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Título Original: Humanidades - II Antologia da SOBRAMES Sergipe

© Copyright 2018 by SOBRAMES Sergipe Sociedade Brasileira dos Médicos Escritores - Regional Sergipe

Todos os direitos desta edição são reservados à Sociedade e aos autores. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, com finalidade de comercialização ou aproveitamento de lucro ou vantagens, com observância da Lei de regência. Poderá ser reproduzido texto, entre aspas, desde que haja clara menção do nome da autora, título da obra, edição e paginação. A violação dos direitos do autor (Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.

Capa e Diagramação Editoração Joselito Miranda Editora ArtNer Comunicação

Organização Impressão Lúcio Antônio Prado Dias Infographics

Revisão Leidiana dos Santos

Printed in Brazil / Impresso no Brasil

Ficha Catalográfica

Dias, Lúcio Antônio Prado (Org.). D541h Humanidades: II Antologia da SOBRAMES Sergipe -Sociedade Brasileira de Médicos Escritores-Regional Sergipe. /Lúcio Antônio Prado Dias. - Aracaju: ArtNer Comunicação, 2018. 318p.: il ISBN 978-85-69567-33-2

1. Antologia-SOBRAMES-Sergipe 2.Médicos Escritores-Obras I - Título CDU: 6:82 (813.7)

Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária: Jane Guimarães Vasconcelos Santos CRB-5/975

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OrganizaçãoLúcio Antônio Prado Dias

Aracaju-SE

2018

EDITORA

Sociedade Brasileira de Médicos EscritoresRegional Sergipe

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Apresentação

É com muita alegria que trazemos à lume a segunda Antologia de contos, crônicas, poesia e prosa da Sociedade Brasileira

de Médicos Escritores – Regional Sergipe – Humanidades - dessa vez com número expressivo de participantes – 27 no total; dos quais quatro são de outros estados brasileiros, o que muito nos honra. O tema não poderia ser mais palpitante. Os novos tempos estão a exigir posturas e condutas mais corretas, onde o sentimento da relação fraterna se sobreponha ao tecnicismo crescente e imperativo.

Os médicos que participam da Antologia Humanidades, na maioria, ainda continuam atuantes nas lides médicas, em diversas especialidades e buscam, na literatura, manifestar suas sensibilidades humanísticas. Sim, porque os médicos escrevem, escrevem muito, e é da palavra escrita que tratamos aqui. É natural que os médicos escrevam. Eles habitam o universo da palavra escrita. Sempre buscaram conhecimento em textos clássicos e até pensam, segundo o aforisma do grande clínico William Osler, no paciente como um texto. Um texto às vezes fácil, às vezes difícil. A medicina trabalha com uma margem de incerteza que não é habitual nas ciências. O escritor Somerset Maugham, que estudou medicina, lembra que seu professor de anatomia lhe pediu que procurasse certo nervo no cadáver. Ele

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não encontrou, porque não estava no local habitual. Comentário do professor: em anatomia, o normal é a exceção. O normal em medicina é um evento estatístico.

A reflexão do parágrafo anterior está contida no livro “A Paixão Transformadora – história da Medicina na Literatura”, do médico e escritor Moacir Scliar e mostra a enorme afinidade entre a medicina e a literatura.

Nesta edição, homenageamos o médico e poeta Aírton Teles Barreto, professor pioneiro da nossa primeira escola médica, pneumologista e tisiologista que, com maestria, ocupou de maneira brilhante um lugar de destaque entre os grandes profissionais e, mais ainda, entre os poetas e escritores sergipanos, nas palavras do professor Francisco Prado Reis, que ocupa a Cadeira de número 1 da Academia Sergipana de Medicina, da qual o Dr. Airton é Patrono.

Destacamos ainda na Antologia Humanidades, um relatório pormenorizado do Sarau Espelho D’Agua, que realizamos em Lisboa em 10 de maio de 2018, um marco na história da SOBRAMES Sergipe.

Agradecemos aos colegas que confiaram suas produções nessa publicação coletiva e temos certeza que os leitores irão usufruir desse compartilhamento de ciência e cultura. Uma boa leitura.

Lúcio Antônio Prado DiasPresidente da SOBRAMES Sergipe

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Sumário

Apresentação .................................................................................... 5

Parte IHomenagem: Airton Teles Barreto ............................................. 9Dados biográficos ....................................................................................... 11Produção literária / Poesias do livro “LÁGRIMAS” e do livro “RÉSTIAS E SOMBRAS” (inédito) ........................................ 25Inquieto na busca do saber FRANCISCO PRADO REIS ....................................................................... 50Airton Teles Barreto, quem é para mim PAULO AMADO OLIVEIRA ...................................................................... 55

Parte IISarau em Lisboa: sucesso retumbante .............................................. 59

Parte IIIMédicos escritores e suas obras ............................................... 83 ANTÔNIO CLÁUDIO NEVES ..................................................................... 85ANTONIO SAMARONE .............................................................................. 92ARLINDA COSTA FONTES .................................................................... 103CÉSAR FARO ............................................................................................... 114CLEÔMENES BARRETO .......................................................................... 125DANIEL LIMA FIGUEIREDO .................................................................. 139

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DÉBORAH PIMENTEL ............................................................................ 144FRANCISCO GUIMARÃES ROLEMBERG ......................................... 157GERALDO BEZERRA ............................................................................... 168GILMÁRIO MACEDO ............................................................................... 176HENRIQUE BATISTA E SILVA .............................................................. 185ILDO SIMÕES RAMOS ............................................................................. 190JOSÉ ABUD .................................................................................................. 198JOSÉ ADERVAL ARAGÃO ....................................................................... 211JOSÉ CÔRTES ROLEMBERG FILHO ................................................... 219 JOSÉ MARCONDES DE JESUS .............................................................. 228JOSÉ SÉRVULO SAMPAIO NUNES ...................................................... 239JOSYANNE RITA DE ARRUDA FRANCO ........................................... 248LÚCIO ANTÔNIO PRADO DIAS ........................................................... 255MARCOS RAMOS CARVALHO .............................................................. 265MARLI PIVA MONTEIRO ....................................................................... 274PAULO SOLTI .............................................................................................. 286PEDRO MONTEIRO BASTOS ................................................................ 293RIKA KAKUDA DA COSTA ..................................................................... 301ZAIRSON DE ALMEIDA FRANCO ....................................................... 309

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Homenagem:

Airton Teles Barreto

Parte I

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Dados biográficos

Nasceu em 12 de agosto de 1924, na Fazenda Boa Sorte, situada no município de Japaratuba, Sergipe, tendo como

pais o Sr. Antônio Teles do Bomfim e Sra. Anália Barreto Bomfim e irmãos Irailde, Helena e Antônio.

