Micropolítica de um corpo-memória

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  • 8/17/2019 Micropolítica de um corpo-memória

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     A Carga

    Faustin Linyekula

    (Congo)

    Micropolítica de um corpo-história

    Luciana Eastwood Romagnolli1

     

    “Ora, para isso,nós mesmos devemos assumir a liberdade do movimento,(...)a faculdade de fazer 

    aparecer parcelas de humanidade,o desejo indestrutível. Devemos, portanto, – em recuo doreino e da

     lória, na brecha aberta entre o passado e o futuro – nos tornar vaa!lumes e, dessa forma, formar 

    novamenteuma comunidade do desejo, umacomunidade de lampejosemitidos, de dan"as apesar de tudo,

    de pensamentosa transmitir#.

     

    George Didi-Huberman

     

    A arte do bailarino e coreógrafo Faustin Linyekula está intrinsecamente ligada

    !istória social" #ol$tica e cultural da Re#%blica &emocrática do Congo" #a$s onde

    nasceu" em 1'" *#oca denominado +aire (1'1,1'')" e onde -i-em .uase oitenta

    mil!/es de !abitantes" a maioria da etnia 0untu" e#ro#riados no #assado #ela

    coloni2a34o belga (1'56,1'75) e massacrados #or go-ernos ditatoriais" conflitos *tnicos

    e uma guerra ci-il marcada #or c!acinas e estu#ros" .ue só n4o matou mais do .ue a

    8egunda 9uerra :undial;

    A#ós um #er$odo de e$lio no

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    ali tra-ou contato com o teatro,dan3a" #ara mais tarde reali2ar resid=ncias com as

    coreógrafas R*gine C!o#inot e :at!ilde :onnier" na Fran3a" e circular #or est%dios e

     #alcos da Euro#a e dos Estados >nidos; Embora" ent4o" ti-esse ?á con.uistado es#a3o e

    recon!ecimento na Euro#a nos anos 1''5 e @555" Linyekula o#tou #or retornar s

    ra$2es" #rimeiramente em ins!as!a" em @551" e" cinco anos de#ois (tem#o em .ue

    transitou entre a ca#ital congolesa e a francesa)" mudou,se#ara o noroeste do #a$s;

     Besse território de-astado" o bailarino escol!eu a regi4o #erif*rica de

    isangani #ara instalar" em @557" os 8tudios abako; Al*m de uma com#an!ia de

    dan3a" s4o uma rede de est%dios #ara artistas emergentes desen-ol-erem seus #ro?etos" o

    .ue -em #romo-endo uma reconfigura34o dos es#a3os do centro e da #eriferia" com a

    ambi34o de fa2er da regi4o #erif*rica e desatendida de isangani um centro deirradia34o art$stica ao redistribuir a #rodu34o cultural" tra2endo a dan3a contem#ornea

    s áreas mais #o#ulares e le-ando Dformas #erformáticas #o#ulares a #alcos de -i*s

    e#erimental e contem#orneo " conforme analisa o #es.uisador" bailarino e coreógrafo

    Ariel sterweis 8cott (@51" #; @5); Besses mo-imentos" constata,se a fluide2 com .ue

    a obra de Linyekula transita entre o social e o art$stico;

    8eu #rocesso criati-o * menos o da imagina34o do .ue um estado de aten34o

    (FRA" @517a)" da$ a necessidade do cor#o imerso na realidade G a de sua

    comunidade" entre -est$gios de ancestralidade" o !orror do #resente e a constru34o de

    uma #ossibilidade de futuro; 8egundo ele" D.uando o cor#o tem a coragem suficiente

     #ara come3ar a dan3ar" tal-e2 ten!a uma maior #robabilidade de sobre-i-=nciaH (idem);

    A dan3a" #ara Linyekula" * uma forma de in-estiga34o do cor#o e da !istória G e" mais"

    * uma a34o #ol$tica sobre o mundo" .ue se configura a #artir do real" ou do seu modo

    indi-idual de a#reens4o do real" #ara criar um es#a3o liminar em rea34o cruel ordem

    estabelecida" uma #ossibilidade de -ida num conteto de morte e deses#ero; >ma arte

     #ara a transforma34o social;

