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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAFACULDADE DE COMUNICAOPROGRAMA DE PS-GRADUAO EM
COMUNICAO E CULTURA CONTEMPORNEAS
MARCELO FREIRE PEREIRA DE SOUZA
NARRATIVA HIPERTEXTUAL MULTIMDIA:Um modelo de anlise de webreportagens a partir da formao de mltiplas linhas
narrativas aplicado s produesNao Palmares, daAgncia Brasile40 anos do maiode 68 do portal G1
Salvador2008
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MARCELO FREIRE PEREIRA DE SOUZA
NARRATIVA HIPERTEXTUAL MULTIMDIA:Um modelo de anlise de webreportagens a partir da formao de mltiplas linhas
narrativas aplicado s produesNao Palmares, daAgncia Brasile40 anos do maiode 68 do portal G1
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-graduaoem Comunicao e Culturas Contemporneas, Faculdadede Comunicao, Universidade Federal da Bahia, comorequisito parcial para a obteno de grau de Mestre emComunicao.
Orientador: Prof. Dr. Leonor Graciela Natansohn
Salvador2008
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Essa dissertao dedicada a
Otto Lopez-Freire, o menino mais
forte que conheo.
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AGRADECIMENTOS
A Debora Cristina Lopez, a razo de tudo.
A Graciela Natansohn, pela orientao e por compartilhar uma viso multidisciplinar quepossibilitou esse trabalho.
A Marcos Palacios e aos demais colegas do GJOL, pelas frutferas discusses e leituras.
Aos professores do Programa de Ps-Graduao em Comunicao e CulturasContemporneas, pela ateno e disponibilidade.
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Todo texto uma mquinapreguiosa pedindo ao leitor que
faa uma parte de seu trabalho.
(Umberto Eco)
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SOUZA, Marcelo Freire Pereira de. Narrativa Hipertextual Multimdia: Um modelo deanlise de webreportagens a partir da formao de mltiplas linhas narrativas aplicado sprodues Nao Palmares, da Agncia Brasil e 40 anos do maio de 68 do portal G1. 115 f.2008. Dissertao (Mestrado) Faculdade de Comunicao, Universidade Federal da Bahia,
2008.
RESUMO
Esta dissertao prope um modelo de anlise de webreportagens a partir da relao entre a
arquitetura de informao e gramtica de interao na formao de narrativas multilineares.Testamos sua aplicabilidade nas reportagens 40 anos do maio de 68, publicada no canal deespeciais do portal G1 e Nao Palmares, publicada no canal de grandes reportagens da
Agncia Brasil. Devido ao enfoque multidisciplinar do modelo que utiliza elementos dosestudos de linguagem, da anlise do discurso de veis francs e do jornalismo on line traamoso percurso terico que liga o ferramental utilizado a modelo de anlise proposto. Temos comoparmetros para a formao de narrativas as categorias de enunciao tempo, espao e pessoae como principais referenciais tericos as obras de Eco, Chartier, Vern, Maingueneau,Charaudeau, Scolari, Salaverra, Diaz Noci, Liestl, Palacios e Machado.
Palavras-chave: jornalismo on line, narrativa hipertextual, modelos de anllise,
webreportagem
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ABSTRACT
This thesis proposes a model of analysis web special reports centred in the relationship
between the architecture of information and grammar of interaction in the formation of multilinear narratives. Were going to test their applicability in reports 40 anos do maio de 68,published in the channel Especiais of the portal G1 and Nao Palmares, published in thechannel Grandes Reportagens of the Agncia Brasil. Because proposed model of analysishave a multidisciplinary approach, crossing elements of the studies of language, the Frenchdiscourse analysis and online journalism, were going to explain the how combine thisdifferent theories using it to compose ours analytical tools in the three initial chapters of thethesis. The main theoretical references the works of Eco, Chartier, Vern, Maingueneau,Charaudeau, Scolari, Salaverra, Diaz Noci, Liestl, Palacios and Machado.
Key words: online journalism, hypertext narrative, model of analysis, web special report
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LISTA DE FIGURAS
Figura 01 Exemplos de pginas com formato tridente no jornalismo brasileiro ......... 24
Figura 02 Esquema de relao entre linhas de tempo ................................................. 50
Figura 03 Relao entre linhas do discurso e da histria ............................................ 51
Figura 04 Evoluo das estruturas lineares ................................................................. 64
Figura 05 Estruturas paralelas e reticuladas ................................................................ 64
Figura 06 Estrutura reticular pura ................................................................................ 65
Figura 07 Estruturas paralelas, largas e profundas ...................................................... 65Figura 08 Capa de 40 anos do maio de 68 .................................................................. 72
Figura 09 rea em anlise de 40 anos do maio de 68 ................................................. 73
Figura 10 Organizao temtica da pgina inicial....................................................... 75
Figura 11 Arquitetura da informao de 40 anos do maio de 68 ................................ 76
Figura 12 ltimas notcias e 1968: o ano em que o Festival de Cannes parou.......... 78
Figura 13 Interface de alguns dos elementos multimdia ............................................ 80
Figura 14 Galeria com releituras feitas por grafiteiros ................................................ 84Figura 15 GaleriaImagens que marcaram o ano de 68 .............................................. 85
Figura 16 Canal de Grandes Reportagens daAgncia Brasil...................................... 88
Figura 17 Pginas de vdeos da reportagemNao Palmares .................................... 89
Figura 18 Arquitetura de Informao deNao Palmares.......................................... 90
Figura 19 cone indicativo de link em texto dentro uma janela de vdeo .................... 92
Figura 20 Selo de abertura do vdeo principal da reportagem ..................................... 93
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LISTA DE APNDICES
Apndice 01 Listagem de matrias de 40 anos do maio de 68
Apndice 02 Percursos Narrativos de 40 anos do maio de 68
Apndice 03 Listagem de matrias deNao Palmares
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LISTA DE ANEXOS
Anexo 01 CD com arquivos das webreportagens 40 anos do maio de 68 eNao Palmares
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SUMRIO
INTRODUO ...................................................................................................... 15
CAPTULO I LEITURA ..................................................................................... 18
1.1 LEITOR E LEITURA ......................................................................................... 18
1.2 LEITURA EM MDIAS DIGITAIS.................................................................... 20
1.3 CARACTERSTICAS DO WEBJORNALISMO ............................................... 26
CAPTULO II GNERO E REPORTAGEM................................................... 31
2.1 GNERO E PRODUO DE SENTIDO .......................................................... 31
2.1.1 Contrato de leitura e de comunicao ......................................................... 34
2.2 REPORTAGEM E WEBREPORTAGEM .......................................................... 35
CAPTULO III NARRATIVA ............................................................................ 43
3.1 NARRATIVA E NARRATIVIDADE ................................................................ 44
3.2 O ENUNCIADOR E AS CATEGORIAS DA ENUNCIAO ........................ 46
3.2.1 Categoria tempo ou Da narrativa aristotlica ao hipertexto ...................... 49
3.2.2. Contexto social como embreagem de espao ............................................... 53
3.3 CATEGORIA PESSOA OU MULTIVOCALIDADE E A NARRATIVA ........ 54
3.4 NARRATIVA HIPERTEXTUAL JORNALSTICA ......................................... 57
3.5 ARQUITETURAS DA INFORMAO ............................................................ 62
CAPTULO IV ANLISE ................................................................................... 67
4.1 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS ........................................................ 68
4.1.1Operadores ..................................................................................................... 69
4.1.1.1 Arquitetura da Informao............................................................................. 69
4.1.1.2 Criao de Mltiplas linhas narrativas e encadeamento narrativo ................ 69
4.1.1.3 Protocolo de Leitura e gramtica da interao .............................................. 70
4.1.2 Corpus de Anlise........................................................................................... 70
4.2 40 ANOS DE MAIO DE 68.................................................................................. 71
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4.2.1 Arquitetura da Informao ........................................................................... 74
4.2.2 Protocolo de Leitura e gramtica da interao............................................ 77
4.2.3 Criao de Mltiplas linhas narrativas e encadeamento narrativo ........... 80
4.2.3.1 Categorias Enunciao e a composio da narrativa ..................................... 82
4.2.3.2 Categoria Pessoa ............................................................................................ 82
4.2.3.3 Categoria Espao ........................................................................................... 84
4.2.3.4 Categoria Tempo ........................................................................................... 86
4.3NAO PALMARES ........................................................................................... 87
4.3.1 Arquitetura da Informao ........................................................................... 88
4.3.2 Protocolo de Leitura e gramtica da interao............................................ 91
4.3.3 Criao de Mltiplas linhas narrativas e encadeamento narrativo ........... 93
4.3.3.1 Categorias Enunciao e a composio da narrativa ..................................... 93
4.3.3.2 Categoria Pessoa ............................................................................................ 94
4.3.3.3 Categoria Espao ........................................................................................... 95
4.3.3.4 Categoria Tempo ........................................................................................... 95
4.4 40 ANOS DO MAIO DE 68 VSNAO PALMARES ........................................ 96
CONSIDERAES FINAIS.................................................................................. 98
REFERNCIAS ...................................................................................................... 102
APNDICES ............................................................................................................ 107
ANEXOS .................................................................................................................. 114
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INTRODUO
Essa dissertao o aprofundamento da monografia de concluso de curso em
jornalismo realizada em 2006 e chamada Estrutura da Narratividade hipertextual nas
grandes reportagens: Uma anlise das coberturas especiais dos canais de msica dos portais
UOL e Terra (SOUZA, 2006). Como elementos em comum com a atual dissertao, temos ascategorias da enunciao como parmetros de estabelecimento da narrativa hipertextual.
Contudo, agora conjugamos esse elemento com a questo da leitura no ciberespao e da
arquitetura da informao.
