8/17/2019 Micropolítica de um corpo-memória
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A Carga
Faustin Linyekula
(Congo)
Micropolítica de um corpo-história
Luciana Eastwood Romagnolli1
“Ora, para isso,nós mesmos devemos assumir a liberdade do movimento,(...)a faculdade de fazer
aparecer parcelas de humanidade,o desejo indestrutível. Devemos, portanto, – em recuo doreino e da
lória, na brecha aberta entre o passado e o futuro – nos tornar vaa!lumes e, dessa forma, formar
novamenteuma comunidade do desejo, umacomunidade de lampejosemitidos, de dan"as apesar de tudo,
de pensamentosa transmitir#.
George Didi-Huberman
A arte do bailarino e coreógrafo Faustin Linyekula está intrinsecamente ligada
!istória social" #ol$tica e cultural da Re#%blica &emocrática do Congo" #a$s onde
nasceu" em 1'" *#oca denominado +aire (1'1,1'')" e onde -i-em .uase oitenta
mil!/es de !abitantes" a maioria da etnia 0untu" e#ro#riados no #assado #ela
coloni2a34o belga (1'56,1'75) e massacrados #or go-ernos ditatoriais" conflitos *tnicos
e uma guerra ci-il marcada #or c!acinas e estu#ros" .ue só n4o matou mais do .ue a
8egunda 9uerra :undial;
A#ós um #er$odo de e$lio no
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ali tra-ou contato com o teatro,dan3a" #ara mais tarde reali2ar resid=ncias com as
coreógrafas R*gine C!o#inot e :at!ilde :onnier" na Fran3a" e circular #or est%dios e
#alcos da Euro#a e dos Estados >nidos; Embora" ent4o" ti-esse ?á con.uistado es#a3o e
recon!ecimento na Euro#a nos anos 1''5 e @555" Linyekula o#tou #or retornar s
ra$2es" #rimeiramente em ins!as!a" em @551" e" cinco anos de#ois (tem#o em .ue
transitou entre a ca#ital congolesa e a francesa)" mudou,se#ara o noroeste do #a$s;
Besse território de-astado" o bailarino escol!eu a regi4o #erif*rica de
isangani #ara instalar" em @557" os 8tudios abako; Al*m de uma com#an!ia de
dan3a" s4o uma rede de est%dios #ara artistas emergentes desen-ol-erem seus #ro?etos" o
.ue -em #romo-endo uma reconfigura34o dos es#a3os do centro e da #eriferia" com a
ambi34o de fa2er da regi4o #erif*rica e desatendida de isangani um centro deirradia34o art$stica ao redistribuir a #rodu34o cultural" tra2endo a dan3a contem#ornea
s áreas mais #o#ulares e le-ando Dformas #erformáticas #o#ulares a #alcos de -i*s
e#erimental e contem#orneo " conforme analisa o #es.uisador" bailarino e coreógrafo
Ariel sterweis 8cott (@51" #; @5); Besses mo-imentos" constata,se a fluide2 com .ue
a obra de Linyekula transita entre o social e o art$stico;
8eu #rocesso criati-o * menos o da imagina34o do .ue um estado de aten34o
(FRA" @517a)" da$ a necessidade do cor#o imerso na realidade G a de sua
comunidade" entre -est$gios de ancestralidade" o !orror do #resente e a constru34o de
uma #ossibilidade de futuro; 8egundo ele" D.uando o cor#o tem a coragem suficiente
#ara come3ar a dan3ar" tal-e2 ten!a uma maior #robabilidade de sobre-i-=nciaH (idem);
A dan3a" #ara Linyekula" * uma forma de in-estiga34o do cor#o e da !istória G e" mais"
* uma a34o #ol$tica sobre o mundo" .ue se configura a #artir do real" ou do seu modo
indi-idual de a#reens4o do real" #ara criar um es#a3o liminar em rea34o cruel ordem
estabelecida" uma #ossibilidade de -ida num conteto de morte e deses#ero; >ma arte
#ara a transforma34o social;
