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SUPERI N T E R E S S A N T E
E D I Ç Ã O E X T R A
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(1398-1468)
ELES ERAM INTELIGENTES, CRIATIVOS E T INHAM
VISÃO DE NEGÓCIO. PENSARAM EM SOLUÇÕES
PARA PROBLEMAS QUE NEM EXISTIAM E,
COM ISSO, MUDARAM A HUMANIDADE
(287-212 a .C .)
I 5 - PER ESPECIAL STEVE JOBS I M A G E N S D I V U L G A Ç Ã O
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A l e x a n d e r G r c th a m B el l
( 1 8 4 7- 1 9 2 2) T h o m a s Ed i s o n( 1 8 4 7- 1 9 3 1 )
A l e x a n d e r F l em i n g
( 1 8 8 1- 1 9 5 5)
( 1 8 6 3- 1 9 4 7)
O r v i l l e W r i g h t
(1871-1948)e g g B s g s g s a
( 1 8 6 7- 1 9 1 2)
S t e v e J o b s( 1 9 5 5- 2 0 1 1)
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E D I T O R A â Abr i lFundador: V I C T O R C I V I T A
(1907-1990)
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L o p e s , C e l i a P y r a m o , C l e a C h i e s , D a n i e l E m p i n o t ü , H e n r i M a r q u e s , ít a l o R a i m u n d o , J o s é C a s t i lh o ,J o s é R o c h a , Jo s i L o p e s , Ju l i a n a E r t h a l , L e d a C o s t a , L u c i e n e L i m a , M a r i b e l F a n k , P a m e l a B e n i
M a n i c a , P a o l a D o r n e l l e s , R i ca r d o M e n i n , R o d r i g o S co l a r o , S a m a r a S a m p a i o d e 0 . R e i j n d e r s PUBLI-CIDADE NÚCLEO JOVEM: Diretor: A l b e r t o S i m õ e s d e F a r i a Gerentes: F e r n a n d o S a b a d i n eS a n d r a F e r n a n d e s Executivos de Negócio: A l e s s a n d r a C a l i s si , A l i ce V e n t u r a , A n a L ú d a B e r t o l a ,
B i a M a d n e l i , E d u a r d o C h e d i d , F e r n a n d a M e l o , F l a v i a M a g a l h ã e s , Jo ã o E d u a r d o D i a s , Ju l i a n a
C o m p a g n o n i , K a r i n e G r i g ó r io , L e il a R a s o , L u i s F e r n a n d o L o p e s , P a u l o T r i n d a d e , M a r a M a r q u e s ,
M a r i a R o s á r i a P i r es , R e in a l d o M u r i n o , S a m a r a h A l m e i d a , S o r a y a C o e n , S h i r l e n e P i n h e i r o , T h a i r a
F e r r o , V e r a R e i s Assistentes: L i l i a n a M o u r a , M o n i s e B a r b o s a DESENVOLVIM ENTO COM ERCIALDiretor: J a c q u e s B a i s i R i c a r d o INTEGRAÇÃO COMERCIAL Diretora: S a n d r a S a m p a i o MARKE-TING E CIRCULAÇÃO: Diretorade Marketing: L o u i s e F a l e i r o s Gerente de Marketing: A n g e l i c a
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Gerente de Circulação Avulsas: M a g a l i S u p e r b i Gerente d e Circulação Assinaturas: G i n a
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Q u a t r o R o d a s , I n fo , L o la , L o v et e e n , M a n e q u i m , M á x i m a , M e n ' s H e a l t h , M i n h a C a s a , M i n h a N o v e l a ,
M u n d o E s t r a n h o , N a t i o n a l G e o g r a p h i c , N o v a , P l a c a r , P u b l i c a ç õ e s D i s n e y , P la y b o y , Q u a t r o R o d a s ,
R e c r e i o , R e v i s t a A , R u n n e r ' s W o r l d , S a ú d e , S o u M a i s E u ! , S u p e r i n t e r e s s a n t e , T it i t i, V e j a , V e j a R i o ,
V e j a S ã o P a u l o , V e j a s R e g i o n a i s , V i a g e m e T u r i s m o , V i d a S i m p l e s , V i p , V i v a ! M a i s , V o c ê R H , V o c ê
S / A , W o m e n ' s H e a l t h Fundação Victor Civita: G e s t ã o E s c o l a r , N o v a E s c o l a
ESPECIAL STEVE JO BS e d i ç ã o n " 2 9 6 - C é u m a p u b l i ca ç ã o e s p e c i a l d a SUPERINTERESSANTE,d a E d i t o r a A b r i l S . A . 1 9 8 7 G + J E s p a n a S . A . " M u y I n t e r e s a n te " ( " M u i t o I n t e re s s a n t e ") , E s p a n h a .
Edições anteriores: V e n d a e x c l u s i v a e m b a n c a s , p e l o p r e ç o d a ú l t i m a e d i ç ã o e m b a n c a . S o l ic i t e
a o s e u jo r n a l e i r o . D i s t r i b u í d a e m t o d o o p a í s p e l a D i n a p S . A . D i s t r ib u i d o r a N a c i o n a l d e P u b l i c a ç õ e s ,
S ã o P a u l o . SUPERINTERESSANTEn ã o a d m i t e p u b l i c id a d e r e d a c i o n a l.
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f v = 3f p l p f p ANER
A b r i l
Presidente do Conselho de Adm inist ração: R o b e r t o C i v i í a
Presdente Executivo: G i a n c a r lo C M t avice-Presdentes: A r n a l d o T i b y r iç á , D o u g l a s D u r a n ,M a r e i o O g l i a r awww.abr i l . com.br
Gêniocomplicadoão c onhe ç o , n i ngu é r r que t enha gan hado t an t os
obi tuár ios e i
anos, a cada i r
ou a f as t am en t o
suas o
ba ianç
Comei sxp l i carse nscL
l a rgou
de des
q u a ™ S te ve J'
problenj ia de sa
t o d o m i
expl ica
5 b W Io s úl t imos sete
úde, a cada c i rurgia
indo da imprensa
sua impor tânc ia ,
d i f í c i l compreender Jobs .
Id o pela mãe que depoispr imei ra f i l ha? Um jovem que
em pres a c om o ob j e t i v o
a un ivers idades? Um nerd
mporada na índ ia?
r ionár ios em públ i co?
e ex p l i c a r o f enôm eno
Apple ,
corr ia para tentar, de nove
igens , as maik res dações . Tanta ins is tênc ia em fazer
os faz todo sei
b a n d o n as ou a rec c j i hec e r I
a facu Idade,^nas c r iou
nv o l v e r c om pu t ado res pa i
prava LSD e passou uma te
U m bud i s t a h u e humi lhava os fun<
. A s i ras es que c hegam m a l '
são contradi tór ias. "Ele não cr iou nada, mas cr iou tudo" ,
d iz o CEO que mais duro u na Apple , fora o própr io Jobs ,
J ohn S c u l l ey - o hom em que c ons egu i u c om que S t ev e
fosse expulso da empresa que c r iou dent ro de um quar to .
Agora, uma co isa é bem c lara para todos : o homem era
um gênio . E daqu eles in f luentes , que fa zem a cabe ça
das pessoas . Começou a car re i ra inaugurando a era dos
c om pu t ad o res pes s oa is e t e rm i nou re i nv en t an do t udo de
novo com o iPad. Mudou o c inema, a pub l i c idade, a mús ica,
a te le fon ia . Para revo luc iona r tantos mercad os , a t i rou
para todos os lados . Não teve m ed o de co r rer r i scos ,
nem de m udar de op i n i ão no m e i o do c am i nho .
Nas próx imas pág inas , você va i mergu lhar de cabeça na
v i da e na ob ra des s e hom em t ão c om p l i c ado e dec i s i v o
para nossa v ida. Boa sorte no desaf io que é entendê-lo.
T i a g o C o r d e i r o
I L U S T R A Ç Ã O D A C A P A : C H R I S T O P H E R G R I F F I T H / TR U N K A R C H I V E . C O M
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M e s t r e s i n v e n t o r e s
g U m h o m e m s em f am í l i a
D o q u a r t o p a r a o m u n d o
C a r a e s t r a n h o
| g ) C o n v e r s a p r o f é t ica
2 E x p u l s o d e c a s a
A v o l ta p o r c i m a
g R e v o l u ç ã o n a m ú s i c a
A s a l v a ç ã o d a l a v o u r a
R e v o l u ç ã o n a t e l e f o n i a
Q Q L o n g o c am i n h ow O p a r a o i P a d
^ Q l m p é r i o d o m a l
P o r t f ó l i o d e r e s p e i t o
A A p p l e n ã oi n v e n t a n a d a6
A Q A s m e l h o r e s* O p r o p a g a n d a s
O s e n h o r d o s p i x el s
| O s p a r c e i r o s fi éi s
I n i m i g o í n t i m o
6264
O s m a i o r e se r r o s d e J o b s
C o m o f a z e r u m aa p r e s e n t a ç ã o
O f u t u r o d a A p p l e
C o m o S t e v e J o b sm a t o u o s n e r d s
O O " T e c n o l o g i a n ã o
0 0 < é n a d a '
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Um hom em
sem fam íliaEle fo i adotad o, forço u os pa is a mu da r de ba i r ro , la rgo u a facu ldad e para p erco r rer a
índ ia e não qu is reconh ece r a pr im ei ra f i lha . Conheça a juv en tud e m aluca de Steve Jobs
TEXTO T i a g o C o r d e i r o // ILUSTRAÇÃO P i c t o m o n s t r o
procurasse por Steven Paul Jobs no ano de 1972 po-
ria encontrá-lo no shopping Westgate, na cidade californiana
de~San joséXEIe ganhav a US$ 3 por hora vestido co mo o Cha-
peleiro, Malucç, de Alice no País das Maravilhas, em festas in-
fantis. Quem rèpresentava o Coelho Branco era o amigo Steve
Wozniak. Na época, os dois andavam sempre juntos - e sem pre
duros. Jj/1as arrànjavam tempo e algum dinheiro para frequentaros pátios de/Universidades da região. Em uma dessas visitas,
em Berkeley, em 1971 se viram n o meio de um protesto estu-
dantil. "Ses não são os revolucionários", disse Jobs, assim que
se viram longe da nuvem de gás lacr imogênio que se formou
em torno dos dois. "Nós somos." Eles ainda precisariam de al-
I para provar isso ao m undo . Mas Steve Jobs já sabia,
desde criança, que tinha um grande futuro pela frente. Isso se
não fosse parar na cadeia primeiro.
"Eu achava qu e seria um d elinquente. Se não fosse por três
ou quatro pessoas que se importaram comigo, certamente
teria ido parar na cadeia", ele disse em entrevista ao Instituto
Smithsonian, em 1995. Era um garoto hiperativo. Mal começou
a andar e achou u m frasco de veneno para formigas. Acabou
no pronto-socorro da cidade de Mountain View, onde vivia com
os pais adotivos, Paul e Clara. Não seria a primeira vez: tempos
depois, como muitas cr ianças, ele tomou um choque violento
ao enfiar um gram po de cabelo em um soq uete de lâmpada.
Na escola, matava tod as as aulas que podia e, qua ndo não
conseguia escapar, tocava o terror. "Minha mãe [Clara] me en-
sinou a ler quando eu era muito novo. Eu só queria fazer duas
coisas: ler e ficar ao ar livre, caça ndo borboletas", Jobs con tou
na mesma entrevista. Ele encontrou a companhia ideal em ou-
tro aluno problemático, Rick Farentino. Juntos, os dois coloca-
ram explosivos debaixo das mesas dos professores e trocarama senha dos cadeados de todas as bicicletas dos colegas. Em
resposta, foram colocados em salas diferentes. O jovem Jobs
ficou sob a responsabilidade de Imogene Hill. "Graças a Deus,
fui eu q uem ficou na sala dela", ele relembraria. A professora o
chamou e disse: "Vamos fazer um acordo. Se você terminar o
dever de matemática sozinho e acertar mais de 80% das ques-
tões, te dou US$ 5 e um pirulito". O suborno funcio nou. Até qu e
o ano letivo acabou e os problemas voltaram.
Não tinha jeito: o garoto, que agora já tinha 11 anos, comuni-
cou aos pais que nunca mais pisaria naquele lugar, a Crittende n
Middle School. Para trocar de escola pública, era preciso que a
família se mudasse de bairro. Paul e Clara não pensaram duas
vezes e se instalaram c om o ga roto e Patti, a outra fi lha ado tiva
do casal, na cidade v izinha de Los Altos. Eles não estava m ape-
nas se deixando levar pelos caprichos de um pré-adolescente.
Tinham um comp romisso ant igo, assumido no dia em que assi-
naram os papéis de adoção.
iy 6 SUPER ESP ECIAL STEVE JOBS
h .
Jobs cresceu entrea contracultura eo Vale d o Silício:
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P R O M ES SA E DIVIDAEm 1954, Paul Reinhold Jobs era um mecânico de 32 anos
nascido em Wisconsin, com um emprego fixo na Guarda Cos-
teira e bicos consertando carros. Estava casado com Ciara
Hagopian, uma contadora de 30 anos. Os dois viviam em SãoFrancisco (depois mudariam para Mountain View), não podiam
ter fi lhos e estavam procurando um bebê para adotar.
Enquanto isso, na cidade natal de Paul, a 3,8 mil quilôme-
tros d e São Francisco, Joanne Carole Shieble, de 23 anos, engra-
vidava do namorado, o sírio Abdulfattah Jandali, que havia co-
nhecido na Universidade de Wisconsin. Apesar de ter a mesma
idade que Joanne, Abdulfattah era professor dela, co m PhD em
ciências politicas. Filho de u ma tradicional (e m ilionária) família
da Síria, com 18 anos ele tinha resolvido viver nos EUA.
"O pai dela proibiu o n osso casam ento", ele disse em agos-
to de 2011 ao jornal The New York Post. Ainda grávida, Joanne
pegou um avião para São Francisco e procurou por pessoas
da região que pudessem criar seu filho. Optou por um casal
de advogados - mas os dois desist i ram porque quer iam uma
filha. Acabou encontrando Paul e Clara, mas ficou preocupada:
ele não tinha sequer terminado o ensino médio, e Joanne fazia
questão de que seu filho cursasse faculdade. Os Jobs assumi-
ram o comp romisso: o recém-nascido, que veio ao mund o em
24 de fevereiro de 1955, iria estudar. Onze anos depois, eles tive-
ram que se mudar para cump rir a promessa.
Joanne voltou para casa e não contou ao namorado quem
tinha ficado com o filho do casal. "Não sei se Steve sabe que,
se eu fosse consultado na época, teria tido o maior prazer emcriá-lo como filho", disse Abdulfattah, que, nos últimos anos de
vida do filho, tentava mandar o recado pela imprensa. Esforço
em vão: Steve nunca falou uma palavra publicamente sobre o
pai biológico nem aceitou conversar com ele.
Por muito pouco, Jobs não nasceu e foi criado bem longe
do Vale do Silício. Logo de pois de ele ser adotado, o pai de Jo-
anne m orreu, e ela se casou com Abdulfattah em d ezemb ro de
1955. Em 1957, os dois tivera m uma filha - que, ao contrá rio de
Steve, foi criada por eles. Hoje Mona Simpson é professora de
inglês e escritora de sucesso nos EUA.
8 SUPER ESPECIAL STEVE JOBS
BOB DYLAN E M AC ON HAQua ndo Steve se instalou em Palo Alto, em 1966, ele já era
cur ioso a respeito de como as máquinas funcionam. Mas a
chegada ao novo endereço foi decisiva para a vida do jovem.
Ele passou a frequentar o ensino médio em Cupertino, um am-
biente muito mais adequado a seu estilo. Toda garagem era o
território de algum inventor. Foi um deles, Bill Fernandez, que
apresen tou Jobs a Steve Wozniak, em 1971. Jobs tinha 16 anos
e já conhecia muito bem a maconha. Woz, que via poesia em
chips bem feitos, estava c om 21.
Na época, Woz (seu apelido desde aquela época) trabalha-
va em uma placa de c om putad or. "Gostei de Steve", diria depois."Nós falávamos de eletrônica, das músicas de que gostávamos
e dos trotes que daríamos." Os dois ouviam muitos discos de
Bob Dylan. "Ele foi um dos meus maiores modelos", Jobs con-
tou à revista Fortune em 1998. Ele decorou todas as letras do
cantor e tocava suas músicas na guitarra.
Quanto aos trotes, Steve e Woz deram muitas risadas com
brinquedos que eles mesmos cr iaram. Um deles ficou famoso.
Era um aparelho que enganava os computadores das empre-
sas telefônicas e fazia ligações para qualquer lugar, de graça.
Um dia, l igaram para o Vaticano - Woz se apresentou como
Henry Kissínger e pediu para falar com o papa (Paulo 6 o nã o
atendeu, talvez p orque já fosse tarde da noite na Itália).
I M A G E N S 1 O T H E R I M Ä G E S 2 G E T T Y I M A G E S
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1W.UIMMno começodos anos 7
LSD E TÚN IC ASEm 1972, Jobs part iu para Portland, para estudar artes na
univers idade Reed Coi lege. A experiênc ia não durou mais do
que um semestre. Mas eie não vol tou para casa correndo.Cont inuou ass is t indo a aulas que lhe interessavam, dormia de
favor no dormitór io dos estudantes e se v i rava para comer.
Aos domingos , andava 11 km só para ganhar uma boa refeição
num templo h induís ta . Convenc ido de que uma a l imentação
à base de f rutas acabaria com to da a emissão de m uco e suor,
adotou uma dieta radical e parou de tomar banho. Não func io-
nou, c laro, e ele estava semp re ch eirand o mal .
A vol ta para a Cal i fórnia só aconteceu em 1974, quando
Steve, de barba e cabelos compridos, começou a t rabalhar
em uma fabr i cante de v ideogames recém-fundada, a A tar i .
