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1 PERCEPÇÕES DE PSICÓLOGOS CLÍNICOS ACERCA DA DEPRESSÃO EM ADOLESCENTES E A IMPORTÂNCIA DA PSICOTERAPIA PARA ESTES CASOS 1 Lisandra Margarete da Silva 2 Resumo: Encontra-se em escalada o número de casos de transtornos de humor entre adolescentes, principalmente casos de depressão. Com o intuito de buscar mais informações e recursos para o planejamento de intervenções psicológicas no tratamento psicoterápico deste público, esta pesquisa teve como principal objetivo analisar a percepção de psicólogos clínicos acerca da importância da psicoterapia para casos de depressão em adolescentes. Visa contribuir para o conhecimento acerca do tema, assim como, apontar quais estratégias de cuidado têm sido utilizadas no tratamento de adolescentes em depressão e os desafios desse trabalho. Caracteriza-se, quanto aos seus objetivos, como de caráter descritivo, de natureza qualitativa, tem corte transversal e delineamento estudo multicaso. A coleta de dados foi feita através de entrevista semiestruturada, gravada, com seis profissionais da Psicologia, formados há pelo menos três anos, que trabalham ou já trabalharam anteriormente com adolescentes com depressão. Após a coleta de dados, foi feita a transcrição das respostas fornecidas evitando alteração nas mesmas. Os dados foram organizados em categorias e subcategorias a posteriori que deram base para a análise e interpretação dos dados. Esta análise foi feita através da técnica de análise de dados de Lawrence Bardin. Como resultado deste trabalho, compreendeu-se que a adolescência, na percepção de psicólogos clínicos, é considerada uma fase de intensas transformações biopsicossociais e que, após o surgimento das tecnologias virtuais, tem sido extremamente influenciada por estas. Acerca da perspectiva destes profissionais, em relação à depressão na adolescência, pode-se observar o quanto há semelhanças entre os sintomas que podem ocorrer nesta psicopatologia e as características consideradas “normais” desta fase da vida humana e, devido a estas semelhanças, encontram-se as dificuldades para um diagnóstico preciso. Outro aspecto importante, abordado em relação à depressão na adolescência foi a influência do vínculo familiar na compreensão da doença. Com relação às estratégias de cuidado e os maiores desafios encontrados no acompanhamento de adolescentes em depressão, foi possível concluir a importância do diagnóstico planejado e feito por equipe multidisciplinar; que a psicoterapia é indispensável nestes casos, além de terapias complementares e possibilidade de uso de antidepressivos em casos mais graves, feito de forma controlada pelo profissional médico. Com relação às técnicas utilizadas no tratamento, evidenciou-se que há uma multiplicidade delas, tais como, técnicas corporais, diálogo terapêutico e trabalho lúdico. Demonstrou-se ainda a necessidade de que a família e os profissionais que acompanham o adolescente com depressão estejam associados e alertas para a possibilidade de suicídio, buscando protegê-lo, tornando-o consciente de suas escolhas. Entre os maiores desafios citados, estão a possibilidade de suicídio e as dificuldades no trabalho de conscientização dos familiares acerca desta psicopatologia. Relacionado à prevenção, mostrou-se relevante informar à família e à sociedade acerca das características da adolescência e da depressão e suas influências nesta fase. Palavras-chave: Adolescência. Depressão. Psicoterapia. ______________________ 1 Artigo apresentado como trabalho de conclusão de curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de psicólogo. Orientadoras: Prof. Dra. Ana Maria Pereira Lopes e Prof. Dra. Carolina Bunn Bartilotti. 2 Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina, [email protected]

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PERCEPÇÕES DE PSICÓLOGOS CLÍNICOS ACERCA DA DEPRESSÃO EM

ADOLESCENTES E A IMPORTÂNCIA DA PSICOTERAPIA PARA ESTES CASOS 1

Lisandra Margarete da Silva2

Resumo: Encontra-se em escalada o número de casos de transtornos de humor entre

adolescentes, principalmente casos de depressão. Com o intuito de buscar mais informações

e recursos para o planejamento de intervenções psicológicas no tratamento psicoterápico

deste público, esta pesquisa teve como principal objetivo analisar a percepção de psicólogos

clínicos acerca da importância da psicoterapia para casos de depressão em adolescentes. Visa

contribuir para o conhecimento acerca do tema, assim como, apontar quais estratégias de

cuidado têm sido utilizadas no tratamento de adolescentes em depressão e os desafios desse

trabalho. Caracteriza-se, quanto aos seus objetivos, como de caráter descritivo, de natureza

qualitativa, tem corte transversal e delineamento estudo multicaso. A coleta de dados foi feita

através de entrevista semiestruturada, gravada, com seis profissionais da Psicologia,

formados há pelo menos três anos, que trabalham ou já trabalharam anteriormente com

adolescentes com depressão. Após a coleta de dados, foi feita a transcrição das respostas

fornecidas evitando alteração nas mesmas. Os dados foram organizados em categorias e

subcategorias a posteriori que deram base para a análise e interpretação dos dados. Esta

análise foi feita através da técnica de análise de dados de Lawrence Bardin. Como resultado

deste trabalho, compreendeu-se que a adolescência, na percepção de psicólogos clínicos, é

considerada uma fase de intensas transformações biopsicossociais e que, após o surgimento

das tecnologias virtuais, tem sido extremamente influenciada por estas. Acerca da

perspectiva destes profissionais, em relação à depressão na adolescência, pode-se observar o

quanto há semelhanças entre os sintomas que podem ocorrer nesta psicopatologia e as

características consideradas “normais” desta fase da vida humana e, devido a estas

semelhanças, encontram-se as dificuldades para um diagnóstico preciso. Outro aspecto

importante, abordado em relação à depressão na adolescência foi a influência do vínculo

familiar na compreensão da doença. Com relação às estratégias de cuidado e os maiores

desafios encontrados no acompanhamento de adolescentes em depressão, foi possível

concluir a importância do diagnóstico planejado e feito por equipe multidisciplinar; que a

psicoterapia é indispensável nestes casos, além de terapias complementares e possibilidade

de uso de antidepressivos em casos mais graves, feito de forma controlada pelo profissional

médico. Com relação às técnicas utilizadas no tratamento, evidenciou-se que há uma

multiplicidade delas, tais como, técnicas corporais, diálogo terapêutico e trabalho lúdico.

Demonstrou-se ainda a necessidade de que a família e os profissionais que acompanham o

adolescente com depressão estejam associados e alertas para a possibilidade de suicídio,

buscando protegê-lo, tornando-o consciente de suas escolhas. Entre os maiores desafios

citados, estão a possibilidade de suicídio e as dificuldades no trabalho de conscientização dos

familiares acerca desta psicopatologia. Relacionado à prevenção, mostrou-se relevante

informar à família e à sociedade acerca das características da adolescência e da depressão e

suas influências nesta fase.

Palavras-chave: Adolescência. Depressão. Psicoterapia.

______________________ 1Artigo apresentado como trabalho de conclusão de curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa

Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de psicólogo. Orientadoras: Prof. Dra. Ana Maria

Pereira Lopes e Prof. Dra. Carolina Bunn Bartilotti. 2Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina, [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

O tema desse artigo é a problemática da depressão na adolescência, a partir de

percepções de psicólogos clínicos. A depressão tem sido vista como um problema expressivo

no trabalho em saúde mental, portanto, tornando-se um desafio para os profissionais da

Psicologia. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), em fevereiro do ano

de 2017, o diagnóstico de casos de depressão aumentou 18% entre 2005 e 2015: são 322

milhões de pessoas diagnosticadas em todo o mundo, a maioria no sexo feminino. No Brasil,

a depressão atinge 11,5 milhões de pessoas (5,8% da população).

De acordo com Nacional Institute for Health Care Management Foundation

(NIHCM) (2005 apud SCHOEDL et al., 2009, p. 147) “[...] a prevalência de transtorno

depressivo maior na adolescência é alta, e pode variar entre 3% e 9 % na população geral.”

A autora cita ainda que quanto mais cedo for o início do conjunto de sintomas, maiores serão

as perdas provocadas no desenvolvimento de capacidades sociais, emocionais e no

funcionamento escolar e ocupacional do indivíduo.

De acordo com Nepomuceno (2017), nos Estados Unidos, uma pesquisa

da Universidade Johns Hopkins teve acesso aos dados de 176.245 adolescentes com idades

entre 12 e 17 anos e de 180.459 adultos com 18 a 25 anos — isso no espaço de tempo entre

2005 e 2014. E o resultado foi alarmante: avaliando as respostas de questionários vinculados

ao bem-estar psíquico, o número de jovens que citaram ter sofrido algum episódio de

depressão subiu 37%. Ainda segundo Nepomuceno, uma, a cada seis meninas declarou

manifestar o quadro no último ano. Segundo Miguel Boarati, coordenador do Ambulatório

de Transtornos Afetivos na Infância e Adolescência do Hospital das Clínicas, em São Paulo,

o cenário não é apenas dos americanos: “Temos notado uma busca acentuada de adolescentes

por tratamentos em saúde mental”, afirma o especialista. “Mas não temos um estudo formal

para confirmar isso, como nos Estados Unidos”, atesta (NEPOMUCENO, 2017 s.p.).

Para Wannmacher (2004), distúrbios depressivos podem apresentar evento

único ou configurações cíclicas. Sua identificação – nem sempre feita – reveste-se de

importância, na medida em que este é um problema comum, podendo ser debilitante, porém,

tratável. Nesse contexto, e observando que a depressão é um transtorno sério, é importante

pesquisar qual é a avaliação que os psicólogos clínicos fazem do seu trabalho no atendimento

a adolescentes com depressão.

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Diante de tantos desafios que o homem contemporâneo vive nos últimos anos, o

que inclui trabalho, relações sociais, familiares, laborais, alta competitividade em vários

setores de sua vida, este se vê muitas vezes atormentado, principalmente quando não possui

uma rede de apoio satisfatória. Este sofrimento recorrente pode acarretar o desenvolvimento

de transtornos depressivos (HENDERSON, 1980 apud SCHOEDL et al., 2009). De acordo

com o autor, relações sociais pouco sólidas, insuficientes ou conturbadas podem ser aspectos

contribuintes na gênese de sofrimento psicológico. “As tensões nas relações sociais atuais,

independentes de história passada ou de genética, podem contribuir para o surgimento de

sintomas depressivos” (HENDERSON, 1980 apud SCHOEDL et al., 2009, p. 17).

Como se pode observar, a depressão, em geral, é um transtorno de humor

complexo que envolve uma série de sintomas tanto físicos, quanto psíquicos; estes sintomas

podem levar o indivíduo acometido a ter problemas que envolvem convivência social, laboral

e adoecimento físico em decorrência do estado deprimido, entre outras consequências. E

sobre isto, Assumpção-Junior (1998) cita ainda que, na situação clínica, o termo depressão

não se refere somente a um humor deprimido, mas sim a um complexo sindrômico marcado

por alterações de humor, de psicomotricidade, de pensamento, vontade e por uma

multiplicidade de distúrbios somáticos e neurovegetativos.

Para Cordás e Sassi-Junior (1998 apud FURLAN; CANALE, 2006), a depressão

é uma patologia de humor, que de forma direta necessita ser identificada e tratada, e que não

está relacionada ao caráter do indivíduo nem com a própria vontade do mesmo. Ou seja, ao

ser atendida, uma pessoa com os sintomas característicos de depressão, esta requer

acompanhamento médico, psicoterapêutico e talvez farmacológico, a fim de que seu estado

psíquico possa obter alívio sintomático e seu cotidiano possa transcorrer de forma que esta

sinta-se melhor.

