MARCELO CORREIA
"JoAo"A TRAJETORIA DO BANDIDO DA LUZ VERMELHA
(ROTEIRO E MEMORIAL DESCRITIVO)
Trabalho de Conclusao de Curso apresentacta aoCurso de P6s-Gradu8Qao da Faculdade deCiencias Humanas da Universidacte Tuiuti doParana, como requisito parcial para obtencao doTitulo Especializayao em Cinema.
Orientadora: Profa. Dra. Denise Azevedo D.Guimaraes
SUMARIO
1 INTRODU\fAO ..2 CINEMA DOCUMENTARIO.. . .2.1 CONCEITOS DO CINEMA DOCUMENTARIOS ..2.2 0 SOM DIRETO NO CINEMA DIRETO ...2.3 A INTREVISTA NO CINEMA DIRETO ..3 LUIZ VERMELHA. 0 HEROI BAN DIDO DE SGANZERLA ..3.1 UM FILME QUE REFORMULA CONCEITOS ...3.2 UM HOMEM E A METAFORA DA VIOLENCIA ..4 HEROI. VILAO E ANTI-HEROI ..4.1 CONCEITOS DE HEROI, VILAo E ANTI-HEROI .4.2 ANALISE DOS CONCEITOS NO ESTUDO DE CASO ..5 DESCONSTRU\fAO ..5.1 CONCEITO E ABORDAGENS TEORICO-CIENTiFICAS ...5.2 QUANDO 0 BAN DIDO SE TORNA HERO!.CONSIDERA\fOES FINAlS ..REFERENCIAS ...ANEXOS ..
. 3.. 6
.. 6.. 9
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. 12. 14
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1 INTRODUI;:iiO
o documentario "Joao", de minha autoria, cantara de forma breve, fatos e
curiosidades ocorridas desde a entrada do marginal no mundo do crime, aos tempos
ande cumpriu reclusao, encerrando com 0 periodo ande 0 mesma viveu seus ultimos
dias em liberdade. Neste caminho, serao apresentados tambem, depoimentos de
vitirnas, medicos e do proprio Joao Acacia, em entrevistas dadas as principais redes
de televisao do pais.
Segundo Penafria (1999), para oferecer uma reflexao aprofundada sobre
determinado tema, 0 documentario desencadeia urn envolvimento critieD sabre esse
mesma tema e contribui, enquanto espago de formas e conteudos inesgotaveis, para
urna melhor compreensao do mundo em que vivemos. 0 seu olhar nac S8 reduz ao
que e 6bvio, antes leva-nos a olhares diferentes sabre 0 mundo e permits-nos olhar
o mundo de modo diferente.
Altafini (1999), afirma que, apesar deste crescimento de mercado e espa90
para 0 documentario, poucos trabalhos te6ricos sao realizados no sentido de
conceituar as formas de linguagem deste genera, e muito menes sabre suas reais
possibilidades.
o objetivo geral deste trabalho academico concentra-se na redac;ao de urn
roteiro de documentario de curta-metragem, acompanhado da reda980 de urn
memorial descritivo, cuja abordagem e analise cientifica amparem e expliquem as
insery6es feitas no roteiro.
Como objetivo especifico, a pesquisa tern por inten9ao, analisando 0 tema
proposto pelo documentario, realizar uma reflexao sabre a criac;ao de urn
documentario que mostre uma determinada realidade de um personagem da vida
real, que nela e vista como vilao, mas em uma estrutura cinematografica, torna-se 0
heroi de uma narrativ8, enfocando uma desconstruyBo de paradigmas de uma
sociedade, invertidos atraves do cinema.
Altafini (1999) reitera que a documentario, geralmente trabalha com
fragmentos de uma realidade, buscando a refiexao e a compreensao aprofundada
da questao abordada, deixando para a espectador a papel de relaciona-Ia com seu
contexto historica, economica, politico, social e cultural.
Fazer filme sempre 9ira em toma de contar uma histona. Alguns filmeseonlam uma hist6na enos deixam com uma impressao. Alguns eonlam umahist6ria, nos deixam com uma impressao e nos daD uma ideia. Oulroseonlam uma historia, nos deixam com uma impressao, nos daD uma idela erevelam alguma coisa sabre nos mesmos e as Quiros. E certamente, 0modo como se conta a hist6ria deve relacionar-se de alguma forma com 0que a hist6ria e (LUMET, 1998, p. 53).
Seguinda este raciacinia, a pesquisa propoe a busca par uma estrutura que
conte da forma mais compreensivel, uma historia de um bandido, 0 vilao de uma
realidade, cujas imagens as transformaram em heroi de uma obra de arte, nao-
ficcional.
Penafria (1999) afirma que a documentario deve assumir-se e ser entendido
sempre como um ponto de vista, como um filme que apresenta e constroi argumentos
sobre 0 mundo, vocacionado para promover a discussao sabre determinado tema,
respeitar as aspiragoes, expectativas e motivagoes daqueles que filma.
o roteiro do documentario "Joao" tera por inten<;ao,abordar a trajetoria do
Bandido da Luz Vermelha, atraves da tecnica extraida de referencias teoricas, como
a modo de se fazer as tomadas, de langar as depoimentos e de montar as
sequencias de imagens para chegar em urn nfvel desejavel de compreensao sobre a
proposta de reflexao que 0 tema ira oferecer. Ai estao os estudos sobre a voz over
do texto, que conduz 0 filme, sob uma visao externa das situa<;oes, a voz do
testemunho (uma visao interna das situa<;oes),a desconstru<;ao feita atraves das
imagens bonitas que simbolizam 0 contexto vivido, em contraponto com as imagens
chocantes dos crimes, da seriedade do medico e da tristeza das viti mas, e tambem
de urn her6i bandido. Ha, neste momento, a desconstruc;ao de uma realidade e de
valores impastos, no proprio fato do filme abordar um criminoso, como seu principal
foco.
Sabre iSso, Furtado (1992, p. 25) reitera: "Ao contrario de linguagens
arbitrarias, como a linguagem escrita e outras, 0 cinema se baseia na observavao
direta da realidade. Seus signos se estabelecem a partir da observa<;iio direta do
real".
Assim e "Joao", urn filme que mostra, em uma faceta social, a saga de urn
personagem ao mesmo tempo, agente marginal e marginalizado, em um conjunto de
invers6es de valores, que 0 fazem ir do mito ao her6i e vi lao.
2 CINEMA DOCUMENTARIO
2.1 CONCEITOS DO CINEMA DOCUMENTARIO
Este memorial descritivD ira abordar de forma sistematica 0 roteiro do curta-
metra gem documentario "Joao - A trajetoria do Bandido da Luz Vermelha" a partir
da analise cientifica de seus trechos, com base em conceitos do proprio genera
documentario, das estruturas dos personagens heroi, vilao e anti-her6i, encerrando
com as conceitos sobre a desconstru~o literaria, onde 0 agente do mau, 0 vilao de
urna realidade, torna-S8 her6i de urna estrutura narrativa, grayas aDs contra-pontcs
apresentados, exclusivamente, pelo poder de encanto e persuasao de urna obra
cinematografica.
o conceito de argumentac;ao serve como base para tal: 0 documento ratoma
e utiliza urna relayeo com mundo hist6rico. A evidencia do documentario e diferente,
par ser de urna ordem inteiramente distinta da evidencia historica do filme ficcional,
porque as evidencias nao servem as necessidades da narrativa em si. A evidencia
do docurnentario nao a urn efeito de cunho estatico, neo a um elemento exposto e
motivado de acordo com as necessidades da coer€mcia narrativa, ao contra rio, a
evidencia do documentario remete ao mundo e sustenta argumentos elaborados
sobre 0 mundo.
