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PERCEPÇÕES DE PSICÓLOGOS CLÍNICOS ACERCA DA DEPRESSÃO EM
ADOLESCENTES E A IMPORTÂNCIA DA PSICOTERAPIA PARA ESTES CASOS 1
Lisandra Margarete da Silva2
Resumo: Encontra-se em escalada o número de casos de transtornos de humor entre
adolescentes, principalmente casos de depressão. Com o intuito de buscar mais informações
e recursos para o planejamento de intervenções psicológicas no tratamento psicoterápico
deste público, esta pesquisa teve como principal objetivo analisar a percepção de psicólogos
clínicos acerca da importância da psicoterapia para casos de depressão em adolescentes. Visa
contribuir para o conhecimento acerca do tema, assim como, apontar quais estratégias de
cuidado têm sido utilizadas no tratamento de adolescentes em depressão e os desafios desse
trabalho. Caracteriza-se, quanto aos seus objetivos, como de caráter descritivo, de natureza
qualitativa, tem corte transversal e delineamento estudo multicaso. A coleta de dados foi feita
através de entrevista semiestruturada, gravada, com seis profissionais da Psicologia,
formados há pelo menos três anos, que trabalham ou já trabalharam anteriormente com
adolescentes com depressão. Após a coleta de dados, foi feita a transcrição das respostas
fornecidas evitando alteração nas mesmas. Os dados foram organizados em categorias e
subcategorias a posteriori que deram base para a análise e interpretação dos dados. Esta
análise foi feita através da técnica de análise de dados de Lawrence Bardin. Como resultado
deste trabalho, compreendeu-se que a adolescência, na percepção de psicólogos clínicos, é
considerada uma fase de intensas transformações biopsicossociais e que, após o surgimento
das tecnologias virtuais, tem sido extremamente influenciada por estas. Acerca da
perspectiva destes profissionais, em relação à depressão na adolescência, pode-se observar o
quanto há semelhanças entre os sintomas que podem ocorrer nesta psicopatologia e as
características consideradas “normais” desta fase da vida humana e, devido a estas
semelhanças, encontram-se as dificuldades para um diagnóstico preciso. Outro aspecto
importante, abordado em relação à depressão na adolescência foi a influência do vínculo
familiar na compreensão da doença. Com relação às estratégias de cuidado e os maiores
desafios encontrados no acompanhamento de adolescentes em depressão, foi possível
concluir a importância do diagnóstico planejado e feito por equipe multidisciplinar; que a
psicoterapia é indispensável nestes casos, além de terapias complementares e possibilidade
de uso de antidepressivos em casos mais graves, feito de forma controlada pelo profissional
médico. Com relação às técnicas utilizadas no tratamento, evidenciou-se que há uma
multiplicidade delas, tais como, técnicas corporais, diálogo terapêutico e trabalho lúdico.
Demonstrou-se ainda a necessidade de que a família e os profissionais que acompanham o
adolescente com depressão estejam associados e alertas para a possibilidade de suicídio,
buscando protegê-lo, tornando-o consciente de suas escolhas. Entre os maiores desafios
citados, estão a possibilidade de suicídio e as dificuldades no trabalho de conscientização dos
familiares acerca desta psicopatologia. Relacionado à prevenção, mostrou-se relevante
informar à família e à sociedade acerca das características da adolescência e da depressão e
suas influências nesta fase.
Palavras-chave: Adolescência. Depressão. Psicoterapia.
______________________ 1Artigo apresentado como trabalho de conclusão de curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa
Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de psicólogo. Orientadoras: Prof. Dra. Ana Maria
Pereira Lopes e Prof. Dra. Carolina Bunn Bartilotti. 2Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina, [email protected]
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1. INTRODUÇÃO
O tema desse artigo é a problemática da depressão na adolescência, a partir de
percepções de psicólogos clínicos. A depressão tem sido vista como um problema expressivo
no trabalho em saúde mental, portanto, tornando-se um desafio para os profissionais da
Psicologia. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), em fevereiro do ano
de 2017, o diagnóstico de casos de depressão aumentou 18% entre 2005 e 2015: são 322
milhões de pessoas diagnosticadas em todo o mundo, a maioria no sexo feminino. No Brasil,
a depressão atinge 11,5 milhões de pessoas (5,8% da população).
De acordo com Nacional Institute for Health Care Management Foundation
(NIHCM) (2005 apud SCHOEDL et al., 2009, p. 147) “[...] a prevalência de transtorno
depressivo maior na adolescência é alta, e pode variar entre 3% e 9 % na população geral.”
A autora cita ainda que quanto mais cedo for o início do conjunto de sintomas, maiores serão
as perdas provocadas no desenvolvimento de capacidades sociais, emocionais e no
funcionamento escolar e ocupacional do indivíduo.
De acordo com Nepomuceno (2017), nos Estados Unidos, uma pesquisa
da Universidade Johns Hopkins teve acesso aos dados de 176.245 adolescentes com idades
entre 12 e 17 anos e de 180.459 adultos com 18 a 25 anos — isso no espaço de tempo entre
2005 e 2014. E o resultado foi alarmante: avaliando as respostas de questionários vinculados
ao bem-estar psíquico, o número de jovens que citaram ter sofrido algum episódio de
depressão subiu 37%. Ainda segundo Nepomuceno, uma, a cada seis meninas declarou
manifestar o quadro no último ano. Segundo Miguel Boarati, coordenador do Ambulatório
de Transtornos Afetivos na Infância e Adolescência do Hospital das Clínicas, em São Paulo,
o cenário não é apenas dos americanos: “Temos notado uma busca acentuada de adolescentes
por tratamentos em saúde mental”, afirma o especialista. “Mas não temos um estudo formal
para confirmar isso, como nos Estados Unidos”, atesta (NEPOMUCENO, 2017 s.p.).
Para Wannmacher (2004), distúrbios depressivos podem apresentar evento
único ou configurações cíclicas. Sua identificação – nem sempre feita – reveste-se de
importância, na medida em que este é um problema comum, podendo ser debilitante, porém,
tratável. Nesse contexto, e observando que a depressão é um transtorno sério, é importante
pesquisar qual é a avaliação que os psicólogos clínicos fazem do seu trabalho no atendimento
a adolescentes com depressão.
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Diante de tantos desafios que o homem contemporâneo vive nos últimos anos, o
que inclui trabalho, relações sociais, familiares, laborais, alta competitividade em vários
setores de sua vida, este se vê muitas vezes atormentado, principalmente quando não possui
uma rede de apoio satisfatória. Este sofrimento recorrente pode acarretar o desenvolvimento
de transtornos depressivos (HENDERSON, 1980 apud SCHOEDL et al., 2009). De acordo
com o autor, relações sociais pouco sólidas, insuficientes ou conturbadas podem ser aspectos
contribuintes na gênese de sofrimento psicológico. “As tensões nas relações sociais atuais,
independentes de história passada ou de genética, podem contribuir para o surgimento de
sintomas depressivos” (HENDERSON, 1980 apud SCHOEDL et al., 2009, p. 17).
Como se pode observar, a depressão, em geral, é um transtorno de humor
complexo que envolve uma série de sintomas tanto físicos, quanto psíquicos; estes sintomas
podem levar o indivíduo acometido a ter problemas que envolvem convivência social, laboral
e adoecimento físico em decorrência do estado deprimido, entre outras consequências. E
sobre isto, Assumpção-Junior (1998) cita ainda que, na situação clínica, o termo depressão
não se refere somente a um humor deprimido, mas sim a um complexo sindrômico marcado
por alterações de humor, de psicomotricidade, de pensamento, vontade e por uma
multiplicidade de distúrbios somáticos e neurovegetativos.
Para Cordás e Sassi-Junior (1998 apud FURLAN; CANALE, 2006), a depressão
é uma patologia de humor, que de forma direta necessita ser identificada e tratada, e que não
está relacionada ao caráter do indivíduo nem com a própria vontade do mesmo. Ou seja, ao
ser atendida, uma pessoa com os sintomas característicos de depressão, esta requer
acompanhamento médico, psicoterapêutico e talvez farmacológico, a fim de que seu estado
psíquico possa obter alívio sintomático e seu cotidiano possa transcorrer de forma que esta
sinta-se melhor.
Com relação ao diagnóstico de depressão, há de se considerar diversos fatores,
dentre eles: momento de vida e relacional do indivíduo, problemas de saúde física, rede de
apoio, constituição genética, pois, cada sujeito é único e percebe o ambiente e
acontecimentos de forma diferenciada. Esta percepção pode, ou não, contribuir para o
desenvolvimento de um quadro depressivo (SCHOEDL et al., 2009). Ainda, segundo a
autora, em sua forma clínica mais corriqueira, a depressão poderá mostrar-se como um
episódio depressivo, que poderá apresentar-se como leve, moderado ou severo, dependendo
da intensidade e do grau de acometimento que esta causa na disposição do indivíduo de se
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relacionar com sua família e amigos ou, em sua capacidade de trabalho e do número de
sintomas.
Outro aspecto importante relacionado à depressão é a possibilidade de suicídio.
Em casos de transtornos depressivos considerados graves, quando o paciente não recebe
atendimento especializado de uma equipe multidisciplinar e atenção de sua rede social de
apoio, este poderá vir a cometer o ato extremo de tirar a própria vida.
Segundo Braga e Dell’Aglio (2013), de acordo com a Organização Mundial da
Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO, 2010), o suicídio é considerado
uma problemática na saúde pública em todo mundo, pois está, em vários países, entre as três
principais causas de morte entre pessoas de 15 a 44 anos e é a segunda principal causa de
morte entre outras com idade entre 10 e 24 anos. A cada ano, aproximadamente um milhão
de pessoas morrem devido ao suicídio, ou seja, uma morte a cada 40 segundos. “O índice
mundial de suicídio é estimado em torno de 16 a cada 100 mil habitantes, variando de acordo
com o sexo, a idade e o país” (p. 2). Devido a estas altas taxas de morte em decorrência de
suicídio, principalmente na faixa da adolescência, é importante que se façam pesquisas a
respeito desse fenômeno buscando a prevenção deste tipo de acontecimento.
Conforme Eisenstein (2005), adolescência é a fase de passagem entre a infância
e a vida adulta, diferenciada pelos impulsos do desenvolvimento emocional, físico, mental,
social e sexual e pelos esforços do sujeito em alcançar os objetivos relacionados aos desejos
culturais do meio em que vive. A adolescência se inicia com as transformações corpóreas da
puberdade e finda, quando o indivíduo estabiliza seu crescimento e algumas de suas
características de personalidade, alcançando progressivamente sua independência
econômica, além da conexão com seu grupo social (EISENSTEIN, 2005). Também para
Ferreira e Nelas (2016) a adolescência é referida como o tempo estabelecido entre o momento
de criança e a fase adulta. Começa com os primeiros sinais anatômicos do amadurecimento
sexual e finaliza com a “realização social da situação de adulto independente” (p. 141).
