UNIVERSIDADE DO SAGRADO CORAÇÃO
Seção de pós-graduação
NEIMAR VITOR PAVARINI
PAULO EDUARDO GALINDO DE ALMEIDA MILREU
DO JORNALISMO TRADICIONAL AO JORNALISMO
COLABORATIVO – UM ESTUDO CONTEXTUALIZANDO OS
DIFERENTES ASPECTOS
Bauru 2008
UNIVERSIDADE DO SAGRADO CORAÇÃO
NEIMAR VITOR PAVARINI
PAULO EDUARDO GALINDO DE ALMEIDA MILREU
DO JORNALISMO TRADICIONAL AO JORNALISMO
COLABORATIVO – UM ESTUDO CONTEXTUALIZANDO OS
DIFERENTES ASPECTOS
Monografia apresentada à Pró-reitoria de
Pós-graduação como parte dos requisitos
para obtenção do título de Especialista em
Comunicação nas Organizações, sob a
orientação da Prof° Dra. Sonia Aparecida
Cabestré.
Bauru 2008
Milreu, Paulo Eduardo Galindo de Almeida P337j
Do jornalismo tradicional ao jornalismo colaborativo: um estudo contextualizando os diferentes aspectos / Neimar Vitor Pavarini, Paulo Eduardo Galindo de Almeida Milreu – 2008. 142f.
Orientadora: Profa. Dra. Sonia Aparecida Cabestré
Monografia (Especialização em Comunicação
nas Organizações) - Universidade do Sagrado
Coração – Bauru - São Paulo.
1. Jornalismo colaborativo 2. Meios de comunicação 3. Produção da noticia 4. Disseminação da notícia 5. Tecnologias inovadores 6. Internet I. Pavarini, Neimar Vitor II. Cabestré, Sonia Aparecida III.Título
NEIMAR VITOR PAVARINI
PAULO EDUARDO GALINDO DE ALMEIDA MILREU
DO JORNALISMO TRADICIONAL AO JORNALISMO
COLABORATIVO – UM ESTUDO CONTEXTUALIZANDO OS
DIFERENTES ASPECTOS
Monografia apresentada à Pró-reitoria de Pós-graduação como parte dos requisitos
para obtenção do título de Especialista em Comunicação nas Organizações, sob a
orientação da Prof° Dra. Sonia Aparecida Cabestré
Banca examinadora:
_________________________________
_________________________________
________________________________
RESUMO
O objetivo deste estudo foi observar as mudanças provocadas por uma nova modalidade de jornalismo que ocorre com o avanço das tecnologias, denominado jornalismo colaborativo, ou “jornalismo cidadão”. A participação de pessoas sem formação profissional na produção e disseminação das notícias, através da massificação da internet é motivo de discussão em vários segmentos da sociedade. A modernização dos meios de comunicação estimula um número cada vez maior de indivíduos que utilizam-se de novas ferramentas de informação. O aumento de usuários da telefonia celular e da chamada “mídia on-line” deu origem a uma nova dinâmica de propagação da notícia, em função do seu imediatismo e também pela sua interatividade. Diante dessas transformações estão as entidades que, ao longo de décadas estudaram e debateram a ética, as leis e o ensino sobre o processo de produção da notícia. Uma nova dimensão no debate deste tema é necessária em função das novas circunstâncias. Isto posto, com este estudo esperamos contribuir para um aprofundamento sobre essa temática. Realizou-se, nesse sentido, pesquisas bibliográfica e qualitativa, por intermédio da internet: selecionou-se, para a busca de informações, jornalistas e pesquisadores que se dedicam à questão, e também, efetuou-se observação de portais que se propõe a essa finalidade.
Palavras-chave: Jornalismo colaborativo; Meios de comunicação; Produção da notícia; Disseminação da notícia; Tecnologias inovadoras; Internet.
ABSTRACT
The aim of this study was to observe the changes evoked by a new modality of journalism, which occurs with the advance in technologies, named cooperative journalism or “citizen journalism”. The participation of people without professional instruction on the production and dissemination of news, through the widespread distribution of internet, is the motive for discussion in many segments of society. The modernization of the communication channels stimulates an increasing number of subjects who use new information tools. The growth in the number of cellular phone users and the so-called “virtual media” has originated a new dynamics in the distribution of news due to the promptness and also interactivity. Facing these changes are the entities that over decades have studied and discussed the ethics, laws and teaching of the news production process. A new dimension in the debate of this matter is necessary due to the new circumstances. Based on this study we hope to contribute to an improvement on the matter by means of the theoretical study and works performed with journalists and researchers devoted to the subject, and also the observation of sites dedicated to this goal. Key words: Cooperative journalism; Communication channels; News production; New technologies; Internet.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1- Home do OhmyNews..............................................................................53
FIGURA 2- Home do Slashdot...................................................................................54
FIGURA 3- Home do CMI..........................................................................................55
FIGURA 4- Home do WIKINEWS..............................................................................56
FIGURA 5- Página inicial do BrasilWiki!....................................................................90
FIGURA 6- Formulário de preenchimento de cadastro do BrasilWiki!.......................91
FIGURA 7- Categorias disponíveis para a publicação do BrasilWiki!........................92
FIGURA 8- Página de inserção de conteúdo textual de notícias...............................92
FIGURA 9- Justificativa dos editores para a não publicação do conteúdo................93
FIGURA 10- Matéria veiculada no Jornal do Brasil....................................................95
FIGURA 11- Página com o conteúdo do CMI Brasil..................................................97
FIGURA 12- Página “Participe” do CMI Brasil...........................................................97
FIGURA 13- Página central do Independent Media Center.......................................98
FIGURA 14- Formulário a ser preenchido para enviar
artigos/notícias ao CMI Brasil.....................................................................................99
FIGURA 15- Política editorial do CMI Brasil.............................................................101
FIGURA 16- Listagem de Vídeos da CMI................................................................102
FIGURA 17- Listagem de Boletins criados pelos membros da CMI........................102
FIGURA 18- Área de áudios do CMI........................................................................106
FIGURA 19- Vídeos produzidos pelos membros do CMI.........................................106
FIGURA 20- Página Principal do G1........................................................................107
FIGURA 21- Cadastro no VC no G1........................................................................108
FIGURA 22- Confirmação de Cadastro....................................................................109
FIGURA 23- Acesso pelo e-mail após cadastro.......................................................109
FIGURA 24- Opt-in no e-mail (validação de e-mail).................................................110
FIGURA 25- Área de login.......................................................................................111
FIGURA 26- Envio de notícia...................................................................................111
FIGURA 27- Escolha de tipo de conteúdo da notícia...............................................112
FIGURA 28- Todas as Notícias – Plantão do VC no G1..........................................114
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1- Tempo de atuação na profissão............................................................60
QUADRO 2- Especificação do veículo em que atuam...............................................61
QUADRO 3- Considerações e acompanhamento sobre o tema
“Jornalismo Cidadão”.................................................................................................61
QUADRO 4- Opiniões dos entrevistados a respeito da disseminação
de notícias por pessoas sem formação profissional...................................................63
QUADRO 5- Opiniões dos entrevistados sobre o comprometimento
da credibilidade da mídia atual através dessa nova prática.......................................64
QUADRO 6- Como o profissional de comunicação deverá se
comportar diante do “cidadão repórter”......................................................................66
QUADRO 7- Como as entidades que representam estes
profissionais devem se comportar..............................................................................67
QUADRO 8- Como essa nova modalidade mundial pode
afetar o jornalismo brasileiro......................................................................................68
QUADRO 9- Sobre o monitoramento das notícias pelos profissionais......................69
QUADRO 10- Diante das novas tecnologias de informação,
como deverá ser a formação do futuro profissional...................................................70
QUADRO 11- Formação dos pesquisadores.............................................................73
QUADRO 12- Tempo que se dedicam ao estudo desse tema..................................74
QUADRO 13- Organização / meio em que atuam.....................................................74
QUADRO 14- O que propiciou o surgimento do jornalismo cidadão?.......................74
QUADRO 15- Em que momento o jornalismo cidadão ganhou espaço....................75
QUADRO 16- Sobre o papel do jornalista neste novo contexto................................76
QUADRO 17- Relacionamento dos Meios de Comunicação e
Jornalismo Cidadão....................................................................................................77
QUADRO 18- Relação entre a ética e o novo modelo de jornalismo........................79
QUADRO 19- Relacionamento de profissionais e cidadãos repórteres.....................80
QUADRO 20- Entidades representativas diante do jornalismo cidadão....................81
QUADRO 21- Legislação atual sobre a imprensa e o jornalismo cidadão.................82
QUADRO 22- A participação do cidadão repórter e a
possibilidade de afetar a credibilidade da mídia como um todo.................................83
QUADRO 23- Expectativas sobre a internet como
disseminadora de informação dominante no Brasil....................................................84
QUADRO 24- A influência da internet na abrangência e
conteúdo da notícia....................................................................................................84
QUADRO 25- Preocupação dos pesquisadores em relação
ao futuro da informação.............................................................................................85
QUADRO 26- Sobre o futuro do jornalismo colaborativo...........................................85
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................12
2 CONTEXTUALIZANDO O JORNALISMO: TRAJETÓRIA, EVOLUÇÃO E
JORNALISMO CIDADÃO..........................................................................................19
2.1 Jornalismo no contexto atual....................................................................30
2.2 Jornalismo On-line....................................................................................35
2.2.1 Modernas Tecnologias..........................................................................42
2.3 Jornalismo Cidadão..................................................................................48
3 APRESENTAÇÃO DAS PESQUISAS DESENVOLVIDAS....................................58
3.1 Pesquisa desenvolvida com jornalistas....................................................58
3.1.1 Justificativa............................................................................................58
3.1.2 Objetivos................................................................................................59
3.1.3 Metodologia...........................................................................................59
3.1.4 Limitações.............................................................................................60
3.1.5 Apresentação dos resultados................................................................60
3.1.6 Considerações sobre a pesquisa..........................................................71
3.2 Pesquisa desenvolvida com estudiosos..................................................72
3.2.1 Justificativa...........................................................................................72
3.2.2 Objetivos...............................................................................................72
3.2.3 Metodologia..........................................................................................72
3.2.4 Limitações............................................................................................73
3.2.5 Apresentação dos resultados...............................................................73
3.2.6 Considerações sobre a pesquisa.........................................................86
4 ANÁLISE DE SITES DE JORNALISMO COLABORATIVO.................................88
4.1 Justificativa da escolha dos sites.............................................................88
4.2 Objetivos..................................................................................................89
4.3 Metodologia.............................................................................................89
4.4 Apresentação e análise sites...................................................................90
4.4.1 Brasil Wiki.............................................................................................90
4.4.1.1 A estrutura do Brasil Wiki..................................................................90
4.4.1.2 Como os repórteres cidadãos participam do processo.....................91
4.4.1.3 Relação do portal com veículos de comunicação.............................95
4.4.2 CMI Brasil.............................................................................................96
4.4.2.1 A estrutura do CMI.............................................................................96
4.4.2.2 Organização do CMI Brasil.................................................................98
4.4.2.3 Como os repórteres cidadãos participam do processo......................99
4.4.2.4 Política editorial do CMI Brasil..........................................................103
4.4.2.5 Sobre a seção “Artigos escondidos”.................................................104
4.4.2.6 Relação do portal com os veículos de comunicação.......................105
4.4.3 VC no G1.............................................................................................107
4.4.3.1 A estrutura da seção VC no G1........................................................107
4.4.3.2 Como os repórteres cidadãos participam do processo....................108
4.4.3.3 Política editorial do VC no G1..........................................................112
4.4.3.4 Relação do portal com os veículos de comunicação.......................114
4.5 Considerações finais sobre a análise....................................................115
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................117
REFERÊNCIAS........................................................................................................119
GLOSSÁRIO............................................................................................................123
ANEXOS
ANEXO A - Jornais mais antigos...................................................................127
ANEXO B - Venda mundial de computadores cresceu 14,3% em 2007, diz IDC...........................................................................................129 ANEXO C - Venda de computadores deve crescer 17% em 2008, diz Abinee. Volume de notebooks comercializados pode dobrar em relação ao ano passado......................................................131
ANEXO D - O que são blogs, afinal? Ou, manifesto pelo respeito à complexidade da blogosfera.................................................133
ANEXO E - We the Media, de Dan Gilmor....................................................135 ANEXO F - Celular e blogs viram ‘armas’ em Mianmar................................139 ANEXO G - Empresas usam conceito "wiki" de criação coletiva para inovar....................................................................................................141
12
1 INTRODUÇÃO
A informação é um dos bens mais valorizados pela nossa sociedade no atual
contexto. A velocidade e a facilidade na obtenção do saber passam a ser os
principais fatores que determinam as formas como as pessoas buscam as notícias.
As novas ferramentas introduzidas no dia-a-dia do cidadão, através do
desenvolvimento tecnológico, como telefonia e a internet, vêm provocando uma
revolução no comportamento das estruturas sociais e direcionando as atenções
sobre um novo comportamento entre os veículos de comunicação e sociedade.
Essas novas tecnologias oferecem ao cidadão sem formação profissional a
possibilidade de participação na produção e na propagação da notícia com uma
rapidez maior que o sistema convencional consegue desempenhar. Isso é o fator
que está propiciando uma das maiores mudanças ocorridas nas últimas décadas na
relação entre os atuais meios de comunicação e o futuro entre a mídia e sociedade.
O surgimento de um novo segmento de formadores de opinião chama a atenção de
sociólogos, comunicadores e, principalmente, da imprensa como um todo.
Que impactos do surgimento deste fenômeno denominado de ”jornalismo
cidadão” pode causar junto à sociedade (profissionais, veículos de comunicação e a
sociedade), dado o caráter de liberdade que proporciona aos leitores e editores com
a tendência de crescimento da mídia virtual?
Pesquisas recentes sobre usuários de internet no Brasil mostram que há uma
tendência de crescimento constante no número de pessoas que estão acessando a
rede mundial. Em pesquisa encomendada pela F/Nazca1 em abril de 2007, o
Datafolha afirma que o país possui atualmente mais de 49 milhões de usuários
conectados à rede mundial. Já para a pesquisa Ibope//NetRating2, são 32,9 milhões
de internautas.
É interessante destacar que as duas pesquisas foram realizadas recentemente;
entretanto, os resultados merecem análise mais criteriosa: afinal, a quantidade de
brasileiros que acessa a internet cresceu. Porém, os números apresentados estão
bem distantes, representando uma diferença de aproximadamente 16 milhões de
internautas.
1Fonte: http://www.fnazca.com.br/news/news.php?id_news=302, acesso em: 11 ago 2007. 2Fonte:http://www.ibope.com.br/calandraWeb/servlet/CalandraRedirect?temp=6&proj=PortalIBOPE&pub=T&db=caldb&comp=pesquisa_leitura&nivel=null&docid=1946DA4AACE3A77B832572AB007278D0, acesso em: 11 ago 2007.
13
Com esse crescimento de usuários da internet no mundo e em nosso País,
podemos supor que a participação de pessoas sem formação profissional na
produção e propagação da informação só tende ao crescimento. Baseado na idéia
de que cada pessoa pode ser testemunha de um fato e divulgá-la, o cidadão está
deixando de ser um mero espectador de notícias para transformar-se, ele próprio,
em um narrador dos fatos, o que dá uma nova perspectiva e motivação a esses
indivíduos.
Os grandes veículos de comunicação de todo o mundo rendem-se ao jornalismo
participativo. Espaços estão se abrindo a comentários e opiniões para que o público
possa participar e interagir com as notícias e os fatos.
Trata-se da ação de pessoas sem formação jornalística que decidem apurar
acontecimentos de suas comunidades e dividí-los com outras pessoas. Segundo
Foschini e Taddei ”você tem o poder de transformar a comunicação em um caminho
de duas mãos” (TADDEI, FOSCHINI, 2006). Já o jornalista norte-americano Dan
Gilmor (CLIC RBS, 2007), autor de We The Media, livro referência sobre o tema,
ratifica que a participação de internautas pode aprimorar o trabalho de jornalistas,
corrigindo-o e tornando-o mais completo.
Além da internet, vive-se um momento de grande produção de informações: o
público hoje tem acesso a celulares e equipamentos digitais que cumprem a função
de câmeras fotográficas e de captação áudio-visual. Equipamentos pequenos, leves
e de fácil utilização, que não só capturam imagens, mas as enviam para e-mails ou
blogs quase que instantaneamente.
Segundo a jornalista e especialista Ana Maria Brambilla, que fez sua dissertação
de mestrado sobre o site sul-coreano OhMyNews, pioneiro nesta iniciativa,
[...] a Interação e a comunicação sempre foram inerentes ao
ser social, mas a dimensão midiática que essa troca adquire no
jornalismo colaborativo na internet é inédita e atende a uma
demanda jamais satisfeita por outro veículo” (CLIC RBS,
2007).
Trata-se de um momento histórico para o jornalismo, pois nem todos os
profissionais da área concordam com a entrada de cidadãos não habilitados na
cobertura de notícias. As conseqüências para a profissão são claras: “a participação
do público leigo no jornalismo faz com que o jornalista profissional enfrente uma das
maiores crises de identidade de sua história”, afirma Brambilla.
14
Na mesma linha, Gilmor diz:
[...] a venerável profissão de jornalista se encontra em um raro
momento onde sua hegemonia como filtro de informações é
ameaçado não apenas pela tecnologia e pela competição do
mercado, mas potencialmente, pela audiência a que serve”
(CLIC RBS, 2007).
Tais “perigos” não são despercebidos pela classe, que reage atacando o
jornalismo colaborativo.
Entre os argumentos dos contrários a tamanha entrada do público em
espaços na grande mídia está a credibilidade dos relatos, apurados por pessoas
sem o preparo que os jornalistas recebem. De acordo com Carlos Castilho
(OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA, 2008), colaborador do site “Observatório
Imprensa”, as questões sobre a legalidade dessa modalidade começam a ser
discutidas pelo mundo.
O sindicato nacional de jornalistas da Grã Bretanha (National Union of
Journalists) tornou-se a primeira entidade do gênero no mundo a tentar regulamentar
a participação de pessoas comuns na produção e distribuição de notícias. O debate
entre jornalistas britânicos mostrou que a regulamentação do chamado jornalismo
cidadão não é tão simples assim e colocou mais uma vez em evidência como a
internet está mudando as rotinas na busca, processamento e publicação de notícias.
Aqui no Brasil, algumas entidades começam a se posicionar sobre o assunto.
Segundo o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Sérgio de
Andrade (OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA, 2008), “Um internauta, por exemplo,
não tem compromisso de checar bem a notícia antes de publicar”. A discussão sobre
a regulamentação do chamado jornalismo cidadão, talvez seja um processo longo,
porque corre o risco de transferir a questão para o âmbito corporativo, quando na
realidade o que está em jogo é toda uma nova concepção de notícia e a inclusão de
novos personagens na produção da informação.
A atual relação entre editor dos meios de comunicação convencionais e o
leitor está sofrendo desgaste: os leitores começam a perceber que os jornais têm
seus próprios interesses e seus prazos. O cidadão está se dando conta de que a
informação ganha uma nova tendência, ou seja é o reflexo das opiniões dos leitores
e não mais a expressão da vontade dos atuais donos dos meios de comunicação.
15
Considerando tais pressupostos, destaca-se que o propósito deste estudo é
investigar prioritariamente como tem sido abordada pelos estudiosos da área essa
nova tendência e, ao mesmo tempo, o que pensam os profissionais da área de
comunicação a respeito da participação de pessoas sem formação na elaboração e
disseminação da notícia, assim como verificar o a dinâmica de alguns dos principais
portais de comunicação colaborativa que se encontram hoje em atividade.
Justificativa
Pretende-se com este trabalho, buscar informações sobre uma nova
modalidade de comunicação, o jornalismo participativo, proporcionado pelo aumento
da utilização da internet como veículo de informação. Dessa maneira, torna-se
necessário o aprofundamento a respeito da temática, pois atualmente poucos
estudos estão disponíveis sobre o assunto.
Nesse sentido, o trabalho será direcionado para a verificação de como está se
dando a disseminação dessa ferramenta e o envolvimento do público com essa nova
forma de manifestação, assim como os rumos que essa tendência pode dar às
atuais legislações vigentes sobre a comunicação, assim como fazer uma reflexão
sobre o futuro que essa mudança de comportamento trará para a nossa sociedade
na visão de estudiosos sobre a temática.
Hipóteses do estudo
Considerando que essa nova modalidade de jornalismo tem uma tendência
de crescimento, as hipóteses deste estudo referem-se a:
� Quais os fatores que propiciaram o surgimento do jornalismo participativo ou
“jornalismo cidadão”?.
� Como as grandes corporações da área de comunicação irão se comportar
diante dessa nova forma de prática do jornalismo?
� De que maneiras essa nova tendência pode influenciar a sociedade?
� Que tipos de mudanças isso trará aos atuais padrões da notícia (formatação,
veiculação, credibilidade)?
� Qual a posição dos jornalistas diante desse novo campo de atuação?
� Essa é uma tendência que veio para ficar, ou um modismo?
16
� Como a legislação atual se posiciona quanto ao fato de pessoas “sem
preparo” estarem atuando como comunicadores. Em relação à ética, cabe a
quem o controle sobre o que é publicado?
Objetivos
Objetivos gerais
� Desenvolver um estudo teórico-prático sobre a temática do jornalismo
cidadão.
� Investigar os motivos que têm impulsionado o crescimento dessa
alternativa de comunicação, a sua origem e os motivos que levam o
público na aceitação desse novo modelo de jornalismo.
Objetivos específicos
� Abordar as questões éticas, destacando opiniões de diversos segmentos
ligados ao meio profissional.
� Avaliar o futuro dessa nova tendência através da opinião de estudiosos
sobre o tema. com a finalidade de avaliar os entraves e os benefícios que
esse novo conceito de jornalismo pode provocar na sociedade.
� Avaliar os motivos do surgimento dessa nova tendência de jornalismo
proporcionado pela internet, sua evolução e as possíveis transformações
nos padrões do jornalismo atual.
� Realizar busca de informações junto a portais que ofereçam informações
sobre atualidades e que estejam caracterizados como “jornalismo
cidadão”.
Metodologia
� Por intermédio de estudo bibliográfico considerou-se os fatores
sociológicos que levaram ao surgimento da participação do cidadão na
produção e disseminação da notícia.
17
� Pesquisas foram realizadas junto a profissionais de comunicação e
estudiosos sobre a temática. Abordou-se também temas relacionados à
ética profissional e a liberdade de expressão do cidadão diante dessa
nova ferramenta de comunicação que é a internet.
� Através de um processo de seleção e monitoramento de portais que
utilizam esse novo conceito de jornalismo, pode-se observar aspectos
referentes a conteúdo, acesso, formato, e repercussão das notícias.
Isto posto, destaca-se que este trabalho está assim fundamentado:
� O capítulo 2 apresenta um levantamento cronológico sobre a trajetória do
jornalismo tradicional no mundo e no Brasil, com a finalidade de embasar as
análises sociológicas sobre a temática abordada.
Em seguida apresenta-se os aspectos sociais, políticos e econômicos que
ocasionaram as mudanças nos parâmetros de produção e consumo da
informação pela sociedade.
Outro tema abordado neste capítulo foi a discussão sobre o jornalismo on-
line, destacando os fatores que levaram ao surgimento dessa nova
ferramenta de comunicação. Na seqüência discorremos sobre o avanço
tecnológico, que provoca uma nova dinâmica econômica e social, devido à
rapidez e a abrangência que a propagação de uma informação passa a ter
em função da disponibilização desses novos meios à sociedade.
Complementando, ressalta-se o surgimento desse novo conceito de
“jornalismo cidadão”, os fatores que originaram esse movimento e as
conseqüências que isso poderá provocar na sociedade e nos meios de
comunicação, já que esse processo envolve mudanças significativas em
vários níveis organizacionais, como ética profissional, leis vigentes e
formação acadêmica de profissionais para atuarem na área.
� Já no capítulo 3 dá-se destaque para a realização de duas pesquisas:
uma feita com profissionais da área de comunicação e outra com
pesquisadores que estudam esse tema. As opiniões serviram de base
para que refletíssemos sobre os principais aspectos que nortearão o
futuro da relação entre a sociedade e essa nova perspectiva de opinião
pública.
18
� No capítulo quatro apresenta-se o resultado de um processo de análise
realizado em três dos principais portais que já disponibilizam essa
ferramenta para a participação de cidadãos sem formação profissional na
elaboração e veiculação de notícias. Procurou-se analisar os critérios
éticos estipulados e as normas estabelecidas por cada um deles na
participação da sociedade na produção e disseminação da informação.
� Ao final apresentamos as considerações finais do estudo.
19
2 CONTEXTUALIZANDO O JORNALISMO: TRAJETÓRIA, EVOLUÇÃO E
JORNALISMO CIDADÃO
Com a finalidade de fundamentar o presente estudo, apresentamos uma
cronologia dos fatos mais relevantes referentes à trajetória do jornalismo tradicional
no mundo e no Brasil. Pretende-se destacar o processo de evolução da
comunicação social que provocou a nova forma de jornalismo exercida pelo cidadão
sem formação profissional, onde o simples espectador da notícia se torna produtor
da mesma colaborando com os profissionais das empresas jornalísticas ou
produzindo seus próprios canais de distribuição.
� Século VIII
713 - Mixed News, em Kaiyuan, é o primeiro jornal publicado na China. “Kaiyuan” é o
nome dado ao ano em que foi publicado o jornal (ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE
JORNAIS, 2007).
� Século XI
1040 - Na China, Pi Sheng inventa a imprensa usando blocos móveis de madeira
(ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE JORNAIS, 2007).
� Século XV
1447 - Johann Gutenberg inventa a prensa de impressão num processo que viria
possibilitar a produção em massa da palavra impressa (ASSOCIAÇÃO MUNDIAL
DE JORNAIS, 2007).
� Século XVI
1501 - O Papa Alexandre VI decreta que impressos terão que ser submetidos à
autoridade eclesiástica antes de sua publicação a fim de impedir heresias. O não
20
cumprimento desse decreto levaria a multas ou excomunhão (ASSOCIAÇÃO
MUNDIAL DE JORNAIS, 2007).
1556 - O governo veneziano publica Notizie scritte, jornal mensal pelo qual os
leitores pagavam uma “gazetta”, ou pequena moeda (ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE
JORNAIS, 2007).
1588 - Na Alemanha, Michael Entzinger publica um noticioso de 24 páginas
relatando a derrota da Armada espanhola. A primeira página do noticioso mostra
uma gravura representando a Armada espanhola navegando ao longo da costa da
Inglaterra. Embora o relato tenha chegado meses após o acontecimento, trata-se de
um dos mais antigos “furos de reportagem” sobre um acontecimento histórico
importante (ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE JORNAIS, 2007).
� Século XVII
1631 Fundação de Gazette, o primeiro jornal francês (ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE
JORNAIS, 2007).
1645 - O Post-och Inrikes Tidningar, é publicado na Suécia. É considerado o jornal
mais antigo do mundo, pois foi publicado ininterruptamente até 1 de janeiro de 2007,
quando passou a ser exclusivamente online. No ANEXO A veja a tabela com os
jornais mais antigos do mundo segundo pesquisa da Wan - World Association of
Newspaper realizada em 2003 (ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE JORNAIS, 2007).
1690 - Publick Occurrences é o primeiro jornal publicado na América, tendo surgido
em Boston. Seu editor, Benjamin Harris, declarou que publicaria o jornal “uma vez
por mês ou, se houver muitas ocorrências, mais amiúde”. As autoridades reais,
receosas de publicações impressas sem sua expressa autorização, proíbem o jornal
após apenas um número (ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE JORNAIS, 2007).
21
� Século XVIII
1704 - Daniel Defoe, autor de Robison Crusoe e em geral reconhecido como o
primeiro jornalista do mundo, inicia a publicação de Review, periódico que cobria
assuntos europeus (MARTINS, 2004).
1746 – Antônio Isidoro da Fonseca inaugura uma tipografia no Rio de Janeiro,
fechada no ano seguinte pela Carta Régia de 10 de maio, que proibia a impressão
de livros ou de papéis avulsos na Colônia (ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE JORNAIS,
2007).
1798 - Alois Sedenfelder inventa a Litografia. Embora inventada mais de dois
séculos antes, a litografia em offset tornou-se popular nos anos 1960, constituindo o
padrão da indústria hoje em dia (MARTINS, 2004).
� Século XIX
1808 - A chegada da Coroa portuguesa no país inaugura o surgimento da imprensa
brasileira com a fundação da Imprensa Régia, em maio. Mais tarde passa a chamar-
se Imprensa Nacional, responsável pela impressão de todos os documentos oficiais
do governo brasileiro (MARTINS, 2004).
1808 - O Correio Braziliense, fundado por Hipólito da Costa e produzido em Londres,
foi o primeiro jornal em língua portuguesa a circular no Brasil, em junho de 1808.
Caracteriza-se por ser moderno e dinâmico, com forte análise e crítica da situação
portuguesa e brasileira. O Correio circula até dezembro de 1822, quando, sabendo
da Independência, Costa fecha o jornal com o propósito de voltar ao Brasil. O
Correio teve 175 números (MARTINS, 2004).
1808- A Gazeta do Rio de Janeiro, primeira publicação oficial impressa no país,
passa a ser editada a partir de 10 de setembro. É criada para informar sobre a vida
administrativa e a movimentação social do Reino de forma documental. É submetida
à censura do palácio e dirigida por um funcionário do Ministério das Relações
Exteriores, frei Tibúrcio da Rocha. Sua última edição circula em 31 de dezembro de
1821, quando surge o Diário do Governo. Ao todo são publicadas 32 edições
22
normais e 19 extraordinárias. A Gazeta promovia vendas avulsas, em livrarias, e
assinaturas com entrega domiciliar. Inicialmente, a inserção de anúncios era gratuita,
mas, com o tempo, o jornal adota uma tabela de preços para publicidade (MARTINS,
2004).
1811 - O jornal A Idade d'Ouro do Brasil é o primeiro jornal editado na Bahia.
Juntamente com a Gazeta do Rio de Janeiro, é o único jornal que obtém licença de
impressão até 1821, quando D. Pedro I decreta o fim da censura prévia a matérias
escritas (MARTINS, 2004).