Acreditamos que a partir destes elementos podemos desenvolver, e tambm testar, um
modelo de anlise de webreportagens utilizando algumas ferramentas metodolgicas apoiadas
em distintos campos como os estudos de linguagem, a semitica e anlise do discurso de vis
francs. O desenvolvimento de um modelo a partir desse instrumental terico o principal
avano em relao monografia, j que ela foi uma primeira aproximao com o objeto,
quando conseguimos categorizar como os links se relacionam dentro de uma cobertura
especial, mas sem relacionar as discusses com os itinerrios possveis propiciados pela
arquitetura da informao.
Essa limitao nos levou a um novo problema de pesquisa: desenvolver um mtodo
que permitisse identificar se as webreportagens criam mltiplas linhas narrativas, que pudesse
ser replicado em diversas produes do mesmo gnero. Nosso objetivo testar um modelo de
anlise de webreportagens a partir da formao de mltiplas linhas narrativas em duas
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produes do gnero:Nao Palmares e 40 anos do maio de 1968. O resultado da monografia
nos levou nossa atual hiptese: a observao da gramtica de interao, arquitetura da
informao e o encadeamento narrativo estabelecido a partir das categorias de enunciao
funcionam como ferramentas para a construo de um modelo de anlise de webreportagens.
O gnero adotado para a seleo do objeto de estudo permanece o mesmo por
compreendermos que por tratar de acontecimentos j concludos a reportagem tm como
caracterstica oferecer uma informao mais aprofundada e, por isso, mais adequada para a
criao de narrativas. Desta vez observamos as webreportagens 40 anos do maio de 681 do
portal G1 eNao Palmares2 daAgncia Brasil. Optamos por esses dois veculos por terem
uma produo regular de reportagens. Uma demonstrao disso o fato de o primeiro manter
um canal de especiais e o outro um de grandes reportagens. Ambos tambm tratam de
acontecimentos que j esto concludos e, por isso, poderiam ter um tempo de execuo maior
e, por conseguinte, uma estrutura mais elaborada.
No primeiro captulo buscamos as diferenas entre as formas de leitura tradicional e na
tela a partir das instncias de produo e no de recepo, assim, tratamos com a leitura
projetada e no a realizada pelo leitor emprico. A primeira diferena nessa projeo de leitura
que abordamos gerada pela introduo da interface e suas conseqncias como uma nova
gramtica de interao, considerada no mesmo nvel das gramticas textual e visual. Depois
vemos a prpria materialidade do meio, atravs da reviso das caractersticas do
webjornalismo: hipertextualidade, multimidialidade, instantaneidade, memria,
personalizao, interatividade e supresso dos limites de espao e tempo. Temos como base
terica autores como Elias Machado, Marcos Palacios, Luciana Mielniczuk, Ramn
Salaverra e Javier Daz Noci.
O segundo captulo dedicado questo do gnero discursivo, inicialmente abordando
como ele cria uma relao de reconhecimento entre produtor e leitor, chamada contrato de
comunicao ou contrato de leitura. Depois vemos quais so as definies do que
reportagem e de suas especificidades no ciberespao. O terceiro captulo um momento
chave para esta pesquisa. Nele definimos os parmetros para o estabelecimento da narrativa
no webjornalismo a partir das categorias da enunciao e da aproximao de Gunnar Liestl a
1 Essa reportagem pode ser acessada no endereo http://g1.globo.com/Sites/Especiais/0,,15530,00.html2 Essa reportagem pode ser acessada no endereo http://www.agenciabrasil.gov.br/grandes-reportagens/2007/10/16/grande_reportagem.2007-10-16.3152825702
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respeito dos conceitos de Gerard Genette. Antes disso, partimos das definies da narrativa
tradicional aristotlica at a sua aplicao, tanto no jornalismo quanto no hipertexto.
No quarto captulo delimitamos os procedimentos metodolgicos com uma descrio
do corpus de pesquisa e como o ferramental apresentado nos captulos anteriores se configura
em um modelo de anlise E operacionalizamos o modelo em cada uma das reportagens
separadamente, seguindo as seguintes etapas: Arquitetura da Informao; Protocolo de Leitura
e Gramtica da Interao; e Criao de Mltiplas linhas narrativas e encadeamento narrativo,
para ento fazermos um cruzamento dos resultados obtidos. Com esse comparativo podemos
identificar diferentes estratgias na composio tanto do protocolo de leitura explcito na mise
en page, como da organizao da informao atravs da arquitetura da informao e, por fim,
a criao das mltiplas linhas narrativas.
Esperamos que a metodologia aqui proposta possa ser aplicada a outros objetos,
respeitando o horizonte de expectativas criado na instaurao do contrato de leitura. Assim
como pretendemos auxiliar na desconstruo da idia de que a narrativa se cria
automaticamente com a estruturao dos itinerrios de leitura. Como veremos ao longo deste
trabalho, defendemos que a construo de uma narrativa depende de elementos mais
complexos do que apenas a linkagem. Acreditamos que o repertrio de percursos oferecido
pelo autor fundamental para a criao de uma narrativa multilinear, mas depende,
necessariamente, do contedo para se desenvolver.
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CAPTULO I - LEITURA
Ao longo dos trs primeiros captulos desta dissertao pretendemos apresentar o
referencial terico que apia cada uma de nossas ferramentas de anlise. Neste primeiro
captulo pretendemos definir alguns dos limites deste estudo e caminhos que iremos seguir.
Analisamos nesta dissertao a relao entre a arquitetura de informao e seus itinerrios deleitura com a criao de narrativas multilineares. Assim, preciso definir o que consideramos
itinerrios de leitura e quais so as diferenas entre a ler na tela e no papel. Tratamos da
questo da leitura a partir da anlise das instncias de produo e no de recepo. Ou seja, a
leitura projetada, potencial, e no a realizada pelo leitor emprico. Nesta leitura projetada
iremos tratar com aspectos especficos, principalmente a interface e a arquitetura da
informao com veremos ao logo deste captulo.
1.1 LEITOR E LEITURA
A primeira diferenciao que devemos fazer aqui entre leitor e leitura e as
conseqncias de optar por ter um ou outro como foco em uma pesquisa. Escolher o primeiro,
aquele que, de acordo com o Dicionrio Aurlio, l, nos leva a uma tradio dos estudos
relacionados aos hbitos de leitura, perfil de consumo, letramento ou, ainda, cognio. Um
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exemplo desse tipo de pesquisa a realizada por Lcia Santaella (2004), que traa um perfil
do leitor segundo sua habilidade de navegao. Ela determina trs tipos:
O primeiro [...] o leitor contemplativo, meditativo da idade pr-industrial, o leitorda era do livro impresso e da imagem expositiva, fixa. O segundo o leitor domundo em movimento, dinmico, mundo hbrido de misturas sgnicas, um leitor que filho da Revoluo Industrial e do aparecimento dos grandes centros urbanos: ohomem na multido. Esse leitor, que nasce com a exploso do jornal e com ouniverso reprodutivo da fotografia e do cinema, atravessa no s a era industrial,mas mantm suas caractersticas bsicas quando se d o advento da revoluoeletrnica, era do apogeu da televiso. O terceiro tipo de leitor aquele que comeaa emergir novos espaos incorpreos da virtualidade. (SANTAELLA, 2004, p.19)
Acreditamos que atravs de uma anlise do processo de leitura definida, tambmsegundo o Dicionrio Aurlio, como ato ou efeito de ler, podemos entender a constituio
desse leitor e de outros possveis ao observar a obra, suas estratgias discursivas e no o
processo cognitivo. Partimos da idia que seja popular ou erudita, ou letrada, a leitura
sempre produo de sentido (GOULEMOT, 1996, p. 107). Para o autor,
Ler dar sentido de conjunto, uma globalizao e uma articulao aos sentidos
produzidos pelas seqncias. No encontrar o sentido desejado pelo autor, o queimplicaria que o prazer do texto se originasse na coincidncia entre o sentidodesejado e o sentido percebido, em um tipo de acordo cultural (GOULEMOT, 1996,p.107-108).
Essa relao do leitor com o texto, para o autor francs, define-se em trs elementos:
uma fisiologia, uma histria e uma biblioteca, como veremos a seguir. Ao considerar o jogo
entre o sentido desejado pelo autor e o constitudo pelo leitor nos aproximamos do conceito
de leitura de Umberto Eco, que inclui os conhecimentos prvios do leitor. Para ele (1993,
p.79), um texto produzido para uma comunidade de leitores e a sua interpretao no ser
definida pelas intenes do autor, mas de acordo com uma complexa estratgia de interaes
que tambm envolve os leitores, ao lado de sua competncia na linguagem enquanto tesouro
social, chamada pelo prprio Eco de enciclopdia. Para entender melhor como se d essa
relao entre autor, texto e leitor podemos destacar quatro entidades: o leitor emprico, o
autor-emprico, o leitor-modelo e o autor-modelo sendo que os dois ltimos so entendidos
apenas como estratgias textuais inscritas na mensagem e os dois primeiros representando
tanto autor quanto leitor propriamente ditos, externos ao texto. O leitor-modelo constitui um
conjunto de condies de xito, textualmente estabelecidas, que devem ser satisfeitas para que
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um texto seja plenamente atualizado no seu contedo potencial (ECO, 2004a, p. 45). A
atualizao referida por Eco faz parte do processo de leitura, quando o leitor-emprico
completa lacunas deixadas pelo autor-emprico no texto com sua compreenso de mundo,
suas experincias pessoais. Para o autor,
[...] um texto um artifcio que tende a produzir seu prprio leitor-modelo. O leitor-emprico aquele que faz uma conjectura sobre o tipo de leitor-modelo postuladopelo texto. O que significa que o leitor emprico aquele que tenta conjecturas nosobre as intenes do autor-emprico, mas sobre as do autor-modelo. O autor-modelo aquele que, como estratgia textual, tende a produzir um certo leitor-modelo. (ECO, 2004b, p.15)
Algumas destas lacunas podem ser entendidas como estratgias presentes no texto que
vo construir um tipo de leitor apto a preench-las. Para Eco, prever o prprio leitor-modelo
no significa somente esperar que ele exista, mas significa tambm mover o texto de modo
a constru-lo (2004a, p. 40). Esse processo de construo se d a partir do reconhecimento
entre o leitor-modelo proposto e o leitor-emprico, e isso se deve ao estabelecimento de uma
srie de fatores contextuais, entre eles, como props Goulemot (1996) ao falar de fisiologia,
considerar o corpo do leitor e a materialidade da obra.