Marsalais, (1974) um criticc canadense grande ccnhecedor de toda a
experiencia do cinema direto, estabeleceu nos seguintes pontos a tacnica e 0
espirito desse tipo de cinema:
a) filmagem sincronizada de imagens e som;
b) emprego de aparelhos manejaveis e aperfei,aados a ponto de permitir a
filmagem em quaisquer condi90es;
c) atores nao profissionais que se limitam a interpretar a si proprios;
d) recursos a improvisa~o e relativa recusa das tecnicas de estudio;
e) papel ativo da camera, que procura estabelecer um contato direto e
imediato com 0 real;
f) grava980 das palavras no proprio momenta da a98o;
g) assun~o por parte do cineasta de todas as conseqlll3ncias, eticas e
esteticas, de tais tecnicas.
Em outras palavras, e possivel afirmar que a produyao do documentario esta
diretamente relacionada a situar;oes casuais, pOis depende de ar;oes e rear;6es
momentaneas, do tempo real em que ocorrem, mas que no maximo podem ser
estimuladas atraves de influencia au indur;ao. 0 exato momenta de cada tomada e
quem tem 0 papel de fio condutor sabre a modo com que as informar;oes sao
apresentadas e suas conseqOentes interpretar;oes, tendo como auxiliar, 0 processo
de edi~o, que em sua etapa inicial, a hora de selecionar as imagens que serao
montadas em sequencia, trata de liberar ou vetar 0 conteudo capturado pela
camera, em flagrantes e entrevistas, a partir da maneira mais conveniente ao diretor,
no intuito de representar aquilo que realmente ele deseja transmitir.
Foi Paso/ini, num texto fundamental sabre mudanyas no sistema de
enunciayao da imagem cinematografica, quem primeiro tirou as conseqOencias
disso. A express80 conceitual que ele formulou para essa ruptura foi a de "subjetiva
indireta livre", uma modalidade cinematografica do udiscurso indireto livre" com que a
literatura moderna levou aos limites seus experimentos com a linguagem.
A criagao da subjetiva indireta livre velo introduzir uma incerteza, umaindiscemibilidade, no que, na composi<;:aoda imagem chflssica,era distinto erepartido entre, de urn lado, aquilo que a camera vA (a objetiva indireta dacamera), de Qutro, aquilo que a personagem ve (a subjetiva direta dapersonagem) (TEIXEIRA, 2003, p. 166),
Com a subjetiva indireta livre esse circuito do objetivo e subjetivo resulta
num visionarismo da imagem, que toma impossivel identifica-Ia como sendo do
cineasta au da personagem. Aquilo que anteriormente fundava a onipresenc;a do
cineasta que via atraves da camera e para alem dela tambem a que a personagem
via, cede entao a obliquidade dessa visao indireta livre que vern abalar toda certeza
sabre si e em relaC;aoao outro.
Em sintese, a subjetiva indireta livre, diz Pasolini, veio construir umamaneira inedita do cineasta mergulhar na alma de suas personagens, tomarcomo pretexlo seus "eslados de espfrito· e construir com eles, nao asnarrativas verazes, mas ·pseudo-narrativas (TEIXEIRA, 2003, p. 166).
No documentario "Joao", a personagem homonimo, em uma analogia ao
conceito de subjetiva indireta livre, revela suas pr6prias visoes de mundo e
realidade, em todas as fases de sua trajetoria no crime, como tambem no perfado
onde volta a conviver socialmente, apos cumprir 30 anos de reclusao. Nestas
insen;:oes, e possivel ver em imagens de arquivo, desde a egocentrismo que se
encheu em Joao Acacia, devido ao imenso assedio da midia, que a colocava no
centro das atenc;oesem diversos programas de televisao e editoriais de periodicos
populares, a seu novo comportamento religioso, resultado de sua conversao para a
igreja evangelica. Enquanto algumas imagens de arquivo exibem a bandida ao lado
do apresentador Carlos Massa, a "Ratinho", colocando-se como urn verdadeiro
artista, pelo tato de estar em trente a uma camera, dentro de um estudio de
prodU!;:ao,outras mostram urn homem calma, recitando canticos biblicos.
Este documentario revela a permissao dada ao documentado de expressar
seus sentimentos e externar suas observac;oese conclusoes sabre a realidade que
a cerca, a que coloca em contra-ponto suas multiplas facetas, e nisso a cinema a
transforma de bandido a heroi, dando ao expectador, mesmo que por alguns
instantes.
2.2 0 SOM DIRETO NO CINEMA DIRETO
Quando apareceram equipamentos capazes de captar 0 som em sincronia
com a imagem, a linguagem do cinema documentario se transformou. 0 locutor de
estudio tomou-se urn recurso que podia ou nao ser usado. Um outro universo sonoro
foi criado com a captat;80 de rufdos ambientes e de falas. Express6es novas
apareceram - wcinema direto", "cinema verdade" - para designar formas de cinema
documentario em que a faixa sonora deixaria de ser um complemento da faixa visual
para se tornar tao importante quanto ela.
Pode-se dizer que 0 som direto criou duas grandes categorias de lalas: as
que 0 documentarista captava no ambiente em que filmava e as que ele provocava.
No primeiro caso, encontramos desde 0 discurso oficial, isto e, a fala programada
para determinar evento independente do filme, ate espontaneas conversas de rua.
No Brasil, 0 cinema direto trouxe a tona urn universe verbal ate entao
desconhecido na tela. A lala controlada dos locutores, aos dialogos escritos dos
personagens de fic<;8o, vinha se contrapor um portugues multiplo lalado lora do
dominio da norma culta. Basta assistir a "Viramundo" ou "A opiniao publica" para
perceber a riqueza, a diversidade de sotaques, de pros6dias, de sintaxes, de
vocabularios que, conforme a origem das pessoas, a idade, a situac;ao em que
encontravam-se, esse cinema descobria.
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2.3 A ENTREVISTA NO CINEMA DIRETO
Se, nos prim6rdios do cinema direto, a entrevista era uma tentativa de
encontrar 0 outro, apos a lase de cria9iio dessa linguagem que se tornou um
automatismo, ala hoje remete mais ao cineasta do que ao entrevistado. Existe urn
espat;o da entrevista: 0 entrevistado fica no campo da camera, geralmente de frente
(de costas apenas quando 0 depoente nao quer ser identificado); seu olhar passa
rente a objetiv8, a direita au a esquerda, em dire~o ao entrevistador, que costuma
ser 0 proprio realizador e que laz a pergunta a qual 0 entrevistado responde. Tal
dispositiv~ tern urn centro imantado que e 0 lugar ao lado da camera ande S8
encontra 0 diretor (au atras da camera, S8 ele mesmo estiver operando).
o documentarista 56 obtem informac;6es cuja emissao sua pergunta pode
motivar, informac;oes que 0 entrevistado aceita e consegue verbalizar. A quase
exclusividade da entrevista estreita consideravelmente 0 campo de observayao do
documentarista: as atitudes, 0 andar, os gestos, a roupa, os objetos, os ambientes,
os sons que nao sejam verbais.
o cinema direto, exatamente com os documentarios e as reportagens,
consiste em nos fazer ver ~o homem agindo em uma dada situayao" I seja para
muda-Ia, seja para melhora-Ia. Isso permite a conclusao de que todas as outras
dilerenyas entre 0 cinema direto e 0 lilme de licyao remetem ao modo de leitura que
se utiliza no filme.
Como efeito, 0 cinema direto, que consiste em filmar situa90es reais ao vivo,
difere do cinema hollywoodiano nesse ponto apenas quantitativamente. Neste,
temos uma hist6ria previa que exprirne urn modelo de a9aO e de personagem. 0
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filme esta sempre sujeito a improvis890es, mas em todos as casas mantem as
model os de verdade que 0 inspiram. No cinema direto, escolhem-se personagens,
model as au a~6es espetaculares, reais, que nos deixam preyer as consequencias
sabre uma situayao que deve ser revel ada. Para isse, as personagens sao ligadas
as situac;6es. Se as reporteres e documentaristas escothem tal personagem e tal
situa~o> e porque sabem que darao lugar a urn modele verfdico do mundo,
comparavel ao mundo ficticio preestabelecido que eles tern em mente.