1812 - Friedrich Koenig inventa a prensa de cilindros a vapor. Em 1814, John Walter,
editor do The Times de Londres, começa a montar a nova prensa em segredo, com
medo que seus gráficos se rebelassem se descobrissem seus planos. Na noite de
28 de novembro de 1814, Walter retira os gráficos das prensas manuais com a
desculpa de que esperava importantes notícias do continente. A seguir, usando as
prensas de Koenig, produz toda a edição do The Times – a uma velocidade de 1.100
folhas por hora (ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE JORNAIS, 2007).
Década de 1820 - Imprensa panfletária - Do seu surgimento até 1880, a
imprensa brasileira é caracterizada pelo engajamento nas lutas políticas e questões
sociais da época como a abolição da escravatura, a Independência, o desgaste da
Monarquia e a Proclamação da República. Os jornalistas polemizam, sendo eles
exaltados, moderados ou conservadores. É uma época de atentados, prisões,
deportações e perseguições. Neste contexto, surgem na década de 1820
publicações como Correio do Rio de Janeiro, de João Soares Lisboa; Sentinela da
Liberdade, de Cipriano Barata; Typhis Pernambucano, de Frei Caneca; e A
Malagueta, pasquim do carioca Luís Augusto May. Evaristo da Veiga lança a Aurora
Fluminense, e é acusado de ser "jacobino e anárquico". O paulista Libero Badaró é
assassinado em função do Observador Constitucional. O paraibano Borges da
Fonseca fez Repúblico. O mineiro Teófilo Otoni, a Sentinela do Serro. Quintino
Bocaiúva, A República e Alcindo Guanabara, Novidades (MARTINS L.C., 2004).
1821 - Em 28 de agosto, D.Pedro, príncipe-regente, decreta o fim da censura prévia
a toda matéria escrita, tornando a palavra impressa livre no país. Este ato decorre de
23
deliberação das Cortes Constitucionais de Lisboa em defesa das liberdades públicas
(MARTINS, 2004).
1821 - No início do ano surge o Diário do Rio de Janeiro, primeiro jornal informativo
com relatos criminais, movimentação portuária, publicidade, leilões, venda e fuga de
escravos. Circula até 1878. No dia 15 de setembro é publicado o primeiro jornal
político brasileiro, o Reverbo Constitucional Fluminense, de Gonçalves Ledo. O
jornal é de oposição e clama por um governo liberal contra os "interesses dinásticos
lusitanos" (MARTINS, 2004).
1822 - O português naturalizado João Soares Lisboa, lança o Correio do Rio de
Janeiro no dia 10 de abril, pregando a "convocação de uma assembléia constituinte".
Preso em outubro e exilado por oito anos em Portugal, João Lisboa volta ao Rio,
relança o jornal, é preso novamente e acaba em Pernambuco, lutando na
Confederação do Equador (MARTINS, 2004).
1822 - Em abril, no Recife, Cipriano Barata lança Sentinela da Liberdade, o primeiro
jornal republicano. É preso e, da cadeia, continua editando a publicação, agora
intitulada Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco Atacada e Presa na
Fortaleza do Brum por Ordem da Força Armada Reunida. Transferido para Bahia e o
Rio, passa mais de sete anos preso, sempre editando o Sentinela, ora "na Guarita
da Bahia", ora "na Guarita do Rio" etc.: onde chegava, republicava o jornal e era
novamente preso (MARTINS, 2004).
1823 - Minas Gerais ganha seu primeiro jornal, O Compilador. Cinco anos mais tarde
circula em Ouro Preto o Precursor das Eleições. Em Olinda e Recife é publicado um
órgão estudantil, O Olindense (MARTINS, 2004).
1823 - É criada a primeira Lei de Imprensa no Brasil, punindo a veiculação de
material contra a Igreja Católica. Baseada na lei portuguesa, a lei brasileira entra em
vigor por meio de um decreto de D. Pedro I. A atual Lei de Imprensa é elaborada em
1967 pelo Congresso Nacional do regime militar e atribui responsabilidades civis e
punições aos jornalistas (MARTINS, 2004).
24
1827 - O Farol Paulistano é o primeiro jornal de São Paulo (MARTINS, 2004).
1829 – Líbero Badaró promove o lançamento do jornal O Observador Constitucional,
que faz críticas ao autoritarismo do imperador, adotando uma oposição firme aos
governantes e utilizando linguagem irreverente (MARTINS, 2004).
1831 - Surge no jornal de humor Carcudão, de Recife, a primeira caricatura impressa
no Brasil (MARTINS, 2004).
1844 - O telégrafo foi o primeiro aparelho que permitiu a comunicação à distância
através de fios e da eletricidade. Esse aparelho foi inventado, em 1837, pelo norte
americano Samuel Morse. Em 1844, Morse transmitiu a primeira mensagem
telegráfica pública e demonstrou como o telégrafo era capaz de enviar sinais
rapidamente e a grandes distâncias (BIBLIOTECA VIRTUAL, 2007).
1851 - Fundação da Reuters. A companhia foi fundada pelo alemão Paul Julius
Reuter, um pioneiro dos serviços telegráficos. A agência Reuters criou uma boa
reputação na Europa por ser a primeira a reportar "furos jornalísticos" no estrangeiro,
como a notícia do assassinato de Abraham Lincoln. Nos dias de hoje, quase todos
serviços noticiosos são subscritores da Reuters. A Reuters tem mais de 18000
funcionários que operam em 204 cidades e fornece textos em 19 línguas
(WIKIPEDIA, 2007a).
1852-1853 - Em meados do século XIX, o jornalismo político entra em declínio.
Aparecem as primeiras revistas culturais, e jornais publicam obras de grandes
escritores da época em folhetins. Entre elas Memórias de um Sargento de Milícias
(1852-1853), escrita por Manuel Antônio de Almeida no Correio Mercantil; o romance
O Guarani (1857), de José de Alencar, no Diário do Rio de Janeiro; e A Mão e a
Luva (1874), em O Globo, e Iaiá Garcia (1878) em O Cruzeiro, ambas de Machado
de Assis (ENCICLOPÉDIA DIGITAL, 2007).
1862 - É impresso o primeiro Diário Oficial do Brasil. Continha editorial, atos oficiais,
artigos sobre comércio e política internacional e noticiário sobre os acontecimentos
de interesse geral (MARTINS, 2004).
25
1875 - No dia 4 de janeiro, um grupo de republicanos e abolicionistas funda o jornal
Província de São Paulo com uma tiragem de 2 mil exemplares e dirigido por
Francisco Rangel Pestana e Américo de Campos (MARTINS, 2004).
1878 - A revista ilustrada e humorística O Besouro, fundada em março pelo chargista
português Rafael Bordalo Pinheiro no Rio de Janeiro, publica no dia 20 de julho as
primeiras fotos da imprensa brasileira, que retratavam crianças abatidas pela seca
do Nordeste e haviam sido tiradas em viagem pelo jornalista José do Patrocínio,
então redator do jornal Gazeta de Notícias (MARTINS, 2004).
1889 - Com a proclamação da República, A Província passa a se chamar O Estado
de S. Paulo (MARTINS, 2004).
1891 - Julio Mesquita destaca-se como um dos principais cronistas políticos da
época e assume o jornal O Estado de S. Paulo (MARTINS, 2004).
1891 - Rodolfo Dantas funda, no Rio de Janeiro, o Jornal do Brasil. O jornal assume
a condição de publicação livre e independente, sem vínculos partidários. Após a
morte de D. Pedro II e de sérios conflitos com republicanos, o jornal transforma-se
em uma sociedade anônima (MARTINS, 2004).
� Século XX
1900 - Vladimir Lênin funda o Iskra, em Leipzig, Alemanha. Esse jornal
revolucionário veio a ser um importante veículo de propaganda comunista
(ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE JORNAIS, 2007).
1908 - Gustavo de Lacerda funda a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) no Rio
de Janeiro (MARTINS, 2004).
1910 - Os grandes jornais do Rio e de São Paulo instalam ou ampliam escritórios
para os seus correspondentes em Londres, Paris, Roma, Lisboa, Nova York, Buenos
Aires, Montevidéu e Santiago do Chile. O livro ainda influi poderosamente no estilo
26
do jornal e da revista. Eça de Queiroz, Rui Barbosa e Joaquim Nabuco assinam
correspondências do exterior ou textos locais (MARTINS, 2004).
1921 - A empresa Folha da Manhã, que atualmente edita a Folha de S.Paulo, é
fundada por Otávio Frias de Oliveira com o jornal Folha da Noite (MARTINS , 2004).
1924 - É criada a cadeia jornalística Diários Associados, com a aquisição de O
Jornal pelo empresário Assis Chateaubriand (MARTINS, 2004).
1925 - As Organizações Globo surgem com a aquisição do jornal O Globo dos
Diários Associados, pelo jornalista Irineu Marinho (MARTINS, 2004).
1928 - Os Diários Associados lançam O Cruzeiro, primeira revista de circulação
nacional publicada semanalmente (MARTINS, 2004).
1934 - Surge o primeiro sindicato dos jornalistas no Brasil, em Juiz de Fora (MG). No
ano seguinte surge outro no Rio de Janeiro (MARTINS, 2004).
1937-1945 - O governo Getúlio Vargas, no período do Estado Novo, institui o
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que veta o registro de 420 jornais e
346 revistas: apenas publicações ligadas politicamente ao presidente eram
autorizadas a circular. Apesar da censura, Vargas emprega altos recursos
governamentais na publicidade dos atos oficiais de seu governo, o que acaba
garantindo a expansão industrial da imprensa no período (MARTINS, 2004).
1938 - O Decreto nº 910, de 30 de novembro, regulamenta a profissão de jornalista
no Brasil (MARTINS, 2004).
1949 - Carlos Lacerda lança o jornal Tribuna da Imprensa no Rio de Janeiro
(MARTINS, 2004).
1950 - Victor Civita funda a Editora Abril em São Paulo (MARTINS L.C., 2004).
1951 - O jornalista e colaborador dos Diários Associados, Samuel Wainer, funda o
Jornal Última Hora em Porto Alegre (RS), que desempenha papel importante na
renovação da imprensa brasileira (MARTINS L.C., 2004).
27
1952 - Adolpho Bloch lança no Rio de Janeiro a revista ilustrada “Manchete”
(MARTINS, 2004).
1964 - Em maio é fundado o jornal Zero Hora no Rio Grande Sul, com a finalidade
de substituir o Última Hora, jornal que havia sido fechado com o golpe militar
ocorrido no mesmo ano. É o maior veículo da mídia impressa da Rede Brasil Sul e o
jornal de maior venda avulsa do Sul do país (MARTINS, 2004).
1965 - O general Castelo Branco decreta o AI-2, permitindo ao presidente da
República violar a liberdade de imprensa. As restrições aumentam com o AI-5 de
1968, que fecha o Congresso Nacional e censura qualquer manifestação do
pensamento, impondo total controle dos meios de comunicação de massa e
sujeitando todos à censura prévia. Muitos jornais são invadidos, depredados ou
fechados pela Polícia (MARTINS, 2004).
1966 - A Editora Abril lança a revista mensal “Realidade”, marco do jornalismo
brasileiro por suas reportagens investigativas e sua qualidade gráfica (MARTINS,
2004).
1966 - É fundada no Rio de Janeiro a primeira agência de notícias do país, a
Agência JB, do grupo Jornal do Brasil (MARTINS, 2004).
1968 - Lançamento da revista semanal “Veja”, da Editora Abril, a revista de maior
circulação no país (MARTINS, 2004).
Anos 1970 - O sistema midiático como hoje o conhecemos foi configurado e
consolidou-se na década de 70. Este período, que se inicia com o AI-5 e o
lançamento do “Pasquim” irá se encerrar com a anistia e a greve dos jornalistas. As
experiências jornalísticas do período são exemplares. É a época que O Estado de S.
Paulo publica Os Lusíadas, Veja lança uma edição sobre torturas, surgem o Opinião,
Movimento e outros jornais da imprensa alternativa (MARTINS, 2004).
1977 - A Editora Três lança a revista semanal de informações gerais “Isto É”
(MARTINS, 2004).
28
1979 - O Decreto nº 83.284, aprovado pelo Congresso Nacional, regulamenta a
exigência de diploma para o exercício da profissão de jornalista no Brasil (MARTINS,
2004).
Anos 1980 - As primeiras experiências de jornalismo digital se deram nos Estados
Unidos, nos anos 80, a partir de sistemas de videotexto produzidos por empresas
como a Time, Times-Mirror e a Knight-Ridder (MARTINS, 2004).
1984 - A Folha de S. Paulo encabeça a campanha Diretas Já pela eleição direta
para a Presidência da República. Dois anos depois alcança o posto de o primeiro
jornal do país em volume de venda, em substituição a O Globo, que mantinha a
liderança desde a década de 30 (MARTINS, 2004).
1987 - É elaborado o Código de Ética dos Jornalistas no Brasil. O documento é
redigido e aprovado em um congresso especial da categoria no Rio de Janeiro
(MARTINS, 2004).
Anos 90 – O surgimento dos primeiros jornais na rede mundial de computadores,
utilizam-se da simples transposição do conteúdo impresso para a internet. Neste
momento, nota-se o aparecimento de websites noticiosos, que exploram cada vez
melhor as potencialidades da rede - hipertextualidade, multimidialidade,
interatividade, entre outras, indo em busca de uma gramática própria adequada à
Internet. Essa nova realidade apresentada no século XX interfere diretamente na
produção de notícias e em seu consumo devido às relações instantâneas e globais
que permeiam os indivíduos (MARTINS, 2004).
1995 - No dia 12 de maio, a Folha de S. Paulo tem a maior circulação da história da
imprensa brasileira: 1.613.872 exemplares. O principal motivo do recorde foi o
lançamento de um atlas histórico que acompanhava a publicação. Desde o final dos
anos 80 a imprensa brasileira começara a oferecer produtos não-jornalísticos
agregados ao jornal, como fascículos de enciclopédias, CDs e fitas de vídeo,
gerando aumento nas vendas (MARTINS, 2004).
1995 - Em maio de 1995, o Jornal do Brasil inaugura o primeiro jornal eletrônico do
país, o JB Online. Em dezembro do mesmo ano, O Estado de S.Paulo coloca na
29
rede o NetEstado. Em 1996, a Folha de S.Paulo lança o Universo Online (fundido
em novembro com o Brasil Online da Abril), seguido de O Globo On e de O Dia On-
line (MARTINS, 2004).
� Século XXI
2000 - É lançado em Campinas - SP, o primeiro jornal em braille do país. Com o
apoio dos jornais Diário do Povo e Correio Popular, do McDonald's, da TV a Cabo
Net Campinas e da Gráfica Itapapel, o novo jornal mensal é produzido pelo Centro
Cultural Louis Braille, de Campinas. A distribuição é gratuita para entidades,
bibliotecas, faculdades e prefeituras da região (MARTINS, 2004).
2001 – O Tribunal Regional Federal (TRF) de São Paulo mantém a suspensão em
todo o país da obrigatoriedade do diploma de jornalismo para a obtenção do registro
profissional no Ministério do Trabalho (MARTINS, 2004).
2002 – O governo instala, com mais de 10 anos de atraso, o Conselho de
Comunicação Social, primeiro espaço institucional especializado no debate público
das questões da área das comunicações. Ele estava previsto na Constituição e
regulamentado por lei desde 30 de dezembro de 1991 (MARTINS, 2004).
2006 – O então ministro Gilmar Mendes, do STF, suspendeu em caráter liminar a
obrigatoriedade do diploma de jornalismo para exercer a profissão (MARTINS,
2004).
Analisando os aspectos históricos ligados ao jornalismo, podemos observar
que do século VIII ao século XI são poucos os registros de acontecimentos que
contribuíram para o início do processo jornalístico mundial.
Somente a partir do século XV, devido à invenção da prensa, por Gutemberg,
os relatos se tornam mais acessíveis. Essa invenção ganha força no século XVI,
quando foi muito utilizada pela Igreja para noticiar os acontecimentos das guerras.
Nos séculos XVII e XVIII destaca-se a criação de jornais que marcaram a história e o
investimento na melhoria das técnicas de divulgação das notícias, pois o jornalismo
30
se mostrava uma atividade eficiente já em diversas partes do globo para levar
informações à sociedade.
No século XIX há um aumento significativo no número de registros referentes
às atividades jornalísticas, já disseminadas pelo mundo. Podemos constatar
inúmeros relatos referentes ao tema no Brasil a partir desse período, sob diversos
formatos (revistas, panfletos, jornais). No século seguinte os meios de comunicação
iniciam os primeiros movimentos para a utilização das novas tecnologias na
propagação das notícias. Os profissionais se organizam através de sindicatos e as
leis sobre imprensa no nosso País são criadas.
A partir da segunda metade do século XX, a mídia encontra nas novas
tecnologias, a forma de se consolidarem como massificadoras de opiniões. Surgem
os grandes impérios jornalísticos, que vêem na informação uma mercadoria de
grande valor.
Isto posto, na seqüência destacam-se os pressupostos inerentes ao contexto
atual do jornalismo.
2.1 Jornalismo no contexto atual
Para entendermos como se comporta hoje o jornalismo, após apresentada a
trajetória e a discussão em torno da temática, apresentamos, à luz do referencial
teórico estudado para este estudo, a relação de aspectos sócio-históricos, políticos e
econômicos com as mudanças dos parâmetros de produção e consumo de
informações presentes na atualidade, advindas da constante evolução dos meios
técnicos.
O mundo se depara hoje com uma realidade marcada pela predominância do
sistema político-econômico capitalista. Exceto por Cuba, China e Coréia do Sul, que
ainda apresentam suas economias fundamentadas no socialismo.
O capitalismo consolidou-se como sistema mundial no início da década de 90.
À fragmentação do socialismo somaram-se as profundas transformações que já
vinham afetando as principais economias capitalistas desde a segunda metade do
século XX, resultando na chamada nova ordem mundial. (PELLEGRINI, 2007).
As origens dessa nova ordem estão no período imediatamente posterior à
Segunda Guerra Mundial, no momento em que os Estados Unidos assumiram a
supremacia do sistema capitalista. A supremacia dos EUA se fundamentava no
31
segredo da arma nuclear, no uso do dólar como padrão monetário internacional, na
capacidade de financiar a reconstrução dos países destruídos com a guerra e na
ampliação dos investimentos das empresas transnacionais nos países
subdesenvolvidos.
No decorrer deste período histórico (Segunda Guerra Mundial), os EUA
atravessaram uma fase de crescimento econômico acelerado. Assim, quando o
conflito terminou, sua economia estava dinamizada, e esse país assumia o papel de
maior credor do mundo capitalista. Além disso, a conferência de Bretton Woods, que
em 1944 estabeleceu as regras da economia mundial, determinou que o dólar
substituiria o ouro como padrão monetário internacional.
As principais disposições do sistema Bretton Woods foram, primeiramente, a obrigação de cada país adotar uma política monetária que mantivesse a taxa de câmbio de suas moedas dentro de um determinado valor mais ou menos um por cento em termos de ouro, e em segundo lugar, a provisão pelo FMI de financiamento para suportar dificuldades temporárias de pagamento. (WIKIPEDIA, 2007b).
Em 1971, diante de pressões crescentes na demanda global por ouro,
Richard Nixon, então presidente norte-americano, suspendeu unilateralmente o
sistema de Bretton Woods, cancelando a conversibilidade direta do dólar em ouro.
Assim, para a economia internacional, todos os elementos planificadores de Bretton
Woods favoreceram um sistema relativamente liberal, que se baseasse
primeiramente no mercado, com um mínimo de barreiras ao fluxo de comércio e
capital privados. Apesar de não estarem inteiramente de acordo sobre a maneira de
pôr em prática essa ideologia, todos concordavam com o sistema aberto.
Esse dinamismo pós-guerra da economia norte-americana influenciou
diretamente tanto os países subdesenvolvidos da Ásia, assim como os demais
continentes. Por estar diretamente envolvido com a liberação do mercado mundial
após a Segunda Guerra e por ter se consolidado como grande potência mundial e
tirando proveito dela com suas exportações e acesso às matérias-primas, os EUA
buscaram mercados aliados para aumentar seu poder de compra e venda.
Os EUA também financiaram a reconstrução da economia japonesa, visando
criar um pólo capitalista desenvolvido na Ásia e, desse modo, impedir o avanço do
socialismo no continente. A ascensão da economia japonesa foi acompanhada de
uma expansão econômico-financeira do país em direção aos seus vizinhos da Ásia,
originando uma região de forte dinamismo.
32
A produção tecnológica em larga escala na Segunda Guerra Mundial
estabeleceu um novo padrão de desenvolvimento técnico, que levou à
modernização e a posterior automatização da indústria. Com a automatização
industrial, aceleraram-se os processos de fabricação, o que permitiu grande
aumento e diversificação dos meios de produção.
Na atualidade, o acelerado desenvolvimento tecnológico tornou o espaço
cada vez mais artificializado, principalmente naqueles países onde o atrelamento da
ciência à técnica era maior. A retração do meio natural e a expansão do meio
técnico-científico mostraram-se como uma faceta do processo em curso, na medida
em que tal expansão foi assumida como modelo de desenvolvimento em diversos
países, diferentemente do que segundo Pires e Reis (1999) seria o objetivo do
avanço tecnológico, que os autores apontam como não sendo alcançado, pois:
[...] o domínio da natureza permitiria aos homens a produção dos bens necessários para a vida em menos tempo de trabalho, pelo desenvolvimento tecnológico, liberando parte da vida para o desenvolvimento humano. (PIRES; REIS, 1999, p.33)
Favorecidas pelo desenvolvimento tecnológico, particularmente a
automatização da indústria, a informatização dos escritórios, a rapidez nos
transportes e comunicações e as relações econômicas também se aceleraram, de
modo que o capitalismo ingressou numa fase de grande desenvolvimento. A
competição por mercados consumidores, por sua vez, estimulou ainda mais o
avanço da tecnologia e o aumento da produção industrial, principalmente nos
Estados Unidos, no Japão, nos países da União Européia e nos novos países
industrializados originários do “mundo subdesenvolvido” da Ásia, como afirmam
Pires e Reis (1999) ao descreverem o capitalismo como “um processo
simultaneamente social, econômico e cultural. e seu desenvolvimento é desigual e
contraditório". (IANNI, 1997 apud PIRES; REIS; 1999, p. 33)
Desde que a internacionalização do capital surgiu, e devido à sua essência -
produzir para o mercado, objetivando o lucro e, conseqüentemente, a acumulação
da riqueza - o capitalismo sempre tendeu à internacionalização, ou seja, à
incorporação do maior número possível de povos ou nações ao espaço sob o seu
domínio, conforme Santos (1996).
O espaço se globaliza, mas não é mundial como um todo senão como metáfora. Todos os lugares são mundiais, mas não há um espaço mundial. Quem se globaliza mesmo são as pessoas (SANTOS, 1996, p.31).
33
A difusão do termo globalização ocorreu por meio da imprensa financeira
internacional, em meados da década de 1980. A partir de então, esse termo
começou a ser associado à difusão de novas tecnologias na área de comunicação,
como satélites artificiais, redes de fibra ótica que interligam pessoas por meio de
computadores, entre outras, que permitiram acelerar a circulação de informações e
de fluxos financeiros.
Globalização passou a ser sinônimo de aplicações financeiras e de
investimentos pelo mundo afora. Ela passa a ser discutida, segundo as categorias
tempo/espaço, na pós-modernidade e à luz dos conceitos de nação, mercado
mundial e lugar.
Segundo Santos (1996, p.31), "cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma
razão global e de uma razão local convivendo dialeticamente". A importância de
estudar os lugares reside na possibilidade de capturar seus elementos centrais e
suas virtudes locais, de modo a compreender suas possibilidades de interação com
as ações e fatos globais.
A globalização da cultura ocorre a partir do lugar geográfico em que reside. É
dele então, que a globalização ganha sua dimensão simbólica e material,
combinando matrizes globais, nacionais, regionais e locais. Para tanto, Santos
esclarece que:
O espaço geográfico é um conjunto indissociável de sistemas de objetos naturais ou fabricados, e de sistemas de ações, deliberadas ou não (SANTOS, 1996, p.40).
A reflexão sobre a globalização econômica é um pouco mais vasta que a
cultural. Conforme afirma Santos (1996, p.40):
[...] ela está diretamente associada ao fluxo do sistema de objetos, na forma de espaço geográfico. O espaço geográfico é uma funcionalização da globalização. Ele vai ser produzido de acordo com as demandas de quem o idealiza, para permitir fluir suas necessidades. O espaço geográfico viabiliza a globalização, dado que ele materializa três de seus pressupostos: a unicidade técnica, a convergência dos momentos e a unicidade do motor.
A unicidade é entendida como a capacidade de instalar qualquer instrumento
técnico produtivo em qualquer parte do mundo. A convergência dos momentos é
possibilitada pela unificação técnica, pela capacidade de comunicação em tempo
real. Por fim, a unicidade do motor é a direção centralizada, ou seja, para onde
34
convergem os interesses nacionais e internacionais referentes aos fatos
comunicados globalmente, muitas vezes direcionados por interesses políticos.
Ao longo da história, o jornalismo também teve uma importante função nesse
contexto, onde o editor sempre exerceu um papel político (ele tem contato com a
cúpula administrativa e faz o meio de campo, decidindo se o tom do texto vai
agradar ou desagradar aos donos de jornais ou aos grupos de poder ligados a eles).
Hoje o editor continua preservado em sua função política, mas não mais na função
estética do texto especificamente.
Até o final da década de 80, havia uma divisão do jornalismo. Existia o
repórter (externo) e aquele profissional de dentro da redação (copy desk3), que
cuidava de produzir o texto, fruto de um trabalho investigativo realizado pelo
repórter. Com os avanços da profissão, a nova dinâmica de informações se altera, o
jornalista passa a ser agora a pessoa que não somente dá conta de buscar a
informação (encontrar o dado e levá-lo para a redação) como terá também que
redigi-lo e editá-lo, entregando o texto prontinho para a impressão. Desapareceu a
profissão de copy desk, o repórter de ontem se funde hoje no repórter, redator,
editor, devido à nova dinâmica em que as informações se apresentam e o modelo
técnico-informacional que os avanços tecnológicos trouxeram para a profissão.
Conforme destacado por Carlos Drummond, Coordenador do Curso de
Jornalismo Multimídia da FACAMP (Faculdades de Campinas), em entrevista
concedida ao portal da faculdade, diz que:
Na redação tradicional de um jornal, por exemplo, o jornalista chegava no final da manhã, lia todos os jornais, esperava receber sua pauta e saía à rua para apurar a matéria. No início da noite, voltava à redação para redigir a reportagem, que, depois de lida pelo copidesque, pelo redator-chefe e pelo revisor, era diagramada manualmente. No jornal de hoje, o repórter chega cedo à redação, lê pela internet os principais jornais do dia e navega pelos sites de notícias e blogs. Apura a matéria, redige-a no seu computador e a encaminha para a paginação eletrônica, de onde ela segue - pela rede - para impressão. Em vez de uma matéria, o jornalista escreve quatro ou cinco por dia (DRUMOND, 2007).
Este aparato tecnológico traz ainda novas implicações não somente às
atividades jornalísticas referentes ao processo de escrever as matérias, mas
também nos procedimentos que envolvem a escolha do que publicar e a análise da
3 Vide Glossário
35
linha editorial mediante a saturação de informações que o ambiente web oferece na
atualidade. Para lidar com este aspecto o jornalista tem a seu favor a credibilidade.
Sua função de investigar e averiguar a veracidade dos fatos informados é de
fundamental importância para que a comunicação seja a mais transparente e eficaz
possível. A união da credibilidade das informações e de sua repercussão, checadas
pelo jornalista em diversas fontes na web e fora dela abre a possibilidade de uma
programação mais formativa do que informativa, mais qualitativa do que quantitativa,
em que, por exemplo, vemos constantemente temas específicos debatidos com a
participação de especialistas de um lado e dos expectadores/leitores/ouvintes do
outro, prática comum hoje, que foge dos parâmetros ditados anteriormente em que a
comunicação fluía de cima para baixo numa via de mão única.
Com a mudança dos paradigmas "eu falo e você escuta", “eu escrevo você lê”
a cumplicidade e busca do interesse comum se torna essencial e a interatividade
passa a predominar no objetivo dos grandes meios de comunicação e o que mais se
destaca na atualidade é a internet. Por isso é crescente o número de jornais que
lançam suas versões web, ou pelo menos disponibilizam o conteúdo do impresso na
rede, o que os estudiosos classificam hoje como jornalismo on-line.
2.2 Jornalismo On-line
Mesmo com o avanço coletivo das técnicas de produção, durante a evolução
humana, cada etapa histórica é representado pelo progresso de um determinado
sistema, como nos aponta Castells (2001). Durante o período em que ocorreu a
Primeira Revolução Industrial, o sistema que predominou e que mais se desenvolveu
foi o referente às indústrias, que teve como sucessor o que se referiu ao
desenvolvimento dos meios de comunicação.
O sistema predominante na atualidade é, na verdade, conseqüência das
técnicas comunicacionais. É constituído pelas “técnicas da informação”, que hoje
conhecemos como Tecnologia da Informação4 e da Comunicação, ou TIC, termo
comumente utilizado para designar o conjunto de recursos não humanos dedicados
ao armazenamento, processamento e comunicação da informação, bem como o
4 Vide Glossário.
36
modo de como esses recursos estão organizados num sistema capaz de executar
um conjunto de tarefas5.
A tecnologia de processamento de informação baseada na comunicação de
símbolos, segundo Castells (2001, p.53). Representa “um novo modo informacional
de desenvolvimento”, faz com que a mercadoria mais importante nos dias atuais seja
a informação. Com isso, em qualquer estância da vida humana, informação é
sinônimo de poder.
A técnica da informação na pós-modernidade constitui-se em construir a
relativização dos lugares, ou seja, fazer com que o acontecer de um lugar possa ser
conhecido por outro lugar, se possível, instantaneamente. Assim, ela permite a
interação dos momentos assegurada pela simultaneidade das ações.
