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REUTILIZAÇÃO DE EMBARCAÇÃO PARA USO HABITACIONAL NO
BAIRRO DO CAJU
Aluna: Fernanda Cascão Barreto
Orientador: Fernando Betim
Introdução:
O tema principal deste trabalho é a reutilização de estruturas abandonadas ou semi-
abandonadas. Em um contexto cultural onde o descarte é banalizado, a reutilização pode, ao
introduzir novas lógicas, recuperar e tornar vitais espaços deteriorados. O que se propõe neste
trabalho é a reutilização de um navio abandonado na região portuária do Rio de Janeiro, no
Caju, e sua transformação em um espaço de morar. A escolha da lógica do morar não se deu
por acaso. Parte do diagnóstico de que este bairro atualmente, apesar do grande número de
moradores, não apresenta um espaço apropriado para o uso residencial. Portanto, a
reutilização que aqui se pretende não visa apenas a ação sobre a embarcação, mas sobre o
bairro também, propondo intervenções urbanas que corroborem com as necessidades no que
concerne ao morar. Ressalta-se ainda que um dos objetivos das reformas que atualmente estão
sendo promovidas no Centro da cidade é a de aumentar o número de residências na região.
Notícias sobre barcos abandonados na baía de Guanabara têm chamado à atenção nos
últimos anos. Jornais cotidianos noticiaram que a baía carioca, um manancial poluído de 381
quilômetros quadrados de espelho d’água, é: um “cemitério de embarcações”. A Secretaria de
Estado e do Meio Ambiente estima que, no total, haja pelo menos 250 unidades submersas ou
parcialmente submersas, dentre: navios, carcaças, e barcos de pequeno, médio e grande porte.
Alguns estão na área há mais de cinquenta anos, o que representa alto risco de acidentes
ambientais e também para o tráfego naval. Estas notícias apontam para a relação que hoje está
estabelecida com a baía: de uso e descarte. Ou seja, mesmo esta sendo uma região tão
complexa pelos grandes interesses evolvidos, seu uso não prevê um esquema de reutilização e
reaproveitamento. Suas águas que são, ao mesmo tempo, fonte de riqueza são também o
depósito de uma grande lixeira, onde estruturas inteiras ficam abandonadas, o que representa
riscos físicos e ambientais.
A região do Caju sofreu muito com a modernização do Porto de Rio de Janeiro. Pela sua
posição estratégica, terrenos enormes foram tomados para uso comercial. Existem duas
escalas dominantes no bairro: A escala macro - que ocupa a maior parte do solo e é composta
com o uso logístico e industrial. E a escala micro - que ocupa partes bem menores do terreno,
e aproxima-se da escala humana, onde as habitações estão hoje. Na relação entre as escalas, a
habitação é completamente desprivilegiada. Nota-se que ela acontece em partes recortadas do
terreno e que não existe um plano que interligue os seus vários retalhos, como espaços de uso
público.
É claro que existem grandes interesses para que a lógica dominante no Caju seja a da
produção, como hoje acontece e que torna esse espaço primordialmente comercial, pela
proximidade com a baía e com o porto da cidade. A questão levantada é: mesmo mantendo a
maior parte do espaço com o interesse comercial, não se pode agregar a preocupação por
qualidade nos espaços de morar à lógica existente?
Pensar o morar contemporâneo é pensar dentro de uma cidade existente, com suas
questões. As suas camadas históricas e funcionais devem trabalhar juntas e agregar diversas
lógicas. Integrá-las de modo a vislumbrar a escala humana e a experiência de morar, para que
se torne possível uma relação de melhor qualidade entre o morador e a cidade. Para este fim, é
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imprescindível pensar nesta relação indo além do descarte. Tornar um ambiente sustentável é
olhar para além das potências presentes em seus espaços vivos, mas também nos espaços
mortos, ou semimortos. Os barcos abandonados na baía de Guanabara representam esses
espaços mortos, então por que não pensar que estas estruturas prontas podem ser reutilizadas e
re-incorporadas novamente a usos presentes?