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3 LUZ VERMELHA, 0 HEROI BAN DIDO DE SGANZERLA
3.1 UM FILME QUE REFORMULA CONCEITOS
Rogerio Sganzerla Ian"" em 1968, "0 Bandido da Luz Vermelha", em um
perfedo sufocantemente ditado pelo governo militar, e que natural mente resultou em
revoJtosas e acidas manifestagaes artisticas de diversos tipos. No cinema, buscou
mostrou a dura reaHdade vivida pelo pavo brasileiro, com 0 mocinho que faz 0 final
feliz sendo substituido pelo band ida que comete uma sarie de barbaries, naG mais
em urn cenario buc6lico, ands tude e belo e da certa, proposto pelo cinema
hollywoodiano, mas em ambientes escuros, m6rbidos e cercados de miseria.
o filme entrou para a hist6ria do cinema brasileiro como representante docinema da boca-dc-fixo. Essa corrente pas-cinema novo fazia uma especiede cinema-verdade que mistura fiCy80 e reportagem jornalistica, incluindofilmes como "A Margem", de Ozualdo Candeias, que focalizou a miseria dosfavelados vivendo na beira de um rio de esgoto. Superproduyao do cinemada boca-do-lixo, 0 filme de Sganzerla contou com mais verbas e tem umfinal ficticio - 0 da amante protagonizada por Helena Ignez que no filme iriaarruinar a vida do bandido cruel e imoral (Paulo Villaca) (USP, 1997).
o Bandido da Luz Vermelha e um intenso dialogo com 0 cinema e com
outras manifestag6es culturais em geral (quadrinhos, TV, musica popular) do Brasil
em epoca de crise. As convuls6es do pars nao se manifestam numa transposic;ao
metaf6rica, e sim colocando a sintoma em lugar do sfmbolo, um bandido em lugar
deum poeta. Cada elemento do filme dita essa convulsao, que nao e s6 politica, mas
engloba, de uma forma total, um pais pobre, periferico, em crise.
Classico do Cinema Marginal, esta obra pode ser considerada como pontode transicao entre a estetica do Cinema Novo e a ruptura marginal.Realizado na Boca do Lixo, este filme ainda conselVa tracos da produc;aocinema-novista que gira em torno da representacao alegorica do Brasil e desua historia. Porem, a forte presenca do universo urbano, da sociedade de
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consumo e do lixo industrial gerado par essa sociedade, marca uma nitidadiferentfa. 0 abandono da etica do Cinema Novo e 0 aproveitamento, apartir dai, do cafona, acentuando a degradacao dos personagens, vaoigualmente nesta direcao (WEBCINE. 2006).
Na representagao do Brasil, 0 universe do filme e explorado para aumentar 0
grotesco distante de uma visao global do social, 0 Bandido da Luz Vermelha, e
elaborado, em sua forma narrativa, a partir dos restos da produgao industrial da
cultura de massas. A ausencia de formas narrativas populares, como motivQ para a
fragmenta9ao da linguagem, permite a adequ8r;:8o da narrativa da obra aD universo
do lixo urbano da sociedade de consumo. 0 Brasil que emerge dos fragmentos
desse filme ja e um pais completamente distinto daquele que surge nas alegorias
verificados no Cinema Novo.
Refor~ndo esta argumentagao, Ramos (1990, p. 44), afirma: "0 Bandido da
Luz Vermelha' e um filme singular em diversos aspectos. Por seu ineditismo, ja
incorpora uma certa desenvoltura em relayao a utilizayao ir6nica da narrativa
classica, embora seja ainda marcado pelo Cinema Novo. n
"0 Bandido da Luz Vermelha" poderia ser, hoje, urna valiosa reliquia dos
anos 60. E, ao contn3rio, urn elo s61idoentre as inquietudes dos anos 60 e dos anos
90. Ambos sao momentos marcados pela necessidade de transformar e pela
obsessao pelo moderno. A primeira coisa que chama a atengao no filme hoje, e sua
modernidade. Os cortes secas, a interpretayao leve, 0 carater urbano, associag6es
de ideias, a busca de uma heran~ no cinema estrangeiro (em Orson Welles, em
Godard) tudo isso criava, na epoca, um carater de urgemcia que 0 filme preservou.
Era urna urgencia dupla. A primeira consistia em trazer 0 banditismo para 0
ambiente urbano. 0 filme e uma especie de "Lampiao do asfalto": bOyal, impulsivo,
irracional, mas de algum modo, tambem, urn mostra da injustic;asocial. A seg~~~;-:\.Ii c·\
\(:ar;g.J
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urgencia dizia respeito ao pr6prio cinema. Sganzerla fez um misto de policial,
comedia e urn filme de costumes.
Posso dizer de boca cheia: eu sou urn bogal", afirrna enfadonhamente 0bandido protagonista. Cinema marginal ariundo da zona de prostituiyao ereduto intelectual do cinema populacho e canastrao. A trama da peHcula sedesenrola calcada na hist6ria de Jorge (interpretado par Paulo Villac;a),marginal que colcca em panico a populaC;Bopaulistana e desafia a policiaao cameler seus crimes requintados e hediondos. a meliante Jorge acabachamando a atenc,;ao da midia, radios e jornais sensacionalistas da epoca,devido a sua invulgar tecnica criminal. E celebrizado pela opiniao publica eimprensa que destaca a sua coragem. Ganha projecao nacional atras dainfame alcunha: 0 Bandido da Luz Vermelha. uQuando ele chegava, osvalentes iam dormir mais cedo e as mulheres ma;s tarde", anunciava asinopse da rita. Sao ligeiros 92 minutos, no charme noir da colorat;ao~binaria" do preto e branco, de uma montagem frenetica e dinamica, ondeassaltos, estupros, fuga policial e gangsterismo sao 0 pano de fundo(DISSONANCIA, 2004).
Pontuando a hist6ria do filme, estao discussoes sabre arte moderna
burguesa e pedantismo, gangsterismo, corrupgao, terceiro mundismo entre outras
temas alins. Todo 0 filme e narrado pelas vozes de um casal de locutores. No
melhor estilo par6dia de programa policial sensacionalista, diversas peralas VaG
sendo soltas a esmo pelos dois locutores. Express6es como: "Bisneto de Chico
Diabo", "tipico selvagem do seculo XVI" ou "pobre diabo saido de Freud ou da Boca
do Lixo".
3.2 UM HOMEM EA METAFORA DA VIOLENCIA
Estrelado por Paulo Villa9a, perfeito no papel de um psicopata, 0 filme caiu
como uma bomba no colo de uma intelectualidade que repetia incessantemente a
discurso p6s-moderno de Michel Foucault e outros ide61ogos que fomentaram a
ascensao dos discursos das minorias.
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Com uma violencia estilizada, tatarav6 do estilo "Pulp Fiction", "0 Bandidoda Luz Vermelhan acompanhava 0 bafafa criado pelas a<;oesde urn ladrao,assassino e estuprador que representava uma metafora da 8ryao do pocterrepressor. Anos antes de Stanley Kubrick abordar realidade similar com seu~Laranja Mecanica", Sganzer1a chocava com sua experi~ncia visual rica emreferencias a cultura nacional, incluindo MPB, literatura e 0 proprio cinema.Ja ali aparecia Helena Ignez como a ninfa que inspira 0 genio criador docineasta (REVISTA DE CINEMA, 2006).