1.2. LEITURA EM MDIAS DIGITAIS
A relao do leitor com o corpo e a materialidade constitui um dos pontos chaves para
entender as mudanas na leitura em mdias digitais. Para Eliane Arbusti Fachinnetto (2005) a
diferena entre os suportes constitui seu significado,
A transmisso eletrnica dos textos e as maneiras de ler que ela impe indicam umaatual revoluo. Ela redefine a materialidade das obras, quebrando o elo fsico queexistia entre o objeto impresso e o texto que ele veicula. O leitor passa a dominar aaparncia e a disposio do texto que aparece na tela do computador. Os gestosmudam segundo os tempos e os lugares, os objetos lidos e as razes de ler. Novasatitudes so inventadas, outras se extinguem(FACHINNETTO, 2005, p.10).
O ponto chave que temos na nova relao com o texto digital a sua virtualizao, que
muda ao mesmo tempo que sua materialidade e a relao com o corpo do leitor. A migrao
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da pgina para a tela altera a forma de leitura e a estruturao deste texto. Chartier destaca que
preciso considerar que a tela no uma pgina, mas sim, um espao em trs dimenses,
que possui profundidade e que nele os textos brotam sucessivamente do fundo da tela para
alcanar a superfcie iluminada (CHARTIER, 1996, p. 31). Alm disso, define que essa nova
textualidade seria suave, mvel e infinita. O autor remete ao estabelecimento do predomnio
do cdex para explicar como a materialidade influi na construo das obras. De maneira
semelhante, as possibilidades (ou as coeres) do livro eletrnico convidam a organizar de
forma diferente o que o livro que ainda nosso distribui de forma necessariamente linear ou
seqencial (CHARTIER, 1996, p. 108). Para ele, a revoluo do texto eletrnico uma
revoluo da tcnica de produo dos textos, do suporte do escrito e das prticas de leitura.
Ana Elisa Ribeiro insere um elemento que acaba por mediar essas trs instncias.
Quando a publicao impressa de livros passou a ser possvel, a maior parte dapopulao europia ainda no dominava a nova tecnologia de leitura e escrita, oalfabeto fundido em tipos mveis ainda no era conhecido dos leitores, que teriamque domin-lo e tornarem-se proficientes na leitura dele (Havelock, 1996). Cadauma das novas tecnologias de suportes para escrever e ler, ou seja, de fixar e deapreender textos, nova interface entre autor e leitor sem que seja necessria apresena de ambos num mesmo contexto (como o caso e a natureza dasconversaes face a face). Da mesma forma, usurio e tela so uma relao nova, emtransio. Um novo suporte de escrita e leitura surge com a leitura em tela e o leitorse v, novamente, s voltas com a construo da histria de uma nova prtica deleitura e com uma nova relao entre o corpo e o objeto. (RIBEIRO, 2003, p.15)
Com a mediao desta interface, novos elementos so inseridos na leitura do texto
eletrnico e exigem novas competncias e conhecimentos do usurio. A pesquisadora Mara
Jess Lamarca Lapuente aponta os mais diretos, como o reconhecimento de cones,
mudanas no cursor, mecanismos de retorno, significado das barras de ferramentas etc3
(LAMARCA LAPUENTE, 2006). Alm disso, ela cita que preciso saber manejar o mouse,
as barras de rolagem e ferramentas de busca. A principal abordagem sobre a eficincia do uso
de elementos de uma interface a usabilidade, que tem em Jacob Nielsen seu maior
representante.
A usabilidade um atributo de qualidade relacionado facilidade do uso de algo.Mais especificamente, refere-se rapidez com que os usurios podem aprender ausar alguma coisa, a eficincia deles ao us-la, o quanto lembram daquilo, seu grau
3 No original: iconos, cambios del cursor, mecanismos de vuelta atrs, estilos tipogrficos, significado de lasbarras de herramientas etc. (Traduo nossa)
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de propenso a erros e o quanto gostam de utiliz-la. Se as pessoas no puderem ouno utilizarem um recurso, ele pode muito bem no existir. (NIELSEN eLORANGER, 2007, p. XVI)
Ana Elisa Ribeiro explica que a usabilidade a medio da qualidade da interao do
usurio com o produto ou sistema website, software, tecnologia mvel ou qualquer
dispositivo operacional (2003, p. 30). Nesta perspectiva, a usabilidade teria quatro focos
prioritrios: facilidade de aprendizado, eficincia de uso, memorizao e freqncia e
gravidade dos erros para a criao de uma interface transparente. Apesar de ser a principal
orientao nas pesquisas relacionadas interface, leitura e letramento digital, a usabilidade
tem um vis funcionalista, no se aplicando presente pesquisa que apresenta uma
abordagem mais prxima aos estudos de linguagem. Como nosso objetivo lidar com a
formao de sentido e no com a eficincia da interao, interessa-nos saber as intenes de
autor ao criar um link, e no quantos cliques so necessrios para chegar a um contedo
especfico. Portanto, preferimos tratar autores como Carlos Scolari (2004) e Lev Manovich
(2001), que observam as interfaces com uma perspectiva semitica.
Em termos semiticos, a interface do computador atua como um cdigo que carrega
um cdigo que carrega mensagens culturais em diferentes mdias. [...] Um cdigopode tambm trazer seu prprio modelo de mundo, seu prprio sistema lgico, ouideologia; por conseguinte, mensagens culturais ou linguagens inteiras criadasutilizando esse cdigo vo seguir esse modelo, sistema ou ideologia. A maioria dasteorias culturais modernas conta com essas noes que vo se referir a idia da notransparncia do cdigo. [...] Em resumo, longe de ser uma janela transparente paraos dados dentro do computador, a interface traz fortes mensagens por si s 4.(MANOVICH, 2001, p. 76).
Assim como Manovich, Carlos Scolari defende que a interface um lugar onde
acontecem processos de significao e por isso nunca ser neutra ou ingnua. Apesar do quedefendem muitos designers e pesquisadores, a interao com as mquinas digitais est longe
de ser uma atividade natural, automtica e transparente5 (SCOLARI, 2004, p.27). A sua
hiptese que antes, durante e depois da ao possvel identificar processos de
4 No original: In semiotic terms, the computer interface acts as a code which carries cultural messages in avariety of media. [...] A code may also provide its own model of the world, its own logical system, or ideology;subsequent cultural messages or whole languages created using this code will be limited by this model, system orideology. Most modern cultural theories rely on these notions which I will refer to together as non-transparency
of the code idea. [...] In short, far from being a transparent window into the data inside a computer, the interfacebring with it strong messages of its own. (Traduo Nossa)5 No original: A pesar de lo que sostienen numerosos diseadores e investigadores, la interaccin con lasmquinas digitales est lejos de ser una actividad automtica, natural y transparente. (Traduo Nossa)
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reconhecimento, intercmbio comunicacional, no nvel textual, entre enunciador e
enunciatrio. Para realizar essa intercambio simblico o texto produz instancias virtuais: um
sujeito enunciador produtor e produto do texto e um sujeito enunciatrio produzido pelo
enunciador e pelo texto.6 (SCOLARI, 2004, p. 27). Assim temos uma aproximao da nossa
referncia inicial da composio do texto atravs das duas instncias discursivas propostas por
Umberto Eco, previamente apresentadas. Seguindo essa lgica, teramos mais um elemento,
mais uma camada, na composio do discurso: a interface ou, como afirma o pesquisador,
[...] a atividade do usurio diante da tela interativa no pode ser reduzida a dinmicaentre texto e mise en page: a essas gramticas (textual e grfica) se agrega umaterceira, uma gramtica da interao que inclui botes e cones para navegao
hipertextual, os dispositivos para a personalizao da interface, os mecanismos defeedback, as seqncias operativas e todas as aes que o usurio deve executar paraobter um resultado predeterminado.A gramtica da interao contribui no s paraimpor uma maneira de ler, mas sobretudo, uma maneira de fazer7. [grifos do autor](SCOLARI, 2004, p. 105)
Essa mise en page, para o autor, inclui estratgias de interao que vo alm apenas da
criao de um projeto grfico e da conjugao dos pacotes multimdia (com textos, imagens,
sons, vdeos etc.). Ela deve construir o leitor tambm a partir das propostas de interao. A
pgina tradicional impressa organizada de forma linear. J a pgina em um ambiente
hipertextual promove uma leitura multidirecional, alm de ser composta por elementos
textuais, imagticos e icnicos. Contudo, Scolari ressalta que esse tipo de leitura no
sinnimo de leitura catica: a estrutura das pginas digitais deve predispor uma srie de
dispositivos que orientem a leitura e hierarquizem os contedos8 (2004, p. 207).
Sem considerar a gramtica da interao, Diaz Noci et alli (2004) fazem um
comparativo entre o aspecto visual em jornais impressos e digitais. Segundo eles, os quatro
objetivos principais, que seriam: hierarquizar contedos, melhorar a legibilidade, dar uma
uniformidade visual e deixar o produto mais atraente praticamente no foram alcanados.