Passou sua infância e parte da adolescência nas fazendas “PALMEIRAS” e “ENTRE RIOS” de propriedade da família e localizadas no município de Carmópolis, Sergipe.

Com o pai Antônio, a mãe Anália e a irmã Helena. Ao lado, a irmã Irailde e o irmão Antônio.

Estudou no Colégio Jackson de Figueiredo, como interno, durante o ginásio.

Fez o curso de medicina na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco e, ainda como estudante, estagiou no Sanatório Octávio de Freitas e no Hospital Osvaldo Cruz em Recife.

Diplomado em 8 de dezembro de 1951, regressou a Aracaju, onde exerceu a clínica tisiológica no Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Comerciários (IAPC) e no Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários (IAPI).

Realizou diversos cursos de pós-graduação e aperfei-çoamento em radiologia, farmacologia, pediatria, endocrinologia,

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terapêutica clínica, psicoterapia, tisiologia e eletrocardiografia em Recife, Rio de Janeiro e Brasília.

Foi membro efetivo do Conselho Regional de Medicina de Sergipe (1973-1974) e do Conselho Técnico da Escola de Serviço

Airton Teles: formatura em Medicina - Recife.

Diploma de sócio efetivo da SOMESE

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Social de Sergipe, bem como membro da Sociedade Brasileira de Radiologia, do Colégio Brasileiro de Radiologia (concursado), da União Internacional contra a Tuberculose, da Associação Brasileira de Sociedades de Combate à Tuberculose e Doenças Respiratórias. Desenvolveu também suas atividades de Tisiólogo no Dispensário e no Sanatório de Tuberculose de Aracaju.

Fez parte do grupo de fundadores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Sergipe, tendo sido Professor Titular da cadeira de tisio-pneumologia e, também, da cadeira de Higiene e Medicina Social, tendo lecionado esta última disciplina, tanto na Faculdade de Medicina, quanto na Escola de Serviço Social de Sergipe. Também ministrou aulas de Física Médica na Faculdade de Medicina de Sergipe (1962-1963). No exercício do magistério foi distinguido por três vezes como Paraninfo e quatro vezes como Patrono, numa demonstração inequívoca da admiração de seus alunos e da qualidade do exercício de sua docência.

Foi homenageado, após sua morte, pelos formandos que deram o seu nome à Turma de Medicina de 1981. Foram seus, os versos utilizados no “PREITO DE GRATIDÃO” aos pais dos formandos, na “HOMENAGEM ESPECIAL” aos pacientes e no “AGRADECIMENTO AO CADÁVER DESCONHECIDO”.

Patrono da turma 78-1 da FCMUFS

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Airton Teles como patrono da turma 78.1

Homenagem: nome da turma de 1981

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Foi médico do serviço de Radiologia do Hospital das Clínicas Dr. Augusto Leite (Hospital Cirurgia), tendo sido membro efetivo do corpo clínico, Diretor Clínico e Presidente do Conselho Técnico (1968-1971).

Foi o médico responsável pela organização e coordenação do serviço de Radiologia da antiga Clínica São Lucas, ao lado de Dr. Edson de Oliveira Freire e do Dr. Conrado Neto.

Defendeu a sua Tese de Livre Docência de Tisio-Pneumologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Federal de Sergipe, com defesa pública e aprovação em setembro de 1979, cujo tema foi a “CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA SISTEMÁTICA E DO INFORME DAS IMAGENS ELEMENTARES DO PULMÃO PATOLÓGICO”. Como esta foi a sétima tese de Livre Docência defendida em todos os cursos da Universidade Federal de Sergipe até aquele ano, a própria Reitoria e a Pró- Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa resolveram homenageá-lo e publicaram sua tese em abril de 1983.

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Em 31 de maio de 1999, a Universidade Federal de Sergipe lhe concedeu o Título de PROFESSOR EMÉRITO pelos relevantes serviços prestados ao ensino universitário, através da Resolução de nº 02/99/CONSU.

Profissional extremamente dedicado à Medicina e ao Ensino Superior, o Dr. Airton Teles Barreto tornou-se conhecido, também, pelo seu amor à literatura, sendo eleito para a Cadeira 35 da Academia Sergipana de Letras em setembro de 1979, na sucessão do Dr. Augusto César Leite. No entanto, não foi empossado, pois em janeiro de 1980, a morte o arrebatou do nosso convívio.

O poeta publicou o livro “Lágrimas”, em 1958, onde retrata seu sofrimento pela perda de sua primeira esposa Maria Amália e fala de seu amor à querida musa que partiu. Deixou, também, diversos contos, poesias e produções de grande valor, dentre elas, o livro inédito “Réstias e Sombras”.

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Foi premiado com o 1º Lugar no Concurso Pedro Calazans em 1977 com “Fragmentos” e em 3º Lugar no II Concurso de Contos da SCAS (Sociedade de Cultura Artística de Sergipe) em maio de 1980 com o conto “O COMA”.

O intelectual, professor e acadêmico Manoel Cabral Machado, em 9 de abril de 1980, assim o definiu: “Airton era um poeta solto, sobremodo sensível ao belo para admiração. Vimos, todos, o poeta lírico em “Lágrimas” com o toque e a discursividade romântica. Depois, o lírico amadurece em “Fragmentos” e revela poesia mais participante, embora guarde uma forma polida e lustral que, a meu ver, é a substância encantatória de seus versos. Em “O COMA”, vê-se que o autor utilizou para a exploração ficcional sua área de especialização ocupacional, a medicina. Não o fez, porém, como o contador de histórias, isto é, um narrador de casos médicos. Pela forma, vê-se possuir Airton, recursos expressivos para a ficção, especialmente aquela consciência artesanal. Seu estilo é realmente o homem: estilo direto, castigado, escorreito, sem concessões à linguagem coloquial. Escreveu sempre perseguindo a limpidez, isto é, a frase clara e exuberante, numa adjetivação precisa e voluptuosa.

