Gestão da água.pdf

download Gestão da água.pdf

of 8

Transcript of Gestão da água.pdf

  • Artig

    o T

    cnic

    o

    291Eng Sanit Ambient | v.16 n.3 | jul/set 2011 | 291-298

    Potencial da economia de gua potvel pelo uso de gua pluvial: anlise de 40 cidades da Amaznia

    Potential for potable water savings by using rainwater: an analysis over 40 cities in Amazon

    Jeferson Alberto de LimaEngenheiro Agrnomo. Mestrando em Recursos Hdricos na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

    Marcus Vinicius Rodrigues DambrosAcadmico do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

    Marco Antonio Peixer Miguel de AntonioAcadmico do curso de Engenharia Civil da UFMS

    Johannes Grson JanzenEngenheiro Civil. Doutor em Hidrulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de So Carlos da

    Universidade de So Paulo (EESC-USP). Professor da UFMS

    Margarida MarchettoEngenheira Sanitarista. Doutora em Hidrulica e Saneamento pela EESC-USP. Professora da UFMT

    ResumoA escassez de gua um problema cada vez mais severo em todo o mundo devido a fatores como o consumo excessivo de gua bruta, as mudanas

    climticas, a poluio da gua e o consumo insustentvel dos recursos hdricos. Sob essas condies, formas tradicionais ou alternativas de recursos hdricos,

    tais como a gua pluvial, esto sendo consideradas como opes atrativas para reduzir o consumo de gua potvel. Neste contexto, este artigo descreve o

    cenrio de disponibilidade de gua na regio Amaznica, Noroeste do Brasil, e avalia o potencial da economia de gua potvel para o setor residencial em

    40 cidades da regio. Os resultados indicam que o potencial da economia de gua potvel varia entre 21 e 100%, dependendo da demanda de gua potvel

    verificada nas 40 cidades, com potencial mdio de 76%. A principal concluso desta pesquisa que, se houvesse um programa do governo para promover

    a economia de gua potvel por meio da utilizao da gua pluvial, haveria significativa economia de gua potvel e, consequentemente, a preservao dos

    recursos hdricos na Amaznia.

    Palavras-chave: gua pluvial; economia; Amaznia; uso; disponibilidade.

    AbstractWater scarcity is an increasingly severe problem worldwide due to some factors, such as the excessive consumption of raw water, climate changes, water

    pollution, and unsustainable water resource consumption. Under these conditions, traditional or alternative forms of water resource, such as rainwater, are being

    considered as attractive options to reduce potable water consumption. In this context, this paper describes the water availability scenario in the Amazon region,

    Brazilian Northeast, and it evaluates the potential for potable water savings estimated for the residential sector of 40 cities in the region. Results indicate that the

    potential for potable water savings range from 21 to 100% depending on the potable water demand verified in the 40 cities, with an average potential for potable

    water savings of 76%. The main conclusion is that if there was a government program to promote potable water savings by rainwater usage, there would be

    significant potable water savings and a consequent preservation of water resources in the Amazon region.

    Keywords: rainwater; savings; Amazon; use; availability.

    Endereo para correspondncia: Jeferson Alberto de Lima Departamento de Engenharia Sanitria e Ambiental da UFMT Avenida Fernando Corra da Costa, 2.367 Boa Esperana Cuiab (MT), Brasil CEP: 78015-580 Tel.: (65) 3615-8020/8021 E-mail: [email protected]: 09/07/10 Aceito: 20/07/11 Reg. ABES: 113 10

  • 292 Eng Sanit Ambient | v.16 n.3 | jul/set 2011 | 291-298

    Lima, J.A. et al

    mundo), no possui programa governamental para promover o apro-

    veitamento da gua pluvial em residncias. Ademais, a abundncia

    de gua que o Brasil ainda possui e a pequena valorao econmica

    (a gua considerada bem de uso comum do povo) incentivam a

    cultura do desperdcio (BRASIL, 1988; VIOLA, 2008). Assim, apesar

    da abundncia, a disponibilidade hdrica no Brasil diminuiu, entre

    1980 e 2007, em 66% (Tabela 1), principalmente devido ao aumento

    populacional.

    A situao no diferente na Amaznia Ocidental, regio Noroeste

    do Brasil (Tabela 1). Esta ocupa uma rea de 2.194.599 km (que cor-

    responde a 25,7% do territrio brasileiro), possui aproximadamente

    5.726.805 habitantes e se constitui dos estados de Amazonas, Acre,

    Rondnia e Roraima (Figura 1).

