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Denize Elena Garcia da Silva1
1 Doutora em Linguiacutestica Hispacircnica pela Uni-
versidade Nacional Autocircnoma do Meacutexico(UNAM) com Poacutes-Doutorado em Anaacutelise deDiscurso Criacutetica (ADC) e Linguiacutestica Sistecircmi-co-Funcional (LSF) pela Faculdade de Letras daUniversidade de Lisboa (FLUL) Portugal emGraduaccedilatildeo em Letras Portuguecircs-Inglecircs peloCentro de Ensino Uni1047297cado de Brasiacutelia (Uni-CEUB) e Mestrado em Linguiacutestica pela Uni- versidade de Brasiacutelia (UnB) onde atua comodocente desde 1987 Atualmente eacute professorapesquisadora colaboradora plena junto ao Pro-grama de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica daUniversidade de Brasiacutelia (PPGLUnB) liacuteder doGrupo Brasileiro de Estudos de Discurso Po-
breza e Identidades (CNPq) e vice-presidenteda Associaccedilatildeo Latinoamericana de Estudos doDiscurso (ALED)
doi 105102univhumv9i12094 Margens de sentido(s) nas aacuteguas textuais e
discursivas
Borders of meaning(s) in textual and
discursive waters
Carteiros do texto viajamos de uma margem agrave outra do espaccedilo do sen-tido valendo-nos de um sistema de endereccedilamento e de indicaccedilotildees que oautor o editor e o tipoacutegrafo balizaram
(Pierre Levy 1996)
Resumo
O presente artigo traz uma re1047298exatildeo sobre margens de sentido textuais
e discursivas com o objetivo de desvelar caminhos que existem entre signi1047297-
cados textuais e discursivos bem como entre textualidade e niacuteveis de leituraPara tanto busca-se apoio teoacuterico nos estudos de natureza 1047297losoacute1047297ca na es-
teira do pensamento de Paul Ricouer (1984) passando pela Linguiacutestica ex-
tual (Koch 1997 Beaugrande e Dressler 1981 Guimaratildees 2009 e Marcus-
chi 2008 entre outros) ateacute chegar aos niacuteveis de leitura propostos por Adler
e Doren (1974) enfocados em termos de signi1047297cados e signi1047297caccedilotildees (Freire
1981 Eco 1986 Carraher 1987 e Silva 1997 2012) Os primeiros resultados
podem signi1047297car uma pequena contribuiccedilatildeo para todos aquelesas que traba-
lham com textos niacuteveis de leitura signi1047297cados linguiacutestico-discursivos en1047297m
com a linguagem como praacutetica social
Palavras-chave exto extualidade Niacuteveis de leitura Sentido(s) Palavra
Discurso
Abstract
Tis paper is about discursive and textual meanings as well as textu-
ality and reading levels Terefore it seeks to support theoretical studies of a
philosophical nature thought of Paul Ricoeur (1984) through extual Lin-
guistics (Koch 1997 Beaugrande and Dressler 1981 Guimaratildees 2009 and
Marcuschi 2008 among others) until reaching the reading levels proposedby Adler and Doren (1974) focused in terms of meanings and signi1047297can-
ces (Freire 1981 Eco 1986 Carraher 1987 and Silva 1997 2012) Te 1047297rst
results can mean a contribution for all those who work with texts reading
levels linguistic-discursive meanings and language as a social practice
Key words ext extuality Reading levels Meaning(s) Word Discourse
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1 Introduccedilatildeo
O objetivo deste artigo eacute traccedilar uma espeacutecie de
cartogra1047297a ampliada da noccedilatildeo de texto com vistas a con-
tribuir para o alcance de sentido(s) disposto(s) agraves mar-
gens das aacuteguas textuais e discursivas balizadas pela pa-
lavra falada escrita eou ouvida rata-se aqui de umaproposta de viagem que prevecirc uma trilogia de accedilotildees o
que permite vislumbrar um apoio pertinente agrave eacutegide da
leitura uma vez que esta envolve trecircs lados de um signo
linguiacutestico a palavra Pode-se postular que uma accedilatildeo pe-
dagoacutegica de leitura costuma envolver trecircs movimentos de
um uacutenico elemento a palavra falada (discurso) a palavra
escrita (literatura) e a palavra ouvida (educaccedilatildeo) confor-
me jaacute sugeri em Silva (2008)1 Em termos etimoloacutegicos
enquanto educaccedilatildeo envolve a accedilatildeo de criar ou nutrir
pode-se associar literatura com a arte de trabalhar bemas palavras na arquitetura de um dado texto enquanto
produto que envolve um processo discursivo
A propoacutesito etimologicamente discurso abarca
a ideia de movimento para diversos lados (dis+cursu)
Pode-se considerar que todo texto na condiccedilatildeo de uni-
dade do discurso pressupotildee uma relaccedilatildeo dialoacutegica que se
constitui pelo 1047298uxo da (re)accedilatildeo de interlocutores o que
envolve autores e leitores passando eacute claro por editores
e tipoacutegrafos conforme bem observa Pierre Levy na epiacute-
grafe acima
O artigo encontra-se dividido em seis seccedilotildees in-
cluindo esta introduccedilatildeo Na segunda apresento o concei-
to de texto e proponho consideraacute-lo tambeacutem como um
objeto virtual Na terceira mediante a apresentaccedilatildeo dos
requisitos da textualidade reforccedilo o passaporte teoacuterico
que ancora a revisatildeo alcanccedilada A quarta seccedilatildeo eacute dedi-
cada a procedimentos metodoloacutegicos concernentes a trecircs
niacuteveis de leitura balizados pelas margens de sentido(s) do
discurso materializado em texto A quinta seccedilatildeo sugereum momento empiacuterico de leitura ativa Nas considera-
ccedilotildees 1047297nais arremato com o leitor resultados da viagem
sugerida
1
Em palestra proferida no VI Simpoacutesio de Liacutengua e Literaturado UniCEUB - Leitura discurso literatura e educaccedilatildeo em 26de maio 2008
2 Ampliaccedilatildeo das margens da noccedilatildeo de texto
Desde uma margem de sentido corrente na lin-
guiacutestica textual pode-se reconhecer que um texto equi-
vale a uma trama de frases formadas por palavras ou por
expressotildees que costumam aparecer enlaccediladas por uma
conectividade sequencial (coesatildeo) ou cingidas pelo me-nos por uma conectividade semacircntica (coerecircncia) rata-
-se de um conceito pertinente agrave associaccedilatildeo metafoacuterica de
texto a ldquotecidordquo Daiacute a etimologia do vocaacutebulo lsquotextorsquo Jaacute
desde uma margem de natureza 1047297losoacute1047297ca na esteira do
pensamento de Paul Ricoeur (1984) pode-se conceber o
texto como a semantizaccedilatildeo da linguagem pela palavra ou
melhor pelo discurso Em ambas as acepccedilotildees a ideia de
texto como manifestaccedilatildeo verbal de conteuacutedo semacircntico
estaacute impliacutecita
Observa Ingedore Koch (1997) que dependendo
da orientaccedilatildeo teoacuterica que se adote um mesmo objeto
pode ser compreendido de diferentes maneiras e que o
conceito de texto natildeo foge agrave regra Depois de revisar a li-
teratura linguiacutestica pertinente agrave trajetoacuteria de diversas con-
cepccedilotildees de texto desde suas origens na linguiacutestica textual
passando por orientaccedilotildees de natureza pragmaacutetica ateacute as
que consideram o texto como processo ressalta a referida
autora que a propriedade de1047297nidora do texto tem a ver
com uma complexa rede de fatores de ordem situacional
cognitiva sociocultural e interacional De acordo com
Koch (2002 p 154) um texto eacute um evento comunicativo
no qual se cruzam accedilotildees linguiacutesticas cognitivas e sociais
Neste estudo procuro tambeacutem apontar o texto
como um objeto virtual passiacutevel de ser navegado e a
leitura como um processo de atualizaccedilatildeo do mesmo A
propoacutesito desde suas origens mesopotacircmicas o texto jaacute
podia ser considerado como objeto virtual abstrato in-
dependente de um suporte especiacute1047297co Sugere Pierre Levy
(1996) que um texto virtual pode-se atualizar em muacutel-tiplas versotildees traduccedilotildees ediccedilotildees exemplares e coacutepias
Vale a pena associar as ideias de Levy com a proposta de
Umberto Eco (1986 p 35) para quem um texto ldquorepre-
senta uma cadeia de artifiacutecios de expressatildeo que devem ser
atualizados pelo destinataacuteriordquo Quanto agrave ideia de atualiza-
ccedilatildeo Eco argumenta que um texto eacute incompleto por duas
razotildees Por um lado porque qualquer texto escrito frases
ou termos isolados exige habilidades do leitor Por outro
lado porque um texto eacute sempre entremeado de ldquonatildeo-
ditosrdquo ou seja cheio de espaccedilos em branco para serempreenchidos por interlocutores
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Mas resulta que a linguagem verbal eacute linear no es-
paccedilo (modalidade escrita) e linear no tempo (modalidade
oral) Nessa perspectiva enquanto nas entrelinhas de um
texto escrito encontram-se os espaccedilos em branco pode-
mos sugerir que nas fronteiras de um texto falado encon-
tramos espaccedilos de silecircncio demarcados nas pausas Nasentrelinhas ou nas fronteiras de um texto encontram-se
pois inuacutemeros espaccedilos prontos para serem preenchidos
por aquele leitorouvinte que na condiccedilatildeo de ldquocarteiro-via-
janterdquo estiver disposto a assumir o seu verdadeiro papel de
interlocutor ao navegar rio abaixo (ou rio acima) nas aacuteguas
de sentido(s) de um discurso materializado em texto
Natildeo se trata de uma viagem relaxada jaacute que se haacute
de levar em conta todas as conexotildees possiacuteveis na super-
fiacutecie das aacuteguas textuais que funcionam como pistas refe-
renciais ou como uma espeacutecie de acircncoras inclusive de
natureza semacircntica e pragmaacutetica dispostas nas margens
de sentido(s) de um textodiscurso rata-se de uma bus-
ca de modos de processamento que conduzem a pistas
de um processo (discurso) balizadas agraves margens de um
produto (texto) o que seraacute tratado a seguir
3 Os requisitos da textualidade
Cabe aqui mencionar que essa viagem requer co-nhecimento de uma seacuterie de requisitos que uma manifes-
taccedilatildeo linguiacutestica humana deve possuir para se con1047297gurar
como texto rata-se da denominada lsquotextualidadersquo cate-
goria que na proposta de Halliday amp Hasan (1976) bem
como na de Beaugrande e Dressler (1981) equivale a um
conjunto de propriedades que datildeo lsquotessiturarsquo a qualquer
texto Ao discutir a textualidade a linguista brasileira Eli-
sa Guimaratildees (2009) comenta o seguinte
Obras claacutessicas no campo da Linguiacutestica extu-
al focalizam natildeo o texto (produto) mas a formade enunciaccedilatildeo textual (processo) concebendopois a textualidade como modo de processa-mento e natildeo conjunto de propriedades ineren-tes ao texto reduzido a sua dimensatildeo de produ-
to (GUIMARAtildeES 2009 p 12)
Eacute justamente com enfoque no processamento
que a exemplo de Guimaratildees (2009) inscrevemo-nos na
perspectiva mencionada acima Um texto eacute um evento
comunicativo e ao mesmo tempo um instrumento de
interaccedilatildeo que costuma envolver sete dimensotildees constitu-
tivas coesatildeo coerecircncia intencionalidade aceitabilidade
situacionalidade informatividade e intertextualidade
rata-se de um elenco de princiacutepios ou uma espeacutecie de
normas de boa formaccedilatildeo que um texto deve possuir para
ser considerado como tal (BEAUGRANDE DRESSLER
1981 KOCH RAVAGLIA 1989) Consideremos ainda
que de maneira sucinta os modos de processamento as-
sociados a cada um dos princiacutepios mencionados
coesatildeo ndash dimensatildeo que caracteriza a maneira pela
qual os elementos da superfiacutecie textual (segmentos lin-
guiacutesticos) se conectam mutuamente em uma sequecircncia
coerecircncia ndash dimensatildeo que concerne agrave maneira pela
qual os componentes do mundo textual (palavras e ora-
ccedilotildees conceitos e relaccedilotildees subjacentes agrave estrutura textual)
compotildeem um todo signi1047297cativo com uma situaccedilatildeo de in-
terlocuccedilatildeo mantida pela constacircncia de sentido(s)
intencionalidade ndash designa a propriedade que con-cerne agraves atitudes do locutor qual seja a intenccedilatildeo de que
a mensagem tenha comunicabilidade possa impressionar
e em condiccedilotildees contextuais propiacutecias ateacute mesmo con-
vencer (pela razatildeo) ou persuadir (pela emoccedilatildeo) o inter-
locutor
aceitabilidade ndash concerne agrave atitude de reconheci-
mento do interlocutor mediante a qual uma determinada
con1047297guraccedilatildeo de segmentos linguiacutestico-discursivos pode
ser considerada coesa e coerente
situacionalidade ndash tem a ver com fatores ou nor-
mas sociais que fazem com que um texto seja relevante
para uma determinada situaccedilatildeo o que o torna apropriado
ou adequado
informatividade ndash trata-se do princiacutepio que trans-
parece em que medida as informaccedilotildees veiculadas num
texto satildeo esperadas ou natildeo previsiacuteveis ou imprevisiacuteveis
o que envolve o seguinte paracircmetro quanto maior a pre-
visibilidade de um texto menor seraacute o seu grau de infor-
matividade e vice-versa
intertextualidade ndash caracteriacutestica que pode ser vis-
ta a partir de dois prismas enquanto por um lado tem-
-se a relaccedilatildeo de um texto com outros textos nos quais ele
nasce e para os quais ele aponta por outro lado existe
sempre a possibilidade de o relacionar com suas paraacutefra-
ses jaacute que eacute possiacutevel encontrar num texto um conjunto de
textos possiacuteveis
Ao atuarem juntos esses princiacutepios (ou normas)
favorecem a textualidade De acordo com Guimaratildees
(2009 p 24) ldquoas normas de textualidade mais oacutebvias satildeo a
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coesatildeo que se manifesta na superfiacutecie textual e a coerecircn-
cia que subjaz no interior do textordquo2 Mas cabe aqui regis-
trar o pensamento de Marcuschi (2008 p 122) para quem
ldquoa coerecircncia eacute um aspecto fundante da tex-tualidade e natildeo resultante dela Eacute assim que acoerecircncia estaacute muito mais na mente do leitor e
no ponto de vista do receptor do texto que nointerior das formas textuaisrdquo
Dois aspectos merecem ser destacados ainda
para a compreensatildeo de texto e textualidade Por um lado
as propriedades elencadas anteriormente con1047297rmam que
o texto eacute lugar e representaccedilatildeo fiacutesica da linguagem espa-
ccedilo de interaccedilatildeo horizonte de signi1047297caccedilatildeo e sobretudo de
ldquojogos de sentidosrdquo conforme sugere Eni Orlandi (1996)
Por outro lado um texto em si natildeo passa de uma
virtualidade de uma peccedila com um mecanismo incom-
pleto cuja ativaccedilatildeo depende de um sujeito leitorouvinte
pronto para interagir com o sujeito autorlocutor perfa-
zendo e construindo os diversos caminhos semacircnticos da
linguagem no processo de interpretaccedilatildeo Eacute pois nesse
sentido que se pode reconhecer o texto como um objeto
virtual e a leitura como um caminho semacircntico de atua-
lizaccedilatildeo trilhado por um sujeito-leitor consciente de seu
papel de co-autor de um discurso niacutevel que faz da liacutengua
um contrato social (SILVA 2005)
Em termos de potencialidade pode haver em umtexto diversos niacuteveis de signi1047297cados ou seja aleacutem de um
sentido expliacutecito eacute possiacutevel encontrar-se toda uma gama
de sentidos impliacutecitos ligados agrave intencionalidade de
quem o escreveu Nas palavras de Umberto Eco (1986 p
36) ldquoum texto distingue-se de outros tipos de expressatildeo
por sua maior complexidaderdquo E o motivo dessa comple-
xidade sempre segundo o referido autor eacute justamente o
fato de um texto ser entremeado do ldquonatildeo-ditordquo
4 Niacuteveis de leitura
Assim como existem niacuteveis de signi1047297cados em
um texto existem vaacuterios niacuteveis de leitura ativa dentre os
quais se destacam trecircs a leitura exploratoacuteria a analiacutetica e
a criacutetica (ADLER DOREN 1974) A leitura exploratoacuteria
eacute aquela que se faz de maneira obliacutequa quando se busca
um maacuteximo de informaccedilatildeo num miacutenimo de tempo com
vistas agrave apreensatildeo do teor global de um texto Sua realiza-
2 Grifos da autora citada
ccedilatildeo permite levantar informaccedilotildees que conduzem agrave ideia
central por meio dos seguintes procedimentos raacutepida
leitura do tiacutetulo introduccedilatildeo e conclusatildeo sem perder de
vista a distribuiccedilatildeo graacute1047297ca do texto o nome do autor data
e fonte de publicaccedilatildeo bem como outros segmentos em
destaque Concomitante a esses procedimentos de leitura
inspecional deve-se formular expectativas acerca do con-
teuacutedo mediante a busca de pistas textuais que permitem
aproximar respostas agrave pergunta do que trata o texto como
um todo
Cabe aqui esclarecer que a leitura exploratoacuteria vai
mais aleacutem de um simples mecanismo pertinente agraves deno-
minadas lsquoleituras dinacircmicasrsquo Isto por duas razotildees De um
lado porque se trata de um niacutevel de leitura cujas estrateacute-
gias demandam a interaccedilatildeo deliberada do leitor com as
ideias do autor Nesse sentido o leitor tem oportunidadede comparar as ideias contidas no texto com suas expec-
tativas iniciais De outro lado porque a obtenccedilatildeo de um
maacuteximo de informaccedilotildees em tempo miacutenimo natildeo constitui
um 1047297m em si mesmo mas antes a continuidade de um
processo metacognitivo3 Essa continuidade encontra-se
em consonacircncia com as demais atividades mentais asso-
ciadas aos niacuteveis de leitura subsequentes quais sejam a
leitura analiacutetica e a leitura criacutetica
A leitura analiacutetica envolve um processo de decom-
por um todo em suas partes e sobretudo uma habilidade
mental para identi1047297car a ideia principal de cada unidade
paragraacute1047297ca e suas relaccedilotildees dentro do texto O processo
de anaacutelise de um texto exige a conjugaccedilatildeo das atividades
cognitivas de estruturaccedilatildeo e de loacutegica Enquanto a leitura
exploratoacuteria favorece a compreensatildeo do texto em sua glo-
balidade a leitura analiacutetica permite de modo particular
a apreensatildeo do plano seguido pelo autor Para tanto haacute
