I.B.G.I.B.G.I.B.G. Informativo Brasileiro do Grande Oriente
SÃO PAULO - MAIO 2013 VOLUME 1 - EDIÇÃO 1
Revoluções no
Mundo Árabe
IDH não reflete
realidade para a
população
Em busca da
democracia
Causas e
Consequências
As primeiras
eleições livres
Passatempo
A REVOLUÇÃO DE JASMIM
O aroma de jasmim da pequena Tunísia leva consigo o desejo de liberdade por todo o Mundo Árabe
Pág. 4
"Liberdade". Túnis, 22/01/2011. Foto: Reuters
PÁG. 6 PÁG. 3 PÁG. 5
PÁG. 8 PÁG. 9 PÁG. 7
Informativo Brasileiro do Grande Oriente 2
Editorial
A Primavera Árabe começou em um pequeno país no Norte da África, com uma população pequena, homogênea e edu-
cada, que possuia um identidade nacional coesa e com uma instituição militar desengajada. O país apresenta bons índices
de desenvolvimento humano e praias paradisíacas para ninguém botar defeito. A flor nacional do país possui um dos aro-
mas mais deliciosos. Mas nessa Primavera, não há flores que se cheirem.
Os países do Mundo Árabe não aguentaram as más condições de vida, a opressão de seus governos seculares e por isso,
vestiram seus espinhos em sinal de resistência aos abusos de ditadores corruptos.
As revoltas se alastraram por todo o Mundo Árabe, e apesar de todos os ditadores resistirem, muitos caíram, mas infeliz-
mente alguns, pretendem afundar o barco com todos dentro.
Dando foco a revolução da Tunísia, o país que era governado há 23 anos por Zine al-Abidine Ben Ali, decidiu não tolerar
mais a mão de ferro do tirano, nem a desigualdade social ou seus luxos exorbitantes junto à seu clã. O povo queria um
basta, e não sossegou até ver Ben Ali sair do país como um fugitivo.
Inúmeras foram as desilusões que se sucederam com os governantes que tentavam liderar a população. Mas o povo está
decidido pela democracia, e sendo assim, na liderança, só fica quem o povo eleger.
Ninguém disse que a transição de um autoritarismo, para uma democracia seria fácil e parece que o povo está calejado de
saber disso. Aliás, eles mesmos não vão permitir que seja tão fácil. Para conquistar a confiança dos Tunisianos, o líder da
nação terá que fazer por merecer.
Informativo Brasileiro do Grande Oriente fala sobre a Revolução de Jasmin.
EQUIPE I.B.G.O
EVOLIN
RICARDO
R.A.: 20354068
GABRIELA
OLIVEIRA
R.A.: 20369738
GIOVANNA
OLIVEIRA
R.A.: 20392047
JULIANA
CAJUELA
R.A.: 20332523
VANESSA
RAMALHO
R.A.: 20342074
Centenas de pessoas saíram às ruas da capital tunisiana pedir à saída do president Zine al-Abidine Ben Ali. Foto: AFP
Universidade Anhembi Morumbi — Campus Vila Olímpia — Relações Internacionais — 1º Semestre — Noturno
Informativo Brasileiro do Grande Oriente 3
Revoluções no Mundo Árabe
M anifestações popula-
res, crises políticas e
econômicas profundas, insur-
gências armadas, intervenção
militar externa e lutas sectá-
rias. Tudo isso, nos últimos
dois anos, abala os alicerces
do Oriente Médio e do norte
da África, onde boa parte dos
países compõe o mundo ára-
be – nações cujas populações
compartilham, em sua maio-
ria, a religião islâmica e a
língua e a cultura árabe.
No início de 2011, revolu-
ções jovens, modernas e se-
culares depuseram os ditado-
res da Tunísia e do Egito,
causando uma onda de revol-
tas que avançou além de suas
fronteiras, tornando-se mais
complexas e muito mais vio-
lentas. Tais revoluções fica-
ram conhecidas como, Pri-
mavera Árabe. Há mais de
dois anos, a Tunísia viveu
um momento histórico para
todo o mundo árabe quando,
em 14 de janeiro de 2011,
Zine al-Abidine Ben Ali, di-
tador há 23 anos, foi derru-
bado pela força do próprio
povo. O episódio ficou co-
nhecido como Revoluções de
Jasmim, a flor nacional da
Tunísia.