    Na Figura 2, apresenta-se a distribuio de precipitao ao longo do

    ano nas capitais dos quatro estados que compem a Amaznia Ocidental.

    possvel observar que a distribuio de precipitao ao longo do ano

    apresenta forte sazonalidade. Essa uma caracterstica tpica da preci-

    pitao na regio Amaznica. Outro fator que vale a pena destacar o

    elevado ndice de precipitao anual. A mdia anual de precipitao na

    Amaznia Ocidental varia entre 1.400 a 2.600 mm/ano.

    Apesar dos elevados ndices de precipitao, a disponibilidade h-

    drica na Amaznia Ocidental est diminuindo. O decrscimo registrado

    entre 1980 e 2007 foi de 43% (Tabela 1). As principais razes para a

    diminuio do potencial hdrico so: a degradao dos recursos hdricos,

    o aumento da populao e a ineficincia dos sistemas de abastecimento

    de gua. No contexto da degradao dos recursos hdricos na Amaznia,

    esta se deve, entre outros fatores, aos garimpos, aos desmatamentos, ao

    plantio de pastagens e produo agrcola. Com relao ao aumento

    da populao, no perodo de 1970 a 2000, a populao amaznica

    quase triplicou, evoluindo de, aproximadamente, 7,3 para 21 milhes

    de habitantes em decorrncia das elevadas taxas anuais de crescimento

    experimentadas, sempre superiores mdia brasileira. Finalmente, no

    contexto da eficincia dos servios para abastecimento de gua, um dos

    principais problemas diz respeito ao grande desperdcio do recurso e

    elevada perda de gua que ocorre nos sistemas de abastecimento. Porto

    Velho, por exemplo, a capital brasileira com menor cobertura de gua

    e maior perda de gua produzida (SNIS, 2007).

    A disponibilidade hdrica no a nica questo que deve ser consi-

    derada na presente anlise. Na realidade, a drenagem de guas pluviais

    um item que tem apresentado dificuldades na Amaznia. A regio

    Norte do Brasil continua sendo a menos favorecida com relao aos ser-

    vios de drenagem urbana. A falha da drenagem de guas pluviais tem

    efeitos imediatos e visveis, o que preocupa a administrao pblica.

    Dentre as medidas que devem ser contempladas numa drenagem urba-

    na moderna esto: a implantao de reservatrios e microreservatrios

    de deteno e aproveitamento de gua pluvial e subsdios para pro-

    dutos de aproveitamento de gua pluvial (BAPTISTA; NASCIMENTO;

    BARRAUD, 2005). Nota-se, assim, que a drenagem urbana est direta-

    mente relacionada com a disponibilidade hdrica.

    Introduo

    Nos ltimos anos, o aumento da demanda por gua, normal-

    mente ocasionado pelo crescimento populacional acentuado e

    desordenado nos centros urbanos e pelo aumento do consumo

    por habitante, tem imposto a adoo de programas para conservar

    a gua (MAY, 2004; TUCCI, 2008). Entre os componentes dos

    programas de conservao de gua, figura-se o de substituio

    das fontes, que consiste basicamente em utilizar novas fontes de

    recursos hdricos em substituio s existentes (IPARDES, 2001).

    O aproveitamento de gua pluvial precipitada nas residncias do

    meio urbano se enquadra nessa categoria. Essa tecnologia vem

    crescendo e dando nfase conservao da gua. Alm de pro-

    porcionar economia de gua potvel, o aproveitamento da gua

    pluvial em residncias pode reduzir as despesas com gua potvel

    e contribuir para a diminuio do pico de inundaes, quando

    aplicada em larga escala, de forma planejada e em uma bacia hi-

    drogrfica (TOMAZ, 2003).