que se levar em conta aleacutem das etapas observadas duran-
te a leitura inspecional o seguinte um autor geralmenteinforma explica interpreta discute e prediz Mas pode
tambeacutem impressionar emocionar e ateacute mesmo seduzir
durante o processo de leitura como se poderaacute constatar
mais adiante A operaccedilatildeo de decompor um todo em suas
partes num movimento de descontextualizaccedilatildeo e recon-
textualizaccedilatildeo de ideias perpassa todo o processo de leitu-
3 O termo metacognitivo eacute aqui utilizado no sentido de
controle consciente do conhecimento em oposiccedilatildeo aconhecimento automaacutetico ou inconsciente conforme sugereMary Kato (1987 p 101-102)
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ra analiacutetica como se fosse um mecanismo de radiogra1047297a
Na realidade a identi1047297caccedilatildeo de qualquer estrutura impli-
ca encontrar os elementos concretos que a integram bem
como suas redes de conexatildeo No caso de uma estrutura
textual cuja rede enlaccedila elementos linguiacutesticos e discur-
sivos dispostos respectivamente em termos de conecti-
vidade sequencial e conectividade conceptual detectaacute-la
equivale a abstrair sobretudo os elementos conceptuais
que permitem radiografar semanticamente o texto
A leitura criacutetica eacute um dos niacuteveis de leitura em que
o ato de ler pressupotildee um senso acurado de julgamento
uma capacidade de analisar situaccedilotildees ou aspectos de uma
realidade sem se deixar levar pelas primeiras impressotildees
Um leitor dotado de senso criacutetico eacute aquele que examina
e em condiccedilotildees propiacutecias avalia atentamente o teor de
veracidade de um dado texto antes de aceitar as ideias ali veiculadas rata-se do leitor que eacute capaz de estabelecer
conclusotildees acerca de ideologias subjacentes agrave intenciona-
lidade do autor bem como de se projetar sobre o texto
completando-o a partir de suas experiecircncias de vida e de
sua bagagem cultural
A cada nova leitura criacutetica de um texto estaacute ligada
a perspectiva da descoberta de novos signi1047297cados natildeo de-
tectados nas leituras anteriores principalmente as signi1047297-
caccedilotildees dos subtendidos e pressupostos impliacutecitos ou sejanatildeo manifestados na superfiacutecie linguiacutestica Novas leituras
implicam atitudes conscientes de busca alimentadas pela
curiosidade intelectual do leitor
Sabe-se que um leitor se distingue de outro na me-
dida de sua capacidade de se monitorar e ao mesmo tem-
po de se entregar durante o ato de leitura o que poderaacute
ser experimentado a seguir
5 Um convite para exerciacutecios de leitura(s)Iniciemos a leitura do texto Rio acima que foi
produzido por um conhecido escritor jornalista humo-
rista e cronista brasileiro
Rio acima
odos os rios levam ao misteacuterio Do Aar ao Zwet-
ti Do Orinoco ao Deseado passando pelo Oiapoque e
pelo Chuiacute Do Negro ao Branco Do Madeira ao Pra-
ta Do Grande ao Chico O das Antas o das Velhas o
dos Macacos o das Mortes O rio da Vida senhoras e
senhores Segurem-se ateacute passarmos as pororocas Aqui
o Amazonas recebe as aacuteguas do seu maior a1047298uente o
Atlacircntico Aqui o Nilo muda de Nome e vira Mediter-
racircneo Por essa boca o Mississipi expeliu Cuba Porto
Rico e todas as ilhas das Caraiacutebas Aqui termina o ejo
e comeccedila o mundo uma obra de Camotildees Aqui comeccedila
o nosso tour
Rio acima Observem como de onde estamos vemos passar as margens de ambos os lados
Engano somos noacutes que passamos Protejam a ca-
beccedila do Sol e meditem sobre a 1047297nitude humana Seraacute ser-
vido um lanche antes de passarmos a faacutebrica de celulose
porque depois ningueacutem conseguiraacute comer Agrave esquerda
uma usina nuclear Vejam os peixes fosforescentes Ve-
jam os banhistas fosforescentes Natildeo ponham a matildeo na
aacutegua se natildeo quiserem perdecirc-la Agrave direita boiando al-
guns mendigos Prisioneiros de matildeos amarradas Vaacuteriosfetos Sapatos Urinoacuteis Pneus Sinais de civilizaccedilatildeo
Uma nota pessoal senhoras e senhores Aquela
casa na margem direita eacute minha inha um coqueiro do
lado que coitado de saudade jaacute morreu e o videoshop
do outro lado claro eacute novo Aquela eacute a minha famiacutelia eaquele menino com aacutegua na cintura abanando para noacutes
sou eu Mas isto tambeacutem jaacute passou Rio acima
O garoto abandonado naquele barco eacute Huckel-
bery Finn Abanem abanem Aquela 1047297gura que acaba
de mergulhar no rio do galho de uma aacutervore eacute arzan
Vejam como um jacareacute se aproxima Os dois se engal1047297-
nham Natildeo se preocupem arzan venceraacute
Na margem direita um lobo e um cordeiro con-
versando Da margem esquerda Joatildeo Guimaratildees Rosacontempla a terceira margem O bebecirc 1047298utuando dentro
da cesta eacute Moiseacutes
Estamos no Rubicatildeo Porcaria pois natildeo Vo-
cecircs notaratildeo que muitos rios histoacutericos natildeo merecem
o nome que tecircm O Danuacutebio veremos mais adiante
natildeo eacute azul O Vermelho eacute marrom O Amarelo eacute cin-
zento O Mekong eacute vermelho de tanto sangue Rio aci-
ma Estamos no acircmisa Agora no Avon Aquele ali na
margem pensativo eacute Shakespeare Vejam no meio dorio rodeada de 1047298ores mantida agrave tona pelas suas vestes
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O texto acima jaacute de iniacutecio permite-nos chamar a
atenccedilatildeo do leitor natildeo soacute pelo complexo e ao mesmo tem-
po sugestivo tour histoacuterico anunciado no primeiro paraacute-
grafo mas tambeacutem pela posiccedilatildeo de Luis Fernando Veriacutes-
simo em seu papel de escritor jornalista (ou jornalista es-
critor) em termos de sua contribuiccedilatildeo a um suporte midi-
aacutetico no caso a Revista VEJA ediccedilatildeo 1073 ano 22 nordm 13
publicada em 29 de marccedilo de 1989 Cabe aqui esclarecer
que as duas setas tipograacute1047297cas foram acrescentadas agrave mar-gem do texto somente para sinalizar os rumos baacutesicos da
leitura que demanda por sua vez uma seacuterie complexa de
atos separados ais atos podem ser associados conforme
Silva (1997) aos seguintes tipos de atividades cognitivas
atividade perceptiva relacionada a uma capacidade
raacutepida e precisa de busca de informaccedilotildees para a identi1047297-
caccedilatildeo do todo
atividade visual-espacial ligada simultaneamente agrave
visatildeo e ao espaccedilo sendo este uacuteltimo associado agrave ideia delugar superfiacutecie e distacircncia
atividade de estruturaccedilatildeo vinculada agrave identi1047297caccedilatildeo
de estruturas de ideias e argumentos a partir da obser-
vaccedilatildeo de segmentos individuais tais como palavras e ex-
pressotildees
atividade loacutegica mediante a identi1047297caccedilatildeo de cone-
xotildees loacutegicas de ideias ou de fatos histoacutericos associados a
seus respectivos contextos
atividade verbal pertinente agrave captaccedilatildeo de uma palavra
precisa capaz de de1047297nir um objeto uma ideia ou uma accedilatildeo
As duas primeiras atividades elencadas acima satildeo
tiacutepicas da leitura exploratoacuteria enquanto as seguintes con-
cernem agrave leitura analiacutetica Voltemos em par leitora uma
mirada empiacuterica pela superfiacutecie do texto de Veriacutessimo
Em termos de estruturaccedilatildeo textual podemos iden-
ti1047297car o 1047298uxo das ideias do autor assim como sua apre-
sentaccedilatildeo de fatos histoacutericos relativamente conhecidos ndash
seja em contextos situacionais proacuteximos ou em contextos
culturais distantes ndash materializado em unidades frasais e
oracionais em sua maioria justapostas com predomiacutenio
de uma coordenaccedilatildeo simples parataacutetica Observa-se o
saber gramatical atrelado agrave criatividade no uso da lingua-
gem cuja magnitude se evidencia na dimensatildeo dialoacutegica
Ressalte-se a intertextualidade marcada pela presenccedila
constante de vozes de outros textos a guiarem pela voz
do autor atitudes de reconhecimento dos interlocutores
ou melhor participantes do ldquotourrdquo tecido com engenho e
arte ainda que bem longe do estilo camonianoPode-se a1047297rmar que antes mesmo de seduzir
o texto impressiona pela tessitura simples e ao mesmo
tempo tatildeo carregada de motivos para a aceitabilidade do
leitor mais criacutetico que existe Observe-se ainda que natildeo
haacute conectores loacutegicos de subordinaccedilatildeo ao longo dos pe-
riacuteodos enxutos que compotildeem cada paraacutegrafo Mas a co-
nectividade conceptual (semacircntica) predomina e garante
a tessitura do texto o que con1047297rma ser a coerecircncia a pro-
priedade mais relevante em um texto Em poucas pala-
vras existem textos sem coesatildeo mas natildeo existem textos
sem coerecircncia propriedade que depende da (re)accedilatildeo do
in1047298adas a doce Ofeacutelia Abanem abanem Eu natildeo dis-
se que este tour tinha de tudo Agora preparem suas
cacircmeras Ai vem na sua barcaccedila imperial Cleoacutepatra
descendo o Nilo Rio acima Estamos no Reno no Poacute
no Yang-tze no Satildeo Francisco no igre no Eufrates
no Volga no Jordatildeo Aquela cena vocecircs certamente vatildeo querer fotografar Joatildeo Batista batizando Jesus
Estamos no Ganges onde os vivos despejam os seus
mortos e depois se lavam O rio eacute sempre o mesmo A
aacutegua que puri1047297ca eacute a mesma que recebe o esgoto aacutecido
A aacutegua que mata a sede eacute a mesma que afoga a que
passa e a que natildeo passa
O rio eacute a Portela Agrave direita Paulinho da Viola
Aquela cabecinha de nadador ali eacute a do Mao
Galhos troncos casas gado canoas viradas
quatro com timatildeo e sem timatildeo ndash e uma faacutebrica inteira
rebocada do Japatildeo
As aacuteguas comeccedilam a 1047297car lodosas As grandes
aacutervores se tocam sobre o rio Estamos no Congo a ca-
minho do coraccedilatildeo das trevas Da fonte obscura de tudo
Mistash Kurtz he dead O cheiro azedo de limo e foacutes-
seis O horror o horror O mar estaacute longe chegamos a
nossa vertente E a origem de tudo natildeo eacute misteacuterio eacute um
buraco no chatildeo Haacute outros rios debaixo destes e eacute para
laacute que vamos um dia Rio abaixo A gorjeta eacute voluntaacuteria
obrigado
VERIacuteSSIMO Luis Fernando
Revista VEJA 29 de marccedilo de 1989
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interlocutor para atribuir sentido(s) a textos como este
A propoacutesito falta-nos mergulhar ainda em algumas das
principais perguntas de quem se debruccedila em uma anaacutelise
criacutetica
Conforme sugere David Carraher (1987 p 127)
a) O que estaacute sendo a1047297rmado
b) Quais as principais questotildees envolvidas
c) O que eacute usado para apoiar as ideias
d) Que informaccedilotildees poderiam ajudar a esclarecer
as questotildees principais
Agraves perguntas destacadas acima pode-se acres-
centar a seguinte qual eacute a ideologia presente no texto em
anaacutelise Em estudo recente (Silva 2012 p 17) pondero
que ldquouma estrutura eacute ideoloacutegica na medida em que podeou natildeo corresponder agrave perspectiva doa produtora ou
doa leitorardquo Considero pertinente evocar aqui as pala-
vras de Guimaratildees (2009 p 108) para quem ldquoa ideologia
de1047297ne-se portanto como expressatildeo de uma tomada de
posiccedilatildeo determinada con1047297gurando-se por isso como
condiccedilatildeo essencial na relaccedilatildeo mundolinguagemrdquo Nessa
perspectiva vale chamar a atenccedilatildeo para o modo com que
as informaccedilotildees satildeo apresentadas ao longo do texto em
questatildeo Ainda que despidas de um estilo argumentativo
as ideias satildeo apresentadas revestidas de uma espeacutecie de
valor ou estatuto de verdade Aleacutem disso satildeo ideias ma-
tizadas por um pendor atitudinal do autor que envolve o
leitor a partir de sua visatildeo criacutetica do mundo
Por outro lado os temas tangenciados ainda que
de maneira literaacuteria ao longo do texto - tais como pro-
blemas de poluiccedilatildeo e agressatildeo respectivamente ao meio
ambiente e ao ser humano - continuam ao lado de toda a
beleza que ainda existe na histoacuteria das aacuteguas quando na-
vegamos rio acima ou abaixo atraveacutes dos tempos Aleacutemdo mais as questotildees enfocadas evocam o que sugere Frei-
re (1981 p 11-12) ldquolinguagem e realidade se prendem de
maneira dinacircmicardquo
Em poucas palavras acabamos de assistir agora
em 2012 o encontro do ldquoRio + Vinterdquo evento que soacute vai
acontecer outra vez daqui a vinte anos Cabe aqui tra-
ccedilar um paralelo do texto examinado com a conferecircncia
das Naccedilotildees Unidas proferida recentemente em prol do
desenvolvimento sustentaacutevel em meio agrave presenccedila de lide-
ranccedilas de inuacutemeras naccedilotildees Resulta que o meio ambien-
te o ecossistema a biodiversidade a chuva aacutecida o uso
de energia suja - bem como a aacutegua que corre por todos
os rios do planeta antes de desembocar nos sete mares -
continuam a ser enfocados como toacutepicos que sinalizam
ora uma bandeira para ativistas ora uma promessa de
agenda de compromissos poliacutetico-econocircmicos diante
dos apelos direcionados aos paiacuteses ricos que natildeo queremrepartir recursos que lhes sobram ainda que tatildeo cientes
de questotildees complexas tais como a pobreza do presente
ou a escassez de aacutegua e de alimento no futuro proacuteximo
6 Consideraccedilotildees 1047297nais
Ao enfatizar a importacircncia do ato de ler Paulo
Freire (1981 p 20) a1047297rma que ldquoa leitura do mundo pre-
cede a leitura da palavra e a leitura desta implica a con-
tinuidade da leitura daquelerdquo E vai mais longe Aleacutem de
esclarecer que a compreensatildeo de um texto eacute alcanccedilada
mediante sua leitura criacutetica atraveacutes da qual se percebem
as relaccedilotildees dentre o texto e o contexto o educador bra-
sileiro reitera sua proposta ao declarar que ldquoa leitura da
palavra natildeo eacute apenas precedida pela leitura do mundo
mas por uma determinada forma de escrevecirc-lo ou de
reescrevecirc-lordquo quer dizer desdobraacute-lo atraveacutes de uma praacute-
tica engajada de leitura
Por outro lado na esteira dos estudos criacuteticos do
discurso comenta Fairclough (2001 p 265) o seguinte
eacute previsiacutevel que cada vez mais haja expectativade que os analistas de discurso e os linguistasfuncionem como tecnoacutelogos do discurso outornem os resultados de suas pesquisas dispo-niacuteveis a eles
Que as re1047298exotildees aqui apresentadas possam signi-
1047297car uma pequena contribuiccedilatildeo em termos de incentivo
para todos aquelesas que trabalham com textos niacuteveis
de leitura signi1047297cados linguiacutestico-discursivos en1047297mcom a linguagem como praacutetica social
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1 Introduccedilatildeo
O objetivo deste artigo eacute traccedilar uma espeacutecie de
cartogra1047297a ampliada da noccedilatildeo de texto com vistas a con-
tribuir para o alcance de sentido(s) disposto(s) agraves mar-
gens das aacuteguas textuais e discursivas balizadas pela pa-
lavra falada escrita eou ouvida rata-se aqui de umaproposta de viagem que prevecirc uma trilogia de accedilotildees o
que permite vislumbrar um apoio pertinente agrave eacutegide da
leitura uma vez que esta envolve trecircs lados de um signo
linguiacutestico a palavra Pode-se postular que uma accedilatildeo pe-
dagoacutegica de leitura costuma envolver trecircs movimentos de
um uacutenico elemento a palavra falada (discurso) a palavra
escrita (literatura) e a palavra ouvida (educaccedilatildeo) confor-
me jaacute sugeri em Silva (2008)1 Em termos etimoloacutegicos
enquanto educaccedilatildeo envolve a accedilatildeo de criar ou nutrir
pode-se associar literatura com a arte de trabalhar bemas palavras na arquitetura de um dado texto enquanto
produto que envolve um processo discursivo
A propoacutesito etimologicamente discurso abarca
a ideia de movimento para diversos lados (dis+cursu)
Pode-se considerar que todo texto na condiccedilatildeo de uni-
dade do discurso pressupotildee uma relaccedilatildeo dialoacutegica que se
constitui pelo 1047298uxo da (re)accedilatildeo de interlocutores o que
envolve autores e leitores passando eacute claro por editores
e tipoacutegrafos conforme bem observa Pierre Levy na epiacute-
grafe acima
O artigo encontra-se dividido em seis seccedilotildees in-
cluindo esta introduccedilatildeo Na segunda apresento o concei-
to de texto e proponho consideraacute-lo tambeacutem como um
objeto virtual Na terceira mediante a apresentaccedilatildeo dos
requisitos da textualidade reforccedilo o passaporte teoacuterico
que ancora a revisatildeo alcanccedilada A quarta seccedilatildeo eacute dedi-
cada a procedimentos metodoloacutegicos concernentes a trecircs
niacuteveis de leitura balizados pelas margens de sentido(s) do
discurso materializado em texto A quinta seccedilatildeo sugereum momento empiacuterico de leitura ativa Nas considera-
ccedilotildees 1047297nais arremato com o leitor resultados da viagem
sugerida
1
Em palestra proferida no VI Simpoacutesio de Liacutengua e Literaturado UniCEUB - Leitura discurso literatura e educaccedilatildeo em 26de maio 2008
2 Ampliaccedilatildeo das margens da noccedilatildeo de texto
Desde uma margem de sentido corrente na lin-
guiacutestica textual pode-se reconhecer que um texto equi-
vale a uma trama de frases formadas por palavras ou por
expressotildees que costumam aparecer enlaccediladas por uma
conectividade sequencial (coesatildeo) ou cingidas pelo me-nos por uma conectividade semacircntica (coerecircncia) rata-
-se de um conceito pertinente agrave associaccedilatildeo metafoacuterica de
texto a ldquotecidordquo Daiacute a etimologia do vocaacutebulo lsquotextorsquo Jaacute
desde uma margem de natureza 1047297losoacute1047297ca na esteira do
pensamento de Paul Ricoeur (1984) pode-se conceber o
texto como a semantizaccedilatildeo da linguagem pela palavra ou
melhor pelo discurso Em ambas as acepccedilotildees a ideia de
