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291Eng Sanit Ambient | v.16 n.3 | jul/set 2011 | 291-298
Potencial da economia de gua potvel pelo uso de gua pluvial: anlise de 40 cidades da Amaznia
Potential for potable water savings by using rainwater: an analysis over 40 cities in Amazon
Jeferson Alberto de LimaEngenheiro Agrnomo. Mestrando em Recursos Hdricos na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
Marcus Vinicius Rodrigues DambrosAcadmico do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)
Marco Antonio Peixer Miguel de AntonioAcadmico do curso de Engenharia Civil da UFMS
Johannes Grson JanzenEngenheiro Civil. Doutor em Hidrulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de So Carlos da
Universidade de So Paulo (EESC-USP). Professor da UFMS
Margarida MarchettoEngenheira Sanitarista. Doutora em Hidrulica e Saneamento pela EESC-USP. Professora da UFMT
ResumoA escassez de gua um problema cada vez mais severo em todo o mundo devido a fatores como o consumo excessivo de gua bruta, as mudanas
climticas, a poluio da gua e o consumo insustentvel dos recursos hdricos. Sob essas condies, formas tradicionais ou alternativas de recursos hdricos,
tais como a gua pluvial, esto sendo consideradas como opes atrativas para reduzir o consumo de gua potvel. Neste contexto, este artigo descreve o
cenrio de disponibilidade de gua na regio Amaznica, Noroeste do Brasil, e avalia o potencial da economia de gua potvel para o setor residencial em
40 cidades da regio. Os resultados indicam que o potencial da economia de gua potvel varia entre 21 e 100%, dependendo da demanda de gua potvel
verificada nas 40 cidades, com potencial mdio de 76%. A principal concluso desta pesquisa que, se houvesse um programa do governo para promover
a economia de gua potvel por meio da utilizao da gua pluvial, haveria significativa economia de gua potvel e, consequentemente, a preservao dos
recursos hdricos na Amaznia.
Palavras-chave: gua pluvial; economia; Amaznia; uso; disponibilidade.
AbstractWater scarcity is an increasingly severe problem worldwide due to some factors, such as the excessive consumption of raw water, climate changes, water
pollution, and unsustainable water resource consumption. Under these conditions, traditional or alternative forms of water resource, such as rainwater, are being
considered as attractive options to reduce potable water consumption. In this context, this paper describes the water availability scenario in the Amazon region,
Brazilian Northeast, and it evaluates the potential for potable water savings estimated for the residential sector of 40 cities in the region. Results indicate that the
potential for potable water savings range from 21 to 100% depending on the potable water demand verified in the 40 cities, with an average potential for potable
water savings of 76%. The main conclusion is that if there was a government program to promote potable water savings by rainwater usage, there would be
significant potable water savings and a consequent preservation of water resources in the Amazon region.
Keywords: rainwater; savings; Amazon; use; availability.
Endereo para correspondncia: Jeferson Alberto de Lima Departamento de Engenharia Sanitria e Ambiental da UFMT Avenida Fernando Corra da Costa, 2.367 Boa Esperana Cuiab (MT), Brasil CEP: 78015-580 Tel.: (65) 3615-8020/8021 E-mail: [email protected]: 09/07/10 Aceito: 20/07/11 Reg. ABES: 113 10
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Lima, J.A. et al
mundo), no possui programa governamental para promover o apro-
veitamento da gua pluvial em residncias. Ademais, a abundncia
de gua que o Brasil ainda possui e a pequena valorao econmica
(a gua considerada bem de uso comum do povo) incentivam a
cultura do desperdcio (BRASIL, 1988; VIOLA, 2008). Assim, apesar
da abundncia, a disponibilidade hdrica no Brasil diminuiu, entre
1980 e 2007, em 66% (Tabela 1), principalmente devido ao aumento
populacional.
A situao no diferente na Amaznia Ocidental, regio Noroeste
do Brasil (Tabela 1). Esta ocupa uma rea de 2.194.599 km (que cor-
responde a 25,7% do territrio brasileiro), possui aproximadamente
5.726.805 habitantes e se constitui dos estados de Amazonas, Acre,
Rondnia e Roraima (Figura 1).