    Podem-se citar outros aspectos positivos no uso dos sistemas

    de aproveitamento de gua pluvial: preservao do meio ambien-

    te; utilizao de estruturas existentes na edificao (telhado, lajes

    e rampas); baixo impacto ambiental; gua com qualidade aceitvel

    para vrios fins, com pouco ou nenhum tratamento; aumento da

    segurana hdrica para atender o crescimento populacional ou para

    atender reas deficientes de abastecimento; reduo dos investi-

    mentos na captao da gua em mananciais cada vez mais distantes

    das concentraes urbanas para atender a demanda diria e a de

    pico; reduo do volume de gua a ser captada e tratada e minimi-

    zao do uso de gua tratada para fins secundrios; menor entropia,

    ou seja, reduo dos custos energticos de transporte e dos custos

    de tratamento, pois a gua ter o nvel de tratamento adequado a

    seu uso (o custo energtico representa de 25 a 45% do custo total

    das operaes de sistemas de abastecimento de gua); melhor dis-

    tribuio da carga de gua pluvial imposta ao sistema de drenagem;

    reduo dos riscos de enchentes, eroso dos leitos dos rios e asso-

    reamento nas reas planas no incio da temporada de chuvas tor-

    renciais e em eventos isolados; reduo dos custos proporcionados

    por inundaes e alagamentos; possibilidade de uso para recarga

    dos lenis subterrneos e manuteno dos nveis do lenol fretico

    elevado (MAY, 2004; SIMIONI et al., 2004; GONALVES, 2006;

    VIOLA, 2008).

    O aproveitamento de gua pluvial para consumo potvel

    em residncias um sistema utilizado h anos em pases como

    Austrlia, Alemanha, Estados Unidos e Japo (COOMBES et al.,

    2000; HERRMANN; SCHMIDA, 2000; ZAIZEN et al., 2000; GELT,

    2009). Estudos realizados nas residncias desses pases indicam que

    a economia de gua usualmente superior a 30%, dependendo de

    diversos fatores como demanda, rea de telhado e precipitao. O

    Brasil, embora possua um grande potencial hdrico (11% da gua no

  • 293Eng Sanit Ambient | v.16 n.3 | jul/set 2011 | 291-298

    Potencial da economia de gua pelo uso de gua pluvial na Amaznia

    Figura 1 (a) Mapa do Brasil com a localizao da Amaznia Ocidental; (b) localizao dos quatro estados da Amaznia Ocidental e das 40 cidades selecionadas para estudo do potencial de economia de gua potvel por meio do uso de gua pluvial.

    Amazonas-AM7 cidades

    Rondnia-RO18 cidades

    Acre-AC6 cidades

    Roraima-RR9 cidades

    (a) (b)

    350300250200150100500

    350300250200150100500

    350300250200150100500

    350300250200150100500

    Chuv

    a (m

    m)

    Chuv

    a (m

    m)

    Chuv

    a (m

    m)

    Chuv

    a (m

    m)

    Ms Ms

    MsMs

    J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D

    J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D

    (a)(b)

    (c) (d)

    Figura 2 Precipitao mdia mensal nas capitais dos quatro estados que compem a Amaznia Ocidental do Brasil: (a) Rio Branco (Acre) 1904 mm/ano; (b) Manaus (Amazonas) 2207 mm/ano; (c) Porto Velho (Rondnia) 1828 mm/ano; (d) Boa Vista (Roraima) 1731 mm/ano.

    Tabela 1 Reduo da disponibilidade de gua na Amaznia Ocidental e no Brasil, entre 1980 e 2007 (ANA, 2009; IBGE, 2007)

    RegioDisponibilidade de gua Reduo da disponibilidade

    1980 (m3/hab. /ano)

    2007 (m3/hab. /ano) %

    Acre 493245 234976 48

    Amazonas 1237607 573568 46

    Rondnia 272483 103181 38

    Roraima 4037422 940047 23

    Amaznia Ocidental 1030714 440734 43

    Brasil 47142 31160 66

    Tal tendncia de crescimento acelerado associada diminui-

    o do potencial hdrico e a situao preocupante da drenagem

    urbana so fatores primordiais para justificar a adoo dos pro-

    gramas de conservao de gua em regies que dispem de re-

    cursos hdricos significativos (HESPANHOL, 2002), tais como a

    Amaznia Ocidental. Dentro dessa perspectiva, neste artigo, pre-

    tende-se apresentar o potencial da economia de gua potvel em

    residncias da Amaznia Ocidental do Brasil, por meio do uso de

    gua pluvial, utilizando a metodologia proposta por Ghisi et al.

    (2006).

