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PÁGINAS SOLTAS DA VIDA Antologia de Poemas José Francisco Nunes Guilherme Albufeira, 2008

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Pemas de José Guilherme

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Páginas soltas da Vida

Antologia de Poemas

José Francisco Nunes GuilhermeAlbufeira, 2008

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A caminho do Infinito…

do eterno carrossel da dúvida

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Índice

dedicatórianota Préviado eterno carrossel da dúvida

1. “Physis”. Manifestações da Natureza1.1. Viver entre Mitos1.2. O Sentido e a Alquimia1.3. «O Tempo»1.4. Oceano e Destino1.5. Estrelas1.6. Conservação1.7. Ode à Natureza1.8. ADN e Causalidade1.9. Natureza Diamantina1.10. A magia do girassol1.11. A Metafísica da diferença1.12. Memória1.13. Cristais da alma1.14. A essência do ser1.15. Aurora boreal1.16. Natureza

2. Infância. Recordações na aurora da vida2.1. Brincadeiras felinas2.2. Gira bola2.3. Infância

2.4. A Magia do Brinquedo 2.5. O momento2.6. Dançar ao luar2.7. O Menino Jesus Vem aí 2.8. O comboio dos sonhos2.9. Natal da natureza2.10. Amanhecer2.11. Menino Imperador

3. Vida. Questões e destinos3.1. Lógica do viver3.2. A foz do rio3.3. O destino3.4. Perda3.5. O silêncio3.6. Aquilo que é e não foi…3.7. Esperança3.8. O sonho3.9. O olhar brilha na esperança3.10. Até amanhã3.11. O farol3.12. Místicos Viajantes3.13. O Tesouro3.14. Não chores3.15. A bem aventurança

do eterno carrossel da dúvida

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4. Amor. Sentimentos afins4.1. Ecos do universo4.2. Relatividade4.3. Natureza do amor4.4. A multifocalidade do amor4.5. Amor, antídoto da distância4.6. Cumprindo o destino4.7. Os deuses também amam4.8. A alquimia4.9. Alegria4.10. Bondade4.11. Ingenuidade4.12. O paraíso4.13. Luz4.14. A ressonância do teu amor4.15. Luzes da ribalta4.16. Anjos da guarda4.17. A essência do amor4.18. Na esperança do além

5. Sociedade. Sensibilidade Social5.1. Máscaras rudes5.2. «Poder» só o amor5.3. Ventos lusitanos5.4. Portugalidade5.5. Finisterra atlântida5.6. Inaudita atmosfera5.7. O nosso mar5.8. Capital5.9. Trezentos5.10. As rotas da seda5.11. Egipto5.12. Cinderela5.13. Folia carnavalesca5.14. Ensinar5.15. O mestre Ti Chico5.16. O apito da fábrica5.17. Erva azeda e berbigão5.18. O baile da pinha5.19. Sofrimento igual a ignorância5.20. Direitos

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DedicatóriaAos nossos pais

À memória daqueles que nos colocaram no mundo…

Mãe a palavra OBRIGADO parece tão pequenina

para tão grande lição de AMOR que o perfume

da tua existência semeou!...

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Do eterno carrossel da dúvidaJosé Guilherme apresenta-nos o testemunho da sua vivência ontológica com uma antologia de

poemas a que dá o nome de “Páginas soltas da vida”; como se a vida fosse uma árvore de onde se

desprendem memórias e destas se depreendessem frutos.

Trata-se, pois, de uma vasta colheita de ordem estética, entendida esta no sentido grego de aies-

thesis, ou seja, de sensibilidade, esse estado susceptível de percepção e de reacção face àquilo que

o autor constata na realidade.

Recuperar memórias é resgatar um tempo outro; escrevê-las, é renascer pelas palavras; ousar

partilhar essas palavras é sempre uma forma de resistir a um fim que nos está ditado desde a

nascença.

Dividida em cinco partes, esta obra recorre fortemente ao passado quando nos fala da infância

– “recordações na aurora da vida” e do amor – “sentimentos afins”. Como se um tema estivesse

umbilicalmente ligado ao outro. Diz-nos em “O comboio dos sonhos” que “o reencontro da lareira

espera-nos,/ afectos e salpicos coloridos, /são acendalhas para o fogo da vida” e logo na parte

dedicada ao amor, refere “as noites não são escuras/porque são salpicadas de estrelas / a minha

vida não é vazia, /pois a tua alma a inunda”.

Estes versos notáveis, a par de tantos outros que preenchem a segunda e a quarta parte da obra,

testemunham igualmente estarmos perante um documento de pendor filosófico, no qual a estéti-

ca vigente aponta para um autor cujas energias da mente e da inteligência estão em permanente

despertar – para despertar as energias cognitivas e emotivas do seu leitor. E aqui entramos na

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primeira e terceira parte do livro. A primeira dedicada à “Physis. Manifestações da vida”, e a terceira

à própria “Vida. Questões e destinos”, onde nos diz que “a utopia alegre e sempre adiada/ a tristeza

sentida e partilhada /jorram lágrimas rebeldes e incontidas,/ muitos seres espreitam…/no grande

vale, os espíritos recebem todas as águas, /que a criança dentro de nós alimenta!...”

Este intercalar de infância e destino, de manifestações unas e universais, de Natureza e sentimen-

tos, faz-nos lembrar Ortega y Gasset, que apontado a necessidade de transcendermos as nossas

próprias convicções, concebia o horizonte de uma pessoa como “um órgão vivo”, um horizonte que

“emigra, dilata-se, ondula”, ou seja, movimentos semelhantes aos da respiração. Efectivamente,

pensar a palavra estética, a palavra arte, a palavra beleza, a palavra literatura, envolvidas num

processo de transformação que os dicionários e manuais não acompanham, é repensar as nossas

próprias convicções, e respirar mais fundo. E é isso o que o autor nos transmite – este respirar cons-

ciente sobre a vida. Veja-se com flui o poema “Oceano e destino”, logo no início da obra:

Entre oceanos,

Na imensidão da espuma…

No desbravar do destino!