Na Figura 2, apresenta-se a distribuio de precipitao ao longo do
ano nas capitais dos quatro estados que compem a Amaznia Ocidental.
possvel observar que a distribuio de precipitao ao longo do ano
apresenta forte sazonalidade. Essa uma caracterstica tpica da preci-
pitao na regio Amaznica. Outro fator que vale a pena destacar o
elevado ndice de precipitao anual. A mdia anual de precipitao na
Amaznia Ocidental varia entre 1.400 a 2.600 mm/ano.
Apesar dos elevados ndices de precipitao, a disponibilidade h-
drica na Amaznia Ocidental est diminuindo. O decrscimo registrado
entre 1980 e 2007 foi de 43% (Tabela 1). As principais razes para a
diminuio do potencial hdrico so: a degradao dos recursos hdricos,
o aumento da populao e a ineficincia dos sistemas de abastecimento
de gua. No contexto da degradao dos recursos hdricos na Amaznia,
esta se deve, entre outros fatores, aos garimpos, aos desmatamentos, ao
plantio de pastagens e produo agrcola. Com relao ao aumento
da populao, no perodo de 1970 a 2000, a populao amaznica
quase triplicou, evoluindo de, aproximadamente, 7,3 para 21 milhes
de habitantes em decorrncia das elevadas taxas anuais de crescimento
experimentadas, sempre superiores mdia brasileira. Finalmente, no
contexto da eficincia dos servios para abastecimento de gua, um dos
principais problemas diz respeito ao grande desperdcio do recurso e
elevada perda de gua que ocorre nos sistemas de abastecimento. Porto
Velho, por exemplo, a capital brasileira com menor cobertura de gua
e maior perda de gua produzida (SNIS, 2007).
A disponibilidade hdrica no a nica questo que deve ser consi-
derada na presente anlise. Na realidade, a drenagem de guas pluviais
um item que tem apresentado dificuldades na Amaznia. A regio
Norte do Brasil continua sendo a menos favorecida com relao aos ser-
vios de drenagem urbana. A falha da drenagem de guas pluviais tem
efeitos imediatos e visveis, o que preocupa a administrao pblica.
Dentre as medidas que devem ser contempladas numa drenagem urba-
na moderna esto: a implantao de reservatrios e microreservatrios
de deteno e aproveitamento de gua pluvial e subsdios para pro-
dutos de aproveitamento de gua pluvial (BAPTISTA; NASCIMENTO;
BARRAUD, 2005). Nota-se, assim, que a drenagem urbana est direta-
mente relacionada com a disponibilidade hdrica.
Introduo
Nos ltimos anos, o aumento da demanda por gua, normal-
mente ocasionado pelo crescimento populacional acentuado e
desordenado nos centros urbanos e pelo aumento do consumo
por habitante, tem imposto a adoo de programas para conservar
a gua (MAY, 2004; TUCCI, 2008). Entre os componentes dos
programas de conservao de gua, figura-se o de substituio
das fontes, que consiste basicamente em utilizar novas fontes de
recursos hdricos em substituio s existentes (IPARDES, 2001).
O aproveitamento de gua pluvial precipitada nas residncias do
meio urbano se enquadra nessa categoria. Essa tecnologia vem
crescendo e dando nfase conservao da gua. Alm de pro-
porcionar economia de gua potvel, o aproveitamento da gua
pluvial em residncias pode reduzir as despesas com gua potvel
e contribuir para a diminuio do pico de inundaes, quando
aplicada em larga escala, de forma planejada e em uma bacia hi-
drogrfica (TOMAZ, 2003).
