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O ENSINO/APRENDIZAGEM DO GÊNERO NOTÍCIA: uma
proposta sociodiscursiva de leitura no ensino médio
Autora: Sandra Regina Belchior Fazolli1
Orientador: Evandro Melo Catelão2
Resumo
O presente trabalho teve como objetivo desenvolver uma sequência didática com atividades que pudessem suprir as necessidades envolvendo a leitura dos diferentes gêneros de texto. Para tanto, o projeto contou com os pressupostos do interacionismo sociodiscursivo como ferramenta teórica e como objeto para o trabalho em sala para o desenvolvimento das atividades com alunos do ensino médio. Por meio da leitura dos textos escolhidos do gênero notícia, a compreensão e atividades foram exercitadas e finalizou-se com uma produção de texto sobre um fato real vivido pela sala de aula. Como resultado percebeu-se que os alunos desenvolveram suas capacidades de compreensão, interpretação, bem como de aperfeiçoamento linguístico em atividades de reflexão. Na produção final, os alunos tiveram a chance de reconhecer o texto como um gênero e se projetar como sujeitos produtores/interpretadores no meio sociodiscursivo em que estão inseridos.
PALAVRAS-CHAVE: Gêneros. Notícia. Ensino Médio. Educação.
Abstract
This study aimed to develop a didactic sequence with activities that could meet the needs involving the reading of different genres of text. Therefore, the project had sociodiscursivo assumptions of interactionism as a theoretical tool and as an object to work in news room for the development of activities with high school students. Through the reading of selected texts of the genre news, insights and activities have been exercised and completed with a production of text on an actual event experienced by classroom. As a result it was realized that the students developed
1 Sandra Regina Belchior Fazolli (Profª do Colégio Estadual Constantino Marochi - EFM). 2 Evandro de Melo Catelão (Prof. Doutorando Universidade Federal do Paraná. Orientador Universidade Estadual de Maringá).
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their skills of comprehension, interpretation, and language improvement in reflection activities. In the production end, students had a chance to recognize the text as a genre and subject to project himself as producer / interpreters in the middle sociodiscursivo where they live. KEYWORDS: Genres. News. High School. Education.
1 Introdução
O artigo tem sua base no estudo com leitura, na qual se observou em sala
de aula dificuldades dos alunos em atividades de oralidade e escrita, levando a
hipótese que essas insuficiências estariam relacionadas ao pouco aproveitamento
da leitura dos textos e o próprio reconhecimento desses textos como partes de
gêneros do discurso. Acredita-se que é por meio do aprimoramento das
competências linguísticas e textuais que o aluno se tornará capaz de transitar pelas
diferentes esferas sociais e usar adequadamente a linguagem em suas relações
mais complexas e que exigem maior formalidade, como na leitura e composição de
textos nas diferentes modalidades ou gêneros. Essa afirmação é importante, pois
reflete que os gêneros são produtos de configurações de escolhas entre possíveis,
que se encontram momentaneamente cristalizados ou estabilizados pelo uso
(BRONCKART, 2009, p.141).
Como forma de testar e visualizar o problema com a leitura e produção,
contou-se na pesquisa com a abordagem sociodiscursiva de estudo e se partiu da
hipótese de que o gênero notícia poderia conduzir os alunos a perceber a
importância do olhar crítico do leitor, assim como reconhecer posicionamentos do
autor discursivo e por eles mesmos apresentar seu ponto de vista em novas
produções e/ou reconhecer e se posicionar sob o que está subentendido no texto. O
desenvolvimento das atividades com leitura norteou a interação entre os sujeitos,
que se posicionavam como sujeitos/leitores ou sujeitos produtores.
A notícia (nos limites do que se define como gênero) pode ser conceituada
como “matéria-prima” dos jornais e revistas, relatando fatos que estão ocorrendo em
uma cidade, país, ou mesmo no mundo. A intenção da notícia é informar o leitor com
exatidão. Mesmo tendo a pretensão de ser “neutra”, confiável, ela traz em si
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concepções, princípios e ideologias de quem a escreve, ou seja, sua opinião ou
ponto de vista.