texto como manifestaccedilatildeo verbal de conteuacutedo semacircntico
estaacute impliacutecita
Observa Ingedore Koch (1997) que dependendo
da orientaccedilatildeo teoacuterica que se adote um mesmo objeto
pode ser compreendido de diferentes maneiras e que o
conceito de texto natildeo foge agrave regra Depois de revisar a li-
teratura linguiacutestica pertinente agrave trajetoacuteria de diversas con-
cepccedilotildees de texto desde suas origens na linguiacutestica textual
passando por orientaccedilotildees de natureza pragmaacutetica ateacute as
que consideram o texto como processo ressalta a referida
autora que a propriedade de1047297nidora do texto tem a ver
com uma complexa rede de fatores de ordem situacional
cognitiva sociocultural e interacional De acordo com
Koch (2002 p 154) um texto eacute um evento comunicativo
no qual se cruzam accedilotildees linguiacutesticas cognitivas e sociais
Neste estudo procuro tambeacutem apontar o texto
como um objeto virtual passiacutevel de ser navegado e a
leitura como um processo de atualizaccedilatildeo do mesmo A
propoacutesito desde suas origens mesopotacircmicas o texto jaacute
podia ser considerado como objeto virtual abstrato in-
dependente de um suporte especiacute1047297co Sugere Pierre Levy
(1996) que um texto virtual pode-se atualizar em muacutel-tiplas versotildees traduccedilotildees ediccedilotildees exemplares e coacutepias
Vale a pena associar as ideias de Levy com a proposta de
Umberto Eco (1986 p 35) para quem um texto ldquorepre-
senta uma cadeia de artifiacutecios de expressatildeo que devem ser
atualizados pelo destinataacuteriordquo Quanto agrave ideia de atualiza-
ccedilatildeo Eco argumenta que um texto eacute incompleto por duas
razotildees Por um lado porque qualquer texto escrito frases
ou termos isolados exige habilidades do leitor Por outro
lado porque um texto eacute sempre entremeado de ldquonatildeo-
ditosrdquo ou seja cheio de espaccedilos em branco para serempreenchidos por interlocutores
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Mas resulta que a linguagem verbal eacute linear no es-
paccedilo (modalidade escrita) e linear no tempo (modalidade
oral) Nessa perspectiva enquanto nas entrelinhas de um
texto escrito encontram-se os espaccedilos em branco pode-
mos sugerir que nas fronteiras de um texto falado encon-
tramos espaccedilos de silecircncio demarcados nas pausas Nasentrelinhas ou nas fronteiras de um texto encontram-se
pois inuacutemeros espaccedilos prontos para serem preenchidos
por aquele leitorouvinte que na condiccedilatildeo de ldquocarteiro-via-
janterdquo estiver disposto a assumir o seu verdadeiro papel de
interlocutor ao navegar rio abaixo (ou rio acima) nas aacuteguas
de sentido(s) de um discurso materializado em texto
Natildeo se trata de uma viagem relaxada jaacute que se haacute
de levar em conta todas as conexotildees possiacuteveis na super-
fiacutecie das aacuteguas textuais que funcionam como pistas refe-
renciais ou como uma espeacutecie de acircncoras inclusive de
natureza semacircntica e pragmaacutetica dispostas nas margens
de sentido(s) de um textodiscurso rata-se de uma bus-
ca de modos de processamento que conduzem a pistas
de um processo (discurso) balizadas agraves margens de um
produto (texto) o que seraacute tratado a seguir
3 Os requisitos da textualidade
Cabe aqui mencionar que essa viagem requer co-nhecimento de uma seacuterie de requisitos que uma manifes-
taccedilatildeo linguiacutestica humana deve possuir para se con1047297gurar
como texto rata-se da denominada lsquotextualidadersquo cate-
goria que na proposta de Halliday amp Hasan (1976) bem
como na de Beaugrande e Dressler (1981) equivale a um
conjunto de propriedades que datildeo lsquotessiturarsquo a qualquer
texto Ao discutir a textualidade a linguista brasileira Eli-
sa Guimaratildees (2009) comenta o seguinte
Obras claacutessicas no campo da Linguiacutestica extu-
al focalizam natildeo o texto (produto) mas a formade enunciaccedilatildeo textual (processo) concebendopois a textualidade como modo de processa-mento e natildeo conjunto de propriedades ineren-tes ao texto reduzido a sua dimensatildeo de produ-
to (GUIMARAtildeES 2009 p 12)
Eacute justamente com enfoque no processamento
que a exemplo de Guimaratildees (2009) inscrevemo-nos na
perspectiva mencionada acima Um texto eacute um evento
comunicativo e ao mesmo tempo um instrumento de
interaccedilatildeo que costuma envolver sete dimensotildees constitu-
tivas coesatildeo coerecircncia intencionalidade aceitabilidade
situacionalidade informatividade e intertextualidade
rata-se de um elenco de princiacutepios ou uma espeacutecie de
normas de boa formaccedilatildeo que um texto deve possuir para
ser considerado como tal (BEAUGRANDE DRESSLER
1981 KOCH RAVAGLIA 1989) Consideremos ainda
que de maneira sucinta os modos de processamento as-
sociados a cada um dos princiacutepios mencionados
coesatildeo ndash dimensatildeo que caracteriza a maneira pela
qual os elementos da superfiacutecie textual (segmentos lin-
guiacutesticos) se conectam mutuamente em uma sequecircncia
coerecircncia ndash dimensatildeo que concerne agrave maneira pela
qual os componentes do mundo textual (palavras e ora-
ccedilotildees conceitos e relaccedilotildees subjacentes agrave estrutura textual)
compotildeem um todo signi1047297cativo com uma situaccedilatildeo de in-
terlocuccedilatildeo mantida pela constacircncia de sentido(s)
intencionalidade ndash designa a propriedade que con-cerne agraves atitudes do locutor qual seja a intenccedilatildeo de que
a mensagem tenha comunicabilidade possa impressionar
e em condiccedilotildees contextuais propiacutecias ateacute mesmo con-
vencer (pela razatildeo) ou persuadir (pela emoccedilatildeo) o inter-
locutor
aceitabilidade ndash concerne agrave atitude de reconheci-
mento do interlocutor mediante a qual uma determinada
con1047297guraccedilatildeo de segmentos linguiacutestico-discursivos pode
ser considerada coesa e coerente
situacionalidade ndash tem a ver com fatores ou nor-
mas sociais que fazem com que um texto seja relevante
para uma determinada situaccedilatildeo o que o torna apropriado
ou adequado
informatividade ndash trata-se do princiacutepio que trans-
parece em que medida as informaccedilotildees veiculadas num
texto satildeo esperadas ou natildeo previsiacuteveis ou imprevisiacuteveis
o que envolve o seguinte paracircmetro quanto maior a pre-
visibilidade de um texto menor seraacute o seu grau de infor-
matividade e vice-versa
intertextualidade ndash caracteriacutestica que pode ser vis-
ta a partir de dois prismas enquanto por um lado tem-
-se a relaccedilatildeo de um texto com outros textos nos quais ele
nasce e para os quais ele aponta por outro lado existe
sempre a possibilidade de o relacionar com suas paraacutefra-
ses jaacute que eacute possiacutevel encontrar num texto um conjunto de
textos possiacuteveis
Ao atuarem juntos esses princiacutepios (ou normas)
favorecem a textualidade De acordo com Guimaratildees
(2009 p 24) ldquoas normas de textualidade mais oacutebvias satildeo a
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coesatildeo que se manifesta na superfiacutecie textual e a coerecircn-
cia que subjaz no interior do textordquo2 Mas cabe aqui regis-
trar o pensamento de Marcuschi (2008 p 122) para quem
ldquoa coerecircncia eacute um aspecto fundante da tex-tualidade e natildeo resultante dela Eacute assim que acoerecircncia estaacute muito mais na mente do leitor e
no ponto de vista do receptor do texto que nointerior das formas textuaisrdquo
Dois aspectos merecem ser destacados ainda
para a compreensatildeo de texto e textualidade Por um lado
as propriedades elencadas anteriormente con1047297rmam que
o texto eacute lugar e representaccedilatildeo fiacutesica da linguagem espa-
ccedilo de interaccedilatildeo horizonte de signi1047297caccedilatildeo e sobretudo de
ldquojogos de sentidosrdquo conforme sugere Eni Orlandi (1996)
Por outro lado um texto em si natildeo passa de uma
virtualidade de uma peccedila com um mecanismo incom-
pleto cuja ativaccedilatildeo depende de um sujeito leitorouvinte
pronto para interagir com o sujeito autorlocutor perfa-
zendo e construindo os diversos caminhos semacircnticos da
linguagem no processo de interpretaccedilatildeo Eacute pois nesse
sentido que se pode reconhecer o texto como um objeto
virtual e a leitura como um caminho semacircntico de atua-
lizaccedilatildeo trilhado por um sujeito-leitor consciente de seu
papel de co-autor de um discurso niacutevel que faz da liacutengua
um contrato social (SILVA 2005)
Em termos de potencialidade pode haver em umtexto diversos niacuteveis de signi1047297cados ou seja aleacutem de um
sentido expliacutecito eacute possiacutevel encontrar-se toda uma gama
de sentidos impliacutecitos ligados agrave intencionalidade de
quem o escreveu Nas palavras de Umberto Eco (1986 p
36) ldquoum texto distingue-se de outros tipos de expressatildeo
por sua maior complexidaderdquo E o motivo dessa comple-
xidade sempre segundo o referido autor eacute justamente o
fato de um texto ser entremeado do ldquonatildeo-ditordquo
4 Niacuteveis de leitura
Assim como existem niacuteveis de signi1047297cados em
um texto existem vaacuterios niacuteveis de leitura ativa dentre os
quais se destacam trecircs a leitura exploratoacuteria a analiacutetica e
a criacutetica (ADLER DOREN 1974) A leitura exploratoacuteria
eacute aquela que se faz de maneira obliacutequa quando se busca
um maacuteximo de informaccedilatildeo num miacutenimo de tempo com
vistas agrave apreensatildeo do teor global de um texto Sua realiza-
2 Grifos da autora citada
ccedilatildeo permite levantar informaccedilotildees que conduzem agrave ideia
central por meio dos seguintes procedimentos raacutepida
leitura do tiacutetulo introduccedilatildeo e conclusatildeo sem perder de
vista a distribuiccedilatildeo graacute1047297ca do texto o nome do autor data
e fonte de publicaccedilatildeo bem como outros segmentos em
destaque Concomitante a esses procedimentos de leitura
inspecional deve-se formular expectativas acerca do con-
teuacutedo mediante a busca de pistas textuais que permitem
aproximar respostas agrave pergunta do que trata o texto como
um todo
Cabe aqui esclarecer que a leitura exploratoacuteria vai
mais aleacutem de um simples mecanismo pertinente agraves deno-
minadas lsquoleituras dinacircmicasrsquo Isto por duas razotildees De um
lado porque se trata de um niacutevel de leitura cujas estrateacute-
gias demandam a interaccedilatildeo deliberada do leitor com as
ideias do autor Nesse sentido o leitor tem oportunidadede comparar as ideias contidas no texto com suas expec-
tativas iniciais De outro lado porque a obtenccedilatildeo de um
maacuteximo de informaccedilotildees em tempo miacutenimo natildeo constitui
um 1047297m em si mesmo mas antes a continuidade de um
processo metacognitivo3 Essa continuidade encontra-se
em consonacircncia com as demais atividades mentais asso-
ciadas aos niacuteveis de leitura subsequentes quais sejam a
leitura analiacutetica e a leitura criacutetica
A leitura analiacutetica envolve um processo de decom-
por um todo em suas partes e sobretudo uma habilidade
mental para identi1047297car a ideia principal de cada unidade
paragraacute1047297ca e suas relaccedilotildees dentro do texto O processo
de anaacutelise de um texto exige a conjugaccedilatildeo das atividades
cognitivas de estruturaccedilatildeo e de loacutegica Enquanto a leitura
exploratoacuteria favorece a compreensatildeo do texto em sua glo-
balidade a leitura analiacutetica permite de modo particular
a apreensatildeo do plano seguido pelo autor Para tanto haacute
que se levar em conta aleacutem das etapas observadas duran-
te a leitura inspecional o seguinte um autor geralmenteinforma explica interpreta discute e prediz Mas pode
tambeacutem impressionar emocionar e ateacute mesmo seduzir
durante o processo de leitura como se poderaacute constatar
mais adiante A operaccedilatildeo de decompor um todo em suas
partes num movimento de descontextualizaccedilatildeo e recon-
textualizaccedilatildeo de ideias perpassa todo o processo de leitu-
3 O termo metacognitivo eacute aqui utilizado no sentido de
controle consciente do conhecimento em oposiccedilatildeo aconhecimento automaacutetico ou inconsciente conforme sugereMary Kato (1987 p 101-102)
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Margens de sentido(s) nas aacuteguas textuais e discursivas
ra analiacutetica como se fosse um mecanismo de radiogra1047297a
Na realidade a identi1047297caccedilatildeo de qualquer estrutura impli-
ca encontrar os elementos concretos que a integram bem
como suas redes de conexatildeo No caso de uma estrutura
textual cuja rede enlaccedila elementos linguiacutesticos e discur-
sivos dispostos respectivamente em termos de conecti-
vidade sequencial e conectividade conceptual detectaacute-la
equivale a abstrair sobretudo os elementos conceptuais
que permitem radiografar semanticamente o texto
A leitura criacutetica eacute um dos niacuteveis de leitura em que
o ato de ler pressupotildee um senso acurado de julgamento
uma capacidade de analisar situaccedilotildees ou aspectos de uma
realidade sem se deixar levar pelas primeiras impressotildees
Um leitor dotado de senso criacutetico eacute aquele que examina
e em condiccedilotildees propiacutecias avalia atentamente o teor de
veracidade de um dado texto antes de aceitar as ideias ali veiculadas rata-se do leitor que eacute capaz de estabelecer
conclusotildees acerca de ideologias subjacentes agrave intenciona-
lidade do autor bem como de se projetar sobre o texto
completando-o a partir de suas experiecircncias de vida e de
sua bagagem cultural
A cada nova leitura criacutetica de um texto estaacute ligada
a perspectiva da descoberta de novos signi1047297cados natildeo de-
tectados nas leituras anteriores principalmente as signi1047297-
caccedilotildees dos subtendidos e pressupostos impliacutecitos ou sejanatildeo manifestados na superfiacutecie linguiacutestica Novas leituras
implicam atitudes conscientes de busca alimentadas pela
curiosidade intelectual do leitor
Sabe-se que um leitor se distingue de outro na me-
dida de sua capacidade de se monitorar e ao mesmo tem-
po de se entregar durante o ato de leitura o que poderaacute
ser experimentado a seguir
5 Um convite para exerciacutecios de leitura(s)Iniciemos a leitura do texto Rio acima que foi
produzido por um conhecido escritor jornalista humo-
rista e cronista brasileiro
Rio acima
odos os rios levam ao misteacuterio Do Aar ao Zwet-
ti Do Orinoco ao Deseado passando pelo Oiapoque e
pelo Chuiacute Do Negro ao Branco Do Madeira ao Pra-
ta Do Grande ao Chico O das Antas o das Velhas o
dos Macacos o das Mortes O rio da Vida senhoras e
senhores Segurem-se ateacute passarmos as pororocas Aqui
o Amazonas recebe as aacuteguas do seu maior a1047298uente o
Atlacircntico Aqui o Nilo muda de Nome e vira Mediter-
racircneo Por essa boca o Mississipi expeliu Cuba Porto
Rico e todas as ilhas das Caraiacutebas Aqui termina o ejo
e comeccedila o mundo uma obra de Camotildees Aqui comeccedila
o nosso tour
Rio acima Observem como de onde estamos vemos passar as margens de ambos os lados
Engano somos noacutes que passamos Protejam a ca-
beccedila do Sol e meditem sobre a 1047297nitude humana Seraacute ser-
vido um lanche antes de passarmos a faacutebrica de celulose
porque depois ningueacutem conseguiraacute comer Agrave esquerda
uma usina nuclear Vejam os peixes fosforescentes Ve-
jam os banhistas fosforescentes Natildeo ponham a matildeo na
aacutegua se natildeo quiserem perdecirc-la Agrave direita boiando al-
guns mendigos Prisioneiros de matildeos amarradas Vaacuteriosfetos Sapatos Urinoacuteis Pneus Sinais de civilizaccedilatildeo
Uma nota pessoal senhoras e senhores Aquela
casa na margem direita eacute minha inha um coqueiro do
lado que coitado de saudade jaacute morreu e o videoshop
do outro lado claro eacute novo Aquela eacute a minha famiacutelia eaquele menino com aacutegua na cintura abanando para noacutes
sou eu Mas isto tambeacutem jaacute passou Rio acima
O garoto abandonado naquele barco eacute Huckel-
bery Finn Abanem abanem Aquela 1047297gura que acaba
de mergulhar no rio do galho de uma aacutervore eacute arzan
Vejam como um jacareacute se aproxima Os dois se engal1047297-
nham Natildeo se preocupem arzan venceraacute
Na margem direita um lobo e um cordeiro con-
versando Da margem esquerda Joatildeo Guimaratildees Rosacontempla a terceira margem O bebecirc 1047298utuando dentro
da cesta eacute Moiseacutes
Estamos no Rubicatildeo Porcaria pois natildeo Vo-
cecircs notaratildeo que muitos rios histoacutericos natildeo merecem
o nome que tecircm O Danuacutebio veremos mais adiante
natildeo eacute azul O Vermelho eacute marrom O Amarelo eacute cin-
zento O Mekong eacute vermelho de tanto sangue Rio aci-
ma Estamos no acircmisa Agora no Avon Aquele ali na
margem pensativo eacute Shakespeare Vejam no meio dorio rodeada de 1047298ores mantida agrave tona pelas suas vestes
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O texto acima jaacute de iniacutecio permite-nos chamar a
atenccedilatildeo do leitor natildeo soacute pelo complexo e ao mesmo tem-
po sugestivo tour histoacuterico anunciado no primeiro paraacute-
grafo mas tambeacutem pela posiccedilatildeo de Luis Fernando Veriacutes-
simo em seu papel de escritor jornalista (ou jornalista es-
critor) em termos de sua contribuiccedilatildeo a um suporte midi-
aacutetico no caso a Revista VEJA ediccedilatildeo 1073 ano 22 nordm 13
publicada em 29 de marccedilo de 1989 Cabe aqui esclarecer
que as duas setas tipograacute1047297cas foram acrescentadas agrave mar-gem do texto somente para sinalizar os rumos baacutesicos da
leitura que demanda por sua vez uma seacuterie complexa de
atos separados ais atos podem ser associados conforme
Silva (1997) aos seguintes tipos de atividades cognitivas
atividade perceptiva relacionada a uma capacidade
raacutepida e precisa de busca de informaccedilotildees para a identi1047297-
caccedilatildeo do todo