Conseguir o emprego foi fác i l : ele se apresentou no escri tór io
da companhia e disse que só sair ia dal i quando o contratas-
sem. Deu certo, mas ele não se entendeu com os colegas.
Com poucas semanas de emprego, foi l iberado para t rabalhar
soz inho, à noi te. Sem problemas. Seu objet ivo não era seguir
carreira, mas Juntar dinheiro para viajar até a Índia, onde que-
r ia fazer um ret i ro espir i tual com a ajuda de LSD - que ele
t inha conhecido na faculdade e depois di r ia que foi "uma das
duas ou t rês coisas mais imp ortan tes q ue eu já f iz na v ida".
O plano era convencer a Atar i a pagar sua v iagem. A em-
presa não topou, mas mand ou o func ionár io à A lemanha para
fazer a manutenção de alguns produtos. Dal i , Jobs bancou a
passagem para o norte da índia, onde v iv ia seu guru do mo-mento, Neem Karol i Baba. Chegou lá com Daniel Kot tke, que
ele con hec eu e m Reed. Daniel resolveu part ic ipar de um ret i ro
espir i tual de um mês. Steve não top ou e seguiu em peregrina-
ção pelo país . Depois de 6 meses de v iagem , vol tou para casa
novamente, careca, usando túnicas t ípicas indianas e com
mais dúv idas do que quando par t iu . Retomou o emprego na
Atari e o contato com seu guru zen local , Kobun Chino Oto-
gowa. Steve estava decidido a part i r para o Japão e se tornar
monge budis ta, mas Kobun o convenceu a f icar.
m m m n
9 SUPER ESPECIAL STEVE JOBSIMAGENS1GETTY
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E N F I M , S O S S E G OHavia uma Al ice nas apresentações no shopping de San
Jose, em 1972. Era Chris-Ann Brennan, uma pintora com quem
Steve se relacionou, entre indas e vindas, ao longo dos anos
70. Em 1975, os dois e Daniel cheg aram a v iver em um a comu -
nidade hippie em Oregon - Steve dormia embaixo da mesa
da cozinha e passava o dia colhendo, veja só, maçãs. Em 1978,
Cris-Ann av isou que estava gráv ida. Com 23 anos, a mesma
idade de seus pais biológicos quando ele próprio foi concebi-
do, Steve se recusou a admitir a paternidade. Dizia que, no am-
biente hippie em que a namorada v iv ia, qualquer outro podia
ser o pai . Nem um exame de DNA o convenceu do contrár io.
A garota se chamaria Lisa. Enquanto resist ia a pagar pensão à
mãe, Steve batizava o novo projeto da Apple de... Lisa.
Com o tempo , pai e fi lha se entende riam - atualmente, LisaBrennan-Jobs é escri tora c om diploma de Harvard. E Steve co-
nheceria sua i rmã biológica, Mona. Quando soube que t inha
um i rmão, em 1987, ela dedicou seu primeiro romance a ele
e tentou encontrá- lo. Foi bem recebida e acabou aprox iman-
do Jobs de sua mãe biológica. Pouco temp o d epois , em 1991,
Steve se casou com Laurene Powel l , que ele t inha conhecido
depois de dar uma palestra na Univers idade Stanford, onde ela
estudava. Os dois t iveram três f i lhos. Finalmente, aos 36 anos,
Steve Jobs t inha uma família para chamar de sua.
En co n tr o s e d e s e n co n t ro sA á r v o r e g e n e a l ó g i c a d e t r ê s g e r a ç õ e s d a f a m í l i a
(1922-1993)
C l a r a J o b s
(1924-1986)
A b d u l f a tt a h J a n d a l i(1931)
l o a n n e S i m p s o n(1932)
P a t t i J o b s
(1924-1986)
r- m
C h r i s - A n n B r e n n a n
(1956)
L a u r e n e P o w e l l J o b s
(1955) (1963)
(1957)
i P a r e n t e s a d o t i v o s P a r e n t e s b i o l ó g ic o s
I M A G E N S 1 CORBIS/LA"]
E R E S P J
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U m câ n ce r r a roE n t e n d a a d o e n ç a q u e o m a t o u
Em outubro de 2003, S teve Jobs recebeu de seus
méd icos uma tomogr a f i a de abdômen . A imagem
most rava um tumor no pâncreas. "Eu nem sabia
o que era u m pâncreas" , e le contar ia depois . "Os
méd icos me d i sse r am que aqu i l o e ra ce r t amen te
um t ipo de câncer incuráve l . " Logo uma b ióps ia
ident i f i co u qu e o caso de Jobs era especia l
e e le pod ia ser t ra tad o com c i rurg ia .
0 t umor neu r oend r óc r i no do f undado r da A pp le
ataca um a cada 100 m i l pac ientes de câncer . É um
pouco meno s ag r ess i vo do que o cânce r de pânc r eas
com um . C omo o ó r gão não dói , o d iagnós t i co cos tu ma
ser tard io e o pac iente não tem m ais do que nov emeses de v ida. Out ra d i ferença é que a doença de Jobs
cos tum a te r causas gené t i cas , enqu an to o t um or
ma is com um es tá l i gado à obes idade e ao t abag i smo .
Em 2004, Jobs re t i rou o tumor . Parec ia curado, mas
em 20 08 vo l t ou a apa r ece r em púb l i co mu i t o magr o .
Depois de meses de boatos e negat ivas, em jane i ro de
2009 e le ped iu l i cença da Apple e fez um t ransp lante
de f ígado (a doen ça t inha v o l tad o e estava se
espalhando pe lo organ ismo) . Reassumiu suas
funções em junho, mas a inda parec ia abat ido.
Em jane i ro de 2011, vo l tou a sa ir te mp orar ia me nte,
para em agosto o f ic ia l izar o ped ido de demissão.
N uma c a r t a ao conse lho da empr esa , a f i r mou :
"Sem pre d isse que, se chegasse o d ia em q ue e u
não pudesse ma is cum pr i r m inhas ob r i gações e
expe cta t ivas c om o CEO da Apple , eu seria o pr im ei ro
a in formá- los d isso. In fe l izmente, esse d ia ch egou " .
PARA SABER MAIS
• The Little Kingdom, Michae l Mor i t z ,
Wi l l iam Mor row & Co. , 1984.
®/4 Regular Guy, Mona S impson , V in tage , 1996.
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r
Do q u artoEm um ano , t rês ga ro tos cons t ru í ram
e v e n d e r a m u m c o m p u t a d o r p e ss o alrevo luc ionár io , o App le I. O sucesso t ra ns fo rm ou
a emp resa case i ra em uma me gapo tênc iaa ra
o m u n d oEXTO T i a g o C o r d e i r o
os 23 anc : idade, Steve Jobs valia US$ 1 milhão. Aos 25, mais de US$ 100
mi lhões . Nunca um a compa nh ia , de qua lque r r amo, c resceu tan to em tão pou co
t e m p ò q u a n t o a A p p l e. Es se d e s e m p e n h o i m p r e s s i o n a n te c o m e ç o u n o c a m p u s
d l Un ivers idade . Stanford, em 1975.
Em um aud i tó r io do Cent ro de Ace le ração L inear da facu ldade , um grup o de
/ nerds se reun ia no .Hom ebrew Com pute r C lub . 0 c r iador do p r ime i ro v ideo gam ede car tuch o, Jar ry Úawson, aparec ia po r lá semp re, ass im com o Jobs. Steve Woz-
niak não perdia um encontro, sempre com o hábito de pregar peças - e le enga-
n a v a m ^ x I S n s com uma placa capaz de t i rar a s intonia das te lev isões. Quando
a v í t ima se aprox imava para ar rumar a antena, e is que a imagem reaparec ia.
Em cer ta opor tun idade , o c lube f i cou em po lvo rosa : todos puderam conhe-
cer o Al ta ir 8800, o pr imeiro c j o m p u t a d o r pessoa l do mundo. Mu i to usado como
| calculadora, e le era men or e mais rápido do que tudo o que ex is tia na época. Os
do is S teves f i ca ram ma lucos co m a nov idade . Wo z já t inha um ou ou t ro p ro tó t ipo
em casa e sabia que podia fazer um trabalho melhor do que a Al ta ir , mas não
pensava naqu i lo com o um je i to de ganhar a v ida . Fo i Jobs que m p ercebeu qu e o
momento e ra idea l para t r ans fo rmarem uma empresa o quar to vago da casa de
seus pais adot ivos , na avenida Cr is t Dr ive, 11161, em Los Altos .
T E R C E I R O S Ó C I OPara começar a empre i ta -
da , os amigos venderam tudo
o que t inham: Woz , uma ca lcu -
ladora c ient í f ica, por US$ 520, e Jobs,
sua Kombi - o ca r ro t inha um prob lemasér io no moto r e e le só recebeu metade
do combinado . De toda fo rma, já e ram
US$ 1,3 mi l , pouco mais do que o neces-
sár io para comprar a pr imeira leva de
matér ia-pr ima. Quando soube da in ic ia-
t iva, Ronald Wayne, colega de Jobs na
Ata r i e com o dobro da idade dos do is ,
fo i conv idado a par t ic ipar . Tornou-se o
terceiro sóc io da Apple, seu ros to mais
sér io e conf iável . Mas a exper iênc ia dura-
r ia pouco tempo.
Fo i Wayne quem esc reveu o p r ime i -
ro contrato soc ia l da empresa. Para isso,
eles prec isavam de um nome. Jobs su-
ger iu Apple e d isse aos dois que, se não
apresen tassem suges tões me lhores a té
o f im do dia, o assunto es tar ia encerra-
do. Foi o que aconteceu, e Wayne se en-
car regou de desenhar o p r ime i ro logo-
t ipo da companh ia : a imagem de Isaac
Newton sen tado sob uma mac ie i r a . Em
primeiro de abri! de 1976, nascia ofic ial-
mente a App le . Woz já t inha te rminado
I M A G E N S 1 R E P R O D U Ç Ã O 2 A P
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J o b s a p r e s e n t a , e m
B j j j j » u ) ] i i p L i t . i ( i ü i
' p e s i o . i l A p p T i l
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de f inal izar o pr imeiro computador, umacaixa que func ionava como calculadora.
Só faltavam clientes dispostos a pagar o
preço de US$ 666,66. O primeiro seria
um conhec ido do Homebrew Compu-
ter Club chamado Paul Terrel. Ele estava
inaugurando um a loja de computadores ,
a By te Shop, e encomendou 50 máqui -
nas. Negociou um desconto pelo lote.
Ainda ass im, era um bom dinheiro: US$
500 por computador, US$ 25 mi l no to-
tal. Para dar conta da demanda, a Apple
foi promovida do quarto para a garagem
de Paul Jobs, o pai ad otivo de Steve.
Nesse meio tempo. Woz teve que
resolver um problema: ele era func ioná-
rio da Hewlett-Packard e, por força de
contrato, toda cr iação da Apple deveria
pertencer a seus patrões. Ele se viu obri-
gado a apresentar o Apple I aos chefes.
Para seu alivio, a HP não demonstrou o
menor interesse. "Você diz que seu gad-
get é feito para as pessoas comuns", ele
ouviu. "Não temo s o me nor interesse emproduzir computadores para elas." Woz,
que até então sonhava em t rabalhar na
empresa para o resto da vida, pediu as
contas meses depois .
Os dois Steve, mais Wayne, Patt i,
i rmã de Jobs, e Dan Kot tke, companhei-
ro de faculdade e de aventuras na Índia,
t rabalhara m d uro na entrega. Os não-só-
c ios ganharam US$ 1 por placa montada.
Mas o dinheiro tão esperado não veio
por intei ro: Jobs se con fund iu e e ntrego uo computador pelado, sem caixa, como
estava combinado - na época, se usava
madeira para embalar as placas e circui-
tos. Terrel teve que bancar esta parte do
processo, rec lamou mui to e fez um pa-
gamento parc ial . O amadorismo do fun-
dador mais jovem t inha custado caro.
Em setembro, enquanto as pr imei-
ras entregas eram feitas, Ronald Wayne
abandonou a empresa - vendeu sua par-
te, 10%, por US$ 2,3 mil. Deve ter se arrependido amargamente. Dois meses depois,
um e mpresá rio apareceria na garage m dos pais de Jobs para oferecer um invest imen-
to de US$ 25 0 mi l . Ele tam bém f icaria inc om oda do c om a inexperiênc ia dos sóc ios.
PARA O ALTO E AVANTEEm 1976, Mike Markkula era um aposentado de 34 anos. Funcionário do marke-
t ing da Intel, ele t inha vendido as ações da empresa e estava mil ionário. Ele propôs
profissionalizar a Apple, que oficialmente surgiu em janeiro de 1977. Convenceu osdois Steve a acei tar Mike Scot t como o pr imeiro di retor execut ico da nova empresa.
Ex-di retor da Nat ional Semiconductor, ele já chegou cometendo uma gafe: elegeu
Woz func ionár io núm ero 1. Jobs passou a se denominar o número 0.
Nessa época, Steve Jobs. já de cabelos curtos e um bigodinho no lugar da barba,
convocou o publicitário Régis McKenna, da agência da propaganda da Intel, para criar
o novo logot ipo da Apple. Régis comprou um pacote de maçãs, cortou algumas e
f icou observando as f rutas por horas. Até que bolou um desenho. Jobs não gostou:
queria cores e, pr inc ipalmente, um a mordida - um a brincadeira c om a palavra "byte" e
uma forma de garant i r que as pessoas não confundissem o desenho com um tomate.
Junto c om a ident idade v isual, surgiu um novo produto, o Apple I I. Foi uma revolução:
ele t inha tela, tec lado, processador MOS Technology 6502, 4 kB de memória RAM,
drive para disquete e gabinete de plástico. Mas, principalmente, era fácil de usar.
14 SUPER ESPECIAL STEVE JOBS M A G E N S 1G E T T Y I M A G E S 2T ED P I N K A L A M Y 3A FP
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Em 1977, a empresa vend eu 2,5 mil máquinas. Em
"978, qua ndo Jobs c om pleto u 23 anos, 8 mil. Em 1979,
35 mil. Com todas as atualizações, a máq uina continu -
aria a ser produzida até 1993 e acumularia 6 milhões
de unidades vendidas. "O Apple II criou o mercado de
computadores pessoais. Foi tão marcante que, no co-
meço dos anos 1980, Jobs tinha dezenas de concor-
rentes", diz Mike Swaine, jornalista e coautor de Fire
n the Valley: The Making of The Personal Computer
VcGraw-Hill, 2 0 0 0 ) . Como acontecer ia muitas vezes
depois, a Apple ditou um padrão ao lançar uma má-
~a útil para qualquer pessoa. Depois que o VisiCalc,
: 2'~ -e iro editor de planilhas, foi lançado e m 1979, a
•La rcd ad e de softwares disponíveis se mult ipl icou.
- -c p' e era uma potência, e queria mais. Só que
: :-= sc ~e nt o acelerado deixou marcas profundas na
e -x r= s a O período entre 1978 e 1984 seria caracter i-
z ar : o cr er gas internas, produtos malssucedidos e a
: n gê do Macintosh.
O ro u b o d o a r t i s t aP a r a c r i a r o M a c i n t o s h , J o b s s e
a p r o p r i o u d e u m p r o j e t o d a X e r o x
Em 1979, Steve Jobs ven de u açõ es daApp le para a Xerox. Ele t inha segunda sintençõ es. O Ce ntro de Pesquisas de PaloAlto da e mp resa (PARC, sigla em inglês)f icava a l i per to, mas os execut ivos mo rava mem Nova York e não en tend iam o t raba lho
revoluc ionár io que seus pesquisadoresfaziam na Cal i fórnia. "As inovações da Xeroxeram um segredo públ ico. Os func ionár iosf i cavam inconformados com a quant idadede inic iat ivas barradas na matr iz eage nda vam v is itas guiadas pelas ins ta laçõesdo PARC", diz o jorn al ista Mike Swaine.Com o novo parce iro da empresa , o fund adorda Apple agendou logo duas. Na pr imei ra,ma ndo u um a equ ipe . Na segunda, percor reupessoa lmente o local. Al i, conh eceu o Xerox
A l to , o p r ime i ro com puta dor da h is tó ria c ommo use e inter face gráf ica - mas que nã oser ia com erc ia l izado. Jobs, que co meç ava abuscar a lgo parec ido , enco nt rou u m produ topro nto e não teve escrúpulos . Ele gostavade ci tar a máxima atr ibuída a Pablo Picasso,um de seus ídolos : "Bons ar t is tas copiam ,grandes ar t is tas roubam". Como complem ento : "E nunca t i vemo svergonha de roubar grandes ideias" .Jobs fo i a inda m ais longe: co nt ra touvár ios engenhei ros da Xerox envolv idos
no projeto. O Apple Lisa seria lançadoem 1983 e tom ar ia o ine di t ismo d o XeroxAl to. Em 1984, o M ac intosh t ransfo rma r iaa nov idade em padrão para todoo m ercado . Em 1989, a Xeroxprocessaria a Apple, sem sucesso.
PARA SABER MAIS
• Triumph of the Nerds, dir.
Rober t Cr inge ly , 1996.
15 SUPER ESPECIAL STEVE JOBSM A G E N S 1G E T T Y
5/16/2018 Super.interessante.ed.Especial - slidepdf.com
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D e s d e a j u v e n t u d e , e l e s e
a c o s t u m o u a p a s s a r d u a sh o r a s p o r d i a p r a t i c a n d o
MEDITAÇÃO ZENd ia n t e d e u m a p a r e d e b r a n c a .
a:m 2 0 0 0 ,
pediu aos
conselheiros da
Apple que a empresacomprasse para ele
um jato Gulfstream V, de
US$ 40 milhões. Não só
ganhou o presente como
a compan hia passou a
pagar pela manutenção.
Conheça as man iasma is esqu isitas de Jobs
Nsede da Apple, ele
só estacionava na
vaga para portadore s
de necessidades especiais.
