Editorial
Ilustração da Capa – Kira Laureano
Lançamento virtual – naidjaprojetos.blogspot.com
Lançamento presencial – VIII Bienal Internacional do Livro de
Pernambuco
Disponível em naidjaprojetos.blogspot.com
Setembro 2011
Apresentação
Com a aproximação da VIII Bienal Internacional do Livro de Pernambuco senti
uma inquietação para produzir algum material para socializar no evento. Mas
não queria um material já experimentado por mim... queria algo novo!
Esta obra digital surgiu do anseio de experimentar uma produção coletiva
utilizando recursos do Blog e de redes sociais para divulgação e captação de
material autoral.
A proposta/convite do blog naidjaprojetos.blogspot.com foi lançada aos
contatos na REDE através do facebook, Twitter, e-mail e fórum em curso na
modalidade EAD.
Apostando nas mentes criativas da REDE, lancei o desafio e aguardei ansiosa
o retorno!
Não demorou muitos minutos, algumas mensagens retornam de aprovação ao
projeto! Sentimentos de euforia tomaram minha mente!! Que legal! Vai dar
certo!
Assim, aqui estamos. Os bravos autores deste livro digital coletivo! À tod@s,
meus sinceros agradecimentos!
Esperamos que gostem da nossa ousadia!
Naidja Laureano
Sumário
A literatura e as correntes quebradas - Rafael Monteiro 6
As sombras são - Múcio Goes 8
Alto-falante - Múcio Goes 9
Calmaria - Múcio Goes 10
Carta-pseudo-prosa-poética - Roberta Cavalcanti 11
Eu aprendi a ler - Jeane Siqueira 12
Ilustração - Kira Laureano 13
Ilustração - Mariana Nascimento 14
Ler tudo de bom - Marina Ester 15
Mundo Melhor - Terezinha Cristina de Barros 16
Naquele dia de primavera - Roberta Cavalcanti 17
O que é um cidadão que não sabe Ler? - Isabela Soares 18
Palavra - A alegria de ser! - Naidja Laureano 19
Reflexão - Ana Paula Melo 20
Se - Múcio Goes 21
Sem título 1 - Múcio Goes 22
Sem título 2 - Múcio Goes 23
Sem título 3 - Múcio Goes 24
Sem título 4 - Múcio Goes 25
Um barco no Capibaribe - Jeane Siqueira 26
Volta ao nada em 5 segundos - Múcio Goes 27
876 - Múcio Goes 28
7
A literatura e as correntes quebradas
Rafael Monteiro
Quando refletimos sobre o que vem a ser cidadania nos remetemos
imediatamente aos direitos de ordem pública, haja vista uma pessoa sem
cidadania está marginalizada ou excluída da vida social e da tomada de
decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social.
A cidadania é um referencial de conquista da humanidade, através daqueles
que sempre lutam por mais direitos, maior liberdade, melhores garantias
individuais e coletivas, inconformados, tal qual um Hamlet shakespeareano,
perante as injustiças e opressões tão desumanamente naturais na história da
humanidade.
Uma das chaves ou martelos capaz de arrebentar as correntes do Prometeu da
injustiça é a leitura. Ler desperta os homens para outras realidades, desde
simples sorriso a questionamentos metafísicos, de uma tirinha da Mafalda, do
cartunista argentino Quino, aos entraves psicológicos de Stephen Dedalus, do
escritor irlandês James Joyce.
A literatura é capaz de criar e recriar inúmeros universos, possibilitando
viagens interplanetárias, submarinas, anacrônicas, surreais, acima de tudo, o
ato de ler é um fator libertador, legando ao viajante das letras a possibilidade
de construir uma criticidade extremamente necessária para qualquer
sociedade.
Todo ser humano letrado é um escritor em potencial. Não obstante, segundo o
escritor inglês George Orwell, escrevemos basicamente por quatro motivos.
Dentre eles o impulso histórico: o desejo de ver as coisas como elas são, de
descobrir os fatos verdadeiros e de guardá-los para a posteridade; e o
propósito político: o desejo de levar uma palavra em uma certa direção, de
alterar a ideia de outras pessoas sobre o tipo de sociedade à qual elas devem
aspirar.
Se levarmos em consideração apenas os motivos traçados por Orwell já
poderíamos ver o quão a literatura possui um fator de construção de cidadania
ímpar, independente de você ser escritor ou não. Não obstante, assim como
8
em seus revolucionários livros, Orwell mostra como os seres humanos podem
fazer do planeta em que vivemos um lugar assustador. Basta lembrarmos o
que o porco da fazenda Animal, Napoleão, da Revolução dos Bichos, em nada
se parece com o Babe, “o porquinho atrapalhado” do cinema, do filme de 1995,
do diretor australiano Chris Noonan.
