Cultura da beterraba
Prof. Dr. Paulo César Tavares de MeloESALQ/USP
Departamento de Produção Vegetal
Out 2013
Valor nutricionalCada 100 g de beterraba contém:
� Calorias - 50 kcal� Proteínas - 3 g� Gorduras - 0 g� Vitamina A - 42 U.l.� Vitamina B1 (Tiamina) - 50 mcg� Vitamina B2 (Ribiflavina) - 55 mcg� Vitamina B5 (Niacina) - 0,40 mg� Vitamina C (ácido ascórbico) - 36 mg� Potássio - 350 mg� Sódio - 95 mg� Fósforo - 40 mg� Cálcio - 25 mg� Zinco - 5 mg� Ferro - 3 mg� Manganês - 0,5 mg
Introdução
� Parte comestível � raíz tuberosa (orgão de reserva);
� Suporta transplante de mudas;� Poucas raízes laterais; � Raíz quebra e não ramifica � não origina outras
raízes;� Diversas formas de consumo;� Área plantada no Brasil � 8.000 a 10.000 ha.
Origem e Classificação Botânica
� Família: Chenopodiaceae; � Espécie: Beta vulgaris var. conditiva;� Centro de origem � ao longo da costa do Mar
Mediterrâneo, Norte da África e Ásia Menor;� Região de áreas salinas próximas do mar �
elevados teores de Na;� Raízes � elevada absorção de Na e Cl (espécie
testadora de salinidade);� Considerada uma hortaliças relativamente
moderna.
A beterraba olerácea de “raiz” arredondada foi selecionada apartir de tipos alongados por volta do século XVI na região doMediterrâneo.
Domesticação
Domesticação
� Primeiras referências à beterraba como hortaliça: Alemanha (1558) e Inglaterra (1576) � nome usado –“Beterraba Romana” – implica na introdução a partir da Itália;
� A beterraba já era usada por gregos e romanos muito tempo antes disso � século II ou III da era cristã;
� Seleções � maior ciclo, diferença de cor e maior concentração de sacarose (7 para 20% de sacarose) �origem da beterraba açucareira;
� Europa e EUA � produção de açúcar a partir de raízes de beterraba;
� Seleções a 37o N (Mar Mediterrâneo) originou a beterraba olerácea.
Anatomia da “raiz” de beterraba� O que se costuma chamar de raíz tuberosa,
botanicamente, é o hipocótilo; raízes verdadeirasdesenvolvem-se na porção terminal do hipocótiloentumescido.
Pecíolo das folhas
Coroa
Hipocótilo
Raízes verdadeiras
Folhas
Anatomia da “raiz” de beterraba
� A raíz tuberosa é constituída, internamente, porfaixas circulares alternadas de:� tecidos condutores de alimentos � faixas estreitas e
claras, alternadas por� tecidos de reserva � faixas mais largas e escuras
Faixas circulares alternadas
Anatomia da “raiz” de beterraba
� O contraste entre essas faixas, chamado de“anelamento”, varia muito entre cultivares edentro de uma mesma cultivar � manifesta-se,principalmente, sob temperatura elevada.
Pigmentação da raiz� Pigmento nas cultivares de raízes de cor roxa �
betacianina;� Presença de pigmentação nas folhas, raízes,
pecíolos e nervuras das folhas.
Fisiologia do desenvolvimento
� Ciclo de vida bienal:
� 1º ano: Fase vegetativa: semente à raiz� 2º ano: Fase reprodutiva: raiz à semente
� Histórico da evolução � seleção para dois fatores na fisiologia da produção de sementes:
� Fotoperíodo e Temperatura
Fisiologia do desenvolvimento
� Espécie termofotoindutiva para florescer:� > 15 h de fotoperíodo� 1.000 h sob condições de temperaturas vernalizantes (6-12o C)� Não responde apenas a um fator isoladamente
� Vantagem hortícola � pode ser plantada o anotodo;
� Desvantagem: 100% das sementes sãoimportadas (EUA) � dificuldade de produção de sementes no Brasil em escala econômica.