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19Humanidades - II Antologia da SOBRAMES Sergipe

É isso aí – o homem está todo no que escreveu, surpreendido e surpreendendo.”

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A Academia Sergipana de Medicina o homenageia como Patrono da Cadeira de número 1, atualmente ocupada pelo acadêmico Prof. Dr. Francisco Prado Reis.

É, também, o Patrono da cadeira número 1 da Academia Maçônica do Estado de Sergipe desde 1997.

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Apaixonado pela natureza, tinha a fazenda Palmeira como refúgio nos finais de semana. Lá, buscava preencher seu pomar com as mais diversas fruteiras, vindas de diversas partes do país, como parreiras, figueiras, plantas enxertadas, etc. Também, tinha um carinho especial pelas aves. Buscava a preservação de espécies cada vez mais raras no sertão e no interior do estado como Canário, Cabeça Vermelha, Xexéu e Sofreu. Construiu viveiros imensos em seu quintal, onde colocava plantas e pequenos lagos para tentar reproduzir o habitat natural dos pássaros que comprava por estarem em cativeiro. Criou perdizes, diversas raças de faisão, como Coleira, Dourado, Versicolor e conseguiu a sua reprodução em cativeiro. Observou que a própria natureza podia ter uma solução viável e, assim, resolveu criar galinhas e substituir os seus ovos que estavam chocando, pelos dos faisões. Passou a ter sucesso em sua empreitada de obter reprodução em cativeiro. Após sua morte, vários faisões foram doados à Prefeitura de Aracaju que os colocou no Parque da Praça Olímpio Campos, no centro da cidade.

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No final de 1979, após apresentar desconforto precordial foi orientado a realizar a cirurgia de revascularização do miocárdio. No início de dezembro de 1979, foi operado no Instituto do Coração (INCOR), pelo Dr. Eurycledes de Jesus Zerbini e pelo Dr. Adib Jatene. Permaneceu em São Paulo por cerca de um mês e, após liberação, foi descansar na residência de sua irmã Irailde no Rio de Janeiro. Teve uma boa recuperação até o 49º dia de pós-operatório, quando foi a óbito enquanto dormia.

O Dr. Airton Teles Barreto faleceu jovem, em 23 de janeiro de 1980, aos 55 anos de idade. Deixou, à época, sua segunda esposa Guiomar e três filhos, Maria Amália (do primeiro casamento com Maria Amália Amado, de quem ficou viúvo), Mônica e Airton.

Registro do casamento da filha mais velha Maria Amália com Francisco Muniz, em 1981, um ano após o falecimento do médico e poeta. Na foto,

ainda participam o filho Airton, a filha Mônica e a esposa Guiomar.

Em sua homenagem, a Prefeitura Municipal de Carmópolis (cidade onde passou sua infância, sua adolescência e onde deu assistência médica nos finais de semana aos moradores da região próxima à sua Fazenda Palmeira), deu o seu nome à sede da Secretaria de Saúde que passou a se chamar SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE “DR. AIRTON TELES BARRETO”.

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O Dr. Airton Teles Barreto permanece vivo, com a sua imagem forte na memória e coração de seus filhos, netos e bisneto, tanto pelo exemplo de pai amoroso, presente e dedicado, como pelo de médico humano e ético. A sua doação aos mais humildes e necessitados, assim como a sua dedicação como mestre, mostraram o quanto ele enfatizava que o exercício da medicina precisa e deve ser um sacerdócio. Tais atitudes fazem com que o Dr. Airton Teles Barreto seja respeitado e homenageado como médico, poeta, pai e homem, pela sua defesa da ética e dos princípios morais, sendo uma referência para seus parentes, ex-alunos e colegas.

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Produção Literária

Poesias do livro "LÁGRIMAS" e do livro "RÉSTIAS E SOMBRAS" (inédito)

O poeta classificou e organizou as suas poesias com os seguintes títulos:

1 – AFETIVAS

1.A - As poesias “ORAÇÃO” e “MEU PAI” foram dedicadas a seu pai, Antônio Teles do Bomfim, após ter falecido em seus braços, vítima de um infarto fulminante. Sofreu diante de seu sentimen-to de impotência neste momento tão triste, apesar de toda a sua formação médica. Buscou imprimir em suas poesias, a fé inaba-lável que permitiu a sua aceitação da vontade divina, bem como o amor e a admiração de um filho por um pai.

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ORAÇÃO

Não me revolto, MESTRE, à dor do talho aberto,qual pálpebra que sangra, a lágrima que verto.Eu sei que a morte mostra em sua face triste,mistério e afirmação de um DEUS que eu sei que existe.

Aceito, MESTRE, a dor; - a dor que estala e vibra,a dor que embalde tenta, em vão, quebrar-me a fibra.Foi mais uma tragédia e quem foi mais feridotalvez, quem sabe, eu mesmo e fosse o mais vencido.

Nem sempre o fim de tudo é morto e aquele amigo,aquele herói tombado à luta, permaneceneste arsenal de fé e amor que está comigo.Perdoa, MESTRE, o filho que ficou sem pai,ao desgraçado em pranto, esta fraqueza santa,esta oração de amor, na lágrima que cai.

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27Humanidades - II Antologia da SOBRAMES Sergipe

MEU PAI

Aqui estou, meu pai, a versejar de novo,...eu que julguei, de há muito, a minha musa extinta....e se resisto vivo, ainda, a tanta fúria,é muito menos pelo espírito que tenho que pela fibra indestrutível que me deste.

Partes. Eu fico, aqui, sem jeito e sem remédio,estertorando à minha dor que insiste em ser a companheira enamorada a quem odeio.

Levas contigo a vida e o que melhor me deste: o imenso amor de pai que não se esgota nunca.E cá, no coração sofrido e sem descanso,conservarei comigo o melhor que te dei, o enorme amor de filho, igual ao teu, sem fim.