Rapidamente, o aroma de
jasmim da pequena Tunísia
chegou ao gigantesco Egito –
país mais influente e populo-
so do mundo árabe. Demons-
trações populares que tive-
ram como epicentro a Praça
Tahir, no centro do Cairo,
derrubaram o ditador Hosni
Mubarak, em 11 de fevereiro
de 2011, o que contribuiu
para espalhar os protestos
pela região. As revoluções
populares expressaram-se de
diferentes formas em países
como Líbia, Síria, Jordânia,
Barein, Iêmen, Marrocos,
Líbano, Árabia Saudita etc.
No entanto, em vez de deixa-
rem o poder ou promoverem
reformas para melhorar a
situação em seus países, os
governantes usaram a força,
com intensidades variadas,
para dispersar a multidão nas
ruas e abafar protestos. Co-
mo resultado, a Síria, por
exemplo, está imersa em
uma guerra civil, enquanto
outros se encontram em gra-
ves crises políticas, que se
prolongam há meses.
As revoluções não se restrin-
gem apenas ao enfrentamen-
to com a velha ordem e seus
regimes autocráticos. Todos
os países da região lidam
com problemas que envol-
vem seus sistemas políticos,
regidos por elites corruptas,
alianças internas e externas e
a insatisfação entre os jo-
vens, que representam cerca
Os espinhos de resistência
de metade da população, e
anseiam por uma democra-
cia. Diversos componentes
se misturam nesse caldeirão
em ebulição, como a atuação
de grupos religiosos funda-
mentalistas, o enriquecimen-
to de urânio para fins nuclea-
res e o conflito por terra en-
tre palestinos e Israel. Há
muitas mudanças em curso
no mundo árabe.
Os movimentos populares
derrubaram governos, mas
construir Estados democráti-
cos exige um caminho longo
e cheio de mais conflitos.
Mão de manifestante com os dizeres "nós venceremos" em árabe e as
bandeiras da Líbia, Síria, Iêmen, Tunísia e Egito. Sanaa, 10/2011.
Mulheres pintam nas mãos as cores de bandeiras de Iêmen, Tunísia, Líbia,
Síria e Egito. Iêmen, 04/11/2011 (Foto: Reuters)
RAIO-X - TUNÍSIA
NOME República da Tunísia
POPULAÇÃO 10,7 milhões
ÁREA 163,6 km²
INDEPENDÊNCIA da França,
em 1956
GOVERNO regime semipresi-
dencial, comandado pelo pre-
sidente Moncef Marzouki e
pelo premiê Ali Larayedh
PIB US$ 44,7 bilhões
PIB PER CAPITA US$ 4.151
IDH 94º
Fontes: ONU e FMI
Informativo Brasileiro do Grande Oriente 4
A Revolução de Jasmim
A s revoluções que tive-
ram início em dezem-
bro de 2010 na Tunísia, ilus-
traram a desesperança e falta
de perspectivas dos jovens
no país. O desemprego atin-
ge duramente jovens escola-
rizados que apesar da qualifi-
cação, não encontram empre-
go. Em protesto as condições
econômicas e sociais do país,
Mohammed Bouazizi, de 26
anos, ateou fogo ao próprio
corpo em 17 de dezembro de
2010. Ele era um vendedor
ambulante de frutas, com
diploma universitário, que
sustentava a numerosa famí-
lia na cidade de Sidi Bouzid
– região pobre do centro-
oeste da Tunísia. Seu ato ex-
tremo ocorreu após uma dis-
cussão com policiais e fiscais
do governo que confiscaram
sua mercadoria. Bouazizi
morre em 4 de janeiro de
2011 e transforma-se em
símbolo da frustração dos
jovens tunisianos com a difí-
cil vida sob a ditadura de 23
anos de Zine al-Abidine Ben
Ali.
