressou a acrescentar. – Só... só nova para
variar...ASra.Weasleyhesitou,emseguidasorriu.–Claroquepode...bem,entãoémelhoreuirandandosetenhodecomprarumavassouratambém.
Vejovocêsmaistarde...meuRoniquinho,monitor!Enãoseesqueçadefazersuasmalas...monitor...
ah,estouvibrando!EladeumaisumbeijonabochechadeRony,fungoualtoesaiuapressadadoquarto.FredeJorgeseentreolharam.–Vocênãoseincomodaseagentenãobeijarvocê,nãoé,Rony?–perguntouFred,numtomde
fingidaansiedade.–Podemosfazerumareverência,sevocêquiser–sugeriuJorge.–Ah,calemaboca–disseRony,amarrandoacaraparaosirmãos.–Senão?–disseFred,comumsorrisomalignoseespalhandopelorosto.–Vainostascaruma
detenção?–Euadorariaqueeletentasse–debochouJorge.–Eelepode,sevocêsnãosecuidarem!–disseHermioneaborrecida.Osgêmeoscaíramnagargalhada,eRonymurmurou:–Deixapralá,Mione.–Vamos terde tomarcuidadocomoque fizermos, Jorge–disseFred, fingindo tremer–,com
essesdoisatrásdagente...–É,parecequeosnossosdiasdedesrespeitoàleifinalmenteterminaram–disseJorge,sacudindo
acabeça.E,commaisumbarulhentocraque,osgêmeosdesaparataram.–Essedois–exclamouHermionefuriosa,olhandoparaoteto,peloqualelesagoraouviamFrede
Jorgeriràsgargalhadasnoquartodecima.–Nãoligueparaeles,Rony,sóestãocomciúmes!–Nãoachoqueestejam–disseRonyemdúvida,olhandoparaoteto.–Elessempredisseramque
sóbabacasvirammonitores...aindaassim–acrescentoumaisalegre–,elesnuncativeramvassourasnovas!Eugostariadeircommamãeescolher...elanuncaterádinheiroparaumaNimbus,massaiuuma Cleansweep que seria ótima... é, acho que vou dizer a ela que gostaria de ganhar umaCleansweep,sóparaelasaber...Esaiucorrendodoquarto,deixandoHarryeHermionesozinhos.Por alguma razão, Harry achou que não queria olhar para a amiga. Virouse para sua cama,
apanhouapilhadevesteslimpasqueaSra.Weasleytinhadeixadoalielevou-asparaooutroladodoquartoondeestavaoseumalão.–Harry?–chamouHermionehesitante.–Parabéns,Mione – disse ele, tão efusivamente que nemparecia sua voz, e ainda semolhar –,
genial.Monitora.Legal.–Obrigada–disseagarota.–Hum...Harry...possopediraEdwigesemprestadaparamandardizer
àmamãeaaopapai?Elesvãoficarrealmentesatisfeitos...querodizer,monitoréumacoisaqueelesconseguementender.–Pode, semproblema– respondeu, aindacomaquelahorrível cordialidadenavozquenãoera
sua.–Podelevar!Harry se inclinouparaomalão,depositouasvestesno fundoe fingiuestarprocurandoalguma
coisa, enquanto Hermione ia até o armário e pedia a Edwiges para descer. Alguns minutos sepassaram;Harryouviuaportafechar,mascontinuoucurvado,escutando;osúnicossonsqueouviaeramosdoretratovazionaparededandorisadinhaseacestadelixonocantoregurgitandoatiticadecoruja.Ele se endireitou e olhou para trás. Hermione saíra e levara com ela Edwiges. Harry voltou
vagarosamenteatésuacamaeselargounela,fixandooolhar,semver,naparteinferiordoarmário.Esquecera completamente que osmonitores eram escolhidos no quinto ano.Estivera demasiado
ansiosocomapossibilidadedeserexpulsoparasequerpensarqueosdistintivosdeviamestarsendoenviadosparacertaspessoas.Masseeletivesselembrado...tivessepensado...queteriaesperado?
Nãoisso,disseumavozinhasinceradentrodesuacabeça.Harryamarrouacaraeenterrou-anasmãos.Nãopodiamentirparasimesmo;setivessesabido
queodistintivodemonitor estava a caminho, teria esperadoqueviessepara ele enãoparaRony.SeráqueistoofaziatãoarrogantequantoDracoMalfoy?Seráqueseachavasuperioratodos?SeráquerealmenteacreditavaqueeramelhordoqueRony?Não,disseavozinhadesafiando-o.–Seriaverdade?–Harryseperguntou,sondandoansiosamenteosprópriossentimentos.Soumelhoremquadribol,disseavoz.Masnãosoumelhoremmaisnada.Oquedecididamenteeraverdade,pensouHarry;nãoeramelhorqueRonynasaulas.Masenas
aulas externas?Enaquelas aventuras que ele,Rony eHermioneviviam juntos desde que entraramparaHogwarts,muitasvezescorrendoriscosmaioresqueaexpulsão?Bom,RonyeHermioneestiveramcomigonamaiorpartedotempo,disseavoznacabeçadeHarry.Masnãootempotodo,argumentouHarry.ElesnãolutaramcontraQuirrell.Elesnãoenfrentaram
oRiddlenemobasilisco.ElesnãoselivraramdosdementadoresnanoiteemqueSiriusfugiu.Elesnãoestiveramnocemitério,nanoiteemqueVoldemortvoltou...E omesmo sentimento de estar sendousado, que o invadira na noite emque chegara, tornou a
despertar.Decididamenteeufizmais,pensouindignado.Fizmaisdoquequalquerumdeles!Mas talvez, disse a vozinha com imparcialidade, tal vez Dumbledore não escolha os monitores
porqueelesvivamsemetendoemsituaçõesperigosas...talvezeleosescolhaporoutrasrazões...Ronydeveteralgumacoisaquevocênãotem...Harryabriuosolhosefixou,porentreosdedos,ospésdegarradoarmário,lembrando-sedoque
Freddissera:“NinguémcomojuízoperfeitonomeariaRonymonitor...”Harrysoltouumarisadaabafada.Umsegundodepoissentiunojodesimesmo.RonynãopediraaDumbledoreparalhedarodistintivodemonitor.NãoeraculpadeRony.Será
que ele, Harry, omelhor amigo de Rony nomundo, ia ficar emburrado porque não ganhara umdistintivo,iarircomosgêmeosàscostasdoamigo,estragar,paraRony,estemomentoemque,pelaprimeiravez,elelevavaamelhorsobreHarryemalgumacoisa?Neste ponto, ele ouviu os passos de Rony subindo a escada. Ficou em pé, ajeitou os óculos e
engrenouumsorrisoquandoRonyembarafustoupelaporta.–Apanhei-abememtempo!–dissefeliz.–EladissequevaicompraraCleansweep,sepuder.–Legal!–exclamouHarry,esentiualívioaoperceberquesuavozperderaafalsacordialidade.–
Escuteaqui...Rony...parabéns,cara.OsorrisodesapareceudorostodeRony.–Eununcapenseiqueseriaeu!–disse,sacudindoacabeça.–Penseiqueseriavocê!–Nah,eucrieimuitosproblemas–disseHarry,fazendocoroaFred.–É,é,suponho...bom,émelhoragentefazerasmalas,nãoacha?Eraestranhocomoospertencesdosdoispareciamter-seespalhadodesdequehaviamchegadoali.
Levaramquaseatardeinteiraparareuniroslivroseoutrascoisaslargadaspelacasaeguardá-lasdevoltanosmalõesdeescola.Harryreparouqueoamigonãoparavademexernodistintivo,primeirocolocou-osobreamesadecabeceira,depoisguardou-onobolsodajeans,porfimtirou-oeajeitou-o sobre as vestes dobradas, como se quisesse ver o efeito do vermelho sobre o negro. SomentequandoFredeJorgeaparecerameseofereceramparaprendê-loàtestadelecomumFeitiçoAdesivoPermanente,équeeleoembrulhoucarinhosamentenasmeiascastanhasetrancou-onomalão.ASra.WeasleyvoltoudoBecoDiagonalporvoltadeseishoras,carregadadelivrosemaisum
embrulho comprido, de papel pardo grosso, que Rony tirou das mãos dela com um gemido dedesejo.– Não precisa desembrulhar agora, as pessoas estão chegando para o jantar, quero todos lá
embaixo–disseamãe;mas,no instanteemqueeladesapareceudevista,ogarotorasgouopapelnumfrenesieexaminoucadacentímetrodavassouranova,comumaexpressãodeêxtasenorosto.Embaixo,noporão,aSra.Weasleypendurouumaflâmulavermelhasobreamesadejantarcoberta
deiguarias,emqueselia:
PARABÉNSRONYEHERMIONEOSNOVOSMONITORES
ElapareciamuitomaisanimadadoqueHarryaviradurantetodooperíododasférias.–Pensei em fazeruma festinhaenãoum jantar àmesa–disse aHarry,Rony,Hermione,Fred,
JorgeeGinaquandoelesentraramnoaposento.–SeupaieGuiestãoacaminho,Rony.Despacheicorujasparaosdois,eelesficaramentusiasmados–acrescentousorridente.Fredgirouosolhosparaoteto.Sirius,Lupin,TonkseQuimShacklebolt jáestavamali,eOlho-TontoMoodychegou,batendoa
pernadepau,logodepoisdeHarryseservirdeumacervejaamanteigada.–Ah,Alastor,quebomquevocêestáaqui–cumprimentouaSra.Weasleyanimada,quandoOlho-
Tontosacudiudocorpoacapadeviagem.–Háséculosqueandamosquerendopediravocê:seráquepodiadarumaolhadanaescrivaninhadasaladevisitasenosdizeroqueéquetemládentro?Nãoquisemosabri-la,porquepodeseralgumacoisarealmenteruim.–Podedeixarcomigo,Molly...OolhoazulelétricodeMoodygirouparaoaltoefixou-senotetodacozinha,transpassando-o.–Saladevisitas...–rosnouàmedidaquesuapupilasecontraía.–Escrivaninhanocanto?É,estou
vendo...é,éumbicho-papão...querqueeusubaemelivredele,Molly?– Não, não, eu mesma farei isso mais tarde – sorriu a Sra.Weasley –, tome a sua bebida. Na
verdadeestamos fazendoumapequenacomemoração...–disse, indicandoa flâmulavermelha.–Oquartomonitornafamília!–dissecomcarinho,arrepiandooscabelosdeRony.–Monitor, eh?– resmungouMoody, seuolhonormal fixando-se emRony eomágicogirando
para olhar um lado da própria cabeça. Harry teve a sensação muito desagradável de que ele oobservava, e afastou-se emdireção aSirius eLupin. –Bem, entãomeus parabéns – disseMoody,aindaolhandoparaRonycomoolhonormal–,figurasdeautoridadesempreatraemproblemas,massuponhoqueDumbledoreoconsiderecapazderesistiràmaioriadasprincipaisazarações,ounãooterianomeado...Rony pareceu bastante espantado com esta opinião, mas não foi preciso responder graças à
chegada do pai e do irmãomais velho.ASra.Weasley estava de tão bomhumor que nem sequerreclamou de terem trazido Mundungo com eles; o bruxo usava um casaco longo que pareciaestranhamentevolumosoemlugaresimprováveis,enãoaceitouooferecimentodetirá-loeguardá-lojuntoàcapadeviagemdeMoody.–Bom,achoqueaocasiãopedeumbrinde–disseoSr.Weasley,depoisquetodosseserviramde
bebidas.Eleergueuocálice.–ARonyeHermione,osnovosmonitoresdaGrifinória!Osdoisgarotossorriramenquantotodosbrindavameemseguidaosaplaudiam.– Eu nunca fui monitora – disse Tonks animada, às costas de Harry, quando os convidados se
aproximaram da mesa para se servir. Seus cabelos hoje estavam vermelho-tomate e batiam nacintura; ela parecia a irmãmais velhadeGina. –Adiretora daminha casadisse queme faltavamcertasqualidadesnecessárias.–Quais,porexemplo?–perguntouGina,queestavaescolhendoumabatataassada.–Acapacidadedemecomportar–disseTonks.Ginariu;Hermioneparecianãosaberseriaounão,eescolheuummeio-termo,servindo-sedeum
goleexageradodecervejaamanteigadaeseengasgando.
–Evocê,Sirius?–perguntouGina,batendonascostasdeHermione.Sirius,queestavabemaoladodeHarry,soltouarisadadesempre,quelembravaumlatido.–Ninguémteriamenomeadomonitor,eupassava tempodemaisdetidocomTiago.Lupinerao
garotobem-comportado,eleganhouodistintivo.–AchoqueDumbledoretalveztivesseesperançasdequeeufossecapazdeexerceralgumcontrole
sobreosmeusmelhoresamigos–disseLupin.–Nãoprecisodizerquefalheimiseravelmente.OestadodeânimodeHarrysubitamentemelhorou.Seupaitambémnãoforamonitor.Derepente,
afestapareceumuitomaisdivertida;encheuseuprato,sentindogostarduasvezesmaisdetodosqueestavampresentes.Ronyelogiavacomentusiasmoasqualidadesdesuavassouranovaparaquemquisesseouvi-lo.– ...dezeroacemquilômetrosemdezsegundos,nadamal,hein?QuandosepensaqueaComet
290sóatingianoventaecinco,eissocomumbomventodecauda,segundooQueVassoura?.HermioneestavaconversandomuitosériacomLupinsobresuasideiasarespeitodosdireitosdos
elfos.–Quero dizer, é omesmo tipo de absurdo que a segregação de lobisomens, não é? Tudo isso
parecenascerdessahorrívelmaneiradosbruxosseacharemsuperioresaosoutrosseres...ASra.WeasleyeGuirequentavamamesmadiscussãodesempresobreocabelodorapaz.–...estárealmentepassandodoslimites,evocêétãobonito,ficariamuitomelhorseoscortasse
maiscurtos,vocênãoacha,Harry?–Ah... não sei... – disseHarry, ligeiramente assustado por perguntarem sua opinião; afastou-se
discretamenteefoiemdireçãoaFredeJorge,queestavamagrupadosemumcantocomMundungo.O bruxo parou de falar quando avistou Harry, mas Fred deu uma piscadela e fez sinal para o
garotoseaproximar.– Tudo bem – disse ele aMundungo –, podemos confiar noHarry, é ele quem nos dá suporte
financeiro.–OlhasóoqueoDungaarranjouparanós–disseJorge,estendendoamãoparaHarry.Estava
cheia de alguma coisa que lembrava vagens murchas. Produziam um barulhinho abafado dechocalho,emboraestivessemcompletamenteparadas.–Sementesdetentáculosvenenosos–esclareceuJorge.–PrecisamosdelasparaokitMata-Aula,
massãosubstânciasnãocomerciáveisclasseC,porissoestamostendodificuldadeparacomprá-las.–Dezgaleõesapartidaentão,Dunga?–perguntouFred.– Com todo o trabalho que tive para conseguir essas? – exclamou Mundungo, seus olhos
empapuçadosevermelhossearregalandoaindamais.–Lamento,rapazes,masnãoestouaceitandonemumnuquemenosdevinte.–Dungagostadefazerpiadinhas–disseFredaHarry.–É,amelhoratéagorafoipedirseissiclesporumsacodeespinhosdeouriço–disseJorge.–Cuidado–alertou-osHarryemvozbaixa.–Quê?–admirou-seFred.–Mamãeestáocupada,arrulhandoemvoltadomonitorRony,estamos
seguros.–MasMoodypodeestardeolhoemvocês–lembrouHarry.Mundungoespiounervosoporcimadoombro.–Bemlembrado–resmungou.–Tudobem,rapazes,dezentão,selevaremtudodepressa.–Valeu,Harry! – exclamouFred, encantado, enquantoMundungo esvaziou os bolsos nasmãos
estendidasdosgêmeosesaíarápidoemdireçãoàcomida.–Émelhorlevarmosissoparacima...Harry observou os garotos se afastarem, sentindo-se ligeiramente apreensivo. Acabara de lhe
ocorrerqueoSr.eaSra.WeasleyiamquerersabercomoéqueFredeJorgeestavamfinanciandoosartigospara sua lojaquando finalmentedescobrissem–oqueera inevitável–quea loja jáestava
funcionando.DoaraosgêmeosoprêmiodoTribruxopareceraaHarry,naépoca,umacoisasimples,maseseissoacabasseprovocandooutrabrigadefamíliaeumrompimentocomoodePercy?Seráque aSra.Weasley ainda considerariaHarry comoum filho sedescobrisseque ele possibilitara aFredeJorgeiniciarumacarreiraqueelaachavainadequada?Paradoondeosgêmeosohaviamdeixado,tendoporcompanhiaapenasaculpaquelhepesavana
boca do estômago, Harry ouviu alguém dizer seu nome. A voz grave e ressonante de QuimShacklebolteraaudívelmesmonomeiodetodaaconversa.–...porqueDumbledorenãopromoveuPotteramonitor?–indagavaQuim.–Devetertidosuasrazões–respondeuLupin.– Mas teria demonstrado sua confiança nele. É o que eu teria feito – insistiu Quim –,
principalmentecomoProfetaDiárioaatacá-locomtantafrequência...Harrynãovirouacabeça;nãoqueriaqueLupinnemQuimsoubessemqueentreouvira.Embora
nãosentisseamenorfome,acompanhouMundungodevoltaàmesa.Seuprazernafestaseevaporaracomamesmavelocidadecomquesurgiu;eledesejouestardeitadoemseuquarto.Olho-TontoMoodycheiravaumacoxadegalinhacomoquelhesobraradonariz;evidentemente
nãoconseguiupercebervestígioalgumdeveneno,porqueemseguidaarrancouumnacocomumadentada.–...opunhoéfeitodecarvalhoamericanocomumvernizantiazaraçãoetemcontroleantivibração
embutido–diziaRonyaTonks.ASra.Weasleydeuumgrandebocejo.–Bem,achoquevoudarumjeitonaquelebicho-papãoantesdeirdormir...Arthur,nãoqueroesse
pessoalzinhoacordadoatétarde,estábem?Boa-noite,Harry,querido.Ela saiu da cozinha. Harry pousou o prato e se perguntou se conseguiria segui-la sem chamar
atenção.–Vocêestábem,Potter?–perguntouMoody.–Tô,ótimo–mentiuHarry.Moody tomou um gole do frasco de bolso, seu olho azul elétrico olhando de esguelha para o
garoto.–Vemcá,tenhoumacoisaquetalvezlheinteresse–disse.Deumbolsointernodasvestes,Moodytirouumavelhafoto-bruxamuitodanificada.–AOrdemdaFênixoriginal–rosnou.–Encontrei-aànoitepassadaquandoestavaprocurandoa
minha Capa da Invisibilidade sobressalente e, como Podmore ainda não teve a boa educação dedevolveraminhaboa...,penseiqueopessoaltalvezgostassedeverisso.Harryapanhouafoto.Umpequenogrupodebruxos,algunsacenandoparaele,outroserguendoos
copos,retribuindoseuolhar.–Aquelesoueu–disseMoody,apontandoaprópriaimagemsemnecessidade.OMoodynafoto
erainconfundível,emboraocabeloestivesseumpoucomenosgrisalhoeonariz,intacto.–EaliéDumbledoreaomeulado,DédaloDiggledooutrolado...essaéMarleneMcKinnon,foimortaduassemanas depois de tirarmos a foto, pegaram toda a família dela. Estes são Franco e AliceLongbottom...OestômagodeHarry,jámeioembrulhado,contraiu-seaoolharparaAliceLongbottom;conhecia
aquele rosto redondo e simpáticomuito bem, embora nunca a tivesse visto, porque era a cara dofilho,Neville.– ... coitados– resmungouMoody.–Melhormorrerdoquepassarpeloquepassaram...eessaé
EmelinaVance,vocêjáaconheceu,eaqueleéLupin,obviamente...BeijoFenwick,eletambémsofreumuito,sóencontramospedacinhosdele...cheguemparalá–acrescentou,metendoodedonafoto,eas pessoas fotografadas se deslocaram para o lado, para que outras, que estavam parcialmente na
sombra,pudessempassaraoprimeiroplano.–EsseéEdgarBones...irmãodeAméliaBones,pegarameleeafamíliatambém,eraumgrande
bruxo...EstúrgioPodmore,pombas,comoestá jovem...CarátacoDearborndesapareceuseismesesdepois da foto, nunca encontramos seu corpo...Hagrid, naturalmente, parece exatamente o que é...ElifasDoge, você o conheceu, tinhame esquecido que usava esse chapéu idiota...GideãoPrewett,foram precisos cinco Comensais da Morte para matá-lo e matar o irmão Fábio, lutaram comoheróis...mexam-se,mexam-se...Asfigurinhasnafotosemisturaram,easqueestavamescondidasbematrásapareceramàfrente.–EsseéoirmãodeDumbledore,Aberforth,aúnicavezqueovi,sujeitoesquisito...essaéDorcas
Meadowes,Voldemortamatoupessoalmente...Sirius,quandoaindausavacabeloscurtos...e...estãotodosaí,acheiquevocêseinteressaria!OcoraçãodeHarrydeuumacambalhota.Seupaiesuamãeestavamsorrindoparaele,sentados
umdecada ladodeumhomenzinhodeolhosaguadosqueHarry reconheceu imediatamentecomoRabicho,oquehaviadenunciadooparadeirodosdoisaVoldemortecomissoprovocaraamortedeles.–Eh?!–exclamouMoody.HarryergueuosolhosparaorostocheiodecicatrizesemarcasdeMoody.Eleevidentementetinha
aimpressãodequeacabarademostraraHarryumacoisaboa.–É–disseogaroto,maisumaveztentandosorrir.–Hum...escute,acabeidemelembrar,ainda
nãoguardeiomeu...Elefoipoupadodotrabalhodeinventarumobjetoqueaindanãotivesseguardado.Siriusacabara
dedizer.–QueéissoquevocêtemaíOlho-Tonto?EMoodyvoltousuaatençãoparaSirius.Harryatravessouacozinha,saiudiscretamentepelaporta
esubiuasescadasantesquealguémochamassedevolta.Nãosabiadizerporqueficaratãochocado;afinal,jávirafotosdosseuspaisantesejáconhecera
Rabicho...mas o fato de alguémmostrá-los assim, de repente, quandomenos esperava... ninguémgostariadisso,pensouenraivecido...E ainda por cima, vê-los cercados por todas aquelas caras felizes... Beijo Fenwick, que fora
encontrado em pedacinhos, e Gideão, que morrera como herói, e os Longbottom, que foramtorturados até enlouquecer... todos acenando, felizes, na foto, para sempre, sem saber que estavamcondenados...bom,Moodytalvezachasseissointeressante...ele,Harry,achavaperturbador...Ogarotosubiuasescadas,péantepé,atéocorredor,passoupelascabeçasempalhadasdoselfos,
satisfeitodeestarsozinho,mas,aoseaproximardoprimeiropatamar,ouviuruídos.Alguémestavasoluçandonasaladevisitas.–Olá?–chamou.Nãohouve resposta,masos soluços continuaram.Harry subiuos degraus restantes, dedois em
dois,cruzouopatamareabriuaportadasaladevisitas.Alguémestava encolhido contra a parede escura, a varinha namão, todo o corpo sacudido por
soluços. Esparramado no velho tapete empoeirado, em umamancha de luar, visivelmente morto,encontrava-seRony.Todoo ar pareceu fugir dos seuspulmões;Harry teve a sensaçãodeque estava atravessandoo
chão;seucérebrocongelou–Ronymorto,não,nãoerapossível...Mas,espereummomento,nãopodiaser–Ronyestavaláembaixo...–Sra.Weasley?–chamouHarrycomavozembargada.–R...r...riddikulus!–soluçavaabruxa,apontandoavarinha,trêmula,paraocorpodofilho.Craque.
OcorpodeRonysetransformounodeGui,debarrigaparacima,braçosepernasabertos,olhosabertosevidrados.ASra.Weasleyvoltouasoluçar.Craque.OcorpodoSr.Weasley substituiuodeGui, seusóculos tortos,um filetede sangueescorrendo
pelorosto.–Não!–gemiaaSra.Weasley.–Não...riddikulus!Riddikulus!RIDDIKULUS!Craque.Gêmeosmortos.Craque.Percymorto.Craque.Harrymorto...–Sra.Weasley, saiadaqui!–gritouHarry, contemplandooprópriocadáver estiradonochão.–
Deixeoutrapessoa...–Queestáacontecendo?Lupinsubiracorrendoàsala,seguidodepertoporSiriuseMoody,quefechavaafila,batendoa
pernadepau.LupinolhavadaSra.WeasleyparaocadáverdeHarrynochão,epareceucompreendertudonomesmoinstante.Puxandoavarinha,disse,emtommuitoclaroefirme.–Riddikulus!OcorpodeHarrydesapareceu.Umglobodepratapairounoarsobreolocalemqueestiverao
cadáver.Lupinsacudiuavarinhamaisumavezeoglobodesapareceuemumabaforadadefumaça.– Ah... ah... ah! – engoliu a Sra.Weasley em seco e tornou a se desmanchar numa torrente de
lágrimascomorostoentreasmãos.–Molly–disseLupindesolado,aproximando-sedela.–Molly,não...Nosegundoseguinte,elasoluçavadeseacabarnoombrodeLupin.–Molly,foiapenasumbicho-papão–disseeleconsolando-a,dando-lhepalmadinhasnacabeça.–
Apenasumbicho-papãoidiota...–Euosvejom–m-mortosotempotodo!–gemeuaSra.Weasleynoombrodobruxo.–Todoot-t-
tempo!T-t-tenhosonhos...Sirius ficou olhando fixamente para o pedaço do tapete em que estivera deitado o bicho-papão
fingindoserHarry.Moodyolhavaparaogaroto,queevitouseuolhar.TinhaaestranhasensaçãodequeoolhomágicodeMoodyoacompanharadesdeacozinha.– Não d-d-diga ao Arthur – pedia a Sra. Weasley, agora engolindo o choro e enxugando
nervosamenteosolhoscomospunhos.–Nãoq-q-queroqueelesaiba...fuiboba...Lupinlhedeuumlenço,eelaassoouonariz.–Harry,sintomuito.Queéquevocêvaipensardemim?–perguntoutrêmula.–Nãoconsigonem
melivrardeumbicho-papão...–Bobagem–disseHarry,tentandosorrir.–Estout-t-tãopreocupada–disseela,aslágrimasmaisumavezsaltandolhedosolhos.–Metade
da f-f-família está na Ordem, será uma b-b-bênção se todos sobreviverem... e P-P-Percy não estáfalandoconosco...esealgumacoisat-t-terrívelacontecerantesdetermosfeitoasp-p-pazescomele?EoquevaiacontecerseArthureeumorrermos,queméquevait-t-tomarcontadeRonyeGina?–Molly,chega–disseLupincomfirmeza.–Agoranãoécomodaúltimavez.AOrdemestámais
bempreparada,contamoscomumadianteira,sabemosoqueVoldemortpretende...ASra.Weasleysoltouumgritinhodemedoaoouviressenome.–Ah,Molly, vamos, já é tempo de você se acostumar a ouvir o nome dele... escute, não posso
prometerqueninguémvaisairferido,ninguémpodeprometerisso,masestamosmuitomelhordoque estávamos da última vez. Você não fazia parte da Ordem naquele tempo, por isso nãocompreende.DaúltimavezhaviavinteComensaisdaMorteparacadaumdenós,eelesforamnosmatandoumaum...Harrylembrou-sedafotografia,dosseuspaissorridentes.SabiaqueMoodyaindaoobservava.–NãosepreocupecomPercy–disseSiriusabruptamente.–Elevaimudardeopinião.Éapenas
uma questão de tempo, e Voldemort vai sair das sombras; e quando isto acontecer, o Ministériointeirovainospedirperdão.Enãotenhomuitacertezasevamosaceitaropedidodeles–acrescentoucomamargura.–Agora,quantoaquemvaicuidardeRonyeGinasevocêeArthurmorrerem–disseLupincom
umlevesorriso–,queéquevocêachaquevamosfazer,deixá-losmorrerdefome?ASra.Weasleydeuumsorrisotrêmulo.–Estousendoboba–murmurououtravez,enxugandoosolhos.MasHarry,fechandoaportadoquartoatrásdesiunsdezminutosdepois,nãoconseguiuacharque
aSra.Weasleyfosseboba.Viaseuspaissorrindoparaelenavelhafotodanificada,semsaberquesuasvidas,comoadetantosoutrosàsuavolta,estavamchegandoaofim.Aimagemdobicho-papãose transformandono cadáverde cadamembroda família daSra.Weasleynãoparavade lampejardiantedosseusolhos.Semaviso,acicatrizemsuatestaqueimoudedoreseuestômagorevirouhorrivelmente.–Paracomisso–dissecomfirmeza,esfregandoacicatrizàmedidaqueadorfoidiminuindo.–Primeirosinalde loucura, falarcomaprópriacabeça–disseavozsonsadoquadrovaziona
parede.Harry não lhe deu atenção. Sentiu-semais velho do que jamais se sentira na vida e parecia-lhe
extraordinárioquehápoucomenosdeumahoraestivessepreocupadocomumalojadelogrosecomquemganharaumdistintivodemonitor.
—CAPÍTULODEZ—LunaLovegood
Harryteveumanoiteinquieta.Seuspaisentravamesaíamdosseussonhos,semprecalados;aSra.WeasleysoluçavasobreocadáverdeMonstro,observadaporRonyeHermione,queestavamusandocoroas,emaisumavezHarryseviudescendoporumcorredorqueterminavaemumaportafechada.AcordoubruscamentecomacicatrizformigandoeencontrouRonyjávestidoefalandocomele.–...émelhorseapressar,mamãeestáfuriosa,dizquevamosperderotrem...Haviagrandeconfusãoebarulhonacasa.Peloqueouviuenquantosevestia rapidamente,Harry
conseguiuentenderqueFredeJorgetinhamenfeitiçadoseusmalõesparavoarescadaabaixo,afimdeeconomizarotrabalhodecarregá-los,e,emconsequência,eleshaviamcolididodiretamentecomGinaefeitoairmãrolardoislancesdeescadaatéocorredor;aSra.BlackeaSra.Weasleyestavamambasberrandoaplenospulmões.–...PODERIAMTÊ-LAMACHUCADOSERIAMENTE,SEUSIDIOTAS...–MESTIÇOSIMUNDOS,EMPORCALHANDOACASADOSMEUSPAIS...Hermione entrou correndo no quarto com o rosto afogueado, na hora em que Harry estava
calçandoostênis.Edwigesseequilibravanoombrodagarota,quecarregavaBichentoasedebateremseusbraços.–MamãeepapaiacabaramdemandarEdwigesdevolta.–Acorujasaiuesvoaçandodocilmentee
foiseempoleirarnotetodesuagaiola.–Vocêjáestápronto?–Quase.AGinaestábem?–perguntouHarry,pondoosóculosnorosto.–ASra.Weasleyjácuidoudela–disseHermione.–MasagoraOlho-Tontoestáprotestandoque
nãopodemossairatéEstúrgiochegar,ouficaráfaltandoumapessoanaguarda.–Guarda?–perguntouHarry.–TemosdeiraKing’sCrosscomumaguarda?–VocêtemdeiraKing’sCrosscomumaguarda–corrigiu-oHermione.–Porquê?–perguntouHarry,irritado.–PenseiqueVoldemortestivesseagindonassombrasou
seráquevocêestámedizendoqueelevaipulardedentrodeumlatãodelixoetentarmematar?–Eunãosei,foioqueOlho-Tontodisse–respondeuHermionedesatenta,olhandoparaorelógio
–,massenãosairmoslogodecididamentevamosperderotrem...–SERÁQUEVOCÊSPODEMDESCERAQUI,AGORA,PORFAVOR!–berrouaSra.Weasley,e
Hermione deu um salto como se tivesse se escaldado, e saiu correndo do quarto. Harry agarrouEdwiges,enfiou-asemcerimônianagaiolaesaiuatrásdaamiga,arrastandoseumalão.OretratodaSra.Blackuivavadefúria,masninguémsepreocupavaemfecharascortinassobre
seu retrato para fazê-la calar; todo aquele estardalhaço no corredor com certeza iria tornar adespertá-la.–Harry, você vem comigo e comTonks – gritou a Sra.Weasley, tentando abafar os repetidos
guinchos de “SANGUES-RUINS! RALÉ! CRIATURAS DA IMUNDÍCIE!” – Deixe o malão e acoruja,Alastorvaicuidardabagagem...ah,peloamordeDeus,Sirius,Dumbledoredissenão!UmcachorrãopeludoapareceraaoladodeHarryquandoeletentavaescalarosváriosmalõesque
atravancavamohallechegaràSra.Weasley.–Ah,francamente...–respondeuaSra.Weasley,desesperada.–Bom,quesejamasporsuacontae
risco!Elaabriucomviolênciaaportadeentradaesaiuparaodiapalidamenteiluminadodesetembro.
Harry e o cachorro a acompanharam.A porta bateu às costas deles, e os guinchos da Sra. Blackcessaraminstantaneamente.–CadêaTonks?–perguntouHarry,olhandoatodavolta,enquantodesciaosdegrausdepedrado
númerodoze,quesumiramnoinstanteemqueelespisaramacalçada.–Estánosesperandoaliadiante–respondeuaSra.Weasleysecamente,evitandoolharocachorro
pretoquesesacudiaaoladodeHarry.Umavelhacumprimentou-osnaesquina.Tinhacabelosgrisalhosmuitocresposeusavaumchapéu
roxoemfeitiodetortadeporco.–Aí,beleza,Harry!–cumprimentouTonks,comumapiscadela.–Émelhoragenteseapressar,
nãoacha,Molly?–acrescentou,verificandoahora.–Eusei,eusei–gemeuaSra.Weasley,apertandoopasso–,masOlho-Tontoqueriaesperarpor
Estúrgio... se aomenos Arthur tivesse nos arranjado carros doMinistério outra vez... mas Fudgeultimamentenãoodeixapediremprestadonemumtinteirovazio...comoéqueostrouxasconseguemviajarsemmagia...Mas o cachorrão preto deu um latido alegre e correu animado ao redor deles, assustando os
pombos e caçando o próprio rabo.Harry não pôde deixar de rir. Sirius ficara preso em casa pormuitotempo.ASra.WeasleycontraiuoslábiosdeumjeitoquaseigualaodetiaPetúnia.LevaramvinteminutosparachegaraKing’sCrossapé,enadamaisexcitanteaconteceudurante
esse tempo, exceto Sirius ter espantado uns gatos para divertir Harry. Uma vez na estação, elespararamdisplicentementeaoladodabarreiraentreasplataformasnoveedezaténãohaverninguémàvista,depois,umaum,atravessaramparaaplataformanoveemeia,ondeoExpressodeHogwartsaguardava,arrotandofumaçaescurasobreaplataformaapinhadadealunosqueiamembarcaresuasfamílias. Harry aspirou aqueles cheiros familiares e sentiu seu ânimo fortalecer... ia realmenteregressar...–Esperoqueosoutroscheguematempo–comentouaSra.Weasley,ansiosa,olhandoparaoarco
deferrotrabalhadoqueabarcavaaplataformaeporondechegariamosnovospassageiros.–Belocão,Harry!–disseumrapazaltocomcachosrastafári.–Obrigado,Lino–disseHarrysorrindo,enquantoSiriussacudiaacaudafreneticamente.–Ah,quebom!–exclamouaSra.Weasley,parecendoaliviada.–AívemAlastorcomabagagem,
vejam...Comumbonédecarregadorcobrindoosolhosdíspares,Moodypassoumancandopeloarco,atrás
deumcarrinhocarregadocomasmalasdosgarotos.–Tudobem–murmuroueleparaaSra.WeasleyeTonks–,achoqueninguémnosseguiu...Segundosdepois,oSr.WeasleysurgiunaplataformacomRonyeHermione.Tinhampraticamente
descarregadoocarrinhodebagagemquandoFred,JorgeeGinaapareceramcomLupin.–Nenhumproblema?–rosnouMoody.–Nada–respondeuLupin.–Aindaassim,voudarpartedeEstúrgioaDumbledore–disseMoody–,éasegundavezemuma
semanaqueelenãoaparece.EstáficandotãoirresponsávelquantoMundungo.– Bom, cuidem-se bem – desejou Lupin, apertando a mão de todos. Despediu-se de Harry por
últimoelhedeuumapalmadanoombro.–Vocêtambém,Harry.Tenhacuidado.–É,cabeçabaixaeolhosalertas–disseMoody,apertandoamãodogarototambém.–Enãose
esqueçam,todosvocês:cuidadocomoqueescrevem.Setiveremdúvidasobrealgumacoisa,nãoamencionememcarta.–Foiótimoconhecervocês–disseTonks,abraçandoHermioneeGina.–Logonosreveremos,
espero.Soouumprimeiroapito;osalunos,aindanaplataforma,correramparaotrem.–Depressa,depressa–disseaSra.Weasley,distraída, abraçando-osa esmo,e segurandoHarry
duas vezes. – Escrevam... se comportem... se esqueceram alguma coisa nós mandaremos... agorasubamnotrem,depressa...Porumbrevemomento,oenormecãonegroergueu-senaspatastraseiraseapoiouasdianteiras
nosombrosdeHarry,masaSra.Weasleyempurrouogarotoemdireçãoàportadotrem.–PeloamordeDeus,Sirius,comporte-semaiscomoumcachorro!–sibilouela.–Atémais! – gritouHarrypela janela aberta, quandoo tremcomeçou a andar, enquantoRony,
Hermione eGina acenavam ao seu lado.As silhuetas de Tonks, Lupin,Moody e do Sr. e da Sra.Weasleyforamencolhendorapidamente,masocachorropretocontinuousaltandoaoladodajanela,abanandoorabo;gentenaplataformaagorapoucovisívelriadeverocãocorrendoatrásdotrem,entãocontornaramumacurva,eSiriusdesapareceu.–Elenãodeviatervindocomagente–comentouHermione,manifestandopreocupaçãonavoz.–Ah,anime-se–disseRony–,elenãovêaluzdodiahámeses,coitado.–Bom–disseFred,batendopalmas–,nãopodemosficaraquiconversandoodiainteiro,temos
negócios a discutir com o Lino. Vemos vocês mais tarde. – E ele e Jorge desapareceram pelocorredoràdireita.Otremcontinuouaganharvelocidade,fazendoosgarotosquecontinuavamempébalançarem,e
transformandoascasasemimagensfugidias.–Então,vamosarranjarumacabine?–convidouHarry.RonyeHermioneseentreolharam.–Hum–falouRony.–Nós...bem...Ronyeeutemosdeirparaocarrodosmonitores–disseHermione,semjeito.RonynãoestavaolhandoparaHarry;pareciavivamenteinteressadonasunhasdamãoesquerda.–Ah–respondeuHarry.–Certo.Ótimo.–Acho que não temos de ficar lá a viagem inteira – acrescentouHermione depressa. –Nossas
cartasdizemquevamosreceberinstruçõesdosmonitores-chefesedepoispatrulharoscorredoresdetemposemtempos.–Ótimo–repetiuHarry.–Bom,eu...eutalvezvejavocêsmaistarde,então.–É,comcerteza–disseRony,lançandoumolharesquivoeansiosoaoamigo.–Échatoterdeir
para lá, eu preferia... mas temos de ir... quero dizer, não estoume divertindo, não sou o Percy –concluindoemtomdedesafio.–Seiquevocênãoé–disseHarry, rindo.MasquandoHermioneeRonyarrastaramosmalões,
Bichento e Píchi, engaiolada, em direção à frente do trem, Harry teve uma estranha sensação deperda.NuncaviajaranoExpressodeHogwartssemRony.–Anda–disse-lheGina–,seformoslogo,poderemosguardarlugaresparaeles.–Certo–concordouHarry,pegandoagaioladeEdwigescomumadasmãoseaalçadoseumalão
comaoutra.Elesavançaramcomdificuldadepelocorredor,espiandopelasvidraçasdascabinesedescobrindoquejáestavamocupadas.Harrynãopôdedeixardenotarquemuitosgarotosoolharamcomgrandeinteresseequevárioscutucaramosvizinhoseapontaramparaele.Depoisderegistraresse comportamento em cinco carros consecutivos, ele lembrou que, durante o verão inteiro, oProfeta Diário andara informando aos seus leitores que ele era um mentiroso exibicionista.Perguntou-se, desolado, se as pessoas que agora o olhavam e cochichavam teriam acreditadonaquelashistórias.Noúltimocarro,elesencontraramNevilleLongbottom,ogarotodoquintoano,colegadeHarry
naGrifinória,orostoredondobrilhandocomoesforçodearrastaromalãoesegurar,comapenas
umadasmãos,oseusapoTrevo,quesedebatia.–Oi,Harry–ofegou.–OiGina...estátudocheio...nãoconseguiencontrarumlugar!–Doqueéquevocêestáfalando?–respondeuGina,queseespremeraparapassarporNevillee
espiaracabineatrásdele.–Temlugarnesseaí,sótemaDi-lua/LunaLovegood...Nevillemurmuroualgumacoisasobrenãoquererincomodarninguém.–Nãosejabobo–disseGinadandorisadas.–Elaélegal.Ginaabriuaportaepuxouseumalãoparadentro.HarryeNevilleaseguiram.–Oi,Luna–cumprimentouela–,tudobemseagenteocuparesseslugares?A garota ao lado da janela ergueu os olhos. Tinha cabelos louros, sujos e mal cortados, até a
cintura, sobrancelhasmuito claras e olhos saltados, que lhedavamumar depermanente surpresa.HarryentendeunahoraporqueNevillepreferiraprocuraroutracabine.Agarotaemanavaumaauradenítidabirutice.Talvez fosseporqueguardaraavarinhaatrásdaorelhaesquerda,pormedidadesegurança, ou porque tivesse decidido usar um colar de rolhas de cerveja amanteigada, ou aindaporqueestivesselendoarevistadecabeçaparabaixo.SeusolhosestudaramNevilleesefixaramemHarry.Elafezquesimcomacabeça.–Obrigada–disseGina,sorrindoparaela.HarryeNevilleguardaramostrêsmalõeseagaioladeEdwigesnobagageiroesesentaram.Luna
observou-os por cima da revista invertida, que se chamava O Pasquim. Aparentemente, ela nãopiscavacomtantafrequênciaquantoaspessoasnormais.NãoparavamaisdeolharparaHarry,queseacomodaranoassentodefronte,eagoradesejavanãoterfeitoaquilo.–Boasférias,Luna?–perguntouGina.–Boas–disseLunasonhadora,semtirarosolhosdeHarry.–É,forambemdivertidas,sabe.Você
éHarryPotter–acrescentou.–Euseiquesou–respondeuHarry.Nevilleriu.Lunavoltouentãoseusolhosclarosparaele.–Eunãoseiquemvocêé.–Nãosouninguém–respondeuNeville,apressado.–Não,nãoénão–disseGinacomrispidez.–NevilleLongbottom,LunaLovegood.Lunaestáno
mesmoanoqueeu,masédaCorvinal.–Oespíritosemlimiteséomaiortesourodohomem–disseLunaentoandooditado.E erguendo a revista o suficiente para esconder o rosto, ela se calou. Harry e Neville se
entreolharamcomassobrancelhaserguidas.Ginareprimiuumarisadinha.Otremavançoubarulhento,levando-osemvelocidadeparaocampoaberto.Odiaestavaestranho,
meioinstável;emummomentoocarroseinundavadesolenoseguintepassavamsobagourentasnuvensescuras.–Adivinhemoqueganheideaniversário?–perguntouNeville.–MaisumLembrol?–perguntouHarry,lembrando-sedodispositivoemformadeboladegude
queaavódeNevillelhemandaranatentativademelhorarsuaincrívelfaltadememória.–Não–respondeuogaroto.–AtéqueumLembrolviriaacalhar,perdioantigoháséculos...não,
olhesóisso...Eleenfiounamochilaamãolivre–aoutraseguravaTrevofirmemente–e,depoisdeprocurar
umpouco, tirouumvasocontendoalgoparecidocomumpequenocactocinzento, excetoqueerarecobertodepústulas,emvezdeespinhos.–Mimbulusmimbletonia–disseorgulhoso.Harry olhou para a coisa. Pulsava levemente, o que lhe dava a aparência sinistra de um órgão
internoavariado.
– É uma escrofulária realmente rara – comentou Neville radiante. – Nem sei se na estufa deHogwarts temuma.MalpossoesperarparamostraràProfaSprout.Meu tio-avôAlgieconseguiu-aparamimnaAssíria.Vouverseconsigomultiplicá-la.Harry sabiaqueoassunto favoritodeNevilleeraHerbologia,mas,pormaisque seesforçasse,
nãoconseguiaimaginaroqueogarotopoderiaquerercomaquelaplantinhananica.–Ela...hum...elafazalgumacoisa?–perguntou.–Muitacoisa!–respondeuNeville,orgulhoso.–Temumfantásticomecanismodedefesa.Tome,
segureoTrevoaquiparamim...Ele largou o sapo no colo de Harry e tirou uma pena da mochila. Os olhos saltados de Luna
Lovegood tornaram a aparecer por cima da borda da revista invertida, para espiar o queNevilleestava fazendo. O garoto segurou a escrofulária próxima dos olhos, a língua entre os dentes,escolheuumpontoeespetoucomforçaaplanta.Aplanta espirrou líquidode todasaspústulas; jatosverde-escuros,malcheirosos, espessos.Eles
bateramnoteto,nasjanelas,esalpicaramarevistadeLunaLovegood;Gina,queergueraosbraçospara proteger o rosto bemem tempo, ficou parecendoque usava umchapéu verde pegajoso,masHarry, cujasmãos tinhamestadoocupadascomTrevopara impedirqueo sapo fugisse, recebeuojatoemcheionorosto.Cheiravaaestrumerançoso.Neville,cujorostoetroncotambémestavamencharcados,sacudiuacabeçaparalimparoexcesso
dosolhos.–D-desculpem–dissegaguejando.–Eunãotinhaexperimentadoissoantes...nãopenseiqueseria
tão...masnãosepreocupem,estaescrofulárianãoévenenosa–acrescentouele,nervoso,enquantoHarrycuspiaumbocadodeseivanochão.Nesteexatomomento,aportadacabineseabriu.–Ah...olá,Harry–disseumavozagitada.–Hum...chegueiemmáhora?Harry limpou as lentes dos óculos com a mão livre. Uma garota bonita, de cabelos negros e
brilhantes,estavaparadaàportasorrindoparaele:ChoChang,apanhadoradotimedequadriboldeCorvinal.–Ah...oi–disseHarry,desconcertado.–Hum...–respondeuCho.–Bem...penseiemdarumalô...entãotchau.Corando um pouco, a garota fechou a porta e foi embora.Harry se largou no banco e gemeu.
GostariaqueChooencontrassesentadocomumgrupomuitolegal,seacabandoderirdeumapiadaque tivessem acabado de contar; e não ali, comNeville e Luna Lovegood, segurando um sapo epingandoescrofulária.–Tudobem–disseGina,procurandoconsolarogaroto.–Olhe,podemosnoslivrardetudoisso
facilmente.–Epuxandoavarinhaordenou:Limpar!Aescrofuláriadesapareceu.–Desculpe–tornouadizerNeville,comumavozinhatímida.Rony e Hermione só apareceram depois de uma hora, altura em que o carrinho de comida já
passara.Harry,GinaeNevillejáhaviamcomidoastortinhasdeabóboraeseentretinhamemtrocaros cartões dos sapos de chocolate, quando a porta da cabine se abriu e os dois entraramacompanhadosporBichentoePíchi,quesoltavapiosagudosemsuagaiola.–Estoumortodefome–disseRony,guardandoPíchiaoladodeEdwiges,passandoamãonum
sapodechocolatedeHarryeseatirandonolugaraseulado.Abriu,então,aembalagem,arrancouacabeçadosapocomumadentadae se recostou,comosolhos fechados,comose tivesse tidoumamanhãexaustiva.– Bom, tem dois monitores do quinto ano de cada casa – disse Hermione, parecendo
completamentedesapontadaquandosesentou.–Umgarotoeumagarota.
–EadivinhemqueméomonitordaSonserina?–disseRony,mantendoosolhosfechados.– Malfoy – respondeu Harry na mesma hora, certo de que seus piores receios teriam se
confirmado.–Claro–disseRonyamargurado,enfiandoorestodosaponabocaeapanhandomaisum.– E aquela completa vaca Pansy Parkinson – disseHermione com ferocidade. – Como foi que
chegouàmonitora,sendomaisobtusaqueumtrasgolesado...–QuemsãoosdaLufa-Lufa?–perguntouHarry.–ErnestoMacmillaneAnaAbbott–respondeuRonycomavozempastada.–EAntônioGoldsteinePadmaPatildaCorvinal–continuouHermione.–VocêfoiaoBailedeInvernocomPadmaPatil–disseumavozimprecisa.TodosseviraramparaLunaLovegood,queolhavasempiscarparaRony,porcimadeOPasquim.
Eleengoliuosapodeumavez.–É,euseiquefui–disseele,parecendoligeiramentesurpreso.–Elanãogostoumuito–informou-lheLuna.–Achaquevocênãoatratoubem,porquenãoquis
dançarcomela.Achoqueeunãoteriameimportado–acrescentoupensativa.–Nãogostomuitodedançar.LunatornouaseesconderatrásdeOPasquim.Ronyficouolhandoparaacapadarevistadeboca
abertapor alguns segundos,depoisprocurouGinacomoolharparaobterumaexplicação,masairmã havia enterrado os nós dos dedos na boca para sufocar um acesso de riso. Rony sacudiu acabeça,confuso,depoisolhouparaorelógio.–Temosdepatrulharoscorredoresaintervalos–disseaHarryeNeville–,epodemoscastigaros
alunosquenãoestiveremsecomportando.MalpossoesperarparaapanharCrabbeeGoylefazendoalgumacoisa...–Vocênãopodeabusardasuaposição,Rony!–ralhouHermione.– Certo, porque o Malfoy não vai abusar nem um pouquinho da dele – respondeu Rony com
sarcasmo.–Entãovocêvaiserebaixaraoníveldele?–Não,sóvougarantirqueapanhoosamigosdeleantesqueeleapanheosmeus.–PeloamordeDeus,Rony...–VoufazerGoyleescrevercemvezesamesmafrase,elevaimorrer,odeiaescrever–disseRony
alegremente. E baixando a voz para imitar os grunhidos de Goyle, contraiu o rosto fingindodolorosaconcentraçãoeescreveunoar.–“Eu...não...devo...ter...cara...de...bunda...demacaco.”Todosriram,masninguémriumaisdoqueLunaLovegood.Soltouumgritodealegriaquefez
Edwigesacordarebaterasasas,eBichentopularparaoaltodobagageiro,sibilando.Lunariutantoquearevistaescapou-lhedasmãos,escorregoupelaspernasefoipararnochão.–Essafoiboa!Seus olhos marejados de lágrimas fixavam Rony, enquanto tentava recuperar o fôlego.
Completamenteaparvalhado,eleolhavaparaosamigos,queagorariamdaexpressãoemseurostoedorisoabsurdamenteprolongadodeLuna,sebalançandoparaafrenteeparatrás,comprimindoosladosdocorpo.–Vocêestátentandomefazerdebobo?–perguntouRonyenrugandoatesta.–Bunda...demacaco!–elaengasgava,segurandoascostelas.TodosapreciavamLunarir,excetoHarry,que,batendoosolhosnarevistaaindanochão,reparou
emalgumacoisaqueofezabaixar-serapidamenteparaapanhá-la.Decabeçaparabaixo,foradifícildizerqualeraa fotodacapa,masHarryagorapercebiaqueeraumachargemalfeitadeCornélioFudge, apenas reconhecível por causa do chapéu-coco verde-limão. Uma das mãos do ministroapertavaumabolsadeouro;aoutraesganavaumduende.Alegendadachargeperguntava:Atéonde
iráFudgeparaseapoderardeGringotes?Abaixo,umachamadaparaosoutrostítulosdarevista.
CorrupçãonaLigadeQuadribol:ComoosTornadosestãoassumindoocontrole
SegredosdasantigasrunasreveladosSiriusBlack:VítimaouVilão?
–Possodarumaolhada?–perguntoueleansiosoaLuna.Agarotaconcordoucomacabeça,aindadeolhosemRony,ofegantedetantorir.Harry abriu a revista e correu os olhos pelo índice. Até aquele momento esquecera-se
completamentedarevistaqueQuimentregaraaoSr.WeasleyparaSirius,masdeviaseressamesmaediçãodeOPasquim.Elelocalizouapáginaevoltousuaatençãoparaoartigo,excitado.Era também ilustrado por uma charge bem ruinzinha; de fato, Harry nem teria percebido que
representavaSirius,senãohouvesselegenda.Opadrinhoestavaempénoaltodeumapilhadeossoshumanos,empunhandoavarinha.Otítulodoartigoera:
SIRIUS–NEGROCOMOOPINTAM?Famosoassassinoemmassaouinocentesensaçãomusical?
Harryprecisouleraprimeiralinhaváriasvezesparaseconvencerdequeentenderacorretamente.DesdequandoSiriuseraumasensaçãomusical?
Durantecatorzeanosacreditou-sequeSiriusBlack fosseculpadodoassassinatoemmassadedozetrouxas inocentes e um bruxo. Sua audaciosa fuga de Azkaban há dois anos desencadeou a maiorcaçadahumanaqueoMinistério daMagia já conduziu.Nenhumdenós jamais questionouque elemereceserrecapturadoedevolvidoaosdementadores.MASSERÁQUEELEMERECE?RecentementevieramapúbliconovasesurpreendentesprovasdequeBlackpodenãotercometido
oscrimespelosquaisfoimandadoparaAzkaban.Defato,dizDórisPurkiss,daviaAcântia,18,LittleNorton,Blacktalveznemtenhapresenciadoamatança.“OqueaspessoasnãopercebeméqueSiriusBlackéumnomefalso”,dizaSra.Purkiss.“Ohomem
queelaspensamserSiriusBlackénarealidadeToquinhoBoardman,vocalistadopopularconjuntoOsDuendeiros,equeseretiroudavidapúblicadepoisdeseratingidonaorelha,porumnabo,emumconcerto,emLittleNortonChurchHall,háquasequinzeanos.Reconheci-onoinstanteemquevisuafoto no jornal.Ora, Toquinho não poderia ter cometido aqueles crimes, porque no dia em questãoestava,poracaso,saboreandoumjantarromânticoàluzdevelasemminhacompanhia.JáescreviaoministrodaMagiaeestouaguardandoquemuitobreveconcedamperdãototalaToquinho,oumelhor,Sirius.”
Harryterminoudelereficouolhandoapágina,incrédulo.Talvezfosseumapiada,pensou,talveza revistapublicasse invencionicescomfrequência.Ele folheouaspáginasanterioreseencontrouanotíciasobreFudge.
CornélioFudge,ministrodaMagia,hácincoanosquandofoieleitonegouquetivesseplanosparaassumiraadministraçãodobancodosbruxos,oGringotes.Elesempreinsistiuemafirmarquequer
apenascooperarpacificamentecomosguardiõesdonossoouro.MASSERÁQUEQUERMESMO?FontesligadasaoministrorevelaramrecentementequeamaiscaraambiçãodeFudgeéassumiro
controledareservadeourodosduendesequenãohesitaráemusaraforçaseforpreciso.“Enãoseriaaprimeiravez,tampouco”,declarouumfuncionáriobeminformado.“CornélioFudge
oMata-Duendesécomoseusamigosochamam.Seosleitorespudessemouvi-loquandoelepensaquenão há ninguémpor perto, ah, não para de falar nos duendes quematou;mandou afogar,mandouatirardoaltodeedifícios,mandouenvenenar,mandoucozinharpararecheartortas...”
Harrynãoquiscontinuaraler.Fudgepodiatermuitosdefeitos,masogarotoachavaextremamentedifícilimaginá-lodandoordensparaassarduendespararecheartortas.Elefolheouorestodarevista.Parandoaquieali,leuumaacusaçãodequeosTornadosdeTutshillestavamvencendoocampeonatodaLigadeQuadribol,combinandochantagem,envenenamentodevassourasetortura;umaentrevistacomumbruxoquediziatervoadoatéaluaemumaCleansweep6etrazidoumsacodesaposlunaresparaprovaroseufeito;eumartigosobrerunasantigasqueaomenosexplicavaomotivodeLunaestarlendoOPasquimdecabeçaparabaixo.Segundoarevista,seapessoaobservasseasrunasdecabeça para baixo elas revelariam um feitiço para transformar as orelhas de um inimigo emcunquates. De fato, comparada com os demais artigos deOPasquim, a insinuação de que SiriuspudesserealmenteserovocalistadosDuendeirospareciaatébastantesensata.–Algumacoisaquepresteaí?–perguntouRony,quandoHarryfechouarevista.– Claro que não – respondeu Hermione criticamente, antes que Harry pudesse responder. –O
Pasquimsótembobagens,todoomundosabedisso.–Desculpe–disseLuna;suavozperdeumomentaneamenteavagueza.–Meupaiéoeditor.–Eu... ah–disseHermione,visivelmenteconstrangida.–Bem... temcoisas interessantes... quero
dizer,ébem...–Podemedevolver,obrigada–disseLunacomfrieza,e,curvando-separaafrente,puxou-adas
mãosdeHarry.Folheando rapidamenteatéapáginacinquentae sete, tornoua segurá-ladecabeçaparabaixo,decidida,edesapareceuportrásdarevista,nomomentoemqueaportadacabineseabriupelaterceiravez.Harry olhou; já esperava por isso, o que não tornoumais agradável a visão deDracoMalfoy
ladeadoporseusdoiscomparsasCrabbeeGoyle.–Queé?–disseagressivamente,antesqueMalfoypudesseabriraboca.–Modos,Potter,outereidelhedarumadetenção–entoouMalfoy,cujoscabeloslisoselouroseo
queixo pontudo eram exatamente iguais aos do pai. –Como está vendo, ao contrário de você, fuipromovido a monitor, o que quer dizer que, ao contrário de você, tenho o poder de distribuircastigos.–É–disseHarry–,mas, aocontráriodemim,vocêéumbabaca,por isso semandaedeixaa
genteempaz.Rony,Hermione,GinaeNevilleriram.Malfoycrispouolábio.–Vemcá,Potter,comoéquevocêsesenteperdendoaliderançaparaoWeasley?–Calaaboca,Malfoy–mandouHermionerispidamente.– Parece que toquei num ponto sensível – disse ele, sorrindo com afetação. –Bom, trate de se
cuidar,Potter,porquevouestarnasuacolacomoumcãodecaça,casovocêsaiadalinha.–Foradaqui!–disseHermione,ficandodepé.Abafandooriso,MalfoylançouumúltimoolharmaliciosoaHarryesaiudacabinecomosdois
amigos pesadões em sua esteira. Hermione bateu a porta da cabine e virou-se para Harry, quepercebeuimediatamentequeaamiga,comoele,registraraoqueMalfoydisseraeficaraigualmenteabatida.
–Jogamaisumsapoparanós–disseRony,quepelojeitonadapercebera.HarrynãopodiafalarcomfranquezanafrentedeNevilleeLuna.Trocoumaisumolharnervoso
comHermione,depoisficouolhandoparaforadajanela.Achara engraçada a ideia de Sirius tê-lo acompanhado à estação, mas de repente achou-a
irresponsável,senãopositivamenteperigosa...Hermioneestavacerta...Siriusnãodeviatervindo.EseoSr.MalfoytivessereparadonocãopretoecomentassecomDraco?EsetivessededuzidoqueosWeasley,Lupin,TonkseMoodysabiamondeSiriusestavaescondido?OuseráqueofatodeMalfoyterusadoapalavra“cão”foracoincidência?Otempopermaneceuindefinidoàmedidaquerumavamsempreparaonorte.Achuvasalpicouas
janelasdemávontade,depoisosolfezumapálidaapariçãoelogoasnuvensoencobriram.Quandoanoiteceueasluzesforamacesasnoscarros,LunaenrolouOPasquim,guardou-ocuidadosamentenamochilaepassouaencarar,umaum,oscolegasdecabine.Harry estava sentado com a testa encostada na janela do trem, tentando captar um vislumbre
distantedeHogwarts,maseraumanoitesemluareajanelariscadadechuvaestavasuja.– Émelhor nos trocarmos – disseHermione. Ela e Rony prenderam no peito os distintivos de
monitor.HarryviuRonyapreciandoaprópriaimagemnajanelaescura.Finalmente o trem começou a reduzir a velocidade e eles ouviram a zoeira que sempre havia
quando os alunos corriam a preparar a bagagem e os animais de estimação para o desembarque.ComoRonyeHermionedeviamsupervisaramovimentação,elesdesapareceramdacabine,deixandoparaHarryeosoutroscuidaremdeBichentoePíchi.–Eulevoessacoruja,sevocêquiser–disseLunaaHarry,estendendoamãoparaPíchi,enquanto
NevilleguardavaTrevocuidadosamentenobolsointernodasvestes.–Ah...hum...obrigado–disseogaroto,entregando-lheagaiolaeerguendoEdwigescommais
firmezanosbraços.Ogruposaiulentamentedacabine,sentindooprimeiroimpactodoarnoturnoemseusrostosao
engrossarem a confusão de alunos no corredor.Aos poucos, foram se deslocando para as portas.Harry sentiu o cheiro dos pinheiros que ladeavam a trilha até o lago.Desceu para a plataforma eolhouao redor,procurandoouvirachamada familiarde“alunosdoprimeiroanoaqui...primeiroano...”.Mas a chamada não veio. Em vez disso, uma voz bem diferente, uma voz feminina enérgica
gritava:“Alunosdoprimeiroanofaçamfilaaqui,porfavor!Todososalunosdeprimeiroanoparacá!”UmalanternaveiobalançandoemdireçãoaHarry,e,àsualuzogarotoviuoqueixoproeminente
e o severo corte dos cabelos da ProfaGrubbly-Plank, a bruxa que assumira oTrato dasCriaturasMágicasnolugardeHagrid,porunstempos,noanoanterior.–OndeestáHagrid?–perguntoueleemvozalta.–Nãosei–disseGina–,masémelhoragentesairdocaminho,estamosbloqueandoaporta.–Ah,é...Harry e Gina se separaram enquanto caminhavam pela plataforma para se afastar da estação.
Empurradopelaaglomeraçãodealunos,Harryprocuroudivisar,noescuro,umrelancedeHagrid;eletinhadeestarali,contaracomisso–reverHagrideraumadascoisasquemaisdesejara.Masnãohaviasinaldoamigo.Elenãopodeteridoembora,disseHarryasimesmoenquantoavançavalentamentepeloestreito
portaldasaída,parasejuntaraosoutrosnarua.Vaiverapanhouumagripeououtracoisaqualquer...EleprocurouRonyouHermionecomosolhos,querendosaberoquepensavamdareapariçãoda
Profa Grubbly-Plank, mas nenhum dos dois estava por perto. Então ele se deixou impelir para aestradaescuraelavadadechuva,àsaídadaEstaçãodeHogsmeade.
Aliseencontravamaguardandomaisoumenoscemcarruagens,semcavalos,quesemprelevavamos alunosmais adiantados até o castelo. Harry deu uma olhada rápida, afastou-se um pouco paravigiarachegadadosamigos,entãodeuumasegundaolhada.Ascarruagensnãoerammaissemcavalos.Haviaanimaisparadosentreosvaraisdoscarros.Se
precisasse designá-los por algum nome, ele supunha que os teria chamado de cavalos, emborapossuíssem alguma coisa reptiliana também. Eram completamente descarnados, com os courosnegroscoladosaoesqueleto,noqualcadaossoeravisível.Ascabeçassemelhavamadedragões,eosolhos,sempupilas,erambrancosefixos.Dajunçãodasespáduassaíamasas–imensasenegras,coriáceas,quepareciampertenceramorcegosgigantes. Imóveis equietosnaescuridão,osbichoseramestranhosesinistros.Harrynãoconseguiaentenderporqueascarruagensseriampuxadasporessescavaloshorrorososquandoeramperfeitamentecapazesdesemoversozinhas.–CadêoPíchi?–indagouavozdeRonylogoatrásdeHarry.–ALunavemtrazendoeleaí–disseHarry,virando-sedepressa,ansiosoparaconsultaroamigo
sobreHagrid.–Ondeéquevocêachaque...–...oHagridestá?Nãosei–disseRony,parecendopreocupado.–Tomaraqueestejabem...Aumapequenadistância,DracoMalfoy,seguidoporumpequenogrupodecomparsas,inclusive
Crabbe,GoyleePansyParkinson,afastavadocaminhoalgunsalunosdesegundoano,deartímido,parapoderemapanharumacarruagem.Segundosdepois,Hermioneemergiuofegantedamultidão.–Malfoyestavaagindodemaneiraabsolutamente revoltantecomumgarotodeprimeiroano lá
atrás.Juroquevoudarpartedele;elesóestáusandoodistintivohátrêsminutosejáestáabusandomaisdoquenuncadaspessoas...ondeestáoBichento?–EstácomaGina–disseHarry.–Olheelaali...Ginaacabaradesurgirdoajuntamento,segurandoumBichentoqueesperneava.– Obrigada – disse Hermione, substituindo Gina na tarefa. – Vamos logo, vamos pegar uma
carruagemjuntos,antesquelotemtodas...– Ainda não apanhei Píchi! – disse Rony, mas Hermione já ia se adiantando em direção à
carruagemdesocupadamaispróxima.HarryficouparatráscomRony.– Que é que você acha que são essas coisas? – perguntou Harry, indicando com a cabeça os
horrendoscavalos,enquantoosoutrosalunospassavamporelesembando.–Quecoisas?–Essescavalos...Luna apareceu segurando a gaiola de Píchi nos braços; a corujinha pipilava excitada, como de
costume.–Pronto,aquiestá–disseela.–Éumacorujinhabemsimpática,não?–Hum...é...elaélegal–disseRonycommausmodos.–Bem,vamosentão,vamosentrar...queé
quevocêestavadizendo,Harry?– Eu estava perguntando que bichos horríveis são esses que parecem cavalos? – E continuou
andandocomRonyeLunaparaacarruagememqueHermioneeGinajáestavamsentadas.–Quebichosqueparecemcavalos?–Essesbichosqueestãopuxandoascarruagens!–disseHarryimpaciente.Afinal,elesestavama
menosdeummetrodomaispróximo;eobichoosobservavacomaquelesolhosbrancosefixos.Rony,noentanto,sevirouparaHarrycomumarperplexo.–Doqueéquevocêestáfalando?–Estoufalandodaquilo...olhe!HarryagarrouRonypelobraçoegirouseucorpodemodoaobrigá-loaficarcaraacaracomo
cavaloalado.Ronyolhoudiretoparaocavaloduranteumsegundo,depoistornouaolharparaHarry.–Paraoqueéqueeudevoolhar?
–Para...ali,entreosvarais!Atreladosàcarruagem!Bemalinafrente...Mas,comoRonycontinuavaaparecerconfuso,ocorreuaHarryumestranhopensamento.–Você...vocênãoestávendonada?–Vendooquê?–Vocênãoestávendoacoisaqueestápuxandoacarruagem?Ronyagoracomeçouaseassustarseriamente.–Vocêestábem,Harry?–Eu...é...Harrysentiu-secompletamentedesnorteado.Ocavaloestavaali,diantedele,umsólidoreluzenteà
luzquevinhadajaneladaestaçãoàscostasdeles,ovaporsaíadesuasnarinasnoarfriodanoite.Noentanto,anãoserqueRonyestivessefingindo–eseestivesseseriaumabrincadeiramuitosemgraça–,elenãoestavavendonada.– Vamos entrar, então? – convidou Rony hesitante, olhando para Harry como se estivesse
preocupadocomoamigo.–É–disseHarry.–É,entre...– Está tudo bem – disse uma voz sonhadora ao lado de Harry, quando Rony desapareceu no
interiorescurodacarruagem.–Vocênãoestáficandomaluconemnada.Eutambémvejo.–Vê?! – exclamoudesesperado, virando-se paraLuna.Ele via os cavalos de asas demorcegos
refletidosnosgrandesolhosprateadosdagarota.–Ah,vejo.Sempreosvidesdeomeuprimeirodiadeescola.Elessemprepuxaramascarruagens.
Nãosepreocupe.Vocêétãonormalquantoeu.Sorrindosuavemente,elaentrounointeriormofadodacarruagem.Harryaacompanhou,masnem
tãotranquiloassim.
—CAPÍTULOONZE—AnovacançãodoChapéuSeletor
HarrynãoquiscontaraosoutrosqueeleeLunaestavamtendoomesmotipodealucinação,seéqueerao caso, por issonãovoltou amencionar os cavalos quando se sentouna carruagemebateu aporta.Aindaassim,elenãoconseguiuevitarolharpelavidraçaassilhuetasdosanimaisdoladodefora.–Todomundoviua talGrubbly-Plank?–perguntouGina.–Queéqueelaestáfazendoaquide
novo?Hagridnãopodeteridoembora,pode?–Euvouficarbemsatisfeitaseeletiverido,elenãoéumprofessormuitobom,é?–disseLuna.–É,sim!–exclamaramHarry,RonyeGina,zangados.HarrylançouumolharincisivoaHermione.Elapigarreouedissedepressa:–Hum...é...eleémuitobom.–Bom,lánaCorvinalachamosqueeleéumapiada–respondeuLuna,semsesurpreender.–Entãovocêstêmumsensodehumorbemidiota–retorquiuRony,nomomentoemqueasrodas
rangeram,entrandoemmovimento.Luna não pareceu se perturbar com a grosseria de Rony;muito ao contrário, mirou-o durante
algumtempo,comoseelefosseumprogramadetelevisãolevementeinteressante.Balançandocomestrondo,ascarruagensavançaramemcomboioatéaestrada.Quandocruzaram
osaltospilaresdepedracomos javalisalados,que ladeavamoportãoparaos terrenosdaescola,Harry se inclinou para a frente tentando ver se havia luzes na cabana de Hagrid junto à FlorestaProibida,masos terrenos estavamnamais completa escuridão.O castelo deHogwarts, porém, seaproximavacadavezmais:umconjuntoaltaneirodetorreões,muitonegro,recortadocontraocéuescuro,emqueresplandecia,alaranjada,aquieali,umajanelanoalto.Ascarruagenspararam,tilintando,pertodaescadariadepedraquelevavaàsportasdecarvalho,e
Harry foi o primeiro a descer. Virou-se novamente para procurar janelas iluminadas na orla dafloresta,mas decididamente não havia sinal de vida na cabana deHagrid.Com relutância, porquealimentara uma esperançazinha de que tivessem desaparecido, o garoto se virou para os bichosestranhoseesqueléticosparadosequietosnoarfriodanoite,emquerefulgiamseusolhosbrancosevazios.Nopassado,HarryjáviveraaexperiênciadeveralgoqueRonynãovia,masforaumaimagemno
espelho, uma coisa commuitomenos substância do que cem bichos de aparência muito sólida esuficientementefortesparapuxarumafrotadecarruagens.SepudesseacreditaremLuna,osbichossemprehaviamexistido,sóqueinvisíveis.Porque,então,derepenteHarrypodiavê-loseRonynão?–Vocêvemcomagenteounão?–perguntouRonyaoseulado.–Ah, estou indo – disseHarry, depressa, e se juntou ao grande número de alunos que subiam
rapidamenteasescadasparaentrarnocastelo.Osaguãoflamejavaàluzdosarchotes,ecoandoospassosdosqueatravessavamopisodelajotas
emdireçãoàsportasduplas,àdireita,quedavamacessoaoSalãoPrincipaleaobanquetedeaberturadoanoletivo.
Asquatromesascompridasdispostasnosalãoforamseenchendosobumcéuescurosemestrelas,que era exatamente igual ao céu que podia ser visto pelas altas janelas do aposento. As velasflutuavamàmeiaalturaaolongodasmesas,iluminandoosfantasmasprateadosquepontilhavamosalão e os rostos dos alunos que conversavam, pressurosos, trocando notícias sobre as férias,cumprimentandooscolegasdasoutrascasas,aosgritos,observandooscortesdecabeloeasvestesunsdosoutros.Maisumavez,Harry reparounaspessoasque juntavamascabeçasparacochicharquandoelepassava;trincouosdentesetentouagircomosenãovissetampoucoseimportasse.LunaseseparoudelesaopassarempelamesadaCorvinal.QuandochegaramàdaGrifinória,Gina
foisaudadaporalgunsquartanistasesaiuparasesentarcomeles;Harry,Rony,HermioneeNevilleencontraram lugares juntos, mais ou menos no meio da mesa, entre Nick Quase Sem Cabeça, ofantasmadaGrifinória,eParvatiPatileLiláBrown–asduasocumprimentaramcomtantalevezaeexcessiva simpatia que Harry teve a certeza de que haviam acabado de falar dele uma fração desegundoantes.Mastinhacoisasmaisimportantescomquesepreocupar;olhouporcimadascabeçasdoscolegas,diretamenteparaamesadosprofessoresqueocupavaaparedeprincipaldosalão.–Elenãoestálá.RonyeHermionetambémcorreramosolhospelamesa,emboraissonãofossenecessário;oporte
deHagridotornavainstantaneamenteóbvioemqualquerfila.–Elenãopodeteridoembora–disseRony,levementeansioso.–Claroquenão–afirmouHarry.–Vocêsnãoachamqueeleestá...ferido,nemnadaparecido,acham?–perguntouHermione.–Não–respondeuHarry,namesmahora.–Mas,então,ondeéqueeleestá?Houveumapausa,depoisHarrydissemuitobaixinho,paraNeville,Parvati eLilánãopoderem
ouvir.–Talvezeleaindanãotenhavoltado.Sabe,damissão,dacoisaqueestevefazendoduranteoverão
paraoDumbledore.– É... é, deve ser isso – disse Rony, parecendomais tranquilo,masHermionemordeu o lábio,
examinando amesa dos professores de uma ponta à outra, como se esperasse alguma explicaçãoconclusivaparaaausênciadeHagrid.–Queméaquela?–perguntoubruscamente,apontandoparaomeiodamesadosprofessores.OsolhosdeHarryacompanharamosdaamiga.PousaramprimeironoProf.Dumbledore,sentado
na cadeira dourada de espaldar alto ao centro da longa mesa, trajando vestes roxo-escuraspontilhadas de estrelas prateadas e um chapéu igual. A cabeça do diretor estava inclinada para amulher sentada ao seu lado, a qual lhe falava ao ouvido. Ela parecia, pensou Harry, com a tiasolteironadealguém:atarracada,comoscabeloscurtos,crespos,castanhoacinzentados,presosporuma horrível faixa rosa à Alice que combinava com o casaquinho cor-de-rosa peludo que traziasobre as vestes. Então ela virou ligeiramente o rosto para tomar um golinho do cálice, e elereconheceu,comgrandechoque,acaradesapopálidacombolsassobosolhossaltados.–ÉataldaUmbridge!–Quem?–perguntouHermione.–Estavanaminhaaudiência,trabalhaparaoFudge!–Bonitocasaquinho–debochouRony.–ElatrabalhaparaoFudge!–repetiuHermione,franzindoa testa.–Queéqueelaestáfazendo
aqui,então?–Nãosei...Hermioneesquadrinhouamesadosprofessores,comosolhosapertados.–Não–murmurouela–,não,comcertezaquenão...
Harrynão entendeuoque a amiga estavadizendo,masnãoperguntou; sua atenção fora atraídapelaProfaGrubbly-Plank,queacabaradeaparecerportrásdamesadosprofessores;elafoiandandoatéapontadamesaeocupouo lugarquedeveriaserdeHagrid. Istosignificavaqueosalunosdoprimeiro ano já deviam ter atravessado o lago e chegado ao castelo, e, de fato, alguns segundosdepois, as portas para o saguão se abriram. Uma longa fila de garotos de cara assustada entrou,encabeçada pela Profa McGonagall, que vinha trazendo o banquinho em que repousava o velhochapéudebruxo,cheioderemendosecerzidos,comumlargorasgonacopaesfiapada.O vozerio no Salão Principal foi cessando. Os calouros se enfileiraram diante da mesa dos
professores, de frente para os demais estudantes, a Profa McGonagall colocou cuidadosamente obanquinhodiantedeles,erecuouumpouco.Osrostosdosaluninhosrefulgiampalidamenteàluzdasvelas.Umgarotinhobemnomeiodafila
davaaimpressãodeestartremendo.Harryselembrou,poruminstante,doquesentiraquandoestavaali,esperandootestedesconhecidoqueiriadeterminaraCasaaquepertenceria.A escola inteira aguardava, prendendo a respiração. Então, o rasgo junto à copa do chapéu
escancarou-secomoumaboca,eoChapéuSeletorprorrompeuacantar:
AntigamentequandoeueranovoEHogwartsapenasalvoreciaOscriadoresdenossanobreescolaPensavamquejamaisiriamseseparar:Unidosporumobjetivocomum,Acalentavamomesmodesejo,TeramelhorescolademagiadomundoEtransmitirseusconhecimentos.“Juntosconstruiremoseensinaremos!”DecidiramosquatrobonsamigosJamaissonhandoquechegasseumdiaEmquepoderiamseseparar,PoisondeseencontrariamamigosiguaisASalazarSlytherineGodricoGryffindor?AnãoseremoutroparsemelhanteComoHelgaHufflepuffeRowenaRavenclaw?EntãocomopôdemalograraideiaEtodaessaamizadefraquejar?OraestivepresenteepossonarrarUmahistóriatristeedeplorável.DisseSlytherin:“EnsinaremossóOsdamaispuraancestralidade.”DisseRavenclaw:“EnsinaremososDeinegávelinteligência.”DisseGryffindor:“EnsinaremososDenomesilustresporgrandesfeitos.”DisseHufflepuff:“Ensinareitodos,Eostratareicomigualdade.”DiferençasquepoucopesaramQuandonoiníciovieramàluz,Poiscadafundadorergueuparasi
UmacasaemquepodiaadmitirApenasosquequisesse,porissoSlytherin,aceitouapenasosbruxosDesanguepuroegrandeastúcia,Queaelepudessemviraigualar,EsomenteosdementemaisagudaTornaram-sealunosdeRavenclaw,EnquantoosmaiscorajososeousadosForamparaodestemidoGryffindor.AboaHufflepuffrecebeuosrestantesElhesensinoutudoqueconhecia,AssimcasaseidealizadoresMantiveramamizadefirmeefiel.HogwartstrabalhouempazeharmoniaDuranteváriosanosfelizes,MasentãoadiscórdiaseinsinuouNutridapornossasfalhasemedos.Ascasasque,comoquatropilares,Tinhamsustentadoonossoideal,Voltaram-seumascontraasoutraseDivididasbuscaramdominar.PorummomentopareceuqueaescolaEmbreveencontrariaumtristefim,OsdueloselutasconstantesOsembatesdeamigocontraamigoEfinalmentechegouumamanhãEmqueovelhoSlytherinseretirouEemboraabrigativessecessadoDeixou-nostodosmuitoabatidos.EnuncadesdequereduzidosAtrêsseusquatrofundadoresAsCasasretomaramauniãoQuedeiníciopretenderammanter.EagoraoChapéuSeletoraquiestáEtodosvocêssabemparaquê:EudividovocêsentreascasasPoisestaéaminharazãodeserMasesteanofareimaisdoqueescolherOuçamatentamenteaminhacanção:Emboracondenadoasepará-losPreocupa-meoerrodesempreassimagirPrecisocumpriraobrigação,seiPrecisoquarteá-losacadaanoMasquestionoseselecionarNãopoderátrazerofimquereceio.Ah,conheçoosperigos,ossinaisMostra-nosahistóriaquetudolembra,
PoisnossaHogwartscorreperigoQuevemdeinimigosexternos,mortaisEprecisamosnosuniremseuseioOuruiremosdedentroparaforaAviseiatodos,preveniatodos...Daremosagorainícioàseleção.
O Chapéu voltou à imobilidade inicial; prorromperam aplausos, embora pontilhados, pelaprimeira vez na lembrança deHarry, pormurmúrios e cochichos. Por todo o salão os estudantestrocavamcomentárioscomseusvizinhos,eHarry,aplaudindocomotodoomundo,sabiaexatamenteoqueelesestavamfalando.–Seexpandiuumpoucoesteano,não?–comentouRony,comassobrancelhaserguidas.–Semamenordúvida–respondeuHarry.OChapéuSeletoremgeralselimitavaadescreverasdiferentesqualidadesprocuradaspelasCasas
deHogwarts, e o seuprópriopapelna seleçãodos alunos.Harrynão se lembrava jamaisde tê-loouvidodarconselhosàescola.–Seráqueelejádeuavisosnopassado?–indagouHermione,emtomligeiramentenervoso.–Certamentequesim–respondeuNickQuaseSemCabeça,transpirandoexperiência,debruçando-
se sobreNeville para responder à garota (Neville fez uma careta; eramuito desagradável ter umfantasmasedebruçandopordentrodagente).–OChapéusentequeésuaobrigaçãodehonraalertaraescolasemprequeacha...Mas aProfaMcGonagall, que estava querendo ler em voz alta a lista dos nomes dos alunos do
primeiroano,lançouaosestudantesquecochichavamaqueletipodeolharquechamusca.NickQuaseSemCabeça levou um dedo transparente aos lábios e tornou a se sentar empertigado, nomesmoinstante em que os murmúrios cessaram bruscamente. Com um último olhar de censura quepercorreu as quatro mesas, a Profa McGonagall baixou os olhos para o longo pergaminho queseguravaechamouoprimeironome:–Abercrombie,Euan.O garoto de olhar aterrorizado em que Harry reparara anteriormente avançou aos arrancos e
colocouoChapéunacabeça;aúnicacoisaqueimpediuapeçadedescerdiretoatéosseusombrosforamassuasorelhasdeabano.OChapéurefletiuummomento,depoisorasgojuntoàcopatornouaseabriregritou:–Grifinória!HarryaplaudiuentusiasticamentecomorestantedosalunosdacasaquandoEuanAbercrombiese
dirigiucambaleandoàmesadelesesesentou,dandoaimpressãodequegostariamuitodeafundarchãoadentroenuncamaisservistoporninguém.Lentamente,alongafiladecalourosfoiencurtando.Naspausasentreaschamadasdosnomeseas
decisõesdoChapéuSeletor,HarryouviaosroncosfortesnabarrigadeRony.Finalmente,“Zeller,Rosa”foiselecionadaparaLufa-Lufa,aProfaMcGonagallrecolheuoChapéueobanquinhoelevou-osembora,aomesmotempoqueoProf.Dumbledoreselevantava.Quaisquerquetivessemsidoassuasmágoascomrelaçãoaodiretor,Harrysesentiureconfortado
deverDumbledoreempédiantedaescola.EntreaausênciadeHagrideapresençadaquelescavalosdragontinos, sentia que seu regresso a Hogwarts, tão esperado, estava repleto de impensáveissurpresas, como notas dissonantes em uma música familiar. Mas isto agora, pelo menos, eraexatamente comodevia ser: o diretor se levantava para dar boas-vindas a todos antes de iniciar obanquetequeabriaoanoletivo.–Aosnossosrecém-chegados–começouDumbledorecomumavozressonante,osbraçosmuito
abertos e um enorme sorriso nos lábios –, bem-vindos! Aos nossos antigos alunos: um bomregresso!Háummomentoparadiscursos,masaindanãoéeste:atacar!Ouviram-se risos de apreciação e uma explosão de aplausos, enquanto Dumbledore se sentava
elegantementeeatiravaaslongasbarbasporcimadoombroparamantê-laslongedoprato–poisacomidaapareceradonada,eascincolongasmesasgemiamsobopesodospernisetortasetravessasdelegumes,pãesemolhosejarrasdesucodeabóbora.– Excelente! – exclamou Rony, com uma espécie de gemido de saudades, e passou a mão na
travessa mais próxima com costeletas e começou a empilhá-las em seu prato, observadotristonhamenteporNickQuaseSemCabeça.–QueéqueosenhoriadizendoantesdaSeleção?–perguntouHermioneaofantasma.–Sobreos
conselhosdoChapéu?–Ah,sim–disseNick,quepareceusatisfeitodeterumarazãoparadesviarorostodeRony,que
agora comia batatas assadas com um entusiasmo quase indecente. – Sim, já ouvi o Chapéu darconselhosváriasvezesantes,sempreemmomentosemquepercebegrandeperigoparaaescola.Esempre,éclaro,seuconselhoéomesmo:unam-se,fortaleçam-sepordentro.–Comelesacascótaapigosenchpéu?–perguntouRony.SuabocaestavatãocheiaqueHarryachouquejáeraumfeitoeleconseguirproduziralgumsom.–Comodisse?–perguntouNickQuaseSemCabeçaeducadamente,enquantoHermionefaziacara
deindignação.Ronydeuumaenormeengolidaedisse:–ComoéqueelepodesaberqueaescolaestáemperigosendoumChapéu?– Não faço a menor ideia – respondeu Nick Quase Sem Cabeça. – Naturalmente ele vive no
escritóriodeDumbledore,entãoimaginoquepercebaoqueestásepassando.– E ele quer que todas as Casas sejam amigas? – perguntou Harry, olhando para a mesa da
Sonserina,ondeDracoMalfoypresidiaacorte.–Éruim,hein?–Bem,vocênãodeveriatomaressaatitude–disseNick,censurando-o.–Cooperaçãopacíficaéa
chave.Nós,fantasmas,emborapertençamosaCasasdiferentes,mantemoslaçosdeamizade.Apesarda concorrência entreGrifinória e Sonserina, eu jamais sonharia empuxar uma discussão comoBarãoSangrento.–Porqueosenhortempavordele!–disseRony.NickQuaseSemCabeçapareceuextremamenteofendido.– Pavor? Espero que eu, Sir Nicolas de Mimsy-Porpington, nunca tenha sido autor de uma
covardianavida!Onobresanguequecorreemminhasveias...–Quesangue?–perguntouRony.–Certamenteosenhornãotemmais...?– É uma figura de linguagem! – disse Nick Quase Sem Cabeça, agora tão aborrecido que sua
cabeçatremiaagourentamentenopescoçosemidecapitado.–Presumoqueaindatenhaoprivilégiodeusar as palavras quequiser,mesmoqueos prazeres damesame sejamnegados!Mas estoumuitoacostumadoaestudantesfazerempiadascomaminhamorte,possolheassegurar!–Nick,elenãoestavarealmentecaçoandodevocê!–disseHermione,atirandoumolharfuriosoa
Rony.InfelizmenteabocadeRonyestavanovamentecheiaapontodeexplodir,esóoqueeleconseguiu
dizerfoi:– Nam quis aorre cecê. – O que Nick não pareceu achar que fosse um pedido de desculpas
apropriado.Erguendo-se no ar, ajeitouo chapéu emplumado e afastou-se deles, deslizandopara ooutroextremodamesa,indopousarentreosirmãosCreevey,ColineDênis.–Parabéns,Rony–disseHermionerispidamente.–Que foi?–perguntouogaroto indignado, tendoconseguido finalmente engolir a comidaque
tinhanaboca.–Nãotenhoodireitodefazerumasimplespergunta?
– Ah, esquece – disse Hermione irritada, e os dois passaram o resto da refeição num silêncioamuado.Harry estava por demais acostumado às implicâncias entre os dois para se dar ao trabalho de
reconciliá-los; achou que eramelhor empregar o seu tempo a comer diligentemente sua torta decarnecomrinsedepoisumpratarrazdetortadecaramelo.Quando todos os alunos terminaram de comer e o nível de barulho no salão recomeçou a
aumentar, Dumbledore tornou a se levantar. As conversas morreram imediatamente e todos seviraramparaodiretor.Harryestavasesentindoagradavelmentesonolentoagora.Suacamadedosseloesperavaemalgumlugarláemcima,maravilhosamentequenteemacia...–Bem,agoraqueestamostodosdigerindomaisummagníficobanquete,peçoalgunsminutosde
suaatençãoparaoshabituaisavisosdeiníciodetrimestre–anunciouDumbledore.–Osalunosdoprimeiro ano precisam saber que o acesso à floresta em nossa propriedade é proibido aosestudantes...eaestaalturaalgunsdosnossosantigosestudantesjádevemteraprendidoissotambém.–(Harry,RonyeHermionetrocaramsorrisinhos.)“OSr.Filch,ozelador,mepediu,segundoelepelaquadricentésimasexagésimasegundavez,para
lembraratodosquenãoépermitidopraticarmagianoscorredoresduranteosintervalosdasaulas,nemfazeroutrastantascoisas,quepodemserlidasnaextensalistaafixadaàportadasaladele.“Houveduasmudançasemnossocorpodocenteesteano.Temosograndeprazerdedarasboas-
vindas à Profa Grubbly-Plank, que retomará a direção das aulas de Trato das Criaturas Mágicas;estamos também encantados em apresentar a ProfaUmbridge, nossa nova responsável pelaDefesaContraasArtesdasTrevas.”Houveumarodadadeaplausoseducados,maspoucoentusiásticos,duranteaqualHarry,Ronye
Hermione trocaram olhares ligeiramente alarmados; Dumbledore não dissera por quanto tempoGrubbly-Plankiriaensinar.Odiretorcontinuou:–Ostestesparaentrarparaostimesdequadriboldascasasserãorealizados...Eleinterrompeuoqueiadizendo,comumolharindagadoràProfaUmbridge.Comoelanãoera
muitomais alta em pé do que sentada, por ummomento ninguém entendeu por queDumbledorepararadefalar,masentãoaprofessorapigarreou:–Hem,hem.–Eficouclaroqueselevantaraepretendiafalar.Dumbledore pareceu surpreso apenas por um instante, então, sentou-se com elegância e olhou
atentoparaaProfaUmbridge,comoseouvi-lafosseacoisaquemaisdesejassenavida.Osoutrosmembrosdocorpodocentenãoforamtãocompetentesemescondersuasurpresa.AssobrancelhasdaProfaSproutchegaramadesaparecerporbaixodoscabelosrebeldes,eHarrynuncaviraabocadaProfaMcGonagallmaisfina.NenhumprofessornovojamaisinterromperaDumbledoreantes.Muitosestudantessorriamabobados;eraóbvioqueessamulhernãoconheciaoshábitosdeHogwarts.– Obrigada, diretor – disse a professora, sorrindo afetadamente –, pelas bondosas palavras de
boas-vindas.Suavozeraaguda,sopradaemeioinfantil,e,maisumavez,Harrysentiuumaondadeaversãoque
nãoconseguiaexplicar;sósabiaquetudonelaoenojava,desdeavoztolaaocasaquinhopeludocor-de-rosa.Elatossiumaisumavezparaclarearavoz(hem,hem),econtinuou:– Bem, devo dizer que é um prazer voltar a Hogwarts! – Ela sorriu, revelando dentes muito
pontiagudos.–Everrostinhostãofelizesvoltadosparamim!Harryolhouparaoslados.Nenhumdosrostinhosqueviupareciamfelizes.Pelocontrário,todos
pareciammeiochocadosaoouviralguémsedirigiraelescomosetivessemcincoanos.–Estoumuitoansiosaparaconhecertodosvocês,etenhocertezadequeseremosbonsamigos!Osestudantesseentreolharamaoouvirisso;algunsmalconseguiramesconderossorrisos.
–Sereiamigadeladesdequenãotenhadepediremprestadoaquelecasaquinho–sussurrouParvatiparaLilá,easduasdesataramariremsilêncio.A Profa. Umbridge tornou a pigarrear (hem, hem),mas, quando continuou, um pouco domodo
sopradode falardesapareceradesuavoz.Pareceumuitomaisobjetiva,esuaspalavras tinhamumtommonótonodediscursodecorado.–OministrodaMagiasempreconsiderouaeducaçãodosjovensbruxosdevitalimportância.Os
donsraroscomquevocêsnasceramtalveznãofrutifiquemsenãoforemnutridoseaprimoradosporcuidadosa instrução. As habilidades antigas, um privilégio da comunidade bruxa, devem sertransmitidas às novas gerações ou se perderão para sempre. O tesouro oculto de conhecimentosmágicos acumulados pelos nossos antepassados deve ser preservado, suplementado e polido poraquelesqueforamchamadosànobremissãodeensinar.A Profa Umbridge fez uma pausa e uma reverência aos seus colegas, mas nenhum deles lhe
retribuiuocumprimento.As sobrancelhasescurasdaProfaMcGonagall tinham se contraídode talmodoqueeladecididamentepareciaumfalcão,eHarryaviu trocarumolharsignificativocomaProfaSproutquandoUmbridgefezmaisumhem,hem,econtinuouodiscurso:– Todo diretor e diretora de Hogwarts trouxe algo novo à pesada tarefa de dirigir esta escola
histórica, e assimdeve ser,pois semprogressohaveráestagnaçãoedecadência.Poroutro lado,oprogressopeloprogressonãodeveserestimulado,poisasnossastradiçõescomprovadasraramenteexigem remendos.Entãoumequilíbrio entreovelho eonovo, entre apermanência e amudança,entreatradiçãoeainovação...Harrypercebeuquesuaatençãoestavaoscilando,comoseseucérebroestivesseentrandoesaindo
desintonia.OsilêncioquesempreprevalecianosalãoquandoDumbledorefalavaiaserompendoàmedida que os alunos aproximavam as cabeças, cochichando e abafando risinhos. Na mesa daCorvinal,ChoChangconversavaanimadamentecomasamigas.AlgunslugaresadiantedeCho,LunaLovegoodpuxaraoseuPasquim.Entrementes,namesadeLufa-LufaErnestoMacmillaneraumdospoucos que ainda olhavampara a ProfaUmbridge, de olhar vidrado, eHarry tinha certeza de queestavaapenasfingindoouvir,numatentativadehonraronovodistintivodemonitorquereluziaemseupeito.AProfaUmbridgenãoparecianotarodesassossegodaplateia.Harryteveaimpressãodequeuma
revolta de grandes proporções poderia ter estourado bem embaixo do nariz dela e a bruxa teriacontinuadoadiscursar.Osprofessores,porém,aindaouviamcommuitaatenção,eHermionepareciaestarbebendocadapalavraqueUmbridgedizia,embora,ajulgarporsuaexpressão,adesagradassetotalmente.–...porquealgumasmudançasserãoparamelhor,enquantooutrasvirão,naplenitudedotempo,a
serreconhecidascomoerrosdejulgamento.Entrementes,algunsvelhoshábitosserãoconservados,emuito acertadamente, enquanto outros, antigos e desgastados, precisarão ser abandonados. Vamoscaminharparaafrente,então,paraumanovaeradeabertura,eficiênciaeresponsabilidade,visandoapreservar o que deve ser preservado, aperfeiçoando o que precisa ser aperfeiçoado e cortando,semprequeencontrarmos,práticasquedevemserproibidas.Abruxasesentou.Dumbledoreaplaudiu.Ocorpodocenteacompanhouasuadeixa,emboraHarry
reparassequeváriosprofessoresbateramasmãosapenasumaouduasvezesantesdeparar.Algunsalunos secundaram os aplausos, mas a maioria foi apanhada de surpresa pelo fim do discurso,porquenãoouviramaisdoqueumaspoucaspalavrasdotodo,eantesqueelespudessemcomeçaraaplaudirdevidamente,Dumbledoretornouaseerguer.–Muitoobrigado,ProfaUmbridge,foiumdiscursomuitoesclarecedor–disse,curvando-separaa
bruxa.–Agora,comoeuiadizendo,ostestesdequadribolserãorealizados...–Certamentequefoiesclarecedor–disseHermioneemvozbaixa.
–Vocêestámedizendoquegostou?–perguntouRonybaixinho,virandoorosto,perplexo,paraela.–Foiodiscursomaischatoquejáouvi,eolhaqueeufuicriadocomoPercy.–Eudisseesclarecedorenãoagradável.Explicoumuitacoisa.–Foi?–admirou-seHarry.–Mepareceuumagrandeenrolação.–Mashaviacoisasimportantesnomeiodaenrolação–disseHermione,séria.–Havia?–perguntouRony,sementender.–Quetal“oprogressopeloprogressonãodeveserestimulado”?Ouentão“cortandosempreque
encontrarmospráticasquedevemserproibidas”?–Bom,eoqueéqueissosignifica?–perguntouRonyimpaciente.–Vou-lhedizeroquesignifica–disseHermioneagourentamente.–SignificaqueoMinistérioestá
interferindoemHogwarts.Houve um grande estardalhaço ao redor deles; obviamente Dumbledore dispensara a escola,
porque todosestavamse levantando,prontosparaabandonarosalão.Hermione levantou-sedeumpulo,parecendoagitada.–Rony,temosdemostraraosalunosdoprimeiroanoaondeir!–Ah,é–disseRony,queobviamenteseesquecera.–Ei...Ei,vocêsaí!Anõezinhos!–Rony!–Ora,elessão,sãonanicos...–Eusei,masvocênãopodechamá-losdeanões!...Alunosdoprimeiroano!–chamouHermione
comautoridade,correndooolharaolongodamesa.–Poraqui,porfavor!UmgrupodealunosnovospassoutimidamentepelovãoentreasmesasdaGrifinóriaeLufa-Lufa,
todosseesforçandoomáximoparanãoseremosprimeiros.Pareciamrealmentemuitopequenos;Harrytinhacertezadequenãoeratãojovemassimquandochegaraali.Sorriuparaeles.UmgarotolouroaoladodeEuanAbercrombiepareceupetrificar;cutucouocolegaecochichoualgumacoisaemseuouvido.EuanseapavoroutambémelançouumolhardehorroraHarry,quesentiuosorrisoescorregarpeloseurostocomoaseivadaescrofulária.–Vejovocêsmaistarde–disseaRonyeHermione,esaiudoSalãoPrincipalsozinho,fazendoo
possível para ignorar novos cochichos, olhares e as pessoas que apontavam quando ele passou.Manteve os olhos em um ponto fixo à frente enquanto se deslocava pelo ajuntamento no saguão,depoissubiucorrendoaescadariademármore,tomouunsatalhossecretosenãotardouadeixaramaiorpartedaspessoasparatrás.Foraburroemnãopreverisso,pensoucomraivaaocaminharpeloscorredoresbemmaisvazios
doandarsuperior.Naturalmentequetodosoencaravam;elesaíradolabirintoTribruxodoismesesantesagarradoaocorpodeumcolegamortodizendoqueviraLordeVoldemortvoltaraopoder.Nãotinhahavidomuito temponoúltimo trimestrepara ele se explicar antesde todospartirempara asférias – mesmo que tivesse se sentido à altura de relatar para toda a escola detalhadamente osterríveisacontecimentosnaquelecemitério.Harry chegara ao fim do corredor que levava à sala comunal daGrifinória e parara diante do
retratodaMulherGorda,antesdesedarcontadequenãoconheciaanovasenha.–Hum...–dissesombriamente,olhandoparaaMulherGorda,quealisavaasdobrasdovestidode
cetimrosaeretribuíaseuolharcomseveridade.–Nãotemsenha,nãoentra–sentenciouelacomarsuperior.–Harry,eusei!–Alguémvinhaofegandoàssuascostase,quandoelesevirou,viuNevillequese
aproximava em passo de marcha. – Adivinhe qual é? Uma vez na vida eu vou ser capaz de melembrar...–Eleacenoucomocactoanãoquemostraranotrem.–Mimbulusmimbletonia!–Certo–disseaMulherGorda,eseuretratogirouparaoladodosgarotoscomosefosseuma
porta,deixandoàmostraumburacoredondonaparede,peloqualHarryeNevilleentraram.
AsalacomunaldaGrifinória tinhaaaparênciahospitaleiradesempre,umasalaaconcheganteecircularnatorredaCasa,repletadepoltronasfofasevelhasmesasdesconjuntadas.Umfogomuitovivo crepitava na lareira e uns poucos alunos aqueciam nele as mãos, antes de subir para osdormitórios;dooutroladodasala,FredeJorgeWeasleyestavamespetandoalgumacoisanoquadrodeavisos.Harryacenouparaelesecontinuouseucaminhoemdireçãoàportadosdormitóriosdosgarotos;nãoestavadispostoaconversarnaquelemomento.Nevilleoacompanhou.DinoThomaseSimasFinniganhaviamchegadoaodormitórioprimeiro,eestavamocupadosem
cobrirasparedesaoladodesuascamascompôsteresefotografias.Estavamconversando,quandoHarry empurrou a porta, mas pararam bruscamente no instante em que o viram. Harry ficouimaginandoseteriamestadoconversandosobreele,eemseguidaseestariaficandoparanoico.–Oi–disseHarry,andandoemdireçãoaoseumalãoeabrindo-o.–Oi,Harry–respondeuDino,queestavavestindoumpijamacomascoresdoWestHam.–Boas
férias?–Nadamás–murmurou,umavezqueumrelatofieldassuasfériasterialevadoamaiorparteda
noite,eelenãoestavacomdisposiçãoparatanto.–É,foilegal–riuDino.–PelomenosfoimelhorqueadeSimas,eleestavamecontando.– Ora, que foi que aconteceu, Simas? – perguntou Neville enquanto colocava seu Mimbulus
mimbletoniacarinhosamentesobreoarmárioàcabeceira.Simasnãorespondeuimediatamente;estavademorandotodootempodomundoparagarantirque
oseupôsterdo timedequadribolFrancelhosdeKenmareficasseperfeitamenteenquadrado.Entãofalou,aindadecostasparaHarry:–Minhamãenãoqueriaqueeuvoltasse.–Quê?!–exclamouHarry,parandoemmeioaogestodedespirasvestes.–ElanãoqueriaqueeuvoltasseaHogwarts.Simasafastou-sedopôstereapanhouoprópriopijamanomalão,aindasemencararHarry.–Mas... por quê? – perguntouHarry espantado. Ele sabia que amãe de Simas era bruxa e não
conseguiaentender,portanto,porqueteriaassumidoamesmaatitudedosDursley.Simasnãorespondeuatéteracabadodeabotoaropijama.–Bom–dissemedindoaspalavras.–Suponhoque...porsuacausa.–Queéquevocêquerdizercomisso?–perguntouHarrydepressa.Seucoraçãoestavadisparando.Tinhaavagasensaçãodequealgumacoisaestavaacossando-o.–Bom–continuouSimas,aindaevitandoolharparaHarry–,ela...hum...bomnãoésóvocê,éo
Dumbledoretambém...– Ela acredita no Profeta Diário? – perguntou Harry. – Ela acha que sou um mentiroso e
Dumbledoreumvelhocaduco?Simasergueuosolhosparaele.–Émaisoumenosisso.Harrynãodissenada.Atirouavarinhasobreasuamesadecabeceira,despiuasvestes,enfiou-as
comraivanomalãoevestiuopijama.Estavafartodaquilo;fartodeserapessoaparaquemtodosolhamedequemfalamotempotodo.Sealgumdelessoubesse,sealgumdelestivesseamaispálidaideiadoqueerasesentirapessoaaquemtodasaquelascoisasaconteciam...ASra.Finnigannãofaziaideia,aquelaburra,pensoucomferocidade.Eleentrounacamaecomeçouafecharocortinadoàvolta,mas,antesquepudessecompletaro
gesto,Simasdisse:– Vem cá... que foi que aconteceu realmente naquela noite em que... você sabe, em que... com
CedricoDiggoryetudo?Simaspareciaaomesmotemponervosoeansioso.Dinoqueestiveradebruçadosobreopróprio
malão,tentandoencontrarumchinelo,ficoutãoestranhamenteimóvelqueHarrypercebeuqueestavacomosouvidosnaconversa.–Paraqueéquevocêestámeperguntando?–retrucouHarry.–VocênãolêoProfetaDiáriocomo
asuamãe,porquenãoolê?Ojornalvailhedizertudoquevocêprecisasaber.–Nãocomeceaatacarminhamãe–respondeuSimascomrispidez.–Atacoqualquerumquemechamedementiroso–disseHarry.–Nãofaleassimcomigo!– Falo com você como quiser – respondeuHarry, sua irritação aumentando tão rápido que ele
agarroucomviolênciaavarinhaqueestavanamesadecabeceira.–Sevocêtemalgumproblemaemdividir o dormitório comigo, vá pedir àMcGonagall para transferir você... assim suamamãe vaiparardesepreocupar...–Deixeaminhamãeforadisso,Potter!–Queéqueestáacontecendo?Ronyapareceraàporta.SeusolhosarregaladoscorreramdeHarry,queestavaajoelhadonacama
comavarinhaapontadaparaSimas,aeste,paradoalicomospunhoserguidos.–Eleestáatacandoaminhamãe!–berrouSimas.–Quê?–falouRony.–Harrynãofariaisso...conhecemossuamãe,gostamosdela...– Isto foi antes de ela começar a acreditar em cada palavra que aqueleProfetaDiário nojento
escrevesobremim!–gritouHarryaplenospulmões.–Ah–disseRony,acompreensãoseespalhandopeloseurostosardento.–Ah...certo.–Vocêsabedoquemais?–disseSimas,comraiva, lançandoaHarryumolharvenenoso.–Ele
temrazão,eunãoqueromaisdormirnomesmodormitórioqueele,eleédoido.– Você está errado, Simas – disse Rony, cujas orelhas estavam começando a ficar vermelhas:
sempreumsinaldeperigo.– Estou errado, é? – gritou Simas, que ao contrário deRony começava a ficar branco. –Você
acreditanaquelababoseiraqueelecontousobreVocê-Sabe-Quem,é,vocêachaqueeleestádizendoaverdade?–Achosim!–respondeuRonycomraiva.–Entãovocêédoidotambém–disseSimascomrepugnância.– Ah, é? Bom, infelizmente para você, companheiro, eu também sou monitor! – disse Rony,
apontandoparaopeito.–Portanto, anão serquevocêqueira receberumadetenção, émelhor tercuidadocomoquediz!Simasficouolhandoporunssegundos,avaliandoseadetençãoseriaumpreçorazoávelapagar
peloque iaemsuacabeça,mas, comuma interjeiçãodedesprezo,deuascostas,pulounacamaecorreu as cortinas com tanta violência que elas se romperam do dossel e caíram em um monteempoeiradonochão.RonyolhouaborrecidoparaSimas,eemseguidaparaDinoeNeville.–OspaisdemaisalguémtêmalgumacoisacontraoHarry?–perguntoucomagressividade.–Meuspaissãotrouxas,cara–disseDino,sacudindoosombros.–Nãosabemnadasobremortes
emHogwarts,porquenãosouidiotadecontaraeles.–Vocênãoconheceaminhamãe,elaextraiqualquercoisadequalquerum!–retrucouSimas.–E,
de qualquer forma, seus pais não recebem o Profeta Diário. Não sabem que o nosso diretor foidispensadodaCorteSupremadosBruxosedaConfederaçãoInternacionaldosBruxosporqueestáficandocaduco...–Minhaavódizqueissotudoétolice–disseNevillecomasuavozaguda.–EladizqueoProfeta
Diárioéqueestáemdecadência,enãoDumbledore.Elacancelouanossaassinatura.AcreditamosemHarry–encerrouNeville.Eentrounacama,puxouascobertasatéoqueixoeficouespiandoSimasporcimadelas,comoumacorujinha.–MinhaavósempredissequeVocê-Sabe-Quemvoltariaum
dia.EladizqueseDumbledoredizqueelevoltou,entãoelevoltou.Harry sentiu um arroubo de gratidão por Neville. Ninguém disse mais nada. Simas apanhou a
varinha,consertouascortinasedesapareceuportrásdelas.Dinoentrounacama,virouparaooutroladoesecalou.Neville,queaparentementenãotinhamaisnadaadizer,ficouadmirandocomcarinhooseucactoiluminadopeloluar.Harryrecostou-seemseustravesseirosenquantoRonyseocupavacomacamaaolado,guardando
o que era seu. Sentia-se abalado com a discussão que tivera comSimas, de quem sempre gostaramuito.Quantasoutraspessoasiaminsinuarqueeleestavamentindooueradesequilibrado?SeráqueDumbledoresofreraassimoverãointeiro,quandoprimeiroaCortedosBruxosedepois
aConfederaçãoInternacionaloexcluíramdesuasfileiras?SeráqueeraraivaoquesentiadeHarry,talvez,queimpediraDumbledoredesecomunicarcomeledurantemeses?Afinal,osdoisestavamnissojuntos;DumbledoretinhaacreditadoemHarry,anunciadosuaversãodosfatosàescolainteiraedepoisàcomunidadebruxa.QualquerumqueachassequeHarryeramentirosotinhadepensarqueDumbledoretambémoera,ouentãoqueDumbledoreforaenganado...No fim eles saberão que estamos certos, pensouHarry, infeliz, quandoRony entrou na cama e
apagou a última vela do dormitório.Mas restou a indagação: quantos outros ataques como o deSimaseleteriadesuportaratéqueaquelemomentochegasse?
—CAPÍTULODOZE—AprofessoraUmbridge
Simasvestiu-se correndonamanhã seguinte e saiudodormitório, antesqueHarry tivesse sequercalçadoasmeias.–Será que ele achaquevai pirar se ficarmuito tempo comigonomesmoquarto? – perguntou
Harryemvozalta,quandoabainhadasvestesdeSimasdesapareceudevista.–Nãosepreocupe,Harry–murmurouDino,guindandoamochilaaosombros–,elesóestá...MasaparentementenãofoicapazdedizeroqueeraqueSimasestava,e,apósumaligeirapausa
constrangida,acompanhou-onasaídadoquarto.NevilleeRonyfizeramaquelacaradeoproblema-é-dele-e-não-nosso,paraHarry,masistonãoo
consolou.Quantomaiseleteriadesuportar?–Quefoiqueaconteceu?–perguntouHermionecincominutosdepois,alcançandoHarryeRony,
queatravessavamasalacomunalacaminhodocafédamanhã,comoosdemais.–Vocêestácomumacaraabsolutamente...Ah,peloamordeDeus.Elaacabaradeolharparaoquadrodeavisosdasalacomunal,ondeforaafixadoumenormeaviso.
GALEÕESDEGALEÕES!Suamesadanãoestáacompanhandosuassaídas?
Gostariadeganharumextra?ProcureFredeJorgeWeasley,salacomunaldaGrifinória,
paratrabalhossimples,meioexpedienteevirtualmenteindolores.(Lamentamosinformarquetodootrabalhoserárealizadoporcontaeriscodocandidato.)
–Elessãoofim–disseHermioneséria,retirandooavisoqueFredeJorgehaviampregadoporcimadocartaz,informandoadatadoprimeirofimdesemanaemHogsmeadeemoutubro.–Vamosterdefalarcomeles,Rony.Ronypareceudecididamenteassustado.–Porquê?–Porque somosmonitores!– respondeuHermione, enquanto saíampeloburacodo retrato.–É
nossaobrigaçãoacabarcomessetipodecoisa!Ronynãorespondeu;Harrypercebeu,porsuaexpressãocontrariada,queaperspectivadeimpedir
Fred e Jorge de fazer exatamente o que gostavam não era uma coisa que o amigo achasseconvidativa.–Emtodoocaso,queaconteceu,Harry?–continuouHermione,enquantodesciamaescadacoma
coleçãode retratosdevelhosbruxos ebruxas,quenão lhesderamamenor atenção, absortosqueestavamnasprópriasconversas.–Vocêparecerealmentezangadocomalgumacoisa.–SimasachaqueHarryestámentindosobreVocê-Sabe-Quem–resumiuRony,aoverqueHarry
nãorespondia.Hermione,dequemHarryesperaraumareaçãoindignadaemsuadefesa,suspirou.
–É,aLilátambémachaisso–comentoutristonha.–Andoubatendoumpapinhoagradávelcomela,emqueoassuntofoiseHarryéounãoumidiota
embuscadeatenção,foi?–perguntouogarotoemvozalta.–Não–respondeuHermionecalmamente.–Naverdadeeudisseaelaparaparardeficarfalando
bobagens sobre você.E seria bem simpático se vocêparasse de reagir furiosamente comagente,Harry,porque,casovocênãotenhareparado,Ronyeeuestamosdoseulado.Fez-seumabrevepausa.–Desculpem–disseHarryemvozbaixa.–Tudobem–respondeuHermionecomdignidade.Balançouentãoacabeça:–Vocênãoselembra
doqueoDumbledoredissenafestadeencerramentodoanopassado?HarryeRony,osdois,olharam-nasementender,eHermionetornouasuspirar.– Sobre Você-Sabe-Quem. Ele disse que “o dom que ele tem de disseminar a discórdia e a
inimizadeémuitogrande.Esópodemoscombatê-locriandolaços igualmentefortesdeamizadeeconfiança...”.–Comoéquevocêselembradessascoisas?–perguntouRony,olhandoaamigacomadmiração.–Euprestoatenção–respondeuela,comumaligeirarispidez.–Eutambém,masaindaassimnãoconseguiriarepetirexatamenteoque...–Aquestão – continuouHermione emvoz alta – é que isto é exatamente o tipo de coisa a que
Dumbledore estava se referindo.Você-Sabe-Quem só voltou há doismeses e já estamos brigandoentrenós.EoalertadoChapéuSeletorfoiomesmo:fiquemjuntos,fiquemunidos...–EHarryentendeucertoontemànoite–retorquiuRony.–Se istosignificaque teremosdeser
amiguinhosdopessoaldeSonserina...podeesquecer.–Bom,achoqueéumapenaqueagentenãoestejaprocurandoseuniraopessoaldasoutrascasas
–respondeuHermioneirritada.Os três tinhamchegadoaopédaescadariademármore.UmafiladequartanistasdaCorvinal ia
atravessandoosaguão;aoavistaremHarry,agruparam-sedepressa,comosetivessemmedodequeeleatacasseosretardatários.– É, devíamos realmente estar tentando fazer amizade com gente como essa – disse Harry
sarcasticamente.0osalunosdaCorvinalqueentravamnoSalãoPrincipal,einstintivamenteolharamparaamesa
dosprofessores.AProfaGrubbly-Plankconversava comaProfaSinistra, deAstronomia, eHagridmaisumavezesteveconspícuoapenasporsuaausência.OtetoencantadorefletiaoestadodeânimodeHarry:eraumcinza-chuvadeprimente.–DumbledorenemmencionouporquantotempoaquelaGrubbly-Plankvaificar–comentou,ao
sedirigiremàmesadaGrifinória.–Talvez...–disseHermionepensativa.–Quê?–perguntaramHarryeRonyaomesmotempo.–Bom...talvezelenãoquisessechamaratençãoparaofatodeHagridnãoestaraqui.– Que é que você quer dizer com chamar atenção? – perguntou Rony, meio rindo. – Como é
possívelagentenãonotar?AntesqueHermionepudesseresponder,umagarotaaltaenegra,comlongoscabelos trançados,
veiodiretamenteatéHarry.–Oi,Angelina.–Oi–disseelaanimada–,boasférias?–Esemesperarresposta:–Escute,fuinomeadacapitãda
equipedequadriboldaGrifinória.–Boa!–exclamouHarry,sorrindoparaagarota;suspeitavaqueospaposantesdosjogostalvez
nãofossemmais tãolongosquantoosdeOlívioWoodcostumavamser,oquesópoderiaseruma
melhora.–É,bem,precisamosdeumnovogoleiroagoraqueOlíviofoiembora.Ostestesvãosernasexta-
feira,àscincohoras,eeugostariaqueo time todoestivesse lá,estábem?Entãoveremoscomoojogadornovovaiseajustar.–O.k.–concordouHarry.Angelinasorriuparaeleeseafastou.–EutinhaesquecidoqueWoodseformou–disseHermione,distraída,quandosesentouaolado
deRonyepuxouumpratodetorradasparaperto.–Suponhoqueissováfazerumagrandediferençaparaotime?–Suponhoquesim–concordouHarry,sentandonobancodefronte.–Eraumbomgoleiro...–Aindaassim,nãovaiserruimrecebersanguenovo,vai?–perguntouRony.Comumfortedeslocamentodeareruídosdebatidas,centenasdecorujasentraramvoandopelas
janelassuperiores.Desceramportodoosalão,trazendocartasepacotesparaseusdonos,edeixandocairumaverdadeirachuvadepingossobreaspessoasquetomavamcafé;semamenordúvidaestavachovendo pesado lá fora. De Edwiges nem sinal, mas Harry não se surpreendeu; seu únicocorrespondente eraSirius, e eleduvidavaqueopadrinho tivesse algumanovidadepara lhe contarapenasvinteequatrohorasdepoisdesesepararem.Hermione,porém,tevedeafastardepressaoseusuco de laranja para abrir espaço para uma enorme coruja-de-igreja molhada, que trazia umencharcadoProfetaDiárionobico.–Paraqueéquevocêaindaestárecebendoisso?–perguntouHarryirritado,pensandoemSimas,
enquantoHermionecolocavaumnuquenabolsinhadecouropresaàpernadacorujaqueemseguidalevantouvoo.–Eunãoestoumais...éummontedebaboseiras.– É melhor saber o que o inimigo está dizendo – respondeu Hermione sombriamente, e,
desdobrando o jornal, desapareceu por trás dele, só reaparecendo quando Harry e Rony tinhamterminadoarefeição.–Nada–dissesimplesmente,enrolandoo jornaleguardando-oao ladodoprato.–Nadasobre
vocênemDumbledorenemnada.AProfaMcGonagallagoravinhapassandopelamesadistribuindooshorários.–Olhemsóhoje!–gemeuRony.–HistóriadaMagia,doistemposdePoções,Adivinhaçãoedois
temposdeDefesaContraasArtesdasTrevas...Binns,Snape,Trelawneyea talUmbridge, tudonomesmodia!Gostaria queFred e Jorge trabalhassemmais rápido para aprontar aqueles kitsMata-Aulas...–Seráqueosmeusouvidosmeenganam?–perguntouFred,quevinhachegandocomJorgeese
apertounobancodeHarry.–ComcertezaosmonitoresdeHogwartsnãodesejammataraulas!–Olhesóoquetemoshoje–disseRonyrabugento,metendoohorárioembaixodonarizdeFred.
–Éapiorsegunda-feiraquejávinavida.–Umargumentoválido,maninho–disseFred,examinandoacolunadodia.–Possolhecederum
poucodeNugáSangra-Narizbaratinho,sequiser.–Porquebaratinho?–perguntouRony,desconfiado.–Porquevocênãovaiparardesangraratémurcharinteiro,aindanãotemosumantídoto–disse
Jorge,servindo-sedeumarenque.–Obrigado–disseRony,mal-humorado,guardandoohorárionobolso–,masachoqueficocom
asaulas.– E por falar nos seus kitsMata-Aulas – disse Hermione encarando os gêmeos com um olhar
penetrante–,vocêsnãopodempôranúnciospedindocobaiasnoquadrodeavisosdaGrifinória.–Quemdisse?–perguntouJorge,espantado.–Digoeu–respondeuHermione.–ERony.
–Medeixeforadisso–disseRonynamesmahora.Hermioneolhoufeioparaele.FredeJorgederamrisadinhasdebochadas.–Vocêvaimudar esse seu tommuito breve,Hermione – disseFred, enchendodemanteiga um
pãozinhodeminuto.–Vocêvaicomeçaroquintoano,enãovaidemorarmuitoparanossuplicarporumkitMata-Aula.– E por que começar o quinto ano significa que vou querer um kit Mata-Aula? – perguntou
Hermione.–OquintoanoéoanodosexamesparaobterosNíveisOrdináriosemMagia–disseJorge.–Edaí?–Edaíqueosseusexamesvêmaí,nãoé?Eosprofessoresvãoesfregaronarizdevocêscom
tantaforçanaquelapedradeamolarqueelevaificaremcarneviva–disseFredcomsatisfação.–Metadedanossaturmateveprobleminhasnervososquandoestavamseaproximandoosexames–
disseJorgesatisfeito.–Crisesdechoroechiliques...PatríciaStimpsonnãoparavadedesmaiar...–OKenTowlerficoucheiodefurúnculos,lembra?–perguntouFred,recordando.–Masfoiporquevocêpôspódefura-frunconopijamadele–retrucouJorge.–Ah,foimesmo–disseFred,rindo.–Tinhameesquecido...àsvezesédifícillembrardetudo,não
é?–Emtodoocaso,éumanodepesadelo,oquinto–concluiuJorge.–Pelomenossevocêcostuma
sepreocuparcomosresultadosdeexames.Bemoumal,Fredeeuconseguimosmanternossomoral.–É...vocêsconseguiram,quantofoimesmo,trêsN.O.M.scadaum?–disseRony.– Foi – respondeu Fred, despreocupadamente. –Mas achamos que o nosso futuro não será no
mundodasrealizaçõesacadêmicas.–Debatemosseriamenteseíamosnosdaraotrabalhodevoltarecompletarosétimoano–disse
Jorge,animado–,agoraquetemos...Calou-se a umolhar deHarry, que percebera que Jorge estava a ponto demencionar o prêmio
Tribruxoqueelederaaosgêmeos.– ...agoraqueconseguimososnossosN.O.M.s–continuouJorge,depressa.–Querodizer,será
que realmente precisamos dos N.I.E.M.s?Mas achamos quemamãe não iria aguentar ver a genteabandonandoaescolacedo,nãodepoisdePercyterviradoomaiorimbecildomundo.– Mas não vamos desperdiçar o nosso último ano aqui – disse Fred, correndo os olhos com
carinho pelo Salão Principal. – Vamos usá-lo para pesquisar um pouco o mercado, descobrirexatamente o que o aluno médio de Hogwarts precisa comprar em uma loja de logros, avaliarcuidadosamenteosresultadosdanossapesquisa,eentãofabricaramercadoriaexataparaatenderàdemanda.– Mas onde é que vocês vão arranjar o ouro para abrir uma lo-ja de logros? – perguntou
Hermione, sem acreditar. –Vocês vão precisar demuitos ingredientes emateriais... e de um localtambém,suponho...Harrynãoolhouparaosgêmeos.Sentiuorostoquente;intencionalmente,deixoucairogarfono
chãoemergulhouembaixodamesaparaapanhá-lo.OuviuFreddizerlánoalto:–Nãonosfaçaperguntasenãodiremosmentiras,Hermione.Vamos,Jorge,sechegarmoscedo,
talvezagenteconsigavenderumasOrelhasExtensíveisantesdaauladeHerbologia.Harry saiu de baixo da mesa e viu Fred e Jorge se afastando, cada um levando uma pilha de
torradas.–Que foi que ele quis dizer com isso? – perguntouHermione, olhando deHarry paraRony. –
“Não nos faça perguntas...” Isso quer dizer que eles já têm algum ouro para começar a loja delogros?– Sabe, eu tenho pensado nisso – disse Rony, com a testa enrugada. – Elesme compraram um
conjuntodevestesarigoresteverãoenãoconseguientenderondearranjaramodinheiro.Harryresolveuqueestavanahorademudarorumodaconversaparaáguasmenosperigosas.–Vocêsachamqueéverdadequeoanovaiserrealmenteduro?Porcausadosexames?–Ah,vai–respondeuRony.–Comcerteza,nãoacham?OsN.O.M.ssãomuitoimportantes,afetam
os empregos a que a gente vai poder se candidatar e tudo. Recebemos orientação profissionaltambém,maisparaofimdoano,oGuimecontou.AssimagentepodeescolherosN.I.E.M.squevaiquererfazernoanoseguinte.– Vocês sabem o que vão querer fazer quando terminarem Hogwarts? – perguntou Harry aos
outros dois, quando deixavamoSalãoPrincipal, pouco depois, para assistir à aula deHistória daMagia.–Nãotenhomuitacerteza–disseRonylentamente.–Excetoque...bom...Elepareceuligeiramenteencabulado.–Quê?–insistiuHarry.–Bom,serialegalserauror–disseRony,emtomdisplicente.–Ah,issoseria–apoiouHarry,comfervor.–Maselessão,tipo,aelite–disseRony.–Éprecisoserrealmentefera.Evocê,Mione?–Nãosei.Achoquegostariadefazeralgumacoisaquerealmentevalesseapena.–Seraurorvaleapena!–disseHarry.–É,claroquevale,masnãoéaúnicacoisaquevaleapena–disseHermione,pensativa–,quero
dizer,seeupudesselevaroFALEadiante...HarryeRonytomaramocuidadodeevitarseolhar.AHistóriadaMagiaera,porconsenso,adisciplinamaischataqueabruxidadeinventara.Binns,o
professor fantasma, tinha uma voz asmática emonótona que era quase uma garantia de provocargrave sonolência em dezminutos, cinco em tempo de calor. Ele jamais variava amaneira de daraulas,falavasemfazerumaúnicapausa,enquantoaturmaanotavasuaspalavras,oumelhor,miravasonolentamente o vazio.Harry eRony até agora tinhamconseguido passar raspando, copiando asanotaçõesdeHermioneantesdosexames;somenteelapareciacapazderesistiraopodersoporíficodavozdeBinns.Hoje, eles sofreramquarenta e cincominutosde cantilena sobre asguerrasdosgigantes.Harry
ouviuobastante emapenasdezminutosparaperceber,mesmovagamente,quenasmãosdeoutroprofessoroassuntopoderiatertidoalguminteresse,depoisoseucérebrosedesligou,eelepassouostrintaecincominutosrestantesjogandoforcacomRonyemumcantodepergaminho,enquantoHermionelançavaaosdoisolharesdecensurapelocantodoolho.–Ecomoseria–perguntouela friamente,quandoos três saíamdasalaparao intervalo (Binns
desapareciaatravésdoquadro-negro)–seesteanoeumerecusasseaemprestarasminhasanotaçõesavocês?–NãopassaríamosnoN.O.M.Sevocêquiserterissopesandonasuaconsciência,Mione...–Ora,seriabemmerecido.Vocêsnemaomenostentamescutaroqueelediz,tentam?– Tentamos – disse Rony. – Só que não temos o seu cérebro nem a sua memória nem a sua
concentração...vocêésimplesmentemaisinteligentedoquenós...vocêachabonitoesfregarissonacaradagente?–Ah,nãomevenhacomessababoseira–disseHermione,maspareceuumpoucomenoszangada
quandosaiuàfrentedelesparaopátiomolhado.Caía uma chuvinha fina e nevoenta, que fazia os contornos das pessoas paradas em grupos ao
redordopátiopareceremesfumados.Harry,RonyeHermioneescolheramumcantoisoladosobumasacadaquepingavaabundantemente,virandoparacimaasgolasdasvestesparaseprotegeremdoargeladodesetembro,enquantoconversavamsobreodeverqueSnapepedirianaprimeiraauladoano.
Tinham chegado a concordar que, muito provavelmente, seria algo de extrema dificuldade paraapanhá-losdesprevenidosaofimdedoismesesdeférias,quandoalguémentrounopátioeveionadireçãodeles.–Olá,Harry!Era Cho Chang e, mais, vinha sozinha outra vez. Isto era muito incomum. Quase sempre Cho
estavacercadaporumbandodegarotasrisonhas;Harryselembroudaagoniaporquepassaraparaencontrá-lasozinhaeconvidá-laparaoBailedeInverno.–Oi–disseHarry, sentindoseu rostoesquentar.Pelomenosdestavezvocênãoestácobertode
seivadeescrofulária,disseasimesmo.Chopareciaestarpensandomaisoumenosamesmacoisa.–Vocêconseguiulimparaquelacoisa,então?–Claro–disseHarry,tentandosorrir,comosealembrançadoúltimoencontrofosseengraçadae
nãomortificante.–Então,vocêteve...hum...asfériasforamboas?Nomomentoemquedisse issoeledesejouquenãoo tivessedito–Cedricoeraonamoradode
ChoealembrançadesuamortedeviaterafetadoasfériasdelatãofortementequantoafetaraasdeHarry.Algumacoisapareceuretesaremseurosto,maselarespondeu:–Ah,forambem,vocêsabe...– Isso éumemblemadosTornados?–perguntouRonyde repente, apontandopara a frentedas
vestesdeCho,ondehaviaumemblemaazul-celestebrasonadocomumTduplodourado.–Vocênãotorceporeles,torce?–Torço–respondeuCho.– Você sempre torceu por eles, ou só depois que começaram a ganhar destaque na divisão? –
perguntouRony,noqueHarryconsiderouumtomdesnecessariamenteinquisitivo.–Torçoporelesdesdequetinhaseisanos–respondeuChotranquilamente.–Emtodoocaso...a
gentesevê,Harry.Ela se afastou, eHermione aguardou atéCho ter atravessadometade do pátio para brigar com
Rony.–Vocênãotemumpingodesensibilidade!–Quê?Eusópergunteiaelase...–VocênãopercebeuqueelaqueriafalarcomHarrysozinha?–Edaí?Podiaterfalado,eunãoestavaimpedindo...–Droga,porquevocêestavaatacandoagarotaporcausadotimedequadribol?–Atacando?EunãoestavaatacandoaCho,estavasó...–QuemseimportaseelatorcepelosTornados?–Ah,nemvem,metadedaspessoasqueagentevêusandoessesemblemassóoscompraramna
últimatemporada...–Equediferençafaz?–Querdizerquenãosãofãsdeverdade,sóestãoaproveitandoaonda...– A sineta – disseHarry desanimado, porque Rony eHermione estavam alterados demais para
ouvi-la.OsdoisnãopararamdediscutirdurantetodoocaminhoparaamasmorradeSnape,oquedeu a Harrymuito tempo para refletir que, entre Neville e Rony, ele teriamuita sorte se um diaconseguisseconversarcomChodoisminutos,dequeelepudesselembrarsemtervontadedefugirdopaís.E, no entanto, pensou, ao entrarem na fila que se formava do lado de fora da porta da sala de
Snape,Chotinharesolvidovirfalarcomele,nãotinha?ForanamoradadeCedrico;podiamuitobemter odiadoHarry por sair vivo do labirinto do Tribruxo enquanto Cedricomorrera, ainda assim,estava falando com ele de maneira perfeitamente amigável e não como se o achasse doido, nemmentirosonemresponsável,dealgumamaneirasinistra,pelamortedonamorado...sim,semamenor
dúvida,ela resolveravir falarcomele,epelasegundavezemdoisdias...e,comestepensamento,Harrycomeçouaseanimar.AtémesmoosomagourentodaportadamasmorradeSnaperangendoaoabrirnãoestourouabolhinhadeesperançaquepareciatercrescidoemseupeito.Eleentrounasala atrás deRony eMione, e os acompanhou àmesa de sempre, no fundo da sala, ignorando osruídosríspidoseirritadosqueambosproduziam.–Quietos–disseSnapefriamente,fechandoaportaaopassar.Nãohaviarealnecessidadededaressaordem;nomomentoemqueaturmaouviuaportafechar,o
silêncio se instaloue todoobulício terminou.AmerapresençadeSnapeera, emgeral, suficienteparagarantirosilênciodaclasse.– Antes de começarmos a aula de hoje – disse o professor, caminhando imponente até a
escrivaninha e correndo os olhos pelos alunos –, acho oportuno lembrar a todos que em junhopróximo prestarão um importante exame, no qual provarão o quanto aprenderam sobre acomposiçãoeousodaspoçõesmágicas.Pormaisdebiloidesquesejamalgunsalunosdestaturma,eu esperoqueobtenhamnomínimoum“Aceitável” no seuN.O.M., ou terãode enfrentar omeu...desagrado.OseuolharrecaiudestavezsobreNeville,queengoliuemseco.– Quando terminar este ano, naturalmente, muitos de vocês deixarão de estudar comigo –
continuouSnape.–SóaceitoosmelhoresnaminhaturmadePoçõespreparatóriaparaoN.I.E.M.,oquesignificaquealgunsdenóscertamentevamosdizeradeus.Seu olhar pousou emHarry e seu lábio se crispou. O garoto encarou-o de volta, sentindo um
prazersinistroempensarquepoderiadesistirdePoçõesdepoisdoquintoano.–Masaindateremosumanoantesdofelizmomentodasdespedidas–disseSnapesuavemente–,
portanto,pretendamounãotentarosexamesdosN.I.E.M.s,aconselhoatodosqueseconcentrememobteranotaaltaquesempreesperodosmeusalunosdeN.O.M.“HojevamosaprenderamisturarumapoçãoquesempreépedidanoexamedosNíveisOrdinários
emMagia: a Poção da Paz, uma beberagem para acalmar a ansiedade e abrandar a agitação.Masfiquemavisados:sepesaremmuitoamãonosingredientes,vãomergulharquemabeberemumsonopesadoeporvezesirreversível,porissoprestemmuitaatençãonoquevãofazer.”ÀesquerdadeHarry,Hermionesentou-semaisreta,comumaexpressãodeextremaatenção.–Osingredienteseométodo–Snapefezumgestorápidocomavarinha–estãonoquadro-negro
– (eles apareceram ali) –, encontrarão tudo de que precisam – ele tornou a agitar a varinha – noarmáriodoestoque–(aportadoarmáriomencionadoseabriu)–,evocês têmumahoraemeia...podemcomeçar.ExatamentecomoHarry,RonyeHermionehaviamprevisto,Snapenãopoderiaterpassadoparaos
alunosumapoçãomaisdifíciledemorada.Osingredientestinhamdeseracrescentadosaocaldeirãonaordemequantidadeprecisas;amisturatinhadesermexidaonúmeroexatodevezes,primeironosentidohorário,depoisnoanti-horário;ocaloreaschamasemqueapoçãoiacozinhartinhamdeserreduzidosaumnívelexato,porumnúmeroespecíficodeminutosantesdoúltimoingredienteseradicionado.–Umvaporclaroeprateadodevesedesprenderdapoção–avisouSnape–dezminutosantesde
ficarpronta.Harry,quesuavaprofusamente,correuoolhardesesperadopelamasmorra.Seucaldeirãoestava
liberandoumaenormequantidadedevaporcinza-escuro;odeRonycuspiafagulhasverdes.Simascutucavafebrilmenteaschamasnabasedocaldeirãocomapontadavarinha,poiselaspareciamestarse apagando.A superfície da poção deHermione, no entanto, apresentava uma névoa prateada devapor, equandoSnapepassouporelaolhoudoaltodo seunarigãosemfazercomentários,oquesignificava que não conseguira encontrar nada a criticar. Junto ao caldeirão de Harry, porém, o
professorparou,eolhou-ocomumhorrívelsorrisodeafetaçãonorosto.–Potter,queéquevocêachaqueistoé?OsalunosdaSonserinasentadosnafrentedasalaergueramacabeça,pressurosos:adoravamouvir
SnapeimplicarcomHarry.–APoçãodaPaz–respondeuogaroto,tenso.–Diga-me,Potter–perguntouSnapebaixinho–,vocêsabeler?DracoMalfoydeuumarisada.–Sei,simsenhor–disseHarry,osdedosapertandoavarinha.–Leiaaterceiralinhadasinstruçõesparamim,Potter.Harryapertouosolhosparaveroquadro-negro;nãoerafácillerasinstruçõesatravésdanévoa
devapormulticoloridoqueagoraenchiaamasmorra.–Acrescenteapedradaluamoída,mexatrêsvezesnosentidoanti-horário,deixecozinhardurante
seteminutos,depoisjunteduasgotasdexaropedeheléboro.Seuânimodespencou.Elenãojuntaraoheléboro,passaradiretoparaaquartalinhadasinstruções,
depoisdecozinharapoçãoduranteseteminutos.–Vocêfeztudoqueestavanaterceiralinha,Potter?–Não,senhor–respondeuHarrybaixinho.–Comodisse?–Não–repetiuogarotomaisalto.–Esquecioheléboro.–Euseiqueesqueceu,Potter,oquesignificaqueessaporcarianãoserveparanada.Evanesco!O conteúdo do caldeirão de Harry desapareceu; ele ficou parado como um tolo ao lado do
caldeirãovazio.–Osalunosqueconseguiramlerasinstruçõesenchamumfrascocomumaamostradesuapoção,
colem uma etiqueta com o seu nome escrito com clareza e tragam-no àminha escrivaninha paraverificação–disseSnape.–Deverdecasa:trintacentímetrosdepergaminhosobreaspropriedadesdapedradaluaeseususosnopreparodepoções,aserentreguenaterça-feira.Enquantotodosasuavoltaenchiamosfrascos,Harryguardouoqueeraseu,espumandoderaiva.
SuapoçãonãoestavapiordoqueadeRony,queagoraexalavaumcheirohorríveldeovopodre;ouadeNeville,queatingiraaconsistênciadecimentorecém-misturado,eagoraeletentavaextrairdocaldeirão;maseraapenasele,Harry,queiriareceberzeronotrabalhododia.Eleguardouavarinhanamochilaeselargounacarteira,observandoosdemaissedirigiremàescrivaninhadeSnapecomfrascos cheios e arrolhados. Quando finalmente a sineta tocou, Harry foi o primeiro a sair damasmorra, e já começara a almoçar quando Rony e Hermione vieram se juntar a ele no SalãoPrincipal.Otetosetransformaraemumcinzaaindamaissujoduranteamanhã.Achuvafustigavaasjanelas.–Foirealmenteinjusto–disseHermione,consolando-oe,sentando-seaoseulado,serviu-sedo
empadãodebatatacomcarnemoída.–AsuapoçãoestavaquasetãoruimquantoadeGoyle;quandoeleadespejounofrascoacoisaexplodiueincendiouasvestesdele.–É,fazeroquê–disseHarry,olhandocarrancudoparaoprato–,desdequandoSnapefoijusto
comigo?Osoutrosnãoresponderam;ostrêssabiamqueainimizadedeSnapeeHarryforaabsolutadesde
omomentoemqueoamigopuseraospésemHogwarts.–Eu realmente pensei que talvez ele fossemelhorar umpouquinho este ano – disseHermione,
desapontada.–Querodizer... sabe...–elaolhouparaos ladoscautelosamente;haviameiadúziadelugaresvaziosdecadaladodeleseninguémpassavapelamesa–agoraqueeleestánaOrdemetudo.–Cogumelosvenenososnãomudamsuanatureza–disseRonysabiamente.–Emtodoocaso,eu
sempre achei Dumbledoremeiomatusquela por confiar em Snape. Onde está a prova de que ele
realmenteparoudetrabalharparaVocê-Sabe-Quem?–Acho queDumbledore provavelmente temmuitas provas,mesmo que não as revele a você –
retorquiuHermione.– Ah, calem a boca, vocês dois – disse Harry, rudemente, quando Rony abriu a boca para
responder.HermioneeRonycongelaram,demonstrandoestarzangadoseofendidos.–Seráquenãopodemdarumtempo?Semprebrigandoumcomooutro,estãomeenlouquecendo.–E,largandooempadãopelametade,atirouamochilaàscostasedeixouosdoissentadosali.Harry subiu dois degraus de cada vez da escadaria de mármore, passando pelos numerosos
estudantesquecorriamparaalmoçar.A raivaqueacabaradeextravasar tão inesperadamenteaindaqueimava dentro dele, e a visão dos rostos chocados deRony eHermione lhe proporcionou umasensaçãodeprofundasatisfação.Bemfeitoparaeles,pensou,seráquenãopodemdarumdescanso...brigamotempotodo...ésuficienteparafazerqualquerumsubirpelasparedes...Emumdospatamares,elepassoupelogranderetratodeSirCadogan;ocavalheirodesembainhou
aespadaebrandiu-aferozmentecontraHarry,quenãolhedeuatenção.–Volte aqui seu cão pestilento! Fique parado e lute! – berrou com a voz abafada pelo visor da
armadura,masHarrysimplesmentecontinuouoseucaminhoe,quandoSirCadogantentousegui-lo,correndoparaoretratodolado,foirepelidoporseudono,umcachorrãodecaraferoz.Harrypassouorestodointervaloparaoalmoçosentadosozinhosoboalçapão,noaltodaTorre
Norte.Emconsequênciadisso,foioprimeiroasubiraescadaprateadaquelevavaàsaladeauladeSibilaTrelawney,quandoasinetatocou.DepoisdePoções,AdivinhaçãoeraaauladequeHarrymenosgostava,principalmenteporcausa
dohábitoquetinhaaProfaTrelawneydepredizersuamorteprematuracomfrequência.Umamulhermagra,envoltaempesadosxaleserefulgentedecolares,elasemprelembraraaHarryumaespéciedeinseto,cujosóculosampliavamenormementeseusolhos.Estavaatarefada,colocandoexemplaresde livros encadernados em couro,masmuito usados, sobre cada uma dasmesinhas instáveis queatravancavam sua sala, quando Harry entrou. Porém, a luz refletida pelos abajures cobertos porlençosdesedaepelofogobaixoenauseantedalareiraeratãofracaqueaprofessorapareceunãoternotadoapresençadogarotoquandoelesesentounassombras.Osdemaisalunosforamchegandonos cincominutos seguintes.Rony apareceu no alçapão, olhou atentamente a toda volta, localizouHarryeseencaminhoudiretoparaele,ouomaisdiretamentequepôde,depoisdecontornarmesas,cadeirasepufesrepolhudos.–Hermioneeeuparamosdediscutir–disseele,sentando-seaoladodoamigo.–Ótimo–resmungouHarry.–MasHermionedizqueachaqueserialegalsevocêparassededescontarsuaraivanagente.–Eunãoestou...–Euestousótransmitindoorecado–disseRony,interrompendo-o.–Masachoqueelatemrazão.
NãoénossaculpaomododoSimasedoSnapetrataremvocê.–Eununcadisseisso...–Bom-dia–saudouaProfaTrelawney,comavozdifusaesonhadoradesempre,eHarryparoude
falar, sentindo-se mais uma vez chateado e ligeiramente envergonhado. – E bom retorno àAdivinhação.Euestivenaturalmenteacompanhandoodestinodevocêscomamaioratençãoduranteas férias, e estou felicíssima que todos tenham voltado aHogwarts sãos e salvos, como, aliás, eusabiaqueaconteceria.“Vocês vão encontrar nasmesas à sua frente exemplares doOráculo dos sonhos, da autoria de
InigoImago.Ainterpretaçãodossonhoséummeiodosmaisimportantesparaadivinharofuturo,equeporissopodemuitoprovavelmenteserexigidonoseuN.O.M.Nãoqueeuacredite,éclaro,queseraprovadoounãoemumexametenhaamaisremotaimportância,quandotratamosdaartesagrada
daadivinhação.Seapessoa temoOlhoqueVê,oscertificadoseassériesconcluídasnãovêmaocaso.Contudo,odiretorgostaquevocêsprestemexames,portanto...”Avozdaprofessorafoibaixandodelicadamente,nãodeixandoaosalunosamenordúvidadeque
elaconsideravaasuadisciplinaacimadedetalhessórdidoscomoexames.– Abram, por favor, na Introdução, e leiam o que Imago tem a dizer sobre a interpretação de
sonhos.Depois, quero que se dividam empares e usemoOráculo dos sonhos para interpretar ossonhosmaisrecentesumdooutro.Comecem.Umacoisaboaadizerdestaaulaéquenãoduravadoistempos.Naalturaemquetodosterminaram
deleraintroduçãoaolivro,restavammenosdedezminutosparaainterpretaçãodesonhos.Namesaao lado da deHarry e Rony,Dino fizera par comNeville, que imediatamente embarcou em umainterminável explicação sobreumpesadeloque envolviauma tesouragigantescausandoomelhorchapéudesuaavó;HarryeRonyapenasseentreolharamsombriamente.–Nuncamelembrodosmeussonhos–disseRony.–Contavocê.–Vocêdevelembrarpelomenosumdeles–disseHarry,impaciente.Elenãoiadividirseussonhoscomninguém.Sabiaperfeitamentebemoquesignificavaopesadelo
frequentecomumcemitério,enãoprecisavadeRonynemdaProfaTrelawney, nemdaquele livroidiotaparalhedizer.–Bom,umanoitedessaseusonheiqueestavajogandoquadribol–disseRony,contraindoorosto
numesforçoparaselembrar.–Queéquevocêachaqueissosignifica?–Provavelmentequevocêvaiserdevoradoporummarshmallowgiganteououtracoisaassim–
disseHarry,folheandoaspáginasdoOráculodossonhos,seminteresse.Eraumtrabalhomuitosemgraça procurar fragmentos de sonhos noOráculo, e Harry não se sentiumais animado quando aprofessoramandouprepararumdiáriocomossonhosdeummês,comodeverdecasa.Quandoasinetatocou,eleeRonyforamosprimeirosadescerpelaescada,Ronyresmungandoemvozalta.–Vocêjápercebeuquantodeverdecasajátemos?Binnsmandoufazerumtrabalhodequarentae
cinco centímetros sobre as guerras dos gigantes, Snape quer trinta centímetros sobre o uso daspedrasdalua,eagoratemosdefazerumdiáriodesonhosduranteummêsparaTrelawney!FredeJorgenãoestavamerradossobreoanodosexames,sabe?ÉmelhoraquelatalUmbridgenãonosdarnada...QuandoosdoisentraramnasaladeauladeDefesaContraasArtesdasTrevas,encontraramaProfa
Umbridge jásentadaàescrivaninha,usandoocasaquinhopeludocor-de-rosadanoiteanterioreolaço de veludo preto na cabeça. Novamente Harry se lembrou, sem querer, de um moscãoencarrapitadoinsensatamentenacabeçadeumsapoaindamaior.Aturmaentrounasalaemsilêncio;aProfaUmbridgeera,atéaquelemomento,umaincógnita,e
ninguémsabiaseseriaounãoadeptadadisciplinarigorosa.–Bom,boa-tarde!–disseelafinalmente,quandoaturmainteiraacaboudesentar.Algunsalunosmurmuraram“boa-tarde”emresposta.–Tss-tss–muxoxouaprofessora.–Assimnãovaidar,concordam?Eugostariaqueossenhores,
porfavor,respondessem:“Boa-tarde,ProfaUmbridge.”Maisumavez,porfavor.Boa-tarde,classe!–Boa-tarde,ProfaUmbridge–entoaramosalunosmonotonamente.–Agorasim–disseaprofessoracommeiguice.–Nãofoimuitodifícil,foi?Guardemasvarinhas
eapanhemaspenas.Muitosalunostrocaramolharessombrios;nuncaantesàordem“guardemasvarinhas”seseguira
umaaulaqueelesachasseminteressante.Harryenfiouavarinhadevoltanamochilaeapanhoupena,tinta e pergaminho. A Profa Umbridge abriu a bolsa e tirou a própria varinha, que eraexcepcionalmentecurta,ecomeladeuumapancadafortenoquadro-negro;imediatamenteapareceualiescrito:
DefesaContraasArtesdasTrevasUmRetornoaosPrincípiosBásicos
–Bom,oensinoquereceberamdestadisciplinafoiumtantointerrompidoefragmentário,nãoémesmo?–afirmouaProfaUmbridge,virando-separaencarara turma,comasmãosperfeitamentecruzadasdiantedocorpo.–Amudançaconstantedeprofessores,muitosdosquaisnãoparecemterseguido nenhum currículo aprovado pelo Ministério, infelizmente teve como consequência ossenhoresestaremmuitoabaixodospadrõesqueesperaríamosvernoanodosN.O.M.s.“Ossenhoresficarãosatisfeitosdesaber,porém,quetaisproblemasagoraserãocorrigidos.Este
ano iremos seguir um curso de magia defensiva, aprovado pelo Ministério e cuidadosamenteestruturadoemtornodateoria.Copiemoseguinte,porfavor.”Elatornouabaternoquadro;aprimeiramensagemdesapareceuefoisubstituídapor“Objetivos
doCurso”.
1.Compreenderosprincípiosquefundamentamamagiadefensiva.2.Aprenderareconhecerassituaçõesemqueamagiadefensivapodelegalmenteserusada.3.Inserirousodamagiadefensivaemcontextodeuso.
Por alguns minutos o som de penas arranhando pergaminhos encheu a sala. Depois que todoscopiaramostrêsobjetivosdocursodaProfaUmbridge,elaperguntou:–TodostêmumexemplardeTeoriadamagiadefensivadeWilbertSlinkhard?Ouviu-seummurmúriobaixodeconcordânciaportodaasala.–Acho que vou tentar outra vez – disse ela. –Quando eu fizer uma pergunta, gostaria que os
senhoresrespondessem:“Sim,senhora,ProfaUmbridge”ou“Não,senhora,ProfaUmbridge”.Então:todostêmumexemplardeTeoriadamagiadefensivadeWilbertSlinkhard?–Sim,senhora,ProfaUmbridge–ecoouarespostapelasala.– Ótimo. Eu gostaria que os senhores abrissem na página cinco e lessem o Capítulo Um,
“ElementosBásicosparaPrincipiantes”.Nãoprecisarãofalar.AProfaUmbridgedeuascostasaoquadroeseacomodounacadeira,àescrivaninha,observando
todos os alunos, com aqueles olhos empapuçados de sapo. Harry abriu à página cinco do seuexemplardeTeoriadamagiadefensivaecomeçoualer.Eradesesperadamentemonótono,tãoruimquantoescutaroProf.Binns.Sentiusuaconcentraçãoir
fugindo;logotinhalidoamesmalinhameiadúziadevezes,semabsorvernadaalémdasprimeiraspalavras.Váriosminutossepassaramemsilêncio.Aoseulado,Ronyviravaereviravaapenaentreosdedosdistraidamente,osolhosfixosnomesmopontodapágina.Harryolhouparaadireitaeteveuma surpresa que sacudiu o seu torpor. Hermione nem sequer abrira seu exemplar de Teoria damagiadefensiva.OlhavafixamenteaProfaUmbridgecomamãolevantada.Harry não se lembrava deHermione jamais ter deixado de ler quando amandavam fazê-lo, ou
resistir à tentaçãode abrir qualquer livroquepassasse embaixodo seunariz.Olhou-a, indagador,mas ela meramente balançou a cabeça, a indicar que não ia responder perguntas, e continuou aencararaprofessora,queolhavacomigualresoluçãoparaooutrolado.Depois de se passarem vários minutos, porém, Harry já não era o único que olhava para
Hermione. O capítulo que a professora os mandara ler era tão tedioso que um número cada vezmaior de alunos estava preferindo observar a muda tentativa de Hermione de ser notada pelaprofessoraacontinuarpenandoparaleros“ElementosBásicosparaPrincipiantes”.QuandomaisdametadedaclasseestavaolhandoparaHermioneenãoparaoslivros,aprofessora
pareceudecidirquenãopodiacontinuaraignorarasituação.–Queriameperguntaralgumacoisasobreocapítulo,querida?–perguntouelaaHermione,como
setivesseacabadoderepararnela.–Não,nãoésobreocapítulo–respondeuHermione.–Bem,éoqueestamoslendoagora–disseaprofessora,mostrandoseusdentinhospontiagudos.–
Seasenhoritatemoutrasperguntas,podemostratardelasnofinaldaaula.–Tenhoumaperguntasobreosobjetivosdocurso–disseHermione.AProfaUmbridgeergueuassobrancelhas.–Ecomoéoseunome?–HermioneGranger.–Muitobem,Srta.Granger,achoqueosobjetivosdocursosãoperfeitamenteclarosselidoscom
atenção–respondeuemumtomdeintencionalmeiguice.–Bem,eunãoachoqueestejam–concluiuHermionesecamente.–Nãohánadaescritonoquadro
sobreousodefeitiçosdefensivos.Houve um breve silêncio em quemuitos alunos da turma viraram a cabeça para reler, de testa
franzida,ostrêsobjetivosdocursoaindaescritosnoquadro-negro.–O uso de feitiços defensivos? – repetiu a Profa Umbridge, dando uma risadinha. – Ora, não
consigoimaginarnenhumasituaçãoquepossasurgirnestasaladeaulaqueexijaousodeumfeitiçodefensivo,Srta.Granger.Comcertezanãoestáesperandoseratacadaduranteaaula,está?–Nãovamosusarmagia?–exclamouRony,emvozalta.–Osalunoslevantamamãoquandoqueremfalarnaminhaaula,Sr...?–Weasley–respondeuRony,erguendoamãonoar.A Profa Umbridge, ampliando o seu sorriso, virou as costas para ele. Harry e Hermione
imediatamenteergueramasmãostambém.OsolhosempapuçadosdaprofessorasedetiveramporummomentoemHarry,antesdesedirigiraHermione.–Sim,Srta.Granger?Quermeperguntarmaisalgumacoisa?–Quero.CertamenteaquestãocentralnaDefesaContraasArtesdasTrevaséapráticadefeitiços
defensivos.–AsenhoritaéumaespecialistaeducacionaldoMinistériodaMagia,Srta.Granger?–Não,mas...–Bem,então,receioquenãoestejaqualificadaparadecidirqualéa“questãocentral”emnenhuma
disciplina. Bruxos mais velhos e mais inteligentes que a senhorita prepararam o nosso novoprogramadeestudos.Asenhoritairáaprenderarespeitodosfeitiçosdefensivosdeummodoseguroelivrederiscos...–Paraqueserviráisso?–perguntouHarry,emvozalta.–Seformosatacados,nãoseráemum...–Mão,Sr.Potter!–entoouaProfaUmbridge.Harry empunhouo dedo no ar.Mais umavez, a professora prontamente lhe deu as costas,mas
agoraváriosoutrosalunostinhamerguidoasmãos.–Eoseunomeé?–perguntouaprofessoraaDino.–DinoThomas.–Diga,Sr.Thomas.–Bem,écomodisseoHarry,nãoé?Sevamosseratacados,entãonãoserálivrederiscos.–Repito–disseaprofessora,sorrindoparaDinodemodomuitoirritante–,osenhoresperaser
atacadoduranteasminhasaulas?–Não,mas...AProfaUmbridgeinterrompeu-o.–Não quero criticar omodo como as coisas têm sido conduzidas nesta escola – disse ela, um
sorrisopoucoconvincentedistendendosuabocarasgada–,masossenhoresforamexpostosaalgunsbruxosmuitoirresponsáveisnestadisciplina,defatomuitoirresponsáveis,istoparanãofalar–eladeuumarisadinhadesagradável–emmestiçosextremamenteperigosos.–SeasenhoraestásereferindoaoProf.Lupin–disseDino,zangado,esganiçandoavoz–,elefoi
omelhorquejá...– Mão, Sr. Thomas! Como eu ia dizendo: os senhores foram apresentados a feitiços muito
complexos, impróprios para a sua faixa etária e potencialmente letais. Alguém os amedrontou,fazendo-osacreditarnaprobabilidadededepararemcomataquesdastrevascomfrequência...–Não,istonãoaconteceu–protestouHermione–,sóque...–Suamãonãoestáerguida,Srta.Granger!Hermioneergueuamão.AProfaUmbridgevirou-lheascostas.– Pelo que entendi, omeu antecessor não somente realizoumaldições ilegais em sua presença,
comochegouaaplicá-lasnossenhores.–Ora,nofimficouprovadoqueeleeraummaníaco,nãofoi?–respondeuDino,acalorado.–E
vejabem,aindaassimaprendemosumbocado.–Suamãonãoestáerguida,Sr.Thomas!–gorjeouaprofessora.–AgoraoMinistérioacreditaque
umestudoteóricoserámaisdoquesuficienteparaprepará-losparaenfrentarosexames,que,afinal,é para o que existe a escola. E o seu nome é? – acrescentou ela, fixando o olhar emParvati, queacabaradeergueramão.–ParvatiPatil,enãotemumapequenapartepráticanonossoN.O.M.deDefesaContraasArtesdas
Trevas?Nãotemosdedemonstrarquesomoscapazesderealizarcontrafeitiçosecoisasassim?–Desdequetenhamestudadoateoriacommuitaatenção,nãohárazãoparanãoseremcapazesde
realizar feitiços sob condições de exame cuidadosamente controladas – respondeu a professora,encerrandooassunto.–Semnuncaterpraticadoosfeitiçosantes?–perguntouParvati, incrédula.–Asenhoraestános
dizendoqueaprimeiravezquepoderemosrealizarfeitiçosseráduranteoexame?–Repito,desdequetenhamestudadoateoriacommuitaatenção...–Eparaquevaiservira teorianomundoreal?–perguntouHarryemvozalta,seupunhomais
umaveznoar.AProfaUmbridgeergueuacabeça.–Istoéumaescola,Sr.Potter,nãoéomundoreal–dissemansamente.–Entãonãodevemosnosprepararparaoqueestaránosaguardandoláfora?–Nãohánadaaguardandoláfora,Sr.Potter.–Ah, é? –A raiva deHarry, que parecia estar borbulhando sob a superfície o dia todo, agora
começouaatingiropontodeebulição.–Queméqueosenhorimaginaquequeiraatacarcriançasdesuaidade?–perguntouaprofessora,
numtomhorrivelmentemeloso.–Humm,vejamos...–disseHarrynumavozfingidamentepensativa.–Talvez...LordeVoldemort?Ronyofegou.LiláBrown soltouumgritinho.Neville escorregoupela lateral dobanco.AProfa
Umbridge, porém, nem sequer piscou. Estava encarando Harry com uma expressão de sinistrasatisfaçãonorosto.–DezpontosperdidosparaaGrifinória,Sr.Potter.Asalaficouparadaeemsilêncio.TodosolhavamparaUmbridgeouparaHarry.–Agoragostariadedeixaralgumascoisasmuitoclaras.AProfaUmbridge ficou em pé e se curvou para a turma, suasmãos de dedos grossos e curtos
abertassobreaescrivaninha.–Ossenhoresforaminformadosdequeumcertobruxodastrevasretornoudoalém...
–Elenãoestavamorto–protestouHarryzangado–,mas,simsenhora,eleretornou!–Sr.Potter-o-senhor-já-fez-sua-casa-perder-dez-pontos-não-piore-ascoisas-para-si-mesmo–disse
aprofessorasempararpararespiraresemolharparaele.–Comoeuiadizendo,ossenhoresforaminformadosdequeumcertobruxodastrevasestánovamentesolto.Istoémentira.–NÃOémentira!–disseHarry.–Euovi,luteicomele.–Detenção,Sr.Potter!–disseaProfaUmbridge,emtomdetriunfo.–Amanhãàtarde.Cincohoras.
Na minha sala. Repito, isto é uma mentira. O Ministério da Magia garante que não estamosameaçadospornenhumbruxodas trevas.Seossenhorescontinuampreocupados,nãoseacanhem,venhammeverquandoestiveremlivres.Sealguémestáalarmandoossenhorescomlorotassobrebruxosdastrevasrenascidos,eugostariadeserinformada.Estouaquiparaajudar.Sousuaamiga.Eagora,porfavor,continuemsualeitura.Páginacinco.“ElementosBásicosparaPrincipiantes”.A Profa Umbridge sentou-se à escrivaninha. Harry, no entanto, ficou em pé. Todos o olhavam;
Simaspareciameioapavorado,meiofascinado.– Harry, não! – sussurrou Hermione, em tom de alerta, puxando-o pela manga, mas ele
desvencilhouobraçodamãodaamiga.–Então, segundo a senhora,CedricoDiggory caiumorto porque quis, foi? – perguntouHarry,
comavoztremendo.A turma prendeu coletivamente a respiração, porque nenhum colega, exceto Rony eHermione,
jamais ouvira Harry falar do que acontecera na noite em que Cedrico morrera. Todos olhavamavidamente de Harry para a professora, que erguera os olhos e encarava o garoto sem omenorvestígiodefalsosorrisonorosto.–AmortedeCedricoDiggoryfoiumtrágicoacidente–disseela,comfrieza.–Foiassassinato–disseHarry.Elesentiaseucorpotremer.Poucofalaracomoutraspessoassobre
isso,emuitomenoscomtrintacolegasqueoescutavamansiosos.–Voldemortomatou,easenhorasabedisso.OrostodaProfaUmbridgeestavainexpressivo.Porummomento,Harrypensouquefosseberrar
comele.Entãoelafalou,comasuavozmaismacia,maismeigaemaisinfantil:–Venhacá,Sr.Potter,querido.Elechutousuacadeiraparaolado,contornouRonyeHermioneefoiàescrivaninhadaprofessora.
Podiasentirorestodaclasseprendendoarespiração.Estavatãofuriosoquenãoseimportavacomoquefosseacontecer.AProfaUmbridgepuxouumpequenorolodepergaminhocor-de-rosadabolsa,esticou-osobrea
escrivaninha,molhouapenanotinteiroecomeçouaescrever,curvadasobreopergaminhoparaqueHarrynãopudesseveroqueestavaescrevendo.Ninguém falava.Passadoumminutoepouco, elaenrolouopergaminhoelhedeuumtoquecomavarinha;eleseselou,sememendas,demodoqueogarotonãoopudesseabrir.–LeveistoàProfaMcGonagall,querido–disseestendendoaeleobilhete.Harry apanhou-o sem dizer palavra e saiu da sala, sem sequer olhar para Rony e Hermione,
batendoaportaaopassar.Andoumuitodepressapelocorredor,obilheteparaMcGonagallapertadonamão,mas, aovirar umcanto, deude cara comPirraça, o poltergeist, umhomenzinhode bocagrandequeflutuavadecostasnoar,fazendomalabarismoscomváriostinteiros.–Ora,éoPiradodoPotter!–gargalhouPirraça,deixandodoistinteiroscaíremnochão,ondese
estilhaçaram,salpicandotintanasparedes;Harrypulouparatrásparaescapar,erosnou.–Dáofora,Pirraça.–ÔÔÔÔ,oPiradoestáirritado–exclamouPirraça,perseguindoHarrypelocorredor,caçoando
enquanto o sobrevoava. –Que foi desta vez,meu querido amigo Pirado?Ouvindo vozes? Tendovisões?Falando–Pirraçaproduziuumruídoporcocomaboca–línguas?
–Eudisse,medeixaemPAZ!–berrouHarry,descendoolancemaispróximodeescadasacorrer,masPirraçasimplesmenteescorregoudecostaspelocorrimãodaescada.
Ah,muitosachamqueeleestárosnando,opobrePottinho,Masoutrossãomaiscaridososedizemqueestásótriste,MasPirraçasabedascoisasedizqueépurapiração...
–CALAABOCA!Uma porta à sua esquerda escancarou-se e a Profa McGonagall saiu de sua sala parecendo
implacáveleligeiramenteestressada.–Afinalporqueéquevocêestágritando,Potter?–perguntoucomrispidez,enquantoPirraçadava
divertidasgargalhadasedesapareciadevista.–Porquenãoestáemaula?–Memandaramverasenhora–disseHarryformalmente.–Mandaram?Queéquevocêquerdizercommandaram?EleestendeuobilhetedaProfaUmbridge.AProfaMcGonagallapanhou-o,franzindoatesta,abriu-
ocomumtoquedevarinha,desenrolou-oecomeçoualer.Seusolhoscorreramdeumladoaoutropor trásdosóculosquadradosenquanto liaoqueUmbridgeescrevera,eacada linhase tornavammaisapertados.–Venhaaqui,Potter.Eleentrouatrásdelanasala.Aportasefechouautomaticamente.–Então?–perguntou-lheaprofessora,zangada.–Éverdade?– É verdade o quê? – perguntou Harry, um pouco mais agressivamente do que pretendera. –
Professora?–acrescentoutentandoparecermaiseducado.–ÉverdadequevocêgritoucomaProfaUmbridge?–Sim,senhora.–Chamou-adementirosa?–Chamei.–DisseaelaqueAquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeadoretornou?–Sim,senhora.AProfaMcGonagallsentou-seàescrivaninha,observandoHarrycomatestaenrugada.Entãodisse:–Comaumbiscoito,Harry.–Coma...oquê?–Comaumbiscoito–repetiuelaimpaciente,apontandoumalatacomestampaescocesaemcima
deumadaspilhasdepapéissobresuamesa.–Esente-se.TinhahavidoumaoutraocasiãoemqueHarryesperaralevarumasbastonadasdaprofessora,mas,
emlugardisso,foraindicadoporelaparaaequipedequadriboldaGrifinória.Elesedeixouafundarnacadeiraà frentedaescrivaninhaeseserviudeumtritãodegengibre, sentindo-se tãoconfusoeatrapalhadoquantonaocasiãoanterior.AProfaMcGonagalldepositouobilhetesobreaescrivaninhaeolhoumuitosériaparaHarry.–Potter,vocêprecisatercuidado.Harryengoliuobiscoitoeencarouaprofessora.Seutomdevoznãosepareciacomoqueeleestavaacostumadoaouvir;nãoeraenérgico,seco
nemsevero;erabaixoeansiosoe,dealgumaforma,muitomaishumanodoqueohabitual.–OmaucomportamentonaclassedeDoloresUmbridgepoderá lhecustarmuitomaisdoquea
perdadepontoseumadetenção.–Queéqueasenhora...–Potter,useobom-senso–retorquiuaProfaMcGonagall,comumbruscoretornoàsuamaneira
usual.–Vocêsabedeondeelavem,vocêdevesaberaquemelaestásereportando.Asinetatocouanunciandoofimdaaula.Noandardecimaeportodososlados,ouviu-seotropel
elefantinodecentenasdeestudantesemmarcha.–Dizaquiqueelalhedeuumadetençãoparacadanoitedestasemanaacomeçaramanhã–disse
McGonagall,tornandoaconsultarobilhete.–Todasasnoitesdestasemana!–repetiuHarryhorrorizado.–Mas,professora,seráqueasenhora
nãopoderia...?–Nãopoderia–respondeuelataxativamente.–Mas...–Elaésuaprofessoraetemtodoodireitodelhedardetenções.Vocêseapresentaránasaladela
amanhãàscincohorasparaaprimeira.Lembre-se,pisemansinhopertodeDoloresUmbridge.–Maseuestavadizendoaverdade!–disseHarry,indignado.–Voldemortvoltou,asenhorasabe
quesim;oProf.Dumbledoresabequesim...–PeloamordeDeus,Potter!–exclamouaProfaMcGonagall,acertandoosóculos,muitozangada
(contraírahorrivelmenteorostoquandoeleusaraonomedeVoldemort).–Vocêacharealmentequeoqueestáemjogosãoverdadesoumentiras?Oqueestáemjogoémanterasuacabeçabaixaeasuairritaçãosobcontrole!Elaselevantou,asnarinasabertaseabocamuitofina,eHarryfezomesmo.–Comaoutrobiscoito–disse,irritada,empurrandoalataparaogaroto.–Não,muitoobrigado–disseHarry,comfrieza.–Nãosejaridículo–ralhouMcGonagall.Eletiroumaisum.–Obrigado–agradeceudemávontade.–VocênãoescutoucomatençãoodiscursodeDoloresUmbridgenobanquetedeaberturadoano
letivo,Potter?– Escutei, sim. Eu a escutei... dizer... o progresso será proibido ou... bem, queria dizer que... o
MinistériodaMagiaestátentandointerferiremHogwarts.A Profa McGonagall mirou-o por um momento, depois fungou, contornou a escrivaninha e
segurouaportaabertaparaele.–Bem,ficocontentequepelomenosvocêescuteaHermioneGranger–disse,mandando-osair
comumgesto.
—CAPÍTULOTREZE—AdetençãocomDolores
O jantarnoSalãoPrincipal àquelanoitenão foi umaexperiência agradávelparaHarry.AnotíciasobreoseutorneiodegritoscomUmbridgeseespalharacomexcepcionalvelocidade,mesmoparaos padrões deHogwarts. Ele ouviu cochichos a toda volta enquanto comia, sentado entre Rony eHermione.O engraçado é que nenhum dos colegas que cochichavam parecia se importar que eleouvisse o que diziam a seu respeito.Muito ao contrário, pareciam esperar que ele se zangasse erecomeçasseagritar,parapoderouvirahistóriaemprimeiramão.–EledizqueviuCedricoDiggoryserassassinado...–EleachaqueenfrentouVocê-Sabe-Quem...–Ah,qualé...–Queméqueeleachaqueestáenganando?–Nemvem...–Oquenãoentendo–disseHarry,comavozvacilante,descansandoafacaeogarfo(suasmãos
tremiam demais para segurá-los com firmeza) – é por que todos acreditaram na história há doismesesquandoDumbledoreacontou...–A questão é,Harry, que não tenhomuita certeza de que acreditaram – disseHermionemuito
séria.–Ah,vamossairdaqui.Elabateucomosprópriostalheresnamesa;Ronyolhoucobiçosoparaatortademaçãqueainda
nãoterminara,masacompanhou-os.Aspessoasficaramolhandoostrêssaíremdosalão.–OquequisdizercomessahistóriadenãotercertezadequetenhamacreditadoemDumbledore?
–perguntouHarryaHermione,quandochegaramaopatamardoprimeiroandar.–Olhe, você não entende como foi depois que a coisa aconteceu – explicouHermione emvoz
baixa.–VocêchegounomeiodogramadosegurandoocadáverdoCedrico...nenhumdenósviuoque aconteceu no labirinto... Só tínhamos a palavra doDumbledore de queVocê-Sabe-Quem tinharetornado,matadoCedricoelutadocomvocê.–Oqueéverdade!–disseHarryemvozalta.–Euseiqueé,Harry,por issoseráquepode,por favor,parardeseenfurecercomigo?–pediu
Hermione,cansada.–Sóqueantesdepoderemassimilaraverdade,todosforamembora,passarasfériasemcasa,lendodurantedoismesesquevocêépiradoeDumbledoreestáficandosenil!Achuvamartelavaasvidraçasenquantovoltavam,peloscorredoresvazios,àTorredaGrifinória.
Harry teve a sensação de que seu primeiro dia havia durado uma semana,mas ainda restava umamontanhadedeveresparafazerantesdedeitar.Umadorlatejantecomeçouasefixarsobreseuolhodireito. Ele espiou pelas janelas, lavadas de chuva, os terrenos da escola, agora escuros, antes devirarparaocorredordaMulherGorda.AcabanadeHagridcontinuavaapagada.–Mimbulusmimbletonia–disseHermione,antesqueaMulherGordapudesseperguntar.Oquadro
girou,expondooburacoqueocultava,eostrêspassaram.A sala comunal estava quase vazia; a maioria dos alunos ainda jantava no salão. Bichento se
desenroscouedeixouapoltronaparairaoencontrodeles,ronronandoalto,equandoHarry,RonyeHermioneseacomodaramemsuascadeirasfavoritas,diantedalareira,elesaltoucomlevezaparao
colodadonaeseaconchegoualicomoumaalmofadinhalaranjaepeluda.Harrypôs-seacontemplaraschamas,sentindo-sevazioeexausto.–ComoDumbledorepôdeterdeixadoissoacontecer?!–exclamouHermionederepente,fazendo
Harry e Rony se sobressaltarem. Bichento pulou do colo dela, parecendo ofendido. Ela socou osbraçosdapoltrona, furiosa, fazendopedacinhosdoenchimentoescaparempelospuídos.–Comoéqueelepôdedeixaraquelamulherhorríveldaraulasparanós?EjustamentenoanoemquetemosdeprestarosN.O.M.s?–Bom,nuncativemosgrandesprofessoresdeDefesaContraasArtesdasTrevas,tivemos?–disse
Harry. – Você sabe qual é a situação, Hagrid nos contou, ninguém quer o cargo, dizem que estáazarado.– É, mas daí a empregar alguém que se recusa a nos deixar praticar magia! Qual é a do
Dumbledore?– E ainda por cima está tentando convencer as pessoas a espionarem para ela – disse Rony
sombriamente.–EstãolembradosdequandoeladissequequeriaqueagentefossecontarseouvissealguémdizendoqueVocê-Sabe-Quemvoltou?–Éclaroqueelaestáaquiparaespionar,istoéóbvio,porqueoutrarazãoFudgeiriaquererque
elaviesse?–retorquiuHermione.– Não comecem a discutir outra vez – disse Harry, cansado, quando Rony abriu a boca para
revidar.–Seráquenãopodemos...vamossófazerosdeveres,tirá-losdocaminho...Eles apanharam asmochilas a um canto e tornaram a sentar nas poltronas diante da lareira.As
pessoasestavamvoltandodojantaragora.Harrymanteveorostodesviadodoburacodoretrato,masaindaassimsentiaosolharesqueestavaatraindo.–Vamos fazer o doSnapeprimeiro? – perguntouRony,mergulhando a pena no tinteiro. – “As
propriedades... da pedra da lua... e seus usos... na preparação de poções” – murmurou ele,escrevendoaspalavrasnotopodopergaminho,aomesmotempoqueasenunciava.–Pronto.Elesublinhouotítulo,depoisergueuosolhosparaHermione,cheiodeexpectativa.–Então,quaissãoaspropriedadesdapedradaluaeseususosnapreparaçãodepoções?MasHermionenãoestavaouvindo;tinhaosolhosapertados,tentandoverocantomaisdistanteda
sala,ondeFred,JorgeeLinoJordanestavamsentadosnomeiodeumgrupinhodecalourosdearinocente,todosmastigandoalgumacoisaquepareciatersidotiradadeumgrandesacodepapelnamãodeFred.– Não, sinto muito, mas agora eles foram longe demais – disse ela se levantando com um ar
decididamentefurioso.–Vamos,Rony.–Eu...quê?–perguntouRony,procurandovisivelmenteganhartempo.–Não...vamos,Hermione...
nãopodemosrepreenderoscarasporestaremdistribuindodoces.–VocêsabeperfeitamentebemquesãopedaçosdeNugáSangra-Narizou...ouVomitilhasou...–FantasiasDebilitantes?–sugeriuHarryemvozbaixa.Um a um, como se uma marreta invisível tivesse acertado uma pancada na cabeça deles, os
calouros começaram a desmaiar nas poltronas; alguns escorregaram direto para o chão, outroscaíramporcimadosbraçosdapoltrona,comaslínguaspenduradasparafora.Amaioriadoscolegasqueobservavama cena ria;masHermione aprumouosombros emarchoudiretamentepara ondeestavamFredeJorgeagoraempé,pranchetasnamão,observandoatentamenteoscalouros.Ronyfezumesforçoparcialpara se levantardapoltrona,hesitouum instanteeemseguidamurmurouparaHarry:–Elaestácontrolandoasituação.–Eafundounapoltronaomáximoqueosseusossoscompridos
permitiram.–Jábasta!–disseHermionecomautoridadeaFredeJorge,fazendoosdoisergueremacabeça
ligeiramentesurpresos.–É, você tem razão – disse Jorge, confirmando coma cabeça –, essa dosagemparece bastante
forte,nãoé?–Eudisseavocêshojedemanhãquenãopodiamtestarsuasporcariasnosestudantes!–Nósestamospagandoaeles!–respondeuFred,indignado.–Nãomeinteressa,issopodeserperigoso!–Bobagem–disseFred.–Calmaaí,Hermione,elesestãobem!–tranquilizou-aLino,enquantoiadecalouroemcalouro,
enfiandodocesroxosemsuasbocasabertas.–Estãosim,olhe,estãorecuperandoossentidos–disseJorge.Algunsdoscalourosestavamdefatovoltandoasi.Váriosdelespareciamtãochocadosdesever
caídosnochão,oupenduradosnaspoltronas,queHarryteveacertezadequeFredeJorgenãolhesexplicaraoefeitodosdoces.–Estásesentindolegal?–perguntouJorgecarinhosamenteaumamenininhadecabelosescuros
caídaaosseuspés.–Acho...achoqueestou–respondeuela,trêmula.–Excelente!–exclamouFredmuitofeliz,mas,nosegundoseguinte,Hermionearrebataradesuas
mãosapranchetaeosacodepapelcomFantasiasDebilitantes.–NÃO,nãoéexcelente!–Claroqueé,elesestãovivos,nãoestão?–respondeuFred,zangado.–Vocênãopodefazerisso,esetivessedeixadoosgarotosrealmentedoentes?–Nãovamosdeixarninguémdoente,játestamososdocesemnósmesmos,istoésóparaverificar
setodoomundoreageigual...–Sevocêsnãopararemcomisso,euvou...–Nosdarumadetenção?–perguntouFred,emtomdequemdizquero-ver-você-tentar.–Mandaragenteescreverfrases?–perguntouJorge,debochando.Todos os que acompanhavam a cena estavam rindo. Hermione se empertigou; seus olhos se
estreitaramesuacabeleiradensapareceuestalardeeletricidade.–Não–disse,comavoztremendoderaiva–,masvouescreverparasuamãe.–Vocênãofariaisso–disseJorgehorrorizado,recuandoumpasso.–Ah,faria,sim–confirmouela,séria.–Nãopossoimpedirvocêsdecomeremessasporcarias,
masvocêsnãovãodá-lasaoscalouros.FredeJorgeficaramaterrados.Estavaclaroque,emsuaopinião,aameaçadeHermioneeraum
golpemuitobaixo.Comumúltimoolhardeameaçaaosgêmeos,elaatirouapranchetaeosacodeFantasiasDebilitantesnosbraçosdeFredevoltouàsuapoltronajuntoàlareira.Ronyagoraseenfiaratãonofundodapoltronaqueseunarizencostavanosjoelhos.–Obrigadapeloapoio,Rony–disseHermionecausticamente.–Vocêresolveuasituaçãomuitobemsozinha–murmurouele.Hermione olhou por alguns segundos para o pergaminho que deixara em branco, depois disse,
nervosa:–Ah,nãoadianta,agoranãoconsigomaismeconcentrar.Voumedeitar.Elaabriuamochilacomviolência;Harrypensouquefosseguardaroslivros,mas,emlugardisso,
tiroudoisobjetosdelãinformes,colocou-oscuidadosamentesobreamesajuntoàlareira,cobriu-oscomalgunspedaçosdepergaminhoamarrotadoseumapenaquebradaedeualgunspassosatrásparaadmiraroefeito.–EmnomedeMerlim,queéquevocêestá fazendo?–perguntouRony,observando-acomose
temessequeaamigaestivesseperdendoojuízo.