8e comecei a interessar,me #ela Iistória" n4o foi tanto #or um interesse #articular" mas antes #ela necessidade de encontrar algum sentido na situa34oactual JsicK" na es#eran3a de .ue" se fi2er isso #ossa desen!ar estrat*gias #arair mais al*m; or.ue ao trabal!ar no Congo e ao contar !istórias dali" #or -e2es ten!o a sensa34o de .ue * sem#re a mesma !istória; A mesma !istóriade -iol=ncia e sangue" ou de resist=ncia e resili=ncia; B4o .uero andar sem#rea contar esta !istória; Es#ecialmente #or.ue o meu #%blico #rimordial está no
Congo e con!ece a -iol=ncia na #ró#ria #ele; Como * .ue #osso falar dissode forma a tra2er,l!es algoM (FRA" @517a);
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Ba cosmo-is4o de Linyekula" um cor#o guarda !istória e #ode contá,la; N #ela
comun!4o entre o mo-imento G o cor#o .ue dan3a G e a #ala-ra G o cor#o .ue fala G"
.ue o artista encontra a #ot=ncia criati-a #ara agir est*tica e #oliticamente sobre o
mundo; Bo seu trabal!o" as matri2es africanas do ndombolo @ e da oralidade encontram,
se com a dan3a contem#ornea" tendo o cor#o do artista como forma #rimeira e %ltima
de e#ress4o #ara estabelecer rela3/es entre o #essoal e o social" o indi-$duo e a
!istória" o centro e o #erif*rico; A im#ro-isa34o" determinante no ndombolo" surge nas
cria3/es do bailarino congol=s em tens4o com desen!os #re-istos; DEle dá es#ecial
significado ao senso de im#ro-isa34o como uma tática de sobre-i-=ncia e um meio de
auto#reser-a34oH (8EROEP8 8C" @51" #; @Q)" e a im#ro-isa34o fa2,se meiode sobre-i-=ncia em um ambiente !ostil; Ela #ermite" enfim" a in-estiga34oe#lora34o
de outros #oss$-eis #ara o cor#o;
A #ala-ra * tamb*m uma manifesta34o do cor#o; odos esses meios s4o #aramim uma forma de abordar o mo-imento do cor#o; N o cor#o .ue re%ne adan3a" o teatro" o canto; >m cor#o .ue #ode falar" cantar" dan3ar" gritar; >mcor#o .ue treme; (;;;) &igo muitas -e2es .ue #odemos estudar a e-olu34o deuma sociedade atra-*s da -iol=ncia .ue * eercida sobre o cor#o; Barealidade" #odemos estudar a !istória de um #o-o atra-*s das diferentes
formas de -iol=ncia sobre o cor#o (Linyekula" @517);
Essa ca#acidade cr$tica manifestada #or meio do cor#o" aliada ressonncia
uni-ersal de uma singularidade local" tem atra$do interesse internacional #ara o trabal!o
do congol=s" escol!ido como o DArtista da Cidade de LisboaH no ano de @517" #ara
ocu#ar di-ersos es#a3os da ca#ital #ortuguesa com ati-idades e #e3as; Linyekula
tamb*m ?á reali2ou resid=ncias art$sticas no Robert OilsonSs Oatermill Center e na>ni-ersidade da Florida" nos Estados >nidosT foi curador de uma s*rie de dan3a
africana contem#ornea no Centre Bational de La &anse" em aris" criou es#etáculos a
con-ite do Festi-al de A-ignon e de outros em aris" Uiena e Vustria; $ %ara ( &e
2O ndombolo é caracterizado por uma movimentação que destaca o quadrilem relação ao restante do corpo, que gradualmente abaixa para a posiçãode cócoras e volta a erguer-se, movendo-se em determinados momentoscom giros para esquerda ou direita e para a frente ou trs, de acordo com o
ritmo da m!sica" Outra posição caracter#stica é a que simula o disparo deuma arma"
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%aro)" de @511" * o seu #rimeiro solo e ?á circulou #or cidades da Euro#a" Vfrica e
Am*rica do Borte; Ao transitar entre o seu #a$s e esses outros territórios" o congol=s
carrega consigo .uestionamentos sobre as rela3/es deri-adas do colonialismo .ue di2em
res#eito diretamente a essas na3/es;
Em $ %ara" com o .ual se a#resenta na :Ps# @517" tais .uest/es sobre
#ertencimento e conflito somam,se a indaga3/es a res#eito do .ue * a dan3a
contem#ornea e .ual a sua #ot=ncia de transforma34o da realidade; Bum #alco sem
adere3os" afora um banco de madeira e alguns refletores de lu2" o bailarino congol=s