Um dia, seu cofund ado r Steve
Wozniak ligou para a polícia
denunciando a irregularidade.
Mas se identif icou como outro
funcionário, Andy Hertzfeld,
gue f icou morrendo de medo
de perder o emprego.
E l e a d o r a v a c a r r o salemães. Começou comprando Porshes,depois ele mudou para a Mercedes.Sempre arrancava as placas dos veículos.
Com f r equênc ia, er a v i st oc o m p r a n d o v e ge t a i s o r gâ n i c o s
no Who l e Foods Mark e t , de Pa loAlto. Cost u m ava and ar desca lço .
16 R E S P :
5/16/2018 Super.interessante.ed.Especial - slidepdf.com
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Era tão obcecado por BobDylan que saía com a cantora
JOANBAEZó porque ela t inha sido
namorada de seu ído lo musica l .
Nos anos 80, q u e m
coz inhava para o empresár io era um casal
de estudantes da Univers idade da Cal i fórnia
em Berkeley, que morava com ele de favor.
Em 1 9 0 , Stevecom prou um
apartamentoem NovaYor k. Depoisde 21anosenformandoo lug ar semnu nca viv er al i ,vendeu para ovocal ista do U2,
BON O VOX.
E le s e m u d o u e m 1984 p a r a a m a n s ã o Ja ck lin g H o u s e.N ã o co m p r o u m o b ília , a n ã o s e r u m a m o to BM W e
u m p ia n o d e c a u d a Bo se n d o r fe r. N ã o s a b i a t o c a ro i n s t r u m e n t o , m a s a d m i r a v a s e u
Por muito tempo,
N A O TEVE
CAMA.Seu quar t o t i nha apenas uma l um iná r i a da
T i f f any e pa iné i s do f o t óg ra f o Ans e l A dam s .
LUsava com as mulheres o mesmo
charme das apresentações de
produtos. Mas não con segu iu
conve ncer a a t r iz Bo Derek a t rocar o
PC pelo Mac. Ele a visitou pessoa lmente
em 1985, mas ela não se impressionou.
Jobs reclamou muito com uma amiga,
que fez piada: "Olha, ela é casada. Além
disso, não conheço mulher alguma que
gostaria de se cham ar Bo Jobs".
P a s s o u s e m a n a s d e b a t e n d o o m o d e l o i d e a ld e m á q u i n a d e l a v a r e s e c a d o r a p a r a a f a m í l i a .N o f i n a l , o p t o u , m a i s u m a v e z , p o r m a r c a s a l e m ã s .
5/16/2018 Super.interessante.ed.Especial - slidepdf.com
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v e rs a p rofé tica"E le com and a um a empresa que se o rgu lha de te r um amis tu ra do idea l i smo dos anos 60 e o t i no com erc ia ldos anos 80" , a f i rma va a rev is ta Playboy em 1985.Conf i ra t rechos desta ent rev is ta h is tór ica
i
Quando aceitou ser entrevistado pelo
jornalista freelancer David Sheff para a
revista Playboy, Steve Jobs batalhava
para convencer o mundo da revolução
trazida pelo Macintosh. A entrevista
seria publicada em fevereiro de 1985.
Pouco tem po depois, ele foi afastado da
Apple. A conversa com o repórter refle-
tia a tensão vivida pela empresa na épo-
ca. Em vár ios momentos, ele teve que
explicar richas internas e o fracasso de
dois produtos (leia mais sobre o assun-
to na página 20). Mas esta entrevista se
tornou histór ica por outros motivos.
Poucas vezes o reservado Jobs falou
tão abertamente com a imprensa. Nes-ta ocasião, fez previsões que se torna-
r iam profét icas. Em uma época em que
ainda fazia sent ido perguntar quais os
argumentos para ter computadores em
casa, ele já an tevia a internet.
0 empresár io, que estava para comple-
tar 30 anos de vida, levou Sheff para
uma festa de aniversário na Califórnia.
Impressionou o repórter por dar mais
atenção ao aniversar iante, um garo to de
9 anos, do que ao artista plástico Andy
Wharhol. Por que ele preferia a compa-nhia do jovem? "Pessoas mais velhas
sen tam e pe rgu nta m 'O que é isso?"', ele
respondeu. "Mas o garoto pergunta, "0
que eu posso fazer com ele?'"
Que ta l vo cê da r r azões conc r e t as
pa r a qu e se deve com pr a r um
c o m p u t a d o r ?
Há respostas diferentes para pessoas
diferentes. Nos negócios, é fácil. Você
prepara documentos e arqu ivos com
mais velocidade e em nível de qual ida-
de impossível de esperar de uma pes-
soa. Também aumenta-se a produção,
porque livra as pessoas do trabalho pu-
ramente mecânico.
A razão básica para comprar um com-
putador pessoal, hoje em dia, é que você
deseja fazer algum trabalho em casa ou
quer usar programas educacionais para
você ou para seus filhos.Você sabe que algo está acontecendo,
só que não sabe exatam ente o quê. Mas
tudo isso vai mudar: o comp utad or será
uma peça essencial na maioria das re-
sidências.
As pessoas terão computadores em
casa quando eles puderem ser l igados
em uma cadeia nacional de comunica-
ções e informação. Estamos apenas no
início do que pode ser uma revolução
na vida das pessoas - uma revolução
tão impor tante quanto a proporc ionadapelo telefone.
En t ão você está ped in do q ue as
pessoas i nv i s t am U S$ 3 m i l em a lgo
que é essenc ia lm en t e um a to de f é?
No futuro, não será um ato de fé. O pro-
blema é que hoje as pessoas querem
saber coisas específicas e a gente não
sabe o que dizer. Mas, há 100 anos, se al-
gué m perguntasse a Alexander Graham
Bell o que se poderia fazer especifica-
mente com um telefone, ele tambémnão teria sabido responder. Enfim, há
coisas que hoje não se pode concebe
Mas acontecerão.
Em 1844, foi inventado o telégrafc
uma fantástica inovação no mund<
das comunicações: em pouco minuto :
podia-se enviar mensagens de lugare
distantes. Muita gente falou em coloca
um aparelhinho de telégrafo em cad
escr ivaninha para aumentar a prodi
t iv idade. Não funcionou. Havia aquel
negócio de código Morse, pontos e tr í
ços. Felizmente, Graham Bell inventou
telefone. Fazia exatamente o que o tele
grafo fazia, só que as pessoas podiar
usá-lo com facilidade.
Tem gente dizendo que precisamccolocar um IBM-PC em cada escrivan
nha da América. Não funciona. Dest
vez, é preciso aprender programação,
ninguém vai fazer isso. E aí que entra
Macintosh: nosso com putad or é o " tek
fone" da indústr ia de computadores.
P elo m enos um c r í t i co d i sse que
o M a ci n t o s h é " o q u a d r o - n e g r o
m a i s c ar o d o m u n d o " .
Imagine o que qualquer um pode fazt
com um quadro negro tão sofisticadiNão só ajuda a increme ntar a produtivid,
de e a criatividade das pessoas: faz cor
que a com unicaç ão seja mais eficiente.
São necessár ias pessoas malucc
pa r a f aze r g r andes p r o je to s?
De fato, você precisa pensar diferent
fazer coisas novas, adotar novas ideie
e jogar fora as velhas. Sim, sim, o pessi
al que fez o Mac estava bem no limil
da loucura.
I M A G E M G E T T Y I M A G E S
5/16/2018 Super.interessante.ed.Especial - slidepdf.com
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Expulsod e ca s aogo depo is de ap resen ta r o Mac in tosh ao m und o ,
S teve Jobs fo i dem i t i do pe lo CEO que e le me sm o con t ra tou .Sua nova em presa, a NeXT, fo i um f racasso re tu m ba nte
TEXTO T i a g o C o r d e i r o
ocê quer vender água açucarada
pelo res to da v ida ou quer mudaro m und o?" Foi co m essa frase, ho jefamosa , que S teve Jobs co nve nce uJoh n Scu l ley a se tor na r o CEO daApple em 1983. Era uma parcer iadas ma is im prová ve is e acabouse t r a n s f o r m a n d o n u m c a s a m e n t ode negóc ios mu i to tumu l tuado .
Por um ano, Jobs e Scul leyv ive ram em lua de me l . Quandoo re lac ionam en to desandou , ofund ado r da A pp le acabou sendoexpu lso da p rópr ia empresa ,exa tamen te como acon teceu comEdwin Land (1909-1991), o inventorda máqu ina fo tográ f ica Po la ro id
e mais um de seus ídolos.
2 0 SUPER ESPECIAL STEVE JOBS
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fo i o ú l t imo p rodu to deJobs antes da demissão
Nascido em 1939, John Sculley era um talento evidente. Tor-
nou-se trainee da Pepsi em 1967 e, três anos depois, já t inha se
t o rnado o mais jovem vice-pres idente de market ing da his tór ia
da empresa. Neste cargo, desaf iou a todo-poderosa Coca-Cola.• e criou a campanha da Geração Pepsi e, em 1975, lançou os
testes cegos em supermercados, para comprovar que seu pro-
duto era, no mínimo , tão bo m q uan to o concorren te. (Scul ley se
submeteu ao experimento. Preferiu a Coca.) Em 1977, ele batia
mais um recorde: assumia o cargo de mais jove m pres idente dahis tória da Pepsi . Naquele m om ento , nem conhecia Jobs.
21 S U PER ESPECIAL STEVE JOBSM A G E N S 1G E T T Y I M A G E S 2T E
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EM P R ES A R AC HADAA Apple que Sculley assumiria, em
1983, era uma empresa de bastidores
tumultuados já faz ia algum tempo. Para
entender como a companhia t inha de-
sandado tão rápido, é prec iso relembrar
que, até então, Jobs nunca t inha sido
diretor da empresa que cr iou. Desde o
começo, t inha concordado em atuar na
criação e no desenvolv imento de produ-
tos. A condução do dia a dia, com seus
problemas burocrát icos, f icava a cargo
de Michael Scott.Em 2 5 de fevereiro de 1981, Scott de-
mit iu 40 func ionários, inc luindo metade
da equipe que trabalhava nas atualiza-
ções do Apple II. Fez isso sem consultar
o conselho, que o subst i tuiu por Mark
Markkula, o pr ime iro invest idor da Apple
que faz ia parte do conselho.
A cadeia de comando estava f ragi l i -
zada e os novos produtos n ão ajudavam.
Em 1980, chegava ao mercado o Apple
III, um projeto tão mal resolvido que o jo-vem patriarca Steve Wozniak se recusou
a part icipar. A máquina em si era avan-
çada: t inha um processador Synertek
6502A de MHz e uma tela com resolu-
ção melhor do que a do Apple I I (mas o
fundo preto com let ras verdes cont inua-
va f irme). Só que Jobs exigiu que o Ap-
ple III não tivesse saídas de ar, para ficar
mais boni to, e ele superaquecia o tem po
todo. Foi um fiasco gigantesco, que abriu
espaço para o cresc imento dos PCs da
IBM, lançados em 1981.
Enquanto isso, o cientista da compu-
tação e func ioná rio no vo da empresa Jef
Raskin reunia uma pequena equipe de
engenheiros para começar a t rabalhar
em paralelo num outro modelo, o Macin-
tosh - n om e inspirado em sua espécie fa-
vorita de maçã, Mclntosh. Era um projeto
secundár io . Quem comandava o novo
carro-chefe da empresa, o produto que
retomaria a diantei ra no mercado, era
Jobs. Só que o fundador da Apple v iv iaum momento pessoal tumul tuado.
Divulgado em 1986,|o logot ipo da NeXT
custou US$ 100 m il|
Em meio ao nascimento de sua f i lha, que ele renegaria por sete anos, Jobs de-
senvolv ia o Apple Lisa. Mas o compu tado r nunca f icava pronto. Considerado turrã o e
inexperiente pelos execut ivos da empresa. Jobs foi afastado desse trabalho e relegado
ao M ac. Em retaliação, dem itiu Jef Raskin em 1981 e rach ou a App le e m du as. Insta-
lou sua turma em um prédio isolado, onde colocou uma bandeira pi rata na entrada.
Quem não estava no seu t ime era tachado de incompetente. No refei tór io, as duas
metades da empresa faz iam guerra de comida.
Em 1983, i ronicamente durante uma v iagem para promover o Lisa, Jobs abordou
John Scul ley na tentat iva d e convencê-lo a assumir o cargo. Conseguiu, e logo os do is
se entenderam tão bem, durante apresentações públ icas, um completava as f rases
do outro. Steve vol tava a ter um bom momento na empresa: as vendas do Lisa, um
produto que Jobs queria ver fracassar, foram mal. De repente, ele era amigo do CEO e
responsável pelo projeto agora considera do prior itár io, o Mac.
LADEIRA ABAIXO"A pr incípio, Jobs gostou da ideia de ter junto a s i um homem de negócios
agress ivo, mas sem experiênc ia com tecnologia. Achou que i r ia dominá-lo" , af i rma
o jorna l i s ta amer icano Mike Swaine, que acompanhou de per to aquela fase da
emp resa. "Quando perc ebe u que Scul ley não i r ia se sub me ter a ele, Jobs f icou
I M A G E M E D K A S H I
22 SUPER ESPECIAL STEVE JOBS
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inconformado e começou a boicotá- lo." Em 24 de janeiro de
1984, o fundador voltou a br i lhar. Durante a reunião anual
dos acionistas, ele se apresentou como um pastor diante de
f iéis exaltados pela apresentação do Macintosh.
"De fato, era uma máquina inovadora. Com mouse e in-
ter face gráf ica, levava a exper iência do usuár io comum a um
novo nível", afirma o americano Tim Bajarin, analista da in-
dústr ia de tecn ologia há 30 anos. A tela era color ida e o con-
junto com o software PageMaker e a impressora LaserWriter
faziam do aparelho uma estação de trabalho completa. Mas
o pr imeiro Mac t inha vár ios problemas, em especial a memó-r ia, muito pequena, que deixava a máquina ir r i tantemente
lenta. "Eu me apaixonei pela proposta do Mac, que era fas-
cinante. Mas a máquina em si era muito ruim", dir ia Douglas
Adams, o escr i tor do Guia do Mochileiro das Galáxias. As ven-
das foram catastróf icas e só melhorar iam dois anos depois.
Inconformado com o f racasso in ic ia l , Jobs começou a
art icular a derrubada de Scul ley assim que ele embarcasse
em uma viage m prevista para a China. O CEO f icou saben do
e, em maio de 1985, convocou o conselho para uma reunião
emergencial . "Eu mando nesta companhia, Steve, e quero
você fora para sempre!". Dito isso, perguntou a cada um dos
execut ivos quem eles apoiavam. Markkula foi um dos que se
posicionaram contra Jobs, que acabou afastado de seu car-
go, chefe da divisão Macintosh. Sair ia em def ini t ivo em se-
tembro. Os amigos temiam que ele se matasse. "Minha saída
foi a melhor coisa que aconteceu comigo", ele dir ia depois.
"O peso de ser bem-sucedido foi subst i tuído pela leveza de
ser um iniciante de novo." Não foi bem assim.
Swaine. Jobs optou então por só produzir softwares. A deci-
são o salvou do ostracismo. Em 1996, a Apple quis comprar
o sistema operacional desenvolvido por sua equipe na épo-
ca, o NeXTStep OS. Como parte do acordo de venda, Jobs
vo l tou a empresa como consu l tor e rap idamente dest ronou
o diretor executivo Gil Amélio. Em 199/, ele estava de volta,
com um poder incontestável.
D ire to re se x e c u t i v o sO s C E O s d a A p p l e a o l o n g o
d a h i s t ó r i a d a e m p r e s a
Michael Scott
Mike Markkula
j U John Sculley
PROXIMO!Jobs demorou um pouco para absorver o golpe. Pensou
em se candidatar ao governo da Cal i fórnia e pediu à Nasa
para ir para o espaço. Viajou para a França e para a União So-viét ica. Mas cheg ou a um plano razoável: cr iar uma empresa,
a NeXT, que produzir ia com puta dore s para universidades.
Em 1987, a NeXT já valia US$ 125 milhões, sem ter um
único produto. Depois de uma sér ie de adiamentos, Steve
apresentou o NeXTCube. De novo, os detalhes técnicos in-
. s ix '23 ran o suce sso do mode lo: a tela de 17 polegadas era
: e branco, qua ndo os cl ientes prefer iam cores. Para
: j í je m enco me ndou a máquina em 1987 (caso do rei
cs Esca-ha J ja n Car los I) só a recebeiu em 1989.
- emoresa estava vir tualmente fal ida em 1993. "Steve
cara perceber que não poder ia revolucionar o
-are .' .are de novo. Ele já tinha feito isso antes", afirma Mike
E l Michael Spindler
1996-1997Gil Am él io
Steve Jobs
2011
Tim Cook
23 SUPER ESPECIAL STEVE JOBSM A G E N
5/16/2018 Super.interessante.ed.Especial - slidepdf.com
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A ¥oltc: p or cim aDepois de 12 anos de exí l io , Jobs rea parece u para t i rar a App le do buraco .Des ta vez, co loco u e m p rá t i ca tud o o que sem pre pen sou a respe i to de ges tão
E i 1997, Steve Jobs aparec eu
e surpresa em um a reunião
dos executivos da Apple.
Chegou de bermuda, co m
a barba por fazer, sento u
e começou a g irar a cadeira
lentamen te. Depois de
longos segundos desilêncio, disse: "Me dig am
o que há de errado neste
lugar. São os prod uto s! Já
não tem mais sexo neles".
A Apple t inha se tornad o
uma emp resa caótica, com
20 linhas de máquinas.
Steve estava dispo sto a
muda r a situação e t inha
cart a branca para isso: pela
prime ira vez, era o CEO da
empresa que havia fundad o.
Resolveu colocar em prática
tud o o que pensava sobre
administração. Conheça
suas princip ais receitas.