  • 294 Eng Sanit Ambient | v.16 n.3 | jul/set 2011 | 291-298

    Lima, J.A. et al

    Metodologia

    Para o clculo do potencial de aproveitamento da gua pluvial,

    seguindo a metodologia apresentada por Ghisi et al. (2006), so ne-

    cessrios dados de precipitao, populao atendida por servio de

    abastecimento de gua, consumo de gua potvel, populao, n-

    mero de domiclios e porcentagem das casas e apartamentos para

    cada uma das cidades selecionadas. No foi possvel incluir todas as

    cidades da Amaznia Ocidental, pois apenas 40 delas apresentam os

    dados requeridos (6 no Acre; 7 no Amazonas; 18 em Rondnia e 9

    em Roraima). Na Tabela 2 so apresentadas as cidades escolhidas. Na

    Figura 1 so indicadas as localizaes das 40 cidades selecionadas.

    Os prximos itens evidenciam os detalhes da metodologia apresenta-

    da por Ghisi et al. (2006).

    Dados de precipitao

    Os dados mensais de precipitao, obtidos pela Agncia Nacional

    de gua (ANA, 2009), no cobrem o mesmo perodo para todas as

    cidades. Ademais, algumas sries histricas so incompletas. Os da-

    dos foram processados para obteno da precipitao mdia mensal

    em cada cidade. Ressalta-se que o sucesso dos sistemas de aprovei-

    tamento de gua pluvial depende da distribuio e regularidade das

    precipitaes (PETERS, 2006).

    Volume de chuva

    Os itens a seguir evidenciam os detalhes do clculo do potencial

    de volume de chuva a ser coletado em cada uma das cidades.

    Populao atendida pelo servio de abastecimento de gua

    O nmero de pessoas atendidas pelo servio de abastecimento de

    gua em cada cidade foi obtido do Sistema Nacional de Informao

    sobre Saneamento SNIS (SNIS, 2007).

    Nmero de pessoas por domiclio

    A populao (PC) e o nmero de domiclios (NDC) de cada ci-

    dade foram obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IBGE (IBGE, 2007). A partir dessas informaes, possvel calcular

    o nmero de pessoas por domiclio (PD), por meio da Equao 1:

    PDPC

    NDC" Equao 1

    Nmero de domiclios abastecidos pelo servio de gua

    O nmero de pessoas atendidas pelo servio de abastecimento

    de gua (NP) foi obtido a partir do SNIS (SNIS, 2007). O nmero de

    domiclios abastecidos pelo servio de gua (ND) pode ser estimado

    por meio da Equao 2:

    NDNP

    PD" Equao 2

    rea total do telhado

    No h informaes oficiais sobre a rea de telhados para a re-

    gio da Amaznia Ocidental do Brasil. Por conseguinte, a rea de

    telhados considerada ser igual de Ghisi et al. (2006): 85 m para

    casas e 3,75 m por pessoa para apartamentos. Com esses dados e a

    porcentagem de casas e apartamentos, possvel obter a rea mdia

    ponderada do telhado por meio da Equao 3:

    RA H F PD" 85 3 75, Equao 3

    onde:

    RA: rea mdia ponderada do telhado por domiclio em cada cidade

    (m);

    H: porcentagem de casas em cada cidade;

    F: porcentagem de apartamentos em cada cidade.

    A rea total do telhado em cada cidade (TRA) (m), consideran-

    do-se somente a populao atendida pelo servio de gua, pode ser

    calculada por meio da Equao 4:

    TRA RA ND" Equao 4

    Volume de chuva

    O volume de chuva, que poderia ser coletado em cada cidade,

    foi determinado considerando os dados de precipitao mensais, a

    Tabela 2 Relao das cidades selecionadas na Amaznia Ocidental para estudo do potencial de economia de gua potvel pelo uso de gua pluvial