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28 Humanidades - II Antologia da SOBRAMES Sergipe

Se sabe alguma coisa a pretensão humana,um dia, temos fé, o DEUS a quem amamos,na universal altura e no infinito MUNDO,reunirá em paz perene, imperturbável,eternamente, o pai querido ao filho amado. Não te desesperes nunca! Se ontem foste forte,razões tu não terás de agora seres fraco.Recorda pai querido e amigo inesquecívela fé como LIÇÃO, na fé que tens em DEUS.

Quando menino, abri o olhar à vida e vi,diante de mim, o pai feliz a me fazer sorrir.Havia, na expressão dos lábios que sorriam,o afeto juvenil de outra criança rir.Depois, crescemos juntos: o pai, feito criança,auxiliando o filho a se fazer um homem.Até que um dia, braço ao ombro e a fala séria,A vez primeira, a mim, pediste opinião.Que hesitação a minha!... e tu, como soubesteme compreender confuso ao dares a primeira lição de vida dentre tantas outras que me deste!

Seguimos juntos, filho e pai, os dois amigos:-Tu, amável sempre, o bom gigante,que meus olhos para ver se erguiam;e eu, menino, embora feito homem,não deixei de ser, jamais, em ti,sempre criança iluminada ao teu sorriso.-

Isso foi ontem. Hoje os olhos do homem feito,cegos, não vêm o teu sorriso iluminadoe a criança que era tua, querendo te seguir,no além querendo estar contigo, viva, ao lado,também morreu, depois de ti, aqui na terra.

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29Humanidades - II Antologia da SOBRAMES Sergipe

Quando contigo, à morte, em meus magriços braços,sem nervos e a alma, sem controle, esfarrapado,esmulambado ser, escalavrado à dor,maldisse em desespero a ciência que aprendiàs custas de teu suor, ao teu trabalho enorme.

O acinte da ironia, estúpido, cruel,matou, nas minhas mãos aflitas, a criaturaa quem eu mais no mundo desejei salvar.

Aqui, entre os teus filhos, tua esposa, todos,há tanta dor, há tanta angústia e desespero,que penso: as flores da saudade em teu caixão,estejam vivas como outrora, orvalhadase salpicadas pelo copioso pranto.

Partes. Eu fico, aqui, sem jeito e sem remédio,estertorando à minha dor que insiste em sera companheira enamorada a quem odeio....e a criança que era tua, querendo te seguir,no Além querendo estar contigo, viva, ao lado,também morreu, depois de ti, aqui na terra.

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30 Humanidades - II Antologia da SOBRAMES Sergipe

1.B - As poesias “MARIA”, “A ÚLTIMA SAUDADE”, “ O RELICÁ-RIO”, “DEUS TE PAGUE” e “ÚLTIMO BEIJO” foram dedicadas à sua primeira esposa, Maria Amália Amado Teles. Ele relembra os belos momentos que desfrutou ao lado de sua musa e a sua despedida.

MARIA

Quando vivias, emprestavas juventudeà graciosa primavera das auroras.Isso era um mal. O ciúme cínico das horaspôde alcançar-te em golpe extremamente rude.

A noite odeia a luz e, quando o sol desponta,eis que ela foge, se dissipa, se acovardae esconde-se no Além. Envulta-se, não tarda,e, quando volta ao mundo, a cólera reponta.

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31Humanidades - II Antologia da SOBRAMES Sergipe

A tua graça enciumou a Perfeiçãoe a Natureza enciumada sempre mata.Amor! Que grande glória deu-te a Criação.

Nascida como a Aurora no horizonte raso,vivendo a singeleza de um lar de prata,morreste como o sol na irisação do ocaso.

A ÚLTIMA SAUDADE

Um dia no jardim de tua casa, quandopela primeira vez te vi colhendo flores,beijei-te a boca pura. Ainda me lembro: - o sustoda virgem não beijada, ao beijo inesperado.

Tentei beijar de novo a boca perfumadae tu não evitaste o beijo apaixonado.A cena foi bonita e as flores se vergaramdas hastes, pressentindo extinto o nosso amor,sugado àquele beijo, interminável beijo.Depois do teu jardim me deste uma saudade,saudade que levei comigo pelos mundos.

Voltei. Estavas morta e em teu jardim restava,velando a sensatez do teu primeiro amor, a história natural do teu primeiro beijo.

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32 Humanidades - II Antologia da SOBRAMES Sergipe

O RELICÁRIO

No dia dos teus anos, dei-te uma lembrança.Era um rosário em cuja cruz, atrás se lia:“nós dois, o amor, o mundo”. Nesta frase haviaa pulsação da vida e a fé que em DEUS se alcança.

No meu aniversário deste-me um presente.Um relicário em que se lia a inscrição:“não abra, o meu amor pode fugir”. A mãotremeu tocando o prêmio. Arfava o peito quente,

pulsando à sensação da cínica verdade.A vida prosseguiu na farra da ilusãoe, um dia, tu sumiste. Então, como a saudade

não pude suportar, fui ver o relicário.Estava aberto ali onde o guardei fechadoe estava fora dele, livre, o teu rosário.

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33Humanidades - II Antologia da SOBRAMES Sergipe

DEUS TE PAGUE

Deus te pague, Maria, aquele grande amorque franco à flor da boca o beijo trazia.- Hoje meu lábio sangra em borbotões de dore a boca exangue amarga, empalidece, esfria. –

Deus te pague, Maria, o ilimitado afetoque tu deste sempre. A sorte preconiza o sofrimento. Quando o plano faz concretoo sonho que se vive, a morte o pulveriza.

Deus te pague, Maria, o paraíso aondetu me puseste por dez meses ao teu lado.O coração de esposo, a dor, nunca ele esconde.

E pede e roga a Deus em súplicas a rodo:Senhor! Concede, à minha esposa, o céu inteiroque aqui, na terra, eu dei-lhe a vida, o amor dei todo.

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ÚLTIMO BEIJO

Um beijo apaixonado e quente era o bom diacom que me despertavas sempre. O amor vasavada tua cálida ternura e eu recolhiana concha de minh’alma o excesso que escoava.

Vivíamos os dois num céu interiormuito maior que o céu azul que a vista alcança.Mas, certa vez de um mundo hostil, arrasador,sobre nós dois, infenso bólido se lança.

Corri apreensivo, alcei-te pelos ombros.Candidamente, quase morta, tu sorriasna destruição do nosso céu tornado escombros.

