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Índia: A Ótica Literária da História

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Índia: A Ótica Literária da História

Índia: A Ótica Literária da História

Rosana de Fatima Elias Fernandes (autora)

Paranaguá

2016

Edição, revisão, diagramação e fotos:

Rosana de Fatima Elias Fernandes

© Todos os direitos autorais reservados à autora

Dedicatória

Atma-mata (mãe) guroh-patni (esposa do mestre) Brahmani (esposa do brahmana) raja-patnika (rainha)

Dhenur (vaca) datri (ama) tatha (bem como) prthvi (terra) Saptaita (sete) matavah (mães) smrtah (reverencio)

[A palavra smrti significa lembrar, aqui seria refletir o sentimento de gratidão. Este é um verso que evidencia o

relacionamento social. Este Niti Shastra foi escrito 2 a.C por Canakya Pandita]

Especial gratidão ao professor Evandro Cardoso do Nascimento, meu mestre de sociologia, que me incentivou a falar sobre a Índia e a Cultura Védica.

1. Índice

1. Índice ................................................................................................ 7

2. Prefácio ........................................................................................... 11

3. Introdução ............................................................. 14

4. A Ótica de Edgar Mohin e de Sri Madhvacarya ....... 17

4.1. A Ressonância de Schumann .......................... 24

4.2. O Yoga e o Prana ............................................. 26

5. As Quatro Eras ...................................................... 31

6. Síntese da Cultura Védica ...................................... 33

7. A Jornada dos Vedas ............................................. 38

8. O Ramayana e o Periodo de Treta-yuga .................. 50

9. A Era de Dvapara-yuga e as Upanishads ............... 52

10. Gitopanishad ...................................................... 54

11. A Era de Kali-yuga e o Bhagavata Purana ........... 56

12. As Filosofias da Índia .......................................... 60

I. Escolas ásticas: ..................................................... 61

II. Escolas násticas: ................................................... 61

13. Conclusão ............................................................. 62

Bibliografia ................................................................... 63

Reflexão Lalayet (brincar) panca-varshani (ate os 5 anos)

Dasha-varshani (ate os 10 anos) tadayet (disciplinar) Prapte (quando alcancar) tu sodashe varse (os 16 )

Putram mitra-vad acharet (agir como amigo)

[Este Niti Shastra foi escrito 2 a.C por Canakya Pandita]

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2. Prefácio

No final da década de 80, numa surpreendente conversa com a

antropóloga e mestra, chamada Lilly Ulman Costa Lima, ela me

perguntou: “Você sabe qual é o significado da palavra sentir?” Então,

por ter nascido em outro país e ter vivido numa outra cultura, ela me

fez entender que o sentir dos brasileiros é diferente do sentir dos

italianos. Decorreu desta convivência, de noites e noites em claro

discutindo sobre o humano, sua metafísica e a forma de existência dos

índios brasileiros, que o nosso sentir brasileiro tinha um erro de

tradução e histórico. Mais tarde, ao estudar sânscrito entendi que a

civilização segue a vida (prana) ao dar sentido a ela. Nos Vedas, nas

divisões de classes, a vida segue de acordo com a consciência que é dada

a ela: os brahmanas tem domínio sobre a inteligência, por isso são

jñanis; os kshatriyas têm controle da mente e a inteligência fixa; os

vaishyas tem o controle dos sentidos e os shudras tem a opção de colocar

sua atenção nos sentidos funcionais ou nos sentidos destinados para o

conhecimento. Isto nos leva a entender que a etimologia da palavra

sentire do latim, a qual significa perceber por quaisquer dos órgãos dos

sentidos ainda não pode atribuir o verdadeiro significado desta palavra.

Ao pronunciarmos em hindi aap kaisi hain, “como vai você”,

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observamos que o ar interno se desloca aap da área palatal, para a

gutural kaisi e finalmente para a área toráxica, hain. Então, poderíamos

ter a seguinte tradução: “O que tens feito? Está elevando o seu

pensamento, seus sentidos ou já está em relacionamento com Deus?” E,

se você já está, caberia dizer, aqui: NAMASTÊ! E, esta é a saudação

típica da Índia.

Esta obra objetiva apresentar a história da Índia milenar, para

um público acadêmico iniciante, através de sua literatura em uma

linguagem simples e acessível. O texto nos leva a observar que o

procedimento científico do século passado não era suficiente para

apreender o universo que permeia esta civilização misteriosa. Por isso,

uma breve introdução ao pensamento de Edgar Morin e do físico

Winfried Otto Schumann são mencionados, bem como a ciência do

yoga, uma metodologia de experimentação física e psíquica, indiana, de

constatação da elevação da consciência humana. Comecei esta pesquisa

em 1995, ao receber a informação do livro de bhakti-shastri, de

Gunesvara das Adhikari, onde ele fez mênção às palavras de

Bhaktivedanta Swami: “De fato, bhakti-yoga é a meta mais elevada,

porém, para analisar bhakti-yoga profundamente, a pessoa deve

compreender esses outros yogas”.