Tema – Reutilização
O tema principal deste trabalho é a reutilização de estruturas abandonadas ou semi-
abandonadas. Em um contexto cultural onde o descarte é banalizado, a reutilização pode, ao
introduzir novas lógicas, recuperar e tornar vitais esses espaços. O que se propõe neste
trabalho é a reutilização de um navio abandonado na região portuária do Rio de Janeiro, no
Caju, e sua transformação em um espaço de morar. A escolha da lógica do morar não se deu
por acaso. Parte do diagnóstico de que este bairro atualmente, apesar de ter muitos moradores,
não apresenta um espaço apropriado para o uso residencial. Portanto, a reutilização que aqui
se pretende não visa apenas a ação sobre a embarcação, mas sobre o bairro também, onde essa
está sendo inserida e suas necessidades no que concerne ao morar. Ressalta-se ainda que um
dos objetivos das reformas que atualmente estão sendo promovidas no Centro da cidade é a de
aumentar o número de residências na região. Espera-se que movimentos semelhantes ocorram
nos bairros circundantes.
Justificativa - O Caju e a relação entre o morar e a cidade
Existe grande proximidade física entre o Caju e o Centro da cidade - motivo pelo qual a
região é densamente habitada. O bairro surgiu em seu atual formato na década de 40, com a
criação da Avenida Brasil que o cortou do bairro de São Cristóvão. Entretanto, as barreiras
físicas criadas, (Ponte Rio - Niterói em 1974, Avenida Brasil em 1946 e Linha Vermelha em
1992) dificultam a integração entre o local e os demais bairros, assim como a expansão dos
investimentos que atualmente estão voltados para a região central pelo Projeto Porto
Maravilha para o Caju. Os limites do Projeto Porto Maravilha chegam, ao mesmo tempo, tão
perto (cerca de 1 km) e tão longe do Caju por causa de tais barreiras. (Ver anexos 01 e 02)
Anexo 01:
Mapa relação Caju com o entorno
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Anexo 02:
Figura 01: Alcance do Projeto Porto Maravilha - Proximidade de cerca de 1 km do Caju Figura 02: Diagrama de Usos de Projeto Porto Maravilha - Preocupação com o uso misto
É claro que existem grandes interesses para que a lógica dominante no Caju seja a da
produção, como hoje acontece, o que torna esse espaço primordialmente comercial, pela
proximidade com a baía e com o porto da cidade. A questão a ser levantada é: mesmo
mantendo a maior parte do espaço com o interesse comercial, não se pode agregar a
preocupação por qualidade nos espaços de morar à lógica existente? Segundo o site do Projeto
Porto Maravilha, há 54 projetos habitacionais para a área central, sendo quatro deles
comerciais e cinquenta de preocupação social. Ou seja, há um grande interesse no projeto pelo
uso misto da cidade, e consequentemente, essa preocupação precisa ser repensada para além
dos limites do projeto portuário, porque existe uma enorme demanda.
O Caju é um bairro historicamente muito importante para Rio de Janeiro. A sua
primeira ocupação aconteceu em meados de 1800, sendo um dos bairros mais antigos da
cidade. Segundo o cronista do Rio antigo, C. J. Dunlop: “Era uma região belíssima, de praias
com areias branquinhas e água cristalina, onde não era rara a visão do fundo da Baía, tendo
como habitantes comuns os camarões, cavalos-marinhos, sardinhas, e até mesmo baleias.”
A região tornou-se a primeira região de banho de mar do Rio de Janeiro, sendo
frequentada por toda a família real até D. Pedro II. Existe ainda, no local, a Casa de Banhos
de D. João VI, que hoje abriga o Museu da Comlurb e passará por um projeto de
revitalização. A importância histórica fez com que o edifício e o seu entorno fossem, em
parte, preservados.