O público da pesquisa contou com alunos do ensino médio, 32 ao todo.
Resultados mostraram que as atividades desenvolvidas pelo professor PDE
beneficiaram os alunos quanto ao ensino/aprendizagem de gêneros e sub-gêneros
relacionados. Enquanto leitores, observou-se que os alunos aprimoraram sua
competência comunicativa nas modalidades formativa, transformativa e qualitativa.
As atividades foram desenvolvidas em 32 horas, com aulas de reflexão
sobre a leitura, produção de notícias e atividades de análise linguística. Os alunos
foram direcionados a entender projeções da situação sociodiscursiva que envolvem
o gênero (condição de produção e de recepção).
2 Gêneros do discurso na perspectiva sociodiscursiva
2.1 O estudo dos gêneros
Dentre os diferentes posicionamentos em sala de aula, hoje a vertente
sociodiscursiva tem tomado espaço e se mostrado uma importante ferramenta ao
professor no que se refere ao estudo dos gêneros e o trabalho com o texto. De uma
forma geral, essa vertente toma o estudo da língua por meio do termo agir. Segundo
Bronckart (2009), a partir do agir coletivo se constroem tanto o conjunto dos fatos
sociais quanto as estruturas e os conteúdos do pensamento consciente das
pessoas, isto significa dizer que o conhecimento é o produto da vida, e não o
contrário. Porém, o conceito de “fazer” humano coloca sérios problemas, como
mostra a relativa fluidez e a efetiva concorrência de noções como agir, atividade,
ação, prática, etc.
Para chegar-se à noção de texto e de discurso, o agir, de um modo geral,
corresponde a qualquer comportamento ativo de um organismo, ou seja, a
existência de formas de agir socializado. A espécie humana é, aparentemente, a
única a ter operacionalizado um agir comunicativo verbal. Assim, para essa espécie
em particular, é necessário diferenciar, um agir não verbal (geral), e um agir verbal –
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chamado de agir de linguagem. O agir geral humano corresponde às atividades
coletivas, à interação entre os indivíduos com o meio sociodiscursivo que os cercam.
O agir da linguagem pode também ser apreendido sob esse ângulo coletivo, na
forma de atividade de linguagem, que são diversificadas, porque suas propriedades
dependem também de opções assumidas pelas formações sociais (BRONCKART,
2009).
Assim, a ação da linguagem como atividade, cuja responsabilidade é
atribuída (por via externa ou interna) a um indivíduo singular, que se torna o agente
ou o autor dessa ação. Os domínios da atividade e da ação são, respectivamente,
da ordem do sociológico e do psicológico, o que implica uma atividade ou uma ação
de linguagem com conceitos oriundos dessas duas disciplinas.
Essa realização se dá sob a forma de textos (lexicais e sintáticos) de uma
determinada língua natural e, de outro, levando-se em conta modelos de
organização textual disponíveis no âmbito dessa mesma língua. Por isso, os textos
podem ser definidos como os correspondentes empíricos/linguísticos das atividades
de linguagem de um grupo/ como também de uma determinada ação da linguagem,
enfim dizemos que o texto é uma unidade comunicativa.
O que foi dito implica que pode-se distinguir três níveis de análise, o nível do
agir geral, o agir de linguagem e o nível dos próprios textos, que se diversificam em
“espécies”, que chamamos informações de gêneros que designa a
operacionalização da linguagem por indivíduos em situações concretas – ou
processos de linguagem, em oposição ao sistema da língua, à medida em que esse
sistema é resultado de uma abstração teórica segunda e que a realidade da
linguagem não é constituída, a não ser por práticas situadas; “atividade de
linguagem”, em vez de “atividade discursiva”, pois o uso da noção concorrente de
“discurso” poderia levar a pensar que a linguagem se manifesta de outra maneira
que não seja na prática – segundo sua leitura de Bronckart (2009). Seria nesses
limites que o professor situaria seu trabalho em sala de aula.
2.2 A noção de gênero
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Conforme Rojo, (2006), no Brasil atualmente tem sido dada grande atenção
às teorias de gênero (de textos/ do discurso) – isso, pelo menos, deve-se aos novos
referenciais nacionais de ensino de línguas (PCNS de língua portuguesa, de línguas
estrangeiras) que fazem indicação explícita aos gêneros.