PARA SABER MAIS
• A Cabeça de Steve Jobs,
Leande r K ahney , A g ir , 200 8 .
5/16/2018 Super.interessante.ed.Especial - slidepdf.com
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O U S U Á R IO N Ã O S A B E O Q U E Q U E RA Apple se recusa a fazer pesquisa de mercado. "Como eu
posso perguntar às pessoas como deve ser um computadorbaseado e m in te r face g rá f i ca , se e las não têm a m eno rideia do qu e seja isso?", Jobs co stum ava dizer , para d epo isl embra r que , em 1979, os execu t i vos da Sony t i nha m emmãos pesqu i sas apontando que o wa l kman ser i a umfracasso - Ak io M or i ta (1921-1999) , co fun da do r da e mp resa,ac red i tou no p roduto mesmo ass im . Deu no que deu.
M E N O S É M A I SUm dos segredos do sucessodo p r ime i ro iPod é que e lenão t i nha nenhum ap l i ca t i voa lém do necessári o . "O p ontocruc ia l fo i jog ar coisas fora,com o rád io FM e g ravad or devoz" , d i r ia o des igner Jonatha nIve. A le i va le para pro du tosem d es env o l v i m en t o : S t eved i z ia te r tan to o rgu lh o dospro je tos que l ançou quantodos mu i tos que des i s t iude levar ao mercado.
F EC H A D O É M ELH O R Q U E A BE RT OJobs acab ou com os c l ones de Mac in toshao inves t i r em p rodu tos fechados , comcód igo p ropr i e tá r i o . Para o por ta - vozdos sof twares l i v res R ichard Sta l lman,isso fez dele u m v i lão: "A App le faz aspessoas se sent i rem mais descoladas,mas t i ra nossa l iberdade" . Jobs semprerespond ia que s i s temas operac iona i sfechados garan t i am que o p roduto e ramais estável e menos suje i to a bugs.
S I
,À* m - • m m#
K
S V » »»
Jt. 'M á
mm g
T I R A N I A F U N C I O N A"M inha função não é de i xara vida das pessoas mais fáci l .É t i rar o m elh or d elas" , d iz iaJobs . Qu and o o assunto
era democrac ia empresar i a l ,e le gosta va de c i tar oexemplo de Henry Ford(1863-1947). 0 ho m emque fac i l i tou o acesso aosve ícu los mo tor i zado s d i z i aque as pessoas pod iam te rcar ros da cor que q u i sessemdesd e que e la fosse preta.Na App le , e ra Jobs qu emdava as o rdens e p ron to .
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Revolução
n a m ú sicaCom o iPod, a Ap ple de ix ou de ser apenas um a fabr ic ante
de computadores . Para l i de ra r uma indús t r i a que não dominava ,
a empresa reun iu tudo o que a conco r rênc ia t i nha de m e lho r
TEXTO T i a g o C o r d e i r o // ILUSTRAÇÃO F a b r í c i o L o p e s
e m b r a d o C D , a q u e l e d i s c o r e d o n d o e m q u e c a b i a m a t é 74 m i n u t o s d e m ú s i -
a? Na v i r ada do sécu lo 20 , e le a inda e ra o fo rmato ma is usado para ouv i r can to -
res e bandas . Ex is t iam apare lh inhos tocadores de MP3. mas e ram fe ios , d i f í ce is de
usar ( de tão impenet ráve l , o Nomad Jukebox , por exemplo , parec ia exc lus ivo para
n e r d s ) e n o r m a l m e n t e t i n h a m c a p a c i d a d e p a r a n o m á x i m o d o i s C D s.
E m 2 0 0 0 , J o n R u b i n s t e i n , e n g e n h e i r o d e h a r d w a r e d a A p p l e , v i s i t o u u m a f á -
br ica da T|
h a r d d r i v e ]u e
no Japão . E le vo l tou à Ca l i fó rn ia com a ide ia de adap ta r um
c o n h e c e u lá d e n t r o e t r a n s f o r m á - l o e m u m M P 3 p l ay e r. A n o s
ins te in r e p e t ir i a o c o m p o r t a m e n t o : d e i x a r ia a e m p r e s a e l e v a ri a a l g u n s
de seus p ro je tos ! > a r a a c o n c o r r ê n c i a (leia mais na página 58).
Se a p ropos ta t i vesse surg ido tempos an tes , Jobs descar ta r ia a suges tão .
Achava que o fu tu ro es tava nos v ídeos , e não nas canções , e inves t ia no desen-
vo lv im ent o de so f twares de ed ição de image ns . Mas a fa l ta de g ravad or de CD
no iMac p rovocou o ba ixo in te resse dos compradores , e S teve percebeu que as
p e s s o a s c o m u n s e s t a v a m m a i s I n te r e s sa d a s e m s o n s d o q u e e m i m a g e n s . D e c i d i u
e n t ã o e m b a r c a r n u m p r o j e t o b e m d i f e r e n t e d e t u d o o q u e a e m p r e s a j á t i n h a f e i to .
Men os de um an o depo is , o p r ime i ro iPod chegava às lo jas. A App le nunca ma is
ser ia a mesma. A indús t r ia da mús ica também não .
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O nome do iPod vemdo fi lme 2001 UmaOdisseia no Espaço1'
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MENU
HM • M
• II
A c l ick wheel do
aparelho fo i suger ida
pe lo marke t i .
P R O J E T O D U L C I M E RAlguma s boas inic iativas já prontas po deriam ser aprovei ta-
das no desen volv imen to d o no vo aparelho. A versão mais atua-
l izada, na época, do player da empresa, o Quicktime, t inha algu-
mas sacadas d e layou t - era bon ito e fácil de usar. Sua interface
serviria de inspiração para o iPod. Ambos os produtos t iveram
o toque de Tim Wasko, um designer qu e t rabalhava com Steve
desde os tempos da NeXT, a companhia que o chefe fundou
ao deixar a Apple, em 1985. "Desde o início do projeto, Steve fez
algumas observações mui to interessantes sobre o fato de que
tudo deveria estar centrado em navegar pelo conteúdo" , di r ia
depois o des igner Jo nathan Ive, outro grande responsável pelo
resul tado final do pro duto.Na época, Ive fazia pesquisas com plástico policarbonato
branco e resolveu usar esse material . O patrão aprovou com
certa facil idade - e o protótipo ultrassecreto da Apple, batizado
de Projeto Dulcimer, caminhava rápido. Enquanto isso, Rubins-
tein fuçava no Nomad Jukebox, analisava o hard drive da Toshi-
ba, que t inha apenas 4,5 cent ímetros de diâmetro, e de str incha-
va os chips de controle da Texas Inst ruments e uma bateria
para telefones celulares da Sony - os melhores MP3 da época
desl igavam depois de duas horas de uso. Outros disposi t ivos
já estavam disponíveis em produtos da própria Apple, como
displays e adaptadores para eletricidade.
Rubinstein contratou um consultor, Tony Fadel], para ajudá-
lo a unir tudo isso em um novo aparelho. Fadell, ex-funcionário
da Phil ips, aceitou, eufórico: ele vinha apresentando para várias
empresas seu próprio projeto de um tocador de músicas di -
gital já fazia alguns meses. A f im de ajudar na produção dos
semicondutores necessários, foi convocada a PortalPIayer, que
disponibi l izou para o projeto uma equipe de 3 0 pessoas, parte
delas trabalhando na índia.
Quando todas as peças foram colocadas juntas, os enge-
nheiros e des igners perce beram que elas se encaixavam mu ito
bem dentro de uma caixa f ina, do tamanho de um baralho de
cartas. E ass im o iPod ganhava um formato.
O D I SS E IA E M C U P E R T IN ONem tu do fu nc ion ou tão rápido. Jobs nunca estava satisfei-
to com o volume de som máximo alcançado pelos fones de ou-
vido. Os engenheiros sabiam que essa era uma impressão falsa,
porque ele t inha problemas de audição. Como ninguém teve
cora gem de dizer isso a ele, os protót ipos de fones se acum ula-
vam sobre sua mesa. Outro detalhe desenhado e redesenhado
centen as de vezes foi a cl ick wheel do aparelho, um a ideia trazi-
da pelo di retor de marke t ing Phi l Schil ler, que ta mb ém sugeriu
que a navegação pelos menus f icasse mais rápida quando o
2 8 S U P E R E S P E C I A L S T E V E J O B S IMAGENS DIVULGAÇÃO
5/16/2018 Super.interessante.ed.Especial - slidepdf.com
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objeto fosse girado por mais tempo. Tinha dado certo trabalho
(bem m enos do que o iPhone. Leia na página 34), e o aparelho
estava quase pronto. Só não tinha nome comercial.
Com uma primeira versão em mãos, o freelancer Vinnie
Chieco, contratado para pensar em estratégias de apresen-
tação do aparelho, começou a trabalhar. "Assim que vi o iPod
branco, pensei no filme 2001 Um a Odi sseia no Espaço", ele
contaria. Em uma cena famosa da produção de 1968, um dos
astronautas diz ao com putad or que controla a nave: "Open the
pod bay door, Hall" (algo como: "Abra a porta do compartimen-
to, Hall"). O "pod" saiu daí. O Tj á tinha sido usa do no iMac. que a
princípio significava "internet", e Chieco gosto u da co mbina ção.Levou a sugestão para Jobs, entre dezenas de outros possíveis
nome s, cada um a nota do em um papel. "iPod" foi parar na pilha
das opções rejeitadas. Depois, de um dia para o outro, o chefe
decidiu que ele estava aprovado.
Agora o aparelho já tinha nome, cara e estrutura interna.
Nem mesmo o impacto dos atentados de 11 de setembro de
2001 imped iram Jobs de fazer, em outubro, o grande anúncio
do produto que levaria a Apple para um novo mercado. A rea-
ção da plateia, como sempre, foi eufórica, mas hoje o primeiro
modelo parece bem tosco perto das versões mais recentes: ele
ainda era muito g rande e tinha um a tela quadrada , preta e bran-
ca. De toda forma, o prime iro passo já estava dad o. Dali para a
frente, a cada seis meses em média, a empresa lançaria uma
nova versão, mais bem acabada que a anterior.
Sim, o iPod era um acontecimento marcado para sepultar
de vez a era dos CDs. Mas a revolução definitiva no mundo da
música só ficaria completa dois anos depois, quando o apare-
lho ganhou a companhia da loja virtual iTunes.
PARA SABER MAIS
The Second Corning ofSteve Jobs,
A lan D eu tschman , B r oadw ay , 2000 .
5/16/2018 Super.interessante.ed.Especial - slidepdf.com
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A s a lv ação
d a lavou ralo ja v i r tua l da Apple sa lvou a indúst r ia da música de la mesma. E a empresaainda teve que convencer as gravadoras de que o iTunes representava o fu turo
TEXTO P e d r o B u r g o s
iPod era mais bonito, út i l e fác i l de
usar do que qua lquer tocador de MP3
d ispon íve l no mercado em 2001 . Mas ,
soz inho , poder ia te r s ido superado pe lo
tempo, pe las im i tações ou pe la reação
da concor rênc ia . Se o p rod u to v in gou e
se to rn ou tão in f luen te , é por ou t ro mot i -
vo bem menos lembrado : o iTunes .
O so f tware que deu o r igem ao iTu-
nes , o Sound Jam, fo i comprado de uma
pequena empresa , a Cassady & Greene ,
no iníc io de 2001. A Apple ret i rou as gor -
dur inhas e de ixou a in te r face ex t rema-
mente s imp les . O ob je t ivo e ra fac i l i t a r
a v ida do consumidor : bas tava co locar
u m C D n o c o m p u t a d o r , e l e c o n v e r t i a
para MP3 e s inc ron izava sua co leção
com o iPod. Mas isso fo i só um pedaço
da his tór ia. Por que esse processo com-
p l icado de comprar um CD para conver -
ter? Melhor ter um MP3 direto. Mas, em
2001, os lugares onde e ra poss íve l com -
pra r mús ica e ram rud imenta res , com
acervos l im i tados e os a rqu ivos t inham
diversas p ro teções con t ra a cóp ia .
N a q u e l e m o m e n t o , e r a t e r r i v e l m e n -
te d i f íc i l l idar com MP3 e a veloc idade de
conexão não a judava . A ma io r par te das
pessoas não sabia da ex is tênc ia desses
programas de t r ocas de a rqu ivos . Mes -
m o a s s im , o d o w n l o a d m o s t r o u u m a
tendênc ia : uma enorme par te dos con-
sumidores es tava in te ressada em es -
co lher as mús icas que quer ia e achava
caro demais pagar o p reço de um d isco
inte iro por uma ou duas fa ixas que inte-
ressavam. Era necessár io um novo mo-
de lo de d is t r ibu ição .
I M A G E M A FP
5/16/2018 Super.interessante.ed.Especial - slidepdf.com
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5/16/2018 Super.interessante.ed.Especial - slidepdf.com
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EXEC UTIVOS IGNOR ANTES
As gravadoras não entendiam o novo mercado. Segundo
Jobs, os execut ivos que controlavam a venda de música eram
"ignorantes" alhe ios à tecnologia, avessos até a e-mails. Na épo-
ca do iPod, eles faz iam experiênc ias toscas com um mo delo de
"assinatura" de catálogo. Você pagava por mês e podia ouvir
quantas m úsicas quisesse, mas uma vez qu e parasse todos os
seus arquivos sumiam . Já v iu um mod elo de alugue l de LPs dar
certo em algu m lugar? Pois então.
As pr imeiras conversas de Jobs com as gravadoras foram
infrutíferas. Mas a Apple persist iu. Uma das qualidades menos
mencionadas sobre o execut ivo é sua habi l idade em l idar com
os hom ens de neg ócios das outras empresas. Toda a sua habi-l idade foi posta à prova nos 18 meses de negociação que leva-
ram à criação da loja do iTunes, em 2003, e a sua compatibi l i-
dade com o Windows, para aumentar o públ ico em potencial .
Como não gostava de entregar um produto incompleto, ele
só abriu a loja qua ndo todas as grandes gravadoras acei taram
entrar na dança, e 200 mi l músicas estavam disponíveis para
download ao preço de US$ 0,99 cada uma.
As vendas do IPod, que até então eram boas, mas ainda
não t inham chegado ao pr imeiro mi lhão, decolaram a part i r
daí. Porque Jobs fez um acordo bastante interessante para as
gravadoras e sua própria empresa: as músicas não po diam ser
copiadas para outros comp utad ores (ou dis t r ibuídas na rede) e
Em 2010, o catálogodos Beatles ficou
disponível no iTunes
o form ato seria exc lusivo do iPod. Menos d e u m ano depois , a
loja do iTunes comemorava os 100 mi lhões de downloads e o
apare lho da Apple dominava 84% do m ercado de tocadores de
música. Agora s im a revolução na m úsica estava completa.
Em 2008, o iTunes viraria a maior loja de música dos Esta-
dos Unidos, deixando para trás a onipresente rede de mercados
WalMart . As gravadoras passaram a entende r o m odelo. Ass im,
o iTunes salvava a indústria da música dela mesma, criando vá-
r ias formas de fazer com que o consumidor gastasse dinheiro
com seu art ista favorito.
N O V O D E S A F IO0 grande problema da Apple agora é reproduzir este mo-
delo para o conteúdo em vídeo, coisa que ela tenta desde
2 0 0 5. 0 serv iço já é bom : hoje, é possível ass ist ir a um episódio
de uma série de TV em al ta def inição apenas um dia depois de
ele ir ao ar ou ass inar uma temp orad a intei ra: o com puta dor faz
o download assim que o capítulo está disponível. Mas, diferen-
tem ente do iTunes, ele não é a pr inc ipal loja do mercado.
Com preços melhores e mais acordos de dis t r ibuição, a
Apple também quer mudar rad ica lmente o mercado de v ídeo
e diminuir a pi ratar ia. O grande concorrente é a Amazon, que
começou a fazer seu próprio tablet. A briga vai ser boa. E os
consumidores acabam ganhando no f inal .
32 SUPER ESPECIAL STEVE JOBS I M A G E N S 1 E T T Y IM A G E S 2TE D P I N K ALAMY 3 AFP
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M e r ca d o d if ícilP o r q u e a A p p S t o r e b r a s i l e i r a n ã o é c o m o a d o s o u t r o s p a í s e s ?
Se nos Estados Unidos o iTunes já é sinô nimoda lojinhas de músicas, vídeos e a plicativos,para nós, brasileiros, o nom e co stuma se referirao programa terrivelmente pesado que habitaos computadores de quem precisa sincronizararqu ivos c om as iCoisas. Mas por que o Brasil, umenorme mercado, não tem os mesmos direitos
que, digamos, o México? A situação é d iferentepara cada mídia. No caso de música, em qu eo entend imento seria teoricamente mais fácil(ouvimo s m uitos dos artistas que os americanosouvem ), a dificuldade é fechar acordo s com as
gravadoras daqu i, ainda mais resistentesa muda nças do q ue as de outros países.No caso dos vídeos, os estúdios têm me dode brigar com as fortes em presas de TV a cabo.A liberação do iTunes perm itiria que os fãs dasséries vissem u m e pisódio antes de ele ir ao arna nossa TV, diminuindo a vantag em de assinar
um canal. Para desp ertar o interesse do brasileiro,seria preciso acrescentar legendas, por exem plo,e há dúvidas de quanto estaríamos dispostosa pagar por esse tipo de conteúdo - o m undoconhece o Brasil como o paraíso da pirataria.