O início do bairro do Caju se deu pela atividade pesqueira- que foi assolada pela
expansão do Porto. Entre 1830 e 1940 foi um bairro nobre. Atualmente, não possui mais
características de um bairro central da cidade, mas de um bairro proletário e, do ponto de vista
do morar, negligenciado.
Hoje há diferentes camadas de habitação no bairro que co-existem entre si, mas não
necessariamente há alguma conexão entre elas. São elas: a do século XIX, próxima à Casa de
Banhos, que tem casas antigas e estruturas de fábricas grandes e pequenas, como uma antiga
fabriqueta de vassoura. Há também camadas de habitação do século XX e XXI: um prédio
grande próximo à praça central, cujo projeto emana preocupação com a habitação social, e as
oito comunidades, que surgiram em tempos diferentes e em lugares desprivilegiados à
ocupação comercial. Todos esses espaços ficam espremidos entre as grandes instalações
industriais e de logística que ocupam em maior parte o solo do bairro. (Ver anexo 03)
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Anexo 03:
Mapa Relação Residencial x Outros Usos
A região do Caju sofreu muito com a modernização do Porto de Rio de Janeiro. Pela sua
posição estratégica, terrenos enormes foram tomados para uso comercial. Existem duas
escalas dominantes no bairro: A escala macro - que ocupa a maior parte do solo e é composta
com o uso logístico e industrial. E a escala micro - que ocupa partes bem menores do terreno,
e aproxima-se da escala humana, onde as habitações estão hoje. Na relação entre as escalas, a
habitação é completamente desprivilegiada. Nota-se que ela acontece em partes recortadas do
terreno e que não existe um plano que interligue as suas várias camadas.
Notícias sobre barcos abandonados na baía de Guanabara têm chamado à atenção nos
últimos anos. Jornais cotidianos noticiaram (Ver anexo 04) que a baía carioca, um manancial
poluído de 381 quilômetros quadrados de espelho d’água, é: um “cemitério de embarcações”.
Anexo 04:
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A Secretaria de Estado e do Meio Ambiente estima que, no total, haja pelo menos 250
unidades submersas ou parcialmente submersas, dentre: navios, carcaças, e barcos de
pequeno, médio e grande porte. Alguns estão na área há mais de cinquenta anos, o que
representa alto risco de acidentes ambientais e também para o tráfego naval. Estas notícias
apontam para a relação que hoje está estabelecida com a baía: de uso e descarte. Ou seja,
mesmo esta sendo uma região tão complexa pelos grandes interesses evolvidos, seu uso não
prevê um esquema de reutilização e aproveitamento. Suas águas que representam, ao mesmo
tempo, grande riqueza são também o depósito de uma grande lixeira, onde ficam abandonadas
estruturas inteiras. Estas estruturas, além de não possuírem reuso, a não ser o do desmonte,
que muitas vezes não acontece, acabam por prejudicar a fluidez dos próprios interesses
financeiros, porque representam riscos físicos e ambientais.
Conceituação – Morar Contemporâneo
Anexo 05:
A forma como a pessoa se apropria do espaço, no entanto, depende de como a cidade é
concebida conceitualmente. Nesse sentido, faz-se uma distinção, neste projeto, entre o
conceito de cidade moderna e o de cidade contemporânea. A idéia de uma cidade moderna
surge no século XIX, como uma forma de se impor determinada ordem a um crescimento
urbano que, naquele momento, eclodia. O intuito era, então, solucionar os problemas
existentes, como a falta de habitação e os deslocamentos internos em maior escala. Trabalhou-
se com conceitos que hoje se percebe, muitas vezes, ignoram a escala humana, criam grandes
distâncias e produzem uma arquitetura habitacional que apresenta desconexão com o meio
local.
Outra crítica pertinente a esta forma de pensar é que a reutilização não era um conceito-
fundamento. A idéia de solucionar, de abrir vias largas, de “organizar” a cidade, acontecia se
impondo às camadas históricas existentes, sem o pensamento de que parte do que está
degradado pode ser repensado, reutilizado, re-viabilizado através de uma nova lógica
reconstruída.