    8e comecei a interessar,me #ela Iistória" n4o foi tanto #or um interesse #articular" mas antes #ela necessidade de encontrar algum sentido na situa34oactual JsicK" na es#eran3a de .ue" se fi2er isso #ossa desen!ar estrat*gias #arair mais al*m; or.ue ao trabal!ar no Congo e ao contar !istórias dali" #or -e2es ten!o a sensa34o de .ue * sem#re a mesma !istória; A mesma !istóriade -iol=ncia e sangue" ou de resist=ncia e resili=ncia; B4o .uero andar sem#rea contar esta !istória; Es#ecialmente #or.ue o meu #%blico #rimordial está no

    Congo e con!ece a -iol=ncia na #ró#ria #ele; Como * .ue #osso falar dissode forma a tra2er,l!es algoM (FRA" @517a);

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     Ba cosmo-is4o de Linyekula" um cor#o guarda !istória e #ode contá,la; N #ela

    comun!4o entre o mo-imento G o cor#o .ue dan3a G e a #ala-ra G o cor#o .ue fala G"

    .ue o artista encontra a #ot=ncia criati-a #ara agir est*tica e #oliticamente sobre o

    mundo; Bo seu trabal!o" as matri2es africanas do ndombolo @ e da oralidade encontram,

    se com a dan3a contem#ornea" tendo o cor#o do artista como forma #rimeira e %ltima

    de e#ress4o #ara estabelecer rela3/es entre o #essoal e o social" o indi-$duo e a

    !istória" o centro e o #erif*rico; A im#ro-isa34o" determinante no ndombolo" surge nas

    cria3/es do bailarino congol=s em tens4o com desen!os #re-istos; DEle dá es#ecial

    significado ao senso de im#ro-isa34o como uma tática de sobre-i-=ncia e um meio de

    auto#reser-a34oH (8EROEP8 8C" @51" #; @Q)" e a im#ro-isa34o fa2,se meiode sobre-i-=ncia em um ambiente !ostil; Ela #ermite" enfim" a in-estiga34oe#lora34o

    de outros #oss$-eis #ara o cor#o;

    A #ala-ra * tamb*m uma manifesta34o do cor#o; odos esses meios s4o #aramim uma forma de abordar o mo-imento do cor#o; N o cor#o .ue re%ne adan3a" o teatro" o canto; >m cor#o .ue #ode falar" cantar" dan3ar" gritar; >mcor#o .ue treme; (;;;) &igo muitas -e2es .ue #odemos estudar a e-olu34o deuma sociedade atra-*s da -iol=ncia .ue * eercida sobre o cor#o; Barealidade" #odemos estudar a !istória de um #o-o atra-*s das diferentes

    formas de -iol=ncia sobre o cor#o (Linyekula" @517);

     

    Essa ca#acidade cr$tica manifestada #or meio do cor#o" aliada ressonncia

    uni-ersal de uma singularidade local" tem atra$do interesse internacional #ara o trabal!o

    do congol=s" escol!ido como o DArtista da Cidade de LisboaH no ano de @517" #ara

    ocu#ar di-ersos es#a3os da ca#ital #ortuguesa com ati-idades e #e3as; Linyekula

    tamb*m ?á reali2ou resid=ncias art$sticas no Robert OilsonSs Oatermill Center e na>ni-ersidade da Florida" nos Estados >nidosT foi curador de uma s*rie de dan3a

    africana contem#ornea no Centre Bational de La &anse" em aris" criou es#etáculos a

    con-ite do Festi-al de A-ignon e de outros em aris" Uiena e Vustria;  $ %ara ( &e

    2O ndombolo é caracterizado por uma movimentação que destaca o quadrilem relação ao restante do corpo, que gradualmente abaixa para a posiçãode cócoras e volta a erguer-se, movendo-se em determinados momentoscom giros para esquerda ou direita e para a frente ou trs, de acordo com o

    ritmo da m!sica" Outra posição caracter#stica é a que simula o disparo deuma arma"

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    %aro)" de @511" * o seu #rimeiro solo e ?á circulou #or cidades da Euro#a" Vfrica e

    Am*rica do Borte; Ao transitar entre o seu #a$s e esses outros territórios" o congol=s

    carrega consigo .uestionamentos sobre as rela3/es deri-adas do colonialismo .ue di2em

    res#eito diretamente a essas na3/es;