Com relação ao diagnóstico de depressão, há de se considerar diversos fatores,

dentre eles: momento de vida e relacional do indivíduo, problemas de saúde física, rede de

apoio, constituição genética, pois, cada sujeito é único e percebe o ambiente e

acontecimentos de forma diferenciada. Esta percepção pode, ou não, contribuir para o

desenvolvimento de um quadro depressivo (SCHOEDL et al., 2009). Ainda, segundo a

autora, em sua forma clínica mais corriqueira, a depressão poderá mostrar-se como um

episódio depressivo, que poderá apresentar-se como leve, moderado ou severo, dependendo

da intensidade e do grau de acometimento que esta causa na disposição do indivíduo de se

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relacionar com sua família e amigos ou, em sua capacidade de trabalho e do número de

sintomas.

Outro aspecto importante relacionado à depressão é a possibilidade de suicídio.

Em casos de transtornos depressivos considerados graves, quando o paciente não recebe

atendimento especializado de uma equipe multidisciplinar e atenção de sua rede social de

apoio, este poderá vir a cometer o ato extremo de tirar a própria vida.

Segundo Braga e Dell’Aglio (2013), de acordo com a Organização Mundial da

Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO, 2010), o suicídio é considerado

uma problemática na saúde pública em todo mundo, pois está, em vários países, entre as três

principais causas de morte entre pessoas de 15 a 44 anos e é a segunda principal causa de

morte entre outras com idade entre 10 e 24 anos. A cada ano, aproximadamente um milhão

de pessoas morrem devido ao suicídio, ou seja, uma morte a cada 40 segundos. “O índice

mundial de suicídio é estimado em torno de 16 a cada 100 mil habitantes, variando de acordo

com o sexo, a idade e o país” (p. 2). Devido a estas altas taxas de morte em decorrência de

suicídio, principalmente na faixa da adolescência, é importante que se façam pesquisas a

respeito desse fenômeno buscando a prevenção deste tipo de acontecimento.

Conforme Eisenstein (2005), adolescência é a fase de passagem entre a infância

e a vida adulta, diferenciada pelos impulsos do desenvolvimento emocional, físico, mental,

social e sexual e pelos esforços do sujeito em alcançar os objetivos relacionados aos desejos

culturais do meio em que vive. A adolescência se inicia com as transformações corpóreas da

puberdade e finda, quando o indivíduo estabiliza seu crescimento e algumas de suas

características de personalidade, alcançando progressivamente sua independência

econômica, além da conexão com seu grupo social (EISENSTEIN, 2005). Também para

Ferreira e Nelas (2016) a adolescência é referida como o tempo estabelecido entre o momento

de criança e a fase adulta. Começa com os primeiros sinais anatômicos do amadurecimento

sexual e finaliza com a “realização social da situação de adulto independente” (p. 141).

De acordo com Aberastury (1990, p. 15), a adolescência é um período decisivo

na vida do homem e estabelece a etapa determinante de um processo de desapego. Este

processo cruza três momentos fundamentais: o primeiro é o nascimento; o segundo no final

do “primeiro ano com a eclosão da genitalidade, a dentição, a linguagem, a posição de pé e

a marcha; o terceiro momento aparece na adolescência”. Na adolescência, quando o

amadurecimento genital o incita para relacionar-se com pessoas do outro sexo, faz-se

também possível a prática do incesto. “Ao mesmo tempo, define-se seu papel de procriador

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e, escapando ao incesto, o adolescente inicia a busca do objeto de amor no mundo externo, o

que se concretizará com a descoberta do par, se for conseguido o desprendimento interno dos

pais”. Somente sua maturação lhe concederá futuramente “aceitar-se independente, dentro

de um marco de necessária dependência. Mas ao começo, mover-se-á entre o impulso ao

desprendimento e a defesa que impõe o temor à perda do conhecido” (ABERASTURY, 1990,

p.15). Ainda, conforme a autora, este é um período de contrassensos, confuso, ambivalente,

dolorido, “caracterizado por fricções com o meio familiar e o ambiente circundante. Este

quadro é, com frequência, confundido com crise e estados patológicos, o que alarma o adulto

e o leva a buscar soluções equivocadas” (p.15).

A adolescência hoje, no ano de 2017, é avaliada como um momento em que os

“jovens, após momentos de maturação diversificados, constroem a sua identidade, os seus

pontos de referência, escolhem o seu caminho profissional e o seu projeto de vida”

(FERREIRA; NELAS, 2016, p. 141). De acordo com as autoras, é comumente aceito que a

adolescência é, em primeiro lugar, um “processo e não um período”, e que se constitui por

várias transformações pessoais que são muitas vezes intensas, “sejam as físicas, as sociais,

as psicológicas e as cognitivas” (p. 144).

(...) a adolescência nem sempre é vivida e sentida como um período da vida

particularmente difícil. […] é um período de tempo que envolve perdas e ganhos,

que envolve a flutuação e o estabelecimento de novas maneiras de pertencer, e que

envolve a aceitação de uma imagem do corpo em mudança, como resultado do

início da puberdade conforme Roberts (1988 apud FERREIRA; NELAS, 2016, p.

144).

Ademais é importante citar que segundo Calligaris (2000), a adolescência é uma

criação contemporânea que se prolonga além do amadurecimento corpóreo ou da puberdade,

no sentido biológico da palavra. Para o autor, é um momento de paralisação, isto é, o

adolescente é um sujeito que, embora seu corpo e subjetividade estejam “prontos” para adotar

as responsabilidades de um adulto, este não é visto como tal. A adolescência “tem seu

significado determinado pela cultura e pela linguagem que media as relações sociais,

significado este que se torna referência para a constituição dos sujeitos” (OZELLA, 2003, p.

145). Deste modo, vê-se que os adolescentes estabelecem sua identidade através de suas

vivências no meio onde se inserem, o que permite posicioná-los em uma totalidade

econômica e social, onde o capitalismo reina.

Outro aspecto importante a ser pensado em relação à adolescência

contemporânea é o uso das redes sociais digitais e da tecnologia virtual para alimentar as

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relações humanas e que tem sido alvo de elogios, devido à rapidez com que “negócios” são

resolvidos e à facilidade de encontrar pessoas em qualquer lugar do planeta. Porém este uso

também tem sido criticado pelo excesso e pela fragilidade e superficialidade dos laços criados

no meio digital. Segundo Silva e Carvalho (2014, p. 11) citam acerca dos vínculos virtuais

que:

[...] uma das formas a partir da qual é possível visualizar a fragilização dos vínculos

são as relações virtuais. A principal mudança é descrita por Bauman (1999, p.22-

23), ao pontuar as visões tradicionais de ação muitas vezes recorrem a metáforas

orgânicas para suas alusões: o conflito era cara a cara, o combate corpo a corpo; a

justiça era olho por olho, dente por dente; a discussão encarniçada, a solidariedade

ombro a ombro, a comunidade face a face, a amizade de braço dado e a mudança

passo a passo.

Também conforme Silva e Carvalho (2014) o desenvolvimento das redes virtuais

e seu uso exagerado na contemporaneidade mudou enormemente o modo como as pessoas

se relacionam, tornando estes vínculos esvaziados de sentido, superficiais e produzindo

liquidez nos laços. Ou seja, criam-se laços enfraquecidos que se desfazem em um simples

“delete”. O avanço dos meios digitais, modernos e imediatos permitiram “afastar os

conflitos, solidariedades, combates, debates e a administração da justiça para além do alcance

do olho ou do braço humanos” e com isso também afastaram as pessoas ao mesmo tempo

que as colocaram em “contato”(SILVA E CARVALHO, 2014, p 11).

As modificações biopsicossociais no desenvolvimento do adolescente podem

trazer a este desafios e dificuldades diversas, contribuindo para um possível desenvolvimento

de transtornos mentais. Dentre eles está a depressão e, conforme Costa et al., (2014, p. 9),

“[...] observa-se que adolescentes com percepção negativa em relação ao contexto social

incluídos, apresentam maior probabilidade de desenvolver depressão, ressaltando a

importância das relações sociais e familiares saudáveis para a saúde mental”.

Não somente as modificações físicas que ocorrem nesta fase, “perturbam” o

equilíbrio psíquico dos adolescentes, mas, também, fatores externos relacionados ao

ambiente e pessoas que o rodeiam. Costa et al., (2014, p. 10), afirmam que além das

modificações naturais, oportunas da fisiologia da constituição do adolescente, estímulos

externos podem contribuir para subverter o equilíbrio e produzir novos desafios para o

jovem, tais “como os problemas familiares e socioeconômicos, violência, doenças orgânicas,

dependência química, dificuldades financeiras, discriminação e pressão social, colaborando

para que a depressão, cada vez mais precoce, se estabeleça nessa fase da vida”, segundo Melo

e Moreira (2008 apud COSTA et al., 2014, p. 10).

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Relacionando-se aos fenômenos da adolescência, é necessário avaliar até que

ponto, as características e transformações no comportamento dos adolescentes são

patológicas ou apenas variações decorrentes deste período do desenvolvimento humano. De

acordo com Aberastury e Knobel (1981, p. 9), o adolescente passa por desequilíbrios e

volubilidade extrema. “Isto configura uma entidade semipatológica, que é denominada pelos

autores como síndrome normal da adolescência”, que é complicada e perturbadora para o

mundo dos adultos, porém definitivamente imperativa para o adolescente, que neste processo

vai constituir a sua identidade, sendo este um desígnio essencial deste período de seu

desenvolvimento.

Sobre a depressão em adolescentes, de acordo com Argimon et al., (2013), é

notável que adolescentes que padecem de depressão têm seu desempenho escolar afetado de

forma negativa. Poderão ter sua autoestima prejudicada ou rebaixada, o que, por

consequência, pode resultar em sintomas de inconstância emocional, suscetibilidade; podem

ocorrer, também, períodos de raiva extrema.

Ainda conforme Argimon et al., (2013, p. 357), a depressão, neste estágio do

desenvolvimento humano – a saber – a adolescência, traz consigo, além do temperamento

irritado, sentimentos de falta de esperança, desapego e apatia, culpa, prejuízo em sua

quantidade de energia, dificuldades relacionadas ao sono, lentidão psicomotora, “dificuldade

de concentração, alterações de apetite e peso, assim como o isolamento”. Além disso, podem

incidir “queixas físicas (fadiga, cefaleia e dor abdominal), sérios problemas de

comportamento e ideação suicida” (ARGIMON et al., 2013, p. 357). Também, conforme os

autores, o problema, até mesmo, ultrapassa o nível individual: o avanço no número de

adolescentes em depressão poderá acarretar agravos a toda a sociedade, que terá “muitos

jovens problemáticos no início de sua entrada no mercado de trabalho, aumento dos gastos

com a saúde destes e com o sistema de previdência do país” (p. 354).

De acordo com Marcelli e Braconnier (2007), a depressão nesta fase ocorre de

forma um pouco diferente em relação a meninos e meninas, com suas particularidades

específicas. Segundo os autores, eles não expressam “sua” depressão da mesma maneira. Em

geral, as meninas manifestam seu mal-estar por suas inquietações relacionadas à sua

autoimagem corporal, seu peso, dores mais ou menos longas, que em geral não despertam a

atenção dos pais em um primeiro momento, porém cuja intensidade, persistência e apelo por

cuidado, devem ser avaliados muito individualmente. Já os meninos expressam “sua”

depressão através de comportamentos agressivos descarregando seus sentimentos negativos

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relacionados à sua autoimagem, “dissimulada por uma aparente insolência ou por uma reação

violenta que são apenas suas expressões manifestas” (MARCELLI; BRACONNIER, 2007,

p. 181).

