Francis Ribeiro Parladore
Guilherme Leal Benedito
Vitor Moretti Niwa
RECONSTRUINDO A PAZ:
REPORTAGEM MULTIMÍDIA SOBRE A NOVA VIDA DOS REFUGIADOS DA
SÍRIA EM ARAÇATUBA (SP) E PENÁPOLIS (SP)
Centro Universitário Toledo
Araçatuba
2017
2
Francis Ribeiro Parladore
Guilherme Leal Benedito
Vitor Moretti Niwa
RECONSTRUINDO A PAZ:
REPORTAGEM MULTIMÍDIA SOBRE A NOVA VIDA DOS REFUGIADOS DA
SÍRIA EM ARAÇATUBA (SP) E PENÁPOLIS (SP)
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro
Universitário Toledo como parte dos requisitos para a
obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social,
com Habilitação em Jornalismo, sob a orientação da Profa.
Me. Ana Paula Saab de Brito.
Centro Universitário Toledo
Araçatuba
2017
4
AGRADECIMENTOS
Muitas pessoas foram fundamentais para a conclusão deste trabalho. Por isso, o grupo
decidiu não citar nominalmente cada um, mas a todos que, direta ou indiretamente, foram
importantes neste processo.
Agradecemos primeiramente a Deus e aos nossos pais, pelo apoio incondicional
durante toda a vida e especialmente neste ano.
Aos nossos amigos e familiares pelo suporte. Aos colegas de trabalho, que souberam
ser compreensivos nos momentos mais difíceis.
Às nossas fontes, pela pronta receptividade em ajudar.
A todos os professores do Unitoledo, que contribuíram com a nossa formação. E um
agradecimento especial à nossa orientadora, que em todos os momentos esteve ao lado do
grupo.
5
“Eu vim
Vim parar na beira do cais
Onde a estrada chegou ao fim
Onde o fim da tarde é lilás
Onde o mar arrebenta em mim
O lamento de tantos ais”
(GIL; DONATO, 1986)
6
RESUMO
O presente projeto de conclusão de curso visa a criação de uma reportagem multimídia sobre
o recomeço da vida de refugiados sírios em Araçatuba (SP) e Penápolis (SP). O produto é
veiculado em uma plataforma na internet (http://reconstruindoapaz.wixsite.com/inicial), com
o objetivo de sanar uma escassez desse tipo de gênero jornalístico na região. Intitulado
Reconstruindo a Paz, o site traz as histórias dessas pessoas, com matérias jornalísticas
pautadas com especialistas em Oriente Médio, colegas que ajudaram os sírios a reconstruírem
a vida no Brasil e com os próprios nacionais da Síria. Para a elaboração do mesmo, recorre-se
à bibliografia especializada na área de reportagem multimídia e histórica, bem como as
técnicas do jornalismo digital.
Palavras-chaves: Jornalismo digital; reportagem multimídia; refugiados sírios.
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ABSTRACT
This graduation project aims to create a multimedia report on the resumption of the life of
Syrian refugees in Araçatuba (SP) and Penápolis (SP). The product is posted on an Internet
platform (http://reconstrucindoapaz.wixsite.com/inicial), with the aim of remedying a
shortage of this kind of journalistic genre in the region. Entitled Reconstructing Peace, the site
features the stories of these people, with journalistic articles based on Middle Eastern experts,
colleagues who helped the Syrians rebuild life in Brazil and with Syrian nationals themselves.
For the elaboration of the same, it is used the specialized bibliography in the area of
multimedia and historical reporting, as well as the techniques of digital journalism.
Keywords: Digital journalism; multimedia reporting; refugees.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9
I – ORIENTE MÉDIO DEPOIS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL ......................... 11
1.1 Diferenças religiosas na região .................................................................................................. 11
1.2 O fim dos Impérios nos países árabes ....................................................................................... 12
1.3 A questão da Palestina............................................................................................................... 14
1.4 O surgimento da unidade árabe e o papel de Nasser ................................................................... 16
1.5 A desunião árabe ......................................................................................................................... 17
1.6 O golpe militar de Hafez Al-Assad na Síria ............................................................................... 19
1.7 O surgimento do fundamentalismo islâmico ............................................................................... 20
1.8 A Guerra do Golfo e o Acordo de Oslo....................................................................................... 21
1.9 A ascensão de Bashar Al-Asad na Síria ...................................................................................... 22
1.10 A Al-Qaeda e os atentados terroristas de 2001 ........................................................................ 24
1.11 O surgimento do Estado Islâmico ............................................................................................ 26
1.12 A Guerra Civil na Síria e os refugiados ................................................................................... 29
1.13 Diferença entre Migrante e Refugiado ...................................................................................... 31
1.14 Sírios no Brasil ........................................................................................................................ 32
1.15 Sírios em Araçatuba e Penápolis .............................................................................................. 34
II – O MEIO DIGITAL E AS NOVAS NARRATIVAS ONLINE .................................... 36
2.1 Convergência midiática .............................................................................................................. 36
2.2 Interatividade: a aproximação com o público ............................................................................. 38
2.3 Narrativa onlinee webjornalismo ............................................................................................... 40
III – PRODUTO: A REPORTAGEM MULTIMÍDIA ....................................................... 54
3.1 A plataforma WIX.com ............................................................................................................... 54
3.2 Os elementos do site “Reconstruindo a Paz” .............................................................................. 57
3.3 A identidade visual do produto ................................................................................................... 62
3.4 A plataforma WIX.com para os leitores ...................................................................................... 63
3.5 Conhecendo as matérias .............................................................................................................. 64
3.6 Fontes e cores .............................................................................................................................. 79
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 80
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 82
ANEXOS ................................................................................................................................. 86
9
INTRODUÇÃO
A guerra civil na Síria, que teve início em 2011, trouxe à tona um cenário devastador
de violação dos direitos humanos e a maior crise de refugiados da história. Famílias inteiras
abandonaram o país ao longo de cinco anos de sangrentas batalhas entre o Exército Sírio,
força militar do presidente Bashar Al-Assad, e opositores ao regime.
Nesse cenário de muita instabilidade, o Estado Islâmico surgiu para aterrorizar ainda
mais essas pessoas. O grupo terrorista radical persegue os considerados “infiéis” e cometem
atrocidades com minorias curdas, xiitas e cristãos, que são grupos com orientações religiosas
diferentes. A rede ocupou vários territórios dentro da Síria e países vizinhos, e,
concomitantemente, acelerou a migração dos nativos.
Muitos desses refugiados embarcaram rumo ao Brasil e se instalaram em diversas
cidades brasileiras, incluindo o noroeste paulista, como Araçatuba e Penápolis.
A proposta da presente pesquisa é criar uma reportagem multimídia sobre a vinda
desses refugiados para a região interiorana, mostrando como eles reconstruíram suas vidas
depois de tanto sofrimento. Por meio da convergência digital, que possibilitou o agrupamento
de texto, vídeo, áudio e fotos em uma mesma plataforma, a reportagem multimídia sobre esse
assunto vem suprir uma escassez desse tipo de gênero jornalístico na região de Araçatuba.
O primeiro capítulo destina-se a explicar como a região do Oriente Médio se
transformou ao longo dos anos após a Segunda Guerra Mundial; como a Síria se desenvolveu
nesse período até aos dias atuais; o que causou a guerra civil; e o surgimento do grupo
terrorista Estado Islâmico.
No segundo capítulo, procurou-se discorrer sobre a tecnologia digital: como ela
impactou a forma de se comunicar, especialmente o fazer jornalístico, e as características do
jornalismo praticado nesta nova plataforma. A internet permitiu o acesso a um universo sem
limites de informações em múltiplos formatos, além de ser uma rede dinâmica.
O terceiro capítulo, por fim, é reservado às explicações de como foi construído o site
http://recontruindoapaz.com.wix/inicial, produto proposto neste trabalho de conclusão de
curso.
A plataforma WIX.com foi a escolhida devido às características disponibilizadas, que
remetem a grandes possibilidades multimidiáticas. A elaboração, edição, postagem e
10
hospedagem dos conteúdos do site “Reconstruindo a Paz” estão detalhadas neste terceiro
capítulo.
O website da plataforma escolhida, o WIX.com, é um construtor de sites gratuito, que
possui milhões de usuários cadastrados e é líder no desenvolvimento web baseada em nuvem,
ou seja, todo o seu sistema fica armazenado de modo online, sem a necessidade de instalações
de programas, já que os dados ficam guardados em rede.
11
I – ORIENTE MÉDIO DEPOIS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Retomar a forma como o Oriente Médio se desenhou geopoliticamente a partir da
Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e elaborar um resgate histórico desse período são
fundamentais para a compreensão dos conflitos atuais na região, principalmente na Síria, que
norteia o objeto de estudo desta pesquisa.
Magnoli (1997) ensina que a região é repleta de tensões geopolíticas regionais e
internacionais e possui uma multiplicidade de realidades nacionais, religiosas e estratégicas.
Além disso, o Oriente Médio está situado na passagem de três continentes (Europa, África e
Ásia) e detém as maiores reservas de petróleo do mundo. Por isso, povos árabes sempre
estiveram no foco de conflitos internos e externos desde a criação do Império Árabe.
1.1 Diferenças religiosas na região
A questão religiosa sempre acompanhou o mundo árabe, desde a sua criação no século
VII. O Islã, segundo o centro de pesquisa PewResearchForumonReligion1, é atualmente a
segunda maior religião em número de seguidores no mundo, ficando atrás somente do
Cristianismo. Ela originou-se espelhada na figura de Maomé, considerado o pai do Islamismo.
O profeta dos povos árabes criou uma ordem política de acordo com revelações dadas
a ele por Deus. Essas mensagens foram anexadas no livro sagrado do Islã, o Alcorão. Nas
palavras de Hourani (1991):
Um livro que descreve em linguagem de grande força e beleza a incursão de um
Deus transcendente, origem de todo poder e bondade, no mundo humano por Ele
criado; a revelação de Sua Vontade através de uma linhagem de profetas enviados
para advertir os homens e trazê-los de volta a seus verdadeiros eus como criaturas
agradecidas e obedientes; o julgamento de Deus no fim dos tempos, e as
recompensas e os castigos que a isso se seguiriam (HOURANI, 1991, p. 41).
1<http://www.pewforum.org>. Acesso em 10 mai. 2017.
12
Em contrapartida, Magnoli (1997) alerta que o mundo árabe se define pela língua, não
pela religião, pois existem outras doutrinas espalhadas pelo Oriente Médio. O Alcorão
possibilitou a unidade cultural dos árabes, pois difundiu a língua comum, já que as principais
orações do Islã devem ser pronunciadas em árabe. Tanto nas regiões dos rios Nilo, Tigre e
Eufrates, quanto na África do Norte, centenas de clãs e tribos antes separados por dialetos e
costumes diferentes foram fundidas pelo árabe corânico.
Por muitos anos, os seguidores de Maomé usaram tais características do Alcorão não
apenas religiosamente, mas também disciplinar e politicamente. Apesar da unidade do Islã, a
profunda ruptura em várias seitas ocorreu com a morte do profeta. A principal divisão é entre
sunitas e xiitas, que começou com conflitos a respeito de quem deveria ser o sucessor do líder
religioso.
Segundo Magnoli (1997), o quarto califa2, Ali ibn Abu Talib, genro de Maomé, foi
assassinado e o cargo passou para Moawiya, governante da Síria e que detinha o apoio da
maioria dos líderes islâmicos, considerados sunitas, pois acreditavam que a fonte essencial
para a lei islâmica era aSuna3. A minoria, intitulada de xiita, se revoltou com toda a situação,
pois acreditava que o governante deveria ser alguém ligado à família do profeta.
O autor ressalta que “os xiitas acreditam que só os membros do clã de Maomé
poderiam liderar os muçulmanos. Ao contrário dos sunitas, que não atribuem qualidades
divinas ao líder religioso”. Da divisão principal, surgiram outras inúmeras subdivisões dentro
do islamismo. Elas foram e ainda são motivos de revoltas, conflitos e derramamento de
sangue por toda a região.
1.2 O fim dos Impérios nos países árabes
As sociedades árabes enfrentaram dois longos períodos de dominação externa. A
primeira ocorreu com o Império Turco-Otomano a partir do século XVI. O domínio só foi
terminar com a queda e a fragmentação otomana ao fim da Primeira Guerra Mundial (1914-
1918). Foi nesse período que as potências imperialistas europeias encontraram uma brecha
para anexar os territórios. A Grã-Bretanha estabeleceu seu domínio pelo Egito, Iraque, 2 Guia ou líder temporal e espiritual da comunidade islâmica. 3 Orientação da vida e da ação em sociedade com base nas palavras de Maomé.
13
Jordânia e Palestina. A França controlou o Magreb, região noroeste da África, a Síria e o
Líbano. Já a Itália apoderou-se da Líbia.
As potências européias criaram fronteiras coloniais e de protetorados, dividindo os
territórios sob o seu domínio. Assim, surgiram os embriões dos Estados árabes
contemporâneos. O domínio europeu gerou, como reação, o aparecimento de
movimentos nacionalistas nas sociedades árabes. Esses movimentos, ainda que
influenciados pela cultura muçulmana, não se identificavam pela religião. Os novos
líderes e pensadores árabes desejavam a soberania política e a modernização
econômica. (MAGNOLI, 1997, p. 269)
Anos depois do aparente equilíbrio de poder na região, eclodiu a Segunda Guerra
Mundial. Nos primeiros anos do conflito, havia a sensação de segurança, por parte dos países
imperialistas, em relação às suas conquistas, até mesmo porque Estados Unidos e a antiga
União Soviética não tinham grandes interesses no Oriente Médio.
Mas com o decorrer do conflito e o crescimento da Alemanha de Adolf Hitler, a
preocupação entre Grã-Bretanha e França aumentou. Essa percepção ficou ainda mais forte
com uma aliada dos alemães na Líbia, a Itália. Havia o temor de que estes dois países que
compuseram o chamado Eixo (Alemanha, Itália e Japão) invadissem territórios britânicos e
franceses no Oriente Médio e no Magreb.
A França perdeu força política e militar após ser derrotada pela Alemanha na grande
guerra. Esse foi mais um motivo para o país temer a perda de seus protetorados na Síria e no
Líbano. A essa altura, os Estados Unidos já estavam imersos nos combates. Hourani (1991,
p.463) acredita que os anos de 1942-1943 foram o ponto de virada no Oriente Médio, pois
“exércitos anglo-americanos desembarcaram no Magreb e rapidamente ocuparam o Marrocos
e a Argélia. Os alemães recuaram para seu último bastião na Tunísia, mas finalmente
abandonaram-no sob ataque do leste e do oeste em maio de 1943”.
Em 1945, com o fim do conflito mundial, França e Grã-Bretanha continuaram
controlando os mesmos países árabes. Com a perda de força militar francesa, os britânicos
ajudaram-na em alguns países colonizados, como o caso da Síria e do Líbano. A Líbia, antes
governada pela Itália, foi anexada ao império britânico. Mas houve uma grande diferença
nesse período.Os dois impérios não eram mais vistos com os mesmos olhos. Os franceses
tinham o sentimento de humilhação após terem sido derrotados pela Alemanha. Já os ingleses
mergulharam em uma crise econômica sem precedentes. Além disso, Estados Unidos e União
Soviética surgiram como os grandes beneficiários da guerra e impuseram seus desejos. A
14
pergunta que restava aos britânicos e franceses era se realmente compensava manter
gigantescos impérios como aqueles.
Os sentimentos das sociedades árabes também tiveram rápidas mudanças. A
independência era algo desejado ainda durante a guerra. A Síria e o Líbano tentaram ficar
independentes da França e foram reprimidas com bombardeios em suas capitais. Diante desse
cenário de constantes revoltas, os países imperialistas chegaram a um acordo e se retiraram
dos dois locais após o término dos combates. Nesse caso específico, Hourani (1991)
exemplifica a linha política adotada pela Grã-Bretanha:
A linha geral da política britânica era de apoio à independência árabe e a um maior
grau de unidade, preservando ao mesmo tempo interesses estratégicos essenciais por
acordo amigável, e também pela ajuda no desenvolvimento econômico e na
aquisição de capacidade técnicas a um ponto em que os governos árabes pudessem
assumir a responsabilidade por sua própria defesa. (HOURANI, 1991, p. 467)
O processo de descolonização foi longo, com muitas revoltas, conflitos armados e
mortes. O principal deles foi a Guerra de Independência da Argélia, iniciada em 1954. De
acordo com Hourani (1991), o acordo de independência assinado em 1962 entre o país e a
França foi a um custo de 300 mil mortes de muçulmanos e 20 mil baixas do lado francês.
Segundo Smith (2006), foi em 1976 que as forças européias se retiraram
completamente do mundo árabe. A última foi a Espanha, que abandonou o Saara Ocidental e
o Marrocos aproveitou para ocupar a região.
1.3 A questão da Palestina
Além do conflito internacional, o Oriente Médio conviveu por longos anos e ainda
convive com os fantasmas regionais. O principal deles é a questão da Palestina, cuja história
teve início ainda no século XIX com a origem do movimento sionista e, concomitantemente, a
criação do Estado de Israel.
Os povos judeus foram ao longo de suas histórias discriminados por países europeus e
o sentimento do chamado “retorno à pátria” ganhou grandes proporções e importantes fluxos
migratórios ao longo dos anos em direção à Palestina.
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a região da Palestina passou para as
mãos dos ingleses. O secretário dos Negócios Estrangeiros de Londres, Lorde Balfour, criou
15
um projeto de lar nacional judaico na região. Por conta dos dois conflitos internacionais e de
combates internos entre judeus e árabes, a Declaração Balfour demorou a ser aplicada.
A Segunda Guerra Mundial foi o evento que trouxe o assunto à tona novamente, após
as atrocidades cometidas pelo regime nazista da Alemanha contra os judeus. Havia a sensação
de que aquele povo deveria ter o seu lar garantido, apesar dos árabes serem maioria na
Palestina (1 milhão) contra 700 mil judeus.
Em 29 de novembro de 1947, a ONU (Organização das Nações Unidas) aprovou o
plano de partilha da Palestina, que previa a criação do Estado judeu e palestino. Os Estados
Unidos e a então União Soviética deram voto favorável ao projeto. Os judeus ficaram com 14
mil quilômetros de terras, enquanto os palestinos, com 11,5 mil quilômetros.
A votação gerou polêmica e a Liga Árabe não aceitou as condições da partilha. Poucos
meses depois, em julho de 1948, forças combinadas do Egito, do Iraque, da Jordânia, do
Líbano e da Síria atacaram Israel. Os combates perduraram até janeiro de 1949, quando o
Estado judeu venceu os países árabes e ampliou seu território em 50%.
A guerra de 1948-1949 abriu uma ferida profunda nas relações entre os países na
região. Centenas de milhares de palestinos transformaram-se em refugiados,
expulsos por Israel e recusados como cidadãos pelos países árabes vizinhos. A
ausência de um tratado de paz que pudesse materializar um consenso sobre as
fronteiras tornava a região um verdadeiro barril de pólvora, pronto a explodir.
(MAGNOLI, 1997, p.198)
Conforme Hourani (1991), a opinião pública árabe foi muito afetada com os
acontecimentos e isso levou a muitos levantes na região com o decorrer dos anos. Os árabes
viam as políticas britânica e americanainteiramente a favor dos sionistas. Do outro lado, Israel
negou receber os refugiados palestinos que até então viviam nos territórios recém-anexados
ao Estado judeu.
A primeira guerra árabe-israelense levou os países árabes a se unirem contra Israel.
Essa união gerou um forte sentimento nacionalista, principalmente a partir de 1953, quando
Abdal-Nasser subiu ao poder no Egito. De acordo com Magnoli (1997, p.198), “ele inaugurou
um período de cooperação militar entre o Cairo e Moscou. Reuniam-se os ingredientes para a
segunda guerra árabe-israelense”.