Tudo isto tem levado a pesquisas que tomam por base teórica as questões
envolvendo gêneros textuais – por exemplo, o levantamento feito em 2000 pela
Anpoll, sobre as pesquisas embasadas em teorias de gêneros mostrou que, em
primeiro lugar, só a partir de 1995/1996 os títulos dos trabalhos começam a fazer
menção a teorias de gêneros.
Rojo (2006, p.189) comenta o diálogo estabelecido entre Bronckart e Adam
(1999), para a autora seria por causa da grande diversidade das espécies de textos
que se manifestou, desde a Antiguidade grega até nossos dias, uma preocupação
com a sua designação, que se traduziu na elaboração de propostas de classificação
múltiplas, centradas, na maior parte dos casos, na noção de gênero de texto (ou de
gêneros de discurso). Todavia, para o autor, os gêneros de texto permanecem como
entidades vagas. Para Bronckart (1997, p.74), a organização dos gêneros
apresenta-se para os usuários de uma língua, na forma de uma nebulosa, que
comporta pequenas ilhas mais ou menos estabilizadas (gêneros que são claramente
definidos e rotulados) e conjuntos de textos com contornos vagos e em intersecção
parcial. (gêneros para os quais as definições e os critérios de classificação ainda são
móveis e/ou divergentes). Assim, em todos os casos, no que tange à definição de
gênero, ele nunca é visto como um universal concreto decorrente das relações
sociais e regulados das interações e discursos configurados em enunciados ou
textos. “Os gêneros são produtos de configurações de escolhas entre possíveis, que
se encontram momentaneamente cristalizados ou estabilizados pelo uso”
(BRONCKART, 2009, p.141).
Apresentar os gêneros do discurso na perspectiva dialógica da linguagem,
conforme Rodrigues (2006) exige duas considerações prévias: a primeira
consideração diz respeito à flutuação terminológica existente na obra do Círculo, que
também se reflete no caso dos gêneros. Os gêneros do discurso, Bakhtin (2003) em
que o autor “opta” pelo termo gêneros do discurso, mas cuja concepção conceitual é
problematizada e ressignificada na concepção dialógica da linguagem;
Na segunda consideração é que para apresentar a noção de gêneros do
discurso na perspectiva do Círculo de Bakhtin é necessário apreender o seu lugar e
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papel no conjunto das suas formulações, ou seja, compreender a noção de gêneros
a partir de fundamentos nucleares, como a concepção sociohistórica e ideológica da
linguagem, o caráter sociohistórico, ideológico e semiótico da consciência e a
realidade dialógica da linguagem e da consciência.
Portanto, não dissociá-la das noções de interação verbal, comunicação
discursiva, língua, discurso, texto, enunciado e atividade humana, pois somente na
relação com esses conceitos pode-se apreender, sem reduzir, a noção de gêneros.
Nesses limites, Marcuschi (2008, p. 84) define texto “o observável, o fenômeno
linguístico empírico que apresenta todos os elementos configuracionais que dão
acesso aos demais aspectos da análise”.
2.3 A notícia como situação sociodiscursiva
A notícia é um gênero proveniente das atividades sociodiscursivas, para
chamar atenção dos leitores o texto inicia com uma manchete bem objetiva e o
verbo sempre no presente. Em seguida, vem o lead, ou primeiro parágrafo, que
contém as informações básicas sobre o fato noticiado. O lead não se inicia pelo
verbo; ele começa pela indicação do fato e pela descrição das circunstâncias mais
importantes em que o fato ocorreu, isto é, o que ocorreu, como, quando e onde.
A notícia chega até nós por vários suportes comunicacionais, seja pela
televisão (oral), jornal escrito ou pela internet. O tempo é real, imediato – e veicula
socialmente entre todos, nos lares, escolas, comércios e outros lugares. O gênero
“notícia” tem a função social de nos trazer no presente os fatos nacionais e mundiais
que ocorrem no dia.
