Download - O Iluminismo

Transcript

O Iluminismo; Uma breve anlise baseada emPaul Hazard A chamada Idade Moderna preparou uma grande ruptura com o mundo antigo. Tal ruptura se foi preparando desde o sculo !I"# conduzindo desdobramentos at a Revoluo Francesa. Paul Hazard $%&'&(%)**+# historiador e ensa,sta franc-s# membro da Academia Francesa# devotou(se# entre outras coisas# a estudar o Iluminismo sob uma perspectiva cr,tica..egundo ele# a ruptura mencionada n/o se fez como simples acontecimento hist0rico# 1 maneira de um penhasco 2ue se desprende casualmente da montanha. 3epresenta# mais precisamente# uma energia propulsora 2ue vinha sendo formada e represada por bom per,odo de tempo.A seguir# sumarizo alguns dos pilares do Iluminismo em sua ruptura com o mundo antigo# com base na leitura de dois livros de Hazard4Uma Nova LuzA revolu5/o pol,tica veio precedida por umarevoluo ideolgica# uma verdadeira subvers/o do pensamento. O Iluminismo e6pressava uma autoconsci-ncia espec,fica 2ue brota da f no poder do intelecto 7 uma corrente filos0fica 2ue tem suas origens em 8escartes. O homem se coloca sobre a pr0pria cabe5a# isto # sobre o pensamento# e busca estruturar a realidade de acordo como mesmo. 9a sua interpreta5/o da2uele momento# :ngels diz 2ue ;a comunidade europeia despertou da prolongada letargia invernal da Idade eita como preconceitos todas as opini?es anteriores# p?e em d@vida conceitos at ent/o por todos admitidos e acha indiz,vel prazer num >ogo interminvel entre pr0s e contras.:sta nova autoconsci-ncia > se manifesta na 2ualidade orgulhosa 2ue a si mesmos se d/o4 ;Auz=7 ;la lumire= 7# empregada at# geralmente# no plural4 ;les lumires=# ;> 2ue n/o se trata apenas de um s0 raio de luz# mas de todo um fei6e de raios# 2ue pro>etou sua luz sobre as densas nuvens sombrias 2ue >aziam sobre a terra=. :stes fil0sofos viam(se como tendo ascendido# eles mesmos# ao brilho 2ue lhes alumiou os olhos. : estas ;lumires= infundiam temores nos supersticiosos e nos impostores. Binalmente brilharam as luzesC :stas luzes emanavam das leis supremas da raz/o. A filosofia avan5ava a passos gigantesC : eles# filhos do sculo# eram os ;ilustrados=# alumiados. :stes raios luminosos eram as tochas# os far0is# cu>o resplendor guiava os homens em seu pensar e agir. :ram eles a aurora precursora do dia# eram o pr0prio dia e o sol. Hazard descreve bem como se apercebiam os fil0sofos ilustrados4Antes que luzissem, os homens tinham andado extraviados, porque, cercados de oscuridade ede trevas, tiveram que viver no meio dos nevoeiros e das nuvens da ignor!ncia, que lhes ocultavam o reto caminho" # que lhes haviam vendado os olhos" $s pais tinham sido cegos, mas agora os %ilhos haveriam se ser %ilhos da luz".e no :vangelho de Do/o# o "erbo $logos+ divino era a luz# agora# a raz/o humana recm(descobertao &ogos. :la;a luz do mundo=. O homem torna(se# de novo# a medida de todas as coisas.A orgulhosa f na raz/o humana levou 1 f na ci-ncia como obra sua# principalmente nas ci-ncias naturais# 2ue# com o au6,lio da matemtica# fi6aram as &eis da 'atureza. O caminho doprogresso era a tcnica moderna 2ue permitia o dom,nio da 9atureza. Ehegou(se ao ponto de acreditar 2ue da nova ci-ncia se podia esperar simplesmente tudo. Eom sua a>uda sonharam poder calcular# afetar e dirigir o curso do mundo. A ci-ncia deveria constituir(se a base e a condi5/o prvia para toda a espcie de atividades; nada devia ser feito por vias n/o cient,ficas.Assim a ci-ncia chegou a ocupar o posto 2ue ocupara a religi/o# desde 2ue h mem0ria de homens. Boi# na realidade# uma ;nova religi/o=# 2ue criaram a2ueles 2ue combatiam toda supersti5/o e toda restri5/o 1 liberdade humana. Branz .chnabel escreve4(ma igre)a que tinha seus crentes e seu dogma, seus sect*rios e seus m*rtires, que no Iluminismo tinha sua maior propaganda, que velava pela conservao da pureza das doutrinas, das c*tedras e das iliotecas e que, tanto na Revoluo Francesa como no olchevismo russo, levara a ditadura a mais rigorosa coao das consci+ncias e , pena capitalpara os -hereges."Uma Nova F9o Iluminismo# o indiv,duo con2uistou para si um espa5o livre de pensar e crer. O homem ilustrado tem f no poder da raz/o. :sta raz/o# 2uee2uiparada 1 9atureza#adorada como ente supremo. A antiga ordem social devia perecer. :m seu lugar# o :ngenheiro da Humanidade# a 3az/o# erguer sobre as ru,nas arrasadas do antigo# o novo edif,cio.O iluminismo chocou(se com uma f em 8eus. Instaurou(se um processo sem precedentes# o processo contra 8eus. Tanto o 8eus dos cat0licos 2uanto o 8eus dos protestantes# por2ue o ru era o 8eus dos crist/os. A luta revolucionria era# de fato# contra 8eus# o clero# a nobreza e a monar2uia. .e temos como norma suprema e imutvel a ;natureza=# ou ent/o# a ;raz/o=# dispensa(se um 8eus# 2ue s0 pode entrar em cena como dspota e tirano divino. O protesto dirige(se tanto contra o despotismo divino como contra os dspotas humanos. 9um mundo inteiramente racionalizado# no 2ual tudo procede de acordo com as leis naturais# um 8eus arbitrrio constitui# apenas# um fator perturbat0rio. O ilustrado franc-s# Holbach# ;n/o 2ueria saber mais nada= desse 8eus. :le sonha com um reino da raz/o# com uma felicidade universal. Adora a liberdade# 2ue a raz/o# com a luz matutina# ir introduzir na sociedade.O ;problema de 8eus=# para Holbach#simples assunto do interesse humano. A religi/otratada como um preconceito# o mais enraizado e criminoso de todos os preconceitos. .e os homens se submetiam aos dspotas#por2ue >amais tiveram a raz/o como guia. As religi?es e sua influ-ncia sobre os governos s/o os promotores de toda a desgra5a.Para Holbach 7 tanto 2uanto para Beuerbach mais tarde 7 ;2uando o homem adora a 8eus# adora a si mesmo=. F o homem 2ue se dei6a levar mais pelas pai6?es do 2ue pelo intelecto# apegando(se a ilus?es sacralizadas.Foi o desconhecimento das causas naturais que criou os deuses" A %raude dos sacerdotes %+/los tem0veis" 1ncheu/lhe o esp0rito de quimeras e entravou os progressos da razo, impedindo/lhe de procurar sua %elicidade" $ medo reduziu/o a escravo daqueles que o iludiram so o pretextode aux0lio" $ homem passou a viver in%eliz, e )amais se arriscava a en%rentar os seus deuses, ouliertar/se de seus grilh2es"Para "oltaire# as religi?es dogmticas s/o barreiras ao progresso. .egundo a concep5/o de,stica de "oltaire# 8eus abandonou o dom,nio sobre a Hist0ria. :mbora ainda reine# > n/o intervm nela com seu governo. Por isso# afirma ele# o pr0prio homem deve encarregar(se de melhorar as rela5?es humanas por meio de sua raz/o# remediar a ignorGncia e tornar os homens melhores e mais felizes. "oltaire considera a Igre>a# 2ue finge representar a autoridade do 8eus vivo entre os homens# como o inimigo n@mero um do Iluminismo.:m rigor# "oltaire n/o era um ateu# mas rebai6a 8eus. :le gostava de mostrar(se como ;devoto perante a 9atureza=# como algum 2ue# impressionado pelo espetculo dela# rende gl0ria a 8eus# contemplando(a# estudando(a. "oltaire# assim como 8iderot# dHAlembert# Holbach e Helvetius# buscava a destrui5/o das antigas sociedades# seus preconceitos e abusos. F ele o tipo do ;iluminado= autoconsciente e individualista# 2ue se >ulga superior a todo o passado e para cu>o sarcasmo nada de santo e6iste. Eom todo refinamento de uma forma5/o literria superior# com o resplendor e elegGncia de um escritor divertido# desferia golpes contra as cren5as tradicionais. :sses golpes propagavam(se 1 semelhan5a dos tremores de um terremoto# destruindo a f nos cora5?es. Iuando n/o refuta# ridiculariza. ;O rid,culo estraga tudo. F a mais poderosa das minhas armas=# escrevia a dHAlembert. :le sabia mane>ar tal arma# brandindo(a com a mais grosseira zombaria. O poeta Briedrich .chiller retratou fielmente nos seus versos43escrendo dos an)os e de 3eus$ mote)o move eterna guerra ao 4elo5Apraz ao mundo denegrir o que resplende1 reaixar o sulime"6uerreando a iluso mas vulnerando a %7uer rouar ao corao seus tesouros"9o af/ de ani2uilar a f religiosa do povo# o Iluminismo obteve na Bran5a um grande -6ito. A religi/o sentiu profundamente os golpes dos livres(pensadores. Os >ovens gloriavam(se de sua irreligiosidade# convencidos 2ue assim demonstravam talento. At mesmo muitos clrigos# sendo alvo geral das zombarias# preferiram simplesmente acompanhar os uivos dos lobos livres(pensadores. :m %'JK algum escrevia4 ;A nossa na5/o neste sculobem mais ilustrada 2ue no tempo de Autero# avan5ar tambm mais e sacudir de si todos os sacerdotes# revela5?es e mistrios=. 