Há dois aspectos que corroboram para a harmonia de uma

civilização, os quais são o desenvolvimento harmônico da mente (jñana)

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e das ações (karma). Esta terra conhecida como “Terra de Bharata”, em

seu próprio nome, como descrito nos Vedas, dá a indicação da natureza

intrínseca de sua população: Bharata bhumi, sadhana bhumi, o que

iremos explicar no decorrer do discurso.

Numa época de contrastes de ideias e situações no planeta, o

uso de tecnologias de conhecimento e exploração interna do que há de

humano e metafísico em nós, pode ser de uma colaboração tremenda

para entender o aspecto de sadhana e de seres conscientes e ecológicos.

Na foto a seguir, em Nova Delhi, é exemplificado um festival

com pratos de folhas descartáveis e ecológico, etc.

Ratha-Yatra, New Delhi, 2009

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3. Introdução

Na introdução do livro de Lin Yutang, A Sabedoria da Índia e da

China, vol. 1 (p.19), o tradutor começa seu trabalho da seguinte

maneira:

Uma Terra e um povo bêbedos de

Deus- eis a Índia. Tal é a impressão dos que

perlustram os Hinos dos Rigveda e seguem

pelas Upanishads até a vinda de Buda, no ano de 563 a. C.

A preocupação hindu com os problemas da alma

universal e da alma individual é tão intensa que às vezes

deve parecer opressiva a um povo menos espiritual.

Duvido que, exceção feita para os judeus, haja sobre a

terra uma nação que se iguale aos hindus em intensidade

emocional religiosa. É, portanto, absolutamente natural

que encontremos na criação inicial da mente indiana

uma forma e uma paixão muito semelhantes às dos

salmos do Antigo Testamento.

A Índia, como a conhecemos, é uma denominação ocidental.

O verdadeiro nome do país é Bharata, a “Terra de Bharata”. Ela é tão

antiga quanto à humanidade e sua idade é comprovada pelas pesquisas

e escavações arqueológicas. Uma das evidências da existência do

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episódio do Ramayana é a ponte de pedra que liga o sul da Índia à Sri

Lanka, evidência, esta, através de imagens de satélite, como descritas

no Ramayana.

O nome Bharata deriva do épico denominado Ramayana escrito

por Valmiki Muni. O rei Bharata foi o Imperador da terra que levou o

seu nome. Ele foi o irmão de Sri Ramachandra, uma manifestação de

Sri Bhagavan, o qual é o modelo ideal de conduta quer como irmão ou

pai, filho ou esposo; e de cidadão para todos os indianos. Os indianos

têm orgulho desta terra devido à posição exaltada de seu momento

histórico no passado. Bharata não foi somente o irmão de Sri

Ramachandra. Bharata, na literatura Védica, é referenciado como a

personificação do chakra, o qual simboliza moksha, um dos quatro

componentes de sanatana-dharma1: dharma, artha, kama e moksha2. A

bandeira da Índia tem o cakra exatamente no meio, ou seja, reforçando

a ideia de terra da liberação. A raiz sânscrita da palavra Bharata

significa: ‘rata’,dedicação e ‘bha’, luz e sabedoria.

1 A prática de deveres regulados de acordo com a presente Era. Sanatana significa

eternidade; e dharma, a posição constitucional.

2 Dharma- deveres espirituais prescritos para os brahmanas, o qual se aplicava de maneira diferente à cada casta; artha- desenvolvimento econômico, por exemplo os vaishyas tinham livros de artha-shastra recomendando a época de plantação; kama- tratados de como se alimentar apropriadamente e de como pacificar os sentidos; moksha- existiam tratados de como elevar a consciência e meditar em Brahman.

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Segundo o Mahabharata, o Império de Bharata compreendia

todo o subcontinente indiano, Bactria, Uzbekistan, Afeganistan,

Tajkistan, Kyrgistan, Turkmenistan e Pérsia.

Outro exemplo da antiguidade da Índia é a cidade de Dvaraka,

onde viveu Sri Krsna, a qual foi inundada como é descrita no Bhagavata

Purana há aproximadamente 6.000 anos:

Dvarakam harina tyaktam Samudro ‘plavayat ksanat

Varjayitva maha-raja Srimad-bhagavad-alayam

(Bhagavata Purana Canto 11, Cap.31 verso 23)

Ó raj (rei), logo que Sri Bhagavan partiu de Dvaraka, o

oceano a inundou por todos os lados, exceto Seu palácio. [tradução

nossa]

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4. A Ótica de Edgar Mohin e de Sri

Madhvacarya No século VIII foi o aparecimento de Sri Shankaracharya na Índia.

Naquela época, o predomínio budista espalhava-se por todos os

recantos do país. Sri Shankaracharya restabeleceu os Vedas, mas na

verdade, este Veda era um budismo com a roupagem dos Vedas,

segundo estudos de Srila Bhakti Prajñana Keshava Maharaja, de Sri

Navadvipa, Bengala Ocidental3.

Sri Shankaracharya estabeleceu na Índia a peregrinação ao Char-

dham, ou seja, aos quatro locais sagrados de retiro espiritual nos

Hamalaias, local em que os rishis realizaram austeridades, em que

Vyasadev escreveu os Vedas: Badrinath; a nascente do Ganges: o

Gangotri; a nascente do Yamuna: o Yamunotri; e Kedarnath, local em

que hoje está situado o samadhi (túmulo) de Sri Shankaracharya.