Ocorre então, o que se pode chamar de globalização do lugar, que se
apresenta pela formação do espaço-mundo (o espaço e o tempo se unem de forma
global em um determinado lugar): lugares são então permeados por características
globais referentes à economia, política, cultura e sociedade, acabando por absorvê-
las (o lugar se torna expressão do mundo ao mesmo tempo em que é expresso por
ele), como mencionado por Santos (2001, p.112):
Os lugares são, pois, o mundo, que eles reproduzem de modos específicos, individuais, diversos. Eles são singulares, mas são também globais, manifestações da totalidade-mundo, da qual são formas particulares.
As particularidades de um acontecimento estiveram por muito tempo (no
jornal impresso) enclausuradas no hic et nunc6 a que se referia Walter Benjamin
(1983).
Para Benjamin o original de uma obra de arte é dotado de um hic et nunc, um
"aqui e agora" que garante sua autenticidade. O fato de que tenha sido produzido
apenas um exemplar, num momento específico, em um lugar e uma circunstância
única e por um autor específico, acaba por fazer com que o público atribua ao objeto
uma aura “... a única aparição de uma realidade longínqua, por mais próxima que
esteja. Inatingível, a obra de arte torna-se objeto de contemplação e sacralização, à
maneira dos ícones religiosos” (WIKIPEDIA, 2008).
5 Vide Glossário 6 Vide Glossário
37
Ou seja, no caso do jornalismo, a renovação do aqui e agora do
acontecimento, só podia ser atualizado na edição seguinte e ter complementos
oferecidos pelo telejornal ou por notícias veiculadas no rádio no decorrer do dia. No
impresso, o fato era registrado e ficava relativamente preso à “presença no próprio
local onde se encontra” (WIKIPEDIA, 2008a), e hoje instantaneamente devido aos
avanços técnicos o hic et nunc da notícia sofre atualizações constantes, virtuais, e
tem como espectador o indivíduo global, participando de um processo a que
podemos chamar de democratização da informação.
A história dos meios de comunicação passa atualmente por uma revolução
tecnológica, que se reflete em todos as estâncias da vida humana. As relações
sociais, econômicas, políticas, vêm ganhando novas dimensões com o
desenvolvimento dos meios de comunicação, mais precisamente a Internet. O
movimento de globalização incentivado (e exigido) pelo capitalismo encontra na
nova rede de comunicação mais um instrumento para seu sucesso. A Indústria
Cultural reúne na Internet seus meios de ação e ganha um poder de influência ainda
maior: uma rede de comunicação capaz de atingir “todo o globo”, mesmo com as
diferenças sócio-econômicas de acesso aos meios eletrônicos e à comunicação.
Segundo Santos (2001), com a capacidade de transmitir informações
instantaneamente, espaço e tempo são aparentemente “quebrados”, e com a
disseminação da cultura do just-in-time7, cria-se uma idéia metafórica de otimização
desses fatores, como se fossem uma unidade, desconsiderando os aspectos
culturais que envolvem emissor e receptor e o fato de que:
Os lugares são, pois, o mundo, que eles reproduzem de modos específicos, individuais, diversos. Eles são singulares, mas são também globais, manifestações da totalidade-mundo, da qual são formas particulares (SANTOS, 2001, p.112).
Na rede, a transmissão técnica de dados independe das posições geográficas
do emissor e receptor, isso não seria novidade nos meios de comunicação, mas a
Internet possui hoje uma capacidade quase infinita de transmissão de informação e
foi incorporada rapidamente (considerando a evolução, aceitação e acesso dos
meios tradicionais de comunicação – Internet no espaço de 4 anos (no início dos
anos 90) atingiu, nos EUA, 50 milhões de pessoas, quando a TV levou 13 anos, o
computador pessoal, 16, e o rádio, 38, para atingir esse mesmo número) - segundo
7 Vide Glossário
38
Carlos Vogt na página http://www.comciencia.br/carta/socinfo.htm da Revista
Comciencia - tanto por empresas quanto para uso doméstico, ou seja, uma enorme
potência para o mercado, seja pela publicidade ou pela própria capacidade adquirida
por parte da população mundial de executar compras e vendas através do
computador (ligado diretamente com a evolução inteligente do modo de produção
capitalista).
Nesse ambiente competitivo, o jornalismo encarrega-se de veicular a
informação da maneira mais rápida e mais verídica possível, acompanhando o ritmo
das novas tecnologias.
O desafio é uma constante nesta atividade, pois cada novo veículo de
comunicação que surge provoca mudanças no modo de produção, estruturação e
apresentação das notícias; é preciso que se crie uma nova linguagem, para uma
publicação ou forma de veiculação diferente, direcionada a um público-alvo com
outras exigências.
Formam-se nichos de informação e com isso, “as técnicas, a velocidade e a
potência, criam desigualdades e, paralelamente, necessidades, frustração e
escassez porque não há satisfação para todos” (SANTOS, 2001, p.129). O desafio
dos jornalistas está exatamente em evitar que este cenário atual permaneça e uma
das ferramentas para vencer este desafio pode ser a participação do público na
investigação, seleção, estruturação e veiculação das notícias, princípio fundamental
do jornalismo colaborativo que discutiremos adiante neste trabalho.
Castells (1999, p.17) argumenta que várias temporalidades subsistem,
embora uma esteja emergindo como determinante: a que ele chama de tempo
intemporal, próprio da estrutura de rede, onde passado e futuro se fundem num
eterno presente.
A revolução da tecnologia da informação e a reestruturação do capitalismo
introduziram uma nova forma de sociedade, a sociedade em rede. Essa sociedade é
caracterizada pela globalização das atividades econômicas decisivas do ponto de
vista estratégico; por sua forma de organização em redes; pela flexibilidade e
instabilidade do emprego e a individualização da mão-de-obra. Por uma cultura de
virtualidade real construída a partir de um sistema de mídia onipresente, interligado e
altamente diversificado e pela transformação das bases materiais da vida – o tempo
e o espaço – mediante a criação de um espaço de fluxos e de um tempo intemporal
como expressões das atividades e elites dominantes.
39
Essa noção de atemporalidade que situa os fatos na Internet está ligada
também à noção de um espaço virtual onde as coisas acontecem e são atualizadas,
informações são divulgadas, pessoas se comunicam, e tudo acontece sob um
conceito de simultaneidade. Segundo Pierre Lévy (LEVY, 1996, p.44):
A noção de tempo real, inventada pelos informatas, resume bem a característica principal, o espírito da informática: a condensação no presente, na operação em andamento. O conhecimento de tipo operacional oferecido pela informática está em tempo real.
Além da possibilidade de disponibilizar informações a todo segundo, os sites
de notícia procuram aproveitar os recursos multimídia de áudio e vídeo para
enriquecer o conteúdo e reiterar o conceito de tempo real - o que a televisão e o
rádio já desempenhavam, diferentemente dos impressos.
O jornalismo acompanha este processo de subversão da temporalidade,
seguindo o caminho que já havia sido percorrido pela televisão quando introduziu o
culto "ao vivo" e sempre buscado pelo jornal impresso na corrida pelo “furo” do dia.
Para Harvey (1992, p. 209-210):
Há um incentivo onipresente para a aceleração, por parte de capitalistas individuais, do seu tempo de giro com relação à média social, e para fazê-lo de modo a promover uma tendência social na direção de tempos médios de giros mais rápidos. [...] O efeito geral é, portanto, colocar no centro da modernidade capitalista a aceleração do ritmo dos processos econômicos e, em conseqüência, da vida social.
A aceleração na vida social propõe mudanças na produção de notícias, que
deve traduzir os acontecimentos do cotidiano de forma fidedigna. Foi assim com os
jornais impressos, com o rádio, com a televisão e atualmente com a Internet. O
desenvolvimento de novas tecnologias implica na transformação do formato da
notícia, interferindo na sua periodicidade, publicação e validação.
O impulso desta nova mídia (o jornal on-line) é a velocidade. As informações
digitalizadas ocupam "pouco espaço" e assim podem ser difundidas mais
rapidamente. Essa “difusão mais rápida” exige maior dinâmica dos profissionais de
comunicação na interação com o fato, com os participantes ou observadores dos
fatos (fontes), com os leitores (consumidores do que é noticiado sobre os fatos) e o
canal pelo qual será oferecido o conteúdo.
40
A atenção ao canal sempre foi um fator muito importante, mas na atualidade
se evidencia, pois a ânsia de oferecer as informações mais atualizadas algumas
vezes acarreta no acúmulo de informações desnecessárias ou até mesmo num
processo de estagnação, onde o profissional se prende ao formato impresso
enquanto à sua volta os meios se fundem hibridamente, pois segundo Fidler (1994,
p. 25 apud QUADROS, 2002. p.3):
A tecnologia somente facilita a mudança e cria oportunidades. Sem o correspondente esforço dos jornalistas e dos empresários dos meios de comunicação em melhorar a qualidade da informação e oferecer o que o público necessita e deseja, a metamorfose não será mais que uma crisálida oca.
Diversos estudos sobre o movimento de transição e a relação entre o
jornalismo tradicional e o jornalismo on-line levantaram possíveis cenários a serem
incorporados pelos veículos e profissionais, entre eles os estudos de John Pavlick,
dividindo a performance dos jornais digitais em 3 estágios:
1º - transposição da versão impressa para a internet;
2º - esta transposição e mais alguns produtos diferenciados do jornal
tradicional;
3º - um produto totalmente exclusivo para a internet;
Estes estágios mostram uma nova forma de se relacionar com a informação,
onde os jornalistas interagem com o meio numa dinâmica de construção de
conteúdo e compartilhamento. O meio digital se torna expressão e fonte de notícias,
onde os próprios profissionais podem buscar o que está disponibilizado na rede e
fornecer dados para os outros usuários.
Destaca-se nesse contexto a conceituação de Brambilla (2006) para
jornalismo on-line: este não se refere especificamente ao noticiário produzido e
veiculado na web, este, é o webjornalismo. A autora discute essa nova realidade no
contexto informacional adotando o conceito de que o jornalismo on-line é:
[...].todo aquele desenvolvido utilizando tecnologias de transmissão de dados em rede e em tempo real, ocorrida na web ou não, mas que comporta apuração, produção e veiculação da notícia através de conexões digitais com acesso instantâneo e simultâneo entre autores e leitores (BRAMBILLA, 2006, p.36).
O desafio do jornalista on-line é despertar o interesse de um público muito
mais diferenciado que o público do impresso, com cultura e costumes próprios,
41
fugindo dos padrões da realidade regional/nacional dos impressos, pois a linguagem
não linear da internet, mesmo que jornalística, é baseada em hipertextos8.
Conforme consta no portal da Faculdade de Comunicação da UFBA
(Universidade Federal da Bahia):
[...] o conceito de hipertexto foi utilizado pela primeira vez por Vannevar Bush, em 1945, quando coordenava para o governo americano cerca de quinhentos cientistas das mais variadas áreas, e precisava agrupar todas as informações provenientes destes profissionais de maneira organizada, porém não-linear e conexada, onde daí erntram em ação os links, que tem esta função de interligação. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2008).
Há também uma definição de hipertexto da Wikipedia, que os classifica como:
[...] textos que servem como um suporte que acopla outros textos em sua superfície cujo acesso se dá através dos links que têm a função de conectar a construção de sentido, estendendo ou complementando o texto principal (WIKIPEDIA, 2008b).
Com isso, podemos afirmar que são as interações e a praticidade do
simultâneo as ferramentas que devem ser exploradas pelo profissional de
comunicação para alcançar o público na atualidade.
Essas interações no jornalismo on-line podem ser entendidas como a
utilização de enquetes (pesquisas), comentários, meios de contato com o autor da
informação disponibilizada e fóruns, em que acontecem discussões e abordagens de
pontos de vistas diferentes, paralelamente à veiculação tradicional de notícias.
Na década de 90, os grupos de mídia começaram a se organizar, ainda de
forma tímida para adentrar a realidade do jornalismo on-line.
1995 - Em maio de 1995, o Jornal do Brasil inaugura o primeiro jornal eletrônico do país, o JB On-line. Em dezembro do mesmo ano, O Estado de S.Paulo coloca na rede o NetEstado. Em 1996, a Folha de S.Paulo lança o Universo On-line (fundido em novembro com o Brasil On-Line da Abril), seguido de O Globo On e de O Dia On-line. 1997 - O jornal O Estado de S. Paulo começa a publicar a edição em português do The Wall Street Journal, considerado uma referência para investidores em todo o mundo (MARTINS, 2004, p.1).
Assim como a velocidade do fluxo de informações na rede, já no final da
década de 90, quando a internet já havia passado por seu processo de
popularização, os sites de agências de notícias e jornais brasileiros começam a se
8 Vide Glossário.
42
especializar na disseminação de informações digitais, incluindo em seus materiais,
áudios, vídeos, animações e links para outros sites, cumprindo com a finalidade da
linguagem digital (o hipertexto) ao veicular suas notícias.
Ao trilhar o caminho dos pedaços de papel às ondas da rede mundial de
computadores, o ato de informar a sociedade passou por diversas fases e formatos
apresentados ao longo deste primeiro capítulo, mas a característica mais marcante
da atualidade é que, a interação de usuários com os fatos e sua disseminação
permitem que novos serviços passem a ser agregados ao ato de noticiar, são eles
sistemas de buscas e portais atualizados a todo instante, são os furos de
reportagem garantidos por jornalistas ligados à rede ou cidadãos com acesso às
novas tecnologias devido às facilidades conquistadas com novos meios digitais,
sendo fonte de informação para outros leitores e passando a ser fonte de pesquisa e
investigação também para agências de notícias e jornalistas.
A utilização da tecnologia para divulgação de notícias on-line permitiu o
aumento do nível de democratização da informação no mundo, pois a
instantaneidade, característica marcante da internet, permite que os fatos ocorridos
a grandes distâncias sejam acompanhados “ao vivo” por milhares de espectadores.
O homem hoje se alia ao aperfeiçoamento das técnicas que criou para se comunicar
com as novas tecnologias que cria, mantendo-se informado do que acontece ao seu
redor e em lugares que não atingiria sem o auxílio da tecnologia.
2.2.1 Modernas Tecnologias
Se compararmos as revoluções sociais provocadas pelos demais meios de
comunicação de massa, pode-se considerar que a Internet ainda “é muito nova”.
Castells (1999), realizou um estudo sobre a nova relação entre o virtual e a
sociedade que resultou em sua trilogia “A Era da Informação: Economia, Sociedade
e Cultura”, que busca esclarecer a dinâmica econômica e social da nova era da
informação. Segundo Castells (1999), a Internet inicia nas três ultimas décadas do
século XX, conseqüência de uma fusão de estratégia militar e inovação científica. O
Departamento de Defesa dos EUA, mais especificamente a Agência de Projetos e
Pesquisa Avançada (ARPA) deu origem ao desenvolvimento de um sistema de
comunicação que viria a culminar na Internet.9
9 Vide Glssário
43
A internet evoluiu muito rápido com o crescimento das atividades comerciais
na rede, juntamente com o desenvolvimento da informática e de novas tecnologias
de comunicação, como os aparelhos celulares.
Um dos pesquisadores pioneiros e mais respeitados na área é o filósofo
francês Pierre Lévy, autor de “As Tecnologias da Inteligência” (1990), “O que é o
Virtual” (1995) e “Cibercultura” (1999), entre outros. A Cibercultura proposta por
Lévy(1999, p.23) é:
[...] a transformação radical das culturas humanas na virada do século - uma cultura globalizada e cibernética. Se tratada do ponto de vista comercial, o crescimento do ciberespaço seria conservador e reacionário, uma vez que serve para aumentar o abismo entre pobres e ricos.
Lévy considera essa possibilidade como real, mas acredita que não será esse
o futuro da “Cibercultura”, pois as novas tecnologias podem ser vistas por uma
perspectiva humanista.
Estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas deste espaço no plano econômico, político, cultural e humano. Que tentemos compreendê-lo, pois a verdadeira questão não é der contra ou a favor, mas sim reconhecer as mudanças qualitativas na ecologia dos signos, o ambiente inédito que resulta da extensão das novas redes de comunicação para a vida social e cultural. Apenas desta forma seremos capazes de desenvolver estas novas tecnologias dentro de uma perspectiva humanista (LÉVY, 1999, p.25).
Concordamos com o autor, já que as condições de acesso vêm crescendo e
se popularizando devido às medidas de incentivo do governo, de empresas privadas
e movimentos populares, mesmo que em diferentes aspectos e com diferentes
objetivos.
O autor propõe uma nova interpretação: o ciberespaço como agente de
libertação ao permitir a livre circulação de documentos de texto, imagens e sons,
enfim, qualquer forma, híbrida ou não, de se comunicar.
O que não deixa dúvidas é o impacto causado pela capacidade da rede de
atingir positiva ou negativamente um enorme público nas diferentes classes sociais
(considerando-se as devidas proporções e condições de acesso). Deste modo
também surgiram vários outros setores ou alterações em praticamente todas as
44
relações de troca, já que essa nova realidade passa a permear a vida do indivíduo
por caminhos diferentes (escola, lazer, trabalho etc).
No Brasil, a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo) foi responsável pela primeira ligação na rede, em 1988, para uso exclusivo de
troca de informações em pesquisas cientificas. Em 1992, o Ministério de Ciência e
Tecnologia criou a Rede Nacional de Pesquisa, programa que visava a ampliação
das ligações internas no país.10
O Brasil lançou o Livro Verde em 2000, que contém as metas de
implementação do Programa Sociedade da Informação e constitui uma súmula
consolidada de possíveis aplicações de Tecnologias da Informação. O documento
que lhe deu origem foi elaborado pelo Grupo de Implantação do Programa,
composto por representantes do MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia), da
iniciativa privada e do setor acadêmico, sob a coordenação de Tadao Takahashi.
Esse livro contempla um conjunto de ações para impulsionarmos a Sociedade da Informação no Brasil em todos os seus aspectos: ampliação do acesso, meios de conectividade, formação de recursos humanos, incentivo à pesquisa e desenvolvimento, comércio eletrônico, desenvolvimento de novas aplicações (SARDENBERG, 2000, pág. 5)
Na mesma velocidade do avanço tecnológico, de certa forma, temos a
expansão e popularização do acesso à rede no território brasileiro na atualidade.
Segundo pesquisa do IBGE - publicada pelo jornal O Estado de São Paulo em 18 de
setembro de 2007, no período entre 1999 e 2006 o número de municípios com
provedores de internet cresceu 178%, sendo que em 1999, 16,4% dos municípios
apresentavam o serviço e em 2006 esse número chegou a 45,6%.
Espera-se que as metas e as condições levantadas e estabelecidas pelo Livro Verde amadureçam e que conseqüentemente seus dados, análises e intenções consubstanciem os avanços preconizados e ali considerados indispensáveis para o país ombrear-se com outros eletronicamente mais desenvolvidos e, assim, não ficar de fora, excluído, a ouvir e a assistir ao concerto das nações só pela sala de videoconferências (VOGT, 2001, p.1).
A movimentação dos estudiosos e do Estado Brasileiro para acompanhar o
ritmo do avanço tecnológico na atualidade mostra o amadurecimento do país nessas
10 Vide Glossário
45
questões, mesmo com o acesso a estas tecnologias ainda dividido entre as classes
de forma não equilibrada.
Para entender este enquadramento de veículos e profissionais no novo
formato de produção de informações, agora publicadas na Internet, é preciso
conhecer as diferentes plataformas de trabalho, o formato de dados disponíveis no
meio digital e as maneiras de se relacionar com todos esses fatores. Vamos nos ater
a dois formatos específicos de veiculação: Blogs e Wikis.
De ferramenta utilizada por adolescentes e adultos para relatar seu dia-a-dia
e “postar” fotos, os blogs se tornaram ferramentas estratégicas de comunicação
corporativa e de disseminação de informação.
Como meio interativo e colaborativo, os blogs partem do conceito do “faça
você mesmo”, como afirmam os autores da coleção Conquiste a Rede, Ana Carmem
Foschini e Roberto Romano Taddei.
O universo dos Blogs, chamado de blogosfera, apresenta uma variedade
enorme de conteúdos diferenciados que vão de fotos, áudios, textos, poemas,
humor a reclamações, protestos e lutas por direitos dos animais, plantas etc. Mas
um fator interessante desta ferramenta é que ela transformou o internauta em um
produtor de informações. Na blogosfera os internautas produzem, procuram, indicam
e compartilham conteúdos gerados por eles mesmos, por conhecidos ou por
blogueiros / organizações que adquiriram sua confiança.
Segundo Taddei e Foschini (2006, p.11):
Apareceu pela primeira vez em 1994, quando o estudante norte-americano Justin Hall criou um dos primeiros sites com o formato de blog de que se tem notícia e popularizou-se a partir de 1999, com o surgimento de ferramentas de publicação que não envolvem gastos ou conhecimento técnico. Mas foi em 2001 que despontou como fenômeno.
Em 2001 os blogs se destacaram como fontes de notícia devido aos
atentados contra o World Trade Center, e a partir daí se multiplicaram velozmente.
Durante este tempo os blogs têm servido como fonte de notícia para a própria
mídia que apura os fatos noticiados e noticia por meio da ferramenta também e para
organizações com diversos fins (propaganda institucional, relacionamento com o
cliente etc).
46
Os blogs assim como os portais utilizam-se de uma tecnologia chamada RSS
(Rich Site Summary)11 que é um agregador de conteúdo. O internauta assina o RSS
do blog e passa a receber os posts ou resumos deles em seu programa leitor de
feeds (fontes) sem que tenham que ir até o site. Este é um dos grandes motivos de
sucesso dos blogs: os “blogueiros” têm seus conteúdos espalhados pela internet e
seu nome é referenciado em diversos sites.
A publicação de posts de outros blogueiros (trackbacks)12 também faz parte
do processo de disseminação de informações na rede. Com isso o usuário
(organização e/ou internauta) se liga ao conteúdo original e mantém sua relevância,
estratégia utilizada por blogs corporativos que visam o marketing institucional.
Tendo em vista essa produção colaborativa, não se pode deixar de reconhecer os blogs como importante espaço de sociabilidade. Portanto, o blog/espaço pode se transformar em um ponto de encontro de um grupo de interagentes. A interação recursiva e o comprometimento dos participantes com o grupo pode resultar na emergência de uma comunidade virtual (PRIMO, 2007).
Os blogs de jornalismo cidadão se utilizam desta estratégia para disseminar
as notícias entre os usuários, que enviam fotos, vídeos e áudios dos acontecimentos
que desejam relatar, aumentando a possibilidade da notícia se espalhar pela rede
sendo indicada por outros blogueiros. Ajudando a promover o RSS para os usuários
o site Feed Icons (feedicons.com) distribui gratuitamente o ícone em diversos
formatos pra inserção de sites - utilizando o mesmo princípio de “popularização” e
disseminação que os blogs de jornalismo cidadão.
Outro novo formato de comunicação via web é a plataforma Wiki. O mais
conhecido exemplo desta plataforma é a Wikipedia.
A Wikipédia é uma enciclopédia multilíngüe on-line livre, colaborativa, ou seja,
escrita internacionalmente por pessoas de diversas regiões do mundo. Criada em 15
de Janeiro de 2001 baseia-se no sistema wiki (do havaiano wiki-wiki = "rápido",
"veloz", "célere"). O modelo wiki é uma rede de páginas web contendo as mais
diversas informações, que podem ser modificadas e ampliadas por qualquer pessoa.
Este é o fator que distingue a Wikipédia de todas as outras enciclopédias: qualquer
pessoa com acesso a Internet pode modificar qualquer artigo, e cada leitor é
potencial colaborador do projeto.
11 Vide Glossário
12 Vide Glossário
47
A enciclopédia sem fins lucrativos é gerida e operada pela Wikimedia
Foundation. Está disponível em 257 idiomas dialetos com um total de
aproximadamente 316.260 artigos na versão em língua portuguesa (dados de 18 de
Outubro de 2007. O número total de páginas se aproxima dos 24 milhões e inclui
imagens, páginas de usuários, páginas de discussão, categorias, predefinições,
páginas de gestão dos projetos.
Nas palavras do co-fundador Jimmy Wales, a Wikipédia é "um esforço para
criar e distribuir uma enciclopédia livre e em diversos idiomas da mais elevada
qualidade possível a cada pessoa do planeta, em sua própria língua".
Contudo, o fato de qualquer um, especialista ou não, poder editar o conteúdo
da Wikipédia tem gerado controvérsias, assim como o princípio do jornalismo
cidadão que discutiremos adiante.
As organizações têm se utilizado da plataforma wiki para a gestão do
conteúdo colaborativo na web, proporcionando aos funcionários que tenham
autonomia para gerir, num processo participativo, as informações referentes à
empresa. No wiki da empresa os funcionários podem ter uma página com suas
informações, por exemplo, podem inserir informações sobre seu departamento,
sobre os processos de trabalho e essa gama de informações pode até mesmo ser
utilizada em treinamentos de novos colaboradores, que têm todas essas
informações disponíveis na internet.
O conteúdo do wiki institucional13 pode ser protegido por senha, portanto não
há perigo de indivíduos que não fazem parte do corpo de colaboradores editarem os
dados inseridos.
Assim como os blogs, a plataforma wiki também é utilizada em portais de
notícias e de disseminação de conhecimento seguindo o conceito do jornalismo
cidadão.
Seguindo esta visão temos a posição de Tim Berners-Lee, criador da www,
que declara que “a internet é para ser lida e escrita” e os conceitos de blog, wiki,
podcast, entre outros, que para Dan Gilmor:
[...] são como ferramentas que redimiram a internet e fazem com que seu espírito inicial seja recuperado, possibilitando que cada internauta tenha a sua própria mídia, o seu próprio veículo, não
13 Vide anexo G
48
apenas publicando, mas também selecionando leituras (GILMOR, 2004, p.23 apud TADDEI, 2005, p. 13).
O desenvolvimento e a constante evolução de todos estes conceitos que
envolvem a informação da atualidade revolucionam o fazer jornalismo e pedem uma
nova postura do profissional de comunicação, que passa a se deparar com uma
nova realidade em que a participação na “construção” da notícia (presenciar a
notícia e a registrar) não é mais algo que cabe somente aos jornalistas.
Com o aparato tecnológico da atualidade, os cidadãos têm condições de
registrar momentos importantes no cotidiano da sociedade, sejam eles denúncias de
infrações e/ou registros de fenômenos da natureza entre outros. Ou seja, a notícia
passa a ter um novo formato para alguns cidadãos, pois estes passam a ter a
possibilidade de fazer parte de sua construção, colaborando com os jornalistas no
registro e investigação dos fatos. Essa nova “modalidade de jornalismo” é
denominada de jornalismo cidadão e será discutida adiante fazendo uma relação
com os pontos já analisados no decorrer deste trabalho.
Por décadas a sociedade teve que conviver com a informação de maneira
linear, vida de cima para baixo, sem a possibilidade de interação. Hoje o constante
avanço das tecnologias, mais especificamente através da internet, vem provocando
o surgimento de um novo modelo de comunicação mundial, a possibilidade de
participação do cidadão na produção e veiculação dos acontecimentos.
2.3 Jornalismo Cidadão
Com o crescimento de usuários da internet no país e o novo contexto digital
apresentado anteriormente (a expansão do jornalismo on-line), uma nova
modalidade de jornalismo mundial vem ganhando espaço no Brasil, o jornalismo
colaborativo, ou como é mais conhecido o “jornalismo cidadão”.
Baseado na idéia de que cada pessoa pode ser testemunha de um fato, o
cidadão está deixando de ser um mero espectador de notícias para transformar-se,
ele próprio, em um narrador dos fatos. Essa modalidade da mídia virtual tem
crescido de maneira vertiginosa como pudemos constatar na leitura de diversos
artigos a respeito do assunto. Além dos portais alternativos, os grandes veículos de
comunicação de todo o mundo se rendem a essa tendência do jornalismo
participativo.
49
Enquanto parte dos profissionais e teóricos se preocupam com a velocidade
no fluxo de informações e a interferência dessa dinâmica na qualidade do conteúdo,
outros abrem discussões a respeito da participação do público na interação das
notícias e dos fatos.
Trata-se da ação de pessoas sem formação jornalística que decidem apurar
acontecimentos de suas comunidades para dividi-los com outras pessoas. Segundo
Foschini e Taddei (2006, p. 9), autores do livro Jornalismo Cidadão, Você faz a
Notícia, “você tem o poder de transformar a comunicação em um caminho de duas
mãos”.
Já o jornalista norte-americano Dan Gillmor, autor de We The Media14, livro
referência sobre o tema, ratifica que a participação de internautas pode aprimorar o
trabalho de jornalistas, corrigindo-o e tornando-o mais completo.
Além da internet, vive-se um momento de grande produção de informações: o
público hoje tem acesso a celulares e equipamentos digitais que cumprem a função
de câmeras fotográficas e de captação áudio-visual. Equipamentos pequenos, leves
e de fácil utilização, que não só capturam imagens, mas as enviam para e-mails ou
blogs quase que instantaneamente.
Grandes fatos da atualidade têm sido registrados por esse avanço, como por
exemplo, repressões, ações de guerrilha e outros assuntos que antes eram velados
pela imprensa. Graças às novas tecnologias da comunicação, as manifestações
contra o regime militar em Mianmar são acompanhadas por todo o mundo, por
exemplo, ao contrário do ocorrido em 1988, antes da internet, quando poucas
informações sobre a sangrenta repressão "vazaram" para o resto do planeta. O
anexo F apresenta na íntegra a matéria do G1 sobre este assunto.
Em entrevista ao site www.clicrbs.com.br, a jornalista e especialista em
jornalismo colaborativo Ana Maria Brambilla, que fez sua dissertação de mestrado
sobre o site sul-coreano OhMyNews, pioneiro nesta iniciativa, diz que a Interação e a
comunicação sempre foram inerentes ao ser social, mas a dimensão midiática que
essa troca adquire no jornalismo colaborativo na internet é inédita e atende a uma
demanda jamais satisfeita por outro veículo.