    Em  $ %ara" com o .ual se a#resenta na :Ps# @517" tais .uest/es sobre

     #ertencimento e conflito somam,se a indaga3/es a res#eito do .ue * a dan3a

    contem#ornea e .ual a sua #ot=ncia de transforma34o da realidade; Bum #alco sem

    adere3os" afora um banco de madeira e alguns refletores de lu2" o bailarino congol=s

    dis#/e,se diante dos es#ectadores como um contador de !istórias" !eran3a da oralidade

    constituti-a da cultura africana e comum a outras culturas ancestrais; 8uas #rimeiras

     #ala-ras dirigidas ao #%blico a#ontam #ara uma su#osta mudan3a de #rocedimento emrela34o ao seu re#ertório #r*-ioW DEu sou um contador de !istórias; :as eu n4o estou

    a.ui #ara contar !istórias; Eu estou a.ui #ara dan3arH; Esta fala n4o * de fato uma

     #romessa a seguirT antes" o in$cio de um #ensamento com#artil!ado sobre a #ró#ria

    com#reens4o de dan3a" no cru2amento das conce#3/es ancestrais e contem#orneas;

    Em cr$tica de $ %ara #ublicada no 'e or* +imes" 0rian 8eibertse#t relata

    como Linyekula" em cena" .uestiona,se sobre a nature2a do .ue criou em de2 anos de

    carreiraW se a uni4o da #ala-ra ao mo-imento" a temática e#l$cita e a #roliidade n4o

    condi2em com a defini34o de dan3a de seus ante#assados" o .ue ele fa2 * realmente

    dan3aM A #erformanceXeecutada a#ós essa con-ersa inicial carrega uma crise" gerada

     #elo confronto com um #assado ideali2ado em res#osta G identitária G coloni2a34o

    cultural; Pdeali2ado" #or*m" ?á sabidamente intang$-el" conforme o congol=s constata na

    narrati-a de seu retorno -ila da infncia" bilo" onde o cristianismo condenou os

    mo-imentos sinuosos do ndombolo; al ol!ar #ara o #assado tal-e2 n4o d= conta do

    futuro" mas só com a base fundada lá * #oss$-el come3ar a construir; E o .ue o artista

    alme?a * uma restaura34o do indi-$duoW

    um dos #rinci#ais #roblemas em #a$ses como o nosso * .ue" desde .ue foram

    in-entados #ela Euro#a em 166Q" nunca !ou-e es#a3o #ara os indi-$duos; A

    nature2a das ditaduras * su#rimir os indi-$duos; E como #osso eu fa2er uma

    $%m razão da multiplicidade de signi&cados poss#veis para o termo,esclareço que seu uso, neste artigo, faz-se dentro do campo epistemológico

    dos %studos da 'erformance, conforme estabelecido por autores como(ic)ard *c)ec)ner e +iana alor"

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    obra .ue colo.ue o indi-$duo no centro de todo o dis#ositi-oM (FRA"

    @517b);

    Memória como performance

    A narrati-a" a dan3a e a m%sica erguem camadas #ara conectar a tradi34o

    resgatada (e a #erdida) ao #resente" num encontro de formas e#ressi-as contrastantesW

    o blues tocado na guitarra e o tambor tribalT a #resen3a cor#órea e a -o2 gra-adaT os

    mo-imentos do ndombolo e as e#erimenta3/es da dan3a contem#ornea; teórico

    africano Ac!ille :bembe obser-a .ue" a#esar das #ress/es da cultura escrita euro#eia" a

    Re#%blica &emocrática do Congo mante-e,se essencialmente oral (e rural)" num

    conteto de Dlinguagens #lurais e uma inter#enetra34o rec$#roca entre diferentes

    g=neros art$sticos e táticas de im#ro-isa34oH; Em s$ntese" em se tratando da cultura

    da.uele -asto território africano"D?usta#osi34o * o nome do ?ogoH (:0E:0E" @55);

    A comun!4o entre oralidade e dan3a con-ergentes na #rima2ia do cor#o"

    for?ada na obra de Linyekula" con-ida a #ensá,la sob a #ers#ecti-a dos estudos da