– São gorros para os elfos domésticos – esclareceu ela, animada, agora enfiando os livros namochila.–Fizduranteoverão.Souuma tricoteirabem lenta, semmagia,masagoraqueestoudevoltaàescolavoupoderfazermuitosmais.–Você vai deixar gorros para os elfos domésticos? – perguntouRony vagarosamente. – E vai
cobri-loscomlixo?–É–respondeuHermioneemtomdedesafio,atirandoamochilaàscostas.–Istonãoédireito–disseRonyzangado.–Vocêestáinduzindo-osaapanharemosgorros.Está
liberandooselfossemsaberseelesqueremserliberados.–Claroqueelesqueremserliberados!–respondeuHermionenamesmahora,emboraseurosto
começasseacorar.–Nãoseatrevaatocarnessesgorros,Rony!Elasaiudasala.RonyesperouatéHermionedesaparecerpelaportaquelevavaaodormitóriodas
garotas,depoistirouolixodecimadosgorrosdelã.–Elesprecisamaomenosveroqueestãoapanhando–dissecomfirmeza.–Emtodoocaso...–e
enrolouopergaminhoemque escreverao títulodo trabalhoparaSnape–, não tem sentido tentarterminarodeveragora,nãosoucapazdefazê-losemaMione.Nãotenhoamenorideiadoquesedevefazercompedrasdalua,evocê?Harrybalançouacabeça,reparando,aofazeressemovimento,queadoremsuatêmporadireita
piorava.Pensounolongotrabalhosobreasguerrasdosgigantesesentiuumapontadaforte.Sabendoperfeitamente que, quando amanhecesse, iria se arrepender de não ter terminado os deveres,empilhouoslivroseosguardounamochila.–Voumedeitartambém.PassouporSimasacaminhodaportaparaodormitóriodosgarotos,masnãooolhou.Harryteve
aimpressãofugazdequeocolegacomeçaraaabrirabocaparafalar,maseleapressouopassoealcançouapazreconfortantedaescadacircularsemterdesuportarmaisnenhumaprovocação.
Odiaseguinteamanheceutãoescuroechuvosoquantooanterior.Hagridcontinuavaausentedamesadosprofessoresduranteocafédamanhã.–Mas,doladopositivo,hojenãoteremosSnape–disseRonyparaanimar.Hermionedeuumenormebocejoeseserviudecafé.Pareciabemsatisfeitacomalgumacoisa,e
quandoRonylheperguntouqualeraomotivodetantasatisfação,elarespondeusimplesmente:–Osgorrosdesapareceram.Parecequeoselfosdomésticosafinalqueremserliberados.–Eu não confiaria nisso – disseRony, em tom cortante. –Talvez não contemos gorros como
roupas.Eunãoacheiqueparecessemgorros,pareciammaisbexigasdelã.Hermionenãofaloumaiscomeleorestodamanhã.AosdoistemposdeFeitiços,seguiram-seoutrosdoisdeTransfiguração.OProf.FlitwickeaProfa
McGonagall passaram os primeiros quinze minutos de suas aulas falando à turma sobre aimportânciadosN.O.M.s.– O que vocês precisam lembrar – disse o pequeno Prof. Flitwick, com sua voz de ratinho,
encarrapitadocomosempreemumapilhadelivrosparapoderverporcimadotampodamesa–équeessesexamespodeminfluenciaroseufuturodurantemuitosanos!Sevocêsaindanãopensaramseriamente em suas carreiras, agora é omomento de o fazerem. Entrementes, receio que iremostrabalharcommaisafincoquenunca,paragarantirquevocêspossamprovaroquevalem!Depoisdessaintrodução,elespassarammaisdeumahorarecordandoosFeitiçosConvocatórios,
que,segundooProf.Flitwick,cairiamcomcertezanosexames,eelearrematouaaulapassandoamaiorquantidadededeveresdeFeitiçosqueseusalunosjáhaviamrecebido.EmTransfiguração,foiigual,senãopior.–Vocêsnãopodempassarnosexames–disseaProfaMcGonagallmuitoséria–semseaplicarem
seriamenteaoestudoeàprática.NãovejorazãoalgumaparaalguémnestaclassedeixardepassarnoN.O.M.deTransfiguração,se trabalharcomodeve.–Neville fezummuxoxinhodedescrença.–Evocê também, Longbottom. Não há nenhum problema com o seu trabalho a não ser sua falta deconfiança.Então...hojevamoscomeçaraestudarosFeitiçosdeDesaparição.SãomaisfáceisdoqueosConjuratórios,quenormalmentevocêsnãoexperimentariamatéosN.I.E.M.s,masestãoincluídosentreasmágicasmaisdifíceisqueserãoexigidasnosN.O.M.s.McGonagall tinha toda razão;Harry achou os Feitiços deDesaparição dificílimos.No final do
segundotempodeaula,nemelenemRonytinhamconseguidofazerdesapareceraslesmascomqueestavampraticando,emboraRonyanunciasse,esperançoso,queachavaqueadeleficaraumpoucomaispálida.Poroutrolado,Hermionefezdesaparecer,comêxito,asualesma,naterceiratentativa,ganhando,daprofessora,dezpontosparaGrifinória.Foiaúnicapessoaquenãorecebeudeverdecasa; todososoutros receberamordemdepraticaro feitiçoeseprepararparaumanova tentativacomaslesmasnatardeseguinte.Agora,ligeiramenteempânicocomaquantidadededeveresdequeprecisavamdarconta,Harrye
Ronypassaramahoradoalmoçonabiblioteca,pesquisandoosusosdaspedrasdaluanopreparodepoções. Ainda zangada com a calúnia de Rony sobre seus gorros de lã, Hermione não osacompanhou.QuandochegaramàauladeTratodasCriaturasMágicas, à tarde, a cabeçadeHarryvoltouadoer.Odiasetornarafrioeventoso,equandodesciamogramadoemdireçãoàcabanadeHagrid,na
orla da Floresta Proibida, sentirampingos de chuva no rosto.AProfa Grubbly-Plank aguardava aturmaaunsdezmetrosdaportadeentradadeHagrid,empédiantedeumalongamesadecavaletecheiadegravetos.QuandoHarryeRonychegarammaisperto,ouviramgrandesgargalhadasàssuascostas; ao se virarem, viram Draco Malfoy, que vinha em sua direção, cercado pela gangue desempredecolegasdaSonserina.Obviamente,disseraalgomuitoengraçado,porqueCrabbe,Goyle,PansyParkinsoneosdemaiscontinuaramarirgostosamenteaosereunirememtornodamesa,e,ajulgarpelomodoinsistentedeolharparaHarry,elenãotevemuitadificuldadeemadivinharquemeraoalvodagraça.– Todos presentes? – perguntou em tom seco a Profa Grubbly-Plank, quando os alunos da
Sonserina eGrifinória finalmente chegaram. –Vamos começar logo, então.Quem é capaz demedizeronomedessascoisas?Aprofessoraindicouomontinhodegravetossobreamesa.AmãodeHermioneseergueu.Atrás
dela,MalfoyfezumaimitaçãodentuçadeHermionedandopulinhosdeansiedadepararesponderaperguntas.Pansy teveumacessode risoque se transformouquasenumgrito, quandoosgravetossobreamesasaltaramnoarerevelaramseparecercomminúsculosdiabretesdemadeira,cadaumcomnodososbraçosepernasmarrons,doisdedosdegravetonapontadasmãoseumacaragaiataeachatadaquelembravacortiça,emquebrilhavamdoisolhinhosdebesouro.–Uhhhhh!–exclamaramParvatieLilá,irritandoHarrycompletamente.Qualquerumpensariaque
Hagrid jamaismostrara às duas outros seres impressionantes; confessadamente, os vermes forammeiosemgraça,masassalamandraseoshipogrifostinhamsidobeminteressantes,eosexplosivinstalvezatédemais.–Porfavor, falembaixo,meninas!–disseaProfaGrubbly-Plankenergicamente,espalhandoum
punhadodealgoparecidocomarrozintegralentreosbichos-gravetos,queimediatamenteatacaramacomida.–Então...alguémsabeonomedessebichos?Srta.Granger?–Tronquilhos– respondeuHermione. –Sãoguardiõesde árvores, emgeral vivememárvores
própriasparavarinhas.–Cinco pontos para aGrifinória – disse a ProfaGrubbly-Plank. – São tronquilhos, como disse
corretamenteaSrta.Granger,emgeralvivememárvoresquefornecemmaterialdequalidadepara
varinhas.Alguémsabeoqueelescomem?–Bichos-de-conta–respondeuprontamenteHermione,oqueexplicavaporqueaquiloqueHarry
pensara serem grãos de arroz integral estava se mexendo. – E também ovos de fada, quandoconseguemencontrá-los.–Muitobem,garota,fiquecommaiscincopontos.Portanto,semprequeprecisaremdamadeirade
umaárvoreemqueháum tronquilhoalojado, ébom levarumpresentedebichos-de-contaàmãoparadistrairouaplacar seuguardião.Elespodemnãoparecerperigosos,mas, se forem irritados,tentarãoarrancarosolhosdapessoacomosdedos,que,comovocêsveem,sãomuitoafiadosenemum pouco desejáveis perto dos olhos. Então, se vocês quiserem se aproximar um pouco mais,apanhemunsbichos-de-contaeumtronquilho.Tenhoaquiosuficienteparadividi-losporgruposdetrês,vocêspodemestudá-loscommaisatenção.Queroquefaçamindividualmenteumesboçocomtodasaspartesdocorpoidentificadas,atéofinaldaaula.Aturmaavançouparaamesa.Harryintencionalmentedeuavoltaportrás,demodoaterminarao
ladodaProfaGrubbly-Plank.–AondefoioHagrid?–perguntouele,enquantoosoutrosescolhiamostronquilhos.–Nãoédasuaconta–respondeuaprofessora,reprimindo-o,amesmaatitudedaúltimavezque
Hagridnãoapareceraparadaraula.Comumsorrisoafetadoespalhadopelorostopontudo,DracoMalfoydebruçou-seporcimadeHarryeapanhouomaiortronquilhoquehavia.–Quemsabe–disseMalfoyameia-voz,demodoque somenteHarrypudesseouvi-lo–aquele
retardadãonãoacabousemachucandopravaler?–Quemsabeoquevailheacontecersenãocalaraboca?–respondeuHarrypelocantodaboca.–Vaivereleandasemetendocomcoisagrandedemaisparaele,seéqueestámeentendendo.Malfoyseafastourindo,porcimadoombro,paraHarry,querepentinamentesesentiumal.Será
que Malfoy sabia de alguma coisa? Afinal, o pai dele era um Comensal da Morte; e se tivesseinformaçãodequealgosucederaaHagrid,equeaindanãochegaraaoconhecimentodaOrdem?EletornouadaravoltaàmesadepressaefoisejuntaraRonyeHermione,queestavamacocoradosnagrama a alguma distância, tentando persuadir um tronquilho a parar quieto, tempo suficiente parapoderemdesenhá-lo.Harrypuxouopergaminhoeapena,agachou-seaoladodosoutrosecontou,aossussurros,oqueMalfoyacabaradefalar.–DumbledoresaberiasealgumacoisativesseacontecidoaoHagrid–disseHermionenamesma
hora.–MostrarpreocupaçãoéfazerojogodoMalfoy;édizeraelequenãosabemosexatamenteoqueestáacontecendo.Temosdeignorá-lo,Harry.Tomeaqui,segureotronquilhouminstante,paraeupoderdesenharacaradele...– É – ouviram a voz clara e arrastada de Malfoy no grupo mais próximo –, papai esteve
conversandocomoministroháunsdoisdias,sabe,eparecequeoMinistérioestárealmentedecididoa agir com rigor para acabar com o ensino de segunda classe desta escola. Por isso,mesmo queaqueleretardadosupernutridoreapareça,eleprovavelmenteserádespedidonahora!–AI!Harry apertara o tronquilho com tanta força que quase o partira, e o bicho acabara de revidar,
golpeando-lhe a mão com os dedos afiados, produzindo dois cortes longos e profundos. Harrylargou-o no chão. Crabbe eGoyle, que já estavam dando gargalhadas com a ideia deHagrid serdespedido, riram com mais vontade ao ver o tronquilho disparar em direção à floresta, umhomenzinho de graveto, logo engolido pelas raízes das árvores.Quando a sineta tocou ao longe,ecoandopelosterrenosdaescola,Harryenrolouoseudesenhomanchadodesangueefoiparaaaulade Herbologia, com a mão enrolada no lenço de Hermione, o riso zombeteiro deMalfoy aindaressoandoemseusouvidos.–SeelechamarHagridderetardadomaisumavez...–disseenfurecido.
–Harry,nãovábrigarcomMalfoy,nãoseesqueçadequeagoraeleémonitorepoderiafazersuavidamuitodifícil...– Uau, como seria uma vida muito difícil? – perguntou Harry sarcasticamente. Rony riu, mas
Hermionefranziuatesta.Juntos,elesforamandandopeloscanteirosdehortaliças.Océucontinuavaincapazdedecidirsequeriaounãochover.–EusógostariaqueHagridnãodemorasseavoltar,nadamais–disseHarryemvozbaixa,quando
chegaram às estufas. – E não me diga que a tal Grubbly-Plank é melhor como professora! –acrescentouemtomdeameaça.–Eunãoiadizer–respondeuHermionecalmamente.–PorqueelanuncavaisertãoboaquantooHagrid–afirmouele,muitíssimoconscientedeque
acabara de presenciar uma aula exemplar de Trato das CriaturasMágicas, e estava absolutamenteaborrecidocomisso.Aportadaestufamaispróximaseabriuealgunsalunosdoquartoanosaíram,inclusiveGina.–Oi–disseela,alegremente,aopassar.Algunssegundosdepois,saiuLunaLovegood,atrásdo
restodaturma,onarizsujodeterraeoscabelosamarradosemumnónoaltodacabeça.QuandoviuHarry,seusolhossalientespareceramsearregalardeexcitação,eelatraçouumaretaatéele.Muitoscolegas de Harry se viraram curiosos para olhar. Luna inspirou profundamente e anunciou, semsequer dar um alô preliminar: – Acredito que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado retornou, eacreditoquevocêlutoucomeleeconseguiufugir.–Hum...certo–disseHarry,semjeito.Lunaestavausandobrincosquepareciamrabanetescorde
laranja,algoqueParvatieLilápareciamternotado,porquedavamrisadinhaseapontavamparaasorelhasdela.–Podemrir–disseLuna,erguendoavoz,aparentementesoba impressãodequeParvatieLilá
estavam rindo do que ela dissera e não do que estava usando –, mas as pessoas achavam queBlibberingHumdingereCrumple-HornedSnorkacktambémnãoexistiam.– Ora, e tinham razão, não? – perguntou Hermione, impaciente. – Não havia Blibbering
HumdingernemCrumple-HornedSnorkack.Lunalançou-lheumolhardesecarplantaefoiembora,comummovimentodeimpaciênciaque
fazia os rabanetes balançarem loucamente. Parvati e Lilá agora não eram as únicas a cair nagargalhada.– Você se importa de não ofender as únicas pessoas que acreditam emmim? – pediu Harry a
Hermioneacaminhodaaula.–Ah,peloamordeDeus,Harry,vocêpodearranjargentemelhorqueela.Ginamecontoutudo
sobreaLuna;pelojeito,elasóacreditanascoisasquandonãoháprovasdesuaexistência.Bem,eunãoesperariaoutracoisadealguémcujopaieditaOPasquim.Harrypensounossinistroscavalosaladosquevirananoitedachegada,eemLunalhedizendoque
tambémeracapazdevê-los.Seuânimominguouligeiramente.Seráqueelamentira?Mas,antesquepudessededicarmuitotempoaoassunto,ErnestoMacmillanseaproximaradele.–Euqueroquevocêsaiba,Potter–dissealtoebomsom–,quenãosãoapenasosexcêntricosque
apoiamvocê.Eu,pessoalmente,acreditoemvocêcemporcento.MinhafamíliasempresemantevefirmeaoladodeDumbledore,eeutambém.– Hum... muito obrigado, Ernesto – disse Harry, surpreso mas satisfeito. Ernesto podia ser
pomposoemocasiõescomoaquela,masHarryestavadispostoaapreciarprofundamenteumvotodeconfiança de alguémque não usava rabanetes pendurados nas orelhas.As palavras do colega semdúvidaapagaramosorrisodorostodeLiláBrowne,quandoHarrysevirouparafalarcomRonyeHermione,elevislumbrouaexpressãono rostodeSimas,quepareciaaomesmo tempoconfusaedesafiadora.
NãofoisurpresaparaninguémqueaProfaSproutcomeçasseaaulafazendoumapreleçãosobreaimportância dos N.O.M.s. Harry gostaria que todos os professores parassem com aquilo; estavacomeçandoasentiransiedadeecontorçõesnoestômagocadavezqueselembravadaquantidadededeveres que tinha a fazer, uma sensaçãoquepioroudramaticamente quando aProfa Sprout passouparaosalunosmaisumtrabalhonofinaldaaula.Cansadoseexalandoumfortecheirodebostadedragão,oadubofavoritodaprofessora,osalunosdaGrifinóriamarcharamdevoltaaocastelo,semquerermuitaconversa;foramaisumlongodia.ComoHarryestavafaminto,eteriasuaprimeiradetençãocomUmbridgeàscincohoras,rumou
diretoparaosalão,semdeixaramochilanaTorredaGrifinória,naesperançadeengoliralgumacoisa antes de enfrentar o que ela lhe reservara.Mal alcançara a entrada para o Salão Principal,porém,ouviuumavozzangadaberrando:–Ei,Potter!– Que é agora? – murmurou, cansado, e ao se virar deu de cara com Angelina Johnson, que
pareciaestarbarbaramenteirritada.–Voulhedizeroqueéagora–disse,caminhandodecididaaoseuencontroemetendoodedocom
forçaemseupeito.–Comofoiquevocêarranjouumadetençãoparaascincohorasnasexta-feira?–Quê?Porque...ah,sim,ostestesparagoleiro!–Ah,agoraeleselembra!–vociferouAngelina.–Eunãoaviseiquequeriafazerumtestecomo
time completo, para escolher alguém que se ajustasse com todos? Eu não avisei que fiz reservaespecialparaocampodequadribol?Eagoravocêdecidiuquenãovaicomparecer!–Eunãodecidiquenãovoucomparecer!–defendeu-seHarry,mordidocomainjustiçadaquelas
palavras. – Recebi uma detenção daquelaUmbridge, só porque disse a ela a verdade sobreVocê-Sabe-Quem.–Muitobem,poispodeirdiretoaelaepedirparadispensarvocênasexta-feira–disseAngelina
com ferocidade–, enãoqueronemsaber comovai fazer isso.Diga a elaqueVocê-Sabe-Queméprodutodesuaimaginação,sequiser,masdêumjeitodeestarlá!Angelinaseafastouenfurecida.–Sabedeumacoisa?–disseHarryaRonyeHermioneaoentraremnoSalãoPrincipal.–Acho
que é melhor a gente checar com o União de Puddlemere se o OlívioWood por acaso morreuduranteumtreinamento,porqueaAngelinaparecequeestáencarnandooespíritodele.–VocêachaquetemalgumaprobabilidadedaUmbridgeliberarvocênasexta-feira?–perguntou
Rony,cético,quandosesentaramàmesadaGrifinória.– Menos que zero – disse Harry deprimido, virando umas costeletas de cordeiro no prato e
começando a comer. –Mas émelhor eu tentar, não é? Voume oferecer para cumprir mais duasdetençõesououtracoisaassim,nãosei...–Eleengoliuabatataqueenchiasuabocaeacrescentou:–Espero que ela não me segure muito tempo hoje à noite. Você tem consciência de que temos deescrever três trabalhos, praticar os Feitiços de Desaparição para a McGonagall, treinar umcontrafeitiço para oFlitwick, terminar o desenhodo tronquilho e começar aquele diário idiota desonhosparaaTrelawney?Ronygemeue,poralgumarazão,ergueuosolhosparaoteto.–Eparecequevaichover.–Queéqueissotemavercomosnossosdeveresdecasa?–perguntouHermione,erguendoas
sobrancelhas.–Nada–disseRonynamesmahora,asorelhascorando.Às cinco para as cinco, Harry despediu-se dos amigos e rumou para a sala da Umbridge, no
terceiroandar.Quandobateunaporta,ouviuumavozmelosa:–Entre.–Eleentroucautelosamente,olhandoatodavolta.
Conheceraessasalaàépocadosseustrêsocupantesanteriores.QuandoGilderoyLockhartausara,tinhaasparedescobertasdefotosdelesorridente.QuandoLupinaocupara,pareciaqueapessoaiadepararcomalgumafascinantecriaturadas trevasemumagaiolaouemumtanque, seaparecessepara visitá-lo.Na época doMoody impostor, a sala se enchera de instrumentos e artefatos para adetecçãodemalfeitosedissimulações.Agora, porém, estava completamente irreconhecível. As superfícies tinham sido protegidas por
capasderendasetecidos.Haviaváriosvasosdefloressecas,cadaumsobreumpaninho,e,emumaparede,haviaumacoleçãodepratosdecorativos,estampadoscomenormesgatosemtecnicolor,cadaumcomumlaçodiferenteaopescoço.EramtãohediondosqueHarryficoumirando-os,paralisado,atéaProfaUmbridgetornarafalar.–Boa-noite,Sr.Potter.Harryseassustoueolhouparaoslados.Aprincípionãoanotara,porqueelaestavausandovestes
defloresdetonspálidosquesefundiamperfeitamentecomatoalhademesasobreaescrivaninhaàssuascostas.–Noite,ProfaUmbridge–respondeuHarryformalmente.–Muitobem,sente-se–disseela,apontandoparaumamesinhaforradacomumatoalhaderenda,
juntoaqualelacolocaraumacadeiradeespaldarreto.Haviasobreamesaumafolhadepergaminhoembranco,aparentementeàsuaespera.–Hum–começouHarrysemsemexer–,ProfaUmbridge.Hum...antesdecomeçarmos,eu... eu
gostariadelhepedirum...favor.Osolhossaltadosdaprofessoraseestreitaram.–Ah,é?–Bem,eusou...eusoudo timedequadriboldaGrifinória.Eeudeviaparticipardos testespara
escolherumnovogoleiroàscincohorasnasexta-feiraeeuestava...estavapensandosepoderiafaltaràdetençãonessanoiteecumprir...cumpriroutranoite...trocar...Elepercebeumuitoantesdechegaraofimdopedidoquenãoiaadiantar.–Ah,não–disseUmbridge,dandoumsorrisotãograndequepareciateracabadodeengoliruma
mosca particularmente suculenta. – Ah, não, não, não. Este é o seu castigo por espalhar históriasnocivas,maldosas,paraatrairatenções,Sr.Potter,ecomcertezaoscastigosnãopodemserajustadosparaatenderàconveniênciadoculpado.Não,osenhorestaráaquiàscincohorasamanhã,depoisdeamanhã,enasexta-feiratambém,ecumpriráassuasdetençõesconformeprogramado.Achomuitobomo senhor estar sendoprivadode alguma coisa que realmentequeira fazer. Isto irá reforçar aliçãoqueestouquerendolheensinar.Harrysentiuosangueafluiràcabeçaeouviuumtambortocandonosouvidos.Entãoelecontava
históriasnocivas,maldosas,paraatrairatenções,era?Aprofessoraoobservavacomacabeça ligeiramente inclinadaparaum lado,mantendoo largo
sorrisonorosto,comosesoubesseexatamenteoqueeleestavapensando,eesperasseparaverseelerecomeçariaagritar.Comumesforçoconcentrado,Harrydesviouosolhosdela,largouamochilaaoladodacadeiradeespaldarretoesesentou.–Pronto–disseaprofessoracommeiguice.–Jáestamoscomeçandoacontrolarmelhoronosso
gênio,nãoestamos?Agoraosenhorvaiescreveralgumaslinhasparamim,Sr.Potter.Não,nãocoma suapena– acrescentou,quandoHarry se curvoupara abrir amochila. –O senhorvaiusarumaespecialquetenho.Tomeaqui.Elheentregouumapenalongaepreta,comapontaexcepcionalmenteaguda.–Queroqueosenhorescreva:Nãodevocontarmentiras–disseaprofessorabrandamente.–Quantasvezes?–perguntouHarry,comumaimitaçãobastantecríveldeboaeducação.– Ah, o tempo que for preciso para a frase penetrar – disse Umbridge commeiguice. – Pode
começar.Aprofessorafoiparasuaescrivaninha,sesentouesedebruçousobreumapilhadepergaminhos
quepareciamdeveresparacorrigir.Harryergueuapenapretaeafiada,eentãopercebeuoqueestavafaltando.–Asenhoranãomedeutinta.–Ah,vocênãovaiprecisardetinta–disseela,comumlevetomderisonavoz.Harryencostouapontadapenanopergaminhoeescreveu:Nãodevocontarmentiras.E soltou uma exclamação de dor. As palavras apareceram no pergaminho em tinta brilhante e
vermelha.Aomesmotempo,elassereplicaramnascostasdesuamãodireita,gravadasnapelecomosetivessemsidoriscadasporumbisturi–contudo,mesmoenquantoobservavaocortebrilhante,apele tornou a fechar, deixando o lugar um poucomais vermelho que antes,mas, de outra forma,inteiro.Harry virou a cabeça para olhar a Umbridge. Ela o observava, a boca rasgada e bufonídea
distendidaemumsorriso.–Poisnão?–Nada–disseHarryemvozbaixa.Eletornouavoltarsuaatençãoparaopergaminho,tocou-ocomapena,escreveuNãodevocontar
mentiras,esentiuaardêncianascostasdamãopelasegundavez;edenovoaspalavrascortaramsuapele;e,denovo,sararamsegundosdepois.Eassimatarefaprosseguiu.RepetidamenteHarryescreveuaspalavrasnopergaminho,nãocom
tinta, como logo veio a perceber,mas com o próprio sangue. E sucessivamente as palavras eramgravadas nas costas de sua mão, fechavam e reapareciam da próxima vez que ele tocava opergaminhocomapena.AnoitedesceuàjaneladaUmbridge.Harrynãoperguntouquandoteriapermissãodeparar.Nem
sequerconsultouseurelógio.Sabiaqueelaoobservavaàprocuradesinaisdefraqueza,eelenãoiriamanifestarnenhum,nemmesmosetivessedesesentaralianoiteinteira,cortandoaprópriamãocomaquelapena...–Venhacá–disseela,depoisdoquelheparecerammuitashoras.Eleselevantou.Suamãoardiadolorosamente.Quandobaixouosolhos,viuqueocortefechara,
masapeleestavaemcarneviva.–Mão–disseela.Ele a estendeu.Umbridge a segurou nas dela.Harry reprimiu um estremecimento quando ela o
tocoucomseusdedosgrossosecurtos,queexibiamváriosanéisvelhosefeios.–Tss,tss,parecequeaindanãogravoufundoobastante–dissesorrindo.–Bom,teremosdetentar
outravezamanhãànoite,nãoémesmo?Podeir.Harry saiuda sala semdizer umapalavra.A escola estavabemdeserta; comcertezapassara da
meia-noite.Caminhoulentamentepelocorredor,então,aovirarumcanto,ecertodequeelanãooouviria,saiucorrendo.
ElenãotiveratempodepraticarosFeitiçosdeDesaparição,nãoescreveraumúnicosonhoemseudiário e não terminara o desenhodo tronquilho, tampouco fizera os trabalhos.Harry dispensouocafédamanhãnodia seguinteparapoderescreverunsdois sonhosque inventouparaodiáriodaAdivinhação, a primeira aula do dia, e ficou surpreso de ver que umRonydesgrenhado lhe faziacompanhia.–Porqueéquevocênãofezissoontemànoite?–perguntouHarry,enquantooamigocorriaos
olhospelasalacomunal,transtornado,àprocuradeinspiração.Rony,queestiveraferradonosono,quandoHarry voltou ao dormitório,murmurou alguma coisa como “estava fazendo outra coisa”,
curvou-separaoseupergaminhoeescreveualgumaspalavras.–Vai ter de servir – concluiu, fechando o diário com violência. –Disse que sonhei que estava
comprandosapatosnovos,elanãopodeencontrarnadaesquisitonisso,pode?OsdoiscorreramparaaTorreNortejuntos.–EcomoéquefoiadetençãocomaUmbridge?Quefoiqueelamandouvocêfazer?Harryhesitouporumafraçãodesegundo,depoisrespondeu:–Escrever.–Entãonãofoitãoruim,hein?–Não.–Ei...iameesquecendo...elaliberouvocênasexta-feira?–Não.Ronydeuumgemidodesolidariedade.FoimaisumdiapéssimoparaHarry;umdospioresemTransfiguração,poisnãohaviapraticado
nenhumdosFeitiçosdeDesaparição.Tevedeabrirmãodahoradoalmoçoparaterminarodesenhodo tronquilho e, nesse meio-tempo, as professoras McGonagall e Grubbly-Plank passaram maisdeveresqueelenão tinhaamenorperspectivade terminar aquelanoite, por causade sua segundadetenção comaUmbridge.E, para coroar,Angelina Johnson foi procurá-lo outra vez na hora dojantare,aosaberquenãopoderiaparticipardostestesparaaescolhadogoleironasexta-feira,disse-lhequenãoestavanemumpoucoimpressionadacomaatitudedeleequeesperavaqueosjogadoresquepretendiamcontinuarnaequipepusessemostreinamentosacimadosdemaiscompromissos.–Estoucumprindoumadetenção!–berrouHarryquandoelaiaseafastando.–Vocêachaqueeu
prefiroficartrancadoemumasalacomaquelasapavelhaajogarquadribol?–Pelomenoselasólhemandouescrever–disseHermione,consolando-o,quandoHarryafundou
de novo no banco e olhou para o empadão de carne e rins, que já não lhe apetecia tanto. –Sinceramente,nãoéumcastigotãohorrível.Harryabriuaboca,tornouafechá-laeconcordoucomacabeça.Nãotinhamuitacertezarealmente
dosmotivos para não contar aRony eHermione exatamente o que estava acontecendo na sala deUmbridge:sósabiaquenãoqueriaverosseusolharesdehorror;istofariaacoisatodaparecerpiore, portanto, mais difícil de enfrentar. Sentia também, muito vagamente, que isto era entre ele eUmbridge, uma luta particular de vontades, e não ia dar à professora a satisfaçãode saber que sequeixaradocastigo.–Nãoconsigoacreditarnaquantidadededeveresdecasaquetemos–comentouRonyinfeliz.–Bem,porquevocênãoosfezontemànoite?–perguntou-lheHermione.–Afinalaondeéque
vocêfoi?–Fui...medeuvontadedecaminhar–disseRonysonsamente.Harryteveanítidaimpressãodequeelenãoeraoúnicoqueestavaomitindoinformaçõesnaquele
momento.
Asegundadetençãofoitãoruimquantoaanterior.ApelenascostasdamãodeHarryseirritoumaisrapidamente, edali apoucoestavavermelhae inflamada.Ele achoupoucoprovávelqueos cortescontinuassema sarar com tanta eficiênciapormuito tempo.Logo,o corte ficariagravadoemsuamãoeUmbridge,talvez,sedesseporsatisfeita.MasHarrynãodeixouescaparnenhumaexclamaçãodedore,domomentoemqueentrounasalaaomomentoemquefoidispensado,novamenteapósameia-noite,elenadadissealémde“boa-noite”aoentrareaosair.A situaçãodos seusdeveres, no entanto, agora estavadesesperadora, equandoelevoltou à sala
comunal de Grifinória, embora exausto, não foi para a cama, mas abriu os livros e começou otrabalhodeSnapesobreapedradalua.Eramduasemeiaquandoterminou.Sabiaquenãofizeraum
bom trabalho,mas não havia como remediar; a não ser que entregasse alguma coisa, sofreria, aseguir,umadetençãodeSnape.EntãorespondeurapidamenteàsperguntasqueaProfaMcGonagallpassaraparaosalunos,improvisou alguma coisa sobre a forma correta de tratar os tronquilhos para a Profa Grubbly-
Plank e se arrastou para a cama, onde se largou inteiramente vestido por cima das cobertas eadormeceuimediatamente.
Aquinta-feiratranscorreuemumatordoamentodecansaço.Ronypareciamuitosonolentotambém,emboraHarrynãoconseguisseimaginaroporquê.Aterceiranoitededetençãosepassoudomesmojeitoqueasduasanteriores,excetoque,depoisdeduashoras,aspalavrasNãodevocontarmentirasnãodesapareceramdascostasdamãodeHarry,permaneceramali,escorrendogotículasdesangue.ApausanoruídodapenaafiadafezaProfaUmbridgeergueracabeça.–Ah–disse elabrandamente,dandoavolta à escrivaninhapara examinar amão.–Ótimo. Isto
develheservirdelembrete,não?Podeirporhoje.–Aindatenhodevoltaramanhã?–perguntouHarry,apanhandoamochilacomamãoesquerdaem
lugardadireitadolorida.–Ah,claro–disseaprofessora, comumsorriso tãoamploquantoantes.–Achoquepodemos
gravaramensagemumpoucomaisfundo,commaisumanoitedetrabalho.Harryjamaisconsideraraantesapossibilidadedequepoderiahaverumprofessornomundoque
eleodiassemaisdoqueSnape,masquandovoltavaparaaTorredaGrifinória tevedeadmitirqueencontraraumaforteconcorrente.Elaémaligna,pervertida,louca,velha...–Rony?Elealcançaraoaltodaescada,viraraàdireitaequasecolidiracomRony,queestavaescondido
atrás de uma estátua de Lachlan, oDesengonçado, agarrado à sua vassoura.Rony deu um grandesalto,surpresodeverHarry,etentouesconderanovaCleansweepOnzeàssuascostas.–Queéquevocêestáfazendo?–Hum...nada.Queéquevocêestáfazendo?Harryamarrouacaraparaele.–Anda,podemecontar!Paraquevocêestáseescondendoaqui?–EstoumeescondendodeFredeJorge,seéqueprecisasaber.Elesacabaramdepassarcomum
bando de calouros.Aposto que estão testando coisas nos garotos outra vez.Quero dizer, eles nãopodemmaisfazerissonasalacomunal,nãoé,nãocomaHermionepresente.Elefalavarápidoedeummodofebril.–Masvocêestácarregandoavassoura,vocênãotemvoado,tem?–perguntouHarry.–Eu...bem...bem...tábem,voulhecontarmasnãoria,tá?–dissedefensivamente,eficandomais
vermelhoacadasegundo.–Eu...eupenseiemfazerumtesteparagoleirodaGrifinória,agoraquetenhoumavassouradecente.Pronto.Agoravai.Poderir.–Nãoestourindo–disseHarry.Ronypiscouosolhos.–Éumaideiagenial!Seriarealmentelegal
sevocêentrasseparaaequipe!Nuncavivocêjogardegoleiro,vocêébom?–Nãosouruim–respondeuRony,imensamentealiviadocomareaçãodeHarry.–Carlinhos,Fred
eJorgesempremefizeramatuardegoleiroparaeles,quandotreinavamduranteasférias.–Entãovocêestápraticandohojeànoite?–Todanoite,desdeterça-feira...massozinho.Tenhotentadoenfeitiçarumasgolesparameatacar,
masnão temsidofácilenãoseisevaiadiantarmuito.–Ronypareciaagitadoeansioso.–FredeJorge vão rir de se acabar quando eu aparecer para os testes.Ainda nãopararamde curtir comaminhacaradesdequefuinomeadomonitor.–Eugostariadeestarlá–disseHarryamargurado,quandoosdoissaíramcaminhandoemdireção
àsalacomunal.–É,eutam...Harry,queéissonascostasdasuamão?Harry,queacabaradecoçaronarizcomamãodireitalivre,tentouescondê-la,masfoitãobem-
sucedidoquantoRonyescondendoaCleansweep.–Ésóumcorte...nãoénada...é...MasRonyagarraraobraçodeleeoergueraàalturadosolhos.Houveumapausa,duranteaqual
eleficouolhandofixamenteaspalavrasgravadasnapele,comardenáusea,eemseguidasoltouobraçodeHarry.–Penseiquevocêtivesseditoqueelaestavasómandandovocêescrever!Harryhesitou,masafinaldecontasRonyforasincerocomele,entãocontou-lheaverdadesobre
ashorasqueestavapassandonasaladeUmbridge.–Amegeravelha!–exclamouRonynumsussurrode revoltaquandopararamdiantedaMulher
Gorda,quedormitavatranquilamentecomacabeçaencostadanamolduradoquadro.–Elaédoente!VaiprocuraraMcGonagall,digaalgumacoisa!–Não–disseHarrynamesmahora.–Nãovoudaraelaasatisfaçãodesaberquemeatingiu.–Atingiu?Vocênãopodedeixá-laescaparimpune!–NãoseiqualéopoderqueMcGonagalltemsobreela–disseHarry.–Dumbledore,então,conteaoDumbledore!–Não–disseHarrycategoricamente.–Porquenão?–Ele já temmuitacoisanacabeça–disseHarry,masestenãoeraomotivoverdadeiro.Não ia
procurarDumbledoreparapedirajuda,sedesdejunhoodiretornãofalaracomelenemumavez.–Bom,euachoquevocêdevia–começouRony,masfoi interrompidopelaMulherGorda,que
estiveraaobservá-lossonolenta,eagoraexplodia:–Vocêsvãomedar a senhaou tereide ficar acordada anoite inteira esperandoque acabemde
conversar?
A sexta-feira amanheceu sombria e encharcada como o resto da semana. Embora Harry olhasseautomaticamente para a mesa dos professores quando entrava no Salão Principal, foi sem muitaesperançadeverHagrid,eelelogovoltouseuspensamentosparaproblemasmaisurgentes,comoamomentâneapilhadedeveresqueprecisavadarcontaeaperspectivademaisumadetençãocomaUmbridge.Duascoisasosustentaramnaqueledia.Umafoiopensamentodequejáeraquaseofimdesemana;
aoutraeraque,pormaishorrendaquecertamenteseria suaúltimadetençãocomaUmbridge,eleteriaumavisãodocampodequadriboldajaneladasalaepoderia,comsorte,veralgumacoisadotreinodeRony.Eramraiosmuitopálidosdesol,naverdade,masHarryeragratoporqualquercoisaquepudesseatenuarsuapresenteescuridão;nuncativeraumaprimeirasemanapioremHogwarts.ÀscincohorasdaquelatardeelebateuàportadasaladaProfaUmbridgeparaoquesinceramente
esperavaquefosseaúltimavez,eelaomandouentrar.Opergaminhoestavapreparadosobreamesacomatoalhaderenda,acanetapretaafiadadolado.–Osenhorsabeoquefazer,Sr.Potter–disseUmbridge,comumsorrisomeigo.Harry apanhouapenae espioupela janela.Se empurrasse a cadeirauns três centímetrospara a
direita...sobopretextodeficarmaispróximoàmesa,eleconseguiria.TinhaagoraumavistadistantedaequipedequadriboldaGrifinória,voandonocampoparacimaeparabaixo,ehaviameiadúziade vultos escuros parados junto às três altas balizas, aparentemente esperando a vez de seremtestados.EraimpossíveldizerqualeraoRonyaessadistância.Não devo contar mentiras, escreveu Harry. O corte nas costas de sua mão direita abriu e
recomeçouasangrar.Nãodevocontarmentiras.Ocorteficoumaisfundo,aferroando,ardendo.Nãodevocontarmentiras.Osangueescorreupeloseupulso.Elearriscoumaisumaespiadapelajanela.Quemdefendiaogolagoraestavafazendoumtrabalho
realmentemedíocre.KatieBellmarcouduasvezesnospoucossegundosqueHarryseatreveuaolhar.DesejandomuitoqueogoleironãofosseRony,elevoltousuaatençãoparaopergaminhopontilhadodesangue.Nãodevocontarmentiras.Nãodevocontarmentiras.Ele erguia a cabeça sempre que achava que podia arriscar: quando ouvia a pena de Umbridge
arranhando ou uma gaveta se abrindo. O terceiro candidato foi muito bem, o quarto, terrível, oquintosedesvioudeumbalaçoexcepcionalmentebem,masseatrapalhoucomumadefesafácil.OcéufoiescurecendoeHarryduvidoudequepudesseverosextoeosétimo.Nãodevocontarmentiras.Nãodevocontarmentiras.Opergaminhoagorabrilhavacomasgotasdesanguedesuamão,quequeimavadedor.Quando
eletornouaergueracabeça,anoitecaíraeocampodequadriboljánãoeravisível.– Vamos ver se você já absorveu amensagem? – disse a voz branda deUmbridge,meia hora
depois.Encaminhou-se para ele, esticando os dedos curtos e cheios de anéis para o seu braço. Então,
quandoelaosegurouparaexaminaraspalavrasgravadasnapele,adoroqueimou,nãonascostasdamão,masnacicatrizemsuatesta.Aomesmotempo,Harryteveumasensaçãoextremamentepeculiarnaregiãodoestômago.Desvencilhou o braço das mãos da professora e ficou em pé de um salto, encarando-a. Ela o
encaroudevolta,umsorrisodistendendosuabocarasgadaefrouxa.–É,dói,nãoé?–dissebaixinho.Elenãorespondeu.Seucoraçãobatiamuitoforteeacelerado.Seráqueestavasereferindoàmão
deleousabiaoqueeleacabaradesentirnatesta?–Bom,achoquechegueiaopontoquequeria,Sr.Potter.Osenhorpodeir.Harryapanhouamochilaesaiudasalaomaisrápidoquepôde.Fique calmo, disse a si mesmo, ao subir correndo a escada. Fique calmo, pode ser que não
signifiquenecessariamenteoquevocêpensaquesignifica...–Mimbulusmimbletonia!–ofegouparaaMulherGorda,quemaisumavezgirouparaafrente.Umagritariaoacolheu.Ronyveiocorrendoaoseuencontro,o rosto radianteederramandona
frentedasvestesacervejaamanteigadadocálicequesegurava.–Harry,consegui!Entrei,souogoleiro!– Quê? Ah... genial! – exclamou Harry, tentando sorrir naturalmente, enquanto seu coração
continuavaadispararesuamão,alatejaredoer.–Tomeumacervejaamanteigada.–Ronyempurrouumagarrafaparaele.–Nempossoacreditar...
aondefoiaHermione?–Ali–disseFred,quetambémbebiacervejaamanteigada,apontandoparaumapoltronajuntoà
lareira.Hermioneestavacochilando,abebidabalançandoprecariamentenamão.– Bom, ela disse que estava contente quando contei – comentou Rony, parecendo ligeiramente
desapontado.–DeixeaHermionedormir–disseJorge,depressa.SomenteunsmomentosdepoiséqueHarry
reparou que vários calouros à volta deles traziam sinais inconfundíveis de sangramentos nasaisrecentes.
–Venhaaqui,Rony,vejaseumadasvestesantigasdeOlíviocabeemvocê–chamou-oCátia.–Podemostiraronomedeleecolocaroseunolugar...QuandoRonyseafastou,AngelinaseaproximoudeHarry.–Desculpesefuiumpoucogrossacomvocêhojemaiscedo,Potter–dissedechofre.–Essacoisa
deadministrarémuitoestressante, sabe.Estoucomeçandoapensarque fuiumpoucoduracomoOlívio,àsvezes.–ElaestavaobservandoRonyporcimadabordadocálice,comatestaligeiramentefranzida.“Escute,euseiqueeleéoseumelhoramigo,masnãoéfabuloso”,disse,semrodeios.“Achoque
com um pouco de treinamento ele vai ficar legal. Vem de uma família de bons jogadores dequadribol. Estou apostando que tem um poucomais de talento do que demonstrou hoje, para sersincera. Vitória Frobisher e Godofredo Hooper voaram melhor hoje à noite, mas Hooper é umchorão,estásempreselamentandosobreumacoisaououtraeaVitóriafazpartedetudoqueétipode sociedade.Elamesmaadmitiuque, seos treinos coincidiremcomoClubedeFeitiços, o clubeviriaemprimeirolugar.Emtodoocaso,vamosterumtreinoàsduashoras,amanhã,vejasedáumjeitodeaparecerdestavez.Emefaçaumfavor,ajudeoRonyomaisquepuder,o.k.?”Eleconcordoucomacabeça,eAngelinavoltouparaacompanhiadeAlíciaSpinnet.Harryfoise
sentaraoladodeHermione,queacordoucomumsobressaltoquandoeledescansouamochila.–Ah,Harry,évocê...quebomparaoRony,nãoé?–disseelacomoolharturvo.–Estoutão...tão...
tão cansada. – E bocejou. – Fiquei acordada até uma hora da manhã fazendomais gorros. Estãodesaparecendoqueéumaloucura!E sem a menor dúvida, agora que olhava com atenção, Harry viu que havia gorros de lã
escondidosportodaasala,ondeelfosdesatentospoderiamacidentalmenteapanhá-los.– Que legal! – comentou distraído; se não contasse a alguém logo, iria explodir. – Escute,
Hermione,euestavanasaladaUmbridgeeelasegurouomeubraço...Elaoescutoucomatenção.QuandoHarryterminou,disselentamente:–VocêestápreocupadoqueVocê-Sabe-QuemestejacontrolandoaUmbridgecomofaziacomo
Quirrell?–Bem–respondeuele,baixandoavoz–,éumapossibilidade,não?–Suponhoquesim–disseHermione,emboranãoparecesseconvencida.–Masachoquenãode
estarpossuindoaUmbridgedomesmojeitoquepossuíaQuirrell,querodizer,eleagoraestávivodeverdade, não está? Tem corpo próprio, não precisaria partilhar o de alguém. Mas suponho quepudesseterdominadoaUmbridgecomaMaldiçãoImperius...Harry observou Fred, Jorge e Lino fazendo malabarismos com garrafas vazias de cerveja
amanteigadaduranteunsinstantes.EntãoHermionefalou:–Masnoanopassadoasuacicatrizdoeuquandoninguémestavatocandovocê,eDumbledorenão
dissequeissoestavaligadoaoqueVocê-Sabe-Quemestavasentindonaquelemomento?Querodizer,talvez isto não tenha nenhuma ligação com a Umbridge, talvez seja só uma coincidência queaconteceunahoraemquevocêestavacomela.–Elaémaligna–disseHarrycategoricamente.–Pervertida.– Ela é horrorosa, concordo, mas... Harry, acho que você devia dizer a Dumbledore que sua
cicatrizdoeu.EraasegundavezemdoisdiasquealguémoaconselhavaaprocurarDumbledore,esuarespostaa
HermionefoiexatamenteigualàquederaaRony.–Nãovouincomodá-locomisso.Comovocêacaboudedizer,nãoénadamuitoimportante.Tem
doídointermitentementeoverãointeiro...foiumpoucopiorhojeànoite,sóisso...–Harry,eutenhocertezadequeDumbledoreiriaquererserincomodadocomisso...–É–respondeuantesquepudessesecontrolar–,éaúnicaparteminhacomqueDumbledorese
importa,aminhacicatriz,nãoémesmo?–Nãodigaisso,nãoéverdade!–AchoquevouescreveraSiriuseveroqueeleacha...–Harry, vocênãopodemencionarumacoisadessasnumacarta!–disseHermione alarmada.–
Não lembraqueMoodyfaloupara termoscuidadocomoqueescrevemos?Nãopodemosgarantirqueascorujasnãosejammaisinterceptadas!–Tudobem,tudobem,entãonãovoucontaraele,tampouco!–disseHarryirritado.Eselevantou.
–Voumedeitar.Porfavor,aviseaoRonyparamim,sim?–Ah,não–disseHermione,parecendoaliviada–,sevocêestáindo,entãoquerdizerquetambém
posso ir, sem ser mal-educada. Estou absolutamente exausta e quero fazer mais gorros amanhã.Escute,vocêpodemeajudarsequiser,ébemdivertido,eestoupegandoprática,jáseifazerdesenhosepomponsetodootipodeenfeitesagora.Harryolhoubemparao rostodaamiga,que irradiava felicidade,e tentouparecerquese sentia
vagamentetentadopelaoferta.–Hum... não, achoquenãovouquerer,obrigado.Hum... amanhãnão.Tenhomontesdedeveres
parafazer...E dirigiu-se lentamente para a escada do dormitório dos garotos, deixando-a ligeiramente
desapontada.
—CAPÍTULOCATORZE—PercyeAlmofadinhas
Harry foioprimeiroaacordaremseudormitórionamanhã seguinte.Continuoudeitadoporummomento,observandoapoeirarodopiarnoraiodesolqueentravapelafrestadocortinadodesuacama, e saboreouopensamentodeque era sábado.Aprimeira semanado trimestre parecia ter searrastadoumaeternidade,comoumagigantescaauladeHistóriadaMagia.Ajulgarpelosilênciomodorrentoeofrescordoraiodesol,deviateracabadodeamanhecer.Ele
abriu o cortinado, levantou-se e começou a se vestir. O único som, além do pipilar distante dospassarinhos,eraa respiração lentaeprofundadosseuscolegasdaGrifinória.Eleabriuamochilasemfazerbarulho,tirouopergaminhoeapena,saiudodormitórioerumouparaasalacomunal.Indo direto a sua poltrona velha e macia junto à lareira, agora apagada, Harry se acomodou
confortavelmente e desenrolouo pergaminho, aomesmo tempoque corria os olhos pela sala.Ospedaçosdepergaminhoamarrotados,asbexigas,asjarrasvaziaseasembalagensdedoces,queemgeral juncavam a sala ao fim de cada dia, haviam desaparecido, bem como todos os gorros queHermione tricotara para os elfos. Imaginando vagamente quantos elfos teriam sido liberados,quisessemounão,Harrydestampouotinteiro,mergulhouapenae,emseguida,amantevesuspensaalgunscentímetrosacimadasuperfícieamareladae lisa, seconcentrando...masdecorridomaisoumenosumminuto,eleseviucontemplandoagradedalareiravazia,semteramenorideiadoqueiriadizer.Pôde,então,avaliarcomoteriasidodifícilparaRonyeHermionelheescreveremcartasduranteas
férias.ComoéqueiriacontaraSiriustudoqueaconteceranaúltimasemana,efazertodasaquelasperguntasqueestavaansiosopara fazer,semdaraospossíveis ladrõesdecartasmuita informaçãoquenãogostariaqueobtivessem?Sentou-se imóvelporalgum tempo,mirandoa lareira, então, finalmente, tomandoumadecisão,
mergulhouapenanotinteiromaisumavezeapoiou-acomfirmezanopergaminho.
QueridoSnuffles,Espero que esteja bem, a primeira semana aqui foi horrível, estou realmente feliz que o fim de
semanatenhachegado.TemosumanovaprofessoradeDefesaContraaArtedasTrevas,aProfaUmbridge.Elaéquasetão
simpáticaquantoa suamãe.Estou lhe escrevendoporqueaquela coisa sobreaqual lhe escrevinoverãopassado tornouaacontecerontemànoite,quandoeuestavacumprindoumadetençãocomaUmbridge.Estamostodoscomsaudadesdonossomaioramigo,egostaríamosqueelenãodemorasseavoltar.Respondalogo,porfavor.Tudodebom,Harry
Elereleu,então,acartaváriasvezes,tentandoanalisá-ladopontodevistadeumapessoadefora.Não conseguiu ver como alguém poderia saber do que ele estava falando – ou com quem estavafalando–sópela leituradesuacarta.TinhaesperançadequeSiriuspercebessea insinuaçãosobre
Hagrid,edissessequandoelevoltaria.HarrynãoquisperguntardiretamenteparanãochamarmuitaatençãoparaoqueHagridpoderiaestarfazendo,enquantoausentedeHogwarts.Considerandoqueeraumacartamuitocurta, levaramuitotempoparaserescrita; trabalhavaseu
texto,enquantoosolforaentrandoatéametadedasalaeeleagoraouvia,aolonge,amovimentaçãonosdormitóriosdoandardecima.Lacrandoopergaminhocomcuidado,elepassoupeloburacodoretratoesedirigiuaocorujal.–Eunão tomaria esse caminho se fossevocê–disseNickQuaseSemCabeça, atravessandode
maneiradesconcertanteumaparedeumpoucoalém,quandoHarryseguiapelocorredor.–PirraçaestáplanejandopregarumapeçanapróximapessoaquepassarpelobustodeParacelso,aliadiante.–TemavercomParacelsocaindonacabeçadapessoa?–perguntouHarry.–Pormaisengraçadoquepareça, tem sim– respondeuNickQuaseSemCabeça entediado.–A
sutileza nunca foi um ponto forte do Pirraça. Estou indo procurar oBarão Sangrento... talvez elepossapôrumfimnisso...atémais,Harry...–Ah,tchau–disseogarotoe,emlugardeviraràdireita,virouàesquerda,tomandoumcaminho
maislongo,porémmaisseguro,paraocorujal.Seuânimofoicrescendoàmedidaquepassavaporjanelaapósjanelaemqueseviaumcéumuitoazul;tinhatreinomaistarde,finalmenteiavoltaraocampodequadribol.Alguma coisa se esfregou em seus tornozelos. Ele olhou e viu a gata cinzenta e esquelética do
zelador,MadameNor-r-ra, se esgueirando pelo corredor. Ela fixou emHarry os olhos amarelosfeito lâmpadas, por um momento, antes de desaparecer atrás de uma estátua de Vilfredo, oMelancólico.– Não estou fazendo nada errado – gritou Harry para o bichano.Madame Nor-r-ra tinha o ar
inconfundível de quem vai denunciar um aluno para o seu chefe, contudo Harry não conseguiaentenderoporquê;estavaperfeitamenteemseudireitodeiraocorujalemumsábadodemanhã.OsoljáiaaltoquandoHarryentrounocorujal,eafaltadevidrosnasjanelasofuscousuavisão;
grossosraiosprateadosdesolcortavamemtodosossentidosorecintocircular,emquecentenasdecorujas se aninhavam nas traves, um tanto incomodadas com a luzmatinal, algumas visivelmenterecém-chegadas da caça. O chão coberto de palha produzia um ruído de tri-turação quando elecaminhavasobrepequenosossosdeanimais,àprocuradeEdwiges.–Ah,aíestávocê!–exclamouao localizá-lapertodo tetoabobadado.–Desça, tenhoumacarta
paravocê.Comumpiosuave,elaabriuasgrandesasasbrancasevoouparaoombrodele.–Muitobem,euseiqueaquidizSnufflesporfora–disseaoentregaracartaparaacorujaprender
nobicoe,semsaberexatamenteporquê,cochichou–,maséparaSirius,o.k.?Edwigespiscouosolhoscordeâmbarumavez,eeletomouogestocomoentendimento.– Faça um voo seguro, então – desejou-lheHarry, e levou-a até uma das janelas; fazendo uma
pressãomomentânea em seubraço,Edwiges levantouvooparao céu excepcionalmente claro.Eleobservouaaveatéelasetransformarnumpontinhonegroedesaparecer,entãovoltouseuolharparaa cabana deHagrid, perfeitamente visível desta janela, e perfeitamente desabitada, a chaminé semfumaça,ascortinascorridas.As copas das árvores da Floresta Proibida balançavam à brisa suave, e Harry parou para
contemplá-las, saboreandoo ar frescoquebatia emseu rosto,pensandonoquadribolmais tarde...então,eleoviu.Umcavaloaladoe reptiliano, igualaosquepuxavamascarruagensdeHogwarts,comasasasnegrasecoriáceasabertascomoasdeumpterodáctilo,saiudomeiodasárvorescomoumpássaroenormeegrotesco.Fezumgrandecírculonoaretornouamergulharentreasárvores.AcoisatodaocorreucomtalrapidezqueHarrymalpôdeacreditarnoquevira,excetoqueseucoraçãoestavabatendodescontrolado.
Aporta do corujal se abriu às suas costas. Ele pulou assustado e, virando-se depressa, viuChoChangsegurandoumacartaeumembrulhonasmãos.–Oi–disseHarryautomaticamente.–Ah...oi–respondeuelaofegante.–Nãoacheiquehouvessealguémaquiemcimatãocedo...Só
melembreihácincominutosqueéaniversáriodaminhamãe.Elamostrouoembrulho.–Certo–comentouele.Seucérebropareciateremperrado.Queriadizeralgumacoisaengraçadae
interessante,masavisãodaquelehorrívelcavaloaladocontinuavafrescaemsuamente.–Diabonito– disse, fazendo um gesto abrangendo as janelas. Suas entranhas pareciam estar encolhendo devergonha.Otempo.Eleestavafalandodotempo...–É–concordouCho,procurandoumacorujaadequada.–Boascondiçõesparaoquadribol.Não
saíasemanatoda,evocê?–Tambémnão–disseHarry.Cho escolheu uma das corujas-de-igreja. Induziu-a a descer e pousar em seu braço, onde a ave
esticouapernadeboavontadeparaelapoderprenderoembrulho.–Ah,Grifinóriajátemumnovogoleiro?–Tem.ÉomeuamigoRonyWeasley,vocêoconhece?–AquelequeodeiatorcedoresdosTornados?–perguntouCho,semsealterar.–Eleébom?–É,achoqueé.Masnãoviotestedele,estavacumprindoumadetenção.Choergueuacabeça,aindasemterminardeprenderoembrulhoàpernadacoruja.–AquelatalUmbridgenãopresta–disse,baixandoavoz.–Lhedarumadetençãosóporquevocê
disseaverdadesobre...sobreamortedele.Todoomundosoube,aescolainteiracomentou.Vocêfoirealmentecorajosoaoenfrentá-ladaquelejeito.As entranhas deHarry tornaram a inchar tão rapidamente que ele sentiu que seria até capaz de
flutuaracimadochãosujodetitica.Quemseimportavacomumcavaloaladoidiota?Choachavaqueele tinha sido realmente corajoso. Por um instante, refletiu se devia mostrar sem querer,propositadamente,suamãocortada,enquantoaajudavaaataroembrulhoàcoruja...masnamesmahoraquelheocorreuessepensamentoexcitante,aportadocorujaltornouaseabrir.Filch, o zelador, entrou chiando no aposento. Haviamarcas roxas em suas bochechas fundas e
riscadas de pequenas veias, seu queixo tremia e seus cabelos grisalhos estavam despenteados;obviamentevieracorrendoatéali.MadameNor-r-raseguia-o,coladaaosseuscalcanhares,espiandoascorujasnoaltoemiandocomfome.Houveumesvoaçarinquietonastraveseumagrandecorujamarromclicouobicodeformaameaçadora.–Ah-ah–disseFilch,dandoumpassoemdireçãoaHarry,sacudindoasbochechasmolesderaiva.
–TiveumadicadequevocêestavapretendendodespacharumgrandepedidodeBombasdeBosta!Harrycruzouosbraçoseencarouozelador.–QuemlhedissequeeuestavafazendoumpedidodeBombasdeBosta?ChoolhoudeHarryparaFilch,tambémfranzindoatesta;acoruja-de-igrejaemseubraço,cansada
deseequilibraremumapernasó,deuumpiodeaviso,masagarotafingiunãoouvir.–Tenhominhasfontes–disseFilch,comumsibilopresunçoso.–Agorameentregueoqueestá
despachando.Sentindo-seimensamentegratodequenãotivessedemoradoadespacharsuacarta,Harrydisse:–Nãoposso,jáfoi.–Foi?!–exclamouFilch,comorostocontraídoderaiva.–Foi–disseHarrycalmamente.Ozeladorabriuabocafurioso,contorceu-aporalgunssegundos,depoisvarreucomoolharas
vestesdeHarry.
–Comoéquepossosaberquevocênãoestácomopedidonobolso?–Porque...–Euovidespachar–disseCho,aborrecida.Filchvirou-separaela.–Vocêoviu...?–Istomesmo,euovi–confirmouelacomferocidade.Houve uma pausa momentânea em que Filch encarou Cho com um olhar penetrante, e Cho o
retribuiucomamesmaintensidade,entãoozeladordeuascostasesaiuarrastandoospésemdireçãoàporta.Paroucomamãonamaçaneta,eolhoumaisumavezparaHarry.–SeeusentiromenorcheirinhodeBombadeBosta...Edesceuasescadaspisandoforte.MadameNor-r-ralançouumolhardesejosoparaascorujase
seguiuodono.HarryeChoseentreolharam.–Obrigado–disseHarry.–Nãofoinada–disseela,terminandofinalmentedeprenderoembrulhoàoutrapernadacoruja,
corandoligeiramente.–VocênãoestavafazendoumpedidodeBombasdeBosta,estava?–Não.–Então,porqueseráqueeleachouquevocêestava?–perguntouChoenquantolevavaacorujaaté
ajanela.Harryencolheuosombros.Sentia-setãoperplexoquantoela,embora,estranhamente,ocasonãoo
preocupassemuitonaquelemomento.Osdoisdeixaramocorujal,juntos.Àentradadocorredorquelevavaparaaalaoestedocastelo,
Chodisse:–Vouviraraqui.Bom,voltaremos...voltaremosanosver,Harry.–É...voltaremos.Cho sorriu para ele e foi embora. Harry continuou seu caminho, sentindo uma grande alegria
interior.Conseguiramanterumaconversainteiracomelasemseatrapalharnemumavez...você foirealmentecorajosoaoenfrentá-ladaquelejeito...Choochamaradecorajoso...nãooodiavaporestarvivo...Naturalmente,elapreferiraoCedrico,elesabiadisso...emboraseeleaomenostivesseconvidado
Cho para oBaile antes doCedrico, as coisas poderiam ter sido diferentes... ela parecera lamentarcomsinceridadequeprecisasserecusaroseuconvite...–Dia–disseHarry,animado,paraRonyeHermione,aosejuntaraelesàmesadaGrifinóriano
SalãoPrincipal.– Por que é que você está com esse ar tão satisfeito? – perguntou Rony surpreso, observando
Harry.–Hum...quadribolmais tarde–respondeuele,feliz,puxandoparapertoumagrandetravessade
baconcomovos.–Ah...é...–disseRony.Eledescansounopratoatorradaqueestavacomendoetomouumgrande
gole de suco de abóbora.Depois disse: –Escute... você toparia sairmais cedo comigo?Só para...hum... me ajudar a praticar um pouco antes do treino? Assim você poderia, sabe, me ajudar afocalizarmelhorminhavisão.–Tá,o.k.–disseHarry.–Olhe,achoquevocêsnãodeviam–disseHermioneséria.–Osdoisjáestãorealmenteatrasados
comosdeveresdecasa...Mas interrompeu o que ia dizer; o correiomatinal estava chegando e, como sempre, oProfeta
Diário veio voando em sua direção no bico de uma coruja-das-torres, que pousou perigosamente
próximadoaçucareiro,eestendeuaperna.Hermionemeteuumnuquenabolsinhadecouro,apanhouojornaleesquadrinhouaprimeirapágina,criticamente,enquantoacorujalevantavavoo.–Algumacoisainteressante?–perguntouRony.Harryriu,sabendoqueoamigoestavainteressado
emimpedirqueHermionecontinuasseafalarsobreosdeveres.–Não–suspirouela–,sóumabobagemsobreobaixistadabandaAsEsquisitonasquevaicasar.Hermioneabriuojornaledesapareceuatrásdesuaspáginas.Harryconcentrou-seemseservirde
uma nova porção de ovos combacon.Rony examinava as janelas superiores do salão, parecendoligeiramentepreocupado.–Espereuminstante–disseHermionederepente.–Ah,não...Sirius!– Que aconteceu? – disse Harry, puxando o jornal com tanta violência que o rasgou aomeio,
ficandoumametadenamãodaamigaeaoutranadele.–“OMinistério daMagia recebeu uma informação de fonte fidedigna que Sirius Black, notório
assassinodemassa... blá-blá-blá... estápresentemente escondidoemLondres!”– leuHermione emsuametade,comumsussurroangustiado.–LúcioMalfoy,apostoquefoi–disseHarryemtombaixoeindignado.–ElereconheceuSirius
naplataforma...–Quê?–disseRony,parecendoalarmado.–Vocênãodisse...–Psiu!–fizeramosoutrosdois.–“...oMinistériodaMagiaalertaacomunidadebruxaqueBlackémuitoperigoso...matoutreze
pessoas... evadiu-se de Azkaban...” as bobagens de sempre – concluiu Hermione, pousando suametadedo jornaleolhandoamedrontadaparaHarryeRony.–Bom,elesimplesmentenãopoderásairdecasaoutravez,ésó–sussurrou.–Dumbledoreavisou-oparanãosair.Harrybaixouosolhos,deprimido,paraopedaçodoProfetaquerasgara.Amaiorpartedapágina
estavatomadaporumanúnciodaMadameMalkinRoupasparaTodasasOcasiõesque,pelosdizeres,estavaemliquidação.– Ei! – exclamou ele, esticando o jornal namesa para que Hermione e Rony pudessem ver: –
Olhemsóisso!–Játenhotodasasvestesquequero–disseRony.–Não–tornouHarry.–Olhe...essepedacinhodenotíciaaqui...RonyeHermionesecurvaramparaler;anotícianãochegavaatrêscentímetroseestavanofimde
umacoluna.Seutítuloera:
INVASÃONOMINISTÉRIO
Estúrgio Podmore, 38 anos, residente nos jardins Laburnum 2, Clapham, compareceu perante aSupremaCortedosBruxossobaacusaçãodeinvadiroMinistériodaMagiaetentarroubarobruxo-vigiaÉricoMunch,queoencontroutentandoforçarumaportadesegurançamáximaàumahoradamanhã. Podmore, que se recusou a se defender, foi considerado culpado das duas acusações esentenciadoaseismesesemAzkaban.
–EstúrgioPodmore?–repetiuRonylentamente.–Eleéaquelecaraqueparecequetemacabeçacobertadepalha,nãoé?ÉdosquepertencemàOrd...–Rony,psiu!–disseHermionelançandoumolharaterrorizadoemvolta.–SeismesesemAzkaban!–sussurrouHarry,chocado.–Sóportentarpassarporumaporta!–Nãosejabobo,nãofoisóportentarpassarporumaporta.Afinal,queéqueeleestavafazendo
noMinistériodaMagiaàumadamadrugada?–murmurouHermione.–VocêachaqueeleestavafazendoalgumacoisaparaaOrdem?–perguntouRonybaixinho.
–Esperemuminstante...–disseHarrylentamente.–Estúrgiodeviateridonoslevaraoembarque,lembram?Osdoisolharamparaele.–É, devia fazer parte da guarda que ia nos levar aKing’sCross, lembra?EMoody ficou todo
aborrecidoporqueelenãoapareceu;entãoseráquenãoestariafazendoumserviçoparaeles?–Bom,talveznãoesperassemqueelefossepego–ponderouHermione.–Poderiaserumflagranteforjado!–exclamouRonyexcitado.–Não...escutemaqui!–continuou,
baixandoavoz teatralmenteaoveraexpressãoameaçadoranorostodeHermione.–OMinistériosuspeitava que ele fosse um dos seguidores de Dumbledore... não sei... então o atraíram aoMinistério, e ele não estava tentando forçar porta alguma! Talvez tenham inventado alguma coisaparaapanhá-lo!Houve uma pausa enquanto Harry e Hermione consideravam a ideia. Harry achou que parecia
muitoforçada.Hermione,porsuavez,pareceubemimpressionada.–Sabem,eunãoficarianadasurpresaseissofosseverdade.Ela dobrou sua metade do jornal pensativa. Quando Harry descansou os talheres, ela pareceu
despertardodevaneio.–Certo,muitobem,achoqueprimeirodevemosencararaquele trabalhoparaaSproutsobreos
arbustos autofertilizantes e, se tivermos sorte, poderemoscomeçaroFeitiçoparaConjurar aVidaantesdoalmoço...Harrysentiuumapontadinhaderemorsoaopensarnapilhadedeveresqueoaguardavanoandar
decima,masocéuestavaclaro, estimulantementeazul, e elenãomontava suaFirebolthaviaumasemana...– Quero dizer, podemos fazer isso hoje à noite – disse Rony, quando os dois desceram os
gramadosemdireçãoaocampodequadribol,comasvassourasaosombroseoalertacalamitosodeHermionedequenãoiriampassarnosN.O.M.saindaressoandoemseusouvidos.–Etemosamanhã.Ela se preocupa demais com o trabalho, esse é que é o problema dela... – Rony fez uma pausa eacrescentounumtomumpoucomaisansioso:–Vocêachaqueelaestavafalandosérioquandodissequenãonosdeixariacopiarasanotaçõesdela?– Acho – respondeu Harry. – Ainda assim, treinar também é importante, temos de praticar se
quisermoscontinuarnaequipedequadribol...–Éverdade–disseRony,numtommaisesperançoso.–Etemostemposuficienteparafazertudo...Ao se aproximarem do campo de quadribol, Harry olhou para sua direita, onde as árvores da
FlorestaProibidabalançavamsombriamente.Nadasaíavoandodali;océuestavavazio,excetoporumaspoucascorujasdistantesesvoaçandoemtornodatorredocorujal.Eletinhabastantecomquesepreocupar;ocavaloaladonãoestavalhefazendomalalgum;tirou-odacabeça.Osdoisapanharambolasnoarmáriodovestiárioeforamtrabalhar,Ronyguardandoastrêsaltas
balizas, Harry ocupando a posição de artilheiro e tentando fazer a goles passar por Rony. Harryachouqueoamigoerabom;bloqueoutrêsquartosdosgolsqueHarrytentoumarcar,efoijogandomelhoràmedidaquecontinuavamapraticar.Depoisdeumasduashoras,elesvoltaramaocasteloparaoalmoço–duranteoqualHermionedeixoubemclaroqueachavaosdoisirresponsáveis–,emseguidavoltaramaocampodequadribolparaotreinomarcado.Todososcompanheirosdeequipe,excetoAngelina,jáseencontravamnovestiárioquandoelesentraram.–Tudobem,Rony?–cumprimentou-oJorgecomumapiscadela.–Tudo–respondeuRony,queforaficandocadavezmaisquietoacaminhodocampo.–Prontoparanosfazerdarvexame,Roniquinhomonitor?–disseFred,aoemergirdescabeladoda
aberturadasvestesdequadribol,umsorrisoligeiramentemaliciosonorosto.–Calaaboca–respondeuRony,impassível,pondoasvestesdaequipepelaprimeiravez.Ficaram
boasnele,considerandoquetinhampertencidoaOlívioWood,cujosombroserammaislargos.–O.k.,todos–disseAngelinasaindodasaladocapitão,jádeuniforme.–Vamoscomeçar;Alíciae
Fred,sepuderem,tragamocaixotedebolas.Ah,temumpessoalláforaqueveioassistir,masqueroquevocêsfinjamquenãoestãovendo,tá?Algumacoisaemseu tompretensamentecasual levouHarryapensarque talvez soubessequem
eramosespectadoressemconvite,eacertouemcheio:quandosaíramdovestiárioparaaclaridadedocampo,ouviramuma tempestadedevaias e assobiosda equipedequadriboldaSonserina edemaisalguns,agrupadosnomeiodasarquibancadasvazias; suasvozesecoavamruidosamentepeloestádio.– Que é aquilo que oWeasley está montando? – berrou Malfoy, debochando com o seu jeito
arrastadodefalar.–Porquealguémlançariaumfeitiçodevoonumpedaçodepauvelhoemofadocomoaquele?Crabbe,GoyleePansydavamescandalosasgargalhadas.Ronymontousuavassouraedeuimpulso
dochão,eHarryoseguiu,observandoasorelhasdoamigoficaremvermelhas.–Nãoligueparaeles–disseacelerandoparaalcançarRony–,veremosquemvairirdepoisque
jogarmoscontraeles...–Éexatamenteaatitudequequero,Harry–aprovouAngelina,voandoemtornodelescomagoles
embaixodobraço,edesacelerandoparaplanardiantedetodaaequipejánoar.–O.k.,todos,vamoscomeçarcomalgunspassessóparaesquentar,otimetodo,porfavor...–Ei,Johnson,afinalquepenteadoéesse?–esganiçou-sePansydaarquibancada.–Porquealguém
iriaquererparecerquetemminhocassaindodocrânio?Angelinaafastousuaslongastrançasdorostoecontinuoucalmamente:–Entãoseespalhemevamosveroqueconseguimosfazer.Harrydeumeia-voltaeseafastoudosoutrosemdireçãoàextremidadedocampo.Ronyrecuou
paraogoloposto.Angelinaergueuagolescomumadasmãoseatirou-acomforçaparaFred,queapassouaJorge,queapassouaHarry,queapassouaRony,queadeixoucair.OsgarotosdaSonserina, lideradosporMalfoy, urraramde tanto rir.Rony, quemergulhara em
direção ao solo para apanhar a goles antes que ela tocasse o chão, saiu mal do mergulho eescorregoupelo ladodavassoura,emseguidavoltouàalturanormalde jogo,corando.HarryviuFredeJorgeseentreolharem,mas,oquenãoeranormal,nenhumdosdoisdissenada,peloqueelesesentiugrato.–Passeadiante,Rony–gritouAngelina,comosenadativesseacontecido.RonyatirouagolesparaAlícia,queapassouaHarry,queapassouaJorge...–Ei,Potter,comoestásuacicatriz?–gritouMalfoy.–Temcertezadequenãoprecisasedeitarum
pouco?Jádevefazer,oquê,umasemanaquevocêestevenaalahospitalar,issoéumrecordeparavocê,nãoé,não?JorgepassouabolaparaAngelina;elainverteuopasseparaHarry,pegando-odesprevenido,mas
ele apanhou a bola nas pontinhas dos dedos e emendou rapidamente o passe para Rony, quemergulhouparaapanharabola,masperdeu-aporpouco.–Assimnãodá,Rony–disseAngelina,aborrecida,quandoeletornouamergulharemdireçãoao
soloatrásdagoles.–Seliga!Seriadifícildizeroqueestavamaisescarlate;seagolesouacaradeRony,quandoelemaisuma
vezrecuperouaalturanormal.MalfoyeorestodoscolegasdaSonserinauivaramdetantorir.Naterceiratentativa,Ronyapanhouagoles;talvezporalívio,eleapassoucomtantoentusiasmo
paraCátiaqueabolavazoupelasmãosestendidasdajogadoraebateucomforçaemseurosto.–Desculpe!–gemeuRony,precipitando-separaafrenteaverseamachucara.–Volteàsuaposição,elaestáótima–vociferouAngelina.–Mas,quandoestiverpassandoabola
paraumacompanheiradeequipe,tentenãoderrubá-ladavassoura,tá?Deixaissoparaosbalaços!OnarizdeCátiaestavasangrando.Láembaixo,osgarotosdaSonserinabatiamospésecaçoavam.
FredeJorgecorreramparaCátia.–Aqui,tomeisso–disseFredentregandoàjogadoraalgumacoisapequenaeroxaquetirarado
bolso–,vaipararosangramentorapidinho.–Tudobem–gritouAngelina.–FredeJorge,vãobuscarseusbastõeseumbalaço.Ronyvápara
asbalizas.Harry,solteopomoquandoeumandar.VamosvisarogoldoRony,éóbvio.Harrydisparouatrásdosgêmeosparaapanharopomo.–Ronyestámelandotudo,nãotá?–murmurouJorge,quandoostrêspousaramjuntoaocaixote
dasbolaseoabriramparatirarumdosbalaçoseopomo.–Ésónervoso–disseHarry–,eleestavaótimoquandopraticamoshojedemanhã.–Ah,bem,esperoqueelenãotenhadadoomelhorantesdotreino–comentouFreddesalentado.Elesvoltaramao ar.QuandoAngelina apitou,Harryparouopomo, eFred e Jorgedeixaramo
balaçovoar.Daquelemomentoemdiante,Harryparoudeperceberoqueosoutrosestavamfazendo.Suatarefaerarecapturaraminúsculaboladouradadeasasquevaliacentoecinquentapontosparaotimedoapanhador, e realizar issoexigiaenormevelocidadeedestreza.Eleacelerou,descrevendocírculos,indoaoencontrodosartilheirosesedesviandodeles,oarcálidodooutonofustigandoseurosto,osgritosdistantesdaturmadaSonserinaumroncosemsentidoemseusouvidos...mas,cedodemais,otoquedoapitoofezparar.–Para...para...PARA!–berrouAngelina.–Rony...vocênãoestácobrindoabalizadomeio!HarrysevirouparaolharRony,queestavaplanandodiantedoarodaesquerda,deixandoosoutros
doiscompletamentedescobertos.–Ah...desculpe...–Vocênãopodeficarparado,observandoosartilheiros!–disseAngelina.–Ouficanaposição
central até que precise semexer para defender um aro, ou então fica circulando os aros, não saivagandoparaolado,foiassimquevocêdeixoupassarosúltimostrêsgols!–Desculpe...–repetiuRony,seurostovermelhobrilhandocomoumfarolcontraoazul-clarodo
céu.–ECátia,seráquevocênãopodedarumjeitonosangramentodessenariz?–Estápiorando!–disseagarotacomavozembargada,tentandoestancarosanguecomamanga
douniforme.Harry olhou paraFred, que parecia ansioso, verificando os bolsos.Viu-o tirar uma coisa roxa,
examiná-laporumsegundoeentãoprocurarCátiacomoolhar,evidentementehorrorizado.–Bom,vamosexperimentaroutravez.–Angelina fingianãoouviropessoaldaSonserina,que
agora inventaraumacantilenade “Grifinória é freguês”, “Grifinória é freguês”,mas apesardissohaviaumacertarigideznamaneiracomquemontavasuavassoura.Desta vez, a equipe não chegara a completar três minutos de voo quando o apito de Angelina
tornou a soar.Harry, que acabara de avistar o pomo orbitando a baliza oposta, parou sentindo-sevisivelmenteaborrecido.–Quefoiagora?–perguntou,impaciente,àAlícia,queestavamaispróxima.–Cátia.Harryvirou-seeviuAngelina,FredeJorgevoandoatodavelocidadeemdireçãoaCátia.Harrye
Alícia acorreram também. Era claro que Angelina parara o treino bem em tempo; Cátia estavabranco-gessoecobertadesangue.–Elaprecisairparaaalahospitalar–disseAngelina.–Nósalevaremos–disseFred.–Ela...hum...talveztenhaengolidoumaVagemBolha-de-Sangue
porengano...
– Bem, não adianta continuar sem dois batedores e uma artilheira – anunciou Angelina, mal-humorada,quandoFredeJorgedispararamparaocastelo,amparandoCátia.–Andagente,vamostrocarderoupa.AturmadaSonserinacontinuouacantilenaenquantoelessedirigiamaovestiário.–Comofoiotreino?–perguntouHermione,comindiferença,meiahoramaistardequandoHarry
eRonypassarampeloburacodoretratoeentraramnasalacomunaldaGrifinória.–Foi...–começouHarry.–Umameleca–disseRonycomavozcava,afundandonumapoltronaaoladodeHermione.Ela
ergueuosolhosparaRony,eogeloqueestiveralhedandopareceuderreter.–Bom,foisóoseuprimeirotreino–disseemtomdeconsolo–,levatempopara...–Quemdissequefuieuquemeleitudo?–retorquiuRony.–Ninguém–respondeuela,espantada.–Pensei...–Vocêpensouqueeusópodiaestragartudo?–Não,éclaroquenão!Olhe,vocêdissequefoiumameleca,entãoeusó...–Voucomeçarafazerosdeveres–anunciouRony,enfurecido,esaiupisandoforteemdireçãoà
escadaparaodormitóriodosgarotos,edesapareceu.HermionesevirouparaHarry.–Elefoiumameleca?–Não–disseHarrylealmente.Hermioneergueuassobrancelhas.–Bem,suponhoquepodiaterjogadomelhor–murmurouHarry–,masfoisóoprimeirotreino,
comovocêmesmodisse...Aparentemente,nemHarrynemRonyconseguiramadiantarmuitoosseusdeveresnaquelanoite.
Harry sabia que o amigo estava preocupado demais com seu péssimo desempenho no treino dequadribol, e ele próprio estava achando difícil tirar da cabeça aquela cantilena de “Grifinória éfreguês”.Osgarotospassaramodomingointeiroenterradosnoslivrosnasalacomunal,queseenchiaese
esvaziava ao seu redor. Faziamais umbelo dia de sol, e amaioria dos colegas da casa passou otemponosterrenosdaescola,aproveitandooquebempoderiaseraúltimaapariçãodosoldaqueleano.Quandoanoiteceu,Harryteveaimpressãodequealguémandaramalhandooseucérebrocontrasuacaixacraniana.–Sabe,provavelmentedevíamostentaradiantarosdeveresduranteasemana–murmurouHarry
paraRony,quandofinalmentepuseramdeladoolongotrabalhopedidopelaProfaMcGonagallsobreoFeitiçoparaConjuraraVida,esevoltaraminfelizesparaotrabalhoigualmentelongoedifícildaProfaSinistra,sobreasváriasluasdeJúpiter.–É–respondeuRony,esfregandoosolhosligeiramentecongestionados,eatirandoaquintafolha
depergaminhoqueestragavanalareiraaolado.–Escuta...vamosperguntaraMionesepodemosdarumaolhadanoqueelafez?Harryolhouparaaamiga,queestavasentadacomBichentoaocolo;conversavaalegrementecom
Gina,segurandoàsuafrenteumpardeagulhasdetricôquelampejavanoar,eagorateciaumpardemeiasinformesparaelfos.–Não–respondeudeprimido–,vocêsabequeelanãovaideixar.Então continuaram a estudar enquanto o céu lá fora se tornava gradualmentemais escuro. Aos
poucos,onúmerodecolegasnasalacomunalrecomeçouadiminuir.Àsonzeemeia,Hermioneseaproximoudeles,bocejando.–Quasenofim?–Não–disseRonysecamente.–A luamaior de Júpiter é Ganimedes e não Calisto – disse ela, apontando para uma linha no
trabalhodeAstronomiadeRony,porcimadoseuombro–,eéIoquetemosvulcões.–Obrigado–agradeceueleasperamente,riscandoasfraseserradas.–Desculpe,eusó...–Eusei,ótimo,vocêsóveioatéaquiparacriticar...–Rony...–Nãotenhotempoparaouvirsermão,tá,Hermione.Estouatéopescoço...–Não...olhe!Hermioneestavaapontandoparaajanelamaispróxima.HarryeRonyolharam.Umabelacoruja-
das-torresestavapousadanoparapeitodajanela,olhandoparaRonydentrodasala.–AquelanãoéHermes?–perguntouHermione,parecendoespantada.–Caracas,émesmo!–respondeuRonybaixinho,largandoapenaeselevantando.–Paraqueserá
queoPercyestámeescrevendo?Elefoiatéajanelaeaabriu;Hermesentrou,pousousobreotrabalhodeRonyeestendeuaperna
em que estava presa a carta. O garoto desamarrou-a, e a coruja partiu imediatamente, deixandopegadasdetintanodesenhoqueRonyfizeradaLua.– Decididamente é a letra de Percy – disse Rony, afundando de volta na poltrona e fixando as
palavrasnoexteriordopergaminho:RonaldWeasley,Grifinória,Hogwarts.Eleolhouparaosoutrosdois:–Queéquevocêsacham?–Abre!–pediuHermione,ansiosa,eHarryconcordoucomacabeça.Ronydesenrolouopergaminhoecomeçoualer.Àmedidaqueseuolhardesciapelopergaminho,
mais carrancudo ele ia ficando.Quando terminou de ler, parecia absolutamente enojado.Atirou acartaparaHarryeHermione,quejuntaramascabeçaseleram:
CaroRony:Acabeidesaber(porninguémmenosqueoministrodaMagiaempessoa,quesoubeporsuanova
professora,ProfaUmbridge)quevocêfoinomeadomonitoremHogwarts.Fiquei agradavelmente surpresoquandoouvi anotícia, e primeiramentepreciso lhedarosmeus
parabéns.Devoadmitirquesemprereceeiquevocêtomasseoquepoderíamoschamarde“caminhodoFrededoJorge”,emlugardeseguirosmeuspassos,porissopodeimaginaroquesentiquandosoubequevocêparoudezombardaautoridadeedecidiuassumirumaresponsabilidadedepeso.Masquerolhedarmaisdoqueosparabéns,Rony,querolhedarumconselho,razãopelaqualestou
preferindomandarestacartaànoiteemvezdemandá-lapelocorreiomatinal.Esperemosquevocêpossalê-lalongedeolharescuriososeevitarperguntasembaraçosas.Porumacoisaqueoministrodeixouescaparquandomecontouquevocêagoraémonitor,deduzo
quevocêaindaestejavendooHarryPottercommuitafrequência.Precisolhedizer,Rony,quenadapodetorná-lomaisvulneráveldeperderseudistintivodoquecontinuarseconfraternizandocomessegaroto.Tenhocertezadequevocêestásurpresocomisso–semdúvidavocêdiráquePottersemprefoiofavoritodeDumbledore–,masmesintonaobrigaçãodelheinformarqueDumbledoretalveznãocontinuepormuito tempoà frentedeHogwarts, easpessoas realmente influentes têmumaopiniãodiferente–eprovavelmentemaisexata–docomportamentodePotter.Nãodireimuitomaisdoqueisso,massevocêleroProfetaDiárioamanhã teráumaboa ideiaparaque ladoestãosoprandoosventos–evejaseconseguereconheceroseucaroirmão!Seriamente,Rony,vocênãoquerserigualadoaPotter,poderiasermuitoprejudicialparaosseus
projetosfuturos,eestoumereferindoaquiàsuavidadepoisdeterminaraescolatambém.Comovocêdevesaber,umavezqueonossopaiacompanhouPotteraotribunal,elecompareceuaumaaudiênciadisciplinar este verão, perante toda a Corte Suprema, e não saiu com uma boa imagem. Foiinocentadoporumamera tecnicalidade, sequer saber, emuitaspessoascomquem falei continuam
convencidasdequeeleéculpado.TalvezvocêtenhareceiodecortarseusvínculoscomPotter–seiqueelepodeserdesequilibradoe
violento –, mas se isso o preocupar de alguma forma, ou se observou mais alguma coisa nocomportamentodePotterqueopossaestar incomodando,peçoqueváprocurarDoloresUmbridge,umamulherrealmenteencantadoraqueestoucertoqueterámuitoprazeremaconselhá-lo.Isto me leva a lhe dar mais conselhos. Como já insinuei acima, o regime de Dumbledore em
Hogwarts talvez estejano fim. Sua lealdade,Rony, nãodeve sera ele,masà escola eaoministro.Lamentomuitosaberque,atéomomento,aProfaUmbridgeestáencontrandomuitopoucacooperaçãodosprofessoresemseuesforçopararealizarasmudançasnecessáriasemHogwartsqueoministrotãoardentemente deseja (embora sua tarefa deva ficarmais fácil a partir da próxima semana– leia oProfeta Diário amanhã!). Só lhe adiantarei uma coisa – um estudante que se mostrar disposto aajudaraProfaUmbridgeagora talvez fiquebemcolocadopara secandidatarà funçãodemonitor-chefedentrodemaisunsdoisanos!Sintomuitonãoterpodidovê-locommais frequênciaduranteoverão.Dói-mecriticarosnossos
pais,masreceioquenãopossacontinuaraviversobotetodelesenquantoinsistirememsemisturarcomogrupoperigosoquecercaDumbledore.(Sevocêestiverescrevendoàmamãeumahoradessas,talvez possa lhe dizer que um tal Estúrgio Podmore, que é um grande amigo de Dumbledore,recentementefoimandadoparaAzkabanporinvadiroMinistério.Talvezistoabraosolhosdelesparaotipoderalécomquepresentementeestãoconvivendo.)Considero-meumapessoademuitasorteporterescapadodoestigmademeassociarcomgentedessalaia–oministronãopoderiatersidomaisgenerosocomigo–erealmenteespero,Rony,quevocêtambémnãopermitaqueoslaçosdefamíliaoceguemparaanaturezaequivocadadascrençaseatosdosnossospais.Comsinceridade,esperoque,emtempo,elespercebamcomoestavamenganados,enaturalmenteestareiprontoaaceitardesculpasformaisquandoessediachegar.Porfavor,reflitacommuitaatençãosobreoqueeudisse,particularmentequantoaoHarryPotter,e
parabénsmaisumavezporseragoramonitor.Seuirmão,Percy
HarryergueuosolhosparaRony.–Então–disse,tentandodaraimpressãodequeachavaacoisatodaumapiada.–Sevocêquiser...
hum...comoémesmo?–EleconsultouacartadePercy.–Ah,sim...cortarosvínculoscomigo,juroquenãosereiviolento.–Medáissoaqui–disseRony,estendendoamão.–Eleé–disseRonygaguejandoerasgandoa
cartadePercyaomeio–amaior–erasgou-aemquartos–anta–emaisumavezemoitavos–domundo.–Eatirouospedaçosnofogo.–Vamos,precisamosterminaressedeverantesdodiaamanhecer–disseaHarrycomrenovada
energia,tornandoapuxarotrabalhodaProfaSinistraparaperto.HermioneolhavaRonycomumaestranhaexpressãonorosto.–Ah,medáissoaqui–dissederepente.–Quê?–perguntouRony.–Medáessesdeveres,voudarumalidaecorrigi-los.–Vocêestáfalandosério?Ah,Hermione,vocêéumasalvação–disseRony–,queéqueeu...–Oquevocêspodemdizeréoseguinte:Prometemosquenuncamaisdeixaremososdeverespara
aúltimahora–disseela,estendendoasduasmãosparareceberostrabalhosdosgarotos,mas,aindaassim,tinhaoardequemestavaachandoumacertagraça.–Milvezesobrigado,Hermione–disseHarrycomavozfraca,entregandooseutextoetornando
aafundarnapoltrona,esfregandoosolhos.Passavaagoradameia-noiteeasalacomunalestavadeserta,excetopelostrêsgarotoseBichento.
OúnicosomeraodapenadeHermioneriscandofrasesaquiealinostrabalhos,eofarfalhardaspáginasdos livrosde referênciaespalhadospelamesaemqueelaconferiaosváriosdados.Harryestavaexausto.Sentia-setambémestranho,doente,comumvazionoestômagoquenãotinhaligaçãoalgumacomocansaço,mastudoavercomacartaqueagoraenegreciaeseencrespavaemmeioàschamas.ElesabiaquemetadedaspessoasemHogwartsoconsideravaestranho,eatédoido;sabiaqueo
ProfetaDiário andara fazendo insinuações falsas a seu respeito durantemeses,mas havia algumacoisadiferenteemvê-lasescritasdaquelejeito,naletradePercy,emsaberqueestavaaconselhandoRonyaterminaraamizadecomeleeatéacontarhistóriassobreeleaUmbridge,oquetornavasuasituaçãomais real aos seusolhos comonada anteso fizera.ConheciaPercyhaviaquatro anos, sehospedara em sua casa durante as férias de verão, dividira uma barraca com ele durante a CopaMundial de Quadribol, chegara a receber dele o número de pontos totais pela segunda tarefa noTorneioTribruxonoanoanterior,noentanto,agora,Percyoachavadesequilibradoepossivelmenteviolento.E, sentindo uma onda de simpatia pelo padrinho,Harry pensou que Sirius provavelmente era a
únicapessoaqueeleconheciaque,defato,seriacapazdecompreenderoqueestavasentindonaquelemomento, porque se encontrava na mesma situação. Quase todas as pessoas no mundo bruxoachavam que ele era um perigoso homicida e um grande seguidor de Voldemort, e ele precisaraconvivercomissodurantecatorzeanos...Harrypiscouosolhos.Acabaradeverumacoisano fogoquenãopoderiaestarali.Tornara-se
visível em um lampejo e desaparecera imediatamente. Não... não poderia estar ali... ele imaginaraporqueestiverapensandoemSirius...–O.k.,escrevaaí–disseHermioneaRony,empurrando-lheo trabalhoeumafolhaescritacom
sualetra–,edepoisacrescenteaconclusãoquefiz.–Hermione,sinceramente,vocêéapessoamaismaravilhosaqueeujáconheci–disseRonycoma
vozfraca–,eseeutornarasergrosseirocomvocê...–Sabereiquevocêvoltouaonormal–completouela.–Harry,oseuestábom,excetoopedacinho
final.AchoquevocêdeveterentendidomalaProfaSinistra.AluaEuropaécobertadegelo,nãodegrelos...Harry?Harry escorregara da poltrona sobre os joelhos e agora estava agachado no tapete puído e
chamuscado,espiandoaschamas.–Hum...Harry?–chamouRonyinseguro.–Porqueéquevocêestáaíembaixo?–PorqueacabeideveracabeçadeSiriusnofogo–disseHarry.Falouissocalmamente;afinal,viraacabeçadeSiriusnessemesmofogonoanoanterior,efalara
comele;contudonãotinhamuitacertezaserealmenteaviradestavez...edesapareceratãodepressa...–AcabeçadeSirius?– repetiuHermione.–Vocêquerdizercomonavezemqueelequis falar
comvocêduranteoTorneioTribruxo?Maselenãofariaissoagora,seria...Sirius!Ela exclamou, os olhos fixos na lareira; Rony deixou cair a pena.Ali, nomeio das línguas de
fogo, estava parada a cabeça de Sirius, os cabelos longos e escuros emoldurando o seu rostosorridente.– Eu estava começando a pensar que você iria se deitar antes de todos os outros terem
desaparecido–disseele.–Tenhoverificadodehoraemhora.–Vocêtemaparecidonofogodehoraemhora?–perguntouHarrycomumarderisonorosto.–Sóporunssegundosparaverseabarraestavalimpa...–Masesealguémotivessevisto?–perguntouHermione,ansiosa.
–Bom,achoqueumagarota...calourapelojeito...talveztenhamevistoderelancemaiscedo,masnãosepreocupe–apressou-seSiriusadizer,quandoHermionelevouamãoàboca–,desaparecinoinstanteemqueelameencarou,eapostoquedeve terpensadoqueeuerauma torademadeiradeformaesquisitaououtracoisaqualquer.–Mas,Sirius,istoéumriscoenorme–começouHermione.–VocêestáparecendoaMolly.Estafoiaúnicamaneiraquepudeimaginarderesponderàcartade
Harrysemrecorreraumcódigo:oscódigossãodecifráveis.ÀmençãodacartadeHarry,HermioneeRonyseviraramparaencararoamigo.–VocênãocontouquetinhaescritoaSirius!–disseHermioneemtomdeacusação.–Meesqueci.–Oqueeraabsolutamenteverdade;seuencontrocomChonocorujalvarreratodoo
resto de sua cabeça. –Nãome olhe assim,Hermione, não havia nenhumamaneira de alguém terextraídoinformaçõessecretasdacarta,havia,Sirius?–Não,estavamuitoboa–disseelesorrindo.–Emtodoocaso,émelhornosapressarmos,caso
alguémvenhanosperturbar...asuacicatriz.–Oquê...?–perguntouRony,masHermioneointerrompeu.–Nóslhefalaremosdepois.Continue,Sirius.–Bom,euseiquenão temamenorgraçaquandodói,masachamosquenãohá realmentenada
comquesepreocupar.Eladoeuotempotodonoanopassado,nãofoi?–Foi,eDumbledoredissequeissoaconteciatodavezqueVoldemortestavasentindoumaemoção
muitointensa–confirmouHarry,ignorando,comosempre,ascaretasdeRonyeHermione.–Então,talvezeleestivesseapenas,seilá,realmentefuriosoououtracoisaqualquernanoiteemquecumpriaqueladetenção.–Bem,agoraqueelevoltoudeverádoercommaisfrequência–disseSirius.–Entãovocê achaquenão tevenenhuma ligação como fato daUmbridgeme tocar quando eu
estavacumprindoadetenção?–perguntouHarry.–Duvido.Conheçoareputaçãodela,etenhocertezadequenãoéumaComensaldaMorte...–Elaémalignabastanteparaser–disseHarryemtomsombrio,eRonyeHermioneconcordaram
vigorosamentecomacabeça.–É,masomundonãoestádivididoentreosbonseosComensaisdaMorte–disseSiriuscomum
sorrisoenviesado.–Masseiqueelanãoéflorquesecheire...vocêdeviaouviroqueoRemodizdela.– Lupin a conhece? – perguntou Harry, lembrando-se dos comentários da Umbridge sobre
mestiçosperigososnaprimeiraaula.– Não, mas ela apresentou um projeto de lei contra lobisomens há dois anos, que torna quase
impossívelparaelearranjarumemprego.HarryselembroudaaparênciamaisandrajosadeLupinultimamente,easuaraivadaUmbridge
aumentouaindamais.–Queéqueelatemcontralobisomens?–perguntouHermione,indignada.–Temmedo,imagino–disseSirius,sorrindodaindignaçãodagarota.–Aparentemente,elatem
aversão a semi-humanos; no ano passado também fez campanha para que os sereianos fossemarrebanhadoseetiquetados. Imaginedesperdiçar tempoeenergiaperseguindosereianosquandohábiltrescomooMonstroàsoltaporaí.Ronyriu,masHermionepareceuaborrecida.–Sirius!–disseem tomdecensura.–Francamente, sevocê fizesseummínimoesforçocomo
Monstro, tenho certeza de que ele corresponderia. Afinal de contas, você é o único membro dafamíliadelequerestou,eoProf.Dumbledoredisse...– Então, como são as aulas daUmbridge? – interrompeu-a Sirius. – Está treinando vocês para
matarmestiços?–Não–respondeuHarry,ignorandoacaradeofendidadeHermioneportersidointerrompidaem
suadefesadoMonstro.–Elanãoestádeixandoagenteusarmagia.–Sóoquefazemosélerlivros-textoidiotas–disseRony.–Ah,bom,eradeesperar.AinformaçãoquetemosdedentrodoMinistérioéqueFudgenãoquer
quevocêsrecebamtreinamentodecombate.–Treinamentodecombate!–repetiuHarry incrédulo.–Queéqueeleachaqueestamosfazendo
aqui,formandoumexércitobruxo?–Éexatamenteoqueeleachaquevocêsestãofazendo–disseSirius–,oumelhor,éexatamenteo
queelereceiaqueDumbledoreestejafazendo,formandoseuexércitoparticular,comoqualpoderátomardeassaltooMinistériodaMagia.Aoouvirisso,osgarotosfizeramumapausa,depoisRonydisse:–Essaéacoisamaisidiotaqueeujáouvi,mesmolevandoemcontatodasasqueLunaLovegood
inventa.–Entãoestamos sendo impedidosdeaprenderDefesaContraasArtesdasTrevasporqueFudge
temmedoqueagenteuseosfeitiçoscontraoMinistério?–perguntouHermione,furiosa.–É–confirmouSirius.–FudgeachaqueDumbledorenãosedeterádiantedenadaparatomaro
poder.EstáficandocadadiamaisparanoicocomrelaçãoaDumbledore.Éumaquestãodetempoelemandarprendê-losobalgumaacusaçãofajuta.IstolembrouaHarryacartadePercy.–Você sabe se vai sair alguma coisa sobre oDumbledore noProfetaDiário amanhã? Percy, o
irmãodeRony,achaquesairá...–Não sei.Não vi ninguém daOrdem o fim de semana inteiro, estão todos ocupados. Ficamos
somenteoMonstroeeu...HaviaumanítidanotadeamarguranavozdeSirius.–EntãovocêtambémnãotevenenhumanotíciadeHagrid?– Ah... – disse Sirius – bom, ele já devia estar de volta, ninguém tem muita certeza do que
aconteceu. – Então, notando a expressão chocada dos garotos, acrescentou depressa: – MasDumbledore não está preocupado, entãovocês nãoprecisam ficar nervosos.Tenho certeza de queHagridestáótimo.–Masseelejádeviaestardevolta–comentouHermionecomumavozinhaansiosa.–EleeMadameMaximeestavamjuntos,estivemosemcontatocomelaesoubemosqueosdois
tiveramdesesepararnavolta...masnãohánadaquesugiraqueeleestejamachucadoou...bem,nadaquesugiraqueelenãoestejaperfeitamentebem.Poucoconvencidos,Harry,RonyeHermioneseentreolharampreocupados.–Escute, não saia por aí fazendo perguntas sobre a ausência deHagrid – acrescentou Sirius. –
Assim,iráatrairmaisatençãoparaofatodeelenãotervoltado,eseiqueDumbledorenãoquerisso.Hagrid é durão, vai se sair bem. –E quando viu que os garotos não pareceram se animar, Siriusperguntou: – E, afinal, quando é o próximo fim de semana de vocês em Hogsmeade? Estivepensando,nossaímosmuitobemcomodisfarcedecachorronaestação,nãofoi?Acheiquepodia...–NÃO!–exclamaramHarryeHermionejuntos,muitoalto.–Sirius,vocênãoleuoProfetaDiário?–perguntouHermione,nervosa.– Ah, aquilo – comentou Sirius rindo –, sempre estão adivinhando onde estou, mas não têm
realmenteamenorideia...–É,masachoquedestavezelestêm–disseHarry.–OMalfoydisseumacoisanotremquenos
fezpensarqueelesabiaqueeravocê,eopaideleestavanaplataforma,Sirius...vocêsabe,oLúcioMalfoy...entãonãoapareçaporaquiemhipótesealguma.SeMalfoyoreconhecerdenovo...
–Estábem,estábem,entendiorecado.–Elepareceudesgostoso.–Foisóumaideia,penseiquevocêtalvezgostassedeseencontrarcomigo.–Gostaria,sónãoquerovervocêatiradodevoltaemAzkaban!HouveumapausaemqueSiriusolhouparaHarry,umarugaentreseusolhosfundos.–Vocêparecemenoscomoseupaidoqueeupensei–dissefinalmente,comumainconfundível
friezanavoz.–OriscoteriasidoaartemaisdivertidaparaoTiago.–Olhe...– Bom, émelhor eu ir andando. Estou ouvindoMonstro descer as escadas – disse Sirius, mas
Harrytevecertezadequeeleestavamentindo.–Voulheescreverdizendoquandopodereivoltaraofogo,então,estábem?Sevocêpuderarriscar.Ouviu-se um estalidomínimo e o ponto emque estivera a cabeça de Sirius foi retomado pelas
chamassaltitantes.
—CAPÍTULOQUINZE—AAltaInquisidoradeHogwarts
Os garotos pensaram que na manhã seguinte teriam de esquadrinhar meticulosamente o ProfetaDiário da Hermione para encontrar o artigo que Percy mencionara em sua carta. No entanto, acoruja-entregadoramallevantaravoodajarradeleiteemquepousaraquandoHermionejádeixavaescapar uma enorme exclamação e abria o jornal todo paramostrar uma grande foto deDoloresUmbridgecomumenormesorriso,piscandolentamenteparaelessobamanchete.
MINISTÉRIOQUERREFORMANAEDUCAÇÃODOLORESUMBRIDGENOMEADAPRIMEIRAALTAINQUISIDORADAHISTÓRIA
–Umbridge...Alta Inquisidora?! –Foi a exclamação sombria deHarry, deixando escorregar dapontadosdedosatorradameiocomida.–Queéqueelesqueremdizercomisso?Hermioneleuemvozalta:
–Ontemànoite, oMinistériodaMagia surpreendeua todosaprovandouma leique concedeaopróprioórgãoumníveldecontrolesemprecedentessobreaEscoladeMagiaeBruxariadeHogwarts.“Jáháalgum tempo, oministro tem semostradoapreensivo comoqueacontece emHogwarts”,
comentou seu assistente-júnior, Percy Weasley. “O decreto é uma resposta às preocupaçõesexpressadasporpaisansiososquesentemqueaescolaestátrilhandoumcaminhoquedesaprovam.”NãoéaprimeiraveznasúltimassemanasqueoministroCornélioFudgetemusadonovasleispara
realizaraperfeiçoamentosnaescolademagia.Em30deagosto recente, foiaprovadooDecretodeEducaçãon.o22,paraassegurarque,naeventualidadedoatualdiretornãoconseguirapresentarumcandidatoaumavagadeprofessor,oMinistérioselecioneumapessoahabilitada.“Foi assim que Dolores Umbridge acabou sendo indicada para o corpo docente de Hogwarts”,
disse Weasley ontem à noite. “Dumbledore não conseguiu encontrar ninguém, então o MinistérionomeouUmbridgee,naturalmente,elaalcançouimediatosucesso...”
–ElaoQUÊ?!–exclamouHarryemvozalta.–Espere,aindatemmais–disseHermioneséria:
–“...imediatosucesso,revolucionandointeiramenteoensinodaDefesaContraasArtesdasTrevaseinformandoemprimeiramãoaoministrooqueestárealmenteocorrendoemHogwarts.”ÉestafunçãoqueoMinistérioestáformalizandoagoraaoaprovaroDecretodeEducaçãon.o23,
quecriaocargodeAltaInquisidoradeHogwarts.“Inicia-seassimumanovafasenoplanoministerialparaenfrentaroquealgunstêmchamadode
queda nos padrõesdeHogwarts”, dizWeasley. “A Inquisidora terá poderes para inspecionar seuscolegas educadores e se assegurar de que estejam satisfazendo os padrões desejados. O cargo foioferecidoàProfaUmbridge,queaceitouanova incumbênciaea iráacumularcomocargodocentequeoraexerce.”AsnovasmedidasdoMinistérioreceberamoapoioentusiásticodospaisdosalunosdeHogwarts.
“EumesintomuitomaistranquiloagoraqueseiqueDumbledoreestásujeitoaavaliaçõesjustaseobjetivas”,declarouoSr.LúcioMalfoy,41,ànoitepassadadesuamansãodeWiltshire.“Muitosdenós,quenofundoqueremosquenossosfilhossejamfelizesebem-sucedidos,estávamospreocupadoscom algumas decisões excêntricas que Dumbledore andou tomando nos últimos anos, e ficamoscontentesdesaberqueoMinistérioestáatentoàsituação.”Semdúvida, entreas decisões excêntricasmencionadas encontram-se as nomeações controversas
apontadaspelonossojornal,entreasquaisseincluemacontrataçãodolobisomemRemoLupin,domeio-giganteRúbeoHagridedoex-aurordeliranteOlho-TontoMoody.Naturalmente,corremmuitosboatosdequeAlvoDumbledore,quenopassadofoioChefeSupremo
da Confederação Internacional de Bruxos e Bruxo-presidente da Suprema Corte, não está mais àalturadeadministraraprestigiosaEscoladeHogwarts.“AchoqueanomeaçãodaInquisidoraéoprimeiropassoparaassegurarqueHogwartstenhaum
diretor em quem possamos depositar nossa confiança”, declarou uma fonte do Ministério à noitepassada.Os juízes da Suprema Corte, Griselda Marchbanks e Tibério Ogden, renunciaram aos seus
mandatos,emprotestoàcriaçãodocargodeInquisidoradeHogwarts.“Hogwarts é uma escola e não um posto avançado do gabinete de Cornélio Fudge”, declarou
MadameMarchbanks.“Trata-sedemaisumatentativarepugnantededesacreditarAlvoDumbledore.”(LeiamahistóriacompletadassupostasligaçõesdeMadameMarchbankscomgruposdeduendes
subversivosnap.17.)
Hermioneterminoudelereolhouparaosdoisgarotossentadosàsuafrente.–EntãoagorasabemoscomofoiqueacabamosalunosdaUmbridge!Fudgeaprovouo“Decreto
de Educação” e forçou a sua contratação! Agora lhe concedeu o poder de inspecionar os outrosprofessores!–Hermioneofegavae tinhaosolhosmuitobrilhantes.–Nãoconsigoacreditar.Éumabsurdo!–Seiqueé–disseHarry.Eolhouparasuamãodireita,agarradaaotampodamesa,eviuoleve
contornobrancodaspalavrasqueUmbridgeoforçaraagravarnapele.MasnorostodeRonycomeçouaseabrirumsorriso.–Quefoi?–perguntaramHarryeHermionejuntos,olhandoparaele.–Ah,malpossoesperarparaveraMcGonagallserinspecionada–dissefeliz.–AUmbridgenão
vaisabernemoquefoiqueaacertou.– Ah, vamos – disse Hermione, levantando-se de um salto –, é melhor irmos andando, se ela
estiverinspecionandoaclassedeBinnsnãovamosquererchegaratrasados...Mas a Profa Umbridge não estava inspecionando a aula de História da Magia, que foi tão
desinteressantequantoadasegunda-feiraanterior,tampoucoestavanamasmorradeSnape,quandoeleschegaramparaosdoistemposdePoções,emqueotrabalhodeHarrysobreapedradaluafoi-lhedevolvidocomumenormeegarranchoso“D”nocantosuperior.–DeiavocêsasnotasqueteriamrecebidosetivessemapresentadoessestrabalhosnoseuN.O.M.–
disseSnape comumsorriso afetado, aopassar pelos alunosdevolvendoosdeveres. – Istodeverálhesdarumaideiarealistadoqueesperarnoexame.Snapefoiatéafrentedaclasseesevoltouparaaturma.–Onívelgeraldosdeveresfoiabissal.Amaioriadevocêsnãoteriapassadosefosseumexame
real. Espero observar um esforço bem maior no trabalho desta semana sobre as variedades deantídotosparavenenosoutereidecomeçaradistribuirdetençõesparaostapadosquereceberem“D”.OprofessorriucomafetaçãoquandoMalfoydeuumarisadinhaedissenumsussurroressonante:–Tevegentequerecebeuum“D”?Ha!
HarrypercebeuqueHermioneestavaolhandodeesguelhaparaverquenotaogaroto recebera;masMalfoyescorregouotrabalhoparadentrodamochilaomaisdepressaquepôde,sentindoquepreferiaguardaressainformaçãosóparaele.DecididoanãodaraSnapeumpretextoparaanularseuexercício,Harryleuereleucadalinhade
instruçãonoquadro-negropelomenostrêsvezesantesdesegui-la.SuaSoluçãoparaFortalecernãoficouexatamenteumturquesa-clarocomoadaHermione,mas,pelomenos, ficouazulenãorosa,comoadeNeville,eeledepositouoseufrasconamesadeSnapeaofinaldaaula,comumasensaçãoemquesemesclaramodesafioeoalívio.–Bom,nãofoitãoruimquantonasemanapassada,nãoé?–comentouHermionequandosubiam
as escadas dasmasmorras para atravessar oSaguão deEntrada e ir almoçar. –E o dever de casatambémnãofoinadamau,nãoé?AoverquenemRonynemHarryrespondiam,elainsistiu:–Querodizer, tudobem,eunãoesperavaanotamáxima,nãoseSnapeestivercorrigindopelos
padrõesdoN.O.M.,masum“aprovado”ébastanteanimadornesseestágio,nãoacham?Harryproduziuumsomindistintocomagarganta.–Claro,muitacoisapodeacontecerentreagoraeoexame,temosbastantetempoparamelhorar,
masasnotasqueestamosrecebendosãoumaespéciedebase,nãoacham?Apartirdelaspodemosirconstruindo...OstrêssesentaramàmesadaGrifinória.–Éóbvioqueeuteriavibradosetivesserecebidoanotamáxima...– Hermione – disse Rony com rispidez –, se você quiser saber que notas nós tiramos é só
perguntar.–Eunão...eunãotiveintenção...bom,sevocêsquiseremmedizer...–Tireium“P”–disseRony,servindoumaconchadesopaemseuprato.–Contente?–Ora,não temdoqueseenvergonhar–disseFred,queacabaradechegaràmesacomJorgee
LinoJordan,eestavasesentandoàdireitadeHarry.–Nãohánadadeerradocomumsaudável“P”.–Mas–perguntouHermione–“P”nãosignifica...– “Passável”, isso mesmo – disse Lino. – Mas ainda é melhor do que um “D”, não é?
“Deplorável”?Harrysentiuorostoesquentar,efingiuumpequenoacessodetosseprovocadopelopão.Quando
serecuperoudoacesso,lamentouverqueHermionecontinuavafalandosobreasnotasdoN.O.M.–Entãoamelhornotaé“O”de“Ótimo”–iadizendo–,depoistemo“A”.–Não, o “E” – Jorge a corrigiu. – “E” de “Excede Expectativas”. Sempre achei que Fred e eu
devíamosterrecebido“E”emtudo,porqueexcedemosasexpectativassódecomparecerparaprestarosexames.Todosriram,excetoHermione,queinsistiu.–Então,depoisdo“E”temo“A”,de“Aceitável”,eestaéaúltimanotaparaaprovação,nãoé?– É – respondeu Fred, enfiando um pãozinho inteiro na sopa, transferindo-o para a boca e o
engolindodeumasóvez.–Aí vem o “P” de “Passável” – Rony ergueu os dois braços fingindo comemorar – e “D” de
“Deplorável”.–Eporfimo“T”–Jorgelembrouaoirmão.–“T”?–perguntouHermione,parecendoadmirada.–Aindaabaixode“D”?Queéquesignifica
“T”?–“Trasgo”–disseJorgeimediatamente.Harry tornou a rir, embora não tivesse muita certeza se Jorge estaria ou não brincando. Ele
imaginou tentar esconder de Hermione que recebera “Ts”em todos os seus N.O.M.s, e decidiu
imediatamenteseesforçarmaisdaliemdiante.–Vocêsjátiveramumaaulainspecionada?–perguntouFred.–Não–respondeuHermionenahora.–Vocêsjá?–Acabamosdeteruma,antesdoalmoço–disseJorge.–Feitiços.–Ecomofoi?–perguntaramHarryeHermionejuntos.Fredsacudiuosombros.–Nadamau.Umbridgesóficouescondidaemumcanto,tomandonotasemumaprancheta.Vocês
conhecemoFlitwick,eleatratoucomoconvidada,enãopareceuseincomodar.Elanãodissemuitacoisa.FezumasperguntasaAlícia,parasabercomosãonormalmenteasaulas,Alíciarespondeuqueeramrealmenteboas,efoisó.–NãoconsigoverovelhoFlitwickrecebendonotabaixa–comentouJorge–,elenormalmente
conseguefazertodoomundopassarbemnosexames.–Comquemvocêstêmaulahojeàtarde?–perguntouFredaHarry.–Trelawney...–Um“T”seéquejávialgum.–...eaprópriaUmbridge.–Vai,sejabonzinhoeficacalmocomaUmbridgehoje–disseJorge.–Angelinavaienlouquecer
amulhersevocêperdermaisumtreinodequadribol.MasHarrynãoprecisou esperar até aDefesaContra asArtesdasTrevaspara encontrar aProfa
Umbridge. Estava sentado em uma cadeira no fundo da sombria sala de Adivinhação, tirando damochilaoseudiáriodesonhos,quandoRonylhedeuumacotoveladanascostelase,aoolharparaolado,eleviuaProfaUmbridgesurgirpeloalçapãonopiso.Aturma,queestiveraconversandoalegre,calou-seimediatamente.AquedaabruptanoníveldobarulhofezaProfaTrelawney,quevagavapelasaladistribuindoexemplaresdoOráculodossonhos,virar-separaolhar.–Boa-tarde,professora–disseaProfaUmbridgecomseu largosorriso.–Você recebeuomeu
bilhete,espero?Informandoahoraeadatadasuainspeção?AProfaTrelawneyfezumbreveacenocomacabeçae,parecendomuitodescontente,deuascostas
à recém-chegada,econtinuouadistribuiros livros.Aindasorridente,aProfaUmbridgeagarrouoespaldar da poltronamais próxima e puxou-a até a frente da classe, demodo a colocá-la algunscentímetros atrás da cadeira da Profa Trelawney. Sentou-se, então, apanhou a prancheta na bolsafloridaeergueuacabeçaematitudedeexpectativa,aguardandooiníciodaaula.A Profa Trelawney apertou os xales em volta do corpo, com as mãos ligeiramente trêmulas, e
inspecionouaturmaatravésdasenormeslentesdeaumentodosseusóculos.–Hojecontinuaremosonossoestudodos sonhosproféticos–disse,numacorajosa tentativade
reproduziroseutommísticohabitual,emborasuavoztremesseumpouco.–Dividam-seempares,porfavor,einterpretemasúltimasvisõesnoturnasdocolegacomaajudadoOráculo.Elafezummovimentolargopararetomaroseulugar,viuaProfaUmbridgesentadabemaolado,
eimediatamentesedesviouparaaesquerda,emdireçãoaParvatieLilá,quejádiscutiamabsortasosonhomaisrecentedeParvati.Harry abriu o seu exemplar doOráculo dos sonhos, observandoUmbridge veladamente. Ela já
estavatomandonotasnaprancheta.Decorridosalgunsminutos,levantou-seecomeçouaandarpelasala,acompanhandoTrelawney,escutandosuasconversascomosalunosefazendoperguntasaquieali.Harrybaixou,ligeiro,acabeçaparaoseulivro.–Pensenumsonhodepressa–pediuaRony–,casoasapavelhavenhaparaonossolado.–Jáfizissodaúltimavez–protestouRony–,agoraéasuavez,vocêmecontaum.–Ah, não sei... – disseHarry desesperado, que não conseguia se lembrar de ter sonhado coisa
algumanosúltimosdias.–Vamosdizerqueeutenhasonhadoqueestava...afogandoSnapenomeu
caldeirão.É,essedeveservir...Rindo,RonyabriuoseuOráculodossonhos.–O.k.,temosdesomarasuaidadeàdataemquevocêteveosonho,onúmerodeletrasquetemo
temadosonho...seria“afogar”,“caldeirão”ou“Snape”?–Nãoimporta,escolhaqualquerum–disseHarry,arriscandoumolharparatrás.Umbridgeestava
agora colada ao ombro de Trelawney, tomando notas enquanto a professora de AdivinhaçãointerrogavaNevillesobreoseudiáriodesonhos.–Emquenoitevocêtornouasonharcomisso?–perguntouRonyimersoemcálculos.– Não sei, à noite passada, quando você quiser – respondeu Harry, tentando escutar o que
UmbridgediziaàProfaTrelawney.Agoraasduasestavamapenasaumamesadedistância.AProfaUmbridgeanotavamaisalguma
coisanapranchetaeaProfaTrelawneypareciaextremamenteaborrecida.–Agora–perguntouUmbridge,erguendoosolhosparaTrelawney–,exatamenteháquantotempo
vocêvemocupandoestecargo?A Profa Trelawney encarou a outra zangada, os braços cruzados e os ombros curvados para a
frente, como se quisesse se proteger ao máximo da possível indignidade da inspeção. Após umabrevepausaemquepareciadecidirseaperguntanãoeraofensiva,seerarazoáveldeixá-lapassar,respondeuemumtomprofundamenteofendido:–Quasedezesseisanos.–Umbomtempo–comentouaProfaUmbridge,fazendooutraanotaçãonaprancheta.–Entãofoi
oProf.Dumbledorequeanomeou?–Correto–respondeusecamente.Umbridgefezmaisumaanotação.–EvocêétetranetadafamosavidenteCassandraTrelawney?–Sou–confirmouelaerguendoumpoucomaisacabeça.Maisumregistronaprancheta.–Mas acho... corrija-me se eu estiver enganada... que você é a primeira em sua família desde
CassandraTrelawneyaserdotadadeSegundaVisão?–Essesdonsmuitasvezessaltam...hum...trêsgerações–disseaProfaTrelawney.OsorrisobufonídeodaProfaUmbridgeseampliou.–Naturalmente–dissecommeiguice, fazendomaisumregistro.–Bem,entãoseráquepoderia
profetizaralgumacoisaparamim?–Eergueuosolhoscomarindagador,aindasorridente.AProfaTrelawneyficoutensa,comosenãoconseguisseacreditarnoqueouvia.–Não estou entendendo – disse agarrando convulsivamente o xale em torno do pescoçomuito
magro.–Gostariaquevocêfizesseumaprofeciaparamim–disseaProfaUmbridgemuitoclaramente.HarryeRonyagoranãoeramasúnicaspessoasqueobservavameescutavamfurtivamenteportrás
dos livros.Amaioria da turma observava paralisada a Profa Trelawney quando ela se empertigoutoda,oscolareseaspulseirastilintando.–OOlhoInteriornãovêquandorecebeordem!–disseemtomescandalizado.–Entendo–respondeuaoutrabrandamentefazendomaisumaanotação.– Eu... mas... mas... espere! – disse a Profa Trelawney de repente, tentando falar no seu tom
habitualmenteetéreo,emboraoefeitomísticoficasseumtantoarruinadopelomodocomquetremiaderaiva.–Eu...euachoqueestouvendoalgumacoisa...algumacoisaquedizrespeitoavocê...umacoisaescura...umgraveperigo...AProfaTrelawneyapontouumdedotrêmuloparaUmbridgequecontinuouasorrirbrandamente
paraela,desobrancelhaserguidas.
– Receio... receio que você esteja correndo um grave perigo! – terminou Trelawneydramaticamente.Houveumapausa.AssobrancelhasdeUmbridgecontinuaramerguidas.–Certo–dissecomsuavidade,anotandomaisumavezalgumacoisa.–Bom,seistoérealmenteo
melhorqueconseguefazer...Evirouascostas,deixandoaProfaTrelawneypregadanochão,comopeitoarfante.Harryolhou
paraRonyepercebeuqueoamigoestavapensandoexatamenteomesmoqueele:osdoissabiamqueaProfaTrelawneyeraumavelhacharlatona,mas,poroutrolado,tinhamtalaversãoaUmbridgequeseviramtomandoopartidodeTrelawney–istoé,atéelacairemcimadelesalgunssegundosdepois.– Muito bem? – disse, estalando os longos dedos embaixo do nariz de Harry, de forma
estranhamente enérgica. –Deixe-me ver o progresso que vocês fizeram no diário de sonhos, porfavor.EquandoterminoudeinterpretarossonhosdeHarryaltoebomsom(osquais,atémesmoosque
envolviam comer mingau de aveia, pelo visto profetizavam para ele uma morte precoce ehorripilante), o garoto estava se sentindomuitomenos solidário com Trelawney. Durante todo otempo,aProfaUmbridgesemanteveafastadaalgunspassos,tomandonotasnapranchetae,quandoasinetatocou,foiaprimeiraadescerpelacordaprateada,ejáosaguardavaquandoeleschegaramàclassedeDefesaContraasArtesdasTrevas,dezminutosdepois.Elasorriaecantarolavabaixinhoquandoosalunosentraram.HarryeRonycontaramaHermione,
que estivera na aula de Aritmancia, exatamente o que acontecera em Adivinhação, enquantoapanhavamosseusexemplaresdeTeoriadadefesaemmagia,mas,antesqueHermionepudessefazeralgumapergunta,aProfaUmbridgechamaraaatençãodosalunosetodossecalaram.–Guardem as varinhas –mandou ela comum sorriso, e aqueles que esperançosamente haviam
apanhadoasvarinhas,comtristezaasrepuseramnasmochilas.–Comoterminamosocapítuloumnaaulapassada,hojeeugostariaqueabrissemnapáginadezenoveecomeçassemalerocapítulodois“Teoriasdedefesacomunsesuasderivações”.Nãohaveránecessidadedeconversar.Aindasorrindo,aquelesorrisoamploepresunçoso,elasesentouàescrivaninha.Aturmadeuum
suspiro audível quando abriu, como se fossem um só aluno, a página dezenove. Harry ficouimaginando,entediado,sehaverianolivrocapítulossuficientesparamantê-loslendodurantetodasasaulasdoano,eiaverificaroíndicequandoreparouqueHermioneergueranovamenteamãonoar.A professora também reparou e, além disso, parecia ter preparado uma estratégia para essa
eventualidade.EmlugardetentarfingirquenãorepararaemHermione,elaselevantouedeuavoltanaprimeira filade carteiras até ficar cara a cara comagarota, então se inclinouemurmurou,demodoqueorestantedaclassenãopudesseouvi-la:–Oqueéagora,Srta.Granger?–Jáliocapítulodois.–Entãopasseparaocapítulotrês.–Jálitambém.Jáliolivrotodo.AProfaUmbridgepiscouosolhos,masrecuperousuaposequaseinstantaneamente.–Bem,então,vocêdeverápodermedizeroqueSlinkhardescreveusobreascontra-azaraçõesno
capítuloquinze.– Ele escreveu que a denominação contra-azarações é imprópria – respondeu Hermione
imediatamente. – E que contra-azaração é apenas o nome que as pessoas dão às suas azaraçõesquandoqueremfazê-lasparecermaisaceitáveis.AProfaUmbridge,ergueuassobrancelhas,eHarrypercebeuqueestavaimpressionada,aindaquea
contragosto.
–Maseudiscordo–continuouHermione.Assobrancelhasdaprofessorasubiramumpoucomais,eseuolharsetornouvisivelmentefrio.–Asenhoritadiscorda?–É,discordo–confirmouHermione,que,aocontráriodeUmbridge,nãomurmurava,falavaem
umavozaltaeclara,queaessaalturajáatraíraaatençãodorestodaturma.–OSr.Slinkhardnãogostadeazarações,nãoé?Masachoquepodemsermuitoúteisquandosãousadasdefensivamente.–Ah,entãoessaéasuaopinião?–disseaprofessora,seesquecendodemurmurareendireitando
ocorpo.–Bom,receioquesejaaopiniãodoSr.Slinkhardquecontenestasaladeaula,enãoasua,Srta.Granger.–Mas...–recomeçouHermione.–Agorabasta–disseaprofessora.Voltou,então,paraafrentedasalaesepostouali,mastodaa
segurança que exibira no início da aula se perdera. – Srta. Granger, vou tirar cinco pontos daGrifinória.Houveumaeclosãodemurmúrios.–Porquê?–perguntouHarryindignado.–Nãosemeta!–cochichouHermioneparaele,ansiosa.–Porperturbarminhaaulacominterrupçõessemsentido–disseaProfaUmbridgesuavemente.–
Estouaquipara lhesensinar,usandoummétodoaprovadopeloMinistérioquenão incluiconvidaralunosadaremsuasopiniõessobreassuntosdequepoucoentendem.Osprofessoresanterioresdestadisciplina podem ter permitido aos senhores maior liberdade, mas como nenhum deles... com apossívelexceçãodoProf.Quirrell,quepelomenospareceterserestringidoaassuntosapropriadosparasuaidade...teriapassadoemumainspeçãodoMinistério...–É,Quirrellfoiumgrandeprofessor–disseHarryemvozalta–,excetopelopequenoproblema
deterLordeVoldemortsaindopelanuca.Este pronunciamento foi seguido de um dos mais retumbantes silêncios que Harry já ouvira.
Então...–Acho quemais uma semana de detenção lhe faria bem, Sr. Potter – disseUmbridge comvoz
sedosa.
OcortenascostasdamãodeHarrymalsararae,namanhãseguinte,jávoltavaasangrar.Elenãosequeixou durante a detenção da noite; estava decidido a não dar a Umbridge essa satisfação;repetidamenteeleescreveunãodevocontarmentiras,enenhumsomescapoudeseuslábios,emboraocorteseaprofundasseacadaletra.Apiorpartedestasegundasemanadedetençõesfoi,exatamentecomoJorgepredisse,areaçãode
Angelina.Elaencostou-ocontraaparedenahoraemqueelechegouàmesadaGrifinóriaparaocaféda manhã de terça-feira, e gritava tão alto que a Profa McGonagall se levantou da mesa dosprofessoresecorreuparaosdois.–Srta.Johnson,comoseatreveafazerumestardalhaçodessesnoSalãoPrincipal?Cincopontosa
menosparaGrifinória!–Mas,professora,elearranjououtradetenção...– Que história é essa, Potter? – perguntou a professora rispidamente, virando-se paraHarry. –
Detenção?Dequem?–DaProfaUmbridge–murmurouHarry,semencararosolhospenetrantesportrásdosóculosde
arosquadrados.–Vocêestámedizendo–perguntouela,baixandoavozparaqueogrupodealunoscuriososda
Corvinalatrásdelesnãopudesseouvir–quedepoisdoavisoque lhedeinasegunda-feirapassadavocêsedescontrolououtraveznaauladaProfaUmbridge?
–Sim,senhora–murmurouHarry,olhandoparaochão.–Potter,vocêprecisasecontrolar!Vocêestácaminhandoparaumasériaencrenca!Menoscinco
pontosparaGrifinóriaoutravez!–Mas... quê... professora, não! – exclamou Harry, indignado com a injustiça. – Já estou sendo
castigadoporela,porqueasenhoraprecisanostirarpontostambém?–Porqueasdetençõesparecemnãoproduziromenorefeitoemvocê!–respondeuaprofessora,
azeda. – Não, nemmais uma palavra de reclamação, Potter! E quanto à Srta. Johnson, no futurorestrinjaosseusgritosaocampodequadribolousearriscaráaperderafunçãodecapitãdotime!A Profa McGonagall voltou à mesa dos professores. Angelina lançou a Harry um olhar de
profundo descontentamento e foi embora, ao que Harry se atirou no banco ao lado de Rony,espumando.–ElatiroucincopontosdaGrifinóriaporqueminhamãoestásendofatiadatodasasnoites!Como
équeissopodeserjusto,como?–Eusei,cara–disseRonysolidário,servindobaconnopratodoamigo.–Elaestácompletamente
baralhada.Hermione,porém,meramentefolheouaspáginasdoProfetaDiárioenãofeznenhumcomentário.–VocêachaqueMcGonagallestavacoma razão,nãoé?–perguntouHarry,zangado,à fotode
CornélioFudgequetampavaorostodeHermione.–Eugostariaqueelanão tivessedescontadopontosdevocê,masachoque temrazãoquandoo
avisa para não perder a cabeça com a Umbridge – disse a voz de Hermione, enquanto Fudgegesticulavacomenergia,naprimeirapágina,obviamentefazendoumdiscurso.Harry não falou com Hermione durante toda a aula de Feitiços, mas, quando entraram em
Transfiguração,eleesqueceuqueestavazangadocomaamiga.AProfaUmbridgeachava-sesentadaaumcanto,comsuaprancheta,eessavisãoapagouacenadocafédamanhãdesualembrança.– Excelente – sussurrou Rony, quando se sentaram nos lugares de sempre. – Vamos ver se a
Umbridgerecebeoquemerece.AProfaMcGonagallentroudecididanasala,semdaramenorindicaçãodequesabiaqueaProfa
Umbridgeseachavapresente.–Agorachega–disseela,eosalunosfizeramimediatosilêncio.–Sr.Finnigan,tenhaabondade
deviratéaquieentregaressesdeveresaosseuscolegas...Srta.Brown,porfavor,apanheestacaixaderatinhos...nãosejatola,menina,elesnãovãolhefazermal...edêumacadaaluno...–Hem,hem–fezaProfaUmbridge,usandoamesmatossezinhabobaqueusaraparainterromper
Dumbledorenaprimeiranoitedoanoletivo.AProfaMcGonagallfingiunãoouvir.SimasdevolveuaHarryotrabalhodele,queoapanhousemolharparaocolegaeviu,paraseualívio,queconseguiraum“A”.–Muitobem,ouçamtodoscomatenção...DinoThomas,sefizeristooutravezcomoratinholhe
dareiumadetenção... amaioriada turmaconseguiu fazerdesaparecer as lesmas, emesmoaquelesqueasdeixaramcomvestígiosdocaracolentenderamoobjetivodofeitiço.Hoje,vamos...–Hem,hem–fezaProfaUmbridge.–Sim?–disseaProfaMcGonagallsevirando,assobrancelhastãojuntasquepareciamformaruma
linhaúnicaesevera.–Euestavameperguntando,professora,seasenhorateriarecebidoomeubilheteavisandoadata
eahoradasuainsp...–Obviamentequearecebi,outerialheperguntadooqueestáfazendonaminhasaladeaula–disse
ela,dandoascostascomfirmezaàProfaUmbridge.Muitosestudantestrocaramolharesdealegria.–Como eu ia dizendo: hoje, vamos praticar o Feitiço daDesaparição em ratinhos, que é bemmaisdifícil.Bem,oFeitiçodaDesaparição...
–Hem,hem.–Eumepergunto–disseaProfaMcGonagallnumafúriagélida,virando-separaaoutra–comoé
que você espera avaliar osmeusmétodos de ensino habituais se continua ame interromper? Emgeral,eunãopermitoqueaspessoasfalemquandoeuestoufalando,entende?AProfaUmbridgepareceuque tinha levadoumabofetadano rosto.Não falou,masendireitouo
pergaminhoemsuapranchetaecomeçouaescreverfuriosamente.Parecendosupremamenteindiferente,aProfaMcGonagallsedirigiumaisumavezàturma.–Comoeuiadizendo:oFeitiçodaDesapariçãosetornamaisdifícilquantomaioracomplexidade
do animal a se fazer desaparecer. A lesma, como invertebrado, não apresenta grande desafio; oratinho,comomamífero,ofereceumdesafiomuitomaior.Nãoé,portanto,umfeitiçoquesepossarealizarcomacabeçanojantar.Vocêsjáconhecemafórmulacabalística,entãovejamosoquesãocapazesdefazer...–ComoéqueelapodemefazerpreleçãodequenãodevomedescontrolarcomaUmbridge!–
resmungouHarry paraRony, baixinho,mas estava sorrindo; sua raiva da ProfaMcGonagall tinhapraticamenteevaporado.AProfaUmbridgenãoacompanhouMcGonagallpela salacomo fizeracomaTrelawney; talvez
tenhapercebidoqueacoleganãopermitiria.Fez,noentanto,umnúmeromuitomaiordeanotações,sentadaemseucanto,equandoMcGonagallfinalmentedisseaosalunosparaguardaremomaterialesair,elaselevantoucomumaexpressãomuitosérianorosto.–Bom,éumcomeço–disseRony,erguendoumraboderatocompridoeretorcidoelargando-o
devoltanacaixaqueLiláestavapassandopelaclasse.Quando os alunos saíram enfileirados da sala, Harry viu a Profa Umbridge se aproximar da
escrivaninha da McGonagall; ele cutucou Rony, que, por sua vez cutucou Hermione, e os trêsintencionalmenteficaramparatrásparaescutar.–HáquantotempovocêestáensinandoemHogwarts?–perguntouaProfaUmbridge.–Trinta e nove anos, agora em dezembro – respondeuMcGonagall bruscamente, fechando sua
bolsacomumestalo.Umbridgefezumaanotação.–Muitobem,vocêreceberáoresultadodainspeçãodentrodedezdias.–Malpossoesperar–respondeuMcGonagall,comumavozfriae indiferente,eseencaminhou
paraaporta.–Andemdepressavocêstrês–acrescentou,empurrandoHarry,RonyeHermioneàsuafrente.Harrynãopôdedeixarde lhedarum leve sorriso, e seriacapazde jurarque recebeuoutroem
resposta.Ele pensou que só tornaria a ver Umbridge à noite, na detenção, mas estava muito enganado.
QuandoiamdescendoosgramadosemdireçãoàFloresta,paraassistiràauladeTratodasCriaturasMágicas,encontraram-na,comaprancheta,aoladodaProfaGrubbly-Plank.–Normalmentenãoévocêqueensinaestadisciplina,correto?–Harryaouviuperguntarquando
se aproximaram damesa de cavalete, onde o grupo de tronquilhos capturados se atropelava paraapanharbichos-de-contacomosefossemgravetosvivos.–Correto–respondeuaProfaGrubbly-Plank,comasmãosnascostaseocorpobalançandosobre
aplantadospés.–Souumaprofessorasubstituta,ocupandoolugardoProf.Hagrid.HarrytrocouolharesapreensivoscomRonyeHermione.MalfoyestavacochichandocomCrabbe
e Goyle; ele certamente adoraria essa oportunidade para contar histórias sobre Hagrid a umafuncionáriadoMinistério.– Humm – fez a Profa Umbridge, baixando a voz, embora Harry ainda pudesse ouvi-la muito
claramente. – Eu estive pensando... o diretor me parece estranhamente relutante em fornecer
informações: você poderiame dizer o que está causando a prolongada licença de afastamento doProf.Hagrid?HarryviuMalfoyergueracabeça.–Creioquenão–disseaprofessoraemtomdespreocupado.–Seitantoquantovocê.Recebiuma
corujadoDumbledore,gostariaqueeudesseaulasduranteumasduassemanas.Aceitei.Étudoquesei.Bom...possocomeçar,então?–Claro,porfavor–disseaProfaUmbridge,escrevendoemsuaprancheta.Umbridge adotou uma abordagem diferente nesta aula e caminhou entre os alunos, fazendo
perguntassobrecriaturasmágicas.Amaioriasouberesponderbem,eHarryseanimouumpouco;pelomenosaturmanãoestavadeixandoHagridmal.–Deummodogeral–perguntouaProfaUmbridge,voltandoparapertodaProfaGrubbly-Plank
depoisde interrogarDinoThomas longamente–,oqueéquevocê,comomembro temporáriodoquadrodocente,umaobservadoraexterna, suponhoquepoderíamosdizer,queéquevocêachadeHogwarts?Vocêachaquerecebeapoiosuficientedadiretoriadaescola?–Ah,sim,Dumbledoreéexcelente–disseaProfaGrubbly-Plankcomentusiasmo.–Estoumuito
felizcomomodocomqueaescolaéadministrada,realmentemuitofeliz.Com um ar de educada incredulidade, Umbridge fez uma minúscula anotação na prancheta e
continuou:–Eoqueéquevocêestáplanejandocobriremsuasaulasduranteoano,presumindoéclaro,queo
Prof.Hagridnãovolte?–Ah,repassareicomosalunosascriaturasquesãopedidascommaiorfrequêncianoN.O.M.Não
hámuitomaisafazer:elesjáestudaramosunicórnioseospelúcios.Penseiemabordarospocotóseosamassos,mecertificardequesãocapazesdereconheceroscrupeseosouriços,entende...–Bem,emtodoocasovocêparecesaberoqueestáfazendo–concluiuaProfaUmbridge,ticando
muitoenfaticamenteopergaminhonaprancheta.Harrynãogostoudaênfasequeeladeuao“você”,egostoumenosaindaquandoaprofessorafezaperguntaseguinteaGoyle.–Agora,ouvidizerquetemhavidoalunosferidosnestaclasse.Goyledeuumsorrisoidiota.Malfoyseapressouaresponder:–Foicomigo.Leveiumalambadadeumhipogrifo.–Hipogrifo?–repetiuaProfaUmbridge,agoraescrevendofreneticamente.–Sóporqueelefoiburrodemaisenãodeuouvidosàs instruçõesdeHagrid–comentouHarry,
zangado.RonyeHermionegemeram.AProfaUmbridgevirouacabeçalentamentenadireçãodeHarry.–Mais uma noite de detenção, creio eu – disse brandamente. –Bem,muito obrigada,Grubbly-
Plank,achoqueé tudoqueprecisosaber.Vocêreceberáoresultadodesua inspeçãodentrodedezdias.–Quebom!–disseaProfaGrubbly-Plank,eaProfaUmbridgecomeçouasubirogramadopara
voltaraocastelo.
Eraquasemeia-noitequandoHarrydeixouasaladeUmbridgeaquelanoite,suamãoagorasangravatanto quemanchava o lenço em que ele a enfaixara. Esperava que a sala comunal estivesse vaziaquando voltasse, mas Rony e Hermione estavam acordados à sua espera. Ficou feliz em vê-los,principalmenteporqueHermioneestavadispostaasesolidarizarcomeleemvezdecriticá-lo.–Tome–disse,ansiosa,estendendoumatigelinhacomumlíquidoamarelo–,encharqueamão
nisso,éumasoluçãodetentáculosdemurtiscoemsalmouraedepoispeneirados,deveajudar.Harrycolocouamão,quesangravaedoía,natigelaeexperimentouumamaravilhosasensaçãode
alívio. Bichento se enrolou em suas pernas, ronronando alto, depois saltou para o seu colo e se
acomodou.–Obrigado–disse,agradecido,coçandoatrásdasorelhasdogatocomamãoesquerda.–Euaindaachoquevocêdeviareclamar–disseRonyemvozbaixa.–Não–disseHarrycategoricamente.–McGonagalliaendoidarsesoubesse...–Provavelmenteia.EquantotempovocêachaquelevariaparaUmbridgeaprovaroutrodecreto
dizendoquequemreclamardaAltaInquisidoraseráimediatamentedespedido?Rony abriu a boca para retorquir,mas não emitiu som algum e, passado um instante, tornou a
fecharaboca,derrotado.–Elaéumamulherhorrível–disseHermionebaixinho.–Horrível.Sabe, eu estavadizendoao
Ronyquandovocêentrou...temosdefazeralgumacoisaarespeitodela.–Eusugiroveneno–disseRonycomferocidade.–Não...querodizer,algumacoisaparadivulgarqueéumapéssimaprofessora,equenãovamos
aprenderDefesaalgumacomela–explicouHermione.–Bom,eoqueéquepodemosfazer?–perguntouRonybocejando.–Jáétardeàbeça,nãoénão?
Elafoinomeadaeveioparaficar,Fudgevaigarantirisso.–Bom–disseHermionehesitante.–Sabe,estivepensandohoje...–Lançouumolharnervosoa
Harry, e então prosseguiu: – Estive pensando... talvez tenha chegado a hora de simplesmente...simplesmentenosvirarmossozinhos.– Nos virarmos sozinhos fazendo o quê? – perguntou Harry, desconfiado, mantendo a mão
flutuandonaessênciademurtisco.–Bom...aprendendoDefesaContraasArtesdasTrevassozinhos–concluiuHermione.–Ah,cortaessa–gemeuRony.–Vocêquerqueagente faça trabalhoextra?Você tem ideiado
quanto Harry e eu estamos outra vez atrasados com os nossos deveres e só estamos na segundasemanadeaulas?–Masistoémuitomaisimportantedoqueosdeveresdecasa.HarryeRonyarregalaramosolhosparaela.–Penseiquenãohouvessenadamaisimportantenouniversodoqueosdeveresdecasa!–caçoou
Rony.–Nãosejabobo,claroquehá–rebateuHermione,eHarrynotou,comummaupresságio,queo
rosto da amiga se tornara inesperadamente radioso, com aquele tipo de fervor que o FALEnormalmentelheinspirava.–Trata-sedenosprepararmos,comodisseoHarrynaprimeiraauladaUmbridge,paraoquenosaguardaláfora.Trata-sedegarantirquerealmentepossamosnosdefender.Senãoaprendermosnadaoanointeiro...–Nãopodemosfazermuitacoisasozinhos–disseRonycomumquêdederrotanavoz.–Quero
dizer,tudobem,podemosirprocurarazaraçõesnabibliotecaetentarpraticá-las,suponho...– Não, concordo, já passamos da fase em que podemos aprender apenas com livros – disse
Hermione.–Precisamosdeumprofessor,deverdade,quepossanosmostrarcomousarosfeitiçosenoscorrigirquandoerrarmos.–SevocêestáfalandodoLupin...–começouHarry.–Não,não,nãoestoufalandodeLupin.EleestáocupadodemaiscomaOrdeme,dequalquerjeito,
omáximoquepoderíamosvê-loserianosfinsdesemanaemHogsmeade,eelesnãoacontecemcomtantafrequênciaassim.–Quem,então?–perguntouHarry,franzindoatestaparaaamiga.Hermionedeuumsuspiromuitoprofundo.–Seráquenãoestáóbvio?Estoufalandodevocê,Harry.Houveummomentode silêncio.Uma levebrisanoturna sacudiu asvidraças atrásdeRony, eo
fogooscilou.–Falandodemim,oquê?–perguntouHarry.–EstoufalandodevocênosensinarDefesaContraasArtesdasTrevas.HarryencarouHermione.DepoissevirouparaRony,prontoparatrocarosolharesexasperados
queàsvezestrocavamquandoHermionedetalhavaesquemasforadarealidadecomooFALE,mas,paraseudesânimo,Ronynãopareciaexasperado.Estavacomatestaligeiramenteenrugada,emaparentereflexão.Entãodisse:–Éumaideia.–Oqueéumaideia?–perguntouHarry.–Você.Nosensinar.–Mas...Harryestavasorrindoagora,certodequeosdoisestavamgozandocomacaradele.–Maseunãosouprofessor,nãosei...–Harry,vocêfoiomelhordoanoemDefesaContraasArtesdasTrevas–disseHermione.–Eu?–Harryagoraestavacomumsorrisomaiorquenunca.–Não,nãofui,vocêmebateuem
todosostestes...–Nãoéverdade–respondeuHermionecalmamente.–Vocêmebateunoterceiroano:oúnicoano
emquenósdoisprestamosexamesetivemosumprofessorquerealmenteconheciaoassunto.Enãoestoufalandodenotas,Harry.Pensenoquevocêjáfez!–Comoassim?–Sabedeumacoisa,nãotenhocertezasequeroalguémburroassimcomoprofessor–disseRony
aHermione,comumsorrisoafetado.Emseguidavirou-separaHarry.–Vamosraciocinar–disse,fazendoumacaraigualàdeGoylequandoseconcentrava.–Uh...primeiroano:vocêsalvouaPedraFilosofaldeVocê-Sabe-Quem.–Masaquilofoisorte–retrucouHarry.–Nãofoihabilidade...–Segundoano–interrompeu-oRony–,vocêmatouobasiliscoedestruiuRiddle.–É,masseFawkesnãotivesseaparecido,eu...– Terceiro ano – disse Rony, ainda mais alto –, você enfrentou e pôs para correr uns cem
Dementadoresdeumavezsó...–Vocêsabequeaquilofoiporacaso,seoViratemponãotivesse...–Noanopassado–continuouRony,agoraquaseaosgritos–,vocêtornouaenfrentarVocê-Sabe-
Quem...–Escutemaqui!–disseHarry,quasecomraiva,porqueagoraosdois,RonyeHermione,estavam
rindotolamente.–Queremmeescutaruminstante?Parecemuitolegalquandovocêsfalam,masfoitudosorte:metadedotempoeunemsabiaoqueestavafazendo,nãoplanejeinada,fizapenasoquemeocorreunahora,equasesempretiveajuda...RonyeHermionecontinuavamarirtolamente,eairritaçãodeHarrycomeçouacrescer;nemele
sabiaporqueestavaficandotãozangado.–Nãofiquemaísentadoscomessesorrisobobocomosesoubessemmaisdoqueeu,eraeuquem
estavalá,ounão?–perguntou,indignado.–Euseioqueaconteceu,estábem?EnãomesafeidenadaporqueeragenialemDefesaContraasArtesdasTrevas,mesafeiporque...porquerecebiajudanahoracertaouporque tiveumpalpitecerto...masfiz tudoàscegas,não tinhaamenor ideiadoqueestavafazendo...EPAREMDERIR!Atigeladeessênciademurtiscocaiunochãoesepartiu.Harrypercebeuqueestavaempé,embora
nãoconseguisseselembrardeterselevantado.Bichentodisparouparabaixodeumsofá.OssorrisosdeRonyeHermionetinhamsumido.–Vocêsnãosabemcomoé!Vocês,nenhumdosdois,vocêsnunca tiveramdeencararVoldemort,
nãoé?Vocêspensamqueésódecorarumapádefeitiçoselançarcontraele,comoseestivessemnasaladeaulaoucoisaparecida?Otempotodovocêsabequenãotemnadaentrevocêeamorteanãoseroseu...oseucérebroousuagarraouoqueseja...comosealguémpudessepensardireitoquandosabequeestáaumnanossegundodesermortooutorturado,ouestávendoseusamigosmorrerem...nunca nos ensinaram isso nas aulas, como é que se lida com essas coisas... e vocês dois ficam aísentados,achandoquesouumgarotinhosabidoporestarempéaqui,vivo,comoseDiggoryfosseburro,comosetivessefeitobesteira;vocêsnãoentendem,podiamuitobemtersidoeu,eteriasidoseVoldemortnãoprecisassedemim...–Nãoestávamosfalandonadadisso,cara–disseRony,estupefato.–Nãoestávamosfalandomal
doDiggory,não...vocêentendeutudoaocontrário...EleolhoudesamparadoparaHermione,cujorostoexibiaumaexpressãodechoque.– Harry – disse ela timidamente –, você não está vendo? É por isso... por isso mesmo que
precisamosdevocê...precisamossabercomoérealmente...enfrentarele...enfrentaroV-Voldemort.Era a primeira vez que ela dizia o nome de Voldemort e isso, mais do que qualquer outro
argumento,foioqueacalmouHarry.Aindaofegante,eletornouasesentarnapoltrona,percebendo,ao fazê-lo, que suamão voltara a latejar barbaramente. Desejou não ter quebrado a tigela com aessênciademurtisco.–Bom...pensenoassunto–disseHermionebaixinho.–Porfavor?Harrynãoconseguiupensaremnadapararesponder.Jáestavasesentindoenvergonhadoporter
explodido.Concordoucomacabeça,semterperfeitanoçãocomoqueestavaconcordando.Hermioneselevantou.–Bom,voumedeitar–disse,notommaisnaturalquepôde.–Hum...noite.Ronyselevantoutambém.–Vocêvem?–perguntou,semjeito,aoamigo.–Vou.Num...numminuto.Voulimparessasujeira.Eleindicouatigelapartidanochão.Ronyassentiucomacabeçaefoiembora.–Reparo–murmurouHarry,apontandoavarinhaparaoscacosdeporcelana.Elessejuntaram,a
tigelaficoucomonova,masnãohaviacomofazeraessênciademurtiscovoltaràtigela.Derepente,sentia-setãocansadoqueficoutentadoaselargarnapoltronaedormirali,mas,em
vezdisso,fezumesforçoparaselevantareseguiuoexemplodeRony.Suanoiteinquietafoimaisumavezpontuadaporsonhosdelongoscorredoreseportasfechadas,eeleacordounodiaseguintecomacicatrizformigandooutravez.
—CAPÍTULODEZESSEIS—NoCabeçadeJavali
Hermione não mencionou sua sugestão para Harry ensinar Defesa Contra as Artes das Trevasduranteduassemanasinteiras.FinalmenteasdetençõesdogarotocomaUmbridgeterminaram(eleduvidavadequeaspalavrasagoragravadasnascostasdesuamãoviessemadesaparecertotalmente).Ronytiveramaisquatrotreinosdequadribolenãolevaranenhumgritonosúltimosdois,eostrêsamigostinhamconseguidofazerdesaparecerseusratinhosemTransfiguração(aliás,Hermionejáseadiantaraeestavafazendodesaparecergatinhos),quandooassuntofoinovamenteabordado,emumanoite de violenta tempestade, no final de setembro, quando os três estavam sentados na bibliotecaprocurandoingredientesdepoçõesparaumdeverpassadoporSnape.–Euestivemeperguntando–disseHermione,derepente–sevocêjávoltouapensarnaDefesa
ContraasArtesdasTrevas,Harry.–Claro que pensei – disseHarry rabugento –, não consigo esquecer, e não dariamesmo, com
aquelamegeraensinandoagente...–EstoufalandodaideiaqueRonyeeutivemos...–RonylançouaHermioneumolharassustadoe
ameaçador.Elafechouacaraparaele.–Ah,tudobementão,aideiaqueeutive...devocênosensinar.Harry não respondeu imediatamente. Fingiu estar examinando uma página de Contravenenos
asiáticos,porquenãoqueriadizeroqueestavapensando.Refletirabastantesobreoassuntonosúltimosquinzedias.Porvezeslhepareceuumaideiamaluca,
talcomonanoiteemqueHermioneapropusera,masemoutraselesesurpreenderapensandonosfeitiçosqueohaviamajudadomaisemseusváriosencontroscomcriaturasdastrevaseComensaisdaMorte–defato,surpreendera-seplanejando,subconscientementeasaulas...–Bom–disse lentamente,quandonãodavamaispara fingirqueestavaachandoContravenenos
asiáticosinteressante–,é,eu...penseiumpouco.–E?–perguntouHermionepressurosa.–Nãosei–disseogarotoprocurandoganhartempo.EolhouparaRony.–Acheiumaboaideiadesdeocomeço–interveioRony,quepareciamaisinteressadoementrarna
conversaagoraquetinhacertezadequeoamigonãoiarecomeçaragritar.Harrymexeu-sepoucoàvontadenacadeira.–Vocêsprestaramatençãoquandoeudissequemuitacoisafoisorte?–Prestamos,Harry–confirmouHermionegentilmente–,masnãoadiantafingirquevocênãoé
bomemDefesaContraasArtesdasTrevas,porqueé.VocêfoiaúnicapessoanoanopassadoqueconseguiuselivrarcompletamentedaMaldiçãoImperius,vocêécapazdeproduzirumPatrono,vocêsabefazerumaquantidadedecoisasquebruxosadultosnãoconseguem,oVítorsempredisse...RonyseviroutãodepressaparaHermionequepareceudarummaujeitonopescoço.Esfregando-
o,falou:–É?QuefoiqueoVitinhodisse?–Ho,ho–caçoouHermionecomavozentediada.–DissequeHarrysabiafazercoisasquenem
elesabia,eolhaqueestavacursandooúltimoanodeDurmstrang.RonyficouolhandoHermionedesconfiado.
–Vocêcontinuaemcontatocomele?– E se continuar? – perguntou Hermione, calmamente, embora seu rosto estivesse um pouco
corado.–Possoterumcorrespondentese...–Elenãoqueriasersóseucorrespondente–Ronyacontradisseemtomdeacusação.Hermionesacudiuacabeçaexasperadae,ignorandoRonyquecontinuavaaobservá-la,dirigiu-se
aHarry:–Então,queéquevocêacha?Vainosensinar?–SóvocêeRony,estábem?–Bom–disseHermione,tornandoaparecerumtantinhoansiosa.–Bom...agoranãovaiperderas
estribeirasoutravez,Harry,porfavor...masachorealmentequevocêdeviaensinarqualquerumquequisesse aprender. Quero dizer, estamos falando em nos defender de V-Voldemort. Ah, não sejapatético,Rony.Nãoparecejustoqueagentenãoofereçaessaoportunidadeaoutraspessoas.Harryrefletiuporummomento,depoisdisse:–Tá,mas duvidoquemais alguémalémde vocês doismequeira comoprofessor. Soupirado,
lembram?–Bom, achoquevocê ficaria surpreso comonúmerodepessoasque estariam interessadas em
ouviroquevocêtemadizer–disseHermioneséria.–Escute–elasecurvouparaHarry;Rony,quecontinuavaaobservá-ladecaraamarrada,curvou-separaafrentetambémparaescutar–,vocêsabequeoprimeirofimdesemanadeoutubroéodavisitaaHogsmeade?Esedissermosaquemestiverinteressadoparaseencontrarcomagentenavilaediscutiroassunto?–Porquetemosdefazerissoforadaescola?–perguntouRony.–Porquesim–respondeuHermione,voltandoaodiagramadoRepolhoChinêsGlutãoqueestava
copiando.–AchoqueaUmbridgenãoficariamuitofelizsedescobrisseoqueestamostramando.
Harry aguardava com ansiedade a viagem de fim de semana a Hogsmeade, mas uma coisa opreocupava. Sirius mantivera um silêncio absoluto desde que aparecera no fogo, no começo desetembro;Harry sabia queodeixara aborrecidoquandodisse quenãoqueria que ele fosse–masainda se preocupava, de tempos em tempos, comque Sirius pudesse jogar a cautela para o alto eaparecer.Queiriamfazerseoenormecachorropretoaparecessecorrendopelaruaemsuadireção,emHogsmeade,talvezatédebaixodonarizdeDracoMalfoy?– Bom, você não pode culpá-lo por querer passear – disse Rony, quandoHarry discutiu o seu
receiocomeles.–Querodizer,Siriusestáforagidohámaisdedoisanos,nãoé,eseiquenãodeveter sidomoleza,mas pelomenos ele estava livre, não é?Agora está trancado o tempo todo comaqueleelfohorrendo.HermioneolhoufeioparaRony,masignorouadesfeitaaoMonstro.–Oproblemaéque–disseelaaHarry–enquantoV-Voldemort...ah,Rony,peloamordeDeus...
não sair em campo aberto, Sirius vai ter de continuar escondido, não é? Quero dizer, aqueleMinistérioidiotanãovaireconhecerqueSiriuséinocenteatéaceitarqueDumbledoreestevedizendoaverdadeotempotodo.E,quandoospatetasrecomeçaremacapturarosverdadeirosComensaisdaMorte,ficaráóbvioqueSiriusnãoéumdeles...Querodizer,paracomeçarelenemtemaMarca.–Achoqueelenãoéidiotadeaparecer–disseRonyapoiandoHermione.–Dumbledoreficaria
furiososeissoacontecesse,eSiriusouveDumbledore,mesmoquenãoconcordecomoqueouve.ComoHarrycontinuavacomumarpreocupado,Hermionefalou:–Escute,Ronye eu andamos sondandogenteque achamosquepoderiaquerer aprenderDefesa
Contra as Artes das Trevas, e uns colegas pareceram interessados. Dissemos a eles para seencontraremcomagenteemHogsmeade.–Certo–disseHarry,distraído,seuspensamentosaindaemSirius.
–Nãosepreocupe,Harry–disseHermionebaixinho.–VocêjátemumpratocheiosemoSirius.Naturalmenteagarotaestavacerta,elemalconseguiasemanteremdiacomosdeveres,embora
estivessesesaindomuitomelhoragoraquenãopassavatodasasnoitesdetidonasaladeUmbridge.Rony estavamais atrasado comos deveres do que ele, porque embora ambos tivessem treinos dequadribolduasvezespor semana,Ronyainda tinhaasobrigaçõesdemonitor.MasHermione,queestava cursando mais disciplinas do que os dois, não somente terminara todos os deveres comotambémencontravatempoparatricotarmaisroupasparaelfos.HarrytinhadeadmitirqueotricôdeMioneestavamelhorando;quasesempre,agora,jáerapossíveldiferençarosgorrosdasmeias.O dia da visita aHogsmeade amanheceu claro,mas ventoso.Depois do café damanhã, eles se
enfileiraramperanteFilch,queconferiuseusnomesnalongalistadealunosquetinhampermissãodospaisouguardiõesparavisitaravila.Comumaligeirapontadaderemorso,Harryselembroudeque,senãofosseporSirius,elenempoderiair.QuandochegouavezdeHarry,Filch,ozelador,cheirou-olongamente,procurandoalgumcheiro
diferente.Depoisfez-lheumbreveacenocomacabeçaesegurouatremedeiradoqueixo,eHarryfoiemfrente,desceuaescadadepedraesaiuparaodiafrioeensolarado.–Hum...porqueoFilchestavacheirandovocê?–perguntouRony,quandoele,HarryeHermione
saíram,decididos,pelaestradaquelevavaaosportões.–ImaginoqueestivesseprocurandocheirodeBombasdeBosta–disseHarrycomumarisadinha.
–Esquecidecontaravocês...EnarrouoqueaconteceranodiaemqueforadespacharacartaparaSirius,eFilchembarafustou
pelo corujal segundos depois, exigindo ver a carta. Para sua surpresa,Hermione achou a históriainteressantíssima,defato,muitomaisdoqueelepróprio.–ElefalouquealguémlhederaumadicadequevocêestavaencomendandoBombasdeBosta.Mas
quemterásido?–Nãosei–disseHarry,dandodeombros.–TalvezMalfoy,eleachariaissoumagrandepiada.Os três passaram entre os altos pilares de pedra, encimados pelos javalis alados, e viraram à
esquerda,tomandoaestradaparaavila,aforçadoventofazendooscabelosfustigaremseusolhos.–Malfoy?–disseHermionecética.–Bom...é...talvez...E ela continuou absorta em seus pensamentos durante todo o caminho até a periferia de
Hogsmeade.–Aondeéqueestamosindo,afinal?–perguntouHarry.–AoTrêsVassouras?–Ah...não–respondeuHermione,despertandodoseudevaneio–,não,estásemprelotadoemuito
barulhento.DisseaosoutrosparanosencontraremnoCabeçadeJavali,ooutropub,sabequalé,foradaestradaprincipal.Achoqueéumpouco...sabe...suspeito...masosestudantesemgeralnãovãolá,porissoachoquenãoseremosouvidos.Eles desceram a rua principal, passaram pela Zonko’s – Logros e Brincadeiras, onde não se
surpreenderamdeencontrarFred,JorgeeLino,passarampelocorreio,deondeascorujassaíamemintervalos regulares, e viraram para uma ladeira lateral, no alto da qual havia uma pequenaestalagem. Um letreiro maltratado de madeira estava pendurado sobre a porta, em um suporteenferrujado,comodesenhodacabeçadecepadadeumjavali,pingandosanguenatoalhabrancaqueoenvolvia.Oletreirorangiaaoventoquandoelesseaproximaram.Ostrêshesitaramàporta.–Bem,vamos–disseHermione,ligeiramentenervosa.Harryentrouàfrente.Não era nada parecido com o Três Vassouras, cujo grande bar dava a impressão de calor e
reluzentelimpeza.OCabeçadeJavalicompreendiaumasalinhamalmobiliadaemuitosuja,etinhaumcheiroforte,talvezdecabras.Asjanelascurvaseramtãoincrustadasdefuligemquepouquíssimaluzsolarconseguiachegaràsala,iluminadacomtocosdevelaspostossobremesasdemadeiratosca.Ochão,àprimeiravista,pareciaserdeterrabatida,mas,quandoHarryopisou,deuparaperceber
quehaviapedrasoboqueconcluiuserumacamadaseculardesujeiraacumulada.Harrylembrou-sedeHagridtermencionadoopubnoseuprimeiroanodeescola.“É,agentevê
muita gente esquisita no Cabeça de Javali”, dissera para explicar como havia ganhado o ovo dedragãodeumestranhoencapuzadoqueencontraraali.Àépoca,HarryseperguntaraporqueHagridnãotinhaachadocuriosoqueoforasteiromantivesseorostoocultoduranteoencontro;agoraeleviaquemanterorostoocultoeraumaespéciedemodanoCabeçadeJavali.Haviaumhomemnobarque trazia a cabeça toda envolta em sujas bandagens cinzentas, embora ainda conseguisse engolirincontáveis copos de uma substância ardente e fumegante por uma fenda no lugar da boca; doisvultosencapuzadosseachavamsentadosaumamesajuntoaumajanela;HarryjulgariaquefossemDementadores senão estivessemconversando comum forte sotaquedeYorkshire, e emumcantosombriojuntoàlareirahaviaumabruxacomumvéunegroeespessoquelhecaíaatéospés.Sóerapossívelverapontadoseunarizporqueseuvolumefaziaovéulevantarumpouco.–Nãoseicomoestásesentindo,Hermione–murmurouHarry,quandoatravessaramorecintoaté
obar.Eleolhavaespecialmenteparaabruxacomopesadovéu.–NãolheocorreuqueaUmbridgepossaestarembaixodaquilo?Hermionelançouumolhardeavaliaçãoparaafiguravelada.–AUmbridgeémaisbaixadoqueaquelamulher–murmurou.–E,dequalquerforma,mesmo
quevenhaaquinãohánadaquepossafazerparanosimpedir,Harry,porqueverifiqueimaisdeduasvezesas regrasdaescola.Nãoestamosforadoperímetropermitido;pergunteiespecificamenteaoProf.FlitwickseosestudantestinhampermissãoparaentrarnoCabeçadeJavalieeledissequesim,mas recomendou várias vezes que trouxéssemos os nossos copos. E consultei tudo em que pudepensar sobregruposdeestudoedeveres, edecididamenteestamoscobertos.Sónãoachoque sejaumaboaideiaagenteficaralardeandooqueestáfazendo.–Não–disseHarry–,principalmenteporquenãoébemumgrupoparafazerdeveresqueestamos
organizando,nãoé?Obarmansaiudeumaposentonosfundoseseaproximoudeles.Eraumvelhodearrabugento,
comumaespessacabeleiraebarbasgrisalhas.Eraaltoemagro,eHarryachou-ovagamentefamiliar.–Quê?–resmungouele.–Trêscervejasamanteigadas,porfavor–disseHermione.Ohomemmeteuamãosobobalcãoetiroutrêsgarrafasmuitoempoeiradas,muitosujas,ebateu-
asemcimadobar.–Seissicles.– Eu pago – disse Harry, entregando-lhe, depressa, a moeda de prata. Os olhos do homem
fotografaramHarry,esedetiveramumafraçãodesegundoemsuacicatriz.Entãoelevirouascostaseguardouodinheironumavelharegistradorademadeira,cujagavetaseabriuautomaticamentepararecebê-lo.Harry,Rony eHermione se retiraram para amesamais afastada do bar e se sentaram,correndooolharaoseuredor.Então,ohomemcomasbandagenscinzentasesujasbateunobalcãocomosnósdosdedoserecebeumaisumabebidafumegantedobarman.–Queremsaberdeumacoisa?–murmurouRony,olhandoparaobarentusiasmado.–Poderíamos
pedirqualquercoisaquequiséssemosaqui.Apostocomoaquelesujeitonosvenderiaqualquercoisa,nãoianemligar.Eusemprequisexperimentaruísquedefogo...–Você...é...monitor–lembrouHermionecomrispidez.–Ah!–exclamouRony,osorrisosumindodorosto.–É...–Então,quemfoiquevocêdissequeviriaencontraragente?–perguntouHarry,abrindoatampa
enferrujadadacervejaamanteigadaetomandoumgole.–Meiadúziadepessoas–repetiuHermione,verificandoorelógioeolhandoparaaporta,ansiosa.
–Pediparachegaremporvoltadessahora,etenhocertezadequetodossabemondefica...ah,veja,
talvezsejamelasagora.Aportadopubseabrira.Umafaixalargadepoeiraeluzdividiumomentaneamenteorecinto,eem
seguidadesapareceu,bloqueadapelachegadadeváriaspessoas.PrimeiroentrouNevillecomDinoeLilá,seguidosdepertoporParvatiePadmaPatilcom(eaqui
oestômagodeHarrydeuumavoltacompleta)Choeumadesuasamigasrisonhas,então(sozinhaeparecendo tão sonhadora que poderia ter entrado por acaso) Luna Lovegood; depois Katie Bell,Alícia Spinnet e Angelina Johnson, Cólin e Dênis Creevey, Ernesto Macmillan, Justino Finch-Fletchley,AnaAbbott,eumagarotadaLufa-Lufa,comumalongatrançadescendopelascostas,cujonomeHarrynãosabia;trêsgarotosdaCorvinalqueeletinhacertezadequesechamavamAntônioGoldstein,MiguelCornereTerêncioBoot,Gina,seguidadeumgarotolouroemagriceladenarizarrebitado, queHarry reconheceu vagamente como jogador do time de quadribol daLufa-Lufa e,fechandoafila,FredeJorgeWeasleycomoamigoLinoJordan,todostrêscarregandograndessacasdepapel,cheiasdeartigosdaZonko’s.–Meiadúziadepessoas?!–exclamouHarry,rouco,paraHermione.–Meiadúziadepessoas?–É,bom,a ideiapareceumuitopopular– respondeuHermione, feliz.–Rony,querpuxarmais
umascadeirasparacá?Obarmancongelaranoatodelimparmaisumcopo,comumtrapotãoimundoqueparecianunca
tersidolavado.Possivelmentenuncaviraseubartãocheio.–Oi–disseFred,chegandoprimeiroaobarecontandorapidamenteseuscompanheiros–,pode
nosservir...vinteecincocervejasamanteigadas,porfavor?Obarman o encarou por ummomento, então, jogando no chão o seu trapo, irritado, como se
tivesse sido interrompido no meio de alguma coisa importante, começou a passar as cervejasamanteigadascheiasdepoeiradebaixoparacimadobalcão.–Obrigado–disseFred,distribuindo-as.–Pessoal,podeirsecoçando,nãotenhoouroparatudo
isso...Harry observava, entorpecido, enquanto o enorme grupo apanhava as cervejas com Fred e
procurava moedas nos bolsos para pagá-las. Não conseguia imaginar para que toda essa genteaparecera até lheocorrerohorrível pensamentodequepoderiamestar esperandoumaespéciedediscurso,aoqueelesevirouparaHermione.–Quefoiquevocêandoudizendoaessaspessoas?–perguntouemvozbaixa.–Queéqueelas
estãoesperando?–Eujáfalei,sóqueremouviroquevocêtemadizer–disseHermioneparaacalmá-lo,masHarry
continuou a olhar tão zangado que ela acrescentou depressa: – Você não tem de fazer nada porenquanto,euvoufalarcomelesprimeiro.–Oi,Harry–cumprimentouNeville,sorrindoesesentandoemfrenteaele.Harrytentouretribuirosorriso,masnãorespondeu;suabocaestavaexcepcionalmenteseca.Cho
acabara de sorrir para ele e se sentara à direita de Rony.A amiga dela, que tinha cabelos louro-avermelhadosecrespos,nãosorriu,masdeuaHarryumolharcheiodedesconfiança,indicandoque,setivessetidoescolha,nãoestariaali.Emparesetrios,osrecém-chegadosseacomodaramemvoltadeHarry,RonyeHermione,alguns
parecendomuitoexcitados,outroscuriosos,Lunamirandosonhadoramenteoespaço.Quandotodosterminaramdepuxarcadeirasesesentar,aconversamorreu.TodososolharesseconcentraramemHarry.–Hum–começouHermione,avozligeiramentemaisaltadoquenormalmente,nervosa.–Bom...
hum...oi.Ogrupotransferiuasatençõesparaela,emboraosolharescontinuassemasevoltaraintervalos
paraHarry.
–Bom...hum...bom,vocêssabemporqueestãoaqui.Hum...bom,Harry,aqui,teveaideia,querodizer – (Harry lhe lançara um olhar cortante) – eu tive a ideia... que seria bom se as pessoas quequisessemestudarDefesaContraasArtesdasTrevas,equerodizerrealmenteestudar,sabem,enãoasbobagensqueaUmbridgeestáfazendocomagente...–(AvozdeHermionederepentesetornoumaisforteemaisconfiante.)–PorqueninguémpodechamaraquilodeDefesaContraasArtesdasTrevas. (“Apoiado, apoiado”,disseAntônioGoldstein, eHermionepareceu se animar.)–Bom, eupenseiqueseriabomsenós,bom,nosencarregássemosderesolveroproblema.Elaparou,olhoudeesguelhaparaHarryecontinuou:–Comisso,euquerodizeraprenderanosdefenderdireito,nãosomenteemteoria,maspraticando
realmenteosfeitiços...–MasachoquevocêtambémquerpassarnoN.O.M.deDefesaContraasArtesdasTrevas,não?–
perguntouMiguelCorner.–Claroquequero–respondeuHermioneimediatamente.–Mas,maisdoqueisso,queroreceber
treinamentoemdefesa adequadoporque... porque... – ela tomou fôlegoe concluiu–porqueLordeVoldemortretornou.Areaçãofoiimediataeprevisível.AamigadeChoguinchouederramoucervejaamanteigadana
roupa;TerêncioBoot teveumacontração involuntária;PadmaPatil se arrepiou; eNevilledeuumganidoestranho,queeleconseguiutransformaremumatossida.Todos,porém,olharamfixamente,eatémesmopressurosamente,paraHarry.– Bom... pelo menos este é o plano – disse Hermione. – Se vocês quiserem se juntar a nós,
precisamosresolvercomovamos...–EcadêaprovadequeVocê-Sabe-Quemretornou?–perguntouo jogador lourodaLufa-Lufa,
numtombemagressivo.–Bom,Dumbledoreacreditaquesim...–começouHermione.–VocêquerdizerqueDumbledoreacreditanele– interrompeuogaroto louro, indicandoHarry
comacabeça.–Quemévocê?–perguntouRony,semmuitapolidez.–ZacariasSmith,eachoquetenhoodireitodesaberexatamenteoquefazvocêafirmarqueVocê-
Sabe-Quemretornou.–Olhe–respondeuHermione,intervindorapidamente–,nãofoibemparatratardesseassuntoque
organizamosareunião...–Tudobem,Hermione–disseHarry.Acabaradelheocorrerporquehaviatantaspessoasali.EachouqueHermionedeviaterprevisto.
Algumasdaquelaspessoas,talvezatéamaioria,apareceranaesperançadeouvirahistóriadeHarryemprimeiramão.– O que me faz afirmar que Você-Sabe-Quem retornou? – ele repetiu a pergunta, encarando
Zacarias nos olhos. – Eu o vi. Mas Dumbledore contou a toda a escola o que aconteceu no anopassado,e,sevocênãoacreditounele,tambémnãovaiacreditaremmim,enãovouperderatardetentandoconvencerninguém.OgrupointeiropareceuterprendidoarespiraçãoenquantoHarryfalava.Eleteveaimpressãode
queatéobarmanestavaouvindo;continuaraalimparomesmocopocomotrapoimundo,deixando-ocadavezmaissujo.Zacariasfalou,mudandodetom:–SóoqueDumbledorenoscontounoanopassadofoiqueCedricoDiggoryfoimortoporVocê-
Sabe-Quem, e que você trouxe o cadáver de volta aHogwarts. Ele não nos deu detalhes, não noscontouexatamentecomoCedricofoimorto,achoquetodosgostariamdeouvir...–Sevocêveioouvir,exatamente,comoéqueVoldemortmataalguém,eunãovoupoderajudá-lo.
–Suairritação,ultimamentesempretãoàflordapele,estavamaisumavezcrescendo.Nãotirouosolhosdo rosto agressivodeZacariasSmith, e estavadecididoanãoolharparaCho.–NãoquerofalarsobreCedricoDiggory,estábem?Portanto,seéparaistoquevocêveio,émelhorirembora.ElelançouumolharzangadoemdireçãoaHermione.Achavaqueaquiloeraculpadela;resolvera
pintá-locomoumaespéciedeaberração,eéclaroquetodostinhamaparecidosóparasaberatéqueponto chegava sua história delirante.Mas nenhum deles se levantou, nemmesmo Zacarias Smith,emboracontinuasseaobservarHarryatentamente.– Então – recomeçouHermione, com a voz novamentemuito esganiçada. – Então, como eu ia
dizendo...sevocêsquiseremaprenderalgumadefesa,entãoprecisamosresolvercomovamosfazerisso,comquefrequênciavamosnosencontrareaondevamosnos...–Éverdade–interrompeuagarota,comalongatrançanascostas,olhandoparaHarry–quevocê
écapazdeproduzirumPatrono?Correuummurmúriodeinteressepelogrupoquandoeladisseisso.–Sou–confirmouHarry,ligeiramentenadefensiva.–UmPatronocorpóreo?AfrasedespertouumalembrançanacabeçadeHarry.–Hum...vocêconheceMadameBones?–perguntouele.Agarotasorriu.– É minha tia. Sou Susana Bones. Ela me contou como foi a sua audiência. Então... é verdade
mesmo?VocêconjuraumPatronoemformadeveado?–Conjuro.– Caramba, Harry! – exclamou Lino, parecendo profundamente impressionado. – Eu não sabia
disso!–MamãedisseaRonyparanãoespalhar–comentouFred,sorrindoparaHarry.–DissequeHarry
jáchamavamuitaatençãosemisso.–Elanãoestáerrada–murmurouHarry,ealgumaspessoasderamrisadas.Abruxadevéu,sentadasozinha,mexeu-seligeiramentenacadeira.–E vocêmatou um basilisco com aquela espada que fica na sala deDumbledore? – perguntou
TerêncioBoot.–Foioqueumdosquadrosnaparedemecontouquandoestivelánoanopassado...–Hum...é,matei,sim.JustinoFinch-Fletchleyassobiou,osirmãosCreeveyseentreolharam,assombrados,eLiláBrown
exclamoubaixinho:“Uau!”Harryestavasesentindoumpoucoquenteemvoltadopescoçoagora;edeterminadoaolharparaqualquerlugarmenosparaCho.–Enonossoprimeiroano–contouNevilleaogrupo–,elesalvouaPedraTeosofal...–Filosofal–sibilouHermione.–Isso...dasmãosdeVocê-Sabe-Quem–concluiuNeville.OsolhosdeAnaAbbottestavamredondoscomodoisgaleões.–E issoparanãomencionar–disseCho (Harrysevirou instantaneamenteparaela;Choestava
olhando para ele e sorrindo; seu estômago deumais uma cambalhota) – todas as tarefas que eleprecisourealizarnoTorneioTribruxonoanopassado:passarpordragões,sereianoseacromântulaseoutrosseres...Houve um murmúrio de concordância favorável em torno da mesa. As entranhas de Harry se
reviravam.Eletentouacertarsuaexpressãoparanãoparecerdemasiadopresunçoso.OfatodequeChoacabaradeelogiá-lotornaramuitíssimomaisdifícildizeroquejuraraquediriaaoscolegas.–Escutem–disseeleetodossilenciaramnamesmahora–,nãoqueroparecerqueestoutentando
sermodestonemnada,mas...tivemuitaajudaemtudoquefiz...–Não,comodragãovocênão teve–disseMiguelCorner imediatamente.–Aquilo foiumvoo
superirado...–É...bom–concordouHarry,sentindoqueseriagrosseirodiscordar.–EninguémajudouvocêaselivrardosDementadores,agoranoverão–disseSusanaBones.–Não–concordouHarry–,não,o.k.,euseiquefizalgumascoisassemajuda,masoqueestou
tentandodizeréque...–Vocêestátentandofugirdocompromissodenosmostrartudoisso?–perguntouZacarias.–Tenhoumaideia–disseRonyemvozalta,antesqueHarrypudessefalar–,porquevocênão
calaaboca?–Ora, todosviemosparaaprendercomHarry, e agoraeleestádizendoque,noduro,não sabe
fazernadadisso.–Nãofoiissoqueeledisse–reagiuFred.– Quer que a gente limpe seus ouvidos para você? – perguntou Jorge, tirando um longo
instrumentometálicodeaspectoletal,dedentrodeumadassacasdaZonko’s.–Ou enfie isso em qualquer outra parte do seu corpo, para falar a verdade, não somosmuito
luxentos–acrescentouFred.–Bom–disseHermionedepressa–,continuando...aquestãoé:estamosdeacordoquequeremos
tomaraulascomoHarry?Houveummurmúriodeaprovaçãogeral.Zacariascruzouosbraçosesemantevecalado, talvez
porqueestivesseocupadodemaisemprestaratençãoaoinstrumentonamãodeFred.– Certo – disse Hermione, parecendo aliviada de que alguma coisa tivesse sido finalmente
decidida.–Bom,então,apróximaquestãoé:comquefrequênciavamosteressasaulas?Naverdade,euachoquenãoadiantanadanosencontrarmosmenosdeumavezporsemana...–Calmaaí–disseAngelina–,precisamostercertezadequenãovãosechocarcomonossotreino
dequadribol.–Não–disseCho–,nemcomonosso.–Nemcomonosso–acrescentouZacarias.–Tenhocertezadequevamosencontrarumanoitequesirvapara todos–disseHermione,com
leveimpaciência–,mas,sabem,asaulassãomuitoimportantes,estamosfalandodeaprenderanosdefenderdosComensaisdaMortedeV-Voldemort...–Muito bem!– bradouErnestoMacmillan, queHarry esperara que falassemuito antes disso. –
Pessoalmente, eu achoque as aulas são realmente importantes, possivelmentemais importantesdoquequalqueroutracoisaquevamosfazeresteano,atémesmoosN.O.M.squevêmaí!Ernesto olhou para os lados ostensivamente, como se esperasse que os colegas fossem gritar:
“Claroquenãosão!”,masninguémdissenada,entãoelecontinuou:–Pessoalmente, não consigo entender por queoMinistério nos impingiu umaprofessora inútil
comoessa,emumperíodo tãocrítico.Éóbvioquese recusamaadmitiro retornodeVocê-Sabe-Quem,masdaíanosmandarumaprofessoraqueestátentandonosimpedirportodososmeiosdeusarfeitiçosdefensivos...–NósachamosquearazãoporqueUmbridgenãoquerquetreinemosDefesaContraasArtesdas
Trevas–disseHermione–équeelatemumaideiaalucinadadequeDumbledorepodeusarosalunosda escola como um exército particular. Acha que ele poderia fazer uma mobilização contra oMinistério.Quasetodospareceramperplexoscomessanotícia:todos,excetoLuna,quecomeçouafalar:–Bom,issofazsentido.Afinaldecontas,CornélioFudgetemumexércitoparticular.–Quê?!–exclamouHarry,completamenteperturbadocomainesperadainformação.–É,eletemumexércitodeheliopatas–confirmouela,solenemente.–Não,nãotem–retorquiuHermionecomrispidez.