Estrutura da notícia: o lead ou lide é um resumo das principais informações
que tem como função atrair o leitor para o assunto da notícia. Geralmente, ele
compreende os primeiros parágrafos e é escrito de modo que responda às seguintes
perguntas: O quê? Quem? Quando? Onde? Como? Por quê?
A linguagem é impessoal, clara, objetiva, de acordo com a variedade-padrão
da língua. Todo texto jornalístico – notícia, reportagem, editorial, entrevista e outros
– tem um título – o título anuncia o assunto de forma clara e objetiva; ele deve ser
curto e causar impacto.
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2.4 A leitura do gênero notícia
2.4.1 A leitura
Em sala de aula, com a finalidade de obter uma eficácia no processo da
leitura, no caso com texto notícia, o professor deve atentar-se a alguns
procedimentos: primeiramente iniciar com a pré-leitura para depois partir para a
leitura propriamente dita. A fase da pré-leitura deve acionar os conhecimentos
prévios dos alunos sobre o assunto a ser lido. Na fase da leitura, Menegassi (1995)
identifica quatro etapas: decodificação, compreensão, interpretação e retenção, e
sugere um trabalho voltado a essa ordem de desenvolvimento, o que auxilia o
professor na organização da aula, como também para os alunos, que constroem as
bases fixas que os permitem entender o sentido do texto e se formarem leitores
críticos. Para isso é preciso desenvolver as fases da leitura, ou seja, na
compreensão e na interpretação o aluno terá subsídios necessários à compreensão
total do texto e sua posterior atribuição de sentidos.
Estas fases da leitura são desenvolvidas apenas para compreensão
didática, não são separadas no leitor e no processo de leitura, mas apenas para
identificar onde está a falha no ensino de leitura. O aluno só será capaz de
posicionar-se frente a um texto depois que entender totalmente o que deve ser
desenvolvido com as questões de decodificação. Isto implica que ele começa a
entender o significado das palavras, depois tem-se a compreensão, ou seja, o aluno
tira do texto o tema e continua a sequência de leitura. Concluídas essas fases então
ele, enquanto leitor interpreta e faz uma relação do texto apreendido com seus
aprendizados já adquiridos na sua vida. E, por fim, a fase da retenção, pois agora o
leitor aproveita somente o que for importante para ele. Dessa forma, os textos do
gênero notícia a serem trabalhados serão sempre iniciados com uma pré-leitura
considerando os conhecimentos prévios da turma para depois iniciar todo um
trabalho. Para finalizar esta reflexão de leitura, conforme Solé (1987, p.22), deve-se
induzir um processo de interação entre o leitor e o texto, ou seja, o processo de
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leitura deve garantir que o leitor compreenda o texto e que pode ir construindo uma
ideia sobre seu conteúdo.
1.4.2 A leitura da notícia
De modo geral, o perfil dos leitores do jornal é um interlocutor universal, pois
são dirigidos a um público leitor muito amplo. Seções mais gerais, que tratam dos
acontecimentos mais importantes no país e no mundo, são lidas por adultos e
adolescentes, homens e mulheres, pessoas de diferentes classes sociais. Apesar de
cada um escolher no interior dos jornais as seções com características mais
específicas, o perfil dos leitores das notícias será variável e corresponderá às
diferentes seções especializadas de um jornal ou de um site. Ainda, não se ignora
os jornais populares, a imagem do público alvo é feita com base em dados
estatísticos referentes à renda média dos leitores, ou seja, as publicações são mais
baratas e sensacionalistas.
O gênero do discurso, no caso notícia, é o estudo inicial desse projeto.
Conforme Rojo, (2006), no Brasil, atualmente, tem sido dada grande atenção às
teorias de gênero (de textos/do discurso) – isso, pelo menos, deve-se aos novos
referenciais nacionais de ensino de línguas (PCNS de língua portuguesa, de línguas
estrangeiras) que fazem indicação explícita aos gêneros.
A notícia é um gênero e deve ser entendida como atividade de ação entre
os sujeitos. Nesse sentido, a leitura da notícia envolve uma consideração do lugar,
dos sujeitos que a produzem e a quem elas são destinadas.