atividade visual-espacial ligada simultaneamente agrave
visatildeo e ao espaccedilo sendo este uacuteltimo associado agrave ideia delugar superfiacutecie e distacircncia
atividade de estruturaccedilatildeo vinculada agrave identi1047297caccedilatildeo
de estruturas de ideias e argumentos a partir da obser-
vaccedilatildeo de segmentos individuais tais como palavras e ex-
pressotildees
atividade loacutegica mediante a identi1047297caccedilatildeo de cone-
xotildees loacutegicas de ideias ou de fatos histoacutericos associados a
seus respectivos contextos
atividade verbal pertinente agrave captaccedilatildeo de uma palavra
precisa capaz de de1047297nir um objeto uma ideia ou uma accedilatildeo
As duas primeiras atividades elencadas acima satildeo
tiacutepicas da leitura exploratoacuteria enquanto as seguintes con-
cernem agrave leitura analiacutetica Voltemos em par leitora uma
mirada empiacuterica pela superfiacutecie do texto de Veriacutessimo
Em termos de estruturaccedilatildeo textual podemos iden-
ti1047297car o 1047298uxo das ideias do autor assim como sua apre-
sentaccedilatildeo de fatos histoacutericos relativamente conhecidos ndash
seja em contextos situacionais proacuteximos ou em contextos
culturais distantes ndash materializado em unidades frasais e
oracionais em sua maioria justapostas com predomiacutenio
de uma coordenaccedilatildeo simples parataacutetica Observa-se o
saber gramatical atrelado agrave criatividade no uso da lingua-
gem cuja magnitude se evidencia na dimensatildeo dialoacutegica
Ressalte-se a intertextualidade marcada pela presenccedila
constante de vozes de outros textos a guiarem pela voz
do autor atitudes de reconhecimento dos interlocutores
ou melhor participantes do ldquotourrdquo tecido com engenho e
arte ainda que bem longe do estilo camonianoPode-se a1047297rmar que antes mesmo de seduzir
o texto impressiona pela tessitura simples e ao mesmo
tempo tatildeo carregada de motivos para a aceitabilidade do
leitor mais criacutetico que existe Observe-se ainda que natildeo
haacute conectores loacutegicos de subordinaccedilatildeo ao longo dos pe-
riacuteodos enxutos que compotildeem cada paraacutegrafo Mas a co-
nectividade conceptual (semacircntica) predomina e garante
a tessitura do texto o que con1047297rma ser a coerecircncia a pro-
priedade mais relevante em um texto Em poucas pala-
vras existem textos sem coesatildeo mas natildeo existem textos
sem coerecircncia propriedade que depende da (re)accedilatildeo do
in1047298adas a doce Ofeacutelia Abanem abanem Eu natildeo dis-
se que este tour tinha de tudo Agora preparem suas
cacircmeras Ai vem na sua barcaccedila imperial Cleoacutepatra
descendo o Nilo Rio acima Estamos no Reno no Poacute
no Yang-tze no Satildeo Francisco no igre no Eufrates
no Volga no Jordatildeo Aquela cena vocecircs certamente vatildeo querer fotografar Joatildeo Batista batizando Jesus
Estamos no Ganges onde os vivos despejam os seus
mortos e depois se lavam O rio eacute sempre o mesmo A
aacutegua que puri1047297ca eacute a mesma que recebe o esgoto aacutecido
A aacutegua que mata a sede eacute a mesma que afoga a que
passa e a que natildeo passa
O rio eacute a Portela Agrave direita Paulinho da Viola
Aquela cabecinha de nadador ali eacute a do Mao
Galhos troncos casas gado canoas viradas
quatro com timatildeo e sem timatildeo ndash e uma faacutebrica inteira
rebocada do Japatildeo
As aacuteguas comeccedilam a 1047297car lodosas As grandes
aacutervores se tocam sobre o rio Estamos no Congo a ca-
minho do coraccedilatildeo das trevas Da fonte obscura de tudo
Mistash Kurtz he dead O cheiro azedo de limo e foacutes-
seis O horror o horror O mar estaacute longe chegamos a
nossa vertente E a origem de tudo natildeo eacute misteacuterio eacute um
buraco no chatildeo Haacute outros rios debaixo destes e eacute para
laacute que vamos um dia Rio abaixo A gorjeta eacute voluntaacuteria
obrigado
VERIacuteSSIMO Luis Fernando
Revista VEJA 29 de marccedilo de 1989
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interlocutor para atribuir sentido(s) a textos como este
A propoacutesito falta-nos mergulhar ainda em algumas das
principais perguntas de quem se debruccedila em uma anaacutelise
criacutetica
Conforme sugere David Carraher (1987 p 127)
a) O que estaacute sendo a1047297rmado
b) Quais as principais questotildees envolvidas
c) O que eacute usado para apoiar as ideias
d) Que informaccedilotildees poderiam ajudar a esclarecer
as questotildees principais
Agraves perguntas destacadas acima pode-se acres-
centar a seguinte qual eacute a ideologia presente no texto em
anaacutelise Em estudo recente (Silva 2012 p 17) pondero
que ldquouma estrutura eacute ideoloacutegica na medida em que podeou natildeo corresponder agrave perspectiva doa produtora ou
doa leitorardquo Considero pertinente evocar aqui as pala-
vras de Guimaratildees (2009 p 108) para quem ldquoa ideologia
de1047297ne-se portanto como expressatildeo de uma tomada de
posiccedilatildeo determinada con1047297gurando-se por isso como
condiccedilatildeo essencial na relaccedilatildeo mundolinguagemrdquo Nessa
perspectiva vale chamar a atenccedilatildeo para o modo com que
as informaccedilotildees satildeo apresentadas ao longo do texto em
questatildeo Ainda que despidas de um estilo argumentativo
as ideias satildeo apresentadas revestidas de uma espeacutecie de
valor ou estatuto de verdade Aleacutem disso satildeo ideias ma-
tizadas por um pendor atitudinal do autor que envolve o
leitor a partir de sua visatildeo criacutetica do mundo
Por outro lado os temas tangenciados ainda que
de maneira literaacuteria ao longo do texto - tais como pro-
blemas de poluiccedilatildeo e agressatildeo respectivamente ao meio
ambiente e ao ser humano - continuam ao lado de toda a
beleza que ainda existe na histoacuteria das aacuteguas quando na-
vegamos rio acima ou abaixo atraveacutes dos tempos Aleacutemdo mais as questotildees enfocadas evocam o que sugere Frei-
re (1981 p 11-12) ldquolinguagem e realidade se prendem de
maneira dinacircmicardquo
Em poucas palavras acabamos de assistir agora
em 2012 o encontro do ldquoRio + Vinterdquo evento que soacute vai
acontecer outra vez daqui a vinte anos Cabe aqui tra-
ccedilar um paralelo do texto examinado com a conferecircncia
das Naccedilotildees Unidas proferida recentemente em prol do
desenvolvimento sustentaacutevel em meio agrave presenccedila de lide-
ranccedilas de inuacutemeras naccedilotildees Resulta que o meio ambien-
te o ecossistema a biodiversidade a chuva aacutecida o uso
de energia suja - bem como a aacutegua que corre por todos
os rios do planeta antes de desembocar nos sete mares -
continuam a ser enfocados como toacutepicos que sinalizam
ora uma bandeira para ativistas ora uma promessa de
agenda de compromissos poliacutetico-econocircmicos diante
dos apelos direcionados aos paiacuteses ricos que natildeo queremrepartir recursos que lhes sobram ainda que tatildeo cientes
de questotildees complexas tais como a pobreza do presente
ou a escassez de aacutegua e de alimento no futuro proacuteximo
6 Consideraccedilotildees 1047297nais
Ao enfatizar a importacircncia do ato de ler Paulo
Freire (1981 p 20) a1047297rma que ldquoa leitura do mundo pre-
cede a leitura da palavra e a leitura desta implica a con-
tinuidade da leitura daquelerdquo E vai mais longe Aleacutem de
esclarecer que a compreensatildeo de um texto eacute alcanccedilada
mediante sua leitura criacutetica atraveacutes da qual se percebem
as relaccedilotildees dentre o texto e o contexto o educador bra-
sileiro reitera sua proposta ao declarar que ldquoa leitura da
palavra natildeo eacute apenas precedida pela leitura do mundo
mas por uma determinada forma de escrevecirc-lo ou de
reescrevecirc-lordquo quer dizer desdobraacute-lo atraveacutes de uma praacute-
tica engajada de leitura
Por outro lado na esteira dos estudos criacuteticos do
discurso comenta Fairclough (2001 p 265) o seguinte
eacute previsiacutevel que cada vez mais haja expectativade que os analistas de discurso e os linguistasfuncionem como tecnoacutelogos do discurso outornem os resultados de suas pesquisas dispo-niacuteveis a eles
Que as re1047298exotildees aqui apresentadas possam signi-
1047297car uma pequena contribuiccedilatildeo em termos de incentivo
para todos aquelesas que trabalham com textos niacuteveis
de leitura signi1047297cados linguiacutestico-discursivos en1047297mcom a linguagem como praacutetica social
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Margens de sentido(s) nas aacuteguas textuais e discursivas
Mas resulta que a linguagem verbal eacute linear no es-
paccedilo (modalidade escrita) e linear no tempo (modalidade
oral) Nessa perspectiva enquanto nas entrelinhas de um
texto escrito encontram-se os espaccedilos em branco pode-
mos sugerir que nas fronteiras de um texto falado encon-
tramos espaccedilos de silecircncio demarcados nas pausas Nasentrelinhas ou nas fronteiras de um texto encontram-se
pois inuacutemeros espaccedilos prontos para serem preenchidos
por aquele leitorouvinte que na condiccedilatildeo de ldquocarteiro-via-
janterdquo estiver disposto a assumir o seu verdadeiro papel de
interlocutor ao navegar rio abaixo (ou rio acima) nas aacuteguas
de sentido(s) de um discurso materializado em texto
Natildeo se trata de uma viagem relaxada jaacute que se haacute
de levar em conta todas as conexotildees possiacuteveis na super-
fiacutecie das aacuteguas textuais que funcionam como pistas refe-
renciais ou como uma espeacutecie de acircncoras inclusive de
natureza semacircntica e pragmaacutetica dispostas nas margens
de sentido(s) de um textodiscurso rata-se de uma bus-
ca de modos de processamento que conduzem a pistas
de um processo (discurso) balizadas agraves margens de um
produto (texto) o que seraacute tratado a seguir
3 Os requisitos da textualidade
Cabe aqui mencionar que essa viagem requer co-nhecimento de uma seacuterie de requisitos que uma manifes-
taccedilatildeo linguiacutestica humana deve possuir para se con1047297gurar
como texto rata-se da denominada lsquotextualidadersquo cate-
goria que na proposta de Halliday amp Hasan (1976) bem
como na de Beaugrande e Dressler (1981) equivale a um
conjunto de propriedades que datildeo lsquotessiturarsquo a qualquer
texto Ao discutir a textualidade a linguista brasileira Eli-
sa Guimaratildees (2009) comenta o seguinte
Obras claacutessicas no campo da Linguiacutestica extu-
al focalizam natildeo o texto (produto) mas a formade enunciaccedilatildeo textual (processo) concebendopois a textualidade como modo de processa-mento e natildeo conjunto de propriedades ineren-tes ao texto reduzido a sua dimensatildeo de produ-
to (GUIMARAtildeES 2009 p 12)
Eacute justamente com enfoque no processamento
que a exemplo de Guimaratildees (2009) inscrevemo-nos na
perspectiva mencionada acima Um texto eacute um evento
comunicativo e ao mesmo tempo um instrumento de
interaccedilatildeo que costuma envolver sete dimensotildees constitu-
tivas coesatildeo coerecircncia intencionalidade aceitabilidade
situacionalidade informatividade e intertextualidade
rata-se de um elenco de princiacutepios ou uma espeacutecie de
normas de boa formaccedilatildeo que um texto deve possuir para
ser considerado como tal (BEAUGRANDE DRESSLER
1981 KOCH RAVAGLIA 1989) Consideremos ainda
que de maneira sucinta os modos de processamento as-
sociados a cada um dos princiacutepios mencionados
coesatildeo ndash dimensatildeo que caracteriza a maneira pela
qual os elementos da superfiacutecie textual (segmentos lin-
guiacutesticos) se conectam mutuamente em uma sequecircncia
coerecircncia ndash dimensatildeo que concerne agrave maneira pela
qual os componentes do mundo textual (palavras e ora-
ccedilotildees conceitos e relaccedilotildees subjacentes agrave estrutura textual)
compotildeem um todo signi1047297cativo com uma situaccedilatildeo de in-
terlocuccedilatildeo mantida pela constacircncia de sentido(s)
intencionalidade ndash designa a propriedade que con-cerne agraves atitudes do locutor qual seja a intenccedilatildeo de que
a mensagem tenha comunicabilidade possa impressionar
e em condiccedilotildees contextuais propiacutecias ateacute mesmo con-
vencer (pela razatildeo) ou persuadir (pela emoccedilatildeo) o inter-
locutor
aceitabilidade ndash concerne agrave atitude de reconheci-
mento do interlocutor mediante a qual uma determinada
con1047297guraccedilatildeo de segmentos linguiacutestico-discursivos pode
ser considerada coesa e coerente
situacionalidade ndash tem a ver com fatores ou nor-
mas sociais que fazem com que um texto seja relevante
para uma determinada situaccedilatildeo o que o torna apropriado
ou adequado
informatividade ndash trata-se do princiacutepio que trans-
parece em que medida as informaccedilotildees veiculadas num
texto satildeo esperadas ou natildeo previsiacuteveis ou imprevisiacuteveis
o que envolve o seguinte paracircmetro quanto maior a pre-
visibilidade de um texto menor seraacute o seu grau de infor-
matividade e vice-versa
intertextualidade ndash caracteriacutestica que pode ser vis-
ta a partir de dois prismas enquanto por um lado tem-
-se a relaccedilatildeo de um texto com outros textos nos quais ele
nasce e para os quais ele aponta por outro lado existe
sempre a possibilidade de o relacionar com suas paraacutefra-
ses jaacute que eacute possiacutevel encontrar num texto um conjunto de
textos possiacuteveis
Ao atuarem juntos esses princiacutepios (ou normas)
favorecem a textualidade De acordo com Guimaratildees
(2009 p 24) ldquoas normas de textualidade mais oacutebvias satildeo a
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coesatildeo que se manifesta na superfiacutecie textual e a coerecircn-
cia que subjaz no interior do textordquo2 Mas cabe aqui regis-
trar o pensamento de Marcuschi (2008 p 122) para quem
ldquoa coerecircncia eacute um aspecto fundante da tex-tualidade e natildeo resultante dela Eacute assim que acoerecircncia estaacute muito mais na mente do leitor e
no ponto de vista do receptor do texto que nointerior das formas textuaisrdquo
Dois aspectos merecem ser destacados ainda
para a compreensatildeo de texto e textualidade Por um lado
as propriedades elencadas anteriormente con1047297rmam que
o texto eacute lugar e representaccedilatildeo fiacutesica da linguagem espa-
ccedilo de interaccedilatildeo horizonte de signi1047297caccedilatildeo e sobretudo de
ldquojogos de sentidosrdquo conforme sugere Eni Orlandi (1996)
Por outro lado um texto em si natildeo passa de uma
virtualidade de uma peccedila com um mecanismo incom-
pleto cuja ativaccedilatildeo depende de um sujeito leitorouvinte
pronto para interagir com o sujeito autorlocutor perfa-
zendo e construindo os diversos caminhos semacircnticos da
linguagem no processo de interpretaccedilatildeo Eacute pois nesse
sentido que se pode reconhecer o texto como um objeto
virtual e a leitura como um caminho semacircntico de atua-
lizaccedilatildeo trilhado por um sujeito-leitor consciente de seu
papel de co-autor de um discurso niacutevel que faz da liacutengua
um contrato social (SILVA 2005)
Em termos de potencialidade pode haver em umtexto diversos niacuteveis de signi1047297cados ou seja aleacutem de um
sentido expliacutecito eacute possiacutevel encontrar-se toda uma gama
de sentidos impliacutecitos ligados agrave intencionalidade de
quem o escreveu Nas palavras de Umberto Eco (1986 p
36) ldquoum texto distingue-se de outros tipos de expressatildeo
por sua maior complexidaderdquo E o motivo dessa comple-
xidade sempre segundo o referido autor eacute justamente o
fato de um texto ser entremeado do ldquonatildeo-ditordquo
4 Niacuteveis de leitura
Assim como existem niacuteveis de signi1047297cados em
um texto existem vaacuterios niacuteveis de leitura ativa dentre os
quais se destacam trecircs a leitura exploratoacuteria a analiacutetica e
a criacutetica (ADLER DOREN 1974) A leitura exploratoacuteria
eacute aquela que se faz de maneira obliacutequa quando se busca
um maacuteximo de informaccedilatildeo num miacutenimo de tempo com
vistas agrave apreensatildeo do teor global de um texto Sua realiza-
2 Grifos da autora citada
ccedilatildeo permite levantar informaccedilotildees que conduzem agrave ideia
central por meio dos seguintes procedimentos raacutepida
leitura do tiacutetulo introduccedilatildeo e conclusatildeo sem perder de
vista a distribuiccedilatildeo graacute1047297ca do texto o nome do autor data
e fonte de publicaccedilatildeo bem como outros segmentos em
destaque Concomitante a esses procedimentos de leitura
inspecional deve-se formular expectativas acerca do con-
teuacutedo mediante a busca de pistas textuais que permitem
aproximar respostas agrave pergunta do que trata o texto como
um todo
Cabe aqui esclarecer que a leitura exploratoacuteria vai
mais aleacutem de um simples mecanismo pertinente agraves deno-
minadas lsquoleituras dinacircmicasrsquo Isto por duas razotildees De um
lado porque se trata de um niacutevel de leitura cujas estrateacute-
gias demandam a interaccedilatildeo deliberada do leitor com as
ideias do autor Nesse sentido o leitor tem oportunidadede comparar as ideias contidas no texto com suas expec-
tativas iniciais De outro lado porque a obtenccedilatildeo de um
maacuteximo de informaccedilotildees em tempo miacutenimo natildeo constitui
um 1047297m em si mesmo mas antes a continuidade de um
processo metacognitivo3 Essa continuidade encontra-se
em consonacircncia com as demais atividades mentais asso-
ciadas aos niacuteveis de leitura subsequentes quais sejam a
leitura analiacutetica e a leitura criacutetica
A leitura analiacutetica envolve um processo de decom-
por um todo em suas partes e sobretudo uma habilidade
mental para identi1047297car a ideia principal de cada unidade
paragraacute1047297ca e suas relaccedilotildees dentro do texto O processo
de anaacutelise de um texto exige a conjugaccedilatildeo das atividades
cognitivas de estruturaccedilatildeo e de loacutegica Enquanto a leitura
exploratoacuteria favorece a compreensatildeo do texto em sua glo-
balidade a leitura analiacutetica permite de modo particular