16
1.4 O surgimento da unidade árabe e o papel de Nasser
Em meio à criação do Estado de Israel e logo após a primeira guerra na Palestina,
surgiu no Egito a figura daquele considerado a esperança da sociedade árabe: Abd-al Nasser.
Ele deu um golpe militar no Egito e derrubou a monarquia egípcia em 1952. Nos primeiros
anos de governo nasserista, houve uma modernização da economia do país e uma política de
aproximação com a União Soviética.
Contudo, Nasser engendrou uma campanha nacionalista, não somente no Egito, mas
também em outros países árabes. O pan-arabismo, segundo Magnoli (2008, p.270), “consistia
na noção da existência de uma única nação árabe, fragmentada pelo imperialismo europeu. A
unidade política possibilitaria a reunião dos recursos dos diferentes países árabes e a
configuração de uma potência econômica”. Além disso, o petróleo em abundância no Golfo
Pérsico e a vasta mão-de-obra nas regiões possibilitariam,na visão nasserista, o ressurgimento
do brilho e poder dos árabes.
O episódio que consagrou Nasser como líder unitário foi a Crise do Canal de Suez, em
1956. O governante egípcio desagradava profundamente os países imperialistas com sua
política de unidade árabe, já que os interesses dos países europeus poderiam ser atingidos na
região. O ápice foi no dia 26 de julho de 1956, quando Nasser nacionalizou a Companhia
Universal do Canal de Suez, cuja maioria acionária era formada por ingleses e franceses.
Além disso, Nasser bloqueou o Estreito de Tiran, isolando o porto israelense de Eilath,
que liga o Mar Vermelho ao Golfo de Aqaba. Tal política foi vista como ameaçadora aos
interesses geopolíticos e uma ação militar anglo-francesa e israelense foi combinada
secretamente. Três dias após a nacionalização do Canal de Suez, Israel invadiu o Sinai
pegando o líder egípcio de surpresa. Ele ordenou a retirada de todas as suas tropas e em
quarenta e oito horas as forças militares israelenses ocuparam o canal, além de toda a
Península Desértica.
A partir dessa situação, Estados Unidos e União Soviética também se surpreenderam
com a invasão repentina dos três países e sentiram seus interesses ameaçados na zona
conflituosa. As duas superpotências fizeram pressão internacional, com direito a sanções
econômicas contra Grã-Bretanha, França e Israel. Diante da hostilidade mundial, os países
retiraram suas tropas do canal. Hourani (1991, p.482) acredita que foi nesse ponto-chave que
a estrutura de poder mundial se revelou, já que “a hostilidade de forças locais atraiu potências
17
mundiais de segundo escalão em defesa de interesses próprios, só para darem de cara com os
limites de sua força quando desafiaram os interesses das superpotências”.
O grande vencedor da ação beligerante foi Nasser, que sobressaiu como herói, o
político desafiador das grandes potências mundiais e considerado como a principal liderança
terceiro-mundista, mesmo não tendo vencido militarmente. As dúvidas que alguns países
árabes tinham em relação ao Egito ficaram mais claras depois do episódio. A figura do
presidente egípcio era a esperança daqueles que ainda não haviam conseguido a
independência, principalmente os palestinos. E foi novamente a questão Palestina que fez com
que Nasser emergisse como o fio condutor para a criação do Estado palestino e ao mesmo
tempo sepultasse a ideia de unidade e nacionalismo árabes com derrotas humilhantes e mais
guerras contra Israel.
1.5 A desunião árabe
Sentindo-se fortalecido e com sentimento de vingança, Nasser uniu-se à Síria,
formando a chamada República Árabe Unida. Tempos depois, a Jordânia também integrou a
coligação cujo único objetivo era proteger os árabes de Israel. Enquanto os Estados Unidos
armavam as forças israelenses, a União Soviética modernizava as tropas militares dos três
países árabes. Esses eram os ingredientes de mais uma nova guerra que estava por vir.Em
1967, o líder egípcio ordenou a retirada de tropas de paz da ONU, que desde a Crise do Canal
de Suez estavam no Estreito de Tiran. Com o caminho livre para ação, Nasser bloqueou o
local novamente e isolou os portos de Israel. A resposta dos judeus foi firme: um ataque aéreo
repentino, que destruiu as Forças Aéreas egípcia, síria e jordaniana. O conflito ficou
conhecido como a Guerra dos Seis Dias.
Em apenas três dias de batalhas, Israel demonstrou força, ocupando toda a região do
Sinai. No sexto dia, prestes a ocupar Damasco, a capital da Síria, o país já havia triplicado o
seu território, anexando terras do Sinai, Cisjordânia e Golan. O conflito terminou com saldo
humilhante para as nações árabes. Magnoli (1997) ressalta a briga do poder regional no
Oriente Médio, com Egito e Israel desempenhando o papel de protagonistas:
A Guerra dos Seis Dias foi produto da colisão de duas estratégias geopolíticas
opostas. O Egito procurava vingar-se da derrota militar de 1956 e acreditava que a
unidade árabe, forjada durante uma década, associada à colaboração militar da
18
União Soviética, garantiria a vitória numa nova guerra. Israel, inteiramente
enquadrado na estratégia ocidental para o Oriente Médio e armado pelos Estados
Unidos, procurava a oportunidade para o alargamento de suas fronteiras e a
consolidação de sua posição de maior potência regional. (MAGNOLI, 1997, p. 201).
Já Hourani (1991) destaca a conquista pelos judeus de Jerusalém, local onde as três
maiores religiões do mundo se convergem em lugares santos. Afirma também que, a partir do
conflito, ficou mais claro quem era a potência mais forte na região, não importando a
quantidade de combinações árabes.
O golpe fatal para o pan-arabismo foi a morte de AbdAl-Nasser em 1970. O seu vice,
Anuar Sadat, assumiu o poder. No começo, o novo líder do Egito demonstrou simpatia com a
causa árabe. Ele construiu novamente uma coligação com a Síria, mas não com a Jordânia. Os
dois países atacaram Israel de surpresa em 1973. Era o dia seis de outubro, feriado religioso
em que os judeus comemoravam o YomKippur (Dia do Perdão). A Guerra do YomKippur foi
lucrativa para os árabes no início, já que eles até conseguiram invadir territórios israelenses.
Mas a contraofensiva foi arrasadora. Damasco foi bombardeada e as tropas sírias, obrigadas a
recuar. Quando as forças egípcias e sírias seriam massacradas por Israel, os presidentes dos
Estados Unidos e União Soviética à época, Richard Nixon e Leonid Brejnev, impuseram
cessar-fogo.
A partir desse episódio, o sentimento de palestinos era de desorientação. Essa sensação
aumentou ainda mais quando Sadat afastou-se de Moscou e aproximou-se de Washington.
Com a ajuda norte-americana, Egito e Israel assinaram um acordo em separado, que ficou
conhecido como Acordo deCamp David, no qual o Sinai foi devolvido integralmente aos
egípcios. O tratado dividiu os países árabes. O Egito foi acusado de traição e manifestações de
ruas tomaram a região. A essa altura o nacionalismo palestino materializou-se na
consolidação da Organização de Libertação da Palestina (OLP), reconhecida pela ONU como
a representante legítima do povo palestino, e teve como principal líder Yasser Arafat.
19
1.6 O golpe militar de Hafez Al-Assad na Síria
Na Síria, o sentimento nacionalista era refletido pelo Partido Baath, que chegou ao
poder em 1963. Smith (2006) explica as divisões do grupo político que culminaram na
ascensão do general Hafez Al-Assad ao poder do país:
O próprio partido estava tomado por diferentes interpretações de unidade. Num
padrão que também caracterizava a política do Egito e do Iraque, ocorria disputa
entre os que ressaltavam a unidade pan-árabe acima das demais lealdades e os que
enfatizavam as necessidades e os interesses da Síria. Além das contendas sobre essa
questão, diferenças a respeito do desenvolvimento econômico-social levaram o
partido a dividir-se em facções com programas menos ou mais socialistas (SMITH,
2006, p.68).
Assad ocupou postos-chave no Exército Sírio desde o fim da Segunda Guerra Mundial
e durante as guerras árabe-israelenses. Em 1971, aproveitando a fragmentação do Baath, deu
um golpe militar no país sem derramamento de sangue. Logo após subir ao poder, o
presidente sírio instaurou um plebiscito e foi confirmado no cargo. Apesar da família Assad
seralauíta, um grupo religioso minoritário composto por apenas 12% da população síria, o
regime teve uma duradoura liderança que permanece até aos dias atuais.
De acordo com Magnoli (1997), a Síria de Assad retomou um velho projeto
geopolítico, o da “Grande Síria” histórica, no qual considerava o seu poder regional de
expansão, principalmente contra o Líbano, visto como um Estado artificial, criado pelo
colonialismo francês.
O Líbano era formado por grupos de diferentes orientações religiosas (cristãos
maronitas, ortodoxos gregos, armênios, católicos, protestantes, mulçumanos sunitas, xiitas e
drusos). E foi justamente a briga pelo poder libanês entre esses grupos, que em 1975 eclodiu
uma guerra civil no país. A Síria aproveitou o momento de instabilidade política para invadir
áreas do norte e do centro, enquanto forças israelenses ocuparam o sul, visando destruir bases
da guerrilha palestina instaladas na região, além de contrabalancear a influência síria
(MAGNOLI, 1997).
20
1.7 O surgimento do fundamentalismo islâmico
As sucessivas perdas humilhantes perante o Ocidente e regionalmente para Israel fez
surgir movimentos mais radicais no Oriente Médio. O fundamentalismo islâmico teve início
do vácuo de poder entre as nações e resgatou a figura do comando de um político e ao mesmo
tempo religioso, preceitos considerados fundamentais do Islã. A primeira grande revolução
fundamentalista não veio de um país árabe, mas estava integralmente ligada ao seu povo.
Em 1979, o Iraque de Saddam Hussein emergiu como ponto central na luta pelo
expansionismo da área, fustigando as pretensões sírias na região. O líder iraquiano fazia parte
de outra facção do partido Baath e, concomitantemente, tornou-se oposicionista em relação ao
outro grupo político governando na Síria de Assad.
Entretanto, as pretensões de Saddam para a região ficaram ameaçadas a partir de 1980,
quando o Irã sofreu uma revolução fundamentalista islâmica xiita. O então governante pró-
ocidental do país persa, xá Reza Pahlevi, foi deposto do cargo pelo aiatolá Ruhollah
Khomeini. E foi justamente o xiismo e a proximidade fronteiriça entre Irã e Iraque que
fizeram surgir a guerra entre os dois países.
Khomeini enxergou no Iraque uma boa oportunidade de expandir seu poder e instalar
a revolução islâmica, já que o país também é de maioria xiita. Os conflitos ganharam
dimensões internacionais. A União Soviética apoiou inteiramente o Iraque e os Estados
Unidos também, apesar, segundo Magnoli (1997), de armar os iranianos de forma encoberta.
Do outro lado, a Síria, preocupada com sua hegemonia na região do Golfo Pérsico, foi a maior
aliada do Irã, tentando, assim, frear o expansionismo iraquiano.
O combate terminou em 1988 com o esgotamento militar e econômico dos dois lados.
Não houve vencedores e nenhum território foi anexado durante os oito anos beligerantes. Era
apenas o início da tentativa do Iraque de provar o seu poderio na região. Magnoli explica os
motivos que levaram ao ressurgimento do fundamentalismo islâmico na região.
O renascimento fundamentalista não é um fenômeno inerente à religião islâmica ou
à cultura muçulmana. A dinâmica do fundamentalismo islâmico contemporâneo está
conectada ao fracasso do pan-arabismo, aos ressentimentos criados pela política
mundial de Washington e ao conflito nacional entre Israel e os palestinos. A
presença militar dos Estados Unidos no Oriente Médio não pode suprimir o
islamismo político. Ao contrário: tende a conferir audiência ainda maior, nas
21
sociedades árabes e muçulmanas, aos novos “guerreiros da fé” (MAGNOLI, 2008,
p. 276).
Hourani (1991) destaca que o fim da guerra abriu perspectivas de uma mudança nas
relações entre os estados árabes. De um lado, as relações entre o Egito e a Jordânia haviam
sido fortalecidas pela ajuda que lhes tinham dado. Do outro, as com a Síria estavam ruins e
essa ruptura proporcionou a intervenção mais ativa do Iraque perante os emaranhados
assuntos do Líbano.
O autor avalia também que o problema da Palestina passou para uma nova fase a partir
de 1988. Os palestinos criaram um movimento de resistência às vezes pacífico, às vezes
violento, conhecido como intifada, no qual revelou um povo unido cada vez mais na defesa de
sua causa e evidenciou a necessidade de um acordo político entre Israel e Palestina.
1.8 A Guerra do Golfo e o Acordo de Oslo
Mal recuperado da guerra contra o Irã, Saddam Hussein apostou grande e, em 1990,
testou a paciência das grandes potências ao invadir o Kuwait, um pequeno emirado petrolífero
entre o Iraque e a Arábia Saudita. Não satisfeito, o líder iraquiano ameaçou prosseguir e
ocupar o território saudita, principal aliado dos Estados Unidos na região. Magnoli (1997,
p.204) avalia que “o ditador de Bagdá pretendia enfraquecer os países árabes pró-ocidentais
(Arábia Saudita e Egito) e assumir a bandeira do pan-arabismo”.
Os Estados Unidos formaram uma coalizão com países europeus (Grã-Bretanha,
França e Itália), apoiada pelo Egito, Arábia Saudita e Síria. A já combalida União Soviética
também deu seu apoio à coalizão. O Irã, aproveitando-se da situação de neutralidade no
assunto, assinou um acordo de paz definitivo com o Iraque.
Em 1991, após a ONU aprovar uma escalada de ações políticas e militares, o Iraque
foi arrasado por ataques aéreos e terrestres no episódio em que ficou conhecido como Guerra
do Golfo. O Kuwait foi desocupado pelas forças iraquianas e o saldo humilhante fez surgir
consequências que mudaram todo o tabuleiro geopolítico da região. Nas palavras de Magnoli:
O Egito firmou-se como liderança árabe pró-ocidental, solidificando sua aliança
estratégica com os Estados Unidos e ganhando o perdão da sua dívida externa. A
Arábia Saudita viu sua posição de liderança petroleira do Golfo ser confirmada. A
Síria conquistou a liderança árabe anti-israelense [...] O desenlace da Guerra do
22
Golfo esteve diretamente ligado ao encerramento da guerra civil no Líbano. Os
acordos firmados entre os Estados Unidos e a Síria garantiram a Hafez Al- Assad o
controle geopolítico do Líbano. Em 1991, sem a tradicional sustentação militar
francesa e americana, os cristãos libaneses radicais depuseram as armas. Um
governo cristão ligado à Síria foi estabelecido no Líbano. Esgotadas pelos anos de
guerra, a maioria das facções muçulmanas acatou a autoridade do novo governo,
abandonando as ações militares. Começava a nascer a “Guerra Síria”. (MAGNOLI,
1997, p. 204).
Com o fim da União Soviética e a consolidação do poder hegemônico dos Estados
Unidos no Oriente Médio, os norte-americanos propuseram, como forma de agradecimento
pelo apoio árabe durante a guerra, uma conferência internacional de paz entre Israel e os
palestinos. Negociações públicas entre a OLP e o poder israelense foram divulgadas, mas
secretamente, em Oslo, na Noruega, um acordo de paz havia sido assinado entre Yasser
Arafat e Yithzhak Rabin, em 1993.
O Acordo de Oslo foi dividido por etapas e previa resolver assuntos tais como: a
questão dos refugiados palestinos, o destino dos assentamentos israelenses, a soberania de
Jerusalém Oriental e traçar um acordo de paz definitivo entre os dois atores nacionais. Mas a
negociação entrou em colapso após violentas represálias tanto dos expansionistas de Israel
quanto dos fundamentalistas islâmicos palestinos. Os governos foram incapazes de conter
ataques terroristas e suicidas dos dois lados. Em 2000, o acordo faliu e provocou uma segunda
intifada, muito mais violenta do que a primeira, na qual os atentados suicidas se
intensificaram. As desilusões trazidas pelo fracasso das negociações fizeram surgir
ressentimentos em todo o mundo árabe e muçulmano (MAGNOLI,2008).
1.9 A ascensão de Bashar Al-Asad na Síria
O fim da década de noventa e começo dos anos dois mil foi marcada pela morte de
três grandes veteranos da política árabe: o rei Hussein, da Jordânia, o rei Hasan, do Marrocos,
e o presidente Hafez Al-Asad, da Síria, em junho de 2000, acometido por um ataque cardíaco.
De acordo com Hourani (1991), Rifaatal-Asad, irmão mais novo de Hafez, vivia no
exílio depois de tentar derrubar o irmão durante uma doença anterior. Ele era o mais cotado a
assumir o poder na Síria, mas uma Assembleia Popular foi rapidamente convocada e votou,
23
por unanimidade, o rebaixamento da idade mínima do presidente de 40 para 34 anos, a exata
idade de Bashar Al-Asad, filho de Hafez.
O modo de governar de Hafez Al-Asad era com mãos de ferro. Ao longo de sua
estadia no poder, entregou cargos públicos e ministérios a membros dos povos alauítas, fato
este que gerou muita resistência da maioria sunita na Síria. Além disso, o presidente tornou
ilegal a criação de partidos de oposição. Diversas tentativas de tirá-lo do governo foram feitas,
mas o governante sempre reagiu de maneira violenta, extinguindo a democracia e liberdade de
expressão no país e passando a usar a força militar.
O auge desse embate ocorreu no dia 2 de fevereiro de 1982, no episódio que ficou
conhecido como o Massacre de Hama. Naquele dia, o Exército Sírio bombardeou a
cidade de Hama, que apresentava a maior resistência a Al-Asad. Até hoje, não se
sabe quantos homens, mulheres e crianças morreram nos ataques. A Anistia
Internacional, no entanto, estimou o número de vítimas fatais em torno de 20 mil
pessoas (CAVALCANTI, 2012, p. 69).
Após sua morte, a esperança da população era de que Bashar Al-Asad seguiria em
uma linha mais libertária de governar. No começo, o novo presidente demonstrou mudanças,
o que gerou esperanças em uma população combalida de tantas restrições. Ele estudara
oftalmologia em Londres, capital da Inglaterra, e logo quando assumiu o poder mostrou
querer governar por meio da democracia. No primeiro ano de mandato, Bashar, que não tinha
nenhuma experiência política e militar, libertou aproximadamente 600 presos políticos,
realizou pronunciamentos na direção da democracia, liberdade de imprensa e respeito aos
Direitos Humanos. Segundo Cavalcanti (2012, p. 69), essa “era uma forma de agradar aos
Estados Unidos e à maioria dos países da Europa, contrários ao regime imposto por seu pai”.
A lua-de-mel com o novo presidente terminou rápido. A repressão à oposição
continuou e os alauítas se mantiveram ascendendo econômica e socialmente na Síria.
Protestos foram reprimidos com mais violência ao longo dos anos, principalmente em 2007,
quando Bashar foi reeleito com 97% de aprovação, após um referendo em que ele concorreu
sozinho. Era apenas o começo do que viria a se tornar um dos conflitos mais sangrentos da
contemporaneidade.
24
1.10 A Al-Qaeda e os atentados terroristas de 2001
O século XXI começou repleto de conflitos e complexidades no tabuleiro geopolítico
do Oriente Médio. A região se redesenhou em poucos anos, em consequência do jogo de
interesses e o surgimento de uma nova ameaça: o terrorismo. O seu início remete ao século
XVIII, na Arábia Saudita. À época, a dinastia Casa de Saudfirmou um pacto com a seita
islâmica Wahabita, formada por fanáticos defensores do Islã puritano e inflexível, baseado
nas leis da Sharia, o livro de regras a serem seguidas pelos muçulmanos. Os wahabitas
ajudaram a dinastia monárquica de Saud a se consolidar na Arábia central após várias guerras
envolvendo clãs distintos.