6 No original: Para realizar este intercambio simblico el texto produce dos instancias virtuales: un sujetoenunciador productor y producto del texto y un sujeto enunciatario producido por el enunciador y el texto.(Traduo nossa)7 No original: [..] la actividad del usuario frente a la pantalla interactiva no puede ser reducida a la dinmicaentre texto y la mise en page: a estas dos gramticas (textual y grafica) se agrega una tercera, una gramtica de lainteraccin que incluye los botones e iconos para navegacin hipertextual, los dispositivos para lapersonalizacin de la interfaz, los mecanismos defeedback, las secuencias operativas y todas las acciones que el
usuario debe ejecutar para obtener un resultado predeterminado. La gramtica de la interaccin contribuye noslo a imponer una manera de leer, sino sobre todo, un modo de hacer. (Traduo Nossa)8 No original: no es sinnimo de lectura catica: la estructura textual de las paginas digitales debe predisponeruna serie de dispositivos que orienten la lectura y jerarquicen los contenidos (Traduo Nossa)
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[...] atualmente, a maioria dos jornais eletrnicos apresentam uma caractersticaformal muito parecida entre eles. A prtica normal organizar o contedo da pginaprincipal, como muito autores chamam, em tridente. Isso acontece quando a
apresentao dos itens noticiosos se d na parte central da pgina, deixando a colunada esquerda para a insero dos menus de navegao e a da direita para servios,publicidade e promoes9. (DIAZ NOCI et alli, 2004, p. 5)
Figura 01 Exemplos de pginas com formato tridente no jornalismo brasileiro
Fonte: Autoria prpria
A organizao das pginas no formato de tridente, como nos exemplos do G1 e daFolha on Line (Figura 01), prope o que Chartier (1996) chama de protocolo de leitura. Na
primeira figura vemos a aplicao exata do que explicaram os autores espanhis. Trs eixos
de leitura colocando no centro notcias, direita a publicidade e esquerda os menus,
hierarquizando a informao, dispondo o mais importante acima e decrescendo em nvel de
importncia a medida em que se afasta do topo. Chartier postula uma existncia pacfica entre
9 No original: [...] at present, the majority of the electronic newspapers present a formal characteristic that is
very similar amongst themselves. The normal practice is to organise the contents of the front page by means ofwhat some authors call trident. This is a question of presenting the news items in the central part of the page,leaving the left-hand column for inserting the navigation menu, and the space on the right-hand side for services,advertising and promotions. (Traduo Nossa)
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os protocolos de leitura e a ao criativa do leitor. Ela deve ser empreendida cruzando-se, de
um lado, os protocolos de leitura adequados aos diferentes grupos de leitores e, de outro lado,
os traos e representaes de suas prticas (CHARTIER, 1996, p. 89). Segundo ele,
[...] todo autor, todo escrito impe uma ordem, uma postura, uma atitude de leitura.Que seja explicitamente afirmada pelo escritor ou produzida mecanicamente pelamaquinria do texto, inscrita na letra da obra como tambm nos dispositivos de suaimpresso, o protocolo da leitura define quais devem ser a interpretao correta e ouso adequado do texto, ao mesmo tempo que esboa seu leitor ideal. Deste ltimo,autores e editores tm sempre uma clara representao: so as competncias quesupem nele que guiam seu trabalho de escrita e de edio; so os pensamentos e ascondutas que desejam nele que fundam seus esforos e efeitos de persuaso [...](CHARTIER, 1996, p. 20)
Dessa forma, a segunda funo desta mise en page, alm de propor um interao,
sugerir diferentes seqncias ao leitor, que vai optar por uma apenas. Ento, alm de propor a
interao atravs de estabelecimento de uma interface, a pgina prope uma ordenao do
contedo e, por conseguinte, um protocolo de leitura.
Chartier destaca que no texto impresso os dispositivos tipogrficos tm, portanto,
tanta importncia, ou at mais, do que os sinais textuais pois so eles que do suportes
mveis s possveis atualizaes do texto (1996, p. 100). Com isso, podemos entender aimportncia dos elementos paratextuais nas sugestes de direo e na contextualizao,
principalmente no contexto das leituras em mdia digital, onde h a necessidade de novas
habilidades por parte do leitor, como vimos ao longo deste captulo. Para Palcios e
Mielniczuk os paratextos seriam os textos que acompanham, envolvem, delimitam o texto
principal. Corresponderiam a uma zona de transio e de transao entre o texto (para o autor,
especificamente o livro) e o leitor (2001, p. 8). Podemos considerar esses elementos tendo
tanto uma natureza textual quanto grfica. Os autores defendem a idia de que o link umelemento paratextual da escrita em hipertexto. Talvez no o nico, mas o que se apresenta
com maior evidncia na atual fase do jornalismo desenvolvido para a Web (PALACIOS e
MIELNICZUK, 2001, p. 9). O link um dos personagens mais importantes deste estudo.
Voltaremos a ele ao tratar da hipertextualidade e do estabelecimento de narrativas no
ciberespao. Depois de tratarmos das estratgias discursivas, da projeo do corpo atravs da
interface e da relao entre esses dois elementos, precisamos abordar o que define a
materialidade do meio, ou seja, as caractersticas da internet. Veremos mais especificamente
essas caractersticas aplicadas ao webjornalismo, que nosso objeto.
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1.3 CARACTERSTICAS DO WEBJORNALISMO
O jornalismo na web est inserido em um ambiente comunicacional que possibilita a
produo de um texto especfico, explorando todas as potencialidades da rede. Para redao
em mdia digital (cf. CANAVILHAS, 2001) so consideradas, por estudiosos do
webjornalismo como Bardoel e Deuze (s/d), as seguintes propriedades: interatividade,
customizao de contedo, hipertextualidade e multimidialidade, que permitem o uso das
inovaes proporcionadas pela internet. Palacios (2002) acrescenta outras trs: Memria,
Instantaneidade e Supresso dos limites de espao e tempo.
Algumas das caractersticas da web so oriundas de outros meios, mas so
potencializadas na rede mundial de computadores; outras surgiram com a Internet. A
interatividade uma das que passaram por essa reconfigurao. Diferente da participao de
leitores atravs de cartas, ouvintes ou telespectadores por telefone, na rede, ela considerada
capacidade de atuao do leitor no fazer jornalstico (cf. BARDOEL E DEUZE, s/d). Essa
participao vista em diferentes nveis por diversos autores. Para Machado e Palacios
(1997), a simples navegao no hipertexto j configura uma situao de interao. Andr
Lemos (1997, p. 01) considera, alm desta interatividade como uma ao dialgica entre o
homem e a tcnica, que pode se dar com o hipertexto, outras duas, com a mquina e com
outras pessoas. Na mesma linha, Luciana Mielniczuk (2003) considera a interatividade no
como um processo estanque, mas processos integrados, que ela denomina de multi-
interativos. A autora destaca que o email a forma mais simples e usual de participao do
leitor e que os fruns, outra opo de fcil gerenciamento e implantao, tm ganhado espao
nos noticiosos digitais. Para Canavilhas (2001), a notcia apenas o passo inicial para o
processo jornalstico na web, que pressupe a participao do leitor como decisiva:
No webjornalismo, a notcia deve ser encarada como o princpio de algo e no umfim em si prpria. Deve funcionar apenas como o "tiro de partida" para umadiscusso com os leitores. Para alm da introduo de diferentes pontos de vistaenriquecer a notcia, um maior nmero de comentrios corresponde a um maiornmero de visitas, o que apreciado pelos leitores. (CANAVILHAS, 2001)
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Ao contrrio de Andr Lemos, os pesquisadores Elias Machado e Luciana Mielniczuk
consideram o simples clique como interatividade e aprofundam a nfase na participao dos
leitores, dada por Canavilhas. Lev Manovich (2001) discute a participao do leitor e retoma
com uma abordagem diferenciada a distino feita por Andr Lemos (1997) entre interao e
interatividade. Manovich considera apertar botes e escolher links com uma ao psicolgica
de interao. Para ele, o processo de formao de hipteses, memria ou identificao que
demandam a compreenso de um texto ou imagem qualquer so equivocadamente associados
a apenas uma estrutura de links pr-definida. Portanto, consideramos como interatividade a
associao de links que [...] objetifique o processo de associao, normalmente tomado como
central do pensamento humano10 (MANOVICH, 2001, p. 61), ou seja, que levem o leitor a
um fluxo de informaes encadeadas.
A customizao de contedo outra forma de integrar o leitor no processo jornalstico
como editor, escolhendo receber s o que lhe interessa. Com ela, possvel pr-selecionar o
contedo que ser carregado em um website ou newsletteratravs do cadastro de usurios ou
configuraes salvas anteriormente e ativadas atravs de cookies11. Para Machado e Palacios
(1997), com esse processo, nas redes telemticas, a primeira vez que coexistem na
disseminao de informao, a massividade, interatividade e personalizao. A sistematizao
dos tipos de personalizao considera trs modelos distintos: a personalizao de servios,
personalizao de contedo e a personalizao de fontes (PALACIOS apud SILVA Jr., 2000,
p.66). Esse tipo de servio no exclusividade da web, mais uma das caractersticas
potencializadas pelas redes telemticas. Os primeiros servios de notcias que definiam seu
contedo de acordo com as escolhas de seus leitores eram transmitidos via fax, na segunda
metade dos anos de 1980.
A segmentao, tanto em veculos impressos quanto nas rdios e TVs, principalmente
via cabo, outra evidncia desse direcionamento em outros suportes. A instantaneidade ,
tambm, uma caracterstica recorrente na mdia tradicional. Nas TVs e, primeiramente, nas
rdios, as coberturas ao vivo transmitem em tempo real, ou pelo menos com uma diferena
temporal cada vez menor, os acontecimentos. A insero deste recurso se deu no jornalismo
10 No original: [...] objectifies the process of associations, often take to be central to human thinking. (Traduonossa)11 Os cookies so arquivos texto (.txt) enviados pelo servidor web para os browsers que visitam suas pginas.Ele armazenado pelo browsere ativado toda a vez que a pgina que o gerou acessada. Os cookies funcionam
para informar aos servidores web quantas vezes uma mesma pgina acessada pelo mesmo browserou servir,tambm, para ativar pginas customizadas para um usurio. DICIONRIO DE Informatiqus. Disponvel emhttp://www.ac-grenoble.fr/cite.scolaire.internationale/Peda/Discipli/CDI/RDI/informat.htm. Acesso em: 23 mar2006
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com o uso do telefone e do telgrafo como ferramentas de transmisso de informaes.