Trinta anos separam esses dais filmes sobre crimes. A imoralidade banal e a
mesma, embora tenha ganhado mais recursos tecnicos que permitem ver uma
pessoa sendo baleada na cabe,a dentro de um carro com arma de grosso calibre,
enquanto urn dos personagens S8 poe a reclamar nao do fato de urn homem ter sido
morto, mas do fato de 0 tiro ter sujado 0 carro. A difereny8 e que, hoje, essa
imoralidade banal S8 fortaleceu em redes e as cadeias viraram fabricas de bandidos.
Em Pulp Fiction, 0 narcotraficante que comanda urn exercito de gangues mostra que
o crime S8 organizou e ampliou seus poderes.
A metalinguagem, 0 discurso que S8 apresenta en quanta discurso, destina-
S8 a outro publico. 0 filme fala de igual para igual com 0 espectador. Nao S8 trata
mais de conscientizac;ao, ilus6ria proposta do cinema novo. Mais que iSso, a
estrategia da metalinguagem poe em cheque a sagrada ontologia da imagem. Nao
mais acreditar numa representa<;80 unfvoca da realidade. Referir-se indiretamente
ao mundo. Referir-se a outras referencias. 0 uso da par6dia, da colagem, da
cita98o, ou seja, a metalinguagem privilegia a natureza discursiva da obra,
explicitando-a como construt;80 conceitual. Assume-se como ponto de vista, a ser
confrontado com 0 do espectador.
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4 HEROI, VILAO E ANTI-HERO I
4.1 CONCEITOS DE HEROI, VI LAO E ANTI-HEROI
Her6i e uma figura arquetipica que reuns em si todos as atributos
necessarios para superar de forma excepcional urn determinado problema de grande
dimensao. Ele S8 difere de individuos comuns pela sua capacidade de realizar
proezas que exigem 0 excesso de alguma virtude crucial aos seus objetivos - fe,
coragem, vaidade, orgulho, forc;a de vontade, determina9ao au paciEmcia.
o herofsmo que resulta em auto-sacriflcio chama-se martirio. 0 heroi seratipicamente guiada por idea is nobres e altrufstas - liberdade, fraternidade,sacrificia, coragem, justiga, moral e paz. Eventualmente buscara objetivossupostamente egoistas (vinganya, par exemplo); no entanto, suasmotiva¢es serao sempre moralmente justas au eticamente aprovaveis,mesmo que ilicitas. Aqui e preciso observar que 0 heroismo caracteriza·seprincipalmente par ser um ato moral. 0 individuo que seja um exemplo desupera~o; que demonstre virtudes tipicas do heroi; que seja vitorioso e quecause admira<;ao pod era ser um idola, mas nao necessariarnente urn heroi.Observe-se, porern, que 0 her6i pode ser urn idolo (VVIKIPEDIA, 2006).
Existem casos em que individuos sem voca~ao her6ica protagonizam
atiludes dignas do her6i. Ha tambem aqueles em que os individuos demonstram
virtudes her6icas para realizar fayanhas de natureza egoista, motivados par vaidade,
orgulho, ganancia e 6dio. E a caso dos ca9adores de fortuna (piratas, mercenarios).
Essas exce~6esnao impedem de serem admirados como her6is no entanto, serao
melhor representados no arquetipo do anti-her6i.
Atraves das hist6rias em quadrinhos, do cinema e de oulras midias, a cultura
de massa popularizou a FIgura do "super-her6(, que e um individuo dotado de
atributos ffsicos extraardinarios como corpo a prova de balas e capacidade de voar.
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Acredita-se que um dos primeiros registros historicos (registrados por
escrito) de historia de heroi seja a lliada. Algumas refer€mcias heroicas podem ser
tambem encontradas nas mitologias greco-romanas.
Pode-S8 definir heroi como sendo urn substantivo cuja origem etimol6gica
esta no lalim (heros) e no grego (hErOs). Uma figura mitologica ou lendaria,
geralmenle de ascendencia divina, agraciada com grande for9a e habilidades fisicas,
urn guerreiro cheio de virtudes, homem admirado par SUBS conquistas e nobres
qualidades ou urna pessoa que demonstra ter grande coragem, au ainda como
sendo 0 principal personagem masculino de urna obra literaria OU dramatica, figura
central num acontecimento, periodo QU movimento de relevancia hist6rica; urn objeto
de extrema admira980 e devo~o: idolo.
A principal e mais remota referencia a ideia de heroi, dentro da cultura
ocidenlal e encontrada no poema epico A lliada, de Homero. A obra, desde seu
surgimenlo na Grecia Antiga, tem sido lida e relida nos ultimos 2.500 anos. Ainda
assirn, sua origem ainda e considerada obscura, remontando a epocas nao-precisas
e possivelmente tribais. Homero, portanto, nao a teria criado, mas sim Ihes dado
urna versao escrita rna is definitiva, possivelmente no ana 725 a.C. Com 15 mil
linhas, 0 poema gira em torno da Guerra de Troia e os eventos a ela relacionados,
centrando a a9aO em torno do personagem Aquiles, 0 her6i par excelencia que
serviu como modelo nao apenas para a civilizac;ao grega, mas serve ate hoje como
arquetipo para personagens que personificam ideais de nobreza e honra.
Dentro da tradic;ao do cinema norte-americana, a figura do her6i vai surgir,
ainda nos tempos dos filmes mudos, como uma Figura pouco reflexiva (ainda que
inteligente) e canstantemente em mavimento. Essa mobilidade acelerada tern como
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objetivo principal afasta-Io da ideia da inercia do intelecto e, ao colocar 0
personagem em 8980, faze-Ie demonstrar coragem e impela masculinos, her6icos.
o abjetivo quase sempre e salvar e, assim, conquistar a personagem feminina e, par
maio dessa uniao, organizar 0 caos e constituir urn lar, reafirmando dessa maneira, a
ordem social que dele fara um homem completo.
E possivel enumerar um conjunto de atribui96es dadas a constituic;aode um
her6i:
1 - 0 her6i e apresentado em seu maio ambiente original. Urn desafio 0
impulsiona (ou vai impulsiona-Io) a partir para a a98o;
2 - 0 personagem reeebe uma tarefa, urna missao, que 0 colocara em
movimento;
3 - 0 her6i asta relutante em aceitar a desafio no primeiro momento,
temendo as consequEmciasde sua decisao;
4 - 0 protagonista e encorajado por uma outra pessoa, alguem que sobre
ale exerce forte influencia, a aceitar a missao. Esse personagem acaba
desempenhando 0 papel de mentor do heroi;
5 - 0 her6i adentra urn territorio completamente novo para ale. Este e a
momento em que sua aventura, sua jornada, realmente tem inicio;
6 - neste novo mundo, 0 heroi trava conhecimento com aliados e inimigos
que facilitam e ameac;am 0 cumprimento de sua missao;
7 - personagem alcan98 0 ponto mais perigoso de sua jornada. Neste
ponto ele podera morrer, colocar tudo a perder, retornar ou avan~r em
seu caminho;
8 - 0 desafio que pode Ihe custar a vida acaba tornando 0 personagem
mais forte e preparado para 0 que 0 aguarda pela frente;
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9 - 0 heroi final mente alcanya seu objetivo e a experiencia de cumprimento
de sua missao tem efeito transformador sobre ele;
10- personagem inicia sua viagem de retorno, mas ele ainda nao terminou
sua jornada. S6 que agora ele esta preparado para enfrentar quem
tentar impedi-Io;
11 - heroi ressurge em seu velho mundo, mas agora transformado par sua
experiencia;
12 - 0 her6i transformado se sente capaz de reinventar, a partir de tudo que
aprendeu e da experiencia vivida, a realidade ao seu redor.
o vilao e a encarna~o do mal em relatos hist6ricos e trabalhos de fic~o.