Ao passar dos anos, houve um acordo entre os dois atores. Enquanto a Casa de Saud
governava, os wahabitas mantinham prerrogativas no âmbito religioso, sem a interferência do
Estado. Esse pacto começou a ruir quando a Arábia Saudita abriu espaço para militantes da
Irmandade Muçulmana, outra organização radical, que era perseguida em diversos países
árabes, como o Egito. O fato gerou um efeito reverso. Com a relação estremecida, os
wahabitas passaram a atuar também no campo político e, assim, formaram uma oposição
fundamentalista contra os sauditas e os norte-americanos, estes agora os principais aliados da
monarquia de Saud na região após a Segunda Guerra Mundial e parceiros na regulação do
mercado mundial de petróleo. Magnoli (2008) explica como essa ruptura fundamentalista
entre o governo saudita e a seita Wahabita proporcionou o surgimento do grupo terrorista Al-
Qaeda, com Osama Bin Laden à sua frente.
A ruptura entre a facção radical do wahabismo e a Casa de Saud derivou do apoio da
Arábia Saudita aos Estados Unidos na primeira Guerra do Golfo, em 1991, e da
instalação de bases americanas permanentes em território saudita. O impacto dessas
decisões repercutiu negativamente por todo o mundo islâmico e, especialmente, nos
países árabes. O saudita e wahabita Osama Bin Laden, em particular, acusou a Casa
de Saud de sujeitar-se à política mundial dos “infiéis”, declarou a jihad contra os
Estados Unidos e instalou-se no Afeganistão. A Al-Qaeda passou a receber
financiamento de famílias milionárias ligadas à seita religiosa saudita.
Paralelamente, avolumaram-se as manifestações subterrâneas, entre os wahabitas, de
oposição à dinastia saudita (MAGNOLI, 2008, p.275).
Em 11 de setembro de 2001, a Al-Qaeda perpetrou o maior atentado terrorista do
mundo ao atacar as torres gêmeas do World Trade Center e o Pentágono, nos Estados Unidos.
O fato gerou quase três mil mortes, o maior número de baixas em solo americano desde a
Segunda Guerra Mundial. Dos dezenove terroristas que participaram da ação, quinze eram
25
sauditas. Osama Bin Laden e o grupo Al-Qaeda assumiram a autoria da carnificina. O então
presidente dos Estados Unidos na época George W. Bush declarou guerra ao terror e a quem o
abrigasse.
A partir desse momento, o presidente norte-americano deu início à sua caçada contra
os terroristas a fim de prender Bin Laden. Ele ordenou a invasão do Afeganistão, país usado
como base pela Al-Qaeda e, em 2003, colocou em prática um desejo antigo dos
estadunidenses: derrubar o governo do não-confiável Saddam Hussein, no Iraque, sob o
argumento de eliminar governos radicais que sustentavam grupos terroristas e mantinham
armas de destruição em massa (SILVA, 2011, p. 86).
Muito se discute dos verdadeiros motivos que levaram Bush a invadir o Iraque. Na
opinião de Magnoli (2008, p. 275), logo após os atentados terroristas contra os Estados
Unidos, o presidente norte-americano exigiu que a Arábia Saudita desmantelasse a rede que
conectava os wahabitas a Bin Laden. A monarquia saudita foi incapaz de realizar o que havia
sido pedido e o fato levou Washington a desencadear a operação de derrubada do regime de
Saddam, “cuja, finalidade consistia, antes de tudo, em evitar a desestabilização da hegemonia
americana na região do golfo Pérsico”. O autor completa apresentando as consequências que a
invasão norte-americana ao Iraque trouxe ao longo dos anos.
A ocupação do Iraque complicou ainda mais o panorama estratégico do Oriente
Médio. A eliminação do regimenacionalista de Saddam Hussein detonou um
conflito civil entre a minoria sunita e a maioria xiita do país, que pode até mesmo
degenerar na implosão territorial do Iraque. Cresceu a influência iraniana sobre os
xiitas iraquianos e, de modo geral, o poder geopolítico do Irã em toda a região
(MAGNOLI, 2008, p. 275).
O cenário de instabilidades, conflitos e a tomada de decisões de política hegemônica
levaram mais caos à tão conturbada região do Oriente Médio. A invasão do Iraque é
considerada por muitos analistas um dos maiores erros estratégicos já cometidos. Tal fato
gerou ainda mais desestabilidade e fez surgir uma dissidência da Al-Qaeda no Iraque: o grupo
terrorista Estado Islâmico.
26
1.11 O surgimento do Estado Islâmico
O Estado Islâmico, também conhecido pela sigla EI, ficou notoriamente conhecido no
começo do século XXI, após a invasão dos norte-americanos no Afeganistão e Iraque. O
grupo terrorista continua a preocupar países do Oriente Médio e do Ocidente nos dias atuais,
por isso, tais governos formaram uma coalizão armada para tentar acabar com a ameaça dos
radicais. O EI é hoje a maior ameaça terrorista já existente e se difere da Al-Qaeda em vários
pontos, conforme elenca Cláudio Júnior Damin:
Hoje, o EI governa cidades, possui fontes geradoras de recursos financeiros
próprios, uma burocracia e forças irregulares numerosas, parte delas formada por
estrangeiros, além de contar com uma estratégia de divulgação universal de seus
atos, tais como a decapitação de jornalistas e reféns estrangeiros, além de punições
bárbaras àqueles que transgridam a lei islâmica (DAMIN, 2015, p.27).
O precursor do Estado Islâmico foi o jordaniano Abu Musab al-Zarqawi. Ele ficou
preso em seu país de origem durante cinco anos e mudou-se para o Afeganistão em 1999, ano
em que saiu da cadeia. No país afegão, Zarqawi contatou as principais lideranças da Al-Qaeda
e recebeu do grupo terrorista um campo de treinamento de jihadistas. O jornalista Michael
Weiss e o analista em Oriente Médio Hassan Hassan (2015, p.24) descrevem que a prisão foi
a universidade de Zarqawi. Lá, ele tornou-se “mais focado, brutal e decisivo”. O radical
islâmico conseguiu ganhar influência até mesmo entre os guardas do complexo prisional,
atraiu seguidores e assumiu o título de emir. O terrorista cumpriu apenas uma fração de sua
pena, devido a uma sucessão dinástica no governo jordaniano, quando o rei Hussein morreu e
foi sucedido pelo filho Abdullah II, que promoveu uma anistia geral para aproximadamente
três mil prisioneiros.
No Afeganistão, Zarqawi criou o seu próprio grupo terrorista com o consentimento da
Al-Qaeda, que ficou conhecido como JamaJama’atal-Tawhidwa al-Jihad (JTWJ). Os
integrantes conseguiram infiltra-ser no Iraque após a invasão norte-americana e foram
responsáveis pela insurgência local contra os soldados estadunidenses. Os radicais
perpetraram ataques com carros-bomba contra embaixadas, instalações da ONU e em
mesquitas xiitas. O JTWJ era sunita e o seu líder pregava a morte dos xiitas. Nesse ponto,
Zarqawi conseguiu trazer mais instabilidades à região, pois era um sunita lutando em um país
de maioria xiita, mas governada até então por Saddam Hussein, este também sunita. Com a
27
queda de Saddam, os sunitas perderam força no país iraquiano e Zarqawi aproveitou a invasão
norte-americana para fazer surgir um conflito religioso na região.
Segundo Damin (2015 apud LISTER, 2014) a estratégia política do terrorista era
“aproveitar o caos resultante da invasão e lançar-se como defensor da comunidade sunita para
dar início ao estabelecimento de um estado islâmico”. Em 2004,Zarqawi ganhou prestígio e se
aliou à rede de Osama Bin-Laden, passando a sua organização a ser chamada de Al-Qaeda no
Iraque (AQI). O objetivo dos dois líderes era instaurar um califado universal para os
muçulmanos, de acordo com as leis da sharia, conjunto de leis islâmicas baseadas no Alcorão.
Em 7 de junho de 2006 chegava ao fim a vida de Abu Musab al-Zarqawi, morto após
um ataque aéreo norte-americano. A AQI elegeu Abu Ayyubal-Masri como sucessor, mas em
novembro do mesmo ano, o grupo terrorista anunciou o estabelecimento de um Estado
Islâmico no Iraque, ISI na sigla em inglês. O líder dessa nova faceta radical seria Abu Omar
al-Baghdadi. A partir dessa liderança, a rede começou a ganhar contornos de como é
conhecida atualmente, pois nessa época transformou-se de um grupo rebelde em ator político-
militar responsável por governar territórios (DAMIN, 2015, p.28).
Ao longo de 2007, o Iraque entrou em guerra civil sectária, na qual forças anglo-
americanas perderam o controle da situação, já que estavam em meio a um conflito religioso
milenar, com sangrias tanto do lado xiita quanto sunita. Os norte-americanos mudaram a
estratégia de guerra com o foco a partir de então de proteger a população iraquiana contra os
insurgentes. A essa altura, o ISI já ocupava territórios iraquianos, mas tal poder não durou
muito, pois o modo radical de governo do grupo terrorista gerou o chamado Despertar Sunita,
revolta dos próprios sunitas contra os jihadistas e concomitantemente a união com as forças
dos Estados Unidos a fim de lutar contra o inimigo comum. Dessa forma, o ISI perdeu força e
a violência entre xiitas e sunitas diminuiu consideravelmente na região.
Em abril de 2010, al-Masri, antigo líder da AQI, e Baghdadi, líder do ISI, morreram
em um ataque conjunto entre forças norte-americanas e iraquianas. Abu Bakral-Baghdadi
assumiu o controle, sendo hoje considerado o grande califa. A partir dessa época, o Iraque
presenciou certa estabilidade política com o governo xiita do presidente NouriKamelal-
Maliki. Em 2011, as tropas dos EUA se retiraram do país. Não demorou muito para a
instabilidade na região surgir novamente. Maliki guinou para o autoritarismo, excluindo
sunitas e curdos do governo, perseguindo opositores e reagindo com violência a protestos no
país. Diante desse cenário, a violência sectária aumentou, o governo perdeu legitimidade e o
ISI ganhou força novamente.
28
O vácuo de poder no Oriente Médio era muito grande, já que em 2011 eclodiu em
vários países da região a Primavera Árabe, movimento estudantil que levou a uma série de
protestos contra os governos ditatoriais. O ISI aproveitou a situação e expandiu sua atuação à
Síria, lutando contra o regime de Bashar al-Asad, que além disso, começava a enfrentar a
mais longa e sangrenta guerra civil no país. O grupo terrorista foi rebatizado para Estado
Islâmico do Iraque e da Síria, ISIS na sigla em inglês, e mais tarde para Estado Islâmico do
Iraque e do Levante, com a sigla ISIL em inglês. Também em 2011, o grupo rompeu
definitivamente com a Al-Qaeda de Osama Bin-Laden. Este foi morto no mesmo ano após
uma operação militar norte-americana em Abbottabad, no Paquistão. Sobre a nova incursão
do ISIL na Síria, Damin explica como a rede de Baghdadi ganhou força econômica:
Sob a liderança de Baghdadi o ISIL começou a ganhar terreno tanto na Síria quanto
no Iraque, transformando-se no principal grupo insurgente do Oriente Médio da
atualidade. O califado estabeleceu como sua capital a cidade de Raqqa, na Síria, sob
domínio dos extremistas desde julho de 2014, local onde supostamente encontra-se o
califa. Em junho do mesmo ano o ISIL tomou o controle de Mosul (mas não de sua
represa estratégica), uma cidade com população estimada em mais de 1,5 milhão de
habitantes. É interessante notar que, a partir do controle de cidades inteiras na Síria e
no Iraque, o ISIL adquiriu uma capacidade de financiar toda sua burocracia e corpo
militar. Em Mosul, por exemplo, o dinheiro do banco da cidade foi confiscado, além
de haver a exploração de poços e refinarias de petróleo que são vendidos no
mercado negro. O ISIL, onde governa, também cobra impostos e taxas dos
moradores, muitos deles baseados na lei islâmica (DAMIN, 2015, p. 31).
As pretensões do novo califa não pararam. Em 2014, Baghdadi autoproclamou-se
chefe supremo dos muçulmanos de todo o lugar e o Estado Islâmico do Iraque e da Síria, ou
do Levante, passaria a partir daquele momento a ser chamado unicamente de Estado Islâmico,
com a intenção de expandir o poder além das fronteiras do Oriente Médio. A partir disso, o EI
tornou-se uma ameaça real ao Ocidente. Os Estados Unidos lideraram uma força de coalizão
militar e desde então realizam ataques aéreos coordenados em pontos estratégicos da rede
terrorista.
O Estado Islâmico começou uma campanha de recrutamento de estrangeiros pelas
redes sociais e instaurou o terrorismo 2.0, termo definido pela jornalista Anna Erelle, em seu
livro “Na pele de uma jihadista”. Além disso, a expansão do grupo levou-o a praticar atos
terroristas em vários países ocidentais. O mais conhecido foi em Paris, capital francesa, em
novembro de 2015, onde terroristas do EI mataram 129 pessoas em oito ataques coordenados
em diversos pontos da cidade.
29
1.12 A Guerra Civil na Síria e os refugiados
Em 2011, o mundo árabe viveu momentos de florescimento da democracia. Milhares
de pessoas saíram às ruas contra os governos ditatoriais de muitos países, como a Tunísia, o
Egito e a Líbia. As manifestações ficaram conhecidas como Primavera Árabe. Mas, na Síria,
esse período apenas marcou o início do conflito mais violento da história do país.
Centenas de estudantes participaram de protestos pacíficos contra o regime de Bashar
al-Asad. O governante reagiu com violência e enviou tropas do exército às cidades nas quais a
oposição era mais fervorosa. Segundo Cavalcanti (2012, p. 70), em apenas dois dias, estima-
se que mais de 500 pessoas foram mortas pelo regime.
Nesse contexto de truculência, a oposição ao ditador, formada por soldados e oficiais
desertores do Exército Sírio, além de civis, se uniram e criaram o Exército Livre da Síria, a
maior força armada contrária ao regime. A guerra civil já dura seis anos e de acordo com a
ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos, mais de 300 mil pessoas morreram nos
intensos combates. A não interferência direta das grandes potências pode ser explicada pelo
risco geopolítico na região. A Rússia é considerada aliada de Asad, inclusive como
fornecedora de materiais bélicos ao país. Já os Estados Unidos apóiam os rebeldes e são a
favor de um governo transitório.
Não obstante, o Estado Islâmicoganhou destaque em 2014, após romper as relações
com a Al-Qaeda, e levou ainda mais sofrimento ao território sírio, já tão devastado pela guerra
civil. O líder Abu Bakral-Baghdadi foi ungido como o Califa Ibraim e aboliu todas as formas
de cidadania.
Da maneira que ele via a questão, as nações do Crescente Fértil – e efetivamente o
mundo -, não existiam mais. Apenas o Estado Islâmico existia. Além disso, a
humanidade podia ser dividida precisamente em dois “campos”. O primeiro era “o
campo dos muçulmanos e dos mujahidin [guerreiros sagrados] por toda a parte”; o
segundo era “o campo dos judeus, dos Cruzados e seus aliados” (WEISS; HASSAN,
2015, p. 17).
Com o avanço territorial do EI e depois de várias ameaças e atentados terroristas ao
redor do mundo, as grandes potências se uniram para combater o avanço dos radicais. Até
mesmo Síria, Estados Unidos e Rússia sentaram à mesa de negociações para realizar
bombardeios em regiões de grande concentração da rede de terroristas e tentarem, assim, frear
a expansão do grupo.
30
Em 2017, o conflito ganhou novo capítulo após a vitória presidencial de Donald
Trump, nos Estados Unidos. O seu antecessor, Barack Obama, sempre recebeu muitas críticas
pela inércia em relação ao conflito, mesmo tendo conhecimento a respeito de graves violações
aos direitos humanos. Logo nos primeiros meses de mandato, Trump reverteu totalmente essa
política depois de um suposto ataque com armas químicas realizado pelo regime de Asad na
cidade de Khan Sheikhoun, matando aproximadamente 100 pessoas, incluindo crianças. Em
resposta ao ato, o presidente norte-americano autorizou o primeiro ataque direto contra o
regime do ditador sírio, lançando cerca de 60 mísseis contra a base militar em que
investigações apontaram tratar-se do local de origem do ataque químico.
O resultado de terrorismo aliado a um grande conflito interno gerou uma onda de
refugiados sírios ao redor do mundo. De acordo com o Acnur, o Alto Comissariado da ONU
para Refugiados, até abril de 2017, 5.031,576 nativos deixaram a Síria e pediram refúgio em
países como o Egito, Iraque, Jordânia, Líbano e Turquia. Além disso, entre abril de 2011 e
outubro de 2016, 884.461 pediram asilo em países da Europa.
Os sírios aparecem no topo da lista de refugiados que entram no Brasil. Um balanço
divulgado pelo Acnur mostra que 2.298 nacionais da Síria entraram em terras brasileiras até
abril de 2016.
Com o aumento do fluxo no Brasil, o governo decidiu tomar medidas que
facilitassem a entrada desses imigrantes no território e sua inserção na sociedade
brasileira. Em setembro de 2013, o CONARE, Comitê Nacional para Refugiados,
publicou a Resolução nº. 17 que autorizou as missões diplomáticas brasileiras a
emitir visto especial a pessoas afetadas pelo conflito na Síria, diante do quadro de
graves violações de direitos humanos. Em 21 de setembro de 2015, a Resolução teve
sua duração prorrogada por mais dois anos. Os critérios de concessão do visto
humanitário atendem à lógica de proteção por razões humanitárias, ao levar em
consideração as dificuldades específicas vividas em zonas de conflito, mantendo-se
os procedimentos de análise de situações vedadas para concessão de refúgio
(ACNUR, 2016).
Essas pessoas que agora estão no Brasil tentam reconstruir suas vidas longe dos
conflitos, das bombas, dos tiroteios e massacres. Muitas mudaram para São Paulo. Outras
preferiram o sossego e a tranquilidade do interior do estado. Cidades como Araçatuba e
Penápolis, no noroeste paulista, têm recebido algumas famílias sírias desde o início da guerra
civil. Com a ajuda de amigos, elas conseguiram moradias, trabalho e atualmente fazem parte
da história desses municípios.
31
1.13 Diferença entre Migrante e Refugiado
É fundamental a diferenciação entre “migrante” e “refugiado” para que se possa
entender o papel do Brasil nestes dois contextos. Também se faz importante distinguir a
primeira onda de migrantes que vieram para o país no século XIX e o atual fluxo de
refugiados vindos em razão da guerra civil na Síria.
Não existe uma definição legal uniforme para o termo “migrante” em nível
internacional (ACNUR, 2016). Migração é compreendida como um processo de partida
voluntária, como alguém que cruza uma fronteira a procura de melhores condições
econômicas de vida. Eles também podem voltar pra casa quando quiserem e gozam da
proteção do Estado fora de seu país, conforme explicação da Organização Internacional para
as Migrações (OIM):
Migrante: em nível internacional não há uma definição universalmente aceita do
termo “migrante”. Esse termo, geralmente, abrange todos os casos em que a decisão
de migrar é tomada livremente pela pessoa em decorrência (concernida) de “razões
de conveniência pessoal” e sem a intervenção de fatores externos que a obriguem.
