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A Geração de 45 no Pará: the beginning.
Dawdson Soares Cangussu1
Ideal do crítico: resistir a todas as tentações da ficção.
Haroldo Maranhão (SL/ FN: 14)
O ano de 1945, que assinala o início da
Segunda Geração Modernista, é dos mais
marcantes da história da humanidade. Nessa
data, com as explosões atômicas nas cidades
japonesas de Hiroshima e Nagasáki,
terminava a Segunda Guerra Mundial e
começava um período de reestruturação
geográfica, política e econômica que dividiu o
mundo em blocos capitalistas, sob a liderança
dos Estados Unidos, e comunistas, guiados
pela ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Essa divisão, da qual o
muro de Berlim foi o maior símbolo, conduziu os rumos das políticas e economias
mundiais até o final dos anos de 1980. O medo de novos ataques nucleares
alimentou a chamada "guerra fria", que opôs países capitalistas e comunistas ao
longo das décadas seguintes.
No Brasil, 1945 é o ano da queda de Getúlio Vargas e a subida do General
Eurico Gaspar Dutra na presidência da república. É o chamado período da
1 Mestrando em História Social da Amazônia pela Universidade Federal do Pará.
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redemocratização. Uma redemocratização parcial haja vista que Dutra deu
continuação, até certo ponto, a alguns aspectos da política varguista, os quais sejam
aqueles referentes à repressão e à censura, os quais foram sendo superados
gradativamente.
No âmbito literário, 1945 é o ano da morte de Mário de Andrade, principal
figura do Modernismo, e da publicação de O Engenheiro, livro de João Cabral de
Melo Neto que apresenta características inovadoras do fazer poético. Cabral fez parte
da chamada "geração de 45", grupo de poetas que propôs, entre outros princípios, a
retomada do rigor formal. É também a data do I Congresso Brasileiro de Escritores,
que ocorre em São Paulo e atesta a maturidade do sistema literário brasileiro. Para
Maués2,
“no âmbito da crítica, é necessário considerar que os críticos pré-modernistas ou modernistas eram, em geral, amadores ou autodidatas, por vezes criadores, poetas ou romancistas que faziam crítica como atividade marginal e não principal e muito menos, exclusiva, enquanto os novos críticos que começam a surgir com o neomodernismo eram, em geral, formados pela Faculdade de Filosofia, isto é, produtos de um estudo rigoroso das letras, no plano superior, e, de modo particular, de teoria literária, lingüística, filologia, romântica, português, além de línguas clássicas”.
Eram, como diz Heloisa Pontes3, referindo-se ao Grupo Clima, produtos do novo
sistema de produção intelectual implantado na Faculdade de São Paulo por
intermédio dos professores estrangeiros. E ressalta ainda que:
2 MAUÉS, Júlia. A modernidade literária no Pará: o suplemento literário da Folha do Norte. Belém: UNAMA, 2002, p. 106. 3 PONTES, op. cit., p. 13.
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“no início dos anos 40, segundo Antônio Cândido, todos tinham “em preparo um trabalho de história, ou de sociologia, ou de estética ou de filosofia, como os maiores (da geração anterior) tinham romances. E todos começam pelo artigo de crítica, como os seus maiores começavam pela poesia. E são críticos e estudiosos “puros”, no sentido de que, neles, dominará sempre esse tipo de atividade”.
Surgem novas revistas e suplementos literários em todo o país, dentre as
quais se destacam a paulista Clima, para a qual escrevem os críticos Antonio
Candido e Décio de Almeida Prado, a cearense Clã, a carioca Orfeu, a curitibana
Joaquim, a mineira Edifício. Entre os Suplementos destacavam-se o do “Correio da
Manhã” e dos jornais do Distrito Federal. Nas revistas e jornais, a crônica vive fase
brilhante. Rubem Braga e novos escritores mineiros, como Paulo Mendes Campos e
Fernando Sabino renovam o gênero, exercitado pelos grandes prosadores e poetas
do período.
Consoante Maués4, a nova geração de poetas que surgia era apenas em parte
mais criadora do que crítica, porque nenhuma outra geração na história literária do
Brasil foi tão criteriosa e crítica como a que dominava o panorama intelectual da
década de 40, denominada como geração de 45.
Com efeito, uma revolução da estética modernista fora iniciada com essa
geração. A crítica literária passou a ser concebida como uma atividade que estava à
margem dos gêneros literários, isto é, como uma espécie de vigia que pontuava as
orientações, as dificuldades, as tendências e as inovações em prol do progresso do
pensamento literário.