a apreensatildeo do plano seguido pelo autor Para tanto haacute
que se levar em conta aleacutem das etapas observadas duran-
te a leitura inspecional o seguinte um autor geralmenteinforma explica interpreta discute e prediz Mas pode
tambeacutem impressionar emocionar e ateacute mesmo seduzir
durante o processo de leitura como se poderaacute constatar
mais adiante A operaccedilatildeo de decompor um todo em suas
partes num movimento de descontextualizaccedilatildeo e recon-
textualizaccedilatildeo de ideias perpassa todo o processo de leitu-
3 O termo metacognitivo eacute aqui utilizado no sentido de
controle consciente do conhecimento em oposiccedilatildeo aconhecimento automaacutetico ou inconsciente conforme sugereMary Kato (1987 p 101-102)
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Margens de sentido(s) nas aacuteguas textuais e discursivas
ra analiacutetica como se fosse um mecanismo de radiogra1047297a
Na realidade a identi1047297caccedilatildeo de qualquer estrutura impli-
ca encontrar os elementos concretos que a integram bem
como suas redes de conexatildeo No caso de uma estrutura
textual cuja rede enlaccedila elementos linguiacutesticos e discur-
sivos dispostos respectivamente em termos de conecti-
vidade sequencial e conectividade conceptual detectaacute-la
equivale a abstrair sobretudo os elementos conceptuais
que permitem radiografar semanticamente o texto
A leitura criacutetica eacute um dos niacuteveis de leitura em que
o ato de ler pressupotildee um senso acurado de julgamento
uma capacidade de analisar situaccedilotildees ou aspectos de uma
realidade sem se deixar levar pelas primeiras impressotildees
Um leitor dotado de senso criacutetico eacute aquele que examina
e em condiccedilotildees propiacutecias avalia atentamente o teor de
veracidade de um dado texto antes de aceitar as ideias ali veiculadas rata-se do leitor que eacute capaz de estabelecer
conclusotildees acerca de ideologias subjacentes agrave intenciona-
lidade do autor bem como de se projetar sobre o texto
completando-o a partir de suas experiecircncias de vida e de
sua bagagem cultural
A cada nova leitura criacutetica de um texto estaacute ligada
a perspectiva da descoberta de novos signi1047297cados natildeo de-
tectados nas leituras anteriores principalmente as signi1047297-
caccedilotildees dos subtendidos e pressupostos impliacutecitos ou sejanatildeo manifestados na superfiacutecie linguiacutestica Novas leituras
implicam atitudes conscientes de busca alimentadas pela
curiosidade intelectual do leitor
Sabe-se que um leitor se distingue de outro na me-
dida de sua capacidade de se monitorar e ao mesmo tem-
po de se entregar durante o ato de leitura o que poderaacute
ser experimentado a seguir
5 Um convite para exerciacutecios de leitura(s)Iniciemos a leitura do texto Rio acima que foi
produzido por um conhecido escritor jornalista humo-
rista e cronista brasileiro
Rio acima
odos os rios levam ao misteacuterio Do Aar ao Zwet-
ti Do Orinoco ao Deseado passando pelo Oiapoque e
pelo Chuiacute Do Negro ao Branco Do Madeira ao Pra-
ta Do Grande ao Chico O das Antas o das Velhas o
dos Macacos o das Mortes O rio da Vida senhoras e
senhores Segurem-se ateacute passarmos as pororocas Aqui
o Amazonas recebe as aacuteguas do seu maior a1047298uente o
Atlacircntico Aqui o Nilo muda de Nome e vira Mediter-
racircneo Por essa boca o Mississipi expeliu Cuba Porto
Rico e todas as ilhas das Caraiacutebas Aqui termina o ejo
e comeccedila o mundo uma obra de Camotildees Aqui comeccedila
o nosso tour
Rio acima Observem como de onde estamos vemos passar as margens de ambos os lados
Engano somos noacutes que passamos Protejam a ca-
beccedila do Sol e meditem sobre a 1047297nitude humana Seraacute ser-
vido um lanche antes de passarmos a faacutebrica de celulose
porque depois ningueacutem conseguiraacute comer Agrave esquerda
uma usina nuclear Vejam os peixes fosforescentes Ve-
jam os banhistas fosforescentes Natildeo ponham a matildeo na
aacutegua se natildeo quiserem perdecirc-la Agrave direita boiando al-
guns mendigos Prisioneiros de matildeos amarradas Vaacuteriosfetos Sapatos Urinoacuteis Pneus Sinais de civilizaccedilatildeo
Uma nota pessoal senhoras e senhores Aquela
casa na margem direita eacute minha inha um coqueiro do
lado que coitado de saudade jaacute morreu e o videoshop
do outro lado claro eacute novo Aquela eacute a minha famiacutelia eaquele menino com aacutegua na cintura abanando para noacutes
sou eu Mas isto tambeacutem jaacute passou Rio acima
O garoto abandonado naquele barco eacute Huckel-
bery Finn Abanem abanem Aquela 1047297gura que acaba
de mergulhar no rio do galho de uma aacutervore eacute arzan
Vejam como um jacareacute se aproxima Os dois se engal1047297-
nham Natildeo se preocupem arzan venceraacute
Na margem direita um lobo e um cordeiro con-
versando Da margem esquerda Joatildeo Guimaratildees Rosacontempla a terceira margem O bebecirc 1047298utuando dentro
da cesta eacute Moiseacutes
Estamos no Rubicatildeo Porcaria pois natildeo Vo-
cecircs notaratildeo que muitos rios histoacutericos natildeo merecem
o nome que tecircm O Danuacutebio veremos mais adiante
natildeo eacute azul O Vermelho eacute marrom O Amarelo eacute cin-
zento O Mekong eacute vermelho de tanto sangue Rio aci-
ma Estamos no acircmisa Agora no Avon Aquele ali na
margem pensativo eacute Shakespeare Vejam no meio dorio rodeada de 1047298ores mantida agrave tona pelas suas vestes
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O texto acima jaacute de iniacutecio permite-nos chamar a
atenccedilatildeo do leitor natildeo soacute pelo complexo e ao mesmo tem-
po sugestivo tour histoacuterico anunciado no primeiro paraacute-
grafo mas tambeacutem pela posiccedilatildeo de Luis Fernando Veriacutes-
simo em seu papel de escritor jornalista (ou jornalista es-
critor) em termos de sua contribuiccedilatildeo a um suporte midi-
aacutetico no caso a Revista VEJA ediccedilatildeo 1073 ano 22 nordm 13
publicada em 29 de marccedilo de 1989 Cabe aqui esclarecer
que as duas setas tipograacute1047297cas foram acrescentadas agrave mar-gem do texto somente para sinalizar os rumos baacutesicos da
leitura que demanda por sua vez uma seacuterie complexa de
atos separados ais atos podem ser associados conforme
Silva (1997) aos seguintes tipos de atividades cognitivas
atividade perceptiva relacionada a uma capacidade
raacutepida e precisa de busca de informaccedilotildees para a identi1047297-
caccedilatildeo do todo
atividade visual-espacial ligada simultaneamente agrave
visatildeo e ao espaccedilo sendo este uacuteltimo associado agrave ideia delugar superfiacutecie e distacircncia
atividade de estruturaccedilatildeo vinculada agrave identi1047297caccedilatildeo
de estruturas de ideias e argumentos a partir da obser-
vaccedilatildeo de segmentos individuais tais como palavras e ex-
pressotildees
atividade loacutegica mediante a identi1047297caccedilatildeo de cone-
xotildees loacutegicas de ideias ou de fatos histoacutericos associados a
seus respectivos contextos
atividade verbal pertinente agrave captaccedilatildeo de uma palavra
precisa capaz de de1047297nir um objeto uma ideia ou uma accedilatildeo
As duas primeiras atividades elencadas acima satildeo
tiacutepicas da leitura exploratoacuteria enquanto as seguintes con-
cernem agrave leitura analiacutetica Voltemos em par leitora uma
mirada empiacuterica pela superfiacutecie do texto de Veriacutessimo
Em termos de estruturaccedilatildeo textual podemos iden-
ti1047297car o 1047298uxo das ideias do autor assim como sua apre-
sentaccedilatildeo de fatos histoacutericos relativamente conhecidos ndash
seja em contextos situacionais proacuteximos ou em contextos
culturais distantes ndash materializado em unidades frasais e
oracionais em sua maioria justapostas com predomiacutenio
de uma coordenaccedilatildeo simples parataacutetica Observa-se o
saber gramatical atrelado agrave criatividade no uso da lingua-
gem cuja magnitude se evidencia na dimensatildeo dialoacutegica
Ressalte-se a intertextualidade marcada pela presenccedila
constante de vozes de outros textos a guiarem pela voz
do autor atitudes de reconhecimento dos interlocutores
ou melhor participantes do ldquotourrdquo tecido com engenho e
arte ainda que bem longe do estilo camonianoPode-se a1047297rmar que antes mesmo de seduzir
o texto impressiona pela tessitura simples e ao mesmo
tempo tatildeo carregada de motivos para a aceitabilidade do
leitor mais criacutetico que existe Observe-se ainda que natildeo
haacute conectores loacutegicos de subordinaccedilatildeo ao longo dos pe-
riacuteodos enxutos que compotildeem cada paraacutegrafo Mas a co-
nectividade conceptual (semacircntica) predomina e garante
a tessitura do texto o que con1047297rma ser a coerecircncia a pro-
priedade mais relevante em um texto Em poucas pala-
vras existem textos sem coesatildeo mas natildeo existem textos
sem coerecircncia propriedade que depende da (re)accedilatildeo do
in1047298adas a doce Ofeacutelia Abanem abanem Eu natildeo dis-
se que este tour tinha de tudo Agora preparem suas
cacircmeras Ai vem na sua barcaccedila imperial Cleoacutepatra
descendo o Nilo Rio acima Estamos no Reno no Poacute
no Yang-tze no Satildeo Francisco no igre no Eufrates
no Volga no Jordatildeo Aquela cena vocecircs certamente vatildeo querer fotografar Joatildeo Batista batizando Jesus
Estamos no Ganges onde os vivos despejam os seus
mortos e depois se lavam O rio eacute sempre o mesmo A
aacutegua que puri1047297ca eacute a mesma que recebe o esgoto aacutecido
A aacutegua que mata a sede eacute a mesma que afoga a que
passa e a que natildeo passa
O rio eacute a Portela Agrave direita Paulinho da Viola
Aquela cabecinha de nadador ali eacute a do Mao
Galhos troncos casas gado canoas viradas
quatro com timatildeo e sem timatildeo ndash e uma faacutebrica inteira
rebocada do Japatildeo
As aacuteguas comeccedilam a 1047297car lodosas As grandes
aacutervores se tocam sobre o rio Estamos no Congo a ca-
minho do coraccedilatildeo das trevas Da fonte obscura de tudo
Mistash Kurtz he dead O cheiro azedo de limo e foacutes-
seis O horror o horror O mar estaacute longe chegamos a
nossa vertente E a origem de tudo natildeo eacute misteacuterio eacute um
buraco no chatildeo Haacute outros rios debaixo destes e eacute para
laacute que vamos um dia Rio abaixo A gorjeta eacute voluntaacuteria
obrigado
VERIacuteSSIMO Luis Fernando
Revista VEJA 29 de marccedilo de 1989
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interlocutor para atribuir sentido(s) a textos como este
A propoacutesito falta-nos mergulhar ainda em algumas das
principais perguntas de quem se debruccedila em uma anaacutelise
criacutetica
Conforme sugere David Carraher (1987 p 127)
a) O que estaacute sendo a1047297rmado
b) Quais as principais questotildees envolvidas
c) O que eacute usado para apoiar as ideias
d) Que informaccedilotildees poderiam ajudar a esclarecer
as questotildees principais
Agraves perguntas destacadas acima pode-se acres-
centar a seguinte qual eacute a ideologia presente no texto em
anaacutelise Em estudo recente (Silva 2012 p 17) pondero
que ldquouma estrutura eacute ideoloacutegica na medida em que podeou natildeo corresponder agrave perspectiva doa produtora ou
doa leitorardquo Considero pertinente evocar aqui as pala-
vras de Guimaratildees (2009 p 108) para quem ldquoa ideologia
de1047297ne-se portanto como expressatildeo de uma tomada de
posiccedilatildeo determinada con1047297gurando-se por isso como
condiccedilatildeo essencial na relaccedilatildeo mundolinguagemrdquo Nessa
perspectiva vale chamar a atenccedilatildeo para o modo com que
as informaccedilotildees satildeo apresentadas ao longo do texto em
questatildeo Ainda que despidas de um estilo argumentativo
as ideias satildeo apresentadas revestidas de uma espeacutecie de
valor ou estatuto de verdade Aleacutem disso satildeo ideias ma-
tizadas por um pendor atitudinal do autor que envolve o
leitor a partir de sua visatildeo criacutetica do mundo
Por outro lado os temas tangenciados ainda que
de maneira literaacuteria ao longo do texto - tais como pro-
blemas de poluiccedilatildeo e agressatildeo respectivamente ao meio
ambiente e ao ser humano - continuam ao lado de toda a
beleza que ainda existe na histoacuteria das aacuteguas quando na-
vegamos rio acima ou abaixo atraveacutes dos tempos Aleacutemdo mais as questotildees enfocadas evocam o que sugere Frei-
re (1981 p 11-12) ldquolinguagem e realidade se prendem de
maneira dinacircmicardquo
Em poucas palavras acabamos de assistir agora
em 2012 o encontro do ldquoRio + Vinterdquo evento que soacute vai
acontecer outra vez daqui a vinte anos Cabe aqui tra-
ccedilar um paralelo do texto examinado com a conferecircncia
das Naccedilotildees Unidas proferida recentemente em prol do
desenvolvimento sustentaacutevel em meio agrave presenccedila de lide-
ranccedilas de inuacutemeras naccedilotildees Resulta que o meio ambien-
te o ecossistema a biodiversidade a chuva aacutecida o uso
de energia suja - bem como a aacutegua que corre por todos
os rios do planeta antes de desembocar nos sete mares -
continuam a ser enfocados como toacutepicos que sinalizam
ora uma bandeira para ativistas ora uma promessa de
agenda de compromissos poliacutetico-econocircmicos diante
dos apelos direcionados aos paiacuteses ricos que natildeo queremrepartir recursos que lhes sobram ainda que tatildeo cientes
de questotildees complexas tais como a pobreza do presente
ou a escassez de aacutegua e de alimento no futuro proacuteximo
6 Consideraccedilotildees 1047297nais
Ao enfatizar a importacircncia do ato de ler Paulo
Freire (1981 p 20) a1047297rma que ldquoa leitura do mundo pre-
cede a leitura da palavra e a leitura desta implica a con-
tinuidade da leitura daquelerdquo E vai mais longe Aleacutem de
esclarecer que a compreensatildeo de um texto eacute alcanccedilada
mediante sua leitura criacutetica atraveacutes da qual se percebem
as relaccedilotildees dentre o texto e o contexto o educador bra-
sileiro reitera sua proposta ao declarar que ldquoa leitura da
palavra natildeo eacute apenas precedida pela leitura do mundo
mas por uma determinada forma de escrevecirc-lo ou de
reescrevecirc-lordquo quer dizer desdobraacute-lo atraveacutes de uma praacute-
tica engajada de leitura
Por outro lado na esteira dos estudos criacuteticos do
discurso comenta Fairclough (2001 p 265) o seguinte
eacute previsiacutevel que cada vez mais haja expectativade que os analistas de discurso e os linguistasfuncionem como tecnoacutelogos do discurso outornem os resultados de suas pesquisas dispo-niacuteveis a eles
Que as re1047298exotildees aqui apresentadas possam signi-
1047297car uma pequena contribuiccedilatildeo em termos de incentivo
para todos aquelesas que trabalham com textos niacuteveis
de leitura signi1047297cados linguiacutestico-discursivos en1047297mcom a linguagem como praacutetica social
Referecircncias
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243 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwrevistaeutomiacombrgt Acesso em 11 dez 2012
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coesatildeo que se manifesta na superfiacutecie textual e a coerecircn-
cia que subjaz no interior do textordquo2 Mas cabe aqui regis-
trar o pensamento de Marcuschi (2008 p 122) para quem
ldquoa coerecircncia eacute um aspecto fundante da tex-tualidade e natildeo resultante dela Eacute assim que acoerecircncia estaacute muito mais na mente do leitor e
no ponto de vista do receptor do texto que nointerior das formas textuaisrdquo
Dois aspectos merecem ser destacados ainda
para a compreensatildeo de texto e textualidade Por um lado
as propriedades elencadas anteriormente con1047297rmam que
o texto eacute lugar e representaccedilatildeo fiacutesica da linguagem espa-
ccedilo de interaccedilatildeo horizonte de signi1047297caccedilatildeo e sobretudo de
ldquojogos de sentidosrdquo conforme sugere Eni Orlandi (1996)
Por outro lado um texto em si natildeo passa de uma
virtualidade de uma peccedila com um mecanismo incom-
pleto cuja ativaccedilatildeo depende de um sujeito leitorouvinte
pronto para interagir com o sujeito autorlocutor perfa-
zendo e construindo os diversos caminhos semacircnticos da
linguagem no processo de interpretaccedilatildeo Eacute pois nesse
sentido que se pode reconhecer o texto como um objeto
virtual e a leitura como um caminho semacircntico de atua-
lizaccedilatildeo trilhado por um sujeito-leitor consciente de seu
papel de co-autor de um discurso niacutevel que faz da liacutengua
um contrato social (SILVA 2005)
Em termos de potencialidade pode haver em umtexto diversos niacuteveis de signi1047297cados ou seja aleacutem de um
sentido expliacutecito eacute possiacutevel encontrar-se toda uma gama
de sentidos impliacutecitos ligados agrave intencionalidade de
quem o escreveu Nas palavras de Umberto Eco (1986 p
36) ldquoum texto distingue-se de outros tipos de expressatildeo
por sua maior complexidaderdquo E o motivo dessa comple-
xidade sempre segundo o referido autor eacute justamente o
fato de um texto ser entremeado do ldquonatildeo-ditordquo
4 Niacuteveis de leitura
Assim como existem niacuteveis de signi1047297cados em
um texto existem vaacuterios niacuteveis de leitura ativa dentre os
quais se destacam trecircs a leitura exploratoacuteria a analiacutetica e
a criacutetica (ADLER DOREN 1974) A leitura exploratoacuteria
eacute aquela que se faz de maneira obliacutequa quando se busca
um maacuteximo de informaccedilatildeo num miacutenimo de tempo com
vistas agrave apreensatildeo do teor global de um texto Sua realiza-
2 Grifos da autora citada
ccedilatildeo permite levantar informaccedilotildees que conduzem agrave ideia
central por meio dos seguintes procedimentos raacutepida
leitura do tiacutetulo introduccedilatildeo e conclusatildeo sem perder de
vista a distribuiccedilatildeo graacute1047297ca do texto o nome do autor data
e fonte de publicaccedilatildeo bem como outros segmentos em
destaque Concomitante a esses procedimentos de leitura