O insondável surge realidade,

A realidade funde-se no oceano…

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Mas há mais do que memórias – há uma ânsia latente do autor em mudar o mundo, de provocar

nos outros uma reacção que possa levar à criação de situações existenciais inusitadas. E nisto,

este punhado de memórias vira punhal de combate – não agressivo, mas acutilante, um golpe

recuperado pela palavra para desencadear um novo comportamento verbal, capaz de ser

responsável por uma mudança nas novas condutas do quotidiano mais comezinho que possa

existir nas nossas vidas. Diz-nos isso mesmo na última parte da obra, dedicada à “Sensibilida-

de social”. Note-se o pendor humanamente reformador do poema “Ensinar”:

Olhar pelos jovens é como reparar as janelas do tempo,

Tentar ajudar é amar o outro lado do espelho!...

Investir no semelhante equivale a semear esperança,

Enquanto existir luz, há conhecimento genuíno…

E é na esperança de formar pessoas genuínas que ensinamos,

Aspirando a ser guerreiros da luz existimos,

É dentro do rio do amor que trabalhamos.

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José Guilherme diz-nos assim que ainda existe esperança por parte dos poetas em transformar

e mobilizar todo um colectivo pela arte. E tal esperança no poder da palavra só pode corres-

ponder a uma esperança vital no poder auto-renovador da própria humanidade.

Mas se existe esperança, existe dor. A dor da vida, companheira indissociável das alegrias -

pois só sente tristeza quem deseja a felicidade ou já experimentou alguma alegria. A dor é um

ingrediente necessário da arte, da literatura. São muitas as vezes que Guilherme invoca Madre

Teresa, Dalai Lama, Gandhi, Krisnamurti e outros cujo conhecimento foi obtido mediante uma

experiência dolorosa e lúcida face à realidade. Talvez com estas nomeações, esta ausência de

fronteiras, de raças e de credos, o autor (que comunga até na forma dos versos de um certo

orientalismo, com Tao à cimeira) nos esteja a dizer que este é o momento de reencontrar a

arte, a literatura, não como simples entretenimento ou até como jogo sofisticado, “inteligente”,

de imagens, sons e palavras, mas para preencher o vazio da reflexão, da compreensão e da

auto-compreensão, vazio esse causado por inúmeras vicissitudes de um tempo que presencia

actualmente terríveis tensões, agravadas pela consciência dessas próprias tensões.

Não é por isso à toa que este livro se socorre constantemente do elemento água – apesar da

abundância dos restantes elementos, este impera. É que água é transparência, é leveza, é

cordialidade e solidariedade – as águas desconhecem fronteiras, são dádiva e fonte de vida

para homens e mulheres de todas etnias e condições sociais. E, lamentavelmente, tudo o que

a água simboliza, tendo vindo a ser perdido, a par do afastamento do ser humano das suas

origens, dos seus valores e crenças imemoriais.

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Recordemos que uma das imagens filosóficas mais belas, a de Heráclito para ilustrar o eterno

fluir da Vida, só poderia ter conexão com o elemento primário: não se pode banhar duas vezes

nas mesmas águas do rio. Para Tales, a água era a origem de tudo. Para Empédocles, a água

era um dos quatro elementos – ao lado da terra, fogo e ar – que formam tudo o que existe.

Não estranhe pois o leitor de José Guilherme por encontrar sucessivamente referências à li-

quidez, ao rio, à chuva, cristais, bolas de sabão, nevoeiro, oceano e todas as formas que a água

pode ter, assim como referentes a ela ligados, como marinheiros, portos, faróis e outros.

Mas água é também música. E um dos mais sedutores aspectos desta obra, é deveras a sua

musicalidade – assim como a graça que também imprime à tradição que irrompe do país que

viu nascer o autor. Deleitemo-nos pois, para terminar, com o riso à boca da alma - e saboree-

mos o poema da “Erva azeda e berbigão”:

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O cão aguarda solenemente que cumpra a tradição!

Que é no dia de Entrudo ir ao berbigão,

A mula é generosa, rebocando carroça e vizinhança…

Cão e mula, parecem adivinhar dieta,

E precipitam-se comendo era azeda a caminho do destino…

A praia da Espregueira espera pelos semi-nómadas exploradores!...

Colhem-se, sacrificando a vida com sacas e sacas destes preciosos bivalves!

As crianças pressentem vamos entrar na dinastia da dieta do berbigão…

E mula e cão cismando: cumpra-se o destino

Da dieta da erva azeda e berbigão!

Luísa Monteiro

Albufeira, 8 de Outubro de 2008

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Nota PréviaPor vezes, as múltiplas realidades constrangem-nos.

O mundo não nos pode ser alheio!

O desabrochar de uma flor, o olhar de um felino ou o sorriso de

uma criança emociona-nos.

Mas também o sofrimento de um geronte ou as mordaças de um

operário português afecta-nos profundamente.

A vida mesmo difícil permite-nos pensar na manifestação da

própria vida. O amor daqueles que em nós investiram, pode ser por

vezes reflectido e partilhado naqueles que amamos.

E assim, vamos sentindo a nossa existência…

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01. «Physis»Manifestações da Natureza

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Viver entre mitosCom Tao, há sol e sombra,

Mas não há é morte e vida.

Porque o panteísmo é amante de todas as coisas,

É assim a transfantasia mitologizante.

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11O Sentido e a AlquimiaNem sol, nem sombra,

Nem ouro em pó, nem estrume…

Estar no cume e estar no ventre da Terra,

Equivale a uma grande distância,

Entre o ser e o não ser.