    Nmero Cidade/Estado Nmero Cidade/Estado

    01 Ariquemes/RO 21 Manoel Urbano/AC

    02 Cacoal/RO 22 Plcido de Castro/AC

    03 Candeias do Jamari/RO 23 Rio Branco/AC

    04 Chupinguaia/RO 24 Sena Madureira/AC

    05 Costa Marques/RO 25 Barcelos/AM

    06 Guajar-mirim/RO 26 Eirunep/AM

    07 Jaru/RO 27 Manacapuru/AM

    08 Ji-Paran/RO 28 Manaus/AM

    09 Machadinho DOeste/RO 29 Presidente Figueiredo/AM

    10 Ministro Andreazza/RO 30 So Gabriel da Cachoeira/AM

    11 Mirante da Serra/RO 31 Tef/AM

    12 Ouro Preto do Oeste/RO 32 Alto Alegre/RR

    13 Parecis/RO 33 Amajari/RR

    14 Pimenta Bueno/RO 34 Boa Vista/RR

    15 Porto Velho/RO 35 Bonfim/RR

    16 Rio Crespo/RO 36 Caracara/RR

    17 Rolim de Moura/RO 37 Mucaja/RR

    18 Theobroma/RO 38 Pacaraima/RR

    19 Cruzeiro do Sul/AC 39 Rorainpolis/RR

    20 Feij/AC 40 So Luiz/RR

  • 295Eng Sanit Ambient | v.16 n.3 | jul/set 2011 | 291-298

    Potencial da economia de gua pelo uso de gua pluvial na Amaznia

    rea total do telhado e o coeficiente de runoff igual a 0,8. Este coefi-

    ciente indica que 20% da gua pluvial perdida pelo descarte para a

    limpeza do telhado e da evaporao. Assim, o volume de chuva que

    poderia ser coletado igual a:

    VRR TRA RC" 1000

    Equao 5

    onde:

    VR: volume mensal de chuva que poderia ser coletado em cada ci-

    dade (m/ms);

    R: precipitao mdia mensal (mm/ms);

    TRA: rea total em cada cidade (m);

    Rc: coeficiente de runoff;

    1.000: fator de converso de litros para m.

    Consumo de gua potvel

    O consumo de gua potvel foi obtido do SNIS (SNIS, 2007).

    Potencial de economia de gua potvel

    O potencial mensal de economia de gua potvel foi determinado

    para cada uma das 40 cidades usando a Equao 6:

    PPWSVR

    PWR"100 Equao 6

    onde:

    PPWS: potencial de economia de gua potvel em cada cidade (%);

    PWR: consumo de gua potvel mensal em cada cidade (m/ms).

    Resultados

    Nmero de pessoas por domiclio

    O nmero de pessoas por domiclio, nas 40 cidades, encontra-se

    entre 2,91 e 5,68, com mdia igual a 3,61 pessoas por domiclio. Este

    valor est um pouco abaixo da mdia da regio Norte do Brasil (3,9

    pessoas por domiclio) (IBGE, 2007). Os estados que apresentaram o

    maior e o menor nmero de pessoas por domiclio foram, respectiva-

    mente, Amazonas e Rondnia. Na Figura 3 apresentada a mdia de

    pessoas por domiclio nas 40 cidades analisadas.

    rea do telhado

    Segundo Ghisi et al. (2006), para determinar adequadamente a

    rea do telhado por domiclio, necessrio obter as porcentagens das

    casas e dos apartamentos para cada cidade. Nos apartamentos, a rea

    de telhado por pessoa inferior das casas, j que concentram-se

    mais pessoas em uma mesma rea.

    A Figura 4 apresenta a porcentagem de casas e apartamentos e a

    rea mdia do telhado nas 40 cidades. A porcentagem mdia de casas

    e apartamentos para todas as cidades igual a 98,1 e 1,9%, respectiva-

    mente. Somente Manaus, capital do estado do Amazonas, cidade com

    a maior populao entre as 40 cidades estudadas, com aproximada-

    mente 1,6 milhes de habitantes, possui porcentagem de apartamentos

    mais alta que as demais (maior que 10%). Tais valores de porcentagem

    de casas so maiores do que os obtidos em estudo similar realizado

    no Estado de Santa Catarina (GHISI et al., 2006). Ghisi et al. (2006)

    obtiveram porcentagem mdia de casas igual a 96%.

    A rea mdia do telhado por domiclio para as 40 cidades, que foi

    obtida por meio da Equao 3, foi de 83,67 m, variando entre 79,78

    a 84,84 m. Novamente, a exceo foi Manaus com 77,41 m.

    Consumo de gua potvel

    Na Figura 5, mostra-se o consumo de 36 das 40 cidades avalia-

    das, com exceo da cidade de Barcelos, Manacapuru; So Gabriel

    da Cachoeira, no Estado do Amazonas; e Chupinguaia, no estado

    de Rondnia, que no apresentam dados de consumo per capita. A

    mdia do consumo de gua por cidade de aproximadamente 102 L

    Cidades

    Nm

    ero

    de p

    esso

    as p

    or d

    omic

    lio

    6

    5

    4

    3

    2

    1

    0

    1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39

    Figura 3 Nmero mdio de pessoas por domiclio nas 40 cidades selecionadas na Amaznia Ocidental (IBGE, 2007). A numerao das cidades encontra-se na Tabela 2.