Em sala de aula o professor faz essa ponte de interação entre a leitura dos
fatos com o leitor da notícia, qual é o ponto de vista de cada um e a intenção do
texto enquanto comunicação. A notícia pode ter seu suporte em jornais escritos,
jornais falados, revistas, rádio, televisão e a internet. Estamos cercados de notícias
que nos interessam e fazem parte do nosso dia a dia, apresentam o registro de fatos
sem que a opinião de quem a escreve a respeito dos acontecimentos seja
explicitada. Sua finalidade é informar.
É importante salientar que não é qualquer tipo de informação ou
acontecimento que se torna notícia. Como o objetivo da notícia, no contexto
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jornalístico, é o de transmitir informação a um grande número de pessoas, torna-se
necessário definir que acontecimentos merecem virar “notícia”. Fatos que afetam
aspectos da vida política, econômica, social ou cultural de um país são naturalmente
considerados acontecimentos a serem noticiados, contudo, uma ocorrência familiar
cotidiana, pessoal, particular, embora importante para ser relatada a parentes e
conhecidos, não é registrada em uma notícia.
3 Metodologia da Implementação - unidade didática
Este estudo foi realizado com alunos do ensino médio de uma escola pública
de Santa Cruz de Monte Castelo. A amostra contou com 32 alunos – 21 do sexo
masculino e 11 do sexo feminino. Os dados foram coletados por meio de
questionários sobre o gênero notícia, desenvolvimento de atividades de leitura e
produção. Foram utilizados dois textos do gênero notícia, um filme e vídeo sobre o
tema de um dos textos (células-tronco). Na aplicação da unidade didática, a
sequência sempre com a pré-leitura e a oralidade, primeiro ler em silêncio, depois o
professor lia e a partir daí iniciávamos a compreensão do texto.
Quanto ao Grupo de Trabalho em rede havia uma apreensão em relação ao
número de alunos que permaneceriam até a conclusão, no entanto, seis professores
permaneceram até o término do estudo. O Grupo de Trabalho em rede tem como
público professores da rede estadual da educação que todo ano se inscrevem para
o estudo a distância. O projeto desenvolvido no PDE é colocado em rede para todos
que estão inscritos e as atividades ocorrem com a leitura de toda a pesquisa, então
são realizadas discussões no fórum, escrevem um plano de aula e dão sugestões.
Para a unidade didática foi retirado da revista Veja, no caso, dois textos.
Ambos do gênero notícia. O primeiro texto “A faxina só começou”, foi escolhido por
ser um assunto interessante aos alunos e trabalhar com esse tema possibilitaria
instigar a sala sobre tudo que ocorre nos meios políticos e também para que eles
pudessem além de compreender, perceber efetivamente e criticamente o assunto.
Também o filme “Tropa de Elite 2”, levou os alunos a refletirem, ou seja como os
policiais se comportam diante da sociedade, porque acreditamos na segurança que
eles nos proporcionam, quando na realidade nos enganamos. Ainda aborda sobre a
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criminalidade, assunto este relacionado ao tema do filme. Mesmo tendo assistido ao
filme, depois da sessão na escola os alunos perceberam detalhes e fatos não
notados até então, isto pela abordagem e atividades realizadas em sala de aula.
O segundo texto “Coração que se cura sozinho”, já um texto de ciências,
cujo tema células-tronco é bem interessante e atual. A abordagem com vídeos,
somados a aulas de Biologia, com a professora Roseli Pires, tornaram o trabalho
completo.
4 Resultados
A unidade didática foi aplicada a 32 alunos do segundo ano do ensino médio
noturno. Trata-se de um público escolar que trabalha, quase não tem tempo de se
dedicar e tem mais dificuldades na produção, requerendo, nesse sentido, maior
atenção. No início os alunos foram instigados o tempo todo quanto ao gênero
notícia. Durante a leitura e compreensão dos textos, sempre se retomava a questão
do gênero, era mostrada a estrutura da notícia na lousa e novamente comentava-se
sobre o que era notícia.