Quando se fala em depressão no adolescente, observa-se que se trata de um

fenômeno diferenciado, devido às mudanças e transformações deste período, “com causas e

efeitos específicos, que requerem uma compreensão e um modelo de intervenção, também

específicos” (BIAZUS; RAMIRES, 2012, p. 90). Relacionado a isto, o acompanhamento de

um paciente com diagnóstico de depressão por profissionais de saúde mental, psicólogos e

psiquiatras, torna-se algo imprescindível e demanda um planejamento específico para cada

caso. É através destes procedimentos que, aspectos específicos da condição depressiva, tais

como fatores biológicos, afetos, cognição e comportamentos vistos como disfuncionais,

serão levados em conta e poderá ser feito o planejamento da intervenção, para auxiliar no

alívio dos sintomas. Diante disto, de acordo com Louzã-Neto, Betarello (1994 apud

FURLAN; CANALE, 2006, p. 28):

O clínico, ao estar diante de um paciente deprimido, tem que procurar determinar

qual ou quais fatores poderiam estar determinando o quadro antes de indicar o

tratamento. Os quadros depressivos orgânicos requerem o tratamento da principal

patologia, muitas vezes associados ao tratamento com medicamentos. Nos quadros

depressivos endógenos é indicado o tratamento farmacológico, não excluindo a

necessidade da psicoterapia. Nos quadros reativos, neuróticos e existenciais a

abordagem é principalmente psicoterápica, embora em alguns casos, devido à

gravidade da depressão, seja indicado o uso de antidepressivo.

Ainda segundo estes autores a promoção do alívio dos sintomas, o aumento da

vinculação ao tratamento em geral e o auxílio no processo de reorganização psíquica do

paciente se dá através das intervenções psicoterápicas apropriadas oferecidas por

profissionais bem preparados para tal. Conforme Duailibi e Silva (2014), a depressão é um

transtorno para o qual existem vários tratamentos. Em casos de gravidade leve ou moderada

o acompanhamento com psicoterapia (cognitivo comportamental ou interpessoal, por

exemplo) poderá ser satisfatório para terapêutica e prevenção de recidiva. Contudo, para que

haja uma melhora relevante na qualidade de vida, assim como, uma melhor adesão ao

tratamento é necessário o uso de medicamentos e acompanhamento psicológico, o que

também é recomendado por Kehl (2009). Além disso, de acordo com Duailibi e Silva (2014),

em virtude da alta incidência da doença, na maioria das vezes os casos mais leves são tratados

por outras especialidades sem a presença do psiquiatra, “porém em alguns casos o

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encaminhamento deve ser feito, são eles: risco de suicídio; sintomas psicóticos; história de

transtorno afetivo bipolar; ausência de resposta ao tratamento inicial e transtorno de

personalidade” (DUAILIBI; SILVA, 2014, p. 31).

Outras terapêuticas podem também ser citadas para o tratamento de depressão,

incluindo práticas integrativas e complementares. O Ministério da Saúde, no Brasil, resolveu

incluir estas práticas no tratamento de várias doenças através do Sistema Único de Saúde

(SUS). Dentre elas podemos citar: homeopatia, Medicina Tradicional Chinesa/acupuntura,

medicina antroposófica, plantas medicinais e fitoterapia, terapias com águas termais,

arteterapia, ayurveda, biodança, dança circular, meditação, musicoterapia, naturopatia,

osteopatia. (PORTAL BRASIL, 31 mar. 2017).

Em meio a tantas informações relacionadas ao tratamento de depressão na

adolescência é importante também citar o fator prevenção. De acordo com Brito (2011, p.

213), prevenir a ocorrência de depressão nesta faixa etária envolve observar se a família deste

adolescente tem algum histórico desta patologia; se este já teve um episódio depressivo ou

ainda se apresenta sinais ligeiros da doença. Tratar as mães em depressão também influencia

o futuro da saúde mental de seus filhos. “A identificação e o tratamento precoce de mães

deprimidas são decisivos para o adequado desenvolvimento dos seus filhos. É importante

orientar os jovens, os pais e os profissionais, que com eles se relacionam, sobre os sinais da

depressão e as medidas a tomar” (BRITO 2011, p. 213).

Outro aspecto importante também é a prevenção relacionada às possibilidades de

suicídio em adolescentes, especialmente aqueles que padecem de transtornos depressivos.

Conforme o Manual de prevenção ao suicídio do Ministério da Saúde (2006), depressões

moderadas e graves, incluindo ou não, sintomas psicóticos, em caso de transtorno afetivo

bipolar ou com apresentação de risco de suicídio relevante devem ser acompanhadas com a

assistência do médico psiquiatra e equipe multidisciplinar (MANUAL DE PREVENÇÃO

AO SUICÍDIO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).

Portanto, profissionais de saúde mental devem munir-se de conhecimento a

respeito deste transtorno, a fim de que possam contribuir de forma efetiva para o tratamento

de tal patologia, assim como também, para que possam colaborar na construção de trabalhos

preventivos relacionados ao adoecimento psíquico.

A partir da revisão de literatura em que os temas, depressão, depressão na

adolescência e psicoterapia para depressão na adolescência são bastante discutidos e

amplamente estudados por pesquisadores de todo o mundo, foram encontradas entre os

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meses de abril a novembro do ano de 2017, diversas produções científicas em Língua

Portuguesa, no site da base de dados do Scielo, Google Acadêmico, Bireme, BVS-Brasil,

Lilacs que abordam questões relacionadas às palavras-chave “depressão”, “depressão na

adolescência” e “psicoterapia”.

Observando a importância de pesquisar acerca do tema “Depressão na

adolescência”, a pergunta de pesquisa é: “Quais as percepções de psicólogos clínicos acerca

da depressão em adolescentes e a importância da psicoterapia para estes casos?” Esta

pesquisa tem, ainda, como objetivos específicos: descrever a percepção de psicólogos

clínicos acerca das características da adolescência; descrever sua percepção acerca da

depressão em adolescentes e apontar quais estratégias de cuidado tem sido utilizadas no

tratamento de adolescentes em depressão e os desafios desse trabalho.

2. MÉTODO

Esta é uma pesquisa que se distingue, quanto aos seus objetivos, como de caráter

descritivo, pois tem como finalidade descrever a partir da percepção de profissionais da

Psicologia, características importantes da depressão em adolescentes, assim como a respeito

do acompanhamento psicológico desta psicopatologia. De acordo com Gil (1991, p. 46), as

pesquisas descritivas, ou de caráter descritivo, tem como desígnio principal a “descrição das

características de determinada população ou fenômeno”. Trata-se de uma pesquisa de

natureza qualitativa, pois, de acordo com Minayo (1994), a pesquisa desta natureza responde

a questões muito individuais, trabalhando com uma variedade de significados, causas,

crenças, valores, que obedece a um espaço mais denso das relações, dos processos e dos

fenômenos. Quanto ao delineamento, esta investigação caracteriza-se como “multicaso”.

Para obter resultados de maior abrangência, foi realizado um estudo multicaso, que conforme

Yin (2005) é aquele onde são analisadas informações de diferentes disposições e não apenas

de uma como ocorre no estudo de caso. Em relação ao tipo de corte caracteriza-se como

transversal; a pesquisa com este tipo de corte é um estudo em que é feito o exame da relação

exposição-desfecho, em determinada população apenas em um exclusivo momento

(TRAEBERT; SCHNEIDER, 2012).

Foram participantes desta pesquisa, seis profissionais da Psicologia que atuam o

contexto da clínica, de modo autônomo. Os nomes dos psicólogos foram trocados por cores,

Page 11: PERCEPÇÕES DE PSICÓLOGOS CLÍNICOS ACERCA DA …

11

a fim de retirar a identificação, sendo indicados desse modo na análise dos dados. Segue

abaixo o quadro de participantes:

QUADRO DE PARTICIPANTES

Psicólogos Idade Sexo Formação Tempo de

formação

(Entre)

Atuação

profission

al

Nº Aprox. de

adolescentes

atendidos

Atendendo Adol.

em depressão

agora?

Vermelho 40 F Psicologia

Gestalt

Terapia

15-20 anos Clínica e

docência

4 Não

Amarelo 40 F Psicologia

Psicanálise

15-20 anos Clínica e

Educação

15 Sim (2)

Azul 36 F Psicologia

Psicanálise

5-10 anos Clínica 15 Sim (2)

Verde 59 M Psicologia

TCC

25-35 anos Clínica 20 Sim (3)

Rosa 40 F Psicologia

TCC

5-10 anos Clínica 15 Sim (5)

Salmão 41 F Psicologia

Sistêmica

TCC

15-20 anos Clínica e

pesquisa

15 Sim (2)

Fonte: Elaboração da autora (2017).

O número de participantes foi pensado em virtude do tempo necessário para a

análise de dados considerando a natureza de iniciação científica. Os participantes foram

selecionados a partir da internet e redes de relacionamento da pesquisadora que fez a

verificação prévia se o profissional preenche os critérios de inclusão. Estes profissionais

psicólogos deveriam ser formados e estarem atuantes há pelo menos três anos, para que

pudessem ter vivenciado experiências diversas na clínica; estar trabalhando ou, já ter

trabalhado anteriormente com adolescentes com transtornos depressivos. Outro critério ainda

foi de que o participante deveria aceitar que sua entrevista fosse gravada para posterior

transcrição.

Para esta pesquisa foram utilizadas folhas de papel A4, caneta, computador

notebook, gravador de voz, impressora, aparelho de celular para o contato com os

participantes. A coleta de dados foi realizada no consultório de atendimento de cada

Page 12: PERCEPÇÕES DE PSICÓLOGOS CLÍNICOS ACERCA DA …

12

profissional, previamente selecionado, de comum acordo com a pesquisadora. Estes locais

ofereceram silêncio e sigilo para a execução das entrevistas.

O instrumento de coleta de dados foi uma entrevista semiestruturada (Apêndice

1) desenvolvida pela pesquisadora, sendo que todo o conteúdo foi registrado em aparelho

gravador de voz, com a autorização prévia do entrevistado. A referida entrevista incluiu

perguntas sobre a caracterização do entrevistado e relacionadas aos objetivos específicos

desta pesquisa. As perguntas contemplavam aspectos conceituais acerca da adolescência; da

depressão na adolescência; os principais sintomas psíquicos, físicos e comportamentais;

aspectos biológicos; culturais; sociais; familiares; relacionados ao suicídio e ao mundo

virtual. As perguntas abordavam ainda temas relacionados ao diagnóstico; importância da

psicoterapia; estratégias de cuidado complementares; contribuição das abordagens teóricas

de cada profissional, técnicas psicológicas utilizadas e outras não recomendadas; uso de

antidepressivos; sinais de alerta para possibilidade suicida e principais manejos, maiores

desafios do tratamento e trabalho preventivo. O tempo estimado para a aplicação do

instrumento de cada coleta de dados foi de cerca de uma hora.

Após a aprovação do Comitê de ética da Unisul, os participantes foram

contatados preliminarmente, via telefone, e e-mail para a explicação dos objetivos da

pesquisa. Após este procedimento, foi estabelecida, então, a data para a realização da

entrevista e assinatura das documentações necessárias.

Os dados foram coletados através de entrevista semiestruturada, gravada

pessoalmente. Para que as entrevistas pudessem ser executadas e gravadas, foi pedida

autorização dos participantes por escrito, através do termo de consentimento de gravação de

voz, assim como também, foi solicitado que estes assinassem um Termo de Consentimento

Livre Esclarecido (TCLE). O TCLE é um documento que trouxe em seu bojo todas as

informações necessárias ao participante, relacionadas ao funcionamento geral da pesquisa,

sua participação no estudo, riscos e benefícios, autonomia, possíveis ressarcimentos e

indenizações, além de questões relacionadas ao sigilo.

Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em pesquisa da Unisul (CEP-

Unisul), em respeito às resoluções do Conselho Nacional de Saúde (CNS) nº 466/2012 e nº

510/2016 que versam acerca dos cuidados ao serem feitas pesquisas envolvendo seres

humanos (CEP-UNISUL, 2017).

As entrevistas foram gravadas em aparelho específico para este fim. Foram

transcritas e analisadas pela Técnica de Análise de Conteúdo de Laurence Bardin. Segundo

Page 13: PERCEPÇÕES DE PSICÓLOGOS CLÍNICOS ACERCA DA …

13

a autora, a análise de conteúdo é um conjunto de procedimentos de exame das comunicações,

que utiliza artifícios sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens,

acrescentando que o intuito é a indução de conhecimentos relativos às condições de produção

(ou, eventualmente de recepção), indução esta que ocorre a indicadores quantitativos ou não

(BARDIN, 1977).

Os dados foram registrados em uma tabela de análise (Apêndice 2),

considerando os objetivos específicos. Estes foram organizados em categorias e

subcategorias elaboradas a posteriori com o intuito de verificar se as respostas dos

profissionais entrevistados condizem com o que já está posto na literatura, assim como

também, buscando através destas comparações os insights da pesquisadora.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados desta pesquisa serão apresentados em três linhas de análise,

dispondo-se a responder aos objetivos da mesma: a perspectiva de psicólogos clínicos acerca

das características da adolescência, sobre a depressão em adolescentes na perspectiva dos

mesmos além das estratégias de cuidado utilizadas no tratamento de adolescentes em

depressão e os maiores desafios desse trabalho.

3.1 Sobre a adolescência na perspectiva de psicólogos clínicos

Com o intuito de analisar os conceitos de adolescência por parte de psicólogos

clínicos, inicialmente, pode ser dado o destaque sobre como esses profissionais percebem o

CONCEITO DE ADOLESCÊNCIA. Tal conceito inclui subconceitos variados, mas que se

inter-relacionam como pode ser visto nas subcategorias: Momentos de transição;

Constituição de identidade; Momento mais complexo emocionalmente e Transformações

hormonais.

Dentre as subcategorias, pode-se realçar a adolescência como Momento de

transição, citado pelos psicólogos vermelho, azul e salmão. O psicólogo vermelho cita ser a

adolescência: “Uma fase de desenvolvimento onde a pessoa deixa de ser criança e deixa de

ter como maior referência, sua família”. Já o psicólogo azul expõe, acerca desse momento de

transição: “Eu acho que é uma fase de transição na vida do ser humano”.

Page 14: PERCEPÇÕES DE PSICÓLOGOS CLÍNICOS ACERCA DA …

14

De acordo com Eisenstein (2005), adolescência é a fase de passagem entre a

infância e a vida adulta, diferenciada pelos impulsos do desenvolvimento emocional, físico,

mental, social e sexual e pelos esforços do sujeito em alcançar os objetivos relacionados aos

desejos culturais do meio em que vive.

Acerca do CONCEITO DE ADOLESCÊNCIA NA

CONTEMPORANEIDADE, este abrangeu as subcategorias: Possiblidade de expressão,

Ansiedade excessiva, Diminuição da crítica, Excesso de informação, Intolerância à

frustração e Excessos virtuais. É possível destacar a Diminuição da crítica citado pelos

psicólogos vermelho, azul e rosa. De acordo com o psicólogo vermelho em relação à

subcategoria Diminuição da crítica este menciona: “Para mim já houve gerações em que os

adolescentes eram mais contestadores e revolucionários até politicamente [...]. Hoje, ainda é

assim, mas acho que hoje a adolescência está um pouco alienada disso”. Em relação ao

processo de diminuição do olhar crítico dos adolescentes na atualidade, Alves (1997 apud

TAVARES, 2011, p 19) alude: “[...] os jovens na atualidade são pouco politizados e estão

alienados das questões sociais”.

Os conceitos de adolescência na percepção dos psicólogos clínicos entrevistados

trazem aspectos que incluem fatores de transformação psíquica, física e de constituição de

identidade. Estas transformações são influenciadas e influenciam o meio onde este

adolescente se desenvolve o que inclui seu ambiente familiar e social. Em decorrência destas

transformações, alguns profissionais podem avaliar essa fase da vida como um período

complexo emocionalmente, por envolver não somente fatores psíquicos, mas também

hormonais, que provocam algum “desequilíbrio” emocional, mas que são necessárias para

esse amadurecimento.

Com relação aos conceitos de adolescência na contemporaneidade, o que parece

ficar mais evidente é a trama entre o meio adolescente e a virtualidade. Esta traz para esse

público, ao mesmo tempo, uma grande quantidade de informações e um afastamento do meio

social e suas intercorrências, tornando-os alienados nessa fase de transição ao mundo

externo, em busca de seu grupo de semelhantes, procurando a satisfação de seus desejos e

preferências próprias desta maturação biopsicossocial. Novas pesquisas acerca do fenômeno

da alienação na adolescência fazem-se necessárias, em virtude dos efeitos desta no

desenvolvimento humano. Será visto mais adiante sobre as decorrências desta virtualidade e

o aparecimento de depressão na adolescência.

Page 15: PERCEPÇÕES DE PSICÓLOGOS CLÍNICOS ACERCA DA …

15

3.2 Sobre a depressão em adolescentes na perspectiva de psicólogos clínicos

Na categoria CONCEITO DE DEPRESSÃO estão incluídas as subcategorias

Perda de sentido da vida, Conflitos na história pessoal, Dificuldades com sentimentos,

Problemas hormonais, Apatia e desmotivação, Procrastinação, Sensação de infelicidade

eterna e Falta de desejo. Dentre estas, destaca-se Apatia e desmotivação citada pelos

psicólogos amarelo, verde e salmão. Conforme o profissional amarelo cita: “Acho que a

depressão em si eu sinto duas coisas: uma apatia com nível bem maior do que qualquer outra

situação. [...]”.

Portanto, entende-se que, essa dificuldade de distinção entre os sintomas de

depressão na adolescência e as características inerentes à própria fase, tais como a apatia e

falta de disposição, tão comum nesta idade, fazem deste diagnóstico algo a ser muito bem

refletido e estruturado por uma equipe multidisciplinar. Argimon et al. (2013, p. 357), cita:

A depressão, [...] traz consigo, além do temperamento irritado, sentimentos de

falta de esperança, desapego e apatia, culpa, prejuízo em sua quantidade de energia,

dificuldades relacionadas ao sono, lenteza psicomotora, “dificuldade de

concentração, alterações de apetite e peso, assim como o isolamento.

Em relação à categoria DEPRESSÃO NA ADOLESCÊNCIA estão nela

incluídas as subcategorias Transformações corporais, Conflitos familiares, Sintomas

ambíguos, Agressividade e irritabilidade, Isolamento, Uso de drogas, Constituição de

identidade, Baixa autoestima e Baixa no rendimento escolar. Em meio a estas se pode

destacar Agressividade e irritabilidade citadas pelos psicólogos amarelo, azul e verde. De

acordo com o entrevistado amarelo, esta subcategoria define-se como: “[...] Eles ficam mais

rebeldes e até mais agressivos e aí os pais não identificam como depressão [...] uma

irritabilidade que parece que está à flor da pele o tempo todo”. Já o psicólogo azul refere:

“[...] a depressão na adolescência tem também a agressividade, tanto a auto agressividade

quanto agredir o outro. [...] O adolescente pode se prostrar, mas pode também agredir e se

auto agredir [...]”.

Diante destas afirmações, entende-se que durante o acompanhamento

psicológico de um adolescente em depressão seja interessante observar em que situações

específicas, este demonstra mais irritabilidade e agressividade. Estas reações agressivas e

irritadas se dão mais em relação a coisas ou a pessoas de seus relacionamentos? E quem são

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16

as pessoas com quem ele mais se irrita ou agride? A partir destas informações é possível

planejar de forma eficaz as intervenções necessárias com o intuito de evitar problemas

decorrentes destas reações, tais como conflitos familiares. Bahls (2002, p. 361) alude que

“adolescentes deprimidos não estão sempre tristes; apresentam-se principalmente irritáveis

e instáveis, podendo ocorrer crises de explosão e raiva em seu comportamento”.

Com base nesses dados, pode-se inferir ser a depressão na adolescência uma

psicopatologia que traz em seu cerne várias alterações de comportamento e em relação à

forma como o ser se relaciona consigo e com o meio em que vive. O conceito de depressão,

perspectivado pelos psicólogos entrevistados, envolve características semelhantes à

depressão em adultos, porém, com algumas diferenças no que tange a ambiguidade de

sintomas, o isolamento e o uso de drogas, por exemplo. Na adolescência há uma dificuldade

nas relações familiares, especialmente com os pais, o que pode ter como consequência o

desenvolvimento deste transtorno. Com relação ao papel dos vínculos familiares, é

importante que se façam novas pesquisas, pois a atual investigação demonstrou a relevância

deste vínculo para o desenvolvimento humano, tantas vezes citado pelos participantes desta

pesquisa. Posteriormente, serão observados os sintomas mais comuns de depressão nesta fase

da vida humana, ampliando-se esta visão.

A pesquisa trouxe ainda a categoria SINTOMAS PSÍQUICOS de depressão na

adolescência, que abrange as seguintes subcategorias: Diminuição da vida social, Humor

irritado, Humor cíclico e Autodesvalorização. Entre estas fica mais evidente a subcategoria

Autodesvalorização citada pelos psicólogos, amarelo, verde e rosa. Conforme o entrevistado

amarelo cita: “[...] então começam as falas de: ‘eu não sirvo pra nada’, ‘ sou feia mesmo’, ‘

nunca vou dar certo mesmo’ [...]”. Os psicólogos, verde e rosa mencionam igualmente, como

autodesvalorização: “[...] sensação de incapacidade [...]”. Diante disto, é importante refletir

que, ao mesmo tempo em que a pessoa em depressão sofre com a autodesvalorização, esta

tende a olhar apenas para si e para seus problemas, valorizando-os e catastrofizando-os.

Segundo Bahls (2002), há nos casos de adolescentes em depressão uma baixa na autoestima

destes.

Relacionado a sintomas, os dados também se referem à categoria SINTOMAS

FÍSICOS, que inclui as subcategorias Indisposição física, Problemas com sono, Alimentação

desregulada. Sobre a Indisposição física, os psicólogos, vermelho e rosa mencionam

respectivamente: “[...] muito sono, tem muita preguiça [...]” e “[...] fadiga intensa [...]”.

Diante disto faz-se necessário observar até que ponto esses desequilíbrios relacionados ao

Page 17: PERCEPÇÕES DE PSICÓLOGOS CLÍNICOS ACERCA DA …

17

sono, apetite e disposição física, por exemplo, são patológicos ou fazem parte da Síndrome

Normal da Adolescência conforme Aberastury e Knobel, (1981). Também para Argimon et

al. (2013), a depressão, na adolescência traz consigo, [...] prejuízo em sua quantidade de

energia, dificuldades relacionadas ao sono, [...] alterações de apetite e peso [...].