–Temsim.–Eoquesãoheliopatas?–perguntouNeville,sementender.–Sãoespíritosdofogo–explicouLuna,arregalandoosolhossaltadoseparecendomaismaluca
que nunca –, figuras altas, grandes e flamejantes que galopam pela terra queimando tudo queencontram...–Issonãoexiste,Neville–disseHermionecomazedume.–Ah,existe,existe,sim!–repetiuLuna,zangada.–Medesculpe,masondeestáaprovadequeexiste?–retorquiuHermione.–Hámuitosdepoimentosdetestemunhasoculares.Sóporquevocêtemamentalidadetãotacanha
queprecisaqueseenfieascoisasembaixodoseunariz...–Hem, hem – fez Gina, numa imitação tão perfeita da Profa Umbridge que várias pessoas se
viraramassustadas,masemseguidacaíramnagargalhada.–Nósnãoestávamosdecidindoquantasvezesvamosnosencontrarparatomaraulasdedefesa?–Estávamos–disseHermionenamesmahora–,sim,estávamos,vocêtemrazão,Gina.–Bom,umavezporsemanaparecelegal–sugeriuLino.–Desdeque...–começouAngelina.–Tá,tá,otreinodequadribol–disseHermioneemtomtenso.–Bom,aoutracoisaédecidironde
vamosnosencontrar...Issojáeramaisdifícil;ogrupotodosecalou.–Nabiblioteca?–sugeriuKatieBell,apósalgunsinstantes.–NãoconsigoimaginarMadamePincemuitosatisfeitavendoagentefazerazaraçõesnabiblioteca
–disseHarry.–Talvezumasalaforadeuso?–sugeriuDino.– É – concordouRony. – Talvez aMcGonagall nos ceda a sala dela, já fez isso quandoHarry
estavapraticandoparaoTribruxo.MasHarrytinhacertezadeque,destavez,McGonagallnãoseriatãocordata.Apesardetudoque
Hermionedisserasobrealegalidadedeestudosetrabalhosemgrupo,eletinhaanítidaimpressãodequeestaatividadepoderiaserconsideradamuitomaisrebelde.–Certo,vamostentarencontrarumlugar–disseHermione.–Mandaremosumrecadoparatodos
quandotivermosacertadoahoraeolocaldoprimeiroencontro.Elavasculhouabolsaetirouumpergaminhoeumapena,entãohesitou,comoseestivessecriando
coragemparadizeralgumacoisa.–Acho...achoquetodosdeviamescreverseusnomesparasabermosquemestápresente.Masacho
também–einspirouprofundamente–quetodosdevemosconcordaremnãosairporaíanunciandooqueestamosfazendo.Então,sevocêsassinaremestarãoconcordandoemnãocontaraUmbridgenemamaisninguémoquepretendemosfazer.Fredestendeuamãoparaopergaminhoeoassinoucomanimação,masHarryreparounamesma
horaqueváriaspessoaspareciambemmenossatisfeitascomaperspectivadecolocarosnomesnalista.–Hum...–disseZacarias lentamente, sem receberopergaminhoque Jorge tentava lhepassar–,
bom...tenhocertezadequeErnestovaimeavisarquandosouberdareunião.MasErnestopareciabemhesitanteemassinar,também.Hermioneergueuassobrancelhasparaele.–Eu...bom,nóssomosmonitores–desabafou.–Esedescobriremessalista...bom,querodizer...
vocêmesmadisse,seaUmbridgedescobrir...–Você acabou de dizer ao grupo que era a coisamais importante que você ia fazer este ano –
lembrou-lheHarry.–Eu...certo–disseErnesto–,acreditorealmentenisso,sóque...
–Ernesto,vocêrealmenteachaqueeudeixariaessalistalargadaporaí?–perguntouHermione,irritada.–Não.Não,claroquenão–disseErnesto,perdendoumpoucodaansiedade.–Eu...éclaro,vou
assinar.NinguémmaisfezobjeçõesdepoisdeErnesto,emboraHarrytenhavistoaamigadeCholançara
elaumolhardecensura,antesdeacrescentaronomeà lista.Quandoaúltimapessoa–Zacarias–assinou, Hermione recolheu o pergaminho e guardou-o com cuidado na bolsa. Havia um climaestranhonogrupoagora.Eracomosetivessemacabadodeassinarumaespéciedecontrato.–Bom,o tempo está correndo–disseFred comvivacidade, ficando empé. – Jorge,Lino e eu
temosunsartigosdenaturezadelicadaparacomprar,veremosvocêsdepois.Novamenteemtriosepares,orestantedogrupotambémsedespediu.Chotransformouoatode
fecharabolsaparasairemumverdadeiroritual,seuslongoscabelosnegros,balançandoàfrentedorosto e ocultando-o como um véu, mas a amiga permaneceu ao seu lado, de braços cruzados,estalando a língua, demodoqueChonão teveoutra escolha senão sair comela.Quando a amigaabriuaportadopub,ChoolhouparatráseacenouparaHarry.–Bom,achoquetudocorreubastantebem–comentouHermionefeliz,enquantoela,HarryeRony
saíam do Cabeça de Javali, para o dia ensolarado, algunsminutosmais tarde. Harry e Rony iamagarradosàssuasgarrafasdecervejaamanteigada.–AqueleZacarias éumchato–disseRony,olhandodecara feiaparaovultodeSmith, apenas
discerníveladistância.– Também não gosto muito dele – admitiu Hermione –, mas ele me ouviu conversando com
ErnestoeAnanamesadaLufa-Lufa,epareceurealmenteinteressadoemvir,eaí,queéqueeupodiadizer?Mas,naverdade,quantomaioronúmerodepessoasmelhorserá,querodizer,MiguelCornereosamigosdelenãoteriamvindoseelenãoestivessesaindocomaGina...Rony, que estava bebendo as últimas gotas da sua cerveja amanteigada, engasgou-se e cuspiu
cervejanasvestes.–EleestáOQUÊ?–engrolouRony,indignado,suasorelhasagoraparecendocachinhosdecarne
crua. – Ela está saindo com... minha irmã está saindo... que é que você quer dizer, com MiguelCorner?– Bom, é por isso que ele e os amigos vieram, acho, bom, é claro que estão interessados em
aprenderdefesa,masseGinanãotivessecontadoaMigueloqueestavaacontecendo...–Quandofoiqueisso...quandofoiqueela...?– Eles se conheceram no Baile de Inverno e se reencontraram no fim do ano passado – disse
Hermionemuitoconciliadora.OstrêstinhamacabadodeentrarnaruaPrincipal,eelaparouàportadaEscribaPenasEspeciais,ondehaviaumbonitoarranjodepenasdefaisãonavitrina.–Humm...eubemquegostariadecomprarumapenanova.–Elaentrounaloja.HarryeRonya
acompanharam.–QualdeleseraoMiguel?–Ronyexigiusaber,furioso.–Omoreno–disseHermione.–Nãogosteidele.–Grandenovidade–resmungouHermionebaixinho.–Mas–RonyseguiuHermioneporumafileiradepenasdispostasempotesdecobre–penseique
GinagostassedoHarry!Hermioneolhou-openalizadaesacudiuacabeça.–GinacostumavagostardoHarry,masdesistiujáfazmeses.Nãoqueelanãogostedevocê,claro
–acrescentougentilmenteparaHarry,enquantoexaminavaumalongapenapretaedourada.Harry,cujacabeçaaindaestavatomadapeloacenodedespedidadeCho,nãoachouoassuntotão
interessantequantoRony,quepositivamentetremiadeindignação,maslevou-oaperceberumacoisaqueatéalinãohaviaregistrado.– Então é por isso que ela agora fala? – perguntou aHermione. – Ela não costumava falar na
minhafrente.–Exato.Achoquevoulevaresta...Hermione foi até o balcão e pagou quinze sicles e dois nuques, com Rony bafejando em seu
pescoço.–Rony–disseelacomseveridadeaoseviraresentirquepisavaopédoamigo–,éexatamente
por issoqueGinanão lhedissequeestá se encontrandocomoMiguel, ela sabiaquevocênão iaaceitar.Então,porfavor,paredeinsistirnoassunto,peloamordeDeus.–Queéquevocêquerdizer com isso?Queméquenãoestá aceitandoalgumacoisa?Nãovou
ficarfalandodenada...–Mascontinuouresmungandobaixinhopelocaminho.HermionegirouosolhosparaHarryeentãocomentouemvozbaixa,enquantoRonycontinuavaa
murmurarimprecaçõescontraMiguelCorner.–EporfalaremMigueleGina...eaChoevocê?–Comoassim?–perguntouHarrydepressa.Foicomoseaáguaestivessefervendoesubisserapidamentedentrodele:umasensaçãoescaldante
quefezseurostoardernofrio.Seráqueforaassimtãoóbvio?–Bom–disseHermionecomumlevesorriso–,elasimplesmentenãoconseguiatirarosolhosde
você.HarrynuncaapreciaraantescomoaviladeHogsmeadeerabonita.
—CAPÍTULODEZESSETE—DecretodaEducaçãoNúmeroVinteeQuatro
Harrysesentiumaisfelizpelorestodofimdesemanadoquesesentiraatéali.EleeRonypassarama maior parte do domingo mais uma vez recuperando o atraso nos deveres, e, embora isso nãopudesseserconsideradodiversão,emvezdeficaremdebruçadossobreasmesasdasalacomunal,osdoislevaramotrabalhoparaojardimeserecostaramàsombradeumafrondosafaiaàmargemdolago,paraaproveitaradespedidadosoloutonal.Hermione,quenaturalmenteestavaemdiacomosdeveres,levoucomelaunsnovelosdelãeencantouasagulhasdetricô,queclicavamebrilhavamnoaraoseulado,produzindomaisgorrosecachecóis.SaberqueestavamfazendoalgumacoisapararesistiraUmbridgeeaoMinistério,equeeleera
umaparteimportantedessarebeldia,davaaHarryumasensaçãodeimensocontentamento.Elenãoparavadereviveremsuamenteareuniãodesábado: todaaquelagenteacorrendoaoseuencontroparaaprenderDefesaContraasArtesdasTrevas...easexpressõesemseusrostosquandoouviramalgumasdascoisasqueelehaviafeito...eChoelogiandooseudesempenhonoTorneioTribruxo–saber que todas aquelas pessoas não o achavam um pirado mentiroso, mas alguém que mereciaadmiração, infloude tal formao seu egoque ele continuava animadonamanhãde segunda-feira,apesardaperspectivaiminentedeassistiratodasasaulasdequemenosgostava.Ele e Rony desceram do dormitório, discutindo a ideia proposta por Angelina de que deviam
trabalhar uma nova jogada chamada Giro da Preguiça, no treino de quadribol daquela noite, e,somentequandojáestavamnomeiodasalabanhadadesol,elesrepararamnanovidadequejáatraíraaatençãodeumgrupinhodealunos.UmgrandeavisoforaafixadoaoquadrodaGrifinória;tãograndequecobriatudoquealiestava:
asofertasdelivrosdefeitiçodesegundamão,oslembretessobreoregulamentodaescolapregadospor Argo Filch, o horário de treinamento do time de quadribol, as propostas para trocar certoscartões de sapos de chocolate por outros, os últimos anúncios dosWeasley pedindo testadores, asdatas dos fins de semana emHogsmeade, e os avisosde achados eperdidos.Onovo aviso estavaimpressoemgrandesletraspretasetinhaumselodeaspectomuitooficialembaixo,aoladodeumaassinaturarebuscadaeclara.
PORORDEMDAALTAINQUISIDORADEHOGWARTS
Todasasorganizações,sociedades,times,gruposeclubesestudantisestãodoravantedissolvidos.
Umaorganização,sociedade,umtime,grupoouclubeéaquidefinidocomoumareuniãoregulardetrêsoumaisestudantes.
Apermissãoparareorganizá-losdeverásersolicitadaàAltaInquisidora(ProfaUmbridge).
Nenhumaorganização,sociedade,nenhumtime,grupoouclubeestudantilpoderáexistirsemoconhecimentoeaaprovaçãodaAltaInquisidora.
Oestudantequetiverorganizadooupertenceraumaorganização,sociedade,umtime,grupoouclubenãoaprovadopelaAltaInquisidoraseráexpulso.
OacimadispostoestáemconformidadecomoDecretodaEducaçãoNúmeroVinteeQuatro
Assinado:DoloresJoanaUmbridge,AltaInquisidora
HarryeRonyleramoavisoporcimadascabeçasdealgunssegundanistasansiosos.–IstoquerdizerquevãofecharoClubedasBexigas?–perguntouumdelesaoamigo.–AchoquevaificartudobemcomasBexigas–comentouRonysombriamente,fazendoogaroto
sesobressaltar.–Porém,achoquenãoteremostantasorte,evocê?–perguntouaHarryquandoossegundanistasseafastaramrapidamente.Harryestavarelendooavisotodo.Afelicidadequeseapossaradelenosábadodesapareceu.Suas
entranhaspulsavamderaiva.–Istonãoécoincidência–disse,fechandoospunhoscomforça.–Elasabe.–Nãopodesaber–disseRonyimediatamente.–Haviaumaspessoasescutandonaquelepub.E,vamosencararosfatos,nãosabemosemquantos
dosqueaparecerampodemosconfiar...qualquerumpoderiateridocorrendocontaraUmbridge...Epensaraquehaviamacreditadonele,queatéoadmiravam...–ZacariasSmith!–disseRonynamesmahora,dandoumsoconamão.–Ou...acheiqueaquele
MiguelCornertinharealmenteumolharmaroto,também...– Será que a Hermione já viu isso? – perguntou Harry, olhando para a porta que levava ao
dormitóriodasgarotas.–Vamoscontarpraela–disseRony.Deumsalto,eleabriuaportaecomeçouasubiraescadaem
espiral.Estavanosextodegrauquandoouviuumabuzinaaltaetriste,eosdegraussefundiramformando
um escorrega comprido e liso, como o de um parque de diversões. Por um breve instante, Ronytentoucontinuarcorrendo,seusbraçosepernasseagitaramcomoaspásdeummoinho,entãocaiuparatrásedeslizou,ligeiro,peloescorregarecém-criado,indocairdecostasaospésdeHarry.–Hum...achoquenãoqueremagentenodormitóriodasmeninas–disseHarry,ajudandoRonya
selevantaretentandonãorir.Duasgarotasdoquartoanodesceramatodapeloescorrega,muitocontentes.–Ôôôôô,quemtentousubir?–riam,pulandoempé,eolhandocuriosasparaHarryeRony.–Eu–respondeuRony,aindabastanteamarrotado.–Nãotinhaideiadequeissopoderiaacontecer.
Enãoéjusto!–acrescentouparaHarry,quandoasgarotassaíramemdireçãoaoburacodoretrato,aindarindofeitoloucas.–Hermionepodeiraonossodormitório,comoéquenãopodemos...?–Bom, é uma regra antiquada – disseHermione, que acabara de escorregar tranquilamente até
eles, sentada em um tapete, e agora se levantava –, mas Hogwarts: uma história conta que osfundadoresacharamqueosmeninosmereciammenosconfiançadoqueasmeninas.Emtodoocaso,porquevocêsestavamtentandoentrarlá?–Parafalarcomvocê...vemverisso!–disseRony,arrastando-aatéoquadrodeavisos.OsolhosdeHermionerelancearampeloaviso.Suaexpressãopetrificou.–Alguémdevetercontadoaela!–disseRony,zangado.–Nãopodemterfeitoisso–contestouHermione,emvozbaixa.–Vocêétãoingênua!Achaquesóporqueéhonradaedignadeconfiança...–Não,elesnãopodemterfeitoisso,porquelanceiumfeitiçonopergaminhoquetodosassinamos
– disseHermione, séria. – Pode crer, se alguém foi correndo contar aUmbridge, nós saberemosexatamentequemfoi,eapessoavairealmentesearrepender.–Queéquevaiacontecer?–perguntouRony,ansioso.–Bom,vamosdizerqueaacnedaHeloísaMidgeonvaiparecerumassardasengraçadinhas.Anda,
vamosdescerpara tomarcaféeveroqueosoutrosacham...seráqueissofoiafixadoemtodasascasas?Ficou imediatamente óbvio ao entrarem no Salão Principal que o aviso de Umbridge não
aparecera apenas na Torre da Grifinória. Havia uma intensidade peculiar nas conversas, e umamultiplicaçãodas idasevindasdealunoscorrendoàsmesase seconsultandosobreoquehaviamlido.Harry,RonyeHermione tinhamacabadode sentarquandoNeville,Dino,Fred, JorgeeGinacaíramemcimadeles.–Vocêsviram?–Achamqueelasabe?–Quevamosfazer?Todos olhavam para Harry. Ele passou os olhos pelo salão para ter certeza de que não havia
professoresporperto.–Claroquevamoscontinuardomesmojeito–confirmouemvozbaixa.–Eusabiaquevocêiadizerisso–disseJorge,abrindoumgrandesorrisoedandopancadinhasno
braçodeHarry.–Osmonitorestambém?–perguntouFred,olhandocuriosoparaRonyeHermione.–Claro–disseHermionecalmamente.–AívêmErnestoeAnaAbbott–disseRony,olhandoporcimadoombro.–Eaque lescarasda
CorvinaleSmith...enenhumdelesparecetermarcasnorosto.Hermioneteveumareaçãodealarme.–Esqueça asmarcas, os idiotas não podemvir aqui agora, vai parecer realmente suspeito; vão
sentar!–vociferouHermioneparaErnestoeAna,fazendogestosfrenéticosparavoltaremàmesadaLufa-Lufa.–Maistarde!Falaremos...com...vocês...depois!– Vou dizer ao Miguel – disse Gina, impaciente, deslizando para fora do banco –, o boboca,
francamente...ElacorreuparaamesadaCorvinal;Harryobservou-aafastando-se.Choestavasentadanãomuito
longe,conversandocomaamigadecabeloscresposquelevaraaoCabeçadeJavali.SeráqueoavisodaUmbridgeafariarecearnovosencontros?Maselessóperceberamaamplitudedas repercussõesdoavisoquandoestavamsaindodoSalão
PrincipalparaaauladeHistóriadaMagia.–Harry!Rony!EraAngelinaquecorriaemseuencalço,comumarabsolutamentedesesperado.–Tudobem–disseHarrybaixinho,quandoelaseaproximouosuficienteparaouvi-lo.–Vamos
continuar...– Você não está entendendo que ela incluiu o quadribol nisso? Teremos de procurá-la e pedir
permissãoparareorganizaraequipedaGrifinória!–Quê?–disseHarry.–Nempensar–disseRony,estarrecido.–Vocêsleramoaviso,elamencionaostimestambém!Então,escuteaqui,Harry...estoudizendo
issopelaúltimavez...porfavor,porfavor,nãopercaacabeçacomaUmbridgedenovoouelapodenãodeixaragentejogarmais!–O.k.,o.k.–concordouHarry,porqueAngelinapareciaàbeiradaslágrimas.–Nãosepreocupe.
Voumecomportar...
–ApostocomoaUmbridgevaiestarnaHistóriadaMagia–disseRonycomferocidade,quandoseencaminhavamparaaauladeBinns.–Elaaindanãooinspecionou...apostoquevaiestarlá.Mas se enganou; o único professor presente quando entraram era Binns, flutuando alguns
centímetrosacimadesuacadeira,comosempre,preparando-separacontinuarsuamonótonalenga-lengasobreaguerradosgigantes.Harrynemsequer tentouacompanharoqueeleestavadizendo;rabiscava a esmoem seupergaminho, fingindonão entender os olhares e cutucadas frequentes deHermione,atéqueuma,particularmentedolorosa,nascostelas,ofezerguerosolhosaborrecido.–Quefoi?Elaapontouparaajanela.Harryolhou.Edwigesestavaencarrapitadanoestreitopeitoril,olhando
fixamente para ele pela grossa vidraça, uma carta amarrada à perna. Harry não entendeu; tinhamacabadodetomarocafédamanhã;porqueelanãoentregaraacartaentão,comosempre?MuitosdosseuscolegasestavamapontandoEdwigesunsparaosoutrostambém.–Ah,eusempreadoreiessacoruja,étãolinda–HarryouviuLilásuspirarparaParvati.EleolhouparaoProf.Binns,quecontinuavaalersuasanotações,serenamenteinconscientedeque
aatençãodaturmaestavaaindamenosconcentradaneledoqueonormal.Harrysaiudiscretamenteda carteira, abaixou-se e percorreu a fila até a janela, onde soltou o trinco, e a abriu muitodevagarinho.EsperouqueEdwigesesticasseapernaparaele removeracartaedepoisvoasseparaocorujal,
mas,noinstanteemqueajanelaabriuosuficiente,elapulouparadentro,piandotriste.Elefechouajanela lançandoumolharansiosoaoProf.Binns, tornouaseabaixareavoltarcorrendoparasuacarteira,comEdwigesaoombro.Sentou-sedenovo,transferiuacorujaparaocoloefezmençãoderemoveracartaamarradaàsuaperna.Sóentãopercebeuqueaspenasdacorujaestavamestranhamentearrepiadas,algumastinhamsido
dobradasparatráseelamantinhaasasasemumânguloesquisito.–Elaestáferida!–sussurrouHarry,curvando-separaaave.HermioneeRonyseinclinarampara
maisperto;Hermionechegoumesmoadescansarapena.–Olhem...temalgumacoisaerradacomaasadela...Edwigesestavatremendo;quandoHarryfezmençãodetocarsuaasa,elaseassustou,eriçandoas
penascomoseestivesseseenchendodear,edeuaodonoumolhardecensura.–Prof.Binns–chamouHarryemvozalta,etodosnaclasseseviraramparaolhá-lo.–Nãoestou
mesentindobem.Oprofessorergueuosolhosdeseuspapéis,parecendoespantado,comosempre,deverdiantedele
umasalacheiadegente.–Nãoestásesentindobem?–repetiunebulosamente.–Nadabem–disseHarrycomfirmeza,levantando-secomEdwigesescondidaàscostas.–Acho
queprecisoiràalahospitalar.– Sei – disse o professor, nitidamente muito constrangido. – Sei... sei, ala hospitalar... bem, vá
então,Perkins...Umavezforadasala,HarryrepôsEdwigesnoombroesaiuapressadopelocorredor,somentese
detendo para pensar quando a porta deBinns já desaparecera de vista.A primeira pessoa que eleescolheriaparatratardeEdwigesteriasidoHagrid,naturalmente,mascomonãofaziaideiadeondeandava, a única opção que lhe restava era encontrar a Profa Grubbly-Plank e esperar que ela oajudasse.Ele espiou os terrenos ventosos e nublados da escola pela janela. Não viu sinal da professora
próximo à cabana de Hagrid; se não estava dando aulas, provavelmente estaria na sala dosprofessores.EleresolveudescercomEdwigesbalançandoemseuombroepiandofraco.Duasgárgulasdepedraladeavamasaladosprofessores.QuandoHarryseaproximou,umadelas
crocitou:–Vocêdeviaestarnaaula,filhinho.–Éurgente–disseHarrycomrispidez.–Ôôôôô,urgenteé?–comentouasegundagárgula,numavozesganiçada.–Bom,istonospõeem
nossolugar,nãoé?Harrybateuàporta.Ouviupassos,aportaseabriu,edeparoucomaProfaMcGonagall.–Você não recebeumais uma detenção! – exclamou ao vê-lo, seus óculos quadrados faiscando
assustadoramente.–Não,professora!–apressou-seatranquilizá-la.–Então,porquenãoestánaaula?–Pelojeitoéurgente–comentouasegundagárgulaemtomdecrítica.–EstouprocurandoaProfaGrubbly-Plank–explicouHarry.–Aminhacorujaestáferida.–Corujaferida,foioquedisse?AProfaGrubbly-PlankapareceuaoombrodaMcGonagall,fumandoumcachimboetrazendonas
mãosumexemplardoProfetaDiário.– Foi – confirmouHarry, retirando Edwiges cuidadosamente do ombro –, apareceu depois das
outrascorujasdecorreiocomaasaesquisita,veja...A professora prendeu o cachimbo firmemente entre os dentes e recebeu a coruja de Harry,
observadapelaProfaMcGonagall.–Humm– fezaprofessora,ocachimbobalançando ligeiramenteenquanto falava.–Pareceque
alguma coisa a atacou. Mas não imagino o que poderia ter sido. Os Testrálios às vezes caçampássaros,masHagridtreinouosdeHogwartsmuitobemparanãotocarememcorujas.Harry não sabia nem se importava como que seriamTestrálios; só queria saber seEdwiges ia
ficarboa.AProfaMcGonagall,porém,olhouparaogarotocomperspicácia,eperguntou:–Vocêsabequedistânciaessacorujaviajou,Potter?–Hum,achoqueveiodeLondres.Seusolhosencontraramosdelabrevementeeelepercebeu,pelojeitocomqueassobrancelhasda
professorasejuntaramsobreonariz,quecompreendiaqueLondressignificavaolargoGrimmauld,doze.A Profa Grubbly-Plank tirou um monóculo de dentro das vestes e encaixou-o no olho para
examinarmaisatentamenteaasadeEdwiges.–Devopoder resolver isso se vocêdeixá-la comigo,Potter, em todoo caso ela nãodevevoar
muitolongeporalgunsdias.–Hum...certo...obrigado–disseHarry,nahoraemqueasinetaanunciavaointervalo.–Tudobem–disseaProfaGrubbly-Plank,tornandoaentrarnasaladosprofessores.–Ummomento,Guilhermina!–chamouMcGonagall.–AcartadePotter!– Ah, é! – exclamou Harry, que momentaneamente esquecera o pergaminho atado à perna de
Edwiges.AProfaGrubbly-Plankentregou-aedesapareceunointeriordasaladeprofessores,levandoa coruja que olhava fixamente para Harry, como se não pudesse acreditar que o dono fosseabandoná-laassim.Sentindoumligeiroremorso,elesevirouparasair,masaProfaMcGonagallochamou.–Potter!–Sim,senhoraprofessora.Elaolhouparaosdoisladosdocorredor;haviaestudantesvindodeambasasdireções.–Nãoseesqueça–dissedepressaemvozbaixa,seusolhosnopergaminhoqueelesegurava–de
queoscanaisdecomunicação,deeparaHogwarts,podemestarsendovigiados,sim?–Eu... – começouadizerHarry,masasondasdeestudantesquevinhampelocorredorestavam
quasealcançando-os.Aprofessoralhefezumbreveacenocomacabeçaeseretirou,deixandoHarryserempurradoparaopátiopelamultidão.ElelocalizouRonyeHermione,jáparadosemumcantoabrigado,asgolasdascapasviradasparacimaparaprotegê-losdovento.Harryabriuopergaminho,correuparaosamigoseleucincopalavrasnacaligrafiadeSirius.Hoje,mesmahora,mesmolugar.– Edwiges está bem? – perguntou Hermione ansiosa, assim que a distância permitiu que ele a
ouvisse.–Aondefoiquevocêalevou?–perguntouRony.–ParaaGrubbly-Plank.EncontreiaMcGonagall...escutem...Econtou-lhesoqueaprofessoradissera.Parasuasurpresa,nenhumdosdoispareceuseabalar.Ao
contrário,trocaramolharesmuitosignificativos.–Quê?–disseHarry,olhandodeRonyparaHermioneenovamenteparaoamigo.–Bom,euestava justamentedizendoaoRony...esealguémtivesse tentadointerceptarEdwiges?
Querodizer,elanuncasemachucouemumvooantes,nãoé?–Afinal,dequeméacarta?–perguntouRony,tirandoobilhetedamãodeHarry.–Snuffles–disseHarrybaixinho.–“Mesmahora,mesmolugar?”Elequerdizeralareiranasalacomunal?–Éóbvio–disseHermione, lendo tambémopergaminho.Masmanifestou suaapreensão.–Só
esperoqueninguémmaistenhalidoisso...–Masaindaestavalacradoetudo–disseHarry,tentandoconvencerasimesmoeaHermione.–E
ninguémiaentenderoquequerdizersenãosoubessequefaleicomeleantes,ia?–Não sei – disseHermionenervosa, pendurando amochila às costas, quando a sineta tornou a
tocar–,nãoseriadifíciltornaralacrarumpergaminhousandomagia...esealguémestivervigiandoa Rede de Flu... mas não vejo como podemos avisá-lo para não vir sem interceptarem o avisotambém!ElesdesceramaescadaparaasmasmorrasondetinhamauladePoções,ostrêsabsortosemseus
pensamentos,mas,aochegaremaoúltimodegrau, foramchamadosà realidadepelavozdeDracoMalfoy,queestavaparadobemàportadasaladeSnape,sacudindoumpergaminhodeaspectooficialefalandomaisaltodoquenecessárioparaqueelespudessemouvirtodasaspalavrasquedizia.–É,namesmahoraaUmbridgedeuàequipedaSonserinapermissãoparacontinuarajogar.Fui
pediraelalogoqueacordei.Bom,seriaautomático,querodizer,elaconhecemeupaimuitobem,eleestá sempre entrando e saindo doMinistério... vai ser interessante ver se a Grifinória vai ganharpermissãoparacontinuarajogar,nãoacham?–Nãoaceitemprovocação–cochichouHermione, implorandoaHarryeRony,queobservavam
Malfoy,osrostostensoseospunhosfechados.–Éoqueelequer.–Querodizer–continuouMalfoy,alteandoumpoucomaisavoz,osolhoscinzentosbrilhando
malevolamenteparaHarryeRony–,seéumaquestãodeinfluênciacomoMinistério,achoqueelesnão têm muita chance... pelo que diz meu pai, há anos que estão procurando uma desculpa paradespediroArthurWeasley...equantoaPotter...meupaidizqueéapenasumaquestãodetempo,logooMinistériovaimandardespachá-loparaoHospitalSt.Mungus...parecequelátemumaenfermariaespecialparagentequeteveocérebrofundidopormagia.Malfoyfezumacaretagrotescacomabocaabertaeosolhosgirandonasórbitas.CrabbeeGoyle
deramosseushabituaisgrunhidosderiso,ePansyParkinsonguinchoudeprazer.AlgumacoisacolidiucomforçacontraoombrodeHarry,empurrando-oparaolado.Umafração
desegundodepois,elepercebeuqueNeville,àssuascostas,acabaradeavançardiretamentecontraMalfoy.–Neville,não!
HarrysaltouparaafrenteeagarrouNevillepelasvestes;ogarotolutoufreneticamente,ospunhossacudindo no ar, tentando desesperadamente chegar a Malfoy, que pareceu, por um instante,extremamenteespantado.–Meajude!–gritouHarryparaRony,conseguindopassarumbraçopelopescoçodeNevillee
puxá-lo para trás, afastando-o dos alunos da Sonserina. Crabbe e Goyle flexionaram os braçoscolocando-seàfrentedeMalfoy,prontosparabrigar.RonyagarrouosbraçosdeNevilleejuntos,elee Harry, conseguiram arrastar o garoto para junto dos alunos da Grifinória. O rosto dele estavaescarlate; a pressão queHarry fazia sobre sua garganta deixava-o ininteligível, saltavam palavrasestranhasdesuaboca.–Não...graça...não...Mungus...mostre...aele...A porta da masmorra se abriu. Apareceu Snape. Seus olhos negros correram pelos alunos da
GrifinóriaatéopontoemqueHarryeRonylutavamcomNeville.–Brigando,Potter,Weasley,Longbottom?–indagou,comsuavozfriaedesdenhosa.–Dezpontos
amenosparaaGrifinória.SolteLongbottom,Potter,oureceberáumadetenção.Paradentro todosvocês.HarrylargouNeville,queficouofegando,decaraamarradaparaele.– Tive de segurar você! – exclamou Harry, apanhando sua mochila. – Crabbe e Goyle iam
estraçalharvocê.Nevillenãodissenada,apenasagarrouaprópriamochilaeentrounamasmorra.– Em nome de Merlim – perguntou Rony lentamente, ao acompanharem Neville –, o que foi
aquilo?Harrynadarespondeu.SabiaexatamenteporqueoassuntodepessoasconfinadasemSt.Mungus,
vítimas de danos ao cérebro produzidos por magia, perturbava Neville fortemente, mas jurara aDumbledorequenãocontariaaninguémosegredodeNeville.NemmesmoNevilleimaginavaqueelesoubesse.Harry, Rony e Hermione ocuparam seus lugares habituais no fundo da sala, tiraram seus
pergaminhos,penaseexemplaresdeMilervase fungosmágicos.À suavolta, a turmamurmuravasobre o que Neville acabara de fazer, mas, quando Snape fechou a porta damasmorra com umapancadaressonante,todosimediatamentesecalaram.–Vocêsirãonotar–disseSnape,comsuavozbaixaedesdenhosa–quehojetemosumaconvidada
conosco.Eleindicou,comumgesto,umcantosombriodamasmorra,eHarryviuaProfaUmbridgesentada,
com a prancheta sobre os joelhos. Olhou de esguelha para Rony e Hermione, as sobrancelhaserguidas.SnapeeUmbridge,osdoisprofessoresquemaisdetestava.Ficavadifícildecidirqualelequeriaquevencessequal.–HojevamoscontinuaranossaSoluçãoparaFortalecer.Vocêsencontrarãosuasmisturascomoas
deixaramnaúltimaaula;seforemfeitascorretamente,elasdeverãotermaturadoacontentoduranteofimdesemana...asinstruções...–eleacenoucomavarinha–...noquadro.Podemcomeçar.AProfaUmbridgepassouaprimeirameiahoradaaulatomandonotasemseucanto.Harryestava
muito interessado em ouvi-la questionar Snape; tão interessado que começou a descuidar de suapoçãooutravez.– Sangue de salamandra,Harry! – gemeuHermione, agarrando o pulso dele para impedi-lo de
adicionaroingredienteerradopelaterceiravez–,enãosucoderomã!–Certo– respondeuHarrydistraído,pondoo frascode ladoe continuandoaobservarocanto.
Umbridgeacabaradeselevantar.–Ah!–exclamoubaixinho,quandoelapassouentreduasfilasdecarteirasemdireçãoaSnape,queestavacurvadoparaocaldeirãodeDinoThomas.–Bom, a turmaparecebastante adiantadapara seunível – disse ela, animada, para as costas de
Snape. – Embora eu questione se é aconselhável lhes ensinar uma poção como a Solução paraFortalecer.AchoqueoMinistérioprefeririaquefosseretiradadoprograma.Snapeseendireitou,lentamente,esevirouparaencararUmbridge.–Agora... háquanto tempovocêestá ensinandoemHogwarts?–perguntouela, comapenaem
posiçãosobreaprancheta.– Catorze anos. – A expressão de Snape era indefinível. Com os olhos em Snape, Harry
acrescentou algumas gotas à sua poção; o líquido sibilou ameaçadoramente emudou de turquesaparalaranja.–VocêsecandidatouprimeiroaocargodeprofessordeDefesaContraasArtesdasTrevas,não
foi?–perguntouaprofessoraaSnape.–Foi–respondeueleemvozbaixa.–Masnãofoiaceito?OlábiodeSnapesecrispou.–Éóbvio.AProfaUmbridgefezumaanotaçãonaprancheta.–Evocêtemsecandidatadoregularmenteàquelecargodesdequefoiadmitidonaescola?–Sim–respondeuSnape,quasesemmoveroslábios,avozbaixa.Pareciamuitoirritado.– Tem alguma ideia por que Dumbledore tem se recusado consistentemente a nomeá-lo? –
perguntouUmbridge.–Sugiroquepergunteaele–respondeuSnapeaosarrancos.–Ah,perguntarei–disseaprofessoracomumsorrisomeigo.–Suponhoqueistosejarelevante?–perguntouSnape,estreitandoosolhosnegros.–Ahé,é,sim,oMinistérioquerterumacompreensãoabrangentedosprofessores...hum...suavida
pregressa.Elavirouascostas,saiuemdireçãoaPansyParkinsonecomeçoua interrogá-lasobreasaulas.
SnapeolhouparaHarry, e seus olhos se encontrarampor um segundo.Ogarotobaixouos olhosdepressa para sua poção, que agora congelava abominavelmente, soltando um cheiro forte deborrachaqueimada.–Então,semnotaoutravez,Potter–disseSnapemaliciosamente,esvaziandoocaldeirãodeHarry
comumacenodavarinha.–Vocêvaimefazerumtrabalhoescritosobreacomposiçãocorretadestapoção,indicandocomoeporqueerrou,parameentregarnapróximaaula,entendeu?–Sim,senhor–respondeuHarryfurioso.Snapejápassaradeverdecasaparaaturmaehaviaum
treinodequadribolànoite;istosignificariamaisumasduasnoitessemdormir.Pareciaimpossívelque tivesse acordado àquelamanhã se sentindomuito feliz. Só o que sentia agora era um desejoardentedeverofimdestedia.–TalvezeumateaauladeAdivinhação–disse,deprimido,quandochegaramaopátiodepoisdo
almoço,oventoaçoitandoasbarrasdasvestesedoschapéus.–VoufingirqueestoudoenteefazerotrabalhodoSnapenahoradaaula,entãonãotereideficaracordadometadedanoite.–VocênãopodemataraauladeAdivinhação–disseHermioneseveramente.–Olhem quem está falando, você abandonouAdivinhação e detesta a Trelawney! – disse Rony
indignado.–EunãodetestoaTrelawney–contestouHermione,comarsuperior.–Achosimplesmenteque
elaéumaprofessoraapavoranteeumacharlatonavelhadasboas.MasHarryjáfaltouàHistóriadaMagiaeachoqueelenãodeviaperdermaisnenhumaaulahoje!Haviaverdadedemaisnoargumentoparanãoescutá-lo,então,meiahoradepois,Harryocupouo
seu lugar no ambiente excessivamente perfumado e quente da aula de Adivinhação, sentindo-seaborrecido com todos. A Profa Trelawney estava mais uma vez distribuindo os exemplares do
Oráculodossonhos.Harry achouque seu tempo seriamaisbemempregadonoensaiopedidoporSnape,porcastigo,doquesentadoali,tentandoencontrarsentidoemsonhosinventados.Mas, pelo visto, ele não era a única pessoa emAdivinhação que estava demau humor.A Profa
TrelawneybateucomumexemplardoOráculonamesaentreHarryeRonyeseafastoumajestosa,oslábioscontraídos;jogouoexemplarseguinteemSimaseDino,quepassouderaspãopelacabeçadeSimas, e empurrouo último exemplar no peito deNeville com tanta força que ele escorregoudopufe.–Muito bem, podemcomeçar! – disse a professora alto, a voz aguda emeiohistérica –, vocês
sabemoquefazer!Ouseráquesouumaprofessoratãosubcapacitadaquevocêsnuncaaprenderamaabrirumlivro?A turma olhou para ela perplexa, depois se entreolhou, embora Harry soubesse qual era o
problema.Quandoaprofessoravoltounummovimentobruscoparasuacadeiradeespaldaralto,osolhos, aumentados pelas lentes, cheios de lágrimas de raiva, ele inclinou a cabeça para Rony emurmurou:–Achoqueelarecebeuoresultadodainspeção.–Professora?–disseParvatiPatilcomavozabafada(elaeLilásemprehaviamadmiradoaProfa
Trelawney).–Professora,háalgum...hum...problema?–Problema!–exclamouelacomavozpulsantedeemoção.–Certamentequenão!Fuiinsultada,
certamente... fizeram insinuações contra mim... acusações infundadas... mas, não, não há nenhumproblema,certamentequenão!Elatomoufôlego,estremecendo,edesviouoolhardeParvati,aslágrimasderaivavazandopor
baixodosóculos.–Nemquerofalar–suavozembargou–dosdezesseisanosdeserviçodedicado...elespassaram,
aparentemente,despercebidos...masnãovouadmitirinsultos...não,nãovouadmitir!–Mas,professora,quemestáinsultandoasenhora?–perguntouParvatitimidamente.–AInstituição–respondeuelanumavozgrave,dramáticaetrêmula.–Aquelesquetêmosolhos
demasiadonubladospelascoisasmundanasparaVeroqueVejo,SaberoqueSei...naturalmente,nós,Videntes,semprefomostemidos,sempreperseguidos...é,infelizmente,anossasina.Elaengoliuemseco,enxugouasfacesmolhadascomapontadoxale,depoispuxouumlencinho
bordadodedentrodamangaeassoouonariz com força, fazendoumbarulhoparecidocomodePirraçasoprandopunscomaboca.Ronydeuumarisadinha.Lilálançou-lheumolhardecensura.– Professora – disse Parvati –, a senhora está se referindo... é alguma coisa que a Profa
Umbridge...?–Nãomefalenessamulher!–exclamouTrelawney,pondo-serepentinamentedepé,suascontas
tilintandoeseusóculossoltandolampejos.–Façaofavordecontinuaroseutrabalho!Eelapassouorestodaaulacaminhandoentreosalunos,aslágrimasaindaescorrendoporbaixo
dosóculos,resmungandobaixinhopalavrasquepareciamameaças.– ... possomuito bem preferir me retirar... a indignidade da coisa... em observação... veremos...
comoéqueelaousa...–Você eUmbridge têm alguma coisa em comum– disseHarry aHermione, baixinho, quando
tornaramaseencontraremDefesaContraasArtesdasTrevas.–ElaobviamentetambémconsideraTrelawneyumacharlatãvelha...parecequeapôsemobservação.Umbridge entrou na sala nesse instante, usando seu laço de veludo preto e uma expressão de
grandesatisfaçãoíntima.–Boa-tarde,turma.–Boa-tarde,ProfaUmbridge–repetiramelessementusiasmo.
–Guardemasvarinhas,porfavor.Mas,destavez,nãohouvenenhumaagitaçãoemresposta;ninguémsederao trabalhode tirara
varinhadamochila.– Por favor, abram na página trinta e quatro deTeoria da defesa emmagia, e leiam o terceiro
capítulo,intitulado“OCasodasRespostasNãoOfensivasaoAtaqueMágico”.Nãohaverá...–...necessidadedeconversar–disseram,baixinho,Harry,RonyeHermione.
–Não tem treino de quadribol – disse Angelina em tom cavo, quando Harry, Rony e Hermioneentraramnasalacomunaldepoisdojantardaquelanoite.–Maseumecontrolei!–disseHarry,horrorizado.–Nãodissenadapraela,Angelina,juro,eu...–Eusei,eusei–respondeuAngelina,infeliz.–Elasimplesmentefalouqueprecisavadeumtempo
parapensar.–Pensaroquê?–perguntouRonyzangado.–EladeupermissãoaSonserina,porquenãoanós?MasHarrypodiaimaginaroquantoUmbridgeestavasedeliciandoemmantersobreacabeçadeles
aameaçadenãohaverumaequipedequadriboldaGrifinória,epodiafacilmentecompreenderporquetãocedoelanãoiriaquererabrirmãodessaarmaquemantinhaapontadaparaeles.–Bem–disseHermione–,olheo ladobomdacoisa,pelomenosagoravocêvai ter tempode
fazerotrabalhodoSnape!–Eissoéumladobom,é?–retrucouHarry,enquantoRonyolhavaincréduloparaHermione.–
NadadequadriboleumadoseextradePoções?Harryselargouemumacadeira,puxoucomrelutânciaotrabalhodePoçõesparaforadamochila
ecomeçouatrabalhar.Foimuitodifícilseconcentrar;mesmosabendoqueSiriussóaparecerianalareiramuitomaistarde,nãoconseguiadeixardeolharofogo,aintervalosdeminutos,sóparatercerteza.Haviaaindaumazoeiraincrívelnasala.FredeJorge,aparentemente,haviamaperfeiçoadoumtipodekitMata-Aula,esealternavamemdemonstrá-loparaumaturmaquedavavivasegritos.Primeiro, Fred dava uma mordida na ponta laranja de um doce, e em seguida vomitava
espetacularmente emumbaldeque colocara à sua frente.Depois, ele se forçava a engolir a pontaroxadodoce,aoqueavontadedevomitarcessavaimediatamente.LinoJordan,queestavaajudandona demonstração, fazia desaparecer o vômito a intervalos regulares, sem pressa, com o mesmoFeitiçodaDesapariçãoqueSnapeviviausandoparaaspoçõesdeHarry.Comarepetiçãoregulardosvômitoseaplausos,eobarulhoqueFredeJorgefaziam,anotandoos
pedidos antecipados dos colegas, Harry estava achando excepcionalmente difícil se concentrar nométodocorretoparaprepararaSoluçãoparaFortalecer.Hermionenãoestavaajudandoamelhorarnada;osaplausoseruídosdovômitobatendonofundodobaldeerampontuadosporseussonorosresmungosdedesaprovação,queparaHarry,nomínimo, tinhamopoderdedesconcentrá-loaindamais.–Entãovailáefazelespararem!–disseirritado,depoisderiscaropesodagarradegrifoempó
queerrarapelaquartavez.– Não posso, tecnicamente eles não estão fazendo nada errado – disse Hermione trincando os
dentes.–Elestêmtodoodireitodecomerasporcariasquequiserem,enãoencontronenhumaregraquedigaqueosoutrosidiotasnãotêmodireitodecomprá-las,nãoatéquefiqueprovadoqueelassejamdealgumamaneiraperigosas,epelovistonãosão.Ela,Harry eRony assistiram a Jorge projetar o vômito no balde, engolir o resto do doce e se
erguer,sorrindo,comosbraçosabertos,parareceberosprolongadosaplausos.–Sabem,eunãoentendoporqueFrede Jorge só foramaprovadosem trêsN.O.M.scadaum–
disseHarry, observando comoFred, Jorge eLino recebiamourodos colegas pressurosos. –Elesrealmentesabemdascoisas.
–Elessósabemcoisasespalhafatosasquenãotêmrealutilidadeparaninguém–disseHermionedepreciando.–Nãotêmrealutilidade?–disseRonyemtomtenso.–Hermione,elesjáganharamunsvinteeseis
galeões!Levoumuito tempoparaoajuntamentoemvoltadosgêmeosWeasleysedispersar,depoisFred,
Lino e Jorge ficaram acordados, ainda um bom tempo, contando o dinheiro, por isso já passavamuitodameia-noitequandoHarry,RonyeHermioneconseguiramficarsozinhosnasalacomunal.Finalmente,Fredfechouaportaparaosdormitóriosdosmeninos,sacudindosuacaixadegaleões,comestardalhaço,paraverHermioneamarraracara.Harry,quefizerapouquíssimoprogressocomo trabalho de Poções, decidiu parar por aquela noite. Ao guardar os livros, Rony, que tirava umcochilonapoltrona,deuumroncoabafado,acordoueolhoucomavistaaindaturvaparaalareira.–Sirius!–exclamou.Harryseviroudepressa.OrostoeacabeleiranegraedesgrenhadadeSiriuspairavamnaschamas.–Oi–saudou-ossorridente.–Oi–responderamHarry,RonyeHermioneemcoro,eseajoelharamnotapetediantedalareira.
Bichentoronronoualtoechegoupertodofogo,tentando,apesardocalor,aproximarofocinhodeSirius.–Comovãoascoisas?–Nãomuito boas – respondeuHarry, enquantoHermione afastavaBichento, para impedi-lo de
chamuscarosbigodes.–OMinistérionosimpôsmaisumdecreto,oquesignificaquenãopodemosterequipesdequadribol...–NemgrupossecretosdeDefesaContraasArtesdasTrevas?–perguntouSirius.Houveumabrevepausa.–Comoéquevocêsoube?–indagouHarry.–Vocês precisamescolher commais cuidadoo local onde se reúnem–disseSirius, dandoum
sorrisoaindamaior.–LogooCabeçadeJavali,eulhepergunto?– Bom, era melhor do que o Três Vassouras – disse Hermione defensivamente. – Está sempre
lotado...–Oquesignificaqueseriamaisdifícilouvirvocês–disseSirius.–Vocêtemmuitoqueaprender,
Hermione.–Quemnosouviu?–perguntouHarry.–Mundungo,éclaro.–Equandotodosfizeramcaradeespanto,eledeuumarisada.–Eraabruxa
devéu.–AquelaeraMundungo?!–exclamouHarryatordoado.–QueéqueeleestavafazendonoCabeça
deJavali?–Queéquevocêachaqueeleestavafazendo?–perguntouSiriusimpaciente.–Vigiandovocê,é
claro.–Eucontinuosendoseguido?–indagouHarry,aborrecido.–Continua,sim,eaindabem,nãoé,seaprimeiracoisaquevocêfaznofimdesemanadefolgaé
organizarumgrupoilegaldeDefesa!Maselenãopareciazangadonempreocupado.Pelocontrário,olhavaHarrycomvisívelorgulho.– Por que Dunga estava se escondendo da gente? – perguntou Rony, desapontado. – Teríamos
gostadoderevê-lo.–ElefoiexpulsodoCabeçadeJavalihávinteanos–disseSirius–,eobarmantemboamemória.
Perdemos a Capa da Invisibilidade sobressalente de Moody quando Estúrgio foi preso, entãoultimamenteoDungatemsevestidomuitasvezesdebruxa...emtodoocaso...primeiro,Rony,jureilhepassarumrecadodesuamãe.
–Foi?!–exclamouRony,apreensivo.–Elamandadizerqueemhipótesealgumavocêdevetomarparteemumgruposecretoeilegalde
DefesaContraasArtesdasTrevas.Mandadizerque,semamenordúvida,vocêseráexpulsoeoseufuturo arruinado. Ela manda dizer que mais tarde haverá muito tempo para você aprender a sedefender e que ainda é muito criança para estar se preocupando com isso agora. Ela tambémaconselha – (os olhos de Sirius se voltaram para os outros dois) – Harry e Hermione a nãocontinuarem com o grupo, embora reconheça que não tem autoridade alguma sobre nenhum dosdois,esimplesmentesuplicaqueselembremdequeelaquerobemdeambos.Elateriaescritotudoisso,mas,seacorujafosseinterceptada,vocêsestariamrealmenteenrascados,enãopôdevirfalarpessoalmenteporqueestádeserviçohojeànoite.–Comodeserviçohojeànoite?–perguntouRonydepressa.–Nãosepreocupe,coisasdaOrdem–disseSirius.–Porissofiqueisendoomensageiro,nãose
esqueçadedizeraelaquetransmitiamensagemcompleta,porqueachoqueelanãoconfiaemmim.HouvemaisumapausaemqueBichento,miando,tentoualcançaracabeçadeSiriuscomapata,e
Ronybrincoucomumburaconotapete.–Então, você quer que eu diga que nãovou tomar parte no grupodeDefesa? –murmurou ele
finalmente.– Eu? Com certeza que não! – exclamou Sirius fazendo uma cara surpresa. – Acho uma ideia
excelente!–Achamesmo?–disseHarry,sentindoopeitoaliviado.–Claroquesim!Vocêachaqueseupaieeuteríamosbaixadoacabeçaeaceitadoordensdeuma
megeravelhacomoaUmbridge?–Mas...noperíodopassadovocêsófezmedizerparatercuidadoenãocorrerriscos...–Noanopassado, todosos indíciosmostravamquealguémdentrodeHogwartsestava tentando
matarvocê,Harry!–disseSiriusimpaciente.–Esteano,sabemosquetemalguémforadeHogwartsque gostaria de matar todos nós, por isso acho que aprender a se defender corretamente é umaexcelenteideia!–Eseformosexpulsos?–perguntouHermione,comumaexpressãointrigadanorosto.–Mas,Hermione,essahistóriatodafoiideiasua!–exclamouHarryolhandoparaaamiga.–Euseiquefoi.EusóqueriasaberaopiniãodeSirius–disseelasacudindoosombros.–Bom,émelhorserexpulsoecapazdesedefenderdoquesesentaremsegurançanaescolasem
terideiadenada.–Apoiado,apoiado!–exclamaramHarryeRonyentusiasticamente.–Então,comoéquevocêsestãoorganizandoogrupo?Ondevãoseencontrar?–Bom,issoéumprobleminha–disseHarry.–Nãoseiondevamospodernosencontrar.–QuetalaCasadosGritos?–sugeriuSirius.–Ei, seria ideal!–exclamouRony,excitado,masHermionemanifestou seuceticismo,eos três
olharamparaela,acabeçadeSiriusgirandonaschamas.–Bom,Sirius,équevocêseramsóquatroaseencontrarnaCasadosGritosquandoestavamna
escola–comentouHermione–,etodoseramcapazesdesetransformaremanimaisesuponhoquepudessemseespremerembaixodeumaúnicaCapadaInvisibilidade,sequisessem.Masnóssomosvinteeoitoenenhuméanimago,por isso iríamosprecisarnãodeumacapa,masdeum toldodainvisibilidade...–Umbomargumento–disseSirius,parecendo ligeiramentedesapontado.–Bom, tenhocerteza
que vocês vão arranjar algum lugar. Costumava haver uma passagem secreta bem espaçosa atrásdaquele espelho grande no quarto andar, talvez vocês tivessem bastante espaço para praticarazaraçõesali.
–FredeJorgemedisseramquefoibloqueada–disseHarry,balançandoacabeça.–Ruiuoucoisaassim.–Ah...–disseSirius,enrugandoatesta.–Bom,tereidepensarevoltar...Eleparoudefalar.Seurostotornou-sederepentetenso.Virou-sedelado,parecendoolharparaa
paredesólidadalareira.–Sirius?–chamouHarryansioso.Maseledesaparecera.Harryficouolhandoboquiabertoparaaschamasporuminstante,depoisse
voltouparaRonyeHermione.–Porqueserá...?Hermionesoltouumaexclamaçãodehorroreficouempédeumpulo,aindafixandoofogo.Apareceraumamãoentreaschamas,tateandocomosequisesseagarraralgumacoisa:umamão
gorduchadededoscurtos,cobertadeanéisfeioseantiquados.Os três saíramcorrendo.Àportadodormitóriodosmeninos,Harryolhoupara trás.Amãode
Umbridgeaindagesticulavaentreaschamas,comosesoubesseexatamenteondeestiveramomentosantesacabeleiradeSirius,econtinuavadecididaaagarrá-la.
—CAPÍTULODEZOITO—AArmadadeDumbledore
–Umbridge anda lendo suas cartas,Harry.Não há outra explicação. –Você acha queUmbridgeatacouEdwiges?–perguntouele,indignado.–Tenhoquasecerteza–disseHermione,séria.–Cuidado,oseusapoestáfugindo.Harryapontouavarinhaparaosapoqueestavasaltando,esperançoso,emdireçãoàoutrapontada
mesa:–Accio!–Eobichovoouacabrunhadoparaamãodele.Feitiços era uma dasmelhores aulas para se bater umpapinho particular; emgeral, havia tanto
movimentoeatividadequeoperigodeserouvidoeramínimo.Hoje,comasalacheiadesaposacoaxar e corvos a crocitar, além de um aguaceiro que bateu com força nas vidraças da sala, aconversadeHarry,RonyeHermione,aoscochichos,sobreoquasesucessodeUmbridgeemagarrarSirius,passoudespercebida.–AndosuspeitandodesdequeFilchacusouvocêde ter encomendadoBombasdeBosta,porque
acheiaquiloumamentiramuitoidiota–murmurouHermione.–Querodizer,umavezquesuacartafosse lida, teria ficadomuito claro que vocênão estava encomendando nada, então estava limpo:seria uma piada meio sem graça, não acha não? Então pensei: e se alguém quisesse apenas umadesculpaparalersuascartas?Bom,entãoteriasidoumasaídaperfeitaparaaUmbridgefazerisso...davaadicaaFilch,deixava-ofazerotrabalhosujodeconfiscaracarta,então,ouarranjavaumjeitode roubaracartadeleouexigiavê-la...achoqueFilchnão teria feitoobjeção.Quandofoiqueelelevantouavozparadefenderodireitodeumestudante?Harry,vocêestáesganandoseusapo.Harryolhouparabaixo;estavade fatoapertandoosapocomtanta forçaqueosolhosdobicho
saltavamdasórbitas;eleorepôsimediatamentenamesa.–Ontemànoitefoiporumtriz–disseHermione.–FicoimaginandoseaUmbridgesabecomo
chegouperto.Silencio!OsapoemqueelaestavapraticandooFeitiçoSilenciadorficoumudonomeiodeumacoaxada,e
lhelançouumolhardecensura.–SeelativesseapanhadooSnuffles...Harryterminouafrasepelaamiga.– ... Ele provavelmente estaria de volta a Azkaban hoje pelamanhã. – E acenou a varinha sem
realmenteseconcentrar;seusapoinchoucomoumbalãoverde,eemitiuumsilvoagudo.–Silencio! – ordenouHermione apontando depressa sua varinha para o sapo de Harry, que se
esvaziousilenciosamentediantedosolhosdeles.–Bom,elenãodeviatentardenovo,ésóisso.Sónãoseiécomovamosavisá-lo.Nãopodemoslhemandarumacoruja.–Achoqueelenãosearriscariaoutravez–comentouRony.–Siriusnãoéburro, sabequeela
quaseopegou.Silencio!Oenormeefeiocorvodiantedelesoltouumcrocitodebochado.–Silencio!SILENCIO!Ocorvocrocitouaindamaisalto.–Éomodocomovocêestáusandosuavarinha–disseHermione,observandoRonycriticamente.
–Vocênãoquerfazerumaceno,émaisumaestocada.–Oscorvossãomaisdifíceisdoqueossapos–retrucouRony,irritado.– Ótimo, vamos trocar – disse Hermione, apanhando o corvo de Rony e substituindo-o pelo
própriosapogordo.–Silencio!–Ocorvocontinuouaabrirefecharobicoafiado,masnãoemitiusomalgum.–Muitobem,Srta.Granger!–exclamouavozfraquinhadoProf.Flitwick,sobressaltandoHarry,
RonyeHermione.–Agora,deixe-meverosenhorexperimentar,Sr.Weasley.–Qu..?Ah...sim,senhor–disseRony,muitoatrapalhado.–Hum...Silencio!Eledeuumaestocadatãofortenosapoqueoespetounoolho:osapodeuumcrocitoensurdecedor
esaltouforadamesa.Ninguém se surpreendeu que Harry e Rony tivessem recebido ordem de praticar o Feitiço
Silenciadorcomodeverdecasa.Osalunostiverampermissãoparacontinuarnointeriordaescoladuranteointervalo,porforçado
temporalquedesabavaláfora.Elesencontraramumlugarparasentaremumasalabarulhentaecheiano primeiro andar, onde Pirraça flutuava, como se sonhasse, próximo ao lustre, soprando, aintervalos, uma pelota de tinta na cabeça de alguém. Nem bem haviam sentado quando Angelinaapareceu,tentandopassarpelosgruposdeestudantesqueconversavam,paraseaproximardeles.–Conseguimosapermissão!–anunciou.–Parareorganizaraequipedequadribol!–Ótimo!–disseramRonyeHarryjuntos.–Nãoé?–disseAngelina radiante.–FuiàMcGonagalleacho queeladeve ter apeladoparao
Dumbledore.Emtodoocaso,aUmbridge tevedeceder.Ah!Então,querovocêsnocampoàssetehorashojeànoite,estábem?Precisamosrecuperarotempoperdido.Vocêstêmconsciênciadequefaltamsótrêssemanasparaonossoprimeirojogo?Angelinaseafastou,seespremendoentreoscolegas,escapouporumtrizdeumapelotadetintade
Pirraça,queacabouatingindoumcalouropróximo,edesapareceudevista.OsorrisodeRonyesmoreceuumpoucoaoespiarpelajanela,queagoraestavaopacatalovolume
dechuvaquecaía.–Esperoqueachuvapasse.Queéquevocêtem,Hermione?Ela também estava olhando para a janela, mas não parecia que realmente a visse. Seus olhos
estavamdesfocadosehaviarugasemsuatesta.–Estavasópensando...–respondeu,enrugandoatestaparaajanelalavadadechuva.–EmSiri...Snuffles?–perguntouHarry.–Não...nãoébemnele...–disseHermionelentamente.–Estoumaismequestionando...Suponho
queagenteestejafazendoacoisacerta...acho...nãoestá?HarryeRonyseentreolharam.–Bom,issoesclarecetudo–disseRony.–Teriasidomuitochatosevocênãotivesseseexplicado
comclareza.HermioneolhouparaRonycomoseacabassedeperceberqueeleestavapresente.– Eu estava pensando – disse com a vozmais forte agora – se estamos fazendo a coisa certa,
criandoessegrupodeDefesaContraasArtesdasTrevas.–Hermione,aideiafoisua,paracomeçar!–lembrouRony,indignado.–Eusei–disseela,torcendoosdedos.–MasdepoisdefalarcomSnuffles...–Maseleécompletamenteafavor–retorquiuHarry.–Eusei–disseHermione,voltandoacontemplarajanela.–Foiissoquemefezpensarquetalvez
nãosejaumaboaideia...Pirraçaflutuavaporcimadelesdebarrigaparabaixo,apelotapreparada;automaticamente,ostrês
ergueramasmochilasparaprotegeracabeçaatéelepassar.
–Vamosentenderbemisso–disseHarry,aborrecido,quandorepuseramasmochilasnochão.–Siriusconcordaconosco,entãovocêachaquenãodevemosprosseguir?Hermionepareceutensaebastanteinfeliz.Olhandoparaasprópriasmãos,disse:–Sinceramente,vocêconfianojulgamentodele?–Confio!–respondeuHarrynamesmahora.–Elesemprenosdeuótimosconselhos!Umapelotade tintapassouvoandopelos trêseatingiuKatieBellemcheionaorelha.Hermione
observouCátiaselevantardepressaecomeçaraatirarcoisasemPirraça;passou-sealgumtempoatéHermionerecomeçarafalar,epareciaestarescolhendoaspalavrascommuitocuidado.– Você não acha que ele ficou... assim meio... irresponsável... desde que ficou preso no largo
Grimmauld?Vocênãoachaqueeleestá...assimmeioque...vivendoatravésdagente?–Queéquevocêquerdizercom“vivendoatravésdagente”?–retorquiuHarry.–Quero dizer... bom, acho que ele adoraria estar formando sociedades secretas deDefesa bem
embaixodonarizdealguémdoMinistério...achoqueestárealmentefrustradocomopoucoquepodefazerondeestá...entãoachoqueestámeioque...nosinstigando.Ronypareciaabsolutamenteperplexo.–Siriustemrazão,vocêfalaigualzinhoàminhamãe.Hermionemordeu o lábio e não respondeu.A sineta tocou na hora em que Pirraçamergulhou
sobreCátiaedespejouumtinteirocheionacabeçadela.
O temponãomelhorouatéo fimdodia,demodoqueàssetehoras,àquelanoite,quandoHarryeRonydesceramparaotreinonocampodequadribol,ficaramencharcadosempoucosminutos,seuspés escorregavamna grama empapada.O céu estava um cinzento escuro e tempestuoso, e foi umalívioreceberocalorealuzdosvestiários,mesmosabendoqueatréguaseriaapenastemporária.JáencontraramFredeJorgedebatendosedeveriamusarumdosseusprópriosdocesMata-Aulaparafugiraotreino.–...masapostocomoelasaberiaoquefizemos–disseFredpelocantodaboca.–Seaomenoseu
nãotivesseoferecidoumaVomitilhaaelaontem.–PoderíamostentaroFebricolate–murmurouJorge–,ninguémviuainda...– Funciona? – indagou Rony esperançoso, quando as marteladas da chuva no telhado se
intensificarameoventouivouaoredordoprédio.–Bom,funciona–disseFred–,suatemperaturasubirianahora.–Masvocê tambémganhariaunsenormesfurúnculoscheiosdepus–explicouJorge–,eainda
nãodescobrimoscomonoslivrardeles.–Nãoestouvendonenhumfurúnculo–disseRonyolhandobemparaosgêmeos.–Não,bem,vocênãoveria–disseFred sinistramente–, elesnão saemem lugaresqueagente
normalmenteexpõeaopúblico.–Masmontaremumavassouraliteralmentepelao...–Muitobem,escutemtodos–disseAngelinaemvozalta,saindodasaladocapitão.–Seiqueo
tempo não está ideal, mas há uma possibilidade de precisarmos jogar contra a Sonserina emcondiçõesmuitoparecidas,entãoéumaboaideiadescobrircomovamosenfrentá-los.Harry,vocênãofezalgumacoisacomosseusóculosparaelesnãoembaçaremnachuvaquandojogamoscontraaLufa-Lufanaqueletemporal?–FoiaHermionequefez–disseHarry.Elepuxouavarinha,deuumtoquenosóculoseordenou:
–Impervius!–Acho que devíamos experimentar isso – disseAngelina. – Se aomenos pudéssemos deixar a
chuvaforadorosto,melhorariarealmenteanossavisibilidade,então todos juntos:Impervius!O.k.Vamos!
Todos guardaram as varinhas no bolso interno das vestes, puseram a vassoura ao ombro eseguiramAngelinaparaforadosvestiários.Eleschapinharampelalamacadavezmaisfundaatéomeiodocampo;avisibilidadecontinuava
muito ruimmesmo comoFeitiço para Impermeabilizar; a claridade ia desaparecendodepressa, everdadeirascortinasdechuvavarriamosterrenosdaescola.–Muitobem,quandoeuapitar–gritouAngelina.Harrydeuimpulsodochão,espalhandolamaemtodasasdireções,edisparouparaoalto,como
vento a desviá-lo ligeiramente do rumo. Ele não fazia ideia de como ia ver o pomo com aqueletempo;jáestavatendobastantedificuldadeemveroúnicobalaçocomqueestavampraticando;comapenasumminutodetreino,abolaquaseodesmontoueeleprecisouusaroGirodaPreguiçaparaevitá-la.InfelizmenteAngelinanãoviu.Naverdade,elanãopareciacapazdevernada;nenhumdelestinha a menor ideia do que o outro estava fazendo. O vento aumentava; mesmo àquela distância,Harrypodiaouviroruídodachuvacastigandoasuperfíciedolago.Angelinamanteve o treino por quase uma hora antes de se declarar derrotada. Levou a equipe,
molhada e desolada, de volta aos vestiários, insistindo que o treino não fora um desperdício detempo,emborasemconvicçãonavoz.FredeJorgeestavamcomumarparticularmentechateado;osdois tinhamaspernasarqueadase faziamcaretasacadamovimento.Harryosouvia reclamar, emvozbaixa,enquantoenxugavaocabelo.–Achoquealgunsdosmeusseromperam–disseFredcomavozcava.– Osmeus não – disse Jorge, fazendo uma careta. – Estão latejando pra caramba... parece que
incharam.–AI!–gritouHarry.Ele comprimiu o rosto com a toalha, seus olhos contraídos de dor. Sentira a cicatriz na testa
queimarintensaedolorosamente,comonãosentiahaviasemanas.–Quefoi?–perguntaramváriasvozes.Harrysaiudetrásdatoalha;viuovestiárioborradoporquenãoestavausandoóculos,mas,ainda
assim,percebiaqueosrostosdetodossevoltavamparaele.–Nada–murmurou–,enfieiodedonoolho,foisó.Mas lançou a Rony um olhar expressivo e os dois se deixaram ficar para trás, quando os
companheirosdeequipesaíram,umaum,bemagasalhadosemsuascapas,oschapéusenterradosnacabeçaparacobrirasorelhas.–Queaconteceu?–perguntouRony,nomomentoemqueAlíciadesapareceupelaporta.–Foia
cicatriz?Harryconcordoucomacabeça.–Mas...–Apavorado,Ronyfoiatéajanelaeolhouparaachuvaláfora–ele...elenãopodeestar
pertodagenteagora,pode?–Não–murmurouHarry,afundandoemumbancoeesfregandoa testa.–Provavelmenteestáa
quilômetrosdedistância.Doeuporqueeleestácomraiva.Harry não pretendera dizer aquilo, e, aos seus ouvidos, as palavras pareceram ter sido
pronunciadas por um estranho – contudo, percebeu imediatamente que eram verdadeiras. Ele nãosabia como sabia, mas o fato é que sabia; Voldemort, onde quer que estivesse, o que quer queestivessefazendo,estavaenfurecido.–Vocêviu?–perguntouRony,horrorizado.–Vocêteveumavisão,oucoisaparecida?Harry ficoumuito quieto, olhando para os pés, deixando suamente e sua lembrança relaxarem
depoisdador.Umemaranhadoconfusodeformas,umclamordevozes...–Elequerveralgumacoisaconcluída,masistonãoestáacontecendonavelocidadequeelequer.
Novamente,surpreendeu-seaoouviraspalavrassaindo-lhedaboca,mastinhaplenacertezadequeeramverdadeiras.–Mas...comoéquevocêsabe?–perguntouRony.Harry sacudiu a cabeça e cobriu os olhos com as mãos, comprimindo-os com as palmas.
Explodiram estrelinhas. Sentiu Rony se sentar no banco ao lado dele e percebeu que o amigo oobservava.– Foi isso que aconteceu da outra vez? – perguntouRony num sussurro. –Quando sua cicatriz
doeunasaladaUmbridge?Você-Sabe-Quemestavazangado?Harrysacudiuacabeça.–Quefoientão?Harry relembrou. Estava olhando para a cara daUmbridge... sua cicatriz doera... sentira aquela
coisaesquisitanoestômago...umasensaçãoestranhaesaltitante...umasensaçãodefelicidade...mas,naturalmente,elenãoareconhecerapeloqueera,poissesentira,atéaquelemomento,muitoinfeliz...–Daúltimavezfoiporqueeleestavasatisfeito.Realmentesatisfeito.Pensouque...iaaconteceruma
coisa boa. E na véspera de voltarmos paraHogwarts... –Harry lembrou domomento em que suacicatriz doera barbaramente, no quarto que dividia com Rony, no largo Grimmauld – ele estavafurioso...ElesevirouparaRony,queoolhavaboquiaberto.–VocêpodiasubstituirTrelawney,cara–disseoamigoassombrado.–Nãoestoufazendoprofecias.– Não, você sabe o que você está fazendo? – perguntou Rony, ao mesmo tempo temeroso e
impressionado.–Harry,vocêestálendoamentedeVocê-Sabe-Quem!– Não – disse Harry, sacudindo a cabeça. – É mais o que ele está sentindo, suponho. Estou
recebendoimagensdossentimentosdele.Dumbledorefalouqueumacoisaassimestavaacontecendonoanopassado.DissequequandoVoldemortseaproximavademim,ouquandosentiaódio,eusabia.Bom,agoraeuestousentindoquandoelesealegratambém...Houveumapausa.Oventoeachuvaaçoitavamoprédio.–Vocêtemdecontarissoparaalguém–disseRony.–ConteiaoSiriusdaúltimavez.–Bom,entãocontedestavez!–Nãoposso,posso?–disseHarrydeprimido.–Umbridgeestávigiandoascorujaseaslareiras,
lembra?–Bom,entãoaoDumbledore.–Acabeidedizerqueelejásabe–respondeuHarrycomrispidez,levantando-se,apanhandoacapa
nocabideeseembrulhandonela.–Nãoadiantafalaroutravez.Ronyfechouaprópriacapa,observandoHarry,pensativo.–Dumbledoreiagostardesaber.Harrysacudiuosombros.–Andalogo...aindatemosdepraticaroFeitiçoSilenciador.Eles voltaram apressados pelo terreno escuro, escorregando e tropeçando nos gramados
lamacentos,emsilêncio.Harrynãoparavadepensar.QueéqueVoldemortqueriaquefossefeitoequenãoestavamfazendocomsuficienterapidez?“...eletemoutrosplanos...planosquepodeexecutarrealmentenasurdina...coisasquepodeobter
furtivamente...comoumaarma.Algoqueelenãopossuíadaúltimavez.”Harrynãopensavanessaspalavrashaviasemanas;estiverapordemaisabsortonoqueacontecia
emHogwarts,pordemaisocupadonasbatalhascomaUmbridge,nainjustiçadetodaainterferênciadoMinistério...masagoraelasvoltavamàsualembrançaeofaziampensar...AcóleradeVoldemort
fariasentidoseelenãoestivessemaispertodepôrasmãosnaarma,qualquerquefosse.SeráqueaOrdemofrustrara,oimpediradeobtê-la?Ondeaguardavam?Napossedequemestariaagora?–Mimbulusmimbletonia – disse a voz de Rony, e Harry voltou à realidade bem em tempo de
passarpeloburacodoretrato.Pelovisto,Hermioneforasedeitarcedo,deixandoBichentoenroscadoemumapoltronapróxima
eumavariedadedegorrosparaelfos,feitosemmalhacombolinhasemrelevo,sobreamesajuntoàlareira.Harry ficou contente que a amiganão estivesse ali, pois não estava commuita vontadedediscutiradornacicatrizedeouvi-lainsistir,também,queeledeviaprocurarDumbledore.Ronynãoparava de lhe lançar olhares ansiosos, mas Harry apanhou os livros de Feitiços e se aplicou emterminarotrabalho,embora,comosóestivessefingindoseconcentrar,quandoRonyanunciouqueiadormir,eleaindanãoescreveramuitacoisa.A meia-noite chegou e se foi enquanto Harry lia e relia o trecho sobre os usos da cocleária,
ligústicaedobotão-de-prata,sementenderumaúnicapalavra.Estasprantas sonmas efficacespara enframaro cellebro e, por tanto,muntouzadas emPoçans
paraConfondereEntontecer,coamdoelbruxodezejaproduzirquemturaenacabezaeinquyetaçon......HermionedissequeSiriusestavasetornandoirresponsável,confinadonolargoGrimmauld......masefficacesparaenframarocellebroe,portanto,muntouzadas......oProfetaDiário achariaque seucérebro estava inflamado sedescobrisseque ele sabiaoque
Voldemortestavapensando......portanto,muntouzadasemPoçansparaConfondereEntontecer......apalavraeramesmoconfundir;porqueelesabiaoqueVoldemortestavasentindo?Queligação
esquisitaeraessaentreosdois,queDumbledorenuncaforacapazdeexplicarsatisfatoriamente?...coamdoelbruxodezeja......comoHarrygostariadedormir......dezejaproduzirquemturaenacabezaeinquyetaçon...... estavaquente e confortável napoltronadianteda lareira, a chuvaque continuava abater com
forçanasvidraças,Bichentoronronava,easchamasestalavam...OlivroescorregoudasmãosfrouxasdeHarryecaiucomumbaquesurdonotapetedalareira.A
cabeçadogarotorolouparaolado...Eleestavamaisumavezandandoporumcorredorsemjanelas,seuspassosecoavamnosilêncio.
Àmedidaqueaportanofimdocorredoriaparecendomaior,seucoraçãofoibatendomaisfortedeexcitação...seeleaomenospudesseabri-la...passarparaooutrolado...Esticouamão...aspontasdosdedosestavamapenasacentímetros...–HarryPotter,meusenhor!Eleacordousobressaltado.Asvelastodashaviamseapagadonasalacomunal,masalgumacoisa
semoviaaliperto.–Quemestáaí?–indagouHarry,sentando-seretonacadeira.Ofogoquaseseextinguira,asala
estavamuitoescura.–Dobbytrouxesuacoruja,meusenhor!–disseumavozesganiçada.–Dobby?–perguntouHarry,comavozengrolada,tentandoenxergar,noescurodasala,aorigem
davoz.Dobby, o elfodoméstico, estavaparado junto àmesa emqueHermionedeixarameiadúziados
gorros de tricô. Suas enormes orelhas pontudas espetavam para fora do que pareceu a Harry acoleçãodegorrosqueHermione tricotaraatéali;eleusavaunssobreosoutros,demodoquesuacabeçapareciateralongadomaisdemeiometro,e,bemnotopodoúltimo,vinhaEdwiges,piandocomserenidadeeobviamentecurada.–DobbyseofereceuparadevolveracorujadeHarryPotter–disseoelfo,comsuavozfinaeuma
expressão de inegável adoração no rosto. – A Profa Grubbly-Plank diz que está completamentecurada,meusenhor.–Elefezumareverênciatãoprofundaqueseunarizfinocomoumlápisroçouasuperfíciepuídado tapeteda lareira,eEdwiges,soltandoumpio indignado,voouparaobraçodapoltronadeHarry.– Obrigado, Dobby! – disse Harry, acariciando a cabeça de Edwiges e piscando com força,
procurando se livrar da imagemdaporta em seu sonho... foramuitovívido.Voltando sua atençãoparaDobby,ele reparouqueoelfo tambémestavausandovárioscachecóise incontáveisparesdemeia,demodoqueseuspéspareciamdemasiadograndesparaoseucorpo.–Hum...vocêtemrecolhidotodasasroupasqueHermionedeixanasala?–Ah,não,meusenhor–disseDobbyfeliz.–DobbytemlevadoalgumasparaWinkytambém,meu
senhor.–Sei,comovaiaWinky?Asorelhasdoelfobaixaramligeiramente.– Winky continua bebendo muito, meu senhor – disse ele triste, seus enormes olhos verdes,
grandesfeitobolasdetênis,baixos.–Elacontinuaanãoligarpararoupas,HarryPotter.Osoutroselfosdomésticos tambémnão.Nenhumdelesquermais limparaTorredaGrifinória,nãocomosgorros e meias escondidos por toda parte, acham isso insultante, meu senhor. Dobby limpa tudosozinho,meusenhor,masDobbynãoseimporta,porquesempretemesperançadeencontrarHarryPottere,hojeànoite,meusenhor,elerealizouestedesejo!–Dobbytornouamergulharatéochãoem nova reverência. –Mas Harry Potter não parece feliz – disse o elfo, se erguendo e olhandotimidamenteparaogaroto.–Dobbyoouviu resmungarduranteo sono.HarryPotterestava tendopesadelos?–Nãoeramrealmentepesadelos–disseHarry,bocejandoeesfregandoosolhos.–Játivesonhos
piores.OelfoexaminouHarrycomseusgrandesglobos.Entãodissemuitosério,baixandoasorelhas:–Dobbygostaria de poder ajudarHarryPotter, porqueHarryPotter libertouDobby eDobby é
muito,masmuitomaisfelizagora.Harrysorriu.–Vocênãopodemeajudar,Dobby,masobrigadopelooferecimento.Harryseinclinoueapanhouolivrodefeitiços.Teriadetentarconcluirotrabalhonodiaseguinte.
Aofecharolivro,aluzdaschamasiluminouasfinascicatrizesnascostasdesuamão–oresultadodesuasdetençõescomaUmbridge...–Espereuminstante,temumacoisaquevocêpodefazerpormim,Dobby–disselentamente.Oelfoolhouaoredor,radiante.–Diz,HarryPotter,meusenhor!–PrecisoencontrarumlugarondevinteeoitopessoaspossampraticarDefesaContraasArtesdas
Trevassemseremdescobertaspornenhumdosprofessores.Principalmente–Harryapertouolivroqueseguravademodoqueascicatrizesbrilharambrancascomopérolas–,aProfaUmbridge.Ele esperou que o sorriso do elfo fosse desaparecer, suas orelhas caírem; esperou que Dobby
dissessequeeraimpossível,ouentãoquetentariaencontrar,masnãotinhagrandesesperanças.Oquenãoesperavaéqueoelfofossedarumsaltinho,abanaralegrementeasorelhasebaterpalmas.–Dobbyconheceolugarperfeito,meusenhor!–dissesatisfeito.–Dobbyouviuosoutroselfos
falaremquandochegouaHogwarts.NósoconhecemoscomonomedeSalaVemeVai,meusenhor,ouentãoaSalaPrecisa.–Porquê?–perguntouHarry,curioso.– Porque é uma sala em que a pessoa só pode entrar – disse Dobby, sério – quando tem real
necessidade dela. Às vezes existe, às vezes não, mas quando aparece está sempre equipada para
atenderànecessidadedequemaprocura.Dobbyjáausou,meusenhor–disseoelfo,baixandoavozcomcaradeculpa–,quandoWinkyestavamuitobêbada;eleaescondeunaSalaPrecisaeencontrouláantídotosparacervejaamanteigada,eumaboacamaparaelfos,ondedeitouWinkyatéelacurarabebedeira...eDobbysabequeoSr.Filchencontroulámateriaisdelimpezadereservaquandoacabouosquetinha,meusenhor,e...–Esevocêrealmenteprecisassedeumbanheiro–perguntouHarryderepente,lembrando-sede
umcomentárioqueDumbledorefizeranoBailedeInvernonoNatalanterior–,asalaseencheriadepenicos?–Dobbyimaginaquesim,meusenhor–disseele,concordandovigorosamentecomacabeça.–É
umasalafantástica,meusenhor.–Quantas pessoas sabem que ela existe? – tornou a perguntar Harry, sentando-semais reto na
poltrona.–Muito poucas,meu senhor.Amaioria tropeça nela quando precisa,masmuitas vezes nunca a
encontraoutravez,porquenãosabequeelaestásemprelá,esperandosernecessária,meusenhor.–Parecegenial!–exclamouHarry,comocoraçãodisparando.–Pareceperfeita,Dobby.Quando
vocêpodememostrarondefica?–Quandoquiser,HarryPotter,meusenhor–disseDobby,parecendoencantadocomoentusiasmo
deHarry.–Podemosiragora,sequiser.PoruminstanteogarotosesentiutentadoaacompanharDobby.Jáiaselevantando,pensandoem
correr ao dormitório para apanhar a Capa da Invisibilidade quando uma voz que já ouvira antes,muitoparecidacomadeHermione,cochichouemseuouvido:irresponsável.Era,afinal,muitotarde,eeleestavaexausto.–Hojenão,Dobby–disseHarry, relutante, tornandoasesentar.– Istoé realmente importante...
Não quero estragar a oportunidade, vai precisar de planejamento. Escute, você pode me dizerexatamenteondeficaessatalSalaPrecisaecomosechegalá?
Asvestesdosgarotosseenfunavamegiravamemtornodocorpoenquantoeleschapinhavampelahortainundada,acaminhodaauladeHerbologia,ondemalseconseguiaouviroqueaProfaSproutdizia, talachuvaquebatiano tetodaestufa,comaforçadogranizo.Aaulada tardedeTratodasCriaturasMágicas ia ser transferida dos terrenos varridos pela tempestade para uma sala livre noandartérreo,e,paraintensoalíviodosgarotos,Angelinaprocuraraaequipenahoradoalmoçoparaavisarquecancelaraotreinodequadribol.–Que bom– disseHarry baixinho, ao ouvir a notícia –, porque encontramos um lugar para o
nossoprimeiroencontrodeDefesa.Hojeànoite,oitohoras,sétimoandar,emfrenteàquelatapeçariadoBarnabás, oAmalucado, sendo abatido a cacetadas pelos trasgos.Você pode avisar aCátia e aAlícia?Ela pareceu ligeiramente surpresa, mas prometeu avisar as outras. Harry, esfomeado, voltou a
atenção para o seu purê com salsichas. Quando ergueu os olhos para tomar um gole de suco deabóbora,viuHermioneobservando-o.–Quefoi?–perguntouguturalmente.–Bom... équenemsempreosplanosdeDobby são seguros.Nãoestá lembradoquandoele fez
vocêperdertodososossosdobraço?–EssasalanãoésóumaideiamalucadoDobby;Dumbledoreaconhecetambém,mefalounelano
BailedeInverno.AexpressãodeHermionesedesanuviou.–Dumbledorelhefaloudasala?–Depassagem.
–Ah,bom,então,tudobem–disseimediatamente,semfazermaisobjeções.AcompanhadosporRony,elesgastaramamaiorpartedodiaprocurandoaspessoasque tinham
assinadoa listanoCabeçadeJavali,paraavisarondeseencontrariamàquelanoite.ParaumcertodesapontamentodeHarry,foiGinaquemconseguiuencontrarChoChangeaamigaprimeiro;mas,atéo fimdo jantar, ogaroto estava confiantedeque anotícia forapassada a cadaumdosvinte ecincocolegasquehaviamaparecidonoCabeçadeJavali.Àsseteemeia,Harry,RonyeHermionedeixaramasalacomunaldaGrifinória,Harrysegurando
umcertopergaminhoantigo.Osquintanistas tinhampermissãoparacircularnoscorredoresatéàsnovehoras,masostrêsnãoparavamdeolharparaolado,nervosos,aosedirigiraosétimoandar.–Guentaaí–pediuHarry,desdobrandoopergaminhonoaltodaúltimaescada,batendonelecom
avarinhaemurmurando:–Jurosolenementequenãopretendofazernadadebom.Apareceu um mapa de Hogwarts na superfície do pergaminho em branco. Minúsculos pontos
negrossemoviamneleidentificadospornomes,mostrandoondeestavamasváriaspessoas.–Filchestánosegundoandar–disseHarrysegurandoomapapertodosolhos–,eMadameNor-
r-ra,noquartoandar.–EaUmbridge?–perguntouHermioneansiosa.–Nasaladela–respondeu,apontandoparaomapa.–O.k.,vamos.Ostrêssaíramapressadospelocorredor,atéolocalqueDobbydescrevera,umtrechodeparede
lisadefronteàenormetapeçariaretratandoainsensatatentativadeBarnabás,oAmalucado,ensinarbaléaostrasgos.–O.k.–disseHarryemvozbaixa,enquantoumtrasgoroídodetraçasfaziaumapausanogesto
contínuodedarcacetadasnafuturaprofessoradebaléparaobservá-los–,Dobbydisseparapassarporestetrechodeparedetrêsvezes,nosconcentrandomuitonoqueprecisamos.Os garotos assim fizeram, girando nos calcanhares ao chegar à janela pouco adiante da parede
vazia,eseguindoatéovasodotamanhodeumhomemnaoutraextremidade.Ronyapertouosolhoseseconcentrou;Hermionemurmuroualgumacoisa;ospunhosdeHarryestavamfechadosquandofixouoolharemfrente.Precisamosdeum lugarparaaprendera lutar... pensouele.Dê-nosum lugarparapraticar...um
lugaremquenãopossamnosencontrar...–Harry!–exclamouHermionecomvivacidade,aoretornaremdepoisdaterceirapassagem.Umaportamuito lustrosaapareceranaparede.Ronyficouolhandoumtantodesconfiado.Harry
estendeuamão, segurouamaçanetade latão,abriuaportae foioprimeiroaentraremumasalaespaçosa,iluminadacomarchotesbruxuleantescomoosqueiluminavamasmasmorrasoitoandaresabaixo.Asparedesestavamcobertasdeestantese,emlugardecadeiras,haviagrandesalmofadasdeseda
no chão. Um conjunto de prateleiras no fundo da sala continha uma série de instrumentos comoBisbilhoscópios,SensoresdeSegredoseumgrandeEspelho-de-Inimigosrachado,queHarrytinhacertezadetervistopendurado,noanoanterior,nasaladofalsoMoody.– Elas vão ser ótimas quando estivermos praticando Estuporamento – comentou Rony
entusiasmado,batendoemumadasalmofadascomopé.–Eolhemsóesseslivros!–exclamouHermioneexcitada,passandoumdedopelaslombadasde
grandes tomos encadernados em couro. Compêndio de feitiços comuns e seus contrafeitiços...Vencendoasartesdastrevaspelaastúcia...Feitiçosautodefensivos...uau...–ElaolhouparaHarry,orostoradiante,eeleviuqueapresençadecentenasdelivrosfinalmenteconvenceraHermionedequeoqueestavamfazendoeracerto.–Harry,quemaravilha,aquitemtudodequeprecisamos!E,semperdertempo,elapuxouAzaraçõesparaosazaradosdaprateleira,sentou-senaalmofada
maispróximaecomeçoualer.
Ouviram,então,umalevebatidanaporta.Harryolhouparaoslados.Gina,Neville,Lilá,ParvatieDinohaviamchegado.–Opa!–exclamouDino,correndoosolhospelasala,impressionado.–Quelugaréesse?Harry começou a explicar, mas, antes que terminasse, chegava mais gente, e ele precisava
recomeçarahistória.Quandofinalmentedeuoitohoras,todasasalmofadasestavamocupadas.Harryfoiatéaportaeexperimentouachavequehavianafechadura;elagiroucomumruídoconvincenteetodossecalaram,deolhosnele.HermionemarcoucuidadosamenteapáginadeAzaraçõesparaosazarados,epôsolivrodelado.– Bom – disse Harry, ligeiramente nervoso. – Esta foi a sala que encontramos para as aulas
práticasevocês...hum...obviamenteaacharamboa.–Éfantástica!–exclamouCho,eváriaspessoasmurmuraramemconcordância.–É estranho – disse Fred, examinando-a com a testa enrugada. –Uma vez nos escondemos do
Filchaqui,lembra,Jorge?Maserasóumarmáriodevassouras.– Ei, Harry, que é isso? – perguntouDino do fundo da sala, indicando os Bisbilhoscópios e o
Espelho-de-Inimigos.–Detectoresdebruxariadastrevas–disseHarrypassandoentreasalmofadasparaseaproximar.–
Basicamenteelesmostramquandobruxosdastrevasouinimigosestãoporperto,masvocênãopodeconfiarnelestotalmenteporquepodemserenganados...ElemirouporinstantesoEspelho-de-Inimigosrachado;haviavultosescurossemovendo,embora
nãodesseparareconhecernenhum.Deu,então,ascostasaoespelho.–Bom,estivepensandonotipodecoisaquedevíamosfazerprimeiroe...hum...–Elereparouque
haviaumamãoerguida.–Quefoi,Hermione?–Achoquedevemoselegerumlíder–disseela.–Harryéolíder–disseCho,olhandoparaHermionecomoseelativesseenlouquecido.OestômagodeHarrydeuumacambalhotaparatrás.–É,masachoquedevíamosvotarissocomodeveser–respondeuHermionesemseperturbar.–
Tornaacoisaformaledáaeleautoridade.Então:todosachamqueHarrydeveseronossolíder?Todosergueramasmãos,atémesmoZacariasSmith,emboraofizessedemávontade.–Hum...certo,obrigado–disseHarry,quesentiaorostoarder.–E...quefoiHermione?–Achotambémquedevemosterumnome–disseela,animada,amãoaindanoar.–Incentivariao
espíritodeequipeeaunião,queéquevocêsacham?–SeráquepodemosseraLigaAnti-Umbridge?–perguntouAngelina,esperançosa.–OuoGrupoMinistériodaMagiaSóTemRetardados?–sugeriuFred.–Euestivepensando–disseHermionefranzindoatestaparaFred–maisemumnomequenão
anunciasseatodoomundooquepretendemosfazer,demodoqueagentepossasereferiraogrupoforadasreuniõessemcorrerperigo.– A Associação de Defesa? – arriscou Cho. – A AD, para que ninguém saiba do que estamos
falando?–É,aADébom–concordouGina.–SóquedeviasignificaraArmadadeDumbledore,porqueo
maiormedodoMinistérioéumaforçaarmadadeDumbledore.Ouviram-seváriosmurmúriosdeagradoegargalhadasàsugestão.–TodosafavordaAD?–perguntouHermionecomumarautoritário,ajoelhando-senaalmofada
paracontar.–Háumamaioriaafavor...moçãoaprovada!Elaprendeuopergaminhocomasassinaturasde todosnaparedeeescreveuemcima,emletras
garrafais:
ARMADADEDUMBLEDORE
–Certo – disseHarry, quando voltou a se sentar –, vamos começar a praticar então?Eu estivepensando, devíamos começar peloExpelliarmus, sabem, o Feitiço para Desarmar. Sei que é bembásico,maseuoacheirealmenteútil...–Ah,cortaessa–disseZacarias,virandoosolhosparaoaltoecruzandoosbraços.–Nãoacho
queoExpelliarmusvánosajudaraenfrentarVocê-Sabe-Quem,vocêsacham?–Usei-ocontraele–disseHarrycalmamente.–Salvouminhavidaemjunho.Zacariasboquiabriu-sefeitobobo.Orestodasalaficoumuitosilenciosa.–Mas,sevocêachaquenãoestáàsuaaltura,podeseretirar.Ogarotonãosemexeu.Nemosdemais.–O.k.–disseHarry,abocaumpoucomaissecadoqueonormalaosentirtodososolharesnele.–
Achoquetodosdeviamsedividiremparesparapraticar.Era uma sensação estranha estar dando ordens,mas não tão estranha quanto vê-las obedecidas.
Todosselevantaramnamesmahoraesedividiram.Previsivelmente,Nevilleacabousempar.–Vocêpodepraticarcomigo–disse-lheHarry.–Certo...entãoquandoeucontartrês,então...um,
dois,três...A sala se encheu repentinamente de gritos de “Expelliarmus!”. Varinhas voaram em todas as
direções;osfeitiçossempontariaatingiramlivroseprateleiras,mandando-ospelosares.HarryerapordemaisrápidoparaNeville,cujavarinhasaiurodopiandodesuamão,bateunotetoemmeioaumachuvade faíscase caiucomestrépitoemcimadeumaprateleira,deondeHarrya recuperoucomumFeitiçoConvocatório.Olhandoàvolta,eleachouqueagirabemsugerindoquepraticassemprimeiroosfeitiçosbásicos;haviamuitofeitiçomalfeito;várioscolegasnãoestavamconseguindodesarmar os oponentes, meramente os faziam pular para trás ou fazer caretas quando os feitiçospassavamporcimadesuascabeças.–Expelliarmus! – exclamouNeville, eHarry, apanhado de surpresa, sentiu sua varinha voar da
mão. – CONSEGUI! – gritou Neville, cheio de alegria. – Eu nunca tinha feito isso antes...CONSEGUI!– Boa! – disse Harry, encorajando-o em lugar de lembrar que, em um duelo verdadeiro, seu
oponenteprovavelmentenãoestariaolhandonadireçãoopostacomavarinhapenduradaaoladodocorpo.–Escute,Neville,vocêpoderevezarcomoRonyeaHermioneporalgunsminutos,paraeupoderandarpelasalaevercomoosoutrosestãosevirando?Harry foi para omeio da sala. Alguma coisamuito estranha estava acontecendo com Zacarias
Smith.TodavezqueeleabriaabocaparadesarmarAntônioGoldstein,avarinhavoavadesuamão,mas Antônio não parecia estar emitindo som algum. Harry não precisou olhar muito longe parasolucionaromistério;FredeJorgeestavamaváriospassosdogarotoeserevezavamapontandoasvarinhasparaascostasdeZacarias.–Desculpe,Harry–apressou-seJorgeadizer,quandoseusolhosseencontraram.–Nãopudemos
resistir.Harryandouemvoltadospares,tentandocorrigirosqueestavamrealizandomalofeitiço.Gina
fazia dupla comMiguelCorner; estava se saindomuito bem, enquanto o namorado ou eramuitoruim ou não estava querendo enfeitiçá-la. Ernesto Macmillan acenava desnecessariamente com avarinha,dandoaoparceirotempoparasepôremguarda;osirmãosCreeveyagiamcomentusiasmo,mas sem pontaria, e eram os principais responsáveis pelos livros que saltavam das prateleiras aoredor;LunaLovegooderaigualmenteinstável,porvezesfaziaavarinhadeJustinoFinch-Fletchleysairrodopiandodamão,mas,emoutras,faziaapenasoscabelosdeleficaremempé.–O.k.,parar!–gritouHarry.–Parar!PARAR!
Preciso de um apito, pensou, e imediatamente localizou um em cima da fileira de livros maispróxima.Apanhou-oeapitoucomforça.Todosbaixaramasvarinhas.–Não foi nadamau – disseHarry –,mas decididamente hámargem paramelhorar. – Zacarias
amarrouacaraparaele.–Vamosexperimentaroutravez.Eletornouacircularpelasala,parandoaquiealiparafazersugestões.Lentamente,odesempenho
geralmelhorou.HarryevitouseaproximardeChoedaamigaporalgumtempo,mas,depoisdedarduasvoltaspelosoutrosparesdasala,sentiuquenãopodiacontinuaraignorá-las.–Ah, não! – exclamouCho um tanto alterada quando ele se aproximou. –Expelliarmious! Eu...
querodizerExpellimellius!,ah,desculpe,Marieta!Amangada amigade cabelos crespos pegara fogo;Marieta apagou-o comaprópria varinha e
amarrouacaraparaHarry,comosetivessesidoculpadele.–Vocêmedeixounervosa,euestavafazendotudodireitoantes!–disseChoaHarry,selastimando.–Foibastantebom–mentiuHarry,mas,quandoagarotaergueuassobrancelhas,eleacrescentou:
–Bom,não,foiumadroga,maseuseiquevocêsabefazerdireito,estiveobservandodelonge.Elariu.AamigaMarietaolhouparaosdoismeioazedaevirouascostas.–Nãoligueparaela–murmurouCho.–Narealidade,nãoqueriaestaraqui,maseuaobrigueia
vir.OspaisdelaaproibiramdefazerqualquercoisaquepossaaborreceraUmbridge.Vocêentende...amãedelatrabalhaparaoMinistério.–Eosseuspais?–perguntouHarry.–Bom,elesmeproibiramdedesagradaraUmbridge, também–disseCho,aprumandoocorpo
comorgulho.–MasseelesachamquenãovoucombaterVocê-Sabe-Quem,depoisdoqueaconteceucomoCedrico...Elasecalou,parecendoumtantoconfusa,eseguiu-seumsilêncioconstrangidoentreosdois;a
varinhadeTerênciopassouzunindopelaorelhadeHarryeatingiucomforçaonarizdeAlícia.–Bom,meupaidámuitoapoioaqualqueraçãoantiministério!–disseLuna,comorgulho,atrásde
Harry; evidentemente estivera escutando a conversa, enquanto Justino tentava se desembaraçar dasvestesquecobriamsuacabeça.–EleestásempredizendoqueacreditariaemqualquercoisasobreFudge; quero dizer, o número de duendes que Fudgemandou assassinar! E é claro que ele usa oDepartamentodeMistériosparadesenvolvervenenos terríveis,quesecretamentedáaqualquerumquediscordedele.EdepoistemoUmgubularSlashkilter...– Não pergunte – murmurou Harry para Cho quando ela abriu a boca, parecendo intrigada. A
garotariu.–Ei,Harry–chamouHermionedooutroextremodasala–,vocêviuquehorassão?Ele olhou para o relógio e se assustou ao ver que já eram nove e dez, o que significava que
precisavamvoltaràssuassalascomunaisimediatamenteousearriscaraserpunidosporFilchporestarforadaáreapermitida.Eleapitou;todospararamdegritar“Expelliarmus!”,eoúltimopardevarinhasbateunochão.–Bom, foi bastante bom– disseHarry –,mas passamos da hora, émelhor pararmos por aqui.
Mesmahora,mesmolugar,nasemanaquevem?–Antes!–pediuDino,ansioso,emuitosconcordaramcomacabeça.Angelina,porém,apressou-seadizer.–Atemporadadequadriboljávaicomeçar,asequipestambémprecisamtreinar!–Digamos,napróximaquartaànoite,então–sugeriuHarry–,aípodemosdecidirsequeremos
maisreuniões.Vamos,émelhorirandando.ElepuxouoMapadoMarotoeexaminou-o,cuidadosamente,procurandosinaldeprofessoresno
sétimoandar.Deixou,então,oscolegassaírememgruposdetrêsequatro,observandoospontinhos,ansiosamente,aversevoltavamemsegurançaaosseusdormitórios:osdaLufa-Lufanocorredordo
porão que também levava às cozinhas; os daCorvinal na torre do lado oeste do castelo; e os daGrifinórianocorredordoretratodaMulherGorda.–Foirealmentebom,realmentebom,Harry–disseHermione,quandofinalmenterestaramapenas
ela,eleeRony.–É,foimesmo!–disseRonyentusiasmado,quandopassarampelaportaeaviramseconfundir
comapedraàscostasdeles.–VocêmeviudesarmandoaHermione,Harry?–Sóumavez–disseHermionemordida.–Pegueivocêmuitomaisvezesdoquevocêmepegou...–Eunãopegueivocêsóumavez,forampelomenostrês...–Bom,sevocêestácontandoavezemquetropeçounospésederrubouavarinhadaminhamão...Elesdiscutiramtodoocaminhodevoltaàsalacomunal,masHarrynãoestavaouvindo.Tinhaum
olhonoMapadoMaroto,epensavatambémemChodizendoqueeleadeixavanervosa.
—CAPÍTULODEZENOVE—OLeãoeaCobra
Harryteveasensaçãodequeestavacarregandoumaespéciedetalismãnopeito,nasduassemanasseguintes, um segredo luminoso que o ajudou a suportar as aulas de Umbridge e até tornou-lhepossível sorrir insossamente ao encarar os olhos horríveis e saltados da professora. Ele e a ADestavamresistindodebaixodonarizdela, fazendoexatamenteoqueUmbridgeeoMinistériomaistemiam, e sempre que devia estar lendo o livro de Wilberto Slinkhard, durante as aulas, ele seregalava com as agradáveis lembranças das reuniões mais recentes, revendo como Nevilleconseguira desarmar Hermione, como Cólin dominara a Azaração de Impedimento depois de seesforçartrêsreuniõesseguidas,comoParvatiexecutaraumFeitiçoRedutorcomtantaperfeiçãoquereduziraapóamesaemqueestavamosbisbilhoscópios.EleestavaachandoquaseimpossívelfixarumanoiteporsemanaparaasreuniõesdaAD,porque
precisavamacomodaros treinosde três equipesdequadriboldiferentes, emgeral remarcadasporcausadasmáscondiçõesdotempo;masHarrynãolamentava;sentiaqueprovavelmenteeramelhormanteroshoráriosde suas reuniões imprevisíveis.Sealguémosestivessevigiando, ficariadifícildistinguirumpadrão.Hermione não tardou a inventar ummétodomuito inteligente de comunicar o dia e a hora da
reunião seguinte a todos osmembros, caso precisassemmudá-los de ummomento para o outro,porque pareceria suspeito se os alunos das diferentes Casas fossem vistos atravessando o SalãoPrincipalparaconversarunscomosoutroscommuitafrequência.EladeuacadamembrodaADumgaleão falso (Rony ficou muito excitado quando viu a cesta de moedas e convenceu-se de queHermioneestavarealmentedistribuindoouro).–Vocêsestãovendoosnúmerosnabordadasmoedas?–explicouHermioneao finaldaquarta
reunião,erguendoumaparamostrar.Amoedabrilhavamaciçaeamarelaàluzdosarchotes.–Nosgaleõesverdadeiros,esteéapenasonúmerodesériereferenteaoduendequecunhouamoeda.Mas,nasmoedasfalsas,osnúmerosvãosertrocadosparainformarodiaeahoradareuniãoseguinte.Asmoedasficarãoquentesquandoadatamudar,entãosevocêsascarregaremnobolsopoderãosentir.Cadaumvailevaruma,equandoHarrymudarosnúmerosnamoedadele,porqueeuuseiumFeitiçodeProteu,todasmudarãoparaseigualaràdele.Umsilênciototalacolheusuaspalavras,eHermioneolhoudesapontadaosrostosqueaencaravam.–Bom...acheiqueeraumaboaideia–disseinsegura–,querodizer,mesmoqueaUmbridgenos
mandevirarosbolsospeloavesso,nãohánadasuspeitoemcarregarumgaleão,há?Mas...bom,sevocêsnãoquiseremusarasmoedas...–VocêsabefazerumFeitiçodeProteu?–admirou-seTerêncioBoot.–Sei.–Masisso...issoéníveldeN.I.E.M.–comentoupoucoconvencido.–Ah–respondeuHermione,tentandoparecermodesta.–Ah...bom...é,suponhoqueseja.–ComoéquevocênãopertenceàCorvinal?–perguntouBoot,fixando-acomumolharpróximo
aoassombro.–Comumainteligênciadessa?–Bom, oChapéuSeletor pensou seriamente emmemandar paraCorvinal – contouHermione,
animada –, mas acabou se decidindo pela Grifinória. Então, isso quer dizer que vamos usar osgaleões?Houveummurmúriode concordância e todos se adiantarampara apanhar umamoedana cesta.
HarryolhoudeesguelhaparaHermione.–Sabeoqueessasmoedasmelembram?–Não,oquê?– As cicatrizes dos Comensais daMorte. Voldemort toca em uma delas e todas ardem, e seus
seguidoressabemquedevemsereuniraele.–Bom...é–disseHermioneemvozbaixa–,foideondecopieiaideia...masvocêvainotarque
decidigravaradataemmetalemvezdegravá-lanapeledosnossoscolegas.–É... prefirodo seu jeito–disseHarry, sorrindoaoenfiar amoedanobolso.– Imaginoqueo
únicoperigoéqueagentepossagastaramoedasemquerer.–Nãotemamenorchance–disseRony,queestavaexaminandooseugaleãofalsocomtristeza–,
nãotenhoumgaleãoverdadeiroparaconfundircomeste.Quandooprimeirojogodatemporada,GrifinóriacontraSonserina,começouaseaproximar,as
reuniõesdaADforamsuspensasporqueAngelinainsistiuemfazertreinosquasediários.OfatodequeaCopadeQuadribolnãoserealizavahaviatantotempoaumentavaointeresseeaexcitaçãoquecercavaopróximojogo;osalunosdaCorvinaledaLufa-Lufaestavamvivamente interessadosnoresultado,porqueeles,éclaro,estariamjogandocomasduasequipesnoanoseguinte;eosdiretoresdas Casas das equipes competidoras, embora tentassem disfarçar sob um falso espírito esportivo,estavamdecididosaveroseuprópriotimevitorioso.HarrypercebeuoquantoaProfaMcGonagallqueriaderrotaraSonserinaquandoelaseabstevedepassardeverdecasanasemanaqueantecedeuaojogo.–Achoquenomomentojátemosmuitocomquenosocupar–dissecomaltivez.Ninguémquis
acreditarnoqueestavaouvindoatévê-laolhandodiretamenteparaHarryeRony,edizermuitoséria:– Me acostumei a ver a Taça de Quadribol na minha sala, rapazes, e realmente não quero serobrigadaaentregá-laaoProf.Snape,entãousemotempoextraparatreinar,sim?Snapenãofoiumpartidáriomenosóbvio;reservouocampodequadribolparaaSonserinacom
tantafrequênciaqueaequipedaGrifinóriatevedificuldadeemencontrá-lolivreparatreinar.Fazia-setambémdesurdocomrelaçãoàsmuitasqueixasdequeosalunosdaSonserinaestavamtentandoazararosjogadoresdaGrifinórianoscorredoresdaescola.QuandoAlíciaSpinnetapareceunaalahospitalar com as sobrancelhas crescendo tão densa e rapidamente que obscureciam sua visão etampavamsuaboca,SnapeinsistiuqueagarotadeviaterexperimentadonelamesmaumFeitiçoparaEngrossar os Cabelos, e se recusou a ouvir as catorze testemunhas que confirmavam ter visto ogoleiro da Sonserina, Milo Bletchley, lançar o feitiço nas costas da garota quando ela estavaestudandonabiblioteca.HarrysesentiaotimistaquantoàschancesdaGrifinória;afinaldecontas,jamaishaviamperdido
paraaequipedeMalfoy.EraverdadequeodesempenhodeRonyaindanãochegaranoníveldodeOlívio,maseleestavaseesforçandoomáximoparamelhorar.Suamaiorfraquezaeraatendênciaaperderaconfiançaquandofaziaumabobagem;sedeixavapassarumgol,seatrapalhavae,comisso,setornavamaisvulneráveladeixarpassarvários.Emcontrapartida,HarryviraRonyfazeralgumasdefesasespetacularesquandoestavaemforma;duranteum treinomemorável, ficarapenduradonavassouraporumadasmãosechutaraagolescomtantaforçaparalongedoaroqueelapercorreratodaaextensãodocampoeatravessaraoarodomeionaextremidadeoposta;aequipeacharaqueessa defesa se comparava favoravelmente com uma outra, feita recentemente por Barry Ryan, ogoleirodaseleçãodaIrlanda,contraomelhorartilheirodaPolônia,LadislauZamojski.AtémesmoFreddisseraqueRonyaindapoderiafazercomqueeleeoirmãoseorgulhassemdele,equeestavam
pensandoseriamenteemadmitirseuparentescocomele,coisaque,garantiam-lhe,vinhamtentandonegarhaviaquatroanos.Aúnica preocupação real deHarry era queRony estava deixandoque as táticas daSonserina o
perturbassem mesmo antes de entrarem em campo. Harry, naturalmente, aturava os comentáriosmaldosos deles haviamais de quatro anos, por isso,murmúrios como: “Oi, Potty, ouvi dizer queWarringtonjurouderrubarvocêdavassouranosábado”,emvezdegelarseusangue,ofaziamrir.“ApretensãodeWarringtonétãopatéticaqueeuficariamaispreocupadoseeleestivessemirandonapessoa ao meu lado”, retrucava ele, o que fazia Rony e Hermione rirem e apagava o sorrisopresunçosodacaradePansyParkinson.Mas Rony nunca estivera sujeito a uma campanha incansável de desaforos, caçoadas e
intimidações.Quando os alunos da Sonserina, alguns do sétimo ano e consideravelmentemaioresqueele,murmuravamaopassarnoscorredores:“Reservouseuleitonaalahospitalar,Weasley?”,elenão ria, e seu rosto adquiria umdelicado tomverde.QuandoDracoMalfoy o imitava largando agoles(oqueelefaziasemprequeosdoisseavistavam),asorelhasdeRonyirradiavamumfulgorvermelho e suas mãos tremiam tanto que ele seria capaz de deixar cair também o que estivessesegurandonahora.Outubro terminou numa investida de ventos uivantes e chuvas impiedosas, e novembro chegou,
friocomoumabarradeferrocongelada,comespessasgeadasmatinaisecorrentesdearcortantesquequeimavamasmãoseos rostosdesprotegidos.Océueo tetodoSalãoPrincipal estavamumperolado cinza pálido, os picos das montanhas que cercavam Hogwarts, cobertos de neve, e atemperaturadocastelocaíratantoquemuitosestudantesusavamgrossasluvasdepelededragãoparaseprotegerquandosaíamparaoscorredoresnointervalodasaulas.Amanhãdojogoalvoreceuclaraefria.QuandoHarryacordou,olhouparaacamadeRonyeo
viusentado,muitoreto,abraçandoosjoelhos,olhandofixamenteparaoespaço.–Vocêestábem?–perguntouHarry.Ronyrespondeuafirmativamentecomacabeça,masnãofalou.Harryse lembrousemquererda
ocasiãoemqueoamigoacidentalmente lançaranelemesmoumfeitiçoqueo fezvomitar lesmas;estavatãopálidoesuadocomonaqueledia,paranãofalarnarelutânciaemabriraboca.–Vocêsóprecisatomarcafé–disseHarryparaanimá-lo.–Vamos.OSalãoPrincipal estava se enchendo depressa quando eles chegaram, a conversamais alta e o
clima mais exuberante do que o normal. Quando passaram pela mesa da Sonserina, o barulhoaumentou.Harryolhoueviuque,alémdoshabituaiscachecóisegorrosverdeeprata,cadaumdelesestavausandoumdistintivoprateado,que,naforma,lembravaumacoroa.Poralgumarazão,muitosdelesacenaramparaRony,àsgargalhadas.Harrytentouveroqueestavaescritonosdistintivos,masestavatãopreocupadoemfazerRonypassarrápidopelamesaquenãoquissedetertemposuficienteparaler.Eles foram recebidos entusiasticamente na mesa da Grifinória, onde todos usavam vermelho e
ouro,mas,emlugardeanimarRony,osvivaspareceramacabardeminaroseumoral;eleselargounobancomaispróximo,parecendoestardiantedaúltimarefeiçãodavida.–Eudeviaestarmalucoquandofizisso–dissenumsussurrorouco.–Maluco.–Não seja tapado – disseHarry com firmeza, passando-lhe uma seleção de cereais –, você vai
ficarótimo.Énormalsesentirnervoso.–Souumameleca–crocitoueleemresposta.–Souumtrapalhão.Nãosoucapazde jogarnem
parasalvarapele.Ondeéqueeuestavacomacabeça?–Controle-se–disseHarrycomseveridade.–Olheaqueladefesaquevocê fezcomopéainda
outrodia,atéoFredeoJorgedisseramquefoigenial.RonyvoltouumrostotorturadoparaHarry.
–Aquilo foi por acaso – sussurrou infeliz. –Não eraminha intenção, escorreguei da vassouraquandovocêsnãoestavamolhandoe,quandotenteimeendireitar,chuteiacidentalmenteagoles.–Bom–disseHarry,recuperando-serapidamentedadesagradávelsurpresa–,maisalgunsacasos
iguaisàqueleeojogoestánopapo,nãoacha?Hermione e Gina sentaram-se defronte aos dois usando cachecóis, luvas e rosetas vermelho e
ouro.–Comoéquevocêestásesentindo?–GinaperguntouaRony,queagoracontemplavaorestode
leitenofundodatigelavaziadecereal,comoseconsiderasseseriamenteapossibilidadedeseafogarali.–Eleestásónervoso–disseHarry.–Bom,éumbomsinal, achoqueapessoanunca se sai tãobemnosexames senãoestiverum
pouconervosa–disseHermionecomentusiasmo.–Alô–cumprimentouumavozvagaesonhadoraàscostasdeles.Harryolhou:LunaLovegood
vieradamesadaCorvinal.Muitosestudantesaseguiamcomosolhos,algunsdavamgargalhadaseaapontavam sem disfarces; Luna conseguira arranjar um chapéu em forma de cabeça de leão emtamanho natural, e o colocara precariamente na cabeça. – Estou torcendo pelaGrifinória – disse,apontandosemnecessidadeparaochapéu.–Olhesóoqueelefaz...Ela ergueuamãoedeuum toquedevarinhanochapéu.O leãoescancarouabocae soltouum
rugidoextremamentereal,quesobressaltoutodosqueestavamporperto.–Éótimo,nãoé?–disseLuna, feliz. –Euqueriaqueele estivessemastigandoumacobrapara
representaraSonserina,entendem,masotempofoipouco.Emtodoocaso...boasorte,Ronald!Elaseafastoucomoseflutuasse.Osgarotosaindanãotinhamserecuperadodochoquequeforao
chapéu de Luna quandoAngelina se aproximou correndo, acompanhada por Cátia e Alícia, cujassobrancelhastinhamsidomisericordiosamenterestauradasporMadamePomfrey.– Quando vocês estiverem prontos – disse ela –, vamos direto para o campo, verificar as
condiçõesetrocarderoupa.–Estaremosládaquiapouco–Harryatranquilizou.–ORonyprecisacomeralgumacoisa.Mas,passadosdezminutos,ficouclaroqueRonynãoconseguiriacomermaisnada,eHarryachou
melhor levá-lo para os vestiários. Ao se levantarem da mesa, Hermione os acompanhou, e,segurandoobraçodeHarry,puxou-oparaumlado.– Não deixe Rony ver o que tem naqueles distintivos do pessoal da Sonserina – cochichou
pressurosa.Harryolhou-a curioso,masela sacudiua cabeçanumgestode aviso;Ronyvinha emdireçãoa
eles,parecendoperdidoedesesperado.–Boasorte,Rony–disseHermione,ficandonapontadospéselhedandoumbeijonabochecha.–
Eparavocêtambém,Harry...RonypareceusereanimarligeiramentequandotornaramacruzaroSalãoPrincipal.Eleencostou
amãonolugaremqueHermioneobeijara,parecendointrigado,comosenãotivessemuitacertezado que acabara de acontecer. Parecia distraído demais para reparar nas coisas ao seu redor, masHarrylançouumolharcuriosoparaosdistintivosemformadecoroaquandopassarampelamesadaSonserina,edestavezdistinguiuaspalavrasgravadas:
Weasleyéonossorei
Comuma sensação desagradável de que aquilo não podia significar nada de bom, ele apressouRonynatravessiadosaguãoenadescidadaescadadepedra,esaíramparaoargelado.A grama coberta de gelo produzia um ruído de trituração sob seus pés ao caminharem pelos
gramados em direção ao estádio. Não havia vento algum e o céu estava um branco peroladouniforme,oque significavaqueavisibilidade seriaboa, semo transtornode receber a luzdo soldiretonosolhos.HarryapontouessesdadosanimadoresparaRony,masnãotinhamuitacertezadequeoamigooouvisse.Angelinajásetrocaraeestavafalandocomorestodaequipequandoelesentraram.HarryeRony
vestiramosuniformes(RonytentoufazerissodetrásparaafrenteduranteváriosminutosatéAlíciaseapiedardeleeajudá-lo),depois se sentaramparaouvir apreleçãopré-jogo, enquanto lá foraovozerio não parava de aumentar à medida que os espectadores saíam em um fluxo contínuo docasteloparaocampo.–O.k.,acabeidedescobriraescalaçãofinaldaSonserina–disseAngelina,consultandoumpedaço
depergaminho.–Osbatedoresdoanopassado,DerrickeBole,saíram,masparecequeoMontagueos substituiu pelos gorilas de sempre, em vez de escolher alguém que saiba voar particularmentebem.SãodoiscaraschamadosCrabbeeGoyle,nãoseimuitacoisasobreeles...–Nóssabemos–disseramHarryeRonyjuntos.–Bom,elesnãoparecemterinteligênciasuficienteparadiferenciarasextremidadesdavassoura–
continuouAngelina,embolsandoopergaminho–,mas,poroutrolado,eusempremesurpreendiqueDerrickeBoleconseguissemencontrarocaminhodocamposemprecisardeplacasdesinalização.–CrabbeeGoylesãoiguais–garantiu-lheHarry.Ouviam-secentenasdepassossubindoasarquibancadasdocampo.Algunsespectadorescantavam,
embora Harry não conseguisse entender as palavras. Estava começando a se sentir nervoso, massabiaqueasborboletasemseuestômagonãoeramnadasecomparadasàsdeRony,queapertavaabarrigaeolhavaretoemfrenteoutravez,dequeixoduroeapelecinza-claro.–Estánahora–avisouAngelinacomavozabafada,consultandoorelógio.–Vamos,galera...boa
sorte.A equipe se levantou, pôs as vassouras nos ombros e saiu em fila indiana do vestiário para a
claridadeofuscantedodia.Foramsaudadosporumgrandeclamor,noqualHarrycontinuavaaouvirumcanto,emboraabafadopelosaplausosevaias.AequipedaSonserinajáosaguardavaformada.Seusjogadorestambémusavamostaisdistintivos
emformadecoroa.Onovocapitão,Montague,tinhaaformafísicadeDudaDursley,braçosmaciçosque lembravampresuntospeludos.Atrásdele, rondavamCrabbeeGoyle,quase tãograndescomoele,piscandoidiotamentenocéu,balançandoosbastõesnovosdebatedores.Malfoyestavaparadodeumlado,acabeçalouro-prateadarefletindoosol.SeusolhosencontraramosdeHarry,eeledeuumsorrisodebochado,batendonodistintivoquelevavaaopeito.– Capitães, apertem as mãos – ordenou Madame Hooch, quando Angelina e Montague se
aproximaram.HarrypôdeverqueMontagueestavatentandoquebrarodedosdeAngelina,emboraelanadademonstrasse.–Montemasvassouras...MadameHoochlevouoapitoàbocaesoprou.Asbolas foramsoltasnoar,eoscatorze jogadoresdispararamparaoalto.Pelocantodoolho,
Harry viu Rony passar como um raio em direção às balizas. Harry continuou a subir em altavelocidade,seesquivoudeumbalaço,ecomeçouadarumagrandevoltapelocampo,procurandonoarumbrilhodourado;dooutroladodoestádio,DracoMalfoyfaziaexatamenteamesmacoisa.“EéJohnson–Johnsoncomagoles,quejogadoraéessagarota,éoquevenhodizendoháanos,
maselacontinuaanãoquerersaircomigo...”–JORDAN!–berrouaProfaMcGonagall.“...ésóumagracinha,professora,umtoquedeinteressehumano–eelaselivradeWarrington,
passaporMontague,ela–ai–foiatingidanascostasporumbalaçolançadoporCrabbe...Montagueapanha a goles,Montague torna a subir pelo campo e – belo balaço agora de JorgeWeasley, um
balaço na cabeça de Montague, que larga a goles, quem a apanha é Katie Bell, Katie Bell daGrifinóriaatrasaabolaparaAlíciaSpinneteSpinnetseafasta...”OscomentáriosdeLinoJordanecoavampeloestádio,eHarryfaziaesforçoparaescutá-losapesar
doassobiodoventoemseusouvidosedovozeriodopúblico,queberra,vaiaecanta.“...fogedeWarrington,evitaumbalaço–essefoiporpouco,Alícia–,eopúblicoestáadorandoo
jogo,ouçam,queéqueelesestãocantando?”ELinoparoupara escutar, a cantoria soou alta e clara na seçãoverde e prata daSonserinanas
arquibancadas.
WeasleynãopeganadaNãobloqueiaaroalgumEi,Ei,Ei,Ei,Weasleyéonossorei.
WeasleynasceunolixoSempredeixaabolaentrarAvitóriajáénossa,Weasleyéonossorei.
“...eAlíciapassaoutravezparaAngelina!”,gritouLino,equandoHarrymudoudedireção,suasentranhasfervendocomoqueacabaradeouvir,percebeuqueLinoestavatentandoabafaracantoria.“VaiAngelina–agoraelasóprecisapassarpelogoleiro!–ELACHUTA–ELA–aaah...”Bletchley, o goleiro de Sonserina, defendeu bem; lançou a goles paraWarrington, que saiu em
velocidade, ziguezagueando entreAlícia eCátia; a cantoria das arquibancadas se tornava cadavezmaisaltaeelefoiseaproximandodeRony.
Weasleyéonossorei,Weasleyéonossorei,SempredeixaabolaentrarWeasleyéonossorei.
Harrynãoconseguiuseconter:abandonandoabuscadopomo,virousuaFireboltparaRony,umafigura solitária na extremidade do campo, planando diante das três balizas enquanto o troncudoWarringtonavançavaparaele.“Warringtontemagoles,Warringtonvaiemdireçãoaosaros,estáforadoalcancedosbalaçose
temapenasogoleiropelafrente...”UmagrandeondasonoraseelevoudasarquibancadasdaSonserina:
WeasleynãopeganadaNãobloqueiaaroalgum...
“...éoprimeirotestedonovogoleirodaGrifinória,Weasley,irmãodosbatedoresFredeJorge...éumtalentoquepromete–vamos,garoto!”Masogritode alegriaveiodo ladodaSonserina:Ronyderaummergulhoàs cegas,debraços
muitoabertos,eagolespassaraentreeles,atravessandodiretooseuarocentral.“PontoparaSonserina!–entrouavozdeLinoentreosaplausosevaiasdopúblicoembaixo–dez
azeroparaSonserina–quepoucasorte,Rony!”OsalunosdeSonserinacantaramaindamaisalto:
WEASLEYNASCEUNOLIXOEI,EI,EI,EI...
“...eaGrifinóriaretomaaposseetemosKatieBellatravessandoocampocomenergia...”,gritouLino se enchendo de coragem, embora a cantoria agora estivesse tão ensurdecedora que ele malconseguiasefazerouvir.
AVITÓRIAJÁÉNOSSAWEASLEYÉ-ONOSSOREI...
– Harry, QUE É QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? – berrou Angelina, sobrevoando-o paraacompanharKatieBell.–MEXA-SE!Harrysedeucontadequepararanoarpormaisdeumminuto,observandooandamentodapartida
sempensaruminstanteondeestariaopomo;horrorizadoelemergulhouerecomeçouacircularocampo,tentandoignorarocoroqueagoraatroavaoestádio:
WEASLEYÉONOSSOREI,WEASLEYÉONOSSOREI...
Não viu sinal do pomo em lugar algum; Malfoy continuava a circular o estádio como ele.Cruzaram na metade da volta pelo campo, seguindo em direções opostas e Harry ouviu Malfoycantandoemvozalta:
WEASLEYNASCEUNOLIXO...
“... e aívemWarringtondenovo”,berrouLino, “quepassaparaPucey,PuceyultrapassaAlícia,vamosAngelina,dáparapegarele,afinalnãodeu,masfoiumbelobalaçodeFredWeasley,querodizer,JorgeWeasley,ah,quediferençafaz,foiumdosgêmeos,eWarringtonlargaagoleseKatieBell...hum...largatambém...entãoagolessobraparaMontaguequesaivoandopelocampo,vamosGrifinória,bloqueiaeleagora!”HarrycontornouvelozaextremidadedocampoportrásdasbalizasdaSonserina,fazendoforça
paranãoolharparaoqueestavaacontecendonaextremidadedocampodefendidaporRony.QuandopassoupelogoleirodaSonserina,ouviuBletchleyacompanhandoocorodopúblicoembaixo.
WEASLEYNÃOPEGANADA...
“...ePuceyselivramaisumavezdeAlíciaerumadiretamenteparaogol,seguraabola,Rony!”Harrynãoprecisouolhar para saberoque acontecera: ouviu-seumgemido terrível no ladoda
Grifinória,acompanhadodenovosgritoseaplausosdosalunosdaSonserina.Olhandoparabaixo,HarryviuacaradebuldoguedePansyParkinsonbemna frentedaarquibancada,decostasparaocampo,regendoatorcidadaSonserinaqueurrava:
EI,EI,EI,EIWEASLEYÉONOSSOREI
Mas vinte a zero não era problema, ainda havia tempo para a Grifinória igualar o placar oucapturar o pomo. Uns três gols e eles tomariam a dianteira como sempre, Harry procurou setranquilizar,subindo,descendoeentrecruzandocomosdemaisjogadoresembuscadeumbrilhoque
viraeque,afinal,eraacorreiadorelógiodeMontague.MasRonydeixouentrarmaisdoisgols.HaviaumtoquedepâniconodesejoqueHarrysentiade
encontraropomoimediatamente.Seconseguissecapturá-lologo,terminariaojogodeumavez.“...eKatieBelldaGrifinóriaescapadePucey,seabaixaparafugirdeMontague,belavirada,Cátia,
eatiraparaAngelina,queagarraagoles,ultrapassaWarrington,estávoandoparaogol,vamos,éagoraAngelina...EÉPONTOPARAGRIFINÓRIA!Quarentaadez,quarentaadezparaSonserina,ePuceytemapossedagoles...”HarryouviuoridículochapéudeleãodeLunarugirnomeiodosvivasdaGrifinóriaesesentiu
fortalecido; apenas trinta pontos de diferença, isso não era nada, podiam se recuperar facilmente.Harry evitou umbalaço queCrabbe disparara em sua direção e retomou a varredura frenética docampoembuscadopomo,vigiando,casoMalfoydesseindicaçãodequeolocalizara,masMalfoy,comoele,continuavaavoaràvoltadoestádio,procurandosemsucesso.“...PuceyatiraparaWarrington,WarringtonparaMontague,MontaguedevolveaPucey...Johnson
intercepta,Johnson tomaagoles,atiraparaBell,acoisapareceboa–querodizer–ruim–BelléatingidaporumbalaçodeGoyle,daSonserina,eéPuceyquemretomaa...”
WEASLEYNASCEUNOLIXOSEMPREDEIXAABOLAENTRARAVITÓRIAJÁÉNOSSA...
FinalmenteHarryoviu:ominúsculopomodeouroesvoaçavaapoucosmetrosdochãonocampodaSonserina.Elemergulhou...Emquestãodesegundos,MalfoyveiovarandoocéuàesquerdadeHarry,umborrãoverdeeprata
deitadosobreavassoura...O pomo contornou a base de uma das balizas e saiu para o outro lado das arquibancadas; sua
mudança de direção beneficiouMalfoy, que estavamais próximo; Harry inverteu o rumo da suaFirebolt,eeleeMalfoyestavamagoraemparelhados.À curta distância do chão, Harry ergueu a mão direita da vassoura, esticou-a para o pomo... à
direita,obraçoestendidodeMalfoytambémesticou,tateou...Tudoterminouemdoissegundosdesesperados,esbaforidos,vertiginosos–osdedosdeHarryse
fecharamsobreabolinhaminúsculaerebelde–asunhasdeMalfoytentaramagarrá-la inutilmentenascostasdamãodooponente–Harryempinouavassoura,apertandonamãoabolaquesedebatia,eosespectadoresdaGrifinóriagritaramsuaaprovaçãoaolance...Estavam salvos, não importava que Rony tivesse deixado entrar aqueles gols, ninguém se
lembrariadesdequeaGrifinóriativesseganhado...TAPUM.Um balaço atingiu Harry nos rins e ele foi lançado para fora da vassoura. Por sorte, estava a
menosdedoismetrosdochão,poismergulharamuitobaixoparaapanharopomo,masficousemarecaiucomascostaschapadasnochãocongelado.EleouviuoapitoagudodeMadameHooch,umclamor nas arquibancadas em que se misturavam assobios, berros furiosos e vaias, um baque e,então,avozfrenéticadeAngelina.–Vocêestábem?– Claro que estou – respondeu Harry carrancudo, segurando sua mão e deixando que ela o
ajudasse a se levantar. Madame Hooch voava velozmente em direção a um dos jogadores daSonserinaacima,embora,doânguloemqueestava,elenãoconseguisseverquemera.–FoiaquelebandidodoCrabbe–disseAngelina,furiosa–,atirouobalaçonomomentoemque
viuquevocêtinhacapturadoopomo...masnósganhamos,Harry,nósganhamos!Harryouviuumbufoàscostasesevirou,aindaapertandoopomonamão:DracoMalfoypousara
aliperto.Orostobrancodefúria,aindaassimconseguiadesdenhar.–SalvouopescoçodoWeasley,nãofoi?Nuncaviumgoleiropior...mastambém,nasceunolixo...
gostoudaminhaletra,Potter?Harrynãorespondeu.Virou-separasereuniraorestodesuaequipequeagoraaterrissava,uma
um, berrando e dando socos no ar; todos, exceto Rony, que desmontara da vassoura próximo àsbalizasepareciaestarcaminhandolentamenteparaosvestiários,sozinho.–Queríamos acrescentarmais uns versos! – gritouMalfoy, enquanto Cátia eAlícia abraçavam
Harry.–Masnãoencontramosrimasparagordaefeia,queríamoscantaralgumacoisasobreamãedele,sabe...–Invejamata–disseAngelina,lançandoaMalfoyumolharenojado.–...tambémnãoconseguimosencaixar“fracassadoinútil”...paraopaidele,sabe...FredeJorgeperceberamoqueMalfoyestavadizendo.AmeiocaminhodeapertaramãodeHarry,
elesseretesaram,encarandoMalfoy.–Deixa para lá! – disseAngelina namesmahora, segurandoo braçodeFred. –Deixa para lá,
Fred,deixaelegritar,elesóestáfrustradoporqueperdeu,ometido...–...masvocêgostadosWeasley,nãoéPotter?–continuouMalfoy,caçoando.–Passaasfériasláe
tudo,nãoé?Nãoseicomovocêaguentaofedor,massuponhoqueparaalguémcriadoportrouxas,atéopardieirodosWeasleycheirabem...HarryagarrouJorge.Entrementes,eramnecessáriososesforçosconjuntosdeAngelina,Alíciae
CátiaparaimpedirFreddepularemcimadeMalfoy,queriaabertamente.HarryolhouparaosladosprocurandoMadameHooch,maselaaindaestavabrigandocomCrabbeporseuataqueilegalcomobalaço.–Ouvaiver–disseMalfoy, recuandocomumsorrisodebochado–vocêse lembradecomoa
casadasuamãefedia,Potter,eochiqueirodosWeasleyfazlembrardela...Harry não percebeu que largara Jorge, só soube é que um segundo depois os dois estavam
atracadoscomMalfoy.Esquecera-secompletamentedequetodososprofessoresestavamassistindo;tudoquequeriaerainfligiraMalfoyomáximodedorpossível;semtempoparapuxaravarinha,eleapenasrecuou,opunhofechadosobreopomo,eenterrou-ocomtodaaforçaquepôdenoestômagodeMalfoy...–Harry!HARRY!JORGE!NÃO!Eleouviaasgarotasgritando,Malfoyberrando,Jorgexingando,umapitotocandoeosurrosdo
público, mas ele não deu atenção a nada. Até alguém próximo gritar Impedimenta!, e ele serderrubadodecostasnochãoporforçadofeitiço,nãodesistiudatentativadesocarcadacentímetrodeMalfoyaoalcancedesuamão.–Queéquevocêachaqueestáfazendo?–berrouMadameHooch,quandoHarryselevantoude
umsalto.AparentementeforaelaquemoatingiracomaAzaraçãodeImpedimento;ajuízaseguravao apito em uma das mãos e a varinha na outra; largara a vassoura a alguns passos de distância.Malfoyestavadobradonochão,choramingandoegemendo,onarizensanguentado;Jorgeexibiaumlábio inchado; Fred ainda estava sendo contido à força por três artilheiros, e Crabbe davagargalhadasmaisatrás.–Nuncaviumcomportamentoigual,jáparaocastelo,osdois,ediretoparaasaladadiretoradesuaCasa!Vão!Agora!Harry e Jorge saíramdo campo, ofegantes, sem trocar palavra.Os uivos e as vaias do público
foram se tornando mais fracos à medida que se aproximavam do saguão de entrada, onde nãoouviamnada excetoo somdosprópriospassos.Harry sedeucontadeque algumacoisa ainda sedebatiaemsuamãodireita,cujosnóseleferiraaobaternoqueixodeMalfoy.Baixandoosolhos,viu
asasasdepratadopomosaindoporentreseusdedos,tentandoselibertar.HaviamacabadodechegaràportadasaladaProfaMcGonagallquandoelaapareceumarchando
pelocorredoratrásdeles.UsavaocachecoldaGrifinória,masarrancou-odopescoçocomasmãostrêmulasaoseaproximar,comorostolívido.–Entrem!–ordenoufuriosa,apontandoparaaporta.HarryeJorgeobedeceram.Eladeuavoltaà
escrivaninhaeosencarou,tremendoderaiva,atirandoocachecolaochão.–Então?Nuncaviumaexibiçãotãovergonhosa.Doiscontraum!Expliquem-se!–Malfoynosprovocou–disseHarryformalmente.– Provocou vocês? – gritou a professora, batendo na mesa com tanta força que uma lata
escorregouparaumladoeseabriu,enchendoochãodelagartosdegengibre.–Eletinhaacabadodeperder,não tinha?Claroquequeriaprovocarvocês!Masoquepode terditopara justificaroquevocêsdois...–Eleinsultoumeuspais–vociferouJorge.–EamãedeHarry.–MasemvezdedeixaremMadameHoochresolvervocêsdoisdecidiramfazerumaexibiçãode
duelodetrouxas,nãofoi?–urrouaProfaMcGonagall.–Vocêstêmideiadoque...–Hem,hem.HarryeJorgeseviraramrápido.DoloresUmbridgeestavaparadaàportadasala,envoltaemuma
capa de tweed verde que enfatizava enormemente sua semelhança com um sapo gigante, e sorriadaquelejeitohorrível,doentioeagourentoqueHarryaprenderaaassociarcomdesgraçaiminente.–Possoajudar,ProfaMcGonagall?–perguntouelacomsuavozmeigamasvenenosa.OsangueafluiuaorostodeMcGonagall.–Ajudar?–repetiu,numtomdevozcontrolado.–Queéquevocêquerdizercomajudar?AProfaUmbridgeentrounasala,aindaexibindoseusorrisodoentio.–Ora,acheiquepoderiaagradecerumreforçodeautoridade.HarrynãoteriasesurpreendidodeverfaíscassaltaremdasnarinasdaProfaMcGonagall.–Poisseenganou–disseelavoltandoascostasàUmbridge.–Agora,ébomosdoismeouvirem
comatenção.Não sei qual foi a provocaçãoqueMalfoy fez, nãoquero saber se ele ofendeu cadamembrodassuasfamílias,oseucomportamentofoivergonhosoevoudaracadaumumasemanadedetenção!Nãoolheassimparamim,Potter,vocêmereceu!Eseumdosdoisvoltar...–Hem,hem.AProfaMcGonagallfechouosolhoscomoserezassepedindopaciênciaquandotornouavoltaro
rostoparaaProfaUmbridge.–Sim?–Achoqueelesmerecemmuitomaisdoquedetenções–disseUmbridgeampliandoosorriso.OsolhosdeMcGonagallseabriramderepente.– Mas, infelizmente – disse, tentando retribuir o sorriso, o que fazia parecer que estivesse
acometidadetétano–,oquecontaéoqueeupenso,porqueelespertencemàminhaCasa,Dolores.– Bom, Minerva, na realidade – disse Umbridge afetando um sorriso –, acho que você vai
descobrirqueoqueeupensorealmenteconta.Vejamos,ondeestá?Cornélioacaboudemeenviar...querodizer–eladeuumarisa-dinhafingidaenquantoremexianabolsa–oministroacaboudemeenviar...ah,sim...Puxou um pergaminho que agora começava a desdobrar, pigarreando com exagero antes de
começaralê-lo.–Hem,hem...DecretoEducacionalno.25.–Maisum,não!–explodiuaProfaMcGonagall.–É,maisum–respondeuaoutraaindasorrindo.–Aliás,Minerva,foivocêquemefezverque
precisávamos demais uma emenda... lembra-se de como você passou por cima daminha cabeça,
quandoeunãoquisdeixaraequipedequadriboldaGrifinóriasereorganizar?Comovocêlevouocaso a Dumbledore, que insistiu que a equipe tivesse permissão de jogar? Então, agora eu nãopoderiapermitirisso.Entreiimediatamenteemcontatocomoministro,eeleconcordoucomigoqueaAltaInquisidoraprecisateropoderderetirarprivilégiosdealunos,ouela,ouseja,eu,teriamenosautoridadequeosprofessorescomuns.Evocêestávendoagora,nãoestá,Minerva,comoeu tinharazão em tentar impedir a equipe daGrifinória de se reorganizar?Temperamentos violentos... emtodo o caso, eu estava lendo a emenda para você...hem, hem... “Doravante aAlta Inquisidora teráautoridadesupremasobretodasaspunições,sançõesecortesdeprivilégiosreferentesaosestudantesdeHogwarts, e o poder de alterar tais punições, sanções e cortes de privilégios que tiverem sidoordenados por outrosmembros do corpo docente.Assinado, Cornélio Fudge,ministro daMagia,OrdemdeMerlimPrimeiraClasseetc.etc.”Elaenrolouopergaminhoetornouaguardá-lonabolsa,aindasorrindo.–Portanto...eurealmenteachoquetereideproibiressesdoisdevoltaremajogarquadribolpara
sempre–disseela,olhandodeHarryparaJorgeedevoltaaMcGonagall.Harrysentiuopomosedebaterenlouquecidoemsuamão.–Nosproibir?–disseele,esuavozlhepareceuestranhamentedistante.–Devoltarajogar...para
sempre?–É,Potter,achoqueumaproibiçãodefinitivadevefuncionar–disseUmbridge,ampliandooseu
sorrisoaoobservaroesforçodogarotoparacompreenderoqueelaacabaradedizer.–OsenhoreoSr.Weasleyaqui.Eachoque,paraficarmosseguros,ogêmeodesterapaztambémdeveserproibido,seosseuscompanheirosdeequipenãootivessemcontido,estoucertadequeteriaatacadoojovemSr.Malfoy também.Queroquesuasvassouras sejamconfiscadas,naturalmente.Easguardarei emsegurançanaminhasalaparatercertezadequenãodesobedecerãoàminhaproibição.Masnãosouinjusta,ProfaMcGonagall–continuouela,voltando-separaacolega,queagoraolhavaparaeladepéetãoimóvelquepareciaesculpidaemgelo.–Orestodotimepodecontinuarjogando,nãovisinaisdeviolênciaemnenhumdeles.Bom...boa-tardeparatodos.E com uma expressão satisfeitíssima, Umbridge saiu da sala, deixando atrás de si um silêncio
horrorizado.
–Proibidos–ressoouavozdeAngelina,maistardenaquelanoitenasalacomunal.–Proibidos.Semapanhadoresembatedores...quemelecaéquenósvamosfazer?Nem parecia que haviam ganhado o jogo. Para todo o lado que Harry olhava havia rostos
desoladoseenfurecidos;osjogadoresdaequipeestavamlargadosemvoltadalareira,todosmenosRony,quenãoeravistodesdeofinaldapartida.–Étãoinjusto–disseAlícia,atordoada.–Querodizer,eCrabbeeaquelebalaçoqueelelançou
depoisqueoapitojátinhatocado?ElaproibiuoCrabbe?–Não–respondeuGina,infeliz;elaeHermioneestavamsentadasdecadaladodeHarry.–Crabbe
recebeufrasesparaescrever,ouviMontaguecontarissoàsgargalhadasnahoradojantar.–EproibiroFredquandoelenemfeznada!–admirou-seAlíciafuriosa,batendocomopunhono
joelho.– Não é minha culpa se não fiz – disse Fred, com uma expressão feroz no rosto –, eu teria
quebradoaquelemerdinhatodosevocêstrêsnãoestivessemmesegurando.Harry contemplava, infeliz, a vidraça escura.A neve caía.O pomo que ele apanharamais cedo
voava sem parar pela sala comunal; as pessoas acompanhavam sua trajetória como se estivessemhipnotizadas,eBichentosaltavadeumacadeiraparaoutra,tentandoapanhá-lo.–Voumedeitar–disseAngelina, levantando-sedevagar.–Nofinal,agentetalvezdescubraque
tudo isso não passou de um sonho mau... talvez eu acorde amanhã e descubra que ainda não
jogamos...LogoAlíciaeCátiaaacompanharam.FredeJorgesubiramalgumtempodepois,fechandoacara
para todos por quem passavam, e Gina não se demoroumuitomais. Somente Harry e Hermionecontinuaramaopédalareira.–VocêviuRony?–perguntouHermioneemvozbaixa.Harrybalançouacabeça.–Achoqueeleestánosevitando.Ondeéquevocêachaqueele...Mas, neste exato momento, ouviram um rangido, o retrato da Mulher Gorda girou e Rony
atravessouoburacodoretrato.Estavadefatomuitopálidoehavianeveemseuscabelos.QuandoviuHarryeHermione,eleparoudechofre.–Ondevocêesteve?–perguntouHermione,ansiosa,seerguendo.–Andando–murmurou.Eleaindausavaouniformedequadribol.–Vocêpareceenregelado–disseHermione.–Vemsentaraquicomagente!Rony foi até a lareira e se largou na poltrona mais distante de Harry, sem olhá-lo. O pomo
roubadosobrevoavasuascabeças.–Sintomuito–murmurouele,olhandoparaospés.–Peloquê?–perguntouHarry.–Porpensarquesabiajogarquadribol.Voupedirdemissãologodemanhã.– Se você pedir demissão – disse Harry irritado –, só sobrarão três jogadores na equipe. – E
quandoRonyoolhouintrigado,eleinformou:–Fuiproibidodejogardefinitivamente.FredeJorgetambém.–Quê?–gritouRony.Hermione contou-lhe a história toda. Harry não suportaria repeti-la. Quando terminou, Rony
pareceumaisagoniadoquenunca.–Tudoissofoiminhaculpa...–VocênãomefezbateremMalfoy–respondeuHarry,zangado.–...seeunãofossetãoruimemquadribol...–Nãotemnadaaver.–...foiaquelamúsicaquemedeixounervoso...–...teriadeixadoqualquerumnervoso.Hermione se levantou e foi até a janela, para se afastar da discussão, olhar os flocos de neve
caírememrodopioscontraavidraça.–Olhaaqui,paracomisso,tá!–explodiuHarry.–Játábemruimsemvocêseculparportudo!Ronysecalou,masficousentadoolhandoinfelizparaabarramolhadadasvestes.Passadoalgum
tempo,disse,semgraça:–Nuncamesentitãomalnavida.–Entreparaonossoclube–respondeuHarrycomamargura.–Bom–disseHermione,avozligeiramentetrêmula:–Seideumacoisaquepodeanimarosdois.–Ah,é?–disseHarry,incrédulo.–É–respondeuelaseafastandodajanelaescuríssima,salpicadadeflocos,umgrandesorrisoa
iluminarseurosto:–Hagridvoltou.
—CAPÍTULOVINTE—AhistóriadeHagrid
HarrycorreuaodormitóriodosmeninosparaapanharaCapadaInvisibilidadeeoMapadoMarotoemseumalão;foitãorápido,queeleeRonyseaprontaramparasairpelomenoscincominutosantesdeHermionevoltarapressadadodormitóriodasmeninas,usandocachecol,luvaseumdosgorrosquefizeraparaoselfos.–Ora,estáfrioláfora!–defendeu-se,quandoRonydeuummuxoxodeimpaciência.Passaramsorrateirospeloburacodoretrato,esecobriramdepressacomacapa–Ronycrescera
tanto que agora precisava se encolher para impedir que os pés aparecessem –, então, andandodevagar e cautelosamente, eles desceram as várias escadas, parando a intervalos para verificar nomapasinaisdeFilchoudeMadameNor-r-ra.Tiveramsorte;nãoviramninguémexcetoNickQuaseSemCabeça,queflutuavadistraído,cantarolandodebocafechadaalgoquelembravahorrivelmente“Weasleyénossorei”.Elesseesquivarampelosaguãodeentradaedaíparaosterrenosnevadosesilenciososdaescola.Comocoraçãobatendoforte,Harryviuquadradinhosdeluzdouradosàfrentee fumaça saindo em espirais pela chaminé deHagrid. Saiu em passo acelerado, os outros dois seacotovelandoedandoencontrõesparaacompanhá-lo.Excitados,esmagavamaocaminharanevequeseadensava,efinalmentechegaramàportademadeiradacabana.QuandoHarrylevantouopunhoebateutrêsvezes,umcachorrocomeçoualatirexcitadodentrodacasa.–Hagrid,somosnós!–disseHarrypeloburacodafechadura.–Eudeviasaber!–exclamouumavozrouca.Osgarotos sorriramumparaooutro sobacapa;podiamadivinharpelavozdeHagridqueele
estavasatisfeito.–Chegueihátrêsminutos...saidafrente,Canino...saidafrente,cachorroburro...Atrancafoiretirada,aportaseabriucomumrangidoeacabeçadeHagridapareceunafresta.Hermionegritou.– Pelas barbas deMerlim, fale baixo! – disseHagrid depressa, olhando assustado por cima da
cabeçadosgarotos.–Debaixodacapa,é?Vamos,entrem,entrem!–Desculpe!–exclamouHermione,enquantoostrêsseespremiamparaentrarnacasadeHagride
puxavamacapaparaelepodervê-los.–Eusó...ah,Hagrid!– Não foi nada, não foi nada! – apressou-se Hagrid a dizer, fechando a porta e correndo para
fechartodasascortinas,masHermionecontinuavaacontemplá-lohorrorizada.Os cabelos dele estavam empastados de sangue e o olho esquerdo fora reduzido a uma fenda
inchada, nomeio de umamassa roxa e preta.Haviamuitos cortes em seu rosto e em suasmãos,algunsaindasangrando,eeleandavadesengonçado,fazendoHarrysuspeitardequetivessequebradoalgumascostelas.Eraóbvioqueacabaradechegar;umagrossacapadeviagemestava jogadaporcima de uma cadeira e uma mochila suficientemente grande para caber várias criancinhas estavaapoiada na parede ao lado da porta. Hagrid, duas vezes o tamanho de um homem normal, agoramancavaatéalareiraparapendurarnelaumachaleiradecobre.–Que foi que aconteceu comvocê?–quis saberHarry, enquantoCaninodançava emvoltados
três,tentandolamberseusrostos.
–Jádisse,nada–respondeuHagridcomfirmeza.–Querumaxícara?–Paracomisso–disseRony–,vocêestátodoarrebentado.–Estoudizendo,estoubem–insistiuHagrid,seerguendoetentandosorrirparaosgarotos,mas
fazendocaretas.–Caramba,comoébomvervocêstrêsdenovo,foramboasasférias,eh?–Hagridvocêfoiatacado!–comentouRony.–Pelaúltimavez,nãofoinada!–repetiuHagrid.–Vocêdiriaquenãofoinadaseumdenósaparecessecomumquilodecarnemoídanolugarda
cara?–perguntouRony.–VocêdeviaprocurarMadamePomfrey–disseHermionecomansiedadenavoz–,algunsdesses
cortesestãobemfeios.–Voucuidardeles,estábem?–retrucouele,desencorajandoperguntas.Hagridfoiatéaenormemesademadeiraqueficavanocentrodacabanaepuxouparaoladouma
toalha de chá que a cobria. Embaixo, havia um pedaço de carne crua, sangrenta e levementeesverdeada,umpoucomaiorqueumpneunormal.– Você não vai comer isso, vai, Hagrid? – perguntou Rony se aproximando da carne para ver
melhor.–Pareceenvenenada.–Éassimquedeveparecer,écarnededragão.Enãoatrouxeparacomer.Eleapanhouacarneechapou-adoladoesquerdodorosto.Sangueesverdeadoescorreuparasua
barba,eeledeuumgemidodesatisfação.–Assimestámelhor.Aliviaador,sabem.–Então,vainoscontaroqueaconteceucomvocê?–perguntouHarry.–Nãoposso,Harry.Ultraconfidencial.Vaicustarmaisdoqueomeuempregoseeulhecontar.–Foramosgigantesqueoespancaram,Hagrid?–perguntouHermionebaixinho.OsdedosdeHagridafrouxaramsobreacarnededragão,eelaescorregousumarentaparaoseu
peito.–Gigantes?!–exclamouele,segurandooenormebifeantesquechegasseaocintoerepondo-ono
rosto. –Quem foi que falou emgigantes?Comquemvocês andaramconversando?Quemdisse avocêsqueeuestive...quemdissequeeuestive...eh?–Adivinhamos–disseHermioneemtomdequemsedesculpa.–Ah,foié,foié?–tornouHagrid,fixando-aseveramentecomoolhoquenãoestavatapadopela
carne.–Foimeio...óbvio–disseRony.Harryconfirmoucomacabeça.Hagridarregalouosolhosparaeles,emseguidabufou,atirouacarnedevoltaàmesaefoivera
chaleira,queagoraassobiava.–Nunca vi garotos para sabermais do que devem comovocês –murmurou, derramando água
fervendoemtrêsdosseuscanecõesemformadebalde.–Eissonãoéumelogio,não.Abelhudos,écomochamam.Intrometidos.Massuabarbatremeu.–Entãovocêfoiprocurarosgigantes?–disseHarry,sorridente,sentando-seàmesa.Hagridpôsochádiantedecadaum,sentou-se,tornouaapanharacarneeachapá-lanorosto.–Estábem–resmungou.–Fui.–Eencontrou-os?–perguntouHermione,abafandoavoz.–Bom, eles não são difíceis de encontrar, para ser sincero – disseHagrid. –Bem grandinhos,
sabem.–Ondeéqueelesficam?–perguntouRony.–Nasmontanhas–disseHagriddemávontade.–Entãoporqueostrouxasnão...?
–Encontram,sim–disseHagridsombriamente.–Sóqueasmortesdelessempresãodivulgadascomoacidentesdemontanhismo,nãoémesmo?Eleajeitoumelhoracarnedemodoafazê-lacobrirapartemaismachucada.–Vamos,Hagrid,contepragenteoquevocêandoufazendo!–disseRony.–Contepragentecomo
foiatacadopelosgiganteseHarrypodelhecontarcomofoiatacadopelosDementadores...Hagridengasgoudentrodacanecaelargouacarne,tudoaomesmotempo:umagrandequantidade
decuspe,cháesanguededragãosalpicouamesa,enquantoogigantetossiaetentavafalareacarneescorregavadevagarinhoebatiacomsuavidadenochão.–Comoassim,atacadoporDementadores?–rosnouHagrid.–Vocênãosoube?–perguntou-lheHermione,arregalandoosolhos.–Nãoseinadadoqueandouacontecendodesdequeviajei.Estiveemumamissãosecreta,enão
queriacorujasmeseguindoportodaparte.Dementadoresdesgraçados!Vocênãoestáfalandosério!–Estou,sim,apareceramemLittleWhingingeatacaramamimemeuprimo,eentãooMinistério
daMagiameexpulsou...–QUÊ?–...etivedecompareceraumaaudiênciaetudo,masconteàgentesobreosgigantes,primeiro.–Vocêfoiexpulso?–Conteassuasfériasdeverãoelhecontareiasminhas.Hagridlhedeuumolharpenetrantecomoúnicoolhoaberto.Harrysustentouesseolhar,comuma
expressãodeinocentedeterminaçãonorosto.–Ah,tábem–conformou-seHagrid.EleseabaixouearrancouacarnededragãodabocadeCanino.–Ah,Hagrid,nãofaz isso,nãoéhigiê...–começouHermione,masHagrid já tacaraacarneno
olhoinchado.Tomououtrogolerestauradordechá,depoiscontou:–Bom,viajamosassimqueoanoletivoterminou...–MadameMaximefoicomvocê,então?–interrompeuHermione.–É,foi–confirmouHagrid,eumaexpressãobrandaapareceunospoucoscentímetrosderosto
quenãoestavamsombreadospelabarbaoupelacarneverde.–É, fomossónósdois.Evoudizeruma coisa, ela não temmedo de dureza, a Olímpia. Sabem, é umamulher fina e bem vestida, e,sabendoaonde íamos, fiquei imaginandocomo iria se sentir escalandomontanhasedormindoemgrutasetudo,maselanãoreclamounemumavez.–Vocêsabiaaondeestavamindo?–perguntouHarry.–Sabiaondeosgigantesestavam?–Bom,Dumbledoresabiaenosdisse.–Elesficamescondidos?–perguntouRony.–Ésegredoondeelesmoram?–Não,nãoé–respondeuHagrid,sacudindoacabeçapeluda.–Ésóqueamaioriadosbruxosnão
teminteresseemsaber,desdequeestejambemlonge.Masolugaremqueelesmoramébemdifícilde se alcançar, pelo menos para os humanos, então precisávamos das instruções de Dumbledore.Levamosummêsparachegarlá...–Ummês?!–exclamouRony,comosenuncativesseouvidofalaremumaviagemquedurasseum
tempo tão ridiculamente longo. –Maspor que vocênãopodia simplesmente pegar umaChavedePortalououtrotransportequalquer?PassouumaexpressãocuriosapeloolhodestampadodeHagridaofitarRony;eraquaseumolhar
depena.–Estávamossendovigiados,Rony–respondeurouco.–Comoassim?–Vocênãoentende.OMinistérioestádeolhoemDumbledoreeemtodoomundoqueachaqueé
partidáriodele,e...–Nóssabemosdisso–Harryapressou-seadizer,interessadoemouvirorestodahistória–,nós
sabemosqueoMinistérioestávigiandoDumbledore.–Porissovocênãopodiausarmagiaparachegarlá?–perguntouRony,perplexo.–Vocêstiveram
deagircomotrouxasocaminhotodo?–Bom,nãofoibemocaminhotodo–explicouHagridcomarastuto.–Sóprecisamostercuidado,
porqueOlímpiaeeudamosumpouconavista...Ronyfezumruídoentreumbufoeumafungada,etomoudepressaumgoledechá.–...entãonãosomosdifíceisdeseguir.Fingimosqueestávamostirandoumasfériasjuntos,então
chegamosàFrançaeagimoscomoseestivéssemosindoparaolugarondeficaaescoladeOlímpia,porque sabíamos que estávamos sendo seguidos por alguém do Ministério. Tivemos de viajardevagar,porquenãotenhopermissãodeusarmagia,esabíamosqueoMinistérioestavaprocurandouma desculpa para nos prender. Mas conseguimos enganar a anta que estava nos seguindo nosarredoresdeDi-Jão...–Aaaah,Dijon?!–exclamouHermione,excitada.–Estivelánasférias.Vocêviu...?Calou-seaoveracaradeRony.–Depoisdisso,nosarriscamosausarumpoucodemagiaenãofoiumaviagemruim.Demosde
caracomuns trasgosmalucosnafronteiracomaPolôniae tiveumaligeiradiscordânciacomumvampiroemumpubdeMinsk,mas,foraisso,nãopoderiatersidomaistranquila.“Então,chegamosaolugarecomeçamosasubirasmontanhasprocurandosinaisdeles...”“Tivemosdeabandonaramagiaquandonosaproximamosmais.Emparte,porqueelesnãogostam
de bruxos e não queríamos deixá-los irritados muito cedo e, em parte, porque Dumbledore nospreveniraqueVocê-Sabe-Quemdeviaestaratrásdosgigantesetudo.Dissequeeraquasecertoquejátivesse despachado ummensageiro.Disse que tivéssemosmuito cuidado para não chamar atençãoquandonosaproximássemos,paraocasodehaverComensaisdaMorteporperto.”Hagridfezumapausaparatomarumgrandegoledechá.–Continua!–pediuHarrypressuroso.–Encontreieles–disseHagrid,resumindo.–Passamosporumacristademontanhaumanoiteelá
estavam eles, acampados do outro lado. Pequenas fogueiras acesas embaixo e enormes sombras...pareciaqueestávamosvendopartesdamontanhasemexendo.–Quetamanhoelestêm?–perguntouRonycomavozabafada.–Unsseismetros–disseHagridcomdisplicência.–Algunsdosmaiorestalveztivessemunssete
metros.–Equantoshavia?–perguntouHarry.–Calculoqueunssetentaouoitenta.–Só?–admirou-seHermione.–É– respondeuHagrid com tristeza–, restamoitenta ehaviamuitosmais, devia terumascem
tribosdiferentesemtodoomundo.Masjáfazmuitotempoqueestãomorrendo.Osbruxosmataramalguns,éclaro,masprincipalmenteosgigantessemataramunsaosoutroseagoraestãomorrendomaisrápidoquenunca.Nãoforamfeitosparaviveragrupados.Dumbledoredizqueaculpaénossa,foramosbruxosqueos forçaramamorarbem longe, equeelesnão tiveramescolha senão ficarjuntosparaaprópriaproteção.–Então,vocêosviueaí?– Bom, esperamos até amanhecer, não queríamos nos aproximar no escuro, escondidos, para
nossaprópriasegurança–disseHagrid.–Lápelastrêshorasdamanhã,elesdormiramondeestavamsentadosmesmo.Não tivemos coragemde dormir. Primeiro porque queríamos ter certeza de quenenhumdeles ia acordar e subir até onde estávamos, e segundo porque os roncos eram incríveis.
Provocaramumaavalanchepoucoantesdodiaclarear.“Emtodoocaso,quandoclareoudescemosparafalarcomeles.”– Assim? – perguntou Rony, parecendo assombrado. – Vocês simplesmente entraram em um
acampamentodegigantes?–Bom,Dumbledoredisseàgentecomofazer.DarpresentesaoGurgue,apresentarosrespeitos,
vocêssabem.–Darpresentesaoquê?–Ah,aoGurgue,querdizer,chefe.–ComoéquevocêsabiaqualeraoGurgue?–perguntouRony.Harryachougraça.– Semproblema.Era omaior, omais feio e omais preguiçoso. Sentado ali, esperando que os
outros lhe levassem comida. Cabrasmortas e coisas do gênero.O nome eraKarkus, calculo quetivesseunsvinteedois,vinteetrêsanos,eopesodeumelefantemachoadulto.Apelefeitocouroderinoceronteetudo.–Evocêsimplesmentefoiatéele?–perguntouHermione,ofegante.–Bom...desci até ele, até onde estava deitado no vale.Os gigantes acamparamnessa depressão
entrequatromontanhasbastantealtas,entendem,àmargemdeumlago,eKarkusestavadeitadoali,bradandoparaosoutrosalimentaremeleeamulher.Olímpiaeeudescemosaencostadamontanha...–Maselesnãotentarammatarvocêsquandoosviram?–perguntouRonyincrédulo.–Comcertezaeraoqueestavanacabeçadealguns–disseHagrid,encolhendoosombros–,mas
fizemosoqueDumbledorenostinhaditoparafazer,ergueropresentebemalto,manterosolhosnoGurgueenãodaratençãoaosoutros.Então,foioquefizemos.Eelesficaramquietos,observandoagentepassar,chegamosatéospésdeKarkus,noscurvamosecolocamosonossopresentenafrentedele.–Queéquesedáaumgigante?–perguntouRonycurioso.–Comida?–Nam,elenãotemproblemaparaarranjarcomida.Levamosumacoisamágica.Gigantesgostam
demagia,sónãogostamquandoausamoscontraeles.Emtodoocaso,naqueleprimeirodiademosumramodefogogubraiciano.Hermioneexclamoubaixinho:–Uau!–MasHarryeRonyenrugaramatestaintrigados.–Umramode...?– Fogo perpétuo – disse Hermione, irritada. – Vocês já deviam conhecer. O Prof. Flitwick já
mencionouessetalfogonomínimoduasvezesemaula.–Bom,emtodoocaso–disseHagriddepressa,intervindoantesqueRonypudesseresponder.–
Dumbledoreenfeitiçouoramoparaarderparasempre,oquenãoécoisaquequalquerbruxopossafazer, então eu o depositei na neve aos pés de Karkus e disse: Um presente para o Gurgue dosgigantesdeAlvoDumbledore,quelheenviarespeitososcumprimentos.–EquefoiqueKarkusdisse?–perguntouHarry,ansioso.–Nada.Nãofalavainglês.–Tábrincando!–Nãofezdiferença–continuouHagrid,imperturbável.–Dumbledoretinhaavisadoqueissopodia
acontecer.Karkus sabiao suficienteparadarumberro e chamarunsgigantesque sabiamanossalíngua,eelestraduziramparanós.–Eelegostoudopresente?–perguntouRony.–Ah,sim,fizeramumalvoroçoquandoentenderamoqueera–disseHagrid,virandoopedaçode
carneparapôroladomaisfriosobreoolhoinchado.–Ficoumuitosatisfeito.Entãoeudisse:“AlvoDumbledorepedeaoGurgueparafalarcomoseumensageiroquandoelevoltaramanhãcomoutro
presente.”–Porquevocênãopodiafalarnaquelediamesmo?–perguntouHermione.–Dumbledorequeriaqueagentefossemuitodevagar.Deixasseelesveremquecumprimosnossas
promessas.Voltaremosamanhãcomoutropresente, e entãovoltar comoutropresente,dáumaboaimpressão,entende?Edátempoaelesparaexperimentaremoprimeiropresenteedescobrirqueébom,efazerelesquereremmais.Emtodoocaso,gigantescomoKarkus...seagentedáinformaçõesdemais, nos matam só para simplificar as coisas. Então, recuamos com uma reverência e fomosembora,arranjamosumapequenagrutaparapassaranoitee,namanhãseguinte,voltamosedestavezencontramosKarkussentadoesperandopornósedemonstrandoansiedade.–Evocêfaloucomele?– Ah, sim. Primeiro lhe demos de presente um bonito elmo de guerra, indestrutível, feito por
duendes,sabem,eentãosentamoseconversamos.–Quefoiqueeledisse?–Nãofaloumuito.Ouviuamaiorpartedotempo.Masfezsinaispositivos.Elejáouvirafalarde
Dumbledore,ouviraqueeleforacontramatarosúltimosgigantesnaInglaterra.Karkuspareceuestarmuito interessado no que Dumbledore tinha a dizer. E alguns dos outros, principalmente os quesabiamalguminglês,sereuniramanossavoltaetambémescutaram.Estávamosmuitoesperançososquandonosdespedimosnaqueledia.Prometemosvoltarnodiaseguintecomoutropresente.“Masnaquelanoitetudodesandou.”–Comoassim?–perguntouRonydepressa.–Bom,comoeudisse,elesnãonasceramparaviverjuntos,osgigantes–disseHagridtristemente.
–Nãoemgruposgrandescomoaquele.Nãoconseguemserefrear,quasesematamunsaosoutrosaintervalosdesemanas.Oshomenslutamentreeleseasmulhereslutamentreelas;osquesobramdasantigastriboslutamentresi,eissosemfalarnasdisputasporcomidaemelhoresfogueiraselugaresparadormir.Seriadeseesperar,jáquearaçatodaestáquasedesaparecendo,queparassemcomisso,mas...Hagriddeuumprofundosuspiro.–Naquelanoitehouveumabriga,assistimosdaentradadanossacaverna,deondeseviaovale.
Durouhoras,vocênãoacreditarianobarulho.E,quandoosolnasceu,aneveestavavermelhaeacabeçadelenofundodolago.–Acabeçadequem?!–exclamouHermione.– De Karkus – disse Hagrid, pesaroso. – Havia um novo Gurgue, Golgomate. – Ele tornou a
suspirar. – Bom, não tínhamos contado com um novo Gurgue dois dias depois de fazer contatoamigável com o primeiro, e tínhamos a estranha impressão de que Golgomate não estaria tãointeressadoemnosescutar,masprecisávamostentar.–Vocêsforamfalarcomele?–perguntouRony,incrédulo.–Depoisdeteremvistoelearrancara
cabeçadeoutrogigante?–Claroque fomos–disseHagrid–,não tínhamosviajado tão longeparadesistiremdoisdias!
DescemoscomopresentequepretendíamosdaraKarkus.“Percebiquenão iaadiantarantesmesmodeabrir aboca.Eleestava sentado lácomoelmode
Karkus na cabeça, rindo da gente, quando nos aproximamos. Ele é vigoroso, um dosmaiores dogrupo.Cabelospretosedentesdamesmacoreumcolardeossos.Algunsdosossosmepareceramhumanos. Bom, resolvi tentar, entreguei a ele um enorme rolo de couro de dragão, e disse: ‘UmpresenteparaoGurguedosgigantes.’Noinstanteseguinteeuestavapenduradonoardecabeçaparabaixo,agarradopordoiscompanheirosdele.”Hermionelevouasduasmãosàboca.–Ecomofoiquevocêsaiudessa?–perguntouHarry.
–Não teria saído seOlímpia não estivesse lá – disseHagrid. –Ela puxou a varinha e executoufeitiçoscomamaiorvelocidadequejávialguémexecutar.Fantástico.Atingiuosdoisqueestavamme segurando bem no olho, com Feitiços Conjunctivitus, e elesme largaram namesma hora nochão,masaíentramosemumaroubadaporquetínhamosusadomagiacontraeles,eissoéoqueosgigantes odeiam nos bruxos. Tivemos de dar no pé e sabíamos que depois disso não poderíamosvoltaraoacampamentodeles.–Caramba,Hagrid!–exclamouRonybaixinho.– Então como é que você levou tanto tempo para voltar pra casa se só passou três dias lá? –
admirou-seHermione.–Não partimos três dias depois! – disseHagrid, indignado. –Dumbledore estava confiando na
gente!–Masvocêacaboudedizerquenãopoderiamvoltarlá!–Não de dia, não poderíamos, não. Tivemos de repensar a coisa toda. Passamos uns dois dias
escondidosemumagruta,observando.Eoquevimosnãofoinadabom.–Elesarrancarammaiscabeças?–perguntouHermionecomrepugnância.–Não.Gostariaquesim.–Comoassim?–Nãotardamosadescobrirqueelenãofaziaobjeçõesatodososbruxos:sóanós.–ComensaisdaMorte?–indagouHarrydepressa.– É – disse Hagrid sombriamente. – Uns dois apareciam para visitá-lo todos os dias, levando
presentesparaoGurgue,eelenãopenduravaessasvisitaspelospés.–ComoéquevocêsabequeeramComensaisdaMorte?–perguntouRony.–Porquereconheciumdeles–respondeuemvozbaixaezangada.–Macnair,selembram?Ocara
quemandaramvirsacrificaroBicuço?Étarado,ele.GostadematartantoquantooGolgomate;nãoadmiraqueestejamsedandotãobem.–EntãoMacnairconvenceuosgigantesaseuniremaVocê-Sabe-Quem?–perguntouHermione,
desesperada.–Calmaaí,aindanãotermineiminhahistória!–exclamouHagrid,indignado,e,considerandoque
não queria contar nada aos garotos, agora parecia estar gostando. – Eu e Olímpia discutimos oproblemaeconcordamosquesóporqueoGurguepareciaestarfavorecendoVocê-Sabe-Quemnãosignificavaque todos iriamsegui-lo.Tínhamosde tentar convenceralgunsdosoutros,osquenãotinhamqueridoGolgomateparaGurgue.–Comoéquevocêsiamsaberquemeram?–perguntouRony.–Ora,eramosqueestavamsendoespancados,ounão?–disseHagridpaciente.–Osquetinham
juízo estavam saindo do caminho de Golgomate, se escondendo nas grutas em torno da ravinaexatamente como nós.Então, resolvemos explorar as grutas à noite, e ver se não conseguiríamosconvenceralguns.–Vocêssaíramexplorandoasgrutasàprocuradegigantes?–disseRony,comassombronavoz.–Bom,nãoeramosgigantesquenospreocupavammais.Estávamosmaispreocupadoscomos
Comensais da Morte. Dumbledore nos recomendara que não nos metêssemos com eles sepudéssemosevitar,eoproblemaeraquesabiamqueandávamosporperto,imaginoqueGolgomatetenhacontado.Ànoite,quandoosgigantesestavamdormindoequeríamossairrondandoasgrutas,Macnaireooutroestavamexplorandoasmontanhasànossaprocura.FoidifícilimpedirOlímpiadesaltaremcimadeles–disseHagrid,oscantosdabocarepuxandoparacimasuabarbadesgrenhada–,elaestavadoidaparaatacá-los... temumacoisaquandoseencrespa,aOlímpia... impetuosa,sabem,imaginoquesejaosanguefrancêsdela...Hagrid contemplou o fogo com os olhos embaçados. Harry lhe permitiu trinta segundos de
reminiscênciasantesdepigarrearalto.–Então,quefoiqueaconteceu?Vocêchegouaseaproximardealgumdosoutrosgigantes?–Quê?Ah...ah,claroquesim.NaterceiranoitedepoisquemataramKarkus,nosesgueiramospara
foradagrutaemqueestávamosescondidosevoltamosàravina,mantendoosolhosmuitoabertospara os Comensais daMorte. Entramos em algumas grutas, mas nada, então, lá pela sexta gruta,encontramostrêsgigantesescondidos.–Agrutadeviaestarapertada–comentouRony.–Nãotinhalugarnemparaumamasso–disseHagrid.–Elesnãoatacaramvocêsquandoosviram?–perguntouHermione.– Provavelmente teriam atacado se tivessem condições, mas estavam muito feridos, os três; o
bandodeGolgomatedeixou-osdesacordadosdetantapancada;elestinhamrecuperadoaconsciênciae se arrastado até o abrigomais próximo que encontraram. Em todo o caso, um deles sabia umpouquinhodeinglêsetraduziuparaosoutros,eoquetínhamosadizerparecequenãocaiumuitomal.Entãovoltamosváriasvezesparavisitarosferidos...calculoqueemumdeterminadomomentotínhamosconvencidounsseisousete.–Seisousete?!–exclamouRonyansioso.–Nãoénadamal,elesvêmajudaragentealutarcontra
Você-Sabe-Quem?MasHermioneperguntou:–Oquevocêquisdizercom“emumdeterminadomomento”,Hagrid?Hagridolhou-aentristecido.– O grupo de Golgomate tomou a gruta de assalto. Depois disso, os que sobreviveram não
quiserammaisnadaconosco.–Entãonãovirágigantenenhum?–perguntouRony,parecendodesapontado.–Não–confirmouHagrid,soltandoumgrandesuspiroetornandoaviraropedaçodecarnepara
aplicar o ladomais frio no rosto –,mas cumprimos o que fomos fazer, levamos amensagemdeDumbledore,ealgunsaouviram,eesperoqueumdiaselembrem.Talvez,osquenãoquiseremficarpertodeGolgomatesemudemdasmontanhaseéatépossívelqueselembremqueDumbledoreéafavordeles...talvezelesvenhamentão.Aneveagoracobriaajanela.Harrypercebeuqueosjoelhosdesuasvestesestavamencharcados.
Caninoestavababandoemseucolo.–Hagrid?–disseHermione,baixinho,passadoalgumtempo.–Humm?–Vocêouviu...viualgumsinalde...descobriualgumacoisasobresu...sua...mãeenquantoesteve
lá?OolhodestampadodeHagridsefixounela,eHermionesentiumedo.–Desculpe...eu...esquece...–Morta.Háanos.Elesmecontaram.–Ah...eu...realmentelamento–disseHermione,comavozfraquinha.Hagridencolheuosombros
enormes.–Nãoprecisa–dissebrusco.–Nãomelembromuitodela.Nãofoiumaboamãe.Elesficaramemsilêncio.HermioneolhounervosaparaHarryeRony,claramentequerendoque
dissessemalgumacoisa.– Mas você ainda não nos explicou como foi que ficou nesse estado, Hagrid – disse Rony,
indicandoorostomanchadodesanguedeHagrid.–Ou por que demorou tanto a voltar – acrescentouHarry. – Sirius falou queMadameMaxime
voltouháséculos...–Quematacouvocê?–perguntouRony.