De acordo com Aberastury (1990, p. 15), a adolescência é um período decisivo
na vida do homem e estabelece a etapa determinante de um processo de desapego. Este
processo cruza três momentos fundamentais: o primeiro é o nascimento; o segundo no final
do “primeiro ano com a eclosão da genitalidade, a dentição, a linguagem, a posição de pé e
a marcha; o terceiro momento aparece na adolescência”. Na adolescência, quando o
amadurecimento genital o incita para relacionar-se com pessoas do outro sexo, faz-se
também possível a prática do incesto. “Ao mesmo tempo, define-se seu papel de procriador
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e, escapando ao incesto, o adolescente inicia a busca do objeto de amor no mundo externo, o
que se concretizará com a descoberta do par, se for conseguido o desprendimento interno dos
pais”. Somente sua maturação lhe concederá futuramente “aceitar-se independente, dentro
de um marco de necessária dependência. Mas ao começo, mover-se-á entre o impulso ao
desprendimento e a defesa que impõe o temor à perda do conhecido” (ABERASTURY, 1990,
p.15). Ainda, conforme a autora, este é um período de contrassensos, confuso, ambivalente,
dolorido, “caracterizado por fricções com o meio familiar e o ambiente circundante. Este
quadro é, com frequência, confundido com crise e estados patológicos, o que alarma o adulto
e o leva a buscar soluções equivocadas” (p.15).
A adolescência hoje, no ano de 2017, é avaliada como um momento em que os
“jovens, após momentos de maturação diversificados, constroem a sua identidade, os seus
pontos de referência, escolhem o seu caminho profissional e o seu projeto de vida”
(FERREIRA; NELAS, 2016, p. 141). De acordo com as autoras, é comumente aceito que a
adolescência é, em primeiro lugar, um “processo e não um período”, e que se constitui por
várias transformações pessoais que são muitas vezes intensas, “sejam as físicas, as sociais,
as psicológicas e as cognitivas” (p. 144).
(...) a adolescência nem sempre é vivida e sentida como um período da vida
particularmente difícil. […] é um período de tempo que envolve perdas e ganhos,
que envolve a flutuação e o estabelecimento de novas maneiras de pertencer, e que
envolve a aceitação de uma imagem do corpo em mudança, como resultado do
início da puberdade conforme Roberts (1988 apud FERREIRA; NELAS, 2016, p.
144).
Ademais é importante citar que segundo Calligaris (2000), a adolescência é uma
criação contemporânea que se prolonga além do amadurecimento corpóreo ou da puberdade,
no sentido biológico da palavra. Para o autor, é um momento de paralisação, isto é, o
adolescente é um sujeito que, embora seu corpo e subjetividade estejam “prontos” para adotar
as responsabilidades de um adulto, este não é visto como tal. A adolescência “tem seu
significado determinado pela cultura e pela linguagem que media as relações sociais,
significado este que se torna referência para a constituição dos sujeitos” (OZELLA, 2003, p.
145). Deste modo, vê-se que os adolescentes estabelecem sua identidade através de suas
vivências no meio onde se inserem, o que permite posicioná-los em uma totalidade
econômica e social, onde o capitalismo reina.
Outro aspecto importante a ser pensado em relação à adolescência
contemporânea é o uso das redes sociais digitais e da tecnologia virtual para alimentar as
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relações humanas e que tem sido alvo de elogios, devido à rapidez com que “negócios” são
resolvidos e à facilidade de encontrar pessoas em qualquer lugar do planeta. Porém este uso
também tem sido criticado pelo excesso e pela fragilidade e superficialidade dos laços criados
no meio digital. Segundo Silva e Carvalho (2014, p. 11) citam acerca dos vínculos virtuais
que:
[...] uma das formas a partir da qual é possível visualizar a fragilização dos vínculos
são as relações virtuais. A principal mudança é descrita por Bauman (1999, p.22-
23), ao pontuar as visões tradicionais de ação muitas vezes recorrem a metáforas
orgânicas para suas alusões: o conflito era cara a cara, o combate corpo a corpo; a
justiça era olho por olho, dente por dente; a discussão encarniçada, a solidariedade
ombro a ombro, a comunidade face a face, a amizade de braço dado e a mudança
passo a passo.
Também conforme Silva e Carvalho (2014) o desenvolvimento das redes virtuais
e seu uso exagerado na contemporaneidade mudou enormemente o modo como as pessoas
se relacionam, tornando estes vínculos esvaziados de sentido, superficiais e produzindo
liquidez nos laços. Ou seja, criam-se laços enfraquecidos que se desfazem em um simples
“delete”. O avanço dos meios digitais, modernos e imediatos permitiram “afastar os
conflitos, solidariedades, combates, debates e a administração da justiça para além do alcance
do olho ou do braço humanos” e com isso também afastaram as pessoas ao mesmo tempo
que as colocaram em “contato”(SILVA E CARVALHO, 2014, p 11).
As modificações biopsicossociais no desenvolvimento do adolescente podem
trazer a este desafios e dificuldades diversas, contribuindo para um possível desenvolvimento
de transtornos mentais. Dentre eles está a depressão e, conforme Costa et al., (2014, p. 9),
“[...] observa-se que adolescentes com percepção negativa em relação ao contexto social
incluídos, apresentam maior probabilidade de desenvolver depressão, ressaltando a
importância das relações sociais e familiares saudáveis para a saúde mental”.
Não somente as modificações físicas que ocorrem nesta fase, “perturbam” o
equilíbrio psíquico dos adolescentes, mas, também, fatores externos relacionados ao
ambiente e pessoas que o rodeiam. Costa et al., (2014, p. 10), afirmam que além das
modificações naturais, oportunas da fisiologia da constituição do adolescente, estímulos
externos podem contribuir para subverter o equilíbrio e produzir novos desafios para o
jovem, tais “como os problemas familiares e socioeconômicos, violência, doenças orgânicas,
dependência química, dificuldades financeiras, discriminação e pressão social, colaborando
para que a depressão, cada vez mais precoce, se estabeleça nessa fase da vida”, segundo Melo
e Moreira (2008 apud COSTA et al., 2014, p. 10).
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Relacionando-se aos fenômenos da adolescência, é necessário avaliar até que
ponto, as características e transformações no comportamento dos adolescentes são
patológicas ou apenas variações decorrentes deste período do desenvolvimento humano. De
acordo com Aberastury e Knobel (1981, p. 9), o adolescente passa por desequilíbrios e
volubilidade extrema. “Isto configura uma entidade semipatológica, que é denominada pelos
autores como síndrome normal da adolescência”, que é complicada e perturbadora para o
mundo dos adultos, porém definitivamente imperativa para o adolescente, que neste processo
vai constituir a sua identidade, sendo este um desígnio essencial deste período de seu
desenvolvimento.
Sobre a depressão em adolescentes, de acordo com Argimon et al., (2013), é
notável que adolescentes que padecem de depressão têm seu desempenho escolar afetado de
forma negativa. Poderão ter sua autoestima prejudicada ou rebaixada, o que, por
consequência, pode resultar em sintomas de inconstância emocional, suscetibilidade; podem
ocorrer, também, períodos de raiva extrema.
Ainda conforme Argimon et al., (2013, p. 357), a depressão, neste estágio do
desenvolvimento humano – a saber – a adolescência, traz consigo, além do temperamento
irritado, sentimentos de falta de esperança, desapego e apatia, culpa, prejuízo em sua
quantidade de energia, dificuldades relacionadas ao sono, lentidão psicomotora, “dificuldade
de concentração, alterações de apetite e peso, assim como o isolamento”. Além disso, podem
incidir “queixas físicas (fadiga, cefaleia e dor abdominal), sérios problemas de
comportamento e ideação suicida” (ARGIMON et al., 2013, p. 357). Também, conforme os
autores, o problema, até mesmo, ultrapassa o nível individual: o avanço no número de
adolescentes em depressão poderá acarretar agravos a toda a sociedade, que terá “muitos
jovens problemáticos no início de sua entrada no mercado de trabalho, aumento dos gastos
com a saúde destes e com o sistema de previdência do país” (p. 354).
De acordo com Marcelli e Braconnier (2007), a depressão nesta fase ocorre de
forma um pouco diferente em relação a meninos e meninas, com suas particularidades
específicas. Segundo os autores, eles não expressam “sua” depressão da mesma maneira. Em
geral, as meninas manifestam seu mal-estar por suas inquietações relacionadas à sua
autoimagem corporal, seu peso, dores mais ou menos longas, que em geral não despertam a
atenção dos pais em um primeiro momento, porém cuja intensidade, persistência e apelo por
cuidado, devem ser avaliados muito individualmente. Já os meninos expressam “sua”
depressão através de comportamentos agressivos descarregando seus sentimentos negativos
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relacionados à sua autoimagem, “dissimulada por uma aparente insolência ou por uma reação
violenta que são apenas suas expressões manifestas” (MARCELLI; BRACONNIER, 2007,
p. 181).
Quando se fala em depressão no adolescente, observa-se que se trata de um
fenômeno diferenciado, devido às mudanças e transformações deste período, “com causas e
efeitos específicos, que requerem uma compreensão e um modelo de intervenção, também
específicos” (BIAZUS; RAMIRES, 2012, p. 90). Relacionado a isto, o acompanhamento de
um paciente com diagnóstico de depressão por profissionais de saúde mental, psicólogos e
psiquiatras, torna-se algo imprescindível e demanda um planejamento específico para cada
caso. É através destes procedimentos que, aspectos específicos da condição depressiva, tais
como fatores biológicos, afetos, cognição e comportamentos vistos como disfuncionais,
serão levados em conta e poderá ser feito o planejamento da intervenção, para auxiliar no
alívio dos sintomas. Diante disto, de acordo com Louzã-Neto, Betarello (1994 apud
FURLAN; CANALE, 2006, p. 28):
O clínico, ao estar diante de um paciente deprimido, tem que procurar determinar
qual ou quais fatores poderiam estar determinando o quadro antes de indicar o
tratamento. Os quadros depressivos orgânicos requerem o tratamento da principal
patologia, muitas vezes associados ao tratamento com medicamentos. Nos quadros
depressivos endógenos é indicado o tratamento farmacológico, não excluindo a
necessidade da psicoterapia. Nos quadros reativos, neuróticos e existenciais a
abordagem é principalmente psicoterápica, embora em alguns casos, devido à
gravidade da depressão, seja indicado o uso de antidepressivo.
Ainda segundo estes autores a promoção do alívio dos sintomas, o aumento da
vinculação ao tratamento em geral e o auxílio no processo de reorganização psíquica do
paciente se dá através das intervenções psicoterápicas apropriadas oferecidas por
profissionais bem preparados para tal. Conforme Duailibi e Silva (2014), a depressão é um
transtorno para o qual existem vários tratamentos. Em casos de gravidade leve ou moderada
o acompanhamento com psicoterapia (cognitivo comportamental ou interpessoal, por
exemplo) poderá ser satisfatório para terapêutica e prevenção de recidiva. Contudo, para que
haja uma melhora relevante na qualidade de vida, assim como, uma melhor adesão ao
tratamento é necessário o uso de medicamentos e acompanhamento psicológico, o que
também é recomendado por Kehl (2009). Além disso, de acordo com Duailibi e Silva (2014),
em virtude da alta incidência da doença, na maioria das vezes os casos mais leves são tratados
por outras especialidades sem a presença do psiquiatra, “porém em alguns casos o
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encaminhamento deve ser feito, são eles: risco de suicídio; sintomas psicóticos; história de
transtorno afetivo bipolar; ausência de resposta ao tratamento inicial e transtorno de
personalidade” (DUAILIBI; SILVA, 2014, p. 31).