No início, alguns alunos não conceituavam adequadamente o gênero
notícia, confundindo com fatos do jornal. Alguns alunos, por exemplo, responderam
se tratar da história de alguém, narrativas de tragédias, outros responderam que
eram informações dos fatos que aconteciam no cotidiano das pessoas. Quanto à
organização do texto notícia, na produção inicial, alguns alunos, por não
reconhecerem a estrutura da notícia, produziram uma narrativa. Um aluno na
organização de texto do tema saúde pública municipal noticiou um caso policial no
posto de saúde, no entanto, narrando os fatos como uma história, com final e moral.
A mesma ocorrência foi acompanhada com outros alunos. Outro caso particular,
além de problemas com leitura e interpretação, demonstrou também sérios
problemas ortográficos (veses, probrema, tanbém), demonstrando a necessidade de
acompanhamento de atividades de análise linguística de adequação
escrita/oralidade.
Iniciou-se, nesses limites, um estudo do gênero proposto, a notícia. Um
aspecto interessante foi observado no desempenho entre os sexos sujeitos
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participantes da pesquisa no decorrer das atividades. Indivíduos do sexo masculino
e do feminino despertaram interesses diferentes nos temas e produções, aspecto
que foi frisado nos momentos de produção oral em sala de aula. Nas propostas de
produção escrita, os alunos se organizaram em grupos para decidir o assunto da
notícia, comentavam e escreviam o que fora decidido.
Na produção final, propôs-se um tema único em que se aproveitou a
ocorrência de um vendaval na cidade de realização da pesquisa. Os textos
produzidos foram de acontecimentos da cidade, troca de experiências e
informações, pois muitos nem sabiam a projeção dos acontecimentos, despertando
curiosidade e necessidade de falar sobre o tema. Finalizou-se a produção com um
mural público, concluindo o objetivo do projeto.
No grupo de trabalho em rede as discussões foram surpreendentes. Não era
esperada uma participação tão efetiva por parte dos professores/alunos. As
atividades se concentraram no gênero notícia, com leituras teóricas discussões em
fórum e depois elaboração de planos de aula. Houve troca de ideias e sugestões
para aplicação em sala de aula. Como resultados, observou-se uma grande troca de
experiência na educação, elaboração de uma unidade didática, e, por fim, um artigo
final das experiências vividas durante os dois anos da formação continuada para
professores da rede pública do Paraná.
4.1 Apresentação dos resultados da produção didática
4.1.1 Objetivos alcançados
O objetivo principal do projeto foi propiciar ao aluno o conhecimento do
gênero notícia que foi aplicado numa sala com 32 alunos, (32 horas). No início a
organização (estrutura do gênero notícia), a leitura silenciosa e o uso do dicionário
como auxiliar. Foram observadas algumas dificuldades dos alunos nessa etapa,
principalmente quando ao reconhecimento do gênero e sua estrutura.
Percebeu-se também que os alunos não estavam familiarizados com o
trabalho com os gêneros e esse foi o primeiro desafio. 30% (8 alunos) tinham
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dúvidas em relação ao gênero e faziam misturas de gêneros (conceituar um gênero
como se fosse o outro). Esses alunos acreditavam, por exemplo, que seria uma
história ou narrativa, sempre com final trágico, e chegaram a conceituar até mesmo
como “fofocas”. No desempenho linguístico, o grau de dificuldade foi maior, o
problema com a ortografia foi o mais preocupante, em que 30% (10 alunos) não
acentuavam as palavras e 40% ( 14 alunos) tinham dificuldades lexicais.
No início da implementação foi perguntado aos alunos de forma escrita o
que entendiam por notícia. As respostas foram, de uma forma geral, apresentadas
como: fatos escritos onde e quando acontecem (como pode ser visualizado na
tabela 1, abaixo). Este fato foi positivo para o começo da aplicação da unidade
didática, contribuiria para um diagnóstico inicial das falhas conceituais apresentadas
pelos alunos. Alguns exemplos de respostas dos próprios alunos foram “notícia é
tudo que é informado pelo jornal”; “notícia nos traz conhecimentos”. Ao fim das
atividades, os alunos produziram uma notícia como exercício. As produções foram
corrigidas e foram discutidas as leituras de textos, atividades com a estrutura do
gênero.