E, procurando atenuar os meus ressábios,deixaste quente escapulir, cheio de amor,o último beijo apaixonado pelos lábios.

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35Humanidades - II Antologia da SOBRAMES Sergipe

AMOR PATERNO

Filho,És o caminho certo, desejado e claro,por onde, livre de incerteza, segues.De ti me vem todo o infinito anseio,toda a infinita inspiração que vibradentro da frágil concha do meu seio...No teu ser nobre, todo o ser mergulho!E esta ternura que nos equilibra,enche-me a vida de orgulho.Se agora mesmo se ilumina o mundo,e se aclara, o teu destino, a graça,se o dia é novo e a noite está risonha,pede que o tempo pare um pouco agora!Dize ao mundo que minha alma sonha!

1.C – Poesia que dedicou aos filhos Maria Amália, Mônica e Airton.

Com as filhas Maria Amália e Mônica e os 3 filhos: Maria Amália, Mônica e Airton

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1.D – Carta/Poesia dedicada à sua segunda esposa, Guiomar Machado Teles Barreto, no período próximo ao seu casamento.

GUIOMAR

- Criaram quase tudo, Guiomar.Criaram, em boa hora, o Calendáriodo amor e o natalício enamoradoda alma infinita do Universo Humano.Artífices de DEUS, também criaram:Dia dos pais, das mães, dos namorados.Aí ficaram. – Não fizeram tudo - ...Não se lembraram de deixar construídoo que será futuramente nosso...Não se lembraram de fazer lembradoo nosso anseio de futuro unido...Talvez que se esquecessem de propósitoe, assim, deixassem para mim, criarfuturamente, em breve, muito em breve,- o outro dia que não foi criado.

Com a esposa Guiomar

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37Humanidades - II Antologia da SOBRAMES Sergipe

2 – SOCIAIS

2.A – O poeta, já naquela época, dava enfoque à responsabilida-de dos políticos para com o povo e à necessidade de o povo des-pertar e fazer melhores escolhas. As poesias “Estátua de Povo”, “Do Estado e da Sé”, “Direito de Propriedade” e o “Destino do Homem” são algumas que retratam suas observações.

ESTÁTUA DE POVO

No herói de metal, a cópia da forma, a forma do gesto e o gesto contido: pedaço de cena no aceno tolhido no exemplo de bronze da raça de raças.No espaço e no tempo, a fala sem voz o esforço embargado da ideia frustrada e o ato impedido na ação dominada do passo indeciso, do passo parado da cópia de bronze da forma do herói.

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Mudez de silêncio, - ferrugem do tempo – no limo e no sujo da história passada. Memória do “povo”, ideia de gente que passa depressa, que olha e não vê, no gesto contido, no aceno parado no passo embargado a história da raça do herói de metal colado no bronze.

Herói de metal, estátua do “povo”, retalho de história, vencido no tempo, parado no espaço na praça esquecido do “povo” que passa, que passa e não para, que olha e não vê, com ares de gente e porte de raça, da raça de “povo” que passa depressa, não pára e acha graça.

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39Humanidades - II Antologia da SOBRAMES Sergipe

DO ESTADO E DA SÉ

Líder, podeis governar! deveis governar! - o que não podeis, nem deveis governar é o direito dos homens. A ele, respeitando-o, deveis e podeis somente administrar.

Padre, podeis pregar! deveis pregar! - o que não podeis, nem deveis apregoar é a doutrina da mentira. A ela, combatendo-a, deveis e podeis apenas consertar.

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DIREITO DE PROPRIEDADE

Estadista, se permitis que invadam minha casa, não respeitais a vossa! se permitis vossa polícia no meu lar, não vos honrais o vosso! se me tomais o meu trabalho honesto, consentistes no assalto!

O DESTINO DO HOMEM

Era só.Era ser.Era livre. Ser livre.

Uniu-se. Gestou. Pariu o estado. Estado de coisas. Era livre. Era ser. Agora é coisa. Coisa do estado, estado de ser... livre de ser livre.

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3 – REFLEXIVAS

3.A – O poeta busca retratar a superação, o autoconhecimento, a liberdade, a razão, a transparência, a verdade e o amor, apesar da falsidade, da inveja e do rancor entre os homens.

EXCEDE-TE

Se tu não tensa mesma glóriaque os outros têm,ao menos deixa que os outros sejamo que não és.Assim, talvez,a tua glória virá depois,no dia em que(quando pensaresque já esgotaste a dimensão do teu tamanho)tu te encontrares na tentativa de te excederes ao próprio ser.

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ASCENÇÃO

Ter asas, ser ave nos ares leves flutuando à toa.As asas leves,os ares soltos,o voo longo,a nuvem brancae o pássaro no céu.Ser livre,ser solto,ser belo,ser leve,ser sonho,ser pássaro. Ter asas livres nos ares soltos em voo longo do céu azul à nuvem branca.Ah! Como é bom ter asas neste mundo preso!Ah! Como é bom ser ave nestes ares livres!

Ser leve,ser alto,ser limpo,ser alvo,ser solto,ser nuvem, ser alma e sentir,

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ser algo e existir, ser graça e sorrir, ser gesto e acenar, ser voz e dizer, ser homem, sonhar, ser sonho e amar, ser vida, pulsar, ser paz e ter fé, ser gente e com Deus, tentar compreender e, quando possível, saber perdoar.

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CINZAS

O Mundo flutua no ventre do Espaço e as coisas germinam do parto do pó.O tempo, artífice do barro, modifica a máscara das coisas....e o relógio batendo no bronze do tempo - qual eterno, imortal sineiro dos dias repica o finados das horas que morrem.A humanidade sonha passadas vivências: memórias em cinzas.A vida soluça, soluços de angústia compondo a sinfonia em desafino que a orquestração das ilusões perturba.Os sonhos se desmancham, resta somente o pó das saudades que foram, desmanteladas hoje, as vivências de outrora.E, das memórias de ontem às vivências de agora,é tudo que resta ao todo que fica,a notícia das coisas abstratas no tempo,soltas no Espaço e perdidas no Mundo.Assim é que são: o Tempo que segue,o Mundo que gira na concha do Espaço,a Vida que teima, que nasce e que luta,enquanto o relógio, apontando com o dedo as horas que nascem,badala em repique o sinal de finados das cinzas que ficam das coisas que morrem nas horas que passam.