dis#/e,se diante dos es#ectadores como um contador de !istórias" !eran3a da oralidade
constituti-a da cultura africana e comum a outras culturas ancestrais; 8uas #rimeiras
#ala-ras dirigidas ao #%blico a#ontam #ara uma su#osta mudan3a de #rocedimento emrela34o ao seu re#ertório #r*-ioW DEu sou um contador de !istórias; :as eu n4o estou
a.ui #ara contar !istórias; Eu estou a.ui #ara dan3arH; Esta fala n4o * de fato uma
#romessa a seguirT antes" o in$cio de um #ensamento com#artil!ado sobre a #ró#ria
com#reens4o de dan3a" no cru2amento das conce#3/es ancestrais e contem#orneas;
Em cr$tica de $ %ara #ublicada no 'e or* +imes" 0rian 8eibertse#t relata
como Linyekula" em cena" .uestiona,se sobre a nature2a do .ue criou em de2 anos de
carreiraW se a uni4o da #ala-ra ao mo-imento" a temática e#l$cita e a #roliidade n4o
condi2em com a defini34o de dan3a de seus ante#assados" o .ue ele fa2 * realmente
dan3aM A #erformanceXeecutada a#ós essa con-ersa inicial carrega uma crise" gerada
#elo confronto com um #assado ideali2ado em res#osta G identitária G coloni2a34o
cultural; Pdeali2ado" #or*m" ?á sabidamente intang$-el" conforme o congol=s constata na
narrati-a de seu retorno -ila da infncia" bilo" onde o cristianismo condenou os
mo-imentos sinuosos do ndombolo; al ol!ar #ara o #assado tal-e2 n4o d= conta do
futuro" mas só com a base fundada lá * #oss$-el come3ar a construir; E o .ue o artista
alme?a * uma restaura34o do indi-$duoW
um dos #rinci#ais #roblemas em #a$ses como o nosso * .ue" desde .ue foram
in-entados #ela Euro#a em 166Q" nunca !ou-e es#a3o #ara os indi-$duos; A
nature2a das ditaduras * su#rimir os indi-$duos; E como #osso eu fa2er uma
$%m razão da multiplicidade de signi&cados poss#veis para o termo,esclareço que seu uso, neste artigo, faz-se dentro do campo epistemológico
dos %studos da 'erformance, conforme estabelecido por autores como(ic)ard *c)ec)ner e +iana alor"
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obra .ue colo.ue o indi-$duo no centro de todo o dis#ositi-oM (FRA"
@517b);
Memória como performance
A narrati-a" a dan3a e a m%sica erguem camadas #ara conectar a tradi34o
resgatada (e a #erdida) ao #resente" num encontro de formas e#ressi-as contrastantesW
o blues tocado na guitarra e o tambor tribalT a #resen3a cor#órea e a -o2 gra-adaT os
mo-imentos do ndombolo e as e#erimenta3/es da dan3a contem#ornea; teórico
africano Ac!ille :bembe obser-a .ue" a#esar das #ress/es da cultura escrita euro#eia" a
Re#%blica &emocrática do Congo mante-e,se essencialmente oral (e rural)" num
conteto de Dlinguagens #lurais e uma inter#enetra34o rec$#roca entre diferentes
g=neros art$sticos e táticas de im#ro-isa34oH; Em s$ntese" em se tratando da cultura
da.uele -asto território africano"D?usta#osi34o * o nome do ?ogoH (:0E:0E" @55);
A comun!4o entre oralidade e dan3a con-ergentes na #rima2ia do cor#o"
for?ada na obra de Linyekula" con-ida a #ensá,la sob a #ers#ecti-a dos estudos da
#erformance; A isso" soma,se ainda a matri2 cultural africana" .ue a #es.uisadora Leda
:aria :artins afirma ser Do lugar da encru2il!adaH" conforme e#licaW
&a esfera do rito" e" #ortanto" da #erformance" a encru2il!ada * lugar radialde centramento e descentramento" interse3/es e des-ios" teto e tradu3/es"conflu=ncias e altera3/es" influ=ncias e di-erg=ncias" fus/es e ru#turas"multi#licidade e con-erg=ncia" unidade e #luralidade" origem e dissemina34o;#eradora de linguagens e de discursos" a encru2il!ada" como um lugar terceiro" * geratri2 de #rodu34o s$gnica di-ersificada e" #ortanto" de sentidos