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Muitas críticas foram feitas a este modelo, dentre as quais se pode incluir aquela
realizada a partir da obra de De Carlo. A possível relação entre arquitetura e urbanismo, em
seu ponto de vista, é a possibilidade de engendrar cidadãos participantes do projeto da cidade,
capazes de compreender o espaço urbano, interpretá-lo em sua complexidade e tomar decisões
as quais contribuam para a satisfação de suas próprias necessidades. De Carlo sempre soube
que a arquitetura não resolve o problema social, mas acreditou que ela pode interferir, pela
qualidade ambiental que proporciona, pelo melhor desenho do espaço e o envolvimento dos
habitantes com sua cidade”
Essa crítica pode ser feita atualmente a muitos programas habitacionais
contemporâneos. Assiste-se, muitas vezes, a uma repetição projetual nas quais se ignora o
contexto, o que tende a resultar em projetos sem nenhuma ligação com o entorno e,
arquitetonicamente, pobres. (Ver anexo 06)
Anexo 06:
Minha Casa Minha Vida – Aracaju Minha Casa Minha Vida – Minas Gerais
Minha Casa Minha Vida – Rio de Janeiro Minha Casa Minha Vida – Manaus
De Carlo questiona a noção moderna de morar, pois para ele a escala humana estaria
sendo ignorada em virtude da valorização dos custos baixos e da vontade de resolver o
problema da habitação nó pós-guerra. Segundo o autor, esse tipo de pensamento contribui
para tornar a arquitetura mais empobrecida: “Infelizmente, esta negligência da escala e da
noção humana nos edifícios acelerou durante os anos 30 e os períodos imediatamente
subseqüentes às guerras mundiais, quando os construtores e os especuladores descobriram
com prazer que os objetivos afirmados pelo movimento modernista na arquitetura (luz do sol,
amplas paredes de vidro, ventilação decente), poderiam ser adquiridos com baixo custo. Os
resultados foram os ignóbeis blocos de apartamentos e as desoladoras urbanizações dos
subúrbios que agora enchem o globo – deixando-nos a todos mais pobres.”
Tanto a cidade moderna quanto sua atualização modernista, nesse sentido, não atendem
ao conceito de morar acima referido: aquele em que é necessário uma integração entre a
habitação e o espaço urbano, este pensado em uma escala humana. Em outras palavras:
também a cidade deve ser pensada em função das células habitacionais, de forma a estender a
relação de morar para além do espaço da casa, para a cidade. Mas então, qual seria a relação
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que se busca estabelecer entre, não mais entre o habitante genérico, mas entre o morador e seu
espaço?
Atualmente há muitas formas de morar co-existindo. Há pessoas que tem como maior
sonho, por exemplo, a compra da sua casa própria, mesmo que esta seja distante das suas
atividades cotidianas, enquanto outras preferem alugar e ter mais flexibilidade.. Portanto, não
há como se falar em ‘um morar contemporâneo’ único, universal, porque o mundo caminha
na pluralidade e, por isso, abarca divergentes soluções porque também existem diferentes
questões. Mas, embora todas as formas de morar sejam legítimas, qual é o morar que esta
sendo tratado aqui?
Já não cabe mais pensar numa cidade ideal onde são desenhadas plantas estelares. O
morar contemporâneo tratado aqui se interessa por esse tecido urbano rasgado. E sua intenção
é a conexão das camadas existentes – tanto as históricas quanto as funcionais – às
necessidades de morar. Fomenta-se, desta forma, uma nova lógica local que tem como
objetivo a busca de equilíbrio com a lógica predominante existente (Ver anexo 05).