Outras terapêuticas podem também ser citadas para o tratamento de depressão,
incluindo práticas integrativas e complementares. O Ministério da Saúde, no Brasil, resolveu
incluir estas práticas no tratamento de várias doenças através do Sistema Único de Saúde
(SUS). Dentre elas podemos citar: homeopatia, Medicina Tradicional Chinesa/acupuntura,
medicina antroposófica, plantas medicinais e fitoterapia, terapias com águas termais,
arteterapia, ayurveda, biodança, dança circular, meditação, musicoterapia, naturopatia,
osteopatia. (PORTAL BRASIL, 31 mar. 2017).
Em meio a tantas informações relacionadas ao tratamento de depressão na
adolescência é importante também citar o fator prevenção. De acordo com Brito (2011, p.
213), prevenir a ocorrência de depressão nesta faixa etária envolve observar se a família deste
adolescente tem algum histórico desta patologia; se este já teve um episódio depressivo ou
ainda se apresenta sinais ligeiros da doença. Tratar as mães em depressão também influencia
o futuro da saúde mental de seus filhos. “A identificação e o tratamento precoce de mães
deprimidas são decisivos para o adequado desenvolvimento dos seus filhos. É importante
orientar os jovens, os pais e os profissionais, que com eles se relacionam, sobre os sinais da
depressão e as medidas a tomar” (BRITO 2011, p. 213).
Outro aspecto importante também é a prevenção relacionada às possibilidades de
suicídio em adolescentes, especialmente aqueles que padecem de transtornos depressivos.
Conforme o Manual de prevenção ao suicídio do Ministério da Saúde (2006), depressões
moderadas e graves, incluindo ou não, sintomas psicóticos, em caso de transtorno afetivo
bipolar ou com apresentação de risco de suicídio relevante devem ser acompanhadas com a
assistência do médico psiquiatra e equipe multidisciplinar (MANUAL DE PREVENÇÃO
AO SUICÍDIO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).
Portanto, profissionais de saúde mental devem munir-se de conhecimento a
respeito deste transtorno, a fim de que possam contribuir de forma efetiva para o tratamento
de tal patologia, assim como também, para que possam colaborar na construção de trabalhos
preventivos relacionados ao adoecimento psíquico.
A partir da revisão de literatura em que os temas, depressão, depressão na
adolescência e psicoterapia para depressão na adolescência são bastante discutidos e
amplamente estudados por pesquisadores de todo o mundo, foram encontradas entre os
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meses de abril a novembro do ano de 2017, diversas produções científicas em Língua
Portuguesa, no site da base de dados do Scielo, Google Acadêmico, Bireme, BVS-Brasil,
Lilacs que abordam questões relacionadas às palavras-chave “depressão”, “depressão na
adolescência” e “psicoterapia”.
Observando a importância de pesquisar acerca do tema “Depressão na
adolescência”, a pergunta de pesquisa é: “Quais as percepções de psicólogos clínicos acerca
da depressão em adolescentes e a importância da psicoterapia para estes casos?” Esta
pesquisa tem, ainda, como objetivos específicos: descrever a percepção de psicólogos
clínicos acerca das características da adolescência; descrever sua percepção acerca da
depressão em adolescentes e apontar quais estratégias de cuidado tem sido utilizadas no
tratamento de adolescentes em depressão e os desafios desse trabalho.
2. MÉTODO
Esta é uma pesquisa que se distingue, quanto aos seus objetivos, como de caráter
descritivo, pois tem como finalidade descrever a partir da percepção de profissionais da
Psicologia, características importantes da depressão em adolescentes, assim como a respeito
do acompanhamento psicológico desta psicopatologia. De acordo com Gil (1991, p. 46), as
pesquisas descritivas, ou de caráter descritivo, tem como desígnio principal a “descrição das
características de determinada população ou fenômeno”. Trata-se de uma pesquisa de
natureza qualitativa, pois, de acordo com Minayo (1994), a pesquisa desta natureza responde
a questões muito individuais, trabalhando com uma variedade de significados, causas,
crenças, valores, que obedece a um espaço mais denso das relações, dos processos e dos
fenômenos. Quanto ao delineamento, esta investigação caracteriza-se como “multicaso”.
Para obter resultados de maior abrangência, foi realizado um estudo multicaso, que conforme
Yin (2005) é aquele onde são analisadas informações de diferentes disposições e não apenas
de uma como ocorre no estudo de caso. Em relação ao tipo de corte caracteriza-se como
transversal; a pesquisa com este tipo de corte é um estudo em que é feito o exame da relação
exposição-desfecho, em determinada população apenas em um exclusivo momento
(TRAEBERT; SCHNEIDER, 2012).
Foram participantes desta pesquisa, seis profissionais da Psicologia que atuam o
contexto da clínica, de modo autônomo. Os nomes dos psicólogos foram trocados por cores,
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a fim de retirar a identificação, sendo indicados desse modo na análise dos dados. Segue
abaixo o quadro de participantes:
QUADRO DE PARTICIPANTES
Psicólogos Idade Sexo Formação Tempo de
formação
(Entre)
Atuação
profission
al
Nº Aprox. de
adolescentes
atendidos
Atendendo Adol.
em depressão
agora?
Vermelho 40 F Psicologia
Gestalt
Terapia
15-20 anos Clínica e
docência
4 Não
Amarelo 40 F Psicologia
Psicanálise
15-20 anos Clínica e
Educação
15 Sim (2)
Azul 36 F Psicologia
Psicanálise
5-10 anos Clínica 15 Sim (2)
Verde 59 M Psicologia
TCC
25-35 anos Clínica 20 Sim (3)
Rosa 40 F Psicologia
TCC
5-10 anos Clínica 15 Sim (5)
Salmão 41 F Psicologia
Sistêmica
TCC
15-20 anos Clínica e
pesquisa
15 Sim (2)
Fonte: Elaboração da autora (2017).
O número de participantes foi pensado em virtude do tempo necessário para a
análise de dados considerando a natureza de iniciação científica. Os participantes foram
selecionados a partir da internet e redes de relacionamento da pesquisadora que fez a
verificação prévia se o profissional preenche os critérios de inclusão. Estes profissionais
psicólogos deveriam ser formados e estarem atuantes há pelo menos três anos, para que
pudessem ter vivenciado experiências diversas na clínica; estar trabalhando ou, já ter
trabalhado anteriormente com adolescentes com transtornos depressivos. Outro critério ainda
foi de que o participante deveria aceitar que sua entrevista fosse gravada para posterior
transcrição.
Para esta pesquisa foram utilizadas folhas de papel A4, caneta, computador
notebook, gravador de voz, impressora, aparelho de celular para o contato com os
participantes. A coleta de dados foi realizada no consultório de atendimento de cada
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profissional, previamente selecionado, de comum acordo com a pesquisadora. Estes locais
ofereceram silêncio e sigilo para a execução das entrevistas.
O instrumento de coleta de dados foi uma entrevista semiestruturada (Apêndice
1) desenvolvida pela pesquisadora, sendo que todo o conteúdo foi registrado em aparelho
gravador de voz, com a autorização prévia do entrevistado. A referida entrevista incluiu
perguntas sobre a caracterização do entrevistado e relacionadas aos objetivos específicos
desta pesquisa. As perguntas contemplavam aspectos conceituais acerca da adolescência; da
depressão na adolescência; os principais sintomas psíquicos, físicos e comportamentais;
aspectos biológicos; culturais; sociais; familiares; relacionados ao suicídio e ao mundo
virtual. As perguntas abordavam ainda temas relacionados ao diagnóstico; importância da
psicoterapia; estratégias de cuidado complementares; contribuição das abordagens teóricas
de cada profissional, técnicas psicológicas utilizadas e outras não recomendadas; uso de
antidepressivos; sinais de alerta para possibilidade suicida e principais manejos, maiores
desafios do tratamento e trabalho preventivo. O tempo estimado para a aplicação do
instrumento de cada coleta de dados foi de cerca de uma hora.
Após a aprovação do Comitê de ética da Unisul, os participantes foram
contatados preliminarmente, via telefone, e e-mail para a explicação dos objetivos da
pesquisa. Após este procedimento, foi estabelecida, então, a data para a realização da
entrevista e assinatura das documentações necessárias.
Os dados foram coletados através de entrevista semiestruturada, gravada
pessoalmente. Para que as entrevistas pudessem ser executadas e gravadas, foi pedida
autorização dos participantes por escrito, através do termo de consentimento de gravação de
voz, assim como também, foi solicitado que estes assinassem um Termo de Consentimento
Livre Esclarecido (TCLE). O TCLE é um documento que trouxe em seu bojo todas as
informações necessárias ao participante, relacionadas ao funcionamento geral da pesquisa,
sua participação no estudo, riscos e benefícios, autonomia, possíveis ressarcimentos e
indenizações, além de questões relacionadas ao sigilo.
Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em pesquisa da Unisul (CEP-
Unisul), em respeito às resoluções do Conselho Nacional de Saúde (CNS) nº 466/2012 e nº
510/2016 que versam acerca dos cuidados ao serem feitas pesquisas envolvendo seres
humanos (CEP-UNISUL, 2017).
As entrevistas foram gravadas em aparelho específico para este fim. Foram
transcritas e analisadas pela Técnica de Análise de Conteúdo de Laurence Bardin. Segundo
13
a autora, a análise de conteúdo é um conjunto de procedimentos de exame das comunicações,
que utiliza artifícios sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens,
acrescentando que o intuito é a indução de conhecimentos relativos às condições de produção
(ou, eventualmente de recepção), indução esta que ocorre a indicadores quantitativos ou não
(BARDIN, 1977).
Os dados foram registrados em uma tabela de análise (Apêndice 2),
considerando os objetivos específicos. Estes foram organizados em categorias e
subcategorias elaboradas a posteriori com o intuito de verificar se as respostas dos
profissionais entrevistados condizem com o que já está posto na literatura, assim como
também, buscando através destas comparações os insights da pesquisadora.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados desta pesquisa serão apresentados em três linhas de análise,
dispondo-se a responder aos objetivos da mesma: a perspectiva de psicólogos clínicos acerca
das características da adolescência, sobre a depressão em adolescentes na perspectiva dos
mesmos além das estratégias de cuidado utilizadas no tratamento de adolescentes em
depressão e os maiores desafios desse trabalho.
3.1 Sobre a adolescência na perspectiva de psicólogos clínicos
Com o intuito de analisar os conceitos de adolescência por parte de psicólogos
clínicos, inicialmente, pode ser dado o destaque sobre como esses profissionais percebem o
CONCEITO DE ADOLESCÊNCIA. Tal conceito inclui subconceitos variados, mas que se
inter-relacionam como pode ser visto nas subcategorias: Momentos de transição;
Constituição de identidade; Momento mais complexo emocionalmente e Transformações
hormonais.