Biologia Floral� Flores hermafroditas (♀ e ♂) e sésseis � ausência de
pétalas;� Polinização anemófila � dispersão dos grãos-de-pólen
pelo vento pode alcançar 20 km;� Espécie alógama � ocorrência da protandria (anteras
liberam pólen seis dias antes que o estigma estejareceptivo);
� Cada inflorescência possui uma bráctea que protegecerca de 3-5 frutos corticosos diminutos; cada frutopossui um óvulo que originará uma semente botânica;
� Após a polinização, ocorre o crescimento da bráctea, recobrindo as inflorescências fecundadas, formando um aglomerado de sementes denominado GLOMÉRULO.
Flor séssil (ausência de pétalas)
Brácteas (após a polinização ocorre embricamento e formação do glomérulo)
• Glomérulo: formado após a polinização com o embricamento das brácteas
• Cada glomérulo possui 3 – 5 sementes
• Glomérulo corticoso
“Sementes” (glomérulos)
“Semente” monogérmica
Colheita de “sementes” de beterraba
Formas de consumo
� Ao natural � raízes e folhas� Em conserva � picles� Minimamente processada� Produção de açúcar � beterraba
açucareira (EUA, UE)
A forma original de consumo da beterraba foi como planta medicinal.
Beterraba açucareira (B. vulgaris var. maritima)
• Ausência de pigmento vermelho;
• Coloração branca/amarelada � Betaxantina;
• Produção de açúcar;
• Manejo diferente (ciclo mais longo etc…);
• Tolerante à seca → sistema radicular profundo;
• Pouco exigente em água;
• Comporta-se bem em solos salinos e alcalinos;
• Complemento ideal para cana-de-açúcar emalguns países;
• Alto potencial produtivo.
Beterraba açucareira (B. vulgaris var. maritima)
Exigências climáticas� Melhor desenvolvimento � clima ameno e frio
(outono e inverno);� Faixa ideal de temperatura para o desenvolvimento
� 10 a 20o C;� Tolerância ao frio e a geadas leves � maior
sensibilidade no início do ciclo de desenvolvimento; � Cultivo em temperatura ideal:
� melhor qualidade da raiz �
crescimento normal;� maior acúmulo de betacianina � cor
mais intensa;� acumula mais sacarose; � menor incidência de doenças.
Efeitos adversos de temperaturas elevadas no cultivo da beterraba
• Maior incidência de doenças (Cercospora beticola);
• Presença de anéis concêntricos claros (“anelamento”) � indica que o crescimento da raiz foi anormal �histórico da cultura;
• Anéis uniformes � indica que a raiz teve crescimento normal;
• Anéis não-uniformes � crescimento alterado (temperatura elevada, excesso d’água, fator genético).
Cultivares de beterraba
� As cultivares são agrupadas de acordo com oformato, cor e maturidade:
Raízes globosas ou levemente achatadas
Raízes cilíndricas
Raízes de diferentes cores
Cultivares de beterraba� Cultivares de polinização aberta
� Early Wonder � mais cultivada no Brasil� Stays Green� Sempre Verde� Vermelha Ruby
� Cultivares híbridas� Scarlet Super F1� Rubra F1� Red Cloud F1*� Redondo F1*� Betollo F1*� Boro F1*
* Nova introdução – Bejo sementes do Brasil Ltda.
Cultivares híbridas de beterraba
www.beterrabanobre.com.br
Cultivares híbridas de beterraba
Em comparação às cultivares de polinização aberta os híbridos de beterraba:
- atingem o ponto de colheita primeiro � maturidade precoce
- exibem qualidade superior � uniformidade, cor externa e interna
Cultivares híbridas de beterraba
Tipos de sementes no mercado
� Sementes descortiçadas: glomérulos partidos parafacilitar emergência separada. Uso de betoneiras;
� Sementes peletizadas: é a semente descortiçada envoltapelo pelete;
� Sementes monogérmicas: são sementes cujo glomérulocontém apenas uma semente� 90–95% de semente única. Ex. híbrido Modana.