Podem-se citar outros aspectos positivos no uso dos sistemas
de aproveitamento de gua pluvial: preservao do meio ambien-
te; utilizao de estruturas existentes na edificao (telhado, lajes
e rampas); baixo impacto ambiental; gua com qualidade aceitvel
para vrios fins, com pouco ou nenhum tratamento; aumento da
segurana hdrica para atender o crescimento populacional ou para
atender reas deficientes de abastecimento; reduo dos investi-
mentos na captao da gua em mananciais cada vez mais distantes
das concentraes urbanas para atender a demanda diria e a de
pico; reduo do volume de gua a ser captada e tratada e minimi-
zao do uso de gua tratada para fins secundrios; menor entropia,
ou seja, reduo dos custos energticos de transporte e dos custos
de tratamento, pois a gua ter o nvel de tratamento adequado a
seu uso (o custo energtico representa de 25 a 45% do custo total
das operaes de sistemas de abastecimento de gua); melhor dis-
tribuio da carga de gua pluvial imposta ao sistema de drenagem;
reduo dos riscos de enchentes, eroso dos leitos dos rios e asso-
reamento nas reas planas no incio da temporada de chuvas tor-
renciais e em eventos isolados; reduo dos custos proporcionados
por inundaes e alagamentos; possibilidade de uso para recarga
dos lenis subterrneos e manuteno dos nveis do lenol fretico
elevado (MAY, 2004; SIMIONI et al., 2004; GONALVES, 2006;
VIOLA, 2008).
O aproveitamento de gua pluvial para consumo potvel
em residncias um sistema utilizado h anos em pases como
Austrlia, Alemanha, Estados Unidos e Japo (COOMBES et al.,
2000; HERRMANN; SCHMIDA, 2000; ZAIZEN et al., 2000; GELT,
2009). Estudos realizados nas residncias desses pases indicam que
a economia de gua usualmente superior a 30%, dependendo de
diversos fatores como demanda, rea de telhado e precipitao. O
Brasil, embora possua um grande potencial hdrico (11% da gua no
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Potencial da economia de gua pelo uso de gua pluvial na Amaznia
Figura 1 (a) Mapa do Brasil com a localizao da Amaznia Ocidental; (b) localizao dos quatro estados da Amaznia Ocidental e das 40 cidades selecionadas para estudo do potencial de economia de gua potvel por meio do uso de gua pluvial.
Amazonas-AM7 cidades
Rondnia-RO18 cidades
Acre-AC6 cidades
Roraima-RR9 cidades
(a) (b)
350300250200150100500
350300250200150100500
350300250200150100500
350300250200150100500
Chuv
a (m
m)
Chuv
a (m
m)
Chuv
a (m
m)
Chuv
a (m
m)
Ms Ms
MsMs
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D
(a)(b)
(c) (d)
Figura 2 Precipitao mdia mensal nas capitais dos quatro estados que compem a Amaznia Ocidental do Brasil: (a) Rio Branco (Acre) 1904 mm/ano; (b) Manaus (Amazonas) 2207 mm/ano; (c) Porto Velho (Rondnia) 1828 mm/ano; (d) Boa Vista (Roraima) 1731 mm/ano.
Tabela 1 Reduo da disponibilidade de gua na Amaznia Ocidental e no Brasil, entre 1980 e 2007 (ANA, 2009; IBGE, 2007)
RegioDisponibilidade de gua Reduo da disponibilidade
1980 (m3/hab. /ano)
2007 (m3/hab. /ano) %
Acre 493245 234976 48
Amazonas 1237607 573568 46
Rondnia 272483 103181 38
Roraima 4037422 940047 23
Amaznia Ocidental 1030714 440734 43
Brasil 47142 31160 66
Tal tendncia de crescimento acelerado associada diminui-
o do potencial hdrico e a situao preocupante da drenagem
urbana so fatores primordiais para justificar a adoo dos pro-
gramas de conservao de gua em regies que dispem de re-
cursos hdricos significativos (HESPANHOL, 2002), tais como a
Amaznia Ocidental. Dentro dessa perspectiva, neste artigo, pre-
tende-se apresentar o potencial da economia de gua potvel em
residncias da Amaznia Ocidental do Brasil, por meio do uso de
gua pluvial, utilizando a metodologia proposta por Ghisi et al.
(2006).