Dentre as subcategorias, pode-se realçar a adolescência como Momento de
transição, citado pelos psicólogos vermelho, azul e salmão. O psicólogo vermelho cita ser a
adolescência: “Uma fase de desenvolvimento onde a pessoa deixa de ser criança e deixa de
ter como maior referência, sua família”. Já o psicólogo azul expõe, acerca desse momento de
transição: “Eu acho que é uma fase de transição na vida do ser humano”.
14
De acordo com Eisenstein (2005), adolescência é a fase de passagem entre a
infância e a vida adulta, diferenciada pelos impulsos do desenvolvimento emocional, físico,
mental, social e sexual e pelos esforços do sujeito em alcançar os objetivos relacionados aos
desejos culturais do meio em que vive.
Acerca do CONCEITO DE ADOLESCÊNCIA NA
CONTEMPORANEIDADE, este abrangeu as subcategorias: Possiblidade de expressão,
Ansiedade excessiva, Diminuição da crítica, Excesso de informação, Intolerância à
frustração e Excessos virtuais. É possível destacar a Diminuição da crítica citado pelos
psicólogos vermelho, azul e rosa. De acordo com o psicólogo vermelho em relação à
subcategoria Diminuição da crítica este menciona: “Para mim já houve gerações em que os
adolescentes eram mais contestadores e revolucionários até politicamente [...]. Hoje, ainda é
assim, mas acho que hoje a adolescência está um pouco alienada disso”. Em relação ao
processo de diminuição do olhar crítico dos adolescentes na atualidade, Alves (1997 apud
TAVARES, 2011, p 19) alude: “[...] os jovens na atualidade são pouco politizados e estão
alienados das questões sociais”.
Os conceitos de adolescência na percepção dos psicólogos clínicos entrevistados
trazem aspectos que incluem fatores de transformação psíquica, física e de constituição de
identidade. Estas transformações são influenciadas e influenciam o meio onde este
adolescente se desenvolve o que inclui seu ambiente familiar e social. Em decorrência destas
transformações, alguns profissionais podem avaliar essa fase da vida como um período
complexo emocionalmente, por envolver não somente fatores psíquicos, mas também
hormonais, que provocam algum “desequilíbrio” emocional, mas que são necessárias para
esse amadurecimento.
Com relação aos conceitos de adolescência na contemporaneidade, o que parece
ficar mais evidente é a trama entre o meio adolescente e a virtualidade. Esta traz para esse
público, ao mesmo tempo, uma grande quantidade de informações e um afastamento do meio
social e suas intercorrências, tornando-os alienados nessa fase de transição ao mundo
externo, em busca de seu grupo de semelhantes, procurando a satisfação de seus desejos e
preferências próprias desta maturação biopsicossocial. Novas pesquisas acerca do fenômeno
da alienação na adolescência fazem-se necessárias, em virtude dos efeitos desta no
desenvolvimento humano. Será visto mais adiante sobre as decorrências desta virtualidade e
o aparecimento de depressão na adolescência.
15
3.2 Sobre a depressão em adolescentes na perspectiva de psicólogos clínicos
Na categoria CONCEITO DE DEPRESSÃO estão incluídas as subcategorias
Perda de sentido da vida, Conflitos na história pessoal, Dificuldades com sentimentos,
Problemas hormonais, Apatia e desmotivação, Procrastinação, Sensação de infelicidade
eterna e Falta de desejo. Dentre estas, destaca-se Apatia e desmotivação citada pelos
psicólogos amarelo, verde e salmão. Conforme o profissional amarelo cita: “Acho que a
depressão em si eu sinto duas coisas: uma apatia com nível bem maior do que qualquer outra
situação. [...]”.
Portanto, entende-se que, essa dificuldade de distinção entre os sintomas de
depressão na adolescência e as características inerentes à própria fase, tais como a apatia e
falta de disposição, tão comum nesta idade, fazem deste diagnóstico algo a ser muito bem
refletido e estruturado por uma equipe multidisciplinar. Argimon et al. (2013, p. 357), cita:
A depressão, [...] traz consigo, além do temperamento irritado, sentimentos de
falta de esperança, desapego e apatia, culpa, prejuízo em sua quantidade de energia,
dificuldades relacionadas ao sono, lenteza psicomotora, “dificuldade de
concentração, alterações de apetite e peso, assim como o isolamento.
Em relação à categoria DEPRESSÃO NA ADOLESCÊNCIA estão nela
incluídas as subcategorias Transformações corporais, Conflitos familiares, Sintomas
ambíguos, Agressividade e irritabilidade, Isolamento, Uso de drogas, Constituição de
identidade, Baixa autoestima e Baixa no rendimento escolar. Em meio a estas se pode
destacar Agressividade e irritabilidade citadas pelos psicólogos amarelo, azul e verde. De
acordo com o entrevistado amarelo, esta subcategoria define-se como: “[...] Eles ficam mais
rebeldes e até mais agressivos e aí os pais não identificam como depressão [...] uma
irritabilidade que parece que está à flor da pele o tempo todo”. Já o psicólogo azul refere:
“[...] a depressão na adolescência tem também a agressividade, tanto a auto agressividade
quanto agredir o outro. [...] O adolescente pode se prostrar, mas pode também agredir e se
auto agredir [...]”.
Diante destas afirmações, entende-se que durante o acompanhamento
psicológico de um adolescente em depressão seja interessante observar em que situações
específicas, este demonstra mais irritabilidade e agressividade. Estas reações agressivas e
irritadas se dão mais em relação a coisas ou a pessoas de seus relacionamentos? E quem são
16
as pessoas com quem ele mais se irrita ou agride? A partir destas informações é possível
planejar de forma eficaz as intervenções necessárias com o intuito de evitar problemas
decorrentes destas reações, tais como conflitos familiares. Bahls (2002, p. 361) alude que
“adolescentes deprimidos não estão sempre tristes; apresentam-se principalmente irritáveis
e instáveis, podendo ocorrer crises de explosão e raiva em seu comportamento”.
Com base nesses dados, pode-se inferir ser a depressão na adolescência uma
psicopatologia que traz em seu cerne várias alterações de comportamento e em relação à
forma como o ser se relaciona consigo e com o meio em que vive. O conceito de depressão,
perspectivado pelos psicólogos entrevistados, envolve características semelhantes à
depressão em adultos, porém, com algumas diferenças no que tange a ambiguidade de
sintomas, o isolamento e o uso de drogas, por exemplo. Na adolescência há uma dificuldade
nas relações familiares, especialmente com os pais, o que pode ter como consequência o
desenvolvimento deste transtorno. Com relação ao papel dos vínculos familiares, é
importante que se façam novas pesquisas, pois a atual investigação demonstrou a relevância
deste vínculo para o desenvolvimento humano, tantas vezes citado pelos participantes desta
pesquisa. Posteriormente, serão observados os sintomas mais comuns de depressão nesta fase
da vida humana, ampliando-se esta visão.
A pesquisa trouxe ainda a categoria SINTOMAS PSÍQUICOS de depressão na
adolescência, que abrange as seguintes subcategorias: Diminuição da vida social, Humor
irritado, Humor cíclico e Autodesvalorização. Entre estas fica mais evidente a subcategoria
Autodesvalorização citada pelos psicólogos, amarelo, verde e rosa. Conforme o entrevistado
amarelo cita: “[...] então começam as falas de: ‘eu não sirvo pra nada’, ‘ sou feia mesmo’, ‘
nunca vou dar certo mesmo’ [...]”. Os psicólogos, verde e rosa mencionam igualmente, como
autodesvalorização: “[...] sensação de incapacidade [...]”. Diante disto, é importante refletir
que, ao mesmo tempo em que a pessoa em depressão sofre com a autodesvalorização, esta
tende a olhar apenas para si e para seus problemas, valorizando-os e catastrofizando-os.
Segundo Bahls (2002), há nos casos de adolescentes em depressão uma baixa na autoestima
destes.
Relacionado a sintomas, os dados também se referem à categoria SINTOMAS
FÍSICOS, que inclui as subcategorias Indisposição física, Problemas com sono, Alimentação
desregulada. Sobre a Indisposição física, os psicólogos, vermelho e rosa mencionam
respectivamente: “[...] muito sono, tem muita preguiça [...]” e “[...] fadiga intensa [...]”.
Diante disto faz-se necessário observar até que ponto esses desequilíbrios relacionados ao
17
sono, apetite e disposição física, por exemplo, são patológicos ou fazem parte da Síndrome
Normal da Adolescência conforme Aberastury e Knobel, (1981). Também para Argimon et
al. (2013), a depressão, na adolescência traz consigo, [...] prejuízo em sua quantidade de
energia, dificuldades relacionadas ao sono, [...] alterações de apetite e peso [...].
Há ainda, com relação a sintomas, a categoria SINTOMAS
COMPORTAMENTAIS que abrange as subcategorias Isolamento, Contatos virtuais
impróprios, Mudanças bruscas de comportamento, Uso de drogas, Agressividade e
autoagressão. Destaca-se dentre estas, a subcategoria Mudanças bruscas de comportamento
citada pelo psicólogo amarelo. Este profissional menciona: “[...] e eu sempre digo para os
pais que, se do nada, seu filho mudou muito de comportamento, por exemplo: só quer usar
roupa preta, ficar somente dentro do quarto escuro, não como coisa isolada, mas como um
conjunto de alterações muito radicais, é porque algo não está bem com ele”.
Com relação a estas mudanças no comportamento de adolescentes, é importante
refletir que esta pode ser considerada normal, em decorrência da construção de sua nova
identidade, que ocorre, agora, em meio a um determinado grupo social, fora do seio familiar.
Com relação a este aspecto (BALLONE, 2008 apud MARQUES, 2014) cita que adolescentes
deparam-se com novas situações e pressões sociais, favorecendo as condições para que
apresentem flutuações do humor e mudanças expressivas no comportamento.
Perante as categorias ligadas especificamente aos sintomas mais comuns, é
possível perceber uma grande quantidade destes, provocando uma transformação intensa no
desenvolvimento físico, psíquico e comportamental do adolescente em depressão. Estes
sintomas devem ser tratados por uma equipe multidisciplinar, a fim de que se possa alcançar
qualidade de vida para a pessoa enferma. A seguir, serão vistos os desencadeantes biológicos,
que podem contribuir para a depressão na adolescência, na percepção dos psicólogos
entrevistados.
Ao longo deste trabalho, a pesquisadora buscou saber, ainda, sobre a perspectiva
de psicólogos acerca da relação entre puberdade precoce e depressão na adolescência. Em
relação a isso foi elaborada então a categoria RELAÇÕES COM A PUBERDADE
PRECOCE que compreende as subcategorias Não percebeu, Relacionado à maturação,
Relacionado ao sexo biológico, Conflitos com a imagem corporal, Responsabilidade
precoce. Observando as falas dos participantes, foi possível destacar a subcategoria Conflitos
com a imagem corporal citada pelos psicólogos amarelo, azul e rosa. O participante amarelo
se refere a esta subcategoria dizendo: “[...] uma criança com 8, 9 ou 10 anos de idade com
18
corpo e um sistema hormonal de adolescente numa realidade que não é a dessa faixa etária e
de desenvolvimento e não querendo ser adolescente [...] porque nessa idade eles ainda
querem ser crianças [...]”. Já o psicólogo azul menciona: “[...] Então acho que sim a
puberdade precoce pode sim estar vinculada com a depressão em decorrência de que o corpo
diz uma coisa e o psicológico diz outra [...]. Ocorre um desequilíbrio”.