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«O Tempo»Tic-TAC, Tic-TAC…

Chronos é um deus reciclável.

O ser é, o ser foi, o ser será,

Um eterno Tic-TAC.

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Oceano e destinoEntre oceanos,

Na imensidão da espuma…

No desbravar do destino!

O insondável surge realidade,

A realidade funde-se no ocenao.

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EstrelasPlantadas no firmamento, parecem olhar fixamente,

A quem as contempla.

E o aventureiro, vagueia ao encontro de coincidências.

Desenrola-se a vida, cumpre-se o destino…

Para sempre permanecerão as estrelas com as suas memórias,

Serão apreciadas por muitos milhares de aventureiros,

Formarão muitos laços de cumplicidade com os seus admiradores,

Só a alma pode resistir, a tão extraordinária viagem no tempo.

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ConservaçãoTodos os dias tenho saudades,

De adormecer e sonhar.

Ver estrelas, rios e planetas.

Duendes, animais carinhosos e plantas sorrindo…

Ver respeitados os ciclos cósmicos,

E acordar na esperança de a natureza ver humanidade.

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Ode à NaturezaQuantum, neurónio, genial.

Rio, estrela, galáxia…

Curiosidade, sabedoria, informação;

Lince, albatroz, medusa;

Cor, pensamentos, mil sonhos…

Tudo a natureza contempla!...

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ADN e causalidadeJogo, roleta, devir.

ADN surge na lógica do acaso!

A massa crítica manifesta-se…

Do intangível nómeno,

Aparentemente se passa ao fenómeno.

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Natureza DiamantinaA vibração da genuína saúde,

O brilho do olhar da pantera,

A pura cor dos diamantes,

O mágico cintilar das estrelas,

São como o ingénuo sorriso das crianças.

Só o sol pode ombrear,

O iluminar da natureza diamantina.

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A magia do girassolDescobrindo na magia do amanhecer,

Um raio de luz no prismático pulular da natureza.

Espreitam gatos, raposas, avestruzes,

Nas místicas planícies alentejanas;

Quão prendadas de tão misteriosa beleza!...

Um raio de sol descobre e dá sentido,

Ao esplendor da magia do girassol.

E nós pessoas?

Somos como as flores!

O Sol só nos faz bem…

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Page 24: Livro Antologia

A Metafísica da diferençaBifurcações, equivalências e antíteses,

Simetrias do inverso,

Naturezas complementares.

In e Ian, complementam o Tao.

Do feio, com o tempo bonito lhe parece,

E o outro é o nosso reflexo…

Em última análise, tudo parece uno!...

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MemóriaO que os pensamentos evocam a partir dos sentimentos!

As águas que os rios transportam nas suas afinidades.

O registo do olhar da águia que desce dos céus,

As características que o ADN perpetua na vida.

A rota que as andorinhas traçam no seu regresso primaveril,

A infinitesimal solução que a homeopatia contempla,

A memória colectiva de uma etnia que se projecta para além das gerações,

O aroma da díade mãe/cria que o amor une,

Os registos akarshicos que viajam no cosmos!...

A memória entranha-se no ser e este expande-se na memória.

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Page 26: Livro Antologia

Cristais da almaOs pensamentos coloridos podem ser forjados a partir de muitas realidades,

O fascínio das flores, o brilho dos diamantes ou o cantar dos golfinhos.

E a neblina de uma manhã salpicada pelos primeiros raios de luz,

A quente noite mediterrânea recheada de estrelas,

O dançar de um cardume de peixes multicoloridos nas cristalinas e translúci-

das águas do Índico,

Ou a orquestral sinfonia no âmago da estridente selva amazónica.

Se fosse possível concentrar tal panóplia de coloridos denominaria: sortido

de cristais da alma!

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A essência do serSou medusa que saboreia o mar salgado,

Condor que sobrevoa os continentes dos céus,

Salmão que se orienta contra a corrente dos rios,

Lobo que perpetua a sua mística personalidade nas neves,

Pantera que descobre a lua como cúmplice companheira de caça,

Cão que afectuosamente memoriza os seus na familiar companhia,

Chimpanzé que não compreende o motivo de tanta graça,

Cavalo que galopa através dos cruzados,

Descobridor navegante que carimba no seu mastro a bandeira de sua pátria,

Vivo nas multidões que manifestam a sua fé,

Refugio-me no silêncio árido e reconfortante do deserto…

Também sou mil cores e ao mesmo tempo translúcido no existir do pensamento,

Algum dia, sentir-me-ei em parte alguma e em toda a natureza,

Viajo na vacuidade, mas sou trespassado pela lança do amor.

Fui projecto, manifesto-me na vida…

Integro-me no panteísmo quântico do devir,

Sou corpúsculo e onda, no evoluir da essência do ser.

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Page 28: Livro Antologia

Aurora borealA noite traz-nos magia,

Irrompe a aurora boreal…

Acendem-se os corações,

O urso transporta afagosamente o bebé!

A claridade multicolorida extasia-nos,

Sonha o místico…

Page 29: Livro Antologia

NaturezaA natureza é bela.

Impõe-se, sem precisar de palavras.

Expressa.se sem intenções ou fronteiras,

utiliza todas as leis do universo,

E, nem precisa de pensar coisa alguma,

Basta apenas existir, manifestar-se...

Ser fonte de vida.

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02. INFÂNCIARecordações na aurora da vida

Page 31: Livro Antologia

Brincadeiras felinasAcorda, espreguiça-se e vai,

Como que reagindo ao desconhecido!

Às vezes teimosamente persiste,

Perpetuando infantis tarefas;

Bolinha cá, bolinha lá…

Como que dizendo:

O mundo da infância deveria somente resumir-se a brincadeiras felinas!...