Trata-se de um momento histórico para o jornalismo, pois nem todos os
profissionais da área concordam com a entrada de “cidadãos comuns” na cobertura
14 Vide anexo E
50
de notícias. As conseqüências para a profissão são claras: “a participação do público
leigo no jornalismo faz com que o jornalista profissional enfrente uma das maiores
crises de identidade de sua história”, afirma Brambilla.
Na mesma linha, segundo Gillmor:
[...] a venerável profissão de jornalista se encontra em um raro momento onde sua hegemonia como filtro de informações é ameaçado não apenas pela tecnologia e pela competição do mercado, mas potencialmente, pela audiência a que serve (GILMOR, 2004, p.28 apud TADDEI, 2005, p. 15).
Tais “perigos” não são despercebidos pela classe, que reage atacando o
jornalismo colaborativo.
Entre os argumentos dos contrários à tamanha entrada do público em
espaços na grande mídia está a credibilidade dos relatos apurados por pessoas sem
a mesma formação que os jornalistas recebem e o modo como então são
“construídas” e veiculadas essas notícias. Essa nova dinâmica do fluxo de
informações na internet acabaria sendo então prejudicial, tornando a linguagem do
jornalismo mais “empobrecida”.
Neste cenário de opiniões controversas, de acordo com Carlos Castilho,
colaborador do site Observatório da Imprensa (OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA,
2008) as “discussões sobre a legalidade dessa modalidade começam a ser
realizadas pelo mundo”
O sindicato nacional de jornalistas da Grã Bretanha (National Union of
Journalists) tornou-se a primeira entidade do gênero no mundo a tentar regulamentar
a participação de pessoas comuns na produção e distribuição de notícias. O debate
entre jornalistas britânicos mostrou que a regulamentação do chamado jornalismo
cidadão não é tão simples assim e colocou mais uma vez em evidência como a
internet está mudando as rotinas na busca, processamento e publicação de notícias.
No Brasil, algumas entidades começam a se posicionar sobre o assunto.
Segundo o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Sérgio de
Andrade, em matéria do Observatório da Imprensa, “um internauta, por exemplo,
não tem compromisso de checar bem a notícia antes de publicar”.
A discussão sobre a regulamentação do chamado jornalismo cidadão, talvez
seja um processo longo, porque corre o risco de transferir a questão para o âmbito
51
corporativo, quando na realidade o que está em jogo é toda uma nova concepção de
notícia e a inclusão de novos personagens na produção da informação.
Este novo formato de noticiar, que conforme citado anteriormente, afeta as
relações entre jornalistas, fontes de informação e a audiência (passando esta a ter
um papel importante na produção e veiculação das notícias), não se exime dos
propósitos comerciais dos proprietários dos meios de comunicação. Tem-se então a
seguinte posição do jornal para se relacionar com um elemento fundamental para a
sua sobrevivência, o anunciante.
Abrindo as portas para a participação da população e monitorando este
movimento por meio das ferramentas que o avanço tecnológico atual oferece, a
edição do jornal tem a possibilidade de encantar o anunciante com um espetáculo
de números e estatísticas de acesso ao site, que garantem ao anunciante o retorno
esperado do investimento em questão.
Por meio de ações estratégicas de croos-media15 ou simplesmente pelo
movimento natural de incentivo ao leitor em usufruir os benefícios da nova relação
com o periódico, agora em sua versão on-line, os jornais aumentam de forma
significativa o acesso às informações que disponibilizam na internet e o espaço da
notícia passa a ser mais rentável como produto, ou seja, com um maior impacto
sobre a audiência, o jornal tem maiores chances de vender seu espaço publicitário
na medida em que esse espaço passa a ter mais valor agregado para o anunciante.
Um dos exemplos que temos desse modelo comercial da participação da
população na produção jornalística é a iniciativa recente da Agência Estado no Brasil
que abriu o espaço “Foto Repórter” (uma iniciativa pioneira no País, lançada pelos
veículos do Grupo Estado. Um canal para receber fotos de interesse jornalístico
enviadas por qualquer pessoa, através de telefones celulares ou computadores via
e-mail) para a publicação de conteúdo denominado “amador”.
A iniciativa consiste em permitir que o cidadão, que tenha tirado uma foto ou
gravado um vídeo sobre um fato que julga ser relevante e importante para
conhecimento de todos disponibilize esse material no site, ficando registrado no
banco de dados da agência, e se o material é publicado por algum dos jornais do
Grupo Estado de São Paulo for vendido para outros veículos de comunicação o
15 Vide Glossário
52
“repórter cidadão” recebe uma determinada quantia em dinheiro como incentivo para
continuar a oferecer pauta aos jornalistas.
A atual relação entre editor dos meios de comunicação convencionais e o
leitor está sofrendo desgaste: os leitores começam a perceber que os jornais têm
seus próprios interesses e seus prazos. O cidadão está se dando conta de que a
informação ganha aos poucos (mesmo com a velocidade da penetração e difusão do
jornalismo on-line) uma nova tendência, o reflexo das opiniões dos leitores e não
mais simplesmente a expressão da vontade dos atuais “donos” dos meios de
comunicação.
Assim, no ambiente digital, o público dispõe de autonomia não apenas para acessar o conteúdo de acordo com sua demanda particular, mas de contribuir com o material disponível. É o que Castells (2000) chama de capacidade auto-reguladora de comunicação, ou seja, o modelo segundo o qual muitos contribuem para muitos, mas cada um tem voz própria e potencialidade de respostas individualizadas (BRAMBILLA, 2006, p. 19).
Dentre os diversos portais que hoje “investem” na adoção do jornalismo
colaborativo, encontramos formatos diferenciados para gerir a relação entre os
repórteres cidadãos, os jornalistas, o conteúdo publicado e a audiência.
Observamos no OhmyNews, um site desenvolvido pelo jornalista sul-coreano
Oh Yeon Ho com mais de 40 mil colaboradores, uma liberdade maior na produção
do texto da notícia enviada, que é de responsabilidade do repórter cidadão. Não é
apenas uma sugestão de pauta em que a população envia o tema e o jornal cuida
do restante. O processo se desenha da seguinte forma: o jornalista responsável na
edição decide o que vai publicar de acordo com a demanda recebida, podendo
recusar matérias após analisar a pauta e checar informações. Em seguida corrige o
estilo do texto, em conversação com o autor para chegar a um consenso sobre a
forma de publicação. É um sistema de moderação centralizada, em que as decisões
de publicação e a avaliação da participação efetiva ou não da notícia na pauta fica a
cargo de um jornalista responsável pela edição. Temos na figura 1 a da interface do
OhmyNews.
53
Figura 1- Home do OhmyNews Fonte: Disponível em: http://english.ohmynews.com
Existe também o sistema de moderação compartilhada e plataformas de
notícia que não utilizam moderação convencional, onde acontece naturalmente
pelos próprios usuários (repórteres cidadãos). São exemplos destes formatos o
Slashdot e o Wikinews respectivamente.
No sistema do Slashdot (figura 2), o software sorteia randomicamente 400
moderadores por vez entre os leitores cadastrados, que têm a relevância em seus
comentários avaliada de -1 a +5. São avaliados para a escolha desses moderadores
o tempo de participação, a assiduidade e a qualidade atribuída ao que já foi
publicado por eles anteriormente.
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Figura 2- Home do Slashdot
Fonte: Disponível em http://www.slashdot.org
O CMI (Centro de Mídia Independente) tem seu sistema de moderação
classificado como centralizado, mas com certo diferencial. Os comitês editoriais são
escolhidos entre colaboradores voluntários que fazem o papel dos moderadores,
mas não intervém nos textos. Os artigos ou são publicados na forma como foram
enviados pelo cidadão ou são colocados na seção “Artigos Escondidos”, que tem a
seguinte definição: “Matérias repetidas, sem conteúdo ou que violam a Política
Editorial”. Neste processo de organização das publicações, os moderadores
decidem quais notícias ganharão destaque e quais serão encaixadas na lista de
notícias, como podemos ver na figura 3.
55
Figura 3- Home do CMI
Fonte: Disponível em http://brasil.indymedia.org/pt/blue/
O Wikinews, por exemplo, é categorizado por Primo e Träsel (2006) como
plataforma sem moderação pelas seguintes características do sistema:
Os colaboradores são deixados à vontade para publicar notícias ou intervir nos textos publicados por outros. Cada notícia tem um histórico de modificações e pode ser revertida para versões anteriores, em caso de algum interagente acrescentar erros ou distorções, ou ainda quando há vandalismo (PRIMO;TRÄSEL, 2006, p.15).
Martins (2006) o classificaria como uma rede com moderação compartilhada,
já que o processo de ordem-desordem-organização é um movimento natural entre
os usuários da rede colaborativa, que são os mesmos princípios de funcionamento
da Wikipedia, citada anteriormente.
O Wikinews possui administradores do sistema que intervém em casos
extremos de vandalismo, mas seu papel principal é manter as ferramentas
funcionando. Há administradores de sistema para cada versão do Wikinews (uma
versão pra cada idioma, conforme mostra a figura 4).
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Figura 4- Home do WIKINEWS
Fonte: Disponível em http://www.wikinews.org
Podemos classificar o WikiNews diferentemente de como Primo e Träsel
classificaram o Slashdot - sem moderação - pois a moderação acontece pelos
próprios usuários, segundo os próprios autores o maior trabalho de verificação é
feito pelo conjunto de colaboradores, por todos aqueles que usufruem e
compartilham informações na plataforma, mesmo sem ter oficial ou hierarquicamente
uma posição de administrador ou de fiscal da plataforma.
Surge então a preocupação dos profissionais com o que denominam “excesso
de liberdade” na publicação de notícias e levantam questões anteriormente
colocadas como a credibilidade e a seriedade do que vai ser noticiado.
O Wikinews assim como a Wikipedia funciona de maneira auto-reguladora,
pois os usuários estão em sua grande maioria dispostos a desmascarar toda e
qualquer fraude e corrigir qualquer erro que encontrem pelo caminho. O propósito
dessas plataformas é proporcionar que os usuários façam parte do que é veiculado,
que deixem de ser simplesmente a notícia e passem a ser também quem noticia.
No jornalismo cidadão, assim como nos casos apresentados, o acesso às
informações e a meios tecnológicos que permitam que se faça parte da notícia estão
cada vez mais acessíveis. Parte dos leitores hoje possui câmera digital que realiza
filmagens além de tirar fotos (utiliza-se o celular também) e aparelhos para enviar
mensagens (em sua maioria, celulares).
57
O cidadão pode passar pela rua e flagrar um acontecimento e então postar
em seu blog ou até mesmo enviar a um jornal para que este cheque os fatos e faça
uma matéria completa sobre o ocorrido, graças ao aumento da interação e aos
meios tecnológicos que permitem o compartilhamento de dados.
Estes exemplos demonstram que a colaboração abre um campo a mais para
os jornalistas e não representam uma ameaça ao seu espaço profissional. Isso pode
contribuir para uma maior fidelidade e rapidez na informação. Porém, é necessário
que haja uma adaptação a essa nova tendência, percebendo que com tamanha
oferta informacional na Internet e com um espaço de publicação praticamente
infinito, as pessoas procuram cada vez mais conteúdos que vão além de simples
relatos ou manchetes sensacionalistas e tendenciosas. Os usuários globais querem
conhecer diversos pontos de vista sobre fatos globais, nacionais, regionais e locais e
isso se torna mais uma opção na oferta de notícias na medida em que jornalistas e
repórteres cidadãos trabalhem juntos para oferecer esse serviço aos demais
usuários.
Considerando o exposto, a seguir apresentam-se os resultados de uma
pesquisa realizada com jornalistas e estudiosos sobre o tema “Jornalismo Cidadão”
e seu impacto na sociedade atual.
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3 APRESENTAÇÃO DAS PESQUISAS DESENVOLVIDAS
Neste capítulo apresentamos os resultados de duas pesquisas qualitativas
realizadas para fundamentação do presente estudo. A primeira foi realizada com
jornalistas, cujo objetivo foi o de coletar opiniões sobre o reflexo que a produção da
notícia pelos cidadãos sem formação específica poderá causar no meio profissional.
A segunda, destinada a pesquisadores que vêm se dedicando ao tema, teve a
finalidade de observar os impactos que esse processo trará ao futuro da sociedade e
suas opiniões sobre o futuro do jornalismo diante dessa transformação.
3.1 Pesquisa realizada com jornalistas
3.1.1 Justificativa
Pretendeu-se com esta pesquisa coletar opiniões dos comunicadores sobre essa
nova modalidade de jornalismo e expectativas que possuem a respeito da
utilização da internet como veículo disseminador da informação exercida através
de um público sem formação na área. A necessidade da realização desta
pesquisa foi constatada em virtude da carência de trabalhos disponíveis para
este estudo, por se tratar de uma temática recente.
Considerando que o jornalismo colaborativo tem uma tendência de
crescimento, esta pesquisa levou em consideração os seguintes questionamentos:
� Quais os fatores que propiciaram o surgimento do jornalismo participativo ou
“jornalismo cidadão”?
� Como as grandes corporações da área de comunicação irão se comportar
diante dessa nova forma de prática do jornalismo?
� De que maneiras essa nova tendência pode influenciar a sociedade?
� Que tipos de mudanças isso trará aos atuais padrões da notícia (formatação,
veiculação, credibilidade)?
� Qual a posição dos jornalistas diante desse novo campo de atuação?
� Essa é uma tendência que veio para ficar, ou um modismo?
� Como a legislação atual se posiciona quanto ao fato de pessoas “sem
preparo” estarem atuando como comunicadores. Em relação à ética, cabe a
quem o controle sobre o que é publicado?
59
3.1.2 Objetivos
� Selecionar profissionais que atuam na área de comunicação para a
manifestação de suas opiniões.
� Abordar as questões éticas e legais sobre a participação do cidadão sem
formação na produção e disseminação da notícia, na visão de pessoas
diretamente influenciadas por essa discussão. Temos como finalidade, avaliar
os entraves e os benefícios que esse novo conceito de jornalismo pode
provocar na sociedade.
� Pesquisar sobre o surgimento dessa nova tendência de jornalismo
proporcionado pela internet, sua evolução e as possíveis transformações nos
padrões do jornalismo atual.
� Realizar busca de informações junto a portais que ofereçam informações
sobre atualidades e que estejam caracterizados como “jornalismo Cidadão”.
3.1.3 Metodologia
Através de pesquisa bibliográfica, de observação e análise de sites que já
produzem e disseminam esta forma de jornalismo participativo, foi elaborado um
roteiro contendo questões específicas destinadas a jornalistas. A formulação desta
ferramenta teve o propósito de elucidar a reação dos comunicadores quanto às
mudanças provocadas por esse novo sistema de produção e veiculação da notícia.
Este roteiro conta com 10 perguntas que abordam: tempo que atuam no
mercado, em que tipo de veículo de comunicação atua, se já ouviram falar sobre
jornalismo participativo, questões éticas, de legislação profissional, mercado de
trabalho e se essa participação de cidadãos sem formação profissional poderá
comprometer negativamente a mídia convencional.
O instrumento contendo as questões foi enviado via correio eletrônico
aleatoriamente para profissionais da área de comunicação que atuam em várias
regiões do País e foi previamente definido o anonimato dos participantes durante a
apresentação dos resultados.
60
3.1.4 Limitações
Devido ao pouco tempo que dispúnhamos para organizar os dados de uma
pesquisa sobre um tema tão recente, foram selecionados 20 (vinte) jornalistas.
Destes apenas 7 (sete) retornaram com as respostas.
3.1.5 Apresentação dos resultados
Apresenta-se a seguir a sistematização das respostas obtidas junto aos
profissionais da área de comunicação, participantes da pesquisa.
As informações encontram-se organizadas em quadros para melhor
visualização.
Quadro 1- Tempo de atuação na profissão
Discriminação dos participantes Respostas
Jornalista 1 7 anos e 10 meses
Jornalista 2 15 anos
Jornalista 3 5 anos
Jornalista 4 20 anos
Jornalista 5 18 anos
Jornalista 6 17 anos
Jornalista 7 7 anos
Dos respondentes, 57% atuam há 15 anos ou mais na profissão, momento
em que a Internet apenas “engatinhava” no Brasil, o que nos leva a considerar que
em suas formações acadêmicas tiveram pouco contato com essa nova tecnologia de
informação. Isso pode contribuir para que esses profissionais tenham resistência em
assimilar as novas ferramentas e formatos de disponibilização da notícia na
atualidade.
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Quadro 2- Especificação do veículo em que atuam Discriminação dos participantes Respostas
Jornalista 1 Jornal
Jornalista 2 Jornal
Jornalista 3 Jornal
Jornalista 4 Jornal, site e assessoria de imprensa
Jornalista 5 Jornal
Jornalista 6 Jornal
Jornalista 7 Jornal, rádio e TV e assessoria de
imprensa/comunicação corporativa
Todos trabalham ou trabalharam em jornais impressos, sendo que apenas
dois participantes indicam experiência em outro tipo de mídia, como rádio, TV ou
Assessoria de Comunicação em empresas. Acreditamos que, pelo fato da grande
maioria dos pesquisados atuarem em jornais impressos isso trará um resultado
importante para o nosso trabalho, já que o jornalismo impresso é o principal meio
que vem sofrendo as conseqüências dessa nova tendência.
Quadro 3- Considerações e acompanhamento sobre o tema “Jornalismo Cidadão”
Discriminação dos participantes
Respostas
Jornalista 1 Acredito que a participação do cidadão é muito importante em qualquer meio de comunicação. O jornalismo virtual facilitou essa interação entre público e provedor da notícia
Jornalista 2 Muito pouco. Como estou envolvido diretamente com notícias factuais, tenho analisado pouco isso.
Jornalista 3 Médio
Jornalista 4 Sim, tenho. Eu mesmo atuo em blogs, um pessoal e outro ligado a um meio de comunicação para o qual trabalho. Acho que, como ferramenta de expressão de idéias pessoais, não importa de qual assunto, os blogs são extremamente interessantes. Quando se posicionam como fornecedores de informação jornalística, porém, tornam-se extremamente perigosos, a não ser que tenham um profissional da área como responsável. Também me preocupa a participação de internautas em sites noticiosos, em seções como “Você faz a
62
notícia”. Notícias devem ser cuidadosamente apuradas e checadas e as fontes precisam ser idôneas e confiáveis. Nessa modalidade de comunicação, isso não é possível.
Jornalista 5 Não acredito que esse seja, pontualmente, um tema novo. As formas e, principalmente, os interesses, são novos. O fato de vivermos a chamada “era da comunicação” tem dado ao jornalismo uma aura de deslumbre. O antes chamado quarto poder virou primeiríssimo poder e isso expõe nossa atividade profissional a muitos enganos e distorções. Por outro lado, a história do jornalismo, no Brasil e no mundo, remete à profissionais que dedicaram a vida ao jornalismo - com louvor - sem nunca terem freqüentado universidade. Mas é preciso destacar que jornalistas ‘são’. E não ‘estão’. Exatamente como no teatro. É muito distinto ser ator e ser ator da Malhação. O que mudou não é a participação de “pessoas comuns” na produção de textos editorais, mas a maneira como isso tem se processado. De repente todo mundo “se acha” jornalista só porque entende de um assunto e sabe juntar sujeito, verbo e predicado (nessa ordem). Assim, a participação de pessoas não formadas academicamente na produção de material jornalístico sério precisa ser criteriosa. Jornalismo é um OFÍCIO que vai além da técnica de escrever bem. Fazer parágrafo é diferente de fazer lead.
Jornalista 6 Tenho. Participação cidadã é sempre desejada, mas conforme a forma com que é disponibilizada pelos veículos, pode ser aproveitável ou não. As perguntas com alternativas de respostas (votação) disponibilizadas nos sites, por exemplo, meio que imbecilizam a interatividade, porque o resultado que se tem é sempre quantitativo e perde-se o debate de idéias. Até veículos que têm canais para estimular o debate cidadão utilizam mal esta interatividade. Um exemplo é o jornal da EPTV da nossa região (São Carlos), que abre em seu site espaço para internautas se pronunciarem sobre seu noticiário, mas no ar seus apresentadores limitam-se a ler os e-mails no ar, como se fossem “recadinhos “. Não se dá nenhuma resposta ou réplica, não se faz nenhum comentário ou sequer se promete mobilizar uma equipe de reportagem para abordar mais profundamente o assunto proposto pelo internauta. Isso é interatividade?
Jornalista 7 Não tenho acompanhado
Dos jornalistas que disseram que têm acompanhado o assunto, 57%
consideram que a participação de pessoas sem formação profissional é benéfica,
mas fazem ressalvas aos critérios quanto ao tipo de participação. Aceitam essa
63
participação como fonte de informação, mas que no momento da publicação das
notícias deve existir uma “checagem” e um aprofundamento maior da informação
realizada por um profissional da área.
Outro fato a ser destacado é que 3 (três) dos 7 (sete) participantes disseram que
acompanham pouco ou não têm acompanhado o tema. Isso vem ao encontro da
nossa expectativa apresentada no comentário do quadro 1, que destaca o tempo de
formação acadêmica como fator determinante na assimilação e envolvimento sobre
a temática, já que a Internet é um veículo de comunicação inserido na sociedade
posteriormente à formação da maioria dos participantes.
Quadro 4- Opiniões dos entrevistados a respeito da disseminação de notícias por pessoas sem formação profissional
Discriminação dos participantes
Respostas
Jornalista 1 O cidadão deve participar, dar opinião, sugerir reportagens, dar depoimento, a notícia deve ser produzida pelo jornalista.
Jornalista 2 Sou contrário, tanto como jornalista quanto como sindicalista. Isso é prejudicial para a profissão, além de que ocorrem muitas arbitrariedades e erros de informação por parte de pessoas inexperientes, que também não têm a devida responsabilidade ética.
Jornalista 3 Acho que cidadãos sem formação jornalística podem ser ótimas fontes de pautas para os veículos de comunicação, mas não acho legal que os cidadãos façam as matérias.
Jornalista 4 Extremamente preocupante. A velocidade de propagação das informações pela internet torna esse tipo de comunicação muito mais perigosa ainda. Reputações de pessoas e organizações podem ser seriamente prejudicadas por notícias mal elaboradas, intencionalmente ou não. Esse é só um exemplo, claro. Há uma infinidade de prejuízos, de todos os tipos, que a divulgação irresponsável e despreparada de informações pode ocasionar.
Jornalista 5 Para artigos não vejo problema (se estiverem bem escritos). Mas para a produção diária de material jornalístico o buraco é mais embaixo porque nosso trabalho (como todos os outros de formação acadêmica) requer um mínimo de técnica, olhar atento, sensibilidade para discernimento do que é e do que não é notícia, bagagem argumentativa. E essas habilidades precisam, ainda, estar adequadas aos diferentes veículos. Nem todo mundo que sai de uma faculdade é, de fato, jornalista. Mas elaboração e disseminação de notícias por cidadãos sem formação profissional específica é roleta russa. Mesmo porque,
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jornalista que é jornalista sabe que ele não produz notícia. Só a transmite.
Jornalista 6 Tão perigosa quanto a elaboração e disseminação de notícias por jornalistas com formação técnica, mas sem formação ética. E a ética do jornalista, como já disse Claudio Abramo, é a mesma do cidadão. Portanto, acredito que cidadãos sem formação específica mas com ética são menos perigosos que o contrário, porque técnica se adquire com a prática, mas ética a gente forma desde o berço e quem não adquiriu ao longo da vida, não a encontrará num banco de faculdade.
Jornalista 7 A divulgação de uma notícia requer apuração e veracidade. Senão, não é notícia, é falácia. Tal apuração requer critérios técnicos que foram passados ao profissional de comunicação durante formação profissional específica. Por isso defendo o exercício da profissional por jornalistas formados.
Todas as respostas foram contrárias à elaboração e disseminação de notícias
por pessoas sem formação profissional, apesar de reafirmarem a importância da
participação de “Leigos” como colaboradores. Além do questionamento ético no
tratamento de uma notícia, exposta pela maioria, a responsabilidade pela veracidade
das informações é o que mais preocupa os jornalistas a respeito dessa prática.
Existe a alegação de que isso poderia prejudicar a reputação de pessoas ou
instituições se não houvesse responsabilidade na apuração dos fatos. Alguns
jornalistas também se mostram preocupados com questões técnicas na produção de
matérias, questionando o preparo e a falta de experiência, diante da falta de
formação específica.
Quadro 5- Opiniões dos entrevistados sobre o comprometimento da credibilidade da mídia atual através dessa nova prática
Discriminação dos participantes
Respostas
Jornalista 1 Não acho que comprometa a credibilidade como um todo, desde que haja a identificação do produtor da informação e que seja especificado que ele não é um jornalista. Caso isto não fique claro ao leitor, a divulgação de uma informação incorreta ou imoral poderá sim prejudicar a credibilidade do veículo em que foi feita a publicação.
Jornalista 2 Informações errôneas levam ao erro de juízo, à falta de credibilidade, e pode até comprometer a sociedade. Mentiras repetidas seguidamente tornam-se verdades, e isso é perigoso, mesmo num
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país democrático.
Jornalista 3 Acho que pode haver muitas informações distorcidas e incorretas, sem os devidos procedimentos jornalísticos, como por exemplo, a checagem.
Jornalista 4 Isso é relativo. Cada meio de comunicação construiu – ou não – a sua credibilidade e se espera que ela não seja abalada por generalizações. Mas é inegável que a fomentação de informações via internet por pessoas despreparadas pode ter um impacto bastante negativo principalmente nos sites noticiosos, que tendem a sofrer com a desconfiança de internautas que eventualmente tenham se decepcionado com notícias enganosas.
Jornalista 5 Basicamente é a velha historinha de uma laranja podre no meio da cesta de laranjas boas. O ônus do estrago não vai separar as laranjas. Isso não é regra e nem dá para fechar questão. Mas, em primeira instância, todas as laranjas estavam na mesma cesta e, portanto, será mais seguro não comer nenhuma. Alguém desprovido de sensibilidade jornalística (feeling) e que desconhece totalmente os parâmetros básicos para condução do trabalho pode colocar em risco o respeito da atividade em todas as áreas. É difícil fugir do lugar comum: para diagnosticar e operar é preciso ter formação em medicina. Portanto, para ser jornalista...
Jornalista 6 Como assim? Um jornalista não é uma pessoa comum?
Jornalista 7 Na medida em que não houver veracidade, seriedade e imparcialidade na apuração e na divulgação desta notícia. Um jornalista deve saber quais são os princípios básicos no jornalismo, princípios estes que concorrem para a credibilidade dos meios de comunicação e dos profissionais da comunicação.
No que diz respeito à maneira como a informação jornalística produzida por
pessoas comuns pode comprometer a credibilidade da mídia como um todo, a maior
parte dos jornalistas afirma que a falta de veracidade e credibilidade, distorcidas ou
incorretas na produção e veiculação de notícias podem sim comprometer os veículos
de informação. Aqui mais uma vez fica explícita a preocupação dos profissionais
sobre a elaboração e disseminação de notícias por pessoas sem formação
profissional adequada na produção de informação. Neste quesito um dos
profissionais sugere que caso essa participação ocorra, o produtor da notícia deve
ser identificado como “não jornalista”.
Os veículos de comunicação tradicionais que estão abrindo espaço para a
participação do público, na sua maioria, monitoram ou adotam um espaço reservado
à participação de colaboradores, como temos observado em nosso trabalho.
Considerando que as grandes redes de comunicação prezam pela credibilidade do
que produzem e isso é uma questão de sobrevivência no mercado, dificilmente a
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informação que tem uma origem duvidosa será publicada sem uma prévia avaliação
editorial.
Quadro 6- Como o profissional de comunicação deverá se comportar diante do “cidadão repórter” Discriminação dos participantes
Respostas
Jornalista 1 Devem aproveitar a participação para colher informações, medir o impacto de reportagens e situações na comunidade, etc.
Jornalista 2 Devem se posicionar contrários a isso, pois, inclusive, vão contra a sua profissão. Podem inclusive “tomar” empregos por se dizerem os “donos da verdade”. Palavras e frases colocadas de forma errada também podem matar. Isso é um perigo.
Jornalista 3 Hoje ainda não sentimos isso, mas creio que no futuro isso nos trará duas conseqüências, banalização da profissão ou os jornalistas terão que ser muito especializados em cada área para se destacar.
Jornalista 4 Há que se separar o joio do trigo. Os meios de comunicação devem deixar claro aos internautas qual o material produzido por profissionais, e portanto “sério”, daquele inserido por pessoas “comuns”. Estes podem atuar como comentaristas, deixar suas impressões, interagir com os profissionais e demais internautas, mas não produzir informações. A postura do profissional da área deve ser a de preservar essa divisão de funções.
Jornalista 5 Com cuidado, atenção e muito critério na hora de aceitar ou descartar as ofertas de material produzido por quem não é da área. Especialmente os profissionais que ocupam cargos de chefia/edição.
Jornalista 6 Se por pessoas comuns deve-se entender “leigos” em comunicação, acho que o jornalista deve se pautar pelo interesse do leitor ao triar as notícias e opiniões com que esses leigos os abastece. Como sempre fez com suas fontes, aliás. Afinal, esses cidadãos não deixam de ser, em um espectro maior, informantes. Não viraram jornalistas apenas porque foram convidados a interagir com quem faz o jornal.
Jornalista 7 Cidadãos comuns tem todo direito de expressar suas opiniões em artigos, colunas de leitores, espaços abertos para comentários e opiniões dos cidadãos Agora, a produção de todo e qualquer material jornalístico em um veículo de comunicação deve estar a cargo dos profissionais da área.
Grande parte dos profissionais considera que o cidadão é um importante
contribuinte como fonte de informação, mas o papel de produção da notícia deveria
ficar sob a responsabilidade de uma pessoa com formação na área de comunicação.
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Afirmam que para os “leigos” existem espaços apropriados nos veículos como
coluna de leitores, espaço para artigos e para comentários e opiniões dos leitores.
Apenas um dos participantes manifesta a preocupação do jornalista ter seu espaço
de trabalho reduzido com a disseminação dessa prática.
Em nossa análise sobre essa questão, além da preocupação sobre uma
possível “banalização” da profissão, alguns jornalistas preocupam-se com o trabalho
“extra” que terão com essa prática. A checagem sobre a veracidade das informações
recebidas pelos veículos através de colaboradores vai requerer um esforço a mais
por parte das redações na verificação sobre a autenticidade da notícia.