4 MAUÉS, op. cit., p. 21.
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Para entendermos melhor essa transição entre gerações é bom levarmos em
consideração o que Haroldo Maranhão – um dos ícones dessa nova geração dizia a
respeito:
“Há uma grande expectativa de renovação. Renovação que se pressente em todos os gêneros, principalmente na ficção, onde a técnica vai adquirindo um sentido novo limpo de reminiscências. O conto, por exemplo, é agora mais psicológico e menos objetivo (...). A poesia, de outro lado, não é a mesma, não falo da que apareceu por ocasião da decantada Semana de 22, informe e caricatural, mas da que sucedeu a esses exageros de revolução, adquirindo a sua definida estrutura e a sua característica posição histórica. Que dizer também da crítica, onde um Rubem Braga nosso conseguiu sobrepujar em técnica e realização um Álvaro Moreyra da geração que vai passando?” (SL/ FN: 14).
No que tange a isso, Maués5 faz uma ressalva muito pertinente:
“na verdade, a preocupação dos poetas era não seguir as imposições da moda, principalmente aquelas vindas na esteira das contribuições menos importantes de Mário de Andrade. Este, na opinião de Milliet, havia influenciado os mais jovens somente pelo pior. E o que representava esse pior? Aquilo que havia de menos sólido: a posição polêmica quanto a idéias políticas e artísticas”.
É pertinente, neste ínterim, enfatizar o papel da crítica literária produzida no
interior do país por grupos que tentavam construir uma vida cultural independente dos
grandes centros. Estes foram denominados por Álvaro Lins de provincianos nacionais
devido, mesmo aqueles que moravam nas metrópoles, não passaram de
representantes de suas províncias.
5 Ibidem, p. 64.
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A literatura do interior – apesar das dificuldades geográficas, de tempo e de
bibliografia – se fortalece com a criação de revistas e de suplementos literários,
momento nos quais as grandes cidades passam a enxergar com atenção os trabalhos
realizados nas diferentes regiões do Brasil. O suplemento foi um espaço público que
acolheu diversas linguagens, abrigou os mais significativos nomes da geração de
escritores, poetas, contistas, ensaístas e críticos dessa década, e acolheu os
intelectuais das áreas de ciências humanas que não tinham aceitação na
universidade brasileira.
Com respeito a essa nova geração, Lêdo Ivo (SL/ FN: 137) profere uma
palestra em São Paulo, na qual ressalta:
(...) “creio mesmo que jamais houve no Brasil um conjunto de jovens tão numeroso e tão apaixonado pela coisa literária. E mais uma vez as províncias dão o que de melhor possuem em suas profundezas: os jovens poetas, com o seu segredo e sua ambição, orgulhosos e informulados”. Neste momento Lêdo Ivo denomina esse fenômeno de “novo estágio de sensibilidade”.
Mas, na mesma fala Ivo adverte quanto a alguns erros característicos de
principiantes em literatura:
“A verdade, portanto, é que a poesia dos novos não descobriu ainda o seu ritmo, a sua música, a sua sabedoria vocabular, a adequação entre forma e substância necessária à sua total realização. De um modo geral, a nova geração não existe como uma piedade de precursores, mas simplesmente como uma legião de transfiguradores, de jeitosos aproveitadores de lições formuladas pelos que os precederam. (...) O que nos impressiona é a insistência de horizontes particulares, de paisagens suspensas no ar, de hermetismos extravagantes e a evidência de um quase total desconhecimento do Brasil, até mesmo nos aspectos mais superficiais”. (Ibidem.)
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Também a respeito dessa nova geração de intelectuais, Ruy Barata, em 1947,
deu uma entrevista ao Jornal Literário “José” de Fortaleza. Respondendo a uma
pergunta sobre qual a importância, dentro do Brasil, do movimento literário do Pará,
Barata responde claramente que é muito cedo para fazer algum juízo sobre isso. (...)
“o que fazemos é estudar e trabalhar – e penso ser isto o que mais nos deva
preocupar no presente momento”. (...). Na mesma entrevista Barata fala do período
político de Getúlio Vargas e Magalhães Barata, momento em que:
“(...) as revistas foram obrigadas a suspender sua circulação por falta de amparo, liberdade, garantias e, sobretudo, para não se submeterem aos elogios e propagandas encomendadas, seguindo-se um período de esterilidade no terreno editorial” (SL/ FN: 33).