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Page 32: Livro Antologia

A magia do brinquedoAguardando na esperança do brinquedo prometido,

O brilho do olhar parece encontrar paralelismo,

No brilhante cintilar prateado do firmamento.

A criança confia às estrelas,

O sonho na esperança guardado.

Não sabe se é à noitinha ou p`la madrugada?

O encontro com a magia novidade do brinquedo.

Em tons alquimistas, suspenso continua o cenário,

Na novidade magia do brinquedo…

Page 33: Livro Antologia

Gira bolaTelefonias teimosas ecoavam,

Nas persistentes tardes que se prolongavam,

Eusébio, golo, golo…

Nos salpicados coloridos da mente desfilavam,

Vermelho, verde, azul…

Fundiam-se nos cromos das chicletes,

Aromas, cores e sons,

Sonhos de grandes feitos despertavam…

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Page 34: Livro Antologia

InfânciaMúsica, flores, arco-íris,

Ursinhos saltitões e brincalhões.

O existir da vida,

A dança do teu encanto,

Começa no teu ventre imaculado!...

Page 35: Livro Antologia

O momentoPirolitos, mais pirolitos,

Estrelinhas cristalinas,

Beijinhos mais beijinhos,

Mil abracinhos,

Comungam mil pensamentos…

Que se fundem num momento.

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Page 36: Livro Antologia

Dançar ao luarO luar torna canais espelhosos,

Derramada pela noite prateada, a música do seu encanto!

Por entre a azáfama da serpenteada eira palco da desfolhada,

Mil sorrisos, mil esperanças e (re)encontros!...

O aroma da canela dos bolinhos acicata a vida,

Acompanhando o despertar mágico dançar dos felinos,

No Agosto luar da desfolhada.

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O comboio dos sonhosNos empinados caminhos da serra,

Almas voam por entre sonhos e reencontros!

É como o trespassar do denso nevoeiro,

Que as brumas da nossa mente projectam.

O reencontro da lareira espera-nos,

Afectos e salpicos coloridos,

São acendalhas para o fogo da vida.

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Page 38: Livro Antologia

O Menino Jesus vem aíOs campos cobrem-se de neve,

As famílias extasiadas pela boa nova,

Espelham rostos de espanto encantado.

O sentimento de alegria do universo,

Entroniza-se na musicalidade cósmica divina!

As luzes das cidades,

Confundem-se com a expansão do colorido dos mágicos pirilampos.

Os reis magos reiniciam a mágica expedição da esperança.

Alguns choram de alegria, exultando o milagre da vida.

E tudo parece solidário: rios, planetas, aves, cães, peixes…

Quando o mundo percepciona: o Menino Jesus vem aí.

Page 39: Livro Antologia

Natal da NaturezaPapagaio e mente do menino imperador esvoaçam ao sabor do momento,

As searas do dourado trigo acariciam-no.

Sob a égide do sol resplandecente, um lustroso urso olha ternamente pare-

cendo querer apadrinhar este acontecer…

As águas cristalinas que descem vertiginosamente da montanha suspiram

de felicidade!

A surpresa vem da chuva que surge quanticamente entrelaçada ao arco-íris,

A atmosfera do Império do Espírito Santo extasia o Menino Imperador, que-

rendo adivinhar o Natal da Natureza…

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Page 40: Livro Antologia

AmanhecerNão sei que verde tão colorido,

Espreitaria tão carismáticos raios solares;

Sinais são múltiplos…

Aromas, folhas, orvalho e o autocarro palmilhando a encosta.

Café e pão quente com manteiga estimulam,

E até a inesperada visita serrana acicata o sentir!...

Enquanto a avó prepara no sorriso esmaltado frescos bolinhos,

O burrito parece engenhosamente descobrir por entre a encosta,

A melhor forma de desbravar caminho,

No amanhecer dos raios de sol.

Page 41: Livro Antologia

Príncipes de AladinoAs horas esfumam-se no lúdico,

O tempo está sujeito às leis da utopia!

O brincar na criança tem tanto poder…

E a natureza apresenta facetas deveras alquimistas,

Cores, sons, risos, brilhos e pensamentos,

Ecoam em qualquer galáxia do firmamento,

Quando os príncipes de Aladino brincam.

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Page 42: Livro Antologia

03. VIDAQuestões e destinos!...

Page 43: Livro Antologia

Lógica do viverAlvorada, magnitude,

Solenitude no pensamento,

Abstracção na comtemplação.

É um vai e vem constante,

Onde mito e racionalidade,

Se digladiam perenemente…

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Page 44: Livro Antologia

A foz do rioPara quê tanta azáfama?

Se o leito do rio fica já ali.

Corre, corre, em direcção ao nada!

Na alçada do simples aspiramos à felicidade,

E porque a felicidade se pode desmontar em pequenos acontecimentos,

Vivamos o quotidiano.

O ser é, o ser foi, o ser será;

Tudo é ser…

Page 45: Livro Antologia

O destinoSonhos, precipícios, alucinações,

Tudo passa e tudo jaz.

Como a magnificência do «apheiron»,

A contemplar a ânsia maravilhosa!

A inquietude da quietude intransigente,

Que o «destino» nos lança…

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Page 46: Livro Antologia

PerdaGladíolos e lágrimas irrompiam,

Na cinzenta tarde sentença.

O destino mostrava-se implacável!

Aterrador desfecho suspendia a respiração,

Mil pensamentos e profunda tristeza,

Tapavam o véu da esperança.

E tudo parecia ter acabado…

Page 47: Livro Antologia

O silêncioQuando o verbo não ecoa,

E se o coração sufoca,

Não se sabe onde está a alma.

Se o abandono é ser parecido com o silêncio,

E o colorido não se vê,

Cinzento e preto são cores,

Porque este silêncio não sorri,

E a alma não encontra colorido.