Ao contrrio da instantaneidade, a supresso dos limites de espao e tempo uma
diferenciao da Internet em relao mdia tradicional. De maneira prtica, a primeira vez
que o jornalista no tem limites de espao, como no impresso, ou de tempo, como nos casos
da TV e do rdio. Uma das utilizaes possveis desta caracterstica apontada pelo autor o
uso de bancos de dados no armazenamento do contedo noticioso. Desta forma, contando
com ndices ou busca atravs de palavras-chave o material pode ser acessado tanto por
jornalistas, quanto por leitores. A associao desta quebra dos limites fsicos com as demais
caractersticas potencializadas pela web diferencia o jornalismo realizado neste ambiente da
forma que realizado nos suportes anteriores.
A juno da hipertextualidade com a memria rompe os limites espaciais etemporais que foram, desde sempre, uma marca essencial da prtica jornalsticaem todos os seus suportes pr-telemticos. Tal situao de ruptura fora o terico adebruar-se sobre as especificidades dessa nova prtica hipertextual (PALACIOS,2005, p. 3)
A hipertextualidade a principal responsvel pela estrutura da web. Essa formatao
possibilita todas as demais caractersticas das redes. Podemos, de maneira elementar,
caracterizar o hipertexto como a ligao entre textos por meio de links e essa a base de todo
o webjornalismo.
A hipertextualidade antecede todas as outras caractersticas, porque a implantaodessas s acontece atravs daquela. Em outras palavras, para aplicar qualquerrecurso relacionado s caractersticas da multimidialidade, interatividade, memria,personalizao e atualizao contnua preciso faz-lo atravs do esquema delexias e links. [...]
Para confirmar a afirmao de que o hipertexto a mais importante das
caractersticas, basta fazermos algumas perguntas: existemultimidialidade/convergncia sem o hipertexto? a interatividade, enquantosituao de navegao, ocorre sem o hipertexto? possvel acessar os serviosreferentes memria, atualizao contnua e personalizao seno atravs dohipertexto? Para todas as questes, a resposta parece ser no. Alis, cabe ainda umaoutra pergunta: existe o webjornal sem o hipertexto? Tambm a resposta no. Pormais arraigado aos formatos dos suportes anteriores, sempre o webjornal estinscrito sob a lgica hipertextual, utilizando-se dos recursos de textos fragmentadosem lexias interconectados por links. (MIELNICZUK, 2003, pp. 159-160)
Essa interligao entre os documentos propicia ao texto na web uma organizao
prpria, fragmentada, e que permite a complementao e a contraposio de informaes
agrupadas em blocos de texto. Beatriz Ribas (2004) destaca que a dinmica da Internet
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marcada pelo rpido acesso aos diferentes blocos. Um mosaico de informaes permite
acesso a diferentes ngulos e percepes sobre um mesmo tema (RIBAS, 2004, p. 3). Essa
organizao da informao atinge diretamente a organizao do texto jornalstico. Para Robert
Huesca e Brenda Dervin o hipertexto possibilita ao jornalismo explorar diversos enfoques da
notcia,
[...] hipertextos abarcam a noo de contradio, fragmentao, justaposio, epluralismo, mais do que a busca pela verdade que o corao das empresas
jornalsticas tradicionais (Bolter, 1991; Murray, 1997). Essa abordagem descritono apenas como mais responsvel com as qualidades das novas mdias digitais,mas mais compatveis com os desafios das perspectivas ps-modernas que nomais acreditam em uma realidade, uma simples integradora viso de mundo, ou
ainda, na credibilidade de apenas um ngulo de percepo (Murray, 1997, p. 161).Esse tipo de interrupo de uma viso unificada da realidade cria o contexto osconvidativos potenciais do hipertexto12. (HUESCA e DERVIN, 1999)
A possibilidade de abarcar diferentes realidades e pontos de vista na cobertura de um
fato cria a idia de imerso. Mielniczuk defende que a narrativa na web, alm de hipertextual,
imersiva que permite ao leitor navegar atravs da informao em multimdia (2003, p.
30). Marcos Palacios (1999) afirma que, no contexto do webjornalismo, a multimidialidade
representa a convergncia de udio, vdeo e imagens na narrao do fato jornalstico. Essefenmeno, para o autor (2005, p. 7), mais a potencializao dos suportes anteriores do que
uma ruptura. De acordo com Canavilhas (2001), a introduo de novos elementos textuais faz
com que o usurio explore a notcia de uma maneira mais pessoal. Ele no pode ser visto mais
apenas como leitor, telespectador ou ouvinte j que a webnotcia integra recursos
multimiditicos, exigindo uma leitura multilinear (CANAVILHAS, 2001, p. 4). Podemos,
desta forma, delimitar a multimidialidade como um importante recurso da hipertextualidade.
Isso porque ela a associa por meio de links a outros elementos textuais, tpicos dos demais
suportes, exige uma leitura multilinear, proporciona ao usurio uma viso mais completa dos
fatos com diversas vises (multivocalidade), alm de poder criar um ambiente interativo de
imerso, com imagens, udio e vdeo.
12 No original: hypertexts embrace notions of contradiction, fragmentation, juxtaposition, and pluralism, ratherthan pursuing "truth" that is at the heart of the traditional journalistic enterprise (Bolter, 1991; Murray, 1997).This approach is described not only as more responsive to the qualities of new, digital media, but as more
compatible with challenges from postmodern perspectives that "no longer believe[s] in a single reality, a singleintegrating view of the world, or even the reliability of a single angle of perception" (Murray, 1997, p. 161). Thissort of interruption in the unified view of reality creates the context for the inviting potentials of hypertext.(Traduo nossa)
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A ltima das caractersticas da Internet que abordaremos aqui, a memria, est
vinculada a muitas daquelas citadas neste tpico. Esta caracterstica est intimamente
associada supresso de espao e tempo e hipertextualidade. Atravs dela, tanto o jornalista
quanto o usurio podem ter acesso a um acervo infinito de informaes organizadas por
bancos de dados e ferramentas de busca. Mielniczuk (2003) ressalta que em suportes
anteriores Internet esse recurso apresenta-se, tipicamente, em arquivos de edies antigas,
em veculos impressos, ou de fitas de udio e vdeo, em Rdios e TVs. Palacios considera
uma verdadeira ruptura, em relao recuperao de informaes, a congruncia de trs
fatores: interatividade, hipertextualidade e instantaneidade.
Na Web, no entanto, a conjugao de Memria com Instantaneidade,Hipertextualidade e Interactividade, bem como a inexistncia de limitaes dearmazenamento de informao, potencializam de tal forma a Memria que cremosser legtimo afirmar-se que temos nessa combinao de caractersticas ecircunstncias uma Ruptura com relao aos suportes mediticos anteriores.Voltamos a insistir que ao fazermos esse tipo de afirmao, estamos a nos referir apossibilidades que se abrem tanto para os Produtores quanto para os Utentes daInformao Jornalstica. A realidade da prtica jornalstica na Web aproxima-se oudistancia-se de tais possibilidades abertas, conforme os contextos e produtosconcretos disponveis hoje na Internet. (PALACIOS, 2002, p. 7)
A criao desta memria mltipla, instantnea e cumulativa interfere diretamente na
narrativa jornalstica na web, como veremos detalhadamente no captulo 3. Portanto, em
relao ao nosso objeto, vimos as caractersticas da web aplicadas ao jornalismo para
entendermos a sua materialidade neste ambiente. Inclumos a interface como representao do
corpo do leitor no referido meio. Alm disso, discutimos a sua funo na formao de uma
nova gramtica da interao, associada textual e grfica. Assim, consideramos que a
reportagem, que veremos no prximo captulo, conta em sua materialidade com as seis
caractersticas do webjornalismo. Ou seja, suas caractersticas so tambm as do meio.Contudo, preciso considerar tambm outros elementos para sua constituio, como veremos
a seguir.
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CAPTULO II - GNERO E REPORTAGEM
Neste captulo pretendemos traar um panorama dos conceitos de gnero discursivo e
gnero jornalstico para, a partir deles, abordarmos a reportagem e suas especificidades no
ciberespao. Mais do que apenas uma retomada de tipologias, visamos ressaltar a importncia
do estabelecimento e do reconhecimento do gnero discursivo no processo de comunicao. Adeterminao do gnero orienta como ser sua leitura, o que se espera de uma reportagem, no
nosso caso. Alm disso, ao entender a natureza do objeto analisado podemos compreender a
importncia do estabelecimento das mltiplas narrativas e do aprofundamento da informao.
Essa compreenso fundamental para a aplicabilidade do nosso modelo de anlise porque ela
serve de parmetro para leitura dos padres que vo ser detectados com a aplicao dos
operadores.