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Lima, J.A. et al
Metodologia
Para o clculo do potencial de aproveitamento da gua pluvial,
seguindo a metodologia apresentada por Ghisi et al. (2006), so ne-
cessrios dados de precipitao, populao atendida por servio de
abastecimento de gua, consumo de gua potvel, populao, n-
mero de domiclios e porcentagem das casas e apartamentos para
cada uma das cidades selecionadas. No foi possvel incluir todas as
cidades da Amaznia Ocidental, pois apenas 40 delas apresentam os
dados requeridos (6 no Acre; 7 no Amazonas; 18 em Rondnia e 9
em Roraima). Na Tabela 2 so apresentadas as cidades escolhidas. Na
Figura 1 so indicadas as localizaes das 40 cidades selecionadas.
Os prximos itens evidenciam os detalhes da metodologia apresenta-
da por Ghisi et al. (2006).
Dados de precipitao
Os dados mensais de precipitao, obtidos pela Agncia Nacional
de gua (ANA, 2009), no cobrem o mesmo perodo para todas as
cidades. Ademais, algumas sries histricas so incompletas. Os da-
dos foram processados para obteno da precipitao mdia mensal
em cada cidade. Ressalta-se que o sucesso dos sistemas de aprovei-
tamento de gua pluvial depende da distribuio e regularidade das
precipitaes (PETERS, 2006).
Volume de chuva
Os itens a seguir evidenciam os detalhes do clculo do potencial
de volume de chuva a ser coletado em cada uma das cidades.
Populao atendida pelo servio de abastecimento de gua
O nmero de pessoas atendidas pelo servio de abastecimento de
gua em cada cidade foi obtido do Sistema Nacional de Informao
sobre Saneamento SNIS (SNIS, 2007).
Nmero de pessoas por domiclio
A populao (PC) e o nmero de domiclios (NDC) de cada ci-
dade foram obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IBGE (IBGE, 2007). A partir dessas informaes, possvel calcular
o nmero de pessoas por domiclio (PD), por meio da Equao 1:
PDPC
NDC" Equao 1
Nmero de domiclios abastecidos pelo servio de gua
O nmero de pessoas atendidas pelo servio de abastecimento
de gua (NP) foi obtido a partir do SNIS (SNIS, 2007). O nmero de
domiclios abastecidos pelo servio de gua (ND) pode ser estimado
por meio da Equao 2:
NDNP
PD" Equao 2
rea total do telhado
No h informaes oficiais sobre a rea de telhados para a re-
gio da Amaznia Ocidental do Brasil. Por conseguinte, a rea de
telhados considerada ser igual de Ghisi et al. (2006): 85 m para
casas e 3,75 m por pessoa para apartamentos. Com esses dados e a
porcentagem de casas e apartamentos, possvel obter a rea mdia
ponderada do telhado por meio da Equao 3:
RA H F PD" 85 3 75, Equao 3
onde:
RA: rea mdia ponderada do telhado por domiclio em cada cidade
(m);
H: porcentagem de casas em cada cidade;
F: porcentagem de apartamentos em cada cidade.