Cumpre 0 papel de antagonista ante 0 her6i, ou protagonista. Costuma ser uma
figura desprezivel, rustica e misen3.vel,que na maiaria dos casas quer assumir 0
poder, dominar 0 mundo ou destrui-Io, ou destruir certes pessoas, ou ainda, coloca-
las em seu dominic.
Os vilaos tern urna natureza rna, distinguindo-se assim de meros
antagonistas (que s6 fazem oposiyao ao her6i) e anti-her6is (protagonista com
metodos utilizados pelo vilao). 0 vilao e uma peya-chave de um enredo, atraindo 0
6dio do publico.
Anti·her6; e 0 tenna que se emprega para alguem que protagoniza atitudesreferentes as do her6i classico, mas que nao possuem vocac;ao her6ica ouque realizam as fa~nhas por motivos egolstas, de vaidade ou de quaisquergeneros que nao sejam altrulstas (WIKIPEDIA, 2006).
o conceito de anti-her6i surgiu ap6s varios autores modernos de literatura e
cinema apresentarem vil5es complexos, com caracteristicas que criam empatia com
a leitor au espectador. Sao personagens nao inerenternente rna us e que, as vezes,
ate praticam atos moralmente aprovaveis. Contudo, algumas vezes e dificil trayar a
linha que separa 0 anti-her6i do vilao; no entanto, 0 anti-her6i, diferente do vilao,
20
sempre obtem aprov898o, seja atraves de seu carisma, seja par meio de seus
objetivos muitas vezes justos ou ao menes compreensfveis, 0 que jamais as torna
ifcitos. A malandragem, par exemplo, e urna ferramenta tipicamente anti-her6iC8.
He'! mais de urn tipo de anti-her6i. Alem dos que buscam satisfazer seusproprios interesses, hi! tambem as que sofrem desapontamentos em suasvidas, mas persistem ate alcanc;;ar 0 ato her6ico. Ainda ha a tipo de anti-her6i que e bern pr6ximo do heroi, mas segue a filosofia de que "0 timjustifica as meios". Esse ultimo e bern popular nos quadrinhos (WI KIP ED lA,2006).
Outro grande exemplo de um anti-her6i (apesar de nao ter uma conduta anti-
her6ica) e 0 Chapolin, vista que em urna plena inversao aos her6is tradicionais sle efraco, medroso, pouco inteligente, baixinho e um tanto desastrado, apesar de se
superar para enfrentar os problemas e assim fazer a justiga.
4.2 ANALISE DOS CONCEITOS NO ESTUDO DE CASO
A voz over, ou "Voz de Deus", recurso tipicamente utilizado na maioria dos
documentarios classicos, pontua 0 documentario analisado, em quase todos as seus
momentos, excluindo-se apenas nos testemunhais tornados e faz do personagern
Joao Acacio urn elernento posicionado ao mesmo tempo, como her6i, vi lao e mito.
Esta locur;a,o, ao afirmar: "Para poucos, um her6i. Para muitos, um bandido perigoso.
Para todos, um mito", eleva 0 personagem como um ser humane acima dos demais.
o usa do adjetivo "perigoso" sobrep6e ao personagem 0 medo que 0 mesmo tem de
transmitir no imaginario das pessoas, tornando-se um bandido temido.
o documentario tambem pretendeu mostrar 0 lado humano de Joao, antes
de se transformar no Bandido da Luz Vermelha. As cenas 2 e 3 mostram imagens de
21
sua terra natal e de sua infancia pobre, comum a uma pessoa idonea, vitima da
desigualdade social. Na cena de numero 4 cena, toma-S8 0 testemunho do morador
mais antigo do vilarejo onde Joao nasceu e cresceu, para mostrar, em forma de
contra-ponto, que 0 band ida teve uma infancia inocente, somada a rebeldia toleravel
de urn adolescente, que poucos poderiam imaginar, S8 tamar urn dos maiores
criminosos da historia da justi~ brasileira. Esta cana tambem resgata a relac;ao de
Joao com a familia, com suas origens e lembran98S, situ890es comuns a todas as
pessoas.
A cena 5 mostra urn conjunto de referencias culturais que 0 personagem
acumulou no perfedo em que cometeu seus crimes, como par examplo, as cantores
do movimento da Jovem Guarda, os carros mais cobi9ados da epoca (decada de
60), como 0 Simca Chambord e 0 Calhambeque, as lambretas, os atores herois do
cinema, como James Dean, todos inseridos no contexto politico-social brasileiro da
epoca, 0 milagre econ6mico. Esse conjunto refor<;aa forma9iio do bandido como um
heroi de mesma peso que as ieones culturais citados aeirna, pois tanto ales, quanta
Joao sao colocados juntos, de igual para igual na narrativa do documentario. Urn
heroi, na maiaria dos casas, e resultado de urn grande problema vivenciado, e na
situac;:aodo personagem Joao, pode-s8 dizer que esta distancla entre a mundo dos
ricas e famosos e da sua realidade tenha side 0 fator desencadeador de sua
atuac;:aocriminoS8.
Urn dos primeiros momentos em que 0 documentario relata a lado malefico
de JOiio, evidencia-se na cena de numero 7, onde 0 testemunhal dado pelo Doutor
Nelson Quirino, medico legista que acompanhou Joao em seu tempo de reclusao. 0
media relata situ890es ands 0 bandido mostrava uma convivencia ruim como seus
colegas de cela, e que por essa raziio, recebera 0 apelido de "Ferida", devido%Al't;>...
('"">~~t/rl\.l~Y
22
grande ferida que tinha na perna. 0 depoimento do medico serve para refor",r a rna
indole do bandido, que neste momento do films, trata de exibir 0 vilao em sua forma
real.
Segue a constru\'iio do personagem da realidade na cena 8, uma lista
completa dos crimes cometidos pelo Bandido da Luz Vermelha e lan",da. Tem-se ai
o principal momento de revela\'iio do bandido ao telespectador.
o vilao torna-S8 reconhecido como urn mito no momento em que 0 filme
aborda sua condenaC;:8o,records na hist6ria da Justic;a brasileira: 351 anos, 9 meses
e 3 dias. Logo em seqOencia, entra 0 testemunhal do delegado que acompanhou 0
bandido no periodo em que ja estava livre, apes cumprir a pena minima outorgada
pela lei, que e de 30 anos de reclusao. Nas palavras do delegado Zulmar Walverde,
surgem as 8videncias comuns a qualquer tipo de criminoso, que na literatura e 0
vilao, sempre vencido no final.
23
5 DESCONSTRU9AO
5.1 CONCEITO E ABORDAGENS TE6RICO-CIENTiFICAS
Focalizar as conven90es e operac;oes da leitura leva-nos a tratar as obras
literarias como uma sucessao de 8c;oes no pensamento do leitor. A interpretagao de
uma obra, portanto, torna-S8 uma descric;8.o daquilo que acontece ao leitor: como
varias convent;6es e expectativas entram em jogo, ende conexoes especificas au
hip6teses sao colocadas, como as expectativas sao derrotadas au confirmadas, falar
do sentido de uma obra e contar uma hist6ria de leitura.
Sobre 0 conceito de desconstrUl;ao, Culler (1997, p. 99), reitera:
A desconstruCfBotern sido variadamente apresentada como uma posit;Aofilos6fica, uma estrategia politica au intelectual e um modo de leitura. Aquiesta outra formula~o: "desconstruir" a filosofia e trabalhar atraves dagenealogia estruturada de seus conceitos da maneira mais escrupulosa eimanente, mas ao mesmo tempo determinar, de uma certa perspectivaextema que nao pode descrever ou nomear, 0 que essa hist6ria pode terocultado ou excluido, constituindo~secomo hist6ria atraves dessa repressa.oem que tem interesse.
Desconstruir um discurso e mostrar como ele mina a filosofia que afirma, ou
as oposh;6es hieriuquicas em que se baseia, identificando no texto as opera~6es
ret6ricas que produzem 0 fundamento de discussao suposto, 0 conceito chave ou
premissa.