2.1. GNERO E PRODUO DE SENTIDO
De acordo com Patrick Charaudeau e Dominique Maingueneau (2004), a noo de
gnero remonta Antiguidade. Sua tradio foi iniciada com a crtica literria, que classifica
as obras de acordo com suas caractersticas. Entretanto, os estudiosos de linguagem reforam
que no uso corrente, ela um meio para o indivduo localizar-se no conjunto das produes
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textuais (2004, p. 249). Segundo os autores, na tradio literria os gneros tm como funo
classificar e selecionar textos literrios, mas os critrios utilizados no so os mesmos desde o
incio desta prtica. Outras reas de estudos como a semitica, anlise do discurso e anlise
textual aplicam essa noo a outros tipos de textos. Charaudeau e Maingueneau (2004)
distinguem algumas correntes tericas e seus diferentes pontos de vista:
- Um ponto de vista funcional, desenvolvido por certos analistas, que procuramestabelecer funes com base na atividade linguageira, a partir das quais asprodues textuais podem ser classificadas segundo o plo do ato de comunicaoem direo ao qual elas so orientadas.
- Um ponto de vista enunciativo, iniciado por Benveniste (1966) que,apoiando-se no aparelho formal de enunciao props uma oposio entre
discurso e histria freqentemente reformulada em discurso VS. narrativa.- Um ponto de vista textual, mais voltado para a organizao dos textos, queprocura definir a regularidade composicional desses textos, propondo, por exemplo,o que fez Adam, um nvel intermedirio entre a frase e o texto chamado seqencialque tem um valor prototpico de narrativa, descrio, argumentao etc.
- Um ponto de vista comunicacional, que confere a esse termo um sentidoamplo, ainda que com orientaes diferentes. Para Bakhtin (1984: 267), porexemplo, os gneros dependem da natureza comunicacional da troca verbal, o quelhe permite distinguir duas grandes categorias de base: produes naturais,espontneas, pertencentes aos gneros primrios (aqueles da vida cotidiana), eprodues construdas, institucionalizadas, pertencentes aos gnerossecundrios (aquelas produes elaboradas, literrias, cientficas etc) que
derivariam dos primrios. (CHARAUDEAU E MAINGUENEAU, 2004, p.250)
Em uma obra anterior, Maingueneau aponta que em uma concepo tradicional os
gneros eram como espcies de quadros nos quais se fazia deslizar um contedo
independente deles (2000, p. 74), mas que com a influncia de correntes mais pragmticas
algumas limitaes para que se constitussem definies de gneros se estabeleceram, entre
elas: o status respectivo dos enunciadores e dos co-enunciadores; as circunstncias temporais
e locais da enunciao; o suporte e os modos de difuso; os temas que podem ser
introduzidos; extenso, o modo de organizao etc. (MAINGUENEAU, 2000, p. 74).
O pesquisador destaca o papel fundamental do suporte na emergncia e na
estabilizao de um gnero. Alm disso, refora que o gnero de discurso tem uma
incidncia decisiva sobre a interpretao dos enunciados. No podemos interpretar um
enunciado se no sabemos a qual gnero relacion-lo (2000, p. 75). Dentre os diversos
pontos de vista, consideramos o comunicacional como o mais adequado para nossa pesquisa
por estar centrado nas trocas verbais e considerar que elas so fundamentais para o
estabelecimento de um horizonte de expectativas, sem o qual, a situao de comunicao no
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se desenvolve com propriedade. A negociao destas condies que criam um ambiente
comunicativo favorvel se d atravs de um contrato de comunicao. Contudo, antes de nos
aprofundarmos neste conceito, precisamos buscar elementos ainda mais bsicos do que
compe um gnero.
Para Patrick Charaudeau (2006) objetos textuais que possuem as mesmas
caractersticas podem ser integrados em uma mesma classe textual ou de gnero. Segundo ele,
trs aspectos devem ser tomados em considerao para determinar uma classe textual: o de
lugar de construo de sentido do texto, o de grau de generalidade das caractersticas que
definem a classe, o do modo de organizao discursiva dos textos [grifos do autor] (2006, p.
204). Em relao informao miditica, mais especificamente, o autor francs prope a
definio de gnero a partir do cruzamento dos tipos: de instncia enunciativa, modo
discursivo, contedo e dispositivo. O tipo de instncia enunciativa caracteriza-se pela
origem do sujeito falante e seu grau de implicao [grifos do autor] (CHARAUDEAU, 2006,
p.206). Essa origem estaria relacionada ao pertencimento do sujeito a um veculo de mdia.
Outros fatores seriam, a forma que ele apresentado na mdia e a colocao desta mdia em
relao s outras. O tipo de modo discursivo seria a forma como o acontecimento miditico
foi transformado em notcia. Charaudeau (2006) considera trs categorias de modos
discursivos, dos acontecimentos: relatados, comentados e provocados. A reportagem, nesta
categoria, para ele, estaria colocada entre os relatados. J o contedo temtico poderia ser
visto em dois nveis: o da seo e o da rubrica. Poderamos citar como exemplo a seo de
Esportes como o macrodomnio abordado pela notcia. Futebol seria uma rubrica, dentro da
seo Esportes, uma juno de um modo discursivo e um tema particular. Por ltimo est o
tipo de dispositivo, que remonta a uma materialidade prpria do suporte miditico. As
especificidades do texto para cada uma delas: imprensa, rdio, TV ou web diferencia os
gneros. O autor cita como exemplo as diferenas entre uma entrevista em rdio e outra nateleviso a simples insero de imagens muda o gnero de uma para a outra. Antes de
partimos para a constituio do gnero reportagem no jornalismo, temos que retomar o
conceito de contrato, que fundamental, no para entender o que ela, a reportagem, , mas o
que se espera dela.
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2.1.1 Contrato de leitura e de comunicao
Charaudeau e Maingueneau definem o contrato de comunicao como a condio
para os parceiros de um ato de linguagem se compreenderem minimamente e poderem
interagir, co-construindo o sentido, que a meta essencial de qualquer ato de comunicao
(2004, p. 130). Para os autores, essa compreenso explica o sucesso, quando no h s
reconhecimento do enunciado no sentido lingstico, mas quando do que quer-dizer o
locutor.
A noo de contrato pressupe que os indivduos pertencentes a um mesmo corpode prticas sociais sejam suscetveis de estarem de acordo sobre as representaeslinguageiras dessas prticas sociais (Charaudeau, 1983:50). A cada gnero dediscurso ento associado um contrato especfico. (MAINGUENEAU, 2000, p.36)
Essa relao entre gnero e contrato fundamental para o desenvolvimento dessa
pesquisa porque ela determina um acordo de compartilhamento de expectativas entre as
instncias de produo e recepo. Ela vale tanto para o contrato de comunicao propostopor Charaudeau (1994) quanto para o Contrato de Leitura proposto por Vern.
A nfase inicial de Eliseo Vern est centrada na produo de sentidos de um textofeita atravs de sua relao com outros elementos que compem o circuito dalinguagem (cf. ibidem, p.190). Uma abordagem que se proponha a aplicar, aosfenmenos de sentido, o modelo de um sistema produtivo, deve postular relaessistemticas entre conjuntos significantes dados (atestados), por um lado, e osaspectos fundamentais de todo sistema produtivo, de outro: produo, circulao,consumo (ibidem). Tal aproximao com o sistema produtivo pode ser percebida
at mesmo pela metfora empregada na proposta de Vern contrato de leitura e dar tambm o tom de sua preocupao, voltada essencialmente para o consumodo contedo meditico (SPANNENBERG, 2004, pp. 29-30).
Mesmo considerando outros elementos na interao entre as instncias de produo e
recepo, o autor argentino trata fundamentalmente das relaes entre essas duas partes. Para
ele, uma anlise do dispositivo de enunciao o que chamo de uma anlise na produo:
mas o contrato se cumpre, mais ou menos bem, no leitor: no reconhecimento [grifos do
autor] (VERN, 2004, p. 234). Outro pesquisador, Edson Dalmonte, destaca que para Vern
a instncia de produo baseia-se num conjunto de obrigaes ou constrangimentos
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discursivos a serem respeitados (2008, p. 16). O grau de reconhecimento das estratgias do
enunciador, para ele, pode afastar ou aproximar o pblico. O pesquisador reconhece que h
pontos em comum entre as duas abordagens relativas ao tratamento do contrato.
Para Charaudeau (1997), o ato comunicacional depende de uma relao deintencionalidade entre as instncias, o que define trs lugares: enunciador,destinatrio e o texto, resultado de um jogo de intencionalidades entre as partesprecedentes. O interessante perceber que o texto, ao mesmo tempo processo eresultado de um desejo da parte que envia e da que recebe. [...] Na perspectiva docontrato de leitura, os dispositivos de enunciao cumprem duplo papel: estabelecervnculo com o leitor e marcar a diferena do produto em relao ao concorrente. Daparte do destinatrio, a interpretao do posicionamento do enunciado a premissabsica. (DALMONTE, 2008, pp. 29-41)
Como neste momento nos interessa mais a relao entre o enunciador, o destinatrio e
o texto daremos nfase abordagem de Charaudeau na composio tanto do gnero quanto do
contrato que ele estabelece. Em sua prpria definio, ele afirma que, a reportagem
jornalstica trata de um fenmeno social ou poltico, tentando explic-lo. Um fenmeno
social significa uma srie de fatos que se produzem no espao pblico cuja combinao e/ou
encadeamento representa, de uma maneira ou de outra, uma desordem social ou um enigma
no qual o homem est implicado (CHARAUDEAU, 2006, p. 221). Contudo, antes de tomara sua definio como definitiva, faremos uma retomada dos estudos de gnero no Brasil para
esboar nossa prpria abordagem da sua verso no ciberespao.
2.2 REPORTAGEM E WEBREPORTAGEM
As discusses sobre conceitos e classificaes dos gneros no jornalismo impresso
remontam dcada de 60, com as obras de Luiz Beltro. Na busca pela sistematizao das
pesquisas em jornalismo, o acadmico subdividiu as produes de impresso em informativo,
interpretativo e opinativo13. Cerca de vinte anos depois outro pesquisador, Jos Marques de
Melo, realizou uma releitura das obras de Beltro, levando o estudo de gneros a um lugar de
destaque na pesquisa brasileira em comunicao.