A rea total do telhado em cada cidade (TRA) (m), consideran-
do-se somente a populao atendida pelo servio de gua, pode ser
calculada por meio da Equao 4:
TRA RA ND" Equao 4
Volume de chuva
O volume de chuva, que poderia ser coletado em cada cidade,
foi determinado considerando os dados de precipitao mensais, a
Tabela 2 Relao das cidades selecionadas na Amaznia Ocidental para estudo do potencial de economia de gua potvel pelo uso de gua pluvial
Nmero Cidade/Estado Nmero Cidade/Estado
01 Ariquemes/RO 21 Manoel Urbano/AC
02 Cacoal/RO 22 Plcido de Castro/AC
03 Candeias do Jamari/RO 23 Rio Branco/AC
04 Chupinguaia/RO 24 Sena Madureira/AC
05 Costa Marques/RO 25 Barcelos/AM
06 Guajar-mirim/RO 26 Eirunep/AM
07 Jaru/RO 27 Manacapuru/AM
08 Ji-Paran/RO 28 Manaus/AM
09 Machadinho DOeste/RO 29 Presidente Figueiredo/AM
10 Ministro Andreazza/RO 30 So Gabriel da Cachoeira/AM
11 Mirante da Serra/RO 31 Tef/AM
12 Ouro Preto do Oeste/RO 32 Alto Alegre/RR
13 Parecis/RO 33 Amajari/RR
14 Pimenta Bueno/RO 34 Boa Vista/RR
15 Porto Velho/RO 35 Bonfim/RR
16 Rio Crespo/RO 36 Caracara/RR
17 Rolim de Moura/RO 37 Mucaja/RR
18 Theobroma/RO 38 Pacaraima/RR
19 Cruzeiro do Sul/AC 39 Rorainpolis/RR
20 Feij/AC 40 So Luiz/RR
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Potencial da economia de gua pelo uso de gua pluvial na Amaznia
rea total do telhado e o coeficiente de runoff igual a 0,8. Este coefi-
ciente indica que 20% da gua pluvial perdida pelo descarte para a
limpeza do telhado e da evaporao. Assim, o volume de chuva que
poderia ser coletado igual a:
VRR TRA RC" 1000
Equao 5
onde:
VR: volume mensal de chuva que poderia ser coletado em cada ci-
dade (m/ms);
R: precipitao mdia mensal (mm/ms);
TRA: rea total em cada cidade (m);
Rc: coeficiente de runoff;
1.000: fator de converso de litros para m.
Consumo de gua potvel
O consumo de gua potvel foi obtido do SNIS (SNIS, 2007).
Potencial de economia de gua potvel
O potencial mensal de economia de gua potvel foi determinado
para cada uma das 40 cidades usando a Equao 6:
PPWSVR
PWR"100 Equao 6
onde:
PPWS: potencial de economia de gua potvel em cada cidade (%);
PWR: consumo de gua potvel mensal em cada cidade (m/ms).
Resultados
Nmero de pessoas por domiclio
O nmero de pessoas por domiclio, nas 40 cidades, encontra-se
entre 2,91 e 5,68, com mdia igual a 3,61 pessoas por domiclio. Este
valor est um pouco abaixo da mdia da regio Norte do Brasil (3,9
pessoas por domiclio) (IBGE, 2007). Os estados que apresentaram o
maior e o menor nmero de pessoas por domiclio foram, respectiva-
mente, Amazonas e Rondnia. Na Figura 3 apresentada a mdia de
pessoas por domiclio nas 40 cidades analisadas.
rea do telhado
Segundo Ghisi et al. (2006), para determinar adequadamente a
rea do telhado por domiclio, necessrio obter as porcentagens das
casas e dos apartamentos para cada cidade. Nos apartamentos, a rea
de telhado por pessoa inferior das casas, j que concentram-se
mais pessoas em uma mesma rea.
A Figura 4 apresenta a porcentagem de casas e apartamentos e a
rea mdia do telhado nas 40 cidades. A porcentagem mdia de casas
e apartamentos para todas as cidades igual a 98,1 e 1,9%, respectiva-
mente. Somente Manaus, capital do estado do Amazonas, cidade com
a maior populao entre as 40 cidades estudadas, com aproximada-
mente 1,6 milhes de habitantes, possui porcentagem de apartamentos
mais alta que as demais (maior que 10%). Tais valores de porcentagem
de casas so maiores do que os obtidos em estudo similar realizado
no Estado de Santa Catarina (GHISI et al., 2006). Ghisi et al. (2006)
obtiveram porcentagem mdia de casas igual a 96%.
A rea mdia do telhado por domiclio para as 40 cidades, que foi
obtida por meio da Equao 3, foi de 83,67 m, variando entre 79,78
a 84,84 m. Novamente, a exceo foi Manaus com 77,41 m.
Consumo de gua potvel
Na Figura 5, mostra-se o consumo de 36 das 40 cidades avalia-
das, com exceo da cidade de Barcelos, Manacapuru; So Gabriel
da Cachoeira, no Estado do Amazonas; e Chupinguaia, no estado
de Rondnia, que no apresentam dados de consumo per capita. A
mdia do consumo de gua por cidade de aproximadamente 102 L
Cidades
Nm
ero
de p
esso
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6
5
4
3
2
1
0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Figura 3 Nmero mdio de pessoas por domiclio nas 40 cidades selecionadas na Amaznia Ocidental (IBGE, 2007). A numerao das cidades encontra-se na Tabela 2.