Há ainda, com relação a sintomas, a categoria SINTOMAS

COMPORTAMENTAIS que abrange as subcategorias Isolamento, Contatos virtuais

impróprios, Mudanças bruscas de comportamento, Uso de drogas, Agressividade e

autoagressão. Destaca-se dentre estas, a subcategoria Mudanças bruscas de comportamento

citada pelo psicólogo amarelo. Este profissional menciona: “[...] e eu sempre digo para os

pais que, se do nada, seu filho mudou muito de comportamento, por exemplo: só quer usar

roupa preta, ficar somente dentro do quarto escuro, não como coisa isolada, mas como um

conjunto de alterações muito radicais, é porque algo não está bem com ele”.

Com relação a estas mudanças no comportamento de adolescentes, é importante

refletir que esta pode ser considerada normal, em decorrência da construção de sua nova

identidade, que ocorre, agora, em meio a um determinado grupo social, fora do seio familiar.

Com relação a este aspecto (BALLONE, 2008 apud MARQUES, 2014) cita que adolescentes

deparam-se com novas situações e pressões sociais, favorecendo as condições para que

apresentem flutuações do humor e mudanças expressivas no comportamento.

Perante as categorias ligadas especificamente aos sintomas mais comuns, é

possível perceber uma grande quantidade destes, provocando uma transformação intensa no

desenvolvimento físico, psíquico e comportamental do adolescente em depressão. Estes

sintomas devem ser tratados por uma equipe multidisciplinar, a fim de que se possa alcançar

qualidade de vida para a pessoa enferma. A seguir, serão vistos os desencadeantes biológicos,

que podem contribuir para a depressão na adolescência, na percepção dos psicólogos

entrevistados.

Ao longo deste trabalho, a pesquisadora buscou saber, ainda, sobre a perspectiva

de psicólogos acerca da relação entre puberdade precoce e depressão na adolescência. Em

relação a isso foi elaborada então a categoria RELAÇÕES COM A PUBERDADE

PRECOCE que compreende as subcategorias Não percebeu, Relacionado à maturação,

Relacionado ao sexo biológico, Conflitos com a imagem corporal, Responsabilidade

precoce. Observando as falas dos participantes, foi possível destacar a subcategoria Conflitos

com a imagem corporal citada pelos psicólogos amarelo, azul e rosa. O participante amarelo

se refere a esta subcategoria dizendo: “[...] uma criança com 8, 9 ou 10 anos de idade com

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18

corpo e um sistema hormonal de adolescente numa realidade que não é a dessa faixa etária e

de desenvolvimento e não querendo ser adolescente [...] porque nessa idade eles ainda

querem ser crianças [...]”. Já o psicólogo azul menciona: “[...] Então acho que sim a

puberdade precoce pode sim estar vinculada com a depressão em decorrência de que o corpo

diz uma coisa e o psicológico diz outra [...]. Ocorre um desequilíbrio”.

Diante destas mudanças corporais precoces, é relevante reconhecer a importância

do acompanhamento psicológico destes adolescentes. O trabalho da psicoterapia na aceitação

do corpo atual pode auxiliar as crianças e adolescentes que desenvolveram seu corpo adulto

precocemente; e neste processo de autoreconhecimento irem aos poucos se adaptando a sua

nova configuração corporal, assim como também, às responsabilidades relacionadas a este

“novo corpo”.

Com relação à puberdade precoce como aspecto contribuinte para o

desenvolvimento de transtornos psicológicos, Schoedl et al. (2009, p. 149), cita que “a

puberdade é um período caracterizado biologicamente, pelo qual todo indivíduo passará entre

os 12 e os 20 anos. Esse período caracteriza-se por transformações da homeostase interna,

dentro de um ritmo variável de indivíduo para indivíduo”. [...] Este fenômeno poderá sofrer

influência do ambiente e ocorrer precocemente e isto pode estar relacionado à exposição da

criança a agentes estrogênicos e antiandrogênicos ambientais; tal processo poderá aumentar

o risco de desenvolvimento de diversas enfermidades, [...] e inclusive, a ocorrência de

dificuldades psicossociais, etc. (SCHOEDL et al., 2009).

Apesar de ter-se observado apenas um desencadeante biológico específico, como

a puberdade precoce, pode-se concluir que aspectos relacionados ao funcionamento do

organismo possuem uma influência fundamental no equilíbrio psicológico da criança e do

adolescente. Por isso, faz-se de grande importância o olhar integral ao adolescente quando

se busca um diagnóstico, levando-se em conta seu estado geral. A seguir serão apresentadas

as categorias relacionadas às influências externas em relação à depressão na adolescência.

Nas entrevistas, buscou-se também verificar, sob a perspectiva dos participantes,

que aspectos externos podem contribuir para o desenvolvimento de depressão na

adolescência. Suas respostas resultaram na categoria INFLUÊNCIA DO MEIO SOCIAL E

CULTURAL que inclui como subcategorias, Falta de aceitação no grupo externo, Isolamento

social virtual, Tecnologias “pra já”, Ilusão das redes sociais, Exigência de perfeição. A

subcategoria a qual pode ser dado ênfase é Exigência de perfeição citada pelos psicólogos

verde, rosa e salmão. A respeito disto, os participantes citam respectivamente: verde - “As

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19

meninas são a maioria na depressão e sofrem com a questão do corpo perfeito. O meio exige

muito”. Rosa - “Extremamente pesado principalmente pela questão dos papéis no meio

social. [...] Então a sociedade tem um peso muito forte nesse comportamento desse

adolescente [...]”.

Diante da exigência do corpo perfeito, acima de tudo, colocada pela mídia, assim

como também, da perfeição em aspectos tais como desempenho escolar, os adolescentes

entram em conflito consigo e com sua imagem corporal, podendo este aspecto desencadear

transtornos psicológicos. Uchôa et al., (2015, p. 5), cita:

A influência das relações sociais na transformação da imagem corporal exerce um

papel fundamental na atual sociedade. O fator simbólico do corpo tornou-se fator

fundamental de inserção social, especialmente entre os jovens. Os fatores

midiáticos se apresentam como difusores de um ideal de corpo belo e perfeito,

podendo provocar distúrbios psicológicos.

Considerando a modernidade, a inserção dos jogos virtuais no “mundo

adolescente” e o quanto estes aspectos podem influenciar no aparecimento de depressão nesta

etapa da vida, procurou-se verificar com os participantes de pesquisa sua percepção acerca

da categoria INFLUÊNCIA DOS JOGOS VIRTUAIS e suas subcategorias Jogo da Baleia

azul, Dificuldades de desconectar-se, Busca de aceitação, Suporte familiar frágil e Gatilho

de piora. Em meio a estas, destaca-se a subcategoria Dificuldades de desconectar-se, citada

pelo psicólogo amarelo que refere: “São tantos jogos e tem alguns que são tão violentos e

uma violência tão constante e num ambiente virtual ali já mais depressivo, mais isolado,

aonde o adolescente vai sendo absorvido sem se dar conta [...] não vejo como causa, mas

como uma dificuldade de sair após envolver-se”.

A contemporaneidade trouxe para as novas gerações uma espécie de isolamento,

devido às taxas de violência. Dentro de casa, pouco se pode fazer, a não ser navegar...

Navegar nas “águas” da rede mundial que nos conecta ao mundo e ao mesmo tempo nos

desconecta das pessoas. Em relação a esta “dependência virtual” Gonçalves e Nuemberg (p.

2, 2012) citam: “Hoje em dia é comum deparar-se com pessoas que não conseguem mais

conviver apenas com a realidade comum, pois estão inseridas nos espaços virtuais e, muitas

vezes, dependentes das opções que o mundo virtual pode lhes oferecer”.

Observando-se as categorias ligadas às influências externas, é possível notar o

quanto o meio social, cultural e virtual pode contribuir de formas positiva, mas também,

negativa, em relação às psicopatologias, aqui especificamente, a depressão. Os adolescentes

sofrem a influência destes meios, muitas vezes, de forma desprotegida e com um olhar

Page 20: PERCEPÇÕES DE PSICÓLOGOS CLÍNICOS ACERCA DA …

20

confuso, justamente pelo processo em que estão vivendo. Isto poderá fazer com que estes

não saibam como lidar com o excesso de informações e com as diferentes opiniões no meio

social. Após, serão observados fatores ligados às influências familiares na depressão em

adolescentes.

Como é possível perceber, a aproximação da família, especialmente dos pais, no

acompanhamento do desenvolver psíquico de seus filhos é fator essencial e predominante.

Os participantes falaram a este respeito na categoria CONTRIBUIÇÃO DOS PAIS PARA

A VULNERABILIDADE DO ADOLESCENTE. Esta pôde suscitar nas subcategorias Falta

compreensão dos filhos, Não distinguem os sintomas, Terceirizam cuidados afetivos, Falta

de atenção. Dentre estas se dá destaque à subcategoria Não distinguem os sintomas, citada

pelos psicólogos amarelo e rosa. O participante amarelo se refere: “Uma coisa é o isolamento

natural do adolescente, mas é um isolamento que vai e vem, não é constante [...] não é uma

mudança repentina de comportamento que nunca mais volta, é um vai e vem mesmo. Então

os pais confundem o que é transitório e natural da adolescência, com a ‘Síndrome Normal da

Adolescência’, com o que pode ser realmente patológico”. Já o psicólogo rosa traz: “Na

maioria das vezes, os pais não percebem a melancolia de seus filhos. O adolescente tem seus

altos e baixos e a família tem que observar. Porém eu vejo certa apatia da família de não ver

e não querer ver”.

A dificuldade do diagnóstico correto está justamente nesta semelhança entre as

características da “Síndrome Normal da Adolescência” (ABERASTURY e KNOBEL, 1981), e os

sintomas de depressão, que, por vezes, torna-se necessária para a passagem dessa fase do

desenvolvimento humano, como forma de ajustamento criativo. Estas dificuldades dos familiares em

distinguir os sintomas de depressão com as características próprias da adolescência são mencionadas

por Aberastury e Knobel (1981).

Sobre o papel dos pais, os participantes entrevistados mencionaram a respeito da

proteção “contra” o desenvolvimento de transtornos psíquicos, o que resultou na categoria

PAPEL DE PROTEÇÃO DOS PAIS COM RELAÇÃO À DEPRESSÃO e suas

subcategorias Proximidade e Elaboração afetiva dos pais. Entre estas, destaca-se a

subcategoria Proximidade, citada pelos psicólogos vermelho, verde e rosa. O participante

vermelho refere sobre “trazer os amigos para dentro de casa, conhecê-los, ver onde o

adolescente está circulando [...]”. Já o verde traz: “Quando os pais são presentes eles acabam

identificando algo errado [...]”.

Page 21: PERCEPÇÕES DE PSICÓLOGOS CLÍNICOS ACERCA DA …

21

Com relação ao aspecto de manter a proximidade com os filhos adolescentes, é

interessante refletir que o adolescente é um sujeito que ainda está em formação e

desenvolvimento psíquico. Ainda não amadureceu o suficiente (apesar de muitas vezes achar

que sim) e necessita do olhar atento de seus pais/responsáveis. Relacionado às categorias

ligadas à influência familiar, aqui especificamente, os pais, destaca-se a importância destes

manterem-se sempre próximos de seus filhos adolescentes, buscando um diálogo contínuo

que preserve certo nível de sua privacidade. Observa-se que a falta de atenção e compreensão

destes adolescentes, poderá contribuir para que estes se sintam inseguros e possam

desenvolver desequilíbrios e transtornos psicológicos.