Épocas de cultivo
� Regiões de altitude < 400 m � abril a julho;� Regiões de altitude 400 – 800 m � fevereiro a
julho;� Regiões serranas (> 800 m) � 365 dias/ano
(não ocorre florescimento prematuro como na cebola e cenoura);
� Cultura de verão o risco é maior � menor oferta = preços mais altos.
Alternativa para o plantio no verão:Concentrar produção em regiões serranas � São José do Rio Pardo-SP, Piedade-SP, São Gotardo-MG, Carandaí-MG, Irecê-BA.
Calagem e adubação
� Aplicar calcário � elevar saturação de base a 80%;� 30 dias antes da semeadura, aplicar 20 a 30 t/ha de
esterco de curral curtido;� De acordo com a análise do solo:
� 20 a 30 kg/ha de N� 180 a 360 kg/ha de P205� 60 a 180 kg/ha de K20 � Incorporar ao solo, pelo menos, 10 dias antes da
semeadura;� Em solos deficientes, aplicar 2 a 4 kg/ha de boro e 3 kg/ha
de zinco, juntamente com o NPK, no momento da semeadura.
Calagem e adubação
� Adubação de cobertura:� 80 a 160 kg/ha de N;� 30 a 60 kg/ha de K20;� Parcelar em três aplicações, aos 15, 30 e 45
dias após a emergência das plântulas;� Aplicar em pulverizações, aos 15 e 30 dias
após a emergência das plântulas (ou transplante das mudas), 5 g de molibdato de Na ou molibdato de amônio, diluído em 10 L de água.
Sistemas de plantio
� Semeadura direta � 10 kg de sementes/ha;
� Produção de mudas em canteiros e posterior transplante para o local definitivo � 4 kg/ha;
� Produção de mudas em bandejas e posterior transplante para o local definitivo � 1-2 kg/ha.
A imersão dos glomérulos em água, por 12 horas, melhora a emergência das plântulas.
Sistema de semeadura direta
� Cultivo em canteiros de 1,0 a 1,2 m de largura, 20 a 30 cm de altura e separados entre si por 40 a 50 cm;
� Profundidade de semeação: 1 a 2 cm (manual ou mecânica);
� Espaçamento definitivo: 20 a 30 cm x 10 a 15 cm;
� Densidade: 155.000 a 350.000 plantas/ha;� 90% de toda a área cultivada no Brasil.
Sistema de semeadura direta
semeadura
• semeadeiras pneumáticas e/ou manuais;
• ciclo menor (60-70 dias) � maior rentabilidade e menor custo;
• melhoria de qualidade (plantas e raízes);
• Realizar o desbaste quando as plantas estiverem com 5-6 folhas;
• 10 kg de semente/ha (descortiçada/peletizada);
• 4,5 kg semente/ha (monogérmica) � reduz 40% o custo da semente e 50% o de mão-de-obra para o desbaste.
Fotos: S.W.Tivelli - IAC
• bandejas de 288 células;
• sementes descortiçadas e/ou peletizadas;
• desbastar antes do transplantio;
• 25-30 dias faz-se o transplante das mudas (4-5 pares de folhas; 10-15 cm);
• ciclo maior (80-100 dias) devido aoestresse do transplante;
• vantagens: uso no verão para evitartombamento; redução de falhas e segasta apenas 4 kg sementes/ha.
Sistema de produção de mudas e posterior transplantio
Produção de mudas em bandejas
Produção de mudas em larga escala. Viveirão, S.J.R.Pardo, SP
Produção de mudas em bandejas
Canteiros preparados com a rotoencanteiradeira
Piedade, SP - 2004
Marcação dos canteiros
Piedade, SP - 2004
Manejo cultural
� Desbaste � deve ser realizado 15 a 25 dias após a emergência;
� Reduz a competição entre plantas e aumenta a uniformidade na semeadura direta;
� Uso de mão-de-obra � eleva o custo de produção;
� Maior consumo de sementes.