Embora, se viajarmos no tempo e no espaço e aterrissarmos nossa nave
literária até a Oceania do ano 1984 Orwelliano, nos encontraríamos com o
funcionário do Ministério da Verdade, Winston Smith, cada vez mais desiludido
com sua existência miserável, começando uma rebelião contra o sistema e seu
Grande Irmão, onde a sociedade sempre em guerra, matinha o poder das
classes altas, limitando o acesso à educação, à cultura e aos bens materiais
das classes baixas.
Logo, com o conhecimento de universos literários, podemos afirmar
categoricamente, literatura é cidadania, é libertação.
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As sombras são
Múcio Goes
Meio dia,
sol a pino,
minha sombra
de dúvida
em desatino
se conflita,
não sabendo
se vai
ou significa.
10
Auto-falante
Múcio Goes
nada do que falo
se escreve,
nada, nada.
tudo flutua,
bravo e breve.
tudo céu,
tudo lua,
quando se atreve.
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Carta-pseudo-prosa-poética
Roberta Cavalcanti
Sabe amor, há tempos pretendo te dizer que não te quero mais na minha vida,
assim como não me queres na tua.
Há tempos quero te dizer que não sei se realmente te amei em algum momento
das nossas 2 semanas e meia de amor, assim como descobrirás também que
nunca me amastes.
Há tempos quero te dizer que não acredito mais no amor que dizias sentir por
mim, assim como sei que não acreditas mais no meu.
Há tempos quero te dizer que não fazes bem à minha saúde. Na verdade és
como uma droga que uso apenas por pura dependência e não por gosto real. E
sei que sentes o mesmo.
Há tempos, amor, que descobrimos que não fomos feitos um para o outro e
que, na verdade, isso não existe.
Há tempos que "eu te amo" não soa verdadeiro saindo de nossas bocas.
Há tempos percebemos que uma casinha no mato de fino trato nunca passará
de uma doce lembrança de um belo sonho a dois.
Há tempos compreendemos que a luz dos olhos pode estar em qualquer olhar
de qualquer pessoa, só não queremos aceitar.
Há tempos que dias 04 e 14 não significam mais nada para nós, só não
assumimos.
Há tempos percebemos que não sabemos o que queremos, nem quem
queremos. Mas sabemos de uma coisa, apenas uma certeza num mar de
dúvidas: "que não nos queremos mais!"
E é por não te querer e saber que não me queres que te digo:
"Todos passarão, nós passarinho...!"
13
Eu aprendi a ler Música de Jeane Siqueira
Era tudo tão estranho
Era tudo tão confuso
Parecia até
que eu não era desse mundo
Eu não sabia ler
Não sabia escrever
Eu não conseguia ver
Placas e revistas
Livros e jornais
“Hora da leitura”
Momentos infernais
Eu não sabia ler
Não sabia escrever
Eu não conseguia ver
Mas agora eu descobri
O sentido disso tudo
Letras e fonemas
Me tiraram do escuro
Eu aprendi a ler
Aprendi a escrever
E quero contar pra você
Há magia nos poemas
Fantasia nas histórias
Há romances e novelas
Tudo fica na memória
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Mundo Melhor
Terezinha Cristina de Barros
Sou o que sou
porque sei quem sou
excluído me chamo
mas penso não ser
Acredito na vida
buscando meu sonho
perdido no mundo
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Naquele dia de primavra...
Roberta Cavalcanti
Eu nem sabia da tua existência até aquele momento. O momento em que
passei pela praça e lá estava você sentado no banco tomando café e
conversando com um morador de rua. Naquela hora, naquele instante, eu
soube que era com você que eu queria passar o resto dos meus dias. Eu
soube que era aquele homem estranho que eu desejava como o pai dos filhos
que eu nunca tinha pensado em ter. Que era aquele desconhecido que eu
queria como o companheiro de uma vida toda. Aquele homem que não tem
filtro nos olhos, que enxerga todos como realmente são: iguais!
Naquele dia de primavera, com um sol de verão, eu te escolhi para mim e para
os meus, meu amor!
19
O que é um cidadão que não sabe Ler?
Isabela Soares - 08 anos
Essa pessoa pode ou não ter ido para escola uma pessoa que foi para escola
mais não conseguiu completar o curso
completo ou repetiu o ano, faltou muitas
aulas e não teve dinheiro ou oportunidade
de ir à escola, depois que não estiver mais
na escola essa hora estaria estudando para
que no futuro tenha um emprego que me de
a chance de sobreviver que me de a
experiência desejada para o emprego
conhecem também pessoas que ainda
freqüentam a escola uma dessas pessoas não teve o direito quando criança de
completar a escola ou não passou de ano na escola ou na faculdade.