Organizando informações acerca do tema suicídio na percepção dos psicólogos

entrevistados, elaborou-se a categoria DESENCADEANTES PARA O SUICÍDIO e suas

subcategorias Falta de sentido na vida, Influência de ídolos, Vínculo familiar frágil, Uso de

drogas, Fim de relacionamento amoroso, Reprovação escolar, Separação conturbada dos

pais. Dentre estas, a subcategoria mais mencionada foi Vínculo familiar frágil. Esta foi

relatada pelos psicólogos, vermelho, azul, verde, rosa e salmão. Estes trouxeram, acerca desta

subcategoria: Vermelho - “Às vezes o adolescente não quer se matar, ele quer apenas chamar

a atenção da família e por um erro acaba se matando”. Azul - “[...] A não aceitação dos pais

de que seu filho está na adolescência. [...] O principal então é a falta de vínculo familiar”. O

verde menciona: “O principal é o problema de suporte familiar frágil e o retardo no

diagnóstico. O adolescente espera que a família o reconheça e isso muitas vezes não

reconhece [...]”.

Existe grande quantidade de situações desencadeantes para o suicídio. Diante de

tantos fatores que levam a este extremo, é importante oferecer a este sujeito adolescente uma

base familiar fortalecida e bem informada acerca do processo de adolescer e suas

“intempéries”. Observou-se nesta análise, através da percepção dos psicólogos entrevistados

que, a base e os vínculos familiares são de extrema importância para a prevenção ao suicídio

de adolescentes.

Relacionado aos desencadeantes de suicídio na adolescência Braga e Dell’Aglio

(2013,p.6) trazem que a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2010) considera que a

vulnerabilidade associada à doença mental, à depressão, a conflitos relacionados ao “álcool

(alcoolismo), ao abuso de drogas, à violência, a perdas, à história de tentativa de suicídio,

bem como à “bagagem” familiar, cultural e social representam os maiores fatores de risco

ao suicídio”.

Page 22: PERCEPÇÕES DE PSICÓLOGOS CLÍNICOS ACERCA DA …

22

3.3 Estratégias de cuidado utilizadas no tratamento e os maiores desafios desse trabalho

Com o objetivo de apontar quais estratégias de cuidado tem sido utilizadas no

tratamento de adolescentes em depressão e os maiores desafios desse trabalho, buscou-se

informações acerca dos procedimentos relacionados ao diagnóstico de depressão em

adolescentes o que culminou na categoria ELABORAÇÃO DE DIAGNÓSTICO e suas

subcategorias Olhar integral do paciente, Trabalho interdisciplinar, Diagnóstico sem rótulos,

Entrevista de anamnese e Testes psicológicos. Em meio a estas, se destaca Olhar integral do

paciente, mencionada pelos profissionais vermelho, verde e salmão. O psicólogo vermelho

traz: “O diagnóstico se dá pelo processo de análise integral da situação do paciente”. O verde

cita: “[...] eu trabalho primeiro com a família, os pais e depois, então, inicio as sessões com

o paciente confrontando aquilo que foi dito pelos pais e pelo paciente [...]. Trabalho com

anamnese, observação do comportamento do jovem e nas poucas falas deles [...] Observo

também o visual e a postura, os sinais que vão aparecendo”. Já o salmão menciona: “Procuro

observar o adolescente, seus sintomas, suas relações, seu quadro psíquico, físico e vou

buscando informações através dele e também de sua família”.

Com relação a este olhar integral é relevante pensar que um sujeito nunca é

somente corpo ou, somente psiquê. Ele é um conjunto integrado, onde todas as suas faces se

misturam e se influenciam mutuamente. Então, o olhar deve ser integral e a busca de

informações pode se dar através da fala, assim como também, a partir de outros artifícios,

tais como jogos e testes psicológicos. Sobre isto SCHOEDL et al.,(2009), citam que no

diagnóstico de depressão, devem ser considerados múltiplos fatores que incluem o momento

de vida e as relações do indivíduo, doenças orgânicas, suporte de apoio social, características

genéticas, porquanto, cada sujeito é singular e percebe o meio que se insere e os fatos de

forma individual. Esta percepção pode, ou não, contribuir para o desenvolvimento de um

quadro depressivo.

A depressão na adolescência é um transtorno importante e necessita de

tratamento psicológico para que o adolescente possa alcançar qualidade de vida e continuar

se desenvolvendo. Com relação à necessidade de psicoterapia para os transtornos de humor,

especificamente para a depressão, buscou-se verificar com os psicólogos entrevistados os

alcances deste tipo de tratamento, o que resultou na categoria ALCANCES DA

PSICOTERAPIA e suas subcategorias Autoconhecimento, Elaboração afetiva, Consciência

corporal, Reconhecimento de habilidades e limitações e Planejamento de futuro. Em meio a

Page 23: PERCEPÇÕES DE PSICÓLOGOS CLÍNICOS ACERCA DA …

23

estas, destaca-se Autoconhecimento, citada pelos psicólogos vermelho, verde, rosa e salmão.

Com relação aos benefícios e alcances do tratamento psicoterápico, o psicólogo vermelho

traz: “[...] a psicoterapia é um caminho de autoconhecimento e compreensão do que de

repente esse adolescente está carregando que não está resolvido na sua história de vida [...]”.

Já o rosa menciona: “Em primeiro lugar a psicoterapia é importante para o adolescente

conseguir se identificar como tal, que é um a fase de muitas mudanças, de ele entender o que

o mundo espera dele”. E finalmente o participante salmão refere: “[...] A psicoterapia pode

trazer como benefícios mudar o olhar da pessoa acerca de sua visão de mundo [...] e a

mudança de crenças distorcidas [...]”.

A psicoterapia é um tratamento que busca oferecer ao paciente um olhar mais

refletido sobre si mesmo, suas crenças e sobre o mundo. Para entender o outro e seus

posicionamentos é necessário primeiramente conhecer-se a si próprio e sua posição no

mundo. O autoconhecimento é um item apontado pela maioria dos entrevistados. Para

Schoedl et al., (2009), a psicoterapia objetiva, fazer o adolescente refletir acerca de suas

percepções sobre si, sobre o outro e o mundo que o envolve. Nesta forma de tratamento, o

terapeuta tem como escopo auxiliar o paciente a identificar, perceber e dar significado aos

seus conflitos, ajustar percepções alteradas que tem a seu próprio respeito e em relação ao

meio que o rodeia, assim como, aprimorar suas relações interpessoais, de modo que

compreenda os sinais de sua doença e assim possa auxiliar o profissional que o acompanha

durante seu próprio tratamento.

Segundo a literatura, a depressão em adolescentes, necessita ainda de tratamentos

ou terapias complementares para que os resultados sejam mais benéficos. Em relação a este

aspecto colocou-se a categoria ESTRATÉGIAS COMPLEMENTARES DE

TRATAMENTO e suas subcategorias Prática de esportes, Arteterapia, Alimentação

saudável, Espiritualidade e Leitura. Entre elas destaca-se a Arteterapia, citada pelos

psicólogos vermelho, amarelo e azul. O psicólogo amarelo traz: “[...] Mas tem aqueles

adolescentes que preferem ir para a arte. [...] acho que isso faz muita diferença no processo”.

Por sua vez o participante azul fala: “[...], eu acho que a arte também, [...], pois se você se

envolver produzindo arte você está fazendo algo com esse “buraco” com esse vazio

existencial [...]”.

A busca de técnicas expressivas variadas no tratamento de depressão pode

contribuir para que conteúdos inconscientes possam ser acessados de forma projetiva. Além

disso, o trabalho artístico traz ao paciente momentos de exercício de sua criatividade e

Page 24: PERCEPÇÕES DE PSICÓLOGOS CLÍNICOS ACERCA DA …

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relaxamento. Para Pereira (2009), a Arteterapia, ao tratar com a linguagem subliminar do

inconsciente, vem proporcionando alívio àqueles que dela se valem na busca pela restauração

de seu equilíbrio emocional.

Procurando saber mais a respeito da forma como a abordagem teórica de cada

um dos participantes trabalha com a depressão na adolescência, surgiu a categoria

RECURSOS DA ABORDAGEM TEÓRICA e suas subcategorias Ajustamento criativo,

Elaboração de vivências familiares, O olhar para a falta do desejo, Identificar para planejar

as intervenções, Pensamentos distorcidos. Dentre estas, destaca-se Elaboração de vivências

familiares, citada pelo psicólogo amarelo, adepto da abordagem psicanalítica, que refere: “o

olhar não é sobre a relação que o adolescente tem agora com aquela família que está em casa,

a família real, mas, o que das vivências com sua família ficou introjetado. [...]”. É relevante

perguntar-se de que forma analisar um adolescente “puro”, sem olhar para aqueles de quem

ele descende? Um sujeito nunca é somente “seus” sintomas, mas o conjunto de sintomas dele

com seu meio familiar e social. De acordo com Carvalho Fº e Chaves (2010), Freud

persevera, invariavelmente, na relação do paciente e seus entes, e confirma a ligação de seus

sintomas aos sintomas destes, assim como o seu espaço na composição da família.

É importante citar também a subcategoria Pensamentos distorcidos, citada pelo

psicólogo salmão adepto das abordagens sistêmica e cognitivo comportamental, que

menciona: “[...] é importante dizer que as duas abordagens são focadas nesses sistemas de

crenças, de onde vem estas crenças que fazem a pessoa interpretar a vida de uma forma

desesperançosa, com uma visão distorcida das coisas, ou seja, disfuncional”. Com relação a

perceber a vida de forma distorcida é importante dizer que os pensamentos causam

sentimentos e sensações as mais diversas. Se estes são distorcidos da realidade, o sujeito

tende a interpretar fatos de sua vida de forma incorreta ou negativa, tal como ocorre em

pessoas com depressão. Segundo Almeida e Lotufo Neto (2003, p.240) dentre as abordagens

psicológicas utilizadas no tratamento psicoterápico está a Terapia Cognitiva

Comportamental (TCC) [...]. Segundo os autores “a teoria cognitiva defende a existência de

um transtorno do pensamento no cerne das síndromes psiquiátricas, como depressão e

ansiedade”.

Sobre a categoria TÉCNICAS UTILIZADAS NO TRATAMENTO e suas

subcategorias Cadeira vazia , Interpretação de sonhos, Trabalhos corporais e bioenergética,

Metodologia lúdica, A fala no divã, Diálogo terapêutico, Psicoeducação, Testes psicológicos

e RPD (Registro de pensamentos disfuncionais). Dentre estas, se destaca Testes psicológicos,

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citada pelos profissionais, rosa e verde. Ambos referiram que uma das formas empregadas

na avaliação e tratamento de adolescentes em depressão é a utilização de testes e escalas

psicológicas.

Os testes psicológicos visam auxiliar o profissional de psicologia a formular de

forma eficiente o diagnóstico, assim como também auxiliam no planejamento das

intervenções psicológicas juntamente às entrevistas, durante o tratamento do adolescente em

depressão. Segundo Alchieri, Noronha e Primi (2003), “os testes psicológicos são

instrumentos objetivos e padronizados de investigação do comportamento, que informam

sobre a organização normal dos comportamentos exigidos na execução de testes ou se suas

perturbações em condições patológicas”. (MACHADO, 2007, p. 19, Curitiba, Manual de

avaliação Psicológica).

Com relação à categoria TÉCNICAS NÃO RECOMENDADAS foram

agregadas as subcategorias Trabalhos muito intensos, Ser conselheiro ou autoritário, Uso do

divã, Sessões pré-definidas, Técnicas analíticas. Entre estas, é possível ressaltar Sessões pré-

definidas, citada pelos psicólogos azul e rosa. O profissional azul descreve a respeito: “[...]

O que eu acho que não dá certo, são terapias que já vão com certo direcionamento, com

questionamentos meio direcionados [...]”. Já o profissional rosa traz: “Técnicas que podem

não dar muito certo são aquelas com mais rigidez, por conta de bloquear a criatividade do

adolescente. É necessário ser flexível [...]”.