Quadro 7- Como as entidades que representam estes profissionais devem se comportar Discriminação dos participantes
Respostas
Jornalista 1 Espero apenas que evitem a banalização do profissional de jornalismo, exigindo a correta identificação do profissional e também daquele não é. Também poderiam regulamentar uma participação máxima, para evitar que veículos trabalhem apenas com o texto do leitor, pois isto diminuiria a quantidade de postos para jornalistas.
Jornalista 2 O sindicato da categoria luta na Justiça para acabar com os registros “precários” (de pessoas não-formadas e que se intitulam jornalistas), mas a batalha é demorada. Como o caso é judicial e lento, resta aguardar. Enquanto isso, observamos muitas arbitrariedades.
Jornalista 3 Acho que primeiro tem que haver um esclarecimento, depois se pensar em medidas de controle.
Jornalista 4 Para se atuar como jornalista no Brasil é preciso ter diploma universitário, não importa para qual meio de comunicação a informação esteja sendo produzida. As entidades representativas dos jornalistas devem exigir que a lei seja cumprida.
Jornalista 5 De total resguardo do respeito e da lisura da atividade em todas as instâncias, veículos e mídias. Sempre.
Jornalista 6 Com estímulo ao debate de idéias a respeito entre todos os profissionais da imprensa. Os jornalistas não devem ficar com a cabeça enfiada dentro do próprio “feudo” sem trocar impressões com seus iguais, sempre pautados pelo objetivo de levar ao leitor as informações de seu maior interesse e não só aquelas que vão vender mais jornal ou atrair mais visitas em sites.
Jornalista 7 Deveriam, mas não adotam a postura de fiscalizar e exigir que em um veículo de comunicação somente profissionais da área e que se houver a vontade de abrir espaço a cidadãos comuns se expressarem, que o façam através de espaços destinados ao
68
leitor, ao ouvindo, ao telespectador.
As opiniões aqui expostas sugerem que o sindicato deve adotar uma postura
de fiscalizar e exigir o cumprimento da atual legislação, que obriga a necessidade do
diploma para o exercício da atividade. Entretanto, algumas observações importantes
também são destacadas, de que um esclarecimento através de debates entre os
profissionais sobre a forma de atuação dos jornalistas cidadãos deveria ser feita
antes de qualquer medida.
Quadro 8- Como essa nova modalidade mundial pode afetar o jornalismo brasileiro Discriminação dos participantes
Respostas
Jornalista 1 Como foi dito na resposta anterior, a banalização e falta de controle da quantidade de notícias produzidas por cidadãos poderá prejudicar o mercado de trabalho do jornalista e passar a impressão errada de que qualquer pessoa pode ser jornalista, como já defendem alguns.
Jornalista 2 Pessoas sem formação específica podem informar errado e prejudicar o próprio julgamento da sociedade. A falta de ética também é prejudicial. Se isso continuar, a profissão de jornalista pode cair num descrédito.
Jornalista 3 Pode haver banalização da profissão. Pode também aumentar o sensacionalismo e as distorções. O jornalismo tem que se adaptar as novas tecnologias, mas com cautela. Não podemos deixar esta tecnologia comprometer a idoneidade da notícia.
Jornalista 4 Acredito que o jornalismo, como instituição, não deve sofrer grandes conseqüências. Desde que, é claro, as entidades de classe deixem de se omitir sobre o assunto. A credibilidade conquistada durante décadas pelos meios de comunicação não será prejudicada por essa tendência. Mas é preciso fiscalizar para que postos de trabalho da área não sejam ocupados por voluntários despreparados.
Jornalista 5 Acho que cabe a resposta da pergunta 5, acrescentando que, se o jornalismo é mesmo o primeiro poder (ou segundo, terceiro, quarto), nossa responsabilidade é gigantesca. Portanto, que nossa profissão seja exercida de maneira responsável e consciente. Um jornalismo de interesses, inconseqüente ou ingênuo (se é que isso é possível) será pior para o país que todos os políticos juntos.
Jornalista 6 Isso depende muito de nós, jornalistas. Se a interatividade for exercida sem senso crítico vai virar uma ditadura do leitor, com o perigo de o conteúdo do noticiário se “nivelar por baixo”. A
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interatividade deve ser estimulada para o debate de idéias e para que os leitores informem os profissionais da imprensa sobre as carências de suas comunidades. Mas o jornalista não pode se acomodar na função de “fazedor de matérias” pedidas pelo leitor. Ele também tem que apresentar ao leitor coisas novas, instruí-lo, informá-lo sobre o que ele ainda não sabe.
Jornalista 7 Ameaçando a credibilidade da mídia e a profissão dos profissionais de comunicação.
Podemos constatar a preocupação de todos os pesquisados com o descrédito
e a “banalização” que o trabalho dos jornalistas está sujeito com a participação de
cidadãos sem formação na produção e divulgação de notícias. Suas preocupações
vão desde a falta de ética, responsabilidade, informações inverídicas, até o receio do
conteúdo dessas notícias ocasionarem um nivelamento para baixo no que diz
respeito à qualidade do conteúdo noticioso. Há também um comentário observando
que o jornalismo tem que se adaptar com cautela às novas tecnologias.
Quadro 9- Sobre o monitoramento das notícias pelos profissionais
Discriminação dos participantes
Respostas
Jornalista 1 É necessária. Muitos aproveitam o espaço para xingar, postar ofensas, discutir questões pessoais... Tudo isso foge do propósito e pode gerar inclusive processos. Por isso, o monitoramento garante a qualidade da discussão. Por outro lado, um veículo sério deve respeitar a opinião de seus leitores, excluindo apenas as informações que ofendem, ferem direitos (declarações preconceituosas, por exemplo). O direito do cidadão de postar sua opinião não pode ferir o direito de outros de serem respeitados.
Jornalista 2 Vejo muito pouco blog. É um meio de interatividade, não só de jornalismo, mas de vários segmentos. É difícil avaliar isso, pois cada um faz o que quer. Não conheço blogs participativos e não tenho noção de que tipo de influência isso tem na sociedade de hoje.
Jornalista 3 Não respondido Jornalista 4 Em blogs pessoais, qualquer forma de censura deve ser
contestada. Em meios de comunicação virtual de caráter noticioso, a supervisão de profissionais da comunicação é imprescindível. E repito: deve-se deixar claro quais materiais foram produzidos por profissionais e por leigos.
Jornalista 5 É o mínimo que se deve fazer para proteção da seriedade e credibilidade da nossa profissão.
Jornalista 6 Acho necessária tanto uma quanto outra por todos os motivos já
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esplanados nas respostas acima.
Jornalista 7 Penso que deve haver uma edição, não aqui entendida como censura, para adequação da linguagem, correção de erros e desvios de conduta. Por mais que expresse a opinião de terceiros, o que é publicado nos blogs é de co-responsabilidade de seus organizadores.
Sobre uma possível filtragem e monitoramento por parte dos profissionais de
comunicação, sobre o que é publicado em blogs, e portais de jornalismo
participativo, foi observado que a maioria é favorável ao monitoramento do que é
publicado, alegando a garantia da qualidade, seriedade e credibilidade da
informação. Eles manifestam preocupações com respeito à adequação de
linguagem, correção de erros e desvios de conduta do que é produzido pelos
colaboradores. Mas admitem que nenhuma forma de censura à liberdade de
expressão através de blogs deveria ser exercida.
Quadro 10- Diante das novas tecnologias de informação, como deverá ser a
formação do futuro profissional
Discriminação dos participantes
Respostas
Jornalista 1 Devem ter principalmente formação ética para lidar com a questão. Devem aprender a trabalhar e aproveitar o que há de melhor na interatividade entre o cidadão e o jornalista.
Jornalista 2 Acho que deve ser uma formação universitária, séria, com princípios éticos. As comunicações modernas vieram para ficar, mas por trás disso estão pessoas, seres humanos que podem manipular muita coisa, por isso é necessário seriedade para levar a informação verdadeira à sociedade. A comunicação está cada vez mais rápida e a seriedade tem que estar presente, sempre.
Jornalista 3 Cada vez mais especializados, para conseguir de destacar no mercado.
Jornalista 4 A tendência é a especialização, como em tantas outras carreiras. Serão oferecidos cada vez mais cursos com especialização em comunicação virtual. As bases da comunicação e do bom jornalismo, no entanto, têm que ser mantidas. É preciso um período básico para que o aluno tenha uma noção de todas as áreas de atuação do jornalismo, das técnicas da profissão e, sobretudo, de ética. Depois disso, escolhe a que pretende seguir, agora com a opção a mais da comunicação virtual.
Jornalista 5 Como sempre devia ter sido: com priorização da seriedade e da ética, que são imutáveis. Tecnologias e tendências são
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absolutamente secundárias, apêndices efêmeros que hoje existem e amanhã se despedem para dar lugar a outras invenções e novidades. Não importa a forma de divulgação das notícias (de cordel a iphone), mas, sim, a maneira como elas foram apuradas e entregues.
Jornalista 6 A mesma formação de hoje, mas com acréscimo de disciplinas que o instruam a lidar com essa nova “ferramenta” da interatividade. Ele deve ser instruído a “ouvir”, mas sem perder o senso crítico.
Jornalista 7 Os comunicadores e os veículos de comunicação devem sempre evoluir de acordo com as novas formas de comunicação, o que de certa forma ocorre naturalmente com a evolução. Um bom exemplo disso é o fato da Igreja Católica ter aderido a home-pages onde é possível até mesmo acender velas on-line
Nesta questão, vemos que grande parte dos jornalistas admite que as novas
tecnologias vieram para ficar; portanto, é uma adequação inevitável que enfrentarão.
Porém, destacam que o fator primordial está na formação ética e na seriedade com
que desempenham seu papel.
Alguns dizem que a especialização está sendo cada vez mais exigida e a
comunicação virtual será imprescindível aos futuros profissionais. Como citado por
um dos jornalistas, até mesmo a Igreja Católica está aderindo à era digital, onde hoje
é possível até acender velas on-line.
3.1.6 Considerações sobre a pesquisa
A imparcialidade sempre foi um dos grandes alvos de discussão de teóricos e
profissionais de comunicação sobre a atuação dos jornalistas na tarefa de
disseminar informações. Com o jornalismo cidadão volta à lista de discussões o
questionamento referente à intervenção de uma pessoa com preparo na publicação
da notícia, desde a averiguação dos fatos informados à redação do texto noticioso.
Os jornalistas que se declaram favoráveis às formas de monitoramento e
intervenção na publicação de notícias (defendendo a integridade dos dados)
desvinculam esta prática da censura, pois ela garante a qualidade da informação e
que alguns limites sejam estabelecidos para os novos espaços de informação
pública que surgem através da mídia eletrônica. Esse posicionamento, no entanto,
não se aplicaria aos blogs o que poderia caracterizar interferência na liberdade de
expressão à qual todo cidadão tem o seu direito assegurado.
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Foram apresentadas questões referentes à aptidão técnica e a formação
acadêmica para a produção e disseminação de notícias. Os profissionais expressam
preocupações com essa conduta, justificando uma possível banalização da profissão
e da notícia através de fontes duvidosas e mal preparadas.
A seguir apresentamos os resultados de outra pesquisa desenvolvida com
estudiosos que se dedicam sobre o tema “jornalismo cidadão”.
3.2 Pesquisa realizada com estudiosos
3.2.1 Justificativa
A necessidade de efetivação desta pesquisa foi novamente a pouca literatura
a respeito da temática. A coleta de opiniões de pesquisadores sobre essa recente
modalidade de jornalismo foi fundamental para incrementar o repertório deste
estudo. Os impactos que esse novo modelo de produção e disseminação da
informação podem acarretar para a sociedade foram o objetivo principal na
formulação do roteiro do questionário elaborado para os estudiosos.
3.2.2 Objetivos
� Identificar os parâmetros de análise de profissionais de comunicação
sobre o surgimento e prática do jornalismo cidadão, tendo o tema pouco
material bibliográfico disponível.
� Traçar um panorama do contexto atual e futuro do jornalismo cidadão
diante da disseminação cada vez mais veloz da internet e do avanço
tecnológico da humanidade.
3.2.3 Metodologia
Em função de pesquisas bibliográficas e de observação e análise de sites
chegamos aos principais nomes que se dedicam sobre o jornalismo participativo no
Brasil. Estes profissionais foram escolhidos por suas participações em discussões
sobre o tema por artigos publicados em meios de comunicação destinados à
temática, teses desenvolvidas e participações em sites de jornalismo colaborativo.
Da mesma forma como ocorreu com os comunicadores, foi elaborado um
73
questionário direcionado aos pesquisadores com 16 perguntas que abordam o
surgimento do jornalismo participativo, a relação da internet com a colaboração e
disseminação das notícias, a ética, o posicionamento do jornalista tradicional no
mercado de trabalho, o posicionamento dos meios de comunicação frente ao
jornalismo cidadão e a credibilidade das notícias devido à participação de cidadãos
sem formação profissional na disseminação das mesmas.
O questionário foi enviado via correio eletrônico e dado um prazo pré-definido
para o retorno das respostas.
3.2.4 Limitações
Mais uma vez, devido ao pouco tempo que dispúnhamos, optamos por enviar
esse material àqueles que foram focos da nossa pesquisa bibliográfica. Dos 10
questionários enviados apenas três retornaram.
3.2.5 Apresentação dos resultados
Apresenta-se a seguir a sistematização das respostas obtidas junto aos
profissionais da área de comunicação, participantes da pesquisa.
As informações encontram-se organizadas em quadros para melhor
visualização.
Quadro 11- Formação dos pesquisadores
Discriminação dos participantes
Respostas
Pesquisador 1 Sou formada em Jornalismo e em Rádio e Televisão.
Pesquisador 2 Comunicação social (bacharelado) – mestrado em Sociologia política – doutorado em Ciência da Informação
Pesquisador 3 Não respondido
Iniciamos perguntando sobre a formação dos entrevistados. Todos são
profissionais ligados ao jornalismo, e que também se dedicam aos aspectos sócio-
políticos e a estrutura informacional que envolve a comunicação.
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Quadro 12- Tempo que se dedicam ao estudo desse tema
Discriminação dos participantes
Respostas
Pesquisador 1 Trabalho com comunicação desde 1984 em diversas áreas: rádio,
TV, internet, comunicação corporativa, edição de livros. Estou
atenta às transformações trazidas à comunicação pela internet
desde 1995. Comecei a trabalhar com projetos para a web em
1999. Pesquiso jornalismo cidadão desde 2005.
Pesquisador 2 Não pesquiso na área de jornalismo e sim em Comunicação Pública, há 11 anos.
Pesquisador 3 Há 4 anos.
Os questionados trabalham com comunicação há 14, 11 e 4 anos
respectivamente, acompanhando e pesquisando constantemente sobre as
mudanças que envolvem a interação do homem com a informação, ligada ao avanço
tecnológico cada vez mais veloz e o que isto tem impactado na comunicação, no
compartilhamento de informações.
Quadro 13- Organização / meio em que atuam Discriminação dos participantes Respostas
Pesquisador 1 No momento trabalho como free-lancer.
Pesquisador 2 IESB Pesquisador 3 Revista de Direito e Site Cultural
Os pesquisados atuam em áreas distintas, o que proporciona uma análise
mais abrangente dos fatos abordados. Um é profissional liberal, outro atua em
organização privada de ensino e o terceiro trabalha em um veículo especializado em
leis e cultura, e que também possui atividade ligada à manutenção de informações
pela web.
Quadro 14- O que propiciou o surgimento do jornalismo cidadão?
Discriminação dos participantes
Respostas
Pesquisador 1 O jornalismo cidadão é um fenômeno cultural e tecnológico. Cito um trecho do livro Blog, da Coleção Conquiste a Rede, que
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escrevi com Roberto Taddei: “Ferramentas de publicação acessíveis na rede revolucionaram o modo como as pessoas consomem, interpretam, produzem e divulgam informações. Elas permitem ao internauta deixar de ser um receptor silencioso para tornar-se um criador.” O fato de essas ferramentas não terem nenhum custo, a não ser o de acesso à rede, teve um grande impacto em sua popularização. Comunidades virtuais e outras formas de comunicação como torpedos e os comunicadores instantâneos também são parte dessa revolução.
Pesquisador 2 O aperfeiçoamento das instituições democráticas no Brasil, por um lado; por outro, a perda da aura de defensora e representante da opinião pública que a imprensa desfrutou desde sempre e que, nos últimos 10 anos, em especial, mudou radicalmente.
Pesquisador 3 O início da abertura da visão de que o noticiado também pode oferecer notícias, como um manifesto popular, mas ele passa a ter espaço de divulgação quando algumas organizações privadas investem em iniciativas que tem como base a colaboração, para se promover.
Sobre essa questão, os estudiosos apontam alguns fatores para o surgimento
desse novo modelo de jornalismo. O principal deles é o avanço das tecnologias
criadas e aperfeiçoadas pelo Homem, facilitando o acesso e a interatividade. Outro é
a questão cultural, através da conscientização sócio-política, com o fortalecimento
da democracia dando mais liberdade de expressão.
Uma observação feita por um dos participantes merece ser destacada, a nova
percepção que o cidadão passa a ter com a liberdade de se expressar propiciada
com essas novas ferramentas de comunicação, a de que ele também pode ser o
autor da notícia.
Quadro 15- Em que momento o jornalismo cidadão ganhou espaço
Discriminação dos participantes
Respostas
Pesquisador 1 Em 1999 observou-se a popularização dos blogs, embora eles já existissem antes. Os blogs deram visibilidade e distribuição à produção de informações e conteúdo pela web por quem não é profissional da comunicação. Em 2000 foi criado na Coréia do Sul o Ohmynews, que se tornou uma referência mundial de projeto bem-sucedido de jornalismo cidadão. Em 2001, as fotos e vídeos de amadores que registraram o ataque ao World Trade Center ocuparam o noticiário mundial. Outros dois acidentes de grandes proporções deram em 2005 grande visibilidade a essa produção. Neste ano, fotos e textos de testemunhas dos atentados aos trens de Londres e de vítimas do furacão Katrina,
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em New Orleans, ganharam espaço na grande imprensa. Em 2007 pode-se dizer que o jornalismo cidadão ou colaborativo foi incorporado pelos grandes veículos, embora esse hibridismo ainda esteja sendo testado.
Pesquisador 2 Está respondido na questão anterior Pesquisador 3 É muito relativo dizer que o jornalismo cidadão já tenha ganhado
seu espaço. A própria iniciativa desta pesquisa, mostra que o jornalismo cidadão está caminhando para ser reconhecido como forma de manifestação popular por meio da disseminação de notícias e compartilhamento de informações. Seu desenvolvimento pleno depende ainda de mudanças de comportamento e ponto de vista, dos veículos de comunicação e dos repórteres cidadãos, devem ser mudanças culturais que venham para abrir novos horizontes para esta modalidade.
O avanço que o desenvolvimento tecnológico trouxe por meio de novos
instrumentos de comunicação, como os telefones celulares, por exemplo, gerou a
possibilidade de indivíduos interagirem com a disseminação da informação e com
maior velocidade na sua propagação, causando assim uma mudança social bastante
significativa. Acontecimentos importantes como a “Tsunami” o ocorrido na Indonésia,
assim como os atentados do World Trade Center em Nova Iorque são divulgados
imediatamente por cidadãos que estão naquele instante vivenciando os fatos.
Quadro 16- Sobre o papel do jornalista neste novo contexto
Discriminação dos participantes
Respostas
Pesquisador 1 Comunicar não é algo simples, nem para o profissional, nem para o leigo. Espera-se do profissional de comunicação que ele mostre domínio técnico e comportamento condizentes com o exercício do jornalismo. Do jornalista profissional também se espera o cumprimento do acordo feito com seu empregador, o veículo de comunicação, com todas as implicações que isso traz. O profissional de comunicação e o amador têm postura e comprometimento diferentes. A contribuição do profissional e do leigo tende a ser de natureza diversa. Acredito que o papel do jornalista profissional está em plena fase de mudança. Ele deixou de ser o emissor que fala com um público receptor passivo e cada vez mais assume o papel de interlocutor desse público, que interage com ele. Em tese, o profissional de comunicação pode contribuir com seu conhecimento técnico e com um comportamento ético para essa interação dos veículos com a sociedade.
Pesquisador 2 Continuar sendo tradicional em um contexto tradicional. Existe espaço para todos e a necessidade de multiplicidade de enfoques
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é um pressuposto da democracia. Pesquisador 3 Afeta positivamente, porque constrói uma nova forma de se fazer
jornalismo, coletiva, democrática. O monopólio da transmissão de notícias (o “um para todos”) precisa acabar. Dá para fazer jornalismo de qualidade dentro desta rede participativa, sabendo lidar com a averiguação dos fatos e fontes.
Aqui vale destacar a observação que um dos participantes faz sobre a
diferença entre a postura e o comprometimento na produção da notícia entre um
jornalista e um cidadão sem vínculo com uma empresa de comunicação. Isso reflete
uma possível mudança de comportamento dessas organizações quanto à
publicação das notícias em seus veículos, já que uma vez manipulada por interesses
particulares, isso poderá rapidamente ser questionado pelos leitores.
Segundo outro participante, um novo tipo de jornalismo, mais participativo e
democrático, como essa nova modalidade proporciona é bem vindo, já que
monopólios sempre trazem prejuízos à sociedade; contudo, resguardada a
responsabilidade na produção da informação que é divulgada.
Quadro 17- Relacionamento dos Meios de Comunicação e Jornalismo Cidadão Discriminação dos participantes
Respostas
Pesquisador 1 Os veículos tradicionais perceberam que a participação de seu público é cada vez mais presente e que esse público espera interagir com o veículo. A grande imprensa percebeu que é preciso assimilar a seu favor essa transformação ou ficará ultrapassada. No momento, em 2007, eu diria que essa aproximação é inodora e insípida no Brasil, onde não vejo nenhum exemplo bem-sucedido de um grande veículo que tire o melhor do jornalismo colaborativo a seu favor. Para não perder a oportunidade da ironia, a grande imprensa brasileira lembra, em muitos casos, a máxima de Lampedusa: “Mudar para permanecer igual” (de “O Leopardo”).
Pesquisador 2 Depende de vários fatores, sobretudo de qual meio estamos falando. De qualquer maneira, acredito que mudanças de cunho social e político são fruto de um processo complexo nas sociedades, e não de um pretenso "dever moral", "dever ideológico" ou por simpatia às idéias politicamente corretas. Também não acredito que esta "nova modalidade de jornalismo" – denominação que não acato por achar um pouco simplista – vá modificar o comportamento dos meios de comunicação. Dois fatores são determinantes em relação às mudanças nos meios de
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comunicação: tecnologia e economia. O resto é idealismo ou ideologia, e pouco influência traz para as mudanças estruturais dos MCM. A prova está na história dos meios.
Pesquisador 3 Cada vez mais presentes nas ações das empresas e também dos meios de comunicação interagindo e consumindo cultura, os cidadãos adquirem consciência de seus direitos e participam daquilo que lhes envolve. No Brasil esta consciência política e demais fatores ainda não se apresentam muito consolidados, por isso, nem os meios de comunicação demonstram mudanças no sentido de aproveitar a interação com o usuário qualitativamente (sem ser apenas esperando o retorno monetário – e isso não mudará facilmente devido a fatores históricos que temos e o sistema que vivemos) e nem os cidadãos em sua maioria reclamam este direito. A própria questão do jornalismo cidadão ainda é divulgada como uma iniciativa de poucos e algo inovador, quando na verdade o direito de se comunicar é de todos.
Nessa questão vemos um posicionamento cético em relação à influência que
o jornalismo cidadão poderá provocar nos meios de comunicação. Existe a
consciência de que algo precisa ser modificado na relação entre o emissor (veículo)
e o receptor (público) da notícia, mas que neste momento isso ainda é um problema
pouco discutido e praticado, sem maiores mudanças estruturais pelas instituições.
Os meios de comunicação têm se apropriado, de forma cada vez mais
estratégica, de modelos que repercutem positivamente na sociedade. Apesar de não
ser uma prática popular (até mesmo por possuir ressalvas de teóricos e profissionais
do jornalismo), algumas das iniciativas do jornalismo cidadão se dão
obrigatoriamente através de empresas privadas (até mesmo porque parte de seu
objetivo é este, gerando lucro para quem mantém a iniciativa funcionando) é o caso
dos blogs e sites colaborativos de jornais de diversos países no mundo.
Existem algumas ações que partem da população e sobrevivem mesmo
assim, monitoram-se organizadamente e investigam o que é publicado, abrindo
espaço para críticas jornalísticas que alimentam a supremacia das iniciativas
privadas, que tiram o proveito que podem da interação com os repórteres cidadãos,
seja na venda de espaço publicitário para outras organizações privadas ou lucrando
de outras formas com a interação com os usuários.
79
Quadro 18- Relação entre a ética e o novo modelo de jornalismo Discriminação dos participantes
Respostas
Pesquisador 1 Acredito que o jornalismo colaborativo com o tempo desenvolverá um código de ética estruturado e que a ética do jornalismo pode balizar este início de suas atividades. Imagino que seja necessário um encontro entre os dois universos e a criação de valores e regras comuns, pois no futuro não haverá essa divisão tão nítida entre o que faz o profissional e o amador.
Pesquisador 2 A ética jornalística, assim como a de outras profissões, é antes de tudo uma declaração de conveniência dos interesses corporativos. A ética que importa, filosoficamente falando, é a do cidadão e deveria ser pra lá de suficiente para se viver em sociedade.
Pesquisador 3 A ética se faz presente no Direito, no Jornalismo, enfim, em todos os segmentos de interação humana. A ética no jornalismo cidadão está justamente em dar voz àqueles que tem o que falar e o papel do jornalista é fundamental para auxiliar que essa expressão seja realizada da melhor maneira possível, monitorando de forma que no veículo que trabalha não hajam notícias publicadas com erros ortográficos, ou ofensas desnecessárias. O filtro feito pelo jornalista, que é diferente de censura, deve ser qualitativo, investigando os fatos e permitindo que o cidadão repórter exponha da melhor forma o conteúdo/notícia que deseja compartilhar na web.
Como podemos observar nessas respostas a ética antes de ser tratada em
um tipo de segmento profissional específico deveria ser exercida por todos os
segmentos da sociedade. Quanto ao jornalismo cidadão deve ser regulamentada
inicialmente com base nos princípios da ética jornalística tradicional, mas não pode-
se ignorar a realidade tecnológica que envolve esse novo processo assim como a
interação com os usuários para instituir seus aspectos legais. Na opinião de um dos
participantes deve-se prever as questões que estão em discussão nesta fase de
maior desenvolvimento e expansão do jornalismo cidadão e que no futuro poderá
haver uma nova regra adaptada à uma situação em que novos valores surgirão.
Em nossa opinião, é de fundamental importância que a ética tenha uma
abordagem mais aprofundada em todas as fases do ensino, pois seja o futuro
cidadão um jornalista, um médico ou um advogado, todos devem saber da
responsabilidade sobre suas ações e as implicações às quais estão sujeitos,
independentes das suas profissões, como também afirma um dos questionados.
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O ensino do jornalismo deverá, daqui em diante, incorporar essa nova realidade, a
de que o cidadão participará de maneira mais direta em todas as etapas da
produção da notícia, e para isso a discussão sobre ética deverá ser cada vez mais
abordada pelos pesquisadores e educadores para que os futuros profissionais
estejam melhor preparados para lidar com essa nova realidade.
Quadro 19- Relacionamento de profissionais e cidadãos repórteres Discriminação dos participantes
Respostas
Pesquisador 1 Os profissionais de comunicação deveriam receber os jornalistas cidadãos com generosidade e olhar atento, para não perderem o trem da história, em palavras mais rasas. Observo uma certa rivalidade entre os que se consideram detentores do conhecimento e os “outros”, os recém-chegados ao mundo da comunicação.
Pesquisador 2 Como jornalista, relações públicas, enfim como profissional de comunicação social, sempre me considerei uma cidadã comum. Considero este veio superlativo da profissão, uma deturpação da ética e da cidadania.
Pesquisador 3 Os profissionais devem interagir eticamente, resguardando sua função profissional, legítima, mas respeitando o espaço do outro (no caso, o blogueiro). É inútil frear o jornalismo participativo, pois trata-se de liberdade de expressão, um direito plenamente garantido pela Constituição Federal de 1988.
Os respondentes abordam a interação entre os jornalistas profissionais e os
cidadãos repórteres como algo que deve acontecer naturalmente em meio à
evolução. O profissional de hoje deve acompanhar a dinâmica que o futuro da
informação deverá ter com a abertura que a tecnologia está proporcionando a toda
humanidade. Essa relação deve proporcionar a todos o maior número de
informações fidedignas, possibilitando uma comunicação transparente das notícias e
um processo de investigação dos fatos de forma clara, objetiva e eficaz. Esse é
modelo que o avanço tecnológico permite para a atualidade: uma dinâmica interativa
no fluxo de informações respeitando a liberdade de expressão, como relata um dos
participantes.
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Quadro 20- Entidades representativas diante do jornalismo cidadão Discriminação dos participantes
Respostas
Pesquisador 1 Em um mundo ideal, as entidades representativas dos profissionais de comunicação deveriam promover a troca entre estes dois universos. Em um mundo globalizado, de economia em transição, porém, as entidades representativas enfrentam tamanha crise que não demonstram fôlego sequer para cuidar dos interesses dos profissionais que congregam, muito menos para receber os recém-chegados sem diploma. Muitas vezes trabalham tão somente para garantir uma reserva de mercado para diplomas.
Pesquisador 2 As entidades representativas das profissões continuam a se bater por um mundo que não representa mais o futuro do trabalho. O que está em jogo não é mais "tendência do jornalismo", mas um mundo onde a informação deixou – felizmente – de ser instrumento de trabalho EXCLUSIVO de uma determinada corporação de ofício.
Pesquisador 3 Devem continuar seu trabalho sem virar as costas para esta revolução. Ignorá-la é pior. Melhor aliar-se a ela do que declarar guerra, como fez o Estadão recentemente. Teve de voltar atrás, pediu desculpas. Se o veículo é sério, ele zela pela sua própria seriedade.