Desta forma, esse termo se aplica às pessoas e a seus familiares que vão para outro
país ou região com vistas a melhorar suas condições sociais e materiais, suas
perspectivas e de seus familiares.
Como cita o Acnur (2016) vários fatores podem fazer com que uma pessoa resolva
migrar, como, melhores empregos, educação, saúde, vontade de ascender financeiramente. Os
migrantes são protegidos pela Lei Internacional dos Direitos Humanos.
Já no caso dos refugiados, o Acnur os define como pessoas que são especificamente
protegidas no Direito Internacional. Sãoaqueles que estão fora do seu país de origem por
temores fundamentados de perseguição, violência, conflito ou outras circunstâncias que
perturbam seriamente a ordem publica e que, como resultado, necessitam, de proteção
internacional, conforme a definição da Convenção de 1951:
Para os fins da presente Convenção, o termo "refugiado" se aplicará a qualquer
pessoa […] que, em consequência dos acontecimentos ocorridos antes de 1º de
janeiro de 1951 e temendo ser perseguida por motivos de raça, religião,
nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua
nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da
proteção desse país, ou que, se não tem nacionalidade e se encontra fora do país no
qual tinha sua residência habitual em consequência de tais acontecimentos, não pode
ou, devido ao referido temor, não quer voltar a ele.
32
Como argumentamCalegari e Justino (2016), muito se modificou na forma de se
definir refugiados ao longo do tempo. Vários objetos legais foram usados para alterar essa
definição, como tratados e leis. Um deles foi a criação do Protocolo de 1967, que promoveu a
extensão do Direito de Asilo. Uma das definições consideradas mais amplas é a da Declaração
de Cartagena que considera refugiado a pessoa que teve “violação maciça dos direitos
humanos”.
1.14 Sírios no Brasil
A entrada de sírios e libaneses no Brasil data do final do século XIX, na década de
1870. Nesta primeira fase, eram dois os motivos pelos quais eles saíam de seus países de
origem: a ocupação de seu território original por outro povo conquistador e a fragmentação
financeira após a entrada da França e Inglaterra nos dois países depoisda Primeira Guerra
Mundial.
Como cita Cabreira (2001), a história do povo sírio no Brasil sempre esteve
intrinsecamente ligada aos libaneses. Isso aconteceu porque, após a Primeira Guerra Mundial,
o território hoje compreendido por Síria e Líbano foi dominado pelos turcos otomanos. Seus
passaportes eram emitidos pelo Império Turco, que dominou o Líbano e a Síria entre 1492 a
1919. Também vem daí o hábito de todo descendente de árabe ser chamado pejorativamente
de “turco”.
Ainda de acordo com Cabreira (2001), o Brasil era escolhido por ser considerado um
país relativamente neutro dentro do conflito e por não oferecer grandes barreiras à imigração.
Naquela época, os imigrantes se estabeleceram na região da Amazônia e, majoritariamente,
em São Paulo, tendo como ponto de partida a capital.
Os estudos encontrados tratam prioritariamente do estabelecimento da comunidade
síria na cidade de São Paulo. O trecho a seguir relata o começo desse processo:
Em São Paulo, fixaram-se inicialmente na área da Várzea do Carmo,
ocupandoprincipalmente a Rua 25 de Março e suas adjacências. Atéos anos 80, a rua
ainda era vista como a ‘rua dos turcos’, imagem que começou amodificar-se com a
chegada dos chineses e coreanos. Os terrenos mais baratos foramatraindo, pouco a
pouco, uma camada menos favorecida em busca de trabalho emoradia. Desse modo,
tanto as áreas de várzea quanto as áreas próximas das linhasférreas foram sendo
ocupadas por um grande número de imigrantes que vinhampara a cidade de São
Paulo e não seguiam para as fazendas de café (CABREIRA, 2001, p.95).
33
Cabreira (2001) acredita que, embora o café tenha atraído em massa a atenção da
maioria dos imigrantes, como japoneses e italianos que vieram para o Brasil atraídos pela
propaganda do governo feita no exterior, esse não foi o caso dos sírios. Segundo o historiador
Euclides Garcia Paes de Almeida (2008), o estado de São Paulo foi praticamente o único a
conseguir manter um esquema de imigração subvencionada pelo governo Central.
Como cita Almeida (2008), no começo, o sistema encontrado para organizar essa
imigração era a parceria. Nele, estavam envolvidos exclusivamente os imigrantes europeus.
Eles deveriam colher, secar e ensacar o café enquanto os donos da fazenda tratavam da
vendado produto. Os colonos, como passaram a ser chamados os imigrantes, começaram a
ficar descontentes, pois não viam vantagem no sistema.
Houve muitas deserções. Os imigrantes diziam que os patrões não davam nada em
contrapartida pelos trabalhos prestados e eles ainda eram vilipendiados. Eram comuns casos
de estupros, assassinatos e prisões. Com o tempo, muitos países europeus começaram a
proibir a vinda de seus moradores para o Brasil. Foi ai que passou a ser necessária a busca por
novas nacionalidades (ALMEIDA, 2008).
Os sírios que chegavam não iam para a lavoura, mas sim para o comércio. Eles
buscavam formas de aceitação entre a futura clientela. Por isso, a arquitetura de suas lojas
eramenos extravagante e não fazia tantas referências externas ao país de origem. Foi
exatamente o que aconteceu em São Paulo, como afirma Cabreira:
O primeiro passo para que um grupo seja aceito e inserido em um outro maior é
parecer-se ao máximo com ele. Desse modo, ele poderá mostrar, aos poucos, suas
diferenças. Pelo material analisado até o momento, esses imigrantes (como os de
outros grupos) optaram por essa forma de ‘aceitação’ – suas lojas não se
diferenciavam das demais lojas paulistanas; eram, sim, muito comuns.
(CABREIRA, 2001, p.96).
Mesmo fazendo o máximo para não afastar os brasileiros, os sírios e libaneses
encontravam muitas barreiras no idioma. Cabreira (2001) salienta que, no início, eram muitas
as questões discriminatórias em relação aos sírios. O fato de comerem carne crua em muitos
pratos típicos e a fala gutural muitas vezes se traduziam em forma de não aceitação.
Não obstante aos problemas de adaptação, os sírios continuaram no campo da
economia se destacando no comércio. Cabrera (2001)afirma que a atividade da “mascateação”
foi a responsável pela difusão deles pelo interior do país e do estado. Algo que ela diz se
assemelhar ao processo feito pelos bandeirantes muitos anos antes. O mascate era um
34
comerciante autônomo que ia se desfazendo das mercadorias conforme elas eram vendidas ao
longo do caminho. Eles também levavam notícias e recados de uma cidade à outra em um
tempo em que o acesso ao telefone praticamente não existia.
1.15 Sírios em Araçatuba e Penápolis
A atividade de mascateação fez com que os sírios que se concentravam na capital se
deslocassem pelo interior (CABRERA, 2001).
Segundo Almeida (2008), a história da colônia árabe em Araçatuba, em contraponto a
de outros grupos como japoneses e italianos, não teve coesão. A colônia se diluiu na cidade. O
primeiro representante da colônia árabe, Abrão Cury, chegou ao município em 1912 e
inaugurou uma casa comercial. O autor lembra que de 1950 a 1980 as melhores lojas de
tecidos na cidade eram árabes. Muitas famílias que hoje nomeiam ruas e avenidas se
estabeleceram no mesmo período, tais como: Cury, Rezek e Baracat.
Em 2008, último dado disponível, existiam em torno de 100 famílias descendentes das
famílias originais em Araçatuba. Almeida (2008) afirma que os costumes se mantêm os
mesmos basicamente até a terceira geração. Como semelhanças, o idioma é praticado em
casa, bem como os costumes culinários e o uso de ingredientes importados. No que se refere à
questão religiosa, o catolicismo romano foi adotado por boa parte deles.
Os sírios em Penápolis também acompanharam a primeira onda migratória e se
estabeleceram na cidade no início do século XX. A cidade recebeu imigrantes das regiões de
Machgara, Akrinxu, Rihna, Damasco, Hasbaia, MahjesHul, Biscous e Beirute. Na
cidadepenapolense, a colônia se concentrou principalmente no comércio, porém, alguns
expoentes de destacaram na agricultura. Também foi notório o trabalho dos sírios no
levantamento de fundos para a construção da Santa Casa de Misericórdia e da atual escola
estadual Dr. Carlos Sampaio Filho.
Um dos nomes mais respeitados no que se refere à imigração síria em Penápolis é o de
Salim David Humsi. Ele veio de Hornan, na Síria e em 1926 chegou ao Brasil e se estabeleceu
na cidade. Começou trabalhando como mascate, depois se tornou dono de bar. Em 1952, se
tornou proprietário da agência Ford, que tinha posto de gasolina, venda de peças e de veículos
e se tornou referência na região. Além disso, muitas terras no município pertenciam a ele.
35
Salim morreu em 15 de agosto de 2000 deixando uma descendência profícua na terra que o
acolheu.
O objetivo inicial deste trabalho era percorrer as cinco maiores cidades da região
administrativa de Araçatuba, em número de população, (Araçatuba, Penápolis, Birigui,
Guararapes e Andradina), a fim de mostrar as histórias dos refugiados sírios. Porém, em
contato com as respectivas prefeituras via e-mail, obteve-se a resposta de que nenhuma delas
realiza um controle sobre a existência dessas famílias. Não se tem o registro desta população
morando nesses municípios, que também não dispõem de programas sociais voltados aos
refugiados.
Contudo, após pesquisa documental em meios de comunicação regionais, localizou-se
famílias sírias vivendo em Araçatuba e Penápolis. Por esse motivo, essas duas cidades serão
usadas como norte do trabalho de apuração jornalística para o futuro site multimídia.
36
II – O MEIO DIGITAL E AS NOVAS NARRATIVAS ONLINE
2.1 Convergência midiática
É importante destacar a diferença entre meio de comunicação e a tecnologia que
permite a distribuição da comunicação. Conforme Jenkins (2006, p.46), a historiadora Lisa
Gitelman trabalha com um modelo de mídias de dois níveis: no primeiro, um meio é uma
tecnologia que permite a comunicação; no segundo, um meio é um conjunto de “protocolos”
associados ou práticas sociais e culturais que cresceram em torno dessa tecnologia. Ou seja,
meios de comunicação são sistemas culturais.
Para Lévy (1999, p. 65), a integração de todas as mídias rumo à interconexão e à
integração continua sendo algo para longo prazo. Já em relação ao termo “multimídia” o autor
conclui que, se existe o desejo de designar de modo claro a confluência de mídias separadas
sendo direcionadas para uma mesma rede digital com integração, o termo preferencial
segundo o mesmo é “unimídia”, adicionando também “multimodal” para, segundo ele, ofertar
o sentido de um “horizonte de multimídia multimodal” e, deste modo, nomear e constituir a
estruturação integrada, interativa e digitalizada da comunicação.
Levy (1999) afirma que o computador não é mais um centro, mas sim um terminal,
não sendo possível traçar seus contornos, fronteiras ou limites. As suas características se
espalharam por outros aparelhos, tais como notebooks,tabletse smartphones. A internet e seus
desdobramentos fizeram com que diversos segmentos do mundo tidos como “reais” se
adaptassem ao “virtual. ”
Como cita Levy (1999), o virtual existe, mas não necessariamente está presente. Esse
mundo virtual também é uma fonte indefinida de atualizações. A comunicação se apropria
desse mote no que se refere a um movimento de virtualização, iniciado com técnicas que hoje
são comuns, como a escrita, a gravação do som e imagem, rádio, a televisão e o telefone. Ou
seja, são meios que também foram apropriados pela mídia no momento oportuno.
Na obra A sociedade em rede, Castells (2003) afirma que essa revolução tecnológica
afeta fortemente a nossa sociedade e, consequentemente, a mídia. Schiavoni (2014, p. 01) diz
que “a internet é, sem dúvida, o mais revolucionário deles (meios tecnológicos). Sua
37
utilização nos permite, por exemplo, organizar, transformar e processar informações em
velocidade e capacidade cada vez maiores”. E não é de hoje que essa difusão chama atenção:
O índice de difusão da internet em 1999 era tão grande no mundo inteiro que estava
claro que o acesso generalizado seria a norma nos países avançados no século XXI.
Por exemplo, nos EUA, em 1997-8, a diferença racial no acesso à Internet cresceu,
mas o acesso à Internetaumentou 48% em um ano nos lares hispânicos, e 52% nos
lares de negros em comparação com 52,8% nos lares de brancos. De fato, entre
universitários, a diferença de raça e sexo no uso da internet estava desaparecendo em
fins do século. E em 200, 95% das escolas públicas dos EUA tinha acesso à Internet
(Castells, 2003, p.439).
Neste sentido, Jenkins (2009, p. 63) acredita que “a convergência envolve uma
transformação tanto na forma de produzir, quanto na forma de consumir os meios de
comunicação”. É uma mudança na forma como vemos a nossa relação com a mídia. A
convergência midiática acontece dentro do cérebro das pessoas, conforme afirma o autor.
O autor afirma que a convergência altera a lógica de produção da indústria midiática e
também a lógica pela qual os consumidores processam a notícia. Enquanto no passado uma
empresa se concentrava em apenas um segmento, exemplo, produção de filmes, hoje, uma
mesma empresa pode produzir filmes, séries para TV, streaming, brinquedos, parques de
diversão, livros, jornais, revistas e quadrinhos.
Ao mesmo tempo, o modo de consumo também mudou. Nesta celeuma Jenkins (2009,
p.50) afirma que um adolescente pode fazer um trabalho no computador com cinco abas
abertas: navegando na internet, ouvindo música, batendo papo com amigos, digitando o
trabalho e respondendo e-mails A convergência está ocorrendo dentro do mesmo aparelho, da
mesma empresa e, principalmente, no cérebro do consumidor.
Graças à proliferação de canais e à portabilidade das novas tecnologias de informática
e telecomunicações, as mídias estão em todos os lugares e, por isso, já se vive em uma cultura
da convergência.
A ideia antiga de convergência era de que todos os aparelhos iriam convergir em um
único dispositivo. No entanto, atualmente, o hardware diverge enquanto que o conteúdo
converge. O conteúdo de um vídeo, de uma agenda, de um jornal ou de um e-mail, por
exemplo, foi adaptado para ser localizado em qualquer lugar. Neste sentido:
Boa parte do discurso contemporâneo sobre convergência começa e termina com o que chamo
de Falácia da Caixa Preta. Mais cedo ou mais tarde, diz a falácia, todos os conteúdos de mídia
irão fluir por uma única caixa preta em nossa sala de estar (ou, no cenário dos celulares, em
caixas pretas que carregamos conosco por todos os lugares). [...] Parte do que faz o conceito
da caixa preta uma falácia é que ele reduz a transformação dos meios de comunicação a uma
transformação tecnológica, e deixa de lado os níveis culturais (JENKINS, 2009, p.42).
38
Jenkins (2009) diz ainda que os conglomerados de mídia estão adotando a cultura da
convergência por razões como a criação de múltiplas formas de se vender conteúdo e a
fidelização do consumidor em uma época em que fragmentação de mercado e a troca de
arquivos pode comprometer o futuro dos negócios.
2.2 Interatividade: a aproximação com o público
A tecnologia presente na plataforma digital implementou um impulso de novas
possibilidades para o público em relação ao conteúdo recebido. No fim do século XX, houve
o surgimento do chamado quarto jornalismo que, segundo Marcondes (2000), é o da era
tecnológica, que se inicia com a introdução de computadores nos processos editoriais.
Nascem, então, novas linguagens nas narrativas jornalísticas e tanto a produção do conteúdo
quanto a recepção do mesmo são afetadas pela tecnologia.
A rede digital provoca em seus usuários perspectivas diferenciadas e permite um
maior envolvimento do leitor que pode, de acordo com a sua própria vontade, compartilhar,
comentar e interagir na construção de um noticiário, por exemplo, como cita Barbeiro e Lima
(2013), fazendo com que barreiras sejam derrubadas e ocorra um aprofundamento e uma
desintermediação na comunicação, em uma conectividade de todos com todos, onde tanto o
receptor, quanto o emissor têm participação.
Todos esses avanços propiciaram mudanças na forma de comunicação, causando
impactos na mídia tradicional e no comportamento social da população, segundo Ferrari
(2014), já que proporcionou um acesso à informação de maneira única, e continua
modificando o processo de comunicação contemporâneo na obtenção de novos métodos para
que seja possível a ação da interatividade em modo pleno.
Graças às mais recentes tecnologias, jornalistas e o público em geral podem fazer
mais para e por eles mesmos, uma vez que todos são sujeitos do processo de
produção, divulgação e interação de notícias. Eles podem realizar mais ações juntos,
sem limitações ou hierarquia, pois todos têm a mesma importância, ainda que isso
possa deixar os jornalistas melindrados. Esse envolvimento permite a construção de
um jornalismo mais crítico, com o acompanhamento e a fiscalização do público; ou
seja, a redação passou a ter o mesmo tamanho da rede e de seus nós (BARBEIRO;
LIMA, 2013, p. 36).
39
A sociedade atual, que vem acompanhada e conectada com a mídia digital, tem se
diferenciado dos seus antepassados no processo comunicacional. O veículo digital continua
em seu processo de modificação do relacionamento do público com a informação e a
liberdade de ação, que não era possibilitada pelos meios tradicionais de comunicação, é
vigente na plataforma digital. Já, os meios tradicionais buscam readaptações e modificações
para atender à nova demanda que acessa os conteúdos informativos de modo como julga
conveniente.
A Rede de micros, informações e pessoas, como um meio de comunicação, reúne
em si a capacidade de suportar a veiculação, com sucesso, praticamente de todos os
tipos de conteúdo digital: texto, imagens (figuras, fotos, animações e até simulações
3D), som e vídeo. Dessa forma, a Rede funciona como uma mídia camaleônica,
assumindo momentaneamente o formato antes utilizado por jornais, revistas, pela
rádio e até pela televisão. E ainda vai mais longe, oferecendo novas possibilidades:
mistura as mídias entre si e adiciona uma pitada de interatividade, ou seja, um certo
nível de controle de conteúdo por parte do receptor (VILLELLA, 2002, p. 36).
O meio de comunicação digital tem entre as suas características o fato de ser
descentralizado. Como cita Villella (2002), não existe na mídia digital a definição exata de
emissor-receptor, pois os papéis possuem dinamismo e temporariedade, esvaziando em partes
o poder da palavra dos detentores do meio.
Neste novo contexto de comunicação multimídia, desponta o papel preponderante do
receptor, que pode escolher qual tipo de conteúdo quer consumir naquele momento - se um
vídeo ou podcast, por exemplo. Esse empoderamento da audiência encaixa-se na teoria do
Gatewatching4, de Axel Burns (2005).
Essa teoria trata da reconfiguração do processo produtivo e dos próprios ideais
jornalísticos. Nela, o receptor também escolhe o que é assunto. Esta teoria faz oposição à
anterior, do Gatekeeper, que afirma que as notícias são como são porque os jornalistas assim
determinam.
Com as novidades que a tecnologia da informação tem proporcionado na sociedade, os
formatos jornalísticos que vigoraram por décadas e décadas, junto com as teorias clássicas do
jornalismo, estão em processo de abandono, segundo Ferrari (2014), cedendo espaço para
novos estudos, debates, terminologias e formatações.
Esta mudança de paradigma inclui ir do analógico ao digital, do físico ao virtual, da
baixa a alta velocidade de transmissão, da comunicação por fio a sem fio, do unidirecional ao
processo de interatividade.