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Page 48: Livro Antologia

Aquilo que é e não foi…À utopia alegre e sempre adiada,

A tristeza sentida e partilhada.

Jorram lágrimas rebeldes e incontidas,

Muitos seres e deuses espreitam…

No grande vale, os espíritos recebem todas as águas,

Que a criança dentro de nós alimenta!...

Page 49: Livro Antologia

EsperançaA luz cristalina espreita,

A angústia inquietante amplia o aguardar,

O destino dos sinos algum dia é tocar.

Quem sabe se não é chamar,

Seres celestiais com a luz cristalina,

Algures aparecerem para nos afagar!...

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Page 50: Livro Antologia

O SonhoNão sei quem mais sonha:

Se é aquele que adormece e julga estar acordado,

Ou o que ama demasiado viver e diz nunca ter adormecido,

Talvez a criança que brinca projectando no futuro…

E porque não, o que lamenta recuando no tempo, o que não foi possível viver.

Na realidade, também sonha aquele que vive amando!...

Page 51: Livro Antologia

O olhar brilha na esperançaJá vi meninos a soprarem bolas de sabão…

Sem dúvida, provocam coloridos extasiantes.

E também, observei gerontes moribundos soltando olhares de esperança!...

Não sei, onde há mais brilho e fé?

Se no afecto alegre olhar momentâneo da criança,

Se na sabedoria e ressurreição daqueles,

Que muito sabem da vida!...

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Page 52: Livro Antologia

Até amanhãAlgum dia vai acontecer!...

Celtas, romanos, árabes, visigodos viajam no tempo.

As nuvens envolvem o sol,

A lua ilumina o mar,

A inspiração guia os marinheiros,

O Sol descobre-nos radiosos dias,

Há sempre uma criança dentro de nós,

Que nos ilumina, sussurrando: até amanhã.

Page 53: Livro Antologia

O farolTodos temos um farol!...

Como uma cega luz que nos guia,

Talvez esteja dentro de nós?

Ou em qualquer ponto de alguma galáxia,

Sabemos é que parece um jogo!

Em que quente e frio; amargo e doce;

Alegria e tristeza; solidão e amparo.

Surgem como sinónimos para o mesmo faroleiro!

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Page 54: Livro Antologia

«Culpabilidade»Existem erros e erros,

Alguns podemos remediar.

Mas há aqueles que a roda do tempo e da vida não podem recuperar!

Se cometeres suicídio ou eutanásia,

Vais abrir uma brecha no espaço / tempo cósmico,

Que não imagino como a roda do destino vai reparar!...

E esse reflexo, começa logo desde cedo,

Com a tortura mental que é a culpabilidade!...

Page 55: Livro Antologia

Místicos viajantesTalvez desde que somos, assumamos ser viajantes.

Viagens ligadas ao fluxo quântico do pensamento,

Projectos em crenças, superstições e icons.

Enraizamentos em fé que a tecnologia não explica.

Numa incessante procura, sonhamos com imagens para lá da densa neblina!...

Imaginamos mundos dentro de universos abrangendo outras realidades,

Na realidade fantástica que são os viajantes dos nossos pensamentos!...

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Page 56: Livro Antologia

O tesouroQuando caminhamos no deserto e sentimos que estamos perdidos,

Se algo implacável nos consome,

Gritamos silenciosamente pelo eterno devir!...

E sonhamos com a imagem da nossa imaculada mãe.

Talvez, procuremos uma reparação que seja o retorno à natureza.

Ou, aquele pequeno grandioso tesouro, que todos temos no nosso mais

profundo âmago.

Page 57: Livro Antologia

Não chores!Conheci muita gente corajosa,

Convivi com operários que não sabem se conseguem chegar ao final

da jornada de trabalho,

Ouvi pais que desconhecem onde vão ganhar o pão para os filhos,

Vi aqueles que partindo, vão na incerteza de regressar.

Testemunhei ainda seres que nada temendo apenas se preocupam

com os outros,

Apercebi-me também dos que têm a coragem de dizer o que lhes vai

na alma…

Curiosamente todos estes seres magníficos em humanidade conso-

lavam e encorajavam aqueles que vertiam lágrimas temendo o seu

destino, verbalizando: não chores!...

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Page 58: Livro Antologia

Sete chavesQuem não tem segredos?

Não será que múltiplos pensamentos sempre assaltavam a nossa

mente?!...

O que diremos dos salteadores da nossa psique?!...

Levantamos os muros e fechamos a nossa babilónia mental?

Ou partilhamos o filme surpresa que é a nossa mente…

É tudo uma questão de preconceito!

Atente-se à natureza, que usa estratégias para evitar o sofrimento…

E, para nós, o que é mais inteligente?!...

Page 59: Livro Antologia

A bem aventurançaNa vida sonhamos,

Aspiramos a ser famosos,

Subimos às mais altas montanhas,

Observamos o não limite dos oceanos,

E até a liberdade do espaço sideral.

Queremos a utopia do poder,

Mas às vezes só atingimos a essência,

No momento da claridade divina,

Que nos surge num ápice de fé e bem aventurança!...

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Page 60: Livro Antologia
Page 61: Livro Antologia

04. AMORSentimentos afins

Page 62: Livro Antologia

Ecos do UniversoOlhando para a beleza da Natureza e do Universo,

ficamos extasiados.

Mas, a beleza do teu olhar,

E, a profundidade dos teus sentimentos,

São infinitamente superiores…

Page 63: Livro Antologia

RelatividadeÀs vezes os dias sabem a anos,

Os anos podem reduzir-se meramente,

A noites, tardes, horas…

Talvez por estarmos enraizados à filosofia do momento,

E a máquina do tempo alongar ou condensar.

Afinal, são as leis da física, que só o coração percepciona

Na lógica quântica do amor…

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Page 64: Livro Antologia

Natureza do amorSe soubesses o que anseio por um amor justo,

Esperarias pelo mundo serenamente.