33 SUPER ESPECIAL STEVE JOBS M A G E N S 1G E T T Y I M A G E S 2T
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® • .,|».T Ü
Revolução
n a telefon iaO iPhone cr iou um novo padrão para os ce lu lares in te l igentes. E fo i a lém:mudou o equ i l í b r i o de fo r ças de um mercado conservador (e b i l i oná r io )
TEXTO T i a g o C o r d e i r o
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12005, uma equipe de desenvolvimento da Apple
entou a Steve Jobs um p rotót ipo rudimen tar que o
It inha encom endado . Era um display de vidro tou-
ch screen em que era possível realizar todos os coman-
dos imagináveis em um computador - pr incipalmente
digitar textos. Era uma primeira versão e um novo tipo
de tablet, do jeito com que ele tinha sonhado. Só que,
no momento em que olhou para o resultado do traba-
lho dè seus enge nheiros e designers, o patrão teve uma
•"sacaba. "Pensei: 'Meu Deus, nós pod em os cons truir um
telefone baseado nisto'. Engavetei temporariamente o
projeto do tablet porque o telefone era mais importan-
te". E foi assim qu e o iPad, que só seria lançado em 2010,
inspirou o iPhone, de 2007.
Durante a muito esperada apresentação do novo
aparelho, Steve anunciou que a empresa iria lançar não
um, mas três produtos revolucionários. O primeiro era
um iPod com tela maior e controles touch. 0 segundo,
um telefone celular inovador. O terceiro, um gadge t para
se com unic ar via interne t. "Então, três coisas", ele disse à
plateia. "Um iPod, um telefone, um comunicador. Vocês
estão entendendo? Esses não são três aparelhos sepa-
rados. É um só, que estamos chamando de iPhone".
Para o fundador da Apple, aquele produto dava
continuidade à sua própria história: o computador pes-
soal que ele tinha ajudado a criar agora cabia no bolso.
Em dez em bro de 2007, o iPhone era eleito, pela revista
Time, a invenção do ano. No ano seguinte, já dominava
13% do merc ado de sma rtphones . Até o fim de 2010,
havia vendido 73,5 milhões de unidades no mundo.Também pudera. O aparelho era incrível. Mas quase
não saiu do papel. Os bastidores da criação do aparelho
foram tum ultuados até para os padrões da Apple.
l'
5/16/2018 Super.interessante.ed.Especial - slidepdf.com
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G R I T O S E C H O R OPara começar, a empresa se debateu em torno de um pro-
blema sério: não havia sistema operacional que desse conta
dos apl icat ivos do novo aparelho e que só t ivesse poucas cen-
tenas de megabytes, uma fração do tamanho do OS X. Quer
dizer, existia uma alternativa muito viável, o Linux, mas Jobs
fazia questão de desenvolver um produto inédito. Enquanto
um grupo trabalhava na questão, outro tentava entender es-
pecificidades técnicas da telefonia, uma totai novidade para a
Apple. Nesse quesito, era preciso começar do zero. A antena
foi testada em salas especiais, cheias de robôs. Para checar
se o nível de radiação era aceitável, os engenheiros criaram
répl icas de cabeças humanas, com uma gosma ocupando olugar do cérebro. Estima-se que o projeto todo, batizado inter-
namente com o nome Purple 2, ou P2, não tenha saído por
menos de US$ 150 milhões.
Parecia não ser o suficiente. Em 2006, depois de um ano
de trabalho de 2 00 engenheiros, Jobs reuniu os gerentes res-
ponsáveis pelo projeto do IPhone. Surpreendentemente, não
gr i tou, não chamou ninguém de burro. Apenas disse: "Nós
não temos um produto ainda". De fato, o produto t inha uma
lista gigantesca de falhas: as ligações caíam, a bateria parava
de carregar antes de ficar cheia, aplicativos travavam o tem-
po todo sem razão aparente. Quem estava na reunião f icou
apavorado com a fr ieza tão pouco comum do chefe. Naquele
momento, Jobs já t inha decidido: o iPhone ser ia lançado na
convenção Macwor ld de 2007 mesmo que n inguém mais
dormisse até lá.
Havia muita coisa em jogo com essa apresentação. De-
pois de um ano e meio de conversas, ele t inha co nsegu ido ne-
gociar um acordo com a AT&T. A operadora de telefonia seria
a única a funcionar nos iPhones por cinco anos em terr i tór io
americano. Em troca, a Apple cr iar ia o n ovo aparelho da forma
como bem entendesse. Era inacreditável: a maior provedora
de serviços wireless dos Estados Unidos tinha concedido li-
berdade a uma fabricante. Só faltava o aparelho ficar pronto.
Para muitos funcionár ios da Apple, as semanas que se
seguiram foram as mais tensas de sua vida. Gritos e choros
eram ouvidos nos corredores. Muita gente passou dias intei-
ros dentro da empresa. Uma gerente de produtos deu um
soco tão for te na porta de sua sala que a fechadura quebrou.
A coitada acab ou f icando presa por mais de uma hora.
VITÓRIA DO FABRICANTENo f im, deu certo. Em dezem bro de 20 06, Jobs se encon-
trou em Las Vegas com Stan Sigman, o presidente da divisão
de conexão sem fio da AT&T. Sigman diria que aquele era o
melho r aparelho que ele já tinha visto. Com tal aprovação, Jobs
dava um xeque-mate no conceito de que não eram os apare-
lhos que atraíam clientes, mas os serviços das operadoras.
"O mercado de telefonia movimentava US$ 11 bilhões por
ano, e os fabricantes eram tratados como vassalos", diz Drew
Hull, diretor d e pesquisas da em presa NDP Group. "Com o iPho-
ne, a Apple m udo u o eq uilíbrio de forças desse mercado." E isso
apenas seis anos depois de mudar a indústria da música.
PARA SABER MAIS
• / 4 Cabeça de Steve Jobs,
Leander Kahney, Ag i r , 2008.
Fãs da Apple observa m]o iPhone como quem [
36 SUPER ESPECIAL STEVE JOBS I M A G E N S 1 G E T T Y I M A G E S 2TE D P I N K A L A M Y
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F á b r i ca d e m o rteO f o r n e c e d o r d a A p p l e n a C h i n a r e g i s t r o u 14 s u i c í d i o s n o s ú l t i m o s a n o s
Algo m uito estranho acontece na fábrica dogrup o chinês Foxconn em Tucheng, Taiwan.Nos último s três anos, a grande forneced orade componentes eletrônicos do mun do (emaior empresa privada da China) vem ficandoconhecida pelo alto nú mero de funcionários quecom etem suicídio. Um deles, o engenh eiro Sun
Danyong, de 25 anos, recebeu em 20 09 um lotede 16 protótipos do iPhone 4G. Quando se deuconta, tinha só 15 em m ãos. Desesperado como sum iço, ele se jogou de um apartamento no12° andar. Questionada, a App le se man ifestoupor interm édio de Steve Jobs: "A Foxconn te m
piscinas, quadras e é até bem legal para umafábrica. Estamos lá, conversando sobreo problema para ajudar a resolvê-lo".A companhia chinesa, que també m fornecepeças para empresas do porte de Intel, Cisco,HP, Dell, Nintendo, N okia e Sony, é acusada d emanter seus funcionários em cárcere privado,
estimular guardas a agredi-los e obrigá-los acum prir cargas horárias de até 12 horas por dia.Em 2010, foram registrados nada menos do que14 suicídios. Em maio de 2011, uma explosão nalinha de m ontagem do iPad 2 causou três mo rtese deixou 15 trabalhadores feridos.
Da l inha de monta gemda Foxxcon saemaparelhos e suicíd ios
37 SUPER ESPECIAL STEVE JOBS M A G E N S 1G E T T Y I
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r
Lon go cam in h o1 9 7 9O pr ime iro tablet da Appl i foustaVa US$ 650 ®t inha um sof tware désto hado pe lo cantor ToddRundgreen. Era vendido junto com uma canetaprojetada para desenhar na tala. Na época,ninguém prestou atenção no produto,que ainda por cima çausãvp intêrf^rêncfép;"-
nos apareHiasde rádio. A empiiSSá nuncamais desistir ia de lançar uma versão melhor.
1 9 8 5 l o o i M a c
1 9 8 7
Erá para ser tão çom pIS® quan to
um iPad, E t inha potencial: respondia acomandos por v iva^oz ess destacavapor seus .comandos touch screen.M i l acab ou â-endo simpl i f icadoe virou o Newton, o PDA da Apple.
1 9 8 9Ümá versão do Dynabook,protót ipo de-1968 pensadopelo cient ista da computaçãoAlan Key dentro do centro de
pesquisas da;Xerox. Na revisãofe ita pe losengenhei ros daApple, todos fãs de Key, t inhauma a lça parás er carregado.
Sfambém f icou só no projeto.
! ; >,)\ >,
De toda esta lista, o PenLite foi oque chegou mais perto de alcançaró;mercado, A produção acaboucancelada na últ ima hora.
R ESP.
1 9 9 1Preocupados com- o Newton,que poder ia ameaçar os [computadores pessoais, osdesigners da sér ie Macintoshbo ja ram qua t ro p r ó jè í i f detablets, :cém m ais mem ória doque o PDA da Apple. O Workcaset inha urna iSla protetora,pensada para quem precisasse
""carregar o : aparelho de casapara o estritórío.
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I M A G E N S 1 D I V U L G A Ç A O 2 I S T O C K
SUPER ESPECIAL STEVE JOBS
a té o iPad
Desde 1979, a A pp le
d e s e n v o l v e u v á r i o s
p ro t ó t i pos de t ab le t .
N e n h u m c h e g o u
ao merc ado - a t é o
l a n ç a m e n t o d e 2 0 1 0
1983Depois de quat ro anos
de t rabalho, surgiu um novo
produ to conce i tua i, que
inspirou os protót ipos
das próx imas datas:
2010 i P a dQua ndo S teve Jobs
f ina lmente reso lveu
lançar um tablet da
Apple , mudou tudo o
que se sabia sobre esf
t ipo de aparelho. Com
ele, é possível ouvir
música, ver f i lmes, ler
l iv ros e jornais , joga r
e navegar na internet .
Este é o futuro do
computador pessoal .
1993Uma versão do Newton com te la
maior e design mais elegante.
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domaiim, S teve Jobs era um g ênio . Mas seu le gad o
é dos ma i s po lêm ic os : ao l ongo de s uac ar re i ra , e l e de i x ou u m ras t ro de s ac a nagen s
t ão g rand ios as quan t o s uas c r i aç ões
TEXTO A le x a n d r e C a r v a l h o d o s S a n t o s // ILUSTRAÇÃO F a b r í c io L o p e s
PUBLICADA ORIGINALM ENTE NA SUPER DE 4 /2009
mente de Steve Jobs produziuinvenções que prat i camente
o e levaram ao patamar
de Deus. Só tem um
prob lema grave: dent ro
dos muro s da sede da Apple,
a história não era assim tão
cor-de-rosa. Para prod uzir
suas pequenas maravi lhas,
Jobs encarnou u m chefe
tão f i lho-da-mãe que vi rou
uma espécie de Darth Vader
das empresas de tecnologia.
É bem pro vável que, nas vezes
em que o pat rão t i rou uma
l icença médica, ou quando
se afastou def ini t ivamente,
em agosto de 2011, mui tos
func ionár ios tenham passado
no bar para comemorar.
Nas próximas páginas, saiba
do que eles escaparam.
40 SUPER ESPECIAL STEVE JOBS
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Ä f l
TO b s e s s õ e se c a p r i c h o s
nV oto d es i l ê n c i o
B a c i a d ad e in s u l t os
Jobs costumava ver tudo
com o 8 ou 80 . Por isso,
dividia o pessoal da Apple
em gênios e bu rros - e fazia
questão de classificar cada
funcionário na frente de
todo mundo. Exemplo disso
é uma reunião que tevecom designers responsáveis
pelo projeto do sistema
operacional Mac OS X,
que seria lançado em 2000.
Vader (ops, Jobs) abriu
a conversa perguntando:
"São vocês os caras que
desenharam o Mac OS?",
referindo-se a uma versão
anterior do sistema. Os
designers disseram que sim.
"Pois vocês são um b ando
de idiotas!", bradou Jobs.Na verdade, ele estava
apenas seguindo uma
de suas regras de ou ro
de liderança: "Chute
uns traseiros para ver as
coisas andar". Dessa vez,
o fim da história foi feliz.
Depois de achincalhar geral,
Jobs acabou até gostando
dos p rotótipos. "Esta
é a primeira prova
de inteligência de 3 dígitos
que vi até agora na Apple",disse ao grupo atônito.
E olha que ser reconhecido
por Steve Jobs com o
dono de u m Ql super ior
a 100 não é para qualquer
um. Mas o elogio sempre
era provisório. 0 mesmo
grupo de designers
sabia: estava sujeito
a ser humilhado de
novo no dia seguinte.
Todos na Apple v iviam
sob um regime de terror,
segundo Leander Kahney,
jornalista inglês e autor
do livro A Cabeça de Steve
Jobs (Agir, 2008). "Todo
mundo t inha medo de
perder o emprego." Deonde ele tirou isso? Dos
relatos que o uviu de ex-
funcionários da empresa,
como o engenheiro
Edward Eigerman. "Você
pergunta aos colegas: 'Devo
apresentar este relatório?'
E eles sempre respondem:
'Você pode fazer o que
quiser no seu último dia
na Apple'." Jobs costum ava
sabatinar empregados
no meio do expedientecom perguntas como:
"Para que serve o iTunes?"
Existia até um adjetivo
para os miseráveis que
fracassavam nesse ritual:
sieved, ou "stevado".
Para escapar do chefe
durão, muitos executivos
faziam caminhos mais
longos até suas salas,
só para não passar
perto da mesa do chefe.
Durante anos, circulouna empresa a lenda
do funcionár io demit ido
dentro do elevador
simplesmente porque
não deu a resposta certa.
A história nunca foi
confirmad a, mas é fato que
mais de um funcionár io
evitou entrar no elevador
com Jobs para não correr
o risco de ser "stevado".
Jobs era um fã dos
de ta lhes . O homem
lap idava os p r odu tos
da A pp le a té enxe r ga r
ne les a per fe ição. Como
q u a n d o e n c a s q u e t o u
com a p laca - mãe doMac o r i g i na l , l ançado
e m 1 9 8 4 . 0 a r g u m e n t o :
ela era muito feia. Só
que o layout da p laca-
mãe sa i do je i to que
sa i para assegurar que
e la f unc ione d i r e i t i nho .
E a l g u é m c o n s e g u i u
convencer Jobs d isso?
Até conseguiu . Mas só
depo i s de m i l ha r es de
dólares gastos para
desenvolver a G ise le
B ündc hen das p lacas-
mãe. Apesar de ter seu
charme, a nova p laca não
pegava no t r anco . E
Jobs teve de dar o braço
a torcer. É por essas e
ou t r as que o pessoa l
da A pp le tr aba lha em
um r i tmo f r ené t i co . Lá
nos anos 80 , a equ ipec r i ado r a do p r ime i r o
Mac t r aba lhou sem
descanso por 3 anos - e
os f unc ioná r i os anda vam
p e la c o m p a n h i a
c o m c a m i s e t a s
que d i z i am: "N oven ta
ho r as po r semana e
ado r ando" . E r a me lho r
ado r a r mesmo. . .
Esta regra a inda va le
para a Apple pós-Steve
Jobs : n inguém pode f a la r
sob r e o p r o je to em que
es tá t r aba lhando nem
para a famí l ia . A regra do
s i lênc io já fez a té ge ntet r oca r de i den t i dade .
Q u a n d o c h e g o u à A p p le
para comandar as lo jas
p r óp r i as da mar ca , em
2000 , o execu t i vo R on
Johnson t eve de ado ta r
um nome f i c t í c i o ( v i r ou
John Bruce) por meses.
Fo i um recurso para que
n i n g u é m s o u b e s s e q u e
a A pp le p lane java ab r i r
seu p r óp r i o cana l de
vendas . Q uem já f u r ou
o iso lamento sent iu a i ra
de Jobs: e le perseguiu
na Jus t i ça b logue i r os
que d i vu lga r am de ta lhes
de p r odu tos que se r i am
lançados. Jason Chen,
ed i t o r do G izmodo ,
que o d iga. Em abr i l
de 2010, sua casa
fo i invad ida pe la Swat ,q u e a r r o m b o u a p o r t a
pa r a ap r eende r qua t r o
c o m p u t a d o r e s ,
do i s se r v ido r es e vá r i os
HDs. Era resu l tad o
d e u m m a n d a d o
consegu ido pe la A pp le
depo i s que o b log
pub l i cou f o tos e uma
anál ise do iPhone 4.
42 SUPER ESPECIAL STEVE JOBS
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V *• / fÇ
O k , J o t E o a o i f e c c
c o r : í í : _ e —
t r a b a e e
u m a ra— x o n n c a c E a
d e ' í s
pess :5 e - : h
s e u s : : - ' : : s s e-
:c c - s e : _ : : : e =
a c r e : : . - : r s • - : :
a l g o ú r c c
a e s s a : s - i : ~ ~ e e
a A p p e s : . . : : : - : —
t o d o , a t é p e r 33z<—
t i r a r u m a d a o u d e . J o í k .
" E l e r e s : s ' : . " e s s a : s : s : : s : e
d e n o s r n a r a s r
c r i a n ç a s d i a
d i z D a n U o - s ; r - a i s t s
a m e - : s - : : . s s - : _
o p e - s . e . : z s
( " S t e . e . : : s r s : : _ —
b l o g f f e a n r r n f a r ta i X o m
J o : s • : - _ - ; :
d a t p m n f c y f c a a w u m
m a i o - r iã on ar c.' E « e - d a d e ,
s e r r : s 1 s s : s ~ : - e ~
c c r , e . : : - e : - . u
e h o r a s : : : : ; : : : : : : : : e
a c r e : t a * - ; ; : : . : :
m a i s s i r r p c i c c — : - e ~
P A R A S A E E - I S
• The S e r e : _ *e zr _ote.
D a n i e l L y o n s . l a Csdz P i e s s , 2 0 0 8 .
• iCon Steve Jobs f f e c . 5L Y o u n g ,
W i l e y , 2 0 0 5 .