4 Em português, o termo equivale à ideia de a audiência ter o poder de escolher o que passa no portão da mídia.
40
A arquitetura da informação, o design, o modo de utilizar a plataforma digital, a
usabilidade e a navegação por essa rede informativa formam uma hibridização de tecnologia e
linguagens. Com o surgimento desse meio hibrido tecnológico também surge o conceito de
hipertexto:
Um bloco de diferentes informações digitais interconectadas é um hipertexto, que,
ao utilizar nós ou elos associativos (os chamados links) consegue moldar a rede
hipertextual, permitindo que o leitor decida e avance sua leitura do modo que quiser,
sem ser obrigado a seguir uma ordem linear. Na internet não nos comportamos como
se estivéssemos lendo um livro, com começo, meio e fim. Saltamos de um lugar
para outro – seja na mesma página, em páginas diferentes, línguas distintas, países
distantes etc. (FERRARI, 2014, p.44).
A tecnologia do hipertexto e algumas de suas características, como a não linearidade, a
fragmentação, o diálogo de convergência midiática onde um texto dialoga com um vídeo, um
áudio, ou até mesmo um infográfico, permitem uma fluidez textual e uma leiturabilidade com
liberdade e elasticidade. O internauta pode ter controle do conteúdo postado, reconfigurando a
informação segundo sua própria lógica, de acordo com suas preferências e hábitos de leitura,
conforme relata Ferrari (2014).
Com a descoberta e o advento da rede hipertextual e a popularização da terminologia
multimídia, criou-se também a chamada hipermídia, que são todos os métodos de transmitir
informações baseadas em computadores, incluindo sons, imagens, vídeos, animações e textos.
Uma vez que o ciberespaço permite a incorporação e a articulação de formatações
diversificadas, a comunicação também se torna híbrida, diferentemente dos meios
tradicionais.
2.3 Narrativa onlinee webjornalismo
Surge, no século XXI, uma nova maneira de trabalhar a notícia com os recursos
audiovisuais, com remixagens e recombinações. O jornalismo torna-se multitarefado e
multimidiático, em uma nova concepção de mídia:
A multimídia é elemento fundante da era do webjornalismo. Jamais poderíamos
imaginar que em um único espaço teríamos a possibilidade de ler, assistir e ouvir o
que se passa no mundo de forma tão convergente. [...] E já que tudo (áudio, vídeo,
imagens em movimento, gráficos animados etc.) é circundante e vem convergindo
na mesma linha do tempo da web, podemos chamar o que presenciamos de pós-
convergência. (PRADO, 2011, p.125)
41
A tecnologia muda constantemente e, com ela o jornalismo praticado na plataforma
digital também adentra nessa constante de evoluções e revoluções. A cada momento, o
internauta e os profissionais da comunicação entram em uma espécie de teia da WorldWide
Web, diz Ferrari (2014), que apresenta os labirintos que a arquitetura da informação propaga.
Para Villella (2002), a Internet permite acessar um universo sem limites de
informações em múltiplos formatos digitais, além de ser uma rede dinâmica, com movimento
contínuo, em mutação constante, sendo comparada, por isso, a um ser orgânico.
Não se deve fazer o usuário navegar em círculos, em um emaranhado de informações
sem que a informação seja trabalhada de modo bom, com o uso de todos os recursos desde o
hipertexto até o hipermídia. O conteúdo online pode ser adicionado das mais variadas formas,
uma vez que o texto e a sua respectiva leiturabilidade não seguem a lógica dos meios
tradicionais impressos. O internauta possui o poder de decidir de que modo fará a absorção
das informações postadas e de qual maneira fará a leitura do conteúdo:
Os elementos que compõem o conteúdo on-line vão muito além dos
tradicionalmente utilizados na cobertura impressa -textos, fotos é gráficos. Pode-se
adicionar sequencias de vídeo, áudio e ilustrações animadas. Até mesmo o texto
deixou de ser definitivo – um e-mail com comentários sobre determinada matéria
pode trazer novas informações ou um novo ponto de vista, tornando-se, assim, parte
da cobertura jornalísticas. E acessar um conteúdo não é necessariamente a leitura de
uma noticia (...) (FERRARI, 2014, p.39).
O material jornalístico produzido pelos meios tradicionais e por agências de notícias,
não pode simplesmente ser adicionado na plataforma digital sem antes passar por um processo
de codificação, com uma linguagem WEB aceita pelo público. É preciso criar um conteúdo
digital e produzir uma notícia para a internet, o que exige do profissional um grau elevado de
conhecimento das mídias (FERRARI, 2014). A técnica de escrita jornalística conhecida como
pirâmide invertida não ganha sentido se praticada no webjornalismo (CANAVILHAS, 2001),
mas, uma conjuntura de pequenos textos com interligações, em que o essencial da notícia é
informado e o restante das informações adicionadas em blocos por hiperligação, tem a sua
valia e aceitabilidade no jornalismo digital.
O público online tem que ser conquistado, pois é uma audiência diversificada e mais
receptiva ao que é inovador e ao que não segue estilos convencionais. Prado (2011) ressalta
que o internauta vai ler um texto completo e/ou apenas trechos de alguns. Vai saltar outros
conteúdos, ler na vertical, enfim, tem o poder de estabelecer o que e como vai ler. É a
42
chamada leitura rizomática citada por Prado (2011), que faz uma alusão ao caules que
possuem várias ramificações e podem levar a diferentes caminhos.
Segundo Ferrari (2010), apesar de ser aparentemente caótica, a narrativa digital é
extremamente organizada, e apesar de todas as mudanças de paradigmas e da multiplicidade
de novos formatos disponibilizados para a prática do jornalismo na esfera digital, o seu
conteúdo deve ser embasado na boa apuração e manter a credibilidade.
Até mesmo alguns conceitos como o lide, recorrendo à fórmula do: quem, o quê,
quando, onde e porque, não podem entrar em esquecimento, mas sim continuar mantendo a
sua força na opinião da autora.
O conteúdo, portanto, continua sendo primordial, não importando o formato e nem a
linguagem pelo qual o mesmo venha a ser transmitido e difundido:
Linguagem concisa também se estabelece na web, apesar de ter a capacidade de um
conteúdo sem limites de espaço; é notório que internautas não passam muito de um
segundo pagedown, tanto que um lide ou lidão é o suficiente para garantirmos uma
mínima absorção. Com a máxima de que ninguém mais tem tempo porque faz
muitas coisas concomitantemente, as tais multitarefas e a velocidade da informação
resumida ganham a força absoluta. É preciso, então, não somente preparar
reportagens com todos os meandros necessários (pauta, planejamento, produção,
pesquisa, apuração, checagem, identificação, redação,, revisão, publicação etc.)
(PRADO, 2011, p.214).
Barbeiro e Lima (2013, página 56) reforçam a ideia de que, mesmo com toda a
tecnologia digital que está disponibilizada, “o jornalismo depende da velha e boa reflexão,
bem como da investigação, da acurácia e da divulgação”.
Para eles, a essência do jornalismo não pode ser rompida em função do meio digital. A
sociedade conectada, com a informação rápida ao alcance de todos, faz parte do estágio atual
da humanidade.
Como cita Prado (2010), a internet não é mais uma novidade. Entretanto, não foi tão
simples o começo desse processo de implantação de uma rede mundial de computadores
interligada via satélite. Não obstante, a imprensa estabelecida, principalmente os jornais, não
sabiam como aderir à essa nova ferramenta.
Prado (2010) acredita que a internet é um espaço que permite não só a inclusão de
diversos formatos jornalísticos, mas também facilita a já discutida convergência das mídias,
ou seja, permite que o internauta navegue, ouça, assista e interaja com todas as formas de
jornalismo.
43
Podemos observar, com base nos estudos de Prado (2010) como foi a evolução e a
migração dos jornais impressos para a internet no Brasil e no mundo. Sobre o mesmo tema,
Prado (2010, apud Manuel Castells, 2005) afirma que a criação e o desenvolvimento da
internet nas três últimas décadas do século XX foram consequências de uma fusão singular de
estratégia militar, grande cooperação científica, iniciativa tecnologia e inovação
contracultural.
Desenvolvida pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, a internet surgiu
como um projeto que permitisse a comunicação entre os militares durante o período da Guerra
Fria. Em 1962, pesquisadores do exército criaram uma rede que fosse resistente a ataques de
bombas. Essa rede, a Arpanet, foi inaugurada em 1969 e passou a ser utilizada pela BBC.
O ano de 1971 marcou o início das produções digitais no Brasil. Prado (2010) salienta
que entre 1972 e 1973 foi criado o e-mail e também bancos de dados que passam a ser usados
no jornalismo, ainda pelos jornais impressos, como o Philadelphia Inquirer. As agências de
notícias United Press International e Associated Press adotam a produção digital. Em 1974, a
agência Reuters passa a trabalhar com videotexto.
Em 1983, a Revista Time coloca o PC como “Homem do Ano”. Em 1985, o Windows
se torna expoente e cerca de 50 jornais no mundo oferecem bancos de notícias online. No
Brasil, 1988 é a data da união da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e da
FAFESP (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo) com a Bitnet, trazendo a
internet para o Brasil.
Prado (2010) mostra ainda o lançamento do Broadcast da Agência Estado em 1990.
Dois anos depois, eles já eram líderes de mercado. Dentro do Broadcast foi lançado ainda o
Agrocast, um segmento voltado para o agronegócio. Ainda não era um jornal propriamente
dito, apenas informações voltadas para a economia e agronegócio. A Agência Estado foi a
primeira empresa de informação brasileira a ter um site.
Emjaneiro de 1991 é estabelecida a primeira conexão do Brasil à internet, segundo
Siqueira (2009, p.278).
O Jornal do Brasil faz história ao lançar uma cobertura jornalística completa em 28 de
maio de 1995 e se tornar o primeiro jornal eletrônico do país. A sua primeira edição na rede
entrou no ar em oito de fevereiro do mesmo ano, conforme Baldessar (2009). Nos seus
primórdios o JB apenas reproduzia na internet o que havia sido feito no jornal impresso, como
afirmou o jornalista Roberto Cassano em depoimento ao JB Online.
44
“O velho 386 onde montávamos o JB Online no bloco de notas do Windows ou num editor de
HTML chamado HTMLWriter não tinha acesso ao sistema editorial da redação, que é de onde
puxávamos as notícias obtidas por escuta, vindas de agências internacionais ou produzidas
por nossos colegas de Agência JB”. Em depoimento ao especial 10 anos do JB Online.
(Disponível em: http://jbonline.terra.com.br/destaques/2005/10anos/memoria3.html.
Acesso em 20 de maio de 2017.
Ainda segundo
Baldassar (2009), em
1996 os próprios
funcionários do Jornal do
Brasil fizeram uma
votação interna para
mudar o layout do site do
jornal. O vencedor foi
Carlos Benigno e muito
do que foi criado na época ainda está no ar e são resquícios da arquitetura de informação:
45
(Figura 1) Layout em 1996
Em 1997 o Jornal do Brasil entraria para a história mais uma vez como o primeiro site
a transmitir ao vivo o réveillon na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Como cita
Baldassar (2009), o êxito do jornal deve ser considerado ainda mais por não naquela época
ainda não haver estrutura técnica disponível como temos atualmente. No mesmo ano
transmitiu o carnaval carioca direto do sambódromo. Em 2002, o portal inaugurou a narração
em texto de partidas de futebol.
(Figura 2) Layout em 2002
O Grupo Folha5 chega à internet em 1996, segundo Baldassar (2009) e o próprio site
da Folha. Em abril é lançado o Universo Online (UOL) de forma experimental. Ele tinha
acesso aberto e gratuito à todos os usuários da rede e também reproduzia o conteúdo da Folha
de São Paulo.
5 Entra no ar o Universo Online. http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/historia_96.html Acesso em 30 de
abril de 2017
46
(Figura 3) Primeira web página da Folha de São Paulo
Em 1996 também entrou no ar o site do jornal O Globo, batizado à época de O Globo
On. Segundo informações do próprio site6, ele seguia o preceito dos anteriores de publicar o
conteúdo impresso no online sem nenhum tipo de adequação. A única adaptação era a não
postagem de fotos já que a internet no Brasil era extremamente lenta, algo em torno de 14
kbps, e não possibilitava a visualização de imagens em boa qualidade.
A primeira página trazia apenas a reprodução de matérias publicadas no jornal impresso e
nenhuma fotografia, já que a velocidade de conexão na época dificultava baixar fotos com um
mínimo de qualidade. Bem diferente da complexidade do site hoje, onde são exibidas dezenas
de fotos e até vídeos, que rodam direto na primeira página, algo que parecia coisa de filme de
ficção científica na estreia.
(Disponível em< http://oglobo.globo.com/sociedade/na-essencia-do-globo-inovacao-
cidadania-1-16991501#ixzz4flq0XA8D>. Acesso em 30/04/17)
Alinhado aos ideais de liderança do grupo Globo, o site estreou com uma mensagem
de o portal teria algumas possibilidades que o jornal impresso não tinha, como interatividade,
resposta imediata aos questionamentos do leitor e participação direta do internauta nas
discussões sobre temas jornalísticos.
6 Na essência do Globo Inovação e Cidadania. http://oglobo.globo.com/sociedade/na-essencia-do-globo-
inovacao-cidadania-1-16991501. Acesso em 30 de abril de 2017
47
(Figura4). Primeira página de O Globo em 1996
No início, os jornais não tinham sua versão integral transposta, como afirma Prado
(2010). Eles veiculavam pela internet apenas o que julgavam principal no conteúdo do dia e
esse conteúdo não era atualizado constantemente como atualmente. Muitos jornais ainda
reproduzem tal comportamento o que, segundo Prado, não é webjornalismo.
(Figura 5) Vista da capa de O Globo em 2006
De acordo com dados do acervo, o jornal do Estado de São Paulo teve seu primeiro
portal lançado oficialmente em 28 de maio de 2000. O estadão.com.br reunia inicialmente
48
todo o conteúdo produzido pelo Grupo Estado – os jornais O Estado de São Paulo e Jornal da
Tarde, Agência Estado, Rádio Eldorado e Listas Oesp Estadão.
(Figura 6) Propaganda no jornal impresso anuncia o lançamento da campanha de divulgação do site
Ribas (2004) afirma que não basta uma reportagem tem vídeo, texto e gravação sonora
para ser considerada multimídia. Esses elementos separadamente são apenas informações
desintegradas de mensagens informativas independentes. Jenkins (2009) reitera que
convergência é o suporte de múltiplas plataformas para cooperação do conteúdo:
Por convergência, refiro-me ao fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes
midiáticos, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento
migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte
em busca das experiências de entretenimento que desejam. Convergência é uma
palavra que consegue definir transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e
sociais (JENKINS, 2009, p.29).
Com o advento dos smartphones e das redes sociais, os jornais precisaram reinventar o
modo de contar histórias e buscar inspirações dentro e fora do Brasil. Segundo Ferrari (2003),
era necessário ressaltar os princípios da hipermídia de narrar de forma não linear, de modo
que a história lida do começo, meio ou fim fosse compreendida.
As reportagens multimídia são, segundo Cristiano e Silva, herdeiras das grandes
reportagens impressas. São classificadas como parte do jornalismo interpretativo e definidas
49
como uma reportagem com “interpretação, aprofundamento e detalhamento dos fatos, mas
dentro de outra plataforma”.
Para Longhi (2009, p.153) “a grande reportagem é constituída de formatos de
linguagem multimídia convergentes, integrando gêneros como a entrevista, o documentário, a
infografia, a opinião, a crítica, a pesquisa, dentro outros, num único pacote de informação,
interativo e multilinear”.
A reportagem SnowFall, produzida pelo jornal The New York Times em 2012 e
vencedora do prêmio Pulitzer de 2013, se tornou referência de uso correto das ferramentas
multimídias. A matéria conta a história de uma avalanche que vitimou três esquiadores nos
Estados Unidos. São utilizados fotos, vídeos, gráficos, mapas e textos tudo para dar ao leitor a
dimensão do que foi o acidente.
(Figura 7) Página inicial da reportagem multimídia SnowFall vencedora do prêmio Pulitzer de
Jornalismo de 2013
50
(Figura 8) Mapa animado se movimenta enquanto os nomes das rotas de esqui aparecem na tela
Os jornais brasileiros perceberam essa importância e já produzem material na mesma
seara. Em 2014, a Folha de São Paulo recebeu o Prêmio CNI de Jornalismo na categoria
internet pela reportagem multimídia “A Batalha de Belo Monte” que dava um panorama sobre
a dimensão da obra, suas contradições, além do impacto financeiro e ecológico para o Brasil.
A reportagem também mostra em animação 3D, a dimensão do empreendimento e
como ficaria o resultado final da obra. Há esmero com fotografias que tomam toda a tela e
também presença de vídeos explicativos, além de gráficos e do texto que costura os demais
elementos.
(Figura 9) Página inicial da reportagem “A Batalha de Belo Monte” da Folha de São Paulo
51
Acompanhando a tendência, os jornais o Estado de São Paulo e O Globo fizeram
incursões premiadas no mundo da reportagem multimídia. O primeiro ganhou o 1º Prêmio de
Jornalismo da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) na Categoria Online, pela
reportagem ‘Crack, a invasão da droga nos rincões do sossego’ segundo o site do Estadão7.
(Figura 10) Reportagem multimídia premiada feita pela equipe do jornal O Estado de São Paulo
A reportagem especial é dividida em vários capítulos e tem o uso de infográficos,
áudios e vídeos com depoimentos, além de ter um mapa interativo do Estado de São Paulo
7 Reportagem multimídia sobre a invasão do crack no interior de SP é premiada.
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,reportagem-multimidia-sobre-a-invasao-do-crack-no-interior-de-sp-e-
premiada,1574831. Acesso em 30 de abril de 2017.
52
com informações vindas da Confederação Nacional dos municípios (CNM) com as cidades
que declararam ter problemas decorrentes do consumo de crack em suas respectivas
localidades.
Ao observarmos tantos exemplos nacionais e internacionais de jornalismo multimídia
que tratam de modos diferenciados as informações, em um caráter de grandes reportagens
especiais, perante temas que carecem de maiores explicações e entendimento ao público
leitor, percebemos em nossa pesquisa que existe uma carência de conteúdos jornalísticos
desse nível na região de Araçatuba. Os veículos de comunicação regionais têm mantido as
nuances tradicionais no modo de propagar as informações, não obtendo um uso com a
amplitude das plataformas digitais. Temas atuais, complexos, densos, e que exigem uma
profundidade jornalística, com características que justificariam uma abordagem especial, tal
qual a temática dos refugiados sírios nas cidades de Araçatuba e Penápolis, são apresentados
do mesmo modo que vigora desde outros tempos.
A título de exemplo, em 04 de maio de 2014, o site do Jornal Interior de Penápolis
postou uma matéria com o título: “Sírios: Refugiados de guerra chegam a Penápolis para
reconstruírem a vida”, e na data de 31 de agosto de 2014 fora adicionado no portal do
jornal Folha da Região uma reportagem intitulada: “Refugiados da guerra na Síria
reconstroem a vida em Araçatuba”, esta contendo trechos da matéria e uma foto, além de um
aviso relatando que o conteúdo é para assinantes e disponível na íntegra apenas para os
mesmos.
Ambas as reportagens foram adicionadas em pequenos trechos e não possuem
conteúdos extras como vídeos, galerias de imagens, e demais opções multimídias, que são
possibilidades do jornalismo na internet. Tratam-se de reproduções do conteúdo que saiu nos
respectivos jornais impressos que tais sites representam.
Pollyana Ferrari (2010) salienta que quando houve a chegada da redação digital, esta
parecia ter alterado a forma existente e consolidada de construção e veiculação da notícia
escrita, que era calcada em um modo produtivo industrial, ou seja, criou-se um cenário de
transformações no modo operante do jornalismo. Porém, mesmo com o advento da revolução
tecnológica na imprensa, muitas empresas jornalísticas não aderiram totalmente às diversas
oportunidades e especificidades que a internet é capaz de ofertar.