Tabela 1: conceito de notícia
Número de Alunos
O que é notícia?
14 São fatos
10 Não souberam
08 Falaram de outro gênero
Total 32 Total
Ao final, com uma nova produção escrita eles já não tinham tantas dúvidas,
e esse fato possibilitou que o trabalho em grupo fosse realizado com maior atenção,
ou seja, já reconheciam a estrutura da notícia e procuravam ler e corrigir falhas de
concordância e o grupo discutia sobre o tema e a organização do texto. Percebeu-se
também um maior interesse na atividade, entrega dos trabalhos na data prevista e
montagem de mural.
Duas das produções consideradas as melhores para a série podem ser
visualizadas abaixo. O texto 1 (sujeito do sexo feminino) apresenta as seguintes
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características: Conseguiu compreender a estrutura do gênero notícia; mostrou bom
desempenho lexical na descrição dos fatos relatados; acentuou adequadamente as
palavras e mostrou coerência na organização da construção da narrativa, além de
ter participado efetivamente de quase todas as aulas.
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O texto 2 (sujeito do sexo masculino) apresenta as seguintes
características: O texto é simples na sua construção, ele tem dificuldades na
ortografia, porém, o aluno segue a estrutura, corrige erros e consegue uma
produção textual a contento. Este aluno tem pouca leitura, trabalha no campo e
acorda muito cedo, mesmo assim acompanhou as aulas e pôde escrever a notícia
vivenciada por ele, atendo às propostas para o ensino da língua portuguesa, ou seja,
proporcionar inserção do aluno à pluralidade dos discursos e conhecimentos
capazes de fazê-lo circular pelas diferentes esferas sociais.
4.1.2 Apresentação dos resultados da produção didática
4.1.2.1 Organização Inicial
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Quanto à organização do texto, os alunos aos poucos foram se exercitando
com os recortes de jornais da folha de Londrina do Estado do Paraná. Responderam
às questões da estrutura e, assim, alguns foram atendendo à proposta e já não
confundiram mais a notícia com outros gêneros. Na figura 1, abaixo, pode-se
verificar que 40% (13 alunos) atenderam a proposta, 40% (13 alunos) fizeram uma
boa organização do texto e 20% (6 alunos) apresentaram mistura de gêneros.
Figura 1 – Primeira atividade – produção individual de uma notícia
40%
40%
20%
Atendimento à proposta
Organização do texto notícia
Misturas de gênero
Quanto ao desempenho linguístico a figura 2, abaixo, traz uma
representação geral dos conhecimentos dos alunos. Na figura 30% (10 alunos)
apresentaram baixo desempenho ortográfico; 30% ( 9 alunos) não acentuou a
maioria das palavras e 40% (13 alunos) apresentaram alguma dificuldade lexical, ou
seja, o vocabulário desses alunos, na sua maioria, não tinha sentido na frase
construída no texto. Deu-se nas questões envolvendo o desempenho linguístico, a
prioridade para ortografia, acentuação e dificuldades lingüísticas. Em relação a
ortografia o aluno não escreve corretamente as palavras, como pobrema, veses,
quizer, fiser; não acentua , voce, noticia; e o sentido das palavras, por exemplo: pais,
país, não consegue diferenciar quando orientado a usar no texto, para o aluno não
existe diferença.
Figura 2 – Desempenho Linguístico
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30%
30%
40%
Desempenho lingüístico
Pouca ortografiaNão acentuaDificuldade lexical
Pela figura 2 é possível perceber que os alunos, de uma forma geral,
apresentaram dificuldades quanto ao uso da norma culta. As principais dificuldades
ficaram por conta das falhas na acentuação ou por falta dela, falhas sintáticas e
morfológicas além de repetições de palavras que demonstraram vocabulário
limitado. A figura 3 demonstra as porcentagens e o número de alunos que
atenderam totalmente, parcialmente ou não atenderam a proposta. Segundo a figura
abaixo, 60% (20 alunos) atendeu à proposta, 30% ( 9 alunos) atendeu parcialmente
e 10% (3 alunos) não atendeu à proposta.