Diante destas mudanças corporais precoces, é relevante reconhecer a importância
do acompanhamento psicológico destes adolescentes. O trabalho da psicoterapia na aceitação
do corpo atual pode auxiliar as crianças e adolescentes que desenvolveram seu corpo adulto
precocemente; e neste processo de autoreconhecimento irem aos poucos se adaptando a sua
nova configuração corporal, assim como também, às responsabilidades relacionadas a este
“novo corpo”.
Com relação à puberdade precoce como aspecto contribuinte para o
desenvolvimento de transtornos psicológicos, Schoedl et al. (2009, p. 149), cita que “a
puberdade é um período caracterizado biologicamente, pelo qual todo indivíduo passará entre
os 12 e os 20 anos. Esse período caracteriza-se por transformações da homeostase interna,
dentro de um ritmo variável de indivíduo para indivíduo”. [...] Este fenômeno poderá sofrer
influência do ambiente e ocorrer precocemente e isto pode estar relacionado à exposição da
criança a agentes estrogênicos e antiandrogênicos ambientais; tal processo poderá aumentar
o risco de desenvolvimento de diversas enfermidades, [...] e inclusive, a ocorrência de
dificuldades psicossociais, etc. (SCHOEDL et al., 2009).
Apesar de ter-se observado apenas um desencadeante biológico específico, como
a puberdade precoce, pode-se concluir que aspectos relacionados ao funcionamento do
organismo possuem uma influência fundamental no equilíbrio psicológico da criança e do
adolescente. Por isso, faz-se de grande importância o olhar integral ao adolescente quando
se busca um diagnóstico, levando-se em conta seu estado geral. A seguir serão apresentadas
as categorias relacionadas às influências externas em relação à depressão na adolescência.
Nas entrevistas, buscou-se também verificar, sob a perspectiva dos participantes,
que aspectos externos podem contribuir para o desenvolvimento de depressão na
adolescência. Suas respostas resultaram na categoria INFLUÊNCIA DO MEIO SOCIAL E
CULTURAL que inclui como subcategorias, Falta de aceitação no grupo externo, Isolamento
social virtual, Tecnologias “pra já”, Ilusão das redes sociais, Exigência de perfeição. A
subcategoria a qual pode ser dado ênfase é Exigência de perfeição citada pelos psicólogos
verde, rosa e salmão. A respeito disto, os participantes citam respectivamente: verde - “As
19
meninas são a maioria na depressão e sofrem com a questão do corpo perfeito. O meio exige
muito”. Rosa - “Extremamente pesado principalmente pela questão dos papéis no meio
social. [...] Então a sociedade tem um peso muito forte nesse comportamento desse
adolescente [...]”.
Diante da exigência do corpo perfeito, acima de tudo, colocada pela mídia, assim
como também, da perfeição em aspectos tais como desempenho escolar, os adolescentes
entram em conflito consigo e com sua imagem corporal, podendo este aspecto desencadear
transtornos psicológicos. Uchôa et al., (2015, p. 5), cita:
A influência das relações sociais na transformação da imagem corporal exerce um
papel fundamental na atual sociedade. O fator simbólico do corpo tornou-se fator
fundamental de inserção social, especialmente entre os jovens. Os fatores
midiáticos se apresentam como difusores de um ideal de corpo belo e perfeito,
podendo provocar distúrbios psicológicos.
Considerando a modernidade, a inserção dos jogos virtuais no “mundo
adolescente” e o quanto estes aspectos podem influenciar no aparecimento de depressão nesta
etapa da vida, procurou-se verificar com os participantes de pesquisa sua percepção acerca
da categoria INFLUÊNCIA DOS JOGOS VIRTUAIS e suas subcategorias Jogo da Baleia
azul, Dificuldades de desconectar-se, Busca de aceitação, Suporte familiar frágil e Gatilho
de piora. Em meio a estas, destaca-se a subcategoria Dificuldades de desconectar-se, citada
pelo psicólogo amarelo que refere: “São tantos jogos e tem alguns que são tão violentos e
uma violência tão constante e num ambiente virtual ali já mais depressivo, mais isolado,
aonde o adolescente vai sendo absorvido sem se dar conta [...] não vejo como causa, mas
como uma dificuldade de sair após envolver-se”.
A contemporaneidade trouxe para as novas gerações uma espécie de isolamento,
devido às taxas de violência. Dentro de casa, pouco se pode fazer, a não ser navegar...
Navegar nas “águas” da rede mundial que nos conecta ao mundo e ao mesmo tempo nos
desconecta das pessoas. Em relação a esta “dependência virtual” Gonçalves e Nuemberg (p.
2, 2012) citam: “Hoje em dia é comum deparar-se com pessoas que não conseguem mais
conviver apenas com a realidade comum, pois estão inseridas nos espaços virtuais e, muitas
vezes, dependentes das opções que o mundo virtual pode lhes oferecer”.
Observando-se as categorias ligadas às influências externas, é possível notar o
quanto o meio social, cultural e virtual pode contribuir de formas positiva, mas também,
negativa, em relação às psicopatologias, aqui especificamente, a depressão. Os adolescentes
sofrem a influência destes meios, muitas vezes, de forma desprotegida e com um olhar
20
confuso, justamente pelo processo em que estão vivendo. Isto poderá fazer com que estes
não saibam como lidar com o excesso de informações e com as diferentes opiniões no meio
social. Após, serão observados fatores ligados às influências familiares na depressão em
adolescentes.
Como é possível perceber, a aproximação da família, especialmente dos pais, no
acompanhamento do desenvolver psíquico de seus filhos é fator essencial e predominante.
Os participantes falaram a este respeito na categoria CONTRIBUIÇÃO DOS PAIS PARA
A VULNERABILIDADE DO ADOLESCENTE. Esta pôde suscitar nas subcategorias Falta
compreensão dos filhos, Não distinguem os sintomas, Terceirizam cuidados afetivos, Falta
de atenção. Dentre estas se dá destaque à subcategoria Não distinguem os sintomas, citada
pelos psicólogos amarelo e rosa. O participante amarelo se refere: “Uma coisa é o isolamento
natural do adolescente, mas é um isolamento que vai e vem, não é constante [...] não é uma
mudança repentina de comportamento que nunca mais volta, é um vai e vem mesmo. Então
os pais confundem o que é transitório e natural da adolescência, com a ‘Síndrome Normal da
Adolescência’, com o que pode ser realmente patológico”. Já o psicólogo rosa traz: “Na
maioria das vezes, os pais não percebem a melancolia de seus filhos. O adolescente tem seus
altos e baixos e a família tem que observar. Porém eu vejo certa apatia da família de não ver
e não querer ver”.
A dificuldade do diagnóstico correto está justamente nesta semelhança entre as
características da “Síndrome Normal da Adolescência” (ABERASTURY e KNOBEL, 1981), e os
sintomas de depressão, que, por vezes, torna-se necessária para a passagem dessa fase do
desenvolvimento humano, como forma de ajustamento criativo. Estas dificuldades dos familiares em
distinguir os sintomas de depressão com as características próprias da adolescência são mencionadas
por Aberastury e Knobel (1981).
Sobre o papel dos pais, os participantes entrevistados mencionaram a respeito da
proteção “contra” o desenvolvimento de transtornos psíquicos, o que resultou na categoria
PAPEL DE PROTEÇÃO DOS PAIS COM RELAÇÃO À DEPRESSÃO e suas
subcategorias Proximidade e Elaboração afetiva dos pais. Entre estas, destaca-se a
subcategoria Proximidade, citada pelos psicólogos vermelho, verde e rosa. O participante
vermelho refere sobre “trazer os amigos para dentro de casa, conhecê-los, ver onde o
adolescente está circulando [...]”. Já o verde traz: “Quando os pais são presentes eles acabam
identificando algo errado [...]”.
21
Com relação ao aspecto de manter a proximidade com os filhos adolescentes, é
interessante refletir que o adolescente é um sujeito que ainda está em formação e
desenvolvimento psíquico. Ainda não amadureceu o suficiente (apesar de muitas vezes achar
que sim) e necessita do olhar atento de seus pais/responsáveis. Relacionado às categorias
ligadas à influência familiar, aqui especificamente, os pais, destaca-se a importância destes
manterem-se sempre próximos de seus filhos adolescentes, buscando um diálogo contínuo
que preserve certo nível de sua privacidade. Observa-se que a falta de atenção e compreensão
destes adolescentes, poderá contribuir para que estes se sintam inseguros e possam
desenvolver desequilíbrios e transtornos psicológicos.
Organizando informações acerca do tema suicídio na percepção dos psicólogos
entrevistados, elaborou-se a categoria DESENCADEANTES PARA O SUICÍDIO e suas
subcategorias Falta de sentido na vida, Influência de ídolos, Vínculo familiar frágil, Uso de
drogas, Fim de relacionamento amoroso, Reprovação escolar, Separação conturbada dos
pais. Dentre estas, a subcategoria mais mencionada foi Vínculo familiar frágil. Esta foi
relatada pelos psicólogos, vermelho, azul, verde, rosa e salmão. Estes trouxeram, acerca desta
subcategoria: Vermelho - “Às vezes o adolescente não quer se matar, ele quer apenas chamar
a atenção da família e por um erro acaba se matando”. Azul - “[...] A não aceitação dos pais
de que seu filho está na adolescência. [...] O principal então é a falta de vínculo familiar”. O
verde menciona: “O principal é o problema de suporte familiar frágil e o retardo no
diagnóstico. O adolescente espera que a família o reconheça e isso muitas vezes não
reconhece [...]”.
Existe grande quantidade de situações desencadeantes para o suicídio. Diante de
tantos fatores que levam a este extremo, é importante oferecer a este sujeito adolescente uma
base familiar fortalecida e bem informada acerca do processo de adolescer e suas
“intempéries”. Observou-se nesta análise, através da percepção dos psicólogos entrevistados
que, a base e os vínculos familiares são de extrema importância para a prevenção ao suicídio
de adolescentes.
Relacionado aos desencadeantes de suicídio na adolescência Braga e Dell’Aglio
(2013,p.6) trazem que a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2010) considera que a
vulnerabilidade associada à doença mental, à depressão, a conflitos relacionados ao “álcool
(alcoolismo), ao abuso de drogas, à violência, a perdas, à história de tentativa de suicídio,
bem como à “bagagem” familiar, cultural e social representam os maiores fatores de risco
ao suicídio”.