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VISÃO DO DERREDOR

Há desacordo. A divergência é do convívio das ideias.Em choque a dualidade... ...conflitam dimensões entre a verdade e a farsa do ser qual é de fato o ser que se faz crer e o ser que não será o ser que pensa ser.

Eu continuo a ver formas de seres simulacros de homens. Há tanta forma humana confundindo que já nos é difícil distinguir, do ser verdade, o ser que está mentindo.Deforma-se a verdade,aleijam-se as visões,em choque a dualidade,em luta as dissenções;confusa a realidade às novas dimensões.Não há concórdia entre a verdade purae o falso informe que a mentira extrema,por mais que a luz se solte e o sol se apague,por mais que o céu se curve e a terra trema.

Por não ter dado a natureza, ao verme,ao dar ao ser humano tantas graças,não pode haver concílio entre o ser homeme o nanismo homuncular das raças.Há, pois,

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o ser humano e seres parecidos, formas humanas, réplicas insanas que passam todo o tempo confundindo virtude e vício, e com vestais, profanas.E eu continuo a ver formas humanas, credos praticando, para ensinar ao mundo a falsa prece da vida, sem virtudes que lhes torna os crápulas mais cínicos da espécie.

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4 – Em “GOTAS DE IDEIA” o poeta expressa seus pensamentos em curtas poesias.

INDIZÍVEIS

Poesia total: - Deus;poema universal: - mãe;verso perfeito: - amor.

TRÁFICO DE INFLUÊNCIA

... o acordo engana, exige, esgana, aflige... e usurpa.

NEUROSE DE RENDA

CRISE: - O dever é viver sem dever... o imposto.

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ADVERTÊNCIA

... os atores se lembremde que a verdade resiste e que a platéia, calada, cismando os assiste...

... e os autores compreendam que o drama consiste no palco infinito da história que existe no eterno conflito da espécie que insiste na eternização do homem finito.

ATUALIDADE

O destino dos povos disfarça nas classes a intrínseca farsa da história do mundo.

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49Humanidades - II Antologia da SOBRAMES Sergipe

BURROCRACIA

Há menos horas no tempo,menos vazio no vácuo,menos espaço no céu,menos área no infinito,menos água no oceano,menos areia na terra,menos miséria na guerra,menos esterco no prado,menos burrice nos asnos,do que asneira em conservadentro do crânio de latado mais sábio burocrata.

...NÃO É NADA...

Se o seu valor se resumena promoção eletivado voto que você pede;se o seu valor se restringeao cargo, por amizade,que, presto, você assume;se o seu valor não consiste em coisa sua, criada,o seu valor não existeé farsa que o mundo impingenão é valor, “não é nada”.

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Inquieto na busca do saber

Acadeira Nº 01 da Academia Sergipana de Medicina acolheu como Patrono um homem eminentemente acadêmico:

AIRTON TELES BARRETO. Sua vida retratou o que se poderia dizer um princípio acadêmico, nas distintas áreas de atuação, seja como médico, professor, intelectual e cidadão. Com maestria ocupou um lugar entre os grandes profissionais e, mais ainda, entre os poetas e escritores sergipanos.

Nascido na Fazenda Boa Sorte, município de Aracaju, em 12 de agosto de 1924, realizou seu Curso Médico na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco, onde colou grau em 1951. Sua biografia revela que desde o tempo de estudante de medicina já sobressaía seu talentoso entusiasmo, ora polêmico, ora surpreendente ou arrebatador, quando se empenhou a discorrer sobre línguas no seu trabalho realizado em 1950 - “Estudo Auto e Filogenético do Homo Sapiens”. Sua agitação acadêmica, já naquela época, o levou a participar de palestras estudantis e de debates científicos enquanto membro presidente de encontros científicos e como participante de diretório acadêmico.

FRANCISCO PRADO REIS

Formou-se médico pela UFS em 1970. Mestre em Anatomia pela Escola Paulista de Medicina em 1975. Doutor em Ciências pelo ICB-USP em 1977. PÓS-DOUTORADO pelo Centro de Microscopia Eletrônica e de Patologia Ultra-estrutural - Instituto Pasteur de Lyon na França em 1981. ESPECIALISTA EM MEDICINA LEGAL em 1982 pela SBML. Professor Emérito da UFS em 2007 e UNIT em 2015. Na UFS percorreu todos os níveis da carreira do magistério mediante concurso público: Auxiliar de Ensino, Assistente, Adjunto Doutor,

Titular. Professor da UNIT desde 1999, coordenou o Curso de Medicina desde sua implantação até 2015; Membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente; pesquisador do ITP. Membro das Academias Sergipana de Medicina - cadeira 1 e Nacional de Medicina Legal - cadeira 20.

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O médico e Prof. Airton Teles (como era conhecido) foi o homem de talento, sempre pronto a defender as ideias e propósitos com entusiasmo, pautando suas ações sempre com ética e humanismo. Essa conduta parece ter sido lhe despertada desde os anos de aprendizado na Faculdade de Medicina. Seu espírito, ainda jovem, era o prenúncio do poeta, que adulto cantou com esmerada realidade a própria vivência da dor. Quis a vida que optasse pela especialidade da radiologia e, a partir dela, sua imersão na tisiologia e pneumologia.

Assim, sua vida profissional foi marcada pela dedicação aos campos de Radiologia e Tisiologia, na época, áreas bastante associadas no campo médico. Graças à sua competente e eficiente atuação nessas áreas médicas, tornou-se um respeitado especialista, reconhecido ao nível nacional. Suas conquistas, obtidas através do seu reconhecido mérito, representadas pelos bem sucedidos concursos que enfrentou ao nível local e nacional, lhe valeram a ocupação dos mais diversos postos oficiais de destaque e de grande conceito técnico-científico entre seus colegas, e na sociedade sergipana em geral.