    Cidade

    rea

    Md

    ia d

    o Te

    lhad

    o (m

    2 )

    Porc

    enta

    gem

    de

    casa

    s e

    apar

    tam

    ento

    s

    Casas Apartamento rea Mdia do Telhado

    100

    95

    90

    85

    80

    90,00

    80,00

    70,00

    1 10 19 28 37

    Figura 4 Porcentagem de casas e apartamentos e rea mdia do telhado nas 40 cidades da Amaznia Ocidental (IBGE, 2007). A numerao das cidades encontra-se na Tabela 2.

  • 296 Eng Sanit Ambient | v.16 n.3 | jul/set 2011 | 291-298

    Lima, J.A. et al

    per capita por dia, variando entre 48 L/hab./dia, em Costa Marques,

    Rondnia, e 213 L/hab./dia, em Cacoal, Rondnia.

    Volume de precipitao

    O volume de precipitao que poderia ser coletado foi calculado

    conforme descrito na Metodologia. Na Tabela 3 so apresentados os

    resultados obtidos para Manaus.

    Potencial de economia de gua potvel

    Na Figura 6, apresenta-se o potencial de economia de gua po-

    tvel para todas as cidades. Nota-se que o potencial de economia

    de gua varia entre 21 e 100%. A cidade de Rorainpolis (RR) a

    nica que obteve potencial de 100% para todos os meses, enquanto

    Manacapuru (AM) no obteve valores superiores a 35%. Tais valores

    so similares aos obtidos em estudos nas regies Sudeste e Sul do

    Brasil (BRESSAN; MARTINI, 2005; GHISI et al., 2006).

    Na Figura 7, apresenta-se o potencial de economia mximo, m-

    dio e mnimo, observado em cada ms para todas as cidades. Vale a

    pena observar que o potencial de economia mximo sempre igual

    a 100%. O valor mnimo varia entre 3% (em junho, perodo mais

    crtico da seca) e 21% (dezembro). A mdia geral de 76%, superior

    quela obtida por Ghisi et al. (2006) para o Estado de Santa Catarina

    (69%). interessante observar, entretanto, que a variabilidade do po-

    tencial de aproveitamento na Amaznia Ocidental bem maior do

    que no Sul do Brasil. Conforme j mencionado, isso decorrente da

    existncia na Amaznia de duas estaes bem definidas: uma chuvo-

    sa e outra seca. Na estao chuvosa, o potencial de aproveitamento

    de 100%. J na estao seca comum ter meses em que a precipita-

    o e o aproveitamento de gua pluvial so prximos de zero.

    O consumo de gua tratada para fins no-potveis em residncias

    no Brasil usualmente inferior a 50% (BRESSAN; MARTINI, 2005).

    Nota-se, na Figura 7, que 95% das cidades analisadas apresentaram

    potencial de economia de gua superior a 50%. No Sudeste, a por-

    centagem de municpios com potencial mdio de economia de gua

    acima de 50% encontra-se entre 15,6 e 39,2% (BRESSAN; MARTINI,

    2005). Observa-se, assim, que o potencial da regio Amaznica

    bem superior ao do Sudeste do Brasil. Portanto, possvel substituir

    praticamente todo o consumo de gua tratada para fins no-potveis

    com gua pluvial.

    250

    200

    150

    100

    50

    0

    Cidade

    Cons

    umo

    de

    gua

    L/ha

    b/di

    a

    1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39

    Figura 5 Volume de gua potvel consumido diariamente por habitante em 36 cidades da Amaznia Ocidental (SNIS, 2007). A numerao das cidades encontra-se na Tabela 2.

    120

    100

    80

    60

    40

    20

    0

    Cidade

    Pote

    ncia

    l md

    ico

    de e

    cono

    mia

    (%)

    1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39

    Figura 6 Potencial mdio de economia de gua das 40 cidades analisadas. A numerao das cidades encontra-se na Tabela 2.

    100

    80

    60

    40

    20

    0

    Mximo Mdia Mnimo

    Pote

    ncia

    l de

    Econ

    omia

    (%)

    Ms

    J F M A M J J A S O N D

    Figura 7 Mximo, mdio e mnimo potencial de economia de gua potvel para as 40 cidades.