A resistência em lidar com certas características históricas presentes no rádio, TV,
jornais e revistas, e a opção de não ter a convergência, a união dessas identidades
53
comunicativas tradicionais com as linguagens modernas do tecnológico atual, vai contra os
anseios e prognósticos da comunicação da era digital. É necessária a adoção de novas visões
para a prática do jornalismo.
O advento da tecnologia informacional no jornalismo é o encontro de um novo
oceano que precisa ser explorado, compreendido, pesquisado e vencido. Como
lembra Peter Drucker, o que chamamos de revolução da informação é considerada a
quarta do mundo por ser posterior à escrita, ao livro e à impressão. [...] Hoje em dia,
não há mais como fazer jornalismo sem utilizar a web, pois o fluxo de informação é
imenso (BARBEIRO; LIMA, 2013, p. 49).
Uma temática igual à questão dos refugiados sírios que vivem em Araçatuba e
Penápolis necessita de uma abordagem em amplitude, que possa situar o público em uma
imersão histórica e de um modo atrativo. Para isso, é necessário usar ferramentas que um site
multimídia pode difundir. Trata-se de um tema contemporâneo, sociocultural, e que pode
ofertar muito conteúdo com linguagens atualizadas e abordagens diferenciadas, sendo isso
possível em um site para hospedar todo o conteúdo jornalístico apurado, de modo
multimidiático.
54
III – PRODUTO: A REPORTAGEM MULTIMÍDIA
3.1 A plataforma WIX.com
Para a elaboração, edição, postagem e hospedagem dos conteúdos do site
“Reconstruindo a Paz”, a plataforma WIX.com foi a escolhida pelo grupo devido as suas
características disponibilizadas, que remetem a grandes possibilidades multimidiáticas, além
da permissão de adaptações na visualização do site em diversos meios de acesso.
Segundo o website da plataforma (que possui versão completamente em língua
portuguesa), o WIX.com é um construtor de sites gratuito que possui milhões de usuários
cadastrados e é líder no desenvolvimento web baseada em nuvem, ou seja, todo o seu sistema
fica armazenado de modo online, sem a necessidade de instalações de programas, já que os
dados ficam salvos na rede, bastando ter uma conectividade com a internet para o acesso a
uma amplitude de funções, recursos e aplicativos.
As funções básicas disponibilizadas por WIX.com contam com um editor de site
intuitivo em HTML 5, do tipo arrastar-e-soltar, que permite uma personalização fácil do site,
sem precisar programar nem limitar os espaços para a adição dos conteúdos como vídeos,
áudios e imagens, que podem ser adicionados com plena facilidade e dinamismo.
Um dos diferenciais da plataforma reside no fato de o editor do site, além de promover
a visualização das páginas nos convencionais destktops e notebooks, possuir a otimização
55
necessária para que a página seja vista também em aparelhos móveis, tão utilizados pelos
usuários (smartphones, tablets), graças ao editor Mobile que é oferecido. A plataforma conta
com um suporte técnico 24 horas por dia, hospedagem do site de modo seguro,
templatessemiprontos, acervo de imagens e demais funcionalidades que diferenciam a
plataforma WIX de outras.
Com relação ao design, vários templates são ofertados para a escolha. A comunicação
com as redes sociais também é disponibilizada com a possibilidade de obter aplicativos e
ferramentas que fazem a ligação com as mesmas, promovendo interatividade e
compartilhamento. O layout pode ser modificado, com a troca de cores, adição de outras
imagens de fundo, criação de galerias com fotos e demais opções como as diversidades de
formatos de títulos e parágrafos para os textos. Possui uma variedade de estilos de fontes e
cores.
A plataforma possibilita a adição de conteúdos multimidiáticos com a inclusão de
vídeos hospedados em player próprio (Wix vídeo) ou de sites como Youtube, Vimeo, Daily
Motion e Facebook. Músicas e demais áudios também podem estar dentro do site criado no
WIX.com, por intermédio de player próprio (Wixmusic) ou de sites tais quais: SoundCloud,
Spotify e a opção de fazer download do conteúdo em áudio no ITunes.
56
(Figura 11) Reprodução da plataforma WIX.com na área de adição de conteúdos
O WIX.com dispõe também de um aplicativo (em inglês) para celular disponível na
loja de aplicativo do Google Play Store e na Apple AppStore, que faz apenas o gerenciamento
básico do site e não a edição do mesmo, já que o editor é suportado apenas para o uso em
conexão com o WIX.com em computadores (desktops).
57
3.2 Os elementos do site “Reconstruindo a Paz”
O site “Reconstruindo a paz”, idealizado, editado e hospedado dentro da
plataformaWIX.com, faz uso de todosrecursos multimídia e demais potencialidades que
caracterizam um ambiente virtual com multiplicidade e suporte necessários para publicar de
modos diferenciados um vasto conteúdo jornalístico.São eles:
a) Hipertextualidade:
O recurso da hipertextualidade, ou seja, a promoção de uma interconexão entre os
textos por meio de links, está presente no site deste trabalho, promovendo,além de uma
organização na narrativa, um processo de memorização dos conteúdos, que acabam
conversando entre si, interligando-se, e possibilitando uma leiturabilidade em amplitude.
Fica a critério de cada um que acessar os conteúdos do site o modo com que o mesmo
fará a sua leitura, aonde irá clicar, e assim expandir ou não seus acessos ao que está postado.
Ao clicar em um trecho que esteja sublinhado, presente no corpo textual de alguma matéria, o
usuário será levado a outra reportagem que tenha conectividade com o conteúdo que ele
estava lendo.
(Figura 12) Reprodução de trecho sublinhado de matéria do site onde existe a hipertextualidade.
b) Infografia:
Uma infografia ou infográfico é um recurso visual que possibilita o entendimento de
dados em formato de imagem, que promove uma leitura com mais compreensão e facilidade.
É bastante usual no jornalismo em diversas plataformas e passou um processo de
58
aprimoramento e maior difusão com o surgimento do software Adobe Illustrator, que
implementou a possibilidade de produção e edição mais elaborada dos aspectos visuais com o
advento dos desenhos vetoriais (formas geométricas diversas, baseadas em expressões
matemáticas, que possuem alta qualidade e podem ser ampliadas sem distorções).
No site “Reconstruindo a paz” foi utilizado o programa Adobe Illustrator CS6 para a
criação dos infos. Os vetores utilizados foram baixados diretamente do site “Freepik”
(www.freepik.com),que oferece gratuitamente diversos desenhos vetorais. Ao serem
baixados, são abertos e editados dentro do Illustrator no formato do programa (.ai).
No processo de customização desses vetores há possibilidade de mudança de cores,
aumento ou diminuição, adição de textos, entre outras opções. Para adicionar o infográfico
pronto no site, os documentos são salvos em Adobe PDF e depois convertidos para o formato
de imagem JPEG.
(Figura 13) Um dos infográficos usados no site
c) Aúdios:
A plataforma WIX.com possui players próprios para a reprodução de conteúdos em
áudio e vídeo e o design desses players pode ser alterado. Para os áudios, foi utilizado o
player “WIX music”, que permite a personalização do produto com a inclusão de títulos
exclusivos para cada áudio postado, possibilitando ao ouvinte saber o que ele irá ouvir em
cada conteúdo sonoro.O formato dos áudios está em MP3. Foram adicionados à plataforma e
59
depois vinculados em sua maioria ao player próprio do WIX. A edição das sonoras foi
realizada com a utilização dos programas Sony Vegas Movie Studio Platinum 13.0 e Adobe
Premiere Pro CC 2017.
(Figura 14) Player de áudio usado no site, com a possibilidade de personalização
Outra plataforma utilizada para a incorporação dos áudios ao site do trabalho foi o
Soundcite, formulado por desenvolvedores, designers, estudantes e educadores que trabalham
em experimentos projetados para promover inovações tecnológicas no jornalismo praticado
nas plataformas digitais.
O projeto é ancorado pela Universidade Northwesterne intitulado Knight Lab, que
reúne diversas ferramentas gratuitas que são testadas e utilizadas por tradicionais jornais, tais
como The Washington Post e The New York Times, que adicionam em suas versões digitais
esses projetos para inovar as narrativas informativas na web.
A função do Soundcite é a de sincronizar o áudio com o texto. Ao acessar o conteúdo
jornalístico em um blog ou site, por exemplo, é possível ler e escutar o mesmo texto, ou seja,
o áudio não fica deslocado, mas vira parte integrante no aspecto textual e está diretamente
ligado ao conteúdo da narrativa.
Este processo ocorre da seguinte maneira: primeiro, o áudio épublicado na WEB.
Neste caso, utilizou-se uma conta criada pelo grupo no Soundcloud, site este que hospeda
arquivos em áudio no formato MP3. Cada áudio publicado possui uma URL, ou seja, o
endereço de rede no qual se encontra tal conteúdo informático. Esta URL é colada no site do
Soundcite, que posteriormente gera um código para ser embutido no site ou blog onde o texto
será publicado. Este recurso foi utilizado no site “Reconstruindo a paz”na entrevista com o
jornalista Klester Cavalcanti. Ali, quem pressionar o cursor em cima do texto com a
transcrição de cada resposta do entrevistado irá ouvir a mesma em sua originalidade sonora. O
mesmo recurso está disponível em dispositivos móveis, bastando tocar a tela sobre as
respostas.
60
(Figura 15) Uso do recurso Soundcite, com o áudio incorporado ao texto
d) Vídeos:
Para a adição dos vídeos no site, foi escolhida a plataforma YouTube, que é a mais
usual em todo o planeta e tem a facilidade de ser integrada aos mais variados sites, além de
gerar compartilhamento nas redes sociais.Também existe apossibilidade de customização do
tamanho e posicionamento do player do YouTubedentro do ambiente do site no WIX.
A plataforma não possui limitação quanto a qualidade técnica, duração dos vídeos e
quantidade de megabytes postados, mantendo a qualidade original do vídeo. Um fator
interessante é o fato de que o vídeo fica hospedado nos servidores do YouTube, o que não
gera perda de velocidade ao site que o incorpora, já que o vídeo está armazenado em outra
localidade e não no WIX. Os vídeos foram editados usando os seguintes programas de edição:
Adobe Premiere Pro CC 2017, Sony Vegas Movie Studio Platinum 13.0 e UleadVideoStudio.
(Figura 15) A plataforma YouTube hospeda e exibe os vídeos do site
e) Mapas interativos:
61
Para melhor elucidar a temática da guerra civil na Síria, foram criados mapas
interativos a partir do site StoryMap JS (www.storymap.knightlab.com), ferramenta gratuita,
que, a exemplo do sistema Soundcite, também foicriada nos laboratórios Knight Lab de
tecnologia colaborativa e de desenvolvimento da Universidade Northwestern.
O StoryMap JS promove a apresentação de localizações em um mapa, em etapas que
se dividem como se fossem apresentação de slides. Ao clicar em pontos pré-determinados, o
usurário terá acesso a um conteúdo textual explicativo e interativo sobre aquela região,
podendo avançar e voltar nas informações. Ao criar o mapa, o site disponibiliza um link para
compartilhamento e também para que ocorra o adicionamento em sites, como o caso do
produto deste trabalho no WIX.
(Figura 16) A ferramenteStoryMapJS usada na criação de mapas interativos e explicativos
f) Galerias de imagens:
As galerias de imagens adicionadas no site demonstram a importância das fotografias
no contexto da apresentação da temática dentro de um ambiente digital. As imagens, em sua
maioria, possuem legenda, levando contextualização e tambémamplitude das informações.
62
(Figuras 17 e 18) As galerias do site, em diversos formatos, levam contextualização e informação
3.3 A identidade visual do produto
Para promover uma identificação com o tema narrado no trabalho foram escolhidos
elementos que fazem alusão ao país de origem dos refugiados: a Síria, e também ao país que
os acolheu: o Brasil. Levando em conta as cores oficiais desses dois países, e mantendo como
base a bandeira oficial das duas nações, foi desenvolvida a logomarca do site. Foram usados
vetores dentro do programa Adobe Illustrator.
Na intenção de situar quem acessa o produto com a nomenclatura do mesmo, foi
adicionada, também na logomarca, uma faixa na coloração branca (referência ao signo da paz)
com os dizeres “Reconstruindo a paz” dentro da mesma, deixando claro o nome do site.
63
(Figura 19) A identidade visual do site, a logomarca do trabalho com referências ao tema
3.4 A plataforma WIX.com para os leitores
Ao acessar o endereço do site Reconstruindo a Paz
(http://reconstruindoapaz.wixsite.com/inicial), o internauta será encaminhado para a home, a
página de abertura do trabalho. Nela, o leitor se depara com a logomarca do produto no alto e
no centro da página. A imagem das bandeiras da Síria e do Brasil se entrelaçando passam a
imagem de união. O nome do trabalho escrito em uma bandeira branca tem o objetivo de
transmitir a ideia de um pedido de paz.
Abaixo, em uma barra, estão os capítulos, as abas do site. São elas: “Abertura”, “|A
Guerra”, “Reconstrução”, “Solidariedade”, “Cultura”, “Expediente.” Para ter acesso a
qualquer uma delas basta posicionar o cursor do mouse sobre a palavra e dar um clique. Para
voltar à página inicial o leitor pode clicar em “Abertura” ou na logomarca do site.
No centro da página de abertura é possível assistir a um vídeo feito no formato de
crônica. O internauta é apresentado à essência do trabalho. A crônica foi concebida de modo a
apresentar, jornalisticamente, todos os personagens do trabalho. A edição entrecortada por
flashes das entrevistas tem o intuito de deixar esta experiência ainda mais dinâmica.
Um box preto é apresentado logo abaixo do vídeo. Nele, o internauta que optar por
não assistir à crônica terá uma descrição do trabalho. Constará informações básicas sobre o
site e seus objetivos. A intenção do grupo é que o TCC seja compreendido por diversos meios
sem que um necessariamente precise do outro, conforme preconizado no segundo capítulo
deste trabalho.
64
Na parte inferior da tela inicial, estão os botões que tem basicamente a mesma função
da aba: levar o leitor até o capítulo escolhido. É possível optar entre “A Guerra”,
“Reconstrução”, “Solidariedade”, “Cultura ” e “Expediente.”
3.5 Conhecendo as matérias
A primeira matéria a qual o público terá contato depois da abertura será na aba “A
Guerra”. Passando o cursor do mouse sobre o título, o leitor terá a oportunidade de clicar em
dois subtítulos. O primeiro, intitulado “A história por trás da guerra”, traz toda a explicação
sobre o que acontece na Síria desde 2011 até aos dias atuais. A fim de embasar o
conhecimento histórico sobre o fato, há a participação do professor livre-docente em
Segurança Internacional pela Unesp, Dr. Sérgio Luiz Cruz Aguilar. A reportagem traz dois
infográficos, três mapas, dois podcasts e dois vídeos.
Os infográficos estão presentes logo no início ao lado direito da tela do computador.
Para acessá-los não deve haver clique em nenhum local, já que aparecem no momento em que
a página é carregada. Eles mostram a divisão religiosa e demográfica da Síria, a fim de ajudar
o leitor a entender melhor a complexidade da região.
À esquerda, o internauta pode ouvir em formato de podcast uma explicação sobre o
nível de intolerância entre sunitas e xiitas. Para isso, basta posicionar o cursor do mouse no
player e ouvir o trecho de um minuto e trinta e cinco segundos. A mesma orientação se aplica
ao segundo podcast da matéria, localizado um pouco mais abaixo, dessa vez na parte direita,
ao lado do intertítulo “Solução do Conflito”, em que Aguilar diz acreditar em chances de um
acordo na região beligerante.
A página traz ainda três mapas interativos. Para poder acessá-los, o leitor deve clicar
no player do vídeo, que fica localizado no centro da imagem. A equipe decidiu publicar o
mapa em forma de vídeo, justamente para poder ajustá-lo à edição mobile. Apesar disso, nos
cantos esquerdos superiores de cada um, o usuário também tem a opção de clicar em um link
que o redirecionará ao mapa interativo original.
65
(Figura 20) O leitor poderá acessar infográfico, podcast, mapas e vídeos
O primeiro vídeo da matéria encontra-se na parte esquerda, abaixo do intertítulo “A
Guerra Civil na Síria”. Nele, há uma explicação de como o conflito se iniciou e desenvolveu-
se ao longo dos anos. O segundo vídeo traz a explicação sobre o grupo terrorista Estado
Islâmico e encontra-se no canto direito, ao lado do intetítulo “Estado Islâmico”.
Para o internauta ser redirecionado à outra página dentro do capítulo “A Guerra”, ele
encontrará no rodapé um botão retangular de cor vermelha com o subtítulo “A guerra visto de
perto”.
O subtítulo começa com uma galeria mostrando fotos do livro “Dias de inferno na
Síria”, do jornalista Klester Cavalcanti, personagem principal da citada matéria. Logo abaixo,
o leitor encontrará uma abertura que aborda em detalhes a vida do profissional e da obra. Na
sequência, o internauta se depara com uma entrevista, em formato ping-pong. A grande
novidade é que o usuário conseguirá ler e ouvir a entrevista ao mesmo tempo por meio da
plataformaSoundcite. Cavalcanti conta como foi ir para a Síria no começo da guerra civil e os
momentos de tensão que passou quando foi preso e torturado pelas autoridades sírias.
Ao fim da matéria, o leitor pode optar por voltar ao subtítulo anterior ou clicar em um
botão de forma quadrada e com uma seta em seu interior que o redirecionará ao próximo
capítulo da reportagem multimídia, intitulado: “Reconstrução”.
66
(Figura 21) Subtítulo conta com novidade, onde leitor pode ouvir e ler entrevista simultaneamente
O capítulo “Reconstrução” tende a mostrar as histórias de cinco famílias de refugiados
sírios, tanto em Araçatuba quanto em Penápolis. Para o leitor acessá-las, basta passar o cursor
do mouse na aba “Reconstrução” do menu principal. O primeiro subcapítulo“A esperança de
um final feliz” traz a história da família Homady, que mora em Araçatuba. Ela é formada por
um casal e dois filhos, o mais novo nascido no Brasil.
Logo em que a página é carregada o leitor se depara com a foto das personagens.
Abaixo, um vídeo em que o comércio da família pode ser assistido e conhecido. Basta clicar
no player no centro da imagem. A edição conta com diversos takes do preparo de lanches
árabes, da família reunida nas horas vagas e das crianças brincando. A música que compõe
toda a estrutura midiática chama-se “NassamAlaynaelHawa”, da cantora Fairuz, que faz parte
da vida dos Homady e foi escolhida como uma das mais queridas por eles. A canção traz o
sentimento de amor e medo, duas características condizentes com a história dos refugiados. O
amor, em alusão à terra natal e, o medo, pela guerra.
67
A reportagem segue com uma galeria composta por seis fotos. Para conseguir ler as
legendas, o usuário deve apenas passar o cursor do mouse em cima das imagens, sem realizar
nenhum clique. O texto irá aparecer automaticamente.
O segundo vídeo surge na sequência e traz o primeiro depoimento de Waseem, no qual
ele fala sobre a vida no Brasil depois de chegar da Síria. Em seguida, há um podcast, em que
a personagem trata da questão educacional dos filhos. O internauta deve clicar no botão de
player para ter acesso ao áudio. Ao lado do recurso, mais uma galeria composta por seis fotos
traz as imagens de todos os integrantes da família. As legendas podem ser lidas no momento
em que o cursor do mouse passar pelos quadrados. Também há a possibilidade de se ampliar
as imagens e ler as legendas completas. Para isso, basta clicar na foto desejada, que ela se
abrirá na íntegra.