E completa:
“Estávamos, então, no negro tempo da ditadura que tínhamos de nos entrincheirar dentro de um amargo silêncio para não sermos contaminados pelo ar pestilencial que ameaçava sufocar as mais novas gerações brasileiras” (Ibidem).
Em um dos trechos mais interessantes da entrevista Barata frisa a importância
do Suplemento Literário da Folha do Norte para a nova geração literatura paraense
que estava se estabelecendo:
O Suplemento Literário da Folha do Norte veio preencher uma lacuna que há muito se fazia sentir em nossa terra”(...). “Antigamente, aos domingos, não se podia abrir um jornal de Belém que não viesse cheio dessa literatura oficial, e dessa sonetaria inexpressiva que fazem as delícias das tertúlias patrocinadas pelos fazedores da “arte pela arte”. Hoje temos o Suplemento em que colaboram os vultos do pensamento literário nacional (Ibidem).
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“Mais moderno do que modernista” o SL/FN foi espaço para a poética de
diversos pensadores como Álvaro Lins, Otto Maria Carpeaux, Lúcia Miguel Pereira,
Sérgio Buarque de Holanda, Sérgio Milliet, Alceu de Amoroso Lima, Almeida Fischer,
Paulo Ronai, Aurélio Buarque de Holanda, Roger Bastide e Wilson Martins. A enorme
lista de intelectuais continua com Carlos Drumonnd de Andrade, Manuel Bandeira,
Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Jorge de Lima, Murilo Mendes, Emílio Moura,
Mário Quintana e Joaquim Cardoso. Estes co-escreviam junto aos novos Ledo Ivo,
Bueno de Rivera, Alphonsus de Guimarães Filho, João Cabral de Melo Neto, Péricles
Eugênio da Silva, Jorge Medauar, Aluízio Medeiros, Domingos Carvalho da Silva,
Antônio Rangel Bandeira, e outros. A lista é cansativa, porém, é pertinente para
tomarmos ciência da grandeza desse periódico provinciano. Não podemos esquecer
dos modernistas do Pará como Haroldo Maranhão, Max Martins, Jurandir Bezerra,
Alonso Rocha, Elmiro Nogueira, Benedito Nunes, Ruy Barata, Paulo Eleutério Filho,
Marques Rebelo, Cauby Cruz, Cécil Meira, Cléo Nernardo, Daniel Coelho de Souza,
Francisco Paulo Mendes, Garibaldi Brasil, Levi Hall de Moura, Mário Couto, Mário
Faustino, Nunes Pereira, Orlando Bitar, Otávio Mendonça, Paulo Plínio Abreu entre
outros.
A geração de 45 no Pará começou a se constituir, na verdade, em 1943, a
partir da formação e desintegração da Academia dos novos6. Dos poetas da geração
de 22 os poetas paraenses, no início dessa década, pouco sabiam. E essa espécie
de atraso de mais de vinte anos podemos perceber nas palavras de Haroldo
Maranhão, em 1946, em (O último dos modernistas, SLFN: 1): “já tem mais de vinte
6 Para saber mais sobre a Academia dos Novos basta ver: FIGUEIREDO, Aldrin Moura. Querelas Esquecidas: o modernismo brasileiro visto das margens. In. PRIORE, Mary; GOMES, Flávio. Os Senhores dos Rios: Amazônia, história e margens. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
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anos, vinte anos de triste incompreensão coletiva” (...) “Assim foi que pude distinguir
claramente poesia e forma, com os olhos cegos à miragem parnasiana. Carlos
Drummond de Andrade, com sua “Consideração do Poema” me faz neste momento
um bem enorme, pela clareza e precisão com que define o fenômeno que eu custei a
compreender”.
“Não rimarei a palavra sono com a incorrespondente palavra outono. Rimarei com a palavra carne ou qualquer outra, que todas me convêm. ** As palavras não nasceram amarradas, elas saltam, se beijam, se dissolvem, no céu livre, por vezes um desenho, são puras, largas, autênticas, indevassáveis”.
O fenômeno que ele lamenta ter demorado a compreender foi justamente o
modernismo.
Em 1943 surge a Academia dos Novos que só tinha de novo os seus
integrantes. Esses rapazes paraenses, entre eles Haroldo Maranhão, Max Martins,
Jurandir Bezerra, Alonso Rocha, Elmiro Nogueira, Benedito Nunes, Rui Barata, Mário
Faustino e etc., estavam, em plena década de 40, cultivando uma literatura clássica e
parnasiana. Figueiredo7 faz uma indagação/provocação interessante: “o que diria
Mário de Andrade se fizesse um passeio ao Pará em 1943? Talvez pensasse o
quanto malogradas encontravam-se as ambições de conquista dos futuristas da
década de 20, que pensavam comandar as letras do país”.