–Nãofuiatacado!–respondeuHagridenfaticamente.–Eu...Masorestantedesuafrasefoiabafadaporumasucessãodebatidasnaporta.Hermioneprendeua
respiração;suacanecaescorregouporentreosdedoseseespatifounochão;Caninolatiu.Osquatrosevoltaramparaajanelaaoladodaporta.Asombradeumvultopequenoeatarracadosemexeuportrásdacortinafina.–Éela!–sussurrouRony.–Entremaquiembaixo!–disseHarrydepressa;agarrandoaCapadaInvisibilidade,elearodouno
arparacobrirHermioneeele,enquantoRonydavaavoltanamesaemergulhavasobacapatambém.Agarrados, os três recuaram para um canto. Canino latia nervoso para a porta. Hagrid pareciacompletamenteconfuso.–Hagrid,escondanossascanecas!HagridapanhouascanecasdeHarryeRonyeescondeu-assobaalmofadadacestadeCanino,que
agorasaltavacontraaporta;Hagridempurrou-oparaoladocomopéeaabriu.AProfaUmbridgeestavaparadaali,trajandooseucasacodetweedverdeeogorrocombinando,
com abas sobre as orelhas. Os lábios contraídos, ela recuou para olhar o rosto de Hagrid; malchegavaaoseuumbigo.–Então–disseeladevagareemvozalta,comoseestivessefalandocomalguémsurdo.–Vocêéo
Hagrid,nãoé?Semesperarpelaresposta,elaentrounasala,osolhossaltadosgirandoemtodasasdireções.–Saiparalá!–exclamouelacomrispidez,sacudindoabolsacontraCanino,quesaltaraemcima
delaetentavalamberseurosto.–Hum...nãoquerosermal-educado–disseHagrid,encarando-a–,mas,diabos,queméasenhora?–MeunomeéDoloresUmbridge.Seusolhosesquadrinhavamacabana.Duasvezes,olhoudiretamenteparaocantoemqueHarry
estava,espremidoentreRonyeHermione.– Dolores Umbridge?! – exclamou Hagrid, parecendo inteiramente confuso. – Pensei que a
senhorafossedoMinistério,asenhoranãotrabalhacomFudge?– Eu era subsecretária sênior do ministro – confirmou ela, agora andando pela cabana e
absorvendocadamínimodetalhe,desdeamochiladeviagemencostadaàparedeatéacapadeviagemlargadasobreacadeira.–AgorasouprofessoradeDefesaContraasArtesdasTrevas...–Temmuitacoragem–disseHagrid.–Nãotemmaismuitagentequequeiraaceitaressecargo.–...eAltaInquisidoradeHogwarts–continuouela,nãodemonstrandoqueoouvira.–Eoqueéisso?–perguntouHagrid,franzindoatesta.–Éexatamenteoqueeuiaperguntar–disseUmbridge,apontandoparaoscacosdelouçanochão
querestavamdacanecadeHermione.–Ah – disseHagrid, comumolhar contrariado para o canto em queHarry,Rony eHermione
estavamescondidos–,ah,issofoi...foioCanino.Elequebrouacaneca.Entãotivedeusarestaoutra.Hagridapontouparaacanecadaqualestavabebendo,umadasmãosaindacomprimindoacarne
dedragãosobreoolho.Umbridgeestavadefrenteparaeleagora,examinandocadadetalhedesuaaparência,comofizeracomacabana.–Ouvivozes–disseelaemvozbaixa.–EuestavaconversandocomoCanino–respondeuHagridcorajosamente.–Eeleestavaconversandocomvocê?–Bom...decertamaneira– respondeuHagrid,parecendopoucoàvontade.–Àsvezesdigoque
Caninoéquasehumano...–Hátrêsparesdepegadasnanevequevêmdocasteloàsuacabana–disseUmbridgecomastúcia.Hermioneofegou;Harrytampouabocadaamigacomamão.Porsorte,Caninoestavafarejando
altoemvoltadabarradasaiadaProfaUmbridge,eelanãopareceuterouvido.–Bom,euacabeidevoltar–explicouHagrid, indicandocomsuamanzorraamochila.–Talvez
alguémtenhavindomevisitarmaiscedoenãotenhameencontrado.–Nãohápegadassaindodesuacabana.– Bom, eu... eu não sei por que seria... – respondeu Hagrid, puxando nervosamente a barba e
tornandoaolharparaocantoemqueestavamosgarotos,comosepedisseajuda.–Hum...Umbridge se virou e andou pela cabana estudando tudo atentamente. Abaixou-se para espiar
embaixodacama.AbriuosarmáriosdeHagrid.PassouacincocentímetrosdeondeHarry,RonyeHermioneestavamcoladoscontraaparede;Harrychegouaencolherabarrigaquandoelapassou.DepoisdeespiardentrodoenormecaldeirãoqueHagridusavaparacozinhar,elasevirouedisse:–Quefoiqueaconteceucomvocê?Comofoiqueseferiudessamaneira?Hagridretiroudepressaacarnededragãodorosto,oquenaopiniãodeHarryfoiumerro,porque
ohematomapretoeroxoemvoltadoseuolhoagoraestavaclaramentevisível,semfalarnosanguerecentequecongelaraemseurosto.–Ah...tiveumpequenoacidente–dissepoucoconvincente.–Quetipodeacidente?–Aaa...tropecei.–Tropeçou–repetiuelacalmamente.–É,foi.Na...navassouradeumamigo.Eunãovoo.Bom,olhebemomeutamanho,achoquenão
haveria vassoura que aguentasse comigo. Um amigo meu cria cavalos abraxanos. Não sei se asenhorajáviualgum,bichosenormes,alados,sabe,eutinhadadoumavoltaemumdeleseestava...– Onde é que você esteve? – perguntou Umbridge interrompendo calmamente a tagarelice de
Hagrid.–Ondeéqueeu...?–Esteve,issomesmo.Otrimestrecomeçouhádoismeses.Outraprofessoraprecisoucobrirsuas
aulas.Nenhumdosseuscolegassoubemedarinformaçãoalgumasobreoseuparadeiro.Vocênãodeixouendereço.Ondeesteve?HouveumapausaemqueHagridencarouUmbridgecomoolhoqueacabaradedestampar.Dava
quaseparaHarryouvirseucérebrotrabalhandofuriosamente.–Estive...estiveforatratandodasaúde.–Tratandoda saúde– repetiu aProfaUmbridge. Seus olhos perpassaramo rosto descolorido e
inchadodeHagrid;osanguededragãopingavalentaesilenciosamenteemseucolete.–Entendo.–É–continuouHagrid–,umpoucodearfresco,asenhoraentende...–Entendo,comoguarda-caçadeveserdifícilencontrararfresco–disseUmbridgemeigamente.A
pequenaáreadorostodeHagrid,quenãoestavapretaouroxa,corou.–Bom...mudançadecenário,asenhorasabe...–Cenáriodemontanhas?–tornouUmbridgerápida.Elasabe,pensouHarrydesesperado.–Montanhas?–repetiuHagrid,claramentepensandorápido.–Não,preferiosuldaFrança.Um
poucodesole...emar.–Verdade?Vocênãoparecetersebronzeadomuito.–Não...bom...pelesensível–respondeuHagrid,tentandosorririnsinuante.Harryreparouqueele
haviaperdidodoisdentes.Umbridgeolhou-ocomfrieza;osorrisodelevacilou.Entãoelaergueuabolsaparaabraçá-lacontraocorpoedisse:–Naturalmente,vouinformaraoministrooseuatrasoemvoltar.–Certo–respondeuHagrid,confirmandocomumacenodecabeça.–Vocêprecisasabertambémque,comoAltaInquisidora,tenhoodeverespinhosomasnecessário
deinspecionarosmeuscolegas.Portanto,éprovávelquemuitobrevenosvejamosdenovo.Elaseviroubruscamenteesedirigiuàporta.–A senhora está nos inspecionando? – repetiuHagrid sem entender, olhando para as costas da
bruxa.–Ah,sim–respondeuUmbridgemansamente,virando-separaolhá-lo,amãonamaçaneta.–O
Ministérioestáresolvidoaextirparosprofessoresincompetentes,Hagrid.Boa-noite.Elasaiu,fechandoaportacomumestalo.HarryfezmençãodetiraraCapadaInvisibilidade,mas
Hermioneagarrouseupulso.–Aindanão–cochichouemseuouvido.–Talvezelaaindanãotenhaidoembora.Hagridpareciaestarpensandoamesmacoisa;atravessouasalamancandoeabriuumafrestana
cortina.–Estávoltandoparaocastelo–disseemvozbaixa.–Caramba...inspecionandoaspessoas,é-é?–É–confirmouHarryretirandoacapa.–Trelawneyjáestáemobservação...–Hum...quetipodecoisavocêestáplanejandofazercomagenteemaula,Hagrid?–perguntou
Hermione.– Ah, não se preocupe, tenho um monte de aulas preparadas – disse Hagrid entusiasmado,
recolhendoacarnededragãodamesaechapando-anovamenteemcimadoolho.TenhounsdoisbichosqueandeicriandoparaoanodoN.O.M.;esperemparaver,sãorealmenteespeciais.–Hum...especiaisdequemaneira?–perguntouHermionesondando.–Nãovoudizer–respondeuele,feliz.–Nãoqueroestragarasurpresa.–Escute,Hagrid–disseHermionecomurgência,deixandodeladotodoofingimento–,aProfa
Umbridgenãovai ficarnadasatisfeita sevocê trouxerparaaaulaalgumacoisaquesejaperigosademais.–Perigosa?–disseHagridjovialmente,sementender.–Nãosejaboba,eunãotrariaparavocês
nadaquefosseperigoso!Querodizer,tudobem,elessabemsedefender...–Hagrid, você precisa passar na inspeção daUmbridge, e para conseguir isso seria realmente
melhor que ela o visse nos ensinando a cuidar de pocotós, como diferenciar ouriços de porcos-espinhos,coisasdessegênero–disseHermione,séria.–Mas isso não émuito interessante,Mione – replicouHagrid. –O que eu tenho émuitomais
impressionante.Venhocriandoelesháanos.Calculoqueeu tenhaoúnicorebanhodomesticadodaGrã-Bretanha.– Hagrid... por favor... – pediu Hermione, com uma nota de verdadeiro desespero na voz. –
Umbridge está procurando qualquer desculpa para se livrar de professores que ela acha que sãomuitopróximosdeDumbledore.Porfavor,Hagrid,ensineagentealgumacoisasemgraçaquevaiserpedidanonossoexame.MasHagridmeramentedeuumenormebocejoelançouumolharansiosodeumúnicoolhoparaa
vastacamaaumcanto.–Escute,foiumdiacompridoeestátarde–disseele,dandoumapalmadinhacarinhosanoombro
deHermione,que fezos joelhosdagarotadobraremebaternochãocomumruídosurdo.–Ah...desculpe...–Epuxou-aparacimapelagoladasvestes.–Olhe,paredesepreocuparcomigo,juroquetenhomaterialrealmentebomprogramadoparaasaulas,agoraquevoltei...émelhorvocêsvoltaremparaocasteloenãoseesqueçamdeapagaraspegadasporondevãopassar,eh?– Não sei se Hagrid conseguiu entender o seu recado – comentou Rony um poucomais tarde
quando, depois de verificaremque a barra estava limpa, voltarampara o castelo pela neve que seacumulava,semdeixarvestígios,graçasaoFeitiçoqueHermionelançavaaopassarem.– Então voltarei amanhã – disse Hermione, decidida. – Vou planejar as aulas para ele, se for
preciso.NãomeimportoquemandeaTrelawneyembora,maselanãovaiselivrardeHagrid,não!
—CAPÍTULOVINTEEUM—OOlhodaCobra
HermionevoltouàcabanadeHagridnodomingopelamanhã,avançandocomdificuldadepelanevedemeiometrodealtura.HarryeRonyqueriamacompanhá-la,masamontanhadedeveresdecasatornaraaatingirumaalturaalarmante,porisso,contrariados,elesficaramnasalacomunal,tentandoignorarosgritosalegresquechegavamládefora,ondeosestudantessedivertiampatinandonolagogelado, andandode tobogã e, o que era pior, enfeitiçandobolas de neve para voar até aTorre daGrifinóriaebatercomforçanasjanelas.–Oi!–berrouRony, finalmenteperdendoapaciênciaemetendoacabeçaparaforada janela:–
Soumonitor,esemaisumaboladenevebaternestajanela...AI!Elerecuoucomummovimentobrusco,orostocobertodeneve.–ÉoFredeoJorge–comentoucomamargura,batendoajanela.–Babacas...HermionevoltoudacasadeHagridpoucoantesdoalmoço,tremendoumpoucodefrio,asvestes
úmidasatéosjoelhos.–Então?–perguntouRony,erguendoacabeçaquandoelaentrou.–Conseguiuplanejartodasas
aulascomele?–Bom, eu tentei – respondeu ela desanimada, afundando na poltrona ao lado deHarry. Puxou,
então,avarinhae,comumfloreio,fezsairarquentedaponta;emseguidaapontou-aparaasvestes,que começaram a desprender vapor à medida que foram secando. – Ele nem estava lá quandocheguei,batinomínimomeiahora.EquandosaiumancandodaFloresta...Harrygemeu.AFlorestaProibidaestavaapinhadacomotipodeanimaiscommaiorprobabilidade
decausarademissãodeHagrid.–Queéqueeleestácriandolá?Eledisse?–Não–respondeuHermione,infeliz.–Dissequequerfazersurpresa.Tenteiexplicaropapelda
Umbridge, mas ele simplesmente não entende. Repetiu o tempo todo que ninguém com o juízoperfeitoiriapreferirestudarouriçosemvezdequimeras...ah,nãoachoqueeletenhaumaquimera–acrescentou ao ver a expressão de espanto nos rostos deHarry eRony. –Mas não é por falta detentar,pelocomentárioquefezsobreadificuldadedeobterovos.Nãoseiquantasvezeseurepetiqueele fariamelhor seseguisseoprogramadaGrubbly-Plank, sinceramenteachoquenãoouviunemmetadedoqueeudisse.Eestámeioestranho,sabe?Continuasemquererdizerondearranjouaquelesferimentos.OreaparecimentodeHagridàmesadosprofessoresnamanhãdodiaseguintenãofoi recebido
comentusiasmoportodososalunos.Alguns,comoFred,JorgeeLino,gritaramdealegriaesaíramcorrendo pelo corredor entre as mesas da Grifinória e Lufa-Lufa para apertar sua mão enorme;outros, como Parvati e Lilá, trocaram olhares sombrios e balançaram a cabeça. Harry sabia quemuitospreferiamasaulasdaProfaGrubbly-Plank,eopioréqueumapequenapartedele,imparcial,sabiaqueos colegas tinhamboas razões:paraGrubbly-Plankumaaula interessante era aquela emqueninguémcorriaoriscodeteracabeçaarrancada.FoicomumacertaapreensãoqueostrêsamigosseencaminharamparaaauladeHagridnaterça-
feira, bem agasalhados contra o frio. Harry estava preocupado, não somente com o que Hagrid
decidiraensiná-los,mas tambémcomocomportamentodorestanteda turma,particularmenteodeMalfoyeseuscomparsas,seUmbridgeestivesseobservando.No entanto, aAlta Inquisidora não estava visível enquanto venciam com dificuldade a neve em
direçãoaHagrid,queosesperavanaorladaFloresta.Suaaparêncianãotranquilizava;oshematomasqueestavamroxosnosábadoànoiteagoraestavammatizadosdeverdeeamarelo,ealgunsdosseuscortes ainda pareciam sangrar. Harry não conseguia entender: será que Hagrid fora atacado poralgumacriaturacujovenenoimpediaosferimentosdesararem?E,comoparacompletarsuafigurasinistra,Hagridcarregavaporcimadoombroumacoisaquepareciaametadedeumavacamorta.– Vamos trabalhar aqui hoje! – anunciou alegremente aos estudantes que se aproximavam,
indicandocomacabeçaasárvoresescurasàssuascostas.–Umpoucomaisprotegidos!Dequalquermaneira,elespreferemoescuro.–Queéqueprefereoescuro?–HarryouviuMalfoyperguntar rispidamenteaCrabbeeGoyle,
comumindíciodepâniconavoz.–Quefoiqueeledissequeprefereoescuro:vocêsouviram?Harrylembrou-sedaúnicaoutraocasiãoemqueMalfoyentraranaFloresta;tampoucoforamuito
corajosoentão.Elesorriupordentro;depoisdojogodequadribolachavaótimoqualquercoisaquecausassemal-estaraMalfoy.–Prontos?–perguntouHagridanimado,olhandoparaosalunos.–Bom,então,estiveguardando
umaviagemàFlorestaparaoseuquintoano.Penseiemirmosverosbichosemseuhábitatnatural.Agora,oquevamosestudarhojeébemraro.CalculoqueeusejaaúnicapessoanaGrã-Bretanhaqueconseguiudomesticá-los.–Vocêtemmesmocertezadequeelesestãodomesticados?–disseMalfoy,opânicoemsuavoz
eraaindamaispronunciado.–Nãoseriaaprimeiravezquevocêtrazbichosselvagensparaaaula,nãoé?Os alunos da Sonserina murmuravam concordando, e alguns da Grifinória também pareciam
acharqueMalfoytinhaumacertarazão.–Claroqueestãodomesticados–garantiuHagrid,fechandoacaraeerguendoumpoucoavaca
mortaparaajeitá-lanoombro.–Então,quefoiqueaconteceucomoseurosto?–quissaberMalfoy.–Cuidedasuavida!–disseHagrid,zangado.–Agora,seacabaramdefazerperguntasbobas,me
sigam!Ele se virou e entrou na Floresta Proibida. Ninguém parecia muito disposto a segui-lo. Harry
olhouparaRonyeHermione,quesuspiraram,masconcordaramcomacabeça,eos trêsentraramatrásdeHagrid,liderandoorestodaturma.Caminharamunsdezminutosatéchegaraumpontoemqueasárvorescresciamtãojuntasqueera
sombriocomoaoanoitecer,enãohavianevenochão.Comumgemido,Hagriddepositouametadedavacanochão,recuouesevirouparaolharosalunos,amaioriadosquaisseesgueiravadeárvoreemárvoreemsuadireção,espiandoparaosladosnervosamentecomoseesperassemseratacadosaqualquermomento.–Cheguemmais,cheguemmais–encorajou-osHagrid.–Agoraelesvãoseratraídospelocheiro
dacarne,masdequalquermaneiravouchamá-los,porquevãogostardesaberquesoueu.Ele se virou, sacudiu a cabeça desgrenhada para tirar os cabelos do rosto e soltou um grito
estranhoeagudoqueecoouporentreasárvoresescurascomoochamadodeumaavemonstruosa.Ninguémriu:amaioriaestavaapavoradademaisparaemitirqualquersom.Hagrid deu novo grito agudo. Passou-se um minuto em que a turma continuou a espiar
nervosamente sobre os ombros e por trás das árvores para avistar o que quer que estivesse acaminho.Então,quandoHagridjogouoscabelosparatrásmaisumavezeencheuoenormepeito,HarrycutucouRonyeapontouparaoespaçovazioentredoisteixosnodosos.
Doisolhosvidrados,brancos,brilhantes, foramcrescendonapenumbra,depoissurgiramacaradraconina,opescoçoe,emseguida,ocorpoesqueléticodeumenormecavaloaladonegroemergiudaescuridão.Oanimalcorreuosolhospelaturmaporalgunssegundos,balançandoalongacaudanegra,entãocomeçouaarrancarpedaçosdavacamortacomseuscaninospontiagudos.Harry foi invadido por uma grande onda de alívio. Ali, finalmente, estava a prova de que não
imaginara esses bichos, de que eram reais: Hagrid conhecia a existência deles também. OlhouanimadoparaRony,masoamigocontinuavaaespiarentreasárvorese,passadosalgunssegundos,cochichou:–PorqueéqueHagridnãochamaoutravez?Amaioria dos outros alunos expressava no rosto uma ansiedade confusa e nervosa, como a de
Rony, e continuava a olhar para todos os lados, exceto para o cavalo, a poucomais de ummetrodeles. Havia apenas mais duas pessoas que pareciam capazes de vê-los: um garoto magricela daSonserina,paradologoatrásdeGoyle,queobservavaocavalocomercomumacaradeintensonojo;eNeville,cujoolharacompanhavaobalançodalongacaudanegra.–Ah,eaívemmaisum!–anunciouHagridorgulhoso,quandoviuaparecerdomeiodasárvores
escurasumsegundocavalo,quefechouasasascontraocorpoemergulhouacabeçaparadevoraracarne.–Agora...levantemasmãos...quemconseguevê-los?Imensamentesatisfeitodequefinalmentefosseentenderomistériodessescavalos,Harryergueua
mão.Hagridfezumacenoparaele.–Sim...sim,eusabiaquevocêseriacapazdevê-los–dissesério.–Evocêtambém,Neville,eh?
E...–Comlicença–perguntouMalfoycomavozdesdenhosa–,masqueéexatamentequeeudevia
estarvendo?Emresposta,Hagridapontouparaacarcaçadavacanochão.Aturmainteiracontemplou-acom
espanto por alguns segundos, então várias pessoas exclamaram, e Parvati soltou um grito agudo.Harryentendeuporquê:ospedaçosdecarnesesoltandodosossosedesaparecendonoardeviamparecerrealmenteestranhos.–Que é que está fazendo isso? – perguntou Parvati, aterrorizada, recuando para trás da árvore
maispróxima.–Queéqueestácomendoavaca?– Testrálios – disse Hagrid, orgulhoso, e Hermione soltou em voz baixa um “Ah!” de
compreensãoaoombrodeHarry.–HogwartstemumrebanhodelesaquinaFloresta.Agora,quemsabe...?–Maseles realmente trazemmásorte!– interrompeuParvati,parecendoassustada.–Dizemque
dãotodootipodeazaràspessoasqueosveem.AProfaTrelawneymecontouumavez...– Não, não, não – contestou Hagrid rindo –, isso é pura superstição, isto é, eles são muito
inteligenteseúteis!Éclaroqueessesdaquinãotrabalhammuito,sópuxamascarruagensdaescola,anão ser queDumbledore vá fazer uma viagem longa e não queira aparatar... e aí vêmmais dois,olhem...Mais dois cavalos saíram silenciosamente de trás das árvores, um deles passoumuito perto de
Parvati,queestremeceueseencostoumaispertodaárvore,dizendo:–Sentialgumacoisa,achoqueestápertodemim!–Não se preocupe, ele nãovaimachucar você– disseHagrid paciente. –Certo, agora, quemé
capazdemedizerporquealgunsdevocêsveemosTestrálioseoutrosnão?Hermioneergueuamão.–Diga,então–pediuHagrid,sorrindoparaagarota.–SópodemverosTestrálios–respondeuela–aspessoasquejáviramamorte.
–Exatamente–disseHagrid,muitosolene–,dezpontosparaaGrifinória.Agora,osTestrálios...–Hem,hem.AProfaUmbridgechegara.EstavaaalgunspassosdeHarry,usandonovamenteacapaeochapéu
verdes, a prancheta àmão.Hagrid, que nunca ouvira o pigarro fingido daUmbridge, olhou comcertapreocupaçãoparaoTestráliomaispróximo,evidentementepensandoqueeleproduziraosom.–Hem,hem.–Ah,olá!–disseHagridsorrindo,aolocalizaraorigemdoruído.–Você recebeuobilhetequemandei à sua cabanahojepelamanhã?–perguntouUmbridge,no
mesmotomaltoepausadoqueusaracomeleanteriormente,comoseestivessesedirigindoaalguémaomesmotempoestrangeiroeretardado.–Avisandoqueeuviriainspecionarsuaaula?– Ah, sim – respondeu Hagrid, animado. – Fico satisfeito que tenha encontrado o local sem
dificuldade! Bom, como pode ver ou, não sei, será que a senhora pode?Hoje estamos estudandoTestrálios...–Desculpe?–disseaProfaUmbridgeemvozalta,levandoamãoemconchaàorelhaefranzindoa
testa:–Quefoiquevocêdisse?Hagridpareceuumpoucoconfuso.–Ah...Testrálios!–disse,elevandoavoz.–Cavalosalados...hum...grandes,sabe!Eleagitouosbraçosgigantescos,esperançoso.AProfaUmbridgeergueuassobrancelhasparaele
e resmungou alguma coisa enquanto anotava na prancheta: Tem... de... recorrer... a... grosseira...gesticulação.– Bom... em todo o caso... – disse Hagrid voltando-se para a turma e parecendo ligeiramente
atrapalhado–hum...queéqueeuiadizendo?–Parece...esquecer...o...que...estavadizendo–murmurouUmbridge,suficientementealtopara
todosouvirem.DracoMalfoypareciasentirqueoNatalchegaraummêsantes;Hermione,poroutrolado,ficaraescarlatedefúriareprimida.– Ah, sim – disse Hagrid, lançando um olhar preocupado à prancheta de Umbridge, mas
prosseguindo valorosamente. –Eu ia contar a vocês como foi que formamos um rebanho. Então,começamoscomummachoecincofêmeas.Este–eledeuumapalmadinhacarinhosanoprimeirocavaloqueaparecera–,denomeTenebrus,treva,omeugrandefavorito,foioprimeiroanascernaFloresta...–Vocêtemciência–disseUmbridgeemvozalta,interrompendo-o–queoMinistériodaMagia
classificouosTestrálioscomo“perigosos”?OânimodeHarryafundoucomoumapedra,masHagridmeramentedeuumarisadinha.– Os Testrálios não são perigosos! Tudo bem, são capazes de tirar um pedaço de alguém que
realmenteosimportunar...–Manifesta... prazer... à... ideia... de... violência – murmurou Umbridge, registrando em sua
prancheta.–Ora...vamos!–exclamouHagrid,parecendoumpoucoansiosoagora.–Querodizer,umcão
mordeseapessoaoaçula,não?...masosTestráliossomenteganharammáreputaçãoporcausadessahistória de morte... as pessoas costumavam pensar que traziam mau agouro, não é mesmo?Simplesmentenãoentendiam,nãoé?Umbridgenãorespondeu;terminoudefazeraúltimaanotação,entãoolhouparaHagridedisse,
maisumavezalteandoavozeenunciandoaspalavrasdevagar:– Por favor, continue sua aula como sempre, eu vou andar um pouco – ela imitou uma pessoa
andando(MalfoyePansyParkinsontiveramacessossilenciososderiso)entreosalunos(elaapontoucadaintegrantedaturma)–efazerperguntas.–Elaapontouparaabocaindicandooatodefalar.Hagridarregalouosolhosparaela,visivelmenteincapazdecompreenderporqueestavaagindo
comosenãosoubesseinglêsnormal.Hermioneagoratinhalágrimasdefúrianosolhos.– Suamegera, suamegeramaligna! – sussurrou ela, enquanto Umbridge andava em direção a
PansyParkinson.–Euseioquevocêestáfazendo,suabruxahorrível,pervertida,malévola...–Hum...emtodoocaso–disseHagrid,tentandonitidamenterecuperarofiodesuaaula–,então...
osTestrálios.Sim.Bom,hámuitascoisasboassobreeles...–Vocêacha–perguntouaProfaUmbridgeaPansycomvozressonante–queécapazdeentendero
Prof.Hagridquandoelefala?TalcomoHermione,Pansytinhalágrimasnosolhos,maseramlágrimasderiso,naverdade,esua
respostafoiquaseincoerentenatentativadeconteroriso.–Não...porque...bom...muitasvezes...parecemgrunhidos.Umbridgeregistrouarespostaemsuaprancheta.AspoucaspartessãsdorostodeHagridcoraram,
maseletentouagircomosenãotivesseouvidoarespostadaaluna.– Hum... sim... coisas boas sobre os Testrálios. Uma vez que sejam domesticados, como este
rebanho, as pessoas nuncamais se perderão. Eles têm um espantoso senso de direção, é só dizeraondesequerir...–Supondoqueelesconsigamentendervocê,naturalmente–disseMalfoyalto,ePansydesatouem
umnovoacessoderiso.AProfaUmbridgesorriuindulgentementeparaosdoisesedirigiuaNeville.–VocêconsegueverosTestrálios,Longbottom,verdade?Nevilleassentiucomacabeça.–Quemfoiquevocêviumorrer?–perguntouela,seutomindiferente.–Meu...meuavô–disseNeville.–Eoqueachadeles?–perguntouaprofessora,indicandocomamãocurtaegrossaoscavalos,
queaessaalturatinhamlimpadoumaboapartedacarcaçaatéosossos.–Hum–disseNeville,nervoso,lançandoumolharaHagrid.–Bom...eles...aah...tudobem.–Os... alunos... se... sentem... demasiado... intimidados... para... admitir... que... têm... medo –
murmurouUmbridge,fazendomaisumaanotaçãonaprancheta.–Não!–protestouNeville,parecendoaborrecido.–Não,nãotenhomedodeles!–Estátudobem–disseUmbridge,lhedandopalmadinhasnoombro,comoqueelapretendiaque
fosseumsorrisodecompreensão,emboraparecesseaHarrymaisumesgarmaldoso.–Bom,Hagrid–Umbridge tornou a olhar para ele, falandomais umavez alta e lentamente: –Achoque tenhoosuficienteparatrabalhar.Vocêreceberá(elaimitouogestodeapanharalgumacoisaasuafrente)osresultadosdesuainspeção(elaapontouparaaprancheta)dentrodedezdias.–Ergueuosdezdedoscurtosdasmãos,e,comosorrisomais largoebufonídeoque jáderasobaquelegorroverde,elasaiuapressada,deixandoMalfoyePansyParkinson tendoacessosderisos,Hermione tremendodefúriaeNevilleparecendoconfusoeaborrecido.–Aquelagárgulavelha,nojenta,mentirosa,deturpadora!–explodiuHermionemeiahoradepois,
quandovoltavamaocastelopelocaminhoquehaviamabertonanevemaiscedo.–Vocêsestãovendooqueelaestátramando?Éaquelepreconceitocontramestiçosoutravez:estátentandopintarHagridcomo uma espécie de trasgo retardado, só porque a mãe dele era giganta, e, ah, não é justo, narealidade nem foi uma aula ruim, quero dizer, tudo bem, se tivessem sido explosivins, mas osTestráliossãobemaceitáveis:defato,tratando-sedeHagrid,sãorealmenteótimos!–AUmbridgedissequeelessãoperigosos–lembrouRony.–Bom,écomodisseoHagrid,elessabemsecuidarsozinhos–retrucouHermione,impaciente–,
esuponhoqueumaprofessoracomoaGrubbly-PlanknormalmentenãonosapresentariaaelesantesdosN.I.E.M.s,mas,bom,elessãomuitointeressantes,nãoacharam?Comotemgentequepodevê-losegentequenãopode!Eugostariadepoder.–Gostaria?–perguntouHarrycalmamente.
Derepenteelafezumacaradehorror.–Ah,Harry...desculpe...não,claroquenão...foirealmenteumaburricedizerisso.–Tudobem–disseeledepressa–,nãosepreocupe.–Édesurpreenderquetantagentepudessevê-los–comentouRony.–Trêsemumaturma...–É,Weasley,nósestávamosmesmoimaginando–comentouumavozmaliciosa.Semquefossem
pressentidos,Malfoy,CrabbeeGoylevinhamlogoatrás,oruídodosseuspassosabafadopelaneve.–Vocêachaquesevissealguémsentindoocheirodelesvocêconseguiriavermelhoragoles?Ele,Crabbe eGoylederamgrandesgargalhadas aoultrapassá-los a caminhodo castelo, depois
começaramacantar“Weasleyéonossorei”.AsorelhasdeRonyficaramvermelhovivo.–Nãoligueparaeles,nãoligue–disseHermione,puxandoavarinhaeexecutandoofeitiçopara
produzirarquenteeassimpoderabrirmaisfacilmenteumcaminhopelaneveintactaentreeleseasestufas.
Dezembro chegou, trazendo mais neve e uma decidida avalanche de deveres de casa para osquintanistas.As tarefas demonitor deRony eHermione também se tornarammais pesadas comaaproximação do Natal. Eles foram chamados para supervisar a decoração do castelo (“TentapendurarfestõescomoPirraçasegurandoaoutrapontaetentandoestrangularvocêcomela”,disseRony),tomarcontadosalunosdeprimeiroesegundoanosquepassamosintervalosdasaulasdentrodocasteloporcausadofriocortante(“Eelessãounsmelequentosatrevidos,sabe,decididamentenãoéramosmal-educadosassimquandofrequentávamosoprimeiroano”,comentouRony),epatrulharos corredores dividindo turnos comArgoFilch, que suspeitavaqueo espírito natalinopudesse semanifestar numa eclosão de duelos de bruxos (“Ele tem bosta nosmiolos”, disse Rony, furioso).Enfim, andavam tão ocupados queHermione precisou parar de tricotar gorros para elfos e ficoupreocupadaquesólhesobrassemtrês.–Todosesseselfos,coitados,queeunãopudeliberarainda,tereidepassaroNatalaquiporque
nãohágorrossuficientes!Harry, que não tivera coragemde contar a ela queDobby estava levando tudo, curvou-se ainda
maisparaoseudeverdeHistóriadaMagia.Emtodoocaso,elenãoqueriapensarnoNatal.Pelaprimeira vez em sua carreira escolar, queria muito passar as festas longe de Hogwarts. Entre aproibiçãodejogarquadriboleapreocupaçãoseHagridseriaounãopostoemobservação,elesentiamuitaraivadaescolanaquelemomento.AúnicacoisaqueantegozavaeramosencontrosdaAD,eestes teriamdeser interrompidosduranteas festas,porquequase todaa turma iriapassaras fériascomafamília.Hermioneiaesquiarcomospais,umacoisaqueRonyachavamuitoengraçado,poisnuncaouvirafalardetrouxasqueatavampranchasfinasdemadeiraaospésparadeslizarmontanhaabaixo.RonyiaparaAToca.HarryamargaramuitosdiasdeinvejaatéRonydizeremrespostaàsuaperguntacomoiriaparacasapassaroNatal:“Masvocêtambémvai!Eunãofalei?Jáfazsemanasquemamãemeescreveudizendoparaconvidarvocê!”Hermioneergueuosolhosparao teto,masoânimodeHarryfoiaocéu:achavaqueoNatalna
Tocaera realmentemaravilhoso,embora ligeiramenteprejudicadopelo remorsodequenão fossepoderpassarasfestascomSirius.Pôs-seaimaginarsenãoseriapossívelconvenceraSra.Weasleyaconvidarseupadrinhoparapassá-lasjuntos.AindaqueduvidassedequeDumbledorefossepermitirqueSiriusdeixasseolargoGrimmauld,elenãopodiadeixardepensarqueaSra.Weasleytalveznãoo quisesse; os dois viviam se desentendendo. Sirius não entrara em contato comHarry desde suaúltimaapariçãonofogo,e,emboraogarotosoubessequecomaUmbridgeemconstantevigilânciaseriainsensatotentarsecomunicar,nãolheagradavaimaginarSiriussozinhonaantigacasadamãe,talvezestourandoumsolitáriosaquinhosurpresacomoMonstro.HarrychegoucedoàSalaPrecisaparaaúltima reuniãoantesdas festas, e ficoucontentede ter
feitoisso,porquequandoosarchotesseacenderameleviuqueDobbyseencarregaradedecorarasalaparaoNatal.Sabiaqueforaoelfo,porqueninguémmaispendurariacembolasdouradasnoteto,todascomorostodeHarryPotterealegenda“HARRYCHRISTMAS!”.HarrytinhaacabadodebaixaraúltimadelasquandoaportaseentreabriueLunaLovegoodentrou,
comacaradesonhadoradesempre.–Olá–dissedistante,olhandoparaoquerestaradasdecorações.–Estãobonitas,foivocêquemas
pendurou?–Não,foiDobbyoelfodoméstico.–Visgo–disseela sonhadoramente,apontandoparaumcachode frutinhosbrancospendurados
quaseemcimadacabeçadeHarry.Elesaltoupara longedos frutos.–Bempensado–disseLuna,muitoséria.–MuitasvezesestáinfestadodeNarguilés.HarryfoisalvodanecessidadedeperguntaroqueeramNarguiléspelachegadadeAngelina,Cátia
eAlícia.Astrêsestavamsemfôlegoepareciamsentirmuitofrio.– Bom – disse Angelina maquinalmente, tirando a capa e atirando-a a um canto –, finalmente
conseguimossubstituirvocê.–Mesubstituir?–perguntouHarrysementender.–Você,FredeJorge–disseela,impaciente.–Temosumnovoapanhador.–Quem?–perguntouHarrydepressa.–GinaWeasley–informouCátia.Harryboquiabriu-se.–É,eusei–disseAngelina,puxandoavarinhaeflexionandoobraço–,maselaérealmenteboa.
Nãosecomparaavocê,éclaro–acrescentouamarrandoacara–,mascomonãopodemostervocê...Harryengoliuarespostaquegostariadedar;seráqueelaimaginavaporumsegundosequerque
elenãolamentavasuaexpulsãodaequipecemvezesmaisdoqueela?–Eosbatedores?–perguntou,tentandomanteravozcalma.–AndréKirke–respondeuAlícia,sementusiasmo–eJucaSloper.Nenhumdosdoiségenial,mas
comparadosaosoutrosqueapareceram...A chegada de Rony, Hermione e Neville encerrou essa conversa deprimente, e cinco minutos
depoisasalaestavabastantecheiaparaimpedirqueHarryvisseoseloquentesolharesdecensuradeAngelina.– O.k. – disse ele, chamando todos à ordem. – Achei que hoje deveríamos repassar o que já
fizemosatéagora,porqueéaúltimareuniãoantesdasfériasenãotemsentidocomeçarnadanovoantesdeumapausadetrêssemanas...–Nãovamosfazernadanovo?!–exclamouZacarias, resmungando, insatisfeito,suficientemente
altoparaserouvidoportodaasala.–Seeusoubessenemteriavindo.–EntãotodoslamentamosmuitoqueHarrynãotenhalheavisado–retrucouFredemvozalta.Váriaspessoasabafaramrisinhos.HarryviuChorindo,eteveasensaçãojáconhecidadequeseu
estômagoestavadespencando,comosetivessepuladosemquererumdegraudeescada.– ... podemos praticar aos pares – continuou Harry. – Vamos começar com a Azaração de
Impedimento durante dezminutos, então podemos apanhar as almofadas e experimentar o FeitiçoEstuporantemaisumavez.Todos se dividiram obedientemente, Harry fez par com Neville como sempre. Logo a sala se
encheudegritosintermitentesde“Impedimenta!”.Aspessoasficavamparalisadaspormaisoumenosumminuto,enquantooparceiroolhavaaesmopelasala,observandoo trabalhodosoutrospares,depoisrecuperavaosmovimentoseerasuavezdeazarar.Nevilleestavairreconhecível,taloseuprogresso.Depoisdeterserecuperadotrêsvezesseguidas,
HarrymandouNevillesereuniraRonyeHermioneparapoderandarpelasalaeobservarosoutros.
Quandopassou,Chodeu-lheumgrandesorriso;eleresistiuàtentaçãodepassarmaisvezesporela.Transcorridos os dezminutos daAzaração de Impedimento, eles espalharam as almofadas pelo
chãoe começaramapraticarmaisumavezoEstuporante.Oespaçoera realmentemuito limitadoparapermitirquetodostrabalhassemaomesmotempo;metadedogrupoobservavaaoutrametadeporalgunsminutos,depoisserevezavam.Harrysentiu-sedecididamenteorgulhosoaoobservarogrupo.ÉverdadequeNevilleestuporou
PadmaPatil emvez deDino, a quem estava visando,mas errou pormuitomenos do que antes, etodososoutrostinhamfeitoenormesprogressos.Aofinaldeumahora,Harryanunciouumintervalo.– Vocês estão ficando ótimos – disse sorrindo. – Quando voltarmos das férias, poderemos
começarcomosfeitiçosmaisimportantes,talvezatécomoPatrono.Ouviram-semurmúriosdeexcitação.Asalacomeçouaseesvaziar,comosempreaosparesetrios;
amaioriadesejouaHarryum“FelizNatal”aosair.Sentindo-seanimado,elerecolheuasalmofadascomRony eHermione, e empilhou-as emordem.Os dois saíram antes; ele se demoroumais umpouco,porqueChoaindanãosaíra,etinhaesperançadeouvirdelavotosdeboas-festas.–Não,podeirandando–ouviu-adizeràamigaMarieta,eseucoraçãodeuumsaltoquepareceu
empurrá-loparaaregiãodopomodeadão.Ele fingiuestararrumandoapilhadealmofadas.Tinhacertezadequeestavamcompletamentea
sósagora,eesperavaqueelafalasse.Emvezdisso,ouviuumafungadasentida.EleseviroueviuChoparadanomeiodasala,aslágrimasescorrendopelorosto.–Qu...?Nãosoubeoquefazer.Elasimplesmenteestavaparadaali,chorandoemsilêncio.–Quefoi?–perguntoucomavozfraca.Chobalançouacabeçaeenxugouosolhosnamanga.–Desculpe... – disse com a voz pastosa. – Imagino que... é só que... aprendendo tudo isso... me
deixa...pensandoquese...seelesoubessetudoisso...talvezaindaestivessevivo.OcoraçãodeHarryafundou,saiudaposiçãonormalefoisealojaremalgumpontopróximoao
umbigo.Deviaterimaginado.ElaqueriaconversarsobreCedrico.– Ele sabia tudo isso – disseHarry, pesaroso. – Era realmente bom, ou jamais teria chegado à
metade daquele labirinto.Mas seVoldemort de fato quermatar uma pessoa, ela não tem amenorchance.ChosoluçouaoouvironomedeVoldemort,masencarouHarrysempiscar.–Vocêsobreviveuquandoerasóumbebê–dissebaixinho.– Foi – disse Harry, preocupado, encaminhando-se para a porta. – Eu não sei por quê, nem
ninguémsabe,entãonãoénadadequeeupossameorgulhar.–Ah, não comece! – disse Cho, voltando a chorar. – Realmenteme desculpe porme comover
assim...eunãotiveintenção...Etornouasoluçar.Eramuitobonitaatéquandoosolhosestavamvermelhoseinchados.Harryse
sentiucompletamenteinfeliz.Teriaficadomuitocontentecomumsimples“FelizNatal”.– Sei que deve ser horrível para você – disse, enxugando os olhos na manga. –Mencionar o
Cedrico,quandovocêoviumorrer...Suponhoquequeiraesquecertudo.Harrynãorespondeu;eraverdade,massesentiriadesalmadosedissesseisso.–Você é um professor realmente bom, sabe – disse Cho, com um sorriso lacrimoso. –Nunca
conseguiestuporarninguémantes.–Obrigado–disseHarrysemjeito.Elesseolharamporumlongomomento.Harrysentiuumdesejoardentedecorrerpelasalae,ao
mesmotempo,umacompletaincapacidadedemoverospés.
–Azevinho–disseChoemvozbaixa,apontandoparaotetoacimadacabeçadele.–É–disseHarry.Suabocaestavamuitoseca.–MasprovavelmentedeveestarcheiodeNarguilés.–QuesãoNarguilés?–Nãofaçoamenorideia–disseHarry.Elafoichegandomaisperto.Seucérebropareciatersido
estuporado.–VocêteriadeperguntaraDi-lua.ALuna,querodizer.Chofezumsomengraçadoentreumsoluçoeumarisada.Estavamaispertoagora.Elepoderiater
contadoassardasnonarizdela.–Eugostodevocêdeverdade,Harry.Elenãoconseguiapensar.Umformigamentoseespalhavapeloseucorpo,paralisandoseusbraços,
pernasecérebro.Estavapróximademais.Elepodiavercadalágrimapenduradaemsuaspestanas...
Harryvoltouàsalacomunalmeiahoradepois,eencontrouHermioneeRonyocupandoasmelhorespoltronasdiantedalareira;quasetodososcolegasjátinhamidodormir.Hermioneestavaescrevendouma longacarta. Já encherametadedeumpergaminho,quecaíapelabordadamesa.Ronyestavadeitadonotapetedalareira,tentandoterminarumdeverdeTransfiguração.–Porquedemorou?–perguntouoamigo,quandoHarryafundounacadeiraaoladodeHermione.Harrynãorespondeu.Estavaemestadodechoque.MetadedelequeriacontaraRonyeHermioneo
queacontecera,masaoutrametadequerialevarosegredoparaotúmulo.–Vocêestásesentindobem,Harry?–perguntouHermioneexaminando-oporcimadapontada
pena.Harryencolheuosombrosindiferente.Naverdade,elenãosabiaseestavaounãosesentindobem.– Que foi? – perguntou Rony se erguendo nos cotovelos para olhar melhor o amigo. – Que
aconteceu?Harry não sabiamuito bem como começar a contar, e continuava a não saber se queria contar.
Quandoacabaradedecidirquenãoiadizernada,Hermionedecidiuporele.–FoiaCho?–perguntoumuitoobjetivamente.–Elaencostouvocênaparededepoisdareunião?Abobalhado,Harryconfirmoucomacabeça.Ronydeurisadinhas,sóparandoquandoseuolhar
encontrouodeHermione.–Então...ah...queéqueelaqueria?–perguntouelefingindodisplicência.–Ela...–começouHarry,meiorouco;pigarreouetentounovamente.–Ela...ah...–Vocêssebeijaram?–perguntouHermionesemrodeios.Rony se sentou tão depressa que arremessou o tinteiro pelo tapete. Inteiramente alheio ao que
fizera,olhouparaHarrycomgrandeinteresse.–Então?–quissaber.Harry olhou deRony, cujo rosto expressava ummisto de curiosidade e hilaridade, para a testa
levementeenrugadadeHermione,econfirmoucomacabeça.–HA!Rony fezumgestodevitória comopunhoedesatoua rir tão estridentementeque sobressaltou
váriossegundanistastímidossentadosjuntoàjanela.UmsorrisorelutanteseespalhoupelorostodeHarry ao verRony rolar pelo tapete.Hermione lançou aRony umolhar de profundo desgosto, evoltouasuacarta.–Eaí?–perguntouRonyfinalmente,encarandoHarry.–Comofoi?Harryrefletiuporummomento.–Úmido–dissecomsinceridade.Ronyemitiuumsomquepoderiaindicaralegriaounojo,eradifícildizer.–Porqueelaestavachorando–continuouHarry,pesaroso.
–Ah!–exclamouRony,osorrisoseatenuandoemseurosto.–Vocêéruimassimdebeijo?–Nãosei– respondeuHarry,quenãohaviapensadonapossibilidade,esesentiu imediatamente
preocupado.–Vaiversou.–Claroquenãoé–disseHermione,distraída,aindaescrevendoacarta.–Comoéquevocêsabe?–perguntouRonyrispidamente.–PorqueultimamenteChopassametadedotempochorando–respondeudistraidamente.–Chora
nahoradacomida,nobanheiro,portodaparte.–Maseradeesperarqueunsbeijinhosaanimassem–disseRonysorrindo.–Rony–disseHermioneemtommuitosolene,molhandoapontadapenanotinteiro–,vocêéo
legumemaisinsensívelquejátiveainfelicidadedeconhecer.–Queéquevocêquerdizercomisso?–perguntouRony,indignado.–Quetipodepessoachora
quandoestásendobeijada?–É–disseHarrysentindoumligeirodesespero–,quetipo?Hermioneolhouparaosdoiscomumaexpressãonorostoquebeiravaapiedade.–VocêsnãocompreendemcomoaChoestásesentindonestemomento?–Não!–responderamHarryeRonyjuntos.Hermionesuspirouedescansouapena.–Bom,obviamenteelaestásesentindomuitotriste,porqueCedricomorreu.Depois,imaginoque
esteja se sentindo confusa porque gostava do Cedrico e agora gosta do Harry, e não consegueentenderdequaldosdoisgostamais.Depois,estásesentindoculpada,achandoqueéuminsultoàmemóriadoCedricobeijaroHarry,edeveestarpreocupadacomoqueasoutraspessoasvãodizerquando começar a sair com ele. E provavelmente não consegue entender seus sentimentos comrelaçãoaHarry,porqueeraelequemestavajuntoquandoCedricomorreu,entãotudoissoémuitoconfusoedoloroso.Ah,eestácommedodeserexpulsado timedequadriboldaCorvinalporqueestávoandomuitomal.Ofimdesuafalafoirecebidocomumsilênciodebreveaturdimento,entãoRonyfalou:–Umapessoanãopodesentirtudoissoaomesmotempo,explodiria.–Sóporquevocêtemaamplitudeemocionaldeumacolherdecháistonãosignificaquesejamos
todosiguais–disseHermionemaldosamente,retomandosuapena.–Foielaquemcomeçou–disseHarry.–Eunãoteria...elameioquemeprocurou...enomomento
seguinteestavaderramandolágrimasemcimademim...eunãosabiaoquefazer...–Nãoésuaculpa,cara–disseRony,parecendoassustadosódepensar.–Vocêtinhadeserlegalcomela–disseHermione,erguendoosolhosansiosa.–Vocêfoi,não?–Bom– respondeuHarry, um calor desagradável subindo pelo rosto –, eumeio que dei umas
palmadinhasnascostasdela.Hermionepareciaestarsecontrolandocomextremadificuldadeparanãoolharparaoteto.–Bom,suponhoquepoderiatersidopior.Vaivoltaravê-la?–Terei,nãoé?TemososencontrosdaAD,nãotemos?–Vocêmeentendeu–disseHermione,impaciente.Harry não respondeu. As palavras da amiga descortinavam um cenário de possibilidades
assustadoras.Tentou se imaginar indo a algum lugar comCho–Hogsmeade, talvez – e passandomuitas horas sozinho com ela. Claro, ela estaria esperando que ele a convidasse depois do queacabaradeacontecer...opensamentoprovocou-lheumapertodolorosonoestômago.– Ah, bom – disse Hermione distante, absorta outra vez em sua carta –, você terá muitas
oportunidadesparaconvidá-la.– E se ele não quiser? – indagou Rony, que estivera observando Harry com uma expressão
incomumenteperspicaz.
–Nãosejabobo–disseHermionedistraída.–Harrygostadelaháséculos,nãoé,Harry?Ele não respondeu. Verdade, gostava de Cho há séculos, mas sempre que imaginava uma cena
envolvendo os dois era uma Cho se divertindo e não uma Cho soluçando desconsolada em seuombro.– Afinal para quem é que você está escrevendo, Hermione? – perguntou Rony, tentando ler o
pergaminhoqueagoraarrastavapelochão.Hermionepuxou-oparalongedele.–Vítor.–Krum?–QuantosVítornósconhecemos?Rony não respondeu, mas pareceu aborrecido. Os três ficaram em silêncio os vinte minutos
seguintes,RonyterminandootrabalhodeTransfiguraçãodandobufosdeimpaciênciaeriscandoasfrases;Hermioneescrevendosempararatéofimdopergaminho,enrolando-oelacrando-o;eHarrycontemplandoofogo,desejandomaisdoquenuncaqueacabeçadeSiriusaparecessealiparalhedarunsconselhossobregarotas.Masaschamasforamgradualmentebaixandoatésórestarembrasasquesedesfizeramemcinzase,olhandoaoseuredor,Harryviuqueeram,maisumavez,osúltimosaseretiraremdasalacomunal.–Boa-noite–disseHermione,dandoumenormebocejoacaminhodaescadadodormitóriodas
meninas.– Que é que ela vê no Krum? – perguntou Rony, quando ele e Harry subiam a escada do
dormitóriodosmeninos.– Bom – disse Harry, considerando a pergunta. – Acho que ele é mais velho, não é... e é um
jogadorinternacionaldequadribol...–É,mastirandoisso–disseRony,emtomirritado.–Querodizer,eleéumbabacarabugento,não
é?–Éumpouquinhorabugento–disseHarry,cujospensamentoscontinuavamemCho.Eles despiram as vestes e puseram os pijamas em silêncio. Dino, Simas e Neville já estavam
dormindo. Harry guardou os óculos sobre a mesinha de cabeceira e semeteu na cama, mas nãofechouocortinado;emvezdisso,ficoucontemplandoopedaçoestreladodecéuqueviapelajanelajuntoàcamadeNeville.Sesoubesse,nanoiteanterior,queemvinteequatrohorasiriabeijarChoChang...–Noite–resmungouRony,dealgumpontoàdireita.–Noite–respondeuHarry.Talvezdapróximavez...sehouverumapróximavez...elaestejaumpouquinhomaisfeliz.Devia
ter convidadoCho a sair; provavelmente ela esperasse por isso e agora estava realmente zangadacomele...ouseráqueestavadeitadanacama,aindachorandoporCedrico?Nãosabiaoquepensar.AsexplicaçõesdeHermione tinhamfeito tudoparecermaiscomplicadoemlugardemais fácildecompreender.Issoéoqueelesdeviamnosensinaraqui,pensou,virando-separaooutrolado,comofuncionao
cérebrodasgarotas...pelomenosseriamaisútildoqueAdivinhação...Nevillefungoudormindo.Umacorujapiouláforananoite.Harry sonhou que estava de novo na sala daAD.Cho o acusava de tê-la atraído ali sob falsos
pretextos; disse que ele lhe prometera cento e cinquenta cartões de Sapos de Chocolate se elaaparecesse. Harry protestou... Cho gritava: “Cedrico me dava montes de cartões de Sapos deChocolate,olheaqui!”Eela tiravadedentrodasvestes amãocheiade cartões eos atiravanoar.Então,ChosetransformouemHermione,quedisse:“Vocêprometeu,sim,Harry...achoqueémelhordar outra coisa a ela... que tal a sua Firebolt?” E Harry protestava que não podia dar a Cho aFirebolt,porqueUmbridgeaconfiscara,e,afinaldecontas,aquilotudoeraridículo,elesóvieraà
saladaADparapenduraralgumasbolasdeNatalcomoformatodacabeçadeDobby...Osonhomudou...Elesentiuseucorpoliso,forteeflexível.Estavadeslizandoentrebarrasdemetalbrilhante,pela
pedrafriaeescura...coladonochão,deslizandodebarriga...estavaescuro,contudopodiaverobjetosàsuavoltaquerefulgiamemcoresestranhasevibrantes...eleestavavirandoacabeça...aoprimeirorelanceviaumcorredorvazio...masnão...haviaumhomemsentadonochãomaisadiante,oqueixocaídosobreopeito,seucontornobrilhandonoescuro...Harryestiroualíngua...provouocheirodohomemnoar...estavavivomasatordoado...sentadoà
portanofimdocorredor...Harrysentiavontadedemorderohomem...masprecisavacontrolaroimpulso...tinhacoisamais
importanteafazer...Ohomemestavasemexendo...umacapaprateadacaiudesuaspernasquandoelesepôsempé;e
Harryviuseucontornovibranteedifusoelevarseacimadesuacabeça,viu-otirarumavarinhadocinto...nãoteveescolha...recuouganhandoalturadochãoeatacou-oumavez,duas,três,enterrandosuas presas na carne do homem, sentindo as costelas se partirem sob suasmandíbulas, sentindo osanguejorrarquente...Ohomemgritoudedor...depoissecalou...tomboudecostascontraaparede...osanguemanchouo
chão...Suacicatrizdoíahorrivelmente...pareciaqueiaseromper...–Harry!HARRY!Ele abriu os olhos. Cada centímetro do seu corpo estava coberto de suor gelado; sua roupa de
camaseenrolaranelecomoumacamisadeforça;tinhaasensaçãodequeumferroembrasaestavamarcandosuatesta.–Harry!Ronyestavaparadojuntodele,pareciaextremamenteassustado.Haviamaisvultosaopédacama
deHarry.Eleapertouacabeçacomasmãos;adorocegava...elesevirouevomitounochão.– Ele está passando mal de verdade – disse uma voz cheia de pavor. – Não devíamos chamar
alguém?–Harry!Harry!Ele precisava contar a Rony, era muito importante contar a ele... respirando o ar em grandes
sorvos,Harryselevantoudacama,fazendoforçaparanãovomitaroutravez,adorembaçandosuavisão.–Seupai–ofegou,seupeitosubiaedescia.–Seupai...foiatacado...–Quê?!–exclamouRonysemcompreender.–Seupai!Foimordido,égrave,tinhasangueportodaparte...– Vou buscar ajuda – disse a mesma voz apavorada, e Harry ouviu alguém sair correndo do
dormitório.–Harry,cara–disseRonyinseguro–,você...foisóumsonho...–Não!–protestouHarryenfurecido;erafundamentalqueRonyentendesse.–Nãofoiumsonho...nãofoiumsonhocomum...euestavalá,viacontecer...fuieuqueoataquei...Ele ouvia Simas e Dino resmungando, mas não se importou. A dor em sua testa diminuiu um
pouco,emboraeleaindasuassee tremessefebrilmente.Ele tornouavomitar,eRonydeuumsaltoparatrásparasairdocaminho.–Harry,vocênãoestábem–dissecomavozhesitante.–Nevillefoibuscarajuda.–Euestouótimo!–engasgou-seHarry,limpandoabocanopijamaetremendodescontrolado.–
Nãotemnadaerradocomigo,écomoseupaiquevocêtemdesepreocupar...precisamosdescobrirondeéqueeleestá...estásangrandofeitolouco...euera...foiumacobraenorme.
Eletentousairdacama,masRonyoempurroudevolta.DinoeSimascontinuavamacochicharaliperto.Harrynãosabiasepassaraumminutooudez;simplesmenteficousentadotremendo,sentindoa dor na cicatriz diminuirmuito lentamente... então ouviu passos apressados subindo as escadas etornouaouviravozdeNeville.–Aqui,professora.A ProfaMcGonagall entrou correndo no dormitório, trajando o seu roupão escocês, os óculos
tortosnapontedonarizossudo.–Quefoi,Potter?Ondeestádoendo?Ele nunca sentira tanto prazer em vê-la; era de um membro da Ordem da Fênix que estava
precisando,enãodealguémquecuidassedeleereceitassepoçõesinúteis.–ÉopaideRony–disseele,tornandoasesentar.–Foiatacadoporumacobraeégrave,euvi
acontecer.–Comoassim,vocêviuacontecer?–perguntouaprofessora,contraindoassobrancelhasescuras.–Nãosei...euestavadormindoeentãoestavalá...–Vocêquerdizerquesonhoucomisso?–Não!–disseHarry zangado; seráqueninguémentendia?–Primeiro eu estava sonhandouma
coisa completamentediferente, umacoisaboba... entãoo sonho foi interrompido.Foi real, eunãoimagineinada.OSr.Weasleyestavaadormecidonochãoe foi atacadoporumacobragigantesca,tinhamuitosangue,eledesmaiou,alguémtemdedescobrirondeéqueeleestá...AProfaMcGonagallolhavaparaeleatravésdosóculostortos,comosehorrorizadacomoquevia.–Eu não estoumentindo e não estou enlouquecendo – disseHarry, alteando a voz até gritar. –
Estoudizendoqueviacontecer!–Euacreditoemvocê,Potter–disseMcGonagallbrevemente.–Vistaoseuroupão:vamosvero
diretor.
—CAPÍTULOVINTEEDOIS—OHospitalSt.MungusparaDoençaseAcidentesMágicos
Harry ficou tão aliviado que ela o tivesse levado a sério que nem hesitou, saltou da camaimediatamente,vestiuoroupãoerepôsosóculosnonariz.–Weasley,venhavocêtambém–disseaProfaMcGonagall.Eles passaram com a professora pelas figuras silenciosas deNeville, Dino e Simas, saíram do
dormitório, desceram a escada em espiral até a sala comunal, atravessaramo buraco do retrato eforam pelo corredor da Mulher Gorda iluminado pelo luar. Harry sentiu que o pânico em seuestômago extravasaria a qualquermomento; queria correr, gritar porDumbledore; o Sr.Weasleyestavasangrandoenquantoelespercorriamcalmamenteocorredor,e seaquelaspresas (Harry fezforçaparanãopensar em“minhaspresas”) contivessemveneno?PassaramporMadameNor-r-ra,quevirouseusolhosdeholofoteparaelesebufoulevemente,masaProfaMcGonagalldisse“Xô”,eagataseenfurnounassombras,epoucosminutosdepoischegavamàgárguladepedraqueguardavaaentradadosaposentosdeDumbledore.–DelíciaGasosa–disseaprofessora.Agárgulaganhouvidaesaltouparaolado;aparedeatrássedividiuemduaserevelouumaescada
de pedra que se movia continuamente para o alto, como uma escada rolante em espiral. Os trêssubiram;aporta se fechoucomumbaque surdoeeles subiramemcírculos fechadosatéalcançarumaportadecarvalhoexcepcionalmentelustrosacomumamaçanetadelatãoemformadegrifo.Emborapassassemuitodameia-noite,ouviam-sevozesnointeriordasala,umaverdadeirababel.
PareciaqueDumbledoreestavarecebendonomínimoumasdozepessoas.A Profa McGonagall bateu três vezes com a aldrava em forma de grifo e as vozes cessaram
abruptamentecomosealguémas tivessedesligado.AportaseabriusozinhaeaprofessoraentroucomHarryeRony.A sala estava mergulhada em sombras; os estranhos instrumentos sobre as mesas estavam
silenciososeimóveisemvezdezumbireexpelirbaforadasdefumaçacomohabitualmentefaziam;os antigos diretores e diretoras nos retratos que cobriam as paredes dormiam contidos em suasmolduras. Atrás da porta, um magnífico pássaro vermelho e dourado do tamanho de um cisnecochilavanopoleirocomacabeçasobumadasasas.–Ah,éasenhora,ProfaMcGonagall...e...ah.Dumbledore estava sentado emuma cadeira de espaldar alto, à escrivaninha; inclinou-se para o
círculodeluzdasvelasqueiluminavamospapéisàsuafrente.Usavaummagníficoroupãobordadoempúrpuraedouradosobreumacamisadedormirmuitobranca,maspareciabemacordado,seuspenetrantesolhosazuisfixavamatentamenteaprofessora.–Prof.Dumbledore,Potterteveum...bom,umpesadelo–começouMcGonagall.–Eledizque...–Nãofoiumpesadelo–completouHarrydepressa.AprofessoraolhouparaHarry,franzindoligeiramenteatesta.–Muitobem,então,Potter,conteaoProf.Dumbledore.–Eu...bom,euestavadormindo...–disseHarrye,mesmoemseudesesperodefazerDumbledore
compreender, sentia-se levemente irritado que o diretor não olhasse para ele, mas examinasse os
própriosdedosentrelaçados.–Masnãofoiumsonhocomum...foireal...euviacontecer...–Harrytomoufôlego.–OpaideRony,oSr.Weasley,foiatacadoporumacobragigantesca.As palavras pareceram ecoar depois que ele as pronunciou, soando ligeiramente ridículas, até
cômicas.Fez-seumapausaemqueDumbledorese recostouecontemplouo teto,meditativo.RonyolhavadeHarryparaDumbledore,orostopálidoechocado.–Comofoiquevocêviuisso?–perguntouDumbledorecalmamente,aindasemolharparaHarry.–Bom...nãosei–disseHarry,meiozangado;quediferençafazia?–Naminhacabeça,suponho...– Você não me entendeu – disse Dumbledore, mantendo a voz calma. – Quero dizer... você se
lembra...ah...emqueposiçãovocêestavaenquantoassistiaaesseataque?Vocêestavatalvezparadoaoladodavítima,oucontemplavaacenadoalto?A pergunta era tão curiosa que Harry boquiabriu-se com Dumbledore; era quase como se ele
soubesse...–Eueraacobra.Vitudodopontodevistadacobra.Ninguém faloupor ummomento, entãoDumbledore, agoraolhandoparaRony, que continuava
cordecoalhada,perguntouemumnovotommaisenérgico:–Arthurficougravementeferido?–Ficou–respondeuHarryenfaticamente,porqueeramtãolentosparacompreender,seráquenão
sabiamcomoumapessoasangravaquandopresasdaqueletamanhofuravamocorpodela?EporqueDumbledorenãopodiafazeragentilezadeencará-lo?Masodiretorseergueu tãodepressaquedeuumsustoemHarry,esedirigiuaumdosantigos
retratospenduradosmuitopróximodoteto:–Everardo?–chamourepentinamenteemvozalta.–EvocêtambémDilys!Um bruxo de cara pálida, com uma franja preta curta, e uma bruxa idosa, com longos cachos
prateados, no quadro ao lado, ambos parecendo profundamente adormecidos, abriram os olhosimediatamente.–Vocêsestavamescutando?–perguntouDumbledore.Obruxoassentiueabruxarespondeu:–Naturalmente.–Ohomemtemcabelosruivoseusaóculos–disseDumbledore.–Everardo,vocêprecisadaro
alarme,providencieparaqueelesejaencontradopelaspessoascertas...Osdoisconfirmaramcomacabeçaesedeslocaramlateralmentedeseusquadros,mas,emvezde
surgirem nos quadros vizinhos (como normalmente acontecia em Hogwarts), nenhum dos doisreapareceu.Umquadroagoraexibiaapenasumpanodefundoescuro,ooutro,umabelapoltronadecouro.Harryreparouqueváriosdosoutrosdiretoresediretorasnasparedes,emboraroncassemebabassemconvincentemente,nãoparavamdeespiá-loporbaixodaspálpebrasfechadas,ederepenteeleentendeuquemestavafalandoquandobateramnaporta.–EverardoeDilysforamdoisdosdiretoresmaisfamososdeHogwarts–explicouDumbledore,
agora contornando Harry, Rony e a Profa McGonagall para se aproximar do magnífico pássaroadormecido no poleiro ao lado da porta. – A fama deles foi tão grande que ambos têm retratospenduradosemoutras importantes instituiçõesbruxasvizinhas.Comotêmliberdadedesedeslocarentreosprópriosretratos,podemnoscontaroquepodeestaracontecendoemoutroslugares...–MasoSr.Weasleypoderiaestaremqualquerlugar!–exclamouHarry.–Porfavor,sentem-se,ostrês–pediuDumbledore,comoseHarrynãotivessefalado.–Everardo
eDilystalvezdemoremavoltar.ProfaMcGonagall,sepuderprovidenciarmaisumascadeiras.McGonagallpuxouavarinhadobolsodoroupãoeacenou;donada,apareceramtrêscadeiras,de
madeira e espaldar reto, muito diferentes das confortáveis poltronas de chintz que Dumbledoreconjurara na audiência de Harry. O garoto se sentou, espiando o diretor por cima do ombro. O
diretoragoraacariciavacomodedoacabeçadouradadeFawkes.Afênixacordou imediatamente.Esticou a bela cabeça para o alto, e ficou observando Dumbledore com seus olhos brilhantes eescuros.–Vamosprecisar–disseeleàaveemvozbaixa–deumaviso.Umalabaredalampejounoareafênixdesapareceu.Emseguida,Dumbledore seencaminhouparaumdos frágeis instrumentosdeprata cuja função
Harrynãoconhecia, levou-oparaaescrivaninha,sentou-seemfrentee tocouoinstrumentocomapontadavarinha.Oinstrumentoganhouvida,imediatamente,produzindotinidosrítmicos.Pequeninasbaforadasde
fumaçaverdepálidosaíramdeumminúsculo tubodeprataemcima.Dumbledoremirouafumaçacomatenção,atestaprofundamentevincada.Passadosalgunssegundos,afumacinhasetransformouemumjorroconstantedefumaçaqueespiraloupeloar...esurgiunapontaumacabeçadecobra,comabocamuitoaberta.Harryficouseperguntandoseoinstrumentoestariaconfirmandosuahistória:olhoupressurosoparaDumbledore,buscandoumsinaldequeestavacerto,masodiretornãoergueuacabeça.– Naturalmente, naturalmente – murmurou Dumbledore, ainda observando a fumaça, sem
manifestaromenorsinaldesurpresa.–Masdivididanaessência?Para Harry, aquela pergunta não tinha pé nem cabeça. A cobra de fumaça, porém, se dividiu
instantaneamenteemduascobras,queseenroscarameondearamnoaposentomaliluminado.Comuma expressão de penosa satisfação, Dumbledore deu mais um leve toque com a varinha noinstrumento;otinidofoisetornandomaislentoatémorrer,eascobrasdefumaçaempalideceram,viraramumanévoadifusaedesapareceram.Dumbledorerepôsoinstrumentonamesinhafrágilemqueestava.Harryviumuitosdosdiretores
nos retratosacompanharemseusgestos comosolhos, então,percebendoqueHarryosobservava,depressafingiramqueestavamdormindocomoantes.Harryqueriaperguntarparaqueserviaaquelecurioso instrumento,mas, antes que pudesse fazê-lo, ouviramumgrito vindo do alto da parede àdireita;obruxochamadoEverardoreapareceraemseuquadro,ligeiramenteofegante.–Dumbledore!–Quaissãoasnotícias?–indagouodiretorimediatamente.–Griteiatéalguémaparecer–disseobruxo,queenxugavaatestacomacortinaaofundo–,falei
quetinhaouvidoalgumacoisaandandonoandardebaixo;elesnãosabiamsedeviamacreditaremmim,masdesceramparaverificar;vocêsabe,nãoháquadros láembaixodeondesepossaespiar.Seja como for, eles o trouxeram para cima algunsminutos depois.Não parecia nada bem, estavacobertodesangue;corriparaoretratodeElfridaCraggparapodervermelhorquandosaíram.– Bom – disse Dumbledore ao mesmo tempo que Rony fazia um movimento convulsivo. –
SuponhoqueDilysotenhavistochegar,então...E,momentosdepois,abruxadecachosprateadosreapareceuemseuquadro,também;tossindo,ela
afundounapoltronaedisse:–ElesolevaramparaoSt.Mungus,Dumbledore...passarampelomeuretratocarregando-o...ele
mepareceumal...– Obrigado. – Dumbledore olhou para a Profa McGonagall. – Minerva, preciso que você vá
acordarosoutrosgarotosWeasley.–Éclaro...Aprofessoraselevantouesedirigiuapressadaàporta.Harrylançouumolhardeesguelhapara
Rony,quepareciaaterrorizado.–Dumbledore...eaMolly?–perguntouMcGonagall,parandoàporta.–SeráumatarefaparaFawkesquandoelaterminardevigiarseháalguémseaproximando–disse
Dumbledore.–MasMollytalvezjásaiba...aquelerelógiomaravilhosoquetem...Harry sabia que o diretor estava se referindo ao relógio que informava não as horas, mas o
paradeiroeacondiçãodosváriosmembrosdafamíliaWeasley,e,comumapontada,lembrouqueoponteirocorrespondenteaoSr.Weasleydevia,aindaagora,estarapontandoparaperigomortal.Maseramuitotarde.ASra.Weasleyprovavelmenteestavadormindoenãoolhandoparaorelógio.Harrysentiuumfrioao lembrardobicho-papãoquese transformaranocorposemvidadoSr.Weasley,seusóculostortos,osangueescorrendopeloseurosto...maselenãoiamorrer...nãopodia...Dumbledore agora remexia emumarmário às costas deHarry eRony.Voltou carregandouma
velha chaleira escurecida, que colocou cuidadosamente sobre a escrivaninha. Ergueu a varinha emurmurou:“Portus!”Porummomento,achaleiraestremeceu,emitindoumaestranhaluzazul;emseguidadeuumúltimoestremeçãoeparou,escuracomoantes.Dumbledore se dirigiu a outro retrato, desta vez o de umbruxo de cara inteligente e barba em
ponta, que fora pintado usando as cores verde e prata da Sonserina, e, pelo jeito, dormia tãoprofundamentequenãoouviraavozdodiretortentandoacordá-lo.–Fineus.Fineus.Osretratadosquecobriamasparedesdoaposentojánãofingiamestardormindo;mexiam-seem
suasmoldurasparavermelhoroqueestavaacontecendo.Quandoobruxo inteligentecontinuouafingirquedormia,algunsdelesgritaramoseunometambém.–Fineus!Fineus!FINEUS!Elenãopôdemaisfingir;estremeceuteatralmenteearregalouosolhos.–Alguémmechamou?–Precisoquevocêvisiteoutravezoseuoutroquadro,Fineus–disseDumbledore.–Tenhooutra
mensagem.–Visitarmeuoutroquadro?!–exclamouFineuscomvozaguda,fingindoumlongobocejo(seu
olharcorreupeloaposentoesefixouemHarry).–Ah,não,Dumbledore,estoucansadodemaisestanoite.AlgumacoisanavozdeFineuspareceufamiliaraHarry;ondeaouvira?Mas,antesquepudessese
lembrar,osretratosnasparedesàvoltaprorromperamemprotestos.–Insubordinação,senhor!–bradouumcorpulentobruxodenarizvermelho,erguendoospunhos.
–Negligênciaparacomodever!–TemosocompromissodehonradeprestarserviçosaoatualdiretordeHogwarts!–exclamou
um bruxo velho de aparência frágil em quem Harry reconheceu o antecessor de Dumbledore,ArmandoDippet.–Quevergonha,Fineus!–Devo persuadi-lo,Dumbledore? – perguntou uma bruxa de olhos de verruma, erguendo uma
varinhaincomumentegrossaquelembravaumbastãodevidoeiro.– Ah, muito bem – concordou o bruxo chamado Fineus, espiando a varinha com uma ligeira
apreensão–,embora,aessaaltura,eletalvezjátenhadestruídoomeuretrato,jásedesfezdamaioriadaminhafamília...–Siriusnãosabedestruiroseuretrato–disseDumbledore,eHarrypercebeuimediatamenteonde
ouvira a voz de Fineus antes: saía da moldura aparentemente vazia em seu quarto no largoGrimmauld.–DêaeleorecadodequeArthurWeasleyfoigravementeferidoequeaesposadele,filhoseHarryPotterchegarãoasuacasadaquiapouco.Entendeu?–ArthurWeasley,ferido,mulher,filhoseHarryPottersehospedarão–recitouFineus,entediado.
–Sim,sim...muitobem.Eletornouaentrarnamolduradoretratoedesapareceudevistanomesmoinstanteemqueaporta
do aposento se abriu. Fred, Jorge e Gina vieram acompanhados pela Profa McGonagall, os trêsparecendoamarfanhadoseemestadodechoque,aindavestindoasroupasdedormir.
– Harry... que é que está acontecendo? – perguntou Gina, que parecia amedrontada. – A ProfaMcGonagalldissequevocêviupapaiserferido...–SeupaifoiferidoduranteumserviçoparaaOrdemdaFênix–informouDumbledoreantesque
Harrypudessefalar.–FoilevadoparaoHospitalSt.MungusparaDoençaseAcidentesMágicos.VoumandarvocêsparaacasadeSirius,queémuitomaispróximadohospitaldoqueAToca.Vocêsvãoseencontrarcomsuamãelá.–Comoéquenósvamos?–perguntouFred,abalado.–PódeFlu?–Não.Nomomento o Pó de Flu não é seguro, a rede está sendo vigiada.Vocês vão usar uma
ChavedePortal.–Eleindicouavelhachaleiraquedescansavainocentementesobreaescrivaninha.–Estamos apenas aguardando as informações de FineusNigellus... quero ter certeza de que não háperigoparadespacharvocês...Apareceu uma labareda bem nomeio do aposento, depois uma única pena dourada que flutuou
suavementeatéochão.–ÉoavisodeFawkes–disseDumbledore,recolhendoapenaquandocaiu.–AProfaUmbridgejá
devesaberquevocêsestãoforadesuascamas...Minerva,vádistraí-la,conte-lhequalquerhistória...AProfaMcGonagallsaiunumruge-rugedetecidoescocês.– Ele diz que ficará encantado – disse uma voz cheia de tédio atrás de Dumbledore; o bruxo
chamadoFineusreapareceradiantedesuabandeiradaSonserina.–Meutrinetosempreteveumgostoesquisitoemtermosdehóspedes.–Venhamaqui, então– falouDumbledore aHarry e aosWeasley. –Edepressa, antesquemais
alguémapareça.HarryeosoutrosseagruparamemtornodaescrivaninhadeDumbledore.–VocêsjáusaramumaChavedePortalantes?–perguntouele,eosgarotosconfirmaramcoma
cabeça, cada um esticando a mão para tocar em alguma parte da chaleira enegrecida. – Ótimo.Quandoeucontartrês,então...um...dois...Aconteceu emuma fraçãode segundo: napausa infinitesimal antes deDumbledoredizer “três”,
Harry olhou para ele, estavam todosmuito juntos, e os olhos azul-claros do diretor passaram daChavedoPortalparaorostodogaroto.Namesmahora,acicatrizdeHarryqueimoucomosefossetocadaporumferroembrasa,como
seavelhacicatriztivesseserompido–einvoluntário,indesejado,masapavorantementeforte,nasceuemHarryumódio tãopoderosoqueo fezsentirnaquele instantequesóqueriaatacar–morder–enterraraspresasnohomemàfrentedele...–...três.Harry sentiu um forte puxão atrás do umbigo, o chão sumiu sob seus pés, sua mão colada à
chaleira;colidiucomosoutrosenquantoavançavamvelozmenteemumavoragemdecoreseumalufadadevento,achaleirapuxando-osparadiante...atéqueseuspésbateramnochãocomtantaforçaqueseusjoelhosdobraram,achaleiracaiunochãocomestrépito,eemalgumlugaralipertoalguémfalou:–Devolta,ospirralhosdotraidordosangue.Éverdadequeopaidelesestámorrendo?–FORA!–vociferouumasegundavoz.Harryselevantoudepressaeolhouàvolta;tinhamchegadoàsombriacozinhadoporãodolargo
Grimmauld, doze.Asúnicas fontesde luz eramo fogão eumaveladerretida, que iluminavamosrestos de um jantar solitário. Monstro ia desaparecendo pela porta do corredor, lançando-lhesolharesmalévolos aomesmo tempo que repuxava a tanga; Sirius veio correndo ao seu encontro,parecendoansioso.Estavabarbadoecomasroupasqueusaraduranteodia;havianeletambémumligeirobafodebebidaquelembravaMundungo.–Queéqueestáacontecendo?–perguntou, estendendoamãoparaajudarGinaa se levantar.–
FineusNigellusfalouqueArthurestágravementeferido...–PergunteaoHarry–respondeuFred.–É,queroouvirissocomosmeusprópriosouvidos–disseJorge.Os gêmeos eGina olhavam fixamente para o amigo. Os passos deMonstro haviam parado na
escada.–Foi–começouHarry,issoerapiordoquecontaraMcGonagalleaDumbledore.–Tiveuma...
umaespéciede...visão...Econtouatodosoquevira,emboraalterasseahistóriaparaparecerqueassistiradosbastidores
quandoacobraatacou,enãoatravésdosolhosdaprópriacobra.Rony,quecontinuavamuitopálido,lançou aHarry umolhar fugaz,mas não fez comentários.QuandoHarry terminou, Fred, Jorge eGinacontinuaramdeolhosnele.Harrynãosabiaseestavaounãoimaginando,masachouquehaviaumquêdeacusaçãonoolhardosgarotos.Bom,seiamculpá-losóporveroataque,estavacontentedenãotercontadoquenahoraeleestavadentrodacobra.–Mamãejáchegou?–perguntouFred,virando-separaSirius.– Provavelmente ela ainda nem sabe o que aconteceu – disse Sirius. – O importante era vocês
virem antes que a Umbridge pudesse interferir. Espero que Dumbledore esteja avisando a Mollyagora.–TemosdeiraoSt.Mungus–disseGinaemtomurgente.Eolhouparaosirmãos;eles,éclaro,
ainda estavam de pijama. – Sirius, você pode nos emprestar capas ou outra coisa qualquer paravestir?–Esperem,vocêsnãopodemsaircorrendoparaoSt.Mungus!–falouSirius.–ClaroquepodemosiraoSt.Mungussequisermos–disseFred,comumaexpressãoobstinada.–
Eleénossopai!– E como é que vocês vão explicar como souberam queArthur foi atacado antesmesmo de o
hospitalavisaramulherdele?–Quediferençafaz?–perguntouJorge,exaltado.–Fazdiferença,porquenãoqueremoschamaratençãoparaofatodequeHarryestátendovisões
decoisasqueacontecemaquilômetrosdedistância!–disseSiriusaborrecido.–VocêstêmideiadoqueoMinistériofariacomessainformação?Fred e Jorge fizeram cara de quem não se importava nem um pouco com o que oMinistério
pudessefazercomcoisaalguma.Ronycontinuavaextremamentepálidoesilencioso.Ginadisse:–Alguémpoderiaternoscontado...poderíamostersabidooqueaconteceuporoutrapessoaque
nãooHarry.–Quem,porexemplo?–perguntouSirius,impaciente.–Escutem,seupaifoiferidoaserviçoda
Ordem da Fênix e as circunstâncias já são bastante suspeitas sem os filhos dele saberem o queaconteceusegundosdepois,vocêspoderiamprejudicarseriamenteaOrdem...–NãoestamosinteressadosnessaOrdemidiota!–gritouFred.–Estamosfalandodonossopai,queestámorrendo!–berrouJorge.–Seupaisabianoqueestavasemetendoenãovaiagradeceravocêsporestragaremascoisaspara
aOrdem!–retorquiuele,igualmentezangado.–Éassimqueé,eéporissoquevocêsnãopertencemàOrdem,vocêsnãoentendem,hácoisaspelasquaisvaleapenamorrer!–Éfácilparavocêfalar,presoaqui!–urrouFred.–Nãovejovocêarriscandooseupescoço!OpoucocoloridoquerestavanorostodeSiriusdesapareceu.Porummomento,pareceuquesua
vontadeerabateremFred,masquandovoltouafalar,foiemumtomdeliberadamentecalmo.–Seiqueédifícil,mas todos temosdeagircomoseaindanãosoubéssemosdenada.Temosde
ficarquietos,pelomenosatésuamãedarnotícias,estábem?
Frede Jorge continuavam rebelados.Gina,porém, foi até a cadeiramaispróximae se afundounela.Harry olhou paraRony, que fez ummovimento engraçado entre um aceno de cabeça e umasacudideladeombros,esentaram-setambém.OsgêmeoscontinuaramaolharfeioparaSiriuspormaisumminuto,entãoseacomodaramumdecadaladodeGina–Muito bem – disse Sirius animando-os –, andem, vamos todos tomar alguma coisa enquanto
esperamos.Acciocervejaamanteigada!Ele ergueu a varinha, emeia dúzia de garrafas vieram voando da despensa em direção a eles,
espalhandoos restosdarefeiçãodeSiriuseparandoemordemdiantedecadaumdosseis.Todosbeberameporalgumtempoosúnicossonsforamacrepitaçãodaschamasnofogãodacozinhaeasbatidassurdasdasgarrafasnamesa.Harrysóestavabebendoparaocuparasmãoscomalgumacoisa.Seuestômagoestavacheiode
remorsos que ferviam e borbulhavam. Não estariam aqui se não fosse ele; todos ainda estariamdormindo em suas camas. E não adiantava dizer a si mesmo que ao dar o alarme permitira queencontrassemoSr.Weasley,porquehaviaaindaaquestãoinevitáveldetersidoelequematacaraoSr.Weasley,paracomeçar.Nãosejaidiota,vocênãotempresas,dissementalmente, tentandoseacalmar,emboraamãoque
seguravaagarrafadecervejatremesse,vocêestavadeitadonacama,nãoestavaatacandoninguém...Mas,então,quefoiqueaconteceunasaladeDumbledore?,perguntou-se.Sentivontadedeatacá-lo
também...Repôsagarrafanamesa,comumpoucomaisdeforçadoquepretendia,ederramou-a.Ninguém
lhe prestou atenção. Então uma erupção de chamas no ar iluminou os pratos sujos diante deles e,enquantogritavamassustados,umpergaminhocaiucomumbaquesurdonamesa,acompanhadoporumaúnicapenadacaudadafênix.– Fawkes! – exclamou Sirius na mesma hora, apanhando o pergaminho. – Não é a letra de
Dumbledore:deveserumamensagemdesuamãe,tome...EleentregouacartanamãodeJorge,que rompeuo lacree leuemvozalta:“Papai ainda está
vivo.Estou indoparaoSt.Mungusagora.Fiquemondeestão.Mandareinotíciasassimquepuder.Mamãe.”Jorgeolhouparatodos.–Aindaestávivo...–disselentamente.–Masdáaimpressãoque...Ele não precisou terminar a frase.Harry também teve a impressão de que o Sr.Weasley estava
entreavidaeamorte.Aindaexcepcionalmentepálido,Ronyficouolhandoparaoversodacartadamãecomoseopergaminhopudessedizeralgumacoisaqueoconsolasse.Fredpuxou-odamãodeJorgee leu,depoisolhouparaHarry,quesentindonovamenteamão tremernagarrafadecervejaamanteigada,apertou-acommaisforçaparapararotremor.Nãoselembravadeterjamaisfeitoumavigílianoturnamaislonga.Siriussugeriuumavez,sem
muitaconvicção,quefossemtodosdormir,masosolharesdedesagradodosWeasleyforamrespostasuficiente.Amaiorpartedotempoficaramemsilêncioaoredordamesa,observandoopaviodavelaminguar aos poucos até desaparecer na cera líquida, levando ocasionalmente uma garrafa à boca,falandoapenasparasaberashoras,perguntaremvozaltaoqueestariaacontecendo,etranquilizarumaooutroquesehouvessemásnotíciaselesassaberiamnahora,porqueaSra.WeasleyjádeviaterchegadohaviamuitotemponoSt.Mungus.Fredcochilou,acabeçabalançandofrouxamentesobreopescoço.Ginaseenroscoucomoumgato
nacadeira,masmantinhaosolhosabertos;Harryosviarefletiraschamasdofogão.Ronydeitara-secom a cabeça nas mãos, era impossível dizer se acordado ou adormecido. Harry e Sirius seentreolhavamdevezemquando,intrusosnopesardafamília,esperando...esperando...Àscincoedezdamanhã,pelorelógiodeRony,aportadacozinhaabriueaSra.Weasleyentrou.
Estava muito pálida, mas quando todos se viraram e Fred, Rony e Harry fizeram menção de selevantardascadeiras,eladeuumsorrisoabatido.–Elevaificarbom–dissecomavozenfraquecidapelocansaço.–Agoraestádormindo.Podemos
irvê-lomaistarde.Guiestálhefazendocompanhianomomento;vaitiraramanhãdefolga.Fredtornouasesentarcomasmãosnorosto.JorgeeGinaselevantaram,correramaabraçara
mãe.Ronydeuumarisadamuitotrêmulaevirouorestodesuacervejaamanteigadadeumavez.–Cafédamanhã!–anunciouSiriusemvozaltae feliz, levantando-sedeumsalto.–Ondeanda
aquelemalditoelfodoméstico?Monstro!MONSTRO!MasMonstronãoatendeuaoseuchamado.–Ah,esquece–resmungouSirius,contandoaspessoaspresentes.–Então,écafédamanhãpara...
vejamos...sete...baconeovos,acho,cháetorradas...Harry se levantou depressa e foi para o fogão ajudar. Não queria se intrometer na alegria dos
WeasleyetemiaomomentoemqueaSra.Weasleyirialhepedirparacontarsuavisão.Porém,malacabaradeapanharospratosnoarmárioeelajáostiravadesuamãoeopuxavaparaumabraço.–Nãoseioqueteriaacontecidosenãofossevocê,Harry–disseMollycomavozabafada.–Não
teriam encontradoArthur tão cedo, e então seria tarde demais,mas graças a você ele está vivo eDumbledorepôdepensaremumaboadesculpaparaArthurestarondeestava, senãovocênemfazideiadaencrencaemqueelesemeteria,vejaoqueaconteceucomocoitadodoEstúrgio...Harrymal conseguia suportar essa gratidão,mas felizmente ela o soltou e se virou para Sirius
para lheagradecer ter tomadocontadosseus filhosanoite inteira.Siriusdissequesealegravadepoderajudar,eesperavaquetodosficassemaliatéoSr.Weasleysairdohospital.–Ah,Sirius, fico tãoagradecida...achamqueelevai ficarhospitalizadodurantealgumtempo,e
seriamaravilhosoestarmaisperto...naturalmenteistotalvezsignifiquepassaroNatalaqui.–Quantomaismelhor!–disseSirius,comumasinceridade tãoóbviaqueaSra.Weasleysorriu
paraeleradiante,vestiuumaventalecomeçouaajudá-loafazerocafédamanhã.–Sirius–murmurouHarry, incapazdeaguentarnemmaisumminuto sequer.–Possodaruma
palavrinha?Ah...agora?EleentrounadespensaescuraeSiriusoseguiu.Sempreâmbulo,contouaopadrinhocadadetalhe
davisãoquetivera,inclusiveofatodequeelepróprioforaacobraqueatacaraoSr.Weasley.Quandoparouparatomarfôlego,Siriusperguntou:–VocêcontouissoaDumbledore?–Contei–disseHarry,impaciente–,maselenãomedisseoquesignificava.Bom,elenãomediz
maisnada.–Tenhocertezadequeteriaditosefossecasoparasepreocupar–disseSiriuscomfirmeza.–Masnão é só isso – disseHarry, num tom sóumpouquinho acimadeum sussurro. –Sirius,
acho...achoqueestouficandodoido.NasaladeDumbledore,poucoantesdeembarcarmosnaChavede Portal... por uns dois segundos pensei que era uma cobra, me senti como uma cobra, minhacicatrizdoeumuitoquandoeuolheiparaDumbledore,Sirius,tivevontadedeatacá-lo!ElesóconseguiaenxergarumanesgadorostodeSirius;orestoestavaescuro.–Issodevetersidoconsequênciadavisão,nadamais–disseSirius.–Vocêaindaestavapensando
nosonhoouqualquercoisaassim...–Não foi isso,não– replicouHarrybalançandoacabeça–, foicomoseumacoisadespertasse
dentrodemim,comosehouvesseumacobradentrodemim.–Você precisa dormir – falou Sirius com firmeza. –Você vai tomar café e subir para dormir,
depoisdoalmoçopoderáirveroArthurcomosoutros.Vocêestáemestadodechoque,Harry;estáseculpandoporumacoisaqueapenaspresenciou,e foiumasorte terpresenciadoouArthur teriamorrido.Paredesepreocupar.
Ele deu uma palmada no ombro de Harry e saiu da despensa, deixando o afilhado sozinho noescuro.
TodosmenosHarrypassaramorestodamanhãdormindo.ElesubiuparaoquartoquedividiracomRonynas últimas semanas de férias,mas enquanto seu amigo se enfiouna cama e adormeceu empoucosminutos,elesesentoucompletamentevestido,encostou-senasfriasbarrasmetálicasdacama,intencionalmente sem conforto, decidido a não cochilar, aterrorizado com a perspectiva de setransformaremcobraduranteosonoequandoacordassedescobrirqueatacaraRony,ouentãodesairrastejandopelacasaembuscademaisalguém...Quando Rony acordou, Harry fingiu ter dado um cochilo restaurador também. Os malões dos
garotoschegaramdeHogwartsenquantoestavamalmoçando,parapoderemsevestirdetrouxaseirao hospital. Todos menos Harry estavam desmedidamente felizes e tagarelas quando trocaram asvestesporjeansecamisetas.QuandoTonkseOlho-Tontochegaramparaacompanhá-losaLondres,os garotos os receberam com alegria, achando graça no chapéu-coco que Olho-Tonto usava,desabado para o lado para esconder o olho mágico, e lhe garantiram que Tonks, cujos cabelosestavamcurtoserosavivooutravez,atrairiamuitomenosatençãodoqueelenaviagemdemetrô.TonksestavamuitointeressadanavisãoqueHarrytiveradoataqueaoSr.Weasley,assuntoqueele
nãoestavanemremotamenteinteressadoemdiscutir.–NãohásanguedeVidenteemsuafamília,há?–perguntouelacuriosa,quandosesentaramladoa
ladonotremquesacudiaemdireçãoaocentrodacidade.–Não–respondeuHarry,pensandonaProfaTrelawneyesesentindoinsultado.–Não–disseTonkspensativa–,não, suponhoquenãoseja realmenteprofeciaoquevocêestá
fazendo,nãoé?Querodizer,vocênãoestávendoofuturo,estávendoopresente...éesquisito,nãoé,não?Maséútil...Harry não respondeu; felizmente eles desembarcaram na estação seguinte, uma estação bem no
centro de Londres, e, na afobação de descerem do trem, ele conseguiu deixar Fred e Jorge secolocarementreeleeTonks,queiaàfrentedogrupo.Todosaseguiramnasubidadaescadarolante,Moodymancandoatrás,ochapéu-cocoinclinadoeumadasmãosnodosasenfiadaentreosbotõesdocasaco, apertando a varinha. Harry pensou sentir o olho tampado fixo nele. Tentando evitarmaisperguntassobreseusonho,perguntouaOlho-TontoondeficavaescondidooSt.Mungus.–Nãoémuitolonge,não–resmungouMoody,quandosaíamparaoargélidodeinvernoemuma
rualarga,cheiadelojasapinhadasdegentequefaziacomprasdeNatal.EleempurrouHarryparasuafrente,esecolocouimediatamenteatrásdogaroto;Harrysabiaqueoolhoestavagirandoemtodasasdireçõessobaabainclinadadochapéu.–Nãofoifácilencontrarumbomlocalparaumhospital.NãohavianenhumbastantegrandenoBecoDiagonalenãopodíamosconstruí-loembaixodaterracomofizemoscomoMinistério:nãoseriasaudável.Porfim,conseguiramencontrarumedifícioàsuperfície.Emteoria,osbruxosdoentespoderiamireviresemisturarcomamultidão.Ele segurouoombrodeHarrypara impedirque fossemseparadosporumgrupoanimadoque
faziacomprasetinhaavisívelintençãodechegaraumalojadematerialelétricopróxima.–Aquivamosnós–disseMoodylogodepois.Haviam chegado a uma loja de departamentos, grande, antiquada, em um edifício de tijolos
aparentes,chamadaPurga&SondaLtda.Olugartinhaumaspectomalcuidado,miserável;asvitrinesexibiammeiadúziademanequinslascadoscomasperucastortas,dispostosaleatoriamente,vestindoroupasdepelomenosdezanosatrás.Grandes letreirosem todasasportasempoeiradasavisavam:“FechadoparaReforma.”Harryouviuumamulhercorpulentacarregadadesacasplásticascomentarcomaamigaaopassar:“Esselugarnãoabrenunca...”– Muito bem – disse Tonks, chamando-os para uma vitrine onde não havia nada, exceto um
manequim feminino particularmente feio. Suas pestanas estavam soltando e ela vestia uma bata denáilonverde:–Todospreparados?Todosassentiram,agrupando-seemtornodela.MoodydeumaisumempurrãonascostasdeHarry
paraeleficarmaisàfrente,eTonksseencostounovidro,olhandoparaomanequimhorroroso,suarespiraçãoembaçandoovidro:–Eaí,beleza!–cumprimentou.–EstamosaquiparavisitarArthurWeasley.HarryachouumabsurdoTonksesperarqueomanequimaouvisse falando tãobaixoatravésdo
vidro,comônibusrodandoàssuascostaseapoeiradeumaruacheiadegente.Entãolembrouque,de qualquer modo, manequins não ouviam. No momento seguinte sua boca se abriu de espantoquandoomanequimfezumleveacenocomacabeçaeumsinalcomoindicador,eTonkssegurouGinaeaSra.Weasleypeloscotovelos,atravessouovidroedesapareceu.Fred,RonyeJorgeentraramemseguida.Harrydeuumaolhadanamultidãoqueseacotovelavaao
seuredor;aparentementenenhumtranseuntesedavaotrabalhodeolharparavitrinesfeiascomoasdoPurga&SondaLtda.,nemreparavamemseispessoasquetinhamacabadodesedissolveràsuafrente.–Vamos– rosnouMoody,dandomaisumacutucadanascostasdeHarry,e juntosatravessaram
algo que lhes lembrou uma cortina de água fria, embora emergissem secos e aquecidos do outrolado.Nãohaviasinaldofeiomanequimoudoespaçoqueocupara.Encontravam-seemumarecepção
movimentada, em que havia filas de bruxos e bruxas sentados em instáveis cadeiras de madeira,algunspareciamperfeitamentenormaise folheavamexemplaresantigosdoSemanáriodasBruxas,outrosexibiammedonhasdeformaçõescomotrombasdeelefanteoumãossobressalentessaindodopeito.Asalanãoeramenosbarulhentadoquearualáfora,porqueváriospacientesfaziamruídosmuitoestranhos:umabruxaderostosuadonomeiodaprimeirafila,queseabanavaenergicamentecomumexemplardoProfetaDiário, não parava de soltar um silvo agudo e vapor pela boca, umbruxocomcaraencardidaaumcantobadalavacomoumsinotodaavezque semexiae, acadabadalada, suacabeçavibravahorrivelmenteeeleprecisava levara
mãoàsorelhasparafazê-lasparar.Bruxosebruxasdevestesverde-clarasiamevinhampelasfilasfazendoperguntaseanotaçõesem
pranchetas como a daUmbridge.Harry reparou que usavamum emblema bordado no peito: umavarinhaeumossocruzados.–Elessãomédicos?–perguntouaRony,comardeespanto.–Médicos?Aquelestrouxasdoidosquecortamocorpodaspessoas?Nam,sãoCurandeiros.–Aqui!–chamouaSra.Weasley,tentandosesobreporàsrenovadasbadaladasdobruxonocanto,
eelesaacompanharamatéafilaqueseformaradiantedeumabruxagordinhaeloura,aumamesamarcadaInformações.Naparedeatrásdela,haviaumaquantidadedeavisosecartazesdo tipo:UMCALDEIRÃO LIMPO IMPEDE QUE AS POÇÕES VIREM VENENO e NÃO SE DEVEM USARANTÍDOTOSANÃOSERAPROVADOSPORUMCURANDEIROQUALIFICADO.Haviaaindaumgranderetratodeumabruxacomlongoscachosprateadoscomumaplaca:
DilysDerwentCurandeiradoSt.Mungus1722-1741DiretoradaEscoladeMagiaeBruxaria
deHogwarts1741-1768
Dilys examinava o grupo dosWeasley como se os contasse; quando seu olhar encontrou o deHarry,abruxalhedeuumapiscadela,deslocou-separaoquadroaoladoedesapareceu.
Entrementes,nafilaàfrente,umjovembruxoexecutavaumestranhoimprovisodejigaetentava,entreganidosdedor,explicarsuasituaçãoàbruxadarecepção.–Sãoesses...ui...sapatosquemeuirmãomedeu...ai...estãocomendoosmeus...UI...pés...olhesó
paraeles,devemteralgumtipode...ARRRRE...azaraçãonelesenãoconsigoARRRRRRE...tirá-los.–Elepulavadeumpéparaooutrocomosedançassesobrecarvõesembrasa.–Ossapatosnãooimpedemdeler,ouimpedem?–disseabruxaloura,apontandoirritadaparaum
quadroàesquerdadesuamesa.–Vocêprecisa iraDanosCausadosporFeitiços,noquartoandar.Exatamentecomoestálistadonoquadrodosandares.Próximo!Quandoobruxosaiudançandoemancandodelado,osWeasleyavançaramalgunspassoseHarry
leuoquadro:
ACIDENTESCOMARTEFATOSTérreoExplosãodecaldeirão,retroversãodefeitiço,acidentescomvassourasetc.
FERIMENTOSCAUSADOSPORBICHOS1oandarMordidas,picadas,queimaduras,espinhasencravadasetc.
VÍRUSMÁGICOS2oandarDoençascontagiosas,taiscomovaríoladragonina,doençasevanescentes,escrofúngulosetc.
ENVENENAMENTOPORPLANTASEPOÇÕES3oandarUrticárias,regurgitação,acessoscontínuosderisoetc.
DANOSCAUSADOSPORFEITIÇOS4oandarAzaraçõesefeitiçosirreversíveis,feitiçosmalfeitosetc.
SALÃODECHÁDOSVISITANTES/LOJADOHOSPITAL5oandar
SENÃO TIVERCERTEZAAONDE SEDIRIGIR, NÃOCONSEGUIR FALARNORMALMENTEOUNÃOSELEMBRARDEQUEMÉ,ANOSSABRUXA-RECEPCIONISTATERÁPRAZEREMORIENTÁ-LO.
Umbruxomuitovelhoecurvadocomumatrompaparasurdosarrastara-seatéoprimeirolugardafila.–EstouaquiparavisitarBrodericoBode–dissenumsussurroasmático.– Enfermaria quarenta e nove, mas receio que esteja perdendo o seu tempo – respondeu ela,
dispensando-o.–Estácompletamenteconfuso,entende,aindaachaqueéumachaleira.Próximo.Umbruxo atarantado seguravapelo tornozelo a filhinha, que se agitava emvolta de sua cabeça
usandoimensasasasdepenasquesaíamdascostasdaroupa.–Quartoandar–disseabruxacomavozentediadasemperguntarnada,eohomemdesapareceu
pelas portas duplas ao lado da mesa, segurando a filha como se fosse um balão de formato
extravagante.–Próximo!ASra.Weasleyseaproximoudamesa.–Olá,meumarido,ArthurWeasley,deveria tersidotransferidoparaoutraenfermariahojepela
manhã,podenosdizer...?–ArthurWeasley? – repetiu a bruxa, correndo o dedo por uma longa lista à sua frente. – Foi,
primeiroandar,segundaportaàdireita,EnfermariaDaiLlewellyn.–Obrigada.Vamosgente.Elesaseguirampelasportasduplasepelocorredorlongoeestreitoenfeitadocommaisretratos
debruxos famosos, iluminadosporbolhasdecristal cheiasdevelasque flutuavam juntoao tetoelembravam gigantescas bolhas de sabão.Mais bruxas e bruxos de vestes verde-claras entravam esaíampelasportasporondepassavam;umgásamareloemalcheiroso invadiuocorredorquandoemparelharamcomumadasportas, edevezemquandoelesouviamgritosdistantes.SubiramumlancedeescadasechegaramaocorredordeFerimentosCausadosporBichos,ondeasegundaportaà direita estava sinalizada com o letreiro:Enfermaria Dai Llewellyn para Acidentes “Perigosos”:MordidasGraves.Logoabaixo,haviaumcartãoemumamolduradelatãonoqualalguémescrevera:CurandeiroResponsável:HipócratesSmethwyck.CurandeiroEstagiário:AugustoPye.–Vamosaguardaraquifora,Molly–disseTonks.–Arthurnãovaigostarderecebertantasvisitas
aomesmotempo...primeiroentraafamília.Olho-Tontoresmungousuaaprovaçãoàideiaesepostouàportacomascostasapoiadasnaparede
do corredor, o olhomágico girando em todas as direções. Harry se afastou também,mas a Sra.Weasleyesticouobraçoepuxou-opelaporta,dizendo:–Nãosejatolo,Harry,Arthurquerlheagradecer.Aenfermariaerapequenaeumtantoescura,porqueaúnicajanelaeraestreitaeficavanoaltoda
parede oposta à porta.Amaior parte da iluminação vinha demais bolhas de cristal agrupadas nomeiodoteto.Asparedeseramforradasdepainéisdecarvalho,ehavianaparedeumretratodeumbruxo de caramaligna em cuja placa se liaUrquhart Rackharrow, 1612-1697, Inventor do FeitiçoparaExpelirTripas.Só havia três pacientes. O Sr. Weasley ocupava a cama ao fundo da enfermaria ao lado da
janelinha.Harry ficou satisfeito e aliviado ao ver que ele estava recostado em vários travesseiroslendooProfetaDiário,à luzdosolitárioraiodesolqueincidiasobresuacama.Arthurergueuosolhosquandoogruposeencaminhouparaelee,vendoquemeram,abriuumgrandesorriso.–Olá!–falou,pondooProfetadelado.–Guiacaboudesair,Molly,precisouvoltaraotrabalho,
masdizquepassaparavê-lamaistarde.–Comoéquevocêestá,Arthur?–perguntouaSra.Weasley,curvandoseparalhedarumbeijona
bochecha,eexaminandocomansiedadeoseurosto.–Vocêaindaestábemabatido.–Estoumesentindoperfeitamentebem– respondeuomaridoanimado, esticandoobraço ileso
paraabraçarGina.–Sepudessemretirarasbandagens,euestariaprontoparairparacasa.–Porqueéquenãopodemretirá-las,papai?–perguntouFred.– Bom, começo a sangrar como louco todas as vezes que tentam – explicou o Sr. Weasley
animado, apanhando a varinha sobre o armário ao lado da cama e acenando para conjurar seiscadeirasdoladodesuacama,eacomodartodos.–Parecequehaviaumvenenoincomumnaspresasdaquelacobraquemantémasferidasabertas.Maselestêmcertezadequeencontrarãoumantídoto,dizemquejátiveramcasospioresdoqueomeu,nessemeio-temposóprecisobeberumaPoçãoparaRepor oSangue de hora emhora. Já aquele sujeito ali – disse baixando a voz e indicando comacabeçaacamado ladooposto,naqualumhomemdeaspectoverdosoedoentioolhava fixamenteparaoteto.–Foimordidoporumlobisomem,coitado.Nãotemcura.–Lobisomem?–sussurrouaSra.Weasley,fazendoumacaraassustada.–Nãotemperigoeleficar
emumaenfermariacoletiva?Nãodeviaestarnumquartoparticular?– Faltam duas semanas para a lua cheia – lembrou-lhe o Sr. Weasley, calmo. – Estiveram
conversando comele hoje demanhã, osCurandeiros, sabem, tentando convencê-lo de que poderálevarumavidaquasenormal.Eudisseaele,nãomencioneinomes,éclaro,masdissequeconheciapessoalmenteumlobisomem,umsujeitomuitobom,queachafáciladministraresseproblema.–Equefoiqueelerespondeu?–perguntouJorge.–Quemedariamaisumamordidaseeunãocalasseaboca–disseoSr.Weasleytristemente.–E
aquelamulherláadiante–eleindicouaoutracamaocupadaaoladodaporta–nãoquiscontaraosCurandeirosoquefoiqueamordeu,oquefazagentepensarquedeviaestarmexendocomalgumacoisailegal.Mas,fosseoquefosse,arrancou-lheumpedaçodaperna,ocheiroémuitoruimquandoremovemoscurativos.–Então,osenhorvainoscontaroqueaconteceu,papai?–perguntouFred,aproximandoacadeira
dacama.–Bom,vocêsjásabem,não?–disseoSr.Weasley,dandoumsorrisoexpressivoparaHarry.–É
muitosimples,eutiveumdiamuitolongo,cochilei,fuiapanhadoemordido.–SaiunoProfetaquevocêfoiatacado?–perguntouFredapontandoparaojornalqueopaipusera
delado.–Não,éclaroquenão–respondeuoSr.Weasleycomumsorrisoamargurado–,oMinistérionão
iriaquererquetodossoubessemqueumaenormecobrame...–Arthur!–alertou-oaSra.Weasley.–...me...ah...mordeu–completoueleapressadamente,emboraHarrynãotivessemuitacertezade
queeraaquiloqueelepretendiadizer.–Entãoondeéquevocêestavaquandoissoaconteceu,papai?–perguntouJorge.–Issoésódaminhaconta–respondeuopai,emboradandoumsorrisinho.Eapanhandoojornal,
sacudiu-o para abrir as páginas e disse: – Eu estava lendo sobre a prisão deWillyWiddershinsquandovocêschegaram.Sabemquedescobriramqueeraelequemestavaportrásdaquelesbanheirosqueregurgitaramnoverão?Umadasazaraçõessaiupelaculatra,ovasosanitárioexplodiueelefoiencontrado,inconsciente,nosdestroçosqueocobriramdospésàcabeçaem...–Quandovocêdizqueestava“emserviço”–interrompeu-oFredemvozbaixa–,queéquevocê
estavafazendo?– Você ouviu o que seu pai disse – sussurrou a Sra.Weasley. – Não vamos discutir isto aqui!
ContinueahistóriadoWillyWiddershins,Arthur.–Bom,nãomeperguntecomo,masofatoéqueeleselivroudaacusaçãodobanheiro–comentou
oSr.Weasley,carrancudo.–Sópossosuporquecorreuouro...–Vocêestavaguardandoela,nãoera?–perguntou Jorgeemvozbaixa.–Aarma?Acoisaque
Você-Sabe-Quemestáprocurando?–Jorge,caleaboca!–repreendeu-oaSra.Weasley.–Em todoocaso–disseoSr.Weasleyalteandoavoz–agoraWilly foi apanhadovendendoa
trouxasmaçanetasquemordem,eachoquedestavezelenãovaiconseguirselivrartãofácilporque,segundoo jornal, dois trouxasperderamosdedos e agora estãonoSt.Munguspara recuperarosossoseapagaramemória.Imaginesó,trouxasnoSt.Mungus!Emqueenfermariaseráqueestão?Eeleolhouatodavolta,comoseesperasseverumletreiro.–VocênãodissequeVocê-Sabe-Quemtemumacobra,Harry?–perguntouFred,comosolhosno
paiparaobservarsuareação.–Umacobraenorme?Vocêaviunanoiteemqueelevoltou,nãofoi?– Jáchega–disseaSra.Weasley, aborrecida.–Olho-TontoeTonksestãonocorredor,Arthur,
querementrarparavê-lo.Evocêspodemesperarláfora–acrescentouelaparaosfilhoseHarry.–Podemvirsedespedirdepois.Vãoandando.
Osgarotossaíramemfilaparaocorredor.Olho-TontoeTonksentraramefecharamaportadaenfermariaaopassar.Fredergueuassobrancelhas.–Ótimo–dissecalmamente,vasculhandoosbolsos–,queassimseja.Nãonoscontemnada.–Estáprocurandoisso?–indagouJorge,mostrandoumemaranhadodefioscordecarne.–Vocêleumeuspensamentos–disseFred,sorrindo.–VamosverseoSt.MunguspõeFeitiçosde
Imperturbabilidadenasportasdasenfermarias?EleeJorgedesembaraçaramosfios,separaramcincoOrelhasExtensíveiseasdistribuíramentre
todos.Harryhesitouemapanharasua.–Vamos,Harry,apanheuma!Vocêsalvouavidadepapai.Sealguémtemodireitodeescutaratrás
daportaévocê.Sorrindocontrafeito,Harryapanhouumapontadofioeinseriu-anoouvido,comohaviamfeito
osgêmeos.–O.k.,agora!–sussurrouFred.Osfioscordecarneseagitaramcomolongosfiaposdevermesedeslizaramporbaixodaporta.A
princípio, Harry não ouviu nada, em seguida se assustou quando escutou Tonks sussurrandoclaramentecomoseestivesseaoseulado.–...elesvasculharamaáreatoda,masnãoconseguiramencontraracobraemlugaralgum.Parece
terdesaparecidodepoisdeatacarvocê,Arthur...masVocê-Sabe-Quemnãopoderiateresperadoqueumacobraentrasse,poderia?–Calculoqueatenhamandadoparavigiar–rosnouMoody–,porqueatéagoraelenãotevesorte,
não é? Imagino que esteja tentando formar um quadromais claro do que precisa enfrentar, e, seArthurnãoestivesse lá,a fera teria tidomuitomais tempoparaespionar.Então,Potterdizqueviutudoacontecer?–É–respondeuaSra.Weasley.Pareciabastanteinquieta.–Sabe,Dumbledorechegouamedara
impressãodequeestavaaguardandoqueHarryvisseumacoisadessas.–Ah,bom–disseMoody–,temalgumacoisaestranhanomeninoPotter,todossabemos.– Dumbledore se mostrou preocupado com Harry quando falei com ele hoje de manhã –
cochichouaSra.Weasley.–Claroqueestápreocupado–engrolouMoody.–Ogarotoestávendocoisasdedentrodacobra
deVocê-Sabe-Quem.Obviamente, Potter não compreende o que isso significa,mas seVocê-Sabe-Quemestiverpossuindoele...HarryarrancouaOrelhaExtensíveldoouvido,ocoraçãomartelandodisparadoeocalorafluindo
aoseurosto.Eleolhouparaosoutros.Todosoencaravam,osfiosaindapenduradosnasorelhas,osrostosrepentinamenteamedrontados.
—CAPÍTULOVINTEETRÊS—Natalnaenfermariafechada
Era por isso que Dumbledore não queria mais olhar Harry nos olhos? Será que esperava verVoldemortolhandoatravésdeles,receosotalvezqueoverdevivoderepentepudessevirarvermelho,compupilasestreitaseverticaiscomoasdeumgato?HarryselembravadecomoorostoofídicodeVoldemortumavezirromperadanucadoProf.Quirrellepassaraosdedospelaprópriacabeça,eseperguntavaagoracomoseriaseVoldemortirrompessedoseucrânio.Sentiu-se sujo, contaminado como se fosse portador de um vírus letal, indigno de se sentar na
viagemdevoltaaoladodegenteinocenteelimpa,cujoscorposementesnãoestavammaculadosporVoldemort...elenãoapenasviraacobra,eleforaacobra,sabiadissoagora...Ocorreu-lheentãoumpensamento,umalembrançaqueemergiraemsuamente,equefaziasuas
entranhassecontorceremcomocobras.Queéqueelequeria,alémdeseguidores?Umacoisaquesópoderiaobterescondido...comoumaarma.Algoquenãopossuíadaúltimavez.“Eu sou a arma”, pensou Harry, era como se estivessem injetando veneno em suas veias,
enregelando-o, fazendo-o suar no balanço do trem ao atravessar o túnel escuro. “Sou eu queVoldemortestátentandousar,éporissoqueexistemguardasàminhavoltaaondevou,nãoéparameproteger,éparaprotegerasoutraspessoas,sóquenãoestáfuncionando,nãopodempôrgentemeguardandootempotodoemHogwarts...EuataqueioSr.Weasleyontemànoite,fuieu.Voldemortmelevouafazerissoepodeestardentrodemimnesteinstante,escutandoosmeuspensamentos...”–Vocêestábem,Harry,querido?–cochichouaSra.Weasley,inclinando-seporcimadeGinapara
falarcomele,enquantoo tremsacudia túnelafora.–Vocênãoestámeparecendomuitobem.Estáenjoado?Todos olharampara ele.Harry balançou a cabeça violentamente e ergueu a cabeça para ler um
anúnciodesegurodecasas.– Harry, querido, você tem certeza de que está bem? – a Sra. Weasley repetiu a pergunta
preocupada, quando contornavam a relvamalcuidada no centro do largoGrimmauld. –Você estáficando cada vezmais pálido... tem certeza de que dormiu hoje demanhã? Suba logo para o seuquartoedurmaumasduashorasantesdojantar,estábem?Ele concordou com a cabeça; ali estava uma desculpa de bandeja para não conversar com
ninguém,queeraexatamenteoqueelequeria,então,quandoabriramaporta,elepassoucorrendopeloporta-guarda-chuvasdepernade trasgo, subiuasescadaseentrounoquartoquedividiacomRony.Ali,começouaandardeumladoparaoutro,passandopelascamaseamolduravaziadoretratode
FineusNigellus,seucérebroborbulhantedeperguntaseideiassempremaisassustadoras.Comofoiqueeleviraracobra?Talvezfosseumanimago...não,nãopodiaser,elesaberia...talvez
Voldemortfosseumanimago...é,pensouHarry,istoencaixaria,elenaturalmentesetransformariaemcobra...equandoestámepossuindo,entãonósdois...masissoaindanãoexplicacomofuiaLondresevolteiparaaminhacamanumespaçodecincominutos...mas,poroutrolado,Voldemortéobruxomais poderoso do mundo, excluindo Dumbledore, provavelmente não seria problema para ele
transportaralguémnessavelocidade.Eentão,comumahorrívelpontadadepânico,pensou:masistoéumainsanidade–seVoldemort
estámepossuindo,euestoudandoaeleumavisãonítidadasededaOrdemdaFênixnestemomento!ElesaberáquempertenceàOrdemeondeSiriusestá...eouviummontedecoisasquenãodeveriaterouvido,tudoqueSiriusmecontounanoiteemquecheguei...Sóhaviaumacoisaafazer:teriadeabandonarolargoGrimmauldnesteinstante.PassariaoNatal
emHogwartssemosoutros,oquepelomenososmanteriasãosesalvosduranteasfestas...masnão,nãoadiantaria,aindahaviamuitagenteemHogwartsparaelealeijareferir...EsefosseSimas,DinoouNevilledapróximavez?Eleinterrompeuacaminhadaeparou,olhandoparaamolduravaziadeFineus Nigellus. Uma sensação de peso estava assentando no fundo do seu estômago. Não tinhaalternativa,teriadevoltarparaaruadosAlfeneiros,cortarcompletamenteseusvínculoscomoutrosbruxos.Bom,se tinhade fazer isso,pensou,nãoadiantavacontinuarali.Esforçando-seaomáximopara
nãopensarcomoosDursleyiriamreagirquandooencontrassemàportadeentradaseismesesantesdo esperado, ele se encaminhou para o seu malão, bateu a tampa e trancou-o à chave, depoisautomaticamentecorreuosolhospeloquartoàprocuradeEdwigesantesdelembrarqueelaficaraemHogwarts–bom,agaiola seriaumacoisaamenosacarregar–,passouentãoamãoemumaextremidade damala e já a arrastara metade do caminho até a porta quando uma voz debochadaperguntou:–Estáfugindo,é?Elesevirou.FineusNigellusapareceunateladoseuquadro,apoiadonamoldura,eolhavaHarry
comumaexpressãodivertidanorosto.–Não,nãoestou fugindo– respondeuHarrysecamente,arrastandoomalãomaisalgunspassos
peloquarto.–Pensei–disseFineusNigellus,acariciandoabarbaemponta–queparapertenceràGrifinóriaa
pessoaprecisavasercorajosa.Estámeparecendoquevocêteriasedadomelhornaminhacasa.Nósda Sonserina somos corajosos, sim, mas não somos burros. Por exemplo, se nos derem opção,sempreescolheremossalvarapele.–Nãoéaminhapelequeestousalvando–disseHarrytenso,puxandoomalãoporumtrechodo
tapeteroídodetraçasparticularmenteirregularemfrenteàporta.–Ah,estouentendendo–disseobruxo,aindaacariciandoabarba–,issonãoéumafugacovarde,
vocêestásendonobre.Harryignorou-o.SuamãojáestavanamaçanetaquandoFineusNigellusdisseindolentemente:–TenhoumrecadodeAlvoDumbledoreparavocê.Harryseviroutotalmente.–Qualé?–Fiqueondeestá.–Eunãomemexi!–exclamouHarry,amãoaindanamaçaneta.–Então,qualéorecado?–Euacabeidelhedar,bobalhão–disseFineusNigellusserenamente.–Dumbledoremandadizer:
Fiqueondeestá.–Porquê?–perguntouHarry,ansioso,deixandocairomalão.–Porqueelequerqueeufique?
Quemaiseledisse?– Só isso – respondeu Fineus, erguendo uma sobrancelha fina e negra, como se achasseHarry
impertinente.AirritaçãodeHarryveioàtonacomoumacobraemergindodarelvaalta.Estavaexausto,estava
confuso alémda conta, experimentara terror, alívio, e novamente terror nas últimasdozehoras, eaindaassimDumbledorenãoqueriafalarcomele!
–Entãoésóisso?–disseemvozalta.–Fiqueondeestá.Foisóoquemedisseramtambémquandofui atacado por aqueles Dementadores! Fique parado enquanto os adultos resolvem o problema,Harry!Masnãovamosnosdaraotrabalhodelhedizernada,porqueoseupequenocérebrotalveznãopossaentender!–Sabe–disseFineusNigellus,emtomaindamaisaltodoqueHarry–,eraexatamentepor isso
que eudetestava ser professor!Os jovens são tão infernalmente convencidos de que têm absolutarazãoem tudo.Seráqueaindanão lheocorreu,meupobrepresunçosoempolado,quepodehaverumaexcelenterazãoparaodiretordeHogwartsnãoconfiaravocêcadapequenodetalhedosplanosdele? Você nunca parou, ao se sentir desprezado, a observar que a obediência às ordens deDumbledorenuncaocolocouemperigo?Não.Não,comotodososjovens,vocêtemcertezadequesóvocêsenteepensa,sóvocêreconheceoperigo,sóvocêébastanteinteligenteparaperceberoqueoLordedasTrevasestáplanejando...–Entãoeleestáplanejandoalgumacoisacomrelaçãoamim?–perguntouHarrydepressa.– Foi isso que eu disse? – retorquiu FineusNigellus, examinando indolentemente suas luvas de
seda.–Agora,semedálicença,tenhomaisafazerdoqueescutarasagoniasdeumadolescente...umbomdiaparavocê.Eeledeslizouparaabordadamolduraedesapareceudevista.–Ótimo,entãová!–berrouHarryparaamolduravazia.–EdigaaoDumbledorequeeuagradeço
pornada!Atelavaziacontinuousilenciosa.Espumando,Harryarrastouomalãodevoltaaospésdacama,e
se atirou de cara para baixonas cobertas roídas de traças, de olhos fechados, seu corpo pesado edolorido.Tinhaasensaçãodeterviajadoquilômetrossemfim...pareciaimpossívelquehaviamenosdevinte
equatrohorasChoChangseaproximaradelesoboramodevisgo...eleestavatãocansado... tinhamedodeadormecer...masnãosabiaquantotemporesistiriaaosono...Dumbledorelhedisseraparaficar...istodeviasignificarquepodiadormir...mastinhamedo...eseacontecesseoutravez?Elefoiafundandonassombras...Pareciaquehaviaum filmeemsuacabeçaesperandoparacomeçar.Ele seviuandandoporum
corredor deserto em direção a uma porta preta e simples, passando por paredes de pedra tosca,archotes,eumportalabertoparaumlancedeescadadepedraquedesciaàesquerda...Chegou à porta fechada, mas não conseguiu abri-la... ficou parado olhando, desesperado para
entrar... alguma coisa que ele desejava de todo o coração estava atrás da porta... um prêmio quesuperavatodososseussonhos...seaomenossuacicatrizparassedeformigar...entãoeleseriacapazdepensarcommaiorclareza...–Harry – disse a voz deRonymuito,muito distante: –Mamãemandou dizer que o jantar está
pronto,masqueguardaalgumacoisasevocêquisercontinuardeitado.Harryabriuosolhos,masRonyjásaíradoquarto.Elenãoquerficarsozinhocomigo,pensouHarry.NãodepoisdoqueouviuMoodydizer.Supunhaquenenhumdelesquisessequeelecontinuasseali,agoraquesabiamoquehaviadentro
dele.Nãodesceriaparajantar,nãoiriaimporsuacompanhiaaninguém.Virou-separaooutrolado,e
unsminutosdepoisvoltouaadormecer.Acordoumuitomais tarde,nasprimeirashorasdamanhã,suas entranhas doendo de fome, e Rony roncando na cama ao lado. Apertando os olhos paraenxergar, ele viu o contorno escuro de Fineus Nigellus outra vez no quadro e lhe ocorreu queDumbledoreprovavelmentemandaraobruxoparavigiá-lo,casoatacassealguém.Asensaçãodeestarsujoseintensificou.QuasedesejounãoterobedecidoaDumbledore...seera
assimqueiasersuavidanolargoGrimmauld,talvezeleestivessemelhornaruadosAlfeneiros.
TodososoutrospassaramamanhãseguintependurandodecoraçõesdeNatal.Harrynãoselembravade jamais tervistoSirius tãobem-humorado;estavaatécantandomúsicasnatalinas, aparentementesatisfeitoporqueiriatercompanhiaparaoNatal.Harryouviaavozdopadrinhoecoandoatravésdosoalhona fria saladevisitasonde se sentara sozinho,observandopelas janelasocéuempalidecercada vezmais, ameaçando nevar, sentindo o tempo todo um prazer selvagem de estar dando aosoutrosaoportunidadedecontinuaremafalardele,comodeviamestarfazendo.QuandoouviuaSra.Weasleychamarseunomebaixinhoaopédaescada,porvoltadahoradoalmoço,eleseretirouparamaislongenoandardecimaeignorouoseuchamado.Por volta das seis horas, a campainha tocou e a Sra. Black recomeçou a gritar. Supondo que
Mundungo ou outromembro daOrdem estivesse à porta,Harry simplesmente se acomodoumaisconfortavelmentecontraaparededoquartodeBicuçoondeseescondera,tentandonãoligarparaafomequesentiaenquantodavaratosmortosaohipogrifo.Levouumcertosustoquandoalguémbateucomforçanaportaalgunsminutosdepois.–Seiquevocêestáaí.–OuviuavozdeHermione.–Querfazerofavordesair?Querofalarcom
você.– Que é que você está fazendo aqui? – perguntou Harry, abrindo a porta enquanto Bicuço
recomeçava a arranhar o chão coberto de palha à procura de pedacinhos de rato que pudesse terdeixadocair.–Penseiqueestivesseesquiandocomseuspais.–Bom,paradizeraverdade,esquiarnãoébemaminhapraia–respondeuHermione.–Entãovim
passaroNatalaqui.–Havianeveemseuscabeloseseurostoestavacoradodefrio.–Masnãoconteao Rony. Eu disse que esquiar eramuito bom porque ele ficou rindomuito.Meus pais estão umpoucodesapontados,maseufaleiquetodososalunosqueestãolevandoosexamesasérioficaramemHogwartsparaestudar.Elesqueremqueeumedêbem,vãocompreender.Emtodoocaso–dissecomenergia–,vamosparaoseuquarto,amãedeRonyacendeualareiradeláemandousanduíches.Harryacompanhou-adevoltaaosegundoandar.Quandoentrounoquartoficoumuitosurpresode
verRonyeGinaàsuaespera,sentadosnacamadeRony.–VimnoNôitibusAndante – disseHermione despreocupada, tirando o casaco antes queHarry
tivesse tempo de falar. – Dumbledore me contou o que aconteceu ontem de manhã, mas preciseiesperaroencerramentooficialdo trimestreparaviajar.AUmbridge jáestá lívidade raivaporquevocêsdesaparecerambemdebaixodonarizdela,emboraDumbledoretenhalheexplicadoqueoSr.WeasleyestavanoSt.Mungus,ederaatodosvocêspermissãoparavisitá-lo.Então...ElasesentouaoladodeGina,easduaseRonyolharamparaHarry.–Comoéquevocêestásesentindo?–perguntouHermione.–Ótimo–disseHarry,rígido.–Ah,nãomente,Harry–disse ela com impaciência. –RonyeGina contaramquevocê está se
escondendodetodoomundodesdequevoltaramdohospital.–Disseram,foi?–comentouHarryolhandofeioparaRonyeGina.Ronyolhouparaospés,mas
Ginacontinuouimpassível.–Eestámesmo!Enãoquerolharparanenhumdenós!–Vocêséquenãoqueremolharparamim!–respondeuHarry,zangado.–Quemsabevocêsestãoserevezandoparaolhareporissosedesencontram–arriscouHermione,
oscantosdabocatremendo.–Muitoengraçado–retorquiuHarry,virandoascostas.– Ah, pare de se sentir incompreendido – disse Hermione com rispidez. – Olha, os outrosme
contaramoquevocêouviuontemànoitecomasOrelhasExtensíveis...–É?–rosnouHarry,asmãosenfiadasnosbolsosolhandoanevecairemdensosflocosláfora.–
Todosficaramfalandodemim,é?Muitobem,estoumeacostumando.
– Nós queríamos falar com você – disse Gina –, mas você ficou se escondendo desde quevoltamos...– Eu não queria que ninguém falasse comigo – respondeu Harry, sentindo-se cada vez mais
exasperado.–Poisfoiburricesua–disseGina,zangada–,umavezquenãoconheceninguémquetenhasido
possuídoporVocê-Sabe-Quemalémdemim,eeupossolhedizercomoéqueapessoasesente.Harryficoumuitoquietoquandooimpactodessaspalavrasoatingiu.Entãogirounoscalcanhares
paraencararGina.–Eumeesqueci.–Sortesua–disseGinacalmamente.–Me desculpe – pediu ele, e estava sendo sincero. –Então... então, você acha que eu não estou
possuído?–Bom,vocêconsegueselembrardetudoquefaz?Vocêtemlongosperíodosdeausênciaemque
nãoécapazdedizeroqueandoufazendo?Harrytentouselembrar.–Não.–EntãoVocê-Sabe-Quemnunca possuiu você – disseGina com simplicidade. –Quando ele fez
issocomigo,eunãoconseguiamelembrarondetinhaestadodurantehoras.Davapormimemalgumlugar,enãosabiacomotinhaidopararlá.Harry nem ousava acreditar, sentiu diminuir o peso em seu peito independentemente de sua
vontade.–Masosonhoquetivesobreseupaieacobra...–Harry,vocêjá teveessessonhosantes–disseHermione.–VocêtevevisõesdoqueVoldemort
estavatramandonoanopassado.–Esta foi diferente – contestou ele balançando a cabeça. –Eu estavadentro daquela cobra. Era
comoseeufosseacobra...eseVoldemorttivermetransportadoparaLondres?–Umdia–disseHermionemuitoexasperada–vocêvai lerHogwarts:umahistória,e talvezse
lembredequenãoépossível aparatarnemdesaparatarna escola.NemmesmoVoldemortpoderiafazervocêsairvoandodoseudormitório,Harry.–Vocênãosaiudesuacama,cara–disseRony.–Euvivocêsedebatendonosonopelomenosum
minutoantesdeconseguirmosacordá-lo.Harryrecomeçouaandardeumladoparaoutrodoquarto,refletindo.Oqueestavamlhedizendo
nãoconsolavaapenas,faziasentido...sempensar,eletirouumsanduíchedopratoemcimadacamaeestufou-ovorazmentenaboca.Então eu não sou uma arma, pensou Harry. Seu peito inchou de felicidade e alívio e ele teve
vontade de fazer coro a Sirius quando o ouviram passar pela porta do quarto em direção ao deBicuço,cantando:“Deuslhesdêapaz,alegreshipogrifos”,aplenospulmões.
ComoéqueelepoderiatersonhadoemvoltaràruadosAlfeneirosparapassaroNatal?OprazerdeSiriusemterdenovoacasacheia,eprincipalmenteemterHarrydevolta,foicontagioso.Deixaradeser o anfitrião carrancudo do verão; agora parecia resolvido que todos deviam se alegrar tantoquantoele,senãomaisdoqueteriamsealegradoemHogwarts,enquantotrabalhavasemdescansonospreparativosparaoDiadeNatal,limpandoedecorandoacasacomaajudadosgarotos,demodoque,quandofinalmentetodosforamsedeitarnavésperadoNatal,acasaestavaquaseirreconhecível.Os lustres oxidados não tinham mais teias de aranha, mas guirlandas de azevinho e serpentinasdouradaseprateadas;nevemágicabrilhavaemmontessobreostapetesgastos;umagrandeárvoredeNatalobtidaporMundungo,edecoradacomfadinhasvivas,ocultavaaárvoregenealógicadafamília
deSirius, e até as cabeças empalhadasdeelfosnaparededocorredorusavamgorros ebarbasdePapaiNoel.Harry acordou namanhã deNatal e encontrou uma pilha de presentes ao pé da cama, Rony já
estavaabrindoasegundametadedeumapilhabemmaior.–Boasafraesteano–informouaHarry,atravésdeumanuvemdepapel.–ObrigadopelaBússola
para Vassouras, é excelente; melhor que o presente da Hermione: ela me deu uma agen da paraanotardeveres...HarryprocurouentreosseuspresenteseencontrouumcomacaligrafiadeHermione.Aamigalhe
dera tambémum livroquepareciaumdiário, excetoque todas asvezesque ele abriaumapáginaouviacoisasdotipo:Façahojeoupagueopreço!SiriuseLupinhaviampresenteadoHarrycomumacoleçãodeexcelenteslivros,Amagiadefensiva
na prática e seu uso contra as artes das trevas, conten doesplêndidas e comoventes ilustraçõescoloridas de todos as contra-azarações e os feitiços descritos. Harry folheou o primeiro volume,curioso;davaparaverqueseriaextremamenteútilnosseusplanosparaaAD.Hagridlhemandaraumacarteiradepelemarromquetinhapresas,queelesupunhafosseumFeitiçoAntiladrão,masqueinfelizmenteoimpediudeusá-laparaguardardinheirosemperderosdedos.OpresentedeTonksfoiumpequenomodelodeFirebolt,queele fezvoarpeloquartodesejandoainda terasuaversãoemtamanhonatural;Rony lhederaumaenormecaixadeFeijõezinhosdeTodososSabores,oSr.eaSra.Weasley,ocostumeirosuéter tricotadoàmãoealgumas tortasde frutassecaseespeciarias,eDobby um quadro realmente horrendo que Harry suspeitava ter sido pintado pelo próprio elfo.Acabaradevirá-loparaver se ficavamelhorde cabeçaparabaixoquandoouviramumcraque, eFredeJorgeaparataramaospésdesuacama.–FelizNatal–desejou-lheJorge.–Nãodesçaagora.–Porquenão?–perguntouRony.–Mamãeestáchorandooutravez–comentouFred,pesaroso.–PercydevolveuopulôverdeNatal.–Semnemumbilhete–acrescentouJorge.–Nãoperguntoucomovaiopapainemovisitounem
nada.–Tentamosconsolá-la–disseFred,contornandoacamaparaespiaroquadrodeHarry.–Eudisse
aelaquePercynãopassadeummontedebostaderatometidoabesta.– Não adiantou – comentou Jorge, se servindo de um Sapo de Chocolate. – Então Lupin nos
substituiu.Achoqueémelhordeixarqueeleaconsoleantesdedescermosparaocafé.–Afinal,queéque issopretende retratar?–perguntouFredapertandoosolhosparaentendero
quadrodeDobby.–Pareceumgibãocomdoisolhosnegros.–ÉoHarry!–exclamouJorge,apontandoparaascostasdoquadro.–Éoquedizaqui!–Estábemparecido–comentouFredrindo.Harryatirouneleanovaagendadedeveres;elabateu
naparedeopostaecaiunochãodizendoalegremente:Sevocêpôsospingosnos isecortouos têsentãopodefazeroquequiser!Elesselevantaramesevestiram.Ouviamosváriosmoradoresdacasadesejando“FelizNatal”uns
aosoutros.Nadescida,encontraramHermione.–Obrigada pelo livro,Harry – disse ela feliz. –Há séculos que eu andavaquerendo essaNova
teoriadenumerologia!Eaqueleperfumeérealmentediferente,Rony.– Nem por isso – disse Rony. – Para quem é esse aí? – perguntou, indicando com a cabeça o
presentemuitobemembrulhadoqueHermionecarregava.–Monstro–disseelaanimada.–Émelhornãoserroupa!–preveniu-aRony.–VocêlembraoqueoSiriusdisse:oMonstrosabe
demais,nãopodeserlibertado.–Nãoéroupa–respondeuHermione–,embora,seeupudesse,certamentelhedariaoutracoisa
parausaremvezdaqueletrapoimundo.Não,éumacolchaderetalhos,acheiquepoderiaalegraroquartodele.– Que quarto? – perguntou Harry, baixando a voz para cochichar pois estavam passando pelo
retratodamãedeSirius.–Bom,oSiriusdizquenãoébemumquarto,émaisumatoca–explicouHermione.–Peloque
sei,eledormeembaixodoaquecedornaquelearmáriojuntoàcozinha.ASra.Weasleyeraaúnicapessoanoporãoquandoeleschegaram.Estavaparadaaoladodofogão
epareciatertidoumafortegripequandolhesdesejou“FelizNatal”,etodosdesviaramoolhar.–Ah, então esse é o quarto doMonstro? – disseRony, indo até uma porta encardida no canto
opostoàdespensa.Harrynuncaaviraaberta.–É–disseHermione,agoraumpouconervosa.–Hum...achoqueémelhorbatermos.Ronybateunaportacomosnósdosdedos,masnãohouveresposta.–Deveandarbisbilhotandoláemcima–disseele,e,semmaiorhesitação,escancarouaporta.–
Irra!Harry espiou para dentro.Amaior parte do armário estava ocupada por um enorme aquecedor
antigo, mas no espacinho embaixo da tubulação Monstro arrumara para ele um lugar que seassemelhavaaumninho.UmemaranhadodetraposvariadosecobertoresvelhosmalcheirososemqueMonstroseaconchegavaparadormirtodanoite.Aquieali,entreasroupas,haviapãodormidoefarelos embolorados de queijo. Em um canto, brilhavam pequenos objetos e moedas que Harryimaginavaqueoelfotivessesalvo,comoumapega,doexpurgoqueSiriusestavafazendonacasa,etambémconseguirasalvarasfotografiasdefamíliaqueSiriusjogaraforaduranteoverão.Osvidrospodiamestarpartidos,masaspessoasempretoebrancoolhavam-nocomarrogância,inclusive–elesentiuumsolavanconoestômago–amulherdecabelosnegrosepálpebrascaídasacujojulgamentoele assistira na Penseira de Dumbledore: Belatriz Lestrange. Pelo jeito, a fotografia dela era afavoritadeMonstro;eleacolocaraàfrentedasdemaisecolaraovidroinabilmentecomfitaadesiva.–Achoquevoudeixaropresentedeleaí–disseHermione,colocandooembrulhobem-feitono
côncavodostraposecobertas,efechandosilenciosamenteaporta.–Eleoencontrarámaistarde,istoresolverá.– Pensando bem – disse Sirius saindo da despensa com um enorme peru na hora em que eles
fechavamaportadoarmário–,alguémtemvistooMonstroultimamente?– Não o vejo desde a noite em que voltamos – respondeu Harry. – Você estava expulsando o
Monstrodacozinha.–É...–disseSiriusfranzindoatesta.–Sabe,achoqueessafoiaúltimavezqueovitambém...deve
estarescondidoemalgumlugarláfora.–Elenãopoderia ter idoembora?–perguntouHarry.–Querodizer,quandovocêdisse“fora”,
seráqueelenãopensouquevocêqueriadizerforadacasa?–Não,não,elfosdomésticosnãopodemiremboraanãoserqueganhemroupas.Estãopresosà
casadafamília.–Eles podem sair de casa se realmente quiserem– contrapôsHarry. –Dobby saiu da casa dos
Malfoyparamedaravisoshátrêsanos.Tinhadesecastigardepois,masaindaassimsaía.Siriuspareceuligeiramentedesconcertadoporummomento,entãodisse:–Vouprocurá-lodepois,imaginoqueoencontreláemcima,seacabandodechoraremcimados
calçõesvelhosdaminhamãeoucoisaparecida.Naturalmentepodeterseescondidonoarmáriodeventilaçãoemorrido...masnãodevoalimentaresperanças.Fred,JorgeeRonyriram;Hermione,porém,pareceucensurá-lo.Depoisdoalmoçonatalino,osWeasley,HarryeHermioneestavamprogramandovisitarmaisuma
vezoSr.Weasley,acompanhadosporOlho-TontoeLupin.Mundungoapareceuemtempodeprovar
opudimdeNataleasobremesa,tendoconseguidopedirumcarro“emprestado”paraaocasião,poisometrônãofuncionavanodiadeNatal.Ocarro,queHarryduvidavamuitoquetivessesidoobtidocomo consentimento do dono, fora ampliado por dentro comum feitiço, comoo do velhoFordAnglia da família Weasley. Embora externamente tivesse tamanho normal, dez pessoas, aforaMundungono lugardomotorista, podiamse acomodar comconfortodentrodele.ASra.Weasleyhesitou antes de entrar – Harry sabia que sua desaprovação a Mundungo conflitava com o seudesagradoemviajarsemauxíliodamagia–,mas,finalmente,ofrioquefazianaruaeassúplicasdosfilhosvenceram,eelasesentoudeboavontadenobancotraseiro,entreFredeGui.A viagem até o St. Mungus foi muito rápida porque quase não havia tráfego nas ruas. Um
punhadinhodebruxasebruxosandavafurtivamentepelarua,deoutromododeserta,acaminhodohospital.Harryeosoutrosdesceramdocarro,eMundungovirouaesquinaparaaguardá-los.Elesforamdisplicentementeatéavitrineondehaviaomanequimvestidodenáilonverde,então,umaum,atravessaramovidro.A recepção assumira um ar agradavelmente festivo: os globos de cristal que iluminavam o St.
Mungus haviam sido coloridos de vermelho e dourado, transformando-se em gigantescas bolasnatalinas iluminadas; ramosdeazevinhoemolduravam todasasportas; e árvoresdeNatalbrancascintilavamemtodososcantos,cobertasdenevemágicaepingentesdegelo,enoaltoumaestreladourada.Olocalestavamenoscheiodoquedaúltimavez,embora,ameiocaminhodoquarto,Harrysevisseempurradoparaoladoporumabruxacomumalaranjinhaentaladananarinaesquerda.–Brigadefamília,eh?–disseabruxadarecepçãodandoumsorrisopretensioso.–Asenhoraéa
terceiraquevejohoje...DanosCausadosporFeitiços,quartoandar.EncontraramoSr.WeasleyrecostadonacamacomosrestosdoalmoçodeNatalemumabandeja
sobreocoloeumaexpressãoacanhadanorosto.– Tudo bem, Arthur? – perguntou a Sra. Weasley, depois que todos o cumprimentaram e
entregaramospresentes.–Ótimo,ótimo–respondeuele,umpoucoanimadodemais.–Você...hum...nãoviuoCurandeiro
Smethwyck,viu?–Não–respondeusuamulher,desconfiada–,porquê?–Nada, nada – tornou ele aereamente, começando a desembrulhar a pilha de presentes. –Bom,
todospassaramumbomdia?QuefoiquevocêsganharamdeNatal?Ah,Harry...istoéabsolutamentemaravilhoso!–Acabaradeabriropresentedechavesdeparafusoe fiode soldaqueogaroto lhedera.A Sra. Weasley não parecia inteiramente satisfeita com a resposta do marido. Quando ele se
inclinouparaapertaramãodeHarry,eladeuumaespiadanasatadurassobsuacamisa.– Arthur, trocaram suas ataduras! Por que trocaram suas ataduras um dia antes, Arthur? Me
disseramquenãoprecisariamtrocá-lasatéamanhã.–Quê?!–exclamouoSr.Weasley,parecendoumtantoassustadoepuxandoascobertasparacobrir
opeito.–Não,não...nãoénada...é...eu...ElepareceuesvaziarcomoumbalãosoboolharpenetrantedaSra.Weasley.–Bom...nãoseaborreça,Molly,masAugustoPyeteveumaideia...eleéoCurandeiroEstagiário,
sabe,umrapazótimoemuitointeressadoem...hum...medicinacomplementar...querodizer,algunsremédios tradicionais dos trouxas... eles chamam de pontos, Molly e dão muito certo nos... nosferimentosdostrouxas...ASra.Weasleydeixouescaparumgritoagourento,algoentreumgritoeumrosnado.Lupinse
afastoudacamaemdireçãoaolobisomem,quenãotinhavisitaseobservavatristementeogrupoquerodeavaoSr.Weasley;Gui resmungoualgumacoisa,pretextando irapanharumaxícaradechá,eFredeJorgeselevantaramdeumpuloparaacompanhá-lo,sorrindo.
–Vocêestáquerendomedizer–elaelevavaavozacadapalavra,aparentementesemsedarcontadeque seus acompanhantes estavamprocurandoum lugarpara sumir –que anda semetendo comremédiosdetrouxas?–Memetendonão,Molly,querida–disseeleemtomdesúplica–,foisó...sóumacoisaquePyee
eu quisemos experimentar... só que, infelizmente... bom, nesses tipos de ferimentos... não parecefuncionartãobemquantoesperávamos...–Oquesignifica...?–Bom...bom,nãoseisevocêsabeoque...oquesãopontos.–Parecequevocêandoutentandocosturarasuapele–disseaSra.Weasleycomumarisadaseca–,
masnemvocê,Arthur,poderiasertãoburro...–Achoquetambémvouquererumaxícaradechá–disseHarryficandoempé.Hermione,RonyeGinaquasecorreramparaaportacomHarry.Quandoaportasefechou,eles
ouviramaSra.Weasleygritar:“COMOASSIM,ESSAÉAIDEIAGERAL?”–Étípicodopapai–disseGinabalançandoacabeçaquandoseguiampelocorredor.–Pontos...é
mole...–Bem,sabe,elesfuncionamcomferimentosnãomágicos–disseHermione,querendoserjusta.–
Suponhoquealgumacoisanovenenodaquelacobraosdissolveoucoisaparecida.Ondeseráqueficaosalãodechá?–Quintoandar–disseHarry,lembrando-sedoletreiroatrásdabruxanarecepção.Eles foram andando pelo corredor, passaram por portas duplas e descobriram uma escada
desconjuntada ladeada de mais retratos de Curandeiros de cara cruel. Quando subiam, os váriosCurandeiroschamaramosgarotos,diagnosticandomalesestranhosesugerindoremédioshorríveis.Ronyficouseriamenteofendidoquandoumbruxomedievalgritouqueele tinhaumcasogravedesarapintose.– E o que é isso? – perguntou ele, zangado, enquanto o Curandeiro o perseguia pormais seis
quadros,empurrandoosocupantesparaolado.–Éumadoençagravíssimadapele, jovemsenhor,quevaideixá-lomarcadodebexigaseainda
maishorrendodoquejáé...–Olhasóquemestáfalando!–exclamouRonycomasorelhasficandovermelhas.–...oúnicoremédioétirarofígadodeumsapo,atá-lofirmementeaoseupescoço,enaluacheia
ojovemsenhorficanuemumabarricadeolhosdeenguia...–Eunãotenhosarapintose!–Masasfeiasmarcasemseurosto,jovemsenhor...–Sãosardas!–disseRony,furioso.–Agoravolteparaoseuquadroemedeixeempaz!–Elese
virouparaosoutros,queestavamdecididosasemanterimpassíveis.–Queandaréesse?–Achoqueéoquinto–disseHermione.–Nam,éoquarto–contestouHarry–,maisum...Mas, aochegaraopatamar, eleparoudechofre, arregalandoosolhosparaumapequena janela
recortada nas portas duplas que marcavam o início de um corredor com o letreiro DANOSCAUSADOSPORFEITIÇOS.Umhomemos espiava comonariz coladonovidro.Tinha cabeloslouros ondulados, olhos azul-vivos e um grande sorriso fixo que revelava dentes ofuscantementebrancos.–Caracas!–exclamouRony,olhandotambémparaohomem.–Ah,minhanossa!–exclamouHermionederepente,parecendoofegar.–Prof.Lockhart!O antigo professor deDefesaContra asArtes dasTrevas abriu as portas e se encaminhoupara
eles,usandoumlongoroupãolilás.
–Ora,alô,vocêsaí!–chamou.–Imaginoquequeiramomeuautógrafo,nãoé?–Elenãomudounadinha!–murmurouHarryparaGina,quesorriu.– Hum... como vai, professor? – falou Rony, se sentindo um pouco culpado. Fora sua varinha
defeituosaqueafetaraassimamemóriadeLockhart,eeleforapararnoSt.Mungus,mascomo,nahoradoacidente,obruxoestavatentandoapagarpermanentementeasmemóriasdosgarotos,apenaqueHarrysentiaeralimitada.–Estoumuitobem,obrigado–respondeuoprofessorexuberantepuxandodobolsoumapenade
pavãojámuitoamassada.–Então,quantosautógrafosvocêsquerem?Agoraaprendiafazerescritasimultânea,sabem!–Hum... nomomentonãoqueremosnenhum,obrigado–disseRony, erguendo as sobrancelhas
paraHarry,queperguntou:–Professor,osenhorpodeficarpasseandopeloscorredores?Nãodeviaestarnaenfermaria?O sorriso desapareceu gradualmente do rosto de Lockhart. Por alguns momentos, ele mirou
atentamenteorostodeHarry,depoisdisse:–Nósjánosencontramosantes,não?–Ah...encontramos.OsenhorcostumavaensinarDefesaContraasArtesdasTrevasemHogwarts,
lembra?–Ensinar?–repetiuele,parecendoligeiramenteperturbado.–Eu?Ensinando?Entãoosorrisoreapareceuemseurostotãoinesperadamentequeassustou.–Ensineitudoquevocêsabe,espero,não?Bom,quetalaquelesautógrafos,então?Vamosdizer
umadúzia,paravocêspoderemdistribuiraosamiguinhos,eninguémseresquecido?Masnesseinstanteapareceuumacabeçaàportanofimdocorredoreumavozchamou:–Gilderoy,seugarototravesso,ondeéquevocêanda?UmaCurandeira de aspectomaternal, usando uma guirlanda de pingentes deNatal nos cabelos,
saiudepressapelocorredor,sorrindocalorosamenteparaHarryeosoutros.–Ah,Gilderoy,vocêtemvisitas!Quebeleza,enodiadeNatal!Sabem,elenunca recebevisitas,
coitadinho,enãoconsigoimaginarporquê,eleétãogracinha,nãoé?– Estou dando autógrafos! – disse Gilderoy à Curandeira, com outro sorriso cintilante. – Eles
queremmuitos,enãoaceitamnãocomoresposta!Sóesperoquetenhamosfotografiassuficientes!–Escutemsóele–falouaCurandeira,segurandoobraçodeLockhartesorrindocarinhosamente
para o bruxo como se ele fosse uma criança precoce de dois anos. –Ele eramuito conhecido háalgunsanos;temosesperançasdequeessegostopelosautógrafossejaumsinaldequesuamemóriaesteja voltando. Querem vir por aqui? Ele está em uma enfermaria fechada, sabem, deve terescapulidoenquantoeuentravacomospresentesdeNatal,normalmenteaportaficatrancada...nãoqueelesejaperigoso!Mas–eelabaixouavozesussurrou:–éumperigoparaelemesmo,Deusoabençoe...nãosabequemé,entendem,saiporaíenãoconsegueselembrarcomovoltar...quebomvocêsteremvindovê-lo.–Ah–fezRony,apontandoinutilmenteparaoandardecima–,naverdade,estávamos...ah...MasaCurandeirasorriaparaelesansiosa,eomurmúriocomqueRonydisse“tomarumaxícara
dechá”seperdeu.OsgarotosseentreolharamimpotenteseacompanharamLockharteaCurandeirapelocorredor.–Nãovamosnosdemorar–disseRonyemvozbaixa.A Curandeira apontou a varinha para a porta da Enfermaria Jano Thickey e murmurou:
“Alohomora.”Aportaseabriueelaentrouàfrente,segurandocomfirmezaobraçodeGilderoy,eoacomodouemumapoltronaaoladodacama.–Estaéanossaenfermariaparadoençasprolongadas–informouaHarry,HermioneeGinaem
vozbaixa. –Paradanospermanentes causadospor feitiços.É claroque com tratamento intensivo,
compoçõesefeitiçoseumpoucodesorte,podemosobteralgumamelhora.Gilderoypareceestarrecuperando alguma consciência; e conseguimos umamelhora sensível no Sr. Bode, parece estarrecuperando a capacidade de falar bastante bem, embora ainda não fale uma língua reconhecível.Bem,precisoterminardeentregarospresentesdeNatal,voudeixarvocêsconversarem.Harry olhou ao seu redor. A enfermaria apresentava sinais inconfundíveis de ser uma casa
permanenteparaseuspacientes.Haviaumnúmeromaiordepertencespessoaispertodascamasdoque na enfermaria do Sr. Weasley; a parede em torno da cabeceira da cama de Gilderoy, porexemplo,estavaempapeladacomfotosdele,todassorrindocomdentesàmostra,acenandoparaosrecém-chegados.Eleautografaraváriasdelasemumacaligrafiainfantiledesajeitada.NomomentoemqueaCurandeiraodeixounapoltrona,Gilderoypuxouparapertoumapilhadefotos,apanhouumapenaecomeçouaassiná-lasfebrilmente.–Você pode colocá-las no envelope – disseGilderoy atirando no colo deGina, uma a uma, as
fotosautografadas,àmedidaqueasassinava.–Nãoestouesquecido,sabe,não,aindarecebomuitascartasde fãs...GladisGudgeonescrevesemanalmente...eusóqueriasaberporquê.–Elesecalou,parecendoligeiramenteintrigado,emseguidasorriuevoltouaassinarasfotoscomrenovadovigor.–Suspeitoquesejaapenaspelaminhabeleza...Umbruxoderostomacilentoeartristeestavadeitadonacamaopostacontemplandofixamenteo
teto; resmungava sozinho e parecia inconsciente de tudo o mais. Duas camas adiante havia umamulher com a cabeça inteira coberta de pelos; Harry lembrou-se de uma coisa parecida queacontecera a Hermione no segundo ano de escola, embora, felizmente em seu caso, o dano nãotivessesidopermanente.Aumextremodaenfermaria,tinhamcorridocortinasfloridasemtornodeduascamasparaproporcionaraosocupantesesuasvisitasumpoucodeprivacidade.– Tome, Agnes – disse a Curandeira animada à mulher de cara peluda, entregando-lhe uma
pequenapilhadepresentesdeNatal.–Estávendo,vocênãofoiesquecida.Eseufilhomandouumacorujaavisandoquevemvisitá-lahojeànoite,então,éumacoisaboa,nãoé?Agnessoltouvárioslatidosfortes.–E,olhesó,Broderico,mandaram-lheumvasodeplantaeumlindocalendáriocomumhipogrifo
diferenteparacadamês;issovaialegrarascoisas,nãoacha?–disseaCurandeira,eseaproximandodo homem que resmungava, colocou uma planta muito feia, com longos tentáculos, sobre o seuarmáriodecabeceira,epregouocalendárionaparedecomavarinha.–E...ah,Sra.Longbottom,asenhorajáestáindoembora?Harryvirou a cabeçadepressa.As cortinas em tornodasduas camasno extremoda enfermaria
tinhamsidoabertasedoisvisitantesvinhampelocorredorquedividiaascamas;umavelhabruxadeaparência formidável, usandoum longovestidoverde, umapelede raposa comidade traças eumchapéu cônico enfeitado como que era, sem erro, umurubu empalhado, e, acompanhando-a comumaexpressãototalmentedeprimida...Neville.Com um clarão de instantânea compreensão, Harry percebeu quem deviam ser as pessoas nas
camasdofimdaenfermaria.OlhouparatodososladosaflitoprocurandoumamaneiradedistrairosoutrosparaqueNevillepudessesairdaenfermariasemqueovissemnemlheperguntassemnada,mas Rony também erguera a cabeça ao ouvir o nome “Longbottom”, e, antes queHarry pudesseimpedi-lo,chamou:–Neville!Nevilleseassustoueseencolheucomoseumabalativesseacabadodepassarporelederaspão.–Somosnós,Neville!–disseRony,animado,levantando-se.–Vocêviu...?OLockhartestáaqui!
Queméquevocêestavavisitando?–Seusamigos,Neville,querido?–perguntougentilmenteaavódogaroto,examinandoostrês.Nevillepareceudesejarqueestivesseemqualqueroutrolugardomundo,menosali.Umcolorido
vermelho-arroxeado foi subindo pelo seu rosto gorducho, e ele tentou evitar fazer contato visualcomqualquerumdeles.–Ah,sim–disseaavó,fitandoHarryeestendendoamãoenrugadaquelembravaumagarrapara
eleapertá-la.–Sim,sim,euseiquemvocêé,éclaro,Nevillefalamuitobemdevocê.–Hum...obrigado–disseHarryapertandoamãoestendida.Nevillenãoergueuosolhos,fixavaos
própriospés,oruboremseurostoaumentandosemparar.–EvocêsdoissãoobviamenteosWeasley–continuouaSra.Longbottom,oferecendoregiamente
amãoaRonyedepoisàGina.–Euconheçoseuspais...nãomuitobem,éclaro...sãoboagente,boagente...evocêdeveserHermioneGranger?Hermionepareciamuito surpresaque aSra.Longbottomsoubesse seunome,mas apertou-lhe a
mãoassimmesmo.–Nevillemecontou tudosobrevocê.Ajudou-oasairdealgunsapuros,nãofoi?Eleéumbom
menino–disselançandoaonetoumolhardeseveraapreciaçãodoaltodonariz–,masreceiodizerquenãotemotalentodopai.–Eelaindicoucomumacenobruscodecabeçaasduascamasnofimdaenfermaria,fazendoourubuempalhadonochapéutremerassustadoramente.–Quê?!– exclamouRony,parecendoadmirado. (Harryqueriapisaropédoamigo,mas isso é
muitomaisdifícildefazersemninguémnotarquandoseestáusandojeansemvezdevestes.)–Éoseupaiqueestáali,Neville?–Queéisso!–exclamouaSra.Longbottomcomseveridade.–Vocênãocontouaosseusamigoso
queaconteceucomseuspais,Neville?Nevilledeuumsuspiroprofundo,olhouparaotetoebalançouacabeça.Harrynãoselembravade
tersentidomaispenadealguém,masnãoconseguiapensaremalgumjeitoparaajudarNevilleasairdaquelasituação.–Ora,nãoénenhumavergonha!–disseaSra.Longbottom,zangada.–Vocêdeviasentirorgulho,
Neville, orgulho! Eles não deram a saúde e a sanidade para seu único filho ter vergonha deles,entende!–Eunãosintovergonha–explicouNevillecomavozfraquinha,aindaolhandoparaqualquerlado
menosparaHarryeosoutros.Ronyagoraestavanaspontasdospésparaespiarospacientesnasduascamas.–Bom,vocêtemumamaneiraengraçadadedemonstrar!–disseaSra.Longbottom.–Meufilhoe
amulher–continuouelavirando-secomarrogânciaparaHarry,Rony,HermioneeGina– foramtorturadosatéainsanidadepelosseguidoresdeVocê-Sabe-Quem.HermioneeGinalevaramasmãosàboca.Ronyparoudeesticaropescoçoparadarumaespiada
nospaisdeNeville,epareceumortificado.– Eles eram aurores, sabem, e muito respeitados na comunidade bruxa. Excepcionalmente
talentosos,osdois.Eu...sim,Alice,querida,quefoi?AmãedeNevillevieraandandolentamentepelaenfermariadecamisola.Jánãotinhaorostocheio
efelizqueHarryviranavelhafotografiadeMoodycomosparticipantesdaOrdemdaFênixinicial.Seu rosto estava fino e cansado agora, os olhos pareciam grandes demais e seus cabelos tinhamficadobrancos, ralos e semvida.Elanãopareciaquerer falar, ou talveznão fosse capaz,mas fezgestostímidosemdireçãoaNeville,segurandoalgumacoisanamãoestendida.– Outra vez? – disse a Sra. Longbottom, parecendo um tantinho cansada. – Muito bem, Alice
querida,muitobem...Neville,apanhe,oquequerqueseja.MasNeville jáesticaraamão,emqueamãedeixoucairumaembalagemdeChiclesdeBabae
Bola.–Muitobem,querida–tornouaavódeNevillenumtomfalsamenteanimado,dandopalmadinhas
noombrodamãedogaroto.
MasNevilledissebaixinho:–Obrigado,mamãe.Amãevoltou vacilante para o fundoda enfermaria, cantarolandopara simesma.Neville olhou
paraosoutros,umaexpressãoderebeldianorosto,comoseosdesafiassearir,masHarryachavaquenuncaviranadamenosengraçadonavida.–Bom,émelhor irmosandando–suspirouaSra.Longbottom,calçando longas luvasverdes.–
Foiumprazerconhecervocês.Neville,ponhaaembalagemnacesta,aestaalturaelajádeveter-lhedadoosuficienteparaempapelaroseuquarto.Mas,quandosaíram,Harry tinhacertezade tervistoNevilleguardaraembalagemdochicleno
bolso.Aportasefechou.–Eununcasoube–disseHermionecomcaradechoro.–Nemeu–disseRonycomavozmeiorouca.–Nemeu–sussurrouGina.TodosolharamparaHarry.–Eusabia–confirmouele,abatido.–Dumbledoremecontou,maseuprometinão repetirpara
ninguém... foi por isso que Belatriz Lestrange foi mandada para Azkaban, por usar a MaldiçãoCruciatusnospaisdeNevilleatéelesenlouquecerem.–Belatriz Lestrange fez isso? – sussurrouHermione, horrorizada. –Aquelamulher de quemo
Monstroguardaafotografianatoca?Fez-seumlongosilêncio,interrompidopelavozzangadadeLockhart.–Olhem,eunãoaprendiescritasimultâneaàtoa,sabem!
—CAPÍTULOVINTEEQUATRO—Oclumência
Monstro,acabou-sesabendo,andaraescondidonosótão.Siriuscontouqueoencontraraláemcima,cobertodepó,semdúvidaprocurandomaisrelíquiasdafamíliaBlackparaesconderemseuarmário.EmboraSiriusparecessesatisfeitocomessahistória,Harrysesentiuinquieto.Monstropareciaestarmaisbem-humoradoquandoreapareceu,seusresmungosazedostinhamdiminuídobastanteepassaraaobedeceràsordensmaisdocilmentedoquedecostume,emboraumaouduasvezesHarryotivessesurpreendidoencarando-ocomavidez,massempredesviandorapidamenteoolharquandoviaqueogarotopercebera.Harry não mencionou suas vagas suspeitas a Sirius, cuja alegria começara a evaporar muito
rapidamenteagoraquepassaraoNatal.ÀmedidaqueseaproximavaodiadapartidadosgarotosaHogwarts, ele foi se tornandomais inclinado ao que a Sra.Weasley chamava de “macambuzice”,quando ficava taciturno e resmungão e muitas vezes se retirava para o quarto de Bicuço durantehoras.Suatristezainfiltrava-senacasa,porbaixodasportas,comoumgásvenenoso,einfectandoatodos.HarrynãoqueriadeixarSiriusoutravezapenasemcompanhiadeMonstro;defato,pelaprimeira
vez na vida, não estava contando os dias que faltavampara regressar aHogwarts.Voltar à escolasignificavacolocar-semaisumavezsobatiraniadeDoloresUmbridge,que,semdúvida,conseguirapassaràforçamaisumadúziadedecretosnaausênciadosgarotos;nãohaviapartidasdequadribolpelasquaisansiar,agoraqueforaexpulso;haviatodaaprobabilidadedequeacargadedeveresdecasaaumentasseàmedidaqueosexamesseaproximavam;eDumbledorecontinuavadistantecomosempre. De fato, se não fosse pela AD, Harry achava que teria suplicado a Sirius para deixá-loabandonarHogwartsecontinuarnolargoGrimmauld.Então,noúltimodiadeférias,aconteceuumacoisaquefezHarrypositivamentetemeroregresso
àescola.–Harry,querido–disseaSra.Weasley,metendoacabeçanoquartoqueeleocupavacomRony,
ondeosdoisestavamjogandoxadrezdebruxoobservadosporHermione,GinaeBichento–,podeviràcozinha?OProf.Snapequerdarumapalavrinhacomvocê.Harrynãoregistrouimediatamenteoqueouvira;umadesuastorresestavatravandoumaviolenta
batalhacomumpeãodeRony,eeleoincentivavacomentusiasmo.–Achataele...achataele,ésóumpeão,seuidiota.Desculpe,Sra.Weasley,quefoiqueasenhora
disse?–OProf.Snape,querido.Nacozinha.Gostariadelhefalar.O queixo de Harry caiu de terror. Olhou para Rony, Hermione e Gina, todos igualmente
boquiabertos para ele. Bichento, a quem Hermione vinha contendo com dificuldade nos últimosquinze minutos, saltou alegremente sobre o tabuleiro fazendo as peças correrem a se proteger,guinchandoaplenospulmões.–Snape?–repetiuHarrysementender.–ProfessorSnape,querido–corrigiuaSra.Weasley.–Vamoslogo,depressa,eledizquenãopode
sedemorar.
–Queéque elequer comvocê?– indagouRony,parecendonervosoquandoaSra.Weasley seretiroudoquarto.–Vocênãofeznada,fez?–Não!–retrucouHarryindignado,vasculhandoosmiolosparatentarlembraroquepoderiater
feitoquelevasseSnapeasegui-loatéolargoGrimmauld.Seráqueoseuúltimodevermereceraum“I”?Umminutoepoucodepois,eleempurrouaportadacozinhaeencontrouSiriuseSnapesentadosà
longamesadoaposento,olhandoemdireçõesopostas.Osilêncioentreosdoisestavacarregadodemútuaintolerância.HaviaumacartaabertasobreamesadiantedeSirius.–Hã–fezHarryparaanunciarsuapresença.Snapesevirouparaolhá-lo,orostoemolduradoporcortinasdecabelosoleosos.–Sente-se,Potter.–Sabe–disseSiriusemvozalta,serecostandoeseapoiandonaspernas traseirasdacadeira,e
falandoparaoteto–,achoqueeupreferiaquevocênãodesseordensaqui.Éaminhacasa,sabe.UmruborameaçadorafluiuaorostopálidodeSnape.Harrysentou-senacadeiraaoladodeSirius
edefrontedoprofessor.– Eu devia vê-lo sozinho, Potter – disse Snape, o riso desdenhoso crispando sua boca –, mas
Black...–Souopadrinhodele–disseSirius,aindamaisalto.–Estou aqui por ordemdeDumbledore – continuou Snape, cuja voz, em contraposição, ficava
cadavezmaisbaixaesibilante–,mas,semdúvida,fique,Black,euseiquevocêgostadesesentir...participante.–Queéquevocêquerdizercomisso?–retorquiuSirius,deixandoacadeirarecairnosquatropés
comumfortebaque.–Simplesmentequetenhocertezadequevocêdevesesentir...ah...frustradopelofatodenãopoder
fazernadadeútil–Snapeenfatizoudelicadamenteafrase–“pelaOrdem”.FoiavezdeSiriuscorar.AbocadeSnapesecrispouemtriunfoaosedirigiraHarry.–Odiretormemandoudizer,Potter,quequerquevocêestudeOclumêncianestetrimestre.–Estudeoquê?–perguntouHarrysementender.OdesdémdeSnapesetornoumaispronunciado.–Oclumência,Potter.Adefesamágicadamentecontrapenetraçãoexterna.Umramoobscuroda
magia,masextremamenteútil.OcoraçãodeHarrycomeçouabaterrealmenteforte.Defesacontrapenetraçãoexterna?Masele
nãoestavasendopossuído,todostinhamconcordadocomisso...–PorquetenhodeestudaressaOclu...?–deixouescapar.– Porque o diretor acha que é uma boa ideia – disse Snape suavemente. –Você receberá aulas
particulares uma vez por semana,mas não contará a ninguémo que está fazendo,muitomenos aDoloresUmbridge.Entendeu?–Sim,senhor–disseHarry.–Equeméquevaimeensinar?Snapeergueuumasobrancelha.–Eu–respondeu.Harryteveaterrívelsensaçãodequesuasentranhasestavamderretendo.AulasextrascomSnape:
queéqueelefizeraparamerecerisso?OlhourápidoparaSiriusbuscandoapoio.–PorqueDumbledorenãopodeensinaraoHarry?–perguntouSiriusagressivamente.–Porque
você?– Porque suponho que seja uma prerrogativa do diretor delegar as tarefasmenos agradáveis –
disse Snape suavemente. – Posso lhe garantir que não pedi esse encargo. –Levantou-se. –Esperovocêàsseishorasda tardenasegunda-feira,Potter.Minhasala.Sealguémlheperguntar,digaque
está tomandoaulasparticularesdePoções.Ninguémquetenhavistovocêemminhasaulaspoderianegarqueprecisadereforço.Elesevirouparairembora,acapapretadeviagemseenfunandocomoumacauda.–Espereummomento–pediuSirius,sentando-semaisretonacadeira.Snapesevirouparaencararosdois,desdenhoso.–Estoucommuitapressa,Black.Aocontráriodevocê,tenhoumtempolimitadodelazer.–Ireidiretoaoassunto,então–falouSiriusficandoempé.ErabemmaisaltodoqueSnape,que,
Harryreparou,fechouumpunhonobolsodacapa,segurando,semdúvida,opunhodavarinha.–SeeusouberquevocêestáusandoessasaulasdeOclumênciapara infernizaravidadeHarry, terádeacertarcontascomigo.–Quecomovente!–debochouSnape.–MasvocêcomcertezajánotouquePotterseparecemuito
comopaidele,nãoé?–Já–respondeuSiriuscomorgulho.–Bom,entãosabequeeleétãoarrogantequeascríticassimplesmenteresvalamnele–disseSnape
comvozdeseda.Siriusempurrouacadeirabruscamenteparaoladoecontornouamesaemdireçãoaooutro,ao
mesmotempoquepuxavaavarinha.Snapepuxouadele.Pararamsemedindo,Siriusfurioso,Snapecalculista,seusolhoscorrendodapontadavarinhaparaorostodooponente.–Sirius!–chamouHarry,masopadrinhonãopareceuouvi-lo.–Eulheavisei,Ranhoso–disseSirius,seurostoamenosdemeiometrododeSnape–,nãome
interessaseDumbledoreachaquevocêseregenerou,euseiquenão...–Ah,entãoporquenãodizissoaele?–sussurrouSnape.–Outemmedodequeelenãolevea
sériooconselhodeumhomemqueestáháseismesesseescondendonacasadamãe?–Me diga, como anda LúcioMalfoy ultimamente? Imagino que encantado com o fato do seu
cachorrinhodeestimaçãoestartrabalhandoemHogwarts,não?–Porfalaremcachorros–disseSnapemansamente–,vocêsabiaqueLúcioMalfoyoreconheceu
da última vez que arriscou uma escapulida? Ideia brilhante, Black, deixar que o vissem em umaseguraplataformadetrem...arranjouumadesculpairrefutávelparanuncamaisdeixaroburacoemqueseesconde,não?Siriusergueuavarinha.–NÃO!–berrouHarry,pulandoporcimadamesaparaseinterporaosdois.–Sirius,não!–Vocêestámechamandodecovarde?–berrouSirius,tentandotirarHarrydafrente,masogaroto
nãosemexeu.–Ora,suponhoquesim.–Harry...saia...da...frente!–vociferouSirius,empurrando-oparaoladocomamãolivre.Aportadacozinhaseabriue todaa famíliaWeasleymaisHermioneentraram, todosparecendo
muitofelizes,trazendoumorgulhosoSr.Weasleyvestindoumpijamaeporcimaumacapadechuva.–Curado!–anunciouanimadamenteparatodosnacozinha.–Completamentecurado!Ele e os outrosWeasley ficaram paralisados à porta, contemplando a cena na cozinha, também
suspensa,emqueSiriuseSnapeolhavamparaaportacomasvarinhasapontadasumaparaacaradooutroeHarry,imóvelentreosdois,tentandosepará-los.–PelasbarbasdeMerlim!–exclamouoSr.Weasley,osorrisodesaparecendodorosto.–Queé
queestáacontecendoaqui?SiriuseSnapebaixaramasvarinhas.Harryolhoudeumparaoutro.Ambostinhamnorostouma
expressão de extremo desprezo, contudo a entrada repentina de tantas testemunhas pareceu tê-loschamado à razão. Snape embolsou a varinha e atravessou a cozinha, passando pelosWeasley semfazercomentário.Àporta,olhouparatrás.
–Seishorasdatarde,segunda-feira,Potter.Efoi-seembora.Siriusseguiu-ocomumolharmal-humorado,avarinhaseguraaoladodocorpo.–Queéqueestavaacontecendo?–tornouaindagaroSr.Weasley.– Nada, Arthur – respondeu Sirius, ofegante como se tivesse acabado de correr uma longa
distância. – Só uma conversa amigável entre dois velhos amigos de escola. –Aparentemente comimensoesforço,elesorriu.–Então...estácurado?Ótimanotícia,realmenteótima.–Não é? – disse a Sra.Weasley, conduzindo omarido até uma cadeira. – Enfim oCurandeiro
Smethwyckfezsuamágica,encontrouumantídotoparaoquequerquefossequeacobratinhanaspresas, e Arthur aprendeu a lição de não semeter commedicina de trouxas, não foi, querido? –acrescentouelaumtantoameaçadoramente.–Foi,Molly,querida–disseoSr.Weasley,comhumildade.Arefeiçãodaquelanoitedeveriatersidomuitoalegre,comavoltadoSr.Weasley.Harryviaque
Siriusprocuravafazercomqueassimfosse,masopadrinhonãoseesforçavaparadargargalhadascom as piadas de Fred e Jorge nem oferecia aos outrosmais comida; seu rosto se fechara numaexpressãomelancólica e reflexiva.Harry acabou separado dele porMundungo eOlho-Tonto, quetinham passado para dar os parabéns ao Sr.Weasley. Ele queria dizer a Sirius que não devia darouvidosanadaqueSnapedissera,queocolegaestavainstigando-odeliberadamenteequeosoutrosnãopensavamqueopadrinhofosseumcovardeporobedeceraDumbledoreeficarquietonolargoGrimmauld. Mas não teve oportunidade e, vendo a expressão fechada no rosto de Sirius, Harrychegouaduvidarseteriaseatrevidoadizeralgumacoisamesmosetivessetidooportunidade.Emvez disso, cochichou para Rony e Hermione sobre a ordem que recebera de tomar aulas deOclumênciacomSnape.– Dumbledore quer evitar que você tenha aqueles sonhos com Voldemort – disse Hermione
imediatamente.–Bom,vocênãovailamentarsenãoostiver,vai?–AulasparticularescomSnape?!–exclamouRony,perplexo.–Eupreferiaterospesadelos!OsgarotosdeveriamregressaraHogwartsdeNôitibusnodiaseguinte,acompanhadosmaisuma
vezporTonkseLupin,quejáseachavamtomandocafédamanhãnacozinhaquandoHarry,RonyeHermione desceram. Os adultos pareciam estar cochichando quando Harry abriu a porta; todosolharamdepressaesecalaram.Depoisdeumcafédamanhãapressado,elesvestiramoscasacosecachecóisparaseprotegerda
gélidamanhã de janeiro.Harry sentiu um aperto desagradável no peito; não queria dizer adeus aSirius.Teveumasensaçãoruimcomrelaçãoaessadespedida;nãosabiaquandovoltariamaseveresesentiunaobrigaçãodedizeralgumacoisaaopadrinhopara impedi-lode fazeralguma tolice–Harry se preocupava que a acusação de covardia que Snape fizera a Sirius o tivesse ferido tãoseriamente que ele pudesse mesmo agora estar planejando alguma saída insensata do largoGrimmauld.MasantesqueconseguissepensarnoquedizerSiriusochamouparajuntodele.–Queroquevocêleveisto–dissebaixinho,empurrandoparaHarryumembrulhomalfeitocomo
tamanhoaproximadodeumlivro.–Queé?–perguntouHarry.–UmmododemeavisarseSnapeestiverinfernizandosuavida.Não,nãoabraaqui!–disseSirius,
lançandoumolhar preocupado àSra.Weasley, que tentava persuadir os gêmeos a calçar luvas detricô.–DuvidoqueMollyaprove,masqueroquevocêouseseprecisardemim,estábem?–O.k.–disseogaroto,guardandooembrulhonobolsointernodocasaco,massabiaquejamais
usaria o que quer que fosse. Não seria ele, Harry, quem iria tirar Sirius do lugar em que estavaseguro,porpiorqueSnapeotratassenasfuturasaulasdeOclumência.–Vamos,então–disseSirius,dandoumapalmadanoombrodoafilhadoesorrindotriste,eantes
queHarrypudessedizermaisalgumacoisa, jáhaviamsubidoeparadoàportada frente,cheiade
trancas,cercadospelosWeasley.–Adeus,Harry,cuide-se–disseaSra.Weasleyabraçando-o.–Atéoutrodia,Harry,efiquedeolhonascobrasparamim!–falouoSr.Weasley,cordialmente
apertandosuamão.–Certo...–respondeuHarry,distraído;erasuaúltimachancededizeraSiriusparatercuidado;ele
sevirou, encarouopadrinho e abriu a bocapara falar,mas, antes queo fizesse,Sirius estava lhedandoumbreveabraçoedizendocomavozrouca:–Cuide-sebem,Harry.–Nomomentoseguinte,ogarotoseviuconduzidoparaoinvernogélido
lá fora, com Tonks (hoje disfarçada de mulher alta e magra da aristocracia rural, com cabelosgrisalhos)apressando-oadescerosdegraus.A porta do número doze bateu às costas do último a sair. Eles acompanharam Lupin. Quando
chegaram à calçada, Harry olhou para os lados. O número doze foi encolhendo rapidamente aomesmo tempoqueas casas laterais se ampliavamparao seu lado, fazendo-odesaparecerdevista.Umapiscadeladeolhosdepois,jánãoexistia.–Vamos, quantomais depressa entrarmos no ônibusmelhor – disseTonks, eHarry achou que
havianervosismonoolharqueelalançoupelapraça.Lupinesticouobraçodireito.BANG.Um ônibus violentamente roxo de três andares materializou-se, tirando um fino do poste de
iluminaçãomaispróximo,quesaltouparatrásparasairdocaminho.Um rapaz magro, de orelhas de abano e espinhas, trajando um uniforme roxo, saltou para a
calçadaedisse:–Bem-vindosao...–Sei,sei,jásabemos–disseTonksbrevemente.–Subam,subam,subam...EelaempurrouHarryemdireçãoaosdegraus,paraalémdomotorista,quearregalouosolhos
quandoogarotopassou.–É...éArry...!– Se gritar o nome dele faço você perder a memória – murmurou Tonks, ameaçando-o, e
empurrandoGinaeHermioneparadentro.–Eusemprequisandarnesseônibus–disseRony,alegre,juntando-seaHarryeexaminandotudo.ForadenoiteaúltimavezqueHarryviajaradeNôitibus,eostrêsandaresestavamocupadospor
camas de metal. Agora, de manhã cedo, estava mobiliado com uma variedade de cadeirasdesparelhadas e dispostas a esmo em torno das janelas.Algumas pareciam ter tombado quando oônibus parou abruptamente no largo Grimmauld; uns poucos bruxos e bruxas ainda estavam selevantando,resmungando,easacadecomprasdealguémdeslizaraportodaaextensãodoveículo:umamisturadeovasdesapo,baratasecremesdeovosespalhara-sepelochão.–Parecequevamosterdenosseparar–disseTonksbrevemente,procurandopoltronasvazias.–
Fred,JorgeeGina,vãoparaaquelaspoltronaslánofundo...Remopodeficarcomvocês.Ela,Harry,RonyeHermionesubiramparaoúltimoandar,ondehaviaduaspoltronasvaziasbem
nafrenteeduasnofundo.LalauShunpike,ocondutor,acompanhoupressurosamenteosdoisgarotosaté o fundo.As cabeças se voltaram quandoHarry passou,mas, ao se sentar, viu todos os rostostornaremavirarparaafrente.Quando Harry e Rony estavam pagando a Lalau onze sicles cada, o ônibus tornou a partir,
balançando sinistramente. Contornou ruidosamente o largoGrimmauld, subindo e descendo pelascalçadas,depois,comoutroBANGestrondoso,ospassageirosforamatiradosparatrás;apoltronadeRonyvirou,ePíchi,queestavaemseucolo,saiudagaiolavoandoespavoridaparaafrentedoônibusondepreferiupousarnoombrodeHermione.Harry,queescaparadecairagarrando-seaumaarandela,espioupelajanela:oônibusagoracorriapeloquelhepareceuserumarodovia.