Na visão dos participantes, as entidades representativas ainda não se
encontram preparadas para enfrentar essa tendência do jornalismo.
As organizações deveriam ter um papel não apenas classista, mas de
interlocutor na discussão do futuro da comunicação propiciado pelo atual contexto,
onde a detenção da tarefa de informar está deixando de ser exercida apenas pelos
indivíduos com formação profissional.
A previsão de um futuro em que a comunicação só pode ser exercida através
de sistemas corporativistas, pode mostrar uma deficiência nos valores que a própria
imprensa disseminou na sociedade durantes décadas de combate à um modelo
político ditatorial vivido por vários países do planeta.
Como observa um do questionados, até mesmo uma grande organização de
comunicação, ao se posicionar sobre a disseminação das notícias por cidadãos sem
formação profissional, teve que voltar atrás publicamente e se desculpar por sua
atitude inicial, contrária a esse novo molde.
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Quadro 21- Legislação atual sobre a imprensa e o jornalismo cidadão Discriminação dos participantes
Respostas
Pesquisador 1 Na atual fase de transição é natural que exista uma lacuna entre a legislação vigente e a prática da comunicação. Iniciativas como a Creative Commons, entidade criada por um professor de direito de Stanford, é um exemplo de como novas realidades exigem novas regras e abertura para atender novos cenários. O que acontece é que a comunicação se transforma tão velozmente que tanto a academia, quanto os livros e a legislação estão sempre tratando de um momento anterior.
Pesquisador 2 A "atual legislação sobre imprensa" , assim como as normas corporativas , pertence ao velho mundo. Nada há para comentar sobre padrões agonizantes da sociedade.
Pesquisador 3 As mudanças tecnológicas interferem diretamente no modus vivendi da sociedade, e isso, claro, impacta em sua legislação, para que todos convivam em harmonia com regras a serem seguidas. Não seria diferente para o jornalismo cidadão, a atualização da legislação deve tentar seguir a velocidade do avanço tecnológico para que as leis que regem as profissões, e as nações de modo geral, não fiquem defasadas, e para que contemplem os avanços conseguidos pelo Homem em suas formas de se comunicar e se manter informado.
Nas respostas apresentadas pelos participantes 1 e 3, a velocidade com que
as tecnologias avançam, no caso especificamente as tecnologias da informação e
comunicação, interfere no cotidiano dos indivíduos e na sua percepção de mundo, o
que inclui os acontecimentos em suas vidas e também na forma com que enxergam
os acontecimentos que os rodeiam, ou seja, o que é notícia para eles. Como este
avanço se apresenta cada dia mais veloz, a legislação referente aos aspectos que
envolvem o relacionamento entre o jornalista e o repórter cidadão se apresentam
muitas vezes defasadas.
Novamente fica aqui evidenciado que a legislação deve acompanhar a
velocidade das mudanças que a própria sociedade vem tendo com o avanço dos
sistemas tecnológicos que são disponibilizados a ela.
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Quadro 22- A participação do cidadão repórter e a possibilidade de afetar a credibilidade da mídia como um todo Discriminação dos participantes
Respostas
Pesquisador 1 Não acredito nisso. A idéia de que a grande imprensa é confiável e respeitável e o jornalismo cidadão não tem fontes fidedignas é uma distorção que camufla uma aliança secular entre veículos de comunicação e poder. A questão da credibilidade é central tanto na grande imprensa quanto na blogosfera. Em ambas, ela não estará jamais resolvida, uma vez que credibilidade é algo que se constrói com o tempo e que pode ser destruído em um instante. Muitos internautas, principalmente abaixo de 25 anos, segundo estatísticas de acesso à internet no Brasil, costumam procurar informação por meio dos buscadores e muitas vezes caem em blogs através do resultado de sua busca, sem exigir muitas credenciais de sua fonte de informação. Isso mostra que boa audiência nem sempre é decorrente de credibilidade, não só nos grandes veículos como também no jornalismo colaborativo.
Pesquisador 2 Em princípio não, mas a questão que se deveria colocar é outra: como a informação poderá ter credibilidade? O que determinará a maior ou menor credibilidade da informação?
Pesquisador 3 Não acredito que a participação do cidadão comprometerá a credibilidade do veículo de comunicação. Resta o bom senso do leitor/receptor em saber se o meio em que busca a informação é confiável ou não. Com um mínimo de senso crítico e pesquisa, o cidadão sabe onde está pisando. Um veículo de comunicação sério não terá sua credibilidade abalada se mantiver pessoas sérias em seu quadro, tampouco deverá temer o crescimento dos blogs.
De acordo com as manifestações,destaca-se que a credibilidade da mídia
como um todo em relação ao jornalismo colaborativo deverá ser reflexo do senso
crítico tanto dos usuários buscando as informações em locais confiáveis, quanto dos
veículos de comunicação, que poderão estipular normas para a investigação dos
fatos noticiosos que chegam até eles.
Um dos questionados observa que o mais importante a se pensar, daqui em
diante, são: quais os fatores que determinarão a maior ou menor credibilidade de
uma notícia, uma temática ainda pouco discutida, diante da rápida mudança que
isso está provocando no contexto da sociedade, tanto da mídia como do cidadão.
Outra colocação importante feita é de que a credibilidade é algo que se demora a
ser conquistada e rapidamente destruída se não houver a devida responsabilidade
no preparo de uma notícia.
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Quadro 23- Expectativas sobre a internet como disseminadora de informação dominante no Brasil Discriminação dos participantes
Respostas
Pesquisador 1 Não entendi o que quer dizer informação dominante. A internet tem como característica dar voz às mais diversas tendências e este fenômeno já ocorre no Brasil. Não vejo informação dominante, se for no sentido de uma tendência predominante. Se a pergunta se refere á internet como principal veículo de informação, acho que a convergência de mídias que está muito próxima e unirá telefonia, TV, rádio, web e celular torna a pergunta desnecessária.
Pesquisador 2 Já começou a ser, no que tange à faixa de pessoas formadoras de opinião. Mas continuamos com o predomínio dos meios tradicionais como produtores de informação com credibilidade.
Pesquisador 3 Creio que ainda é cedo para dizer que este modelo de jornalismo cidadão dará efetivamente certo no Brasil, mas tudo indica que o jornalismo não escapará da Web 2.0, um sinal extremamente positivo para democratizar a informação.
Neste quadro, é importante destacar três aspectos; o primeiro é sobre a
integração da internet a outras mídias, como à telefonia e TV, ocorrerá, o que poderá
ser um fator potencializador para obtenção e propagação da informação; outro é que
atualmente a web está sendo utilizada principalmente por cidadãos formadores de
opinião, o que confere um status diferenciado a uma informação que tem sua origem
através deste meio; um terceiro fator citado é que futuramente a internet será uma
maneira bastante eficaz na democratização da informação.
Quadro 24- A influência da internet na abrangência e conteúdo da notícia Discriminação dos participantes
Respostas
Pesquisador 1 A pergunta embute a resposta. A pluralidade de opiniões, a abrangência geográfica, a quantidade de informações e a facilidade de acesso característicos da web transformaram a divulgação e a produção das informações.
Pesquisador 2 Com perdão do trocadilho, o tempo real já é uma realidade! Web é instantaneidade e não influência.
Pesquisador 3 Cada dia mais a interatividade que a internet proporciona permite que os conteúdos cheguem a um número maior de pessoas em cada vez menos tempo.
85
De acordo com os participantes a velocidade na divulgação da informação e a
sua abrangência é o que confere à essa mídia o seu crescimento verificado. A
interatividade é também um novo elemento do qual o cidadão não dispunha até o
surgimento dessa ferramenta de comunicação. O jornalismo colaborativo permite
que repórteres e cidadãos interajam no monitoramento e na investigação dos fatos.
O avanço tecnológico permite constantemente que as notícias cheguem mais
rapidamente a diversos pontos do globo e que informações importantes sejam
compartilhadas, desde o colega de trabalho no computador ao lado, ao informante
do jornal do outro lado do mundo com informações instantâneas.
Quadro 25- Preocupação dos pesquisadores em relação ao futuro da informação Discriminação dos participantes
Respostas
Pesquisador 1 Falo em meu nome: manter os olhos atentos à transformação e ser receptiva às inovações. Não usar réguas antigas para medir novos parâmetros.
Pesquisador 2 Pelo que percebo, tentar enquadrar a nova tendência de informação para a cidadania na categoria obrigatória de "jornalismo". O que é um equívoco.
Pesquisador 3 A maioria ainda tenta realizar novos procedimentos com ferramentas antigas ou até mesmo insistir em procedimentos ultrapassados nas atividades que envolvem a disseminação de informações, desconsiderando novas técnicas, o que até atrapalha o fluxo de informações.
Neste quadro o que mais chama a atenção é a forma com que o jornalismo
participativo deve ser encarado neste momento inicial. A receptividade às inovações
é unanimidade entre os questionados, e os que combatem essa nova manifestação
da sociedade devem ter novos instrumentos de avaliação, tanto sociológicos, éticos
e tecnológicos para aí sim, iniciar-se uma discussão sólida e embasada sobre as
conseqüências que isso trará à nossa sociedade.
Quadro 26- Sobre o futuro do jornalismo colaborativo Discriminação dos participantes
Respostas
Pesquisador 1 Os grandes veículos aprenderão com o jornalismo cidadão e serão transformados por ele. O leigo aprenderá como usar esse
86
canal e passará a explorar novas possibilidades de interação. Surgirão veículos híbridos de influência global. A popularização das ferramentas criará novas alternativas de comunicação em tempo real. A classificação da informação (folksonomia) será uma ferramenta incorporada por todo o universo da comunicação. A credibilidade da fonte será cada vez mais importante e para medi-la serão criadas novos mecanismos além dos que já existem, como popularidade nas redes sociais.
Pesquisador 2 Ah, perdão, mas isso é um artigo inteiro. Acho que já apresentei, em termos gerais, a minha visão desta questão.
Pesquisador 3 Bem diferente do passado. A mentalidade vai mudar completamente. O profissional já vai se moldar para o formato das mídias digitais e esquecerá o modelo caduco do passado, voltado exclusivamente para a notícia do papel, solitária, não-interativa.
Segundo os respondentes, em função do avanço cada vez maior das
tecnologias de comunicação, o jornalismo cidadão conquistará um espaço cada vez
maior. Os atuais veículos informativos terão que se ajustar às novas tendências,
onde uma hipótese aceita seria um modelo híbrido, a atual estrutura da mídia
convencional abriria espaço para a participação do cidadão na produção da
informação veiculada por eles. Este novo modelo pode ser a solução para um dos
principais motivadores do surgimento dessa nova tendência, a falta de interatividade
entre quem é a notícia e que faz a notícia.
3.2.6 Considerações sobre a pesquisa
De acordo com o que foi apresentado pelos participantes e após a análise das
respostas, apresentamos as considerações feitas sobre as opiniões destes
pesquisadores. Os pesquisados expuseram suas opiniões abordando a
comunicação virtual e a instantaneidade das informações como uma realidade que
não deve ser ignorada, devido a seu grande impacto na comunicação em um mundo
globalizado. Isso é decorrente da percepção de espaço e tempo que os indivíduos
passam a ter com os equipamentos tecnológicos e sua interação com eles.
Esses fatores abrem as portas para discussões referentes à participação
efetiva dos indivíduos na “construção” e disseminação das notícias e as ferramentas
utilizadas para isso. Discute-se a abrangência da notícia, suas propriedades, as
aptidões para produzi-las e a autenticidade dos dados publicados. Um assunto novo,
que está em evidência devido ao grau de evolução que a sociedade tem hoje com a
87
criação e adaptação de meios para se comunicar e a própria dinâmica do fluxo de
informações com o uso da internet.
No capítulo seguinte, apresentamos a análise de três sites que trabalham com
o conceito de jornalismo cidadão para disseminação de notícias.
88
4 ANÁLISE DE SITES DE JORNALISMO COLABORATIVO
4.1 Justificativa da escolha dos sites
A seleção e análise de sites de jornalismo colaborativo vêm colaborar para a
discussão dos conceitos expostos ao longo dos dois primeiros capítulos, focado no
processo de disseminação da notícia por meio desta ferramenta, disponibilizada pela
internet. Para a coleta de dados que permitissem essa análise foram escolhidos os
sites BrasilWiki!, o CMI Brasil e o G1, das Organizações Globo. Cada um desses
sites foi escolhido levando-se em consideração como critério principal suas
diferentes “linhas editoriais” e relações com os meios tradicionais de comunicação.
� BrasilWiki!
Segundo a equipe que mantém o site, o BrasilWiki! é um portal que “não
pretende recrutar guerrilheiros de notícias contra os grandes jornais brasileiros.
Muito menos pretende fomentar uma guerra entre repórteres e neo-repórteres. Mas
quer, sim, ampliar o leque de oferta de informação para muito além do que os jornais
publicam, permitindo que histórias que não são colocadas no papel circulem de
leitores para leitores, em meio digital. Seja em texto, fotos, vídeos ou áudios”
(BrasilWiki!, 2008). O BrasilWiki! e os domínios a ele vinculados são produzidos pela
Editora MM Comunicação Integrada Ltda.
Foi escolhido por se tratar de um site de jornalismo colaborativo não vinculado
a grandes grupos de mídia nacionais ou qualquer entidade, sendo administrado por
uma empresa privada.
� CMI
O Centro de Mídia Independente, CMI, é uma rede internacional de
produtores independentes de mídia que descrevem seu objetivo como sendo a
construção de uma sociedade livre, igualitária e que respeite o meio ambiente. O seu
foco diferencia-se do Brasil Wiki, por se objetivar à lutas sociais, e este é o motivo de
sua escolha para este estudo. Ele foi criado originalmente em Seattle como uma
89
forma alternativa de cobrir os eventos relacionados ao "Encontro do Milênio" da
OMC (Organização Mundial do Comércio) em Novembro de 1999.
� VC no G1
O G1 é um portal de notícias das Organizações Globo, e possui uma seção
do site destinada ao jornalismo colaborativo chamada “VC no G1”. O portal se
diferencia dos demais pelo aspecto comercial e de propaganda dos serviços e
produtos institucionais a que se propõe. Foi escolhido devido a sua forte ligação com
a instituição que o mantém, apesar do Brasil Wiki também ser de propriedade de
uma editora.
4.2 Objetivos
Nos propusemos através deste capítulo:
� Verificar como os repórteres cidadãos interagem através das ferramentas
disponibilizadas por esses veículos, com diferentes interesses editoriais;
� Relatar como ocorre o processo de mediação e filtragem das informações
produzidas por pessoas sem formação profissional e estes meios para a
veiculação das notícias;
� Levantar informações sobre como os portais de jornalismo cidadão se
relacionam com os veículos tradicionais de mídia;
� Estudar como é feita a interação dos jornalistas e repórteres cidadãos na
utilização destas ferramentas e na veiculação das notícias.
4.3 Metodologia
O grupo realizou o cadastro no BrasilWiki!, no VC no G1 e postou notícias no
CMI para verificar os processos de moderação. No item apresentação e análise dos
sites destacam-se imagens das telas que demonstram o processo de cadastro e de
envio das notícias mais detalhadamente.
Foi enviada uma notícia de acontecimentos reais para cada site, e também
um texto não noticioso para cada um deles. No caso do CMI, encaminhou-se um
texto que não se referia à sua linha editorial. Os três enquadraram os itens sem
90
modificações: todas as notícias foram publicadas e os textos “rejeitados“ pela
moderação. No item apresentação e análise dos resultados, descrevemos a área de
notícias não aceitas e notícias publicadas de cada site e como o usuário pode ter
acesso a elas.
4.4 Apresentação e análise dos sites
4.4.1 BrasilWiki!
4.4.1.1 A Estrutura do BrasilWiki!
A figura 5 mostra a página inicial do BrasilWiki!. Nela são apresentadas do
lado esquerdo o menu com as categorias em que estão separadas as notícias, no
centro as últimas manchetes e do lado direito os áudios, as notícias mais acessadas,
um recado do editor e uma enquete destinada aos leitores.
Figura 5 - Página inicial do BrasilWiki! Fonte: http://www.brasilwiki.com.br/index.cfm
Na parte superior da página temos os links “Quem Somos” e “Publicar
Conteúdo” e também a área de acesso com usuário e senha para os usuários já
cadastrados. Abaixo do menu destaca-se um campo de busca onde os usuários
91
podem pesquisar por temas as notícias que procuram. Na parte inferior da página é
possível “Comunicar erros e abusos à administração do portal”, entrar em Contato
para fazer anúncios de produtos e serviços no portal e conhecer a Política de
Privacidade.
4.4.1.2 Como os repórteres cidadãos participam do processo
Para publicar conteúdo no Brasil Wiki (texto, foto, áudio/vídeo) é necessário
preencher o formulário apresentado na figura 6.
Figura 6 - Formulário de preenchimento de cadastro do BrasilWiki! Fonte: http://www.brasilwiki.com.br/cadastro.cfm
Por medida de segurança e para garantir a integridade dos dados, o cadastro
do BrasilWiki! é realizado com o conceito de opt-in16, ou seja, após o preenchimento
completo do formulário, o usuário recebe em seu e-mail uma confirmação para
efetivar sua inscrição. Depois de confirmada a inscrição o usuário está apto a
publicar conteúdo no site nas categorias disponíveis, como na figura 7.
16 Vide Glossário
92
Figura 7 - Categorias disponíveis para a publicação do BrasilWiki! Fonte: http://www.brasilwiki.com.br/publicar.cfm
A publicação de conteúdo do portal é dividida em 3 categorias principais:
“Texto”, “Galeria de Fotos” e “Áudio/Vídeo”. Nossa análise se atém à categoria
Texto, que se refere à grande maioria das notícias cadastradas no portal. Na figura
8, temos a página de inserção de conteúdo textual de notícias.
Figura 8 - Página de inserção de conteúdo textual de notícias Fonte: http://www.brasilwiki.com.br/texto_form.cfm
93
Na inserção de notícia o usuário pode colocar foto, caso tenha registrado o
momento a que a notícia se refere com sua câmera ou celular, não precisando
cadastrar a imagem separadamente na galeria. O usuário pode inserir uma imagem
retirada de outro site ou uma fotografia que tenha sido tirada por outra pessoa,
determinando então o nome do autor e designando uma descrição pra ela.
Inicia-se a moderação no portal. As notícias inseridas vão diretamente para a
área “Pendentes”, onde são sinalizadas como ainda não tendo sido lidas pelos
editores, o que exime sua responsabilidade sobre o conteúdo.
Após a leitura, os editores decidem, de acordo com os termos expostos na
política de privacidade, se a notícia ficará publicada no portal junto às outras ou se
ela estará listada nas bloqueadas. Nesta listagem de notícias bloqueadas os
editores expõem o motivo pelo qual a notícia não teve seu conteúdo disponibilizado
para todos os usuários, como na figura 9.
Figura 9 - Justificativa dos editores para a não publicação do conteúdo Fonte: http://www.brasilwiki.com.br/barradas.cfm
A Política de Privacidade (BrasilWiki!, 2008b) define da seguinte forma os
aspectos que regem a moderação da publicação ou não das notícias enviadas pelos
usuários:
94
O que não se deve fazer no BrasilWiki!:
� Qualquer uso com propósitos ilegais
� Transmitir ou divulgar ameaças, pornografia infantil, material racista ou
qualquer outro que viole a legislação em vigor no País.
� Propagar vírus de computador, programas invasivos (worms) ou outras
formas de programas de computador, auto-replicantes ou não, que causem
danos permanentes ou temporários nos equipamentos do destinatário.
� Transmitir dados que causem falhas em serviços ou equipamentos do
www.brasilwiki.com.br ou na internet.
� Usar o domínio para tentar e/ou realizar acesso não autorizado a dispositivos
de comunicação, informação ou computação.
� Forjar endereços de máquinas, de rede ou de correio eletrônico, na tentativa
de responsabilizar terceiros ou ocultar a identidade ou autoria.
� Destruir ou corromper dados e informações de outros usuários.
� Violar a privacidade de outros usuários.
� Violar copyright ou direito autoral alheio.
Conseqüências para quem desobedece as normas do BrasilWiki!:
� Receber advertências ou, até mesmo, ter o cadastramento em
www.brasilwiki.com.br encerrado.
� Se as autoridades competentes solicitarem, os dados da pessoa podem vir a
ser disponibilizados.
Compromissos com a privacidade do BrasilWiki!:
� Preservar a identidade do internauta, mantendo sigilo sobre seu cadastro em
www.brasilwiki.com.br. Para tal, o usuário deve se comprometer a respeitar as
normas de segurança acima, assim como as normas específicas de cada
serviço colocado à disposição.
� Manter em absoluto sigilo o número do cartão de crédito do usuário no caso
de utilização em eventual relacionamento comercial.
95
� Utilizar os cookies (informações enviadas pelo servidor do
www.brasilwiki.com.br ao computador do usuário, para identificá-lo) apenas
para controle interno de audiência e de navegação e nunca para controlar
preferências do internauta, salvo quando este desrespeitar alguma das
normas de segurança listadas acima ou específicas de cada serviço. O
usuário não precisa aceitar os cookies.
� Garantir segurança e privacidade de identidade aos internautas que fazem
compras via acesso no www.brasilwiki.com.br. Dados cadastrados - como
nome, endereço e número de cartão de crédito - são protegidos por sistemas
avançados de criptografia enquanto são enviados e mantidos em sigilo em
servidores de segurança.
4.4.1.3 Relação do portal com veículos de comunicação
O BrasilWiki! disponibilizou em seu link “Deu no Papel” um espaço para
publicação de matérias veiculadas nos principais jornais do país, como Jornal do
Brasil, O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e O Globo, por exemplo.
Figura 10 - Matéria veiculada no Jornal do Brasil Fonte: http://www.brasilwiki.com.br/noticia.cfm?id_noticia=4633
96
O formato é disponibilizado em seções divididas por veículo, com conteúdo e
referência de caderno e páginas do jornal. O portal utiliza essa estratégia para se
manter atualizado e também ser fonte de pesquisa, devido à credibilidade destes
veículos, já que o jornalismo cidadão ainda não é prática comum nem aceita por
todos os jornalistas.
Essa ligação do conteúdo impresso com o on-line é importante nessa
transição do 100% of-fline para disponibilização de conteúdo on-line como
discutimos no primeiro capítulo. Usuários mais ligados às novidades tecnológicas
desfrutam dessa realidade diariamente acessando notícias por jornais on-line,
muitas vezes não tendo acesso à versão impressa e essa transposição inicial de
conteúdo passa a atingir um público cada vez maior.
A seguir destacamos o funcionamento e a participação dos usuários no portal
http://www.midiaindependente.org/, o CMI Brasil, Centro de Mídia Independente.
4.4.2 CMI Brasil
4.4.2.1 A estrutura do CMI
Na página inicial temos acesso a todas as seções do site, rádio, impressos,
vídeos, artigos fora do permitido pela política de privacidade, ajuda, contato, acesso
a CMIs de outros países, busca, listas de discussão e notícias, como vemos na
figura 11.
97
Figura 11 - Página com o conteúdo do CMI Brasil
Fonte: Fonte: http://midiaindependente.org/
Segundo a página “Participe” (figura 12), “A idéia era de ter um site na
Internet que recebesse e armazenasse vídeos, imagens, sons e textos que poderiam
ser publicados e reproduzidos sem copyright por qualquer pessoa ou qualquer órgão
de mídia independente sem fins comerciais.”
Figura 12 - Página “Participe” do CMI Brasil Fonte:http://midiaindependente.org/pt/blue/static/volunteer.shtml
98
Este incentivo à colaboração contribuiu à expansão da rede. Atualmente
existem mais de cem Centros de Mídia Independente em mais de trinta países, em
todos os continentes. O Centro de Mídia Independente do Brasil nasceu em
dezembro de 2000, como desdobramento da organização do movimento anti-
globalização em São Paulo que havia promovido um protesto no dia 26 de Setembro
de 2000 (S26) quando se reuniram em Praga, o FMI e o Banco Mundial.
A figura 13 mostra a página central do portal “Independent Media Center”:
Figura 13 - Página central do Independent Media Center Fonte: http://indymedia.org
4.4.2.2 Organização do CMI Brasil
Os coletivos, como os organizadores denominam seus grupos regionais, são
responsáveis pela moderação e análise do que é publicado. Para que isso seja
respeitado em todas as regiões foi criada a Política Editorial do portal. Cerca de um
ano depois que o coletivo de São Paulo se formou, novos grupos de repórteres
cidadãos começaram a se voluntariar para constituírem coletivos editoriais em suas
cidades. Para se constituir formalmente, cada coletivo precisa de pelo menos cinco
voluntários, sendo que uma dessas pessoas capacitada tecnicamente em
99
informática (ou, segundo o site, com disposição de aprender). No entanto, qualquer
grupo menor ou pessoa pode contribuir participando dos projetos da rede.
4.4.2.3 Como os repórteres cidadãos participam do processo
O portal convida o repórter cidadão a ser um “contribuidor” eventual,
publicando de tempos em tempos seus artigos, a fazer reportagens investigativas e
cobertura de eventos e participar dos coletivos editoriais e de difusão, se engajando
com os objetivos do portal. Na figura 14, vemos parte do formulário a ser preenchido
para enviar artigos/notícias para o site. Os repórteres cidadãos que entendem de
informática (obrigatoriamente pelo menos um membro de cada coletivo) são
convidados a oferecer auxílio técnico na manutenção da sua estrutura e no
desenvolvimento do software que utilizam para gestão do site, que eles denominam
de “Mir”.
Figura 14 - Formulário a ser preenchido para enviar artigos/notícias ao CMI Brasil Fonte:http://prod.midiaindependente.org/indymediabr/servlet/OpenMir?language=pt&do=opensession&sessiontype=article&colorscheme=blue
Segundo o portal,no Brasil, o CMI possui coletivos já formados ou em
formação em Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Caxias do Sul, Florianópolis,
Fortaleza, Goiânia, Joinville, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo,
Aracaju, Balneário Cambouriu e Itajaí, Blumenau, Cuiabá, Curitiba, Juiz de Fora,
100
Manaus, Ourinhos, Pan-Amazônico, Recife, São José dos Campos, São Luís e
Vitória.
Em geral, os autores das matérias publicadas no Centro de Mídia
Independente abrem mão de alguns dos seus direitos de autor por meio de uma
licença de Copyleft17. A reprodução não comercial das matérias (ou seja, sua
publicação ou exibição em veículo que não vise lucro ou fins comerciais) é
autorizada, ao passo que a reprodução comercial sem a consulta prévia ao autor é
impedida. Isso faz parte de uma política que acredita que a informação e a cultura
devem circular livremente, mas não devem ser bens comerciais. Assim, a não ser
que avise em contrário (por exemplo, especificando no texto ou no sumário que
detém o direito de cópia ou que não aceita a licença padrão do CMI), o texto será
publicado com a seguinte nota de Copyleft: "é livre a reprodução para fins não
comerciais, desde que o autor e a fonte sejam citados e esta nota seja incluída". Isso
significa que qualquer órgão ou meio de comunicação que não tenha fins comerciais
poderá reproduzir sua matéria mencionando o seu nome e o CMI. Por outro lado,
empresas e veículos com fins comerciais só poderão reproduzir a matéria se o autor
autorizar.
Para a monitoria do site, foi criada uma política editorial, que pode ser
consultada no final desta análise, aberta a modificações e um espaço para
administração exibido na figura 15.
17 Vide glossário
101
Figura 15 - Política editorial do CMI Brasil Fonte: http://lists.indymedia.org/mailman/listinfo/cmi-brasil-editorial
Neste espaço, as matérias, após terem sido publicadas, podem ser
escondidas da coluna da direita, indo então para a coluna de artigos escondidos.
Além disso, as matérias podem ser editadas ou agrupadas pelo coletivo editorial
para facilitar o acesso dos usuários.
Sobre a moderação e interferência no conteúdo das notícias postadas o site
informa que: “Temos muito respeito pela integridade do que é publicado. Em geral
apenas FAZEMOS CORREÇÕES EDITORIAIS para tornar as matérias mais legíveis
ou compatíveis com padrões técnicos”.
Para arrecadar dinheiro a CMI Brasil comercializa os vídeos. Segundo o
portal, o “dinheiro é usado na produção de novos vídeos, manutenção de
equipamentos como filmadoras, gravadores, para compra de fitas de gravação,
cópias de cartazes etc” (figura 16).
102
Figura 16 - Listagem de Vídeos da CMI Fonte: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/static/video.shtml
Foram criados boletins para levar o conteúdo da internet para as ruas, alguns
deles são: CMI na rua, Ação Direta, Folha Livre e o contra-informação. Outros
coletivos de diversos países também criaram boletins impressos, que podem ser
acessados pelo endereço http://print.indymedia.org (figura 17).
Figura 17 - Listagem de Boletins criados pelos membros da CMI Fonte: http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/static/impressos.shtml
103
4.4.2.4 Política Editorial do CMI Brasil
O Centro de Mídia Independente (CMI) Brasil é uma rede anti-capitalista de
produtores de mídia autônomos e voluntários. Com o objetivo de construir uma
sociedade livre, igualitária e que respeite o meio ambiente, o CMI procura garantir
espaço para que qualquer pessoa, grupo (de afinidade política, de ação direta, de
ativismo) e movimento social - que estejam em sintonia com esses objetivos -
possam publicar sua própria versão dos fatos.
A entidade acredita que dessa maneira estará rompendo o papel de
espectador passivo e transformando a prática midiática. Para isso, o sítio do CMI
funciona com um mecanismo de publicação aberta e automática, colocando no ar
notícias, artigos, comentários, fotos, áudios e vídeos. Esse mecanismo rompe com a
mediação do jornalista profissional e com a interferência de editores no conteúdo
das matérias. As produções não são modificadas, salvo a pedido do autor, ou
quando pequenas formatações são necessárias para facilitar sua exibição.