A situação de Bouazizi era a
mesma dos 60% dos jovens
da população da Tunísia, que
são formados em universida-
des, mas não encontram tra-
O melhor veneno para os ditadores veio no menor frasco
centes ao partido do ditador.
Na capital Túnis, manifes-
tantes, exigindo sua renúncia
imediata, saquearam e incen-
diaram casas de familiares
do ditador, que, segundo a
Reuters, foram presos. No
interior, marchas com mais
de 10 mil jovens foram regis-
tradas, além de saques e ex-
plosões de postos policiais.
Os conflitos se intensifica-
ram, o espaço aéreo da Tuní-
sia foi fechado, foi declarado
estado de emergência e civis
morreram em confrontos
com a polícia. Ben Ali fugiu
para a Arábia Saudita e o
primeiro ministro, Moham-
med Ghannouchi, assumiu
até que as eleições ocorres-
sem. Pela primeira vez, um
líder local foi derrubado pela
força de pressão do próprio
povo.
Os tumultos sem precedentes
que abalaram a Tunísia fo-
ram acompanhados com
atenção por meio dos canais
regionais de TV via satélite e
da internet, em todo o Mun-
do Árabe. E a faísca criada
pela pequena Tunísia, se
alastrou pelo Oriente Médio
e norte da África.
balho, porcentagem que du-
plica os 30% de desemprego
entre os jovens em geral.
Protestos alastraram-se pelo
país, em razão do alto de-
semprego, da inflação e da
crescente disparidade entre
ricos e pobres, incluindo o
modo de vida extravagante e
opressor da família de Ben
Ali e da primeira-dama Leila
Trabelsi. A família Trabelsi
atuava como uma máfia, ex-
torquindo lojistas, banquei-
ros e investidores estrangei-
ros, além de se apossar de
empresas de aviação e de
TV. O embaixador america-
no na Tunísia, em telegrama
confidencial divulgado pelo
WikiLeaks, chegou a descre-
ver (e profetizar) a família
Trabelsi como a principal
culpada pelo desgaste do re-
gime.
A Tunísia foi o país que di-
tou a tendência da utilização
da tecnologia e das redes so-
ciais nas revoluções. O celu-
lar esteve onipresente e foi a
grande ferramenta de propa-
gação de palavras de ordem e
organização de manifesta-
ções nos países árabes. Suas
frases e fotos eram transmiti-
das pelo Twitter e Facebook,
e seus vídeos, colocados no
Youtube, o que ajudou a in-
flar os movimentos contra o
regime.
Conflitos violentos assola-
ram o país. A ONU chegou a
suspeitar que atiradores de
elite dispararam contra jo-
vens.
Na tentativa de frear as ma-
nifestações, o governo corta
serviços de internet e sinais
de comunicação sem fio. Em
anúncios televisivos, Ben Ali
insiste em caracterizar a in-
satisfação da população co-
mo obra de “terroristas” e
agentes estrangeiros, o que
só intensifica os protestos
exigindo a renúncia do dita-
dor.
Ele ordena um cessar fogo às
tropas, faz tentativas de tran-
sição política com membros
do antigo regime, baixa o
preço do pão, volta liberar a
utilização do YouTube e
afirma que deixará o poder
em 2014, quando o país pas-
saria por novas eleições.
Insuficientes, os anúncios
não interromperam os protes-
tos que exigiam a renúncia
do primeiro-ministro, do pre-
sidente interino e de todos os
membros do gabinete perten-Mohammed Bouazizi, 26 anos,
feirante que se imolou.
Informativo Brasileiro do Grande Oriente 5
IDH não reflete realidade, para a população
E mbora jamais tenha
sido uma democracia, o
país governado por 23 anos
pelo ditador Zine al-Abidine
Ben Ali, ostenta indicadores
sociais e econômicos melho-
res que os dos vizinhos, ma-
tem relações estreitas com
EUA e Europa e é tido como
um destino turístico dos mais
seguros. Aos olhos das agên-
cias de classificação de risco,
a Tunísia tinha um dos me-
lhores ambientes para inves-
timento e negócios em toda a
região. Possui um dos me-
lhores Índices de Desenvol-
vimento Humano (IDH) do
continente e é visto como
uma das nações mais secula-
res do mundo árabe.