#lurais (@55@" #; X);
A encru2il!ada seria ent4o essa fronteira G entre a !eran3a belga e a congolesaT
a l$ngua local e a francesaT entre a Vfrica e a Euro#aT o #assado e o futuroT o teatro e a
dan3aT o cor#o e a linguagemT a #resen3a e a semiótica G onde coeistem #olaridades
irredut$-eis e entre as .uais Linyekula mo-e,se; Como fronteira" a encru2il!ada * o
lugar dos descentramentos" o .ue a #es.uisadora Leda :artins" ao in-estigar o congado
e a cultura afro,americana" identifica no deslocamento da no34o de centro" o#erado #or
meio da im#ro-isa34oT com#ará-el ao modo como o ?a22 retoma li-remente temas de
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sua tradi34o; al como ?á afirmamos anteriormente" ent4o" o cor#o do bailarino * o
#onto de cru2amento dessas for3as; :ais do .ue isso" * tamb*m testemun!o -i-oW
re#ertório de saberes" memórias" a3/es cin*ticas" t*cnicas e #adr/es culturais residuais"
continuamente restitu$dos e recriados" #elos .uais se e#ressa; Leda :artins sinteti2a o
#ercurso do #es.uisador Yose#! Roac! (1''Q) ao correlacionar #erformance e
memóriaW
(;;;) Roac! toma de em#r*stimo em Foucault a no34o de genealogia" de modoa #ensar as genealogias da #erformance e" nesse mbito" e-idenciar asrela3/es entre saber" cor#o" memória e !istória; Bessa #ers#ecti-a" comotamb*m nos alerta ierre BoraQ (1'')" a memória do con!ecimento n4o seresguarda a#enas nos lugares de memória (lieu mmoire)" bibliotecas"museus" ar.ui-os" monumentos oficiais" #ar.ues temáticos" etc;" masconstantemente se recria e se transmite #elos ambientes de memória ( milieu-de mmoire)" ou se?a" #elos re#ertórios orais e cor#orais" gestos" !ábitos"cu?as t*cnicas e #rocedimentos de transmiss4o s4o #or meios de cria34o"
#assagem" re#rodu34o e de #reser-a34o dos saberes (:ARPB8" @55@" ##;1,@);
Eis os #rocedimentos recon!ec$-eis no #rocesso art$stico de Faustin Linyekula
ao mane?ar ar.ui-os e re#ertórios da matri2 congolesa; cor#o,!istória in-estido da
tarefa de im#ro-isar e tra3ar identidades indi-iduais e coleti-as mais li-res #erforma o
.ue se #oderia #ensar ser uma e#ress4o do trauma da condi34o congolesa G n4o como
finalidade" mas como #rinc$#io; Besse sentido" caberiam algumas das obser-a3/es feitas
#ela #es.uisadora &iana aylor ao in-estigar a memória" o trauma e a #erformanceW a
nature2a tanto desta .uanto da.uele * a re#eti34o; DBós só falamos em trauma .uando o
e-ento n4o #ode ser #rocessado e #rodu2 os caracter$sticos abalos secundários;
trauma" como a #erformance" * sem#re e#erimentado no #resente; A.ui; Agora 7H
(aylor" @511); Besse mo-imento de re#eti34o e atuali2a34o" a memória assume um
#ro?eto #ol$tico de resist=ncia -iol=ncia e ao es.uecimento" o .ue" na obra do
. /er (O0, 3osep)" ulture and performance in t)e circum 4 0tlantic5orld" 6n7 '0(8%(, 0ndre9: *%+;568, %ve e9 ?or@ and Aondon7 (outledge, 1BBC"
C /er >O(0, 'ierre" Det9een memor and )istor7 Aes lieux de mémoire" 6n7E0D(%, ;enevive: and OFG%0AA?, (obert
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bailarino" alimenta o dese?o de transforma34o em dire34o a um estado de maior
dignidade !umana;
A dan3a congolesa" conforme a descre-e :bembe" Dnunca J*K sim#les
mo-imento da forma !umanaH" ela Dincor#ora algo .ue se #arece com uma busca #ela
-ida original" #ela g=nese #er#*tua" e" #or meio disso" #or um ideal de felicidade e
serenidadeH(:0E:0E" @55) G ideal identificá-el na obra de Linyekula" embora
articulado a outros #ro#ósitos em uma a#ro#ria34o guiada #or um ob?eti-o est*tico,