– Estamos na periferia de Birmingham – informou Lalau alegremente, em resposta à perguntamudadeHarry, enquantoRony tentava se erguerdochão.–Vocêestábem,então,Arry?Vio seunomeummontedevezesno jornalduranteoverão,masnuncanãoeranadadebom.EudisseaoErnesto,dissemesmo,elenãopareciapiradoquandooconhecemos,oqueéumaprova,nãoé?EleentregouosbilhetesaosgarotosecontinuouacontemplarHarry,fascinado.Pelojeito,Lalau
nãoseimportavaquealguémfossepirado,desdequefossefamosobastanteparaaparecernojornal.ONôitibusbalançavaassustadoramente,ultrapassandooscarrospeloladodedentro.Quandoolhoupara a frente do veículo,Harry viuHermione cobrir os olhos comasmãos, ePíchi se equilibraralegrementeemseuombro.BANG.AspoltronastornaramacorrerparatrásquandooNôitibussaltoudaestradadeBirminghampara
uma tranquila estradinha campestre cheia de curvas fechadas.As cercas vivas que ladeavam a viasaltaramparalongequandooônibusavançousobreascercaduras.Dali,entraramnaruaprincipaldeumacidademovimentada,depois subiramumviadutocercadoporaltasmontanhas,desceramparaumaestradaassoladapeloventoentrealtosprédiosdeapartamentos,produzindoumestrondoacadamudançaderumo.–Mudeide ideia–murmurouRony, levantando-sedo chãopela sextavez. –Nuncamaisquero
viajarnessacoisa.–Escutem,apróximaparadaéOgwarts–anunciouLalau,animado,cambaleandoemdireçãoaos
garotos.–Amulhermandonalánafrentequesubiucomvocêsdeuumagorjetaàgenteparapassarvocês para o começo da fila. Só vamos deixarMadameMarsh descer primeiro... – eles ouviramalguémvomitandonoandardebaixo,eemseguidaumhorrívelbarulhodelíquidobatendonochão–,elanãoestásesentindomuitobem.Alguns minutos depois, o Nôitibus parou cantando pneus à frente de um pequeno bar, que se
espremeuparasairdocaminhoeevitarumacolisão.ElesouviramLalauajudandoapobreMadameMarshadesembarcardoônibuseosmurmúriosdealíviodoscompanheirosdeviagemnosegundoandar.Oônibustornouapartir,ganhandovelocidadeaté...BANG.EestavamrodandoporumaHogsmeadecobertadeneve.HarryviuderelanceoCabeçadeJavali
narualateral,oletreirocomacabeçacortadarangendoaoventoinvernoso.Flocosdenevebatiamnaenormejaneladianteiradoônibus.EfinalmentepararamnosportõesdeHogwarts.LupineTonksajudaramosgarotosadesembarcarcomabagagem,eentãodesceramtambémpara
se despedir. Harry ergueu os olhos para os três andares do Nôitibus e viu todos os passageirosespiando-oscomonarizcoladoàsjanelas.– Vocês estarão seguros quando entrarem – disse Tonks, lançando um olhar cauteloso para a
estradadeserta.–Umbomtrimestre,o.k.?–Cuidem-sebem–recomendou-lhesLupin,apertandoasmãosdetodosechegandoaHarrypor
último.–Eescute...–elebaixouavozenquantoosdemaistrocavamadeusesdeúltimominutocomTonks–Harry,euseiquevocênãogostadeSnape,maseleéummagníficoOclumente,etodosnós,inclusiveSirius,queremosquevocêaprendaaseproteger,entãoestudeparavaler,estábem?–É,tá–disseHarryacusto,olhandoparaorostoprematuramenteenrugadodeLupin.–Atémais,
então.Osseissubirampenosamenteaestradaescorregadiaatéocastelo,arrastandoosmalões.Hermione
jáestava falandoem tricotarunsgorrosparaelfosantesdedormir.Harryolhoupara trásquandochegaramàsportasdecarvalhodaentrada;oNôitibusjápartiraeelechegouadesejar,àvistadoqueoesperavananoiteseguinte,queaindaestivesseabordo.
Harrypassouamaiorpartedodiaseguintecommedodoanoitecer.OsdoistemposdePoçõespelamanhã nada fizeram para dissipar sua agitação, pois Snape foi desagradável como sempre. Seudesânimo se acentuou porque osmembros daAD o procuraram constantemente pelos corredoresduranteosintervalosdasaulas,perguntando,esperançosos,sehaveriareuniãoàquelanoite.–Avisareiavocêscomodecostumequandomarcarapróxima–repetiuHarryváriasvezes–,mas
nãopodeserhojeànoite,tenhoqueir...hum...aumaauladereforçodePoções.–VocêtemauladereforçoemPoções?–perguntouZacariascomardesuperioridade,abordando-
onoSaguãodeEntrada,depoisdoalmoço.–Puxavida,vocêdeveserpéssimo.Snapenãocostumadaraulasparticulares,oucostuma?QuandoZacariasseafastoucomirritantevivacidade,Ronyacompanhou-odecarafeia.– Devo azará-lo?, ainda dá para acertar daqui – disse, erguendo a varinha e mirando entre as
espáduasdeZacarias.–Deixapra lá–disseHarry,deprimido.–Éoque todosvãopensar,nãoé?Quesou realmente
bur...–Oi,Harry–disseumavozasuascostas.ElesevirouedeparoucomCho.–Ah!–exclamou,seuestômagodandoumsaltodesconfortável.–Oi.– Vamos estar na biblioteca, Harry – disse Hermione com firmeza, agarrando Rony acima do
cotoveloearrastando-oemdireçãoàescadariademármore.–TeveumbomNatal?–perguntouCho.–Nadamau.–Omeufoimuitotranquilo.–Poralgumarazão,elapareciaumpoucoencabulada.–Aah...tem
outropasseioaHogsmeadenomêsquevem,vocêviuoaviso?–Quê?Ah,não,aindanãodeiumaolhadanoquadrodeavisosdesdequecheguei.–Tem,noDiadosNamorados...–Certo–respondeuHarry,seperguntandoporqueelaestavadizendoisso.–Bom,suponhoque
vocêqueira...–Sósevocêquiser–disseela,ansiosa.Harryarregalouosolhos.Estiveraapontodedizer:“Suponhoquevocêqueirasaberquandoéa
próximareuniãodaAD?”,masarespostadelanãopareciaseencaixar.–Eu...aah...–Ah,tudobemsevocênãoquiser–retrucouela,parecendomortificada.–Nãosepreocupe.Eu...
vejovocêporaí.Elaseafastou.Harryficouparadoolhando,seucérebrotrabalhandofreneticamente.Entãoaficha
caiu.–Cho!Ei...CHO!Correuatrásdagarota,alcançando-anasubidadaescadariademármore.–Aah...vocêquerircomigoaHogsmeadenoDiadosNamorados?–Ahhh,quero!–respondeuela,corandoesorrindo.–Certo...bom... entãoestácombinado–disseHarry,e sentindoque,enfim,odianãoseriauma
perdatotal,elevirtualmentesaiuaospulosatéabibliotecaparaapanharRonyeHermioneantesdasaulasdatarde.Às seis da tarde, no entanto, nemo clarãode ter conseguido convidarChoChangpara sair foi
suficienteparadesanuviarasensaçãoagourentaqueseintensificavaacadapassoqueHarrydavaemdireçãoàsaladeSnape.Parouàportaaochegar,desejandoestaremqualqueroutrolugar,então,tomandofôlego,bateue
entrou.A sala sombria estava forrada de estantes ocupadas por centenas de frascos de vidro em que
flutuavampedaçosviscososdeplantasebichos,emváriaspoçõescoloridas.Aumcanto,haviaumarmáriocheiodeingredientes,oqualSnapecertavezacusaraHarry–comrazão–deassaltar.Masaatençãodogarotofoiatraídaparaaescrivaninha,ondeumabaciarasa,depedragravadacomrunasesímbolos,estavailuminadaporumcírculodeluzprojetadoporvelas.Harryreconheceu-anamesmahora – era a Penseira deDumbledore. Perguntando-se o que estaria tal objeto fazendo ali, ele sesobressaltouaoouviravozfriadeSnapesaindodassombras.–Fecheaporta,Potter.Harryobedeceu,comahorrívelsensaçãodeestarsefechandoemumaprisão.Quandosevirou,
Snapesedeslocaraparaaluzeapontavasilenciosamenteparaacadeiradiantedesuaescrivaninha.Harrysesentoueoprofessortambém,seusolhosfriosenegrosfixando-senoalunosempiscar,aantipatiagravadaemcadalinhadoseurosto...–Muitobem,Potter,vocêsabeporqueestáaqui.OdiretormepediuparalheensinarOclumência.
SóesperoquevocêsemostremaiscompetentenissodoqueemPoções.–Certo–concordouHarrybrevemente.–Estaaulatalvezsejadiferente,Potter–disseSnape,seusolhosseestreitandomalevolamente–,
mas continuo sendo seu professor e, portanto, você me chamará sempre de “senhor” ou de“professor”.–Sim...senhor.– Vamos à Oclumência. Como eu lhe disse na cozinha do seu querido padrinho, este ramo da
magiafechaamenteàintrusãoeàinfluênciamágicas.–EporqueoProf.Dumbledoreachaqueeuprecisoaprendê-la,professor?–perguntouHarry,
encarandoSnapediretamentenosolhoseimaginandosereceberiaumaresposta.Snapemirou-oporummomentoeemseguidadissecomavozcarregadadedesprezo:–Certamenteatévocêpoderiaterchegadoàrespostasozinho,não,Potter?OLordedasTrevasé
excepcionalmentecompetenteemLegilimência...–Queéisso?Professor?–Éacapacidadedeextrairsentimentoselembrançasdamemóriadeoutraspessoas...–Eleécapazdelerpensamentos?–perguntoudepressa,seuspioresreceiosseconfirmando.– Você não tem sutileza, Potter – comentou Snape, seus olhos negros cintilando. – Você não
entendedistinçõespoucoperceptíveis.Éumdosdefeitosqueo tornaumlamentávelpreparadordepoções.Snapefezumapausa,aparentementeparasaborearoprazerdeinsultarHarry,antesdecontinuar:–Somenteostrouxasfalamde“lermentes”.Amentenãoéumlivroqueseabrequandosequere
se examina ao bel-prazer. Os pensamentos não estão gravados no interior do crânio, para seremexaminados por qualquer invasor. A mente é algo complexo e multiestratificado, Potter, ou pelomenosamaioriadasmentesé.–Deuumsorrisinho.–MaséverdadequeaquelesquedominamaLegilimência são capazes, sob determinadas condições, de penetrar as mentes de suas vítimas einterpretar suas conclusões corretamente. O Lorde das Trevas, por exemplo, quase sempre sabequando alguém está mentindo para ele. Somente os peritos em Oclumência podem ocultar ossentimentoselembrançasquecontradiriamamentira,econseguemdizerfalsidadesemsuapresençasemseremapanhados.Snapepodiadizeroquequisesse,mas,paraHarry,Legilimênciaparecialeituradamente,eaideia
nãolheagradavanemumpouco.–Entãoelepoderiasaberoqueestamospensandonestemomento,professor?– O Lorde das Trevas se encontra a uma considerável distância, e as paredes e terrenos de
Hogwarts são guardados por muitos feitiços e encantamentos antigos, para garantir a segurançafísicaementaldosquevivemaqui.Otempoeoespaçocontamnamagia,Potter.Ocontatovisualé
muitasvezesessencialàLegilimência.–Bom,então,porqueéqueeutenhodeaprenderOclumência?SnapeencarouHarry,aomesmotempoquepassavaumdedofinonoslábios.–Asregrasnormaisnãoparecemseaplicaravocê,Potter.Amaldiçãoquenãoconseguiumatá-lo
pareceterforjadoalgumtipodeligaçãoentrevocêeoLordedasTrevas.Asevidênciassugeremquepor vezes, quando sua mente está mais relaxada e vulnerável, quando você está dormindo, porexemplo,você compartilhaospensamentos e emoçõesdoLordedasTrevas.Odiretor achaque édesaconselhável que isto continue a acontecer. E quer que eu lhe ensine como fechar amente aoLordedasTrevas.OcoraçãodeHarrybatiaaceleradoagora.Nadadissofaziasentido.–Mas por que o Prof.Dumbledore quer fazer isto parar? – perguntou inesperadamente. –Não
gostomuito,mastemsidoútil,não?Querodizer...euviacobraatacaroSr.Weasleye,senãotivessevisto,oProf.Dumbledorenãopoderiatersalvadoavidadele,poderia?Professor?Snape encarouHarry durante unsminutos, ainda passando o dedo nos lábios.Quando tornou a
falar,foidevagaredecididamente,comosepesassecadapalavra.–PeloquepareceoLordedasTrevasnãotinhatomadoconsciênciadessaligaçãoentrevocêeele
atémuitorecentemente.Parecequevocêsentiaasemoçõesdeleepartilhavaseuspensamentos,semelesaber.Contudo,avisãoquevocêtevepoucoantesdoNatal...–AdacobracomoSr.Weasley?–Nãomeinterrompa,Potter–disseSnapeemtomameaçador.–Comoeuiadizendo,avisãoque
você tevepoucoantesdoNatal representouuma incursão tãopoderosanospensamentosdoLordedasTrevas...–Euvidedentrodacabeçadacobra,enãodadele!–Achoqueacabeidelhedizerparanãomeinterromper,nãofoi,Potter?MasHarrynãoseimportouqueSnapeestivesseaborrecido,pelomenospareciaestarchegandoao
fundo dessa história; sentara mais para a frente na cadeira de modo que, sem perceber, estavaencarrapitadonaborda,tensocomoseestivesseprestesavoar.–ComoépossíveleutervistoatravésdosolhosdacobrasesãoospensamentosdeVoldemortque
estoupartilhando?–NãopronuncieonomedoLordedasTrevas!–ralhouSnape.Fez-seumsilênciodesagradável.OsdoisseencararamporcimadaPenseira.–OProf.Dumbledoredizonomedele–contestouHarrycalmamente.–Dumbledore é um bruxo extremamente poderoso –murmurou Snape. – Embora ele possa se
sentir seguro emusar o nome... os demais... –Ele esfregou o braço esquerdo, aparentemente semperceber,nolugaremqueHarrysabiaqueaMarcaNegraestavagravadaafogoemsuapele.–Eusóqueriasaber–recomeçouHarry,seesforçandoparafalarcompolidez–porque...–Vocêparece tervisitadoamentedacobraporqueeraondeoLordedasTrevasestavanaquele
determinadomomento–vociferouSnape.–Estavapossuindoa cobranahora, entãovocê sonhouqueestavadentrodela,também.–EVol...ele...percebeuqueeuestavaali?–Parecequesim–respondeuSnape,tranquilo.–Comoéquesabe?–perguntouogarotopressuroso.–EssaéasuposiçãodoProf.Dumbledore
ou...?– Já lhe pedi – disse Snape, empertigado na cadeira, os olhos apertados – parame chamar de
“senhor”.–Sim,senhor–disseHarryimpaciente–,mascomoéqueosenhorsabe...?–Ésuficientequenóssaibamos–disseSnapecortandoaconversa.–OimportanteéqueoLorde
dasTrevasagora temconsciênciadequevocêestáconseguindoteracessoaosseuspensamentoseemoções.Ele tambémdeduziuqueoprocessoprovavelmentepodeser invertido;ouseja,percebeuquetalvezpossaacessarosseuspensamentoseemoções...– E ele poderia tentarme levar a fazer coisas? – perguntouHarry. –Professor? – acrescentou
precipitadamente.–Poderia – respondeuSnape, em tomaparentemente frio e desinteressado. –Oquenos trazde
voltaàOclumência.Snape puxou a varinha do bolso interno das vestes e Harry se enrijeceu na cadeira, mas o
professormeramente a ergueu e apontou para a raiz dos seus cabelos oleosos.Quando a retirou,escorreuumasubstânciaprateadadatêmporaàvarinhacomoumgrossofiodeteiadearanha,quesepartiu quando ele a afastou, e caiu graciosamente na Penseira, onde girou branco-prateada, nemgasosa nem líquida. Mais duas vezes, Snape levou a varinha à têmpora e depositou a substânciaprateadanabaciadepedra,depois,semoferecernenhumaexplicaçãoparaosseusgestos,apanhouaPenseiracomcuidado,removeu-aparaumaprateleiraforadocaminhoevoltouaencararHarrycomavarinhaemposição.–Levante-seeapanhesuavarinha,Potter.Harryobedeceusesentindonervoso.Osdoisseencararamporcimadaescrivaninha.– Você pode usar sua varinha para tentar me desarmar, ou para se defender de qualquer outra
maneiraqueconsigapensar.–Eoqueéqueosenhorvaifazer?–perguntouHarry,acompanhandoavarinhadeSnapecomos
olhos,apreensivo.–Voutentarpenetrarsuamente–disseSnapemansamente.–Vamosveratéquepontovocêresiste.
MedisseramquevocêjádemonstrouaptidãopararesistiràMaldiçãoImperius.Vocêvaidescobrirqueprecisarádepoderessemelhantespararesistir...emguarda,agora:Legilimens!SnapeatacaraantesdeHarryseaprontar,antesmesmoquetivessecomeçadoarecorreraqualquer
força para resistir. A sala flutuou diante dos seus olhos e desapareceu; imagem após imagemperpassousuamenteemaltavelocidadecomoumfilmedecinemamudo, tãovívidoqueocegavaparaoambienteaoredor.Tinha cinco anos, e observavaDuda andar na nova bicicleta vermelha, e seu peito explodia de
inveja...tinhanoveanos,eEstripador,obuldogue,acuava-oemumaárvore,eosDursleyriammuitoembaixo,nojardim...estavasentadoetinhanacabeçaoChapéuSeletor,quelhediziaquepoderiaterêxito naSonserina...Hermione estava deitada na ala hospitalar, o rosto coberto por grossos pelosnegros... cem Dementadores avançavam contra ele à margem do lago escuro... Cho Chang seaproximavadeleembaixodoramodevisgo...Não,disseumavoznacabeçadeHarryquandoalembrançadeChosetornoumaisnítida,vocênão
estáassistindoaisto,éumalembrançaíntima...Sentiuumadoragudanojoelho,asaladeSnapereapareceraeeleseviucaídonochão;umdos
joelhosbateradolorosamentenapernadaescrivaninhadoprofessor.EleergueuosolhosparaSnape,que baixara a varinha e esfregava o punho. Havia um feio vergão ali, como uma marca dequeimadura.–VocêteveintençãodeproduzirumaAzaraçãoFerreteante?–perguntouSnapecalmamente.–Não–respondeuHarrycomrancor,erguendo-sedochão.–Acheiquenão–retorquiuSnapecomdesprezo.–Vocêmedeixoupenetrarlongedemais.Perdeu
ocontrole.–Osenhorviutudoqueeuvi?–perguntouHarry,insegurosequeriaouviraresposta.–Vislumbres–disseSnape,crispandooslábios.–Aquempertenciaocachorro?–AminhatiaGuida–murmurouHarry,odiandoSnape.
–Bom,paraumaprimeiratentativanãofoitãoruimquantopoderiatersido–disseoprofessorerguendo novamente a varinha. – Você conseguiu finalmente me paralisar, embora tenhadesperdiçadotempoeenergiagritando.Precisasemanterconcentrado.Merepilacomoseucérebroenãoprecisarárecorreràvarinha.–Estoutentando–disseHarry,zangado–,masosenhornãoestámedizendocomofazer!–Tenhamodos,Potter–disseSnape,ameaçador.–Agora,queroquefecheosolhos.Ogarotolançou-lheumolharzangadoantesdeobedecer.Nãolheagradavaaideiadeficarparado
ali,deolhosfechados,enquantoSnapeoencarava,segurandoumavarinha.–Esvaziesuamente,Potter–disseavozfriadeSnape.–Ponhadeladotodaemoção...MasaraivadeHarrycontraSnapecontinuavaapulsaremsuasveiascomoveneno.Ponhadelado
todaemoção?Eramaisfácilpôrdeladoaspernas...–Vocênãoestáobedecendo,Potter...vaiprecisardemaisdisciplina...concentre-se,agora...Harrytentouesvaziaramente,tentounãopensar,nemlembrar,nemsentir...–Vamosoutravez...quandoeucontartrês...um...dois...três...Legilimens!Umenormedragão negro se empinou diante dele... seu pai e suamãe lhe acenaramdo espelho
encantado...CedricoDiggorycaíranochãodeolhosvidradosolhandoparaele...–NÃÃÃÃÃÃÃO!Harry estava mais uma vez de joelhos, o rosto nas mãos, o cérebro doendo como se alguém
estivessetentandoarrancá-lodocrânio.–Levante-se!–mandouSnapecomrispidez.–Levante-se!Vocênãoestátentando,nãoestáfazendo
esforçoalgum.Estámedeixandoacessarlembrançasdequetemmedo,estámedandoarmas!Harrytornouaselevantar,seucoraçãobatendodescontroladocomosetivesserealmenteacabado
de ver Cedricomorto no cemitério. Snape estavamais pálido do que o normal, emais zangado,emboranãotãozangadoquantoHarry.–Eu...estou...me...esforçando–disseentreosdentes.–Euomandeiseesvaziardeemoções!–É?Bom,estouachandodifícilnestemomento–vociferouHarry.– Então vai descobrir que será uma presa fácil para o Lorde das Trevas! – disse Snape com
selvageria. – Tolos que têm orgulho emmostrar seus sentimentos, que não sabem controlar suasemoções, que chafurdam em lembranças tristes e se deixam provocar com tanta facilidade... emoutras palavras, gente fraca... não têm a menor chance contra os poderes dele! Ele penetrará suamentecomumafacilidadeabsurda,Potter!–Eunãosoufraco–disseHarryemvozbaixa,afúriaagoraperpassando-odetalmodoqueachou
quepoderiaatacarSnapedaliapouco.– Então prove! Domine-se! – falou Snape com violência. – Controle sua raiva, discipline sua
mente!Vamostentaroutravez!Preparar,agora!Legilimens!Ele observava o tio Válter pregar a fenda que havia na porta para cartas... cem Dementadores
atravessavamolagodaescolaemsuadireção...eleestavacorrendoporumapassagemsemjanelascomoSr.Weasley...seaproximaramdaportapretaesimplesnofimdocorredor...Harryesperavaque entrassem... mas o Sr.Weasley o desviou para a esquerda, desceram um lance de escadas depedra...–EUSEI!EUSEI!EstavanovamentedequatronochãodasaladeSnape,acicatrizformigandoincomodamente,mas
a voz que saíra de sua boca era triunfante. Ele se levantou e deparou comSnape encarando-o, devarinha levantada.Pareciaque,destavez,SnapesuspenderaofeitiçoantesmesmodeHarrysequertentarrepeli-lo.–Queaconteceuentão,Potter?–perguntou,observandoogarotoatentamente.
–Euvi...melembrei–ofegouHarry.–Acabeideperceber...–Perceberoquê?–perguntouSnapeasperamente.Harrynãorespondeuimediatamente;aindaestavasaboreandoomomentodaofuscantepercepção
enquantoesfregavaatesta...Andava sonhando havia meses com um corredor sem janelas que terminava em uma porta
trancada,semsedarcontadequeeraumlugarreal.Agora,revivendoalembrança,entendeuqueotempotodoestiverasonhandocomocorredorpeloqualcorreracomoSr.Weasleynodiadozedeagosto,quandosedirigiamapressadosparaostribunaisnoMinistério;eraocorredorquelevavaaoDepartamentodeMistérios,eeraondeoSr.WeasleyestiverananoiteemqueacobradeVoldemortoatacara.EleergueuacabeçaparaSnape.–QueéquetemnoDepartamentodeMistérios?–Quefoiquevocêdisse?–perguntouSnapeemvozbaixaeHarryviu,comprofundasatisfação,
queSnapeficaraassustado.–EupergunteioqueéquetemnoDepartamentodeMistérios,professor?–repetiuHarry.–Eporque–perguntouSnapelentamente–vocêperguntariaisso?– Porque – disse Harry observando-o atentamente para ver sua reação – aquele corredor que
acabeidever...comqueestousonhandohámeses...euacabeidereconhecê-lo:levaaoDepartamentodeMistérios...eachoqueVoldemortqueralgumacoisade...–JálhedisseparanãopronunciaronomedoLordedasTrevas!Os dois se encararam.A cicatriz deHarry tornou a queimar,mas ele não ligou. Snape parecia
agitado,masquandofaloufoicomoseestivessetentandoaparentarcalmaeindiferença.– Há muitas coisas no Departamento de Mistérios, Potter, poucas das quais você entenderia e
nenhumadasquaisédasuaconta.Estousendoclaro?–Está–respondeuHarry,aindaesfregandoacicatrizquedoíacadavezmais.–Querovocêaquiàmesmahoranaquarta-feira.Continuaremosatrabalharentão.–Ótimo – disseHarry. Ele estava desesperado para sair da sala de Snape e se reunir aRony e
Hermione.–Vocêdeveesvaziarsuamentedetodaemoçãoantesdedormir;esvazie-a,deixe-alimpaecalma,
compreendeu?–Sim–assentiuHarry,poucoatento.–Efiqueavisado,Potter...eusabereisevocênãopraticou...–Certo–murmurou.Eapanhandoamochila,atirou-asobreoombroecorreuparaaportadasala.
Ao abri-la, virou-se para olharSnape, que estava de costas e retirava os pensamentos daPenseiracomapontadavarinha,repondo-oscuidadosamentenaprópriacabeça.Harrysaiusemdizernada,fechandoaportacuidadosamenteaopassar,acicatrizaindalatejandodolorosamente.HarryencontrouRonyeHermionenabiblioteca,ondepreparavamumaverdadeiraresmadedever
queUmbridgepassararecentemente.Outrosalunos,quasetodosdoquintoano,estavamsentadosàsmesaspróximas, iluminadasporabajures, comonarizgrudadonos livros,aspenasarranhandoopapel febrilmente,enquantoocéuemolduradopelas janelasdecaixilhosescureciasempremais.Oúnico outro somque havia era o ligeiro rangido dos sapatos deMadamePince, que percorria oscorredoresentreasestantesameaçadoramente,bufandonopescoçodosquetocavamseuspreciososlivros.Harrysentiaarrepios;suacicatrizaindadoía,sentia-sequasefebril.Quandosesentoudefrontea
RonyeaHermione,viuseureflexonajanela;estavamuitobrancoeacicatrizpareciamaisvisíveldoqueonormal.–Comofoi?–sussurrouHermione,eentãocomoarpreocupado:–Vocêestábem,Harry?
–Tô...ótimo...nãosei–respondeuimpaciente,fazendocaretaquandotornouasentirumapontadanacicatriz.–Escutem...acabeidecompreenderumacoisa...Econtouaosdoisoqueacabaradeverededuzir.–Então...entãovocêestádizendo...–sussurrouRony,quandoMadamePincepassava,rangendoos
sapatos–queaarma,acoisaqueVocê-Sabe-Quemestáprocurando...estánoMinistériodaMagia?–NoDepartamentodeMistérios,temdeestar–cochichouHarry.–Viaportaquandooseupaime
levouàaudiêncianostribunais,edecididamenteéamesmaqueeleestavaguardandoquandoacobraomordeu.Hermionedeixouescaparumsuspirolongoelento.–Claro–sussurrou.–Clarooquê?–perguntouRony,meioimpaciente.–Rony,pareepense...EstúrgioPodmoreestava tentandopassarporumaportanoMinistérioda
Magia...devetersidoamesma,seriacoincidênciademais!–ComoéqueoEstúrgioestavatentandoarrombaraportaseeleestádonossolado?–perguntou
Rony.–Bom,nãosei–admitiuHermione.–Émeioestranho...– Então o que é que tem noDepartamento deMistérios? – perguntouHarry a Rony. – Seu pai
algumavezdissealgumacoisa?–Euseiqueeleschamamaspessoasquetrabalhamláde“Inomináveis”–disseRony,franzindoa
testa.–Porqueninguémparecesaber realmenteoqueelas fazem,umlugaresquisitoparaguardarumaarma.– Não é nada esquisito, faz absoluto sentido – retrucou Hermione. – Deverá ser alguma coisa
ultrassecretaqueoMinistérioestádesenvolvendo,imagino...Harry,vocêtemcertezadequeestásesentindobem?Harryacabaradecorrerasduasmãoscomforçapelatesta,comoseestivessetentandopassá-laa
ferro.–Tô...ótimo...–respondeu,baixandoasmãos,quetremiam.–Sóestoumesentindoumpouco...
nãogostomuitodessatalOclumência.– Acho que qualquer um se sentiria abalado se tivesse amente atacada tantas vezes seguidas –
consolou-oHermione.–Olhe,vamosvoltaràsalacomunal,ficaremosumpoucomaisconfortáveislá.Masencontrarama sala comunal lotada, cheiadegritos, risos e agitação;Frede Jorgeestavam
demonstrandosuaúltimainvençãoparaalojadelogrosebrincadeiras.– Chapéus sem Cabeças! – anunciava Jorge, enquanto Fred apontava para um chapéu cônico
decorado com uma pluma cor-de-rosa para os colegas que assistiam a ele. – Dois galeões cada,olhemsóoFred,agora!Fred levou o chapéu à cabeça com um gesto largo, sorrindo. Por um segundo, ele pareceu
realmenteidiota;entãoambos,chapéuecabeça,desapareceram.Váriasmeninassoltaramgritinhos,mastodososoutrosderamgostosasgargalhadas.– Tire o chapéu! – gritou Jorge, e amão de Fred apalpou por ummomento o que parecia ser
apenasventosobreoseuombro;entãoacabeçareapareceuquando,comumnovogestolargo,eletirouochapéuemplumado.–Qualéamágicadesseschapéus,então?–perguntouHermione,distraindo-sedodeverqueestava
fazendo para apreciar Fred e Jorge. – Quero dizer, obviamente usaram algum tipo de Feitiço daInvisibilidade, mas é muito criativo ampliar o campo da invisibilidade para além dos limites doobjetoenfeitiçado...Masimaginoqueofeitiçonãoduremuitotempo.Harrynãorespondeu;estavasesentindomal.
–Vouterdefazerissoamanhã–murmurou,tornandoaenfiarnamochilaoslivrosqueacabaradetirar.–Bom,anotenasuaagendadedeveresentão!–disseHermioneanimando-o.–Paranãoesquecer.Harry e Rony se entreolharam quando ele meteu a mão na mochila, tirou a agenda e abriu-a
hesitante.“Não deixe o dever para mais tarde, seu grande preguiçoso!”, ralhou o livro enquanto Harry
anotavaodeverdaUmbridge.Hermionesorriu.– Acho que vou me deitar – disse Harry, guardando a agenda na mochila e registrando
mentalmenteaintençãodejogá-lanalareiranaprimeiraoportunidadequetivesse.Atravessouentãoasalacomunal,fugindodeJorge,quetentavacolocarneleoChapéusemCabeça,
ealcançouapazeofrescordaescadadepedraparaodormitóriodosmeninos.Sentiu-senovamentemal, como no dia em que tivera a visão da cobra, mas achou que se pudesse deitar um poucomelhoraria.Abriuaportadodormitórioederaapenasumpassoparadentroquandosentiuumadortãoforte
que parecia que alguém cortara fora o topo de sua cabeça. Não sabia onde estava, se em pé oudeitado,nemsequersabiaopróprionome.Umagargalhadamaníaca ecoavaemseusouvidos... faziamuito tempoqueelenão se sentia tão
feliz...jubiloso,extático,triunfante...umacoisamuitomaravilhosaacontecera...–Harry?HARRY!Alguém lhe dava tapas no rosto. A gargalhada demente foi pontuada com um grito de dor. A
felicidadeestavaseesvaindo,masagargalhadacontinuava...Ele abriu os olhos e, ao fazê-lo, tomou consciência de que a gargalhada alucinada saía de sua
própriaboca.Noinstanteemquepercebeuisso,elacessou;Harryestavacaídonochão,arquejante,olhandoparaoteto,suacicatrizlatejandobarbaramente.Ronysecurvavaparaele,parecendomuitopreocupado.–Queaconteceu?–perguntou.–Eu...nãosei...–ofegouHarry,sentando-se.–Eleestárealmentefeliz...realmentefeliz...–Você-Sabe-Quem?–Alguma coisa boa aconteceu – balbuciouHarry. E tremia tanto quanto depois de ver a cobra
atacar o Sr. Weasley, além de sentir-se muito enjoado. – Alguma coisa que ele esperava queacontecesse.As palavras foram saindo de sua boca, exatamente como acontecera no vestiário daGrifinória,
comoseumestranhofalasseatravésdele,contudoHarrysabiaqueeramverdadeiras.Ele inspirouprofundamenteváriasvezes,desejandonãovomitaremcimadeRony.FicousatisfeitoquedestavezDinoeSimasnãoestivessemaliparapresenciar.–Hermionememandouvirvercomovocêestava–disseRonyemvozbaixa,ajudandooamigoa
se levantar. –Dizque suasdefesasdeviamestarmuitobaixasnestemomento,depoisdoSnape termexidocomasuamente...aindaassim,suponhoqueváserútilalongoprazo,não?EleolhouparaHarrycomardedúvidaenquantooajudavaaalcançaracama.Harryconcordou
comumacenodecabeça,semconvicção,eselargousobreostravesseiros,ocorpodoendoportercaídotantasvezesnaquelanoite,suacicatrizaindaformigandodolorosamente.NãopôdedeixardesentirqueasuaprimeiraincursãoemOclumênciaenfraqueceraaresistênciadesuamente,aoinvésde fortalecê-la, e se perguntou, extremamente agitado, o que deixara Lorde Voldemort na maiorfelicidadedosúltimoscatorzeanos.
—CAPÍTULOVINTEECINCO—Obesouroacossado
AperguntadeHarry foi respondida logonamanhãseguinte.QuandochegouoProfetaDiário deHermione,elaoabriu,deuumaespiadanaprimeirapáginae soltouumgritinhoque fezcomquetodosaoseuredoraolhassem.–Quê?–perguntaramHarryeRonyjuntos.Emresposta,elaabriuojornalnamesadiantedosgarotoseapontouparadezfotografiasempreto
e branco que ocupavam toda a primeira página, nove caras de bruxos e, a décima, de umabruxa.Algunsdeleszombavamemsilêncio;outrostamborilavamosdedosnasmoldurasdosretratos,cominsolência.CadafototraziaumalegendacomumnomeeocrimepeloqualapessoaforamandadaparaAzkaban.AntônioDolohov,informavaalegendasobobruxocomorostopálidoetortoquesorriatroçando
paraHarry,condenadopelobrutalhomicídiodeGideãoeFábioPrewett.AugustoRookwood, lia-se soba fotodohomemcomo rostomarcadoporbexigaseos cabelos
oleosos,queseapoiavanabordadafotocomarde tédio,condenadoporpassarÀquele-Que-Não-Deve-Ser-NomeadosegredosdoMinistériodaMagia.MasoolhardeHarryfoiatraídoparaafotodabruxa.Seurostosedestacaranomomentoemque
eleviraapágina.Tinhalongoscabelosescurosquepareciammalcuidadosedesgrenhados,emboraeleostivessevistosedosos,espessosebrilhantes.Elaoencarousobaspesadaspálpebras,umsorrisoarrogante e desdenhoso brincando em seus lábios. Como Sirius, ela conservava feições atraentes,masalgumacoisa–talvezAzkaban–levaraamaiorpartedasuabeleza.Belatriz Lestrange, condenada pela tortura e incapacitação permanente de Franco e Alice
Longbottom.Hermione cutucouHarry e apontoupara amanchete no alto das fotos, que ele, concentrado em
Belatriz,aindanãolera.
FUGAEMMASSADEAZKABANMINISTÉRIOTEMEQUEBLACKSEJAO“PONTODEREUNIÃO”PARAANTIGOSCOMENSAISDA
MORTE
–Black?!–exclamouHarryemvozalta.–Não...?–Psiu!–sussurrouHermionedesesperada.–Nãofaletãoalto...sóleia!
OMinistériodaMagiaanunciouànoitepassadaquehouveumafugaemmassaemAzkaban.Ementrevistaaosrepórteresemseugabinete,CornélioFudge,ministrodaMagia,confirmouque
dezprisioneirosdesegurançamáximaescaparamnoiníciodanoitedeontem,equeelejáinformouaoprimeiro-ministrodostrouxasanaturezaperigosadosfugitivos.“Nós nos encontramos, infelizmente, na mesma posição de dois anos e meio atrás quando o
assassinoSiriusBlack fugiu”, comentouFudge.“Eachamosqueasduas fugas estão relacionadas.Uma fuga nessa escala aponta para ajuda externa, e devemos nos lembrar que Black, a primeira
pessoaaescapardeAzkaban, estaria emposição idealparaajudaroutrosa seguiremseuspassos.Cremosquemuitoprovavelmenteessesindivíduos,entreosquaisseincluiaprimadeBlack,BelatrizLestrange,seagruparamemtornodeBlackcomoseulíder.Estamos,noentanto,envidandotodososesforços para capturar os criminosos, e pedimos à comunidade bruxa que se mantenha alerta ecautelosa.Emnenhumacircunstânciadevemseaproximardessesindivíduos.”
–Estátudoaí,Harry–disseRony,assombrado.–Éporissoqueeleestavatãofelizontemànoite.–Nãoacredito–vociferouHarry.–FudgeestáculpandoSiriuspelafuga?–Que outra opção ele tem? – disseHermione, amargurada. –Não vai poder dizer: “Desculpe,
pessoal, Dumbledore me avisou que isto poderia acontecer, os guardas de Azkaban se uniram aVoldemort”,paredechoramingar,Rony,“eagoraseuspioresseguidorestambémfugiram.”Querodizer, ele passou uns seis meses anunciando para todo o mundo que você e Dumbledore erammentirosos,não?Hermioneabriucomviolênciao jornalecomeçoua leranotícianaspáginas internasenquanto
Harry corria os olhos pelo Salão Principal. Não conseguia entender por que seus colegas nãoestavamapavoradosnemsequerdiscutiamaterrívelnotícianaprimeirapágina,maspoucostinhamassinatura diária do jornal como Hermione. Estavam todos conversando sobre os deveres e oquadribol–equemsabequeoutrastolices–,quandoforadosmurosdaescolamaisdezComensaisdaMortehaviamengrossadoasfileirasdeVoldemort.Ele ergueuosolhospara amesadosprofessores.Ali, a situaçãoeradiferente:Dumbledore e a
Profa McGonagall conversavam absortos, ambos parecendo extremamente sérios. A Profa SproutapoiaraoProfetaDiárioemumvidrodeketchupeliaaprimeirapáginacomtalconcentraçãoquenem reparava nos pingos de gema de ovo que caíam em seu colo da colher que segurava no ar.Entrementes,naextremidadedamesa,aProfaUmbridgecomiacomentusiasmosuatigelademingaudeaveia.UmaveznavidaseusempapuçadosolhosdesaponãoestavamvarrendooSalãoPrincipalàprocura de alunos malcomportados. Engolia o mingau com ar aborrecido, e de vez em quandolançavaumolharmalévoloparaoladodamesaemqueDumbledoreeMcGonagallconversavamtãoconcentrados.–Nossa!–exclamouHermionecomardedúvida,continuandoalerojornal.–Quefoiagora?–perguntouHarrydepressa;estavaassustado...–É...horrível–disse,abalada.Eladobrouapáginadezdojornalepassou-oaHarryeRony.
MORTETRÁGICADEFUNCIONÁRIODOMINISTÉRIODAMAGIA
OHospitalSt.MungusprometeuuminquéritorigorososobreamortedofuncionáriodoMinistériodaMagia,BrodericoBode,49anos,encontradoemsuacama,estranguladoporumaplantaenvasada.OsCurandeiroschamadosnãoconseguiramreanimaroSr.Bode,queforaferidoemumacidentedetrabalhoalgumassemanasantes.ACurandeiraMiriamStrout,queseencontravadeserviçonaenfermariadoSr.Bodenahorado
incidente,foisuspensadesuasfunções,semperdaderemuneração,enãofoiencontradaontemparacomentaranotícia,masumporta-vozdohospitaldeclarou:“O Hospital St. Mungus lamenta profundamente a morte do Sr. Bode, que estava em plena
recuperaçãoantesdeste trágicoacidente.Temosdiretrizesrigorosasparaasdecoraçõespermitidasemnossasenfermarias,mas,aparentemente,aCurandeiraStrout,muitoatarefadaduranteoperíodonatalino, não percebeu o perigo da planta à cabeceira do Sr. Bode. À medida que sua fala emobilidademelhoravam,aCurandeiraStroutencorajouoSr.Bodeacuidarsozinhodaplanta, semsaberquenãoeraumainocentediafanina,masumamudadevisgo-do-diaboque,aosertocadapelo
convalescenteSr.Bode,estrangulou-oinstantaneamente.”O St. Mungus ainda não soube explicar a presença da planta, e pede a quem tiver alguma
informaçãoparaseapresentar.
–Bode–repetiuRony.–Bode.Melembraalgumacoisa...– Nós o vimos – cochichou Hermione. – No St. Mungus, lembra? Estava na cama defronte a
Lockhart,deitado,olhandoparaoteto.Evimosovisgo-do-diabochegar.Ela,aCurandeira,dissequeerapresentedeNatal!Harry foi se lembrando da história.Uma sensação de horror começou a subir como bile à sua
boca.–Comofoiquenãoreconhecemosovisgo?Nósjáovimosantes...poderíamosterimpedidoisso
deacontecer.– Quem espera que um visgo-do-diabo apareça em um hospital disfarçado de plantinha
ornamental?–perguntouRonyasperamente.–Nãoénossaculpa,quemamandouparaocaraéqueéculpado!Devetersidoumaperfeitaanta,porquenãoverificouoqueestavacomprando?–Ah,Rony,nemvem!–disseHermione,trêmula.–Nãoachoquealguémenvasasseovisgosem
saberquetentariamatarquemotocasse!Issofoihomicídio...eumhomicídioengenhoso...seaplantafoienviadaanonimamente,comoéquealguémvaidescobrirquemamandou?Harry não estava pensando no visgo-do-diabo. Estava se lembrando de um homem de rosto
macilentoqueentraranoníveldoÁtrio,quandotomaramoelevadorparaonívelnovedoMinistérionodiadesuaaudiência.–EuconheciBode–disselentamente.–EuovinoMinistérioquandofuicomoseupai.OqueixodeRonycaiu.–Euouvipapaifalardeleemcasa!EraumInominável:trabalhavanoDepartamentodeMistérios!Osgarotosseentreolharamporummomento,entãoHermionetornouapuxarojornalparaela,
estudouporummomentoasfotosdosdezComensaisdaMortefugitivosnaprimeirapáginaeentãoficouempéderepente.–Aondeéquevocêvai?–perguntouRony,surpreso.–Enviarumacarta–disseHermione,atirandoamochilaporcimadoombro.–Bom,nãoseise...
masvaleapenatentar...eusouaúnicaquepode.–Detestoquandoelafazisso–resmungouRonyaoselevantarcomHarryparasaíremsempressa
doSalãoPrincipal.–Seráqueiamorrersenosdissesseoquepretendefazeraomenosumavez?Sólevariamaisdezsegundos...eh,Hagrid!Hagrid estava parado à porta do Salão Principal, esperando uma turma de alunos da Corvinal
passar.Continuavatãomachucadoquantonodiaemquevoltaradesuamissãoaosgigantes,ehaviaumnovocortenapontadoseunariz.–Tudobem,vocêsdois?–disse, fazendoumesforçoparasorrir,massóconseguindoproduzir
umacaretadedor.–Vocêestáo.k.,Hagrid?–perguntouHarry,acompanhando-onasesteirasdosalunosdaCorvinal.–Ótimo, ótimo – respondeuHagrid, assumindo sem sucesso um tom displicente; acenou e por
pouconãobateunaassustadaProfaVectorqueiapassando.–Ocupado,vocêsabe,odesempre,aulasparapreparar,umassalamandrastiverampodridãonasescamas,eestouemobservação–murmurou.–Estáemobservação?–repetiuRonyemvozalta,demodoqueváriosalunospróximosolharam
curiosos.–Desculpe...querodizer...vocêestáemobservação?–sussurrou.–Eu não esperava outra coisa, para falar a verdade.Vocês talvez não tenhampercebido,mas a
inspeção não correu muito bem, entendem... em todo o caso. – Ele deu um profundo suspiro. –Melhoreu ir esfregarmaisumpoucodepimentanas salamandrasouos rabosdelasvãocair.Até
mais,Harry...Rony...Ele saiu pesadamente pela porta da frente e desceu a escada emdireção aos terrenosmolhados.
Harryficouobservando-oseafastar,imaginandoquantasmásnotíciaselepoderiasuportar.
OfatodeHagridestaremobservaçãotornou-seconhecidoemtodaaescolanosdiasseguintes,mas,paraindignaçãodeHarry,quaseninguémpareceuseincomodar;naverdade,algumaspessoas,entreasquaissedestacavaDracoMalfoy,pareciamdecididamentefelizes.QuantoàmorteestranhadeumobscurofuncionáriodoMinistériodaMagianoSt.Mungus,Harry,RonyeHermionepareciamserasúnicaspessoasquesabiamouse importavam.Haviaapenasumtópicodeconversanoscorredoresagora:osdezComensaisdaMortefugitivos,cujahistóriafinalmentesefiltrarapelaescolaatravésdospoucosque liam jornais.Voavamboatosdequealgunsdoscondenados tinhamsidovistosemHogsmeade,quedeviamestarescondidosnaCasadosGritosequeiaminvadirHogwarts,talcomohaviamditosobreSiriusumdia.Os que pertenciam a famílias bruxas tinham sido criados ouvindo os nomes dosComensais da
Morte com quase tanto medo quanto o de Voldemort; os crimes que haviam cometido durante oreinadodeterrordoLordedasTrevaseramlendários.HaviaparentesdasvítimasentreosalunosdeHogwarts,queagoraseviamtransformadoseminvoluntáriosobjetosdeumafamaindiretaesinistraquandopassavampeloscorredores:SusanaBones,cujostio,tiaeprimostinhammorridopelamãodeumdosdez,comentou,infeliz,duranteumaauladeHerbologiaqueagoratinhaumaboaideiadecomoHarrysesentia.–Enãoseicomovocêsuporta:éhorrível–disseelasemrodeios,despejandoestrumedemaisem
suabandejademudinhasdebocas-de-guincho,fazendo-assetorceremeestrilaremincomodadas.É verdade que Harry ultimamente voltara a ser comentado aos sussurros e apontado nos
corredores,contudoachavaterpercebidoumaligeiradiferençanotomdoscolegas.Agorapareciamcuriososemvezdehostis,eumaouduasvezestevecertezadeouvirfragmentosdeconversasquesugeriamque as pessoas não estavam satisfeitas com a versão doProfeta de como e por que dezComensaisdaMortetinhamconseguidoescapardafortalezadeAzkaban.Emsuaconfusãoemedo,os que duvidavam estavam se voltando para a única explicação que conheciam: a que Harry eDumbledorevinhamapresentandodesdeoanoanterior.Nãoeraapenasaatitudedosestudantesquehaviamudado.Agoraerabemcomumdepararcom
dois ou três professores conversando em sussurros urgentes nos corredores, interrompendo aconversanomomentoemqueviamalunosseaproximarem.–Obviamenteelesnãopodemmais conversarna saladeprofessores–comentouHermioneem
vozbaixa,quandoela,HarryeRonypassaramumdiaporMcGonagall,FlitwickeSproutagrupadosàportadasaladeFeitiços.–NãocomaUmbridgeporlá.–Vocêachaqueelessabemdealgumanovidade?–perguntouRony,espiandoporcimadoombro
paraostrêsprofessores.–Sesouberem,nãovamossaber,nãoé?–falouHarry,irritado.–Nãodepoisdodecreto...emque
número estamos agora? – Pois havia aparecido um novo aviso nos quadros das Casas namanhãseguinteàfugadeAzkaban:
PORORDEMDAALTAINQUISIDORADEHOGWARTS
Doravante, os professores estão proibidos de passar informações aos estudantes que não estejamestritamenterelacionadascomasdisciplinasquesãopagosparaensinar.
AordemacimaestádeacordocomoDecretoEducacionalNúmeroVinteeSeis
Assinado:DoloresJoanaUmbridge,AltaInquisidora
Esteúltimodecretoforatemadeumgrandenúmerodepiadasentreosalunos.LinoJordanhavialembrado aUmbridge que, pelos termos da nova lei, ela não podia ralhar comFred e Jorge porbrincaremcomSnapExplosivonofundodasala.– SnapExplosivo não tem relação alguma comDefesaContra asArtes dasTrevas, professora!
Nãoéumainformaçãopertinenteàsuadisciplina!DavezseguintequeHarryencontrouLino,ascostasdeumadasmãosdoamigosangravammuito.
Recomendou-lheessênciademurtisco.Harry achara que a fuga de Azkaban pudesse deixar Umbridgemais humilde, que ela fosse se
envergonhardodesastrequeocorrerabemdebaixodonarizdoseuqueridoFudge.Parecia,porém,queafugaapenasintensificaraoseudesejofuriosodesubmetercadaaspectodavidadeHogwartsaoseucontrolepessoal.Pareciadecididaaobterpelomenosumademissãosemmuitademora,aúnicadúvidaeraquemiriaprimeiro,seaProfaTrelawneyouHagrid.CadaauladeAdivinhaçãoeTratodasCriaturasMágicaseradadaempresençadeUmbridgeesua
prancheta. Ela rondava a lareira na sala da torre intensamente perfumada, interrompendo as aulascada vez mais histéricas da Profa Trelawney com perguntas difíceis sobre ornitomancia eheptomologia,insistindoqueelaprevisseasrespostasdosalunosantesderecebê-laseexigindoqueelademonstrasse suaperíciacomaboladecristal, as folhasdecháeas runas,umaauma.HarryachouqueembreveTrelawneysucumbiriasobtantapressão.Váriasvezeselepassoupelaprofessoranoscorredores–oqueeraemsiumaocorrênciaincomum,poisemgeralelapermanecianasaladatorre –murmurando tresloucada, torcendo asmãos e lançandoolhares aterrorizados por cimadoombro,exalandootempotodoumfortecheirodexerezordinário.SenãoestivessetãopreocupadocomHagrid, teria sentido pena dela,mas se alguém ia perder o emprego, só poderia haver umaopçãoparaHarryquantoaquemdeviacontinuar.Infelizmente, Harry não conseguia imaginar Hagrid dando um espetáculo melhor do que
Trelawney.EemboraeleparecesseestarseguindooconselhodeHermioneenãotivessemostradoaosalunosmaisnadaassustadordoqueumCrupe–umbichoquepoucodiferiadeumcãoterrierexcetopelacaudabifurcada–,desdeantesdoNatal,Hagridtambémpareciaterseacovardado.Estavacuriosamente distraído e nervoso durante as aulas, perdia o fio do que estava ensinando à turma,respondiaerradoàsperguntas,etodootempoolhavaansiosoparaUmbridge.EstavatambémmaisdistantedeHarry,RonyeHermionedoquejamaisestivera,eosproibiraexpressamentedevisitá-lodepoisdoescurecer.–Seelapegarvocês,osnossospescoçosserãocortados–dissesemrodeios.Ecomoosgarotos
nãoquisessemfazernadaquepudessepôremriscooempregodoamigo,ostrêsseabstiveramdeiratésuacabanaànoite.Parecia aHarry queUmbridge estava constantemente privando-o de tudoque fazia sua vida em
Hogwartsvalerapena:asvisitasàcasadeHagrid,ascartasdeSirius,suaFirebolteoquadribol.Elesevingoudaúnicamaneiraquesabia–redobrandoseusesforçosnaAD.Harryficousatisfeitodeconstatarquetodos,atémesmoZacarias,tinhamsesentidoincentivadosa
trabalharcommaisvigorquenuncaaosaberemquemaisdezComensaisdaMorteestavamagorasoltos.MasemninguémessamelhoriafoimaispronunciadadoqueemNeville.Anotíciadafugadosatacantesdosseuspaisproduziraneleumaalteraçãoestranhaeatéligeiramenteassustadora.Nuncamencionarao seuencontrocomHarry,RonyeHermionenaenfermaria fechadadoSt.Munguse,seguindosuadeixa,osgarotostinhamsecaladotambém.TampoucocomentaraafugadeBelatrizedos colegas torturadores. De fato, Neville quase não falava mais durante as reuniões da AD,
trabalhava sem descanso em cada nova azaração e contra-azaração queHarry ensinava, seu rostogorducho contorcido de concentração, aparentemente insensível aos ferimentos ou acidentes, seesforçando mais do que qualquer outro na sala. Estava melhorando tão depressa que chegava aassustar, e quandoHarry lhes ensinouoFeitiçoEscudo–ummeiodedesviar pequenos feitiços efazê-losricochetearcontraoatacante–somenteHermionedominouofeitiçomaisdepressadoqueNeville.HarryteriadadoocéuparafazertantoprogressoemOclumênciaquantoNevillenasreuniõesda
AD. As sessões de Harry com Snape, que tinham começado bastante mal, não melhoraram. Pelocontrário,Harrysentiaqueestavapiorandoacadaaula.AntesdecomeçaraestudarOclumência,suacicatrizformigavaocasionalmenteduranteanoite,ou
então em seguida a umdos estranhos vislumbres dos pensamentos ou emoções deVoldemort quecaptavadevezemquando.Agora,noentanto,suacicatrizquasenuncaparavadeformigar,emuitasvezes ele sentia súbitos assomosde irritaçãooualegria, alheios aoque estava lhe acontecendonomomento,queeramsempreacompanhadosporumaferroadaparticularmentedolorosanacicatriz.EletinhaaterrívelimpressãodequeestavasetransformandoaospoucosemumaespéciedeantenaalinhadacomasmínimasflutuaçõesdohumordeVoldemort,etinhacertezadepoderremontaresseaumentode sensibilidadeàprimeira aula comSnape.Alémdomais, agora estava sonhandoquasetoda a noite que caminhava pelo corredor em direção à entrada do Departamento de Mistérios,sonhosessesquesempreculminavamcomeleparadocobiçosodiantedaportapretasemenfeites.– Talvez seja como uma doença – disse Hermione, parecendo preocupada, quando ele
confidenciouseuspensamentosaosdoisamigos.–Umafebreoucoisaassim.Temdepiorarantesdemelhorar.– As aulas com Snape estão fazendo piorar – afirmouHarry. – Estou cansado de sentirminha
cicatrizdoere fartodeandarpelomesmocorredor todanoite.–Eleesfregoua testacomraiva.–Gostariaqueaportaseabrisse,estoucheiodeficarparadoolhandoparaela...– Isso não tem graça – disse Hermione com aspereza. – Dumbledore não quer que você tenha
sonhoscomaquelecorredor,ounãoteriapedidoaoSnapequelheensinasseOclumência.Vocêvaiteréqueseesforçarmaisnassuasaulas.–Estoutrabalhando!–respondeuHarry,exasperado.–Experimentevocêumavez...Snapetentando
entrarnasuacabeça...nãodáparagargalhar,sabe!–Talvez...–começouRonylentamente.–Talvezoquê?–perguntouHermionecortando-o.– Talvez não seja culpa de Harry que ele não consiga fechar a mente – arriscou Rony
sombriamente.–Queéquevocêestáquerendodizer?–perguntouHermione.–Bom,talvezSnapenãoestejarealmentequerendoajudarHarry...Harry e Hermione o encararam. Rony olhou um e outro com uma expressão misteriosa e
assustadora.–Talvez– repetiubaixandomaisavoz–ele esteja,naverdade, tentandoabrirmaisamentede
Harry...facilitaraentradadeVocê-Sabe...– Cala a boca, Rony – disse Hermione, zangada. – Quantas vezes você suspeitou de Snape, e
quando foi que teve razão? Dumbledore confia nele, ele trabalha para a Ordem, isso deveria sersuficiente.–ElecostumavaserumComensaldaMorte–teimouRony.–Enuncavimosprovadequetenha
realmentetrocadodelado.–Dumbledoreconfianele–repetiuHermione.–EsenãopudermosconfiaremDumbledore,então
nãopoderemosconfiaremmaisninguém.
Com tanto comque se preocupar e tanto para fazer – uma assustadora quantidade de deveres quefrequentementemantinhamosquintanistastrabalhandoatédepoisdameia-noite,asreuniõessecretasda AD e as aulas regulares de Snape –, o mês de janeiro parecia estar passando com alarmanterapidez.AntesqueHarrydesseporisso,fevereirochegara, trazendoumtempomaisúmidoemaisquenteeaperspectivadasegundavisitadoanoaHogsmeade.HarrytiveramuitopoucotempoparagastaremconversascomChodesdequehaviamconcordadoemvisitaravilajuntos,masderepenteviu-sediantedaperspectivadepassaroDiadosNamoradostodoemsuacompanhia.Namanhãdodia14defevereirovestiu-secomespecialcuidado.EleeRonychegaramaosalão
para tomarcafénahoraemquepousavamascorujas trazendoocorreio.Edwigesnãoapareceu–nãoqueHarryaesperasse–,masHermioneiapuxandoumacartadobicodeumacorujacastanhadesconhecida,quandoelessesentaram.–Ejánãoerasemtempo!Senãotivessevindohoje...–comentouelaansiosa,abrindooenvelope
deondetirouumpequenopergaminho.Seusolhoscorreramdaesquerdaparaadireitaquandoleuamensagem,eumaexpressãodesinistrasatisfaçãoseespalhoupeloseurosto.–Escute,Harry–disseelaerguendoosolhos–,istoérealmenteimportante.Vocêachaquepodese
encontrarcomigonoTrêsVassourasporvoltadomeio-dia?–Bom...nãosei–disseHarryemdúvida.–Chotalvezestejaesperandoqueeupasseodiacomela.
Nãocombinamosoqueíamosfazer.–Bom,seprecisarleveelajunto–disseHermionecomurgência.–Masvocêvai?–Bom...tudobem,masporquê?–Agoranãotenhotempodelhecontar,tenhoderesponderlogoessamensagem.EsaiucorrendodoSalãoPrincipal,acartaapertadaemumadasmãoseumpedaçodetorradana
outra.–Vocêvai?–HarryperguntouaRony,quesacudiuacabeça,comumardeprimido.–Nemposso ir aHogsmeade;Angelinaquerqueagente treineodia todo.Comose isso fosse
ajudar;somosopiortimequejávi.VocêdeviaveroSlopereoKirke,sãopatéticos,pioresqueeu.–Eledeuumprofundosuspiro.–NãoseiporqueaAngelinanãomedeixapedirdemissãodeumavez.–Porquevocêébomquandoestáemforma,sóporisso–retrucouHarry,irritado.Tinhamuitadificuldade emmanifestar simpatia pela situaçãodeRony, quando ele próprio teria
dadoquasetudoparaparticipardopróximojogocontraaLufa-Lufa.Ronypareceuperceberotomdo amigo, porque não tornou amencionar a partida durante o café, e houve uma certa frieza namaneiracomosedespedirampoucodepois.RonysaiuparaocampodequadriboleHarry,depoisdetentar assentar os cabelos, mirando-se no côncavo da colher, rumou sozinho para o Saguão deEntradaparaseencontrarcomCho,sentindo-semuitoapreensivoeseperguntandosobreoqueiriamconversar.Elaoaguardavaao ladodaportadecarvalho,muitobonitacomoscabelospresosatrásemum
belo rabo de cavalo. Os pés de Harry lhe pareceram grandes demais para o seu corpo enquantocaminhavaaoencontrodela,ederepentetomouconsciênciadosseusbraçosecomodeviampareceridiotasbalançandodoslados.–Oi–disseCholigeiramentesemar.–Oi–disseHarry.ElesseolharamporummomentoeHarryentãofalou:–Bom...ah...entãovamos?–Ah...claro...Os dois entraram na fila de alunos a serem liberados por Filch, seus olhos se encontrando
ocasionalmente, dando sorrisos esquivos, mas não conversaram. Harry sentiu alívio quandochegaramláfora,achandomaisfácilcaminharememsilênciodoqueficarparadosconstrangidos.
Eraumdiafresco,dotipoemquesopraumabrisa,e,aopassarempeloestádiodequadribol,Harryviu de relanceRony eGina sobrevoando as arquibancadas e sentiu uma terrível angústia por nãoestarlánoaltocomeles.–Vocêrealmentesentefalta,nãoé?–perguntouCho.Harryvirou-seenotouqueelaoobservava.–Sinto–suspirouHarry.–Sintomesmo.–Lembradaprimeiravezquejogamoscomoadversáriosnoterceiroano?–Lembro–disseHarrysorrindo.–Vocêmebloqueouotempotodo.–EOlíviodisseparavocêparardebancarocavalheiroemederrubardavassouraseprecisasse–
disseCho,sorrindocomalembrança.–OuvidizerqueelefoicontratadopeloOrgulhodePortree,éverdade?–Nam,foipeloUniãodePuddlemere;euovijogandonaCopadoMundialnoanopassado.–Ah, tambémvivocê lá, lembra?Estávamosnomesmoacampamento.Foi realmentebom,não
achou?OassuntoCopaMundialdeQuadribol levou-ospelaestradadaescolaealémdasgrades.Harry
mal conseguia acreditar como era fácil conversar com ela – de fato, não eramais difícil do queconversar comRony eHermione – e estava começando a se sentir confiante e feliz quando umaenormeturmadegarotasdaSonserinapassouporeles,inclusivePansyParkinson.–PottereChang!–guinchouPansy,quepuxouumcoroderisinhosdedeboche.–Eca,Chang,que
maugosto...pelomenosoDiggoryerabonito!Asgarotasaceleraramopasso, falandoedandogritinhoscríticos, lançandoolharesexagerados
paraHarryeChoatrás,edeixandoaopassarumsilêncioconstrangido.Harrynãoconseguiapensaremmaisnadaparadizersobrequadribol,eCho,levementecorada,olhavaparaospés.–Então... aondeéquevocêquer ir?–perguntouHarryquandoentraramemHogsmeade.A rua
Principalestavacheiadeestudantesquecaminhavamolhandovitrinesetumultuandoascalçadas.–Ah...nãofazdiferença–disseChoencolhendoosombros.–Hum...vamosdarumaolhadanas
vitrinesououtracoisaqualquer?ElesforamandandoemdireçãoàDervixes&Bangues.Umgrandecartazforaafixadoàvitrine,e
algunsmoradores deHogsmeade o liam.Eles se afastaram para um lado quandoHarry eCho seaproximaram, e o garoto se viu, mais uma vez, diante das fotos dos dez Comensais da Mortefugitivos.Ocartaz,“PorOrdemdoMinistériodaMagia”,ofereciaumarecompensademilgaleõesaqualquer bruxo ou bruxa com informações que possibilitassem a recaptura dos condenadosretratados.–Éengraçado,nãoé–comentouChoemvozbaixa,olhandoasfotosdosComensaisdaMorte–,
lembra quando Sirius Black fugiu e havia Dementadores por toda Hogsmeade à procura dele? EagoradezComensaisdaMorteestãosoltosenãoháDementadoresemlugarnenhum...–É–concordouHarry,desviandoosolhosdorostodeBelatrizLestrangeparaosdoisladosda
ruaPrincipal.–É,ébemesquisito.ElenãolamentavaquenãohouvesseDementadoresporali,masagora,pensandobem,aausência
deleseraextremamentesignificativa.NãosomentehaviamdeixadoosComensaisdaMorteescapar,como nem estavam se dando o trabalho de procurá-los... parecia que agora haviam realmenteescapadoaocontroledoMinistério.Osdezfugitivosestavamemtodasasvitrinespelasquaiselespassaram.NaalturadaLojadePenas
Escriba,começouachover;pingosgrossosefriosbatiamnorostoenanucadeHarry.–Ah...quertomarumcafé?–perguntouChohesitante,quandoachuvacomeçouacaircommais
intensidade.–Ah,vamos–disseHarryolhandoaoredor.–Aonde?
–Ah, tem um lugar realmente gostoso ali adiante; você nunca esteve noMadamePuddifoot? –perguntouela,animada,conduzindo-o,porumarualateral,aumapequenacasadecháemqueHarrynunca reparara antes. Era um lugarzinho apertado e cheio de vapor, onde tudo parecia ter sidodecoradocomlaçosebabadinhos.LembrouaHarrydesagradavelmenteasaladaUmbridge.“Bonitinho,nãoé?”,perguntouChoalegre.–Ah...é–respondeuHarrysemsinceridade.–Olhe,elapreparouumadecoraçãoparaoDiadosNamorados!–disseCho,apontandoparaos
querubins dourados que pairavam sobre asmesinhas circulares, e que a intervalos deixavam cairconfetessobreosfregueses.–Aaah...Os dois se sentaram à última mesa que restava, ao lado da janela embaçada. Rogério Davies,
capitãodo timedaCorvinal, estava sentado amenosdemeiometro comuma lourinhabonita.Demãosdadas.AcenafezHarrysesentirpoucoàvontade,particularmentequando,aocorrerosolhospelaloja,viuquesóhaviacasais,todosdemãosdadas.TalvezChoesperassequeelesegurasseamãodela.– Que posso servir a vocês, queridos? – perguntou Madame Puddifoot, uma mulher muito
corpulentacomumcoquenegroebrilhante,espremendo-seentreamesadeleseadeRogériocomgrandedificuldade.–Doiscafés,porfavor–pediuCho.No intervaloque levouparaos cafés chegarem,RogérioDavies e a namorada começarama se
beijar por cima do açucareiro. Harry gostaria que não o tivessem feito; sentia queDavies estavaestabelecendo um padrão com o qual Cho logo iria querer que ele competisse. Sentiu seu rostocomeçaraesquentaretentouolharpelajanela,masestavatãoembaçadaquenãodavaparaverarualá fora. Para adiar o momento em que teria de olhar para Cho, Harry ergueu os olhos como seestivesseexaminandoapinturaerecebeuumpunhadodeconfetenorosto,lançadopelosquerubins.Passados mais alguns minutos penosos, Cho mencionou Umbridge. Harry aproveitou a
oportunidadecomalívio,epassaramalgunsmomentosdivertidosxingando-a,mas,comooassuntojá fora examinado tão plenamente durante as reuniões daAD, não duroumuito tempo.O silênciotornouacair.Harryestavamuitoconscientedosbarulhosdemastigareengolirdamesaaolado,eprocuroudesesperadamentemaisalgumacoisaparafalar.– Ah... escute aqui, você quer ir comigo ao Três Vassouras na hora do almoço? Preciso me
encontrarcomHermioneGrangerlá.Choergueuassobrancelhas.–VocêprecisaseencontrarcomHermioneGranger?Hoje?–É.Bom,elamepediu,entãoacheiquetudobem.Vocêquerircomigo?Eladissequetudobemse
vocêfosse.–Ah...bom...quesimpática!MasChonãopareciaterachadonadasimpático.Pelocontrário,seutomfoifrioe,derepente,ela
assumiuumarhostil.Maisalgunsminutossepassaramemtotalsilêncio,Harrytomandoseucafétãodepressaquelogo
precisariadeoutro.Aolado,Rogérioeanamoradapareciamestarcoladospeloslábios.AmãodeChoestavaemcimadamesa,aoladodoseucafé,eHarrycomeçouasentirumimpulso
crescentedesegurá-la.Entãosegure-a,disseasimesmo,enquantoumafontedepânicoeexcitaçãojorravaemseupeito,estiqueamãoesegure-a.Surpreendente,comoeramuitomaisdifícilesticarobraçotrintacentímetrosetocaramãodeladoquecapturarumpomopassandoveloznoar...Mas, na hora em que estendeu a mão, Cho retirou a dela da mesa. Estava agora observando
Rogériobeijaranamoradacomumaexpressãolevementeinteressada.
–Elemeconvidouparasair,sabe–disseemvozbaixa.–Háumasduassemanas,oRogério.Maseunãoaceitei.Harry,queagarraraoaçucareiroparajustificaroseugestorepentino,nãoconseguiuentenderpor
queCho estava lhe dizendo aquilo. Se queria estar sentada namesa ao lado, sendo calorosamentebeijadaporRogérioDavies,entãoporqueconcordaraemvircomele?Continuou calado.O querubim sobre amesa atiroumais umpunhado de confetes neles; alguns
caíramnorestinhofriodecafénaxícaraqueHarryiabeber.–VimaquicomCedriconoanopassado–disseCho.No segundo, ou poucomais, queHarry levou para entender o que Cho dissera, suas entranhas
congelaram.Não conseguia acreditar quequisesse falar deCedriconestemomento, comcasais sebeijandoaoseuredorequerubinssobrevoandosuascabeças.AvozdeChoestavabemmaisaltaquandotornouafalar.–Háumtempãoqueestouquerendoperguntaravocê...oCedrico...elef-f-falouemmimantesde
morrer?EsteeraoúltimoassuntonomundoqueHarryqueriadiscutir,emenosaindacomCho.–Bom... não... – disse calmamente. –Não... nãohouve tempopara ele dizer nada.Hum... então...
você...assisteamuitaspartidasdequadribolduranteasférias?VocêtorcepelosTornados,certo?Suavozpareciafalsamenteanimadaefeliz.Paraseuhorror,osolhosdelaestavammaisumavez
marejadosdelágrimas,comodepoisdaúltimareuniãodaADantesdoNatal.– Olhe – disse ele, desesperado, curvando-se para ninguém mais ouvir –, não vamos falar de
Cedricoagora...vamosfalardeoutracoisa...Mas,aparentemente,disseraacoisaerrada.– Pensei – disse Cho com as lágrimas salpicando a mesa. – Pensei que você en-en-entenderia!
Precisofalarnisso!Comcertezavocêtambémp-precisafalar!Querodizer,vocêviuacontecer,nãov-viu?Tudoestavasaindoerradocomoemumpesadelo;anamoradadeRogérioatédescolaradelepara
apreciar.–Bom...eufaleinisso–disseHarrynumsussurro–comRonyeHermione,mas...–Ah,vocêfalacomHermioneGranger!–disseChocomvozaguda,orostoagorabrilhantede
lágrimas.Outrostantoscasaisquesebeijavampararamparaolhar.–Masnãoquerfalarcomigo!T-talvez fosse melhor se a gente simplesmente p-pagasse a conta e você fosse se encontrar comHermioneG-Granger,comoéóbvioquequerfazer!Harry encarou-a, absolutamenteperplexo, enquanto ela apanhavaoguardanapodebabadinhos e
secavaorosto.– Cho! – disse ele com a voz fraquinha, desejando que Rogério agarrasse a namorada e
recomeçasseabeijá-laparaimpedi-ladeficarencarandoosdois.– Vá embora, então! – disse ela, agora chorando no guardanapo. – Não sei por que você me
convidou para sair, para começar, se combinou se encontrar com outras garotas depois demim...quantasmaisvocêvaiencontrardepoisdaHermione?–Nãoénadadisso!–disseHarry,eestavatãoaliviadodefinalmentecompreenderomotivodo
aborrecimento deCho que riu, o que percebeu, uma fração de segundo depois, tarde demais, quetambémforaumerro.Choselevantou.Asalaestavasilenciosaetodososobservavam.–Agentesevêporaí,Harry–disseelateatralmente,e,soluçandoumpouco,precipitou-separaa
porta,abriu-acomviolênciaesaiuparaachuvaintensa.–Cho!–Harrychamou,masaportajásefecharacomumtilintarmusical.Fez-seabsolutosilêncionacasadechá.TodososolharesconvergiramparaHarry.Eleatirouum
galeãonamesa,sacudiuoconfetedoscabelosesaiuatrásdeCho.Choviapesadoeelanãoestavaàvista.Harrysimplesmentenãoentendiaoqueacontecera;hámeia
horaelesestavamseentendendobem.–Mulheres! – resmungou com raiva, chapinhando pela rua lavada de chuva com as mãos nos
bolsos.–Afinal,paraqueéqueelaqueriafalardoCedrico?Porqueestásemprequerendopuxarumassuntoqueafazagircomosefosseumamangueirahumana?Elevirouàdireitaesaiucorrendo,espadanandoágua,ealgunsminutosdepoischegavaàportado
Três Vassouras. Sabia que era cedo demais para se encontrar com Hermione, mas achou queprovavelmente haveria alguém lá com quem ele pudesse passar o tempo. Sacudiu os cabelosmolhadosparaafastá-loserelanceouoolharpelasala.Hagridestavasentadosozinhoemumcanto,parecendoinfeliz.–Oi,Hagrid!–chamouHarry,espremendo-seentreasmesascheiasepuxandoumacadeirapara
sentaraoladodoamigo.Hagriddeuumpuloeolhouparabaixocomosemaloreconhecesse.Ogarotonotouquehavia
doisnovoscortesevárioshematomasemseurosto.–Ah,évocê,Harry.Vocêestábom?–Estouótimo–mentiuHarry;masaoladodomaltratadoetristonhoHagridsentiuquenãotinha
muitodoquesequeixar.–Ah...vocêestáo.k.?–Eu?Ah,estouótimo,Harry,ótimo.Eleolhouparaofundodocanecodeestanho,dotamanhodeumbalde,esuspirou.Harrynãosabia
oquedizer.Ficaramladoaladoemsilêncioporummomento.EntãoHagriddisseabruptamente.–Nomesmobarco,vocêeeu,nãoestamos,Arry?–Ah...– É... já disse isso antes... os dois forasteiros, por assim dizer – comentou Hagrid acenando a
cabeçasensatamente.–Eosdoisórfãos.É...osdoisórfãos.Eletomouumlongogole.–Fazdiferençaterumafamíliadecente.Meupaieradecente.Eseupaiesuamãeeramdecentes.Se
tivessemvivido,avidateriasidodiferente,hein?–É...suponhoquesim–concordouHarrycomcautela.Hagridpareciaestarnumestadodeânimo
muitoestranho.–Família–dissesombriamente.–Podemdizeroquequiserem,osangueéimportante...Eenxugouumfiodelágrimaqueescorriadoolho.–Hagrid–perguntouHarry,incapazdeseconter–,ondeéquevocêestáarranjandotodosesses
ferimentos?–Eh?!–exclamouHagridparecendoassustado.–Queferimentos?–Todosessesaí!–disseHarryapontandoparaoseurosto.–Ah...sãosópancadasearranhõesnormais–disseeledesencorajandoperguntas–;éumtrabalho
espinhoso.Eleesvaziouocaneco,descansou-onamesaeselevantou.–Agentesevê,Harry...cuide-sebem.Ele saiu pesadamente do bar com um ar deprimido, e desapareceu na chuva torrencial. Harry
acompanhou-ocomoolhar,sentindo-senofundodopoço.Hagridestavainfelizeescondiaalgumacoisa,maspareciadecididoanãoaceitarajuda.Queestariaacontecendo?AntesqueHarrypudessecontinuararefletir,ouviualguémchamando-o.–Harry!Harry,aqui!Hermioneacenavaparaeledooutroladodasala.Eleselevantoueatravessouopubcheio.Ainda
estavaaalgumasmesasdedistânciaquandopercebeuqueaamiganãoestavasozinha.Estavasentada
àmesacomoscompanheirosdecoposmaisimprováveisqueelepoderiaimaginar:LunaLovegoode ninguém menos que Rita Skeeter, ex-jornalista do Profeta Diário e uma das pessoas de quemHermionemenosgostavanomundo.– Você chegou cedo! – disse Hermione puxando a cadeira para abrir espaço para ele sentar. –
PenseiqueestivessecomaCho,sóesperavavocêdaquiaumahora!–Cho?!–exclamouRitanamesmahora,sevirandonacadeiraparaencararHarrycomavidez.–
Umagarota?Elaagarrouabolsadecourodecrocodiloeprocuroualgumacoisadentro.–Não é da sua conta seHarry estava com cemgarotas – disseHermione aRita calmamente. –
Entãopodeguardarissoagoramesmo.Rita já ia tirandoumapenaverdeácidodabolsa.Fazendocaradequemforaobrigadaaengolir
Palha-fede,elatornouafecharabolsacomumestalo.–Queéquevocêsestãotramando?–perguntouHarry,sentando-seeolhandodeRitaparaLunae
destaparaHermione.–ASrta.Perfeiçãoiamedizerquandovocêchegou–disseRitatomandoumgrandegoledesua
bebida.–Imaginoqueeutenhapermissãodefalarcomele,não?–disparoucontraHermione.–Imaginoquesim–respondeuaoutracomfrieza.Odesempregonão faziabemaRita.Seuscabelos,queantigamenteerampenteadoscomcachos
caprichosos,agoracaíamlisosemalcuidadosemtornodorosto.Atintaescarlatenasgarrasdecincocentímetros estava lascada e faltavam umas pedrinhas nos seus óculos de asas. Ela tomou outrograndegoleeperguntouaHarrypelocantodaboca:–Éumagarotabonita,Harry?– Mais uma palavra sobre a vida amorosa de Harry e o trato está desfeito, eu juro – disse
Hermione,irritada.–Que trato?–perguntouRita,enxugandoabocacomascostasdamão.–Vocêaindanão tinha
falado em trato, Srta. Certinha, só me disse para aparecer. Ah, um dia desses... – Ela inspirouprofundamenteestremecendo.– Sei, sei, um dia desses você vai escrever mais histórias horrorosas sobre Harry e mim –
retorquiuHermionecomindiferença.–Procurealguémqueseinteresse,porquenãofazisso?–PublicarammuitashistóriashorrorosassobreHarryesteanosemaminhaajuda–retrucouRita,
olhando-oenviesadoporcimadosóculoseacrescentandonumsussurrorouco.–Comofoiquevocêsesentiu,Harry?Traído?Incompreendido?–Harrysenteraiva,éclaro–respondeuHermionecomavozduraeclara.–Porqueeledissea
verdadeaoministrodaMagiaeoministroéidiotademaisparaacreditar.–EntãovocênarealidadecontinuaaafirmarqueAquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeadoretornou?
–perguntouRita, baixandoo copo e submetendoHarry a umolhar penetrante, enquanto seudedoprocurava ansiosamente o fecho da bolsa de crocodilo. – Você sustenta todas as bobagens queDumbledoretemditosobreVocê-Sabe-Quemterretornadoevocêseraúnicatestemunha?–Eunãofuiaúnicatestemunha–vociferouHarry.–HaviamaisdeumadúziadeComensaisda
Mortepresentes.Quersaberonomedeles?–Adorariasaber–sussurrouRita,agoratornandoamexernabolsa,semtirarosolhosdeHarry
comoseogarotofosseacoisamaisbonitaqueelajávira.Umaenormemanchete:“Potteracusa...”Umsubtítulo“HarryPottercitaosnomesdosComensaisdaMorteentrenós”.Eembaixoumabelafotografia“AdolescenteperturbadoquesobreviveuaumataquedeVocê-Sabe-Quem,HarryPotter,15anos,provocouindignaçãoontemaoacusarmembrosrespeitáveisedestacadosdacomunidadebruxadeseremComensaisdaMorte...”APena deRepetiçãoRápida já estava namãoda repórter e ameio caminhoda boca, quando a
expressãoarrebatadaemseurostosedesfez.–Mas,naturalmente–dissebaixandoapenaefuzilandoHermionecomoolhar–,aSrta.Perfeição
nãoiriaquererveressahistóriadivulgada,não?–Naverdade–disseHermionecommeiguice–,éexatamenteoqueaSrta.Perfeiçãodeseja.Rita arregalou os olhos para Hermione. E Harry também. Luna, por outro lado, cantarolou
baixinhocomosesonhasse“Weasleyénossorei”,emexeusuabebidacomumaceboladecoquetelnapontadeumpalito.–Vocêquer que eu noticie o que ele diz a respeito deAquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado? –
perguntouRitaaHermioneemtomabafado.–Quero. A história verdadeira. Todos os fatos. Exatamente comoHarry os conta. Ele lhe dará
todososdetalhes,lhediráosnomesdosComensaisdaMortenãoconhecidosdopúblicoqueeleviulá,lhediráqueaparênciatemVoldemortagora;ah,controle-se–acrescentoucomdesdém,atirandoo guardanapo sobre a mesa, pois, ao som do nome de Voldemort, Rita se assustara tanto quederramarametadedocopodeuísquedefogonaroupa.Rita enxugou a frente da capa de chuva encardida, ainda encarando Hermione. Então disse
capengamente:–OProfeta não publicaria isso. Caso você não tenha notado, ninguém acredita nessa conversa
fiada.Todosachamqueeleédelirante.Agora,sevocêmedeixarescreveranotíciadaqueleângulo...– Não precisamos de outra notícia contando como foi que Harry ficou biruta! – exclamou
Hermione,zangada.–Jálemosmuitasdessas,muitoobrigada!Queroqueeletenhaaoportunidadedecontaraverdade!–Nãohámercadoparaumanotíciadessas–respondeuRitacomfrieza.–Você quer dizer que oProfeta não publicará porque Fudge não vai deixar – disseHermione,
irritada.Rita lançou a Hermione um olhar longo e duro. Então, curvando-se sobre amesa se dirigiu à
garotaemtomobjetivo.–Muitobem,FudgeestáameaçandooProfeta,oquedánomesmo.Ojornalnãovaipublicaruma
reportagemfavorávelaHarry.Ninguémquerlê-la.Écontraosentimentopúblico.EssaúltimafugadeAzkaban já deixou as pessoas bem preocupadas.Ninguém quer acreditar queVocê-Sabe-Quemretornou.–EntãooProfetaDiárioexisteparadizeràspessoasoqueelasqueremouvir,éisso?–perguntou
Hermionecriticamente.Ritatornouaseendireitar,assobrancelhaserguidas,evirouseucopodeUísquedeFogo.–OProfetaexisteparavenderexemplares,suatolinha–dissecomfrieza.–Meupaiachaqueéumpéssimojornal–comentouLuna,entrandoinesperadamentenaconversa.
Chupando a cebolinha do seu coquetel, ela fixou em Rita seus olhos enormes, protuberantes,ligeiramentealucinados.–Meupaidivulganotíciasimportantesqueachaqueopúblicoquerler.Nãoestáinteressadoemganhardinheiro.RitaolhoudepreciativamenteparaLuna.–Dá para adivinhar que seu pai publica um jornaleco idiota de interior, não é? Provavelmente
VinteeCincoManeirasdeseMisturarcomosTrouxaseasdatasdospróximosbazares.–Não–respondeuLuna,tornandoamergulharacebolinhanaáguadegilly–,eleéoeditordo
Pasquim.Ritasoltouumbufotãoaltoqueaspessoasnasmesaspróximasolharamassustadas.– Notícias importantes que ele acha que o público deve saber, hein? – fulminou. – Eu poderia
estrumaromeujardimcomoconteúdodaqueletrapo.–Bom,entãoestaéasuachancedemelhoraroconteúdodarevista,não?–sugeriuHermionecom
gentileza.–LunadizqueopaidelaficariamuitocontenteemfazerumaentrevistacomHarry.Eleéquemirápublicá-la.Ritaencarouasgarotasporummomento,entãosoltougargalhadas.–OPasquim!–exclamoucomumcacarejo.–VocêsachamqueaspessoasvãolevarHarryasério
seeleaparecernoPasquim!–Algumas pessoas não – disseHermione com a voz controlada. –Mas a versão que oProfeta
publicoudafugadeAzkabantinhafurosenormes.Achoquemuitagentedeveráestarseperguntandosenãoháumaexplicaçãomelhorparaoqueaconteceu,eseháumahistóriaalternativa,mesmoquesejapublicadaporum...–olhouparaLunadeesguelha–emum...bom,umarevistaincomum...achoqueessagentepoderiagostardelê-la.Rita ficou em silêncio por algum tempo,masmirouHermione astutamente, a cabeçaumpouco
inclinadaparaumlado.– Tudo bem, vamos dizer por um momento que eu aceite – disse subitamente. – Que tipo de
remuneraçãovoureceber?–Achoquepapainãochegaexatamenteapagaraspessoasparaescreveremparaarevista–disse
Luna,sonhadora.–Escrevemporqueéumahonrae,naturalmente,paraveronomedelasemletradeimprensa.AcaradeRitaSkeeteraosevirarparaHermioneeradequemachououtravezforteogostodo
Palha-fedenaboca.–Éparaeufazerissodegraça?–Bom, é–disseHermione calmamente, tomandoumgolinhodabebida. –Docontrário, como
vocêjásabe,informareiàsautoridadesquevocênuncaseregistroucomoanimago.Naturalmente,oProfetaDiário talvez lhepagueumbomcachêporuma reportagememprimeiramãodavida emAzkaban.PelareaçãopareceuquenadadariamaisprazeraRitadoqueagarrarasombrinhadepapelque
saíadabebidadeHermioneeenfiá-lapelonarizdagarotaadentro.–Suponhoquenãotenhaoutraopção,nãoé?–dissecomavozligeiramentetrêmula.Abriu,então,
abolsadecrocodilomaisumavez,apanhouumpergaminhoeergueuaPenadeRepetiçãoRápida.–Papaivaificarsatisfeito–disseLuna,animada.UmmúsculotremeunoqueixodeRita.–O.k.,Harry?–perguntouHermione,virando-separaogaroto.–Prontoparacontaraverdadeao
público?–Suponho que sim– disseHarry observandoRita pôr emposição aPena deRepetiçãoRápida
sobreopergaminhoqueosseparava.– Então, pode começar, Rita – disseHermione serenamente, pescando uma cereja do fundo do
copo.
—CAPÍTULOVINTEESEIS—Vistoeimprevisto
LunadissevagamentequenãosabiaquandoaentrevistadeHarrycomRitaaparecerianoPasquim,pois seu pai estava esperando um longo e interessante artigo sobre as recentes aparições deBufadores de Chifre Enrugado, e, naturalmente, seria uma história muito importante, então aentrevistadeHarrytalveztivessedeaguardaropróximonúmero.Harry não achou uma experiência fácil falar sobre a noite em que Voldemort retornara. Rita
extraiudelecadamínimodetalheeele lhepassoutudoquelembrava,sabendoqueeraumagrandeoportunidadedecontaraverdadeparaomundo.Perguntava-secomoaspessoasreagiriam.Imaginouque a história confirmaria para muita gente a visão de que ele era completamente doido,especialmenteporqueapareceriaaoladodeumaabsolutatolicesobreBufadoresdeChifreEnrugado.MasafugadeBelatrizLestrangeeseuscompanheirosComensaisdaMortetinhadadoaHarryumdesejoardentedefazeralgumacoisa,produzisseounãoresultados...–Mal posso esperar para ver o que aUmbridge pensa de você falar publicamente – comentou
Dino, parecendo assombrado no jantar de segunda-feira à noite. Simas despejava goela abaixograndesgarfadasdetortadefrangocompresunto,sentadodooutroladodeDino,masHarrysabiaqueeleestavaescutando.–Éocerto,Harry–disseNeville,sentadodefronte.Estavamuitopálido,mascontinuouemvoz
baixa.–Devetersido...dureza...falardisso...nãofoi?–Foi–balbuciouHarry–,masaspessoasprecisamsaberdoqueVoldemortécapaz,não?–Comcerteza–disseNevilleconcordandocomacabeça–,eosComensaisdaMortetambém...as
pessoasprecisamsaber...Nevilledeixouafrasenoarevoltouaatençãoparasuabatataassada.Simasergueuacabeça,mas
quando seuolhar encontrouodeHarry ele tornou abaixá-lodepressaparaoprato.Transcorridoalgumtempo,Dino,SimaseNevillesaíramparaasalacomunal,deixandoHarryeHermioneàmesaesperandoporRony,queaindanãovierajantarporcausadotreinodequadribol.Cho Chang entrou no salão com a amiga Marieta. O estômago de Harry deu uma sacudida
desagradável,masagarotanãoolhouparaamesadaGrifinória,esesentoudecostasparaele.–Ah,meesquecideperguntar–disseHermione,animada,dandoumaolhadarápidanamesada
Corvinal–,queaconteceunoseuencontrocomCho?Porquevocêvoltoutãocedo?– Aah... bom, foi... – começou Harry puxando um prato de doce de ruibarbo para perto e se
servindomaisumavez–umcompletofiasco,jáquevocêestáperguntando.EcontouaelaoqueaconteceranacasadechádeMadamePuddifoot.–...então–concluiualgunsminutosdepois,quandooúltimobocadinhodedocedesapareceu–,ela
se levanta de repente, certo, e diz: A gente se vê por aí, Harry... e sai correndo da loja! – Eledescansou a colher e olhou para Hermione. – Quero dizer, por que foi tudo isso? Que é queaconteceu?HermioneolhouparaanucadeChoesuspirou.–Ah,Harry–dissetristonha.–Bom,sintomuito,masvocênãotevemuitotato.–Eunãotivetato?!–exclamouHarryindignado.–Emummomentoestávamosnosdandobem,e
no momento seguinte ela estava me dizendo que Rogério Davies a convidou para sair e comocostumavairàdrogadaquelacasadecháparaficarbeijandooCedrico:comoéquevocêachaqueeudeviareagir?– Bom, sabe – disse Hermione com o ar paciente de alguém que explica a uma criança
temperamentalqueummaisuméigualadois–,vocênãodeviaterditoaelaquequeriaseencontrarcomigonomeiodonamoro.–Mas,mas–tartamudeouHarry–...vocêmepediuparaencontrá-laaomeio-diaeatélevarCho
junto,comoéqueeuiafazerissosemdizeraela?–Vocêdeviaterditodemaneiradiferente–explicouHermione,aindacomaqueleexasperantear
depaciência.–Deviaterditoqueeraumachatice,masqueeutinha feitovocêprometer iraoTrêsVassouras, e que você na verdade não queria ir, que preferia passar o dia inteiro com ela, masinfelizmenteachavaqueeraimportanteseencontrarcomigoeseela,porfavor,porumgrandefavor,pudesse ircomvocêe,assim,quemsabe,dariaparavocêsairmaisdepressa.E tambémteriasidoumaboaideiamencionarquevocêmeachafeia–acrescentouHermionerefletindo.–Maseunãoachovocêfeia!–exclamouHarry,confuso.Hermionedeuumarisada.–Harry,vocêépiordoqueoRony...bom,não,nãoénão–suspirou,nahoraemqueRonyentrava
nosalãosujode lamaeparecendomal-humorado.–VocêaborreceuaChoquandodisseque iaseencontrar comigo, então ela tentou fazer ciúmes. Foi uma maneira de tentar descobrir se vocêgostavadela.– Era isso que ela estava fazendo? – admirou-se Harry, enquanto Rony se sentava no banco
defronte, e puxavaparaperto todosos pratos que conseguiu alcançar. –Bom,não teria sidomaisfácilsemeperguntasseseeugostavamaisdelaoudevocê?–Asgarotasmuitasvezesnãofazemperguntasdessetipo.–Poisdeviam!–disseHarrycomveemência.–Entãoeupodiatersimplesmenterespondidoque
gostomaisdela,eelanãoprecisariaficaroutraveznervosacomamortedoCedrico!–EunãoestoudizendoqueChofoisensata–disseHermionequandoGinase reuniuaeles, tão
enlameada quanto Rony e igualmente chateada. – Estou só tentando mostrar como ela estava sesentindonaquelemomento.–Vocêdevia escreverum livro– sugeriuRonyaHermioneenquanto cortava asbatatas emseu
prato–,traduzindoasmaluquicesqueasgarotasfazemparaosgarotospoderementendê-las.– É – apoiou Harry com sinceridade e fervor, olhando para amesa da Corvinal, onde Cho se
levantara, e, ainda sem olhar para ele, saiu do salão. Sentindo-semeio deprimido, voltou-se paraRonyeGina:–Então,comofoiotreinodequadribol?–Umpesadelo–respondeuRony,mal-humorado.–Ah,qualé?–disseHermione,olhandoparaGina.–Tenhocertezadequenãofoitão...–Foi,sim–confirmouGina.–Foiumespanto.Angelinaquasesedesmanchouemlágrimasmais
paraofinal.Rony e Gina saíram para tomar banho depois do jantar; Harry e Hermione voltaram para a
movimentada sala comunal da Grifinória e amontanha habitual de deveres de casa. Harry estavahavia meia hora às voltas com uma nova carta estelar para Astronomia quando Fred e Jorgeapareceram.–RonyeGinanãoestãoaqui?–perguntouFred,correndoosolhospelasalaaomesmotempoque
puxavaumacadeira,equandoHarrysacudiunegativamenteacabeça,falou:–Quebom.Estivemosassistindoaotreinodeles.Vãosermassacrados.Aequipeficouumlixosemagente.–Ah,peraí,Ginanãoé ruim–disse Jorgequerendoser justo, sentando-seao ladodo irmão.–
Aliás,nemseicomoconseguiusertãoboa,jáqueagentenuncaadeixoujogarconosco.
–Elaarrombavaobarracoemquevocêsguardamvassourasnojardimdesdeosseisanosetiravaoraumavassouraoraoutraquandovocêsnãoestavamporperto–disseHermionede trásde suapilhainstáveldelivrosdeRunasAntigas.–Ah!–exclamouJorgelevementeimpressionado.–Bom:issoexplica.– Rony já defendeu algum gol? – perguntou Hermione, espiando por cima de Hieróglifos e
logogramasmágicos.– Bom, ele é capaz de defender quando acha que não tem ninguém observando – disse Fred
olhandoparaoteto.–Entãonosábadosóoqueagenteprecisafazerépediraosespectadoresparaviraremascostasebateremumpapotodasasvezesqueagolesforarremessadaparaoladodele.Eletornouaselevantarinquietoefoiatéajanelaespiarosterrenosescurosdaescola.–Sabe,oquadriboleraquaseaúnicacoisaquefaziaestelugarvalerapena.Hermionelançou-lheumolharsério.–Seusexamesestãochegando.–Jálhedisseantes,nãoestamospreocupadoscomosN.I.E.M.s–retorquiuFred.–OskitsMata-
Aulaestãoprontosparaolançamento,descobrimoscomonoslivrardaquelesfurúnculos,bastaumasgotasdeessênciademurtiscopararesolveroproblema.FoiLinoquemnossugeriu.Jorgedeuumgrandebocejoeolhoudesconsoladoparaocéunubladodanoite.–Nemseisequeroassistiraessejogo.SeZacariasSmithnosderrotar,tereidemematar.–Ou,maisprovavelmente,matarele–disseFredcomfirmeza.–Esseéoproblemadoquadribol–disseHermionedistraidamente,maisumavezdebruçadasobre
suatraduçãodasRunas–;criaessaanimosidadeetensãoentreasCasas.ElaergueuacabeçaparaprocuraroexemplardoSilabáriodeSpellmanesurpreendeuFred,Jorge
e Harry, os três olhando-a com expressões nos rostos em que se mesclavam a aversão e aincredulidade.–Eémesmo!–exclamouelacomimpaciência.–Ésóumjogoounãoé?–Hermione–disseHarry,sacudindoacabeça–,vocêéboaemsentimentoseoutrascoisas,mas
simplesmentenãoentendedequadribol.–Talveznão–disseela,ameaçadora,voltandoàtradução–,maspelomenosaminhafelicidade
nãodependedahabilidadedeRonydefendergols.EemboraHarrypreferisse terdeseatirardaTorredeAstronomiaaadmitir issoparaaamiga,
depoisdeassistirao jogonosábadoseguinteele teriadadoosgaleõesque lhepedissemparanãogostardequadribol.Amelhorcoisaquesepoderiadizersobreapartidaéquefoicurta;osespectadoresdaGrifinória
sóprecisaramsuportarvinteedoisminutosdeagonia.Eradifícildizeroquefoipior:Harryachouopáreo duro entre o décimo quarto frango deRony, Sloper acertar a boca deAngelina em vez dobalaço e Kirke gritar e cair para trás, quando Zacarias Smith passou veloz por ele carregando agoles.Omilagre foiqueaGrifinória sóperdeupordezpontos:Ginaconseguiucapturaropomobem embaixo do nariz do apanhador da Lufa-Lufa, Summerby, de modo que o placar final foiduzentosequarentaaduzentosetrinta.–Boacaptura–disseHarryaGinajánasalacomunal,ondeaatmosferalembravaadeumenterro
particularmentedesanimado.–Tive sorte – disse encolhendoos ombros. –Não era umpomomuito veloz eSummerby está
gripado,espirrouefechouosolhosexatamentenahoraerrada.Emtodoocaso,quandovocêtivervoltadoàequipe...–Gina,fuiproibidodejogarparasempre.–VocêfoiproibidoenquantoUmbridgeestivernaescola–corrigiuagarota.–Fazdiferença.De
qualquermaneira, quandovocê tiver voltado, achoque voume candidatar a artilheira.Angelina e
Alíciavãosairnoanoquevem,eeuprefiromarcargolsaapanharopomo.HarryolhouparaRony,queestavaencolhidoaumcanto,contemplandoosprópriosjoelhos,uma
garrafadecervejaamanteigadanamão.–Angelinacontinuaanãoquererqueelesedemita–disseGina,comoselesseospensamentosde
Harry.–Dizquesabequeeletemjeitoparaacoisa.HarrygostavadeAngelinapelaféquedemonstravateremRony,mas,aomesmotempo,achava
queseriarealmentemaiscaridosopermitirqueelesaíssedaequipe.Ronydeixaraocamposoboutrocoroatroadorde“Weasleyénossorei”,cantadocomomaiorgostopelosalunosdaSonserina,casaqueagoraeraafavoritaparaaCopadeQuadribol.FredeJorgeseaproximaram.–Nãotenhonemcoragemdecurtircomacaradele–disseFred,olhandoparaoirmãoencolhido.
–Vejabem...quandoeleperdeuodécimoquarto...Efezgestosdesencontradoscomosefosseumcachorrinhonadando.–...bom,vouguardarparaasfestinhas,eh?Ronyarrastou-separaacamadepoisdisso.Porrespeitoaosseussentimentos,Harryaguardouum
poucoantesdesubirparaodormitório,paraqueoamigopudesse fingirqueestavadormindo, sequisesse.Ditoefeito,quandofinalmenteentrounoquartoRonyestavaroncandoumpouquinhoaltodemaisparaserinteiramenteplausível.Harrysedeitoupensandonojogo.Foraimensamentefrustranteassistiraeledalateraldocampo.
Estavamuito impressionadocomodesempenhodeGina,mas sabiaque seestivesse jogando teriacapturadoopomoantes...tinhahavidoummomentoemqueabolinhaesvoaçarapertodotornozelodeKirke;seGinanãotivessehesitado,poderiaterconquistadoavitóriaparaaGrifinória.UmbridgeassistiasentadaalgunsníveisabaixodeHarryeHermione.Umaouduasvezesvirara-se
paraespiá-lo,suabocalargadesapodistendidanoqueeleimaginaraserumsorrisodetriunfo.Sódelembrar,sentia-sequentederaivadeitadoalinoescuro.Depoisdealgunsminutos,porém,lembrou-sedequedevia esvaziar amentede todaemoçãoantesdedormir, conformeSnapenãoparavaderecomendaraofimdecadaauladeOclumência.Harry tentou por uns momentos, mas pensar em Snape, depois de se lembrar da Umbridge,
meramente aumentava sua sensaçãode surdo rancor, e, emvezdisso, viu-se focalizandooquantodetestava os dois. Aos poucos, os roncos de Rony foram se perdendo na distância e sendosubstituídos pelo som de uma respiração lenta e profunda. Harry levou muito mais tempo paraadormecer;sentiaocorpocansado,masseucérebrodemorouasefechar.SonhouqueNeville e aProfa Sprout estavamvalsando naSala Precisa ao somde uma gaita de
folesqueaProfaMcGonagalltocava.Eleosobservouporunsmomentos,entãoresolveuirprocurarosoutrosmembrosdaAD.Mas,quandosaiudasaladeparou,nãocomatapeçariadeBarnabás,oAmalucado,mascomum
archoteardendoemseusuportenaparededepedra.Elevirouacabeçalentamenteparaaesquerda.Lá,naextremidadedocorredorsemjanelas,haviaumaportacomumpreta.Caminhouemsuadireçãocomumacrescenteexcitação.Teveaestranhasensaçãodequedestavez
iafinalmentetersorteedescobrirojeitodeabri-la...jábempróximo,viu,comumsúbitoaumentonessa excitação, que havia uma réstia de claridade azul para o lado direito... a porta estavaentreaberta...eleesticouamãoparaabri-lae...Ronysoltouumroncoautêntico,forteerascante,eHarryacordouderepentecomamãodireita
estendidaàsuafrentenoescuro,querendoabrirumaportaacentenasdequilômetrosdedistância.Eleadeixoucair sentindoaomesmo tempodesapontamentoeculpa.Sabiaquenãodeveria tervistoaporta,masaomesmo temposesentia tãodevoradopelacuriosidadedesaberoquehaviapor trásdelaquenãopôdedeixardesesentiraborrecidocomRony...seeleaomenospudessetersegurado
aqueleroncopormaisumminuto.
Os dois entraram no Salão Principal para tomar o café damanhã exatamente na hora em que ascorujaschegavamcomocorreionasegunda-feira.Hermionenãoeraaúnicapessoaqueesperavaansiosa peloProfetaDiário: quase todos ansiavam por ler mais notícias sobre os Comensais daMortefugitivos,que,apesardeavistadosváriasvezes,aindanãotinhamsidorecapturados.Elapagouà coruja o nuque da entrega e desdobrou o jornal depressa enquanto Harry se servia de suco delaranja;comoelereceberaapenasumbilheteoano inteiro, tevecerteza,quandoaprimeiracorujapousoucomumbaqueàsuafrente,dequeeraengano.–Queméquevocêestáprocurando?–perguntouele,puxandolanguidamenteoseusucodebaixo
dobicodaaveesecurvandoparaverificaronomeeoendereçododestinatário:
HarryPotterSalãoPrincipalEscoladeHogwarts
Enrugandoa testa,ele fezmençãode tiraracartadacoruja,mas,antesqueo fizesse,mais três,quatro,cincocorujaspousaramaoladodaprimeiraeprocuraramumaposição,pisandonamanteiga,derrubandoosaleiro,tentandoentregaracartaantesdasoutras.–Queéqueestáacontecendo?–indagouRonyespantado,quandoamesadaGrifinóriainteirase
inclinouparaolhar,eoutrassetecorujaspousaramentreasprimeiras,berrando,piandoebatendoasasas.–Harry!–disseHermionesemfôlego,enfiandoasmãosnaqueleajuntamentodepenaseretirando
umacoruja-das-torresquetraziaumembrulhocompridoecilíndrico.–Achoqueseioquesignificaisso:abraesteaquiprimeiro!Harry abriu o embrulho pardo. Dele rolou um exemplar compactamente dobrado da edição de
marçodoPasquim.Eleodesenroloueviuopróprio rostosorrindoacanhadoparaelenacapadarevista.Enormesletrasvermelhasatravessadasnafotoanunciavam:
HARRYPOTTERENFIMREVELA:AVERDADESOBREAQUELE-QUE-NÃO-DEVE-SER-NOMEADOEANOITEEMQUEVIUOSEURETORNO
–Parecebom,não?–comentouLuna,quevagaraatéamesadaGrifinóriaeagoraseapertavanobanco entre Fred e Rony. – Saiu ontem, pedi ao papai para lhemandar um exemplar de cortesia.Imaginoquetudoisso–elaacenouabarcandoascorujasqueseempurravamsobreamesadiantedeHarry–sejamcartasdosleitores.–Foioquepensei–disseHermione,ansiosa.–Harryvocêseimportaseagente...?–Sirvam-se–respondeuele,parecendoumpoucoconfuso.RonyeHermionecomeçaramaabrirosenvelopes.–Esta é de umcara que acha que você pirou– disseRony correndoos olhos pela carta. –Ah,
bom...– Esta mulher aqui recomenda que você experimente uma série de Feitiços de Choque no St.
Mungus–disseHermione,parecendodesapontadaeamassandoumasegunda.–Mas esta aqui parece o.k. – disseHarry lentamente, lendo uma longa carta de uma bruxa em
Paisley.–Ei,eladizqueacreditaemmim!–Esteaquiestádividido–disseFred,quesejuntaracomentusiasmoàtarefadeabrirascartas.–
Dizquevocênãopassaa impressãode sermaluco,masqueele realmentenãoacreditaqueVocê-
Sabe-Quem tenha retornado, então, agora não sabe o que pensar. Caracas, que desperdício depergaminho.–Temumaquiquevocêconvenceu,Harry!–disseHermioneexcitada.–Tendolidoasuaversão
dahistória,souforçadoaconcluirqueoProfetaDiáriotemsidoinjustocomvocê...pormenosqueeuqueirapensarqueAquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeadoretornou,souforçadoaaceitarquevocêestáfalandoaverdade...Ah,émaravilhoso!–Outraachaquevocêestásó ladrando–disseRonyatirandoacartaqueamassaraporcimado
ombro–...masestaoutradizquevocêaconverteueelaagoraachaquevocêéumverdadeiroherói:emandajuntoumafoto,uau!–Queéqueestáacontecendoaqui?–perguntouumavozfalsamentemeigaeinfantil.Harryergueuacabeçacomasmãoscheiasdeenvelopes.AProfaUmbridgeestavaempéatrásde
Fred e Luna, seus olhos de sapo esbugalhados esquadrinhando a confusão de corujas e cartas emcimadamesadiantedeHarry.Àssuascostas,eleviumuitosalunosobservando-oscomavidez.–Porquerecebeutodasessascartas,Sr.Potter?–perguntouelalentamente.–Issoagoraécrime?!–exclamouFredemvozalta.–Recebercartas?–Cuidado,Sr.Weasley,ouseráquetereidelhedarumadetenção?–disseUmbridge.–Então,Sr.
Potter?Harryhesitou,masnãoviacomopoderiaabafaroque fizera;agoraeraapenasumaquestãode
tempoatéumexemplardoPasquimchegaràatençãodeUmbridge.–Aspessoasestãomeescrevendoporquedeiumaentrevista.Sobreoquemeaconteceuemjunho
passado.Poralgumarazãoeleolhouparaamesadosprofessoresaodizerisso.Harrytinhaaestranhíssima
impressão de queDumbledore estivera observando-o um segundo antes,mas, quando se virou, odiretorpareciaabsortoemconversacomoProf.Flitwick.–Umaentrevista?–repetiuUmbridge,suavozmaisfinaeagudaquenunca.–Comoassim?–Umarepórtermefezperguntaseeurespondi–disseHarry.–Aqui...EatirouàprofessoraoexemplardoPasquim.Elaoapanhouearregalouosolhosparaacapa.Seu
rosto,cordemassadepão,ficoumalhadodevioleta.–Quandofoiquevocêfezisso?–perguntouela,suavozligeiramentetrêmula.–NoúltimofimdesemanaemHogsmeade.Elaoencarou,incandescentedefúria,arevistatremendoemseusdedoscurtosegrossos.–Nãohaverámais passeios aHogsmeadepara o senhor,Sr. Potter – sussurrou ela. –Como se
atreveu...comopôde...–Elatomoufôlego.–Tenhotentadorepetidamenteensinarvocêanãocontarmentiras.Amensagem,pelovisto,aindanãoentrouemsuacabeça.CinquentapontosamenosparaaGrifinóriaemaisumasemanadedetenções.Elaseafastou,apertandooexemplardoPasquimcontraopeito,seguidapelosolharesdemuitos
alunos.No meio da manhã, enormes avisos haviam sido afixados por toda a escola, não apenas nos
quadrosdasCasas,masnoscorredoresesalasdeaulatambém.
PORORDEMDAALTAINQUISIDORADEHOGWARTS
OestudantequeforencontradodepossedarevistaOPasquimseráexpulso.
AordemacimaestádeacordocomoDecretoEducacionalNúmeroVinteeSete.
Assinado:DoloresJoanaUmbridge,AltaInquisidora
Poralgumarazão,todaasvezesqueHermioneavistavaumdessesavisosseurostoseiluminavadeprazer.–Comqueé,exatamente,quevocêestátãosatisfeita?–perguntou-lheHarry.–Ah,Harry,vocênãoestávendo?–sussurrouHermione.–Seelaquisessefazerumaúnicacoisa
paragarantirquetodoalunodaescolalesseasuaentrevista,eraexatamenteproibirsualeitura!EparecequeHermionetinhatodaarazão.Atéofimdodia,emboraHarrynãotivessevistonem
umpedacinhodoPasquimemlugaralgumdaescola, todospareciamestarcitandoaentrevistaunsparaosoutros.Harryosouviu cochichandonas filas àsportasdas salasde aulas, discutindo-anoalmoçoeno fundodas salas, eHermionechegoua contarqueasmeninasqueestavamusandoosboxesnosbanheirosfalavamnissoquandoelapassouporláantesdaauladeRunasAntigas.–Então elasme viram, e obviamente sabemque sei, entãome bombardearam comperguntas –
contouHermione aHarry, com os olhos brilhando –, eHarry, acho que elas acreditam em você,realmente,achoqueenfimvocêasconvenceu!Entrementes,aProfaUmbridgerondavaaescola,parandoalunosaesmoemandando-osmostrar
os livros e os bolsos. Harry sabia que a professora procurava exemplares do Pasquim, mas osestudantesestavammuitoàfrentedela.AspáginasquecontinhamaentrevistadeHarrytinhamsidoreformatadaspormeiode feitiçosparaparecer cópiasde livros-texto semais alguémas lesse,ouapagadaspormagiaatéqueseusdonosquisessemtornaralê-las.Logopareceuquetodoomundonaescolaviraaentrevista.Os professores obviamente tinham sido proibidos de mencionar a entrevista pelo Decreto
Educacional Número Vinte e Seis, mas assim mesmo encontraram maneiras de expressar suasopiniões.AProfaSproutconcedeuàGrifinóriavintepontosquandoHarrylhepassouoregadordeágua;umsorridenteProf.FlitwickdeuaHarryumacaixaderatinhosdeaçúcarqueguinchavam,aofimdaauladeFeitiços,fazendo:“Psiu!”,eseafastandodepressa;eaProfaTrelawneyirrompeuemsoluços nervosos durante a aula deAdivinhação e anunciou à turma surpresa, e a umaUmbridgeextremamentedesaprovadora,queHarrynãoiamorrercedo,viveriaatéumavelhicemadura,seriaministrodaMagiaeteriadozefilhos.Mas o que deixou Harry mais feliz foi Cho alcançá-lo quando ia correndo para a aula de
Transfiguração no dia seguinte.Antes que ele entendesse o que estava acontecendo, suasmãos seuniram e ela sussurrou em seu ouvido: “Lamentomuito, muitomesmo. Aquela entrevista foi tãocorajosa...mefezchorar.”Eleficoutristeaosaberqueaentrevistaafizeraderramaroutrastantaslágrimas,masmuitoalegre
porvoltaremasefalar,eaindamaissatisfeitoquandoCholhedeuumbeijinhonorostoeseafastoucorrendo.E,o inacreditável, assimquechegouàportada saladeTransfiguração, aconteceuoutracoisaigualmenteboa.Simassaiudafilaparalhefalar.–Eusóqueriadizer–murmurou,fixandocomosolhosapertadosojoelhoesquerdodeHarry–
queacreditoemvocê.Emandeiumexemplardarevistaparaminhamãe.Eseainda fosseprecisomaisalgumacoisaparacompletar sua felicidade,vieramas reaçõesde
Malfoy, Crabbe e Goyle. Harry os viu de cabeças juntas na biblioteca mais para o fim da tarde;estavamemcompanhiadeumgarotofranzinoqueHermionemurmurousechamarTeodoroNott.Osquatro seviraramparaolharHarry,queprocuravanasprateleirasum livro sobreSumiçoParcial:Goyleestalouas juntasdosdedosameaçadoramenteeMalfoycochichoualgumacoisasemdúvidaruim paraCrabbe.Harry sabiamuito bem por que estavam agindo assim: ele citara os pais delescomoComensaisdaMorte.–E omelhor – sussurrouHermione alegremente quando saíramda biblioteca – é que eles não
podemcontradizervocê,porquenãopodemadmitirqueleramoartigo!
E,paracoroar,LunalhedisseaojantarquenuncaumatiragemdoPasquimseesgotaratãorápido.– Papai vai fazer uma segunda tiragem! – contou ela a Harry, com os olhos arregalados de
excitação. – Ele nem consegue acreditar, diz que as pessoas parecem ainda mais interessadas naentrevistadoquenosBufadoresdeChifreEnrugado!Harry foi herói na sala comunal da Grifinória àquela noite. Atrevidos, Fred e Jorge tinham
lançado umFeitiçoAmpliador na capa doPasquim e a penduraram na parede, para que a cabeçagigantesca deHarry contemplasse os colegas do alto e ocasionalmente dissesse frases do tipo:OMINISTÉRIO É RETARDADO e COMABOSTA, UMBRIDGE em voz ressonante. Hermione nãoachouissomuitodivertido;dissequeinterferiacomsuaconcentraçãoeacabouindosedeitarcedo,irritada.Harrytevedeadmitirqueocartazperdeuagraçaumaouduashorasdepois,principalmentequando o Feitiço da Fala começou a se desgastar e se ouviam apenas palavras desconexas como“BOSTA”e“UMBRIDGE”,aintervalossempremaisfrequentes,emumtomprogressivamentemaisalto.Defato,começoualhedardordecabeça,esuacicatrizrecomeçouaformigarincomodamente.Para os gemidos de desapontamento dos muitos colegas que estavam sentados ao seu redor, lhepedindoque recontasseaentrevistapelamilésimavez, ele tambémanunciouqueprecisavadormircedo.Odormitórioestavavazioquandochegoulá.Porummomentoeledescansouatestanovidrofrio
dajanelaaoladodesuacama;ogestopareceualiviaraqueimaçãonacicatriz.Entãoelesedespiuesedeitou,desejandoqueadordecabeçapassasse.Sentia-setambémumpoucoenjoado.Virou-sedelado,fechouosolhoseadormeceuquaseinstantaneamente.Estavaparadoemumasalaescuracomcortinas, iluminadaporumúnicocandelabro.Suasmãos
apertavamo encostodeumapoltrona à frente.Erammãosdededos finos ebrancos como senãovissem sol havia anos, e lembravam aranhas grandes e descoradas contra o veludo escuro dapoltrona.Mais além, em um círculo de luz projetado no chão pelo candelabro, achava-se ajoelhado um
homemdevestesnegras.–Fuimalaconselhado,peloqueparece–disseHarrynumtomdevozagudoefrioquevibravade
raiva.–Senhor, peçoo seuperdão–disse roucoohomemajoelhadono chão.Aparte de trásde sua
cabeçarefulgiaàluzdasvelas.Elepareciatremer.–Nãoestouculpandovocê,Rookwood–disseHarrynaquelavozfriaecruel.Largouentão apoltronae contornou-a, aproximando-sedohomemencolhidonochão, eparou
diretamentesobreele,aindanasombra,olhandodeumaalturamuitomaiordoqueanormal.–Vocêtemcertezadesuasinformações,Rookwood?–perguntouHarry.–Tenhosim,milorde...afinal...afinaleucostumavatrabalharnodepartamento.–AverymedissequeBodepoderiaretirá-la.–Bodejamaispoderiaterfeitoisso,milorde...Bodesabiaquenãopoderia...semdúvidafoiessaa
razãoporquelutoutantocontraaMaldiçãoImperiuslançadaporMalfoy.–Levante-se,Rookwood–sussurrouHarry.Ohomemajoelhadoquasetropeçounapressadeobedecer.Seurostoerabexiguento;asmarcasse
destacavamà luz das velas.Ele continuouumpouco curvado,mesmo empé, como emumameiareverência,elançavaolharesaterrorizadosaorostodeHarry.–Você fezbememme informar–disseHarry.–Muitobem...Pelovisto,desperdiceimesesem
planos infrutíferos...mas não importa... recomeçaremos a partir de agora.Você tem a gratidão deLordeVoldemort,Rookwood...–Milorde...sim,milorde...–exclamouRookwood,suavozroucadealívio.–Precisareidesuaajuda.Precisareidetodasasinformaçõesquepudermedar.
–Naturalmente,milorde,naturalmente...oqueprecisar.–Muitobem...podeseretirar.MandeAveryfalarcomigo.Rookwoodrecuouapressado,decostas,securvando,edesapareceupelaporta.Deixado só no aposento escuro, Harry se virou para a parede. Havia um espelho rachado e
manchadopelo temponaparedesombreada.Harryencaminhou-separaele.Sua imagemse tornoumaioremaisclaranoescuro...umrostomaisbrancodoqueumacaveira...osolhosvermelhoscomfendasemlugardepupilas.–NÃÃÃÃÃÃÃÃO!–Quê!–berrouumavozpróxima.Harrysedebateucomoumlouco,seenrolounascortinasecaiudacama.Poralgunssegundosnão
soube onde estava; convencido de que iria rever o rosto branco e escaveirado assomando dassombras,entãomuitopertodelefalouavozdeRony.–Querparardeagirfeitoummaníacoparaeupodertirarvocêdaqui?Ronypuxouascortinase,àclaridadedoluar,Harryarregalouosolhosparaele,deitadodecostas,
acicatrizqueimandodedor.Pelojeito,Ronyestavasepreparandoparadeitar;tinhaumbraçoforadoroupão.–Alguém foi atacado outra vez? – perguntou, erguendoHarry, com esforço, do chão. – Foi o
papai?Foiaquelacobra?–Não...estão todosbem...–ofegouHarry,cuja testapareciaemfogo.–Bom...Averynãoestá...
estáenrascado...passouparaeleinformaçõeserradas...Voldemortestáfurioso...Harrygemeueafundounacama,tremendo,esfregandoacicatriz.–MasRookwoodvaiajudá-loagora...eleestáoutraveznocaminhocerto...–Doque é que você está falando? – perguntouRony, amedrontado. –Você está dizendo... você
acaboudeverVocê-Sabe-Quem?–EueraVocê-Sabe-Quem– disseHarry, esticando asmãos no escuro e erguendo-as diante do
rosto, para ver se continuavam mortalmente pálidas e com os dedos longos. – Ele estava comRookwood,umdosfugitivosdeAzkaban,lembra?RookwoodacaboudecontaraelequeBodenãopoderiaterfeito.–Feitooquê?–Retiradoalgumacoisa...dissequeBodesabiaquenãopoderia...Bodeestavasobainfluênciada
MaldiçãoImperius...achoqueeledissequefoiopaideMalfoyquemalançou.–Bodefoienfeitiçadopararetiraralgumacoisa?–confirmouRony.–Mas,Harry,temdeser...–Aarma.–Harryterminouafraseporele.–Eusei.Aportadodormitórioseabriu;DinoeSimasentraram.Harrypuxouaspernasparacimadacama.
Nãoqueriadaraimpressãodequeacabaradeaconteceralgoestranho,poisSimassórecentementepararadeacharqueeleerapirado.–Vocêdisse–murmurouRony,aproximandoacabeçadeHarryapretextodeajudá-loaseservir
daáguadajarrasobreamesadecabeceira–queeraoVocê-Sabe-Quem?–Disse–confirmouHarrybaixinho.Rony tomouumgole de água exagerado e desnecessário;Harryviu a água escorrer doqueixo
paraopeitodoamigo.– Harry – disse ele, enquanto Dino e Simas andavam pelo quarto fazendo barulho, tirando os
roupõeseconversando–,vocêtemdecontar...– Não tenho de contar a ninguém – cortou-oHarry. – Não teria visto nada se soubesse usar a
Oclumência.Jádeviateraprendidoafecharminhamenteatudoisso.Éoqueelesquerem.Poreles,HarrysereferiaaDumbledore.Tornouasemeterembaixodascobertaseasevirarpara
olado,dandoascostasaRony,epoucodepoisouviuocolchãodoamigoranger,quandoeletambém
sedeitou.AcicatrizdeHarryrecomeçouaqueimar;elemordeuotravesseiroparanãofazerbarulho.Emalgumlugar,sentia,Averyestavasendocastigado.Harry e Rony esperaram até de manhã para contar a Hermione exatamente o que acontecera;
queriam ter absoluta certezadequeninguémosouviria.Paradosnocantohabitualdopátio frio eventoso, Harry lhe contou cada detalhe do sonho de que pôde se lembrar. Quando terminou, elacontinuou calada por um momento, mas fixou com uma intensidade penosa Fred e Jorge, queestavamsemcabeçavendendoseuschapéusmágicosporbaixodascapas,dooutroladodopátio.–Entãofoiporissoqueomataram–concluiuemvozbaixa,desviandofinalmenteoolhardeFred
eJorge.–QuandoBodetentouroubaraarma,lheaconteceualgumacoisaestranha.Achoquedevehaverfeitiçosdefensivosnaarma,ouemvoltadela,paraimpedirqueaspessoasapeguem.EraporissoqueeleestavanoSt.Mungus,comocérebrodestrambelhado,semconseguirfalar.Maslembramdo que a Curandeira nos disse? Bode estava se recuperando. E não podiam arriscar que elemelhorasse, não é? Quero dizer, o choque do que aconteceu quando ele tocou naquela armaprovavelmentedesfezaMaldiçãoImperius.Quandorecuperasseavoz,eleexplicariaoqueestiverafazendo,nãoé?Então saberiamqueele foraenviadopara roubaraarma.Naturalmente, teria sidofácilparaLúcioMalfoylançaramaldiçãosobreBode.NuncasaidoMinistério,nãoé?–Eeleandavaporlánodiadaminhaaudiência–disseHarry.–No...calmaaí...–disselentamente.
– Estava no corredor do Departamento de Mistérios naquele dia! Seu pai comentou que eleprovavelmenteestavaquerendobisbilhotar edescobriroque tinhaacontecidonaminhaaudiência,masese...–Estúrgio!–exclamouHermione,estupefata.–Comodisse?–perguntouRony,parecendoconfuso.–EstúrgioPodmore–disseHermionesemfôlego.–Presoportentarpassarporumaporta!Lúcio
Malfoydeveterpegoeletambém!Apostoquefezissonodiaemquevocêoviulá,Harry.EstúrgioestavausandoaCapadaInvisibilidadedeMoody,certo?Então,eseeleestivesseguardandoaporta,invisível, eMalfoyoouvissemexer,ouadivinhasseque tinhaalguémali,ou simplesmente tivesselançado aMaldição Imperius contando que houvesse alguém guardando a sala? Portanto, quandoEstúrgio teve oportunidade, quando foi novamente sua vez de tirar serviço, ele tentou entrar noDepartamentodeMistériospararoubaraarmaparaVoldemort,Rony,fiquequieto,masfoiapanhadoemandadoparaAzkaban...ElaolhouparaHarry.–EagoraRookwooddisseaVoldemortcomoconseguiraarma?–Eunãoouviaconversatoda,masfoioquemepareceu–disseHarry.–Rookwoodcostumava
trabalharlá...quemsabeVoldemortvaimandaroRookwoodfazeroserviço?Hermione acenou a cabeça, aparentemente com os pensamentos ainda longe. Então, de repente,
falou:–Masvocênãodeviatervistoisso,Harry,dejeitonenhum.–Quê?!–exclamouele,surpreso.– Você devia estar aprendendo a fechar a mente a esse tipo de coisa – disse Hermione, com
inesperadaseveridade.–Seiquedevia–disseHarry.–Mas...–Bom,achoquevocêdeviatentaresqueceroqueviu–faloucomfirmeza.–Edeagoraemdiante
seesforçarmaisparaaprendersuaOclumência.A semana nãomelhorou com o passar dos dias. Harry recebeu outros dois “D” em Poções; e
continuouaflitocomaperspectivadeHagridserdemitido;enãoconseguiuparardepensarnosonhoem que fora Voldemort, embora não tornasse a mencioná-lo para Rony e Hermione; não queriareceber outro passa-fora da amiga.Desejoumuito conversar com Sirius,mas isso estava fora de
questão,entãotentouafastaroassuntoparaofundodacabeça.Infelizmenteofundodesuacabeçajánãoeraolugarseguroqueforanopassado.–Levante-se,Potter.UmasduassemanasdepoisdosonhocomRookwood,Harryseveria,maisumavez,ajoelhadono
chãodasaladeSnape,tentandoesvaziaramente.Acabaradeserforçado,maisumavez,aaliviarumfluxo de lembranças infantis que nem sequer sabia que ainda guardava, a maior parte ligada ahumilhaçõesqueDudaesuaturmalhehaviaminfligidonoensinofundamental.–Aúltimalembrança–disseSnape.–Qualfoi?–Nãosei–respondeuHarry,levantando-secansado.Estavaencontrandoumadificuldadecrescente
emseparar lembrançasdistintasdofluxode imagensesonsqueSnapenãoparavadesuscitar.–Osenhorserefereàquelaemquemeuprimotentoumefazerficarempénovasosanitário?–Não–disseSnapesuavemente.–Merefiroàdohomemajoelhadonomeiodeumaposentomal
iluminado...–Nãoé...nada.Os olhos escuros de Snape perfuraram os deHarry. Lembrando-se do que o professor dissera
sobreaextremaimportânciadocontatovisualparaaLegilimência,Harrypiscouedesviouosolhos.–Comoéqueaquelehomemeaqueleaposento forampararemsuamente,Potter?–perguntou
Snape.–Foi...–respondeuHarry,olhandoparatodoladomenosparaSnape–foisó...sóumsonhoqueeu
tive.–Umsonho?Houve uma pausa em que Harry se fixou em um enorme sapo morto dentro de um frasco de
líquidoroxo.– Você sabe para que estamos aqui, não sabe, Potter? – disse o professor em um tom baixo e
perigoso. – Você sabe para que estou cedendo as minhas noites e ocupando-as com essa tarefamonótona?–Sei–disseHarryformalmente.–Entãolembre-meporqueestamosaqui,Potter.–ParaeuaprenderOclumência–disseHarry,agoraolhandoparaumaenguiamorta.–Correto,Potter.Epormaisobtusoquevocêseja–HarryolhouparaSnapeodiando-o–,seriade
esperar que após doismeses de aulas você tivesse feito algum progresso.Quantos outros sonhosvocêtevecomoLordedasTrevas?–Somenteeste–mentiuHarry.– Talvez – disse Snape, apertando ligeiramente seus olhos escuros e frios –, talvez você sinta
prazeremteressasvisõesesonhos,Potter.Talvezelesofaçamsesentirespecial...importante?– Não, não fazem – respondeu Harry de queixo duro e com os dedos apertando o punho da
varinha.–Aindabem,Potter–disseSnapefriamente–,porquevocênãoéespecialnemimportante,enão
cabeavocêdescobriroqueoLordedasTrevasestádizendoaosseusComensaisdaMorte.–Não...essaéasuatarefa,nãoé?–disparouHarry.Nãotiveraintençãodedizerisso;escaparadesuabocacomaraiva.Durantemuitotempoosdois
se encararam, Harry convencido de que fora longe demais. Mas surgira uma expressão curiosa,quasesatisfeitanorostodeSnapequandoelerespondeu.– É, Potter – disse ele com os olhos brilhando. – É a minha tarefa. Agora, se estiver pronto,
recomeçaremos.Eleergueuavarinha:–Um...dois...três...Legilimens!
Cem Dementadores precipitavam-se sobre o lago em direção a Harry... ele fez uma careta deconcentração... estavam se aproximando... via os buracos escuros sob os capuzes... contudo. ViatambémSnapeàsuafrente,osolhosfixosemseurosto,resmungando...eporalgumarazãoSnapefoisetornandomaisnítidoeosDementadoresmaisdifusos...Harryergueuaprópriavarinha.–Protego!Snapecambaleou–suavarinhavoouparalongedeHarry–ederepenteamentedogarotoestava
apinhada de lembranças que não eramdele: umhomemde nariz adunco gritava comumamulherencolhida, enquanto um garotinho de cabelos escuros chorava a um canto... um adolescente decabelos oleosos estava sentado sozinho em um quarto escuro apontando a varinha para o teto,abatendo moscas... uma garota estava rindo das tentativas de um menino magricela que tentavamontarumavassouracorcoveante...–CHEGA!Harry teve a sensaçãodeque levaraumempurrãonopeito; cambaleouváriospassospara trás,
bateuemalgumasprateleirasquecobriamasparedesdeSnapeeouviualgumacoisasepartir.Snapetremialigeiramenteetinhaorostomuitopálido.AscostasdasvestesdeHarryestavamúmidas.Umdosfrascosàssuascostasquebraranacolisão;
acoisaviscosaemconservaquehaviadentrogiravanorestinhodapoçãoderramada.–Reparo–sibilouSnape,eofrascotornouasefecharimediatamente.–Bom,Potter...semdúvida
istofoiumprogresso...–Umpoucoofegante,SnapeendireitouaPenseiraemqueelemaisumavezguardara os pensamentos antes de começar a aula, quase como se ainda estivesse verificando secontinuavamali.–Nãomelembrodeter-lheditoparausarumFeitiçoEscudo...massemdúvidafoieficiente...Harry não falou; sentiu que dizer qualquer coisa poderia ser perigoso. Tinha certeza de que
acabarade invadiras lembrançasdeSnape,queacabaradevercenasda infânciadoprofessor.Eraassustadorpensarqueogarotinhoquechoravaaoassistiraumabrigadospaisagoraestavadiantedelerevelandotantodesprezonoolhar.–Vamostentaroutravez?–disseSnape.Harrysentiuumaexcitaçãode temor;estavaprestesapagarpeloqueacabaradeacontecer,com
certeza.Elesvoltaramàposiçãoemqueamesaseinterpunhaaosdois,Harryachandoquedestaveziatermuitomaisdificuldadeparaesvaziaramente.–Quandoeucontartrês,então–disseSnapeerguendoavarinha.–Um...dois...Harry não tinha tido tempo de se dominar e tentar esvaziar a mente e Snape já gritava:
“Legilimens!”EleestavacorrendopelocorredordoDepartamentodeMistérios,deixandopara trásasparedes
vazias,osarchotes–aportapretaesimplesiacrescendo;estavacorrendotãodepressaqueiacolidircomaporta,estavaaummetrodelaemaisumavezviaaréstiadeluzazulada...Aporta se abrira!Ele a atravessou finalmente, e entrou emuma sala circular depiso e paredes
pretas, iluminada por velas de chamas azuis, e havia outras portas a toda volta – ele precisavaprosseguir–,masqueportadeveriaescolher...?–POTTER!Harry abriu os olhos. Estava caído de costas outra vez, sem lembrança de ter chegado à sala;
ofegava como se tivesse corrido toda a extensão do corredor do Departamento de Mistérios,realmentevaradoaportapretaeencontradoasalacircular.–Explique-se!–disseSnape,queestavaempéaoladodele,parecendofurioso.–Nãoseioqueaconteceu–disseHarrycomsinceridade,levantando-se.Haviaumgalonapartede
trásdesuacabeçanopontoemquebateranochãoeelesesentiafebril.–Nuncaviissoantes,quero
dizer,eulhedisse,sonheicomaporta...masnuncaesteveabertaantes...–Vocênãoestáseesforçandobastante!Por alguma razão, Snape estava aindamais furioso do que há doisminutos, quandoHarry vira
suaslembranças.–Vocêépreguiçosoedesleixado,Potter,édeadmirarqueoLordedasTrevas...–Seráqueosenhorpodemedizerumacoisa?–disse,disparandomaisumavez.–Porquechama
VoldemortdeLordedasTrevas?AtéhojesóouviComensaisdaMorteochamaremassim.Snapeabriuabocaemumesgar–umamulhergritouemalgumlugarforadasala.Oprofessorvirouacabeçaabruptamenteparaoaltoeficouobservandooteto.–Qued...?–resmungou.HarryouviuumaagitaçãoabafadanoSaguãodeEntrada.Snapeolhouparaoslados,franzindoa
testa.–Vocêviualgumacoisaanormalquandoveio,Potter?Harrysacudiuacabeçanegativamente.Emalgumlugaracimaamulhertornouagritar.Snapese
dirigiu a passos largos para a porta, a varinha em riste, e desapareceu de vista.Harry hesitou ummomento,entãoseguiu-o.Os gritos vinham de fato do Saguão de Entrada; tornaram-se mais fortes à medida que Harry
corriaemdireçãoaosdegrausdepedradasmasmorras.Quandochegouaoalto,encontrouosaguãocheio; os alunos tinham acorrido emmassa do Salão Principal, onde o jantar ainda estava sendoservido, para ver o que estava acontecendo; outros lotavam a escadaria demármore.Harry abriucaminhopor umgrupo compacto de alunos altos daSonserina, e viu que os espectadores haviamformado um grande círculo, uns pareciam chocados, outros até temerosos. A Profa McGonagallestavadefronteaHarrydooutroladodosaguão;davaaimpressãodeestarsesentindoligeiramentenauseadacomoquevia.AProfaTrelawneyencontrava-senomeiodoSaguãodeEntradacomavarinhaemumadasmãose
umagarrafavaziadexereznaoutra,parecendocompletamentetresloucada.Seuscabelosestavamempé, os óculos de tal maneira tortos que um olho estava mais aumentado do que o outro; seusinúmerosxalesecachecóiscaíamdesalinhadosdosombros,dandoa impressãodequeelaprópriaestavaserompendo.Haviadoismalõesnochãoaosseuspés,umdelesdetampaparabaixo;davaaimpressãodequeforaatiradoatrásdela.AProfaTrelawneyolhavafixamente,cheiade terror,paraalgumacoisaqueHarrynãopodiaver,masquepareciaestarparadaaopédaescadaria.–Não!–gritavaela.–NÃO!Istonãopodeestaracontecendo...nãoposso...merecusoaaceitar!– Você não viu que isso ia acontecer? – perguntou uma voz infantil e aguda, parecendo
insensivelmente risonha, eHarry deslocando-se ligeiramente para a direita, constatou que a visãoaterrorizantedeTrelawneyeranadamaisqueaProfaUmbridge.–Incapazcomovocêédepreveratéo tempo que vai fazer amanhã, certamente deve ter percebido que o seu lamentável desempenhoduranteasminhasinspeções,eaausênciademelhoria,tornariainevitávelasuademissão?–Vocênãop-pode!–berrouaProfaTrelawney,aslágrimasescorrendopelorostoporbaixodas
lentesenormes.–Vocênãopodemedemitir!Est-touaquihádezesseisanos!H-Hogwartséaminhac...c-casa!–Erasuacasa...–disseaProfaUmbridge,eHarrysentiurevoltadeveroprazerquedistendiaa
caradesapodaUmbridgeenquantoapreciavaaTrelawneyafundar,soluçandodescontrolada,sobreumdosmalões–...atéumahoraatrás,quandooministrodaMagiacontra-assinouaordemparasuademissão.Agora,tenhaabondadedeseretirardosaguão.Vocêestánosconstrangendo.Mas ela continuou contemplando, com uma expressão de prazer triunfante, a Profa Trelawney
tremer e gemer, balançando-se para a frente e para trás em seumalão, tomada de paroxismos depesar.Harryouviuumsoluçoabafadoàsuaesquerdaesevirou.LiláeParvatichoravambaixinho,
abraçadas.Ouviuentãopassos.AProfaMcGonagallsedestacavadosespectadores,marcharadiretoparaTrelawneyeestavalhedandopalmadinhasfirmesnascostas,aomesmotempoquepuxavaumenormelençodedentrodasvestes.– Pronto, pronto, Sibila... se acalme... assoe o nariz no lenço... não é tão ruim quanto você está
pensando,agora...vocênãovaiprecisarsairdeHogwarts...–Ah,sério,ProfaMcGonagall?!–exclamouUmbridgeemtomletal,dandoalgunspassosàfrente.
–Easuaautoridadeparaafirmarissoé...?–Aminha–disseumavozgrave.Asportasdecarvalhodaentradatinhamseaberto.Osestudantesdeambososladosseafastaram
depressa, e Dumbledore apareceu na entrada. O que ele andara fazendo lá fora Harry nem podiaimaginar, mas havia algo impressionante naquela visão recortada contra a noite estranhamentebrumosa.Deixando as portas escancaradas, ele atravessou o círculo de espectadores emdireção àtrêmulaProfaTrelawney,sentadanomalãocomorostomanchadodelágrimas,eàProfaMcGonagallaoseulado.–Sua,Prof.Dumbledore?–disseUmbridgecomumarisadinhaparticularmentedesagradável.–
Receioqueosenhornãoestejaentendendoasituação.Tenhoaqui...–elapuxouumpergaminhodedentrodasvestes–umaordemdedemissãoassinadapormimepeloministrodaMagia.DeacordocomoDecretoEducacionalNúmeroVinteeTrês, aAlta InquisidoradeHogwarts temopoderdeinspecionar,colocar sobobservaçãoedemitirqualquerprofessorqueela, istoé,eu,achequenãoestá desempenhando suas funções conforme exige o Ministério da Magia. Eu decidi que a ProfaTrelawneyestáabaixodopadrãoesperado.Euademiti.ParagrandesurpresadeHarry,Dumbledorecontinuouasorrir.ElebaixouosolhosparaaProfa
Trelawney,quecontinuavaasoluçareaengasgaremcimadomalão,edisse:–A senhora está certa, é claro, Profa Umbridge. ComoAlta Inquisidora, a senhora tem todo o
direito de despedirmeus professores.No entanto, não tem autoridade para expulsá-los do castelo.Receio – continuou ele com uma leve reverência – que o poder de fazer isto ainda pertença aodiretor,eémeudesejoqueaProfaTrelawneycontinuearesidiremHogwarts.Aoouvirisso,Trelawneydeuumarisadinhatresloucadaquemalescondiaumsoluço.– Não... não, eu v-vou, Dumbledore! V-vou embora de Hogwarts p-procurar minha fortuna
algures...–Não–afirmouDumbledorecomseveridade.–Émeudesejoquevocêpermaneça,Sibila.ElesevirouentãoparaaProfaMcGonagall.–SeráquepossolhepedirparaacompanharSibiladevoltaaosaposentosdela?–Éclaro–disseMcGonagall.–Vamos,levante-se,Sibila...AProfaSproutsaiucorrendodaaglomeraçãoesegurouooutrobraçodeTrelawney.Juntas,elas
passaramporUmbridgeesubiramaescadariademármore.OProf.Flitwickseapressouemsegui-las, empunhando a varinha à frente; disse com a vozinha esganiçada: “Locomotor malas!”, e abagagemdaProfaTrelawneyseergueunoaresubiuasescadasatrásdela,oProf.Flitwickfechouocortejo.A Profa Umbridge estava paralisada, encarando Dumbledore, que continuava a sorrir
bondosamente.–Eoque–perguntouelacomumsussurroqueecooupelosaguão–vocêvaifazercomSibila
quandoeunomearumanovaprofessoradeAdivinhaçãoeprecisardosaposentosdela?–Ah,issonãoseráproblema–disseDumbledoreemtomagradável.–Sabe,jáencontreiumnovo
professordeAdivinhação,eeleprefereficarnoandartérreo.– Você encontrou...?! – exclamou Umbridge estridentemente. – Você encontrou? Permita-me
lembrar-lhe,Dumbledore,que,deacordocomoDecretoEducacionalNúmeroVinteeDois...
–Oministrotemodireitodeindicarumcandidatoadequadose,eapenasse,odiretornãopuderencontrarum–citouDumbledore.–Tenhooprazerdelheinformarquedestavezoencontrei.Possoapresentá-loavocê?Esevirouparaasportasabertas,pelasquaisagoraentravaanévoanoturna.Harryouviuoruído
decascos.Correuummurmúriodeespantopelosaguãoeosqueestavammaispróximosdasportasrapidamenterecuarammais,algunstropeçandonapressadeabrircaminhoparaorecém-chegado.EmmeioànévoasurgiuumrostoqueHarryjáviraemumanoiteescuraetempestuosanaFloresta
Proibida:cabeloslouro-prateadosesurpreendentesolhosazuis;acabeçaeotroncodeumhomemsecompletavamcomocorpodeumcavalobaio.– Este é Firenze – disse Dumbledore, feliz, a uma assombrada Umbridge. – Creio que você o
aprovará.
—CAPÍTULOVINTEESETE—Ocentauroeodedo-duro
–Agora, aposto como você gostaria de não ter desistido de Adivinhação, não é, Hermione? –perguntouParvati,sorrindopresunçosa.Eraahoradocafédamanhã,doisdiasdepoisdademissãodaProfaTrelawney,eParvati estava
enrolandooscíliosnavarinhaeexaminandooefeitonascostasdeumacolher. IamteraprimeiraaulacomFirenzenaquelamanhã.–Nemtanto–disseHermionecomindiferença,lendooProfetaDiário.–Jamaisgosteirealmente
decavalos.Elavirouapáginadojornalepassouosolhospelascolunas.–Elenãoécavalo,écentauro!–disseLilá,chocada.–Umlindocentauro...–suspirouParvati.– Ainda assim, continua a ter quatro patas – replicou Hermione calmamente. – Seja como for,
penseiquevocêsduasestivessemmuitochateadasporTrelawneyteridoembora.–Estamos!–confirmouLilá.–Fomosàsaladelavisitá-la;levamosunsnarcisos:nãodaquelesque
grasnamcomoosdaSprout,dosbonitos.–Comoéqueelaestá?–perguntouHarry.–Nadabem,coitadinha–disseLilá,penalizada.–Estavachorandoedizendoquepreferiadeixaro
castelopara sempre a continuar nomesmo lugar que aUmbridge, e não a culpo, aUmbridge foihorrívelcomela,nãofoi?– Tenho um pressentimento de que a Umbridge só está começando a ser horrível – comentou
Hermionesombriamente.–Impossível–disseRonydevorandoseupratarrazdeovoscombacon.–Elanãopodeficarpior
doqueé.–Poisescrevaoqueestoudizendo,elavaiquerersevingardoDumbledorepornomearumnovo
professorsemconsultá-la–disseHermionefechandoo jornal.–Principalmenteumsemi-humano.VocêviuacaraqueelafezquandoviuoFirenze.Depois do café,Hermione foi para a aula deAritmancia enquantoHarry e Rony seguiam com
ParvatieLiláparaoSaguãodeEntrada,caminhoparaaauladeAdivinhação.–NãovamosparaaTorreNorte?–perguntouRony,intrigadoaoverParvatipassarpelaescadaria
demármoresemsubir.Parvatilhelançouumolhardedesdémporcimadoombro.–ComoéquevocêesperaqueFirenzesubaaquelaescada?Estamosnasalaonzeagora,nãoviuno
quadrodeavisosontem?Asalaonzeeranotérreo,nocorredorquesaíadosaguãoparaoladoopostoaoSalãoPrincipal.
Harrysabiaqueeraumadaquelassalasquenãoeramusadascomregularidade,eporissodavaumaimpressão de abandono como o de um armário ou quarto de guardados.Quando ele entrou logoatrásdeRonyeseviunomeiodeumaclareiraflorestal,ficoumomentaneamenteatordoado.–Quedi...?O piso da sala se revestira de um musgo primaveril no qual se erguiam árvores; seus ramos
folhososbalançavamnotetoenasjanelas,fazendocomqueasalaseenchessederaiosdeumaluzverdesuaveemalhada.Osalunosque jáhaviamchegadoseacomodaramnopiso terroso,comascostasapoiadasnostroncosdasárvoresepedregulhos,eabraçavamaspernasdobradasoucruzadascom força sobre o peito, todos parecendo muito nervosos. Nomeio da clareira, onde não haviaárvores,estavaFirenze.–HarryPotter–disseele,estendendoamãoquandoogarotoentrou.–Aah...oi–cumprimentouHarry,apertandoamãodocentauro,queoexaminousempiscarcom
aquelesolhosespantosamenteazuis,masnãosorriu.–Aah...quebomvervocê.–Evocê–disseocentauro,inclinandoacabeçalouro-prateada.–Estavaescritoquetornaríamosa
nosencontrar.Harry reparou que havia no peito de Firenze a sombra de um hematoma em forma de casco.
Quando se virou para se reunir ao resto da turma sentada no chão, viu que todos o olhavamassombrados, aparentementemuito impressionados que ele falasse comFirenze, que eles acharamassustador.Quandoaportafoifechadaeoúltimoalunosesentouemumtocodeárvoreaoladodacestade
papéis,Firenzefezumgestoenglobandoasalatoda.–OProf.Dumbledoreteveabondadedeprovidenciarestasaladeaulaparanós–disseocentauro,
quando todos se calaram –, imitando omeu hábitat natural. Eu teria preferido ensinar a vocês naFlorestaProibida,quefoi,atésegunda-feira,aminhamorada...masistojánãoépossível.– Por favor... aah... professor... – disse Parvati, ofegante, erguendo a mão – por que não? Já
estivemoslácomHagrid,nãotemosmedo!–Oproblemanãoéasuacoragem–disseFirenze–,masaminhasituação.Nãopossovoltarà
FlorestaProibida.Omeurebanhomebaniu.–Rebanho?!–exclamouLiláconfusa,eHarrypercebeuqueelaestavapensandoemvacas.–Quê...
ah!Acompreensãoseespalhouemseurosto.–Háoutrosiguaisaosenhor?–perguntouatordoada.–Hagridocriou,comofezcomosTestrálios?–perguntouDino,curioso.FirenzeviroulentamenteacabeçaparaencararDino,quepareceupercebernahoraqueacabarade
dizerumacoisamuitoofensiva.–Não...quisdizer...medesculpe–terminouogarotocomavozabafada.–Oscentaurosnãosãoservidoresnembrinquedosdoshumanos–disseFirenzecomcalma.Fez-seumapausa,entãoParvatitornouaergueramão.–Porfavor,professor...porqueosoutroscentaurosobaniram?– Porque eu concordei em trabalhar para o Prof. Dumbledore. E eles encaram isso como uma
traiçãoànossaespécie.Harryse lembroudeque,haviaquasequatroanos,ocentauroAgouro ralharacomFirenzepor
permitirqueHarryo cavalgasse atéum lugar seguro; chamara-ode “mula”.Ficou imaginando seteriasidoAgouroquemescoicearaopeitodeFirenze.–Vamoscomeçar–disseocentauro.Elebalançoualongacaudabaia,ergueuamãoparaodossel
de folhas no alto, então baixou-a lentamente e, ao fazer isso, a claridade da sala diminuiu; agorapareciamqueestavamsentadosemumaclareiraaocrepúsculo,esurgiramestrelasnoteto.Ouviram-seexclamaçõesegritossufocados,eRonyexclamouaudivelmente:“Caracas!”–Deitem-senochão–disseFirenzecalmamente–eobservemocéu.Aliestáescrito,paraosque
sabemler,odestinodasnossasraças.Harrysedeitoueolhouparaocéu.Umaestrelavermelhapiscouparaeleládoalto.– Sei que vocês aprenderam os nomes dos planetas e de suas luas em Astronomia, e que já
mapearam o curso das estrelas no céu. Os centauros foram desvendando os mistérios dessesmovimentosduranteséculos.Nossasdescobertasnosensinamqueofuturopodeservislumbradonocéuquenoscobre...– A Profa Trelawney estudou Astrologia conosco! – disse Parvati, excitada, erguendo a mão à
frentedocorpoparaqueoprofessor avissenoar,umavezqueestavadeitadadecostas.–Martecausaacidentesequeimaduraseoutrosproblemas,equandofazângulocomSaturno,comoagora–eladesenhouumânguloretonoar–,significaqueaspessoasprecisamterextremocuidadoaolidarcomcoisasquentes...–Isso–disseFirenze,calmo–sãotoliceshumanas.AmãodeParvaticaiufrouxamenteaoladodocorpo.–Ferimentosbanais,pequeninosacidenteshumanos–tornouFirenze,pateandoochãocobertode
musgo. – No universo, eles não têm maior significação do que formigas correndo, e não sãoafetadospelosmovimentosdosplanetas.–AProfaTrelawney...–começouParvatiemtomofendidoeindignado.–Éumserhumano–disseFirenzecomsimplicidade.–E,portanto, temosolhos toldadoseas
mãostolhidaspelaslimitaçõesdesuaespécie.Harry viroumuito ligeiramente a cabeça para olhar Parvati que pareciamuito ofendida, assim
comovárioscolegasquearodeavam.–SibilaTrelawneypodetervisto,eunãosei–continuouFirenze,eHarrytornouaouvirsuacauda
balançandoenquantocaminhavadiantedaturma–,masdesperdiçaseutempo,principalmente,comavaidadetolaaqueoshumanoschamamadivinharofuturo.Euestouaquiparaexplicarasabedoriados centauros, que é impessoal e imparcial.Contemplamos o céu à procura das grandes ondas demaldadeoudemudança,queporvezesestãoaliassinaladas.Podelevardezanosparatermoscertezadoqueestamoscontemplando.FirenzeapontouparaaestrelavermelhadiretamenteacimadeHarry.– Na última década, as estrelas têm indicado que a bruxidade está vivendo apenas uma breve
calmaria entre duas guerras. Marte, anunciador de conflitos, brilha intensamente sobre nós,sugerindoquealutanãotardaráarecomeçar.Quandoocorrerá,oscentaurospodemtentaradivinharpormeiodaqueimadecertaservasefolhas,pelaobservaçãodefumaçaechamas...FoiaaulamaisincomumaqueHarryjáassistira.Éverdadequeelesqueimaramartemísiaemalva
nochãodasala,eFirenzemandou-osprocurarcertasformasesímbolosnafumaçaacre,masnãopareceunadapreocupadoquenenhumdosalunosvisseossinaisqueeledescrevera,comentandoqueoshumanosemgeralnãoerammuitobonsnissoeque levaraanosparaoscentaurosse tornaremcompetentes;econcluiudizendoque,detodomodo,eraumatoliceacreditardemaisnessascoisas,porque até os centauros por vezes as interpretavam erroneamente. Ele não lembrava nenhumprofessorhumanoqueHarryjátivessetido.Suaprioridadenãopareciaserensinaroquesabia,masinfundirnosalunosaideiadequenada,nemmesmooconhecimentodoscentauros,eraàprovadeerro.–Elenãoémuitoafirmativosobrenada,nãoé?–comentouRonybaixinho,quandoapagavamo
fogodamalva.–Querodizer,eugostariadesabermaisdetalhessobreatalguerraqueestamosemvésperasdetravar,vocênão?Asinetatocoudoladodeforadasalaetodosseassustaram;Harryesqueceracompletamenteque
continuavadentrodocastelo,convencidodequeestavarealmentenaFloresta.Osalunossaíramemfila,comoarumtantoperplexo.Harryjáiasegui-loscomRonyquandoFirenzeochamou:–HarryPotter,umapalavrinha,porfavor.Ogarotosevirou.Ocentauroseadiantouparaele.Ronyhesitou.
–Podeficar.Masfecheaporta,porfavor.Ronyseapressouaobedecer.–HarryPotter,vocêéamigodeHagrid,nãoé?–perguntouocentauro.–Sou–disseHarry.– Então dê-lhe um aviso meu. A tentativa dele não está dando certo. Seria melhor que a
abandonasse.–Atentativadelenãoestádandocerto?–repetiuHarrysementender.–E seriamelhorquea abandonasse– repetiuFirenzeconfirmandocomacabeça.–Eupróprio
avisaria a ele,mas fui banido, não seria prudenteme aproximar daFloresta agora,Hagrid já temproblemassuficientessemuma“guerradecentauros”.–Mas...queéqueHagridestátentandofazer?–perguntouHarrynervoso.Firenzeolhou-oimpassível.–Hagridrecentementemeprestouumgrandeserviçoehámuitotempoconquistouomeurespeito
pelo cuidadoquedemonstra com todosos seresvivos.Não trairei o seu segredo.Mas eleprecisaouviravozdarazão.Atentativanãoestádandocerto.Digaissoaele,HarryPotter.Umbomdiaparavocês.
AfelicidadequeHarrysentiranaesteiradaentrevistaaoPasquimhaviamuitotemposeevaporara.Quandoummarçomonótonopassoudespercebidoparaumabriltempestuoso,suavidapareceutersetransformadomaisumavezemumasucessãodepreocupaçõeseproblemas.Umbridge continuara a assistir a todas as aulasdeTratodasCriaturasMágicas, tornandomuito
difícil passaro avisodeFirenzeaHagrid.Finalmente,Harry conseguiu, fingindoqueperdera seuexemplar deAnimais fantásticos& onde habitam, e voltando depois da aula.Quando transmitiu amensagem de Firenze, Hagrid fixou nele seus olhos inchados e roxos por um momento,aparentementeespantado.Entãopareceusecontrolar.–Caralegal,oFirenze–disserouco–,masnãoseidoqueeleestáfalando.Atentativaestádando
certo.–Hagrid, que é que você está aprontando? – perguntouHarry, sério. –Porque você precisa ter
cuidado, a Umbridge já demitiu Trelawney e, se você quer saber, ela continua prestigiada noMinistério.Seestiverfazendoalgumacoisaquenãodeve,vocêvai...–Temcoisasmaisimportantesdoquemanteroemprego–comentouHagrid,emborasuasmãos
tremessemlevementeaodizerisso,fazendoumabaciacheiadeexcrementosdeouriçoscairnochão.–Nãosepreocupecomigo,Harry,agoravamosandando,sejaumbommenino.Harrynão teveescolhasenãodeixarHagrid limpandoabostadochão,massesentiu totalmente
desanimadoaosearrastardevoltaaocastelo.Entrementes,talcomoosprofessoreseHermioneinsistiamemlembrar,osN.O.M.sestavamcada
diamaispróximos.Todososquintanistassesentiamdealgumaformaestressados,masAnaAbbottfoiaprimeiraareceberumaPoçãoCalmantedeMadamePomfreydepoisdecairnochoroduranteumaauladeHerbologiaesoluçar,dizendoqueeraburrademaisparaprestarosexamesequequeriadeixaraescolanaqueleinstante.SenãofossepelassessõesnaAD,Harrytinhaaimpressãodequeestariaprofundamenteinfeliz.Às
vezestinhaosentimentodequeviviaparaashorasquepassavanaSalaPrecisa,ondeseesforçavamuito, mas ao mesmo tempo se divertia imensamente, inchando de orgulho ao contemplar oscompanheirosdaADeconstatarseuprogresso.Defato,HarryàsvezesseperguntavacomoéqueUmbridgeiriareagirquandovissetodososparticipantesdaADreceberem“Excelente”noN.O.M.deDefesaContraasArtesdasTrevas.ElestinhamfinalmentecomeçadoatrabalharoPatrono,quetodosqueriammuitopraticar,embora
Harry não parasse de lembrar a todos que produzir um Patrono no meio de uma sala de aulailuminada quando ninguém os ameaçava era muito diferente de produzi-lo quando estivessemenfrentando,porexemplo,umDementador.– Ah, não seja desmancha-prazeres! – exclamou Cho, animada, apreciando o seu Patrono em
formadecisneprateadovoarpelaSalaPrecisaduranteaúltimaaulaantesdaPáscoa.–Elessãotãobonitos!–Elesnãotêmdeserbonitos,têméqueprotegervocê–disseHarry,paciente.–Oquerealmente
precisamos é de um bicho-papão ou coisa parecida; foi assim que aprendi, tinha de conjurar oPatronoenquantoobicho-papãofingiaserumDementador...–Masissoseriarealmenteapavorante!–exclamouLilá,quesoltavabaforadasdevaporprateado
pelapontadavarinha.–Eaindanão...consigo...fazer!–completouelacomraiva.Nevilleestavaencontrandodificuldadetambém.Seurostosecontraíaaoseconcentrar,masapenas
tênuesfiapinhosdefumaçaprateadasaíamdapontadesuavarinha.–Vocêtemdepensaremalgumacoisafeliz–Harrylembravaaogaroto.–Estoutentando–disseNeville,infeliz,cujoempenhoeratantoqueseurostoredondochegavaa
brilhardesuor.–Harry,achoqueestouconseguindo!–berrouSimas,quefora trazidoporDinoàsuaprimeira
reuniãodaAD.–Olha...ah...desapareceu...maseradecididamentealgumacoisapeluda,Harry!OPatronodeHermione,umareluzentelontraprateada,brincavaàsuavolta.–Elessãobonitinhos,nãosão?–comentouela,olhando-ocomcarinho.AportadaSalaPrecisaseabriuefechou.Harrysevirouparaverquementrara,masnãoparecia
haverninguém.Passou-seummomentoatéeleperceberqueaspessoaspróximasàportahaviamsecalado.No instanteseguinte,algumacoisapuxavasuasvestesnaalturado joelho.Eleolhoueviu,paraseugrandeespanto,Dobby,oelfodoméstico,mirando-oporbaixodosseusoitogorrosdelãhabituais.–Oi,Dobby!Queéquevocê...Queaconteceu?Osolhosdoelfosearregalavamdeterroreeletremia.OsparticipantesdaADmaispróximosde
Harry tinham se calado; todos observavam Dobby. Os poucos Patronos que as pessoas tinhamconseguidoconjurardesapareceramem fumaçaprateada,deixandoa salabemmais escuradoqueantes.–HarryPotter,meusenhor...–esganiçou-seoelfo, tremendodacabeçaaospés.–HarryPotter,
meusenhor...Dobbyveioavisar...masoselfosforamavisadosparanãocontar...Elecorreuabateracabeçanaparede.Harry,quetinhaalgumaexperiênciacomoshábitosdese
castigardeDobby,fezmençãodeagarrá-lo,masoelfomeramentequicounapedragraçasaosseusoitogorros.Hermioneealgumasoutrasgarotassoltaramgritinhosdemedoepena.–Queaconteceu,Dobby?–perguntouHarry,agarrandoobracinhodoelfoemantendo-oafastado
dequalquercoisaqueelepudesseencontrarparasemachucar.–HarryPotter...ela...ela...Dobbydeuumfortesocononarizcomopunholivre.Harryagarrou-otambém.–Quemé“ela”,Dobby?Maseleachavaquesabia;certamentesóhaviauma“ela”capazdeinduzirtalpavoremDobby.O
elfoergueuosolhos,ligeiramentevesgo,epronunciousilenciosamente.–Umbridge?–perguntouHarry,horrorizado.Dobbyconfirmou,eemseguidatentoubateracabeçanosjoelhosdeHarry.Ogarotoosegurouà
distânciadosbraços.–QuetemaUmbridge?Dobby...elanãodescobriuisso...nós...aAD?Eleleuarespostanorostoaflitodoelfo.ComasmãospresasporHarry,eletentousechutarecaiu
dejoelhos.–Elaestávindo?–perguntouHarrycalmamente.Dobbydeixouescaparumuivo.–Está,HarryPotter,está!Harryseendireitoueolhouparaoscolegas,imóveiseaterrorizados,quecontemplavamoelfoa
sedebater.–QUEÉQUEVOCÊSESTÃOESPERANDO!–berrouHarry.–CORRAM!Todos se arremessarampara a saída namesma hora, embolando na porta, então passaramnum
ímpeto.Harryouviu-oscorrendopeloscorredoresedesejouquetivessemobom-sensodenãotentarir direto para os dormitórios. Eram apenas dez para as nove; se ao menos se refugiassem nabibliotecaounocorujal,queerammaispróximos...–Harry,andalogo!–gritouHermioneemmeioaobolodegentequeseempurravaparasair.Ele pegou Dobby, que continuava tentando se machucar seriamente, e correu com o elfo nos
braçosparaofimdafila.–Dobby,istoéumaordem,volteparaacozinhacomosoutroselfose,seelaperguntarsevocê
meavisou,mintaedigaquenão!Eproíbovocêdesemachucar!–acrescentou,largandooelfonochãoquandofinalmentecruzouoportalebateuaporta.–Obrigado,HarryPotter–disseDobbycomasuavozinhaesganiçada,eafastou-sedesabalado.
Harryolhouparaaesquerdaeadireita,osoutrosandavamtãodepressaqueeleviuapenasvislumbredoscalcanharesquevoavamemcadapontadocorredorantesdedesaparecer;elecomeçouacorrerpara a direita; havia umbanheiro demeninos umpouco adiante, poderia fingir que estivera ali otempotodoseconseguissechegarlá...–AAARRR!Alguma coisa o apanhou pelos tornozelos e ele caiu espetacularmente, deslizando quase dois
metrospelochãoantesdeparar.Alguématrásdelegargalhou.EleseviroudefrenteeviuMalfoyescondidoemumnichoatrásdeumfeiovasoemformadedragão.–AzaraçãodoTropeço,Potter!Eh,Professora...PROFESSORA!Pegueium!Umbridgesurgiudepressaemumaextremidade,ofegante,massorrindosatisfeita.–Éele!–exclamoujubilanteaoverHarrynochão.–Excelente,Draco,excelente,ah,muitobom:
cinquentapontosparaSonserina!Eumeencarregodeleapartirdaqui...levante-se,Potter!Harry se pôs de pé, olhando para os dois. Nunca vira Umbridge com um ar tão feliz. Ela
imobilizouseubraçoesevirou,todasorrisos,paraMalfoy.–Váandandoevejaseconsegueapanharmaisalgum,Draco.Digaaosoutrosparaprocurarna
bibliotecaalguémqueestejaofegando,verifiquemosbanheiros.ASrta.Parkinsonpodeexaminarosbanheirosdasmeninas,vamos,váandando,evocê–acrescentouelacomavozmaissuaveemaisperigosa,enquantoMalfoyseafastava–,vocêvaicomigoàsaladodiretor,Potter!Chegaramàgárguladepedraemminutos.Harryficouimaginandoquantosdosoutrosteriamsido
apanhados.PensouemRony,aSra.Weasleyomataria,ecomosesentiriaHermionesefosseexpulsaantesdeprestarosN.O.M.s.EforaaprimeirareuniãodoSimas...eNevilleestavaprogredindotanto...–DelíciaGasosa–entoouUmbridge;agárguladepedrasaltouparaolado,aparedeseabriuem
duasmetadeseeles subiramaescada rolantedepedra.Chegaramàportapolidacomaaldravadegrifo,masUmbridge não se deu ao trabalho de bater, entrou direto, ainda segurandoHarry comfirmeza.A sala estava cheia de gente. Dumbledore encontrava-se à escrivaninha, a expressão serena, as
pontasdoslongosdedosjuntas.AProfaMcGonagallempertigadaaoseulado,orostoextremamentetenso.CornélioFudge,ministrodaMagia,sebalançavaparaafrenteeparatrássemsairdolugar,aoladodalareira,pelovistoimensamentesatisfeitocomasituação;QuimShacklebolteumbruxocom
umacarrancaecabelosmuitocurtosecrespos,queHarrynãoreconheceu,estavampostadosdecadaladodaportacomoguardas,eafiguradesardaseóculosdePercyWeasleypairavaexcitadajuntoàparede,umapenaeumpesadorolodepergaminhonasmãos,aparentementepreparadoparatomarnotas.Os retratos dos velhos diretores e diretoras não estavam fingindo dormir esta noite. Estavam
atentos e sérios, observandoo que acontecia embaixo.QuandoHarry entrou, alguns fugiramparaquadrosvizinhosecochicharamcomurgênciaaosouvidosdoscolegas.HarrysedesvencilhoudoapertodeUmbridgequandoaportasefechou.CornélioFudgeoolhou
comumaespéciedemalignasatisfaçãonorosto.–Ora!–exclamou.–Ora,ora,ora...Harry respondeucomoolharmais sujoqueconseguiudar.Seucoraçãobatiadescontroladono
peito,masocérebroestavaestranhamenteclaroetranquilo.–EleestavavoltandoàTorredaGrifinória–disseUmbridge.Haviaumaexcitaçãoobscenaem
suavoz,omesmoprazerperversoqueHarryouviraquandoaProfaTrelawney se desintegravadeinfelicidadenoSaguãodeEntrada.–OmeninoMalfoyoencurralou.– Foi mesmo, foi mesmo?! – exclamou Fudge, admirado. – Preciso me lembrar de contar ao
Lúcio.Muitobem,Potter...esperoquesaibaporqueestáaqui.Harry tinha toda a intenção de responder com um atrevido “sim”: sua boca abrira e a palavra
começara a se formar quando ele percebeu a expressão de Dumbledore. O diretor não olhavadiretamente para ele – tinha os olhos fixos emumponto por cima do seu ombro –,mas, quandoHarryoencarou,mexeuacabeçaumafraçãodesegundoparacadalado.Harrymudoudeideianomeiodapalavra.–É...não.–Comodisse?–perguntouFudge.–Não–repetiuHarrycomfirmeza.–Vocênãosabeporqueestáaqui?–Não,senhor,nãosei.Fudge olhou incrédulo deHarry para a Profa Umbridge. O garoto se aproveitou da desatenção
momentâneaparalançaroutroolharrápidoaDumbledore,quedeuumacenomínimoeasombradeumapiscadelaparaotapete.–Entãovocênãofazideia–disseoministrocomavozpositivamentepesadadesarcasmo–por
queaProfaUmbridgeotrouxeaestasala?Vocênãosabequeinfringiuoregulamentodaescola?–Regulamentodaescola?Não.–NemosdecretosdoMinistério?–acrescentouFudge,irritado.–Nãoqueeutenhaconsciência–respondeuHarrybrandamente.Seucoraçãocontinuava abater acelerado.Quasevalia apenadizermentirasparaver apressão
sanguínea de Fudge subir, mas não conseguia ver como iria dizê-las impunemente; se alguéminformara aUmbridge sobre aAD, então ele, o líder, poderia começar a arrumar asmalas agoramesmo.–Então,énovidadeparavocê–disseFudge,suavozagorapastosaderaiva–quefoidescoberta
umaorganizaçãoestudantililegalnestaescola?–É,simsenhor–disseHarry,exibindoumolhardeinocênciaedesurpresapoucoconvincente.– Acho, ministro – disse Umbridge atrás do garoto com a voz sedosa –, que faríamos maior
progressoseeutrouxesseanossainformante.– É, faça isso – disse Fudge com um aceno, e olhoumaliciosamente paraDumbledore quando
Umbridgesaiu.–Nadacomoumaboatestemunha,nãoé,Dumbledore?–Nadamesmo,Cornélio–concordouDumbledoregravemente,inclinandoacabeça.
Houveumaesperadeváriosminutos,emqueninguémseentreolhou,entãoHarryouviuaportaseabriràs suascostas.Umbridgeentrouepassouporele segurandopeloombroaamigadecabeloscresposdeCho,Marieta,queescondiaorostonasmãos.– Não se apavore, querida, não tema – disse a Profa Umbridge com suavidade, dando-lhe
palmadinhasnascostas–,estátudobemagora.Vocêagiucerto.Oministroestámuitosatisfeitocomvocê.Diráàsuamãequeboameninavocêfoi.AmãedeMarieta,ministro–acrescentou,erguendoosolhosparaFudge–,éMadameEdgecombe,doDepartamentodeTransportesMágicos,seçãodaRededeFlu,temnosajudadoapoliciaraslareirasdeHogwarts,sabe.–Muitobom,muitobom!–disseFudgecordialmente.–Talmãe,talfilha,eh?Bom,vamosentão,
querida,ergaacabeça,nãosejatímida,vamosveroquevocêtema...gárgulasgalopantes!QuandoMarietaergueuacabeça,Fudgedeuumsaltopara tráschocado,quaseseestatelandona
lareira.Emseguidapraguejouesapateounabainhadacapaquecomeçaraafumegar.Marietadeuumguinchoepuxouodecotedasvestesatéosolhos,masnãoantesdetodosveremqueseurostoestavaterrivelmentedesfiguradoporumaquantidadedepústulasroxasmuitojuntasquecobriamseunarizesuasfacesformandoapalavra“DEDO-DURO”.–Nãoseincomodecomasmarcasagora,querida–disseUmbridge,impaciente–,tireasvestesde
cimadabocaeconteaoministro.MasMarietasoltououtroguinchoabafadoesacudiuacabeçafreneticamente.–Ah,muitobem,sua tolinha,eu contarei–disseUmbridgecomrispidez.Tornandoa refazero
sorrisodoentionorosto,disse:–Bom,ministro,aSrta.Edgecombeaquiveioàminhasalapoucodepoisdojantarhojeànoiteemedissequequeriamecontarumacoisa.Contouqueseeufosseaumasalasecretanosétimoandar,àsvezesconhecidacomoSalaPrecisa,eudescobririaalgoquemeinteressaria.Fiz-lhemaisalgumasperguntas,eelaadmitiuquehaveriaumareuniãoali.Infelizmente,naquela altura, a azaração – ela acenou impaciente para o rosto escondido deMarieta – produziuefeito,e,aoverseurostonomeuespelho,ameninaficouaflitademaisparamefornecermaioresdetalhes.–Bom,agora–disseFudge,fixandoMarietacomoqueevidentemente imaginavaquefosseum
olharpaternal–,émuitacoragemsua,querida,ircontaràProfaUmbridge.Vocêagiucerto.Agora,podemedizeroqueaconteceunareunião?Qualeraafinalidade?Quemmaisestavapresente?Mas Marieta não quis falar; meramente tornou a sacudir a cabeça, os olhos muito abertos e
receosos.– Você não tem uma contra-azaração para isso? – perguntou Fudge a Umbridge, impaciente,
indicandoorostodeMarieta.–Paraelapoderfalarlivremente?–Aindanãoconseguidescobriruma–admitiuUmbridgeacontragosto,eHarrysentiuumassomo
deorgulhopelashabilidadesdeHermioneemazaração.–Masnãofazdiferençaseelanãoquiserfalar,eupossocontinuarahistóriaapartirdesteponto.Osenhordeveselembrar,ministro,quelheenvieiumrelatórioemoutubroinformandoquePotterseencontraracomvárioscolegasnoCabeçadeJavali,emHogsmeade...–Equaléasuaprovadisso?–interrompeu-aaProfaMcGonagall.– Tenho o testemunho de Willy Widdershins, Minerva, que por acaso estava no bar naquela
ocasião.Usavamuitasbandagens,éverdade,massuaaudiçãoestavaperfeita–disseUmbridgecheiadesi.–EleouviucadapalavraquePotterdisseeveiodiretoàescolamerelatar...–Ah, então foi por isso que ele não foi processado por ter feito todos aqueles vasos sanitários
regurgitarem!–exclamouaProfaMcGonagall,erguendoassobrancelhas.–Quevisão interessantedonossosistemajudiciário!–Corrupçãodescarada!–bradouoretratodeumcorpulentobruxodenarizvermelhonaparede
atrásdaescrivaninhadeDumbledore.–NomeutempooMinistérionãonegociavacomcriminosos
baratos,não,senhor,nãonegociava!–Obrigado,Fortescue,jáchega–disseDumbledoresuavemente.–AfinalidadedoencontrodePottercomessesestudantes–continuouaUmbridge–erapersuadi-
los a formar uma sociedade ilegal, com o fito de aprender feitiços emaldições que oMinistériodeclarouinadequadosparaaidadeescolar...– Acho que você vai descobrir que está enganada, Dolores – disse Dumbledore calmamente,
espiandoporcimadosoclinhosdemeia-luaencarrapitadosnomeiodonarizadunco.Harry olhou para o diretor. Não entendia como é que Dumbledore ia livrá-lo dessa; seWilly
Widdershins tivesse de fato ouvido tudo que ele dissera no Cabeça de Javali, simplesmente nãohaveriaescapatória.–Oho!–exclamouFudge,recomeçandoasebalançarsobreospés.–Sim,vamosouviraúltima
lorota inventada para tirar Potter de uma confusão! Vamos, então, Dumbledore, vamos... WillyWiddershins estavamentindo, é isso?Ou era o gêmeo idênticodePotter que estavanoCabeçadeJavali naquele dia?Ou a explicação costumeira que envolve a reversão do tempo, ummorto queretornaàvidaeunsDementadoresinvisíveis?PercyWeasleydeixouescaparumagostosagargalhada.–Ah,essaémuitoboa,ministro,muitoboa!Harrypoderiaterdadoumchutenele.Entãoviu,paraseuespanto,queDumbledoretambémsorria
gentilmente.–Cornélio,eunãonego,etenhocertezadequeHarrytambémnão,queeleestivessenoCabeçade
Javalinaqueledia,nemqueestivesseprocurandorecrutarestudantesparaumgrupodeDefesaContraasArtesdasTrevas.EstouapenasdizendoqueDoloresestámuitoenganadadequetalgrupofosse,àépoca, ilegal. Se você se lembra, o Decreto Educacional que proibiu todas as associações deestudantessóentrouemvigordoisdiasdepoisdareuniãodeHarryemHogsmeade,portantoelenãoestavainfringindoregulamentoalgumnoCabeçadeJavali.Percypareciatersidoatingidonorostoporalgumacoisamuitopesada.Fudgeseimobilizouno
meiodoseubalanço,boquiaberto.Umbridgeserecuperouprimeiro.–Tudoissoestámuitobem,diretor–dissesorrindomeigamente–,masagorajáfazseismeses
queoDecretoNúmeroVinteeQuatroentrouemvigor.Seoprimeiroencontronãofoiilegal,todososqueocorreramdepoiscertamenteosão.– Bom – replicou Dumbledore, estudando-a com educado interesse por cima dos dedos
entrelaçados–,elescertamenteseriam,setivessemcontinuadodepoisqueodecretoentrouemvigor.Vocêtemalgumaprovadequeosencontroscontinuaram?Enquanto Dumbledore falava, Harry ouviu um rumorejo atrás, e achou que Quim cochichara
algumacoisa.Podiajurar,também,quesentiraalgumacoisaroçaroladodoseucorpo,algumacoisasuavecomoumsoproouasasasdeumpássaro,masolhandoparabaixonãoviunada.– Prova? – repetiu Umbridge, abrindo aquele sorriso bufonídeo. – Você não esteve prestando
atenção,Dumbledore?PorqueachaqueaSrta.Edgecombeestáaqui?–Ah, e ela podenos falar dos seismeses de encontros?–perguntouDumbledore, erguendo as
sobrancelhas.–Tiveaimpressãodequeelaestavameramenterelatandoumareuniãohojeànoite.– Srta. Edgecombe – disse imediatamente –, conte-nos há quanto tempo essas reuniões vêm
acontecendo,querida.Vocêpodesimplesmenteacenaroubalançaracabeça,tenhocertezadequeissonãovaipiorarasmanchas.Elastêmserealizadoregularmentenosúltimosseismeses?Harry sentiu seu estômago despencar. Era o fim, tinham chegado a uma muralha de provas
inegáveisquenemmesmoDumbledoreseriacapazderemover.–Sóprecisaacenaroubalançaracabeça,querida–disseUmbridge,tentandopersuadirMarieta.–
Vamos,agora,issonãovaireativaraazaração.Todosnasalaolharamparaotopodacabeçadagarota.Apenasseusolhosestavamvisíveisentre
asvestesrepuxadaseafranjacrespa.Talvezfosseumefeitodaschamas,masseusolhospareciamestranhamentevidrados.Então,paraabsolutoassombrodeHarry,Marietabalançounegativamenteacabeça.UmbridgeolhoudepressaparaFudge,edenovoparaMarieta.–Achoquevocênãoentendeuapergunta,entendeu,querida?Estouperguntandosevocêtemidoa
essasreuniõesnosúltimosseismeses?Vocêtem,nãotem?Maisumavez,Marietabalançouacabeça.–Queéquevocêquerdizerbalançandoacabeça,querida?–perguntouUmbridgeimpaciente.–Eudiriaqueosignificadodogestodameninafoimuitoclaro–disseaProfaMcGonagallcom
aspereza.–Nãohouvereuniõessecretasnosúltimosseismeses.Estoucerta,Srta.Edgecombe?Marietaacenouacabeçaafirmativamente.–Mashouveumareuniãohojeànoite!–exclamouUmbridge,furiosa.–Houveumareunião,Srta.