São bem-vindas no CMI publicações que estejam de acordo com os princípios
e objetivos da rede, como:
� Relatos sobre o cotidiano dos oprimidos;
� Relatos de novas formas de organização (como o Movimento Passe Livre,
Movimento dos Trabalhadores Desempregados, os zapatistas no México, os
piqueteiros na Argentina, as redes de economia solidária, etc.);
� Denúncias contra o Estado e as corporações;
� Iniciativas de comunicação independente (como rádios e TVs livres e
comunitárias, murais e jornais de bairro, etc.);
� Análises sobre a mídia;
� Análises sobre movimentos sociais e formas de atuação política;
� Produção audiovisual que vise a transformação da sociedade ou que retrate
as realidades dos oprimidos ou as lutas dos novos movimentos.
O CMI defende a liberdade de conhecimento e de acesso a ele; para
contribuir com a concretização destas liberdades, incentivando o uso de softwares
livres e a publicação em formatos livres (.ogg para áudio, .png para imagens) e em
formatos proprietários públicos (.rtf e .pdf para textos, .mpg para vídeos). Não
incentivam o uso de formatos proprietários (.doc para texto, .ppt para apresentação
de slides, .xls para planilhas eletrônicas). Da mesma maneira, todo o conteúdo do
104
sítio é disponibilizado sob a licença de copyleft, a não ser que o autor mencione o
contrário no artigo.
A intenção do CMI é unir esforços para uma real democratização da
sociedade, primando sempre por privilegiar a perspectiva dos oprimidos.
4.4.2.5 Sobre a seção Artigos Escondidos
Segundo o portal, com o crescimento do projeto, começaram a ocorrer
diversos abusos da publicação aberta, como: publicação propositadamente repetida
de artigos sem conteúdo, ou contrários aos princípios da rede CMI; publicação de
mensagens das listas abertas do CMI como artigos; questionamentos à política
editorial publicados como artigos; dentre outros vários casos. Sendo assim, para
continuarem oferecendo informação crítica de acordo com os objetivos listados
anteriormente, o coletivo editorial do CMI se reservou o direito de deslocar da coluna
de publicação aberta artigos que:
� Sejam de cunho racista, sexista, homofóbicos ou em qualquer sentido
discriminatório;
� Contenham ofensas ou ameaças a pessoas ou grupos específicos.
(Consideramos que há uma diferença entre crítica e ofensa: na crítica, há
uma demonstração argumentativa de algo com que não se concorda; numa
ofensa não há demonstração argumentativa alguma, e sim ataques
infundados);
� Façam qualquer tipo de propaganda comercial;
� Tratem de assuntos esotéricos ou de pregações religiosas de maneiras que
fujam de nossas propostas políticas;
� Visem promoção pessoal, promoção de algum candidato, candidata ou
partido político;
� Visem apenas contatar pessoas ou o próprio CMI. (Para contatar pessoas,
utilize as listas de discussão; para contatar o CMI, escreva para contato em
midiaindependente.org);
� Sejam publicadas mais de uma vez, sendo que um texto publicado como
comentário a uma matéria não pode ser publicado novamente como matéria
independente;
� O autor peça que sejam retirados;
105
� Sejam boatos conhecidos (hoax), informações falsas publicadas para
desarticular mobilizações, mentiras comprovadas e tentativas de assumir a
identidade de outra pessoa ou grupo, especialmente quando extremamente
evidentes ou denunciadas pela própria pessoa ou grupo atingido;
� Sejam spam - ou seja, artigos deliberadamente publicados para atrapalhar o
funcionamento da coluna de publicação aberta ou sabotar o sítio - que serão
considerados como artigos sem conteúdo;
� Estejam contra os objetivos apresentados na política editorial ou em outros
documentos públicos do Cento de Mídia Independente (Sobre o CMI, nota de
copyleft, etc.).
O Centro de Mídia Independente não se responsabiliza pelo conteúdo dos
artigos da coluna de publicação aberta, especialmente quando há nelas dados
suficientes para contatar o autor. Eventual direito de resposta a artigos será
concedido como comentário ao mesmo artigo que se pretende responder, o que
pode ser feito inclusive sem se contatar diretamente o coletivo editorial.
(Fonte: Coletivo Editorial CMI Brasil)
4.4.2.6 Relação do portal com os veículos de comunicação
A idéia é aliar as possibilidades técnicas da Internet à difusão de informações
por meios tradicionais. Assim, por exemplo, são armazenados arquivos de áudio no
site que são depois veiculados em rádios livres e comunitárias. Alguns coletivos da
rede CMI Brasil (grupos de pessoas por região envolvidas com o portal) também
elaboram boletins de notícias que são enviados para rádios que o utilizam como
base para noticiários radiofônicos comunitários. O mesmo procedimento é utilizado
na elaboração de jornais tradicionais, como o "Ação Direta", ou jornais-poste como o
"CMI na Rua" e "O POSTe". Os Centros de Mídia Independente também produzem
periodicamente documentários. Há também a produção de vídeos e documentários,
produzidos pela rede CMI Brasil que tiveram maior divulgação na internet: "Não
começou em Seattle, não vai terminar em Québec" (sobre protestos contra a ALCA
em São Paulo), "Anita Garibaldi" (sobre a maior ocupação urbana do Brasil) e
"Repórteres Populares" (sobre a formação de repórteres em movimentos sociais).
106
Nas figuras 18 e 19 a seguir, destacamos as seções de áudio, vídeo e
referências de impressos, que se relacionam com conteúdos produzidos para outros
meios.
Figura 18 - Área de áudios do CMI
Fonte: http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/static/radio.shtml
Figura 19 - Vídeos produzidos pelos membros do CMI
Fonte: http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/static/video.shtml
107
A seguir analisamos um portal de um veículo de comunicação tradicional, que
também cede espaço aos textos, fotos e vídeos noticiosos da população. Podemos
notar nas imagens demonstradas a seguir que os objetivos do uso deste espaço por
um veículo de comunicação tradicional difere dos demais casos apresentados
anteriormente.
4.4.3 VC no G1
4.4.3.1 A estrutura da seção VC no G1
Como podemos observar na figura 20, o VC no G1 traz as notícias, vídeos e
fotos postados pelos leitores no centro da página, no canto direito a área para enviar
os conteúdos, no menu esquerdo o acesso aos editoriais e ainda no centro da
página inferior uma seção de matérias mais lidas e votadas como as melhores
matérias.
Figura 20- Página Principal do G1
Fonte: http://g1.globo.com/VCnoG1/0,,8491,00.html
108
4.4.3.2 Como os repórteres cidadãos participam do processo
Para submeter conteúdo para ser publicado no VC no G1 é necessário passar
pelo processo de cadastro demonstrado nas imagens a seguir:
1) Preenchimento do formulário de cadastro (figura 21):
Figura 21 - Cadastro no VC no G1 Fonte:http://cadunweb.globo.com/Servlet/do/cadastro?servicoID=1107&url=http://vocereporter.globo.com/vocereporter/Actions/Login.ssp?urlRetorno=http://g1.globo.com/VCnoG1/0,,CPF0-8491,00.html
Depois de enviados os dados, o usuário passa para a segunda etapa do
cadastro, a confirmação pelo e-mail cadastrado:
2) Confirmação de cadastro (figura 22):
109
Figura 22 - Confirmação de Cadastro Fonte: recebida por e-mail
Ao clicar no link do e-mail da figura anterior o usuário recebe uma mensagem
de confirmação conforme mostra a figura 23.
Figura 23 - Acesso pelo e-mail após cadastro Fonte: Janela pop-up gerada no e-mail
110
Após confirmar seu cadastro efetivamente, o usuário recebe outro e-mail
(figura 24) com seu cadastro confirmado para acessar o site e submeter os textos,
imagens ou vídeos e está apto a exercer o papel de jornalista cidadão.
Figura 24 - Opt-in no e-mail (validação de e-mail) Fonte: http://g1.globo.com/VCnoG1/0,,LOG0-8491,00.html
Após este procedimento o usuário precisa entrar no site com seu usuário e
senha para submeter as matérias. O usuário entra com o seu nome e senha
cadastrados e o sistema verifica a validade dos dados para liberar o acesso às
notícias existentes e à postagem de novas notícias (figura 24).
111
Figura 25 - Área de login Fonte: http://g1.globo.com/VCnoG1/0,,LOG0-8491,00.html
Depois de entrar, o usuário pode enviar sua notícia para qualquer uma das
seções do VC no G1, como mostra a figura 25.
Figura 26 - Envio de notícia Fonte: http://g1.globo.com/VCnoG1/0,,CPF0-8491,00.html
112
Um dos atrativos e marca da interação nos sites de jornalismo colaborativo é
a possibilidade do repórter cidadão inserir conteúdo multimídia. Fotos tiradas de
celulares ou câmeras digitais e vídeos podem ser inseridas além do texto
informativo. A figura 26 mostra como inserir notícias apenas textuais, com textos e
fotos e com texto e vídeo. Esta opção é feita na hora da submissão da notícia.
Figura 27 - Escolha de tipo de conteúdo da notícia Fonte: http://g1.globo.com/VCnoG1/0,,CPF0-8491,00.html
4.4.3.3 Política Editorial
Critério de seleção de notícias do VC no G1
� O VC no G1 é um meio de jornalismo colaborativo, voltado para leitores
dispostos a contribuir com textos, fotos, vídeos e áudios relacionados a fatos
verídicos.
� Não serão publicados textos contendo palavrões, ofensas, preconceitos de
qualquer ordem, incitação à violência, manifestações de racismo, sexo ou
pedofilia, ou qualquer conteúdo ofensivo, que estimule a prática de condutas
ilícitas e contrário às leis brasileiras, à ordem, à moral e aos bons costumes.
� Não serão veiculados conteúdos de propagandas comercial, institucional ou
política, nem textos enviados por assessorias de imprensa.
113
� Acusações a terceiros, sugestões de reportagens, textos opinativos e
comentários não serão publicados no VC no G1. Os mesmos devem ser
enviados à redação do G1, por meio do serviço do Fale Conosco, e serão
avaliados, podendo ou não ser publicados. O internauta também pode fazer
comentários em matérias, blogs e artigos do G1.
� A equipe do VC no G1 poderá editar o conteúdo enviado pelos internautas,
sem alterar o sentido. Por exemplo: alterar os títulos das notícias sugeridos
pelos leitores; corrigir eventuais erros de digitação, ortografia ou informação
contidos nos textos; publicar apenas o texto e não publicar as fotos ou vídeos
enviados; reunir conteúdos de leitores diferentes; despublicar notícias
anteriormente publicadas; e acrescentar links nos textos para outros
conteúdos produzidos pelo G1.
� O material enviado deve ser da autoria de quem o envia; não serão aceitos
textos plagiados, que violem os direitos autorais de terceiros, copiados de
outros veículos de comunicação ou já publicados em outros meios.
� Todos os vídeos, áudios, textos e imagens publicados terão a assinatura de
quem os enviou.
� A escolha dos temas do conteúdo a ser enviado pelos autores é livre. A
equipe do VC no G1 também pode incentivar os internautas a enviar conteúdo
sobre temas relacionados à atualidade
� O conteúdo enviado para o VC no G1 poderá ser publicado em todos os
programas, sites e mídias das Organizações Globo.
� Todo o material enviado pelo internauta será analisado pela equipe do VC no
G1 e sua publicação está sujeita à aprovação dos editores.
A participação dos repórteres cidadãos é moderada pelos editores do site que
avaliam as notícias postadas e os conteúdos multimídia para que fatos irreais ou
materiais de racismo ou violência e desrespeito a quaisquer etnias ou grupos sejam
veiculadas no portal. Depois de avaliadas pelos editores as notícias passam a
aparecer no portal.
Quando o usuário acessa o item Todas as Notícias (figura 27) ele pode
escolher e ver as notícias pelos editoriais e também tem a opção de ver somente as
notícias indicadas pelos editores. Com essa opção os editores conseguem
transparecer sua linha editorial, marcando as notícias que acreditam ser mais
114
relevantes e que estão de acordo com a visão do veículo responsável pelo site. Esta
escolha imprime os objetivos do veículo e segue a linha da edição jornalística das
Organizações Globo.
Figura 28 - Todas as Notícias – Plantão do VC no G1 Fonte: Fonte: http://g1.globo.com/VCnoG1/0,,PCM0-8491,00.html
4.4.3.4 Relação do portal com os veículos de comunicação
O VC no G1 é uma seção do portal G1, uma ferramenta de propriedade de
uma empresa tradicional de comunicação, e inteiramente ligada à imagem deste
veículo, no caso, as Organizações Globo. O G1 apresenta espaços visíveis para
colunas dos jornais da Rede Globo de Televisão e da Globo News, são eles
respectivamente Jornal Nacional, Jornal da Globo, Jornal Hoje, Bom Dia Brasil e Em
Cima da Hora, Conta Corrente e Jornal das Dez e uma relação de links para demais
programas jornalísticos e de entretenimento das duas emissoras.
Em seguida, o site apresenta as opções do espaço 'Outras Mídias', designado
para acesso à versão on-line dos conteúdos de jornais e revistas tradicionais e que
estão ligados às Organizações Globo. São eles: jornal O Globo, Diário de São Paulo,
115
Extra, revista Época, Época Negócios, Galileu, Globo Rural, Revista PEGN,
Autoesporte e Revista Crescer. Ainda na seção 'Outras Mídias' há um espaço
disponibilizado para o acesso às rádios CBN, Globo AM e Globo Rádio.
4.5 Considerações sobre a análise
Na análise feita neste capítulo e nas figuras que o ilustraram apresentam-se
os perfis dos três sites escolhidos para este estudo.
BrasilWiki!: Site da Editora MM Comunicação Integrada Ltda., que dissemina
a união entre repórteres cidadãos e jornalistas, não pretendendo competir com
outros veículos de comunicação. A marca institucional neste caso não é tão forte
quanto vimos no G1, mas também possui sua área de venda de produtos ligados à
sua marca. O BrasilWiki!! Apresenta-se no processo de interação com o repórter
cidadão como o site de mais fácil manuseio e com maior quantidade de informações
instrutivas ao usuário de como efetuar os procedimentos para postar notícias e sobre
sua política de privacidade, direitos autorais e questões éticas na publicação das
mesmas.
CMI: A interação com o Centro de Mídia Independente revelou que segundo
os critérios de análise o portal é mais focado em notícias de âmbito sócio-ambiental.
Há também bastante discussão política no site e ele é mais aberto a opiniões dos
leitores sem grande interferência dos editores, o que transfere parte da
responsabilidade da investigação da informação encontrada para o leitor,
escolhendo se informar também em outros veículos ou em alguns casos,
desconsiderando o conteúdo encontrado. Pelo foco de atuação e seu objetivo de
luta, o CMI apresenta grupos de discussão e movimentos que se organizam para
levantar e disseminar informações em forma de notícias, documentários e produções
de áudio para serem repassadas aos usuários (algumas em forma de produtos à
venda para manutenção do portal). É um portal que nitidamente se preocupa menos
com o conforto visual do usuário durante a navegação, pois estrutura suas
informações com cores fortes, fontes às vezes sem padronização, não mantendo um
padrão estético como o BrasilWiki!! e G1, passando uma imagem menos
profissional, o que pode interferir na credibilidade que usuários que navegam pela
primeira vez possam dar ao seu conteúdo.
116
VC no G1: Todos mantém no topo a estrutura de navegação do site
globo.com, firmando a identidade da organização e possibilitando que o usuário
navegue entre as páginas dos produtos da organização. Por priorizar a questão da
imagem, os ícones, fonte de textos e destaques do G1 são bem chamativos,
coloridos e são distribuídos por toda a tela do computador. O G1 possui uma área
chamada globoshopping, onde especificamente disponbiliza produtos e divulga
parcerias com empresas em sua área de busca por marcas.
A análise permite mostrar como vem se dando o processo do jornalismo
cidadão no Brasil, através dos diferentes formatos adotados por cada portal, de
acordo com suas diferentes linhas editoriais, levando informações com critérios
abertos e para ciência de todos que produzem ou buscam informações em seus
conteúdos.
Apesar de ainda “engatinhar” no Brasil, como vimos na exposição de
profissionais e estudiosos na pesquisa apresentada no terceiro capítulo, e
enfrentando barreiras para se consolidar devido à resistência de profissionais,
teóricos e também da parte de jornalistas cidadãos que não se manifestam por não
encontrarem seu espaço ou não irem atrás dele, o jornalismo cidadão é uma
realidade presente na vida do indivíduo da atualidade, participando direta ou
indiretamente do consumo de informações dos cidadãos (sendo fonte de pesquisa
para jornalistas ou até mesmo quando há parceria jornalista e repórter-cidadão na
investigação dos fatos). Esse estudo buscou mostrar que a ligação entre o repórter-
cidadão e o jornalista é benéfica e poderá trazer cada vez mais qualidade na
disseminação rápida de informações e na averiguação das mesmas, tornando o
processo da notícia muito mais dinâmico e democratizando a informação.
117
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo buscou apresentar reflexões sobre a evolução do jornalismo, desde
suas origens até o novo momento propiciado pela implementação dos fatores
tecnológicos que dão novas dimensões à comunicação hoje em dia.
Por meio de pesquisas realizadas verificamos as opiniões de profissionais e
pesquisadores sobre uma nova postura que o jornalismo terá diante do avanço da
internet e quais os impactos que isso trará à sociedade.
Procuramos também observar a forma como alguns portais destinados ao
jornalismo colaborativo disponibilizam seus espaços para a participação de cidadãos
sem formação profissional na produção e propagação das notícias.
Sobre as questões éticas e jurídicas a respeito da legitimidade dessa nova
modalidade de jornalismo, muito ainda deverá ser discutido, o fato é que a legislação
não tem acompanhado a evolução tecnológica, conforme observamos na pesquisa
realizada com os profissionais de jornalismo.
A sociedade, atualmente, conta com uma ferramenta de comunicação
poderosa, a internet, disponível a uma parcela significativa da população. A
facilidade de produção e propagação de textos, fotos ou vídeos captados através de
telefones celulares, e a publicação nos blogs, torna o cidadão uma verdadeira
“Organização de Comunicação”, como cita Dan Gilmor:
[...]cada internauta tenha a sua própria mídia, o seu próprio veículo, não apenas publicando, mas também selecionando leituras (GILMOR, 2004, p.23 apud TADDEI, 2005, p. 13).
Há muito a se pesquisar sobre essa nova modalidade de jornalismo por se
tratar de um tema bastante recente. Poucos estudiosos se dedicam profundamente
sobre o assunto, são raros os trabalhos acadêmicos disponíveis. A maior parte do
material pesquisado foi obtido por meio de sites que discutem as mudanças e as
novas exigências da sociedade relacionadas à informação, e também sobre o
interesse de colaboração do cidadão na publicação de notícias do seu dia-a-dia.
Acreditamos que a popularização da internet proporciona democratização da
informação e isso ocasionará mudanças no comportamento cultural do cidadão, que
hoje prioriza a Instantaneidade e a Interatividade com a mídia. Estes fatores serão
decisivos para que a sociedade como um todo, cidadão sem formação acadêmica,
118
profissionais de comunicação e órgãos de regulamentação e legislação, cheguem a
um consenso no que diz respeito aos papéis que cada um tem nesse novo
momento.
119
REFERÊNCIAS
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123
GLOSSÁRIO
Agregador - Leitor de arquivos RSS. Pode ser instalado no computador ou ser baseado na web. ANSP - Rede Acadêmica de São Paulo (ANSP - Academic Network of São Paulo): surgiu em 1988, permitindo que acesso às redes BITNET (DECNet) e HEPNET (High Energy Physics Network). Entre 1992 e 1994, era o único acesso que o Brasil possuia a Internet, tanto no meio acadêmico quanto no comercial. Desde 1991, a FAPESP é responsável pelo registro de domínios e endereços de IP no país. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/FAPESP. Acesso em: 13/03/08 Arpanet - Rede de comunicação digitalizada, entrou em funcionamento em setembro de 1969, para uso exclusivamente militar. Os primeiros institutos interligados foram a Universidade da Califórnia (UCLA), o Instituto de Pesquisas de Stanford e a Universidade de Utah. Como havia grande participação de Universidades no desenvolvimento do projeto, as causas militares e cientificas começaram a se misturar, forçando a abertura da rede. Em 1980, o sistema ainda financiado pelo Departamento de Defesa, passou a se chamar Internet, tendo na ocasião cerca de 200 ligações. E em 1993 é criado o sistema World Wide Web (www) que popularizou de vez a Internet. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. primeiro volume da trilogia "A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura". Editora Paz e Terra, Rio, 1999. Blog – Site atualizado regularmente com estrutura cronológica. O nome vem da contração de duas palavras em inglês, web (world wide web) e log, que significa registro. Copy desk - Apesar de as matérias serem geralmente escritas em estilo sucinto e objetivo, devem ser revisadas antes de serem publicadas. O profissional que exerce a função de revisão, hoje figura rara nas redações, é chamado de revisor ou copy-desk. Copyleft - Copyleft é uma forma de usar a legislação de proteção dos direitos autorais com o objetivo de retirar barreiras à utilização, difusão e modificação de uma obra criativa devido à aplicação clássica das normas de propriedade intelectual, sendo assim diferente do domínio público que não apresenta tais restrições. "Copyleft" é um trocadilho com o termo "copyright" que, traduzido literalmente, significa "direitos de copia". Cross-media - Estratégias em que as empresas utilizam suportes, meios e canais diferentes para uma mesma campanha, por exemplo, anunciar seu novo produto concomitantemente no rádio, na internet e no jornal, respeitando as particularidades de acesso dos grupos consumidores fazendo anúncios específicos Download - Transferir dados ou programas de um servidor para um computador. Em português diz-se "baixar" da internet, ou seja, buscar algo que está online, no ar, e trazer para o computador pessoal. O oposto de upload.
124
E-mail – É o correio eletrônico, um modo de trocar correspondência entre equipamentos conectados à internet. É um dos recursos mais utilizados por todos os internautas ao redor do Mundo. Fapesp - Rede Acadêmica de São Paulo (ANSP - Academic Network of São Paulo): surgiu em 1988, permitindo que acesso às redes BITNET (DECNet) e HEPNET (High Energy Physics Network). Entre 1992 e 1994, era o único acesso que o Brasil possuia a Internet, tanto no meio acadêmico quanto no comercial. Desde 1991, a FAPESP é responsável pelo registro de domínios e endereços de IP no país. Feed - Do inglês alimentar, nutrir. O mesmo que RSS. Flog – Contração de fotoblog ou fotolog. Um blog que traz fotos nos posts. Folksonomia – Termo cunhado para designar a classificação sem rigor científico, feita pelas pessoas, em contraposição à taxonomia, ciência ou técnica de classificação. Em inglês o termo é folksonomy, de folk, que significa pessoas, povo. Fotocast – Podcast de fotos. Hic et nunc - O fato de que tenha sido produzido apenas um exemplar, num momento específico, em um lugar e uma circunstância única e por um autor específico, acaba por fazer com que o público atribua ao objeto uma aura “... a única aparição de uma realidade longínqua, por mais próxima que esteja. Inatingível, a obra de arte torna-se objeto de contemplação e sacralização, à maneira dos ícones religiosos” (WIKIPEDIA, 2007 b) Hipertexto: Texto suporte que acopla outros textos em sua superfície, cujo acesso se dá através dos links que têm a função de conectar a construção de sentido, estendendo ou complementando o texto principal. Juntamente com o termo hipermídia, hipertexto foi cunhado em 1965 pelo filósofo e sociólogo estadunidense Ted Nelson, pioneiro da tecnologia da informação. O conceito de hipertexto precisa abranger o campo lingüístico, já que se trata de textos. Em computação, hipertexto é um sistema para a visualização de informação cujos documentos contêm referências internas para outros documentos (chamadas de hiperlinks ou, simplesmente, links), e para a fácil publicação, atualização e pesquisa de informação. O sistema de hipertexto mais conhecido atualmente é a World Wide Web, no entanto a internet não é o único suporte onde este modelo de organização da informação e produção textual se manifesta. Internet – Rede mundial formada a partir da interconexão de computadores por meio de um protocolo de comunicação chamado de IP (Internet Protocol). A world wide web é uma parte da internet. iPod – Tocador de arquivos digitais de áudio e vídeo da Apple.
Just-in-time - é um sistema de Administração da produção que determina que nada deve ser produzido, transportado ou comprado antes da hora exata. Pode ser
125
aplicado em qualquer organização, para reduzir estoques e os custos decorrentes. O Just in time é o principal pilar do Sistema Toyota de Produção ou Produção enxuta. Com este sistema, o produto ou matéria prima chega ao local de utilização somente no momento exato em que for necessário. Os produtos somente são fabricados ou entregues a tempo de serem vendidos ou montados.O conceito de Just in time está relacionado ao de produção por demanda, onde primeiramente vende-se o produto para depois comprar a matéria prima e posteriormente fabricá-lo ou montá-lo. A redução do número de fornecedores para o mínimo possível é dos fatores que mais contribui para alcançar os potenciais benefícios da política Just in time. Esta redução, gera, porém, vulnerabilidade em eventuais problemas de fornecimento, já que fornecedores alternativos foram excluídos. A melhor maneira de prevenir esta situação é selecionar cuidadosamente os fornecedores e arranjar uma forma de acreditação dos mesmos de modo a assegurar a qualidade e fiabilidade do fornecimento (Cheng et. al., 1996, p. 106).
Online - Diz-se de algo que está disponível na internet ou de alguém que está conectado à rede mundial de computadores. Opt-in – É o termo empregado para as regras de envio de mensagens que definem que é proibido mandar e-mails comerciais/spam, a menos que exista uma concordância prévia por parte do destinatário. Opt-out - É o termo empregado para as regras de envio de mensagens que definem que é permitido mandar e-mails comerciais/spam, mas deve-se prover um mecanismo para que o destinatário possa parar de receber as mensagens. Podcast – É um meio de distribuir arquivos digitais pela internet. Os arquivos ficam hospedados em um endereço na internet e, por download, chegam ao computador pessoal ou tocador. A divulgação do podcast é feita pelo RSS. Post - Cada um dos textos inseridos em um blog. RSS - Sigla para "really simple syndication" (divulgação muito simples) ou "rich site summary" (sumário rico de site). Formato de arquivo com padrão mundial que funciona com linguagem XML. Usado para distribuir informações na internet. A tecnologia do RSS permite aos usuários da internet se inscreverem em sites que fornecem “feeds” (fontes) RSS. Estes são tipicamente sites que mudam ou atualizam o seu conteúdo regularmente. Para isso, são utilizados Feeds RSS que recebem estas atualizações, desta maneira o usuário pode permanecer informado de diversas atualizações em diversos sites sem precisar visitá-los um a um. Os feeds RSS oferecem conteúdo Web ou resumos de conteúdo juntamente com os links para as versões completas deste conteúdo e outros metadados. Esta informação é entregue como um arquivo XML chamado "RSS feed", "webfeed", “Atom” ou ainda canal RSS. A principio e até hoje em alguns sites o ícone adotado para o formato RSS é juntamente do indicativo de XML . Mas o ícone mais famoso que representa o RSS foi adotado numa parceria entre a Mozilla Foundation (criadora do Firefox (navegador) que já usava o ícone) com a Microsoft para a mais recente versão de seu navegador, o Internet Explorer 7. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/RSS
126
Um TrackBack é uma forma automática de dizer a um site que se está fazendo referência ao seu conteúdo. Por exemplo, se alguém escrever um artigo num blog e falar sobre um artigo que leu em determinado site e colocar um link para ele, aparecerá para o responsável pelo site a informação de que no blog “x” alguém referenciou este artigo. É possível deixar os trackbacks visíveis pra todos os leitores também. Software livre - Programas que atendem a quatro premissas: liberdade de uso, liberdade de estudo do código e funcionamento do programa e de adaptação, liberdade de distribuição de cópias e liberdade para alteração e distribuição de novas cópias. Software proprietário – São os softwares protegidos por leis de copyright. Tecnologia da Informação (TI) - Pode ser definida como um conjunto de todas as atividades e soluções providas por recursos de computação. Na verdade, as aplicações para TI são tantas - estão ligadas às mais diversas áreas - que existem várias definições e nenhuma consegue determiná-la por completo. TrackBack - Um TrackBack é uma forma automática de dizer a um site que se está fazendo referência ao seu conteúdo. Por exemplo, se alguém escrever um artigo num blog e falar sobre um artigo que leu em determinado site e colocar um link para ele, aparecerá para o responsável pelo site a informação de que no blog “x” alguém referenciou este artigo. É possível deixar os trackbacks visíveis pra todos os leitores também. Upload - Transferir um arquivo para um servidor na internet. Costuma-se dizer jogar na rede, colocar no ar ou subir um arquivo. O contrário de download. URL – Sigla para Universal Resource Locator. É o endereço ou domínio de um site na internet. Videocast – É o podcast de vídeo, também chamado de vidcast. www - Sigla para world wide web, que significa grande teia mundial. É um espaço virtual onde é possível visualizar e adicionar conteúdos por meio de equipamentos conectados à internet. É a interface gráfica da internet. Também chamada de web. XML - Sigla para eXtensible Markup. Linguagem padronizada para facilitar o compartilhamento de informações na internet. O RSS segue os padrões do formato XML.