Aqui esta outra formula~ao do mesmo autor, que afirma:
Desconstruir a filosofia e trabalhar atraves da genealogia estruturada deseus conceitos da maneira rnais escrupulosa e imanente, mas ao mesmotempo determinar, de uma certa perspectiva extema que nao podedescrever ou nomear, 0 que essa historia pode ter ocultado ou excJuido,constituindo~se como hist6ria atraves dessa repressao em que teminteresse (CULLER, 1997, p. 100).
24
Para que S8 possa analisar as efeitos da desconstruy8o, torna-sa necessario
conhecer 0 conceito de casualidade.
A causalidade e 0 principia basico do nossa universe. Nao poderiamos vivernem pensar como 0 fazemos sem tamar per certo que um evenlo causa 0outro e que causas produzem efeitos. 0 principia da causalidade assevera aprioridade l6gica temporal da causa sobre 0 efeilo. Mas Nietzscheargumenta, nos fragmentos de The Will to Power, que esse conceito de umaestrutura casual nao e algo dado como tal, mas antes 0 produto de umaoperac;ao Iropol6gica ou relanca precisa, urns chronologische Umdrehungou reversao cronol6gica (CULLER, 1997, p. 100).
Para desconstruir a causalidade, deve-S8 operar com a n0980 de causa e
aplica-Ia a consequencia em si. A desconstrUl;;ao apela para um principio 16gico mais
elevado ou a razao superior, mas a 0 pr6prio principio que descontr6i. 0 conceito da
causalidade nao a um erro que a filosofia poderia ou deveria ter evitado, mas eindispensavel tanto para 0 argumento da descontruyao quanta para oulros
argumentos. Segundo, a descontruyao da causalidade nao e 0 mesmo que 0
argumento catico de Hume, embora lenham alguma coisa em comum. Hume afirma
em seu Treatise of Human Nature, que quando investigamos sequencias causais,
nada podemos descobrir quais rela<;oes de contigOidade e sucessao temporal.
A medida que causalidade significa mais do que contigGidade e sucessao, ealgo que nunca pode ser demonstrado. Quando dizemos que uma coisa causa a
outra, 0 que experimenlamos, de fato, e que objetos semelhanles sempre foram
colocados em rela96es semelhantes de contiguidade e sucessao.
A desconstruc;ao tambem poe a causalidade em questao dessa maneira,
mas simultaneamente, em urn movimento diferente, emprega a nOyaO de causa em
discussao. Se causa e uma inlerprelayao de contigOidade e sucessao, entao a dor
pode ser a causa, ja que pode vir primeiro na sequencia da experiencia. A
desconstruc;ao reverte a oposic;ao hierarquica do esquema causal. A distint;ao entre
causa e efeito faz da causa uma origem, 16gica e temporalmente anterior. 0 efeito ederivado secundario, dependente da causa.
25
Ao multiplicar as referencias ao cinema de Godard, Sganzerla faz mais que
uma deglutiy80 carnavalesca, inversao par6dica de urn cinema de primeiro mundo,
esteticamente ambicioso. Para alem das erudigoes de cinefilo e das marcas de
filiayao, trava urn dialogo sabre as condi«;oes de S8 fazer arta num pais periferico.
5.2 QUANDO 0 BANDIDO SE TORNA HEROI
"0 Bandido da Luz Vermelha" de Sganzerla decompoe a seqOencia do
suicidio de Pierrot, numa analise visual aguyada e certeira, para desloca-Ia
estruturalmente, fundamentalmente, para a realidade do pais e do filme. Um pais em
crise pede urn filme em crise. Imagens das mais diversas naturezas entram em
conflito, numa montagem heterogenea, colagem dos mais diversos objetos culturais.
Da masma maneira e intenc;ao, a documentario "Joao" tambsm traz a tona
uma mistura de elementos que S8 embaralham, transformando 0 bandido em urn
heroi convencional, atraves de uma desconstruc;ao de valores, paradigmas e
estruturas.
Outro momento em que 0 lado mau do personagem e evidenciado, na cena
numero 1, que apresenta 0 bandido fugindo de uma residencia que acabara de
invadir. Na mesma cena, 0 bandido aparece isoladamente, em primeiro plano,
transmitindo a quem assiste, um certo ar de superioridade e imponencia, tfpicos de
um heroi. 0 fato de sair da tal casa, de forma impune, imputa ao bandido 0
pensamento de que, desta situac;ao, 0 mesmo saiu vencedor. Hit ai um primeiro
caso de desconstrugao.
26
Na cena numero 2 e evidenciada a influencia da midia na construc;ao do mito
e na desconstrU!;ao do vi lao. 0 fata dos crimes que 0 band ida cometeu S8 tarnar
manchete dos principais jarnais do Brasil, 0 insere no cenario social, como urn
homem destemido, perigoso, e cada vez mais popular.
A cena 6 relata-nos com destaque, os tipos de crimes cometidos por Joao,
desde 0 inicio de sua trajetoria de dalites. Hi! nesta cena mais urn elemento de
descontruyao do band ida, pois ha uma compara98o entre Joao e 0 personagem
Robin Hood, considerado 0 protagonista heroi de sua narrativa, que masmo
cometendo crimes, roubando dos ricas, distribuia 0 que roubava aos pobres,
tornando-se heroi de sua realidade. 0 personagem Joao nao distribuia aos pobres
os produtos de seus furtos, mas aproxima-se de Robin Hood, por ser um
personagempobre, e da masma maneira, sar tratado como heroi pela obra
cinematografica.
o artigo entitulado "Luz Vermelha, um caso para se pensar, destaca a
intenyao ingenuamente bondosa que 0 bandido possufa:
You pedir ernprego ao prefeilo e trabalhar para cornprar urn MSimca". 0carro e dos anos 60, a epoca em que Joao Acacio perdeu 0 direito aliberdade e come90u sua peregrinayao pel as cadeias, que 56 tell11inaria trasdecadas depois (USP, 1997).
o proprio apelido de Bandido da Luz Vermelha, recebido por Joao, traz a ele
uma referemcia de outro bandido considerado mito, Carl Chessman, 0 verdadeiro
Bandido da Luz Vermelha. Assim, Joao e posicionado novamente como alguem
acima da media, urn ser tao perieuloso quanta a eriminoso intemacional ao qual foi
comparado.
o mesma artigo eitado aeima reafirma:
o apelido tinha sido criado pela imprensa norte-americana em referencia aoutro bandido que agia em circunstancias semelhantes nos Estados Unidos.A amoralidade ja se tomou banal nos nossos tempos, em que lodos as diasem todo 0 mundo 5aO noticiados casos de assassinatos crueis pelos maisfuteis au torpes motivos (USP, 1997).
27
A cena 9 retrata que 81am dos barbaros crimes carnetidos, 0 band ida
tambem praticava intenso terrorismo, devido ao trauma gerado em suas viti mas e do
posterior medo de urna represalia. Ai entra a testemunho de urna vitima, a dentista
joinvilense, Waldir Neumann, que relata detalhadamente como flagrou 0 band ida
dentro de sua casa e da briga corporal que travou como 0 mesma. 0 testemunhal
desta vitima tern sua importancia no documentario, primeiro, para demonstrar com
realismo maximo a Situ8g80 vivida e, em urn segundo momento, aeaba par gerar
urna sensagao de panico, no momento em que 0 espectador, naturalmente, S8
coloca no lugar da vftima. 0 testemunho reflete, tarnbam, 0 sentimento de angustia e
medo sentidos pela vitima, a que da ao vilao, uma representac;ao de poder, em bora
malefico, que ele exerce. Poder que e normalmente associ ado ao her6i, e vista aqui,
nas maos do vilao, resultado da desconstruc;ao sugerida pel a obra.