IDH
O IDH mede o crescimento
econômico acompanhado
pela melhoria da qualidade
de vida da população e por
alterações profundas na es-
trutura econômica.
O governo da Tunísia regis-
tra a seu favor uma das mais
nítidas progressões mundiais
de IDH ao ocupar a 94ª posi-
ção no ranking mundial – o
Brasil ocupa a 84ª. A Tunísia
Índice responsável pelas medidas da qualidade do crescimento econômico, não representou a re-
alidade para Tunisianos
deram início a Primavera
Árabe tiveram proporções
inéditas, mas anterior a ela,
ocorreram protestos menores
contra a incapacidade do go-
verno de criar condições de
emprego.
As manifestações na Tunísia
expõe o fracasso de um siste-
ma visto por muito tempo no
Ocidente, como um modelo
no mundo árabe.
LIBERDADE POLÍTICA E DE
IMPRENSA
O sistema de governo da Tu-
nísia, laico e estável, era
comparado ao da Turquia.
Embora denunciado com fre-
quência por violação de li-
berdades políticas – conside-
rado indicador vital para o
desenvolvimento humano –
o regime direitista não tinha
histórico de violência como
o Iraque de Saddam Hussein
ou a atual Síria. O clima de
insatisfação generalizada se
dá também, pela ausência de
imprensa livre e de pluralida-
de partidária. A Anistia In-
ternacional acusa o regime
de torturar oponentes e a
ONG Repórteres Sem Fron-
teiras, em 2013, rebaixou o
país da 134ª para a 138ª posi-
ção no ranking mundial da
liberdade de imprensa.
Segundo analistas, o clima
de tranquilidade aparente era
reflexo de um pacto implíci-
to imposto por Ben Ali à po-
pulação. Pelo acordo, os tu-
nisianos aceitaram um Esta-
do onipresente, policial e
controlador em troca de ser-
viços públicos de qualidade e
paz para todos.
é um dos raros Estados afri-
canos a entrar na lista dos
países com IDH alto. A evo-
lução é atribuída pela ONU a
“reformas impressionantes”
nas áreas de saúde e educa-
ção. A expectativa de vida é
de 74 anos, contra 70 para a
média dos países árabes.
O crescimento do rendimen-
to anual per capita foi de cer-
ca de 3% ao longo dos últi-
mos 40 anos – segundo Rela-
tório de desenvolvimento
humano de 2010 da ONU –
ligado à prudência fiscal e
monetária e ao investimento
em infraestruturas de trans-
portes e comunicações.
EDUCAÇÃO
A educação é o grande cen-
tro das atenções da Tunísia.
As matrículas escolares au-
mentaram substancialmente,
sobretudo, depois de o país
legislar 10 anos de escolari-
dade obrigatória em 1991.
Houve também progresso
nas diferenças sociais entre
homens e mulheres, pois cer-
ca de 6 em cada 10 estudan-
tes universitários são mulhe-
res.
DIFERENÇAS SOCIAIS
A Tunísia é há décadas men-
cionada como um dos países
árabes e muçulmanos onde
os direitos da mulher são os
mais avançados. Mas as desi-
gualdades ainda persistem,
como demonstra a classifica-
ção da Tunísia (45º de 146
países).
Os cuidados com a saúde
reprodutiva e os contracepti-
vos que estão facilmente dis-
poníveis, contribuem para o
declínio rápido da fertilidade
– abaixo de dois filhos por
mulher. E as elevadas taxas
de vacinação contra o saram-
po e a tuberculose renderam
sucessos na saúde, tal como
a erradicação da poliomieli-
te, da cólera, da difteria e da
malária.
