Edição, revisão, diagramação e fotos:
Rosana de Fatima Elias Fernandes
© Todos os direitos autorais reservados à autora
Dedicatória
Atma-mata (mãe) guroh-patni (esposa do mestre) Brahmani (esposa do brahmana) raja-patnika (rainha)
Dhenur (vaca) datri (ama) tatha (bem como) prthvi (terra) Saptaita (sete) matavah (mães) smrtah (reverencio)
[A palavra smrti significa lembrar, aqui seria refletir o sentimento de gratidão. Este é um verso que evidencia o
relacionamento social. Este Niti Shastra foi escrito 2 a.C por Canakya Pandita]
Especial gratidão ao professor Evandro Cardoso do Nascimento, meu mestre de sociologia, que me incentivou a falar sobre a Índia e a Cultura Védica.
1. Índice
1. Índice ................................................................................................ 7
2. Prefácio ........................................................................................... 11
3. Introdução ............................................................. 14
4. A Ótica de Edgar Mohin e de Sri Madhvacarya ....... 17
4.1. A Ressonância de Schumann .......................... 24
4.2. O Yoga e o Prana ............................................. 26
5. As Quatro Eras ...................................................... 31
6. Síntese da Cultura Védica ...................................... 33
7. A Jornada dos Vedas ............................................. 38
8. O Ramayana e o Periodo de Treta-yuga .................. 50
9. A Era de Dvapara-yuga e as Upanishads ............... 52
10. Gitopanishad ...................................................... 54
11. A Era de Kali-yuga e o Bhagavata Purana ........... 56
12. As Filosofias da Índia .......................................... 60
I. Escolas ásticas: ..................................................... 61
II. Escolas násticas: ................................................... 61
13. Conclusão ............................................................. 62
Bibliografia ................................................................... 63
Reflexão Lalayet (brincar) panca-varshani (ate os 5 anos)
Dasha-varshani (ate os 10 anos) tadayet (disciplinar) Prapte (quando alcancar) tu sodashe varse (os 16 )
Putram mitra-vad acharet (agir como amigo)
[Este Niti Shastra foi escrito 2 a.C por Canakya Pandita]
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2. Prefácio
No final da década de 80, numa surpreendente conversa com a
antropóloga e mestra, chamada Lilly Ulman Costa Lima, ela me
perguntou: “Você sabe qual é o significado da palavra sentir?” Então,
por ter nascido em outro país e ter vivido numa outra cultura, ela me
fez entender que o sentir dos brasileiros é diferente do sentir dos
italianos. Decorreu desta convivência, de noites e noites em claro
discutindo sobre o humano, sua metafísica e a forma de existência dos
índios brasileiros, que o nosso sentir brasileiro tinha um erro de
tradução e histórico. Mais tarde, ao estudar sânscrito entendi que a
civilização segue a vida (prana) ao dar sentido a ela. Nos Vedas, nas
divisões de classes, a vida segue de acordo com a consciência que é dada
a ela: os brahmanas tem domínio sobre a inteligência, por isso são
jñanis; os kshatriyas têm controle da mente e a inteligência fixa; os
vaishyas tem o controle dos sentidos e os shudras tem a opção de colocar
sua atenção nos sentidos funcionais ou nos sentidos destinados para o
conhecimento. Isto nos leva a entender que a etimologia da palavra
sentire do latim, a qual significa perceber por quaisquer dos órgãos dos
sentidos ainda não pode atribuir o verdadeiro significado desta palavra.
Ao pronunciarmos em hindi aap kaisi hain, “como vai você”,
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observamos que o ar interno se desloca aap da área palatal, para a
gutural kaisi e finalmente para a área toráxica, hain. Então, poderíamos
ter a seguinte tradução: “O que tens feito? Está elevando o seu
pensamento, seus sentidos ou já está em relacionamento com Deus?” E,
se você já está, caberia dizer, aqui: NAMASTÊ! E, esta é a saudação
típica da Índia.
Esta obra objetiva apresentar a história da Índia milenar, para
um público acadêmico iniciante, através de sua literatura em uma
linguagem simples e acessível. O texto nos leva a observar que o
procedimento científico do século passado não era suficiente para
apreender o universo que permeia esta civilização misteriosa. Por isso,
uma breve introdução ao pensamento de Edgar Morin e do físico
Winfried Otto Schumann são mencionados, bem como a ciência do
yoga, uma metodologia de experimentação física e psíquica, indiana, de
constatação da elevação da consciência humana. Comecei esta pesquisa
em 1995, ao receber a informação do livro de bhakti-shastri, de
Gunesvara das Adhikari, onde ele fez mênção às palavras de
Bhaktivedanta Swami: “De fato, bhakti-yoga é a meta mais elevada,
porém, para analisar bhakti-yoga profundamente, a pessoa deve
compreender esses outros yogas”.