Cidade
rea
Md
ia d
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2 )
Porc
enta
gem
de
casa
s e
apar
tam
ento
s
Casas Apartamento rea Mdia do Telhado
100
95
90
85
80
90,00
80,00
70,00
1 10 19 28 37
Figura 4 Porcentagem de casas e apartamentos e rea mdia do telhado nas 40 cidades da Amaznia Ocidental (IBGE, 2007). A numerao das cidades encontra-se na Tabela 2.
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Lima, J.A. et al
per capita por dia, variando entre 48 L/hab./dia, em Costa Marques,
Rondnia, e 213 L/hab./dia, em Cacoal, Rondnia.
Volume de precipitao
O volume de precipitao que poderia ser coletado foi calculado
conforme descrito na Metodologia. Na Tabela 3 so apresentados os
resultados obtidos para Manaus.
Potencial de economia de gua potvel
Na Figura 6, apresenta-se o potencial de economia de gua po-
tvel para todas as cidades. Nota-se que o potencial de economia
de gua varia entre 21 e 100%. A cidade de Rorainpolis (RR) a
nica que obteve potencial de 100% para todos os meses, enquanto
Manacapuru (AM) no obteve valores superiores a 35%. Tais valores
so similares aos obtidos em estudos nas regies Sudeste e Sul do
Brasil (BRESSAN; MARTINI, 2005; GHISI et al., 2006).
Na Figura 7, apresenta-se o potencial de economia mximo, m-
dio e mnimo, observado em cada ms para todas as cidades. Vale a
pena observar que o potencial de economia mximo sempre igual
a 100%. O valor mnimo varia entre 3% (em junho, perodo mais
crtico da seca) e 21% (dezembro). A mdia geral de 76%, superior
quela obtida por Ghisi et al. (2006) para o Estado de Santa Catarina
(69%). interessante observar, entretanto, que a variabilidade do po-
tencial de aproveitamento na Amaznia Ocidental bem maior do
que no Sul do Brasil. Conforme j mencionado, isso decorrente da
existncia na Amaznia de duas estaes bem definidas: uma chuvo-
sa e outra seca. Na estao chuvosa, o potencial de aproveitamento
de 100%. J na estao seca comum ter meses em que a precipita-
o e o aproveitamento de gua pluvial so prximos de zero.
O consumo de gua tratada para fins no-potveis em residncias
no Brasil usualmente inferior a 50% (BRESSAN; MARTINI, 2005).
Nota-se, na Figura 7, que 95% das cidades analisadas apresentaram
potencial de economia de gua superior a 50%. No Sudeste, a por-
centagem de municpios com potencial mdio de economia de gua
acima de 50% encontra-se entre 15,6 e 39,2% (BRESSAN; MARTINI,
2005). Observa-se, assim, que o potencial da regio Amaznica
bem superior ao do Sudeste do Brasil. Portanto, possvel substituir
praticamente todo o consumo de gua tratada para fins no-potveis
com gua pluvial.
250
200
150
100
50
0
Cidade
Cons
umo
de
gua
L/ha
b/di
a
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Figura 5 Volume de gua potvel consumido diariamente por habitante em 36 cidades da Amaznia Ocidental (SNIS, 2007). A numerao das cidades encontra-se na Tabela 2.
120
100
80
60
40
20
0
Cidade
Pote
ncia
l md
ico
de e
cono
mia
(%)
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Figura 6 Potencial mdio de economia de gua das 40 cidades analisadas. A numerao das cidades encontra-se na Tabela 2.
100
80
60
40
20
0
Mximo Mdia Mnimo
Pote
ncia
l de
Econ
omia
(%)
Ms
J F M A M J J A S O N D
Figura 7 Mximo, mdio e mnimo potencial de economia de gua potvel para as 40 cidades.