Porém, as revoltas põem em
xeque um sistema considera-
do exemplar no mundo ára-
be. O sentimento de que os
números favoráveis não se
refletiam no dia a dia da po-
pulação foi um dos princi-
pais motores dos protestos.
DESEMPREGO
A insatisfação com o sistema
é maior entre os jovens, que
representam cerca de metade
da população desses países.
Essa nova geração teve aces-
so à educação, mas está desi-
ludida com a falta de pers-
pectivas e sofre com alto ín-
dice de desemprego.
O desemprego oficial é de
13%. Entre os jovens a taxa
dobra. As manifestações que
Informativo Brasileiro do Grande Oriente 6
Em busca da democracia
A formação histórica do
Estado da Tunísia deu-
se de modo derivado, pois o
país foi colonizado pelos
franceses.
Em 1956, a França concedeu
independência à Tunísia. Ha-
bib Bourguiba, o principal
líder nacionalista, foi eleito
para a presidência em 1959,
transformando-se posterior-
mente em presidente vitalí-
cio. Em meados dos anos 80,
greves e manifestações refle-
tiam a crescente insatisfação
com seu governo. Em 1987,
o líder foi considerado inca-
paz de governar, sendo subs-
tituído em um golpe de Esta-
do, por seu primeiro-ministro
Zine al-Abidine Ben Ali, que
governou por 23 anos a Tu-
nísia, vencendo sucessivas
eleições de fachada até sua
deposição em janeiro de
2011.
A forma de governo na Tuní-
sia é mista, ou seja, possui
um presidente, um primeiro-
ministro e uma Assembleia
Nacional, que deve ser com-
A transformação do sistema autocrático para o democrático demandará trabalho e paciência
que têm de executá-la e ad-
ministrar a coisa pública.
Mas tão ou mais intrincado é
o processo de construção de
um sistema democrático, que
é principal reivindicação das
manifestações populares, em
sociedades com um histórico
restrito a governos autoritá-
rios, como a Tunísia.
Os manifestantes, num pri-
meiro impulso, estavam cer-
tos de seu propósito, porém
saber quais medidas preci-
sam ser tomadas para alcan-
çar tal propósito, não é tão
simples.
O primeiro procedimento
democrático foi tomado – a
Tunísia realizou sua primeira
eleição livre. O país que de-
flagrou a Primavera Árabe
saiu na frente no processo de
transformação política em
um clima de celebração, co-
roado por um índice de vota-
ção que atingiu 90%, de
acordo com a comissão elei-
toral.
posta por membros eleitos
por voto direto para mandato
de 5 anos. E seu regime re-
presentativo é o de uma Re-
pública Presidencialista, que
se caracteriza pela indepen-
dência dos Poderes, ou seja,
não há subordinação de um
para outro, não há suprema-
cia de um sobre o outro. Os
Poderes são independentes
dentro das atribuições que a
Constituição lhe outorga. E o
Poder Executivo é exercido
de maneira autônoma pelo
Presidente, que é um órgão
do Estado, que traça os ru-
mos da política e dirige a
administração, com inteira
autonomia em relação ao Le-
gislativo.
Porém o cenário na Tunísia
não era exatamente este. O
tipo de governo que se confi-
gurava no país era o Despo-
tismo, no qual um só gover-
na, porém sem lei e sem re-
gra, pois tudo se move de
acordo com sua vontade ou
capricho. Ben Ali manipulou
todas as eleições que ocorre-
ram no período em que se
manteve como Presidente,
razão por ter permanecido no
poder até 2011. Além do fa-
tor medo – segundo Maquia-
vel, a forma mais segura de
se manter no poder é sendo
temido – que por muito tem-
po serviu para manter o des-
contentamento da população
sob controle. Porém o medo
foi superado.
Os protestos na Tunísia, não
se restringem apenas ao des-
contentamento com a velha
ordem, mas também por an-
seio à democracia.