Se conseguisses imaginar o meu íntimo,

Nada temerias, nem agora e muito menos amanhã.

Quando ouvires um passarinho a cantar,

Lembra-te que é para te segredar,

O quanto amada és no universo.

E se olhares para o meu olhar,

Percepciona-o como o reflexo holográfico,

Do que é a natureza do amor.

Page 65: Livro Antologia

Multifocalidade do AMORAs noites não são escuras,

Porque são salpicadas de estrelas,

A minha vida não é vazia,

Pois a tua alma a inunda.

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Page 66: Livro Antologia

AMORantídoto da distânciaEspelhos, galáxias e simetrias,

Luz, distância e proximidades,

São como o apertar do teu coração,

As distâncias que só o amor une.

Page 67: Livro Antologia

Cumprindo o destinoNão sei se é nostalgia do futuro,

Se um sentimento de eterno retorno pelo passado,

A meiguice do lobo que uiva no frio da montanha,

Ou o desespero daquele que ama e foge para a solidão…

Talvez seja ler o indecifrável,

Cumprindo o destino que se apaga quando não se sonha.

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Page 68: Livro Antologia

Os deuses também amamKrisnamurti, Dalai-Lama ou Madre Teresa,

Certamente todos riram e choraram.

E porque não, alguma vez já amaram?!...

Porque em todas as mitologias,

Os Deuses tinham caprichos humanos,

E a maior virtude destes homens,

Foi expalhar o amor entre humanos.

Page 69: Livro Antologia

A alquimiaSubitamente irrompe a claridade,

O milagre renova-se,

As leis da física são ultrapassadas,

O campo vibracional harmoniza-se,

Os seres encontram-se…

A pedra filosofal é descoberta,

E a alquimia do amor assim o justifica!...

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Page 70: Livro Antologia

AlegriaO dia pode amanhecer cinzento,

A noite ter sido recheada de fantasmas,

O aproximar do local estar eivado de dificuldades,

Mas quando se descobre rostos de jovens alunos sorrindo na esperança!...

Amarguras desaparecem num ápice,

Um momento mágico tem lugar,

É a alegria de poder aprender e ensinar.

Page 71: Livro Antologia

BondadeCarinhosos, são os que aceitam a diferença,

Aqueles que tudo dão e nada recebem em troca.

Por vezes parecem ser inesgotáveis em altruísmo,

Olhando atentamente para estes seres, vislumbramos;

Muita dedicação pelo outro e, compaixão.

Não sabemos se são naturais da terra, de que planeta vieram,

E para onde vão!...

Apenas sentimos que inexplicável bondade,

Ficou para sempre registada no nosso coração…

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Page 72: Livro Antologia

IngenuidadeCrianças sorrindo aos raios de sol,

Ursinhos brincando na pradaria sob a égide do arco-íris,

Lobos uivando à lua distante…

A mão que rega a esperança de um amanhã melhor,

O geronte que acredita recordando o passado com a fé do presente,

A cumplicidade do bebé e lua,

Os que têm esperança e dão as mãos vislumbrando luz,

Mesmo na noite mais escura…

Porque a ingenuidade tem mesmo muita luz e sabedoria!

Page 73: Livro Antologia

O paraísoÁgua pura e cristalina, céu azul, verdes plantas,

Sol radioso!

Firmamento iluminado por estrelas de sonho…

A imortalidade garante a seres felizes,

Habitarem para sempre espaços multiverdejantes e coloridos…

Mas também há, quem consiga elevar-se ao paraíso,

Sobrevivendo em cenários deveras cruéis e inóspitos,

Vivendo e bebendo apenas do elixir da fé e do amor!...

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Page 74: Livro Antologia

LuzMil sóis iluminam muitos universos,

Milhares de barragens e centrais atómicas,

Podem dar energia para iluminar centenas de metrópoles.

A iluminação dos iluminados pode trazer luz à consciência dos mais cépticos…

Jesus Cristo pode fazer o milagre de dar à luz ao que não vê!

Mas, banhado pela fé e pelo amor, tudo pode ter claridade:

O que não vê e o que não quer ver!...

Page 75: Livro Antologia

Anjo da guardaEntidade que é hóspede de muitas estalagens,

Coexiste magicamente em muitos caminhos de luz,

Ser que se projecta quanticamente em muitos pontos siderais,

Espelho holográfico de realidades divinas.

Parece querer abraçar num só trago de amor e compaixão,

Os que sofrem e os que precisam,

Assim é a natureza do anjo da guarda…

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Page 76: Livro Antologia

As luzes da ribaltaTodos os seres devem procurar a luz,

Dentro das múltiplas realidades, do vasto espectro de universos.

Também sabemos que as nossas consciências,

É que fazem realidades tão diferentes!

Vários tipos de cinestesias projectam-nos

Para maravilhosos contextos de luzes da ribalta…

A vista aérea de quem viaja e se distancia dos seus,

Olhando para as miríades de luzinhas,

Que pululam ao longe trazendo à memória que o mundo já não pode ser igual…

Aquele que labuta na madrugada, percorrendo a cidade,

E vê uma atmosfera rodeada de cores,

Page 77: Livro Antologia

Mas onde o frio da emigração não o permite fazer desistir de perseguir

sonhos próprios das luzes da ribalta!...

O lavrador que viaja regressando de um monte vizinho, após ter prestado

ajuda nas lides da ceifa

E observa sonhando ao longe com as luzes da ribalta da cidade que gostaria

que fosse sua anfitriã.

E as luzes da ribalta do ser que aproximando-se de outra dimensão,

Se prepara para uma viagem em que a coroação da sua passagem alimenta-

da pela fé não tem paralelismo,

Com as luzes da ribalta desta dimensão!...