4444
444
4444444
4
Falso, m a s
v e r d a d e i r oD u r a n t e c i n c o a n o s , u m j o r n a l i s t a
a m e r i c a n o m a n t e v e u m
b l o g f a k e m u i t o r e v e l a d o r
Em 20 06, um b log pub l icou u mpost que dizia: "Muita gente mepergunta a respeito do meu est i lode gerenciamento. Especia lmentedepois daquele meu grande
discurso, que fez tod o m und operceber o pensador profundo queeu sou. Nunca deixe as pessoassaberem o que você acha delas.A cr ia t iv idade af lora do m edo".O texto tem o je i tão do Darth Vaderda tecnologia, mas foi escrito pelojorna lista Dan Lyons. Há cinco anos,ele criou o blob Fake Steve Jobs,que não é mais atualizado, masainda está no ar: www.fakesteve.net . 0 ú l t im o post data de 17 de janeirode 2011, qu an do Steve anun ciou queestava saindo de l icença m édica ef icou c laro para todo s que, desta vez,seria difícil ele voltar à ativa."Por razões óbvias, não vo uma is posta r aq ui", diz Fake Steve."Espero que vocês rezem para
qual seja o Deus em q ue a cred itam.Por favor, sem plantões na po rtado h ospital, sem l igar paramédicos para pedir que elesespeculem sobre o quepode estar acontecen do.Por enq uan to, paz.M uito amor. Nam astê."
f4
4
4444
j43 SUPER ESPECIAL STEVE JOBSM A G E N S 1G
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Portfolio d e1976 A p p l e I Hoje é i tem decolecionador, vendido ao preçode US$ 50 mil. Das 150 unidadesfabr icadas, sobraram cerca de 30.
1977 A p p l e II
1990 M a c i n t o s h L C
1991 P o w e r b o o k 1 0 0
1993 M a c i n t o s h T Y
M a c in t o s h Q u a d r a 605
1993 N e w t o n :Muita gente aindaguarda em casa estePDA (assistente d igitalpessoal, na sigla eminglês). Quando SteveJobs mandou pararde fabricá-lo, em1998, manifestantesprotestaram naporta da Apple.
ipotí im
: ariísts >
i Songs >í Contacts • >t Settngs >f
2001 i P o d Jonathan Ive é fãdos produtos da empresa alemãBraun. A prova está na semelhançado produto da Apple com o rádiode bo lso T3. apresentado aomerca do e m 1958..
2003 P o w e r M c c c k G 5É a cara do rádio Braun T1000,
lançado em 1968.
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respeito
Com o u sem Steve Jobs
(mas principalmente com),
a empresa acumula35 anos de lançam entos
de referência, que evoluírammuito ao longo do tem po
1980
1983de Jobs, =de plástkxlembrava a t e a
de um C rc -A íaçncr
1984 n t o s hPara construir o gabinete, odesigner Jerrold Manock escolheuum plástico ABS rígido, o me smodos blocos Lego. A cor beg e foieleita por envelhecer bem sob aluz solar - os modelos mais antigosficavam alaranjados com o tempo.
1987 M a c in t o s h II
1995 P e r : : . - w J : : : »
199720o a n i v e f s ã A _roce
caro, fo i ^ : :Mas o c o n e d a r « J E w S a r i M !gostou. A n ã f H i « E 3e m vários e n s - d c s 2 E9 a t e m p e r a i j e ü l j I U Í
2011 i P h o n e 4SO pr imeiro lançamento depois queJobs deixou a empresa em def ini t ivoaconteceu em ou tubro (não em ju lho,como era tradicional), e dentro dafábrica da empresa em Cupert ino(e não em algum dos grandes centrosde convenções de São Franciscousados antes). O novo CEO, Tim Cook,c o m a n d o u um espetáculo bem maismodesto. Duas vezes mais rápidodo que o iPhone 4, o aparelho foio úl t imo lançado com Jobs ainda
vivo - ele faleceu no dia seguinte.
2005
íP o d N a n o
2007
2008M a c B o o k A i r
1998 i M a c G 3 O designerJonathan Ive quer ia um produto"despudoradamente plástico".Só que o resultado final nunca saíacom a cor desejada. Para resolver
o prob lema, ele e sua equ ipevisitaram uma fábrica de balas.
1999 iBook
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3 A Apple n ãoin ven ta n ad aOs p rodu tos lançados pe la empresa sempre t i ve ram como base
ide ias conhec idas . Mesm o ass im, ex t rap o la ram suas funçõe se t ran s fo rm aram o mund o . En tenda com o i sso fo i poss íve l
TEXTO E r n e s t o R i n a l d i
PUBLICADA ORIGINA LMENTE NA SUP ER DE 02/ 2007
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App
3t S ne JE
Ee e ~ e r a - :
I m il h ar e s r e a s ^ B f — :
Is a n o m u r o c
3=
: ar teiro de 200 7? Os fãs
r~ peque fo i nesse d ia que
"a ~ a- :e das lo jas da empre-
SE'hE" ao vivo, a mais uma
: í t c das atenções estava
an ar raar ae le fcne ce lu lar fabr icado pe los: : : L - e : : r - ~ - = aca receu, ve io
- : e je e a: anúnc io urrava em
o t M B d b p o r Jobs . P oucas ho ras depo i s,
r e ~ a r o sa n e . a m su r i do 8 ,3%. E nquan to
. OJE 3 c m ra .a z —-ercado de supercelu la-
E : .a _e~ i faz tanto tempo) , v ia suas
-a— ~am faõn pudera, o mod elo acaba-
sr forman
i Phone, :
invento-as : :
como u— 3 j r a ~ ~ : -
êx tase a ca r a r a a -
os papé '5 3 5 - c i e -
isso, a B i s t r e - 3JE
r es ( l embr a ces : " E :
ações des ce" 3 ~
pa rt ir desse d s i n
ter ia qu e se- zzr~z :
O lhandc r a r a z
dif íci l enteraar
pr imeira . sa.
ce lu lar q ^ :ar
da , acesso 5 r r a - a - a r 3 : : aMP3 - cosa a az ; í t e ea os m o n t e s - a s o e s ^ r r r u a = r -
tã o o ç ' z c - '. : 3 3 : : :— . :
é s impes a dbthe ~ ~ zzr~ - : c e
em toda s - r : a s a— r a s a
não inve~CD_ n e m j— ac a^ t nc ge-
n u i n a m e ^ t í - : : %laa - - a - ; r = -
o q u e j á e t s t a . a r o a - r a r a -
ras r ev o iu ç fe s 3 a
Veja c s»ar -
oc x -_
as rae. a maior ia das pes-soas ne ~ r : UE e a 1IF3 - mesmo ex is t indo d iversos
tocadores ztz r o c n e " t ? T«i ~ecc s do iPod, a indústr ia
m u si ca - _ - c a ~ a s " D = — e s - a Esse enredo se repete a
cada ç - 5 " ca a - c a m e m zz. t oe oesde o p r ime ir o Mac in -
t osh . d e ' r E - - - : a - : : a " - d i fe r ença es tá nos
gostos ca í :a a : : a ; - :_a .a a só, não era fanát ico
p o r t é e - : : : ; E a s a o a - ; ~ r : -c an te do que desenvol-
ver apa-a : : ~ a: a : a rese nvolv er aparelhinhos
mi r abo Ia - : es : : a a e : r c r oesseas no r ma is .
N o r r _ - o : za h : l i o o £ esse perf i l "humanista" é coisa
rara - E Gaa s a : : : : ~ ~ r z Saqueies que sonham em
códig o b i-£ - i : .. : : : "a a r 3: : - • : sara se cercar de gente
Mcris im p or tan ted o q u e d e se n v o lv e ra p a r e l h i n h o sm i r a b o l a n t e s
e r a d e s e n v o l v e ra p a r e l h i n h o sm ir a b o l a n t e s o p e r á v e i sp o r p e s s o a s n o r m a is
que pensa co m o ele. Seu camisa 10, o designe r Jona than Ive,
desenhava banheiras antes de ser contratado. Dentro da Ap-
ple, cr iou o iMac, o iPod e o iPhone, aparelhos que têm em
comum o fa to de serem estup idamente be los e r id icu lamen-
te fáceis de usar. Não lembram, nem de longe, aquele jei-
tão de produto de informática que a indústr ia adora fabr icar
( já estamo s na segun da década do séc ulo 21 e ainda existe
muita empresa que acha bacana fazer aparelhos cheios de
botões que n inguém sabe como usar ) .
São essas característ icas que f izeram, em 2007, muita
gente apostar que o iPhone se tornar ia o ícone maior da
tão sonhada convergência de tecnologias. Como você sabe
bem, o aparelho é computador com acesso à internet, câ-
mera digi tal , tocador de MP3 e
ainda recebe l igações. Em vez
de teclado, há apenas uma tela
touch screen. Tudo ao mesmo
tempo e, aí está a di ferença em
relação ao que já existe, simples
de operar. Três anos depois, em
2010, surgir ia um novo candida-to a símbolo da tal convergência.
Apresentado pela própr ia Apple
como um d ispos i t ivo que mis tu-
ra MacBook e iPhone, o iPad tem,
de novo, a mesma qual idade rara:
sem inventar nada, muda tudo.
Claro que o sucesso do iPad tam-
bém foi instantâneo. Em 2010, a
empresa vendeu 14,8 milhões de
unidades, nada menos que 75%
dos tablets comercial izados no mundo no ano passado.
Com o iPhone, surgiu um grande mercado de apl icat i-
vos - que hoje engloba os iPod touch e os iPad. Apesar de
ser usado pela Google desde 2002, o termo em inglês app,
usado como s inôn imo de ap l ica t ivos, ent rou no vocabulár io
das pessoas comuns depois de 2008, quando a Apple lan-
çou sua App Store - que rendeu à companhia um belo lucro
de US$ 1,782 bilhão em 2010. O sucesso da loja virtual levou
a American Dialect Society a eleger app a "Palavra do Ano".
Achou exagerado quando fa lamos em revo luções cu l tura is
no começo deste texto? Pode ter certeza: é disso que se tra-
ta. É que m udar o mu nd o sem pre foi o objet ivo de Steve
Jobs - e não apenas vender gadgets bonitos.
47 S UPER ESPECIAL STEVE JOBSM A G E N S 1G E T T Y I M A G E
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As m elh ores1984
Dezenas de pessoas vest idas com
roupas iguais se sentam para ver e
ouvir o Grande Irmão. Eis que uma
g a r o t a aparece correndo e at ira um
martelo que arrebenta o telão. O
comercial termina com: "Em 24 de
janeiro, a Apple Computer vai lançar
o M acintosh. E você vai ver por que1984 não vai ser como 1984". Foi o
pr imeiro comercial de impacto lan-
çado no intervalo de um SuperBowl.
1985
As campanhas publicitárias valorizando a liberdade inédita tra-
zida pelo Macintosh atravessaram os anos 80. Na de 1985, o
computador da Apple é apresentado como uma solução para
as empresas, atoladas no meio de um pântano de PCs - até u m
crocodilo invade os corredores de u m escritório. A pegada bem-
humorada contra os usuários da concorrência era recorrente e
ganharia sua versão mais famosa em 2006.
1997
Para marcar a volta à empresa, Jobs pe-
diu à TBWA\Chiat\Day, a mesma de 1984,
para criar uma campanha conceituai
usando várias personalidades que Steve
admirava, de Albert Einstein e Pablo Picas-
so a John Lennon e Frank Lloyd Wright.
O texto dos anúncios terminava com os
dizeres que logo ficaram famosos: ThinkDifferent ("Pense Diferente").
1998
O lançamento do iMac, com suas trans-
parências e cores inovadoras, foi marca-
do por uma música bem psicodélica dos
Rolling Stones chamad a Shes a Rainbow.
A campanha por escrito fazia uma brin-
cadeira depois incorporada nas reporta-
gens sobre o produto, mas que perde a
graça em português: "iThink, therefore
iMac" ("Penso, logo iMac").
48 SUPER ESPECIAL STEVE JOBS I M A G E N S D I V U L G A Ç Ã O
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Think d i f f e r en t
2 0C3
CB'' Lrj ' =r - l a c - j i i i i i p i ii iT <= n u f c n t a d a > ao so m
d e i s r c c E j ' i t j a n l f e * » f c 5 it ~ ü e ss d e p e sso a s
d ar es— i f j i ' H n r r r . , - s - i -sada de novo.
2D06
I o p e iv o da cam panh a Get a Mac, que du rou três anos, era cutucar a Microsoft. O
=D" Just in Long falava em nom e dos Mac, enquanto o humoris ta John Hodgman,
um temo sem graça, anunciava: "Eu sou um PC". Num dos vídeos, o PC fica
- s ^ a d o e pede ao Mac que se afaste. O Mac responde que não corre r isco porque
~âc pega vírus. Em outro, o PC fica congelado no m eio de u ma frase. Qua ndo tom a
ispinha na cabeça, começa tudo de novo, como o Windows sendo reiniciado.
SUPER ESPECIAL STEVE JOES 4 9
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O dono da Pixar em1986 com uma versãoest i l izada do lo i
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O sen h ord os p ixelsJ o b s c o m :»_ : : P ix a r a p r e ç o d e b a n a n a e a t r a n s f o r m o u
na ms s r ~ = 1 o= . »vood. Tu do is so c o m e ç o u p o r q u e
George L _ ch e : 3 — 0 0 dono da empres a , p rec i s av a de g rana
çpennann
•Mte:Z.-5:—::—•= " -- d a d e d a PIxar, tem o Pai, o Filho... e o Espírito Santo é o Steve Jobs."
5 a a s e r- x e 5rad Bírd, o diretor de Os Incríveis e Ratatouille, definia o patrão. Ele
fc - zrs — CCKK oara a rasgação de seda. Depois que comprou a Pixar por uma
i~ ' r s : z a z o r da Apple a transformou num estúdio inovador, e o mais rentá-
• s * -1 3 . « : c c com uma impressionante média de faturamento global de US$ 602
— r 3eç - - s -j — e 3esde 1 3 9 5 . Mas ele precisou de nove anos para achar um caminho
( B E í 3SE emes que ela ficasse famosa por produzir longas-metragens premia-a s Z Z J ~ * Z S r r v , Vida de Inseto. Mon stros S/A, Procuran do Nem o, Carros...
~ ~ Ece.e Jobs adqu iriu a divisão de com puta ção da Lucasfilm, empresa fun-
S C E — zc George Lucas, por US$ 10 milhões - de u m etade a Lucas e investiu
-ê ca — a , que ele rebatizou de Pixar (um trocad ilho co m "pixel", co mo se
—ar e : —ercr ponto de uma imagem digital). Naquele momento, ela era apenas um
3 3 - a i r n • sem comando nem u ti li dade.
jê. : - Lucas Cnha funda do a área de computação na época em que trabalhava
"5 53çe Ses- , E r a caro e mui to demorado produz i r as cenas com sabres de luz e
es i - : - e es. _xas queria empregar computadores para desenhá-los em larga esca-
e - : : a o r realismo, mas isso não chegou a acontecer. A com putaçã o não estava
is : : "r ramanhosalto tecnológico. E a Lucasfilm Computer Division ficou parada,
_ _ . - — - . p g p a c r j a r absolutamente nada.
Raa piorar a síuação, desde 1983 Lucas estava atravessando um divórcio turbu-
e>-=soosa, Mareia Lucas, uma montadora de filmes em Hollywood, exigia
S 3 z e do pat rimônio do casal. E o pobre George precisava de dinheiro, e be m
: : " " : c e " -a o é de tod o força de expressão. Em 1986, a saga estrelar já tinha se-
3 d c : sen ado dos Ewoks ia de mal a pior e, no cinema, ele encarava o fiasco de sua
zrz Z Z J Z Ê C -ecÉm-lançada. Howard, o Super-Herói.
LSTINSTOCK51 SUPER ESPECIAL STEVEJOBS
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A C I O N IS TA D A D I SN EY
Pode parecer estranho, mas o desco-
lado Jobs teve um choque de cultura na
Pixar. O ambiente era ainda mais louco e
criativo do que ele achava possível acom-
panhar. Por exemplo, as salas dos anima-
dores recriavam o interior de saloons do
Velho Oeste e as espaçonaves de Star Trek.
"Assim não dá", queixou-se ele. Foi tranqui-
lizado por Joh n Lasseter: "A gente tem que
deixar os caras pirarem u m p ouco". Apesar
de sua política de não interferir em um
ramo d e negó cio que não conhecia, Steve
deixou suas marcas. Criou, por e xemplo, a
Pixar University. Diferentemente do que o
nome indica, não é uma universidade, mas
um ambiente dentro da sede em que sãoministradas aulas de animação, roteiro de
cinema, Photoshop, krav maga. Para esti-
mular o contato entre os funcionários, ele
também instalou a cafeteria e os banhei-
ros bem no centro do edifício.
Outra herança do patrão é o trabalho
insano por trᣠde cada produto. "A única
coisa da qual temos medo é a acomoda-
ção", disse Ed Catmull à revista McKinsey
Quarterly. Em Vida de Inseto, de 1998, fo-
ram criaClos 27 mil desenhos no storybo-ard. Ufna década depois, Wall.E precisou
de 98 mil. "Nós nunca terminam os nossos
filmes. É que chega uma hora em que te-
mos de lançá-los", diz Lasseter.
Em janeiro de 2006, a The Walt Dis-
ney Company adquiriu a Pixar por US$ 7,4
bilhões. Jobs tornou-se o maior acionista
individual da Disney, co m uma fatia de 7%
do grupo. Jobs e Bob Iger, CEO da Disney,
encontraram-se dias depois do anúncio da
compra, num evento realizado num cine-
ma de San Jose, na Califórnia.
Na saída, Bob Iger perguntou: "Mas
que diabos, Jobs? Como é que vocês nun-
ca erram a mão?" Steve sorriu. "É que eu
não lanço nada sem q ue o produto esteja
100% redondo. Isso vale pro iPod ou para
as animações da Pixar." E saiu andan do.
PARA SABER MAIS
A Magia da Pixar, David A .