inspecional deve-se formular expectativas acerca do con-
teuacutedo mediante a busca de pistas textuais que permitem
aproximar respostas agrave pergunta do que trata o texto como
um todo
Cabe aqui esclarecer que a leitura exploratoacuteria vai
mais aleacutem de um simples mecanismo pertinente agraves deno-
minadas lsquoleituras dinacircmicasrsquo Isto por duas razotildees De um
lado porque se trata de um niacutevel de leitura cujas estrateacute-
gias demandam a interaccedilatildeo deliberada do leitor com as
ideias do autor Nesse sentido o leitor tem oportunidadede comparar as ideias contidas no texto com suas expec-
tativas iniciais De outro lado porque a obtenccedilatildeo de um
maacuteximo de informaccedilotildees em tempo miacutenimo natildeo constitui
um 1047297m em si mesmo mas antes a continuidade de um
processo metacognitivo3 Essa continuidade encontra-se
em consonacircncia com as demais atividades mentais asso-
ciadas aos niacuteveis de leitura subsequentes quais sejam a
leitura analiacutetica e a leitura criacutetica
A leitura analiacutetica envolve um processo de decom-
por um todo em suas partes e sobretudo uma habilidade
mental para identi1047297car a ideia principal de cada unidade
paragraacute1047297ca e suas relaccedilotildees dentro do texto O processo
de anaacutelise de um texto exige a conjugaccedilatildeo das atividades
cognitivas de estruturaccedilatildeo e de loacutegica Enquanto a leitura
exploratoacuteria favorece a compreensatildeo do texto em sua glo-
balidade a leitura analiacutetica permite de modo particular
a apreensatildeo do plano seguido pelo autor Para tanto haacute
que se levar em conta aleacutem das etapas observadas duran-
te a leitura inspecional o seguinte um autor geralmenteinforma explica interpreta discute e prediz Mas pode
tambeacutem impressionar emocionar e ateacute mesmo seduzir
durante o processo de leitura como se poderaacute constatar
mais adiante A operaccedilatildeo de decompor um todo em suas
partes num movimento de descontextualizaccedilatildeo e recon-
textualizaccedilatildeo de ideias perpassa todo o processo de leitu-
3 O termo metacognitivo eacute aqui utilizado no sentido de
controle consciente do conhecimento em oposiccedilatildeo aconhecimento automaacutetico ou inconsciente conforme sugereMary Kato (1987 p 101-102)
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ra analiacutetica como se fosse um mecanismo de radiogra1047297a
Na realidade a identi1047297caccedilatildeo de qualquer estrutura impli-
ca encontrar os elementos concretos que a integram bem
como suas redes de conexatildeo No caso de uma estrutura
textual cuja rede enlaccedila elementos linguiacutesticos e discur-
sivos dispostos respectivamente em termos de conecti-
vidade sequencial e conectividade conceptual detectaacute-la
equivale a abstrair sobretudo os elementos conceptuais
que permitem radiografar semanticamente o texto
A leitura criacutetica eacute um dos niacuteveis de leitura em que
o ato de ler pressupotildee um senso acurado de julgamento
uma capacidade de analisar situaccedilotildees ou aspectos de uma
realidade sem se deixar levar pelas primeiras impressotildees
Um leitor dotado de senso criacutetico eacute aquele que examina
e em condiccedilotildees propiacutecias avalia atentamente o teor de
veracidade de um dado texto antes de aceitar as ideias ali veiculadas rata-se do leitor que eacute capaz de estabelecer
conclusotildees acerca de ideologias subjacentes agrave intenciona-
lidade do autor bem como de se projetar sobre o texto
completando-o a partir de suas experiecircncias de vida e de
sua bagagem cultural
A cada nova leitura criacutetica de um texto estaacute ligada
a perspectiva da descoberta de novos signi1047297cados natildeo de-
tectados nas leituras anteriores principalmente as signi1047297-
caccedilotildees dos subtendidos e pressupostos impliacutecitos ou sejanatildeo manifestados na superfiacutecie linguiacutestica Novas leituras
implicam atitudes conscientes de busca alimentadas pela
curiosidade intelectual do leitor
Sabe-se que um leitor se distingue de outro na me-
dida de sua capacidade de se monitorar e ao mesmo tem-
po de se entregar durante o ato de leitura o que poderaacute
ser experimentado a seguir
5 Um convite para exerciacutecios de leitura(s)Iniciemos a leitura do texto Rio acima que foi
produzido por um conhecido escritor jornalista humo-
rista e cronista brasileiro
Rio acima
odos os rios levam ao misteacuterio Do Aar ao Zwet-
ti Do Orinoco ao Deseado passando pelo Oiapoque e
pelo Chuiacute Do Negro ao Branco Do Madeira ao Pra-
ta Do Grande ao Chico O das Antas o das Velhas o
dos Macacos o das Mortes O rio da Vida senhoras e
senhores Segurem-se ateacute passarmos as pororocas Aqui
o Amazonas recebe as aacuteguas do seu maior a1047298uente o
Atlacircntico Aqui o Nilo muda de Nome e vira Mediter-
racircneo Por essa boca o Mississipi expeliu Cuba Porto
Rico e todas as ilhas das Caraiacutebas Aqui termina o ejo
e comeccedila o mundo uma obra de Camotildees Aqui comeccedila
o nosso tour
Rio acima Observem como de onde estamos vemos passar as margens de ambos os lados
Engano somos noacutes que passamos Protejam a ca-
beccedila do Sol e meditem sobre a 1047297nitude humana Seraacute ser-
vido um lanche antes de passarmos a faacutebrica de celulose
porque depois ningueacutem conseguiraacute comer Agrave esquerda
uma usina nuclear Vejam os peixes fosforescentes Ve-
jam os banhistas fosforescentes Natildeo ponham a matildeo na
aacutegua se natildeo quiserem perdecirc-la Agrave direita boiando al-
guns mendigos Prisioneiros de matildeos amarradas Vaacuteriosfetos Sapatos Urinoacuteis Pneus Sinais de civilizaccedilatildeo
Uma nota pessoal senhoras e senhores Aquela
casa na margem direita eacute minha inha um coqueiro do
lado que coitado de saudade jaacute morreu e o videoshop
do outro lado claro eacute novo Aquela eacute a minha famiacutelia eaquele menino com aacutegua na cintura abanando para noacutes
sou eu Mas isto tambeacutem jaacute passou Rio acima
O garoto abandonado naquele barco eacute Huckel-
bery Finn Abanem abanem Aquela 1047297gura que acaba
de mergulhar no rio do galho de uma aacutervore eacute arzan
Vejam como um jacareacute se aproxima Os dois se engal1047297-
nham Natildeo se preocupem arzan venceraacute
Na margem direita um lobo e um cordeiro con-
versando Da margem esquerda Joatildeo Guimaratildees Rosacontempla a terceira margem O bebecirc 1047298utuando dentro
da cesta eacute Moiseacutes
Estamos no Rubicatildeo Porcaria pois natildeo Vo-
cecircs notaratildeo que muitos rios histoacutericos natildeo merecem
o nome que tecircm O Danuacutebio veremos mais adiante
natildeo eacute azul O Vermelho eacute marrom O Amarelo eacute cin-
zento O Mekong eacute vermelho de tanto sangue Rio aci-
ma Estamos no acircmisa Agora no Avon Aquele ali na
margem pensativo eacute Shakespeare Vejam no meio dorio rodeada de 1047298ores mantida agrave tona pelas suas vestes
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O texto acima jaacute de iniacutecio permite-nos chamar a
atenccedilatildeo do leitor natildeo soacute pelo complexo e ao mesmo tem-
po sugestivo tour histoacuterico anunciado no primeiro paraacute-
grafo mas tambeacutem pela posiccedilatildeo de Luis Fernando Veriacutes-
simo em seu papel de escritor jornalista (ou jornalista es-
critor) em termos de sua contribuiccedilatildeo a um suporte midi-
aacutetico no caso a Revista VEJA ediccedilatildeo 1073 ano 22 nordm 13
publicada em 29 de marccedilo de 1989 Cabe aqui esclarecer
que as duas setas tipograacute1047297cas foram acrescentadas agrave mar-gem do texto somente para sinalizar os rumos baacutesicos da
leitura que demanda por sua vez uma seacuterie complexa de
atos separados ais atos podem ser associados conforme
Silva (1997) aos seguintes tipos de atividades cognitivas
atividade perceptiva relacionada a uma capacidade
raacutepida e precisa de busca de informaccedilotildees para a identi1047297-
caccedilatildeo do todo
atividade visual-espacial ligada simultaneamente agrave
visatildeo e ao espaccedilo sendo este uacuteltimo associado agrave ideia delugar superfiacutecie e distacircncia
atividade de estruturaccedilatildeo vinculada agrave identi1047297caccedilatildeo
de estruturas de ideias e argumentos a partir da obser-
vaccedilatildeo de segmentos individuais tais como palavras e ex-
pressotildees
atividade loacutegica mediante a identi1047297caccedilatildeo de cone-
xotildees loacutegicas de ideias ou de fatos histoacutericos associados a
seus respectivos contextos
atividade verbal pertinente agrave captaccedilatildeo de uma palavra
precisa capaz de de1047297nir um objeto uma ideia ou uma accedilatildeo
As duas primeiras atividades elencadas acima satildeo
tiacutepicas da leitura exploratoacuteria enquanto as seguintes con-
cernem agrave leitura analiacutetica Voltemos em par leitora uma
mirada empiacuterica pela superfiacutecie do texto de Veriacutessimo
Em termos de estruturaccedilatildeo textual podemos iden-
ti1047297car o 1047298uxo das ideias do autor assim como sua apre-
sentaccedilatildeo de fatos histoacutericos relativamente conhecidos ndash
seja em contextos situacionais proacuteximos ou em contextos
culturais distantes ndash materializado em unidades frasais e
oracionais em sua maioria justapostas com predomiacutenio
de uma coordenaccedilatildeo simples parataacutetica Observa-se o
saber gramatical atrelado agrave criatividade no uso da lingua-
gem cuja magnitude se evidencia na dimensatildeo dialoacutegica
Ressalte-se a intertextualidade marcada pela presenccedila
constante de vozes de outros textos a guiarem pela voz
do autor atitudes de reconhecimento dos interlocutores
ou melhor participantes do ldquotourrdquo tecido com engenho e
arte ainda que bem longe do estilo camonianoPode-se a1047297rmar que antes mesmo de seduzir
o texto impressiona pela tessitura simples e ao mesmo
tempo tatildeo carregada de motivos para a aceitabilidade do
leitor mais criacutetico que existe Observe-se ainda que natildeo
haacute conectores loacutegicos de subordinaccedilatildeo ao longo dos pe-
riacuteodos enxutos que compotildeem cada paraacutegrafo Mas a co-
nectividade conceptual (semacircntica) predomina e garante
a tessitura do texto o que con1047297rma ser a coerecircncia a pro-
priedade mais relevante em um texto Em poucas pala-
vras existem textos sem coesatildeo mas natildeo existem textos
sem coerecircncia propriedade que depende da (re)accedilatildeo do
in1047298adas a doce Ofeacutelia Abanem abanem Eu natildeo dis-
se que este tour tinha de tudo Agora preparem suas
cacircmeras Ai vem na sua barcaccedila imperial Cleoacutepatra
descendo o Nilo Rio acima Estamos no Reno no Poacute
no Yang-tze no Satildeo Francisco no igre no Eufrates
no Volga no Jordatildeo Aquela cena vocecircs certamente vatildeo querer fotografar Joatildeo Batista batizando Jesus
Estamos no Ganges onde os vivos despejam os seus
mortos e depois se lavam O rio eacute sempre o mesmo A
aacutegua que puri1047297ca eacute a mesma que recebe o esgoto aacutecido
A aacutegua que mata a sede eacute a mesma que afoga a que
passa e a que natildeo passa
O rio eacute a Portela Agrave direita Paulinho da Viola
Aquela cabecinha de nadador ali eacute a do Mao
Galhos troncos casas gado canoas viradas
quatro com timatildeo e sem timatildeo ndash e uma faacutebrica inteira
rebocada do Japatildeo
As aacuteguas comeccedilam a 1047297car lodosas As grandes
aacutervores se tocam sobre o rio Estamos no Congo a ca-
minho do coraccedilatildeo das trevas Da fonte obscura de tudo
Mistash Kurtz he dead O cheiro azedo de limo e foacutes-
seis O horror o horror O mar estaacute longe chegamos a
nossa vertente E a origem de tudo natildeo eacute misteacuterio eacute um
buraco no chatildeo Haacute outros rios debaixo destes e eacute para
laacute que vamos um dia Rio abaixo A gorjeta eacute voluntaacuteria
obrigado
VERIacuteSSIMO Luis Fernando
Revista VEJA 29 de marccedilo de 1989
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Margens de sentido(s) nas aacuteguas textuais e discursivas
interlocutor para atribuir sentido(s) a textos como este
A propoacutesito falta-nos mergulhar ainda em algumas das
principais perguntas de quem se debruccedila em uma anaacutelise
criacutetica
Conforme sugere David Carraher (1987 p 127)
a) O que estaacute sendo a1047297rmado
b) Quais as principais questotildees envolvidas
c) O que eacute usado para apoiar as ideias
d) Que informaccedilotildees poderiam ajudar a esclarecer
as questotildees principais
Agraves perguntas destacadas acima pode-se acres-
centar a seguinte qual eacute a ideologia presente no texto em
anaacutelise Em estudo recente (Silva 2012 p 17) pondero
que ldquouma estrutura eacute ideoloacutegica na medida em que podeou natildeo corresponder agrave perspectiva doa produtora ou
doa leitorardquo Considero pertinente evocar aqui as pala-
vras de Guimaratildees (2009 p 108) para quem ldquoa ideologia
de1047297ne-se portanto como expressatildeo de uma tomada de
posiccedilatildeo determinada con1047297gurando-se por isso como
condiccedilatildeo essencial na relaccedilatildeo mundolinguagemrdquo Nessa
perspectiva vale chamar a atenccedilatildeo para o modo com que
as informaccedilotildees satildeo apresentadas ao longo do texto em
questatildeo Ainda que despidas de um estilo argumentativo
as ideias satildeo apresentadas revestidas de uma espeacutecie de
valor ou estatuto de verdade Aleacutem disso satildeo ideias ma-
tizadas por um pendor atitudinal do autor que envolve o
leitor a partir de sua visatildeo criacutetica do mundo
Por outro lado os temas tangenciados ainda que
de maneira literaacuteria ao longo do texto - tais como pro-
blemas de poluiccedilatildeo e agressatildeo respectivamente ao meio
ambiente e ao ser humano - continuam ao lado de toda a
beleza que ainda existe na histoacuteria das aacuteguas quando na-
vegamos rio acima ou abaixo atraveacutes dos tempos Aleacutemdo mais as questotildees enfocadas evocam o que sugere Frei-
re (1981 p 11-12) ldquolinguagem e realidade se prendem de
maneira dinacircmicardquo
Em poucas palavras acabamos de assistir agora
em 2012 o encontro do ldquoRio + Vinterdquo evento que soacute vai
acontecer outra vez daqui a vinte anos Cabe aqui tra-
ccedilar um paralelo do texto examinado com a conferecircncia
das Naccedilotildees Unidas proferida recentemente em prol do
desenvolvimento sustentaacutevel em meio agrave presenccedila de lide-
ranccedilas de inuacutemeras naccedilotildees Resulta que o meio ambien-
te o ecossistema a biodiversidade a chuva aacutecida o uso
de energia suja - bem como a aacutegua que corre por todos
os rios do planeta antes de desembocar nos sete mares -
continuam a ser enfocados como toacutepicos que sinalizam
ora uma bandeira para ativistas ora uma promessa de
agenda de compromissos poliacutetico-econocircmicos diante
dos apelos direcionados aos paiacuteses ricos que natildeo queremrepartir recursos que lhes sobram ainda que tatildeo cientes
de questotildees complexas tais como a pobreza do presente
ou a escassez de aacutegua e de alimento no futuro proacuteximo
6 Consideraccedilotildees 1047297nais
Ao enfatizar a importacircncia do ato de ler Paulo
Freire (1981 p 20) a1047297rma que ldquoa leitura do mundo pre-
cede a leitura da palavra e a leitura desta implica a con-
tinuidade da leitura daquelerdquo E vai mais longe Aleacutem de
esclarecer que a compreensatildeo de um texto eacute alcanccedilada
mediante sua leitura criacutetica atraveacutes da qual se percebem
as relaccedilotildees dentre o texto e o contexto o educador bra-
sileiro reitera sua proposta ao declarar que ldquoa leitura da
palavra natildeo eacute apenas precedida pela leitura do mundo
mas por uma determinada forma de escrevecirc-lo ou de
reescrevecirc-lordquo quer dizer desdobraacute-lo atraveacutes de uma praacute-
tica engajada de leitura
Por outro lado na esteira dos estudos criacuteticos do
discurso comenta Fairclough (2001 p 265) o seguinte
eacute previsiacutevel que cada vez mais haja expectativade que os analistas de discurso e os linguistasfuncionem como tecnoacutelogos do discurso outornem os resultados de suas pesquisas dispo-niacuteveis a eles
Que as re1047298exotildees aqui apresentadas possam signi-
1047297car uma pequena contribuiccedilatildeo em termos de incentivo
para todos aquelesas que trabalham com textos niacuteveis
de leitura signi1047297cados linguiacutestico-discursivos en1047297mcom a linguagem como praacutetica social
Referecircncias
ADLER M DOREN C van A arte de ler raduccedilatildeo JoseacuteL de Melo Rio de Janeiro Agir 1974
BEAUGRANDE R DRESSLER W Introduction to text
linguistics London Longman 1981
CARRAHER D Senso criacutetico do dia-a dia agraves ciecircnciashumanas Satildeo Paulo Pioneira 1983
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ECO H Lector in fabula Satildeo Paulo Perspectiva 1986
FAIRCLOUGH N Discurso e mudanccedila social BrasiacuteliaEditora da UnB 2001
FREIRE P A importacircncia do ato de ler Satildeo Paulo Cortez1989
GUIMARAtildeES E Texto discurso e ensino Satildeo PauloContexto 2009
HALLIDAY M A K HASAN R Cohesion in Englishenglish language London Longman 1976
KAO M No mundo da escrita uma perspectivapsicolinguiacutestica Satildeo Paulo Aacutetica 1987
KOCH IV RAVAGLIA LC Texto e coerecircncia SatildeoPaulo Cortez 1989
KOCH IV Desvendando os segredos do texto Satildeo PauloCortez 2002
KOCH IV O texto e a construccedilatildeo de sentidos Satildeo PauloContexto 1997
LEVY P O que eacute virtual raduccedilatildeo P Neves Satildeo PauloEditora 34 1996
MARCUSCHI LA Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros ecompreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008
ORLANDI E Interpretaccedilatildeo autoria leitura e efeitos dotrabalho simboacutelico Petroacutepolis Vozes 1996
RICOEUR P Preface In REAGAN C (Ed) Studiesin the Philosofy of Paul Ricoeur Athens Ohio OhioUniversity Press 1984
SILVA DEG Da leitura do mundo agrave leitura da palavra In VI Simpoacutesio de Liacutengua e Literatura do UniCEUB - leituradiscurso literatura e educaccedilatildeo Brasiacutelia UniCEUB 2008