Usam-se neste projeto os seguintes conceitos de camada: 1- camada histórica e, 2-
camada funcional. O primeiro é inspirado na leitura de Milton Santos, para quem o tecido
urbano é composto de camadas históricas, que em suas interposições criam “rugosidades”. É
nestas camadas que co-existem os espaços “mortos” e os espaços “vivos”. Sendo, os espaços
“vivos” os que estão ligados à economia global hoje e, os espaços “mortos”, os que já
estiveram ligados à economia global, mas não estão mais, embora não estejam
necessariamente desabitados. O segundo conceito de camada refere-se às funções para as
quais o solo urbano é destinado.
Considerados esses conceitos, para este projeto, o morar contemporâneo é uma ação
muito diferente de um hábito, ou de um déficit numérico. Trata-se de um morar onde:
1- A cidade é densa porque há muitas camadas sobrepostas. As distâncias são menores e
por isso o papel dos transportes públicos há de ser fundamental. Os espaços livres são raros e
não deverão servir largamente ao uso de estacionamentos. O espaço tem valor ampliado e,
portanto as pessoas não querem sair dele, porque distâncias enormes representam tempo
perdido.
2- Exista uma relação de intimidade entre o morador e o lugar: O morador não vê a
cidade como uma barreira que separa os lugares de morar, de trabalhar, e de lazer, mas como
uma extensão possível do seu espaço de morar. 3-Exista conexão entre as diversas camadas
históricas e funcionais existentes e sobrepostas no local, bem como entre o bairro e a cidade.
Para isto, não se devem ignorar as camadas mais antigas, nas quais se registram saberes e
tradições locais; nem tampouco as novas, que dão vida às vocações econômicas da região.
Antes, deve haver uma conexão entre elas, através da reutilização e adaptação às novas
lógicas, a fim de construir um pensamento onde essas camadas trabalhem juntas.
O morar contemporâneo em questão, portanto, acontece sobre uma cidade existente,
porque nela existem muitos elementos instalados e estruturas de produção que servem de
atrativos sociais. É claro que neste terreno recortado, e com tantos interesses, o espaço é
extremamente complexo, e justamente por isso, este território não deve ser ignorado, mas de
alguma forma acoplado, costurado, conectado, reaproveitado e interligado ao tecido urbano.
Da perspectivas dos conceitos aqui trabalhados, chega-se a algumas observações sobre o
bairro do Caju. Pode-se constatar três desconexões graves: A- entre as camadas de habitação,
B- na relação entre as escalas de habitação e comercial e C- entre o bairro do Caju e a cidade
do Rio de Janeiro. Hoje, a lógica que rege estas ligações é, predominantemente a lógica da
produção, que ignora os espaços de habitação.
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Partido/Princípios de ação
A relação entre a baía e o uso que se faz dela não utiliza a cultura marinha para agregar
potência no espaço do Caju. É uma relação onde as atividades do porto e da cidade despejam
na água os seus detritos, um uso que não pensado pelos dois lados. Essa relação tanto não é
sustentável quanto perde potências de saberes locais que poderiam doar sua sabedoria em prol
do enriquecimento do morar local.
De Carlo propõe no projeto para o qual ele foi convidado a repensar a Villa Matteotti,
uma vila operária de baixo padrão que viria a sofrer especulação imobiliária, que os
moradores influenciassem diretamente na decisão projetual. Ele inclusive adotou uma solução
que ia de encontro a uma saída financeira mais esperada, e optou por um projeto que inclui
várias passarelas interligando as unidades e aumentando o espaço público do pedestre. Em
suas palavras: “Se considerarmos a casa de corrente de produção edificada contemporânea,
parece claro que os diversos tipos são repetitivos e, sobretudo, indiferentes às situações
ambientais, culturais e sociais. Adições de residências tipo dão lugar a edifícios residenciais
tipo, também repetitivos e indiferentes. E como os habitantes são diferentes, os ambientes
geográficos são diferentes, as situações sociais e culturais são diferentes, é claro que alguma
coisa não funciona.”