Cabe aqui um parêntesis, para dizer que, a cordilheira dos

Himalaias é um local de muito magnetismo, onde o prana, a energia

vital, move-se para cima, como ocorre no Nepal, local em que podemos

observar as relações humanas mais dóceis. É um costume do Nepal, por

3 GVP PRESS

18

exemplo, um coração se aquecer na chegada de um amigo. Este e outros

sentimentos nobres povoam estas regiões. Em muitas outras regiões, a

saber: São Paulo, por exemplo, ao descermos do avião, podemos

perceber que o prana segue a força gravitacional.

Templo do Gangotri

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Templo do Yamunotri

20

Templo de Badrinath

Atrás, o Templo de Kedarnath

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Mais tarde apareceu Sri Ramanujacharya que deu um contorno

mais firme da amplitude do Vedanta. Por volta do século XIII houve

uma revolução do pensamento filosófico na Índia restabelecendo o

Vedanta com as suas devidas distinções e considerações através de Sri

Madhvacarya. Hoje, na Índia, duas escolas advogam a origem do

Vedanta, uma a dos seguidores de Sri Shankaracharya, e a outra das 4

Sampradayas, ou seja, os seguidores desde os mestres dos antigos Vedas

até Sri Ramanujacharya, Sri Madhvacarya, Sri Nimbaditya e Sri

Visnusvami. O pensamento da escola de Sri Madhvacarya, que viveu

por volta de 1236 d.C., é o que mais se adequa a nossa era e ao

pensamento de Edgar Mohin. A base deste pensamento deu a Escola de

Sri Caitanya Mahaprabhu a base filosófica para a moderna filosofia da

Índia denominada acintya bedhabedha- tattva: verdades concernentes a

unidade e diferenças simultâneas entre o Criador e os seres existentes.

A investigação de um conhecimento tão antigo pode ser feita através da

literatura, a qual foi preservada pelos mestres de cada sampradaya. O

livro Bhagavad-Gita As It Is com o comentário de Bhaktivedanta Svami

vem da linhagem de Sri Baladeva Vidyabhushana, considerado o

Gaudiya Vedanta Acharya, ou seja, o mestre do Vedanta que conciliou

a raiz dos Vedas com os ensinamentos de Sri Caitanya Mahaprabhu. O

comentário do Srimad Bhagavad-Gita de Srila Baladeva Vidyabhusana

denomina-se Gita Bhushana, o qual foi baseado numa pequena porção

dos comentários de Sri Ramanujacharya e a segunda parte do livro, nos

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comentários de Sri Madhvacarya. Esta preciosidade pode ser

encontrada no Bhagavad Gita As It Is, entre os capítulos 13º. e 17º, onde

as diferenças entre Bhagavan, as jivas (seres) e a prakrti (matéria inerte)

são claramente estabelecidas:

1. 13º. Capítulo: A Distinção entre Bhagavan e a Natureza;

diferença entre Bhagavan (supremo Atman) e Maya

(natureza material atômica);

2. 14º. Capítulo: Os Três Gunas (Modos) da Natureza

Material; diferenças entre sattva (matéria estável), rajas

(matéria em movimento) e tamas (matéria inerte) Maya

(átomos) e Maya (átomos); diferenças entre composições

atômicas voláteis, aquosas e compactas; H2 e N2; a

composição da água é diferente da composição de gás de

ozônio; etc.

3. 15º. Capítulo: Purusha Uttama, A Elevação de Bhagavan;

estabelece a diferença entre Bhagavan e as jivas (seres);

4. 16º. Capítulo Discernimento das Qualidades Divinas e

Demoníacas, evidencia a diferença entre jivas (seres) na

condição humana e jivas (seres) na condição animal;

5. 17º. Capítulo: Os Diferentes Tipos de Fé; diferencia Atma

e anatma; diferencia o ser de maya.

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O pensamento de Edgar Mohin abrange distinções, tais como:

1. A distinção entre complexidade e completude;

2. As diferenças entre as tecnologias internas e externas;

3. Paradigmas

4. As diferentes estratégias e ações;

5. Os diferentes ambientes;

6. Diferentes controvérsias;

Ainda, podemos analisar nos Setes Saberes, questões como a do

etnocentrismo, sociocentrismo e egocentrismo. Tais abordagens são

apresentadas na escola filosófica védica de maneira sistemática.

Vamos dar aqui um exemplo sobre a civilização Védica:

De acordo com muitos pesquisadores cristãos como Max Müeller,

do século XIX, os hindus eram considerados idólatras. Contudo, vamos

refletir aqui a questão, de acordo com a visão da teoria de Schumann.

O cérebro humano é mais visual, meditativo, pacífico e possui a

qualidade de cantar quando emitem as ondas Alfa: entre 7 a 12 Hertz.

Agora, reflitam, como que um povo procedente de uma civilização

ocidental, que desde a revolução francesa e a revolução industrial,