Democracia é o regime em
que o governo é exercido
pelos cidadãos, quer direta-
mente, quer por meio de re-
presentantes eleitos por esses
mesmos cidadãos. Mais
compreensivamente, pode-se
dizer que democracia é a for-
ma do governo em que o po-
vo toma parte efetiva no es-
tabelecimento das leis e na
designação dos funcionários
O então presidente da Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali, em 7 de novembro
de 2008 (Foto: AFP)
Manifestante agita bandeira da Tunísia diante de tanque durante mani-
festação em Túnis. (Foto: AFP)
Informativo Brasileiro do Grande Oriente 7
Causas e Consequências
ATOR INTERNACIONAL
O ator internacional é toda a
autoridade, todo o organis-
mo, todo grupo e, inclusive,
toda pessoa que goza de ha-
bilidade para mobilizar re-
cursos que lhe permitam al-
cançar seus objetivos, que
tenha capacidade para exer-
cer influência sobre outros
atores e que goze de certa
autonomia.
Podemos classificar a popu-
lação da Tunísia, como o
principal ator dos fenômenos
que resultaram na Primavera
Árabe. São os chamados ato-
res infraestatais.
A população reprovava, a
vida em um Estado policial,
corrupto e com hábitos es-
banjadores, enquanto vivia
em situação de pobreza e
Os atores que causaram a revolução, veem surgir as consequências para a política externa do país.
ções democráticas em certos
casos, o governo de Barack
Obama teme as consequên-
cias das mudanças na região
que podem levar a instabili-
dade política, e em última
instância, à chegada de gru-
pos extremistas islâmicos ao
poder.
Para os governos ocidentais,
as autocracias árabes serviam
como aliadas contra os gru-
pos fundamentalistas islâmi-
cos, que lutam pela implanta-
ção de Estados religiosos
regidos pelo Alcorão e que
pregam a jihad (guerra santa)
contra o Ocidente.
descaso. As manifestações
começaram após a imolação
de Mohammed Bouazizi.
O povo da Tunísia encontrou
meios de enfrentar e resistir a
violência da polícia, alcança-
ram o propósito de derrubar
o governo de Ben Ali e con-
tinuam lutando para alcançar
a democracia. A pequena
Tunísia influenciou as mani-
festações no grandioso Egito,
e foi motivação para os de-
mais países do Mundo Ára-
be, que passam por crises em
seus sistemas políticos auto-
cráticos.
POLÍTICA EXTERNA
Política externa é o conjunto
das atividades políticas atra-
vés das quais os Estados pro-
movem seus interesses pe-
rante outros Estados.
Tradicionalmente, os Estados
Unidos mantêm alianças com
várias ditaduras árabes para
assegurar seus interesses es-
tratégicos na região. O Ori-
ente Médio abriga as maiores
reservas de petróleo e gás do
planeta. Os EUA possuem
bases militares na região pa-
ra proteger seus interesses e
supervisionar a saída do óleo
por mar.
Com a onda de revoltas que
ocorreram, a política externa
norte-americana para o mun-
do árabe tornou-se insusten-
tável. Ao mesmo tempo em
que expressa apoio a aspira-Manifestantes protestam nas ruas de Túnis, capital da Tunísia, para marcar
a data em que a Primavera Árabe surgiu. (Foto: AFP)
Informativo Brasileiro do Grande Oriente 8
As primeiras eleições livres
S em tradição democráti-
ca, após décadas sob
uma ditadura desde a inde-
pendência da França, em
1956, e com a mesma consti-
tuição desde 1959. As doutri-
nas contidas no corpo do Al-
corão são os fundamentos da
legislação e da Constituição
do país, obra sagrada dos
muçulmanos. Por constitui-
ção entende-se, conjunto de
regras e princípios que irão
determinar a formação de um
Estado, conferindo-lhe sua
estrutura, sua organização e a
divisão de poderes, bem co-
mo os direitos e garantias
essenciais. Composta por
6.326 versículos, nos quais
há desde instruções para o
casamento até regras sobre
como o governante deve agir
na cobrança de impostos, o
Alcorão é um livro religioso
O povo sente o gusto da democracia e o desgosto do islã graças aos conservadores salafistas.