Após tomar conhecimento do modernismo de 22 os confrades da Academia
dos Novos iniciaram, num primeiro momento, um posicionamento veementemente
7 Ibidem, p. 9.
9
contrário. Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira eram os alvos preferidos
das galhofas. Benedito Nunes apud Figueiredo8 em uma de suas sátiras dizia que
estes “escreviam os versos que escreveram porque não sabiam rimar ou metrificar”.
Mas essa rejeição aos cânones modernistas não duraria muito. Pouco a pouco
a existência da Academia dos Novos e das produções formalistas da literatura
parnasiana foi tendo fim. É como diz Figueiredo9: “a vingança da memória dos
paulistas, com tamanho ultraje às conquistas de 22, chegaria sem pedir licença”. E
acrescenta que “o fim da Academia dos novos foi, inconsciente e paradoxalmente,
saudado como o triunfo do modernismo”.10
Ocorreu que o modernismo adveio primeiro justamente em um de seus
maiores opositores, Max Martins. Tomou conhecimento do movimento modernista por
intermédio do então professor do Colégio Marista Nossa Senhora de Nazaré,
Francisco Paulo Mendes, que foi a figura central na leitura, crítica e difusão da
literatura moderna em Belém do Pará, nas décadas de 1940 e 1950. Benedito Nunes
isso endossa: “Só começaríamos a modernizar-nos depois da morte de Mário de
Andrade, em 1945”.
Em momento crucial, Maués11 coloca que a literatura desses jovens
paraenses, que primariamente os preocupava, em consonância com a música erudita
e com as artes plásticas, servia também para denotar que no espírito dos jovens
amigos já se fazia sentir o prenúncio, em poesia, de uma nova estética cujo
significado representaria não só uma ruptura com a literatura parnasiana, como
8 Ibidem, p. 8. 9 Ibidem, p. 11. 10 Ibidem, p. 13. 11 MAUÉS, op. cit., p. 13.
10
também uma convergência para outro tipo de poesia marcada pela liberdade de
expressão.
E acrescenta:
“o verso livre, a incorporação da fala coloquial (e até de realizações incultas da língua), a valorização de aspectos do cotidiano, além da aproximação entre a linguagem da poesia e da prosa, a metalinguagem e o quase abandono das formas fixas como o soneto, podem figurar como aspectos fundamentais do novo ideário”12.
Como exemplos têm os poemas dos livros Anjos dos abismos de Paulo Plínio
de Abreu e Linha Imaginária de Ruy Barata, além de O Estranho, primeiro livro de
Max Martins em 1952 e os poemas de Mário Faustino.
Estes novos ouviram muitas críticas – após a conversão ao modernismo –
tanto quanto criticaram este movimento quando ainda cultuavam a literatura
parnasiana. Críticas ferrenhas foram feitas pelos passadistas da literatura paraense.
Um destes foi Remígio Fernandez (1881-1950), advogado, professor de latim,
tradutor e poeta. Remígio foi convidado a escrever no Suplemento. Ele foi enfático e
não hesitou em chamar a nova geração paraense de “abominável excrescência do
corpo das belas letras”. E mais: disse que “o modernismo não é, pois, uma escola
nova. Não tem preço por não ter apreço como produto de arte. É uma excrescência
repulsiva” (SL/ FN: 45). Em outro momento diz: “refugo as aberrações que deturpam
os cânones da beleza, em seu duplo sentido: as deturpações do espírito do idioma,
as ofensas à sensibilidade moral, ao sentir comum” (SL/ FN: 45). Criticava
principalmente o conteúdo da poesia da nova geração, ou melhor, dizia que não tinha
12 Ibidem.
11
conteúdo, que era um “acervo de ovações e palavras sem lógica, sem
correspondência ao sentimento do senso comum”.
Outro que também lançou suas críticas à nova geração de poetas do Pará foi
Levi Hall de Moura (SL/ FN: 48). Colocando-se como parte da geração anterior disse:
“a gente percebe que a geração de Cléo Bernardo é uma geração atordoada e
vacilante, geração angustiada e indecisa e, portanto, facilmente levada a reboque”.