O terceiro vídeo dá ao leitor a oportunidade de conhecer tudo o que a família de
Waseem passou durante os momentos em que estava na Síria. O depoimento é intercalado
com takes reais do conflito e uma trilha sonora instrumental triste, já que o assunto tratado
exige tal adequação musical. O último vídeo da matéria mostra a esperança do rapaz em
voltar um dia para a Síria. A trilha escolhida foi instrumental de esperança.
Além disso, o texto conta com cinco hiperlinks, estes podem ser percebidos durante a
leitura, já que aparecem sublinhados em destaque. No rodapé da página, o usuário tem a
opção de clicar no próximo subcapítulo: “A força da mulher síria”.
(Figura 22) Vista da matéria “A esperança de um final feliz)
68
Para ler a matéria “A força da mulher síria”, na versão web, basta o leitor passar o
cursor do mouse sobre a aba “Reconstrução” que fica no menu do site logo abaixo do
logotipo. No corpo do texto, o leitor encontrará algumas palavras sublinhadas. Elas são
“hiperlinks” que irão remeter a outra matéria dentro do site que trata do mesmo assunto. Deste
modo, ele terá sua visão sobre o tema ampliada.
Por exemplo, na matéria que conta a história de NsreenAlSafory, o leitor encontra
hiperlinks que o levam para a matéria que fala sobre a guerra na Síria, suas origens e causas.
Há ainda o caminho para o texto da vida do marido dela, WaseemHomady.
A matéria conta com uma galeria de fotos de Nsreen. Para movimentá-la basta
posicionar o cursor do mouse nas extremidades (esquerda ou direita) da galeria. O texto conta
com um vídeo hospedado no Youtube. Para acessá-lo é só clicar no botão que fica no centro
da imagem.
No vídeo desta matéria foi utilizada uma música instrumental síria executada pelo
grupo “SamaiBayati. ” No rodapé da matéria o leitor pode optar entre ler a matéria “A
esperança de um final feliz” ou “ Brasil: a morada definitiva. ”
(Figura 23) Vista da matéria “A força da mulher síria”
O leitor acessa o subcapítulo “Brasil: a morada definitiva” e se depara com uma
galeria de fotos ao lado direito da tela. Ela é composta por nove fotos circulares e mostra a
rotina de AwniAlWile, um refugiado sírio e que atualmente trabalha vendendo lanches árabes
em uma praça de Araçatuba. Para acessar as legendas, basta passar o cursor do mouse sobre
69
elas. O título da reportagem faz menção ao fato da personagem ter escolhido o país verde e
amarelo como morada definitiva, mesmo se a guerra na Síria um dia acabar.
A matéria conta também com um mapa interativo em formato de vídeo, que explica a
localização de Yarmouk, bairro nos arredores da capital Damasco e que abriga centenas de
milhares de refugiados palestinos. O local foi praticamente destruído com o avanço do
conflito. Para assisti-lo, o leitor deve clicar no player do Youtube, no centro da imagem. Há a
opção, logo abaixo, de acessar o mapa na íntegra.
O primeiro vídeo está localizado no canto esquerdo da tela e traz o depoimento de
Awni em relação às dificuldades enfrentadas para se conseguir chegar ao Brasil. A fala é
acompanhada de uma trilha instrumental árabe com notas calmas e de tranqüilidade.
Já o segundo vídeo está localizado no canto direito da tela e traz ao público um pouco
de como é a rotina de Awni com seus clientes. A música escolhida para esse tipo de edição foi
mais animada, já que o tema permitiu tal constatação. A equipe optou pelo cantor
WafikHabib, um dos artistas mais conhecidos da música pop no Oriente Médio atualmente e
bastante apreciado pelo refugiado.
O último recurso usado na matéria é um podcast, encontrado do lado direito da página.
Nele, é possível clicar no player e ouvir o depoimento de Awni sobre ficar no Brasil para o
resto de sua vida. O usuário também vai encontrar dois hiperlinks que remeterão às matérias
“A história por trás da guerra” e “Uma receita de paz”.
No rodapé da página, o leitor tem a opção de ser direcionado ao próximo subcapítulo “Uma
receita de paz” ou voltar à matéria “A força da mulher síria”.
(Figura 24) Elementos da página: Fotos, vídeos e áudio
70
“Uma receita de paz” começa com uma galeria contendo nove fotos das feições de
Rami Al Refai, personagem principal da matéria em questão. Ela ocupa todo o espaço de uma
margem à outra. O leitor tem duas opções para visualizar as fotos. A primeira é não clicar em
nenhum local, já que a transição das imagens ocorre automaticamente. Mas se o usuário optar
por voltar ou avançar para outra foto, basta clicar nas extremidades da galeria, da direita ou
esquerda.
A reportagem conta com três vídeos, todos podem ser acessados passando o cursor do
mouse sobre o centro da imagem, local em que o player está localizado. O primeiro deles
aborda a Síria antes da guerra no depoimento de Rami. Foi usada uma trilha de tensão na
edição, intercalada com imagens do país antes do início dos conflitos.
O segundo vídeo mostra a vivência da personagem durante a guerra, os momentos de
medo em Damasco, cidade em que morava. O depoimento é acompanhado de uma trilha
instrumental de suspense e recomeço.
O terceiro e último vídeo denota a emoção de Rami ao falar de Edson Correa, um
brasileiro que mais o ajudou ao chegar da Síria. Correa faleceu no início de 2017 e ficou
guardado para sempre na memória do refugiado. A equipe usou uma trilha instrumental de
emoção para compor o trecho da entrevista.
A matéria traz ainda dois podcasts. O primeiro aborda a interferência dos Estados
Unidos e Rússia na guerra civil e o sentimento da população síria em relação a isso. Já o
segundo traz um trecho da entrevista em que Rami diz como foi chegar a Araçatuba e o
começo de tudo. Para ouvir o recurso, basta posicionar o mouse e clicar no player da caixa
retangular de cor verde água.
(Figura 25) Podcasts podem ser acessados com um clique no player da caixa retangular
71
Quase no fim da reportagem, há outra galeria. Desta vez, ela traz doze fotos com
imagens de Rami no começo de tudo em Araçatuba, do atual comércio dele, da família e dos
pratos típicos do Oriente Médio. Para poder ler as legendas, basta o leitor passar o cursor do
mouse sobre as imagens. O texto abrirá automaticamente sem nenhum clique. Nas
extremidades do recurso, existe a opção do usuário voltar ou avançar para ver novamente
alguma foto.
No rodapé, o público tem a opção de ler a matéria “A história de Ahmad” ou voltar
para ler o subcapítulo “Brasil: A morada definitiva”. Também há a presença de dois hiperlinks
no corpo do texto.
Para ter acesso a reportagem “A história de Ahmad,” na versão web, basta o leitor
posicionar o cursor do mouse sobre a aba “Reconstrução” e dar um clique. O texto então
deverá ser carregado. A matéria possui texto, vídeo e áudio.
O leitor irá encontrar ainda um infográfico com algumas informações sobre o Líbano,
país no qual o personagem passou algumas semanas num campo de refugiados. A matéria de
Ahmad tem ainda três hiperlinks que irão levar o leitor a três novas matérias que irão fazer
com que seja ampliado o entendimento da história a ser contada.
Acima do intertítulo “Povo acolhedor?”, do lado direito, o internauta vai se deparar
com uma caixa de rádio retangular. O seu funcionamento é similar ao de um tocador de
música tradicional que acompanha o sistema operacional de qualquer computador. Para
reproduzir é só clicar no play. Também é possível pausar o áudio e ainda aumentar o volume.
Tudo no mesmo player.
A reportagem é composta por quatro vídeos. O primeiro foi produzido pela rede
americana de televisão BBC e mostra o antes e depois da guerra na cidade de Aleppo. O
segundo tem como trilha incidental a música “Qalaq.” O terceiro tem como tema a canção
“Mawal”, do grupo Sap’wal. Para encerrar, no quarto vídeo, a trilha incidental se chama
“Instapita.” O objetivo ao colocar músicas sírias como trilha de fundo nas entrevistas foi
humanizar a história.
72
(Figura 26) No lado direito da matéria há um vídeo
Uma calorosa foto da família Badr recebe o leitor na reportagem “Acolhidos de
verdade. ” Para lê-la, é só posicionar o cursor sobre a aba “Reconstrução” e depois clicar no
título desejado. Clicando para baixo na barra de rolagem o internauta irá se deparar com um
mapa que destaca a região natal da família e a distância entre Síria e Jordânia.
O primeiro vídeo apresenta a rotina de trabalho da família Badr no carrinho de comida
síria da família. Abaixo, há um player de áudio. Nele, Sami dá detalhes de sua chegada a
Penápolis. Na mesma matéria ainda há uma galeria de fotos em que o leitor pode trocar as
imagens na ordem em que quiser.
O segundo e último vídeo é uma entrevista de Sami em que ele relembra os momentos
vividos durante a fuga da guerra. Relata ainda as agruras nos primeiros dias do Brasil. No
rodapé desta matéria, o leitor tem apenas a opção de ler a matéria “A história de Ahmad.”
Para continuar a navegação pelo site, é necessário subir a tela até o menu principal e escolher
um novo capítulo.
No vídeo que mostra a rotina de trabalho da família foi pensado mostrar como é o
processo de preparo do estabelecimento. Desde o momento em que as personagens chegam
para o trabalho até o lanche pronto a ser consumido pelo cliente. A música tema deste vídeo é
de um dos ídolos pop da Síria: “MichAamTezbatMaii, do cantor Nassif Zeytoun.
73
(Figura 27) A foto da família Badr abre a reportagem “Acolhidos de verdade
Na aba “Solidariedade” a reportagem “Amigo da Família” é a primeira opção. Para ter
acesso basta posicionar o cursor sobre o nome e dar um clique. A matéria é composta por
texto (com hiperlinks), áudio e vídeo. No primeiro vídeo, Ricardo de Oliveira fala sobre as
memórias da guerra que os refugiados trouxeram para Araçatuba.
Logo abaixo, há um áudio no player sobre como o Brasil é um país propício para a
reconstrução da vida destas pessoas. A próxima galeria vem abaixo. Para vê-la, o internauta
precisa clicar na primeira foto.
Uma nova tela será sobreposta e assim ele poderá fazer a troca das fotos. Para voltar
ao texto é só clicar no “X” posicionado no canto superior direito. A mesma estrutura se repete
até o fim da matéria com mais uma caixa de áudio e um vídeo de encerramento.
A reportagem apresenta ainda dois vídeos em que Ricardo detalha sua experiência
como amigo dos sírios que chegaram à Araçatuba. No segundo vídeo, o grupo utilizou uma
trilha incidental, por se tratar de uma mensagem de carinho entre os amigos. A música foi
composta por Blake Neely.
74
(Figura 28) Página inicial da matéria “Amigo da família”
Para ler a matéria intitulada “O poder do diálogo” basta o internauta clicar em
“Solidariedade” e então clicar em confira. Ele pode também passar o cursor sobre a mesma
aba e clicar direto na matéria que deseja ter acesso.
O texto tem hiperlinks para contar a história de Sami e dar detalhes sobre a guerra.
Tem também dois vídeos de depoimentos do casal. No rodapé, o leitor pode seguir para a
matéria “A Linguagem da Solidariedade” ou ler “Amigo da família.
Nos dois vídeos desta reportagem o grupo optou por não colocar trilha de fundo por se
tratar do depoimento das pessoas que ajudaram os sírios a reconstruir a vida em Penápolis. No
segundo vídeo foi adicionado o trecho de um filme citado pelos depoentes.
(Figura 29) Dentro de “Solidariedade” está “O poder do Diálogo”
75
“A linguagem da solidariedade” é aberta com uma galeria de quatro fotos que mostra a
família Badr juntamente com o professor João da Silva Barbosa, personagem principal da
reportagem. Depois do texto de abertura, o leitor irá se deparar com um vídeo. Para assisti-lo,
basta clicar no player. O trecho da entrevista mostra como Barbosa foi importante na vida dos
refugiados sírios de Penápolis, principalmente na educação de Wally. A trilha usada foi de
recomeço, para justamente fazer jus ao tema tratado na edição.
A reportagem conta também com três hiperlinks. Ao fim do texto, o usuário pode
escolher para voltar a ler o subcapítulo “O poder do Diálogo” ou avançar e ler “A vida longe
da pátria”.
(Figura 30) A foto de Wally, ao centro, compõe a galeria no começo da reportagem
“A vida longe da pátria” traz o depoimento de dois penapolenses que ajudaram os
refugiados sírios e também foram imigrantes, já que viveram na Itália e Japão a trabalho. A
reportagem é composta por dois vídeos. Nenhuma trilha musical foi usada na edição, porque
trata-se de um depoimento pessoal. Além disso, dois hiperlinks podem ser encontrados ao
longo do texto. No rodapé, o leitor tem a opção de voltar a ler a matéria “A linguagem da
Solidariedade” ou clicar na caixa quadrada branca e com uma seta dentro para ser
redirecionado ao último capítulo da reportagem multimídia. chamado “Cultura”.
76
(Figura 31) Os hiperlinks aparecem sublinhados no texto da matéria
Na aba “Cultura”, o usuário tem a opção de navegar por três matérias diferentes. Para
acessá-las, basta clicar em “Confira”.
(Figura 32) Três subcapítulos compõem o capítulo “Cultura”
A primeira delas é intitulada de “Cultura: o primeiro obstáculo”. A reportagem traz no
canto direito a foto do doutor em História Social Carlos Eduardo MarottaPeters. Essa foi uma
forma escolhida de identificar o entrevistado logo no início da matéria.
O subcapítulo conta com dois vídeos, um localizado no centro e que mostra um trecho
da entrevista em que Peters avalia a receptividade dos brasileiros em relação aos refugiados, e
outro no canto direito da tela do computador em que ele trata sobre a questão da integração
cultural dos imigrantes em cidades pequenas e maiores. Em ambos os casos, o grupo optou
por não usar nenhuma trilha musical na edição, por tratar de uma entrevista com fonte de
77
informação. A reportagem traz ao longo do texto dois hiperlinks. O outro subcapítulo pode
ser acessado com um clique no rodapé da página, na parte retangular, com o título
“Refugiados: leis, direitos e deveres”.
(Figura 33) Vista da matéria “Refugiados: leis, direitos e deveres”
A reportagem segue o padrão da anterior. Ela traz do lado esquerdo da tela do
computador a foto do Mestre em Direito Luciano Meneguetti Pereira. A matéria conta com
um vídeo ao final do corpo do texto em que o especialista fala sobre o status de refugiado, os
direitos e a questão da nacionalidade. No rodapé, o usuário tem a opção de voltar para
“Cultura: o primeiro obstáculo” ou ir para “Culinária: os ingredientes do recomeço”.
Dentro da aba “Cultura” está a matéria “Culinária: o ingrediente do recomeço. ” Nela,
o internauta irá compreender porque muitos dos sírios escolheram trabalhar com alimentação
como instrumento para a reconstrução de suas vidas no Brasil. Para ter acesso é só clicar na
aba e depois selecionar a matéria com o cursor do mouse.
Ela apresenta um texto à esquerda, uma imagem com o a identificação do entrevistado.
Um vídeo explicativo ganha destaque para fazer com que o leitor relembre as personagens do
trabalho que lidam com a cozinha síria como forma de trabalho.
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Logo abaixo, uma galeria com seis fotos de pratos árabes típicos. Para ver essas
imagens ampliadas é só clicar em cima delas. Para sair da galeria, é preciso clicar no “X”
localizado no canto superior direito da tela.
O vídeo dessa matéria apresenta uma trilha incidental como BG (background) para
marcar que a culinária foi uma opção alegre de recomeço para os sírios. A música se chama
Crimson Fly, foi disponibilizada para download no Youtube, pelo canal “Live YourDreams”.
(Figura 34) A culinária foi abordada na aba “Cultura”
A última parte do site é o “Expediente”. Nele, o público leitor conseguirá visualizar as
informações dos autores do projeto e conferir o nome da orientadora do trabalho de conclusão
de curso. Não obstante, há a opção do internauta conhecer as redes sociais dos alunos.
(Figura 35) Para conhecer as redes sociais dos alunos, o internauta deve clicar nos logotipos
79
3.6 Fontes e cores
As fontes usadas nos textos do trabalho foram escolhidas com intuito de reforçar o
trabalho jornalístico e tornar a leitura agradável aos olhos dos internautas. São elas: “Kelly
Slab” no título das matérias; “Rockwell” nas legendas dos vídeos; “Verdana” nos textos e nas
legendas; “Courier new” na assinatura dos repórteres.
A fonte “Kelly Slab” foi escolhida por lembrar uma máquina de escrever, aparelho
muito utilizado pelos correspondentes de guerra em coberturas no passado. “Verdana” é uma
das que apresenta melhor legibilidade, bem como, a fonte “Courier new.”
80
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No início deste trabalho, a ideia era conhecer a realidade dos refugiados sírios nas
principais cidades da região de Araçatuba. Em contato com as prefeituras destes municípios,
ficou constatado que nenhuma delas tinha qualquer tipo de controle de refugiados que
pudessem estar residindo em seus territórios.
Tal constatação denota falta de preparo dos governos municipais para ligar com o
fenômeno dos refugiados. Se por um lado, como ficou constatado por meio do depoimento de
vários personagens deste trabalho, o Brasil possui uma das leis de imigração mais flexíveis do
mundo, permitindo fácil acesso ao país, no âmbito municipal, o amparo social inexiste.
Todas as famílias deste trabalho só conseguiram reconstruir suas vidas após serem
ajudadas por brasileiros solidários. Na maioria das vezes foi necessária uma quebra de
barreira como idioma e religião. No fim das contas, esses dois fatores se tornaram elementos
de ligação entre eles.
Na justificativa do projeto de pesquisa, o grupo enfatizou que os jornais das cidades de
Araçatuba e Penápolis não haviam explorado todas as ferramentas da reportagem multimídia.
Tanto a Folha da Região quanto o Jornal Interiorfizeram reproduções na web de trechos do
texto impresso. No caso da Folha, o acesso era restrito a assinantes.
Com a plataforma Wix foi possível lançar mão de ferramentas de áudio, vídeo,
galerias, textos e mais: na entrevista com o jornalista Klester Cavalcanti, o leitor tem a opção
de ler e ouvir ao mesmo tempo. Conforme a entrevista se desenvolve, uma espécie de player é
avançado simultaneamente para marcar o tempo restante da entrevista. Essa ferramenta foi
desenvolvida pela NorthwesternUniversity e o Knight Lab Center, um centro internacional de
fomento ao jornalismo.
É importante destacar ainda o baixo custo para a realização deste trabalho. Como os
três integrantes do grupo não puderam se ausentar de seus respectivos empregos durante a
elaboração, tudo foi pensado de modo a preservar a qualidade sem interferir no andamento
das atividades trabalhistas.
Por exemplo, a entrevista com o professor Sérgio Aguilar foi marcada via e-mail e
realizada por Skype. Desse modo, como preconiza Jeankins (2011), o tempo foi utilizado e
não se verificou nenhuma perda de qualidade. Do mesmo modo, a entrevista com o jornalista
81
Klester Cavalcanti foi gravada através de um aplicativo de celular. A reportagem multimídia
possui um total de 31 vídeos e 10 barras para reprodução de áudio.
No início, o grupo sentiu certa dificuldade para um primeiro contato com as
personagens. Entretanto, após a primeira conversa, ficou evidenciado como eles estavam
dispostos a colaborar. Fomos recebidos nas casas de quatro famílias. E também em seus
respectivos estabelecimentos comerciais.
A única viagem feita pelo grupo foi para Penápolis. Foram quatro vezes. Na primeira,
para fazer imagens de apoio da cidade que serviriam como opção para cobrir os trechos de
fala das personagens e também da crônica de abertura. Nos outros deslocamentos, que
demandaram mais tempo, foi feito contato e entrevista com a família Badra. Foi nesse dia que
foram feitas as imagens da família.