     #erformance; A isso" soma,se ainda a matri2 cultural africana" .ue a #es.uisadora Leda

    :aria :artins afirma ser Do lugar da encru2il!adaH" conforme e#licaW

    &a esfera do rito" e" #ortanto" da #erformance" a encru2il!ada * lugar radialde centramento e descentramento" interse3/es e des-ios" teto e tradu3/es"conflu=ncias e altera3/es" influ=ncias e di-erg=ncias" fus/es e ru#turas"multi#licidade e con-erg=ncia" unidade e #luralidade" origem e dissemina34o;#eradora de linguagens e de discursos" a encru2il!ada" como um lugar terceiro" * geratri2 de #rodu34o s$gnica di-ersificada e" #ortanto" de sentidos

     #lurais (@55@" #; X);

    A encru2il!ada seria ent4o essa fronteira G entre a !eran3a belga e a congolesaT

    a l$ngua local e a francesaT entre a Vfrica e a Euro#aT o #assado e o futuroT o teatro e a

    dan3aT o cor#o e a linguagemT a #resen3a e a semiótica G onde coeistem #olaridades

    irredut$-eis e entre as .uais Linyekula mo-e,se; Como fronteira" a encru2il!ada * o

    lugar dos descentramentos" o .ue a #es.uisadora Leda :artins" ao in-estigar o congado

    e a cultura afro,americana" identifica no deslocamento da no34o de centro" o#erado #or 

    meio da im#ro-isa34oT com#ará-el ao modo como o ?a22 retoma li-remente temas de

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    sua tradi34o; al como ?á afirmamos anteriormente" ent4o" o cor#o do bailarino * o

     #onto de cru2amento dessas for3as; :ais do .ue isso" * tamb*m testemun!o -i-oW

    re#ertório de saberes" memórias" a3/es cin*ticas" t*cnicas e #adr/es culturais residuais"

    continuamente restitu$dos e recriados" #elos .uais se e#ressa; Leda :artins sinteti2a o

     #ercurso do #es.uisador Yose#! Roac! (1''Q)  ao correlacionar #erformance e

    memóriaW

    (;;;) Roac! toma de em#r*stimo em Foucault a no34o de genealogia" de modoa #ensar as genealogias da #erformance e" nesse mbito" e-idenciar asrela3/es entre saber" cor#o" memória e !istória; Bessa #ers#ecti-a" comotamb*m nos alerta ierre BoraQ (1'')" a memória do con!ecimento n4o seresguarda a#enas nos lugares de memória (lieu mmoire)" bibliotecas"museus" ar.ui-os" monumentos oficiais" #ar.ues temáticos" etc;" masconstantemente se recria e se transmite #elos ambientes de memória ( milieu-de mmoire)" ou se?a" #elos re#ertórios orais e cor#orais" gestos" !ábitos"cu?as t*cnicas e #rocedimentos de transmiss4o s4o #or meios de cria34o"

     #assagem" re#rodu34o e de #reser-a34o dos saberes (:ARPB8" @55@" ##;1,@);

    Eis os #rocedimentos recon!ec$-eis no #rocesso art$stico de Faustin Linyekula

    ao mane?ar ar.ui-os e re#ertórios da matri2 congolesa; cor#o,!istória in-estido da

    tarefa de im#ro-isar e tra3ar identidades indi-iduais e coleti-as mais li-res #erforma o

    .ue se #oderia #ensar ser uma e#ress4o do trauma da condi34o congolesa G n4o como

    finalidade" mas como #rinc$#io; Besse sentido" caberiam algumas das obser-a3/es feitas

     #ela #es.uisadora &iana aylor ao in-estigar a memória" o trauma e a #erformanceW a

    nature2a tanto desta .uanto da.uele * a re#eti34o; DBós só falamos em trauma .uando o

    e-ento n4o #ode ser #rocessado e #rodu2 os caracter$sticos abalos secundários;

    trauma" como a #erformance" * sem#re e#erimentado no #resente; A.ui; Agora 7H

    (aylor" @511); Besse mo-imento de re#eti34o e atuali2a34o" a memória assume um

     #ro?eto #ol$tico de resist=ncia -iol=ncia e ao es.uecimento" o .ue" na obra do

    . /er (O0, 3osep)" ulture and performance in t)e circum 4 0tlantic5orld" 6n7 '0(8%(, 0ndre9: *%+;568, %ve e9 ?or@ and Aondon7 (outledge, 1BBC"