#ol$tico contem#orneo; A#esar disso" ainda de acordo com :bembe" Da dan3a
congolesa * um esfor3o carnalH;
Contra as ideologias #latZnicas .ue #ro?etam o cor#o como a #ris4o #ara aalma" dan3ar * uma celebra34o da carne; cor#o * absoluto fluo e a m%sica* in-estida com o #oder de adentrá,lo" #enetrar no mago; A m%sica #rodu2efeitos f$sicos" somáticos e emocionais nos órg4os e membros (;;;)(:0E:0E" @55);
cor#o" assim" Dtorna,se um lugar de transgress4o" o locus de esbatimento
entre o transcendental e o em#$rico" o material e o f$sicoH (:0E:0E" @55) G mais
uma -e2" entrecruzilhada; al embate #arece sub?a2er as obras de Linyekula" sob a
concorr=ncia de outras for3as; bailarino remodela esses mo-imentos e a miss4oW sua
dan3a n4o * sobre fugir de si mesmo" nem somente sobre sobre-i-=ncia" mas sobre
encontrar a si mesmo e um camin!o #ara esca#ar de uma situa34o social #recária;
Bo #alco cru de $ %ara" contra uma tend=ncia internacional aos grandes
es#etáculos tecnológicos" o bailarino congol=s fa2 de seu encontro com o #%blico um
momento #róimo de conta34o de !istórias e de um cor#o .ue se debate ante os
refletores" num ?ogo de lu2es e sombras" assumindo uma .ualidade escultural; A essa #resen3a material somam,se efeitos de #resen3a gerados #ela re#rodu34o em off de ecos
da !istória contada e de sons cotidianos da geografia aludida;
Com mo-imentos r$tmicos fluidos" ele cria uma intrincada dramaturgia em .ue
#ala-ras e gestos s4o autZnomos" #or*m ressoantes entre si #ara #rodu2ir efeitos
est*ticos e refle4o #ol$tica; Linyekula fa2 de um diálogo consigo mesmo G tentati-a de
entendimento entre as culturas" geografias e os tem#os .ue conformam sua #ró#ria
L>o inglKs, MNes)"
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identidade" o outro em si G" um diálogo tamb*m com o outro" seu es#ectador; ara tanto"
?oga com con-en3/es do teatro ocidental .uanto ilumina34o do edif$cio c=nico"
reconfigurando a rela34o com a #lateia #ara con.uistar maior intimidade;
Eis o lugar em .ue o #%blico * #osto" e .ue n4o será o mesmo em um #a$s com
!istórico de coloni2ador" como foi ortugal" ou coloni2ado" como o Congo e o 0rasil;
Como di2 Linyekula" Dsó se #ode ?ustificar esta #osi34o central #or.ue eiste uma
#eriferiaH (FRA" @517b); Em entre-ista sobre o trabal!o .ue desen-ol-e como
DArtista da Cidade de LisboaH" o congol=s comenta a tens4o entre uma Euro#a .ue tenta
es.uecer esse #assado e uma obra .ue a fa2 relembrá,lo; DA mensagem .ue ten!o #ara
-ós * a seguinteW o .ue #odemos fa2er #ara ol!armos em con?unto essa !istória comumM
8em isso n4o #odemos criar -$nculos -álidos e #rofundos uns com os outrosH(Linyekula" @517); Ao criar o ortrait /eries0 1 2iuel " solo #ara o bailarino #ortugu=s
:iguel Ramal!o .ue estreou em ?aneiro de @517 em Lisboa" Linyekula #rimeiro
-isitou" com ele" o bairro do Uale da Amoreira" regi4o -iolenta onde o lisboeta #assou a
infncia" #ara de#ois le-á,lo a >bundo e a isangani;
Iá algumas coisas .ue só fa2em sentido se ti-ermos #assado #or elas com onosso #ró#rio cor#o; odia ter,l!e contado todas as !istórias deste mundo"mas nada teria o #oder de uma sim#les !ora a andar so2in!o em isangani ea ou-ir c!amarem,l!e Dm2ungu" m2ungu" m2unguH (D!omem branco" !omem
branco" !omem brancoH); A e#eri=ncia de ser o outro n4o * #ass$-el de ser contada a algu*m (FRA" @517b);
Ainda .ue se?a im#oss$-el o colocar,se com#letamente no lugar do outro" o
trabal!o art$stico de Linyekula nos con-ida a camin!ar nessa dire34o en.uanto
es#ectadores" cu?os cor#os s4o outros ambientes de memória;