SILVA DEG Discurso e gramaacutetica motivaccedilotildeescognitivas e interacionais In SILVA DEG (Org) Nasinstacircncias do discurso uma permeabilidade de fronteirasBrasiacutelia Editora da UnB 2005
SILVA DEG Estudos criacuteticos do discurso no contextobrasileiro por uma rede de transdisciplinaridade Revistaonline de Literatura e Linguiacutestica Recife ano 5 n 9 p 224-
243 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwrevistaeutomiacombrgt Acesso em 11 dez 2012
SILVA DEG Produccedilatildeo de leitura texto e textualidadecurso de extensatildeo In IV Foacuterum Permanente de Professores Brasiacutelia Universidade de BrasiacuteliaCESPE 1997
VERIacuteSSIMO Luiacutes Fernando Rio acima Revista Veja SatildeoPaulo ano 22 n 13 p 53 29 mar 1989
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Margens de sentido(s) nas aacuteguas textuais e discursivas
ra analiacutetica como se fosse um mecanismo de radiogra1047297a
Na realidade a identi1047297caccedilatildeo de qualquer estrutura impli-
ca encontrar os elementos concretos que a integram bem
como suas redes de conexatildeo No caso de uma estrutura
textual cuja rede enlaccedila elementos linguiacutesticos e discur-
sivos dispostos respectivamente em termos de conecti-
vidade sequencial e conectividade conceptual detectaacute-la
equivale a abstrair sobretudo os elementos conceptuais
que permitem radiografar semanticamente o texto
A leitura criacutetica eacute um dos niacuteveis de leitura em que
o ato de ler pressupotildee um senso acurado de julgamento
uma capacidade de analisar situaccedilotildees ou aspectos de uma
realidade sem se deixar levar pelas primeiras impressotildees
Um leitor dotado de senso criacutetico eacute aquele que examina
e em condiccedilotildees propiacutecias avalia atentamente o teor de
veracidade de um dado texto antes de aceitar as ideias ali veiculadas rata-se do leitor que eacute capaz de estabelecer
conclusotildees acerca de ideologias subjacentes agrave intenciona-
lidade do autor bem como de se projetar sobre o texto
completando-o a partir de suas experiecircncias de vida e de
sua bagagem cultural
A cada nova leitura criacutetica de um texto estaacute ligada
a perspectiva da descoberta de novos signi1047297cados natildeo de-
tectados nas leituras anteriores principalmente as signi1047297-
caccedilotildees dos subtendidos e pressupostos impliacutecitos ou sejanatildeo manifestados na superfiacutecie linguiacutestica Novas leituras
implicam atitudes conscientes de busca alimentadas pela
curiosidade intelectual do leitor
Sabe-se que um leitor se distingue de outro na me-
dida de sua capacidade de se monitorar e ao mesmo tem-
po de se entregar durante o ato de leitura o que poderaacute
ser experimentado a seguir
5 Um convite para exerciacutecios de leitura(s)Iniciemos a leitura do texto Rio acima que foi
produzido por um conhecido escritor jornalista humo-
rista e cronista brasileiro
Rio acima
odos os rios levam ao misteacuterio Do Aar ao Zwet-
ti Do Orinoco ao Deseado passando pelo Oiapoque e
pelo Chuiacute Do Negro ao Branco Do Madeira ao Pra-
ta Do Grande ao Chico O das Antas o das Velhas o
dos Macacos o das Mortes O rio da Vida senhoras e
senhores Segurem-se ateacute passarmos as pororocas Aqui
o Amazonas recebe as aacuteguas do seu maior a1047298uente o
Atlacircntico Aqui o Nilo muda de Nome e vira Mediter-
racircneo Por essa boca o Mississipi expeliu Cuba Porto
Rico e todas as ilhas das Caraiacutebas Aqui termina o ejo
e comeccedila o mundo uma obra de Camotildees Aqui comeccedila
o nosso tour
Rio acima Observem como de onde estamos vemos passar as margens de ambos os lados
Engano somos noacutes que passamos Protejam a ca-
beccedila do Sol e meditem sobre a 1047297nitude humana Seraacute ser-
vido um lanche antes de passarmos a faacutebrica de celulose
porque depois ningueacutem conseguiraacute comer Agrave esquerda
uma usina nuclear Vejam os peixes fosforescentes Ve-
jam os banhistas fosforescentes Natildeo ponham a matildeo na
aacutegua se natildeo quiserem perdecirc-la Agrave direita boiando al-
guns mendigos Prisioneiros de matildeos amarradas Vaacuteriosfetos Sapatos Urinoacuteis Pneus Sinais de civilizaccedilatildeo
Uma nota pessoal senhoras e senhores Aquela
casa na margem direita eacute minha inha um coqueiro do
lado que coitado de saudade jaacute morreu e o videoshop
do outro lado claro eacute novo Aquela eacute a minha famiacutelia eaquele menino com aacutegua na cintura abanando para noacutes
sou eu Mas isto tambeacutem jaacute passou Rio acima
O garoto abandonado naquele barco eacute Huckel-
bery Finn Abanem abanem Aquela 1047297gura que acaba
de mergulhar no rio do galho de uma aacutervore eacute arzan
Vejam como um jacareacute se aproxima Os dois se engal1047297-
nham Natildeo se preocupem arzan venceraacute
Na margem direita um lobo e um cordeiro con-
versando Da margem esquerda Joatildeo Guimaratildees Rosacontempla a terceira margem O bebecirc 1047298utuando dentro
da cesta eacute Moiseacutes
Estamos no Rubicatildeo Porcaria pois natildeo Vo-
cecircs notaratildeo que muitos rios histoacutericos natildeo merecem
o nome que tecircm O Danuacutebio veremos mais adiante
natildeo eacute azul O Vermelho eacute marrom O Amarelo eacute cin-
zento O Mekong eacute vermelho de tanto sangue Rio aci-
ma Estamos no acircmisa Agora no Avon Aquele ali na
margem pensativo eacute Shakespeare Vejam no meio dorio rodeada de 1047298ores mantida agrave tona pelas suas vestes
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O texto acima jaacute de iniacutecio permite-nos chamar a
atenccedilatildeo do leitor natildeo soacute pelo complexo e ao mesmo tem-
po sugestivo tour histoacuterico anunciado no primeiro paraacute-
grafo mas tambeacutem pela posiccedilatildeo de Luis Fernando Veriacutes-
simo em seu papel de escritor jornalista (ou jornalista es-
critor) em termos de sua contribuiccedilatildeo a um suporte midi-
aacutetico no caso a Revista VEJA ediccedilatildeo 1073 ano 22 nordm 13
publicada em 29 de marccedilo de 1989 Cabe aqui esclarecer
que as duas setas tipograacute1047297cas foram acrescentadas agrave mar-gem do texto somente para sinalizar os rumos baacutesicos da
leitura que demanda por sua vez uma seacuterie complexa de
atos separados ais atos podem ser associados conforme
Silva (1997) aos seguintes tipos de atividades cognitivas
atividade perceptiva relacionada a uma capacidade
raacutepida e precisa de busca de informaccedilotildees para a identi1047297-
caccedilatildeo do todo
atividade visual-espacial ligada simultaneamente agrave
visatildeo e ao espaccedilo sendo este uacuteltimo associado agrave ideia delugar superfiacutecie e distacircncia
atividade de estruturaccedilatildeo vinculada agrave identi1047297caccedilatildeo
de estruturas de ideias e argumentos a partir da obser-
vaccedilatildeo de segmentos individuais tais como palavras e ex-
pressotildees
atividade loacutegica mediante a identi1047297caccedilatildeo de cone-
xotildees loacutegicas de ideias ou de fatos histoacutericos associados a
seus respectivos contextos
atividade verbal pertinente agrave captaccedilatildeo de uma palavra
precisa capaz de de1047297nir um objeto uma ideia ou uma accedilatildeo
As duas primeiras atividades elencadas acima satildeo
tiacutepicas da leitura exploratoacuteria enquanto as seguintes con-
cernem agrave leitura analiacutetica Voltemos em par leitora uma
mirada empiacuterica pela superfiacutecie do texto de Veriacutessimo
Em termos de estruturaccedilatildeo textual podemos iden-
ti1047297car o 1047298uxo das ideias do autor assim como sua apre-
sentaccedilatildeo de fatos histoacutericos relativamente conhecidos ndash
seja em contextos situacionais proacuteximos ou em contextos
culturais distantes ndash materializado em unidades frasais e
oracionais em sua maioria justapostas com predomiacutenio
de uma coordenaccedilatildeo simples parataacutetica Observa-se o
saber gramatical atrelado agrave criatividade no uso da lingua-
gem cuja magnitude se evidencia na dimensatildeo dialoacutegica
Ressalte-se a intertextualidade marcada pela presenccedila
constante de vozes de outros textos a guiarem pela voz
do autor atitudes de reconhecimento dos interlocutores
ou melhor participantes do ldquotourrdquo tecido com engenho e
arte ainda que bem longe do estilo camonianoPode-se a1047297rmar que antes mesmo de seduzir
o texto impressiona pela tessitura simples e ao mesmo
tempo tatildeo carregada de motivos para a aceitabilidade do
leitor mais criacutetico que existe Observe-se ainda que natildeo
haacute conectores loacutegicos de subordinaccedilatildeo ao longo dos pe-
riacuteodos enxutos que compotildeem cada paraacutegrafo Mas a co-
nectividade conceptual (semacircntica) predomina e garante
a tessitura do texto o que con1047297rma ser a coerecircncia a pro-
priedade mais relevante em um texto Em poucas pala-
vras existem textos sem coesatildeo mas natildeo existem textos
sem coerecircncia propriedade que depende da (re)accedilatildeo do
in1047298adas a doce Ofeacutelia Abanem abanem Eu natildeo dis-
se que este tour tinha de tudo Agora preparem suas
cacircmeras Ai vem na sua barcaccedila imperial Cleoacutepatra
descendo o Nilo Rio acima Estamos no Reno no Poacute
no Yang-tze no Satildeo Francisco no igre no Eufrates
no Volga no Jordatildeo Aquela cena vocecircs certamente vatildeo querer fotografar Joatildeo Batista batizando Jesus
Estamos no Ganges onde os vivos despejam os seus
mortos e depois se lavam O rio eacute sempre o mesmo A
aacutegua que puri1047297ca eacute a mesma que recebe o esgoto aacutecido
A aacutegua que mata a sede eacute a mesma que afoga a que
passa e a que natildeo passa
O rio eacute a Portela Agrave direita Paulinho da Viola
Aquela cabecinha de nadador ali eacute a do Mao
Galhos troncos casas gado canoas viradas
quatro com timatildeo e sem timatildeo ndash e uma faacutebrica inteira
rebocada do Japatildeo
As aacuteguas comeccedilam a 1047297car lodosas As grandes
aacutervores se tocam sobre o rio Estamos no Congo a ca-
minho do coraccedilatildeo das trevas Da fonte obscura de tudo
Mistash Kurtz he dead O cheiro azedo de limo e foacutes-
seis O horror o horror O mar estaacute longe chegamos a
nossa vertente E a origem de tudo natildeo eacute misteacuterio eacute um
buraco no chatildeo Haacute outros rios debaixo destes e eacute para
laacute que vamos um dia Rio abaixo A gorjeta eacute voluntaacuteria
obrigado
VERIacuteSSIMO Luis Fernando
Revista VEJA 29 de marccedilo de 1989
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interlocutor para atribuir sentido(s) a textos como este
A propoacutesito falta-nos mergulhar ainda em algumas das
principais perguntas de quem se debruccedila em uma anaacutelise
criacutetica
Conforme sugere David Carraher (1987 p 127)
a) O que estaacute sendo a1047297rmado
b) Quais as principais questotildees envolvidas
c) O que eacute usado para apoiar as ideias
d) Que informaccedilotildees poderiam ajudar a esclarecer
as questotildees principais
Agraves perguntas destacadas acima pode-se acres-
centar a seguinte qual eacute a ideologia presente no texto em
anaacutelise Em estudo recente (Silva 2012 p 17) pondero
que ldquouma estrutura eacute ideoloacutegica na medida em que podeou natildeo corresponder agrave perspectiva doa produtora ou
doa leitorardquo Considero pertinente evocar aqui as pala-
vras de Guimaratildees (2009 p 108) para quem ldquoa ideologia
de1047297ne-se portanto como expressatildeo de uma tomada de
posiccedilatildeo determinada con1047297gurando-se por isso como
condiccedilatildeo essencial na relaccedilatildeo mundolinguagemrdquo Nessa
perspectiva vale chamar a atenccedilatildeo para o modo com que
as informaccedilotildees satildeo apresentadas ao longo do texto em
questatildeo Ainda que despidas de um estilo argumentativo
as ideias satildeo apresentadas revestidas de uma espeacutecie de
valor ou estatuto de verdade Aleacutem disso satildeo ideias ma-
tizadas por um pendor atitudinal do autor que envolve o
leitor a partir de sua visatildeo criacutetica do mundo
Por outro lado os temas tangenciados ainda que
de maneira literaacuteria ao longo do texto - tais como pro-
blemas de poluiccedilatildeo e agressatildeo respectivamente ao meio
ambiente e ao ser humano - continuam ao lado de toda a
beleza que ainda existe na histoacuteria das aacuteguas quando na-
vegamos rio acima ou abaixo atraveacutes dos tempos Aleacutemdo mais as questotildees enfocadas evocam o que sugere Frei-
re (1981 p 11-12) ldquolinguagem e realidade se prendem de
maneira dinacircmicardquo
Em poucas palavras acabamos de assistir agora
em 2012 o encontro do ldquoRio + Vinterdquo evento que soacute vai
acontecer outra vez daqui a vinte anos Cabe aqui tra-
ccedilar um paralelo do texto examinado com a conferecircncia
das Naccedilotildees Unidas proferida recentemente em prol do
desenvolvimento sustentaacutevel em meio agrave presenccedila de lide-
ranccedilas de inuacutemeras naccedilotildees Resulta que o meio ambien-
te o ecossistema a biodiversidade a chuva aacutecida o uso
de energia suja - bem como a aacutegua que corre por todos
os rios do planeta antes de desembocar nos sete mares -
continuam a ser enfocados como toacutepicos que sinalizam
ora uma bandeira para ativistas ora uma promessa de
agenda de compromissos poliacutetico-econocircmicos diante
dos apelos direcionados aos paiacuteses ricos que natildeo queremrepartir recursos que lhes sobram ainda que tatildeo cientes
de questotildees complexas tais como a pobreza do presente
ou a escassez de aacutegua e de alimento no futuro proacuteximo
6 Consideraccedilotildees 1047297nais
Ao enfatizar a importacircncia do ato de ler Paulo
Freire (1981 p 20) a1047297rma que ldquoa leitura do mundo pre-
cede a leitura da palavra e a leitura desta implica a con-
tinuidade da leitura daquelerdquo E vai mais longe Aleacutem de
esclarecer que a compreensatildeo de um texto eacute alcanccedilada
mediante sua leitura criacutetica atraveacutes da qual se percebem
as relaccedilotildees dentre o texto e o contexto o educador bra-
sileiro reitera sua proposta ao declarar que ldquoa leitura da
palavra natildeo eacute apenas precedida pela leitura do mundo
mas por uma determinada forma de escrevecirc-lo ou de
reescrevecirc-lordquo quer dizer desdobraacute-lo atraveacutes de uma praacute-
tica engajada de leitura
Por outro lado na esteira dos estudos criacuteticos do
discurso comenta Fairclough (2001 p 265) o seguinte
eacute previsiacutevel que cada vez mais haja expectativade que os analistas de discurso e os linguistasfuncionem como tecnoacutelogos do discurso outornem os resultados de suas pesquisas dispo-niacuteveis a eles
Que as re1047298exotildees aqui apresentadas possam signi-
1047297car uma pequena contribuiccedilatildeo em termos de incentivo
para todos aquelesas que trabalham com textos niacuteveis
de leitura signi1047297cados linguiacutestico-discursivos en1047297mcom a linguagem como praacutetica social
Referecircncias
ADLER M DOREN C van A arte de ler raduccedilatildeo JoseacuteL de Melo Rio de Janeiro Agir 1974
BEAUGRANDE R DRESSLER W Introduction to text
linguistics London Longman 1981
CARRAHER D Senso criacutetico do dia-a dia agraves ciecircnciashumanas Satildeo Paulo Pioneira 1983
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ECO H Lector in fabula Satildeo Paulo Perspectiva 1986
FAIRCLOUGH N Discurso e mudanccedila social BrasiacuteliaEditora da UnB 2001
FREIRE P A importacircncia do ato de ler Satildeo Paulo Cortez1989
GUIMARAtildeES E Texto discurso e ensino Satildeo PauloContexto 2009
HALLIDAY M A K HASAN R Cohesion in Englishenglish language London Longman 1976
KAO M No mundo da escrita uma perspectivapsicolinguiacutestica Satildeo Paulo Aacutetica 1987
KOCH IV RAVAGLIA LC Texto e coerecircncia SatildeoPaulo Cortez 1989
KOCH IV Desvendando os segredos do texto Satildeo PauloCortez 2002
KOCH IV O texto e a construccedilatildeo de sentidos Satildeo PauloContexto 1997
LEVY P O que eacute virtual raduccedilatildeo P Neves Satildeo PauloEditora 34 1996
MARCUSCHI LA Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros ecompreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008
ORLANDI E Interpretaccedilatildeo autoria leitura e efeitos dotrabalho simboacutelico Petroacutepolis Vozes 1996
RICOEUR P Preface In REAGAN C (Ed) Studiesin the Philosofy of Paul Ricoeur Athens Ohio OhioUniversity Press 1984
SILVA DEG Da leitura do mundo agrave leitura da palavra In VI Simpoacutesio de Liacutengua e Literatura do UniCEUB - leituradiscurso literatura e educaccedilatildeo Brasiacutelia UniCEUB 2008
SILVA DEG Discurso e gramaacutetica motivaccedilotildeescognitivas e interacionais In SILVA DEG (Org) Nasinstacircncias do discurso uma permeabilidade de fronteirasBrasiacutelia Editora da UnB 2005
SILVA DEG Estudos criacuteticos do discurso no contextobrasileiro por uma rede de transdisciplinaridade Revistaonline de Literatura e Linguiacutestica Recife ano 5 n 9 p 224-
243 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwrevistaeutomiacombrgt Acesso em 11 dez 2012
SILVA DEG Produccedilatildeo de leitura texto e textualidadecurso de extensatildeo In IV Foacuterum Permanente de Professores Brasiacutelia Universidade de BrasiacuteliaCESPE 1997
VERIacuteSSIMO Luiacutes Fernando Rio acima Revista Veja SatildeoPaulo ano 22 n 13 p 53 29 mar 1989
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O texto acima jaacute de iniacutecio permite-nos chamar a
atenccedilatildeo do leitor natildeo soacute pelo complexo e ao mesmo tem-
po sugestivo tour histoacuterico anunciado no primeiro paraacute-
grafo mas tambeacutem pela posiccedilatildeo de Luis Fernando Veriacutes-
simo em seu papel de escritor jornalista (ou jornalista es-
critor) em termos de sua contribuiccedilatildeo a um suporte midi-
aacutetico no caso a Revista VEJA ediccedilatildeo 1073 ano 22 nordm 13
publicada em 29 de marccedilo de 1989 Cabe aqui esclarecer
que as duas setas tipograacute1047297cas foram acrescentadas agrave mar-gem do texto somente para sinalizar os rumos baacutesicos da