O desbaste é obrigatório tanto para sementes não-descortiçadas como para descortiçadas.
Antes do desbaste
Depois de desbastada
Lavoura de beterraba em fase de colheita - Piedade, SP - 2004
Plantio direto na palhada. São José do
Rio Pardo, 2005.
Plantio direto na palhada. São José do
Rio Pardo, 2005.
Tratos culturais
� Irrigação: aspersão, pivo central � sistemas mais comuns;
� Irrigação irregular � contribui para maior incidência do anelamento das raízes;
� Controle de plantas daninhas:� manual� mecânico � enxadas adaptadas� herbicidas � folha larga em pós-emergência: Goltix
(Metamitron) 2 – 4 kg/ha
Colheita
� Semeadura direta: ciclo 60 – 70 dias após a semeadura;
� Muda transplantada: 80 – 100 dias após o transplante;
� Determinação do ponto de colheita: por meio de amostragem � maioria das “raízes” com 200 –300 g e com calibre de 8 – 10 cm de diâmetro e 6 – 7 cm de comprimento;
� Colheita manual.
O que ocorre se passar do ponto de colheita?
Beterraba � a raiz é um órgão de crescimento contínuo.
Peso
Tempo60-70 dias
300 g • raízes fibrosas;
• qualidade depreciada;
• raízes de tamanho indesejável > 1 kg;
• raízes grosseiras;
Colheita
Fotos: S.W.Tivelli-IAC
Hib. RodinaHib. Kestrel
Lavagem das raízes
Comercialização
� Dependendo do preço praticado no mercado, o produtor deixa alguns dias no campo � reduz qualidade da “raiz”;
� Comercialização: em maços e ou em caixas de madeira tipo K (23-24 kg);
� Toalete � “raízes” e folhagem (rama);� Venda no atacado em caixa e no varejo em kg� Média de rendimento no Brasil: 20 – 35 t/ha.
Comercialização
Venda em maço com até 9 raízes amarradas � restrito a pequenos produtores.
Venda em caixas KFotos: S.W.Tivelli-IAC
Mancha-das-folhas (Cercospora beticola)
� Principal doença;� Manchas marrons e
circulares;� Ataque severo � destrói
folhas;� Comercialização/maço;� Ocorrência maior no verão � excesso de chuvas e temperatura elevada;
� Controle: dithane, manzate e cercobin.
Podridão da raíz ou “damping-off” Agentes causais: Pythium, Phytophthora e Rizoctonia
Doença associada a:
• Solos encharcados / mal drenados;
• Falta de rotação;
• Sementes não tratadas;
• Uso de transplante de mudas no verão.
SarnaAgente causal: Streptomyces scabies;
Similar à sarna da batata � presença de manchas ásperas nasuperfície da raíz. Deprecia o produto na comercialização.
Sarna(Streptomyces scabies)
Nematóides ou pipoca Agente causal: Meloidogyne spp.
• Aumentando a importância nas regiões produtoras;
• Causa redução da produtividade;
• Deprecia o produto.
Principais pragas
� Lagarta-elasmo (Elasmopalpus spp.)� Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon)� Vaquinha (Diabrotica speciosa)� Pulgão-do-colo� Larva minadora
Produtos registrados: carbaryl (até 18-05-2006).
(Liriomyza spp.)
� Classes de pigmentos de plantas:� Clorofila � Verde
� Betalaínas� Betaxantina � Amarelo/Laranja� Betacianina � BETANINA � Vermelho/Roxo (Beterraba)
� Carotenóides � Betacaroteno � Laranja� Licopeno � Vermelho� Xantofilas � Amarelo
� Flavonóides� Amarelo� Laranja� Vermelho� Azul
A supervalorização dos corantes naturais
� Vermelho beterraba é o nome comercial do corante natural extraído da beterraba � largamente usados em alimentos com vida útil relativamente curta, como: sorvetes, iogurtes, pudins e aqueles com pouco teor de umidade e que não sofrem processamento prolongado sob temperaturas elevadas.
A supervalorização dos corantes naturais
Baby beet
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