Concomitantemente" em seu #a$s de origem" ele ecede da atua34o em dan3a e
#lane?a Dum es#a3o onde #ossamos treinar o nosso ol!ar #ara ol!armos #ara nós com a
nossa #ers#ecti-a" #or.ue !o?e ainda nos -emos atra-*s dos ol!os euro#eusH (FRA"
@517b); Em ?ul!o de @517" iniciará a constru34o de um centro de tratamento de águas
.ue se?a" tamb*m" um centro criati-o #ara crian3as tomarem contato com a dan3a" a
musica" o cinema e a fotografia;
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Com sua arte liminar" Linyekula instaura o .ue sterweis 8cott denomina
eocoreorafia; D .ue * uma coreografia" se n4o uma #rática incor#orada .ue
demanda uma cont$nua reordena34o do es#a3oM A geocoreografia reordena a #aisagem
urbana coreograficamente" sem coloni2á,laH (8EROEP8 8C" @515); &esse
modo" im#licando mais intimamente a arte e a a34o social G ou a arte e a sobre-i-=ncia
G" o congol=s #ratica num n$-el micro#ol$tico sua #ró#ria re#artil!a do sens$-el;
REFER[BCPA8
FRA" 9on3alo; Lisboa Não É uma Cidade strangeira para !austin Lin"ecula#
%blico" Lisboa" de ?aneiro de @517a; &is#on$-el emW
www;#ublico;#tculturai#silonnoticialisboa,nao,e,uma,cidade,estrangeira,#ara,
faustin,linyekula,11'Q55M#age\,1 Acesso em @X de ?aneiro de @517;
]]]]]]; É $ão %mportante &ctuar num 'uintal em (isangani como no !esti)al de
&)ignon; %blico" Lisboa" ' de ?aneiro de @517b; &is#on$-el emW
!tt#sWwww;#ublico;#tculturai#silonnoticiae,tao,im#ortante,actuar,num,.uintal,em,
kisangani,como,no,festi-al,de,a-ignon,11'Q61Acesso em @X de ?aneiro de @517;
]]]]]]; *m +olo de Dan,a no lho do !uracão# %blico" Lisboa" 1 de ?aneiro
de@517c; &is#on$-el emW!tt#sWwww;#ublico;#tculturai#silonnoticiaum,solo,de,
danca,no,ol!o,do,furacao,1@5155Acesso em @X de ?aneiro de @517;
LPB^E>LA" F; ntre)ista a !austinLin"e.ula# /&rtista da Cidade0# LisboaW
Agenda Cultural Lisboa; Entre-ista concedida a Lui2 Almeida &_E3a; &is#on$-el
emW!tt#Wwww;agendal;#tartigoentre-ista,faustin,linyekula ;̀U#]']fkrLP>Acesso em
@X de ?aneiro de @517;
:ARPB8" Leda :; erformances do tem#o es#iralar; PnW RAUEP" 9; e AR0E" :;
(rgs;); 1erformance2 3ílio2 !ronteiras4 err5ncias territoriais e te3tuais# 0elo
Iori2onte" &e#artamento de Letras Romnicas" Faculdade de Letras>F:9W oslit"
@55@;
http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/lisboa-nao-e-uma-cidade-estrangeira-para-faustin-linyekula-1719500?page=-1http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/lisboa-nao-e-uma-cidade-estrangeira-para-faustin-linyekula-1719500?page=-1https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/e-tao-importante-actuar-num-quintal-em-kisangani-como-no-festival-de-avignon-1719581https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/e-tao-importante-actuar-num-quintal-em-kisangani-como-no-festival-de-avignon-1719581http://www.agendalx.pt/artigo/entrevista-faustin-linyekula#.Vp_9_fkrLIUhttp://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/lisboa-nao-e-uma-cidade-estrangeira-para-faustin-linyekula-1719500?page=-1http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/lisboa-nao-e-uma-cidade-estrangeira-para-faustin-linyekula-1719500?page=-1https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/e-tao-importante-actuar-num-quintal-em-kisangani-como-no-festival-de-avignon-1719581https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/e-tao-importante-actuar-num-quintal-em-kisangani-como-no-festival-de-avignon-1719581http://www.agendalx.pt/artigo/entrevista-faustin-linyekula#.Vp_9_fkrLIU
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