9a poca da 3evolu5/o Brancesa# a sociedadeconduzida a apartar(se do Eristianismo.O 2ue se percebe# nesta gera5/o#a manifesta5/o de ressentimento contra 8eus# 2ue ;fracassou no governo do mundo=. Os materialistas franceses guilhotinaram a 8eus antes do 3ei# impulsionados pelo dese>o de reestruturar racionalmente o mundo e a vida.Uma Nova tica9a filosofia material,stica do sculo !"III# uma filosofia revolucionria# os fil0sofos da nova poca procuram# antes de mais nada# romper a ;alian5a= da moral com a religi/o. Os homens sem a a>uda do alto e por si mesmos s/o capazes de saber o 2uea virtude. A revela5/o ou comunica5/o de 8eus com os homensdispensvel# uma vez 2ue os homens# por natureza# sabem o 2ueo v,cio e virtude. : se basta a raz/o para apontar ao homem os seus deveres# a filosofia passa a ocupar o posto da teologia tradicional. .egundo Lant# o progresso da Humanidade# no seu curso de aperfei5oamento# encontra uma predisposi5/o moral 2ue tem suas ra,zes na natureza racional do homem. .egundo o ;ilustrado= franc-s Holbach# todas as leismorais se baseiam na ;raz/o=.Assim# o Iluminismo procurou e6trair o essencial de todas as religi?es do mundo e da hist0ria universal# para resumi(los em alguns poucos princ,pios universais. .omente eles se consideravam ar2uitetos# 2ue conhecem os princ,pios da 3az/o# da 9atureza e dos direitos humanos# princ,pios simples e fecundos# 2ue est/o ao alcance de todos e dos 2uais s0 precisam tirar as conse2M-ncias# para em lugar das velhas e feias constru5?es do passado colocar o magn,fico edif,cio do porvir. Palavras como ;liberdade# ;>usti5a=# ;bem p@blico= e ;dignidade humana= fascinavam grandemente# e podiam ser buscadas e defendidas sem 2ual2uer necessidade da religi/o. Por outro lado# come5aram tambm a se apresentar muito vagasCO supremo princ,pio da usto# determinado pela "ontade Peral. A isto se pode e deve o indiv,duo ser coagido# sempre 2ue necessrio. Pois 2uem n/o obedece 1 "ontade Peral# recusa obedi-ncia 1 parte melhor de si mesmo e se revela assim como escravo. A "ontade Peral tenciona o bem comum# e visa 1 liberdade do homem# pois na "ontade Peral o homem obedece somente a si mesmo e n/o a umaautoridade estranha. :le mesmo# >unto com os demais cidad/os# consentem render sua pr0pria vontade 1 "ontade Peral. A "ontade Peral # acima de tudo# e6press/o da raz/o universal4o novo deus. :la materializa o :stado em 2ue o povo tomou o lugar de 8eus. O :stadofruto do contrato social dos novos crentes na deusa 3az/o.O novo culto 1 3az/o foi acolhido entusiasticamente. :sperava(se dele uma ordem essencialmente nova# o advento de um estado paradis,aco e ideal da natureza. Para alcan5ar tal reino# tornou(se necessrio a2uilo 2ue no in,cio fora solenemente proscrito4 a pena de morte. Havendo aderido incondicionalmente a tal princ,pio absoluto# em aten5/o a esse princ,pio# eles tomavam a srio todos os abusos 2ue se revelassem contrrios. Assim# a religi/o 2ue identificavaa 9atureza com a 3az/o levou logicamente ao espetculo da guilhotina.9o Ancien Rgime o direito divino foi invocado em favor do despotismo. : a Igre>a apoiou servilmente esta pretens/o. O rei apresentava(se aos olhos do povo como encarregado por 8eus para neg0cios divinos no mundo. :ra o absolutismo. O 3ei era a Aei. Agora a "ontade Peralo novo 8eus# 2ue inspira a assemblia para legislar e condenar o rei 1 morte. 8esta forma# a condena5/o do rei marca uma nova encruzilhada na Hist0ria4 simboliza muito apropriadamenteo in,cio da poca atual. A e6ecu5/o do reiQ89: simolizava a investida contra aquela histria e a despersoni%icao do 3eus cristo" ;e no asolutismo, de%endia/se que 3eus intervinha na