Há dois aspectos que corroboram para a harmonia de uma
civilização, os quais são o desenvolvimento harmônico da mente (jñana)
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e das ações (karma). Esta terra conhecida como “Terra de Bharata”, em
seu próprio nome, como descrito nos Vedas, dá a indicação da natureza
intrínseca de sua população: Bharata bhumi, sadhana bhumi, o que
iremos explicar no decorrer do discurso.
Numa época de contrastes de ideias e situações no planeta, o
uso de tecnologias de conhecimento e exploração interna do que há de
humano e metafísico em nós, pode ser de uma colaboração tremenda
para entender o aspecto de sadhana e de seres conscientes e ecológicos.
Na foto a seguir, em Nova Delhi, é exemplificado um festival
com pratos de folhas descartáveis e ecológico, etc.
Ratha-Yatra, New Delhi, 2009
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3. Introdução
Na introdução do livro de Lin Yutang, A Sabedoria da Índia e da
China, vol. 1 (p.19), o tradutor começa seu trabalho da seguinte
maneira:
Uma Terra e um povo bêbedos de
Deus- eis a Índia. Tal é a impressão dos que
perlustram os Hinos dos Rigveda e seguem
pelas Upanishads até a vinda de Buda, no ano de 563 a. C.
A preocupação hindu com os problemas da alma
universal e da alma individual é tão intensa que às vezes
deve parecer opressiva a um povo menos espiritual.
Duvido que, exceção feita para os judeus, haja sobre a
terra uma nação que se iguale aos hindus em intensidade
emocional religiosa. É, portanto, absolutamente natural
que encontremos na criação inicial da mente indiana
uma forma e uma paixão muito semelhantes às dos
salmos do Antigo Testamento.
A Índia, como a conhecemos, é uma denominação ocidental.
O verdadeiro nome do país é Bharata, a “Terra de Bharata”. Ela é tão
antiga quanto à humanidade e sua idade é comprovada pelas pesquisas
e escavações arqueológicas. Uma das evidências da existência do
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episódio do Ramayana é a ponte de pedra que liga o sul da Índia à Sri
Lanka, evidência, esta, através de imagens de satélite, como descritas
no Ramayana.
O nome Bharata deriva do épico denominado Ramayana escrito
por Valmiki Muni. O rei Bharata foi o Imperador da terra que levou o
seu nome. Ele foi o irmão de Sri Ramachandra, uma manifestação de
Sri Bhagavan, o qual é o modelo ideal de conduta quer como irmão ou
pai, filho ou esposo; e de cidadão para todos os indianos. Os indianos
têm orgulho desta terra devido à posição exaltada de seu momento
histórico no passado. Bharata não foi somente o irmão de Sri
Ramachandra. Bharata, na literatura Védica, é referenciado como a
personificação do chakra, o qual simboliza moksha, um dos quatro
componentes de sanatana-dharma1: dharma, artha, kama e moksha2. A
bandeira da Índia tem o cakra exatamente no meio, ou seja, reforçando
a ideia de terra da liberação. A raiz sânscrita da palavra Bharata
significa: ‘rata’,dedicação e ‘bha’, luz e sabedoria.
1 A prática de deveres regulados de acordo com a presente Era. Sanatana significa
eternidade; e dharma, a posição constitucional.
2 Dharma- deveres espirituais prescritos para os brahmanas, o qual se aplicava de maneira diferente à cada casta; artha- desenvolvimento econômico, por exemplo os vaishyas tinham livros de artha-shastra recomendando a época de plantação; kama- tratados de como se alimentar apropriadamente e de como pacificar os sentidos; moksha- existiam tratados de como elevar a consciência e meditar em Brahman.
16
Segundo o Mahabharata, o Império de Bharata compreendia
todo o subcontinente indiano, Bactria, Uzbekistan, Afeganistan,
Tajkistan, Kyrgistan, Turkmenistan e Pérsia.
Outro exemplo da antiguidade da Índia é a cidade de Dvaraka,
onde viveu Sri Krsna, a qual foi inundada como é descrita no Bhagavata
Purana há aproximadamente 6.000 anos:
Dvarakam harina tyaktam Samudro ‘plavayat ksanat
Varjayitva maha-raja Srimad-bhagavad-alayam
(Bhagavata Purana Canto 11, Cap.31 verso 23)
Ó raj (rei), logo que Sri Bhagavan partiu de Dvaraka, o
oceano a inundou por todos os lados, exceto Seu palácio. [tradução
nossa]
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4. A Ótica de Edgar Mohin e de Sri
Madhvacarya No século VIII foi o aparecimento de Sri Shankaracharya na Índia.
Naquela época, o predomínio budista espalhava-se por todos os
recantos do país. Sri Shankaracharya restabeleceu os Vedas, mas na
verdade, este Veda era um budismo com a roupagem dos Vedas,
segundo estudos de Srila Bhakti Prajñana Keshava Maharaja, de Sri
Navadvipa, Bengala Ocidental3.
Sri Shankaracharya estabeleceu na Índia a peregrinação ao Char-
dham, ou seja, aos quatro locais sagrados de retiro espiritual nos
Hamalaias, local em que os rishis realizaram austeridades, em que
Vyasadev escreveu os Vedas: Badrinath; a nascente do Ganges: o
Gangotri; a nascente do Yamuna: o Yamunotri; e Kedarnath, local em
que hoje está situado o samadhi (túmulo) de Sri Shankaracharya.