    C /er >O(0, 'ierre" Det9een memor and )istor7 Aes lieux de mémoire" 6n7E0D(%, ;enevive: and OFG%0AA?, (obert

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     bailarino" alimenta o dese?o de transforma34o em dire34o a um estado de maior 

    dignidade !umana;

    A dan3a congolesa" conforme a descre-e :bembe" Dnunca J*K sim#les

    mo-imento da forma !umanaH" ela Dincor#ora algo .ue se #arece com uma busca #ela

    -ida original" #ela g=nese #er#*tua" e" #or meio disso" #or um ideal de felicidade e

    serenidadeH(:0E:0E" @55) G ideal identificá-el na obra de Linyekula" embora

    articulado a outros #ro#ósitos em uma a#ro#ria34o guiada #or um ob?eti-o est*tico,

     #ol$tico contem#orneo; A#esar disso" ainda de acordo com :bembe" Da dan3a

    congolesa * um esfor3o carnalH;

    Contra as ideologias #latZnicas .ue #ro?etam o cor#o como a #ris4o #ara aalma" dan3ar * uma celebra34o da carne; cor#o * absoluto fluo e a m%sica* in-estida com o #oder de adentrá,lo" #enetrar no mago; A m%sica #rodu2efeitos f$sicos" somáticos e emocionais nos órg4os e membros (;;;)(:0E:0E" @55);

      cor#o" assim" Dtorna,se um lugar de transgress4o" o locus de esbatimento

    entre o transcendental e o em#$rico" o material e o f$sicoH (:0E:0E" @55) G mais

    uma -e2" entrecruzilhada; al embate #arece sub?a2er as obras de Linyekula" sob a

    concorr=ncia de outras for3as; bailarino remodela esses mo-imentos e a miss4oW sua

    dan3a n4o * sobre fugir de si mesmo" nem somente sobre sobre-i-=ncia" mas sobre

    encontrar a si mesmo e um camin!o #ara esca#ar de uma situa34o social #recária;

      Bo #alco cru de $ %ara" contra uma tend=ncia internacional aos grandes

    es#etáculos tecnológicos" o bailarino congol=s fa2 de seu encontro com o #%blico um

    momento #róimo de conta34o de !istórias e de um cor#o .ue se debate ante os

    refletores" num ?ogo de lu2es e sombras" assumindo uma .ualidade escultural; A essa #resen3a material somam,se efeitos de #resen3a gerados #ela re#rodu34o em off de ecos

    da !istória contada e de sons cotidianos da geografia aludida;

    Com mo-imentos r$tmicos fluidos" ele cria uma intrincada dramaturgia em .ue

     #ala-ras e gestos s4o autZnomos" #or*m ressoantes entre si #ara #rodu2ir efeitos

    est*ticos e refle4o #ol$tica; Linyekula fa2 de um diálogo consigo mesmo G tentati-a de

    entendimento entre as culturas" geografias e os tem#os .ue conformam sua #ró#ria

    L>o inglKs, MNes)"

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    identidade" o outro em si G" um diálogo tamb*m com o outro" seu es#ectador; ara tanto"

     ?oga com con-en3/es do teatro ocidental .uanto ilumina34o do edif$cio c=nico"

    reconfigurando a rela34o com a #lateia #ara con.uistar maior intimidade;

    Eis o lugar em .ue o #%blico * #osto" e .ue n4o será o mesmo em um #a$s com

    !istórico de coloni2ador" como foi ortugal" ou coloni2ado" como o Congo e o 0rasil;

    Como di2 Linyekula" Dsó se #ode ?ustificar esta #osi34o central #or.ue eiste uma

     #eriferiaH (FRA" @517b); Em entre-ista sobre o trabal!o .ue desen-ol-e como

    DArtista da Cidade de LisboaH" o congol=s comenta a tens4o entre uma Euro#a .ue tenta

    es.uecer esse #assado e uma obra .ue a fa2 relembrá,lo; DA mensagem .ue ten!o #ara