22
3.3 Estratégias de cuidado utilizadas no tratamento e os maiores desafios desse trabalho
Com o objetivo de apontar quais estratégias de cuidado tem sido utilizadas no
tratamento de adolescentes em depressão e os maiores desafios desse trabalho, buscou-se
informações acerca dos procedimentos relacionados ao diagnóstico de depressão em
adolescentes o que culminou na categoria ELABORAÇÃO DE DIAGNÓSTICO e suas
subcategorias Olhar integral do paciente, Trabalho interdisciplinar, Diagnóstico sem rótulos,
Entrevista de anamnese e Testes psicológicos. Em meio a estas, se destaca Olhar integral do
paciente, mencionada pelos profissionais vermelho, verde e salmão. O psicólogo vermelho
traz: “O diagnóstico se dá pelo processo de análise integral da situação do paciente”. O verde
cita: “[...] eu trabalho primeiro com a família, os pais e depois, então, inicio as sessões com
o paciente confrontando aquilo que foi dito pelos pais e pelo paciente [...]. Trabalho com
anamnese, observação do comportamento do jovem e nas poucas falas deles [...] Observo
também o visual e a postura, os sinais que vão aparecendo”. Já o salmão menciona: “Procuro
observar o adolescente, seus sintomas, suas relações, seu quadro psíquico, físico e vou
buscando informações através dele e também de sua família”.
Com relação a este olhar integral é relevante pensar que um sujeito nunca é
somente corpo ou, somente psiquê. Ele é um conjunto integrado, onde todas as suas faces se
misturam e se influenciam mutuamente. Então, o olhar deve ser integral e a busca de
informações pode se dar através da fala, assim como também, a partir de outros artifícios,
tais como jogos e testes psicológicos. Sobre isto SCHOEDL et al.,(2009), citam que no
diagnóstico de depressão, devem ser considerados múltiplos fatores que incluem o momento
de vida e as relações do indivíduo, doenças orgânicas, suporte de apoio social, características
genéticas, porquanto, cada sujeito é singular e percebe o meio que se insere e os fatos de
forma individual. Esta percepção pode, ou não, contribuir para o desenvolvimento de um
quadro depressivo.
A depressão na adolescência é um transtorno importante e necessita de
tratamento psicológico para que o adolescente possa alcançar qualidade de vida e continuar
se desenvolvendo. Com relação à necessidade de psicoterapia para os transtornos de humor,
especificamente para a depressão, buscou-se verificar com os psicólogos entrevistados os
alcances deste tipo de tratamento, o que resultou na categoria ALCANCES DA
PSICOTERAPIA e suas subcategorias Autoconhecimento, Elaboração afetiva, Consciência
corporal, Reconhecimento de habilidades e limitações e Planejamento de futuro. Em meio a
23
estas, destaca-se Autoconhecimento, citada pelos psicólogos vermelho, verde, rosa e salmão.
Com relação aos benefícios e alcances do tratamento psicoterápico, o psicólogo vermelho
traz: “[...] a psicoterapia é um caminho de autoconhecimento e compreensão do que de
repente esse adolescente está carregando que não está resolvido na sua história de vida [...]”.
Já o rosa menciona: “Em primeiro lugar a psicoterapia é importante para o adolescente
conseguir se identificar como tal, que é um a fase de muitas mudanças, de ele entender o que
o mundo espera dele”. E finalmente o participante salmão refere: “[...] A psicoterapia pode
trazer como benefícios mudar o olhar da pessoa acerca de sua visão de mundo [...] e a
mudança de crenças distorcidas [...]”.
A psicoterapia é um tratamento que busca oferecer ao paciente um olhar mais
refletido sobre si mesmo, suas crenças e sobre o mundo. Para entender o outro e seus
posicionamentos é necessário primeiramente conhecer-se a si próprio e sua posição no
mundo. O autoconhecimento é um item apontado pela maioria dos entrevistados. Para
Schoedl et al., (2009), a psicoterapia objetiva, fazer o adolescente refletir acerca de suas
percepções sobre si, sobre o outro e o mundo que o envolve. Nesta forma de tratamento, o
terapeuta tem como escopo auxiliar o paciente a identificar, perceber e dar significado aos
seus conflitos, ajustar percepções alteradas que tem a seu próprio respeito e em relação ao
meio que o rodeia, assim como, aprimorar suas relações interpessoais, de modo que
compreenda os sinais de sua doença e assim possa auxiliar o profissional que o acompanha
durante seu próprio tratamento.
Segundo a literatura, a depressão em adolescentes, necessita ainda de tratamentos
ou terapias complementares para que os resultados sejam mais benéficos. Em relação a este
aspecto colocou-se a categoria ESTRATÉGIAS COMPLEMENTARES DE
TRATAMENTO e suas subcategorias Prática de esportes, Arteterapia, Alimentação
saudável, Espiritualidade e Leitura. Entre elas destaca-se a Arteterapia, citada pelos
psicólogos vermelho, amarelo e azul. O psicólogo amarelo traz: “[...] Mas tem aqueles
adolescentes que preferem ir para a arte. [...] acho que isso faz muita diferença no processo”.
Por sua vez o participante azul fala: “[...], eu acho que a arte também, [...], pois se você se
envolver produzindo arte você está fazendo algo com esse “buraco” com esse vazio
existencial [...]”.
A busca de técnicas expressivas variadas no tratamento de depressão pode
contribuir para que conteúdos inconscientes possam ser acessados de forma projetiva. Além
disso, o trabalho artístico traz ao paciente momentos de exercício de sua criatividade e
24
relaxamento. Para Pereira (2009), a Arteterapia, ao tratar com a linguagem subliminar do
inconsciente, vem proporcionando alívio àqueles que dela se valem na busca pela restauração
de seu equilíbrio emocional.
Procurando saber mais a respeito da forma como a abordagem teórica de cada
um dos participantes trabalha com a depressão na adolescência, surgiu a categoria
RECURSOS DA ABORDAGEM TEÓRICA e suas subcategorias Ajustamento criativo,
Elaboração de vivências familiares, O olhar para a falta do desejo, Identificar para planejar
as intervenções, Pensamentos distorcidos. Dentre estas, destaca-se Elaboração de vivências
familiares, citada pelo psicólogo amarelo, adepto da abordagem psicanalítica, que refere: “o
olhar não é sobre a relação que o adolescente tem agora com aquela família que está em casa,
a família real, mas, o que das vivências com sua família ficou introjetado. [...]”. É relevante
perguntar-se de que forma analisar um adolescente “puro”, sem olhar para aqueles de quem
ele descende? Um sujeito nunca é somente “seus” sintomas, mas o conjunto de sintomas dele
com seu meio familiar e social. De acordo com Carvalho Fº e Chaves (2010), Freud
persevera, invariavelmente, na relação do paciente e seus entes, e confirma a ligação de seus
sintomas aos sintomas destes, assim como o seu espaço na composição da família.
É importante citar também a subcategoria Pensamentos distorcidos, citada pelo
psicólogo salmão adepto das abordagens sistêmica e cognitivo comportamental, que
menciona: “[...] é importante dizer que as duas abordagens são focadas nesses sistemas de
crenças, de onde vem estas crenças que fazem a pessoa interpretar a vida de uma forma
desesperançosa, com uma visão distorcida das coisas, ou seja, disfuncional”. Com relação a
perceber a vida de forma distorcida é importante dizer que os pensamentos causam
sentimentos e sensações as mais diversas. Se estes são distorcidos da realidade, o sujeito
tende a interpretar fatos de sua vida de forma incorreta ou negativa, tal como ocorre em
pessoas com depressão. Segundo Almeida e Lotufo Neto (2003, p.240) dentre as abordagens
psicológicas utilizadas no tratamento psicoterápico está a Terapia Cognitiva
Comportamental (TCC) [...]. Segundo os autores “a teoria cognitiva defende a existência de
um transtorno do pensamento no cerne das síndromes psiquiátricas, como depressão e
ansiedade”.
Sobre a categoria TÉCNICAS UTILIZADAS NO TRATAMENTO e suas
subcategorias Cadeira vazia , Interpretação de sonhos, Trabalhos corporais e bioenergética,
Metodologia lúdica, A fala no divã, Diálogo terapêutico, Psicoeducação, Testes psicológicos
e RPD (Registro de pensamentos disfuncionais). Dentre estas, se destaca Testes psicológicos,
25
citada pelos profissionais, rosa e verde. Ambos referiram que uma das formas empregadas
na avaliação e tratamento de adolescentes em depressão é a utilização de testes e escalas
psicológicas.
Os testes psicológicos visam auxiliar o profissional de psicologia a formular de
forma eficiente o diagnóstico, assim como também auxiliam no planejamento das
intervenções psicológicas juntamente às entrevistas, durante o tratamento do adolescente em
depressão. Segundo Alchieri, Noronha e Primi (2003), “os testes psicológicos são
instrumentos objetivos e padronizados de investigação do comportamento, que informam
sobre a organização normal dos comportamentos exigidos na execução de testes ou se suas
perturbações em condições patológicas”. (MACHADO, 2007, p. 19, Curitiba, Manual de
avaliação Psicológica).
Com relação à categoria TÉCNICAS NÃO RECOMENDADAS foram
agregadas as subcategorias Trabalhos muito intensos, Ser conselheiro ou autoritário, Uso do
divã, Sessões pré-definidas, Técnicas analíticas. Entre estas, é possível ressaltar Sessões pré-
definidas, citada pelos psicólogos azul e rosa. O profissional azul descreve a respeito: “[...]
O que eu acho que não dá certo, são terapias que já vão com certo direcionamento, com
questionamentos meio direcionados [...]”. Já o profissional rosa traz: “Técnicas que podem
não dar muito certo são aquelas com mais rigidez, por conta de bloquear a criatividade do
adolescente. É necessário ser flexível [...]”.
Em relação a planejar de uma forma rígida e inflexível as sessões com este
público, Pureza et al., (2014, s.p.) cita: “(...) a abordagem com crianças e adolescentes difere-
se no que tange ao tipo de intervenção realizada, que terá como base a criação de linguagens
(muitas vezes não verbais) para acessar o funcionamento cognitivo da criança e adolescente”.
Deve-se compreender que, organizar e determinar previamente uma sessão de psicoterapia
para um adolescente poderia soar para ele como algo autoritário, semelhante às suas
vivências familiares muitas vezes por ele repelida.
Sobre a categoria USO DE ANTIDEPRESSIVOS e suas subcategorias,
Compartilhado com o médico, Acompanhar o uso, Avaliar a necessidade, Evitar ao máximo
pode-se destacar a subcategoria Acompanhar o uso, relatada pelos participantes vermelho,
verde e rosa. Estes trouxeram a importância de saber avaliar os benefícios ou malefícios do
uso de medicamentos para cada caso em particular, sempre procurando atuar juntamente com
o médico psiquiatra que tenha indicado o uso do antidepressivo. O psicólogo verde refere:
“Eu vejo como necessário se estiver em um grau sem controle. Mas eu procuro sempre
26
amenizar e o objetivo é ir retirando essa medicação”. O entrevistado rosa relata: “[...] fico
monitorando o que vai ocorrendo, que medicação está sendo utilizada, dosagem, efeitos
colaterais, e vamos tentando fazer a retirada conforme o paciente vai evoluindo, sempre em
trabalho conjunto com o médico e a família”.