Tabela 3 Volume de precipitao que poderia ser coletado na cidade de Manaus/AM calculado conforme descrito na seo Metodologia (SNIS, 2007; ANA, 2009; IBGE, 2007)
Ms
Pre
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s)
Pot
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%)
Jan. 275 77,41 403549 31236751 6865652 5984637 100
Fev. 271 77,41 403549 31236751 6771277 5984637 100
Mar. 308 77,41 403549 31236751 7695991 5984637 100
Abr. 320 77,41 403549 31236751 7998735 5984637 100
Mai. 248 77,41 403549 31236751 6196804 5984637 100
Jun. 108 77,41 403549 31236751 2699942 5984637 45
Jul. 71 77,41 403549 31236751 1772812 5984637 30
Ago. 53 77,41 403549 31236751 1320418 5984637 22
Set. 74 77,41 403549 31236751 1844430 5984637 31
Out. 104 77,41 403549 31236751 2587413 5984637 43
Nov. 165 77,41 403549 31236751 4123305 5984637 69
Dez. 211 77,41 403549 31236751 5273198 5984637 88
297Eng Sanit Ambient | v.16 n.3 | jul/set 2011 | 291-298
Potencial da economia de gua pelo uso de gua pluvial na Amaznia
O potencial de economia de gua potvel das cidades capitais
dos quatro estados que compem a Amaznia Ocidental (Rio Branco
AC, Manaus AM, Porto Velho RO e Boa Vista RR), apresen-
tado na Figura 8. Novamente, possvel observar o efeito da sazo-
nalidade das chuvas no potencial de economia de gua. Porto Velho,
em Rondnia, a cidade que se destaca com o maior potencial de
economia de gua entre as quatro capitais, pois os valores mximos
de potencial da economia de gua so atingidos em 7 dos 12 meses
do ano.
A Figura 9 apresenta o potencial mdio de economia de gua po-
tvel para os quatro estados. Os estados com melhor e pior potencial
so, respectivamente, Roraima e Amazonas.
Conclui-se que a Amaznia Ocidental no tem um volume men-
sal de chuva suficiente para atender toda a demanda residencial de
gua. Porm, isso no inviabiliza o investimento, nem diminui as
vantagens j mencionadas oriundas da adoo de programas de con-
servao de gua.
Concluso
Neste estudo, investigou-se o problema da escassez de gua e do
potencial de economia de gua por meio do uso de gua pluvial na
Amaznia Ocidental, no Brasil. Os resultados mostram que a dispo-
nibilidade de gua est diminuindo rapidamente devido degrada-
o dos recursos hdricos e ao aumento da populao. Dessa forma,
apesar da abundncia hdrica, a Amaznia Ocidental pode futura-
mente enfrentar problemas caso no haja um programa do Governo
para promover a conservao da gua.
Os resultados obtidos por meio de pesquisa realizada em 40 ci-
dades da Amaznia Ocidental mostram excelente precipitao mdia
anual na regio, a saber, 2.002 mm. A mdia do potencial de econo-
mia de gua potvel estimado para as 40 cidades de 76%, variando
entre 21 e 100%, dependendo essencialmente do consumo e da rea
total do telhado. Nota-se o potencial de utilizao da gua pluvial
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZMeses
Pote
ncia
l de
econ
omia
de
gua
(%) 120
100
80
60
40
20
0
Porto Velho-RO Rio Branco-AC Manaus-AM Boa Vista-RR
Figura 8 Potencial da economia de gua das capitais dos estados da Amaznia Ocidental.
90 8070605040302010 0Po
tenc
ial d
e ec
onom
ia d
e g
ua (%
)
Estados da Amaznia Ocidental
Rondnia Roraima Amazonas Acre
7380
51
68
Figura 9 Mdia do potencial da economia de gua dos quatro estados da Amaznia Ocidental.
como fonte hdrica alternativa para uso residencial. Devido regio
Amaznica possuir duas estaes bem definidas, uma chuvosa e ou-
tra seca, verificou-se que, na chuvosa, o potencial de aproveitamento
alcana 100%. No entanto, na estao seca, com meses sem precipita-
o, o aproveitamento de gua pluvial ainda bastante baixo.
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