Foi médico tisiólogo dos extintos IAPC, IAPM e IAPI. Por vários períodos exerceu o cargo de Diretor Clínico do “HOSPITAL DE CLÍNICAS DR. AUGUSTO LEITE”. Merecem destaque sua passagem como Radiologista do HOSPITAL SANTA ISABEL, médico tisiólogo do SANATÓRIO DE TUBERCULOSE DE ARACAJU e, também, do então DISPENSÁRIO DE TUBERCULOSE DE ARACAJU. Quando de sua passagem por este Dispensário, no estado de Sergipe, a tuberculose, moléstia carregada de preconceitos e sofrimento para os que por ela eram acometidos, grassava e propagava-se entre a população. É possível que a partir dessa vivência tenha brotado na mente do poeta suas reflexões e ideias voltadas ao estado do homem. Confirmando o que escreveu Elias Canetti: o poeta é um homem inconformado com o seu tempo.

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Sua próspera clínica jamais o impediu de manter o espírito acadêmico, que se caracteriza pela inquietude da busca do saber. Assim, não se descuidou do preparo e zelo científico, participando de inúmeras atividades científicas como congressos e cursos aos níveis de aperfeiçoamento e de especialização. Publicou trabalhos científicos pertinentes à sua área de atuação médica. Sua incursão sobre os diversos sistemas da economia orgânica e sua paixão pela fisiopatologia fizeram-no um radiologista sempre atualizado.

O médico e Prof. Airton Teles destacou-se pela sua participação atuante na condição de titular de várias entidades ou instituições médicas tais como: Sociedade Médica de Sergipe, da qual também foi representante junto à Associação Médica Brasileira, Colégio e Sociedade Brasileira de Radiologia, União Internacional contra a Tuberculose e Associação Brasileira de Combate à Tuberculose.

Na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Sergipe exerceu o cargo de Professor Titular de “Tisiopneumologia” e de “Medicina Social”. Seu já citado espírito inquieto, e perscrutador, o conduziu em 1979, mesmo já ocupando o cargo de Professor Titular, a apresentar e defender Tese de Livre-Docência junto a essa Faculdade, tendo sido aprovado e obteve o título universitário equivalente à DOUTOR EM MEDICINA.

Com relevante passagem pela Faculdade de Medicina de Sergipe, de quem foi um dos professores fundadores, mereceu o título, in memoriam, de Professor Emérito. Recebeu homenagem póstuma dos formandos em medicina de 1981, que o escolheram para nominar a turma. Ocasião em que a turma utilizou versos de sua autoria.

Chama atenção a atualidade de suas palavras contidas naquele momento, para aqueles formandos e aqui destaco: “aos pacientes que chegam, e sofrem pela dor e pela humilhação e não sabem porquê, confiam no desconhecido, o médico e por sua dor e gemidos constrói o médico e ao mesmo tempo homenageia a medicina.

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Por fim, como a coda de uma peça musical, o agradecimento da ciência e da humanidade”. Que profunda lição para todos nós que exercemos a medicina!

Outro memorável exemplo foi o texto ao cadáver desconhecido. Nele o poeta Airton Teles dissecou com maestria uma realidade que nos faz, historicamente, lembrar os áureos tempos da anatomia, iniciado por Vesalius. Este introduziu o novo paradigma da medicina moderna, que persiste até os dias atuais. O quão lindo aparece proclamado no texto: “o ideal da ciência, o homem morto fazendo a ciência. Continua com o bisturi cortando, o corpo, um livro morto”. Assim, disse Airton “aprendendo medicina lendo a morte”. Finalmente “os agradecimentos do médico pela aula e pela morte”. Sua visão do cadáver permanece atual tal como descreve Breton - “eis o homem cindido entre: corpo e homem”. Obrigado Dr. Airton Teles por tão grandes lições médicas e antropológicas, que nos legou e que permanecem vivas até o presente.

A vida é a experiência mais real do homem e nela cada um parece carregar sua musa. Sem dúvidas, na vida do Prof. AIRTON TELES BARRETO a musa do poeta-médico e do médico-poeta se confundiam. Creio que a dor constrangedora não pode calar o inconformado poeta. Assim, vimos como bem lembra CABRAL MACHADO, desabrochar em Sergipe o Aírton poeta (Lágrimas, 1959); lírico ou literato amadurecendo (Fragmentos, 1977); e o rebuscado e questionador ficcionista em “COMA” (1980). Como superar o constrangimento da dor? Só mesmo o inconformado, polemista e arrebatador poeta o pode fazer.

Aírton foi esse poeta que como médico soube ouvir e entender a dor, tornando-a por mais constrangedora que possa ser, bem menor do que o valor supremo da alma humana, imortal. Por estas razões, merecidamente foi também membro da Academia Sergipana de Letras, ocupando a cadeira no. 35, sucedendo ao DR. AUGUSTO LEITE, grande patriarca da Cirurgia em Sergipe. A este

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patriarca não apenas da cirurgia, mas da medicina em Sergipe, dedicou como homenagem póstuma um maravilhoso excerto do poema CONTRADIÇÃO DA LUZ, que destaco pela sua arte e beleza de construção. Neste excerto é linda a contradição exibida pelo autor entre a luz do céu e a luz de Augusto Leite, cujo destino transitou no mundo lumiando as duas existências diferentes: contradições da luz que se apagou, mas deixou o próprio sol brilhando além do zênite.

Concordo com GILVAN ROCHA quando ao discursar sobre AIRTON TELES BARRETO na Academia Sergipana de Letras, traçou um perfil de sua aparência: empertigado, elegante, cenho cerrado, agudos olhos verdes, dando à imagem a figura de um narciso. Mas o polêmico perscrutador ao desnudar aquela aparência irascível, rompia a sua aparente distância, que parecia lhe encobrir uma imensa timidez, e tornava-se inteiramente ultrassensível, capaz de gestos os mais ternos possíveis. Este era o cidadão, filho, pai, colega, amigo e médico, humano. Faz prova disso o carinho de seus alunos, que por sucessivas vezes o escolheram como paraninfo ou patrono de suas turmas.