Figura 3 – Atendimento à proposta de aprendizagem do gênero notícia
Depois de várias aulas falando do gênero notícia, sua estrutura, leitura e
compreensão dos textos, percebeu-se que os alunos se beneficiaram das atividades
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desenvolvidas pela professora para o gênero notícia. Porém, alguns alunos por
terem faltado às aulas ainda apresentavam dúvidas. Além disso, percebeu-se que
10% (3 alunos) tinham dificuldade em participar efetivamente das atividades.
5 Conclusão
O projeto e a produção da unidade didática foram direcionados ao ensino de
gênero textual seguindo as novas diretrizes para o ensino em que os gêneros são
entendidos como instrumentos para práticas sociais. E nas séries finais ela vai
organizando e reconhecendo as diferenças entre os gêneros textuais. Os exercícios
com leitura e interpretação foram desenvolvidos em atenção a essa particularidade.
Nos resultados observou-se que grande parte dos alunos conseguiu alcançar um
desempenho satisfatório observado nas produções desses alunos. Contudo, a turno
de trabalho e as características do público (trabalharem durante o dia) demonstrou
ser um dado que dificultou o desenvolvimento total das atividades e o próprio
desempenho dos alunos.
A sondagem inicial com o aluno proporcionou entender e elaborar a unidade
didática com maior eficiência. Durante as 32 horas da aplicação, 24 alunos
demonstraram ter assimilado o conteúdo estudado. Um estudo pós-atividade no
decorrer do ano seguinte à implementação seria interessante para visualizar a
efetivação desse aprendizado. A tabela 2 (abaixo) demonstra um crescimento
positivo com a maioria dos alunos do segundo ano em relação à tabela 1 em que se
fez a mesma pergunta.
Tabela 2: conceito de notícia no fim da Unidade Didática.
Número de Alunos
O que é notícia?
24 Já conseguiram reconhecer o gênero notícia – “notícia é o conteúdo do jornal que relata os fatos que acontecem no dia a dia”.
05 Não se interessaram e continuaram com dúvidas
03 Não souberam responder.
Total 32
5.1 Grupo de trabalho em rede
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No início do GTR não se imaginou que ele seria tão gratificante ao professor
pesquisador. Os professores/alunos apresentaram reflexões representativas para as
atividades educacionais no fórum de discussões. Um professor que discursou sobre
“Preconceito linguístico”, tão discutido na atual educação, fez uma relação com a
questão dos gêneros no espaço escolar e situou a discussão sobre a importância da
leitura e produção. No diário uma professora fez uma colocação que quando o aluno
é apresentado aos textos – gêneros – a maneira de se expressar fica mais clara no
decorrer de suas atividades escritas. Outra discussão importante foi sobre
letramento. Todos concluíram que o trabalho com o gênero notícia proporcionou um
excelente começo para leitura e escrita, mesmo porque o projeto tinha como objetivo
esta proposta. Ao término do GTR, dos oito inscritos, seis pessoas terminaram o
curso aplicado em 2011.
Referências
BRONCKART, J. P. Atividade de linguagem, discurso e desenvolvimento humano. São Paulo: Mercado de Letras, 2009, p. 74-141. SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura/ trad.Cláudia Schilling - 6ª edição. - Porto Alegre: ArtMed, 1998. MARCUSCHI, Luiz Antonio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 6 ed. São Paulo: Cortez, 2005. MENEGASSI, R. J. Compreensão e interpretação no processo de leitura: noções básicas ao professor. Revista Unimar, Maringá, PR, 17 (1), 1995, p. 85-94. RODRIGUES, R. H. Os gêneros do Discurso na perspectiva dialógica da linguagem: A abordagem de Bakhtin. IN: MEURER, J. l. ; BONINI, A. ; MOTTA, D. R. (Org). Gêneros, teorias, métodos, debates. São Paulo: Parábola, 2005, p. 15-183. ROJO, R. Gêneros do discurso e gêneros textuais: Questões teóricas e aplicadas. IN: MEURER, J. l. ; BONINI, A. ; MOTTA, D. R. (Org). Gêneros, teorias, métodos, debates. São Paulo: Parábola, 2005, p. 18- 207.
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