Anexo 07:
Cemitério de barcos – Local de Implantação da Proposta
O Caju tem uma larga cultura relativa à pesca, aos saberes marítimos, muitas pessoas
que hoje ocupam lugares irregulares neste bairro o fazem porque trabalham com atividades
locais que envolvem embarcações. Pensar a cidade que está rasgada sob o ponto de vista da
relação de morar com o espaço é também incluir o saber local na transformação da paisagem.
E é claro que esse trabalho é um trabalho que envolve complexidades, porque esta cidade que
é o foco deste pensamento também é uma cidade complexa, uma cidade que guarda, em seu
território, diversos interesses e várias estruturas já instaladas. Pensar o espaço para além das
possibilidades de terrenos existentes é de alguma forma pensar conceitualmente. E se isso
pode ser aplicado a um bairro que tem camadas habitacionais tão recortadas e sem conexão
entre elas, isso poderia ser pensado em diversos outros lugares.
Pensar o morar contemporâneo é pensar dentro de uma cidade existente, com suas
questões e potências. As suas camadas históricas e funcionais devem trabalhar juntas e
agregar diversas lógicas. Integrá-las de modo a vislumbrar a escala humana e a experiência de
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morar, para que se torne possível uma relação de melhor qualidade entre o morador e a
cidade. Para este fim, é imprescindível pensar nesta relação indo além do descarte. Tornar um
ambiente sustentável é olhar para além das potências presentes em seus espaços vivos, mas
também nos espaços mortos, ou semimortos.
Os barcos abandonados na baía de Guanabara (Ver anexo 04 e 07) representam esses
espaços mortos (Milton Santos), então por que não pensar que estas estruturas prontas podem
ser reutilizadas e re-incorporadas novamente a usos presentes? O uso do barco segundo o
morar contemporâneo é uma proposição que visa experimentar como esse conceito de morar
pode ser pensado mesmo em situações inusitadas ou, por exemplo, em casos onde exista
carência de terreno. Ele aponta para todos os aspectos do morar contemporâneo aqui
discutidos: a reutilização, o saber e tradições locais, a integração entre camadas e a ligação
com um espaço de morar do bairro.
Metodologia Projetual
A - Reutilização da estrutura abandonada: o barco
A reutilização é uma forma de integrar as camadas mais antigas da cidade àquelas mais
recentes. O primeiro passo para valorizar a vocação de moradia no bairro do Caju é imprimir
uma nova lógica de morar a estruturas e objetos originalmente concebidos para outros
propósitos. Nesse sentido, uma carcaça abandona no cemitério de barcos será reutilizada para
a moradia. Cabe a citação de um trecho de Milton Santos: “Os lugares, já vimos, redefinem
técnicas. Cada objeto ou ação que se instala se insere num tecido preexistente e seu valor real
é encontrado no funcionamento concreto do conjunto. Sua presença também modifica os
valores preexistentes. Os respectivos ‘tempos’ das técnicas ‘industriais’ e sociais presentes se
cruzam, se intrometem e acomodam. Mais uma vez, todos os objetos e ações vêem
modificada sua significação absoluta (ou tendencial) e ganham uma significação relativa,
provisoriamente verdadeira, diferente daquela do momento anterior e impossível em outro
lugar. É dessa maneira que se constitui uma espécie de tempo do lugar, esse tempo espacial
(Santos, 1971) que é outro do espaço”.
Valorizar a lógica de morar no bairro do Caju é a reutilização, segundo a lógica do
morar, de objetos originalmente concebidos para outros propósitos. Assim, que é possível dar
novos usos a objetos de camadas históricas mais antigas, apropriando-se deles e redefinindo
sua finalidade e seu lugar na paisagem.
B - Integração das camadas funcionais de habitação:
Atualmente, as camadas de habitação no bairro do Caju estão fragmentadas e
desconectadas entre si. Não constituem, portanto, um ambiente pensado sob o conceito do
morar. O que se propõe é realizar intervenções pontuais e fim de criar um espaço virtual de
morar contíguo (Ver Mapa de Proposta Geral Caju).