Em relação a planejar de uma forma rígida e inflexível as sessões com este

público, Pureza et al., (2014, s.p.) cita: “(...) a abordagem com crianças e adolescentes difere-

se no que tange ao tipo de intervenção realizada, que terá como base a criação de linguagens

(muitas vezes não verbais) para acessar o funcionamento cognitivo da criança e adolescente”.

Deve-se compreender que, organizar e determinar previamente uma sessão de psicoterapia

para um adolescente poderia soar para ele como algo autoritário, semelhante às suas

vivências familiares muitas vezes por ele repelida.

Sobre a categoria USO DE ANTIDEPRESSIVOS e suas subcategorias,

Compartilhado com o médico, Acompanhar o uso, Avaliar a necessidade, Evitar ao máximo

pode-se destacar a subcategoria Acompanhar o uso, relatada pelos participantes vermelho,

verde e rosa. Estes trouxeram a importância de saber avaliar os benefícios ou malefícios do

uso de medicamentos para cada caso em particular, sempre procurando atuar juntamente com

o médico psiquiatra que tenha indicado o uso do antidepressivo. O psicólogo verde refere:

“Eu vejo como necessário se estiver em um grau sem controle. Mas eu procuro sempre

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amenizar e o objetivo é ir retirando essa medicação”. O entrevistado rosa relata: “[...] fico

monitorando o que vai ocorrendo, que medicação está sendo utilizada, dosagem, efeitos

colaterais, e vamos tentando fazer a retirada conforme o paciente vai evoluindo, sempre em

trabalho conjunto com o médico e a família”.

É conveniente refletir sobre o uso de medicamentos para cada psicopatologia,

sempre buscando agir em conjunto com os médicos envolvidos no tratamento, além de outros

possíveis profissionais, tais como fisioterapeutas, pedagogos, etc. Avaliar as possibilidades

de causas biológicas de depressão em adolescentes, entre outras causas, exige conhecimento

de várias áreas; daí a importância da equipe multidisciplinar. Segundo Teodoro (2010, p.23),

os reais fatores contribuintes para depressão nem sempre são apreendidos pelo enfermo e por

quem o rodeia, por estarem impregnadas de “conteúdos inconscientes e processos

psicológicos e orgânicos complexos. Essa conjuntura, em geral, solicita ajuda profissional

de uma equipe de saúde mental multidisciplinar”.

Outro aspecto importante a ser abordado quando se fala em depressão na

adolescência é a possibilidade de tentativa ou suicídio efetivado. Com este questionamento

aos entrevistados deu-se a categoria SINAIS DE ALERTA PARA POSSIBILIDADE

SUICIDA e suas subcategorias Histórico de comportamentos suicidas, Uso de drogas, Apatia

e ausência de projetos, Comportamentos impulsivos, Falar de sua própria morte, Isolamento

e Euforia. Entre estas se ressalta a subcategoria Falar de sua própria morte, citada pelos

participantes amarelo e verde. O amarelo relata: “Todo mundo do senso comum fala: “ quem

fala não faz. [...] Só que antes, além dessa fala às vezes acontece, a pessoa avisa e avisa e

uma hora faz. [...] Quando a pessoa fala muito: ‘eu queria desligar’, ‘eu queria dormir e não

acordar mais’, [...]” . O verde refere: “[...] Mas eles dão um toque, eles sempre deixam

passar alguma coisa tal como falar ‘ah! Eu não sirvo pra nada’[...]”.

Diante da categoria anterior, é importante pensar que nenhuma fala relacionada

ao desejo de morte ou de autodesvalorização pode ser ignorado. Estes podem ser sinais

valiosos para uma atenção redobrada e busca de ajuda profissional. De acordo com a

Organização Mundial da Saúde no Manual de Prevenção do suicídio “a maioria das pessoas

suicidas comunica seus pensamentos e intenções suicidas. Elas frequentemente dão sinais e

fazem comentários sobre ‘querer morrer’, ‘sentimento de não valer pra nada’, e assim por

diante” (2000, p. 13).

Quando questionados acerca das estratégias utilizadas quando há sinais de

possibilidade de tentativa de suicídio deu-se então a categoria MANEJOS PARA IDEAÇÃO

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SUICIDA e suas subcategorias Associação à família, Falar sobre o assunto, Conscientizar.

Dentre estas, pode-se dar destaque a subcategoria Associação à família citada pelos

participantes vermelho, verde, amarelo e rosa. Ao fato de entrar imediatamente em contato

com familiares ou responsáveis o participante verde refere: “E quando se vê que o caso tem

efetivo risco entro em contato com a família e deixo-os a par”. O psicólogo amarelo relata:

“Imediatamente a chamada dos pais. Primeiro eu converso com o adolescente no sentido de

que se eu posso chamar os pais [...] eu preciso conversar com eles, pois você é menor de

idade e eles são responsáveis por você’’.

Acerca deste contato com a família do adolescente com pensamentos

autodestrutivos, é interessante refletir de que forma irá se expor para a família deste que, há

a possibilidade de suicídio. Isto deve se dar de uma forma planejada e orientadora, para que

esta família, por medo exacerbado, não prejudique o andamento do processo terapêutico e

ossa contribuir para sua proteção. Conforme Zana e Kovaks (2013), os cuidados psicológicos

são essenciais quando há riscos de suicídio. [...] dependendo do grau de autodestrutividade é

aconselhável o trabalho de uma equipe multidisciplinar que poderá incluir médicos,

psicólogos e grupo familiar.

Outra categoria ainda, que surge diante das discussões diz respeito aos

MAIORES DESAFIOS DO TRATAMENTO com as subcategorias Tempo médio para a

recuperação, Risco de suicídio, Limite do sigilo profissional, Transferência e comunicação,

Mudanças também nos pais. Dentre elas destaca-se Transferência e comunicação, citada

pelos psicólogos azul, verde e rosa. Com relação às dificuldades de comunicação com o

adolescente, sobretudo com o adolescente em depressão, o participante azul relata: “O maior

desafio é que eles tenham empatia. Que façam transferência. Pois do contrário não há como

trabalhar [...]”. Já o verde refere: “O maior desafio é a dificuldade de comunicação verbal

destes pacientes adolescentes”.

Pensa-se que o atendimento de adolescentes exige do terapeuta um vasto

conhecimento das atualidades do mundo relacionadas aos gostos destes. Devido às

dificuldades de comunicação, muitas vezes presentes neste público, estar “por dentro”

daquilo de que eles mais “curtem” pode ser uma estratégia eficiente. Em relação às

dificuldades de comunicação com o meio adolescente, Jesus (2017, s.p.), cita:

(...) o trabalho psicoterápico com adolescentes e com os chamados casos difíceis

constitui sempre um desafio que nos obriga a lidar com frustrações, com

sentimentos muitas vezes desconfortáveis, como de impotência e incapacidade

terapêutica (...) É, pois, mais importante compreender o processo do paciente, do

que o significado de suas comunicações; é preciso que se tenha muita sensibilidade

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28

para perceber qual o momento e a forma mais adequada para fazer as intervenções

necessárias durante o trabalho psicoterapêutico.

Faz-se importante ainda, a discussão sobre a subcategoria tempo médio para

recuperação. Percebe-se uma variação de tempo de recuperação na perspectiva dos

participantes entrevistados que varia entre duas sessões a doze meses de atendimento. Talvez

seja difícil especificar um tempo determinado para a recuperação ou melhora do quadro

depressivo devido à singularidade de cada paciente. Cada caso terá uma evolução que levará

em consideração a gravidade, uso ou não de antidepressivos e a complementaridade com

outras estratégias de tratamento, tais como a prática de esporte, por exemplo. De acordo com

GJ Ballone (2007, s.p.) “Se não há dúvidas para se iniciar o tratamento antidepressivo,

estabelecer o tempo e a natureza desse tratamento pode ser um pouco mais complicado”.

E, finalmente, ao término das entrevistas com os psicólogos buscou-se saber

cerca do assunto prevenção, o que resultou, então, na categoria TRABALHO PREVENTIVO

e suas subcategorias Orientação familiar, Promoção da afetividade familiar e Prevenção no

ambiente escolar. Entre estas, a subcategoria que mais se sobressai é Orientação familiar,

citada pelos participantes vermelho, azul e salmão. Em relação a isto o psicólogo vermelho

relata: “A família precisa se preparar para ter um filho adolescente, [...] Uma forma de

prevenção é trabalhar com família; com os pais para estes compreenderem o que é essa

transição [...]”.Enquanto o salmão refere: “[...] quanto mais a família se trabalhar com relação

às suas emoções e lidar com as suas relações de um jeito mais saudável isso facilita muito a

vida do adolescente que terá um modelo também mais saudável”.

Assim sendo, compreende-se que, o conhecimento e orientação sobre

desenvolvimento humano, sobretudo, acerca da adolescência, poderão auxiliar os pais a

lidarem com as intempéries desta fase “conturbada” de seus filhos. É necessário buscar

informações sobre os próprios filhos/alunos, porém, de forma a não invadir demasiadamente

sua privacidade e isso possa tornar-se mais uma problemática nestas relações. Enfim, crescer

e desenvolver-se em uma família orientada e afetivamente saudável, poderá contribuir para

a prevenção de transtornos de humor tais como a depressão.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreender o fenômeno depressão na adolescência, a partir da perspectiva de

psicólogos clínicos foi o escopo principal desta pesquisa. Inicialmente, a pesquisa contava

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29

com dois objetivos específicos para delinear seu curso. A partir da análise dos dados e da

produção deste artigo, foi necessário subdividir o primeiro objetivo relacionado ao olhar

conceitual dos psicólogos acerca da adolescência e da depressão. Assim sendo, o primeiro

objetivo tratou especificamente dos conceitos de adolescência e de adolescência na

contemporaneidade. Como se pode observar, a percepção dos participantes entrevistados é

de que a adolescência é um momento de transição e transformações nos níveis psicológico,

físico e social, o que contribui para que seus relacionamentos sejam afetados e afetem o meio

em que vivem. Relacionado à adolescência na contemporaneidade o que ficou mais evidente

é sua relação com os meios virtuais e sua consequente alienação do meio social. Portanto, ao

finalizar a análise dos dados obtidos no primeiro objetivo, foi possível perceber que, para a

maioria dos entrevistados, a adolescência é basicamente uma fase de grandes transformações

pessoais e relacionais e que tecnologia virtual dos últimos vinte anos tem influenciado de

forma intensa todo este processo de amadurecimento, trazendo para esta mais informação,

porém, com um poder alienador.

Com relação ao segundo objetivo específico, pertinente à percepção dos

psicólogos acerca da depressão e depressão na adolescência, puderam-se observar as

semelhanças da sintomatologia que ocorre nesta psicopatologia, às características tidas como

“normais” desta fase da vida humana. Devido a estas semelhanças encontram-se, justamente

as dificuldades de reconhecimento da existência desta patologia por parte dos familiares,

assim como também, em relação ao diagnóstico médico e psicológico. Ainda com relação ao

segundo objetivo, outro aspecto importante, também encontrado, foi a importante influência

do vínculo familiar, tanto na prevenção, quanto no tratamento da depressão. Ficou evidente,

o quanto a falta desta base e vínculo familiar pode ocasionar diversas problemáticas e

desequilíbrios afetivos na vida de crianças e consequentemente, nos adolescentes. Estes, ao

entrarem em um ciclo depressivo, mostram-se muitas vezes agressivos, apáticos, sem

motivação e por vezes, também adoecidos fisicamente, podendo inclusive, dependendo do

grau de gravidade, tentar o suicídio.