É conveniente refletir sobre o uso de medicamentos para cada psicopatologia,
sempre buscando agir em conjunto com os médicos envolvidos no tratamento, além de outros
possíveis profissionais, tais como fisioterapeutas, pedagogos, etc. Avaliar as possibilidades
de causas biológicas de depressão em adolescentes, entre outras causas, exige conhecimento
de várias áreas; daí a importância da equipe multidisciplinar. Segundo Teodoro (2010, p.23),
os reais fatores contribuintes para depressão nem sempre são apreendidos pelo enfermo e por
quem o rodeia, por estarem impregnadas de “conteúdos inconscientes e processos
psicológicos e orgânicos complexos. Essa conjuntura, em geral, solicita ajuda profissional
de uma equipe de saúde mental multidisciplinar”.
Outro aspecto importante a ser abordado quando se fala em depressão na
adolescência é a possibilidade de tentativa ou suicídio efetivado. Com este questionamento
aos entrevistados deu-se a categoria SINAIS DE ALERTA PARA POSSIBILIDADE
SUICIDA e suas subcategorias Histórico de comportamentos suicidas, Uso de drogas, Apatia
e ausência de projetos, Comportamentos impulsivos, Falar de sua própria morte, Isolamento
e Euforia. Entre estas se ressalta a subcategoria Falar de sua própria morte, citada pelos
participantes amarelo e verde. O amarelo relata: “Todo mundo do senso comum fala: “ quem
fala não faz. [...] Só que antes, além dessa fala às vezes acontece, a pessoa avisa e avisa e
uma hora faz. [...] Quando a pessoa fala muito: ‘eu queria desligar’, ‘eu queria dormir e não
acordar mais’, [...]” . O verde refere: “[...] Mas eles dão um toque, eles sempre deixam
passar alguma coisa tal como falar ‘ah! Eu não sirvo pra nada’[...]”.
Diante da categoria anterior, é importante pensar que nenhuma fala relacionada
ao desejo de morte ou de autodesvalorização pode ser ignorado. Estes podem ser sinais
valiosos para uma atenção redobrada e busca de ajuda profissional. De acordo com a
Organização Mundial da Saúde no Manual de Prevenção do suicídio “a maioria das pessoas
suicidas comunica seus pensamentos e intenções suicidas. Elas frequentemente dão sinais e
fazem comentários sobre ‘querer morrer’, ‘sentimento de não valer pra nada’, e assim por
diante” (2000, p. 13).
Quando questionados acerca das estratégias utilizadas quando há sinais de
possibilidade de tentativa de suicídio deu-se então a categoria MANEJOS PARA IDEAÇÃO
27
SUICIDA e suas subcategorias Associação à família, Falar sobre o assunto, Conscientizar.
Dentre estas, pode-se dar destaque a subcategoria Associação à família citada pelos
participantes vermelho, verde, amarelo e rosa. Ao fato de entrar imediatamente em contato
com familiares ou responsáveis o participante verde refere: “E quando se vê que o caso tem
efetivo risco entro em contato com a família e deixo-os a par”. O psicólogo amarelo relata:
“Imediatamente a chamada dos pais. Primeiro eu converso com o adolescente no sentido de
que se eu posso chamar os pais [...] eu preciso conversar com eles, pois você é menor de
idade e eles são responsáveis por você’’.
Acerca deste contato com a família do adolescente com pensamentos
autodestrutivos, é interessante refletir de que forma irá se expor para a família deste que, há
a possibilidade de suicídio. Isto deve se dar de uma forma planejada e orientadora, para que
esta família, por medo exacerbado, não prejudique o andamento do processo terapêutico e
ossa contribuir para sua proteção. Conforme Zana e Kovaks (2013), os cuidados psicológicos
são essenciais quando há riscos de suicídio. [...] dependendo do grau de autodestrutividade é
aconselhável o trabalho de uma equipe multidisciplinar que poderá incluir médicos,
psicólogos e grupo familiar.
Outra categoria ainda, que surge diante das discussões diz respeito aos
MAIORES DESAFIOS DO TRATAMENTO com as subcategorias Tempo médio para a
recuperação, Risco de suicídio, Limite do sigilo profissional, Transferência e comunicação,
Mudanças também nos pais. Dentre elas destaca-se Transferência e comunicação, citada
pelos psicólogos azul, verde e rosa. Com relação às dificuldades de comunicação com o
adolescente, sobretudo com o adolescente em depressão, o participante azul relata: “O maior
desafio é que eles tenham empatia. Que façam transferência. Pois do contrário não há como
trabalhar [...]”. Já o verde refere: “O maior desafio é a dificuldade de comunicação verbal
destes pacientes adolescentes”.
Pensa-se que o atendimento de adolescentes exige do terapeuta um vasto
conhecimento das atualidades do mundo relacionadas aos gostos destes. Devido às
dificuldades de comunicação, muitas vezes presentes neste público, estar “por dentro”
daquilo de que eles mais “curtem” pode ser uma estratégia eficiente. Em relação às
dificuldades de comunicação com o meio adolescente, Jesus (2017, s.p.), cita:
(...) o trabalho psicoterápico com adolescentes e com os chamados casos difíceis
constitui sempre um desafio que nos obriga a lidar com frustrações, com
sentimentos muitas vezes desconfortáveis, como de impotência e incapacidade
terapêutica (...) É, pois, mais importante compreender o processo do paciente, do
que o significado de suas comunicações; é preciso que se tenha muita sensibilidade
28
para perceber qual o momento e a forma mais adequada para fazer as intervenções
necessárias durante o trabalho psicoterapêutico.
Faz-se importante ainda, a discussão sobre a subcategoria tempo médio para
recuperação. Percebe-se uma variação de tempo de recuperação na perspectiva dos
participantes entrevistados que varia entre duas sessões a doze meses de atendimento. Talvez
seja difícil especificar um tempo determinado para a recuperação ou melhora do quadro
depressivo devido à singularidade de cada paciente. Cada caso terá uma evolução que levará
em consideração a gravidade, uso ou não de antidepressivos e a complementaridade com
outras estratégias de tratamento, tais como a prática de esporte, por exemplo. De acordo com
GJ Ballone (2007, s.p.) “Se não há dúvidas para se iniciar o tratamento antidepressivo,
estabelecer o tempo e a natureza desse tratamento pode ser um pouco mais complicado”.
E, finalmente, ao término das entrevistas com os psicólogos buscou-se saber
cerca do assunto prevenção, o que resultou, então, na categoria TRABALHO PREVENTIVO
e suas subcategorias Orientação familiar, Promoção da afetividade familiar e Prevenção no
ambiente escolar. Entre estas, a subcategoria que mais se sobressai é Orientação familiar,
citada pelos participantes vermelho, azul e salmão. Em relação a isto o psicólogo vermelho
relata: “A família precisa se preparar para ter um filho adolescente, [...] Uma forma de
prevenção é trabalhar com família; com os pais para estes compreenderem o que é essa
transição [...]”.Enquanto o salmão refere: “[...] quanto mais a família se trabalhar com relação
às suas emoções e lidar com as suas relações de um jeito mais saudável isso facilita muito a
vida do adolescente que terá um modelo também mais saudável”.
Assim sendo, compreende-se que, o conhecimento e orientação sobre
desenvolvimento humano, sobretudo, acerca da adolescência, poderão auxiliar os pais a
lidarem com as intempéries desta fase “conturbada” de seus filhos. É necessário buscar
informações sobre os próprios filhos/alunos, porém, de forma a não invadir demasiadamente
sua privacidade e isso possa tornar-se mais uma problemática nestas relações. Enfim, crescer
e desenvolver-se em uma família orientada e afetivamente saudável, poderá contribuir para
a prevenção de transtornos de humor tais como a depressão.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compreender o fenômeno depressão na adolescência, a partir da perspectiva de
psicólogos clínicos foi o escopo principal desta pesquisa. Inicialmente, a pesquisa contava
29
com dois objetivos específicos para delinear seu curso. A partir da análise dos dados e da
produção deste artigo, foi necessário subdividir o primeiro objetivo relacionado ao olhar
conceitual dos psicólogos acerca da adolescência e da depressão. Assim sendo, o primeiro
objetivo tratou especificamente dos conceitos de adolescência e de adolescência na
contemporaneidade. Como se pode observar, a percepção dos participantes entrevistados é
de que a adolescência é um momento de transição e transformações nos níveis psicológico,
físico e social, o que contribui para que seus relacionamentos sejam afetados e afetem o meio
em que vivem. Relacionado à adolescência na contemporaneidade o que ficou mais evidente
é sua relação com os meios virtuais e sua consequente alienação do meio social. Portanto, ao
finalizar a análise dos dados obtidos no primeiro objetivo, foi possível perceber que, para a
maioria dos entrevistados, a adolescência é basicamente uma fase de grandes transformações
pessoais e relacionais e que tecnologia virtual dos últimos vinte anos tem influenciado de
forma intensa todo este processo de amadurecimento, trazendo para esta mais informação,
porém, com um poder alienador.
Com relação ao segundo objetivo específico, pertinente à percepção dos
psicólogos acerca da depressão e depressão na adolescência, puderam-se observar as
semelhanças da sintomatologia que ocorre nesta psicopatologia, às características tidas como
“normais” desta fase da vida humana. Devido a estas semelhanças encontram-se, justamente
as dificuldades de reconhecimento da existência desta patologia por parte dos familiares,
assim como também, em relação ao diagnóstico médico e psicológico. Ainda com relação ao
segundo objetivo, outro aspecto importante, também encontrado, foi a importante influência
do vínculo familiar, tanto na prevenção, quanto no tratamento da depressão. Ficou evidente,
o quanto a falta desta base e vínculo familiar pode ocasionar diversas problemáticas e
desequilíbrios afetivos na vida de crianças e consequentemente, nos adolescentes. Estes, ao
entrarem em um ciclo depressivo, mostram-se muitas vezes agressivos, apáticos, sem
motivação e por vezes, também adoecidos fisicamente, podendo inclusive, dependendo do
grau de gravidade, tentar o suicídio.
Diante do terceiro e último objetivo relacionado às estratégias de cuidado e os
maiores desafios encontrados no acompanhamento de adolescentes em depressão, foi
possível concluir que o diagnóstico é um procedimento importante e, deve ser feito de forma
planejada e responsável por profissionais habilitados e conscientes em relação às questões
ligadas a rotulação deste adolescente. Foi possível observar que, em geral, o diagnóstico é
feito por equipe multidisciplinar, buscando avaliar os pacientes de forma integral. Também
30
se concluiu que a necessidade de psicoterapia é indispensável em casos de depressão; que os
profissionais indicam, ainda, o uso de terapias complementares com o intuito de buscar uma
qualidade de vida em aspectos outros, além do psicológico. Foi salientada pelos entrevistados
a importância do uso de antidepressivos em casos mais graves, feito de forma controlada e
frequentemente avaliada pelo profissional médico. Também, dentro deste objetivo,
relacionado às técnicas utilizadas no tratamento, demonstrou-se que há uma variedade delas.