P r ice , C ampus /E l sev ie r , 20 09 .
www.slashfilm.com/
pixars-television-commercials/
I M A G E N S 1 C O R B I S / L A T I N S T O C K 2 AP
C H E F E BO N Z I N H O
Nesse cenário sombrio, Steve Jobs surgiu como um Luke
Skywalker. Não é à toa qu e ele ainda é cha ma do pelos funcionários da
Pixar de "benfeitor benevolente". Díferentemennte da Apple, onde era
um ditador, na empresa de animação Jobs não se m etia nos assuntos
criativos. Ele deixou a condução para os outros dois nomes da trinda-
de: o Pai era Ed Catmull, visionário cientista da computação gráfica que
estudava animação e m 3D desde a faculdade, nos anos 70. Quando
com pro u a empresa, Jobs fez dele diretor de tecnologia. Já o Filho era
John Lasseter, um talentoso animador, ex-funcionário da Disney, de
ond e foi demit ido e m 1983 por ser muito "original e indisciplinado", nas
palavras de seu supervisor.
Foi nessa época qu e a Pixar criou suas primeiras duas animações,
The Adventures of André an d Wally B. e Luxo Jr. A crítica adorou, o
público ignorou. Jobs então investiu no setor de hardware. Oferecia o
Pixar Image Com puter para agências do gov erno, hospitais e a própria
Disney, interessada em adotar a computação gráfica. As vendas fica-ram abaixo do esperado, e essa área acabou sendo vendida em 1990.
0 passo seguin te foi desenvolver com erciais de TV para, por exem plo,
o suco de laranja Tropicana e o antisséptico bucal Listerine. 0 fatura-
mento melhorou um pouco, mas ainda não alcançava nem mesmo
os US$ 2 milhões anuais. Foi nesse período que a Pixar montou sua
equipe com novatos talentosos, caso de Andrew Stanton (que mais
tarde dirigiu Procurando Nemo) e Pete Doc tor (de Monstros S/A e Up ).
Em 1994, um desanimado Jobs pensou e m vender a empresa - che-
gou a sonda ra Microsoft. Mas uma animação revolucionária colocaria
a Pixar nos eixos de uma vez por todas.
Em 1991, a Disney topou produzir uma animação modesta, quetinha o nom e provisório de ToyStory. O projeto quase parou no story-
board. Guiados por uma pesquisa de mercado insana, os executivos
queriam personagens mais m alandros. Se o po nto de vista da Disney
tivesse prevalecido, é provável que Woody e Buzz Lightyear passas-
sem o filme todo se xingando e cuspindo. Woody não seria Woody,
mas Roy, Frank ou Clint, nomes mais "machos". E o resultado teria sido
uma bela bomba.
Só não foi assim po r causa de Jobs. Irritado c om as interferências,
ele chegou a comentar com seus funcionários: "Se é assim, é m elhor a
gente sair. Qu e a Disney vá à merda". Os dois lados acabaram se enten-
dendo e ToyStory. com o se sabe, foi um sucesso assombroso. Jobs à frente do t ime
da Pixar pouco antesda estreia de ToyStory
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Em 2006 , depo is doanúncio da venda da
Pixar para a Disney
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O s p arceiros fiéisU m a g a l e r i a d a s f i g u r a s m a i s d e c i s i v a s d a c a r r e i r a d e J o b s
ILUSTRAÇÃO V a n e s s a R e y e s
i D a n i e l K o t t k eO func ionár io número 12 da
Apple fo i colega de faculda-
de de Steve Jobs , v ia jou co m
ele para a índia e par t ic ipou
dos p r ime i ros anos da em-
presa. Fez ajustes no Apple I,
c r iou placas de c ircui tos dos
Apple II e III e atuou na pri-
me i ra equ ipe de desenvo lv i -
mento do Mac in tosh . De ixou
a empresa em 1982.
£ S t e v e W o z n i a kJobs não t inha p rob lemas em admi t i r : o mes t re da computação da dup la e ra
Woz . Sem e le , a empresa nem te r ia ex is t ido . Fo i quem desenvo lveu o p r ime i ro
pro tót ip o do App le I prat ica me nte soz inho, Entre suas muitas proezas, es tá u m
dr ive de disque te revolu c ioná r io lança do junto c om o Apple I I. Em 1981, sofreu um
ac iden te com um ja t inho e perdeu a memór ia por semanas . De ixou a App le em
1987 e, no mesmo ano, c r iou uma empresa, a CL 9, para lançar o pr imeiro contro-le remoto universal . Em 2006, publ icou sua autobiograf ia, /Woz(W. W. Nor ton) .
0 S u s a n K e l ly B a r n e sResponsável pelo f luxo de t rabalho da
equ ipe d o Mac in tosh , segu iu Jobs e , em
1985, ader iu à nova emprei tada do chefe,
a NeXT. Como v ice-pres idente e d ireto-
ra f inance i ra , consegu iu inves t imentos
impor tan tes e fechou parcer ias que ga-
ran t i r am a sobrev ivênc ia da empresa em
seus pr imeiros anos.
54 SUPER ESPECIAL STEVE JOBS
5/16/2018 Super.interessante.ed.Especial - slidepdf.com
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Ee ÍTE = çrande força cria-
: 5 za ^ xaL Seu departa-
n f e d e animação esteve
c e m ze ser fechado várias
sê que salvou a em -
cr ~ Toy Story - que
cingi pessoalmente,
i i co m o Vida de Inseto e
cs já recebeu 6 indica-
Oscar e levou para
> estatuetas.
I J o n a t h a n I v eA lista de obras-primas do design que ele tem no currículo
é impressionante: iMac, MacBook Air, iPod, iPhone e iPad. O
curioso é que ele foi contratado pela Apple antes do retorno
de Jobs, mas estava encostado. Com o novo patrão, tornou-se
o responsável por aspectos centrais do visual dos produtos.
- : ;; • r ; ZB~sze~. os íunda-
:: --E= zz Apple aceitaram abrir— ã c DC comando da companhia.r : : gran de respon sável pela
:: : -5 :B ;B : da cadeia de
ceando e t ambém o p r ime i r o
~ escoor. Depois acabou deci-
9 D para a expulsão de Job s da
tadte Mas. sem ele, a empresa
i d emorado para crescer.
| T im C o okJobs foi buscá-lo na
Compaq, em 1998, para
dirigir todas as opera-
ções da Apple. Tim, que
gosta de se denominar
o Atila, o Huno, da lo-
gística, rapidamente se
transformou no grande
gerente da companhia,
o homem sem o qua l
nada acontece. Em
2011, assumiu o cargo
de CEO da companhia.
i
1•m
y t l e n z l e lApaixonado pela Apple
desde que comprou seu
próprio Apple II, o cientista
da comp utação foi o desig-
ner do pr imeiro software
do Macintosh - não fazia
parte da turma de desen-
volvim ento or iginal, mas foi
convocado por Jobs assim
que ele assumiu a condu-
ção do projeto.
55 SUPER ESPECIAL STEVE JOBS M A G E N S 1G E T T Y
5/16/2018 Super.interessante.ed.Especial - slidepdf.com
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Bil l Gates era o opostode Steve Jobs. Os doiscons t ru í ram uma h is tó r iade pa rce r ias , r omp imen tose reconc i li ações . Som ados ,d e f i n i r a m a c o m p u t a ç ã odo sécu lo 20
TEXTO Á lv a r o O p p e r m a n n
oi em novembro de 1983 que a re lação
entre Steve Jobs e Will iam Henry Gates III
sofreu um abalo sé mico. Naquele mês, em
Las Vegas, durante a COM§EX, a maior fei-
ra de informát ica do mu nd o na época, Bil l
Gates sacudiu a todos com o anúnc io de
um novo s is tegf f l operac ional co m inter fa-
ce gráf ica, que func ionava com mouse. A
:ara de Windows. Parecia
uma cópia do layout do Mac intosh.
Fur ioso com a not íc ia, Jobs int imou
Gates para uma reunião na sede da Apple
em Palo Alto. "Você passou a perna na gen-
se Jobs aos berros assim que Gates
na sala. "Eu confiei em você, e vo cê
nos roubou!" Bill f itou Steve placidamente.
Cercado p or 10 func ionár ios da Apple, co-
çou a cabeç a e sussu rrou: "Olha, Steve, há
mais de u m ân gulo nessa questão" .
Depois, subindo o to m, cont inu ou seu
discurso: "Nós dois éramos dois pobretões
que morávamos ao lado da mansão dum
ricaço, a Xerox. Eu arrombei a mansão
para roubar a TV. mas descobr i que você
já a t inha levado"
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Entre sorr isos
I M A G E N S C R E A T IV E C O M M O N S SUPER ESPECIAL STEVE IOBS
"Eu t inha avisado o Steve que sus-
pei tava da Microsof t " , escreveu no s i te
www.foik lore.org, mant ido por func ioná-
r ios da Apple, Andy H ertz feld, projet is ta
do Mac in tosh e tes temunha desse que
foi o maior bate-boca entre os dois ho-
mens fortes da informát ica. Na época,
Jobs respondeu que não imaginava
que a Microsof t fosse capaz de fazer
uma boa implementação.
AM IZADE P R O VISÓR IAPor que a Apple subestimou Gates?
Para entender, é preciso voltar um ano
antes, a 1982. Jobs já era um a celebrida de
nos EUA Por outro lado, ninguém, fora do
Vale do Silício, ainda conhecia Gates ou
a Microsoft. Jobs, porém, gostava de Bil l .
Em San Francisco, no f im dos ano s 70, os
dois saíam juntos, com as respectivas na-
moradas, para jantar ou ir à discoteca.
Mas jeito de gostar de Jobs era con-
descendente. Por sua vez, Gates respei-
tava o amigo. "Para estabelecer um novo
padrão, é preciso criar uma coisa com-
pletamente nova. O M acintosh é a única
capaz disso", ele afirmou, em outubro de
1983.0 b om relac ionamento fez da Micro-
soft a primeira empresa recrutada para
desenvolver softwares para o Mac.
hM'l i lhH'I 'WiW
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Só que Gates vinha se tornando reservado. Em Junho de
1981, transferiu a Microso ft para o estado d e Wash ington - bem
longe do radar de Jobs. 0 motivo de tamanho mistério ficaria
claro durante a COMDEX, de 1983. Logo depois da feira e do
bate-boca, a Apple processou a Microsoft, que teria copiado o
"visual e o jeito" do sistema operacion al do Lisa, o prim eiro c om-
putador comercial a util izar uma interface gráfica de usuário
(GUI, sigla em inglês). Mas o GUI não era exatam ente uma ino-
vação da Apple. Jobs tinha se inspirado no trabalho do vizinho
ricaço, a Xerox (leia mais na página 15), e era a esse episódio a
que Gates se referia dura nte a discussão.
A primeira versão do Windows chegou às prateleiras só em
1985. Como Steve tinha previsto, ainda não funcionava direito.
As janelas eram fixas e ficavam dispo stas lado a lado, co mo azu-
lejos numa parede. Irritado com os problemas, Bill Gates deu
carta branca a um programador de Seattle (e fã da Apple), Neil
Lonzen. Quando o Windows 2.0 veio a público, em 1987, eraoutro produto, muito mais bem acabado.
Jobs podia reclamar, mas o contrato da Microsoft com a
Apple dava à Microsoft direitos perpétuos à interface gráfica
do Macintos h a partir de 1985. Gates ganho u a causa em 1994,
quando Jobs já estava fora da Apple fazia tempo.
R E E N C O N T R OEm agosto de 1997, num anfiteatro de Boston, Steve Jobs,
de volta à Apple, anunciou que a Microsoft injetaria salvado-
res US$ 150 milhões na empresa. A plateia vaiou e tom ou uma
bronca. "Muita gente ainda que r se aferrar às suas velhas iden-t idades. Por outro lado, está todo m und o m orrendo de von tade
de ter o Microsoft Office em seu Mac", disse. O que ninguém
sabia é que o acordo era resultado de uma negociação difícil.
Agora, era Gates que m dava as cartas.
O tempo passou e, aparentemente, as mágoas também.
Em 200 7, Steve Jobs e Bill Gates divid iram o palco, sorridentes,
na conferência Ali Things Digital, organizada pelo blog homô-
nim o em Carlsbad, no sul da Califórnia. "Eu acho que o mu nd o
é agora um lugar melhor, depois que o Bill deu-se conta que o
objetivo na vida não é ser o cara mais rico do cemitério", disse
Jobs. "As coisas que Steve faz são mágicas", ouv iu em resposta.
E tudo acabou bem? Mais ou menos. Em 2009, o jornal
britânico Daily Mail noticiou que os filhos de Bill Gates, Jenni-
fer, Rory e Phoebe, tinham sido proibidos pelo pai de comprar
produtos da Apple. A garotada queria iPods, e papai disse não.
Sobrou até para a esposa. Mel inda, que não conseg uiu comp rar
um iPhone. A relação de amor e ódio entre os dois maiores
homens da computação cont inuou a mesma até o f im.
O p á r i aJ o n R u b i n s t e i n u s o u o i P h o n e
para c r ia r o Pa lm P re
Se a relação e ntre Steve Jobs e Bi l l Gatesé cheia de al tos e baixos, algu ma s pessoasse torn ara m pe rsona non grata para oresto da v ida. Foi o caso do eng enh ei ro dehardw are Jon Rub ins te in. A parcer ia ent reJobs e Rubins te in com eço u aínda na NeXT,em 1990. Já na Apple, Rubins te in a jud oua cr iar o Mac G3 e o iMac. Em 20 06 , elese mu do u para a Palm e levou deta lhesdo pro je to do iPhone. Em 2009 , lançouo Palm Pre, qu e foi um fracasso. R esultadoóbvio, em suas palavras de 2010: "Estoufora da l is ta de N atal de Steve".
PARA SABER MAIS
• Piratas do Vale do Silício, di r . Ma r ty n Burke, 1999.
• Barbari ans Led by Bill Gates, Jennifer Edstrome Marlin Eller, Hen ry Hol t and Co. , 1998.
58 S U P E R ESPECIAL STEVE JOBS I M A G E N S 1G E T T Y I M A G E S 2 T E D P I N K / A L A M Y 3 A FP
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D u e lo d e t i tã s
W il l iam Henry Gates I I I
C o m p a r e o s p e r f i s
d o s d o i s h o m e n s
f o r t e s d a t e c n o l o g i a
24 de fevereiro de 1955 Nasc imento 28 de outubro de 1955
Fi lho adot ivo de u m casalde classe média.
Famí l ia Filho de um casal aristocráticode Seatt le.
Aba ndo nou a faculdade (Reed Col lege). Educação Abandonou a faculdade (Harvard).
Mansão em est i lo colonial espanholde 1 6 0 0 m 2 em Woodside, Califórnia.
Casa Mansão de design ecológico de6 0 0 0 m 2 no estado de Washington.
Budista.Rel ig ião
Congregacional is ta.US$ 8,3 bilhões. For t un a em 2011 US$59 bi lhões.
Mercedes SL55, ano 200 6. Car ros Tem uma coleção de Porsches.
Música. Ho b b y Bridge, pôquer e tênis.
Na juventud e, era bom de lábia. M u lh e r e s Tímido co m as mulheres, casou-se c omSossegou depois de casar. Mel inda, func ionária da Microsof t
Parado pela p olícia no s anos 1970. Cadeia Em 1977, preso por dirigirem al ta veloc idade.
LSD, mescalina e maconha. Drogas Diz que fumo u m aconha em Harvard.
Publ icamente, não dava um tostão. Fi lan t rop ia Até 2007, doou US$ 28 bi lhões.
"Não dou a mfnima". Esti lo Casual de negócios.
"Bil l é u m ca ra legal. Mas o no ssosis tema d e valores não é o m esmo".
Opin ião um d o o u t r o "0 mu ndo raramente vê uma pessoaque provoque tanto impacto."
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O s m a io re s
d e Job sNem sempre o ma is famoso fundador da App le es tava ce r to .
Suas fa lhas foram tão sensac iona is quanto seus sucessos
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j - - i i i r = n : r D cae r csa co m um des ign t ão i no -
v a d o r o j e j — - a e - a ta r está expos to no Museu de Ar te Mo-
dem s de M m Y xk . Só qu e custava caro. cerca de US$ 2 mi l
dó«ar=£ b o m b s : : : : ; c q u e f un ci on a l - n aq ue le m om e n -
: : a : ICTE -k x i e a fereda opções m elhores. O f racasso nas
e E z e s a = : e ' c e ^ z c c s _ 33 247 milhões
r: z~ ~ e n es í r ede2 001 . o p r ime i r o da ges tão de Jobs.
0 V e n d a cie a ç õ e sC pa; c n o de Steve Jobs não era proporcional ao su-
cesso dâ Apple. Na l ista dos 40 0 hom ens mais r icos dos EUA
segindc 3 ~e. =3 Forbes, ele fica em 39° lugar, bem atrás de
Ma"- ZÜZ - er e" : : . d o Facebook, e Larry Page e Sergey Br in, do
Goo gle B é o pr imeiro. Com o é possível se a Apple é
hoje a empres a mais val iosa do m undo? É que Jobs tinha pou-
cas ações 3S co~3anhia. Em 2006, vendeu um lote gigantes-
co. Achava QL>6 C preço estava no auge e não subiria mais.
0 i P h o n e f e c h a d oSabe-se hoje que o smarthphone da Apple mudou a tele-
fonia e cr iou um mercado gigantesco de apl icat ivos. Mas no
com eço não foi assim. Da forma com o foi lançado, o aparelho
não era aberto para programas cr iados por desenvolvedores
externos. Quando a empresa resolveu abr ir esse mercado e
percebeu seu potencial , f icou tão empolgada que lançou um
kit para facilitar a vida de quem quiser criar seu próprio app.
Mas a mania de contro le não desapareceu. A empresa se re-serva o direito de barrar os aplicativos que quiser.