13 O presente captulo se concentra no jornalismo interpretativo, somente apresentando com brevidade os demais,por se tratar do foco da pesquisa mais especificamente a reportagem.
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As classificaes dos dois autores, embora apresentem algumas divergncias
principalmente no que diz respeito ao enquadramento dos tipos de texto, seguem padres
semelhantes. Como informativo compreende-se a cobertura diria de informaes, que
envolve o hard news14. Para Beltro, um dos subgneros fundamentais do jornalismo
informativo a notcia, que ele compreende como a narrao dos ltimos fatos ocorridos ou
com possibilidade de ocorrer, em qualquer campo de atividade e que, no julgamento do
jornalista, interessam ou tm importncia para o pblico a que se dirigem (BELTRO, 1969,
p. 82).
J o jornalismo interpretativo busca compreender e trabalhar com dados em
aprofundamento, mais elaborados e com ampliao das vozes atribudas s fontes de
informao. Trata-se, ento, como o nome expressa, de um gnero que busca interpretar
acontecimentos e dados, apresentando uma viso mais ampla dos temas tratados (BAHIA,
1990; VILAS BOAS, 1996). Beltro (1976) acredita que funo do jornalismo interpretativo
apresentar uma multiplicidade de pontos de vista sobre o acontecimento, permitindo, desta
forma, que o leitor tenha subsdios para tirar suas concluses acerca do assunto. Entre os
gneros principais do interpretativo est a reportagem em profundidade, conceituada por
Beltro.
O texto interpretativo utilizado no meio impresso com mais freqncia embora no
com exclusividade em revistas, cadernos especiais e suplementos. Isso se deve
periodicidade destas publicaes que, sendo divulgados semanal, quinzenal ou mensalmente
oferecem ao jornalista mais tempo para a investigao dos fatos, para a ampliao das fontes
consultadas, para o cruzamento e anlises dos dados coletados e para a adoo de uma
narrativa mais criativa. [...] o texto de uma revista semanal mais investigativo e
interpretativo, menos objetivo e mais criativo (VILAS BOAS, 1996, p. 41). Ainda segundo o
autor, este gnero se apega mais aos fatos, primando sempre por aprofundamento e pela
apresentao de aspectos diversos da mesma informao.
A terceira classificao apresenta o jornalismo opinativo, composta, como o nome
expressa, por textos que demonstram a opinio de seus autores, com estrutura e objetivo que
14 Segundo Beltro (1969), a reportagem insere-se no jornalismo informativo. Entretanto, importante ressaltarque, por definio, o que compreendemos por reportagem ao definirmos objeto de pesquisa da presentedissertao enquadra-se no conceito de reportagem em profundidade. Ainda de acordo com Beltro, a
reportagem em profundidade busca instigar o leitor e no se restringir ao simples relato da informao, enquantoa reportagem classificada como informativa o relato de uma ocorrncia de interesse coletivo, testemunhada oucolhida na fonte por um jornalista e oferecida ao pblico, em forma especial e atravs dos veculos jornalsticos(BELTRO, 1969, p. 195).
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variam de acordo com o gnero em questo (BAHIA, 1990). Trata-se, aqui, de textos que se
inserem em meios de comunicao de distintos formatos e periodicidades.
Os estudos sobre os gneros jornalsticos, suas especificidades e sua insero e/ou
adaptao aos meios de comunicao originam-se nas discusses do impresso. Por isso, para
ampliar o olhar acerca do gnero webreportagem, fundamental compreender seu princpio,
os autores e propostas que so fonte para as definies iniciais que permeiam, de maneira
mais ou menos intensa, os debates sobre o fazer jornalstico, seu discurso e sua finalidade, isto
, seus pressupostos e definies de gnero. Pretendemos, portanto, discutir as caractersticas,
especificidades e classificaes da reportagem em impresso, inserida no jornalismo
interpretativo, para, atravs dela, ampliarmos o debate sobre a construo de webreportagens,
gnero ainda pouco debatido no campo acadmico e carente de sistematizaes e anlises.
Jos Marques de Melo (1994, p. 65) acredita que a reportagem o relato ampliado de
um acontecimento que j repercutiu no organismo social e produziu alteraes que so
percebidas pela instituio jornalstica. Ainda que tenha sido conceituada, como dito,
originalmente para o jornalismo impresso, esse gnero adotado por todos os meios de
comunicao como uma ferramenta para ampliao de informaes em contedo, seja nos
meios eletrnicos convencionais, digitais ou impressos.
Observa-se, ao pensar a conceituao da reportagem que, embora ela se origine de
uma notcia, ambas no podem ser consideradas como sinnimos. Isso porque quando uma
determinada notcia possui complexidade e variedade de informaes contextuais necessrias
para demandar uma reportagem, assume outro carter, especfico e no necessariamente
vinculado factualidade, que lhe atribui outro papel como informao. Vilas Boas (1996, p.
43) lembra que, mesmo com essa reconfigurao, uma reportagem nunca perde seu potencial
noticioso e que nem sempre uma notcia ir demandar uma ampliao como esta, que vai
alm de uma simples compilao de informaes relacionadas a um fato, exigindo crtica,
observao e anlise.
Martnez-Costa e Dez Unzueta (2005), ao tratarem especificamente da reportagem em
radiojornalismo, ressaltam que o objetivo central est em explicar um problema, argumentar
uma tese ou narrar uma ao que se refere a um tema de atualidade informativa, portanto, com
potencial noticioso. Para isso, lana mo de distintas estratgias narrativas, como o uso de
personagens, a construo de histrias e a retomada de dados e contextos sobre o fato.
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Ao contar uma histria em uma reportagem, segundo Coimbra (1993), o jornalista
pode utilizar algumas ferramentas discursivas e de apurao. Esses instrumentais
determinariam, segundo o autor, o estilo de texto desenvolvido. Primariamente, a
classificao envolve trs tipos de reportagem: descritiva, narrativa e dissertativa. Coimbra
ressalta, no entanto, que as caractersticas de cada um dos estilos de reportagem no as fazem
excludentes, mas permitem que se crie, ainda, categorias mistas, em que as reportagens
fundem suas especificidades em busca das melhores estratgias para contar a histria ao
leitor.
A reportagem descritiva, explica Coimbra, trabalha com as possibilidades de
percepo do sujeito. Assim, descreve, como o nome diz, elementos captados pelos sentidos,
focalizando sua abordagem no sujeito e reforando os atributos dos personagens. J a
reportagem narrativa apia seu texto em fatos organizados a partir de uma relao de
anterioridade e posterioridade, mostrando, por exemplo, as alteraes identificadas no estado
das pessoas e das coisas. Trata-se, ainda segundo Coimbra, do estilo mais adotado no
jornalismo, justamente por trabalhar com as relaes de tempo e, desta maneira, aproximar a
histria do leitor.
J a reportagem dissertativa pode ser a classificao mais diferente entre as trs
essenciais propostas pelo autor. Ela traz uma estrutura mais argumentativa e menos de relato,
em que se tem como objetivo a exposio ou a explicao, interpretao de idias e de
acontecimentos. Trata-se de um raciocnio mais dedutivo e articulado, com razes
argumentativas fortes. Desta forma, podemos afirmar que a reportagem dissertativa deve
possuir um argumento central que, acompanhado de idias secundrias, se encadeiam
formando um raciocnio interpretativo. Para compor essa narrativa complexa, o locutor
utiliza-se de diversas ferramentas lingsticas, como a deduo, a comparao, o confronto, a
analogia, a anlise, a causalidade, entre outros, para sustentar seu discurso (COIMBRA,
1993).
Para chegar at essas informaes e construir uma reportagem de maneira
sistematizada, Mara del Pilar Martnez-Costa e Dez Unzueta (2005) acreditam que
importante seguir alguns passos. Desta forma, a complexidade e o aprofundamento da
produo jornalstica estariam assegurados, independente do meio de comunicao a que se
destine a reportagem. A primeira etapa refere-se identificao da idia e conseqente
estabelecimento dos propsitos da cobertura. Ao saber dessas definies, o reprter pode
definir o estilo da reportagem ao que pretende nortear o processo de apurao das
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informaes e que apresenta papel crucial na elaborao de uma reportagem para internet, por
exemplo, j que define o fio condutor do texto e da busca por informaes, personagens e
fontes. Ainda neste momento, as possibilidades que o meio de comunicao adotado oferece
apresentam-se ao reprter, que deve pensar no somente no carter de aprofundamento do
gnero, mas tambm no potencial multimiditico e de convergncia que a web propicia.
Aliado aos recursos lingsticos que tem ao seu dispor, s informaes coletadas,
observao realizada em campo, o comunicador, ao compor uma webreportagem, deve
considerar a necessidade de anlise do fato caracterstica da reportagem e as
especificidades do meio de comunicao em que se insere ao cumprir as etapas cruciais de
organizao, anlise, redao e edio do material jornalstico.
Uma caracterstica do gnero no jornalismo impresso, que pode ser transposta
diretamente para a reportagem na web, a possibilidade, descrita por Beltro, da formatao
da reportagem no em um nico texto. O autor (1976, p. 88) define que o jornalismo
interpretativo (categoria em que se enquadra a reportagem) no composto de uma matria
nica, mas da unio de diversos textos que cercam a ocorrncia e fornecem sentido a ela. Cita
ainda alguns elementos possveis para a composio de uma grande reportagem: uma
chamada na primeira pgina, um texto-sntese em forma de pirmide invertida, e uma
seqncia de textos e ilustraes (1976, p. 88).
Este formato organizado em diversos textos que se baseia na observao do jornal
impresso, pode ser adequado organizao hipertextual dos blocos de informao. E a partir
desta caracterstica que Diaz Noci define a reportagem na web. Est claro que a reportagem
o gnero mais apto para o uso do hipertexto mediante composies complexas de ns
informativos. Por ser ciclo mais lento de produo, permite mais riqueza multimiditica: texto
+ fotografias + sons + vdeos +... (2001, p. 53).