Dentre algumas, citaram-se técnicas corporais, diálogo terapêutico e trabalho lúdico, que tem
mostrado eficiência e eficácia no tratamento dos adolescentes; no entanto, ficou demonstrado
também que há a necessidade de flexibilidade das intervenções psicoterapêuticas, pois,
devido às características de procura de identidade e individuação na adolescência, estes
buscam de certa forma “fugir” do autoritarismo de seus pais e alcançar, ao máximo, sua
autonomia, processo este, que pode ser estimulado durante a psicoterapia. Ao longo da
pesquisa também se compreendeu que é necessário que a família e os profissionais que
acompanham o adolescente fiquem alertas para a possibilidade de suicídio, buscando
protegê-lo e tornando-o consciente de suas escolhas, inclusive acerca de seus direitos sobre
sua própria vida; que o manejo com adolescentes “suicidas” deve ser de associação entre os
profissionais e familiares com o intuito de evitar que ocorra este ato extremo.
Em relação aos maiores desafios, foi possível concluir que estes estão
relacionados à possibilidade de suicídio, assim como também, o trabalho de conscientização
dos familiares em relação a este transtorno de humor. Com relação à prevenção ficou
evidente a importância de informar a família e a sociedade como um todo acerca das
características da adolescência e da depressão e suas influências nesta fase.
Enfim, foi possível alcançar objetivos propostos no início desta pesquisa; as
dificuldades encontradas estão relacionadas apenas com a combinação de horários para as
entrevistas e o deslocamento da pesquisadora. Com relação às vantagens deste trabalho
conclui-se que este contribui para o esclarecimento acerca da depressão na adolescência, não
somente para a classe de psicólogos, mas também para a classe médica assim como também
para o público em geral.
Ficam como sugestões de novas pesquisas os temas relacionados a atual alienação
dos adolescentes; é relevante que se investigue até que ponto esta alienação está ligada aos
excessos virtuais ou de informação. Outro fator importante, também a se pesquisar é a
relevância do vínculo familiar e sua influência no desenvolvimento humano.
31
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OPAS/OMS, 2004. Disponível em:
<http://www.opas.org.br/medicamentos/%docs/HSE_URM_DEP_0404.pdf>. Acesso em:
11 abr. 2017.
YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman,
2005.
ZANA, Augusta Rodrigues de Oliveira; KOVACS, Maria Julia. O psicólogo e o
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de Janeiro, v. 13, n. 3, p. 897-921, dez. 2013. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-
42812013000300006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 01 nov. 2017.
36
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APÊNCIDES
APÊNDICE 1 – ENTREVISTA
CARACTERIZAÇÃO
DO ENTREVISTADO
OBJETIVO ESPECÍFICO Nº 1
E PERGUNTAS
OBJETIVO ESPECÍFICO Nº2
E PERGUNTAS
1- Perguntas referentes
aos dados de cada
entrevistado.
1-Descrever a percepção de
psicólogos clínicos acerca das
características da adolescência e
acerca da depressão em
adolescentes.
2- Apontar quais estratégias de cuidado tem
sido utilizadas no tratamento de adolescentes
em depressão e os desafios desse trabalho.
1) Sexo? 1) 1) Para você, o que é a
adolescência?
1) Como se dá o processo diagnóstico de depressão
em adolescentes? Quais outros profissionais podem
ou devem auxiliar no diagnóstico?
2) Idade?
2) 2) Como você vê o adolescente
hoje em dia?
2) Qual é a importância da psicoterapia para
adolescentes em depressão? Quais benefícios ela
pode trazer para este público?
3) Formação?
3) Para você o que caracteriza a
depressão?
3) Além da psicoterapia, quais estratégias de
cuidado podem contribuir para o tratamento destes
adolescentes?
4) Tempo de formação? 4) Para você o que caracteriza a
depressão em adolescentes?
4) De que forma sua abordagem teórica
compreende a depressão em adolescentes?
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5) Atuação profissional?
Somente clínica? Ou
outros âmbitos também?
Quais?
5) Quais sintomas psíquicos,
físicos e comportamentais são
mais perceptíveis durante os
episódios de depressão em
adolescentes?
5) Quais técnicas da psicologia/psicoterapia você
tem utilizado nestes casos, e que obteve sucesso. E
quais técnicas você observa que podem não ser
eficazes?
6) Já atuou com quantos
adolescentes em
depressão,
aproximadamente?
6) Que fatores principais devem
ser levados em conta durante o
diagnóstico de depressão em
adolescentes?
6) Qual é a sua percepção acerca do uso de
antidepressivos para os casos de depressão em
adolescentes?
7) Está atuando com
adolescentes em
depressão atualmente?
7) Que relações você percebe entre
a puberdade precoce e a
depressão na adolescência?
7) Em casos de identificação de ideação suicida
quais manejos podem ser utilizados?
8) Como você considera a
influência dos meios culturais,
sociais e familiares no
aparecimento de depressão em
adolescentes?
8) Quais são os sinais de alerta para a possibilidade
de ato suicida?
9) Que condições de vida do
adolescente em depressão você
considera que podem contribuir
para que este possa cometer o
suicídio?
9) O que você considera como maior desafio durante
o acompanhamento de um adolescente em
depressão?
10) Você acha que os jogos
virtuais, tais como “Jogo da
Baleia Azul” tem influência nos
quadros de depressão em
adolescentes? Como?
10) Enfim, é possível fazer um trabalho
preventivo contra depressão em adolescentes? Se
sim, Como? Se não, por quê?
11) Como você observa o papel
dos pais/ cuidadores em relação
à ocorrência / proteção da
depressão em adolescentes?
Fonte: Elaboração da autora (2017)
APENDICE 2 – TABELA DE ANÁLISE DOS DADOS
1º Objetivo Específico
Descrever a percepção de psicólogos clínicos
acerca das características da adolescência;
CATEGORIAS
SUBCATEGORIAS
CONCEITOS DE ADOLESCÊNCIA
Momento de transição;
Constituição de identidade;
Período mais complexo emocionalmente;
Transformações hormonais.
ADOLESCÊNCIA NA CONTEMPORANEIDADE
Possiblidade de expressão;
Ansiedade excessiva;
Diminuição da crítica;
Excesso de Informação;
Intolerância à frustração;
Excessos virtuais.
39
2º Objetivo Específico
Descrever sua percepção acerca da depressão em adolescentes
CONCEITO DE DEPRESSÃO
Perda de sentido da vida;
Conflitos na história pessoal;
Dificuldade com sentimentos;
Problemas hormonais;
Apatia e desmotivação;
Procrastinação;
Sensação de infelicidade eterna;
Falta de desejo.
DEPRESSÃO NA ADOLESCÊNCIA
Transformações corporais;
Conflitos familiares;
Sintomas ambíguos;
Agressividade e irritabilidade;
Isolamento;
Uso de drogas;
Constituição de identidade;
Baixa autoestima;
Problemas no rendimento escolar.
SINTOMAS PSÍQUICOS
Diminuição da vida social;
Humor irritado;
Humor cíclico;
Autodesvalorização.
SINTOMAS FÍSICOS
Indisposição física;
Problemas com sono;
Alimentação desregulada.
SINTOMAS COMPORTAMENTAIS
Isolamento;
Contatos virtuais impróprios;
Mudanças bruscas de comportamento;
Uso de drogas;
Agressividade e autoagressão.
RELAÇÕES COM A PUBERDADE PRECOCE
Não percebeu;
Relacionado à maturação;
Relacionado ao sexo biológico;
Conflitos com a imagem corporal;
Responsabilidade precoce.
INFLUÊNCIA DO MEIO SOCIAL E CULTURAL
Falta de aceitação no grupo externo;
Isolamento social virtual;
Tecnologias “do já”;
Ilusão das redes sociais;
Exigência de perfeição.
INFLUÊNCIA DOS JOGOS VIRTUAIS
Jogo da Baleia Azul;
Dificuldade de desconectar-se;
Busca de aceitação;
Suporte Familiar frágil;
Gatilho de piora.
CONTRIBUIÇÃO DOS PAIS PARA A
VULNERABILIDADE DO ADOLESCENTE
Falta compreensão dos filhos;
Não distinguem os sintomas;
Terceirização de cuidados afetivos;
Falta de atenção.
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PAPEL DE PROTEÇÃO DOS PAIS COM
RELAÇÃO À DEPRESSÃO
Proximidade;
Elaboração afetiva dos pais.
DESENCADEANTES PARA
TENTATIVA DE SUICÍDIO
Falta de sentido da vida;
Influência de ídolos;
Vínculo Familiar Frágil;
Uso de drogas;
Fim de relacionamento amoroso;
Reprovação escolar;
Separação conturbada dos pais.
3º Objetivo específico
Descrever as estratégias de cuidado utilizadas no tratamento de
adolescentes em depressão e os desafios desse trabalho.
ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO
Olhar integral do paciente; Trabalho interdisciplinar;
Diagnóstico sem rótulos;
Entrevista de anamnese;
Testes Psicológicos.
ALCANCES DA PSICOTERAPIA
Autoconhecimento;
Elaboração afetiva;
Consciência corporal;
Reconhecimento de habilidades e limitações;
Planejamento de futuro.
ESTRATÉGIAS COMPLEMENTARES
DE TRATAMENTO
Prática de esporte;
Arte terapia;
Alimentação saudável;
Espiritualidade;
Leitura.
RECURSOS DA ABORDAGEM TEÓRICA
Ajustamento criativo;
Elaboração de vivências familiares;
O olhar para a falta do desejo;
Identificar para planejar intervenções;
Pensamentos distorcidos.
TÉCNICAS UTILIZADAS NO TRATAMENTO
Cadeira vazia;
Interpretação de sonhos;
Trabalhos corporais e bioenergética;
Metodologia Lúdica;
A fala no divã;
Diálogo terapêutico;
Psicoeducação;
Testes Psicológicos;
RPD.
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TÉCNICAS NÃO RECOMENDADAS
Trabalhos muito intensos;
Ser conselheiro ou autoritário;
Uso do divã;
Sessões pré-definidas;
Técnicas analíticas.
USO DE ANTIDEPRESSIVOS
Compartilhado com o médico;
Acompanhar o uso;
Avaliar a necessidade;
Evitar ao máximo.
SINAIS DE ALERTA PARA
POSSIBILIDADE SUICIDA
Histórico de comportamentos suicidas;
Uso de drogas;
Apatia e ausência de projetos;
Comportamentos impulsivos.
Falar de sua própria morte;
Isolamento;
Euforia.
MANEJOS PARA IDEAÇÃO SUICIDA
Associação à família;
Falar sobre o assunto;
Conscientizar.
MAIORES DESAFIOS DO TRATAMENTO
Tempo médio para recuperação;
Risco de suicídio;
Limite do sigilo profissional;
Transferência e comunicação;
Mudança também nos pais.
TRABALHO PREVENTIVO
Orientação familiar;
Promoção da afetividade familiar;
Prevenção no ambiente escolar.
Fonte: Elaboração da autora (2017)
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