Airton Teles foi o homem que fez da família seu microcosmo. Sua obra poética retrata com evidente clareza seus sentimentos por tudo que aconteceu em família. Seus versos são pétalas vivas de um forte sentimento filial e de um vigoroso amor conjugal envolvendo esposa e filhos. Com coragem, declamou a dor que sofreu com palavras tão reais que só um grande poeta pode fazer. Não era sublimação, mas dentro dessas palavras, havia gratidão, cujas saudades celebrou até sua morte. Surpreendentemente também partiu para a eternidade. Tal como se buscasse na ficção de seu conto “COMA” encontrar a realidade: respirou fundo e em demorado mergulho, chegou o instante, para nós não passageiro, pois o imortalizou como um dos Patronos da Academia Sergipana de Medicina.

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Airton Teles Barreto, quem é para mim

Conheci o Dr. Airton Teles Barreto no final da década de 60, como médico tisio-pneumologista de uma tia. Ao retornar da

consulta, ela se sentia mais animada e alegre com o seu estado de saúde, pela forma como era atendida e examinada, deixando-a consciente de seu quadro, dando a atenção merecida a quem o procurava.

O tempo foi passando e eis que vou cursar medicina, tornando-me mais próximo do médico e do professor, lembrando os laços familiares que tinha com a sua filha, em decorrência dos “Amado”.

Procurando capacitar-me para trabalhar no interior, procurei aprender de tudo um pouco, pois, por lá, médico fazia de tudo; perguntei-lhe se podia acompanhá-lo na Radiologia do Hospital de Cirurgia e de pronto ele concordou. Eram verdadeiras aulas. Talvez por isso, em um outro momento, quando desenvolvia atividades no PIPMO – Programa Intensivo de Preparação de Mão de Obra, vinculado ao Ministério do Trabalho em convênio com a Secretaria de Educação, propôs-me a realização de um curso para Técnico em Radiologia, sendo aceito pelos coordenadores, os professores Marcolino Almeida e Maria Hermínia Caldas.Ele elaborou o projeto, acompanhou a execução e assinou os Certificados, junto aos coordenadores designados pela Secretaria. Foi o primeiro curso do gênero no Estado.

PAULO AMADO OLIVEIRA

Formou-se médico pela UFS em 1974. Membro da Academia Sergipana de Medicina, da Academia Sergipana de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Sergipe. Presidiu a Academia Sergipana de Medicina por dois mandatos (2014-2016 e 2016-2018).

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Fui seu aluno na disciplina de Tisio-Pneumologia, cujas aulas eram magistrais. Além do assunto apreciado, ensinava como deveria ser a postura do médico; lembrava que a relação médico-paciente era de conhecimento e de confiança. Para haver confiança, implícito está o humanismo, em ver o doente como pessoa.

Os seus ensinamentos e o seu exemplo tornaram-lhe Patrono de nossa turma em 1974, a primeira iniciada e concluída como Universidade Federal de Sergipe e a maior do curso de medicina até então.

Como professor titular e fundador da Faculdade, foi lhe concedido o título de Titular e, como não houvera a qualificação acadêmica exigida para os que fossem reconhecidos a partir da instalação da Universidade, entregou em setembro de 1976 a Tese para Livre docência de Tisio-Pneumologia e,” somente defendida, por razões alheias à sua vontade, em novembro de 1979.”

Mais uma vez, o médico é procurado pelo aluno para examinar o seu pai, submetido anteriormente a cordectomia e radioterapia de laringe, final do ano 1979; ao ir pegar o resultado da radiografia, no serviço que ele era responsável na Clínica São Lucas, disseram-me para ir a sua casa, na Rua Lagarto, afim de emitir o laudo e rever meu pai. Dirigimo-nos a sua residência, onde conversamos e ele nos disse que não havia comprometimento pulmonar. Por recomendação de seu médico assistente, Airton viajaria no dia seguinte para São Paulo, onde deveria se submeter a investigações cardiológicas mais aprofundadas. Conversamos e cumprimentamo-nos com um abraço. Foi nosso último abraço.

Vendo-o como homem de letras, remonto a 1949, através da História da Imprensa de Pernambuco, no Vol. X, de Luiz do Nascimento, Periódicos do Recife – 1941 / 1954, editado às fls.284-285, onde consta: “Jornal Acadêmico – Órgão do Diretório Acadêmico de Medicina, Odontologia e Farmácia do Recife – Surgiu em abril de 1949.” Tinha como objetivo,

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57Humanidades - II Antologia da SOBRAMES Sergipe

consoante a “Apresentação”, divulgar e estimular no meio estudantil a produção lítero-científica, abrangendo todas as capacidades produtivas geralmente adormecidas”. Nada de conteúdos políticos e de sectarismo improdutivo. Seria a voz enérgica e sincera da mocidade, o “arauto da classe”. Em seu primeiro número, refere-se a artigos de Airton Teles Barreto e Pedro Coelho; poesias de Aurimedes Dias, Anibal Morais e Ariano Suassuna.

Eleito para a Academia Sergipana de Letras, não chega a ser empossado na cadeira nº 35, que tem como Patrono o médico José Lourenço de Magalhães, Fundador Augusto Cesar Leite e seria o seu sucessor. No entanto, a morte chegou primeiro. Foi eleito para a vaga Gilvan Rocha, hoje ocupada por Marlene Alves Calumby.

A Academia Maçônica Sergipana de Artes, Ciências e Letras, o escolhe para ser Patrono da cadeira nº 01. Tem como seu fundador o Acadêmico José Geraldo Dantas Bezerra, confrade da Academia Sergipana de Medicina e do Movimento Cultural Antônio Garcia Filho a quem solicitei o depoimento que transcrevo:

“Tive-o como Mestre em nossa Escola de Medicina e admirei-o pela excelência do conteúdo programático da disciplina Tisiopneumologia e a habilidade pedagógica de nos mostrar no dia a dia dos ambulatórios médicos ou em nossos consultórios a necessidade de aprofundarmos sempre as pesquisas clínicas nas patologias pulmonares, a fim de detectarmos as etiologias infecciosas daquelas de outras origens. Associado a tudo isto, havia nas mensagens um linguajar de uma finura correta a lembrar-nos os clássicos da nossa literatura.”

Alguns anos depois, quando da criação da Academia Maçônica de Artes Ciências e Letras foi-me oferecido como fundador a Cadeira número 1 sob seu patronato, o que me encheu de orgulho por estar sob os auspícios de um representante do mais alto nível intelectual que o nosso estado já produziu.”

Esta é a pessoa que homenageamos.