Edgecombe, a senhorita me falou nela, na Sala Precisa! E Potter era o líder, não era, Potter aorganizou,Potter...porquevocêestábalançandoacabeça,menina?–Bom, normalmente quando uma pessoa balança a cabeça – disseMcGonagall friamente – ela
quer dizer “não”. Então, a não ser que a Srta. Edgecombe esteja usando uma linguagemde sinaisaindadesconhecidadossereshumanos...AProfaUmbridgeagarrouMarieta,virou-ade frenteecomeçouasacudi-laviolentamente.Uma
fração de segundo depois, Dumbledore estava em pé, a varinha erguida; Quim se adiantou eUmbridgeseafastoudeMarieta,sacudindoamãonoarcomosetivessesequeimado.–Nãopossopermitirquevocêbrutalizeosmeusestudantes,Dolores–disseDumbledoree,pela
primeiravez,pareceuaborrecido.–Queiraseacalmar,MadameUmbridge–disseQuimcomsuavozprofundaelenta.–Asenhora
nãoquerseenvolveremconfusões.–Não–disseUmbridge,ofegante,erguendoosolhosparaafiguraimponentedeQuim.–Quero
dizer,sim,vocêtemrazão,Shacklebolt...eu...eu...perdiacabeça.Marieta estava parada exatamente onde Umbridge a largara. Não parecia nem perturbada pelo
inesperadoataquedaprofessoranemaliviadapor ter sido solta; continuavaa segurarasvestesnaalturadosolhosvidradosefixosemalgumpontoàsuafrente.Umarepentinasuspeita,ligadaaocochichodeQuimeàcoisaquesentirapassarporele,nasceuna
mentedeHarry.– Dolores – disse Fudge, com ar de quem tentava determinar algo de uma vez por todas –, a
reuniãodehojeànoite...aquesabemosquedecididamenteserealizou...– Sim – disse Umbridge, recuperando-se –, sim... bom, a Srta. Edgecombe me informou e eu
imediatamentemedirigi ao sétimoandar, acompanhadapor certosestudantesdignosde confiança,paraapanharemflagranteosparticipantesdareunião.Parece,noentanto,queelesforamavisados,porque quando chegamos ao sétimo andar corriam em todas as direções.Mas não faz diferença.Tenhotodososnomesaqui,aSrta.ParkinsonentrounaSalaPrecisaameupedidoparaversehaviamesquecidoalgumacoisaaosair.Precisávamosdeprovaseasalanosforneceu.E, para horror deHarry, ela puxoudobolso a lista de nomesqueHermionehavia prendidona
parededaSalaPrecisaeentregou-oaFudge.–NoinstanteemquevionomedePotternalista,percebioquetínhamosnasmãos.–Excelente – disse Fudge, um sorriso se espalhando pelo rosto. –Excelente,Dolores. E... pelo
trovão...Ele ergueu os olhos paraDumbledore, que continuava parado ao lado deMarieta, segurando a
varinhafrouxamentenamão.– Está vendo o nome que escolheram para o grupo? – disse Fudge calmo. – Armada de
Dumbledore.DumbledoreestendeuamãoeapanhouopergaminhoqueFudgesegurava.Olhouparaocabeçalho
escrito por Hermionemeses antes, e por ummomento pareceu incapaz de falar. Então, ergueu acabeçaesorriu.– Bom, o plano fracassou – disse com simplicidade. – Quer que eu escreva uma confissão,
Cornélio,oubastaumadeclaraçãodiantedessastestemunhas?HarryviuMcGonagalleQuimseentreolharem.Haviamedonosrostosdeambos.Elenãoentendia
oqueestavaacontecendoe,pelovisto,Fudgetambémnão.–Declaração?–perguntouoministrolentamente.–Que...eunão...?–AArmada deDumbledore, Cornélio – disseDumbledore, ainda sorrindo ao agitar a lista de
nomesdiantedosolhosdeFudge.–NãoéaArmadadePotter.ÉaArmadadeDumbledore.–Mas...mas...AcompreensãoiluminousubitamenteorostodeFudge.Elerecuouumpasso,horrorizado,soltou
umganidoepulououtravezparalongedalareira.–Você?–sussurrou,sapateandonacapaemchamas.–Issomesmo–confirmouDumbledoreemtomagradável.–Vocêorganizouisso?–Organizei.–Vocêrecrutouessesestudantespara...paraumaarmada?–Hojeànoiteseriaaprimeirareunião–disseDumbledore,acenandocomacabeça.–Somente
parasaberseelesestariaminteressadosemseuniramim.VejoagoraqueobviamentefoiumerroconvidaraSrta.Edgecombe.Marietaconfirmoucomacabeça.FudgeolhoudagarotaparaDumbledore,seupeitoinchando.–Entãovocêtemconspiradocontramim!–berrou.–Istomesmo–respondeuDumbledorealegremente.–NÃO!–gritouHarry.Quim lançouumolhar de advertência a ele,McGonagall arregalou os olhos ameaçadoramente,
masHarrycompreenderaderepenteoqueDumbledoreiafazer,enãopodiadeixarissoacontecer.–Não...Prof.Dumbledore...!–Fiquequieto,Harry,oureceioqueterádesairdaminhasala–disseDumbledorecalmamente.–É,cale-se,Potter!–vociferouFudge,quecontinuavaadevorarDumbledorecomosolhoscom
umaespéciedeprazerhorrorizado.–Ora,ora,ora...vimaquiestanoiteesperandoexpulsarPottereemvezdisso...–Emvez disso consegueme prender – concluiuDumbledore, sorridente. –É comoperder um
nuqueeencontrarumgaleão,nãoémesmo?–Weasley! – chamou Fudge, agora positivamente tremendo de prazer. –Weasley, você anotou
tudo,tudoqueeledisse,aconfissão,estátudoaí?– Sim, senhor, penso que sim! – respondeu Percy pressuroso, com o nariz sujo de tinta tal a
velocidadecomquefizerasuasanotações.– A parte em que diz que está tentando organizar uma armada contra o Ministério, que está
trabalhandoparamedesestabilizar?–Sim,senhor,anotei,sim,senhor–respondeuPercyverificandoasanotaçõesexultante.– Muito bem, então – disse o ministro, agora irradiando felicidade – reproduza suas notas,
Weasley, e mande uma cópia para oProfetaDiário imediatamente. Se despacharmos uma corujavelozchegaráemtempoparaaediçãomatutina!–Percysaiucorrendodasala,batendoaportaao
passar, e Fudge voltou sua atenção paraDumbledore. – Você será agora escoltado aoMinistério,ondeseráformalmenteacusado,eescoltadoaAzkabanparaaguardarjulgamento!– Ah – disse Dumbledore educadamente –, sim. Sim, achei que chegaríamos a este pequeno
transtorno.–Transtorno?!–exclamouFudge,avozvibrandode felicidade.–Nãovejonenhum transtorno,
Dumbledore!–Bom–replicouDumbledoredesculpando-se–,receiodizerquevejo.–Ah,verdade?–Bom...parecequevocêtemailusãodequeirei...comoémesmoaexpressão?Queireisemfazer
barulho.Receiodizerquenãovousemfazerbarulho,Cornélio.Nãotenhoabsolutamenteaintençãode sermandadoparaAzkaban.Eupoderia fugir, é claro,masqueperdade tempo, e francamente,possopensareminúmerascoisasqueprefirofazer.OrostodeUmbridgecoravasemparar;pareciaqueelaestavasendoenchidacomáguafervendo.
FudgeolhouparaDumbledorecomumaexpressãomuitotolanorosto,comoseestivesseaturdidoporumgolpe repentino enão conseguisse acreditar noque estava acontecendo.Teveumpequenoengasgo, depois olhou paraQuim e o homem de cabelos curtos e grisalhos, o único na sala quepermanecera totalmente em silêncio até então. Este deu a Fudge um aceno de confirmação e seadiantouunspassos,afastando-sedaparede.Harryviusuamãodeslizar,quasedisplicentemente,emdireçãoaobolso.–Nãosejabobo,Dawlish–disseDumbledoreemtombondoso.–Estoucertodequevocêéum
excelenteauror,tenhoaimpressãodequeobteve“Excepcional”emtodososseusN.I.E.M.s,massetentar...ah...melevaràforçatereidemachucá-lo.O homem chamado Dawlish piscou meio abobado. Tornou a olhar para Fudge, mas desta vez
pareciaesperarumadicasobreoquefazeraseguir.–Então–caçoouFudgerecuperando-se–,vocêpretendeenfrentarDawlish,Shacklebolt,Dolores
eamimsozinho,é,Dumbledore?–PelasbarbasdeMerlim,não!–disseDumbledoresorrindo.–Não,anãoserquevocêssejam
suficientementeinsensatosdemeobrigaraisso.–Elenãoestarásozinho!–exclamouaProfaMcGonagallemvozalta,metendoamãonasvestes.–Ah,estarásim,Minerva–tornouDumbledorerápido.–Hogwartsprecisadevocê!– Chega de disparates! – disse Fudge, puxando a própria varinha. – Dawlish! Shacklebolt!
Prendam-no!Umraioprateadolampejoupelasala;ouviu-seumestrondocomoodeumtiroeochãotremeu;
uma mão agarrou Harry pelo cangote e forçou-o a se deitar no chão quando o segundo raiodisparou;váriosretratosberraram,Fawkesguinchoueumanuvemdefumaçaencheuoar.Tossindoporcausadapoeira,Harryviuumvultoescurodesabarcomestrépitonochãonafrentedele;ouviu-seumgritoagudoeumbaqueealguémexclamando:“Não!”;seguiu-seoruídodevidroquebrando,depéssearrastandofreneticamente,umgemido...esilêncio.Harrytentouvirarparaosladosaverquemoestrangulava,eviuaProfaMcGonagallencolhidaao
seulado;elaolivraraeaMarieta,afastando-osdoperigo.Apoeiraaindacaíadevagarinhodoaltoemcimadeles.Ligeiramenteofegante,Harryviuumafiguraaltavindoemsuadireção.–Vocêsestãobem?–perguntouDumbledore.–Estamos!–respondeuaProfaMcGonagall,erguendo-seearrastandocomelaHarryeMarieta.A poeira foi se dissipando. A destruição no escritório tornou-se visível: a escrivaninha de
Dumbledoreforavirada,todasasmesinhasdepernasfinastinhamtombadonochão,osinstrumentosde prata estavam partidos. Fudge, Umbridge, Quim e Dawlish estavam imóveis, caídos no chão.Fawkes,afênix,sobrevoava-osemcírculosamplos,cantandobaixinho.
–Infelizmente,tivedeazararQuimtambémouteriaparecidomuitosuspeito–disseodiretoremvozbaixa.–Eleentendeuextraordinariamenterápido,modificandoamemóriadaSrta.Edgecombequandoosoutrosnãoestavamolhando;agradeçaaelepormim,porfavor,Minerva.“Agora, eles não tardarão a acordar e serámelhor que não saibam que tivemos tempo de nos
comunicar;vocêsdevemagircomoseo temponão tivessepassado,comoseeles tivessemapenassidoderrubados,elesnãoselembrarão...”–Aondeéquevocêvai,Dumbledore?–sussurrouMcGonagall.–LargoGrimmauld?–Ah,não– respondeucomumsorriso triste.–Nãovousairparameesconder.Fudge logo irá
desejarnuncatermetiradodeHogwarts,prometo.–Prof.Dumbledore...–começouHarry.Nãosabiaoquedizerprimeiro:quesentiamuitotercomeçadoaADecausadotodaessaconfusão,
oucomosesentiamalqueDumbledoreestivessepartindoparasalvá-lodaexpulsão?Masodiretorinterrompeu-oantesquepudessecontinuar.–Escute,Harry–disse comurgência.–Vocêprecisa estudarOclumênciaomáximoquepuder,
estámeentendendo?FaçatudoqueoProf.Snapemandarepratiqueparticularmentetodanoiteantesdedormirparapoderfecharsuamenteaospesadelos:vocêvaientenderarazãomuitoembreve,masprecisameprometer...OhomemchamadoDawlishcomeçouasemexer.DumbledoreagarrouopulsodeHarry.–Lembre-se...fechesuamente...MasquandoosdedosdeDumbledoresefecharamsobresuapele,Harrysentiunovamenteaquele
terríveldesejoofídicodeatacarodiretor,demordê-lo,deferi-lo...–...vocêvaicompreender–sussurrouDumbledore.Fawkes deu uma volta na sala e mergulhou em direção ao diretor. Dumbledore soltou Harry,
ergueu a mão e segurou a longa cauda dourada da fênix. Houve uma labareda e os doisdesapareceram.–Aondeéqueelefoi?–bradouFudge,levantando-sedochão.–Aondeéqueelefoi?–Nãosei!–berrouQuim,tambémsepondodepé.–Ora, ele não pode ter desaparatado! – exclamouUmbridge. –Não se pode fazer isso aqui na
escola...–Asescadas!–gritouDawlish,eprecipitou-separaaporta,escancarou-aedesapareceu,seguido
depertoporQuimeUmbridge.Fudgehesitou,entãoficouempélentamente,espanandoapoeiradafrentedasvestes.Houveumlongoepenososilêncio.–Bom,Minerva–disseFudgedesagradavelmente,endireitandoamangarasgada.–Receiodizer
queesteéofimdoseuamigoDumbledore.–Vocêachamesmo?–desdenhouaprofessora.Fudgepareceunãoouvi-la.Corriaosolhospelasaladestruída.Algunsretratosovaiaram;umou
doisatéfizeramgestosobscenoscomasmãos.–Émelhorvocêlevaressesdoisparaacama–disseFudge, tornandoaolharparaMcGonagall
comumacenodedispensaemdireçãoaHarryeMarieta.AProfaMcGonagallnãorespondeu,masseencaminhoucomosgarotosparaaporta.Quandoela
sefechou,HarryouviuavozdeFineusNigellus:–Sabe,ministro,discordodeDumbledoreemmuitacoisa...masnão sepodenegarqueele tem
classe...
—CAPÍTULOVINTEEOITO—ApiorlembrançadeSnape
PORORDEMDOMINISTÉRIODAMAGIA
DoloresJoanaUmbridge(AltaInquisidora)substituiuAlvoDumbledorenadiretoriadaEscoladeMagiaeBruxariadeHogwarts.
AordemacimaestádeacordocomoDecretoEducacionalNúmeroVinteeOito
Assinado:CornélioOswaldoFudge,ministrodaMagia
Osavisos foramafixadospor todaa escoladanoiteparaodia,masnãoexplicavamcomoéquetodas as pessoas que ali viviam pareciam saber que Dumbledore dominara dois aurores, a AltaInquisidora,oministrodaMagiaeseuassistentejúniorparafugir.PorondequerqueHarryandassenocastelo,oúnicotemadasconversaseraafugadeDumbledoree,emboraalgunsdetalhestivessemsidoalteradosnasrepetições(HarryouviuumasegundanistagarantiraoutraqueFudgeestariaagoraacamadonoSt.Munguscomumaabóboranolugardacabeça),erasurpreendentecomoorestantedainformação era exata. Todos sabiam, por exemplo, que Harry e Marieta eram os estudantes quehaviampresenciadoacenanasaladeDumbledoree,comoagoraMarietaseachavanaalahospitalar,Harryseviuassediadocompedidosparacontarahistóriaemprimeiramão.–Dumbledorenãovaidemoraravoltar–disseErnestoMacmillan,confiante,aosairdaaulade
Herbologia,depoisdeouvircomatençãoahistóriadeHarry.–Elesnãopuderammantê-loafastadononossosegundoanoetambémnãovãopoderagora.OFreiGorduchomedisse–eaquielebaixouavozconspirativamente,obrigandoHarry,RonyeHermioneaseinclinaremparaouvir–queaquelaUmbridgetentouvoltaràsaladeDumbledorenanoitepassadadepoisdeteremvasculhadoocasteloeapropriedadeàprocuradele.Nãoconseguiupassarpelagárgula.Asaladodiretorselacrouparaimpedirsuaentrada.–RiuErnesto.–Peloquecontam,elateveumbomacessoderaiva.–Ah,tenhocertezadequeelarealmenteseimaginousentadaláemcimanasaladodiretor–disse
Hermionemaldosamente,quandosubiamaescadaparaoSaguãodeEntrada.–Reinandosobretodososprofessores,aquelavelhaburra,presunçosaeávidadepoderqueé...–Ora,vocêrealmentequerterminaressafrase,Granger?DracoMalfoy saíra de trás de umaporta, seguidoporCrabbe eGoyle. Seu rosto pálido e fino
iluminava-sedemalícia.–Receioquevou ter de cortar algunspontosdaGrifinória e daLufa-Lufa– faloudo seu jeito
arrastado.–SóosprofessorespodemtirarpontosdasCasas,Malfoy–replicouErnestonahora.–Euseiquemonitoresnãopodemtirarpontosunsdosoutros–retrucouMalfoy.CrabbeeGoyle
deramrisadinhas.–MasosmembrosdaBrigadaInquisitorial...–Osoquê?–perguntouHermionecomrispidez.–BrigadaInquisitorial,Granger–disseMalfoyapontandoparaumminúsculo“I”nopeito,logo
abaixododistintivodemonitor.–UmgruposeletodeestudantesqueapoiaoMinistériodaMagia,escolhidosadedopelaProfaUmbridge.Emtodoocaso,osmembrosdaBrigadaInquisitorialtêmopoderde tirarpontos...então,Granger,vou tirardevocêcincopor tersidogrosseiracomanossanovadiretora.DoMacmillan,cincopormecontradizer.Ecincoporquenãogostodevocê,Potter.Weasley,asuacamisaestáparafora,porissovouterdetirarmaiscinco.Ah,é,meesqueci,evocêéumaSangueruim,Granger,entãomenosdezporisso.Ronypuxouavarinha,masHermioneafastou-a,sussurrando:–Não!–Muitosensato,Granger–murmurouMalfoy.–Novadiretora,novostempos...agoracomporte-
se,PotterPirado...ReiBanana...Dandoboasgargalhadas,MalfoyseafastoucomCrabbeeGoyle.– Ele estava blefando – comentou Ernesto estarrecido. – Não pode ter o direito de descontar
pontos...issoseriaridículo...subverteriacompletamenteosistemamonitório.MasHarry,RonyeHermione tinhamseviradoautomaticamenteparaasgigantescasampulhetas,
dispostas em nichos na parede às costas deles, que registravam o número de pontos das Casas.Naquelamanhã, Grifinória e Corvinal estavam disputando a liderança quase empatadas. Enquantoolhavam,subiramalgumaspedrinhas,reduzindoseutotalnasbolhasinferiores.Defato,aúnicaquepareciainalteradaeraaampulhetacheiadeesmeraldasdaSonserina.–Járeparou?–perguntouavozdeFred.Ele e Jorge tinham acabado de descer a escadaria de mármore e se reuniram a Harry, Rony,
HermioneeErnestodiantedasampulhetas.– Malfoy acabou de nos descontar uns cinquenta pontos – disse Harry, furioso; enquanto
observavam,virammaispedrinhassubiremnaampulhetadaGrifinória.–É,oMontaguetentounosprejudicarduranteointervalo–contouJorge.–Comoassim“tentou”?–perguntouRonynamesmahora.–Ele não chegou a enunciar todas as palavras – disseFred–, nós o empurramosde cabeça no
ArmárioSumidourodoprimeiroandar.Hermionepareceumuitochocada.–Masvocêsvãosemeternumaconfusãohorrível!–NãoatéoMontaguereaparecer,eissopodelevarsemanas,nãoseiaondeomandamos–disse
Fred,descontraído.–Emtodoocaso...decidimosquenãovamosmaisligarsenosmetemosounãoemconfusão.–Ealgumdiavocêsligaram?–indagouHermione.–Maséclaro–protestouJorge.–Nuncafomosexpulsos,nãoé?–Sempresoubemosondeparar–acrescentouFred.–Àsvezesultrapassávamosumdedinho–disseJorge.–Massempreparamosemtempodeevitarumcaostotal–completouFred.–Maseagora?–perguntouRonyhesitante.–Bom,agora...–começouJorge.–...comapartidadeDumbledore–continuouFred.–...concluímosqueumcertocaos...–disseJorge.–...éexatamenteoqueanossaqueridadiretoramerece–disseFred.–Poisnãodeviam!–sussurrouHermione.–Realmentenãodeviam!Elaadoraria terumarazão
paraexpulsarvocês!–Vocênãoestáentendendo,Hermione,nãoé?–perguntouFred,sorrindoparaela.–Nãofazemos
mais questão de ficar. Sairíamos agora se não estivéssemos decididos a fazer alguma coisa porDumbledore primeiro. Então, assim sendo – ele consultou o relógio –, a fase um está prestes a
começar.EuiriaparaoSalãoPrincipalalmoçar,sefossevocês,paraosprofessoresveremquenãotêmnadaavercomacoisa.–Nadaavercomoquê?–indagouHermione,ansiosa.–Vocêsverão–respondeuJorge.–Agora,vãoandando.Fred e Jorge desapareceramnamassa crescente de alunos que descia a escadaria para almoçar.
Com o ar muito desconcertado, Ernesto murmurou alguma coisa sobre terminar um dever deTransfiguração,esaiuapressado.–Achoquedevíamossairdaqui,sabe–disseHermione,nervosa.–Sóporprecaução...–É,vamos–concordouRony,eostrêssedirigiramàsportasdoSalãoPrincipal,masHarrymal
avistaraocéudodia,comnuvensbrancassopradaspelovento,quandoalguémlhebateunoombroe,aosevirar,eledeparouquasenarizcomnarizcomFilch,ozelador.Ogarotorecuouváriospassos;Filcheramelhorvistodelonge.–Adiretoraquervervocê,Potter–dissemalicioso.– Não fui eu – disse Harry tolamente, pensando no que Fred e Jorge estavam planejando. As
bochechascaídasdeFilchsacudiramderisoinarticulado.–Consciênciapesada,eh?!–exclamouasmático.–Venhacomigo.Harry olhou para Rony e Hermione, que pareciam preocupados. Ele sacudiu os ombros, e
acompanhou Filch de volta ao Saguão de Entrada, na direção contrária à maré de estudantesesfomeados.Ozeladorpareciaestardeexcelentehumor;cantarolavadesafinadoemvozbaixaenquantosubiam
aescadariademármore.Quandochegaramaoprimeiroandar,disse:–Ascoisasestãomudandoporaqui,Potter.–Járeparei–respondeuogarotocomfrieza.–Veja...fazanosquedigoaDumbledorequeeleémuitofrouxocomvocês–disseFilch,comuma
risadinhamaldosa.–Suasferinhasnojentas,vocêsnuncasoltariamBombasdeBostasesoubessemque eu tinha poder para arrancar o couro de vocês a chicotadas, não é mesmo? Ninguém teriapensadoemjogarFrisbees-dentadosnoscorredoresseeupudessependurarvocêspelostornozelosnaminhasala,nãoé?Mas,quandochegaroDecretoEducacionalNúmeroVinteeNove,Potter,voupoderfazertudoisso...eelapediuaoministroparaassinarumaordemexpulsandooPirraça...ah,ascoisasvãoserdiferentesaquicomelanadiretoria...Era óbvio queUmbridge se esmerara em conquistar Filch, pensouHarry, e o pior era que ele
provaria ser uma arma importante; seu conhecimento das passagens secretas e esconderijosprovavelmentesóperdiaparaodosgêmeosWeasley.–Chegamos–disseele,olhandodeesguelhaparaHarryenquantobatiatrêsvezesnaportadaProfa
Umbridgeantesdeabri-la.–OgarotoPotterparavê-la,Madame.AsaladeUmbridge, tãoconhecidadeHarryporsuasmuitasdetenções,nãomudara,excetopor
umgrandeblocodemadeiranaescrivaninhaemquedizeresdouradosinformavam:DIRETORA.EtambémporsuaFirebolteasCleansweepsdeFredeJorgeque,elereparoucomumapontadadedor,estavampresasporcorrentesecadeadosaumgrossoganchodeferronaparedeatrásdela.Umbridge se encontrava sentada à escrivaninha, escrevendo diligentemente em um pergaminho
cor-de-rosa,masergueuacabeçaeabriuumsorrisoaovê-losentrar.–Muitoobrigada,Argo–disseelacommeiguice.–Nempor isso,Madame, nempor isso – respondeu ele, curvando-se até onde seu reumatismo
permitia,esaindodecostas.–Sente-se–disseUmbridgesecamente,apontandoumacadeira.Harryobedeceu,eelacontinuoua
escrevermais algum tempo.Ele ficouobservandooshorríveisgatosquebrincavamao redordospratosporcimadacabeçadadiretora,imaginandoquenovohorrorestariapreparandoparaele.
“Muitobem”,disseUmbridgefinalmente,pousandoapenaefazendoumacaradesapoprestesaengolirumamoscaparticularmentesuculenta.“Queéquevocêgostariadebeber?”–Quê?!–exclamouHarry,certodequenãoouviradireito.–Beber,Sr.Potter–disseela,abrindomaisosorriso.–Chá?Café?Sucodeabóbora?Àmedidaqueofereciacadabebida,faziaumbreveacenocomavarinhaeumcopocheioaparecia
sobreaescrivaninha.–Nada,muitoobrigado.– Eu gostaria que você bebesse alguma coisa comigo – disse ela, sua voz assumindo um tom
perigosamentemeigo.–Escolhauma.–Ótimo...chá,então–disseogarotoencolhendoosombros.Ela se levantou e fez uma grande cena para acrescentar o leite, de costas para Harry. Depois,
apressou-sealhelevarabebida,sorrindodemaneirasinistramentemeiga.–Pronto!–exclamou,entregando-aaele.–Bebaantesqueesfrie,sim?Bom,Sr.Potter...acheique
devíamosterumaconversinha,depoisdosacontecimentosangustiantesdeontemànoite.Harrycontinuoucalado.Elaseacomodounacadeiraeaguardou.Passadoumlongomomentode
silêncio,faloualegremente:–Vocênãoestábebendo?Elelevouaxícaraàbocaeentão,igualmentedepressa,tornouabaixá-la.Umdoshorríveisgatos
pintadosatrásdadiretoratinhaolhosgrandes,redondoseazuiscomooolhomágicodeOlho-TontoMoody, e acabara de lhe ocorrer o que o bruxo diria se soubesse que ele bebera alguma coisaoferecidaporumainimigadeclarada.–Quefoi?–perguntouanovadiretora,queaindaoobservava.–Vocêqueraçúcar?–Não.Eletornoualevaraxícaraàbocaefingiutomarumgole,emboramantendoabocabemfechada.
OsorrisodeUmbridgeseampliou.–Muitobem–sussurrou.–Muitobom.Entãoagora...–Elasecurvouumpoucoparaafrente.–
OndeestáAlvoDumbledore?–Nãofaçoamenorideia–respondeuHarryprontamente.– Beba, beba – incentivou ela ainda sorrindo. – Agora, Sr. Potter, não vamos fazer joguinhos
infantis.Seiqueosenhorsabeaondeelefoi.OsenhoreDumbledoresempreestiverammetidosnissojuntosdesdeocomeço.Reflitasobreasuaposição,Sr.Potter...–Nãoseiondeeleestá.Harryfingiubebermaisumpouco.–Muitobem–disseelaparecendodescontente.–Nestecaso...queiraterabondadedemedizero
paradeirodeSiriusBlack.OestômagodeHarrydeuumavoltacompletaeamãoqueseguravaaxícaratremeutantoqueafez
vibrarnopires.Elevirouaxícaranabocacomoslábioscomprimidos,demodoqueumpoucodolíquidoquenteescorreuparasuasvestes.–Nãosei–respondeudepressademais.–Sr.Potter–disseUmbridge–,deixe-melembrar-lhedequefuieuquequaseagarreiocriminoso
Black na lareira da Grifinória em outubro. Sei perfeitamente bem que era com o senhor que eleestavaseencontrando,eseeutivesseamenorprovadissonenhumdosdoisestariaàsoltahoje,juro.Vourepetir,Sr.Potter...ondeestáSiriusBlack?–Nãofaçoideia–disseHarryemvozalta.–Nãotenhoamenorpista.OsdoisseencararamportantotempoqueHarrysentiuseusolhoslacrimejarem.Então,Umbridge
selevantou.–Muitobem,Potter,destavezvouaceitarsuapalavra,masestejaavisado:opoderdoMinistério
está comigo. Todos os canais de comunicação que entram na escola ou saem dela estão sendomonitorados.UmcontroladordaRededeFluestávigiandocadalareiradeHogwarts,excetoaminha,éclaro.MinhaBrigadaInquisitorialestáabrindoelendotodaacorrespondênciaqueentranocasteloedelesaiporviacoruja.EoSr.Filchestáobservandotodasaspassagenssecretasdeentradaesaídaparaocastelo.Seeuencontrarumfiapodeevidência...BUUM!Oprópriopisodasalasacudiu.Umbridgeescorregouparaumladoeseagarrouàescrivaninha
paranãocair,fazendocaradeespanto.–Quefoi...?Ela ficouolhandoaporta.Harryaproveitouaoportunidadepara esvaziar axícaradecháquase
cheianovasodefloressecasmaispróximo.Ouviagentecorrendoegritandováriosandaresabaixo.–Volteparaoseualmoço,Potter!–ordenouUmbridge,empunhandoavarinhaesaindoapressada
dasala.Harrydeu-lhealgunssegundosdedianteirae,então,correuatrásdelaparaveraorigemdetodoaqueleestardalhaço.Nãofoidifícilsaber.Umandarabaixo,reinavaumpandemônio.Alguém(eHarrytinhaumaboa
ideiadequem)aparentementetocarafogoemumaenormecaixadefogosmágicos.Dragõesformadosinteiramenteporfaíscasverdesedouradasvoavamparacimaeparabaixonos
corredores, produzindo explosões e labaredas pelo caminho; rodas rosa-choque de mais de ummetrodediâmetrozumbiamletalmentepeloarcomodiscosvoadores;foguetescomlongascaudasdeestrelasdepratacintilantesricocheteavampelasparedes;centelhasescreviampalavrõesnoarsemninguémacioná-las;rojõesexplodiamcomominasparatodoladoqueHarryolhavae,emvezdesequeimaremedesapareceremdevistaoupararemcrepitando,quantomaiseleolhavaessasmaravilhaspirotécnicasmaiselaspareciamaumentaremenergiaeímpeto.Filch e Umbridge estavam parados nomeio da escada, parecendo pregados no chão. Enquanto
Harryassistia,umadasrodasmaiorespareceudecidirqueprecisavademaisespaçoparamanobrar:saiurodandoemdireçãoaUmbridgeeFilchcomumruídosinistro.Osdoisberraramdesustoeseabaixaram, e a roda voou direto pela janela às costas deles e atravessou os terrenos da escola.Entrementes, vários dragões e um grande morcego roxo que fumegava agourentamenteaproveitaramaportaabertanofimdocorredoreescaparamparaosegundoandar.–Depressa, Filch, depressa! – gritouUmbridge. –Eles vão se espalhar pela escola toda se não
fizermosalgumacoisa:Estupefaça!Umjorrodeluzvermelhaprojetou-sedapontadesuavarinhaebateuemumdosfoguetes.Emvez
dese imobilizarnoar,oartefatoexplodiucomtal forçaquefezumfuronoretratodeumabruxapiegas nomeio de um relvado; ela fugiu bem a tempo, e reapareceu segundos depois no quadrovizinho, onde dois bruxos que jogavam cartas se levantaram rapidamente e abriram espaço paraacomodá-la.–Nãoosestupore,Filch!–bradouUmbridgefuriosa,comoseelefosseoresponsávelpelofeitiço.–Podedeixar,diretora!–chiouFilch,que,sendoumaborto,nãopoderiaterestuporadoosfogos
nemtampoucoosengolido.Elecorreuparaumarmáriopróximo,tirouumavassouraecomeçouabaternosfogosquevoavam;empoucossegundosavassouraestavaemchamas.Harryjáviraosuficiente;abaixou-seecorreuparaumaportaqueelesabiaexistiratrásdeuma
tapeçaria mais à frente no corredor, e ao entrar deu de cara com Fred e Jorge que estavam aliescondidos,ouvindoosgritosdeUmbridgeeFilch,sacudindoderisoreprimido.–Impressionante–cochichouHarrysorrindo.–Impressionante...vocêslevariamoDr.Filibusteiro
àfalência,podemcrer...– Falou – sussurrou Jorge, enxugando as lágrimas de riso do rosto. – Ah, espero que ela
experimenteagorafazê-losdesaparecer...elessemultiplicampordeztodasasvezesquealguémtenta.
Os fogos continuaram a queimar e a se espalhar pela escola toda durante a tarde. Emboracausassem muitos estragos, particularmente os rojões, os outros professores não pareceram seimportarmuitocomisso.–Ai,ai!–exclamouaProfaMcGonagallironicamente,quandoumdosdragõesentrouvoandoem
suasala,emitindofortesruídosesoltandochamas.–Srta.Brown,seimportadeprocuraradiretoraparainformá-laquetemosumdragãoerranteemnossasala?O resultado de tudo isso foi que a Profa Umbridge passou sua primeira tarde como diretora
correndopelaescolaparaatenderaoschamadosdosprofessores,quenãopareciamcapazesdelivrarsuassalasdosfogossemasuaajuda.QuandoaúltimasinetatocouetodosiamvoltandoàTorredaGrifinóriacomsuasmochilas,Harryviu,comimensasatisfação,umaUmbridgedesarrumadaesujadefuligemsaindocompassosvacilanteseorostosuadodasaladoProf.Flitwick.–Muito obrigado, professora! – disse Flitwick na sua vozinha esganiçada. –Eu poderia terme
livradodosfogos,éclaro,masnãoestavamuitoseguroseteriaautoridadeparatanto.Sorrindo,elefechouaportadasalanacaradaUmbridge,quepareciaprestesarosnar.FredeJorgeforamheróisnaquelanoitenasalacomunaldaGrifinória.AtéHermioneseesforçou
paraatravessaraaglomeraçãodecolegasexcitadosedarparabénsaosgêmeos.–Foramfogosmaravilhosos–dissecomadmiração.– Obrigado – agradeceu Jorge, ao mesmo tempo surpreso e contente. – Fogos Espontâneos
Weasley.Oúnicoproblemaéquegastamostodoonossoestoque;agoravamosterderecomeçardozero.–Mas valeu a pena – disse Fred, que anotava os pedidos dos colegas aos berros. – Se quiser
acrescentaroseunomeàlistadeespera,Hermione,custacincogaleõesumacaixadeFogosBásicosevinteumaDeflagraçãodeLuxo...HermionevoltouàmesaemqueHarryeRonyestavamsentados,contemplandoasmochilascomo
seesperassemqueosdeveresdecasafossemsaltardedentrodelasecomeçarasefazersozinhos.–Ah, por que não tiramos a noite de folga? – perguntou a garota, animada, quando um rojão
Weasleydecaudaprateadacoriscoupelajanela.–Afinal,asfériasdaPáscoacomeçamnasexta-feira,eteremosmuitotempoentão.–Vocêestásesentindobem?–perguntouRony,encarandoaamigasemacreditarnoqueouvia.–Por falarnisso–continuouHermionealegremente–, sabem... achoqueestoumesentindoum
pouquinho...rebelde.HarryaindaouviaosestampidosdistantesdasbombasfugitivasquandoeleeRonyforamsedeitar
uma horamais tarde; e enquanto se despia passaram umas estrelinhas pela torre, ainda formandoinsistentementeapalavra“COCÔ”.Eleseenfiounacama,bocejando.Semóculos,osfogosquepassavamderaroemraropelajanela
se tornaramborrados, lembrandonuvens cintilantes, belas emisteriosas contra o fundo escurodocéu.Elesevirouparaolado,imaginandocomoaUmbridgeestariasesentindoemseuprimeirodianolugardeDumbledore,ecomoFudgereagiriaquandosoubessequeaescolapassaraamaiorpartedodianumestadodeavançadadesintegração.Sorrindocomseusbotões,Harryfechouosolhos...Os zunidos e estampidos dos fogos que escaparam para os terrenos da escola pareciam se
distanciar...ou,talvez,eleestivesseapenasseafastandodosfogosemaltavelocidade...CaíraexatamentenocorredorquelevavaaoDepartamentodeMistérios.Precipitava-seagoraem
direçãoàportapretaesimples...tomaraqueabra...tomaraqueabra...Abriu.Eleseviunasalacircularcommuitasportas...atravessou-a,pôsamãoemoutraportaigual,
queabriuparadentro...Agora se encontrava em uma sala retangular muito comprida, cheia de ruídos mecânicos.
Partículasdeluzdançavamnasparedes,maselenãoparouparainvestigar...precisavaprosseguir...
Haviaumaportaaofundo...quetambémseabriuquandoeleatocou...Eagoraestavaemumasalamaliluminadaaltaelargacomoumaigreja,emquenãohavianada
exceto prateleiras e mais prateleiras nas paredes, cada uma delas carregada de pequenas esferasempoeiradasdevidrorepuxado...ocoraçãodeHarrybatiarápidodeexcitação...elesabiaaondeir...avançoucorrendo,masseuspassosnãoecoavamnaenormesaladeserta...Haviaalgumacoisanasalaqueelequeriamuito,muitomesmo...Algoqueelequeria...oumaisalguémqueria...Suacicatrizestavadoendo...BANGUE!Harryacordouinstantaneamente,confusoezangado.Osomderisadasenchiaodormitórioescuro.– Irado!–exclamouSimas, cuja silhueta se recortavacontraa janela.–Achoqueumadaquelas
rodasbateuemumrojão,eosdoiscruzaram,vemcáver!HarryouviuRonyeDinoselevantaremdacamadepressaparavermelhor.Elecontinuouquietoe
emsilêncioenquantoadoremsuacicatrizdiminuíaeodesapontamentooinvadia.Eracomosealgomuitobomlhetivessesidoarrebatadonoúltimoinstante...destavezchegaramuitoperto.Porquinhos alados e brilhantes cor-de-rosa e prata passavam voando pelas janelas da Torre da
Grifinória.Harrypermaneceudeitado,ouvindoosgritosdealegriadoscolegasdaGrifinórianosdormitórios abaixo. Seu estômago deu uma sacudidela nauseante ao se lembrar de que teriaOclumênciananoiteseguinte.
HarrypassoutodoodiacommedodoqueSnapeiriadizersedescobrisseatéondeHarrypenetraranoDepartamentodeMistériosnoúltimosonho.Comumassomodeculpa,deu-secontadequenãopraticaraOclumêncianemumavezdesdeaúltimaaula:aconteceratantacoisadesdequeDumbledorepartira; decerto não teria conseguido esvaziar amentemesmoque tentasse.Duvidava, porém, queSnapeaceitassetaldesculpa.Eletentoufazerumtreinodeúltimahoraduranteasaulasdodia,masnãoadiantou.Hermionenão
paravade lheperguntar qual eraoproblema sempreque ele tentava esvaziar amentede todosospensamentos e emoções e, afinal, o melhor momento para isso não era enquanto os professoresdisparavamperguntasderevisãoparaosalunos.Conformado com o pior, ele se dirigiu à sala de Snape depois do jantar. Nomeio do saguão,
porém,Choveiocorrendoaoseuencontro.– Estou aqui – disse Harry, satisfeito de ter uma razão para adiar o seu encontro com Snape,
acenando para ela do lado oposto do saguão onde ficavam as ampulhetas. A daGrifinória agoraestavaquasevazia.–Vocêestábem?UmbridgenãoandoulheperguntandosobreaAD,andou?–Ah,não–respondeuCho,apressada.–Não,foisóque...bom,euqueriadizer...Harry,eununca
sonheiqueaMarietafossecontar...–Ah,bom–respondeuHarry,mal-humorado.ElerealmenteachavaqueChopodiaterescolhido
umaamigacomumpoucomaisdecuidado;nãoeramuitoconsolosaberqueaMarietacontinuavanaalahospitalareMadamePomfreynãoconseguiraobteramínimamelhoracomsuasespinhas.–Masnaverdadeelaéumaboapessoa.Sócometeuumerro...Harryencarou-acomincredulidade.–Umaboapessoaquecometeuumerro?Elanosdelatou,inclusiveavocê!–Bom...nós todosescapamos,nãofoi?–disseChoemtomdesúplica.–Vocêsabe,amãedela
trabalhanoMinistério,érealmentedifícilpara...–OpaideRonytrabalhanoMinistériotambém!–disseHarry,furioso.–Ecasovocênãotenha
reparado,elenãotemdedo-duroescritonacara...–IssofoirealmenteumtruquehorríveldaHermioneGranger–comentouChoimpulsivamente.–
Eladeviaternosavisadoqueazarouaquelalista...–Achoquefoiumaideiabrilhante–respondeuelecomfrieza.Chocoroueseusolhosficaram
maisbrilhantes.–Ah,sim,meesqueci,éclaro,foiideiadasuaqueridaHermione...–Enãocomeceachoraroutravez–preveniu-aHarry.–Eunãoiachorar!–gritouagarota.–Então...ótimo.Játenhomuitoqueaguentarnomomento.–Entãoqueaguente!–concluiuChofuriosa,dandoascostaseindoembora.Espumando, Harry desceu as escadas para a masmorra de Snape e, embora soubesse, por
experiência,queseriamuitomaisfácilparaSnapepenetraremsuamenteseelechegassecheioderaivaerancor,nãoconseguiufazernadaexcetopensaremmaisumascoisinhasquedeveriaterditoaChosobreMarietaantesdechegaràportadasala.– Você está atrasado, Potter – disse o professor friamente, quando o garoto fechou a porta ao
passar.Snape estava em pé de costas para Harry, removendo, como sempre, certos pensamentos e
colocando-os cuidadosamente na Penseira de Dumbledore. Deixou cair o último fio prateado nabaciadepedraesevirouparaencararogaroto.–Então.Praticou?–Sim,senhor–mentiuHarry,olhandoatentamenteparaumadaspernasdaescrivaninhadeSnape.–Bom,logosaberemos,nãoé?–disseelesuavemente.–Varinhanamão,Potter.Harry tomou sua posição habitual, de frente para Snape, com a escrivaninha entre os dois. Seu
coraçãoestavapulsandoaceleradocomraivadeChoeansiedadequantoaoqueoprofessorestavaprestesaextrairdesuamente.–Quandoeucontartrêsentão–disseSnapesempressa.–Um...dois...AportadasalaseabriucomforçaeDracoMalfoyentroudepressa.–Prof.Snape,senhor...ah...medesculpe...MalfoyolhavaSnapeeHarrymeiosurpreso.–Tudobem,Draco–disseSnape,baixandoavarinha.–Potterestáaquipara fazerumaaulade
reforçoemPoções.HarrynãoviaMalfoytãoalegredesdequeUmbridgeapareceraparainspecionarHagrid.–Eu não sabia – disse ele, olhando enviesado paraHarry, que sentia o rosto arder. Teria dado
muitacoisaparapodergritaraverdadeparaMalfoy,ou,aindamelhor,paraatacá-locomumbomfeitiço.–Bom,Draco,quefoi?–perguntouSnape.–ÉaProfaUmbridge,professor,estáprecisandodasuaajuda.EncontraramMontague,professor,
apareceuentaladoemumvasosanitárionoquartoandar.–Comofoiqueeleseentalou?–Nãoseinão,senhor,estáumpoucoatordoado.–Muitobem,muitobem.Potter,retomaremosaaulaamanhaànoite.Elesevirouesaiudasala.MalfoyfalousilenciosamenteparaHarrypelascostasdeSnape,antesde
acompanhá-lo:“ReforçoemPoções?”Fervendoderaiva,Harryguardouavarinhanobolsodasvestesefezmençãodesairdasala.Tinha
nomínimomaisvinteequatrohorasparapraticar;sabiaquedeviasesentirgratoporterescapadopor um triz, embora fosse duro isto ter acontecido às custas de ouvirMalfoy contar para toda aescolaqueeleprecisavadeaulasdereforçoemPoções.Estava à porta da sala quando viu uma réstia de luz trêmula dançando no portal. Parou e ficou
olhando,aquilolhelembravaalgumacoisa...entãoalembrançalheocorreu:pareciaumpoucocomo
as luzinhas que vira em sonho na noite anterior, as luzes na segunda sala que atravessara noDepartamentodeMistérios.Ele se virou.A luz vinha daPenseira em cimada escrivaninha deSnape. Seu conteúdo branco-
prateadofluíaegirava.OspensamentosdeSnape...coisasqueelenãoqueriaqueHarryvisse,seporacasopenetrassesuasdefesas...HarryolhouparaaPenseira,acuriosidadecrescendo...QueeraqueSnapequeriatantoesconder?As luzes prateadas tremulavam na parede... Harry deu dois passos em direção à escrivaninha,
refletindo. Poderiam ser informações sobre o Departamento de Mistérios que Snape estivessedecididoaocultardele?Harryespiouporcimadoombro,seucoraçãoagorabatiamaisforteemaisdepressaquenunca.
QuantotempolevariaparaSnapetirarMontaguedovaso?Voltariadepoisdiretamenteparaasalaouacompanharia o garoto à ala hospitalar? Com certeza, a segunda possibilidade... Montague eracapitãodaequipedaSonserina,oprofessoriaquererverificarseeleestavabem.HarryvenceuospoucospassosatéaPenseiraeparoudiantedela,contemplandosuasprofundezas.
Hesitou, apurando o ouvido, então, tornou a tirar a varinha. A sala e o corredor além estavamcompletamentesilenciosos.EledeuumabatidinhanoconteúdodaPenseiracomapontadavarinha.Olíquidoprateadocomeçouagirarvelozmente.Harryseinclinouparaabaciaeviuqueolíquido
setornaratransparente.Estava,maisumavez,contemplandoumasaladeumajanelacircularnoteto...defato,anãoserqueestivessemuitoenganado,estavavendooSaguãodeEntrada.SuarespiraçãoembaçavaasuperfíciedospensamentosdeSnape...seucérebropareciaestaremum
estado de indefinição... seria loucura fazer o que se sentia tão tentado a fazer... ele tremia... Snapepoderia voltar a qualquer momento... mas Harry pensou na raiva de Cho, na cara debochada deMalfoy,eumaousadiaimprudenteodominou.EleinspirouumgrandesorvodearemergulhouorostonasuperfíciedospensamentosdeSnape.
Namesmahora,ochãodasalasacudiu,empurrandoHarrydecabeçaparadentrodaPenseira...Elecomeçouacairporumaescuridãofria,rodopiandovertiginosamenteeentão...Encontrou-se parado no meio do Salão Principal, mas as mesas das quatro Casas haviam
desaparecido.Emseulugar,haviamaisdecemmesinhas,todasdispostasdamesmamaneira,eacadaumadelassesentavaumestudante,decabeçabaixa,escrevendoemumrolodepergaminho.Oúnicosom era o arranhar das penas e o rumorejar ocasional de alguém ajeitando o pergaminho. Eravisivelmenteumacenadeexame.Osol entravapelas janelasaltase incidia sobreascabeças inclinadas, refletindo tonscastanhos,
acobreadosedouradosnaluzambiente.Harryolhouatentamenteatodavolta.Snapedeviaestarporaliemalgumlugar...eraalembrançadele...Eláestavaele,aumamesabematrásdeHarry.Ogarotoseadmirou.Snapeadolescentetinhaum
ar pálido e estiolado, como uma plantamantida no escuro. Seus cabelos erammoles e oleosos ependiamsobreamesa,seunarizaquilinoamenosdecincocentímetrosdopergaminhoenquantoeleescrevia.HarrysedeslocouparaascostasdeSnapeeleuocabeçalhodaprova:DEFESACONTRAASARTESDASTREVAS–NÍVELORDINÁRIOEMMAGIA.Portanto Snape devia ter uns quinze ou dezesseis anos, aproximadamente a idade deHarry. Sua
mãovoavasobreopergaminho;jáescreverapelomenosmaistrintacentímetrosdoqueosvizinhosmaispróximos,esuacaligrafiaeraminúsculaeapertada.–Maiscincominutos!AvozsobressaltouHarry.Virando-se,eleviuococurutodoProf.Flitwickmovendo-seentreas
mesas a uma pequena distância.O professor passava agora por um garoto com cabelos negros edespenteados...muitodespenteados...Harry semovia tão depressa que, se fosse sólido, teria atirado asmesas pelo ar.Emvez disso,
parecia deslizar, como em sonho, atravessar dois corredores e entrar em um terceiro. A nuca dogarotodecabelosnegrosseaproximoucadavezmais...eeleiaseendireitandoagora,descansandoapena,puxandoorolodepergaminhoparapertoparapoderleroqueescrevera...Harryparoudiantedacarteiraecontemplouoseupaicomquinzeanos.Aexcitaçãoexplodiuno fundodoseuestômago:eracomoseestivesseolhandopara simesmo,
mas com erros intencionais. Os olhos de Tiago eram castanho-esverdeados, seu nariz era maiscompridodoqueodeHarryenãohavia cicatriz emsua testa,masambos tinhamomesmo rostomagro, amesma boca, asmesmas sobrancelhas; os cabelos deTiago levantavam atrás exatamentecomoosdofilho,suasmãospoderiamserasdeleeHarrynãosaberiaadiferença;quandoopaiselevantasse,osdoisteriamquaseamesmaaltura.Tiagodeuumenormebocejoearrepiouoscabelos,deixando-osmaisdespenteadosdoqueantes.
Então,olhandoparaoProf.Flitwick,virou-seesorriuparaoutromeninosentadoquatromesasatrás.Comumnovochoquedeexcitação,HarryviuSiriusergueropolegarparaTiago.Siriussentava-
se descontraído na cadeira, inclinando-a sobre as pernas traseiras. Eramuito bonito; seus cabelosnegroscaíamsobreosolhoscomumaespéciedeelegânciadisplicentequenemTiagonemHarryjamais poderiam ter tido, e uma garota sentada atrás dele omirava esperançosa, embora ele nãoparecesse ter notado. E duasmesas para o lado – o estômago de Harry se virou gostosamente –encontrava-seRemoLupin.Pareciamuitopálidoedoente (a luacheiaestaria seaproximando?), eabsorto no exame: ao reler suas respostas, coçara o queixo com a ponta da pena, franzindoligeiramenteatesta.Isto significava que Rabicho devia estar por ali também... e, sem erro, Harry localizou-o em
segundos:umgarotofranzino,oscabeloscordepeloderatoeumnarizarrebitado.Rabichopareciaansioso:roíaasunhas,olhavafixamenteparaaprova,arranhandoochãocomosdedosdospés.Devez em quando espiava esperançoso para a prova do vizinho. Harry observou Rabicho por ummomento,depoisoprópriopai,queagorabrincavacomumpedacinhodepergaminho.Desenharaumpomoeagoraacrescentavaasletras“L.E.”.Quesignificariam?–Descansemaspenas,porfavor!–esganiçou-seoProf.Flitwick.–Vocêtambém,Stebbins!Por
favor,continuemsentadosenquantorecolhoospergaminhos.Accio!Mais de cem rolos de pergaminho voaram para os braços estendidos do Prof. Flitwick,
derrubando-oparatrás.Váriaspessoasriram.Unsdoisestudantesnasprimeirasmesasselevantaram,seguraramoprofessorpeloscotoveloseolevantaram.–Obrigado...obrigado–ofegouele.–Muitobem,todospodemsair!Harryolhouparaopai,que riscoudepressaas letrasqueestavadesenhando, levantou-sedeum
saltoeenfiouapenaeasperguntasdoexamenamochila,atirou-asobreascostas,e ficouparadoesperandoSirius.Harryolhouparaosladoseviuderelance,aumapequenadistância,Snape,quecaminhavaentre
asmesasemdireçãoàportaparaoSaguãodeEntrada,aindaabsortonopróprioexame.Deombroscurvos mas angulosos, andava de um jeito retorcido, que lembrava uma aranha, e seus cabelosoleosossacudiampelorosto.Uma turmadegarotas separouSnapedeTiago,Sirius eLupin e, plantando-se entre elas,Harry
conseguiuficardeolhoemSnapeenquantoapuravaosouvidosparacaptarasvozesdeTiagoeseusamigos.–Vocêgostoudadécimapergunta,Aluado?–perguntouSiriusquandosaíramnosaguão.–Adorei – respondeuLupin imediatamente. “Cite cinco sinais que identifiquemum lobisomem.”
Umaexcelentepergunta.– Você acha que conseguiu citar todos os sinais? – perguntou Tiago, caçoando com fingida
preocupação.
–Achoquesim–respondeuLupin,sério,quandosereuniramaosalunosaglomeradosàsportasdeentradaparachegaraojardimensolarado.–Primeiro:eleestásentadonaminhacadeira.Dois:eleestáusandominhasroupas.Três:onomedeleéRemoLupin.Rabichofoioúnicoquenãoriu.–Euciteia formado focinho,aspupilasdosolhoseo rabopeludo–disseansioso–,masnão
conseguipensaremmaisnada...– Como pode ser tão obtuso, Rabicho?! – exclamou Tiago, impaciente. – Você anda com um
lobisomemumavezpormês...–Falebaixo–implorouLupin.Harrytornouaolharparatrásansioso.Snapecontinuavapróximo,aindaabsortonasperguntasdo
exame –mas esta era a lembrança de Snape, eHarry tinha certeza de que se Snape decidisse sairandandoemoutradireçãoquandochegasseláfora,ele,Harry,nãopoderiacontinuaraseguiropai.Paraseuprofundoalívio,porém,quandoTiagoeostrêsamigoscomeçaramadescerosgramadosnadireçãodo lago,Snapeos seguiu, aindaverificando as questõesdaprova e aparentemente semideiafixaaondeia.Mantendo-seumpoucoàfrente,HarryconseguiavigiarTiagoeosoutros.–Bom,acheiqueoexamefoimoleza–ouviuSiriuscomentar.–Vaiserumasurpresaseeunão
tirarnomínimoum“Excepcional”.–Eutambém–disseTiago.Enfiouamãonobolsoetirouumpomodeouroquesedebatia.–Ondevocêconseguiuisso?–Afanei–disseTiago,displicente.Ecomeçouabrincarcomopomo,deixando-ovoarunstrinta
centímetros e recapturando-o em seguida; seus reflexos eram excelentes. Rabicho o observavaassombrado.Osamigospararamàsombradamesmíssimafaiaàbeiradolago,ondeHarry,RonyeHermione
haviampassadoumdomingoterminandoosdeveres,eseatiraramnagrama.Harrytornouaespiarporcimadoombroeviu,parasuaalegria,queSnapeseacomodaranagramaàsombradensadeumgrupo de arbustos. Estava profundamente absorto em seu exame como antes, o que deixouHarrylivrepara se sentar nagramaentre a faia eos arbustos, e observarosquatro sob a árvore.O solofuscavanasuperfícielisadolago,àmargemdoqualogrupodegarotasrisonhasqueacabaradedeixaroSalãoPrincipalsesentara,semsapatosnemmeias,refrescandoospésnaágua.Lupinapanharaumlivroeestavalendo.Siriuspassavaosolhospelosestudantesqueandavampelo
gramado,parecendoum tanto arrogante e entediado,masainda assimbonitão.Tiagocontinuavaabrincarcomopomo,deixando-ovoarcadavezmaislonge,quasefugir,massemprerecapturando-onoúltimosegundo.Rabichooobservavaboquiaberto.TodasasvezesqueTiagofaziaumacapturaparticularmente difícil, Rabicho exclamava e aplaudia. Passados cincominutos de repetições destacena,HarryseperguntouporqueopainãomandavaRabichosecontrolar,masTiagopareciaestargostandodaatenção.Harryreparouqueopaitinhaohábitodeassanharoscabelos,comosequisesseimpedi-losdeficarmuitoarrumados,equetambémnãoparavadeolharparaasgarotasjuntoàágua.– Quer guardar isso? – disse Sirius finalmente, quando Tiago fez uma boa captura e Rabicho
deixouescaparumviva–,antesqueRabichomolheascalçasdeexcitação?Rabichocorouligeiramente,masTiagoriu.–Seestouincomodando–retrucoueguardouopomonobolso.Harryteveanítidaimpressãode
queSiriuseraoúnicoparaquemTiagoteriaparadodeseexibir.–Estouchateado.Gostariaquejáfosseluacheia.–Vocêgostaria–disseLupin,sombrio,portrásdolivroquelia.–AindatemosTransfiguração,se
estáchateadopoderiametestar.Pegueaqui...–Eestendeuolivro.MasSiriusdeuumarisadaabafada.–Nãoprecisoolharparaessasbobagens,jáseitudo.
–Issovaianimarvocêumpouco,Almofadinhas–comentouTiagoemvozbaixa.–Olhemqueméque...Siriusvirouacabeça.Ficoumuitoquieto,comoumcãoquefarejouumcoelho.–Excelente–dissebaixinho.–Ranhoso.HarrysevirouparaveroqueSiriusestavaolhando.Snapeestavanovamenteempé,eguardavaasperguntasdoexamenamochila.Quandodeixoua
sombradosarbustosecomeçouaatravessarogramado,SiriuseTiagoselevantaram.LupineRabichocontinuaramsentados:Lupinlendoolivro,emboraseusolhosnãoestivessemse
movendoeumaligeiraruga tivesseaparecidoentresuassobrancelhas;RabichoolhavadeSiriuseTiagoparaSnape,comumaexpressãodeávidoantegozonorosto.–Tudocerto,Ranhoso?–falouTiagoemvozalta.Snape reagiu tão rápidoqueparecia estar esperandoumataque: deixou cair amochila,meteu a
mãodentrodasvestesesuavarinhajáestavametadeparaforaquandoTiagogritou:–Expelliarmus!AvarinhadeSnapevoouquasequatrometrosdealturaecaiucomumpequenobaquenogramado
àssuascostas.Siriussoltouumagargalhada.–Impedimenta! – disse, apontando a varinha paraSnape, que foi atirado no chão aomergulhar
pararecuperaravarinhacaída.Os estudantes ao redor se viraram para assistir. Alguns haviam se levantado e foram se
aproximando.Outrospareciamapreensivos,aindaoutros,divertidos.Snape estava no chão, ofegante. Tiago e Sirius avançaram empunhando as varinhas, Tiago, ao
mesmo tempo espiando por cima do ombro as garotas à beira do lago. Rabicho se levantaraassistindoàcenaavidamente,contornandoLupinparaterumaperspectivamelhor.–Comofoioexame,Ranhoso?–perguntouTiago.–Euvi,onarizdeleestavaquaseencostandonopergaminho–disseSiriusmaldosamente.–Vaiter
manchasenormesdegorduranoexametodo,nãovãopoderlernemumapalavra.Váriaspessoasqueacompanhavamacenariram;Snapeeraclaramenteimpopular.Rabichosoltava
risadinhasagudas.Snapetentavaseerguer,masaazaraçãoaindaoimobilizava;elelutavacomoseestivesseamarradoporcordasinvisíveis.– Espere... para ver – arquejava, encarando Tiago com uma expressão demais pura aversão –,
espere...paraver!– Espere para ver o quê? – retrucou Sirius calmamente. –Que é que você vai fazer, Ranhoso,
limparoseunarizemnós?Snapedespejouumjorrodepalavrõeseazarações,mascomavarinhaatrêsmetrosdedistância
nadaaconteceu.–Lavesuaboca–disseTiagofriamente.–Limpar!Bolhasdesabãocor-de-rosaescorreramdabocadeSnapenahora;aespumacobriuseuslábios,
fazendo-oengasgar,sufocar...–DeixemeleemPAZ!TiagoeSiriusseviraram.Tiagolevouamãolivreimediatamenteaoscabelos.Eraumadasgarotasàbeiradolago.Tinhacabelosespessoseruivosquelhecaíampelosombros
eolhosamendoadossensacionalmenteverdes–osolhosdeHarry.AmãedeHarry.–Tudobem,Evans?–disseTiago,eoseutomdevozsetornouimediatamenteagradável,mais
graveemaismaduro.– Deixem ele em paz – repetiu Lílian. Ela olhava para Tiago com todos os sinais de intenso
desagrado.–Quefoiqueelelhefez?
–Bom– explicouTiago, parecendopesar apergunta–, émaispelo fatode existir, se vocêmeentende...Muitos estudantes que os rodeavam riram, Sirius e Rabicho inclusive, mas Lupin, ainda
aparentementeabsortoemseulivro,nãoriu,nemLíliantampouco.–Vocêseachaengraçado–disseelacomfrieza.–Masvocênãopassadeumcafajeste,tiranoe
arrogante,Potter.Deixeeleempaz.–Deixosevocêquisersaircomigo,Evans–respondeuTiagodepressa.–Anda...saicomigoeeu
nuncamaisencostareiumavarinhanoRanhoso.Às costas dele, a Azaração de Impedimento ia perdendo efeito. Snape estava começando a se
arrastarpoucoapoucoemdireçãoàsuavarinhacaída,cuspindoespumaenquantosedeslocava.–Eunãosairiacomvocênemquetivessedeescolherentrevocêealula-gigante–replicouLílian.–Maujeito,Pontas–disseSirius,animado,esevoltouparaSnape.–OI!Mastardedemais;SnapetinhaapontadoavarinhadiretamenteparaTiago;houveumlampejoeum
corteapareceuemsuaface,salpicandosuasvestesdesangue.Elegirou:umsegundolampejodepois,Snapeestavapenduradonoarde cabeçaparabaixo, asvestespeloavesso revelandopernasmuitomagrasebrancasecuecasencardidas.Muitagentenapequenaaglomeraçãoaplaudiu:Sirius,TiagoeRabichodavamgargalhadas.Lílian,cujaexpressãosealteraraporuminstantecomosefossesorrir,disse:–Ponhaelenochão!– Perfeitamente. – E Tiago acenou com a varinha para o alto; Snape caiu embolado no chão.
Desvencilhou-se das vestes e se levantou depressa, com a varinha na mão, mas Sirius disse:“PetrificusTotalus”,eSnapeemborcououtravez,durocomoumatábua.–DEIXEELEEMPAZ!–berrouLílian.Puxaraaprópriavarinhaagora.TiagoeSiriusaolharam
preocupados.–Ah,Evans,nãomeobrigueaazararvocê–pediuTiago,sério.–Entãodesfaçaofeitiçonele!Tiagosuspirouprofundamente,entãosevirouparaSnapeemurmurouumcontrafeitiço.–Pronto–disse,enquantoSnapeprocuravaselevantar.–VocêtemsortedequeEvansestejaaqui,
Ranhoso...–NãoprecisodaajudadeumaSangueruimimundacomoela!Lílianpestanejou.–Ótimo – respondeu calmamente. –No futuro, nãome incomodarei. E eu lavaria as cuecas se
fossevocê,Ranhoso.–PeçadesculpaaEvans!–berrouTiagoparaSnape,apontando-lheavarinhaameaçadoramente.–Nãoqueroquevocêoobrigueasedesculpar–gritouLílian,voltando-secontraTiago.–Vocêé
tãoruimquantoele.–Quê?EuNUNCAchamariavocêde...vocêsabeoquê!– Despenteando os cabelos só porque acha que é legal parecer que acabou de desmontar da
vassoura,seexibindocomessepomoidiota,andandopeloscorredoreseazarandoqualquerumqueoaborreçasóporqueécapaz...atésurpreendequeasuavassouraconsigasairdochãocomopesodessacabeçacheiadetitica.VocêmedáNÁUSEAS.E,virandoascostas,elaseafastoudepressa.–Evans!–gritouTiago.–Ei,EVANS!MasLíliannãoolhouparatrás.–Qualéoproblemadela?–perguntouTiago, tentando,masnãoconseguindofazerparecerque
fosseapenasumaperguntasemrealimportânciaparaele.–Lendonasentrelinhas,eudiriaqueelaachavocêmetido,cara–disseSirius.
–Certo–respondeuTiago,quepareciafuriosoagora–,certo...Houveoutrolampejo,eSnape,maisumavez,ficoupenduradonoardecabeçaparabaixo.–QuemquervereutirarascuecasdoRanhoso?MasseTiagorealmenteastirou,Harrynuncachegouasaber.Umamãoagarrou-ocomforçapelo
braço, fechando-se comouma tenaz. Fazendo uma careta de dor,Harry se virou para ver quemoagarrava e deparou, com uma sensação de horror, com um Snape totalmente crescido, um Snapeadulto,paradobemaoladodele,lívidoderaiva.–Estásedivertindo?Harrysesentiuerguidonoar;odiadeverãoseevaporouàsuavolta;flutuouporumaescuridão
gelada,amãodeSnapeaindaapertandoseubraço.Então,comumasensaçãodedesmaio,comosetivessedadoumacambalhotanoar,seuspésbateramnopisodepedradamasmorradeSnape,eeleseviumaisumavezaoladodaPenseirasobreaescrivaninhadobruxo,noescritórioatualesombriodoprofessordePoções.–Então–disseSnapeapertandotantoobraçodeHarryqueamãodogarotoestavacomeçandoa
ficardormente.–Então...andousedivertindo,Potter?–N-não–respondeuHarry,tentandosoltarseubraço.Eraapavorante:oslábiosdeSnapetremiam,seurostoestavabranco,seusdentesarreganhados.–Umhomemdivertido,oseupai,nãoera?–perguntouSnape,sacudindo-otantoqueseusóculos
escorregarampelonariz.–Eu...não...SnapeatirouHarryparalongecomtodaaforça.Ogarotocaiupesadamentenopisodamasmorra.–Vocênãovaicontaraninguémoqueviu!–berrouSnape.–Não–disseHarry,pondo-seempéomaislongedoprofessorquepôde.–Não,claroque...–Foradaqui,foradaqui,nuncamaisquerovervocênaminhasala!EquandoHarryseprecipitavaemdireçãoàporta,umfrascodebaratasmortasestourouporcima
desuacabeça.Elepuxouaportacomforçaevooupelocorredorafora,parandoapenasquandojáestava a três andares de distância deSnape.Ali encostou-se na parede, arquejando e esfregando obraçomachucado.Não tinha o menor desejo de voltar à Torre da Grifinória tão cedo, nem de contar a Rony e
Hermione o que acabara de ver. O que o fazia sentir-se horrorizado e infeliz não era Snape tergritadonematiradofrascos;massaberoqueeraserhumilhadoempúblico,saberexatamentecomoSnapesesentiraquandoseupaioatormentara,eajulgarpeloqueacabaradepresenciar,seupaiforatãoarrogantequantoSnapesempreoacusaradeser.
—CAPÍTULOVINTEENOVE—Orientaçãovocacional
–MasporquevocênãotemmaisaulasdeOclumência?–perguntouHermione,enrugandoatesta.–Eujáfalei–resmungouHarry.–Snapeachaquepossocontinuarsozinho,agoraquejáaprendio
básico.–Querdizerquevocêparoudetersonhosesquisitos?–perguntouHermione,incrédula.–Quase–respondeuHarry,semolharparaela.–Bom,achoqueSnapenãodeviapararatévocêtercertezaabsolutadequeécapazdecontrolá-
los!–disseHermione,indignada.–Harry,achoquevocêdeviavoltarláepedir...–Não–disseHarryenfaticamente.–Esquece,Hermione,o.k.?EraoprimeirodiadosferiadosdePáscoaeHermione,comoeraseuhábito,passaraumagrande
partedodiapreparandohoráriosderevisãoparaostrês.HarryeRonyadeixarampreparar;eramaisfácildoquediscutircomaamigae,emtodoocaso,poderiamserúteis.Ronyseassustaraaodescobrirquesófaltavamseissemanasparaosexames.– Como isso pode ser surpresa para você? – perguntou Hermione enquanto coloria cada
quadradinhodohoráriodeRonycomumtoquedevarinhadeacordocomadisciplina.–Nãosei–comentouRony–,temacontecidomuitacoisa.–Bom,terminei–disseela,entregando-lheohorário.–Seseguiroqueestáaívaisedarbem.Ronyexaminouopergaminhodeprimido,maslogoseanimou.–Vocêmedeuumanoitedefolgaporsemana!–Paraotreinodequadribol.Osorrisodesapareceudoseurosto.–Dequeadianta?–dissedesanimado.–AnossachancedeganharaCopadeQuadribolesteanoé
amesmadepapaivirarministrodaMagia.Hermionenão respondeu, observavaHarry, que fixava imóvel a paredeoposta da sala comunal
enquantoBichentodavapatadinhasemsuamãopedindoparaogarotolhecoçarasorelhas.–Quefoi,Harry?–Quê?–dissedepressa.–Nada.EleapanhouseuexemplardeTeoriadadefesaemmagiaefingiuestarprocurandoalgumacoisano
índice.Bichentoconsiderou-oummaunegócio,efoiseesconderembaixodapoltronadeHermione.–ViChohojecedo–disseHermionesondando.–Pareciamuitoinfeliz,também...vocêsbrigaram
outravez?–Qu...ah,foi,brigamos–disseHarry,agarrandoadesculpa,agradecido.–Porquê?–Aqueladedo-duroamigadela,aMarieta.–É,bom,eufariaomesmo!–disseRonyzangado,baixandoohorárioderevisões.–Senãofosse
ela...Rony saiudesfiando reclamações sobreMarietaEdgecombe,queHarryachouútil; sóprecisava
amarraracara,confirmarcomacabeçaedizer:“É”e“Certo”,semprequeRonyparavaparatomarfôlego,deixandoamentelivrepararefletir,sempremaisinfeliz,noqueviranaPenseira.
Sentiaquealembrançadaquelascenasodevoravapordentro.Tiveratantacertezadequeseuspaiseram pessoasmaravilhosas que nunca hesitara em descrer das acusações que Snape fazia sobre ocaráterdoseupai.GentecomoHagrideSiriusnãohavialheditoqueseupaiforamaravilhoso?(É,vejacomoeraopróprioSiriusàépoca,disseumavozinsistentenacabeçadeHarry...eleeratãoruimquantoooutro,nãoera?)Verdade,escutaraumavezaProfaMcGonagallcomentarqueopaideleeSirius tinhamsidocriadoresdecasosnaescola,masosdescreveracomoprecursoresdosgêmeosWeasley,eHarrynãoconseguiaimaginarFredeJorgependurandoalguémdecabeçaparabaixosóparasedivertirem...anãoserquerealmenteodetestassem...talvezMalfoy,oualguémquerealmentemerecesse...HarrytentaraargumentarqueSnapetalveztivessemerecidooquesofreranasmãosdeTiago,mas
Lílianperguntara:“Quefoiqueele lhefez?”Eseupairespondera:“Émaispelofatodeexistir, sevocêmeentende.”TiagonãocomeçaratudosimplesmenteporqueSiriusdisseraqueestavachateado?HarryselembravadeLupintercomentadonolargoGrimmauldqueDumbledoreonomearamonitorna esperança de que pudesse exercer algum controle sobre Tiago e Sirius...mas, na Penseira, eleficarasentadoaliedeixaratudoacontecer...Harry não parava de se recordar de que Lílian interferira: sua mãe fora decente. Contudo, a
lembrançadaexpressãoemseurostoquandoelagritaracomTiagooperturbaramaisquequalqueroutracoisa;eravisívelqueelaodetestava,eHarrysimplesmentenãoconseguiaentendercomoéquetinhamacabadosecasando.UmaouduasvezeschegaraaseperguntarseTiagoateriaforçado...Durante quase cinco anos pensar em seu pai havia sido uma fonte de consolo, de inspiração.
Semprequealguémdiziaqueeleeraigualaopai,eleseiluminavaintimamentedeorgulho.Eagora...agorasentiafriezaeinfelicidadeaopensarnele.Otemposetornoumaisventoso,claroequentecomapassagemdasfériasdaPáscoa,masHarrye
os demais alunos do quinto e do sétimo ano estavam prisioneiros, revisando as matérias, indo evoltandodabiblioteca.Harryfingiaqueseumauhumornãotinhaoutracausasenãoaproximidadedosexames,e,comoseuscolegasdaGrifinóriatambémestavamfartosdeestudar,suadesculpanãoeraquestionada.–Harry,estoufalandocomvocê,estámeouvindo?–Hum?Eleolhou.GinaWeasley,parecendo tersaídodeumvendaval, tinhase juntadoaelenamesada
bibliotecaemqueseencontravasozinho.Eradomingo,tardedanoite,HermionevoltaraàTorredaGrifinóriapararevisarRunasAntigas,eRonytinhatreinodequadribol.–Ah,oi–disseHarry,puxandooslivrosparaperto.–Porquevocênãoestánotreino?–Jáacabou.RonytevedelevarJucaSloperàalahospitalar.–Porquê?–Bom,não temosmuitacerteza,masachamosqueelesederruboucomoprópriobastão.–Ela
soltouumpesadosuspiro.–Emtodoocaso...chegouumaencomenda,eacaboudepassarpelonovoprocessodeverificaçãodaUmbridge.Ela levantou um embrulho de papel pardo e o colocou sobre a mesa; fora claramente
desembrulhado e descuidadamente reembrulhado. Trazia uma anotação em tinta vermelha com osdizeres:InspecionadoeAprovadopelaAltaInquisidoradeHogwarts.–SãoovosdePáscoamandadospelamamãe.Temumparavocê...pegue.Ginalheentregouumbeloovodechocolateenfeitadocompequeninospomosdeglacêe,segundo
dizianaembalagem,continhaumsaquinhodeDelíciasGasosas.Harrycontemplouopresenteporummomento,então,paraseuhorror,sentiuumnónagarganta.–Vocêestáo.k.,Harry?–perguntouagarota,calma.–Tô,tôótimo–disseHarry,rouco.Onóemsuagargantadoía.Elenãoentendeuporqueumovo
dePáscoaoteriafeitosesentirassim.–Vocêparecerealmentedeprimidoessesdias–insistiuGina.–Sabe,tenhocertezadequesevocê
falassecomaCho...–NãoécomaChoquequerofalar–respondeuelebruscamente.–Comqueméentão?–perguntouGina.–Eu...Harryolhouparaosladosparaverificarsehaviaalguémouvindo.MadamePinceestavaavárias
estantesdedistância,carimbandoasaídadeumapilhadelivrosparaumanervosaAnaAbbott.–GostariadepoderfalarcomoSirius–murmurou.–Masseiquenãoposso.Maisparaseocuparcomalgumacoisadoqueporqueestivessecomvontade,Harryabriuseuovo
dePáscoa,partiuumbompedaçoeenfiou-onaboca.–Bom–disseGinalentamente,servindo-sedeumpedacinhotambém–,sevocêquermesmofalar
comSirius,imaginoquepoderíamospensaremumjeito.–Nemvem–disseHarry,semesperanças.–ComaUmbridgepoliciandoaslareiraselendotodaa
nossacorrespondência?–O bomde ser criada comFred e Jorge – disse a garota, pensativa – é que a gentemeio que
começaaacharquetudoépossíveldesdequesetenhacoragem.Harryolhouparaagarota.Talvezfosseoefeitodochocolate–Lupinsemprerecomendaracomer
chocolatedepoisdeenfrentarDementadores–ousimplesmenteporqueeleenfimexpressaraemvozaltaodesejoqueardiaemseuíntimohaviaumasemana,maselesesentiumaisesperançoso.–QUEÉQUEVOCÊSACHAMQUEESTÃOFAZENDO?–Quedroga–sussurrouGinaficandoempéimediatamente.–Meesqueci...MadamePinceveioemdireçãoaosgarotos,seurostoenrugadocontorcidodefúria.–Chocolatenabiblioteca!–berrou.–Fora...fora...FORA!E, puxando a varinha, fez os livros, a mochila e o tinteiro de Harry expulsarem os dois da
biblioteca,batendonacabeçadelesenquantocorriam.
Como se quisessemenfatizar a importância dos exames, agora próximos, umpacote de panfletos,folhetos e avisos, abordando as várias carreiras para bruxos, apareceu nas mesas da Torre daGrifinória pouco antes do término das férias, aomesmo tempo que um aviso no quadro dizia oseguinte:
ORIENTAÇÃOVOCACIONALTodososquintanistasdeverãoterumabrevereuniãocomadiretoradesuaCasaduranteaprimeirasemana do trimestre de verão para discutir suas futuras carreiras. Os horários das consultasindividuaisestãolistadosabaixo.
HarrycorreuosolhospelalistaedescobriuqueeraesperadonasaladaProfaMcGonagallàsduasemeiadatardedesegunda-feira,oquesignificariaperderamaiorpartedaauladeAdivinhação.Eleeoutrosquintanistaspassaramumaboapartedoúltimo fimdesemanadas fériasdePáscoa lendotodasasinformaçõessobrecarreirasquehaviamsidodeixadasemsuaCasa.–Bom,nãoestouinteressadoemserCurandeiro–declarouRonynaúltimanoitedasférias.Lia
concentrado um folheto que tinha na capa um osso e uma varinha cruzados, o emblema do St.Mungus. – Diz aqui que preciso no mínimo de um “E” nos N.O.M.s de Poções, Herbologia,Transfiguração, Feitiços e Defesa Contra as Artes das Trevas. Quero dizer... caracas... não estãoquerendonada,nãoé?–Bom, é uma profissão demuita responsabilidade, não acha? – falouHermione, distraída. Ela
examinava atentamente um folheto rosa e laranja intitulado: “ENTÃO VOCÊ ACHA QUEGOSTARIADETRABALHAREMRELAÇÕESCOMOSTROUXAS?”–Parecequenãoéprecisomuitaqualificaçãoparafazeraligaçãocomtrouxas;sópedemumN.O.M.emEstudosdosTrouxas:Muitomaisimportanteéoseuentusiasmo,paciênciaeumbom-sensodehumor!–Vocêprecisariamuitomaisdoqueumbom-sensodehumorparafazeraligaçãocomomeutio–
comentou Harry sombriamente. – Bom-senso para saber a hora de se proteger, o que é maisprovável.–Eleestavanametadedeumpanfletosobreosistemabancáriobruxo.–Escutemsóisso:Vocêestáprocurandoumacarreiraestimulantequeofereceviagens,aventurasesubstanciaisabonosdotesouroparacompensarosriscos?EntãopenseemtrabalharparaoBancoBruxoGringotes,queno momento está recrutando desfazedores de feitiços para emocionantes cargos no exterior... MasexigemAritmancia:vocêpoderiasecandidatar,Hermione!–Nãogostomuitodebancos–respondeuelavagamente,agoraabsortanaleiturade:“VOCÊTEM
ASQUALIDADESNECESSÁRIASPARATREINARTRASGOSDESEGURANÇA?”–Ei – chamou uma voz ao ouvido deHarry.O garoto se virou: Fred e Jorge tinhamvindo se
reuniraeles.–Ginanosdeuumapalavrinhasobrevocê–disseFred,esticandoaspernasnamesaemfrenteefazendovárioslivretossobrecarreirasnoMinistériodaMagiaescorregaremparaochão.–EladizquevocêprecisafalarcomSirius?–Quê?–disseHermionenahora,parandonoaramãoqueestendiaparaapanhar“ESTOURENO
DEPARTAMENTODEACIDENTESECATÁSTROFESMÁGICAS”.–É...–disseHarrytentandoparecerdisplicente–,é,acheiquegostaria...– Não seja ridículo – disse Hermione se levantando e encarando-o como se não conseguisse
acreditarnoqueouvia.–ComaUmbridgemetendoamãonaslareiraserevistandoascorujas?–Bom,achamosquepodemoscontornarisso–disseJorge,seespreguiçandosorridente.–Basta
simplesmentepromoverumadistração.Ora,vocêtalveztenhanotadoqueandamosmuitoquietosnofrontdocaosnasfériasdePáscoa?–Dequeadiantava,nósnosperguntamos,estragaratemporadadelazer?–continuouFred.–De
nada,respondemos.E,naturalmente,estaríamostambématrapalhandoasrevisõesdoscolegas,oqueseriaaúltimacoisaqueíamosquererfazer.FredsacudiuacabeçafazendocaradesantoparaHermione.Elaficoubastantesurpresacomasua
consideração.–Masamanhãrecomeçamosvidanormal–continuoueleanimado.–Esevamoscausarumcerto
tumulto,porquenãofazerissodemodoqueHarrypossabaterumpapocomoSirius?–Sei,masainda assim – falouHermione, com ar de quem explica uma coisamuito simples a
alguémmuitoobtuso–,mesmoquevocêspromovamumadistração,comoéqueHarryvaifalarcomopadrinho?–NasaladaUmbridge–disseHarrybaixinho.Andava pensando nisso havia quinze dias e não encontrara nenhuma alternativa. A própria
Umbridgelhedisseraqueaúnicalareiraquenãoestavasendovigiadaeraadela.–Você...enlouqueceu?!–exclamouHermionenumsussurro.Rony baixara o folheto sobre carreiras no Comércio de Fungos Cultivados, e observava a
conversadesconfiado.–Achoquenão–respondeuHarrysacudindoosombros.–Ecomoéquevocêvaichegarlá,paracomeçar?Harryestavapreparadoparaapergunta.–OcanivetedeSirius.–Como?–NoNataldoano retrasadoSiriusmedeuumcanivetequeabrequalquer fechadura–explicou
Harry.–Então,mesmoqueaUmbridgetenhaenfeitiçadoaportacomumAlohomora,oqueapostoquefez,nãovaiadiantar...–Queéquevocêacha?–perguntouHermioneaRony,eHarryse lembrou irresistivelmenteda
Sra.WeasleyapelandoparaomaridoduranteoprimeirojantardeHarrynolargoGrimmauld.–Nãosei–disseRony,assustadoquealguémlhepedisseparadarumaopinião.–SeéoqueHarry
querfazer,eleéquemdecide,nãoé?–VocêfaloucomoumverdadeiroamigoeumautênticoWeasley–disseFred,dandoumfortetapa
nascostasdoirmão.–Certo,então.Estamospensandoemfazerissoamanhã,logodepoisdasaulas,porquecausarámaiorimpactosetodosestiveremnoscorredores;Harry,vamoscomeçaremalgumpontodaalalesteparatiraraUmbridgeimediatamentedasala;imaginoquepoderemoslhegarantir,oquê,unsvinteminutos?–perguntouolhandoparaJorge.–Fácil.–Quetipodedistraçãovaiser?–perguntouRony.–Você verá,maninho – disse Fred enquanto se levantava com Jorge. –Ou pelomenos verá se
estiverandandopelocorredordoGregóriooLambe-botasamanhãporvoltadascincodatarde.
Harry acordou muito cedo no dia seguinte, sentindo-se quase tão ansioso quanto na manhã daaudiência disciplinar noMinistério daMagia.Não era apenas a perspectiva de arrombar a sala deUmbridgeeusaralareiraparafalarcomSiriusqueodeixavanervoso,emboraissojáfossebastanteruim; hoje também seria a primeira vez queHarry chegaria perto de Snape desde que o bruxo oexpulsaradesuasala.Depoisdecontinuarnacamaporumtempinho,pensandonodiaqueoesperava,Harryselevantou
sem fazer barulho, foi até a janela ao lado da cama de Neville e contemplou amanhã realmentegloriosa.Océuestavaazul-claro,enevoado,opalescente.Bememfrente,Harryviuafaiaaltaneiraembaixo da qual seu pai um dia atormentara Snape. Não tinha muita certeza se Sirius iria dizeralgumacoisaquepudesseneutralizaroqueeleviranaPenseira,masestavadesesperadoparaouviraversão do padrinho sobre a cena, conhecer as atenuantes que houvesse, qualquer desculpa para ocomportamentodopai...UmacoisachamouaatençãodeHarry:ummovimentonaorladaFlorestaProibida.Harryapertou
osolhoscontraaclaridadedosoleviuHagridsaindodeentreasárvores.Pareciamancar.EnquantoHarry observava, ele cambaleou até a porta da cabana e desapareceu em seu interior. O garotocontinuouaobservaracabanaduranteváriosminutos.Hagridnãoreapareceu,massaiuumaespiraldefumaçadesuachaminé,oqueindicavaquenãopoderiaestartãomachucadoquenãofossecapazdeacenderofogão.Harryseafastoudajanela,voltou-separaoseumalãoecomeçouasevestir.AnteaperspectivadeforçaraportadasaladeUmbridgeparaentrar,Harrynãoesperaraqueodia
fossetranquilo,masnãolevaraemcontaasquasecontínuastentativasdeHermionededissuadi-lodoquepretendiafazeràscincohoras.Pelaprimeiraveznavida,elaestava,nomínimo,tãodesatentaaoque o Prof. Binns dizia em História da Magia quanto Harry e Rony, não parando de cochicharrecomendaçõesqueelefezgrandeesforçoparaignorar.–...eseelaapanharvocêládentro,alémdeexpulsá-lo,poderáconcluirquevocêandoufalando
comSnuffles, e, desta vez, imagino que o forçará a beber a Poção daVerdade e a responder àsperguntasdela...–Hermione–disseRonyemvozbaixa e indignada–,vocêvaiparardebrigar comoHarry e
escutaroqueoBinnsdizouvouterdefazerminhasprópriasanotações?–Façavocêasanotaçõesparavariar,nãovaimorrerporisso!Naalturaemquechegaramàsmasmorras,nemHarrynemRonyestavamfalandocomHermione.
Sem se importar, ela se aproveitou do silêncio dos amigos paramanter um fluxo ininterrupto desériosalertas,falandoemvozbaixaesibilandocomveemência,oquelevouSimasaperdercincominutosinteirosprocurandofurosemseucaldeirão.Entrementes, Snape parecia resolvido a agir como se Harry fosse invisível. O garoto estava,
naturalmente,habituadoaessatática,porqueeraumadaspreferidasdoseutioVálter,e,deummodogeral, se sentiu grato por não ter de sofrer nada pior. Aliás, comparado ao que normalmenteprecisavaaturardeSnapeemmatériade ironiase indiretas, achouanovaatitudeumprogresso, eficou contente ao descobrir que, quando era deixado em paz, conseguia preparar uma PoçãoRevigorante sem problemas. No fim da aula, ele recolheu um pouco da poção em um frasco,arrolhou-oeolevouàmesadeSnapeparanota,sentindoquetalveztirassefinalmenteum“E”.Acabaradesevirarquandoouviuobarulhodealgumacoisaquebrando.Malfoydeuumgritode
alegria.Harrysevirou.AamostradesuapoçãoestavaempedaçosnochãoeSnapeoobservavacomumaexpressãodetriunfantesatisfação.–Upa–dissesuavemente.–Maisumzero,então,Potter.Harry se sentiu indignadodemais para falar.Voltou ao seu caldeirão, coma intençãode encher
outrofrascoeforçarSnapealhedarnota,mas,paraseuhorror,asobradesaparecera.–Sintomuito!–disseHermione,levandoasmãosàboca.–Sintomuitomesmo,Harry.Penseique
vocêtivesseterminado,entãolimpeiocaldeirão.Harry não conseguiu responder.Quando a sineta tocou, saiu correndo damasmorra, semolhar
para trás, e fez questão de arranjar um lugar entreNeville e Simas para almoçar, para evitar queHermionerecomeçasseaatormentá-loporcausadousodasaladaUmbridge.SeumauhumoreratantoquandochegouàAdivinhaçãoqueseesqueceradaorientaçãovocacional
comaProfaMcGonagall,sólembrandoquandoRonylheperguntouporquenãoestavanasaladela.Tornouasubirdesabalado,echegousemfôlegoalgunsminutosdepois.–Desculpe,professora–arquejou,fechandoaporta.–Meesqueci.–Nãotemimportância,Potter.–Mas,quandofalou,alguémfungouaumcanto.Harryolhou.A Profa Umbridge se achava sentada ali, com a prancheta sobre os joelhos, um babadinho
exageradoemtornodopescoçoeumsorrisinhomedonhonorosto.–Sente-se,Potter–disseaProfaMcGonagallsecamente.Suasmãostremiamumpoucoenquanto
rearrumavaosmuitospanfletosqueseamontoavamemsuamesa.HarrysesentoudecostasparaaUmbridgeefezopossívelparafingirquenãoaouviaarranhando
apenanaprancheta.–Bom,Potter,estareuniãoéparadiscutirmosasideiassobrecarreirasquevocêjátenha,eajudá-
loadecidirquedisciplinasvocêdevefazernosextoesétimoanos–começouMcGonagall.–VocêjápensounoquegostariadefazerquandoterminasseHogwarts?–Ah...Eleestavaachandoaqueleruídodapenaarranhandoopapelmuitoincômodo.–Sim?–incentivouaprofessora.–Bom,pensei,talvez,emserauror–murmurouHarry.–Vocêprecisariadenotasexcelentesparaisso–disseaProfaMcGonagall,puxandoumafolhinha
escuradebaixodospapéis em suamesa e abrindo-a. –Exige-seummínimode cincoN.I.E.M.s, enenhumanotaabaixode“Excepcional”,peloquevejo.Depoisvocêteriadepassarporumasériedetestes rigorosos de caráter e aptidão, na Seção deAurores. É uma carreira difícil, Potter, em quesomenteseaceitamosmelhores.Defato,nãomelembrodeteremaceitadoninguémnosúltimostrêsanos.Nestemomento,aProfaUmbridgedeuumpigarrinho,comoseestivesseexperimentandoparaver
seerapossíveldá-lobembaixo.McGonagallignorou-a.
– Suponho que queira saber que disciplinas precisará estudar, não? – continuou a professoraelevandoumpoucoavoz.–Quero.SuponhoqueDefesaContraasArtesdasTrevas,não?–Naturalmente–disseaProfaMcGonagallcomvivacidade.–Eutambémaconselharia...A Profa Umbridge tossiu outra vez,mais audivelmente agora.McGonagall fechou os olhos um
instante,reabriu-osecontinuoucomosenadativesseacontecido.– Eu também aconselharia Transfiguração, porque os aurores muitas vezes precisam se
transfiguraredestransfiguraremseutrabalho.Edevopreveni-lo,Potter,quenãoaceitoalunosnasminhas turmasdeN.I.E.Mquenão tenhamobtido “Excede asExpectativas” ounotasmais altas noN.O.M.Eudiriaquesuamédiaé“Aceitável”nomomento,entãoiráprecisarseesforçarmuitoantesdosexamesparaterumachancedeprosseguir.Depois,terádeestudarFeitiços,sempreútil,ePoções–acrescentou,comumsorrisoquaseimperceptível.–Venenoseantídotossãodisciplinasessenciaisparaosaurores.EdevolhedizerqueoProf.Snapeabsolutamenteserecusaaaceitaralunosquenãotenhamobtido“Excepcional”nosN.O.M.s,portanto...AProfaUmbridgedeuatossidamaisforteatéaquelemomento.–Possolheoferecerumapastilhaparatosse,Dolores?–perguntouMcGonagall,secamente,sem
olhá-la.– Ah, não, muito obrigada – disse Umbridge com aquele sorrisinho afetado que Harry tanto
odiava.–Estivepensando,seráquepossofazerumamínimainterrupçãozinha,Minerva?–Achoquevocêvaidescobrirquepode–disseaProfaMcGonagallporentreosdentescerrados.– Eu estava me perguntando se o Sr. Potter tem o temperamento certo para ser auror – disse
meigamente.–Estavaé?–disseaProfaMcGonagall,insolente.–Bom,Potter–continuou,comosenãotivesse
havidointerrupção–,seasuaambiçãoéséria,euoaconselhariaaseprepararemTransfiguraçãoePoções à altura das exigências. Vejo que o Prof. Flitwick tem lhe dado “Aceitável” e “Excede asExpectativas” nos últimos dois anos, então parece que em Feitiços o seu preparo é satisfatório.Quanto à Defesa Contra as Artes das Trevas, suas notas têm sido em geral altas, o Prof. Lupinparticularmenteachouvocê...temcertezadequenãogostariadeumapastilhaparatosse,Dolores?–Ah,nãoprecisa,muitoobrigada,Minerva–dissesorrindoafetadamenteaProfaUmbridge,que
acabara de tossir aindamais alto que das últimas vezes. –Estava preocupada que você talvez nãotivesseasnotasmaisrecentesdeHarryemDefesaContraasArtesdasTrevas.Tenhoquasecertezadequeincluíumbilhete.–Oquê, essa coisa? – perguntouMcGonagall num tomde repugnância, puxando uma folha de
pergaminhocor-de-rosadapastadeHarry.Ela a leu, as sobrancelhas ligeiramente erguidas, e emseguidatornouaguardá-lanapasta,semfazercomentários.–Bom, como eu ia dizendo, Potter, o Prof. Lupin achou que você demonstrava uma acentuada
aptidãoparaadisciplinae,obviamente,paraserauror...–Vocêentendeuomeubilhete,Minerva?–perguntouUmbridgedocemente,esquecendodetossir.–Claroqueentendi–respondeuMcGonagall,comosdentestãocerradosqueaspalavrassaíram
umpoucoabafadas.–Bom,então,estouconfusa...ReceionãoentendercomoéquevocêpodedaraoSr.Potterafalsa
esperançadeque...–Falsaesperança?– repetiuaProfaMcGonagall, aindase recusandoaolharparaaoutra.–Ele
obtevenotasaltasemtodososexamesdeDefesaContraasArtesdasTrevas...–Sintomuitoterdecontradizê-la,Minerva,mas,comopodevernomeubilhete,Harrytemobtido
resultadosmuitofracosnasminhasaulas...–Eudeviaterfaladocommaisclareza–retrucouaProfaMcGonagall,finalmentesevirandopara
encararUmbridgenosolhos.–EleobtevenotasaltasemtodososexamesdeDefesaContraasArtesdasTrevasaplicadosporumprofessorcompetente.O sorriso deUmbridge desapareceu com amesma rapidez de uma lâmpada queimando. Ela se
recostounacadeira,virouumafolhanapranchetaecomeçouaescreverrealmentemuitodepressa,seus olhos saltados correndo de um lado para outro.A ProfaMcGonagall tornou a se voltar paraHarry,suasnarinasestreitasarreganhadas,seusolhosemchamas.–Algumapergunta,Potter?–Sim.QuetipodetestesdecarátereaptidãooMinistérioaplicanocandidato,seeletiverN.O.M.s
suficientes?– Bom, você precisará demonstrar capacidade de reagir bem às pressões, perseverança e
dedicação, porque o treinamento para auror leva mais três anos, para não falar na habilidadeexcepcionalemdefesaprática.Significarámuitoestudomesmodepoisdeterterminadoaescola,porissoanãoserquevocêestejadispostoa...–Achoquevocêtambémdescobrirá–disseUmbridge,avozmuitofriaagora–queoMinistério
examinaafichadosquesecandidatamaauror.Afichapolicial.–...afazeroutrostantosexamesdepoisdeHogwarts,vocêdeveriarealmenteconsideraroutra...–OquesignificaqueestegarototemtantachancedesetornaraurorquantoDumbledoredealgum
diavoltaraestaescola.–Então,éumaótimachance.–Pottertemfichapolicial–disseUmbridgealto.–Potterfoiabsolvidodetodasasacusações–disseMcGonagallaindamaisalto.AProfaUmbridge se levantou.Era tãobaixaque issonão faziamuitadiferença,mas suaatitude
meticulosaeafetadacederalugaraumafúriaimplacávelquefaziaseurostolargoeflácidoparecerestranhamentesinistro.–Potternãotemamenorchancedesetornarauror!A Profa McGonagall se levantou também, e, no seu caso, o movimento foi muito mais
impressionante;erabemmaisaltaqueaoutra.–Potter–disseemtomretumbante–,euoajudareiasetornaraurornemquesejaaúltimacoisa
queeufaçanavida!Nemqueeutenhadelhedaraulastodasasnoites,garantireiquevocêobtenhaasnotasexigidas!–OministrodaMagiajamaisempregaráHarryPotter!–exclamouUmbridge,suavozseelevando
furiosa.–PoderámuitobemhaverumnovoministrodaMagiaatéPotterestarprontoparasecandidatar!–
gritouaProfaMcGonagall.–Aha!–berrouaProfaUmbridgeapontandoodedocurtoegrossoparaacolega.–Éééééé!Com
certeza! Isso é o que você quer, não é, Minerva McGonagall? Você quer ver Cornélio FudgesubstituídoporAlvoDumbledore!Vocêpensaquechegaráaondeestou,nãoé:subsecretáriasêniordoministroediretoratambém!–Vocêestádelirando–respondeuMcGonagall,soberbamentedesdenhosa.–Potter,terminamosa
nossaorientaçãovocacional.Harryjogouamochilasobreoombroeseprecipitouparaforadasala,semseatreveraolharpara
aProfaUmbridge.Ouviuasduascontinuaremagritarumacomaoutraportodoocorredor.A Profa Umbridge ainda estava respirando como se tivesse participado de uma corrida, quando
entrounaauladeDefesaContraasArtesdasTrevasnaquelatarde.–Esperoquevocêtenhapensadoduasvezessobreoqueestáplanejandofazer,Harry–sussurrou
Hermione, no momento em que abriram os livros no capítulo trinta e quatro, “Não retaliação enegociação”.–Umbridgeparecequejáestábastantemal-humorada...
DevezemquandoUmbridgelançavaolharesincandescentesaHarry,quemantinhaacabeçabaixaeosolhosdesfocadosnaTeoriadadefesaemmagia,pensando...Podia bem imaginar a reação da Profa McGonagall se ele fosse apanhado invadindo a sala da
Umbridge, poucas horas depois de ter se empenhadopor ele... nãohavia nadaqueo impedissedevoltarsimplesmenteàTorredaGrifinóriaeesperarqueumdia,naspróximasfériasdeverão,tivesseachancedequestionarSiriussobreacenaquepresenciaranaPenseira...nada,excetoqueaideiadetomaressaatitudesensatalhedavaasensaçãodequecaíraumpesodechumboemseuestômago...eaindahaviaoproblemadeFredeJorge,cujadistraçãojáestavaplanejada,paranãofalardocanivetequeSiriuslhedera,nomomentoguardadoemsuamochilacomavelhaCapadaInvisibilidadedeseupai.Maspermaneciaofatodequesefosseapanhado...–Dumbledore se sacrificouparamantê-lonaescola,Harry!– sussurrouHermione, erguendoo
livroparaescondero rostodaUmbridge.–Esevocêforexpulsohoje,ele terásesacrificadoemvão!Harrypoderiaabandonaroplanoesimplesmenteaprenderaconvivercomalembrançadoqueseu
paifizeranumdiadeverãohámaisdevinteanos...EentãoselembroudeSiriusnalareiradasalacomunaldaGrifinória...Vocêparecemenoscomoseupaidoqueeupensei...OriscoteriasidoadiversãoparaoTiago...Masseráqueeleaindaqueriaserigualaopai?–Harry,nãofaçaisso,porfavornãofaça!–disseHermioneemtomaflitoquandoasinetatocou
aofimdaaula.Elenãorespondeu,nãosabiaoquefazer.Ronypareciadecididoanãodaropiniãonemconselho;nãoqueriaolharparaoamigo,embora,
quandoHermione abriu a boca para retomar a tentativa de dissuadirHarry, ele tenha dito emvozbaixa.–Dáumtempo,o.k.?Elesabedecidirsozinho.O coração deHarry batia acelerado quando saiu da sala de aula.Estava nametade do corredor
quando ouviu o inconfundível barulho da distração começando ao longe. Havia gritos e berrosecoandoemalgumlugaracima;gentequesaíadassalasaoredordeHarryparavadechofreeolhavaparaotetocommedo...Umbridge precipitou-se da sala de aula o mais rápido que suas pernas curtas podiam levá-la.
Puxandoavarinha,correunadireçãocontrária:eraagoraoununca.–Harry...porfavor!–pediuHermionesemânimo.Maselesedecidira;prendendoamochilacommaisfirmezanoombro,saiucorrendo,desviando-
sedosestudantesqueagoracorriamemdireçãoopostaparaverqualeraaconfusãonaalaleste.Harry chegou ao corredor da sala deUmbridge e encontrou-odeserto.Escondendo-se depressa
atrásdeumagrandearmadura,cujoelmoseentreabriucomumrangidoparaobservá-lo,eleabriuamochila, apanhou o canivete de Sirius e cobriu-se com a Capa da Invisibilidade. Saiu, então,sorrateiraecautelosamentedetrásdaarmadura,eretomouocorredoratéaportadaUmbridge.Inseriualâminadocanivetemágiconafrestadecontornodaportaedeslizou-aparacimaepara
baixocomdelicadeza,emseguidapuxou-aparafora.Ouviuumestalidomínimo,eaportaseabriu.Eleentrounasala,fechouaportaeolhouàvolta.Nada semovia exceto os horrorosos gatinhos que continuavam a brincar nos pratos de parede
acimadasvassourasconfiscadas.Harrytirouacapae,dirigindo-seàlareira,encontrouemsegundosoqueprocurava:umacaixinha
contendoPódeFlu.Agachou-se, então, diante dagradevazia da lareira, asmãos tremendo.Nunca fizera isso antes,
emboraachassequesabiacomofuncionava.Metendoacabeçadentroda lareira,apanhouumaboapitadadopóedeixou-acairnasachascuidadosamenteempilhadasatrásdele.Namesmahoraelasespocaramemchamasverde-esmeralda.–LargoGrimmaulddoze!–ordenoualtoebomsom.Foiumadas sensaçõesmaiscuriosasque jáexperimentara. JáviajarausandoPódeFluantes, é
claro,masentão todoo seucorpogiraramuitasvezesnaschamasatravessandoa redede lareirasbruxasquecobriaopaís.Destavez,seusjoelhoscontinuaramfirmesnasaladaUmbridge,esomentesuacabeçasearremessoupelofogoesmeraldino...Então,tãoabruptamentequantoseiniciara,arotaçãocessou.Sentindo-sebastanteenjoadocomose
estivesse usando um abafador excepcionalmente quente na cabeça, Harry abriu os olhos e se viuolhando para fora da lareira da cozinha e para a comprida mesa de madeira, onde um homemestudavaumpergaminho.–Sirius?Ohomemsesobressaltoueolhouparaoslados.NãoeraSirius,masLupin.–Harry!–exclamoumuitochocado.–Queéquevocê...queaconteceu,estátudobem?–Está.Pensei...querodizer,tivevontade...debaterumpapocomoSirius.– Vou chamá-lo – disse Lupin se levantando, ainda perplexo –, ele foi lá em cima procurar o
Monstro,parecequeandaseescondendonosótãooutravez...EHarryviuLupinsaircorrendodacozinha.Agoranãotinhanadaparaolharexcetoaspernasdas
cadeiras edamesa.Ficou imaginandoporqueSirius jamaismencionara comoeradesconfortávelfalar entre as chamas; seus joelhos já estavam protestando dolorosamente contra o contatoprolongadocomodurochãodepedradasaladaUmbridge.LupinvoltoucomSiriusemseuencalçomomentosdepois.–Quefoi?–perguntouSiriuscomurgência,tirandooscabeloscompridoseescurosdosolhose
se ajoelhando diante da lareira, de modo a ficar no mesmo nível que Harry. Lupin também seajoelhou,parecendomuitopreocupado.–Vocêestábem?Precisadeajuda?–Não–disseHarry–,nãoénadadisso...eusóqueriafalar...sobreomeupai.Elesseentreolharamcomgrandesurpresa,masHarrynãotinhatempoparasesentirsemjeitoou
envergonhado;seusjoelhosdoíammaisacadasegundo,eelecalculavaquejáhaviampassadocincominutos desde o início da distração; Jorge lhe garantira apenas vinte. Portanto, mergulhouimediatamentenahistóriaquepresenciaranaPenseira.Quando terminou, nem Sirius nemLupin falaram por ummomento. Então Lupin disse em voz
baixa:–Eunãogostariaquevocêjulgasseoseupaipeloqueviu,Harry.Elesótinhaquinzeanos...–Eutenhoquinzeanos!–disseHarrycomveemência.–Olhe,Harry – disseSirius querendo conciliar –,Tiago eSnape se odiaramdesde o primeiro
momentoemqueseviram,foiumadessascoisas,dáparavocêentender,nãodá?AchoqueTiagoeratudo que Snape queria ser, era popular, era bom em quadribol, bom em quase tudo. E Snape eraapenasumafigurinhadifícil,metidoatéonariznasArtesdasTrevasenquantoTiago,comtodososdefeitosquevocêpodetervisto,Harry,sempreodiouasArtesdasTrevas.–É,maseleatacouSnapesemamenor razão, sóporque,bomsóporquevocêdissequeestava
chateado–terminoucomumligeirotomdepedidodedesculpasnavoz.–Nãomeorgulhodisso–apressou-seSiriusadizer.LupinolhoudeladoparaSirius,entãofalou:–Olhe,Harry, o que você tem de entender é que seu pai e Sirius eram osmelhores alunos da
escolaemtudoquefaziam,todosachavamosdoisomáximo,seporvezeselessedeixavamlevar...–Seporvezesbancávamosunsidiotasarrogantes,vocêquerdizer–completouSirius.
Lupinsorriu.–Elenãoparavadedespentearoscabelos–disseHarry,constrangido.SiriuseLupinriram.–Eutinhameesquecidodequeelecostumavafazerisso–disseSiriuscarinhosamente.–Eleestavabrincandocomopomo?–perguntouLupin,ansioso.–Estava– respondeuHarry,vendoSiriuseLupinsorriremsaudosos.–Bom...acheiqueeleera
meioidiota.–Claroqueeleerameioidiota!–disseSiriusnadefensiva.–Éramostodosidiotas!Bom,Aluado
nãoeratanto–disseelehonestamente,olhandoparaoamigo.MasLupinbalançouacabeça.–AlgumdiaeudisseavocêsparanãoatormentaremoSnape?Algumdiaeutivecoragemdedizer
avocêsqueestavamagindomal?–Bom–disseSirius–,àsvezesvocêfaziaagentesesentirenvergonhado...jáeraalgumacoisa...–E–disseHarry,insistente,decididoadizertudoqueestavapensandojáqueestavaali–elenão
paravadeolharasgarotasnabeiradolago,naesperançadequeestivessemolhandoparaele!– Ah, bom, ele sempre fazia papel ridículo quando Lílian estava por perto – disse Sirius
encolhendoosombros–,nãoconseguiaparardeseexibirsemprequeseaproximavadela.–Eporqueelacasoucomele?–perguntouHarry,infeliz.–Odiavaele!–Não,nãoodiava–disseSirius.–Elacomeçouasaircomelenosétimoano–explicouLupin.–DepoisqueTiagomurchouumpoucoabola–tornouSirius.–Eparoudeazararaspessoassóparasedivertir–completouLupin.–AtéoSnape?–Bom–disseLupinlentamente–,Snapeeraumcasoespecial.Querodizer,elenuncaperdiauma
oportunidadedeazararTiago,entãovocênãopodiaesperarqueeleaguentassecalado,nãoé?–Eminhamãenãoseimportavacomisso?–Ela não ficava sabendo, para falar a verdade – disse Sirius. –Quero dizer, Tiago não levava
SnapequandoiaseencontrarcomelanemoazaravanafrentedeLílian,nãoémesmo?SiriusenrugouatestaparaHarry,queaindanãopareciaconvencido.–Olhe,seupaifoiomelhoramigoquetiveeeraumaboapessoa.Muitagenteéidiotaaosquinze
anos.Eleamadureceu.–É,o.k.–disseHarry,pesaroso.–SóquenuncapenseiquesentiriapenadeSnape.–Agoraquevocêestáfalando–perguntouLupincomumaligeirarugaentreassobrancelhas–,
comofoiqueSnapereagiuquandodescobriuquevocêtinhavistotudoisso?–DissequenuncamaismeensinariaOclumência–disseHarrycomindiferença–,comoseisso
fosseumgrandedesapon...–EleOQUÊ?–gritouSirius,fazendoHarrysesobressaltareengolirumbocadodecinzas.–Vocêestáfalandosério,Harry?–perguntouLupindepressa.–Eleparoudelhedaraulas?–Parou– respondeuHarry, surpreso comoque considerouuma reaçãoexagerada. –Mas tudo
bem,nãofazmal,éatéumalívioparadizera...–Vou até lá dar uma palavrinha com o Snape! – disse Sirius vigorosamente, e chegou a fazer
mençãodeselevantar,masLupinpuxou-odevolta.–SealguémvaidizeralgumacoisaaSnapesoueu!–dissecomfirmeza.–Mas,Harry,primeiro,
vocêvaiprocuraroSnapeedizerqueemhipótesealgumaeledeveparardelhedaraulas...quandoDumbledoresouber...– Não posso dizer isso, ele memataria! – disse Harry, indignado. – Você não viu a cara dele
quandosaímosdaPenseira.
–Harry,nãohánadamaisimportantenomundodoquevocêaprenderOclumência!–disseLupincomseveridade.–Vocêestámeentendendo?Nada!–O.k.,o.k.–respondeuogaroto,completamentedesconsolado,paranãodizeraborrecido.–Vou
tentar...voutentardizeralgumacoisaaele...masnãovaiser...Calou-se.Ouviapassosadistância.–ÉoMonstrodescendo?–Não–respondeuSirius,olhandoparatrás.–Deveseralguémdoseulado.OcoraçãodeHarryparouváriossegundos.– É melhor eu ir embora! – disse apressado, e recuou a cabeça para sair da lareira do largo
Grimmauld. Por um momento sua cabeça pareceu estar girando sobre os ombros, no momentoseguinte ele estava ajoelhado diante da lareira da Umbridge, com a cabeça assentada firmementeobservandoaschamasesmeraldinaspiscarememorrer.–Rápido,rápido!–Eleouviuumavozasmáticadoladodeforadaportadasala.–Ah,elaadeixou
aberta...HarrymergulhouparaapanharaCapadaInvisibilidadeeconseguiusecobrirbemnahoraemque
Filchadentravaasala.Elepareciaabsolutamenteencantadocomalgumacoisa,emurmuravafebrilaoatravessarasala,abriuumagavetanaescrivaninhadeUmbridgeecomeçouamexernospapéisalidentro.–Aprovação paraAçoitar... Aprovação paraAçoitar... finalmente vou poder... faz anos que eles
estãopedindoparaseraçoitados...Elepuxouumpergaminho,beijou-o,depoissaiudepressaarrastandoospéseapertando-ocontrao
peito.Harryficouempédepressae,verificandoseaCapadaInvisibilidadecobriacompletamentetanto
elequantoamochila,abriuaportaesaiucorrendodasalaatrásdeFilch,quemancavamaisdepressadoqueHarryjamaisovirafazer.UmandarabaixodasaladeUmbridge,Harryachouqueseriasegurovoltaraficarvisível.Tiroua
capa,enfiou-anamochilaecontinuoudepressaoseucaminho.HaviamuitagritariaemovimentaçãovindodoSaguãodeEntrada.Eledesceucorrendopelaescadariademármoreeencontroureunidaalioquelhepareceuamaiorpartedaescola.EraigualànoiteemqueTrelawneyforademitida.Osestudantesestavamparadosjuntoàsparedes
formandoumgrandecírculo(algunsdeles,Harryreparou,cobertosdeumasubstânciaquepareciapalha-fede);professoresefantasmastambémfaziampartedamultidão.Destacavam-seentreelesosmembros da Brigada Inquisitorial, todos parecendo excepcionalmente satisfeitos, e Pirraça, queflutuavanoalto,observavaFredeJorgenomeiodosaguãocomoarinconfundíveldepessoasqueacabavamdeserencurraladas.– Então! – disseUmbridge triunfalmente.Harry se deu conta de que a diretora estava parada a
poucos degraus à frente dele, contemplando do alto suas presas. – Então... vocês acham divertidotransformarocorredordaescolaemumpântano?–Acheibastantedivertido–respondeuFred,encarando-asemomenorsinaldemedo.FilchabriucaminhoparaseaproximardeUmbridge,quasechorandodefelicidade.–Apanheiodocumento,diretora–disserouco,acenandoopergaminhoqueHarryacabaradevê-
loretirardaescrivaninha.–Tenhoodocumentoetenhoaschibatasprontas...ah...medeixefazerissoagora...–Muitobem,Argo.Vocêsdois–continuouela,olhandoparaFredeJorge–,vocêsvãoaprendero
queacontececommalfeitoresnaminhaescola.–Asenhorasabedeumacoisa?–disseFred.–Achoquenãovamosnão.Elesevirouparaoirmão.
–Jorge,achoquejápassamosdaidadederecebereducaçãoemtempointegral.–É,tenhosentidoissotambém–comentouJorgealegremente.–Estánahoradetestarmososnossostalentosnomundoreal,vocênãoacha?–Decididamente.E,antesqueUmbridgedissesseumapalavra,elesergueramasvarinhasefalaramjuntos:–Acciovassouras!Harry ouviu um estrondo ao longe. Olhando para a esquerda, abaixou-se bem em tempo. As
vassourasdeFredeJorge,umadelasaindaarrastandoapesadacorrenteeoganchodeferrocomqueUmbridgeaspregaranaparede,voaramvelozesaoencontrodosseusdonos;viraramàesquerdaepararambruscamentediantedosgêmeos,acorrentebatendocomestrépitonochãolajeado.–Nãoaveremosmais–disseFredàProfaUmbridge,passandoapernaporcimadavassoura.–É,enãoprecisamandarnotícias–disseJorge,montandoaprópriavassoura.Fredcorreuoolharpelosestudantesreunidos,paraamultidãoqueassistiasilenciosaàcena.–SealguémtivervontadedecomprarumPântanoPortátil,conformedemonstramosláemcima,
podenosprocurarnoBecoDiagonal,númeronoventaetrês:GemialidadesWeasley–disseemvozalta.–Nossasnovasinstalações.–DescontosespeciaisparaosalunosdeHogwartsquejuraremquevãousarosnossosprodutos
paraselivrardessamorcegavelha–acrescentouJorge,apontandoparaaProfaUmbridge.– IMPEÇA-OS! – gritou Umbridge, mas tarde demais. Quando a Brigada Inquisitorial se
aproximou,FredeJorgederamimpulsonochãoeseprojetaramquasecincometrosnoar,oganchode ferro balançando perigosamente embaixo. Fred olhou para o poltergeist que flutuava do outroladodosaguãonomesmonívelqueosgêmeosacimadamultidão.–Infernizeelapornós,Pirraça.EPirraça, queHarrynuncavira obedecer ordemdenenhumestudante antes, tirouo chapéu em
formadesinoqueusavaesaudouosgarotos,aomesmotempoqueFredeJorgefaziamavoltasobos aplausos dos estudantes e saíam em alta velocidade pelas portas de entrada abertas para umgloriosopôrdesol.
—CAPÍTULOTRINTA—OgiganteGrope
AhistóriadafugadeFredeJorgeparaaliberdadefoinarradatantasvezesnosdiasqueseseguiramqueHarrypôdeprever que logo se tornariaumepisódiodahistória deHogwarts: ao fimdeumasemana, até os que haviam presenciado a cena estavammeio convencidos de ter visto os gêmeosmergulharemcomasvassourassobreUmbridgeeabombardearemcomBombasdeBostaantesdeatravessarvelozmenteasportas.Emdecorrênciadesuapartida,houveumagrandevontadedeimitá-los. Harry com frequência ouvia estudantes dizerem coisas do tipo: “Francamente, tem dias quesimplesmente tenho vontade demontarminha vassoura e ir embora deste lugar”, ou então: “MaisumaauladessasevouquererdarumadeWeasley.”FredeJorgetomaramprovidênciasparaninguémesquecê-loscedodemais.Primeiro,porquenão
haviam deixado instruções sobre omodo de remover o pântano que ainda enchia o corredor doquinto andarna ala leste.Umbridge eFilch tinhamsidovistos experimentandodiferentesmétodospara removê-lo, mas sem sucesso. Com o tempo, a área foi fechada e Filch, rilhando os dentesfuriosamente, recebeua tarefadecarregar, atravésdopântano,os estudantesàs suas salasdeaula.Harry tinha certeza de que professores como McGonagall e Flitwick poderiam ter removido opântano em um instante,mas, tal como no caso dos Fogos Espontâneos, eles preferiam assistir aUmbridgesedescabelar.Depois,haviaosdoisgrandesrombosemformadavassouranaportadasaladaUmbridge,queas
CleansweepsdeFredeJorgehaviamfeitoaosairparasereuniraosseusdonos.Filchsubstituíraaporta e levara a Firebolt deHarry para asmasmorras onde, comentava-se,Umbridge postara umtrasgo de segurança armado para guardá-la. Mas os problemas da diretora estavam longe determinar.Inspiradosnoexemplodosgêmeos,muitosestudantesagoracompetiampelos lugaresdechefes
dosCriadores deCaso que eles haviam deixado vagos.Apesar da nova porta, alguém conseguiraescorregarparadentrodasaladeUmbridgeumpelúciodenarizpeludo,queimediatamentedestruiuolocalàprocuradeobjetosbrilhantes,saltousobreadiretoraquandoelaentrouetentouarrancar,adentadas,osanéisemseusdedoscurtosegrossos.BombasdeBostaeChumbinhosFedorentoseramatiradoscomtantafrequêncianoscorredoresquesetornoumodaosestudantesseprotegeremcomFeitiçosCabeça-de-Bolha antesde sair das salasde aula, oque lhesgarantiaumsuprimentode arfresco,aindaquelhesdesseaaparênciaesquisitadeestaremusandoaquáriosinvertidosnacabeça.Filchpatrulhavaoscorredorescomumaçoitenasmãos,desesperadoparaapanharvilões,maso
problema é que agora havia tantos deles que ele nunca sabia para que lado se virar. A BrigadaInquisitorial tentava ajudá-lo, mas não paravam de acontecer coisas estranhas aos seus membros.Warrington, da equipe de quadribol da Sonserina, procurou a ala hospitalar com um terrívelproblema na pele, que parecia ter sido coberta de cornflakes; Pansy Parkinson, para alegria deHermione,faltouatodasasaulasdodiaseguinteporquehavialhecrescidoumagalhadanacabeça.Entrementes, tornou-se conhecido o número de kits Mata-Aula que Fred e Jorge tinham
conseguidovenderantesdedeixarHogwarts.Umbridgesóprecisavaentrarnasaladeaulaparaosestudantes ali reunidos começarem a desmaiar, vomitar, sentir febres perigosas ou, então, deitar
sangue pelas narinas. Gritando de raiva e frustração, ela procurou descobrir a origem dosmisteriosossintomas,masosalunosteimavamemlhedizerqueestavamsofrendode“Umbridgetite”.Depoisdepôremdetençãoquatroturmassucessivas,ela,incapazdedescobrirosegredo,foiforçadaadesistiredeixarosestudantesquesangravam,desmaiavam,vomitavamesuavamabandonaremsuasalaembandos.Masnemosusuáriosdoskitsconseguiamcompetircomosenhordocaos,Pirraça,quepareciater
levadoprofundamentea sérioaspalavrasdedespedidadeFred.Gargalhandoalucinado,elevoavapelaescola,virandomesas,irrompendodequadros-negros,derrubandoestátuasevasos;duasvezesele prendeuMadameNor-r-ra dentro de uma armadura, de onde foi resgatada,miando alto, pelofurioso zelador. Pirraça quebrou lanternas e apagou velas, fezmalabarismos com archotes acesospor cima das cabeças de estudantes aos berros, fez pilhas bem-arrumadas de pergaminho caíremdentrodaslareirasouforadasjanelas;inundouosegundoandar,arrancandotodasastorneirasdosbanheiros,deixoucairumsacodetarântulasnomeiodoSalãoPrincipalduranteocafédamanhãe,semprequelhedavanatelhafazerumapausa,passavahorasseguidasflutuandoatrásdeUmbridge,imitandooruídodepunscomabocatodasasvezesqueelafalava.Nenhum funcionário de Hogwarts, exceto Filch, parecia estar se mexendo para ajudá-la. Na
verdade, uma semana depois de Fred e Jorge partirem,Harry viu a ProfaMcGonagall passar porPirraça, que estavadecidido a soltar um lustrede cristal, e elepoderia jurar que aouviudizer aopoltergeistpelocantodaboca:“Desenroscaparaooutrolado.”Para completar,Montague ainda não se recuperara da temporada no vaso sanitário; continuava
confusoedesorientado,eseuspaisforamvistosemumamanhãdeterça-feirasubindoaestradadaescolaextremamentezangados.–Seráquedevíamosdizeralgumacoisa?–arriscouHermione,preocupada,comprimindoorosto
contraa janelada saladeFeitiços,oque lhepermitiuverocasalMontagueentrar.–Sobreoqueaconteceucomele?CasoajudeMadamePomfreyacurá-lo?–Claroquenão,eleserecuperará–disseRony,indiferente.–Emtodoocaso,maisproblemasparaaUmbridge,nãoé?–disseHarryemtomsatisfeito.EleeRonybateramdelevecomavarinhanasxícarasquedeveriamenfeitiçar.AdeHarryganhou
quatropernascurtasquenãoconseguiamalcançaraescrivaninhaesesacudiamemvãonoar.AdeRonyganhouquatroperninhasfinasqueergueramaxícaracomgrandedificuldade, tremeramporalgunssegundos,entãosedobraram,fazendoaxícarasepartiremdois.–Reparo–disseHermionedepressa,consertandoaxícaradeRonycomumacenodavarinha.–
Tudoestámuitobem,maseseoMontagueficarpermanentementelesado?–Quemse importa?!–exclamouRony, irritado,enquantosuaxícaraseerguiacomobêbeda,os
joelhos tremendo violentamente. – Montague não devia ter tentado tirar todos aqueles pontos daGrifinória,nãoé?Sevocêquisersepreocuparcomalguém,Hermione,sepreocupecomigo!–Comvocê?–admirou-seela,apanhandoaxícaraquefugiaprecipitadamentepelamesacomas
quatro perninhas robustas com textura de salgueiro, e recolocando-a à sua frente. – Por que eudeveriamepreocuparcomvocê?–QuandoapróximacartadamamãeacabardepassarpeloprocessodecensuradaUmbridge–
disseRony,amargurado,agorasegurandosuaxícara,cujasperninhas tentavamsuportaroprópriopeso–,vouestarbemenrolado.NãoficareisurpresoseelamemandaroutroBerrador.–Mas...–VaimeculparporFredeJorgeteremidoembora,esperesó–dissesombriamente.–Vaidizer
queeudeviaterimpedidoosgêmeosdeir,deviateragarradoasvassourasdelespelaspontas...é,vaiserminhaculpa.–Bom,seelarealmentedisser isso,vaiserumabaita injustiça,vocênãopoderia ter feitonada!
Mastenhocertezadequeelanãofaráisso,querodizer,seéverdadequeelesarranjaramumalojanoBecoDiagonal,devemestarplanejandoissoháséculos.– É, mas isto é outra coisa, como foi que eles arranjaram uma loja? – disse Rony, batendo a
varinhacomtantaforçanaxícaraqueaspernasdela tornaramacedereficaramsetorcendoàsuafrente.–Émeiosuspeito,nãoénão?PrecisarãodeumamontanhadegaleõesparaalugarumalojaemumlugarcomooBecoDiagonal.Elavaiquerersaberoqueandaramfazendoparapôrasmãosemtantoouro.–Bom,é,issotambémmeocorreu–comentouHermione,deixandosuaxícaracorreremcírculos
precisosem tornodadeHarry,cujaspernascurtascontinuavam incapazesdealcançaro tampodamesa. – Estive me perguntando se Mundungo teria convencido os gêmeos a vender mercadoriaroubadaouqualqueroutracoisahorrível.–Elenãofezisso–disseHarrybrevemente.–Comoéquevocêsabe?–perguntaramRonyeHermionejuntos.– Porque... – Harry hesitou, mas omomento de confessar parecia ter finalmente chegado. Não
havianadaaganharemcontinuarcalado,seistolevasseaspessoasasuspeitaremqueFredeJorgeeramcriminosos.–Porquereceberamodinheirodemim.EntregueiaelesomeuprêmionoTorneioTribruxoemjunhopassado.Houveumsilênciodeperplexidade,emseguidaaxícaradeHermionesaiucorrendopelabordada
mesaeseespatifounochão.–Ah,Harry,vocênãofezisso!–exclamouela.–Fiz,sim–respondeuelecomrebeldia.–Enãomearrependo, tampouco.Eunãoprecisavado
ouro,eelesserãoumsucessocomumalojadelogros.–Masqueótimo!–exclamouRony,vibrando.–Entãoaculpaétodasua,Harry,mamãenãopode
meculpardenada!Possocontarparaela?–Pode,achoqueémelhor–respondeudesanimado–,principalmenteseelapensarqueelesestão
recebendocaldeirõesroubadosoucoisasdogênero.Hermione não faloumais nada até o fim da aula, mas Harry suspeitou com perspicácia que o
controledelanãofosseresistirpormuitotempo.Eacertou,quandodeixaramocastelonointervaloepararamsobofracosoldemaio,elafixouemHarryumolharpenetranteeabriuabocacomumardecidido.Harryinterrompeu-aantesquechegasseafalar.– Não adianta ralhar comigo, está feito – disse com firmeza. – Fred e Jorge têm o ouro, já
gastaramumbocado,peloqueparece,enãopossopedi-lodevoltanemquerofazerisso.Portanto,poupeoseufôlego,Hermione.–EunãoiafalarnadasobreFredeJorge!–disseela,sentida.Ronyreprimiuumarisadinha,incrédulo,eHermionelhelançouumolharfeio.–Não,nãoianão!–protestouzangada.–Naverdade,iaperguntaraHarryquandoéqueelevai
procuraroSnapeepedirmaisaulasdeOclumência!Harrysesentiudeprimido.UmavezesgotadooassuntodapartidadramáticadeFredeJorge,que
semdúvidarenderamuitashoras,RonyeHermionequiseramsabernotíciasdeSirius.ComoHarrynãolhescontaraporquequeriafalarcomopadrinho,ficaradifícilpensarnoqueresponder;acaboudizendo, sinceramente, queSiriusqueriaque ele retomasse as aulasdeOclumência.Arrependia-sedesdeentão;Hermionenãodeixavaoassuntomorrer,eoretomavaquandoHarrymenosesperava.–Você não vaime dizer que parou de ter sonhos esquisitos, porqueRonyme contou que você
estavaoutravezresmungandoduranteosonoontemànoite.HarrylançouaRonyumolharfurioso.Ronyteveodecorodeparecerenvergonhado.–Vocêsóestavaresmungandoumpouquinho–murmuroueleemtomdedesculpa.–Algocomo
“sóumpouquinhomais”.–Sonheiqueestavaassistindoavocês jogaremquadribol–mentiuHarrydescaradamente.–Eu
estavatentandofazervocêseesticarmaisumpouquinhoparaagarraragoles.AsorelhasdeRonyficaramvermelhas.Harrysentiuumcertoprazervingativo;éclaroquenão
sonharacomnadaparecido.À noite passada, ele percorrera mais uma vez o corredor do Departamento de Mistérios.
Atravessara a sala circular, depois a sala com os estalidos e a luz tremulante, até se encontrarnovamente na sala cavernosa, cheia de estantes, em que se alinhavam as esferas de vidroempoeiradas.Correradiretamenteparaaestantenúmeronoventaesete,viraraàesquerdaecontinuaraacorrer
aolongodela...foraprovavelmenteentãoquefalaraalto...sóumpouquinhomais...porquesentiraoseu eu consciente lutando para acordar... e, antes que tivesse chegado ao fim da estante, vira-senovamentedeitado,olhandoparaodosseldasuacamadepilares.–Você está tentando bloquear suamente, não está? – perguntouHermione, lançando um olhar
penetranteaHarry.–VocêestácontinuandoapraticarOclumência?–Claroqueestou–respondeuHarry,tentandodemonstrarqueaperguntaeraofensiva,massem
encararHermionenosolhos.Averdadeéquesentiaumacuriosidadetãointensasobreoqueestavaescondidonasalacheiadeglobosempoeiradosquequeriamuitoqueossonhoscontinuassem.O problema era que, faltando apenas um mês para a realização dos exames, e com todos os
momentoslivresdedicadosàsrevisões,suamentepareciatãosaturadadeinformaçãoquequandoiasedeitartinhadificuldadeatéparadormir;e,quandodormia,seucérebroesgotadoopresenteavanamaioria das noites com sonhos bobos sobre os exames. Ele suspeitava também que parte de suamente,apartequesemprefalavacomavozdaHermione,agorasesentiaculpadanasnoitesemqueandavapelocorredordaportapreta,eprocuravaacordá-loantesquechegasseaofimdajornada.–Sabe–falouRony,cujasorelhasaindaestavamvermelhíssimas–,seMontaguenãoserecuperar
antesdaSonserinajogarcontraaLufa-Lufa,poderíamosterchancedeganharacopa.–É,imaginoquesim–disseHarry,contentecomamudançadeassunto.– Quero dizer, ganhamos uma, perdemos uma... se a Sonserina perder para a Lufa-Lufa no
próximosábado...–É,verdade–disseHarry, já semsabercomoqueestavaconcordando.ChoChangacabarade
atravessaropátio,evitandoolharparaeledepropósito.
Apartidafinaldatemporadadequadribol,GrifinóriacontraCorvinal,terialugarnoúltimofimdesemana de maio. Embora Lufa-Lufa tivesse tido uma vitória apertada sobre Sonserina no últimojogo,Grifinórianãoseatreviaaesperarumavitória,principalmenteporcausadaabissalquantidadedefrangosqueRonyjáengolira(emboraéclaroninguémlhedissesseisso).Ele,noentanto,pareciaterencontradoumarazãoparaotimismo.–Quero dizer, não posso piorar, posso? – disse aHarry eHermione sombriamente ao café da
manhãnodiadapartida.–Nãohánadaaperderagora,há?–Sabe–disseHermione,quandoelaeHarrydesciamparaocampoumpoucomaistardeemmeio
aumamultidão excitável–, achoqueRony talvez joguemelhor semFred e Jorgeporperto.Elesnuncademonstrarammuitaconfiançanele.LunaLovegoodalcançou-oscomalgoquepareciaumaáguiavivaencarrapitadanacabeça.– Puxa, me esqueci! – exclamou Hermione, vendo a águia bater as asas quando Luna passou
serenamenteporumgrupodealunosdaSonserinaqueriameapontavam.–Chovaijogar,nãovai?Harry,quenãoseesqueceradisso,meramentegrunhiu.Elesencontraramlugaresnapenúltimafiladasarquibancadas.Faziaumdiaclaroebonito;Rony
não poderia desejar um diamelhor e, contra todas as probabilidades,Harry se viu desejando queRonynãodesseaosalunosdaSonserinamotivoparamaiscoroscrescentesde“Weasleyénossorei”.LinoJordan,queandavamuitodesanimadodesdeapartidadeFredeJorge,eracomosempreo
locutor. Quando as equipes entraram em campo ele anunciou o nome dos jogadores commenosprazerdoqueoseunormal.“...Bradley...Davies...Chang”,disse,eHarrysentiuseuestômagosemanifestar,foimenosqueum
saltoparatrás,maisumaguinadinhaquandoChoapareceuemcampo,oscabelosnegrosebrilhantesondeando à leve brisa. Ele não tinhamais certeza do que queria que acontecesse, exceto que nãopoderiaaguentarmaisbrigas.AtémesmoavisãodagarotaconversandoanimadamentecomRogérioDaviesaoseprepararemparamontarasvassouraslhecausavaapenasumafisgadinhadeciúmes.“E começou a partida!”, anunciou Lino. “EDavies agarra a goles imediatamente. O capitão da
Corvinal,Davies,detémapossedagoles,driblaJohnson,driblaBelledriblaSpinnettambém...estávoandodiretoparaogol!Vaiatirar...e...e...”,Linosoltouumsonoropalavrão,“...foigol.”Harry e Hermione gemeram com os demais colegas da Grifinória. Previsivelmente,
horrivelmente,ostorcedoresdaSonserinadoladoopostodasarquibancadascomeçaramacantar:
WeasleynãopeganadaNãodefendearoalgum...
–Harry–disseumavozroucanoouvidodele.–Hermione...HarryseviroueviuoenormerostobarbudodeHagriddestacando-senaarquibancada.Pelovisto,
eleseespremerapelacarreiradetrás,porqueosalunosdoprimeiroesegundoanospelosquaiseleacabara de passar pareciam agitados e amassados. Por alguma razão, Hagrid se curvara à frente,comoqueansiosoparanãoservisto,emboracontinuasseaterpelomenosummetroamaisquetodoomundo.–Escutem–sussurrou–,vocêspodemvircomigo?Agora?Enquantoopessoalestáassistindoao
jogo?–Ah...nãodáparaesperar,Hagrid?–perguntouHarry.–Atéacabarojogo?–Não.Não,Harry,temdeseragora...enquantoestãoolhandoparaoutrolado...porfavor?OnarizdeHagridescorriasanguelentamente.Osdoisolhosestavamroxos.Harrynãooviatão
pertodesdesuavoltaàescola;pareciaabsolutamentedesconsolado.–Claro–disseHarrynamesmahora–,claroqueiremos.EleeHermionesaíram,provocandomuitareclamaçãodosestudantesqueprecisaramselevantar.
AspessoasnafileiradeHagridnãoestavamapenasreclamando,mastentandoseencolheromáximopossível.– Eu agradeço aos dois, realmente agradeço – disse Hagrid ao chegarem às escadas. Ele não
paravadeolharparaos lados,nervoso,enquantodesciamemdireçãoaosgramados.–Esperoqueelanãonoteasaídadagente.–Vocêquerdizer aUmbridge?–disseHarry.–Nãovainotar,não, aBrigada Inquisitorial está
todasentadaaoladodela,vocênãoviu?Deveestarprevendoalgumaconfusãoduranteojogo.– É, bom, uma confusãozinha não fariamal – disseHagrid, parando para espiar em torno das
arquibancadasparatercertezadequeogramadoatésuacabanaestavadeserto.–Nosdariamaisumtempo.–Paraoquê,Hagrid?–perguntouHermione,olhandoparaelecomumaexpressãopreocupadano
rosto,enquantocaminhavamapressadosemdireçãoàorladaFloresta.–Vocês...vocêsvãoverdaquiapouco–disseespiandoporcimadoombronahoraemqueuma
enormegritariaseerguiadasarquibancadas.–Ei...seráquealguémacaboudefazergol?
–DevetersidoaCorvinal–comentouHarry,pesaroso.–Bom...bom...–falouHagrid,distraído.–Quebom...Osgarotostiveramdecorrerparaacompanhá-loenquantoatravessavaogramadoolhandoparaos
ladosacadapasso.Quandochegaramàcabana,Hermionevirouautomaticamenteparaaesquerda,em direção à porta de entrada. Hagrid, porém, passou direto e entrou sob as árvores quecontornavamaFloresta, ondeapanhouumarcoencostadoaumaárvore.Quandopercebeuqueosmeninosnãoestavamcomele,virou-se.–Vamosentraraqui–disseele,indicandocomacabeçalanzudaaFlorestaàssuascostas.–NaFloresta?–perguntouHermione,perplexa.–É.Vamosagora,depressa,antesquenosvejam!HarryeHermioneseentreolharam,entãoentraramrapidamentesobasárvores,atrásdeHagrid,
que já se afastava a passos largos na penumbra esverdeada, o arco por cima do braço. Harry eHermionecorreramparaacompanhá-lo.–Hagrid,porquevocêestáarmado?–perguntouHarry.–Sóumaprecaução–respondeu,sacudindoosombrosmaciços.– Você não trouxe o arco no dia em que nos mostrou os Testrálios – comentou Hermione
timidamente.–Nam,bom,nãoíamosnosembrenhartãofundonaqueledia.Edequalquerjeito,aquilofoiantes
deFirenzeiremboradaFloresta,nãofoi?–PorqueasaídadeFirenzefazdiferença?–perguntouHermione,curiosa.–Porqueoscentaurosestãobemirritadoscomigo,porisso–disseemvozbaixa,olhandoparaos
lados.–Elescostumavamser...bom,nãopossodizerquefossemamigáveis...masconvivíamosbem.Ficavamnadeles,massempreapareciamseeuqueriadarumapalavrinha.Issoacabou.Elesuspirouprofundamente.– Firenze disse que estão aborrecidos porque ele foi trabalhar paraDumbledore – disseHarry,
tropeçandoemumaraizsalienteporqueestavaolhandoparaHagrid.–É–disseHagridtristemente.–Bom,aborrecidosnãoébemotermo.Lívidosdefúria.Seeunão
tivessememetido,calculoqueteriammatadoFirenzeaoscoices...–Elesoatacaram?–disseHermione,parecendochocada.– Atacaram – disse Hagrid, rouco, abrindo caminho entre vários ramos baixos. – Metade do
rebanhocaiuemcimadele.–Evocêimpediu?–perguntouHarry,surpresoeimpressionado.–Sozinho?–Claro que sim, não podia ficar parado assistindo amorte de Firenze, podia? Por sorte, eu ia
passando,eachoqueeledeveriaterselembradodissoantesdecomeçaramemandaravisosidiotas!–acrescentouinesperadamente,inflamado.HarryeHermioneseentreolharam,espantados,masHagrid,franzindoatesta,nãoexplicou.–Emtodoocaso–continuou,respirandocommaisdificuldadedoqueonormal–,desdeentãoos
centaurosficaramdanadoscomigo,eoproblemaéqueelestêmmuitainfluêncianaFloresta...sãoosmaisinteligentesporaqui.–Éporissoqueestamosaqui,Hagrid?–perguntouHermione.–Oscentauros?– Não, não – disse Hagrid, sacudindo a cabeça negativamente –, não, não são eles. Bom,
naturalmente,elespoderiamcomplicaroproblema,verdade...masvocêsvãoveroquequerodizerdaquiapouco.Comessanotaenigmática,elesecalouecontinuouavançandoàfrente,dandoumpassoparacada
trêsdosgarotos,tornandomuitodifícilacompanhá-lo.A trilha foi se adensando, as árvores crescendomais juntas àmedida que se aprofundavam na
Floresta, e foi escurecendo como se anoitecesse.Não tardaram a se distanciar da clareira em que
HagridlhesmostraraosTestrálios,masHarrynãosesentiuapreensivoatévê-losairabruptamentedatrilhaecomeçaraserpearentreasárvoresrumoaocentroescurodaFloresta.–Hagrid!–chamouHarry,abrindocaminhoporsilvadosmuitotrançados,porcimadosquaiso
amigopassavasemproblemas,elembrandomuitovividamenteoquelheaconteceranavezanterioremquesaíradatrilhadaFloresta.–Aondeestamosindo?–Umpouquinhomaisadiante–disseHagridporcimadoombro.–Vamos,Harry...precisamos
ficarjuntosagora.EraumgrandeesforçoacompanharopassodeHagrid,aindamaiscomramoseespinheirossobre
osquais elemarchavacomose fossemapenas teiasdearanha,masque seprendiamnasvestesdeHarryeHermione,muitasvezescomtantafirmezaqueelesprecisavamparardurantealgunsminutosparasedesvencilhar.OsbraçosepernasdeHarrylogosecobriramdepequenoscortesearranhões.Aprofundaram-se tanto naFloresta queHarry por vezes só conseguia distinguirHagrid comoumvultomaciço à sua frente.Qualquer somparecia ameaçador no silêncio abafado.Aquebra de umgravetoproduziaumenormeeco, e omenormovimento,mesmopartindodeum inocentepardal,faziaHarry procurar na penumbra o responsável.Ocorreu-lhe que jamais conseguira penetrar tãofundonaFlorestasemencontraralgumtipodebicho;aausênciadelesparecia-lhemuitoagourenta.–Hagrid,seráquepoderíamosacendernossasvarinhas?–perguntouHermioneemvozbaixa.–Aah...tudobem–sussurrouemresposta.–Naverdade...Ele paroude repente e se virou;Hermione só parou ao colidir comele e cair de costas.Harry
segurou-aquandoestavaprestesabaternochãodaFloresta.–Talvezfossemelhoragentepararummomento,paraeupoder...contaravocês–disseHagrid.–
Antesdechegarmoslá.– Ótimo! – exclamou Hermione, enquanto Harry a ajudava a levantar. Os dois murmuraram:
“Lumus!”,easpontasdesuasvarinhasseiluminaram.OrostodeHagridflutuounapenumbraàluztrêmuladosdoisfeixesdeluz,eHarrynotoumaisumavezqueoamigoparecianervosoetriste.–Certo–disseHagrid.–Bom...entendem...ocasoéque...Etomoufôlego.–Bom,temumaboachancedequeeuváserdespedidoqualquerdiadesses.HarryeHermioneseentreolharametornaramaolharparaHagrid.–Masvocêconseguiusemanteratéagora–disseHermionehesitante.–Oquefazvocêpensar...–Umbridgecalculaquefuieuquepusopelúcionasaladela.–Efoi?–perguntouHarry,antesquepudesseserefrear.–Não,adrogaéquenãofui!–respondeuele,indignado.–Bastaumacoisateravercomcriaturas
mágicas para a Umbridge achar que deve ter sido eu. Vocês sabem que ela está procurando umachance de se livrar demim desde que voltei.Não quero ir embora, é claro,mas se não fossem...bom...circunstânciasespeciaisquevouexplicaravocês,euiriaemboraagoramesmo,antesqueelapudessefazerissonafrentedetodaaescola,comofezcomaTrelawney.Harry eHermione soltaramexclamaçõesdeprotesto,masHagrid ignorou-as comumacenoda
suamãoenorme.– Não é o fim do mundo, poderei ajudar Dumbledore depois que sair daqui, posso ser útil à
Ordem.EvocêsterãoaGrubbly-Plank,terão...evãopassarbemnoexame.Suavoztremeuefalhou.–Nãosepreocupemcomigo–acrescentou imediatamente,quandoHermionefezmençãode lhe
dar uma palmadinha no braço. Puxou, então, um enorme lenço manchado do bolso do colete eenxugouosolhos.–Olhem,eunemestariacontandoissoavocêssenãofosseobrigado.Vejam,seeufor... bom, não posso ir embora sem... sem contar para alguém... porque eu... eu vou precisar quevocêsdoismeajudem.ERony,seelequiser.
–Claroqueelevaiajudar–disseHarrynamesmahora.–Queéquevocêquerdagente?Hagridfungoucomforçae,emsilêncio,deuumapalmadanoombrodeHarrycomtalforçaqueo
garotobateudeladoemumaárvore.–Eusabiaquevocêiadizersim–falouHagridparadentrodolenço–,masnãovou...esquecer...
jamais...bom...vamos...sómaisumpouquinhoadiante,poraqui...cuidado,agora,temurtigas...Elesandaramemsilênciomaisunsquinzeminutos;Harryiaabrindoabocaparaperguntarquanto
aindafaltava,quandoHagridlevantouobraçodireitoparasinalizarquedeviamparar.–Muitacalma–dissebaixinho.–Bemquietosagora...Elesavançaramcommuitacautela,eHarryviuqueestavamdiantedeummontede terra, lisoe
grande,quasedaalturadeHagrid,queeleachou,comumsobressaltodetemor,quedeviaseratocadeumanimalenorme.Atodaavoltadomonte,asárvoreshaviamsidoarrancadaspelasraízes,demodoqueeleseerguiaemumtrechonudoterreno,protegidoporpilhasdetroncosegalhosqueformavam uma espécie de cerca ou barricada, atrás da qual Harry, Hermione e Hagrid agora seencontravam.–Dormindo–sussurrouHagrid.Sem dúvida, Harry podia ouvir um ronco distante e ritmado que parecia vir de pulmões em
atividade. Ele olhou de lado para Hermione, que contemplava o monte com a boca ligeiramenteaberta.Tinhaumaexpressãodeabsolutoterror.–Hagrid–perguntouemummurmúrioquaseinaudívelfaceaoruídodacriaturaadormecida–,
quemé?Harryachouaperguntaestranha...“Queé?”eraaquepretenderafazer.–Hagrid,vocênosdisse...–falouHermione,avarinhaagoratremendonamão–vocênosdisse
quenenhumdelesquisvir!Harry olhou da amiga para Hagrid e, então, compreendeu e virou-se para o monte com uma
exclamaçãodehorror.O grandemonte de terra, emque ele,Hermione eHagrid podiam ter facilmente subido, arfava
lentamentenomesmoritmoquearespiraçãoprofundaeruidosa.Nãoeramontealgum.Eramsemdúvidaascostascurvadasdeum...–Bom...não... elenãoqueriavir–disseHagrid,parecendodesesperado.–Mas tivede trazê-lo,
Hermione,simplesmentetive!–Masporquê?–perguntouHermione,quedavaaimpressãodequererchorar.–Porque...que...
ah,Hagrid!–Eusabiaqueseotrouxessecomigo–disseHagrid,quetambémpareciaprestesachorar–e...eo
ensinasseasecomportar...poderiamostraraomundoqueeleéinofensivo!– Inofensivo! – exclamou Hermione se esganiçando, e Hagrid fez gestos frenéticos quando a
enormecriaturaàfrentedelesresmungoualtoemudoudeposiçãodormindo...–Essetempotodoeletembatidoemvocê,nãoé?Éporissoquevocêestánesseestado!– Ele não sabe a força que tem! – disse Hagrid, convicto. – E estámelhorando, não estámais
brigandotanto...–Entãofoiporissoquevocêlevoudoismesesparachegar!–disseHermione,espantada.–Ah,
Hagrid,porquevocêotrouxeseelenãoqueriavir?Elenãoteriasidomaisfelizcomopovodele?–Estavamabusandodele,Hermione,porqueeleémuitopequeno!–Pequeno?–disseHermione.–Pequeno?–Hermione, eu não poderia deixá-lo – disseHagrid, as lágrimas agora escorrendo pelo rosto
ferido,eseperdendonabarba.–Entende...eleémeuirmão!Hermionesimplesmentearregalouosolhosparaele,boquiaberta.–Hagrid,quandovocêdiz“irmão”–perguntouHarrylentamente–,vocêquerdizer...?
–Bom...meio-irmão – corrigiuHagrid. –Acabou queminhamãe foi viver com outro gigantequandodeixoumeupai,efoieteveGrope...–Grope?–repetiuHarry.–É...bom,éosomqueseouvequandodizonomedele–disseHagrid,ansioso.–Elenãofala
muitoinglês...Andeitentandoensinar...emtodoocaso,minhamãeparecequenãogostoumaisdeledoquedemim.Entende,entreasgigantas,oquecontaéprocriar filhosgrandes,eelesemprefoimeionanicoparaumgigante:temmenosdecincometros...–Ah, é, pequenininho! – disseHermione comuma espécie de ironia histérica. –Absolutamente
minúsculo!–Estavasendomaltratadoportodos...eusimplesmentenãopodiadeixarGropelá.–MadameMaximequeriatrazê-lo?–perguntouHarry.–Ela...bom,elaviuqueeramuitoimportanteparamim–disseHagrid,torcendoasmãosenormes.
–Mas...massecansouumpoucodepoisdealgumtempo,devoconfessar...entãonosseparamosnaviagemdevolta...maselaprometeunãocontaraninguém...–Nossa,comofoiquevocêvoltoucomelesemninguémnotar?–perguntouHarry.–Bom,foiporissoquedemoroutanto,entende.Sópodiaviajarànoiteeporterradespovoadae
outrascoisas.Claroqueelecobreumaboadistânciaquandoquer,maspassouotempotodoquerendovoltar.–Ah,Hagrid,nossa,porquevocênãoodeixoulá?–perguntouHermione,selargandoemcima
deumaárvorearrancadaeescondendoorostonasmãos.–Queéquevocêachaquevaifazercomumgiganteviolentoquenemaomenosquerficaraqui!?–Bom,violento é umpouco exagerado– protestouHagrid, ainda torcendo asmãos, agitado. –
Admitoqueele tentoumeacertarumasduasvezesquandoestavademauhumor,masestámelhor,muitomelhor,estáseajustandobem.–Entãoparaquesãoessascordas?–perguntouHarry.Harryacabaraderepararnascordasgrossascomopernasquehaviamsidoesticadasdotroncodas
árvorespróximasmaioresatéolugaremqueGropeestavaenroscadonochão,decostasparaeles.–Vocêtemdemantê-loamarrado?–perguntouHermionecomavozfraca.– Bom... é... – disse Hagrid, parecendo ansioso. – Entende... é como eu digo... ele não sabe
realmenteaforçaquetem.HarryentendiaagoraporqueacharasuspeitaafaltadeoutrosseresvivosnestapartedaFloresta.–Então,queéquevocêquerqueagentefaça?–perguntouHermione,apreensiva.–Quecuidedele–disseHagrid,rouco.–Depoisqueeuforembora.Harry e Hermione trocaram olhares angustiados, ele incomodamente consciente de que já
prometeraaHagridquefariaoqueoamigopedisse.–Equeéqueagenteteriadefazer,exatamente?–indagouHermione.– Não é comida nem nada! – disse Hagrid, ansioso. – Ele sabe caçar a própria comida sem
problema.Aveseveadoseoutrascoisas...não,édecompanhiaqueeleprecisa.Seeusoubessequealguémestavacontinuandooesforçodeajudá-loumpouco...ensinaraele,sabem.Harrynãodissenada,massevirouparadarumaespiadanovultogigantescoquedormianochão
da Floresta. Ao contrário de Hagrid, que parecia apenas um ser humano grande demais, Gropeparecia estranhamente deformado. O que Harry pensara ser um vasto pedregulho musgoso àesquerdadomontedeterra,reconheciaagoraseracabeçadogigante.Eraproporcionalmentemuitomaior que uma cabeça humana, era uma esfera quase perfeita coberta de cabelosmuito crespos edensos cor de samambaia. A borda de uma única orelha grande e carnuda era visível no alto dacabeça,quepareciaassentar,àsemelhançadadotioVálter,diretamentesobreosombros,compoucoou quase nenhum pescoço de permeio.As costas, sob uma peça de roupa que lembrava uma bata
pardaesujafeitadepelesdeanimais toscamentecosturadas,erammuitolargas;eenquantoGropedormia,aroupapareciarepuxarumpouconascosturas.Aspernasestavamencolhidassobocorpo.Harryviaassolasdepésdescalços,enormes,sujos,dotamanhodetrenós,descansandoumsobreooutronaterra.–Vocêquerqueagenteensineaele?–perguntouHarrycomavozcava.Agoraentendiaoaviso
deFirenze.Atentativadelenãoestádandocerto.Seriamelhorqueaabandonasse.Naturalmente,osoutroshabitantesdaFlorestadeviamterouvidoasinfrutíferastentativasdeHagriddeensinaringlêsaGrope.–É...mesmoquevocêssófalemumpoucocomele–disseHagrid,esperançoso.–Porquecalculo
que, se ele puder falar comgente, vai compreendermelhor que todos gostamos dele realmente, equeremosquefique.HarrysevirouparaHermione,queoespiouporentreosdedosquecobriamseurosto.–AtéfazagentedesejarquetivesseoNorbertodevolta,não?–comentouHarry,eHermionedeu
umarisadavacilante.–Vocês vão fazer isso, então? – perguntouHagrid, que não parecia ter entendido o queHarry
acabaradedizer.–Bom...–disseogaroto,jápresoporsuapromessa.–Vamostentar.–Eusabiaquepodiacontarcomvocês,Harry–disseHagrid,sorrindodeumjeitolacrimejantee
secandoo rostocomo lenço.–Enãoqueroquevocêssaiammuitodoseucaminho... seique têmexames...sevocêspuderemdarumacorridinhaaquicomaCapadaInvisibilidadetalvezumavezporsemanaparabaterumpapocomele.VouacordarGropeentão...apresentarvocês...– Qu... não! – exclamou Hermione se levantando de um salto. – Hagrid, não, não o acorde,
sinceramente,nãoprecisamos...MasHagridjápassaraporcimadograndetroncoàfrenteeseencaminhavaparaGrope.Quando
chegouauns trêsmetrosdedistância,ergueudochãoumlongogalhopartido,sorrindodeformatranquilizadoraparaHarryeHermioneporcimadoombro,entãodeuumcutucãonomeiodascostasdoirmãocomapontadogalho.O gigante deu umurro que ecoou pela Floresta silenciosa; os passarinhos no topo das árvores
saíramdospoleiros,piando,evoaramparalonge.Àfrentedosgarotos,ogigantefoiselevantandodochão,quevibrouquandoele apoiouamãodescomunalpara se ajoelhar.Gropevirouacabeçaparaverquemoincomodara.–Tudobem,Gropinho?–perguntouHagridcompretensaanimação,recuandocomolongogalho
emriste,prontoparacutucaroirmão.–Tirouumaboasoneca,eh?Harry eHermione recuaram omais longe que puderam,mantendo o gigante à vista. Grope se
ajoelhouentreduasárvoresqueaindanãoarrancara.Osgarotosergueramosolhosparaoseurostoespantosamentegrande,quelembravaumaluacheiaacinzentada,flutuandonapenumbradaclareira.Eracomosesuasfeiçõestivessemsidotalhadasemumagrandeboladepedra.Onarizeracurtoesem forma, aboca enviesada e cheiadedentes amarelos e tortosdo tamanhodemeios tijolos; osolhos,pequenospelospadrõesdosgigantes,eramumcastanho-esverdeadoeopaco,enomomentoestavammeio colados de sono.Grope levou os nós dos dedos sujos, do tamanhode umabola decríquete,aosolhos,esfregou-osvigorosamente,então, semaviso,pôs-sedepécomsurpreendenteagilidadeerapidez.–Puxavida!–HarryouviuHermioneguincharaterrorizada,aoseulado.As árvores, às quais estavampresas as pontas das cordas amarradas aos tornozelos e pulsos de
Grope,rangeramagourentamente.Eletinha,conformeHagriddissera,nomínimounscincometrosdealtura.Relanceandoaoredorcomavistaturva,ogiganteesticouamãograndecomoumabarracadepraia,agarrouumninhonosgalhosmaisaltosdeumaltíssimopinheiroevirou-oparabaixocom
umrugidodeaparente insatisfaçãoporquenãohaviapassarinhoalgumdentro;osovoscaíramnochãocomogranadaseHagridlevouosbraçosàcabeçaparaseproteger.–Em todo o caso,Gropinho – gritouHagrid, erguendo a cabeça apreensivo para ver se caíam
maisovos–, trouxeuns amigospara conhecervocê.Lembraqueeudisseque talvez fizesse isso?Lembraqueeudissequepoderiaterdeviajaredeixarelescuidandodevocêumtempinho?Lembra,Gropinho?Masogigantemeramentesoltouumrugidobaixo;eradifícilsaberseestavaescutandoHagridou
se sequer reconhecia os sonsqueo irmão fazia comouma linguagem.Agarrava agorao topodopinheiroeopuxavacontraocorpo,evidentementepelosimplesprazerdeveratéondeaárvoreiriaquandoelealargasse.– Vamos, Grope, não faça isso! – berrou Hagrid. – Foi assim que você acabou arrancando as
outras...Edefato,Harryviuaterraemvoltadasraízesdopinheirocomeçararachar.–Trouxevisitasparavocê!–berrouHagrid.–Visitas,veja!Olheparabaixo,seugrandepalhaço,
trouxeunsamigosparavocê!–Ah,Hagrid,não–gemeuHermione,maselejáreergueraogalhoqueseguravaecutucavacom
forçaojoelhodoirmão.Ogigantesoltouopinheiro,quebalançouassustadoramente,despejandosobreHagridumachuva
deagulhas,eolhouparabaixo.–Este–disseHagrid,correndoparaondeHarryeHermioneestavamparados–éHarry,Grope!
HarryPotter!Eletalvezvenhavisitarvocêseeuprecisarviajar,entendeu?O gigante acabara de perceber a presença dos garotos. Eles acompanharam, com grande
apreensão,Gropebaixarsuadescomunalcabeçadepedregulhoparaexaminá-loscomavistaaindaturva.–EestaéHermione,entende?Her...–Hagridhesitou.Virando-separaagarota,perguntou:–Se
incomodaseelechamarvocêdeHermi,Hermione?Porqueéumnomedifícilparaelelembrar.–Não,imagine–esganiçou-seHermione.–EstaéHermi,Grope!Elavaiviraquietudoomais!Nãoébom?Eh?Doisamigosparavocê...
GROPINHO,NÃO?AmãodogigantesedeslocouderepenteemdireçãoaHermione;Harryagarrouaamigaepuxou-
aparatrásdeumaárvore,demodoqueamãodeGropearranhouotronco,masnãopegounada.–QUE FEIO,GROPE! – eles ouviramHagrid berrar, enquantoHermione se abraçava aHarry
atrásdaárvore,tremendoechoramingando.–MUITOFEIO!NÃOAGARREASPESSOAS...AI!Harrypôsacabeçapara forade trásdo troncoeviuHagridcaídodecostas,amãocobrindoo
nariz. O irmão, aparentemente perdendo o interesse, tornara a se erguer e mais uma vez estavaocupadoemvergaropinheiroatéolimite.–Certo–disseHagridcomavozpastosa,eselevantou,apertandoonarizparaestancarosangue,
empunhandonaoutramãooarco–,bom,entãoéisso...vocês jáoconhecerame...eagoraelevaireconhecê-losquandovocêsvoltarem.É...bom...Eergueuoolharparaoirmão,queagoraestavapuxandoopinheirocomumaexpressãodeprazer
alienadonorostodepedregulho;asraízesestalaramquandoeleasarrancoudaterra.–Bom,imaginoquesejasuficienteporhoje–disseHagrid.–Bom...ah...vamosvoltaragora,está
bem?Harry eHermione concordaram com a cabeça.Hagrid tornou a pôr o arco no ombro e, ainda
apertandoonariz,foiindicandoocaminhoentreasárvores.Ninguémfalouporalgumtempo,nemmesmoquandoouviramoestrondodistantequesignificava
que Grope finalmente arrancara a árvore. Hermione tinha o rosto pálido e contraído. Harry não
conseguiapensaremnadaparadizer.Caramba,oqueiriaacontecerquandoalguémdescobrissequeHagrid escondera Grope na Floresta Proibida? E Harry prometera que ele, Rony e Hermionecontinuariamastentativastotalmenteinúteisdecivilizarogigante.ComoéqueHagridpodia,mesmocomasuaimensacapacidadedese iludirquemonstroscompresaseramamoráveise inofensivos,pensarqueoirmãoalgumdiaestariaemcondiçõesdeconvivercomsereshumanos?–Esperem–pediuHagridderepente,nahoraemqueHarryeHermione iamatravessandocom
dificuldadeumtrechoemqueasanguináriaeraaltaedensa.Elepuxouumaflechadaaljavapresaaoombroeencaixou-anoarco.HarryeHermioneergueramasvarinhas;agoraquetinhamparadodeandar,elestambémouviramummovimentopróximo.–Ah,caramba!–exclamouHagridbaixinho.–Penseiquetínhamosavisado,Hagrid–disseumavozgravemasculina–,quevocênãoémais
bem-vindoaqui?O tronco nu de um homem pareceu por um momento estar flutuando em direção a eles na
semiobscuridademalhadadeverde;depois,elesviramqueacinturaseligavasuavementeaumcorpocastanhodecavalo.Estecentaurotinhaumrostosoberbodemalaresaltoselongoscabelosnegros.ComoHagrid, estava armado; trazia uma aljava cheia de flechas e um arco pendurados em seusombros.–Comovai,Magoriano?–cumprimentouHagrid,preocupado.As árvores atrás do centauro farfalharam, e mais quatro ou cinco centauros surgiram às suas
costas.HarryreconheceuobarbudoAgouro,decorponegro,aquemencontraraquasequatroanosantesnamesmanoiteemqueconheceraFirenze.AgouronãodemonstrouterencontradoHarryantes.– Então – disse com uma inflexão desagradável na voz, antes de se virar imediatamente para
Magoriano. – Acho que tínhamos concordado sobre o que faríamos se este humano voltasse amostraracaranaFloresta...–“Estehumano”écomomechamaagora?–disseHagrid,irritado.–Sóporqueimpedivocêsde
cometeremumassassinato?–Vocênãodeviatersemetido,Hagrid–disseMagoriano.–Osnossoscostumesnãosãoosseus,
nemasnossasleis.Firenzenostraiuedesonrou.–Não sei comovocês chegarama essa conclusão– retrucouHagrid, impaciente. –Ele não fez
nadaalémdeajudarAlvoDumbledore.–Firenzesetornouservodoshumanos–disseumcentaurocinzentocomumrostoduroerugas
profundas.–Servo!–exclamouHagridsarcasticamente.–EleestáprestandoumfavoraDumbledore,eésó...– Ele está mascateando o nosso conhecimento e os nossos segredos para os humanos – disse
Magoriano.–Nãohácomoreverterumavergonhadessas.–Sevocêdizqueéassim–replicouHagrid,sacudindoosombros–,maspessoalmenteachoque
estãocometendoumgrandeerro...–Talcomovocê,humano–disseAgouro–,voltandoànossaFlorestaquandooprevenimos...–Agora,escutemaqui–disseHagrid,zangado.–Senãoseimportarem,vamosfalarmenosem
“nossa”Floresta.Nãosãovocêsquemdecidemquementraesaidaqui...–Nemvocê, tampouco–respondeuMagorianosuavemente.–Deixareivocêpassarhojeporque
estáacompanhadodosseusfilhotes...– Não são dele! – interrompeu Agouro, desdenhoso. – Estudantes, Magoriano, da escola!
ProvavelmentejásebeneficiaramdosensinamentosdotraidorFirenze.– Ainda assim – falouMagoriano calmamente –, a matança de crias é um crime terrível: não
tocamos nos inocentes.Hoje,Hagrid, você passa.Doravante, fique longe deste lugar.Você traiu aamizadedoscentaurosquandoajudouotraidorFirenzeafugir.
–NãovouserexpulsodaFlorestaporumbandodemulasvelhascomovocês!–bradouHagrid.– Hagrid – chamou Hermione com a voz aguda e aterrorizada, quando Agouro e o centauro
cinzentocomeçaramapatearochão–,vamosembora,porfavor,vamos!Hagridcomeçouaandar,masseuarcocontinuavaerguidoe seusolhosameaçadoramente fixos
emMagoriano.–Nós sabemos o que você está guardando na Floresta,Hagrid! – gritouMagoriano quando os
centaurosdesapareciamdevista.–Enossatolerânciaestáseesgotando!HagridsevirouedeuimpressãodequerervoltardiretamenteparaMagoriano.–Vocêsvão tolerá-loenquantoeleestiveraqui,aFlorestapertence tantoaelequantoavocês!–
berrou, enquantoHarry eHermione o empurravam com todas as forças pela cintura, procurandoimpedi-lodeavançar.Aindadecaraamarrada,eleolhouparabaixo;suaexpressãosealterouparademonstrarsurpresaaoverosdoisaempurrá-lo;parecianãotersentidonadaantes.–Seacalmem,osdois–disse,virando-separacontinuaracaminhadaenquantoosgarotosofegavamatrásdele.–Nãopassamdemulasvelhas.–Hagrid–disseHermionesemar,contornandootrechodasurtigaspeloqualhaviampassadona
ida–,seoscentaurosnãoqueremhumanosnaFloresta,realmenteparecequeHarryeeunãovamospoder...–Ah, vocês ouviramo que eles disseram– respondeuHagrid contestando –, nãomachucariam
filhotes,querodizer,garotos.Emtodoocaso,nãopodemospermitirquemandemnagente.–Boatentativa–murmurouHarryparaHermione,quepareciadesconcertada.Finalmenteelesretomaramatrilhaeunsdezminutosdepoisasárvorescomeçaramaficarmais
espaçadas;jádavaparaveroutravezpedaçosdocéuazule,adistância,ouvirossonsinegáveisdevivasegritos.–Seráquefoioutrogol?–indagouHagrid,parandosoboabrigodasárvoresquandoavistaramo
campodequadribol.–Ouvocêsachamqueojogoacabou?–Nãosei–respondeuHermione,desconsolada.Harryreparouqueaamigaestavacomumaspecto
péssimo; os cabelos cheios de gravetos e folhas, as vestes rasgadas em vários lugares e havianumerososarranhõesemseurostoenosbraços.Sabiaquenãodeviaestarmuitomelhor.–Calculoqueterminou,sabem!–disseHagridapertandoosolhosparaveroestádio.–Olhem...já
temgentesaindo...esevocêsdoisseapressarempoderãosemisturaraosespectadores,eninguémvaisaberquenãoestiveramlá!–Boaideia–disseHarry.–Bom...agentesevê,então,Hagrid.– Eu não acredito – disse Hermione com a voz muito vacilante, no momento em que se
distanciaramosuficientedeHagridparanãoserouvidos.–Eunãoacredito.Realmentenãoacredito.–Calma–pediuHarry.–Calma!– exclamouela, febril. –Umgigante!UmgigantenaFloresta!EHagrid esperaque a
gentedêaulasdeinglêsaele!Sempresupondo,éclaro,queconseguiremospassarporumrebanhodecentaurosassassinosparaentraresair!Eu...não...acredito!–Aindanãotemosdefazernada!–Harrytentoutranquilizá-la,aosereuniremàtorrentedealunos
daLufa-Lufa,que falavamagitadosvoltandoparaocastelo.–Elenãoestánospedindopara fazernadaanãoserquesejademitido,eissotalveznãoaconteça.–Ah, pare com isso,Harry! – disseHermione, zangada, estacando subitamente e obrigando as
pessoasquevinhamatrás a sedesviardela.–Claroquevai serdemitidoe,para serperfeitamentesincera,depoisdoqueacabamosdever,quempodeculparaUmbridge?Houve uma pausa em que Harry a encarou com ferocidade, e os olhos dela se encheram de
lágrimas.–Vocênãoestáfalandosério–disseeleemvozbaixa.
–Não...bom...tudobem...nãofalei–respondeuHermioneenxugandoosolhoscomraiva.–Porqueéqueeletemdecriardificuldadesparaele...paranós?–Nãosei...
Weasleyénossorei,Weasleyénossorei,NãodeixouabolaentrarWeasleyénossorei...
–Eeugostariaqueparassemdecantar essamúsica idiota–disseHermione, infeliz–, seráqueaindanãotripudiarambastante?Umagrandeondadeestudantesvinhasaindodoestádioesubiaosgramados.–Ah,vamosentrarantesqueagentedêdecaracomopessoaldaSonserina–disseHermione.
WeasleydefendequalquerbolaNuncadeixaoarolivreÉporissoqueaGrifinóriacantaWeasleyéonossorei.
–Hermione...–disseHarrylentamente.Acantoriaestavaaumentando,masnãovinhadamultidãodealunosdaSonserina,vestidadeverde
e prata, mas de uma massa de vermelho e ouro que se deslocava gradualmente para o castelo,levandoumafigurasolitárianosombros.
Weasleyénossorei,Weasleyénossorei,NãodeixouabolaentrarWeasleyénossorei...
–Não!–exclamouHermioneaossussurros.–SIM!–falouHarryemvozalta.–HARRY,HERMIONE!–berrouRony,balançandoataçadepratadoquadribolnoar,parecendo
foradesidefelicidade.–CONSEGUIMOS!GANHAMOS!Osdoissorriramparaoamigoquepassava.HouveumrolonaportadocasteloeacabeçadeRony
bateucomforçanavigasuperior,masninguémpareciaquerercolocá-lonochão.Aindacantando,amultidão se comprimiu no Saguão de Entrada e desapareceu de vista. Harry e Hermione ficaramvendooscolegas seafastarem, sorrindo, atéqueosúltimosecosdo refrão“Weasleyénosso rei”morreramaolonge.Entãoviraram-seumparaooutroeseussorrisossedesfizeram.–Vamosguardarasnossasnotíciasparaamanhã,nãoé?–disseHarry.–É,certo–disseHermione,preocupada.–Nãoestoucomamenorpressa.Osdoissubiramosdegrausjuntos.Àporta,instintivamentesevoltaramparacontemplaraFloresta
Proibida.Harrynão tevecertezaseeraounãosua imaginação,maspensou tervistoumapequenanuvemdepássarosirrompendonoarporcimadasárvoresdistantes,quasecomoseaquelaemqueseaninhavamtivesseacabadodeserarrancadapelaraiz.
—CAPÍTULOTRINTAEUM—N.O.M.s
A euforia deRony por ter ajudado aGrifinória a ganhar a taça de quadribol era tal que ele nãoconseguiu se concentrar em nada no dia seguinte. Só queria comentar o jogo, por isso Harry eHermioneacharammuitodifícilencontrarumavagaparamencionarGrope.Nãoqueelestivessemseempenhadomuito;nenhumdosdoisqueriaserresponsávelportrazerRonydevoltaàrealidadedemaneira tão brutal. Como fazia outro belo dia de calor, eles o convenceram a acompanhá-los narevisãodematériasembaixodafaiaàbeiradolago,ondeteriammenorchancedeserescutadosdoque na sala comunal. A princípio Rony não gostou muito da ideia – estava adorando levarpalmadinhas nas costas de todo aluno da Grifinória que passava por sua poltrona, para nãomencionar os coros repentinos de “Weasley é nosso rei” –, mas, passado algum tempo, eleconcordouqueumpoucodearfrescolhefariabem.Os garotos espalharam os livros à sombra da faia e se sentaram, enquanto Rony contava sua
primeiradefesanapartida,eleprópriopercebeuquepeladécimasegundavez.–Bom,querodizer, eu já tinhadeixadoentrarumgoldoDavies, entãonãoestavame sentindo
nadaconfiante,mas,nãosei,quandoBradleyveionaminhadireção,semeunemsaberdeondetinhasaído,pensei:Vocêécapazdefazeressadefesa!Etiveumsegundoparadecidirparaqueladovoar,sabe, porque pelo jeito ele estava visando ao aro da direita,minha direita, obviamente a esquerdadele,maseutiveaestranhasensaçãodequeestavafingindo,entãoarrisqueievoeiparaaesquerda,adireita dele... quero dizer... e... bom... vocês viram o que aconteceu – concluiu ele modestamente,jogando os cabelos para trás à toa, fazendo-os parecer curiosamente despenteados pelo vento, eolhandoparaos ladosparaver se as pessoasmais próximas, umgrupode terceiranistas daLufa-Lufa, tinham-noouvido.–Então,quandoChambersavançouparamimunscincominutosdepois...Quê?–perguntouRony,parandonomeiodafraseaoveraexpressãonorostodeHarry.–Porqueéquevocêestásorrindo?–Nãoestou–disseHarrydepressa,ebaixouosolhosparasuasnotasdeTransfiguração,tentando
ficarsério.AverdadeéqueoamigoacabaradelherecordarclaramenteoutrojogadordequadriboldaGrifinóriaqueumdiasesentaradespenteandooscabelosembaixodessamesmíssimaárvore.–Estoufelizporqueganhamos,ésó.– É – disse Rony, saboreando a palavra ganhamos. – Você viu a cara da Chang quando Gina
capturouopomobemdebaixodonarizdela?–Imaginoquetenhachorado,não?–comentouHarry,amargurado.–Bom,é...maisderaivadoquedeoutracoisa...–Ronyenrugouligeiramenteatesta.–Masvocê
viuquandoelaaterrissouejogouavassouranochão,nãoviu?–Ah...–começouHarry.– Bom, na verdade... não, Rony – disse Hermione com um pesado suspiro, baixando o livro e
encarandooamigocomardequemsedesculpa.–Defato,aúnicapartedojogoaqueeueHarryassistimosfoioprimeirogoldeDavies.OscabelosdeRonycuidadosamentedespenteadosparecerammurchardedesapontamento.–Vocêsnãoassistiram?–disseelecomavozfraca,olhandodeumparaoutro.–Vocêsnãome
viramfazernenhumadessasdefesas?–Bom... não–disseHermione, conciliadora, estendendo amãopara ele. –Mas,Rony, nós não
queríamossair:tivemosdesair!–Ahé?!–exclamouRonycujorostocomeçouaficarvermelho.–Eporquê?–FoioHagrid–disseHarry.–Eleresolveunoscontarporqueestá todomachucadodesdeque
voltoudaterradosgigantes.QueriaqueagenteoacompanhasseàFloresta,nãotivemosopção,vocêsabecomoelefica.Dequalquerjeito...Ahistóriafoicontadaemcincominutos,aofinaldosquaisaindignaçãodeRonydeulugarauma
expressãodetotalincredulidade.–EletrouxeumgiganteeoescondeunaFloresta?–Foi–confirmouHarry,carrancudo.–Não–disseRony,comoseaodizerissopudessemudararealidadeemirrealidade.–Não,ele
nãopodeterfeitoisso.– Mas fez – confirmou Hermione. – Grope tem quase cinco metros, se diverte arrancando
pinheirosdeseismetros,emeconhece–eladeuumarisadinhadesgostosa–como“Hermi”.Ronyriu,nervoso.–EHagridquerqueagente...?–Ensineinglêsaele,é–completouHarry.–Ficoumaluco–protestouRonynumtompróximoaoassombro.– É – falou Hermione, irritada, virando uma página de Transfiguração para o curso médio e
examinandoumasériedediagramasqueilustravamatransformaçãodeumacorujaemumbinóculode teatro.–É,estoucomeçandoapensarque ficou.Mas, infelizmente,ele fezagente,Harryeeu,prometer.–Bom, entãoo jeito é vocês quebrarema promessa – disseRony com firmeza. –Querodizer,
vamos...temosexameseestamosassim–eleergueuamãomostrandoopolegareoindicadorquasejuntos – de sermos expulsos sem fazer mais nada. Além disso... vocês se lembram do Norberto?LembramAragogue?AlgumdialucramosalgumacoisapornosmetercomosmonstrosdoHagrid?–Eusei,ésóque...prometemos–disseHermionecomavozfraquinha.Ronytornouaalisaroscabelos,parecendopreocupado.– Bom – suspirou –, Hagrid ainda não foi despedido, não é? Se aguentou até aqui, quem sabe
aguentaatéofinaldotrimestreeagentenemtemquechegarpertodotalGrope?
Os jardins e terras do castelo refulgiam ao sol como se tivessem sido recémpintados; o céu semnuvenssorriaparaoseureflexonolagolisoecintilante;overdeacetinadodosgramadosondeavaocasionalmenteàbrisamansa.Junhochegara,masparaosquintanistasistosignificavaapenasumacoisa:estavamàsvésperasdosN.O.M.s.Seusprofessoresnãopassavammaisdeveresdecasa;asaulaseramdedicadasarevisarostópicos
que eles achavam quemais provavelmente cairiam nos exames. A atmosfera premeditada e febrilvarreuquasetudodacabeçadeHarry,excetoosN.O.M.S.,emboraeleseperguntasseocasionalmente,duranteasaulasdePoções,seLupinchegaraadizeraSnapequeeledeviacontinuaralhedaraulasparticulares deOclumência. Se dissera, entãoSnape ignoraraLupin completamente como agora oignorava.IstoconvinhaaHarry;estavabastanteocupadoetensosemaulasextrascomSnape,e,paraseualívio,Hermioneandavaultimamentepreocupadademaisparaaborrecê-locomaOclumência;passavamuitotempofalandosozinha,efaziadiasquenãodeixavaroupasparaelfos.Ela não era a única pessoa a se comportar estranhamente à medida que se aproximavam dos
exames.ErnestoMacmillanadquiriraoirritantehábitodeinterrogaraspessoassobreamaneiradefazeremrevisões.
–Quantashorasvocêsachamqueestãogastandopordia?–perguntouaHarryeRonynafilaàportadaauladeHerbologia,comumbrilhoobsessivonosolhos.–Nãosei–respondeuRony.–Algumas.–Maisoumenosdeoito?–Suponhoquemenos–disseRony,parecendoligeiramentealarmado.–Estougastandooito–informoueleestufandoopeito.–Oitoounove.Eestouencaixandomais
umahoraantesdocafédamanhãtodososdias.Oitotemsidoaminhamédia.Possochegaradezemumbomdianofimdesemana.Fiznoveemeianasegunda-feira.Nãofuitãobemnaterça:sóseteequinze.Depois,naquarta-feira...HarrysesentiuprofundamentegratoquenestemomentoaProfaSproutostivessemandadoentrar
naestufanúmerotrês,obrigandoErnestoaabandonarsuaenumeração.Entrementes,DracoMalfoyencontravaummodonovodeinduziropânico.–Naturalmente, não éoquevocê sabe–ouviram-nocomentar comCrabbe eGoyle àportade
Poções poucos dias antes dos exames começarem –, mas quem você conhece. Agora, meu pai éamigodachefedaAutoridadedeExamesBruxosháanos,avelhaGriseldaMarchbanks,ela já foijantarláemcasaetudo...–Vocêsachamqueissoéverdade?–sussurrouHermione,alarmada,paraHarryeRony.–Sefornãohánadaquesepossafazer–comentouRonytristemente.– Acho que não é verdade – disse Neville calmamente às costas deles. – Porque a Griselda
Marchbankséamigadaminhaavó,eelajamaismencionouosMalfoy.–Comoéqueelaé,Neville?–perguntouHermionenamesmahora.–Érigorosa?–Naverdadelembraumpoucoaminhaavó–disseNevilleemvozbaixa.–Masofatodeconhecê-lanãovaiprejudicarvocê,vai?–perguntouRonyanimando-o.–Nãoachoqueváfazerdiferença–retrucouele,aindamaisinfeliz.–Vovóestásempredizendoà
ProfaMarchbanksquenãosoutãobomquantoomeupai...bom...vocêsviramcomoelaélánoSt.Mungus...Nevilleficouolhandofixamenteparaochão.Harry,RonyeHermioneseentreolharam,masnão
souberam o que dizer. Era a primeira vez que Neville mencionava que haviam se encontrado nohospitaldosbruxos.Nessemeio-tempo,nasceraentreosalunosdequintoesétimoanoumflorescentemercadonegro
deprodutosparaaumentaraconcentração,aagilidadementaleaatenção.HarryeRonysesentirammuito tentadosacompraragarrafadeElixirBaruffioparaoCérebrooferecidapelosextanistadaCorvinal, Edu Carmichael, que jurou que o elixir fora o único responsável pelos seus nove“Excepcionais”nosN.O.M.sdoverãoanterior,edoqualestavavendendomeiolitroporapenasdozegaleões. Rony garantiu a Harry que lhe pagaria a sua metade assim que terminasse Hogwarts earranjasseumemprego,mas,antesquepudessefecharonegócio,HermioneconfiscouagarrafadeCarmichaeledespejouoconteúdonumvasosanitário.–Hermione,nósqueríamoscompraroelixir!–gritouRony.–Nãosejaburro–rosnouela.–VocêpoderátomaropódegarradedragãodeHaroldDingleque
fariaomesmoefeito.–Dingletempódegarradedragão?–indagouRony,ansioso.–Nãotemmais.Confisqueiopótambém.Nenhumadessascoisasfazrealmenteefeito,entende.–Garradedragão faz! – exclamouRony. –Dizemque é incrível, realmentedáuma injeçãode
reforço no cérebro, a pessoa fica superperspicaz durante algumas horas... Hermione, me dá umapitada,vai,nãopodefazermal...– Essa droga faz – disse Hermione sombriamente. – Dei uma examinada, e descobri que na
realidadeéexcrementodeFadaMordente...