O presente trabalho possibilitou ao grupo grande crescimento, não somente em termos
profissionais, mas também como seres humanos. Ficaram deste mais de um ano de estudo:
amizades com nossos irmãos sírios, o desejo de continuar essa pesquisa a partir de novos
pontos de vista, e acima de tudo,a certeza de que a esperança é combustível para qualquer
recomeço, seja ele qual for.
82
REFERÊNCIAS
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83
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85
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WEISS, Michael; HASSAN, Hassan. Estado Islâmico: desvendando o exército do terror.
São Paulo: Seoman, 2015.
86
ANEXOS
Pautas utilizadas ao longo do processo de realização do trabalho.
PAUTA – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 2017
Retranca: Entrevista/Historiador
Gancho: Vamos ouvir o professor doutor Sérgio Luiz Cruz Aguilar a respeito da parte
histórica da guerra civil da Síria. O foco da entrevista deverá ser o conflito em si e a onda de
refugiados que dele se gerou.
Entrevistado:
SÉRGIO LUIZ CRUZ AGUILAR – professor doutor
Biografia
Livre Docente em Segurança Internacional pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (UNESP). Pós-Doutorado na área de segurança internacional no
Departamento de Política e Relações Internacionais da Universidade de Oxford - Reino
Unido. Doutor em Historia pela UNESP (Assis/SP), mestre em Integração Latino Americana
pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), especialista em História das Relações
Internacionais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e em Estratégias de
Relações Internacionais pela Universidade Cândido Mendes (UCAM), e graduado em
Ciências Militares (AMAN). Atualmente é Professor do Departamento de Sociologia e
Antropologia da UNESP - Campus de Marília/S, onde coordena o Grupo de Estudos e
Pesquisa sobre Conflitos Internacionais (GEPCI) e o Observatório de Conflitos Internacionais
(OCI). É professor do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago
Dantas (UNESP, UNICAMP e PUC-SP) e do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Sociais da UNESP - Campus de Marília/SP. Foi observador da ONU na United Nations Peace
Force (UNPF), na Bósnia Herzegovina, e da United NationsTransitionalAdministration for
EasternSlavonia (UNTAES), na Croácia, durante a guerra civil na antiga Iugoslávia. Foi
Diretor da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED) no biênio 2012-2014. Atua na
área das Relações Internacionais com ênfase em segurança internacional, conflitos e resolução
de conflitos internacionais, direito internacional dos conflitos armados e operações de paz. É
membro de várias associações acadêmicas como a Associação Brasileira de Estudos de
Defesa (ABED), a EuropeanInternationalStudiesAssociation (EISA) e a InternationalPolitical
Science Association (IPSA) onde é membro do ResearchCommittee 44 (2014-2018). Autor
dos livros A Guerra da Iugoslávia: uma década de crises nos Bálcãs (2003), Segurança e
Defesa no Cone Sul: da rivalidade da Guerra Fria a cooperação atual (2010) e Gerenciamento
de Crises: o terremoto no Haiti (2014). (Fonte: Currículo Lattes)
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Sugestões de perguntas:
- Professora, explique como a família Asad chegou ao poder na Síria;
- Qual é a divisão demográfica e religiosa no país?
- Como a guerra começou?
- Quais são os atores envolvidos no conflito?
- Como a guerra ganhou dimensão internacional?
- Qual é o papel do Estado Islâmico nessa região?
- Como esse grupo terrorista surgiu, ganhou notoriedade e começou a preocupar o restante do
mundo?
- Explique o papel dos Estados Unidos e da Rússia nesse cenário;
- Pode haver uma guerra entre as superpotências por conta do conflito na Síria?
- Em sua opinião, o fim do conflito na Síria está próximo?
- Essa guerra gerou uma onda de refugiados pelo mundo. Explique esse processo.
- Muitos países, principalmente os da Europa, impuseram barreiras contra a chegada desses
refugiados. Qual é a sua visão em relação a isso?
- O Brasil acolheu até abril de 2016, 2.298 refugiados sírios segundo o Acnur. A senhora acha
que o nosso país se destaca no recebimento dessas pessoas ou ainda faltam muitas políticas
públicas em relação a essa questão?
PAUTA – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 2017
Retranca: Entrevista/Jornalista
Gancho: Vamos ouvir a vivência do jornalista Klester Cavalcanti, que realizou a cobertura
jornalística da guerra civil na Síria em seus anos iniciais. Tal fato proporcionou ao jornalista a
escrita de um livro premiado no Brasil e que serviu como base para o relatório científico deste
trabalho.
Entrevistado:
Klester Cavalcanti – jornalista
Biografia: Nascido em 1969 em Recife, o jornalista formou-se em Jornalismo pela Universidade
Católica de Pernambuco. Já trabalhou ao longo da carreira nos maiores veículos de comunicação no
Brasil, tais como: Veja, O Estado de São Paulo e IstoÉ. Já recebeu prêmios internacionais como o de
Melhor Reportagem Ambiental da América do Sul e de Jornalismo de Direitos Humanos. Também
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venceu três vezes o prêmio Jabuti de Literatura com os livros “Viúvas da Terra”, “O Nome da
Morte” e “Dias de Inferno na Síria”. Cavalcanti tem ainda um quinto livro publicado, intitulado “A
Dama da Liberdade”. A sua quarta obra diz respeito a experiência de quando foi à Síria fazer
uma reportagem especial sobre a guerra naquele país. Mesmo viajando com o visto de
imprensa concedido pelo Governo Sírio, Klester foi preso pelas forças do governo de Bashar
al-Assad, assim que ele chegou à cidade de Homs, local mais afetado pelos conflitos. Detido
no centro da cidade e sem direito a dar um telefonema sequer, Klester Cavalcanti passou seis
dias na prisão. Ele foi trancafiado na Penitenciária Central de Homs, numa cela com mais de
20 presos comuns, todos árabes e moradores da região. Durante esses dias, o jornalista
brasileiro foi várias vezes ameaçado de morte, algemado e torturado. Ele teve de dormir e
comer no chão, e só foi solto quando o Governo Brasileiro soube da sua prisão e intercedeu
oficialmente junto ao Governo Sírio, solicitando sua libertação.
Sugestões de perguntas:
- Qual era sentimento enquanto você andava pelas ruas da Síria logo no começo do conflito?
- Como você avalia as dimensões que a guerra tomou desde a primeira vez que esteve na
Síria?
- Você percebeu que o povo sírio tinha um lado político definido? Contra ou pró governo?
- O que passava em sua cabeça quando a ficha caiu ao ser preso em Homs?
- Você imaginava que os prisioneiros sírios seriam tão receptivos com você sendo um
estrangeiro?
- Ainda tem contato com alguém que conheceu na prisão? Como eles estão?
- Pretende voltar à Síria algum dia ainda durante esse conflito?
- Foi publicado na imprensa que o livro “Dias de Inferno na Síria” seria adaptado ao cinema.
Essa informação e verdadeira?
- Qual é a sua esperança em relação ao conflito?
PAUTA – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 2017
Retranca: Sírios/Penápolis
Gancho: Vamos mostrar a vida de uma família síria que se refugiou em Penápolis após o
início da guerra civil no país. A intenção é extrair ao máximo das personagens suas histórias
de sofrimento, dor, reconstrução e liberdade.
Sugestões de perguntas aos sírios:
- Diga o seu nome completo, idade e o que faz aqui no Brasil;
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- Diga os nomes completos dos integrantes da família;
- Onde moravam na Síria?
- O que vocês faziam na Síria?
- Primeiramente, conte-nos como era a vida na Síria antes de 2011, ano em que os conflitos
começaram.
- Como era viver no regime do presidente Bashar Al-Assad?
- Como foi o período de protestos na Síria que ficou conhecido como Primavera Árabe?
Vocês chegaram a participar das manifestações? Como o governo reagiu?
- A partir de março de 2011 os conflitos armados começaram e foram se intensificando. O que
vocês sentiam?
- O que se recordam desse período? O que viam lá?
- Quais foram os momentos mais tensos, de medos, perigos que passaram?
- Quando ainda estavam lá existia o medo de grupos terroristas como o Estado Islâmico?
- Perderam algum ente querido nos conflitos? Quem? Como?
- Quando decidiram abandonar o país?
- Depois de deixar a Síria onde vocês ficaram?
- Por que escolheram o Brasil?
- Como decidiram se refugiar no Brasil?
- Como conseguiram refúgio no Brasil? Como foi o processo de documentação?
- Você tinha algum dinheiro guardado para a viagem?
- Qual foi a primeira cidade brasileira que ficaram?
- Qual foi o sentimento ao pisar em solo brasileiro, livre dos conflitos?
- Por que vocês escolheram Penápolis?
- Deixaram familiares na Síria? Quais? Quantos? Tem notícias deles?
- Tem parentes em outras cidades no Brasil? Onde eles estão?
- Como reconstruíram a vida de vocês em Penápolis?
90
- O que fazem aqui? Trabalham com alguma coisa?
- Foi difícil arrumar emprego?
- Como foi a dificuldade com a língua?
- Qual é a definição que vocês dão aos brasileiros logo no começo aqui no Brasil? Esperavam
isso do Basil? Como imaginava que seria?
- E hoje como vocês estão economicamente?
- Pretendem voltar à Síria algum dia?
- Do que sentem mais falta?
- Acompanhando o noticiário de longe, vendo mais sofrimento e dor para as pessoas que
ainda continuam no país, o que vem à cabeça de vocês?
- Resuma a Síria em poucas palavras.
- Resuma o Brasil em poucas palavras.
- A partir de agora, o que vocês esperam do futuro?
- Qual música árabe vocês costumam ouvir? Elas falam especificamente do que?
Sugestões de perguntas aos colegas que os ajudaram:
- Diga seu nome completo, idade e profissão.
- Como conheceram a história da família síria?
- Quando ficaram sabendo da guerra e desses refugiados qual foi o sentimento?
- Como decidiram ajudá-los?
- O que você fez especificamente por eles?
- E a dificuldade com o idioma? Como se comunicavam?
- Por que decidiu tomar essa atitude de ajudá-los?
- Quando vê alguma notícia da Síria relatando mais atrocidades, mortes e pensar que se essa
família poderia continuar lá sofrendo, o que você sente?
- E agora que essa família está começando a reconstruir suas vidas o que lhe vem a cabeça?
- É um sentimento de dever cumprido?
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Sugestões de imagens e fotos:
*Terminal Rodoviário
* Parque Maria Chica
* Paço Municipal
* Rua São Francisco, pegando o obelisco e estátua da Praça dos Fundadores até o término da
rua onde encontra-se a Matriz de São Francisco de Assis.
* Museu do Sol
* Praça Dr. Carlos Sampaio Filho
* Imagens da família síria reunida
* Eles conversando, rindo (focar muito na face deles, procurar alguma marca na pele)
* Dança ou música local
* Filmar os cômodos da casa
* Objetos pessoais que remetam ao costume árabe
* Orações do Islã
* Sírios trabalhando em seus respectivos comércios
PAUTA – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 2017
Retranca: Sírios/Araçatuba
Gancho: Vamos mostrar a vida dos refugiados sírios em Araçatuba após o início da guerra
civil na Síria. A intenção é extrair ao máximo das personagens suas histórias de sofrimento,
dor, reconstrução e liberdade.
Sugestões de perguntas aos sírios:
- Diga o seu nome completo, idade e o que faz aqui no Brasil;
- Diga os nomes completos dos integrantes da família;
- Onde moravam na Síria?
- O que vocês faziam na Síria?
92
- Primeiramente, conte-nos como era a vida na Síria antes de 2011, ano em que os conflitos
começaram.
- Como era viver no regime do presidente Bashar Al-Assad?
- Como foi o período de protestos na Síria que ficou conhecido como Primavera Árabe?
Vocês chegaram a participar das manifestações? Como o governo reagiu?
- A partir de março de 2011 os conflitos armados começaram e foram se intensificando. O que
vocês sentiam?
- O que se recordam desse período? O que viam lá?
- Quais foram os momentos mais tensos, de medos, perigos que passaram?
- Quando ainda estavam lá existia o medo de grupos terroristas como o Estado Islâmico?
- Perderam algum ente querido nos conflitos? Quem? Como?
- Quando decidiram abandonar o país?
- Depois de deixar a Síria onde vocês ficaram?
- Por que escolheram o Brasil?
- Como decidiram se refugiar no Brasil?
- Como conseguiram refúgio no Brasil? Como foi o processo de documentação?
- Você tinha algum dinheiro guardado para a viagem?
- Qual foi a primeira cidade brasileira que ficaram?
- Qual foi o sentimento ao pisar em solo brasileiro, livre dos conflitos?
- Por que vocês escolheram Araçatuba?
- Deixaram familiares na Síria? Quais? Quantos? Tem notícias deles?
- Tem parentes em outras cidades no Brasil? Onde eles estão?
- Como reconstruíram a vida de vocês em Araçatuba?
- O que fazem aqui? Trabalham com alguma coisa?
- Foi difícil arrumar emprego?
- Como foi a dificuldade com a língua?
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- Qual é a definição que vocês dão aos brasileiros logo no começo aqui no Brasil? Esperavam
isso do Brasil? Como imaginava que seria?
- E hoje como vocês estão economicamente?
- Pretendem voltar à Síria algum dia?
- Do que sentem mais falta?
- Acompanhando o noticiário de longe, vendo mais sofrimento e dor para as pessoas que
ainda continuam no país, o que vem à cabeça de vocês?
- Resuma a Síria em poucas palavras.
- Resuma o Brasil em poucas palavras.
- A partir de agora, o que vocês esperam do futuro?
- Qual música árabe vocês costumam ouvir? Elas falam especificamente do que?
Sugestões de perguntas aos colegas que os ajudaram:
- Diga seu nome completo, idade e profissão.
- Como conheceram a história da família síria?
- Quando ficaram sabendo da guerra e desses refugiados qual foi o sentimento?
- Como decidiram ajudá-los?
- O que você fez especificamente por eles?
- E a dificuldade com o idioma? Como se comunicavam?
- Por que decidiu tomar essa atitude de ajudá-los?
- Quando vê alguma notícia da Síria relatando mais atrocidades, mortes e pensar que se essa
família poderia continuar lá sofrendo, o que você sente?
- E agora que essa família está começando a reconstruir suas vidas o que lhe vem a cabeça?
- É um sentimento de dever cumprido?
Sugestões de imagens e fotos:
*Entrada da cidade pela avenida Brasília ( monumento “Araçatuba Cidade Amiga) e
cruzamento com a avenida Joaquim Pompeu de Toledo
* Praças Rui Barbosa, João Pessoa e Getúlio Vargas
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* Paço Municipal
* Avenida dos Araçás com foco na estação de trem desativada
* Calçadão da Marechal Deodoro
* Avenida Abrão Buchala, no Claudionor Cinti (focar os prédios da cidade)
* Rua Do Fico
* Pontilhão da ruaAguapeí
* Imagens da família síria reunida
* Eles conversando, rindo (focar muito na face deles, procurar alguma marca na pele)
* Dança ou música local
* Filmar os cômodos da casa
* Objetos pessoais que remetam ao costume árabe
* Orações do Islã
* Sírios trabalhando em seus respectivos comércios
PAUTA – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 2017
Retranca: Entrevista/Sociólogo
Gancho: Vamos ouvir o professor doutor em História Social, Carlos Eduardo MarottaPeters ,
para tratarmos da questão sócio-antropológica da chegada de refugiados sírios em Araçatuba e
Penápolis. O foco da entrevista será na convivência/adaptação de culturas.
Entrevistada:
CARLOS EDURADO MAROTTA PETERS – doutor em História Social
Sugestões de perguntas:
- Qual é a relação entre Araçatuba e Penápolis com os povos árabes?
- Professor, como se dá o processo de adaptação a uma nova cultura?
- No caso dos refugiados, esse processo sofre alguma particularidade? É algo mais
dificultoso?
- Por que os brasileiros passam a imagem de um povo receptivo em relação à chegada de
estrangeiros ao país?
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- Nós temos um caso específico de um personagem que cita uma visão contrária a tudo
isso. Ele não conseguiu muito contato e convivência com os brasileiros, sofreu preconceito
por ser muçulmano e teve dificuldades de permanecer nos empregos que conseguiu por conta
disso. Em sua opinião, qual é o motivo disso acontecer?
- Por outro lado, entrevistamos refugiados sírios que praticamente tornaram-se brasileiros. Por
que uns se adaptam mais facilmente e outros sofrem mais resistência?
- Até que ponto a diferença religiosa influencia nesse processo de aculturação?
- O Brasil é considerado um estado laico. O senhor acredita que o muçulmano tem espaço
para manifestar sua religião sem sofrer preconceito?
- A primeira barreira que um refugiado encontra ao chegar em outro país é o idioma. O quão
difícil isso pode ser na reconstrução da vida dessas famílias?
- E em relação à nossa região interiorana de São Paulo que carrega seus próprios vícios,
cacoetes e gírias, com uma cultura mais tradicional caipira?
- Em muitos lugares do mundo, o uso da burca foi questionado. O quanto essa vestimenta é
significativa para as mulheres muçulmanas?
- Essa vestimenta acaba tornando-se um fator impeditivo para a aceitação dentro da cultura
brasileira?
- O papel da mulher no Ocidente tem se modificado ao longo dos anos em busca da igualdade
de direitos. Entretanto, no Oriente Médio ainda há submissão feminina, inclusive nós
percebemos isso ao entrevistar os sírios. Como lidar com esse choque cultural e jurídico?
PAUTA – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 2017
Retranca: Entrevista/Professor
Gancho: Vamos ouvir o professor mestre Luciano Meneguetti Pereira a respeito dos direitos
referentes aos refugiados de guerra, no caso específico dos que possuem nacionalidade síria e
vieram para o Brasil
Entrevistado:
Luciano Meneguetti Pereira – professor mestre
Sugestões de perguntas:
- A partir de que momento uma pessoa pode ser considerada refugiada?
- Quais são os trâmites para que essa pessoa consiga refúgio em determinado país?
- O visto é diferenciado?
- A estadia em determinado país como refugiado tem prazo? O visto deve ser renovado?
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- Existe alguma diferença entre o cidadão refugiado vivendo em um país diferente? Ele goza
dos mesmos direitos que um cidadão comum?
- Ele consegue trabalhar com carteira assinada? Tirar carteira de motorista? Adquirir bens
materiais? Abrir empresas?
- O indivíduo que ganha o status de refugiado perde a sua nacionalidade e passa a ter a do
novo país?
PAUTA – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 2017
Retranca: Entrevista/Gastronomia
Gancho: Vamos ouvir o professor coordenador do curso de Gastronomia do Centro
Universitário Toledo, Helerson de Almeida Balderramas, a respeito da repercussão do fato de
alguns refugiados sírios terem negócios voltados à gastronomia árabe em Araçatuba e
Penápolis
Entrevistada:
HELERSON DE ALMEIRA BALDERRAMAS – especialista em Gastronomia
Sugestões de perguntas:
- Por que alguns dos refugiados sírios ao chegarem ao Brasil abrem comércios voltados à
culinária árabe, mesmo em algumas vezes sem terem tido sequer experiência na gastronomia
antes?
- A semelhança entre a culinária árabe e a brasileira pode ser uma explicação desse processo?
Quais são essas semelhanças?
- Muitos têm adaptado seus cardápios oferecendo também, além da comida tradicional árabe,
a comida brasileira, como por exemplo os lanches com hambúrgueres artesanais. Por que isso
ocorre?
- O senhor acredita que o brasileiro está aberto aos temperos da culinária internacional?
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E-mails enviados para as cinco maiores cidades da região administrativa de
Araçatuba. Apenas Birigui e Andradina não responderam às solicitações de
informações.
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