0 C e n s u r a a c on t e ú d oMuito de vez em quando, Jobs admitia em público que
tinha errado. Foi o caso do episódio envo lvendo o cartunista
Mark Fiore. Em 2010, seu aplicativo para iPhone com a divul-
gação de seus trabalhos aca bou barrado por "satir izar figuras
públicas". Fiore fez a história circular pela internet, e a notícia
da censura levou a Apple a pedir, uma semana depois, que ele
reapresentasse seu produto. Ele se recusou. Outros cartunistas,
como Daryl Cagle.já passaram pelo mesmo problema.
0 L i s aEra para ser o computador dos computadores, a maior
revolução da informática do século 20. Tanto que, entre o
f im dos anos 70 e o começo da década seguinte, esse era
um projeto muito mais importante do que o Macintosh. Ao
ser lançado, em 1982, o Lisa era tudo o que prometia: tinha
memória protegida, um hard disk extremamente sof ist icado e
suporte para até 2 MB de mem ória RAM. Mesm o assim, foi um
fracasso. Ninguém estava disposto a pagar US$ 10 mil por um
computador. Quem topou foi a Nasa, que acabou desist indo
depois de se debater com vár ios problemas da máquina.
Br ig a p e r d i d a ?O A n d r o i d , d o G o o g l e ,
t o m a m e r c a d o d o iO S
D e um lado , um s i s t ema ope r ac iona l
abe r to pa r a smar tphones e t ab le t s ,
supo r tado pe la empr esa que r ep r esen ta
a era da in ternet . De out ro , um
conco r r en te de cód igo f echado , man t i do
pe la companh ia que deu o r i gem aos
compu tado r es pessoa i s . A b r i ga en t r e
o Andro id , do Go ogle , e do iOS, da A pple ,
es tá só come çando , mas pa r ece com
ou t r a que acon te ceu 20 anos a t r ás .
O A nd r o id pod e ser usado em apa r e lhos
de vár ios fabr icantes - para o Google ,
o impo r tan te é que os usuá r i os usem seu
si te para fazer buscas e acessar m apas.
O dif íci l é man te r a es tab i l i dade d op r og r ama quando ma is de 300 t i pos de
modelos d i ferentes o usam. Já o iOS
é bem ma is es táve l , mas seu so f tw a r e
só es tá d i spon í ve l pa r a mod e los A pp le .
Em resumo: essa é uma r eed i ção da
bata lha M ac x PC, co m o An dro id n o
luga r do W indow s . C omo no passado ,
t ud o i nd i ca que a A pp le va i pe r de r .
D e aco r do c om a consu l t o r i a iS upp li ,
em 2012 o Andro id va i se tornar o s is tema
oper ac iona l ma is usado do mundo .
I M A G E N S D I V U LG A Ç Ã O
SUPER ESPECIAL STEVE JOBS
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Com o fazer^ ^ ^ M i i r a ' ^ f cu m a
. Mtmmr mm s j i ^ iDesde que t rans fo rmou os lançamentos de p rodu tos em shows ,
o empresá r io passou a se r im i tado po r execu t i vos de todo o m un do
- :
COM /
I N TERA JA C O M A TELA
Steve Jobs seguia a lei dos 10 minutos: depois desse tempo, a atenção da s pessoas;
se dispersa rapidamente. Por isso, ele interagia c o m o telão, usava s l ides curtos e obje-
t ivos (sem bul lets ou cara de Power Point ) para reforçar sua mensagem e inseria, em
suas apresentações, os v ídeos publ ic i tár ios de seus produtos.
C O N T E U M A BO A H I ST O R I A(E REP ITA A M ESMA R O U P A )
Cada apresentação t inha um enredo: descrevia um ce-
nário, trazia à tona um problema (identif icando um vilão a
ser derrotado) e trazia a soluçãojpara reforçar a identif ica-
ção co m o públ ico, ele sempre se vestia do me smo jeito.
EN S A I E MU I TODetalhista, Steve jamais
improv isaria em um momen-
to tão importante. Cada show
demorava meses para f icarpronto e era ensaiado (e f i l-
mado) várias vezes. Um slide
que demorasse 5 segundos
a mais do qu e o previsto para
aparecer deixava Steve malu-
co: podia ser o suficiente para
uma frase perder o impacto.
I M A G E M AF P
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TENHA C UIDADO C OM OS DETALHES- _ — a ã : do pa lco t inha que ser f ie l à cor determinante de um
lançamento. Quarto ao palco: em relação à plateia, Jobs sempre parecia
:e- Z ~ ce Nunca cruzava os braços nem colocava objetos entre
ete e a a_c ê n aa O nava com segurança de ntro dos olhos das pessoas e
sc c^ s .a ser- cha mar a atenção demais para suas mãos.
T RA G A S E U S A M I G O SEm 2005, a cantora Madonna apareceu, via webcam, para contar que
seus álbuns estariam disponíveis no iTunes. Em 1999, quem com eçou a apre-
sentação foi o ator Noah Wyle, que interpreta Steve no filme Piratas do Vale
do Slício.Ah. e elogios recorrentes a si mesmo e ao p roduto funcionam.
FALE (MUITO) BEM DE SI MESMOCom frequência, a plateia ia ao delírio: aplaudia, ria, chorava, gritava. A
audiência nã o liga para produtos. As pessoas se imp orta m co nsigo m esmas",
dizia. "Ele transform ava a apresentação e m uma e xperiência religiosa", afirma
Carmine Gallo, autor de Faça Como Steve Jobs (Lua de Papel, 2010).
TRANSFORME IDEIASEM SLOGAN S
Um execut ivo tradicio-
nal diria o seguinte sobre
o MacBook Air: "Mede 0,4
centímetros em seu ponto
mais fino". Jobs foi direto:
"É o mais f ino notebook do
mundo". Também repet ia
um slogan de im pacto. Para
o iPod, era "1000 músicas
no seu bolso".
F AÇ A S UR P R ES ASFicou famoso o momen-
to em que Jobs dizia, como
quem não queria nada: "Ah,
e mais uma coisa". E pronto,
lançava uma bomba. Ele es-
perava o momento cer to de
divulgar notícias importantes,
e al ternava o tom de voz e o
ritmo das frases. Suas pausas
dramáticas deixavam a audi-
ência em suspenso.
"N ão sedeixem
aprisionarpor d o g m a s "Trechos do discurso
aos formandos da
Universidade de Stanford,
em junho de 2005
"Às vezes, a vida bate comum tijolo na sua cabeça.Não perca a fé. Você temque descobrir o que vocêama. Isso é verd ade irotanto para o seu trabalhoquanto para com aspessoas que você ama.Seu trabalho vai preencheruma parte grande da suavida, e a única mane ira deficar realmen te satisfeito éfazer o que você acreditaser um ót im o trabalho. E aúnica mane ira de fazer umexcelente trabalho é amar
o qu e você faz. Se vocêainda não encontrou o queé, cont inue procurando."
"O tempo de que vocês[formandos] dispõem élimitado, por isso não odesperdicem vivendo avida de o utra pessoa. Nãose deixem aprisionar pordogm as - isso significaviver sob os comandosdo pensamento alheio.Não perm itam que outrasvozes superem sua vozinterior. E, acima de tudo,tenham a coragem deseguir seu coração e suasintuições. Eles de algum amaneira já sabem o quevocês realmente desejamse tornar. Tudo maisé secundário."
63 SUPER ESPECIAL STEVE JOBS
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O fu tu rod a A p p leC o mo um pa i aus en t e , mas de pe rs on a l i dade f o r t e , J obs de i x a
s eu es t i l o pes s oa l marc ado no D N A da c ompanh ia , que a i nda
v a i c o n t i n u a r l i d e r a n d o r e v o l u ç õ e s n o m u n d o d a t e c n o l o g i a
TEXTO A l a n D e u t s c h m a n *
olta e meia, eu m e peg o fazendo a seguinte pergunta: com o ser ia
o nosso m un do se Steve Jobs não t ivesse nasc ido? E se ele t ivesse
se tornado monge budis ta, como chegou a cogitar , e nunca fun-
dasse a Apple nem se interessasse por tecnologia?
Algumas coisas não seriam assim tão diferentes. Se não fosse
copiada por Jobs, a interface gráfica desenvolvida pela Xerox nocentro de pesquisas de Palo Al to acabar ia nas mãos de o utro em-
presário - possivelm ente Bill Gates, e o Wind ows ter ia sido la nçado
um pou co antes do que fo i.
Talvez fosse um proces so ma is lento, mas a revolução qu e dei-
xou os comp utado res acessíveis às pessoas com uns acontecer ia
de tod o je i to. Qua nto aos lançam entos do s úl t imos anos, a inda te-
ríamos outros tocadores de MP3, celulares excepcionais e tablets
no m ercado. Só não ser iam tão bonitos .
Mas esses são argumentos falaciosos. Steve Jobs não cr iou
nada do zero soz inho. Mas ele t inha a capac idade d e pensar a tec-
nologia fora dos p adrõe s dos nerds, e é isso qu e faz dele um herói,
um persona gem qua se mito lógico. E que inf luenc iou não só os
gadgets que car regamos conosco ou os nossos computadores
mas tamb ém nosso je i to de perceber o mundo.
Com o Mac intosh, Jobs não cr iou apenas um computador d i-
ferente, fác il de usar co mo nen hum outro antes . Ele desenvolveu o
prod uto necessár io para concret izar sua v isão de futuro: o emp re-
sár io t inha cer teza de que es tava oferecendo às pessoas algo que
rapidamente se tornar ia fundamental .
Steve fez isso de no vo c om o iPod (e o iTunes), o iPh one e, por
fim, o iPad. Nesse sentido, ele era uma espécie de profeta - com a
eno rme van tagem d e que t inha a capac idade de trans formar suas
visões em realidade.
Não é todo dia que surge uma pessoa como ele. O que es-
perar, então, da Apple sem seu fundador? Será que ela vai voltar
ao l imbo em que caiu enquanto Jobs es teve fora? Bom, por pelo
men os dois anos, quase nada vai mudar . Esse é o tem po de desen-
volv imento dos produtos que ainda foram pensados por Jobs. A
questão, portanto, é o que esperar da empresa a partir de 2013.Alguns analistas influentes dizem que, sem Jobs, a Apple vai
v irar o que a Sony é hoje: uma empresa d e ponta, com muita t ra-
dição, mas sem personalidade. Não acredito nisso. As marcas do
fundador es tão impressas no DNA da companhia.
Desde que voltou a liderar a Apple, Jobs trabalhou para cons-
t ru ir um legado e conseguiu. Formou um t ime que se completa:
T im Cook é um mestre do gerenc iamento do dia a d ia, Jonathan
Ive cuida da s inovaçõe s no d esign, Scott Forstall cria softwares ino-
vadores, Philip Schiller é um mestre do marketing e Eddie Cue lida
bem co m a internet . Somados, e les pod em subst i tu ir o patrão.
Na verdade, já vêm exercendo esse papel há algum tempo.
Muito se diz ia, por exemplo, que Ive e Jobs div id iam um mesmo
cérebro, tamanha a sintonia entre os dois. O futuro da Apple está
no t rabalho conjun to desses prof iss ionais, formado s pelo convív io
diár io com o gênio. Só em um ques i to a empresa es tá def in i t iva-
me nte ale i jada: na apresentação de produtos . T im, o no vo respon-
sável por es te t rabalho, não tem uma fração sequer do car isma d o
ex-patrão. Mas quem tem? De toda forma, agora pouco impor ta.
Tenho cer teza de que a Apple vai cont inuar nos expl icando o q ue
vamos querer e pensar no futuro. Onde quer que es teja agora,
Jobs ainda vai ter mo tivos para sorr ir .
* A la n D e u t s c h m a n é e s p e c i a l i za d o e m l i d e r a n ç a
e m p r e s a r i a l e a u t o r d e The Secod C omin g oi St eve Jobs.
64 SUPER ESPECIAL STEVE JOBS
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Com o Steve Job sm atou os n erd s0 Jobs dos anos 1970 fo i dec is ivo para a inven ção da cu l tura geek.
Três década s depois , de vo l ta à Apple , o co - fun da do r da em presa
acabar ia c om e la de uma vez por todas. E sem dóTEXTO A le x a n d r e V e r s i gn a s s i e T i a g o C o r d e i r o
PUBLICADA ORIGINA LMENTE N A SUPER DE 10/ 2011
È nha 12 anos e um prob lema: quer ia m onta r um f re -
I t r o - apare lho essenc ia l quando você p rec isa cons -
j r óp r io c i r cu i to em casa . O me n ino não t inha todas as
ue prec isava, então dec id iu te lefonar para alguém
bnte t inha: Bi l l Hewlet t , dono e fundador da HP. Era
Apresa da reg ião onde Jobs morava , naque le ano de
1 9 6 7 . " "Jobs pegou a l is ta te lefônica,
enco n t rou um "Wi l liam Hewle t t " al i
e l igou:
— "Alô, é o Bill Hew lett, da HP?"
— "Eu mesm o"
— "Meu n om e é Steven Paul
Jobs e..."
Os do is conversaram por 20
minu tos . Jobs consegu iu tudo o
que prec isava para montar seu
f requenc iôm et ro . E a í não para ria
mais . Em 1976, e le e Steve Woznia-
ck lançaram o p r ime i ro com puta dor pessoal da dup la , ba t izado
de App le I - a máqu ina v inha na fo rma de k i t e não t inha cer tos
luxos, co m o tec lado, te la e caixa. Qu em quisesse que ar ranjasse
o res to por conta própr ia.
Em 1977, S teve Jobs lançar ia seu p r im e i ro co mp uta do r
comple to , com te la (e a té tomada) , o App le I I . No f ina l dos
anos 70 , começo dos 80 , a co isa exp lod iu . As le t r as ve rdes
sobre as te las de fundo p re to es tavam em todo lugar . A cu l -
tu ra nerd fo i pa ra a casa das pessoas , inc lus ive . Aprender a
o p e r a r u m A p p l e I I e r a a l g o q u e e x i g ia a l g u m a d e d i c a ç ã o
( m e n o s d o q u e p a r a c o n s t r u i r u m , m a s e x i g i a ) . M a s t o d o
A p r en d e r a o p e r a r u mA p p l e D e xig ia a l g u m ad e d i ca ç ã o . M a s to d om u n d o a c h a v a n a tu r a l.
mundo achava na tu ra l . Faz ia par te do p rocesso de incor -
pora r aque las máqu inas inc r íve is à p rópr ia r o t ina . E quan to
m a i s c o n h e c i m e n t o t é c n i c o v o c ê t i v e s s e , m a s b e n e f í c i o s e s -
s a s m á q u i n a s t r a z i a m . A q u e l e s e r a m t e m p o s n e r d s . N ã o o s
nossos . A cu l tu ra nerd es tá mor ta .
E o assass ino fo i Steve Jobs. O nerdic íd io co me ço u ainda em
1984, quan do a App le lançou o Mac in tosh , o p r ime i ro comp uta -dor que qualquer c r iança podia usar .
Ainda assim a cultura nerd resistir ia f ir-
me: por duas décadas mem ór ia RAM,
placas de v ídeo e a f requênc ia em
her tz dos microprocessadores con-
t inuaram sendo assun to de mesa de
bar - não de qualquer bar, mas... Bom.
agora isso acabou. Você sabe a me-
mór ia RAM do celu lar que usa pra en-
trar no Twitter? Eu não. E não sei por
um mot ivo s imples : isso deixou de ser
impor tan te . A gen te não tem como
trocar a memór ia do iPhone ou do iPad. Eles são o que são. O
iPhone e o iPad torna ram a nerdice desnecessár ia.
F idel Castro, qua nd o t inha 12 anos, man do u u ma car ta para
o pres iden te dos Estados Unidos, Frank l in Delano Roosevelt,
pedindo uma nota de dólar - pois "nunca t inha v is to
uma". E depois fez o que fez em Cuba. A his tór ia de
Jobs, que com eçou aos 12 anos, co m a quele te le-
fone ma para o fundad or da HP em 1967, é i ro-
nicamente parec ida. Com a grande di fe-
rença de que a revolução in ic iada por
Jobs fo i g lobal. E para sem pre.
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T e c n o lo gia n â o é n a d a\ \ \ 11 \ i \
Steve Jobs ta m bé m era bom na hora de criar f rases de e fe i to
Dinheiro é um a coisae n g ra ça d a . Dã o ta n t aa t e n ç ã o p ra e le , m a s éd as m enos im por tan tesp a r a m im ."
J J f Bill G a tes ser ia u mca r a d e horizontesm ais larg os se t ivessetom ad o ácid o."
!~J U Tecnologia n ãcé n a d a . O q u eim porta é ter fé
Eu n u n ca d igo, 'Vam osser in ova d ores! Vam os fazerum sem inár io! Aqu i es tãoa s cinco reg ras d aino va ção. ' Isso é coisa d eexecu tivos q u e ten tam
d esesp e rad am en te ser coo l.
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n as p essoas .
Lem brar qu e esta reim or to e m b re ve éa fe r ram enta m aisim portante qu e jáe ncon t re i p a r a m ea ju d a r a t om a r g ra n d e sd ecisões. Porqu e q u asetud o ca i d ian te d a m orte,
d e ixa n d o a p e n a s o q u eé a p e n a s im por ta n te .Lem bra r qu e vocêva i m or re r é a m elhorm a n e ir a q u e e u c on h e çop a ra e v it ar a a rm a d ilhad e pe n sa r qu e você temalgo a perder. Você já están u . N ã o h á r a z ã o p a r a
n ão segui r seu coração ."
5/16/2018 Super.interessante.ed.Especial - slidepdf.com
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S T E V E I O B S • 1 9 5 5 • 2 O 1 1
O G Ê N I OT E M P E R A M E N T A L
A V I D A E O SN E G Ó C I O S
O V I S I O N Á R I OE S E U L E G A D O
EDIÇÃO 1 7 C / O UT 2 0 1 1
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