127
ANEXO A – Jornais mais antigos
Jornal País Ano Post och Inrikes Tidningar (Suécia) 1645 Haarlems Dagblad (Holanda) 1656 La Gazzetta di Mantova (Itália) 1664 The London Gazette (Grã-Bretanha) 1665 Wiener Zeitung (Áustria) 1703 Hildesheimer Allgemeiner Zeitung (Alemanha) 1705 Worcester Journal (Grã-Bretanha) 1709 The Newcastle Journal (Grã-Bretanha) 1711 The Stamford Mercury (Grã-Bretanha) 1712 Hanauer Anzeiger (Alemanha) 1725 The Belfast News-Letter (Irlanda do Norte) 1737 Feuille d’Avis de Neuchâtel (Suíça) 1738 Darmstaedter Tageblatt (Alemanha) 1740 Press & Journal (Grã-Bretanha) 1747 Berlingske Tidende (Dinamarca) 1749 Giessener Anzeiger (Alemanha) 1750 Leeuwarder Courant (Holanda) 1752 The Yorkshire Post (Grã-Bretanha) 1754 La Gazzetta di Parma (Itália) 1755 Northampton Daily Hampshire Gazette (EUA) 1756 Provinciale Zeeuwse Courant (Holanda) 1758 Norrköpings Tidningar (Suécia) 1758 Saarbrücker Zeitung (Alemanha) 1761 Schaumburger Zeitung (Alemanha) 1761 24 heures/Feuille d’Avis de Lausanne (Suíça) 1762 Hersfelder Zeitung (Alemanha) 1763 The Hartford Courant (EUA) 1764 Lippische Landeszeitung (Alemanha) 1766 Aalborg Stiftstidende (Dinamarca) 1767 Adresseavisen (Norway) 1767 Feuille d’Yverdon (Suíça) 1773 The Gazette (Canadá) 1778 Neue Zürcher Zeitung (Suíça) 1780 Golarsche Zeitung (Alemanha) 1783 The Berkshire Eagle (EUA) 1789 Zwolse Courant (Holanda) 1790 The Observer (Grã-Bretanha) 1791 Tauber-Zeitung (Alemanha) 1791 Jeversche Wochenblatt (Alemanha) 1791 Norwich Bulletin (EUA) 1791 Greenfield Recorder (EUA) 1792 Rutland Herald (EUA) 1794 Thurgauer Zeitung (Suíça) 1798 Gazette de Lausanne (Suíça) 1798 Keene Sentinel (EUA) 1799
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Nijmeegs Dagblad (Holanda) 1800 Bote vom Unter-Main (Alemanha) 1803 Schleswig-Holst. Landeszeitung (Alemanha) 1807 Concord Monitor (EUA) 1808
Solinger Tageblatt (Alemanha) 1809 New Haven Register (EUA) 1812 Mobile Register (EUA) 1813 Arnhemse Courant (Holanda) 1814 Le Journal de la Corse (França) 1815 Cellesche Zeitung (Alemanha) 1817 Ludwigsburger Kreiszeitung (Alemanha) 1818 Westfälischer Anzeiger (Alemanha) 1822 The Bombay Samachar (Índia) 1822 Abo Underrättelser (Finland) 1824 Cannstatter Zeitung (Alemanha) 1824 Union-News & Sunday Republican (EUA) 1824 Kennebec Journal (EUA) 1825 Le Figaro (França) 1826 Stamford Advocate (EUA) 1829 Providence Journal (EUA) 1829 Aftonbladet (Suécia) 1830 The Gleaner (Jamaica) 1834 Kalamazoo Gazette (EUA) 1837 The Tuam Herald (Irlanda) 1837 The Times-Picayune (EUA) 1839 The Plain Dealer (EUA) 1845 New Straits Times (Malásia) 1845 The Daily Telegraph (Grã-Bretanha) 1855 The Sacremento Bee (EUA) 1857 Atuagagdliutit (Groenlândia) 1861 The Northern Scot (Scotland) 1870 The Daily Californian (EUA) 1871 The Salt Lake Tribune (EUA) 1871 The Bay City Times (EUA) 1873 Dagens Nyheter (Suécia) 1878 Asahi Shimbun (Japão) 1879 The Ohio State Lantern (EUA) 1881 The Alpine Avalanche (EUA) 1891 The Grand Rapid Press (EUA) 1892 ABC (Espanha) 1903 Die Welt lt (Alemanha) 1946 Fonte: World Association of Newspaper (2007)
129
ANEXO B - Venda mundial de computadores cresceu 14,3% em 2007, diz IDC
As vendas mundiais de computadores cresceram 14,3% em 2007 e chegaram
a 269 milhões de unidades, segundo dados divulgados pela consultoria
especializada IDC. A HP manteve a liderança desse mercado, seguido pela Dell e
pela Acer.
Apenas no quarto trimestre de 2007, foram vendidos 77,3 milhões de
computadores, uma alta de 15,5% em relação ao mesmo período do ano anterior.
"Os resultados do quarto trimestre mostram um mercado de computadores
muito saudável", afirma Loren Loverde, diretor da pesquisa Worldwide Quarterly PC
Tracker, em comunicado. Entretanto, segundo a consultoria, as projeções para os
próximos dois anos revelam que esse crescimento deve ser mais lento.
As preocupações em relação ao crescimento da economia mundial devem
desacelerar a expansão desse mercado, afirma a empresa. Apesar disso, a
expectativa é que o crescimento continue a ser de dois dígitos em 2008 e,
provavelmente, em 2009.
Briga boa
A HP vendeu 50,5 milhões de computadores no ano passado, o que
representa 18,8% de todas as unidades comercializadas no período. Em relação a
2006, as vendas da empresa cresceram 30,1% em 2007.
Apesar de ter se recuperado no quarto trimestre, a Dell cresceu bem abaixo
da média mundial em 2007. Vendeu 39,9 milhões de computadores, um crescimento
de 2,3%. Mesmo assim, a empresa mantém o domínio sobre 14,9% do mercado
mundial de PCs.
"Enfrentando dificuldades no ano passado, a Dell começou a dar a volta por cima",
afirma a consultoria.
Já a Acer tomou o lugar da Lenovo como terceira maior vendedora de
computadores. A empresa vendeu 21,2 milhões de unidades em 2007, o que
representa 7,9% do mercado --em 2006 a marca tinha 5,8% de participação.
A Lenovo, agora quarta colocada, vendeu 20,2 milhões de computadores e
detém 7,5% de participação. A Toshiba vem em seguida com 10,9 milhões de
unidades comercializadas, o que representa 4,1% do mercado.
130
Os dados incluem a venda de desktops, notebooks, ultraportáteis e
servidores.
Fonte: FOLHA ONLINE. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u364531.shtml. Acesso em: 19 jan. 2008
131
ANEXO C - Venda de computadores deve crescer 17% em 2008, diz Abinee
Volume de notebooks comercializados pode dobrar em relação ao ano
passado
O Brasil deve viver um novo ano de forte crescimento das vendas de
computadores pessoais (PCs). Depois de fechar 2007 com um avanço de 21,4%, os
fabricantes esperam outro aumento de dois dígitos. A IT Data, consultoria
especializada no mercado de tecnologia e informática, projeta um incremento de
14%. Mais otimista, a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica
(Abinee) aposta em 17%, o que elevaria o volume comercializado de PCs e
notebooks a 11,7 milhões de unidades neste ano, ante os 9,983 milhões registrados
em 2007.
Para que essa expectativa se concretize, a Abinee conta com uma série de
fatores. O primeiro é um novo salto nas vendas de notebooks. No ano passado, os
brasileiros compraram 1,912 milhão de laptops, o que representou um pulo de 183%
sobre 2006. Os notebooks responderam por 19% dos computadores pessoais
vendidos no país nos últimos 12 meses. Em 2008, a Abinee espera que essa fatia
suba para 33% do total, ou 3,861 milhões de unidades. Se a previsão for cumprida,
representará uma expansão de 102% nas vendas.
Além da crescente demanda pelos notebooks, que garantem mobilidade ao
usuário, o setor também acredita que medidas governamentais poderão impulsionar
esse produto. Os fabricantes devem encaminhar ao governo uma proposta de
isenção fiscal para os notebooks, a exemplo da que já beneficia com o não-
pagamento de PIS/COFINS os desktops (computadores de mesa) com preço até
4.000 reais.
Outro estímulo às vendas será o combate ao chamado “mercado cinza” de
PCs, por meio de ações coordenadas com a Polícia Federal. No ano passado, as
vendas de computadores ilegais representaram 35% do total, ou 3,497 milhões de
aparelhos. Em 2006, o percentual era de 47%. Com as medidas de inibição à
pirataria, os incentivos fiscais e o financiamento facilitado, a Abinee espera que a
taxa de ilegalidade caia para 29% neste ano.
O Brasil encerrou 2007 com 27 milhões de PCs ativos, dos quais, 11,6
milhões de uso doméstico. O número representa um acréscimo de 5 milhões de
novas unidades em relação a 2006. A expansão deve-se, sobretudo, à incorporação
132
de usuários das classes B e C, por meio do crédito facilitado e do barateamento de
preços. Os computadores de mesa com preços abaixo de 1.000 reais representaram
20% das vendas no quarto trimestre. O preço médio dos equipamentos vendidos
ficou em 1.499 reais. As pessoas físicas pagaram, em média, 1.230 reais pelos
desktops. Já o mercado corporativo desembolsou 1.780 reais.
Fonte: Portal Exame. Disponível em: http://portalexame.abril.com.br/tecnologia/m0150584.html
133
ANEXO D - O que são blogs, afinal? Ou, manifesto pelo respeito à
complexidade da blogosfera
Apesar de superficiais, a comparação de blogs com diários íntimos e a
questão sobre blogs serem ou não jornalismo ainda circulam com alguma força. E o
mito de que blogs não passam de textos irresponsáveis e sem fundamentação agora
inspira até uma equivocada campanha publicitária. De onde vem essas confusões
estereotipadas?
I - A teoria
Conforme discutimos em um artigo anterior (Primo e Smaniotto, 2006), o
termo blog tem 3 conotações, o que pode gerar mal-entendidos. O termo “blog”
designa não apenas um texto, mas também um programa e um espaço. Para
simplificar esta discussão, apresento a seguir exemplos dos diferentes usos do
mesmo termo:
como programa: “Parei de usar o Blogger. Instalei o Wordpress”;
como espaço: “Não encontrei seu blog no Google. Qual o endereço dele?”;
como texto: “Li ontem o seu blog e gostei do que você escreveu”.
A confusão entre blog/programa e blog/texto é responsável por boa parte dos
estereótipos sobre esse fenômeno da cibercultura. Da mesma forma que não se
pode dizer que aquilo que se imprime em papel é sempre jornalismo ou sempre
superficial, por que impor ao suporte blog apenas um modelo discursivo. Em outras
palavras, o uso de um blog/programa não determina que o blog/texto deverá seguir
um gênero específico, nem ter esta ou aquela qualidade. Ora, diversos são os
gêneros que ele pode assumir (ver Recuero e Herring et al, por exemplo). Como
sabemos, um blog/texto pode ser jornalístico, outro pode ser confessional, um
terceiro pode trazer poesias, enquanto outro servir de registro de procedimentos
organizacionais que se quer compartilhar entre todos os funcionários.
E para se analisar um blog/texto, deve-se atentar apenas para um
determinado post (a unidade mínima) ou para todos os posts em um blog/espaço?
Ou de todos os posts que um internauta publicou na blogosfera? Essa opção de
pesquisa depende do foco do estudo. Trata-se de um desafio equivalente àquele
enfrentado por um pesquisador de um certo poeta. O que deve estudar? Uma
determinada poesia, um dos livros, toda a obra?
134
Por outro lado, não se pode esquecer que blogs/texto (pelo menos os que não
desativam a interface de comentários) são criados através de um processo de
escrita coletiva. Além dos posts do(s) blogueiros(s), que ocupam o espaço mais
privilegiado na interface, os comentários devem ser vistos como parte do blog/texto.
Os debates têm um impacto sobre o grupo e inclusive sobre a redação de novos
posts.
Tendo em vista essa produção colaborativa, não se pode deixar de
reconhecer os blogs como importante espaço de sociabilidade. Portanto, o
blog/espaço pode se transformar em um ponto de encontro de um grupo de
interagentes. A interação recursiva e o comprometimento dos participantes com o
grupo pode resultar na emergência de uma comunidade virtual.
Por outro lado, a leitura de um blog/texto não se vincula necessariamente à
visita a um blog/espaço determinado. Hoje, com os leitores de feeds (como Google
Reader e Netvibes), pode-se acessar os posts longe do blog/espaço original.
II - O manifesto
É preciso abandonar as definições apressadas e confortáveis do que os blogs
são ou deveriam ser.
Um blog não deve ser sério ou engraçado, jornalístico ou escrachado, bem
referenciado ou utópico. Os blogueiros definem o foco, o gênero e o tom de seus
blogs/texto e negociam essas opções com suas audiências. Enquanto essa
produção for interessante e prazerosa, o blog continuará a ser atualizado.
Os blogs são mais do que texto, são espaços de interação. Para além do
mero registro informacional, blogs podem ter uma importância relacional, enquanto
espaço de sociabilidade e convívio. A própria conversação em um blog/espaço pode
ser um fim em si mesmo.
Blogs/texto não são escritos necessariamente para agradar ou ampliar a
audiência. Eles podem limitar-se a um exercício de auto-reflexão. Na verdade, a
escrita de todo post é um momento de avaliação das perspectivas próprias.
Blogs podem também ter um impacto político ao oferecerem condições para
que os fatos que afetam a vida do blogueiro e de sua audiência sejam debatidos e
para que notícias da grande mídia não sejam apenas esquecidas.
Fonte: Disponível em: http://alexprimo.com/2007/08/20/o-que-sao-blogs-afinal-ou-manifesto-pelo-respeito-a-complexidade-da-blogosfera/. Acesso em: 17 mar. 2008
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ANEXO E - We the Media, de Dan Gilmor
Para quem fica sentado atrás do computador, esperando que o mercado
consagre determinadas práticas, o mundo parece andar a uma velocidade razoável
– de cruzeiro –, relativamente fácil de acompanhar. Mas para quem persegue as
novidades, sobretudo para quem acompanha (ou tenta acompanhar) a internet e seu
desenvolvimento, o mundo nunca avançou de forma tão vertiginosa, a ponto de
causar dores de cabeça e tonturas diárias. Porque enquanto a mídia estabelecida
vai encolhendo em termos de conteúdo de qualidade (pelo menos, no Brasil), a
internet vai se expandindo como nenhuma outra mídia – já que é a única mídia, na
História, em que virtualmente qualquer pessoa pode dar sua contribuição.
We the Media (2004, O’Reilly, 299 págs.), o livro que já é uma referência, de
Dan Gilmor, tenta dar conta dessa transformação, que nos levou de uma mídia
velha, viciosa e falida, para uma mídia nova, promissora e rica. Dan Gilmor não
contém, claro, o mundo – nem seria essa sua pretensão –, mas condensou em
quase trezentas páginas as mudanças que se anunciaram desde o século XX e que
estão se consolidando, de maneira irrevogável, neste século XXI. A idéia básica de
Gilmor, um “colunista conhecido nacionalmente” do San Jose Mercury News – um
jornal do mítico Vale do Silício –, é que estamos passando de uma era em que os
jornalistas (inclua aqui marqueteiros, publicitários e relações públicas) “palestravam”
para uma platéia geralmente dócil e pouco reativa – a “massa”, ou seja, nós – para
uma nova era em que as pessoas fazem a notícia (eu, você, seu vizinho), gerando,
em vez de “palestras”, “seminários” e “conversações” (a tradução aqui é livre,
portanto os termos vão todos entre aspas).
E o que Dan Gilmor entende por “palestras”? Comunicação unilateral
basicamente. Sem querer entrar muito na teoria, podemos usar os conceitos de
“emissor” e “receptor”. Antigamente (na cabeça de muito jornalistas do Brasil, até
hoje), a mídia ditava e era lei. Ninguém discutia. Ou as discussões eram abafadas,
ou eram então “conduzidas” – não havia real reação por parte do público. Com
exceção de algumas famílias (caso do Brasil), ou de alguns governos, que detinham
os meios de produção de notícias – para ser um pouco marxista na terminologia –,
as pessoas não tinham acesso direto à mídia. As pessoas mal reagiam, e ficavam à
mercê da benevolência dos veículos, que podiam, mais por obrigação de ofício do
que pelo bem da discussão, reproduzir suas “cartas” na seção respectiva. (A isso,
136
chamavam “democracia”.) Como coloca Gilmor, era mais uma “palestra”. Com
algumas objeções, óbvio, uma pergunta aqui, outra ali, mas uma palestra ainda.
Alguém falava e você simplesmente ouvia; a gente aqui embaixo, eles lá em cima.
Com a internet, esse modelo ruiu. Dan Gilmor nos mostra que, desde a sua
fundação, a internet foi uma mídia colaborativa (ao contrário das demais, sempre
limitadas a um grupo restrito). Se inicialmente restringida àqueles que dominavam a
tecnologia de publicação, a internet foi evoluindo no sentido de uma democracia
plena, sobretudo na década de 90, onde todo mundo tem voz, se quiser. Não
poderia haver pior cenário para a mídia estabelecida, pois se reinara tranqüila
durante décadas sem contestação, de repente era atingida diretamente nos seus
brios, por réplicas, ataques e provocações – que, na internet, não poderia jamais
conter, nem deixar de publicar. Que alternativa sobrou então à velha mídia?
Combater a nova. É o que os homens-de-mídia-com-cabeça-antiga vêm tentando
fazer, sem sucesso, desde o boom. Os mais inteligentes já perceberam (a tempo?)
que vão ter de dialogar com os novos “atores” desse espetáculo; os mais burros,
ainda não – e estão progressivamente sendo ultrapassados.
A linguagem soa como a do ativismo de esquerda chomskiano, mas não é,
não. Pelo simples fato de que a internet não é, como a histeria de esquerda, um
“clamor” por participação popular: a internet é uma realidade, estabelecida
naturalmente, à revelia daqueles que antes detinham o monopólio da informação e
da discussão de idéias (a esquerda, inclusive, entra aqui). Dan Gilmor mostra isso
com dados e esse talvez seja o grande mérito de We the Media: compilar, de forma
sistemática, instigante e efetiva, os argumentos a favor dessa revolução e as
realizações que ela já trouxe, para o jornalismo, que é o seu campo de atuação.
Pode-se considerar, ainda, que We the Media é a primeira história, não-oficial, da
nova mídia – contrapondo-a à antiga (até para justificar porque é “nova”) e traçando
sua trajetória de sucessos (e insucessos), sem exagerar na nomenclatura e sempre
estabelecendo paralelos que auxiliam a compreensão de qualquer leitor.
Um dos pilares centrais na construção de Gilmor são os blogs. Os blogs são a
primeira ferramenta a permitir livre acesso, a qualquer cidadão (“digitalmente
incluído”, digamos), ao que ele chama de “conversações”. Com um blog, que pode
ser criado por qualquer pessoa em menos de cinco minutos, é possível reportar,
comentar e editar, fundamentalmente como se fazia na mídia antiga. Não
exatamente igual – falo tecnicamente e profissionalmente igual –, mas o blog, pela
137
primeira vez na História, poderia ser uma mídia, ou uma parcela dela, acessível a
qualquer cidadão, que não pertencesse a famílias, ou a governos ou a detentores
dos antigos meios de produção. Obviamente isso gerou reações. Reações, até
previsíveis, dos antigos detentores do monopólio da informação: jornalistas,
marqueteiros, publicitários, relações públicas – profissionais de mídia (antiga) em
geral. Tentaram, e até hoje tentam, desqualificar a conversação.
O mérito de Gilmor, mais uma vez, é reconhecer a importância desse novo
fenômeno – apesar de jornalista, apesar de profissional da antiga mídia. Gilmor, num
exercício de humildade inédito, coloca-se na seguinte posição: “Parto do
pressuposto que meus leitores sabem mais do que eu: eles são em maior número –
eu sou um só” (grifo nosso). Quem poderia imaginar uma declaração desse teor
saindo da boca de um ex-detentor do monopólio da informação no Brasil? Qual
jornalista se acha, efetivamente, mais ignorante do que seu público? Dan Gilmor
argumenta que o jornalismo feito por mais pessoas, por mais “conversações”, tende
a ser muito melhor, muito mais acurado, a longo prazo. E o The New York Times já
corrobora sua tese: com um blog surgindo a cada segundo (dado da BBC), que
redação pode competir com milhões de especialistas espalhados pelo globo? No
limite, a blogosfera tende a acertar mais do que a mídia estabelecida.
Não faltam exemplos práticos de comprovação nessa área, e o We the Media
não hesita em listá-los. Aqui no Brasil, surpreendentemente, admitiu-se que a
internet foi a “mídia revelação” durante os ataques do 11 de Setembro – permitindo
um acompanhamento em tempo real, quase com liberdade total na disseminação da
informação (embora e-mails tenham escapado com fotos chocantes, o governo
Bush, por exemplo, tratou de conter o quanto pôde a sua proliferação). E ninguém
nega que, a princípio, a melhor cobertura, mais recentemente falando, do tsunami,
dos atentados em Londres e da tragédia de New Orleans, aconteceram on-line:
enquanto o poder público estava paralisado e a mídia, inacessível, pululavam
relatos, fotos, áudios e vídeos amadores, em blogs e plataformas afins. Dan Gilmor
chama a atenção para a eleição norte-americana de 2004, onde os blogs, além de
terem produzido uma ameaça real à mídia estabelecida (derrubando um âncora de
rede de televisão, entre outras coisas), permitiram mobilizações antes impensáveis a
favor de candidatos menos favorecidos (financiando, por exemplo, a campanha de
Howard Dean).
138
Mas nem só de bons sentimentos vive Dan Gilmor. Dedica um capítulo inteiro
do seu We the Media ao que chama, no idioma do Tio Sam, The Empire Strikes
Back – O Contra-ataque do Império –, fazendo alusão à trilogia Guerra nas Estrelas
de George Lucas, e afirmando taxativamente que os detentores do “cartel do
entretenimento” (outra expressão sua) não vão deixar por menos. Gilmor cita a
“guerra” da indústria do disco contra a pirataria e contra o compartilhamento de
arquivos (faixas) via internet. Embora considere a internet um fait accompli, não
acredita no “desprendimento” das majors – também do cinema, também do universo
editorial –, no sentido de ceder seus “direitos adquiridos” para que tudo caia em
domínio público. Ainda assim, Gilmor lançou seu próprio livro dentro do princípio dos
Creative Commons, disponibilizando o primeiro capítulo inteiro em PDF, para quem
quiser baixar.
We the Media não é, pela natureza mesma do seu assunto principal, a última
palavra em matéria de internet – mas é, ainda assim, a melhor tentativa nesse
sentido. E se não consegue se manter up-to-date – o que seria um contra-senso, até
em termos de internet –, carrega no seu bojo as melhores intenções jamais
dedicadas à mídia nova. Desde o título, que remete à abertura da constituição dos
Estados Unidos (“We the People...”) – sutilmente insinuando que a revolução da
internet vai ser tão central na história dessa nação quanto o foram fatos como a
Independência e a Guerra de Secessão. Compactuando ou não com as idéias mais
“vanguardistas” de Dan Gilmor, e de We the Media, não seria exagero admitir que
seu raciocínio se estende para todo o planeta: poucas vezes um fato foi tão central
para o desenvolvimento da nossa civilização como está sendo agora a internet.
Fonte: BORGES, J.D. Digestivo cultural. Disponível em: http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=1740. Acesso em: 17 mar. 2008
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ANEXO F - Celular e blogs viram ‘armas’ em Mianmar
Jovens capturam imagens e enviam para o mundo através da internet.
Mianmar é um dos países com menos liberdade de imprensa no mundo.
Da AFP
Graças às novas tecnologias da comunicação, as manifestações contra o
regime militar em Mianmar são acompanhadas por todo o mundo, ao contrário do
ocorrido em 1988, antes da internet, quando poucas informações sobre a sangrenta
repressão "vazaram" para o resto do planeta.
O G1 encontrou vídeos no YouTube dos protestos, após fazer uma pesquisa
na blogosfera de Mianmar. Veja imagens da manifestação em Kalaymyo18 e em
Yangon19.
A onda de protestos mantém semelhanças com o movimento pela democracia
de agosto de 1988, que os militares abafaram com armas e que deixou cerca de
3.000 mortos.
Como há 20 anos, também agora o povo saiu às ruas por reivindicações de ordem
econômica em um país onde uma família em cada quatro vive abaixo da linha de
pobreza.
Mas ao contrário de 1988, as imagens e as informações procedentes de
telefones celulares, câmeras de vídeo digitais e blogs na internet que conseguem
passar pelas redes de censura do governo, permitem levar ao mundo o testemunho
dos acontecimentos.
"Graças à tecnologia, a situação é completamente diferente. Todos, em todo o
mundo, podem acompanhar graças à internet o que acontece em Mianmar", afirmou
Said Win, chefe de redação do "Mizzima News", um grupo de comunicação com
sede na Índia e dirigido por birmaneses no exílio.
"É realmente o resultado da globalização. Queira a junta ou não, o governo já
não pode isolar o país do restante do mundo", acrescenta.
No entanto, desde o início dos protestos contra o aumento dos preços dos
transportes públicos, o regime militar reduziu consideravelmente o acesso à internet.
18 Vide http://www.youtube.com/watch?v=DDrU8ZBbA6s 19 Vide http://www.youtube.com/watch?v=8pnxotOYeEk
140
Mas cerca de 200 cafés virtuais continuam funcionando em Yangun, a maior
cidade do país, permitindo que os estudantes transmitam vídeos e fotos tiradas com
seus telefones celulares e câmeras digitais.
"Os jovens sabem como escapar do controle na internet. Recebemos imagens
não só de Yangun como também de Mandaly", segunda maior cidade do país,
explica Aung Din, diretor da US Campaign For Burma, grupo de oposição ao regime
militar com sede em Washington.
Aung Din, que participou das manifestações de 1988, constata uma enorme
diferença. "Em 1988, não tínhamos estes meios, especialmente a internet, para fazer
com que as mensagens deixassem Mianmar. Ninguém na comunidade internacional
estava ciente das primeiras manifestações. Desta vez, todo mundo está informado",
afirma.
A "Gazette de Mandalay", com sede na Califórnia, também recebeu dezenas de
fotografias e vídeos enviados de Mianmar, país classificado pelas Nações Unidas
entre os 20 mais pobres do mundo, que vive sob o jugo dos militares desde 1962.
"Tanto os monges budistas como os estudantes utilizam seus telefones
celulares para nos enviar fotos. De certa forma, a internet elimina as diferenças"
entre eles, considera um jornalista da Gazette, que solicitou o anonimato.
Para a associação Repórteres Sem Fronteiras, Mianmar, "paraíso dos
censores", é um dos países do mundo onde há menos liberdade de imprensa.
Fonte: G1 Notícias. Disponível em http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL112325-5602,00-CELULAR+E+BLOGS+VIRAM+ARMAS+EM+MIANMAR.html
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ANEXO G - Empresas usam conceito "wiki" de criação coletiva para inovar
24/06/2007 - 09h44
CLÁUDIA TREVISAN da Folha de S.Paulo
O mundo vive o início de uma revolução na maneira como as empresas
inovam e produzem, e as que não perceberem logo a transformação correm o risco
de sucumbir. Nesse admirável mundo novo, não haverá lugar para companhias
fechadas, hierarquizadas e que guardam seus segredos industriais a sete chaves. A
senha para crescer será a colaboração em massa, proporcionada pela internet e os
"wikis" --softwares ou páginas que podem ser editados por qualquer usuário.
A utilização desse novo modelo vai além da enciclopédia Wikipedia ou do
YouTube e começa a entrar rapidamente no mundo industrial. Trinta e cinco
empresas da Fortune 500 fazem parte do InnoCentive, um site que reúne 91 mil
cientistas de 175 países. Nele, as companhias colocam problemas que suas equipes
de P&D (pesquisa e desenvolvimento) não conseguem solucionar e oferecem
recompensas que vão de US$ 5.000 a US$ 100 mil para os que trouxerem respostas
viáveis.
Em vez de se limitar a seu grupo de funcionários, nomes como Boeing e
Procter & Gamble buscam inovação em âmbito global, o que eleva a rapidez e o
espectro das descobertas.
Apesar de ter 9.000 pesquisadores, a Procter & Gamble decidiu que 50% das
idéias para o desenvolvimento de seus novos produtos deverão vir de fora de suas
fronteiras até 2010.
Esses são alguns dos inúmeros casos relatados no livro "Wikinomics - Como
a Colaboração em Massa pode Mudar seu Negócio", de Don Tapscott e Anthony D.
Williams, que chega às livrarias brasileiras nesta semana (Nova Fronteira. 368 págs.
R$ 49,90).
Em entrevista concedida à Folha por telefone na sexta-feira, Tapscott afirmou
que o mundo inicia uma etapa inédita de democratização da informação e de
participação, proporcionada pela internet e os novos programas abertos à interação
com o usuário.
"Wikinomics" é a palavra criada por Tapscott para descrever um novo modo
de organização da produção, marcado pela abertura, transparência, colaboração
entre pares e ação global. "As empresas têm de deixar de se estruturarem como
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multinacionais e passarem a agir como empresas verdadeiramente globais", disse
Tapscott. O autor estará no Brasil para o lançamento do livro e fará palestra na
quarta-feira na IT Conference 2007.
Sem fronteiras
A idéia que empurra as empresas para a colaboração em massa é a de que
em algum lugar do mundo pode haver respostas melhores para os seus problemas
do que as disponíveis dentro de seus muros. Com a tecnologia atual, essas soluções
podem viajar na velocidade de um clique de mouse de um lugar a outro do globo.
A mineradora canadense Goldcorp foi uma das pioneiras na prospecção
desse mundo sem fronteiras. O dono da empresa, Rob McEwen, tomou uma decisão
radical em 2000, quando suas esperanças de localizar novas jazidas de ouro em
Ontário estavam quase esgotadas: colocou na internet todas as pesquisas
geológicas que a companhia havia realizado e lançou um concurso global, com
prêmio de US$ 575 mil para os que contribuíssem com as melhores idéias na
confecção do mapa da mina.
Ouro
Dezenas de pessoas de diferentes partes do mundo responderam ao desafio,
e a Goldcorp encontrou jazidas de ouro em quantidade suficiente para catapultar seu
faturamento de US$ 100 milhões para US$ 9 bilhões. A colaboração em massa
permitiu que a empresa encurtasse seu tempo de pesquisa e prospecção em dois a
três anos, segundo McEwen.
Para ser bem-sucedida nessa empreitada, a Goldcorp teve que abrir para o
mundo informações geológicas estratégicas, tratadas até então como segredo
industrial. No novo universo "wiki", diz Tapscott, as companhias terão de mudar a
relação com a propriedade intelectual e passar a ser transparentes.
"Um químico aposentado na Alemanha ou um estudante de São Paulo podem
ter a solução de que as empresas precisam."
Fonte: FOLHA ONLINE. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u306773.shtml Acesso em: 10 jan. 2008
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