Alguns se lançavam em defesa da nova geração como Geraldo Palmeira, que
disse apud Figueiredo13:
“A única ligação entre essas duas gerações é o que sempre houve no mundo. Uma nasce, outra morre. Os nossos velhos nem morrer sabem, pois vivem nos atacando com a excrementícia de seus cérebros fossilizados. Basta dizer que estamos divorciados do ballet dos sujos, como dizia o querido Mário de Andrade, pois do contrário, teríamos de considerar o professor Remígio Fernandez como uma velha gata devorando sua ninhada. Eles não podem entender a nossa linguagem, não temos tempo para construir a chamada cultura de fichário. Entre as acusações de que somos diariamente vítimas, avindas de alguns Matuzalens, é de que não nos prendemos ao passado, que escrevemos para nós mesmos, e etc. Eu concordo com tudo isso, só não aceito é que um velho não seja alfabetizado nas Cantilenas de Santa Eulália”.
Max Martins, ainda com apenas 20 anos de idade, respondeu de modo
brilhante às provocações dos velhos e mostrou que sua arte não era vazia de
conteúdo, e sim muito esclarecida. Mostrou que a sua geração era atenta aos
problemas sociais e políticos. É como dissemos anteriormente, ou seja, que a
literatura modernista possui tempo e lugar e não é somente arte pela arte. Vemos
isso nas palavras de Max Martins apud Figueiredo14: “os novos estão fazendo tudo à
13 FIGUEIREDO, op. cit., pp. 16 – 17. 14 Ibidem, p. 19.
12
sua custa, com seu cabedal, com sua vontade e, sobretudo, de acordo com o que a
época lhes ensinou”. E disse mais: “Iludida com a mentira política de 1930, atônita
diante do morticínio de 39-45 e do babelismo que dele adveio, desconfiada com as
conferências de paz, a nova geração, antes de tudo, não crê em ninguém, senão em
si mesma. Cansados das velhas lições moralistas, revoltados com o cinismo
demagógico dos politiqueiros anacrônicos, esses jovens poetas-deputados,
escritores-congressistas, artistas-líderes populares, traçaram suas próprias
diretrizes”15. Na mesma oportunidade Max disse: “julgo a nova geração paraense,
como a do Brasil, uma das mais esclarecidas e em nada indecisa como afirmam
alguns” (SL/ FN: 55). Mas ressalta o caráter iniciático da geração: “no Pará,
entretanto, ainda se nota que nos moços falta um pouco de entusiasmo por suas
reivindicações. Temos nossos princípios a impor e isso não conseguiremos de braços
cruzados”.
Para observarmos bem esse sentimento de geração renovadora reivindicado
pelos poetas paraenses da segunda geração basta atentarmos para o que Cléo
Bernardo (SL/ FN: 45) escreveu no Suplemento:
“a geração modernista do Pará é uma geração liberta. Não teve orientadores e mestres ou verdadeiros amigos. Desajudada realizou o seu ideal, combatida traçou as suas diretrizes; errando aqui, indecisa ali, acertando acolá, mas sempre guiando solitária o seu destino e inteligência, a sua esperança e inquietação”.
É interessante notarmos como, no discurso de Cléo Bernardo, há uma
tendência à idéia de que os novos não tiveram antecessores dos quais tiraram
qualquer tipo de ensinamento. O que na verdade não é verdade, posto que uma das
15 Ibidem, p. 17.
13
figuras que mais contribuiu para a formação dessa nova geração – e isso era e é
unanimemente endossado ainda hoje por quem fizera parte daquela geração – foi um
intelectual chamado Francisco Paulo Mendes, que fazia uma junção das duas
gerações. Do Chico, como era tratado por muitos, falaremos mais adiante.
Esse caráter revolucionário e comprometido perceptivo na poética da geração
de 45 no Pará fica bem expressa nas palavras de Raimundo de Sousa Moura (SL/
FN: 52), onde diz que essa geração se distinguia pelo seguinte: “a) senso crítico; b)
antiboemia, no sentido de dar à vida um fim prático; c) vocação intelectual saciada
pela cultura; d) interesse por todos os problemas humanos”. O posicionamento crítico
era tamanho diante das perplexidades porque passava a humanidade daquela época
que Paulo Plínio Abreu (SL/ FN: 54) tomou a liberdade de denominar essa geração
intimativa e preocupada de “geração agônica”. Uma geração em que as misérias do
homem, da vida e das letras foram sendo materializadas pelas penas dos poetas.
Faziam uma espécie de poesia que Francisco Paulo Mendes chamou de “experiência
mística” (SL/ FN: 28).
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