Parece-nos que as luzes da ribalta têm mais faces que rostos tem a lua!

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Page 78: Livro Antologia

A ressonância do teu amorNão faço ideia onde estás,

Mas tenho esperança e avanço adivinhando.

Com a mesma coragem que te vi partir,

E na certeza que nas mais bonitas estrelas que cintilam,

Algures no firmamento, estás olhando pelos teus.

E, esperando serenamente!

O mágico encontro da família.

Entretanto no aguardar,

Jogamos, jogos sérios da vida.

Cultivados no amor, no encanto e na magia,

Que encontram significado,

Ao tentar cultivar o amor que semeaste.

Page 79: Livro Antologia

Na esperança do alémVagueio, por entre a multidão das almas,

Com o coração aberto ao amor.

Sou projecto no infinito, vizinho do pólen das flores.

Amante das estrelas do mar,

Transporto comigo a nostalgia do amor.

Olha-me, estuda-me, sente-me,

Venera-me, saboreia-me…

Sorve-me num só trago, como se a alma fosse finita.

Partilha-me de luz e de esperança,

Entrelaça-me nos teus caminhos,

Considera-me no teu amor.

E jamais me esquecerás, mesmo quando partir,

Na esperança do além…

Page 80: Livro Antologia

A essência do amorSendo uma palavra mágica,

Também é mais do que um conceito.

Pois só cada coração o pode entender.

Não está sujeito às leis da mecânica física,

Sendo omnipresente e omnipotente,

É transcendente e assume fazer milagres…

Mas, também pode ser solitário e optar por não se revelar!

Cura, mata, alimenta e consome!...

E só consegue perceber, quem verdadeiramente ama.

Page 81: Livro Antologia

05. SOCIEDADESensibilidade social

Page 82: Livro Antologia

Máscaras rudesNa neblina surge o místico,

Os caretos acentuam a tradição,

Tanta honra alimenta a Portugalidade.

Na bravura para lá dos montes,

Apenas a fé aproxima e descodifica a profundidade,

Do puro sentir das máscaras rudes!

Page 83: Livro Antologia

«Poder» só o amorVimos, ouvimos e lemos,

Generais, imperadores, governantes!...

Povo, destinos e sonhos legítimos,

Todavia de tão sabedora lição, onde só altruísmo e alteridade têm lugar.

Também Gandhi e Dalai Lama,

Se inspiraram na iluminação que é o amor.

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Page 84: Livro Antologia

Ventos lusitanosSagres, agreste e ventosa,

Testemunha o Portugal robusto.

Do ilustre Infante, às corajosas caravelas,

Homens de acção, honra e palavra,

Assinam para a história exemplos,

Que a negligência de alguns responsáveis jamais conseguirá apagar!

Tal a força e pureza dos ventos lusitanos!...

Page 85: Livro Antologia

PortugalidadeOh, Portugal! Terra de lusitanos.

Quem te profana e apunhala?!...

Não te deixes abater,

Lembra-te de Camões e Pessoa,

Pois o V Império está sempre omnipresente,

E não pode haver espaço para os que não têm alma…

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Page 86: Livro Antologia

Finisterra atlântidaUm som místico abre brechas no espaço / tempo,

Ciclicamente renovado, a mensagem projecta-se no além!

Que as misteriosas brumas no atlântico escondem!...

De tão deusa carga psicológica inspirada,

Espaço-tempo e som fundem-se…

Na comunhão do fascínio que o farol finisterra oferece.

É que no nosso mais profundo íntimo: todos aspiramos a ser faroleiros!...

Page 87: Livro Antologia

Inaudita atmosferaHá espaços que parecem privados de sofrimento,

Onde a lei da gravidade muitas vezes nem tem lugar,

Tal o peso da força mental

Que tulipas e o gato das botas gostam de testemunhar.

Acordados passeamos sonhando,

Na magia de Florença, com vontade de não acordar…

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Page 88: Livro Antologia

Nosso marGostava de mergulhar no teu ventre,

Saborear essa parte da vida,

Sentir esse trago salgado,

E mesmo, se o destino fosse ouvir o hino!

Aí que honra, nos incentiva a Portugalidade.

Que só pode sentir, quem deveras é português.

E a esperança persegue-nos nos patrióticos sonhos.

Page 89: Livro Antologia

CapitalRoma respira impondo a sua majestosa imponência…

Avé César, Augustus e Tito Lívio!

Imperial, colossal, capital.

Nem a grandiosidade de Séneca e Cícero,

Testemunha na íntegra, a atmosfera sentida…

Quando se passeia e apreende a magia de Roma!...

Page 90: Livro Antologia

TrezentosContaram-se por trezentas as almas,

Que em mediterrânea tarde soalheira fizeram história!

Do medo, sentindo o dever passaram à bravura…

Tão honrados guerreiros,

Termopilas será para sempre palco da imortalidade,

De trezentos heróis que persas para sempre temerão!...

Page 91: Livro Antologia

As rotas da sedaDe Veneza ao Estremo Oriente,

Todos buscaram um casulo!

Percorrendo caminhos, vales e rios,

Observando flores, animais e esmeraldas,

Nada desejando e apenas divagando…

Caminhando pelos impérios do sonho,

Construíram-se as rotas da seda.

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Page 92: Livro Antologia

EgiptoTerra de lendas, heróis e fascínios.

Transporta para o sonho qualquer humano.

Serão a beleza do pôr do sol, a força viva do Nilo, as pirâmides?

Ou algo que não sabemos e nos transcende?!...

O que sentimos quando estamos neste tesouro de sonhos?

Um estranho dejá-vu, que mais parece um chamamento,

Do que outra qualquer viagem.

Não sabemos se é mensagem do além,

Ou entronização do eu cósmico e do eu pessoal.