Na cena 12, a desconstruc;ao e fortemente observada, pais surgem as
imagens de arquivo, de Joao participando de um programa de televisao de elevado
indice de audiencia, "Emergencia 190", apresentado pelo comunicador Carlos
Massa, 0 "Ratinho", que no periodo, erra transmitido pela emissora CNT. Ao de uma
figura ilustre, e em meio a cameras e holofotes, Joao se considera um verdadeiro
artista, um [dolo popular e mostra soberba e arrogancia ao responder as perguntas
feitas pel a apresentador. Aqui e passive I observar rna is um componente de
desconstruy;3o, onde um band ida tam bern se considera uma figura ilustre e famosa,
urn "pop star" com dire ito a dar aut6grafos e querer receber caches pelas entrevistas
concedidas.
Imagens que mostram 0 assedio de populares sobre a Figura de Joiio
tambem se somam a construC;80 do her6i venerado. He ai a suspens80 imaginaria
da realidade, pois a populayao esquece que se trata de um bandido, que a rcU~fI.!-::.-..
(
>'J"D[~'..
:~::.",\,)
28
sobrepos a urn hero;, urna pessoa famosa, reconhecida par todos as lugares per
onde passava.
Em seus poucos minutos de fama 0 heroi-vilao, mesma sentido-se orgulhoso
par estar aparecendo em jornais, revistas e programas de televisao, e arrogante com
as profissjonais de imprensa que 0 acompanham, reforyando-o como urna pessoa
publica, e muitas vezes, colocando-o como urn 8Stro. 0 novo testemunhal do Ooutar
Nelson Quirino descreve esta passagem da vida de Joso com exatidao.
A inocencia de suas ultimas declarar;6es, em que de forma rude fala de
Deus e de urn mundo de amor entre as homens, contrasta com seus crimes. 0 que eretratado na cena 14, que refofC;8 a desconstruy80 do vilao, mostrando sua
conversao religios8, atraves de urna imagern de Joao, sentado no banco traseiro de
urn automovel, recitando urn canto evangelico, cujo retrao diz: Uo que tiver de ser,
sera, sera ... ". A sequencia seguinte, como urn soco, rnostra imagens de Joao
cometendo crimes, ja, desmontando a irnagem anteriormente exibida, atraves do
contra-ponto, bondade x maldade, religiao x crime.
A morte de Joao e 0 que poe tim em sua trajet6ria de crimes e de sua
exposiyao astronomica na midia de massa, construindo-o como urn her6i vilao. Vilao
de uma realidade social e heroi de uma realidade cinematografica. A cena 17 mostra
fotos do funeral de JOBO, com urn pequeno grupo de pessoas ao redor do caixao.
Essas imagens, somadas as imagens de flores e papeis contendo declara90es de
amor e citay6es biblicas, provam que 0 bandido foi amado por algumas pessoas,
outro tra90 de desconstrUl;ao verificado, atraves do sentimento puro e benefico que
alguns tinham por JOBO, mesmo sendo um bandido, urn vi lao que conseguira ate,
despertar paixoes e atrair mulheres.
29
"Era jovem e bonito 8, mesmo sendo assassino, recebeu na cadeia cartas de
amor de muitas mulheres, algumas delas ate policiais, a maioria oferecendo 0 amor
que 0 regeneraria" (USP, 1997).
30
CONSIDERA!;:OES FINAlS
A partir dos conceitos levantados e das analises realizadas ao longo deste
trabalho, torna-S8 passivel compreender como 0 cinema documentario e capaz de
construir e desconstruir padr6es de estilo, estatica e interpretac;ao, mostrando
evidencias de um mundo real, metalorizado pela figura de um bandida que e coloco
como urn heroi, carregando a maior importancia dentro da estrutura narrativa no
roteiro que foi criado.
Os conceitos retomados do cinema direto permitem compreender que a
estrutura do genera permite a quem esla dirigindo a obra, inserif t6picos de urna
verdade indiscutivel e inquestionavel, pel as proprias verdades que sao ditas pelos
depoentes que, em seus testemunhais, ajudam a contar urna determinada hist6ria,
neste caso, de vida e trajetoria de Joao Acacia Pereira da Costa, a Bandido da Luz
Vermelha.
Porem, com a ajuda de reCUfSOS tecnicos como escolhas de angulos e
pianos e 0 modo com 0 que filme deseja ser montado, fazem com que 0 vi lao da
vida real seja visto como urn her6i. Tem-se ai a verifica~o de urn sistema de
desconstruc;8o de estruturas convencionais, invertendo valores pre-estabelecidos e
rompendo com paradigmas do proprio cinema hollywoodiano tradicional.
Compreender as conceitos de heroi, vilao e anti-her6i facilitararn a
construyao de um heroi bandido, ja que a roteiro propoe como protagonista
documentado, uma figura que cometeu uma sarie de delitos crueis, que 0 levaram a
ser condenado com a maior pena ja decretada a urn criminoso no Brasil, ao inves de
um homem que tenha leito alga que pudesse contribuir para a bem da sociedade.
31
Relatar a saga de urn vitao, ao inves de enaltecer urn heroi, aeaba par mostrar que
no Brasil em que vivemos, muitas pessoas, acostumadas aver situ8r,;oes ende
bandidos saem impunes, acabam par aceitar passivamente tBis situac;6es, sem
considera-Ias estranhas.
Nao apenas abordando quest6es referentes as analises feitas sabre 0
personagem protagonista do documentario, este trabalho tambem conseguiu
verificar urn sistema de desconstru~o da propria narrativa cinematografica
convencional, que dita que os vil6es sempre estao atrelados a urn final ruim. Em
"Joao", a fim do protagonista e sua marte, porem, ao longo de quase toda a sua
estrutura, e vista como 0 personagem principal e tern a 5i, todas as atenc;:6es
voltadas. Algumas citac;6es ainda revelam 0 mesmo como urn gala, ou como alguem
que possa ter a admira9ao das pessoas.
Com tudo, foi passivel concluir que 0 cinema, como send a uma
manifesta9iio artistica que prende a aten9iio do publico, pelo poder de persuasao da
imagem e do sam, e capaz de inverter papeis e valores ja enraizados na cultura
popular, neste caso, com a sobreposi9ao do band ida ao heroi, aceita pela audiemcia.
Somente um sistema como 0 que se observa no cinema poderia ser capaz de tal
fato, e no caso do genera dacumentaria, que mastra situac;:6es reais, e nao criadas
para serem encenadas, isso se constata de forma ainda mais acentuada.
32
REFERENCIAS
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33
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__ . Disponivel em: http://pt.wikipedia.orglwiki/Anti-her%C3%B3i). Acesso em: 16set. 2006.
34
ANEXOS
35
ANEXO I. 0 Roteiro.
JOAO.A trajetoria do Bandido da Luz Vermelha.
Argumento e roteiro: Marcelo Correia.
CENA 1 - SeqUencia de imagens de "0 Bandido da Luz Vermelha" I
de Rogerio Sganzerla.
Imagem de arqui va - bandido saindo de uma casa pela porta e
fugindo.
LETTERING
Joao.A trajet6ria do Bandido da Luz Vermelha.
Trilha 1 - "0 truque do ovo" (Cachorro Grande) .
LocuC~o: Para pOlleos, urn her6i. Para muitos, urn bandidoperigoso. Para todos I urn mito.
CENA 2 - SeqUencia de fotas e materias jornalisticas sabre
Joao Acacia "Luz Vermelha".
Trilha l.b - "Cidade das flores murchas" (Sanchez).
Locuc;ao: Joao Acacia Pereira da Costa nasceu em 20 de outubro
de 1942, em meio a pescadores, numa cornunidade pobre, a Vila
da Gloria, localizada entre as municipios de Joinville e Sao
Francisco do Sul, li toral de Santa Catarina.