Diante do terceiro e último objetivo relacionado às estratégias de cuidado e os

maiores desafios encontrados no acompanhamento de adolescentes em depressão, foi

possível concluir que o diagnóstico é um procedimento importante e, deve ser feito de forma

planejada e responsável por profissionais habilitados e conscientes em relação às questões

ligadas a rotulação deste adolescente. Foi possível observar que, em geral, o diagnóstico é

feito por equipe multidisciplinar, buscando avaliar os pacientes de forma integral. Também

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30

se concluiu que a necessidade de psicoterapia é indispensável em casos de depressão; que os

profissionais indicam, ainda, o uso de terapias complementares com o intuito de buscar uma

qualidade de vida em aspectos outros, além do psicológico. Foi salientada pelos entrevistados

a importância do uso de antidepressivos em casos mais graves, feito de forma controlada e

frequentemente avaliada pelo profissional médico. Também, dentro deste objetivo,

relacionado às técnicas utilizadas no tratamento, demonstrou-se que há uma variedade delas.

Dentre algumas, citaram-se técnicas corporais, diálogo terapêutico e trabalho lúdico, que tem

mostrado eficiência e eficácia no tratamento dos adolescentes; no entanto, ficou demonstrado

também que há a necessidade de flexibilidade das intervenções psicoterapêuticas, pois,

devido às características de procura de identidade e individuação na adolescência, estes

buscam de certa forma “fugir” do autoritarismo de seus pais e alcançar, ao máximo, sua

autonomia, processo este, que pode ser estimulado durante a psicoterapia. Ao longo da

pesquisa também se compreendeu que é necessário que a família e os profissionais que

acompanham o adolescente fiquem alertas para a possibilidade de suicídio, buscando

protegê-lo e tornando-o consciente de suas escolhas, inclusive acerca de seus direitos sobre

sua própria vida; que o manejo com adolescentes “suicidas” deve ser de associação entre os

profissionais e familiares com o intuito de evitar que ocorra este ato extremo.

Em relação aos maiores desafios, foi possível concluir que estes estão

relacionados à possibilidade de suicídio, assim como também, o trabalho de conscientização

dos familiares em relação a este transtorno de humor. Com relação à prevenção ficou

evidente a importância de informar a família e a sociedade como um todo acerca das

características da adolescência e da depressão e suas influências nesta fase.

Enfim, foi possível alcançar objetivos propostos no início desta pesquisa; as

dificuldades encontradas estão relacionadas apenas com a combinação de horários para as

entrevistas e o deslocamento da pesquisadora. Com relação às vantagens deste trabalho

conclui-se que este contribui para o esclarecimento acerca da depressão na adolescência, não

somente para a classe de psicólogos, mas também para a classe médica assim como também

para o público em geral.

Ficam como sugestões de novas pesquisas os temas relacionados a atual alienação

dos adolescentes; é relevante que se investigue até que ponto esta alienação está ligada aos

excessos virtuais ou de informação. Outro fator importante, também a se pesquisar é a

relevância do vínculo familiar e sua influência no desenvolvimento humano.

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31

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Page 37: PERCEPÇÕES DE PSICÓLOGOS CLÍNICOS ACERCA DA …

37

APÊNCIDES

APÊNDICE 1 – ENTREVISTA

CARACTERIZAÇÃO

DO ENTREVISTADO

OBJETIVO ESPECÍFICO Nº 1

E PERGUNTAS

OBJETIVO ESPECÍFICO Nº2

E PERGUNTAS

1- Perguntas referentes

aos dados de cada

entrevistado.

1-Descrever a percepção de

psicólogos clínicos acerca das

características da adolescência e

acerca da depressão em

adolescentes.

2- Apontar quais estratégias de cuidado tem

sido utilizadas no tratamento de adolescentes

em depressão e os desafios desse trabalho.

1) Sexo? 1) 1) Para você, o que é a

adolescência?

1) Como se dá o processo diagnóstico de depressão

em adolescentes? Quais outros profissionais podem

ou devem auxiliar no diagnóstico?

2) Idade?

2) 2) Como você vê o adolescente

hoje em dia?

2) Qual é a importância da psicoterapia para

adolescentes em depressão? Quais benefícios ela

pode trazer para este público?

3) Formação?

3) Para você o que caracteriza a

depressão?

3) Além da psicoterapia, quais estratégias de

cuidado podem contribuir para o tratamento destes

adolescentes?

4) Tempo de formação? 4) Para você o que caracteriza a

depressão em adolescentes?

4) De que forma sua abordagem teórica

compreende a depressão em adolescentes?

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38

5) Atuação profissional?

Somente clínica? Ou

outros âmbitos também?

Quais?

5) Quais sintomas psíquicos,

físicos e comportamentais são

mais perceptíveis durante os

episódios de depressão em

adolescentes?

5) Quais técnicas da psicologia/psicoterapia você

tem utilizado nestes casos, e que obteve sucesso. E

quais técnicas você observa que podem não ser

eficazes?

6) Já atuou com quantos

adolescentes em

depressão,

aproximadamente?

6) Que fatores principais devem

ser levados em conta durante o

diagnóstico de depressão em

adolescentes?

6) Qual é a sua percepção acerca do uso de

antidepressivos para os casos de depressão em

adolescentes?

7) Está atuando com

adolescentes em

depressão atualmente?

7) Que relações você percebe entre

a puberdade precoce e a

depressão na adolescência?

7) Em casos de identificação de ideação suicida

quais manejos podem ser utilizados?

8) Como você considera a

influência dos meios culturais,

sociais e familiares no

aparecimento de depressão em

adolescentes?

8) Quais são os sinais de alerta para a possibilidade

de ato suicida?

9) Que condições de vida do

adolescente em depressão você

considera que podem contribuir

para que este possa cometer o

suicídio?

9) O que você considera como maior desafio durante

o acompanhamento de um adolescente em

depressão?

10) Você acha que os jogos

virtuais, tais como “Jogo da

Baleia Azul” tem influência nos

quadros de depressão em

adolescentes? Como?

10) Enfim, é possível fazer um trabalho

preventivo contra depressão em adolescentes? Se

sim, Como? Se não, por quê?

11) Como você observa o papel

dos pais/ cuidadores em relação

à ocorrência / proteção da

depressão em adolescentes?

Fonte: Elaboração da autora (2017)

APENDICE 2 – TABELA DE ANÁLISE DOS DADOS

1º Objetivo Específico

Descrever a percepção de psicólogos clínicos

acerca das características da adolescência;

CATEGORIAS

SUBCATEGORIAS

CONCEITOS DE ADOLESCÊNCIA

Momento de transição;

Constituição de identidade;

Período mais complexo emocionalmente;

Transformações hormonais.

ADOLESCÊNCIA NA CONTEMPORANEIDADE

Possiblidade de expressão;

Ansiedade excessiva;

Diminuição da crítica;

Excesso de Informação;

Intolerância à frustração;

Excessos virtuais.

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2º Objetivo Específico

Descrever sua percepção acerca da depressão em adolescentes

CONCEITO DE DEPRESSÃO

Perda de sentido da vida;

Conflitos na história pessoal;

Dificuldade com sentimentos;

Problemas hormonais;

Apatia e desmotivação;

Procrastinação;

Sensação de infelicidade eterna;

Falta de desejo.

DEPRESSÃO NA ADOLESCÊNCIA

Transformações corporais;

Conflitos familiares;

Sintomas ambíguos;

Agressividade e irritabilidade;

Isolamento;

Uso de drogas;

Constituição de identidade;

Baixa autoestima;

Problemas no rendimento escolar.

SINTOMAS PSÍQUICOS

Diminuição da vida social;

Humor irritado;

Humor cíclico;

Autodesvalorização.

SINTOMAS FÍSICOS

Indisposição física;

Problemas com sono;

Alimentação desregulada.

SINTOMAS COMPORTAMENTAIS

Isolamento;

Contatos virtuais impróprios;

Mudanças bruscas de comportamento;

Uso de drogas;

Agressividade e autoagressão.

RELAÇÕES COM A PUBERDADE PRECOCE

Não percebeu;

Relacionado à maturação;

Relacionado ao sexo biológico;

Conflitos com a imagem corporal;

Responsabilidade precoce.

INFLUÊNCIA DO MEIO SOCIAL E CULTURAL

Falta de aceitação no grupo externo;

Isolamento social virtual;

Tecnologias “do já”;

Ilusão das redes sociais;

Exigência de perfeição.

INFLUÊNCIA DOS JOGOS VIRTUAIS

Jogo da Baleia Azul;

Dificuldade de desconectar-se;

Busca de aceitação;

Suporte Familiar frágil;

Gatilho de piora.

CONTRIBUIÇÃO DOS PAIS PARA A

VULNERABILIDADE DO ADOLESCENTE

Falta compreensão dos filhos;

Não distinguem os sintomas;

Terceirização de cuidados afetivos;

Falta de atenção.

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PAPEL DE PROTEÇÃO DOS PAIS COM

RELAÇÃO À DEPRESSÃO

Proximidade;

Elaboração afetiva dos pais.

DESENCADEANTES PARA

TENTATIVA DE SUICÍDIO

Falta de sentido da vida;

Influência de ídolos;

Vínculo Familiar Frágil;

Uso de drogas;

Fim de relacionamento amoroso;

Reprovação escolar;

Separação conturbada dos pais.

3º Objetivo específico

Descrever as estratégias de cuidado utilizadas no tratamento de

adolescentes em depressão e os desafios desse trabalho.

ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO

Olhar integral do paciente; Trabalho interdisciplinar;

Diagnóstico sem rótulos;

Entrevista de anamnese;

Testes Psicológicos.

ALCANCES DA PSICOTERAPIA

Autoconhecimento;

Elaboração afetiva;

Consciência corporal;

Reconhecimento de habilidades e limitações;

Planejamento de futuro.

ESTRATÉGIAS COMPLEMENTARES

DE TRATAMENTO

Prática de esporte;

Arte terapia;

Alimentação saudável;

Espiritualidade;

Leitura.

RECURSOS DA ABORDAGEM TEÓRICA

Ajustamento criativo;

Elaboração de vivências familiares;

O olhar para a falta do desejo;

Identificar para planejar intervenções;

Pensamentos distorcidos.

TÉCNICAS UTILIZADAS NO TRATAMENTO

Cadeira vazia;

Interpretação de sonhos;

Trabalhos corporais e bioenergética;

Metodologia Lúdica;

A fala no divã;

Diálogo terapêutico;

Psicoeducação;

Testes Psicológicos;

RPD.

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TÉCNICAS NÃO RECOMENDADAS

Trabalhos muito intensos;

Ser conselheiro ou autoritário;

Uso do divã;

Sessões pré-definidas;

Técnicas analíticas.

USO DE ANTIDEPRESSIVOS

Compartilhado com o médico;

Acompanhar o uso;

Avaliar a necessidade;

Evitar ao máximo.

SINAIS DE ALERTA PARA

POSSIBILIDADE SUICIDA

Histórico de comportamentos suicidas;

Uso de drogas;

Apatia e ausência de projetos;

Comportamentos impulsivos.

Falar de sua própria morte;

Isolamento;

Euforia.

MANEJOS PARA IDEAÇÃO SUICIDA

Associação à família;

Falar sobre o assunto;

Conscientizar.

MAIORES DESAFIOS DO TRATAMENTO

Tempo médio para recuperação;

Risco de suicídio;

Limite do sigilo profissional;

Transferência e comunicação;

Mudança também nos pais.

TRABALHO PREVENTIVO

Orientação familiar;

Promoção da afetividade familiar;

Prevenção no ambiente escolar.

Fonte: Elaboração da autora (2017)