Percepcionámos sim, que algo acontece no espaço-tempo sideral,

Na confluência divina.

Page 93: Livro Antologia

CinderelaParis, Tóquio ou Nova Iorque,

Têm as suas cinderelas.

Rostos bonitos, corpos esbeltos, brilho no olhar.

A natureza salpica a juventude com a sua beleza!

Mas também temos cinderelas mas ceifeiras do Alentejo,

Nas operárias fabris ou nos lares da terceira idade.

E, também proliferam cinderelas, na Guatemala, Etiópia ou Portugal.

Porque a iluminação que contempla a beleza e que tem referência no exterior,

Encontra a sua genuína fonte na alma daquele que ama!...

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Page 94: Livro Antologia

Folia carnavalescaCores vivas aromatizam a vida,

O momento impõe-se por tradição,

Sons musicais ritmados irrompem pelas ruas,

O imaginário dos foleantes teima em surpreender…

Verde, rosa, amarelo e azul dão cor às fitas que se despenham,

Gargalhadas estridentes perdem-se no além…

A vida são dois dias e o carnaval três,

É o disfarce da agonia que perpetua!...

Page 95: Livro Antologia

EnsinarOlhar pelos jovens é como reparar as janelas do tempo,

Tentar ajudar é amar o outro lado do espelho!...

Investir no semelhante equivale a semear esperança,

Enquanto existir luz, há conhecimento genuíno.

E é na esperança de formar pessoas genuínas que ensinamos,

Aspirando a ser guerreiros da luz existimos,

É dentro do rio do amor que trabalhamos.

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Page 96: Livro Antologia

Erva azeda e berbigãoO cão aguarda solenemente que cumpra a tradição,

Que é no dia de entrudo ir ao berbigão,

A mula é generosa, rebocando carroça e vizinhança,

Cão e mula, parecem adivinhar dieta,

E precipitam-se comendo erva azeda a caminho do destino…

A praia da Espregueira espera pelos semi-nómadas exploradores.

Colhem-se, sacrificando a vida com sacas e sacas destes preciosos bivalves!

As crianças pressentem: vamos entrar na dinastia da dieta do berbigão…

E mula e cão, cismando: cumpra-se o destino,

Da dieta da erva azeda e berbigão!

Page 97: Livro Antologia

O baile da pinhaNa véspera a aldeia está alerta!

Aperaltam-se as princesas…

O tocador dá os últimos retoques no rom-fom-fom da concertina,

As crianças brincam fugindo ao controle das mães,

Os homens ensaiam as primeiras cervejas e copos de três na venda!...

Por vezes não faltam umas murraças a abrilhantar a festa!

Olhos de mouras encantadas e brilhantes a colorir rostos felizes fazem corar…

Os mais pequenos, alambuzam-se com o «cravance» dos chocolates!

O conjunto do Zé da Gaita irrompe pela noite adentro,

Repetindo vezes sem conta as mesmas músicas,

E as almas, movimentam-se ao ritmo dos sons musicais estridentes,

Num permanente e fervoroso rodopio!...

As senhoras de mais idade, tentam controlar tocando ora aqui, ora ali,

Sempre aconselhando as meninas a não destapar o xaile das pernas.

E, lá se vai cumprindo mais um baile da pinha, com sentimentos de felicidade,

diversão, sonhos e desejos, até que o gale cante!

É assim o famoso baile da pinha!...

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Page 98: Livro Antologia

O mestre Ti ChicoSurgindo na barra neblina, lá vem a traineira,

Apinhada de gente e entusiasmo,

Fruto de pescaria sob a sageza do mestre,

Sardinhas cheirosas e vivinhas,

Dão alento à azafama do caís.

Os cardumes parecem compreender,

Sacrificando-se à alegria dos bons homens pescadores.

Alegre corrupio na lota,

Faz lembrar o baile mandado algarvio,

E o Ti Chico ordenando a festa do sagrado ritual.

Page 99: Livro Antologia

O apito da fábricaNem sei que horas eram,

Seriam horas de beijinhos azuis e cor de rosa.

Recordo-me da azafama de uma mãe operária despedindo-se pela madrugada,

Parecia um hino de amor às crias.

Nem comboio ou autocarro eram solidários,

Pois as dificuldades exigiam o sacrifício de percorrer…

Corajosamente por entre caminhos, valados, penhascos,

Horas e horas, caminhando…

E transportando na sesta viveres de sobrevivência,

Alimentados pelo amor à família,

Na obediência humilde ao apito da fábrica.

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Page 100: Livro Antologia

Sofrimento igual a ignorânciaQuem pode ser insensível ao afecto de um cão?

Ou ao desespero de uma criança que ficou sem os pais…

E alguma vez já sentiram a agonia de uma cria de elefante órfão de mãe?

Já entrevistaram um artista no cativeiro,

Por não poder expor a sua arte de forma livre?

E aqueles que não têm pão para partilhar com os filhos?!...

Nem esperança de trabalho para poder sonhar…

E quem não sente o cheiro terrorista da máquina neo-liberal selvagem, que tudo

tenta triturar?

Que pensariam personalidades como Luís de Camões, Aristides de Oliveira ou

Fernando Pessoa, se revisitassem este Portugal?!...

Certamente concluiriam, como o príncipe Sidharta,

Que causa de tanto sofrimento é a ignorância.

Page 101: Livro Antologia

DireitosO fim é tão bonito como o princípio,

As noites são tão bonitas como os dias limpidos e de céu azul.

O silêncio é tão eloquente como a mais nobre sinfonia,

A alegria qunto ao futuro é tão forte num gerente como numa criança.

E os sentimentos de quem perde com honra, são tão nobres como o que vence

sem esforço.

O mendigo merece tanto o sol da vida , como o rei do maior império.

E as flores são tão sábias, quanto a princesa que as colhe!

Tudo é perfeito!...

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