Ainformaçãotirouavontadedosgarotosdecomprarestimulantesparaocérebro.ElesreceberamoshoráriosdosexameseosdetalhesdecomoprocedernaauladeTransfiguração
seguinte.–Comovocêspodemver – disse aProfaMcGonagall à classe enquantoos alunos copiavamas
datas e os horários dos exames do quadro-negro –, os seus N.O.M.s estão distribuídos por duassemanas sucessivas.Vocês farãoos examesde teoriapelamanhãeosdeprática à tarde.OexamepráticodeAstronomia,naturalmente,serárealizadoànoite.“Agora,devopreveniravocêsqueosseusexamesreceberamosfeitiçosanticolamaisfortesque
existem. Não são permitidos na sala de exame Penas de Resposta Automática, nem tampoucoLembróis,Punhos-de-ColaDestacáveisnemTintaAutocorretora.Todoano,éprecisodizer,apareceno mínimo um estudante que acha que pode contornar o regulamento da Autoridade de ExamesBruxos.Minha esperança é que não seja ninguém daGrifinória.Nossa nova... diretora... – a ProfaMcGonagall pronunciou o nome com a mesma expressão no rosto com que tia Petúnia sempreencarava um sujinho particularmente renitente – pediu aos diretores das Casas para avisar aosestudantesqueacolaserápunidacomomáximorigor,porque,naturalmente,osresultadosdosseusexamesrefletirãoonovoregimeimplantadopeladiretoranaescola...”A professora deu um pequeno suspiro. Harry viu as narinas do seu nariz de linhas fortes se
dilatarem.– ... contudo, não há razão para vocês não se esforçarem ao máximo. Têm que pensar no seu
futuro.–Professora,porfavor–disseHermioneerguendoamão–,quandovamossaberosresultados
dosnossosexames?–Vocêsreceberãoumacorujaemjulho.– Excelente – comentou Dino Thomas, em um sussurro audível –, então não teremos de nos
preocuparcomissoatéasférias.HarryseimaginousentadoemseuquartonaruadosAlfeneirosdaliaseissemanas,esperandoos
resultadosdosN.O.M.s.Bom,pensou,pelomenoseracertoreceberumacartanaqueleverão.O primeiro exame, Teoria dos Feitiços, estava programado para a segunda-feira pela manhã.
Harry concordou em testar Hermione depois do almoço de domingo, mas arrependeu-se quaseimediatamente:aamigamuitoagitadanãoparavadepuxaro livrodasmãosdeleparaverificarseresponderatotalmentecerto,eacaboulhedandoumapancadanonarizcomabordaafiadadeSucessoemfeitiços.–Porqueéquevocênãosetestasozinha?–disseelecomfirmeza,devolvendo-lheolivrocom
lágrimasnosolhos.Enquanto isso, Rony seguia lendo dois anos de anotações sobre Feitiços com os dedos nos
ouvidos,movendooslábiossilenciosamente;SimasFinnigandeitara-sedecostasnochão,erepetiaadefiniçãodeFeitiçoSubstantivoenquantoDinoverificavaarespostanoLivropadrãodefeitiços,5a
série; e Parvati e Lilá praticavamFeitiços deLocomoção apostando corrida entre seus estojos delápisemvoltadeumamesa.Ojantarfoiumarefeiçãocalmaàquelanoite.HarryeRonynãofalarammuito,mascomeramcom
apetitedepoisdetantoestudoatardeinteira.Porsuavez,Hermionenãoparavadedescansarogarfoe a faca e mergulhar embaixo da mesa para apanhar a mochila, na qual pegava um livro paraverificaralgumfatoounúmero.Ronyacabaradedizerqueeladeviafazerumarefeiçãodecenteounão conseguiria dormir àquela noite, quando o garfo escorregou de seus dedos dormentes e caiucomestrépitonoprato.–Ah,minhanossa–disseelacomavozfraca,arregalandoosolhosparaoSaguãodeEntrada.–
Sãoeles?Sãoosexaminadores?
HarryeRonyviraram-seimediatamente.PelasportasqueseabriamparaoSaguãodeEntrada,elesviramUmbridgecomumpequenogrupodebruxosebruxasdeaparênciaidosa.Umbridge,Harrysealegroudever,pareciamuitonervosa.–Vamosolharmaisdeperto?–convidouRony.HarryeHermioneassentiramecorreramparaaporta,abrandandoamarchaaocruzaroportale
continuandomaiscalmamenteparapassarpelosexaminadores.HarryachouqueaProfaMarchbanksdeviaserabruxamiúdaecurvadacomorostotãoenrugadoquepareciacobertodeteiasdearanha;Umbridgesedirigiaaelacomdeferência.Aexaminadorapareciaumpoucosurda;respondiaàProfaUmbridgeemvozmuitoalta,considerandoqueestavamamenosdemeiometrodedistância.– A viagem foi ótima, a viagem foi ótima, já a fizemos muitas vezes antes! – respondeu com
impaciência.–Agora,nãotenhotidonotíciasdeDumbledoreultimamente!–acrescentou,correndooolhar pelo saguão como se esperasse ver o bruxo sair de repente de um armário de vassouras. –Suponhoquenãotenhaideiadeondeeleesteja?–Nenhuma–respondeuadiretora,lançandoumolharmalévoloaHarry,RonyeHermione,que
agora se demoravam ao pé da escadaria enquanto Rony fingia amarrar os sapatos. – Mas ousoafirmarqueembreveoministrodaMagiadescobriráseuparadeiro.–Duvido–gritouaProfaMarchbanks–,nãoseDumbledorenãoquiserserencontrado!Eusei...
examinei-opessoalmenteemTransfiguraçãoeFeitiçosquandoeleprestouosN.I.E.M.s... fezcoisascomumavarinhaqueeununcatinhavistoantes.–É...bom...–disseadiretoraquandoHarry,RonyeHermionesubiramaescadariademármore
arrastando os pés, omais lentamente que se atreviam –, deixe-me levá-la à sala dos professores.Imaginoquequeiraumaxícaradechádepoisdessaviagem.Foi uma noite meio tensa. Todos tentavam fazer alguma revisão de última hora, mas ninguém
pareciaestarconseguindo.Harryfoisedeitarcedo,eteveaimpressãodecontinuaracordadodurantehoras. Lembrou-se da orientação vocacional e da declaração furiosa de McGonagall de que oajudariaasetornaraurornemquefosseaúltimacoisaquefizesse.Elegostariadetermanifestadouma ambição mais realizável agora que chegara a hora dos exames. Sabia que não era o únicoacordado,masnenhumdoscolegasdedormitóriofaloue,finalmente,umaum,todosadormeceram.Nenhumdos quintanistas conversoumuito durante o café namanhã seguinte, tampouco: Parvati
praticava encantamentos em voz baixa, fazendo o saleiro à sua frente se mexer; Hermione reliaSucessoemfeitiçostãorápidoqueseusolhospareciamseturvar;eNevillenãoparavadedeixarcairostalheresederrubarageleia.Quandoterminaram,osalunosdequintoesétimoanossedeixaramficarpeloSaguãodeEntrada
enquanto os outros estudantes foram para as aulas; então, às nove e meia, eles foram chamados,turmaporturma,areentrarnoSalãoPrincipal,quetinhasidorearrumadoexatamentecomoHarryoviranaPenseira,quandoseupai,SiriuseSnapeestavamprestandoosN.O.M.s;asmesasdasquatroCasas tinhamsido retiradas e substituídaspormuitasmesas individuais,de frentepara amesadosprofessoresnofundodosalão,àqualestavaaProfaMcGonagall,porsuavez,defrenteparaasmesasdosalunos.Depoisquetodossesentaramesossegaram,eladisse:–Podemcomeçar. –Evirouumaenormeampulhetanamesa ao lado, sobre aqualhavia ainda
penas,tinteiroserolosdepergaminhodereserva.Harryvirouafolhadoexame,ocoraçãobatendoforte–trêsfileirasàsuadireitaequatrocadeiras
àfrente,Hermionejáestavaescrevendo–,eelebaixouosolhosparaleraprimeirapergunta:a)citeoencantamentoeb)descrevaomovimentodavarinhaexigidoparafazerosobjetosvoarem.Harry teve uma lembrança fugaz de uma maça voando no ar e aterrissando com estrondo na
cabeça dura de um trasgo... com um ligeiro sorriso, ele se curvou para o exame e começou aescrever.
–Bom,não foimuito ruim, foi?–perguntouHermioneansiosanoSaguãodeEntradaduashorasmais tarde, ainda segurando as perguntas do exame. – Acho que não fiz justiça ao que sei comFeitiços para Animar, esgotou-se o tempo. Vocês puseram o contrafeitiço para soluços? Não tivecertezaseprecisava,acheiinformaçãodemais...enaperguntavinteetrês...– Hermione – disse Rony com severidade –, já passamos por isso... não vamos repassar cada
exameaoterminar,jáébastanteruimfazerumavez.Osquintanistasalmoçaramcomorestantedaescola(asmesasdasquatroCasasreapareceramna
horadoalmoço),depoismarcharamparaumapequenasalaaoladodoSalãoPrincipal,ondedeviamesperarachamadaparaoexameprático.Àmedidaquepequenosgruposdealunoseramchamados,os que ficavam murmuravam encantamentos e praticavam movimentos com a varinha,ocasionalmenteespetandoocoleganascostasounoolho,porengano.ChamaramHermione. Tremendo, ela deixou a sala comAntônio Goldstein, Gregório Goyle e
DafneGreengrass.Osestudantesqueeramtestadosnãovoltavamàsala,porissoHarryeRonynãosabiamcomoHermionesesaíra.– Ela se saiu bem, lembra que tirou cento e doze por cento em um dos testes de Feitiços? –
perguntouRony.Dezminutosdepois,oProf.Flitwickchamou:–Parkinson,Pansy...Patil,Padma...Patil,Parvati...Potter,Harry.–Boasorte–desejouRonyemvozbaixa.HarryentrounoSalãoPrincipal,segurandoavarinha
comtantaforçaquesuamãotremia.– O Prof. Tofty está livre, Potter – esganiçou-se o Prof. Flitwick, que estava em pé à porta. E
orientouHarryparaumbruxoquepareciaoexaminadormaisvelhoemaiscareca,sentadoaumamesinhanocantomaisdistante,aumapequenadistânciadaProfaMarchbanks,que,porsuavez, jáestavanametadedoexamedeDracoMalfoy.– Potter, não é? – perguntou o Prof. Tofty, consultando suas anotações e espiando por cima do
pincenêàaproximaçãodeHarry.–OfamosoPotter?Pelocantodoolho,HarryviuclaramenteMalfoylhelançarumolharfulminante;ataçadevinho
queeleestavafazendolevitarcaiuaochãoeseespatifou.Harrynãopôdeconterumsorriso;oProf.Toftyretribuiu-lheosorriso,encorajando-o.–Isso–dissecomavoztrêmuladevelho–,nãoprecisaficarnervoso.Agora,gostariadepedir
quevocêpegasseesseporta-ovoeofizessedarsaltosmortaisparamim.Notodo,Harryachouqueoexamecorreumuitobem.SeuFeitiçodeLevitaçãofoimuitomelhor
que o deMalfoy, embora ele desejasse não ter confundido osFeitiços deMudança deCor e o deCrescimento,fazendooratoquedeviaestarcolorindodelaranjainchardemaneirachocanteeficardo tamanhodeum texugoantesquepudessecorrigiro seuengano.Ficou felizqueHermionenãoestivessenoSalãoPrincipalnahoraeseesqueceudepoisdemencionaroocorridoparaaamiga.Maspôde contar a Rony; ele fizera um prato se transformar em um grande cogumelo e não tinha amínimaideiadecomoissoacontecera.Nãohouve tempopara relaxarnaquelanoite;osgarotos foramdiretamenteparaasalacomunal
depoisdojantaremergulharamnarevisãodeTransfiguraçãoparaodiaseguinte;Harryfoisedeitarsentindoacabeçazunircomoscomplexosmodeloseteoriasdefeitiços.EesqueceuadefiniçãodeumFeitiçodeSubstituiçãoduranteoexameteóriconamanhãseguinte,
masachouquenopráticopoderiatersidobempior.Pelomenoseleconseguiufazerdesaparecerporinteiro a sua iguana, enquanto Ana Abbott na mesa ao lado perdeu a cabeça e conseguiu,inexplicavelmente, multiplicar seu furão em um bando de flamingos, obrigando os professores ainterromperoexamedurantedezminutosenquantoasaveseramcapturadaseretiradasdosalão.OsalunosfizeramoexamedeHerbologianaquarta-feira(e,anãoserporumapequenamordida
deumgerâniodentado,Harryachouquesesaiurazoavelmentebem);depois,naquinta-feira,tiveramDefesaContraasArtesdasTrevas.Ali,pelaprimeiravez,Harrytevecertezadequepassara.Nãoteveproblemacomnenhumaquestãoescrita,eteveespecialprazer,duranteoexameprático,derealizartodasascontra-azaraçõesefeitiçosdefensivosbemdiantedaUmbridge,queobservavacalmamente,próximaàsportasparaoSaguãodeEntrada.–Bravo!–exclamouoProf.Tofty,queestavamaisumavezexaminandoHarry,quandoogaroto
demonstrou com perfeição um feitiço para fazer desaparecer bichos-papões. – Realmente, muitobem!Bom,achoquejáchega,Potter...anãoser...Elesecurvouumpoucoparaafrente.–MeuqueridoamigoTibérioOgdenmecontouquevocêécapazdeproduzirumPatrono?Para
ganharmaisumponto...?Harryergueuavarinha,olhoudiretamenteparaUmbridgeeimaginou-asendoexpulsa.–Expectopatronum!SeuPatrono prateado irrompeu da ponta da varinha e saiu ameio galope pelo salão. Todos os
examinadores seviraramparaobservar ademonstração, equandoele sedissolveuemumanévoaprateadaoProf.Toftyergueuasmãos,comjuntaseveiasgrossas,eaplaudiuentusiasmado.–Excelente!Muitobem,Potter,podeir.Quando Harry passou por Umbridge junto à porta, seus olhares se encontraram. Um sorriso
desagradávelbrincavaemtornodabocaenormee frouxadadiretora,maselenãose importou.Anão ser que estivessemuito enganado (e ele não pretendia contar a ninguém, caso estivesse), eleacabaradereceberum“Excepcional”noexame.Na sexta-feira, Harry e Rony tiveram um dia livre enquanto Hermione prestava seu exame de
RunasAntigas, e com o fim de semana à frente, eles se permitiram tirar uma folga das revisões.Enquantojogavamxadrezdebruxoseespreguiçaramebocejaramsentadosaoladodajanelaaberta,pelaqualentravaumarcálidodeverão.HarryviuHagridadistância,dandoaulaaumaturmanaorlada Floresta. Tentou adivinhar que bichos estariam estudando – achou que deviam ser unicórnios,porque os alunos pareciam estar um pouco recuados –, quando o buraco do retrato se abriu eHermioneentrouparecendomuitíssimomal-humorada.–ComoforamasRunas?–perguntouRony,bocejandoeseespreguiçando.–Traduziehwaz errado– disse a garota, furiosa. –Apalavra quer dizerparceria e nãodefesa.
Confundicomeihwaz.–Ah,bom–disseRony,cheiodepreguiça–,foisóumerrinho,nãofoi,vocêaindavaitirar...–Ah,calaaboca!–replicouagarotacomraiva.–Podeseroerrinhoquefaráadiferençaentre
seraprovadaereprovada.Etemmais,alguémpôsoutropelúcionasaladaUmbridge.Nãoseicomoconseguiram enfiá-lo por aquela porta nova, mas acabei de passar por lá e a Umbridge está aosberros,pelojeito,parecequeobichotentouarrancarumpedaçodapernadela...–Quebom!–exclamaramHarryeRonyjuntos.–Nãoénadabom!–retrucouHermione,indignada.–ElaachaqueéoHagridqueestáfazendo
isso,lembram?Enãoqueremosqueelesejadespedido!–Hagrid está dando aulas nestemomento; ela não pode culpá-lo – disseHarry, apontando pela
janela.–Ah, às vezes você é tão ingênuo,Harry.Você acha realmente que aUmbridge vai esperar ter
algumaprova?–perguntouHermione,quepareciadecididaaficardemauhumor,esaiurodandoasvestesparaodormitóriodasmeninas,batendoaportaaopassar.–Quegarotaadorávelemeiga!–disseRony,baixinho,avançandocomsuarainhaparacomerum
doscavalosdeHarry.O mau humor de Hermione durou a maior parte do fim de semana, embora Harry e Rony
achassemfácilignorá-lo,poispassaramamaiorpartedesábadoedomingorevisandoPoçõesparasegunda-feira,oexamequeHarryaguardavacommenosansiedade–equetinhacertezadequeseriaa ruína de sua ambição de se tornar Auror. De fato, considerou o exame escrito difícil, emboraachassepossívelterganhadoospontosdaperguntasobreaPoçãoPolissuco;foicapazdedescreverseusefeitoscomprecisão,poisatomarailegalmenteemseusegundoanodeescola.Oexamepráticoà tardenãofoi tãohorrívelquantoesperava.ComSnapeausentedoexame,ele
percebeu que estava muito mais relaxado do que costumava ficar ao preparar poções. Neville,sentadomuito próximo dele, também parecia mais feliz do que Harry já o vira em uma aula dePoções. Quando a Profa Marchbanks disse: “Afastem-se dos seus caldeirões, por favor, o exameterminou”,Harry arrolhou sua amostra com a sensação de que talvez não tivesse tirado uma boanota,masconseguira,comsorte,evitarumareprovação.–Sófaltamquatroexames–comentouParvatiPatil,preocupada,aovoltaremàsalacomunalda
Grifinória.– Só! – retorquiu logoHermione. –Eu tenhoAritmancia, e provavelmente é a disciplinamais
difícilqueexiste!Ninguém foi tolo de contestar, demodo que ela não pôde extravasar sua irritação em nenhum
deles, e ficou reduzida a ralhar com uns alunos de primeiro ano por rirem muito alto na salacomunal.Harry estava decidido a fazer um bom exame de Trato das CriaturasMágicas para não deixar
Hagridmal.OexamepráticofoirealizadoàtardenogramadoemfrenteàFlorestaProibida,ondeosexaminadorespediramaosestudantesparaidentificarcorretamenteoouriçoescondidonomeiodeumadúziadeporcos-espinhos (o truque eraoferecer leite a cadaum individualmente; osouriços,bichos extremamente desconfiados, cujas cerdas têm propriedades mágicas, geralmente ficavamfuriosos diante do que imaginavam ser uma tentativa de envenená-los); depois pediram parademonstrarcomomanusearcorretamenteumtronquilho;alimentarelimparumcaranguejo-de-fogosemsofrerqueimadurasgraves;eescolher,emumaamplavariedadedealimentos,adietaapropriadaparaumunicórniodoente.Harry podia verHagrid observando ansioso da janela de sua cabana.Quando sua examinadora,
desta vez uma bruxinha gorducha, sorriu para ele e disse que podia ir embora, o garoto ergueurapidamenteopolegarparaHagridantesdevoltaraocastelo.OexameteóricodeAstronomianaquarta-feirademanhãcorreubastantebem.Harrynãoestava
convencido de que tivesse acertado os nomes de todas as luas de Júpiter, mas pelomenos estavaconfiantedequenenhumadelaserahabitadaporratinhos.TiveramdeesperaratéanoiteparafazeroexamepráticodeAstronomia;atardefoientãodedicadaàAdivinhação.MesmopelospadrõesbaixosdeHarryemAdivinhação,oexamefoibemruim.Teriafeitomelhor
setentasseverimagensemmovimentonotampodamesadoquenumaboladecristalqueteimavaemnadamostrar;perdeuacabeçadurantealeituradefolhasdechá,dizendoquelhepareciaqueaProfaMarchbanksiriaencontrarembreveumestranhomorenogorduchoepegajoso,ecompletouofracassototalconfundindoaslinhasdavidaedacabeçanapalmadamãodaprofessoraeafirmandoqueeladeveriatermorridonaterça-feiraanterior.– Bom, sempre achamos que íamos ser reprovados nesse – comentou Rony sombriamente ao
subirem a escadaria demármore. Ele acabara de fazer Harry se sentir bemmelhor contando emdetalhequedisseraaoseuexaminadorestarvendoumhomemfeiocomumaverruganonarizemsuabola de cristal, e quando ergueu os olhos percebeu que estava apenas descrevendo o reflexo doexaminador.–Nãodevíamosternosmatriculadonessadisciplinaidiota,paracomeçar–disseHarry.–Maspelomenospodemosdesistirdelaagora.
–É–apoiouHarry.–NãoprecisamosmaisfingirquenosinteressaoqueacontecequandoJúpitereUranoficammuitopróximos.–Edeagoraemdiantenãovoumeincomodarseasminhasfolhasdechásoletraremmorra,Rony,
vousimplesmentejogá-lasnalatadolixo,queéolugardelas.Harry estava rindo na hora em que Hermione veio correndo atrás deles. Parou de rir
instantaneamente,paranãoaborrecê-la.–Bom,achoquemedeibememAritmancia–anunciou,eHarryeRonysuspiraramdealívio.–
Aindatemostempoparaumaolhadarápidanasnossascartasestelaresantesdojantar,então...QuandochegaramaoaltodaTorredeAstronomia,àsonzehoras,encontraramumanoiteperfeita
para ver estrelas, calma e sem nuvens. Os jardins e terrenos da escola estavam banhados de luarprateado e o ar, mais para frio. Cada aluno montou o próprio telescópio e, quando a ProfaMarchbanks deu a ordem, começaram a preencher as cartas estelares em branco que haviamrecebido.OsprofessoresMarchbankseToftycaminharamentreeles,observando-osmarcaremasposições
exatas das estrelas e planetas que viam. Tudo estava silencioso exceto pelo farfalhar dospergaminhos,orangidoocasionaldeumtelescópioaoserajustadonosuporte,eoruídodemuitaspenasescrevendo.Passou-semeiahora,depoisumahora;osquadradinhosdeluzdouradarefletidaque lampejavam no solo abaixo começaram a desaparecer à medida que as luzes das janelas docasteloforamseapagando.QuandoHarrycompletouaconstelaçãoÓrionemsuacarta,porém,asportasdocasteloseabriram
soboparapeitoemqueestava,fazendocomquealuzjorrassepelosdegrausdepedraeumpoucoalém.Harryolhouparabaixoaofazerumpequenoajustenaposiçãodotelescópio,eviucincoouseissombrasalongadassedeslocarempelogramadobemiluminadoantesdasportassefecharemeojardimvoltaraserummardeescuridão.Harryvoltouaencostaroolhoaotelescópioereajustou-oagoraparaexaminarVênus.Baixouos
olhosparaacartapara registrar alioplaneta,masalgumacoisaodistraiu; eleparoucomapenasuspensa sobreopergaminho,apertouosolhosparavermelhoro terrenona sombraedistinguiucinco vultos andando. Se não estivessem se movendo, e o luar não estivesse refletindo em suascabeças,elesteriamsidoindistinguíveisdochãoescuroemquecaminhavam.Mesmoaestadistância,Harry teve a sensação engraçada de que reconhecera o modo de andar do mais atarracado, queparecialiderarogrupo.ElenãoconseguiaimaginarporqueUmbridgeestariadandoumpasseiodepoisdameia-noite,e
menosaindaacompanhadaporoutros.Entãoalguémtossiuàssuascostas,eeleselembroudequeestavanomeiodeumexame.EsqueceracompletamenteaposiçãodeVênus.Comprimindooolhonotelescópio, reencontrou o planeta e mais uma vez ia registrá-lo na carta quando, atento a ruídosestranhos,ouviuumabatidadistantequeecooupelosterrenosdesertos,seguidaimediatamentepeloslatidosabafadosdeumcãodegrandeporte.Eleergueuacabeça,ocoraçãobatendoforte.HavialuzesnasjanelasdeHagrid,easpessoasque
eleobservaraatravessandoogramadoestavamagorarecortadasnaclaridade.Aportaabriueeleviunitidamentecincofigurasbemdefinidascruzaremoportal.Aportatornouafecharefez-sesilêncio.Harry se sentiu inquieto. Olhou ao redor para ver se Rony ou Hermione haviam notado a
movimentação, mas a Profa Marchbanks veio andando às suas costas naquele momento e, nãoquerendoparecerqueestivesseespiandootrabalhodoscolegas,Harryrapidamentesecurvouparaoseumapaestelarefingiuestaracrescentandoinformaçõesenquantorealmenteespiavaporcimadoparapeito para a cabana de Hagrid. Os vultos agora passavam diante das janelas, bloqueandotemporariamenteaclaridade.Harry sentiu os olhos da Profa Marchbanks em sua nuca e tornou a apertar o olho contra o
telescópio,olhandoparaa lua,embora já tivessemarcadosuaposiçãoháumahora,masquandoaprofessorarecomeçouaandareleouviuumrugidonacabanadistantequeecooupelanoiteatéoaltodaTorredeAstronomia.VáriaspessoasemvoltadeHarrysaíramde trásdos telescópioseforamespiaremdireçãoàcabanadeHagrid.OProf.Toftydeuumatossidinhaseca.–Tentemseconcentrar,vamos,garotos–disseelesuavemente.Amaioriavoltouaostelescópios.Harryolhouparaaesquerda.Hermionecontemplavapetrificada
acabanadeHagrid.–Hã-hã...faltamapenasvinteminutos–lembrouoprofessor.Hermione se assustou e voltou imediatamente para sua carta estelar;Harryolhoupara a dele, e
reparouquelegendaraVênuscomoMarte.Curvou-separacorrigiroengano.Ouviu-se um estampido forte vindo dos jardins.Várias pessoas gritaram “Ai!”, ao espetarem o
rostonaspontasdostelescópios,noafãdeveroqueestavaacontecendoláembaixo.A porta de Hagrid se escancarou com violência e, à luz que saía da cabana, eles o viram
claramente,umafiguramaciçaurrandoebrandindoospunhos,cercadoporcincopessoas,todas,ajulgarpelosfinosfiosdeluzvermelhalançadosemsuadireção,aparentementetentandoestuporá-lo.–Não!–exclamouHermione.–Minhanossa!–disseoProf.Toftyemtomescandalizado.–Estamosemumexame!Mas ninguém estavamais prestando amenor atenção às cartas estelares. Jatos de luz vermelha
continuavamavoarpeloarjuntoàcabanadeHagrid,mas,poralgumarazão,pareciamricochetearemseucorpo;elecontinuavaeretoe imóvel,e,peloqueHarryconseguiaver, resistindo.Gritoseberrosecoavampelosgramados;umhomembradou:–Sejarazoável,Hagrid!Hagridurrou:–Razoávelumaova,vocêsnãovãomelevarassim,Dawlish!HarryviaapequenasilhuetadeCaninoprocurandoprotegerodono,saltandorepetidamentecontra
os bruxos que o cercavam até que um Feitiço Estuporante o atingiu, fazendo-o tombar no chão.Hagriddeuumuivodefúria,ergueuoresponsáveldochãoeatirou-olonge;ohomemvoouunstrêsmetrosenãotornouaselevantar.Hermioneprendeuarespiração,asduasmãosnaboca;HarrysevirouparaRonyeviuqueo amigo, também, estava apavorado.Nenhumdeles jamaisviraHagridrealmenteenfurecido.– Olhem! – esganiçou-se Parvati, que estava debruçada no parapeito e apontava para o castelo
embaixo, onde asportasde entradahaviam tornado a se abrir; novamente a luz sederramoupelojardimescuroeumasombrapretaesolitáriaondeavaagorapelosgramados.–Francamente!–exclamouoProf.Tofty,ansioso.–Sabem,restamdezesseisminutos!Masninguém lheprestouamenoratenção; todosobservavamapessoaquecorriaemdireçãoà
batalhaaoladodacabanadeHagrid.–Comoéquevocêseatreve!–gritavaafiguraenquantocorria.–Comoseatreve!–ÉMcGonagall!–sussurrouHermione.–Deixem-noempaz!Empaz,estoudizendo.–Ouviu-seavozdaProfaMcGonagallnoescuro.–
Porquerazãovocêsoestãoatacando?Elenãofeznada,nadaquejustifiqueessa...Hermione,ParvatieLilágritaramaomesmotempo.Osvultosjuntoàcabanahaviamlançadonada
menosdequatroraiosEstuporantescontraaprofessora.Ameiocaminhoentreacabanaeocastelo,os feixes de luz vermelha a atingiram; por ummomento ela pareceu emitir uma luz vermelha efantasmagórica,entãosubiunoar,caiupesadamentedecostasenãosemexeumais.–Gárgulasgalopantes!–gritouoProf.Tofty,quepareciateresquecidototalmenteoexame.–Não
deramnemaviso!Quecomportamentochocante!
–COVARDES!–berrouHagrid;suavozsepropagou limpidamenteatéoaltoda torre,eváriasluzesseacenderamnocastelo.–COVARDÕES!TOMEMISSO...EMAISISSO.–Nossa!–exclamouHermione.Hagriddeudoisgolpespesadosemseusatacantesmaispróximos;ajulgarporsuaquedaimediata,
foramnocauteados.HarryviuHagridsedobrarepensouquefinalmenteeleforadominadoporumfeitiço.Mas,muitoaocontrário,nomomentoseguinteeleestavadepécomumaespéciedesaconascostas–entãoogarotopercebeuqueoamigohaviapassadoocorpoinertedeCaninoporcimadosombros.–Peguem-no,peguem-no!–berrouUmbridge,masoauxiliarque restarapareciaextremamente
relutanteemseaproximardospunhosdeHagrid;defato,recuoucomtantapressaquetropeçouemum dos colegas desacordados e caiu por cima deles. Hagrid se virara e começara a correr comCaninoaindapenduradoemvoltadopescoço.UmbridgelançouumúltimoFeitiçoEstuporantenascostasdele,masnãoacertou;eHagrid,numacorridadesabaladaemdireçãoaosportõesdistantes,desapareceunaescuridão.Seguiu-se um longo minuto palpitante enquanto todos contemplavam boquiabertos os jardins.
EntãooProf.Toftydissecomavozfraca:–Hum...faltamcincominutos,garotos.Embora tivesse preenchido apenas dois terços de sua carta estelar, Harry estava louco para o
exameterminar.Quandoissofinalmenteaconteceu,ele,RonyeHermioneencaixaramostelescópiosdequalquer jeitonossuportesedesceramcorrendoaescadacircular.Nenhumdosestudantes iasedeitar; todos falavam excitados, em altas vozes, ao pé da escada, sobre o que tinham acabado depresenciar.–Aquelamulhermaligna!–exclamouHermione,quetinhadificuldadeemfalardetantaraiva.–
TentandosurpreenderHagridnacaladadanoite!– Ela quis claramente evitar outra cena como a da Trelawney – disse Ernesto Macmillan
sensatamente,comprimindo-separasereuniraoscolegas.– Hagrid se defendeu bem, não foi? – comentou Rony, que parecia mais assustado do que
impressionado.–Porqueéquetodososfeitiçosricocheteavamnele?–Deveserosanguedegigante–disseHermione,trêmula.–Émuitodifícilestuporarumgigante,
eles são como os trasgos,muito resistentes...mas a coitada da ProfaMcGonagall... quatro ataquesdiretosnopeito,eelanãoémaisjovem,nãoé?–Pavoroso,pavoroso–disseErnesto,balançandoacabeçapomposamente.–Bom,euvoudormir.
Boa-noiteatodos.As pessoas em volta começaram a dispersar, ainda comentando excitadamente o que tinham
acabadodever.–PelomenosnãoconseguiramlevarHagridparaAzkaban–disseRony.–Esperoqueele tenha
idosejuntaraDumbledore,será?– Suponho que sim – disse Hermione, que parecia lacrimosa. – Ah, isto é horrível, pensei
realmentequeDumbledorenãodemorariaavoltar,masagoraperdemosHagridtambém.Voltaramsempressapara a sala comunal daGrifinória, e a encontraramcheia.A confusãonos
jardins acordara várias pessoas, que correram a acordar os amigos. Simas e Dino, que haviamchegadoantesdeHarry,RonyeHermione,agoracontavamatodosoquetinhamvistoeouvidodoaltodaTorredeAstronomia.–MasporquedemitirHagridagora?–perguntouAngelinaJohnson,balançandoacabeça.–Nãoé
comoaTrelawney;eletemensinadomuitomelhordoqueonormalesteano!–Umbridgedetestagentequeéparte-humana–disseHermione,amargurada,largando-seemuma
poltrona.–SempreiatentarexpulsarHagrid.
–EelaachouqueHagridestavapondopelúciosnasaladela–disseavozinhafinadeKatieBell.–Caracas!–exclamouLinoJordan,tampandoaboca.–Fuieuqueandeipondopelúciosnasala
dela.FredeJorgemedeixaramunsdois;eeuosfizlevitareentrarpelajanela.–Elaoteriadespedidodequalquerjeito–falouDino.–HagridémuitochegadoaDumbledore.–Issoéverdade–concordouHarry,afundandoemumapoltronaaoladodeHermione.–SóesperoqueaProfaMcGonagallestejabem–disseLilá,lacrimosa.–Elesacarregaramparaocastelo,assistimosda janeladodormitório–disseCólinCreevey.–
Nãopareciamuitobem.–MadamePomfreydaráum jeito–comentouAlíciaSpinnetcomfirmeza.–Elaatéhojenunca
falhou.Eram quase quatro horas da manhã quando a sala comunal se esvaziou. Harry se sentia
completamenteacordado;a imagemdeHagrid fugindonoescurooatormentava;estavacom tantaraivadaUmbridgequenãoconseguiapensarnumcastigosuficientementeruimparaela,emboraasugestão de Rony de dá-la de comer a explosivins famintos tivesse seu mérito. Ele adormeceuimaginando vinganças medonhas e se levantou três horas depois sentindo nitidamente que nãodescansara.OexamefinaldeHistóriadaMagianãodeveriaserealizaratéatarde.Harryteriagostadomuito
devoltarparaacamadepoisdocafédamanhã,mascontaraemfazerumarevisãozinhadeúltimahorapelamanhã,entãosentou-secomacabeçaapoiadanasmãosaoladodajaneladasalacomunal,fazendoumgrande esforçoparanão cochilar enquanto relia algumas anotaçõesdapilhadequasemeiometrodealturaqueHermionelheemprestara.OsquintanistasentraramnoSalãoPrincipalàsduashorasesesentaramemseuslugaresdiantedo
exame virado para baixo. Harry se sentia exausto. Só queria que aquilo terminasse para poderdormir;entãoamanhã,eleeRony iamdesceraocampodequadribol–ele iadarumavoltinhanavassouradeRonyesaborearotérminodasrevisões.– Desvirem o exame – disse a Profa Marchbanks à frente do salão, invertendo a gigantesca
ampulheta.–Podemcomeçar.Harryolhoufixamenteparaaprimeirapergunta.Passaram-seváriossegundosatélheocorrerque
nãoentenderanemumapalavradoenunciado;haviaumavespaperturbativazumbindodeencontroaumadasaltasjanelas.Lenta,tortuosamente,elecomeçou,porfim,aescreverumaresposta.Estava achando muito difícil lembrar os nomes, e toda a hora confundia as datas. Saltou
simplesmente a pergunta quatro (Em sua opinião, a legislação sobre varinhas contribuiu para ummelhorcontroledas revoltasdosduendesno séculoXVIIIou levouaessecontrole?), pensando emvoltarnofim,sehouvessetempo.Tentouresponderàperguntacinco(ComofoivioladooEstatutodeSigiloem1749equemedidasforamintroduzidasparaimpedirqueofatoserepetisse?),massentiuuma suspeita insistente de que omitira vários pontos importantes; teve a impressão de que osvampiroshaviamparticipadoemalgummomentodoepisódio.Harry leumaisadianteprocurandoumaperguntaaquedecididamentepudesseresponder,eseus
olhos bateram na décima: Descreva as circunstâncias que levaram à formação da ConfederaçãoInternacionaldeBruxoseexpliqueporqueosbruxosdeLiechtensteinserecusaramaaderir.Euseiessa,pensouHarry,emborasentisseocérebroentorpecidoesemenergia.Visualizavaum
título, na caligrafia de Hermione:A formação da Confederação Internacional de Bruxos... lera asanotaçõesaindaestamanhã.Ecomeçouaescrever,erguendoosolhosdevezemquandoparaverificaragrandeampulhetaao
ladodaProfaMarchbanks.Estava sentado logo atrás deParvatiPatil, cujos longos cabelos negroscaíamabaixodoespaldardacadeira.Umaouduasvezeselesesurpreendeucontemplandoasluzesdouradasquebrilhavamnoscabelosquandoelamexialevementeacabeçaetevedesacudiraprópria
cabeçaparaclareá-la....oprimeirochefe supremodaConfederação InternacionaldeBruxos foiPierreBonaccord,mas
suanomeaçãofoicontestadapelacomunidadebruxadeLiechtenstein,porque...Ao redor deHarry as penas arranhavamos pergaminhos como ratinhos que corressempara se
esconder.Osolestavamuitoquenteemsuanuca.QuefizeraBonaccordparaofenderosbruxosdeLiechtenstein?Harry teve uma sensação de que fora alguma coisa ligada aos trasgos... e tornou afixaroolharvazionacabeçadeParvati.SeaomenospudesseusaraLegilimênciaeabrirumajanelananucadacolegaparaverqueligaçãotinhamostrasgoscomorompimentoentrePierreBonaccordeLiechtenstein...Harry fechouosolhose enterrouo rostonasmãos, fazendocomqueo fulgoravermelhadode
suas pálpebras se tornasse escuro e fresco.Bonaccord tinha querido impedir a caça aos trasgos econceder-lhes direitos... mas Liechtenstein estava enfrentando problemas com uma triboparticularmenteviolentadetrasgosmontanheses...eraisso.Eleabriuosolhos; sentiu-osardereme lacrimejaremàvistadopergaminhodemasiadobranco.
Devagar,escreveuduaslinhassobreostrasgos,eleuoquejáfizeraatéali.Nãolhepareceumuitoinformativo nem detalhado, no entanto tinha certeza de que as anotações de Hermione sobre aConfederaçãotinhamocupadopáginas.Eletornouafecharosolhos,tentandovê-las,tentandoselembrar...aConfederaçãosereunirapela
primeiraveznaFrança,sim,jáescreveraisso...Osduendestinhamtentadoparticipar,masforamexpulsos...jáescreveraissotambém...EninguémdeLiechtensteintinhaqueridoir...Pense,dissea simesmo,como rostonasmãos,enquantoaoseu redoraspenasarranhavamos
pergaminhosemrespostasintermináveis,eaareiaseescoavanaampulhetalánafrente...Ele estava novamente andando pelo corredor fresco e escuro em direção ao Departamento de
Mistérios,compassosfirmesedeliberados,porvezescorrendo,decididoaalcançarfinalmenteoseudestino... a porta preta se escancarou como sempre, e ele se viu na sala circular com suasmuitasportas...Atravessou direto o piso de pedra e passou pela segunda porta... nesgas de luz dançavam nas
paredes e no chão, e ele ouvia aquela estranha crepitação mecânica, mas não tinha tempo parainvestigar,precisavaseapressar...Correuapequenadistânciaquefaltavaparaaterceiraporta,queseabriutalcomoasoutras...Maisumavezchegouàsaladotamanhodeumacatedral,cheiadeprateleiraseesferasdevidro...
seucoraçãobatiamuitorápidoagora...iachegarládestavez...quandoalcançouonúmeronoventaesete,virouàesquerdaecontinuouapressadopelocorredorentreasestantes...Mas havia uma forma bem no finzinho, uma forma escura que se movia pelo chão como um
animalferido...oestômagodeHarrysecontraiudemedo...deexcitação...Umavozsaiudesuaprópriaboca,umavozaguda,fria,semnenhumcalorhumano...–Apanhe-aparamim...erga-a,agora...nãopossotocá-la...masvocêpode...A forma escura no chão moveu-se um pouco. Harry viu uma mão branca de longos dedos
empunhando uma varinha erguer-se na ponta do seu braço... ouviu a voz aguda e fria dizer:“Crucio!”Ohomemnochãosoltouumberrodedor,tentouselevantar,mascaiuemcontorções.Harryria.
Ergueuavarinha,amaldiçãofoiretirada,eafiguragemeueseimobilizou.–LordeVoldemortestáesperando...Muito lentamente, com os braços tremendo, o homem no chão ergueu os ombros alguns
centímetroseemseguidaorosto.Estavamanchadodesangueemagro,contorcidodedor,contudo,rígidoderebeldia...
–Vocêterádemematar–sussurrouSirius.–Semdúvidaéoquefareiquandoterminar–disseavozfria.–Masprimeirovocêaapanhará
paramim,Black...vocêachaquesentiudoratéagora?Penseoutravez...temoshorasànossafrenteeninguémparaouvirosseusgritos...MasalguémgritouquandoVoldemorttornouabaixaravarinha;alguémberroueescorregoupelo
ladodeumamesaquenteparaochãodepedrafrio;Harryacordouaobaternochão,aindaberrando,suacicatrizemfogo,enquantooSalãoPrincipalexplodiaaseuredor.
—CAPÍTULOTRINTAEDOIS—Demalapior
–Nãovou...Nãoprecisodealahospitalar...Nãoquero...Harry balbuciava aomesmo tempoque tentava se desvencilhar doProf.Tofty, que o observava
muitopreocupadodepoisde ajudá-lo a andar atéoSaguãodeEntrada sobosolharesde todososestudantes.–Estou...estouótimo–gaguejouHarry,enxugandoosuordorosto.–Verdade...eusóadormeci...
tiveumpesadelo...–Apressãodosexames!–disseovelhobruxosimpaticamente,dandopalmadinhas trêmulasno
ombro do garoto. –Acontece,meu rapaz, acontece!Agora, uma bebida refrescante, e talvez vocêpossavoltaraoSalãoPrincipal?Oexameestáquaseterminando,masvocêtalvezconsigaconcluirsatisfatoriamenteaúltimapergunta?–Sim–respondeuHarrysempensar.–Querodizer...não...jáfiz...fiztudoquepude,acho...–Muitobem,muitobem–disseovelhobruxogentilmente.–Entãovourecolheroseuexamee
sugiroquevásedeitarumpouco.–Voufazerisso–disseHarry,acenandoacabeçacomvigor.–Muitíssimoobrigado.NosegundoqueoscalcanharesdovelhodesaparecerampelaportadoSalãoPrincipal,Harrysubiu
correndoaescadariademármore,precipitou-sepeloscorredorescomtalvelocidadequeosretratospelosquaispassavaresmungavamcensuras,subiuoutrastantasescadasefinalmenteirrompeucomoumfuracãopelasportasduplasdaalahospitalar,fazendoMadamePomfrey–queestavalevandoumacolhercomumlíquidoazulàbocadeMontague–gritarassustada.–Potter,queéquevocêpensaqueestáfazendo?–PrecisoveraProfaMcGonagall–ofegouHarry,arespiraçãoferindoseuspulmões.–Agora...é
urgente!–Elanãoestáaqui,Potter–respondeuaenfermeiratristonha.–FoitransferidaparaoSt.Mungus
hoje demanhã.Quatro Feitiços Estuporantes no peito na idade dela? É de admirar que não tenhamorrido!–Ela...nãoestá?–perguntouHarry,chocado.Asinetatocoudoladodeforadaenfermariaeeleouviuoroncodistantehabitual,osestudantes
saindoparaoscorredoresacimaeabaixodaala.Eleficoumuitoquieto,olhandoMadamePomfrey.Oterrorinvadiu-lheopeito.Nãohaviamaisninguémaquemcontar,Dumbledoresefora,Hagridsefora,massemprepodia
contar que a Profa McGonagall estivesse lá, irascível e inflexível, talvez, mas sempre confiável,concretamentepresente...–Nãomeadmiroquevocêestejachocado,Potter–disseMadamePomfrey,comumaespéciede
ferozaprovaçãonorosto.–Comosealgumdelespudesse terestuporadoMinervaMcGonagalldefrente, à luzdodia!Covardia, é o que foi... covardia desprezível... se eunão estivessepreocupadacomoqueaconteceriacomosestudantessemmim,eumedemitiriaemprotesto.–Sim,senhora–concordouHarrysempensar.Esaiuàscegasdaalahospitalarparaocorredorapinhadoondeparou,empurradopelamultidão,o
pânicoseexpandindodentrodelecomoumgásvenenosofazendosuacabeçagirareimpedindo-odepensarnoquefazer...RonyeHermione,disseumavozemsuacabeça.Recomeçouacorrer,empurrandoosestudantesparaoslados,surdoaosseusprotestosindignados.
Tornouadescercorrendodoisandaresejáestavanoaltodaescadariademármorequandoviuosamigosquevinhamapressadosemsuadireção.–Harry!–chamouHermionenamesmahora,parecendomuitoassustada.–Queaconteceu?Você
estábem?Estádoente?–Ondevocêesteve?–quissaberRony.–Venhamcomigo–disseHarrydepressa.–Depressa,tenhodefalarumacoisaparavocês.Eleos levouparaocorredordoprimeiroandar,espiandopelosportais,e finalmenteencontrou
umasaladeaulavaziaemquemergulhou,fechandoaportalogoqueRonyeHermioneentraram,eseapoiounaportaparaencararosamigos.–VoldemortpegouSirius.–Quê?–Comoéquevocê...?–Vi.Agorinha.Quandoadormecinoexame.–Mas...onde?Como?–perguntouHermione,cujorostoestavabranco.–Não sei como – falouHarry. –Mas sei exatamente onde. Tem uma sala noDepartamento de
Mistérioscheiadeestantescompequenasesferasdevidro,eelesestãonofimdocorredornoventaesete...eleestátentandousarSiriusparaapanharalgumacoisaquequerládedentro...estátorturandoele...dizquequandoterminarvaimatá-lo!Harry achouque suavoz estava tremendo, como seus joelhos.Foi até umacarteira e se sentou,
tentandosecontrolar.–Comoéquevamoschegarlá?–perguntouaosamigos.Fez-seummomentodesilêncio.EntãoRonyperguntou:–Ch-chegarlá?–ChegaraoDepartamentodeMistériosparapodersalvarSirius!–disseHarryemvozalta.–Mas...Harry...–disseRonycomavozfraca.–Quê?Quê?–exclamouHarry.Nãoconseguiaentenderporqueosdoisestavamboquiabertoscomoseeleestivesselhespedindo
algumacoisairracional.– Harry – disse Hermione com a vozmuito assustada –, ah... como... como foi que Voldemort
entrounoMinistériodaMagiasemninguémperceberapresençadele?–Comoéqueeuvousaber?–urrouHarry.–Aquestãoécomonósvamosentrarlá!–Mas...Harry,pense–disseHermione,chegandomaispertodele–,sãocincohorasdatarde...o
MinistériodaMagiadeveestarcheiodefuncionários...comoéqueVoldemorteSiriusentraramlásemseremvistos?Harry...elessãoprovavelmenteosdoisbruxosmaisprocuradosdomundo...vocêachaquepoderiamentraremumprédiocheiodeAuroressemninguémperceber?–Eunãosei,VoldemortusouumaCapadaInvisibilidadeouqualqueroutracoisa!–gritouHarry.–
Dequalquermaneira,oDepartamentodeMistériossempreestevecompletamentevazionasvezesqueestive...–Vocênuncaestevelá,Harry–disseHermionecomavozcalma.–Vocêsonhoucomaquelelugar,
foisó.–Nãosãosonhosnormais!–gritouHarryparaela,selevantandoeporsuavezseaproximando
maisdela.Tinhavontadedesacudi-la.–Comoéquevocêexplica,então,opaideRony,oquefoiaquilo,comoéqueeusoubeoquetinhaacontecidoaele?
–Eletemrazão–disseRonybaixinho,olhandoparaHermione.–Masistoésimplesmente...simplesmentetãoimprovável!–disseHermione,desesperada.–Harry,
como é que Voldemort poderia ter pegado Sirius se ele tem ficado o tempo todo no largoGrimmauld?–Siriuspodeterpiradoetidovontadedetomarumarfresco–disseRony,parecendopreocupado.
–Estádesesperadoparasairdaquelacasaháséculos...–Masporque– insistiuHermione–Voldemort iriaquererusarSiriusparaapanharaarma,ou
sejaláoqueforatalcoisa?– Não sei, haveria um monte de razões! – berrou Harry. – Vai ver Sirius é só alguém que
Voldemortnãoseimportadeferir...–Sabedeumacoisa,acaboudemeocorrer–disseRonyaossussurros.–OirmãodeSiriusnão
eraumComensaldaMorte?TalveztenhacontadoaSiriusosegredoparaconseguiraarma!–É...eéporissoqueDumbledoreteminsistidotantoemmanteroSiriustrancadootempotodo!–
disseHarry.–Olhe, sintomuito–disseHermione–,masnenhumdevocêsdois está fazendo sentido, enão
temosprovasdenadadisso,nemmesmoumaprovadequeVoldemorteSiriusestejamlá...–Hermione,Harryviuosdois!–disseRony,sevoltandoparaela.–O.k.–disseagarota,parecendoassustada,masdecidida.–Mastenhoquelhedizerumacoisa...–Oquê?–Você...eistonãoéumacrítica,Harry!Masvocêtem...meioque...querodizer...vocênãoachaque
temumpoucoa...a...maniadesalvaraspessoas?HarrylançouaHermioneumolharferoz.–Eoquequerdizercom“maniadesalvaraspessoas”?– Bom... você... – Ela pareciamais apreensiva que nunca. – Quero dizer... no ano passado, por
exemplo...no lago...duranteoTorneio...vocênãodevia...querodizer,vocênãoprecisavasalvaramenininhaDelacour...vocêse...seempolgouumpouco...UmaondaderaivaquenteeincômodapercorreuocorpodeHarry;comoéqueHermionepodia
lembrá-lodessamancadaagora?–Querodizer,foirealmentelegaldesuaparteetudo–acrescentouHermionedepressa,parecendo
positivamente petrificada com a expressão no rosto deHarry –, todos acharam que foi um gestomaravilhoso...–Queengraçado–disseHarrycomavoztrêmula–,porquemelembrocomcertezadeterouvido
Ronydizerqueperditempobancandooherói...éissoquevocêachaqueé?Vocêsupõequeeuqueiraagircomoheróioutravez?–Não,não,não!–disseHermione,estupefata.–Eunãoquisdizernadadisso!–Bom, entãodesembucha logoo quevocêquer dizer, porque estamosperdendo tempo aqui! –
gritouHarry.–Estou tentando dizer:Voldemort conhece você,Harry!Ele levouGina para aCâmara Secreta
paraatraí-lo,éotipodecoisaqueelefaz,elesabequevocêé...umapessoaqueiriaemsocorrodeSirius!EseagoraestiversótentandoatrairvocêaoDepartamentodeMist...?–Hermione,nãofazdiferençaseelefezissoparameatrairounão,levaramMcGonagallparao
St.Mungus,nãorestouninguémdaOrdememHogwartsaquemagentepossacontarnada,esenãoformos,Siriusmorre!–Mas,Harry...eseoseusonhofoi...foiapenasisso:umsonho?Harrydeixouescaparumurrodefrustração.Hermionechegouarecuarparalonge,assustada.–Vocênãoestáentendendo!–gritouHarryparaela.–Nãoestoutendopesadelos,nãoestouapenas
sonhando!ParaquevocêachaquefoitodaaquelaOclumência,porquevocêachaqueDumbledore
queria me impedir de ver essas coisas? Porque elas são REAIS, Hermione: Sirius caiu em umaarmadilha, eu vi. Voldemort o pegou, e mais ninguém sabe disso, o que significa que somos osúnicosquepodemossalvá-lo,esevocênãoquisermeacompanhar,ótimo,maseuvou,entendeu?Esemelembrocorretamente,vocênãofeznenhumaobjeçãoàminhamaniadesalvarpessoasquandoeuestavasalvandovocêdosDementadoresou–esevirouparaRony–quandoeuestavasalvandosuairmãdobasilisco...–Eununcadissequefaziaobjeção!–replicouRony,indignado.–Mas,Harry,vocêacaboudedizer–lembrouHermione,zangada–,Dumbledorequeriaquevocê
aprendesseafecharsuamenteaessasvisões,esevocêtivesseaprendidoOclumênciadireitonuncateriavistonada.–SEVOCÊACHAQUEEUVOUAGIRCOMOSENÃOTIVESSEVISTO...–Siriuslhedissequenãohavianadamaisimportantedoqueaprenderafecharsuamente!–BOM,ACHOQUEELEDIRIAOUTRACOISASESOUBESSEOQUEACABEIDE...A porta da sala de aula se abriu. Harry, Rony e Hermione se viraram depressa. Gina entrou,
curiosa,acompanhadaporLunaque,comosempre,pareciaqueforapararaliporacaso.–Oi–disseGina,insegura.–ReconhecemosavozdeHarry.Porqueéquevocêestágritando?–Nãoédasuaconta–respondeuHarrygrosseiramente.Ginaergueuassobrancelhas.–Nãoprecisausaresse tomdevozcomigo–disse tranquila.–Eusópenseique talvezpudesse
ajudar.–Poisnãopode–respondeuelesecamente.–Vocêestásendomuitogrosseiro,sabe?–disseLunacomserenidade.Harrydisseumpalavrãoedeuascostas.Aúltimacoisaqueelequeriaagoraeraconversarcom
LunaLovegood.–Espere–disseHermionederepente.–Espere...Harry,elaspodemajudar.HarryeRonyolharamparaHermione.–Escute–disseelacomurgência.–Harry,precisamosdeterminarseSirius realmentedeixoua
sede.–Eujálhedisseque...–Harry, estou lhe suplicando, por favor! – insistiuHermione, desesperada. – Por favor, vamos
verificar seSiriusestáemcasaantesde saircorrendoparaLondres.Sedescobrirmosqueelenãoestálá,entãojuroquenãovoutentarimpedirvocê.Voujunto,f-fareioqueforprecisoparatentarsalvá-lo.–SiriusestásendotorturadoAGORA!–gritouHarry.–Nãotemostempoaperder.–Mas,seissoforumtruquedeVoldemort,Harry,precisamosverificar,simplesmenteprecisamos.–Como?–quissaberHarry.–Comoéquevamosverificar?–TeremosdeusaralareiradaUmbridgeeverseconseguimosfalarcomele–disseHermione,
queagorapareciadecididamenteaterrorizadacomsuaideia.–VamosafastarUmbridgedasalaoutravez,precisaremosdevigias,eéaíquepodemosusarGinaeLuna.– Nós faremos. – Embora fosse visível que Gina se esforçava para entender o que estava
acontecendo,elaconcordouimediatamente.–Quandovocêdiz“Sirius”,vocêestásereferindoaoToquinhoBoardman?–disseLuna.Ninguémlherespondeu.–O.k.–disseHarryagressivamenteaHermione.–O.k.,sevocêpuderpensaremumjeitodefazer
isso rápido, estou com você, do contrário estou indo para o Departamento de Mistérios agoramesmo.–ODepartamentodeMistérios?–perguntouLuna,parecendoligeiramentesurpresa.–Mascomo
équevocêvaichegarlá?Denovo,Harryaignorou.–Certo–disseHermione,torcendoasmãoseandandoparacimaeparabaixoentreascarteiras.–
Certo...bom...umdenóstemdeirprocuraraUmbridgeedespachá-lanadireçãooposta,paramantê-laafastadada saladela.Podiamdizer... sei lá...quePirraçaestá fazendoalgumabarbaridadecomosempre...–Farei isso–disseRonynamesmahora.–DireiquePirraçaestádestruindoodepartamentode
Transfiguraçãoououtracoisaqualquerquefiqueaquilômetrosdoescritóriodela.Pensandobem,euprovavelmentepoderiaconvencerPirraçaafazerissoseoencontrassepelocaminho.Foi um sinal da gravidade da situação que Hermione não fizesse objeções a destruir o
departamentodeTransfiguração.–O.k.–disseagarota,a testaenrugada,enquantocontinuavaaandarparaláeparacá.–Agora
precisamosafastar imediatamenteosestudantesdasaladaUmbridgeenquanto forçamosaentrada,oualgumalunodaSonserinavaiacabarinformandoaela.–Lunaeeupodemosficarumaemcadapontadocorredor–disseGinaprontamente–,eavisaràs
pessoasparanãodescerematéláporquealguémsoltouumacargadeGásGarroteante.–HermionepareceusurpresacomarapidezcomqueGinainventaraessamentira;agarotaencolheuosombrosedisse:–FredeJorgeestavamplanejandofazerissoantesdeirembora.–O.k.–concordouHermione.–Bom,então,Harry,vocêeeuvamosusaraCapadaInvisibilidade
eentrarnasaladaUmbridge,evocêpodefalarcomoSirius.–Elenãoestálá,Hermione!–Querodizer,vocêpode...podeverificarseSiriusestáounãoemcasaenquantoeuvigio,acho
quevocênãodeviaficarnasalasozinho.Linojáprovouqueajanelaéumpontofraco,mandandoaquelespelúciosporlá.Mesmo em sua raiva e impaciência, Harry reconheceu no oferecimento de Hermione para
acompanhá-loàsaladaUmbridgeumsinaldesolidariedadeelealdade.–Eu...o.k.,obrigado–murmurou.–Certo,bom,mesmosefizermostudoisso,achoquenãovamospodercontarcommaisdecinco
minutos–disseHermione,comumardealívioaoverqueHarrypareciateraceitadooplano–,nãocomoFilcheamalditaBrigadaInquisitorialsoltospeloscorredores.–Cincominutosserãosuficientes–disseHarry.–Vamosandando,então...–Agora?!–exclamouHermione,parecendochocada.–Claro que é agora! – disseHarry, zangado. –Que é que você pensou, que íamos esperar até
depoisdojantarououtrahoraqualquer?Hermione,Siriusestásendotorturadonestemomento!– Eu... ah, tudo bem – disse a garota, desesperada. – Vai apanhar a Capa da Invisibilidade e
encontraremosvocênofimdocorredordaUmbridge,o.k.?Harrynãorespondeu,precipitou-separaforadasalaecomeçouaabrircaminhopelamultidãoque
transitavaali.DoisandaresacimaeleencontrouSimaseDino,queocumprimentaramjovialmenteeavisaram que estavam programando uma comemoração do fim dos exames, do anoitecer aoalvorecer,nasalacomunal.Harrymalouviuoquediziam.Trepoupeloburacodoretratoenquantoeles continuavam a discutir quantas cervejas amanteigadas do mercado negro iriam precisar e jáestavadevoltatrazendoaCapadaInvisibilidadeeocanivetedeSiriusbemguardadosnamochila,antesqueoscolegasnotassemqueeleosabandonara.–Harry,vocêquercontribuircomunsdoisgaleões?OHaroldoDinglecalculaquepoderianos
venderumpoucodeuísquedefogo...MasHarry já voltava correndo pelo corredor, e uns doisminutosmais tarde saltava as últimas
escadasparaseencontrarcomRony,Hermione,GinaeLuna, jáagrupadosnofimdocorredorda
Umbridge.–Estãocomigo–ofegouele.–Prontaparair,então?–Vamos– cochichouHermione, quandopassavauma turmade sextanistas barulhentos. –Então
Rony...vocêvaidespistaraUmbridge...GinaeLuna,podemcomeçaratiraraspessoasdocorredor...HarryeeuvamospôraCapadaInvisibilidadeeesperaratéabarraficarlimpa...Rony se afastou, seus cabelosmuito ruivos visíveis até o fimdo corredor; aomesmo tempo, a
cabeçaigualmentecoloridadeGinasubiaedesciaentreosestudantesqueseacotovelavamaoredor,indonadireçãooposta,seguidapelacabeçalouradeLuna.– Entre aqui – murmurou Hermione, puxando o pulso de Harry e fazendo-o recuar para um
recesso onde a cabeça de pedra de um feio bruxomedieval resmungava emumpedestal. –Tem...tem...temcertezadequevocêestáo.k.,Harry?Vocêaindaestámuitopálido.–Estou ótimo – respondeu ele com brevidade, tirando aCapa da Invisibilidade damochila.Na
verdade,acicatrizestavadoendo,masnãotãofortequeolevasseapensarqueVoldemortjáderaemSiriusogolpefatal;doeramuitomaisquandoVoldemortestavacastigandoAvery...“Aqui”,disseele;atirou,então,acapasobreosdoiseficaramescutandoatentamente,apesardos
murmúriosemlatimdobustodobruxo.–Vocêsnãopodemvirporaqui!–Ginagritavaparaamultidão.–Não,medesculpem,vocêsvão
terdedaravoltapelaescadagiratória,alguémsoltouGásGarroteanteporaqui...Elesouviamaspessoasreclamando;umavozmal-humoradadisse:“Nãoestouvendogásalgum.”–Éporqueeleéincolor–disseGinaemtomexasperadoeconvincente–,massevocêquerpassar
pelogás,sirva-se,aíteremososeucorpoparaprovaraopróximoidiotaquenãoacreditaremnós.Lentamente,amultidãosedispersou.AnotíciasobreoGásGarroteantepareciaterseespalhado;
aspessoasnãoestavammaisvindo.Quandofinalmenteaáreacircunvizinhaficoudeserta,Hermionedissebaixinho:–Achoqueissoéomelhorqueagentevaiconseguir,Harry,anda,vamoslogo.Eles se adiantaram, cobertos pela capa. Luna estava parada de costas para eles no extremo do
corredor.AopassaremporGina,Hermionesussurrou:–Bruxinha...nãoesqueçadedarosinal.–Qualéosinal?–murmurouHarry,aoseaproximaremdaportadeUmbridge.– Um coro em altas vozes de “Weasley é nosso rei”, se virem a Umbridge se aproximar –
respondeuHermione,enquantoHarryenfiavaalâminadocanivetedeSiriusnafrestaentreaportaeaparede.Afechaduraseabriucomumestaloeelesentraram.Osgatinhosespalhafatosos estavamaproveitandoo solde fimde tardequeaquecia seuspratos,
mas, tirando isso, a sala estava silenciosa e desocupada como da última vez. Hermione deu umsuspirodealívio.–Penseiqueelativessereforçadoasmedidasdesegurançadepoisdosegundopelúcio.Elestiraramacapa;Hermionecorreuparaajanelaeficouescondida,espiandoparaosterrenosda
escolacomavarinhanamão.Harryseprecipitouparaalareira,agarrouopotedePódeFlueatirouumapitadanagrade,fazendoirromperaschamascordeesmeralda.Ajoelhou-sedepressa,edisse:“LargoGrimmauld,númerodoze!”Suacabeçacomeçouagirarcomoseele tivesseacabadodedescerdeumcarrossel, emboraos
joelhos continuassem firmemente plantados no chão frio da sala. Harry manteve os olhos bemfechadosparaprotegê-losdoredemoinhodecinzase,quandoparoudegirar,eleosabriuedeparoucomacozinhalongaefriadolargoGrimmauld.Nãohavianinguém lá.Esperaraque issoacontecesse,masnãoestavapreparadopara aondade
medoepânicoquepareceuteraçoitadooseuestômagoàvistadoaposentodeserto.–Sirius?–gritou.–Sirius,vocêestáaí?
Suavozecooupeloaposento,masnãohouverespostaexcetoumruidinhodepassosàdireitadofogão.–Quemestáaí?–chamou,emdúvidasepoderiaserumratinho.Monstro,oelfodoméstico,apareceu.Tinhaumarextremamentesatisfeito,emboraparecesseter
sofridorecentementegravesferimentosnasduasmãos,envoltasempesadasbandagens.–É a cabeçadogarotoPotter no fogão–Monstro informou à cozinhavazia, lançandoolhares
furtivoseestranhamentetriunfantesaHarry.–Oqueterávindofazer,Monstrosepergunta?–OndeestáSirius,Monstro?–indagouHarry.Oelfodomésticodeuumarisadaasmática.–Osenhorsaiu,HarryPotter.–Aondeéqueelefoi?Aondeéqueelefoi,Monstro?Monstromeramentegargalhou.–Estou lheavisando!–disseHarry,conscientedequeoespaçodequedispunhaparacastigaro
elfo era quase inexistente na presente posição. –ELupin?Olho-Tonto?Algumdeles, tem alguémaqui?–NinguémaquianãoserMonstro–disseoelfoalegrementeedandoascostasaHarry,sedirigiu
lentamenteparaaportanofundodacozinha.–Monstroachaquevaiconversarcomasenhoradeleagora, sim, há muito tempo que não tem uma chance. O senhor do Monstro não deixa ele seaproximardasenhora...–AondeéqueSiriusfoi?–berrouHarryparaoelfo.–Monstro,elefoiparaoDepartamentode
Mistérios?Monstroparoudechofre.Harryconseguiadivisarapenassuanucapeladaatravésda florestade
pernasdecadeirasàsuafrente.–OsenhornãodizaopobreMonstroaondevai–respondeuoelfoemvozbaixa.–Masvocêsabe!–gritouHarry.–Nãosabe?Vocêsabeondeeleestá.Houveummomentodesilêncio,eentãooelfosoltouumagargalhadaaindamaisaltadoqueas
anteriores.–O senhor nãovai voltar doDepartamentodeMistérios! – disse alegremente. –Monstro e sua
senhoraestãooutravezsozinhos!Entãosaiucorrendoedesapareceupelaportadocorredor.–Seu...!Mas antes que pudesse lançar um único feitiço ou dizer um único palavrão, Harry sentiu uma
grande dor no topo da cabeça; inspirou uma quantidade de cinzas e, engasgando, sentiu que opuxavamde costas pelas chamas, até quedemaneira terrivelmente instantânea ele seviudiantedacara larga e pálida daProfaUmbridge, que o arrastara para fora da lareira pelos cabelos e agoraviravaoseupescoçoparatrásatéolimite,comosepretendessecortarsuagarganta.–Vocêacha–sussurrouela,forçandoopescoçodogarotoparatrás,obrigando-oaolharparao
teto–quedepoisdedoispelúcioseu iadeixarmaisalgumbichinho imundo,comedordecarniça,entrar na minha sala sem o meu conhecimento? Mandei instalar Feitiços Sensores de AtividadeFurtivaaoredordaminhaportadepoisdoúltimo,seutolo.Tireavarinhadele–vociferouadiretoraparaalguémqueelenãopôdever,eHarrysentiuumamãotatearobolsosuperiordesuasvesteseapanharsuavarinha.–Adelatambém.Harryouviuumrebuliçoaoladodaporta,econcluiuquetinhamacabadodearrancaravarinhada
mãodeHermione.–Querosaberporquevocêestánaminhasala–disseUmbridge,sacudindoamãoqueagarrava
seuscabeloseofazendocambalear.–EuestavatentandorecuperaraminhaFirebolt!–respondeuHarryrouco.
–Mentiroso.–Elatornouasacudi-lo.–SuaFireboltestásobrigorosavigilâncianasmasmorras,comosabemuitobem,Potter.Vocêestavacomacabeçametidanaminha lareira.Comquemvocêestevesecomunicando?–Comninguém–disseHarrytentandosedesvencilhar.Sentiuváriosfiosdecabelodaremadeusà
suacabeça.–Mentiroso!–gritouUmbridge.Atirou-opara longeeelebateunaescrivaninha.Dalipôdever
HermionemanietadanaparedeporEmíliaBulstrode.Malfoyestavaencostadonoparapeitodajanela,esorriaafetadamentebrincandodeatiraravarinhadeHarrynoarcomumadasmãos.Ouviu-seumtumultodoladodeforaealgunsalunoscorpulentosdaSonserinaentraram,cadaum,
porsuavez,segurando,Rony,Gina,Lunae–paraperplexidadedeHarry–Neville,que,imobilizadopor uma gravata de Crabbe, parecia correr o risco iminente de sufocar. Os quatro tinham sidoamordaçados.–Apanheitodos–disseWarrington,empurrandoRonycomviolênciaparadentrodasala.–Aquele
ali–eindicouNevillecomumdedogrosso–tentoumeimpedirdeapanharessaoutra–eindicouGina,quetentavachutarascanelasdagarotonadaSonserinaqueaprendia–,entãotrouxe-otambém.–Ótimo, ótimo– aprovouUmbridge, observando a resistência deGina. –Bom,pareceque em
breveHogwartsseráumazonalivredosWeasley,não?Malfoy soltou uma risada alta de puxa-saco. Umbridge lançou à menina um sorriso largo e
indulgente,eseacomodouemsuapoltrona forradadechintz,piscandoparaosprisioneiroscomoumsapoemumcanteirodeflor.–Então,Potter,vocêcolocouvigiasaoredordaminhasalaemandouessepalhaço–elaacenou
paraRony,Malfoyriuaindamaisalto–medizerqueopoltergeistestavafazendoumadestruiçãonodepartamentodeTransfiguração,quandoeusabiamuitobemqueeleestavaocupadoemborrardetintaaslentesdostelescópios:oSr.Filchacabarademeinformarisso.“Pelo visto era muito importante para você falar com alguém. Era Alvo Dumbledore? Ou o
mestiço Hagrid? Duvido que fosseMinervaMcGonagall, soube que continua doente demais parafalar.”MalfoyealgunsmembrosdaBrigadaInquisitorialderammaisrisadas.Harrydescobriuquesentia
tantaraivaetantoódioqueestavatremendo.–Nãoédesuacontacomquemeufalo–vociferou.OrostoflácidodeUmbridgepareceusecontrair.–Muito bem – disse em seu tommais perigoso e falsamentemeigo. –Muito bem, Sr. Potter...
Ofereci-lheumachancedemecontarvoluntariamente.Osenhorarecusou.Nãomerestaalternativasenãoforçá-lo.Draco,vábuscaroProf.Snape.MalfoyguardouavarinhadeHarrynobolso internodasvestese saiudasala rindo,masHarry
nemreparou.Acabaradeperceberumacoisa;nãoconseguiaacreditarquetivessesidotãoburrodeesquecê-la.PensaraquetodososmembrosdaOrdem,todososquepoderiamajudá-loasalvarSirius,tivessempartido –mas se enganara.Ainda havia ummembrodaOrdemdaFênix emHogwarts –Snape.Fez-se silêncio na sala exceto pela inquietação e o arrastar de pés dos alunos da Sonserina se
esforçando para conter Rony e os outros. A boca de Rony sangrava no tapete da Umbridge,empenhadoqueestavaemselivrardachavedenucaqueWarringtonlheaplicava;Ginaaindatentavapisar os pés da sextanista que prendia seus braços. O rosto de Neville ia se tornandomais roxoenquantoogarotofaziaforçaparasedesvencilhardachavedeCrabbe;eHermionetentava,emvão,jogar Emília Bulstrode longe. Luna, porém, estava parada e descontraída ao lado do seu captor,olhandodistraidamentepelajanela,comoseacenaaentediasse.HarryolhouparaUmbridge,queoobservavacomatenção.Mantinhaorostodeliberadamentesem
rugas evaziode expressão,quandoouvirampassosnocorredor eDracoMalfoyentrouna sala eficousegurandoaportaabertaparaSnapepassar.–A senhora queriame ver, diretora? – disse Snape olhando para os pares de estudantes que se
debatiamcomumaexpressãodecompletaindiferença.–Ah,Prof.Snape–disseUmbridge,abrindoumgrandesorrisoe seerguendodamesa.–Sim,
gostariaquemedessemaisumfrascodeVeritaserum,omaisdepressapossível,porfavor.– A senhora trouxe o meu último frasco para interrogar Potter – informou ele, estudando-a
calmamenteatravésdesuascortinasdecabelosnegrosoleosos.–Certamenteasenhoranãoogastoutodo?Euapreveniquetrêsgotasseriamsuficientes.Umbridgecorou.–O senhor pode prepararmais umpouco, não pode? – perguntou, sua vozmaismeiga emais
infantilcomosempreaconteciaquandoestavafuriosa.–Comcerteza–respondeuSnapecrispandooslábios.–Levaumciclodeplenilúnioparamaturar,
portantoeuotereiprontomaisoumenosdentrodeummês.–Ummês?–grasnouUmbridge, inchandocomoumsapo.–Ummês?Masprecisoparahojeà
noite,Snape!AcabeideencontrarPotterusandoaminhalareiraparasecomunicarcomumapessoaoupessoasdesconhecidas!–Sério?–admirou-seSnape,mostrandoseuprimeiroepálidosinaldeinteresseesevirandopara
Harry. –Bom, nãome surpreende. Potter jamaismanifestou grande respeito pelo regulamento daescola.SeusolhosfrioseescurosperfuraramosdeHarry,quesustentouoseuolharsempiscar,fazendo
força para se concentrar no que vira em seu sonho, desejoso que Snape lesse sua mente ecompreendesse...–Gostariadeinterrogá-lo!–gritouUmbridge,zangada,eSnapedesviouoolhardeHarry,parao
rostofuriosoetrêmulodadiretora.–Gostariaqueosenhormefornecesseumapoçãoqueoforceamecontaraverdade!–Eujálhedisse–respondeuSnapesuavemente–queacabouomeuestoquedeVeritaserum.Anão
serqueasenhoratencioneenvenenarPotter,epossolhegarantirqueteriaaminhasolidariedadesefizesse isso, nãoposso ajudá-la.Oúnicoproblema éque amaioria dosvenenos age com rapidezexcessivaenãodeixaàvítimamuitotempoparacontaraverdade.SnapetornouaolharparaHarry,queretribuiuoolhar,loucoparasecomunicarsemfalar.Voldemort está com o Sirius no Departamento de Mistérios, pensou ele desesperadamente.
VoldemortestácomoSirius...– O senhor está em observação! – guinchou Umbridge, e Snape tornou a olhá-la, com as
sobrancelhasligeiramenteerguidas.–Osenhorestásendodeliberadamenteimprestável!Euesperavamais,LúcioMalfoysempremefalamuitíssimobemdosenhor!Agorasaiadaminhasala!Snape fez uma curvatura irônica para a diretora e se virou para sair. Harry sabia que a última
oportunidadedeinformaràOrdemoqueestavaacontecendoiasaindopelaporta.–EletemAlmofadinhas!–gritou.–TemAlmofadinhasnolugaremqueestáescondido!Snapepararacomamãonamaçanetadaporta.–Almofadinhas! – exclamou a ProfaUmbridge, olhando ansiosa deHarry para Snape. –Que é
Almofadinhas?Ondeoqueestáescondido?Queéqueeleestádizendo,Snape?SnapesevirouparaHarry.Seurostoestavainescrutável.Ogarotonãosabiadizerseeleentendera,
masnãoousavafalarmaisclaramentenapresençadeUmbridge.–Não faço ideia– respondeuoprofessorcomfrieza.–Potter,quandoeuquiserquevocêgrite
bobagens, lhe darei uma Poção da Incoerência. E Crabbe, afrouxe o seu golpe um pouco. SeLongbottom sufocar teremos muitos documentos para preencher e receio que serei obrigado a
mencionarissoemsuasreferências,sealgumdiavocêsecandidataraumemprego.Snapefechouaportacomumestaloaopassar,deixandoHarrymaisperturbadodoqueantes.O
professorforasuaúltimachance.EleolhouparaUmbridge,quepareciaestaremsituaçãoigual;seupeitoarfavaderaivaefrustração.–Muitobem–disseadiretoraepuxouavarinha.–Muitobem...vocênãomedeixaalternativa...
isto émais do que um caso de disciplina escolar... é uma questão de segurançaministerial... sim...sim...Pareciaestarquerendoseconvencerdealgumacoisa.Mudavaoapoiodocorponervosamentede
umpéparaooutro,encarandoHarry,batendoavarinhanapalmadamãovaziae respirandocomesforço.Aoobservá-la,Harrysesentiubarbaramenteimpotentesemaprópriavarinha.–Vocêestámeobrigando...eunãoquero–disseUmbridge,aindasemexendoinquietanomesmo
lugar–,masàsvezesascircunstânciasjustificamouso...Tenhocertezadequeoministroentenderáquenãotiveescolha...Malfoyaobservavacomumaexpressãovoraznorosto.–AMaldiçãoCruciatusdeverásoltarasualíngua–disseUmbridgeemvozbaixa.–Não!–gritouHermione.–ProfaUmbridge:istoéilegal.MasUmbridgenãolhedeuatenção.Tinhaumaexpressãomaligna,ansiosa,excitadanorostoque
Harrynuncaviraantes.Ergueuavarinha.– O ministro não iria querer que a senhora desrespeitasse a lei, Profa Umbridge! – exclamou
Hermione.–OqueCornélionãosabenãolhetirapedaço–disseUmbridge,queagoraofegavalevementeao
apontaravarinhaparaumapartediferentedocorpodeHarrydecadavez,aparentementetentandosedecidir onde doeria mais. – Ele nunca soube que mandei Dementadores atrás de Potter no verãopassado,masaindaassimficouencantadodeteraoportunidadedeexpulsá-lo.–Foiasenhora?–admirou-seHarry.–AsenhoramandouosDementadoresatrásdemim?–Alguémtinhadeagir–sussurrouUmbridge,avarinhaapontadadiretamenteparaatestadeHarry.
– Estavam todos se queixando que queriam silenciá-lo, desacreditá-lo, mas eu fui a pessoa querealmentefezalgumacoisa...masvocêconseguiuselivrar,nãofoi,Potter?Masnãohoje,nemagora.–Einspirandoprofundamente,ordenou:–Cruc...–NÃO!–gritouHermionecomavozentrecortadaportrásdeEmíliaBulstrode.–Não...Harry...
teremosdecontaraela!–Nempensar!–berrouHarry,encarandoopedacinhodeHermionequeconseguiaver.–Teremos,Harry,elaobrigarávocêafalar,de...dequeadianta?E Hermione começou a chorar baixinho nas costas das vestes de Emília. A garota parou
imediatamentedequereresmagá-lacontraaparedeeseafastoucomnojo.–Ora,ora,ora!–disseUmbridge,comumaexpressãotriunfante.–ASenhoritaPerguntadeiravai
nosdaralgumasrespostas.Vamos,então,menina,fale!–Her...mi...ni...não!–gritouRonyatravésdamordaça.Gina arregalava os olhos para Hermione como se nunca a tivesse visto antes. Neville, ainda
tentando respirar, encarava-a também. Mas Harry acabara de reparar em uma coisa. EmboraHermione estivesse soluçando desesperadamente com o rosto nas mãos, não havia nem sinal delágrimas.–Desculpe...desculpe,gente–disseHermione.–Mas...nãodáparaaguentar...– Certo, certo, garota! – disse Umbridge, agarrando Hermione pelos ombros, atirando-a no
cadeirãodechintzesecurvandoparaela.–Agora,então...comquemPotterestavasecomunicandoaindahápouco?–Bom–Hermioneengoliuemseco,aindacomasmãosnorosto–,bom,eleestavatentandofalar
comoProf.Dumbledore.Ronycongelou,osolhosarregalados;Ginaparoudetentarpisarosdedosdospésdesuacaptora;
e até Luna pareceu meio surpresa. Felizmente, a atenção de Umbridge e seus policiais estavaconcentradamuitoexclusivamenteemHermionepararepararnessesindíciossuspeitos.–Dumbledore!–exclamouUmbridge,ansiosa.–VocêsabeondeDumbledoreestá,então?–Bom...não!–soluçouHermione.–ExperimentamosoCaldeirãoFurado,noBecoDiagonaleo
TrêsVassouraseatéoCabeçadeJavali...–Meninaidiota...DumbledorenãovaificarsentadoemumpubcomoMinistériotodoàprocura
dele!–gritouUmbridge,odesapontamentogravadoemcadarugafrouxadeseurosto.–Mas...mas precisava contar a ele uma coisa importante! – gemeuHermione, apertando ainda
maisasmãoscontraorosto,não,sabiaHarry,deaflição,masparadisfarçaracontínuaausênciadelágrimas.–Então?–perguntouUmbridgecomumsúbitoarroubodeexcitação.–Queéquevocêsqueriam
contaraele?–Nós...nósqueríamoscontarqueestáp-pronta!–engasgou-seHermione.–Queéqueestápronta!–Umbridgeexigiusaber,etornouaagarrarHermionepelosombrosea
sacudi-ladeleve.–Queéqueestápronta,menina?–A...aarma.– Arma? Arma? – repetiu Umbridge, e seus olhos saltaram de excitação. – Vocês estiveram
pesquisandoalgummétododedefesa?UmaarmaquepoderiamusarcontraoMinistério?PorordemdoProf.Dumbledore,éclaro.–S-s-im–ofegouHermione–,maseletevedepartirantesdeterminar,eag-g-oraterminamose
nãoc-c-conseguimosencontrá-lop-p-paraavisar!–Que tipodearmaé?–perguntouUmbridgeasperamente,suasmãoscurtasaindaapertandoos
ombrosdeHermione.–Nãosabemosr-r-realmente–disseHermionefungandoalto.–Sóf-f-fizemosoqueoP-P-Prof.
Dumbledorenosdissep-p-parafazer.Umbridgeseendireitou,parecendoexultante.–Meleveatéaarma–disse.– Não vou mostrar a... eles – disse Hermione com a voz aguda, olhando para os alunos da
Sonserinaporentreosdedos.–Nãocabeavocêimporcondições–disseaprofessoracomaspereza.–Ótimo–argumentouHermione,agorasoluçando,orostonasmãos.–Ótimo...deixeelesverem,
esperoqueausemcontraasenhora!Naverdade,eugostariaqueasenhoraconvidasseumamultidãoparavirver!S-seriabemfeito...ah,euadorariaqueaescolat-todasoubesseondeestáecomousá-la,equandoasenhoraaborrecessealguém,elepoderiad-darumjeitonasenhora!EssaspalavrasproduziramumforteimpactoemUmbridge:elaolhoucomrapidezedesconfiança
parasuaBrigadaInquisitorial,seusolhossaltadosdetendo-seporummomentoemMalfoy,quefoilentodemaisparadisfarçaraexpressãodeansiedadeecobiçaqueapareceuemseurosto.Umbridge estudou Hermione por outro longo momento, então falou num tom que claramente
pensavasermaternal.–Muitobem,querida,entãovamossóvocêeeu...elevaremosPottertambém,estábem?Levante-
seagora.–Professora–chamouMalfoy,ansioso–,ProfaUmbridge,achoquealgunsmembrosdaBrigada
deveriamircomasenhoraparacuidar...–EusoufuncionáriacredenciadadoMinistério,Malfoy,vocêacharealmentequenãopossocuidar
dedoisadolescentes semvarinha?–perguntoucomrispidez.–Dequalquermodo,nãomeparece
queessaarmadevaservistaporalunos.Vocêvaificaraquiatéaminhavoltagarantindoquenenhumdesses–elafezumgestoabarcandoRony,Gina,NevilleeLuna–fuja.–Certo–disseMalfoy,parecendoofendidoedesapontado.– E vocês dois podem ir à minha frente para indicar o caminho – disse Umbridge, apontando
HarryeHermionecomavarinha.–Andementão.
—CAPÍTULOTRINTAETRÊS—Lutaefuga
HarrynãofaziaideiadoqueHermioneestavaplanejando,nemmesmoseteriaumplano.Manteve-semeiopassoatrásdelaenquantoseguiampelocorredordasaladeUmbridge,sabendoquepareceriamuitosuspeitoseeledesseaimpressãodenãosaberaondeiam.Nãoseatreveuafalarcomaamiga;Umbridgeestavatãocoladaàssuascostasqueerapossívelouvirsuarespiraçãodescompassada.Hermione, à frente, desceu as escadas para o Saguão de Entrada, o vozerio e o estrépito dos
talheresnospratosecoavampelasportasabertasdoSalãoPrincipal–pareciaaHarryinacreditávelqueaunsseismetrosdedistânciaaspessoassaboreassemojantar,comemorandoofimdosexames,semamenorpreocupação...Hermionepassoudiretodosaguãoparaosdegrausdepedraeoarcálidodanoite.Osolagora
estava se pondo em direção às copas das árvores na Floresta Proibida e, enquanto Hermioneatravessava deliberadamente o gramado – Umbridge quase correndo para acompanhá-la –, suassombrasescuras,longascomocapas,ondulavampelagramaàsuapassagem.–EstáescondidanacabanadeHagrid?–perguntouUmbridge,ansiosa,aoouvidodeHarry.–Claroquenão–respondeuHermioneemtomirônico–,Hagridpoderiadispará-lasemquerer.–Émesmo–concordouUmbridge,cujaexcitaçãopareciacrescer.–Eleteriafeitoisso,éclaro,o
mestiçoretardado.Ela riu. Harry sentiu um forte impulso de se virar e agarrá-la pelo pescoço, mas resistiu. Sua
cicatriz latejava no ar ameno da noite, mas ainda não queimara em brasa, como sabia que iriaacontecerquandoVoldemortsepreparasseparaatacar.– Então... onde está? – perguntou Umbridge, com um quê de incerteza na voz, pois Hermione
continuavaarumardecididaparaaFloresta.–Ládentro,éclaro–respondeuagarota,apontandoparaasárvoresescuras.–Tinhadeficarem
algumlugarondeosestudantesnãoaencontrassemporacaso,nãoémesmo?– Naturalmente – concordou Umbridge, embora parecesse agora um pouco apreensiva. –
Naturalmente...muitobementão...vocêsdoissemantenhamàminhafrente.–Podemosficarcomasuavarinha,então,sevamosnafrente?–perguntouHarry.–Não,achoquenão,Sr.Potter–respondeuelameigamente,espetandoascostasdogarotocoma
varinha.–ReceioqueoMinistériodêmaisvaloràminhavidadoqueàsua.Quando alcançaram a sombra fresca das primeiras árvores, Harry tentou captar a atenção de
Hermione; caminhar pela Floresta sem varinhas parecia-lhe a coisa mais imprudente que eles játinham feito até aquela noite. Ela, no entanto, apenas lançou um olhar desdenhoso a Umbridge emergulhou entre as árvores, andando com tanta rapidez que a professora, com suas pernas maiscurtas,tevedificuldadeemacompanhá-la.–Émuito para dentro? – perguntouUmbridge aHermione, quando suas vestes se prenderame
rasgaramemumespinheiro.–Ah,é,estámuitobemescondida.As apreensões de Harry aumentaram. Hermione não tomou a trilha que haviam seguido para
visitarGrope,masaqueeletomaratrêsanosantesparairàtocadomonstroAragogue.Aamiganão
estava em sua companhia na ocasião, e ele duvidou queHermione tivesse ideia do perigo que osaguardavanofimdatrilha.–Ah...vocêtemcertezadequeestamosnocaminhocerto?–perguntouUmbridgeincisivamente.–Ah,tenho–respondeuagarotacomfirmeza,pisandonomatorasteiroeproduzindooqueele
julgouserumbarulhodesnecessário.Atrásdeles,Umbridgetropeçounumaarvoretacaída.Nenhumdosdoisparouparaajudá-laaselevantar;Hermionemeramentecontinuouocaminho,avisandoemvozaltaporcimadoombro.–Éumpoucomaisadiante!–Hermione,falebaixo–murmurouHarry,apressandoopassoparaalcançá-la.–Qualquercoisa
poderiaestarnosouvindoaqui.– Quero que nos ouçam – respondeu ela em voz baixa, enquanto Umbridge corria com
estardalhaçoatrásdeles.–Vocêvaiver...Elescontinuaramacaminharporumtempoaparentementelongo,atépenetraremmaisumaveztão
profundamentenaFlorestaqueaabóbadadeárvoresbloqueavatodaaclaridade.Harryteveamesmasensação que já experimentara antes na Floresta, a de que estavam sendo vigiados por olhosinvisíveis.–Quantofaltaainda?–perguntouUmbridge,zangada.–Nãomuitoagora!–gritouHermione,aosaírememumaclareiraescuraeúmida.–Sómaisum
pouquinho...Umaflechavooupeloarecaiucomumimpactoameaçadorpoucoacimadacabeçadagarota.O
ar se encheu repentinamente com o ruído de cascos; Harry sentiu o chão da Floresta tremer;Umbridgesoltouumgritinhoeoempurrouparaafrentedelacomoumescudo...Elesedesvencilhouesevirou.Unscinquentacentaurosemergiramdetodososlados,seusarcos
erguidosearmadosapontandoparaHarry,HermioneeUmbridge.Ostrêsrecuaramlentamenteparao centro da clareira, enquantoUmbridge balbuciava estranhos gemidos de terror.Harry olhou deesguelhaparaHermione.Elaexibiaumsorrisotriunfante.–Quemévocê?–perguntouumavoz.Harryolhouparaaesquerda.OcorpocastanhodocentaurochamadoMagorianodestacava-sedo
círculoemdireçãoaeles;seuarco,comoodosoutros,estavaerguido.ÀdireitadeHarry,Umbridgeaindagemia,suavarinhatremendoviolentamenteapontadaparaocentauroqueavançava.–Eupergunteiquemévocê,humana–tornouaperguntarMagorianocomaspereza.–SouDoloresUmbridge!–respondeuela,emtomagudoeaterrorizado.–Subsecretáriasêniordo
ministrodaMagia,diretoraeAltaInquisidoradeHogwarts!–A senhora é doMinistério daMagia? – confirmouMagoriano, enquantomuitos centauros no
círculoaoredorsemoveraminquietos.– Exatamente! – disse ela, elevando a voz. – Então, tenha cuidado! Pelas leis baixadas pelo
DepartamentoparaRegulamentaçãoeControledasCriaturasMágicas,qualquerataquedemestiçoscomovocêsaumhumano...–Doquefoiqueasenhoranoschamou?–gritouumcentauronegrocomarferozemquemHarry
reconheceuAgouro.Ouviram-semuitosmurmúriosindignadosearcosesticandoatodavolta.–Nãoserefiraaelesassim!–disseHermionefuriosa,masUmbridgenãopareceutê-laouvido.
AindaapontandoavarinhatrêmulaparaMagoriano,continuou:–ALeiQuinzeBdizclaramenteque“qualquerataquedeumacriaturamágicapresumivelmente
dotadadeinteligênciaquasehumana,eportantoresponsávelporseusatos...”– Inteligência quase humana? – repetiuMagoriano, ao mesmo tempo que Agouro e os outros
rugiam de raiva e pateavam o chão. – Consideramos isso uma grande ofensa, humana! Nossainteligência,felizmente,superaemmuitoasua.–Queéqueasenhoraestá fazendoemnossaFloresta?–bradouumcentaurocinzentode rosto
severo,queHarryeHermionetinhamvistonaúltimaida.–Porqueestáaqui?– Sua Floresta?! – exclamou Umbridge, tremendo agora não somente de medo, mas, ao que
parecia,de indignação.–Gostariade lembrarquevocêsvivemaquiporqueoMinistériodaMagiapermitequeocupemcertasáreasdeterra...Umaflechapassouvoandotãopertodesuacabeçaqueprendeuunsfiosdosseuscabeloscorde
rato;elasoltouumberrodefurarostímpanoselevouasmãosàcabeça,enquantoalgunscentaurosapoiavam o ataque aos gritos e outros riam estridentemente. O som de suas risadas ferozes erelinchantes a ecoar pela clareira sombria e a visão de suas patas batendo no chão eramextremamenteassustadores.–DequeméaFlorestaagora,humana?–berrouAgouro.– Mestiços imundos! – gritou Umbridge, as mãos ainda apertando a cabeça. – Feras! Animais
descontrolados!– Fique quieta! – gritou Hermione, mas foi tarde demais: Umbridge apontou a varinha para
Magorianoeordenou:“Incarcerous!”Cordasvoarampeloarcomogrossascobras,enrolando-se firmementeno troncodocentauroe
prendendo seus braços: ele soltou um grito de fúria e se empinou nas patas traseiras, tentando selibertar,enquantoosoutroscentaurosatacavam.Harry agarrouHermioneepuxou-aparao chão;de caranochãodaFloresta, ele conheceuum
momento de terror enquanto os cascos estrondavam ao seu redor,mas os centauros saltavam porcimaeemvoltadosgarotos,berrandoegritandoencolerizados.– Nãããããão! – ele ouviu Umbridge gritar. – Nãããããão... sou subsecretária sênior... vocês não
podem:melarguem,seusanimais...nããããão!Harryviuumlampejovermelhoepercebeuqueela tentaraestuporarumdeles;entãoUmbridge
gritoumuitoalto.Erguendoacabeçaalgunscentímetros,HarryviuqueforaagarradaportrásporAgouro e guindada para o alto, esperneando e gritando demedo. Sua varinha caiu no chão, e ocoraçãodeHarrydeuumsalto.Seaomenospudessealcançá-la...Mas,quandoesticouamãoparaavarinha,ocascodeumcentaurodesceusobreoobjetoepartiu-o
exatamentenomeio.–Agora!–rugiuumavoznoouvidodeHarry,eumbraçogrossoepeludoopôsempé.Hermione
tambémfoilevantada.Porcimadascostasecabeçascoloridasdoscentaurosquearremetiam,Harryviu Umbridge ser carregada entre as árvores por Agouro. Gritando sem parar, sua voz foi sedistanciandoatéquejánãopodiamouvi-lacomobarulhodoscascosnaclareira.–Eessesaqui?–perguntouocentaurocinzentodeexpressãoduraqueseguravaHermione.–Sãojovens–disseumavozlentaepesarosaatrásdeHarry.–Nãoatacamosfilhotes.–Elesatrouxeramaqui,Ronan–replicouocentauroqueseguravaHarryfirmemente.–Enãosão
tãofilhotes...équaseadulto,esteaqui.ElesacudiuHarrypelocolarinhodasvestes.–Porfavor–pediuHermionesemfôlego–,nãonosataquem,nãopensamoscomoela,nãosomos
funcionáriosdoMinistériodaMagia!Sóviemosparacáporquetínhamosesperançadequevocêsaafugentassem.Harry percebeu imediatamente, pela expressão no rosto do centauro cinzento que segurava
Hermione,queelacometeraumterrívelenganoaodizer isso.Ocentaurocinzento jogouacabeçaparatrás,aspernastraseirasbateramfuriosamente,eelebradou:– Está vendo, Ronan? Eles já têm a arrogância da espécie! Então era para nós fazermos o seu
trabalho sujo, era, menina humana? Era para agirmos como seus criados, afugentarmos seusinimigoscomocãesobedientes?–Não!–negouHermionecomumguinchode terror.–Por favor...nãoquisdizer isso!Só tive
esperançaquevocêstalvezpudessemnos...ajudar.Maselapareciaestarindodemalapior.–Nãoajudamoshumanos!–vociferouocentauroqueseguravaHarry,apertando-oeaomesmo
tempoempinandoumpouco,fazendoospésdogarotosaíremmomentaneamentedochão.–Somosumaraçaàparteetemosorgulhodisso.Nãoiremospermitirquevocêssaiamdaquisegabandoquecumprimossuasordens!–Nãovamosdizernadadisso!–gritouHarry.–Sabemosquenãofizeramoquefizeramporque
queríamosquefizessem...Masninguémpareciaescutá-lo.Umcentaurobarbudomaisaofundodaaglomeraçãogritou:–Elesvieramsemserconvidados,precisamarcarcomasconsequências!Suaspalavrasforamrecebidascomumrugidodeaprovação,eumcentauropardogritou:–Elespodemsejuntaràmulher!– Vocês disseram que não feriam inocentes! – gritou Hermione, lágrimas verdadeiras agora
escorrendopelorosto.–Nãofizemosnadaparaagredi-los,nãousamosvarinhasnemameaças,sóqueremosvoltarparaaescola,porfavornosdeixemir...– Não somos todos como o traidor Firenze, menina humana! – gritou o centauro cinzento,
recebendo mais aplausos dos companheiros. – Talvez você achasse que éramos belos cavalosfalantes? Somos um povo antigo que não vai tolerar invasões nem insultos de bruxos! Nãoreconhecemossuasleis,nãoaceitamossuasuperioridade,somos...Mas eles não ouviram o que mais seriam os centauros, pois naquele momento ouviu-se um
estrondo na orla da clareira tão poderoso que todos, Harry e Hermione e os cinquenta e tantoscentauros que ali estavam se viraram. O centauro de Harry deixou-o cair no chão e suas mãosvoaram para o arco e a aljava de flechas.Hermione fora largada também, eHarry correu para aamiganahoraemquedoisgrossostroncosseafastaramsinistramenteepelaaberturasurgiaafiguramonstruosadeGrope,ogigante.Oscentaurosmaispróximosdelerecuaramparajuntodosqueestavammaisatrás;aclareiraagora
eraumaflorestadearcoseflechaspreparadosparadisparar,todasapontandoparaacaraacinzentadaqueagoraassomavanoaltosobadensaabóbadaderamos.AbocatortadeGropeabria-setolamente;elesviamseusdentesamarelossemelhantesatijolosbrilhandonapenumbra,seusolhosopacoscorde lama apertados, tentando enxergar as criaturas aos seus pés. Cordas partidas caíam dos seustornozelos.Eleabriuaindamaisaboca.–Hagger.Harry não sabia o que “hagger” significava, ou a que língua pertencia, nem estava muito
interessado;observavaospésdeGrope,quasetãolongosquantoocorpotododogaroto.Hermioneagarrouseubraçocomforça;oscentaurosestavammuito silenciosos,observandoogigante, cujacabeça enorme se movia de um lado para outro, ainda espiando entre eles como se procurassealgumacoisaquetivessedeixadocair.–Hagger!–chamououtravez,commaiorinsistência.–Saiadaqui,gigante!–gritouMagoriano.–Vocênãoébem-vindoentrenós!Aparentemente, essas palavras não causaram impressão alguma em Grope. Ele se curvou um
pouco(osbraçosdoscentaurosseretesaramnosarcos),etornouaberrar:–HAGGER!Algunscentaurosagoraparecerampreocupados.Hermione,noentanto,ofegou.–Harry!–sussurrouela.–Achoqueeleestátentandodizer“Hagrid”!Neste exatomomentoGropeos avistou, os únicoshumanos emummarde centauros.Baixou a
cabeçamaisumpouco,examinando-oscomatenção.HarrysentiuHermionetremerquandoogigantetornouaescancararabocaeadizer,numavoztrêmulaegrave:–Hermi.– Nossa! – exclamou Hermione, apertando o braço de Harry com tanta força que o deixava
dormente,eparecendoprestesadesmaiar–,ele...eleselembrou!–HERMI!–rugiuGrope.–ONDEHAGGER?–Nãosei!–esganiçou-seHermione,aterrorizada.–Desculpe,Grope,nãosei!–GROPEQUERHAGGER!Ogigantebaixouumadasmãosmaciças.Hermionedeixouescaparumgritomuitoalto, correu
unspassosparatrásecaiu.Semvarinha,Harrysepreparouparasocar,chutar,mordereoquefossepreciso,quandoamãomergulhouemsuadireçãoederrubouumcentaurobranco.Eraoqueoscentaurosestavamesperando:osdedosesticadosdeGropeestavamamenosdemeio
metro deHarry quando cinquenta flechas voaram pelo ar em direção ao gigante, pontilhando suacaraça, fazendo-o uivar de dor e raiva e aprumar o corpo, esfregando a cara com asmanzorras,partindoahastedasflechas,masempurrandoaspontasmaisfundo.Eleberrouebateuospésnochão,eoscentaurossaíramdesuafrentecorrendo;gotasdesangue
dotamanhodeseixoschoveramsobreHarryenquantoeleajudavaHermioneaselevantar,eosdoiscorreram o mais depressa que puderam para o abrigo das árvores. Olharam uma vez para trás;Grope tentava agarrar os agressores às cegas, o sangue escorrendo de seu rosto; os centaurosbateram em retirada desordenadamente, afastando-se a galope entre as árvores do lado oposto daclareira.HarryeHermioneviramGropedaroutrourrode fúriaemergulharatrásdoscentauros,derrubandomaisárvoresemseucaminho.– Ah, não! – exclamou Hermione, tremendo tanto que seus joelhos cederam. – Ah, que coisa
horrível.Eeletalvezmatetodos.–Parasersincero,nãoestoutãopreocupadoassim–disseHarrycomamargura.O ruído dos cascos dos centauros a galope e o do gigante às cegas foram se distanciando.
EnquantoHarryprocuravaouvi-los,suacicatrizlatejoucomforçaeumaondadeterroroenvolveu.Tinhamperdidotantotempo–estavamaindamaislongederesgatarSiriusdoquequandotiveraa
visão.NãosomenteHarryconseguiraperderavarinha,masosdoisseachavamencalhadosnomeiodaFlorestaProibida,semmeiosdetransporte.–Belezadeplano–dissecomrispidezparaHermione,precisandoextravasarumpoucosuafúria.
–Realmenteumabeleza.Aondevamosagora?–Precisamosvoltaraocastelo–respondeuHermionecomavozdébil.–Atéfazermosisso,provavelmenteSiriusjáestarámorto!–disseHarry,chutandocomraivauma
árvorepróxima.Umvozerioagudoirrompeunascopasdasárvoreseeleolhouparacimaeviuumtronquilhoflexionandooslongosdedosdegravetosparaele.–Bom, não podemos fazer nada semvarinhas – disseHermione, desconsolada, recomeçando a
caminhar.–Mas,afinal,Harry,comoeraexatamentequevocêestavaplanejandochegaraLondres?–É,eraoqueestávamosnosperguntando–disseumavozconhecidaàscostasdela.HarryeHermioneseviraramjuntos,instintivamente,eespiaramentreasárvores.RonyapareceucomGina,NevilleeLuna,quecaminhavamapressadosatrásdele.Todospareciam
umpoucomaltratados–haviacompridosarranhõesnabochechadeGina;umgrandecalomboroxosobre o olho direito de Neville; o lábio de Rony sangrava como nunca –, mas pareciam muitosatisfeitoscomelesmesmos.–Então–disseRony,afastandoumramobaixoeentregandoavarinhadeHarry–, temalguma
ideia?–Comofoiquevocêsconseguiramfugir?–perguntouHarry,assombrado,apanhandoavarinha
estendida.– Uns dois Feitiços Estuporantes, outro para Desarmar, e Neville executou uma Azaração de
Impedimentolindinha–disseRony,descontraído,agoradevolvendoavarinhadeHermione.–MasGinafoiamelhor,elapegouoMalfoycomumaAzaraçãoparaRebaterBicho-papão,foimagnífica,a cara dele ficou toda coberta de coisas enormes e esvoaçantes. Então vimos vocês pela janelaandandoemdireçãoàFlorestaeviemosatrás.QuefoiquevocêsfizeramcomaUmbridge?–Foilevadaembora–disseHarry.–Porumrebanhodecentauros.–Eelesdeixaramvocêsaqui?–perguntouGina,espantada.–Não,foramafugentadospeloGrope–informouHarry.–QueméGrope?–perguntouLuna,interessada.–OirmãozinhodeHagrid–disseRonyprontamente.–Issonãoimportaagora.Harry,quefoique
vocêdescobriunalareira?Você-Sabe-QuempegouoSiriusou...?–Pegou– disseHarry, sua cicatriz dandomais uma fisgada dolorosa –, e tenho certeza de que
Siriusaindaestávivo,masnãovejocomoiremosatéláajudá-lo.Todossecalaram,parecendomuitoassustados;oproblemaqueosconfrontavapareciainsolúvel–Bom,teremosdevoar,não?–disseLuna,comotommaispróximodoprosaicoqueHarryjáa
virausar.–Tudobem–disseHarry,irritado,virando-separaagarota.–Primeiro,“nós”nãovamosfazer
nada,sevocêestáseincluindonogrupo,e,segundo,Ronyéoúnicoquetemumavassouraquenãoestáguardadaporumtrasgodesegurança,portanto...–Eutenhovassoura!–lembrouGina.–É,masvocênãovai–disseRony,zangado.–Com licença,mas eume importo tanto comoque acontece aSirius quantovocês! – replicou
Gina,endurecendooqueixoefazendocomquesuasemelhançacomFredeJorgerepentinamenteseacentuasse.–Vocêémuito...–começouHarry,masGinaointerrompeucomveemência.–SoutrêsanosmaisvelhadoquevocêeraquandoenfrentouVocê-Sabe-QuempelapossedaPedra
Filosofal,efuieuquedeixeiMalfoysemaçãonasaladaUmbridgeatacadoporpapõesvoadores.–É,mas...–EstivemostodosjuntosnaAD–disseNevilleemvozbaixa.–AideiaeracombaterVocê-Sabe-
Quem,não?Eestaéaprimeiraoportunidadequetemosdefazeralgumacoisadeverdade...ouseráqueaquilotudofoiumabrincadeiraouoquê?–Não...claroquenãofoi...–retrucouHarry,impaciente.–Entãodevíamosirtambém–concluiuNevillecomsimplicidade.–Queremosajudar.–Certo–apoiouLuna,sorrindofeliz.OolhardeRonyencontrouodeHarry.ElesabiaqueRonyestavapensandoomesmoqueele:se
tivessepodidoescolheralgummembrodaAD,alémdele,RonyeHermioneparaacompanhá-lonatentativaderesgatarSirius,elenãoteriaescolhidoGina,NevillenemLuna.–Bom,afinalnãoimporta–disseHarry,frustrado–porqueaindanãosabemoscomoiremospara
lá...–Penseiquejátivéssemosdefinidoisso–falouLunademodoexasperante.–Vamosvoando!– Olhe aqui – disse Rony,mal contendo sua contrariedade –, talvez você possa voar sem uma
vassoura,masnósnãopodemoscriarasassempreque...–Háoutrasmaneirasdevoaralémdevassouras–retorquiuLunaserenamente.–SuponhoquevamoscavalgarnolombodoChifreBofudoouquenometenha.–BufadoresdeChifreEnrugadonãovoam–disseLunacomdignidade–,maselesvoam,eHagrid
dizquesãomuitobonsparaencontraroslugaresqueseuscavaleirosestãoprocurando.
Harrysevirou.Paradosentreduasárvores,osolhosbrancos refulgindofantasmagóricos,haviadoisTestrálios,escutandoaconversasussurradacomoseentendessemcadapalavra.–Émesmo!–murmurouHarry,indoemdireçãoaosbichos.Elessacudiramacabeçareptiliana,
jogaramparatrásascrinasescuraselongas,eogarotoestendeuumadasmãos,pressuroso,edeuumaspalmadinhasnopescoçoreluzentedomaispróximo;comoéquepôdeachá-losfeios?– São aqueles cavalosmalucos? – perguntouRony, inseguro, fixando um ponto ligeiramente à
esquerdadoTestrálioqueHarryacariciava.–Aquelesqueagentenãopodeveranãoserquealguémosfarejeantes?–É–confirmouHarry.–Quantos?–Sódois.–Bom,precisamosdetrês–lembrouHermione,queaindapareciaumpoucoabalada,masainda
assimdecidida.–Quatro,Hermione–corrigiuGina,trombuda.–Achoquenarealidadesomosseis–falouLunacalmamente,contando-os.–Nãosejaidiota,nãopodemosirtodos!–disseHarry,zangado.–Olhem,vocêstrês–eleapontou
paraNeville,GinaeLuna–,vocêsnãoestãometidosnisso,vocêsnão...Elesprorromperamemmaisprotestos.AcicatrizdeHarrydeuoutrafisgadamaisdolorosa.Cada
minutodeatrasoeraprecioso;elenãotinhatempoparadiscutir.–O.k.,ótimoaescolhaésua–dissesecamente–,mas,anãoserqueencontremosmaisTestrálios,
vocêsnãopoderão...–Ah,vãoaparecermais–disseGina,confiante,que,comoRony,estavaprocurandoenxergarna
direçãooposta,aparentementepensandoqueolhavaparaoscavalos.–Porqueéquevocêachaisso?–Porque,casovocêsnão tenhamnotado,vocêeHermioneestãocobertosdesangue–disseela
calmamente–,esabemosqueHagridatraiTestrálioscomcarnecrua.Provavelmenteéporissoqueessesdoisapareceram.NaquelemomentoHarrysentiuumligeiropuxãoemsuasvestese,aobaixarosolhos,viuqueo
TestráliomaispróximoestavalambendosuamangaúmidacomosanguedeGrope.–Tudobem,então–disseele,poisacabavadelheocorrerumaideialuminosa.–Ronyeeuvamos
levaressesdoiseirandando,eHermionepodeficaraquicomvocêstrêseatrairmaisTestrálios...–Eunãovouficarparatrás!–falouHermione,furiosa.– Não precisa – disse Luna sorrindo. – Olhe, vem vindomais agora... vocês dois devem estar
realmentefedendo...Harrysevirou:nadamenosdeseisouseteTestráliosvinhamseaproximandocautelososentreas
árvores,suasgrandesasascoriáceasbemfechadasjuntoaocorpo,seusolhosbrilhandonaescuridão.Elenãotinhamaisdesculpa.–Tudobem–disseaborrecido–,cadaumpegueoseuevamos,então.
—CAPÍTULOTRINTAEQUATRO—ODepartamentodeMistérios
HarryenrolouamãocomfirmezanacrinadoTestráliomaispróximo,apoiouumpéemumtocoali perto e subiu desajeitado no lombo sedoso do cavalo. O bicho não fez objeção, mas virou acabeça,aspresasàmostra,etentoucontinuaralamberasvestesdogaroto.Harrydescobriuumamaneiradeencaixar seus joelhospor trásda junçãodasasasqueo fez se
sentir mais seguro, então olhou para os outros. Neville se guindara para o dorso no Testrálioseguinte e agora tentava passar uma perna curta por cima do animal. Luna já estava em posição,sentada de lado, e ajustava as vestes como se fizesse isso todos os dias. Rony,Hermione eGina,porém,continuavamimóveisnomesmolugar,boquiabertos,deolhosarregalados.–Quefoi?–perguntouele.– Como é que você espera que a gente monte? – perguntou Rony com a voz fraca. – Se não
conseguimosveressascoisas?–Ah,éfácil–falouLuna,descendodeboavontadedoseuTestrálioeseencaminhandoparaRony,
HermioneeGina.–Venhamaqui...Luna os levou até os outros Testrálios que estavam parados e ajudou os amigos, um a um, a
montaremneles.Ostrêspareceramextremamentenervososquandoagarotaenrolouasmãosdelesnas crinas dos animais e lhes disse para segurarem com firmeza; depois voltou para a própriamontaria.–Istoéloucura–murmurouRony,passandoamãolivredesajeitadamentepelopescoçodocavalo.
–Loucura...seeuaomenospudesseverobicho...– É melhor você desejar que ele continue invisível – disse Harry sombriamente. – Estamos
prontos,então?Todosconfirmaram,eeleviucincoparesdejoelhossetensionaremsobasvestes.–O.k...HarryolhouparaacabeçanegraereluzentedoTestrálioquemontavaeengoliuemseco.–MinistériodaMagia,entradadevisitantes,Londres–disse,então,hesitante.–Ah... sesouber...
aondeir...PorummomentooTestráliodeHarrynãoreagiu;então,comummovimentoamploquequaseo
desmontou,abriuasasas;encolheu-selentamente,eemseguidasubiucomoumfoguete,tãorápidoetão abruptamente que Harry teve de apertar as pernas e os braços em torno dele para evitarescorregarporsuasancasossudas.Ogarotofechouosolhoseapertouorostocontraacrinasedosadocavaloaoromperempelosramosmaisaltosdasárvoresesaíremvoandoemdireçãoaopoentevermelho-sangue.Harryachouquenuncasedeslocaracomtantarapidez:oTestráliopassouvelozsobreocastelo,
suas grandes asasmal semovendo; o ar frio fustigava o rosto dele; os olhos apertados contra ovento,ogarotoolhouparaosladoseviuseuscincocompanheirosacompanhando-o,cadaqualmaisachatadopossívelsobreopescoçodoTestrálioparaseprotegerdoturbilhãodearproduzidopelobicho.Sobrevoaramos terrenosdeHogwarts, passaramporHogsmeade;Harryviumontanhas e vales
profundos no solo. Quando a luz do dia começou a desaparecer, Harry viu surgirem pequenascoleções de luzes à medida que passavam sobre outras tantas cidadezinhas, depois uma estradatortuosaemqueumúnicocarrosubiacomesforçoasmontanhasacaminhodecasa...–Quecoisabizarra!–HarryouviuRonyberrarindistintamentedealgumpontoàssuascostas,e
ficou imaginandocomoapessoadeviasesentirvoandoemtalvelocidade,a talaltura, semmeiosvisíveisdesustentação.Ocrepúsculocaiu:océufoimudandoparaumarroxeadomelancólicopontilhadodeminúsculas
estrelasprateadas,enãotardouqueapenasasluzesdascidadestrouxasindicassemadistânciaaquese encontravamdo chão, ou a velocidade a que estavamviajando.Os braços deHarry abraçavamcomforçaopescoçodocavalocomosequisessevê-lovoaraindamaisrápido.QuantotempoteriadecorridodesdequeviraSiriuscaídonochãodoDepartamentodeMistérios?Quanto tempomaisseupadrinhopoderia resistir aVoldemort?Aúnica certeza deHarry é que ele não fizera o queolordequeria,nemmorrera,poisestavaconvencidodequequalquerdosdoisdesenlacesofariasentiro júbilooua fúriadeVoldemortperpassandoseuprópriocorpo, fazendosuacicatrizqueimar tãodolorosamentecomonanoiteemqueoSr.Weasleyforaatacado.Elescontinuaramavançandopelaescuridãoqueseadensava;Harrysentiuorostotensoefrio,e,as
pernas,dormentesdecomprimircomtantaforçaosflancosdoTestrálio,maselenãoousavamudardeposiçãoparanãoescorregar...ensurdeceracomoroncodofrioventonoturnoemsuasorelhas,esuabocaestavasecaegelada.Perderatodanoçãodadistânciaquehaviampercorrido;todaasuaféestavanoanimalembaixodele,quecontinuavaacortaranoitedeliberadamente,quasesembaterasasasemseuavançoveloz.Sechegassemtardedemais...Eleaindaestávivo,aindaestáresistindo,sintoisso...SeVoldemortdecidissequeSiriusnãoiaceder...Eusaberia...Seuestômagodeuumsolavanco;acabeçadoTestrálioderepentecomeçouaapontarparaosolo,
eHarrychegouadeslizaralgunscentímetrospelopescoçodoanimal.Estavamfinalmentedescendo...elepensouterouvidoumgritoàssuascostasetorceuperigosamenteocorpo,masnãoviusinaldeninguémcaindo...supôsque,comoele,todostivessemsentidoumchoquecomamudançadedireção.Eagorafortesluzescordelaranjaiamsetornandomaioresemaisredondasportodososlados;
podiam ver os altos dos edifícios, cadeias de faróis que lembravam olhos de insetos, quadradosamarelo-claros assinalando as janelas. Subitamente, pareceu a Harry, estavam se precipitando emdireçãoàcalçada;HarryseagarrouaoTestráliocomassuasúltimasforças,preparando-separaumimpacto repentino, mas o cavalo pousou no chão escuro com a leveza de uma sombra e Harryescorregou do seu dorso, espiando a rua ao seu redor, onde a caçamba transbordando lixocontinuava a uma pequena distância da cabine telefônica depredada, ambas descoradas à claridadeuniformeelaranjadoslampiõesdarua.Ronyaterrissouumpoucoadiante,eimediatamentecaiudoTestrálioparaacalçada.–Nuncamais – disse, esforçando-se para se erguer. Fezmenção de se afastar do cavalo,mas,
incapazdevê-lo,colidiucomseusquartostraseirosequasecaiuoutravez.–Nunca,nuncamais...foiapior...HermioneeGinadesceramumaa cada ladodele; asduasescorregaramdamontariaumpouco
maisgraciosamentedoqueRony,emboracomexpressõessemelhantesdealívioporvoltarà terrafirme;Nevillesaltou,tremendo;eLunadesmontousuavemente.–Então,aondevamosagora?–perguntouelaaHarrynumtomcortêseinteressado,comosetudo
aquilofosseumacuriosaexcursãodeumsódia.–Poraqui.–EledeuumapalmadinhabrevedeagradecimentoemseuTestrálio,depoisconduziu
osamigos rapidamentepara a cabine telefônica e abriu aporta. –Andem logo! – apressouos quehesitavam.RonyeGinaentraramobedientes;Hermione,NevilleeLunaseapertaramnacabineatrásdeles;
HarrydeuumaúltimaolhadanosTestrálios,agoraprocurandorestosdecomidapodrenacaçamba,depoiscomprimiu-seatrásdeLuna.–Quemestivermaispróximodotelefone,disqueseisdoisquatroquatrodois!–disseele.Ronydiscou,seubraçoestranhamentedobradoparaalcançarodisco;quandoestevoltouaoponto
inicial,avoztranquilademulherecoounacabine.“Bem-vindosaoMinistériodaMagia.Porfavor,informemseusnomeseoobjetivodavisita.”–HarryPotter,RonyWeasley,HermioneGranger–disseHarryimediatamente–,GinaWeasley,
NevilleLongbottom,LunaLovegood...estamosaquiparasalvaravidadealguém,anãoserqueoseuMinistériopossafazerissoprimeiro!“Obrigada”, disse a voz tranquila. “Visitantes, por favor, apanhem os crachás e os prendam no
peitodasvestes.”Meia dúzia de crachás saíram da fenda de devolução de moedas. Hermione recolheu-os e os
entregouemsilêncioaHarry,porcimadacabeçadeGina;eleolhouodecima:HarryPotter,MissãodeSalvamento.“VisitantesaoMinistério,ossenhoresdevemsesubmeteraumarevistaeapresentarsuasvarinhas
pararegistronamesadasegurança,localizadaaofundodoÁtrio.”– Ótimo! – exclamou Harry em voz alta, sentindo a cicatriz dar mais uma fisgada. – Agora
podemosdescer?Opisodacabineestremeceueacalçadaseelevoupassandoporsuasvidraças;osTestráliosque
catavamrestosforamdesaparecendodevista;aescuridãosefechousobreascabeçasdosgarotose,comumruídosurdodetrituração,elesdesceramàsprofundezasdoMinistériodaMagia.Uma réstia de suave luz dourada iluminou seus pés e ampliou-se para os seus corpos. Harry
dobrouosjoelhoseempunhousuavarinhadamelhormaneiraquepôdeemcondiçõestãoexíguas,espiando pelo vidro a ver se alguém os esperava no Átrio, mas o local parecia completamentedeserto.Aluzestavamaisfracadoquededia;nãohavialareirasacesassobosconsolesengastadosnasparedes,mas,àmedidaqueoelevador foiparandosuavemente,eleobservouqueossímbolosdouradoscontinuavamasemoversinuosamentenoescurotetoazul.“OMinistériodaMagiadesejaaossenhoresumanoiteagradável”,disseavozdemulher.Aportadacabinetelefônicaseescancarou;Harrysaiutropeçando,seguidoporNevilleeLuna.O
único somnoÁtrioeraa torrentecontínuadeáguana fontedourada,que jorravadasvarinhasdabruxa e do bruxo, da ponta da flecha do centauro, do gorro do duende e das orelhas dos elfosdomésticosparaotanqueaoredor.–Vamos–disseHarrybaixinho,eosseissaíramcorrendopelosaguão,Harryàfrente,passaram
pelafonteesedirigiramàmesaondeobruxo-vigia,quepesaraavarinhadeHarry,sesentara,equeagoraestavadeserta.Harry tinha certeza de que devia haver um segurança ali, certamente sua ausência era ummau
sinal,eseupressentimentoseintensificouquandocruzaramosportõesdouradosparaoelevador.Eleapertou o botão de descida mais próximo e um elevador apareceu com enorme ruído, quaseimediatamente, as grades douradas se abriram produzindo um grande eco metálico, e elesembarcaramdepressa.Harryapertouobotãodenúmeronove;asgradessefecharamcomestrépitoeo elevador começou a descer, balançando com grande ruído. Harry não percebera como esseselevadores eram barulhentos no dia em que viera com o Sr. Weasley; tinha certeza de quedespertariamcadasegurançanoedifício,porém,quandooelevadorparou,avoztranquilademulheranunciou:“DepartamentodeMistérios”,easgrades seabriram.Eles saíramparaocorredoronde
nada se movia exceto as chamas dos archotes mais próximos, bruxuleando na corrente de arproduzidapeloelevador.Harry se virou para a porta preta e simples. Depois de sonhar meses com essa imagem, ele
finalmenteestavaali.–Vamos–sussurrou,esaiuàfrentepelocorredor,Lunalogoatrás,olhandoparatudocomaboca
ligeiramenteaberta.–O.k.,ouçam–disseHarry,parandooutravezamenosdedoismetrosdaporta.–Talvez...talvez
umasduaspessoasdevessemficaraquipara...paravigiare...– E como é que vamos avisar se tiver alguma coisa vindo? – perguntouGina, as sobrancelhas
erguidas.–Vocêpoderiaestaraquilômetrosdedistância.–Vamoscomvocê,Harry–disseNeville.–Vamoslogo–disseRonycomfirmeza.Harrycontinuavaanãoquererlevartodos,maspareciaquenãotinhaescolha.Virou-seentãopara
aporta e prosseguiu... exatamente como fizera em sonho, a porta se abriu e ele cruzouoportal àfrentedosoutros.Estavamemumagrandesalacircular.Tudoalierapreto, inclusiveopisoeo teto;a intervalos,
havia portas pretas idênticas, sem letreiros, nemmaçanetas, separadas por candelabros de chamasazuis,atodavoltadasparedes;aclaridadefriaetremeluzenterefletidanopisodemármorepolidodavaaimpressãodequehaviaáguaescuranochão.–Alguémfecheaporta–murmurouHarry.ElesearrependeudeterdadoaordemnomomentoemqueNevilleaobedeceu.Semalongaréstia
de luz que vinha do corredor iluminado pelos archotes, a sala se tornou tão escura que por uminstanteasúnicascoisasqueosgarotosconseguiamvereramoscandelabrosdechamastrêmulaseazuladasnasparedeseseureflexofantasmagóriconochão.Em seu sonho,Harry sempre atravessara esta sala, decidido, em direção à porta imediatamente
opostaàentrada,econtinuavaaandar.Mashaviaumasdozeportasali.Enquantoestavaolhandoparaasportasdefronte,tentandoresolverqualseriaacerta,ouviu-seumribombarprolongadoeasvelascomeçaramasedeslocarparaolado.Asalacircularestavagirando.HermioneagarrouobraçodeHarrycomosetemessequeochãofossemexertambém,masisto
não aconteceu. Durante alguns segundos, as chamas azuis ao redor deles ficaram borradas,lembrando linhas de neon, à medida que a parede ganhou velocidade; então, com a mesmabrusquidãocomqueomovimentocomeçara,oroncoparouetudoseimobilizououtravez.AsretinasdeHarrytinhamriscosazuisgravadosnelas;erasóoqueogarotoconseguiaver.–Quefoiisso?–sussurrouRony,cheiodemedo.–Achoquefoiparanosimpedirdesaberporqueportaentramos–disseGinacomavozabafada.Harrypercebeunahoraqueaamigatinharazão:identificaraportadesaídaseriatãodifícilquanto
localizarumaformiganaquelepisomuitonegro;e aportapelaqualdeviamprosseguirpodia serqualquerumadasdozequeoscercavam.–Comoéquevamossairnavolta?–perguntouNevillepoucoàvontade.–Bom,issoagoranãotemimportância–disseHarry,convincente,piscandoparatentarapagaras
linhasazuisdesuavista,eapertandoavarinhacommaisforçaquenunca–,nãovamosprecisarsairatétermosencontradoSirius...–Masnãocomeceachamarporele!–disseHermioneemtomurgente;masHarrynuncaprecisara
menosdetalconselho,seuinstintoerafazeromínimodebarulhopossível.–Aondevamosentão,Harry?–perguntouRony.–Eu não... – começouHarry.Engoliu em seco. –Nos sonhos, eu passava pela porta no fimdo
corredor,vindodoselevadores,eentravaemumasalaescura,estaaqui,entãoatravessavaporoutra
portaeentravaemumasalaquemeioque...cintilava.Temosdeexperimentaralgumasportas–disseeledepressa.–Sabereiocaminhocertoquandoovir.Vamos.Elerumoudiretoparaaportaagoraàsuafrente,osoutrosseguindo-odeperto,encostouamão
emsuasuperfíciefrescaebrilhante,ergueuavarinhaprontoparaatacarnoinstanteemqueaportaseabrisse,eaempurrou.Elaseabriufacilmente.Depoisdo escurodaprimeira sala, as lumináriasbaixas, presas ao tetopor correntesdouradas,
davam a impressão de que esta sala comprida e retangular era muito mais clara, embora nãohouvesseluzescintilantesnemtremeluzentescomoHarryviraemsonhos.Olugarestavabemvazio,exceto por algumas escrivaninhas e, bem no centro da sala, um enorme tanque de vidro com umlíquido muito verde, suficientemente espaçoso para todos nadarem nele; vários objetos branco-pérolaflutuavamnelelentamente.–Quecoisassãoessas?–sussurrouRony.–Nãosei–respondeuHarry.–Sãopeixes?–murmurouGina.–Larvasaquovirentes!–exclamouLuna,excitada.–PapaidissequeoMinistérioestavacriando...– Não – disse Hermione. Sua voz estava estranha. Ela se aproximou para espiar pelo lado do
tanque.–Sãocérebros.–Cérebros?–É...queseráqueestãofazendocomeles?Harryfoiatéjuntodotanque.Semamenordúvida,nãopodiahaverenganoagoraqueosviade
perto. Tremeluzindo fantasmagoricamente, os cérebros apareciam e desapareciam flutuando nasprofundezasdolíquidoverde,lembrandocouves-floreslodosas.–Vamosemboradaqui–disseHarry.–Nãoéasalacerta,precisamosexperimentaroutraporta.–Háportasaquitambém–disseRony,apontandoparaasparedes.Harrysesentiudesanimar;que
tamanhotinhaesselugar?–Nomeusonho,euatravessavaaquelasalaescuraeemseguidaoutra.Achoquedevíamosvoltare
tentarnovamentedelá.Entãoelesvoltaramdepressaàsalaescuraecircular;assombrasfantasmaisdoscérebrosagora
nadavamdiantedosolhosdeHarrynolugardaschamasazuisdasvelas.–Esperem!–disseHermione, enérgica, quandoLuna fezmençãode fechar a porta da sala dos
cérebros,àscostasdeles.–Flagrate!ElafezumdesenhonoarcomavarinhaeumXdefogoapareceunaporta.Malaportaacabarade
se fechar comum estalido, ouviu-se umgrande ronco emais uma vez a parede começou a girarmuitorápido,masagorahaviaumborrãovermelhoeouronomeiodoazulpálidoe,quandotudotornouaparar,acruzdefogoaindaardia,mostrandoaportaqueelesjáhaviamexperimentado.–Bempensado–disseHarry.–O.k.,vamosexperimentarestaaqui...Novamente, ele rumou para a porta diretamente em frente e a empurrou, com a varinha ainda
erguida,osoutrosnosseuscalcanhares.Esta sala era maior do que a anterior, fracamente iluminada e retangular, e seu centro era
afundado, formando um grande poço de pedra com mais de cinco metros de profundidade. Osgarotosestavamnonívelmaisaltodeumasériedebancosdepedraquecorriamatodavoltadasalaedesciamemdegraus íngremescomoemumanfiteatro,ouo tribunalemqueHarry fora julgadopelaSupremaCortedosBruxos.Nolugardeumacadeiracomcorrentes,porém,haviaumestradonocentrodopoçoesobreeleumarcodepedraquepareciatãoantigo,rachadoecorroídoqueHarryseadmirouqueaindasesustentasseempé.Semseapoiaremparedealguma,oarcoestavafechadoporumacortinaouvéupreto esfarrapadoque, apesar da total imobilidadedo ar frio circundante,
esvoaçavamuitolevementecomosealguémotivesseacabadodetocar.–Quemestáaí?–perguntouHarry,saltandoparaobancoabaixo.Nãohouveresposta,masovéu
continuouaesvoaçarebalançar.–Cuidado!–sussurrouHermione.Harrydesceudepressapelosbancos,umaum,atéchegaraofundodepedradopoço.Seuspassos
ecoaramfortementequandoseencaminhoudevagarparaoestrado.Oarcopontiagudopareciamuitomaisaltodeondeeleestavaagoradoquequandoocontemplaradoalto.Ovéucontinuavaabalançarsuavemente,comosealguémtivesseacabadodepassar.–Sirius?–Harrytornouachamar,masemvozmaisbaixaagoraqueestavamaispróximo.Tinha a estranha sensação de que havia alguém parado além do véu do outro lado do arco.
Apertandocomforçaavarinhanamão,elecontornouoestrado,masnãohavianinguém;sóoqueseviaeraooutroladodovéupretoeesfarrapado.–Vamos embora – chamouHermione domeio da escadaria. –Não é a sala certa,Harry, anda,
vamoslogo.Ela parecia amedrontada,muitomais do que estivera na sala onde os cérebros flutuavam,mas
Harry achou que o arco possuía uma certa beleza, por mais velho que fosse. O véu ondulandosuavementeointrigava;elesentiuumforteimpulsodesubirnoestradoeatravessá-lo.–Harry,vamosembora,o.k.?–insistiuHermionecommaiorveemência.–O.k.–respondeuele,masnãosemexeu.Acabaradeouviralgumacoisa.Sussurrosfracos,sons
demurmúriosvinhamdooutroladodovéu.“Queéquevocêestádizendo?”,perguntouele,muitoalto, fazendosuaspalavrasecoarempelos
bancosdepedra.–Ninguémestáfalando,Harry!–disseHermione,agoraseaproximando.–Alguémestásussurrandoaliatrás–disseele,fugindodoalcancedeHermioneecontinuandoa
franziratestaparaovéu.–Évocê,Rony?–Estouaqui,cara–disseRony,aparecendodooutroladodoarco.–Ninguémmaisestáouvindo?–perguntouHarry,porqueossussurrosemurmúriosestavamse
tornandomaisaltos;semterintençãodepisarali,eleviuqueseupéestavaemcimadoestrado.– Eu também estou ouvindo – cochichou Luna, reunindo-se a eles pela lateral do arco e
observandoovéuondular.–Temgenteaídentro!–Que é que você quer dizer com esseaídentro? –Hermione exigiu saber, saltando do último
degraueparecendomuitomais zangadadoqueaocasião exigia. –Não temninguémaídentro, éapenasumarco,nãotemespaçoparaninguémdentrodele.Harry,parecomisso,vamosembora...Elaoagarroupelobraço,maseleresistiu.–Harry,agenteveioaquiporcausadoSirius!–disseelacomavoztensaeaguda.–Sirius–repetiuHarry,aindafitando,hipnotizado,ovéuquebalançavasemparar.–É...Algumacoisafinalmentevoltouaolugaremseucérebro;Sirius,capturado,amarradoetorturado,
eelealiolhandoparaessearco...Harryseafastouváriospassosdoestradoedesvioucomesforçooolhardovéu.–Vamos–disse.–Éissoqueestivetentando...bom,vamos,então!–falouHermione,esaiuàfrente,contornandoo
estrado.Dooutro lado,GinaeNevilleestavamparadosolhandoovéu também,aparentementeemtranse.Sem falar,Hermione segurouobraçodeGina, eRonyodeNeville, e eles conduziramosamigoscomfirmezaaoprimeirobancodepedraesubiramemdireçãoàporta.–Queéquevocêachaqueaquelearcoera?–perguntouHarryaHermionequandochegaramà
salacirculareescura.–Nãosei,mas,fosseoquefosse,eraperigoso–afirmouela,marcandoaportacomumacruzde
fogo.Maisumavez,aparedegiroueparou.Harrysedirigiuamaisumaportaaoacasoeaempurrou.
Elanãocedeu.–Quefoi?–perguntouHermione.–Está...trancada...–disseHarry,jogandoopesocontraaporta,maselanãosemoveu.–Entãoéessa,nãoé?–disseRony,excitado,juntando-seaHarrynatentativadeforçaraportaa
abrir.–Temdeser.–Saiamdafrente!–mandouHermione.Elaapontouavarinhaparaolugarnormaldafechadura
emumaportacomumedisse:–Alohomora!Nadaaconteceu.–OcanivetedeSirius!–lembrouHarry.Eleotiroudobolsointernodasvesteseinseriunafresta
entreaportaeaparede.Osoutrosoobservaramansiososdeslizarocanivetedealtoabaixo,retirá-loe,então,tornaraempurraroombrocontraaporta.Elacontinuoutãofechadaquantoantes.E,maisainda,quandoHarryolhouparaocanivete,viuquealâminaderretera.–Certo,vamossairdessasala–disseHermione,decidida.–Maseseforatal?–perguntouRony,olhando-aaomesmotempocomapreensãoedesejo.–Nãopodeser,Harrypassouportodasasportasemsonho–disseHermione,marcandoaporta
comoutracruzdefogoenquantoHarryrepunhanobolsoocaniveteinutilizadodopadrinho.–Vocêsabeoquepoderiahaveraídentro?–perguntouLuna,ansiosa,quandoaparederecomeçou
agirarmaisumavez.– Alguma coisa estridulosa, com certeza – disse Hermione baixinho, e Neville soltou uma
risadinhanervosa.A parede foi parando e Harry, com uma sensação de crescente desespero, empurrou a porta
seguinte.–Éessa!Reconheceu-a imediatamente pelas belas luzes que dançavam e cintilavam como diamantes.
QuandoosolhosdeHarryseacostumaramàclaridadeintensa,eleviurelógiosrefulgindoemcadasuperfície,grandesepequenos,relógiosdeestojoealça,edepêndulo,expostosnosintervalosdasestantesousobreasescrivaninhas,portodaaextensãodasala,ecujotiquetaquearincessanteenchiaoambientecomosefossemmilharesdepésemmarcha.Afontedaluzquedançavaecintilavaeraumvidroaltodecristal,emformadesino,aumaextremidadedasala.–Poraqui!OcoraçãodeHarrycomeçouabaterfreneticamente,agoraquesabiaqueestavanocaminhocerto;
elesaiuàfrentepelopequenoespaçoentreasescrivaninhas,dirigindo-se,comofizeraemsonho,àfontedeluz,ovidrodecristalemformadesino,queeraquasedesuaalturaepareciaestarcheiodeumventoluminosoquesopravaemondas.–Ah,olhem!–exclamouGina,quandoseaproximaram,apontandoparaointeriordovidro.Flutuando ali, na correnteza luminosa, havia um minúsculo ovo que brilhava como uma joia.
Quandosubia,oovoseabriaedeleemergiaumbeija-flor,queeraimpelidoparaoalto,masaoserapanhadopelacorrentedearvoltavaamolhareamarrotaraspenas,equandochegavaaofundodovidroencerrava-semaisumavezemseuovo.–Nãoparem!–disseHarrycomrispidez,porqueGinademonstravaquererpararparaapreciara
transformaçãodoovoempássaro.–Você demorou bastante naquele arco velho! – respondeu ela, zangada,mas seguiu-o além do
vidroemdireçãoàúnicaportaquehavia.–Éessa– repetiuHarry,eseucoraçãoagorabatiacomtanta forçae rapidezqueelesentiuque
deviainterferircomasuafala–,époraqui...
Harryolhouparaosamigos;tinhamasvarinhasnamãoepareciamderepentesérioseansiosos.Tornouasevoltarparaaportaeempurrou-a.Elaseabriu.Eraasala,elesahaviamencontrado:daalturadeumacatedral,contendoapenasestanteselevadase
cobertas de pequenas esferas de vidro cheias de pó. Elas bruxuleavam fracamente à luz doscandelabrospresosaintervalosaolongodasestantes.Comoosdasalacircularquehaviamdeixadoparatrás,suaschamaseramazuis.Asalaeramuitofria.Harry avançou cautelosamente e espiou por um dos corredores sombrios entre duas fileiras de
estantes.Nãoouviunadanemviuomenorsinaldemovimento.–Vocêdissequeeranocorredornoventaesete–cochichouHermione.–É–murmurouHarry,erguendoacabeçaparaexaminarafileiramaispróxima.Sobocandelabro
dechamasazuis,quedelasedestacava,via-seonúmerocinquentaetrêsemprata.–Precisamos ir para adireita, acho– sussurrouHermione, apertandoosolhospara enxergar a
fileiraseguinte.–É...essaéacinquentaequatro...–Mantenhamasvarinhaspreparadas–recomendouHarrybaixinho.Eles seguiram devagarzinho, olhando para trás enquanto percorriam os longos corredores de
estantes, cuja parte final estava imersa em quase total escuridão.Minúsculas etiquetas amareladasestavam coladas sob cada esfera de vidro nas prateleiras. Algumas possuíam um estranho brilholíquido;outraseramopacaseescuraspordentrocomolâmpadasqueimadas.Passaram pela fileira oitenta e quatro... oitenta e cinco... Harry procurava escutar o menor
movimento, mas Sirius poderia estar amordaçado agora, ou até inconsciente... ou, disse uma vozintrometidaemsuacabeça,poderiajáestarmorto...Euteriasentido,disseasimesmo,seucoraçãoagorabatendonopomodeadão,eusaberia...–Noventaesete!–sussurrouHermione.Osgarotospararamagrupadosnofimdeumafileira,espiandoparaocorredoraolado.Nãohavia
ninguémali.–Eleestábemnofinal–disseHarry,cujabocaficaraligeiramenteseca.–Nãoseconseguever
direitodaqui.E Harry os conduziu entre as estantes muito altas com as esferas de vidro, algumas das quais
refulgiamsuavementequandoelespassaram...–Eledeveestarperto–sussurrouHarry,convencidodequecadapassoiriatrazeravisãodeSirius
emfarraposnochãoescuro.–Emalgumlugarporaqui...muitoperto...–Harry!–disseHermione,hesitante,maselenãoquisresponder.Suabocaestavamuitoseca.–Emalgumlugarpor...aqui...Haviamchegadoaofimdocorredoresaíramparaaclaridadefracadasvelas.Nãohavianinguém
ali.Tudoeraumsilêncioressonanteeempoeirado.–Elepoderiaestar...–sussurrouHarry,rouco,espiandoparaopróximocorredor.–Outalvez...–
Ecorreuaolharocorredoralém.–Harry?–tornouachamarHermione.–Quê?–vociferouele.–Eu...euachoqueSiriusnãoestáaqui.Ninguém falou. Harry não quis olhar para ninguém. Sentiu-se nauseado. Não entendia por que
Siriusnãoestavaali.Tinhadeestar.Foraaliqueele,Harry,ovira...Elepercorreuoespaçonofinaldasfileirasdeestantes,espiandocadaum.Umcorredorapósoutro
passoupelosseusolhos,vazios.Correunosentidooposto,etornouapassarpeloscompanheirosqueoobservavam.NãohaviasinaldeSiriusempartealguma,nemqualquervestígiodeluta.–Harry?–chamouRony.–Quê?
Ele não queria ouvir o queRony tinha a dizer; não queria ouvi-lo dizer que ele fora idiota ousugerir que deviamvoltar paraHogwarts,mas o calor começou a subir para o seu rosto eHarrysentiuquegostariadeseesconderalinoescuroporumbomtempo,antesdeencararaclaridadedoÁtrioacimaeosolharesacusadoresdosoutros...–Vocêviuisso?–perguntouRony.–Quê?–disseHarry,masdestavezansioso.TinhadeserumsinaldequeSiriusestiveraali,uma
pista.Elevoltouaolugaremqueosamigosestavamparados,umpoucoadiantedafileiranoventaesete,masnãoencontrounada,excetoRonyolhandoparaumadasesferasempoeiradasnaprateleira.–Quê?–repetiuHarrymal-humorado.–Tem...temoseunomeescritoaqui–disseRony.Harryseaproximouumpoucomais.Oamigoestavaapontandoparaumadaspequenasesferasde
vidroquefulguravacomumafracaluzinterior,emboraestivessemuitoempoeiradaenãoparecessesertocadahaviamuitosanos.–Meunome?–disseHarrysementender.Ele se adiantou.Não sendo tão alto quantoRony, precisou esticar o pescoço para ler a etiqueta
amarela afixada na prateleira logo abaixo da esfera coberta de pó. Em letra garranchosa, haviaescritaumadatahádezesseisanos,eembaixo:
S.P.T.paraA.P.W.B.D.LordedasTrevase(?)HarryPotter
Harryarregalouosolhos.–Queéisso?–perguntouRony,parecendonervoso.–Queéqueseunomeestáfazendoaqui?Ronycorreuoolharpelasoutrasetiquetasnaquelaprateleira.–Eunãoestouaqui–disseele,perplexo.–Nenhumdenósestá.–Harry,achoquevocênãodeviatocarnisso–disseHermione,enérgica,quandoogarotoesticou
amão.–Porquenão?–disseele.–Éalgumacoisaligadaamim,nãoé?– Não, Harry – disse Neville repentinamente. Harry olhou para o amigo. O suor brilhava
levementenoseurostoredondo.Edavaaimpressãodequenãopodiaaguentarmaistantosuspense.–Temomeunomenela–disseHarry.Esentindo-seumpoucoafoito,ele fechouosdedosemtornodasuperfícieempoeiradadapeça.
Esperavaquefossefria,masnão.Aocontrário,pareciaqueestiveranosoldurantehoras,comoseoseu fulgor interno a aquecesse. Esperando, e até ansiando, que alguma coisa dramática fosseacontecer,algumacoisaexcitantequepudesseafinal justificar sua longaeperigosaviagem,Harrytirouaesferadaprateleiraeexaminou-a.Nadaaconteceu.OsoutrosseaproximarammaisdeHarry,mirandoogloboenquantoelelimpava
apoeiraqueorecobria.Então,àscostasdeles,umavozarrastadafalou:–Muitobem,Potter.Agorasevire,muitodevagarzinho,emeentregueisso.
—CAPÍTULOTRINTAECINCO—Paraalémdovéu
Vultosescurossurgiamdetodososlados,bloqueandoocaminhodosgarotosàesquerdaeàdireita;olhos brilhavam nas fendas dos capuzes, uma dúzia de pontas de varinhas acesas apontavamdiretamenteparaseuscorações;Ginasoltouumaexclamaçãodehorror.–Amim,Potter–repetiuavozarrastadadeLúcioMalfoyenquantoestendiaamão,depalmapara
cima.As entranhas de Harry despencaram, provocando náuseas. Eles estavam encurralados e em
inferioridadenuméricadedoisparaum.–Amim–repetiuMalfoyaindaumavez.–OndeestáSirius?–perguntouHarry.VáriosComensaisdaMorteriram;umavozestridentedemulher,nomeiodasfigurassombriasà
esquerdadeHarry,dissetriunfante:–OLordedasTrevassempretemrazão!–Sempre–repetiuMalfoysuavemente.–Agora,medêaprofecia,Potter.–EuquerosaberondeestáoSirius!–EuquerosaberondeestáoSirius!–imitouamulheràesquerda.ElaeseuscompanheirosComensaistinhamseaproximado,eestavamapoucomaisdeummetro
deHarryedosoutros,aluzdesuasvarinhascegavaosolhosdogaroto.–Vocêsopegaram–disseHarry,ignorandoopânicoquecresciaemseupeito,opavorcomque
vinhalutandodesdequehaviamentradonocorredornoventaesete.–Eleestáaqui.Euseiqueestá.–Obebezinho acordou commedo e pensou que seu sonho era realidade – disse amulher numa
horrívelimitaçãodevozdebebê.HarrysentiuRonysemexeraoseulado.–Nãofaçanada–murmurouHarry.–Aindanão...Amulherqueoimitarasoltouumagargalhadarouca.–Vocêsoouviram?Vocêsoouviram?Dandoinstruçõesàsoutrascriançascomosepensasseem
nosenfrentar!–Ah,vocênãoconhecePottercomoeu,Belatriz–disseMalfoymansamente.–Eletemumgrande
fracoporheroísmos:oLordedasTrevas conhece essamaniadele.Agorame entregue a profecia,Potter.–EuseiqueSiriusestáaqui–disseHarry,emboraopânicocomprimisseseupeitoeelesesentisse
incapazderespirardireito.–Euseiquevocêsopegaram!MaisComensaisdaMorteriram,emboraamulherrissemaisaltoquetodos.–Jáestánahoradevocêaprenderadiferençaentrevidaesonho,Potter–disseMalfoy.–Agora
meentregueaprofecia,ouvamoscomeçarausarasvarinhas.–Use,então–disseHarry,erguendoaprópriavarinhaàalturadopeito.Aofazerisso,ascinco
varinhasdeRony,Hermione,Neville,GinaeLunaseergueramacadaladodele.OnónoestômagodeHarryapertou.SeSiriusnãoestivesserealmenteali,teria,então,trazidoseusamigosparaamorteàtoa...MasosComensaisdaMortenãoatacaram.
–Entregueaprofeciaeninguémprecisarásemachucar–disseMalfoytranquilamente.FoiavezdeHarryrir.–É, certo! Eu lhe entrego essa... profecia, é? E o senhor nos deixa ir embora para casa, não é
mesmo?AspalavrasaindanãohaviamacabadodesairdesuabocaquandoaComensalmulhergritou:–Accioprof...Harryestavapreparado:gritou“Protego!”antesqueelaterminassedelançarofeitiço,e,emboraa
esferadevidrotivesseescorregadoparaapontadosseusdedos,eleconseguiusegurá-la.–Ah,elesabebrincar,obebezinhoPotter–disseamulher,seusolhosdesvairadosencarando-o
pelasfendasdocapuz.–Muitobem,então...–EUJÁDISSEAVOCÊ,NÃO!–berrouLúcioMalfoyparaamulher.–Sevocêquebrá-la...!OcérebrodeHarrytrabalhavaemaltavelocidade.OsComensaisdaMortequeriamessaesferade
vidroempoeirada.Elenãotinhaomenorinteressenela.Sóqueriatirartodosdalivivos,garantirquenenhumdosseusamigospagasseumpreçoterrívelporsuaburrice...Amulherseadiantou,afastando-sedoscompanheiros,etirouocapuz.Azkabandescarnaraorosto
de Belatriz Lestrange, tornando-o feio e escaveirado, mas estava vivo com um fulgor fanático efebril.–Vocêprecisademaispersuasão?–disseela,opeitoarfandorápido.–Muitobem:pegueamenor
–ordenouBelatrizaumComensaldaMorte.–Deixequeelevejatorturarmosamenininha.Eufaçoisso.HarrysentiuoscompanheirosrodearemGina;eledeuumpassoparaoladodemodoaficarna
frentedela,aprofeciaseguracontraopeito.–Vocêterádequebraristosequiseratacarumdenós–disseeleaBelatriz.–Achoqueoseuchefe
nãovaificarmuitosatisfeitosevocêvoltarsemaesfera,ouvai?Elanãosemexeu;meramenteencarou-o,umedecendoabocafinacomapontadalíngua.–Então–disseHarry–,afinalqueprofeciaéessadequeestamosfalando?Nãoconseguiapensarnoquemaisfazer,excetocontinuarafalar.ObraçodeNevilleestavacolado
aodele,eHarrysentiaoamigotremer;sentiatambémarespiraçãocurtademaisalguématrásdesuacabeça.Esperavaquetodosestivessempensandoemmaneirasdesaíremdesseimpasse,porquesuamenteestavavazia.–Queprofecia?–repetiuBelatriz,osorrisoseapagandodorosto.–Vocêestábrincando,Harry
Potter.–Não,nãoestoubrincando–disseHarry,seuolharsaltandodeumComensaldaMorteparaoutro,
procurandoumelofraco,umabrechaporondeescapar.–PorqueVoldemortaquer?VáriosComensaisdaMortedeixaramescaparassobiosbaixinho.–Vocêseatreveadizeronomedele?–sussurrouBelatriz.–Claro–disseHarry,mantendoasmãos firmesna esferadevidro, esperandoumnovoataque
paratirá-ladele.–Claro,nãotenhoproblemaalgumemdizerVol...–Caleaboca!–gritouBelatriz.–Vocêseatreveadizeronomedelecomasuabocaindigna,você
seatreveamanchá-locomasualínguamestiça,vocêseatreve...–Vocêsabiaqueeletambémémestiço?–disseimprudentemente.Hermionegemeuemsuaorelha.
–Voldemort?É, amãe dele era bruxa,mas o pai era trouxa: ou será que ele andou dizendo paravocêsqueésanguepuro?–ESTUPEF...–NÃO!UmjatodeluzvermelhasaíradapontadavarinhadeBelatrizLestrange,masMalfoyodesviou;o
feitiço dele fez a bruxa bater na prateleira amenos demeiometro à esquerda deHarry e várias
esferasdevidroseestilhaçaram.Dois vultos, branco-perolados como fantasmas, fluidos como fumaça, subiram em espirais dos
cacosdevidronochãoecomeçaramafalar;suasvozescompetiamentresi,demodoqueseouviamapenasfragmentosdoquediziamemmeioaosgritosdeMalfoyeBelatriz.–...nosolstícioviráumnovo...–disseafiguradeumvelhobarbudo.–NÃOATAQUEM!PRECISAMOSDAPROFECIA!–Ele se atreveu... ele se atreve... – gritavaBelatriz incoerentemente –, ele fica aí... essemestiço
imundo...–ESPEREATÉTERMOSAPROFECIA!–berrouMalfoy.–...enãoviráoutrodepois...–disseafiguradeumajovem.Asduasfigurasquehaviamirrompidodasesferaspartidassedissolveramnoar.Nadarestoudelas
oudesuasantigasmoradas,excetocaquinhosdevidronochão.MashaviamdadoaHarryumaideia.Oproblemaseriacomunicá-laaosoutros.–Osenhornãomedisseoquetemdetãoespecialnessaprofeciaquedevolheentregar–disseo
garotoprocurandoganhar tempo.Harrydeslizouopé lentamenteparao lado,procurandoopédemaisalguém.–Nãobrinqueconosco,Potter–falouMalfoy.–Nãoestoubrincando–disseHarry,partede suamentenaconversa,partenopéque tateavao
chão.Então,eleencontrouosdedosdealguémepisou-os.UmasúbitasucçãodearatrásofezsaberquepertenciamaHermione.–Quê?–sussurrouagarota.–Dumbledorenunca lhecontouquea razãodevocêcarregaressacicatrizestavaescondidanas
entranhasdoDepartamentodeMistérios?–caçoouMalfoy.–Eu...quê?!–exclamouHarry.Eporummomentoesqueceucompletamenteoseuplano.–Que
temaminhacicatriz?–Quê?–sussurrouHermionecommaiorurgênciaatrásdele.–Serápossível?–disseMalfoy,parecendomaldosamentedeliciado;algunsComensaisdaMorte
recomeçarama rir, e, acobertadopelas risadas,Harry sibilouparaHermione,mexendoomínimopossíveloslábios:–Quebreprateleiras...–Dumbledore nunca lhe contou? – repetiuMalfoy. –Bom, isso explica por que você não veio
antes,Potter,oLordedasTrevasestavaintrigado...–...quandoeudisseragora...– ... que você não viesse correndo quando ele lhe mostrou em sonho onde a profecia estava
escondida.Elepensouqueacuriosidadenaturalofariaquererouviraspalavrasexatas...– Pensou, é? – disse Harry. Às suas costas, ele sentiumais do que ouviuHermione passar sua
mensagemaosoutros,eprocuroucontinuarfalandoparadistrairosComensaisdaMorte.–Entãoelequeriaqueeuviesseapanhá-la,era?Porquê?– Por quê? – Malfoy parecia incredulamente deliciado. – Porque as únicas pessoas que têm
permissãoderetiraraprofeciadoDepartamentodeMistérios,Potter,sãoaquelesdequemelafala,comodescobriuoLordedasTrevasquandotentouusarterceirosparaaroubaremporele.–Eporqueelequeriaroubarumaprofeciasobremim?–Sobrevocêsdois,Potter,sobrevocêsdois...vocênuncaseperguntouporqueoLordedasTrevas
tentoumatá-loquandocriança?HarryencarouasfendasnocapuzondeosolhoscinzentosdeMalfoybrilhavam.Aprofeciaeraa
razãopelaqualospaisdeHarryhaviammorrido,arazãoporqueelecarregavaacicatrizemformaderaio?Arespostaatudoissoestavaseguraemsuamão?
–AlguémfezumaprofeciasobremimeVoldemort?–falouelecalmamente,olhandoparaLúcioMalfoy,seusdedosapertandoaesferamornanamão.Nãoeramaiordoqueumpomoecontinuavaásperadepoeira.–Eeleme fezviraquiparaapanhá-laparaele?Porquenãopôdevirapanhá-lapessoalmente?–Apanhá-lapessoalmente?–gritouBelatriz,gargalhandoalucinada.–OLordedasTrevasentrar
no Ministério da Magia, quando todos estão gentilmente ignorando o seu retorno? O Lorde dasTrevas se revelar aos aurores, quando no momento estão perdendo tempo com o meu queridoprimo?– Então, o lorde mandou vocês fazerem o trabalho sujo para ele, foi? Como tentou obrigar
Estúrgioaroubaraprofecia...eBode?–Muitobom,Potter,muitobom...–disseMalfoylentamente.–MasoLordedasTrevassabeque
vocênãoédesprovidodein...–AGORA!–berrouHarry.Cinco vozes diferentes bradaram às suas costas: “REDUCTO!” – Cinco feitiços voaram em
diferentes direções, e as prateleiras defronte explodiram ao serem atingidas; a enorme estruturabalançou ao mesmo tempo que cem esferas de vidros estouraram, vultos branco-perolados sedesdobraramnoareflutuaram,suasvozesecoandodeumpassadojámorto,emmeioaumachuvadeestilhaçosdevidroemadeiraqueagoracaíanochão...–CORRAM!–berrouHarry,quandoasprateleirasbalançaramprecariamenteemais esferasde
vidrocomeçaramacair.EleagarrouasvestesdeHermioneeapuxouparaa frente,erguendoumbraço para proteger a cabeça dos cacos de vidro que estrondeavam sobre eles. UmComensal daMorteatirou-secontraelesatravésdanuvemdepoeiraeHarrylhedeuumacotoveladacomforçanorostomascarado; todos berravam, havia gritos de dor e estrondos de prateleiras desabando sobreeles,ecosestranhamentefragmentadosdosVidenteslibertadosdesuasesferas...HarryencontroulivreocaminhoàfrenteeviuRony,GinaeLunapassaremcorrendoporele,os
braçossobreacabeça;algumacoisapesadagolpeousuaface,maselemeramenteabaixouacabeçaecontinuouacorrer;umamãoagarrou-opeloombro;eleouviuHermionegritar:“ESTUPEFAÇA!”Amãoosoltouimediatamente...Estavam no fim da fileira noventa e sete; Harry virou à direita e começou a correr a toda
velocidade;ouviapassoslogoatráseavozdeHermioneapressandoNeville;diretamenteàfrente,aporta por que haviampassado estava entreaberta;Harry viu a luz faiscante dovidro em formadesino; ele cruzou a porta de um salto, a profecia ainda a salvo em sua mão, e esperou os outrospassarempelaportaantesdebatê-la...–Colloportus!–exclamouHermione,eaportaselacroucomumestranhoruídodeesmagamento.–Onde...ondeestãoosoutros?–ofegouHarry.PensaraqueRony,LunaeGinatinhamidomaisàfrente,queestariamàesperanestasala,masnão
havianinguém.–Elesdevemtertomadoocaminhoerrado!–sussurrouHermione,oterroremseurosto.–Escute!–murmurouNeville.Passos e gritos ecoavam do outro lado da porta que Hermione tinha acabado de lacrar; Harry
encostouoouvidoàportaparaescutarmelhoreouviuLúcioMalfoyberrar:–Deixe,Nott,deixe-oaí:osferimentosdelenãosignificarãonadaparaoLordedasTrevasdiante
daperdadaprofecia. Jugson,volteaqui,precisamosnosorganizar!Vamosnosdividiremparesefazerumabusca,enãoseesqueçam,sejamgentiscomPotteratétermosaprofecia,podemmatarosoutros se precisarem... Belatriz, Rodolfo, vocês vão para a esquerda; Crabbe, Rabastan, para adireita... Jugson. Dolohov, pela porta em frente... Macnair e Avery, por aqui... Rookwood lá...Mulciber,venhacomigo!
–Quefaremos?–perguntouHermioneaHarry,tremendodospésàcabeça.–Bom, para começar, não ficaremos aqui parados esperando eles nos encontrarem.Vamos nos
afastardestaporta.Eles correram o mais silenciosamente que puderam, passaram pelo sino fulgurante onde o
minúsculoovo incubavaedesincubava, emdireçãoà saídapara a sala circular ao fundo.EstavamquasechegandoquandoHarryouviuumacoisapesadacolidircontraaportaqueHermionefecharacomumfeitiço.–Afastem-se!–disseumavozríspida.–Alohomora!Quandoaportaseescancarou,Harry,HermioneeNevillemergulharamembaixodeescrivaninhas.
PodiamverabarradasvestesdedoisComensaisdaMortequeseaproximaram,seuspéssemovendocomrapidez.–Elespodemtercorridodiretoparaocorredor–falouavozrascante.–Vejaembaixodasescrivaninhas–disseoutra.Harry viu os joelhos dos Comensais daMorte se dobrarem; metendo a varinha para fora, ele
gritou:–ESTUPEFAÇA!Um jatode luzvermelha atingiuoComensal daMortemais próximo; ele tomboupara trás em
cimadeumrelógiodepêndulo,derrubando-o;osegundoComensal,porém,saltaraparaoladoparaevitarofeitiçodeHarryeestavaapontandoaprópriavarinhaparaHermione,quesearrastavadesobaescrivaninhaparapodermirarmelhor.–Avada...Harry se atirou pelo chão e agarrou o Comensal da Morte pelos joelhos, fazendo-o cair e
desviando suapontaria.Nevillederrubouumaescrivaninhanaansiedadedeajudar; e, apontandoavarinhasemmiraparaosdois,gritou:–EXPELLIARMUS!As varinhas de Harry e do Comensal saíram voando de suas mãos para a entrada da Sala da
Profecia;osdoisselevantaramdepressaesearremessaramatrásdelas,oComensalàfrente,HarryemseuscalcanhareseNevillemaisatrás,visivelmentehorrorizadocomoquefizera.–Saiadocaminho,Harry!–berrouNeville,claramentedecididoaconsertarseuerro.Harryseatirouparaolado,Nevilletornouamirareordenou:–ESTUPEFAÇA!OjatodeluzvermelhapassouporcimadoombrodoComensaldaMorteeatingiuumarmáriode
portasdevidronaparedecheiodeampulhetasdeváriosformatos;oarmáriocaiunochãoeseabriu,vidrosvoarampara todo lado,voltou a se aprumarnaparede, inteiramente restaurado, e tornouacair,eseespatifar...OComensaldaMorteagarrarasuavarinha,caídanochãoaoladodovidrocintilanteemformade
sino. Harry se abaixou atrás de outra escrivaninha quando o homem se virou; sua máscaraescorregaraimpedindo-odever.Eleaarrancoucomamãolivreegritou:–ESTUP...– ESTUPEFAÇA! – bradou Hermione, que acabara de alcançá-los. A luz da varinha atingiu o
ComensaldaMortenomeiodopeito:eleseimobilizou,obraçoaindaerguido,suavarinhacaiunochão comestrépito e eledesaboupara trásna direçãodovidro em formade sino;Harry esperououvirumapancada,ohomembaternovidrosólidoeescorregarparaochão,mas,emvezdisso,suacabeçaafundouparadentrodovidrocomoseeste fosseapenasumabolhade sabão,eeleacabouparando, esparramado de costas sobre a mesa, com a cabeça dentro do vidro cheio de ventocintilante.–Acciovarinha!–ordenouHermione.AvarinhadeHarryvooudeumcantoescuroparaamãode
Hermione,queaatirouparaele.–Obrigado.Certo,vamosdarofora...–Cuidado!–disseNeville,horrorizado.OlhavafixamenteparaacabeçadoComensaldaMorteno
vidro.Ostrêsergueramasvarinhas,masnenhumdelesausou:olhavamboquiabertos,estarrecidospara
oqueestavaacontecendocomacabeçadohomem.Estava encolhendo rapidamente, ficando cada vezmais pelada, os cabelos e a barba raspada se
retraindoparadentrodocrânio;asbochechasficandolisas,acabeçaredondarecobrindo-sedeumapenugemcomoadopêssego...Havia agora uma cabeça de bebê encaixada grotescamente no pescoço grosso e musculoso do
ComensaldaMorte,queseesforçavaparase levantar;masenquantoosgarotosolhavam,debocaaberta, a cabeça começou a retomar as proporções anteriores; cabelos negros e espessosrecomeçaramacresceremseucocurutoequeixo...–ÉoTempo–disseHermionecomassombronavoz.–OTempo...O Comensal da Morte sacudiu a cabeça feia mais uma vez, tentando clareá-la, mas, antes que
pudesseserecuperar,elarecomeçouaencolhereremoçarmaisumavez...Ouviram,então,umgritodeumasalapróxima,umestrondoeumberro.–RONY?–bradouHarry,dandoascostasdepressaàmonstruosatransformaçãoqueseoperava
diantedeseusolhos.–GINA?LUNA?–Harry!–gritouHermione.O Comensal da Morte puxara a cabeça de dentro do vidro. Sua aparência era absolutamente
bizarra, aminúscula cabeça de bebê berrando e os braços grossos se agitando perigosamente emtodasasdireções,porpouconãoacertandoHarryqueseabaixara.Ogarotoergueuavarinhamas,paraseuespanto,Hermionesegurouoseubraço.–Vocênãopodemachucarumbebê!Não havia tempo para discutir a questão; Harry ouviu passos cada vez mais fortes na Sala da
Profeciaepercebeu,tardedemais,quenãodeveriatergritado,poisdenunciarasuaposição.–Vamos!–dissee,deixandooComensaldaMorteacambalearcomsuafeiacabeçadebebê,os
garotoscorreramparaaportaqueestavaabertanaoutraextremidadedasalaequeosreconduziriadevoltaàsalaescura.TinhamcobertometadedadistânciaquandoHarryviupelaportaabertamaisdoisComensaisda
Mortecorrendopelasalaescuraemsuadireção;virandoàesquerda,eleembarafustouparadentrodeumpequenoescritórioescuroecheiodemóveis,ebateuaporta.–Collo...–começouHermione,mas,antesquepudessecompletarofeitiço,aportaseescancaroue
osdoisComensaisdaMorteseprecipitaramparadentro.Comumgritodetriunfo,osdoisbradaram:–IMPEDIMENTA!Harry, Hermione e Neville foram derrubados de costas; Neville foi atirado por cima da
escrivaninhaedesapareceudevista;Hermionecolidiucomumaestanteefoiprontamentesoterradapor uma avalanche de pesados livros; a cabeça de Harry bateu contra a parede de pedra atrás,luzinhas espocaram diante de seus olhos e por ummomento ele ficou atordoado e desconcertadodemaisparareagir.– PEGAMOS ELE! – berrou o Comensal da Morte mais próximo de Harry. – EM UM
ESCRITÓRIODOLADO...–Silencio!–exclamouHermione,eavozdohomememudeceu.Elecontinuouafalarpeloburaco
damáscara,masnãosaíasomalgum.Seucompanheirooempurrouparaolado.–PetrificusTotalus!–bradouHarry,quandoosegundoComensaldaMorteergueuavarinha.Seus
braçosepernasse juntarameelecaiudeborconotapeteaopédeHarry,durocomoumapedraeincapazdesemexer.–Muitobom,Ha...MasoComensaldaMortequeHermioneacabaradesilenciar fezumrepentinogestohorizontal
comavarinha;umriscodechamasroxascortouopeitodeHermionedeladoalado.Elasoltouumaexclamaçãomínimacomoalguémsurpresoedesmontounochão,ondepermaneceuimóvel.–HERMIONE!HarrycaiudejoelhosaoseuladoeNevillesearrastourapidamentedebaixodaescrivaninhaem
direçãoàamiga,avarinhaerguidaàfrente.OComensaldaMortedeuumfortechutenacabeçadeNevillequandoeleiasaindo–seupépartiuavarinhadogarotoemdoiseatingiuseurosto.Nevillesoltouumuivodedoreseencolheu,agarrandoonarizeaboca.Harryseviroucomavarinhanoalto,eviuqueoComensaldaMortearrancaraamáscaraeapontavaavarinhadiretamenteparaele,reconhecendo o rosto comprido, pálido e torto que vira no Profeta Diário: Antônio Dolohov, obruxoqueassassinaraosPrewett.Dolohov sorriu.Comamão livre, apontoudaprofecia ainda seguranamãodeHarry, para ele
próprio, depois para Hermione. Embora não pudesse mais falar, seu gesto não poderia ser maisclaro.Meentregueaprofeciaouvocêvaificarigualaela...–Comosevocênãofossenosmatardequalquerjeitonomomentoemqueeuaentregar!–disse
Harry.Umzumbidodepânicoemsuacabeçaoimpediadepensardireito:tinhaumadasmãosnoombro
deHermione,queaindaestavaquente,masnãoousavaolhá-ladireito.Façacomqueelanãomorra,façacomqueelanãomorra,éminhaculpasetivermorrido...–Façaoquefizer,Harry–disseNevillecomferocidadedebaixodamesa,baixandoasmãospara
mostrar o nariz visivelmente quebrado e o sangue escorrendo da boca e do queixo –, mas nãoentregue.Ouviu-seentãoumestrondodo ladode foradaportaeDolohovolhouporcimadoombro–o
Comensal daMorte de cabeçadebebê apareceunoportal, a cabeçaberrando, os enormespunhosaindaseagitandoaesmoparatudoaoseuredor.Harryaproveitouaoportunidade:–PETRIFICUSTOTALUS!OfeitiçoatingiuDolohovantesqueelepudessebloqueá-lo,eobruxo tombouparaa frentepor
cimadoseucompanheiro,osdoisrígidoscomotábuaseincapazesdesemover.–Hermione–disseHarryimediatamente,sacudindoacabeçadelaenquantooComensaldaMorte
decabeçadebebêsumiaoutravezdevista.–Hermione,acorde...–Guefoigueelefezcomela?–perguntouNevillesaindodebaixodaescrivaninhaeseajoelhando
dooutrolado,osangueescorrendosemparardonarizqueinchavarapidamente.–Nãosei...NevilleprocurouopulsodeHermione.–Dembulsação,Harry,denhocerdezagueé.UmaondatãograndedealívioinvadiuHarryqueporummomentoelesedespreocupou.–Elaestáviva?–Dá,achoquedá.Houve uma pausa em que Harry procurou escutar a aproximação de mais passos, mas só
conseguiuidentificaroberreiroeosdesencontrosdoComensaldaMortedecabeçadebebênasalavizinha.–Neville,nãoestamoslongedasaída–sussurrouHarry–,estamosbemdoladodasalacircular...
sepudermosatravessá-laedescobriraportacertaantesqueoutrosComensaisdaMorteapareçam,apostocomovocêpodecarregarHermionepelocorredore tomaroelevador...depoisvocêpodia
procuraralguém...daroalarme...–E gue é gue você vai fazer? – perguntou Neville, enxugando o nariz sangrento na manga e
franzindoatestaparaHarry.–Tenhodeprocurarosoutros.–Endão,voubrocurarcomvocê–disseNevillecomfirmeza.–MasHermione...–Levamoscomagente–contrapôsNeville,decidido.–CaeegoHermione...vocêludamelhorgom
elesgueeu...Eleficouempéesegurouumbraçodagarota,olhandoparaHarry,quehesitou,entãoagarrouo
outrobraçoeajudouaguindarocorpoinertedeHermioneparaosombrosdeNeville.–Espere–disseHarry,apanhandoavarinhadeHermionedochãoeenfiando-anamãodogaroto
–,émelhorlevarisso.Neville chutou para o lado os pedaços da própria varinha ao saírem andando lentamente em
direçãoàporta.–Minhaavó vaimemadar – disse ele com a voz pastosa, o sangue saltando do nariz enquanto
falava–,aguelaeeaavarinhavelhadomeubai.Harrymeteuacabeçaparaforadaportaeolhouparaos ladoscauteloso.OComensaldaMorte
comcabeçadebebêestavagritandoebatendonascoisas,derrubandorelógiosdepênduloevirandoescrivaninhas, chorando confuso, enquanto o armário com portas de vidro, que Harry agorasuspeitavaconterViratempos,continuavaacair,seespatifareserestaurarnaparedeàscostas.–Elenuncavairepararnagente–sussurrouHarry.–Vamos...fiquelogoatrásdemim...Elessaíramfurtivamentedoescritórioemdireçãoàsalanegra,queagorapareciacompletamente
deserta. Avançaram alguns passos, Neville cambaleando ligeiramente sob o peso de Hermione; aportaparaaSaladoTemposefechouquandopassaram,easparedesrecomeçaramagirar.ArecentepancadanacabeçadeHarrypareceutê-lodesequilibrado;eleapertouosolhos,oscilouumpouco,atéasparedespararemderodar.Comdesânimo,eleviuqueascruzesdefogoqueHermionefizeranasportastinhamseapagado.–Entãoparaqueladovocêcal...?Masantesqueelepudessedecidirquantoaocaminhoaexperimentar,umaportaseescancarouà
suadireitaetrêspessoasdespencaramporela.–Rony!–exclamouHarryrouco,correndoparaosamigos.–Gina...vocêestá...?–Harry–disseRonyrindofrouxamente,seatirandoparaafrente,agarrandoasvestesdeHarrye
fixandoneleosolhosdesfocados–,ah,aquiestávocê...hahaha...estácomacaraengraçadaHarry...estátodoamarrotado...O rosto de Rony estava muito pálido e uma coisa escura escorria do canto de sua boca. No
momentoseguinte,seusjoelhoscederam,maselecontinuouagarradoàsvestesdeHarry,fazendo-oseinclinarnumaespéciedereverência.–Gina?–disseHarry,receoso.–Queaconteceu?Mas Gina sacudiu a cabeça e escorregou pela parede até se sentar, ofegando e segurando o
tornozelo.– Acho que ela quebrou o tornozelo... ouvi alguma coisa rachando – sussurrou Luna, que se
curvavaparaagarotaeeraaúnicaquepareciainteira.–Quatrodelesnosperseguiramporumasalaescura cheia de planetas; era um lugar muito esquisito, parte do tempo ficamos só flutuando noescuro...–Harry, vimosUrano de perto! – disseRony, ainda dando risadinhas frouxas. – Sacou,Harry?
VimosUrano...hahaha...UmabolhadesangueapareceunocantodabocadeRonyeestourou.
–...então,umdelesagarrouopédeGina,euuseioFeitiçoRedutoreexplodiPlutãonacaradele,mas...Luna fez um gesto desanimado para Gina, que respirava superficialmente, seus olhos ainda
fechados.–EoRony?–perguntouHarry, receoso,poisogarotocontinuavaarir,aindaagarradoàssuas
vestes.–Nãoseicomqueoacertaram–respondeuLuna,triste–,masficoumeioesquisito,malconsegui
fazê-lonosacompanhar.–Harry–disseRonypuxandooouvidodoamigoparapertodesuaboca,econtinuandoarir–,
sabequeméessagarota,Harry?ElaéaDi-lua...Di-luaLovegood...hahaha...–Temosdesairdaqui–disseHarrycomfirmeza.–Luna,vocêpodeajudaraGina?–Claro–respondeuela,enfiandoavarinhaatrásdaorelhaparaguardá-la,epassandoobraçopela
cinturadaamigaparalevantá-la.– É só omeu tornozelo, posso fazer isso sozinha! – disseGina, impaciente,mas nomomento
seguintedesabouparaoladoeagarrouLunaparaseapoiar.HarrypuxouobraçodeRonyporcimado ombro como fizera tantos meses antes quando carregara Duda. Olhou ao redor: tinham umachanceemdozedeescolheraportacertadeprimeira...ElecarregouRonyemdireçãoaumaporta;estavaapoucospassosquandooutra,doladooposto
da sala, se escancarou, e três Comensais da Morte entraram correndo, liderados por BelatrizLestrange.–Elesestãoaqui!–gritouela.FeitiçosEstuporantescortaramvelozmenteasala:Harryadentrouaportaemfrente,atirouRony
semcerimônianochãoevoltouabaixadoparaajudarNevillecomHermione;passaramtodospelaportaemtempodebatê-lanacaradeBelatriz.–Colloportus!–gritouHarry,eouviutrêscorposbateremcontraaportadooutrolado.–Não fazmal! – disse uma vozmasculina. –Há outrasmaneiras de entrar:ACHAMOSELES,
ESTÃOAQUI!Harrysevirou;estavamdenovonaSaladoCérebroe, realmente,haviaportasa todavolta.Ele
ouviu passos na sala anterior quando mais Comensais da Morte acorreram para se juntar aosprimeiros.–Luna...Neville...meajudem!Ostrêscorrerampelasala,selandoasportas;Harrybateucontraumamesaerolouporcimadela
napressadechegaràportaseguinte.–Colloportus!Haviapassoscorrendoatrásdasportas,devezemquandooutrocorpopesadoseatiravacontra
elas, fazendo-as ranger e estremecer; Luna e Neville enfeitiçavam as portas ao longo da paredeoposta–então,aoatingirHarryofundodasala,ouviuLunaexclamar:–Collo...aaaaaaaaah!...Virou-seemtempodevê-lavoarpeloar;cincoComensaisdaMorte invadiamasalapelaporta
que ela não conseguira alcançar em tempo;Luna bateu emuma escrivaninha, escorregou por suasuperfícieecaiu,estatelada,nochãodooutrolado,maisimóvelqueHermione.–PegueoPotter!–gritouBelatrizcorrendoparaogaroto;elesedesviouecorreuparaooutro
ladodasala;estavaseguroenquantoachassemquepoderiamatingiraprofecia...–Ei!–disseRony,quesepuseraempécambaleando,eagoravinhacomoumbêbadoemdireçãoa
Harry,dandorisadinhas.–Ei,Harry,temcérebrosaqui,hahaha,nãoéesquisito,Harry?–Rony,saiadocaminho,seabaixe...MasRonyjáapontaraavarinhaparaotanque.