leitura que demanda por sua vez uma seacuterie complexa de
atos separados ais atos podem ser associados conforme
Silva (1997) aos seguintes tipos de atividades cognitivas
atividade perceptiva relacionada a uma capacidade
raacutepida e precisa de busca de informaccedilotildees para a identi1047297-
caccedilatildeo do todo
atividade visual-espacial ligada simultaneamente agrave
visatildeo e ao espaccedilo sendo este uacuteltimo associado agrave ideia delugar superfiacutecie e distacircncia
atividade de estruturaccedilatildeo vinculada agrave identi1047297caccedilatildeo
de estruturas de ideias e argumentos a partir da obser-
vaccedilatildeo de segmentos individuais tais como palavras e ex-
pressotildees
atividade loacutegica mediante a identi1047297caccedilatildeo de cone-
xotildees loacutegicas de ideias ou de fatos histoacutericos associados a
seus respectivos contextos
atividade verbal pertinente agrave captaccedilatildeo de uma palavra
precisa capaz de de1047297nir um objeto uma ideia ou uma accedilatildeo
As duas primeiras atividades elencadas acima satildeo
tiacutepicas da leitura exploratoacuteria enquanto as seguintes con-
cernem agrave leitura analiacutetica Voltemos em par leitora uma
mirada empiacuterica pela superfiacutecie do texto de Veriacutessimo
Em termos de estruturaccedilatildeo textual podemos iden-
ti1047297car o 1047298uxo das ideias do autor assim como sua apre-
sentaccedilatildeo de fatos histoacutericos relativamente conhecidos ndash
seja em contextos situacionais proacuteximos ou em contextos
culturais distantes ndash materializado em unidades frasais e
oracionais em sua maioria justapostas com predomiacutenio
de uma coordenaccedilatildeo simples parataacutetica Observa-se o
saber gramatical atrelado agrave criatividade no uso da lingua-
gem cuja magnitude se evidencia na dimensatildeo dialoacutegica
Ressalte-se a intertextualidade marcada pela presenccedila
constante de vozes de outros textos a guiarem pela voz
do autor atitudes de reconhecimento dos interlocutores
ou melhor participantes do ldquotourrdquo tecido com engenho e
arte ainda que bem longe do estilo camonianoPode-se a1047297rmar que antes mesmo de seduzir
o texto impressiona pela tessitura simples e ao mesmo
tempo tatildeo carregada de motivos para a aceitabilidade do
leitor mais criacutetico que existe Observe-se ainda que natildeo
haacute conectores loacutegicos de subordinaccedilatildeo ao longo dos pe-
riacuteodos enxutos que compotildeem cada paraacutegrafo Mas a co-
nectividade conceptual (semacircntica) predomina e garante
a tessitura do texto o que con1047297rma ser a coerecircncia a pro-
priedade mais relevante em um texto Em poucas pala-
vras existem textos sem coesatildeo mas natildeo existem textos
sem coerecircncia propriedade que depende da (re)accedilatildeo do
in1047298adas a doce Ofeacutelia Abanem abanem Eu natildeo dis-
se que este tour tinha de tudo Agora preparem suas
cacircmeras Ai vem na sua barcaccedila imperial Cleoacutepatra
descendo o Nilo Rio acima Estamos no Reno no Poacute
no Yang-tze no Satildeo Francisco no igre no Eufrates
no Volga no Jordatildeo Aquela cena vocecircs certamente vatildeo querer fotografar Joatildeo Batista batizando Jesus
Estamos no Ganges onde os vivos despejam os seus
mortos e depois se lavam O rio eacute sempre o mesmo A
aacutegua que puri1047297ca eacute a mesma que recebe o esgoto aacutecido
A aacutegua que mata a sede eacute a mesma que afoga a que
passa e a que natildeo passa
O rio eacute a Portela Agrave direita Paulinho da Viola
Aquela cabecinha de nadador ali eacute a do Mao
Galhos troncos casas gado canoas viradas
quatro com timatildeo e sem timatildeo ndash e uma faacutebrica inteira
rebocada do Japatildeo
As aacuteguas comeccedilam a 1047297car lodosas As grandes
aacutervores se tocam sobre o rio Estamos no Congo a ca-
minho do coraccedilatildeo das trevas Da fonte obscura de tudo
Mistash Kurtz he dead O cheiro azedo de limo e foacutes-
seis O horror o horror O mar estaacute longe chegamos a
nossa vertente E a origem de tudo natildeo eacute misteacuterio eacute um
buraco no chatildeo Haacute outros rios debaixo destes e eacute para
laacute que vamos um dia Rio abaixo A gorjeta eacute voluntaacuteria
obrigado
VERIacuteSSIMO Luis Fernando
Revista VEJA 29 de marccedilo de 1989
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Margens de sentido(s) nas aacuteguas textuais e discursivas
interlocutor para atribuir sentido(s) a textos como este
A propoacutesito falta-nos mergulhar ainda em algumas das
principais perguntas de quem se debruccedila em uma anaacutelise
criacutetica
Conforme sugere David Carraher (1987 p 127)
a) O que estaacute sendo a1047297rmado
b) Quais as principais questotildees envolvidas
c) O que eacute usado para apoiar as ideias
d) Que informaccedilotildees poderiam ajudar a esclarecer
as questotildees principais
Agraves perguntas destacadas acima pode-se acres-
centar a seguinte qual eacute a ideologia presente no texto em
anaacutelise Em estudo recente (Silva 2012 p 17) pondero
que ldquouma estrutura eacute ideoloacutegica na medida em que podeou natildeo corresponder agrave perspectiva doa produtora ou
doa leitorardquo Considero pertinente evocar aqui as pala-
vras de Guimaratildees (2009 p 108) para quem ldquoa ideologia
de1047297ne-se portanto como expressatildeo de uma tomada de
posiccedilatildeo determinada con1047297gurando-se por isso como
condiccedilatildeo essencial na relaccedilatildeo mundolinguagemrdquo Nessa
perspectiva vale chamar a atenccedilatildeo para o modo com que
as informaccedilotildees satildeo apresentadas ao longo do texto em
questatildeo Ainda que despidas de um estilo argumentativo
as ideias satildeo apresentadas revestidas de uma espeacutecie de
valor ou estatuto de verdade Aleacutem disso satildeo ideias ma-
tizadas por um pendor atitudinal do autor que envolve o
leitor a partir de sua visatildeo criacutetica do mundo
Por outro lado os temas tangenciados ainda que
de maneira literaacuteria ao longo do texto - tais como pro-
blemas de poluiccedilatildeo e agressatildeo respectivamente ao meio
ambiente e ao ser humano - continuam ao lado de toda a
beleza que ainda existe na histoacuteria das aacuteguas quando na-
vegamos rio acima ou abaixo atraveacutes dos tempos Aleacutemdo mais as questotildees enfocadas evocam o que sugere Frei-
re (1981 p 11-12) ldquolinguagem e realidade se prendem de
maneira dinacircmicardquo
Em poucas palavras acabamos de assistir agora
em 2012 o encontro do ldquoRio + Vinterdquo evento que soacute vai
acontecer outra vez daqui a vinte anos Cabe aqui tra-
ccedilar um paralelo do texto examinado com a conferecircncia
das Naccedilotildees Unidas proferida recentemente em prol do
desenvolvimento sustentaacutevel em meio agrave presenccedila de lide-
ranccedilas de inuacutemeras naccedilotildees Resulta que o meio ambien-
te o ecossistema a biodiversidade a chuva aacutecida o uso
de energia suja - bem como a aacutegua que corre por todos
os rios do planeta antes de desembocar nos sete mares -
continuam a ser enfocados como toacutepicos que sinalizam
ora uma bandeira para ativistas ora uma promessa de
agenda de compromissos poliacutetico-econocircmicos diante
dos apelos direcionados aos paiacuteses ricos que natildeo queremrepartir recursos que lhes sobram ainda que tatildeo cientes
de questotildees complexas tais como a pobreza do presente
ou a escassez de aacutegua e de alimento no futuro proacuteximo
6 Consideraccedilotildees 1047297nais
Ao enfatizar a importacircncia do ato de ler Paulo
Freire (1981 p 20) a1047297rma que ldquoa leitura do mundo pre-
cede a leitura da palavra e a leitura desta implica a con-
tinuidade da leitura daquelerdquo E vai mais longe Aleacutem de
esclarecer que a compreensatildeo de um texto eacute alcanccedilada
mediante sua leitura criacutetica atraveacutes da qual se percebem
as relaccedilotildees dentre o texto e o contexto o educador bra-
sileiro reitera sua proposta ao declarar que ldquoa leitura da
palavra natildeo eacute apenas precedida pela leitura do mundo
mas por uma determinada forma de escrevecirc-lo ou de
reescrevecirc-lordquo quer dizer desdobraacute-lo atraveacutes de uma praacute-
tica engajada de leitura
Por outro lado na esteira dos estudos criacuteticos do
discurso comenta Fairclough (2001 p 265) o seguinte
eacute previsiacutevel que cada vez mais haja expectativade que os analistas de discurso e os linguistasfuncionem como tecnoacutelogos do discurso outornem os resultados de suas pesquisas dispo-niacuteveis a eles
Que as re1047298exotildees aqui apresentadas possam signi-
1047297car uma pequena contribuiccedilatildeo em termos de incentivo
para todos aquelesas que trabalham com textos niacuteveis
de leitura signi1047297cados linguiacutestico-discursivos en1047297mcom a linguagem como praacutetica social
Referecircncias
ADLER M DOREN C van A arte de ler raduccedilatildeo JoseacuteL de Melo Rio de Janeiro Agir 1974
BEAUGRANDE R DRESSLER W Introduction to text
linguistics London Longman 1981
CARRAHER D Senso criacutetico do dia-a dia agraves ciecircnciashumanas Satildeo Paulo Pioneira 1983
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ECO H Lector in fabula Satildeo Paulo Perspectiva 1986
FAIRCLOUGH N Discurso e mudanccedila social BrasiacuteliaEditora da UnB 2001
FREIRE P A importacircncia do ato de ler Satildeo Paulo Cortez1989
GUIMARAtildeES E Texto discurso e ensino Satildeo PauloContexto 2009
HALLIDAY M A K HASAN R Cohesion in Englishenglish language London Longman 1976
KAO M No mundo da escrita uma perspectivapsicolinguiacutestica Satildeo Paulo Aacutetica 1987
KOCH IV RAVAGLIA LC Texto e coerecircncia SatildeoPaulo Cortez 1989
KOCH IV Desvendando os segredos do texto Satildeo PauloCortez 2002
KOCH IV O texto e a construccedilatildeo de sentidos Satildeo PauloContexto 1997
LEVY P O que eacute virtual raduccedilatildeo P Neves Satildeo PauloEditora 34 1996
MARCUSCHI LA Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros ecompreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008
ORLANDI E Interpretaccedilatildeo autoria leitura e efeitos dotrabalho simboacutelico Petroacutepolis Vozes 1996
RICOEUR P Preface In REAGAN C (Ed) Studiesin the Philosofy of Paul Ricoeur Athens Ohio OhioUniversity Press 1984
SILVA DEG Da leitura do mundo agrave leitura da palavra In VI Simpoacutesio de Liacutengua e Literatura do UniCEUB - leituradiscurso literatura e educaccedilatildeo Brasiacutelia UniCEUB 2008
SILVA DEG Discurso e gramaacutetica motivaccedilotildeescognitivas e interacionais In SILVA DEG (Org) Nasinstacircncias do discurso uma permeabilidade de fronteirasBrasiacutelia Editora da UnB 2005
SILVA DEG Estudos criacuteticos do discurso no contextobrasileiro por uma rede de transdisciplinaridade Revistaonline de Literatura e Linguiacutestica Recife ano 5 n 9 p 224-
243 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwrevistaeutomiacombrgt Acesso em 11 dez 2012
SILVA DEG Produccedilatildeo de leitura texto e textualidadecurso de extensatildeo In IV Foacuterum Permanente de Professores Brasiacutelia Universidade de BrasiacuteliaCESPE 1997
VERIacuteSSIMO Luiacutes Fernando Rio acima Revista Veja SatildeoPaulo ano 22 n 13 p 53 29 mar 1989
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interlocutor para atribuir sentido(s) a textos como este
A propoacutesito falta-nos mergulhar ainda em algumas das
principais perguntas de quem se debruccedila em uma anaacutelise
criacutetica
Conforme sugere David Carraher (1987 p 127)
a) O que estaacute sendo a1047297rmado
b) Quais as principais questotildees envolvidas
c) O que eacute usado para apoiar as ideias
d) Que informaccedilotildees poderiam ajudar a esclarecer
as questotildees principais
Agraves perguntas destacadas acima pode-se acres-
centar a seguinte qual eacute a ideologia presente no texto em
anaacutelise Em estudo recente (Silva 2012 p 17) pondero
que ldquouma estrutura eacute ideoloacutegica na medida em que podeou natildeo corresponder agrave perspectiva doa produtora ou
doa leitorardquo Considero pertinente evocar aqui as pala-
vras de Guimaratildees (2009 p 108) para quem ldquoa ideologia
de1047297ne-se portanto como expressatildeo de uma tomada de
posiccedilatildeo determinada con1047297gurando-se por isso como
condiccedilatildeo essencial na relaccedilatildeo mundolinguagemrdquo Nessa
perspectiva vale chamar a atenccedilatildeo para o modo com que
as informaccedilotildees satildeo apresentadas ao longo do texto em
questatildeo Ainda que despidas de um estilo argumentativo
as ideias satildeo apresentadas revestidas de uma espeacutecie de
valor ou estatuto de verdade Aleacutem disso satildeo ideias ma-
tizadas por um pendor atitudinal do autor que envolve o
leitor a partir de sua visatildeo criacutetica do mundo
Por outro lado os temas tangenciados ainda que
de maneira literaacuteria ao longo do texto - tais como pro-
blemas de poluiccedilatildeo e agressatildeo respectivamente ao meio
ambiente e ao ser humano - continuam ao lado de toda a
beleza que ainda existe na histoacuteria das aacuteguas quando na-
vegamos rio acima ou abaixo atraveacutes dos tempos Aleacutemdo mais as questotildees enfocadas evocam o que sugere Frei-
re (1981 p 11-12) ldquolinguagem e realidade se prendem de
maneira dinacircmicardquo
Em poucas palavras acabamos de assistir agora
em 2012 o encontro do ldquoRio + Vinterdquo evento que soacute vai
acontecer outra vez daqui a vinte anos Cabe aqui tra-
ccedilar um paralelo do texto examinado com a conferecircncia
das Naccedilotildees Unidas proferida recentemente em prol do
desenvolvimento sustentaacutevel em meio agrave presenccedila de lide-
ranccedilas de inuacutemeras naccedilotildees Resulta que o meio ambien-
te o ecossistema a biodiversidade a chuva aacutecida o uso
de energia suja - bem como a aacutegua que corre por todos
os rios do planeta antes de desembocar nos sete mares -
continuam a ser enfocados como toacutepicos que sinalizam
ora uma bandeira para ativistas ora uma promessa de
agenda de compromissos poliacutetico-econocircmicos diante
dos apelos direcionados aos paiacuteses ricos que natildeo queremrepartir recursos que lhes sobram ainda que tatildeo cientes
de questotildees complexas tais como a pobreza do presente
ou a escassez de aacutegua e de alimento no futuro proacuteximo
6 Consideraccedilotildees 1047297nais
Ao enfatizar a importacircncia do ato de ler Paulo
Freire (1981 p 20) a1047297rma que ldquoa leitura do mundo pre-
cede a leitura da palavra e a leitura desta implica a con-
tinuidade da leitura daquelerdquo E vai mais longe Aleacutem de
esclarecer que a compreensatildeo de um texto eacute alcanccedilada
mediante sua leitura criacutetica atraveacutes da qual se percebem
as relaccedilotildees dentre o texto e o contexto o educador bra-
sileiro reitera sua proposta ao declarar que ldquoa leitura da
palavra natildeo eacute apenas precedida pela leitura do mundo
mas por uma determinada forma de escrevecirc-lo ou de
reescrevecirc-lordquo quer dizer desdobraacute-lo atraveacutes de uma praacute-
tica engajada de leitura
Por outro lado na esteira dos estudos criacuteticos do
discurso comenta Fairclough (2001 p 265) o seguinte
eacute previsiacutevel que cada vez mais haja expectativade que os analistas de discurso e os linguistasfuncionem como tecnoacutelogos do discurso outornem os resultados de suas pesquisas dispo-niacuteveis a eles
Que as re1047298exotildees aqui apresentadas possam signi-
1047297car uma pequena contribuiccedilatildeo em termos de incentivo
para todos aquelesas que trabalham com textos niacuteveis
de leitura signi1047297cados linguiacutestico-discursivos en1047297mcom a linguagem como praacutetica social
Referecircncias
ADLER M DOREN C van A arte de ler raduccedilatildeo JoseacuteL de Melo Rio de Janeiro Agir 1974
BEAUGRANDE R DRESSLER W Introduction to text
linguistics London Longman 1981
CARRAHER D Senso criacutetico do dia-a dia agraves ciecircnciashumanas Satildeo Paulo Pioneira 1983
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FAIRCLOUGH N Discurso e mudanccedila social BrasiacuteliaEditora da UnB 2001
FREIRE P A importacircncia do ato de ler Satildeo Paulo Cortez1989
GUIMARAtildeES E Texto discurso e ensino Satildeo PauloContexto 2009
HALLIDAY M A K HASAN R Cohesion in Englishenglish language London Longman 1976
KAO M No mundo da escrita uma perspectivapsicolinguiacutestica Satildeo Paulo Aacutetica 1987
KOCH IV RAVAGLIA LC Texto e coerecircncia SatildeoPaulo Cortez 1989
KOCH IV Desvendando os segredos do texto Satildeo PauloCortez 2002
KOCH IV O texto e a construccedilatildeo de sentidos Satildeo PauloContexto 1997
LEVY P O que eacute virtual raduccedilatildeo P Neves Satildeo PauloEditora 34 1996
MARCUSCHI LA Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros ecompreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008
ORLANDI E Interpretaccedilatildeo autoria leitura e efeitos dotrabalho simboacutelico Petroacutepolis Vozes 1996
RICOEUR P Preface In REAGAN C (Ed) Studiesin the Philosofy of Paul Ricoeur Athens Ohio OhioUniversity Press 1984
SILVA DEG Da leitura do mundo agrave leitura da palavra In VI Simpoacutesio de Liacutengua e Literatura do UniCEUB - leituradiscurso literatura e educaccedilatildeo Brasiacutelia UniCEUB 2008
SILVA DEG Discurso e gramaacutetica motivaccedilotildeescognitivas e interacionais In SILVA DEG (Org) Nasinstacircncias do discurso uma permeabilidade de fronteirasBrasiacutelia Editora da UnB 2005
SILVA DEG Estudos criacuteticos do discurso no contextobrasileiro por uma rede de transdisciplinaridade Revistaonline de Literatura e Linguiacutestica Recife ano 5 n 9 p 224-
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SILVA DEG Produccedilatildeo de leitura texto e textualidadecurso de extensatildeo In IV Foacuterum Permanente de Professores Brasiacutelia Universidade de BrasiacuteliaCESPE 1997
VERIacuteSSIMO Luiacutes Fernando Rio acima Revista Veja SatildeoPaulo ano 22 n 13 p 53 29 mar 1989
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Denize Elena Garcia da Silva
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