    Tabela 3 Volume de precipitao que poderia ser coletado na cidade de Manaus/AM calculado conforme descrito na seo Metodologia (SNIS, 2007; ANA, 2009; IBGE, 2007)

    Ms

    Pre

    cip

    ita

    o m

    dia

    m

    ensa

    l (m

    m/m

    s)

    re

    a m

    dia

    do

    telh

    ado

    (m)

    Dom

    icli

    os

    abas

    teci

    dos

    re

    a to

    tal d

    o te

    lhad

    o (m

    )

    Volu

    me

    de

    pre

    cip

    ita

    o (m

    /m

    s)

    Con

    sum

    o (m

    /m

    s)

    Pot

    enci

    al d

    e ec

    onom

    ia (

    %)

    Jan. 275 77,41 403549 31236751 6865652 5984637 100

    Fev. 271 77,41 403549 31236751 6771277 5984637 100

    Mar. 308 77,41 403549 31236751 7695991 5984637 100

    Abr. 320 77,41 403549 31236751 7998735 5984637 100

    Mai. 248 77,41 403549 31236751 6196804 5984637 100

    Jun. 108 77,41 403549 31236751 2699942 5984637 45

    Jul. 71 77,41 403549 31236751 1772812 5984637 30

    Ago. 53 77,41 403549 31236751 1320418 5984637 22

    Set. 74 77,41 403549 31236751 1844430 5984637 31

    Out. 104 77,41 403549 31236751 2587413 5984637 43

    Nov. 165 77,41 403549 31236751 4123305 5984637 69

    Dez. 211 77,41 403549 31236751 5273198 5984637 88

  • 297Eng Sanit Ambient | v.16 n.3 | jul/set 2011 | 291-298

    Potencial da economia de gua pelo uso de gua pluvial na Amaznia

    O potencial de economia de gua potvel das cidades capitais

    dos quatro estados que compem a Amaznia Ocidental (Rio Branco

    AC, Manaus AM, Porto Velho RO e Boa Vista RR), apresen-

    tado na Figura 8. Novamente, possvel observar o efeito da sazo-

    nalidade das chuvas no potencial de economia de gua. Porto Velho,

    em Rondnia, a cidade que se destaca com o maior potencial de

    economia de gua entre as quatro capitais, pois os valores mximos

    de potencial da economia de gua so atingidos em 7 dos 12 meses

    do ano.

    A Figura 9 apresenta o potencial mdio de economia de gua po-

    tvel para os quatro estados. Os estados com melhor e pior potencial

    so, respectivamente, Roraima e Amazonas.

    Conclui-se que a Amaznia Ocidental no tem um volume men-

    sal de chuva suficiente para atender toda a demanda residencial de

    gua. Porm, isso no inviabiliza o investimento, nem diminui as

    vantagens j mencionadas oriundas da adoo de programas de con-

    servao de gua.

    Concluso

    Neste estudo, investigou-se o problema da escassez de gua e do

    potencial de economia de gua por meio do uso de gua pluvial na

    Amaznia Ocidental, no Brasil. Os resultados mostram que a dispo-

    nibilidade de gua est diminuindo rapidamente devido degrada-

    o dos recursos hdricos e ao aumento da populao. Dessa forma,

    apesar da abundncia hdrica, a Amaznia Ocidental pode futura-

    mente enfrentar problemas caso no haja um programa do Governo

    para promover a conservao da gua.

    Os resultados obtidos por meio de pesquisa realizada em 40 ci-

    dades da Amaznia Ocidental mostram excelente precipitao mdia

    anual na regio, a saber, 2.002 mm. A mdia do potencial de econo-

    mia de gua potvel estimado para as 40 cidades de 76%, variando

    entre 21 e 100%, dependendo essencialmente do consumo e da rea

    total do telhado. Nota-se o potencial de utilizao da gua pluvial

    JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZMeses

    Pote

    ncia

    l de

    econ

    omia

    de

    gua

    (%) 120

    100

    80

    60

    40

    20

    0

    Porto Velho-RO Rio Branco-AC Manaus-AM Boa Vista-RR

    Figura 8 Potencial da economia de gua das capitais dos estados da Amaznia Ocidental.