–Sério,Harry,sãocérebros...olhe...Acciocérebro!Acenapareceu congelar por ummomento.Harry,Gina eNeville e cadaumdosComensais da
Morteseviraraminvoluntariamenteparaolharoaltodotanquenahoraemqueumcérebrosaltoudolíquidoverdecomoumpeixeparaforadaágua:poruminstanteelepareceususpensonoar,entãovoouemdireçãoaRony,girando,ealgoque lembravafitasde imagensanimadasfoisaindodele,desenrolandocomoumrolodefilme...– Ha ha ha, Harry, olhe só isso – disse Rony, observando o cérebro expelir suas entranhas
coloridas.–Harry,vem,peganele;apostocomoéestranho...–RONY,NÃO!HarrynãosabiaoquepodiaacontecerseRonytocassenostentáculosqueagoravoavamnaesteira
docérebro,mastinhacertezadequenãoserianadabom.Elecorreu,masRonyjáagarraraocérebronasmãosestendidas.Nomomentoemqueentraramemcontatocomsuapele,ostentáculoscomeçaramaseenrolarem
tornodosbraçosdeRonycomocordas.–Harry,olhesóoqueacontece...Não...não...nãogostodisso...não,parem...parem...Masasfitasfinasgiravamagoraemtornodopeitodogaroto;elepuxouetentouarrancá-lasao
mesmotempoqueocérebrofoiapertadocontraRonycomoumcorpodepolvo.–Diffindo!–berrouHarry, tentandocortaros tentáculosqueseenroscavamemseuamigobem
diantedeseusolhos,maselesnãosepartiam.Ronytombou,aindalutandocontraasamarras.–Harry,océrebrovaisufocá-lo!–berrouGina, imobilizadanochãopelotornozeloquebrado...
entãoumjorrodeluzvermelhavooudavarinhadeumComensaldaMorteeaatingiuemcheionorosto.Elaadernouparaumladoecaiualiinconsciente.–ESDUBEVAÇA!–gritouNeville,rodandoocorpoeacenandoavarinhadeHermionecontraos
ComensaisdaMorteatacantes–,ESDUBEVAÇA,ESDUBEVAÇA!Masnadaaconteceu.Um dos Comensais disparou seu próprio Feitiço Estuporante contra Neville; errou por
centímetros.HarryeNevilleeramosúnicosquerestavamnalutacontraosComensaisdaMorte,doisdos quais lançaram jorros de luz prateada como flechas que não atingiram o alvo,mas deixaramcrateras na parede atrás deles. Harry fugiu, mas Belatriz correu atrás dele: segurando a profeciaacimadacabeça,elecorreuparaooutroladodasala;aúnicacoisaquelheocorriafazereraafastarosComensaisdaMorteunsdosoutros.Aparentemente deu resultado; eles o perseguiram,mandando cadeiras emesas pelo ar,masnão
ousaramenfeitiçá-locomreceiodedanificaraprofecia,eeleseprecipitouparaaúnicaportaaindaaberta,aquelaporondeosComensaisdaMortehaviamentrado;noíntimo,rezavaparaqueNevilleficassecomRonyeencontrassealgummeiodelibertá-lo.Elecorreualgunspassospelanovasalaesentiuochãosumir...Estavacaindopelosdegrausdepedra,umaum,quicandoemcadanível,atéque,finalmente,com
umapancadaquelhe tirouofôlego,aterrissouchapadodecostasnopoçoemquehaviaoarcodepedrasobreoestrado.AsalatodaecoavacomasrisadasdosComensaisdaMorte:eleolhouparaoaltoeviuoscincoqueestavamnaSaladoCérebrodesceremsuadireção,enquantooutros tantossurgiam pelas outras portas e começavam a saltar de nível em nível para alcançá-lo. Harry selevantou,emboracomaspernastãotrêmulasquemalconseguiamsustentá-lo:aprofeciacontinuavamilagrosamente inteiraemsuamãoesquerda,avarinhaapertadacomforçanadireita.Ele recuou,olhandoparaoslados,tentandomantertodososComensaisdaMortenoseucampodevisão.Apartedetrásdesuaspernasbateuemalgumacoisasólida:elechegaraaoestradoondeseerguiaoarco.Subiu-odecostas.TodososComensaisdaMortepararamcomosolhos fixosemHarry.Algunsarquejavam tanto
quantoogaroto.Umsangravabastante;Dolohov, livredoFeitiçodoCorpoPreso, tinhaumolharmaliciosoeapontavaavarinhadiretoparaorostodeHarry.–Potter,terminouasuacorrida–disseavozarrastadadeLúcioMalfoy,tirandoocapuz–,agora
meentregueaprofeciacomoumbommenino.–Mande...mandeosoutrosemboraeaentregareiaosenhor!–disseHarry,desesperado.AlgunsComensaisdaMortesoltaramrisadas.– Você não está em posição de barganhar, Potter – disse o bruxo, seu rosto pálido corado de
prazer.–Comovê,hádezdenóscontravocêsozinho...ouseráqueDumbledorenuncalheensinouacontar?–Elenãoesdásozinho!–gritouumavozdoalto.–Aindademamim!Harrysentiuumapertonocoração:Nevilleestavadescendoosdegrausdepedraemdireçãoaeles,
avarinhadeHermioneapertadanamãotrêmula.–Neville...não...volteparaoRony.–ESDUBEVAÇA!–gritouNevilleoutravez,apontandoavarinhaparacadaumdosComensaisda
Morte.–ESDUBE!ESDUB...UmdosComensaismaiscorpulentosagarrouNevilleportráseprendeuseusbraçosdosladosdo
corpo.Ogarotosedebateuechutou;váriosComensaisdaMorteriram.–ÉoLongbottom,nãoé?–perguntouLúcioMalfoydesdenhoso.–Bom,suaavóestáacostumada
aperdermembrosdafamíliaparaanossacausa...suamortenãoseránenhumchoque...–Longbottom?–repetiuBelatriz,eumsorrisorealmentemalignoiluminouoseurostoossudo.–
Ora,tiveoprazerdeconhecerseuspais,garoto.–SEIQUEDEVE!–urrouNeville,esedebateucomtantaforçacontraoabraçodoseucaptorque
oComensalexclamou:–Alguémquerestuporarestegaroto?!–Não,não,não–pediuBelatriz.Elapareciaarrebatada,vivadeexcitaçãoaoolharparaHarrye
depoisparaNeville.–Não,vamosverquantotempoLongbottomresisteantesdeenlouquecercomoospais...anãoserquePotternosentregueaprofecia.–NÃODÊAELES!–bradouNeville,queparecia foradesi,chutandoesecontorcendoaover
Belatrizseaproximardeleedeseucaptor,comavarinhaerguida.–NÃODÊAELES,HARRY!Belatrizergueuavarinha.–Crucio!Nevillegritou,aspernaserguidascontraopeitodemodoqueoComensaldaMortequeoprendia
segurou-omomentaneamenteforadochão.Ohomemlargou-oeelecaiu,setorcendoegritandoemtormento.–Foisóumaperitivo!–exclamouBelatriz,erguendoavarinhaeassiminterrompendoosgritos
deNeville,deixando-osoluçanteaseuspés.ElaseviroueolhouparaHarry.–Agora,Potter,ounosentregaaprofeciaouvaiveroseuamiguinhomorrersofrendo!Harry não precisou pensar; não tinha opção. A profecia se aquecera com o calor de sua mão
quandoaestendeu.Malfoyseadiantoudepressapararecebê-la.Então,noalto,maisduasportasseescancararamemaiscincopessoasentraramcorrendonasala:
Sirius,Lupin,Moody,TonkseQuim.Malfoy seviroueergueuavarinha,masTonks jádispararaumFeitiçoEstuporantenele.Harry
nãoesperouparaverseobruxoforaatingido,mergulhouparalongedoestradoedosdisparos.OsComensais daMorte foram completamente distraídos pela aparição dosmembros daOrdem, queagorafaziamchoverfeitiçossobreosadversáriosenquantosaltavamdegraupordegrauemdireçãoao poço.Através dos corpos que voavam e dos lampejos,Harry viuNeville se arrastando.Ele sedesvioudemaisumjatodeluzvermelhaeseatiroudecorpointeironochãoparaalcançaroamigo.
–Vocêestáo.k.?–berrou,quandovooumaisumfeitiçoacentímetrosdesuascabeças.–Dou–disseNevilletentandoselevantar.–ERony?–Achogueesdábem...aindaesdavaludandocomocérebroguandovim...Opisodepedraentreosdoisexplodiuaoseratingidoporumfeitiçoqueproduziuumacratera
ondeamãodeNevilleestiverasegundosantes;osdoissaíramdepressadali,entãoumbraçogrossosematerializoueagarrouHarrypelopescoço,pondo-odepédetalmodoqueseuspésmaltocavamochão.–Medêisso–rosnouumavozemsuaorelha–,medêaprofecia...O homem apertava tanto sua traqueia que Harry não conseguia respirar. Através dos olhos
marejados de lágrimas, ele viu Sirius duelando comumComensal daMorte a uns trêsmetros dedistância, Quim lutava com dois aomesmo tempo; Tonks, ainda nametade da descida, disparavafeitiçoscontraBelatriz–ninguémpareciaperceberqueHarryestavamorrendo.Elevirouavarinhaparatrásemdireçãoaoladodocorpodohomem,masnãotevearparaenunciaroencantamento,eamãolivredohomemtentoualcançaramãoemqueogarotoseguravaaprofecia...–ARRR!Neville se precipitara de algum lugar; incapaz de articular um feitiço, enfiou a varinha de
Hermione na fenda da máscara do Comensal da Morte. O homem largou Harry imediatamente,soltandoumuivodedor.Harrysevirouparaenfrentá-loeexclamou:–ESTUPEFAÇA!OComensal daMorte tombou de costas e suamáscara caiu: eraMacnair, o quase carrasco de
Bicuço,umdosseusolhosagorainchadoeinjetado.–Obrigado! – disseHarry aNeville, puxando-o para o lado, nomomento emqueSirius e seu
ComensaldaMortepassaramporeles,duelandocom tanta ferocidadeque suasvarinhaspareciamborrões; então, o pé de Harry bateu em alguma coisa redonda e dura e ele escorregou. Por ummomento,pensouquetivessedeixadocairaprofecia,entãoviuoolhodeMoodyrolandopelochão.Seudonoestavadeitadode lado, a cabeça sangrando, eoatacanteagora avançavaparaHarrye
Neville:Dolohov,seurostopálidoecompridotorcidodeprazer.– Tarantallegra! – gritou ele, a varinha apontada para Neville, cujas pernas iniciaram
imediatamenteumsapateadofrenético,queodesequilibroueofezcairdenovonochão.–Agora,Potter...ElefezomesmomovimentocortantecomavarinhaqueusaracontraHermionenahoraemque
Harryberrou:–Protego!Ogarotosentiualgumacoisacorrerdeumladoaoutrodeseurostocomoumafacacega;aforça
dogolpederrubou-oparaoladoeelecaiuemcimadaspernasdançantesdeNeville,masoFeitiçoEscudoimpediraofeitiçodesecompletar.Dolohovtornouaergueravarinha.–Accioprof...!Siriusseprecipitaradealgumlugar,bateraemDolohovcomoombrofazendo-ovoarparalonge.
AprofeciamaisumavezescorregaraparaaspontasdosdedosdeHarry,maseleconseguiuretê-la.AgoraSiriuseDolohovduelavam,suasvarinhascortandooarcomoespadas,faíscasvoandodesuaspontas.Dolohov puxou a varinha para fazer o mesmo movimento cortante que usara contra Harry e
Hermione.Pondo-seempédeumsalto,Harryberrou:–PetrificusTotalus! –Maisumavez,osbraçosepernasdeDolohovse juntarameeleadernou
paratrás,caindocomestrondo.
– Boa! – gritou Sirius, empurrando a cabeça de Harry para baixo quando uns dois FeitiçosEstuporantesvoaramemdireçãoaeles.–Agoraqueroquevocêssaiamd...Osdois tornaramaseabaixar;umjatode luzverdequaseatingiuSirius.Dooutro ladodasala,
HarryviuTonkscairnasubidadosdegraus,seucorpoinerteroloudedegrauemdegraueBelatriz,triunfante,voltarcorrendoparaabriga.–Harry,leveaprofecia,agarreNevilleecorra!–berrouSirius,correndoaoencontrodeBelatriz.
Harry não viu o que aconteceu a seguir:Quimpassou pelo seu campo de visão, lutando contra obexiguentoRookwood, já sem capuz; outro jato de luz verde voou por cima da cabeça deHarryquandoeleseatirouemdireçãoaNeville...– Você consegue ficar em pé? – berrou no ouvido do garoto, enquanto as pernas de Neville
sacudiametorciamdescontroladas.–Apoieobraçonomeupescoço...Neville obedeceu–Harry arquejou–, as pernas do amigo continuavama sacudir para todosos
lados, não o sustentariam, e então, sem que vissem, um homem se atirou sobre eles: os doistombaram de costas. As pernas de Neville se agitavam sem direção como as de um besouro debarrigaparacima,Harrycomobraçoesquerdoerguidonoartentavaimpedirqueabolinhadevidrosequebrasse.–Aprofecia,medêaprofecia,Potter!–vociferouMalfoyemseuouvido,eHarrysentiuaponta
deumavarinhacutucá-locomforçanascostelas.–Não...me...largue...Neville...apanha!Harryatirouaprofeciapelochão,ogaroto seviroupara ficardecostaseaparouabolinhano
peito.Malfoy,então,apontouavarinhaparaNeville,masHarryespetouaprópriavarinhaporcimadoombroeberrou:–Impedimenta!Malfoy voou para longe. Quando Harry conseguiu se levantar, olhou ao redor e viu o bruxo
colidircomoestradoemqueSiriuseBelatrizagoraduelavam.MalfoytornouaapontaravarinhaparaHarryeNeville,mas,antesquepudessetomararparaatacar,Lupinpulouentreeles.–Harry,reúnaosoutroseVÁ!Harry agarrouNeville pelos ombros das vestes e o ergueu até o primeiro degrau de pedra; as
pernasdogarotosetorciamesacudiam,enãosuportavamseupeso;Harrytornouaerguê-locomtodasasforçasquetinhaesubirammaisumdegrau...UmfeitiçoatingiuodegraudepedrajuntoaocalcanhardeHarry;odegraudesmoronoueelecaiu
nodegrauabaixo.Nevilleafundounochão,aspernasaindaentortandoeseagitando,eeleenfiouaprofecianobolso.– Vamos! – disse Harry, desesperado, puxando Neville pelas vestes. – Tente empurrar com as
pernas...EledeumaisumpuxãodescomunaleasvestesdeNevilleserasgaramaolongodacosturalateral
–abolinhadevidrocaiudoseubolsoe,antesqueumdosdoispudessepegá-la,opédescontroladodeNevilleachutou:abolinhavoouuns trêsmetrosparaadireitaeseespatifounodegrauabaixo.Quandoosdoisolharamparaolugaremqueelasequebrara,aterradoscomoacontecido,umvultobranco-péroladeolhosenormementeaumentadosseergueunoar,semninguémreparar.Harryviuabocadovultosemover,mascomtodasascolisõesegritoseberrosqueosrodeavam,
nãoconseguiuouvirumasópalavradaprofecia.Ovultoparoudefalareseevaporou.–Harry, sindomuido! – exclamouNeville, seu rosto aflito e as pernas ainda se contorcendo. –
Sindo,Harrynãodiveindençãode...–Nãofazmal!–gritouHarry.–Tenteficarempé,vamosdarofora...–Dubbledore!–disseNeville,seurostosuarentosubitamentearrebatadofixandoalgumacoisapor
cimadoombrodeHarry.
–Quê!–DUBBLEDORE!HarrysevirouparaveroqueNevilleolhava.Diretamentenoalto,emolduradopelaportadaSala
doCérebro,achava-seAlvoDumbledore,avarinhanoar,seurostopálidoeenfurecido.Harrysentiuumaespéciedechoqueelétricoemcadapartículadoseucorpo–estavamsalvos.DumbledoredesceudepressaosdegrauspassandoporNevilleeHarry,quenãopensavamaisemir
embora. Dumbledore já estava ao pé dos degraus quando o Comensal da Morte mais próximopercebeusuapresençaeberrouparaosoutros.UmdosComensaisdaMortecorreuomaisquepôde,trepando como ummacaco pelos degraus de pedra do lado oposto. Um feitiço deDumbledore otrouxedevoltacomamaiorfacilidade,comoseotivessefisgadocomumalinhainvisível...Somenteumparcontinuavaalutar,aparentementesemnotarorecém-chegado.HarryviuSiriusse
desviardeumraiovermelhodeBelatriz:riadela.–Vamos,vocêsabefazermelhorqueisso!–berrouele,suavozecoandopelasalacavernosa.Osegundojatodeluzoatingiubemnopeito.Orisoaindanãodesapareceradoseurosto,masseusolhossearregalaramdechoque.HarrysoltouNeville,emboranemtivesseconsciênciadoquefazia.Estavanovamentedescendoos
degrausaossaltos,puxandoavarinha,aomesmotempoqueDumbledoretambémsevoltavaparaoestradoSirius pareceu levar uma eternidade para cair: seu corpo descreveu um arco gracioso e ele
mergulhoudecostasnovéuesfarrapadoquependiadoarco.Harryviuaexpressãodemedoe surpresano rostodevastadoeoutrorabonitodoseupadrinho
quandoeleatravessouoarcoedesapareceualémdovéu,queesvoaçouporummomentocomosesopradoporumventoforte,depoisretomouaposiçãoinicial.HarryouviuogritotriunfantedeBelatrizLestrange,massabiaquenãosignificavanada–Sirius
simplesmenteatravessaraoarco,reapareceriadooutroladoaqualquersegundo...MasSiriusnãoreapareceu.–SIRIUS!–berrouHarry.–SIRIUS!Elealcançaraopoço,suarespiraçãoofeganteedolorosa.Siriusdeviaestarlogoalémdovéu,ele,
Harry,opuxariadevolta...Masquandochegouaopoçoesaltouparaoestrado,Lupinoagarroupelopeito,detendo-o.–Nãohánadaquevocêpossafazer,Harry...–Apanhá-lo,salvá-lo,elesóatravessouovéu!–...étardedemais,Harry.–Aindapodemosalcançá-lo...–Harrylutoucomforçaeviolência,masLupinnãoolargou.–Nãohánadaquevocêpossafazer,Harry...nada...elesefoi.
—CAPÍTULOTRINTAESEIS—Oúnicoaquemeletemeunavida
–Nãosefoi,não!–bradouHarry.Elenãoacreditava;nãoqueriaacreditar;continuavaalutarcontraLupincomtodasassuasforças.
Lupin não entendia; as pessoas se escondiam atrás daquele véu; Harry os ouvira sussurrando naprimeira vez que entrara na sala; Sirius estava se escondendo, simplesmente emboscado fora devista...–SIRIUS!–berrou.–SIRIUS!–Elenãopodevoltar,Harry–disseLupin,avozembargandoenquantoseesforçavaparaconter
Harry.–Elenãopodevoltarporqueestám...–ELE...NÃO...ESTÁ...MORTO!–bradouHarry.–SIRIUS!Haviamovimentoemvoltadeles, alvoroço inútil, lampejosde feitiços.ParaHarry, eram ruídos
semsignificação, os feitiços comas trajetórias desviadasquepassavampor eles não importavam,nada importavaexcetoqueLupinprecisavaparardefingirqueSirius–queestavaaalgunspassosdeles atrás daquela cortina velha – não ia reaparecer a qualquermomento, sacudindo para trás oscabelosnegroseansiosopararetornaràluta.LupinpuxouHarryparalongedoestrado.Ogaroto,aindaolhandofixamenteparaoarco,estava
zangadocomSirius,agora,pordeixá-loesperando...Masumapartedelecompreendia,mesmoenquantolutavaparasedesvencilhardeLupin,queSirius
nuncaodeixaraesperandoantes...SemprearriscaratudoparaverHarry,paraajudá-lo...senãosaíadoarcoquandogritavaporelecomosesuavidadependessedisso,aúnicaexplicaçãopossíveleraquenãopodiavoltar...eraquerealmenteestava...DumbledorereuniraamaioriadosComensaisdaMorterestantesnomeiodasala,aparentemente
imobilizadosporcordasinvisíveis;Olho-TontosearrastarapelasalaatéondeTonkscaíraetentavareanimá-la;atrásdoestrado,aindahaviaclarõesmomentâneos,grunhidosegritos–QuimavançaracorrendoparacontinuaroduelodeSiriuscomBelatriz.–Harry?Nevilledeslizarapelosdegraus,umaum,atéondeeleseencontrava.Harrypararadelutarcom
Lupin,quecontinuavaasegurarseubraçoporprecaução.– Harry... Sindo muido... – disse Neville. Suas pernas prosseguiam dançando descontroladas. –
Aguelehomem...SiriusBlagg...eraseu...seuamigo?Harryconfirmoucomacabeça.–Aqui – disse Lupin baixinho, e apontando a varinha para as pernas deNeville: –Finite. – O
feitiçosedesfez:aspernasdeNevillevoltaramaochãoepararam.OrostodeLupinestavapálido.–Vamos...vamosprocurarosoutros.Ondeéqueelesestão,Neville?Lupinseafastoudoarcoenquantofalava.Pareciaquecadapalavralhecausavador.– Esdão lá em cima. Um cérebro adagou Rony mas acho gue ele esdá bem... e Hermione
desacordada,massendimosumpulso...Ouviu-se um forte estampido e um berro vindo de trás do estrado.Harry viuQuim tombar no
chão,berrandodedor:BelatrizLestrangedeumeia-voltaefugiucorrendo,eDumbledoresevirou
depressa. Ele atirou um feitiço contra ela, mas Belatriz o desviou; agora estava na metade daescadaria...–Harry...não!–exclamouLupin,masogarotojásedesvencilharadeseuapertojáfrouxo.–ELAMATOUSIRIUS!–bradouHarry.–ELAOMATOU...ELAOMATOU!Eogarotosaiucorrendo,subindoosdegraus;aspessoasgritavamparaele,masHarrynãodeu
atenção.AbarradasvestesdeBelatrizdesapareceuàfrente,eelesestavamnovamentenasalaemqueoscérebrosflutuavam...Ela lançouumfeitiçoporcimadoombro.O tanqueseergueunoarevirou.Harry recebeuum
dilúviodelíquidomalcheiroso:oscérebrossedesprenderameescorregaramporcimadele,girandoos longos tentáculos coloridos,mas ele gritou “Wingardium Leviosa!” e eles voaram para longe.Tropeçandoeescorregando,Harrycorreuparaaporta;saltouporcimadeLuna,quegemianochão,passou porGina, que exclamou “Harry... quê?”, por Rony, que ria bobamente, eHermione, aindainconsciente.AbriucomviolênciaaportaparaasalapretacirculareviuBelatrizdesaparecendoporumaportadoladooposto;paraalémficavaocorredorparaoselevadores.Elecorreu,masabruxabateraaportaaopassareasparedesjáestavamgirando.Maisumavez,ele
foirodeadopelosriscosdeluzazulproduzidospeloscandelabrosemmovimento.–Ondeéasaída?–gritoudesesperado,quandoaparedeparoucomumronco.–Porondesesai?Asalapareciaestaresperandoapergunta.Aportaàssuascostasseescancaroueeleviuseestender
àsuafrenteolongocorredordoselevadores,iluminadoporarchotesedeserto.Correu...Ouviuumelevadordescendocomestrépito;disparoupelocorredor,dobrouocantoeesmurrouo
botão para chamar um segundo elevador.O veículo balançava e batia cada vezmais próximo; asgradesseabrirameHarryprecipitou-separadentro,agoraesmurrandoobotãomarcado“Átrio”.Asportassefecharameoelevadorcomeçouasubir...Eleforçouasgradesparasairdoelevadorantesqueelasacabassemdeabrir,eolhouatodavolta.
Belatrizestavaquasechegandoàcabine telefônicanaoutraextremidadedosaguão,maselaolhouparatrásquandoHarrycorreuemsuadireçãoemirououtrofeitiçocontraogaroto.EleseabrigouatrásdaFontedosIrmãosMágicos;ofeitiçopassouvoandoporeleeatingiuasgradesdouradasdooutroladodoÁtrio,fazendo-asretinircomosinos.Nãoseouvirammaispassos.Belatrizpararadecorrer.Eleseagachouatrásdasestátuas,atento.–Saiadaí,saiaHarryzinho!–chamouelaimitandovozdebebê,eseuchamadoecoounosoalho
encerado. – Para que foi que vocême seguiu então? Pensei que estivesse aqui para vingar omeuqueridoprimo!– E estou! – gritouHarry, e um coro deHarrys fantasmagóricos pareceu repetirEstou! Estou!
Estou!portodooaposento.–Aaaaaah...vocêoamava,bebezinhoPotter?Harrysesentiu invadidoporumódioque jamaisconhecera;atirou-sede trásdafonteeberrou:
“Crucio!”Belatriz gritou: o feitiço a derrubara,mas ela não se contorceunemgritou de dor como fizera
Neville – já estava outra vez de pé, ofegante, parara de rir.Harry tornou a se resguardar atrás dafontedourada.Ocontrafeitiçodelaatingiuabelacabeçadobruxo,arrancou-aeprojetou-aamaisdecincometros,produzindolongosarranhõesnosoalho.–NuncausouumaMaldiçãoImperdoávelantes,nãoémenino?–gritouela.Abandonaraavozinha
debebê.–Éprecisoquererusá-las,Potter!Éprecisorealmentequerercausardor,terprazernisso,raivajustificadanãofazdoerpormuitotempo.Voulhemostrarcomosefaz,estábem?Voulhedarumaaula...Harryiacontornandoafontepelooutroladoquandoelabradou“Crucio!”,eelefoiforçadoase
abaixar outra vez na hora em que o braço do centauro, que segurava o arco, saiu rodopiando e
desaboucomestrondonochão,aumacurtadistânciadacabeçadouradadobruxo.–Potter,vocênãopodemevencer!Ele podia ouvi-la se deslocando para a direita, para obter uma visão desimpedida dele. Harry
contornouaestátuaparaseafastardeBelatriz,agachando-seatrásdaspernasdocentauro,acabeçanamesmaalturaqueadoelfodoméstico.– Fui e sou amais leal servidora doLorde dasTrevas.Aprendi com ele asArtes dasTrevas e
conheço feitiços tão fortes com que você, menininho patético, não tem a menor esperança decompetir...–Estupefaça!–berrouHarry.Elecontornaraa fonteatéo lugaremqueoduendesorriaparao
bruxo,agorasemcabeça,eapontaraparaascostasdeBelatrizenquantoelaespiavapelooutroladodafonte.Abruxareagiutãodepressaqueelemaltevetempodeseabaixar.–Protego!Ojatode luzvermelha, seupróprioFeitiçoEstuporante, sevoltoucontraele.Harrycorreuase
protegeratrásdafonteeumadasorelhasdoduendesaiuvoandopelosaguão.–Potter,voulhedarumaúnicachance!–gritouBelatriz.–Meentregueaprofecia, faça-arolar
pelochãonaminhadireção,etalvezeulhepoupeavida!–Bom,vocêvaiterdemematar,porqueelanãoexistemais!–urrouHarrye,aofazerisso,ador
queimousuacicatriz;maisumavezelaardiacomoseestivesseemfogo,eogarotosentiuumímpetode fúria completamente divorciado de sua própria raiva. –E ele já sabe! – disseHarry, comumarisadadesvairadaquese igualavaàdeBelatriz.–SeuvelhoeamadocompanheiroVoldemortsabequenãoexistemais!Elenãovaificarnadasatisfeitocomvocê,vai?–Quê?Queéquevocêquerdizer?–disseela,epelaprimeiravezhaviamedoemsuavoz.–AprofeciasequebrouquandoeuestavatentandosubirosdegrauscomNeville.Então,queéque
vocêachaqueVoldemortvaidizerdisso?Suacicatrizficouembrasaequeimou...adorfezseusolhoslacrimejarem...–MENTIROSO!–gritouBelatriz,maselepercebiaoterrorportrásdaraivaagora.–ESTÁCOM
APROFECIA,POTTER,EVAIMEENTREGÁ-LA!Accioprofecia!ACCIOPROFECIA!Harrysoltououtrarisadaporquesabiaqueissoairritaria,adoraumentavaemsuacabeçacomtal
intensidadequeeleachouqueseucrâniopoderiaestourar.Eleacenouamãovaziaportrásdoduendedeumaorelhasóeretirou-arapidamentequandoBelatriz lançoumaisumjatodeluzverdecontraele.–Não tem nada aqui! – gritou ele. –Nada para convocar! Ela quebrou e ninguémouviu o que
disse,podeinformaraoseuchefe!–Não!–elagritou.–Nãoéverdade,vocêestámentindo!MILORDE,EUTENTEI,EUTENTEI...
NÃOMECASTIGUE...–Não perca seu fôlego! – berrouHarry, os olhos apertados coma dor na cicatriz, agoramais
terrívelquenunca.–Elenãopodeouvirvocêdaqui!–Nãoposso,Potter?–disseumavozagudaefria.Harryabriuosolhos.Alto,magro e encapuzado, suamedonha cara ofídica pálida emagra, seus olhos vermelhos de
pupilasverticaisencarando-o...LordeVoldemortapareceranomeiodosaguão,avarinhaapontadaparaHarry,queficouparalisado,incapazdesemover.–Então,vocêdestruiuminhaprofecia?–perguntouVoldemortmansamente,encarandoHarrycom
aquelesolhoscruéisevermelhos.–Não,Bela,elenãoestámentindo...vejoaverdademeencarandode sua mente inútil... meses de preparação, meses de esforço... e os meus Comensais da MortedeixaramHarryPottermefrustrarmaisumavez...–Milorde,sintomuito,eunãosabia,euestavalutandocomoanimagoBlack!–soluçouBelatriz,
atirando-se aos pés deVoldemort quando ele se aproximou lentamente. –Milorde, o senhor deviasaber...–Fiquequieta,Bela–disseVoldemort,ameaçador.–Cuidareidevocêemummomento.Vocêacha
queentreinoMinistériodaMagiaparaouvirvocêchoramingardesculpas?–Mas,milorde...eleestáaqui...estáláembaixo.Voldemortnãolhedeuatenção.–Nãotenhomaisnadaalhedizer,Potter–falouelecalmamente.–Vocêtemmeaborrecidomuitas
vezes,portempodemais.AVADAKEDAVRA!Harry nem sequer abriu a boca para resistir; sua mente estava vazia, sua varinha apontava
inutilmenteparaochão.Mas a estátua dourada do bruxo, agora sem cabeça, ganhou vida na fonte, saltou do pedestal e
aterrissoucomestrépitonosoalhoentreHarryeVoldemort.Assim,ofeitiçoapenasricocheteounopeitodaestátuaquandoelaabriuosbraçosparaprotegerogaroto.–Quê...?!–exclamouVoldemort,olhandoparaoslados.Eentãosussurrou:–Dumbledore!Harryolhouparatrás,seucoraçãobatendocomviolência.Dumbledoreestavaparadoàfrentedas
gradesdouradas.Voldemortergueuavarinhaeumsegundo jatode luzverdecoriscounoarcontraDumbledore,
quesevirouedesapareceucomumrodopiodacapa...Nosegundoseguinte,elereapareceuatrásdeVoldemorteacenouavarinhaemdireçãoaoquerestaradafonte.Asoutrasestátuasganharamvida.AdabruxacorreuparaBelatriz,quegritouelançoufeitiços,masestesdeslizaraminutilmentepelopeito da estátua, que se atirou sobre a bruxa e a pregou no chão. Entrementes, o duende e o elfodomésticocorreramparaaslareirasaolongodaparedeeocentaurosembraçogalopoudeencontroaVoldemort,quedesapareceue reapareceuao ladoda fonte.AestátuadecapitadaempurrouHarrypara trás, afastando-oda luta, quandoDumbledore avançouparaVoldemort, eo centaurodouradoiniciouummeiogalopeemtornodosdois.–Foiumatoliceviraquihojeànoite,Tom–disseDumbledorecalmamente.–Osauroresestãoa
caminho...–Altura emqueestarei longeevocêmorto!–vociferouVoldemort.Ele lançououtramaldição
letalcontraDumbledore,maserrouoalvoatingindoamesadoguardadesegurança,queincendiou.Dumbledore agitou sua varinha: a força do feitiço que dela emanou foi tal que Harry, embora
escudadoporseuguardadourado,sentiuoscabelosficaremempé,quandooraiopassou,edestavezVoldemort foi forçado a conjurar do nada um reluzente escudode prata para desviá-lo.O feitiço,qualquerquefosse,nãocausounenhumdanovisívelaoescudo,emboraproduzisseumanotagravecomoadeumgongo–umsomestranhamenteenregelante.–Você não está procurandomematar,Dumbledore? – gritouVoldemort, seus olhos vermelhos
apertadosevisíveisporcimadoescudo.–Estáacimadetalbrutalidade?– Ambos sabemos que há outras maneiras de destruir um homem, Tom – disse Dumbledore
calmamente,continuandoaandaremdireçãoaVoldemortcomosenadatemessenomundo,comosenadativesseacontecidoparainterromperoseupasseiopelosaguão.–Admitoquemeramentetirarsuavidanãomesatisfaria...–Nãohánadapiordoqueamorte,Dumbledore!–rosnouVoldemort.– Você está muito enganado – disse Dumbledore, ainda avançando para Voldemort e falando
naturalmentecomoseestivessemdiscutindoaquestãoenquantotomavamumdrinque.Harrysesentiuapavoradoaovê-locaminhar,semdefesa,semescudo;quisdarumgritodealerta,masseuguardadecapitado não parava de empurrá-lo para trás em direção à parede, bloqueando todas as suastentativasdesairde trásdele.–Naverdade,sua incapacidadedecompreenderquehácoisasmuitopioresdoqueamortesemprefoisuamaiorfraqueza...
Mais um jato de luz verde voou de trás do escudo de prata.Desta vez foi o centauro de um sóbraço,galopandonafrentedeDumbledore,quemrecebeuoimpactoesepartiuemmilpedaços,mas,antesmesmoqueosfragmentosbatessemnochão,Dumbledorerecuaraavarinhaeavibraracomosebrandisseumchicote.DesuapontavoouumachamalongaefinaqueseenrolouemVoldemort,comescudoetudo.Porummomento,pareceuqueDumbledorevencera,masentãoacordadefogose transformou em uma serpente, que se desprendeu de Voldemort na mesma hora e se virou,sibilandofuriosamenteparaenfrentarDumbledore.Voldemortdesapareceu;aserpenteseempinounosoalho,prontaparaatacar...Surgiu uma labareda no ar acima de Dumbledore ao mesmo tempo que Voldemort reaparecia
sobreopedestalnomeiodafonte,ondeatérecentementehaviacincoestátuas.–Cuidado!–berrouHarry.Mas,enquantogritava,outrojatodeluzverdevooudavarinhadeVoldemortcontraDumbledoree
aserpentedeuobote...Fawkesmergulhou à frente deDumbledore, abriu o bico e engoliu o jato de luz verde inteiro:
então rompeu em chamas e tombou no chão, pequena, enrugada e incapaz de voar. No mesmoinstante,Dumbledorebrandiuavarinhaemummovimento fluidoe longo–a serpente,queestavaprestesaenterraraspresasnele,vooumuitoaltoedesapareceuemumfiapodefumaçanegra:eaáguanafontesubiuecobriuVoldemortcomoumcasulodevidroderretido.Durantealgunssegundos,Voldemortcontinuouvisívelapenascomoumafiguraondeada,escurae
sem rosto, tremeluzente e difusa sobre o pedestal, tentando visivelmente se livrar da massasufocante...Então desapareceu e a água caiu com estrondo na fonte, extravasando impetuosamente pelas
bordas,encharcandoochãoencerado.–MILORDE!–gritouBelatriz.Comcertezaterminara,comcertezaVoldemortbateraemretirada,Harryfezmençãodecorrerde
trásdesuaestátua-guarda,masDumbledorebradou:–Fiqueondeestá,Harry!Pelaprimeiravez,Dumbledorepareceutemeroso.Harrynãoviaporquê:osaguãoestavavazio,
excetopelosdois, a soluçanteBelatriz aindapresa sobaestátuadabruxa, e a fênix recém-nascidacrocitandodebilmentenochão...Então a cicatriz de Harry estourou e ele sentiu que estavamorto: era uma dor que superava a
imaginação,umadorquesuperavaacapacidadedesofrer...Elefoilevadodosaguão,presonasespiraisdeumacriaturadeolhosvermelhostãoapertadasque
elenãosabiaondeterminavaoseucorpoecomeçavaodacriatura:estavamfundidos,unidospeladorenãohaviasaída...E quando a criatura falou, usou a boca de Harry, fazendo com que, em sua agonia, o garoto
sentisseoqueixomexer.–Memateagora,Dumbledore...Cegoemoribundo,cadapartedoseucorpogritandoporalívio,Harrysentiuacriaturausando-o
maisumavez...–Seamortenãoénada,Dumbledore,mateogaroto...Façaadorpassar,pensouHarry...façaelenosmatar...acabecomisso,Dumbledore...amortenãoé
nadaemcomparação...ErevereiSirius.E o coração de Harry se encheu de emoção, as espirais da criatura se afrouxaram, a dor
desapareceu;eleestavadeitadodeborconochão,semóculos, tremendocomoseestivessedeitadosobregeloenãomadeira...
Ehaviavozesecoandopelosaguão,maisvozesdoquedeveriahaver...Harryabriuosolhos,viuseusóculosjuntoaocalcanhardaestátuasemcabeçaqueoguardava,masqueagoraestavacaídadecostasnochão,rachadae imóvel.Pôsosóculos,ergueuligeiramenteacabeçaedescobriuonariztortodeDumbledoreacentímetrosdodele.–Vocêestábem,Harry?–Estou– disseHarry, tremendo com tanta violência que não conseguiamanter a cabeça empé
direito.–Estou...ondeestáVoldemort,onde...quemsãoesses...queé...OÁtrio estava cheiodegente; o soalho refletia as chamasverde-esmeraldaque explodiramem
todasaslareirasaolongodeumadasparedes;delasemergiamtorrentesdebruxasebruxos.QuandoDumbledoreoajudouaselevantar,Harryviuasminúsculasestatuetasdouradasdoelfodomésticoedoduende,conduzindoumaturdidoCornélioFudge.–Ele estava ali! – gritouumhomemdevestes vermelhas e rabode cavalo, apontandopara um
montededestroçosdouradosdooutroladodosaguão,ondeBelatrizestiverapresamomentosantes.–Euovi,Sr.Fudge,juroqueeraVocê-Sabe-Quem,eleagarrouumamulheredesaparatou!–Eusei,Williamson,eusei,eutambémovi!–balbuciouFudge,queestavausandopijamasoba
capaderiscadegizeofegavacomosetivessecorridoquilômetros.–PelasbarbasdeMerlim...aqui...aqui!...noMinistériodaMagia!...Céus...nãoparecepossível...palavradehonra...comopodeser...?– Se você for ao Departamento de Mistérios, Cornélio – disse Dumbledore, aparentemente
satisfeitodequeHarryestivessebem,eseadiantandoparaqueosrecém-chegadosvissemqueeleseencontravaalipelaprimeiravez (algunsergueramasvarinhas;outrossimplesmente fizeramcarassurpresas;asestátuasdoelfoedoduendeaplaudirameFudgeseassustoutantoqueseuspéscalçadosde chinelos se ergueram do chão) –, você encontrará vários Comensais da Morte fugitivosamarradosnaCâmaradaMorte,porumFeitiçoAntidesaparatação,aguardandosuadecisãosobreodestinoadaraeles.–Dumbledore!–exclamouFudge,semconteroseuespanto.–Você...aqui...eu...eu...Eleolhouagitadoprocurandoos auroresque trouxera, enãopoderia ter ficadomais claroque
estavaindecisosedeveriaordenar:“Prendam-no!”–Cornélio,estouprontoaenfrentarseushomens:evencê-losmaisumavez!–disseDumbledore
comvoztonitruante.–Masháunsminutosvocêviu,comseusprópriosolhos,acomprovaçãodequehá um ano venho lhe dizendo a verdade. Lorde Voldemort retornou, você esteve perseguindo ohomemerradodurantedozemeses,ejáestánahoradeouviravozdarazão!–Eu...não...bom–atropelou-seFudge,olhandoparaoslados,comoseesperassealguémlhedizer
o que fazer. Mas como todos continuaram calados, falou: – Muito bem... Dawlish! Williamson!Desçam ao Departamento de Mistérios e vejam... Dumbledore, você... você terá de me contarexatamente... a Fonte dos Irmãos Mágicos... que aconteceu? – acrescentou lamurioso, correndo oolharpelochão,ondeestavamespalhadososrestosdasestátuasdabruxa,dobruxoedocentauro.–PodemosdiscutirissodepoisdeeumandarHarrydevoltaaHogwarts–disseDumbledore.–Harry...HarryPotter?Fudgevirou-seeencarouHarry,aindaencostadoàparedeaoladodaestátuacaídaqueoguardara
duranteodueloentreDumbledoreeVoldemort.–Ele...aqui?–espantou-seFudge.–Porque...afinalqueaconteceu?–Explicareitudo–repetiuDumbledore–quandoHarrytiverregressadoàescola.Dumbledoreseafastoudafonteemdireçãoàcabeçadouradadobruxonochão.Apontouavarinha
para ela e murmurou “Portus”. A cabeça brilhou azulada, vibrou ruidosamente contra o chão demadeiraporalgunssegundos,entãotornouaseimobilizar.–Agora,escuteaqui,Dumbledore!–disseFudge,quandoeleapanhouacabeçaevoltouaHarry,
carregando-a.–VocênãotemautorizaçãoparausaressaChavedePortal!Vocênãopodeagirassim
diantedoministrodaMagia,você...você...Sua voz falhou sob o olhar professoral que Dumbledore lhe atirava por cima dos oclinhos de
meia-lua.–VocêdaráordemparatransferirDoloresUmbridgedeHogwarts–disseDumbledore.–Mandará
os seus aurores pararem de perseguir o meu professor de Trato das CriaturasMágicas, para elepoder voltar ao trabalho.Concederei a você... –Dumbledore puxou do bolso um relógio de dozeponteiros e o consultou – meia hora do meu tempo hoje à noite, na qual poderei folgadamenteabordarospontosmaisimportantesdoqueaconteceuaqui.Depois,tereideretornaràminhaescola.Se precisar demais alguma ajuda, naturalmente, será bem-vindo se entrar em contato comigo emHogwarts.Ascartasendereçadasaodiretorchegarãoàsminhasmãos.Fudge arregaloumais quenuncaos olhos; suaboca se abriu e o rosto redondo se tornoumais
coradosoboscabelosgrisalhosedespenteados.–Eu...você...Dumbledoredeu-lheascostas.–PegueestaChavedePortal,Harry.EleestendeuacabeçadouradadaestátuaeHarrypousouamãonela,semseimportarcomoque
fariaaseguirnemaondeiria.–Vereivocêemmeiahora–disseDumbledorebrandamente.–Um...dois...três...Harry sentiu a conhecida sensação de que um gancho o puxava por trás do umbigo. O soalho
polido desapareceu sob os seus pés; oÁtrio, Fudge eDumbledore, tudo desapareceu e ele estavavoandonumredemoinhodecoresom...
—CAPÍTULOTRINTAESETE—Aprofeciaperdida
OspésdeHarrybateramemchãofirme;seusjoelhossedobraramligeiramenteeacabeçadouradado bruxo caiu com um baque metálico no chão. Ele olhou ao redor e constatou que chegara aoescritóriodeDumbledore.Tudo parecia ter se consertado na ausência do diretor. Os delicados instrumentos de prata se
encontravammaisumavezsobreasmesinhasdepernasfinas,soprandoezunindoserenamente.Osretratos dos diretores e diretoras cochilavam em seus quadros, as cabeças caídas molemente noencosto das poltronas ou apoiadas nas molduras. Harry espiou pela janela. Havia uma fria linhaverde-claranohorizonte:odiaiadespontando.Osilêncioeaimobilidade,interrompidosapenasporumrarogrunhidooufungadadeumretrato
adormecido, eram insuportáveis. Se o ambiente pudesse ter refletido os sentimentos que odominavam, os quadros estariam gritando de dor. Ele andou pelo escritório silencioso e belo,respirandodepressa,tentandonãopensar.Masprecisavapensar...nãotinhasaída...ErasuaculpaqueSirius tivessemorrido; inteiramentesuaculpa.Seele,Harry,não tivesse sido
burrodecairnaesparreladeVoldemort,senãoestivessetãoconvencidodequeoqueviraemsonhoera real, se aomenos tivesse aberto amente à possibilidade de queVoldemort, conforme disseraHermione,estivesseapostandonoprazerdeHarrydebancaroherói...Erainsuportável,elenãopensarianoassunto,nãoconseguiriasuportar...haviaumterrívelvazio
emseupeitoqueelenãoqueriasentirnemexaminar,umburaconegroemqueSiriusestivera,emqueSiriusdesaparecera;elenãoqueria terdeficarsozinhocomaqueleenormeespaçosilencioso,nãoconseguiriasuportar...Umquadroàssuascostassoltouumroncoparticularmentealto,eumavozcalmaexclamou:–Ah...HarryPotter!...FineusNigellusdeuumlongobocejo,seespreguiçandoenquantoobservavaHarrycomseusolhos
apertadoseastutos.–Eoqueotrazaquinasprimeirashorasdamanhã?–perguntouobruxopassadoalgumtempo.–
O escritório está interditado a todos, exceto ao seu legítimo diretor. Ou foi Dumbledore que omandouaqui?Ah,nãomediganada...–Eledeuoutrobocejoestremecido.–Maisumamensagemparaomeuindignobisneto?Harry não pôde responder. Fineus Nigellus não sabia que Sirius estava morto, mas Harry não
poderialhecontar.Dizê-loemvozaltaseriatornaramortefinal,absoluta,irrecuperável.Maisalgunsretratossemexiamagora.Oterrordeser interrogadofezHarryatravessarasalae
seguraramaçaneta.Elanãogirou.Eleestavatrancado.– Espero que isto signifique – disse um corpulento bruxo de nariz vermelho pendurado a uma
paredeatrásdaescrivaninhadodiretor–queembreveDumbledoreestaráentrenós?Harry se virou. O bruxo o fitava com grande interesse. O garoto confirmou com a cabeça. E
tornouapuxaramaçanetacomasmãosàscostas,maselapermaneceuimóvel.–Ah,quebom–disseobruxo.–Temsidomuitomonótonosemele,muitomonótonomesmo.
O bruxo se acomodou no cadeirão semelhante a um trono, no qual fora retratado, e sorriubondosamenteparaHarry.– Dumbledore tem uma opinião elogiosa sobre você, como estou certo de que sabe – disse
satisfeito.–Ah,sim.Temvocêemaltaestima.AsensaçãodeculpaqueenchiaopeitodeHarrycomoumparasitamonstruosoepesadoagorase
torciaevirava.Harrynãoconseguiasuportarisso,nãoconseguiamaissuportarserquemera...nuncasesentiratãoencurraladodentrodoprópriocorpo,nuncadesejaratãointensamentepoderseroutrapessoa,qualquerpessoa,ou...Alareiravaziairrompeuemchamasverde-esmeralda,fazendoHarrysaltarparalongedaporta,e
olharparaohomemquegiravanointeriordagrade.QuandoafiguraaltadeDumbledoredeixouofogo,osbruxosebruxas,nasparedes,acordaramderepente,muitosdelessoltandoexclamaçõesdeboas-vindas.–Obrigado–disseDumbledorebrandamente.Elenãoolhou imediatamenteparaHarry,mas encaminhou-separaopoleiro ao ladodaporta e
retirou,dobolsointernodasvestes,aminúsculaefeiosaFawkes,queelecolocoucomgentilezanoborralhomornoembaixodosuportedouradoemqueafênixadultahabitualmenteficava.–Bom,Harry–disseDumbledore, finalmente afastando-sedo filhotede fênix–,vocêvai ficar
contenteemsaberquenenhumdosseuscolegasvai sofrerdanospermanentesemdecorrênciadosacontecimentosdestanoite.Harry tentoudizer“Bom”,masavoznãosaiu.Pareceu-lhequeodiretorestava lembrando-oda
extensão dos danos que causara, e emboraDumbledore, para variar, estivesse olhando para ele, eemborasuaexpressãofossebondosaemvezdeacusatória,Harrynãoconseguiuolhá-lonosolhos.–MadamePomfreyestá remendando todos.NinfadoraTonks talvezprecisepassaralgumtempo
noSt.Mungus,masparecequeiráserecuperartotalmente.Harrysecontentouemassentirparaotapete,quesetornavamaisclaroàmedidaqueocéuláfora
empalidecia.TinhacertezadequeosquadrosnasalaestavamescutandoansiosamentecadapalavraqueDumbledoredizia,perguntando-seondeodiretoreogarototinhamestadoeporqueteriahavidodanosfísicos.–Seicomoestásesentindo,Harry–disseDumbledoremansamente.– Não, o senhor não sabe, não. – E sua voz saiu repentinamente alta e forte; uma raiva
incandescentesaltavadentrodele;Dumbledorenãosabianadaarespeitodosseussentimentos.– Está vendo,Dumbledore? – disse FineusNigellus sonsamente. –Nunca tente compreender os
estudantes. Eles odeiam. Preferem muito mais ser tragicamente incompreendidos, chafurdar emautocomiseração,pagarseuspróprios...–Chega,Fineus–disseDumbledore.Harrydeuascostasaodiretoreficouolhandodecididopelajanela.Viaocampodequadribolao
longe.Siriusapareceraaliumavez,disfarçadodecachorropretoepeludo,parapodervê-lojogar...provavelmentevieraverseofilhoeratãobomquantoopaifora...Harrynuncalheperguntara...– Não há vergonha no que você está sentindo, Harry – disse a voz de Dumbledore. – Pelo
contrário...ofatodesercapazdesentirdorcomtalintensidadeéasuamaiorforça...Harrysentiuaraivaincandescentelambersuasentranhas, transformarseemlabareda,noterrível
vácuo,enchendo-ocomodesejodeferirDumbledoreporsuacalmaesuaspalavrasvazias.–Minha grande força, é? – retorquiuHarry, sua voz trêmula, o olhar ainda fixo no estádio de
quadribol,massemvê-lo.–Osenhornãofazamenorideia...osenhornãosabe...–Queéqueeunãosei?–perguntouDumbledorecalmamente.Erademais.Harrysevirou,tremendoderaiva.–Nãoquerofalarsobreoqueestousentindo,estábem?
– Harry, sofrer assim prova que você continua a ser homem! Esta dor faz parte da suahumanidade...–ENTÃOEU...NÃO...QUERO...SER...HUMANO!–urrouHarry,earrebatandouminstrumento
delicadodepratadecimadeumamesinhadepernasfinasaoladoarremessou-opelasala:oobjetoseestilhaçou emmil pedacinhos contra a parede.Vários quadros deixaram escapar gritos de raiva esusto,eoretratodeArmandoDippetexclamou“Francamente!”.–NÃOQUEROMAISSABER!–berrouHarryparaeles,agarrandoumlunascópioeatirando-o
na lareira. – PARA MIM CHEGA, JÁ VI O SUFICIENTE, QUERO SAIR, QUERO QUE ISTOACABE,NÃOQUEROMAISSABER...Eagarrandoamesaemqueestiveraoinstrumentodeprata,atirou-atambém.Elabateunochão,e
separtiu,suaspernasrolaramemváriasdireções.–Você quer saber, sim– disseDumbledore.Não piscara nem fizera umúnicomovimento para
impedirqueHarrydemolisseo seuescritório.Suaexpressãoera serena,quase indiferente.–Vocêquersabertantoquesentequeirámorrersangrandodedor.–NÃO!–gritouHarry,tãoaltoqueachouquesuagargantapoderiarasgar,eporumsegundoteve
vontadedeavançaremDumbledoreequebrarobruxotambém;quebraraquelerostovelhoecalmo,sacudi-lo,machucá-lo,fazê-losentirumpedacinhodohorrorquecarregavaemseuíntimo.–Ah,quersabersim–disseodiretor,aindamaistranquilo.–Vocêagorajáperdeusuamãe,seu
paieapessoamaispróximadeumparentequejáconheceu.Éclaroquevocêquersaber.–OSENHORNÃOSABECOMOESTOUMESENTINDO!–urrouHarry.–OSENHOR...FICA
PARADOAÍ...SEU...Masaspalavrasjánãoeramsuficientes,quebrarcoisasjánãoadiantava;elequeriafugir,queria
fugir sem parar, sem nunca olhar para trás, queria ir para algum lugar em que não visse aquelesolhos azul-claros encarando-o, aquele rosto velho odiosamente calmo. Ele correu para a porta,tornouaagarraramaçanetaepuxou-acomforça.Masaportanãoabriu.HarrytornouasevirarparaDumbledore.–Medeixesair–disseele.Estavatremendodospésàcabeça.–Não–disseDumbledorecomsimplicidade.Poralgunssegundoselesseencararam.–Medeixesair–repetiuogaroto.–Não–repetiuDumbledore.–Seosenhornãodeixar...seosenhormeprenderaqui...seosenhornãomedeixar...– Perfeitamente, continue a destruir os meus pertences – disse Dumbledore serenamente. –
Reconheçoqueostenhoemexcesso.Elecontornouaescrivaninhaesesentou,contemplandoHarry.–Me deixe sair – pediu o garoto ainda uma vez, numa voz fria e quase tão calma quanto a de
Dumbledore.–Não,atéqueeutenhaditooquequero.–Osenhor...osenhorachaqueeuquero...osenhorachaqueeudoua...NÃOMEINTERESSAO
QUEOSENHORTEMADIZER!–urrouHarry.–Nãoqueroouvirnadaqueosenhortenhaadizer!–Vaiquerer,sim–disseodiretorcomfirmeza.–Porquevocêestálongedesentiraraivademim
quedeveriaestar sentindo.Sevocêmeatacar,comoseiqueestáprestesa fazer,eugostariade termerecidointeiramente.–Doqueéqueosenhorestáfalando?–FoiporminhaculpaqueSiriusmorreu–disseodiretorclaramente.–Ouseráquedevodizer,
quaseexclusivamenteporminhaculpa:nãosereitãoarroganteapontodeassumiraresponsabilidade
por tudo.Siriuseraumhomemcorajoso, inteligenteedinâmico,ehomensassimemgeralnãosecontentam em ficar escondidos em casa, sabendo que outros estão correndo perigo.Ainda assim,você nunca deveria ter acreditado por um instante que havia a menor necessidade de ter ido aoDepartamentodeMistérioshojeànoite.Seeutivessesidofrancocomvocê,Harry,comodeveriatersido, você já saberia há muito tempo que Voldemort poderia tentar atraí-lo ao Departamento deMistérios,evocênuncateriacaídonaesparreladeirláhojeànoite.ESiriusnãoteriatidodesairatrásdevocê.Estaculpaéminha,esomenteminha.Harrycontinuavaparadocomamãonamaçaneta,masnão tinhaconsciênciadisso.Olhavapara
Dumbledore,quasesemrespirar,prestandoatenção,masquasesementenderoqueestavaouvindo.–Porfavor,sente-se–disseDumbledore.Nãoeraumaordem,eraumpedido.Harryhesitou,entãoatravessoulentamenteasala,agoracoalhadadepedacinhosdeengrenagens
deprataefragmentosdemadeira,esesentounacadeiradiantedaescrivaninhadodiretor.–Devoentender–disseFineusNigellus lentamenteàesquerdadeHarry–queomeubisneto,o
últimodosBlack,morreu?–Sim,Fineus–respondeuDumbledore.–Eunãoacredito–disseFineusbruscamente.Harryvirouacabeçaemtempodeverobruxosairdecididodoquadro,eentendeuqueeleestava
indo visitar seu outro retrato no largo Grimmauld. Iria se deslocar talvez de quadro em quadrochamandoporSiriusportodaacasa...–Harry, eu lhe devo uma explicação.Uma explicação para os erros de um velho. Porque vejo
agoraqueoquefizeoquenãofiz,comrelaçãoavocê,temtodasasmarcasdedeslizesdavelhice.Osjovensnãopodemsabercomoosidosospensamesentem.Masosvelhossãoculpadosquandoseesquecemdoqueeraserjovem...eparecequeultimamenteandeimeesquecendo...Osolestavarealmentenascendoagora;haviaumalinhalaranjaofuscanteacimadasmontanhase
para o alto o céu estava descolorido e pálido. A luz incidia sobre Dumbledore, sobre suassobrancelhasebarbasprateadas,sobreasrugasprofundasemseurosto.–Adivinhei,háquinzeanos...quandoviacicatrizemsuatesta,oquepoderiasignificar.Adivinhei
quepoderiaserosinaldeumaligaçãoentrevocêeVoldemort.–O senhor jáme disse isso, professor – interpôsHarry sem rodeios. Pouco se importava que
estivessesendogrosseiro.Poucoseimportavacomqualquercoisaquefosse.– Eu sei – falou Dumbledore em tom de quem pede desculpas. – Eu sei, mas entenda, preciso
começarpor sua cicatriz.Porque se tornouaparente, logodepoisdevocê se reintegrar aomundomágico,queeutinharazão,equeacicatrizestavalhedandoavisosquandoVoldemortseaproximavadevocêousentiaalgumaemoçãoforte.–Eusei–disseHarry,cansado.–Eestasuahabilidade,deperceberapresençadeVoldemort,mesmosobdisfarce,esaberoque
eleestásentindoquandosuasemoçõesocomovem,tornou-secadavezmaispronunciadadesdequeVoldemortretomouoprópriocorpoeseusplenospoderes.Harrynãosedeuotrabalhodeassentir.Jásabiadetudoaquilo.–Maisrecentemente–continuouDumbledore–,eumepreocupeiqueVoldemortpudesseperceber
aexistênciadestaligaçãoentrevocês.Defato,chegouummomentoemquevocêpenetroutãofundoem sua mente que ele sentiu sua presença. Estou me referindo, é claro, à noite em que vocêtestemunhouoataqueaoSr.Weasley.–Sei,oSnapemedisse–murmurouHarry.–ProfessorSnape,Harry–corrigiu-oDumbledoreemtombrando.–Masvocênãoseperguntou
porquenãofuieuquelheexpliqueiisso?PorquenãolheensineiOclumência?Porquenemsequerolheiparavocêdurantemeses?
Harryergueuacabeça.ViaagoraqueDumbledorepareciatristeecansado.–Claro–murmurou–,claroquemeperguntei.– Sabe – continuou Dumbledore –, achei que não iria demorar muito para Voldemort forçar
entradaemsuamente,manipularedesviarseuspensamentos,eeunãoestavaquerendolhedarmaisincentivosparaisso.Eutinhacertezaquesepercebessequeonossorelacionamentoera,ousemprefora,maisíntimodoqueodediretorealuno,eleaproveitariaaoportunidadeparausá-locomoummeioparameespionar.Temiasmaneirascomqueelepoderiausá-lo,apossibilidadedequepoderiatentarpossuí-lo.Harry,creioqueeuestavacertoempensarqueVoldemort teriausadovocêassim.Nasrarasocasiõesemqueestivemosemcontato,pensei tervistoasombradelesemoverpor trásdosseusolhos...Harryselembroudasensaçãodequeumacobraadormecidadespertaradentrodele,prontapara
atacar,nosmomentosemqueeleeDumbledorefaziamcontatovisual.– O objetivo de Voldemort em possuí-lo, conforme ficou demonstrado esta noite, não seria a
minhadestruição.Seriaasua.Eleesperou,quandoopossuiuporbrevesmomentosaindahápouco,queeusacrificariavocênaesperançadematá-lo.Então,comovê,Harry,estivetentandomemanterlongedevocê,paraprotegê-lo,Harry,umerrodeumvelho...Ele suspirou profundamente. Harry estava deixando as palavras resvalarem por ele. Teria se
interessadomuitoemsaberdessascoisasháalgunsmeses,masagorahaviamperdidoosentidosecomparadas ao imenso abismo em seu íntimo, representado pela perda de Sirius; nada tinhaimportância...–SiriusmecontouquevocêsentiuVoldemortdespertardentrodevocênapróprianoiteemque
teve a visão do ataque a ArthurWeasley. Percebi namesma hora que osmeus piores temores seconfirmavam:Voldemort sentira que poderia usá-lo.Na tentativa de armá-lo contra os assaltos deVoldemortàsuamente,eucombineicomoProf.SnapeparalhedaraulasdeOclumência.Ele fezumapausa.Harrycontemplavaonascimentodosol,queveiodeslizandovagarosamente
pelasuperfíciepolidadaescrivaninhadeDumbledore,iluminouumtinteirodeprataeumabelapenavermelha. Harry sabia que os retratos nas paredes estavam acordados e escutavam arrebatados aexplicação de Dumbledore; ele ouvia o farfalhar ocasional de vestes, um ligeiro pigarro. FineusNigellusaindanãoregressara...–OProf.Snapedescobriu–Dumbledoreretomouapalavra–quevocêandavasonhandocoma
porta doDepartamento deMistérios hámeses. Voldemort, naturalmente, estivera obcecado com apossibilidadedeouviraprofeciadesdequerecuperaraocorpo;equandoelepensavanaporta,vocêtambémofazia,emboranãosoubesseoquesignificava.“E então você viuRookwood, que trabalhava noDepartamento deMistérios antes de ser preso,
contandoaVoldemortoquesempresoubéramos,queasprofeciasguardadasnoMinistériodaMagiasãofortementeprotegidas.Somenteaspessoasaquemelassereferempodemtirá-lasdasprateleirassemenlouquecerem:nestecaso,ouVoldemortempessoateriadeentrarnoMinistériodaMagia,esearriscarafinalmenterevelarsuapresença,ouentãovocêteriadefazerissoporele.Tornou-se,então,umaquestãodeurgênciaaindamaiorquevocêaprendesseOclumência.”–Maseunãoaprendi–murmurouHarry.Disseissoemvozaltaparatentaraliviarocontrapesode
culpaemseuíntimo:umaconfissãocomcertezareduziriaumpoucodaterrívelpressãoqueapertavaseucoração.–Eunãopratiquei,nãomeesforcei,poderiaterparadocomaquelessonhos,Hermionemediziaotempotodoparaestudar,seeutivesseatendidoelejamaispoderiatermemostradoaondeire...Siriusnãoestaria...Siriusnãoestaria...AlgumacoisaestavaeclodindonacabeçadeHarry:umanecessidadedesejustificar,deexplicar...–EutenteiverificarseelerealmenteprenderaSirius,fuiàsaladaUmbridge,faleicomMonstro
naschamasdofogãoeelemedissequeSiriusnãoestavaemcasa,quetinhasaído!
–Monstromentiu–disseDumbledorecalmamente.–Vocênãoéodonodele,podialhementirsemprecisarsecastigar.MonstroqueriaquevocêfosseaoMinistériodaMagia.–Ele...elememandoudepropósito?–Mandou.Monstro,receiodizer,estavaservindoadoissenhoreshaviameses.–Como?–perguntouHarrysementender.–ElenãosaidolargoGrimmauldháanos.–MonstroaproveitouaoportunidadepoucoantesdoNatal–disseDumbledore–,quandoSirius,
peloquesoube,gritou-lhequefosseembora.Eletomouaordemaopédaletraeainterpretoucomoumaordemparasairdacasa.Procurou,então,aúnicapessoadafamíliaBlackporquemaindatinhaalgumrespeito...aprimadeBlack,Narcisa,irmãdeBelatrizeesposadeLúcioMalfoy.– Como é que o senhor sabe de tudo isso? – perguntou Harry com o coração batendo muito
depressa. Sentia-se mal. Lembrou-se de ter se preocupado com a estranha ausência de MonstroduranteoNatal,lembrou-sedoelfoterreaparecidonosótão...–Monstromecontouontemànoite–disseDumbledore.–Sabe,quandovocêdeuaoProf.Snape
aqueleavisoenigmático,elepercebeuquevocêtiveraumavisãodeSiriusprisioneironasentranhasdoDepartamentodeMistérios.Ele,comovocê,tentoucontatarSiriusimediatamente.DevoexplicarqueosmembrosdaOrdemdaFênixtêmmétodosmaisconfiáveisdesecomunicardoquealareiranasaladeDoloresUmbridge.OProf.SnapedescobriuqueSiriusseencontravasãoesalvonolargoGrimmauld.“Quando, porém, você não voltou da ida à Floresta Proibida com Dolores Umbridge, o Prof.
SnapeficoupreocupadoquevocêtalvezcontinuasseaacharqueSiriusestavaprisioneirodeLordeVoldemort.EalertououtrosmembrosdaOrdemnamesmahora.”Dumbledoredeuumgrandesuspiroecontinuou:–AlastorMoody,NinfadoraTonks,QuimShacklebolteRemoLupinestavamnasedequandoele
entrou em contato. Todos concordaram prontamente em ir em seu auxílio.O Prof. Snape pediu aSiriusparanãoir,porqueprecisavaquealguémficassenasedeparamecontaroqueacontecera,poiseuestavasendoesperadoaqualquermomento.Nessemeio-tempo,oProf.SnapepretendiaprocurarvocênaFloresta.“MasSiriusnãoquisficarparatrásquandoosoutrosforamprocurá-lo.IncumbiuoMonstrode
mecontaroquesucedera.Então,quandochegueiaolargoGrimmauldpoucodepoisdetodosteremsaídoparaoMinistério,foioelfoquemmecontou,àsgargalhadas,aondeSiriusfora.”–Eleestavaàsgargalhadas?–perguntouHarrycomavozcava.–Ah, estava.Veja,Monstronão conseguiunos trair inteiramente.Ele não éFiel doSegredoda
Ordem,nãopoderia informaraosMalfoyonossoparadeiro, tampoucoosplanosconfidenciaisdaOrdemqueeleforaproibidoderevelar.Estavaimpedidoporencantamentosprópriosasuaespécie,o que quer dizer que não podia desobedecer a uma ordem direta do seu dono, Sirius.Mas deu aNarcisa informações valiosas para Voldemort, do tipo que deve ter parecido a Sirius demasiadotrivialparaproibi-loderepetir.–Comooquê?–perguntouHarry.–ComoofatodequeapessoaqueSiriusmaisgostavanomundoeravocê–disseDumbledoreem
vozbaixa.–ComoofatodequevocêestavacomeçandoaencararSiriuscomoumaespéciedepaieirmão.“Voldemortjásabia,éclaro,queSiriusfaziapartedaOrdem,equevocêsabiaondeencontrá-lo;
masainformaçãodeMonstroofezperceberqueaúnicapessoaquevocênãomediriaesforçosparasalvareraSiriusBlack.”OslábiosdeHarryestavamfrioseinsensíveis.–Então...quandopergunteiaoMonstroseSiriusestavaláontemànoite...–OsMalfoy,semdúvidaporordemdeVoldemort,tinhamditoaelequeprecisavaencontrarum
meio de manter Sirius fora do caminho, quando você tivesse a visão de que ele estava sendotorturado. Então, se você resolvesse verificar se seu padrinho estava ou não em casa, Monstropoderiafingirqueelenãoestava.Monstromachucouohipogrifoontemànoite,e,nomomentoemquevocêapareceunaschamas,Siriusestavanoandardecimacuidandodobicho.PareciahaverpoucoarnospulmõesdeHarry;suarespiraçãoerarápidaesuperficial.–EMonstrocontoutudoissoaosenhore...deugargalhadas?–perguntouelerouco.– Ele não queriame contar.Mas sou suficientemente bom em Legilimência para saber quando
estãomentindoparamim,epersuadi-oamecontarahistóriatoda,antesdesairparaoDepartamentodeMistérios.–E–sussurrouHarry,asmãosfechadasefriassobreosjoelhos–,eHermionevivianosdizendo
parasermosbonzinhoscomele...–Eestavacerta,Harry.AlerteiSiriusquandoadotamosolargoGrimmaulddozecomonossasede,
queMonstrodeviaser tratadocombondadee respeito.Disse-lhe tambémqueMonstropoderiaserperigosoparanós.AchoqueSiriusnãomelevouasério,nemnuncaencarouMonstrocomoumsercomsentimentostãoapuradosquantoosdeumhumano...–Não venha culpar... não venha...me falar de Sirius como se... –A respiração deHarry estava
presa,nãoconseguiaenunciaraspalavrasclaramente;masaraivaquediminuíramomentaneamentetornou a arrebatá-lo: não deixariaDumbledore criticar Sirius. –Monstro é ummentiroso... sujo...merecia...–Monstroéoqueosbruxosfizeramdele,Harry–disseDumbledore.–Elemerececompaixão.A
vidadeletemsidotãoinfelizquantoadoseuamigoDobby.FoiforçadoaobedeceraSiriusporqueeraoúltimodafamíliadequemeraescravo,masnãosentiaareallealdadepelodono.Equaisquerque sejamosdefeitosdoMonstro, devemos admitir queSirius não feznadapara amenizar avidadele...–NÃOFALEDESIRIUSASSIM!–berrouHarry.Estavamaisumavezempé,furioso,prontoparaseatirarcontraDumbledore,queclaramentenão
entenderanadadeSirius,comoeracorajoso,oquantosofrera...–ESnape?–atirouHarry.–Osenhornãofaladele,nãoé?QuandolheconteiqueVoldemorttinha
prendidoSirius,eleapenasmedeuumsorrisodesdenhosocomosempre...–Harry,vocêsabequeoProf.Snapenãotinhaopçãosenãofingirquenãoestavalevandovocêa
sério, na frente de Dolores Umbridge – disse Dumbledore com firmeza –, mas, conforme lheexpliquei,eleinformouàOrdemomaisrápidoquepôdeoquevocêhaviadito.Foielequemdeduziuaonde você teria ido quando não o viu retornar da Floresta. Foi ele, também, que deu à ProfaUmbridgeumVeritaserumadulteradoquandoelaquisforçá-loadizeroparadeirodeSirius.Harry fingiu não ouvir isso; sentia um prazer selvagem em culpar Snape, parecia aliviar sua
horrívelsensaçãodeculpa,equeriaouvirDumbledoreconcordarcomele.–Snape...Snapeat-atormentavaSiriusporficaremcasa...faziaSiriussesentircovarde...–Siriustinhamaturidadeeinteligênciasuficientesparanãopermitirqueessasimplicânciastolaso
atormentassem.–SnapeparoudemedaraulasdeOclumência!–vociferouHarry.–Meexpulsoudasala!– Estou ciente disso – disse Dumbledore pesaroso. – Já disse que foi um erro não ter me
encarregadodeensiná-lopessoalmente,emborativessecerteza,àépoca,quenadapoderiasermaisperigosodoqueabrirmaissuamenteaVoldemortnaminhapresença...–Snapefezpior,minhacicatrizsempredoíamaisdepoisdasaulasdele...–Harrylembrou-sedos
comentáriosdeRonysobreoassuntoeprosseguiu:–ComoéqueosenhorsabeseelenãoestavatentandomeamaciarparaVoldemort,tornarmaisfácilelepenetrarminha...–EuconfioemSeveroSnape–disseDumbledorecomsimplicidade.–Masmeesqueci,outroerro
develho...quealgumas feridassãoprofundasdemaisparasarar.PenseiqueoProf.Snapepudessesuperarossentimentosporseupai...estavaenganado.–Mastudobem,nãoé?–berrouHarry,ignorandoasexpressõesescandalizadaseosmurmúrios
dedesaprovaçãodos retratosnasparedes.–TudobemSnapeodiarmeupai,masnadabemSiriusodiaroMonstro?– Sirius não odiava Monstro. Considerava-o um servo indigno de interesse ou atenção. A
indiferença e o abandonomuitas vezes causammais danos do que a aversão direta... a fonte quedestruímosestanoiterepresentavaumamentira.Nós,bruxos,temosmaltratadoeabusadodosnossoscompanheirosporumtempolongodemais,eagoraestamoscolhendooquesemeamos.–ENTÃOSIRIUSMERECEUOQUERECEBEU,ÉISSO?–berrouHarry.–Eunãodisseisso,nemnuncavocêmeouvirádizerisso–respondeuDumbledorecalmamente.–
Sirius não era um homem cruel, era bondoso com elfos domésticos em geral. Não gostava deMonstro,porqueeleeraumalembrançavivadacasaqueSiriusodiava.– E como a odiava! – exclamouHarry, sua voz falhando, dando as costas a Dumbledore, e se
afastando.Osoliluminavaasalaagoraeosolhosdetodososretratosacompanharamogarotoseafastar, sem perceber o que estava fazendo nem ver o escritório. – O senhor o obrigou a ficartrancadonaquelacasaeeleodiou,foiporissoquequissairontemànoite...–EuestavatentandomanterSiriusvivo–respondeuDumbledorebrandamente.–Aspessoasnãogostamdeficartrancafiadas!–disseHarry,enfurecido,virando-separaele.–O
senhorfezissocomigonoverãopassado...Dumbledorefechouosolhoseescondeuorostonasmãosdededos longos.Harryoobservava,
mas esse sinal pouco característico de exaustão, de tristeza, ou do que quer que fosse queDumbledore sentia, não o enterneceu. Pelo contrário, o garoto sentiu ainda mais raiva queDumbledoreestivessedandosinaisdefraqueza.NãotinhanadadeserfracoquandoHarryqueriaseenfurecereesbravejarcomele.Dumbledorebaixouasmãos,estudouHarryatravésdosseusoclinhosdemeia-lua,efalou:–Estánahoradelhedizeroquedeveriater-lheditohácincoanos,Harry.Sente-se,porfavor.Vou
lhe contar tudo. Peço que tenha um pouco de paciência. Você terá oportunidade de se enfurecercomigo,defazeroquequiser,quandoeuterminar.Nãoireiimpedi-lo.Harryencarou-ocomarferozummomento,entãoatirou-sedevoltaàcadeiraemfrenteaodiretor
eaguardou.Dumbledore contemplou por um momento os terrenos ensolarados do lado de fora da janela,
depoisvoltouaolharparaHarryedisse:–Há cinco anos, você chegou aHogwarts,Harry, são e salvo, como eu planejara e queria que
tivessesido.Bom,nãototalmentesão.Vocêsofrera.Eusabiaqueissoaconteceriaquandoodeixeiàportadosseustios.Sabiaqueoestavacondenandoadezanossombriosedifíceis.Elefezumapausa.Harrycontinuoucalado.–Vocêpoderiaperguntar,ecomtodarazão,porquetinhadeserassim.Porqueumafamíliabruxa
nãopoderiatê-locriado?Muitosteriamfeitoissomaisdoquesatisfeitos,teriamsesentidohonradoseencantadosemcriá-locomofilho.“Minharespostaéqueaprioridadeeramantervocêvivo.Vocêcorriamuitomaisperigodoqueas
pessoas, à exceção de mim, compreendiam. Voldemort fora vencido horas antes, mas seusseguidores, e muitos são quase tão terríveis quanto ele, continuavam soltos, enfurecidos,desesperadoseviolentos.Etivedemedecidir, também,comrelaçãoaosanosfuturos.SeráqueeuacreditavaqueVoldemortseforaparasempre?Não.Eunãosabiaselevariadez,vinteoucinquentaanosparaeleretornar,mastinhacertezadequeofaria,etinhacertezatambém,conhecendo-ocomoconheço,dequeelenãodescansariaenquantonãomatassevocê.
“EusabiaqueoconhecimentoqueVoldemort temdemagia talvezsejamaisamplodoqueodequalqueroutrobruxovivo.Eusabiaqueosmeusfeitiçosdeproteçãomaiscomplexosepoderososprovavelmentenãoseriaminvencíveisseelealgumdiarecuperasseseusplenospoderes.“Maseusabia, também,qualeraoponto fracodeVoldemort.Então, tomeiminhadecisão.Você
seriaprotegidoporumamagiaantigadequeele temconhecimento,masquedesprezae,portanto,sempre subestimou, para seu prejuízo. Estoume referindo, naturalmente, ao fato de que suamãemorreuparasalvá-lo.Elalheconferiuumaproteçãoduradouraqueelejamaisesperou,umaproteçãoqueatéhojecorreemsuasveias.Confio,portanto,nosanguedesuamãe.Entregueivocêàirmãdela,suaúnicaparentaviva.”–Elanãomeama–disseHarrynamesmahora.–Elanãoligaamínima...–Maselaoaceitou–interrompeu-oDumbledore.–Podetê-loaceitadodemávontade,enfurecida,
contrariada, amargurada, mas, ainda assim, o aceitou, e, ao fazer isso, selou o feitiço que lanceisobrevocê.Osacrifíciodesuamãetransformouovínculodesanguenoescudomaisfortequeeupoderialhedar.–Mascontinuosem...–Enquantovocêaindapuderchamardesuaacasaemqueviveosanguedesuamãe,alivocênão
podeser tocadonemferidoporVoldemort.Lílianderramouseusangue,maselecontinuavivoemvocêeemsuatia.Osanguedelasetornouoseurefúgio.Vocêprecisavoltarláapenasumavezporano,masenquantopuderchamaraquelacasadesua,enquantoestiverlá,elenãopoderáatingi-lo.Suatiasabedisso.Expliquei-lheoquetinhafeitonacartaquedeixeicomvocêàportadela.Elasabequeaoacolhervocêelatalvezotenhamantidovivonosúltimosquinzeanos.–Espere–disseHarry.–Espereummomento.Eleseendireitounacadeira,encarandoDumbledore.–Foiosenhorquemandouaqueleberrador.Osenhordisseaelaqueselembrasse...foiasuavoz...–Pensei–disseDumbledore, inclinandoligeiramenteacabeça–queelapoderiaprecisardeum
lembretesobreopactoqueselaraaoacolhervocê.SuspeiteiqueoataquedoDementadorpudessetê-ladespertadoparaosperigosdetervocêcomofilhodecriação.–Despertou–disseHarryemvozbaixa.–Bom...omeutiomaisdoqueela.Elequeriamemandar
embora,masdepoisqueoBerradorchegou,ela...eladissequeeutinhadeficar.Harrycontemplouochãoporummomento,entãoperguntou:–Masoqueéqueissotemavercom...ElenãoconseguiadizeronomedeSirius.–Hácincoanos,então–continuouDumbledore,comosenãotivessefeitopausaalgumaemsua
história–,vocêchegouemHogwarts,talveznemtãofeliznemtãobemnutridocomoeugostariaqueestivesse, mas vivo e saudável. Não era um principezinho mimado, mas um menino tão normalquantoeupoderiaesperarnascircunstâncias.Atéaliomeuplanocorrerabem.“Então... bom, você se lembra dos acontecimentos do seu primeiro ano em Hogwarts tão
claramentequantoeu.Vocêenfrentoumagnificamenteodesafioqueseapresentouemaiscedo,muitomais cedo do que eu previra, você se viu frente a frente com Voldemort. Mais uma vez vocêsobreviveu.Efezmaisdoqueisso.Atrasouarecuperaçãodospoderesdeleedesuaforça.Vocêlutoucomoumhomemadulto.Sentimaisorgulhodevocêdoquesoucapazdeexpressar.“Contudo,haviaumafalhanessemeuplanomaravilhoso.Umafalhaóbvia,queeusabia,jáentão,
quepoderiapôr tudo aperder.Noentanto, sabendocomoera importantequeomeuplano tivesseêxito, disse amimmesmo que não permitiria que aquela falha o arruinasse. Somente eu poderiaimpedirisso,entãosomenteeuprecisavaserforte.Eveioomeuprimeiroteste,quandovocêestavadeitadonaalahospitalar,enfraquecidopelalutacomVoldemort.”–Nãoentendooqueosenhorestádizendo–falouHarry.
–Vocênãose lembrade termeperguntado,quandoestavanaalahospitalar,porqueVoldemorttentaramatá-loaindabebê?Harryconfirmoucomacabeça.–Seráqueeudeveriaterlhecontadoentão?Harryencarouosolhosazuisenãorespondeu,masseucoraçãodisparoumaisumavez.–Vocêaindanãoestápercebendoa falhadoplano?Não... talveznão.Bom,comovocêsabe,eu
preferi não lhe responder. Onze anos, disse a mim mesmo, era muito cedo para saber. Nuncapretenderalhecontaraosonzeanos.Oconhecimentoseriaumacargapesadademaisemumaidadetãotenra.“Eudeveriaterreconhecidoossinaisdeperigoentão.Deveriatermeperguntadoporquenãome
sentiamaisperturbadocomofatodevocêjáterfeitoaperguntaaqueeusabiaqueumdiaprecisavadarumarespostaterrível.Eudeveriaterreconhecidoqueestavamesentindoexcessivamentefelizempensarquenãoprecisavarespondê-lanaqueledia...vocêeracriança,criançademais.“EntãoentramosnoseusegundoanoemHogwarts.Emaisumavezvocêenfrentoudesafiosque
nembruxosadultos tinhamenfrentado;maisumavezvocêsedesincumbiumelhordoquenomeusonhomaisambicioso.MasvocênãotornouameperguntarporqueVoldemortdeixaraaquelamarcaem você. Falamos sobre sua cicatriz, ah, sim... estivemos muitíssimo perto de tocar na questãoprincipal.Porquenãolheconteitudo?“Bom,mepareceuquedozeanoseram,afinal,poucomaisqueonzeparareceberumainformação
dessas.Permitiquevocêdeixasseaminhapresença,sujodesangue,exaustomaseufórico,esentiumpequenomal-estarporque talvezdevesse ter lhecontadoentão,mas logoomal-estarpassou.Vocêaindaeratãojovem,entende,enãotivecoragemdeestragaraquelanoitedetriunfo...“Vocêestávendo,Harry?Estávendoagoraafalhadomeubrilhanteplano?Eucaíranaarmadilha
queprevira,quedisseraamimmesmoquepoderiaevitar,queprecisavaevitar.”–Eunão...–Eumepreocupavademaiscomvocê–disseDumbledorecomsimplicidade.–Mepreocupava
maiscomasuafelicidadedoquecomoseuconhecimentodaverdade,maiscomasuapazdeespíritodoquecomomeuplano,maiscomasuavidadoquecomasvidasqueseriamperdidasseoplanofracassasse.AgiexatamentecomoVoldemortesperaquenós,tolos,queamamos,façamos.“Tenhodefesa?Desafioqualquerumquetenhaobservadovocêcomoeu–eeuotenhoobservado
maisatentamentedoquevocêpodeterimaginado–anãoquererlhepouparmaisdordoquevocêjátemsofrido.Quemeimportavamasinúmeraspessoasebichossemnomenemrostosacrificadosemum futuro difuso, se no aqui e agora você estava vivo, bem e feliz? Nunca sonhei que seriaresponsávelporalguémassim.“Entramosnoseuterceiroano.ObserveidelongevocêlutarpararepelirDementadores,quando
encontrou Sirius, descobrir quem era ele e salvá-lo. Será que eu deveria ter lhe dito então, nomomento emque triunfalmente arrebatara seu padrinhodas garras doMinistério?Mas agora, aostrezeanos,asminhasdesculpasestavamseesgotando.Vocêpoderiaserjovem,masprovaraqueeraexcepcional.Minhaconsciênciaseinquietou,Harry.Eusabiaqueembreveahorateriadechegar...“Mas você saiu do labirinto no ano passado, depois de presenciarCedricoDiggorymorrer, de
vocêmesmoterescapadodamorteporumtriz...eeunãolhecontei,emborasoubessequeagoraqueVoldemortretornara,precisavafazerissosemdemora.Ehojeànoite,seiqueestáprontohámuitotempoparasaberoquelheescondidurante tanto tempo,porquevocêprovouqueeu jádeveria tercolocadoessa carga sobre seusombros.Minhaúnicadefesa éque tenhoobservadovocê carregarmais pesos do que qualquer outro estudante que já passou por esta escola, e não tive coragemdeacrescentarmaisum:omaiordetodos.”Harryesperou,masDumbledorenãofalou.
–Aindanãoconsigoentender.–Voldemorttentoumatá-loquandovocêeracriançaporcausadeumaprofeciafeitapoucoantes
do seu nascimento. Ele sabia da existência dessa profecia, embora não conhecesse todo o seuconteúdo.Dispôs-seamatá-loaindabebê,acreditandoqueestavacumprindoosdizeresdaprofecia.Descobriu,àprópriacusta,queestavaenganado,quandoamaldiçãoqueelelançaraparamatá-losaiupelaculatra.Então,desdequerecuperouocorpo,eparticularmentedesdeasuaextraordináriafugade suasmãosnoanopassado, eledecidiuouvir aquelaprofecia inteira.Esta é a armaqueele tembuscadocomtantadiligênciadesdeoseuretorno:oconhecimentodecomodestruí-lo.Osolacabaradenascer totalmenteagora:oescritóriodeDumbledoreestavabanhadoemluz.A
redoma de vidro em que a espada deGodricoGryffindor era guardada brilhava esbranquiçada eopaca,oscacosdosinstrumentosqueHarryatiraranochãorefulgiamcomogotasdechuvae,àssuascostas,apequeninafênixchilreavaemseuninhodecinzas.– A profecia quebrou – disse Harry, confuso. – Eu estava puxandoNeville para cima naqueles
degrausdepedrana...nasalaondeficaoarco,rasgueiasvestesdeleeaprofeciacaiu...–AcoisaquequebroufoiapenasoregistrodaprofeciaguardadapeloDepartamentodeMistérios.
Maselafoifeitaparaalguém,eessapessoatemmeiosdelembrá-laperfeitamente.–Quemaouviu?–perguntouHarry,emborajáconhecessearesposta.– Eu – disse Dumbledore. – Em uma noite fria e chuvosa, há dezesseis anos, em uma sala do
primeiroandarnoCabeçadeJavali.EutinhaidoláparaverumacandidataaocargodeprofessoradeAdivinhação,emborafossecontraomeupensamentoquesecontinuasseaensinaressadisciplina.Acandidata,porém,eratrinetadeumaVidentemuitofamosa,muitotalentosa,eacheiquetinhaodeverdecortesiadeconhecê-la.Fiqueidesapontado.Pareceu-mequeamoçanão tinhaomenorvestígiodaqueletalento.Disse-lhe,gentilmente,espero,quenãoaachavaqualificadaparaocargo.Emevireiparasair.Dumbledorese levantouepassouporHarryemdireçãoaoarmáriopretoqueficavaaoladodo
poleirodeFawkes.Curvou-se,correuumtrincoeapanhoudentrodoarmárioabaciarasadepedra,comasrunasgravadasnaborda,emqueHarryviraseupaiatormentandoSnape.Odiretorvoltou,colocouaPenseiraemcimadaescrivaninhaelevouavarinhaàtêmpora.Dela,retiroufiossedosos,diáfanoseprateadosdepensamentoseosdepositounabacia.Acomodou-seoutravezàescrivaninhaeobservouseuspensamentos rodopiaremflutuandonaPenseiraporummomento.Então,comumsuspiro,ergueuavarinhaetocou,comaponta,asubstânciaprateada.Ergueu-se da Penseira uma figura envolta em xales, os olhos enormes por trás dos óculos que
giroulentamente,ospésdentrodabacia.MasquandoSibilaTrelawneyfalou,nãofoicomsuavoznormal,etéreaemística,masnotomásperoeroucoqueHarryaouvirausarumavez.“AquelecomopoderdevenceroLordedasTrevasseaproxima...nascidodosqueodesafiaramtrês
vezes,nascidoao terminarosétimomês...eoLordedasTrevasomarcarácomoseu igual,maseleteráumpoderqueoLordedasTrevasdesconhece...eumdosdoisdeverámorrernamãodooutropoisnenhumpoderáviverenquantoooutrosobreviver...aquelecomopoderdevenceroLordedasTrevasnasceráquandoosétimomêsterminar...”AProfaTrelawneygirandolentamentetornouaafundarnolíquidoprateadoedesapareceu.O silêncio no escritório era absoluto.NemDumbledore nemHarry, nem nenhum dos quadros,
faziamomenorsom.AtéFawkessilenciara.– Prof.Dumbledore? – disseHarry baixinho, porque o diretor, ainda contemplando a Penseira,
pareciacompletamenteabsortoempensamentos.–...Isso...issosignificava...quesignificavaisso?–SignificavaqueapessoaquetemaúnicachancedevencerLordeVoldemortparasemprenasceu
no fim de julho, há quase dezesseis anos. Este menino nasceria de pais que já haviam desafiadoVoldemorttrêsvezes.
Harrysentiucomosealgumacoisasefechassesobreele.Suarespiraçãopareciaoutravezpenosa.–Significa...eu?Dumbledorerespirouprofundamente.–Oestranho,Harry–disseelemansamente–,équetalveznemsignificassevocê.Aprofeciade
Sibilapoderia se aplicar adoismeninosbruxos, ambosnascidosnomêsde julhodaqueleano,osdoiscompaisnaOrdemdaFênix,ospaisdeambostendoescapadoporumtrizdeVoldemorttrêsvezes.Um,éclaro,eravocê.OoutroeraNevilleLongbottom.–Masentão...então,porqueeraomeunomeenãoodeNevillequeestavanaprofecia?–OregistrooficialfoirotuladodenovodepoisqueVoldemortoatacounainfância.Pareceuclaro
paraoencarregadodaSaladaProfeciaqueVoldemortsópoderiater tentadomatá-loporquesabiaquevocêeraaqueleaquemSibilasereferia.–Então...talveznãofosseeu?–Receio–disseDumbledorelentamente,comosecadapalavralhecustasseumgrandeesforço–
nãohaverdúvidasdequesejavocê.–Masosenhordisse...Nevillenasceunofimdejulhotambém...eamãeeopaidele...–Vocêestáseesquecendodorestodaprofecia,dosinalqueidentificaomeninocapazdevencer
Voldemort...opróprioVoldemortomarcariacomoseuigual.Eelefezisso,Harry.Eleescolheuvocê,enãoNeville.Marcou-ocomessacicatrizquetemprovadoserumabênçãoeumamaldição.–Maselepodeterescolhidoerrado!Podetermarcadoapessoaerrada!–Eleescolheuomeninoqueconsideroutermaiorprobabilidadedelheoferecerperigo.Erepare,
Harry:elenãoescolheuoSanguepuro(que,deacordocomocredodele,éoúnicotipodebruxoquevaleapenaserouconhecer),masomestiço,comoelepróprio.Viu-seemvocêantesmesmodetervistovocê,e,aomarcá-locomessacicatriz,elenãoomatouconformepretendia,maslheconcedeupodereseumfuturo,queoequiparamparaescapardele,nãoumamasquatrovezesatéomomento...algoquenemosseuspaisnemosdeNevillejamaisconseguiram.–Por que ele fez isso então? – perguntouHarry, que se sentia entorpecido e gelado. –Por que
tentoumematar ainda bebê?Ele deveria ter esperado para ver seNeville ou eu parecíamosmaisperigososquandoestivéssemosmaisvelhosetentadomatarquemfosseentão...–Este teriasido,defato,ocaminhomaisprático,excetoquea informaçãoqueVoldemort tinha
sobreaprofeciaestavaincompleta.OCabeçadeJavali,queSibilaescolheuporsermaisbarato,hámuitotempoatrai,digamos,umaclientelamaisinteressantedoqueoTrêsVassouras.Comovocêeseusamigosdescobriramàsprópriascustas,eeuàminha,àquelanoite,éumlugaremquejamaiséseguro supor que ninguém está nos ouvindo. Naturalmente, eu nem sonhava, quando saí parameencontrarcomSibilaTrelawney,que fosseouviralgumacoisaquevalesseapena.Minha...nossa...única sorte foi que a pessoa que nos ouvia foi descoberta, quando a profecia mal se iniciara, eexpulsadoprédio.–Entãosóouviu...?– Ele só ouviu o início, a parte que predizia o nascimento de ummenino em julho, cujos pais
haviam desafiadoVoldemort três vezes. Em consequência, ele não pôde avisar ao seu senhor queatacá-lo seria correr o risco de transferir poderes para você e marcá-lo como seu igual. EntãoVoldemort nunca soube que poderia ser perigoso atacá-lo, que poderia ser mais sensato esperar,sabermais.ElenãosabiaquevocêteriaopoderqueoLordedasTrevasdesconhece...–Maseunãotenho–protestouHarrycomavozestrangulada.–Nãotenhonenhumpoderqueo
lordenão tenha, eunãopoderia lutar comoele lutouestanoite, não soucapazdepossuirpessoasnem...nemmatá-las...– Há uma sala no Departamento deMistérios – interrompeu-o Dumbledore – que está sempre
trancada.Contémumaforçamaismaravilhosaemaisterríveldoqueamorte,doqueainteligência
humana,doqueasforçasdanatureza.Etalvezsejatambémomaismisteriosodosmuitosobjetosdeestudoquesãoguardadoslá.Éopoderguardadonaquelasalaquevocêpossuiemgrandequantidade,e que Voldemort não possui. Esse poder o levou a tentar salvar Sirius hoje à noite. Esse podertambémo salvou de ser possuído porVoldemort, porque ele não poderia suportar residir em umcorpo tomado por uma força que ele detesta.No fim, não teve importância que você não pudessefecharsuamente.Foioseucoraçãoqueosalvou.Harryfechouosolhos.SenãotivesseidosalvarSirius,opadrinhonãoteriamorrido...Maispara
adiaromomentoqueteriadepensarneleoutravez,Harryperguntou,semsepreocuparmuitocomaresposta:–Ofinaldaprofecia...falava...nenhumpoderáviver...–...enquantoooutrosobreviver...–completouDumbledore.–Então – disseHarry, retirando do peito as palavras do que lhe parecia um poço de profundo
desespero–,entãoissosignificaque...queumdenósterádematarooutro...nofim?–Sim.Durante muito tempo, nenhum dos dois falou. Em algum lugar muito distante das paredes do
escritório,Harryouviuosomdevozes,deestudantesdescendoparaoSalãoPrincipalpara tomarcafécedo,talvez.Pareciaimpossívelquehouvessegentenomundoqueaindadesejassecomer,querisse,quenãosoubessenemligassequeSiriusBlacktivessepartidoparasempre.Opadrinhopareciajá estar amilhões de quilômetros;mesmo agora, uma parte de Harry ainda acreditava que se aomenos tivesse afastado aquele véu, teria encontrado Sirius olhando para ele, cumprimentando-otalvez,comaquelarisadaroucafeitoumlatido...–Sintoquelhedevomaisumaexplicação,Harry–disseDumbledorehesitante.–Vocêtalveztenha
seperguntadoporquenuncao escolhi paramonitor?Devo confessar... quepreferi... você já tinharesponsabilidadesuficiente.Harry ergueu a cabeça para ele e viu uma lágrima escorrer pelo rosto de Dumbledore e
desapareceremsuaslongasbarbasprateadas.
—CAPÍTULOTRINTAEOITO—ComeçaaSegundaGuerra
RETORNAAQUELE-QUE-NÃO-DEVE-SER-NOMEADOEmbreve declaraçãona sexta-feira à noite, oministro daMagiaCornélioFudge confirmouque
Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeadoretornouaopaísejácomeçouaagir.“ÉcomgrandepesarqueconfirmoqueobruxoqueseautodenominaLorde,bom,vocêssabema
quemmerefiro,estávivoemaisumavezentrenós”,disseFudge,parecendocansadoenervosoaosedirigiraos repórteres.“Équasecom igualpesarque informamosaocorrênciadeumarebeliãoemmassadosDementadoresdeAzkaban,quedemonstraramsua insatisfaçãoemcontinuara serviraoMinistério.AcreditamosqueosDementadoresestãopresentementerecebendoordensdoLorde...dasquantas.“Pedimos à população mágica que se mantenha vigilante. O Ministério está presentemente
publicando guias de defesa doméstica e pessoal que serão distribuídos gratuitamente em todas asresidênciasbruxasnopróximomês.”Adeclaraçãodoministrofoirecebidacomconsternaçãoesobressaltopelacomunidadebruxa,que
ainda na quarta-feira recebia garantias do Ministério de que não havia “fundamento algum nospersistentesboatosdequeVocê-Sabe-Quemestivessemaisumavezagindoentrenós”.Osdetalhesdosacontecimentosqueprovocaramessareviravoltaministerialaindasãonebulosos,
embora se acredite que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado e um seleto grupo de seguidores(conhecidoscomoComensaisdaMorte)conseguiramentrarnopróprioMinistériodaMagiananoitedequinta-feira...AlvoDumbledore,reconduzidoaocargodediretordaEscoladeMagiaeBruxariadeHogwarts,e
igualmenteaodemembrodaConfederaçãoInternacionaldeBruxosedepresidentedaSupremaCortedosBruxos,aindanãofezdeclaraçõesàimprensa.DuranteoúltimoanoeleinsistiuqueVocê-Sabe-Quem não estava morto, como todos desejavam e acreditavam, mas andava novamente recrutandoseguidoresparaoutratentativadetomaropoder.Entrementes,“O-Menino-Que-Sobreviveu”...
– Taí, Harry, eu sabia que iam arranjar um jeito demeter você nessa história – disse Hermione,olhandoporcimadojornalparaoamigo.Osgarotosestavamnaalahospitalar.HarrysesentaranapontadacamadeRony,eosdoisouviam
HermioneleraprimeirapáginadoProfetaDominical.Gina,cujotornozeloforacuradonuminstantepor Madame Pomfrey, estava encolhida aos pés da cama de Hermione; Neville, cujo nariz foraigualmente restaurado ao tamanho e forma naturais, se acomodara em uma cadeira entre as duascamas; eLuna,queapareceraparavisitá-los, trazendoaúltimaediçãodoPasquim, estava lendo arevistadecabeçaparabaixo,aparentementesemouvirumapalavradoqueHermionedizia.–Maselevoltou a sero “meninoque sobreviveu”nãoé?–disseRony sombriamente. –Nãoé
maisumexibicionistadelirante,eh?EleseserviudeumpunhadodeSaposdeChocolatena imensapilhaao ladodoseuarmáriode
cabeceira, atirou alguns paraHarry,Gina eNeville, e cortou a embalagemdo seu comos dentes.Ainda havia fundos vergões em seus braços, onde os tentáculos do cérebro tinham se enrolado.SegundoMadamePomfrey,ospensamentospodiamdeixarmarcasmaisprofundasdoquequalquer
outra coisa, embora, depois que ela começara a aplicar generosas quantidades do Unguento doOlvidodoDr.Ubbly,parecesseterhavidoalgumamelhora.–É, eles agora falamde você elogiosamente,Harry – disseHermione, passando os olhos pelo
artigo.Umavoz solitáriadaverdade... consideradodesequilibrado,masque jamais vacilouemsuahistória...forçadoasuportararidiculariaeacalúnia...–Hummm!–exclamouelafranzindoatesta:–PelovistoesqueceramdemencionarquefoiopróprioProfetaqueridicularizouecaluniouvocê...Ela fez uma pequena careta e levou amão às costelas.O feitiço queDolohov usara contra ela,
emboramenoseficazdoqueteriasidoseobruxotivessepodidodizeroencantamentoemvozalta,ainda assim causara, nas palavras de Madame Pomfrey, “estragos suficientes para ocupá-la”.Hermioneprecisavatomardeztiposdepoçõestodososdias,melhoravavisivelmente,ejásesentiachateadanaalahospitalar.–AúltimatentativadeVocê-Sabe-Quemparaassumiropoder(pp.2,3,4),Oqueoministrodevia
nosterdito(p.5),PorqueninguémdeuouvidosaAlvoDumbledore(pp.6,7,8),EntrevistaexclusivacomHarryPotter(p.9)...Bom–comentouHermione,fechandoojornaleatirando-oparaolado–,nãohádúvidadequetiverammuitoassuntoparacomentar.EaentrevistacomHarrynãoéexclusiva,éaquefoipublicadanoPasquimhámeses...– Papai a vendeu ao Profeta – disse Luna vagamente, virando a página do seu exemplar do
Pasquim.–Econseguiuumbompreço,entãovamosfazerumaexpediçãoàSuécianoverãoparaversecapturamosumBufadordeChifreEnrugado.Hermionepareceusedebaterintimamenteporummomento,entãodisse:–Pareceumaótimaideia.OolhardeGinaencontrouodeHarry,eelaodesvioudepressacomumsorriso.– Então – disse Hermione, se sentando mais reta e fazendo outra careta. – Que é que está
acontecendonaescola?–Bom,FlitwickfezdesapareceropântanodeFredeJorge–disseGina.–Emunstrêssegundos.
Masdeixouumpedacinhodebaixodajanelaepassouumcordãodeisolamento...–Porquê?–perguntouHermione,espantada.–Ah,eledizquefoiumamágicarealmentemuitoboa–disseGina,encolhendoosombros.– Acho que deixou como um monumento a Fred e Jorge – disse Rony, com a boca cheia de
chocolate. – Eles é quememandaram tudo isso, sabe – disse aHarry, apontando para a pilha deSapos.–Devemestarfaturandobemcomaquelalojadelogros,eh?Hermionefezumacaradecensuraeperguntou:–Então,todasasconfusõesterminaramagoraqueDumbledorevoltou?–Terminaram–disseNeville–,tudovoltouaonormal.–SuponhoqueFilchestejafeliz,não?–perguntouRony,apoiandoocartãodoSapodeChocolate
comacaradeDumbledoreemsuajarradeágua.–Quenada–disseGina.–Estárealmentemuito,masmuitoinfelizmesmo...–Elabaixouavoze
sussurrou:–NãoparaderepetirqueUmbridgefoiamelhorcoisaquejáaconteceuaHogwarts...Os seis garotos olharam para o lado. A Profa Umbridge estava deitada na cama oposta,
contemplando o teto. Dumbledore entrara sozinho na Floresta para salvá-la dos centauros; comofizeraisso–comosaíradomeiodasárvoresamparandoaProfaUmbridge,semnemumarranhão–,ninguémsoube,eUmbridgecomcertezanãoiriacontar.Desdequevoltaraaocastelo,eatéondeelessabiam, não dissera uma única palavra. Ninguém realmente sabia qual era o problema dela,tampouco. Os cabelos cor de rato, em geral cuidadosamente penteados, estavam revoltos e aindahaviapedacinhosdegravetosefolhaspresosneles,mas,deoutromodo,pareciaestarinteira.–MadamePomfreydizqueestásofrendodechoque–sussurrouHermione.–Parecemaisrabugice–arriscouGina.
–É,maseladásinaldevidasevocêfizerisso–disseRony,imitandoosomdeumgalopecomalíngua.Umbridgesesentouimediatamente,olhandoparaosladosalucinada.–Algum problema, professora? – perguntouMadame Pomfrey,metendo a cabeça para fora da
portadoseuconsultório.– Não... não... – respondeu Umbridge, tornando a afundar nos travesseiros. – Não, devo ter
sonhado...HermioneeGinaabafaramasrisadasnascobertas.–Eporfalaremcentauros–disseHermionequandoserecuperouumpoucodoacessoderiso–,
queméoprofessordeAdivinhaçãoagora?Firenzevaicontinuar?–Temdecontinuar– respondeuHarry–,osoutroscentaurosnãoqueremaceitá-lodevolta,ou
querem?–ParecequeeleeTrelawneyvãoensinaradisciplina–comentouGina.– Aposto como Dumbledore gostaria de ter conseguido se livrar da Trelawney para sempre –
comentouRony,agoramastigandoodécimoquartoSapo.–Mas,vejabem,adisciplinanãoserveparanada,sequeremsaberaminhaopinião,Firenzenãoémuitomelhor...–Comopodedizerumacoisadessas?–Hermioneo interpelou.–Depoisde termosacabadode
descobrirqueexistemprofeciasverdadeiras?OcoraçãodeHarry começou a disparar.Não contara aRony,Hermionenema ninguémoque
diziaaprofecia.NevilletinhafaladoaelesqueaprofeciaseespatifaraquandoHarryoarrastavaparaoaltonaSaladaMorte,eHarryaindanãocorrigiraessaimpressão.Nãoestavapreparadoparaveraexpressãonorostodosamigosquandodissessequeteriadeserouassassinoouvítima,quenãohaviaopção.–Foiumapenaterquebrado–comentouHermioneemvozbaixa,balançandoacabeça.–Foi–concordouRony.–MaspelomenosVocê-Sabe-Quemtambémnãodescobriuoquedizia...
aonde é que você vai? – acrescentou, parecendo aomesmo tempo surpreso e desapontado ao verHarryselevantar.–Aa...àcabanadeHagrid.Sabe,eleacaboudechegareprometique iriaaté láparavê-loedar
notíciasdevocês.–Ah,tudobementão–resmungouRony,olhandopelajaneladaenfermariaparaopedaçodecéu
muitoazulalém.–Gostariaqueagentepudesseirtambém.–Dáumalôaelepornós!–falouHermione,quandoHarryiasaindodaenfermaria.–Epergunta
aeleoqueestáacontecendocom...comoamiguinhodele!Harryfezumacenoparaindicarqueouviraeentendera,efoiembora.Ocastelopareciamuitosilenciosomesmoparaumdomingo.Eraevidentequetodosestavamnos
jardins ensolarados, aproveitandoo fimdos exames e aperspectivadeum finalzinhode trimestresemrevisõesnemdeveresdecasa.Harrycaminhoulentamentepelocorredordeserto,espiandopelasjanelasnocaminho;viualgunsalunosbrincandoporcimadocampodequadriboleoutrosnadandonolago,acompanhadospelalula-gigante.Estava achando difícil decidir se queria ou não a companhia das pessoas; sempre que estava
acompanhado queria ir embora e sempre que estava sozinho queria companhia. Achou que eramelhorirrealmentevisitarHagrid,porqueaindanãofalaracomeledireitodesdeasuavolta...HarryacabaradedesceroúltimodegraudemármoreparaoSaguãodeEntradaquandoMalfoy,
CrabbeeGoylesurgiamporumaportadadireitaqueelesabialevaràsalacomunaldaSonserina.Harryseimobilizou;omesmofizeramMalfoyeosoutros.Osúnicossonsqueseouviameramosgritos,asrisadaseosmergulhosqueentravamnosaguãopelasportasabertas.Malfoy olhou para os lados – Harry sabia que o garoto estava verificando se havia sinal de
professores–edepoisparaHarry,edisseemvozbaixa.
–Vocêestámorto,Harry.Harryergueuassobrancelhas.–Engraçado,entãoeudeveriaterparadodecircularporaí...MalfoypareciamaisfuriosodoqueHarryjamaisovira;sentiuumaespéciedesatisfaçãodistante
àvistadaquelerostopontudoepálidocontorcidoderaiva.–Vocêvaimepagar–disseMalfoyemumtomqueeraquaseumsussurro.–Voufazervocêpagar
peloquefezaomeupai...–Bom,agorafiqueiaterrorizado–disseHarrysarcasticamente.–SuponhoqueLordeVoldemort
tenhasidoapenasumaquecimentocomparadoavocêstrês...qualéoproblema?–acrescentou,poisMalfoy,CrabbeeGoylepareciamchocadosaoouviraquelenome.–Eleéumcompanheirodoseupai,nãoé?Vocênãotemmedodele,tem?–Vocêseachaumgrandehomem,Potter–disseMalfoyavançandoagora,ladeadoporCrabbee
Goyle.–Esperesó.Vouarrebentarvocê.Pensaquepodemetermeupainaprisão...–Penseiquetivesseacabadodefazerisso.–OsDementadoresabandonaramAzkaban–disseMalfoysemsealterar.–Meupaieosoutros
vãosairlogo,logo.–É,imaginoquesim.Maspelomenosagoratodoomundosabeoscanalhasqueelessão...AmãodeMalfoyvoouparaavarinha,masHarryfoimaisrápido;puxaraaprópriavarinhaantes
queosdedosdeMalfoysequertivessementradonobolsodasvestes.–Potter!A voz ecoou pelo Saguão de Entrada. Snape aparecera no alto da escada que levava ao seu
escritórioe,aovê-lo,HarrysentiuumgrandeassomodeódioquesuperouqualquersentimentocomrelaçãoaMalfoy...Dumbledoredissesseoquedissesse,elejamaisperdoariaSnape...jamais...–Queestáfazendo,Potter?–interpelou-oSnape,friocomosempre,aocaminhardecididoparaos
quatromeninos.–EstoutentandomedecidirquefeitiçolançarnoMalfoy,professor–dissecomferocidade.Snapeencarou-o.–Guardeessavarinhaagora–dissesecamente.–DezpontosamenosparaGrif...Snapeolhouparaasgigantescasampulhetasnasparedesesorriucomdesdém.–Ah,estouvendoquenãorestarampontosnaampulhetadaGrifinóriaparasesubtrairnada.Neste
caso,Potter,teremossimplesmentede...–Acrescentarmaisalguns?A Profa McGonagall acabara de subir mancando os degraus de entrada do castelo; trazia uma
maletadetecidoescocêsemumadasmãoseseapoiavapesadamenteemumabengalacomaoutra,masdeoutromodopareciabastantebem.–ProfaMcGonagall!–exclamouSnape,seadiantando.–VejoquetevealtadoSt.Mungus!–Tive,Prof.Snape–disseela,tirandoacapadeviagemcomumtrejeitodeombro.–Estouquase
nova.Vocêsdois...Crabbe...Goyle...Com um gesto autoritário, ela mandou que os garotos se aproximassem e eles obedeceram,
desajeitados,arrastandoosenormespés.–Tomem–disseaprofessora,atirandoamaletanopeitodeCrabbeeacapanodeGoyle–,levem
issoparaomeuescritório.Elessevirarameseforamescadaacima.–Muitobem, então–disse aProfaMcGonagall, olhandopara as ampulhetas na parede. –Bom,
achoquePottereseusamigosdevemrecebercadaumcinquentapontosporalertaremomundoparaoretornodeVocê-Sabe-Quem!Queéqueosenhordiz,professor?– Quê? – retorquiu Snape, embora Harry soubesse que ele ouvira perfeitamente. – Ah... bom...
suponho...–Então,sãocinquentaparaPotter,paraosdoisWeasley,paraLongbottomeaSrta.Granger.–E
umachuvaderubisdesceuparaabolha inferiornaampulhetadaGrifinóriaenquantoelafalava.–Ah...ecinquentapontosparaaSrta.Lovegood,suponho–acrescentou,eonúmeromencionadodesafiras caiunaampulhetadaCorvinal.–Agora,o senhorqueriadescontardezdoSr.Potter,Prof.Snape...entãoaíestão...Algunsrubisvoltaramaobulbosuperior,masdeixaramembaixoumarespeitávelquantidade.–Bom,Potter,Malfoy,achoquevocêsdeviamestarláforaemumbelodiacomoeste–continuou
aprofessoracomenergia.Harrynãoprecisouqueelafalasseduasvezes;meteuavarinhanobolsodasvesteserumoupara
asportasdeentrada,semmaisolharparaSnapenemMalfoy.OsolforteoatingiucomimpactoquandoatravessouosgramadosemdireçãoàcabanadeHagrid.
Osestudantesqueestavamdeitadosnagramatomandobanhodesol,conversando, lendooProfetaDominical e comendo doces, se viraram para olhá-lo quando ele passou; alguns o chamaram, ouentãoacenaram,claramentepressurososemmostrarque, talcomooProfeta, haviamdecididoqueeleeraumaespéciedeherói.Harrynãofaloucomninguém.Nãofaziaideiadoquantoelessabiamsobre o que acontecera há três dias, mas evitara até ali que o interrogassem e preferia continuarassim.QuandobateunaportadeHagrid,achouprimeiroqueeleestivessefora,masCaninosurgiupelo
cantodacabanaequaseoderrubou,noentusiasmodelhedarboas-vindas.Hagrid,veioadescobrir,estavacolhendolegumesemsuahorta.–Tudobem,Harry!–disseele,sorridente,quandoogarotoseaproximoudacerca.–Entre,entre,
vamos tomar umcopode sucodedente-de-leão...Comovão as coisas?– perguntouHagrid ao sesentaremàmesademadeiracomseuscoposdesucogelado.–Você...ah...estásesentindobem,nãoestá?Harryentendeu,pelaexpressãopreocupadanorostodeHagrid,queelenãoestavasereferindoà
suasaúdefísica.– Estou ótimo – apressou-se a responder, porque não suportaria discutir o que sabia estar na
cabeçadeHagrid.–Então,ondeandou?–Estiveescondidonasmontanhas.Emumacaverna,comoSiriusquando...Hagridinterrompeuafrase,pigarreousemdisfarces,olhouparaHarryetomouumlongogoledo
suco.–Dequalquerjeito,agoraestoudevolta–concluiudebilmente.–Você...vocêestácomumacaramelhor–continuou,decididoamanteraconversaafastadade
Sirius.–Quê?!–exclamouHagrid,erguendoamãoenormeeapalpandoorosto.–Ah...ah,estou.Bom,
Gropeestámuitomaiscomportadoagora,muitomais.Ficoubemfelizdemeverquandovoltei,paradizer a verdade.Naverdade, ele éumbom rapaz...Tenhoatépensado emarranjarumanamoradaparaele...Normalmente Harry teria tentado convencer Hagrid a abandonar a ideia na mesma hora; a
perspectiva de um segundo gigante vir morar na Floresta, talvez mais selvagem e brutal do queGrope, era positivamente alarmante, mas Harry não conseguiu reunir a energia necessária paradiscutiroproblema.Começavaoutravezadesejarestarsozinhoe,comaideiadeapressarapartida,tomouváriosgolesdosucodedente-de-leão,esvaziandometadedocopo.–Agora todoomundosabequevocêandoucontandoaverdade,Harry–disseHagridbrandae
inesperadamente.–Assimvaisermelhor,não?Harryencolheuosombros.
– Escute... –Hagrid se curvou para ele por cima damesa – conheci Siriusmais tempo do quevocê...elemorreulutando,eéassimqueteriaqueridopartir...–Elenãoqueriapartir!–disseHarry,zangado.Hagridbaixouacabeçadesgrenhada.–Não,achoquenãoqueria–disseemvozbaixa.–Masaindaassim,Harry...elenuncafoideficar
sentadoemcasadeixandoosoutroslutaremporele.Nãoteriaseperdoadosenãotivesseidoajudar...Harryseergueuderepente.–TenhoqueirvisitarRonyeHermionenaalahospitalar–dissemaquinalmente.–Ah!–exclamouHagridparecendomuitoperturbado.–Ah... tudobementão,Harry... cuide-se,
então,edêumapassadaporaquisetiverummo...–É...certo...Elerumouparaaportaomaisrápidoquepôdeeaabriu;estavaforadacabanaeatravessavaos
gramadosensolaradosantesqueHagridterminassedesedespedir.Denovo,aspessoasochamaramquando passou. Fechou os olhos por um instante, desejando que todos sumissem, que ele pudessereabri-loseseversozinhonosjardins...Algunsdiasatrás,antesdosexamesterminaremeeletertidoavisãoqueVoldemortplantaraem
suamente,Harry teriadadoquase tudoque lhepedissemparaomundobruxoadmitirqueestiveradizendoaverdade,paraacreditarqueVoldemortretornaraereconhecerqueelenãoeramentirosonemlouco.Agora,porém...Ele acompanhou a curva do lago por algum tempo, sentou-se na margem, abrigando-se dos
olhares dos que passavam atrás de um emaranhado de arbustos, e ficou contemplando a águacintilante,refletindo...Talvezarazãopelaqualqueriaestarsófosseasensaçãodeisolamentodesdeasuaconversacom
Dumbledore. Uma barreira invisível o separava do resto do mundo. Era – e sempre fora – umhomemmarcado.Apenasnuncaentenderarealmenteoqueistosignificava...E,noentanto,sentadoaliàbeiradolago,comopesoterríveldadoraoprimi-lo,comaperdade
Sirius ainda tão sangrenta e recente em seu peito, ele não conseguia sentir nenhumgrande temor.Faziaumdiaensolarado,osjardinsàsuavoltaestavamcheiosdegentequeriae,emborasesentissedistantedelescomosepertencesseaumaraçaàparte,aindaeramuitodifícilacreditarquesuavidatinhadeincluiroassassinatoouneleterminar...Ficou sentado ali muito tempo, contemplando a água, tentando não pensar no padrinho, nem
lembrarqueforanaoutramargemdiretamenteopostaqueSiriusumaveztombara,tentandoafastarcemDementadores...Osoljásepuseraquandoelepercebeuquesentiafrio.Levantou-seevoltouaocastelo,enxugando
orostonamangapelocaminho.
Rony eHermione deixaram a ala hospitalar completamente curados, três dias antes de terminar otrimestre.HermionenãoparavadesinalizarquedesejavafalarsobreSirius,masRonyquasesempreafaziacalarcom“psius”,semprequeelamencionavaaquelenome.Harryaindanãotinhacertezasejá queria ou não falar sobre o padrinho; seu desejo variava como seu humor.Mas sabia de umacoisa:pormaisqueestivesseinfeliznomomento,sentiriaumaenormefaltadeHogwartsdentrodealguns dias, quando voltasse ao número quatro da rua dos Alfeneiros. Ainda que agoracompreendesseexatamenteanecessidadedevoltarlátodoverão,nãosesentiamelhor.Defato,nuncarecearatantovoltar.AProfaUmbridgedeixouHogwartsumdiaantesdofimdotrimestre.Aparentemente,tinhasaído
escondidadaalahospitalarduranteo jantar,comaevidenteesperançadepartirdespercebida,mas,porazar,encontraraPirraçanocaminho,queaproveitouessaúltimaoportunidadeparafazeroque
Fredmandaraecorreracomelaalegrementedocastelo,batendo-lheoracomumabengalaoracomumameiacheiadegiz.MuitosestudantesacorreramaoSaguãodeEntradaparavê-lafugirestradaabaixo, e os diretores das Casas fizeram apenas meios esforços para contê-los. De fato, a ProfaMcGonagall recostara-se em sua cadeira à mesa dos professores depois de fazer algumasadvertências,mas tevequemaouvissedizerclaramenteque lamentavanãopodercorrer aosvivasatrásdaUmbridge,porquePirraçapediraemprestadasuabengala.Chegou a última noite na escola; amaioria dos alunos terminara de fazer asmalas e já estava
descendoparaobanquetedeencerramento,masHarrynemsequercomeçara.– Faça asmalas amanhã! – disse Rony, que o aguardava à porta do dormitório. – Anda, estou
faminto.–Nãovoudemorar...olha,vaiandando...Masquandoaportadodormitório fechouatrásdeRony,Harrynão fezesforçoparaapressara
arrumaçãodasmalas.Aúltimacoisaquequeria fazer eraparticipardobanquetedeencerramento.EstavapreocupadoqueDumbledore fizesse alguma referência a ele emseudiscurso.ComcertezamencionariaoretornodeVoldemort;afinalfizeraissonoanoanterior...Harrypuxoualgumasroupasamarrotadasdofundodomalãoparadarespaçoàsquedobrarae,ao
fazer isso, reparouemumembrulhomalfeitoemumcanto.Nãoconseguia imaginaroqueaquiloestariafazendoali.Abaixou-se,tirou-odebaixodostêniseoexaminou.Emsegundospercebeuoqueera.SiriuslhederaàportadolargoGrimmauldnúmerodoze.“Use
seprecisardemim,estábem?”Harry afundou na cama e desfez o embrulho. De dentro, caiu um pequeno espelho quadrado.
Pareciaantigo;semdúvidaestavasujo.Harryaproximou-odorostoeviuaprópriaimagemamirá-lo.Virouoespelho.AtráshaviaumbilhetecomaletradeSirius.
Esteéumespelhodedois sentidos, tenhoopar.Sevocêprecisar falarcomigo,digaaeleomeunome; você aparecerá no meu espelho e poderei falar no seu. Tiago e eu costumávamos usá-losquandoestávamoscumprindodetençõesseparados.
OcoraçãodeHarrydisparou.Lembrou-sedetervistoseuspaismortosnoEspelhodeOjesed,háquatroanos.IapoderfalaroutravezcomSiriusnesteinstante,sentia...Olhou para os lados para verificar se haveriamais alguém ali; o dormitório estava vazio. Ele
voltousuaatençãoparaoespelho,aproximou-odorostocomasmãostrêmulasedisseemvozaltaeclara:–Sirius.Seuhálitoembaçoua superfíciedoespelho.Trouxe-omaisparaperto, aexcitação invadindo-o,
masosolhosquepiscavamparaeledifusamenteeramdecididamenteosseus.Eletornoualimparoespelhoedisse,demodoquecadasílabaecoasseclaramentepeloquarto:–SiriusBlack!Nada aconteceu. O rosto frustrado que o mirou no espelho continuava a ser, sem dúvida, o
próprio...Siriusnãolevouoespelhocomelequandocruzouoarco,disseumavozinhaemsuacabeça.Por
issoéquenãoestáfuncionando...Harry ficoumuitoquietoporummomento,depois atirouo espelhodevolta aomalão,onde se
estilhaçou.EstiveraconvencidoportodoumfulguranteminutodequeiriaverSirius,falaroutravezcomele...O desapontamento queimava sua garganta; ele se levantou e começou a atirar suas coisas de
qualquerjeitonomalão,porcimadoespelhoquebrado...Masentãoocorreu-lheumaideia...umaideiamelhordoqueadoespelho...umaideiamuitomaior
emaisimportante...comonãopensaranissoantes–porquenuncaperguntara?Saiu correndo do dormitório, desceu a escada circular batendo nas paredes sem reparar;
precipitou-sepela salacomunaldeserta, atravessouoburacodo retratoecontinuoucorrendopelocorredor,ignorandoaMulherGordaquegritouparaele:“Obanquetevaicomeçar,sabe,vocêestáemcimadahora!”MasHarrynãotinhaamenorintençãodeiraobanquete...Como era possível que o castelo estivesse cheio de fantasmas quando não se precisava deles, e
agora...Elecorreupelasescadasecorredoresenãoencontrouninguém,nemvivonemmorto.Estavam
todos, era claro, no Salão Principal. À porta da sala de Feitiços, ele parou, ofegante, pensandodesconsoladoqueteriadeesperaratémaistarde,atédepoisdobanquete...Masquandoacabaradedesistir,eleoviu:alguémtranslúcidoflutuandonofimdocorredor.–Eu...ei,Nick!NICK!Ofantasmapuxouacabeçaparaforadaparede,revelandoumextravagantechapéuemplumadoea
cabeçaprecariamenteequilibradadeSirNicholasdeMimsy-Porpington.–Boa-noite–cumprimentouele,puxandoorestantedocorpoparaforadapedrasólida,esorrindo
para Harry. – Então não sou o único que está atrasado? Embora – suspirou –, em um sentidodiferente,éclaro.–Nick,possolheperguntarumacoisa?Umaexpressãomuitoestranhaperpassouo rostodeNickQuaseSemCabeça, aomesmo tempo
queinseriaumdedonagoladebabadosengomadosaopescoçoeaendireitava,aparentementeparasedarumtempodepensar.Sódesistiuquandoseupescoçoparcialmentedecapitadopareceuprestesadesabar.–Ah...agora,Harry?–perguntousemjeito.–Nãopodeesperaratéacabarobanquete?–Não...Nick...porfavor.Precisorealmentefalarcomvocê.Podemosentraraqui?Harryabriuaportadasaladeaulamaispróxima,eNickQuaseSemCabeçasuspirou.–Ah,muitobem–disseele,conformado.–Nãopossofingirquenãoestivesseesperando.Harrysegurouaportaabertaparaele,masofantasmaatravessouaparededasaladeaula.–Esperandooquê?–perguntouHarry,fechandoaporta.–Vocêvirmeprocurar–disseele,agoradeslizandoatéajanelaecontemplandoosjardinsonde
caíaanoite.–Aconteceàsvezes...quandoalguémsofreuuma...perda.–Bom–disseHarry,recusando-seasedesviardoassunto.–Vocêestavacerto,vim...vimprocurá-
lo.Nicknãorespondeu.–É...–começouHarry,queestavaachandoasituaçãomaisdesconfortáveldoqueprevira–éque...
vocêestámorto.Mascontinuaaqui,nãoé?Nicksuspirouecontinuouacontemplarosjardins.–Estoucerto,não?–insistiuHarry.–Vocêmorreu,masestoufalandocomvocê...vocêpodeandar
porHogwartsetudo,nãoé?–É–disseNickQuaseSemCabeçaemvozbaixa.–Euandoefalo,éverdade.– Então você voltou, não? As pessoas podem voltar, certo? Como fantasmas. Não têm de
desaparecercompletamente.Então?–acrescentouimpaciente,aoverqueNickcontinuavacalado.Ofantasmahesitou,entãodisse:–Nãoétodoomundoquepodevoltarcomofantasma.–Comoassim?–Harryseapressouaperguntar.
–Só...sóbruxos.–Ah!–exclamouHarry,equase riudealívio.–Bom,então tudobem,apessoadequemestou
falandoéumbruxo.Entãoelepodevoltar,certo?NickseafastoudajanelaefitouHarry,pesaroso.–Elenãovoltará.–Quem?–SiriusBlack.–Masvocêvoltou!–disseHarry,zangado.–Vocêvoltou...vocêestámortoenãodesapareceu...– Bruxos podem deixar uma impressão deles na terra, deslizar palidamente por onde andaram
quandovivos–explicouNick,infeliz.–Masmuitopoucosbruxosfazemessaopção.–Porquenão?–perguntouHarry.–Dequalquermaneira...nãoé importante...Siriusnãovaise
importardeserdiferente,elevaivoltar,euseiquevai!E tão forte era sua crença, que Harry virou a cabeça para a porta, certo, por uma fração de
segundo,dequeiaverSirius,branco-pérolaetransparente,massorrindo,atravessaraportaaoseuencontro.–Elenãovoltará–repetiuNick.–Teráprosseguido.–Quequerdizercom“prosseguido”?–perguntouHarrydepressa.–Paraonde?Escute...afinal,o
queacontecequandoapessoamorre?Aondevai?Porquenemtodosvoltam?Porqueocastelonãoestácheiodefantasmas?Porque...–Nãoseiresponder.–Vocêestámorto,nãoestá?–disseHarry,exasperado.–Quempode respondermelhordoque
você?–Eutivemedodamorte–disseNickbrandamente.–Preferificar.Àsvezesmeperguntosenão
deveria...bom, istoquevocêvênãoécánemlá...de fato,eunãoestoucánem lá...–Eledeuumarisadinhatriste.–Nãoconheçoossegredosdamorte,Harry,porqueescolhiumafracaimitaçãodavida.AcreditoquebruxoscultosestudemessaquestãonoDepartamentodeMistérios...–Nãofaledaquelelugarparamim!–exclamouHarrycomferocidade.–Lamentonãoterpodidoajudarmais–disseNickcomgentileza.–Bom...bom...porfavor,agora
medêlicença...obanquete,sabe...E ele saiu da sala, deixando Harry sozinho, contemplando, sem ver, a parede pela qual Nick
desaparecera.Harrysentiu-sequasecomosetivesseperdidoopadrinhooutravez,aoperderaesperançadeque
pudesse tornar a ver ou falar com ele. Caminhou em passos lentos pelo castelo deserto, seperguntandosevoltariaasentiralegria.Acabara de virar em direção ao corredor da Mulher Gorda quando viu alguém mais adiante,
pregando uma nota em umquadro de avisos na parede.Olhando de novo, viu que era Luna.Nãohavianenhumbomesconderijoporperto,elacertamente teriaouvidoosseuspassos,eHarrynãoconseguiriareunirenergiaparaevitarninguémnaquelemomento.–Alô–disseLunavagamente,virandoacabeçaparaeleaoseafastardoquadro.–Porqueéquevocênãoestánobanquete?–perguntouHarry.– Bom, perdi a maior parte dos meus pertences – disse Luna serenamente. – As pessoas os
apanhameescondem,entende.Mascomoéaúltimanoite, eu realmenteprecisodeles, entãoestoupregandoavisos.Ela indicoucomumgestooquadrodeavisos,noqual,defato,pregarauma listacomtodosos
livroseroupasdesaparecidos,pedindoquelhefossemdevolvidos.Uma sensação estranha nasceu emHarry; uma emoção bem diferente da raiva e da dor que o
dominavamdesdeamortedeSirius.Levoualgum tempoatéperceberqueestava sentindopenade
Luna.–Porqueaspessoasescondemsuascoisas?–perguntouele,enrugandoatesta.–Ah...bom...–Lunaencolheuosombros.–Achoquepensamquesoumeioexcêntrica,entende.De
fato,algumaspessoasmechamamDi-luaLovegood.HarryolhouparaLunaeanovasensaçãodepenaseintensificoudolorosamente.–Istonãoérazãoparatiraremoqueéseu–concluiuele.–Vocêquerajudaparaencontrá-los?–Ah,não–disseelasorrindo.–Ascoisasvoltam,semprevoltamnofim.Ésóqueeuqueriafazer
asmalashojeànoite.Dequalquerjeito...porqueéquevocênãoestánobanquete?Harrysacudiuosombros.–Nãoestavaafim.–Não–disseLuna,observando-ocomaquelesolhosestranhamenteenevoadoseprotuberantes.–
Suponhoquenão.OhomemqueosComensaisdaMortematarameraseupadrinho,nãoera?Ginamecontou.Harry fez um breve aceno,mas descobriu que por alguma razão não se incomodava que Luna
falassedeSirius.AcabaradelembrarqueelatambémviaTestrálios.–Vocêjá...–começouele.–Querodizer,quem...alguémquevocêconheciamorreu?–Morreu– disseLuna com simplicidade–,minhamãe.Era umabruxa extraordinária, entende,
masgostavadefazerexperiênciaseumdosseusfeitiçosumdiadeuerrado.Eutinhanoveanos.–Lamento–murmurouHarry.–É,foihorrível–disseLunainformalmente.–Eumesintomuitotristeàsvezes.Masaindatenho
omeupai.Dequalquerjeito,aindavoureverminhamãeumdia,nãoé?–Ah...nãoé?–concordouHarry,inseguro.Elasacudiuacabeça,incrédula.–Ah,vamos.Vocêosouviuatrásdovéu,nãoouviu?–Vocêquerdizer...–Nasaladoarco.Estavamsóseescondendo,sóisso.Vocêosouviu.Osdois se entreolharam.Luna sorria levemente.Harrynão sabia o quedizer nempensar.Luna
acreditavaemcoisastãoextraordinárias...contudo,eletiveracertezadeouvirvozesparaalémdovéutambém.–Vocêtemcertezadequenãoquerqueeuaajudeaprocurarsuascoisas?–perguntouele.– Ah, não – disse Luna. – Não, acho que vou descer e comer um pudim, e esperar que elas
reapareçam...sempreacabamreaparecendo...bom,boasférias,Harry.–É...é,paravocêtambém.Lunaseafastoue,aoacompanhá-lacomoolhar,eleachouqueoterrívelpesoemseuestômago
diminuíraumpouco.
Aviagempara casa noExpresso deHogwarts no dia seguinte foimemorável de váriasmaneiras.Primeiro,Malfoy,CrabbeeGoyle,queclaramentetinhampassadoasemanainteiraàesperadeumaoportunidadeparaatacarsemapresençadeprofessores, tentaramemboscarHarrynotremquandoelevoltavadobanheiro.Oataquetalveztivessesidobem-sucedidosenãofosseofatodeque,semsaber,elestinhamescolhidoencená-loaoladodeumacabinecheiadeintegrantesdaAD,queviramo que estava acontecendo pelo vidro e acorreram juntos para socorrer Harry. Na altura em queErnesto Macmillan, Ana Abbott, Susana Bones, Justino Finch-Fletchley, Antônio Goldstein eTerêncioBootterminaramdeusaraamplavariedadedefeitiçoseazaraçõesqueHarrylhesensinara,Malfoy,CrabbeeGoylepareciamsimplesmentetrêslesmasgigantescasapertadasemuniformesdeHogwartsqueHarry,ErnestoeJustinopenduraramnoporta-bagagemedeixaramaliparaesvaziar.–DevodizerqueestoudoidoparaveracaradamãedeMalfoyquandoeledescerdotrem–disse
Ernesto, satisfeito, observandoMalfoy se contorcer no alto.O garoto nunca chegara a esquecer aindignidadecometidaporMalfoydetirarpontosdaLufa-LufaduranteobreveperíodoemqueforamembrodaBrigadaInquisitorial.–MasamãedeGoylevaificarrealmentesatisfeita–disseRony,quevierainvestigaraorigemdo
tumulto.–Eleestámuitomaisbonitoagora...mas,apropósito,Harry,ocarrinhodecomidaacaboudechegar,sevocêquisercompraralgumacoisa...HarryagradeceuaoscolegaseacompanhouRonydevoltaàcabine,ondecomprouumapilhade
bolosdecaldeirãoetortinhasdeabóbora.HermioneestavalendooProfetaDiáriooutravez,Gina,fazendo as palavras cruzadas do Pasquim, e Neville acariciava sua Mimbulus mimbletonia, quecresceramuitoduranteaqueleanoeagorafaziaestranhosarrulhosquandoalguématocava.HarryeRonypassaramamaiorpartedaviagemjogandoxadrezdebruxoenquantoHermionelia
trechos do Profeta. O jornal vinha agora repleto de artigos ensinando a repelir Dementadores,noticiavaastentativasdoMinistérioparacaçarosComensaisdaMorteereproduziacartashistéricasemqueomissivistadiziatervistoLordeVoldemortpassandoporsuacasanaquelamanhã...–Aindanãocomeçouparavaler–suspirouHermione,deprimida, tornandoa fecharo jornal.–
Masnãofaltamuitoagora...–Ei,Harry–disseRonybaixinho,indicandocomacabeçaajaneladevidroparaocorredor.Harryolhou.Choiapassando,emcompanhiadeMarietaEdgecombe,quetinhaorostoocultopor
uma balaclava. Os olhos dele e os de Cho se encontraram por um momento. A garota corou econtinuouseucaminho.HarryvoltousuaatençãoparaotabuleirodexadrezbememtempodeverumdosseuspeõesserpostoemfugaporumcavalodeRony.–Afinal,que...ah...estáacontecendoentrevocêeela?–perguntouRonyemvozbaixa.–Nada–respondeuHarrysinceramente.–Eu...ah...ouvifalarqueestásaindocomoutrapessoaagora–disseHermione,hesitante.Harryficousurpresoaodescobrirqueainformaçãonãoomagoava.Avontadedeimpressionar
Choparecia pertencer a umpassadoque já não tinhamuita ligação comele; tantas coisas que eledesejaraantesdamortedeSiriusultimamentelhedavamessasensação...asemanaquepassaradesdequeviraSiriuspelaúltimavezpareciaterseprolongadomuitíssimo;estendia-sepordoisuniversos,umcomSiriuseoutrosemele.–Aindabemquevocêestáfora,cara–disseRonycomveemência.–Querodizer,elaébembonita
etudoomais,masagentequeralguémumpoucomaisalegre.–Provavelmenteelaébastantealegrecomoutroqualquer–disseHarry,sacudindoosombros.–Afinal, com quem ela está saindo agora? – perguntouRony aHermione,mas foiGina quem
respondeu.–MiguelCorner.–Miguel...mas... – disse Rony esticando-se no banco para encarar a irmã. –Mas era você que
estavasaindocomele!–Nãoestoumais–disseGina,decidida.–ElenãogostoudaGrifinóriatervencidoaCorvinalno
quadribol,eficourealmentemal-humorado,entãodeioforaneleeelecorreuparaconsolaraCho.–Ginacoçouonarizdistraidamentecomapena,virouoPasquimdecabeçaparabaixoecomeçouamarcarasrespostas.Ronypareceuencantadodavida.–Bom,eusempreacheiqueeleerameioidiota–disse,avançandosuarainhaemdireçãoàtorre
abaladadeHarry.–Quebomparavocê.Escolhaalguém...melhor...dapróximavez.ElançouumolharestranhamentefurtivoaHarryaodizerisso.–Bom,escolhioDinoThomas,vocêdiriaqueémelhor?–perguntouGina,distraída.– QUÊ? – berrou Rony, virando o tabuleiro de xadrez. Bichento mergulhou atrás das peças, e
EdwigesePíchipiaramzangadosdoporta-bagagem.
Quando o trem começou a diminuir a velocidade, próximo à estação de King’s Cross, Harrypensouquenuncativeratãopoucavontadededesembarcar.Chegouaconsiderarporummomentooqueaconteceriaseelesimplesmenteserecusasseasaireinsistisseemcontinuarsentadoali,atéodiaprimeirode setembro,quandoo tremo levariadevolta aHogwarts.Quandooveículo soltou suabaforadafinaleparou,porém,elebaixouagaioladeEdwigesesepreparouparaarrastaromalãoparaforadotrem,comodecostume.QuandooinspetordebilhetesfezsinalparaHarry,RonyeHermionequeeraseguroatravessara
barreiramágicaentreasplataformasnoveedez,porém,eleencontrouumasurpresaàsuaesperadooutrolado:estavaparadoaliumgrupodepessoasqueelejamaisimaginaraencontrar.Entre eles, Olho-Tonto Moody, parecendo tão sinistro de chapéu-coco puxado sobre o olho
mágicoquantopareceriasemele,asmãosnodosassegurandoumlongobastão,ocorpoenvoltoemumavolumosacapadeviagem.Tonksvinhalogoatrásdele,seuscabelosdeumrosachicledebolaberranterefulgindoàluzdosolquesefiltravapelacoberturadevidrosujodaestação,usandoumajeanscheiaderemendoseumacamisetaroxovibrantecomosdizeresAsEsquisitonas.Ao ladodeTonksestavaLupin, seu rostopálido,oscabelosgrisalhos,um longocasacãopuído sobrecalçaesuéter velhos. À frente do grupo, o Sr. e a Sra. Weasley, vestidos com roupas domingueiras detrouxas,eFredeJorgeusandojaquetasnovasdeumtecidoverdeeescamosodecausarespanto.–Rony,Gina!–chamouaSra.Weasley,correndoparaapertarosfilhosnosbraços.–Ah,eHarry
querido...comovaivocê?–Ótimo –mentiuHarry, quando ela o puxou para um abraço também. Por cima do ombro da
bruxa,eleviuRonydeolhosarregaladosparaasroupasnovasdosgêmeos.–Dequetecidoelessãofeitos?–perguntouele,apontandoparaosblusões.– Da mais fina pele de dragão, maninho – disse Fred, dando uma puxadinha no zíper. – Os
negóciosestãoprosperandoeachamosquepodíamosnosdarumtrato.– Olá, Harry – disse Lupin, quando a Sra. Weasley o largou e se virou para cumprimentar
Hermione.–Oi–disseHarry.–Eunãoesperava...queéquevocêstodosestãofazendoaqui?–Bom–disseLupincomumlevesorriso–,achamosquetalvezpudéssemosdarumapalavrinha
comseustiosantesdepermitirqueelesolevassemparacasa.–Nãoseiseéumaboaideia–disseHarrynamesmahora.–Ah,euachoqueé–rosnouMoody,queseaproximaramais,sempremancando.–Sãoelesali,
não,Potter?Obruxoapontoucomopolegarporcimadoombro;seuolhomágicoevidentementeosespiava
pelanuca epelo chapéu-coco.Harry se inclinouuns centímetrospara a esquerda eviuparaquemOlho-Tonto estava apontando e, sem dúvida, eram os três Dursley, que pareciam decididamenteaterradoscomocomitêderecepçãodeHarry.–Ah,Harry!–disseoSr.WeasleydandoascostasaospaisdeHermione,aquemeleacabarade
cumprimentar entusiasticamente, e que agora se revezavam para abraçar a filha. – Bom... vamosentão?–Achoquesim,Arthur–concordouMoody.EleeoSr.WeasleyavançarampelaestaçãoemdireçãoaosDursley,queaparentementeestavam
pregadosnochão.Hermionesedesembaraçougentilmentedamãeparaacompanharogrupo.–Boa-tarde–disseoSr.WeasleyemtomagradávelaotioVálter,parandodiantedele.–Osenhor
talvezselembredemim,omeunomeéArthurWeasley.ComooSr.WeasleydemolirasozinhoamaiorpartedasaladeestardosDursley,hádoisanos,
Harryteriaseadmiradomuitoseotiootivesseesquecido.Defato,otioficouumtommaisescurodemarromarroxeadoeolhouaborrecidoparaoSr.Weasley,maspreferiunãodizernada,emparte,
talvez, porque osDursley estivessem emminoria de dois por um. Tia Petúnia parecia aomesmotempoassustadaeconstrangida;nãoparavadeolharparaos lados,comoseestivesseaterrorizadaquealguémavisseemtalcompanhia.Nessemeio-tempo,Dudadavaaimpressãodequererparecerpequenoeinsignificante,umfeitoemqueestavatendoumfracassoretumbante.–AchamosquegostaríamosdedarumapalavrinhacomosenhorarespeitodeHarry–disseoSr.
Weasleyaindasorrindo.–É–rosnouMoody.–Arespeitodamaneiracomqueeleétratadoquandoestáemsuacasa.OsbigodesdotioVálterpareceramseeriçardeindignação.Possivelmenteporqueochapéu-coco
lhederaaimpressãointeiramenteequivocadadeestartratandocomumaalmaafim,elesedirigiuaMoody.–Nãotenhociênciadequesejadesuacontaoqueaconteceemminhacasa...–Imaginoque tudodequevocênãotemciênciapoderiaenchervários livros,Dursley–rosnou
Moody.–Emtodoocaso,istonãoestáemquestão–interpôsTonks,cujoscabeloscor-de-rosapareciam
agredirtiaPetúniamaisdoquetodoorestojunto,poiselapreferiufecharosolhosaencararamoça.–AquestãoéqueachamosquevocêstêmsidoabomináveiscomoHarry...–Enãoseenganem,saberemosoquefizerem–acrescentouLupinemtomagradável.–Verdade–disseoSr.Weasley.–MesmoquenãodeixemHarryusarofelitone.–Telefone–sussurrouHermione.–É,setivermosamenorsuspeitadequeHarryfoimaltratadodealgumaforma,vocêsterãodese
verconosco–disseMoody.Tio Válter inchou agourentamente. Sua indignação pareceu ultrapassar até o seu medo de um
bandodeexcêntricos.–Osenhorestámeameaçando?–disseemvoztãoaltaquealgunstranseunteschegaramaparar
paraolhar.–Estou–confirmouOlho-Tonto,quepareciamuitosatisfeitodequetioVáltertivesseentendido
tãorapidamente.–Eeupareçootipodehomemquesedeixaintimidar?–vociferouele.–Bom...–disseMoody,afastandoochapéu-cocodatestaparamostraroolhomágicoquegirava
sinistramente.TioVáltersaltouparatráshorrorizadoecolidiudolorosamentecomumcarrinhodebagagem.–Euteriadedizerquesim,Dursley.DeuascostasaotioVálterparaexaminarHarry.–Então,Potter...dêumgritoseprecisardenós.Senãosoubermosnotíciassuastrêsdiasseguidos,
mandaremosalguém...TiaPetúniachoramingou lastimavelmente.Nãopoderiaestarmaisclaroqueestavapensandono
queosvizinhosdiriamseavistassemalgumadessaspessoasentrandopeloseujardim.–Tchau, então,Potter–disseMoody, segurandocomamãonodosaoombrodeHarryporum
momento.–Cuide-se,Harry–disseLupinemvozbaixa.–Mandenotícias.–Harry,tiraremosvocêdeláassimquepudermos–sussurrouaSra.Weasley,abraçando-omais
umavez.–Veremosvocêembreve,cara–disseRony,ansioso,apertandoamãodeHarry.–Muitobreve,Harry–disseHermione,séria.–Prometemos.Harry sacudiu a cabeça. Por alguma razão não conseguia encontrar palavras para dizer o que
significavaparaelevê-losalienfileirados,aoseulado.Emlugardefalar,sorriu,ergueuamãonumgesto de despedida, virou-se e saiu da estação para a rua ensolarada, com tioVálter, tiaPetúnia eDudaandandodepressaparaacompanhá-lo.
TítulosdisponíveisdasérieHarryPotter(emordemdeleitura):
HarryPottereaPedraFilosofalHarryPottereaCâmaraSecreta
HarryPottereoprisioneirodeAzkabanHarryPottereoCálicedeFogoHarryPottereaOrdemdaFênix
HarryPottereoenigmadoPríncipeHarryPottereasRelíquiasdaMorte
LivrosdaBibliotecadeHogwarts
AnimaisFantásticos&OndeHabitamQuadribolAtravésdosSéculosOsContosdeBeedle,oBardo
ExploreoprimeirocapítulodopróximolivrodasérieHarryPotter...
TítuloOriginal :HarryPotterandtheHalf-BloodPrince
TraduzidodoinglêsporLiaWyler
Todososdirei tosreservados;nenhumapartedestapublicaçãopodeserreproduzidaoutransmitidaporquaisquermeios,sejaeletrônico,mecânico,fotocópiaououtrosmeios,semapréviapermissãodaedi tora
Estaediçãodigi tal foi primeiramentepublicadaporPottermoreLimitedem2013
Primeirapublicaçãoempapel impressonoBrasi l em2005porEditoraRoccoLtda.
Direi tosAutorais©J .K.Rowling2005
Direi tosReservados©Direi tosparaal ínguaportugesareservadoscomexclusividadeparaoBrasi l àEditoraRoccoLtda.,2005
IlustraçõesporMaryGrandPré©2005porWarnerBros.
HarryPottercharacters,namesandrelatedindiciaaretrademarksofand©WarnerBros.Ent.
Odirei tomoral daautorafoi reconhecido
ISBN978-1-78110-358-6
www.pottermore.com
deJ.K.Rowling
ContinuesuadiversãocomashistóriasdoHarryPotterpelopottermore.com,eexperimenteomundodeHarryPottercomonuncaantes.Vocêpodeexplorar,compartilhareparticiparnashistórias,mostrarsuaprópriacriatividadeedescobriraindamaisinformaçõesdaprópriaautorasobreos
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AMakenzie,minhalindafilha,dedicooseugêmeodetintaepapel.
Conteúdo
—CAPÍTULOUM——CAPÍTULODOIS——CAPÍTULOTRÊS—
—CAPÍTULOQUATRO——CAPÍTULOCINCO——CAPÍTULOSEIS——CAPÍTULOSETE——CAPÍTULOOITO——CAPÍTULONOVE——CAPÍTULODEZ——CAPÍTULOONZE——CAPÍTULODOZE——CAPÍTULOTREZE—
—CAPÍTULOCATORZE——CAPÍTULOQUINZE—
—CAPÍTULODEZESSEIS——CAPÍTULODEZESSETE——CAPÍTULODEZOITO——CAPÍTULODEZENOVE—
—CAPÍTULOVINTE——CAPÍTULOVINTEEUM——CAPÍTULOVINTEEDOIS——CAPÍTULOVINTEETRÊS—
—CAPÍTULOVINTEEQUATRO——CAPÍTULOVINTEECINCO——CAPÍTULOVINTEESEIS——CAPÍTULOVINTEESETE——CAPÍTULOVINTEEOITO——CAPÍTULOVINTEENOVE—
—CAPÍTULOTRINTA—
—CAPÍTULOUM—
Ooutroministro
Eraquasemeia-noiteeoprimeiro-ministroestavasentadosozinhoemseugabinete,lendoumlongomemorandoqueresvalavapeloseucérebrosemdeixaromenorregistro.Aguardavaumtelefonemadopresidentedeumpaíslongínquoe,entreapreocupaçãoseoinfeliziriatelefonareatentativadereprimirlembrançasdoqueforaumasemanadifícil,longaecansativa,nãosobravamuitoespaçoemsuamente.Quantomaistentavafocalizaraspalavrasnapáginadiantedele,tantomaisclaramenteviaorostotriunfantedeumdosseusadversáriospolíticos.Ohomemapareceranotelejornaldaqueledianãosomenteparaenumerarosterríveisacontecimentosdasemanaanterior(comosealguémprecisassedelembretes)comotambémparaexplicarqueaculpadecadaumdelesedetodos,semexceção,cabiaaogoverno.Opulsodoprimeiro-ministroacelerousódepensarnessasacusações,porquenãoeramjustasnem
verdadeiras.Comoéqueoseugovernopoderiaterimpedidoaquelapontederuir?Eraumabsurdoinsinuaremquenãoestavagastandoosuficientenaconservaçãodepontes.Essatinhamenosdedezanos,eosmaioresespecialistasnãosabiamexplicarporqueracharaexatamenteaomeio,projetandodezenasdecarrosnasprofundezasdorio.Ecomoousavamsugerirqueaquelesdoishomicídiosbárbarosdivulgadoscomestardalhaçoeramconsequênciadafaltadepoliciamento?Ouqueogovernodeveriaterprevistoofuracãoinesperadoqueocorreranooestedopaísecausaratantosprejuízosapessoasepropriedades?Eseriaculpasuaqueumdosministrosdesegundoescalão,HerbertoChorley,tivesseescolhidologoestasemanaparaagirtãobizarramentequeagorairiapassarumbomtempoemcasa?“Umasensaçãodeperigoseapoderoudopaís”,concluíraseuadversário,ocultandoacustoum
largosorriso.E,infelizmente,eraapuraverdade.Opróprioministrosentiaisso;opovorealmentepareciamais
infelizdoquedecostume.Atéotempoestavalúgubre;todaessanévoagélidaemplenoverão...nãoeracerto,nãoeranormal...Elevirouasegundapáginadomemorando,verificouoquantoaindafaltavaeachouqueseria
inútilseesforçar.Espreguiçando-se,contemploupesarosooseugabinete.Eraumabelasala,comumaelegantelareirademármoredefronteàsjanelasdeguilhotina,muitobemfechadasparaevitarofrioatípicodaestação.Comumlevearrepio,oprimeiro-ministroselevantou,foiatéajanelaecontemplouanévoafinaquecolavanosvidros.Foientão,quandoestavadecostasparaasala,queouviuumlevepigarro.Elecongelou,encarandooprópriorostoapavoradorefletidonavidraçaescura.Conheciaaquele
pigarro.Jáoouviraantes.Virou-se,muitolentamente,econfrontouasalavazia.–Alôô!–disse,tentandoaparentarmaiscoragemdoquesentia.Porumbrevemomentopermitiu-seaesperançaimpossíveldequeninguémlherespondesse.Mas
ouviuimediatamenteumavozsecaedecididaquepareciaestarlendoumtextopronto.Vinha–eoprimeiro-ministrosoubeassimqueouviuoprimeiropigarro–dohomenzinhobufonídeodelongaperucaprateada,retratadoemumpequenoquadroaóleoencardidodooutroladodasala.–Paraoprimeiro-ministrodostrouxas.Éurgentequenosencontremos.Favorresponder
imediatamente.Atenciosamente,Fudge.–Ohomemnoquadrolançouumolhardeindagaçãoao
primeiro-ministro.–Ehh–começouoprimeiro-ministro–,ouça...nãoéumbommomento...estouesperandoum
telefonema,sabe...dopresidentedo...–Istopodeserremarcado–respondeulogooquadro.Oprimeiro-ministrodesanimou.Eraoque
receava.–Maseurealmentetinhaesperançasdefalar...–Faremoscomqueopresidenteesqueçaotelefonema.Elenãoligaráhoje,ligaráamanhãànoite–
disseohomenzinho.–Tenhaabondadederesponderimediatamenteaosr.Fudge.–Eu...ah...estábem–disseoprimeiro-ministrovencido.–RecebereiFudge.Voltou,então,depressaàsuaescrivaninha,endireitandoagravata.Malsesentaraeserecompusera
paraaparentarumaexpressãodescontraídaeimpassível,ouassimesperava,umclarãodechamasmuitoverdesapareceunaaberturasoboconsoledalareirademármore.Eleobservou,tentandonãodemonstrarsurpresanempreocupação,umhomemcorpulentoemergirdaschamas,rodopiandorápidocomoumpião.Segundosdepois,eleengatinhavadalareiraparaumbonitotapeteantigo,sacudindoascinzasdasmangasdesualongacapalistrada,segurandoumchapéu-cocoverde-limão.–Ah...primeiro-ministro–disseCornélioFudge,adiantando-seemlargospassos,comamão
estendida.–Quebomrevê-lo!Oprimeiro-ministronãopoderiaretribuirocumprimentocomsinceridade,entãonadarespondeu.
NãosentiaomaisremotoprazerdeverFudge,cujasrarasaparições,alémdeserememsidecididamentealarmantes,emgeralsignificavamqueeleestavaprestesaouvirnotíciasmuitoruins.Alémdomais,Fudgepareciainegavelmenteaflito.Estavamaismagro,maiscalvo,maisgrisalho,eseurostopareciaamarrotado.Oprimeiro-ministrojávirapolíticoscomessaaparênciaantes,enuncatinhasidoumbomaugúrio.–Emquepossoservi-lo?–perguntou,apertandobrevementeamãodeFudgeeindicandoa
cadeiramaisduradiantedaescrivaninha.–Édifícilsaberporondecomeçar–murmurouFudge,puxandoacadeira,sentando-seeapoiando
ochapéusobreosjoelhos.–Quesemana,quesemana...–Tambémteveumasemanaruim?–perguntouoprimeiro-ministrosecamente,esperando,assim,
deixarimplícitoquejátinhaumpratocheionasmãossemprecisardemaiscolheradasdeFudge.–Éclaroquetive–respondeuobruxo,esfregandoosolhosnumgestocansadoeolhandomal-
humoradoparaoprimeiro-ministro.–Tiveamesmasemanaqueosenhor,primeiro-ministro.ApontedeBrockdale...osassassinatosdeBoneseVance...semfalarnasconfusõesnooeste...–Osenhor...ehh...sua...osenhorestáquerendomedizerquegentedoseumundoesteve...esteve
envolvida...nessesacontecimentos,éisso?Fudgefixounoprimeiro-ministroumolharsevero.–Claroqueesteve.Certamenteosenhorpercebeuoqueestáacontecendo,não?–Eu...–hesitouoprimeiro-ministro.EraexatamenteessetipodeatitudequeofaziadetestarasvisitasdeFudge.Afinaldecontas,erao
primeiro-ministroenãogostavaqueninguémofizessesentir-secomoumescolarignorante.MassempreforaassimdesdeoprimeiroencontrocomFudge,emsuaprimeiríssimanoitecomoprimeiro-ministro.Lembravacomosefosseontem,esabiaqueistooatormentariaatémorrer.Encontrava-sesozinhonestemesmogabinete,saboreandooseutriunfodepoisdetantosanosde
sonhoearmações,quandoouviraumpigarroàssuascostas,exatamentecomohojeànoite,e,aosevirar,deradecaracomaquelefeioquadrinhoquesedirigiaaele,anunciandoqueoministrodaMagiaestavaacaminhoparavirseapresentar.Naturalmente,pensaraquealongacampanhaeatensãodaeleiçãootivessemenlouquecido.Ficara
absolutamenteaterrorizadoaoverumquadrofalandocomele,emboraissonãofossenada
comparadoaoquesentiraquandoumhomemqueanunciouserbruxoprojetou-sedalareiraelheapertouamão.PermaneceumudoenquantoFudgecortesmenteexplicavaqueaindahaviabruxosebruxasvivendoemsegredonomundointeiro,ereafirmavaqueelenãoprecisavasepreocupar,poisoministrodaMagiaresponsabilizava-seportodaacomunidadebruxaeimpediaqueapopulaçãonãobruxasoubessedesuaexistência.Era,disseraFudge,umatarefadifícilqueabrangiatudo,desdeleissobreousoresponsáveldevassourasàmanutençãodapopulaçãodedragõessobcontrole(oprimeiro-ministroselembravadeterprocuradoseagarrarnaescrivaninhaaoouvirisso).Fudge,então,paternalmente,deraunstapinhasnoombrodoatônitoprimeiro-ministro.–Nãosepreocupe–dissera–,provavelmenteosenhornãotornaráamever.Sóoincomodareise
houveralgumacoisarealmentegraveocorrendodonossolado,algumacoisaquepossaafetarostrouxas...apopulaçãonãobruxa,melhordizendo.Nãoocorrendonada,éviveredeixarviver.Edevodizer,osenhorestáaceitandoanotíciabemmelhordoqueoseuantecessor.Aqueletentoumeatirarpelajanela,achouqueeueraumapeçapregadapelaoposição.Aoouvirisso,oprimeiro-ministrorecuperoufinalmenteavoz.–Então,osenhornãoéumapeça?Foraasuaúltimaedesesperadaesperança.–Não–respondeuFudgegentilmente.–Receioquenão.Olhe.Etransformouaxícaradechádoprimeiro-ministroemumgerbo.–Mas–ofegouoprimeiro-ministro,aoveraxícaracomeçararoerocantodoseupróximo
discurso–,masporque...porqueninguémmedissenada...?–OministrodaMagiasóapareceparaoprimeiro-ministrodostrouxasemexercício–respondeu
Fudge,repondoavarinhanobolsointernodopaletó.–Achamosqueémelhorassim,pararesguardarosigilo.–Mas,então–baliuoprimeiro-ministro–,porqueoprimeiro-ministroanteriornãomeavisou?Aoouvirisso,Fudgedeuumagargalhada.–Meucaroprimeiro-ministro,seráqueosenhoralgumdiacontaráaalguém?Aindarindo,Fudgelançaraumpónalareira,entraranaschamasverde-esmeraldaedesaparecera
comumbarulhinhosurdo.Oprimeiro-ministroficaraaliparado,imóvel,epercebeuquejamaisenquantovivesseseatreveriaamencionartalencontroaalguém,porque,afinal,quemiriaacreditar?Elelevaraalgumtempoparaserecuperardochoque.Aprincípio,tentaraseconvencerdeque
Fudgeforadefatoumaalucinaçãoprovocadapelasnoitesemclaroduranteaexaustivacampanhaeleitoral.Nainútiltentativadeserlivrardetodososvestígiosdessedesagradávelencontro,elederaogerboaumasobrinha,queadorouopresente,einstruiuoseusecretárioparticularpararetiraroquadrodofeiohomenzinhoqueanunciaraachegadadeFudge.Parasuagrandeaflição,noentanto,oquadrosemostrouimpossívelderemover.Depoisqueváriosmarceneiros,unsdoisconstrutores,umhistoriadordearteeoministrodaFazendatentaraminutilmentearrancá-lodaparede,oprimeiro-ministrodesistiraesimplesmenteseconformaraemtorcerparaqueoquadropermanecesseimóvelesilenciosopelorestodoseumandato.Ocasionalmente,elepoderiajurarquevislumbravapelocantodoolhooocupantedoquadrobocejarou,então,coçaronariz;e,umaouduasvezes,saíradamoldurasemnadadeixaralémdeumpedaçodetelaencardida.Noentanto,elehaviasecondicionadoanãoolharmuitoparaoquadroesemprerepetirparasimesmo,comfirmeza,queosseusolhosoiludiamquandoviaumacoisadessas.Então,haviatrêsanos,emumanoitemuitosemelhanteadehoje,oprimeiro-ministroestava
sozinhoemseugabinetequandooquadromaisumavezanunciaraachegadaiminentedeFudge,queirromperadalareiracomasroupasencharcadasetomadodeintensopânico.Antesqueoprimeiro-ministropudesseperguntarporqueestavapingandoáguaemcimadotapete,Fudgecomeçaraumdiscursosobreumaprisãodequeoprimeiro-ministrojamaisouvirafalar,umtal“Sério”Black,
algumacoisacujapronúncialembravaHogwartseummeninochamadoHarryPotter,coisasqueparaelenãofaziamomenorsentido.–...AcabeidechegardeAzkaban–ofegaraFudge,deixandocairdaabadochapéu-cocoparao
bolsoumaquantidadedeágua.–MeiodomardoNorte,sabe,umvoohorrível...osdementadoresestãofuriosos–eestremeceu–,nuncativeramumafugaantes.Sejacomofor,euprecisavavirprocurá-lo,primeiro-ministro.BlackéumconhecidoassassinodetrouxasepodeestarplanejandosereuniraVocê-Sabe-Quem...mas,naturalmente,osenhornemsabequeméVocê-Sabe-Quem!–PorummomentoFudgeolhoudesamparadoparaoprimeiro-ministro,depoisacrescentou:–Bem,sente-se,sente-se,émelhoreulheexplicar...tomeumuísque...Oprimeiro-ministronãogostounemumpoucoqueomandassemsentaremseuprópriogabinete,
emenosaindaquelheoferecessemoseuprópriouísque,mesmoassimsentou-se.Fudgepuxaraavarinha,conjuraradoisenormescoposcheiosdeumlíquidoâmbar,empurraraumdelesnamãodoprimeiro-ministroepuxaraumacadeira.Fudgefalaramaisdeumahora.Numdeterminadomomento,recusara-seapronunciarumcerto
nomeemvozaltae,emvezdisso,escrevera-oemumpedaçodepergaminho,queenfiaranamãolivredoprimeiro-ministro.QuandofinalmenteFudgefezmençãodeseretirar,oprimeiro-ministrotambémselevantou.–Entãoosenhorachaque...–eapertaraosolhosparaleronomequeseguravanamãoesquerda–
otalLordVol...–Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado!–rosnouFudge.–Desculpe...EntãoosenhorachaqueAquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeadocontinuavivo?–Bem,Dumbledoredizquesim–respondeuele,abotoandoocolarinhodesuacapalistrada–,
masnuncaoencontramos.Sequersaber,elenãoéperigosoanãoserqueconsigaapoio,porissoéquedevemosnospreocuparcomBlack.Então,osenhordivulgaráaqueleaviso?Excelente.Bem,esperoquenãotornemosanosver,primeiro-ministro!Boa-noite.Maselestornaramasever.Menosdeumanodepois,umFudgeatormentadosematerializarana
saladogabineteministerialparainformaraoprimeiro-ministroquetinhahavidoumprobleminhanaCopadoMundodeCatrebol(oupelomenosforaissoqueentendera),emqueváriostrouxastinhamsido“envolvidos”,masqueoprimeiro-ministronãosepreocupasse,ofatodequeVocê-Sabe-Quemforamaisumavezavistadonadasignificava.Fudgeestavasegurodequeeraumincidenteisolado,eaSeçãodeLigaçãocomosTrouxasjáestavafazendoasalteraçõesdememórianecessáriasnaquelemesmoinstante.–Ah,eiaquasemeesquecendo–acrescentouFudge.–Estamosimportandotrêsdragões
estrangeiroseumaesfingeparaoTorneioTribruxo,umaoperaçãorotineira,masoDepartamentoparaRegulamentaçãoeControledasCriaturasMágicasdizque,segundoasnormas,temosdeinformá-losquandotrazemosanimaisperigososdoexterior.–Eu...que...dragões?–gaguejouoprimeiro-ministro.–É,três–disseFudge.–Eumaesfinge.Bem,umbom-diaparaosenhor.Oprimeiro-ministrotiveraainútilesperançadequeosdragõeseaesfingefossemopior,mas
não.Menosdedoisanosdepois,Fudgeirromperapelalareira,dessavez,comanotíciadequehouveraumafugaemmassadeAzkaban.–Umafugaemmassa?–repetiraoprimeiro-ministroroucamente.–Nãoprecisasepreocupar,nãoprecisasepreocupar!–bradaraFudge,jácomumpénaschamas.
–Vamosrecapturá-lossemperdadetempo...sóacheiqueosenhordeviasaber!E,antesqueoprimeiro-ministrotivessetempodegritar:“Espereuminstante!”,Fudgeseforaem
umachuvadefagulhasverdes.Sejaoqueforqueaimprensaeaoposiçãopudessemdizer,oprimeiro-ministronãoeratolo.Não
escaparaàsuaatençãoque,apesardaspalavrastranquilizadorasdeFudgenoprimeiroencontro,ultimamenteandavamsevendobastante,eacadavisitaFudgepareciamaisatrapalhado.PormenosquegostassedepensarnoministrodaMagia(oucomosempreochamavamentalmente,ooutroministro),oprimeiro-ministronãopodiadeixardetemerqueapróximavezqueeleaparecesseasnotíciasseriambemmaispreocupantes.AvisãodeFudgeemergindonovamentedalareira,desalinhado,apreensivoemuitosurpresoqueoprimeiro-ministronãosoubesseexatamenteporqueviera,eraopioracontecimentodeumasemanaextremamentefrustrante.–Comoiriasaberoqueestáacontecendonacomunidade...eh...bruxa?–retorquiuoprimeiro-
ministro.–Tenhoumpaísparagovernarepreocupaçõessuficientesnestemomentosem...–Temosasmesmaspreocupações–interrompeu-oFudge.–ApontedeBrockdalenãoruiupor
desgastenatural.Aquilonãofoirealmenteumfuracão.Oshomicídiosnãoforamobradetrouxas.EafamíliadeHerbertoChorleyestariamaissegurasemele.Nestemomento,estamosprovidenciandosuaremoçãoparaoHospitalSt.MungusparaDoençaseAcidentesMágicos.Seráremovidohojeànoite.–Queéqueosenhor...receio...quê?–engrolouoprimeiro-ministro.Fudgeinspirouprofundamenteedisse:–Primeiro-ministro,sintomuitoterdelheinformarqueelevoltou.Aquele-Que-Não-Deve-Ser-
Nomeadovoltou.–Voltou?Quandoosenhordiz“voltou”...significaqueestávivo?Querodizer...Oprimeiro-ministrovasculhouamemóriaprocurandodetalhesdaterrívelconversaquetinham
tidotrêsanosantes,quandoFudgelhefalaradobruxoaquemtodosmaistemiam,obruxoquecometeracentenasdecrimespavorososantesdedesaparecermisteriosamenteháquinzeanos.–Exatamente,vivo.Istoé...nãosei...seráqueestávivoumhomemquenãopodesermorto?Não
compreendomuitobem,eDumbledorenãoquermeexplicardireito...mas,enfim,semdúvidaeletemumcorpoeestáandandoefalandoematando,entãosuponho,paraosefeitosdestaconversa,que,sim,estávivo.Oprimeiro-ministronãosabiaoquedizer,masohábitoarraigadodequererparecerbem
informadoqualquerquefosseoassuntoquealguémabordasseofezrebuscarnamemóriadetalhesdasconversasquetinhamtidoanteriormente.–OSérioBlackestácom...eh...Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado?–Black?Black?–repetiuFudge,desatento,girandovelozmenteochapéu-coconosdedos.–OsenhorquerdizeroSiriusBlack?PelasbarbasdeMerlim,não.Blackmorreu.Afinal,
estávamos...eh...enganadosarespeitodeBlack.Erainocente.EtampoucoestavamancomunadocomAquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado.Querodizer–acrescentou,emsuadefesa,girandoochapéuaindamaisrápido–,todasaspistasapontavamparaele,tínhamosmaisdecinquentatestemunhasoculares,mas,dequalquerforma,comodisse,elemorreu.Aliás,foiassassinado.DentrodoMinistériodaMagia.Mandeiinstauraruminquérito...Parasuagrandesurpresa,aoouviristo,oprimeiro-ministrosentiumomentâneacompaixãopor
Fudge.Masosentimentofoilogoofuscadoporumlampejodepresunçãoaolembrarque,pormaiorquefossesuaincapacidadedesematerializaremlareiras,nuncatinhahavidonenhumhomicídioemnenhumdosdepartamentosdogovernosobsuaresponsabilidade...pelomenosatéagora...Enquantooprimeiro-ministrodisfarçadamentebatiatrêsvezesnamadeiradesuaescrivaninha,
Fudgecontinuou:–MasBlackagoraépassado.Aquestãoéqueestamosemguerra,primeiro-ministro,eépreciso
tomaralgumasmedidas.–Emguerra?–repetiuoprimeiro-ministro,nervoso.–Semdúvida,osenhorestáexagerandoum
pouco,não?
–Aquele-Que-Não-Deve-Ser-NomeadoagorarecebeureforçosdosseusseguidoresquefugiramdeAzkabanemjaneiro–informouFudge,falandocadavezmaisrápidoegirandoochapéucomtalfúriaqueemseulugarsóseviaumborrãoverde-limão.–Desdequesaíramdaclandestinidade,elesestãoprovocandoocaos.ApontedeBrockdale:foiele,primeiro-ministro,ameaçoufazerummassacredetrouxasseeunãolheentregasseomeucargoe...–Céus,entãoamortedaquelaspessoaséculpasua,esoueuqueestoutendoderesponderpor
treliçasenferrujadasejuntasdeexpansãocorroídas,esabe-seláoquemais!–exclamouoprimeiro-ministro,furioso.–Minhaculpa!–exclamouFudgecorando.–Osenhorestámedizendoqueteriacedidoauma
chantagemdessas?–Talveznão–respondeuoprimeiro-ministro,levantando-seecaminhandopelasala–,maseu
teriaenvidadotodososesforçosparaprenderochantagistaantesqueelecometesseumaatrocidadeigual!–Osenhorrealmenteachaqueeunãomeesforcei?–perguntouFudgeencolerizado.–Todosos
auroresdoMinistérioestavam,eestão,tentandoencontrarVocê-Sabe-Quemecapturarseusseguidores,masacontecequeestamosfalandodeumdosbruxosmaispoderososdetodosostempos,umbruxoquenosescapaháquasetrintaanos!–Entãosuponhoqueosenhorvámedizerqueeletambémprovocouofuracãonooestedopaís?–
perguntouoprimeiro-ministro,sentindosuairritaçãocresceracadapassoquedava.Enfurecia-odescobrirarazãodetodosessesterríveisacidentesenãopoderrevelarnadapublicamente;istoeraquasepiordoquelevaraculpadetudo.–Aquilonãofoiumfuracão–confirmouFudge,infeliz.–Faça-meofavor!–vociferouoprimeiro-ministro,agoradecididamentepisandofortepelasala.
–Árvoresarrancadas,telhadosdestruídos,postesvergados,ferimentospavorosos...–ForamosComensaisdaMorte–disseFudge.–Osseguidoresd’Aquele-Que-Não-Deve-Ser-
Nomeado.Esuspeitamosdaparticipaçãodosgigantes.Oprimeiro-ministroestacoucomosetivessebatidoemummuroinvisível.–Participaçãodoquê?Fudgefezumacareta.–Eleusouosgigantesdaúltimavez,queriacausarumagrandeimpressão.ASeçãode
Contrainformaçãotemtrabalhadovinteequatrohoraspordia,equipesdeobliviadoresestãoemcampotentandoalteraramemóriadetodosostrouxasqueviramoquerealmenteaconteceu,amaiorpartedoDepartamentoparaRegulamentaçãoeControledasCriaturasMágicasestápercorrendoSomerset,masnãoconseguimosencontrargigantes,temsidoumfracasso.–Nãomediga!–exclamouoprimeiro-ministrofurioso.–NãonegareiqueomoralestámuitobaixonoMinistério.Comtudoissoacontecendo,eaindapor
cimaperdemosAméliaBones.–Perderamquem?–AméliaBones.AchefedoDepartamentodeExecuçãodasLeisdaMagia.AchamosqueAquele-
Que-Não-Deve-Ser-Nomeadopodetersidooassassino,porqueeraumabruxamuitotalentosae...etudoindicaqueresistiuomáximo.Fudgepigarreoue,aparentementecomesforço,paroudegirarochapéu-coco.–Masestehomicídiosaiunosjornais–disseoprimeiro-ministro,momentaneamentedistraídode
suaraiva.–Nossosjornais.AméliaBones...disseramapenasqueeraumamulherdemeia-idadequemoravasozinha.Foium...umhomicídiobárbaro,não?Muitodivulgado.Apolíciaestátonta,sabe.Fudgesuspirou.–Claroqueestá.Elafoiencontradamortaemumaposentotrancadopordentro,nãofoi?Masnós
sabemosexatamentequemfoi,nãoqueissoadiantemuitoparasuacaptura.EtevetambémodaEmelinaVance,talvezosenhornãotenhaouvidofalardeste...–Ouvi,sim!–respondeuoprimeiro-ministro.–Aliás,aconteceuaquiperto.Osjornaisdeitarame
rolaram:Nemnoquintaldoprimeiro-ministrovigoramaleieaordem...–E,comosetudoissonãobastasse–continuouFudge,malouvindooquediziaoprimeiro-
ministro–,osdementadoresestãoportodaparte,atacandoaspessoasatortoeadireito...Emumpassadomaisfeliz,afraseteriasidoininteligívelaoprimeiro-ministro,mas,agora,estava
maisbeminformado.–PenseiqueosdementadoresguardassemprisioneirosemAzkaban–arriscoucauteloso.–Guardavam–confirmouFudge,cansado.–Nãomais.DesertaramesejuntaramaAquele-Que-
Não-Deve-Ser-Nomeado.Nãovoufingirquenãofoiumsériorevés.–Mas–contrapôsoprimeiro-ministro,comumacrescentesensaçãodehorror–osenhornãome
contouqueelessãocriaturasqueroubamaesperançaeafelicidadedaspessoas?–Certo.Eestãosereproduzindo.Éistoqueestáprovocandoanévoa.Oprimeiro-ministro,sentindoosjoelhosamolecerem,largou-senacadeiramaispróxima.Aideia
decriaturasinvisíveisvoandopelascidadesepeloscampos,espalhandoodesesperoeadesolaçãoentreseuseleitores,fezcomquesesentissemuitofraco.–Escuteaqui,Fudge:vocêtemdetomarumaprovidência!Ésuaresponsabilidadecomoministro
daMagia!–Meucaroprimeiro-ministro,osenhornãopoderealmentepensarqueaindasouministroda
Magiadepoisdetudoqueaconteceu!Fuiexoneradohátrêsdias.Todaacomunidadebruxavinhaexigindoaminharenúncianasúltimasduassemanas.Nuncaavitãounidadurantetodoomeumandato!–disseFudge,fazendoumacorajosatentativadesorrir.Oprimeiro-ministroficoumudoporunsinstantes.Apesardesuarevoltapelaposiçãoemquefora
colocado,aindasimpatizavacomohomemenvelhecidoqueestavaàsuafrente.–Lamentomuito–disseporfim.–Temalgumacoisaqueeupossafazer?–Émuitagentilezasua,primeiro-ministro,masnãohá.Fuimandadoaquihojeànoitepara
colocá-loapardosacontecimentosrecenteselheapresentaromeusucessor.Penseiatéquejáestivesseaqui,masnaturalmenteandamuitoocupadonomomentocomtantosproblemas.Fudgesevirouparaoretratodohomenzinhofeio,comsualongaperucadecachosprateados,e
naquelemomentocutucandooouvidocomapontadeumapena.AoencontraroolhardeFudge,oquadrofalou:–Elenãotardaráachegar,estásóterminandoumacartaparaDumbledore.–Desejo-lheboasorte–disseFudge,pelaprimeiravezemtomamargurado.–Tenhoescritoa
Dumbledoreduasvezespordianosúltimosquinzedias,maselenãoquersemexer.Seaomenosquisessepersuadirogaroto,eutalvezaindafosse...bem,talvezScrimgeourtenhamaissucesso.–Fudgedeixou-secairemumsilênciovisivelmenteofendido,quefoiquebradoquaseemseguidapelavozsecaeformaldoretrato.–Aoprimeiro-ministrodostrouxas.Solicitoumaentrevista.Urgente.Favorresponder
imediatamente.RufoScrimgeour,ministrodaMagia.–Sim,sim,ótimo–respondeuoprimeiro-ministro,desatento,e,malpiscou,aschamasnalareira
tornaramaseesverdearecresceram,revelandoumsegundobruxoaosrodopioseprojetando-oinstantesdepoisnotapeteantigo.Fudgeseergueue,apósbrevehesitação,oprimeiro-ministroacompanhou-o,observandoorecém-chegadoseendireitar,sacudirapoeiradesuaslongasvestesnegraseolharaoredor.Oprimeiropensamentodoprimeiro-ministro,umatolice,foiqueRufoScrimgeourpareciaum
leãovelho.Haviafiosgrisalhosemsuajubaaloura-daenassobrancelhasespessas;tinhaolhos
amareladoseargutosportrásdeóculosdearameeumacertagraçaemsuamagreza,emboramancasseumpoucoaoandar.Transmitiuumaimediataimpressãodesagacidadeefirmeza;oprimeiro-ministrojulgoucompreenderporqueacomunidadebruxapreferiaaliderançadeScrimgeournestestemposperigosos.–Comoestá?–cumprimentouoprimeiro-ministro,educadamente,estendendoamão.Scrimgeourapertou-abrevemente,osolhosesquadrinhandooaposento,eemseguidapuxoua
varinhadedentrodasvestes.–Fudgecontou-lhetudo?–perguntou,indoatéaportaetocando-acomavarinha.Oprimeiro-
ministroouviuafechaduratrancar.–Eh...sim–respondeuoprimeiro-ministro.–Mas,seosenhornãoseimportar,eupreferiaquea
portacontinuassedestrancada.–Eeupreferianãoserinterrompido–retorquiusecamenteScrimgeour–nemobservado–
acrescentou,apontandoavarinhaparaasjanelasefechandoascortinas.–Muitobem.Souumhomemocupado,entãovamosdiretoaonossoassunto.Emprimeirolugar,precisamosdiscutirasuasegurança.Oprimeiro-ministroempertigou-setodoerespondeu:–Estouperfeitamentesatisfeitocomasegurançaquetenho,muitoobr...–Masnósnãoestamos–interrompeu-oScrimgeour.–Seráumapéssimaperspectivaparaos
trouxasseoseuprimeiro-ministrofordominadoporumaMaldiçãoImperius.Onovosecretárioemsuaantessala...–NãovoudespedirKingsleyShacklebolt,seéoqueestásugerindo!–disseoprimeiro-ministro
indignado.–Eleémuitíssimoeficiente,trabalhaduasvezesmaisqueosoutros...–Porqueéumbruxo–disseScrimgeour,semsequersorrir.–Umaurordegrandeexperiência
quedestacamosparaprotegê-lo.–Espereaí!–exclamouoprimeiro-ministro.–Osenhornãopodesimplesmentecolocargentesua
nomeugabinete.Eudecidoquemtrabalhaparamim...–PenseiqueosenhorestivessesatisfeitocomShacklebolt–contrapôsScrimgeourfriamente.–Estou...querodizer,estava...–Então,nãoháproblema,há?–Eu...bem,enquantootrabalhodeShackleboltcontinuar...eh...excelente–disseoprimeiro-
ministrosemargumento,masobruxomalpareceuouvi-lo.–Agora,quantoaHerbertoChorley,seuministrodesegundoescalão.Essequetemdivertidoo
públicoimitandoumpato.–Quetemele?–perguntouoprimeiro-ministro.–ÉclaroqueestáreagindoaumaMaldiçãoImperiusmalexecutada–afirmouScrimgeour.–
Baralhouoseucérebro,maseleaindaofereceperigo.–Elesófazgrasnar!–disseoprimeiro-ministro,semconvicção.–Comcertezaunsdiasde
descanso...talvezmenosbebida...–UmaequipedoHospitalSt.MungusparaDoençaseAcidentesMágicosestáexaminando-oneste
exatomomento.Eelejátentouestrangulartrêsbruxos.Achomelhorretirá-lodasociedadedostrouxasporunstempos.–Eu...bem...elevaificarbom,nãovai?–perguntouoprimeiro-ministroansioso.Scrimgeour
simplesmenteencolheuosombros,járecuandoemdireçãoàlareira.–Bem,erarealmenteoqueeutinhaadizer.Mantereiosenhorinformadodosdesdobramentos,
primeiro-ministro...ou,casoeuestejademasiadoocupadoparavir,mandareioFudge.Eleconcordouemcontinuartrabalhandocomomeuassessor.Fudgetentousorrir,masnãoconseguiu;suaexpressãoeraadealguémcomdordedente.
Scrimgeourcomeçouaprocurarnobolsoomisteriosopóqueesverdeavaaschamas.Oprimeiro-ministroobservoudesalentadoosdoisbruxosporummomento,entãoaspalavrasquelutaraparareprimiranoitetodafinalmentesaíramdesuaboca.–MaspeloamordeDeus...vocêssãobruxos!Podemfazerbruxarias!Comcertezasãocapazesde
resolver...bem...qualquercoisa!ScrimgeourgirounoscalcanhareslentamenteetrocouumolharincrédulocomFudge,quedesta
vezconseguiusorriraodizercombondade:–Oproblemaéqueooutroladotambémsabefazerbruxarias,primeiro-ministro.E,dizendoisso,osdoisentraram,umapósoutro,naschamasmuitoverdesedesapareceram.
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