Cabe aqui um parêntesis, para dizer que, a cordilheira dos
Himalaias é um local de muito magnetismo, onde o prana, a energia
vital, move-se para cima, como ocorre no Nepal, local em que podemos
observar as relações humanas mais dóceis. É um costume do Nepal, por
3 GVP PRESS
18
exemplo, um coração se aquecer na chegada de um amigo. Este e outros
sentimentos nobres povoam estas regiões. Em muitas outras regiões, a
saber: São Paulo, por exemplo, ao descermos do avião, podemos
perceber que o prana segue a força gravitacional.
Templo do Gangotri
21
Mais tarde apareceu Sri Ramanujacharya que deu um contorno
mais firme da amplitude do Vedanta. Por volta do século XIII houve
uma revolução do pensamento filosófico na Índia restabelecendo o
Vedanta com as suas devidas distinções e considerações através de Sri
Madhvacarya. Hoje, na Índia, duas escolas advogam a origem do
Vedanta, uma a dos seguidores de Sri Shankaracharya, e a outra das 4
Sampradayas, ou seja, os seguidores desde os mestres dos antigos Vedas
até Sri Ramanujacharya, Sri Madhvacarya, Sri Nimbaditya e Sri
Visnusvami. O pensamento da escola de Sri Madhvacarya, que viveu
por volta de 1236 d.C., é o que mais se adequa a nossa era e ao
pensamento de Edgar Mohin. A base deste pensamento deu a Escola de
Sri Caitanya Mahaprabhu a base filosófica para a moderna filosofia da
Índia denominada acintya bedhabedha- tattva: verdades concernentes a
unidade e diferenças simultâneas entre o Criador e os seres existentes.
A investigação de um conhecimento tão antigo pode ser feita através da
literatura, a qual foi preservada pelos mestres de cada sampradaya. O
livro Bhagavad-Gita As It Is com o comentário de Bhaktivedanta Svami
vem da linhagem de Sri Baladeva Vidyabhushana, considerado o
Gaudiya Vedanta Acharya, ou seja, o mestre do Vedanta que conciliou
a raiz dos Vedas com os ensinamentos de Sri Caitanya Mahaprabhu. O
comentário do Srimad Bhagavad-Gita de Srila Baladeva Vidyabhusana
denomina-se Gita Bhushana, o qual foi baseado numa pequena porção
dos comentários de Sri Ramanujacharya e a segunda parte do livro, nos
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comentários de Sri Madhvacarya. Esta preciosidade pode ser
encontrada no Bhagavad Gita As It Is, entre os capítulos 13º. e 17º, onde
as diferenças entre Bhagavan, as jivas (seres) e a prakrti (matéria inerte)
são claramente estabelecidas:
1. 13º. Capítulo: A Distinção entre Bhagavan e a Natureza;
diferença entre Bhagavan (supremo Atman) e Maya
(natureza material atômica);
2. 14º. Capítulo: Os Três Gunas (Modos) da Natureza
Material; diferenças entre sattva (matéria estável), rajas
(matéria em movimento) e tamas (matéria inerte) Maya
(átomos) e Maya (átomos); diferenças entre composições
atômicas voláteis, aquosas e compactas; H2 e N2; a
composição da água é diferente da composição de gás de
ozônio; etc.
3. 15º. Capítulo: Purusha Uttama, A Elevação de Bhagavan;
estabelece a diferença entre Bhagavan e as jivas (seres);
4. 16º. Capítulo Discernimento das Qualidades Divinas e
Demoníacas, evidencia a diferença entre jivas (seres) na
condição humana e jivas (seres) na condição animal;
5. 17º. Capítulo: Os Diferentes Tipos de Fé; diferencia Atma
e anatma; diferencia o ser de maya.
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O pensamento de Edgar Mohin abrange distinções, tais como:
1. A distinção entre complexidade e completude;
2. As diferenças entre as tecnologias internas e externas;
3. Paradigmas
4. As diferentes estratégias e ações;
5. Os diferentes ambientes;
6. Diferentes controvérsias;
Ainda, podemos analisar nos Setes Saberes, questões como a do
etnocentrismo, sociocentrismo e egocentrismo. Tais abordagens são
apresentadas na escola filosófica védica de maneira sistemática.
Vamos dar aqui um exemplo sobre a civilização Védica:
De acordo com muitos pesquisadores cristãos como Max Müeller,
do século XIX, os hindus eram considerados idólatras. Contudo, vamos
refletir aqui a questão, de acordo com a visão da teoria de Schumann.
O cérebro humano é mais visual, meditativo, pacífico e possui a
qualidade de cantar quando emitem as ondas Alfa: entre 7 a 12 Hertz.
Agora, reflitam, como que um povo procedente de uma civilização
ocidental, que desde a revolução francesa e a revolução industrial,
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