    90 8070605040302010 0Po

    tenc

    ial d

    e ec

    onom

    ia d

    e g

    ua (%

    )

    Estados da Amaznia Ocidental

    Rondnia Roraima Amazonas Acre

    7380

    51

    68

    Figura 9 Mdia do potencial da economia de gua dos quatro estados da Amaznia Ocidental.

    como fonte hdrica alternativa para uso residencial. Devido regio

    Amaznica possuir duas estaes bem definidas, uma chuvosa e ou-

    tra seca, verificou-se que, na chuvosa, o potencial de aproveitamento

    alcana 100%. No entanto, na estao seca, com meses sem precipita-

    o, o aproveitamento de gua pluvial ainda bastante baixo.

    Referncias

    AGNCIA NACIONAL DE GUAS ANA. Sistema de Informaes Hidrolgicas. 2009. Disponvel em . Acessado em julho de 2009.

    BAPTISTA, M.; NASCIMENTO, N.; BARRAUD, S. Tcnicas compensatrias em drenagem urbana. 1 ed. Porto Alegre, RS: Ed. Universidade / UFRGS ABRH, 2005.

    BRASIL. Senado Federal. Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Braslia: Senado Federal, 1988.

    BRESSAN, D.L.; MARTINI, M. Avaliao do potencial de economia

    de gua tratada no setor residencial da regio sudeste atravs do aproveitamento de gua pluvial. Trabalho de Concluso de Curso Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, 2005. 117p.

    COOMBES P.J.; ARGUE J.R.; KUCZERA G. Figtree place: a case study in water sensitive urban development (WSUD). Urban Water, v. 1, n. 4, p. 335-343, 2000.

    GHISI, E.; MONTIBELLER, A.; SCHMIDT, R.W. Potential for potable water savings by using rainwater: an analysis over 62 cities in southern Brazil. Building and Environment, v. 41, n. 2, p. 204-210, 2006.

  • 298 Eng Sanit Ambient | v.16 n.3 | jul/set 2011 | 291-298

    Lima, J.A. et al

    GONALVES, R. F. (Coord.). Uso Racional da gua em Edificaes. 1 ed. Vitria, ES: ABES, 2006.

    HERRMANN, T.; SCHMIDA, U. Rainwater utilization in Germany: efficiency, dimensioning, hydraulic and environmental aspects. Urban Water, v. 1, n. 4, p. 307-316, 2000.

    HESPANHOL, I. Potencial de reuso de gua no Brasil. Agricultura, indstria, municpios, recarga de aquferos. Revista Brasileira de Recursos Hdricos, v. 7, n. 4, p. 75-95, 2002.

    INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA IBGE. Contagem da populao, 2007. Disponvel em . Acesso em julho de 2009.

    INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO E SOCIAL. Agenda 21. Conferencia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Curitiba: Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econmico e social IPARDES, 2001. 260p.

    GELT, J. Home Use of Graywater, Rainwater Conserves Water and May Save Money. Disponvel em . Acesso em julho de 2009.

    MAY, S. Estudo da Viabilidade do Aproveitamento de gua de Chuva para Consumo No Potvel em Edificaes. Dissertao (Mestrado em Engenharia da Construo Civil) Escola Politcnica da Universidade de So Paulo, So Paulo, 2004. 189p.

    PETERS, M. R. Potencialidade de uso de fontes alternativas de gua para fins no potveis em uma unidade residencial. 2006. 109f. Dissertao (Mestrado em Engenharia Ambiental) Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, 2006.

    SIMIONI, W. I.; GHISI, E.; GMEZ L. A. Potencial de Economia de gua Tratada Atravs do Aproveitamento de guas Pluviais em Postos de Combustveis: Estudos de Caso. CLACS 04 I Conferncia Latino-Americana de Construo Sustentvel e ENTAC 04, 10 Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construdo, So Paulo - SP, Anais.... CD Rom, 2004.

    SISTEMA NACIONAL DE INFORMAES SOBRE SANEAMENTO SNIS. Diagnstico dos Servios de gua e Esgoto. 2007. Disponvel em . Acesso em julho de 2009.

    TOMAZ, P. Aproveitamento de gua de Chuva. 1 ed. So Paulo: Navegar, 2003. 183 p.

    TUCCI, C.E.M. guas urbanas. Estudos Avanados, v. 22, n. 63, p. 97-112, 2008.

    VIOLA, H. Gesto de guas pluviais em reas urbanas: o estudo de caso da cidade do Samba. Dissertao (Mestrado em Engenharia) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. 384p.

    ZAIZEN, M. et al. The collection of rainwater from dome stadiums in Japan. Urban Water, v. 1, n. 4, p. 335-359, 2000.