36
CENA 3 - Imagens do local onde 0 bandido nasceu e fai criado.
Imagem de arquivo TV CNT - Programa Emergencia 190 - Joao fala
de sua cidade-natal.
Imagens da cidade de Joinville e da Vila da Gloria (Sao
Francisco do SuI).
CENA 4 - Testemunhal do morador mais antigo da localidade ondenasceu "Luz Vermelha". (0 mesrna relatara fates da infancia e
adolescencia de Joao, analisando sua personalidade da epoca) .
CENA5 - LETTERING - Contexto social.
Seqliencia de novas fotas de Joao, intercaladas com fotas de
ieones dos aDOS 60 - Roberto Carlos, carro, ditadura militar.
Trilha 2 - "Voce nao serve pra mim"(Roberto Carlos).
Locucao: Inicio dos anos 60. 0 Brasil vivia urn periodo de
instabilidade politica, imposta pela di tadura mili tar e 0
come<;:ode urn periodo de influencia do chamado II imperialismo
norte-americano". Era 0 tempo do milagre economico brasileiro,
do Ie, ie, ie, do cinema de James Dean, do lendario Simca
Chamborde do Calhambeque de Roberto e Erasmo Carlos. Contexto
este, onde urndos maiores criminosos da hist6ria da justi<;:a do
nosso pais inicia sua carreira de barbaros crimes.
37
CENA6 - LETTERING - Joao au Luz Vermelha?
Imagens de arquivo de "0 Bandido da Luz Vermelha" f de Rogerio
Sganzerla.
Trilha 3 - "Shau Pais Baptiston" (Dazaranha) .
LocuC~o: Dentre as infuneros crimes cometidos por Joao Acacia,
destacavam-se as de estupro e homicidio. Considerado, de formaincornpreensi vel par alguns como uma especie de Robin Hood da
realidade, recebeu sua alcunha de "Luz Vermelha" devido a uma
compara<;ao corn Carl Chessmann, 0 verdadeiro Bandido da Luz
Verrnelha.
CENA 7 - Nova seqUencia de fotes e materias jornallsticas do
bandido.
Testemunhal do Dr. Nelson Quirino, (onde 0 mesmo relatahist6rias sobre 0 meliante na prisao e seu apelido: "Ferida").
Cenas do filme de Rogerio Sganzerla.Sequencia de fotas de Joao Acacio.
CENA 8 - LETTERING - Joao e 0 crime.
Trilha "Voce nao sabe nada"{Cachorro Grande}.
Imagens do filme de Rogerio Sganzerla.
Sequencia de fotos de materias jornallsticas.
Locu<:;ao: Joao Acacio, ap6s uma serie de pequenos deli tos, vern
a tona como urn assaltante, estuprador e homicida. Da primeira
vitirna ern Joinville, sornavarn-se outros crimes ern Santos e na
capi tal paulista, onde 0 meliante soma 77 assaI tos,
tentativas de homicidio e 4 assassinatos ate ser detido e preso.
38
GENA 9 - LETTERING - Joao e as vitimas.
Trilha 4 - "Pedacos de Papel" (Actemia) .
Fatos de jornal e imagens do filme de Rogerio Sganzerla.
Locw;ao: No rastro de suas atrocidades, "Luz Vermelha"
aterrorizava suas vitimas, gerando-nas urn trauma irreversivel,tamanha era sua frieza e cruel dade .
Testemunhal do Dr. Waldir Neumann, veterano dentistajoinvilense, pai de uma das vitimas de Joao. (nele e feito 0
relata da luta corporal que 0 mesma travau com Joao, ap6s
flagra-lo nas dependencias de sua residencia) .
CENA 10 - LETTERING - A condenac;:ao.
Trilha 5 - "Leve" (Os Berbigao) .
SeqUencia de fotas de Joao Acacia.Imagens do filme de Rogerio Sganzerla.
Locw:;::ao: Joao Acacia foi condenado a cumprir reclusao durante
351 anos, 9 meses e 3 dias, entrando, assim, para a hist6ria
do direito penal brasileiro, como 0 detentor da maior pena jaoutorgada a urn detento.
Testemunhal de Zulmar Walverde, veterano delegado de policia
civil da cidade de Joinville. (0 mesmo relata como Joao toi
preso, julgado e fala sobre sua condena~ao e penal .
Imagem do documento de condenacao do bandido.
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CENA 11 - LETTERING - A prisao.
Sequencia de fotos de rnaterias jornalisticas.
Locu<;ao: Em 24 de agosto de 1967, Joao Acacio e presQ,primeiramente, na Casa de Oetenc;:ao de Sao Paulo, no Carandiru
e logo ap6s e transferido para a Casa de cust6dia e Tratamento
de Taubate, interior paulista.
Imagern de arquivo TV eNT - Joao fala de sua passagem pela
prisao.
CENA 12 - LETTERING - A vota a sociedade.
Trilha 6 - "Sorrir"(Butt Spencer).
Imagens de arquivo da TV eNT. Programa Emergencia 190, com 0apresentactor Carlos Massa, 0 Ratinho, que pergunta a Joao
Acacia se houve recuperacao ao 10ngo do periodo de reclusao.
Locw:;ao: Acostumado a vi ver prese, Luz Vermelha sofreu duras
conseqilEmcias em sua vol ta mundo exterior. Renegado pela
familia, rnostrava urn alto grau de egocentrisrno, achando-se urn
verdadeiro "pop star", devido a forte presenca de fas,
reporteres e demais pessoas que the assediavam, e 0 seguiam.
Testemunhal do rep6rter Marco Aurelio Braga, que acompanhou atrajet6ria de Luz Vermelha, em sua volta para Joinville, SantaCatarina.
Segundo testemunhal do Dr Waldir Neumann.(0 mesmo critica 0 sistema judiciario/carcerario brasileirol .
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GENA 13 - LETTERING - Joao e a Imprensa.
Imagens de arqui vo da TV CNT. Programa Ernergencia 190 I com 0
apresentador Carlos Massa, 0 Ratinho.
Locu<;ao: Joao Acacia sentia-se orgulhoso per estar aparecendo
na midi a , pois podia disparar suas criticas a tudo 0 que Ihe
fizera mal em sua vida, numa especie de denuncia.
Segundo testemunhal do Dr. Nelson Quirina, medico legista.(0 me sma relata casas sabre a rela<;ao de JoaQ Acacia com a
Imprensa) .
CENA 14 - LETTERING - Her6i pagao ou bandido cristao?
Imagem de Joa.o Acacia, dentro de urn carro, cantando urn hino
religioso.
Sequencia de imagens do filme de Rogerio Sganzerla, onde 0
bandido comete varios delitos.
Serie de fotas de materias jornalisticas.
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CENA 15 - LETTERING - A marte.
Trilha - "Vau morar no arf/(Casa das Maquinas).
Sequencia de fotas de materias jornalisticas.
LocU(;:ao: Em 05 de janeiro de 1998, 0 homem se transforma emmite. "Luz Verrnelha" foi assassinado fulminantemente palounico homem que ainda acreditava na sua recupera9ao.
Imagem da foto do cunhado assassino.
Testemunhal do Dr. Waldir Neumann.Agora ela fala do alivio de ver 0 criminoso que 0 feriu,
mortal .
CENA 16 - LETTERING - 0 julgamento do culpado.
Segundo testemunhal do rep6rter Marco Aurelio Braga.
Testemunhal do cunhado de Joao Acacia, absolvido pelo seu
assassina to.
CENA 17 - LETTERING - A lenda.
Sequencia de fotas de Joao - seu velorio, enterro e crimes.Pessoas ao redor de sua cova. Insert de placa corn escritos
religiosos e declaracao de amor.
CENA 18 - LETTERING CREDITOS.
Trilha final - "Joao" (Cidadao Quem) .
Cn§ditos.
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