Enfim o que achei claro foi que: as crianças não faltem aulas e se dediquem ao
estudo e estudem muito para que tenham um bom futuro.
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Palavra – a alegria de ser!
Naidja Laureano
Sempre trabalhando com crianças, estas de todos os tamanhos e idades,
percebo que são sempre crianças!
Em busca do novo, do lúdico, do prazer, do querer. Do desafio, da conquista,
do ser!
Um dos maiores desafios é a conquista do ler! A expressão, o timbre da voz, as
imagens coloridas da cidade, os elementos dos brinquedos que as mãos
alcançam e que jogam numa velocidade frenética de toda criança.
Ler símbolos, linhas tortas, mensagens escusas, a afirmação na negação.
Decifrar desenhos tortuosos e por vezes similares, que se juntos na mais
completa desordem organizada, faz um sentido danado: representam um
som... uma ideia... um sentimento.... a palavra!
A- A- A... P-A-L-A-V-R-A... PA-LA-VRA...
Dita, sentida, falada, exposta, gritada, doída.
A palavra representa movimento, alegria, desespero, veracidade, inverdades,
meias verdades, nenhuma verdade! Que faz sentido pra você e não pra mim...
E ainda em diversas línguas.. falas... sentidos.. como diz uma garota.... “é tipo
assim: uma expressão!”
Como em sã consciência alguém quer ser isso tudo? Saber isso tudo?!!
Aí vem a criança. O ser visceral que tudo consome como um verme!!! Com
toda a beleza do “O que é isso??” E depois: “Como Assim??”.....
...srsrs... Ainda não se viu aqui neste breve pensar?
Você é esta criança. Eu sou esta criança.
Nós somos esta criança!
Aprender sempre. Aprender a buscar sempre. Aprender diversos modos de
aprender, sempre, para si mesmo e para todos!!!
Esta é a graça de estar vivo!
21
Reflexão
Ana Paulo Melo
“A leitura do mundo precede a leitura da palavra”. (Paulo Freire)
Precisamos saber ler o mundo, as coisas, a nossa realidade para assim ler a
palavra. Cada palavra tem um significado, não é isolada, ela é carregada de
sentido.
Por isso é tão importante conhecer o mundo, as pessoas, a nossa comunidade
e aprender a ler.
Quando lemos ampliamos nossa visão de mundo.
Paulo Freire nos deixou esse grande ensinamento em nossa prática
pedagógica: precisamos levar os nossos alunos a ler o mundo e que é tão
importante a palavra dita e a palavra escrita.
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Sem título 1
Múcio Goes
eu tenho um amigo
e amigo melhor
ninguém tem
quando
não tenho nada
para falar
ele sempre vem
assim como quem
não quer nada
não me fala nada
e faz isso
muito bem
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Sem título 2
Múcio Goes
essa saudade não é de hoje
sinto
que ela vem de longe
de bem perto
do longe mais longe
e saudade que se preza
não tem preço
vem do berço
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Sem título 3
Múcio Goes
sonho bom
é sonhar com você
mas
melhor que sonhar
é dormir acordado
e sonhar que o sonhado
pode acontecer
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Sem título 4
Múcio Goes
alguém aí me belisca
alguém aí me desperta
alguém me diz de verdade
aonde o sapato aperta
quem foi que tirou o chão
onde o meu passo acerta
alguém aí me acorda
se isso for um sonho
desliga a tevê
me salva desse engano
isso é vida real
ou só um filme americano?
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Um barco no Capibaribe Letra e música de Jeane Siqueira
Um barco no rio Capibaribe
Deslizando nas águas, correndo pro mar
Eu tô nesse barco olhando o Recife
Deixando a paixão me guiar
Rua da Aurora
Com seus casarios
Meu coração vai te levar
Rua do Sol
Eu quero o teu brilho
Pra me iluminar
Tô passando debaixo da ponte
E o meu grito explode no ar
Vou beirando a margem do rio
E falando pra quem me escutar
Não jogue garrafa
Não jogue papel
Não jogue sapato
Não jogue chapéu
Que o rio dá pra gente
Água de beber
Que o rio ta doente
E pode morrer
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Volta ao nada em 5 segundos
Múcio Goes
e os meus cabelos,
de tão ralos,
em quantos ralos
hão de cabê-los?
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876
Múcio Goes
não há milagre
que eu faça
com mais carinho
que esse
de transformar
mágoa em vinho.
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