Assim como Luiz Beltro, Diaz Noci considera a reportagem como um gnero
interpretativo e destaca que o formato uma boa ferramenta documental, mas um recurso
informativo deficiente. Contudo, ele aponta que este gnero webjornalstico o melhor para
aplicar o modelo em nove partes proposto por Robert Darnton:
1. O texto principal, que reflete a notcia ou o acontecimento que serve debase para a reportagem e ao qual se acessar, geralmente, a travs do ttuloconvertido em link,
2. Os anteceedentes, textuais, grficos ou sonoros,3. O contexto atual,
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4. As reaes e opinies de diferentes especialistas e de leitores,5. Anlises, avaliaes e expectativas futuras6. Sempre que a notcia permita ou o fato permitam, galeria de fotos ou um
grfico ou grficos sucessivos,7. Vdeo com som ambiente, se a informao permitir,8. Links externos relacionados ao tema,9. Foruns e opinies dos leitores15. (DIAZ NOCI, 2001, p. 54)
Para Lpez Garca (2003) o espao para os textos interpretativos no jornalismo online
vem crescendo. Entre as razes para essa maior participao, o autor espanhol destaca as
prprias caractersticas da internet que podem ser plenamente exploradas neste gnero: o
aprofundamento da informao e a multiplicidade de fontes possveis propiciados pela
supresso do limite de espao na composio da reportagem. Ele a define como um relato
mais extenso sobre qualquer aspecto da atualidade. O acontecimento tratado j conhecido
pelo pblico, mas abordado de forma mais completa e documentada (2003, p. 451) e sua
estrutura bsica seria formada por quatro nveis:
- Pgina ou n inicial: A reportagem hipertextual, em um primeiro estgio, deverialimitar-se a oferecer um ttulo e uma breve introduo geral [...]. Tambm poderiaincorporar um guia de leitura proposto aos leitores de forma, que preservando aestrutura aberta da reportagem e a liberdade dos usurios para definir suas
preferncias, determine a possibilidade de seguir um itinerrio de leitura modelopara adquirir a informao fundamental.
- Extenso do texto fonte atreves de uma srie de documentos [...] que poderia serelacionar com os links e materiais complementares relativos aos blocos temticosque formam a reportagem.
- Contextualizao primria: documentos que complementam o ncleo dareportagem [...] e, em particular, trabalhos de infografia que ajudem a ilustrar o quefoi apresentado no texto fonte (e, em certos casos, cheguem a substitu-lo comoncleo da reportagem.
- Contextualizao secundria: em linhas gerais, trata-se de realizar umaproveitamento das fontes documentais de que dispe o meio de counicao para
complementar a informao principal [...]- Materiais alheios ao meio: por ltimo, uma reportagem que aproveita aspontencialidades do meio digital em que se desenvolve teria que complementar ainformao com uma seleo de links feita a partir de critrios qualitativos e
15 No original: 1) El texto principal, que refleja la noticia o el acontecimiento que sirve de base al reportaje y alcual se acceder, generalmente, a travs del ttulo convertido en enlace, 2)Los antecedentes, textuales, grficos osonoros, 3) El contexto actual, 4) las reacciones y opiniones de diferentes expertos y de los lectores, 5) anlisis,
valoracin, propuesta de futuro, 6) siempre que la noticia o el hecho permitan, galera de fotos y/o un grfico ogrficos sucesivos, 7) video con sonido de ambiente, si la informacin lo permite, 8) enlaces externosrelacionados con el tema, 9) foros, opiniones de los lectores. (Traduo Nossa)
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quantitativos que permitam ao leitor acessar fontes externas ao meio16 (LPEZGARCA, 2003, pp. 459-460).
As aproximaes do modelo em nove etapas de Robert Darnton feita por Diaz Noci,assim como a estrutura proposta por Lopez Garca remetem a arquiteturas de informao mais
completas e uma redao que possibilite ao leitor uma compreenso das relaes de causa e
efeito do acontecimento abordado.
O professor Ramn Salaverra (2005) destaca a posio dbia da reportagem que pode
ser considerada tanto como um texto informativo quanto interpretativo, dependendo do tipo
de abordagem pretendida pelo reprter. Ele retoma a classificao de Martnez Albertos, que
nomeia as reportagens objetivas como aquelas que se apiam nas informaes bsicas, semlicenas estilsticas, e as reportagens interpretativas como as de uma maior carga analtica e
riqueza de estilo. Para Salaverra, a misso da reportagem vai alm do resgate documental de
acontecimentos ou declaraes.
Este gnero se caracteriza assim mesmo por sua exuberncia e o emprego dedistintos estilos de redao, mais especificamente, a narrao, a descrio, aexposio e, em menor medida, tambm, o dilogo (Alvarez, 1993). Ficaria de fora
apenas o quinto tipo de texto, a argumentao, que considera-se patrimnio dosgneros jornalsticos ou de opinio (Martnez Vallvey, 2002)17. (SALAVERRA,2005, p. 521)
16 No original: - Pagina o nodo inicial: El reportaje hipertextual, en un primer estadio, debera limitarse a ofrecerun titular, una breve introduccin general []. Tambin podra incorporarse una gua de lectura propuesta alos lectores de forma que, preservando la estructura abierta del reportaje, y la libertad de los usuarios para definirsus preferencias, existiera la posibilidad de seguir un itinerario de lectura modelo para adquirir la informacin
fundamental.- Extensin del texto fuente a travs de una serie de documentos [] [que podran] ponerse en relacin conenlaces y materiales complementarios relativos a los distintos bloques temticos que forman el reportaje.- Contextualizacin primaria: documentos que complementan el ncleo del reportaje [] y, en particular,trabajos de infografa que ayuden a ilustrar lo expuesto en el texto fuente (y, en ocasiones, lleguen incluso asustituirlo como ncleo del reportaje).- Contextualizacin secundaria: en lneas generales, se trata de realizar un aprovechamiento de los fondosdocumentales de que dispone el medio de comunicacin para complementar la informacin principal.- Materiales ajenos al medio: por ltimo, un reportaje que aprovechara las potencialidades del medio digital en elque se desenvuelve tendra que complementar la informacin propia con una seleccin de enlaces, guiada porcriterios a la par cualitativos y cuantitativos, que permitiran acceder al lector a fuentes externas al mdio.(Traduo Nossa)
17 No original: Este gnero se caracteriza asimismo por su exuberancia en el empleo de distintos tipos de escrito,muy especialmente la narracin, la descripcin, la exposicin y, en menor medida, tambin el dilogo (lvarez,1993). Quedara fuera tan slo el quinto y ltimo tipo de escrito, la argumentacin, que se considera patrimoniode los gneros periodsticos argumentativos o de opinin (Martnez Vallvey, 2002). (Traduo Nossa)
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De acordo com o professor da Universidade de Navarra, o hipertexto o grande
responsvel por essa variedade de estilos de redao. Ele afirma que possvel manter a
conciso descritiva em um texto principal e ampliar os detalhes sobre os acontecimentos ou
personagens envolvidos em desdobramentos apresentados ao longo deste texto principal. Ou
seja, o gnero no hipertexto no se encontra entre dois tipos, mas podendo ser parte dos dois
ao mesmo tempo, de acordo com o percurso escolhido pelo leitor.
Outro autor que trata da complexificao da reportagem no ciberespao Gutirrez
Siglic, que defende que em uma arquitetura da informao mais elaborada possvel a
redao de textos mais profundos e complexos, com uma maior quantidade de dados que
podem ser lidos de maneira no sequencial18 (2006, p. 5). Ele indica que a construo dos
hiperlinks deve ser feita levando em considerao contedos-chave que permitam um
tratamento profundo do tema em questo e tragam diversas teorias que expliquem o caso.
Consideramos, assim como maioria dos autores, a webreportagem como uma potencializao
da reportagem categorizada pelos estudos de gneros oriundos do gnero impresso. O
hipertexto, a interatividade e a multimidialidade so os principais elementos desta adequao
ao novo meio, que permitem a incorporao de diferentes estilos redacionais e formatos. Cabe
ao leitor optar por um percurso que supra suas expectativas em relao ao gnero e
informao.
18 No original: textos ms profundos y complejos, con mayor cantidad de datos que pueden ser ledos de manerano secuencial. (Traduo Nossa)
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CAPTULO III NARRATIVA
Neste captulo apresentaremos uma das mais importantes etapas do modelo de anlise
proposto nesta dissertao: a identificao da formao da narrativa em uma estrutura
hipertextual. Explicaremos ao longo desta parte qual a funo das categorias de enunciao
podem ser utilizadas neste processo e como podemos aplic-las em nossa anlise, sem ainteno de realizar aqui uma extensa reviso de literatura sobre o tema. Contudo,
consideramos importante realizar esse panorama porque a narrativa no ciberespao ainda no
plenamente compreendida em seu campo de pesquisa.
A relao entre a narrativa e as redes telemticas um tanto recente. Michael Joyce
(s/d) destaca que a narratividade hipertextual ainda uma adolescente. Portanto, a busca por
uma sistematizao ou uma formatao para ela um desafio para diversos autores. As
mudanas no so apenas nas ferramentas ou suportes e, sim, na forma de pensar a maioria
dos elementos da narrativa tradicional.
Hipertexto , claro, jovem em qualquer medida 47 anos desde o Memex deVannevar Bush, 29 desde a ampliao de Engelbart, 27 desde o hipertexto deNelson e cinco anos desde que nos reunimos em grande nmero no primeiroenconrtro da ACM sobre hipertexto em 1987. A narrativa antiga [...] isso porqueo hipertexto pensa em si prprio mais como sendo estrutural do que um pensamento
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