é assassinado e sua morte
abre uma crise política. Pro-
testos ganham as ruas. Os
salafistas são apontados co-
mo culpados e o governo,
por não coibi-los. Belaid era
um dos principais críticos ao
governo islâmico da Tunísia
e à violência de grupos extre-
mistas. Em meio à crise, o
primeiro-ministro Hamadi
Jebali pede demissão, após
não obter consenso para for-
mar um governo técnico. O
novo primeiro-ministro, Ali
Larayedh, assume pedindo
apoio popular e unidade para
consolidar a democracia.
abrangente, que aborda ques-
tões econômicas, jurídicas e
políticas.
Pela primeira vez, em 23 de
outubro de 2011, a Tunísia
foi às urnas para suas primei-
ras eleições livres.
Partido Ennahda (Partido do
Renascimento Islâmico) lide-
rado por Rachid Ghannouchi
vence as eleições com o dis-
curso que promete um islã
com democracia. O partido
islamista Ennahda conquis-
tou a maior bancada na As-
sembleia Constituinte, adota
a moderação e se coliga com
forças não religiosas para
designar um governo até as
eleições gerais. Em seu dis-
curso, Rachid, chefe do par-
tido, afirma que o caminho
para a democracia, passa pe-
lo Islã.
O ex-líder oposicionista,
Mocef Marzouki é eleito pre-
sidente da Tunísia, indireta-
mente pela maioria dos votos
na Assembleia Constituinte e
nomeia Hamadi Jebali como
seu chefe de governo.
Em março de 2012, o En-
nahda anuncia o caráter laico
da nova Constituição, que
deverá mencionar a sharia,
lei islâmica.
A tensão interna elevou-se,
ainda mais, quando os con-
servadores salafistas que de-
fendem um Estado islâmico,
passaram a promover ações
violentas e protestos. Em 07
de fevereiro de 2013, o líder
da oposição, Chockri Belaid,
Rachid Ghannouchi, líder da sigla Nahda, depois de votar (Foto: Associated
Press)
Novo presidente tunisiano, Moncef Marzouki, (esquerda) cumprimenta o
interino Fouad Mebazaa (Foto: Reuters)
Informativo Brasileiro do Grande Oriente 9
Passatempo
Nas manifestações políticas, os símbolos utilizados em faixas, cartazes, camisetas e bandeiras, se-
jam escritos, sejam imagens, transformam-se em ícones do movimento, pois trazem as ideias de-
fendidas em formas obrigatoriamente muito resumidas e diretas. Com um bom repertório político,
histórico e artístico, temos mais possibilidades de compreender as mensagens, bem como de en-
tender o que ocorre no mundo atual.
Tunisianos fazem protesto em solidariedade a Basma Khalfaoui Belaid,
cujo marido político, Chokri Belaid, foi assassinado (Foto: AFP) Egípcios exibem cartaz com imagens de Mubarack e dos 5 presidentes dos
EUA desde 1981 (Foto: Folha de São Paulo)
Cartaz pop com o rosto do ditador egípcio Hosni Mubarack (Foto: AFP) Manifestante protesta contra o ex-presidente tunisiano Ben Ali em 20 de
junho em frente ao tribunal em Túnis (Foto: AFP)
Informativo Brasileiro do Grande Oriente 10
Referências bibliográficas
PÁGINA 3 - COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
CANEPA, Beatriz. Revoluções no mundo árabe. Revista Guia do Estu-
dante Atualidades. São Paulo: Editora Abril. Edição 13, 1º semestre 2011.
GUIA DO ESTUDANTE. Mundo árabe em ebulição. Editora Abril, edi-
ção 14, Ano 2012.
SUZIN, Giovana. Mundo Árabe. Guia do Estudante Atualidades. São
Paulo. Editora: Abril. Edição 17, 1º semestre 2013.
PÁGINA 4 - COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
AMARA, Tarek. Tunisian who sparked rare protests dies-relatives. Reu-
ters Online. 05.jan.2011. Disponível em <http://www.reuters.com/
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