    -ós * a seguinteW o .ue #odemos fa2er #ara ol!armos em con?unto essa !istória comumM

    8em isso n4o #odemos criar -$nculos -álidos e #rofundos uns com os outrosH(Linyekula" @517); Ao criar o ortrait /eries0 1 2iuel " solo #ara o bailarino #ortugu=s

    :iguel Ramal!o .ue estreou em ?aneiro de @517 em Lisboa" Linyekula #rimeiro

    -isitou" com ele" o bairro do Uale da Amoreira" regi4o -iolenta onde o lisboeta #assou a

    infncia" #ara de#ois le-á,lo a >bundo e a isangani;

    Iá algumas coisas .ue só fa2em sentido se ti-ermos #assado #or elas com onosso #ró#rio cor#o; odia ter,l!e contado todas as !istórias deste mundo"mas nada teria o #oder de uma sim#les !ora a andar so2in!o em isangani ea ou-ir c!amarem,l!e Dm2ungu" m2ungu" m2unguH (D!omem branco" !omem

     branco" !omem brancoH); A e#eri=ncia de ser o outro n4o * #ass$-el de ser contada a algu*m (FRA" @517b);

    Ainda .ue se?a im#oss$-el o colocar,se com#letamente no lugar do outro" o

    trabal!o art$stico de Linyekula nos con-ida a camin!ar nessa dire34o en.uanto

    es#ectadores" cu?os cor#os s4o outros ambientes de memória;

    Concomitantemente" em seu #a$s de origem" ele ecede da atua34o em dan3a e

     #lane?a Dum es#a3o onde #ossamos treinar o nosso ol!ar #ara ol!armos #ara nós com a

    nossa #ers#ecti-a" #or.ue !o?e ainda nos -emos atra-*s dos ol!os euro#eusH (FRA"

    @517b); Em ?ul!o de @517" iniciará a constru34o de um centro de tratamento de águas

    .ue se?a" tamb*m" um centro criati-o #ara crian3as tomarem contato com a dan3a" a

    musica" o cinema e a fotografia;

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    Com sua arte liminar" Linyekula instaura o .ue sterweis 8cott denomina

     eocoreorafia; D .ue * uma coreografia" se n4o uma #rática incor#orada .ue

    demanda uma cont$nua reordena34o do es#a3oM A geocoreografia reordena a #aisagem

    urbana coreograficamente" sem coloni2á,laH (8EROEP8 8C" @515); &esse

    modo" im#licando mais intimamente a arte e a a34o social G ou a arte e a sobre-i-=ncia

     G" o congol=s #ratica num n$-el micro#ol$tico sua #ró#ria re#artil!a do sens$-el;

    REFER[BCPA8

    FRA" 9on3alo; Lisboa Não É uma Cidade strangeira para !austin Lin"ecula#

    %blico" Lisboa" de ?aneiro de @517a; &is#on$-el emW

    www;#ublico;#tculturai#silonnoticialisboa,nao,e,uma,cidade,estrangeira,#ara,

    faustin,linyekula,11'Q55M#age\,1 Acesso em @X de ?aneiro de @517;

     ]]]]]]; É $ão %mportante &ctuar num 'uintal em (isangani como no !esti)al de

    &)ignon; %blico" Lisboa" ' de ?aneiro de @517b; &is#on$-el emW

    !tt#sWwww;#ublico;#tculturai#silonnoticiae,tao,im#ortante,actuar,num,.uintal,em,

    kisangani,como,no,festi-al,de,a-ignon,11'Q61Acesso em @X de ?aneiro de @517;

     ]]]]]]; *m +olo de Dan,a no lho do !uracão#  %blico" Lisboa" 1 de ?aneiro

    de@517c; &is#on$-el emW!tt#sWwww;#ublico;#tculturai#silonnoticiaum,solo,de,

    danca,no,ol!o,do,furacao,1@5155Acesso em @X de ?aneiro de @517;

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  • 8/17/2019 Micropolítica de um corpo-memória

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    8EROEP8 8C" Ariel; erforming Acu#uncture on a Becro#olitical 0odyW

    C!oreogra#!er Faustin Linyekula_s 8tudios abako in isangani" &emocratic Re#ublic

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