C - Divisão/ Organização rotas:
Não há uma separação entre a escala macro e a escala micro no bairro. Hoje o bairro é
altamente afetado pelo trânsito de carretas que trafegam indiscriminadamente, se misturando
ao pequeno fluxo de pedestres e veículos de pequeno porte. O bairro não é pensado com essa
diferença entre escalas, a escala grande suprime a menor. Isto torna o espaço bem mais
empoeirado, barulhento e confuso do que deveria ser qualquer espaço residencial.
Programa de Necessidades
A: - Implantação de um espaço de morar, que é o alvo maior do projeto, uma célula
conectada à cidade, parte dela, que acontece dentro de uma estrutura bem conhecida da
região, uma embarcação. Reutilização de uma embarcação de médio porte segundo a lógica
da moradia.
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B: -Fazer uma costura entre as camadas habitacionais existentes de modo a constituir
um espaço contíguo de morar. Criação de espaços públicos que interliguem e conectem as
células habitacionais existentes, fomentando assim, a idéia de um morar no bairro. Primeira
intervenção proposta é a implementação de um parque urbano para uso dos moradores do
Caju e conexão entre o barco reutilizado e as demais camadas habitacionais.
- Conectar a camada de morar ao resto da cidade. Interligação das duas “pontas” do
bairro, com a cidade, sendo a parte histórica ligada ao centro da cidade e a parte da baía ligada
a São Cristóvão, através de transporte público, e ultrapassem as barreiras que hoje estão
levantadas no bairro facilitando a vida como pedestre (Ver Mapa de Proposta Geral Caju).
C: -Separação do tráfego de veículos de grande porte da vida cotidiana dos moradores.
- Retirada de empresas logísticas que não precisam necessariamente ser instaladas
próximas ao ponto de chegada de carga; implemento do aumento de moradia.
Referências Bibliográficas
BARONE, Ana Cláudia Castilho; DORBY, Sylvia Adriana. “Arquitetura Participativa” na
visão de Giancarlo de Carlo. Pós. Revista do Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP. n.15, 2004.
PAPANEK, V. Arquitetura e Design. Lisboa/Portugal: Edições 70 Ltda, 1995.
SANTOS, Milton: A Natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4.ed. São
Paulo: EDUSP, 2002
SANTOS, Milton: Pensando o Espaço do Homem. 5.ed. São Paulo: EDUSP, 2004.
MANZINI, E. A Matéria da Invenção. Lisboa: Centro Português de Design, 1993.
Notícias Internet
http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2013/09/cascos-abandonadas-tornam-baia-de-
guanabara-uma-especie-de-cemiterio.html
http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2014-05-18/baia-de-guanabara-se-transforma-em-
cemiterio-de-navios.html
http://noticias.terra.com.br/brasil/cidades/baia-de-guanabara-vira-cemiterio-de-navios-
abandonados-no-rio-de-
janeiro,d4a2118836731410VgnVCM3000009acceb0aRCRD.html
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Estudos Preliminares – Intervenções gerais e Implantação
Mapa de Proposta Geral Caju
Implantação
Local - Cemitério Barcos Ruas de paralelepípedo e o trânsito livre de caminhões
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Estudos Preliminares – Planta e Corte Longitudinal
Planta baixa Geral Corte Longitudinal Geral
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Estudos Preliminares – Corte Transversal e Instalações Gerais
Corte Transversal Geral
Diagrama de Instalações Água e Esgoto
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Estudos Preliminares – Usos e Possibilidades Instalações Módulo
Diagrama Usos Planta
Diagrama Usos Corte
Diagrama Áreas Molháveis
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Estudos Preliminares – Layouts Módulos
Layout 02 Módulos – exemplo 01
Layout 02 Módulos – exemplo 02
Layout 01 Módulo– exemplo 01 Layout 01 Módulo- exemplo 02
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